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ANAIS – RESUMOS III CONGRESSO DE SAÚDE MENTAL FACULDADES INTEGRADAS DE OURINHOS 2014 Presidente da Fundação Educacional Miguel Mofarrej – FEMM Roque Quagliato Diretor das Faculdades Integradas de Ourinhos – FIO Bianor C. F. Colchesqui Diretor Administrativo e Financeiro Gustavo Teixeira Neto Coordenadora do Curso de Psicologia Paula Ione da Costa Quinterno Fiochi Coordenadores do Congresso Damaris Bezerra de Lima Daniele de Andrade Ferrazza Paula Ione C. Q. Fiochi Comissão Organizadora Elaine Aparecida da Silva Guilherme Gonzaga Duarte Providello Juliana Camargo Costa Marcos Paulo Shiozaki Patrícia Alves de Oliveira Comissão Científica Ana Clara Magalhães Cunha Ana Lúcia dos Santos Consuelo Biacchi Eloy Daniele de Andrade Ferrazza Débora Perez Ester Luiza Leite Carvalho Fábio Sagula Guilherme Gonzaga Duarte Providello Leandro Anselmo Todesqui Tavares Luiz Bosco S. Machado Junior Márcia Cristina Pigato Marcos Mariani Casadore Marcos Paulo Shiozaki Patrícia Hobold Meurer Suédina Brizola Rafael Rogato Valdir de Campos PROJETO DE INTERVENÇÃO: A BUSCA PELA PARTICIPAÇÃO DE FAMILIARES DOS USUÁRIOS DO CAPS AD NA ELABORAÇÃO E EFETIVAÇÃO DO PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR EM ARACATI-CE Raquel Mazule Pereira de Araújo Escola de Saúde Pública do Estado do Ceará/Prefeitura Municipal de Aracati [email protected] 2 Este resumo refere-se à elaboração de um Projeto de Intervenção, que será apresentado como trabalho de conclusão do curso de especialização em Saúde da Família pela Escola de Saúde Pública do Estado do Ceará. Durante o meu percurso no CAPS ad como profissional do serviço no ano de 2013 e meados de 2014, tive como desafio reativar e reorganizar o trabalho com as famílias dos usuários do serviço de saúde mental que trata dependentes de álcool e outras drogas no município de Aracati, e mediante a realidade detectada, se viu a necessidade de realizar uma reorganização quanto aos métodos utilizados no tratamento destes usuários e acompanhamento de suas famílias. A elaboração deste Projeto visou a implantação e o fortalecimento de ações realizadas pelos profissionais do CAPS no município de Aracati/Ce na busca pela participação dos familiares de usuários deste serviço na perspectiva da elaboração e efetivação do Projeto Terapêutico Singular destes pacientes. A construção de um projeto terapêutico singular deve ser compreendida como estratégia que, em sua proposição e desenvolvimento, envolve a pessoa com transtorno mental, seus familiares e a rede social, num processo contínuo, integrado e negociado de ações voltadas à satisfação de necessidades e produção de autonomia, protagonismo, inclusão social. Segundo a política de redução de danos proposta pelo Ministério da Saúde a apropriação e a compreensão sobre os transtornos e agravos mentais em decorrência do uso abusivo de drogas, entorpecentes e outras substâncias psicoativas, assim como, o apoio afetivo destes familiares no processo saúdedoença são fundamentais para uma boa aceitação no tratamento destas pessoas. Palavras –chave: Saúde mental; CAPS; Projeto Terapêutico; familiares. NÍVEIS DE ESTRESSE EM UNIVERSITÁRIOS DE CURSOS DE SAÚDE DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA Ana Lucia Barreto da Fonseca Isis Valença de Araújo Henrique Lena Vitória Santana Oliveira A profissionalização exige dos indivíduos a inserção em diferentes esferas de formação, pessoal, social, intelectual e tecnológica, o que denota uma sobrecarga ao funcionamento 3 emocional e cognitivo dos sujeitos. Em se tratando da formação dos profissionais de saúde, esses fatores podem se tornar mais agudos nos últimos anos da formação, pela inserção em atividades práticas cuja realidade saúde/doença exige do profissional preparo para além das questões acadêmicas, propiciando altos níveis de estresse. Os profissionais de saúde em atuação, especialmente aqueles que atuam em emergências ou situações de crise, apresentam estados de adoecimento físico e psíquico, o que define a necessidade de cuidar de quem cuida. Isso porque como descreve Lipp (2000), toda situação que exige processo adaptativo provoca um desequilíbrio na homeostase dos sujeitos envolvidos, o que leva a reações físicas e psicológicas, que em se prolongando poderá incorrer em adoecimento. Essa pesquisa tem o objetivo de identificar em que etapa da formação acadêmica os universitários de cursos de saúde apresentam maiores níveis de estresse. Para tanto, foi aplicado o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos - ISSL (LIPP, 2000) em 10% do corpo discente do Centro de Ciência da Saúde de uma universidade pública. Os estudantes eram abordados aleatoriamente nas instalações da universidade e convidados a tornarem-se colaboradores do estudo. Iniciava-se a coleta com a assinatura do TCLE, a aplicação de um questionário com dados sócioacadêmicos, e o ISSL. Os dados foram tratados através do programa SPSS13, retirando a média aritmética e graus de significância apresenta da as variáveis, sexo, semestre, curso. A amostra é composta majoritariamente por mulheres (73,6%) e com idade média de 22,3 anos. Os resultados não evidenciam diferença significativa em relação aos níveis de estresse ao longo do curso, como também não há graus de significância entre os cursos, de modo geral 57,5% da amostra apresenta algum nível de estresse, sendo que 76% encontra-se na fase de resistência, sendo que a maioria apresenta sintomas psicológicos, como irritabilidade e ansiedade. Os itens apontados como mais estressantes para a amostra geral estavam relacionados à extensa carga horária de atividades, a distribuição de horários e de atividades avaliativas ao longo do semestre, denominando uma dificuldade com o cumprimento das tarefas acadêmicas, não denunciando estados estressores relativos às atividades práticas dirigidas a população e suas demandas, presentes ao final da formação. Os resultados preliminares apontam que os estudantes dos cursos de saúde dessa universidade parecem estar focados mais diretamente as questões que envolvem a sua formação acadêmica, de tal modo que os entraves institucionais parecem denotar mais incomodo do que o contato direto com a realidade concreta da população atendida, especialmente nos últimos semestres. Essa resposta poderá denotar um distanciamento na formação que pode implicar em desconhecimento das demandas sociais que implicarão em adquirir arsenal comportamental adequado às exigências profissionais, aspectos que podem ser impactantes e adoecedoras no momento em que se encontrar em atividade profissional autônoma sem o respaldo da academia. 4 5 REDES DE APOIO SOCIAL DE ADOLESCENTES USUÁRIOS DE DROGAS Adriana Olimpia Barbosa Felipe Gabriela Pereira Vasters Ana Maria Pimenta de Carvalho Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/SP [email protected] O adolescente usário de drogas também pode se beneficiar com o olhar ampliado à sua rede de relações, uma vez que estas se evidenciam como importante fonte de apoio que podem ser protetores em relação ao uso drogas e ao enfrentamento das adversidades vivenciadas. Sendo assim, considerou-se relevante um estudo que buscasse identificar e caracterizar as redes de apoio de adolescentes usuários de drogas. Adotou-se como metodologia o Convoy Model (Modelo de Escolta de Apoio Social) proposto por Kahn e Antonucci. O modelo propõe a análise da rede de apoio por meio de três círculos concêntricos representando três níveis de proximidade e define que sejam avaliados os primeiros 10 sujeitos citados pelo adolescente. Foram analisados, ainda, os aspectos estrutural (características dos integrantes da rede) e funcional (tipos de apoios ofertados e recebidos). Para análise dos aspectos funcionais, os autores propõem seis pré-categorias: confidenciar coisas importantes; ser tranquilizado e estimulado em momentos de incerteza; ser respeitado; ser cuidado em situação de doença; conversar quando está triste, nervoso ou deprimido e conversar sobre a própria saúde. Os sujeitos do estudo foram contatados a partir de um serviço ambulatorial especializado em Ribeirão Preto/ SP. Sobre os 10 adolescentes entrevistados, a média de idade foi de 15,4 anos, 80% eram do sexo masculino, 60% estudavam, 30% trabalhavam, 40% eram católicos e 40% evangélicos. A média de pessoas residindo na mesma casa que o adolescente foi de cinco pessoas. O tamanho das redes variou entre 05-22 integrantes (média de 12 integrantes). Dentre as 10 primeiras pessoas citadas por cada adolescente, predominou a figura feminina; residentes na mesma casa que o adolescente, contato pessoal diário com este e membros da família extensa. Oito adolescentes relataram a presença de usuários de drogas em sua rede de apoio. Quanto aos aspectos funcionais, a distribuição dos tipos de apoio recebido foi: confidenciar coisas que são importantes, ser tranquilizado e estimulado em momentos de incerteza; ser respeitado; ser cuidado em situação de doença; conversar quando está triste, 6 nervoso ou deprimido; conversar sobre a própria saúde. Quanto aos tipos de apoio ofertados, temos: confidenciar coisas que são importantes; ser tranquilizado e estimulado em momentos de incerteza; ser respeitado; ser cuidado em situação de doença; conversar quando está triste, nervoso ou deprimido; conversar sobre a própria saúde. Os adolescentes referiram o total de 110 relações de reciprocidade de apoios. As redes de apoio foram compostas majoritariamente por mulheres, membros de sua família e residentes da mesma casa que o adolescente. Os tipos de apoio menos citados referem-se ao lidar com sentimentos e emoções. O instrumento utilizado mostrou-se apropriado para a atuação junto a adolescentes, uma vez que permitiu identificar as relações mais significativas, as fontes de apoio, bem como identificar na rede relações que podem interferir positiva ou negativamente no tratamento. Palavras-chave: Adolescentes; Drogas lícitas; Drogas ilícitas; Redes de apoio social. 7 A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO EM UM SERVIÇO AMBULATORIAL DE SAÚDE MENTAL. UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Mariane de Morais Teixeira Gio de Castro Teixeira José Gilberto Prates [email protected] São Paulo/SP Nos últimos anos, o processo da Reforma Psiquiátrica no Brasil avançou significativamente devido as estratégias de expansão da rede de atenção psicossocial. Tais serviços visam ações para promover a participação ativa no tratamento da pessoa com transtorno mental, através do empoderamento do sujeito, o que a favorece socialização dos usuários, propicia bem estar global da pessoa e estimula o exercício da cidadania. Os enfermeiros são agentes terapêuticos importantes no processo de desinstitucionalização e reabilitação psicossocial, e podem atuar através de várias ferramentas de saúde. O Ambulatório de Saúde Integral de um Hospital Universitário é uma estratégia facilitadora para o processo de desinstitucionalização e para a o empoderamento do sujeito com transtorno mental, visando promover sua inserção social e comunitária, através do matriciamento com a rede de atenção psicossocial. Objetivo do presente trabalho é Descrever a atuação do enfermeiro no Ambulatório de Saúde Integral como facilitador para a o empoderamento do sujeito e reinserção nos espaços sociais, através do matriciamento. Mediante o Relato dessa experiência sobre o funcionamento do Ambulatório de Saúde Integral, que atende as demandas biopsicossociais trazidas pelos usuários durante as consultas de enfermagem foi elaborado o Projeto Terapêutico Singular. Além disso, são realizados exames físicos e psíquicos, relacionamento terapêutico, atendimentos individuais e grupais aos usuários e familiares, educação em saúde, busca ativa, encaminhamento aos programas assistenciais e outros equipamentos do território. Nota-se que o enfermeiro atua diversificadamente no serviço ambulatorial utilizando ferramentas como o matriciamento, o uso dos espaços sociais e atendimentos especializados. Isso promove melhora na qualidade de vida dos portadores de transtorno mental e a sua interação com a comunidade, além de estimular a pessoa a participar ativamente no meio em que está inserido. O serviço ambulatorial mostrou-se efetivo para o matriciamento e para o 8 atendimento integral do indivíduo. Portanto, concluímos que tais práticas de enfermagem no serviço ambulatorial servem como um elo para o matriciamento destes pacientes na rede de atenção psicossocial, além de promover melhor vínculo entre os sujeitos, profissionais e serviços de saúde mental. Palavras-chave: Enfermagem; Ambulatório; Saúde mental; Empoderamento 9 A EXPERIÊNCIA DE UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE EM BUSCA DA CONSOLIDAÇÃO DA REDE DE CUIDADOS EM SAÚDE MENTAL Renata Cristina Marques Bolonheis Ramos Nádia Ferro [email protected] CAPS I Odeonel Lopes, Marialva-PR Sabemos que com a reorientação do modelo de atendimento em saúde mental, oficializado pela Lei nº 10.216/2001, o tratamento das pessoas com transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas deixou de ser centrado nos hospitais psiquiátricos, sendo priorizado o atendimento extra-hospitalar por meio de uma rede de serviços substitutos. Nesse contexto, foram lançados diversos documentos oficiais; leis, decretos, portarias, relativos aos serviços de saúde mental. Cabe destacar a Portaria nº 3.088/2011, que instituiu a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) com a criação, ampliação e articulação de pontos de atenção no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diversos autores concordam que para que a rede comunitária de cuidados seja efetiva, é imprescindível a articulação dos diferentes dispositivos que a compõem, e que apesar da rede de atenção comunitária ter sido ampliada no Brasil nos últimos anos, os dispositivos existentes ainda não conseguem dar conta de toda a demanda. Diante disso, o presente trabalho tem por objetivo apresentar a experiência de profissionais do Centro de Atenção Psicossocial - CAPS I - de um município de pequeno porte do noroeste do Estado do Paraná, em busca da consolidação de uma rede comunitária de cuidados, considerando os limites e possibilidades que se apresentam junto aos dispositivos da RAPS do município em questão e da região. Dentre os equipamentos de atenção à saúde mental, além do CAPS I, o município conta com sete equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF), atendimento psicológico e psiquiátrico ambulatorial. Nesse contexto, entendemos que os limites para a efetivação da rede de cuidados se dão, dentre outros fatores: à não organização da rede para atendimento de crianças e adolescentes; às dificuldades no atendimento aos usuários de álcool e outras drogas; à dificuldade dos serviços para atender a alta demanda de casos leves e moderados; à pouca oferta de ações de socialização na atenção básica; à falta de leitos psiquiátricos em hospitais gerais no município e na região; às internações prolongadas em hospitais psiquiátricos da região como saída quase que exclusiva para acolher pacientes em crise. Em relação às 10 possibilidades para consolidação da rede, temos: as ações de reinserção social dos usuários atendidos no CAPS, com parcerias entre serviços de saúde, da assistência social, educação, trabalho; os matriciamentos que vêm sendo realizados há alguns anos entre o CAPS e as equipes da atenção básica; as capacitações aos profissionais da atenção básica para acolhimento da demanda de pessoas com transtorno mental e necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Por fim, entendemos que a implementação e consolidação da RAPS passam por diversos desafios, que devem ser pensados e discutidos em conjunto pelos diferentes atores que participam dessa construção, buscando avanços concretos em serviços que atendam às necessidades da população. E apesar dos desafios apresentados, nossa experiência enquanto profissionais da rede reforça o entendimento acerca dos avanços já conquistados nesse processo. Palavras-chave: Rede de Atenção Psicossocial; CAPS; SUS; atenção à saúde mental. 11 A HISTÓRIA DA LOUCURA: REFLEXÕES CLÍNICAS NA PERSPECTIVA DA PSICANÁLISE José Artur Molina Departamento de Psicologia - Universidade Estadual de Maringá/PR [email protected] O clássico “História da Loucura” de Michel Foucault faz uma arqueologia da loucura que em diálogo com a psicanálise pode ser fecundo. Isto porque, seguindo o caminho do filósofo francês, a loucura até o século XVI tem uma construção cósmica, onírica, cuja metáfora é o quadro de Bosch: “O jardim das delícias”. Neste ambiente da desmedida, o inferno e o paraíso habitam a mesma casa, sendo as paixões do excesso e morte indissolúveis. Já, a partir do século XVII, a loucura ganha atribuições morais produzidas por parâmetros da era da racionalidade. Dessa forma, a loucura passa a ser a falta de razão, sendo entendida como uma crise do pensamento lógico. Em conseqüência, a atribuição do estado de doença para a loucura começa a preponderar. Para Foucault esta visão está à serviço da dominação da qual a psicanálise não estaria isenta. Embora de campos epistemológicos distintos, este trabalho se propõe a refletir sobre a construção freudiana do tema da pulsão enquanto uma força sem nome que impele o sujeito a um caminho sem destino a não ser a morte. A compulsão à repetição seria o seu mecanismo fundamental. Na contemporaneidade estamos assistindo no campo da clínica psicanalítica uma predominância de quadros sintomáticos oriundos de um mundo destituído de parâmetros que em muito lembra às figuras de Bosch. De modo que cabem questões como: terá sido a psicanálise da linguagem e do gozo sucumbido de forma fútil a um pensamento médico dominante? A psicanálise surge como uma descontinuidade à tradição psiquiátrica do século XIX? Ou ela apenas repete o padrão conservador de catalogação de doença de seus predecessores? Existe um ranço psiquiátrico neste lugar? É possível unificar a psicanálise no seu campo conceitual bem como técnico num todo coerente? Nas mãos de Foucault poderíamos nos encorajar e pensar em alteridades com respeito às amarras da saúde mental? Palavras-chave: Foucault; Psicanálise; loucura; pulsão A PROMOÇÃO DA SAÚDE NO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA EM CONTEXTOS EDUCACIONAIS 12 Viviana Cristina Parizotto Rezende Zaira de Andrade Lopes [email protected] m Campo Grande - MS A violência é um processo social que invade subjetiva e objetivamente a vida de todos, interferindo nas ações e nas opções tomadas por indivíduos e por instituições, prejudicando a saúde biopsicossocial das pessoas. Ainda que seja compreendida socialmente como problema da segurança pública, a violência está intrinsecamente associada à área da saúde, referenciando principalmente as estratégias de prevenção e de promoção. Tendo em vista a relevância da compreensão do fenômeno da violência em uma perspectiva mais ampla e suas relações com a escola, este trabalho tem como objetivo analisar as formas de violência presentes no contexto escolar e as implicações para a saúde do docente. Para tanto, foi preciso compreender a violência como um fenômeno complexo e polissêmico, que causa impactos na qualidade de vida, bem como identificar o processo de saúde em uma perspectiva da integralidade, de modo a atender a dimensão psicossocial e cultural da violência escolar. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa teórica e exploratória. Buscou-se, como fundamentação teórica, o suporte da Teoria Histórico-Cultural para a compreensão da constituição social e histórica do sujeito. Também foram utilizadas as informações reveladas no relatório da Organização Mundial de Saúde, publicado em 2002, sobre as formas de violência e o seu impacto na saúde integral dos indivíduos, e a Lei 8080/90, que dispõe sobre a integralidade da assistência, bem como a compreensão da saúde como resultante e um dos fatores que levam a melhores condições de alimentação, moradia, existência de saneamento básico, meio ambiente, condições de trabalho e renda, educação, transporte, lazer e acesso aos bens e serviços essenciais. E que, conforme a legislação, advoga sobre os níveis de saúde da população, expressando a organização social e econômica do país. Para ter acesso à saúde, por força do disposto na mesma, as ações devem garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social. No estudo, conclui-se que as tentativas do docente para atenuar este quadro acabam, frequentemente, transformando-se em estratégias de defesa ou de enfrentamento das adversidades, visando o exercício da função ou minimizar o desgaste no trabalho, sendo concretizadas em ações que levam ao adoecimento e representam uma espécie de desistência 13 da profissão docente. Estas relações, em contextos de violência, significam uma renúncia ao sentido da atividade, constituindo a subjetividade do docente na configuração da escola contemporânea. Palavras-chave: Violência; Saúde; Educação; Docentes. 14 A SUBJETIVIDADE NO CUIDADO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL Renata Barros Ferreira Silvana Chorratt Cavalheri [email protected] m Pontifícia Universidade Católica de Campinas/SP [email protected] Este estudo tem como objetivo conhecer a relevância da atenção em saúde mental subsidiada pelo referencial da subjetividade. A subjetividade é uma importante ferramenta utilizada pelo enfermeiro no seu exercício profissional, definida como qualidade, ou ainda, aquilo que se manifesta de mais íntimo e pessoal no sujeito. É compreendida como um valor de poder criativo, ou seja, uma possibilidade de entrar em contato com elementos pertinentes, visíveis ou não e de caráter ou aspecto social. Porém pode ser definido como um lugar obscuro e determinante para a produção das transformações da subjetividade humana. Fazer enfermagem a partir desta ótica é acreditar no processo de criação, na criação do cuidado a partir da escuta, do vínculo com o sujeito, da capacidade de sentir o que ele traz através de sua fala. Por meio de uma pesquisa bibliográfica compreendida entre o período de 1999 a 2013, observou-se que a subjetividade é um dos aspectos que possibilita a integralidade e a garantia do processo da linha de cuidado, presente em todos os níveis de atenção à saúde e na ação que o enfermeiro realiza enquanto componente da equipe e facilitador do cuidado. Ao abordar o cuidado de enfermagem em saúde mental, é necessário referir-se ao modelo e ao contexto histórico. O cuidado é designado historicamente como um ideal ético da enfermagem, incidindo de esforços no sentido de proteger, promover e preservar, ajudando o outro a encontrar sentido na doença, sofrimento e dor, bem como na própria existência. Sendo assim, é considerado a partir da perspectiva do materialismo dialético, uma prática social, determinada como uma das relações sociais e tecnológica executada pelo enfermeiro que modifica o meio de trabalho. A reforma psiquiátrica transformou o modelo de assistência, proporcionando ao usuário autonomia para decidir sobre seu cuidado. Este modelo propõe um espaço/território de transição ao doente mental, em que ele possa ser incluído, reabilitado e ter perspectivas de vida. Para tanto a atenção primária foi um espaço escolhido como rede 15 substitutiva. O enfermeiro tem importante papel dentro da rede de assistência em saúde mental, tanto como agente terapêutico, como articulador nos cuidados integrais a saúde clínica do usuário. Portanto, conclui-se que ao utilizar a subjetividade, é possível compor com a individualidade do sujeito, compreender o que de intimo há no seu cuidado. Isso ultrapassa qualquer metodologia cientifica do processo de trabalho, visto que valoriza a singularidade do sujeito. Na saúde mental, o enfermeiro transcende seu papel de prescritor e de empoderado utilizando o sujeito como protagonista e construindo o processo de trabalho: a anamnese, histórico, avaliação e evolução. 16 ADEQUAÇÃO DOS CAPS AO MODELO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL Raquel Jara Volpato Leite Luciano Gomes Lopes Flávio Pereira Leite Nathiely Araújo Cabral Universidade Paranaense/UNIPAR – Icaraíma/PR [email protected] Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), dentro da atual política de saúde mental do Ministério da Saúde, são considerados um dos serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos, o qual são dispositivos estratégicos para a organização da rede de atenção em saúde mental, devendo ser um serviço que resgate as potencialidades dos recursos comunitários a sua volta. No entanto, muito tem se discutido atualmente quanto à verdadeira adequação dos CAPS, eis o objetivo do nosso trabalho mediante esboço sintetizado diante levantamento bibliográfico frente à proposta de um estudo acerca dos desafios pertinentes a adequação dos CAPS ao modelo da Reforma Psiquiátrica. O movimento da reforma psiquiátrica teve inicio na década de 1960 na Itália, propondo um novo dispositivo terapêutico que tinha como base o tratamento dentro da comunidade. Este movimento tinha como pressupostos a desospitalização, a desconstrução do paradigma da loucura com a valorização do sujeito com o seu sofrimento em detrimento do tratamento da “doença” como se essa fosse destacável do indivíduo (TORRE & AMARANTE, 2001). Resgatar a cidadania do doente mental é a marca Reforma Psiquiátrica Brasileira. A reforma psiquiátrica tem como objetivos questionar o modelo assistencial até então vigente, e propor estratégias para a transformação, fazendo emergir um novo paradigma para a psiquiatria (Fraga, Souza & Braga, 2006). No entanto, a própria consolidação da Reforma vem trazendo à tona uma quantidade crescente de desafios que precisam ser incorporados à agenda dos campos da Saúde Mental e da Saúde Coletiva. Não há precedente de implantação de uma reforma deste tipo num país com as características (geográficas, políticas, sociais) do Brasil. A construção de um sistema assistencial, um imaginário cultural e uma rede de laços sociais inspirados nos ideais da Reforma exige que a imaginação, a criatividade e a reflexão crítica encontrem uma maneira de delinear com clareza quais são os desafios específicos que este horizonte de transformação 17 enfrenta nas condições de nosso país. A acessibilidade, a formação de Recursos Humanos, os planos assistenciais, as esferas clínicas, a necessidade de equipes multiprofissionais, a resistência às propostas reformistas e a má distribuição geográfica são os principais desafios a esta nova proposta de Saúde Mental (BEZARRA JR, 2007). O contexto político atual do Brasil se caracteriza por desmobilização geral das pessoas em torno de bandeiras de luta que não são novas e necessitam de permanente vigilância para que não ocorram retrocessos, somos do parecer que não podemos nos contentar com os avanços já alcançados no âmbito da reforma psiquiátrica. Diante o exposto é notório a importância da Reforma Psiquiátrica no âmbito das conquistas alcançadas à Saúde Mental e necessidade de que todo cidadão esteja atento e vigilante, para impedir retrocessos e para cobrar o que ainda não lhe satisfaz. No campo da saúde mental essa vigilância se faz particularmente necessária no presente momento, pois muito ainda há para construir. 18 ADOLESCENTES E O USO DE DROGAS: A IMPORTÂNCIA DE UMA POLÍTICA PÚBLICA EFICAZ Mayra Marques Da Silva Gualtieri-Kappann Jair Izaías Kappann Universidade Estadual de Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - FCL/Assis-SP [email protected] O consumo de drogas é um assunto complexo, que envolve diferentes dimensões da experiência humana, possuindo diversos fatores sociais, biológicos, históricos e culturais que devem ser levados em conta para a sua compreensão. Dessa forma, uma política pública sobre o consumo de drogas precisa ser estabelecida considerando-se os diferentes níveis de complexidade desse problema na sociedade e a extensa gama de fatores implicados, fundamentando-se em dados científicos empíricos e efetivada de forma ampla, abarcando as diferentes instâncias institucionais e as diferentes áreas do conhecimento. Além das substâncias, seus efeitos e formas de consumo, faz-se necessário considerar os aspectos históricos, sociais, econômicos, culturais, ideológicos, religiosos e psicológicos da questão. O objetivo deste trabalho, desenvolvido como parte da tese de doutorado em Psicologia na UNESP de Assis, é investigar o fenômeno do consumo de drogas e as políticas públicas atualmente praticadas em nosso país. A definição de políticas públicas na área social varia de um autor para outro, mas, apesar de optarem por caracterizações e abordagens diferentes, há certo consenso sobre sua importância e finalidade na sociedade. As políticas públicas podem ser entendidas como o Estado em ação, o Estado aqui caracterizado como o conjunto de instituições permanentes, composto pelos órgãos legislativos, tribunais, exército e outros. Já o Governo é formado por um conjunto de programas e projetos que parte da sociedade como um todo e é determinado pelo modelo político adotado por determinado governo, o qual desempenha a função de Estado por um período de tempo determinado. Assim como em outros países, e seguindo os parâmetros sugeridos pela ONU, as políticas públicas predominantes no Brasil em relação às drogas têm tido um caráter coercivo e punitivo, com o objetivo de promover a repressão total do tráfico e do consumo, priorizando as drogas ilegais. Tal posicionamento é inspirado nos princípios da conhecida guerra às drogas (waron drugs), elaborada inicialmente pelos americanos e que teve seu ápice na década de 80. Aparentemente, as políticas públicas para a redução do uso de drogas entre os adolescentes, na atualidade, não estão sendo eficazes. Provavelmente isso ocorra devido ao fato de poucas 19 dessas iniciativas terem em vista a individualidade do sujeito, o contexto social e cultural em que esses adolescentes estão imersos e a complexidade dos vários fatores envolvidos. A elaboração de ações que levem esses fatores em consideração é um dos grandes desafios para as políticas públicas que visem à prevenção dos comportamentos de risco entre os adolescentes, entre eles o consumo de drogas. Para tanto, é amplamente reconhecido que, dentre todas as instituições sociais, a escola e a família são as que provavelmente possuem maior influência na infância e na adolescência, sendo tomadas como elementos-chave em propostas de intervenção para essas faixas etárias. A articulação dessas instâncias torna-se fundamental para o sucesso de qualquer iniciativa ou política. Palavras-Chave: Adolescentes; Consumo de drogas; Políticas públicas. 20 AGENTES COMUNITÁRIOS E SAÚDE MENTAL NO TERRITÓRIO: UMA PROPOSTA DE MATRICIAMENTO E CORRESPONSABILIZAÇÃO SOCIAL Vanessa Santos Barbosa, Suely Aires, Antonia Vieira. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Santo Antônio de Jesus/BA. [email protected] O apoio matricial na saúde mental estrutura-se na perspectiva do cuidado compartilhado corresponsável entre este campo e a atenção básica. Ao destacar um campo comum de ação entre diferentes profissionais, o matriciamento possibilita a organização e divisão do trabalho em equipes interdisciplinares. Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) são indispensáveis nestas equipes por serem a principal ligação entre as comunidades e unidades de saúde. O presente trabalho tem por objetivo relatar a experiência de matriciamento desenvolvida por um grupo de aprendizagem do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde Rede de Atenção Psicossocial, Cuidados aos Usuários de Álcool, Crack e Outras Drogas (PET Saúde AD) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia; no município de Santo Antônio de Jesus BA, realizado por duas bolsistas PET e uma psicóloga do CAPS II, preceptora do programa. O objetivo geral da proposta desenvolvida é viabilizar uma aproximação entre atenção básica e saúde mental por meio do trabalho dos ACS. No período de abril de 2013 a abril de 2014 foram realizados 23 encontros com duração média de duas horas, contando com a participação de cerca de 90 diferentes ACS e os membros do PET Saúde anteriormente citados. Em um primeiro momento, buscou-se entender, partindo da perspectiva dos ACS, qual a relação entre saúde mental e atenção básica e identificar quais estratégias de aproximação estão disponíveis para estes profissionais. Adotando a metodologia participativa Roda de Conversa, os encontros foram momentos de escuta das situações ocorridas nos territórios de atuação dos agentes, considerando os desafios do trabalho em rede. Em um segundo momento, buscouse evidenciar os fatores facilitadores das práticas nas comunidades e construir formas de intervenção. As rodas de conversa revelaram que a falta de comunicação entre os serviços é uma das maiores dificuldades para o fortalecimento da rede integrada de cuidados em saúde mental. Identificou-se também a fragilidade e/ou ausência da corresponsabilização dos profissionais perante encaminhamentos. Visando uma maior articulação entre os serviços, foi realizado o I Fórum Municipal de Atenção à Saúde de Usuários de Álcool e Outras Drogas, 21 como evento integrador entre os ACS da cidade e principais atores sociais da rede de atenção psicossocial, tendo como finalidade quebrar estereótipos e repensar os métodos de inserção destes indivíduos nos serviços de saúde. Considera-se que a experiência desenvolvida contribuiu para uma valoração e percepção psicossocial de apoio matricial, entendendo que o processo de intervenção e cuidados pertence a todo o campo da saúde e que o trabalho multiprofissional de articulação produz corresponsabilidade social. Concluímos pela necessidade de desenvolver, no município de Santo Antônio de Jesus, novos caminhos para a prática integrada em saúde em conjunto com os ACS, UBS, ESF, CAPS II, CAPS AD e Hospitais a fim de atingir uma maior integração entre saúde mental e atenção básica. Palavras-chave: matriciamento; agentes comunitários de saúde; PET-Saúde; saúde mental; AGRESSIVIDADE E TIMIDEZ NO ÂMBITO ESCOLAR: BENEFÍCIOS DOS ENCONTROS LÚDICOS ÀS RELAÇÕES AFETIVAS. Camila Lucas Chaves Andreia Cristiane Silva Wiezzel FCT-Unesp, Presidente Prudente- SP [email protected] O projeto apresentado teve início no ano de 2009 e é desenvolvido sob o título Agressividade e timidez na escola, na FTC Unesp, campus de Presidente Prudente. O objetivo é realizar um trabalho em extensão e pesquisa para transformar as relações interpessoais no âmbito escolar. Foi concebido após constantes reclamações de professores com relação às condutas excessivamente agressivas de alguns alunos em sala de aula, assim como de crianças apáticas, tímidas, que não participavam das aulas e os deixavam preocupados com seu desenvolvimento e socialização. O projeto tem como base a pesquisa qualitativa e tem como instrumento de coleta de dados, entrevistas semiestruturadas com pais e professores das crianças envolvidas. Além disso, são realizados encontros lúdicos, em que um estagiário orientado pelo professor orientador do projeto, disponibiliza um espaço (no caso, a brinquedoteca da escola de educação infantil participante do projeto) e uma caixa com brinquedos que são previamente selecionados, na qual a criança pode escolher livremente com qual e como quer brincar. Os encontros realizados são registrados e repassados ao orientador que, posteriormente, realiza reuniões individuais para orientações e discussão dos dados apresentados nos relatos dos estagiários. Além disso, os professores recebem 22 orientações sobre formas de trabalho com essas crianças. Como o referido projeto é amplo, será apresentado aqui apenas um estudo de caso de uma criança trabalhada em 2013 e que apresentava conduta bastante agressiva em sala de aula, na concepção de sua professora. O referido aluno apresentou melhora significativa, apesar do curto período em que os encontros lúdicos foram realizados. À época, com cinco anos, Edward apresentava conduta em sala de aula marcada por ataques físicos e verbais aos alunos e professores. O ambiente escolar não era adequado para auxiliá-lo, em algumas situações a professora expunha o aluno frente aos demais e o culpava sobre o que acontecia dentro de sala de aula. Quanto à questão familiar, Edward vivia em um contexto cujas relações eram muito instáveis, conflituosas e agressivas. Durante as atividades lúdicas realizadas na brinquedoteca da escola ficou evidente a dificuldade que a criança apresentava em compreender a sua dinâmica familiar e reconhecer o seu lugar dentro deste processo. Demonstrava em suas brincadeiras instabilidade, insegurança, raiva, ambivalência e tensão. Sentimentos estes que puderam ser constatados, também, nos dados obtidos nas entrevistas realizadas com o professor e a mãe. Durante os encontros lúdicos, o garoto teve oportunidade de expressar e lidar com seus conflitos, medos, sentimentos e desejos que não poderiam ser realizados na vida real, mas que puderam ser realizados simbolicamente por meio das brincadeiras, tais como o desejo de desaparecimento de um irmão. Edward apresentou avanços e retrocessos durante os encontros lúdicos, porém, entendemos que isto faz parte deste processo. A professora, ao longo do período do desenvolvimento do projeto, relatou melhora nas condutas agressivas e nas relações dele com ela e com as outras crianças. Palavras- chave: Agressividade; Timidez; Crianças; Lúdico. 23 ANÁLISE DO CONHECIMENTO DOS PROFISSIONAIS DO NASF SOBRE A REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL PARA A CONSOLIDAÇÃO DE UMA REDE EFETIVA EM UM MUNICÍPIO DE MINAS GERAIS Nara Dos Santos Bruna Gonçalves Bruna Muniz Gusmão. Universidade Federal de Alfenas – Alfenas - MG [email protected] Em 2011, a rede de atenção psicossocial no SUS, foi implantada com intuito de unir ações e serviços de saúde, articulados em níveis de complexidade crescente e finalidade de garantir a integralidade da assistência à saúde. Com locais de atendimento para pessoas com transtornos mentais incluindo dependentes de álcool, crack e outras drogas, com a intenção de ampliar a assistência dessa população, proporcionando um atendimento de qualidade em todos os níveis de atenção. Para avaliar o nível de conhecimento dos profissionais que atuam diretamente na rede, foi realizada uma pesquisa, com o propósito de compreender o entendimento dos profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) sobre a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de um Município em Minas Gerais. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva, realizada em 2014 com os profissionais de duas equipes do NASF por meio de grupo focal, utilizando-se de três perguntas norteadoras que possibilitou trazer à tona as suas opiniões, vivencias e ideias. Para análise utilizou-se as categorias temáticas de Bardim. Quanto à compreensão sobre o conceito da RAPS, os participantes relataram como sendo um sistema único que possui dispositivos que deveriam ser interligados e com funcionamento de forma igualitária, atendendo os pacientes em todas as suas necessidades, sem discriminação. Em se tratando das dificuldades sobre o funcionamento da RAPS eles apontaram falta de efetivação na referência e contra-referência no âmbito da rede, em especial no nível secundário, escassez de resolutividade nas Unidades de Estratégia de Saúde da Família (ESF), dificuldades na sistematização da assistência, deficiências de integração entre os três níveis de atenção, falta de adesão nas atividades de grupoterapia e ausência de serviços de referência no período noturno, finais de semana e feriados. Trouxeram como possibilidade de progresso as seguintes sugestões: a implantação de um prontuário eletrônico, a educação 24 continuada para os profissionais que atuam diretamente com os portadores de transtornos mentais, padronização e divulgação de fluxograma de encaminhamento. Diante do exposto, considerase que foi possível reconhecer o conceito de RAPS na percepção dos profissionais do NASF, identificar alguns nós críticos no seu funcionamento bem como algumas possíveis soluções. Entretanto, o conceito de rede e suas interfaces devem ser ampliados. Assim, evidenciam-se novas possibilidades e necessidades que precisam ser tratadas na construção e efetivação da rede de atenção psicossocial no município em estudo, como educação permanente em saúde, propor estratégias que efetivem as articulações entre os diferentes instrumentos assistenciais, bem como promover a melhoria na acessibilidade, equidade e universalidade na assistência. Palavras-chave: saúde mental; drogas; NASF; RAPS. 25 ANÁLISE DO CONSUMO DE ÁLCOOL ENTRE ADOLESCENTES: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O ENSINO PRIVADO E PÚBLICO Carla Moretti De Souza Alessandro Rolim Scholze Edivaldo Cremer Maria José Quina Galdino Universidade Estadual do Norte do Paraná - Bandeirantes- PR [email protected] A adolescência é uma fase do desenvolvimento humano marcado por transformações que ocorrem no indivíduo, sejam elas biológicas, cognitivas, emocionais e sociais. Assim, o comportamento referente à experimentação precoce torna o adolescente suscetível ao desenvolvimento de problemas associados ao consumo de bebida alcoólica na vida adulta. Objetivo: Comparar o consumo de bebida alcoólica entre estudantes de instituições de ensino privado e público. Método: Trata-se de uma pesquisa de caráter quantitativo, descritivo e transversal, realizada em 10 instituições de ensino, sendo sete públicas e três privadas, situadas em um município do norte do Paraná. Participaram do estudo uma amostra de 311 alunos regularmente matriculados nos ensinos fundamental e médio destas instituições e com faixas etárias entre 12 e 18 anos. O critério de amostragem utilizado foi a estratificada simples para garantir a representatividade da população. Os dados foram coletados no período de outubro de 2011 a março de 2012, por meio de um questionário semiestruturado autoaplicável, adaptado de Galduróz et al. (2005). Foram adotados todos os parâmetros éticos estabelecidos pela resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde, incluindo aprovação em Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Norte do Paraná, sob o parecer número 026/2011. Resultados: A amostra se constituiu por 45,5% de adolescentes gênero masculino e 54,5% do feminino, sendo que a maioria possuía entre 12 e 15 anos de idade. Quanto ao local de moradia, 81,6% residiam na zona urbana. Ao analisar os tipos de instituições onde os estudantes estudavam, verificou-se que 90,3% estavam matriculados nas escolas públicas e 9,7% em instituições privadas. Quando questionados sobre a experimentação de bebida alcoólica, 82% da amostra total relataram já terem consumido, sendo que, 96,8% dos 26 estudantes das escolas privadas já experimentaram contra 77,6% das instituições públicas. Ao verificar a frequência do consumo no último mês, 44,3% consumiram de uma à três vezes no mês e 19,1% todo final de semana. A cerveja e o vinho foram às substâncias mais referidas como preferência de consumo entre os adolescentes. Quanto à idade da primeira experimentação, observou-se que nos alunos das escolas privadas aconteceu, principalmente dos 10 aos 15 anos, sendo que em 31,3% aconteceu aos 14 anos. Já nas escolas públicas, evidenciou-se que 19,2% dos adolescentes iniciaram aos 12 anos e 18,3% aos 10 anos. Conclusão: Assim, constatou-se que não houveram diferenças significativas no consumo de bebida alcoólica entre os estudantes de escolas privadas e públicas. Todavia, ressalta-se que a idade de experimentação entre os estudantes da pública foi mais precoce. Acredita-se que a implantação de medidas de proteção e ações de educação em saúde focadas na orientação e prevenção são essenciais, para que estes adolescentes sejam informados dos malefícios associados ao consumo abusivo e precoce da bebida alcoólica. Palavras-chave: Saúde do adolescente; Grupo de risco; Álcool; Estudantes. 27 ARTETERAPIA E PSICANÁLISE DE FAMÍLIA: UMA COMUNICAÇÃO PARA ALÉM DAS PALAVRAS Ricardo Da Silva Franco, Maíra Bonafé Sei Sandra Aparecida Serra Zanetti Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina- PR [email protected] Na abordagem psicanalítica, a família é compreendida como um grupo que contempla vínculos de aliança, filiação consanguíneos ou não, e laços fraternos. Esta rede está marcada por uma relação de interdependência entre seus membros, pois todos possuem papéis e funções influenciadores e interligados, cuja determinação é inconsciente. A proposta do atendimento familiar, nesse sentido, estaria justamente ligada à possibilidade de compreender estes mecanismos que garantem e organizam estas inter-relações. Todavia, deve-se apontar para a complexidade existente nesta modalidade de psicoterapia, especialmente diante de diversidade de modelos familiares na atualidade. Desse modo, o trabalho objetiva discutir o uso de recursos artísticos-expressivos em terapia familiar psicanalítica como ferramentas auxiliadoras para que o terapeuta possa conhecer e compreender melhor a história, o funcionamento e a dinâmica de cada família em tratamento. Tais recursos podem funcionar como objetos mobilizadores de processos psíquicos viabilizando o acesso ao material recalcado do grupo. Além disso, por se tratarem de recursos mediadores, oferecem a possibilidade de transformação, elaboração, do conteúdo ao qual se possibilita trabalhar pelo e com o grupo. Diante de tudo, o presente trabalho organiza-se como um estudo teóricoclínico, pautado na metodologia qualitativa em que se inicia com uma breve apresentação dos aspectos teóricos seguida de uma ilustração clínica: uma família acompanhada em um serviçoescola de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina, a partir do projeto de extensão nº 01619 “Atendimento psicológico a famílias por meio de recursos artísticos-expressivos com base no referencial winnicottiano”, cujo atendimento foi mediado pelo uso de recursos. De modo geral, a família referida era composta por cinco mulheres: duas meninas, a mãe, a tia e a avó. A mãe havia sido diagnosticada como bipolar, mas fazia uso de anti-psicóticos e a filha mais velha havia sido diagnosticada com TDAH. Sua tia teve a iniciativa de trazer a família na esperança de conseguir, nas palavras dela, um 28 diagnóstico correto, pois acreditava que sua sobrinha tivesse algo além do TDAH, citando a possibilidade de autismo. Nota-se, assim, que uma abordagem da família seria de fato o ideal para o grupo de maneira a não favorecer uma imobilização da mãe no lugar de paciente identificado, passando-o transgeracionalmente para a filha. De fronte a uma família complexa em termos de dinâmica e funcionamento, pois os lugares de cada uma naquele grupo não estavam bem definidos e delimitados, então, a utilização dos recursos artísticos-expressivos durante as sessões foram importantes ferramentas para uma melhor compreensão da organização de tal família. Com isso, compreende-se que este tipo de ferramenta, somado a uma proposta de atendimento que acolha a família como um todo no setting terapêutico, pode-se se configurar como uma proposta pertinente para o contexto da saúde mental. Palavras-chave: Família; Arte; Psicanálise; Caso Clínico. 29 AS CONTRIBUIÇÕES DO BRINCAR AO DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL DA CRIANÇA NA ESCOLA Andréia Cristiane Silva Wiezzel Unesp Presidente Prudente- SP [email protected] O resumo refere-se à pesquisa realizada desde o ano de 2008, envolvendo crianças de educação infantil que apresentem dificuldades nas interações sociais na escola. O projeto originou-se de queixas de professores com relação às crianças que praticavam agressões físicas e verbais exacerbadas em sala de aula, bem como aquelas tidas como excessivamente inibidas. O projeto foi concebido com o objetivo de contribuir para a qualidade das interações em sala de aula, buscando realizar ações que auxiliem a criança pequena. Conforme Winnicott (2005) crianças que manifestem agressividade no lar ou escola e que não tenham suas necessidades compreendidas e supridas, estão sujeitas a desenvolver a tendência antissocial e a delinquência. Por outro lado, a inibição pode levar, dentre outras dificuldades, à fobia social, portanto, o projeto tem um caráter preventivo. O projeto, de natureza qualitativa, é amparado na psicanálise winnnicottiana e tem como instrumentos de coleta de dados observações em salas de aula, entrevistas semiestruturadas com pais e professores das crianças envolvidas e encontros lúdicos. Quanto à intervenção na perspectiva de melhoria na qualidade das interações em sala de aula, utiliza-se o brincar e orientação aos professores e pais. Os estagiários realizam encontros lúdicos individuais com as crianças na brinquedoteca escolar uma vez por semana, com a duração de cinquenta minutos. As crianças escolhem os brinquedos e a forma como brincarão. Os dados obtidos por meio dos vários instrumentos utilizados são cotejados e interpretados e, a partir dos resultados, são elaborados os encontros com os professores e pais. Até o momento trabalhou-se com 52 crianças entre quatro e seis anos, constituindo tal grupo 37 crianças que manifestam agressividade e 15 tidas como inibidas socialmente. Apesar da disponibilização de apoio aos pais, estes, em geral, não o solicitam. Os professores participam das reuniões junto à coordenação do projeto, de forma a se mobilizarem a construir um tipo de interação mais adequada aos alunos. Os conteúdos evidenciados no brincar da maioria dessas crianças estão relacionados à insegurança, frustrações, angústias, medos diversos, conflitos triviais ao próprio desenvolvimento emocional, e, sobretudo, experiências mal elaboradas ou não compreendidas em suas relações parentais ou entre os progenitores. No decorrer dos encontros lúdicos, a partir do segundo mês, já se observam evoluções na forma como as crianças se posicionam diante de 30 alguns conflitos ou dificuldades expressas inicialmente. Ao mesmo tempo os professores relatam transformações positivas nas crianças em sala de aula, afirmando que, ao retornarem dos encontros lúdicos, já agem de forma diferenciada: as agressões físicas e verbais diminuem consideravelmente (mostrando-se mais tolerantes), e as crianças inibidas demonstram estar mais à vontade nas interações com o grupo. Tendo em conta tais resultados, conclui-se que o brincar constitui possibilidade que permite a investigação de estados emocionais bem como a intervenção preventiva na escola, atuando de forma benéfica ao desenvolvimento emocional da criança, possibilitando a ressignificação de suas experiências. Palavras-chave: brincar; agressividade; inibição escola. 31 CAPACITAÇÃO PARA O TRABALHO EM SAÚDE MENTAL: PESQUISA PRÉEXPERIMENTAL PARA A ANÁLISE DA EFICÁCIA DO TREINAMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS Edlei Timbó Passos Iagê Lage Donato Fábio Biasotto Feitosa Porto Velho- RO [email protected] m A capacitação profissional em saúde mental é uma temática rica e ainda há lacunas nas pesquisas sobre qual o melhor modelo para a capacitação de profissionais atuantes no campo de saúde mental. Neste contexto, o Treinamento de Habilidades Sociais (THS) é uma das abordagens mais atualizadas da ciência psicológica, e diversos autores vêm estudando e comprovando sua eficácia como ferramenta de capacitação para profissionais de diversas áreas, incluindo os de saúde. O THS visa promover o repertório de habilidades sociais com objetivo de promover uma melhor competência social e, por consequência, a percepção de melhoria nas relações interpessoais e qualidade de vida. A função do profissional da saúde mental demanda comportamentos socialmente habilidosos, devendo tal capacitação ocorrer ainda durante sua formação acadêmica. O intuito desta pesquisa foi avaliar se o THS é eficaz no desenvolvimento das competências comportamentais e promoção de habilidades sociais profissionais como: a empatia, o trabalho em grupo, a comunicação e assertividade. O público alvo da pesquisa foi formado por graduandos em saúde que irão lidar diretamente com o atendimento em saúde mental, mais especificamente com pacientes depressivos. O delineamento de pesquisa utilizado foi o pré-experimental com análise de dados qualitativos e quantitativos. Participaram do treinamento sete acadêmicos de uma Universidade Pública em Porto Velho- RO, sendo seis alunos de psicologia e um de educação física, contabilizando seis do sexo feminino e um do masculino, com média de idade de 21 anos. O repertório de habilidades sociais dos participantes foi avaliado por meio do Inventário de Habilidades Sociais (IHS-Del-Prette) aplicado antes e depois do treinamento e, para análise dos dados qualitativos, foram utilizadas entrevistas semiestruturadas, observações, registros das atividades e feedback dos participantes sobre o desempenho individual e coletivo. O modelo vivencial 32 utilizado no treinamento foi adaptado do livro “Psicologia das Relações Interpessoais: vivências para o trabalho em grupo” (DEL PRETTE e DEL PRETTE). Realizaram-se 16 sessões de treinamento, duas vezes por semana, com uma hora e meia de duração cada. Na avaliação dos dados quantitativos, foi constatada a elevação do escore total do IHS em seis dos sete participantes, contudo, apenas dois participantes tiveram mudança na classificação clínica do repertório de habilidades sociais, um passou de repertório deficitário para bom repertório (inferior à mediana) e o outro de deficitário no início para repertório bastante elaborado na avaliação final. Um dos acadêmicos apresentou percepção de decréscimo em seu repertório de habilidades sociais, fato que pode estar associado a sua auto percepção e alteração de sua autocritica pessoal. Na análise qualitativa observamos relatos de melhora na qualidade de vida, e auto eficácia profissional/acadêmica. Conclui-se que o THS foi efetivo na promoção do repertório de habilidades sociais, e estas foram vistas como fundamentais para uma maior segurança em relação ao futuro desempenho profissional frente ao tratamento de pessoas com sofrimento psíquico e transtornos mentais. Palavras-chave: Saúde Mental; Capacitação; Treinamento de Habilidades Sociais; Vivencias. 33 CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS DOS USUÁRIOS DE DOIS CAPS-AD DE UM MUNICÍPIO DE RIO GRANDE DO NORTE Patricia Elizabeth Sanz De Alvarez João Carlos Alchieri Agência financiadora: CAPES [email protected] m O modelo de atenção às pessoas com uso abusivo de substâncias psicoativas no Brasil é um modelo de intervenção psicossocial oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), oriundo da crise do modelo hospitalocêntrico e da reivindicação dos direitos dos usuários que permaneceram relegados durante muitos anos. O redirecionamento do modelo de atenção e as mudanças nas perspectivas do cuidado surgem do processo de reforma psiquiátrica, no marco histórico de recuperação da vida democrática no país. Por serem considerados substitutivos do modelo manicomial, cabe aos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas - CAPS AD - a responsabilidade de produzir e implantar novos dispositivos de cuidados através de uma equipe interdisciplinar. Contudo, poucas são as informações quanto ao perfil dos usuários disponíveis nos serviços para embasar o planejamento das suas práticas. O objetivo deste trabalho é apresentar dados parciais de uma pesquisa sobre a adesão ao tratamento, que estuda o perfil epidemiológico, as percepções e as expectativas de pacientes atendidos nos CAPS de um município no Rio Grande do Norte. A investigação foi aprovada pelo Comitê de Ética. Os dados apresentados se referem ao perfil sociodemográfico dos usuários de dois dos quatro CAPS da cidade, identificados como estratos 3 e 4, pertencentes as regiões norte e leste da cidade. A amostra aleatória estratificada nos estratos 3 e 4 respectivamente (n=74 / n=42), foi selecionada a partir do universo de prontuários (N=142 / N=80) de pacientes atendidos durante o mês de março de 2014. Os dados foram tabulados e analisados em planilhas eletrônicas. Em relação ao sexo se observou maioria masculina, estrato 3 (93%) e estrato 4 (85%). O estado civil a maioria de solteiros 47% no estrato 3 e 38% no estrato 4 com um média de 2 filhos. Sobre a faixa etária a maioria corresponde a 41 a 50 anos (35% no estrato 3 e 54% no estrato 4). A escolaridade predominante no estrato 3 é o ensino médio completo (32%) em no estrato 4 o ensino fundamental completo (54%). Em relação à inserção no 34 mercado de trabalho no estrato 3 a maioria (50%) não está trabalhando e no estrato 4 a maioria trabalha (54%). Com relação ao salário, a maioria (96%) não apresentou registros no estrato 3 e 41% no estrato 4. As profissões prevalentes no estrato 3 destaca-se o rubro da construção (23%) e serviços (20%) e no estrato 4 destaca-se a construção (23%) e limpeza pública (18%). Verificam-se prevalências semelhantes no perfil sociodemográfico dos usuários de ambos os estratos na variável sexo, estado civil e faixa etária, resultados coincidentes com pesquisas realizadas em outros municípios. A divergência nos resultados, identificada entre os estratos na variável escolaridade, inserção no mercado de trabalho e profissão podem caracterizar as diversas situações associadas à desigualdade social presentes nas duas regiões do município. 35 CARTOGRAFIAS DOS SENTIDOS HISTÓRICOS DA ASSISTÊNCIA E DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA: DA PRIMERIA REPÚBLICA AOS DIAS ATUAIS Eneida Santiago Silvio Yasui Universidade Estadual de Londrina - UEL [email protected] A apreciação do projeto legislativo brasileiro em suas leis específicas sobre a doença e a saúde mental permite o delineamento de alguns questionamentos que poderiam suscitar diferentes reflexões sobre o objeto doença, e o sujeito doente a partir de seus retratos na legislação e nas políticas públicas de saúde mental brasileira: quem detém o saber sobre a loucura? A quem, ou a quais grupos, fica a vestimenta de detenção factual sobre o discurso científico de toda verdade sobre o padecimento e os padecidos mentalmente? De que elementos esses discursos são compostos? Quais objetivos esses discursos se propõem a alcançar? A posse dos ditames sobre a doença mental autoriza a seu detentor a uma privilegiada posição de perito do poder normalizador ao definir e guiar o lugar, os limites, as potencialidades e as intervenções cabíveis e possíveis aos desafortunados. A análise da primeira lei brasileira de assistência aos alienados (Decreto Lei 1.132, de 1903), bem como sua posterior (Decreto Lei 24.559, de 1934) são exemplos significativos disso. Desta forma, este estudo cartografou o projeto legislativo brasileiro de saúde mental. Os resultados coletados ao longo do processo demonstram que as legislações e políticas públicas são pautadas, atravessadas e constituídas pela história, não havendo unidade discursiva política fora de uma conjuntura histórica e social. No universo legal e político da atenção em saúde mental no Brasil, os discursos históricos sobre a assistência, e posterior atenção em saúde mental podem ser organizados em duas frentes díspares: uma anterior à Reforma Psiquiátrica, outra posterior. São características da legislação antes do movimento da Reforma Psiquiátrica: esta legislação de assistência psiquiátrica estava a serviço do objetivo de medicalizar a loucura e o louco, inclusive em sua inserção no social; o foco não era o tratamento ou a cura, mas a moralização com significativo esforço para a contenção dos desvios e dos desviantes sem discussões ou conceituações sobre a doença mental ou o tratamento aos acometidos. São exemplos as legislações de 1903 e de 1934. A partir do final da década de 1980, a legislação e as políticas públicas de saúde mental, em oposição, evidenciam que com a constituição do SUS, e a 36 aprovação da Lei 10.116, até as políticas atualmente em vigor, o olhar e o entendimento éticopolítico quanto ao sofrimento psíquico se ampliaram; desses momentos em diante, o doente mental, submetido a saberes legalmente amparados e institucionalmente estabelecidos, foi reposicionado terminologicamente como em uma existência-sofrimento; juridicamente, a descoberta da vida que acontecia no fora da arquitetura física da instituição psiquiátrica colocou o desafio de saltar a arquitetura simbólica da loucura; a descoberta do território comunitário em práticas e equipamentos de cuidado e atenção extra-hospitalares foi estratégico no processo de reversão do modelo de institucionalização da loucura, antes hegemônico. Palavras-chave: Saúde Mental; Saúde Coletiva; Políticas Públicas. Atenção Psicossocial. 37 DESAFIOS ENFRENTADOS NO PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO DE ADOLESCENTES USUÁRIOS DE DROGAS EM CONFLITO COM A LEI Ana Priscila Da Silva Teixeira Andrea Donatti Gallassi Samambaia-DF [email protected] m A adolescência é uma fase especial do desenvolvimento humano que ocorre em meio às transações afetivas, relacionais, sociocognitivas, sexuais, identitárias e normativas, de lutos e desilusões, de prazer e gozo e de transgressão, visto isso, este trabalho apresenta e discute os desafios enfrentados no processo de ressocialização de adolescentes em conflito com a lei e usuários de drogas do Distrito Federal. Trata-se de um estudo do tipo descritivo, observacional e de intervenção, feito por meio de revisão da literatura sobre a abordagem de adolescentes usuários de drogas em conflito com a lei, e a partir de vivência em um serviço especializado no atendimento desta população da rede pública do Distrito Federal. De acordo com os artigos pesquisados e a vivência no serviço especializado, foi possível constatar que estas instituições ainda não cumprem devidamente o seu papel de ressocialização e promoção de um ambiente que proteja, eduque e garanta os direitos específicos destes adolescentes. Dessa forma, o incentivo à formação de redes de apoio entre saúde, educação e as instituições socioeducativas pode ser um caminho para viabilizar a proposta de ressocialização e promoção da saúde dos adolescentes em conflito com a lei, com o destaque de que as ações devem ultrapassar os muros das unidades de saúde e instituições socioeducativas e atingir um contexto histórico, social, cultural, político e econômico dos indivíduos e coletividades. Palavras-chave: Adolescente; conflito com a lei; uso de droga; ressocialização. DOENÇAS DITAS PSICOSSOMÁTICAS: ENTRE O SABER MÉDICO E A PSICANÁLISE Ricardo Brandel Junior Universidade Estadual de Londrina - UEL 38 Valéria de Araújo Elias Hospital das Clinicas da Universidade Estadual de Londrina [email protected] O objetivo do presente trabalho é apresentar as contribuições da psicanálise de Freud e Lacan sobre os fenômenos psicossomáticos. Também visa discutir os desdobramentos do discurso médico na clínica dos fenômenos psicossomáticos. Tais fenômenos, tanto na clínica médica, quanto na clínica psicanalítica, são considerados complexos, de difícil compreensão e manejo. Essas doenças invadem o corpo do sujeito, afetando seus órgãos e sistemas. A medicina, quando ancorada no positivismo, opera sobre este corpo afetado, corpo dessubjetivado, subtraído de sua dimensão de sujeito. O tratamento consiste não em uma escuta dos sintomas, mas em uma categorização destes, a fim de que um diagnóstico seja estabelecido. Nesta perspectiva, o saber sobre o corpo, para além da biologia, é negado (FONSECA, 2007). No contexto hospitalar, no qual praticantes da psicanálise, cada vez mais ocupam seu espaço, muitos pacientes chegam ao nosso serviço encaminhados com diagnóstico de doença psicossomática. Nesse sentido, é preciso retificar subjetivamente o que inicialmente nos chega como um encaminhamento médico e não como uma demanda analítica, para que possamos operar desde o campo da psicanálise. Pois se por um lado nos deparamos com um sujeito que busca algo que dê sentido à sua queixa, por outro há a medicina que opera nesta direção, com os diagnósticos e tratamentos medicamentosos, que põe fim ao sofrimento e às questões levantadas pelas doenças. Neste ponto, mais desafios se impõem à prática analítica: como operar sobre os sintomas se a ‘cultura medicamentosa’ tampona a angústia produzida por estes, angústia que serve de matéria prima para o trabalho do analista, na medida em que, a partir dela é possível produzir um saber (singular) sobre o sofrimento do sujeito? E como operar sobre os fenômenos psicossomáticos, visto que, como depreendemos do ensino de Lacan, são fenômenos que estão mais próximos do real e que, portanto, não fazem enigma para o sujeito e chegam até nós carregados de significação? Palavras-chave: Fenômeno Psicossomático; Discurso do mestre; Clínica Psicanalítica; Instituição. 39 41 ESCALA DE OBSERVAÇÃO DA INTERAÇÃO ENFERMEIRO-CLIENTE: CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO Sueli de Carvalho Vilela Luiz Jorge Pedrão Ana Maria Pimenta Carvalho UNIFAL- Alfenas/MG [email protected] As relações interpessoais terapêuticas são de suma importância no exercício da enfermagem. Conceitua-as como sendo a relação em que pelo menos uma das partes, procura promover no outro o crescimento, o desenvolvimento, a maturidade, um melhor funcionamento e uma maior capacidade de enfrentar a vida (Rigol, 2001), tendo como atitudes facilitadoras a consideração positiva incondicional, a empática e a congruência (Rogers, 2011). Além da importância mencionada acrescenta-se a escassez de instrumentos para avaliá-la na literatura brasileira justificando o estudo. Este estudo traz como objetivos construir uma escala de observação da relação interpessoal entre enfermeiro-cliente à luz da Abordagem Centrada na Pessoa; e, realizar a análise exploratória da dimensionalidade e fidedignidade dessa escala. Trata-se de um estudo metodológico centrado no desenvolvimento e validação de instrumento de avaliação. Utilizou como referencial teórico a Abordagem Centrada na Pessoa (Rogers, 2011) e referencial metodológico a psicometria, envolvendo os polos teórico, empírico e analítico (Pasquali, 2010). Na análise semântica e de construto utilizou-se da estatística descritiva e análise de conteúdo. Na análise exploratória avaliou-se a fidedignidade, a dimensionalidade e reprodutividade utilizando a análise fatorial, alfa de Cronbach, teste de Bartlett e o Kappa. Considerou-se nível de significância de 5%. O projeto foi aprovado com protocolo 103/2010 CEP-UNIFAL-MG. Como resultados no polo teórico os construtos e atributos de Consideração Positiva Incondicional, Atitude Empática e Congruência foram definidos. Construiu-se 49 itens usando análise de literatura e entrevista. Realizado análise semântica e de construto, ficando o instrumento piloto com 21, 18 e 8 itens respectivamente, totalizando-se 47 itens. No polo empírico, a escala foi desenvolvida para a observação de comportamentos de enfermeiros, em situações de interações interpessoais, podendo ser usada na acadêmica ou em pesquisas. Quanto ao formato, os itens estão descritos em afirmativas, positivos e negativos, tipo Likert, variando numa sequência progressiva de cinco pontos. No polo analítico, após analise exploratória da fidedignidade avaliando a consistência interna e da dimensionalidade e a adotou-se o modelo de três sub-escalas independente e interelacionadas, cada uma com dois fatores, totalizada em 36 itens. O teste de reprodutividade da escala confirmando a necessidade de fineza discriminativa. Conclui-se que, diante da operacionalização desenvolvida na elaboração e exploração desta escala de observação da interação, ela poderá ser utilizada na educação, na pesquisa e na assistência de enfermagem, pelos bons resultados estatísticos. Cabe ter cautela na interpretação dos domínios dois e três da subescala congruência pela correlação menor que 0,30, considerada fraca. Sugerem-se novos estudos que auxiliem a determinar o ponto de corte para seus escores bem como para a análise da dificuldade do item e do atributo, discriminação, viés de resposta e Teoria de Resposta ao Item (TRI). Palavras-chave: Relação interpessoal, Abordagem centrada na pessoa, Enfermagem, Psicometria. 41 EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO CURRICULAR EM PSICOLOGIA NO CAPS AD DE CUIABÁ: CONTRIBUIÇÕES NA FORMAÇÃO EM SAÚDE MENTAL Maria Fernanda Aguilar Lara; Henrique Araujo Aragusu Veline Filomena Simioni Silva Renata Costa Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá-MT [email protected] A reforma psiquiátrica ocorrida no Brasil surgiu como uma resposta ao movimento antimanicomial que tinha como pauta central o fim dos hospitais psiquiátricos, visando uma mudança na própria percepção de loucura e consequentemente nos tratamentos destinados à ela. Hoje a reforma psiquiátrica, ainda que se paute em um modelo assistencial, busca a implantação de modelos substitutivos ao modelo manicomial. Estes modelos substitutivos, dentre eles os CAPS, ainda não se consolidaram, pois ainda não romperam totalmente com o modelo asilar, o que não diminui a importância dos mesmos em ser a possibilidade concreta de superação do modelo manicomial (KANTORSKI; SOUZA; WETZEL,2008). Os CAPS são instituições destinadas a acolher os pacientes com transtornos mentais, estimular a reinserção social dos usuários e proporcionar bases na busca de autonomia do sujeito. Pautam-se na formulação de ações dirigidas aos familiares e no comprometimento com a construção dos projetos de inserção social. São a principal estratégia da reforma psiquiátrica, que visa contrapor o modelo manicomial de tratamento da saúde mental, e busca substituir o modelo hospitalocêntrico, evitando as internações e favorecendo o exercício da cidadania e da inclusão social dos usuários e de suas famílias (AMARANTE, 2007; PAIM, 2009). O objetivo do presente trabalho é relatar um pouco da experiência vivenciada nas aulas em campo do Estágio Básico IV Contextos Clínicos e de Saúde realizadas no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS-AD) de Cuiabá-MT, na graduação em Psicologia. Neste percalço, utilizou-se de observação participante, entrevistas semiestruturadas e análise documental. Para análise dos dados foi realizada a leitura das leis e portarias que regulamentam o funcionamento dos CAPS e do SUS, e da política nacional de álcool e drogas. O estágio básico pode ser entendido como uma etapa do processo de ensino-aprendizagem em Psicologia que se dedica ao desenvolvimento da capacidade de articulação entre teoria e prática e que busca a inserção do aluno em campo a fim de possibilitar que este realize uma leitura contextualizada da realidade observada, identifique demandas e possibilidades de ação de 42 cunho transformador. O CAPS-ad de Cuiabá-MT, que foi fundado em 1998 com a finalidade de atender os dependentes químicos, articular ações do campo de saúde mental, buscar a integração do sujeito à sua comunidade e, se respaldando na ótica da política de redução de danos, vem até hoje desenvolvendo um papel fundamental no âmbito da saúde mental na cidade de Cuiabá. Durante o estágio percebemos a importância do trabalho desenvolvido pelo CAPS-ad, que pautado na proposta da perspectiva da redução de danos, propõe um novo modelo de atendimento aos problemas decorrentes do uso abusivo de psicoativos, longe dos modelos proibicionistas e manicomiais (PETUCO, 2011). Notamos que ainda há muitos obstáculos a serem superados como a precarização da saúde, o comprometimento político por parte dos profissionais, superação da visão de saúde apenas centrada na doença, a formulação de estratégias de transformação social, e principalmente a necessidade de um trabalho integrado entre todas as unidades, atendendo ao princípio de integralidade do SUS. Palavras-chave: Saúde Mental; CAPSAD, Redução de danos; Formação. 43 FALANDO SOBRE SEXUALIDADE EM UM SERVIÇO DE SAÚDE MENTAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA Paulo Ricardo Camelo Bandeira Barros Camila Soares Patrícia Aline de Almeida Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP [email protected] A questão central desse estudo discorre sobre um campo pouco explorado pela maior parte dos profissionais de saúde: a abordagem da sexualidade do portador de transtorno mental. Esse assunto geralmente não é contemplado nos currículos de graduação desses profissionais e os serviços de saúde mental de forma geral não dispõem de programas que abordem essa temática de forma simples e direta. Miranda e Furegato (2004 apud BRITO; OLIVEIRA, 2009, p. 247) se referem ao preconceito manifesto sobre a sexualidade do doente mental como parte de um mascaramento social ou uma negação maior e espúria. A negação, repetida no contexto institucional e profissional, simula um fragmento da sociedade. Os mesmos autores falam que a imagem corporal do doente mental, na conjuntura da instituição, pode ser descrita como um corpo despojado de beleza e de vigor físico confirmando assim, a negação de um sujeito sexualmente desejável e desejante. Sobre os aspectos físicos desses indivíduos advém o preconceito por não se reconhecer, no contexto institucional, o corpo jovem, funcional, útil e desejado. Objetivo: descrever a experiência de coordenação de um grupo temático sobre saúde com a proposta de discussão de conteúdos relacionados à sexualidade. Metodologia: relato de experiência desenvolvido em um Centro de Atenção Psicossocial II vinculado a uma Universidade Federal no município de São Paulo. A amostra foi constituída por uma média de 15 usuários adultos, de ambos os sexos, na faixa etária de 20 a 56 anos e portadores de diversos transtornos mentais. Resultados e discussão: a temática sobre sexualidade foi abordada em um grupo de saúde coordenado por uma equipe multiprofissional e a motivação para discussão se deu a partir da observação de dúvidas, receios e crenças apresentados pelos usuários no cotidiano do serviço. Foram realizados 04 encontros distribuídos em três meses com discussão aberta e utilização de recursos de ensino como folders, cartazes, cartilhas e distribuição de preservativos ao final dos encontros. Além disso, foram desenvolvidas atividades práticas com instrução sobre a adequada colocação de preservativos femininos e masculinos e a participação de convidados especialistas. Os usuários se mostraram participativos e interessados, e conseguiram estabelecer uma rica troca de experiências e informações durante as discussões em grupo. Considerações finais: enquanto 44 coordenadores observamos que essa temática é pouco abordada com os usuários no contexto dos serviços de saúde mental, e que a experiência trouxe a oportunidade de acessar assuntos relacionados a sexualidade desses indivíduos que ainda não é percebida como uma necessidade humana básica. Os profissionais de saúde devem estar preparados para abordar questões relacionadas à sexualidade dessa população nos diversos cenários do cuidado, e através de atividades educativas, instruir a população sobre esse assunto cercado por tantos mitos, tabus e preconceitos. Palavras-chave: sexualidade; transtornos mentais; psiquiatria e grupos de encontro. 45 FALTA DE PERSPECTIVAS E PLANOS PARA O FUTURO DE USUÁRIOS EM UM CAPSad : RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UMA ATIVIDADE DE INTERVENÇÃO Maria Carolina Lins Da Silva Isabelle Louise Pino de Lima Grayce Kelle da Silva Araújo Maria Cícera dos Santos Albuquerque Universidade Federal de Alagoas/ Maceió- AL [email protected] Ao falar sobre o uso de drogas atualmente, nos remontamos às questões diretamente ligadas ao campo da saúde, família e relações sociais. De acordo com a Política de atenção integral de usuários de álcool e outras drogas, o conjunto formado por profissionais, familiares, organizações governamentais e não-governamentais, nas suas diferentes responsabilidades e apoiando-se mutuamente em benefício aos usuários, é de extrema importância para o processo de reabilitação do dependente químico. Através da articulação em redes criam-se possibilidades de acessos variados, acolhimento, encaminhamentos, prevenção, tratamentos, reconstrução de existências, dessa forma se efetivam alternativas para o enfrentamento ao uso das drogas. O presente trabalho objetiva relatar as vivências de estudantes do grupo Rede de Atenção Psicossocial vinculado ao Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET)/Rede de Atenção à Saúde, junto aos usuários assistidos num Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPSad), cujo enfoques foram as perspectivas e planos para o futuro destes usuários. Salientou-se a importância do planejamento pós-CAPSad, em que se identificou possíveis receios e medos do futuro e incentivá-los a uma reflexão introspectiva sobre a condução de suas próprias vidas. Utilizou-se a metodologia de abordagem qualitativa, exploratória, adotou-se o procedimento da participação em grupo terapêutico cujo tema foi a espiritualidade correspondente ao momento em que os usuários encontravam-se em relação a sua a fé e a esperança como aspectos importantes para a reabilitação, e planos futuros pós tratamento. Participaram do grupo 15 usuários do CAPSad. Adotou-se a política de atenção integral aos usuários de álcool e outras drogas para subsidiar teoricamente este trabalho. A partir das observações no grupo terapêutico, percebeu-se a necessidade dos usuários na elaboração de planos para o término do tratamento e foi decidido intervir nesta realidade por meio de uma roda de conversa dividida em três momentos: primeiro, discursão sobre os planos traçados para o futuro com o objetivo de incentivá-los a compartilhar para o grupo seus planos pós CAPSad ao tempo em que foram conduzidos para 46 elaboração de um planejamento individual durante o período de reabilitação. Segundo, elaborar metas pós CAPSad, escrevendo no papel cinco metas que poderiam ser realizadas no vigente ano. E terceiro, levá-los a uma reflexão em relação a própria vida e os caminhos que eles estão traçando em busca da reabilitação e reinserção social, para isso foi apresentado um vídeo motivacional. Concluiu-se que para os usuários alguns aspectos são de extrema importância para que alcancem seus planos em busca da reabilitação da dependência química, são eles: A família quando esta desenvolveu a capacidade de escutar, incentivar, acolher e apoiar, a vida profissional trabalho/estudos quando acessível e o usuário decide e consegue permanecer nestes espaços, rompimento com velhas amizades que conduzem a recaídas e a construção de novas amizades com pessoas não usuária de drogas ou aquelas que conseguiram abstinência.. A Reabilitação usuário dependerá de como a reinserção social será trabalhada, enfrentada e assumida por todos os envolvidos nesse processo: profissionais, egressos e familiares. Palavras-chave: Álcool e outras drogas; CAPSad; dependência química ; reabilitação “OFICINA DA PALAVRA” – CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS EM UM CAPSAD Fernanda Carla de Moraes Augusto Elieni Cristina da Silva Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas Vila Clementina São José do Rio Preto/SP [email protected] Este trabalho pretende apresentar e trocar experiências sobre uma oficina terapêutica realizada em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas da cidade de São José do Rio Preto/SP. A “Oficina da Palavra” acontece semanalmente, com uma hora e meia de duração, há cerca de dois anos, articulada por psicóloga da instituição. Existe uma variação no número de participantes, alguns bastante assíduos e outros eventuais, geralmente em torno de 4 a 8 por encontro. A proposta consiste na leitura de textos coletivamente, como fábulas, contos, crônicas, poesias, utilizados como disparadores de reflexões e discussões. Os materiais utilizados são livros, textos impressos, aparelhos de som, e há o incentivo aos participantes de trazerem leituras de seu gosto para serem compartilhadas com o grupo (inclusive de jornais, revistas, folhetos, músicas). Já foram produzidas algumas obras, na interação desta com a “Oficina de Artes”, e construiu-se coletivamente uma fábula, a partir de uma história vivenciada e contada por um dos usuários. É constante o resgate de memórias, de histórias de vida, trocas de conhecimentos, de experiências, reflexões sobre as mudanças ao longo do tempo. Com o amplo potencial que uma oficina terapêutica possui, a proposta é múltipla, atravessando formas de acesso e incentivo à cultura e literatura; à contação, construção e 47 reconstrução de histórias; expressão de ideias, sentimentos, criatividade, imaginação, desconstrução de preconceitos, ampliação de referências, (re)significação da vida por meio da arte e das trocas coletivas possibilitadas pelas interações sociais. O caráter terapêutico da oficina também reside na possibilidade de criação de laço social que ela enseja e no favorecimento do acesso a recursos simbólicos através da palavra, rompendo de certo modo com o padrão imediatista associado ao modelo atual de sociedade de consumo, no bojo da qual o uso de substâncias tornou-se um problema de saúde pública. A Oficina da Palavra permite ainda a construção de um novo lugar subjetivo para aqueles que muitas vezes chegam ao serviço maciçamente identificados com o uso de substâncias e o estigma a ele associado. Palavras-chave: Atenção Psicossocial; Álcool e Drogas; Oficina Terapêutica; Literatura. “PASSEIO CULTURAL” EM UM CAPSAD – MOVIMENTAÇÕES E INTERVENÇÕES PELO TERRITÓRIO. Fernanda Carla De Moraes Augusto Instituição: Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas Vila Clementina São José do Rio Preto/SP [email protected] Este trabalho pretende apresentar algumas ações desenvolvidas em um CAPSad da cidade de São José do Rio Preto, visando a reinserção sociocultural, reabilitação psicossocial, promoção de saúde, de autonomia e de cidadania dos usuários do serviço. Este CAPS tem promovido o que chama de Passeio Cultural, eventos em que os usuários são convidados a participarem de atividades culturais ou de lazer que estiverem ocorrendo no município, em instituições públicas ou privadas que estejam abertas à visitação gratuita. São feitas visitas a exposições de artes, teatro, biblioteca municipal, museu, centros esportivos, entre outros que possam interessar. Os passeios ocorrem com frequência variada, de acordo com programações culturais da cidade e conforme disponibilidade do serviço, sendo, em geral, mensal ou bimestral. O transporte geralmente é fornecido pela Secretaria da Educação ou Secretaria de Esportes e Lazer, e quando não é possível, é utilizado o transporte público. A intenção é promover uma reapropriação de espaços coletivos, de convívio e trocas socioculturais, ampliação de referências no território, criação de novos sentidos, de novas dimensões de vida, de novas possibilidades de ação e interação com o meio, de novas noções de pertencimento, ressignificação do lugar social que o usuário se percebe e que vem a ocupar. Este lugar social geralmente é marginalizado, desqualificado e estigmatizado, o que reafirma e sustenta a dinâmica de vida estabelecida, por vezes esvaziada, esgotada, com fragilidade ou ausência de vínculos estáveis, o que traz a necessidade de produção de rupturas nesse contexto, tanto na vivência do usuário, em seu processo de subjetivação, como na intervenção no meio 48 sociocultural. Essa intervenção, que consiste no processo intrínseco de dar visibilidade à temática de drogas nesses espaços, sob perspectivas diferenciadas das habituais, promove possibilidades de questionamentos de preconceitos e discriminação, desconstrução de certos valores sociais rígidos e enraizados, tendo em vista uma abertura a um novo olhar sobre o sujeito, como um cidadão de direitos e com amplo potencial de vida. Um dos principais objetivos desta proposta é que os usuários passem a ocupar esses espaços sociais de forma autônoma, que isso passe a fazer parte de seu cotidiano e de sua família e amigos. Esse projeto do CAPS, juntamente com a elaboração de eventos para o mês da Luta Antimanicomial, desencadearam a promoção de uma exposição das obras construídas nas Oficinas Terapêuticas deste e de outros CAPS da cidade, no espaço da Biblioteca Municipal, pelo período de duas semanas. A ideia foi colocada e discutida em Assembleia de Usuários do CAPSad. O trabalho com a dimensão sociocultural da Atenção Psicossocial é de fundamental importância na construção de uma nova lógica de cuidado em Saúde Mental, e de novos valores sociais, que permitam espaços e diálogos com a diferença, por uma sociedade sem manicômios, sem exclusão. Palavras-chave: Atenção Psicossocial; Álcool e Drogas; reinserção sociocultural; autonomia e cidadania. 49 GRUPO INTERVENÇÃO EM CRISE: UM DISPOSITIVO DE CUIDADO NAS NEUROSES GRAVES Alcir Roque Ribeiro Júnior Camila Pappiani Prefeitura Municipal de Jaraguá do Sul, Saúde Mental – Caps II [email protected] Este trabalho descreve a experiência do grupo de intervenção em crise, um grupo psicoterapêutico realizado no CAPS II de Jaraguá do Sul-SC desde 2012. Existem dois grupos de intervenção em crise, com aproximadamente 10 participantes em cada grupo. Os grupos ocorrem semanalmente, com duração aproximada de 1 hora. O grupo de intervenção em crise tem por objetivo oferecer acolhimento aos participantes, troca de experiências e suporte emocional. Os participantes são selecionados por profissionais do CAPS II na formulação de seu projeto terapêutico singular, quando relatam sofrimento relacionado à ideação suicida, depressão, luto ou ansiedade. A participação é totalmente voluntária e não coercitiva. O grupo é aberto, ou seja, podem iniciar novos participantes a qualquer momento, assim como algumas altas também são dadas conforme a melhora e estabilização do quadro de sofrimento. As intervenções do terapeuta geralmente são dirigidas ao grupo, e não a um participante em particular. O conflito trazido por um sujeito é utilizado para a discussão no grupo, finalizando com o feedback do terapeuta. Em algumas sessões o terapeuta utiliza textos sobre uma situação-problema comum aos participantes, e o benefício terapêutico individual acaba sendo resultado indireto das interpretações trabalhadas em grupo. Observamos que a troca de experiências e estratégias de lidar com o sofrimento, entre os participantes, promove melhoras no quadro clínico e na situação geral da vida de cada um, demonstrando que o tratamento grupal é extremamente positivo. Salienta-se também o relato dos participantes sobre o efeito terapêutico de ouvir outras pessoas falando de seus problemas, pois deixam de se sentir sozinhos e passam a sentir um certo alívio ao perceberem que outras pessoas passam por sofrimentos semelhantes. Nem todos os participantes do grupo se manifestam verbalmente durante a atividade, mas em conversas individuais também relatam perceberem os benefícios do grupo, pois continuam a refletir sobre os assuntos trabalhados no grupo posteriormente. Cada participante é agente de sua própria mudança, e o papel do terapeuta também é de mobilizar para que os participantes utilizem os seus recursos da melhor maneira para o reestabelecimento de sua saúde mental. Palavras-chave: saúde mental, crise, neurose, grupo terapêutico. GRUPOS COMO DISPOSTIVO DE ACOLHIMENTO 50 Clarissa Silva Gasparin Faculdade de Ciências e Letras de Assis - UNESP [email protected] Urupês- SP O projeto com Grupos concebe o princípio de organização social, funcionando como recorte da sociedade, além de ser manejado como dispositivo para o Acolhimento. A grupalidade, portanto, apresenta-se como um meio para a ressignificação e coletivização das problemáticas, transformações significativas na vida dos indivíduos e construção e ampliação de redes afetivas. O processo de formação dos grupos se dá pelo encaminhamento através da Recepção .Também é caracterizado pela abertura, adquirindo novos membros constantemente. Ao mesmo tempo em que facilita o encaminhamento dos usuários, analisa seu funcionamento: diferenças, saídas alternativas, alterações, empecilhos. Além disso, outros dispositivos são utilizados, tais como técnicas de psicodrama, aquecimentos e relaxamentos. O trabalho realizado nos Grupos é pautado no paradigma Ético-EstéticoPolítico e instrumentalizado pela Filosofia da Diferença. Assim, através do Método Cartográfico, é possível acompanhar e também produzir a movimentação dos processos grupais que estão em constante mutação, além de permitir a ação interventiva. Através desta perspectiva, é possível trabalhar a clínica como Clinamem, ou seja, um desvio dos processos de subjetivação cristalizados, uma despatologização da vida e a criação de novas linhas de fuga. Outra característica metodológica é a entrada de novos membros durante o tempo de funcionamento do grupo (em torno de 10 meses) até o limite de sua capacidade, que varia de 12 a 15 membros. Como técnicas de grupalização, é possível citar o Psicodrama e o Esquizodrama, ou seja, montagem de instalações, oficinas, tomadas de teatro, aquecimentos e relaxamentos. Através destas características, amplia-se a adesão do plano grupal através da multiplicidade destas ferramentas que se adéquam dependendo do campo problemático abordado. Como resultado, é possível sinalizar a avaliação das problemáticas iniciais, através de uma análise qualitativa das relações terapêuticas, dos dispositivos inovadores e das mudanças em relação à qualidade de vida dos implicados. As demandas grupais passam a ser então auto-geridas e qualificadas pelos integrantes, em uma sempre renovada avaliação de seus benefícios. O Acolhimento como diretriz institucional de promoção de espaços coletivos, o Contrato como instrumento de implicação, o foco na multiplicidade e diversidade das relações de que somos capazes, são alguns dos constructos teóricos que, redefinidos, passam a balizar fazeres inovadores e efetivos em Psicologia. 51 Palavras-chave: Grupos; Filosofia da Diferença; Acolhimento; Despatologização INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS COM MULHERES ENCARCERADAS NA CASA DE PRISÃO PROVISÓRIA, GOIÁS: RELATO DE EXPERIÊNCIA Rubia Vaz Borges Freitas Orcélia Pereira Sales Projeto Mãos Livres, Goiânia- GO [email protected] Atualmente o aumento da criminalidade é considerado um grave problema de saúde pública mundial e representa um fenômeno complexo que envolve diversas causas com abrangências nos fatores biológicos, ambientais, sociais, econômicos, psicológicos e psiquiátricos. O Brasil está em quarto lugar no ranking dos países com maior população carcerária, e as mulheres são protagonistas em muitos crimes. Em Goiás o índice de mulheres presas aumentou 161,32% nos últimos cinco anos. O cárcere impõe uma subcultura prisional com exposição à ociosidade, promiscuidade, más condições de habitação, condições precárias de saúde, uso abusivo de drogas, álcool e outras substâncias psicoativas. Este trabalho trata-se de um relato de experiência sobre os atendimentos psicossociais realizado com mulheres do Projeto Mãos Livres dentro do contexto prisional. A implementação dos atendimentos ocorreram durante um período de aproximadamente dois anos no cenário da Casa de Prisão Provisória no Município de Aparecida de Goiânia, Goiás. Os atendimentos psicossociais individuais ou em grupos foram realizados semanalmente com um grupo de aproximadamente 20 mulheres. Entre as abordagens utilizadas se destacam: entrevista de identificação (coleta de dados pessoais, familiares, dados de saúde, construção de um projeto de intervenção); entrevista motivacional (entrevista utilizada para atendimento de pessoas com problemática em álcool e outras drogas); atendimentos breves (atendimento focalizado na problemática emergente), utilizando técnicas psicodramáticas (duplo, espelho, troca de papeis, inversão de papeis, dramatização, role playing) e abordagens baseadas em redução de danos. O Projeto Mãos Livres também utiliza a arte como ferramenta para resgatar a identidade, auto-estima e a dignidade da mulher. Ao passo que oferece uma atividade terapêutica e de lazer, contribui para que as mulheres encarceradas aprendam uma nova maneira de perceber a vida e o futuro, bem como vislumbrar o sustento e independência financeira. Palavras-chave: Mulheres encarceradas; Atenção psicossocial; Profissionais de saúde; Psicologia social. 52 57 “LOUCOS VARRIDOS” POR DIGNIDADE: O RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA PERMEADA POR DESAFIOS! Celina De Farias Costa Macedo Cleiton Charles da Silva Luciana Meire do Nascimento Tolentino CAPS I Barra de Santa Rosa- PB [email protected] m A extinção progressiva dos manicômios no modelo em curso da assistência à saúde mental é a mais significativa expressão da Reforma Psiquiátrica, sendo o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) um dos dispositivos essenciais, cujo foco não recai apenas na desospitalização e, sim, na desinstitucionalização. O Projeto “Loucos Varridos” por dignidade executado no CAPS I do município de Barra de Santa Rosa/PB emergiu da nossa inquietude, especialmente, diante da percepção da dificuldade, tanto do usuário quanto do familiar, para lidarem com o estigma da loucura e para se (re) conhecerem como sujeitos com potencialidades e dignidade de pessoa humana. O objetivo geral foi estimular o acesso aos Serviços da RAPS com significativo poder de contratualidade fortalecendo, dessa forma, o protagonismo no modo de viver. Dentre os objetivos específicos buscou-se sensibilizá-los para a desmistificação da loucura; (re)avivar a autoestima e, simultaneamente, a dignidade, para a promoção de relações interpessoais respeitáveis e igualitárias. As ações foram realizadas no prazo de 06 (seis) meses, sendo aplicado o recurso de R$ 15.000,00 (quinze mil reais). Os principais critérios de inclusão adotados foram: possuírem histórico de vínculo fragilizado com familiar; escassas relações mantidas no território e postura de submissão à condição de marginalizado. Com atividades embasadas no referencial teórico-metodológico freireano, esse Projeto foi dividido em 08 (oito) etapas: 1ª-Formação; 2ª-Sensibilização; 3ª-Verificação de habilidades; 4ªProdução artístico-cultural (Oficinas); 5ª- Viagem dos sonhos; 6ª-Edição de documentário; 7ªI Mostra Cultural; 8ª-Avaliação. Ao longo do Projeto foram 35 (trinta e cinco) usuários diretamente beneficiados; desses, 22 (vinte e dois) pertencentes ao sexo feminino e 13 (treze) ao sexo masculino (equivalendo respectivamente a 63% e 37%), sendo 27 (vinte e sete), 77,1%, residentes em Barra de Santa Rosa (esse CAPS também atende à população de outros dois municípios), 7 (sete), 20%, em Sossego e 01 (um), 2,9%, em Damião. Dos participantes, 09 (nove), 25,7%, não tiveram a presença de um familiar em quaisquer das etapas, enquanto que dos demais, 18 (dezoito), 69,3%, foram acompanhados, em algum momento, por aqueles com quem mantinham bom convívio. Os familiares participaram de poucas atividades demonstrando desmotivação, alegando indisponibilidade de tempo/outros interesses. Com a experiência desse Projeto percebeu-se uma elevação na autoestima da maior parte dos usuários expressa pela (re) descoberta de alguns valores, da capacidade de fazer e de ser, além de uma relação menos verticalizada com os Serviços da RAPS; não houve grandes avanços no trabalho dos laços com a família, cuja postura passiva revela que ainda se posiciona como mera observadora e não como elemento imprescindível no processo de reabilitação psicossocial. Os discursos coletados no decorrer do processo se encontram sob análise (à luz da Teoria das Representações Sociais) cujos resultados preliminares indicam que a conquista do protagonismo se constitui um desafio pessoal/coletivo numa cultura ainda segregadora. Palavras-chave: CAPS; RAPS; Dignidade; Protagonismo. 54 MATRICIAMENTO: RECURSO ESTRATÉGICO PARA CAPACITAÇÃO EM SAÚDE MENTAL DE PROFISSIONAIS DA EQUIPE DE ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA DA PREFEITURA DE VARGINHA/MG Anderson José De Souza Centro de Atenção Psicossocial de Varginha/MG [email protected] Esta monografia foi apresentada como requisito para obtenção do título de especialista em Gestão de Pessoas e Projetos Sociais da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI). Seu objetivo é apresentar os resultados de um novo modelo de matriciamento desenvolvido com as equipes de ESF (Estratégia de Saúde da Família) pela equipe de saúde mental do Município de Varginha. Foi realizado um estudo bibliográfico a fim de conhecer a realidade do apoio matricial em saúde mental na saúde pública brasileira e no município de Varginha. No final do calendário previsto para o novo modelo, foi aplicado um questionário com os participantes para avaliar a abrangência e os resultados do seu desenvolvimento. Os resultados apontaram que no primeiro semestre de 2014 o novo modelo proporcionou modificações positivas nas intervenções em saúde mental realizadas pelas equipes de ESF. Das modificações positivas destacam-se: melhor comunicação entre equipe dos CAPSs e ESF, aprendizado contínuo em saúde mental, maior discussão dos casos, criação de intervenções em conjunto e maior resolutividade dos problemas. Os participantes também apontaram que o matriciamento deve melhorar em sua organização referente ao horário de início, duração e local para sua realização. Modificar uma prática de atendimento em saúde leva tempo, mas os resultados dessa monografia indicaram que um novo caminho se abriu para que, no futuro, sejam feitas intervenções em saúde mental mais assertivas. Com a sua execução a longo prazo, os profissionais estarão mais capacitados para atender pessoas em sofrimento mental por meio da prática vivenciada em seu território. Concluiu-se que o atual modelo pesquisado possui aspectos positivos em sua realização para sua continuidade e que, a longo prazo, fará diferença no atendimento de pacientes de saúde mental. Palavras-chave: Centro de Atenção Psicossocial (caps); Estratégia de Saúde da Família (esf); matriciamento; saúde mental NÍVEIS DE ESTRESSE EM UNIVERSITÁRIOS DE CURSOS DE SAÚDE DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA 55 Ana Lucia Barreto Da Fonseca Isis Valença de Araújo Henrique Lena Vitória Santana Oliveira Keyciane Figueredo Mercês De Oliveira Universidade Federal Do Reconcavo Da Bahia A profissionalização exige dos indivíduos a inserção em diferentes esferas de formação, pessoal, social, intelectual e tecnológica, o que denota uma sobrecarga ao funcionamento emocional e cognitivo dos sujeitos. Em se tratando da formação dos profissionais de saúde, esses fatores podem se tornar mais agudos nos últimos anos da formação, pela inserção em atividades práticas cuja realidade saúde/doença exige do profissional preparo para além das questões acadêmicas, propiciando altos níveis de estresse. Os profissionais de saúde em atuação, especialmente aqueles que atuam em emergências ou situações de crise, apresentam estados de adoecimento físico e psíquico, o que define a necessidade de cuidar de quem cuida. Isso porque como descreve Lipp (2000), toda situação que exige processo adaptativo provoca um desequilíbrio na homeostase dos sujeitos envolvidos, o que leva a reações físicas e psicológicas, que em se prolongando poderá incorrer em adoecimento. Essa pesquisa tem o objetivo de identificar em que etapa da formação acadêmica os universitários de cursos de saúde apresentam maiores níveis de estresse. Para tanto, foi aplicado o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos - ISSL (LIPP, 2000) em 10% do corpo discente do Centro de Ciência da Saúde de uma universidade pública. Os estudantes eram abordados aleatoriamente nas instalações da universidade e convidados a tornarem-se colaboradores do estudo. Iniciava-se a coleta com a assinatura do TCLE, a aplicação de um questionário com dados sócioacadêmicos, e o ISSL. Os dados foram tratados através do programa SPSS13, retirando a média aritmética e graus de significância apresenta da as variáveis, sexo, semestre, curso. A amostra é composta majoritariamente por mulheres (73,6%) e com idade média de 22,3 anos. Os resultados não evidenciam diferença significativa em relação aos níveis de estresse ao longo do curso, como também não há graus de significância entre os cursos, de modo geral 57,5% da amostra apresenta algum nível de estresse, sendo que 76% encontra-se na fase de resistência, sendo que a maioria apresenta sintomas psicológicos, como irritabilidade e ansiedade. Os itens apontados como mais estressantes para a amostra geral estavam relacionados à extensa carga horária de atividades, a distribuição de horários e de atividades avaliativas ao longo do semestre, denominando uma dificuldade com o cumprimento das tarefas acadêmicas, não denunciando estados estressores relativos às atividades práticas dirigidas a população e suas demandas, presentes ao final da formação. Os 56 resultados preliminares apontam que os estudantes dos cursos de saúde dessa universidade parecem estar focados mais diretamente as questões que envolvem a sua formação acadêmica, de tal modo que os entraves institucionais parecem denotar mais incomodo do que o contato direto com a realidade concreta da população atendida, especialmente nos últimos semestres. Essa resposta poderá denotar um distanciamento na formação que pode implicar em desconhecimento das demandas sociais que implicarão em adquirir arsenal comportamental adequado às exigências profissionais, aspectos que podem ser impactantes e adoecedoras no momento em que se encontrar em atividade profissional autônoma sem o respaldo da academia. 57 O CUIDADO PELA REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: UM ESTUDO DE CASO Nádia Ferro Renata Cristina Marques Bolonheis Ramos CAPS I Odeonel Lopes, Marialva- PR [email protected] Sabe-se que na última década, contextualizado pelo movimento da Reforma Psiquiátrica, o modelo de atenção às pessoas com transtornos mentais vem passando por mudanças. A constituição da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), oficializada pela Portaria nº 3.088/2011, é um exemplo nesse sentido. Tal diretriz instituiu a criação, ampliação e articulação de pontos de atenção em saúde mental no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), apontando para os diversos dispositivos que podem compor a rede nos municípios e a necessidade de articulação entre esses pontos para a efetividade das ações ofertadas. Assim, o presente trabalho, que é um estudo de caso, tem por objetivo apresentar as ações desenvolvidas no cuidado a um usuário do Centro de Atenção Psicossocial, CAPS I de um município de pequeno porte do noroeste do Estado do Paraná. Buscou-se trazer para a discussão os avanços conseguidos na estabilização do quadro clínico e no processo de socialização do usuário em questão, resultados da atuação de equipe multidisciplinar, que envolveu profissionais do CAPS e da Atenção Primária em Saúde (APS) do município. O CAPS vem trabalhando com esse usuário, chamado hipoteticamente de Ronaldo, desde 2012, época em que ele estava com 27 anos de idade. Em relação ao seu histórico, verificou-se que o mesmo começou a apresentar alucinações visuais e auditivas aos 12 anos de idade; aos 15 anos, passou por uma internação involuntária. Após receber alta, o tratamento não teve continuidade e o transtorno mental de Ronaldo foi se intensificando, resultando em um processo extremo de isolamento, incapacidade para o autocuidado e episódios de heteroagressividade. Em 2012, a mãe do paciente levou o caso para a Estratégia Saúde da Família (ESF), que acionou o CAPS. A equipe técnica deste dispositivo iniciou as intervenções com visitas domiciliares, contando com a participação de profissionais da enfermagem, psicologia, pedagogia e serviço social. Paralelamente a estas intervenções, a equipe do CAPS realizou matriciamentos com as equipes da ESF, iniciando um processo de rompimento de estigmas e capacitação dessas equipes para o acompanhamento aos usuários com transtornos mentais. Assim, a equipe da ESF de referência passou a acompanhar Ronaldo e a família mais atentamente. Atualmente, Ronaldo aceita mais facilmente os cuidados de higiene, está mais comunicativo e mais sociável. Mas entende-se que os estímulos para reinserção social devem continuar por parte de toda a rede. 58 Por meio da análise dos resultados obtidos com as intervenções propostas, são discutidos a importância da atenção psicossocial para a melhoria, estabilização e desenvolvimento da autonomia e da socialização dos usuários dos serviços, bem como os limites que se apresentam na RAPS. Dentre tais limitações, podem ser citados os estigmas e preconceitos historicamente arraigados na sociedade em geral, inclusive entre os próprios profissionais de saúde, em relação ao transtorno mental; e a formação e capacitação ainda incipientes dos profissionais da APS no cuidado em saúde mental. Palavras-chave: Rede de Atenção Psicossocial; CAPS; transtornos mentais; socialização. 59 O ESTADO MENTAL NO TEMPO DA ADOLESCÊNCIA E SUA TEMPORALIDADE FRENTE AO DEVIR Alexia Rodrigues Ruiz Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida Beatriz Rall Daró Eric Magno Barbosa Gheovana Carla Brites Tayla Cristina Manccini Universidade Estadual de Londrina [email protected] Arias (1998) refere-se à adolescência como um processo definido em função da temporalidade. E, por vezes, em situações de estados mentais críticos e de confusão temporal, assim como Knobell e Aberastury (1989) ao falar sobre a “síndrome Normal da Adolescência”. A temporalidade dos adolescentes, ativa numa lógica binária narcisista, do tudo ou nada, do agora ou nunca, essa lógica de dois termos, quando não reconhecida por ele, pelos pais ou pelo terapeuta, pode nunca ascender a um terceiro termo, existente entre o agora ou nunca. Quando o adolescente pode reconhecer este terceiro tempo, ele pode se permitir viver o futuro, o amanhã. O contrário significa o não viver. Esta concepção da temporalidade do adolescente surge como um desdobramento do seu estado mental e entra em conflito com a concepção temporal dos pais e da sociedade, o que pode causar a impossibilidade de o adolescente viver a sua própria temporalidade. Tais questões podem ser confirmadas à medida que as atividades propostas no grupo de adolescentes, com foco em OVP (Orientação Vocacional e Profissional) ampliam as suas concepções de temporalidade. Esta questão deve ser tratada como ponto fundamental nas intervenções que acontecem em atendimento às questões dos adolescentes. Ressalte-se para todos os envolvidos, que os jovens possam procurar serviços de atendimento, como o do projeto em OVP, haja vista que, na sociedade capitalista, a importância da identidade profissional é confundida com a identidade pessoal. O paradoxo se confirma à medida que, para o profissional de Psicologia, algum tipo de transtorno na escolha de uma ocupação é parte de um aspecto somente da identidade do sujeito em constituição, ou melhor, reconstituição, na fase da adolescência: a criação de uma temporalidade que pode pensar o futuro, o vir a ser. Sendo assim, as intervenções realizadas junto aos adolescentes sob o ponto de vista de teorias da psicanálise, tem como objetivo o bom funcionamento dos estados mentais dos adolescentes, e são caracterizadas por um 60 setting, que tem como desdobramento a premissa de que a escolha de uma carreira os remetem a um estado mental perpassado por um tempo de tendências reparatórias. Ressaltese que a reparação nunca é total, visto que na realidade isso torna-se impossível, porém surge uma modalidade de reparação, que oferece uma saída a um tipo de conflito. A escolha profissional surge na adolescência também como dado de temporalidade, uma vez que é uma tarefa que remete ao futuro e ajuda o adolescente, dotado de temporalidades peculiares e muitas vezes confusas, a se situar diante da passagem do tempo, o que pode causar muitos conflitos. Portanto, o adolescente busca nos atendimentos algo análogo ao precursor objeto transicional da infância, no espaço temporal transicional, ofertado pelo grupo de pares. Por meio das atividades operativas e de aprendizagem, o adolescente pode viver este estado mental temporal de transição psicossocial, que ocorre neste período da vida. Esse espaço oferecido aos adolescentes produz novas tarefas evolutivas, frente ao amadurecimento. Palavras-chave: adolescência; temporalidade; orientação vocacional; escolha profissional. 61 O LOCAL DA INFÂNCIA NAS POLITICAS DA SAÚDE MENTAL: REFLEXÕES SOBRE O CAPSI DE CUIABÁ-MT Henrique Araujo Aragusuku Naiana Marinho Gonçalves Maria Fernanda Aguilar Lara Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá- MT [email protected] O presente trabalho tem como objetivo realizar uma reflexão sobre o lugar da infância nas políticas de saúde mental, tendo como foco desta análise a experiência decorrente da disciplina: Estágio Básico IV Contextos Clínicos e de Saúde, realizada no Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil (CAPSI) de Cuiabá-MT. O Sistema Único de Saúde (SUS), a Reforma Psiquiátrica e a implementação da rede CAPS foram conquistas dos movimentos sociais organizados, porém sabemos que ainda há grandes dificuldades para a efetivação completa de tais políticas e assim superarmos perspectivas manicomiais, proibicionistas e excludentes no campo da saúde pública. Lógicas excludentes acabam sendo intensificadas a partir da forma como nossa sociedade constrói o discurso sobre a infância, em que as crianças estão “naturalmente” privadas do exercício de direitos políticos. A concepção de infância que temos atualmente consolidada pode ser considerada relativamente nova, quando realizado um retrocesso histórico sobre imagens sociais da infância construídas. As imagens da infância présociológicas concebem a criança a partir da ideia hegemônica de um “ser em devir”, o que tem como séria consequência a anulação por um longo período de tempo da complexidade da realidade social infantil. A ausência de consciência da infância produz-se a partir destes pressupostos, que consideram a criança a partir da perspectiva adultocentrada, e nesta, seus significados e vivências não são fidedignos, pois não possuem valor relevante diante da realidade do mundo adulto. Para o embasamento teórico desse trabalho, foi realizado o levantamento bibliográfico (SARMENTO, 2008; DIAS, 2009; PAIM, 2009; AMARANTE, 2007; FOUCAULT, 2005) e a leitura de documentos governamentais (leis, portarias, resoluções) referentes ao e funcionamento dos CAPS, a rede do SUS e o Estatuto da Criança do Adolescente; bem como o trabalho de campo, utilizando os pressupostos da observação participante (CARDOSO DE OLIVEIRA, 2006). A partir dos dados levantados em campo pudemos realizar uma análise sobre o cotidiano do CAPSI, assim como suas dificuldades, dinâmicas de funcionamento, sua história, importância para a rede de saúde pública de Cuiabá e suas perspectivas. 62 Palavras-chave: CAPSI; Saúde Mental; Infância; Cuiabá. 63 O PENSAMENTO ESQUIZOFRÊNICO PRESENTE EM O DUPLO DE FIÓDOR DOSTOIÉVSKI Alexandre Pito Giannoni Bruno Peixoto Carvalho Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Paranaíba- MS [email protected] Este trabalho possui como objetivo apresentar, a partir do livro O Duplo, de Fiódor Dostoiévski, o pensamento esquizofrênico do personagem Golyádkin. Neste sentido, utilizamse como referencial teórico a psicologia histórico-cultural e as contribuições teóricas apresentadas por Vigotski sobre o pensamento na esquizofrenia. Utiliza-se como apoio teórico os capítulos “El pensamento” e “El pensamento en la esquizofrenia”, presentes na coletânea La Genialidad y otros textos ineditos. Também se utiliza o capítulo “Sobre os sistemas psicológicos” do livro Teoria e Método em Psicologia de Vigotski. Apoiando-se nos materiais descritos acima podese afirmar que o pensamento esquizofrênico possui algumas particularidades, dentre elas, a mais notável seria a desintegração da própria função psicológica, o que torna-se extremamente notável em períodos críticos de aparecimento do delírio esquizofrênico. Tais particularidades podem ser descritas e apresentadas a partir dos delírios de Golyádkin, personagem do livro O Duplo de Fiódor Dostoiévski. A compreensão Vigotskiana auxilia no entendimento das situações vividas pelo personagem do livro, em que, a desintegração de seu pensamento leva-o a criar seu próprio Eu, porém duplicado. Para além do grande interesse de Dostoiévski pelas doenças mentais, como mencionado pelo próprio autor, este consegue demonstrar em pleno século XIX a particularidade do sofrimento individual e social que era ser aprisionado em um hospital psiquiátrico, sem contar o grande empobrecimento das relações sociais em que o indivíduo aprisionado nos hospitais deveria suportar. A grande genialidade do autor russo de literatura vai para além da criação apenas de um drama, mas sim de todo o sofrimento do personagem e a falta de compreensão das pessoas à sua volta e o término do mesmo em um lugar em que as esperanças de ajuda são exterminadas. Pode-se adiantar como conclusão deste trabalho, a notável desintegração do pensamento de Golyádkin não conseguindo distinguir na realidade o seu Eu e os delírios que possuía com seu duplo revelando, portanto, as características descritas por Vigotski na desintegração das funções psicológicas superiores, em específico a do pensamento. Palavras-Chave: Psicologia histórico-cultural; pensamento esquizofrênico; funções psicológicas superiores; Fiódor Dostoiévski O PROCESSO DE DESINSTITUCIONALIZAÇÃO UM NOVO OLHAR EM SAÚDE MENTAL 64 Juliana Vannucci Da Silva Heloisa Figueiredo da S. Lemos Vagner M. Barcelos Centro Universitário Plínio Leite/ Anhanguera (UNIAN), Niterói - RJ [email protected] No final dos anos 60 e início dos anos 70 teve início no Brasil a reforma sanitária. Um movimento cujo termo, segundo a Fundação Osvaldo Cruz 2014 se referia a uma série de transformações no campo da saúde. Juntamente com a reforma sanitária, nos anos 70 surge no Brasil o movimento da reforma psiquiátrica, idealizada e realizada por profissionais da área da saúde mental que perceberam no cotidiano de suas atividades profissionais que o processo de institucionalização psiquiátrica fazia com que o indivíduo, portador de transtorno mental, sofresse violência física e psíquica diariamente. Fato este que não ajudava na melhora do transtorno, e sim o contrário, conforme citado por Yasui. Desta forma os profissionais da saúde mental deram início a uma busca pelos direitos dos usuários dos serviços de saúde mental, objetivando uma assistência mais humana e de melhor qualidade. Foram realizados congressos, conferências e reuniões para transformar a assistência em saúde mental. De acordo com Yasui , no ano de 1987 foi inaugurado em São Paulo o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Professor Luiz da Rocha Cerqueira. A inauguração do CAPS foi um marco sobre a nova maneira de se pensar e fazer saúde mental. A partir do exposto, trazemos como problema de pesquisa: como ocorre o processo de desinstitucionalização em saúde mental no Brasil? Tendo como objeto de pesquisa o processo de desinstitucionalização em saúde mental no Brasil. A presente pesquisa possui como objetivo identificar como ocorreu o processo de desinstitucionalização em saúde mental no Brasil e descrever a importância deste no tratamento ao portador de transtorno mental. Metodologia: Trata-se de um estudo de natureza descritiva e exploratória, realizado com utilização da abordagem qualitativa sedimentada em revisão de literatura. A partir da metodologia aplicada foram analisados 10 artigos que constituíram as categorias desta pesquisa que versam sobre a evolução do cuidado em saúde mental no Brasil e sua importância para os usuários. Conclusão: Verificamos que o processo de desinstitucionalização se faz extremamente necessário no que se refere ao tratamento de portadores de transtornos mentais. É possível sim, com dedicação e paciência dos profissionais que atuam nesta área realizar a inclusão social dos institucionalizados na sociedade, oferecendo-lhes qualidade de vida e autonomia. 65 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ESCOLA HÚNGARA DE PSICANÁLISE E A ÉTICA PSICANALÍTICA DO CUIDADO Marcos Mariani Casadore Universidade Estadual Paulista – UNESP/Assis Faculdades Integradas de Ourinhos (FIO) [email protected] Temos como intuito primeiro, no presente trabalho, traçar um resgate histórico da psicanálise em formação – a partir de um recorte contextual bastante específico, a saber: a formação e o desenvolvimento da Sociedade Húngara de Psicanálise, na primeira metade do século XX. Podemos inferir que aquela instituição estabelece uma construção identitária bastante particular, nos primórdios da ciência psicanalítica, caracterizada, principalmente, pela originalidade teórica, pelos estudos interdisciplinares e, acima de tudo, pela prioridade da psicanálise enquanto prática psicoterapêutica de cuidado. Havia a consolidação de um discurso mais “progressista” que buscava extrair da psicanálise em ascendência e desenvolvimento todo um potencial de prática de cuidado. A “Escola Húngara”, escola de pensamento caracterizada pelo espírito ético e empreendedor dos psicanalistas que a compunham (Sándor Ferenczi, Michael e Alice Balint, Vilma Kovács, Géza Róheim, dentre outros que por ali também transitaram) estabelecia uma responsabilização diferenciada no que concernia ao papel do analista e sua função: compreendiam a relação transferencial como, essencialmente, intersubjetiva – colocando o analista, em primeiro plano, como sujeito, em uma relação objetal – e destacavam as relações contratransferenciais como fundamentais para o “fazer analítico”. O objetivo desta exposição é estabelecer um paralelo entre as propostas húngaras do início do movimento psicanalítico e os pressupostos éticos da prática analítica, destacando o quanto esses postulados acerca de uma psicanálise ética do cuidado sempre estiveram presentes durante seu desenvolvimento científico e perpassaram, explícita ou implicitamente, muitas das propostas teóricas que consolidaram escolas e perspectivas práticas na história da psicanálise. Palavras-chave: Psicanálise; História da psicanálise; técnica psicanalítica; ética do cuidado. O PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE NO BRASIL: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DO CAMPO DA SAÚDE MENTAL 66 Natália Aparecida Barzaghi Uningá/Unesp-Assis [email protected] m No Brasil, os estudos referentes ao processo de trabalho em Saúde foram iniciados no final da década de 60 por Maria Cecília Ferro Donnangelo, através de suas análises das relações Saúde e sociedade por meio da contraposição entre profissão médica e práticas sociais, pontua que tais relações encontram-se impregnadas pelo conteúdo social. Na construção do conceito, é feita aproximação entre os componentes do processo de trabalho em Marx: objeto de trabalho, instrumentos, finalidades e agentes com a prática em saúde. O trabalho é representado por um encontro entre um sujeito que cuida e outro que precisa de cuidados, podemos tê-lo como reflexivo e permeado por incertezas e descontinuidades. No contexto da assistência pública à Saúde no Brasil, têm-se ainda outros elementos para se pensar o fenômeno do trabalho, desde os princípios doutrinários do Sistema Único de Saúde (SUS), até a precarização das relações de trabalho no setor e as desigualdades sociais que desembocam em forma de sofrimento nos serviços. Ao pensarmos o trabalho no contexto da Saúde Mental, o horizonte de análise amplia-se ainda mais, insere-se a discussão acerca das concepções de Loucura, da herança manicomial, da normatização das subjetividades e dos conflitos de interesses político e econômico em torno do tema. Neste sentido e entendendo a Reforma Psiquiátrica brasileira como um processo social complexo que busca desinstitucionalizar o paradigma psiquiátrico e compreender o sofrimento humano em toda sua complexidade, o presente trabalho tem como objetivo fazer uma aproximação teórica entre o conceito de Trabalho em saúde e o trabalho em saúde mental no Brasil, tendo em vista a perspectiva da reforma psiquiátrica vigente no país. Para o Ministério da Saúde o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), entendido como equipamento central à construção da rede substitutiva ao manicômio, deve ser capaz de acolher os usuários do serviço, desenvolver projetos terapêuticos, viabilizar a reabilitação psicossocial, supervisionar a atenção à saúde mental na atenção primária e tudo isto com base na intersetorialidade. Todavia, do ponto de vista do trabalho em saúde e do trabalhador que compõe a equipe de Saúde Mental, tais práticas são possíveis? Considera-se a importância de permanente reflexão acerca do tema, dado que mesmo com a Reforma Psiquiátrica institucionalizada por meio da lei 10.216 de 2001 alguns fatores como a valoração social atribuída a cada membro da equipe, a formação profissional pautada ainda em um modelo biomédico de atenção à Saúde, pode escamotear os verdadeiros objetivos da desinstitucionalização, transformando-os em mera desospitalização. 67 Assim, afirma-se que é preciso atentarmo-nos também aos aspectos imateriais do trabalho, dado que a mudança pretendida inclui alterações nos aspectos do cuidar, do agir e do acolher o sofrimento, apostando na potência da dimensão micropolítica presente no trabalho/encontro entre os sujeitos, entende-se que fazer o novo é possível, para tanto basta olharmos para a trajetória da Reforma Psiquiátrica e, sobretudo, da Luta Antimanicomial e mantê-las vivas. Palavras-chave: Trabalho em saúde; Saúde Mental; Reforma Psiquiátrica; Desinstitucionalização. 68 OFICINA DE CONVIVÊNCIA: UMA EXPERIÊNCIA NO TERRITÓRIO Aline Albanez Valesque; Priscila Rabelo de Souza CAPS II – Centro de Atenção Psicossocial Dr. Paulo Correia dos Santos [email protected] A partir da demanda de usuários que encontrava-se no CAPS II institucionalizados, a equipe técnica, em reuniões de equipe, pensou em estratégias para desinstitucionalizar a pessoa dependente do serviço e inseri-la em contato com a vida em seu território. Dentro da proposta da atenção psicossocial, constitui-se possibilidades para se reinventar formas de cuidados, para isso refletimos sobre os dispositivos existentes nos territórios do município e chegamos no suporte técnico dos CRAS (Centro de Referencia da Assistência Social), baseando-nos na lógica do trabalho intersetorial, firmamos parceria, desde o ano de 2013, com a construção de oficinas terapêuticas: “Oficina de Cestaria de Jornal”, a partir de técnicas artesanais que são aplicadas em diversas atividades como geração de renda e outros. Criou-se, um ambiente de convívio, dando assim, novas orientações e sentidos para a vida dos mesmos, facilitando a circulação dos usuários na comunidade. A atividade é realizada em grupo aberto, com encontros quinzenais e duração de uma hora. Orientando-se a partir de um viés psicossocial, temos os usuários que frequentam o serviço do CAPS II e pessoas que residem na região dos CRAS, criando assim, um elo entre família, usuários e comunidade. Os materiais utilizados são basicamente jornal, papelão, cola branca, cola quente, palitos de madeira, tesoura, lápis preto e para acabamento, tinta látex e verniz. Cada CRAS tem a sua identidade, características próprias de cada território e a cada formação de grupo, com usuários que se posicionam com o saber da técnica artesanal, apreendida no seu convívio no CAPS, se colocando no lugar de oficineiro de cada encontro. No decorrer das oficinas foram surgindo nomes específicos, de acordo com o momento em que o grupo se encontrava. Como exemplo, o CRAS II foi “batizado” como “Reciclamente”, o CRAS III como “Vida Nova”, e o CRAS IV como “Arte de viver”. No momento não se definiu ainda o do CRAS I, estando o mesmo, em processo de construção. Como resultados das Oficinas, constata-se que hoje o usuário se percebe mais ativo como sujeito em seu processo de reabilitação, legitimando seu desejo de escolha e espaços por onde circula, optando por outros estilos de vida, mostrando assim a importância do trabalho e o seu papel como agente reorientador da ação humana, se reconhecendo como pessoa com desejo de vida. Desta forma, nota-se que a ação terapêutica pode proporcionar ao usuário: maior autonomia, novas amizades e maior interação entre o bairro e as famílias. 69 Assim sendo, há um impacto positivo e norteador para essas pessoas, que os reposicionam na sociedade, não de forma passiva e subordinada, mas ativa e participativa. Palavras-chave: Oficina Terapêutica; Território; CAPS; CRAS. 70 OFICINA DO SENTIDO Vania C. Portezan CAPS- Centro de Atenção Psicossocial de Santa Cruz do Rio Pardo-SP [email protected] O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é um serviço comunitário que tem como papel cuidar de pessoas que sofrem com transtornos mentais. Tem como objetivo oferecer atendimento à população, realizar o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. É composto por uma equipe multiprofissional, que conta com o apoio de médico, enfermeira, auxiliar de enfermagem, assistente social, terapeuta ocupacional e psicóloga. A Psicologia é uma ciência que procura compreender o homem, seu comportamento, e assim propiciar uma melhor convivência consigo próprio e com o outro. Dispõe-se a fornecer subsídios para que o ser humano saiba lidar consigo mesmo e com as experiências da vida. Desta forma, entende-se que o psicólogo tem o papel de ego auxiliar, sendo aquele que vai apoiar e acolher o paciente e, além disso, buscar juntamente com o usuário o reencontro consigo mesmo e seu espaço, procurando significar para este e para a equipe o sintoma da doença e sua correlação com seu contexto de vida. O objetivo do projeto é promover a socialização e a integração do portador de transtorno mental a uma rede comum de significados cotidianos, partilhados socialmente, em grupo. Esse é realizado com 15 a 20 pacientes, uma vez por semana com duração de uma hora à uma hora e meia onde são utilizados materiais como: cartazes, revistas, cola, tesoura, lápis, borracha, cartolina, folha de papel brochura, folha sulfite, lápis de cor e canetinhas coloridas. Foi possível verificar que a Oficina do Sentido como técnica de atividade terapêutica permite que o usuário do Centro de Atenção Psicossocial trabalhe de maneira concreta suas ideias e pensamentos, favorecendo o senso crítico e a formação de opinião. Palavras-chave: Oficina terapêutica; saúde mental; psicologia; subjetividade. OFICINAS EM RESIDÊNCIAS TERAPÊUTICAS: REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL Raiza Silva Lobato Patricia Melo Freire, Sueli de Carvalho Vilela 71 Universidade Federal de Alfenas- MG [email protected] O processo de reabilitação psicossocial exige articulação de varias instâncias e é um orientador do movimento de reforma da assistência psiquiátrica no Brasil envolvendo práticas cotidianas singulares1, 2. Um dos dispositivos que privilegiam a reabilitação psicossocial é o Serviços de Residências Terapêuticas (SRT)3. Oficinas Terapêuticas são modalidades de intervenções do processo de reabilitação psicossocial, que tem o sentido de permitir ao sujeito possibilidades de estabelecer laços afetivos e vínculos com seus pares e com os facilitadores, atender a particularidade de cada participante4 e prezar por desenvolver novas modalidades de intervenção multiprofissional. Objetiva-se relatar a experiência com Oficinas Terapêuticas em Serviços Residenciais Terapêuticos. Trata-se de um relato de experiência baseado no trabalho interdisciplinar realizado pelos acadêmicos dos cursos de Enfermagem, Odontologia, Nutrição e Fisioterapia da Unifal- MG e Psicologia da Unifenas- MG, integrantes do projeto de extensão Integra-Ação. A finalidade desse projeto é desenvolver junto aos moradores dos SRT atividades de caráter de reabilitação psicossocial por meio de Oficinas Terapêuticas realizadas semanalmente, por dois ou três acadêmicos, com duração de aproximadamente 2 horas fixas semanais, por um período de dois anos. Em todas as atividades, a fundamentação teórica foi a Abordagem Centrada na Pessoa, associada às atitudes de empatia, aceitação positiva incondicional e congruência. Observou-se empiricamente que as oficinas desenvolvidas possibilitaram aos participantes significativos desenvolvimentos no que diz respeito às áreas: motora, sendo perceptível durante a execução de exercícios fisioterápicos como melhora de equilíbrio, amplitude, extensão, movimentos finos, dentre outros; cognitiva e expressão, quando se trabalhou a música juntamente com atividades de escritas, leituras e pinturas. Os avanços nos aspectos sociais foram evidentes e observados por meio de interações sociais e socialização entre os moradores no trabalho com a divisão de grupos, jogos, passeios, compras, dentre outras. Os passeios contribuíram também para o reconhecimento espacial e ampliação da autonomia no ir e vir. Festas regionais e trabalho com plantio e cultivo de horta de verduras constituíram atividades de valorização a cultura regional bem como da história de vida de alguns deles. Foi possível observar a importância do desenvolvimento de atividades terapêuticas junto aos moradores dos SRT, pois nas oficinas o trabalho, a arte e o lúdico funcionam como potenciais propagadores na construção de territórios existenciais, inserindo ou reinserindo socialmente os usuários, contribuindo, acima de tudo, para a cidadania. Palavras-chave: Oficinas terapêuticas; Serviço residencial terapêutico; Reabilitação psicossocial; Interdisciplinalidade. 72 73 ONDE HÁ FUMAÇA, HÁ FUMAÇA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIAS SOBRE A MANICOMIZAÇÃO E PARADIGMAS DA LOUCURA Giulia Ribeiro Limongi Daniela Rodrigues Goulart Gomes Universidade Federal Da Bahia, Vitoria Da Conquista- BA [email protected] Este trabalho constitui um relato de experiência a partir de atividades teórico-práticas da disciplina Projeto Integrado do Trabalho III, ocorrida durante o primeiro período letivo de 2014 do Curso de Graduação de Psicologia da Universidade Federal da Bahia. O componente curricular caracteriza-se por atividades de ensino-extensão, que busca promover a interação entre as disciplinas cursadas no semestre, sendo 34h de atividades práticas e 34h de atividades teóricas. O objetivo da prática priorizou apresentar e propiciar o contato com formas de organizações comunitárias e instituições para a reflexão sobre o ser humano e suas interações sociais. O espaço de vivência escolhido pelo grupo, composto por 6 alunas do 3º semestre de Psicologia, foi o Hospital Psiquiátrico Afrânio Peixoto em Vitória da Conquista/BA, tendo em vista a análise institucional do estabelecimento e a identificação da concepção de doença mental e os seus efeitos tanto no discurso quanto na prática dos funcionários. Foram realizadas oito visitas; o grupo foi dividido em três duplas que vivenciaram os mesmos espaços em momentos diferentes. O método utilizado foi a observação participante não direcionada, entrevistas abertas, de acordo com o referencial teórico psicanalítico e supervisões coma professora responsável pela disciplina. Foram analisados aspectos do discurso de cuidado e do cuidador dentro da prática institucional/institucionalizada frente à saúde mental e também analisamos duas vinhetas de situações vivenciadas durante e depois das observações. Tal experiência possibilitou uma reflexão sobre a (suposta) mudança no paradigma da loucura, com a manicomização no século 19 e o surgimento das políticas públicas nos séculos 20 e 21, período no qual o discurso sobre a loucura permaneceu no intervalo entre o domínio religioso e o domínio médico-científico, com ênfases ora assistenciais, ora classificatório-excludentes, marcados pela criação do termo doença mental. Mediante tais reflexões propiciadas pela prática, percebeu-se que o corpo-louco ainda está impregnado da falta, da falta de saúde mental, da falta da norma, da falta da razão, da falta de crédito social, orgânico e institucional. Nesse sentido, o cuidado passa a ser des-cuidado e o sofrimento psicológico tem sido ignorado em um processo de biologização do comportamento, que tem isolado o sujeito de sua realidade, de seu contexto e história pessoal, à mercê de tragédias que atentam sua vida, como um esfumaçamento que sufoca e é nocivo à sua existência. 74 Palavras-chave: Loucura; Manicomização; Cuidado; Saúde Mental.<br> 75 PACIENTES COM SOFRIMENTO PSÍQUICO INTERNADOS EM HOSPITAIS GERAIS: OS DESAFIOS PARA UM ATENDIMENTO HUMANIZADO Caio Henrique Rangel Silva Barbara Sinibaldi Daniela Maria Maia Veríssimo Faculdade da Alta Paulista, Marilia – SP [email protected] O movimento da Reforma Psiquiátrica brasileira, iniciado no final da década de 1970, veio questionar o modelo hospitalocêntrico de assistência, onde prevaleciam as práticas médicas curativo-individualizadas e especializadas. Atualmente podemos observar a ampliação da rede de atenção com serviços abertos e ações territoriais, diminuição dos leitos psiquiátricos, redução da exclusão social e a tentativa de criar uma cultura contra os manicômios. Apesar das transformações ocorridas, a Reforma Psiquiátrica brasileira precisa enfrentar muitos problemas e desafios, dentre eles o de implementar políticas e práticas capazes de assegurar os direitos básicos de cidadania dos portadores de sofrimento psíquico e a humanização dos serviços de saúde. O objetivo do presente trabalho é problematizar, a partir do estágio realizado em um hospital geral, como têm sido o tratamento dispensado às pessoas portadoras de sofrimento psíquico que são internadas por problemas de saúde orgânicos. A Política Nacional de Saúde Mental prevê a internação psiquiátrica em hospital geral como uma de suas metas para consolidar a transformação da assistência, ele compõe a rede de serviços preconizada pelo SUS - Sistema Único de Saúde. No entanto, o que vemos na prática, é a falta de preparo dos profissionais de saúde nos cuidados com pacientes portadores de sofrimento psíquico e que não existe um diálogo entre as equipes dos serviços de saúde mental e o hospital geral. Vimos que este despreparo se torna ainda maior quando tais pacientes são inseridos nos serviços hospitalares onde não se possui leitos psiquiátricos. Na lógica de atendimento hospitalar o foco a ser trabalhado pela equipe são os aspectos fisiológicos e o indivíduo é reduzido a um corpo adoecido, em que seus sofrimentos psíquicos são vistos como incômodo. Qualquer movimento realizado pelo paciente é tido como algo patológico, e entendido, como algo violento. O atendimento psicológico oferecido a estes pacientes é pouco valorizado, visto que, uma vez que os hospitais gerais atuam em uma lógica curativo medicalizadora, a comunicação verbal, que é utilizada como uma das formas de intervenção psicológica passa a ser compreendido como desencadeador de mais crises no sujeito e sem provocar resultados imediatos. Neste sentido a prática do psicólogo é vista como desencadeadora de inúmeros conflitos na equipe hospitalar, afinal acredita-se ser 76 desnecessário oferecer uma escuta a um sujeito adoecido que apresenta tanta desordem mental. É possível notar um grande despreparo que acaba levando às práticas desumanizadoras. O sujeito passa a ser visto como alguém em crise e não como um indivíduo portador de um sofrimento. Acreditamos que seja necessário sensibilizar tais profissionais quanto ao atendimento de pacientes portadores de algum sofrimento psíquico, para que estejam preparados para oferecer um espaço de cura física e ainda permitir que estes sujeitos tenham suas dores internas acolhidas. Palavras-chave: Sofrimento psíquico; Hospital geral; Reforma psiquiátrica; Humanização. 77 PARA “NOVOS” PROBLEMAS, VELHAS SOLUÇÕES: A UTILIZAÇÃO DE DISPOSITIVOS DO PARADIGMA HOSPITALOCÊNTRICO MEDICALIZADOR NO TRATAMENTO DE USUÁRIOS DE CRACK Clodoaldo Porto Filho Faculdade de Ciências e Letras de Assis – UNESP [email protected] O presente artigo traz à discussão a utilização de dispositivos do Paradigma Hospitalocêntrico Medicalizador no tratamento de usuários de Crack. Tal Paradigma se alicerça principalmente no uso da medicação como dispositivo mais utilizado nos atendimentos na área da saúde mental coletiva, assim como centraliza o papel do médico como figura principal nestes atendimentos, sendo os demais profissionais vistos apenas como paramédicos, ou seja, auxiliares do médico. Os dispositivos abordados neste trabalho referem-se a Psicofarmacoterapia e internações em hospitais psiquiátricos dos usuários da droga. O discurso para a legitimação da utilização destes dois dispositivos se faz cada vez mais aceitável, frente a Cultura do Medo imposta pelos meios de comunicação e pelas campanhas do Ministério da Saúde em relação ao Crack e seus usuários. A relação da Psicofarmacoterapia e o Crack é abordada na perspectiva do crescente discurso de medicalização do usuário, e os interesses da indústria químico-farmacêutica na fabricação e perpetuação deste discurso. O atendimento ao usuário centrado na medicalização tenta transformar o sofrimento do sujeito em mercadoria para a indústria farmacêutica, tendo gerado um lucro vultoso para a mesma. O dispositivo internação é apresentado em suas duas formas: voluntária ou involuntária. A internação voluntária se dá com o consentimento do usuário, sendo que este assume o discurso médico (sujeito-suposto-saber), onde o único tratamento possível seria a privação do meio social em conjunto com a medicação, tirando do usuário sua capacidade subjetiva pra lidar com suas problemáticas. A internação involuntária é realizada sem a vontade do sujeito a partir de ordem judicial ou avaliação médica, haja vista, que as internações por ordem judicial requerem também avaliação médica, mesmo que realizada de forma posterior. Observa-se que a utilização do dispositivo internação tem servido para os interesses dos hospitais psiquiátricos e de parte da classe médica, que ora atuam como os “profissionais mais importantes” destas instituições, ora são proprietários diretos de tais hospitais. Tendo em vista que, os dispositivos abordados neste trabalho e tudo o que eles representam vem de encontro ao Movimento da Reforma Psiquiátrica e as prerrogativas que dispõe a Lei n° 10.216. 78 Palavras-chave: Paradigma Hospitalocêntrico Medicalizador; Paradigma da Atenção Psicossocial; Dispositivos de Produção; Crack. 79 PEDRAS, PLANTAS E OUTROS CAMINHOS: UM DISPOSITIVO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE Ricardo Wagner Machado Da Silveira UFU - Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Este relato de experiência trata da criação do filme: Pedras, plantas e outros caminhos, um documentário que conta a história de um AT (Acompanhamento Terapêutico) feito por Thais, a acompanhante, a Ney, o paciente acompanhado. O filme cartografa encontros que foram tecendo e se tecendo no vínculo entre a acompanhante e o acompanhado: gestos, olhares, risos, gritos, cantos, conversas, trabalho, plantas, pedras,... estórias que compõem esta intensa e difícil busca de produção de cuidado e autocuidado em saúde mental, acontecendo ali onde vive o acompanhado, na rua, tendo ele um transtorno mental grave e fazendo uso prejudicial de drogas. Trata-se de uma complexidade em processo, de onde o filme foi apenas um recorte, um traçado a respeito de uma experiência clínica com suas sutis intervenções, e que somente poderia ser contada de uma forma poética. O filme funciona como intercessor para que se possa contar esta exitosa experiência de cuidado a céu aberto. Esperamos que ele possa servir como dispositivo de educação permanente em saúde a serviço da luta antimanicomial e da redução de danos, que o documentário possa fazer proliferar outros saberes e práticas de cuidado e reinserção psicossocial, funcionando como um dispositivo ético, estético e político de resistência e produção de subjetividade e cuidado em saúde mental. Este filme foi realizado pelo Coletivo de ATs com a coordenação do prof. dr. Ricardo Wagner Machado da Silveira do Instituto de Psicologia da UFU - Universidade Federal de Uberlândia/MG; em parceria com uma equipe da TV Universitária desta mesma universidade e trilha sonora do Grupo de Percussão da UFU com a direção do prof. dr. Cesar Adriano Traldi do curso de Música. Agradecemos o apoio financeiro recebido pelo MEC/SESu através de aprovação no edital PROEXT 2013 e o apoio logístico dado pela PROEX/UFU Pró-reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis para a realização deste projeto. Palavras-chave: Acompanhamento Terapêutico, Redução de Danos, Educação Permanente em Saúde, clínica e arte. PERCEPÇÃO DE MÉDICOS, ENFERMEIROS E DENTISTAS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA SOBRE REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL 80 Patricia Melo Freire Luciana de Carvalho Ceballos Maurício Durval de Sá Universidade Federal de Alfenas/MG [email protected] r A rede de atenção psicossocial busca ampliar o acesso da população, promover o acesso das pessoas com sofrimento mental ou usuários de crack, álcool ou outras drogas e suas famílias, garantindo a articulação e integração para que haja o cuidado contínuo e qualificado. Para que haja o funcionamento da rede de atenção psicossocial deve ser criada e ordenada a partir de um projeto de saúde mental necessitando de vários dispositivos como também sendo criados por meio da construção coletiva, tendo como parceiros o poder público, os trabalhadores e as instâncias de controle social. Nesse sentido, a rede em construção propõe serviços de base territorial, em proximidade com os sujeitos, famílias e comunidades, integrando ações de promoção da saúde, desenvolvendo o cuidado nas crises, estabelecendo parcerias com outros setores e incluindo a participação cidadão. Esse trabalho visou conhecer a percepção dos profissionais médicos, enfermeiras e dentistas sobre a rede de atenção psicossocial (RAPS), levando em conta que a atenção primária é a porta de entrada e serão esses profissionais quem comporá a rede. O trabalho objetivou conhecer a percepção desses profissionais sobre a rede de atenção psicossocial (RAPS). O método utilizado foi a pesquisa-ação, tendo o grupo focal como técnica de coleta de dados, dirigido por 4 (quatro) perguntas. Na análise de dados utilizou a análise de conteúdo de Bardin. Após a análise das transcrições, identificou que a percepção é a mesma para os Médicos, Enfermeiros e Dentistas sobre rede de atenção psicossocial. Foram apontados alguns obstáculos que impedem o funcionamento da rede, a falta de qualificação dos profissionais em atenderem as pessoas com transtornos mentais e usuários de álcool, crack e outras drogas, além da falha na referência e contra referência que infere na comunicação ineficiente entre os profissionais. Para isso, foram sugeridas algumas propostas para que a rede seja efetiva, como a criação de uma equipe preparada para atender os pacientes com transtornos mentais, além de educação permanente para os profissionais. Conclui-se que os profissionais possuem conhecimento parcial sobre a rede de atenção psicossocial (RAS) e reconhecem importância e os obstáculos existentes para a sua implantação e funcionamento, considerando que a integração de todos os serviços é essencial para tornar o trabalho mais efetivo. 81 Palavras-chave: Saúde Mental; Serviços de Saúde Mental; Atenção Primária; Redes de Atenção Psicossocial. 82 POR UMA REABILITAÇÃO VERDADEIRAMENTE PSICOSSOCIAL: SITUAÇÃO DE VIDA DE EGRESSOS DE INTERNAÇÕES PSIQUIÁTRICAS EM PARANAÍBA-MS Pedro Junior Rodrigues Coutinho Renata Bellenzani FAMERP - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto/SP [email protected] Embora a Política Brasileira de Saúde Mental/Álcool/Drogas se paute na Reforma Psiquiátrica, iniciada há aproximadamente 35 anos, e na Lei 10. 216, as pessoas permanecem sendo internadas em hospitais psiquiátricos. Parte dos hospitais funciona em caráter mais terapêutico e menos asilar, adaptando-se ao modelo de internação de curta duração, cujas implicações sociais e programáticas são insuficientemente analisadas. Informações sobre o perfil da clientela internada e o papel das internações em sua reabilitação psicossocial são escassos. Definições de reabilitação psicossocial são múltiplas, algumas se fundamentam em conceitos operacionalmente precários. Genericamente, as definições dividem-se em dois grupos: com ênfase no indivíduo, na restauração de seu funcionamento prejudicado, ou na promoção de cidadania - reabilitação como remoção de barreiras que impeçam a plena integração de um indivíduo e o exercício de seus direitos. Objetivos: (1) estimar número de pessoas do município que teve uma internação, ou mais, no hospital psiquiátrico local, de janeiro de 2008 a maio de 2011, por grupo de hipóteses diagnósticas (HDs); (2) Caracterizar os pacientes, comparando-os em subgrupos, com relação a um conjunto de variáveis que informem sobre sua reabilitação psicossocial. Método: Estudo quantitativo descritivo, em duas etapas: sistematização e análise de dados secundários (do banco de dados da instituição); coleta de dados primários de uma subamostra do banco (questionário fechado, aplicações nos domicílios, mediante autorização prévia; análise descritiva dos dados com software SPSS for Windows 16; sem análises correlacionais, por enquanto). Resultados: 306 pessoas de Paranaíba internadas no período (média de 102/ano: 0,25% da população, considerando dados censitários de 2010); a grande maioria, uma vez no período (68%). 154 pessoas (50,3 %) foram diagnosticadas com transtornos de humor/orgânicos/psicóticos; 130 (42,5%) com síndrome de abstinência/dependência; 17 (5,6%) com HDs de ambos os grupos. Informações cadastrais insuficientes e alterações de telefone/endereço impossibilitaram subamostra maior de entrevistados para a caracterização - 56 pessoas. Dessas, a maioria homens (62,5%); 50% brancos; 45% negros/pardos; 59% solteiros; 57% residindo com familiares/parentes, seguidos por 34% com esposa/marido/filhos. 53% com escolaridade baixa; 75% estavam fora do mercado de trabalho; renda pessoal não ultrapassou 1 salário mínimo para 41% dos 83 participantes. Quanto à reabilitação psicossocial, embora a maioria tenha certa autonomia, convivência social e acesso a algum tipo de tratamento, ainda que somente medicamentoso, não psicossocial/interdisciplinar, a falta de cidadania sugere vulnerabilidade social ampliada, especialmente por baixa escolarização, profissionalização e participação no mercado de trabalho - isso atinge mais fortemente as pessoas com problemas decorrentes do abuso de álcool/drogas. A atenção psicossocial pós-internação com vias à inserção social plena objetivo da Reforma Psiquiátrica não deve se restringir à assistência médica. São necessárias políticas sociais públicas e intersetoriais, sob o risco de que ausentes, como na cidade pesquisada, pessoas com histórico de sofrimentos mentais graves e problemas ligados ao abuso de substâncias sejam somente medicalizadas, ou sucessivamente internadas, sem mudanças efetivas de qualidade de vida e cidadania. Palavras-chave: Internações Psiquiátricas; Reabilitação Psicossocial; Hospitais Psiquiátricos; Alta Psiquiátrica. 84 PRIMEIROS PASSOS DA PSICOLOGIA NO ÂMBITO DA SAÚDE MENTAL EM MATO GROSSO Ruzia Chaouchar Dos Santos Jane Teresinha Domingues Cotrin Andréia Maria de Lima Assunção Cuiabá- MT [email protected] A presente proposta de estudo em andamento surgiu a partir de uma experiência de Estágio Básico em Contextos Clínicos e de Saúde realizado no Complexo Integrado de Atenção Psicossocial (CIAPS) Adauto Botelho - Cuiabá/MT. A vivência em campo suscitou questionamentos e análises imprescindíveis para a formulação de um eixo orientador para investigar como as atuais práticas dos psicólogos no campo da saúde mental foram constituídas. Diante da escassez de materiais que abarcam, historicamente, a atuação dos profissionais psicólogos nesse campo, este trabalho tem como finalidade conhecer e re(construir) os primeiros passos da Psicologia no âmbito da saúde mental no estado de Mato Grosso, considerando a inserção desta profissão em seu contexto histórico, político e social. Os objetivos traçados são: investigar como a Psicologia foi conquistando seu espaço no campo da saúde mental no referido estado; identificar profissionais pioneiros da psicologia atuantes no âmbito da saúde mental, mapear as primeiras práticas, teorias e instrumentos de trabalho utilizados pelos psicólogos pioneiros nesse âmbito, com a finalidade de traçar as predominâncias que se estabeleceram nesse campo de conhecimento; levantar informações para superação das lacunas de materiais históricos que registrem e analisem a história da loucura em Mato Grosso, produzir referências bibliográficas regionais sobre a história da psicologia em Mato Grosso; e contribuir para construção da identidade do psicólogo. Inicialmente, será definido como recorte de estudo as décadas de 1980 e 1990, pois referemse aos primeiros registros da Psicologia no estado. O embasamento teórico que subsidiará esta pesquisa concerne à contribuição das obras de Michael Foucault (1991; 2005), assim como os autores Amarante (2007), Canova (2006; 2013), Oliveira (2005). O método adotado será o historiográfico, tal como sintetiza Jacó-Vilela (2000), por se tratar de um processo de reconstrução e reconstituição da história. A coleta de dados será realizada em duas fases complementares, a primeira consiste numa pesquisa documental para identificação dos psicólogos pioneiros no estado de Mato Grosso, e a segunda refere-se à coleta de dados junto a estes profissionais, a partir de entrevistas semi-dirigidas, e busca de documentos, fotos, filmagens que estes disponibilizarem. 85 Palavras-chave: História da Psicologia; Memória da Psicologia; Saúde Mental; Mato Grosso. 86 PROBLEMATIZANDO A REFORMA PSIQUIÁTRICA DO BRASIL: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A PL 3.657/89 E A LEI 10.216/01 Débora Aline Francelino Da Silva Débora Ferreira Salvador Natália Aparecida Barzaghi Daculdade Ingá - Maringá – PR [email protected] m A trajetória da assistência à saúde mental no Brasil é composta por uma série de elementos que vão desde as questões sociais, políticas e culturais vinculadas à Loucura até o tensionamento causado pelo conflito de interesses econômicos e corporativos. Desta forma é preciso entender a Reforma Psiquiátrica como um processo social complexo, um movimento de várias facetas, considerando tanto o caminho e a efetivação da inscrição legal por meio das políticas públicas, quanto às experiências institucionais inovadoras e a Luta Antimanicomial entendida como um movimento social. Partindo de uma concepção histórica entende-se a importância de resgatar e registrar os caminhos trilhados pela Reforma Psiquiátrica brasileira. Neste sentido o presente trabalho propõe um estudo comparativo entre o Projeto de Lei n° 3.657/89 assinado pelo deputado Paulo Delgado no contexto da redemocratização do país e na esteira da I Conferência Nacional de Saúde Mental e a Lei n° 10.216/01 sancionada doze anos depois. O objetivo é suscitar e evidenciar as modificações sofridas pela redação inicial da lei problematizando o fato e colocando-o em diálogo com outros elementos do cenário da Reforma Psiquiátrica. O estudo pressupõe que o período de tramitação do projeto de lei, influenciado por interesses contrários à desinstitucionalização, contribuem para mudanças significativas quanto ao seu conteúdo, podendo respaldar a permanência do modelo manicomial. O projeto de Lei de 89 posicionava-se de uma maneira mais rígida em relação à extinção dos manicômios e sua substituição por outros recursos assistenciais, regulamentando também a internação compulsória, ou seja, tinha como grande objetivo extinguir os manicômios, contudo, a lei sancionada em 2001, aprovada com uma série de modificações em relação ao texto original, assume uma postura mais flexível ao propor que o sujeito em sofrimento mental deve ser tratado preferencialmente em serviços extra-hospitalares, isto é, privilegia a oferta de tratamento em serviços de base comunitária, todavia, não institui mecanismos claros e efetivos para a extinção dos manicômios. Outros artigos contidos na lei promulgada em 2001 mostram também ambivalência quanto à Integralidade e Universalidade 87 do atendimento prestado ao usuário do serviço. Reconhece-se os avanços referentes à promulgação da Lei 10.216, entretanto, a análise considera a necessidade de constante reflexão a respeito da legislação em Saúde Mental, levando em consideração que a construção do Modelo Psicossocial é uma reforma em movimento e carrega consigo orientações éticopolíticas que devem ser constantemente lembradas, dado que em uma sociedade marcada por contradições apenas a inscrição legislativa não garante por si só sua efetivação. Palavras-chave: Saúde Mental; Reforma Psiquiátrica; Legislação; Desinstitucionalização. 88 PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADE E EXPRESSIVIDADE ATRAVÉS DA NARRATIVA DE HISTÓRIAS REALIZADAS PELOS USUÁRIOS DO CAPS III NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE Marina Diniz Luna Do Nascimento Maísa Cavalcanti de Farias Márcia Candelaria da Rocha Universidade Estadual da Paraíba, Campina Gramde- PB [email protected] A reforma psiquiátrica mudou o olhar da assistência às pessoas que possuem um sofrimento psíquico, deslocando a preocupação da loucura em si para um sujeito real, que possui direitos, anseios, que faz parte de uma família e está inserido em uma comunidade. O CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) como serviço substitutivo, através das oficinas terapêuticas, busca trazer esse sujeito para exaltar sua expressividade, sendo assim acolhido e ouvido não apenas no atendimento individual, mas na coletividade de seus relacionamentos, sejam eles sociais, familiares ou comunitários. Diante disto, e respaldado na teoria psicanalítica Freudiana e Lacaniana (compreendida como método de exploração dos conteúdos do Inconsciente, esclarecendo o funcionamento subjetivo do indivíduo) que se objetivou neste projeto de extensão a realização de oficinas terapêuticas com um espaço que estimule a expressividade e o processo de ressignificação através da narração de histórias que foram contadas pelos próprios usuários do CAPS III - Reviver, localizado na cidade de Campina Grande - Paraíba, durante oficinas temáticas e que resultaram na elaboração de um jornal. Assim, buscou-se através desse projeto de extensão, o efeito reconfortante pela via da verbalização e foi percebido que este espaço proporcionou aos usuários uma forma de se expressar de maneira livre e igual, trabalhando a importância do respeito ao outro. Além destes, outros objetivos foram alcançados como os conteúdos do cotidiano dos usuários, principalmente do âmbito familiar, trazidos nas narrativas das histórias e o processo identificatório dos usuários para com as extensionistas, comprovando assim aspectos teóricos que trazem o entendimento do processo de transferência na relação com o paciente. O trabalho de extensão foi desenvolvido de modo interdisciplinar, uma vez que se contou com o apoio da equipe do local, com o intuito de interligar o ensino teórico e a sua aplicabilidade no contexto de vida do usuário. O grupo era composto por quatro extensionistas e duas funcionárias da instituição, bem como da supervisão da professora/orientadora responsável. Foram realizados dez encontros, previamente planejados e com o envolvimento de atividades lúdicas que contribuíssem para a expressão da criatividade e subjetividade dos mesmos. A teoria psicanalítica foi de grande 89 relevância à medida que foram sendo confirmados aspectos das estruturas psicóticas e assim foi possível identificar qual a demanda dos usuários os quais participavam das oficinas. A este modo, foi percebido o quanto as intervenções surtiram efeito no que se refere à estabilização desses sujeitos, durante todo o período de intervenção. Ao final foi elaborado um jornal institucional, que ficou a disposição dos usuários e da equipe técnica do CAPS- III e serviu como um material concreto que tem ainda a possibilidade de deslocar o sujeito psicótico da sua posição de objeto do gozo do Outro ao criar um objeto externo, endereçado ao social, seja pela via das oficinas ou por qualquer outra situação. Palavras-chave: Saúde Mental; Oficinas terapêuticas; Caps; Psicanálise 90 PSICANÁLISE NO HOSPITAL GERAL: QUE LUGAR É ESSE? Taia Franco De Albuquerque Curitiba- PR [email protected] Historicamente, o hospital geral é um lugar da e para a medicina. Contudo, não pretendemos dizer que esta é a única disciplina existente e validada aí. É cada vez mais comum encontrarmos inseridas neste espaço equipes multiprofissionais, formadas por enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais etc. E, de modo geral, estas profissões também seguem práticas e condutas que respeitam a lógica médica, esta tida como o representante do discurso da Ciência. O discurso médico, portanto o discurso científico, prima por excluir a subjetividade tanto daquele que enuncia sua dor, marcado na posição do paciente, quanto daquele que o atende, e seu imperativo metodológico não se sustenta senão por sua objetividade e cientificidade. Sob esta égide, a época dos procedimentos de operação padrão parece se instituir. Não à toa, muito se diz sobre o processo de esvanecimento da clínica e sobre serem a técnica e o protocolo um modo de fazer do clínico um funcionário de regras. Afinal, quanto mais se objetiva as condutas, seja através da institucionalização de manuais de procedimentos ou do surgimento de diversas especialidades que dividem o corpo do paciente em tantas partes, mais se distancia do erro de se cair em pormenores subjetivos, o que poderia levar à bancarrota o funcionamento da ordem médico-científica. Todavia, ainda que esta ordem prevaleça na instituição hospitalar como fundamental para a existência desta, a presença marcante do discurso médico tem aberto espaço para outro tipo de lógica de trabalho, uma vez que produz fenômenos de que não consegue tratar. Abre-se espaço, então, à Psicanálise, que vem se apropriar do resto que a ciência médica, de maneira geral, acaba descartando, isto é, daquilo que há de mais subjetivo e particular no homem, e fazer deste engano o fio condutor de seu trabalho. Assim, sua inserção no hospital parece trazer consigo algo que andava deixado à margem, mas que marcara profundamente a origem destes dois campos, ou seja, a cena clínica. Com a emersão desta outra cena, o paciente que antes era destituído de sua subjetividade e, por ocupar a posição de objeto de investigação médica, identificava-se com sua própria doença, o paciente agora pode ser escutado em suas particularidades como sujeito. Este trabalho tem, então, o objetivo de discutir, a partir da vivência profissional neste contexto e de textos psicanalíticos que versam sobre o tema, a possibilidade da clínica da Psicanálise no hospital geral, considerando seus obstáculos, limites, alcances e sua interlocução com o campo da Medicina. Palavras-chave: Psicanálise; Psicanálise e Medicina; Psicanálise e hospital geral; Subjetividade. PSICANÁLISE E DESMEDICALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL 91 Rogerio Quintella Niterói- RJ [email protected] Em sua obra “O poder psiquiátrico” Michel Foucault, um dos maiores expoentes pensadores do século XX sobre os processos de medicalização na sociedade moderna, concebeu a psicanálise como uma “sobremedicalização”. Este termo foi utilizado por Foucault na obra supracitada para caracterizar campos que abordaram a loucura de maneira desvinculada da psiquiatria mas que mantêm um vínculo com o exercício de poder próximo da configuração médica. No caso da psicanálise isto ocorreria mediante a transferência e o pagamento em dinheiro da sessão de análise. Procuramos demonstrar a partir de uma leitura apurada dos processos de medicalização desde o surgimento da Anatomia Patológica, que a psicanálise nasceu como uma ruptura na estrutura do discurso médico vigente no século XIX, constituindo uma das mais importantes condições de possibilidade da desmedicalização na atualidade. Isto afasta a psicanálise da ideia de "sobremedicalização". Foi partindo de uma “contestação” dos histéricos à autoridade médica anatomo-clínica - como faz todo histérico ao denunciar a impotência paterna - que Freud rompeu com a soberania do olhar imputado à medicina anatomo-clínica detentora de um discurso verdadeiro sobre o corpo doente. Freud abriu caminho a um novo primado - “o primado da escuta” - ao dar a palavra à histérica, ensejando com isso nova forma de tratamento que faz declinar o lugar da autoridade para constituir uma posição ética de causa que rompe com a tradição empirista da observação e do olhar sobre o corpo. A presente exposição visa discutir sobre esta questão, apontando a psicanálise como condição para a desmedicalização na atualidade e retomando o fio condutor freudiano que valoriza a subjetividade no cerne da atenção em saúde mental. À medida que desmonta a concepção cartesiana de loucura como erro, concebendo o delírio psicótico como tentativa de cura, contribui para fazer da intervenção médica um elemento coadjuvante no rol das políticas e práticas de atenção psicossocial. Nesses termos, discute-se aqui a importância do discurso psicanalítico no campo da saúde mental de forma a conceber a posição do analista como aquele que sustenta um “discurso sem fala”, como dizia Lacan, tornando a psicanálise contrária a toda lógica medicalizante. Por fim, entendemos que o psicanalista funciona como testemunho da produção de sujeito na psicose a partir da escuta, o que afasta a ideia do psicanalista com função de autoridade e tutela no tratamento da loucura, seja na psicose, seja na neurose. Isto revela o caráter subversivo da prática psicanalítica no campo epistemológico e mesmo político, contribuindo para a luta pela desmedicalização da loucura na contemporaneidade. 92 Palavras-chave: psicanálise; desmedicalização; sobremedicalização; saúde mental. 93 QUAL LUGAR CONSTRÓI O PROFISSIONAL DE PSICOLOGIA NO CAMPO DA SAÚDE MENTAL? Andréia Maria De Lima Assunção Ruzia Chaouchar dos Santos Cuiabá-MT [email protected] m O presente relato de experiência surgiu a partir de uma visita ao Complexo Integrado de Atenção Psicossocial (CIAPS) Adauto Botelho - Cuiabá/MT. A inserção das estudantes de psicologia na referida instituição propiciou reflexões acerca da concepção de doença mental existente nas práticas profissionais, visto que esta irá embasar as ações envolvidas no tratamento destinado as pessoas em sofrimento psíquico. A fim de buscar uma compreensão efetiva acerca da instituição CIAPS Adauto Botelho, é necessário realizar uma contextualização histórica do desenvolvimento de saúde mental em Mato Grosso a partir da implantação da referida instituição, de modo a refletir sobre a trajetória de seus aspectos estruturais, e os processos de mudança conduzidos pelos pressupostos da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial no país. Assim, pretende-se problematizar a atuação do profissional psicólogo, com o objetivo de desnaturalizar as práticas de dominação existentes no campo da saúde mental. Diante disso, é preciso desinstitucionalizar saberes e práticas, assim como a formação acadêmica, questionando as formas instituídas que atravessam as ações destes profissionais, principalmente aquelas que podem ser entendidas como instrumentos de poder e controle social. Por meio da utilização da instituição como viabilizadora ao acesso aos usuários do serviço de saúde mental, a relevância deste estudo é constatada, à medida que, ao buscar esta compreensão, fomentam-se análises e reflexões que possam colaborar para a elaboração de novas propostas de serviços a serem realizados, assim como possibilita cogitar formas de atuação profissional interdisciplinar, proporcionando uma base mais ampla e sólida para a formação do profissional psicólogo. Neste sentido, os pressupostos teóricos que orientam este trabalho são baseados nas contribuições de Amarante (2007), Bezerra (2008), Canova (2006, 2013), Oliveira (2005), Pinheiro (2009), Goffman (2008) e Silva (2011). O levantamento de dados foi realizado em duas etapas. Primeiramente, a análise compreensiva do conteúdo do Projeto Terapêutico dos postos de internação dos usuários do CIAPS Adauto Botelho – Unidade I, que forneceu informações relativas ao histórico da instituição, políticas públicas que subsidiam a condução terapêutica, o perfil da clientela, funcionamento das equipes, especificidades profissionais, regras e rotinas. E, posteriormente, a observação 94 participante, conforme Barros e Lehfeld (1990). A junção de tais instrumentos possibilitou a obtenção dados mais próximos à realidade e, portanto, mais fidedignos, colaborando para uma análise de maior qualidade. O presente relato possui um caráter descritivo, em relação aos objetivos específicos anteriormente apresentados. Palavras-chave: Psicólogo; Atuação; Saúde Mental; Mato Grosso. 95 QUEM VAI CUIDAR? FAMILIARES CUIDADORES DE PESSOAS EM SOFRIMENTO PSÍQUICO Moira Escorse Luciana Nogueira Fioroni UFSCar [email protected] A doença mental incita uma percepção de fenômeno contextual. O cuidado em saúde mental demanda um olhar histórico-crítico sobre os modelos de produção de cuidado que estão sendo ofertados para a família e para os sujeitos em sofrimento psíquico. A investigação sobre a rotina dos cuidadores e dos profissionais na assistência ao portador de sofrimento mental, bem como as consequências da participação do familiar no tratamento, se fazem cruciais para compreender as implicações reais sobre o paradigma que a Reforma Psiquiátrica trouxe. As mudanças na assistência ao paciente e a inclusão da família como co-responsável no processo terapêutico, auxilia a construção de novas possibilidades de vida mais autênticas e autônomas. O papel do cuidador implica, muitas vezes, em uma abdicação de interesses pessoais e intenso investimento emocional, podendo acarretar em abrir mão de sua própria individualidade para o cuidado do outro. As condições históricas das políticas sociais, recursos de cada família e a rede de saúde, delimitam o âmbito subjetivo e objetivo do provimento do cuidado. Objetivando aprofundar este campo de saber e intervenção, investigou-se sobre as representações sociais de familiares cuidadores sobre os cuidados realizados e ofertados aos portadores de sofrimento mental. Para tanto, foram utilizadas, como instrumento de investigação, entrevistas semiestruturadas com cuidadores familiares que participam do cuidado oferecido em um equipamento de atenção psicossocial (Caps) no interior do Estado de São Paulo. A partir de uma sistematização da análise temática sobre os sentidos e significados presentes nos discursos dos familiares foram identificadas três categorias, a saber: família, convivência e o sofrimento psíquico; os processos de cuidar e suas vicissitudes; aspectos instrumentais do cuidado. A primeira reflete aspectos do cuidado a partir da convivência e nas relações entre a família e o doente quais impactam sobre a experiência e a práxis do cuidador relacionados à doença. A segunda revela aspectos do cuidado cotidiano e suas intercorrências devido a aspectos singulares de cada cuidador; mas também revela as apropriações da família sobre os processos pertinentes ao cuidado. A terceira, respectivamente, revela a partir do cuidado ofertado pelo Caps ao paciente e à família quais são os fatores que influenciam o cuidado oferecido pelos cuidadores e suas expectativas sobre o prognóstico da doença. Os resultados exibem uma necessidade trabalho relacional para com os cuidadores no auxílio a rotina do cuidado que os familiares oferecem aos sujeitos em 96 sofrimento psíquico. A família representa um microcosmo do âmbito sócio-histórico-cultural em que vivemos e reflete, assim, representações no imaginário social sobre a doença. É preciso encontrar caminhos na rede de apoio ao sistema de saúde, na educação permanente dos trabalhadores e na mudança de postura profissional para reconfigurar a produção de cuidado oferecida ao doente e à família. Necessita atentar a um olhar que ilumine as potencialidades da família em construir soluções para seus conflitos e dilemas. Entendemos que o encontro entre as intersubjetividades dos protagonistas do cuidado em saúde mental é que produz o cuidado efetivo real. Palavras-chave: psicologia social; cuidado; família; saúde mental. 97 RELATO DE EXPERIÊNCIA: ATIVIDADE EXTERNA PROPOSTA PELO CAPSAD DE JARAGUÁ DO SUL/SC Adriana Lourenço Terapeuta Ocupacional –CAPSad, Jaraguá do Sul – SC [email protected] O presente trabalho se propõe a relatar as atividades externas realizadas pelo Centro de Atenção Psicossocial - álcool e outras drogas (CAPSad) da cidade de Jaraguá do Sul, Estado de Santa Catarina. A atividade foi proposta pela necessidade de permitir a reinserção psicossocial o resgate da autonomia dos usuários, a ocupação e independência na sociedade, os espaços no seu território que antes eram comuns e que hoje em dia existe a dificuldade de apropriarse, assim como o protagonismo nos seus interesses e bem estar social ampliando seu campo de ação e tomadas de decisões dentro da comunidade. O objetivo é estimular os usuários do serviço a conhecerem sua cidade, os dispositivos sociais, os eventos culturais e até mesmo seu próprio bairro, possibilitando sua inserção/reinserção social, proporcionando ainda o desenvolvimento da convivência com outras pessoas, promovendo saúde e oportunizando o lazer. A Atividade é realizada por 2 (dois) profissionais, integrantes da equipe multiprofissional do CAPSad, geralmente à pé, com o veículo da Saúde Mental de Jaraguá do Sul (quando este encontra-se disponível), ou, ainda, pelo transporte público da cidade (sendo liberado vale transporte quando este recurso é utilizado). Atualmente, a atividade externa fixa, que o CAPSad disponibiliza é o almoço quinzenal no restaurante que fornece as marmitas para os usuários, com hospitalidade-dia como Projeto Terapêutico Singular. Esta atividade foi proposta em Assembleia pelos próprios usuários do serviço, onde se busca a realização de um revezamento entre os profissionais para os acompanharem, iniciando-se desde a saída da instituição, até o restaurante onde os mesmos ficam livres para escolher suas refeições, a quantidade desejada, onde e com quem querem dividir sua mesa ou não, além de retorno ao CAPS e discussão ou relato da atividade em Grupo Terapêutico ou Assembleia. As atividades externas eventuais se dão em eventos culturais da cidade, tais como na Caminhada da Saúde Mental, Feira do Livro, Audiência Pública ou instituições educativas e/ou culturais como museus, biblioteca, parque da cidade, sendo estes combinados anteriormente e, em sua maioria, sugeridos pelos próprios usuários do serviço, de acordo com seu interesse em conhecê-los. As atividades externas no CAPS são importantes para a reabilitação psicossocial, pois proporcionam interação social, reflexões e experiências que o ambiente real traz sobre o dia-a-dia de cada indivíduo, permitindo a estes usuários o fortalecimento do protagonismo. Palavras-chave: CAPSad; Atividade externa; Reabilitação psicossocial; Protagonismo. 98 99 SAÚDE MENTAL NA VELHICE: REFLEXÕES ACERCA DO CUIDADO COM A DEPRESSÃO Rosimeire A Manoel Faculdade de Medicina de Botucatu, Ilha Solteira - SP [email protected] Considerando a saúde mental enquanto um campo de atuação, ou melhor, uma grande área de conhecimento, que envolve ações inter/transdisciplinar e intersetorial, pode-se afirmar que trata de um campo complexo, pois sua concepção perpassa por inúmeras variáveis de ordem ideológica, política, social e cultural. Assim, discutir saúde mental na velhice torna-se uma tarefa não tão fácil quanto possa parecer. É fato que o Brasil está envelhecendo. O percentual de idosos vem crescendo significativamente. A projeção estimada é de que aumente de 7,4% em 2013 para 26,7% em 2060. No entanto, não basta aumentar os anos de vida, se não acrescentar vida aos anos vividos. Nesse contexto em que se insere as reflexões propostas por esse trabalho, o qual tem por objetivo discutir acerca da saúde mental na velhice, em especial, os cuidados com a depressão. Pelo processo de envelhecimento ser heterogêneo, ou seja, depender de vários fatores como gênero, saúde, classe social, fatores da personalidade entre outros, esse implicará nas diferentes condições para a saúde mental nessa fase. O desafio no diagnóstico, principalmente, da depressão, envolve a recorrente confusão entre duas dimensões presentes nesse momento da vida: senescência e senilidade. Culturalmente, a velhice é excluída; o velho fica à margem da sociedade, haja vista que não participa mais ativamente do processo de produção da sociedade. Com isso, o isolamento social vivenciado na velhice é compreendido como algo natural, podendo ocasionar na naturalização da depressão, seja pela família e/ou pelo próprio sujeito. Todavia, há que salientar outros aspectos que contribuem para esse adoecimento, como as limitações nas atividades da vida diária (dependência), a mudança nas relações sociais (viuvez, saída dos filhos) e, sobretudo, a ausência de redes de apoio, que previnem a institucionalização do cuidado. A fim de contextualizar as reflexões levantadas, apresentará algumas das experiências vivenciadas enquanto profissional de um Centro Dia para o Idoso, o qual visa proporcionar um espaço de proteção, acolhimento e convivência para a população idosa. Esse serviço constitui em um movimento da política pública em apoiar a família no cuidado ao seu idoso. A principal vulnerabilidade verificada é o isolamento social. Muitos idosos apresentavam sintomas depressivos, por não possuírem mais relações sociais. Após o processo de inserção dos idosos observa-se uma melhora na comunicação tanto dele no serviço como na família, em alguns casos, a formação de vínculos de amizade fora do espaço do serviço. Por fim, considera-se a necessidade de aprofundar em intervenções acerca da 100 saúde mental na velhice, sobretudo, da depressão, em virtude da sua naturalização. Além disso, os resultados apontam para a importância da rede de cuidado a essa população, que priorizam seu convívio familiar e comunitário até o fim da vida. Palavras-chave: Velhice; Saúde Mental; Depressão; Cuidado 101 SAÚDE MENTAL E O TRABALHO DO ACS DE UM PSF DA ZONA RURAL: DESAFIOS E PROPOSIÇÕES Valdete Da Silva Custódio Jéssica Gabriely Isidoro Ana Clara Simões Alfenas- MG [email protected] O PSF é um programa de reorientação do modelo de atenção à saúde, cuja equipe é formada por médico, enfermeiro, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde (ACS). O programa deve atuar em um território social, político, econômico e geográfico com uma população adstrita, identificando os danos e riscos dessa população, sendo a porta de entrada do sistema de saúde, prestando assistência em todas as fases da vida do indivíduo/família (criança, adolescente, adulto e idoso) com o objetivo de promover a promoção, proteção e recuperação da saúde, em todos os níveis, inclusive a mental. Quando a população adstrita é da zona rural todo o processo de trabalho do ACS e demais membros da equipe ganha uma conotação bastante singular, se observado pelo prisma da saúde mental, ainda tão incipiente mesmo nas áreas urbanas. O presente trabalho teve por objetivo investigar as particularidades do trabalho do ACS com ênfase na abordagem psicossocial elencando as dificuldades encontradas no dia a dia e propondo medidas facilitadoras. Para isso foi realizado grupo focal com os ACS da equipe de saúde da família da zona rural em junho de 2014, utilizando como questões norteadoras: o trabalho em rede de atenção psicossocial; os fatores que dificultam a eficácia do trabalho e sugestões para melhorar a eficiência, eficácia e efetividade do trabalho dos profissionais nos atendimentos às pessoas com transtornos mentais e aos usuários de álcool, crack e outras drogas. As entrevistas foram gravadas em gravador de voz digital e em seguida foram transcritas na íntegra. Os sujeitos foram esclarecidos quanto aos objetivos e à metodologia do estudo, bem como os aspectos éticos que norteiam a investigação científica. O sujeito que aceitou participar do estudo assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Verificou-se que há falta de medicamentos (principalmente psicotrópicos) na rede, descompensando os pacientes. A negação da doença e dificuldade de aceitação do uso abusivo de álcool e drogas como uma condição patológica, a falta de adesão às atividades propostas, como grupos, oficinas e palestras, a falta de estrutura de lazer em algumas áreas e o fato de ser ACS da zona rural tem peculiaridades que dificultam o trabalho do profissional como as distâncias muito longas entre as moradias, necessitando andar muitos quilômetros para cobrir toda a área, sob sol e chuva. A falta de 102 local apropriado para as consultas médicas, que ocorrem em espaços improvisados em igrejas e casas das famílias tira a privacidade do paciente constrangendo e inibindo a verbalização nesses espaços impróprios. O fato do agente morar na área e conhecer a todos gera o temor nas famílias de que as informações se tornem publicas. Diante da problemática elencada sugerem Inserção de um psiquiatra na equipe (ou no NASF, se possível) para acompanhar de forma continua as famílias vulneráveis. Palavras-chave: Saúde Mental; PSF; Zona Rural; ACS. 103 SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA: O MEDO DE FAZER Deivedi Silveira Meira Cintia Marcondes Vargas Maria Paula Bertol São Lourenço do Sul/RS [email protected] m A Atenção Básica é composta por um conjunto de ações de saúde, está situada dentro de um limite individual e coletivo, que abrange muitas ações de promoção, prevenção e proteção da saúde. Tais ações foram constituídas a partir dos princípios do Sistema Único de Saúde: Integralidade, universalidade e equidade. Cabe ressaltar que os serviços de atenção básica constituem a principal porta de entrada na Rede e em função disso, recebe demandas de toda ordem, inclusive demandas de saúde mental. Em função do modelo biomédico, ainda fortemente instituído, e da formação de muitos dos profissionais que atuam em atenção básica, quando o usuário acessa o serviço apresentando alguma demanda em saúde mental, não é incomum que os profissionais sintam-se inseguros para trabalhar tais questões. Muitas vezes eles alegam que não tem formação para atender a referida demanda. Com isso encontram dificuldades para construir os Projetos Terapêuticos Singulares dos usuários e preferem encaminhá-los a outros espaços de atendimento. Numa tentativa de resolver tal situação foram criadas ações políticas para tratar a situação, duas importantes ações tratamse dos Núcleos de Apoio a Saúde das Famílias (NASF) e a Educação Permanente em Saúde. A Educação Permanente em Saúde tem como objetivo fortalecer as ações dos profissionais de Saúde na Atenção Básica a partir de discussões e estudo em equipe, visando auxiliar nas práticas de cuidado a população. Ela foi instituída a partir da portaria 1996 de 20 de agosto de 2007 com o objetivo de garantir ao trabalhador um espaço de formação contínua, nos espaços formais e informais, sendo assim facilitar que as práticas sejam de um sujeito integral. Como também o apoio matricial tem se revelado como essencial dispositivo na implantação na estratégia de Saúde da Família (ESF) e no planejamento de suas ações. A partir de um trabalho ainda em construção, o Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF) atuam como apoiadores destas equipes, auxiliando-as no cuidado com os usuários e a potencialização da sua autonomia neste trabalho, envolvendo o planejamento das ações, as relações entre os trabalhadores, assim como articulações em nível de gestão. O trabalho visa problematizar e fazer uma discussão entre as ferramentas que são disponibilizadas no Sistema Único de Saúde. 104 Pensando em um atendimento completo de um sujeito integral no cotidiano da Atenção Básica. Palavras-chave: Atenção Básica; Saúde Mental; Educação Permanente; Apoio Matricial. 105 SERVIÇO DE EMERGÊNCIA PSIQUIÁTRICA: ASSISTÊNCIA COM QUALIDADE PARA USUÁRIOS EM SITUAÇÃO DE CRISE NO MUNICÍPIO DE MARINGÁ-PR Silvia Marini Universidade Estadual de Maringá Joyce Anne Silva Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Celene Tonella Universidade Estadual de Maringá [email protected] Esse trabalho tem por objetivo apresentar análise dos relatos de usuários de serviços de saúde mental do município de Maringá-Pr que foram internados em hospitais psiquiátricos tradicionais e no Serviço de Emergência Psiquiátrica do Hospital Municipal. Ao serem entrevistados, eles compararam e avaliaram a assistência recebida nesses estabelecimentos, e foram unânimes ao reconhecer a superioridade da assistência oferecida pelo serviço de Emergência Psiquiátrica do Hospital Municipal. Na referida avaliação, a qualidade da assistência, organização, higiene do serviço e acolhimento da equipe foram os pontos mais destacados pelos usuários em qualidade se comparados ao atendimento recebido no hospital psiquiátrico tradicional. Esses resultados demonstram a importância desse serviço, que pelo número de leitos (26) que possui, não consegue atender toda a demanda que recebe proveniente de 66 municípios, sendo necessário o encaminhamento para o hospital psiquiátrico tradicional, que conta com 240 leitos/SUS para internação. Desse modo, a maioria dos usuários que chagam a Emergência é encaminhada para o serviço com qualidade inferior de atendimento e que possui uma forma de assistência a ser superada de acordo com os princípios do Movimento de Reforma Psiquiátrica brasileiro. Esse Movimento iniciado na década de 1970 apresenta como objetivo principal a substituição da internação em hospitais psiquiátricos pelo atendimento em serviços extra-hospitalares que garantam qualidade no atendimento. Objetiva-se, sobretudo, substituir a rede assistência baseada na lógica hospitalocêntrica, caracterizada por longos períodos de internação em hospitais psiquiátricos, pela assistência nas redes de atenção psicossocial (RAPS), compostas por serviços que atendam integralmente a demanda do usuário garantindo seus direitos, como a manutenção da liberdade e dos vínculos com sua permanência no território. Como estratégia para o atendimento dos usuários em situação de crise que demandam a internação, tem-se os 106 Serviços de Emergência Psiquiátrica em hospitais gerais, já citados. Tais serviços são estruturados pela Portaria SNAS/MS Nº 224/1992, que preconiza o funcionamento diário por 24 horas, com leitos para internações com duração de até 72 horas. Esses serviços devem evitar as internações em hospitais psiquiátricos, à medida que oferecem atendimento resolutivo em situação de crise e encaminhamento pós-alta para serviços extra-hospitalares. Contudo, a implantação de Serviços de Emergência Psiquiátrica nos hospitais gerais tem sido um dos maiores desafios da Política de Saúde Mental brasileira, isso porque os hospitais públicos e privados resistem ao fazê-lo alegando complexidade na demanda. Para exemplificar, o Paraná conta com 19 hospitais gerais que oferecem ao todo 166 leitos/SUS e 15 hospitais psiquiátricos com 2.460 leitos/SUS para internação. Desse modo, grande parte das internações psiquiátricas ainda permanece sendo realizada em hospitais psiquiátricos tradicionais que, como o trabalho pretende demonstrar, permanecem oferecendo atendimento de má qualidade e violando os direitos dos usuários que atende. Palavras-chave: Serviço de Emergência Psiquiátrica; qualidade da assistência; internações; hospitais psiquiátricos. SÍNDROME DE BURNOUT E PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM: UMA REVISÃO INTEGRATIVA Maria José Quina Galdino Caroline Vieira Cláudio Renata Perfeito Ribeiro Júlia Trevisan Martins Universidade Estadual de Londrina (UEL) [email protected] A Síndrome de Burnout caracteriza-se por um conjunto de manifestações físicas e emocionais, decorrentes do estresse do ambiente laboral, que se constitui por três dimensões conceituais: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional. A Enfermagem foi classificada como a quarta profissão mais estressante do mundo e por esta razão é considerada uma das classes mais vulneráveis ao desenvolvimento desta síndrome, pelas características organizacionais do seu trabalho. Burnout foi por muito tempo relacionado somente com trabalhadores, porém, recentemente as pesquisas estenderam-se a todos os 107 grupos ocupacionais, incluindo os estudantes. Desta forma, é relevante identificar as pesquisas sobre esta síndrome envolvendo esta população. Objetivo: Analisar a produção científica em periódicos online sobre a Síndrome de Burnout entre profissionais e estudantes de enfermagem. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa de pesquisas científicas nacionais desenvolvida por meio das seguintes etapas: definição da pergunta norteadora, busca na literatura, coleta de dados, análise crítica dos estudos incluídos e apresentação da revisão. Para identificar os estudos foi utilizada a busca online por meio da Biblioteca Virtual em Saúde, no mês de julho de 2014, com os seguintes descritores “esgotamento profissional”, “enfermagem” e “estudantes”. Foram incluídos os artigos nacionais que abordassem no título a temática investigada, publicados em periódicos online no período de 2005 a 2014, que apresentassem o texto na íntegra em português e que abordassem exclusivamente qualquer uma das categorias da enfermagem, abrangendo os estudantes. Excluíram-se aqueles que embora apresentassem os descritores escolhidos, não abordavam diretamente a temática estudada. Resultados: A pesquisa resultou em 3.213 publicações e destas, incluíram-se 28 por atenderem aos critérios pré-estabelecidos. A maioria dos artigos foram publicados em revistas científicas da área de Enfermagem. O Inventário de Burnout de Malash foi utilizado em 23 estudos como instrumento de avaliação. Quanto ao delineamento, 25 pesquisas escolheram o método quantitativo e três o qualitativo. Com relação à população de estudo, 13 incluíram todos os trabalhadores de enfermagem, oito investigaram somente enfermeiros, quatro em residentes de enfermagem e três abordaram estudantes de graduação. Estes estudos evidenciaram a presença da Síndrome de Burnout em profissionais da Atenção Básica, especialmente na Estratégia Saúde da Família. Na Área Hospitalar, a síndrome foi demonstrada entre enfermeiros de diversas áreas de atuação, em hospitais públicos e privados, principalmente em locais específicos que são considerados mais estressantes e críticos, tais como, Pronto Socorro, Unidade de Terapia Intensiva e Oncologia. Também foi verificada nos serviços de Urgência Pré-Hospitalar e em Enfermeiros Docentes. Nas atividades de formação profissional em Enfermagem a síndrome foi referida entre Cursos de Graduação públicos e privados e nos Programas de Residência, pela variedade de fatores de estresse similares aos que ocorrem nas situações cotidianas do trabalho do enfermeiro. Considerações Finais: A Síndrome de Burnout está presente nos diversos cenários da enfermagem, como atenção básica, instituições hospitalares, programas de residência e na graduação. Dessa forma, realizar intervenções que visem à prevenção desta síndrome consiste em uma das melhores formas de preservar a saúde e promover qualidade de vida desta população. Palavras-chave: Saúde do Trabalhador; Esgotamento Profissional; Estresse psicológico/enfermagem; Enfermagem. SÍNDROME DE BURNOUT E FATORES ASSOCIADOS EM GRADUANDOS DE ENFERMAGEM 108 Maria José Quina Galdino Gabrielle Aparecida Soares Garcia Edivaldo Cremer Júlia Trevisan Martins Renata Perfeito Ribeiro Caroline Vieira Cláudio Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) [email protected] A Síndrome de Burnout é entendida como a cronificação do estresse no contexto laboral, que possui como principal consequência, o esgotamento do indivíduo. Entretanto, pela aproximação do discente à realidade profissional, a síndrome foi inferida entre graduandos de Enfermagem, que por se sentirem exaustos em virtude das exigências do estudo, desenvolvem uma atitude distanciada do seu estudo e tem a percepção de ser incompetente como estudante. As fontes de desgaste físico e mental são oriundas das aulas teóricas e práticas, estudos, provas, trabalhos acadêmicos, atividades extracurriculares e demais atribuições comuns aos universitários. Embora, já se saiba da presença desta síndrome entre discentes de enfermagem, as pesquisas sobre Síndrome de Burnout entre esta população ainda são incipientes na realidade brasileira. Objetivo: Avaliar a presença de Síndrome de Burnout e os fatores sociodemográficos e acadêmicos que estiveram associados em graduandos de Enfermagem. Metodologia: Pesquisa transversal, descritiva com abordagem quantitativa, realizada com graduandos de enfermagem que estavam regularmente matriculados no ano de 2013 em uma Universidade Pública situada na região Norte do Estado do Paraná. Os dados foram coletados em sala de aula, nos meses de julho e agosto de 2013, por meio da aplicação de um questionário sociodemográfico e acadêmico e do instrumento Malash Burnout Inventory Student Survey. Foi considerado indicativo de Burnout o indivíduo que apresentou altas médias em Exaustão Emocional, Despersonalização e Reduzida Realização Profissional. A pesquisa foi aprovada em Comitê de Ética em Pesquisa sob nº CAAE 15071613.8.0000.0108. Resultados: Participaram do estudo 114 graduandos, representando 95,80% da população. As médias obtidas das dimensões de Burnout sugerem a existência de desgaste emocional (3,88) no discente "uma vez por semana", sentimento de não acreditar no ensino (2,14) "uma vez por mês" e que o discente se sente competente (4,58) como estudante praticamente "todos os dias". 109 Os resultados individuais do Malash Burnout Inventory Student Survey demonstraram que 78,95% dos graduandos apresentaram alta exaustão emocional, 34,21% altos níveis de Despersonalização; 17,54% mostraram Reduzida Realização Profissional. Associando essas dimensões, identificou-se que 7,89% dos discentes de Enfermagem possuíram indicativo para Síndrome de Burnout. Destes indivíduos, a maioria pertencia ao gênero feminino (88,90%), era solteiro (88,90%), com idades entre 20 a 40 anos e média de 20,6 anos, não possuía filhos (77,78%) e não residia com sua família (88,89%). Referiram que não praticam atividade física e/ou esporte (88,89%) e não possuem atividades de lazer (55,56%). Com relação as características acadêmicas, verificou-se que estes estudantes cursavam o segundo ano (55,56%) e o último ano da graduação (44,44%), bem como, se dedicavam exclusivamente a graduação (88,89%). Avaliou-se, ainda, que 33,30% não estudam fora do horário regular de aula e que 55,60% não estão satisfeitos com o curso de Enfermagem. Considerações Finais: Pode-se inferir que os discentes estão expostos aos estressores advindos da formação profissional, o que favorece a ocorrência de Burnout ainda na graduação. Assim, torna-se fundamental investir em ações de promoção e prevenção da saúde dos graduandos de Enfermagem no contexto da universidade. Palavras-chave: Saúde Ocupacional; Esgotamento Profissional; Estresse psicológico/enfermagem; Estudantes de Enfermagem. SUICÍDIO: UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA Raphael Edson Dutra Vivian Madeira Farias Aracéles Frasson de Oliveira FAMMA Faculdade Metropolitana de Maringá/PR [email protected] O presente trabalho procura discutir a dinâmica psíquica do suicida, bem como o posicionamento da ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE organização mundial de saúde, e do MINISTÉRIO DA SAÚDE, quanto ao tema que tornou-se um problema de saúde pública. Para tal, vamos utilizar alguns dados estatísticos, tais como do IBGE, que mostram que no ano de 1990 a taxa de mortalidade específica por suicídio era de 3,4 por 100.000 habitantes, e em 2009 essa taxa aumentou para 4,9 por 100.000 habitantes. De acordo com dados DATASUS, 110 no Brasil foram registrados 9.448 óbitos por suicídio no ano de 2010. Dados compilados neste mesmo ano apontam que cerca de 90% das causas registradas de suicídios são relacionados a doenças mentais, que estariam sem o tratamento adequado, fator este que é indicador de possibilidades de prevenção e de atenção primária, buscando reduzir esses fenômenos, é possível afirmar que se trata de uma questão de saúde pública, pensando na prevenção de tal ato, uma vez que, s de suicídio supera em dez vezes o número de óbitos por suicídio. Visto dessa forma, a atenção primária é de suma importância para a identificação precoce de comportamentos suicidas e encaminhamento no caso de diagnóstico de transtornos mentais. O Ministério da Saúde, na portaria de agosto de 2006, utiliza-se do plano nacional de prevenção ao suicídio, desenvolvendo estratégias de promoção de qualidade de vida e de prevenção a danos, promovendo também educação aos profissionais de saúde. Assim, buscamos na Psicanálise e na Psicopatologia um respaldo teórico que possibilite compreender e refletir o ato suicida dentro de uma perspectiva de promoção à saúde. Com isso elencamos as discussões partindo do pressuposto de que, segundo os autores consultados, demonstrase no na atitude suicida, ou mesmo em sua tentativa, uma tendência variante entre portadores de determinados transtorno mentais, tais como a melancolia (atual depressão) a bipolaridade, bem como o uso abusivo de álcool e drogas. Neste tocante encontramos uma fragilidade da estrutura do ego do individuo, tendo este abdicado do instinto de autopreservação, e cedendo as demandas do instinto autodestrutivo, ou seja, estabelecer assim um diálogo entre a teoria e a prática, uma vez que acreditamos na importância da atuação do psicólogo na prevenção e promoção da saúde. Palavras -chave: Suicídio; Psicanálise; Organização mundial de Saúde; Ministério da Saúde. 111 UMA REFORMA NA REFORMA PSIQUIÁTRICA, OU UMA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS CONQUISTADOS? Vivian Madeira Farias Raphael Edson Dutra Silvia Marini FAMMA – Faculdade Metropolitana de Maringá/PR [email protected] O tema loucura é algo que desperta o interesse e a curiosidade dos mais diversos ramos da ciência e do senso comum. Há anos ele tem sido estudado e discutido. Quando Michel Foucault escreveu seu livro, “A história da Loucura na Idade Clássica” (1987), nos mostrou claramente grande parte dessas visões que mudaram de acordo com os diferentes momentos históricos. Existiram visões da loucura como possessão demoníaca, passando por doença contagiosa, até ser compreendida como uma doença em que o indivíduo pode e deve viver em liberdade e em sociedade. No Brasil, a história nos mostra que o sofrimento psíquico, popularmente chamado de loucura tem tido seu conceito modificado e desmistificado, isso se deve à Reforma Psiquiátrica que se iniciou na década de 1970, com o principal objetivo de propor mudanças no modelo de atenção em saúde mental. Outra conquista importante da Reforma foi a redução dos leitos em hospitais psiquiátricos e a criação de uma rede de serviços de atenção extra-hospitalares. Esse processo de desinstitucionalização fez com que esses pacientes pudessem retornar aos seus lares e à sociedade. Surge então a proposta da abertura de unidades de emergência psiquiátrica, e a criação de redes de atenção psicossocial (RAPS) para o atendimento de pacientes com transtornos psiquiátricos. Foi nesse contexto que surgiram os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), descentralizando o atendimento e assim reduzindo o estigma da doença, atendendo a proposta integrada pelo novo modelo de atendimento à saúde mental. O presente trabalho objetiva trazer uma discussão a respeito do caminho que a Reforma Psiquiátrica vem tomando na cidade de Maringá PR, uma vez que no ano de 2012 a prefeitura maringaense emitiu uma nota informando a construção daquilo que se denominou Complexo de Saúde Mental, que terá mais de 5 mil m² e vai abrigar o Caps e o Caps 2, Caps 3, Caps Canção e Terapia Ocupacional Integrada. Essa atitude sugere que a cidade está partindo novamente para centralização dos atendimentos, que será feito em um bairro afastado e marginalizado da cidade, reproduzindo a lógica de segregação característica dos hospitais psiquiátricos tradicionais e alvo de críticas do Movimento de Reforma Psiquiátrica brasileiro. 112 Palavras-Chave: Reforma Psiquiátrica; Rede de Atenção Psicossocial; Complexo de Saúde Mental; Centralização. 113 UMA INTERPRETAÇÃO DA HISTÓRIA DA LOUCURA NA PERSPECTIVA DO MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO Helen Da Costa Toledo Piza Bruno Peixoto Carvalho Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Paranaíba- MS [email protected] O objetivo deste trabalho é analisar a compreensão foucaultiana da gênese da loucura, das instituições psiquiátricas e da psiquiatria a partir do historicismo marxiano. O século XVII foi responsável pelo que Foucault chamou de “a grande internação”, processo em que instituemse grandes locais de internamento (os hospitais gerais) para aqueles que ameaçavam a nascente ordem burguesa; no Hospital Geral não havia distinção gnoseológica entre velhos improdutivos, prostitutas, mendigos, bandidos e loucos. Sua função, portanto, não era médica, mas era, antes de tudo, moral. Os hospitais gerais tinham o poder de decidir, julgar e também de executar sentenças quando se considerava “necessário”. No século XVIII, surge o asilo, instituição criada para “abrigar” exclusivamente os alienados, separando, assim, os loucos do resto da miséria; a loucura era agora um problema médico, em que pese seu tratamento ainda trouxesse as mesmas marcas de um problema moral. Esta interpretação de natureza foucaultiana está ancorada na ideia de mudança de mentalidades: a grande internação e o nascimento do asilo seriam acontecimentos que resultaram da passagem de uma ratio mítico-medievalista a outra científico-iluminista ou, em outras palavras, resultariam da passagem de um regime de verdade a outro. Para a análise de Foucault não concorre o amplo espectro de transformações econômicas que ocorreram na transição do feudalismo ao capitalismo. Na obra de Castel, A ordem psiquiátrica – a idade de ouro do alienismo, encontram-se uma série de elementos que permitem situar a passagem de uma compreensão a outra sobre a loucura a partir da consolidação dos Estados-nação (Estado burguês) e da reconfiguração do plano da Assistência que ocorre como resultado da emergência da questão social, a nova forma da miséria gestada pelo capitalismo. No capítulo XXIV de O capital de Marx, intitulado “A assim chamada acumulação primitiva”, encontra-se o solo sociomaterial que tornou a loucura objeto de internamento e a medicina seu juiz, a saber: a expulsão dos camponeses do campo (motivada pela mecanização do campo) e a incapacidade da indústria em absorver o contingente de miseráveis gestados pelo seu próprio desenvolvimento. É o próprio movimento do capital, que precisa de trabalhadores livres (livres em duplo sentido: livres de toda propriedade e livres para vender sua força de trabalho) que gesta a questão social (da qual a loucura é parte) e que a ela oferece uma resposta. Esperase que a 114 continuidade este trabalho – que é parte de pesquisa mais ampla – possa assentar aqueles elementos histórico-objetivos (e suas respectivas mediações) que tornaram possível a constituição da loucura como objeto, da psiquiatria como “ciência” e das instituições psiquiátricas como depositárias de seu tratamento. Palavras-chave: História da loucura; Psiquiatria; Acumulação primitiva; Materialismo histórico-dialético. 115 PRINCÍPIOS DA REDUÇÃO DE DANOS APLICADOS À PREVENÇÃO DO HIV E DOS DANOS DECORRENTES DO ABUSO DE ÁLCOOL NO CARNAVAL DE RUA DE PARANAÍBA-MS Daniela Megliorini Paro Renata Bellenzani Vitor Corrêa Detomini ESF e NASF - Chapadão do Sul-MS [email protected] m A Associação Internacional de Redução de Danos (RD) define-a como um conjunto de políticas/práticas cujo objetivo é reduzir danos do uso de drogas, sem necessariamente promover a abstinência. Focam-se pessoas/grupos, preferencialmente em seus contextos de uso, tanto com padrão abusivo/dependência, como recreativo/social. Pretende-se prevenir danos a coibir o consumo, especialmente, do álcool, consumido licitamente. Princípios da RD: compromisso com a saúde pública; respeito aos direitos humanos (liberdade, integridade, autonomia, informação, orientações e recursos de proteção à saúde); nem todo uso de drogas é doença, cujo usuário deva ser tratado; danos decorrentes do abuso de drogas abrangem outras esferas, como a saúde sexual/reprodutiva (sob efeito de drogas, diminui-se o uso de preservativo, aumentando riscos de DST/Aids e gestação não planejada). Este trabalho problematiza a contundência e as limitações dos princípios/ações de RD para informarem projetos de prevenção comunitária em cenários festivos/recreativos aos danos pelo abuso de álcool/drogas e às DST/HIV. Apresenta-se uma experiência ocorrida, em 2013, em ParanaíbaMS, cujo projeto inspira-se na RD, para prevenir danos pelo abuso de drogas e relações sexuais desprotegidas, durante o carnaval de rua. Situações vivenciadas pelos redutores, na interação com foliões, foram registradas, sendo a base das reflexões adensadas por artigos científicos e materiais técnicos oficiais sobre RD. O projeto abrangeu: 1) Na véspera do carnaval, sensibilização sobre os temas drogas e sexo seguro, na rádio; 2) Durante o carnaval: distribuição de kits (preservativos, materiais educativos, balas); 3) Instalou-se um ponto de apoio visível (barraca), com ambiência acolhedora, como espaço de parada atrativo aos foliões, para conversas e suporte às pessoas em intoxicação, articuladamente aos bombeiros; 4) Abordagens educativas aos foliões. Resultados: Pessoas sob efeito de substâncias aceitaram hidratação, descanso e glicose (balas); algumas demandaram cuidados de enfermagem/médicos. Preservativos foram distribuídos em clima não coercitivo/moralizador. 116 Abordagens corpo a corpo e suporte/mediação em situações de risco à integridade física de jovens sob efeito de drogas, tiveram desfechos positivos e humanizados. Três garotas sob efeito de gás de buzina, álcool e maconha, assustadas, com falta de ar, foram acolhidas; solicitaram a presença dos pais, chamados pelos redutores. Eles compareceram, ficando satisfeitos/agradecidos pela atenção e conversa com os redutores. Pessoas desacordadas por embriaguez/intoxicação, deitadas no chão, estavam expostas a agressões. A prática usual era sua remoção pelos bombeiros, arrastando-as dos locais de passagem/visibilidade. Com a argumentação dos redutores, a ambulância foi requisitada e um rapaz hospitalizado. O funcionamento do ponto de apoio na madrugada foi crucial (a procura de preservativos pelos garotos mais desinibidos aumentou). Abordagens amistosas/não moralizadoras e a circulação de redutores homens e mulheres foram diferenciais (garotas iam menos à barraca, aceitavam melhor as redutoras para sensibilização/entrega de preservativos, inclusive femininos). Conclui-se que as ações extrapolaram a prevenção, reduzindo inclusive exposições a danos físicos e à negligência, sobretudo das pessoas sem condições de autocuidado, pelo efeito das substâncias. Os princípios da RD mostram-se apropriados a projetos comunitários de prevenção dos danos à saúde relacionados a contextos festivos, com aumento do uso de drogas e do fluxo de pessoas. Palavras-chave: Redução de danos; Prevenção em saúde; Educação em saúde; Carnaval. SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO DO POLICIAL MILITAR EM ARACAJU/SE Maria Do Socorro Sales Mariano Marcus Eugênio Oliveira Lima Ana Lúcia Barreto Fonseca UFS/FAPITEC/SE, Aracaju- SE [email protected] O trabalho do policial militar se insere no rol das atividades de alto risco, estes trabalhadores/profissionais lidam diariamente com a violência e a brutalidade, pois a função principal da policia ostensiva, por exemplo, é o combate á criminalidade, o que faz a profissão do policial militar uma das que mais sofre de estresse, por trabalhar sob forte tensão e pressão, muitas vezes em meio a situações que envolvem risco de vida e desgastes que comprometem as condições psicológicas, físicas e sociais. Este trabalho teve como objetivo analisar a percepção da qualidade de vida no trabalho de policiamento ostensivo e os níveis 117 de burnout na atividade do Policial Militar. A pesquisa de campo foi realizada com 274 policiais lotados em Aracaju/SE, distribuídos entre as unidades de policiamento ostensivo especializado: Batalhão de Policia de Choque (BPChoque 30,7%), Companhia de Policia de Rádio Patrulha (CPRp 32,5%), Grupamento Especial Tático de Moto (GETAM 11,7%) e o Quartel de Comando Geral (QCG 24,5%). Como instrumento de coleta de dados foi aplicado um questionário sobre condições de vida, para traçar o perfil sócio-demográfico da população pesquisada, questionário auto aplicável de Qualidade de Vida Profissional- QVP-35 e o Inventário de Burnout MBI, a fim de identificar a percepção da qualidade de vida no trabalho e a relação com a saúde dos participantes. Com relação aos aspectos referentes a saúde dos policiais (61,6%) informaram que tiveram mudanças na saúde decorrentes do trabalho, (41,3%) já sofreu acidente no trabalho, (17,5%) já sofreu/sofre de intoxicação no trabalho e as doenças que se reptem com freqüência- estresse (55,8%); coluna (39,8%); distúrbio do sono (33,9); problemas emocionais (30,3); enxaqueca (28,5%); alergia (23,4%). Quanto as médias relacionadas da qualidade de vida profissional, a maior média corresponde a dimensão Motivação Intrínseca-MI (3,95, DP=0,80), seguida por Apoio Social-AS (3,72, DP=0,72), Recursos Relacionados ao Trabalho-RT (3,17, DP=0,46), Desconforto Relacionado ao TrabalhoDRT (3,00, DP=0,80) classificadas como; algumas vezes. A dimensão Apoio Organizacional- AO obteve menor média (2,45, DP=0,57), classificada como: raramente. Destacamos que a dimensão sobre a Qualidade de vida no Trabalho- QVT apresentou média (3,08, DP=1,24), classificada como: algumas vezes. Quanto aos aspectos referentes ao esgotamento e desgaste no trabalho verificamos que os níveis de comprometimento do burnout apresentaram no fator Exaustão Emocional (20,1) nível médio de burnout, enquanto que nos fatores Despersonalização (12,04) e Realização Pessoal (17,98) nível alto de burnout, indicando desta forma, na despersonalização um maior desgaste com a clientela assistida e baixa realização pessoal no trabalho, por outro lado, apresentam maior motivação intrínseca relacionada ao trabalho. Palavras-chave: Saúde, Trabalho, Policial Militar, Qualidade de vida. 118 RELATO DE EXPERIÊNCIA: OS DESAFIOS DO PROCESSO DE ALTA DOS USUÁRIOS DO CAPSII DE JARAGUÁ DO SUL/SC Carolina Santana Mafra CAPSII Jaraguá Do Sul/SC [email protected] O processo de alta dos usuários da saúde mental tem se mostrado um desafio para as equipes que os acompanham. Questões como o alto índice de reencaminhamentos ao serviço poucos meses após a alta sempre preocuparam a equipe do CAPSII de Jaraguá do Sul. Outras questões permeavam constantemente as discussões, como as dificuldades da atenção básica em acolher e dar continuidade ao tratamento desses usuários e a resistência de muitos deles em iniciar este processo, em alguns casos com piora dos sintomas. Foi a partir de situações como as descritas acima que a equipe sentiu a necessidade de empoderar-se do tema, antes restrito ao médico. Este trabalho pretende relatar a experiência do Grupo Recomeço, criado para usuários do CAPS II de Jaraguá do Sul/SC que estão estáveis. O Grupo Recomeço acontece 1 (uma) vez por semana por aproximadamente 1 (uma) hora e tem duração de quatro encontros. No último dia é solicitada a presença de um familiar para receber orientações sobre a continuidade do tratamento na atenção básica e para que a família seja implicada neste processo. A alta é individual, portanto, no mesmo grupo pode haver usuários que estão em seu primeiro dia e outros que estejam em seu último encontro. Os usuários acompanham o processo de alta uns dos outros e isso promove uma ajuda mútua para realizar esta etapa do tratamento, que pode ser complexa para alguns. No grupo, terapeuta e usuários precisam ressignificar o cotidiano, antes limitado a atividades e pessoas do CAPS. Em quatro encontros devem identificar a rede social destes usuários, descobrir novas atividades existentes na comunidade onde vivem, sejam elas laborativas, de lazer, atividades físicas ou o engajamento em atividades religiosas. Redescobrir prazeres e habilidades adormecidas pelo isolamento que os transtornos mentais acarretam. Devem ainda ser encorajados a conhecer e participar das atividades que a atenção básica oferece. Tornar aquela unidade de saúde uma referência. Em contrapartida a equipe do CAPS deve dar o suporte necessário às equipes da atenção básica para que ocorra o compartilhamento do cuidado. Esse suporte atualmente é realizado através do apoio matricial que deve empoderar as equipes, proporcionando retaguarda especializada para a promoção da clínica ampliada. Os resultados da criação deste grupo ainda não são mensuráveis devido ao pouco tempo de sua criação, porém a equipe percebe mudanças positivas em usuários e profissionais em relação ao processo de alta, que anteriormente parecia ser um tabu. Outra conclusão a que se chegou foi à confirmação da importância do 119 trabalho em rede e da identificação das fragilidades dessa rede, para que o ambiente em que o usuário será reinserido seja conhecido pelas equipes e que, conhecido, possa ser melhorado. Palavras-chave: Alta; Saúde Mental; Grupo Terapêutico; CAPS. 120 SENSIBILIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO EM PROL DO DIA 18 DE MAIO: EXERCÍCIO DE CIDADANIA POR MEIO DA EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA Pedro Junior Rodrigues Coutinho Vitor Corrêa Detomini Daniela Megliorini Paro FAMERP - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto/SP [email protected] O dia 18 de maio, Dia Nacional da Luta Antimanicomial, marca a comemoração de um movimento histórico, social, reivindicador de direitos, cidadania, e envolvimento de toda a comunidade em prol de uma luta por melhorias pelos direitos dos usuários de saúde mental, com fins da extinção dos manicômios, e o inicio do movimento da reforma psiquiátrica que possibilitou mudanças na assistência em saúde mental. Dada a importância do envolvimento da comunidade e dos serviços públicos frente a esta data, esse trabalho visa apresentar um relato de experiência de uma ação realizada no dia 18 de maio que teve como objetivo a conscientização comunitária em torno do tema da Saúde Mental mediada pela Educação Comunitária, considerando-a fundamental no que diz respeito ao desenvolvimento das condições de vida digna para o ser humano, principalmente quando se enfoca a alteridade, e o saber colocar-se no lugar do outro, sendo assim, possível de construir o conhecimento numa relação dialógica em que todos tenham a liberdade de expor suas ideias, contestar, não aceitar tudo passivamente. A ação foi realizada num município do Estado do Mato Grosso do Sul, na praça central da cidade, e contou com a participação de profissionais da rede local de saúde pública e da assistência social, bem como da comunidade local e vizinhas. Foram desenvolvidas as atividades: (1) Mobilização dos serviços públicos da área de saúde, escolas, universidades e mídia local; (2) Mesa-redonda, com a proposta de diálogo e debate acerca do tema da luta antimanicomial; (3) Exposição de quadros, mandalas e artesanatos feitos pelos usuários do CAPS I do município, e de materiais produzidos pelas escolas municipais e estaduais da região; exibição de filmes/documentários curta-metragem, oficinas de filtro dos sonhos, mandalas e estrelas no papel; brinquedoteca (espaço com brincadeiras, teatro de fantoches, desenhos, cantigas e canções voltadas às crianças que comparecerem); peça teatral; e rodas de conversa, intitulada como (Re)conhecendo a nossa loucura. A ação resultou em um papel comunicacional e de construção da realidade em torno do louco e da loucura de diminuir o preconceito e a segregação social das pessoas que sofrem de transtornos mentais, assim como estimular os compromissos dos atuais gestores públicos para a realização das 121 melhorias no cuidado a saúde mental no município. Foi fundamental a participação social efetiva e conjunta da população mediante a esse tema do qual necessita cada vez mais do envolvimento e presença ativa da população. As atividades realizadas em prol do dia 18 de maio proporcionaram maior aproximação e interação da população, com fins de sensibilização e educação comunitária, como também engajamento e protagonismo, considerando que, a participação de todos somam-se forças para ações futuras. Dessa forma, a ação proporcionou um encontro comunitário de diversão, cultura, educação, integração, acolhimento e exercício de cidadania em prol de uma luta social que necessita do envolvimento frequente da população. Torna-se relevante mencionar a importância de incluir em espaços sociais do município atividades como essas que, propõe interação, diálogo, e debate com a população, possibilitando assim, uma aproximação com as pessoas e principalmente sensibilizando os presentes diante da saúde mental. Palavras-chave: Saúde mental; Educação em saúde; Participação comunitária; Reforma psiquiátrica. 122 A INTERDISCIPLINARIDADE INTEGRA-AÇÃO VIVENCIADA EM PROJETO DE EXTENSÃO Patricia Melo Freire Raiza Silva Lobato Sueli Carvalho Vilela Universidade Federal de Alfenas - MG [email protected] r A interdisciplinaridade trata-se de conceber as disciplinas como processos históricos e culturais e torná-las comunicativas entre si, dessa forma é uma prática contrária a homogeneização ou enquadramento conceitual. As universidades públicas têm consolidado seu compromisso social no tripé ensino, pesquisa e extensão com ação objetiva na realidade construindo sua própria subjetividade. Objetiva-se, nesse estudo, relatar a experiência de estudantes ao realizar atividades interdisciplinares de reabilitação psicossocial em serviços de residências terapêuticas. Trata-se de um relato de experiência de caráter descritivo, vivenciado no projeto de extensão Integra-ação, o qual é interinstitucional e interdisciplinar. Realizado em parceria com a secretaria Municipal de Saúde e tem como finalidade a interdisciplinaridade e a reabilitação psicossocial. Os participantes são discentes de enfermagem, odontologia, fisioterapia e nutrição da UNIFAL-MG e alunos do curso de psicologia da UNIFENAS. Nas atividades educacionais utilizaram-se a metodologia ativa de problematização e nas atividades de reabilitação psicossocial adotaram-se o modelo psicossocial. As atividades foram desenvolvidas em dois anos em setes Serviços de Residências Terapêuticas (SRT), abrangendo aproximadamente 56 moradores. As atividades foram semanais, com dias e horário fixos, durando duas horas. Foram realizadas por dois ou três discentes e envolveram atividades de expressão, recreação e educação incluindo: atividades de pintura, desenho, jogos pedagógicos, quebra cabeça, música, dança, conto e reconto de histórias, leitura, caminhada, reconhecimento espacial, fotografia, higienização bucal, alimentação, dentre outras. Foram realizadas reuniões semanais com a facilitadora, nas quais se: avaliou as atividades desenvolvidas; realizou os planejamentos de próximas atividades; e discutiu uma temática teórica a respeito de SRT, política, intervenções e manejos. Tais reuniões de supervisão transformaram-se em momentos de ampliação das relações e olhares interdisciplinares bem como do conhecimento técnico-cientifico. O projeto desenvolveu também um evento técnico-científico anual. Foi constatado nas discussões e reflexões que no 123 início houve certa dificuldade e resistência entre os acadêmicos sobre a possibilidade de compreensão e realização de atividades no âmbito da interdisciplinaridade, mas com o passar das atividades e com a as discussões em grupo, essa resistência diminuiu, sendo constatado a partir das ações desenvolvidas em grupo. Assim, os espaços de diálogos propiciaram o desenvolvimento da interdisciplinaridade sendo possível reconhecer a importância do convívio entre os graduandos. Com relação aos moradores, foi possível perceber melhorias nas relações sociais, habilidades motoras (movimentos grossos e finos) e verbais. Por fim, percebem-se nos graduandos e nos moradores o despertar do prazer, satisfação e o estabelecimento de vínculos, além do aprimoramento das relações interdisciplinares entre os futuros profissionais da área, que a partir do projeto passaram aprimorar as suas relações em prol de um bem comum. Palavras-chave: Interdisciplinaridade; Oficinas terapêuticas; Serviço residencial terapêutico; Reabilitação psicossocial. 124 SAÚDE MENTAL E CONJUGALIDADE: UM ESTUDO DE CASO João Rafael Pimentel Colavin Sandra Aparecida Serra Zanetti Maíra Bonafé Sei Universidade Estadual de Londrina/PR [email protected] Quando os membros de um casal optam por uma união estável, civilmente legalizada ou não, irão construir uma nova família a dois, com ou sem filhos, em que começam a compartilhar planos e ideais, sofrimentos, desejos, dividindo, um com o outro, sua própria vida. A psicanálise de casal e família compreende que o vínculo do casal é perpassado por mecanismos de ordem consciente e inconsciente, que determinam o vínculo desde a escolha dos parceiros, passando pela a organização saudável ou não da união e de seus membros. Da mesma forma, a saúde mental de um dos membros da díade conjugal interfere diretamente na satisfação do outro com o casamento. Diante disso, o presente trabalho se propõe a pensar sobre a saúde psíquica de um casal quando um dos membros possui uma organização psicótica. Para tanto, o método deste estudo se baseou na análise de um caso atendido por meio do projeto de extensão “Atendimento a famílias por meio de recursos artísticoexpressívos com base no referencial winnicottiano”, da Universidade Estadual de Londrina. Neste caso, o casal foi encaminhado para atendimento pela médica psiquiatra de Antônio (nome fictício), com a finalidade de acompanhamento conjugal devido às suas crises de humor influenciar no relacionamento com sua esposa, Edna (nome fictício), segundo a médica. Já no primeiro atendimento, a esposa, que se mostra como a porta-voz do vínculo, traz como queixa a ausência do marido no seu papel de marido e de pai, e que não os vê mais enquanto um casal, pois nem sequer andam de mãos dadas. Antônio, sempre em silêncio, tende a olhar para o vazio e só se manifesta quando solicitado pelo terapeuta, com o discurso de que para ele o casamento está normal. Por vezes, a esposa insiste estar cansada de sempre ter a mesma vida sobrecarregada e não poder contar com a ajuda do marido, todavia, em outros momentos, como, por exemplo, em uma decisão importante relacionada ao emprego de Antônio, diz que está com ele no que ele decidir e enquanto ela viver. Ao longo do atendimento foi possível verificar que o posicionamento da esposa é ambivalente frente àquilo que julga como inadequações do marido. Aparentemente tudo se passa como se a patologia do marido lhe fosse um fardo e a impedisse de alcançar objetivos concretos na vida, como reformar a casa. Contudo, tomando por base o referencial psicanalítico, é possível 125 pensar que um vínculo quando se forma e é duradouro, contém determinantes inconscientes que mantém estável a união, no sentido de revelar que a responsabilidade pelo vínculo é de ambos. Todo casal que se forma e se mantém tem por base uma união da qual ambos tiram algum benefício. Consideramos salientar, portanto, que na clínica com casais, embora a queixa se volte sobre um, é necessário trabalhar aquilo que se refere à construção dos dois, buscando encontrar o motivo inconsciente que os une, com a intenção de torná-lo consciente e propiciar um vínculo mais sadio, envolvendo a responsabilização por ambos por toda sua história e futuro. Palavras-chave: Saúde mental; Conjugalidade; Esquizofrenia, Psicanálise. 126 OS VÍNCULOS FAMILIARES DAS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA: RELATO DE EXPERIÊNCIA Maria Carolina Lins Da Silva Isabelle Louise Pino de Lima Maria Cícera dos Santos de Albuquerque Roberta Dorvillé Moreira Universidade Federal de Alagoas, Maceió- AL [email protected] Objetivamos com o presente trabalho relatar as vivências de estudantes de enfermagem e serviço social, do grupo Rede de Atenção Psicossocial vinculado ao Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET)/Redes de Atenção à Saúde na atenção a pessoa em situação de rua. Teve como enfoque o relacionamento familiar vivenciado durante as práticas no Consultório na Rua na Região do Centro de Maceió/AL (Brasil), campo vinculado ao PETRedes na Universidade Federal de Alagoas. Utilizamos a metodologia de abordagem qualitativa, do tipo exploratória, as informações foram obtidas através de diálogos informais com duração de aproximadamente 30 minutos, durante a abordagem de rotina da equipe do consultório na rua. Participaram seis pessoas em situação de rua, dentre elas encontramos homens, mulheres e adolescentes, na faixa etária entre 13 aos 40 anos. Utilizamos as diretrizes da Política Nacional para Inclusão Social da População em Situação de Rua, instituída no decreto da presidência da republica nº 7053 e pesquisa de referenciais no Scielo para subsidiar teoricamente o trabalho. A exclusão social da população em situação de rua relaciona-se com situação extrema de ruptura de relações familiares e afetivas. De acordo com a Política Nacional para Inclusão Social da População em Situação de Rua, dentre os principais motivos pelos quais essas pessoas passaram a viverem e morarem na rua 29,1% se referem a desavenças com pai/mãe/irmãos e 71,3% citaram pelo menos um desses três motivos que podem estar tanto relacionados entre si como ou ser consequência um do outro. Os Resultados dos diálogos vivenciados entre as estudantes e a população em situação de rua foram: C. (feminina) morou 8 anos na rua, está em tratamento no CAPSad e a firma que só conseguiu sair da vida que tinha antes porque a filha nunca desistiu dela. J.(masculino) tem 17 anos, é órfão e vive na rua e a única referência de família é a irmã que está em um abrigo. A. (masculino) foi rejeitado pela família por ser homossexual, conta com o apoio da mãe que sempre leva alimentação. S. e I. (masculino e feminino) é um casal que há 14 anos mora na rua, e a cumplicidade está presente na luta contra as drogas, mas também nas recaídas. Concluímos a partir das nossas vivências que nos casos abordados, as relações familiares 127 contribui para uma possível reinserção social do individuo que se encontra marginalizado, que a família não é a soma de indivíduos, mas um conjunto vivo, contraditório e cambiante de pessoas com sua própria individualidade e personalidade. As pessoas em situação de rua carregam consigo experiências familiares diversificadas que podem influenciar na manutenção ou não desta situação, identificamos que os vínculos familiares fortemente influenciaram para que os entrevistados se mantivessem nas ruas, devido a falta de aceitação da família, e por outro lado o apoio em alguns dos casos contribui para a sua saída. Palavras-chave: Pessoas em situação de rua; vínculos familiares; Consultório na rua; Exclusão social. 128 PROGRAMA DE VOLTA PARA CASA: UMA LUTA PELA REINSERÇÃO DO INDIVÍDUO NA SOCIEDADE Nathiely Araujo Cabral Raquel Jara Volpato Leite Luciano Gomes Lopes Universidade Paranaense/UNIPAR, Tapejara/PR [email protected] A partir do movimento da Reforma Psiquiátrica, vários programas foram sendo implantados para dar amparo às pessoas que foram retiradas dos hospitais psiquiátricos, um destes é o Programa De Volta Para Casa, no qual será abordado através de revisão bibliográfica tendo como objetivo demonstrar sua importância para a reintegração de pessoas com transtornos mentais na sociedade, cumprindo a finalidade de diminuição de leitos em Hospitais Psiquiátricos através do processo de desinstitucionalização (BRASIL, 2005). Para Goulart (2008), a reforma psiquiátrica tem como objetivo a reinserção social, uma maneira de manter o portador de sofrimento mental perto da família, da comunidade e da sociedade, pois, como descrito por Minas Gerais (2006), o tratamento oferecido pelos hospitais psiquiátricos fazia com que o paciente fosse totalmente isolado do seu espaço social. De acordo com Jorge e Bezerra (2004, p.558) as possibilidades de inclusão assumem valor simbólico, como resgate do sentir-se vivo e participando das relações de trocas sociais. Campos (2008) ressalta a importância de se levar uma vida com liberdade, mas para que isso ocorra é necessário que haja um trabalho continuo de acompanhamento ao indivíduo que possui transtornos mentais por uma rede de atenção à saúde mental, para que então, se possa melhorar o relacionamento com os demais moradores da comunidade, fazendo com que se torne cada vez mais independente para realizar tarefas diárias, ampliando assim suas relações sociais, possibilitando o exercício de sua cidadania e direitos civis e políticos. Deste modo, o Programa de Volta para Casa constitui um meio inovador e efetivo que traz um excelente beneficio através da sua proposta para a reintegração social das pessoas que passaram por período longo de internação em hospitais psiquiátricos, o qual o beneficiário do programa recebe um auxílio mensal no valor de R$ 380,00, com o intuito de contribuir para sua inserção social (CAMPOS, 2008). Esta ajuda colabora com o propósito do programa de fazer com seja estimulado atividades que tenha como objetivo a socialização, isso através de trabalho, cultura, laser, alimentação e autocuidado, resultando em maior independência, autonomia e uma melhor qualidade de vida ao beneficiário (BRASIL, 2003). Contudo, é notório a importância e os benefícios deste programa no processo de reabilitação psicossocial, porém, 129 em relação a sua implementação e consolidação, existe muitas dificuldades por defrontar-se com um contexto paradigmático engendrado por um longo processo de exclusão social; portanto há necessidade de lutar para a desconstrução de estereótipos e para que o programa se estenda ao maior número de pessoas, sobretudo, aquelas que perderam seus documentos pessoais mínimos durante o extenso período de internação e que são necessários para o cadastramento no programa. Palavras-chave: Saúde Mental; Reforma Psiquiátrica; Inclusão Social, Programa de Volta para Casa. 130 ATENÇÃO PSICOSSOCIAL AOS SERVIDORES DO SISTEMA PRISIONAL: O TRABALHO DOS AGENTES DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA Eneida Santiago Ana Cláudia Barbosa Silva-Roosli Ana Celi Pavão Universidade Estadual de Londrina - UEL [email protected] Este resumo apresenta e discute alguns dados de um Projeto de Pesquisa e Extensão Universitária de Atenção Psicossocial dirigido aos servidores do sistema prisional de LondrinaPR. Este Projeto objetiva: mapear e refletir sobre as vivências subjetivas relacionadas à atuação profissional no contexto prisional verificando o desdobramento das dimensões institucionais sobre o espaço e as relações sociais dentro e fora do trabalho. A partir disto, disponibilizamos serviços e processos individuais e grupais de acolhimento, suporte e atenção à saúde mental dos servidores, tanto dos que estão na ativa, quanto os afastados do trabalho, bem como os envolvidos em ocorrências de risco (como, por exemplo, os feitos reféns em rebeliões e motins). Uma das principais prerrogativas do Sistema Penitenciário é, em última análise, a reeducação dos apenados para posterior reinserção na sociedade. Para tanto, se utiliza da privação de liberdade (parcial ou total) através de determinados estabelecimentos (as penitenciárias) onde o preso é submetido a regras e procedimentos institucionais. Um dos efeitos a ser citado é a destituição de elementos que compõem a subjetividade do preso, que é “invadida” por conteúdos imaginários e simbólicos da instituição que são organizadores de pessoas e processos. Como parte fundamental da instituição penitenciária estão os servidores, os trabalhadores, sendo que a categoria em maior número são os agentes de segurança penitenciária. O agente penitenciário, como trabalhadores que mantém contato direto com os apenados, são/representam um suporte material da instituição, sendo colocados como protagonistas da lógica do funcionamento prisional. O agente, em sua atividade diária de trabalho, é a ferramenta que personifica a função de vigilância, disciplina e ressocialização. Ao se inserirem cotidianamente no contexto penitenciário, os servidores (e principalmente os agentes penitenciários), são igualmente invadidos e submetidos à lógica da subjetividade da instituição que contribuiria para uma postura profissional identificada como adequada e competente, ou seja, vigilante e rígida quanto às normas a serem seguidas. Ao mesmo tempo, pode ocorrer a cristalização dessa lógica penitenciária, levando muitos agentes a extrapolarem 131 seu comportamento vigilante para fora do presídio, para suas relações familiares e sociais, bem como para a vivência de sentimento de endurecimento dos afetos e dessensibilização. Palavras-chave: Sistema prisional; Relações de Trabalho; Atenção Psicossocial. 132 CARACTERIZAÇÃO DO PRIMEIRO CONSUMO DE ÁLCOOL DE ALCOOLISTAS MEMBROS DE UM GRUPO DE LIBERTAÇÃO DO ALCOOLATRA Carla Moretti De Souza Alessandro Rolim Scholze Maria José Quina Galdino Universidade Estadual do Norte do Paraná, Bandeirantes- PR [email protected] O álcool apresenta-se como a droga mais consumida ou, pelo menos, experimentada no Brasil e no mundo. O elevado consumo é favorecido pela facilidade com que essa substância é comercializada, por ser lícita, podendo trazer consequências graves, a níveis orgânico, psicológico e social. O ápice deste prejuízo é o alcoolismo, um problema que atinge milhões de brasileiros. Objetivo: Identificar as características do primeiro consumo de álcool de alcoolistas em tratamento de um Grupo de Libertação do Alcoólatra. Método: Estudo descritivo-exploratório de abordagem quantitativa, realizado com membros de um Grupo de Grupo de Libertação do Alcoólatra de um município situado no norte do Paraná. Foram incluídos alcoolistas em tratamento, acima de 18 anos, de ambos os sexos, que frequentassem o grupo há pelo menos um ano e que relatassem não fazer uso de álcool há pelo menos um ano. Os dados foram coletados por meio de um questionário semiestruturado durante as reuniões do grupo no mês de novembro de 2010. Os resultados foram analisados de forma descritiva com o auxílio do programa Microsoft Office Excel®. Esta pesquisa seguiu os parâmetros éticos estabelecidos pela resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde, incluindo aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Norte do Paraná, parecer nº 11/2010. Resultados: Participaram da pesquisa 17 alcoolistas em tratamento, a maioria do gênero masculino (82,4%), com idades que variaram entre 18 e 83 anos, sendo a idade média do gênero masculino 52 anos e do gênero feminino 43 anos. Em ambos os gêneros prevaleceram indivíduos casados (58,8%), que cursaram até o ensino fundamental (70,6%) e possuíam renda familiar de até 2 salários mínimos (82,3%). Com relação ao tempo de consumo de álcool, da primeira ingestão até o relato de abstemia voluntária, verificou-se que na faixa etária de 18 a 34 anos a média foi 7 anos e acima de 35 anos a média foi de 38 anos de uso de álcool, variando entre 7 e 50 anos de consumo de álcool. Na história pregressa, 76,5% relataram que durante a sua adolescência, existia pelo menos um familiar que fazia uso nocivo de álcool. Quanto ao familiar que fazia uso nocivo de álcool, as alcoolistas do gênero feminino apontaram o pai (25%), a mãe (25%) e os irmãos (50%). Já entre 133 os alcoolistas do gênero masculino prevaleceu o pai (69,2%) e os irmãos (30,8%). O primeiro consumo de álcool aconteceu antes dos 14 anos (64,6%) e idade média de 12,5 anos. Relataram, ainda, que foram motivados pela curiosidade e que estavam na companhia dos pais e/ou dos amigos. Considerações finais: Os resultados sugerem que a participação familiar pode influenciar no consumo precoce e abusivo de álcool. Ressalta-se que, atualmente, os Grupos de Libertação do Alcoólatra e seus pares, tem desempenhado papel fundamental no auxílio à esta população no enfrentamento desta doença crônica e estigmatizante. Palavras-chave: Alcoolismo; Dependência; Transtornos relacionados ao uso de substâncias; Comunidade Terapêutica. 134 CONHECIMENTO SOBRE REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DE PROFISSIONAIS DE SERVIÇOS RESIDENCIAIS TERAPÊUTICOS João Carlos Tavares Da Costa Poliana Rodrigues Sant’ana Da Silva Vânia Regina Bressan Universidade Federal De Alfenas/ Unifal, Alfenas- MG [email protected] No Brasil, as redes de atenção à saúde são compostas por um conjunto de serviços de saúde que apresentam missões e objetivos comuns, operando de forma cooperativa e interdependente, sem hierarquia entre os pontos de atenção. Implicam em um contínuo de atenção nos níveis primário, secundário e terciário em busca da atenção integral, incluindo ações de promoção, prevenção e reabilitação em saúde. A rede de atenção psicossocial tem como objetivo promover o acesso aos serviços de saúde às pessoas com sofrimento mental ou usuários de crack, álcool e outras drogas, garantir a articulação e integração do cuidado contínuo e qualificado nesses diversos serviços. O presente trabalho, teve por objetivo levantar o conhecimento dos cuidadores e profissionais de serviços gerais dos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs) sobre a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do Município de Alfenas- MG. Para isso foi realizado grupo focal com esses profissionais em 2014, utilizando as seguintes questões norteadoras: “O que é trabalho em rede de atenção psicossocial e quais os fatores que dificultam a eficácia do trabalho?”. Foram solicitadas sugestões para melhoraria da eficiência, eficácia e efetividade do trabalho dos profissionais na assistência às pessoas com transtornos mentais e aos usuários de álcool, crack e outras drogas. As entrevistas foram gravadas em gravador de voz digital e em seguida foram transcritas na íntegra. Os sujeitos foram esclarecidos quanto aos objetivos e à metodologia do estudo, bem como aos aspectos éticos que norteiam a investigação científica. O sujeito que aceitou participar do estudo assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Verificou-se que os cuidadores e serviços gerais dos SRTs não têm conhecimento sobre a definição e composição da RAPS. Questões apontadas sobre a RAPS foram: falta de atendimento prioritário aos moradores dos SRTs nos níveis primário e terciário e a demora no agendamento das consultas. Ao serem abordados sobre o tema, voltaram-se para problemas internos como: falta de organização e supervisão do serviço, problemas de relacionamento entre os funcionários, baixo salário, espaço físico inadequado, falta de treinamento ao iniciar o trabalho, empecilhos para se realizar a ressocialização dos moradores e preconceito da sociedade. Sugeriram mais agilidade 135 no atendimento hospitalar e ambulatorial aos moradores dos SRTs; aumento do número de clínicas de reabilitação gratuitas para usuários de álcool, crack e outras drogas e acompanhamento terapêutico multiprofissional pós-alta; atendimento prioritário aos moradores dos SRTs nos serviços de saúde do Município e implantação de ala psiquiátrica em hospital geral com equipe multiprofissional treinada para assistência aos usuários. Evidenciase a necessidade de educação permanente aos profissionais dos SRTs visto o desconhecimento dos mesmos sobre RAPS e para o melhor uso dessa rede pelos moradores dos SRTS. Evidenciase também a necessidade de maior aproximação entre funcionários e responsáveis pelos SRTs do Município para que medidas necessárias e ao alcance sejam tomadas, a fim de amenizar ou resolver problemas apontados pelos cuidadores e serviços gerais dos SRTs, visando a melhora da qualidade da assistência prestada aos moradores desses serviços. Palavras-chave: Saúde mental, Serviço Residencial Terapêutico, Rede de Atenção Psicossocial, Serviços de Saúde. 136 DEPENDENTE QUÍMICO E FAMÍLIA: NECESSIDADE DE ASSISTÊNCIA PARA AMBOS Nathiely Araujo Cabral Raquel JaraVolpato Leite Luciano Gomes Lopes Universidade Paranaense/UNIPAR, Tapejara-PR [email protected] A dependência química é um problema de saúde pública complexa devido a sua extensão e consequências, uma vez que não envolve somente a qualidade de vida sujeito, mas também de seus familiares e daqueles que o envolta socialmente (MUNIZ et al, 2010). Deste modo, o presente trabalho objetiva através de levantamento bibliográfico realizar um estudo sobre a necessidade de apoio e acompanhamento por parte de profissionais de saúde mental não só do dependente químico, mas também de sua família, constituindo em uma forma de potencializar resultados positivos no tratamento. Segundo Sobral e Pereira (2012), é visível a capacidade de estrago que a dependência química traz consigo, isto é, o sofrimento psíquico que gera no usuário, sendo necessário conhecer os mais diferentes aspectos que intervêm na vida dos familiares do dependente para que se possa oferecer um amparo psicossocial mais efetivo e completo as pessoas que estão em volta do dependente químico (SOBRAL; PEREIRA, 2012). De acordo com Azevedo e Miranda (2010), a família, além do usuário, é a mais afetada com o problema e a que tem mais condições para ajudar o membro usuário de drogas, desde que seja incentivada, auxiliada, assistida e orientada de forma devida. A forma com que a família lida com o usuário e sua dependência influenciam na sua saúde e seu funcionamento. A procura da família por assistência no enfrentamento do problema é positiva e influi em razão a suas características próprias de proximidade e convivência, a família oferece melhores qualidades para assistir o processo saúde-doença de seus membros. Independente do padrão ou estrutura familiar, o âmbito familiar constitui-se o alicerce de constituição da cidadania de cada sujeito, além de ser associada a elementos de proteção, socialização e criação de vínculos fundamentais, sendo a composição familiar definida por vários fatores que se aludem às maneiras de organização interna do conjunto familiar e aos aspectos econômicos, sociais e culturais que os envolvem. Desta forma, é preciso que profissionais que trabalham com famílias procurem entende-las em sua totalidade, considerando os contextos e relações que se inserem, bem como atentem para a relevância da atuação com esta significante instituição social (SCHENKER; MINAYO, 2004). Logo, é válido ressaltar a importância da família na vida do dependente químico e ainda, das relações que se constroem entre família e doente, faz-se 137 preciso que o tratamento prestado a este estenda aos familiares, que estejam vinculados ao dependente químico, pois é fundamental promover cuidados também à família. Palavras-chave: Família; dependente químico; Tratamento; Assistência. 138 O USO DE DROGAS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE PROMOÇÃO À SAÚDE: RELATO DE EXPERIÊNCIA DO PET ATENÇÃO PSICOSSOCIAL Carla Priscilla Pereira Rios Michele Bulhosa de Souza Odete Messa Torres Universidade Federal do Pampa, Uruguaiana- RS [email protected] Hoje em dia, a dependência química é caracterizada mundialmente como problema de saúde, o uso de drogas lícitas e ilícitas cresce gradualmente no cenário brasileiro e no mundo, alcançando indivíduos das mais diversas faixas etárias e classes sociais. Com a alta prevalência do uso de substancias psicoativas, surgem também dúvidas sobre o tema, como os efeitos das drogas no organismo humano, a classificação e os tratamentos oferecidos pela rede pública. As políticas públicas setoriais que visem a promoção da saúde são foco deste debate. Em nossa cidade foi fundada no ano de 2012 o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD III) do município de Uruguaiana-RS. Em torno de 1000 (mil) usuários reúnem-se para fins terapêuticos, atividades lúdicas, laborais cotidianas, trabalhos manuais, prevenção ao uso de substâncias, promoção a saúde, conforme a aptidão de cada usuário, buscando uma melhoria em sua qualidade de vida, para que possam exercer suas profissões, sem discriminação, com os mesmos direitos e deveres assegurados a todos os cidadãos. O local tem uma equipe multiprofissional para atender os pacientes: fisioterapeuta, médico clinico geral, psicólogo, terapeuta ocupacional, dentre outros profissionais de saúde. Realizamos atividades semanalmente com grupos de trinta pacientes, trabalhando na promoção da saúde e prevenção ao uso abusivo de álcool e outras drogas. Nosso objetivo é manter um funcionamento qualificado no serviço, além de preparar os alunos para novas práticas e saberes na atenção psicossocial no contexto da reforma psiquiátrica brasileira. Percebemos os resultados alcançados, pelo interesse dos usuários e o aumento da participação nos grupos. Essa experiência nos permitiu conhecer o funcionamento do serviço substitutivo. Além de criarmos um vínculo positivo com os usuários e familiares, com estratégias de atuação que melhoraram a qualidade de vida dos participantes. A prática contribui para o nosso crescimento profissional e pessoal. Consideramo-nos privilegiados por fazer parte um trabalho que promova a reinserção social e garanta os direitos de cidadania dos sujeitos. Palavras-chave: Drogas; Extensão; Prevenção; Qualidade de vida CONSUMO DE ÁLCOOL E OUTRAS SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS ENTRE JOVENS DO MST NO ESTADO DO PARANÁ 139 Alessandro Rolim Scholze Luiz Fabiano Zanatta Kelly Holanda Prezotto Universidade Estadual do Norte do Paraná, São José da Boa Vista- PR [email protected], Atualmente, as Substâncias Psicoativas (SPA) se apresentam como um problema mundial. O comportamento de experimentação e de uso e abuso de substâncias lícitas e ilícitas vem atingindo cada vez mais a população jovem o que implica em consequências negativas para o desenvolvimento e crescimento. Diversas pesquisas demonstram que quanto mais precoce e desordenado o consumo de SPA, maiores são as probabilidades para o desenvolvimento da dependência química na vida adulta. Objetivo: Identificar as influências do consumo de álcool no uso de outras sustâncias psicoativas entre jovens do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no Estado do Paraná. Método: Estudo de inquérito populacional de caráter de transversal, tendo como cenário o II Festival de Artes das Escolas de Assentamento do Paraná. A amostra foi composta por 288 jovens, com idades entre 12 a 24 anos. Para coleta de dados, utilizou-se um questionário adaptado do estudo de Galduróz, composto com 69 questões semiestruturadas. Para análise dos resultados, utilizou-se das frequências absolutas e relativas das variáreis sistematizadas pelo programa Statistical Package for the Social Sciences. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética e pesquisa da Universidade Estadual do Norte do Paraná. Resultados: Dos 288 jovens, 55,9% eram rapazes e 44,1% moças, com idade predominante de 15 a 17 anos (45,5%), seguido 12 a 14 anos (30,9%), 18 a 20 anos (18,4%) e mais que 21 anos (5,2%). Ao analisar o uso de substâncias lícitas nota-se que, 78,5% dos/as indivíduos já fizeram uso na vida de álcool. Ao realizar uma associação referente ao sexo observa-se que, 80,3% das moças já experimentaram alguma bebida alcoólica e 77% dos rapazes. Quanto ao consumo de tabaco 93% nunca fumaram. Ao analisar o uso de outras sob o efeito do consumo do álcool identifica-se que, 54,5% nunca consumiram outra substância (consumiram apenas o álcool), 1,7% mencionaram que às vezes faz uso de outra substância, 0,7% faz uso sempre que consegue, 0,3% faz uso de outras drogas só quando tem dinheiro e 42,7% não responderam à alternativa. Entre as drogas ilícitas foi observado que 1,3% já fizeram uso de maconha e 0,7% já consumiram cocaína. Ao correlacionar a faixa etária dos/as jovens que já consumiram substâncias ilícitas identifica-se que houve prevalência para a maconha na faixa etária dos 15 a 18 anos e da cocaína entre 15 e 17 anos. Considerações finais: Nota-se que houve um maior predomínio no consumo de álcool entre a população feminina. Ao relacionar o consumo de álcool e o uso de SPA ilícita observa-se que a maconha 140 e a cocaína foram as únicas substâncias descritas. Os resultados mostram a importância do investimento de políticas públicas eficientes para os/as jovens que se encontram inseridos nos acampamentos/assentamentos do Movimento, visto que é de extrema urgência a fomentação de ações em saúde buscando informação, orientação e prevenção do uso de álcool e outras drogas SPA para esses jovens. Palavras-chave: Juventude; MST; Detecção do abuso de substância; Drogas ilícitas. 141 QUESTÕES BIOÉTICAS DO USO DO METILFENIDATO NA BUSCA DO MELHORAMENTO HUMANO E SUA SITUAÇÃO NO BRASIL Carolina Argondizo Correia Camilla Carvalheiro Dias Ana Lígia Porcari Simões Eduardo Masaharu Kudo Karina Magalhães Silva Marina Araújo Lopes Alice Aparecida da Matta Chasin Paulo Roberto do Nascimento Faculdades Oswaldo Cruz (FOC), São Paulo/SP [email protected] O metilfenidato, indicado para os tratamentos de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em crianças a partir de 6 anos e narcolepsia (MS, 2012), é a primeira opção de tratamento do TDAH. O uso off-label é de responsabilidade total do prescritor (ANVISA, 2005) e se apoia em uso já aprovado em outro país ou por casuística médica (CONITEC, 2012). Estudos mostram o metilfenidato com diversos usos off-label, como no tratamento da síndrome de abstinência de drogas, mas também mostram o uso com a finalidade de melhoramento do desempenho cognitivo de estudantes e profissionais, sendo este último não validado por profissional especializado, o que não impede a sua prática crescente (BARROS e ORTEGA, 2011; MAZZOGLIO Y NABAR, 2011; BRANT e CARVALHO, 2012; FREESE et al., 2012; FINGER, SILVA e FALAVIGNA, 2013; KONOVA et al., 2013). Essa procura do melhoramento intelectual, para uma melhora da performance humana, é sustentada por uma linha da ciência denominada transumanismo, movimento que promove uma abordagem interdisciplinar para a compreensão e avaliação das oportunidades para a melhoria da condição humana e do seu organismo, proporcionados pelo avanço tecnológico (BOSTROM, 2005). As opções de aprimoramento a serem levadas em consideração incluem a erradicação da doença, a eliminação do sofrimento desnecessário e o aprimoramento das capacidades intelectuais, físicas e emocionais do ser humano (BOSTROM, 2005), objetivos estes utilizados para justificar a prática aqui analisada. Objetivo: 142 Discussão temática sobre uso off-label do metilfenidato para fins de melhoramento cognitivo. Métodos: Realizar leitura sistemática da bibliografia científica a respeito do uso off-label e não oficial do metilfenidato e levantamento do uso quantitativo no país para essa finalidade. Discussão e Resultados: Considerando que o metilfenidato é indicado para pacientes com diagnóstico de TDAH e verificado o aumento do seu consumo, não só no Brasil, mas por todo o mundo, pode-se supor que vivemos em uma pandemia deste transtorno, o que, por si só, já acarretaria um grande problema de saúde pública (BOARINI et al., 2010). Entretanto, outras questões estão envolvidas, tais como a superestimativa de diagnóstico de crianças e consequente prescrição exagerada, por pressão de pais e educadores induzidos pela propaganda deste medicamento (LEITE e BALDINI, 2011), e também a prática crescente do uso sem prescrição, com objetivo de melhorar características cognitivas individuais. Considerações finais: Estes aspectos nos levam a pensar nas consequências que o uso exacerbado do metilfenidato pode causar na saúde individual e coletiva, bem como quanto aos aspectos bioéticos implicados no seu uso por indivíduos que concorrem a vagas em concursos públicos ou em busca de quaisquer outras vantagens pretensamente proporcionadas pelo dito melhoramento. Palavras-chave: Metilfenidato; Off-label; Transumanismo; Saúde Pública. CAPS AD: UM ESTUDO QUALITATIVO Aline Bedin Zanatta Francine Cristine Garghetti Sergio Roberto de Lucca Universidade Estadual de Campinas- UNICAMP, Campinas- SP [email protected] O uso de drogas, tanto lícitas quanto ilícitas, vem crescendo ao longo dos anos e é hoje um dos grandes problemas de saúde pública mundial. A saúde está entre os setores da sociedade diretamente ligados à problemática das drogas, uma vez que o usuário de drogas frequentemente apresenta distúrbios, sejam eles físicos, psicológicos ou biológicos, que acabam por levá-lo à procura de assistência no âmbito da saúde. Objetivo: Este trabalho teve como objetivo estudar as experiências dos usuários do CAPSad, e, sob sua percepção, avaliar a importância do serviço para sua recuperação, a influência da família no tratamento, além de 143 buscar conhecer dificuldades para retornar as atividades de vida diária, a inserção na sociedade e responsabilidade pela melhora. Buscou expor a subjetividade do usuário para auxiliar e otimizar as propostas de tratamento, visando exercer o cuidado completo, concebendo o ser humano como um ser biopsicossocial, e não apenas sob a perspectiva biológica. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com abordagem descritiva que objetivou conhecer a opinião dos entrevistados e analisá-las. Foram entrevistados 10 pacientes de um CAPSad, de ambos os sexos, acima de 18 anos. Os dados foram coletados através de entrevistas com tópicos guia, gravadas com um gravador, e os achados foram submetidos à análise de conteúdo. Resultados e discussão: Como resultados os usuários do CAPSad mostraram-se satisfeitos com o serviço, com os profissionais, e as principais atividades que trazem benefícios são o artesanato e grupo de sentimentos. Identificou-se ainda que o serviço auxilia na sua melhora e recuperação, e que o tratamento psicológico é importante na reabilitação. Referiram que um ponto negativo do CAPSad é a pouca diversidade de atividades, principalmente as de artesanato e lazer. A dependência foi relatada como um problema que causa limitações na vida e no trabalho, traços de personalidade dificultam para deixar as drogas, e algumas situações como estresse e perda de pessoas queridas auxilia na busca pelas drogas. Para a maioria dos usuários o principal expoente da mudança são eles mesmos, e consideram a força de vontade como o principal subsídio para deixar as drogas. A família é importante para sua reabilitação, porém há relatos de conflitos familiares. Conclusões: Ao realizar a avaliação do serviço CAPSad de referência no oeste de Santa Catarina pôde-se constatar que os usuários consideram o CAPSad importante na sua recuperação e sentem-se satisfeitos com o serviço, isso percebeu-se devido as demonstrações de sentimentos positivos e de contentamento com o serviço prestado. Além disso, mencionam o serviço como muito importante na sua melhora e recuperação. O auxílio dos profissionais, os serviços prestados por eles bem como a realização de reuniões são considerados pontos positivos. O tratamento psicológico, e a presença da psicóloga são frequentemente relatados pelos usuários como sendo muito importantes para a melhora e recuperação. O artesanato é considerado como a principal atividade desenvolvida que traz benefícios. Como proposta de melhoria, recomenda-se incluir o usuário nos processos de tomada de decisão para que ele possa exercer sua autonomia e sentir-se co-responsável pelo serviço. Palavras-Chave: Atenção psicossocial CAPSad; Percepção do usuário; Saúde Mental; Uso de drogas. 144 A METAMORFOSE DE PRÁTICAS COTIDIANAS NO CAMPO DA SAÚDE MENTAL - VIVÊNCIA DE UM GRUPO OPERATIVO GERADOR DE RENDAS Washington Luiz Barbosa De Barros Centro de Atenção Psicossocial Torquato Neto – Rio de Janeiro [email protected] É de manhã. As portas são abertas. O movimento na cozinha começa com o barulho de panelas e talheres sendo utilizados. A água é levada ao fogo e o aroma de café fresco exala-se pelo ambiente enquanto é coado. Ouvimos alguns risos. Os diálogos são amenos. O peito de frango é desfiado e o tempero caseiro e fresco é cortado e aquecido. Logo, ele compõe o recheio que ao ser provado deixa água na boca. A leveza da massa permite a montagem das esfirras que são levadas ao forno já pré-aquecido. Em poucos minutos, outro aroma invade o lugar, ultrapassa as paredes da cozinha e alcança o grande cenário: estamos num CAPS. Como esta descrição tão cotidiana configura a construção desse novo modelo de cuidado das pessoas em sofrimento mental? O objetivo deste texto é mostrar a construção de um novo modelo de lidar com o sofrimento mental em um contexto de reformulação da assistência em saúde mental, com a gradativa substituição do modelo hospitalocêntrico por um tratamento de base comunitária. Trata-se de relatar a experiência de ressignificação no cotidiano de alguns participantes do CAPS II Torquato Neto, através de um Grupo Operativo Gerador de Rendas, no que diz respeito à relação de cuidado implicado e ou compartilhado entre os participantes. Pretendemos registrar as transformações observadas nas práticas cotidianas das pessoas em sofrimento mental e as mudanças vivenciadas e experimentadas por eles, quanto à identificação e administração das dificuldades interacionais-socio-afetivas, ao lidar com o próprio sofrimento psíquico. Enquanto procedimentos terapêuticos, as oficinas foram tomadas como gerenciadoras das práticas cotidianas de expressão e inserção social. Quanto ao seu produto, estes são revertidos em renda, o que permitem aos participantes uma oportunidade de socialização pelo trabalho. As oficinas de geração de renda possibilitam aos indivíduos em sofrimento psíquico ampliar a inserção social por meio daquilo que um dia foi considerado sagrado: o direito de trabalhar. E ainda oferecem franjas de emancipação que, mesmo pequenas ajudaram a recompor as estratégias de sobrevivência e a reverter a condição de fragilidade social imposta pelo estigma de que o louco não é produtivo. Palavras-chave: Geração de Renda; Cotidiano; Transformação; Inserção Social. OFICINA DA MEMÓRIA: UMA ESTRATÉGIA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE NA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA 145 Vania Cristina Portezan USF Vila Fabiano de Santa Cruz do Rio Pardo-SP [email protected] Na terceira idade verifica-se o declínio das funções mentais que ocorrem não só com o avanço da idade, mas também com a falta de atividade mental que segue paralelamente ao envelhecimento. A perda da memória é uma das queixas referidas pelos idosos, pois ela exerce importante influência sobre a autonomia e independência na vida cotidiana. Portanto, visto que é grande a população de idosos que frequentam a Unidade de Saúde da Família (USF) da Vila Fabiano, elaborou-se uma proposta de oficina para treinamento de memória que possibilitasse o exercício de técnicas voltadas à manutenção ou melhora do desempenho da memória de idosos como estratégia para a promoção da saúde. E ampliar o nível de atenção e memorização, a fim de contribuir com a independência, autoestima e autonomia do idoso, bem como sua qualidade de vida. Inicialmente, foi realizada pesquisa bibliográfica a respeito do tema “memória”, em seguida pesquisaram-se dinâmicas e exercícios mentais que trabalham a atenção, concentração e memória. Foi utilizado como critério de inclusão ao projeto, usuários da USF Fabiano com idade a partir de 60 anos, convidados através de informativo fixado no mural da Unidade, convite feito pelos Agentes Comunitários da Saúde, visita domiciliar e encaminhamento feito pelos profissionais da Unidade. A Oficina da memória é realizada semanalmente e oferece palestras sobre o significado e importância da memória; dinâmicas que exercitam a atenção, concentração e memória, jogos e exercícios mentais. A oficina acontece semanalmente e é composta, em média, por 20 participantes que frequentam o grupo toda semana, todas do sexo feminino, com idade entre 57-91 anos. Após 18 encontros foi aplicado um questionário com cinco questões abertas para coleta dos resultados da prática desenvolvida (1-Por que resolveu participar da Oficina da Memória? 2-O que você achou da Oficina da Memória? 3-Você utilizou no dia a dia algum exercício aprendido na Oficina da Memória? Se sim, qual? 4-Você considera que sua memória melhorou, continuou a mesma coisa, ou piorou? 5-O que você mais gostou dos encontros da Oficina da Memória? Por quê?). De acordo com as respostas, as participantes procuraram a Oficina da Memória pela ausência de atenção nas atividades diárias, por falhas na memória e raciocínio lento. No dia a dia, o exercício mental aprendido na Oficina que mais utilizaram foram as técnicas de prestar atenção no momento presente, recordar o que fez no dia anterior e fazer caça- palavras. Todas as participantes ficaram satisfeitas com a Oficina, consideraram que foi bom para a memória, atenção e concentração, uma das participantes mencionou que não deixa mais o leite derramar no fogo, outra que não esquece mais os nomes das pessoas. E o que mais gostaram foi a socialização definida como momento de encontro com as amigas. 146 Inicialmente a Oficina da Memória contribuiu para desmistificar a ideia do envelhecimento como determinante único no declínio da memória. Houve uma diminuição no número de queixas de falha na memória, e observou-se também a valorização da Oficina enquanto espaço de socialização e formação de amizades. Palavras-chave: Oficina terapêutica; terceira idade; memória; saúde mental. 147 PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DE NÍVEL MÉDIO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE SOBRE RAPS Raiza Silva Lobato Luciana dos Santos Natália Oliveira de Abreu Universidade Federal de Alfenas- MG. [email protected] No Brasil, as redes de atenção à saúde são caracterizadas por serviços de saúde que apresentam missões e objetivos comuns. Para que a rede de atenção psicossocial (RAPS) funcione como rede ela deve ser criada e ordenada a partir de um projeto de saúde mental necessitando de vários dispositivos e construídos coletivamente tendo como parceiros o poder público, os trabalhadores e as instâncias de controle social¹. Esse trabalho se justifica pela importância de conhecer a opinião dos trabalhadores que fazem parte da porta de entrada de atenção à saúde, pois sua atuação favorece que o trabalho em rede se torne efetivo. Objetivase, portanto, conhecer a percepção do trabalhador da área de saúde de nível médio da atenção primária sobre a RAPS. Desenvolveu-se o método de pesquisa-ação² sendo utilizado o grupo focal como técnica de coleta de dados, norteado por um instrumento composto de quatro perguntas direcionadas aos sujeitos de nível médio da atenção primária a saúde, como técnicos de Enfermagem, Auxiliares de Consultório Dentário e Agentes Comunitários de Saúde. O método de análise dos dados é a análise de conteúdo de BARDIN³, que consiste em um conjunto de técnicas que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de variáveis oferecidas através de mensagens faladas. Assim, pode-se inferir que é consenso entre os profissionais que não existe continuidade da assistência e a burocracia é apontada como principal fator para a dificuldade na resolução dos problemas. Os profissionais pesquisados relataram que não se sentem capacitados para a abordagem de pessoas portadoras de problemas psicossociais. As sugestões dadas foram: viabilizar a interação entre os serviços, de modo a facilitar a resolução de problemas; oferecer capacitação aos profissionais em questão para que se sintam mais aptos a lidar com a demanda psicossocial e ter participação ativa de profissionais como psicólogos e psiquiatras no atendimento a essa demanda. A princípio os profissionais não conseguem perceber o que seria o trabalho em rede e nem como a mesma funcionaria, porém apontam pontos importantes que dificultam as suas ações diárias e a resolução de problemas em equipe. Dessa maneira podemos levantar questões a serem trabalhadas na atenção primária para viabilizar e tornar mais efetivo o trabalho em rede. 148 Palavras-chave: Rede de atenção psicossocial; Saúde Mental; Atenção Primária; Profissionais. 149 PRAZER-DOR-SOFRIMENTO: FACES ENTRELAÇADAS NO ATO DE PRODUZIR TRABALHO NO CAPS Maria Aparecida De Moraes Burali Maringá- PR [email protected] O tema proposto para esta apresentação é parte das discussões realizadas na Tese de doutorado, intitulada‘O trabalhador de saúde mental: paradoxos e complexidades do cotidiano do trabalho em um CAPS’, defendida em março de 2014, na PUC-SP, e tem como objetivo dar visibilidade aos trabalhadores, nos seus enfrentamentos diários no ato de produzir e (re)inventar o trabalho em saúde mental, tomando por base os princípios da Reforma Psiquiátrica. A pesquisa participante possibilitou entrar em contato com as várias faces entrelaçadas neste cotidiano de trabalho, que produz na subjetividade trabalhadora vivências que mesclam sentimentos de prazer-dor-sofrimento na atividade de prover cuidado e (re)criar outro modo de se relacionar com a loucura em cena, o que impõem imensos desafios aos trabalhadores, que trafegando entre saberes, poderes e fazeres, arriscam seguir nesta trajetória. A pesquisa realizada demonstrou que na tríade prazer-dor-sofrimento, há uma naturalização do sofrimento vivido pelos trabalhadores que parece justificar a falta de assistência, atenção e acolhimento entre os próprios trabalhadores e a ausência de políticas que priorizem o cuidado dos mesmos, uma vez que o trabalho em saúde,de diversas formas, está ligado a um imaginário social segundo o qual a dedicação, o sacrifício e a privação do próprio bem-estar se constituem como condição para o exercício profissional . No uso de si o trabalhador convive com o paradoxo entre o sofrimento psíquico, o profundo desgaste físico e mental, que oferece riscos concretos de adoecimento e a missão do cuidado como dádiva. Questões que se tornam mais complexas, pelo fato, do CAPS, se tornar um desaguadouro de questões sociais importantes, que inscreve na vivência subjetiva do trabalhador (a) o sofrimento, designado por Sawaia (1995), como sofrimento ético-político, por abarcar questões de ordem social e cultural, traduzindo-se na prática pela vivência cotidiana da dor social produzida pelo processo de exclusão social, vivida pelas pessoas que atendem. Dar visibilidade a esses aspectos do trabalho no cotidiano do CAPS traz à baila a necessária discussão sobre vida e saúde destes trabalhadores. Palavras-chave: Trabalho, Prazer-Sofrimento, Vida, saúde do trabalhador, CAPS, trabalhadores de saúde mental. RELATO DE EXPERIÊNCIA EM ATENÇÃO PSICOSSOCIAL EM GRUPO: A 150 IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO COLETIVO E DE CONVIVÊNCIA NA REABILITAÇÃO PSICOLÓGICA DOS IDOSOS Cláudia Oliveira Corrêa Patricia Rodrigues de Siqueira Wanessa de Jesus Gambardella Rio de Janeiro- RJ [email protected] De acordo com a última pesquisa nacional por amostra de domicílios (PNAD 2004), os idosos ultrapassam 17 milhões, correspondendo a aproximadamente 10% da população brasileira. Para o ano 2020 estimam 32 milhões, o que colocará o Brasil na 6ª posição mundial em número de idosos. Essa parcela da população tem especial importância quanto à prevalência de sintomas psíquicos. Estudos em epidemiologia dos transtornos mentais revela prevalência de desconforto e queixas psíquicas alcançam cifras de 10% a 27%. Tendo como pressuposto tais dados, procurou-se realizar uma análise do relato de um grupo de 24 pacientes encaminhados pelos Serviço de Psiquiatria e Serviço de Geriatria do HUCFF- Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ, submetido à psicoterapia em grupo, sendo este aberto, na frequencia de 01 vez por semana, durante 01 ano. Teve início em abril/maio de 2008, com a proposta de atender pacientes idosos deprimidos. A depressão em idosos é uma síndrome é multifatorial quanto à etiologia e aos aspectos relacionados ao tratamento. Os fatores biológicos e psicossociais desempenham papel fundamental no aparecimento desse quadro. Os idosos são expostos a fatores de risco: diminuição da saúde e das capacidades; sentimento de solidão; perda do cônjuge; perda do trabalho; declínio do status e diminuição das responsabilidades. A oferta de um espaço coletivo e de compartilhamento de experiências relacionadas às principais dificuldades enfrentadas possibilita uma troca constante por meio de narrativas, atividades, passeios permite a reabilitação tanto social, quanto psicológica. Estudo de natureza qualitativa, exploratória e descritiva. Coleta de dados ocorreu através de observação participante e entrevista semiestruturada, com questões norteadoras: 1- Quais as dificuldades que levaram os participantes a buscar este tratamento? 2- Qual importância atribuída a esse espaço nesse momento de suas vidas? 3-Houve alguma mudança a partir do momento em que começou a frequentar o grupo? A análise desses relatos direcionou-nos a aplicação de duas escalas (Escala de Depressão Geriátrica e Escala de Desesperança) para avaliar o rebaixamento do humor e apontar as direções necessárias de atenção psicossocial, desde uma abordagem com família do idoso à intervenção medicamentosa, bem como ressignificações para as perdas e lutos; construção coletiva para resolver dificuldades de 151 ordem prática e cotidiana proveniente a essa faixa etária. A partir, das respostas obtidas por meio das escalas aplicadas, e pela observação do comportamento de cada um dos integrantes no grupo, pode-se perceber que nem todos buscavam somente um espaço de escuta e psicoterapêutica, mas, também, apresentavam como motivação o vínculo com a instituição e a convivência com outros integrantes da mesma faixa etária. Podemos pensar como os Serviços de Saúde Coletiva e Mental tem assistido essa clientela. Palavras-chave: Terceira Idade; Grupo de Convivência; Atenção Psicossocial; Reabilitação. 152 RELATO DE EXPERIÊNCIA DA CONVIVÊNCIA EM UM GRUPO TERAPÊUTICO NO AMBULATÓRIO DE SAÚDE MENTAL Daiana Gleice Ramos Santos Adriana Santos Nascimento Rover Fawcett Leal Lierena Universidade Federal Do Recôncavo Da Bahia [email protected] Estudos apontam que o uso abusivo de drogas é considerado uma doença que requer cuidados específicos e demanda intervenções educativas dentro de um modelo biopsicossocial, abrangendo além do indivíduo, mas também as diversas áreas de sua vida, inclusive sua família. O presente trabalho tem como objetivo relatar a experiência vivenciada por estudantes e preceptor participantes de um grupo de aprendizagem tutorial, promovida pelo PET Rede de Atenção Psicossocial, cuidados aos usuários de álcool, crack e outras drogas no período de dezembro de 2013 à abril de 2014, semanalmente, a fim de identificar os impactos biopsicossociais vivenciados por familiares de usuários no serviço do Ambulatório de Saúde Mental de álcool e outras drogas, e refletir sobre as contribuições desta experiência para sua formação acadêmica. O Ambulatório de Saúde Mental constituiu-se como principal cenário de prática, para a realização do grupo de aprendizagem tutorial, formado por um tutor, preceptor e estudantes da área de saúde e usuários. Inicialmente foi feito um levantamento dos usuários que são familiares ou têm contato direto com usuários de substâncias psicoativas. Adotou-se metodologia participativa para execução das discussões, com registro em diário de campo; elaboração de planejamentos; dinâmicas de grupo; amostra de vídeos temáticos, jogos, discussões sobre temática: família, cuidado com o usuário, redução de danos, autocuidado voltado à família dos usuários e aos usuários para prevenir e reduzir os danos, rede de cuidados e impactos relativo aos fatores biológicos, psicológicos e sociais. O grupo proporcionou aos participantes um espaço de diálogo acerca da problemática do consumo de álcool e outras drogas, resultando assim em troca de experiência entre os mesmos, esclarecimento de dúvidas e produção coletiva de conhecimentos acerca de questões relacionadas à prevenção do consumo abusivo de substâncias psicoativas, redução dos riscos e danos decorrentes deste consumo, bem como auxiliar os mesmos a lidar com os problemas de modo mais saudável, propiciando uma percepção da situação real que estão vivendo, elevando a autoestima e a autoconfiança. Considerando que a família pode ser portadora de adoecimento devido às vivências cotidianas com usuário de drogas e que esta muitas vezes constitui-se como fonte de ajuda no tratamento, não há como pensar no tratamento de 153 indivíduos que usam substâncias psicoativas sem considerar o contexto social e familiar em que este estão inseridos. Os familiares em sua grande maioria precisa tanto de cuidados, quanto o próprio usuário. Deste modo, o grupo terapêutico, se faz uma importante estratégia de cuidado, apresentando-se como ferramenta a ser utilizada na promoção do cuidado e acolhimento, na realização da educação em saúde, prevenção de agravos, e na promoção e recuperação da saúde de indivíduos e grupos sociais. Palavras-chave: álcool e outras drogas, grupo terapêutico, família. 154 SAÚDE MENTAL INFANTIL: DEMANDA E CARACTERÍSTICAS NO MUNICÍPIO DE ASSIS/SP Vanessa Sabino Da Silva Dantas Jéssica Aline da Costa Lima Mary Yoko Okamoto Carina Alexandra Rondini Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho- Assis- SP [email protected] As políticas públicas voltadas à saúde mental no Brasil é algo que se constituiu recentemente na saúde coletiva, e é notório que essas políticas vêm se aperfeiçoando e têm sido de grande importância no acolhimento de pessoas com transtornos mentais, porém, as iniciativas com crianças e adolescentes ainda são escassas. Existem atualmente diversos estudos que evidenciam um aumento significativo na demanda infantil, por isso é importante um melhor planejamento de políticas públicas e maiores estudos voltados a essa população. Essa pesquisa teve por objetivo coletar e analisar informações contidas nos prontuários de um serviço de saúde atenda grande parte da demanda infantil do município de Assis, ele não integra o Programa de Saúde Mental do município. Conta com uma equipe interprofissional (psicologia, fonoaudiologia e pedagogia) que atende a demanda infantil do município, principalmente aquela encaminhada pelas escolas. Para a coleta dos dados, inicialmente foi feito um contato com o responsável pelo atendimento psicológico da instituição, permitindo o acesso a sua agenda para que fosse possível o contato com os prontuários referentes à demanda infantil do ano de 2013. Os dados foram coletados através dos prontuários dos pacientes, e a partir destes obteve-se as informações sobre sexo, idade, bairro, encaminhamento e queixa, sendo esta última categorizada para se obter uma melhor análise. Não havia o informe quanto ao diagnóstico, e por isso, não apresentamos esse dado. A amostra coletada é composta por 57 crianças, sendo 39 do sexo masculino e 18 do sexo feminino. Observou- se uma predominância de crianças de 6 a 10 anos do sexo masculino (n=31), sendo a maior frequência de encaminhamentos provindos das escolas, com percentil de 49,1%. Com relação às queixas as maiores frequências se encontraram em dificuldade na fala (20,6%) e dificuldade escolar (16,3%). Com relação ao tratamento oferecido, há prevalência de psicoterapia individual, em 39,2%. Diante dos dados expostos pode- se concluir que a demanda com prevalência de crianças entre 6 a 10 anos e o sexo masculino corroboram dados da literatura atual, que também aponta para resultados semelhantes. Tal faixa etária condiz com os períodos iniciais da escolarização, momento no qual a criança entra em contato 155 com maiores exigências e pressões sociais. Com relação ao predomínio do sexo masculino das crianças nessas instituições pôde-se perceber que existe um fator relacionado ao gênero, no qual meninos são considerados mais indisciplinados e agressivos. Soma-se a tal fato, o grande número de encaminhamentos feitos pelas escolas, quando os meninos não correspondem ao padrão escolar e tornam-se motivos de preocupação das famílias e do sistema educacional. É importante que haja uma comunicação entre os serviços ligados ao atendimento da criança, e que os profissionais que acolhem essa demanda estejam atentos em observar as crianças como um todo, e não se ater apenas a queixa inicial. Além disso, percebe-se a importância da quantificação e qualificação da demanda do município, para a realização de um melhor planejamento para acolher crianças que procuram pelo serviço público de Saúde Mental. Projeto de Iniciação Científica- PIBIC. Palavras-chave: Infância; Saúde mental infantil; Demanda em saúde mental infantil; Políticas públicas de saúde mental. 156 PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO E A HISTÓRIA NA HISTÓRIA DO SER HUMANO Fátima Itsue Watanabe Simoes UNIP-Assis/SP [email protected] m Esse trabalho tem por objetivo principal refletir sobre a devolutiva com livro-história, procedimento que faz parte do psicodiagnóstico infantil. O livro-história é um recurso que é utilizado no processo psicodiagnóstico e está em consonância com os fundamentos do psicodiagnóstico interventivo de base fenomenológico-existencial, uma vez que se propõe a compreender o cliente em seu mundo. Esse procedimento baseia-se nas propostas de Fisher (1998); Becker (2001); Donatelli (2001, 2002) Santiago (2001). Fisher, nos Estados Unidos e Ancona-Lopez, M., no Brasil, nas décadas de 70 e 80, foram as precursoras na introdução do Psicodiagnóstico Interventivo, fazendo do atendimento um processo ativo e cooperativo. Donatelli (2013) coloca que não se trata apenas de um processo investigativo; ao contrário, o que fundamentalmente o caracteriza é a possibilidade de intervenção. No Psicodiagnóstico Interventivo Fenomenológico-Existencial, as questões trazidas pelos clientes são ao mesmo tempo investigadas e trabalhadas a fim de que se possam construir, em conjunto, possíveis modos de compreendê-las. As intervenções nesta modalidade de trabalho se caracterizam por propostas devolutivas ao longo do processo, acerca do mundo interno do cliente. São assinalamentos, pontuações e clarificações que permitem ao cliente buscar novos significados para suas experiências, apropriar-se de algo sobre si mesmo e ressignificar suas experiências anteriores. Segundo Donatelli (2013), entende-se que é no compartilhar de experiências e percepções que pode emergir uma nova compreensão, um novo sentido que possibilite diminuir ou eliminar o sofrimento psíquico da criança e da família. Pretendemos, neste trabalho, apresentar nossa forma de trabalhar, individualmente, em Psicodiagnóstico Interventivo. Utilizamos alguns procedimentos, tais como: entrevistas com os pais/responsáveis, sessões com a criança, visita domiciliar e escolar, utilização de instrumentos formais (testes) ou informais, de acordo com a especificidade dos casos, contato com outros profissionais implicados no caso. O encerramento do processo para a criança pode assumir diferentes formas. A devolutiva verbal pode ser completada pela elaboração de recursos expressivos que facilitem a compreensão e a elaboração dos conteúdos conflitivos da história de vida da criança, tais como: narrativa de histórias, dramatizações, músicas, canções, poemas, agendas ilustrativas e o livro de história. O enredo do livro conta a história da própria criança. 157 No último atendimento o livro é lido e entregue a ela. O propósito é o de que a criança leve com ela algo que lhe permita continuar elaborando aquilo que, por alguma razão, não pode ser elaborado até aquele momento. Pode-se observar que as crianças, por meio das histórias, parecem ter conseguido compreender melhor as informações ao seu respeito, além de ser uma forma mais lúdica, aproximando-se mais de seu universo infantil. Pode-se perceber que a história funcionou como fator facilitador no processo terapêutico. Palavras-chave: Psicodiagnóstico Interventivo; devolutiva com histórias; clínica infantil. 158 A INSERÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO E A FAMÍLIA Fátima Itsue Watanabe Simoes UNIP-Assis/SP [email protected] m Este trabalho tem por objetivo propor uma reflexão a respeito da entrada da mulher no mercado de trabalho a suas repercussões na família. É cada vez mais expressiva a participação feminina no mercado de trabalho remunerado e, em algumas situações, chega a ser o principal suporte financeiro no orçamento familiar. Dados estatísticos mostram que mais de um terço das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres. A entrada da mulher no âmbito do trabalho traz repercussões na organização e na estrutura do funcionamento familiar, levando à proposição de novas configurações ou arranjos familiares com interferências diretas nas relações sociais. No século XX, um conjunto de acontecimentos especialmente relacionados ao processo de urbanização e desenvolvimento das cidades e a entrada das mulheres no mercado de trabalho levou a mudanças econômicas da sociedade que contribuíram não só para o início do processo de autonomia e independência financeira da mulher diante do homem como também acenam para mudanças nos usos, costumes, valores e projetos de família. Por conta dessas alterações o modelo de família baseado na complementariedade de papéis com o pai provedor e a mãe dona de casa em período integral começa a sofrer rupturas, sinalizando o início da decadência da versão mais tradicional da família nuclear. Este trabalho tem por objetivo examinar brevemente a entrada da mulher no mercado de trabalho e o impacto social que essas mudanças provocaram nas relações familiares e sociais. Palavras-chave: mulher; família; trabalho; mercado de trabalho. A OFICINA DE TEATRO NA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: O CORPO EM TRAVESSIA Lívia V. Pellegrini Ferreira Elizabeth M. F. Araújo Lima Unesp/Assis-SP [email protected] 159 Trata-se de um relato de experiência que impulsionou a tessitura de nossa pesquisa de mestrado. Abordamos a experimentação do corpo por meio da atividade teatral em oficina terapêutica de uma instituição de saúde mental - o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). A oficina terapêutica é um recurso do paradigma de Atenção Psicossocial (COSTA-ROSA, LUZIO e YASUI, 2003) que, no contexto da Reforma Psiquiátrica, se opõe às práticas do modelo asilarmanicomial, possibilitando experimentações no campo da clínica e da arte (LIMA, 2009). O método para traçar linhas do processo inventivo composto nesse convívio experimental e coletivo é o da cartografia. A experiência desta oficina aconteceu no CAPS “José Meireles” na cidade de Cândido Mota-S.P pelo período de dois anos em encontros semanais onde participaram usuários, familiares, estagiárias, técnicos e pessoas da comunidade. Em nossa prática, a oficina foi se configurando como uma experiência híbrida. O próprio processo do grupo foi produzindo a impossibilidade de diferenciar arte e clínica, pois ao emergir um “estado de arte” (ROLNIK, 1995) se configurava a possibilidade de habitar territórios singulares, acessando potências criadoras de novos mundos. O trabalho da cartografia se faz “sempre pelo compartilhamento de um território existencial que sujeito e objeto de pesquisa se relacionam e se codeterminam.” (PASSOS e ALVAREZ, 2010, p.131) Desta forma, partindo do estudo dos registros (diário de bordo, fotos, vídeos) forjados nos encontros e por meio da ativação da memória da própria pesquisadora, dar-se-á a narrativa do acompanhamento do processo e movimentos da oficina. A partir da experiência, compor e problematizar o cenário de práticas no campo da saúde, da saúde mental e da arte trazendo à cena este modo de produção de subjetividade ao experimentar o corpo. Palavras-chave: oficina terapêutica; arte e clínica; experimentação do corpo; teatro POLÍTICAS PÚBLICAS A SAÚDE MENTAL: UMA DESCRIÇÃO SOBRE O PAPEL DAS RESIDÊNCIAS TERAPÊUTICAS COMO SERVIÇOS SUBSTITUTIVOS AOS HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS Raquel Jara Volpato Leite Luciano Gomes Lopes Flávio Pereira Leite Nathiely Araújo Cabral Universidade Paranaense/UNIPAR [email protected] Os serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos, tais como os Centros de Atenção Psicossocial, o Programa de Volta para casa e as Residências Terapêuticas (objeto do nosso 160 trabalho) são resultantes do movimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Por assim dizer, podemos afirmar que este movimento tinha como pressupostos a desospitalização, a desconstrução do paradigma da loucura com a valorização do sujeito com o seu sofrimento em detrimento do tratamento da “doença” como se essa fosse destacável do indivíduo (TORRE & AMARANTE, 2001). Caracteriza-se este trabalho por esboço sintetizado diante levantamento bibliográfico, com o objetivo de uma discussão a respeito da proposta das políticas públicas a saúde mental a partir dos Serviços de Residências Terapêuticas (SRTs). As RTs dentro da atual política do Sistema Único de Saúde (SUS) são casas localizadas no espaço urbano, constituídas para responder às necessidades de moradia de pessoas portadoras de transtornos mentais graves, egressas de hospitais psiquiátricos ou não. A desinstitucionalização e a efetiva reintegração das pessoas com transtornos mentais graves e persistentes na comunidade são tarefas às quais o SUS vem se dedicando com especial empenho nos últimos anos. A implementação e o financiamento de SRTs surgem neste contexto como componentes decisivos da política de saúde mental do Ministério da Saúde para a concretização das diretrizes de superação do modelo de atenção centrado no hospital psiquiátrico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). Embora as RTs se caracterizem como equipamentos da saúde, elas devem garantir em primeiro lugar o direito à moradia, ao convívio social e o auxilio no processo de reintegração de pessoas egressas de hospitais psiquiátricos, uma vez que o direito de morar e circular nos espaços da cidade e da comunidade devem ser garantidos ao indivíduos em reintegração (VIDAL, BANDEIRA & GONTIJO, 2007). Cada RT deve ter capacidade para no máximo 08 moradores com um cuidador designado para acompanha-los na busca pela autonomia, em duas tarefas, dilemas e conflitos cotidianos do co-habitar, do morar e do circular no meio social. Essas RTs devem estar referenciadas a um Centro de Atenção Psicossocial e operar em conjunto junto a esta rede de atenção, tendo em vista que a inserção do usuário é uma RT é o inicio de um longo processo de reabilitação (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). Diante o exposto, conclui-se que a inversão do modelo centrado na internação e a consequente transferência do tratamento hospitalar para o atendimento na comunidade constituem hoje o paradigma dominante na assistência psiquiátrica. Conforme salientado, as propostas das RTs e dos programas de reabilitação é promover a reinserção social dos pacientes desospitalizados e proporcionar-lhes o desenvolvimento da autonomia. Trata-se de um trabalho complexo e que requer abordagens diferenciadas para as diferentes necessidades dos pacientes, um trabalho longo e árduo, porém com grandes chances de sucesso no que tange a reinserção do indivíduo (VIDAL, BANDEIRA & GONTIJO, 2007). Palavras-chave: Saúde Mental; Políticas Públicas; Desospitalização; Residências Terapêuticas; DESAFIOS E PROBLEMÁTICAS DA DESINSTITUCIONALIZAÇÃO COMO DISPOSITIVO DE RECONSTRUÇÃO DO EXERCÍCIO DA CIDADANIA 161 Rogério Quintella Manoel Ferreira Eloá Amaral [email protected] O presente trabalho tem como objetivo o questionamento acerca da prática da desinstitucionalização no âmbito dos atuais dispositivos de saúde mental através da abordagem dos eixos tanto laboral como cultural; eixos que se propõem a funcionar como ponte para a reconstrução da cidadania do usuário. Sobre tal dimensão, visamos à concepção da desinstitucionalização para muito além do trabalho com pacientes de longa internação, no sentido da desospitalização. A desinstitucionalização deve também funcionar como um dispositivo que, simbolizando uma consonância com a reforma psiquiátrica, esteja presente e atuante em todas as intermediações da lógica de rede da saúde mental. A desinstitucionalização toca tanto o ponto de vista institucional, protagonista da exclusão social, como também o ponto de vista epistemológico, à medida que desconstrói ideia de que a loucura deve ser tomada como objeto do saber médico, eliminando da cena psicossocial a docilização dos corpos exercida pela psiquiatria tradicional, apontada por Foucault na obra “O poder psiquiátrico”. Nesse sentido, a desinstitucionalização é intrínseca à desmedicalização, não representando apenas a retirada do louco do espaço manicomial, mas também a quebra do paradigma biomédico que imputa à medicina a apropriação da loucura como objeto de seu saber e de sua intervenção. Trata-se de uma ação constituída pela intersetorialidade e pautada na reconstrução do poder de contratualidade, assim como na promoção da autonomia, tal como trabalham autores como Tykanori e Saraceno. Lembrando que esta autonomia se caracteriza não como mera independência, mas como a multiplicação das dependências. Assim, a desinstitucionalização deve estar implicada, necessariamente, na desconstrução do paradigma manicomial, desde a atenção à crise, no evitamento das internações, até as práticas exercidas nos dispositivos de saúde mental como os CAPS, no sentido de combater retrocessos que ocorrem em muitos desses espaços, por vezes transformados em espaços de entretenimento e de reprodução do modelo manicomial entendendo-se entretenimento como prática de reprodução da lógica psiquiátrica que carrega o sentido destacado por Saraceno de manter dentro. Tendo em mente a tamanha proporção da desinstitucionalização no que diz respeito ao campo da saúde mental pós-reforma, utilizamos como face ilustrativa de nossa argumentação a breve apresentação de dois casos que tocam a prática da reinserção do louco na sociedade, prática esta que tem como norte a ampliação e a articulação das redes de saberes/afetos do usuário, através, principalmente, de duas vias, quais sejam, o trabalho e 162 a cultura. A desinstitucionalização exige uma revisão permanente dos riscos e equívocos de determinadas práticas de trabalho e cultura no campo da saúde mental, tais como a chamada “bolsa auxílio” ou “bolsa de trabalho” praticada pela Prefeitura de Niterói. Até que ponto o usuário se apropria da bolsa como resultante de seu próprio trabalho nas atividades do CAPS e outros dispositivos, e quais as consequências reais no âmbito da reconstrução do poder de contratualidade e do exercício da cidadania, objetivos cruciais da Reforma? A presente exposição visa discutir tais problemáticas, próprias da atualidade, demonstrando que a luta antimanicomial e a desinstitucionalização funcionam no cotidiano das micropráticas exercidas constantemente nos dispositivos atuais de saúde mental. Palavras-chave: Desinstitucionalização, entretenimento, autonomia, cidadania. 163 CONCEPÇÕES DAS PESSOAS SOBRE SUAS EXPERIÊNCIAS DE INTERNAÇÕES EM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO POR USO ABUSIVO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS Renata Bellenzani Juliana de Souza Vilela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Paranaíba- MS [email protected] O uso abusivo, e a dependência, de álcool e outras drogas se tornou um problema para a Saúde Pública e uma questão desafiadora para a Reforma Psiquiátrica na área da Saúde Mental. Segundo a Lei 10.216 as internações psiquiátricas são recursos complementares, mas em muitos locais figuram como única ou principal estratégia de atenção às pessoas com problemas psíquicos e clínicos decorrentes do abuso de álcool e drogas. Ou seja, a rede pública de saúde não oferece recursos de atendimento extra-hospitalares como prevê a lei; tampouco oferece assistência específica após alta hospitalar. Não são encontrados trabalhos sobre a experiência de ser internado e de reabilitação psicossocial pós-alta, da perspectiva das pessoas que as vivenciam. O presente estudo buscou investigar e analisar as concepções de oito participantes (seis homens e duas mulheres) sobre suas experiências de internações psiquiátricas pregressas, justificadas por diagnósticos de síndrome de dependência e/ou síndrome de abstinência. Suas falas, obtidas por entrevistas semiestruturadas gravadas em áudio, realizadas por estudantes de psicologia na maior parte dos casos, nos domicílios dos participantes foram analisadas, segundo três categorias mais abrangentes: 1) concepções relacionadas aos momentos/fases/situações que antecederam os episódios de internação, explorando os motivos que as pessoas atribuíam a esses; 2) concepções relacionadas às vivências dentro do hospital psiquiátrico, ou seja, durante os períodos de internação; 3) concepções relacionadas às fases/momentos/situações de vida após as internações, incluindo o estar ou não em acompanhamento; se continuavam a fazer uso de substâncias, em que padrão; se trabalhavam; quais planos e expectativas; informações sobre relações familiares e comunitárias. Conclui-se que, na visão dos entrevistados, mais do que motivo clínicos, os motivos das internações se relacionavam à sua percepção, com pesar ou descontentamento, de que seus familiares estavam se afastando deles como consequência dos conflitos e de seu não cumprimento de papéis e obrigações sociais e familiares, prejudicadas pelo abuso de drogas. A atenção em dependência química fundamentada nos princípios da Reforma Psiquiátrica deve intensificar a comunicação com as pessoas atendidas disponibilizando informações, esclarecimentos, escuta e diálogo em torno de seus entendimentos sobre o que se passa com elas, suas expectativas com relação ao tratamento, à internação, e sobre quais 164 são seus planos dali em diante. Isso é fundamental na construção de acordos para o autocuidado, para a adesão ao tratamento, e para o desenvolvimento de um projeto de tratamento com maior participação do paciente e dos familiares que inclua a fase pós-alta. A reabilitação psicossocial pressupõe conscientização dos usuários sobre a própria realidade, construção de autonomia, assistência integral às necessidades que extrapolam a dimensão biomédica. O apoio efetivo para o enfrentamento das barreiras simbólicas e sociais, na direção do bem-estar e da reinserção social, é fundamental, uma vez que as oportunidades relacionais e sociais dessa clientela diminuem, em função do estigma das drogas e da dependência química. Palavras-chave: internações psiquiátricas; problemas decorrentes do uso de álcool e outras drogas; dependência química. 165 ASSÉDIO MORAL COMO FATOR DE SOMATIZAÇÃO E ADOECIMENTO NO TRABALHO: UM ESTUDO DE CASO Jaine De Santana Feitosa Caio Rodrigo Lemos Setúbal Edlei Timbó Passos Fundação Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho- RO [email protected] A capacidade que o homem tem de modificar o seu meio está ligada ao Trabalho. Em nossa sociedade atual o trabalho é o fenômeno responsável por constituir e nortear boa parte das relações humanas, sendo uma das principais fontes de existência do sistema dominante capitalista. Atualmente o trabalho é um exercício dotado de maior subjetivação e desta forma, é possível compreender o quão complexo e peculiar são os elementos que o circundam, uma vez que esta prática não é caracterizada por um exercício isolado, sendo passível de provocar satisfação e frustração, alegria e sofrimento, prazer e dor, promover a saúde ou o adoecimento. O estresse, as angústias, o sofrimento e o assédio moral têm aparecido com mais frequência no ambiente de trabalho. Esse último em especial fortalece a discriminação no trabalho, a manutenção da degradação das relações profissionais e a exclusão social. Sendo composto por atos cruéis que caracterizam uma atitude violenta e sem ética nas relações profissionais, como exposição de trabalhadoras e trabalhadores a situações ofensivas, constrangedoras e humilhantes durante o exercício de sua função. Para a pesquisa foi realizada uma entrevista semiestruturada com um funcionário público da área da educação que sofreu com o assédio moral e a perseguição por longos dezesseis anos em seu ambiente de trabalho. Isso o levou a um quadro de adoecimento onde ele desenvolveu gastrite e arritmia cardíaca além do estresse e do constante desgaste mental ao qual foi submetido. Segundo o entrevistado as constantes brigas, as tentativas de boicote, as perseguições e a personalização das atividades e das relações dentro do departamento onde atua contribuíram de maneira direta para esse processo de adoecimento. Os desdobramentos psíquicos do ressentimento e da humilhação, decorrentes das relações de poder impostas pela direção ao mesmo, intensificaram o acúmulo progressivo de um sentimento que invade aos poucos, o sujeito em sua integralidade, provocando a somatização. Concluímos com a pesquisa que o sujeito entrevistado satisfaz-se com o seu trabalho, demonstrando gostar do que faz, porém apresenta dificuldades nas relações interpessoais de trabalho, fato gerador de constantes conflitos que originaram somatizações, levando ao adoecimento em alguns momentos de 166 maior agitação. O assédio moral neste caso foi apontado pelo entrevistado como fator agravante de sua saúde, e esta autoavaliação foi percebida pelos entrevistadores como congruente aos fatos narrados. Palavras-chave: Trabalho; Adoecimento; Assédio Moral; Relações Interpessoais. 167 IDENTIFICAÇÃO DE PROBLEMAS DA REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (RAP) SEGUNDO O CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS) NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG João Carlos Tavares Da Costa Tamires De Almeida Feliciano Miriam De Lima Mohallem Universidade Federal De Alfenas/ Unifal-Mg, Alfenas- MG [email protected] A rede de atenção psicossocial é formada pelos níveis primários, secundários e terciários de atenção à saúde. Tem como objetivo o acesso da população com algum sofrimento mental e sua família nesses níveis de atenção à saúde. Para que haja uma Rede de Atenção Psicossocial (RAP) mais efetiva no município de Alfenas/MG foi desenvolvido um estudo em grupos focais no qual consiste na gravação de áudio digital dos sujeitos e a transcrição na íntegra de três questões norteadoras. Todos os sujeitos foram esclarecidos quanto aos objetivos e a ética na investigação científica. O trabalho foi realizado em parceria com profissionais do Centro de Atenção Psicossocial- CAPS e Centro de Convivência levantando informações nos níveis de ensino médio e ensino superior sobre pontos críticos e sugestões de resolutividade para uma RAP mais funcional. Foi possível chegar a três grandes grupos problemas encontrados na efetivação do serviço. São grupos divididos em Nível Estrutural, Nível Social e Nível Organizacional. Em nível estrutural foi relatado à falta de medicamentos, espaço físico inadequado, excesso de burocracia, falta de verbas e recursos para programar ações e falta de outros profissionais para compor as equipes. Em relação ao Nível Social, há relatos de preconceito do próprio usuário e de sua família em relação ao serviço, dificultado sua adesão ao tratamento. Quanto ao nível organizacional, foi relatado que ainda há uma centralização do serviço nos CAPS, dificultando o tratamento dos pacientes e os encaminhamentos de referência e contra referência não estão implantados. No que se refere à capacitação foram levantados pontos como a necessidade de capacitação para a equipe, como participação em eventos e cursos. Com relação aos profissionais observamos através dos relatos que os mesmos não apresentam perfil adequado e experiência para o trabalho em CAPS, não apresentam resolutividade em suas ações, bem como iniciativa para administrar os casos. Por fim foram trabalhadas duas questões que levantavam propostas e sugestões para mudanças e funcionalidade da RAP. Dentre elas foram citadas a criação de uma comissão para ajudar na implantação do CAPS AD, leitos em hospital clínico e consultório na rua, além da contratação 168 de psiquiatras e psicólogos na atenção básica. Também foi sugerida a implantação de projetos que visem à reinserção de usuários na sociedade. Isso indica que, no que se refere a RAP é importante à parceria das Universidades, participação nos eventos oferecidos por estas instituições, maior comunicação entre os serviços, realização de matriciamento e reuniões periódicas entre os serviços que compõem a rede. 169 INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA: AS MARCAS DA INSTITUCIONALIZAÇÃO E A PERDA DE UM LUGAR DE PERTENCIMENTO Hugo Higino Perez De Andrade Elimara de Souza Pereira Veline Filomena Simioni Silva UFMT, Cuiabá – MT [email protected], O presente trabalho é um relato de experiência do Estágio Básico IV em Contextos Clínicos e de Saúde, realizado na instituição do Complexo Integrado de Atenção Psicossocial (CIAPS) Adauto Botelho Unidade I na cidade de Cuiabá Mato Grosso, respaldado em leituras sobre a prática profissional do psicólogo no SUS, bem como leituras a respeito da atenção psicossocial e saúde mental, tais como as obras de: Bedin & Scarparo (2011), Bezerra (2013), Coimbra et al. (2013), Pinheiro (2009), Amarante (2007) entre outras. Por ser um estágio básico, através da observação participante o mesmo teve como objetivo estabelecer a relação entre a teoria e a prática, e assim problematizar a realidade a fim de proporcionar aos alunos a possibilidade de uma formação mais sólida, familiarizando-os com o contexto da saúde pública e a atuação do psicólogo no mesmo. Neste trabalho será discorrido o processo de observação participante, bem como o processo de institucionalização causado pela internação de sujeitos em sofrimento psíquico. Embora a Reforma Sanitária preveja um atendimento em rede no qual o sujeito em sofrimento psíquico tem a possibilidade de uma reinserção social, a falha na rede e o descaso com a saúde pública e mental, excluem a possibilidade de um lugar para tais sujeitos institucionalizados. Será relatado também um fragmento de caso de um interno, cujo processo de institucionalização precoce na infância afetou seu vínculo social, retirando deste a possibilidade de viver em sociedade. Os estigmas deixados pela internação em um hospital psiquiátrico afetou diretamente a tentativa de inserção na rede de atenção psicossocial, aumentando assim o sentimento de não pertencimento a nenhum lugar, já que o sujeito em questão não vê nem no hospital, nem no convívio social um lugar para existir. O processo de desinstitucionalização tem como objetivo resignificar a percepção do sujeito institucionalizado, proporcionando ao mesmo a chance atribuir um novo significado para a vida em sociedade. Ou seja, é necessário não só o trabalho em equipe da unidade de internação, mas a articulação entre essa equipe e as equipes do território, no caso aqui, o CAPS, cuja capacitação para o atendimento humanizado em rede e a atenção psicossocial seja efetiva, promovendo assim autonomia e emancipação dos sujeitos institucionalizados. 170 Todavia, as marcas deixadas pelo processo de institucionalização, aliado ao preconceito histórico que tal processo deixa, juntamente com a fragilidade dos profissionais que trabalham na rede de atenção básica, impossibilita que tais sujeitos tenham a oportunidade de viver em sociedade, afetando assim o princípio de dignidade humana prevista pela constituição de 1988. O estágio permitiu aos alunos uma visão concreta da realidade da saúde pública, e a importância de lutar para que a rede de atenção básica se fortaleça, e assim haja possibilidades para sujeitos institucionalizados viverem sem sociedade novamente, encontrando um lugar de pertencimento para si. Palavras-Chave: Saúde Mental; Atenção Psicossocial; Desinstitucionalização; SUS; INTERVENÇÕES LÚDICAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES ÀS RELAÇÕES AFETIVAS: TRABALHANDO A AGRESSIVIDADE NA ESCOLA Daniela Ribeiro Braga Andréia Cristiane Silva Wiezzel FCT Unesp - Campus de Presidente Prudente, Pirapozinho- SP [email protected] O projeto ora apresentado é desenvolvido em uma escola de educação infantil da rede municipal e trabalhou, por meio lúdico, com um aluno tido como agressivo, visando contribuir a um melhor desenvolvimento emocional, de forma que as condutas agressivas fossem minimizadas. A pesquisa teve como referencial a concepção que a psicanálise winnicottiana nos traz a respeito do tema relativo à agressividade. Nesta pesquisa qualitativa, de tipo estudo de caso, a estagiária levou o aluno participante à brinquedoteca escolar por cerca de cinquenta minutos semanais durante o ano letivo de 2013, e a criança brincou livremente com os brinquedos disponibilizados. As brincadeiras foram inteiramente conduzidas pelo próprio aluno e a interação com a estagiária ocorreu apenas quando solicitado. As observações foram encaminhadas ao professor orientador que, posteriormente, realizava reuniões com a estagiária para a discussão dos dados apresentados. Além da coleta de dados pela observação, foram realizadas entrevistas com o pai do aluno e outra com a professora, de forma a obter informações que auxiliassem na compreensão da conduta que a criança vinha apresentando. Rick, aluno do Pré 1, de quatros anos, estudava em período integral e foi indicado a participar do projeto por sua professora. Nasceu prematuro e permaneceu no hospital, semanas depois foi encaminhado à creche. Teve refluxo, era filho único e a família era envolvida em traições, ciúmes e alcoolismo. No início dos encontros lúdicos o aluno falava muito baixo com a estagiária e sempre escolhia um brinquedo e pedia para que ela brincasse também, porém, 171 com outro brinquedo, nunca a envolvendo em suas brincadeiras. A estagiária e o aluno construíram um vínculo maior quando ele pediu a esta para que o ajudasse em sua brincadeira, momento em pode lidar com vários conflitos relacionados à sua vivência familiar. Por muitas vezes dizia que gostava muito dela e a abraçava. A estagiária passou a brincar com ele interagindo diretamente nas brincadeiras. Com as atividades na brinquedoteca, a professora do aluno percebeu melhora em sua conduta e na convivência com os demais, elogiando-o. O ato de brincar, neste sentido, se apresentou como importante recurso para a criança, pois a ajudou a expressar o mundo interno, a dominar angústias, além de ser uma forma de se divertir, realizar desejos e sentir prazer. A brincadeira é uma espécie de mediação entre o mundo interno e o externo da criança, podendo-se perceber sua grande influência no desenvolvimento emocional. As atividades lúdicas, auxiliando no desenvolvimento, permitiram à criança a melhor interagir no espaço escolar, minimizando suas condutas excessivamente agressivas. Enfim, por meio lúdico pôde explorar o espaço externo, sendo capaz de descobrir novos conhecimentos e, por meio da fantasia, conhecer o que lhe proporcionava prazer e também reviver as experiências difíceis, permitindo organizá-las. Os adultos envolvidos assinaram o Termo de Consentimento. Palavras-chave: Brincadeira; Relações afetivas; Agressividade; Atividades lúdicas. 172 NÍVEIS DE ESTRESSE EM MULHERES COM DIAGNÓSTICO DE HIPERTENSÃO ARTERIAL Ana Lucia Barreto Da Fonseca Maria Socorro Sales Mariano Keyciane Figueredo M. Oliveira Universidade Federal Do Reconcavo Da Bahia [email protected] Os dados epidemiológicos apontam as cardiopatias como responsáveis pelo maior número de mortes no Brasil, e, embora ainda acometa mais o gênero masculino, já há um crescimento das taxas de enfermos crescente para as mulheres. Um dos fatores considerado responsáveis por essa alteração nos índices é a inserção feminina no mercado de trabalho, com o aumentando da jornada de trabalho e as responsabilidades socioeconômicas. Entre as mais comuns estão as cardiopatias do miocárdio, que resultam da incapacidade do coração enviar sangue para as partes do corpo, produzindo aumento na pressão arterial, a hipertensão, promovidas por variáveis físicos, psíquicos e ambientais. O estresse está entre os fatores que podem desencadear a pressão arterial, já que esse leva a um estado de desequilíbrio na homeostase do indivíduo, que, em fluxo continuo, poderá incorrer em adoecimento. Este estudo teve por objetivo descrever os níveis de estresse de mulheres com diagnóstico de hipertensão arterial. Para tanto, foi aplicado o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos - ISSL (LIPP, 2000) em 40 pacientes do sexo feminino que eram atendidas no ambulatório do Centro de Referência a Saúde da Mulher de uma cidade do Nordeste brasileiro. A coleta de dados foi realizada na sala de espera do ambulatório com as pacientes que aguardavam atendimento com o cardiologista. No primeiro momento os pesquisadores apresentavam o objetivo da pesquisa e convidavam os pacientes a colaborarem voluntariamente. Aqueles que aceitavam colaborar eram chamados, individualmente, ao fundo da sala, onde respondiam; o questionário socioeconômico e a aplicação do ISSL. Após os inventários terem sido aplicados, os dados foram inseridos no SPSS 13, o qual definiu em médias os padrões de resposta. Os resultados apontaram que as colaboradoras tinham entre 30 e 90 anos, sendo que 57,5% esta na faixa etária dos 40 a 60 anos, casadas e em média com três filhos, a escolaridade da maioria era de analfabeta à Ensino Fundamental I (67,5%). A maioria das participantes vive com a família, faz tarefas domesticas, e apenas 17,5% exerce alguma função remunerada. As participantes fazem tratamento em média há um ano e oito meses e grande parte (87,5%) apresentou algum nível de estresse, sendo que 40% na fase de resistência e 46% na fase de exaustão, e 54% apresentou sintomas psicológicos. Diante desses dados, fica evidenciada a 173 correlação entre níveis de estresse e cardiopatias, já que o coração é o órgão que reage imediatamente as variadas situações de estresse, com aumento ou diminuição do batimento cardíaco, para suprir a ausência de oxigênio causado pelo estado de ansiedade diante do estresse. Essa resposta pode decorrer, inclusive, por distorções cognitivas, que leva aos sintomas psicológicos, pois pensar e avaliar eventos do cotidiano de modo equivocado pode gerar sofrimentos desnecessários, a sua ocorrência constante pode gerar desgaste físico e emocional pela necessidade de busca da homeostase interna, o que compromete as funções cardiovasculares. Assim, percebe-se que todo tratamento cardiopata deverá associar acompanhamento dos padrões físicos associados a processos psicoterapêuticos. 174 PROGRAMA DE VOLTA PARA CASA: UMA LUTA PELA REINSERÇÃO DO INDIVÍDUO NA SOCIEDADE Raquel Jara Volpato Leite Luciano Gomes Lopes Universidade Paranaense/UNIPAR, Tapejara-PR [email protected] A partir do movimento da Reforma Psiquiátrica, vários programas foram sendo implantados para dar amparo às pessoas que foram retiradas dos hospitais psiquiátricos, um destes é o Programa De Volta Para Casa, no qual será abordado através de revisão bibliográfica tendo como objetivo demonstrar sua importância para a reintegração de pessoas com transtornos mentais na sociedade, cumprindo a finalidade de diminuição de leitos em Hospitais Psiquiátricos através do processo de desinstitucionalização (BRASIL, 2005). Para Goulart (2008), a reforma psiquiátrica tem como objetivo a reinserção social, uma maneira de manter o portador de sofrimento mental perto da família, da comunidade e da sociedade, pois, como descrito por Minas Gerais (2006), o tratamento oferecido pelos hospitais psiquiátricos fazia com que o paciente fosse totalmente isolado do seu espaço social. De acordo com Jorge e Bezerra (2004, p.558) as possibilidades de inclusão assumem valor simbólico, como resgate do sentir-se vivo e participando das relações de trocas sociais. Campos (2008) ressalta a importância de se levar uma vida com liberdade, mas para que isso ocorra é necessário que haja um trabalho continuo de acompanhamento ao indivíduo que possui transtornos mentais por uma rede de atenção à saúde mental, para que então, se possa melhorar o relacionamento com os demais moradores da comunidade, fazendo com que se torne cada vez mais independente para realizar tarefas diárias, ampliando assim suas relações sociais, possibilitando o exercício de sua cidadania e direitos civis e políticos. Deste modo, o Programa de Volta para Casa constitui um meio inovador e efetivo que traz um excelente beneficio através da sua proposta para a reintegração social das pessoas que passaram por período longo de internação em hospitais psiquiátricos, o qual o beneficiário do programa recebe um auxílio mensal no valor de R$ 380,00, com o intuito de contribuir para sua inserção social (CAMPOS, 2008). Esta ajuda colabora com o propósito do programa de fazer com seja estimulado atividades que tenha como objetivo a socialização, isso através de trabalho, cultura, laser, alimentação e autocuidado, resultando em maior independência, autonomia e uma melhor qualidade de vida ao beneficiário (BRASIL, 2003). Contudo, é notório a importância e os benefícios deste programa no processo de reabilitação psicossocial, porém, em relação a sua implementação e consolidação, existe muitas dificuldades por defrontar-se 175 com um contexto paradigmático engendrado por um longo processo de exclusão social; portanto há necessidade de lutar para a desconstrução de estereótipos e para que o programa se estenda ao maior número de pessoas, sobretudo, aquelas que perderam seus documentos pessoais mínimos durante o extenso período de internação e que são necessários para o cadastramento no programa. Palavras-chave: Saúde Mental; Reforma Psiquiátrica; Inclusão Social, Programa de Volta para Casa 176 PSICOLOGIA ESCOLAR/EDUCACIONAL E A PATOLOGIZAÇÃO DA INFÂNCIA Luiz Bosco Sardinha Machado Júnior Faculdades Integradas de Ourinhos, Ourinhos- SP [email protected] A psicologia escolar/educacional tem sua origem na busca por classificar os alunos conforme suas capacidades intelectuais, ainda no início do século XX. Tal propósito ampliou-se, compreendendo o desenvolvimento infantil, particularmente no que diz respeito às habilidades lógicas e de raciocínio abstrato, privilegiadas pelo modelo disciplinar de escola. A busca por soluções para problemas pedagógicos surge da simples adaptação das práticas da psicologia clínica, com ênfase no diagnóstico e no atendimento individual. A partir da década de 1940 outros espaços são abertos para o profissional da área, com ênfase para os problemas de aprendizagem e de ajustamento ao cotidiano escolar que o aluno apresente. Desse período até os anos 1980 aproximadamente, as explicações mais comuns sobre ditos problemas englobavam as deficiências intelectuais, a carência cultural e desnutrição. Nas décadas seguintes, as explicações de cunho psicopatológico propriamente dito ganham força; inicialmente, a dislexia, a discalculia e a dislalia são consideradas como os grandes problemas de aprendizagem. Já no século XXI dissemina-se o diagnóstico de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), acompanhado de outros, como o transtorno opositordesafiador. A tendência dominante em nosso campo de atuação foi desde seu início a de buscar no aluno enquanto indivíduo as causas dos problemas de aprendizagem; contudo, desde a década de 1950 existem propostas para uma psicologia escolar que se preocupe com o todo da instituição e compreenda que ditas dificuldades fazem parte de um contexto complexo, não sendo de natureza exclusivamente intrapsíquica ou biológica. O problema que se coloca hoje é o uso de diagnósticos, acompanhado massivamente por terapêutica medicamentosa, para sanar dificuldades educacionais/pedagógicas que dizem respeito à instituição como um todo. Tal fenômeno inclui-se na denominada patologização da infância, por classificar como doentios comportamentos que fujam do esperado pela instituição escolar e que estão a ser tratados como transtornos mentais, mas não necessariamente o são. As linhas institucionais em psicologia escolar/educacional têm criticado essa postura e adotado práticas voltadas à problematização dos problemas de aprendizagem em sua complexidade, isto é, envolvendo todos os atores institucionais, a dinâmica própria da instituição escolar e elementos externos a ela, que vão desde a família até às políticas públicas de educação. Dessa forma, busca-se uma prática que evite patologizar as dificuldades educacionais e aborda-las 177 de maneira crítica e efetiva, não relegando sua origem e responsabilidade a supostos transtornos mentais ou limitações biológicas. 178 SAÚDE MENTAL E OS DESAFIOS NA INCLUSÃO SOCIAL E FAMILIAR Maria Do Socorro Sales Mariano Vera Lucia de Freitas, Silvana Carneiro Maciel Aracaju-SE [email protected] Este estudo é uma descrição do trabalho desenvolvido em uma instituição psiquiátrica, na cidade de João Pessoa-PB, onde procuramos demonstrar as possibilidades e limitações profissionais de saúde, as dificuldades, e questionamentos, frente ao processo de deshospitalização. A presente pesquisa visa analisar a problemática da saúde, em relação à desinstitucionalização de pacientes internos em hospitais psiquiátricos que estão em situação de longa permanência. Os objetivos se estendem a identificar e orientar as famílias de pacientes internos em Instituição psiquiátrica de longa permanência sobre o processo de desinstitucionalização. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, a metodologia usada para a construção deste, foi fundamentada a partir dos prontuários dos pacientes, observações de descrição de atividades e estudos de casos, relatos de pesquisas e bibliografias que contemplam a discussão acerca da saúde mental e inclusão social. Para tanto observamos que na instituição pesquisada é desenvolvido todo um trabalho com o paciente e a família, com acompanhamento multidisciplinar levando-os a assumirem o seu papel com compromisso, responsabilidade. Nas reuniões com os familiares eram apresentadas diversas temáticas direcionadas a orientação e conhecimento do sofrimento psíquico do paciente. As visitas domiciliares aconteceram de acordo com a necessidade de cada caso, podendo ser até semanalmente. Nos casos de abandono são estudadas diversas alternativas, tais como: intervenção da curadoria da defesa dos direitos do cidadão; transferências para a Residência Terapêutica.. Tal conquista envolve a sociedade de um modo geral, tais como, Ministério Público, Secretaria de Saúde e o papel do gestor são de fundamental importância para a ampliação da rede ambulatorial, criação de dispositivos entre o tratamento ambulatorial e a internação hospitalar, abrangente a toda população, visto que tais serviços ainda atendem a uma pequena parcela da sociedade. Palavras-chave: Inclusão Social, Família, Usuário, Desinstitucionalização. A ATENÇÃO CLINICA/PSICOSSOCIAL AO USUÁRIO DE DROGAS ILÍCITAS E DO ÁLCOOL 179 Susie Amância Gonçalves De Roure Maria do Rosário Silva Resende Flávia Maria Soares Pereira da Silva UFG, Goiânia- GO [email protected] Nas últimas décadas, a problemática do uso e abuso do álcool e de outras drogas tem ocupado um lugar de destaque nas discussões relativas à saúde pública. Em grande medida, esta posição se sustenta no reconhecimento do caráter epidêmico que assume e, como consequência, na constatação do impacto que tal situação produz nas relações socioculturais, em sua dimensão macrossocial. A ampliação das políticas públicas no campo da saúde mental e de tentativas de consolidação de novas formas de atuação/ intervenção junto ao usuário/dependente químico, também fez-se acompanhar da configuração de uma demanda que se refere à produção de conhecimentos que subsidiem a prática. Estas questões conduziram à elaboração do projeto de pesquisa A ATENÇÃO CLINICA/PSICOSSOCIAL AO USUÁRIO DE DROGAS ILÍCITAS E DO ÁLCOOL, iniciado em agosto de 2013 e desenvolvido por um grupo professoras do curso de Psicologia da Faculdade de Educação da UFG em parceria com profissionais vinculados ao Centro de Atenção Psicossocial - adi, (CAPS Girassol), destinado ao atendimento de adolescentes da cidade de Goiânia, com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa/Go. O objetivo geral do projeto é promover a articulação entre a teoria e prática no âmbito da Saúde Mental, envolvendo diferentes saberes - inter e multidisciplinares - visando o desenvolvimento de propostas de implementação de tecnologias sociais de saúde dirigidas à atenção clínica ao usuário de drogas e álcool. Para tanto, foram indicados diferentes procedimentos como a criação de um grupo de estudo, contando com a participação de professores, psicólogos, assistentes sociais e alunos do curso de psicologia, realização de pesquisas bibliográficas referente à legislação que rege as políticas públicas nacionais acerca da problemática das drogas ilícitas e do álcool, grupos focais com familiares e/ou responsáveis; oficinas educativas e culturais junto aos adolescentes; grupo com agentes de saúde, visando refletir acerca da técnica do acolhimento e do vínculo estabelecido com os usuários de drogas e álcool; proposta de avaliação e reabilitação neuropsicológica. A complexidade inerente à questão das drogas conduziu à proposição de diversos procedimentos. Entretanto, a realidade tem se constituído fonte de obstáculos ao desenvolvimento de alguns destes. Cabe assinalar a exigência em se aguardar o parecer do Comitê de Ética, o que acabou por inviabilizar algumas das principais atividades, e a rotatividade de profissionais vinculados ao CAPS ad. A possibilidade de se compartilhar a 180 experiência de tentativa de interlocução da produção acadêmica com um Centro de Atenção Psicossocial, bem como a necessidade de se ampliar o debate em torno do objeto e dos procedimentos adotados nos leva a propor a participação no presente Congresso. Palavrachave: Álcool e Drogas ; CAPS Políticas públicas; Psicologia 181 A NEGAÇÃO DE UM CORPO DESEJANTE Juliana Cristina Bessa Fernando Silva Teixeira Filho Universidade Estadual Paulista – Unesp/Assis – SP [email protected] A partir de nossa experiência em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), espaço no qual as múltiplas diferenças deveriam ser respeitadas, percebemos que as sexualidades dos interagentes são, na maioria das vezes, invisibilizadas pelos profissionais, funcionários e técnicos. Notamos como a norma, as regras e as vigilâncias produzem corpos dóceis e disciplinados. Assim, certas práticas causaram e causam incômodos, e dessa forma, acreditamos na necessidade de começar a refletir e problematizar essas questões referentes às sexualidades nos CAPS. Como suporte teórico para auxiliar as discussões propostas nos apoiamos em autores pós-estruturalistas como Michael Foucault e Judith Butler. Durante este período, notamos que alguns profissionais, além de controlar as manifestações psicopatológicas dos usuários, controlam também suas performances de gênero e as manifestações de suas sexualidades. Neste contexto, as sexualidades dos usuários com sofrimentos psíquicos são estigmatizadas, pois são compreendidas como desviantes e, por isso, em muitos casos são negadas e reprimidas. Suas manifestações são interpretadas como exacerbações e descontroles, frutos do adoecimento psíquico; a instituição busca controlar o excesso para manter a ordem interna, usando de diversas estratégias para isso: discursos rígidos normalizadores e disciplinarizadores e, também, medicações para cessar esse problema. Assim, é desta maneira, que os jogos de pedagogias atuam: formando e administrando a vida das pessoas. No cotidiano do serviço observa-se como essas condições de negação e infatilização são visíveis. A invisibilidade desses corpos é acompanhada por um viés de infantilização, que marca um modo de tratamento sustentado pela regressão e negação das sexualidades, como se os usuários jamais houvessem experienciado afetos e desejos, como se suas sexualidades fossem inexistentes. Somado a isso, práticas discursivas marcadamente preconceituosas, reforçam as sexualidades como uma função meramente reprodutiva, engrossando o caldo de um discurso preventivo pautado na dita impossibilidade de procriação dessas pessoas. Considerados despojados de beleza, de vigor físico, de jovialidade, encrudescidos pelas medicações, os usuários são percebidos como corpos mortos, corpos anoréxicos de desejo, consumidos pelos transtornos e seus sintomas. Assim, estas pessoas são excluídas das redes de relações afetivas pelas diferenças e estereótipos marcados em seus corpos. No corpo é que muitas vezes, estas pessoas trazem as marcas de sua estória. 182 Diante disto, é necessário que ocorra uma mudança de postura destes profissionais; é preciso desconstruir valores e crenças heteronormativizadas, sexistas, para que exista uma escuta desse/dessa usuário, sem preconceitos, sem diagnósticos e rótulos. Tendo em vista, assim, a diversidade que nos atravessa, sem pensar as sexualidades dessas pessoas como negação de algo ou uma associação a condutas desviantes, que resultam em transgressões e patologias. Palavras-chave: Sexualidades; Saúde mental; Usuários; Estigma. 183 A PRODUÇÃO DO CUIDADO E AS ESPECIFICIDADES NO CAMPO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS: O RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA EM UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL Carolina Galvão De Oliveira Núcleo de Lógicas Institucionais e Coletivas do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo [email protected] Discutir o tema do cuidado no campo da saúde pode nos revelar o uso naturalizado deste termo, para além de uma apreensão de seu sentido. Tal naturalização pode ser encontrada no uso de outros termos, como é o caso da Integralidade e da própria noção de saúde. Tais palavras, grávidas carregam em si mais de um significado, ou seja, são polissêmicas, não compreendidas e utilizadas por todos da mesma maneira. Nesse sentido, não há a pretensão aqui de esmiuçar as infinitas aplicações para a palavra Cuidado, pois considerando ser impossível a apreensão total de seu sentido, será mais interessante percorrer alguns caminhos para compreendê-la como um conjunto de repertórios linguísticos que se traduzem também em ações e práticas. Proponho adentrarmos na polissemia do termo Cuidado no campo da saúde e seus desdobramentos na articulação com as Políticas de Saúde voltadas para usuários de álcool e outras drogas. Os movimentos da Reforma Sanitária e da Reforma Psiquiátrica no Brasil pós- ditadura formularam uma política pública de saúde com princípios de acesso universal e igualitário. No entanto o paradigma repressivo se manteve com relação ao usuário de drogas, situando-o em um campo híbrido entre a punição e o imperativo da doença e do tratamento psiquiátrico. A Política de Redução de Danos deu visibilidade para a problemática do uso de substâncias psicoativas no âmbito da saúde pública quando seus primeiros programas no final dos anos oitenta identificaram que a maior parte dos sujeitos contaminados pelo vírus HIV havia contraído a doença através do compartilhamento de seringas durante uso de drogas. Mesmo com mudanças do sistema público de saúde, o paradigma da abstinência e o isolamento do usuário em regime de internação, ainda predominam como modelos de atenção que recortam o sujeito em suas dimensões desejantes e históricas, tratando-o como um depositário da doença e não parte de um processo singular ou produto de uma sociedade de consumo. Atualmente existe uma rede de cuidados ampliada na atenção á população usuária de álcool e outras drogas com abordagens de caráter psicossocial e comunitárias, como os CAPS álcool e drogas. Entretanto, a ampliação dessa rede por si só não garante mudanças na perspectiva da clínica, com relação ao cuidado a essa população, pois é no encontro entre trabalhador e usuário que se pode privilegiar o sujeito em sofrimento e reconhecê-lo nos processos de produção de sua saúde, incluindo-o na gestão 184 de seu próprio tratamento. A partir do relato de uma experiência em um CAPS e da discussão de um caso clínico, será possível discutir a relação entre trabalhador e usuário assim como as contradições e a variabilidade do cuidado produzido na clínica com usuários de drogas, dentro de uma proposta de atenção psicossocial. Palavras-chave: CUIDADO; DROGAS; CLÍNICA; ATENÇÃO PSICOSSOCIAL. 185 A VOZ QUE CANTA É A MESMA QUE ENCANTA: NOVOS ESPAÇOS DE CIRCULAÇÃO DA LOUCURA Alessandra Teófilo Silva Sueli de Carvalho Vilela Vânia Regina Bressan Alfenas- MG [email protected] A reforma da assistência psiquiátrica envolve, além da desconstrução de muros e de práticas manicomiais, a co-responsabilização com o sujeito vinculando-o à subjetividade e a um lugar social. Frente a isso, faz-se necessário construir estratégias que possibilite ao sujeito o encontro consigo e com o outro em diferentes espaços e territórios. A inclusão social se ampara, dentre outras vertentes, na criação de estratégias que oportuniza a socialização, recuperando potencialidades e abrindo vias de comunicação no ambiente social, bem como valoriza a dinâmica das relações e a cidadania. O Centro de Convivência é um dispositivo que articula a vida cotidiana e a cultura em espaços territoriais que possibilita responder ao desafio do cuidado e da inclusão social, dando direito à palavra em diferentes sentidos e vias de expressão. Este estudo visa apresentar a experiência da musicalidade como estratégia de inclusão social de pessoas portadoras de transtornos mentais e com problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas, integrantes de um Centro de Convivência mineiro. O Centro de Convivência Esperança faz parte da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do município de Alfenas/MG. Dentre as diferentes atividades desenvolvidas, conta com uma oficina de música, por meio da qual surgiu o Grupo Musical Batuki Mental, em 2013, composto por 9 usuários, entre homens e mulheres. Esse grupo é dirigido por um monitor responsável pelos ensaios, onde juntos compuseram 12 músicas e estão na fase de finalização da gravação de um CD. Desde que foi criado, o Grupo Musical tem sido convidado a se apresentar em diferentes eventos, especialmente nas Universidades particular e federal do Município, o que tem contribuído na ampliação das relações sociais em diferentes cursos: Nutrição, Direito, Odontologia, Enfermagem, Medicina e Psicologia. Percebe-se a valorização e reconhecimento por parte dos docentes e discentes quanto às capacidades e potencialidades dos integrantes do Grupo Batuki Mental, despertando emoções, elogios e o reconhecimento do sujeito ativo, desconstruindo a concepção social da loucura e da doença enquanto incapacitante e excludente, pois os ouvintes sempre se encantam com a independência dos usuários e com a qualidade da música apresentada. Os usuários participantes do grupo se demonstram realizados, autoconfiantes, com reflexo positivo em sua auto-estima e auto-imagem, 186 fortalecendo sua identidade. A letra e melodia, criadas pelo grupo em suas músicas trazem traços de sua história de vida e da cultura, dando voz aos sujeitos num contexto coletivo. A música é, portanto, um instrumento de acesso do eu, singular/coletivo numa troca e interrelação entre as experiências também lúdicas. Palavras-chave: Inclusão social; Música; Saúde Mental; Centro de Convivência. 187 AUTISMO E DINÂMICA FAMILIAR Raquel Santos Fonseca Millena Santos Figueredo Faculdade de Tecnologia e Ciências, Jequié- BA [email protected] O autismo é definido como uma subcategoria dos transtornos invasivos do desenvolvimento, caracterizado por prejuízos severos em três áreas específicas: social, linguagem e comportamento. A descoberta de ter uma criança com autismo rompe com sonhos e expectativas, surgindo muitos sentimentos e conflitos inesperados. Este artigo objetiva compreender o impacto do autismo na dinâmica familiar, ao partir da concepção de família da psicologia social que a define como a primeira instituição social que, integrada com outras instituições, busca proteger e assegurar o bem estar de seus membros. Para isso, utilizou-se da pesquisa bibliográfica, com análise de conteúdo fundamentada nas informações coletadas na revisão da literatura científica especializada. A necessidade de maiores cuidados, a dificuldade na realização de tarefas diárias e o longo período de dependência que a pessoa com autismo requer, podem provocar sobrecargas que comprometem a estabilidade emocional, o bemestar físico e mental, e o tempo pessoal dos familiares ou cuidadores para a realização de outras atividades, desenvolvendo estresse, sentimentos de insatisfação e preocupação com o familiar. O modo como a família enfrenta as situações está relacionado com o seu sistema de crenças, a capacidade para enfrentar mudanças, qualidade da comunicação entre os membros, intensidade do evento e a existência ou não de uma rede de apoio. Os profissionais envolvidos devem estar atentos não somente à pessoa com autismo, mas também às famílias e as particularidades de cada membro, fornecendo aos mesmos os conhecimentos e estratégias necessárias para lidar com as situações difíceis e para contribuir com o desenvolvimento do sujeito. As instituições e os profissionais envolvidos no atendimento à criança podem oferecer apoio às famílias através da elaboração de estratégias de intervenção para promoção da qualidade de vida e a educação familiar, considerando os estímulos necessários para que se formem redes de apoio, como alternativa de possibilitar espaços nos quais as famílias possam buscar orientação e trocar experiências. Palavras-chave: autismo; família; dinâmica familiar; saúde mental CARACTERIZAÇÃO DO PRIMEIRO CONSUMO DE ÁLCOOL DE ALCOOLISTAS MEMBROS DE UM GRUPO DE LIBERTAÇÃO DO ALCOOLATRA 188 Carla Moretti De Souza Alessandro Rolim Scholze Maria José Quina Galdino Universidade Estadual do Norte do Paraná, Bandeirantes- PR [email protected] O álcool apresenta-se como a droga mais consumida ou, pelo menos, experimentada no Brasil e no mundo. O elevado consumo é favorecido pela facilidade com que essa substância é comercializada, por ser lícita, podendo trazer consequências graves, a níveis orgânico, psicológico e social. O ápice deste prejuízo é o alcoolismo, um problema que atinge milhões de brasileiros. Objetivo: Identificar as características do primeiro consumo de álcool de alcoolistas em tratamento de um Grupo de Libertação do Alcoólatra. Método: Estudo descritivo-exploratório de abordagem quantitativa, realizado com membros de um Grupo de Grupo de Libertação do Alcoólatra de um município situado no norte do Paraná. Foram incluídos alcoolistas em tratamento, acima de 18 anos, de ambos os sexos, que frequentassem o grupo há pelo menos um ano e que relatassem não fazer uso de álcool há pelo menos um ano. Os dados foram coletados por meio de um questionário semiestruturado durante as reuniões do grupo no mês de novembro de 2010. Os resultados foram analisados de forma descritiva com o auxílio do programa Microsoft Office Excel®. Esta pesquisa seguiu os parâmetros éticos estabelecidos pela resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde, incluindo aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Norte do Paraná, parecer nº 11/2010. Resultados: Participaram da pesquisa 17 alcoolistas em tratamento, a maioria do gênero masculino (82,4%), com idades que variaram entre 18 e 83 anos, sendo a idade média do gênero masculino 52 anos e do gênero feminino 43 anos. Em ambos os gêneros prevaleceram indivíduos casados (58,8%), que cursaram até o ensino fundamental (70,6%) e possuíam renda familiar de até 2 salários mínimos (82,3%). Com relação ao tempo de consumo de álcool, da primeira ingestão até o relato de abstemia voluntária, verificou-se que na faixa etária de 18 a 34 anos a média foi 7 anos e acima de 35 anos a média foi de 38 anos de uso de álcool, variando entre 7 e 50 anos de consumo de álcool. Na história pregressa, 76,5% relataram que durante a sua adolescência, existia pelo menos um familiar que fazia uso nocivo de álcool. Quanto ao familiar que fazia uso nocivo de álcool, as alcoolistas do gênero feminino apontaram o pai (25%), a mãe (25%) e os irmãos (50%). Já entre os alcoolistas do gênero masculino prevaleceu o pai (69,2%) e os irmãos (30,8%). O primeiro consumo de álcool aconteceu antes dos 14 anos (64,6%) e idade média de 12,5 anos. Relataram, ainda, que foram motivados pela curiosidade e que estavam na companhia dos 189 pais e/ou dos amigos. Considerações finais: Os resultados sugerem que a participação familiar pode influenciar no consumo precoce e abusivo de álcool. Ressalta-se que, atualmente, os Grupos de Libertação do Alcoólatra e seus pares, tem desempenhado papel fundamental no auxílio à esta população no enfrentamento desta doença crônica e estigmatizante. Palavras-chave: Alcoolismo; Dependência; Transtornos relacionados ao uso de substâncias; Comunidade Terapêutica. 190 COM OS MAPAS DA SAÚDE MENTAL INFANTIL VAMOS BRINCANDO COM O DEVIR- CRIANÇA: TEMPOS DE CRIANÇAR... Mara Isa De Vasconcelos Coracini São Paulo- SP [email protected] Este trabalho propõe pensar as práticas do cuidado em saúde mental, a partir do criançar e do devir-criança como linhas de fuga em um CAPS Infantil. Inicia trazendo elementos da história da infância e da psiquiatria para revelar suas paisagens na passagem do tempo, destacando os manicômios atuais da infância a partir de uma cartografia das instituições que se aproximam deste lugar de captura da infância e que, por muitas vezes, elevam a saúde mental infantil a um lugar de recomposição de corpos desajustados socialmente. Pensar os manicômios da infância é um convite a cartografar estas formas de institucionalizar o ser criança, rompendo com as possibilidades de singularidades em seu processo de vida e delimitando quais os microterritórios existenciais ela pode ocupar. Para tal, escolho alguns pontos a serem discutidos a partir das vivências em um CAPS Infantil II na cidade de São Paulo, onde através das demandas encontradas no seu dia a dia, foi possível mapear alguns territórios que produzem linhas de verdade para a constituição da infância. Aponta-se também a produção do encontro e a produção do cuidar singular, como estratégias de cuidado e as suas possibilidades inventivas neste campo. A partir do trabalho e dos trabalhadores em saúde mental infantil, é relevante trazer para a discussão algumas ideias que podem ajudar a problematizar esse componente de singularidade que há nesse lugar onde o cuidado é produzido e que não permite que uma abordagem mais generalizadora dê conta. O artigo recorre ao conceito de Deleuze e Guatarri de devir-criança para propor um cuidado que não remete às exigências do futuro, mas às experimentações em que a criança-em-nós exerce suas potências, compondo-se e encontrando-se com os diferentes meios com que convive. Propondo assim, um breve pensar sobre o criançar. Palavras-chave: devir-criança; infância; saúde mental; cuidado. CONSTRUINDO A PARTICIPAÇÃO SOCIAL JUNTO A USUÁRIOS PARTICIPANTES DE UM GRUPO DE APOIO: DESAFIOS PARA A QUALIFICAÇÃO DA ATENÇÃO EM UM CAPS Vitor Corrêa Detomini Renata Bellenzani 191 Daniela Megliorini Paro Universidade Federal de Uberlândia – UFU; Aparecida do Taboado – MS [email protected] Pessoas com necessidades e direitos comuns se transformam em atores sociais respeitados no cenário político, por meio de sua organização coletiva nas instituições. Poucos estudos no Brasil abordam o tema da participação/controle social, um dos princípios do SUS, nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), ou no âmbito da Saúde Mental. A relevância do tema se expressa não somente pela relação entre participação social e melhora da qualidade assistencial, como também pela especificidade dos usuários. Seus engajamentos em atividades coletivas capazes de acolher e encaminhar suas demandas tendem a incrementar sua reabilitação psicossocial. Este ensaio objetiva problematizar a questão da participação social dos usuários do SUS na construção do modelo de atenção preconizado para os CAPS no Brasil. Dois tipos de fontes embasam o trabalho: de teor empírico-prático e técniconormativo. Correspondendo ao primeiro, tem-se o relatório final de Estágio Curricular, de um acadêmico de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, composto por relatórios diários que descrevem as conversas transcorridas em 54 encontros de um grupo de apoio desenvolvido, desde 2012, com usuários de um CAPS. O segundo tipo de fonte são documentos técnicos e portarias do Ministério da Saúde concernentes: a) ao modelo brasileiro de atenção em saúde mental; b) à Política Nacional de Humanização; c) ao SUS. Analisaramse, criticamente, os passos e descompassos da assistência ofertada pelo serviço da ótica dos usuários e à luz dos respaldos técnicos e legislativos. Focaram-se as necessidades, reivindicações, queixas e críticas dos participantes do grupo de apoio, cujos facilitadores eram estagiários de psicologia. Com relação ao processo grupal, identificou-se o movimento na direção de alargar o escopo da atividade e o teor predominante das conversas. A dimensão terapêutica, às vezes, ficava secundária: a conversação ganhava tons de assembléia ou reunião de usuários desejosos de escuta e voz no serviço. Progressivamente, o espaço dialógico se tornou acolhedor para a expressão de depoimentos sobre o que os participantes pensavam acerca do serviço e do atendimento de suas necessidades e direitos. Formulavam-se avaliações, solicitações e expectativas, tanto pessoais, como coletivas; a identidade social como usuários do CAPS foi sendo, assim, construída/fortalecida. As demandas eram, até então, pouco reconhecidas; tinham conotação de reclamações que interpelavam a qualidade assistencial; remetiam a aspectos de estrutura (ambiência, alimentação, medicamentos, materiais para oficinas, número de profissionais, horário de funcionamento) e de processo 192 (atendimento por agendamento prévio, pouco acolhimento, falta de opções de oficinas, comunicação, relações interpessoais, etc.). A maior parte das questões expressas pelos usuários tem respaldo técnico e legal, ou seja, eram reivindicados itens correspondentes ao modelo de atendimento preconizado, porém, ainda não instituído satisfatoriamente no serviço. Para efetivar o princípio da participação social nos CAPS, devem-se orientar os processos assistenciais pelo princípio da indissociabilidade entre clínica e política, e desconstruir as representações loucos; ou usuários de CAPS como incapazes, destituídos de razão e crítica. Finalmente, os espaços coletivos de participação não podem se esgotar em si mesmos, portanto, precisam derivar encaminhamentos práticos que aprimorem estruturas e processos de trabalho contemplando solicitações e críticas legítimas dos usuários. Palavras-chave: Participação social; Políticas públicas de saúde; Legislação; Saúde Mental. CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE INSTITUCIONAL E O HOSPITAL PSIQUIÁTRICO COMO UM ANALISADOR DA SAÚDE COLETIVA João Renato Ciabattari Pagnano Silvio José Benelli Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UNESP Assis [email protected] Uma sociedade, segundo Baremblitt (1994), não é mais que um tecido de instituições que se interpenetram e se articulam entre si para regular a produção e a reprodução da vida humana sobre a terra e as relações entre os homens. A escolha da Análise Institucional (AI) como referencial teórico-metodológico nos interessa para pensar a Saúde Mental pois ela visa promover movimentos de autoanálise e de autogestão em grupos e comunidades, em instituições e estabelecimentos, partindo de uma crítica sobre os efeitos de alienação institucional que são produzidos pela heterogestão. Ela também inclui a proposta de desmistificação do saber denominado científico e, portanto, oferece condições para subsidiar a construção deste trabalho de investigação em hospitais psiquiátricos, pois sua utilização permite estudar o plano invisível desses estabelecimentos institucionais, abrindo linhas de transformação que poderiam escapar aos jogos de poder sobrecodificadores aí praticados. A AI propõe também que uma estrutura organizacional se estruture de modo horizontal e que esteja sintonizada com uma reflexão crítica acerca das reais necessidades da população, estabelecendo um campo de análise que nunca deixa de levar em consideração as dimensões micro e macro políticas e socioculturais. Ela considera sempre os diversos atravessamentos 193 sob uma ótica das chamadas contradições dialéticas, que produzem a compreensão de todo um campo institucional, com seus diversos componentes que esclarecem as pulsações que ainda não passaram pela mediação ideológica e imaginária, bem como a transversalidade dos momentos revolucionários. De acordo com Goffman (1987), um estudo profundo do funcionamento institucional e dos diversos fenômenos que se produzem nesse espaço social específico - tal como são os Hospitais Psiquiátricos -, pode proporcionar indícios valiosos quanto aos procedimentos utilizados na formação de pessoas. Seria possível entender como elas produzem a subjetividade daqueles que a compõe, tanto a dos internados quanto a dos dirigentes. Quanto mais preciso for nosso conhecimento sobre a subjetividade institucional, sobre o desenvolvimento psíquico que se processa em seu interior, das variáveis internas que o inibem e propiciam, e também apreendermos as influências externas favorecedoras, dificultadoras, desviadoras ou deformadoras, tanto melhor saberemos como e onde centrar nossos possíveis esforços teórico-técnicos e éticos. Tal trabalho poderia fornecer algumas pistas de orientação para o desenvolvimento de perspectivas de atuação mais adequadas e eficazes para o profissional da área de Saúde Mental, no âmbito da Saúde Coletiva, objetivando uma contribuição aos serviços prestados à população que manifesta sofrimento psíquico intenso e que tende a ser submetida a processos institucionais de internação. Ir ao encontro dos referenciais teóricos da AI é uma tentativa de produzir uma pesquisa mais próxima da realidade social que pretendemos trabalhar, trata-se de intervenções de saúde que objetivam transformar as instituições e seus estabelecimentos, elucidando os analisadores e, sobretudo contribuindo para aumentar a capacidade de análise e intervenção. Palavras-chave: Análise Institucional; Hospital Psiquiátrico; Saúde Coletiva; Alienação Institucional. 194 DE QUE SINTOMA PADECE O USUÁRIO DE DROGAS? Matheus Vinicius Munhoz Jaraguá do Sul- SC [email protected] A política pública de saúde mental no Brasil para pessoas em sofrimento psíquico em decorrência do consumo abusivo de álcool e outras drogas promove um avanço conceptivo na medida em que privilegia o lugar da saúde para estes sujeitos e se evade do foco de que o usuário de drogas está no âmbito da transgressão, do desleixo ou da incapacidade mental. A partir do momento em que surgiram os Centros de Atenção Psicossocial específicos para usuários de álcool e outras drogas, assumiu-se que os atos repetitivos de se embriagar e se intoxicar se configuram enquanto ações anormais e/ou mórbidas do sujeito; procede-se uma transformação: de pessoas desassistidas pelo poder público tornam-se, agora, pacientes com todos os seus direitos do Sistema Único de Saúde, o que, invariavelmente, coloca-os ao mesmo tempo no âmbito da doença, esta que deve ser diagnosticada para poder ser tratada. Apesar da prática psicossocial não se guiar absolutamente pelo estatuto de doença do sujeito e prevalecer noções como reabilitação psicossocial e fortalecimento do protagonismo dos usuários, o que denota a presença inconteste do princípio da integralidade, faz-se importante compreender qual é o sofrimento que traz o sujeito ao serviço de saúde mental, visto que esta porta de entrada de que sofres? inaugura o caminho terapêutico a ser percorrido. Porém, nem sempre o acolhimento deste usuário deixa claro que a razão de sua dor é o consumo de drogas, não obstante a placa indicativa do serviço nomeie seu adoecimento: álcool e outras drogas. Portanto, o presente trabalho parte da visão psicanalítica, de textos sobre o assunto e da experiência profissional, para discutir de que adoecimento os sujeitos que procuram os CAPSad padecem, ou seja, qual é o seu sintoma? Com este questionamento se dá abertura ao fato de que a terapêutica, por vezes, possa se dar por outros rumos que não pela investigação diagnóstica do uso abusivo de drogas (operação que valoriza outro fundamento: a singularidade), como também visa esclarecer com mais rigor metodológico a formação dos sintomas dos sujeitos que aportam aos CAPSad e, com isso, possivelmente elaborar novas estratégias de tratamento, promoção da saúde e prevenção, e refletir sobre a efetividade dos atuais planos terapêuticos que objetivam o restabelecimento. Palavras-chave: Sofrimento, Sintoma, Psicanálise, Restabelecimento. DEPRESSÃO E IDEAÇÕES SUICIDAS ENTRE PESSOAS COBERTAS POR UNIDADES 195 DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA EM PARANAÍBA-MS Vitor Corrêa Detomini Renata Bellenzani Cláudia Maria Negrão Universidade Federal de Uberlândia – UFU; Aparecida do Taboado [email protected] A depressão é um problema de saúde pública, sobretudo no atendimento primário, com alto ônus social. A sintomatologia de depressão é variada. Enquanto fenômeno, conceituações e teorizações se filiam a diferentes ciências biomédicas e humanas. Destaca-se sua multicausalidade: fatores orgânicos, contextuais, sociais, psicológicos/psicossociais. Realizouse, em 2012/2013, um estudo observacional de corte transversal, com adultos, para verificar a prevalência de depressão, com/sem ideações suicidas, na população de ParanaíbaMS e caracterizar perfil dos sintomáticos. Os participantes foram sorteados entre os cadastrados em cada um das sete unidades urbanas de Saúde da Família, compondo-se a amostra aleatória/estratificada por serviço (N=314). Obteve-se 219 (69,7%) mulheres e 95 (30,3%) homens (elas são maioria nos cadastros). Todos responderam a um questionário e ao instrumento validado PHQ9 (Questionário sobre a saúde do paciente 9), desenvolvido a partir do PRIME-MD (Primary Care Evaluation of Mental Disorders). O escore total do PHQ9 pode variar de 0 a 27. Escores acima de 5 indicam depressão, classificável em quatro níveis. Para análises descritivas preliminares utilizaram-se: programa Excel e software IBM SPSS Statistics 20. Resultados: 146 pessoas apresentam escores 5, correspondendo a 46,5% de prevalência geral de depressão. 58,2% leve; 24,6% moderada; 10,9% moderada a grave; 6,3% grave. A prevalência geral de ideações suicidas foi de 7%. Das 146 sintomáticas, 15% têm ideações suicidas. Dos sintomáticos, 116 (79,5%) são mulheres e 30 (20,5%) homens (lembrando: a amostra não foi equilibrada). Entre os deprimidos predominam: status casado (29,5%), união estável (24%); filiação religiosa (80,1%); escolaridade e níveis socioeconômicos baixos (44,5% ensino fundamental incompleto, 32,2% renda mensal entre R$501,00 e R$1.000,00); condição ocupacional empregado (24,7%). Donas de casa e aposentados somam em torno de 32%. Pretos/pardos e brancos equilibram-se (próximo a 46%). Empregados e desempregados/trabalhadores informais equilibram-se próximo a 24%. O grupo das pessoas deprimidas/com ideações suicidas (15%), comparado aos deprimidos/sem ideações ou à amostra geral, tem menor renda e escolaridade, maior proporção de negros e 196 desempregados, menos suporte familiar, social, religioso, afetivo-conjugal, menos participação em esporte/arte/lazer; mais uso de álcool/drogas (15,4% versus 1,6% no subgrupo depressão/sem ideações versus 2,2% na amostra geral) e mais vivências de problemas emocionais recentes (76,9% versus 38,5% da amostra geral). 35,9% dos deprimidos/sem ideações e 25% dos deprimidos/com ideações estão em tratamento, sobretudo, medicamentoso, na rede básica. 40% dos sintomáticos não buscaram serviços de saúde/tratamentos por acharem desnecessário. Os resultados preliminares sugerem alta prevalência de depressão na população coberta pela Estratégia Saúde da Família, em Paranaíba-MS, principalmente nível leve. Análises correlacionais indicarão associações estatisticamente significativas, ou não, por subgrupos de participantes. Pretendeu-se contribuir com dados epidemiológicos sobre depressão no Brasil e em Mato Grosso do Sul. Acolhimento e diagnósticos das pessoas deprimidas precisam ser intensificados na rede básica; cuidado precoce e interdisciplinar, e acompanhamento conjunto dos casos graves, com NASF e CAPS. Políticas sociais para promover qualidade de vida (empregos dignos, acesso a esporte, cultura e convivência comunitária) melhorariam níveis de saúde e de saúde mental. Intensificar ações comunitárias e sociais concomitantemente à melhora da assistência de saúde especializada para pessoas com depressão, pode prevenir suicídios. Palavras-chave: Depressão; Ideação suicida; Atenção primária; Determinantes sociais. EFETIVAÇÃO DA POTENCIALIDADES POLÍTICA DA DE REDUÇÃO DE INTERDISCIPLINARIEDADE DANOS: NO DESAFIOS CUIDADO E AOS USUÁRIOS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS Nádia Pine Da Cunha Diego Diz Ferreira Ribeirão Preto- SP [email protected] m Este trabalho objetivou promover uma discussão acerca da efetivação das práticas e política de Redução de Danos no âmbito da atenção aos usuários de álcool e outras drogas, em consonância com as diretrizes da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Para tanto, foram consideradas os pressupostos da Política Nacional de Saúde Mental e da Política de Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas. Trata-se de uma revisão literária na qual foram 197 realizados o levantamento, estudo e análise de artigos científicos, utilizando-se dos descritores: Redução de Danos, Interdisciplinariedade e Saúde Mental. Como fontes de pesquisa foram utilizadas as bases de dados Scielo e Lilacs. Nesse ínterim, foi observado que a perspectiva de Redução de Danos ainda não é devidamente reconhecida pelos dispositivos da saúde pública como uma perspectiva em potencial para um cuidado humanizado em relação aos usuários de drogas. Tal reconhecimento propiciaria o resgate da autonomia do sujeito, de forma a tornálo ativo em seu processo de tratamento e abrindo as portas para a inserção na rede daqueles que decidem por não cessar o uso de drogas. Deste modo, não se torna possível um progresso na conquista dos direito humanos destes indivíduos. Esta questão se deve a uma percepção errônea sobre os propósitos da estratégia de Redução de Danos, alimentada tanto pela estigmatização dos usuários, quanto pela manutenção de políticas de combate às drogas, calcada na abstinência como única condição de tratamento e, tornando a internação compulsória uma maneira de alcançar tão propósito. Por outro lado, nota-se que há muitos desafios para diminuição da fragmentação das equipes multidisciplinares, embora haja avanços, principalmente com a inserção do apoio matricial. No âmbito da saúde mental tal apoio torna-se essencial por promover a minimização de tal fragmentação de forma a haver uma corresponsabilização dos casos por meio de reuniões interdisciplinares que possibilitem discussões de casos, elaboração de projetos terapêuticos individuais e nos territórios, aumento da resolutividade local, da referência e contrarefêrencia, de maneira a ampliar o cuidado e a comunicação intersetorial da rede de atenção. Percebe-se que nos locais em que ocorrem, de maneira efetiva, tais ações há maior satisfação tanto das equipes, quanto dos usuários e familiares. Conclui-se, portanto, que os espaços interdisciplinares, principalmente se houver um apoio matricial, são essenciais para que haja avanços nas redes de saúde. Em relação à Política de Redução de Danos, tal estratégia auxilia a efetivação da qualificação da equipe por meio de teoria e discussões de casos experienciados, de forma a diminuir os valores morais relacionados à visão que possuem dos usuários de drogas e sobre tal abordagem. Deste modo, aos profissionais de saúde, é possível um olhar mais integral e humanizado sobre o indivíduo e a obtenção de laços terapêuticos. Assim, pode-se alcançar uma rede de cuidado continente e abrir um campo propício para aumentar o acesso, a integralidade, a equidade e universalidade do tratamento, além de alcançar importantes avanços na Reforma Psiquiátrica Brasileira e na busca dos Direitos Humanos dos usuários de álcool e outras drogas. Palavras-chave: Saúde Mental; Redução de Danos; Interdisciplinaridade; Álcool e outras Drogas 198 ELABORAÇÃO DE UMA LINHA DE CUIDADO A PARTIR DE UMA INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA Amanda Mathias Franklin Prefeitura Municipal de Jaraguá do Sul-SC [email protected] O objetivo do trabalho é compartilhar uma experiência de elaboração de linha de cuidado de uma adolescente de 17 anos, usuária de álcool e outras drogas, e de sua família na cidade de Jaraguá do Sul/SC. Desde a pré-adolescência, Rosa apresentava comportamentos agressivos e desafiadores com a família, se colocando em risco em diversas ocasiões, além da suspeita de abuso de substâncias psicoativas, desde então, a mãe de Rosa procurou diversos órgãos públicos solicitando ajuda, entre eles, Unidade Básica de Saúde - UBS, Conselho Tutelar, Centro de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS, Centro de Atenção Psicossocial álcool e outras drogas - CAPSad, Ministério Público e Justiça. Cada órgão tentou isoladamente e sem sucesso, auxiliar Marli e sua filha, sendo que a última nunca aderiu a nenhum serviço, e em muitos sequer compareceu, até que a situação foi se intensificando e culminou na internação compulsória da adolescente, ação que envolveu todos os órgãos acima citados, além da polícia civil. A partir deste fato, o CAPSad elaborou um Plano Terapêutico Singular (PTS) para a adolescente, mesmo ela estando em outro município, cerca de 120 Km de distância de Jaraguá do Sul. Alguns dos objetivos do PTS foram se aproximar da mãe e do irmão da adolescente, com atendimentos semanais; acompanhamento do tratamento da adolescente na clínica, por meio de ligações e visitas da psicóloga de referência junto com a mãe e o irmão da adolescente, acompanhamento da mãe da adolescente em seu tratamento para depressão e reuniões com o CREAS, visando tratamento conjunto da família e o retorno da adolescente para casa. Com tal postura, embora o caso ainda esteja em andamento, sendo que ações e alterações no PTS poderão ser realizadas, já foi possível perceber melhora na organização do núcleo familiar, maior vinculação da adolescente e sua família entre si, com o CAPSad e CREAS, melhor adesão da adolescente no tratamento ofertado na clínica, segundo psicóloga do local, e maior proximidade entre as secretárias da saúde e do social, que se implicaram na articulação da rede intersetorial e em criar estratégias de ação conjunta. Com este caso, ainda se promoveu discussões entre CAPSad, CREAS e UBS sobre possíveis fluxos de atenção, evitando ações contraditória e isoladas. Palavras-chave: linha de cuidado; clínica ampliada; projeto terapêutico singular; fortalecimento de vínculos. 199 214 ESCALA DE ATITUDES FRENTE AO DOENTE MENTAL: EVIDÊNCIAS DE VALIDADE DE CONSTRUTO Gildevan Estrela Dantas Patrícia Nunes da Fonsêca Thayro Andrade Carvalho Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa - PB [email protected] As doenças mentais desafiaram ao longo dos tempos a filosofia, a religião e a ciência, e ainda continuam a desafiar os estudiosos. Assim, partindo do conceito de atitudes como ações dos indivíduos diante de um determinado objeto, entende-se que seja possível verificar se o modelo de saúde vigente ainda sofre algum entrave, a exemplo do estigma associado aos doentes mentais. Algo que reflete bem este estigma é a ideia associada a exclusão destes indivíduos em instituições fechadas. Diante do exposto propõe-se a construção e validação da Escala de Atitudes frente ao Doente Mental (EADM), construída a partir de estudo ex post facto, com ênfase psicométrica. Este instrumento foi aplicado de forma coletiva em sala de aula, dos mais diversos cursos de saúde (medicina, enfermagem e psicologia) bastando aos participantes seguirem as orientações dos questionários autoaplicáveis, respeitando todos os procedimentos éticos, só sendo iniciada a coleta após o consentimento dos participantes. Voluntariaram-se 200 estudantes da área de saúde de universidades públicas e particulares da cidade de João Pessoa-PB. Os respondentes foram divididos de forma equitativa em relação ao tipo de instituição, possuindo média de 23,67 anos idade (amplitude de 17 a 49 anos; DP = 5,04). Após a identificação dos índices estatísticos necessários (Kaiser-Meyer-Olkin-KMO e Teste de Esfericidade de Bartlett) a EADM foi testada por meio de análises exploratórias sucessivas, com o método componentes principais. Inicialmente respeitando o critério Cattell, fixou-se em dois o número de fatores, com rotação varimax. Tais fatores foram denominados de autoritarismo (= 0,81), com 10 itens e benevolência ( = 0,75) com 16 itens, explicando conjuntamente 28,9% da variância total, assim esta versão preliminar contou com 26 itens. Posteriormente, tentou-se comprovar a estrutura fatorial da EADM, fornecendo evidências psicométricas mais robustas para referida medida, por meio de uma análise fatorial confirmatória. Contou-se com uma amostra de 203 estudantes da saúde com idades variando de 17 a 52 anos (M = 23,93; DP = 5,54). Foi utilizada a EADM e questionário sociodemográfico. Respeitou-se todos os procedimentos e critérios éticos, só tendo início após o consentimento dos participantes. Os resultados permitiram comprovar a estrutura bifatorial da EADM, identificado anteriormente, apresentando indicadores de ajuste satisfatórios [²/gl = 3,72, GFI = 0,80, AGFI = 0,74, CFI = 0,62 e RMSEA (IC90% = 0,0,98, 0,119) = 0,108], variância média explicada-VME e confiabilidade composta-CC aceitáveis (VME = 0,69 e CC = 0,70) para uma estrutura reduzida de 18 itens, nove para cada fator. Isto posto, considera-se que este instrumento seja bastante válido na avaliação das atitudes frente ao doente mental. Aqui foram considerados somente estudantes da saúde, já que são profissionais que futuramente podem ter contato com doentes mentais. Todavia, avalia-se que por se tratar de atitudes, acredita-se que este instrumento possa ser utilizado em outras amostras, como a população em geral. Palavras -chave: Atitudes; Doente mental; Construção; Validação 201 EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO CURRICULAR EM PSICOLOGIA NO CAPS AD DE CUIABÁ: CONTRIBUIÇÕES NA FORMAÇÃO EM SAÚDE MENTAL Maria Fernanda Aguilar Lara Veline Filomena Simioni Silva Renata Costa Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiaba-MT [email protected] A reforma psiquiátrica ocorrida no Brasil surgiu como uma resposta ao movimento antimanicomial que tinha como pauta central o fim dos hospitais psiquiátricos, visando uma mudança na própria percepção de loucura e consequentemente nos tratamentos destinados a ela. Hoje a reforma psiquiátrica, ainda que se paute em um modelo assistencial, busca a implantação de modelos substitutivos ao modelo manicomial. Estes modelos substitutivos, dentre eles os CAPS, ainda não se consolidaram, pois ainda não romperam de todo com o modelo asilar, o que não diminui a importância dos mesmos em ser a possibilidade concreta de superação do modelo manicomial (KANTORSKI; SOUZA; WETZEL,2008). Os CAPS são instituições destinadas a acolher os pacientes com transtornos mentais, estimular a reinserção social dos usuários e proporcionar bases na busca de autonomia do sujeito. Pautam-se na formulação de ações dirigidas aos familiares e no comprometimento com a construção dos projetos de inserção social. São a principal estratégia da reforma psiquiátrica, que visa contrapor o modelo manicomial de tratamento da saúde mental, e busca substituir o modelo hospitalocêntrico, evitando as internações e favorecendo o exercício da cidadania e da inclusão social dos usuários e de suas famílias (AMARANTE, 2007; PAIM, 2009). O objetivo de presente trabalho é relatar um pouco da experiência vivenciada nas aulas em campo do Estágio Básico IV Contextos Clínicos e de Saúde realizada no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS-AD) de Cuiabá-MT, na graduação em Psicologia. Neste percalço, utilizou-se de observação participante, entrevistas semiestruturadas e análise documental. Para análise dos dados foi realizada a leitura das leis e portarias que regulamentam o funcionamento dos CAPS e do SUS, e da política nacional de álcool e drogas. O estágio básico pode ser entendido como uma etapa do processo de ensino-aprendizagem em Psicologia que se dedica ao desenvolvimento da capacidade de articulação entre teoria e prática e que busca a inserção do aluno em campo a fim de possibilitar que este realize uma leitura contextualizada da realidade observada, identifique demandas e possibilidades de ação de cunho transformador. O CAPS-ad de Cuiabá-MT, que foi fundado em 1998 com a finalidade de atender os dependentes químicos, articular ações do campo de saúde mental, buscar a 202 integração do sujeito à sua comunidade e, se respaldando na ótica da politica de redução de danos, vem até hoje desenvolvendo um papel fundamental no âmbito da saúde mental na cidade de Cuiabá. Durante o estágio percebemos a importância do trabalho desenvolvido pelo CAPS-ad, que pautado na proposta da perspectiva da redução de danos, propõe um novo modelo de atendimento aos problemas decorrentes do uso abusivo de psicoativos, longe dos modelos proibicionista e manicomiais (PETUCO, 2011). Notamos que ainda há muitos obstáculos a serem superados, como a precarização da saúde, o comprometimento politico por parte dos profissionais, superação da visão da saúde apenas centrada na doença, a formulação de estratégias de transformação social, e principalmente a necessidade de um trabalho integrado entre todas as unidades, atendendo o principio de integralidade do SUS. Palavras-chave: Saúde Mental; CAPSAD, Redução de danos; Formação. HABILIDADES SOCIAIS NO CONTEXTO DA PROMOÇÃO DE SAÚDE Jaine De Santana Feitosa Fabio Biasotto Feitosa Fundação Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho- RO [email protected] A depressão está frequentemente acompanhada de dor crônica incapacitante e a baixos indicadores de qualidade de vida. Apesar da alta prevalência, é um problema tratável. A depressão, embora multideterminada, frequentemente está associada a problemas interpessoais que podem ser resolvidos pelo aprimoramento do manejo de habilidades sociais pessoais, resultando no empoderamento do sujeito, promovendo comportamentos saudáveis que podem redefinir seu repertório de habilidades sociais e valorar significativamente seu autoconceito. Os sintomas apresentados pelo paciente depressivo ocorrem de uma interação insatisfatória com o meio externo, e que são associados a um acontecimento da vida do indivíduo. O presente projeto de pesquisa e extensão tem como objetivo implantar e avaliar a efetividade de um programa de promoção de habilidades sociais destinado a pessoas com sintomas de depressão na rede pública de saúde de Porto Velho-RO. O delineamento geral do projeto será caracterizado como pesquisa do tipo quase-experimental. Participarão da pesquisa um professor tutor, dois preceptores, seis acadêmicos de psicologia e 20 usuários do 203 sistema público de saúde, com diagnóstico de depressão, atendidos no CAPS II Madeira Mamoré de Porto Velho (RO). Os usuários serão submetidos a um programa de promoção de habilidades sociais em formato de terapia de grupo e os seus efeitos serão controlados por meio de avaliações antes e depois da intervenção. As avaliações serão feitas mediante uso dos seguintes instrumentos que os usuários preencherão: Questionário sobre a Saúde do Paciente 9 (PHQ-9), Inventário de Habilidades Sociais (IHS-Del-Prette), Escala de Estresse Percebido (PSS-14) e Questionário de Apoio Social (QAS). Os dados coletados serão analisados por meio de testes estatísticos comparativos e ilustrados com algumas verbalizações dos usuários. Os resultados serão divulgados por meio de artigos e apresentações em eventos científicos. Pretende-se alcançar resultados positivos na avaliação da efetividade da proposta e transformar o presente projeto piloto em um programa institucionalizado e permanente de pesquisa para a promoção da saúde de pessoas com depressão e outros transtornos mentais. Palavras-chave: Depressão; Habilidades Sociais; Terapia de Grupo; Promoção de Saúde. 204 220 INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS COM MULHERES ENCARCERADAS NA CASA DE PRISÃO PROVISÓRIA, GOIÁS Rubia Vaz Borges Freitas Orcélia Pereira Sales Goiânia- GO [email protected] O aprisionamento sempre fez parte da história da humanidade. Historicamente as mulheres eram consideradas pouco ameaçadoras por isso raramente recebiam punições, mas gradualmente deixaram de serem vítimas do sistema penal e assumiram o papel de réu. Atualmente a criminalidade é considerada um grave problema de saúde pública mundial, representa um fenômeno complexo que envolve diversas causas com abrangências nos fatores biológicos, ambientais, sociais, econômicos, psicológicos e psiquiátricos. O Brasil está em quarto lugar no ranking dos países com maior população carcerária, e as mulheres são protagonistas em muitos crimes. Em Goiás o índice de mulheres presas aumentou 161,32% no período de cinco anos. O cárcere impõe uma subcultura prisional com exposição à ociosidade, promiscuidade, más condições de habitabilidade, condições precárias de saúde, uso abusivo de drogas, álcool e outras substâncias. Este trabalho trata-se de um relato de experiência sobre os atendimentos psicossociais realizado com mulheres do Projeto Mãos Livres dentro do contexto prisional. A implementação dos atendimentos ocorreu durante um período de aproximadamente dois anos no cenário da Casa de Prisão Provisória no Município de Aparecida de Goiânia, Goiás. Os atendimentos psicossociais individuais ou em grupos foram realizados semanalmente com um grupo de aproximadamente 20 mulheres. Entre as abordagens utilizadas se destacam: entrevista de identificação (coleta de dados pessoais, familiares, dados de saúde, construção de um projeto de intervenção); entrevista motivacional (entrevista utilizada para atendimento de pessoas com problemática em álcool e outras drogas); atendimentos breves (atendimento focalizado na problemática emergente), utilizando técnicas psicodramáticas (duplo, espelho, troca de papeis, inversão de papeis, dramatização, role playing) e abordagens baseadas em redução de danos. O Projeto Mãos Livres também utiliza a arte como ferramenta para resgatar a identidade, autoestima e a dignidade da mulher, ao passo que oferece uma atividade terapêutica e de lazer, contribuindo para que as mulheres encarceradas aprendam uma nova maneira de perceber a vida e o futuro, bem como vislumbrar o sustento e independência financeira. Palavras-chave: Mulheres encarceradas; Atenção psicossocial; Profissionais de saúde; Psicologia social. 205 222 MODOS DE CUIDAR NUM CAPS AD: UMA CARTOGRAFICA DOS DISCURSOS EM CONSTRUÇÃO Patrícia Carvalho Silva Centro Especializado em Álcool e Outras Drogas/ CAPS ad, Jundiaí- SP patrí[email protected] Os Centros de Atenção Psicossocial - Capsad são um dispositivo estratégico da Política Nacional sobre Drogas e um dos pontos de atenção da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Pertencem à rede de cuidado aos usuários, e assim, participam do estabelecimento de ações norteadas por princípios e diretrizes como a integralidade do cuidado numa lógica centrada nas necessidades das pessoas, na preservação da autonomia e liberdade, no acesso universal e o cuidado no território, conforme parâmetros da Política Nacional de Saúde. Neste sentido, utilizamo-nos das falas de trabalhadores de um Capsad, para responder ao seguinte questionamento: os discursos que utilizamos em nosso cotidiano estariam nos direcionando a que tipo de práticas? Elas levam em conta os princípios do SUS e da RAPS, como os descritos no parágrafo acima? Acreditamos que, como um serviço de atendimento especializado à população usuária de álcool e outras drogas, os Capsad ainda possuem papel articulador na construção de projetos terapêuticos. Sendo assim, cartografar os discursos de seus trabalhadores é mapear a clínica e as linhas de discursos, subjetivação e poder que a compõem. Repetidas falas embebidas de uma ordem moral e psiquiátrica são pronunciadas a todo o momento, com seus jargões e premissas científicas. E neste sentido, parece que a construção de modos de cuidado se mostram centrados na dependência química e no adoecimento e menos nos processos de vida. Através dessas verdades sobre o modo de funcionar dos dependentes químicos, formulam-se ações dentro de uma lógica do indivíduo, em que os grandes culpados são o sujeito e a droga, e, dessa maneira, acredita-se que é através de intervenções direcionadas a eles que se terá a cura. Distantes da perspectiva da redução de danos, paradigma primordial no que diz respeito ao cuidado ofertado a esta população, formulam-se dispositivos para ouvir, registrar, interrogar e construir hipóteses a favor do controle sobre os corpos e de seus possíveis desvios. É neste sentido que costuramos o presente texto, utilizamo-nos de autores como Deleuze, Guattari e Foucault e da perspectiva da redução de danos para propor uma análise dos discursos e práticas no cuidado dos usuários de álcool e outras drogas. Palavras-chave: Capsad; Discursos; Clínica e Redução de danos. O AUTISMO ENTRE A PSICOSE DE AUSÊNCIA E A FALHA DA SUSTENTAÇÃO AMBIENTAL: APROXIMAÇÕES ENTRE CABAS E WINNICOTT João Rafael Pimentel Colavin Sandra Aparecida Serra Zanetti Maíra Bonafé Sei Universidade Estadual de Londrina -PR [email protected] Cabas (1989) é um autor que propõe o estudo das psicoses, dividindo-a em dois grupos: as psicoses de presença e as psicoses de ausência. Para o autor, ambas têm em comum a ausência da estrutura do Nome-do-Pai, todavia, existe uma diferença estilística entre estas, visto que em uma, na psicose de presença, há uma negação da castração e não há uma inscrição da lei paterna no psiquismo; e, na outra, na psicose de ausência, a pessoa sequer chega a viver a tríade edípica devido a uma não maturação que não permite a pessoa se situar enquanto sujeito do desejo materno. Cabas (1989) coloca, neste segundo grupo de psicoses, as esquizofrenias, a catatonia e o autismo, sendo este último o objeto deste estudo. No presente trabalho pretendemos apresentar a teoria de Cabas (1989) a respeito de sua compreensão sobre a etiologia do autismo, relacionando-a com a teoria de Winnicott (1993) sobre a mesma patologia, promovendo um debate que tem por objetivo demonstrar a complementariedade que nelas é possível encontrar. Analisando as duas teorias, Winnicott (1993) propõem que, para que o bebê consiga alcançar um desenvolvimento sadio, é necessário que a mãe se devote ao filho, alcançando o estado de preocupação materna primária, onde se identifica com as necessidades do bebê e promove um ambiente suficientemente bom para o seu desenvolvimento. Winnicott (1993) supõe que o autismo se constrói a partir de um ódio da mãe direcionado ao bebê, em função da chegada deste a matriz preexistente da mãe e do pai como casal (Winnicott, 1997), e este ódio seria encoberto por formações reativas, impedindo a mãe de um envolvimento profundo com o bebê, deixando assim de fornecer as condições necessárias para o seu desenvolvimento saudável. Quando ocorrem este tipo de alterações emocionais da mãe, há uma possibilidade de adoecimento autístico devido a esta falha ambiental no cuidado. Desta forma, compreendemos que a teoria dos autores se complementam já que Winnicott (1993, 1997) assinala que a base para a instalação desta patologia está na organização psíquica de uma mãe, ou cuidadora, que se incomoda com a presença de seu filho, como se este estivesse atrapalhando o vínculo 207 construído à priori com o pai do mesmo. Isto impossibilita, ao mesmo tempo, um desenvolvimento sadio tornando-o imaturo, como assinala Cabas (1989), e não permite que o bebê vivencie a experiência de ser sujeito, a partir do desejo materno. Ou seja, por um lado, Winnicott (1993, 1997) apresenta as bases para o não amadurecimento psíquico do bebê e, por outro, Cabas (1989) salienta a impossibilidade, desta forma, do bebê assumir um lugar de sujeito, a partir do olhar desejante da mãe. Este tipo de articulação teórica é importante para a prática clínica psicológica, tanto no sentido de intervenções precoces, salientando a importância de uma intervenção que leve em consideração a tríade (mãe-pai-bebê); quanto no sentido de promover no setting terapêutico um ambiente capaz de promover a possibilidade do paciente revivenciar e significar a experiência desorganizadora. Palavras-chave: Autismo; Psicose; Infância; Psicanálise. 208 O SIGNIFICADO DO CAPS PARA AS FAMÍLIAS DOS USUÁRIOS Alexandre Benicio Neto Faculdades Integradas de Ourinhos Abatiá- PR [email protected] O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) caracteriza-se por um modelo de atenção à saúde mental baseado não apenas na remissão de sintomas, mas na assistência aberta, intensiva e continuada à pessoas que necessitam de tratamento psiquiátrico, e que apresentam condições de permanecer no convívio familiar e social no período do tratamento. A finalidade do estudo é de reflexão quanto à significação aos familiares de portares de transtornos mentais da assistência em novos modelos de assistência, em especial o CAPS, considerando as novas perspectivas das diretrizes da política Nacional de Saúde Mental. Trata-se de um estudo bibliográfico de produções do período de 2000 a 2014 das bases de dados LILACS, MEDLINE, e SciELO. O comportamento modificado é a principal mudança notada pela família, a partir do início do acompanhamento pelo CAPS, demonstrando uma nova modalidade de experiência, com o seu familiar, já então melhorada sua situação anterior. O relembrar de momentos anteriores de crise do seu familiar, e não mais querer vivenciá-los, faz a família apegar-se a possibilidade real de melhora por ela experimentada, estabelecendo como necessária a participação do usuário e de seu familiar junto ao CAPS. A justificativa para a continuação do tratamento no CAPS, diariamente, incide principalmente na ocupação, na não ociosidade, pois existem atividades programadas e voltadas especificamente para a clientela, o que não acontece na casa do portador de transtorno. Considerando que a maior parte dos usuários provém de famílias com baixa fonte de renda o CAPS acaba por prestar, indiretamente, uma assistência social, mesmo que esta não seja um objetivo. Relatos mostram que a alimentação fornecida pela instituição, como parte do seu programa de atendimento, é considerada importante para a família dos assistidos, pois há a redução no número dos que terão que ser alimentados no ambiente domiciliar, com a consequente redução dos gastos domésticos. Estudos evidenciam que a família por achar o tratamento institucionalizado desumano, vê no CAPS uma saída alternativa para o tratamento de seu membro adoecido. Nesse processo o portador de transtorno mental de um lado vivencia o estigma de ser doente e do outro sua família, com suas tentativas de erros e acertos, buscando adaptar-se a essa nova fase na sua vida, um tanto quanto sozinha, sem referência. Conforme estudos levantados 209 para a maior parte dos familiares tratar é ser medicado. A farmacoterapia ainda se constitui na maior referência para os familiares, isso se deve ao fato de que um paciente medicado é um paciente com sintomas reduzidos. Outro aspecto fortemente ligado à melhoria é a atividade laboral, visto que nos encontramos em uma sociedade capitalista em que a produtividade muitas vezes é fator de inclusão social, percebem-se em relatos de estudos que a terapia ocupacional aliada ao tratamento medicamentoso se tornam os maiores atrativos dos CAPS já que estão ligados as expectativas da família de melhoria do quadro de seu ente. Palavras-chave: Transtorno mental; família, assistência; CAPS. 210 OFICINA DE CIDADANIA: RELATO DE UMA CLÍNICA GRUPAL NUM CAPS AD Dayane Crisóstomo Ana Carolina Fainzilber Patrícia Carvalho Silva Caps Ad, Jundiaí- SP [email protected] O presente relato de experiência trata-se um processo ainda em construção de uma Oficina de Cidadania criada em 2014 por trabalhadores e usuários do Centro de Atenção Psicossocial CapsAD da cidade de Jundiaí. Tal estratégia grupal tem como objetivo a ampliação de espaços que contrapõem ao modelo hegemônico da clínica da dependência química, cuja área de atuação privilegia a classificação das drogas e o uso indevido, entendendo-a como um mal a ser combatido e apostando em abordagens onde a abstinência é o norteador do sucesso do tratamento. Ao contrário desta perspectiva, partimos de uma clínica que aposta na preservação e ampliação da autonomia das pessoas, baseada na redução de danos, onde o cuidado efetua-se para além da droga, entendendo o uso das substâncias como processo particular e assim analisado a partir de cada experiência, não havendo um único caminho a percorrer. Se de um lado parece-nos que a verdade e o cuidado estão fora do próprio sujeito, presos em figuras como a medicação e o terapeuta, reafirmando uma produção de subjetividades assujeitadas que consumem o cuidado como qualquer outra mercadoria; por outro temos usuários ativos no processo de cuidado, experimentando modos de fazer e de se refazer no tratamento e na própria relação com a vida, problematizando seu lugar enquanto sujeito de ação e não apenas como dependente Sendo assim, o espaço grupal aqui é entendido como multiplicidade, onde as histórias não são individuais, mas sim inseridas num tempo e espaço histórico-social, ou seja, a dependência não está na individualidade e sim nos agenciamentos que estabelecem com a vida (família, sociedade, trabalho, sofrimento). O convite feito é experimentar-se como sujeito político, ator e autônomo a cada vez que lê e relê sua realidade social. Aportando-se teoricamente em Paulo Freire, Michel Foucault, Dênis Petuco, Regina Benevides e no Movimento da Reforma Psiquiátrica, constrói-se um espaçodispositivo que possibilita a manifestação dos mais diversos saberes, concebendo a palavra como agente de conscientização e transformação social. Na oficina, a circulação da fala, da escuta e a problematização das situações cotidianas, encontram-se para além de um relato individual, transformando-se numa análise do funcionamento social e 211 consequentemente, dos agenciamentos que a vida produz em cada sujeito. Sendo assim, através dos trabalhos realizados e dos relatos dos próprios participantes da oficina, pretendemos pensar o lugar que tal ferramenta ocupa no tratamento dessas pessoas e também, nos possíveis agenciamentos causados na relação que os usuários têm com sua vida. Será que a Oficina de Cidadania consegue ampliar relações sociais, deslocando-o do status quo de dependente químico? A ampliação de conhecimento e assim, a maior apropriação dos direitos, funciona como dispositivo de ressignificação de si? Palavras-chave: CapsAd; Oficina; Redução de Danos; Clínica. 212 INTERCESSÃO E AMPLIAÇÃO DA INTENSÃO: A ESCUTA-INTERCESSÃO NA UNIDADE PRONTOSOCORRO Maico Fernando-Costa Abílio da Costa-Rosa Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Assis - SP [email protected] A palavra é necessária aos sujeitos num lugar onde o corpo ainda é somente visto como um conjunto de órgãos. Destacamos deste modo, a importância do trabalhador-intercessor na unidade de Urgência e Emergência de um Pronto-Socorro (PS), quando na proposta de outro tipo de trabalho aos casos que no Estabelecimento chegam. Consideramos que a Instituição deva ser reconhecida enquanto um dispositivo social produtor de subjetividades, alienantes ou singularizantes, possui equipamentos que privilegiam a permanência do instituído em seus meios de produção. O intuito é que as interrogações do trabalhador-intercessor sobre seu posicionamento, as mudanças e transformações ocorridas ao longo dos processos de intercessão, possam ser metabolizadas de modo a produzir um saber [Outro] segundo, à formação do trabalhador da Saúde no PS enquanto Estabelecimento institucional Hospitalar. Por isso, a escuta ofertada para além da doença, traz em sua Ética a abertura para a produção de um ponto-de-estofo, um sentido àquele sujeito do tratamento acometido pela intrusão do Real. No âmbito Hospitalar, a Clínica da Urgência é definida como uma resposta imediata a ser dada ante a irrupção de um sujeito na Instituição: situações de tentativa de suicídio; sujeitos que sofreram acidentes automobilísticos; acidentes domésticos; problemas cardiovasculares; respiratórios; inanição, etc. Ora, eis que a experiência com a linguagem é única e tem na compreensão do tempo o avanço para a dissipação do gozo atroz. Definimos o Dispositivo Intercessor como uma metodologia teórico-técnica e ético-política nos processos de subjetivação da angústia, bem como na produção de um conhecimento derivado de uma práxis. Portanto, consideramos o posicionamento do trabalhador-intercessor como substancial na escuta ao sofrimento [psíquico] no campo Hospitalar, desprovido dos imperativos de curar o outro, e, munido de reconhecer-se coadjuvante na cifragem de um gozo atroz vivido pelo sujeito no Acidente. Palavras-Chave: Pronto-Socorro; Angústia; Sujeito; Dispositivo Intercessor. OFICINA DO BOM DIA: UMA ESTRATÉGIA DE CUIDADO PARA A ENFERMEIRA PSIQUIATRA 213 Paula Cristina Da Silva Cavalcanti Rosane Mara Pontes Oliveira Bruna Maria Ferreira Iaciura Escola De Enfermagem Anna Nery/ UFRJ, Volta Redonda – RJ [email protected] O CAPS é uma instituição criada com a finalidade de substituir o modelo hospitalocêntrico, atendendo à população, realizando acompanhamento clínico e reinserindo socialmente os usuários, retirando assim a lógica manicomial como priorizado pela Reforma Psiquiátrica.A oficina Bom Dia consiste numa interação com os usuários, para que através de uma conversa eles possam relatar suas vivências do final de semana, dias nos quais eles não contam com as atividades do CAPS e convivem no âmbito familiar. A idealização deste atividade emergiu a partir da observação do professor e dos acadêmicos, onde notou-se que ao retornar ao serviço, os usuários os buscavam com grande demanda de escuta e atenção, que consequentemente interferia na sua interação e participação das atividades do CAPS. O principal instrumento utilizado para a realização desta é o próprio profissional, que deve dispor de escuta para satisfazer as demandas existentes. Os objetivos são: criar uma estratégia na qual os usuários possam relatar sua vivencia do final de semana; identificar demandas de acolhimento; acompanhar através de estratégias de cuidado conforme a sua necessidade e buscar um sistema de apoio para satisfazer a demanda individual ou coletiva. Trata-se de um estudo descritivo qualitativo, onde a concretização da oficina ocorreu no período de 09 a 16.04.2012. Como resultado percebeu-se que a efetividade da criação da oficina foi favorável em relação ao aumento da interação entre os usuários e a equipe e entre os usuários, diminuição da ansiedade e estímulo à participação das atividades individuais e coletivas disponíveis no CAPS. PREVENÇÃO AO USO DE ÁLCOOL E DROGAS NAS ESCOLAS: UM TRABALHO TRANSDISCIPLINAR Lourdes Aparecida Vigatto Rocha UNIFESP BR / Universidade Lusofona PT, São Paulo- SP [email protected] 214 O avanço das drogas nas sociedades e os impactos diretos e indiretos decorrentes desse avanço nos convidam a refletir sobre as formas mais plurais de conviver e dar respostas eficazes para esses problemas que emergem a cada dia. Se olhado pela frieza do número contido nos dados estatísticos, a maioria de nós é afetada, direta ou indiretamente, pelo uso/abuso, pela dependência, pelo tráfico de drogas e, quando não isso, pela violência associada a esses comportamentos sociais. Professores de todos os níveis e séries, pais, líderes sociais e comunitários, profissionais de todas as categorias funcionais e todos os cidadãos precisam discutir e buscar respostas coletivas e adequadas a esse problema, que é multifacetado, cheio de implicativas, mas, acima de tudo, urgente. Devemos provocar inúmeros debates e fóruns de discussões para que todos os setores possam ser ouvidos e, a partir dessa consulta nacional, ajustar condutas pautadas pela Justiça, pela Democracia e pela Ética. Talvez não encontremos resposta fácil para esse problema tão complexo e urgente, mas teremos de ser corajosos. Por tudo isso, decidi contribuir cientificamente, através deste trabalho, com o estudo da questão das drogas na atualidade, visando um entendimento maior, sobre em que medida a escola pode contribuir para a prevenção ao uso de álcool e drogas. O estudo não tratou de investigar sobre formas de tratamento e recuperação de usuários, tampouco de analisar os aspectos político-econômicos que envolvem o narcotráfico mundial. Tratou isto sim, de buscar uma compreensão maior sobre este grave problema social propondo sugestões pedagógicas e psicoterápicas que visem à prevenção já no ensino fundamental. Palavras-chave: Escola; Família; Prevenção; Intervenção e Drogas. OS PROCESSOS DE TRABALHO EM UMA ENFERMARIA PSIQUIÁTRICA EM HOSPITAL GERAL E A INTEGRALIDADE: RELATO DE EXPERIÊNCIA Camila Thome Souza Freitas Giovana Romani Rinaldi Jéssica Santos de Araújo Thiago da Silva Domingos FAMEMA- Faculdade de Medicina de Marília Barretos- SP [email protected], 215 Em um contexto de transformações paradigmáticas no âmbito da saúde, podemos conceber a crise como um momento de sofrimento psíquico atravessado por inúmeras experiências singulares, inscritas em determinado contexto social, político, histórico e cultural, desvinculando-a de um conceito estritamente patológico cuja intervenção se encerra na supressão de sintomas e correção de comportamentos os quais cerceiam os processos de subjetivação em padrões de normalidade e universalidade. Guiada por essa lógica, a organização dos processos de trabalho da equipe de saúde é de fundamental importância, pois a relação que se estabelece junto ao usuário constitui um momento significativo na produção de sentido necessário ao reposicionamento do sofrimento psíquico. Com isso, serão discutidos os processos de trabalho no contexto de uma enfermaria psiquiátrica em um hospital geral, a fim de propor transformações no modelo de atenção para além de intervenções reducionistas e fragmentadas ampliando as ações em saúde do SUS por meio do conceito da Integralidade. Trata-se de um relato de experiência dividido em duas etapas, a primeira relacionada à elaboração de uma caracterização do trabalho em equipe segundo tipologia de Peduzzi e a segunda, uma reflexão crítica considerando os saberes da Integralidade como um horizonte normativo reformulando os processos de trabalho de uma equipe de saúde. No cotidiano das ações e na micropolítica que rege a organização dos processos de trabalho dessa equipe de saúde mental, notam-se algumas limitações caracterizadas por uma relação instrumental entre os diferentes integrantes ao exercerem práticas assistenciais atravessadas por normas e valores distintos daqueles que poderiam ter sido validados de forma comunicativa, favorecendo a intersubjetividade. Dessa forma, foram sinalizados como valores a fragmentação e individualização das ações, hierarquização e paroxismo instrumental e, assim, observa-se a proximidade da tipologia equipe agrupamento. Com a proposta de transformar os processos de trabalho guiados pela ótica da Integralidade reitera o encontro de indivíduos comuns em sua concretude, impregnando os espaços intersubjetivos dos processos de trabalho e (re) construindo práticas de cuidado onde o díspar e a surpresa sejam constitutivos do modo de fazer. Assim a produção de saúde passa a ser construída no coletivo de protagonistas combatendo qualquer relação de tutela, desrespeito, desqualificação e pretensão de localizar os saberes em uma única corporação ou categoria, combatendo práticas de individualismo e de corporativismo, produzindo modos outros de humanidade que afirmem a vida em sua multiplicidade e possam subverter lógicas prédeterminadas. Considera-se então que a Integralidade representa um caminho metodológico dialógico reflexivo permanente para a efetivação da Humanização, da Universalidade do acesso e da Equidade dos serviços favorecendo o resgate de processos de trabalhos na prática comunicativa e reiterando a complementaridade entre a ação produtiva e a interação social. 216 Palavras-chave: em Saúde Mental; Integralidade do Cuidado; Trabalho Equipe; Humanização. 217 PSICANÁLISE NO SOCIAL: CATADORES DE RECICLÁVEIS E A EMERGÊNCIA DO SUJEITO POR MEIO DO GRUPO PSICOTERAPÊUTICO João Elias Cury Júnior Silvio José Benelli FCL/UNESP, Assis, SP [email protected] A diferença de classe social produz diferenças psíquicas? Será que a subjetividade sofre inflexões determinadas pelo lugar social ocupado pelo indivíduo na sociedade? Na clínica, seria diferente atender uma pessoa de classe média e uma pessoa pertencente às classes trabalhadoras populares e/ou em situação de extrema pobreza? Os pobres apresentariam singularidades psíquicas e restrições mentais e ou psíquicas que os impediriam de usufruir de um atendimento clínico psicanalítico? Que efeitos poderiam ser esperados de uma prática que almeja a apropriação, pelo sujeito, de sua própria fala, enfim, uma prática que não se balize por modos de aproximação tutelares ou prescritivos? No que diz respeito à Psicologia e sua relação com as populações oprimidas, é um fato a sintonia de algumas abordagens com a transformação social. Nossa pesquisa, consoante com o Paradigma da Atenção Psicossocial, que incorpora as dimensões sociais, políticas, econômicas e éticas, tanto nos debates como nas práticas da Saúde Coletiva e da Saúde Mental, leva em conta que o tema da cidadania deve incluir fundamentalmente a dimensão subjetiva e desejante. Não se trata de um luxo, portanto, a articulação entre a psicanálise e a questão social. Neste sentido, temos desenvolvido um trabalho de atendimento - na modalidade de grupo psicoterapêutico - aos catadores de material reciclável, membros ou não de uma cooperativa popular de geração de trabalho e renda. Enquanto posicionamento ético e técnico na oferta de uma escuta psicanalítica aos grupos de catadores, tem se mostrado de grande valia a contribuição de Lacan, relativa àquilo que veio a se chamar teoria dos laços sociais do discurso: modos por meio dos quais o sujeito se situa na realidade social/subjetiva. Sucintamente, há laços/posicionamentos que contribuem para a coisificação/dominação do sujeito e outros que o levam a se questionar sobre seus impasses e o meio. Para tal, o terapeuta, ao criar condições favoráveis ao fluxo da fala livre (livre associação), estrategicamente se posiciona isento de mestria, de modo a possibilitar que o sujeito se aproprie de sua produção significante, em favor do seu devir enquanto sujeito, diferindo das identidades pré-prontas, em voga, segundo o Modo Capitalista de Produção. A aposta é que esta travessia clínica permita a produção de singularidade, na contramão, portanto, do assujeitamento que transforma aquele que sofre 218 em mais combustível para a engrenagem de extração de mais-valia; presente inclusive nas muitas ofertas disponíveis no campo das políticas públicas. Um desdobramento da pesquisa é apontar para a necessidade de refletir sobre a formação do futuro psicólogo, instado a atuar em contextos distantes da clínica tradicional, dele sendo exigido um preparo teórico-técnico e ético à altura do desafio. Palavras-chave: Psicanálise de Freud e Lacan; Grupo psicoterapêutico; Catadores de materiais recicláveis; Atenção Psicossocial. 219 A ESCOLA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA COMO CENÁRIO NO RASTREAMENTO DA SAÚDE MENTAL EM ADOLESCENTES Adriana Olimpia Barbosa Felipe Gabriela Pereira Vasters Ana Maria Pimenta de Carvalho Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto- SP [email protected] O rastreamento de comprometimentos na saúde mental de adolescente é uma necessidade emergencial, uma vez que a literatura enfatiza a incidência de 10% de adolescentes com provável problema. Objetivo: Descrever a experiência em realizar pesquisa em saúde mental com adolescentes inseridos na escola e na estratégia de saúde da família. Metodologia: Relato de experiência sobre o cenário para rastreamento da saúde mental em adolescentes. Os cenários das pesquisas foram escolas públicas da cidade de Ribeirão Preto em São Paulo e nas residências dos sujeitos adscritos nas Estratégias de Saúde da Família em Alfenas, Minas Gerais. As pesquisas foram aprovadas pelo comitê de ética em pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto. O público alvo foi adolescente e, os estudos são de abordagem quantitativa e transversal. A coleta de dados ocorreu em 2013 e 2014. O instrumento utilizado para avaliar a saúde mental foi o SDQ em ambas as pesquisas. Esse instrumento é de autopreenchimento sendo traduzido e validado para o contexto brasileiro. Resultados: Nas escolas públicas foram entrevistados 710 e nas residências 500 sujeitos o que representou respectivamente 6,8% e 16,7% da população. O estudo evidenciou particularidades específicas nos diferentes contextos para avaliar a saúde mental em adolescentes, algumas mensuráveis e outras não. Na escola a principal vantagem é a facilidade no processo de coleta de dados, e as desvantagens são: formação de grupo por afinidade que possui as mesmas características e comportamento, interferência dos pares nas respostas, inclusão apenas de adolescentes que estão matriculados na rede de ensino; falta do adolescente na escola no dia da coleta; baixa adesão da assinatura do termo de consentimento possivelmente pelo prejulgamento negativo ou pejorativo sobre saúde mental, perda da amostra pela falta de assinatura do termo de consentimento, dificuldade em acesso as escolas e aos adolescentes e a exclusão de questionários pelo preenchimento incorreto. Quanto a estratégia de saúde da família as vantagens são: facilidade de comunicação com os pais para descrição dos objetivos e a orientação sobre conceito de saúde mental, e consequentemente maior assinatura ao 220 termo de consentimento, inclusão de adolescentes que não estão inseridos nas instituições de ensino, ausência de interferência dos pares nas respostas; possibilidade de conferência do instrumento, encaminhamento do adolescente com rastreamento para alteração na saúde mental caso os pais o solicite. As desvantagens da coleta neste local são: dificuldade de localização dos endereços e a demora na coleta de dados em decorrência da abordagem ser individual. Conclusão: Constatou-se que a atenção básica, particularmente na ESF, surge como uma grande parceira no processo de investigação de saúde mental de adolescentes, uma vez que permite visitas domiciliares, maior vínculo entre o pesquisador e o responsável desmistificando o conceito de saúde mental, e assim aceitação da participação do filho na pesquisa. Portanto, os profissionais de saúde devem ter consciência que esse é um campo fértil para o rastreamento das alterações emocionais em adolescentes e ao mesmo tempo a possibilidade de implementar estratégias que auxiliem no enfrentamento do adolescer. Palavras-chave: Saúde Mental; Adolescente; Escola; Estratégia de saúde da família. 221 RELATO DE EXPERIÊNCIA: OFICINA DA MEMÓRIA REALIZADA POR TERAPEUTAS OCUPACIONAIS EM CAPS II E CAPS AD DE JARAGUÁ DO SUL/SC Carolina Santana Mafra Adriana Lourenço Gilmara Gonçalves CAPSII Jaraguá Do Sul/SC [email protected] Este trabalho traz o relato de experiência de 3 (três) terapeutas ocupacionais no desenvolvimento da Oficina da Memória em Centros de Atenção Psicossocial de Jaraguá do Sul (CAPS II e CAPS ad). Tem como objetivo relatar a vivência destas profissionais, evidenciando os benefícios da Oficina da Memória para os indivíduos com transtornos mentais severos e transtornos relacionados ao uso/abuso de álcool e outras drogas. A Oficina da Memória iniciou a partir da queixa constante dos usuários sobre a dificuldade de gravar nomes, números de telefone, datas e situações corriqueiras do dia-a-dia, conseqüentemente a preocupação com relação ao aumento dessas falhas na memória. Trata-se de uma oficina que ocorre 1 (uma) vez por semana, tendo duração aproximada de 1 (uma) hora e 30 (trinta) minutos, participando em média de 10 a 15 usuários. O objetivo das atividades realizadas vão além da estimulação da memória. Elas aguçam as funções mentais e cognitivas, a concentração, o raciocínio, a compreensão e a criatividade, bem como previnem os problemas relacionados a essas funções. Podem ainda melhorar a expressão verbal e não verbal reforçando a autoestima, e estimular a integração social melhorando a qualidade de vida. Os transtornos mentais e transtornos relacionados ao uso/abuso de álcool e outras drogas, podem afetar a memória de maneira mais drástica, bem como o uso de alguns medicamentos. No entanto, o desuso compromete de forma similar a memória. As queixas com relação à memória são frequentes entre os usuários dos CAPS, e os esquecimentos ocorrem por diversos fatores, muitas vezes potencializados pelo avanço da idade e estresse cotidiano, comuns a outros indivíduos. Uma estratégia para facilitar o cotidiano é sempre anotar as informações mais importantes, os telefones, compromissos, e tarefas a serem cumpridas. Para realizar a oficina, são utilizados exercícios de reabilitação cognitiva alternados com atividades lúdicas como jogos de memória, quebra-cabeças, caça-palavras, bingo, mural de fotos, construção de histórias e outros exercícios que estimulam a imaginação e a criatividade. Para evitar as falhas é necessário sair da rotina, ler, aprender coisas novas, conhecer novos lugares, 222 novas pessoas, ou seja, sair do piloto automático e aventurar-se. Durante as oficinas os participantes também recebem orientações para melhorar as funções mentais, como dormir bem, alimentar-se corretamente, praticar exercícios físicos, ler, realizar atividades de lazer, controlar o nível de estresse e organizar a rotina. Palavras-chave: Oficina da memória; Saúde Mental; CAPS; Reabilitação Psicossocial. 223 RELATO DE EXPERIÊNCIA: OS DESAFIOS DO PROCESSO DE ALTA DOS USUÁRIOS DO CAPSII DE JARAGUÁ DO SUL/SC Carolina Santana Mafra CAPSII Jaraguá Do Sul/SC [email protected] O processo de alta dos usuários da saúde mental tem se mostrado um desafio para as equipes que os acompanham. Questões como o alto índice de reencaminhamentos ao serviço poucos meses após a alta sempre preocuparam a equipe do CAPSII de Jaraguá do Sul. Outras questões permeavam constantemente as discussões, como as dificuldades da atenção básica em acolher e dar continuidade ao tratamento desses usuários e a resistência de muitos deles em iniciar este processo, em alguns casos com piora dos sintomas. Foi a partir de situações como as descritas acima que a equipe sentiu a necessidade de empoderar-se do tema, antes restrito ao médico. Este trabalho pretende relatar a experiência do Grupo Recomeço, criado para usuários do CAPS II de Jaraguá do Sul/SC que estão estáveis. O Grupo Recomeço acontece 1 (uma) vez por semana por aproximadamente 1 (uma) hora e tem duração de quatro encontros. No último dia é solicitada a presença de um familiar para receber orientações sobre a continuidade do tratamento na atenção básica e para que a família seja implicada neste processo. A alta é individual, portanto, no mesmo grupo pode haver usuários que estão em seu primeiro dia e outros que estejam em seu último encontro. Os usuários acompanham o processo de alta uns dos outros e isso promove uma ajuda mútua para realizar esta etapa do tratamento, que pode ser complexa para alguns. No grupo, terapeuta e usuários precisam ressignificar o cotidiano, antes limitado a atividades e pessoas do CAPS. Em quatro encontros devem identificar a rede social destes usuários, descobrir novas atividades existentes na comunidade onde vivem, sejam elas laborativas, de lazer, atividades físicas ou o engajamento em atividades religiosas. Redescobrir prazeres e habilidades adormecidas pelo isolamento que os transtornos mentais acarretam. Devem ainda ser encorajados a conhecer e participar das atividades que a atenção básica oferece. Tornar aquela unidade de saúde uma referência. Em contrapartida a equipe do CAPS deve dar o suporte necessário às equipes da atenção básica para que ocorra o compartilhamento do cuidado. Esse suporte atualmente é realizado através do apoio matricial que deve empoderar as equipes, proporcionando retaguarda especializada para a promoção da clínica ampliada. Os resultados da criação deste grupo ainda não são mensuráveis devido ao pouco tempo de sua criação, porém a equipe percebe mudanças positivas em usuários e profissionais em relação ao processo de alta, que anteriormente 224 parecia ser um tabu. Outra conclusão a que se chegou foi à confirmação da importância do trabalho em rede e da identificação das fragilidades dessa rede, para que o ambiente em que o usuário será reinserido seja conhecido pelas equipes e que, conhecido, possa ser melhorado. Palavras-chave: Alta; Saúde Mental; Grupo Terapêutico; CAPS. 225 O “MORADOR” DE HOSPITAL PSIQUIÁTRICO E A INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO Carina FurlanetoFrazatto PUC-SP Maria Lucia Boarini Universidade Estadual de Maringá [email protected]) O Boletim do Ministério da Saúde intitulado Saúde Mental em Dados, apontou a existência de aproximadamente 10.722 pessoas vivendo como moradores de hospitais psiquiátricos em nosso país. Essas pessoas estavam internadas por mais de um ano ininterrupto em instituições psiquiátricas e, apesar de ter saído da crise e estar de alta hospitalar, persistiam internadas. Este texto enfoca a participação do judiciário, a partir da atuação do Ministério Público, na efetivação da desinstitucionalização proposta pela Reforma Psiquiátrica. Foi elaborado a partir do recorte de nossa dissertação de mestrado, na qual estudamos o voltar para casa do morador de hospital psiquiátrico, apresentando as histórias de retorno ao lar de quatro exmoradores e desvelando os desafios e as possibilidades encontrados nesse processo. O recorte que aqui nos propomos a fazer, parte de entrevistas realizadas com uma psicóloga do hospital psiquiátrico de Maringá e com uma assistente social da Promotoria de Justiça que participaram ativamente do processo de voltar para casa dos moradores. Assim, demonstramos que a atuação do Ministério Público foi fundamental para iniciar o processo de retorno ao lar dessas pessoas. A ação de tal órgão em conjunto com o Conselho Municipal de Saúde, culminou na criação de uma Comissão de Desinstitucionalização no município, reduziu o número de moradores de 84 pessoas em 2008 para 18 em 2010 e transformou a história de pessoas que estavam condenadas a viver perpetuamente no hospital psiquiátrico. Apesar dos avanços alcançados alguns desafios ainda persistem: algumas pessoas, oficialmente não constam mais na lista de moradores, no entanto, seguem sendo internadas constantemente, pois seu período de alta não passa de horas ou dias, essa questão está associada às dificuldades da Rede de Atenção Psicossocial do território dessas pessoas em acompanhá-las e monitorá-las evitando com que novas crises aconteçam e, caso ocorram, em possibilitar com que possam ser acolhidas em hospitais gerais no menor tempo possível. No processo de desospitalização dos moradores surgiram diversas situações repletas de desafios, tais como a transferência desses moradores para outras instituições (asilos, residências terapêuticas), a não identificação dos familiares de alguns deles, a evidência das dificuldades 226 das famílias em recebê-los, as dificuldades da Rede de Atenção Psicossocial em acompanhálos e, por fim, aquelas situações que podem ser consideradas como tendo um final feliz. Vale lembrar que, não fosse a atuação do Ministério Público em parceria com o Conselho Municipal de Saúde, talvez, esse processo não teria sequer sido iniciado. Palavras-chave: Ministério Público; Saúde Mental; Reforma Psiquiátrica; Desinstitucionalização. 227 SAÚDE MENTAL E OS DESAFIOS NA INCLUSÃO SOCIAL E FAMILIAR Maria Do Socorro Sales Mariano Vera Lucia de Freitas Silvana Carneiro Maciel UFS/FAPITEC/SE, Aracaju- SE [email protected] Este estudo é uma descrição do trabalho desenvolvido em uma instituição psiquiátrica, na cidade de João Pessoa-PB, onde procuramos demonstrar as possibilidades e limitações profissionais de saúde, as dificuldades, e questionamentos, frente ao processo de deshospitalização. A presente pesquisa visa analisar a problemática da saúde, em relação à desinstitucionalização de pacientes internos em hospitais psiquiátricos que estão em situação de longa permanência. Os objetivos se estendem a identificar e orientar as famílias de pacientes internos em Instituição psiquiátrica de longa permanência sobre o processo de desinstitucionalização. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, a metodologia usada para a construção deste, foi fundamentada a partir dos prontuários dos pacientes, observações de descrição de atividades e estudos de casos, relatos de pesquisas e bibliografias que contemplam a discussão acerca da saúde mental e inclusão social. Para tanto observamos que na instituição pesquisada é desenvolvido todo um trabalho com o paciente e a família, com acompanhamento multidisciplinar levando-os a assumirem o seu papel com compromisso, responsabilidade. Nas reuniões com os familiares eram apresentadas diversas temáticas direcionadas a orientação e conhecimento do sofrimento psíquico do paciente. As visitas domiciliares aconteceram de acordo com a necessidade de cada caso, podendo ser até semanalmente. Nos casos de abandono são estudadas diversas alternativas, tais como: intervenção da curadoria da defesa dos direitos do cidadão; transferências para a Residência Terapêutica. Tal conquista envolve a sociedade de um modo geral, tais como, Ministério Público, Secretaria de Saúde e o papel do gestor são de fundamental importância para a ampliação da rede ambulatorial, criação de dispositivos entre o tratamento ambulatorial e a internação hospitalar, abrangente a toda população, visto que tais serviços ainda atendem a uma pequena parcela da sociedade. Palavras-chave: Inclusão Social, Família, Usuário, Desinstitucionalização. 228 SAÚDE MENTAL NA ESCOLA: INTERVENÇÃO JUNTO A PROFESSORES QUE TRABALHAM COM CRIANÇAS QUE MANIFESTAM AGRESSIVIDADE Andréia Cristiane Silva Wiezzel Unesp, Presidente Prudente/SP [email protected] O resumo é um recorte de uma pesquisa em andamento, realizada desde o ano de 2008, envolvendo crianças que manifestam agressividade exacerbada em sala de aula. A pesquisa, sob apoio do CNPQ, Proex, Proext-MEC e Núcleo de Ensino, já contemplou investigação com 37 crianças e seus respectivos professores. Inicialmente o objetivo consistia em investigar a questão da agressividade em sala de aula e intervir junto às crianças, buscando uma amenização nas dificuldades interacionais que possuíam por meio de atividades lúdicas. Após um ano de trabalho e de ter obtido interessantes e esclarecedores dados acerca das crianças, pensou-se em um projeto no qual os professores pudessem ser trabalhados de forma a serem auxiliados na lida com as crianças agressivas. Isto se fez necessário por vários motivos, dentre estes a inexpressiva produção na área com relação a práticas que instrumentalizem efetivamente aos professores. O objetivo, nesta pesquisa com os professores, seria focado na atenção às necessidades singulares de cada criança, fortalecendo a escola como fator de proteção e promoção da saúde mental por meio do vínculo entre professores e alunos. Tratase de pesquisa qualitativa, envolvendo 27 professores, sendo desenvolvida em três etapas: na primeira realizam-se observações com foco nas crianças e professores e entrevistas com pais e professores. Na segunda etapa são realizados encontros lúdicos individuais com as crianças indicadas pelos professores, nos quais além de serem levantados dados, também são utilizados como momentos de intervenção, já que o brincar possibilita a expressão e compreensão da criança acerca de seus próprios conflitos e, no terceiro momento, de posse dos resultados das análises de todo o material coletado, organiza-se o trabalho a ser realizado com os professores. Este trabalho com os professores também perpassa três momentos, no primeiro os professores realizam uma espécie de relato de experiência com as crianças agressivas, no segundo busca-se atribuir significados a tais experiências e, no terceiro, trabalha-se com reflexões sobre formas de auxílio às crianças. Em relação aos professores, observa-se a existência de vários mitos com relação à agressividade e certo preconceito com as crianças tidas como agressivas e suas famílias. Os professores apresentam sentimentos ambivalentes pelas crianças, oscilando entre raiva, preocupação, carinho, incompreensão. Além disso, concebem as atitudes agressivas para com eles como algo pessoal, como uma 229 perseguição. Os professores que estão no início até a metade da carreira, ainda têm capacidade emocional para dar suporte às crianças e se mostram disponíveis. Aqueles que estão próximos aos 20 anos de trabalho, se mostram excessivamente cansados, abatidos e com pouca energia. Diante desse quadro a intervenção se mostrou bastante interessante, pois atenuou o mal estar que abatia os professores com mais tempo de carreira e trouxe novas perspectivas aos professores que, embora disponíveis, se sentiam impotentes e estavam em busca de estratégias alternativas para lidar com as crianças. O projeto foi incluído no projeto pedagógico da escola envolvida. Palavras-chave: escola, professores, agressividade, intervenção. 230 A CULTURA DO DESAPEGO: CONSUMO E SOFRIMENTO PSÍQUICO José Artur Molina Universidade Estadual de Maringá [email protected] A contemporaneidade tem sido objeto de reflexões diante de novos cenários produzidos por ela. Passamos de uma sociedade verticalizada constituída na hierarquização do tecido social, com um modo industrial predominante na produção para uma sociedade horizontal, com clara diluição das forças de poder, midiática e com grande empenho na informação. Tem sido muito importante o aumento dos quadros de angústia presentes nos serviços de saúde mental. Entendendo a angústia como um quadro ausente de referência, posto que só traz a sua frente desespero e sofrimento, consideramos ser uma expressão fora do simbólico. Como a cultura do desapego e, com ela, o incremento do consumo é uma marca da atualidade poderíamos fazer uma relação desta com a mudez psíquica. Um mundo onde a velocidade das informações vão se apresentando diante de nossos olhos e com ela um esforço de elaboração inerente cabe a pergunta: estaríamos em condições desta elaboração? Em caso negativo, qual seria uma das conseqüências para o aparelho psíquico? Um transbordamento de energia libidinal no sistema psíquico fora dos domínios do discurso. Este trabalho trata de estabelecer um dialogo com os saberes oriundos das ciências sociais, psicologia social e a psicanálise. Isto para pensar quais categorias psíquicas poderiam ser construídas para alinharmos subjetivamente o sujeito contemporâneo com sua história. A acumulação flexível de Harvey, a vida líquida de Bauman são categorias sociológicas definidas para entender a contemporaneidade. Em termos psíquicos, o primado da angústia seria hegemônico em função da cultura do desapego que, num processo sem fim, vive a dizimar referenciais que asseguram ao sujeito alguma possibilidade de domínio de si com respeito ao mundo. A volatilidade de suas representações, o deixariam em estado de sofrimento. Um padecimento muito para além de uma psicopatologia que adoenta a vida. A cultura do desapego leva o sujeito a um mundo preenchido de vazios. Palavras-chave: angústia; sofrimento; contemporaneidade; consumo. UM ESPAÇO DE ESCUTA E REFLEXÃO DE DESEJOS E (IN)SATISFAÇÕES: A IMPLANTAÇÃO DE ASSEMBLEIAS AVALIATIVAS ENTRE USUÁRIOS E FUNCIONÁRIOS NO SERVIÇO DE RESIDÊNCIAS TERAPÊUTICAS NO MUNICÍPIO DE BAURU 231 Diego Diz Ferreira Nádia Pine Da Cunha Ribeirão Preto- SP [email protected] A presente investigação objetivou realizar um mapeamento da estrutura e funcionamento das relações entre os usuários do serviço das Residências Terapêuticas do município de Bauru. Primeiramente visou-se identificar se as relações estabelecidas entre os moradores e os prestadores do serviço estariam em consonância com as diretrizes do SUS e da Reforma Psiquiátrica. Fundamentados na metodologia da pesquisa ação e na escuta psicanalítica, os sujeitos da pesquisa foram ouvidos por um período de um ano. Com os funcionários as entrevistas objetivaram captar os recursos empregados pela equipe para garantir a singularidade e a integralidade das intervenções, o contato com os moradores deu-se por imersão semanal de dois pesquisadores, que desempenhavam a função de Acompanhantes Terapêuticos (A.T). Ao longo do período de estudo foram investigadas 12 residências, totalizando o mapeamento das relações dos 48 moradores do serviço. Após o levantamento e tratamento dos dados coletados percebeu-se que apesar do serviço de residências terapêuticas estar estruturado de acordo com os princípios da luta antimanicomial, identificou-se que os moradores não possuíam um espaço legitimado para opinarem sobre questões práticas de suas rotinas como: medicamentos, problemas com outros moradores, insatisfações com funcionários, sugestões, angustias e desejos. Esses dados foram coletados de forma dinâmica após o vínculo entre pesquisadores e moradores ter sido estabelecido a medida que os A.T desempenhavam junto com os moradores suas atividades habituais como: os passeios pela cidade, idas a médicos, dentistas, supermercados e atividades rotineiras da casa. A partir dessa demanda identificada, as Assembleias Avaliativas entre moradores e funcionários foram estruturadas e implantadas no serviço, totalizando ao longo da intervenção cinco Assembleias de periodicidade mensal. Além de ter sido criado e legitimado um espaço para essas trocas, percebeu-se que o encontro entre estruturas psicóticas (moradores) e neuróticas (funcionários) em uma proposta de avaliação do serviço comporta grandes desafios práticos, mas também, grandes potencialidades transformadoras, como a garantia do discurso psicótico fazer-se presente na organização do serviço como uma das modalidades de laço social, ratificando assim o lugar de sujeitos desses moradores, que superaram a hesitação inicial dos primeiros encontros, tornando-se importantes agentes transformadores do território em que vivem através de seus posicionamentos. Ao longo das 232 assembleias os funcionários começaram a perceber que não se tratava de apenas uma proposta avaliativa, na qual suas práticas estavam sendo avaliadas, mas que era também um importante dispositivo terapêutico para todos os integrantes do serviço. Conclui-se que a avaliação por parte dos usuários do serviço de saúde mental e atenção psicossocial constituise de grande importância não apenas para a regulação do serviço prestado mas também como um importante recurso psicoterápico e sua implantação torna-se terapêutica quando todos agentes do processo sensibilizam-se quanto a sua função e importância. Palavras-chave: Residências Terapêuticas; Assembleias Avaliativas; Reforma Psiquiátrica; Pesquisa Ação. 233 RELATO DE EXPERIÊNCIA: A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DOS PAIS SOBRE A DISCUSSÃO DA MEDICALIZAÇÃO NA INFÂNCIA Patricia Alves de Oliveira Ana Lucia dos Santos Faculdades Integradas de Ourinhos - FIO [email protected] O presente trabalho tem por objetivo, relatar uma experiência clinica, de atendimento infantil, realizado em uma clínica escola. Os atendimentos ocorreram no período de um ano, com sessões de cinqüenta minutos, uma vez por semana. E também foi oferecido aos pais um espaço de atendimento a cada quinze dias para relatos sobre seus sentimentos em relação aos sintomas e comportamento do filho. Os atendimentos foram realizados por uma estagiaria de psicologia e supervisionados semanalmente. Utilizaram-se como técnica nos atendimentos ludoterápicos os pressupostos teóricos de Melanie Klein (1921-1945) e o referencial teórico de Winnicott. A criança está com 12 anos de idade e cursa a 6a série do ensino fundamental. Os pais relataram que a partir dos 4 anos de idade, uma serie de diagnósticos, foram sendo feitos por especialistas, tais como; deficiência mental moderado, escoliose, depressão, hiploglicemia, prescrevendo assim uma série de medicamentos. Ainda, segundo os pais, por esta razão, a criança apresenta dificuldade no âmbito escolar tanto na escrita como de leitura. Por meio do contato com os pais pudemos analisar que estes, tinham uma grande preocupação com o desenvolvimento do filho, mas ao mesmo tempo não se sentiam autorizados a cuidar deste a partir das próprias percepções. A cada preocupação com o comportamento procuravam um especialista que dava um diagnóstico e receitavam medicamentos. Ao dar início aos atendimentos com a criança pudemos analisar tratar-se de uma criança com muitos recursos para o desenvolvimento cognitivo e emocional. Segundo Winnicott (1975), o ambiente familiar será sempre a base para o desenvolvimento do psiquismo e da subjetividade da criança. É proporcionando funções de handling, holding e apresentação de objeto, que essa família mostra para o novo membro o ambiente necessário para seu desenvolvimento. Levando em consideração as ideias de Winnicott, nossa estratégia de atendimento foi de proporcionar aos pais um espaço que os permitissem, partilhar os conflitos, angústias, medos, tanto quanto casal, como pais. Esses, momentos de reflexões e compartilhamento resultaram de uma potecialização das percepções dos próprios pais que puderam ir aos poucos se autorizando a cuidar do filho. Inclusive passaram a discutir com os 234 médicos os motivos das prescrições o que resultou na retirada e diminuição de alguns medicamentos. Sendo assim, ao final de um ano de trabalho, pudemos perceber algumas melhorias no comportamento e estado emocional da criança, como, um senso crítico diante de alguns acontecimentos de seu dia a dia, uma melhora na dicção, na escrita e no relacionamento com os pais. Em um momento que a discussão sobre o excesso de medicalização da infância está na pauta do dia, a clínica escola de psicologia cumpre um importante papel no esclarecimento aos pais sobre essa problemática. Palavras-chave: Psicoterapia Infantil; Pais; Clínica escola; Medicalização da infância. 235 POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE MENTAL E O PROBLEMA DOS USUÁRIOS DE CRACK NO BRASIL. ENFRENTAMENTOS E DESAFIOS PARA A PSICOLOGIA Juliana Moretão Pozza Daniele de Andrade Ferrazza Faculdades Integradas de Ourinhos [email protected] A pesquisa pretende problematizar a história constitutiva do movimento higienista no Brasil, em fins do século XIX, até as políticas públicas da contemporaneidade que, de um lado, pretendem criar estratégias de potencialização de vida, de outro, disseminam práticas higienistas, internações compulsórias e tratamentos desumanos. Nesta concepção desenvolve uma análise da história constitutiva do movimento higienista brasileiro e das práticas de encarceramento e exclusão das populações consideradas inconvenientes aos padrões das sociedades das diferentes épocas. Remete-se à criminalidade das drogas, problematizando os atuais índices de consumo de crack no Brasil, analisando as práticas de internação compulsória em âmbitos manicomiais e nas determinadas comunidades terapêuticas. Examina as propostas das políticas públicas de saúde mental direcionadas aos usuários de crack como a constituição do CAPS ad, analisando o trabalho realizado por profissionais de psicologia nos diferentes projetos e, redução de danos na atualidade. O processo de psiquiatrização e a história do louco no Brasil ocorre em meados do século XIX, uma história de um processo de asilamento e medicalização social. História esta analisada desde suas relações institucionais especificas até o universo das relações sociais. (AMARANTE, 1994). A loucura passa ser objeto de estudo do Estado na chegada da família Real no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, no século passado, um período que exigiu mudanças econômicas e controle social. Isso ocorreu no intuito de ordenar o espaço urbano, o que determinou o processo de limpeza urbana e repressão social, assim como a exclusão daqueles considerados inconvenientes. Na época eram considerados inconvenientes aqueles que estavam dentre os mendigos, prostitutas, negros, órfãos, velhos, e todos os miseráveis e marginalizados, marcados pela pobreza. (AMARANTE 1994). Essa população era excluída e depositada nos porões das santas casas de misericórdia, ficando impossibilitados de transitarem nas ruas das cidades, representando perigo e desordem urbana. Prática essa denominada na Europa por Foucault de grande enclausuramento de pobres. (FERRAZZA, 2009). As práticas de exclusão se perpetuaram e ainda hoje há reprodução delas no meio social, sendo que antes da reforma psiquiátrica os excluídos eram os loucos agora reproduzem isso com os drogaditos. População 236 esta vista como lixo, devendo ser escondida da burguesia econômica, movimento executado por uma sociedade que insistem em seguir regras normativas de um sistema hierárquico, o qual fragmenta as subjetividades, constituídos por um sistema de submissão e capitalismo, onde o governo deixa de pensar em direitos humanos, não respeitando a singularidade de cada um, pois se torna mais fácil esconder o que incomoda. Essa prática no momento seria mais viável para o governo, visto que o Brasil vive tempos de eventos vindouros, como os jogos mundiais. (GUATARRI, FÉLIX, ROLNIK, 2000, P.12.). Desinstitucionalizar é o caminho, produzir autonomia e liberdade para o sujeito, para que esse sinta-se acolhido pela sociedade e não excluído e desapontado. O governo precisa se desprender de práticas higienistas, e criar estratégias eficazes para o problema, respeitando os direitos humanos de todos. 237 O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: UMA CARTOGRAFIA Taís Fernanda Maimoni Contieri Santana Maria Alice Ornellas Pereira UNESP- BOTUCATU/SP [email protected] A busca pela melhoria da atenção à saúde no país vem, ao longo de décadas, imprimindo um percurso caracterizado por enfrentamentos, desafios e avanços que evidenciam a importância da Atenção Primária no contexto da assistência em saúde mental. Neste, a temática do cuidado tem se mostrado importante, pois contém a essência das práticas na área da saúde. Nessa perspectiva, foi realizado um estudo de natureza qualitativa, que teve como objetivo cartografar o cuidado prestado pelos profissionais atuantes na Estratégia Saúde da Família, ao portador de transtorno psíquico. Como referencial teórico assumiu-se os preceitos de cuidado trazidos por Emerson Merhy, autor que dá subsídios para a temática proposta, assim como se recorreu à obra de Benedeto Saraceno, autor que sustenta a discussão pertinente à Reabilitação Psicossocial. A cartografia viabilizou a construção de mapas ao acompanhar percursos e movimentos circulantes que envolvem o cuidado prestado no serviço e as forças que movem as pessoas na execução deste ao portador de transtorno mental. A análise foi amparada pelos movimentos circulantes que envolvem o cuidado prestado no serviço e as forças que movem as pessoas na execução deste, ao portador de transtorno mental, foram construídos três territórios como: do fazer (como a equipe vem traçando seu cotidiano), do pensar o fazer (a partir das reuniões e o fluxograma analisador a equipe repensa seu cotidiano de cuidados) e dos entraves/desafios (considerando a própria rotina dos sujeitos frente à realidade vivida no cotidiano dos serviços e as forças que movimentam esse cotidiano. Os resultados apontaram para o cuidado embasado no modelo médico hegemônico, com forte presença da medicalização. Os sujeitos do estudo revelaram sentimentos ligados à impotência, à angústia e ao despreparo frente à execução de cuidados em nível de saúde mental na atenção básica, enfatizaram os entraves para a efetivação do vínculo, da coparticipação e do comprometimento para vislumbrarem avanços no cotidiano das práticas em saúde. A cartografia possibilitou captarmos as dificuldades que os atores protagonistas da assistência na unidade pesquisada, encontram mediante à possibilidade de reversão do modelo assistencial, proposto pelas políticas públicas, bem como à efetivação dos princípios do SUS. Os participantes apontaram dificuldades enfrentadas no cotidiano da prestação do 238 cuidado, bem como manifestaram despreparo para lidar com a demanda de saúde mental, o que evidencia a importância da valorização e capacitação mediante da proposta de mudança de práticas antigas. Nesta perspectiva, se desvela que são nos encontros de sujeitos em ação, daquele que requer o cuidado com o que o oferta, que se produzem relações, desta forma é o trabalho vivo que se efetiva na construção do cuidado, operando sentido e significados, pois o trabalho morto não permite a produção de vida. Palavras-chave: atenção primária à saúde, cartografia, cuidado, saúde mental 239 A ATUAÇÃO DA EQUIPE INTERDISCIPLINAR EM SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL: DESAFIOS DA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL Renata Motta Moretto Juliana Camargo Costa Daniele Ferrazza [email protected] Faculdades Integradas de Ourinhos, Ourinhos- SP O presente estudo tem como objetivo analisar as dificuldades de constituição de equipes interdisciplinares com atuação transdisciplinar nos serviços da Rede Pública de Saúde Mental da atualidade, conforme os princípios do paradigma da Atenção Psicossocial. As equipes de saúde de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) podem se constituir de três maneiras diferentes e que nortearão a atuação dos profissionais do serviço. Segundo Madel (2009), a equipe multidisciplinar é caracterizada por um conjunto de profissionais onde não há um diálogo entre os saberes disciplinares e ocorre a permanência de intervenções centradas em técnicas individuais e especializadas pouco atentas às propostas de práticas conjuntas entre outras equipes e outros profissionais. A equipe interdisciplinar caracteriza-se pela emergência de subdisciplinas densas conceitualmente, especializadas em novos objetos, com novos métodos de investigação e novas perspectivas teóricas, fruto da intersecção de disciplinas. Já a equipe transdisciplinar pode-se compreender como uma estratégia que transcende o âmbito de cada disciplina o que possibilita o surgimento de uma nova visão da natureza e da realidade, com tendência a constituição de práticas horizontais e que visam superar as relações de poder. No CAPS pode-se perceber que o principal problema enfrentado para a constituição de equipes interdisciplinares com atuação transdisciplinar é principalmente devido a hierarquização das relações profissionais e a dificuldade de superação do modelo médico centrado (COSTA-ROSA, 2011). É com a possibilidade de construção de equipes interdisciplinares que é possível pensar novas formas de rede, novos serviços, a melhoria do convívio e sociabilidade entre profissionais e usuários com o intuito de constituição de novos processos de subjetivação que se efetivarão nestes encontros, com o intuito da produção de sujeitos capazes de promover processos autônomos. Isso permitirá a superação de práticas psiquiátricas, ainda centradas no modelo hospitalocêntrico que enfatiza internações compulsórias e que corrobora com a prescrição indiscriminada de medicamentos psicofarmacológicos. Assim, conforme a proposta da Rede de Atenção Psicossocial, 240 compreendida em estratégias e mudanças nas formas tradicionais de atenção e cuidado em saúde, e que vá além das determinações diagnósticas, é possível se pensar na promoção de atenção e cuidado conforme às especificidades e singularidade dos sujeitos em sofrimento psíquico. Conclui-se que há a necessidade de se articular a equipe, com o intuito de potencializar as ações e estratégias para acolhimento dos casos de usuários dos serviços de saúde mental e daqueles que ainda não chegaram no âmbito institucional. Um trabalho realizado por uma equipe interdisciplinar com atuação transdisciplinar, que esteja no discurso da Atenção Psicossocial, possibilitará aos profissionais atentarem-se ao sujeito em sofrimento psíquico em um processo de centralização do sujeito na rede de saúde e que visa, consequentemente, romper com discursos normativos. Palavras-chave: equipe interdisciplinar; CAPS; Atenção Psicossocial. 241 SAÚDE PÚBLICA, SAÚDE MENTAL E A RELAÇÃO COM O SERVIÇO SOCIAL Vanilda Ferreira Liria Maria Bettiol Lanza Londrina- PR [email protected] Este artigo parte da gênese das políticas de Saúde Pública e Saúde Mental no Brasil e a relação de ambas com o Movimento da Reforma Sanitária e da Reforma Psiquiátrica. Contempla ainda, a análise das conquistas das Reformas e conseqüentemente as mudanças com a institucionalização do Sistema Único de Saúde (SUS). Apresenta a interface do trabalho do assistente social no Centro de Atenção Psicossocial III (CAPS III) e na Clinica Psiquiátrica de Londrina (CPL) frente ao novo modelo de assistência a saúde mental pública que no cenário atual tem sofrido forte avanço de correntes terapêuticas que obscurecem a atuação do profissional de serviço social. A pesquisa é de natureza qualitativa e a metodologia utilizada foi o levantamento preliminar do referencial teórico, seguido por entrevistas com roteiro de questões semi-estruturado nas instituições referenciadas com duas assistentes sociais, sendo uma do CAPS III e uma da CPL. Os sujeitos da pesquisa foram escolhidos de forma intencional e são atuantes na Saúde Mental Pública de Londrina/PR. A pesquisa permitiu a compreensão dos limites, complexidades, possibilidades e dos desafios para a execução do trabalho do assistente social. O estudo apontou que as entrevistas, oficinas e visitas embora sejam instrumentos de trabalho recorrente do Serviço Social, indica também a necessidade do desenvolvimento de novas metodologias para uma atuação mais eficiente garantindo o acesso aos serviços de forma democrática e ampliada. Assim as ações desenvolvidas por meio de equipes de trabalho multiprofissional visam o fortalecimento dessa política de saúde que trás o portador de transtornos mentais para o convívio social e familiar. Portanto é imprescindível que movimentos como o da Luta Antimanicomial e Programas governamentais como “De Volta Para Casa” sejam fortalecidos em consonância com a intervenção do assistente social, que busca conhecer a totalidade da realidade social dos usuários e familiares identificando recursos, criando espaços para o debate reflexivo a fim de desenvolver a cidadania e autonomia do portador de transtornos mentais. Palavras-chave: Transtorno Mental; Reforma Psiquiátrica; Saúde Pública e Saúde Mental; Serviço Social e o trabalho do Assistente Social. 242 243 260 CRIANÇA E ADOLESCENTE VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: A AVALIAÇÃO DE UMA INSTITUIÇÃO DE ABRIGAMENTO Jair Izaías Kappan Aline Cristiane Manzato Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - FCL Assis. [email protected] Desde a Antiguidade a violência é um grave problema social. Inúmeras tentativas têm sido feitas ao longo da história para solucioná-la, controlá-la ou diminuí-la. Contudo, as práticas consideradas como sendo socialmente violentas modificaram-se de acordo com o contexto histórico e social: o que hoje se compreende como violência doméstica anteriormente era visto como meio de regulamentação das relações sociais, por exemplo. Atualmente, a compreensão que temos sobre a violência doméstica contra a infância e a adolescência acompanha as mudanças sociais e históricas, o que inclui mudanças sobre os conceitos de infância e vulnerabilidade que historicamente vimos construindo. Hoje, tal violência é considerada como crime, com medidas previstas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei 8.069/90) para proteção das vítimas. A violência doméstica contra crianças e adolescentes representa todo ato praticado por pais ou responsáveis contra crianças e/ou adolescentes, com caráter de violência física ou psicológica, caracterizando abuso, maltrato ou dano físico, sexual ou psicológico – o que ocorre, por exemplo, quando um adulto constantemente deprecia a criança e provoca-lhe grande sofrimento mental e negligência. Os danos causados pela violência são inúmeros e as marcas da agressão podem perdurar não somente na dimensão física mas também psicológica. Dessa forma, tão importante quanto proteger a criança e o adolescente da situação de risco é mantê-los em um ambiente que possa preservá-los de maiores danos psicológicos. Por isso, dentre as medidas previstas pelo ECA, está o acolhimento institucional ou em família substituta, ambas provisórias, uma vez que a prioridade é a reintegração familiar. É importante salientar que a permanência em situação de acolhimento institucional deve, preferencialmente, não exceder o tempo de dois anos, salvo por outras necessidades. Além disso, normas, condutas e obrigações para as instituições de acolhimento também estão previstas no ECA. Dentre elas, destaca-se o papel de preservar vínculos familiares e visar a reintegração familiar, preservação da identidade, além de oferecer um ambiente de respeito e dignidade, propiciar atividades adequadas, culturais e recreativas às crianças e adolescentes acolhidos, oferecer cuidados básicos e adequados para a faixa etária, dentre outras obrigações que contribuam para o bem-estar da criança e adolescente em condição de acolhimento. Para tanto, a proposta do presente trabalho é de investigar a rotina em instituição de acolhimento da cidade de Assis, São Paulo, de crianças, adolescentes e da equipe da instituição, a fim de analisar as condições objetivas e subjetivas a que os abrigados estão submetidos, através de observações participantes e questionários que permitam avaliar o perfil dos cuidadores e a demanda dos abrigados. As análises serão feitas com base no ECA e teorias psicológicas acerca do tema com a metodologia de análise de conteúdo. Palavras-chave: Violência doméstica; Criança; Adolescente; Abrigo. 245 VIAGEM MUSICAL: INCLUINDO AÇÕES DE SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA Daniela Megliorini Paro Renata Bellenzani Vitor Corrêa Detomini ESF e NASF - Chapadão do Sul-MS [email protected] m O processo da reforma psiquiátrica implementada a partir da década de 90, vem modificando a assistência da atenção à saúde mental, possibilitando o surgimento de experiências inovadoras oriundas da interação entre saúde mental e atenção básica. A Saúde da Família como estratégia estruturante dos sistemas municipais de saúde, tem provocado um importante movimento com o intuito de reordenar o modelo de atenção no SUS. Tal estratégia busca maior racionalidade na utilização dos demais níveis assistenciais, produzindo resultados positivos nos principais indicadores de saúde das populações assistidas pelas equipes de saúde da família, demonstrando assim, potencialidade da incursão de políticas especiais neste cenário, como é o caso da inclusão de ações de saúde mental. Em função do grande número de solicitações para atendimentos psicológicos individuais que chegam ao setor de Psicologia, em uma Estratégia de Saúde da Família num município de Mato Grosso do Sul, e por não haver serviços substitutivos até o momento, foi criada a roda de conversa Viagem musical neste serviço. Objetiva-se assim, relatar esta experiência, que utiliza a música como instrumento principal, visando à promoção e prevenção em saúde mental na atenção básica, a fim de favorecer a troca de experiências, refletir sobre conflitos e tensões, e criar um espaço de acolhimento. Em seguida, propõe-se analisar o seu potencial (aspectos subjetivos, intersubjetivos e técnicos relacionados à dinâmica grupal) para promover humanização, e também contribuir na reabilitação psicossocial. A atividade é conduzida por uma psicóloga (atuante da unidade) e outros profissionais convidados da área da saúde, conforme o tema abordado, e é aberta a comunidade para usuários do serviço com idade superior a 18 anos, havendo encontros semanais com duração de 120 minutos, sem exclusão dos participantes por faltas, e sem a necessidade de encaminhamentos, participando aproximadamente 15 a 20 usuários. Para cada encontro são selecionadas quatro músicas relacionadas a um determinado tema (como família, cidadania, amor, loucura, entre outros) dos quais são escutadas em roda, sem que inicialmente os participantes saibam qual o tema abordado, pois se pretende que, juntos, possam refletir sobre as músicas e chegarem à conclusão de qual o tema está sendo 246 abarcado no dia. Até o presente momento, observa-se como resultados que, utilizar a música como recurso terapêutico, tem tido boa aceitação e adesão pelos participantes e também profissionais. Fornece oportunidades para que cada um reflita sobre as colocações dos outros e, elaborem em conjunto, estratégias de enfrentamento das possíveis situações originadoras do conflito emocional, e comportamentos-problemas, resgatando a autoestima e autoconfiança, fortalecendo-as com isso para as decisões e enfrentamentos necessários na vida diária. Propõem-se com esse trabalho inspirar novas ideias e ações que visem à promoção e prevenção da saúde e não somente o modelo curativista, assim como estratégias onde os participantes possam trabalhar o exercício de cidadania, oportunizando novas formas de refletir sobre as vivências cotidianas, em busca de uma melhor reinserção social. Palavras-chave: Saúde mental; Atenção básica; música; Estratégia de Saúde da Família. 247 TELEATENDIMENTO: CONTROLE DO ESPAÇO-TEMPO Amanda Natália Siqueira Faculdades Integradas de Ourinhos [email protected] As centrais de atendimento, call centers ou telemarketing, são destinados para a atividade de telecomunicações, em que integram tecnologias (ligações) e recursos humanos (voz), em sua atividade. O intuito dessa atividade é facilitar o movimento de comunicação, entre empresas prestadoras de serviços e seus clientes: compreendendo serviços diversos que possam ser prestados, variando entre vendas e compra de produtos até a ocorrência de falta de energia e fatalidades cotidianas. O trabalho de tele-atendimento no Brasil teve crescimento considerável a partir da década de 80 e, atualmente, é um dos campos de trabalho com maior expectativa de expansão. Segundo dados do Sintelmark (Sindicato Paulista das Empresas de Telemarketing) estima-se que 1,84 milhões de brasileiros estejam atuando neste segmento, que, em sua maioria, são jovens e mulheres em seu primeiro emprego. (SINTELMARK, 2013). Diante desse dado, é necessário apontar que todos os atendimentos são assistidos por programas de tecnologia avançada e diversos mecanismos de controle que mede cada ligação recebida ou realizada no call center, sendo eles: controle do tempo falado (TMA), tempo que o cliente espera na vila para ser atendido, controle do período dos intervalos e pausas, tempo que o cliente espera na retenção, tempo livre, escutas e monitorias das ligações, avaliação da pronúncia correta e natural do script, entre outros . Mediante o exposto, esta pesquisa tem o interesse, por meio de revisão bibliográfica, compreender as estratégias administrativas que padroniza a atividade de tele-atendimento e, para isso, como objetivo específico tenta identificar os mecanismos de controle usados neste trabalho e analisar as formas de gestão aplicadas. Compreendemos que as estratégias de controle criadas neste espaço pode-se tornar insustentável para este trabalhador, pois a ausência de uma estrutura de gestão voltada para os fatores culturais da região, e um olhar inclinado para a subjetividade dos trabalhadores, da necessidade da autonomia durante o atendimento, e um sindicato atuante, podem ser hipóteses reflexivas sobre a falta de simbolização dos trabalhadores: Assim, como resultado parcial da pesquisa, apontamos a necessidade de um olhar minucioso para este trabalhador quase invisível em sua individualidade, mas expressivo em sua quantidade nos postos de trabalho ocupados. Palavras-chave: tele-atendimento; controle; call center; saúde do trabalhador 248 VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UM ESTUDO SOBRE O PERFIL DOS AGRESSORES Jair Izaias Kappann Juliana Possebon Agua Luis Fernando Rocha UNESP/Assis [email protected] A violência sexual contra crianças e adolescentes é um fenômeno universal e muito frequente em nosso país. É definida como sendo toda e qualquer conduta ou manipulação sexual por parte de um adulto em relação às crianças ou adolescentes, com a finalidade de estimular ou utilizar sexualmente estes para obtenção de prazer sexual, sem que haja necessariamente o uso de violência ou de força física por parte do agressor. Na literatura nacional ainda são escassos os estudos sobre os criminosos sexuais se comparados aos estudos sobre as vítimas. A presente pesquisa visa suprir esta deficiência através da análise do perfil dos agressores. O Objetivo dessa pesquisa foi investigar o perfil socioeconômico dos agressores que praticaram violência sexual contra crianças e adolescentes, através da análise dos inquéritos policiais instaurados pela Delegacia de Defesa da Mulher da cidade de Assis/SP. A natureza do tema nos levou a utilizar a metodologia qualitativa que possibilita uma compreensão mais ampla do fenômeno estudado. A análise foi feita com base na técnica de análise de conteúdo e modalidade temática. As interpretações e discussões tem como base o quadro teórico da psicologia e a legislação vigente sobre o assunto bem como as determinações do Estatuto da Criança e do Adolescente em relação à proteção desta faixa etária. Assim, foram feitas inferências, interpretações e hipóteses em relação ao tema investigado, com base na análise de conteúdo. Na Delegacia de Defesa da Mulher de Assis/SP, foram analisados 55 Boletins de Ocorrência e inquéritos policiais, entre os anos de 2010 a 2012. Em 07 casos, houve mais de uma vítima por agressor. A maioria das vítimas é do sexo feminino e os agressores do sexo masculino. A idade das vítimas variou de 01 a 17 anos, sendo crianças menores de 14 anos a maioria dos casos. A maioria dos agressores é adulta. O local em que ocorreu a violência foi no ambiente doméstico e, em 42% dos casos, o crime ocorreu na própria casa do agressor. Em grande parte dos casos, a violência foi praticada por conhecidos das vítimas e de suas famílias, sendo apenas 6,5% desconhecidos. O tipo de crime sexual mais perpetrado foi o atentado violento ao pudor. Os resultados encontrados são semelhantes aos da literatura científica sobre o tema. Verifica-se uma necessidade de mais estudos sobre o assunto, para analisar e compreender melhor o perfil desses agressores. Desta forma, a psicologia pode 249 contribuir para a prevenção da violência sexual e possibilitar uma atenção maior sobre a condição psíquica dos agressores. Palavras-chave: pedofilia; agressor sexual; violência sexual, crianças. 250 SAÚDE MENTAL: ATITUDES FRENTE AO DOENTE MENTAL E SEUS CORRELATOS VALORATIVOS Gildevan Estrela Dantas Patrícia Nunes da Fonsêca Jaciara de Lira Almeida Dantas Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa - PB [email protected] A história da loucura exerce importante representação nas transformações ideológicas e práticas no que se refere às iniciativas acerca da melhor oferta na assistência aos doentes mentais. Isso tem colaborado na identificação do indivíduo em sofrimento psíquico a partir de novas formas de cuidar. Assim, têm-se como fruto dessas discussões as evoluções nos modelos de saúde, uma vez que estes têm tentado compreender o doente mental além dos aspectos orgânicos, a exemplo do aspecto subjetivo deste. Essa transição de cuidar pode ser evidenciada por meio dos modelos de saúde: biomédico e biopsicossocial. Portanto, o presente estudo teve como objetivo conhecer as correlações entre as atitudes frente ao Doente Mental e os valores humanos. Participaram 230 profissionais da área de saúde nas mais diversas especificidades (35,7% enfermeiros, 21% psicólogos, 9,6% farmacêuticos, 9% médicos, 8,9% assistentes sociais, 6,9% fisioterapeutas e 6,3% demais profissionais) da cidade de João Pessoa-PB. Estes tinham idades variando de 23 a 68 anos (M = 36,22; DP = 10,67), sendo a maioria do sexo feminino (74,7%). Foram obedecidos todos os critérios éticos, a pesquisa só teve início após o consentimento dos participantes, estes responderam a uma série de instrumentos que foram aplicados de forma individual no ambiente de trabalho, bastando aos participantes seguirem as orientações dadas por escrito no próprio questionário. Foram respondidos uma Escala de Atitudes frente ao Doente Mental (EADM), o Questionário dos Valores Básicos (QVB), e um questionário sociodemográfico. Os dados colhidos foram analisados por meio do software PASW (versão 21), que permitiu a realização de correlações de Pearson (r) entre a EADM e o QVB, além de análises descritivas. Encontrou-se correlação negativa entre o fator autoritarismo da EADM e as subfunções interativa (r = - 0,25; p < 0,01) e suprapessoal (r = - 0,24; p < 0,01) do QVB. No que se refere ao fator benevolência, da EADM, encontrou-se correlação positiva com as subfunções realização (r = 0,16; p < 0,05), suprapessoal (r = 0,17; p < 0,01) e interativa (r = 0,26; p < 0,01), demonstrando que estes profissionais são mais abertos a inovações e podem portanto conduzir mudanças ou novas configurações sociais, evidencia um cuidar mais humanizado, onde o sujeito participa ativamente do processo. Identificou-se, ainda, que os profissionais de saúde pautados no 251 modelo biomédico demonstram endosso de subfunções valorativas especificas inversamente priorizadas pelos profissionais de saúde que se enquadram no modelo biopsicossocial. Tais achados explicitam a necessidade do desenvolvimento de projetos de intervenção junto aos profissionais de saúde, acerca da efetividade das políticas públicas de saúde dirigidas às pessoas com doenças mentais, para que estes possam ser tratados de uma forma mais humanizada, podendo, assim, resgatar sua cidadania, reinserindo-os na sociedade. Palavras-chave: Atitudes; Doente mental; Valores humanos. 252 COMPORTAMENTO DE RISCO ENTRE ADOLESCENTES QUE FIZERAM USO DE ÁLCOOL Alessandro Rolim Scholze Carla Moretti de Souza Maria José Quina Galdino Universidade Estadual do Norte do Paraná [email protected] O consumo excessivo de bebida alcoólica se encontra com um dos principais problemas para a saúde pública mundial. Sendo que, além da sua alta prevalência entre a população adulta, este comportamento atinge os adolescentes, visto que, a experimentação tem ocorrido cada vez mais cedo, repercutindo na saúde física e mental destes indivíduos. Considerando que, quanto mais precoce for esse consumo mais expostos estes adolescentes se encontram a acidentes de trânsitos, suicídios, violência física e sexual, gravidez não planejada e à Doenças Sexualmente Transmissíveis. Objetivo: Identificar os comportamentos de risco associados ao consumo de bebida alcoólica entre adolescentes de um município do Norte do Paraná. Métodos: Trata-se de uma pesquisa de caráter quantitativo, descritivo e transversal, realizada em 10 instituições de ensino, sendo sete públicas e três privadas, situadas em um município do norte do Paraná. Participaram do estudo uma amostra de 321 alunos regularmente matriculados nos ensinos fundamental e médio destas instituições e com faixas etárias entre 12 e 18 anos. O critério de amostragem utilizado foi a estratificada simples para garantir a representatividade da população. Os dados foram coletados foi realizada nos períodos de outubro de 2011 a março de 2012, por meio de um questionário semiestruturado autoaplicável, adaptado de Galduróz et al. (2005). Foram adotados todos os parâmetros éticos estabelecidos pela resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde, incluindo aprovação em Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Norte do Paraná, sob o parecer número 026/2011. Resultados: Verificou-se que 54,5% pertenciam ao gênero feminino e 45,5% ao masculino. Quanto à faixa etária a maioria tinha entre 12 a 15 anos. Referente ao uso na vida de bebida alcoólica, 77,6% dos pesquisados já consumiram algum tipo de álcool. Ao analisar o comportamento de risco entre os adolescentes, 30,6% mencionaram já terem ficado bêbados, ao estratificar o gênero notou-se que a maioria eram meninos (32%). Com relação ao envolvimento em violência física, 3,4% dos participantes referiram já ter brigado após o consumo de álcool, havendo uma maior prevalência no gênero feminino. Quanto ao uso de tabaco, 14,2% afirmaram que quando fazem uso de álcool fumam concomitantemente. Entre as práticas sexuais sob efeito do álcool, 8,2% já tiveram relação sexual alcoolizado, 253 46,3% não fizeram sexo após ter bebido e 41,6 % nunca tiveram relação sexual. Com relação a estes adolescentes que tiveram relação sexual sob efeito do álcool verificou-se que 33,9% transaram com alguém que não conheciam, 10,7% esquecem de usar preservativo, ainda, 3,7% referiram ter dificuldades no manuseio do preservativo previamente ao ato sexual. Conclusão: Evidencia-se a importância de se desenvolver ações em saúde entre os escolares visando promover orientação e prevenção referente às consequências negativas que um consumo precoce e desordenado do álcool pode desencadear na vida destes adolescentes. Palavras-chave: Adolescente; Saúde do adolescente; Grupo de risco; Álcool. 254 AS ESTRATÉGIAS DE MATRICIAMENTO DE UMA EQUIPE DE SAÚDE MENTAL DO INTERIOR DO ESTADO DE SÃO PAULO: AS DIFICULDADES DE CONSTITUIÇÃO DA RAPS Elaine Aparecida Da Silva Patricia Alves De Oliveira Daniele De Andrade Ferrazza Priscila Rabelo De Souza Faculdades Integradas de Ourinhos - FIO [email protected] O objetivo do presente estudo é analisar e relatar a experiência de constituição e as estratégias de matriciamento nos serviços da Atenção Básica realizadas pela equipe de saúde mental de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), localizado no interior do estado de São Paulo. A Atenção Primária pode ser considerada como a porta de entrada para atenção à saúde da população usuária do SUS, isso significa também atender questões relacionadas à saúde mental. No entanto, as equipes da atenção primária se deparam com dificuldades para desenvolver esse tipo de acolhimento principalmente devido a falta de capacitação dos profissionais para atender questões relacionadas ao sofrimento psíquico de populações usuárias dos serviços SUS. Nessa configuração, a equipe de Saúde Mental de um CAPS do interior do estado de SP, tem construído estratégias de matriciamento que visam apoiar e auxiliar as equipes da Atenção Primária daquele município, com o intuito de estabelecerem iniciativas em conjunto para um melhor atendimento à demanda de Saúde Mental. O apoio matricial tem como objetivo ser uma ferramenta para fortalecer e potencializar os profissionais de saúde da Atenção Primária e a equipe do CAPS oferece retaguarda para as equipes da Atenção Primária que poderão se tornar as equipes de referência para os usuários de cada território, trabalhando de forma horizontal, atravessando vários saberes e hierarquias na lógica de um olhar ampliado em relação à clínica tradicional. Dessa forma, o matriciamento planeja romper com o modelo médico centrado, hospitalocêntrico, curativo, medicalizante e clínico individualista que ainda é praticado em muitos serviços de saúde da Rede Pública do SUS. As propostas de matriciamento, como aquelas promovidas pela equipe do CAPS, têm promovido uma nova organização de trabalho das equipes de saúde, trazendo uma articulação com as diferentes especialidades e as várias áreas de conhecimento. Percebese que esses profissionais que recebem o suporte da equipe de saúde do CAPS, acolhem de forma conjunta casos de crise, e o trabalho se desenvolve em ação e promoção de saúde, tanto fora como dentro das unidades, contrapondo sempre o modelo manicomial. Através das reuniões 255 de matriciamento, verifica-se que muitos dos casos que frequentam o CAPS, podem ser beneficiados com as atividades ofertadas em seu próprio território e não necessitam permanecerem vinculados unicamente ao CAPS, trabalho que já começa a ser realizado. Embora ainda exista a dificuldade de criação de novas estratégias, principalmente devido a resistência de muitos profissionais em participarem de reuniões de matriciamento e efetivarem acordos, é possível pensar que o apoio matricial pode ser compreendido como um dispositivo extremamente importante para a constituição e efetivação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) daquele município. Conclui-se que, na perspectiva de uma clínica ampliada, que implica uma compreensão ampla do processo saúde/ doença, é imprescindível a ampliação de estratégias de matriciamento que visem a promoção de corresponsabilidade e autonomia de profissionais e usuários do SUS, em uma perspectiva de inseparabilidade entre gestão, clínica e política para a produção de ações em saúde e produção de subjetividades nos diversos âmbitos da RAPS. Palavras-chave: RAPS; Equipe de Saúde Mental; Matriciamento; Atenção Primária; 256 OFICINA DE GERAÇÃO DE RENDA: SOBRE A EXPERIÊNCIA DA PADARIA ARTESANAL DE UM CAPS II Ricardo José N. F. Hernandes Lucilene Marta A. Ladeira, Priscila Rabelo de Souza; Centro de Atenção Psicossocial - CAPS II Dr. Paulo Correia dos Santos [email protected] O presente trabalho tem como objetivo o relato de experiência da oficina de padaria artesanal que teve início no CAPS II de Ourinhos-SP em fevereiro de com a finalidade de trabalhar a inclusão social dos usuários através do enfoque da geração de renda. Inicialmente, era mais uma oficina com enfoque terapêutico, pensada para produzir saúde e interação social,tendo sido muito bem aceita pelos usuários, pois foi contratado que o produto da oficina seria comercializado em parceria com o Fundo Social de Solidariedade do município. Este fato vinha de encontro com o desejo dos usuários de produzir algo que pudesse retribuir ao serviço o “bem” que eles recebiam. Assim, firmou-se o aspecto terapêutico da oficina como uma construção grupal, uma atividade para o bem comum na instituição.O sucesso na comercialização do produto da oficina disparou nos usuários o início de uma vivência de autonomia, por perceberem sua capacidade de produzir e, principalmente, de terem o retorno sobre sua produção, o que ainda causa espanto para alguns usuários, menos otimistas, que custam a crer que um produto produzido por eles poderia ter tanto sucesso.Tratando-se de uma oficina que requer algumas habilidades, desde manuais até a persistência para a obtenção do produto final, não houve aderência de muitos usuários. Sendo assim, tornou-se uma oficina fechada. Diante do sucesso da oficina e seu caráter produtivo, após mais de um ano de funcionamento, tornou-se uma oficina de geração de renda, porém o viés terapêutico prevaleceu, ganhando um novo enfoque e uma nova motivação: a renda.A renda como fator motivacional funciona como um novo “sabor” na vida dos usuários; o sabor de produzir, de ser útil e receber uma compensação monetária por isso. O repasse monetário que o usuário recebe torna-se uma grande ferramenta para a elevação da autoestima e do sentimento de mais-valia, que o trabalho normalmente proporcionou que também pode auxiliar na melhoria da qualidade de vida do usuário. Aliado a estes fatores insere-se a produção de cidadania, presente desde o início do projeto, porém reforçada com a perspectiva de geração de renda, pois a remuneração oriunda do trabalho configura-se como uma mola propulsora da cidadania na sociedade capitalista.No processo de reabilitação psicossocial, a construção ou reconstrução da cidadania é um processo terapêutico, de renascimento do “ser social”.A 257 oficina proporciona o espaço de construção ou reconstrução da cidadania, uma vez que é um meio de convívio e relações múltiplas, intrínsecas à ordem natural do processo de produção. O sentimento de pertencer a um grupo, vivenciar experiências, se relacionar, ter regras e limites, fazem parte do processo evolutivo pessoal, vivenciado diferentemente por cada usuário. Porém o avanço de todos, como grupo, traz o sucesso da oficina.Pode-se concluir que a Oficina se apresenta como uma ferramenta de mudança de vida dos usuários, pela qualpercebe-se grande evolução nos campos: comportamental, emocional, de integração e até mesmo financeira, através de outras atividades rentáveis iniciadas pelos participantes. Palavras-chave: Reabilitação Psicossocial; Oficina Terapêutica; Geração de Renda; Processo Terapêutico. 258 A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR FRENTE A CRIANÇAS EM IMINÊNCIA DE MORTE Elaine Aparecida Da Silva Guilherme Gonzaga Duarte Providello Faculdades Integradas de Ourinhos - FIO [email protected] Este trabalho é parte de um Trabalho de Conclusão de Curso e encontra-se em andamento. Objetiva compreender as possíveis atuações do psicólogo hospitalar frente a crianças hospitalizadas em iminência de morte e o diálogo com a família e a equipe de saúde, levantando dentro da bibliografia consultada ferramentas para auxiliar o psicólogo dentro deste contexto. A morte é de grande complexidade e considerada um tabu, falar sobre esse tema é difícil, fala-se muito sobre a vida e o prolongamento desta, possivelmente como uma forma de negação da própria morte. Dessa forma, tocar neste assunto gera ansiedade, pois os sujeitos se defrontam com o desconhecido: a morte passa a ser “esquecida”. O conceito de morte ligado a crianças é mais complexo, pois muitos profissionais não se encontram preparados para enfrentá-lo. A criança ao ser diagnosticada com uma doença terminal, mobiliza toda a família, gera sentimentos ambivalentes em todos a sua volta, torna-se necessário compreender os sentimentos que emergem na criança, na família e na equipe de saúde, como também a questão do luto vivenciado pelos mesmos. Imagina-se que a criança não compreenda o que acontece e muitas vezes, na tentativa de amenizar ou ajudar, os pais acabam mentindo para a criança sobre seu quadro clínico, entretanto, a criança tem a percepção de que algo não está bem e mentir pode contribuir para piorar seu quadro. A criança quando internada, lança mão de alguns mecanismos de defesa, como a regressão, e muitas vezes sente-se culpada pela própria doença e por estar acarretando sofrimento aos pais. Diante de todas as possíveis reações que a criança pode apresentar ao ser internada e estar afastada de seu ambiente, de seus familiares e amigos, é imprescindível que exista uma atenção e apoio emocional, para vivenciar melhor essa fase e enfrentá-la de maneira que essas reações não lhe acarretem algum dano, possibilitando que a criança expresse seus sentimentos, medos, fantasias e emoções. Concomitantemente, o psicólogo deve oferecer retaguarda e apoio psicológico a família e a equipe de saúde que enfrenta juntamente com a criança sua finitude, receba suporte para elaboração do luto, realizar reuniões com a equipe multidisciplinar no intuito de se pensar em estratégias de atuação e tratamentos, e principalmente, oferecer atendimento psicológico na perspectiva de uma clínica ampliada. No pós-óbito o psicólogo deve acompanhar e criar estratégias de intervenção para além do hospital, fornecer apoio a todas as famílias que enfrentaram a morte de um familiar, através 259 de visitas domiciliares ou mesmo criando oficinas ou grupos de apoio. Conclui-se parcialmente que, o psicólogo tem por objetivo dar respaldo a criança, à família e a toda equipe multidisciplinar em relação ao tratamento da dor e os cuidados paliativos, diminuindo o sofrimento destes e oferecendo qualidade de vida nos minutos finais ao paciente terminal, lembrando que o psicólogo deve também receber treinamento e supervisão para lidar melhor com a dor e para que não exista dificuldades ao lidar com a morte do outro. Palavras-chave: psicologia hospitalar; crianças terminais; atuação do psicólogo; estratégias de intervenção. 260 GRUPOS BALINT: possibilidades de atuação em equipes de saúde Marcos Paulo Shiozaki Francisco Hashimoto UNESP – Assis/SP [email protected] m Esse trabalho se objetiva por apresentar uma possibilidade de atuação em equipes de saúde, se utilizando de uma proposta de uma atividade de grupo, pensada por Michael Balint (1896-1970), que atualmente é chamada de Grupos Balint. Esse grupo, inicialmente pensado como uma espécie de psicoterapia de grupo focal, discutia as diversas relações que envolviam os médicos (geralmente clínicos-gerais), as suas intervenções, os seus pacientes, as suas expectativas, ou seja, tudo que dizia respeito às suas práticas. Balint problematizava também nesses grupos, a relação médico-paciente, em que o primeiro, poderia, por muitas vezes, se apresentar como uma espécie de fármaco. Essa observação condiz com um conceito trabalhado por Balint, intitulado Amor Primário, em que existe uma relação objetal primária e passiva, que acaba se apresentando como um relevante contraponto em relação à teoria do narcisismo primário, de Sigmund Freud (1856-1939). A partir desse conceito inovador, Balint defende a ideia de que, originalmente, desejamos ser amado, o tempo todo, de diversas formas, sem precisar amar o outro. Assim, conseguimos notar a necessidade do acolhimento dos pacientes e, justificar, levando em consideração o efeito terapêutico do fármaco, o entendimento de Balint sobre o médico também ser um fármaco, pois, por muitas vezes, o bom acolhimento do médico, é tão (ou até mais) terapêutico, quanto um fármaco. Esse conjunto de pensamentos era amplamente pensado e discutido nos espaços em que ocorriam os Grupos Balint em que, todos os participantes tinham voz ativa para relatar, reclamar, criticar e lamentar sobre as atividades desempenhadas em suas profissões e, sobretudo, o próprio grupo se apresentava como um suporte, acolhedor, dessas diversas angústias. Dessa maneira, observamos a possibilidade e a potencialidade de uma equipe de saúde, em estar trabalhando com esse tipo de abordagem, para discutir formas de promoção de saúde, prevenção e meios de acolhimentos não somente dos usuários em questão, mas também, da própria equipe, o que pode ocasionar uma maior potencialidade de integração. Palavras-chave: grupos Balint; amor primário; equipes de saúde. 261 SAÚDE MENTAL E SERVIÇOS EXTRA-HOSPITALARES: REFLETINDO SOBRE HIGIENITAS, AMBULATÓRIO E CAPS Carina Furlaneto Frazatto Doutoranda em Psicologia Social/PUC-SP. [email protected] Marina Autuori Doutoranda em Psicologia Ciência e Profissão /PUC-Campinas. Bolsista Capes [email protected] Marina Maria Beltrame Universidade Estadual de Maringá [email protected] A proposta desta mesa redonda é promover uma reflexão sobre os desafios da rede de atenção psicossocial percebidos em algumas experiências em serviços de saúde mental e analisar as tentativas de soluções encontradas. Para tanto apresentaremos três experiências em serviços extra-hospitalares de saúde mental. O primeiro deles volta ao passado para mostrar que ao menos desde o início do século XX, no Brasil, os serviços em meio aberto voltado às pessoas com sofrimento psíquico já eram debatidos pelos higienistas. Esta forma de atendimento não foi uma unanimidade entre os profissionais da época e as experiências realizadas não foram concretizadas sem dificuldades, porém tais iniciativas já continham alguns pressupostos que embasam as atuais propostas para o atendimento em saúde mental, como o de tratar sem isolar e a necessidade da ampliação da atenção para além da área da 266 saúde. Em seguida, Marina Autuori relata sua experiência em uma Unidade Pública de Saúde dentro de um Serviço de Psicologia Infantil que ainda carece de garantias de efetividade e de reflexões sobre demandas, acessibilidade, acolhimento e construção de uma rede integrada. Esta Unidade, apesar da denominação atual de Unidade Básica de Saúde, ainda funciona nos moldes dos antigos ambulatórios, repetindo os modelos de atendimentos compartimentados. Além disso, o fluxo de usuários acaba estrangulando os serviços, pois mesmo já havendo equipe de Nasf na área, este, não possui ainda uma equipe multidisciplinar que atenda as demandas da comunidade. Por fim, Carina Furlaneto Frazatto descreve as ações desenvolvidas no período de maio de 2011 a janeiro de 2014, em um CAPS tipo I, localizado no interior do Paraná. A experiência descrita no trabalho discute de que forma as ações desenvolvidas em tal dispositivo contribuíram para o rompimento da lógica manicomial e a promoção da autonomia dos usuários, bem como ampliaram o acompanhamento dos usuários para além dos muros do CAPS, mas também, considera os limites dessas ações, apontando as dificuldades enfrentadas no cotidiano da luta “por uma sociedade sem manicômios”. O ponto comum entre os três trabalhos, como vimos, é a temática do cuidado em saúde mental, discutido a partir de experiências em serviços extra-hopitalares. Todas elas demonstram que há dificuldades em promover um cuidado de base comunitária, principalmente devido às concepções manicomiais que permeiam todas as propostas apresentadas, cada uma sob sua justificativa, por exemplo, no caso dos higienistas, os preceitos eugenistas; no caso do ambulatório infantil a patologização da infância; e no caso do CAPS, a forma de conduzir o trabalho. Entretanto, é esse mesmo cuidado de base comunitária, ainda que nomeado de tratamento em serviços abertos pelos higienistas, que foi considerado como apresentando melhores resultados para o paciente do que aqueles que eram tratados em regimes fechados e, também esse cuidado que tem propiciado a mudança na história de muitas pessoas que por ele foram beneficiadas e, que de certa forma, registramos e relatamos por meio desta mesa-redonda. Palavras-chave: Saúde Mental; Reforma Psiquiátrica; Higienistas; Serviços Extrahospitalares. 263 REFLEXÕES SOBRE UMA EXPERIÊNCIA EM UM SERVIÇO DE ATENDIMENTO PSICOLÓGICO INFANTIL NA REDE DE SAÚDE PÚBLICA. Marina Autuori Doutoranda em Psicologia Ciência e Profissão /PUC-Campinas Bolsista Capes [email protected] Este trabalho apresenta um relato de experiência sobre ações desenvolvidas em uma Unidade Básica de Saúde que ainda funciona no modelo dos antigos ambulatórios, no qual a pesquisadora trabalhou durante dois anos e meio e, onde a mesma inaugurou um serviço de atendimento psicológico infantil. Apesar de seu aparente sucesso, constata-se a fragilidade da rede de saúde mental, uma vez que o serviço não se configurou como uma ação efetiva, pois, com a saída da profissional responsável, o serviço em questão não ganhou continuidade. Dentro do funcionamento deste serviço chamou-nos a atenção a enorme quantidade de encaminhamentos de crianças para atendimento psicológico e a variedade de motivos que justificavam esses encaminhamentos, muitos dos quais, depois de melhor analisados, considerados despropositados. Esta Unidade de Saúde situavase em um município da baixada fluminense no Estado do Rio de Janeiro. Apesar da área territorial já possuir um Nasf, não havia matriciamento na saúde mental, pois as equipes do Nasf não contavam com psicólogos. Realizamos um relatório para analisar o funcionamento deste serviço e verificamos que a porta de entrada recebia em média noventa novos casos anuais de crianças para atendimento psicológico. Os encaminhamentos vinham de diversos profissionais, tanto da área da educação, como saúde ou do judiciário. Muitos encaminhamentos, após analisados, foram avaliados como equivocados no sentido de que a criança em questão, não necessitava de atendimento psicológico. O objetivo deste relato de experiência focado nos atendimentos visa então levantar uma reflexão sobre o que fazer com os encaminhamentos que não são propriamente direcionados para a oferta do serviço, ou seja, o que fazer com a demanda que aparentemente “não se encaixa” na proposta do serviço? Para tentar responder a esta pergunta é necessário também 266 conhecer esses encaminhamentos, é necessário investigar os motivos pelos quais crianças estão sendo encaminhadas para atendimento psicológico e as atuais concepções de saúde mental e patologia na infância. Para conhecermos as atuais concepções de saúde e patologia na infância iremos recorrer a Winnicott (18961971), pediatra e psicanalista britânico, que trabalhou com mães e crianças durante quase toda sua vida e desenvolveu uma importante teoria do desenvolvimento humano, focando principalmente na relação do bebe e posteriormente da criança com sua mãe. Winnicott contribui grandiosamente para a compreensão do desenvolvimento infantil e consequentemente para a clínica psicanalítica infantil. Este projeto de estudo faz parte da pesquisa de doutorado no programa de PósGraduação em Psicologia Ciência e Profissão da Pontifícia Universidade Católica de Campinas no qual a pesquisadora está, atualmente, como discente e bolsista pela CAPES. Palavras-chaves: Serviços Ambulatoriais; Saúde Mental; Reforma Psiquiátrica; Clínica infantil. 265 HIGIENISTAS E REFORMA PSIQUIÁTRICA: UM PANORAMA DOS SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL NO INÍCIO DO SÉCULO XX Marina Maria Beltrame Universidade Estadual de Maringá [email protected] Carina Furlaneto Frazatto Doutoranda em Psicologia Social/PUC-SP [email protected] Este trabalho, que integra as produções desenvolvidas pelo Grupo de Estudos e Pesquisa sobre o Higienismo e o Eugenismo no Brasil – GEPHE, tem como objetivo apresentar a visão dos higienistas sobre serviços de saúde mental no início do século XX, destacando aqueles realizados fora dos hospitais psiquiátricos. Assim, realizamos uma pesquisa bibliográfica fundamentada, sobretudo, em materiais produzidos pelo movimento higienista e eugenista no início do século XX, dentre os quais destacamos os “Archivos Brasileiros de Hygiene Mental”. A análise deste material nos permitiu constatar que os serviços abertos não eram unanimidade entre os profissionais da época. Favoravelmente, argumentava-se que tal prática traria benefícios sociais, econômicos e clínicos, pois além de evitar o estigma causado pelas internações e propiciar um melhor prognóstico ao paciente, contribuiria para minimizar alguns problemas vivenciados naquele período tais como a superlotação dos manicômios existentes e o oneroso custo relacionado à manutenção prolongada dos enfermos nestas instituições. Por outro lado, embasados na concepção eugênica de que as enfermidades mentais decorriam de fatores hereditários e que, para “melhorar” a sociedade era preciso fortalecer a raça, a vertente contrária ao tratamento em meio aberto defendia medidas com a finalidade de evitar a procriação do doente mental, dentre elas a internação ou a alta deste condicionada à esterilização. Ademais dos prós e contras, algumas intervenções em meio aberto foram desenvolvidas por iniciativa dos higienistas, dentre as quais citamos nesta pesquisa: os ambulatórios de higiene mental, a criação do “Posto de Psicopatas” em Porto Alegre, as propostas da Liga Brasileira de Higiene Mental direcionadas ao cuidado dos egressos dos manicômios e a Assistência Familiar. Estas experiências visavam ofertar um tratamento que evitasse o internamento nos hospitais psiquiátricos, contudo, não havia em tais propostas uma conotação ideológica em prol do direito à liberdade e à cidadania do doente mental ou ainda o intuito de substituir o aparato manicomial. Guardadas as devidas diferenças entre os períodos históricos, este embate nos remete à atualidade uma vez que assistimos cotidianamente à polêmica envolvendo a internação compulsória para os casos de dependência química ou ainda a discussões referentes ao controle de natalidade obrigatório voltado a este público. Entendemos que em nome de uma suposta assistência, estas propostas visam à limpeza social, ou seja, o isolamento daqueles considerados como geradores dos problemas sociais. Outro ponto a ser destacado refere-se à concepção de “rede” presente nas propostas dos higienistas. Embora não utilizassem esta nomenclatura, havia uma preocupação em implantar medidas que dependeriam de setores sociais diversos, evidenciando que há muito tempo já se apregoava que a situação das pessoas em sofrimento mental não seria resolvida por meio de práticas isoladas e independentes. Vale frisar que embora a proposta de assistência dos serviços abertos se configurasse como distinta às do manicômio, muitas intervenções mantinham as características do modelo manicomial. 266 Diante do exposto, concluímos que os desafios e as tentativas de solução no campo da saúde mental não são novos, pois os higienistas já anunciavam a proposta de tratar sem isolar. Palavras-chave: Higienistas; Higiene Mental; Reforma Psiquiátrica; Serviços de Saúde Mental 267