Desporto e Atividade Física para Todos
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Desporto e Atividade Física para Todos
Nº1 | SEMESTRAL | DEZ 2015 R E V I S TA C I E N T Í F I C A D A F E D E R A Ç Ã O P O R T U G U E S A D E D E S P O R T O PA R A P E S S O A S C O M D E F I C I Ê N C I A desporto adaptadO incluSão impacto da semana paralímpica PÁG. 5 opinião dos treinadores PÁG.30 orientaÇão adaptada PÁG. 12 Diretor Editorial Mário Lopes (FPDD) Diretor Editorial Adjunto Hugo Sarmento (ESEV-IPV, IPMAIA) Salomé Marivoet (ULHT) Conselho Editorial Anabela Vitorino (ESDRM), António José Silva (UTAD), Ash Routen (Loughborough University), Augusto Baganha (IPDJ), Bruno Sena Martins (CES), Carla Filomena Silva (Nottingham Trent University), Carlos Paula Cardoso (CDP), Cláudia Pinheiro (ISMAI), David Rodrigues (ANDES), Fernando Fontes (CES), Humberto Santos (CPP), Jorge Carvalho (IPDJ), José Carlos Lima (PNED), José Madeira Serôdio (INR), José Manuel Constantino (COP), José Pedro Ferreira (FCDEF-UC), Leila Marques (COP), Leonor Moniz Pereira (FMH), Luís Gomes Costa (ULHT), Maria João Campos (FCDEF-UC), Paula Campos Pinto (ISCSP), Renato Nunes (CNR-SCMP), Rui Corredeira (FADE-UP), Stevo Popovic (Montenegro University) e Zoran Milanovic (University of Nis). Edição Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência Rua Presidente Samora Machel Lote 7 r/c Dtº 2620 – 061 Olival Basto – PORTUGAL Tel: + 351 21 937 99 50 Fax: + 351 21 937 99 59 E-mail: [email protected] Website: www.fpdd.org Índice 3. Editorial 5. Impact of the Paralympic Week in Students’ Attitudes Toward Inclusion. Maria João Campos, César Fernandes. 12. Adapted Orienteering: Characteristics and Potentialities of a Sport for Inclusion. Tadeu Celestino, Antonino Pereira. 18. Handbiking - A Low Metabolic Cost of Locomotion for Spinal Cord Injured People. Gabriela Fischer, Leonardo Peyré-Tartaruga. 24. Quality of Life of School Children With Disability: An Exploratory Study. Flávia Melo, Kátia Lima, Ana Silveira, Epaminondas Andrade Neto, Isis Santos, Kesley Azevedo, Rianne Pinto, Victor Hugo Segundo, Douglas Santos, Humberto Medeiros, Maria Irany Knackfuss. 30. Adapted Sports: Training and Opinion of the Portuguese Coaches. Paulo Saraiva, Anabela Cruz-Santos. 38. Evaluation of Isokinetic Muscular Strength of Brazilian Paralympic Athletes. Felipe Silva, Victor Hugo Segundo, Nailton Filho, Gleidson Rebouças, Thiago Felipe, Edson Pinto, Maria Irany Knackfuss, Paulo Dantas. 43. Effect of Physical Exercise on Motor Performance of an Individual with Cerebral Palsy. Marília Silva, Kátia Lima, Fabiana Silva, Flávia Melo, Francisco Júnior, Maria Irany Knackfuss, Paulo Dantas. 46. Adapted Physical Activity in the Population With Special Needs. Anabela Vitorino, Diogo Monteiro, João Moutão, Sónia Morgado, Teresa Bento, Luís Cid. 2 Editorial A Revista “Desporto e Atividade Física para Todos” è mais um passo para atenuar a crónica falta de informação no âmbito das questões que implicam as pessoas com deficiência. Esta insuficiência tem sido amplamente referida por diversos autores e instituições. A nossa ambição consiste em fornecer mais um espaço de apresentação de trabalhos, de reflexão conjunta e de discussão de ideias em temas diversos das ciências do desporto e da atividade física. Porque este é um trabalho de muitos para todos, desejamos que o conhecimento aqui difundido seja levado à prática – pelas pessoas com deficiência, pelos agentes individuais e institucionais envolvidos na promoção da atividade física e do desporto e pela comunidade. Foram submetidos para publicação artigos de autores filiados em entidades do ensino superior de Portugal, de Itália e do Brasil. Além destes públicos potenciais queremos chegar mais longe, abrangendo sempre que possível outras realidades científicas e linguísticas – daí a possibilidade de submissão de artigos em português, espanhol e inglês. A missão da FPDD è “proporcionar a todas as pessoas, independentemente da sua capacidade funcional, o acesso a oportunidades de prática desportiva e atividade física com o grau de envolvimento desejado por cada indivíduo, ao longo da sua vida”; a nossa visão aponta para que aquelas oportunidades surjam na comunidade, sem barreiras ou distâncias irrazoáveis. Ao analisarmos os artigos aqui publicados, confirmámos algo que se nos aparentava óbvio - que muitos dos interesses de investigação na Academia são hoje muito próximas das nossas preocupações quotidianas: da informação e da linguagem à qualidade da formação de técnicos e da consciencialização da comunidade escolar ao treino desportivo tout court, entre outros. Os níveis de envolvimento considerados vão do puro lazer aos paralímpicos, passando pela educação física. Nesta primeira edição, são discutidas as realidades da educação, da reabilitação, da qualidade de vida das pessoas, da inclusão social pelo desporto e do alto rendimento; de forma lata, podemos dizer que a formulação das questões científicas, bem como as metodologias adotadas, abrangeram muitas das mais clássicas disciplinas das ciências do desporto - da biomecânica à fisiologia, da psicologia às ciências da educação e da formação… Não poderíamos deixar de agradecer o trabalho e a disponibilidade de todos os que acederam ao nosso apelo, nas diferentes vertentes do trabalho deste projeto, nomeadamente aos autores, aos revisores, aos membros da comissão editorial e aos editores. Ao INR fica o nosso agradecimento pelo co-financiamento e pelo apoio institucional. A transversalidade é um dos pilares fundamentais desta iniciativa e pensamos que este primeiro número o revela de forma bastante satisfatória. Aguardamos agora que a ciência siga o seu curso e que a avaliação crítica, as propostas alternativas e o comentário construtivo possam suceder-se, neste fórum como noutros. Mário Lopes Presidente da FPDD 3 Editorial The journal "Sport and Physical Activity for All" constitutes yet another step to dissipate the chronic lack of information on the issues of disability. This insufficiency has been widely acknowledged by numerous authors and institutions. Our ambition consists of providing one more forum for the presentation of academic work, for joint reflection and for the discussion of ideas in different areas of the sciences of sport and physical activity. Because this is an enterprise of many people for all people, we wish that the knowledge hereby spread is taken to practical terms - by people with disabilities, by individual and institutional agents involved in the promotion of physical activity and sport and by the community. Articles from higher education institutions from Portugal, Brazil and Italy were submitted for reviewing. We aim at reaching even more scientific and linguistic realities and that is why we are open to the submission of articles in portuguese, english and spanish. FPDD's mission is "to provide all people, regerdless of their functional abilities, with lifelong opportunities for engaging in sports and physical activity with the levels of involvment desired by each individual"; our vision suggests that these opportunities should happen in the community, at a reasonable distance from hone and without unsurmountable barriers. By analysing the articles published in this first issue, we confirm whar seemed obvious to us - that many ressearch interests of Academia are inextricably linked to our daily concerns: from information and language to the education and training of professionals and from the awareness of school communities to coaching science tout court, among others. The levels of involvment reach from pure leisure to the high performance of the paralympics, not disregarding physical education. In this first issue, authors discuss education, physical rehabilitation, quality of life of people with disabilities, social inclusion through sport and performance sport; we should also underline the fact that the design of the methodologies as well as the scientific frameworks used are wide ranging in the field of sports science: from biomechanics to physiology, from psychology to pedagogy... We must thank all the work and dedication of all who responded to our challenge, in all the different tasks, namely the authors, the reviewers, the members of the editorial commission and the editors. We are also grateful for the finantial and institutional support of INR, the National Institute for Rehabilitation. This project was meant to be cross-sectional and this is one of its fundamental principles - we believe that the current issue reveals it in a rather satisfactory way. We now hope that science takes its course and that, either here or in other fora, the follow-up consists of critical assesements, alternative proposals and educated commnentary. Mário Lopes FPDD President 4 Desporto e Atividade Física para Todos – Revista Científica da FPDD, 2015 Vol. 1, N.º 1, ISSN 2183-511X Impact of the Paralympic Week in Students’ Attitudes Toward Inclusion Impacto da Semana Paralímpica nas Atitudes dos Alunos Face à inclusão Maria João Campos1, César Fernandes1 1 Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, Universidade de Coimbra Abstract Resumo The present study is of great importance since it is our conviction that students’ attitudes may be a decision making factor in order to include students with disabilities in Physical Education classes. The main purpose of this research was to assess the outcome of the inclusive intervention program, the “Paralympic Week” on the attitude of students without disabilities toward the inclusion of peers with disabilities in Physical Education classes. Participants were 109 7th graders from the centre of Portugal, 56 boys and 53 girls, between 12 and 16 years old (M=12.76; DP=1.75). The Portuguese version of the Children’s Attitudes Towards Integrated Physical Education-revised (CAIPE-R), Block (1995) validated by Campos, Ferreira and Block (2013) was used. This is a quasi-experimental study, with a control group and an experimental group. The results reveal significant differences, after deploying the inclusive program in the experimental group. Hence, we conclude that the “Paralympic Week” has been notoriously influent in the enhancement of more positive attitudes of students without disabilities, in Physical Education classes, towards their peers with disabilities. As perceções da comunidade escolar são um fator chave para a prossecução da inclusão educativa de alunos com deficiência. Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito da implementação do programa de intervenção “Semana Paralímpica” nas atitudes dos alunos sem deficiência face à inclusão de pares com deficiência na Educação Física. Os participantes foram 109 alunos do 7º ano, da região centro de Portugal, 56 do sexo masculino e 53 do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos (M= 12.76; DP= 1.75). O instrumento utilizado foi a versão portuguesa do Children’s Attitudes Towards Integrated Physical Education-revised (CAIPE-R), Block (1995), validado por Campos, Ferreira e Block (2013). Constituiu-se como um estudo quase experimental, utilizando um grupo de controlo e um grupo experimental. Os resultados revelam diferenças significativas, após a implementação do programa, no grupo experimental, Assim, concluímos que a “Semana Paralímpica” teve uma notória influência na formação de atitudes mais positivas dos alunos sem deficiência face à inclusão na aula de Educação Física. Keywords: Attitudes; Inclusion; Physical Education; Palavras-Chave: Atitudes; Inclusão; Educação Física; Students; Paralympic Week Alunos; Semana Paralímpica 5 Campos & Fernandes Introdução A evolução do sistema de educação ao longo dos anos é bastante notória: desde o movimento internacional de uma escola universal e obrigatória, no século XIX, na qual se verificava a segregação dos alunos com necessidades educativas especiais, sendo o tratamento da diferença remetido para as escolas especiais, passando pelo modelo de escola integrativa, verificado nos anos setenta, promovendo-se a abertura da escola a alunos com necessidades educativas especiais, verificase, atualmente, a preconização do modelo da escola inclusiva. No ano de 1994, a Declaração de Salamanca, com o enquadramento para a ação na área das necessidades educativas especiais (UNESCO, 1994), torna-se numa diretriz para as políticas educativas nos vários países que a subscreveram. A partir do entendimento da educação inclusiva como “para todos e para cada um” desenvolveram-se modelos educativos que, em teoria, promovem, nas escolas regulares, uma aprendizagem livre de barreiras e rejeitando a exclusão: “O princípio fundamental das escolas inclusivas consiste em todos os alunos aprenderem juntos, sempre que possível, independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentem. As escolas devem acolher todas as crianças independentemente das suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras” (UNESCO, 1994, p. 11). Assim, a escola inclusiva, assente no modelo biopsicossocial de deficiência, procura atender de forma apropriada e com qualidade, não só à deficiência mas a todas as formas de diferença dos alunos, recusando a segregação e atribuindo à escola e à sociedade em geral a responsabilidade coletiva de permitir que a pessoa com necessidades educativas especiais possa desenvolver-se na sua plenitude e exercer o seu direito de cidadania. É de realçar o entendimento mais recente da Organização Mundial de Saúde relativamente à deficiência, configurado na Classificação Internacional de Funcionalidade, que apresenta os princípios orientadores da “não discriminação e combate à exclusão” e “igualdade de oportunidades no acesso e no sucesso educativo” (OMS, 2003). No atual contexto do modelo de escola inclusiva em que se, por um lado, se cumprem os requisitos legais e as orientações internacionais por forma a se proceder à inserção dos alunos com necessidades educativas especiais nas turmas de ensino regular, por outro lado, os intervenientes diretos neste processo de ensinoaprendizagem, nomeadamente os professores, e em particular os professores de Educação Física, deparamse com inúmeras dificuldades ao nível da intervenção pedagógica, de organização, tal como, no campo das atitudes e das relações interpessoais que insistem em dificultar uma verdadeira Inclusão, entendida como “o desenvolvimento de uma educação apropriada e de alta qualidade para alunos com necessidades educativas especiais na escola regular” (Hegarty, 1994). Com efeito, a escola é um espaço privilegiado para a inclusão e deve encetar e desenvolver todos os esforços para promover a igualdade de oportunidades em termos de sucesso educativo e conseguir uma efetiva inclusão educativa e social de todos os alunos. Tornar escolas mais aptas para responderem à diversidade das necessidades dos alunos levanta várias questões relacionadas não apenas com a organização de recursos mas, principalmente, com as práticas educativas, as atitudes dos professores e em última instância com as atitudes dos alunos sem deficiência face a essa inclusão, aspeto este que pode ser um fator decisivo a ter em conta no sucesso pleno da inclusão. Por seu lado, a Educação Física, enquanto disciplina integrante dos currículos, não pode manter-se à margem deste movimento inclusivo. Esta área disciplinar pode constituir-se como um complemento para que a escola se torne mais inclusiva. Block (2007) atribui um papel fundamental à disciplina, referindo que a inclusão suporta as necessidades educativas de alunos com deficiência nas aulas de educação regular, incluindo nestas, as aulas de Educação Física. Segundo Rodrigues (2003), a temática da inclusão na educação Física tem sido insuficientemente tratada em Portugal. Para o autor, existem diversas razões pelas quais a Educação Física tem possibilidades de ser um meio para a prossecução da educação inclusiva, nomeadamente, pelo facto intrínseco à própria natureza das atividades desenvolvidas nesta disciplina, permitindo uma ampla participação dos alunos mesmo dos que apresentam dificuldades. Este aspeto pode ser evidenciado com a presença da Educação Física na grande maioria dos planos curriculares elaborados para alunos com necessidades educativas especiais, entendendo-se que a disciplina possibilita uma participação e um grau de satisfação elevado de alunos com diferentes níveis de desempenho e necessidades. O autor considera que a Educação Física pode ser efetivamente uma área-chave para tornar a educação mais inclusiva e pode mesmo ser um campo privilegiado de experimentação, de inovação e de melhoria da qualidade pedagógica na escola. O processo de inclusão educacional pode beneficiar com as propostas metodológicas da Educação Física, usando o corpo, o movimento, o jogo, a expressão e o desporto como oportunidades de celebrar a diferença e proporcionar aos alunos experiências que realcem a cooperação e a solidariedade (Rodrigues, 2003). Em 1985, Ajzen definiu o conceito de atitude como “uma predisposição para responder de uma forma favorável ou desfavorável a um objeto, pessoa ou acontecimento”, referindo que as atitudes não são diretamente observáveis, mas a partir de uma atitude podemos prever um comportamento. Assim, as atitudes antecipam a forma como os alunos se comportarão face à inclusão de colegas com deficiência, e deste modo, poderão actuar como um obstáculo ou um facilitador no processo de inclusão. Daí a importância do estudo das atitudes no contexto educativo. Panagiotou, Evaggelinou, Doulkeridou, Mouratidou, e Koidou (2008), analisaram os resultados de inúmeros programas de intervenção baseados no Movimento Paralímpico, constatando, para as mesmas categorias de Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 6 Campos & Fernandes variáveis, resultados ora divergentes ora semelhantes. Chegaram à conclusão de que os programas de intervenção influenciam positivamente a mudança de atitude dos alunos sem deficiência face à inclusão de alunos com deficiência. No entanto, estes autores também consideram não haver, à data, estudos científicos suficientes que contribuíssem para uma implementação generalizada deste tipo de programas de intervenção nas escolas sendo por isso muito pertinente e urgente mais investigação neste domínio. Entretanto, nos últimos anos, houve um aumento notório de estudos realizados sobre a inclusão de alunos com necessidades educativas especiais nas aulas de Educação Física, nomeadamente nos EUA, os estudos de Slininger, Sherrill e Jankowski (2000); Obrusníková, Válková, e Block (2003) e Block e Obrusníková (2007). Na Europa, encontram-se também alguns estudos relacionados com a mesma temática, nomeadamente, Van Biesen, Busciglio e Vanlandewijck (2006), na Bélgica; Jesina, Lucas, Kudlácek, Janecka, Machová, e Wittmannová (2006), na República Checa; Panagiotou et al. (2008) e Xafopoulos, Kudlácek e Evaggelinou (2009), na Grécia; Hutzler (2003) e Hutzler e Levi (2008), em Israel e Reina, López, Jimenez, GarciaCalvo e Hutzler (2011), em Espanha. No entanto, a pesquisa nacional sobre esta temática tem sido escassa, sendo que a maioria dos estudos existentes foca a sua análise nas atitudes dos professores face à inclusão de alunos com deficiência na aula de Educação Física. Só muito recentemente foram realizados estudos em Portugal que centram a sua análise nas atitudes dos alunos (e.g., Campos, Ferreira & Block, 2014; Teixeira, 2014). Lindsay e Edwards (2013), apresentaram uma revisão sistemática sobre os programas de intervenção para sensibilização de crianças e jovens com deficiência, onde se inclui alguns dos estudos referidos anteriormente. Os autores centraram a sua análise em cinco tipos de intervenção para a sensibilização: simulações, intervenções curriculares, contacto social, intervenções multimédia e intervenção com múltiplos componentes. Verificaram que trinta e quatro estudos demonstraram uma melhoria nas atitudes para com e na aceitação de alunos com deficiência. Os autores concluíram que os diferentes tipos de programas de intervenção de sensibilização para a deficiência podem melhorar significativamente o conhecimento e as atitudes dos alunos sem deficiência para com os seus pares com deficiência, nas aulas de Educação Física. É de salientar que nesta revisão de artigos internacionais, levada a cabo por Lindsay e Edwards (2013), não se inclui qualquer estudo realizado em Portugal. Da análise das diferentes variáveis, constata-se que os resultados permanecem inconclusivos e alguns deles inconsistentes. É neste contexto que o presente estudo se reveste de uma grande importância pela convicção de que as atitudes dos alunos poderão ser um factor decisório para a prossecução da inclusão de alunos com deficiência nas aulas regulares de Educação Física. O estudo poderá contribuir para a concertação de estratégias e formas de atuação dos professores de Educação Física, no sentido de implementar uma efetiva inclusão dos alunos com deficiência, nomeadamente através da elaboração e implementação de programas de intervenção de natureza inclusiva. Metodologia Trata-se de um estudo do tipo quase experimental, uma vez que a seleção da amostra foi feita por conveniência, com a utilização de um grupo experimental e de um grupo controlo. Participantes Participaram 109 alunos do 7.º ano de escolaridade, com idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos (N=109, M=12.76 anos, DP=1.15), dos quais 56 eram do sexo masculino e 53 do sexo feminino, de dois agrupamentos de escola da região centro do país. Os participantes foram divididos em dois grupos, um experimental (n=73, M=12.44 anos, DP=0.76), com 34 participantes do sexo masculino e 39 do sexo feminino, que foi submetido ao programa de intervenção, designado de “Semana Paralímpica”, e um grupo de controlo (n=36, M=13.02 anos, DP=1.48), com 22 participantes do sexo masculino e 14 do sexo feminino, que mantiveram os conteúdos curriculares previstos na planificação para a aula de Educação Física. Instrumento Foi aplicado um instrumento de medida das atitudes dos alunos sem deficiência face à inclusão de alunos com deficiência nas aulas de Educação Física, o Children’s Attitudes Towards Integrated Physical Education revised – CAIPE-R (Block, 1995), traduzido e validado para a população portuguesa por Campos, Ferreira e Block (2013). O CAIPE-R afere as atitudes de pares relativamente à inclusão nas aulas de Educação Física. Trata-se de um questionário que permite uma descrição específica de tarefas e comportamentos normalmente verificados num contexto de inclusão. Apresenta questões de caraterização sóciobiográficas acerca da idade, género, ano de escolaridade, contacto prévio com pessoas com deficiência e o nível de competitividade dos participantes. Posteriormente introduz a temática, descrevendo a situação de um aluno com deficiência física em cadeira de rodas, a participar num jogo de basquetebol (e.g., “O João tem a mesma idade que vocês, mas não consegue andar e usa uma cadeira de rodas para se deslocar.”; “…não consegue arremessar uma bola de basquetebol com altura suficiente para encestá-la.”). O instrumento é constituído por onze itens, que avaliam a atitude global na Educação Física (Atitude Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 7 Campos & Fernandes global) (i.e., somatório de todos os itens do questionário) em que os inquiridos exprimem a sua concordância, dividido em duas subescalas: Atitudes gerais de inclusão na aula de Educação Física (Atitude geral) – da questão 1 à 6 (e.g., “Seria bom ter o João na tua aula de Educação Física?”) e Atitudes específicas face às alterações das Regras desportivas (Atitude específica) – da questão 7 à 11 (e.g., Seria bom permitir que o João lançasse a bola para um cesto mais abaixo?). A escala de resposta corresponde a uma escala tipo Likert de 4 pontos (1= Não; 2 = Provavelmente não; 3 = Provavelmente sim; 4 = Sim). No item 4 procedeu-se à reconversão da pontuação visto que a afirmação é colocada na negativa. Procedimentos Iniciou-se a aplicação do pré-teste (CAIPE-R) aos dois grupos (experimental e controlo), sem referência à matéria em questão, de forma a evitar que as respostas fossem influenciadas. No momento de preenchimento do questionário, foi dada a informação que o mesmo era anónimo, que não havia respostas corretas ou incorretas, pelo que a resposta para cada questão dependia de como os inquiridos se sentiam sobre a situação descrita. Como introdução, foi lido um pequeno texto do questionário descrevendo uma situação hipotética de um aluno com deficiência física, do ano de escolaridade dos participantes no estudo, e que apresentava dificuldades nas atividades físicas pelo facto de se deslocar em cadeira de rodas. Após o término do preenchimento dos dados, foram apresentadas duas questões com o intuito de clarificar a forma de resposta, servindo como exemplo, e assim verificar se todos os alunos compreendiam a forma de preenchimento. Em seguida, o professor leu em voz alta cada uma das afirmações. O questionário foi preenchido nas aulas de Educação Física demorando, em média, quinze minutos. Uma semana depois implementou-se o programa de intervenção ao grupo experimental. Esta intervenção teve a duração de 120 minutos (duas aulas de 60 minutos) em cada turma. A “Semana Paralímpica” iniciou com uma breve sensibilização teórica sobre a temática do desporto adaptado, mais concretamente sobre o Desporto Paralímpico, utilizando recursos multimédia, recorrendo ao canal Paralympic Sport TV e teve como objetivo sensibilizar e aumentar o conhecimento dos participantes relativamente às modalidades Paralímpicas e respectivos atletas (e.g., basquetebol em cadeira de rodas, atletismo, boccia, goalball, voleibol sentado). Seguidamente, utilizando uma metodologia de simulação, os participantes tiveram a oportunidade de praticar boccia, goalball, voleibol sentado e basquetebol em cadeira de rodas. As aulas funcionaram em circuito com quatro estações, permanecendo os alunos doze minutos em cada, divididos em pequenos grupos. Os participantes do grupo de controlo mantiveram os conteúdos curriculares previstos na planificação da disciplina de Educação Física. Uma semana após a intervenção, foi aplicado novamente o instrumento a ambos os grupos. Foi solicitada, previamente, autorização às direções das escolas para a realização do programa de intervenção, bem como a aprovação em Conselho Pedagógico. Análise Estatística O tratamento estatístico dos dados foi realizado com recurso ao programa informático IBM SPSS Statistics, na versão 20.00, para o Windows. Foi utilizada a estatística descritiva através do cálculo da média (M) como medida de tendência central, ao desvio padrão (DP) como medida de dispersão e às tabelas de frequência e respetivos valores percentuais. Relativamente à estatística inferencial, procedeu-se à análise comparativa através do Teste T para amostras emparelhadas. Utilizou-se o nível de significância de ρ≤0,05. Resultados Apresenta-se na tabela 1 os resultados da estatística descritiva de forma a obter um conhecimento mais global da amostra em estudo. Tabela 1 – Estatística descritiva das variáveis independentes Sexo Contacto prévio em Família/ Amigos Contacto prévio na EF Nível de competitividade Feminino Masculino Sim Amostra Total N=109 F % Grupo Experimental n=73 F % Grupo de Controlo n=36 F % 53 56 44 65 48.6 51.4 40.4 59.6 39 34 29 44 53.4 46.6 39.7 60.3 14 22 15 21 38.9 61.1 41.7 58.3 15 94 13.8 86.2 6 67 8.2 91.8 9 27 25.0 75.0 17 15.6 15 20.5 2 5.6 65 59.6 44 60.3 21 58.3 27 24.8 14 19.2 13 36.1 Não Sim Não Muito competitivo Mais ou menos competitivo Não competitivo F – Frequência ; % - Percentagem Participaram 109 alunos do 7º ano, dos quais 51.4% do sexo masculino e 48.6% do sexo feminino. O grupo experimental foi constituído por 73 alunos, 53.4% do sexo feminino e 46.6% do sexo masculino. No grupo de controlo participaram 36 alunos, 61.1% rapazes e 38.9% raparigas. Do total da amostra, 59.6% não teve contacto prévio com a deficiência na família ou amigos e 40.4% teve esse contacto. No grupo experimental, a maioria dos participantes, 60.3%, não teve contacto prévio com a deficiência no seio familiar ou amigos, ao contrário de 39.7%. No grupo de controlo, 58.3% não tiveram o Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 8 Campos & Fernandes contacto prévio com a deficiência através de algum familiar ou amigos e 41.7% tiveram. No que diz respeito às aulas de Educação Física, 86.2% nunca tiveram um colega com deficiência a participar nas aulas, sendo que apenas 13.8% tiveram esse contacto prévio. No grupo experimental, 91.8%, nunca contactaram com colegas com deficiência na Educação Física, verificando-se que apenas 8.2% vivenciaram essa situação. Quanto ao grupo controlo, 75% dos participantes nunca tiveram um colega com deficiência na Educação Física e apenas um quarto dos participantes teve essa experiência. Por fim, e no que toca à competitividade, 59.6% dos participantes consideraram-se mais ou menos competitivos, 24.8% como não competitivos e 15.6% muito competitivos. No grupo experimental, 60.3% consideraram-se mais ou menos competitivos, 20.5% muito competitivos e 19.2% não competitivos. Relativamente ao grupo de controlo, 58.3% afirmaramse como mais ou menos competitivos, 36.1% como não competitivos e 5,6% como muito competitivos. Na tabela 2, apresenta-se os resultados da estatística inferencial entre o pré-teste e o pós-teste para os grupos controlo e experimental. Tabela 2 – Estatística inferencial das variáveis dependentes Grupo Controlo M DP p Atitude Global (a) 3.34 0.35 (b) 3.40 0.26 Atitude geral (a) 3.14 0.47 (b) 3.27 0.31 Atitude específica (a) (b) 3.59 3.56 0.34 0.34 (a)pré-teste - - - Grupo Experimental M DP p 3.31 0.32 3.43 0.34 3.25 0.31 3.41 0.33 3.38 3.46 0.52 0.54 0.001 0.001 - (b) pós teste Através da análise dos resultados da tabela 2, observa-se que, para a variável Atitude Global, a média é superior no pós-teste, sendo de registar essa diferença como significativa (p=0.001). No mesmo sentido se verifica a Atitude geral face à aula de Educação Física, com um aumento acentuado no pós-teste, sendo essa diferença significativa (p=0.001). Quanto ao grupo de controlo, não se verificaram diferenças significativas entre o pré e pós-teste. A partir da Tabela 2, constata-se também que, já antes da implementação do programa de intervenção, as atitudes dos participantes dos dois grupos eram globalmente muito positivas. intuito de promover atitudes positivas dos alunos sem deficiência face à inclusão nas aulas de Educação Física, foi cumulativamente eficaz na promoção da atitude global e da atitude geral, no grupo experimental. Estes resultados estão em concordância com alguns dos estudos realizados dentro desta temática (e.g. Ješina et al., 2006; Panagiotou et al., 2008; Van Biesen et al., 2006). Já Block (1995), para além das diferenças verificadas para a atitude geral, encontrou diferenças na atitude específica face à alteração das regras, assim como Papaioannou, Evaggelinou e Block (2014). Os resultados do presente estudo vão de encontro aos dos estudos realizados anteriormente em Portugal, que ao avaliarem o efeito da intervenção, também evidenciaram diferenças significativas. Campos, Ferreira e Block (2014) verificaram diferenças significativas para a escala atitude global e para a subescala atitude geral face à inclusão na aula de Educação Física, entre o pré-teste e o pós-teste. Teixeira (2014) apenas registou diferenças significativas para a subescala atitude geral face à aula de Educação Física, no grupo experimental. Os resultados dos estudos anteriores efetuados em Portugal, assim como os resultados do presente estudo salientam o facto dos alunos apresentarem, de uma forma geral, valores muito positivos face à inclusão. Esta análise pode indiciar que, atualmente, os alunos apresentam, globalmente, maior conhecimento sobre as diferenças/semelhanças, limitações/capacidades e potencialidades das pessoas com deficiência, adotando atitudes mais favoráveis e até proactivas face à sua inclusão na aula de Educação Física. É de referir que as escolas participantes no presente estudo promovem a inclusão dos alunos com deficiência, quer nas atividades letivas, quer nas atividades de complemento curricular e atividades pontuais (e.g. alunos de cadeira de rodas participam ativamente na aula de Educação Física e nos torneios inter turmas de Futsal). Pode apontar-se algumas limitações decorrentes do presente estudo. Por um lado, a curta duração do programa de intervenção pode limitar o alcance dos efeitos produzidos e até levantar questões como: Qual a duração do efeito da implementação de um programa de sensibilização (mudanças de atitudes momentâneas ou duradouras)? Por outro lado, o tipo de atividades selecionadas para a intervenção poderá não ter sido o mais adequado para uma análise detalhada das atitudes específicas face à alteração de regras. Assim, as pesquisas futuras deverão realizar um programa de intervenção que incida sobre as adaptações de regras nas aulas de Educação Física e na realização de estudos de seguimento longitudinal. Discussão O presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito de um programa de sensibilização nas atitudes de alunos do 7º ano face à inclusão de colegas com deficiência na aula de Educação Física. Assim, os resultados sugerem que o programa de intervenção implementado, com o Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X Conclusão Relativamente ao objetivo central do estudo, avaliar o impacto do programa de intervenção, pode concluir-se que a “Semana Paralímpica” teve uma notória 9 Campos & Fernandes influência na promoção de atitudes ainda mais positivas nos alunos do 7º ano de escolaridade, face à inclusão de pares com deficiência na aula de Educação Física. Tendo em consideração os resultados encontrados e a ausência de maiores consensos na literatura relativamente a determinadas variáveis, torna-se evidente a necessidade de dar continuidade à investigação nesta área, de modo a determinar com maior exatidão a influência das diferentes variáveis e a identificar as características dos programas de intervenção que melhor poderão constituir-se como uma orientação metodológica eficaz na promoção de atitudes positivas dos alunos sem deficiência face à inclusão nas aulas de Educação Física. Mantem-se a convicção de que alunos e professores se constituem como elementos chave e facilitadores das relações intergrupais para a implementação de uma verdadeira inclusão educativa e, como tal, torna-se crucial a promoção de atitudes positivas nas aulas de Educação Física. Referências Ajzen, I (1985). From intentions to actions: A theory of planned behaviour. In J. Kuhl & J. Beckman. ActionControl: From Cognition to Behavior, 11-39. Heidelberg: Springer. 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This reconfiguration results in credible alternatives for social inclusion, whose impact on the lives of individuals with disabilities is realized in significant improvements in their ability to function, social autonomy and unequivocally in their quality of life. Thus, the purpose of this essay is to present Orienteering, as an outdoor sport, in its adapted aspects (Precision Orienteering and Adapted Orienteering), as a valid response for promoting the values of equity and inclusion through sport has a set of features that lets you just add a time and, in the same place of practice, put together individuals with different conditions (people with motor or cognitive limitations and those without disabilities), making it a unique activity and an effectively inclusive promoter of the ideals and values of sport truly for all. Numa sociedade que procura ser cada vez mais justa e igualitária, o Desporto como fato social total configurase num importante catalisador para a promoção da igualdade e inclusão social dos indivíduos. Na sua vertente adaptada, as modalidades desportivas reajustam as suas práticas e características indo ao encontro dos ideais do desporto para todos. Esta reconfiguração resulta em alternativas credíveis de inclusão social, cujo impacto na vida dos indivíduos portadores de deficiência se concretiza em melhorias significativa na sua funcionalidade, autonomia social e inequivocamente na sua qualidade de vida. Assim, o propósito deste ensaio é o de apresentar a Orientação, enquanto desporto na natureza, na sua vertente adaptada (Orientação de Precisão e Orientação Adaptada), como uma resposta válida de promoção dos valores da equidade e da inclusão pelo desporto. Deste modo, esta modalidade apresenta um conjunto de características que permitem agregar a um tempo só e, no mesmo local de prática, indivíduos de diferentes condições (pessoas portadoras de limitações motoras, cognitivas e sem deficiência), tornando-a uma atividade ímpar e efetivamente inclusiva promotora dos ideais e valores do desporto verdadeiramente para todos. Keywords: Adapted sport, disabilities, sport for all, Palavras-Chave: orienteering desporto para todos, orientação. Desporto adaptado, deficiência, 12 Celestino & Pereira Introdução O Desporto reflete os valores, as normas e os padrões dominantes de uma dada sociedade. Na atualidade é considerado um meio excecional de exaltação dos valores humanos, constituindo-se como um instrumento de inclusão social, de promoção da tolerância e do respeito pelo outro. Face a tais virtualidades são cada vez mais os apelos que visam dar realce à promoção e divulgação de boas práticas de inclusão social no e pelo desporto (Marivoet, 2014). Para tal, ao longo dos séculos este fenómeno social global sempre conseguiu acompanhar as exigências das reconfigurações sociais cindindo-se numa pluralidade de motivos, finalidades, sujeitos e praticantes. Neste processo, o Desporto passa de uma atividade puramente orientada e estruturada para o alto rendimento e a competição, onde se exalta os estereótipos da juventude saudável e da masculinidade para, paulatinamente, se consumar numa prática acessível a todos independentemente do género, condições e estados, com o objetivo da saúde, da recreação, a estética corporal, a reabilitação e inclusão (Bento, 2014). Assim, o Desporto dos nossos dias sedimenta-se numa conceção plural constituindo-se um fenómeno polissêmico (diversidade de sentidos) e manifesta-se numa realidade polimórfica (variedade de formas) (Bento, 2014) que se concretiza no paradigma do desporto para todos. Nesta matriz conceptual, encontra-se o Desporto Adaptado que emergiu da Atividade Física Adaptada, a qual surgiu com maior efetividade na segunda metade do século XX em contexto hospitalar, como meio de reabilitação (Guttmann, 1976), e de resposta de integração social dos indivíduos portadores de deficiência adquirida em consequência da Segunda Guerra Mundial (Winnick, 2005). Desde então, o Desporto Adaptado tem-se afirmado como um dos principais instrumentos para uma plena inclusão social dos indivíduos portadores de deficiência, numa sociedade que procura ser cada vez mais justa e igualitária. Desenvolvido e organizado com base numa estruturação por grupos de deficiência, em consonância com as suas características e etiologias (Castro, 1998; Varela, 1991), o Desporto Adaptado, conceptualmente, engloba todas as modalidades desportivas que se readaptam ao grupo de pessoas portadoras de deficiência, em consequência de um conjunto de adaptações facilitadoras sempre que a própria estrutura e dinâmica funcional da modalidade possibilite a sua prática (Hernández, 2000; Tejero, Vaíllo & Rivas, 2012). Assim, algumas modalidades desportivas adaptaram as suas características para melhor se ajustar às necessidades especiais de determinada deficiência ou limitação. No mesmo sentido promove-se, também, o desenvolvimento de uma nova modalidade/atividade que possa ir ao encontro das características e especificidades de determinado grupo de indivíduos portadores de deficiência (Tejero et al., 2012). Enquadrado neste contexto encontra-se o desporto Orientação cuja ecologia e forma de organização possibilitam a acessibilidade de todos os indivíduos independentemente da sua condição ou objetivos de participação. Face ao exposto, o propósito deste ensaio é o de apresentar as características e potencialidades da Orientação, enquanto desporto na natureza, na sua vertente adaptada, como uma proposta válida de promoção dos valores da equidade e inclusão pelo desporto. A investigação desenvolvida no âmbito das Ciências do Desporto tem reconhecido, de um modo geral, os benefícios do Desporto Adaptado a vários níveis, nomeadamente a nível psicológico, físico e social, e que se repercutem positivamente em ganhos de autonomia e autoconfiança para a realização das tarefas diárias, bem como benefícios significativos ao nível da autoestima e no autoconceito dos indivíduos portadores de deficiência (Caspersen, Pereira & Curran, 2000). No mesmo sentido e de forma mais particular, são evidentes os benefícios no âmbito da saúde destes indivíduos. Estudos diversos têm demonstrado relações positivas entre a sua prática e os níveis de saúde, considerando inclusive, que poderá atuar como meio de prevenção e redução significativa de fatores de risco de doenças cardiovasculares, metabólicas ou do cancro (Nova, 2012; Sanz Rivas & Reina Vaíllo, 2012). Do mesmo modo, funciona como um importante catalisador de bem-estar (Boyce & Fleming-Castaldy, 2012; Giacobbi, Stancil, Hardin, & Bryant, 2008), que se reflete inequivocamente em ganhos significativos de qualidade de vida (Safania & Mokhtari, 2012; Tomasone, Wesch, Ginis, & Noreau, 2013) e autonomia pessoal e social deste grupo de indivíduos. Por outro lado, poderá desempenhar um papel ativo na compensação do decréscimo, quer da funcionalidade física decorrente da sua condição (exemplos: mobilidade reduzida, espasticidade, contraturas e dor), quer do processo natural de envelhecimento, e consequente melhoria da qualidade de vida. Também o Desporto Adaptado tem vindo a ganhar cada vez mais notoriedade e importância como um importante agente de inclusão e socialização. Consequentemente, temos vindo a assistir nas mais diversas modalidades ao aparecimento de projetos de práticas desportivas com a adaptação de regulamentos e formas de realização que procuram dar resposta aos mais diversificados impedimentos funcionais e atenuar barreiras e constrangimentos de diversa ordem. Fruto deste reconhecimento surge em 1988 a Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência (FPDD) que, para além de promover e fomentar a prática desportiva adaptada, coordena, prepara atletas para a participação em eventos e competições de âmbito internacional. Neste âmbito, congrega a regulamentação e organização de 38 modalidades adaptadas (Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência, s/d). Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 13 Celestino & Pereira Pese embora, o vasto leque de modalidades desportivas adaptadas disponíveis, na época desportiva de 2012/2013, apenas 0,4% dos indivíduos portadores de deficiência em Portugal se encontram envolvidos nestas práticas de uma forma frequente e sistemática (Saraiva et al., 2013). De igual modo, no que concerne à sua vertente recreativa, os índices de participação em atividades desportivas adaptadas, registam, de uma forma geral, índices de participação baixos (Ginis et al., 2010; Kosma, Cardinal, & McCubbin, 2004; Kosma, Cardinal, & Rintala, 2002). Estes factos colocam em evidência um conjunto de obstáculos e constrangimentos de ordem intrapessoal e contextual que condicionam significativamente o acesso a programas e atividades aos indivíduos portadores de deficiência, sendo um grave entrave á sua socialização e integração (Cardoso, Palma, & Zanella, 2010). Entre essas sublinha-se o isolamento social destes indivíduos (Kaye, 1997), a falta de instalações adequadas, assim como as perceções de ambiente hostil das práticas (Riley et al., 2004) que, por vezes se encontram relacionadas com atitudes e comportamentos negativos perpetuados por indivíduos sem deficiência, que em parte corroboram os elevados níveis de descriminação social que existem relativamente à pessoa com deficiência (Special Eurobarometer 393, 2012). Salientam-se ainda as barreiras arquitetónicas e a escassez de programas e atividades que se encontram ao dispor dos indivíduos portadores de deficiência (Rimmer, 2004; Tasiemski, Gardner, & Blaikley, 2004). Face ao exposto, consideramos ser cada vez mais premente inverter esta realidade com o desenvolvimento de estratégias e programas motivadores de promoção da prática de atividades físico desportivas, que possam ir ao encontro das ideias do desporto para todos, numa real dimensão holística na qual se promovam os valores da inclusão e da igualdade de acesso e que não se centrem apenas nos indivíduos portadores de deficiência. Pereira, 2012, Celestino & Pereira, 2013; Koukouris, 2005) independentemente da sua condição. Para uma concretização efetiva de tais virtualidades demonstradas por esta modalidade, muito contribuem as suas disciplinas Trail-Orienteering (Orientação de Precisão) e a Orientação Adaptada que, embora acessíveis a todos, estão especialmente vocacionadas para as pessoas portadoras de limitações motoras e cognitivas, respetivamente. Assim, é perfeitamente natural que na mesma competição estas disciplinas consigam agregar, a um só tempo e no mesmo espaço de prática, indivíduos portadores de deficiência e indivíduos ditos normais proporcionando, deste modo, uma efetiva integração, igualdade competitiva e a socialização. Trail-Orienteering O Trail-Orienteering (Orientação de Precisão), integrada desde 1992 no quadro de disciplinas da Federação Internacional de Orientação (IOF), foi desenvolvida para oferecer a todos a oportunidade de praticar orientação, particularmente os indivíduos com mobilidade reduzida. Esta apela unicamente à capacidade de leitura e interpretação de um mapa e da sua relação com o terreno, excluindo os fatores do rendimento físico e do tempo. Deste modo, torna possível a prática em igualdade de circunstâncias a indivíduos portadores de deficiência (classe paralímpica) e indivíduos sem deficiência (classe aberta), constituindo-se assim uma das poucas modalidades desportivas onde esta igualdade é possível. Proposta da Orientação como modalidade inclusiva O desporto Orientação pela sua estrutura, dinâmica funcional e contextualização, parece-nos possuir um conjunto de virtualidades que vão ao encontro do paradigma do desporto para todos. Diversos autores (Celestino & Pereira, 2012, Celestino & Pereira, 2013; Koukoris; 2005) enaltecem as suas potencialidades, nomeadamente o seu valor educativo, o contacto com a natureza, a aventura, o risco controlado, a promoção da autoconfiança e autonomia, a socialização, a multidisciplinariedade e interdisciplinaridade, o desenvolvimento de estilos de vida saudáveis e a integração social. Concomitantemente, este reconhecimento é amplamente referenciado por aqueles que a praticam, legitimando-a como uma modalidade promotora dos valores onde se distingue a igualdade de oportunidades e a equidade no livre acesso à prática desportiva de todos (Celestino & Figura 1 – Orientação de Precisão (foto Joaquim Margarido) A sua concretização resulta da necessidade de os atletas progredirem ao longo de um trilho (caminho) com um mapa na mão, ao longo do qual são estimulados a resolver problemas sobre a colocação de balizas em elementos no terreno através da seguinte sequência: i) o atleta recebe um mapa com um percurso onde se encontram os pontos de controlo; ii) para cada ponto de Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 14 Celestino & Pereira controlo existe um ponto de observação; iii) em cada ponto de controlo existem várias balizas possíveis, visíveis do ponto de observação. As balizas são designadas pelas letras A a E, tal como se observam da esquerda para a direita a partir de um ponto de decisão; iv) o objetivo é, em cada ponto de controlo, escolher a baliza colocada no local indicado no mapa. motoras deixam de possuir qualquer vantagem em relação a um indivíduo com limitações motoras (Braggins, s/d). Em suma, ao se excluir o fatores do tempo e componente física, na Orientação de Precisão os indivíduos com diferentes condições podem competir entre si, em igualdade de circunstâncias, sendo o desempenho avaliado não por aquele que completa a prova em menos tempo mas sim aquele que interpreta melhor o mapa. Em Portugal, as provas tuteladas da Federação Portuguesa de Orientação (FPO) podem desenvolver-se com percursos/classes com diferentes níveis de dificuldade. Paralelamente, desenvolvem-se percursos de iniciação sem caracter competitivo que podem ser realizados por todos os indivíduos, sem distinção de sexo, idade, capacidade/incapacidade, individualmente ou em grupo. Figura 2 – Balizas possivelmente visíveis do ponto de observação (Foto – Tadeu Celestino) Deste modo, os praticantes são obrigados a ler o mapa para encontrar os postos de controlo e uma vez no local, com o auxílio de uma bússola, fazer a leitura e interpretação do terreno e assinalar, de entre múltiplas possibilidades, a baliza corretamente colocada de acordo com a sinalética respetiva. A resposta é registada num cartão de controlo. O vencedor nas diferentes classes (paralímpica e aberta) é aquele que obtiver o maior número de pontos obtidos através da escolha acertada das balizas corretamente colocadas. Figura 4 – Orientação de precisão – um desporto para todos (Foto Joaquim Margarido) Orientação adaptada Figura 3 – Leitura e interpretação do mapa (Foto Joaquim Margarido) Assim, o único fator avaliativo é a capacidade de leitura do mapa e a interpretação do terreno, sendo que os únicos requisitos necessários à prática da modalidade são apenas as capacidades de visão e de interpretação do mapa. Deste modo, os praticantes sem limitações A Orientação Adaptada é direcionada para indivíduos portadores de limitações cognitivas e para crianças em idade pré-escolar. Subdividida em duas vertentes, uma primeira de carácter predominantemente lúdico, denominada por “Atividade Adaptada”, tem um seu propósito eminentemente lúdico e o desenvolvimento requer a constante interação de um pequeno grupo de indivíduos. Uma segunda, intitulada de “Orientação Adaptada”, tem um intuito puramente competitivo, apela à autonomia dos praticantes para o desenvolvimento e concretização individual do percurso. Apresenta um número variável de pontos de controlo assinalados num mapa e materializados no terreno por balizas com sequências de cores, que devem ser visitadas por uma ordem sequencial. Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 15 Celestino & Pereira Figura 5 – Orientação adaptada (Foto Joaquim Margarido) No início da atividade o praticante recebe um mapa do local onde se encontra assinalado o terreno de prova, a sinalética correspondente ao número de pontos a visitar, assim como a respetiva sequência de cores correspondente à resposta correta que deve ser assinalada num cartão igualmente fornecido. Cada ponto de controlo está materializado por um ponto de observação no qual se pode observar um conjunto de 3 a 5 balizas com as sequências de cores. O objetivo é que o praticante faça a correlação entre a sequência de cores que se encontra assinalada no mapa e a que encontra materializado no terreno registando a sua opção num cartão de controlo. forma a ter respostas válidas para o processo de inclusão dos indivíduos portadores de deficiência. Neste paradigma, o desporto Orientação, na sua forma adaptada, tem como propósito ir ao encontro dos ideais do verdadeiro desporto para todos. Procura a um só tempo incluir indivíduos de todas as condições e estados, particularmente, pessoas portadoras de deficiência e romper com o paradigma das atividades físicas desportivas apenas vocacionadas para grupos específicos indivíduos. Assim, promove-se a interação entre diferentes indivíduos e estes com a natureza sendo que, em ambas as vertentes, o fator tempo é relegado para segundo plano e, consequentemente, a irrelevância da capacidade física torna-se uma mais-valia possibilitando na mesma competição a participação, em igualdade de circunstâncias, de atletas de todas as condições e objetivos. As barreiras físicas e cognitivas deixam de existir e a valorização da participação, do respeito pelo outro, da socialização, e a promoção da saúde e do bem-estar, convertem esta modalidade num exemplo ímpar de boas práticas de inclusão social no e pelo desporto. Face ao exposto, consideramos ser fundamental o desenvolvimento de investigações que permitam evidenciar as reais potencialidades inclusivas da Orientação. Referências Braggins, A. (s/d). Trail Orienteering. Sports Council e British Orienteering Federation (Eds.): Harveys. Bento, J. O. (2014). Em nome do desporto. In A. 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Nesse sentido, o Desporto, materializado pelas suas diversas formas de prática, tem vindo a refletir e reajustar-se por Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X Cardoso, V., Palma, L., & Zanella, Â. (2010). A motivação de pessoas com deficiência para a prática do esporte adaptado. Revista Digital, 15(146). Consultado a 11 de outubro de 2015 em: http://www.efdeportes.com/efd146/a-motivacao-para esporte-adaptado.htm Caspersen, C. J., Pereira, M. A., & Curran, K. M. (2000). Changes in physical activity patterns in the United States, by sex and cross-sectional age. Medicine and science in sports and exercise, 32(9), 1601-1609. Castro, J. (1998). Análise de alguns aspetos na prática desportiva por pessoas deficientes. SOBAMA-Revista da Sociedade Brasileira de Atividades Motoras Adaptadas, 3(3), 31-34. 16 Celestino & Pereira Celestino, T., & Pereira, A. (2013). Desporto Orientação: razões de prática e não prática de um grupo de praticantes em contexto de lazer. 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Fifteen trained-handbikers, with history of traumatic tetraplegia (n=4) and paraplegia (n=11) rode their handbikes on an athletics track at submaximal aerobic speeds under metabolic measurements (K4b2). Independent-sample t test showed significant differences between speeds (tetraplegics 4.70±0.72 ms-1 versus paraplegics 6.41±1.07 ms-1; p=0.012) and cardiorespiratory responses (tetraplegics 15.9±3.6 mLkg 1 min-1 versus paraplegics 23.4±3.5 mLkg-1min-1; Submaximal aerobic speeds and p=0.003). cardiorespiratory responses were lower in tetraplegics. However, a low and similar metabolic cost (around 1 Jkg-1m-1) was observed in both tetraplegic and paraplegic riding modern handbikes. O objetivo do presente estudo foi comparar as velocidades de progressão submáximas, as respostas cardiorrespiratórias e o custo metabólico entre indivíduos treinados com tetraplegia e paraplegia pedalando handbikes modernas em condições ecológicas. Quinze handbikers treinados, com histórico de tetraplegia (n=4) e paraplegia (n=11) pedalaram suas handbikes na pista de atletismo em velocidades submáximas sob o registro de variáveis metabólicas (K4b2). O teste t para amostras independentes apontou diferenças significativas entre as velocidades (tetraplégicos 4.70±0.72 ms-1 versus paraplégicos 6.41±1.07 ms-1; p=0.012) e entre as respostas cardiorrespiratórias (tetraplégicos 15.9±3.6 mLkg-1min-1 versus paraplégicos 23.4±3.5 mLkg-1min-1; p=0.003). As velocidades submáximas e as respostas cardiorrespiratórias foram menores nos tetraplégicos. Contudo, um baixo e similar custo metabólico (em torno de 1 Jkg-1m-1) foi observado em ambos tetraplégicos e paraplégicos pedalando handbikes modernas. Keywords: Handbike, locomotion economy, disabled persons Palavras-Chave: Handbike, economica de locomoção, pessoas com deficiência. 18 Fischer &Tartaruga Introduction Handbiking (HB) or Handcycling is a form of adapted cycling, practiced by disabled people using exclusively upper body (Lovel et al., 2012). For people with spinal cord injury, HB is commonly used in rehabilitation programs, recreational activities (Hettinga et al., 2010) and competitions (Fischer et al., 2015). The modern handbikes have been allowing handbikers to travel for longer distances, for an extended duration and at higher speeds than handrim wheelchair riders (Dallmeijer et al., 2004). However, little is presently known about the bioenergetical responses of people with spinal cord injury riding modern handbikes in ecological conditions. Most people with a spinal cord injury, and especially those with a high lesion, have a very low fitness (Valent et al., 2009). Indeed, upper body power output and oxygen consumption, as well as cardiac output and catecholamine response to exercise are typically reduced compare to individuals with paraplegia (Schmid et al., 1998; Theisen, 2012). In addition, shoulder pain appears to be more common in tetraplegics due to repetitive applied forces during wheelchair handrim propulsion (Curtis et al., 1999). In HB competitions (e.g. Paralympic Games) athletes who present limited function in hands and arms, such as tetraplegics, are classified as H1 and H2, while those presenting poor to good trunk control are included in H3 and H4 classes. H5 class includes those that have excellent trunk balance (UCI, 2015). It is well established that handbike propulsion (considering also arm crank ergometer) is energetically more efficient and mechanically less straining than wheelchair handrim propulsion (Arnet et al., 2012; Dallmeijer et al., 2004; Mukherjee & Samanta 2001; Tropp et al., 1997; van der Woude et al., 2006). This is explained mainly by the continuous arm motion, power transfer and a more efficient muscle use during handbike propulsion (Dallmeijer et al., 2004; DeCoster et al., 1999; Janssen et al., 2001). Therefore, we suppose that even people with more severe impairments are able to handcycle with a high economy of locomotion. Metabolic cost (C) is considered the key index of the ’economy’ of locomotion (economy=reciprocal of metabolic cost, Minetti, 2004) and allows comparison among different types of locomotion under different conditions (e.g., speed of progression). Few studies (Maki et al., 1995; Mukherjee & Samanta, 2001) have calculated the metabolic cost of HB in ecological conditions. Despite a more realistic approach of dynamic characteristics, such as stability and maneuverability, these studies were performed with large and heavy old frames handbikes. Furthermore, they did not assess bioenergetics of HB in people with tetraplegia. Therefore, the purpose of this study was to compare aerobic speeds of progression, cardiorespiratory responses and metabolic cost between trained individuals with tetraplegia and paraplegia riding modern handbikes in ecological conditions. It was hypothesized that, tetraplegics would ride the handbikes at lower speeds than paraplegics, but with similar metabolic cost. Methodology Participants Fifteen trained-handbikers, with history of traumatic tetraplegia (n=4; spinal cord injury to the cervical segments C6/C7) and paraplegia (n=11; spinal cord injury between thoracic and lumbar segments T4 – L1), volunteered to participate in this study. Two participants were female (tetraplegia n=1; paraplegia n=1). All participants were wheelchair dependent for their routine ambulation. Participants’ characteristics are showed in Table 1. Selection criteria for participation were: (i) age between 18-58 years, (ii) At least 6 months of experience in HB races (iii) absence of any health problem that contraindicate exercise testing. The study was approved by the University of Verona Ethics Committee and conformed to the standards set by the Declaration of Helsinki. Written informed consent was obtained from all participants. Handbikes Each participant used his/her own rigid-frame handbike, with a synchronous crank system, to perform the tests. All handbikes were recumbent models. The tyre pressure was controlled to 8 bars. Handbikes’ mass are showed in Table 1. Procedures Participants were asked to ride their handbikes on an athletics track at sub-maximal aerobic speeds under cardiorespiratory monitoring. The target speed was defined based on each participant usual 30-40 km race average speed. Three more speeds, 2, 4 and 6 km h-1 lower than the target speed, were further performed randomly. This procedure allowed guaranteeing aerobic and submaximal speeds to each participant. Gear and arm cranking frequency were freely chosen. Each handbike was equipped with a GPS receiver (Edge 305, Garmin, Olathe, USA) allowing participants to control target speed as constant as possible. A rest in-between trials was administered until oxygen consumption returned to the rest value. All tests were performed at the same time of day and in the absence of wind (27±4 °C air temperature and 757±4 mmHg atmospheric pressure). Cardiorespiratory and bioenergetic measurements Participants were equipped with a portable telemetric gas analysis system unit (Figure 1) (K4b2, Cosmed, Rome, Italy) for measures of heart rate (HR), minute ventilation (VE), oxygen consumption (VO2) and Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 19 Fischer &Tartaruga respiratory exchange ratio (RER) on a breath-by-breath basis After a 5-min rest, participants started the test at a pre-determined constant aerobic speed for at least 4 min to reach an oxygen consumption steady state. Trials with average RER greater than 1.00 were excluded. Variables Tetraplegia (n=4) Age (years) Paraplegia (n=11) p value 47±5 44±9 0.911 Body mass (kg) 65.3±14.2 70.5±9.1 0.715 Height (cm) 171.5±10.3 174±5 0.530 14±6 15±9 0.803 Lesion duration (years) HB experience (years) 5±3 6±6 0.661 HB practice (hours week-1) 9.5±0.6 7.7±4 0.421 HB mass (kg) 18.6±2.7 16.8±2.9 0.313 Table 2. Speed, cardiorespiratory variables, and metabolic cost during HB (means±SD) Variables Figure 1. Handbiker equipped with a portable telemetric gas analysis system unit Tetraplegia (n=4) Paraplegia (n=11) p value 4.70±0.72 6.41±1.07 0.012 102±9 148±17 0.001 44±8 0.98±0.05 63±16 0.95±0.04 0.043 0.266 15.9±3.6 23.4±3.5 0.003 VO2 (mL min ) 1074±284 1638±275 0.004 -1 1.01±0.17 1.09±0.05 0.425 Speed (m s-1) HR (bpm) Metabolic cost of HB (C, J kg−1 m−1) was obtained from the ratio of metabolic power above resting to speed of progression (Di Prampero, 1986). Metabolic power (E) was calculated according to an empirical function of the RER, to obtain the metabolic equivalent of the oxygen (mL O2) consumption in J divided by time (s): -1 VE (L min ) RER VO2 (mL kg-1 min-1) -1 -1 C (J kg m ) Notes: HR: heart rate; VE: Minute Ventilation; RER: respiratory exchange ratio; VO2: oxygen consumption; C: metabolic cost Statistics The data were checked for normality using the ShapiroWilk test. Descriptive statistics (means±SD) was used to characterize the sample. To verify differences in the studied variables between tetraplegia and paraplegia groups, an independent-sample t test was performed in SPSS v20. Linear regressions were also performed in SPSS v20. The level of the statistical significance was set at p<0.05. Figure 2 shows metabolic cost over speed for one participant with tetraplegia and for one participant with paraplegia who performed the highest speeds. The best curve fits was found to be curvilinear. Then, we plotted metabolic cost as a function of square speed. The regression analysis showed that metabolic cost increased as a linear function of the squared speed in tetraplegic (y = 0.009x + 0.6563; R2=0.60, p=0.23) and in paraplegic (y = 0.0073x + 0.5118; R2=0.83, p=0.088) (Figure 2). Results Participants’ characteristics did not differ between groups (Table 1). Submaximal aerobic speeds and cardiorespiratory variables (HR, VE; VO2) were significantly lower in tetraplegics (p<0.05) (Table 2). On the contrary, metabolic cost resulted to be similar between groups (p>0.05). Figure 2. Metabolic cost (C) of HB in one tetraplegic (close circles) and in one paraplegic (open circles) over squared speeds. Table 1 - Participants and handbikes’ characteristics (means±SD) Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 20 Fischer &Tartaruga Discussion This study aimed to compare cardiorespiratory responses and metabolic cost between trained individuals with tetraplegia and paraplegia riding modern handbikes in ecological conditions. The main finding was that submaximal aerobic speeds and cardiorespiratory responses were significantly lower in tetraplegics while metabolic cost was similar between groups. Lower speeds and cardiorespiratory responses were expected in tetraplegics due to less active muscle mass (Figoni, 2003), less strength (Hicks et al., 2003) and impaired sympathetic vascular responses (Mills & Krassioukov, 2011; West et al., 2012). An interrupted sympathetic response might lead to bradycardia and lower ventilation, which could explain our lower values of HR and VE compared to paraplegics during HB. Consequently, VO2 was also reduced indicating lower tolerance to handcycle at higher speeds. In addition, our results agree with those observed during a 10km HB race performed with attach-unit handbikes. Average race speed and HR were significantly lower in tetraplegics (13.6 kmh-1;115 bpm) than in paraplegics (from 19.9 kmh-1; 171bpm) (Janssen et al., 2001). The difference between attach-unit handbikes and rigid frames handbikes is that the first is more common for recreational and locomotion purposes (Hettinga et al., 2010). In our study, all participants were trained handbikers and performed the tests with a rigid-frame handbike. This suggests that in race condition our subjects probably would attain higher speeds of progression. Indeed, the well-trained athletes who competed in that race with rigid-frames handbikes attained 23.7 kmh-1 (tetraplegics) and 34.5 kmh-1 (paraplegics) (Janssen et al., 2001). Despite differences in speed of progression and cardiorespiratory responses, metabolic cost did not differ among groups. Our subjects were able to reach relative high submaximal speeds with metabolic cost values around 1 Jkg-1m-1. It also means that HB could be considered a low cost metabolic locomotion even for tetraplegics. For them, HB is easier to perform than handrim wheelchair propulsion. The hands are fixed in pedals with special grips, and forces can be applied continuously over the arm crank improving the economy of movement (Valent et al., 2009). Contrarily, wheelchair propulsion demands more energy to each push (Dallmeijer et al., 2004). Beekman, Miller-Porter and Schoneberger (1999) showed that people with tetraplegia have higher metabolic cost during wheelchair propulsion in ecological conditions than people with paraplegia. In order to compare our results with those calculated by other studies, we show in Figure 3 the metabolic cost values of different types of locomotion (crutch walking [Thys et al., 1996], wheelchair pushing [Ardigò et al., 2005]), walking and running [Saibene and Minetti, 2003]) as a function of the speed. The two iso-power curves correspond to constant metabolic powers of 5Wkg-1 and 11Wkg-1. The diagram shows that for a metabolic power of 5 Wkg-1, for instance, a speed of 2.3ms-1 is attained pushing a modern wheelchair, while riding a handbike a speed of about 5.5 ms-1 is attained, with the same metabolic demand. This may be because the modern handbikes, differently from wheelchairs, are equipped with gear system (muscle function optimizing tool; Ardigò et al., 2003) and are designed to be lighter and more aerodynamic (van der Woude et al., 2006). Additionally, during HB the arms are in continuous moving and the shoulder muscles activation shows on and off phases (Faupin et al., 2010), while this does not happen when pushing a wheelchair (DeCoster et al., 1999). All these features contribute to increase exercise tolerance and consequently provide additional useful daily metabolic energy expenditure, which could also reduce the risk of cardiovascular diseases in spinal cord injury people (Abel et al., 2003). Figure 3. Metabolic cost versus speed curves cross the 2 isopower curves (red) corresponding to constant values metabolic power equal to 5Wkg-1 and 11Wkg-1 (from bottom to the top). CW: Crutch Walking; OW: Old Wheelchair; W: Walking, R Running, MW Modern Wheelchair; HB Handbike. Interestingly, the metabolic cost in spinal cord injury people is reduced by half in comparison to the able bodied walking or by a fourth in comparison to able bodied running (Saibene and Minetti, 2003). These findings open perspectives for the usage of new technologies with important repercussions on mobility for spinal cord injury people. Limitations This study recruited a small sample of trained handbikers, which require caution on results interpretation. Nevertheless, experienced participants and modern handbikes allowed the study to apply ecological methods to assess bioenergetics of HB. Future experiments need to be performed with broader Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 21 Fischer &Tartaruga samples considering also disabled athletes of different HB sports classes. Conclusion Submaximal aerobic speeds and cardiorespiratory responses were lower in tetraplegics. However, a low and similar metabolic cost was observed in both tetraplegic and paraplegic riding modern handbikes. References Abel, T., Kröner, M., Rojas Vega, S., Peters, C., Klose, C., & Platen, P. (2003). Energy expenditure in wheelchair racing and handbiking - a basis for prevention of cardiovascular diseases in those with disabilities. European Journal of Cardiovascular Prevention and Rehabilitation, 10(5), 371–6. http://doi.org/10.1097/01.hjr.0000096542.30533.59 Ardigò, L. P., Saibene, F., & Minetti, A. E. (2003). The optimal locomotion on gradients: walking, running or cycling? European Journal of Applied Physiology, 90(3-4), 365–71. http://doi.org/10.1007/s00421-003 0882-7 Ardigò, L. P., Goosey-Tolfrey, V. L., & Minetti, A. E. (2005). Biomechanics and energetics of basketball wheelchairs evolution. International Journal of Sports Medicine, 26(5), 388–96. http://doi.org/10.1055/s-2004 821316 Arnet, U., van Drongelen, S., Scheel-Sailer, A., Van der Woude, L, & Veeger, D. H. E. 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This cross-sectional descriptive study aimed to evaluate the life quality of 37 students, of both genders, aged between 4 and 12 years old, diagnosed with some type of physical or hearing impairment, met in associations and/or special need schools in Natal / RN, selected unintentionally probabilistic manner. The instrument used for collect information was the questionnaire AUQEI-Autoquestionnaire Qualité de Vie questionnaire image Enfant (Children's Quality of Life Scale). The results showed that 92% of children had preserved quality of life, with no difference between the genders, and the leisure domain as more representative, and the Autonomy domain getting the lowest scores (p≤0,05). Therefore we can conclude that, because they are deaf and children with physical disabilities, the domain of autonomy, which takes into account the independence and the relationship with colleagues, they are the factors that most sadden the children without affecting the overall quality of life that group. O aumento da população deficiente gera preocupação quanto a conscientização, acessibilidade e inclusão destes na sociedade. Diante disso a busca por uma melhor qualidade de vida deve ser impulsionada, por família, amigos e profissionais de saúde. O presente estudo descritivo de corte transversal objetivou avaliar a qualidade de vida de 37 escolares, de ambos os sexos, com idades entre 4 e 12 anos, com diagnóstico de algum tipo de deficiência física ou auditiva, atendidas em escolas especiais e/ou associações na cidade de Natal/RN, selecionados de forma não probabilística intencional. O instrumento utilizado para a coleta das informações foi o questionário AUQEIAutoquestionnaire Qualité de Vie Enfant Imagé (Escala de Qualidade de Vida da Criança). Os resultados mostraram que 92% das crianças tiveram qualidade de vida preservada, não existindo diferença entre os sexos, tendo o Domínio Lazer como mais representativo, e o Domínio Autonomia obtendo os menores escores (p≤0,05). Diante disso podemos concluir que, por se tratarem de crianças surdas e com deficiência física, o domínio autonomia, que leva em consideração a independência e a relação com os colegas, são os fatores que mais entristecem as crianças, sem afetar a qualidade de vida geral desse grupo Keywords: Quality of life, Children, Disabilities Palavras-Chave: Qualidade de vida, Crianças, deficiência 24 Melo, et al. Introdução Muito embora a população em geral acredite que pessoas com deficiência são todas socialmente, biologicamente ou intelectualmente inadequadas cada uma delas é diferente (Diniz, 2013). A deficiência em sua essência trata-se de um conceito relativo, que está embasado sobre questões socioculturais e físicas, e muitas vezes é a própria sociedade que torna as crianças deficientes (Lago, 2012). A partir da definição de saúde proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 1946) como um completo bem-estar físico, mental e social, os estudos relacionados à saúde passam a ganhar novas proporções, tendo, por exemplo, a Qualidade de Vida (QV), em seu sentido mais amplo, atrelada a este conceito. Em consonância, surge a Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS), onde existe uma maior associação de pessoas enfermas, que estão na fase pós-doenças ou em intervenções médicas (Seidl, & Zannon, 2004). No decorrer do processo de construção do presente artigo, notou-se que a publicação sobre qualidade de vida de escolares é escassa, principalmente as que se utilizam de instrumentos que levem em consideração a visão que as mesmas têm sobre a própria vida, já que em geral o questionário é respondido por um pai ou cuidador que tende a reforçar os pontos negativos da deficiência concedendo um perfil negativo para a qualidade de vida da criança (Soares, 2011; Varni, 2001). Os estudos sobre deficiência de escolares devem evoluir nas próximas décadas, visto que os mesmos se justificam para diversos fins como a saúde, educação, política e inclusão (Lago, 2012). Passar a entender como esses escolares vivem como encaram esta condição, como as suas necessidades de cuidado são atendidas e sobre como interpretam e dão significados a este cuidado, são pontos a serem entendidos e que influenciam diretamente na QV deles (Lago, 2012). Em virtude dos fatos apresentados, o presente estudo teve como objetivo avaliar a qualidade de vida de escolares com deficiência. reuniões da Associação de Crianças Portadoras de Mielomeningocele, Hidrocefalia e Paralisia Cerebral do RN-Neurinho, sendo excluídos do estudo os escolares que apresentaram deficiência intelectual. Instrumentos Para avaliar a qualidade de vida, foi utilizado o Autoquestionnaire Qualité de Vie Enfant Imagé (Escala de Qualidade de Vida da Criança) – AUQEI, criado por Manificat e Dazord (1997) na França e validado no Brasil por Assumpção Jr., Kuczynski, Sprovieri, & Aranha (2000). O questionário AUQEI é baseado no ponto de vista da satisfação da criança, visualizada a partir de uma escala de faces com quatro figuras, representando as quatro opções de resposta: Muito Feliz, Feliz, Infeliz, Muito Infeliz. O AUQEI contém 26 questões que contemplam os seguintes domínios: Função (questões 1, 2, 4, 5 e 8), Família (questões 3, 10, 13, 16 e 18), Lazer (questões 11, 21 e 25) e Autonomia (questões 15 17, 19, 23 e 24) além destas, as questões 6, 7, 9, 12, 14, 20, 22 e 26 não fazem parte de nenhum domínio, porém quando somadas ajudam a formar o escore de qualidade de vida total. Não existe um tempo definido para responder cada questão, porém antes de começar a responder as perguntas, solicita-se que a criança apresente uma experiência própria vivida perante cada uma das alternativas (um dia que ela estava feliz, outro muito feliz, outro infeliz e um outro episódio que ela se sentiu muito infeliz). Isso permite que a criança compreenda as situações e apresente respostas mais fidedignas. A escala permite assim, obter um perfil de satisfação da criança diante de diferentes situações, tendo o escore 48 como ponto de corte, onde ao atingir um valor ≥ 48 considera-se a qualidade de vida como Boa e quando a pontuação é < 48 dizemos que a criança apresenta qualidade de vida Ruim. Procedimentos Metodologia Participantes A amostra, selecionada de forma não probabilística intencional, foi formada por 37 escolares (Fem.=20 e Mas.=17), sendo 6 (16%) com diagnóstico de Mielomeningocele, 31 (84%) com diagnóstico de surdez, atendidos nas redes pública e particular de ensino ou em associações filiadas na cidade de Natal – RN. As idades variaram entre 5 e 12 anos, tendo uma média de 10 anos e 5 meses. Destes, 31 (84%) faziam aulas de Educação Física e 6 (16%) não realizavam nenhuma atividade física. Foram incluídos no estudo escolares que fazem acompanhamento no Sistema Universal Verbotonal de Audição Guberina-SUVAG ou que participam das A aplicação dos questionários foi realizada de forma individual, em uma sala reservada e adequada disponibilizada pelas escolas e/ou associações, assegurando a privacidade e o absoluto sigilo dos dados de cada avaliado. Além disso, o questionário foi lido para os escolares de até seis anos de idade, visto que alguns poderiam ter dificuldades para ler o mesmo. Os escolares com deficiência auditiva tiveram o auxílio de uma intérprete de libras no momento da aplicação do questionário. Após todas as avaliações, as seguintes informações foram analisadas e utilizadas como variáveis de desfecho do estudo: média dos escores de cada questão do questionário, média ± desvio padrão dos escores de cada domínio, média do escore global de QV relatada, Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 25 Melo, et al. além da classificação da QV e da comparação dos escores de cada domínio entre os sexos. Análise Estatística A normalidade dos dados foi examinada pelo teste de Shapiro-Wilk, constatando que estes eram não paramétricos. Utilizou-se o teste Qui-quadrado (X²) para verificar a frequência relativa e absoluta das características dos escolares e para a comparação intradomínios foi utilizado o teste U de Mann Whitney. Para todas as análises foi considerado o nível de significância p ≤ 0,05. A análise dos dados foi realizada através do Software SPSS 20.0. Para o Domínio Lazer foi feito um cálculo de proporção simples, já que o mesmo conta com apenas 3 questões, enquanto os demais contemplam 5. Este procedimento foi realizado para que os escores obtidos pudessem ser melhor visualizados e comparados. Os resultados transformados aparecerão na tabela entre parênteses, enquanto os valores reais aparecerão de forma convencional. Figura 1. Escore da soma das respostas por questão do AUQEI A figura 2 apresenta os escores obtidos por domínio do AUQEI. Observou-se que os domínios que apresentaram maior e menor escore foram Lazer (94±0,6) e Autonomia (62,8±0,8) respectivamente. Resultados A figura 1 apresenta os escores da soma por cada questão do AUQEI. Observou–se que a questão 11 “Como se sente no dia do seu aniversário?” e a questão 9 “Como se sente quando você pratica um esporte?” tiveram os maiores escores 102 e 100 respectivamente. Figura 2. Distribuição dos escores por domínios do AUQEI. Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 26 Melo, et al. A figura 3 apresenta o total de pontos de cada criança no escore global da qualidade de vida relatada, onde se observou que apenas 3 não alcançaram o ponto de corte de 48 pontos. 26 crianças obtiveram acima de 60 pontos, sendo o maior e menor escore 62 e 44, respectivamente. Ao comparar os valores de cada domínio entre os sexos, não foram encontradas diferenças significativas. Pôdese perceber que o domínio Lazer foi o que apresentou maiores valores em ambos os sexos. (Tabela 1) Tabela 1. Mediana, Desvio Padrão e valores mínimos e máximos por domínio Mín imo M±DP Máxi mo F 10,50±2,010 8 14 M 10,00±2,024 8 14 F 11,00±2,084 7 15 M 11,00±2,002 7,50 (12,50¨)±1,482(2,534¨) 8,00 (13,00¨)±1,029(1,625¨) 5 13 4 (6¨) 9 (15¨) Função Família F Lazer M Autonomia p.* ,916 ,442 ,097 6 (10¨) 9 (15¨) F 8,00±2,373 5 14 M 9,00±1,326 6 12 ,752 *Valor de p encontrado através do teste U de Mann-Whitney ¨Valor transformado para torna-lo proporcional aos demais domínios. Com relação à tabela 2 podemos inferir que, de forma geral, as crianças avaliadas no presente estudo apresentaram resultados muito satisfatórios no escore global de qualidade de vida relatada, independente do sexo. Tabela 2. Classificação da Qualidade de Vida por Sexo Sexo Feminino Qualidade Boa de Vida Ruim Masculino n n% n n% Total 18 2 52,9 66,7 16 1 47,1 33,3 34 3 Discussão Partindo dos nossos achados, é possível encontrar evidências que corroboram com os resultados encontrados, quando apontam em pesquisa realizada em escolares com doença renal terminal que ao serem questionadas sobre “Como se sente quando você pratica um esporte?” (Questão 9), as mesmas consideram como importante para a felicidade delas, e também cita “Como se sente no dia do seu aniversário?” (Questão 11) como uma das que mais se aproximaram do nível de significância (Brunelli, 2012). Ainda reafirmando nossos resultados, Almeida e Coffani (2011) relatam que por meio do movimento corporal, do lazer, dos momentos de descontração, existe a potencialização da linguagem, principalmente a cultural, que envolve a dança, os esportes, entre outros, permitindo o estabelecimento de ações com a sociedade e trocas de experiências, fator positivo e indispensável para os escolares com deficiência. Por outro lado, as questões “Como se sente quando você fica internado no hospital?” (Questão 14) e “Como se sente quando você toma os remédios?” (Questão 20) obtiveram os menores escores, ambas com 50 pontos de 111 possíveis. Resultados semelhantes aos nossos foram encontrados por Costa (2012), onde as mesmas questões obtiveram os menores escores, a questão 14 apresentou 1 ponto e a questão 20 obteve 4 pontos de 12 possíveis, já que sua amostra era de 4 escolares. Apesar de alguns escolares observarem a internação com um ponto positivo, pois ela está se tratando e consequentemente melhorando sua saúde, o tempo provavelmente tem influenciado diretamente em sua satisfação, já que o ambiente hospitalar se torna pesado, afetando fortemente sua qualidade de vida. A partir disso, similares aos nossos achados, estudos desenvolvidos por Barreire, Oliveira, Kazama, Kimura & Santos, (2003) e Rodrigues (2007) com escolares ostomizados e celíacos respectivamente, seguiram a ordem de maior pontuação para Lazer e Família e menores escores para Função e Autonomia. Com base nessas evidências, Costa (2012) aponta em seu estudo que o domínio lazer é importante para os escolares, pois nele podemos observar a importância do brincar e do tempo livre para a sensação subjetiva de bem-estar percebido pelas mesmas, confirmando que de fato o domínio lazer é um forte promotor para a Qualidade de Vida. No que concerne a Autonomia, Amaral et al (2012) traz a ideia de que quanto maior o investimento na acessibilidade, menor as dificuldades para os deficientes exercerem sua independência, diminuindo as desvantagens naturais dos indivíduos, fator esse que influencia diretamente na qualidade de vida e socialização. Através de nossas análises, foi possível perceber que não houve diferença significativa para os domínios entre os sexos. Resultados esses que concordam com o estudo de Abdo (2013), com escolares que vivem com HIV/AIDS, onde não houve diferença significativa entre os domínios e sexo, porém seus dados se mantiveram no limite da significância, sugerindo que o sexo feminino possa ter um melhor resultado do que o masculino. Nesse contexto, apesar de Abdo (2013) em seus estudos mostrar que existem relações entre doenças pediátricas crônicas, e menor qualidade de vida dos escolares devido à maior suscetibilidade a transtornos mentais, nossas pesquisas mostram que os resultados de escolares saudáveis não são superiores a todas as deficiências, existem escores mais altos como também mais baixos, em destaque estão os nossos achados com 54 pontos, contra 52 dos escolares saudáveis. Nossos resultados constatam com os de Assumpção Jr. et al. (2000) que nos mostra, entre os escolares saudáveis, que a amostra do sexo feminino apresentou Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 27 Melo, et al. escores mais elevados para qualidade de vida, embora com maior variabilidade do que o sexo masculino e também diferem com os de Rodrigues (2007) que apresentam médias globais de QV mais elevadas entre o sexo masculino do que o feminino de escolares celíacas. Não existiram diferenças significativas entre o sexo para os domínios e qualidade de vida dos escolares com deficiência. Entretanto, o domínio autonomia apresentou a menor pontuação para ambos os sexos, o que nos mostra a importância da independência e da socialização para essas crianças, fatores esses que afetam diretamente a qualidade de vida das mesmas. Conclusão Os resultados do presente estudo nos permite concluir que há uma tendência de uma qualidade de vida não prejudicada em crianças com deficiências, independente do sexo, apesar de não terem sido encontradas diferenças significativas nos domínios. A partir das análises realizadas, esse estudo traz contribuições acerca da compreensão da qualidade de vida dessas crianças, seus resultados não podem ser generalizados, devido ao tamanho reduzido da amostra. Entretanto, sugere-se em estudos futuros um direcionamento para os tipos de deficiência e suas características específicas que interferem na qualidade de vida. Referências Abdo, R. F. (2013). Qualidade de Vida e Depressão em Crianças com HIV/AIDS em Mato Grosso Do Sul. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS, Brasil. Almeida, J. B., & Coffani, M. S. C. R. (2010). Educação Física Escolar: reflexões e perspectivas em relação à inclusão do aluno com deficiência física. Revista de Educação PUC-Campinas, (28), p. 55-67. Dos Santos Amaral, F. L. J., de Almeida Holanda, C. M., Quirino, M. A. B., da Silva Nascimento, J. P., da Fonseca Neves, R., Ribeiro, K. S. Q. S., & Alves, S. B. (2012). Acessibilidade de pessoas com deficiência ou restrição permanente de mobilidade ao SUS. Revista Ciência & Saúde Coletiva, 17(7). Junior, A., Francisco, B., Kuczynski, E., Sprovieri, M. H., & Aranha, E. M. (2000). Escala de avaliação de qualidade de vida:(AUQEI-Autoquestionnaire Qualité de Vie Enfant Imagé): validade e confiabilidade de uma escala para qualidade de vida em crianças de 4 a 12 anos.Arq. neuropsiquiatr, 58(1), 119-27. Barreire, S. G., Oliveira, O. A., Kazama, W., Kimura, M., & Santos, V. L. C. G. (2003). Qualidade de vida de crianças ostomizadas na ótica das crianças e das mães. J Pediatr, 79(1), 55-62. Brunelli, G., Nogueira, P. C. K., Pestana, J. O. M., & Diniz, D. H. (2012). Quality of life in children on dialysis. International urology and nephrology,44(5), 1515-1519. Costa, S. M.G. (2012). Qualidade De Vida Em Crianças Com Problemas Motores: Estudo Comparativo. Dissertação de Mestrado. Instituto Politécnico de Castelo Branco, Castelo Branco, Portugal. Diniz, D. (2013). Deficiência e políticas sociaisentrevista com Colin Barnes. SER Social, 15(32), 237 251. Lago, D.B.R. (2012). Significados da deficiência física na perspectiva da pessoa que vivência, sua principal cuidadora e de profissionais de enfermagem. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MS, Brasil. Manificat, S., Dazord A. (1997). Évaluation de la qualité de vie de l’enfant: validation d’um questionnaire, premiers résultats. Neuropsychiatr Enfance Adolesc. 45, 106-114. Mello, D.B., Moreira, M. C. N. (2010). A hospitalização e o adoecimento pela perspectiva de crianças e jovens portadores de fibrose cística e osteogênese imperfeita. Ciência e Saúde Coletiva, 15(2), 453-461. Organização Mundial de Saúde (1946). Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO). Recuperado em 09 de Junho, 2014, de http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMSOrg aniza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da Sa%C3%BAde/constituicao-da-organizacao-mundial da-saude-omswho.html Rodrigues, L. (2007). Avaliação da qualidade de vida de crianças celíacas em uso de dieta isenta de glúten: um estudo de caso-controle. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Seidl, E. M. F., Zannon, C. M. L. C. (2004). Qualidade de vida e saúde: aspectos conceituais e metodológicos. Cad. Saúde Pública, 20(2), 580-588. Soares, A. H. R., Martins, A. J., Lopes, M. D. C. B., de Britto, J. A. A., de Oliveira, C. Q., & Moreira, M. C. N. (2011). Qualidade de vida de crianças e adolescentes: uma revisão bibliográfica Quality of life of children and adolescents: a bibliographical review. Ciências & Saúde Coletiva, 16(7), 3197-3206. Varni, J. W.; Seid, M.; Kurtin, P. S. (2001). PedsQL™ 4.0: Reliability and Validity of the Pediatric Quality of Life Inventory™ Version 4.0 Generic Core Scales in Healthy and Patient Populations. MEDICAL CARE, 39(8), 800–812. Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 28 Melo, et al. Zambrano-Sánchez, E., Martínez-Cortés, J. A., RíoCarlos, Y. D., Dehesa-Moreno, M., & Poblano, A. (2012). Low quality of life scores in school children with attention deficit-hyperactivity disorder related to anxiety. Arquivos de neuro-psiquiatria,70(3), 180-184. Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 29 Desporto e Atividade Física para Todos – Revista Científica da FPDD, 2015 Vol. 1, N.º 1, ISSN 2183-511X Adapted Sports: Training and Opinion of the Portuguese Coaches Desporto Adaptado: Formação e Opinião dos Treinadores Portugueses João Paulo Saraiva1, Anabela Cruz-Santos1 1 Instituto de Educação da Universidade do Minho Abstract Resumo Coaches have a considerable influence on their athletes, being the lack of specific knowledge about their features / capabilities among the main barriers to the involvement in sports in the particular case of people with disabilities. Among the objectives of this study are to assess whether (1) the academic/professional training of disabled sports coaches in Portugal is suitable (or not) to the practice of this activity, (2) what they think about the material conditions available to them and (3) the relationship of the families of athletes with disability sports, as well as (4) the reasons that could explain their reduced involvement in sports. The sample consists of 84 individuals, most of them men (60%) aged between 31 and 40 years (25%). The results indicate an acceptable training of Portuguese adapted sports coaches, having these mostly stated that the available material conditions do not constitute an obstacle to the access of disabled people to sport, and that the lack of information on its benefits, on the offer of sports available in the community they live and transportation difficulties are the major barriers that affect the involvement of people with disabilities in sports phenomenon. Os treinadores têm uma influência considerável sobre os seus atletas, estando a falta de conhecimentos específicos sobre as suas caraterísticas/capacidades entre as principais barreiras ao envolvimento na prática desportiva no caso particular de pessoas com deficiência. Entre os objetivos do presente estudo estão avaliar se (1) a formação académica/profissional dos treinadores de desporto adaptado em Portugal adequa-se (ou não) ao exercício desta atividade, (2) saber o que pensam sobre as condições materiais de que dispõem, (3) a relação das famílias dos atletas com o desporto adaptado, assim como (4) os motivos que podem explicar o seu reduzido envolvimento na prática desportiva. A amostra é constituída por 84 indivíduos, sendo a sua maioria homens (60%) na faixa etária entre os 31 e os 40 anos (25%). Os resultados apontam para uma formação aceitável dos treinadores de desporto adaptado portugueses, tendo a sua maioria afirmado que as condições materiais disponíveis não constituem um obstáculo ao acesso de pessoas com deficiência à prática desportiva, e que a falta de informação sobre os seus benefícios, sobre a oferta desportiva na comunidade onde vivem e as dificuldades de transporte são as maiores barreiras à sua participação no fenómeno desportivo. Keywords: Palavras-Chave: Desporto, deficiência, Treinadores, Barriers Sports, Disability, Coaches, Training, Formação, Barreiras 30 Saraiva & Santos Introdução Sendo o desporto uma atividade estruturada regida por regras e representações técnico-táticas específicas de cada modalidade, os treinadores têm uma influência considerável sobre os seus atletas, na medida em que são vistos por estes como líderes e especialistas (Conroy & Coatsworth, 2006). Sobre esta questão, Mallett & Còté (2006) afirmaram que os treinadores são fundamentais para o progresso desportivo dos seus atletas, na medida em cabe-lhes prepará-los com base em conhecimentos específicos imprescindíveis para a obtenção de sucesso na respetiva modalidade. Os treinadores também têm uma grande responsabilidade em tornar agradável a prática desportiva, sendo as metodologias de treino adotadas e o apoio prestado pelo treinador aos seus atletas um dos principais aspetos geradores de sucesso no desporto (Nazarudin, OmarFauzee, Geok, Jamalis & Din, 2009). Nesse sentido, nos últimos anos, a ciência do treino tem sido tema de reflexão em uma grande variedade de revistas científicas em todo o mundo (Gilbert & Trudel, 2004), tendo a crescente profissionalização da função de treinador desportivo contribuído para o desenvolvimento de atividades na área do aperfeiçoamento técnico. A investigação sobre a formação de treinadores tem procurado expandir o conhecimento sobre o que os treinadores precisam saber para sejam capazes de exercer esta função com competência (Cushion et al, 2003; Demers et al, 2006). O desenvolvimento profissional de um treinador é um processo abrangente que inclui os diferentes caminhos e experiências que influenciam a sua aprendizagem e o seu crescimento global (Mallett, Trudel, Lyle, e Rynne, 2009; Trudel, Gilbert, e Werthner, 2010). Mais especificamente, os pesquisadores descobriram que os contextos de formação de um treinador são classificados em quatro tipos: formal (p. ex., cursos de treinadores), não formais (p. ex., workshops, seminários, etc.), informais (p. ex., pesquisas online) (Nelson, Cushion & Potrac, 2006) e interna (p. ex., reflexão crítica registada em diário) (Werthner & Trudel, 2006). No caso específico do desporto adaptado, o treinador deve ter também conhecimentos sobre outros fatores contextuais, como a acessibilidade das instalações, as condicionantes relativas ao transporte de atletas com deficiência e a relação/comunicação com os seus cuidadores (Cregan, Bloom & Reid, 2007). A prática desportiva é vista como um importante instrumento de intervenção para as pessoas com deficiência (Council of Europe Committee of Ministers Recommendation, 2001), que pode ser desenvolvida num contexto educacional, recreativa, profissional, competitivo ou terapêutico (European Scrutiny Committee, 2011). Contudo, apesar da escassez de dados disponíveis a nível mundial, num estudo recente (Saraiva, Almeida, Oliveira, Fernandes & Cruz-Santos, 2013), verificou-se que Portugal apresenta uma taxa extremamente reduzida (apenas 0,4%) de envolvimento em atividades desportivas de caráter regular entre a população com deficiência, facto que deve ser alvo de uma profunda reflexão sobre os aspetos estruturais, logísticos e/ou humanos que podem ser assumidos como potenciadores desta realidade. Sobre esta matéria, fatores intrínsecos, como o cansaço, a falta de energia, o desconforto ou o constrangimento, a falta de apoio da família/amigos, o medo do desconhecido, a falta de informação; e/ou extrínsecos, como as dificuldades de transporte (especialmente no caso de cadeirantes), o acesso às instalações desportivas, a mobilidade e adaptação das mesmas às suas necessidades, são referidos na literatura como barreiras para a prática de atividades físicas entre pessoas com deficiência (Audley, 2002; Rimmer, Riley, Wang, Rauworth & Jurkowski, 2004; Buffart, Westendorp, Berg-Emóns, Stam & Roebroeck, 2009). Entretanto, a falta de conhecimentos específicos dos técnicos/professores/treinadores tem sido igualmente apontada como uma das principais barreiras ao envolvimento de pessoas com deficiência em atividades físicas e desportivas (Audley, 2002; Rimmer et al. 2004; Moran & Block, 2010; Elinder, Bergstrom, Hagberg, Wihlman & Hagstromer, 2010; Roberton, Bucks, Skinner, Allison & Dunlop, 2011) e, nesse sentido, consideramos importante saber se a (1) formação académica/profissional que possuem os treinadores de desporto adaptado em Portugal adequa-se (ou não) ao exercício desta atividade, complementando esta informação com (2) o que pensam sobre diferentes aspetos, nomeadamente se as condições materiais de que dispõem para a prática desportiva são as ideais atendendo às limitações dos seus atletas e às especificidades dos desporto praticado, (3) a relação das famílias dos atletas com o desporto adaptado, assim como (4) os motivos que na sua opinião (dos treinadores) explicam o reduzido envolvimento das pessoas com deficiência na prática desportiva tendo por base o seu conhecimento do contexto social envolvente. Metodologia Participantes A amostra foi constituída por 84 indivíduos, sendo 50 do género masculino (60%) e 34 do género feminino (40%), e a sua maioria (42%) tem entre 31 e 40 anos de idade, enquanto 26% tem entre 41 e os 50 anos e 23% tem entre os 20 e os 30 anos. Por fim, apenas 9% dos inquiridos tem mais de 51 anos de idade. Ao nível da sua distribuição pelo território nacional, a Zona Norte é onde reside a maioria dos participantes (33%), seguida da Zona de Lisboa e Vale do Tejo (26%), das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira (18%), da Zona Centro (13%) e da Zona Sul (10%). Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 31 Saraiva & Santos Instrumentos Os participantes foram convidados por e-mail a responder um inquérito online, onde as questões colocadas foram categorizadas em 3 domínios: (i) as habilitações académicas e/ou profissionais que os treinadores possuem para trabalhar com pessoas com deficiência; (ii) as suas opiniões/conceções sobre diferentes aspetos relacionados com a sua atuação como treinador de desporto adaptado; e (iii) as suas opiniões sobre os motivos que possam explicar o não envolvimento de pessoas com deficiência na prática desportiva. O convite para a participação no estudo foi intermediado pelas cinco associações de desporto para pessoas com deficiência existentes em Portugal, que foram convidadas a colaborar na sua divulgação, nomeadamente a Associação Nacional de Desporto para a Deficiência Intelectual (ANNDI), a Associação Nacional de Desporto para a Deficiência Motora (ANNDEMOT), a Associação Nacional de Desporto para a Deficiência Visual (ANNDVIS), a Paralisia Cerebral – Associação Nacional de Desporto (PC-AND) e a Liga Portuguesa de Desporto para Surdos (LPDS). Procedimentos Estatísticos Recorreu-se à estatística descritiva simples para descrever a frequência de distribuição da amostra em função das variáveis em estudo e ao teste do quiquadrado (x2) para quantificar a dispersão resultante do cruzamento de duas variáveis qualitativas, avaliando assim o grau de associação entre elas. Foi utilizado o software SPSS versão 22. Tabela 1. Caraterização da amostra em função da habilitação académica e das competências exigidas/adequadas para a dinamização de atividades desportivas junto de pessoas com deficiência. 9.º 12.º ano ano (N) (N) 3 Possui Cédula de Treinador de DA? Tem formação em EE? Sim 9 Pós LicenMes graduação Total trado ciatura /Especiali(N) (N) (N) zação (N) 38 15 19 p 84 3 8 14 5 9 39 Não 0 1 24 10 10 45 4 5 6 3 0 9 25 13 27 11 15 23 12 3 12 3 6 9 17 2 16 3 11 8 59 .000* 25 62 .000* 22 32 .031* 51 Sim Não Tem formaçãoSim Não em AMA? Tem formação Sim em EF? Não 1 2 1 2 0 3 .014* (Legenda: DA – Desporto Adaptado; EE – Educação Especial; AMA Atividade Motora Adaptada; EF – Educação Física) * diferenças estatisticamente significativas ˂ .005 Entretanto, ao questionarmos os participantes sobre a posse de conhecimentos mais específicos no âmbito da deficiência adquiridos por via de ações de formação, seminários, workshops e/ou de estudos superiores (graduação ou pós-graduação), observamos que uma parcela substancial da amostra (70%) revelou possuir formação complementar na área da Educação Especial, sendo a sua prevalência superior em pessoas com um nível de escolaridade mais elevado. Do mesmo modo, e numa percentagem ligeiramente superior à anterior (74%), a maioria dos participantes declarou possuir também conhecimentos na área da Atividade Motora Adaptada (AMA). Por fim, constatamos que uma minoria (38%) da amostra possui formação na área da Educação Física. Em todos os casos, as diferenças observadas foram estatisticamente significativas. Resultados Barreiras e Facilitadores da prática desportiva Formação académica/profissional A Tabela 1 permite observar a distribuição da amostra em termos de formação académica e de competências consideradas como as mais adequadas para a dinamização de atividades desportivas junto de pessoas com deficiência. Assim, verificamos que 86% dos participantes tem um nível académico igual ou superior a licenciatura, enquanto apenas 14% tem um nível de escolaridade básico/secundário. Entretanto, em observância com o disposto na Lei n.º 40/2012, de 28 de agosto, que estabelece o regime de acesso ao exercício da atividade de treinador de desporto, visando assim dignificar o desporto como profissão e promover o aperfeiçoamento qualitativo e quantitativo de prática desportiva (artigo 2.º), constatamos que aproximadamente metade da amostra (46%) possui a Cédula de Treinador de Desporto. De seguida, procurámos saber a opinião dos treinadores sobre alguns aspetos relativos à realidade com que trabalham, nomeadamente ao nível das instalações onde treinam e do envolvimento (financeiro e emocional) dos familiares dos seus atletas com a prática desportiva (Tabela 2). Tabela 2. Opinião dos treinadores sobre diferentes aspetos relacionados com a prática desportiva dos seus atletas. Condições de Acessibilidade Condições Materiais Condições de Segurança Família tem de pagar pela prática desportiva Família acompanha nos treinos e competições N N N N N SIM 70 62 73 34 29 NÃO 14 22 11 50 55 Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 32 Saraiva & Santos Podemos observar que a maioria significativa dos treinadores (83%) considerou que as instalações onde decorriam as sessões de treino reuniam as condições de acessibilidade ideais face às características dos seus atletas. Relativamente às questões de segurança, 87% dos inquiridos afirmaram que as instalações desportivas dispunham das condições necessárias, enquanto 74% revelou que os materiais disponíveis para a prática desportiva eram suficientes em quantidade e variedade. Em relação ao envolvimento da família na prática desportiva dos seus entes com deficiência, 40% dos treinadores inquiridos declararam que as famílias tinham de suportar os custos inerentes à prática desportiva dos seus atletas. Por fim, os treinadores relataram que 35% das famílias acompanhavam os seus atletas com deficiência nos treinos e/ou nas competições em que participavam. Os treinadores foram ainda questionados sobre se na comunidade envolvente ao clube/associação/escola, onde são desenvolvidas as atividades desportivas para pessoas com deficiência, existiriam indivíduos que não praticavam desporto. A maioria dos inquiridos (86%) respondeu afirmativamente e, na opinião destes, os principais motivos para essa percentagem são apresentados na Tabela 3. Tabela 3. Principais motivos, na opinião dos treinadores, para o não envolvimento de pessoas com deficiência em atividades desportivas. Receio de não Falta de Não DesconhePoucos Falta de conseguirem gostam cimento da apoio Falta de recursos apoio da adquirir as de dos transporte oferta financeiros família competências desporto desportiva amigos necessárias 26% 49% 41% 37% 1,2% 41% 27% Podemos observar que, na opinião dos treinadores de desporto adaptado, entre os motivos para o não envolvimento das pessoas com deficiência nas atividades desportivas existentes na sua área de residência, os principais são o desconhecimento da oferta desportiva, seguido dos poucos recursos financeiros das famílias para suportar os custos com a prática desportiva e da falta de transporte para os locais de treino e/ou das competições, assim como a falta de apoio/incentivo das famílias para a pratica desportiva. Discussão O presente estudo teve como objetivo caracterizar os treinadores que trabalham com o desporto adaptado em Portugal, analisando a sua formação académica/profissional e as suas conceções sobre diferentes aspetos relacionados com o desempenho das suas funções, quer a nível organizativo quer ao nível das relações que os seus atletas estabelecem (ou não) com a comunidade onde vivem. O desenvolvimento do fenómeno desportivo tem recebido uma considerável atenção nos últimos anos (Martindale, Collins & Daubney, 2005; Starkes & Ericsson, 2003), devido ao evidente e complexo conjunto de fatores genéticos e ambientais que interagem para facilitar e estimular a excelência desportiva (Singer & Janelle, 1999). Talvez o tema mais consistente encontrado em toda a literatura é o papel crítico do treinador no desenvolvimento do talento desportivo. Embora a influência do treinador varie entre culturas, modalidades e estádios de desenvolvimento dos atletas (Bloom, 1985; Salmela & Moraes, 2003), a formação de um treinador é essencial para o tornar competente. Alguns estudos que examinaram a formação académica/profissional de treinadores empregaram a análise indutiva resultante de dados de entrevistas (Salmela, 1995; Fleurence & Cotteaux, 1999; Irwin, Hanton & Kerwin, 2004; Jones, Amour & Potrac, 2004; Abraham, Collins & Martindale, 2006; Wright, Trudel & Culver, 2007), enquanto outros, embora raros, utilizaram questionários em amostras extensas e que por isso poderiam dar um retrato mais representativo da realidade (Reade, Rodgers & Hall, 2008; Timson-Katchis & North, 2008). A escassez de estudos desta natureza, quer em Portugal quer no estrangeiro e sobretudo no âmbito do desporto adaptado, torna difícil a análise da realidade atual em termos de formação dos treinadores portugueses por comparação com outras. No entanto, constatamos que a percentagem de licenciados da nossa amostra, independentemente da posse de formação complementar/específica em E.E., A.M.A. e/ou E.F., está de acordo com o observado por Timson-Katchis e North (2008, 2010) no Reino Unido. No que se refere aos conhecimentos/habilitações específicas para treinar pessoas com deficiência, verificamos que, quer no âmbito da E.E. quer no âmbito da A.M.A., a maioria dos treinadores inquiridos adquiriu competências nessas áreas, o que nos leva a crer que é reconhecida a sua importância para um melhor desempenho na condução do processo de treino e no próprio relacionamento com o atleta. Por outro lado, uma percentagem reduzida dos inquiridos revelou não possuir qualquer grau académico, apesar dos indícios que apontam que o desenvolvimento técnico por vezes assenta em competências que podem ser adquiridas através de atividades de aprendizagem ocorridas dentro ou fora do recinto de jogo, tanto em ambientes educativos formais e/ou informais (Schinke, Bloom & Salmela, 1985). Sobre esta questão, alguns estudos sugerem que os treinadores tendencialmente não valorizam a sua aprendizagem formal, preferindo as competências adquiridas por via de experiências práticas (Gilbert, Côté & Mallett, 2006; Jones et al. 2004), uma vez que acreditam que a chave para se tornar um treinador de sucesso é muito mais influenciada pelas experiências interativas, nomeadamente através da resolução de questões situacionais, observações de pares e/ou a partilha de conhecimentos com outros treinadores, que quaisquer programas de formação (Jones et al 2004; Lemyre & Trudel, 2004). Contudo, apesar de a literatura destacar o dinamismo da aprendizagem informal e/ou social, isto não quer dizer Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 33 Saraiva & Santos que os treinadores não vejam qualquer valor em oportunidades de aprendizagem formal. Nesse sentido, estudos confirmam que os treinadores ainda adquirem informação e conhecimento técnico através da participação em cursos de profissionalização, seminários e workshops (Schempp, Templeton & Clark, 1998; Timson-Katschis & North, 2008; Wright et al. 2007). Por conseguinte, tem havido um crescimento considerável na importância atribuída à formação de treinadores em muitos países ocidentais (Erickson, Bruner, MacDonald & Côté, 2008; Gilbert & Trudel, 1999; Lyle, 2002). Em Portugal, a recente Lei n.º 40/2012, de 28 de agosto, alterou o paradigma da formação/certificação de treinadores de desporto, refletindo o reconhecimento do Estado de que a existência de treinadores qualificados é uma medida indispensável para que a prática desportiva decorra na observância das regras que garantam a ética desportiva, o desenvolvimento do espírito desportivo, assim como a defesa da saúde e da segurança dos praticantes. Nesse sentido, o mesmo diploma centralizou no Instituto do Desporto de Portugal, I.P. (IDP) um conjunto competências sobre esta matéria, que se estendem desde o reconhecimento das diferentes vias que permitem a obtenção do Título Profissional de Treinador de Desporto (artigo 6.º), a emissão de Títulos Profissionais (artigo 7.º), a certificação de Entidades Formadoras (artigo 9.º), entre outras. No que concerne a formação, e em articulação com as diferentes federações desportivas, que mantêm-se como responsáveis pela dinamização dos cursos, esta entidade foi a responsável pela conceção de documentos estruturantes e uniformizadores do processo formativo de treinadores, tais como o Programa Nacional de Formação de Treinadores (IPD, 2010) e os Referenciais de Formação Geral (IPD, 2011). Centrando agora a nossa análise na opinião dos treinadores acerca de eventuais facilitadores e barreiras à prática desportiva por parte de pessoas com deficiência, atendendo à realidade que conhecem do contexto onde exercem o seu trabalho, a acessibilidade das instalações não constitui uma barreira, contrariando o que foi observado por Roberton et al (2011) em uma amostra de adolescentes e jovens adultos australianos com lesão na medula espinhal, em que aproximadamente metade apontou a (in)acessibilidade das instalações desportivas como justificação para o facto de não praticarem atividades físicas. Entretanto, na Holanda, numa amostra de pessoas com um dos membros inferiores amputados, Bragaru, Wilgen, Geertzen, Ruijs et al (2013) verificaram que, para além da acessibilidade dentro da própria instalação, a inexistência de instalações desportivas nas proximidades da sua zona de residência foi considerada uma importante barreira ao seu envolvimento em atividades físicas. Em Portugal, esta questão foi estudada por Sá, Azevedo, Martins, Machado & Tavares (2012), que avaliaram o nível de acessibilidade das instalações desportivas para pessoas com mobilidade reduzida na segunda maior cidade do país e constataram na sua maioria a existência de não conformidades com as adequações técnicas impostas por lei, comprometendo desta forma a participação de pessoas com deficiência em atividades desportivas que nelas pudessem ser desenvolvidas para este público-alvo. Por outro lado, os materiais/equipamentos à disposição dos treinadores da nossa amostra não constituem, quer em variedade quer em quantidade, uma barreira à prática desportiva dos seus atletas com deficiência. Todavia, apesar de não ser considerado um fator determinante, alguns estudos apontam a carência de recursos materiais como uma restrição ao envolvimento de pessoas com deficiência em atividades desportivas (Rimmer et al 2004; Sá et al 2012). No entanto, uma menor complexidade da atividade desportiva desenvolvida pelos treinadores inquiridos no presente estudo, e por conseguinte a necessidade de materiais menos específicos para a prática desportiva dos seus atletas com deficiência, pode estar origem das opiniões recolhidas. Outro aspeto recorrentemente referido como condicionador da prática desportiva por parte de pessoas com deficiência está relacionado com eventuais custos que têm de ser suportados pelos atletas, nomeadamente com aquisição de equipamentos específicos, utilização das instalações desportivas e/ou a remuneração do próprio treinador (Rimmer, Rubin & Braddock, 2000; Rimmer et al 2004; Bedell et al 2013; Jaarsma, Dijkstra, Blécourt, Geertzen & Dekker, 2014). Contudo, de acordo com a maioria dos treinadores inquiridos, a maioria dos atletas (e suas respetivas famílias) estão dispensados do pagamento de quaisquer encargos relativos à prática desportiva, o que deve ser considerado de especial relevância devido a conjuntura socioeconómica conturbada que Portugal atravessa atualmente e atendendo sobretudo às despesas adicionais que as famílias com pessoas com deficiência têm de suportar, nomeadamente com assistência médica regular, medicação variada, exames periódicos, terapias contínuas etc. (Anderson, Dumont, Jacobs & Azzaria, 2007; Stabile & Allin, 2012). Por fim, ainda que, na opinião dos treinadores de desporto adaptado inquiridos no presente estudo, as condições de que dispõem para a prática desportiva sejam favoráveis, existem pessoas com deficiência no meio envolvente que não aderem. Entre os principais motivos apontados para explicar esta realidade estão a falta de informação sobre a oferta desportiva na comunidade onde vivem (Rimmer et al 2004; Buffart et al 2009) e, sobretudo, sobre os benefícios da prática para a sua saúde (Audley, 2002; Roberton et al 2011); e as dificuldades de transporte dos interessados de e para os locais de treino (Rimmer et al 2004; Bragaru et al 2013), podendo esta questão estar relacionada com o facto de morarem em zonas mais periféricas, por vezes de difícil acesso, e portanto menos servidas em termos de transporte público. Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 34 Saraiva & Santos Conclusão O treinador ocupa uma posição fundamental no contexto desportivo, assumindo-se como um poderoso agente socializador cujo comportamento pode afetar o desempenho do atleta, a sua aprendizagem e uma série de resultados psicossociais. Tendo em conta que o conhecimento varia de acordo com o tipo de deficiência de um atleta, as fontes de aprendizagem devem ser analisadas como tal e, posteriormente, consideradas no perfil de formação de um treinador de desporto adaptado. No caso dos treinadores portugueses, a maioria possui competências direcionadas para o exercício específico dessa atividade, adquirida sobretudo através de frequência universitária em programas de formação pós-graduada. Entretanto , será importante reavaliar periodicamente os programas de formação de treinadores em Portugal, assim como as suas perceções e opiniões sobre os mesmos, particularmente em termos de atualização de conhecimentos que possam ter um eventual impacto na otimização do seu desempenho. Relativamente as condições disponíveis para a prática desportiva de pessoas com deficiência, de acordo com a opinião dos treinadores, as barreiras identificadas no presente estudo devem servir de base para a implementação de ações que, fundamentalmente, (1) promovam a difusão da prática desportiva e divulguem em larga escala os seus benefícios para o estado de saúde das pessoas com deficiência e (2) apoiem financeira ou materialmente as pessoas cujas famílias não têm condições para suportar os encargos subjacentes à um estilo de vida ativo. Referências Abraham, A., Collins, D., & Martindale, R. (2006). The Coaching Schematic: Validation Through Expert Coach Consensus. J Sports Sci, 24(6), 549-564. Anderson, D., Dumont, S., Jacobs, P., & Azzaria, L. (2007). The Personal Costs of Caring for a Child with a Disability: A Review of the Literature. Public Health Reports, 122, 3-16. Audley, P. (2002). 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The sample was composed by athletes of the Brazilian athletics Paralympic team. To assess the variables, was used an isokinetic dynamometer at angular velocities of 60°/s-1 and 180°/s-1. Analysis of the means by t test for independent samples were conducted to investigate differences in the evaluated parameters. For all statistical procedures, the confidence interval was 95% (p<0.05). No significant differences were found in any of these comparisons, whether the angular velocity of 60°/s-1 (Extension – p=0.54 / Flexion - p=0.67) as well as 180°/s-1 (Extension – p=0.47 / Flexion - p=0.56). In conventional ratio it was not observed significant differences (60°/s-1: p=0.90 / 180°/s-1: p=0.87). It was concluded that the athletes of the Brazilian Paralympic team of athletics showed satisfactory results both in the peak torque and in the hamstrings/quadriceps ratio and it may result in less risk of injury related to muscle factors on lower limbs. O objetivo deste estudo foi comparar o momento máximo de força e a razão ísquiotibiais/quadríceps dos músculos extensores e flexores da articulação do joelho em atletas da Seleção Brasileira Paralímpica de Atletismo. A amostra foi composta por atletas da seleção Brasileira Paralímpica de atletismo. Para a avaliação das variáveis, foi utilizado um dinamômetro isocinético nas velocidades angulares de 60°/s-1 e 180°/s-1. Realizou-se a análise das médias através do teste t para amostras independentes para investigar diferença nos parâmetros avaliados. Para todos os procedimentos estatísticos, o intervalo de confiança foi de 95% (p<0,05). Não foram encontradas diferenças significativas em nenhuma das comparações, seja na velocidade angular de 60°/s-1 (Extensão - p=0,54 / Flexão - p=0,67) como também com 180°/s-1 (Extensão - p= 0,47 / Flexão p=0,56). Na razão ísquiotibiais/quadríceps também não foram observadas diferenças estatísticas (60°/s-1: p=0,90 / 180°/s-1: p=0,87). Conclui-se que os atletas da seleção paralímpica brasileira de atletismo apresentaram resultados satisfatórios quanto ao momento máximo de força e à razão ísquiotibiais/quadríceps, podendo implicar em menores riscos de lesões relacionadas aos fatores musculares de membros inferiores. Keywords: Muscle strength; joint balance, disabled Palavras-Chave: Força Muscular, Equilíbrio Articular, people, dynamometer. Pessoas com deficiência, Dinamômetro 38 Silva, et al. Introdução Metodologia O paradesporto de alto rendimento comumente tem sido relacionado com elevados índices de lesões, as quais se concentram principalmente nos membros inferiores, mais precisamente na região do joelho e da coxa, chegando a representar em algumas modalidades 80% do total de lesões (Morato, Bilzon, & Duarte, 2013). Tal fato parece ser justificado pelo comprometimento de alguns sistemas, dentre eles o proprioceptivo e o visual, somado às elevadas cargas de Treinamento (Silva, Duarte, Silva, Silva, & Vital, 2011). Sendo assim, evitar que as lesões esportivas ocorram é um dos objetivos principais de todos os profissionais que trabalham com as ciências do esporte (Campos et al., 2015). Na modalidade de atletismo, percebe-se uma ocorrência muito grande de lesões musculares, responsáveis pela diminuição da capacidade física dos atletas e pelo seu afastamento de treinos e competições, além dos altos custos com o tratamento (Pastre, Carvalho Filho, Monteiro, Netto Júnior, & Padovani, 2004). Alguns autores citam que essas lesões são decorrentes de fraqueza muscular e, consequentemente, instabilidade articular (Croisier, Forthomme, Namurois, Vanderthommen, & Crielaard, 2002; Grace, 1985). Desta forma, uma avaliação precisa da força muscular tem sido de fundamental interesse clínico, principalmente quando o objetivo é prevenir lesões através da identificação precoce de deficiência contralateral de um grupo muscular, ou de desequilíbrio entre músculos antagonistas de uma articulação (Campos et al., 2015). A avaliação isocinética é considerada padrão ouro na análise dos parâmetros neuromusculares (Terreri, Greve, & Amatuzzi, 2001), e tem sido utilizada para determinar os níveis de torque produzidos por atletas em ações excêntricas e concêntricas de musculaturas como quadríceps e ísquiotibiais (Silva Neto, Simões, Grangeiro Neto, & Cardone, 2010; Zabka, Valente, & Pacheco, 2011). Adicionalmente, a avaliação isocinética tem sido utilizada por permitir identificar déficits de força muscular bilateral e entre diferentes musculaturas agonistas e antagonistas (Carvalho, & Cabri, 2007; Ferreira, Gomes, Ferreira, Arruda, & França, 2010; Weber, Silva, Radaelli, Paiva, & Pinto, 2010). Os resultados da avaliação isocinética permitem identificar atletas que possam estar mais susceptíveis à ocorrência de lesões, por possíveis desequilíbrios musculares, que podem produzir elevados níveis de stress nos tecidos, permitindo uma especificação nos treinos e condutas no que diz respeito à prevenção (Croisier, Ganteaume, Binet, Genty, & Ferret, 2008; Bittencourt et al. 2005; Oberg, Möller, Gillquist, & Ekstrand, 1986). Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar o Momento Máximo de Força (MMF) e a razão ísquiotibiais/quadríceps (I/Q) em atletas profissionais da Seleção Brasileira Paralímpica de Atletismo. Participantes Participaram deste estudo descritivo 20 atletas (19,8 ± 3,6 anos) da seleção brasileira paralímpica de atletismo, sendo 10 do sexo feminino e 10 do sexo masculino. Os atletas apresentavam diferentes tipos de deficiência, sendo 12 com deficiência visual, 2 com deficiência intelectual e 6 com paralisia cerebral, todos andantes. Durante o período das avaliações, os atletas encontravam-se no período preparatório geral. Os participantes foram inicialmente esclarecidos sobre os procedimentos da pesquisa e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, conforme as Normas de Realização de Pesquisas com Seres Humanos (resolução nº 466/12 do CNS). A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Instrumento Os atletas foram orientados a não realizar atividades moderadas ou vigorosas nas 48h antecedentes às avaliações, buscando evitar interferência de outros fatores que pudessem comprometer as avaliações e os resultados. As coletas foram realizadas no laboratório do instituto do sono em São Paulo com temperatura ambiente entre 20ºC e 22ºC. Em seguida, os atletas foram submetidos à avaliação dos parâmetros neuromusculares e déficits bilaterais da musculatura extensora e flexora dos joelhos em diferentes velocidades de execução, sendo utilizado um dinamômetro isocinético da marca Biodex System 3® (Biodex Medical Systems, Shirley, NY, EUA). Os atletas foram posicionados sentados na cadeira do dinamômetro seguindo as recomendações do manual de padronização fornecido pelo fabricante do equipamento, devidamente estabilizados através de cintos fixados ao tórax, quadril e coxa do membro a ser testado para evitar compensações. O eixo de rotação do dinamômetro foi alinhado com o eixo de rotação da articulação do joelho testado (côndilo lateral do fêmur), para evitar que as mensurações do MMF fossem invalidadas. O equipamento usado neste estudo permite que o membro seja pesado e decomposto para a produção de dados mais fidedignos, compensando a ação da gravidade. Posteriormente aos procedimentos de posicionamento e previamente a realização do teste, procedeu-se uma familiarização através da realização de cinco repetições concêntricas submáximas de extensão e flexão do joelho no dinamômetro nas mesmas velocidades angulares utilizadas no teste, a fim de reduzir os efeitos de aprendizagem e garantir a reprodutibilidade dos dados coletados. Após um período de recuperação de cinco Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 39 Silva, et al. minutos, os indivíduos iniciaram o protocolo de avaliação. As velocidades angulares utilizadas no protocolo foram de 60°/s-1 (uma série de cinco repetições para cada membro inferior) e 180°/s-1 (uma série de 10 repetições para cada membro inferior). Em ambas as velocidades foram avaliados o MMF, expresso em Newton-metro (Nm), e a razão ísquiotibiais/quadríceps (I/Q) expressa em percentual (%). A razão (I/Q) foi calculada através da equação “I/Q = MMF dos Isquitobiais/MMF do quadríceps”, tanto na velocidade angular de 60°/s-1 como na de 180°/s-1. Tabela 2 - Comparações do momento máximo de força nas diferentes velocidades angulares. 60°/s-1 Extensores MMF (Nm) Direita 214,5 ± 43,3 Esquerda 200,5 ± 45,0 Extensores Análise Estatística Inicialmente, foi verificada a normalidade dos dados por meio do teste de Shapiro-Wilk. Em seguida, utilizou-se uma análise descritiva, caracterizando a média e o desvio padrão nos parâmetros: momento máximo de força e razão Isquiotibiais/Quadriceps. Realizou-se a comparação das médias através do teste t para amostras independentes. Para todos os procedimentos estatísticos, o intervalo de confiança foi de 95% (p < 0,05). As análises foram feitas com o auxílio do pacote estatístico SPSS 20.0 (Statistical Package for the Social Science, 20.0 Ink Chicago, IL, EUA). MMF (Nm) Direita 153,7 ± 32,4 Esquerda 150,3 ± 30,6 p 0,54 p 0,47 Flexores Direita 110,3 ± 22,4 Esquerda 100,3 ± 14,6 Flexores Direita 86,9 ± 16,8 p 0,67 Esquerda p 85,8 ± 15,3 0,56 Legenda: MMF = Momento Máximo de Força. A tabela 3 apresenta os valores de razão ísquiotibiais/quadríceps (%) nas diferentes velocidades angulares, onde não foram encontradas diferenças significativas em nenhuma das ocasiões. Tabela 3 – Comparação da razão ísquiotibiais/quadríceps entre os membros nas diferentes velocidades angulares. Resultados 60°/s-1 As características físicas dos atletas estão expostas na tabela 1. Razão I/Q (%) Direita Esquerda p 51,8 ± 7,2 55,8 ± 9,0 0,90 Tabela 1 – Características dos atletas. Variáveis Média ± DP Idade (anos) 19,8 ± 3,6 Peso (kg) 71,7 ± 9,6 Altura (cm) 173,2 ± 6,4 IMC (kg/m2) 24,8 ± 5,9 180°/s-1 Razão I/Q (%) 57,1 ± 5,4 58,6 ± 8,9 0,87 Discussão A tabela 2 apresenta as comparações do MMF entre os membros em ambas as velocidades angulares testadas (60°/s-1 e 180°/s-1), tanto dos músculos extensores como dos flexores do joelho. Não foram encontradas diferenças significativas no MMF entre os membros em nenhuma das velocidades angulares testadas seja na ação concêntrica dos músculos extensores ou flexores. Os resultados do presente estudo revelam que os atletas não apresentaram diferenças significativas no momento máximo de força e na razão ísquiotibiais/quadríceps em ambas as velocidades angulares, o que revela risco de lesão diminuído, levando em consideração fatores relacionados à força muscular de membros inferiores. Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 40 Silva, et al. Outros estudos realizados com atletas de outras modalidades também não encontraram diferenças no MMF de membros inferiores (Rosene, Fogarty, & Mahaffey, 2001; Campos et al., 2015). Ao comparar nossos resultados com corredores de longa distância, Portes et al. (2007) encontraram menor desempenho na extensão de joelho dos membros direito e esquerdo a 60°/s-1 (MMF 191±5 Nm e 188±35 Nm, respectivamente) e também na flexão de joelho dos membros direito e esquerdo (MMF 109 ± 21 Nm e 111 ± 22 Nm, respectivamente). Já na comparação com jogadores do futebol de 5 (cegos), os autores verificaram maiores valores no MMF a 60°/s-1 tanto na extensão de joelho dos membros dominante e não dominante (229±37,9 Nm e 232±36,6 Nm, respectivamente) como na flexão (146±15,4 e 137±14, respectivamente) (Campos et al., 2015). O mesmo se repetiu na velocidade angular de 180°/s-1, seja na extensão do joelho dominante e não dominante (MMF 154±19,7 e 158±22,9 Nm, respectivamente), como também na flexão (MMF 122±10,4 e 116±8,5 Nm, respectivamente) (Campos et al., 2015). Maiores valores de MMF foram encontrados ainda em atletas de jiu-jitsu (de Assis, Gomes, & Carvalho, 2005), atletas de basquete com deficiência visual (Silva, & Andrade, 2002), atletas das seleções brasileira infantojuvenil e juvenil de voleibol masculino (Bittencourt et al., 2005), atletas de provas de salto e em maratonistas (Siqueira, Pelegrini, Fontana, & Greve, 2002). Apesar de não existir valores normativos para parâmetros neuromusculares em atletas com deficiência praticantes de atletismo, o fato de não ter havido diferenças significativas entre os membros nos possibilita interpretar que esses resultados representam menor susceptibilidade para o risco de lesões. Tal explicação se confirma pelos valores de razão I/Q se encontrarem entre 50% e 60%, uma vez que diversos estudos apontam como sendo a faixa percentual ideal para esta variável (Bittencourt et al., 2005; Carvalho, & Cabri, 2007; Zouita, Dziri, Ben Salah, & Layouni, 2007; Le Gall, Laurent, & Rochcongar, 1999). Avaliando atletas cegos do futebol de 5 da seleção paralímpica brasileira, foram encontradas diferenças significativas na razão I/Q entre o membro dominante e o não dominante (Campos et al., 2015). Os autores relataram que apesar dos valores de cada membro estarem dentro da normalidade, essa diferença entre os membros pode comprometer em parte algumas exigências específicas da modalidade que necessitam da utilização de ambos os membros. A avaliação do equilíbrio muscular tem sua importância por possibilitar identificar atletas que possam estar mais susceptíveis a ocorrência de lesão, uma vez que atletas com inadequada razão I/Q possuem maior susceptibilidade de desencadear lesões por estiramento, por exemplo (Croisier et al., 2002). Este diagnóstico permite desencadear ações de prevenção e correção desse desequilíbrio, buscando evitar gastos com tratamento e o afastamento do atleta dos treinos e competições (Carvalho, & Cabri, 2007). Vale ressaltar que cada esporte tem suas características particulares e cabe à equipe discutir e interpretar tais achados e, inclusive, para cada atleta de forma individual (Magalhães, Oliveira, Ascensão, & Soares, 2001). Conclusão Com base nos resultados do presente estudo, podemos concluir que os atletas da seleção paralímpica brasileira de atletismo apresentaram resultados satisfatórios quanto ao momento máximo de força e à razão ísquiotibiais/quadríceps, podendo assim significar menores chances de lesões relacionadas aos fatores musculares de membros inferiores. Referências Bittencourt, N., Amaral, G., Anjos, M., D'Alessandro, R., Silva, A., & Fonseca, S. (2005). Avaliação muscular isocinética da articulação do joelho em atletas das seleções brasileiras infanto e juvenil de voleibol masculino. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 11(6), 331-336. Campos, L., Borin, J., Santos, L., Souza, T.., Paranhos, V., Tanhoffer, R, & Gorla, J. (2015). Isokinetic evaluation of Brazilian 5-a-side team. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 21(3), 220-223. Carvalho, P., & Cabri, J. (2007). Avaliação isocinética da força dos músculos da coxa em futebolistas. Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto, 1(21), 4-13. Croisier, J., Ganteaume, S., Binet, J., Genty, M., & Ferret, J. (2008). Strength imbalances and prevention of hamstring injury in professional soccer players a prospective study. The American journal of sports medicine, 36(8), 1469-1475. Croisier, J., Forthomme, B., Namurois, M., Vanderthommen, M., & Crielaard, J. (2002). Hamstring muscle strain recurrence and strength performance disorders. The American Journal of Sports Medicine, 30(2), 199-203. De Assis, M., Gomes, M. , & Carvalho, E. (2005). Avaliação isocinética de quadríceps e ísquios-tibiais nos atletas de jiu-jitsu. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, 18(2), 85-89. Ferreira, A., Gomes, S., Ferreira, C., Arruda, M., & França, N. (2010). Avaliação do desempenho isocinético da musculatura extensora e flexora do joelho de atletas de futsal em membro dominante e não dominante. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, 32(1), 229-43. Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 41 Silva, et al. Grace, T. (1985). Muscle imbalance and extremity injury. A perplexing relationship. Sports medicine, 2(2), 77. Le Gall, F., Laurent, T., & Rochcongar, P. (1999). Improvement in hamstring and quadriceps strength in high level soccer players. Science & Sports, 4(14), 167 172. Magalhães, J., Oliveira, J., Ascensão, A., & Soares, J. M. C. (2001). Avaliação isocinética da força muscular de atletas em função do desporto praticado, idade, sexo e posições específicas. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 1(2), 13-21. Morato, M., Bilzon, J., & Duarte, E. (2013). Sports injuries in Brazilian blind footballers. International journal of sports medicine, 34(3), 239-243. Weber, F., Silva, B., Radaelli, R., Paiva, C., & Pinto, R. (2010). Isokinetic assessment in professional soccer players and performance comparison according to their different positions in the field. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 16(4), 264-268. 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Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 42 Desporto e Atividade Física para Todos – Revista Científica da FPDD, 2015 Vol. 1, N.º 1, ISSN 2183-511X Effect of Physical Exercise on Motor Performance of an Individual with Cerebral Palsy Efeito do Exercício Físico no Desempenho Motor do Indivíduo com Paralisia Cerebral Marília Silva1, Kátia Lima2, Fabiana Silva1, Flávia Melo2, Francisco Júnior3, Maria Irany Knackfuss2, Paulo Dantas1 1 Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); 2Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN);3Centro Universitário do Rio Grande do Norte (UNI-RN) Abstract Resumo Cerebral Palsy is defined as a postural disorder and movement due to a central nervous system injury, not progressive and not evolutionary character, acquired before the first two years of life. This study aimed to verify the evolution of specific motor skills in an individual with cerebral palsy by testing protocols conducted in liquid medium. Additionally, it was analyzed in terrestrial environment, the evolution in performance tests engines of static balance and equilibrium reaction. In this case study the following measuring instruments were used: Skill Assessment Table, specifically in the component orientation in the water, and Psychomotor Battery (BPM), the balance component , with assessments carried out before, during and after the submission of the individual in an exercise program lasting one year and nine months which included: strength training, swimming, ballet and physical therapy in the soil. At the end of the study it was observed an improvement in the indexes analyzed, namely: 69.23 % balance test, as well as 100 % in the equilibrium reaction test and 86.67 % in the test conducted in the liquid medium. We conclude that physical exercise program proposed for this individual had positive effects and is effective in improving motor performance of a child with cerebral palsy. A Paralisia Cerebral é definida como um distúrbio postural e de movimento decorrente de uma lesão do sistema nervoso central, de caráter não progressivo e não evolutivo, adquirida antes dos dois primeiros anos de vida. O presente estudo teve como objetivo verificar a evolução de habilidades motoras específicas, em um indivíduo com paralisia cerebral, através de protocolos de testes realizados em meio líquido. Adicionalmente, foi analisada em meio terrestre, a evolução no desempenho em testes motores de equilíbrio estático e de reação de equilíbrio. Neste estudo de casoforam utilizados os seguintes instrumentos de medida: Tabela de Avaliação de Habilidade, especificamente na componente orientação na água, e, Bateria Psicomotora (BPM), na componente equilíbrio, sendo realizadas avaliações, antes, durante e após a submissão do indivíduo em um programa de exercício físico com duração de 1 ano e 9 meses que contemplava: treinamento de força, natação, ballet e fisioterapia motora no solo. Ao final do estudo foi observada uma melhora nos índices analisados, designadamente: 69,23% no teste de equilíbrio, assim como 100% no teste de reação de equilíbrio e 86,67% no teste realizado no meio líquido. Conclui-se que o programa de exercício físico proposto para este indivíduo tiveram efeitos positivos e é eficaz para melhorar o desempenho motor de uma criança com paralisia cerebral. Keywords: Physical exercise, performance motor, balance. cerebral palsy, Palavras-Chave: Exercício físico, paralisia cerebral, desempenho motor, equilíbrio. 43 Silva, et al. Introdução A Paralisia Cerebral (PC) é definida como um distúrbio postural e de movimento decorrente de uma lesão do sistema nervoso central, de caráter não progressivo e não evolutivo, adquirida antes dos dois primeiros anos de vida. A lesão pode afetar os hemisférios cerebrais, a região mesodiencefálica, o tronco cerebral e/ou o cerebelo. Fatores etiológicos como infecções maternas, malformações congênitas do encéfalo estão entre as causas de PC no período pré-natal, causas relacionadas ao sofrimento fetal como hipoxemia, complicações placentárias e hemorragias são características do período perinatal, e no período pós-natal destacam-se os traumas e infecções bacterianas. Esses fatores podem interferir funcionalmente, dificultando o desempenho de atividades realizadas por crianças portadoras de PC, quando comparadas a crianças com o desenvolvimento normal (Vilibor & Vaz, 2010; Amaral & Mazzitelli, 2003). A limitação da atividade motora é uma característica da PC e ocorre pela falta de controle sobre os movimentos. As consequências são adaptações musculares que, em longo prazo, podem resultar em deformidades ósseas. Os primeiros anos de vida parecem ser cruciais para o processo de aquisição das habilidades motoras (Teixeira-Aroyo & Oliveira, 2007). Pensando no desenvolvimento de pessoas com paralisia cerebral, é de grande importância a inserção em um adequado programa de exercício físico aliado a avaliações regulares. Nesse sentido, o desenvolvimento de trabalhos psicomotores com as pessoas com deficiência oportuniza a aquisição de habilidades motoras necessárias ao desempenho de vários movimentos e atividades funcionais da vida diária (Venâncio, Teixeira Junior, Fernandes, Fernandes & Teixeira, 2011). Diante disso se torna importante o conhecimento de como o exercício físico pode contribuir para o desenvolvimento motor de crianças com Paralisia Cerebral. Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo verificar a evolução de habilidades corporais específicas, em um indivíduo com paralisia cerebral, através de protocolos de testes realizados em meio líquido e terrestre. Metodologia A pesquisa em tela é caracterizada como ensaio clínico com delineamento de estudo de caso em follow-up. Participantes Uma criança, sexo feminino, 10 anos, com sequela de paralisia cerebral decorrente do surgimento de hidrocefalia e encefalocele, as quais foram diagnosticadas ao 4º mês de gestação, sendo acompanhada normalmente por todo pré-natal por uma obstetra e um neurocirurgião até o final da gestação. O parto ocorreu dentro da normalidade ao 9º mês de gestação. Após o nascimento a criança ficou internada em enfermaria comum, sem auxílio de equipamentos, com aleitamento materno. Posteriormente, foi submetida a cirurgia para retirada da hérnia formada na parte posterior da cabeça. Aos quatro meses de vida, em virtude desta hérnia, surgiu a hidrocefalia, sendo novamente submetida a intervenção cirúrgica para implantação de válvula intracraniana, a qual contém o excesso de líquido no cérebro. Devido a estas circunstâncias, a criança encontra-se num quadro de ataxia (comprometimento do cérebro e vias cerebelares, manifestando-se por falta de equilíbrio e coordenação motora em atividades musculares voluntária). Instrumentos Os instrumentos utilizados foram a Tabela de Avaliação de Habilidade (Winnick, 2004), especificamente na componente “orientação na água” e a Bateria Psicomotora (Fonseca, 1975), com foco no componente equilíbrio. A Tabela de Avaliação de Habilidade consiste em avaliar pequenas tarefas na água, tais como: lavar o rosto, pôr o queixo na água, pôr a boca na água, pôr a boca e o nariz na água, pôr o rosto na água, pôr o corpo todo na água, assoprar bolhinhas, assoprar bolhinhas com rosto na água, assoprar bolhas deitado de frente com o rosto na água, assoprar bolhas com o corpo todo sob a água, afunda, solta o ar e sobe 5 vezes na parte rasa, afunda, solta o ar e sobe 10 vezes na parte rasa, afunda, solta o ar e sobe 5 vezes na parte funda e afunda, solta o ar e sobe 10 vezes na parte funda. Para a avaliação de desempenho foi utilizada a BPM que não sendo um teste no sentido tradicional, permite observar as componentes do comportamento psicomotor da criança de uma forma estruturada e não estereotipada e identificar o grau de maturidade psicomotora da criança e detectar eventuais sinais desviantes. Procedimentos As coletas aconteceram em janeiro e setembro de 2009, período em que a criança tinha 8 anos e, setembro de 2011, quando a mesma já havia completado 10 anos de idade. A criança foi submetida as seguintes intervenções: treinamento de força, natação, ballet e fisioterapia motora no solo, todas com frequência de duas vezes por semana, durante 1 ano e 9 meses. Na sala de musculação foram realizados exercícios visando à melhoria da força muscular dos membros inferiores e coordenação motora. Para a execução dos exercícios foram realizadas 3 (três) séries, de 8 (oito) a Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 44 Silva, et al. 10 (dez) repetições cada, com intervalos que variavam de 30 (trinta) a 60 (sessenta) segundos. As cargas foram selecionadas através de repetições máximas estabelecidas, não sendo necessário à realização de testes de cargas. Os exercícios da natação foram realizados com o auxílio de bóias nos braços para facilitar a flutuação, as mesmas possuem calibragem mínima para possibilitar um esforço maior na flutuação e equilibração na água. Entre as atividades propostas estão exercícios de pernada de crawl, peito e costas com equipamento para auxilio, trabalho de braçada de crawl e costas, assim como atividades que exigem pequenos mergulhos e trabalho específico de respiração onde a aluna tem que inspirar fora da água e soltar o ar com o rosto dentro da água. As aulas de ballet começam com exercícios de flexibilidades e alongamentos globais feitos na barra fixa e posteriormente no solo, com duração de cerca de 5 (cinco) minutos. Seguem-se os trabalhos de correção postural, onde o aluno fica com os pés apoiados na barra. Exercícios de deslocamentos, giros e saltos não são realizados, pois a referida aluna não andava sozinha. Durante as sessões de fisioterapia motora são feitos exercícios de alongamentos, exercícios de marcha entre barras paralelas, exercícios sobre prancha de equilíbrio dentre outros. Resultados Os resultados apontam para uma melhoria tanto na habilidade motora em meio líquido, quanto no equilíbrio no meio sólido e na reação de equilíbrio após o programa de exercício físico, conforme mostra a figura 1. Figura 1–Evolução de habilidades motoras. No tocante a habilidade motora na água, pode-se observar uma melhora pós realização de programa de exercício física, com percentual de evolução de 86, 67%, sendo o mesmo mantido após a segunda avaliação. Os achados da avaliação do equilíbrio indicaram déficit. No entanto, após a primeira avaliação pode-se observar que o sujeito apresentou melhoria e que a mesma evoluiu com a permanência da conduta terapêutica. O componente reação de equilíbrio apresentou percentual de evolução de 100% comparando o pré e pós teste, indicando influência positiva para a intervenção aplicada durante este período. Discussão O presente estudo objetivou verificar a evolução de habilidades corporais específicas, em um indivíduo com paralisia cerebral, através de protocolos de testes realizados em meio líquido e terrestre, na tentativa de estabelecer informações que somem à literatura científica acerca desse tema, e poder oportunizar ao participante do estudo o desenvolvimento de capacidades motoras importantes para o desempenho de diversos movimentos e atividades funcionais de sua vida diária. A habilidade motora na água refere-se a capacidade de realizar atividades que envolvem a relação homem e ambiente aquático, tais como: lavar o rosto, pôr o queixo na água, pôr a boca e nariz na água, entre outras (Winnick, 2004). Para esta tarefa foi encontrada uma pontuação de 30 no momento 1, pré intervenção e após a intervenção encontrou-se aumento da pontuação para 56, o que foi mantido com a continuidade da conduta terapêutica. De acordo com Mansur e Marcon (2006) as habilidades motoras globais estão relacionadas com bases neurais e a processos cognitivos, em que se ressalta a importância do córtex pré-frontal no processamento de informações verbais, motoras e emocionais. Os sistemas sensoriais e motores possuem células especializadas e distintas funcionalmente, e isso permite uma maior velocidade de processamento de informações e também fornece respostas adequadas a cada estímulo, o que é essencial para o bom funcionamento de funções cognitivas e, consequentemente, das funções motoras. Nesse sentido, os programas de exercícios físicos são capazes de estimular tais células dos sistemas sensoriais e motores, o que pode implicar em melhoria de atividades cuja coordenação sensório motor esteja relacionada (Mansur &Marcon, 2006; Pereira, Moreira, Brito, Matos, Mazini & Oliveira, 2014). Identificando precocemente as deficiências no desempenho motor, é possível determinar a intervenção adequada e amenizar essas alterações que interferem na independência funcional destes indivíduos. O equilíbrio corporal refere-se à capacidade de o indivíduo manter seu centro de gravidade sobre a base de sustentação em situações estáticas e dinâmicas (Daniel, Vale, Giani, Bacellar& Dantas, 2010). Para a habilidade de equilíbrio houve uma melhora de 46% na primeira avaliação e de 69,23% ao final do programa de atividade física, enquanto a reação de equilíbrio obtivese 100% de evolução. Entre os fatores que influenciam na qualidade de vida de uma pessoa, o equilíbrio apresenta-se com grande Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 45 Silva, et al. importância, uma vez que permite a manutenção de uma postura correta e tenha melhor adaptação ao ambiente. Sendo assim, o ganho de equilíbrio das pessoas com deficiência advindo da prática de atividade física regular representa melhor mobilidade, postura e potencializa a exploração do ambiente que a cerca (Arroyo & Oliveira, 2007) Treinos de atividades de equilíbrio devem fazer parte integrante do tratamento diário destas crianças independente da modalidade, pois a falta de equilíbrio pode acarretar em diversas dificuldades nas atividades de vida diária (Franjoine, Gunther& Taylor, 2003). Tendo em vista a análise dos resultados obtidos nos testes, podemos concluir que as atividades propostas podem contribuir para melhoria do tônus muscular, do equilíbrio e da coordenação motora fina. Apesar de não ter tido o melhor rendimento, o meio liquido se destaca devido à facilidade de condução durante a aplicação dos exercícios. Conclusões Teixeira-Aroyo, C.,&Oliveira, S. R. G. (2007). Atividade aquática e a psicomotricidade de crianças com paralisia cerebral. Motriz,13(2), 97-105. Venâncio, P. E. M., Teixeira Junior, J., Fernandes, R. M., Fernandes, V. L. S.& Teixeira, C. G. O. (2011). Psicomotricidade e educação física aliadas à melhora do desenvolvimento infantil. FIEP Bulletin, 81. Vilibor, R., &Vaz, R. H. (2010). Correlação entre a função motora e cognitiva de pacientes com Paralisia Cerebral. RevNeurocienc, 18, 380-385. Winnick, J.P. (2004) Educação Física e Esportes Adaptados. Tradução da 3. ed. original de Fernando Augusto Lopes. Barueri: Manole. Daniel, F. Vale, R.Giani, T.Bacellar, S. Dantas, E. (2010). Effectsof a PhysicalActivityProgramonStatic Balance andFunctionalAutonomy in E. W. M. Maced, & J. M. S (Vol. 3 Chap. 1, pp. 21-6. Pereira, E. Moreira, O. Brito, I.S.D.S, Matos, D.G.D, Mazini, F. M. L., &Oliveira, C.E.P. (2014). Health relatedphysical fitness amongschoolchildren in a smallcity in the interior of Brazil. RevEducFís/UEM, 25(3), 459-468. Através do presente estudo, pode-se observar uma melhoria de 69,23% nos testes de equilíbrio estático, 100% de evolução nos testes de reação de equilíbrio e 86,66% nos testes realizados no meio líquido. Desta forma, as atividades propostas no presente trabalho, demonstraram a capacidade de melhorar o desempenho motor de uma criança com paralisia cerebral. Podemos destacar a importância da continuidade de pesquisas a respeito desse assunto, com finalidade de cada vez mais criar alternativas que ajudem no tratamento dessas patologias e assim melhore a saúde e qualidade de vida desse grupo especial. Referências Amaral, P.,&Mazzitelli, C. (2003). Alterações Ortopédicas em Crianças com Paralisia Cerebral da Clínica-Escola de Fisioterapia da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). RevNeurocienc, 11, 29-33. Fonseca, V. (1975). Manual de observação psicomotora: significação psiconeurológica dos fatores psicomotores. Porto Alegre: Artes Médicas. Franjoine, M. R., Gunther, J. S. & Taylor, M. J. (2003). Pediatric balance scale: a modifiedversionofthe Berg balance scale for theschool-age childwithmildtomoderate motor impairment. PediatrPhysPher, 15, 114-128. Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 46 Desporto e Atividade Física para Todos – Revista Científica da FPDD, 2015 Vol. 1, N.º 1, ISSN 2183-511X Adapted Physical Activity in the Population With Special Needs Atividade Física Adaptada na População com Necessidades Especiais Anabela Vitorino1,2, Diogo Monteiro1, João Moutão1,2,3, Sónia Morgado1,2,4, Teresa Bento1,3, Luís Cid1,2,3 1 Escola Superior de Desporto de Rio Maior (ESDRM-IPS); 2Unidade de Investigação do Instituto Politécnico de Santarém (UIIPS); 3Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano (CIDESD); 4Centro de Investigação em Qualidade de Vida (CIEQV) Abstract Resumo The field of disability requires the intervention of technicians of various specialties, acting in a coordinated and concerted manner to meet the needs of people with special needs. In this context, the role of physical activity, when inserted in healthy lifestyles, deserves particular highlight as an essential tool for improving the physical condition, quality of life and well-being of people with disabilities. The concept of physical activity in the population with disabilities is also associated with aspects such as rehabilitation, education, competition and recreation, being increasingly evident the emphasis placed on their physical, social and psychological benefits. Thus, adapted physical activity seems to contribute to trigger positive effects on the health of people with disabilities. The main objective is the consolidation of the structural and theoretical concept of disabilities, special needs, adapted physical activity and healthy lifestyles. Na área da deficiência exige-se a intervenção de técnicos de diversas especialidades, atuando de forma articulada e concertada para responder às necessidades das pessoas com necessidades especiais. Neste contexto, o papel da atividade física, quando inserida em estilos de vida saudáveis, merece particular destaque, enquanto instrumento essencial para a melhoria da condição física, da qualidade de vida e do bem-estar das pessoas com deficiência. O conceito de atividade física na população com deficiência está igualmente associado a vertentes como a reabilitação, educação, competição e recreação, sendo cada vez mais evidente a ênfase colocada nos seus benefícios físicos, sociais e psicológicos. Em suma: a atividade física adaptada parece poder contribuir para desencadear efeitos positivos na sua saúde. O objetivo principal foi consolidar a visão estrutural e teórica do conceito de deficiência, necessidades especiais, atividade física adaptada e estilos de vida saudáveis. Keywords: Adapted Healthy Lifestyles. Palavras-Chave: Atividade Física Deficiência, Estilos de Vida Saudáveis Physical Activity, Disability, Adaptada, 47 Vitorino, et al. Introdução A problemática da deficiência, ao longo do tempo, não se tem equacionado sempre da mesma forma (Pereira, 1984; Pereira & Simões, 2005). A sua história começa na Antiguidade, nos primórdios do homicídio legalizado e da eliminação - supressão física, e evoluiu durante todo o período da Idade Média, onde facilmente se associam as pessoas com deficiência a situações de mendicidade e exploração, isto é, a serem aproveitadas para angariar esmolas junto às portas dos templos religiosos e a serem “os bobos da corte”, para deleite dos reis e seus séquitos, que se divertiam à custa do comportamento estereotipado desses indivíduos (Rosadas, 1989). De um modo geral, os indivíduos com deficiência estiveram sempre associados a estigmas, resultado de todo um vasto conjunto de valores e de atitudes dependentes do seu envolvimento cultural, estigmas estes que se têm mantido, apesar das significativas “alterações semânticas” entretanto verificadas, das quais se realçam as noções de “necessidades individuais”, “necessidades educacionais especiais” e de “perfil intraindividual”, abandonando-se a tradicional dicotomia “normal-anormal”, “deficiente não deficiente”, “desviante-não desviante”, “típico atípico” (Fonseca, 1989). Quer seja como vítimas de “maldições divinas” e “pregações do diabo” (Rosadas, 1989), quer seja sob a influência dos processos de seleção natural ou de seleção biológica espartana (onde se eliminavam as crianças com malformação ou deficientes), passando pelo conformismo piedoso do Cristianismo até à segregação e marginalização operadas pelos exorcistas e esconjuradores da Idade Média, a perspetiva sobre a deficiência parece ter andado continuamente ligada a crenças sobrenaturais, demoníacas e supersticiosas, “aspetos (que) veiculam a ignorância, que por sua vez gera atitudes de culpabilização, compaixão, desespero e indignação” (Fonseca, 1989, p. 10). Para Marques, Castro, e Silva (2001), as sociedades contemporâneas distinguem-se, em grande parte das anteriores, pela afirmação do respeito pela dignidade humana e pela garantia de que ao indivíduo com qualquer necessidade especial lhe será permitido integrar-se nas diversas metas de funcionamento social sem qualquer barreira psicológica ou física. Atualmente pode-se afirmar que o panorama é diferente, assente numa perspetiva inclusiva, baseada em orientações legislativas e em novas respostas vocacionadas para esta população, quer no setor da reabilitação, educação, social, profissional, desporto, bem como nas áreas da investigação e da formação especializada de técnicos, contribuindo assim, para um novo paradigma nesta temática. O objetivo foi realizar uma revisão de literatura com recurso ao que Dosil (2008) designa, em Psicologia do Desporto e do Exercício, por fontes de documentação primária, operacionalizando os elementos terminológicos de deficiência, necessidades especiais, atividade física adaptada e estilos de vida saudáveis. Atividade Física na População com Deficiência A intervenção na deficiência Kirk e Gallagher (1996) definiram a criança com deficiência como toda aquela que se desvia da norma estatística ou da criança normal pelas suas características mentais, capacidades sensoriais, características neuromotoras ou físicas, comportamento social, capacidades de comunicação e múltiplas deficiências. Essas diferenças devem ser suficientemente notadas, a ponto de requerer a modificação de práticas escolares ou necessitar de serviços de educação especial para possibilitar o desenvolvimento até à sua capacidade máxima. Por outro lado, para Organização Mundial de Saúde (OMS, 2004), a deficiência é caracterizada por perda ou anormalidade da função psicológica, fisiológica ou anatómica, temporária ou permanente, incluindo a ocorrência de uma anomalia, defeito ou perda de um membro, órgão ou tecido, ou qualquer outra estrutura do corpo, inclusive das funções mentais, levando o indivíduo a apresentar dificuldades específicas e suscetíveis de limitar ou dificultar a atividade e a participação em condições de igualdade com as demais pessoas em conjugação com os fatores ambientais. A abordagem da deficiência tem sofrido uma forte evolução conceptual, sendo que o conceito de necessidades especiais começa a ser utilizado no final dos anos 70 e para Madureira e Leite (2003, p. 31) necessidades especiais referem-se a: (1) populações que devido a fatores de cariz sócio-cultural e/ou a diferenças linguísticas estão, ou podem estar, em risco de insucesso escolar. Este tipo de situações pode ser reduzido significativamente, melhorando a qualidade do ensino; (2) situações que embora graves, em termos de deficiência, podem não ter qualquer consequência no processo e progresso educativo do aluno, exigindo apenas um amplo serviço de apoio no sentido de facilitar o acesso ao currículo escolar; (3) situações onde são evidentes as dificuldades na aprendizagem, ou seja em aceder ao currículo oferecido pela escola, exigindo um atendimento especializado, de acordo com as características específicas do aluno. Ao nível da intervenção, a identificação da deficiência e consequente orientação e encaminhamento devem decorrer de um diagnóstico precoce de carácter multidisciplinar. Por outro lado, a não existência de grupos homogéneos nas pessoas com deficiência, exigem a definição de respostas específicas que vão ao encontro das suas necessidades diferenciadas e identificáveis e, por conseguinte, com base nas potencialidades e habilidades pessoais. A intervenção diária com esta população deve ter como principal objetivo o desenvolvimento máximo das suas capacidades e aptidões, qualidades individuais, de forma Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 48 Vitorino, et al. a adaptar-se às exigências da vida quotidiana inerentes à sociedade em que está inserida. Neste contexto, o movimento, enquanto componente fortemente reeducativa, terapêutica e de reabilitação, foi alvo de grande desenvolvimento e implementação no século XX, o que implicou a proliferação de diferentes perspetivas e metodologias de trabalho, dado que as atividades de carácter desportivo, lúdico, cultural e social têm um papel de extrema importância no processo de reabilitação de pessoas com deficiência, como modo de evitar o seu isolamento e possíveis atitudes antissociais. Atividade física adaptada Por atividade física adaptada entende-se “todo o movimento, atividade física e desporto em que a ênfase é colocada sobre os interesses e capacidades das pessoas com condições limitantes, tais como a deficiência, problemas de saúde ou pessoas mais velhas” (DePauw & Doll Tepper, 1989, p. 96). Neste contexto, a atividade física adaptada pode ser considerada como um corpo de conhecimentos interdisciplinar dedicado à identificação e solução das diferenças individuais em atividade física, adequando-as ao contexto em que elas se desenrolam (Tejero, Vaíllo, & Rivas, 2012). É um termo ligado à promoção de estilos de vida ativos e saudáveis, com a finalidade de minimizar os problemas psicomotores que interferem no desenvolvimento pessoal do ser humano. Por outro lado, a atividade física adaptada inclui, mas não está limitada somente, à educação física, desporto de competição, recreação, dança, artes criativas, nutrição, medicina e reabilitação (Hutzler & Sherrill, 2007). Nesta sequência, pode-se afirmar que a atividade física adaptada expressa-se em três dimensões, designadamente a competitiva, a recreativa e a terapêutica. A estas vertentes acrescentou o Comité para o Desenvolvimento do Desporto, em 1981, a educativa (Marques et al., 2001). Novas Perspetivas e Diretrizes Em termos de intervenção, a prática da atividade física deve-se iniciar o mais cedo possível, desde que o programa de reabilitação do indivíduo o permita e seja devidamente enquadrado e acompanhado por uma instituição ou equipa técnica. Enquanto meio de valorização da pessoa com deficiência, o desporto amplia as potencialidades, “fazendo realçar as capacidades remanescentes, tornando-se num dos meios mais importante para sensibilizar a integração da pessoa com deficiência na sociedade” (Barros, Viegas, & Seabra, 2001, p. 233), tal facto é notório pela proliferação de estudos que abordam esta temática, os quais concluem que a atividade física tem efeitos positivos na qualidade de vida, bem-estar e na integração social das pessoas com deficiência (e.g. Medina, Chamarro, & Parrado, 2013; Medola, Busto, Marçal, Achour Junior, & Dourado, 2011). Efetivamente, os benefícios que a prática de atividade física pode oferecer a esta população são numerosos ao nível físico-biológico, social ou psicológico (Rivas & Vaíllo, 2012; Winnick, 2011). Assim, o desporto constitui-se “um importante meio para a reabilitação física, psicológica e social de pessoas com algum tipo de deficiência (Cardoso, 2011, p. 529), “melhora o equilíbrio psicológico do deficiente e ajudao a relacionar-se com o mundo exterior, fazendo com que desenvolva mais capacidades mentais e éticas que vão ser essenciais para a sua integração social” (Sánchez & Vicente, 1988, p. 38). O desporto, na sua vertente não competitiva, permite às pessoas com deficiência usufruírem de elevados benefícios fisiológicos, psicológicos e sociais através da sua prática (Martin, 2005; Vital, Leitão, Mello, & Tufik, 2002; Winnick, 2011). Por outro lado, Barros et al. (2001) e Hanrahan (2007) referem que a atividade desportiva é considerada como um dos vetores mais importante da formação global da personalidade e do bem-estar psicológico das pessoas com deficiência. Enquanto Monteiro e Pereira (2013), mencionam que permite a promoção da qualidade de vida desta população, tendo como finalidade a minimização dos problemas psicomotores que interferem no seu desenvolvimento pessoal, possibilitando ainda um sentimento de maior interesse e vontade para fazer cada vez mais e melhor. Neste sentido, “o desporto adaptado representa, por um lado, um dos mais importantes fatores promotores do sucesso educativo, inclusão e desenvolvimento psicossocial, e por outro lado, o combate ao abandono escolar e discriminação das pessoas com deficiência” (Saraiva, Almeida, Oliveira, Fernandes, & Cruz-Santos, 2013, p. 623), para além de “demonstrar à própria pessoa e à sociedade que a deficiência não é sinónimo de incapacidade” (Barros et al., 2001, p. 241). Em última análise, a prática desportiva para pessoas com deficiência é a oportunidade de testar os seus limites e potencialidades, prevenir as enfermidades secundárias à sua deficiência e, simultaneamente promover a integração social da pessoa (Melo & López, 2002), aos quais se acresce, de acordo com Nahas (2010), a redução dos sintomas de ansiedade e depressão, bem como o aumento dos níveis de bemestar geral. Para Barros et al. (2001), as atividades desportivas podem ter fins terapêuticos, de lazer ou ocupação dos tempos livres, recreativos, competitivos e de alto rendimento, procurando dar resposta às necessidades e aos desejos de cada indivíduo com deficiência. Numa perspetiva de desporto, enquanto conceito global, não deve classificar os benefícios ao nível da coordenação funcional neuromuscular, do desenvolvimento motor, Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X 49 Vitorino, et al. psicológico, social ou qualquer outro, mas sim, de uma forma geral. É desta forma que Ferreira (1993) considera que o desporto pode contribuir para: (1) melhorar os padrões normais do movimento; (2) desenvolver a autonomia motora; (3) proporcionar alegria ao movimento; (4) ser uma situação de sucesso perante si próprio e perante os companheiros e adultos; (5) proporcionar o desejo normal e saudável de progredir, de fazer novas conquistas, descobrir potencialidades e limitações, logo um melhor conhecimento e aceitação de si próprio, que juntamente com as vivências de situações de sucesso, contribuem para um aumento de confiança, autodomínio e capacidade de iniciativa; (6) favorecer a aceitação dos valores dos outros, contribuindo para o desenvolvimento da socialização; (7) favorecer a imagem corporal, contribuindo para a aceitação do corpo e consequentemente a relação corporal e afetiva com os outros; (8) estimular e desenvolver a comunicação. Implicações Práticas e Teóricas Potter (1987) refere que qualquer que seja o nível de prática desportiva alcançado pela pessoa com deficiência os efeitos são de três ordens: (1) Fisiológicos: exploração dos limites articulares, controlo do movimento voluntário, melhoria da aptidão física geral e da saúde; (2) Psicológicos: domínio do gesto que conduz a um aumento de autoconfiança, redução da ansiedade e melhoria da comunicação; (3) Sociais: contribuição para o desenvolvimento da autonomia e da reintegração social. Nesta sistematização, Guttmann (1977) acrescenta ainda a existência de efeitos terapêuticos (como complemento da terapia física), assim como refere que a grande vantagem do desporto sobre o exercício curativo reside na sua vertente recreativa. Pereira, Osborne, Pereira e Cabral (2013) mencionam que a prática desportiva contribui para: (1) a socialização da pessoa com deficiência, na medida em que facilita a comunicação, a realização pessoal, a autoimagem, o autoconceito e a autonomia, além de relativizar as suas limitações, uma vez que valoriza e divulga as suas capacidades físicas; (2) o desporto também reforça a autoestima, dando-lhe alegria de viver, melhorando a qualidade de vida, favorecendo a comunicação e o convívio social. Enquanto, a prática desportiva de alto rendimento proporciona oportunidades para a pessoa com deficiência desenvolver as suas capacidades e potencialidades, sentir alegria e prazer, experimentar o êxito e superar os seus limites (DePauw & Gavron, 2005). Por outro lado, estes atletas são vistos como autênticos modelos de superação para outros indivíduos com Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X deficiência, na medida em que os estimulam na procura de soluções para ultrapassar as suas próprias barreiras, facilitando desta forma a integração social através do desporto (Winnick, 2011; Woods, 2006). Conclusão Em suma, é sabido que a procura da melhoria na qualidade de vida nos últimos anos levou um número crescente de pessoas com deficiência a procurar a prática de diferentes desportos, visando uma melhoria no seu bem-estar físico e psicológico. Assim, diversos estudos têm sido realizados, especialmente a partir da década de 70, demonstrando os efeitos benéficos da atividade física nas diversas doenças e as respostas fisiológicas aos exercícios nesta população (Ferreira, 1993). Neste sentido, o desporto não deve ser, neste âmbito, apenas um simples elemento de competição, mas um meio para tirar a pessoa com deficiência da sua inatividade e fraca iniciativa, um veículo de contacto social e um estímulo para desenvolver várias capacidades, melhorando a sua integração social (Barros et al., 2001; Ferreira, 1993). Desta forma, alguns atletas, segundo Wheeler, Malone, VanVlack, Nelson, e Steadward, (1996), mencionam “que o desporto é parte da sua identidade“ (p. 388), o que lhes permite “ser e sentir-se normal” (p. 394), projetando perante terceiros a normalidade ou aparentemente próximas disso, consolidando o que referem Pereira et al. (2013) de que o desporto promove uma acentuação das capacidades em detrimento das limitações. Referências Barros, J.M., Viegas, J., & Seabra, A.C. (2001). A recreação e o desporto. In C. Louro (Coord.), Acção social na deficiência (pp. 227-252). Lisboa: Universidade Aberta. Cardoso, M. (2011). 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