Desporto e Atividade Física para Todos

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Desporto e Atividade Física para Todos
Nº1 | SEMESTRAL | DEZ 2015
R E V I S TA C I E N T Í F I C A D A F E D E R A Ç Ã O P O R T U G U E S A D E D E S P O R T O PA R A P E S S O A S C O M D E F I C I Ê N C I A
desporto adaptadO
incluSão
impacto da
semana
paralímpica
PÁG. 5
opinião dos
treinadores
PÁG.30
orientaÇão
adaptada
PÁG. 12
Diretor Editorial
Mário Lopes (FPDD)
Diretor Editorial Adjunto
Hugo Sarmento (ESEV-IPV, IPMAIA)
Salomé Marivoet (ULHT)
Conselho Editorial
Anabela Vitorino (ESDRM), António José Silva (UTAD), Ash Routen (Loughborough
University), Augusto Baganha (IPDJ), Bruno Sena Martins (CES), Carla Filomena Silva
(Nottingham Trent University), Carlos Paula Cardoso (CDP), Cláudia Pinheiro (ISMAI), David
Rodrigues (ANDES), Fernando Fontes (CES), Humberto Santos (CPP), Jorge Carvalho (IPDJ),
José Carlos Lima (PNED), José Madeira Serôdio (INR), José Manuel Constantino (COP), José
Pedro Ferreira (FCDEF-UC), Leila Marques (COP), Leonor Moniz Pereira (FMH), Luís
Gomes Costa (ULHT), Maria João Campos (FCDEF-UC), Paula Campos Pinto (ISCSP),
Renato Nunes (CNR-SCMP), Rui Corredeira (FADE-UP), Stevo Popovic (Montenegro
University) e Zoran Milanovic (University of Nis).
Edição
Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência
Rua Presidente Samora Machel Lote 7 r/c Dtº
2620 – 061 Olival Basto – PORTUGAL
Tel: + 351 21 937 99 50
Fax: + 351 21 937 99 59
E-mail: [email protected]
Website: www.fpdd.org
Índice
3. Editorial
5. Impact of the Paralympic Week in Students’ Attitudes Toward Inclusion.
Maria João Campos, César Fernandes.
12. Adapted Orienteering: Characteristics and Potentialities of a Sport for Inclusion.
Tadeu Celestino, Antonino Pereira.
18. Handbiking - A Low Metabolic Cost of Locomotion for Spinal Cord Injured People.
Gabriela Fischer, Leonardo Peyré-Tartaruga.
24. Quality of Life of School Children With Disability: An Exploratory Study.
Flávia Melo, Kátia Lima, Ana Silveira, Epaminondas Andrade Neto, Isis Santos, Kesley Azevedo,
Rianne Pinto, Victor Hugo Segundo, Douglas Santos, Humberto Medeiros, Maria Irany
Knackfuss.
30. Adapted Sports: Training and Opinion of the Portuguese Coaches.
Paulo Saraiva, Anabela Cruz-Santos.
38. Evaluation of Isokinetic Muscular Strength of Brazilian Paralympic Athletes.
Felipe Silva, Victor Hugo Segundo, Nailton Filho, Gleidson Rebouças, Thiago Felipe, Edson
Pinto, Maria Irany Knackfuss, Paulo Dantas.
43. Effect of Physical Exercise on Motor Performance of an Individual with Cerebral Palsy.
Marília Silva, Kátia Lima, Fabiana Silva, Flávia Melo, Francisco Júnior, Maria Irany Knackfuss,
Paulo Dantas.
46. Adapted Physical Activity in the Population With Special Needs.
Anabela Vitorino, Diogo Monteiro, João Moutão, Sónia Morgado, Teresa Bento, Luís Cid.
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Editorial
A Revista “Desporto e Atividade Física para Todos” è mais um passo para atenuar a crónica falta de
informação no âmbito das questões que implicam as pessoas com deficiência. Esta insuficiência tem sido
amplamente referida por diversos autores e instituições. A nossa ambição consiste em fornecer mais um
espaço de apresentação de trabalhos, de reflexão conjunta e de discussão de ideias em temas diversos das
ciências do desporto e da atividade física.
Porque este é um trabalho de muitos para todos, desejamos que o conhecimento aqui difundido seja
levado à prática – pelas pessoas com deficiência, pelos agentes individuais e institucionais envolvidos na
promoção da atividade física e do desporto e pela comunidade. Foram submetidos para publicação artigos
de autores filiados em entidades do ensino superior de Portugal, de Itália e do Brasil. Além destes
públicos potenciais queremos chegar mais longe, abrangendo sempre que possível outras realidades
científicas e linguísticas – daí a possibilidade de submissão de artigos em português, espanhol e inglês.
A missão da FPDD è “proporcionar a todas as pessoas, independentemente da sua capacidade funcional, o
acesso a oportunidades de prática desportiva e atividade física com o grau de envolvimento desejado por
cada indivíduo, ao longo da sua vida”; a nossa visão aponta para que aquelas oportunidades surjam na
comunidade, sem barreiras ou distâncias irrazoáveis. Ao analisarmos os artigos aqui publicados,
confirmámos algo que se nos aparentava óbvio - que muitos dos interesses de investigação na Academia
são hoje muito próximas das nossas preocupações quotidianas: da informação e da linguagem à qualidade
da formação de técnicos e da consciencialização da comunidade escolar ao treino desportivo tout court,
entre outros. Os níveis de envolvimento considerados vão do puro lazer aos paralímpicos, passando pela
educação física.
Nesta primeira edição, são discutidas as realidades da educação, da reabilitação, da qualidade de vida das
pessoas, da inclusão social pelo desporto e do alto rendimento; de forma lata, podemos dizer que a
formulação das questões científicas, bem como as metodologias adotadas, abrangeram muitas das mais
clássicas disciplinas das ciências do desporto - da biomecânica à fisiologia, da psicologia às ciências da
educação e da formação…
Não poderíamos deixar de agradecer o trabalho e a disponibilidade de todos os que acederam ao nosso
apelo, nas diferentes vertentes do trabalho deste projeto, nomeadamente aos autores, aos revisores, aos
membros da comissão editorial e aos editores. Ao INR fica o nosso agradecimento pelo co-financiamento
e pelo apoio institucional.
A transversalidade é um dos pilares fundamentais desta iniciativa e pensamos que este primeiro número o
revela de forma bastante satisfatória. Aguardamos agora que a ciência siga o seu curso e que a avaliação
crítica, as propostas alternativas e o comentário construtivo possam suceder-se, neste fórum como
noutros.
Mário Lopes
Presidente da FPDD
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Editorial
The journal "Sport and Physical Activity for All" constitutes yet another step to dissipate the
chronic lack of information on the issues of disability. This insufficiency has been widely
acknowledged by numerous authors and institutions. Our ambition consists of providing one
more forum for the presentation of academic work, for joint reflection and for the discussion of
ideas in different areas of the sciences of sport and physical activity.
Because this is an enterprise of many people for all people, we wish that the knowledge hereby
spread is taken to practical terms - by people with disabilities, by individual and institutional
agents involved in the promotion of physical activity and sport and by the community. Articles
from higher education institutions from Portugal, Brazil and Italy were submitted for reviewing.
We aim at reaching even more scientific and linguistic realities and that is why we are open to
the submission of articles in portuguese, english and spanish.
FPDD's mission is "to provide all people, regerdless of their functional abilities, with lifelong
opportunities for engaging in sports and physical activity with the levels of involvment desired
by each individual"; our vision suggests that these opportunities should happen in the
community, at a reasonable distance from hone and without unsurmountable barriers. By
analysing the articles published in this first issue, we confirm whar seemed obvious to us - that
many ressearch interests of Academia are inextricably linked to our daily concerns: from
information and language to the education and training of professionals and from the awareness
of school communities to coaching science tout court, among others. The levels of involvment
reach from pure leisure to the high performance of the paralympics, not disregarding physical
education.
In this first issue, authors discuss education, physical rehabilitation, quality of life of people
with disabilities, social inclusion through sport and performance sport; we should also underline
the fact that the design of the methodologies as well as the scientific frameworks used are wide­
ranging in the field of sports science: from biomechanics to physiology, from psychology to
pedagogy...
We must thank all the work and dedication of all who responded to our challenge, in all the
different tasks, namely the authors, the reviewers, the members of the editorial commission and
the editors. We are also grateful for the finantial and institutional support of INR, the National
Institute for Rehabilitation.
This project was meant to be cross-sectional and this is one of its fundamental principles - we
believe that the current issue reveals it in a rather satisfactory way. We now hope that science
takes its course and that, either here or in other fora, the follow-up consists of critical
assesements, alternative proposals and educated commnentary.
Mário Lopes
FPDD President
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Desporto e Atividade Física para Todos – Revista Científica da FPDD, 2015
Vol. 1, N.º 1, ISSN 2183-511X
Impact of the Paralympic Week in Students’ Attitudes Toward Inclusion
Impacto da Semana Paralímpica nas Atitudes dos Alunos Face à inclusão
Maria João Campos1, César Fernandes1
1
Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, Universidade de Coimbra
Abstract
Resumo
The present study is of great importance since it is our
conviction that students’ attitudes may be a decision­
making factor in order to include students with
disabilities in Physical Education classes. The main
purpose of this research was to assess the outcome of the
inclusive intervention program, the “Paralympic Week”
on the attitude of students without disabilities toward the
inclusion of peers with disabilities in Physical Education
classes. Participants were 109 7th graders from the centre
of Portugal, 56 boys and 53 girls, between 12 and 16
years old (M=12.76; DP=1.75). The Portuguese version
of the Children’s Attitudes Towards Integrated Physical
Education-revised (CAIPE-R), Block (1995) validated
by Campos, Ferreira and Block (2013) was used. This is
a quasi-experimental study, with a control group and an
experimental group. The results reveal significant
differences, after deploying the inclusive program in the
experimental group. Hence, we conclude that the
“Paralympic Week” has been notoriously influent in the
enhancement of more positive attitudes of students
without disabilities, in Physical Education classes,
towards their peers with disabilities.
As perceções da comunidade escolar são um fator chave
para a prossecução da inclusão educativa de alunos com
deficiência. Assim, o objetivo do presente estudo foi
avaliar o efeito da implementação do programa de
intervenção “Semana Paralímpica” nas atitudes dos
alunos sem deficiência face à inclusão de pares com
deficiência na Educação Física. Os participantes foram
109 alunos do 7º ano, da região centro de Portugal, 56
do sexo masculino e 53 do sexo feminino, com idades
compreendidas entre os 12 e os 16 anos (M= 12.76; DP=
1.75). O instrumento utilizado foi a versão portuguesa
do Children’s Attitudes Towards Integrated Physical
Education-revised (CAIPE-R), Block (1995), validado
por Campos, Ferreira e Block (2013). Constituiu-se
como um estudo quase experimental, utilizando um
grupo de controlo e um grupo experimental. Os
resultados revelam diferenças significativas, após a
implementação do programa, no grupo experimental,
Assim, concluímos que a “Semana Paralímpica” teve
uma notória influência na formação de atitudes mais
positivas dos alunos sem deficiência face à inclusão na
aula de Educação Física.
Keywords: Attitudes; Inclusion; Physical Education;
Palavras-Chave: Atitudes; Inclusão; Educação Física;
Students; Paralympic Week
Alunos; Semana Paralímpica
5
Campos & Fernandes
Introdução
A evolução do sistema de educação ao longo dos anos é
bastante notória: desde o movimento internacional de
uma escola universal e obrigatória, no século XIX, na
qual se verificava a segregação dos alunos com
necessidades educativas especiais, sendo o tratamento
da diferença remetido para as escolas especiais,
passando pelo modelo de escola integrativa, verificado
nos anos setenta, promovendo-se a abertura da escola a
alunos com necessidades educativas especiais, verificase, atualmente, a preconização do modelo da escola
inclusiva. No ano de 1994, a Declaração de Salamanca,
com o enquadramento para a ação na área das
necessidades educativas especiais (UNESCO, 1994),
torna-se numa diretriz para as políticas educativas nos
vários países que a subscreveram. A partir do
entendimento da educação inclusiva como “para todos
e para cada um” desenvolveram-se modelos educativos
que, em teoria, promovem, nas escolas regulares, uma
aprendizagem livre de barreiras e rejeitando a exclusão:
“O princípio fundamental das escolas inclusivas
consiste em todos os alunos aprenderem juntos, sempre
que possível, independentemente das dificuldades e das
diferenças que apresentem. As escolas devem acolher
todas as crianças independentemente das suas
condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais,
linguísticas ou outras” (UNESCO, 1994, p. 11).
Assim, a escola inclusiva, assente no modelo
biopsicossocial de deficiência, procura atender de forma
apropriada e com qualidade, não só à deficiência mas a
todas as formas de diferença dos alunos, recusando a
segregação e atribuindo à escola e à sociedade em geral
a responsabilidade coletiva de permitir que a pessoa
com necessidades educativas especiais possa
desenvolver-se na sua plenitude e exercer o seu direito
de cidadania. É de realçar o entendimento mais recente
da Organização Mundial de Saúde relativamente à
deficiência, configurado na Classificação Internacional
de Funcionalidade, que apresenta os princípios
orientadores da “não discriminação e combate à
exclusão” e “igualdade de oportunidades no acesso e no
sucesso educativo” (OMS, 2003).
No atual contexto do modelo de escola inclusiva em que
se, por um lado, se cumprem os requisitos legais e as
orientações internacionais por forma a se proceder à
inserção dos alunos com necessidades educativas
especiais nas turmas de ensino regular, por outro lado,
os intervenientes diretos neste processo de ensinoaprendizagem, nomeadamente os professores, e em
particular os professores de Educação Física, deparamse com inúmeras dificuldades ao nível da intervenção
pedagógica, de organização, tal como, no campo das
atitudes e das relações interpessoais que insistem em
dificultar uma verdadeira Inclusão, entendida como “o
desenvolvimento de uma educação apropriada e de alta
qualidade para alunos com necessidades educativas
especiais na escola regular” (Hegarty, 1994).
Com efeito, a escola é um espaço privilegiado para a
inclusão e deve encetar e desenvolver todos os esforços
para promover a igualdade de oportunidades em termos
de sucesso educativo e conseguir uma efetiva inclusão
educativa e social de todos os alunos. Tornar escolas
mais aptas para responderem à diversidade das
necessidades dos alunos levanta várias questões
relacionadas não apenas com a organização de recursos
mas, principalmente, com as práticas educativas, as
atitudes dos professores e em última instância com as
atitudes dos alunos sem deficiência face a essa inclusão,
aspeto este que pode ser um fator decisivo a ter em
conta no sucesso pleno da inclusão.
Por seu lado, a Educação Física, enquanto disciplina
integrante dos currículos, não pode manter-se à margem
deste movimento inclusivo. Esta área disciplinar pode
constituir-se como um complemento para que a escola
se torne mais inclusiva. Block (2007) atribui um papel
fundamental à disciplina, referindo que a inclusão
suporta as necessidades educativas de alunos com
deficiência nas aulas de educação regular, incluindo
nestas, as aulas de Educação Física. Segundo Rodrigues
(2003), a temática da inclusão na educação Física tem
sido insuficientemente tratada em Portugal. Para o
autor, existem diversas razões pelas quais a Educação
Física tem possibilidades de ser um meio para a
prossecução da educação inclusiva, nomeadamente,
pelo facto intrínseco à própria natureza das atividades
desenvolvidas nesta disciplina, permitindo uma ampla
participação dos alunos mesmo dos que apresentam
dificuldades. Este aspeto pode ser evidenciado com a
presença da Educação Física na grande maioria dos
planos curriculares elaborados para alunos com
necessidades educativas especiais, entendendo-se que a
disciplina possibilita uma participação e um grau de
satisfação elevado de alunos com diferentes níveis de
desempenho e necessidades. O autor considera que a
Educação Física pode ser efetivamente uma área-chave
para tornar a educação mais inclusiva e pode mesmo ser
um campo privilegiado de experimentação, de inovação
e de melhoria da qualidade pedagógica na escola. O
processo de inclusão educacional pode beneficiar com
as propostas metodológicas da Educação Física, usando
o corpo, o movimento, o jogo, a expressão e o desporto
como oportunidades de celebrar a diferença e
proporcionar aos alunos experiências que realcem a
cooperação e a solidariedade (Rodrigues, 2003).
Em 1985, Ajzen definiu o conceito de atitude como
“uma predisposição para responder de uma forma
favorável ou desfavorável a um objeto, pessoa ou
acontecimento”, referindo que as atitudes não são
diretamente observáveis, mas a partir de uma atitude
podemos prever um comportamento. Assim, as atitudes
antecipam a forma como os alunos se comportarão face
à inclusão de colegas com deficiência, e deste modo,
poderão actuar como um obstáculo ou um facilitador no
processo de inclusão. Daí a importância do estudo das
atitudes no contexto educativo.
Panagiotou, Evaggelinou, Doulkeridou, Mouratidou, e
Koidou (2008), analisaram os resultados de inúmeros
programas de intervenção baseados no Movimento
Paralímpico, constatando, para as mesmas categorias de
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Campos & Fernandes
variáveis, resultados ora divergentes ora semelhantes.
Chegaram à conclusão de que os programas de
intervenção influenciam positivamente a mudança de
atitude dos alunos sem deficiência face à inclusão de
alunos com deficiência. No entanto, estes autores
também consideram não haver, à data, estudos
científicos suficientes que contribuíssem para uma
implementação generalizada deste tipo de programas de
intervenção nas escolas sendo por isso muito pertinente
e urgente mais investigação neste domínio. Entretanto,
nos últimos anos, houve um aumento notório de estudos
realizados sobre a inclusão de alunos com necessidades
educativas especiais nas aulas de Educação Física,
nomeadamente nos EUA, os estudos de Slininger,
Sherrill e Jankowski (2000); Obrusníková, Válková, e
Block (2003) e Block e Obrusníková (2007). Na
Europa, encontram-se também alguns estudos
relacionados com a mesma temática, nomeadamente,
Van Biesen, Busciglio e Vanlandewijck (2006), na
Bélgica; Jesina, Lucas, Kudlácek, Janecka, Machová, e
Wittmannová (2006), na República Checa; Panagiotou
et al. (2008) e Xafopoulos, Kudlácek e Evaggelinou
(2009), na Grécia; Hutzler (2003) e Hutzler e Levi
(2008), em Israel e Reina, López, Jimenez, GarciaCalvo e Hutzler (2011), em Espanha. No entanto, a
pesquisa nacional sobre esta temática tem sido escassa,
sendo que a maioria dos estudos existentes foca a sua
análise nas atitudes dos professores face à inclusão de
alunos com deficiência na aula de Educação Física. Só
muito recentemente foram realizados estudos em
Portugal que centram a sua análise nas atitudes dos
alunos (e.g., Campos, Ferreira & Block, 2014; Teixeira,
2014).
Lindsay e Edwards (2013), apresentaram uma revisão
sistemática sobre os programas de intervenção para
sensibilização de crianças e jovens com deficiência,
onde se inclui alguns dos estudos referidos
anteriormente. Os autores centraram a sua análise em
cinco tipos de intervenção para a sensibilização:
simulações, intervenções curriculares, contacto social,
intervenções multimédia e intervenção com múltiplos
componentes. Verificaram que trinta e quatro estudos
demonstraram uma melhoria nas atitudes para com e na
aceitação de alunos com deficiência. Os autores
concluíram que os diferentes tipos de programas de
intervenção de sensibilização para a deficiência podem
melhorar significativamente o conhecimento e as
atitudes dos alunos sem deficiência para com os seus
pares com deficiência, nas aulas de Educação Física. É
de salientar que nesta revisão de artigos internacionais,
levada a cabo por Lindsay e Edwards (2013), não se
inclui qualquer estudo realizado em Portugal.
Da análise das diferentes variáveis, constata-se que os
resultados permanecem inconclusivos e alguns deles
inconsistentes. É neste contexto que o presente estudo
se reveste de uma grande importância pela convicção de
que as atitudes dos alunos poderão ser um factor
decisório para a prossecução da inclusão de alunos com
deficiência nas aulas regulares de Educação Física. O
estudo poderá contribuir para a concertação de
estratégias e formas de atuação dos professores de
Educação Física, no sentido de implementar uma efetiva
inclusão dos alunos com deficiência, nomeadamente
através da elaboração e implementação de programas de
intervenção de natureza inclusiva.
Metodologia
Trata-se de um estudo do tipo quase experimental, uma
vez que a seleção da amostra foi feita por conveniência,
com a utilização de um grupo experimental e de um
grupo controlo.
Participantes
Participaram 109 alunos do 7.º ano de escolaridade, com
idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos (N=109,
M=12.76 anos, DP=1.15), dos quais 56 eram do sexo
masculino e 53 do sexo feminino, de dois agrupamentos
de escola da região centro do país. Os participantes
foram divididos em dois grupos, um experimental
(n=73, M=12.44 anos, DP=0.76), com 34 participantes
do sexo masculino e 39 do sexo feminino, que foi
submetido ao programa de intervenção, designado de
“Semana Paralímpica”, e um grupo de controlo (n=36,
M=13.02 anos, DP=1.48), com 22 participantes do sexo
masculino e 14 do sexo feminino, que mantiveram os
conteúdos curriculares previstos na planificação para a
aula de Educação Física.
Instrumento
Foi aplicado um instrumento de medida das atitudes dos
alunos sem deficiência face à inclusão de alunos com
deficiência nas aulas de Educação Física, o Children’s
Attitudes Towards Integrated Physical Education­
revised – CAIPE-R (Block, 1995), traduzido e validado
para a população portuguesa por Campos, Ferreira e
Block (2013). O CAIPE-R afere as atitudes de pares
relativamente à inclusão nas aulas de Educação Física.
Trata-se de um questionário que permite uma descrição
específica de tarefas e comportamentos normalmente
verificados num contexto de inclusão. Apresenta
questões de caraterização sóciobiográficas acerca da
idade, género, ano de escolaridade, contacto prévio com
pessoas com deficiência e o nível de competitividade
dos participantes. Posteriormente introduz a temática,
descrevendo a situação de um aluno com deficiência
física em cadeira de rodas, a participar num jogo de
basquetebol (e.g., “O João tem a mesma idade que
vocês, mas não consegue andar e usa uma cadeira de
rodas para se deslocar.”; “…não consegue arremessar
uma bola de basquetebol com altura suficiente para
encestá-la.”).
O instrumento é constituído por onze itens, que
avaliam a atitude global na Educação Física (Atitude
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
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Campos & Fernandes
global) (i.e., somatório de todos os itens do
questionário) em que os inquiridos exprimem a sua
concordância, dividido em duas subescalas: Atitudes
gerais de inclusão na aula de Educação Física (Atitude
geral) – da questão 1 à 6 (e.g., “Seria bom ter o João na
tua aula de Educação Física?”) e Atitudes específicas
face às alterações das Regras desportivas (Atitude
específica) – da questão 7 à 11 (e.g., Seria bom permitir
que o João lançasse a bola para um cesto mais
abaixo?). A escala de resposta corresponde a uma escala
tipo Likert de 4 pontos (1= Não; 2 = Provavelmente
não; 3 = Provavelmente sim; 4 = Sim). No item 4
procedeu-se à reconversão da pontuação visto que a
afirmação é colocada na negativa.
Procedimentos
Iniciou-se a aplicação do pré-teste (CAIPE-R) aos dois
grupos (experimental e controlo), sem referência à
matéria em questão, de forma a evitar que as respostas
fossem influenciadas. No momento de preenchimento
do questionário, foi dada a informação que o mesmo era
anónimo, que não havia respostas corretas ou incorretas,
pelo que a resposta para cada questão dependia de como
os inquiridos se sentiam sobre a situação descrita. Como
introdução, foi lido um pequeno texto do questionário
descrevendo uma situação hipotética de um aluno com
deficiência física, do ano de escolaridade dos
participantes no estudo, e que apresentava dificuldades
nas atividades físicas pelo facto de se deslocar em
cadeira de rodas. Após o término do preenchimento dos
dados, foram apresentadas duas questões com o intuito
de clarificar a forma de resposta, servindo como
exemplo, e assim verificar se todos os alunos
compreendiam a forma de preenchimento. Em seguida,
o professor leu em voz alta cada uma das afirmações. O
questionário foi preenchido nas aulas de Educação
Física demorando, em média, quinze minutos. Uma
semana depois implementou-se o programa de
intervenção ao grupo experimental. Esta intervenção
teve a duração de 120 minutos (duas aulas de 60
minutos) em cada turma. A “Semana Paralímpica”
iniciou com uma breve sensibilização teórica sobre a
temática do desporto adaptado, mais concretamente
sobre o Desporto Paralímpico, utilizando recursos
multimédia, recorrendo ao canal Paralympic Sport TV e
teve como objetivo sensibilizar e aumentar o
conhecimento dos participantes relativamente às
modalidades Paralímpicas e respectivos atletas (e.g.,
basquetebol em cadeira de rodas, atletismo, boccia,
goalball, voleibol sentado). Seguidamente, utilizando
uma metodologia de simulação, os participantes tiveram
a oportunidade de praticar boccia, goalball, voleibol
sentado e basquetebol em cadeira de rodas. As aulas
funcionaram em circuito com quatro estações,
permanecendo os alunos doze minutos em cada,
divididos em pequenos grupos. Os participantes do
grupo de controlo mantiveram os conteúdos curriculares
previstos na planificação da disciplina de Educação
Física. Uma semana após a intervenção, foi aplicado
novamente o instrumento a ambos os grupos. Foi
solicitada, previamente, autorização às direções das
escolas para a realização do programa de intervenção,
bem como a aprovação em Conselho Pedagógico.
Análise Estatística
O tratamento estatístico dos dados foi realizado com
recurso ao programa informático IBM SPSS Statistics,
na versão 20.00, para o Windows.
Foi utilizada a estatística descritiva através do cálculo
da média (M) como medida de tendência central, ao
desvio padrão (DP) como medida de dispersão e às
tabelas de frequência e respetivos valores percentuais.
Relativamente à estatística inferencial, procedeu-se à
análise comparativa através do Teste T para amostras
emparelhadas. Utilizou-se o nível de significância de
ρ≤0,05.
Resultados
Apresenta-se na tabela 1 os resultados da estatística
descritiva de forma a obter um conhecimento mais
global da amostra em estudo.
Tabela 1 – Estatística descritiva das variáveis independentes
Sexo
Contacto
prévio em
Família/
Amigos
Contacto
prévio na
EF
Nível de
competitividade
Feminino
Masculino
Sim
Amostra
Total
N=109
F
%
Grupo
Experimental
n=73
F
%
Grupo de
Controlo
n=36
F
%
53
56
44
65
48.6
51.4
40.4
59.6
39
34
29
44
53.4
46.6
39.7
60.3
14
22
15
21
38.9
61.1
41.7
58.3
15
94
13.8
86.2
6
67
8.2
91.8
9
27
25.0
75.0
17
15.6
15
20.5
2
5.6
65
59.6
44
60.3
21
58.3
27
24.8
14
19.2
13
36.1
Não
Sim
Não
Muito
competitivo
Mais ou
menos
competitivo
Não
competitivo
F – Frequência ; % - Percentagem
Participaram 109 alunos do 7º ano, dos quais 51.4% do
sexo masculino e 48.6% do sexo feminino. O grupo
experimental foi constituído por 73 alunos, 53.4% do
sexo feminino e 46.6% do sexo masculino. No grupo de
controlo participaram 36 alunos, 61.1% rapazes e 38.9%
raparigas.
Do total da amostra, 59.6% não teve contacto prévio
com a deficiência na família ou amigos e 40.4% teve
esse contacto. No grupo experimental, a maioria dos
participantes, 60.3%, não teve contacto prévio com a
deficiência no seio familiar ou amigos, ao contrário de
39.7%. No grupo de controlo, 58.3% não tiveram o
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
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Campos & Fernandes
contacto prévio com a deficiência através de
algum familiar ou amigos e 41.7% tiveram.
No que diz respeito às aulas de Educação Física, 86.2%
nunca tiveram um colega com deficiência a participar
nas aulas, sendo que apenas 13.8% tiveram esse
contacto prévio. No grupo experimental, 91.8%, nunca
contactaram com colegas com deficiência na Educação
Física, verificando-se que apenas 8.2% vivenciaram
essa situação. Quanto ao grupo controlo, 75% dos
participantes nunca tiveram um colega com deficiência
na Educação Física e apenas um quarto dos
participantes teve essa experiência.
Por fim, e no que toca à competitividade, 59.6% dos
participantes consideraram-se mais ou menos
competitivos, 24.8% como não competitivos e 15.6%
muito competitivos. No grupo experimental, 60.3%
consideraram-se mais ou menos competitivos, 20.5%
muito competitivos e 19.2% não competitivos.
Relativamente ao grupo de controlo, 58.3% afirmaramse como mais ou menos competitivos, 36.1% como não
competitivos e 5,6% como muito competitivos.
Na tabela 2, apresenta-se os resultados da estatística
inferencial entre o pré-teste e o pós-teste para os grupos
controlo e experimental.
Tabela 2 – Estatística inferencial das variáveis dependentes
Grupo Controlo
M
DP
p
Atitude
Global
(a)
3.34
0.35
(b)
3.40
0.26
Atitude
geral
(a)
3.14
0.47
(b)
3.27
0.31
Atitude
específica
(a)
(b)
3.59
3.56
0.34
0.34
(a)pré-teste
-
-
-
Grupo Experimental
M
DP
p
3.31
0.32
3.43
0.34
3.25
0.31
3.41
0.33
3.38
3.46
0.52
0.54
0.001
0.001
-
(b) pós teste
Através da análise dos resultados da tabela 2, observa-se
que, para a variável Atitude Global, a média é superior
no pós-teste, sendo de registar essa diferença como
significativa (p=0.001). No mesmo sentido se verifica a
Atitude geral face à aula de Educação Física, com um
aumento acentuado no pós-teste, sendo essa diferença
significativa (p=0.001). Quanto ao grupo de controlo,
não se verificaram diferenças significativas entre o pré e
pós-teste.
A partir da Tabela 2, constata-se também que, já antes
da implementação do programa de intervenção, as
atitudes dos participantes dos dois grupos eram
globalmente muito positivas.
intuito de promover atitudes positivas dos alunos sem
deficiência face à inclusão nas aulas de Educação
Física, foi cumulativamente eficaz na promoção da
atitude global e da atitude geral, no grupo experimental.
Estes resultados estão em concordância com alguns dos
estudos realizados dentro desta temática (e.g. Ješina et
al., 2006; Panagiotou et al., 2008; Van Biesen et al.,
2006). Já Block (1995), para além das diferenças
verificadas para a atitude geral, encontrou diferenças na
atitude específica face à alteração das regras, assim
como Papaioannou, Evaggelinou e Block (2014). Os
resultados do presente estudo vão de encontro aos dos
estudos realizados anteriormente em Portugal, que ao
avaliarem o efeito da intervenção, também
evidenciaram diferenças significativas. Campos,
Ferreira e Block (2014) verificaram diferenças
significativas para a escala atitude global e para a
subescala atitude geral face à inclusão na aula de
Educação Física, entre o pré-teste e o pós-teste. Teixeira
(2014) apenas registou diferenças significativas para a
subescala atitude geral face à aula de Educação Física,
no grupo experimental.
Os resultados dos estudos anteriores efetuados em
Portugal, assim como os resultados do presente estudo
salientam o facto dos alunos apresentarem, de uma
forma geral, valores muito positivos face à inclusão.
Esta análise pode indiciar que, atualmente, os alunos
apresentam, globalmente, maior conhecimento sobre as
diferenças/semelhanças,
limitações/capacidades
e
potencialidades das pessoas com deficiência, adotando
atitudes mais favoráveis e até proactivas face à sua
inclusão na aula de Educação Física. É de referir que as
escolas participantes no presente estudo promovem a
inclusão dos alunos com deficiência, quer nas atividades
letivas, quer nas atividades de complemento curricular e
atividades pontuais (e.g. alunos de cadeira de rodas
participam ativamente na aula de Educação Física e nos
torneios inter turmas de Futsal).
Pode apontar-se algumas limitações decorrentes do
presente estudo. Por um lado, a curta duração do
programa de intervenção pode limitar o alcance dos
efeitos produzidos e até levantar questões como: Qual a
duração do efeito da implementação de um programa
de sensibilização (mudanças de atitudes momentâneas
ou duradouras)? Por outro lado, o tipo de atividades
selecionadas para a intervenção poderá não ter sido o
mais adequado para uma análise detalhada das atitudes
específicas face à alteração de regras. Assim, as
pesquisas futuras deverão realizar um programa de
intervenção que incida sobre as adaptações de regras nas
aulas de Educação Física e na realização de estudos de
seguimento longitudinal.
Discussão
O presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito de
um programa de sensibilização nas atitudes de alunos do
7º ano face à inclusão de colegas com deficiência na
aula de Educação Física. Assim, os resultados sugerem
que o programa de intervenção implementado, com
o
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
Conclusão
Relativamente ao objetivo central do estudo, avaliar o
impacto do programa de intervenção, pode concluir-se
que a “Semana Paralímpica” teve uma notória
9
Campos & Fernandes influência na promoção de atitudes ainda mais positivas
nos alunos do 7º ano de escolaridade, face à inclusão de
pares com deficiência na aula de Educação Física.
Tendo em consideração os resultados encontrados e a
ausência de maiores consensos na literatura
relativamente a determinadas variáveis, torna-se
evidente a necessidade de dar continuidade à
investigação nesta área, de modo a determinar com
maior exatidão a influência das diferentes variáveis e a
identificar as características dos programas de
intervenção que melhor poderão constituir-se como uma
orientação metodológica eficaz na promoção de atitudes
positivas dos alunos sem deficiência face à inclusão nas
aulas de Educação Física.
Mantem-se a convicção de que alunos e professores se
constituem como elementos chave e facilitadores das
relações intergrupais para a implementação de uma
verdadeira inclusão educativa e, como tal, torna-se
crucial a promoção de atitudes positivas nas aulas de
Educação Física.
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11
Desporto e Atividade Física para Todos – Revista Científica da FPDD, 2015
Vol. 1, N.º 1, ISSN 2183-511X
Adapted Orienteering: Characteristics and Potentialities of a Sport for
Inclusion
Orientação Adaptada: Características e Potencialidades de um Desporto de Inclusão
Tadeu Celestino1,3, Antonino Pereira2,3
1
Agrupamento de Escolas de Oliveira Hospital; 2Escola Superior de Educação de Viseu; 3Centro de Estudos em
Educação, Tecnologia e Saúde (CI&DETS);
Abstract
Resumo
In a society that seeks to be ever more just and
egalitarian, sport as a total social fact is an important
catalyst for promoting equality and social inclusion of
individuals. When adapted, sports readjust their
practices and characteristics to suit the ideals of sport for
all. This reconfiguration results in credible alternatives
for social inclusion, whose impact on the lives of
individuals with disabilities is realized in significant
improvements in their ability to function, social
autonomy and unequivocally in their quality of life.
Thus, the purpose of this essay is to present
Orienteering, as an outdoor sport, in its adapted aspects
(Precision Orienteering and Adapted Orienteering), as a
valid response for promoting the values of equity and
inclusion through sport has a set of features that lets you
just add a time and, in the same place of practice, put
together individuals with different conditions (people
with motor or cognitive limitations and those without
disabilities), making it a unique activity and an
effectively inclusive promoter of the ideals and values of
sport truly for all.
Numa sociedade que procura ser cada vez mais justa e
igualitária, o Desporto como fato social total configurase num importante catalisador para a promoção da
igualdade e inclusão social dos indivíduos. Na sua
vertente adaptada, as modalidades desportivas reajustam
as suas práticas e características indo ao encontro dos
ideais do desporto para todos. Esta reconfiguração
resulta em alternativas credíveis de inclusão social, cujo
impacto na vida dos indivíduos portadores de deficiência
se concretiza em melhorias significativa na sua
funcionalidade, autonomia social e inequivocamente na
sua qualidade de vida. Assim, o propósito deste ensaio é
o de apresentar a Orientação, enquanto desporto na
natureza, na sua vertente adaptada (Orientação de
Precisão e Orientação Adaptada), como uma resposta
válida de promoção dos valores da equidade e da
inclusão pelo desporto. Deste modo, esta modalidade
apresenta um conjunto de características que permitem
agregar a um tempo só e, no mesmo local de prática,
indivíduos de diferentes condições (pessoas portadoras
de limitações motoras, cognitivas e sem deficiência),
tornando-a uma atividade ímpar e efetivamente inclusiva
promotora dos ideais e valores do desporto
verdadeiramente para todos.
Keywords: Adapted sport, disabilities, sport for all,
Palavras-Chave:
orienteering
desporto para todos, orientação.
Desporto
adaptado,
deficiência,
12
Celestino & Pereira
Introdução
O Desporto reflete os valores, as normas e os padrões
dominantes de uma dada sociedade. Na atualidade é
considerado um meio excecional de exaltação dos
valores humanos, constituindo-se como um instrumento
de inclusão social, de promoção da tolerância e do
respeito pelo outro. Face a tais virtualidades são cada
vez mais os apelos que visam dar realce à promoção e
divulgação de boas práticas de inclusão social no e pelo
desporto (Marivoet, 2014).
Para tal, ao longo dos séculos este fenómeno social
global sempre conseguiu acompanhar as exigências das
reconfigurações sociais cindindo-se numa pluralidade
de motivos, finalidades, sujeitos e praticantes. Neste
processo, o Desporto passa de uma atividade puramente
orientada e estruturada para o alto rendimento e a
competição, onde se exalta os estereótipos da juventude
saudável e da masculinidade para, paulatinamente, se
consumar
numa
prática
acessível
a
todos
independentemente do género, condições e estados, com
o objetivo da saúde, da recreação, a estética corporal, a
reabilitação e inclusão (Bento, 2014).
Assim, o Desporto dos nossos dias sedimenta-se numa
conceção plural constituindo-se um fenómeno
polissêmico (diversidade de sentidos) e manifesta-se
numa realidade polimórfica (variedade de formas)
(Bento, 2014) que se concretiza no paradigma do
desporto para todos.
Nesta matriz conceptual, encontra-se o Desporto
Adaptado que emergiu da Atividade Física Adaptada, a
qual surgiu com maior efetividade na segunda metade
do século XX em contexto hospitalar, como meio de
reabilitação (Guttmann, 1976), e de resposta de
integração social dos indivíduos portadores de
deficiência adquirida em consequência da Segunda
Guerra Mundial (Winnick, 2005).
Desde então, o Desporto Adaptado tem-se afirmado
como um dos principais instrumentos para uma plena
inclusão social dos indivíduos portadores de deficiência,
numa sociedade que procura ser cada vez mais justa e
igualitária.
Desenvolvido e organizado com base numa estruturação
por grupos de deficiência, em consonância com as suas
características e etiologias (Castro, 1998; Varela, 1991),
o Desporto Adaptado, conceptualmente, engloba todas
as modalidades desportivas que se readaptam ao grupo
de pessoas portadoras de deficiência, em consequência
de um conjunto de adaptações facilitadoras sempre que
a própria estrutura e dinâmica funcional da modalidade
possibilite a sua prática (Hernández, 2000; Tejero,
Vaíllo & Rivas, 2012).
Assim, algumas modalidades desportivas adaptaram as
suas características para melhor se ajustar às
necessidades especiais de determinada deficiência ou
limitação. No mesmo sentido promove-se, também, o
desenvolvimento de uma nova modalidade/atividade
que possa ir ao encontro das características e
especificidades de determinado grupo de indivíduos
portadores de deficiência (Tejero et al., 2012).
Enquadrado neste contexto encontra-se o desporto
Orientação cuja ecologia e forma de organização
possibilitam a acessibilidade de todos os indivíduos
independentemente da sua condição ou objetivos de
participação.
Face ao exposto, o propósito deste ensaio é o de
apresentar as características e potencialidades da
Orientação, enquanto desporto na natureza, na sua
vertente adaptada, como uma proposta válida de
promoção dos valores da equidade e inclusão pelo
desporto.
A investigação desenvolvida no âmbito das Ciências do
Desporto tem reconhecido, de um modo geral, os
benefícios do Desporto Adaptado a vários níveis,
nomeadamente a nível psicológico, físico e social, e que
se repercutem positivamente em ganhos de autonomia e
autoconfiança para a realização das tarefas diárias, bem
como benefícios significativos ao nível da autoestima e
no autoconceito dos indivíduos portadores de
deficiência (Caspersen, Pereira & Curran, 2000).
No mesmo sentido e de forma mais particular, são
evidentes os benefícios no âmbito da saúde destes
indivíduos. Estudos diversos têm demonstrado relações
positivas entre a sua prática e os níveis de saúde,
considerando inclusive, que poderá atuar como meio de
prevenção e redução significativa de fatores de risco de
doenças cardiovasculares, metabólicas ou do cancro
(Nova, 2012; Sanz Rivas & Reina Vaíllo, 2012). Do
mesmo modo, funciona como um importante catalisador
de bem-estar (Boyce & Fleming-Castaldy, 2012;
Giacobbi, Stancil, Hardin, & Bryant, 2008), que se
reflete inequivocamente em ganhos significativos de
qualidade de vida (Safania & Mokhtari, 2012;
Tomasone, Wesch, Ginis, & Noreau, 2013) e autonomia
pessoal e social deste grupo de indivíduos.
Por outro lado, poderá desempenhar um papel ativo na
compensação do decréscimo, quer da funcionalidade
física decorrente da sua condição (exemplos:
mobilidade reduzida, espasticidade, contraturas e dor),
quer do processo natural de envelhecimento, e
consequente melhoria da qualidade de vida. Também o
Desporto Adaptado tem vindo a ganhar cada vez mais
notoriedade e importância como um importante agente
de inclusão e socialização.
Consequentemente, temos vindo a assistir nas mais
diversas modalidades ao aparecimento de projetos de
práticas desportivas com a adaptação de regulamentos e
formas de realização que procuram dar resposta aos
mais diversificados impedimentos funcionais e atenuar
barreiras e constrangimentos de diversa ordem.
Fruto deste reconhecimento surge em 1988 a Federação
Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência
(FPDD) que, para além de promover e fomentar a
prática desportiva adaptada, coordena, prepara atletas
para a participação em eventos e competições de âmbito
internacional. Neste âmbito, congrega a regulamentação
e organização de 38 modalidades adaptadas (Federação
Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência,
s/d).
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
13
Celestino & Pereira
Pese embora, o vasto leque de modalidades desportivas
adaptadas disponíveis, na época desportiva de
2012/2013, apenas 0,4% dos indivíduos portadores de
deficiência em Portugal se encontram envolvidos nestas
práticas de uma forma frequente e sistemática (Saraiva
et al., 2013). De igual modo, no que concerne à sua
vertente recreativa, os índices de participação em
atividades desportivas adaptadas, registam, de uma
forma geral, índices de participação baixos (Ginis et al.,
2010; Kosma, Cardinal, & McCubbin, 2004; Kosma,
Cardinal, & Rintala, 2002).
Estes factos colocam em evidência um conjunto de
obstáculos e constrangimentos de ordem intrapessoal e
contextual que condicionam significativamente o acesso
a programas e atividades aos indivíduos portadores de
deficiência, sendo um grave entrave á sua socialização e
integração (Cardoso, Palma, & Zanella, 2010). Entre
essas sublinha-se o isolamento social destes indivíduos
(Kaye, 1997), a falta de instalações adequadas, assim
como as perceções de ambiente hostil das práticas
(Riley et al., 2004) que, por vezes se encontram
relacionadas com atitudes e comportamentos negativos
perpetuados por indivíduos sem deficiência, que em
parte corroboram os elevados níveis de descriminação
social que existem relativamente à pessoa com
deficiência (Special Eurobarometer 393, 2012).
Salientam-se ainda as barreiras arquitetónicas e a
escassez de programas e atividades que se encontram ao
dispor dos indivíduos portadores de deficiência
(Rimmer, 2004; Tasiemski, Gardner, & Blaikley, 2004).
Face ao exposto, consideramos ser cada vez mais
premente inverter esta realidade com o desenvolvimento
de estratégias e programas motivadores de promoção da
prática de atividades físico desportivas, que possam ir
ao encontro das ideias do desporto para todos, numa real
dimensão holística na qual se promovam os valores da
inclusão e da igualdade de acesso e que não se centrem
apenas nos indivíduos portadores de deficiência.
Pereira, 2012, Celestino & Pereira, 2013; Koukouris,
2005) independentemente da sua condição.
Para uma concretização efetiva de tais virtualidades
demonstradas por esta modalidade, muito contribuem as
suas disciplinas Trail-Orienteering (Orientação de
Precisão) e a Orientação Adaptada que, embora
acessíveis a todos, estão especialmente vocacionadas
para as pessoas portadoras de limitações motoras e
cognitivas, respetivamente. Assim, é perfeitamente
natural que na mesma competição estas disciplinas
consigam agregar, a um só tempo e no mesmo espaço
de prática, indivíduos portadores de deficiência e
indivíduos ditos normais proporcionando, deste modo,
uma efetiva integração, igualdade competitiva e a
socialização.
Trail-Orienteering
O Trail-Orienteering (Orientação de Precisão), integrada
desde 1992 no quadro de disciplinas da Federação
Internacional de Orientação (IOF), foi desenvolvida
para oferecer a todos a oportunidade de praticar
orientação, particularmente os indivíduos com
mobilidade reduzida. Esta apela unicamente à
capacidade de leitura e interpretação de um mapa e da
sua relação com o terreno, excluindo os fatores do
rendimento físico e do tempo. Deste modo, torna
possível a prática em igualdade de circunstâncias a
indivíduos
portadores
de
deficiência
(classe
paralímpica) e indivíduos sem deficiência (classe
aberta), constituindo-se assim uma das poucas
modalidades desportivas onde esta igualdade é possível.
Proposta da Orientação como modalidade inclusiva
O desporto Orientação pela sua estrutura, dinâmica
funcional e contextualização, parece-nos possuir um
conjunto de virtualidades que vão ao encontro do
paradigma do desporto para todos. Diversos autores
(Celestino & Pereira, 2012, Celestino & Pereira, 2013;
Koukoris; 2005) enaltecem as suas potencialidades,
nomeadamente o seu valor educativo, o contacto com a
natureza, a aventura, o risco controlado, a promoção da
autoconfiança e autonomia, a socialização, a
multidisciplinariedade e interdisciplinaridade, o
desenvolvimento de estilos de vida saudáveis e a
integração social.
Concomitantemente, este reconhecimento é amplamente
referenciado por aqueles que a praticam, legitimando-a
como uma modalidade promotora dos valores onde se
distingue a igualdade de oportunidades e a equidade no
livre acesso à prática desportiva de todos (Celestino &
Figura 1 – Orientação de Precisão (foto Joaquim Margarido)
A sua concretização resulta da necessidade de os atletas
progredirem ao longo de um trilho (caminho) com um
mapa na mão, ao longo do qual são estimulados a
resolver problemas sobre a colocação de balizas em
elementos no terreno através da seguinte sequência: i) o
atleta recebe um mapa com um percurso onde se
encontram os pontos de controlo; ii) para cada ponto de
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Celestino & Pereira
controlo existe um ponto de observação; iii) em cada
ponto de controlo existem várias balizas possíveis,
visíveis do ponto de observação. As balizas são
designadas pelas letras A a E, tal como se observam da
esquerda para a direita a partir de um ponto de decisão;
iv) o objetivo é, em cada ponto de controlo, escolher a
baliza colocada no local indicado no mapa.
motoras deixam de possuir qualquer vantagem em
relação a um indivíduo com limitações motoras
(Braggins, s/d).
Em suma, ao se excluir o fatores do tempo e
componente física, na Orientação de Precisão os
indivíduos com diferentes condições podem competir
entre si, em igualdade de circunstâncias, sendo o
desempenho avaliado não por aquele que completa a
prova em menos tempo mas sim aquele que interpreta
melhor o mapa.
Em Portugal, as provas tuteladas da Federação
Portuguesa de Orientação (FPO) podem desenvolver-se
com percursos/classes com diferentes níveis de
dificuldade. Paralelamente, desenvolvem-se percursos
de iniciação sem caracter competitivo que podem ser
realizados por todos os indivíduos, sem distinção de
sexo, idade, capacidade/incapacidade, individualmente
ou em grupo.
Figura 2 – Balizas possivelmente visíveis do ponto de observação
(Foto – Tadeu Celestino)
Deste modo, os praticantes são obrigados a ler o mapa
para encontrar os postos de controlo e uma vez no local,
com o auxílio de uma bússola, fazer a leitura e
interpretação do terreno e assinalar, de entre múltiplas
possibilidades, a baliza corretamente colocada de
acordo com a sinalética respetiva. A resposta é registada
num cartão de controlo. O vencedor nas diferentes
classes (paralímpica e aberta) é aquele que obtiver o
maior número de pontos obtidos através da escolha
acertada das balizas corretamente colocadas.
Figura 4 – Orientação de precisão – um desporto para todos (Foto
Joaquim Margarido)
Orientação adaptada
Figura 3 – Leitura e interpretação do mapa (Foto Joaquim Margarido)
Assim, o único fator avaliativo é a capacidade de leitura
do mapa e a interpretação do terreno, sendo que os
únicos requisitos necessários à prática da modalidade
são apenas as capacidades de visão e de interpretação do
mapa. Deste modo, os praticantes sem limitações
A Orientação Adaptada é direcionada para indivíduos
portadores de limitações cognitivas e para crianças em
idade pré-escolar. Subdividida em duas vertentes, uma
primeira de carácter predominantemente lúdico,
denominada por “Atividade Adaptada”, tem um
seu
propósito
eminentemente
lúdico
e
o
desenvolvimento requer a constante interação de um
pequeno grupo de indivíduos. Uma segunda, intitulada
de “Orientação Adaptada”, tem um intuito puramente
competitivo, apela à autonomia dos praticantes para o
desenvolvimento e concretização individual do
percurso. Apresenta um número variável de pontos de
controlo assinalados num mapa e materializados no
terreno por balizas com sequências de cores, que devem
ser visitadas por uma ordem sequencial.
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
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Celestino & Pereira
Figura 5 – Orientação adaptada (Foto Joaquim Margarido)
No início da atividade o praticante recebe um mapa do
local onde se encontra assinalado o terreno de prova, a
sinalética correspondente ao número de pontos a visitar,
assim como a respetiva sequência de cores
correspondente à resposta correta que deve ser
assinalada num cartão igualmente fornecido. Cada
ponto de controlo está materializado por um ponto de
observação no qual se pode observar um conjunto de 3 a
5 balizas com as sequências de cores. O objetivo é que o
praticante faça a correlação entre a sequência de cores
que se encontra assinalada no mapa e a que encontra
materializado no terreno registando a sua opção num
cartão de controlo.
forma a ter respostas válidas para o processo de inclusão
dos indivíduos portadores de deficiência.
Neste paradigma, o desporto Orientação, na sua forma
adaptada, tem como propósito ir ao encontro dos ideais
do verdadeiro desporto para todos. Procura a um só
tempo incluir indivíduos de todas as condições e
estados, particularmente, pessoas portadoras de
deficiência e romper com o paradigma das atividades
físicas desportivas apenas vocacionadas para grupos
específicos indivíduos. Assim, promove-se a interação
entre diferentes indivíduos e estes com a natureza sendo
que, em ambas as vertentes, o fator tempo é relegado
para segundo plano e, consequentemente, a irrelevância
da capacidade física torna-se uma mais-valia
possibilitando na mesma competição a participação, em
igualdade de circunstâncias, de atletas de todas as
condições e objetivos. As barreiras físicas e cognitivas
deixam de existir e a valorização da participação, do
respeito pelo outro, da socialização, e a promoção da
saúde e do bem-estar, convertem esta modalidade num
exemplo ímpar de boas práticas de inclusão social no e
pelo desporto.
Face ao exposto, consideramos ser fundamental o
desenvolvimento de investigações que permitam
evidenciar as reais potencialidades inclusivas da
Orientação.
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Figura 6 – Sequência de cores visíveis do ponto de observação (Foto
Tadeu Celestino)
Conclusão
Os paradigmas da sociedade atual exigem do Desporto
uma pluralidade de respostas validas á multiplicidade de
indivíduos de diferentes condições que reclamam a
pertença numa sociedade mais justa e inclusiva. Deste
modo, é imperativo que a promoção dos valores da
equidade e da igualdade sejam transversais a todas as
manifestações de atividades físico desportivas. Nesse
sentido, o Desporto, materializado pelas suas diversas
formas de prática, tem vindo a refletir e reajustar-se
por
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
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Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
17
Desporto e Atividade Física para Todos – Revista Científica da FPDD, 2015
Vol. 1, N.º 1, ISSN 2183-511X
Handbiking - A Low Metabolic Cost of Locomotion for Spinal Cord Injured
People
Handbiking - Um Meio de Locomoção de Baixo Custo Metabólico para Pessoas
com Lesões da Medula Espinal
Gabriela Fischer1,2,4, Leonardo Peyré-Tartaruga2,3
1
School of Exercise and Sport Science, Department of Neurological, Biomedical and Movement Sciences, University
of Verona, Verona, Italy; 2Post-Graduate Program in Pulmonology Sciences, Federal University of Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, Brazil; 3School of Physical Education, Federal University of Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
Brazil; 4Member of Brazilian Paralympic Academy
Abstract
Resumo
The purpose of this study was to compare aerobic speeds
of progression, cardiorespiratory responses and
metabolic cost between trained individuals with
tetraplegia and paraplegia riding modern handbikes in
ecological conditions. Fifteen trained-handbikers, with
history of traumatic tetraplegia (n=4) and paraplegia
(n=11) rode their handbikes on an athletics track at submaximal aerobic speeds under metabolic measurements
(K4b2). Independent-sample t test showed significant
differences between speeds (tetraplegics 4.70±0.72 ms-1
versus paraplegics 6.41±1.07 ms-1; p=0.012) and
cardiorespiratory responses (tetraplegics 15.9±3.6 mLkg­
1
min-1 versus paraplegics 23.4±3.5 mLkg-1min-1;
Submaximal
aerobic
speeds
and
p=0.003).
cardiorespiratory responses were lower in tetraplegics.
However, a low and similar metabolic cost (around 1
Jkg-1m-1) was observed in both tetraplegic and
paraplegic riding modern handbikes.
O objetivo do presente estudo foi comparar as
velocidades de progressão submáximas, as respostas
cardiorrespiratórias
e o custo metabólico entre
indivíduos treinados com tetraplegia e paraplegia
pedalando handbikes modernas em condições
ecológicas. Quinze handbikers treinados, com histórico
de tetraplegia (n=4) e paraplegia (n=11) pedalaram suas
handbikes na pista de atletismo em velocidades
submáximas sob o registro de variáveis metabólicas
(K4b2). O teste t para amostras independentes apontou
diferenças significativas entre as velocidades
(tetraplégicos 4.70±0.72 ms-1 versus paraplégicos
6.41±1.07 ms-1; p=0.012) e entre as respostas
cardiorrespiratórias (tetraplégicos 15.9±3.6 mLkg-1min-1
versus paraplégicos 23.4±3.5 mLkg-1min-1; p=0.003). As
velocidades
submáximas
e
as
respostas
cardiorrespiratórias foram menores nos tetraplégicos.
Contudo, um baixo e similar custo metabólico (em
torno de 1 Jkg-1m-1) foi observado em ambos
tetraplégicos e paraplégicos pedalando handbikes
modernas.
Keywords: Handbike, locomotion economy, disabled
persons
Palavras-Chave: Handbike, economica de locomoção,
pessoas com deficiência.
18
Fischer &Tartaruga
Introduction
Handbiking (HB) or Handcycling is a form of adapted
cycling, practiced by disabled people using exclusively
upper body (Lovel et al., 2012). For people with spinal
cord injury, HB is commonly used in rehabilitation
programs, recreational activities (Hettinga et al., 2010)
and competitions (Fischer et al., 2015). The modern
handbikes have been allowing handbikers to travel for
longer distances, for an extended duration and at higher
speeds than handrim wheelchair riders (Dallmeijer et
al., 2004). However, little is presently known about the
bioenergetical responses of people with spinal cord
injury riding modern handbikes in ecological
conditions.
Most people with a spinal cord injury, and especially
those with a high lesion, have a very low fitness (Valent
et al., 2009). Indeed, upper body power output and
oxygen consumption, as well as cardiac output and
catecholamine response to exercise are typically
reduced compare to individuals with paraplegia (Schmid
et al., 1998; Theisen, 2012). In addition, shoulder pain
appears to be more common in tetraplegics due to
repetitive applied forces during wheelchair handrim
propulsion (Curtis et al., 1999). In HB competitions
(e.g. Paralympic Games) athletes who present limited
function in hands and arms, such as tetraplegics, are
classified as H1 and H2, while those presenting poor to
good trunk control are included in H3 and H4 classes.
H5 class includes those that have excellent trunk
balance (UCI, 2015).
It is well established that handbike propulsion
(considering also arm crank ergometer) is energetically
more efficient and mechanically less straining than
wheelchair handrim propulsion (Arnet et al., 2012;
Dallmeijer et al., 2004; Mukherjee & Samanta 2001;
Tropp et al., 1997; van der Woude et al., 2006). This is
explained mainly by the continuous arm motion, power
transfer and a more efficient muscle use during
handbike propulsion (Dallmeijer et al., 2004; DeCoster
et al., 1999; Janssen et al., 2001). Therefore, we suppose
that even people with more severe impairments are able
to handcycle with a high economy of locomotion.
Metabolic cost (C) is considered the key index of the
’economy’ of locomotion (economy=reciprocal of
metabolic cost, Minetti, 2004) and allows comparison
among different types of locomotion under different
conditions (e.g., speed of progression).
Few studies (Maki et al., 1995; Mukherjee & Samanta,
2001) have calculated the metabolic cost of HB in
ecological conditions. Despite a more realistic approach
of dynamic characteristics, such as stability and
maneuverability, these studies were performed with
large and heavy old frames handbikes. Furthermore,
they did not assess bioenergetics of HB in people with
tetraplegia. Therefore, the purpose of this study was to
compare
aerobic
speeds
of
progression,
cardiorespiratory responses and metabolic cost between
trained individuals with tetraplegia and paraplegia
riding modern handbikes in ecological conditions. It
was hypothesized that, tetraplegics would ride the
handbikes at lower speeds than paraplegics, but with
similar metabolic cost.
Methodology
Participants
Fifteen trained-handbikers, with history of traumatic
tetraplegia (n=4; spinal cord injury to the cervical
segments C6/C7) and paraplegia (n=11; spinal cord
injury between thoracic and lumbar segments T4 – L1),
volunteered to participate in this study. Two participants
were female (tetraplegia n=1; paraplegia n=1). All
participants were wheelchair dependent for their routine
ambulation. Participants’ characteristics are showed in
Table 1. Selection criteria for participation were: (i) age
between 18-58 years, (ii) At least 6 months of
experience in HB races (iii) absence of any health
problem that contraindicate exercise testing. The study
was approved by the University of Verona Ethics
Committee and conformed to the standards set by the
Declaration of Helsinki. Written informed consent was
obtained from all participants.
Handbikes
Each participant used his/her own rigid-frame handbike,
with a synchronous crank system, to perform the tests.
All handbikes were recumbent models. The tyre
pressure was controlled to 8 bars. Handbikes’ mass are
showed in Table 1.
Procedures
Participants were asked to ride their handbikes on an
athletics track at sub-maximal aerobic speeds under
cardiorespiratory monitoring. The target speed was
defined based on each participant usual 30-40 km race
average speed. Three more speeds, 2, 4 and 6 km h-1
lower than the target speed, were further performed
randomly. This procedure allowed guaranteeing aerobic
and submaximal speeds to each participant. Gear and
arm cranking frequency were freely chosen. Each
handbike was equipped with a GPS receiver (Edge 305,
Garmin, Olathe, USA) allowing participants to control
target speed as constant as possible. A rest in-between
trials was administered until oxygen consumption
returned to the rest value. All tests were performed at
the same time of day and in the absence of wind (27±4
°C air temperature and 757±4 mmHg atmospheric
pressure).
Cardiorespiratory and bioenergetic measurements
Participants were equipped with a portable telemetric
gas analysis system unit (Figure 1) (K4b2, Cosmed,
Rome, Italy) for measures of heart rate (HR), minute
ventilation (VE), oxygen consumption (VO2) and
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
19
Fischer &Tartaruga
respiratory exchange ratio (RER) on a breath-by-breath
basis After a 5-min rest, participants started the test at a
pre-determined constant aerobic speed for at least 4 min
to reach an oxygen consumption steady state. Trials
with average RER greater than 1.00 were excluded.
Variables
Tetraplegia
(n=4)
Age (years)
Paraplegia
(n=11)
p­
value
47±5
44±9
0.911
Body mass (kg)
65.3±14.2
70.5±9.1
0.715
Height (cm)
171.5±10.3
174±5
0.530
14±6
15±9
0.803
Lesion duration (years)
HB experience (years)
5±3
6±6
0.661
HB practice (hours week-1)
9.5±0.6
7.7±4
0.421
HB mass (kg)
18.6±2.7
16.8±2.9
0.313
Table 2. Speed, cardiorespiratory variables, and metabolic cost
during HB (means±SD)
Variables
Figure 1. Handbiker equipped with a portable telemetric gas analysis
system unit
Tetraplegia
(n=4)
Paraplegia
(n=11)
p­
value
4.70±0.72
6.41±1.07
0.012
102±9
148±17
0.001
44±8
0.98±0.05
63±16
0.95±0.04
0.043
0.266
15.9±3.6
23.4±3.5
0.003
VO2 (mL min )
1074±284
1638±275
0.004
-1
1.01±0.17
1.09±0.05
0.425
Speed (m s-1)
HR (bpm)
Metabolic cost of HB (C, J kg−1 m−1) was obtained from
the ratio of metabolic power above resting to speed of
progression (Di Prampero, 1986). Metabolic power (E)
was calculated according to an empirical function of the
RER, to obtain the metabolic equivalent of the oxygen
(mL O2) consumption in J divided by time (s):
-1
VE (L min )
RER
VO2 (mL kg-1 min-1)
-1
-1
C (J kg m )
Notes: HR: heart rate; VE: Minute Ventilation; RER: respiratory
exchange ratio; VO2: oxygen consumption; C: metabolic cost
Statistics
The data were checked for normality using the ShapiroWilk test. Descriptive statistics (means±SD) was used to
characterize the sample. To verify differences in the
studied variables between tetraplegia and paraplegia
groups, an independent-sample t test was performed in
SPSS v20. Linear regressions were also performed in
SPSS v20. The level of the statistical significance was
set at p<0.05.
Figure 2 shows metabolic cost over speed for one
participant with tetraplegia and for one participant with
paraplegia who performed the highest speeds. The best
curve fits was found to be curvilinear. Then, we plotted
metabolic cost as a function of square speed. The
regression analysis showed that metabolic cost
increased as a linear function of the squared speed in
tetraplegic (y = 0.009x + 0.6563; R2=0.60, p=0.23) and
in paraplegic (y = 0.0073x + 0.5118; R2=0.83, p=0.088)
(Figure 2).
Results
Participants’ characteristics did not differ between
groups (Table 1). Submaximal aerobic speeds and
cardiorespiratory variables (HR, VE; VO2) were
significantly lower in tetraplegics (p<0.05) (Table 2).
On the contrary, metabolic cost resulted to be similar
between groups (p>0.05).
Figure 2. Metabolic cost (C) of HB in one tetraplegic (close circles)
and in one paraplegic (open circles) over squared speeds.
Table 1 - Participants and handbikes’ characteristics (means±SD)
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
20
Fischer &Tartaruga
Discussion
This study aimed to compare cardiorespiratory
responses and metabolic cost between trained
individuals with tetraplegia and paraplegia riding
modern handbikes in ecological conditions. The main
finding was that submaximal aerobic speeds and
cardiorespiratory responses were significantly lower in
tetraplegics while metabolic cost was similar between
groups.
Lower speeds and cardiorespiratory responses were
expected in tetraplegics due to less active muscle mass
(Figoni, 2003), less strength (Hicks et al., 2003) and
impaired sympathetic vascular responses (Mills &
Krassioukov, 2011; West et al., 2012). An interrupted
sympathetic response might lead to bradycardia and
lower ventilation, which could explain our lower values
of HR and VE compared to paraplegics during HB.
Consequently, VO2 was also reduced indicating lower
tolerance to handcycle at higher speeds. In addition, our
results agree with those observed during a 10km HB
race performed with attach-unit handbikes. Average
race speed and HR were significantly lower in
tetraplegics (13.6 kmh-1;115 bpm) than in paraplegics
(from 19.9 kmh-1; 171bpm) (Janssen et al., 2001). The
difference between attach-unit handbikes and rigid­
frames handbikes is that the first is more common for
recreational and locomotion purposes (Hettinga et al.,
2010). In our study, all participants were trained
handbikers and performed the tests with a rigid-frame
handbike. This suggests that in race condition our
subjects probably would attain higher speeds of
progression. Indeed, the well-trained athletes who
competed in that race with rigid-frames handbikes
attained 23.7 kmh-1 (tetraplegics) and 34.5 kmh-1
(paraplegics) (Janssen et al., 2001).
Despite differences in speed of progression and
cardiorespiratory responses, metabolic cost did not
differ among groups. Our subjects were able to reach
relative high submaximal speeds with metabolic cost
values around 1 Jkg-1m-1. It also means that HB could be
considered a low cost metabolic locomotion even for
tetraplegics. For them, HB is easier to perform than
handrim wheelchair propulsion. The hands are fixed in
pedals with special grips, and forces can be applied
continuously over the arm crank improving the
economy of movement (Valent et al., 2009). Contrarily,
wheelchair propulsion demands more energy to each
push (Dallmeijer et al., 2004). Beekman, Miller-Porter
and Schoneberger (1999) showed that people with
tetraplegia have higher metabolic cost during
wheelchair propulsion in ecological conditions than
people with paraplegia.
In order to compare our results with those calculated by
other studies, we show in Figure 3 the metabolic cost
values of different types of locomotion (crutch walking
[Thys et al., 1996], wheelchair pushing [Ardigò et al.,
2005]), walking and running [Saibene and Minetti,
2003]) as a function of the speed. The two iso-power
curves correspond to constant metabolic powers of
5Wkg-1 and 11Wkg-1. The diagram shows that for a
metabolic power of 5 Wkg-1, for instance, a speed of
2.3ms-1 is attained pushing a modern wheelchair, while
riding a handbike a speed of about 5.5 ms-1 is attained,
with the same metabolic demand. This may be because
the modern handbikes, differently from wheelchairs, are
equipped with gear system (muscle function optimizing
tool; Ardigò et al., 2003) and are designed to be lighter
and more aerodynamic (van der Woude et al., 2006).
Additionally, during HB the arms are in continuous
moving and the shoulder muscles activation shows on
and off phases (Faupin et al., 2010), while this does not
happen when pushing a wheelchair (DeCoster et al.,
1999). All these features contribute to increase exercise
tolerance and consequently provide additional useful
daily metabolic energy expenditure, which could also
reduce the risk of cardiovascular diseases in spinal cord
injury people (Abel et al., 2003).
Figure 3. Metabolic cost versus speed curves cross the 2 isopower
curves (red) corresponding to constant values metabolic power equal
to 5Wkg-1 and 11Wkg-1 (from bottom to the top). CW: Crutch
Walking; OW: Old Wheelchair; W: Walking, R Running, MW
Modern Wheelchair; HB Handbike.
Interestingly, the metabolic cost in spinal cord injury
people is reduced by half in comparison to the able­
bodied walking or by a fourth in comparison to able­
bodied running (Saibene and Minetti, 2003). These
findings open perspectives for the usage of new
technologies with important repercussions on mobility
for spinal cord injury people.
Limitations
This study recruited a small sample of trained
handbikers, which require caution on results
interpretation. Nevertheless, experienced participants
and modern handbikes allowed the study to apply
ecological methods to assess bioenergetics of HB.
Future experiments need to be performed with broader
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
21
Fischer &Tartaruga
samples considering also disabled athletes of different
HB sports classes.
Conclusion
Submaximal aerobic speeds and cardiorespiratory
responses were lower in tetraplegics. However, a low
and similar metabolic cost was observed in both
tetraplegic and paraplegic riding modern handbikes.
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Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
23
Desporto e Atividade Física para Todos – Revista Científica da FPDD, 2015
Vol. 1, N.º 1, ISSN 2183-511X
Quality of Life of School Children With Disability: An Exploratory Study
Qualidade de Vida de Escolares com Deficiência: Estudo Exploratório
Flávia Melo1, Kátia Lima1, Ana Silveira1, Epaminondas Andrade Neto1, Isis Santos1, Kesley
Azevedo1, Rianne Pinto1, Victor Hugo Segundo1, Douglas Santos1, Humberto Medeiros1, Maria Irany
Knackfuss1
1
Programa de Pós-Graduação em Saúde e Sociedade, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN.
Grupo de Pesquisa Cultura Corporal, Educação e Desenvolvimento Humano – CEDH.
Abstract
Resumo
The increase of the disabled population generates
concerns about awareness, access and inclusion of these
in society. Thus the search for a better life quality should
be improved by family, friends and health professionals.
This cross-sectional descriptive study aimed to evaluate
the life quality of 37 students, of both genders, aged
between 4 and 12 years old, diagnosed with some type
of physical or hearing impairment, met in associations
and/or special need schools in Natal / RN, selected
unintentionally probabilistic manner. The instrument
used for collect information was the questionnaire
AUQEI-Autoquestionnaire Qualité de Vie questionnaire
image Enfant (Children's Quality of Life Scale). The
results showed that 92% of children had preserved
quality of life, with no difference between the genders,
and the leisure domain as more representative, and the
Autonomy domain getting the lowest scores (p≤0,05).
Therefore we can conclude that, because they are deaf
and children with physical disabilities, the domain of
autonomy, which takes into account the independence
and the relationship with colleagues, they are the factors
that most sadden the children without affecting the
overall quality of life that group.
O aumento da população deficiente gera preocupação
quanto a conscientização, acessibilidade e inclusão
destes na sociedade. Diante disso a busca por uma
melhor qualidade de vida deve ser impulsionada, por
família, amigos e profissionais de saúde. O presente
estudo descritivo de corte transversal objetivou avaliar a
qualidade de vida de 37 escolares, de ambos os sexos,
com idades entre 4 e 12 anos, com diagnóstico de algum
tipo de deficiência física ou auditiva, atendidas em
escolas especiais e/ou associações na cidade de
Natal/RN, selecionados de forma não probabilística
intencional. O instrumento utilizado para a coleta das
informações
foi
o
questionário
AUQEIAutoquestionnaire Qualité de Vie Enfant Imagé (Escala
de Qualidade de Vida da Criança). Os resultados
mostraram que 92% das crianças tiveram qualidade de
vida preservada, não existindo diferença entre os sexos,
tendo o Domínio Lazer como mais representativo, e o
Domínio Autonomia obtendo os menores escores
(p≤0,05). Diante disso podemos concluir que, por se
tratarem de crianças surdas e com deficiência física, o
domínio autonomia, que leva em consideração a
independência e a relação com os colegas, são os fatores
que mais entristecem as crianças, sem afetar a qualidade
de vida geral desse grupo
Keywords: Quality of life, Children, Disabilities
Palavras-Chave:
Qualidade
de
vida,
Crianças,
deficiência
24
Melo, et al.
Introdução
Muito embora a população em geral acredite que
pessoas com deficiência são todas socialmente,
biologicamente ou intelectualmente inadequadas cada
uma delas é diferente (Diniz, 2013). A deficiência em
sua essência trata-se de um conceito relativo, que está
embasado sobre questões socioculturais e físicas, e
muitas vezes é a própria sociedade que torna as crianças
deficientes (Lago, 2012).
A partir da definição de saúde proposta pela
Organização Mundial de Saúde (OMS, 1946) como um
completo bem-estar físico, mental e social, os estudos
relacionados à saúde passam a ganhar novas proporções,
tendo, por exemplo, a Qualidade de Vida (QV), em seu
sentido mais amplo, atrelada a este conceito. Em
consonância, surge a Qualidade de Vida Relacionada à
Saúde (QVRS), onde existe uma maior associação de
pessoas enfermas, que estão na fase pós-doenças ou em
intervenções médicas (Seidl, & Zannon, 2004).
No decorrer do processo de construção do presente
artigo, notou-se que a publicação sobre qualidade de
vida de escolares é escassa, principalmente as que se
utilizam de instrumentos que levem em consideração a
visão que as mesmas têm sobre a própria vida, já que
em geral o questionário é respondido por um pai ou
cuidador que tende a reforçar os pontos negativos da
deficiência concedendo um perfil negativo para a
qualidade de vida da criança (Soares, 2011; Varni,
2001). Os estudos sobre deficiência de escolares devem
evoluir nas próximas décadas, visto que os mesmos se
justificam para diversos fins como a saúde, educação,
política e inclusão (Lago, 2012).
Passar a entender como esses escolares vivem como
encaram esta condição, como as suas necessidades de
cuidado são atendidas e sobre como interpretam e dão
significados a este cuidado, são pontos a serem
entendidos e que influenciam diretamente na QV deles
(Lago, 2012). Em virtude dos fatos apresentados, o
presente estudo teve como objetivo avaliar a qualidade
de vida de escolares com deficiência.
reuniões da Associação de Crianças Portadoras de
Mielomeningocele, Hidrocefalia e Paralisia Cerebral do
RN-Neurinho, sendo excluídos do estudo os escolares
que apresentaram deficiência intelectual.
Instrumentos
Para avaliar a qualidade de vida, foi utilizado o
Autoquestionnaire Qualité de Vie Enfant Imagé (Escala
de Qualidade de Vida da Criança) – AUQEI, criado por
Manificat e Dazord (1997) na França e validado no
Brasil por Assumpção Jr., Kuczynski, Sprovieri, &
Aranha (2000).
O questionário AUQEI é baseado no ponto de vista da
satisfação da criança, visualizada a partir de uma escala
de faces com quatro figuras, representando as quatro
opções de resposta: Muito Feliz, Feliz, Infeliz, Muito
Infeliz. O AUQEI contém 26 questões que contemplam
os seguintes domínios: Função (questões 1, 2, 4, 5 e 8),
Família (questões 3, 10, 13, 16 e 18), Lazer (questões
11, 21 e 25) e Autonomia (questões 15 17, 19, 23 e 24)
além destas, as questões 6, 7, 9, 12, 14, 20, 22 e 26 não
fazem parte de nenhum domínio, porém quando
somadas ajudam a formar o escore de qualidade de vida
total.
Não existe um tempo definido para responder cada
questão, porém antes de começar a responder as
perguntas, solicita-se que a criança apresente uma
experiência própria vivida perante cada uma das
alternativas (um dia que ela estava feliz, outro muito
feliz, outro infeliz e um outro episódio que ela se sentiu
muito infeliz). Isso permite que a criança compreenda as
situações e apresente respostas mais fidedignas.
A escala permite assim, obter um perfil de satisfação da
criança diante de diferentes situações, tendo o escore 48
como ponto de corte, onde ao atingir um valor ≥ 48
considera-se a qualidade de vida como Boa e quando a
pontuação é < 48 dizemos que a criança apresenta
qualidade de vida Ruim.
Procedimentos
Metodologia
Participantes
A amostra, selecionada de forma não probabilística
intencional, foi formada por 37 escolares (Fem.=20 e
Mas.=17), sendo 6 (16%) com diagnóstico de
Mielomeningocele, 31 (84%) com diagnóstico de
surdez, atendidos nas redes pública e particular de
ensino ou em associações filiadas na cidade de Natal –
RN. As idades variaram entre 5 e 12 anos, tendo uma
média de 10 anos e 5 meses. Destes, 31 (84%) faziam
aulas de Educação Física e 6 (16%) não realizavam
nenhuma atividade física.
Foram incluídos no estudo escolares que fazem
acompanhamento no Sistema Universal Verbotonal de
Audição Guberina-SUVAG ou que participam das
A aplicação dos questionários foi realizada de forma
individual, em uma sala reservada e adequada
disponibilizada pelas escolas e/ou associações,
assegurando a privacidade e o absoluto sigilo dos dados
de cada avaliado. Além disso, o questionário foi lido
para os escolares de até seis anos de idade, visto que
alguns poderiam ter dificuldades para ler o mesmo. Os
escolares com deficiência auditiva tiveram o auxílio de
uma intérprete de libras no momento da aplicação do
questionário.
Após todas as avaliações, as seguintes informações
foram analisadas e utilizadas como variáveis de
desfecho do estudo: média dos escores de cada questão
do questionário, média ± desvio padrão dos escores de
cada domínio, média do escore global de QV relatada,
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
25
Melo, et al.
além da classificação da QV e da comparação dos
escores de cada domínio entre os sexos.
Análise Estatística
A normalidade dos dados foi examinada pelo teste de
Shapiro-Wilk, constatando que estes eram não
paramétricos. Utilizou-se o teste Qui-quadrado (X²) para
verificar a frequência relativa e absoluta das
características dos escolares e para a comparação
intradomínios foi utilizado o teste U de Mann Whitney.
Para todas as análises foi considerado o nível de
significância p ≤ 0,05. A análise dos dados foi realizada
através do Software SPSS 20.0.
Para o Domínio Lazer foi feito um cálculo de proporção
simples, já que o mesmo conta com apenas 3 questões,
enquanto os demais contemplam 5. Este procedimento
foi realizado para que os escores obtidos pudessem ser
melhor visualizados e comparados. Os resultados
transformados aparecerão na tabela entre parênteses,
enquanto os valores reais aparecerão de forma
convencional.
Figura 1. Escore da soma das respostas por questão do AUQEI
A figura 2 apresenta os escores obtidos por domínio do
AUQEI. Observou-se que os domínios que
apresentaram maior e menor escore foram Lazer
(94±0,6) e Autonomia (62,8±0,8) respectivamente.
Resultados
A figura 1 apresenta os escores da soma por cada
questão do AUQEI. Observou–se que a questão 11
“Como se sente no dia do seu aniversário?” e a questão
9 “Como se sente quando você pratica um esporte?”
tiveram os maiores escores 102 e 100 respectivamente.
Figura 2. Distribuição dos escores por domínios do AUQEI.
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
26
Melo, et al.
A figura 3 apresenta o total de pontos de cada criança
no escore global da qualidade de vida relatada, onde se
observou que apenas 3 não alcançaram o ponto de corte
de 48 pontos. 26 crianças obtiveram acima de 60
pontos, sendo o maior e menor escore 62 e 44,
respectivamente.
Ao comparar os valores de cada domínio entre os sexos,
não foram encontradas diferenças significativas. Pôdese perceber que o domínio Lazer foi o que apresentou
maiores valores em ambos os sexos. (Tabela 1)
Tabela 1. Mediana, Desvio Padrão e valores mínimos e máximos por
domínio
Mín
imo
M±DP
Máxi
mo
F
10,50±2,010
8
14
M
10,00±2,024
8
14
F
11,00±2,084
7
15
M
11,00±2,002
7,50
(12,50¨)±1,482(2,534¨)
8,00
(13,00¨)±1,029(1,625¨)
5
13
4 (6¨)
9 (15¨)
Função
Família
F
Lazer
M
Autonomia
p.*
,916
,442
,097
6 (10¨) 9 (15¨)
F
8,00±2,373
5
14
M
9,00±1,326
6
12
,752
*Valor de p encontrado através do teste U de Mann-Whitney
¨Valor transformado para torna-lo proporcional aos demais domínios.
Com relação à tabela 2 podemos inferir que, de forma
geral, as crianças avaliadas no presente estudo
apresentaram resultados muito satisfatórios no escore
global de qualidade de vida relatada, independente do
sexo.
Tabela 2. Classificação da Qualidade de Vida por Sexo
Sexo
Feminino
Qualidade Boa
de Vida Ruim
Masculino
n
n%
n
n%
Total
18
2
52,9
66,7
16
1
47,1
33,3
34
3
Discussão
Partindo dos nossos achados, é possível encontrar
evidências que corroboram com os resultados
encontrados, quando apontam em pesquisa realizada em
escolares com doença renal terminal que ao serem
questionadas sobre “Como se sente quando você pratica
um esporte?” (Questão 9), as mesmas consideram como
importante para a felicidade delas, e também cita
“Como se sente no dia do seu aniversário?” (Questão
11) como uma das que mais se aproximaram do nível de
significância (Brunelli, 2012).
Ainda reafirmando nossos resultados, Almeida e
Coffani (2011) relatam que por meio do movimento
corporal, do lazer, dos momentos de descontração,
existe a potencialização da linguagem, principalmente a
cultural, que envolve a dança, os esportes, entre outros,
permitindo o estabelecimento de ações com a sociedade
e trocas de experiências, fator positivo e indispensável
para os escolares com deficiência.
Por outro lado, as questões “Como se sente quando você
fica internado no hospital?” (Questão 14) e “Como se
sente quando você toma os remédios?” (Questão 20)
obtiveram os menores escores, ambas com 50 pontos de
111 possíveis. Resultados semelhantes aos nossos foram
encontrados por Costa (2012), onde as mesmas questões
obtiveram os menores escores, a questão 14 apresentou
1 ponto e a questão 20 obteve 4 pontos de 12 possíveis,
já que sua amostra era de 4 escolares.
Apesar de alguns escolares observarem a internação
com um ponto positivo, pois ela está se tratando e
consequentemente melhorando sua saúde, o tempo
provavelmente tem influenciado diretamente em sua
satisfação, já que o ambiente hospitalar se torna pesado,
afetando fortemente sua qualidade de vida.
A partir disso, similares aos nossos achados, estudos
desenvolvidos por Barreire, Oliveira, Kazama, Kimura
& Santos, (2003) e Rodrigues (2007) com escolares
ostomizados e celíacos respectivamente, seguiram a
ordem de maior pontuação para Lazer e Família e
menores escores para Função e Autonomia.
Com base nessas evidências, Costa (2012) aponta em
seu estudo que o domínio lazer é importante para os
escolares, pois nele podemos observar a importância do
brincar e do tempo livre para a sensação subjetiva de
bem-estar percebido pelas mesmas, confirmando que de
fato o domínio lazer é um forte promotor para a
Qualidade de Vida.
No que concerne a Autonomia, Amaral et al (2012) traz
a ideia de que quanto maior o investimento na
acessibilidade, menor as dificuldades para os deficientes
exercerem sua independência, diminuindo as
desvantagens naturais dos indivíduos, fator esse que
influencia diretamente na qualidade de vida e
socialização.
Através de nossas análises, foi possível perceber que
não houve diferença significativa para os domínios entre
os sexos. Resultados esses que concordam com o estudo
de Abdo (2013), com escolares que vivem com
HIV/AIDS, onde não houve diferença significativa entre
os domínios e sexo, porém seus dados se mantiveram no
limite da significância, sugerindo que o sexo feminino
possa ter um melhor resultado do que o masculino.
Nesse contexto, apesar de Abdo (2013) em seus estudos
mostrar que existem relações entre doenças pediátricas
crônicas, e menor qualidade de vida dos escolares
devido à maior suscetibilidade a transtornos mentais,
nossas pesquisas mostram que os resultados de
escolares saudáveis não são superiores a todas as
deficiências, existem escores mais altos como também
mais baixos, em destaque estão os nossos achados com
54 pontos, contra 52 dos escolares saudáveis.
Nossos resultados constatam com os de Assumpção Jr.
et al. (2000) que nos mostra, entre os escolares
saudáveis, que a amostra do sexo feminino apresentou
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
27
Melo, et al.
escores mais elevados para qualidade de vida, embora
com maior variabilidade do que o sexo masculino e
também diferem com os de Rodrigues (2007) que
apresentam médias globais de QV mais elevadas entre o
sexo masculino do que o feminino de escolares celíacas.
Não existiram diferenças significativas entre o sexo para
os domínios e qualidade de vida dos escolares com
deficiência. Entretanto, o domínio autonomia
apresentou a menor pontuação para ambos os sexos, o
que nos mostra a importância da independência e da
socialização para essas crianças, fatores esses que
afetam diretamente a qualidade de vida das mesmas.
Conclusão
Os resultados do presente estudo nos permite concluir
que há uma tendência de uma qualidade de vida não
prejudicada em crianças com deficiências, independente
do sexo, apesar de não terem sido encontradas
diferenças significativas nos domínios.
A partir das análises realizadas, esse estudo traz
contribuições acerca da compreensão da qualidade de
vida dessas crianças, seus resultados não podem ser
generalizados, devido ao tamanho reduzido da amostra.
Entretanto, sugere-se em estudos futuros um
direcionamento para os tipos de deficiência e suas
características específicas que interferem na qualidade
de vida.
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29
Desporto e Atividade Física para Todos – Revista Científica da FPDD, 2015
Vol. 1, N.º 1, ISSN 2183-511X
Adapted Sports: Training and Opinion of the Portuguese Coaches
Desporto Adaptado: Formação e Opinião dos Treinadores Portugueses
João Paulo Saraiva1, Anabela Cruz-Santos1
1
Instituto de Educação da Universidade do Minho
Abstract
Resumo
Coaches have a considerable influence on their athletes,
being the lack of specific knowledge about their features
/ capabilities among the main barriers to the involvement
in sports in the particular case of people with disabilities.
Among the objectives of this study are to assess whether
(1) the academic/professional training of disabled sports
coaches in Portugal is suitable (or not) to the practice of
this activity, (2) what they think about the material
conditions available to them and (3) the relationship of
the families of athletes with disability sports, as well as
(4) the reasons that could explain their reduced
involvement in sports. The sample consists of 84
individuals, most of them men (60%) aged between 31
and 40 years (25%). The results indicate an acceptable
training of Portuguese adapted sports coaches, having
these mostly stated that the available material conditions
do not constitute an obstacle to the access of disabled
people to sport, and that the lack of information on its
benefits, on the offer of sports available in the
community they live and transportation difficulties are
the major barriers that affect the involvement of people
with disabilities in sports phenomenon.
Os treinadores têm uma influência considerável sobre os
seus atletas, estando a falta de conhecimentos
específicos sobre as suas caraterísticas/capacidades entre
as principais barreiras ao envolvimento na prática
desportiva no caso particular de pessoas com
deficiência. Entre os objetivos do presente estudo estão
avaliar se (1) a formação académica/profissional dos
treinadores de desporto adaptado em Portugal adequa-se
(ou não) ao exercício desta atividade, (2) saber o que
pensam sobre as condições materiais de que dispõem,
(3) a relação das famílias dos atletas com o desporto
adaptado, assim como (4) os motivos que podem
explicar o seu reduzido envolvimento na prática
desportiva. A amostra é constituída por 84 indivíduos,
sendo a sua maioria homens (60%) na faixa etária entre
os 31 e os 40 anos (25%). Os resultados apontam para
uma formação aceitável dos treinadores de desporto
adaptado portugueses, tendo a sua maioria afirmado que
as condições materiais disponíveis não constituem um
obstáculo ao acesso de pessoas com deficiência à prática
desportiva, e que a falta de informação sobre os seus
benefícios, sobre a oferta desportiva na comunidade
onde vivem e as dificuldades de transporte são as
maiores barreiras à sua participação no fenómeno
desportivo.
Keywords:
Palavras-Chave: Desporto, deficiência, Treinadores,
Barriers
Sports,
Disability,
Coaches,
Training,
Formação, Barreiras
30
Saraiva & Santos
Introdução
Sendo o desporto uma atividade estruturada regida por
regras e representações técnico-táticas específicas de
cada modalidade, os treinadores têm uma influência
considerável sobre os seus atletas, na medida em que
são vistos por estes como líderes e especialistas (Conroy
& Coatsworth, 2006). Sobre esta questão, Mallett &
Còté (2006) afirmaram que os treinadores são
fundamentais para o progresso desportivo dos seus
atletas, na medida em cabe-lhes prepará-los com base
em conhecimentos específicos imprescindíveis para a
obtenção de sucesso na respetiva modalidade. Os
treinadores também têm uma grande responsabilidade
em tornar agradável a prática desportiva, sendo as
metodologias de treino adotadas e o apoio prestado pelo
treinador aos seus atletas um dos principais aspetos
geradores de sucesso no desporto (Nazarudin, OmarFauzee, Geok, Jamalis & Din, 2009). Nesse sentido, nos
últimos anos, a ciência do treino tem sido tema de
reflexão em uma grande variedade de revistas
científicas em todo o mundo (Gilbert & Trudel, 2004),
tendo a crescente profissionalização da função de
treinador
desportivo
contribuído
para
o
desenvolvimento de atividades na área do
aperfeiçoamento técnico.
A investigação sobre a formação de treinadores tem
procurado expandir o conhecimento sobre o que os
treinadores precisam saber para sejam capazes de
exercer esta função com competência (Cushion et al,
2003; Demers et al, 2006). O desenvolvimento
profissional de um treinador é um processo abrangente
que inclui os diferentes caminhos e experiências que
influenciam a sua aprendizagem e o seu crescimento
global (Mallett, Trudel, Lyle, e Rynne, 2009; Trudel,
Gilbert, e Werthner, 2010). Mais especificamente, os
pesquisadores descobriram que os contextos de
formação de um treinador são classificados em quatro
tipos: formal (p. ex., cursos de treinadores), não formais
(p. ex., workshops, seminários, etc.), informais (p. ex.,
pesquisas online) (Nelson, Cushion & Potrac, 2006) e
interna (p. ex., reflexão crítica registada em diário)
(Werthner & Trudel, 2006).
No caso específico do desporto adaptado, o treinador
deve ter também conhecimentos sobre outros fatores
contextuais, como a acessibilidade das instalações, as
condicionantes relativas ao transporte de atletas com
deficiência e a relação/comunicação com os seus
cuidadores (Cregan, Bloom & Reid, 2007).
A prática desportiva é vista como um importante
instrumento de intervenção para as pessoas com
deficiência (Council of Europe Committee of Ministers
Recommendation, 2001), que pode ser desenvolvida
num contexto educacional, recreativa, profissional,
competitivo ou terapêutico (European Scrutiny
Committee, 2011). Contudo, apesar da escassez de
dados disponíveis a nível mundial, num estudo recente
(Saraiva, Almeida, Oliveira, Fernandes & Cruz-Santos,
2013), verificou-se que Portugal apresenta uma taxa
extremamente reduzida (apenas 0,4%) de envolvimento
em atividades desportivas de caráter regular entre a
população com deficiência, facto que deve ser alvo de
uma profunda reflexão sobre os aspetos estruturais,
logísticos e/ou humanos que podem ser assumidos como
potenciadores desta realidade. Sobre esta matéria,
fatores intrínsecos, como o cansaço, a falta de energia, o
desconforto ou o constrangimento, a falta de apoio da
família/amigos, o medo do desconhecido, a falta de
informação; e/ou extrínsecos, como as dificuldades de
transporte (especialmente no caso de cadeirantes), o
acesso às instalações desportivas, a mobilidade e
adaptação das mesmas às suas necessidades, são
referidos na literatura como barreiras para a prática de
atividades físicas entre pessoas com deficiência
(Audley, 2002; Rimmer, Riley, Wang, Rauworth &
Jurkowski, 2004; Buffart, Westendorp, Berg-Emóns,
Stam & Roebroeck, 2009).
Entretanto, a falta de conhecimentos específicos dos
técnicos/professores/treinadores tem sido igualmente
apontada como uma das principais barreiras ao
envolvimento de pessoas com deficiência em atividades
físicas e desportivas (Audley, 2002; Rimmer et al. 2004;
Moran & Block, 2010; Elinder, Bergstrom, Hagberg,
Wihlman & Hagstromer, 2010; Roberton, Bucks,
Skinner, Allison & Dunlop, 2011) e, nesse sentido,
consideramos importante saber se a (1) formação
académica/profissional que possuem os treinadores de
desporto adaptado em Portugal adequa-se (ou não) ao
exercício desta atividade, complementando esta
informação com (2) o que pensam sobre diferentes
aspetos, nomeadamente se as condições materiais de
que dispõem para a prática desportiva são as ideais
atendendo às limitações dos seus atletas e às
especificidades dos desporto praticado, (3) a relação das
famílias dos atletas com o desporto adaptado, assim
como (4) os motivos que na sua opinião (dos
treinadores) explicam o reduzido envolvimento das
pessoas com deficiência na prática desportiva tendo por
base o seu conhecimento do contexto social envolvente.
Metodologia
Participantes
A amostra foi constituída por 84 indivíduos, sendo 50
do género masculino (60%) e 34 do género feminino
(40%), e a sua maioria (42%) tem entre 31 e 40 anos de
idade, enquanto 26% tem entre 41 e os 50 anos e 23%
tem entre os 20 e os 30 anos. Por fim, apenas 9% dos
inquiridos tem mais de 51 anos de idade. Ao nível da
sua distribuição pelo território nacional, a Zona Norte é
onde reside a maioria dos participantes (33%), seguida
da Zona de Lisboa e Vale do Tejo (26%), das Regiões
Autónomas dos Açores e da Madeira (18%), da Zona
Centro (13%) e da Zona Sul (10%).
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
31
Saraiva & Santos
Instrumentos
Os participantes foram convidados por e-mail a
responder um inquérito online, onde as questões
colocadas foram categorizadas em 3 domínios: (i) as
habilitações académicas e/ou profissionais que os
treinadores possuem para trabalhar com pessoas com
deficiência; (ii) as suas opiniões/conceções sobre
diferentes aspetos relacionados com a sua atuação como
treinador de desporto adaptado; e (iii) as suas opiniões
sobre os motivos que possam explicar o não
envolvimento de pessoas com deficiência na prática
desportiva. O convite para a participação no estudo foi
intermediado pelas cinco associações de desporto para
pessoas com deficiência existentes em Portugal, que
foram convidadas a colaborar na sua divulgação,
nomeadamente a Associação Nacional de Desporto para
a Deficiência Intelectual (ANNDI), a Associação
Nacional de Desporto para a Deficiência Motora
(ANNDEMOT), a Associação Nacional de Desporto
para a Deficiência Visual (ANNDVIS), a Paralisia
Cerebral – Associação Nacional de Desporto (PC-AND)
e a Liga Portuguesa de Desporto para Surdos (LPDS).
Procedimentos Estatísticos
Recorreu-se à estatística descritiva simples para
descrever a frequência de distribuição da amostra em
função das variáveis em estudo e ao teste do quiquadrado (x2) para quantificar a dispersão resultante do
cruzamento de duas variáveis qualitativas, avaliando
assim o grau de associação entre elas. Foi utilizado o
software SPSS versão 22.
Tabela 1. Caraterização da amostra em função da habilitação
académica e das competências exigidas/adequadas para a
dinamização de atividades desportivas junto de pessoas com
deficiência.
9.º 12.º
ano ano
(N) (N)
3
Possui Cédula
de Treinador
de DA?
Tem formação
em EE?
Sim
9
Pós­
LicenMes­
graduação
Total
trado
ciatura
/Especiali(N)
(N)
(N)
zação (N)
38
15
19
p
84
3
8
14
5
9
39
Não 0
1
24
10
10
45
4
5
6
3
0
9
25
13
27
11
15
23
12
3
12
3
6
9
17
2
16
3
11
8
59
.000*
25
62 .000*
22
32 .031*
51
Sim
Não
Tem
formaçãoSim
Não
em AMA?
Tem formação Sim
em EF?
Não
1
2
1
2
0
3
.014*
(Legenda: DA – Desporto Adaptado; EE – Educação Especial; AMA ­
Atividade Motora Adaptada; EF – Educação Física)
* diferenças estatisticamente significativas ˂ .005
Entretanto, ao questionarmos os participantes sobre a
posse de conhecimentos mais específicos no âmbito da
deficiência adquiridos por via de ações de formação,
seminários, workshops e/ou de estudos superiores
(graduação ou pós-graduação), observamos que uma
parcela substancial da amostra (70%) revelou possuir
formação complementar na área da Educação Especial,
sendo a sua prevalência superior em pessoas com um
nível de escolaridade mais elevado. Do mesmo modo, e
numa percentagem ligeiramente superior à anterior
(74%), a maioria dos participantes declarou possuir
também conhecimentos na área da Atividade Motora
Adaptada (AMA). Por fim, constatamos que uma
minoria (38%) da amostra possui formação na área da
Educação Física. Em todos os casos, as diferenças
observadas foram estatisticamente significativas.
Resultados
Barreiras e Facilitadores da prática desportiva
Formação académica/profissional
A Tabela 1 permite observar a distribuição da amostra
em termos de formação académica e de competências
consideradas como as mais adequadas para a
dinamização de atividades desportivas junto de pessoas
com deficiência. Assim, verificamos que 86% dos
participantes tem um nível académico igual ou superior
a licenciatura, enquanto apenas 14% tem um nível de
escolaridade
básico/secundário.
Entretanto,
em
observância com o disposto na Lei n.º 40/2012, de 28 de
agosto, que estabelece o regime de acesso ao exercício
da atividade de treinador de desporto, visando assim
dignificar o desporto como profissão e promover o
aperfeiçoamento qualitativo e quantitativo de prática
desportiva
(artigo
2.º),
constatamos
que
aproximadamente metade da amostra (46%) possui a
Cédula de Treinador de Desporto.
De seguida, procurámos saber a opinião dos treinadores
sobre alguns aspetos relativos à realidade com que
trabalham, nomeadamente ao nível das instalações onde
treinam e do envolvimento (financeiro e emocional) dos
familiares dos seus atletas com a prática desportiva
(Tabela 2).
Tabela 2. Opinião dos treinadores sobre diferentes aspetos
relacionados com a prática desportiva dos seus atletas.
Condições de
Acessibilidade
Condições
Materiais
Condições
de
Segurança
Família
tem de
pagar pela
prática
desportiva
Família
acompanha
nos treinos e
competições
N
N
N
N
N
SIM
70
62
73
34
29
NÃO
14
22
11
50
55
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32
Saraiva & Santos
Podemos observar que a maioria significativa dos
treinadores (83%) considerou que as instalações onde
decorriam as sessões de treino reuniam as condições de
acessibilidade ideais face às características dos seus
atletas. Relativamente às questões de segurança, 87%
dos inquiridos afirmaram que as instalações desportivas
dispunham das condições necessárias, enquanto 74%
revelou que os materiais disponíveis para a prática
desportiva eram suficientes em quantidade e variedade.
Em relação ao envolvimento da família na prática
desportiva dos seus entes com deficiência, 40% dos
treinadores inquiridos declararam que as famílias
tinham de suportar os custos inerentes à prática
desportiva dos seus atletas. Por fim, os treinadores
relataram que 35% das famílias acompanhavam os seus
atletas com deficiência nos treinos e/ou nas competições
em que participavam.
Os treinadores foram ainda questionados sobre se na
comunidade envolvente ao clube/associação/escola,
onde são desenvolvidas as atividades desportivas para
pessoas com deficiência, existiriam indivíduos que não
praticavam desporto. A maioria dos inquiridos (86%)
respondeu afirmativamente e, na opinião destes, os
principais motivos para essa percentagem são
apresentados na Tabela 3.
Tabela 3. Principais motivos, na opinião dos treinadores, para o não
envolvimento de pessoas com deficiência em atividades desportivas.
Receio de não
Falta de
Não
DesconhePoucos
Falta de
conseguirem
gostam cimento da
apoio Falta de
recursos apoio da
adquirir as
de
dos transporte
oferta
financeiros família
competências
desporto desportiva
amigos
necessárias
26%
49%
41%
37%
1,2%
41%
27%
Podemos observar que, na opinião dos treinadores de
desporto adaptado, entre os motivos para o não
envolvimento das pessoas com deficiência nas
atividades desportivas existentes na sua área de
residência, os principais são o desconhecimento da
oferta desportiva, seguido dos poucos recursos
financeiros das famílias para suportar os custos com a
prática desportiva e da falta de transporte para os locais
de treino e/ou das competições, assim como a falta de
apoio/incentivo das famílias para a pratica desportiva.
Discussão
O presente estudo teve como objetivo caracterizar os
treinadores que trabalham com o desporto adaptado em
Portugal,
analisando
a
sua
formação
académica/profissional e as suas conceções sobre
diferentes aspetos relacionados com o desempenho das
suas funções, quer a nível organizativo quer ao nível das
relações que os seus atletas estabelecem (ou não) com a
comunidade onde vivem.
O desenvolvimento do fenómeno desportivo tem
recebido uma considerável atenção nos últimos anos
(Martindale, Collins & Daubney, 2005; Starkes &
Ericsson, 2003), devido ao evidente e complexo
conjunto de fatores genéticos e ambientais que
interagem para facilitar e estimular a excelência
desportiva (Singer & Janelle, 1999). Talvez o tema mais
consistente encontrado em toda a literatura é o papel
crítico do treinador no desenvolvimento do talento
desportivo. Embora a influência do treinador varie entre
culturas, modalidades e estádios de desenvolvimento
dos atletas (Bloom, 1985; Salmela & Moraes, 2003), a
formação de um treinador é essencial para o tornar
competente. Alguns estudos que examinaram a
formação académica/profissional de treinadores
empregaram a análise indutiva resultante de dados de
entrevistas (Salmela, 1995; Fleurence & Cotteaux,
1999; Irwin, Hanton & Kerwin, 2004; Jones, Amour &
Potrac, 2004; Abraham, Collins & Martindale, 2006;
Wright, Trudel & Culver, 2007), enquanto outros,
embora raros, utilizaram questionários em amostras
extensas e que por isso poderiam dar um retrato mais
representativo da realidade (Reade, Rodgers & Hall,
2008; Timson-Katchis & North, 2008).
A escassez de estudos desta natureza, quer em Portugal
quer no estrangeiro e sobretudo no âmbito do desporto
adaptado, torna difícil a análise da realidade atual em
termos de formação dos treinadores portugueses por
comparação com outras. No entanto, constatamos que a
percentagem de licenciados da nossa amostra,
independentemente
da
posse
de
formação
complementar/específica em E.E., A.M.A. e/ou E.F.,
está de acordo com o observado por Timson-Katchis e
North (2008, 2010) no Reino Unido. No que se refere
aos conhecimentos/habilitações específicas para treinar
pessoas com deficiência, verificamos que, quer no
âmbito da E.E. quer no âmbito da A.M.A., a maioria dos
treinadores inquiridos adquiriu competências nessas
áreas, o que nos leva a crer que é reconhecida a sua
importância para um melhor desempenho na condução
do processo de treino e no próprio relacionamento com
o atleta. Por outro lado, uma percentagem reduzida dos
inquiridos revelou não possuir qualquer grau
académico, apesar dos indícios que apontam que o
desenvolvimento técnico por vezes assenta em
competências que podem ser adquiridas através de
atividades de aprendizagem ocorridas dentro ou fora do
recinto de jogo, tanto em ambientes educativos formais
e/ou informais (Schinke, Bloom & Salmela, 1985).
Sobre esta questão, alguns estudos sugerem que os
treinadores tendencialmente não valorizam a sua
aprendizagem formal, preferindo as competências
adquiridas por via de experiências práticas (Gilbert,
Côté & Mallett, 2006; Jones et al. 2004), uma vez que
acreditam que a chave para se tornar um treinador de
sucesso é muito mais influenciada pelas experiências
interativas, nomeadamente através da resolução de
questões situacionais, observações de pares e/ou a
partilha de conhecimentos com outros treinadores, que
quaisquer programas de formação (Jones et al 2004;
Lemyre & Trudel, 2004).
Contudo, apesar de a literatura destacar o dinamismo da
aprendizagem informal e/ou social, isto não quer dizer
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
33
Saraiva & Santos
que os treinadores não vejam qualquer valor em
oportunidades de aprendizagem formal. Nesse sentido,
estudos confirmam que os treinadores ainda adquirem
informação e conhecimento técnico através da
participação em cursos de profissionalização,
seminários e workshops (Schempp, Templeton & Clark,
1998; Timson-Katschis & North, 2008; Wright et al.
2007). Por conseguinte, tem havido um crescimento
considerável na importância atribuída à formação de
treinadores em muitos países ocidentais (Erickson,
Bruner, MacDonald & Côté, 2008; Gilbert & Trudel,
1999; Lyle, 2002). Em Portugal, a recente Lei n.º
40/2012, de 28 de agosto, alterou o paradigma da
formação/certificação de treinadores de desporto,
refletindo o reconhecimento do Estado de que a
existência de treinadores qualificados é uma medida
indispensável para que a prática desportiva decorra na
observância das regras que garantam a ética desportiva,
o desenvolvimento do espírito desportivo, assim como a
defesa da saúde e da segurança dos praticantes. Nesse
sentido, o mesmo diploma centralizou no Instituto do
Desporto de Portugal, I.P. (IDP) um conjunto
competências sobre esta matéria, que se estendem desde
o reconhecimento das diferentes vias que permitem a
obtenção do Título Profissional de Treinador de
Desporto (artigo 6.º), a emissão de Títulos Profissionais
(artigo 7.º), a certificação de Entidades Formadoras
(artigo 9.º), entre outras. No que concerne a formação, e
em articulação com as diferentes federações
desportivas, que mantêm-se como responsáveis pela
dinamização dos cursos, esta entidade foi a responsável
pela conceção de documentos estruturantes e
uniformizadores do processo formativo de treinadores,
tais como o Programa Nacional de Formação de
Treinadores (IPD, 2010) e os Referenciais de Formação
Geral (IPD, 2011). Centrando agora a nossa análise na
opinião dos treinadores acerca de eventuais facilitadores
e barreiras à prática desportiva por parte de pessoas com
deficiência, atendendo à realidade que conhecem do
contexto onde exercem o seu trabalho, a acessibilidade
das instalações não constitui uma barreira, contrariando
o que foi observado por Roberton et al (2011) em uma
amostra de adolescentes e jovens adultos australianos
com lesão na medula espinhal, em que
aproximadamente metade apontou a (in)acessibilidade
das instalações desportivas como justificação para o
facto de não praticarem atividades físicas. Entretanto, na
Holanda, numa amostra de pessoas com um dos
membros inferiores amputados, Bragaru, Wilgen,
Geertzen, Ruijs et al (2013) verificaram que, para além
da acessibilidade dentro da própria instalação, a
inexistência
de
instalações
desportivas
nas
proximidades da sua zona de residência foi considerada
uma importante barreira ao seu envolvimento em
atividades físicas. Em Portugal, esta questão foi
estudada por Sá, Azevedo, Martins, Machado & Tavares
(2012), que avaliaram o nível de acessibilidade das
instalações desportivas para pessoas com mobilidade
reduzida na segunda maior cidade do país e constataram
na sua maioria a existência de não conformidades com
as
adequações
técnicas
impostas
por
lei,
comprometendo desta forma a participação de pessoas
com deficiência em atividades desportivas que nelas
pudessem ser desenvolvidas para este público-alvo.
Por outro lado, os materiais/equipamentos à disposição
dos treinadores da nossa amostra não constituem, quer
em variedade quer em quantidade, uma barreira à
prática desportiva dos seus atletas com deficiência.
Todavia, apesar de não ser considerado um fator
determinante, alguns estudos apontam a carência de
recursos materiais como uma restrição ao envolvimento
de pessoas com deficiência em atividades desportivas
(Rimmer et al 2004; Sá et al 2012). No entanto, uma
menor complexidade da atividade desportiva
desenvolvida pelos treinadores inquiridos no presente
estudo, e por conseguinte a necessidade de materiais
menos específicos para a prática desportiva dos seus
atletas com deficiência, pode estar origem das opiniões
recolhidas.
Outro aspeto recorrentemente referido como
condicionador da prática desportiva por parte de pessoas
com deficiência está relacionado com eventuais custos
que têm de ser suportados pelos atletas, nomeadamente
com aquisição de equipamentos específicos, utilização
das instalações desportivas e/ou a remuneração do
próprio treinador (Rimmer, Rubin & Braddock, 2000;
Rimmer et al 2004; Bedell et al 2013; Jaarsma, Dijkstra,
Blécourt, Geertzen & Dekker, 2014). Contudo, de
acordo com a maioria dos treinadores inquiridos, a
maioria dos atletas (e suas respetivas famílias) estão
dispensados do pagamento de quaisquer encargos
relativos à prática desportiva, o que deve ser
considerado de especial relevância devido a conjuntura
socioeconómica conturbada que Portugal atravessa
atualmente e atendendo sobretudo às despesas
adicionais que as famílias com pessoas com deficiência
têm de suportar, nomeadamente com assistência médica
regular, medicação variada, exames periódicos, terapias
contínuas etc. (Anderson, Dumont, Jacobs & Azzaria,
2007; Stabile & Allin, 2012).
Por fim, ainda que, na opinião dos treinadores de
desporto adaptado inquiridos no presente estudo, as
condições de que dispõem para a prática desportiva
sejam favoráveis, existem pessoas com deficiência no
meio envolvente que não aderem. Entre os principais
motivos apontados para explicar esta realidade estão a
falta de informação sobre a oferta desportiva na
comunidade onde vivem (Rimmer et al 2004; Buffart et
al 2009) e, sobretudo, sobre os benefícios da prática
para a sua saúde (Audley, 2002; Roberton et al 2011); e
as dificuldades de transporte dos interessados de e para
os locais de treino (Rimmer et al 2004; Bragaru et al
2013), podendo esta questão estar relacionada com o
facto de morarem em zonas mais periféricas, por vezes
de difícil acesso, e portanto menos servidas em termos
de transporte público.
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Saraiva & Santos
Conclusão
O treinador ocupa uma posição fundamental no
contexto desportivo, assumindo-se como um poderoso
agente socializador cujo comportamento pode afetar o
desempenho do atleta, a sua aprendizagem e uma série
de resultados psicossociais. Tendo em conta que o
conhecimento varia de acordo com o tipo de deficiência
de um atleta, as fontes de aprendizagem devem ser
analisadas como tal e, posteriormente, consideradas no
perfil de formação de um treinador de desporto
adaptado. No caso dos treinadores portugueses, a
maioria possui competências direcionadas para o
exercício específico dessa atividade, adquirida
sobretudo através de frequência universitária em
programas de formação pós-graduada. Entretanto , será
importante reavaliar periodicamente os programas de
formação de treinadores em Portugal, assim como as
suas perceções e opiniões sobre os mesmos,
particularmente em termos de atualização de
conhecimentos que possam ter um eventual impacto na
otimização do seu desempenho.
Relativamente as condições disponíveis para a prática
desportiva de pessoas com deficiência, de acordo com a
opinião dos treinadores, as barreiras identificadas no
presente estudo devem servir de base para a
implementação de ações que, fundamentalmente, (1)
promovam a difusão da prática desportiva e divulguem
em larga escala os seus benefícios para o estado de
saúde das pessoas com deficiência e (2) apoiem
financeira ou materialmente as pessoas cujas famílias
não têm condições para suportar os encargos
subjacentes à um estilo de vida ativo.
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Desporto e Atividade Física para Todos – Revista Científica da FPDD, 2015
Vol. 1, N.º 1, ISSN 2183-511X
Evaluation of Isokinetic Muscular Strength of Brazilian Paralympic Athletes
Avaliação da Força Muscular Isocinética de Atletas Paralímpicos Brasileiros
Felipe Silva1,2, Victor Hugo Segundo3, Nailton Filho3, Gleidson Rebouças3, Thiago Felipe1,3, Edson
Pinto1, Maria Irany Knackfuss3, Paulo Dantas2
1
Universidade Potiguar (UnP), Departamento de Educação Física, Natal/RN, Brasil; 2Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), Centro de Ciências da Saúde, Natal/RN, Brasil; 3Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte (UERN), Programa de Pós-Graduação em Saúde e Sociedade (PPGSS), Mossoró/RN, Brasil.
Abstract
Resumo
The aim of this study was to compare the peak torque
and the hamstrings/quadriceps ratio from flexor and
extensor muscles of the knee joint in athletes of the
Brazilian Paralympic Athletics.
The sample was composed by athletes of the Brazilian
athletics Paralympic team. To assess the variables, was
used an isokinetic dynamometer at angular velocities of
60°/s-1 and 180°/s-1. Analysis of the means by t test for
independent samples were conducted to investigate
differences in the evaluated parameters. For all statistical
procedures, the confidence interval was 95% (p<0.05).
No significant differences were found in any of these
comparisons, whether the angular velocity of 60°/s-1
(Extension – p=0.54 / Flexion - p=0.67) as well as
180°/s-1 (Extension – p=0.47 / Flexion - p=0.56). In
conventional ratio it was not observed significant
differences (60°/s-1: p=0.90 / 180°/s-1: p=0.87).
It was concluded that the athletes of the Brazilian
Paralympic team of athletics showed satisfactory results
both
in
the
peak
torque
and
in
the
hamstrings/quadriceps ratio and it may result in less
risk of injury related to muscle factors on lower
limbs.
O objetivo deste estudo foi comparar o momento
máximo de força e a razão ísquiotibiais/quadríceps dos
músculos extensores e flexores da articulação do joelho
em atletas da Seleção Brasileira Paralímpica de
Atletismo.
A amostra foi composta por atletas da seleção Brasileira
Paralímpica de atletismo. Para a avaliação das variáveis,
foi utilizado um dinamômetro isocinético nas
velocidades angulares de 60°/s-1 e 180°/s-1. Realizou-se a
análise das médias através do teste t para amostras
independentes para investigar diferença nos parâmetros
avaliados. Para todos os procedimentos estatísticos, o
intervalo de confiança foi de 95% (p<0,05).
Não foram encontradas diferenças significativas em
nenhuma das comparações, seja na velocidade angular
de 60°/s-1 (Extensão - p=0,54 / Flexão - p=0,67) como
também com 180°/s-1 (Extensão - p= 0,47 / Flexão ­
p=0,56). Na razão ísquiotibiais/quadríceps também não
foram observadas diferenças estatísticas (60°/s-1: p=0,90
/ 180°/s-1: p=0,87).
Conclui-se que os atletas da seleção paralímpica
brasileira de atletismo apresentaram resultados
satisfatórios quanto ao momento máximo de força e à
razão ísquiotibiais/quadríceps, podendo implicar em
menores riscos de lesões relacionadas aos fatores
musculares de membros inferiores.
Keywords: Muscle strength; joint balance, disabled
Palavras-Chave: Força Muscular, Equilíbrio Articular,
people, dynamometer.
Pessoas com deficiência, Dinamômetro
38
Silva, et al.
Introdução
Metodologia
O paradesporto de alto rendimento comumente tem sido
relacionado com elevados índices de lesões, as quais se
concentram principalmente nos membros inferiores,
mais precisamente na região do joelho e da coxa,
chegando a representar em algumas modalidades 80%
do total de lesões (Morato, Bilzon, & Duarte, 2013). Tal
fato parece ser justificado pelo comprometimento de
alguns sistemas, dentre eles o proprioceptivo e o visual,
somado às elevadas cargas de Treinamento (Silva,
Duarte, Silva, Silva, & Vital, 2011). Sendo assim, evitar
que as lesões esportivas ocorram é um dos objetivos
principais de todos os profissionais que trabalham com
as ciências do esporte (Campos et al., 2015).
Na modalidade de atletismo, percebe-se uma ocorrência
muito grande de lesões musculares, responsáveis pela
diminuição da capacidade física dos atletas e pelo seu
afastamento de treinos e competições, além dos altos
custos com o tratamento (Pastre, Carvalho Filho,
Monteiro, Netto Júnior, & Padovani, 2004).
Alguns autores citam que essas lesões são decorrentes
de
fraqueza
muscular
e,
consequentemente,
instabilidade articular (Croisier, Forthomme, Namurois,
Vanderthommen, & Crielaard, 2002; Grace, 1985).
Desta forma, uma avaliação precisa da força muscular
tem sido de fundamental interesse clínico,
principalmente quando o objetivo é prevenir lesões
através da identificação precoce de deficiência
contralateral de um grupo muscular, ou de desequilíbrio
entre músculos antagonistas de uma articulação
(Campos et al., 2015).
A avaliação isocinética é considerada padrão ouro na
análise dos parâmetros neuromusculares (Terreri,
Greve, & Amatuzzi, 2001), e tem sido utilizada para
determinar os níveis de torque produzidos por atletas em
ações excêntricas e concêntricas de musculaturas como
quadríceps e ísquiotibiais (Silva Neto, Simões,
Grangeiro Neto, & Cardone, 2010; Zabka, Valente, &
Pacheco, 2011). Adicionalmente, a avaliação isocinética
tem sido utilizada por permitir identificar déficits de
força muscular bilateral e entre diferentes musculaturas
agonistas e antagonistas (Carvalho, & Cabri, 2007;
Ferreira, Gomes, Ferreira, Arruda, & França, 2010;
Weber, Silva, Radaelli, Paiva, & Pinto, 2010).
Os resultados da avaliação isocinética permitem
identificar atletas que possam estar mais susceptíveis à
ocorrência de lesões, por possíveis desequilíbrios
musculares, que podem produzir elevados níveis de
stress nos tecidos, permitindo uma especificação nos
treinos e condutas no que diz respeito à prevenção
(Croisier, Ganteaume, Binet, Genty, & Ferret, 2008;
Bittencourt et al. 2005; Oberg, Möller, Gillquist, &
Ekstrand, 1986).
Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar o
Momento Máximo de Força (MMF) e a razão
ísquiotibiais/quadríceps (I/Q) em atletas profissionais da
Seleção Brasileira Paralímpica de Atletismo.
Participantes
Participaram deste estudo descritivo 20 atletas (19,8 ±
3,6 anos) da seleção brasileira paralímpica de atletismo,
sendo 10 do sexo feminino e 10 do sexo masculino. Os
atletas apresentavam diferentes tipos de deficiência,
sendo 12 com deficiência visual, 2 com deficiência
intelectual e 6 com paralisia cerebral, todos andantes.
Durante o período das avaliações, os atletas
encontravam-se no período preparatório geral.
Os participantes foram inicialmente esclarecidos sobre
os procedimentos da pesquisa e assinaram um termo de
consentimento livre e esclarecido, conforme as Normas
de Realização de Pesquisas com Seres Humanos
(resolução nº 466/12 do CNS). A presente pesquisa foi
aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Instrumento
Os atletas foram orientados a não realizar atividades
moderadas ou vigorosas nas 48h antecedentes às
avaliações, buscando evitar interferência de outros
fatores que pudessem comprometer as avaliações e os
resultados. As coletas foram realizadas no laboratório
do instituto do sono em São Paulo com temperatura
ambiente entre 20ºC e 22ºC.
Em seguida, os atletas foram submetidos à avaliação
dos parâmetros neuromusculares e déficits bilaterais da
musculatura extensora e flexora dos joelhos em
diferentes velocidades de execução, sendo utilizado um
dinamômetro isocinético da marca Biodex System 3®
(Biodex Medical Systems, Shirley, NY, EUA).
Os atletas foram posicionados sentados na cadeira do
dinamômetro seguindo as recomendações do manual de
padronização fornecido pelo fabricante do equipamento,
devidamente estabilizados através de cintos fixados ao
tórax, quadril e coxa do membro a ser testado para
evitar compensações. O eixo de rotação do
dinamômetro foi alinhado com o eixo de rotação da
articulação do joelho testado (côndilo lateral do fêmur),
para evitar que as mensurações do MMF fossem
invalidadas. O equipamento usado neste estudo permite
que o membro seja pesado e decomposto para a
produção de dados mais fidedignos, compensando a
ação da gravidade.
Posteriormente aos procedimentos de posicionamento e
previamente a realização do teste, procedeu-se uma
familiarização através da realização de cinco repetições
concêntricas submáximas de extensão e flexão do joelho
no dinamômetro nas mesmas velocidades angulares
utilizadas no teste, a fim de reduzir os efeitos de
aprendizagem e garantir a reprodutibilidade dos dados
coletados. Após um período de recuperação de cinco
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
39
Silva, et al.
minutos, os indivíduos iniciaram o protocolo de
avaliação.
As velocidades angulares utilizadas no protocolo foram
de 60°/s-1 (uma série de cinco repetições para cada
membro inferior) e 180°/s-1 (uma série de 10 repetições
para cada membro inferior). Em ambas as velocidades
foram avaliados o MMF, expresso em Newton-metro
(Nm), e a razão ísquiotibiais/quadríceps (I/Q) expressa
em percentual (%). A razão (I/Q) foi calculada através
da equação “I/Q = MMF dos Isquitobiais/MMF do
quadríceps”, tanto na velocidade angular de 60°/s-1
como na de 180°/s-1.
Tabela 2 - Comparações do momento máximo de força nas diferentes
velocidades angulares.
60°/s-1
Extensores
MMF
(Nm)
Direita
214,5
± 43,3
Esquerda
200,5 ±
45,0
Extensores
Análise Estatística
Inicialmente, foi verificada a normalidade dos dados por
meio do teste de Shapiro-Wilk. Em seguida, utilizou-se
uma análise descritiva, caracterizando a média e o
desvio padrão nos parâmetros: momento máximo de
força e razão Isquiotibiais/Quadriceps. Realizou-se a
comparação das médias através do teste t para amostras
independentes. Para todos os procedimentos estatísticos,
o intervalo de confiança foi de 95% (p < 0,05). As
análises foram feitas com o auxílio do pacote estatístico
SPSS 20.0 (Statistical Package for the Social Science,
20.0 Ink Chicago, IL, EUA).
MMF
(Nm)
Direita
153,7
± 32,4
Esquerda
150,3 ±
30,6
p
0,54
p
0,47
Flexores
Direita
110,3 ±
22,4
Esquerda
100,3 ±
14,6
Flexores
Direita
86,9 ±
16,8
p
0,67
Esquerda
p
85,8 ± 15,3
0,56
Legenda: MMF = Momento Máximo de Força.
A tabela 3 apresenta os valores de razão
ísquiotibiais/quadríceps (%) nas diferentes velocidades
angulares, onde não foram encontradas diferenças
significativas em nenhuma das ocasiões.
Tabela 3 – Comparação da razão ísquiotibiais/quadríceps entre os
membros nas diferentes velocidades angulares.
Resultados
60°/s-1
As características físicas dos atletas estão expostas na
tabela 1.
Razão I/Q (%)
Direita
Esquerda
p
51,8 ± 7,2
55,8 ± 9,0
0,90
Tabela 1 – Características dos atletas.
Variáveis
Média ± DP
Idade (anos)
19,8
±
3,6
Peso (kg)
71,7
±
9,6
Altura (cm)
173,2
±
6,4
IMC (kg/m2)
24,8
±
5,9
180°/s-1
Razão I/Q (%)
57,1 ± 5,4
58,6 ± 8,9
0,87
Discussão
A tabela 2 apresenta as comparações do MMF entre os
membros em ambas as velocidades angulares testadas
(60°/s-1 e 180°/s-1), tanto dos músculos extensores
como dos flexores do joelho. Não foram encontradas
diferenças significativas no MMF entre os membros em
nenhuma das velocidades angulares testadas seja na
ação concêntrica dos músculos extensores ou flexores.
Os resultados do presente estudo revelam que os atletas
não apresentaram diferenças significativas no momento
máximo de força e na razão ísquiotibiais/quadríceps em
ambas as velocidades angulares, o que revela risco de
lesão diminuído, levando em consideração fatores
relacionados à força muscular de membros inferiores.
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
40
Silva, et al.
Outros estudos realizados com atletas de outras
modalidades também não encontraram diferenças no
MMF de membros inferiores (Rosene, Fogarty, &
Mahaffey, 2001; Campos et al., 2015). Ao comparar
nossos resultados com corredores de longa distância,
Portes et al. (2007) encontraram menor desempenho na
extensão de joelho dos membros direito e esquerdo a
60°/s-1 (MMF 191±5 Nm e 188±35 Nm,
respectivamente) e também na flexão de joelho dos
membros direito e esquerdo (MMF 109 ± 21 Nm e 111
± 22 Nm, respectivamente).
Já na comparação com jogadores do futebol de 5
(cegos), os autores verificaram maiores valores no
MMF a 60°/s-1 tanto na extensão de joelho dos
membros dominante e não dominante (229±37,9 Nm e
232±36,6 Nm, respectivamente) como na flexão
(146±15,4 e 137±14, respectivamente) (Campos et al.,
2015). O mesmo se repetiu na velocidade angular de
180°/s-1, seja na extensão do joelho dominante e não
dominante (MMF 154±19,7 e 158±22,9 Nm,
respectivamente), como também na flexão (MMF
122±10,4 e 116±8,5 Nm, respectivamente) (Campos et
al., 2015).
Maiores valores de MMF foram encontrados ainda em
atletas de jiu-jitsu (de Assis, Gomes, & Carvalho, 2005),
atletas de basquete com deficiência visual (Silva, &
Andrade, 2002), atletas das seleções brasileira infantojuvenil e juvenil de voleibol masculino (Bittencourt et
al., 2005), atletas de provas de salto e em maratonistas
(Siqueira, Pelegrini, Fontana, & Greve, 2002).
Apesar de não existir valores normativos para
parâmetros neuromusculares em atletas com deficiência
praticantes de atletismo, o fato de não ter havido
diferenças significativas entre os membros nos
possibilita interpretar que esses resultados representam
menor susceptibilidade para o risco de lesões. Tal
explicação se confirma pelos valores de razão I/Q se
encontrarem entre 50% e 60%, uma vez que diversos
estudos apontam como sendo a faixa percentual ideal
para esta variável (Bittencourt et al., 2005; Carvalho, &
Cabri, 2007; Zouita, Dziri, Ben Salah, & Layouni, 2007;
Le Gall, Laurent, & Rochcongar, 1999).
Avaliando atletas cegos do futebol de 5 da seleção
paralímpica brasileira, foram encontradas diferenças
significativas na razão I/Q entre o membro dominante e
o não dominante (Campos et al., 2015). Os autores
relataram que apesar dos valores de cada membro
estarem dentro da normalidade, essa diferença entre os
membros pode comprometer em parte algumas
exigências específicas da modalidade que necessitam da
utilização de ambos os membros.
A avaliação do equilíbrio muscular tem sua importância
por possibilitar identificar atletas que possam estar mais
susceptíveis a ocorrência de lesão, uma vez que atletas
com inadequada razão I/Q possuem maior
susceptibilidade de desencadear lesões por estiramento,
por exemplo (Croisier et al., 2002).
Este diagnóstico permite desencadear ações de
prevenção e correção desse desequilíbrio, buscando
evitar gastos com tratamento e o afastamento do atleta
dos treinos e competições (Carvalho, & Cabri, 2007).
Vale ressaltar que cada esporte tem suas características
particulares e cabe à equipe discutir e interpretar tais
achados e, inclusive, para cada atleta de forma
individual (Magalhães, Oliveira, Ascensão, & Soares,
2001).
Conclusão
Com base nos resultados do presente estudo, podemos
concluir que os atletas da seleção paralímpica brasileira
de atletismo apresentaram resultados satisfatórios
quanto ao momento máximo de força e à razão
ísquiotibiais/quadríceps, podendo assim significar
menores chances de lesões relacionadas aos fatores
musculares de membros inferiores.
Referências
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42
Desporto e Atividade Física para Todos – Revista Científica da FPDD, 2015
Vol. 1, N.º 1, ISSN 2183-511X
Effect of Physical Exercise on Motor Performance of an Individual with
Cerebral Palsy
Efeito do Exercício Físico no Desempenho Motor do Indivíduo com Paralisia
Cerebral
Marília Silva1, Kátia Lima2, Fabiana Silva1, Flávia Melo2, Francisco Júnior3, Maria Irany
Knackfuss2, Paulo Dantas1
1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); 2Universidade Estadual do Rio Grande do Norte
(UERN);3Centro Universitário do Rio Grande do Norte (UNI-RN)
Abstract
Resumo
Cerebral Palsy is defined as a postural disorder and
movement due to a central nervous system injury, not
progressive and not evolutionary character, acquired
before the first two years of life. This study aimed to
verify the evolution of specific motor skills in an
individual with cerebral palsy by testing protocols
conducted in liquid medium. Additionally, it was
analyzed in terrestrial environment, the evolution in
performance tests engines of static balance and
equilibrium reaction. In this case study the following
measuring instruments were used: Skill Assessment
Table, specifically in the component orientation in the
water, and Psychomotor Battery (BPM), the balance
component , with assessments carried out before, during
and after the submission of the individual in an exercise
program lasting one year and nine months which
included: strength training, swimming, ballet and
physical therapy in the soil. At the end of the study it
was observed an improvement in the indexes analyzed,
namely: 69.23 % balance test, as well as 100 % in the
equilibrium reaction test and 86.67 % in the test
conducted in the liquid medium. We conclude that
physical exercise program proposed for this individual
had positive effects and is effective in improving motor
performance of a child with cerebral palsy.
A Paralisia Cerebral é definida como um distúrbio
postural e de movimento decorrente de uma lesão do
sistema nervoso central, de caráter não progressivo e não
evolutivo, adquirida antes dos dois primeiros anos de
vida. O presente estudo teve como objetivo verificar a
evolução de habilidades motoras específicas, em um
indivíduo com paralisia cerebral, através de protocolos
de testes realizados em meio líquido. Adicionalmente,
foi analisada em meio terrestre, a evolução no
desempenho em testes motores de equilíbrio estático e
de reação de equilíbrio. Neste estudo de casoforam
utilizados os seguintes instrumentos de medida: Tabela
de Avaliação de Habilidade, especificamente na
componente orientação na água, e, Bateria Psicomotora
(BPM), na componente equilíbrio, sendo realizadas
avaliações, antes, durante e após a submissão do
indivíduo em um programa de exercício físico com
duração de 1 ano e 9 meses que contemplava:
treinamento de força, natação, ballet e fisioterapia
motora no solo. Ao final do estudo foi observada uma
melhora nos índices analisados, designadamente:
69,23% no teste de equilíbrio, assim como 100% no
teste de reação de equilíbrio e 86,67% no teste realizado
no meio líquido. Conclui-se que o programa de exercício
físico proposto para este indivíduo tiveram efeitos
positivos e é eficaz para melhorar o desempenho motor
de uma criança com paralisia cerebral.
Keywords:
Physical
exercise,
performance motor, balance.
cerebral
palsy,
Palavras-Chave: Exercício físico, paralisia cerebral,
desempenho motor, equilíbrio.
43
Silva, et al.
Introdução
A Paralisia Cerebral (PC) é definida como um distúrbio
postural e de movimento decorrente de uma lesão do
sistema nervoso central, de caráter não progressivo e
não evolutivo, adquirida antes dos dois primeiros anos
de vida. A lesão pode afetar os hemisférios cerebrais, a
região mesodiencefálica, o tronco cerebral e/ou o
cerebelo. Fatores etiológicos como infecções maternas,
malformações congênitas do encéfalo estão entre as
causas de PC no período pré-natal, causas relacionadas
ao sofrimento fetal como hipoxemia, complicações
placentárias e hemorragias são características do
período perinatal, e no período pós-natal destacam-se os
traumas e infecções bacterianas. Esses fatores podem
interferir funcionalmente, dificultando o desempenho de
atividades realizadas por crianças portadoras de PC,
quando comparadas a crianças com o desenvolvimento
normal (Vilibor & Vaz, 2010; Amaral & Mazzitelli,
2003).
A limitação da atividade motora é uma característica da
PC e ocorre pela falta de controle sobre os movimentos.
As consequências são adaptações musculares que, em
longo prazo, podem resultar em deformidades ósseas.
Os primeiros anos de vida parecem ser cruciais para o
processo de aquisição das habilidades motoras
(Teixeira-Aroyo & Oliveira, 2007).
Pensando no desenvolvimento de pessoas com paralisia
cerebral, é de grande importância a inserção em um
adequado programa de exercício físico aliado a
avaliações regulares. Nesse sentido, o desenvolvimento
de trabalhos psicomotores com as pessoas com
deficiência oportuniza a aquisição de habilidades
motoras necessárias ao desempenho de vários
movimentos e atividades funcionais da vida diária
(Venâncio, Teixeira Junior, Fernandes, Fernandes &
Teixeira, 2011).
Diante disso se torna importante o conhecimento de
como o exercício físico pode contribuir para o
desenvolvimento motor de crianças com Paralisia
Cerebral.
Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo
verificar a evolução de habilidades corporais
específicas, em um indivíduo com paralisia cerebral,
através de protocolos de testes realizados em meio
líquido e terrestre.
Metodologia
A pesquisa em tela é caracterizada como ensaio clínico
com delineamento de estudo de caso em follow-up.
Participantes
Uma criança, sexo feminino, 10 anos, com sequela de
paralisia cerebral decorrente do surgimento de
hidrocefalia e encefalocele, as quais foram
diagnosticadas ao 4º mês de gestação, sendo
acompanhada normalmente por todo pré-natal por uma
obstetra e um neurocirurgião até o final da gestação. O
parto ocorreu dentro da normalidade ao 9º mês de
gestação.
Após o nascimento a criança ficou internada
em enfermaria comum, sem auxílio de equipamentos,
com aleitamento materno. Posteriormente, foi
submetida a cirurgia para retirada da hérnia formada na
parte posterior da cabeça.
Aos quatro meses de vida, em virtude desta
hérnia, surgiu a hidrocefalia, sendo novamente
submetida a intervenção cirúrgica para implantação de
válvula intracraniana, a qual contém o excesso de
líquido no cérebro. Devido a estas circunstâncias, a
criança encontra-se num quadro de ataxia
(comprometimento do cérebro e vias cerebelares,
manifestando-se por falta de equilíbrio e coordenação
motora em atividades musculares voluntária).
Instrumentos
Os instrumentos utilizados foram a Tabela de Avaliação
de Habilidade (Winnick, 2004), especificamente na
componente “orientação na água” e a Bateria
Psicomotora (Fonseca, 1975), com foco no componente
equilíbrio.
A Tabela de Avaliação de Habilidade consiste em
avaliar pequenas tarefas na água, tais como: lavar o
rosto, pôr o queixo na água, pôr a boca na água, pôr a
boca e o nariz na água, pôr o rosto na água, pôr o corpo
todo na água, assoprar bolhinhas, assoprar bolhinhas
com rosto na água, assoprar bolhas deitado de frente
com o rosto na água, assoprar bolhas com o corpo todo
sob a água, afunda, solta o ar e sobe 5 vezes na parte
rasa, afunda, solta o ar e sobe 10 vezes na parte rasa,
afunda, solta o ar e sobe 5 vezes na parte funda e
afunda, solta o ar e sobe 10 vezes na parte funda. Para a
avaliação de desempenho foi utilizada a BPM que não
sendo um teste no sentido tradicional, permite observar
as componentes do comportamento psicomotor da
criança de uma forma estruturada e não estereotipada e
identificar o grau de maturidade psicomotora da criança
e detectar eventuais sinais desviantes.
Procedimentos
As coletas aconteceram em janeiro e setembro de 2009,
período em que a criança tinha 8 anos e, setembro de
2011, quando a mesma já havia completado 10 anos de
idade.
A criança foi submetida as seguintes intervenções:
treinamento de força, natação, ballet e fisioterapia
motora no solo, todas com frequência de duas vezes por
semana, durante 1 ano e 9 meses.
Na sala de musculação foram realizados exercícios
visando à melhoria da força muscular dos membros
inferiores e coordenação motora. Para a execução dos
exercícios foram realizadas 3 (três) séries, de 8 (oito) a
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
44
Silva, et al.
10 (dez) repetições cada, com intervalos que variavam
de 30 (trinta) a 60 (sessenta) segundos. As cargas foram
selecionadas
através
de
repetições
máximas
estabelecidas, não sendo necessário à realização de
testes de cargas.
Os exercícios da natação foram realizados com o auxílio
de bóias nos braços para facilitar a flutuação, as mesmas
possuem calibragem mínima para possibilitar um
esforço maior na flutuação e equilibração na água. Entre
as atividades propostas estão exercícios de pernada de
crawl, peito e costas com equipamento para auxilio,
trabalho de braçada de crawl e costas, assim como
atividades que exigem pequenos mergulhos e trabalho
específico de respiração onde a aluna tem que inspirar
fora da água e soltar o ar com o rosto dentro da água.
As aulas de ballet começam com exercícios de
flexibilidades e alongamentos globais feitos na barra
fixa e posteriormente no solo, com duração de cerca de
5 (cinco) minutos. Seguem-se os trabalhos de correção
postural, onde o aluno fica com os pés apoiados na
barra. Exercícios de deslocamentos, giros e saltos não
são realizados, pois a referida aluna não andava sozinha.
Durante as sessões de fisioterapia motora são feitos
exercícios de alongamentos, exercícios de marcha entre
barras paralelas, exercícios sobre prancha de equilíbrio
dentre outros.
Resultados
Os resultados apontam para uma melhoria tanto na
habilidade motora em meio líquido, quanto no equilíbrio
no meio sólido e na reação de equilíbrio após o
programa de exercício físico, conforme mostra a figura
1.
Figura 1–Evolução de habilidades motoras.
No tocante a habilidade motora na água, pode-se observar uma
melhora pós realização de programa de exercício física,
com percentual de evolução de 86, 67%, sendo o
mesmo mantido após a segunda avaliação.
Os achados da avaliação do equilíbrio indicaram déficit.
No entanto, após a primeira avaliação pode-se observar que o sujeito apresentou melhoria e que a mesma
evoluiu com a permanência da conduta terapêutica.
O componente reação de equilíbrio apresentou
percentual de evolução de 100% comparando o pré e
pós teste, indicando influência positiva para a
intervenção aplicada durante este período.
Discussão
O presente estudo objetivou verificar a evolução de
habilidades corporais específicas, em um indivíduo com
paralisia cerebral, através de protocolos de testes
realizados em meio líquido e terrestre, na tentativa de
estabelecer informações que somem à literatura
científica acerca desse tema, e poder oportunizar ao
participante do estudo o desenvolvimento de
capacidades motoras importantes para o desempenho de
diversos movimentos e atividades funcionais de sua
vida diária.
A habilidade motora na água refere-se a capacidade de
realizar atividades que envolvem a relação homem e
ambiente aquático, tais como: lavar o rosto, pôr o
queixo na água, pôr a boca e nariz na água, entre outras
(Winnick, 2004). Para esta tarefa foi encontrada uma
pontuação de 30 no momento 1, pré intervenção e após
a intervenção encontrou-se aumento da pontuação para
56, o que foi mantido com a continuidade da conduta
terapêutica.
De acordo com Mansur e Marcon (2006) as habilidades
motoras globais estão relacionadas com bases neurais e
a processos cognitivos, em que se ressalta a importância
do córtex pré-frontal no processamento de informações
verbais, motoras e emocionais. Os sistemas sensoriais e
motores possuem células especializadas e distintas
funcionalmente, e isso permite uma maior velocidade de
processamento de informações e também fornece
respostas adequadas a cada estímulo, o que é essencial
para o bom funcionamento de funções cognitivas e,
consequentemente, das funções motoras.
Nesse sentido, os programas de exercícios físicos são
capazes de estimular tais células dos sistemas sensoriais
e motores, o que pode implicar em melhoria de
atividades cuja coordenação sensório motor esteja
relacionada (Mansur &Marcon, 2006; Pereira, Moreira,
Brito, Matos, Mazini & Oliveira, 2014).
Identificando precocemente as deficiências no
desempenho motor, é possível determinar a intervenção
adequada e amenizar essas alterações que interferem na
independência funcional destes indivíduos.
O equilíbrio corporal refere-se à capacidade de o
indivíduo manter seu centro de gravidade sobre a base
de sustentação em situações estáticas e dinâmicas
(Daniel, Vale, Giani, Bacellar& Dantas, 2010). Para a
habilidade de equilíbrio houve uma melhora de 46% na
primeira avaliação e de 69,23% ao final do programa de
atividade física, enquanto a reação de equilíbrio obtivese 100% de evolução.
Entre os fatores que influenciam na qualidade de vida
de uma pessoa, o equilíbrio apresenta-se com grande
Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
45
Silva, et al.
importância, uma vez que permite a manutenção de uma
postura correta e tenha melhor adaptação ao ambiente.
Sendo assim, o ganho de equilíbrio das pessoas com
deficiência advindo da prática de atividade física regular
representa melhor mobilidade, postura e potencializa a
exploração do ambiente que a cerca (Arroyo & Oliveira,
2007)
Treinos de atividades de equilíbrio devem fazer parte
integrante do tratamento diário destas crianças
independente da modalidade, pois a falta de equilíbrio
pode acarretar em diversas dificuldades nas atividades
de vida diária (Franjoine, Gunther& Taylor, 2003).
Tendo em vista a análise dos resultados obtidos nos
testes, podemos concluir que as atividades propostas
podem contribuir para melhoria do tônus muscular, do
equilíbrio e da coordenação motora fina. Apesar de não
ter tido o melhor rendimento, o meio liquido se destaca
devido à facilidade de condução durante a aplicação dos
exercícios.
Conclusões
Teixeira-Aroyo, C.,&Oliveira, S. R. G. (2007).
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Através do presente estudo, pode-se observar uma
melhoria de 69,23% nos testes de equilíbrio estático,
100% de evolução nos testes de reação de equilíbrio e
86,66% nos testes realizados no meio líquido. Desta
forma, as atividades propostas no presente trabalho,
demonstraram a capacidade de melhorar o desempenho
motor de uma criança com paralisia cerebral.
Podemos destacar a importância da continuidade de
pesquisas a respeito desse assunto, com finalidade de
cada vez mais criar alternativas que ajudem no
tratamento dessas patologias e assim melhore a saúde e
qualidade de vida desse grupo especial.
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Ano 1 | Volume 1 | Lisboa 2015 | ISSN: 2183-511X
46
Desporto e Atividade Física para Todos – Revista Científica da FPDD, 2015
Vol. 1, N.º 1, ISSN 2183-511X
Adapted Physical Activity in the Population With Special Needs
Atividade Física Adaptada na População com Necessidades Especiais
Anabela Vitorino1,2, Diogo Monteiro1, João Moutão1,2,3, Sónia Morgado1,2,4, Teresa Bento1,3, Luís
Cid1,2,3
1
Escola Superior de Desporto de Rio Maior (ESDRM-IPS); 2Unidade de Investigação do Instituto Politécnico de
Santarém (UIIPS); 3Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano (CIDESD); 4Centro de
Investigação em Qualidade de Vida (CIEQV)
Abstract
Resumo
The field of disability requires the intervention of
technicians of various specialties, acting in a coordinated
and concerted manner to meet the needs of people with
special needs. In this context, the role of physical
activity, when inserted in healthy lifestyles, deserves
particular highlight as an essential tool for improving the
physical condition, quality of life and well-being of
people with disabilities.
The concept of physical activity in the population with
disabilities is also associated with aspects such as
rehabilitation, education, competition and recreation,
being increasingly evident the emphasis placed on their
physical, social and psychological benefits. Thus,
adapted physical activity seems to contribute to trigger
positive effects on the health of people with disabilities.
The main objective is the consolidation of the structural
and theoretical concept of disabilities, special needs,
adapted physical activity and healthy lifestyles.
Na área da deficiência exige-se a intervenção de técnicos
de diversas especialidades, atuando de forma articulada
e concertada para responder às necessidades das pessoas
com necessidades especiais. Neste contexto, o papel da
atividade física, quando inserida em estilos de vida
saudáveis, merece particular destaque, enquanto
instrumento essencial para a melhoria da condição física,
da qualidade de vida e do bem-estar das pessoas com
deficiência.
O conceito de atividade física na população com
deficiência está igualmente associado a vertentes como a
reabilitação, educação, competição e recreação, sendo
cada vez mais evidente a ênfase colocada nos seus
benefícios físicos, sociais e psicológicos. Em suma: a
atividade física adaptada parece poder contribuir para
desencadear efeitos positivos na sua saúde.
O objetivo principal foi consolidar a visão estrutural e
teórica do conceito de deficiência, necessidades
especiais, atividade física adaptada e estilos de vida
saudáveis.
Keywords: Adapted
Healthy Lifestyles.
Palavras-Chave:
Atividade
Física
Deficiência, Estilos de Vida Saudáveis
Physical
Activity,
Disability,
Adaptada,
47
Vitorino, et al.
Introdução
A problemática da deficiência, ao longo do tempo, não
se tem equacionado sempre da mesma forma (Pereira,
1984; Pereira & Simões, 2005). A sua história começa
na Antiguidade, nos primórdios do homicídio legalizado
e da eliminação - supressão física, e evoluiu durante
todo o período da Idade Média, onde facilmente se
associam as pessoas com deficiência a situações de
mendicidade e exploração, isto é, a serem aproveitadas
para angariar esmolas junto às portas dos templos
religiosos e a serem “os bobos da corte”, para deleite
dos reis e seus séquitos, que se divertiam à custa do
comportamento estereotipado desses indivíduos
(Rosadas, 1989).
De um modo geral, os indivíduos com deficiência
estiveram sempre associados a estigmas, resultado de
todo um vasto conjunto de valores e de atitudes
dependentes do seu envolvimento cultural, estigmas
estes que se têm mantido, apesar das significativas
“alterações semânticas” entretanto verificadas, das
quais se realçam as noções de “necessidades
individuais”, “necessidades educacionais especiais” e
de “perfil intraindividual”, abandonando-se a
tradicional dicotomia “normal-anormal”, “deficiente­
não deficiente”, “desviante-não desviante”, “típico­
atípico” (Fonseca, 1989).
Quer seja como vítimas de “maldições divinas” e
“pregações do diabo” (Rosadas, 1989), quer seja sob a
influência dos processos de seleção natural ou de
seleção biológica espartana (onde se eliminavam as
crianças com malformação ou deficientes), passando
pelo conformismo piedoso do Cristianismo até à
segregação e marginalização operadas pelos exorcistas e
esconjuradores da Idade Média, a perspetiva sobre a
deficiência parece ter andado continuamente ligada a
crenças sobrenaturais, demoníacas e supersticiosas,
“aspetos (que) veiculam a ignorância, que por sua vez
gera atitudes de culpabilização, compaixão, desespero e
indignação” (Fonseca, 1989, p. 10).
Para Marques, Castro, e Silva (2001), as sociedades
contemporâneas distinguem-se, em grande parte das
anteriores, pela afirmação do respeito pela dignidade
humana e pela garantia de que ao indivíduo com
qualquer necessidade especial lhe será permitido
integrar-se nas diversas metas de funcionamento social
sem qualquer barreira psicológica ou física.
Atualmente pode-se afirmar que o panorama é diferente,
assente numa perspetiva inclusiva, baseada em
orientações legislativas e em novas respostas
vocacionadas para esta população, quer no setor da
reabilitação, educação, social, profissional, desporto,
bem como nas áreas da investigação e da formação
especializada de técnicos, contribuindo assim, para um
novo paradigma nesta temática.
O objetivo foi realizar uma revisão de literatura com
recurso ao que Dosil (2008) designa, em Psicologia do
Desporto e do Exercício, por fontes de documentação
primária,
operacionalizando
os
elementos
terminológicos de deficiência, necessidades especiais,
atividade física adaptada e estilos de vida saudáveis.
Atividade Física na População com Deficiência
A intervenção na deficiência
Kirk e Gallagher (1996) definiram a criança com
deficiência como toda aquela que se desvia da norma
estatística ou da criança normal pelas suas
características
mentais,
capacidades
sensoriais,
características neuromotoras ou físicas, comportamento
social, capacidades de comunicação e múltiplas
deficiências.
Essas
diferenças
devem
ser
suficientemente notadas, a ponto de requerer a
modificação de práticas escolares ou necessitar de
serviços de educação especial para possibilitar o
desenvolvimento até à sua capacidade máxima.
Por outro lado, para Organização Mundial de Saúde
(OMS, 2004), a deficiência é caracterizada por perda ou
anormalidade da função psicológica, fisiológica ou
anatómica, temporária ou permanente, incluindo a
ocorrência de uma anomalia, defeito ou perda de um
membro, órgão ou tecido, ou qualquer outra estrutura do
corpo, inclusive das funções mentais, levando o
indivíduo a apresentar dificuldades específicas e
suscetíveis de limitar ou dificultar a atividade e a
participação em condições de igualdade com as demais
pessoas em conjugação com os fatores ambientais.
A abordagem da deficiência tem sofrido uma forte
evolução conceptual, sendo que o conceito de
necessidades especiais começa a ser utilizado no final
dos anos 70 e para Madureira e Leite (2003, p. 31)
necessidades especiais referem-se a: (1) populações que
devido a fatores de cariz sócio-cultural e/ou a diferenças
linguísticas estão, ou podem estar, em risco de insucesso
escolar. Este tipo de situações pode ser reduzido
significativamente, melhorando a qualidade do ensino;
(2) situações que embora graves, em termos de
deficiência, podem não ter qualquer consequência no
processo e progresso educativo do aluno, exigindo
apenas um amplo serviço de apoio no sentido de
facilitar o acesso ao currículo escolar; (3) situações onde
são evidentes as dificuldades na aprendizagem, ou seja
em aceder ao currículo oferecido pela escola, exigindo
um atendimento especializado, de acordo com as
características específicas do aluno.
Ao nível da intervenção, a identificação da deficiência e
consequente orientação e encaminhamento devem
decorrer de um diagnóstico precoce de carácter
multidisciplinar. Por outro lado, a não existência de
grupos homogéneos nas pessoas com deficiência,
exigem a definição de respostas específicas que vão ao
encontro das suas necessidades diferenciadas e
identificáveis e, por conseguinte, com base nas
potencialidades e habilidades pessoais.
A intervenção diária com esta população deve ter como
principal objetivo o desenvolvimento máximo das suas
capacidades e aptidões, qualidades individuais, de forma
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a adaptar-se às exigências da vida quotidiana inerentes à
sociedade em que está inserida. Neste contexto, o
movimento,
enquanto
componente
fortemente
reeducativa, terapêutica e de reabilitação, foi alvo de
grande desenvolvimento e implementação no século
XX, o que implicou a proliferação de diferentes
perspetivas e metodologias de trabalho, dado que as
atividades de carácter desportivo, lúdico, cultural e
social têm um papel de extrema importância no
processo de reabilitação de pessoas com deficiência,
como modo de evitar o seu isolamento e possíveis
atitudes antissociais.
Atividade física adaptada
Por atividade física adaptada entende-se “todo o
movimento, atividade física e desporto em que a ênfase
é colocada sobre os interesses e capacidades das pessoas
com condições limitantes, tais como a deficiência,
problemas de saúde ou pessoas mais velhas” (DePauw
& Doll Tepper, 1989, p. 96).
Neste contexto, a atividade física adaptada pode ser
considerada como um corpo de conhecimentos
interdisciplinar dedicado à identificação e solução das
diferenças individuais em atividade física, adequando-as
ao contexto em que elas se desenrolam (Tejero, Vaíllo,
& Rivas, 2012). É um termo ligado à promoção de
estilos de vida ativos e saudáveis, com a finalidade de
minimizar os problemas psicomotores que interferem no
desenvolvimento pessoal do ser humano.
Por outro lado, a atividade física adaptada inclui, mas
não está limitada somente, à educação física, desporto
de competição, recreação, dança, artes criativas,
nutrição, medicina e reabilitação (Hutzler & Sherrill,
2007).
Nesta sequência, pode-se afirmar que a atividade física
adaptada
expressa-se
em
três
dimensões,
designadamente a competitiva, a recreativa e a
terapêutica. A estas vertentes acrescentou o Comité para
o Desenvolvimento do Desporto, em 1981, a educativa
(Marques et al., 2001).
Novas Perspetivas e Diretrizes
Em termos de intervenção, a prática da atividade física
deve-se iniciar o mais cedo possível, desde que o
programa de reabilitação do indivíduo o permita e seja
devidamente enquadrado e acompanhado por uma
instituição ou equipa técnica. Enquanto meio de
valorização da pessoa com deficiência, o desporto
amplia as potencialidades, “fazendo realçar as
capacidades remanescentes, tornando-se num dos meios
mais importante para sensibilizar a integração da pessoa
com deficiência na sociedade” (Barros, Viegas, &
Seabra, 2001, p. 233), tal facto é notório pela
proliferação de estudos que abordam esta temática, os
quais concluem que a atividade física tem efeitos
positivos na qualidade de vida, bem-estar e na
integração social das pessoas com deficiência (e.g.
Medina, Chamarro, & Parrado, 2013; Medola, Busto,
Marçal, Achour Junior, & Dourado, 2011).
Efetivamente, os benefícios que a prática de atividade
física pode oferecer a esta população são numerosos ao
nível físico-biológico, social ou psicológico (Rivas &
Vaíllo, 2012; Winnick, 2011).
Assim, o desporto constitui-se “um importante meio
para a reabilitação física, psicológica e social de pessoas
com algum tipo de deficiência (Cardoso, 2011, p. 529),
“melhora o equilíbrio psicológico do deficiente e ajudao a relacionar-se com o mundo exterior, fazendo com
que desenvolva mais capacidades mentais e éticas que
vão ser essenciais para a sua integração social”
(Sánchez & Vicente, 1988, p. 38).
O desporto, na sua vertente não competitiva, permite às
pessoas com deficiência usufruírem de elevados
benefícios fisiológicos, psicológicos e sociais através da
sua prática (Martin, 2005; Vital, Leitão, Mello, & Tufik,
2002; Winnick, 2011). Por outro lado, Barros et al.
(2001) e Hanrahan (2007) referem que a atividade
desportiva é considerada como um dos vetores mais
importante da formação global da personalidade e do
bem-estar psicológico das pessoas com deficiência.
Enquanto Monteiro e Pereira (2013), mencionam que
permite a promoção da qualidade de vida desta
população, tendo como finalidade a minimização dos
problemas psicomotores que interferem no seu
desenvolvimento pessoal, possibilitando ainda um
sentimento de maior interesse e vontade para fazer cada
vez mais e melhor.
Neste sentido, “o desporto adaptado representa, por um
lado, um dos mais importantes fatores promotores do
sucesso educativo, inclusão e desenvolvimento
psicossocial, e por outro lado, o combate ao abandono
escolar e discriminação das pessoas com deficiência”
(Saraiva, Almeida, Oliveira, Fernandes, & Cruz-Santos,
2013, p. 623), para além de “demonstrar à própria
pessoa e à sociedade que a deficiência não é sinónimo
de incapacidade” (Barros et al., 2001, p. 241).
Em última análise, a prática desportiva para pessoas
com deficiência é a oportunidade de testar os seus
limites e potencialidades, prevenir as enfermidades
secundárias à sua deficiência e, simultaneamente
promover a integração social da pessoa (Melo & López,
2002), aos quais se acresce, de acordo com Nahas
(2010), a redução dos sintomas de ansiedade e
depressão, bem como o aumento dos níveis de bemestar geral.
Para Barros et al. (2001), as atividades desportivas
podem ter fins terapêuticos, de lazer ou ocupação dos
tempos livres, recreativos, competitivos e de alto
rendimento, procurando dar resposta às necessidades e
aos desejos de cada indivíduo com deficiência. Numa
perspetiva de desporto, enquanto conceito global, não
deve classificar os benefícios ao nível da coordenação
funcional neuromuscular, do desenvolvimento motor,
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psicológico, social ou qualquer outro, mas sim, de uma
forma geral.
É desta forma que Ferreira (1993) considera que o
desporto pode contribuir para: (1) melhorar os padrões
normais do movimento; (2) desenvolver a autonomia
motora; (3) proporcionar alegria ao movimento; (4) ser
uma situação de sucesso perante si próprio e perante os
companheiros e adultos; (5) proporcionar o desejo
normal e saudável de progredir, de fazer novas
conquistas, descobrir potencialidades e limitações, logo
um melhor conhecimento e aceitação de si próprio, que
juntamente com as vivências de situações de sucesso,
contribuem para um aumento de confiança, autodomínio
e capacidade de iniciativa; (6) favorecer a aceitação dos
valores
dos
outros,
contribuindo
para
o
desenvolvimento da socialização; (7) favorecer a
imagem corporal, contribuindo para a aceitação do
corpo e consequentemente a relação corporal e afetiva
com os outros; (8) estimular e desenvolver a
comunicação.
Implicações Práticas e Teóricas
Potter (1987) refere que qualquer que seja o nível de
prática desportiva alcançado pela pessoa com
deficiência os efeitos são de três ordens: (1)
Fisiológicos: exploração dos limites articulares, controlo
do movimento voluntário, melhoria da aptidão física
geral e da saúde; (2) Psicológicos: domínio do gesto que
conduz a um aumento de autoconfiança, redução da
ansiedade e melhoria da comunicação; (3) Sociais:
contribuição para o desenvolvimento da autonomia e da
reintegração social.
Nesta sistematização, Guttmann (1977) acrescenta ainda
a existência de efeitos terapêuticos (como complemento
da terapia física), assim como refere que a grande
vantagem do desporto sobre o exercício curativo reside
na sua vertente recreativa.
Pereira, Osborne, Pereira e Cabral (2013) mencionam
que a prática desportiva contribui para: (1) a
socialização da pessoa com deficiência, na medida em
que facilita a comunicação, a realização pessoal, a
autoimagem, o autoconceito e a autonomia, além de
relativizar as suas limitações, uma vez que valoriza e
divulga as suas capacidades físicas; (2) o desporto
também reforça a autoestima, dando-lhe alegria de
viver, melhorando a qualidade de vida, favorecendo a
comunicação e o convívio social.
Enquanto, a prática desportiva de alto rendimento
proporciona oportunidades para a pessoa com
deficiência desenvolver as suas capacidades e
potencialidades, sentir alegria e prazer, experimentar o
êxito e superar os seus limites (DePauw & Gavron,
2005).
Por outro lado, estes atletas são vistos como autênticos
modelos de superação para outros indivíduos
com
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deficiência, na medida em que os estimulam na procura
de soluções para ultrapassar as suas próprias barreiras,
facilitando desta forma a integração social através do
desporto (Winnick, 2011; Woods, 2006).
Conclusão
Em suma, é sabido que a procura da melhoria na
qualidade de vida nos últimos anos levou um número
crescente de pessoas com deficiência a procurar a
prática de diferentes desportos, visando uma melhoria
no seu bem-estar físico e psicológico. Assim, diversos
estudos têm sido realizados, especialmente a partir da
década de 70, demonstrando os efeitos benéficos da
atividade física nas diversas doenças e as respostas
fisiológicas aos exercícios nesta população (Ferreira,
1993).
Neste sentido, o desporto não deve ser, neste âmbito,
apenas um simples elemento de competição, mas um
meio para tirar a pessoa com deficiência da sua
inatividade e fraca iniciativa, um veículo de contacto
social e um estímulo para desenvolver várias
capacidades, melhorando a sua integração social (Barros
et al., 2001; Ferreira, 1993).
Desta forma, alguns atletas, segundo Wheeler, Malone,
VanVlack, Nelson, e Steadward, (1996), mencionam
“que o desporto é parte da sua identidade“ (p. 388), o
que lhes permite “ser e sentir-se normal” (p. 394),
projetando perante terceiros a normalidade ou
aparentemente próximas disso, consolidando o que
referem Pereira et al. (2013) de que o desporto promove
uma acentuação das capacidades em detrimento das
limitações.
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Desporto e Atividade Física para Todos Revista Científica da FPDD, 2015
projecto “conhecer mais para incluir melhor”
projeCto cofinanciado pelo programa de financiamento a projetos pelo inr, i. p.