Nova Zelândia 9dias em
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Nova Zelândia 9dias em
Ano I - Volume I - Out/Nov/Dez - 2012 Encontros Todas as lagostas do Brasil Diário de Campo Antártica, minha primeira expedição Nova Zelândia em dias 9 Out/Nov/Dez -2012 - Ano 1 - Nº 1 Seções Do Editor 3 Mural 4 O local pra sua idéia, críticas e sugestões O Foco é seu 5 Suas aventuras, suas fotos, o seu espaço Edson Faria Jr Crônicas 6 15 A viagem solitária de 9 dias ao redor da Nova Zelândia Um jeito diferente de contar os fatos Páginas Verdes 8 Problemáticas, propostas e a realidade verde Diário de Campo 10 Os bastidores do meu trabalho Encontros 26 Antártica, minha primeira expedição 10 Ano I - Volume I - Out/Nov/Dez - 2012 Diário de Campo Ingrid Balasteros Silva Na hora certa, em qualquer lugar Encontros Todas as lagostas do Brasil Diário de Campo Antártica, minha primeira expedição Nova Zelândia em dias 9 CAPA A imponência do monte Taranaki visto do centro de visitantes. Foto: Edson Faria Jr. Explora Web Magazine é uma produção independente de periodicidade trimestral. Diretor Geral: Edson Faria Júnior. Colaboradores: Juliana de Carvalho Gaeta, Paulo Eduardo Pereira Faria, Rodrigo de Araújo, Paola Sanches. Sede: Florianópolis/SC Explore em www.facebook.com/exploramagazine. C o n t a t e e x p l o r a m a g a z i n e @ g m a i l . c o m Do Editor minhas experiências e os visuais com quem quisesse ter aquela percepção, e a certeza de que gostaria mesmo era de trabalhar com divulgação de ciências ambientais. Juntamente com a biologia e com o convívio com a natureza fui desenvolvendo aptidão e gosto pela fotografia, em terra e subaquática, as quais já me felicitaram com alguns prêmios e títulos de concursos, que me motivaram a cada vez mais desenvolver também este lado. C omecei a me aventurar pela natureza aos sete anos de idade, quando fui morar em Florianópolis, SC e costumava passar os finais de semana em Bombinhas, litoral norte do estado, que possuia os cenários ideais para quem quisesse explorar o ambiente natural. Cresci então em contato com o mar e com a natureza em geral, sempre praticando mergulho livre nos costões das praias de águas claras, fazendo trekkings pelas inúmeras trilhas dos remanescentes de mata atlântica, às vezes até mesmo sem trilhas, escalando as rochas dos costões e ajudando a puxar redes de pesca na época da tainha. O contato com aquele ambiente aguçava minha curiosidade, e sempre era a observação e questionamentos a respeito dos bichos estranhos que vinham nas redes de arrasto, dos insetos das matas, dos pepinos e outros seres estranhos do mar, ou dos encontros ocasionais com tucanos e outras aves, crescia um futuro biólogo, e acima de tudo apaixonado pelo mar. Assim foi meu caminho até entrar no curso de Ciências Biológicas, na UFSC, em 2006. Depois, fui me enveredando cada vez mais para tudo que tivesse relação com o mar, estágios, cursos, viagens, congressos e cursos de mergulho. Sempre junto com um novo cilindro de mergulho, com uma nova bota suja de lama ou com algumas fotografias vinha uma vontade de compartilhar as Me formei em 2010, nesses cinco anos de graduação algumas experiências foram realmente marcantes: 1 mês de estágio no Projeto Coral Vivo trabalhando com conservação de recifes de coral, duas expedições de 1 mês morando no Arquipélago dos Abrolhos, incontáveis mergulhos diurnos e noturnos ao longo da costa catarinense, 16 dias em Cuba com grandes mergulhos, 4 meses morando na Austrália, 10 dias morando embarcado na Grande Barreira de Corais, 9 dias morando em um carro na Nova Zelândia, além de inúmeras outras experiências não menos importantes. Nesse contexto surgiu o projeto EXPLORA Web Magazine, uma revista eletrônica com a proposta de ser uma ferramenta para compartilhar todas essas experiências incríveis, minhas e de todos os outros companheiros de ciência e aventura que sempre me regaram com as mais instigantes histórias. Edson Faria Júnior Diretor Geral Explora Web Magazine 3 Mural Esse espaço é seu, leitor. Aqui você pode nos contar suas experiências e aventuras, ou ainda fazer críticas e sugestões ou expor opiniões sobre matérias de edições anteriores, não deixe de nos escrever. Não esqueça, a Explora é uma revista completamente aberta a participação do leitor. Teve alguma experiência que acha que se enquadra na proposta da revista? Nos envie. Existem quatro seções abertas para que suas hisórias sejam publicadas: Mural, O Foco é seu, Diário de Campo e Encontros. Solicite por e-mail as informações gerais para a publicação nas diferentes seções. As publicações são trimestrais, publicadas nos meses de Janeiro, Abril, Julho e Outubro. Você têm até o primeiro dia mês anterior a publicação para nos enviar sua contribuição,quanto maior a antecedência no envio, maior a possibilidade de sua matéria estar na edição consecutiva. Para tudo isso basta nos escrever, nosso canal de comunicação estará sempre aberto, e sempre buscaremos ao máximo ter a maior agilidade e atenção em respondê-lo. Destine seu e-mail para [email protected], ainda, no título deve constar o nome da seção na qual ele é endereçado. Não deixe de nos procurar nas redes sociais (www.facebook.com/exploramagazine), e compartilhar nossas edições com seus amigos. S OLICITE NOSSOS PLANOS DE PUBLICIDADE PARA EXPLORAMAGAZINE @ GMAIL . COM Explora Web Magazine 4 O foco é seu As suas fotos para todos verem! Depois de viver aquele momento inesquecível, conesguir enquadrar, focar e fazer o registro fotográfico, você pode agora compartilhá-lo com diversos outros aventureiros. Envie sua foto para [email protected] com o assunto “O foco é seu”. Não esqueça ainda de mandar informações básicas sobre a foto, como: O que é?, Onde foi tirada?, Quando? e Quem tirou? As melhores fotos selecionadas aparecerão aqui. Ilha da Trindade, Brasil Há 1100 km do continente, a Ilha da Trindade é o pedaço de chão mais remoto do Brasil. No inverno as baleias-jubarte (Megaptera novaengliae) passam pela região a caminho de se reproduzirem no Banco dos Abrolhos. A água cristalina permite a chance única de se observar esses animais debaixo d´água. Renato Morais Florianópolis, SC Cayo Coco, Cuba Além de uma cultura incrível, salsa e charutos o país abriga uma natureza exuberante, tanto dentro como fora da água. Mariana Paz Florianópolis, SC Explora Web Magazine 5 De louco e de biólogo Crônicas por Rodrigo Costa Araújo P ouco ou muito, todos têm. E já adianto que não me sinto nada constrangido em começar com esse lugar tão comum a médicos - estou convencido da veracidade de ambas vertentes desse dito e vou provar. É impressionante como pessoas leigas, não-técnicas, são detentoras de uma ou mais verdades a respeito de como curar doenças ou sobre qual a melhor maneira de lidar com o ambiente natural à sua volta. Claro que o conhecimento acadêmico não é fundamental para remediar uma dor de cabeça ou fazer uma boa colheita de mandioca, por exemplo. Isso sem falar no conhecimento tradicional, construído longe dos bancos da academia através da experimentação, transmitido e modificado ao longo de gerações. Falo de outras proezas, que muito me intrigam e fascinam: associações, abstrações e deduções inacreditáveis, que são criadas na face oculta da mente das pessoas através de suas relações com a “natureza”. Comédias e tragédias se tornam conflitos reais, muitas vezes difíceis de serem intermediados. Tenta explicar a uma boa alma que plantar, no Brasil, “uva-do-japão” (Hovenia dulcis) para servir de alimento à fauna é errado, quando a fauna local se esbalda com os frutos e entenderás o que eu digo. Aliás, quem foi que disse que pombos “domésticos” são legais? Com certeza não era naturalista: manda a correspondência a cavalo, tchê! Problemas complexos podem ser gerados de maneira simples. Ainda mais quando não há boa vontade de aprender. Mas isso é muito sério e a loucura está, até aqui, discreta. Afinal, “separar o lixo é besteira”. Humildemente, divido com quem teve a coragem de seguir minhas linhas até aqui, as pérolas (cômicas ou não) que venho colhendo ao longo da vivência com pessoas em áreas “naturais”. A mais recente foi bombástica, pasme: há gorilas na Mata Atlântica! Segundo uma mulher muito simpática de uns 45 anos, há alguns destes enormes primatas na mata dos fundos de sua casa, em pleno Rio de Janeiro! Essa informação hoje, momento em que o “muriqui” (Brachyteles sp.) e o “mico-leãodourado” (Leontopithecus rosalia) fazem cada qual sua campanha para mascote das olimpíadas de 2014 no Rio, seria como uma bomba na esperança de ambas: sem dúvida, eliminadas por competição em favor do primo africano, muito mais famoso. Não entendo, mas confusões com primatas são recorrentes: “sim! é enorme, agressivo, tem um metro e meio de altura e anda em pé”, foi o que me respondeu uma pessoa quando perguntada se conhecia o “bugio-ruivo” (Alouatta guariba animais pacatos, cujos maiores representantes não chegam a 1m da ponta do nariz à base da cauda, rarissimamente adotam postura bípede e passam a maior parte do dia descansando). E quem detém o conhecimento, faz o que numa hora dessas? Tem a obrigação/responsabilidade de aproveitar o momento e corrigir essas maluquices com clareza e simplicidade. Ou não. Sem dúvida, a situação mais hilária vivi com um senhor de uns 50 anos que conheci em Barra do Ribeiro, Rio Grande do Sul. Depois de um dia cansativo de trabalho, em um churrasco à noite na base – um terreno com algumas casas de aluguel – conheci um biólogo diferente que ali fez morada. Estavam todos animados e com muito assunto para conversar conosco, o pessoal da capital: seu Paulo, proprietário do terreno e também protagonista de boas histórias, sua esposa, filhos e o ilustre personagem. Este último quando descobriu que éramos biólogos, abriu um sorriso enorme, seus olhos brilharam e prontamente se disse colega de profissão. Inicialmente, fiquei impressionado em encontrar ali um biólogo e ao mesmo tempo curioso sobre a trajetória desse cidadão de maneiras e vestes simples. Conversa vai e vem, contou que gostava mesmo é de estar no mato, que já havia viajado pelo Brasil, feito pesquisas na Amazônia, conhecia as, Explora Web Magazine 6 plantas, os bichos e tinha até publicações. Fiquei completamente perplexo e desconfiado. Então apelei, o indagando sobre qual universidade que ele havia frequentado: – Sou biólogo formado pela vida, não tenho diploma de faculdade. Respondeu ele, cheio de orgulho. Ainda continuava biólogo; há “leigos” que sabem mais sobre floresta do que muito acadêmico. Fui em frente: – E as publicações? – Sim, tenho duas! – Interessante. Onde estão publicados os artigos? Perguntei eu, ainda mais desconfiado. – Não são artigos, são dois livros. – E de que tratam os livros? – Meio ambiente em geral... Hein?? Dois Romances, não exatamente publicados. Textos muito bons, segundo ele, com igarapés amazônicos, plantas e animais como pano de fundo. Neste momento era difícil de conter o riso, dada a singularidade do nobre colega. – Mas então, compadre Biólogo, tens alguma especialidade? – Não sou especialista, entendo um pouco de tudo! – Que ótimo! O que, por exemplo? – Ah, sei desde anatomia até fauna e sauna. - ... Vida longa aos malucos biólogos! Rodrigo Costa Araújo é Biólogo, Mestre em Ecologia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Aceitou o desafio em coloaborar com a Explora Web Magazine, e foi o idealizador da seção Crônicas Explora Web Magazine 7 Uso Público X Conservação: rivais ou aliados? A s unidades de conservação com desenvolvimento de atividades planejadas e controladas de Uso Público – UP parecem ter melhores resultados em indicadores de proteção, mesmo, muitas vezes, contando com uma força de trabalho aquém da ideal. Por que isso acontece? Quais as consequências reais do desenvolvimento de Uso Público para a proteção e a gestão de uma unidade de conservação? Vejo que no furor emotivo da defesa genérica da “natureza intocada”, prática comum de muitos acadêmicos e gestores públicos, esquecemos de observar algumas questões interessantes. Dentro de um Parque, que tem maior “trânsito de pessoas”, sempre existe uma Reserva Biológica – Rebio ou uma Estação Ecológica - Esec: as zonas intangíveis do zoneamento da UC. E, uma vez o zoneamento sendo bem feito, as áreas sensíveis ou importantes para espécies vulneráveis, são conservadas de forma “intocada”, isenta da presença ou atividade humana. Parques Nacionais possuem pequenas porções de sua área como zona de uso intensivo (Chapada dos Guimarães, por exemplo, possui 2,82% de área em zona de uso intensivo), onde estruturas pesadas podem ser instaladas, e, no restante de suas áreas, as atividades permitidas são bastante limitadas e de baixo impacto. Via de regra, vemos Parques Nacionais com mais de 80% de suas áreas como zonas intangíveis ou primitivas, como nos casos da Serra dos Órgãos e Chapada dos Guimarães, onde as atividades permitidas são seriamente limitadas, contribuindo para o cumprimento dos objetivos da unidade de conservação. Atividades de uso Público também ajudam a fomentar o número de pesquisas realizadas nas UCs, e a relação é mais direta do que se pensa: entre as 10 unidades mais pesquisadas no Brasil nos primeiros meses de 2012, segundo relatório de divulgação do SISBio, temos 8 Parques Nacionais (Chapada Diamantina, Serra da Bocaina, Serra da Canastra, Serra do Cipó, Serra dos Órgãos, Brasília, Caparaó e Itatiaia) e apenas duas Reservas Biológicas – Augusto Ruschi e Sooretama. Páginas Verdes por Paulo Eduardo P. Faria Estranho, não? Isso ocorre não só pela proximidade de centros urbanos, mas também pelo desenvolvimento de atividades de ecoturismo que, normalmente, vem relacionado com melhoria nas condições de acesso e estruturação de suporte e fomento à pesquisa, atraindo mais pesquisadores. As pessoas que transitam na Unidade de forma controlada ocasionam em uma maior pressão de fiscalização simplesmente por atividades legalizadas estarem sendo realizadas ali, e os ilícitos diminuem – no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, por exemplo, a partir do controle de acesso de pessoas e de atividades na área conhecida como Rio Claro I, o número de infrações caiu nos últimos 3 anos – e o mesmo se observa em outras áreas. A arrecadação promovida com desenvolvimento de atividades de Uso Público (bilheteria, permissões, autorizações e concessões de serviços), também, acabam colocando a UC em evidência dentro da gestão orçamentária do órgão gestor – sabemos que o bolo é pequeno para tantas bocas, certo? E as unidades com potencial de atividades de UP e negócios adicionalmente ainda geram recursos para a gestão das outras unidades. Geração de riqueza e renda para comunidades próximas às UC e desenvolvimento de percepção de utilidade e pertencimento nos usuários de Parques são outras consequências do desenvolvimento de turismo controlado nas unidades de conservação, que acabam por gerar apoio e pressão social positiva nos esforços públicos de conservação. Ao entrar, ainda, na seara da multiplicação dos resultados de desenvolvimento de consciência ambiental e conservação de recursos naturais e biodiversidade, uma unidade que recebe visitantes e consegue oferecer uma boa qualidade de experiência extrapola seus resultados de sensibilização para além dos limites da UC, de forma mais ampla e abrangente do que as unidades onde não há visitação. Naturalmente, há impactos negativos relacionados à visitação. Sempre há. Mas os impactos são gerenciáveis e manejáveis na maior parte das vezes e se limitam a poucas áreas da UC, ou às áreas menos sensíveis e mais resilientes, que Explora Web Magazine 8 Diversas Unidades de Conservação Brasileiras possuem conflitos de uso, como é o caso do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, no sul da Bahia suportam pressões maiores. Lembremos: Parques são unidades de conservação de proteção integral, e possuem como principais objetivos “preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica” e, assim, “possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico” (Sistema Nacional de Unidades de Conservação – Lei 9985/00). Enfim, que passemos a perceber o ecoturismo não como um vilão devastador de mares e florestas, mas como uma arma importante para trazer pessoas para o “nosso lado” e para fortalecer o trabalho a favor conservação da biodiversidade brasileira. Paulo Faria é biólogo, graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina, e atua como Analista Ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Foto acima de: Edson Faria Jr. Explora Web Magazine 9 Antártica: O sonho realizado Diário de Campo por Paola Franzan Sanches Para o Biólogo de campo, grandes expedições científicas representam muitas vezes grandes conquistam pessoais. Ter a possibilidade de pisar em locais tão remotos como a Antártica realça os grandes desafios e motivações da profissão E screver sobre a Antártica e de como foi minha experiência profissional (e também pessoal) nesse continente tão diferente, é retomar parte da minha história. Meu sonho de bióloga começou com a minha paixão pelas orcas e assim que descobri que elas habitavam águas antárticas, decidi, ainda menina, que eu trabalharia naquele lugar. Com o passar do tempo no curso de Biologia, pela Universidade Federal de Santa Catarina, comecei a trabalhar com macroalgas. Meu orientador, o professor doutor Paulo Horta, tinha contato com outro professor da USP, o professor doutor Pio Colepicolo. Trabalhamos juntos na minha monografia e uns meses depois, ele me disse que tinha aprovado um projeto para coletar na Antártica e me perguntou se eu gostaria de ir. Isso foi em Abril de 2011. Em Julho fiz o treinamento pré- antártico (TPA) em uma base da Marinha do Brasil (que é quem leva os pesquisadores para a Estação Antártica Brasileira, em cooperação com a Força Aérea). E apenas em Outubro recebi a confirmação da viagem. No final de Novembro embarcamos ao destino que muitos já haviam estado (alguns mais de uma vez) e que outros apenas sonhavam. Mas, para alcançarmos o lugar que habitava nossas imaginações, temos que passar por Punta Arenas, cidade da Patagônia Chilena. Lá, tomamos contato com um friozinho e nos preparamos para o que vem adiante. Apesar de ser verão, o vento gelado causa certo incômodo para quem está sem a jaqueta corta vento. O voo é feito pelo avião Hércules, projetado para transportar todo tipo de carga e também passageiros. De Punta Arenas voamos até a Estação Chilena Presidente Eduardo Frei, onde nos aguarda o navio polar brasileiro Comandante Maximiano, que nos levará da Estação Chilena até a Estação Antártica Brasileira Comandante Ferraz (EACF). Ao descermos do avião em Frei, pisamos no gelo e sentimos pela primeira vez o vento antártico nos nossos rostos. Impossível não nos emocionarmos. Esse é o começo de uma frequência interminável de emoções, que acredito não terminar jamais, nem mesmo quando saímos desse lugar lindo. O mar congelado a nossa frente e alguns pinguins que andam livremente, são uma prévia do que enfrentaremos nas saídas de campo e a ansiedade toma conta de todos mais uma vez. Após um breve percurso de bote, é chegada a hora de subirmos no navio. A viagem da Frei à EACF, dura cerca de 3 horas, e o trajeto nos mostra belíssimas paisagens, em meio a montanhas cobertas de neve, ilhas e blocos de gelo no mar. Ao E x p l o r a W e b M a g a z i n e 10 chegarmos à praia onde fica estação, o Grupo de Base da Marinha nos recebe e logo podemos pisar em terra firme novamente. Sob nossos pés, rochas congeladas e gelo, novidade para alguns de nós, mas apenas um reencontro para tantos outros pesquisadores que já desempenham atividades nesse lugar. Após uma caminhada que parece a mais difícil até então, entramos pela porta da frente da estação e logo somos apresentados às acomodações e ao resto da equipe dos militares e arsenal de marinha que nos ajudará a cumprir com nossos projetos, seja guiando os botes nas saídas de coleta, seja consertando equipamentos, ou garantindo a qualidade e funcionamento da estação como um todo. Pelos próximos 35 dias, dividiremos a casa, o local de trabalho, a academia, a lavanderia. Nos próximos dias, dividiremos as intempéries que assolam esse local, dividiremos as mudanças da paisagem a nossa frente e saudades de casa. Já no primeiro dia temos uma reunião com todos os 22 pesquisadores, o chefe e o subchefe da estação, sobre as normas da estação, as regras para a saída de campo, as prioridades de trabalho e as atividades na estação. De quando em quando cada um ajudaria nos serviços da cozinha e uma vez por semana teríamos o “faxinão” da estação. Cada dormitório é ocupado por dois homens ou duas mulheres e os banheiros são divididos em dois Fotos acima de: Paola Franzan Sanches femininos e um masculino. No total éramos 60 pessoas vivendo ali. Instalados e com o cronograma de saídas definidos, esperávamos o dia seguinte chegar para a primeira ida ao campo. Após uma noite de sono nada tranquilo, devido à excitação provocada pelo ambiente novo, a saída é confirmada no café da manhã. O mar ainda está com muitos blocos grandes de gelo, mas sem ondas e não está ventando, o que já é suficiente para No topo o avião Hércules, da Força Aérea Brasileira, parte de Punta Arenas com destino a estação chilena. Abaixo à direita, a primeira paisagem ao pisar em solo antártico E x p l o r a W e b M a g a z i n e 11 sairmos de bote para fazermos a primeira coleta. Na mochila de campo em territórios tropicais geralmente levamos água, algo para comer, em caso da saída se prolongar e o material para coleta: sacos plásticos, quadrados, máquina fotográfica, espátula, canetas, papel e GPS. Na Antártica, além disso, temos que usar obrigatoriamente óculos escuros (por conta dos ferimentos que a quantidade de luz pode causar nos olhos), filtro solar (devido ao ar muito seco e da maior incidência de raios ultravioletas) e ainda levamos uma touca extra, um par de luvas e meias extra, uma blusa extra, em caso de nos molharmos no bote e precisarmos trocar de roupas. Caso isso aconteça, a primeira providência é tirar todas as roupas molhadas, nos secarmos, e colocarmos roupas secas, evitando assim uma hipotermia. Para podermos sair de bote ou de Skua (uma lancha polar), temos que usar um traje especial que a Marinha fornece: o “Mustang”. Ele é flutuável, e caso caiamos na água, não afundamos até subirmos no bote novamente. Assim, para sairmos para coletar algas, usávamos: segundas peles (blusa e calça), moletom e blusa de frio, jardineira corta-vento, jaqueta corta vento, duas meias e a bota caribu com forro de pele de carneiro (também fornecidos pela Marinha). Para coleta de macroalgas em costão rochoso, geralmente utilizamos roupa de banho e coberturas leves. Lá, andamos pelo costão com todas essas vestimentas e mais o peso da mochila e dos sacos de material coletado. Além do desgaste físico causado pelo clima frio, ainda acrescenta-se o peso que carregamos. Chegamos a pesar mais de 4 kg com todas essas roupas e botas. O percurso até as ilhas pontos de coletas são uma aventura a parte, com direito a focas, pinguins e icebergs no caminho. Em caso de acidente, uma pessoa aguenta cerca de 15 minutos nas águas geladas do polo, antes de morrer de hipotermia. A temperatura da água varia de -2 °C a +2°C e se o bote vira, as chances de sobrevivência diminuem muito, pois devemos desvira-lo, para podermos sair da água. No treinamento, funciona bem, porém os botes são grandes, pesados e possuem motores. Torcemos sempre para que não precisemos desvirar um bote, e nem que precisemos subir em um, da água. Lembro bem de uma das saídas que fizemos e o mar estava arredio com muitas ondas. Era a segunda vez que iríamos a Punta Hennikin, uma ilha que possui ninhos de skuas (ave típica da Antártica). Altas ondas batiam contra o bote e todos nos molhamos muito. Pensamos que o bote pudesse virar a qualquer momento. Quando chegamos à ilha, tivemos que tirar as roupas e nos esquentar no Refúgio Equatoriano. Nas primeiras coletas não conseguimos muitas algas. Acreditamos ser porque o mar demorou a descongelar e as algas, assim, demoraram a se desenvolver. À medida que foi avançando o mês de dezembro, cada vez obtínhamos maiores quantidades de alga. O trabalho em campo consistia em coletar todas as algas diferentes que encontrássemos e em laboratório, separávamos uma parte para análises bioquímicas, que seriam congeladas para serem analisadas no Brasil, parte para identificação taxonômica (que fazíamos ali mesmo), parte para a análise da biologia molecular e parte para a herborização. Havia dias de coletas e dias de trabalhos no laboratório. Minha colega Ingrid e eu, passávamos horas na lupa e no microscópio analisando as estruturas das algas, comparando com as chaves de identificação, para que pudéssemos determinar qual espécie tínhamos em mãos. Foi um trabalho cansativo, porém lindo. Conseguimos identificar grande parte do material coletado. A cada saída, uma paisagem nova. Conhecemos diversas praias e nos deparamos com diversos animais. Um dia, na praia de Machu Picchu, onde fica a estação Peruana, eu estava olhando para baixo procurando algas e me deparei a menos de um metro de uma foca caranguejeira deitada no meio do caminho. Essas surpresas aconteciam o tempo todo. Em outra saída, a Botany, enquanto uma das meninas do nosso projeto estava dentro d'água, coletando algas que estavam intangíveis sem a roupa especial impermeável que ela usava, o rádio tocou e ouvimos a mensagem do grupo que trabalhava com pinguins, 200 metros à frente: “Aline, acabamos de ver uma foca leopardo se alimentando e ela está indo em sua direção”. Como se sabe, a foca leopardo é o predador mais voraz das águas antárticas. Assim como uma nova paisagem, cada saída da estação reserva uma aventura, uma incerteza. A água é fria, e congela os dedos durante o procedimento de coleta. Aguentamos durante alguns minutos, mas logo sentimos a dor do congelamento. Quando para de doer, é hora de se preocupar. Assim, temos que tirar as luvas molhadas, secar e esquentar as mãos, para só depois E x p l o r a W e b M a g a z i n e 12 Ingrid Balasteros Silva “Além do desgaste físico causado pelo clima frio, ainda acrescenta-se o peso que carregamos. Chegamos a pesar mais de 4 kg com todas essas roupas e botas.” Acima Paola veste o Mustang, traje especial antártico fornecido pela Marinha Brasileira. Abaixo à esquerda, a Skua, ave típica do continente antártico; À direita um refúgio equatoriano. E x p l o r a W e b M a g a z i n e 13 recomeçar a coletar. Esse processo de aquecer o membro congelado é tão doloroso quanto à primeira parte. Senti essas dores pessoalmente, quando em uma saída a Arctowski (praia onde se localiza a Estação Polonesa) as ondas estavam enormes. No bote eu estava de frente para elas e quando passávamos, éramos acertados em cheio e ficávamos encharcados. Por conta disso, eu entrei no primeiro estágio de hipotermia. Sentia correntes elétricas percorrendo o meu corpo e meus pés congelaram. Não fosse a Estação Polonesa e seus membros, eu poderia ter passado mais mal do eu realmente passei. Fui levada a um quarto quente e meus membros inferiores foram descongelando vagarosamente. A única consequência que tive foi um dedo do pé que teve a ponta necrosada. Mas, independente dos sufocos e dos apertos, com certeza, os campos na Antártica foram os mais impressionantes que já tive, e quiçá, terei durante minha trajetória. As algas são em sua maioria gigantes e totalmente singulares em comparação com as que temos no Brasil. Às vezes, encontramos indivíduos de mais de 10 metros e os sacos de coleta chegam a pesar 30 kg. Além dessas peculiaridades ambientais, a Antártica emana uma energia única, que nos mostra que somos parte da natureza, não como observadores, mas como membros da Teia da Vida que compõe todas as relações entre os seres vivos entre si e entre o meio que habitam. E todo aquele que pisa nesse chão, que respira esse ar, sente esses ventos, sabe que retorna mudado. Volta entendendo as reais necessidades vitais (comida, água e um lugar aquecido e nada mais). Acredito que jamais me referirei à Antártica no pretérito, mas sempre no presente, pois essas sensações, jamais abandonam nossas mentes e nossos corações. “As algas são em sua maioria gigantes e totalmente singulares em comparação com as que temos no Brasil” Paola Franzan Sanches é bióloga, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ecologia na mesma universidade E x p l o r a W e b M a g a z i n e 14 Nova Zelândia em nove dias Uma viagem solitária ao redor da Ilha Norte texto e fotos por Edson Faria Jr E m somente nove dias viajando por um país, só é possível conhecê-lo bem caso este seja do tamanho de Mônaco, o que não é o caso da Nova Zelândia. O país não é realmente grande, mas com seus 268.680Km² divididos basicamente em dois territórios, a Ilha Norte e a Ilha Sul, nove dias não seriam suficientes para conhecer todo o território. A primeira escolha foi escolher um destino compatível com o tempo: Ilha Norte. O objetivo da viagem era regar o corpo com adrenalina, aventuras e visuais incríveis. Com o orçamento relativamente curto, pouco tempo e muitos lugares e atividades para fazer optei por alugar um carro, um carro chinês comum, um Daihatsu Sirion, compacto, realmente compacto, câmbio manual, e todo ao contrário, pois lembrando os desavisados, na Nova Zelândia o trânsito funciona em mão inglesa. Durante esses 9 dias, aquele carrinho azul não seria simplesmente meu meio de transporte, mas também minha casa, e não era uma “campervan” não, era simplesmente um carrinho, mas meu lar durante a viagem. A viagem foi bem planejada, mas o roteiro não era fechado, era extremamente flexível, com várias lacunas a serem preenchidas durante a própria viagem, poucas coisas eu já havia reservado antes de pisar em solo maori, somente meu carrocasa e dois mergulhos autônomos. De maneira geral eu queria buscar o máximo que aquele país formidável pudesse me oferecer, desde os visuais clássicos de montanhas nevadas próximas a praias, florestas, cachoeiras, esportes de aventura, cultura, e tudo mais que estivesse por vir. Cheguei no inverno, o avião aterrissou no aeroporto internacional de Auckland, e depois de perguntas como “Tem certeza que vai ficar só 9 dias no meu país?” ou “O que o senhor veio fazer na NZ?” deixei a aduana para trás e já me considerava em solo kiwi, ou maori. Para os neozelandeses, kiwi além de ser a fruta e o animal, é o povo branco de origem inglesa, maori é o povo local, originário dos povos polinésios, que já habitavam as ilhas antes da colonização. Uma das coisas que chamam a atenção, é que muitas placas estão escritas com o nome dos lugares em inglês e o respectivo nome em maori. Uma dica, não tente “inglesar” as palavras maoris, quando você ler Whakapapa, não tente dizer “Uakapapa” e sim “Fakapapa”. Logo que desci em Auckland já tinha meu transporte esperando, e comecei minha viagem efetivamente. No começo é um pouco estranho dirigir em mão inglesa, trocar a marcha com a mão esquerda, mas logo acostumamos. Auckland é uma cidade bem sinalizada, não é muito difícil dirigir por lá, com um mapa rodoviário comprado numa banquinha de revistas pude encontrar facilmente a casa de um amigo brasileiro, onde passei minha primeira noite. Deixei o que podia de bagagem em Auckland e então parti para minha jornada, somente 9 dias mais tarde eu voltaria a ver a Sky Tower. Por volta das 5 da manhã segui para o meu primeiro destino, Tutukaka há cerca de 186Km ao Norte, de onde parti para Poor Knights Island Marine Reserve, com o objetivo de fazer dois mergulhos autônomos. Poor Knights possui condições de mergulho incríveis, com uma água extremamente clara, próximo dos 40m de visibilidade, mas bem fria, água de menos de 13°C. Para os mergulhos usei uma roupa de 7mm duas partes, mas observando os mergulhadores de roupa seca no meu entorno, cheguei a conclusão de que é a melhor escolha para as águas do inverno local. A paisagem fora d'água também é surreal, um monte de rochedos, cavernas e túneis por onde é possível inclusive passar de barco. Fiz dois mergulhos em dois pontos diferentes, no primeiro chamado Southern Arch além da exuberante floresta de kelps cobrindo o fundo rochoso, pude ver raias, lagostas gigantes e tive um encontro com um tubarão “Bronze whaler” (Carcharhinus brachyurus). O segundo ponto de mergulho, Blue Maomao Arch, era um lugar que estava no meu inconsciente juvenil, considerado por Jean Jacques Yves-Cousteau um dos 10 melhores pontos de mergulho do mundo, um túnel subaquático que atravessa a ponta de uma das ilhas, com uma abundância incrível de peixes. Se ficar parado por alguns instantes neste local, você tem a sensação de estar mergulhando em peixes, e não em água, é indescritível. Difícil foi querer terminar o mergulho, mesmo com o frio, aquele lugar é mágico, mas era hora de voltar para o continente e seguir viagem. Saindo de Tutukaka, já final da tarde comecei minha jornada costeando a costa nordeste da ilha, meu roteiro era descer a costa em direção ao sul, cruzar as montanhas em direção ao outro lado da ilha, subir pela costa oeste e voltar a Auckland. Minha primeira parada foi em Orewa, parei a noite para comprar mantimentos, kiwi, água, biscoitos, suco de frutas, pães, enlatados, o que iria me E x p l o r a W e b M a g a z i n e 16 “Foram nove dias de viagem sozinho em um carro, as vezes era difícil encarar a solidão, mas facilitava na hora de decidir os destinos” Tutukaka Orewa Auckland Coromandel Tauranga Te Kuiti Rotorua Taupo New Plymouth Mt. Ruapehu Opunake Chegada/Partida Atividades Pernoite sustentar pelos próximos dias. Foi neste mesmo lugar que tive minha primeira noite de sono no carro, daqui pra frente isso seria frequente. Embora proibido dormir nos perímetros urbanos, procurava um local sombreado e pacato, deitava todo o banco do carona e estava pronta minha cama. Os primeiros raios de sol começariam a ser meu despertador, hora de me preparar para pegar estrada outra vez. Cruzei Auckland direto, deixaria para visitar a grande cidade no meu ultimo dia no país. Seguindo para o sul, pela costa leste, procurava parar nos postos de combustíveis e postos de informações turísticas para pegar os mapas gratuitos e panfletos informativos, acredite, foi assim que descobri os melhores lugares que eu não poderia deixar de conhecer. O próximo destino foi a Península de Coromandel, entrei pelo lado norte da península, e tinha como destino a Cathedral Cove. Para chegar lá através da estrada que eu havia escolhido eu teria que contornar toda a península, como queria chegar cedo, para aproveitar o dia, encontrei no mapa uma estradinha que atravessava a península pelo meio, novo caminho traçado. Nos primeiros 100m percebi que não se tratava de uma rua bem acessível, mas resolvi arriscar. Logo o asfalto deu lugar a chão batido, a rua começou a ficar cada vez mais estreita, mais íngreme, os precipícios mais pertos da rua, a floresta mais fechada, era uma verdadeira floresta de samambaias gigantes, continuei. A travessia foi quase um rali, e próximo ao final desta rua começaram a aparecer diversos rios e pequenas cachoeiras, lindos para fazer uma parada para tomar um banho. E x p l o r a W e b M a g a z i n e 17 Poor Knights possui uma beleza ímpar dentro e fora da água, o ponto abaixo conhecido como Blue Maomao Arch, é considerado um dos 10 melhores pontos de mergulho do mundo Chegando a Cathedral Cove comecei o meu contato com as mais lindas paisagens emersas, e com as excelentes infraestruturas dos parques nacionais, algo muito diferente da realidade brasileira. Estacionamento pavimentado, mirante construído com material integrado a paisagem, banheiros, painéis informativos sobre o local, a fauna e a flora, trilhas bem dimensionadas, escolhi a trilha mais longa e fui em direção a praia. Cathedral Cove é realmente linda, cercada por vegetação e paredões de arenito desenhados pelo vento, além de uma imensa caverna, visual que escolhi para meu pic-nic de almoço com a companhia das gaivotas. Na volta da trilha fui parando nas outras pequenas praias do caminho, em uma delas havia uma trilha subaquática de mergulho livre, muito bem sinalizada e com lindas placas informativas fixadas no costão, pausa para um banho de mar na água fria. Seguindo viagem, fui parando nas praias ao sul de Cathedral Cove, e curti um final de tarde na Hot Water Beach com direito a banho de aguas termais. Nesta praia, emerge do solo águas vulcânicas extremamente quentes, dai o nome da praia, onde os turistas fazem piscininhas na areia, misturando a água fervente, com a água fria da praia para tomar banhos nessas águas termais. A sensação de estar no frio do inverno, tomando banho em águas quentes na praia, é extremamente energizante. Baterias recarregadas, hora de seguir viagem, segui até Tauranga para mais uma noite dormindo no carro. Como já era de praxe, acordei bem cedo, tomei um café no McDonalds, li meus e-mails, estudei os mapas rodoviários, e segui com destino a Rotorua. Chegar em Rotorua foi um verdadeiro contraste, aos sair do litoral e começar a subir a serra A esquerda o começo da travessia da península de Coromandel, à direita a belíssima Cathedral Cove. comecei a ver paisagens que eu ainda não estava habituado. Com estradas muito boas, cercada por montanhas, a viagem para o alto da serra foi tranquila, agora eu estava em contato com a NZ das plantações de kiwis, e não mais das lindas praias. Este era um local que eu estava ansioso pra chegar, apesar da aparência de cidadezinha pacata, em volta de um lindo lago, e com fortes características europeias, o local respira adrenalina, é um daqueles lugares que nos remete ao porque da NZ ser considerada um paraíso dos esportes radicais. Era hora de começar a sentir a adrenalina circular, e Rotorua tem uma grande variedade de escolhas. Uma visita ao centro de informações turísticas local é o suficiente para conhecer as possibilidades, ainda sempre encontramos guias turísticos com uma infinidade de cupons de desconto para atrações locais. Com os cupons de desconto nas mãos comecei meu circuito de aventura, e primeiro que escolhi foi o famoso Zorby. A atividade é basicamente o sentimento de um hamster, resumidamente, uma bola gigante transparente onde você entra dentro e é jogado de um barranco, sai literalmente rolando. O local tem uma infraestrutura bem legal, com banheiros, vestiário, e três pistas diferentes de lançamento. É possível escolher entre duas modalidades, na mais clássica você vai sentado e amarrado dentro da bola, na segunda você vai solto e é colocado água dentro para você escorregar melhor dentro do Zorby, escolhi um pacote de três descidas, era mais em conta e eu poderia experimentar as duas modalidades, e ainda repetir a que eu mais gostasse. Ambas foram muito divertidas, mas a versão com água, o wet zorby, foi sem dúvida mais, logico que na minha reprise da versão wet tentei ficar em pé e correr na medida em que a bola rolava E x p l o r a W e b M a g a z i n e 19 morro abaixo, resultado, uma bela escorregada, pernas pra um lado, pescoço pro outro, e algumas dores que me acompanhariam no dia seguinte, mas sem dúvidas repetiria a brincadeira. Meu segundo destino do dia foi o Agroventures, um complexo que abriga algumas opções diferentes de atividades radicais, optei por duas, meu primeiro bungy na NZ e o túnel de vento, um simulador de paraquedismo. Parecia sem duvida um ventilador gigante, coloquei minha roupinha de paraquedismo, recebi as instruções, treinei em um banquinho, e fui pra turbina junto com dois instrutores. Aquilo que parecia fácil era muito difícil, e logo entendi a função dos dois instrutores, deitei na grade em cima da turbina, e assim que foi ligada começaram 5 minutos muito divertidos. A maior dificuldade era se manter em cima do túnel de vento, bem como entender os comandos manuais dos instrutores, mas a sensação de sentir seu corpo decolando do chão, e mantendo certa altura é sem duvida inesquecível, sai de lá querendo um brinquedinho daquele no meu quintal. Logo na sequência fui fazer meu salto no Bungy Jump, instrutores super divertidos, o salto foi do jeito clássico, de frente, em cima de um riachinho, sem dúvida uma das descargas de No topo, entardecer em Hot Water Beach, abaixo o Zorby. E x p l o r a W e b M a g a z i n e 20 Uma das cachoeiras do Waikato River adrenalina mais abruptas, e uma sensação incrivelmente gostosa. Depois do dia de Adrenalina ainda fui conhecer o Rainbow Springs, uma espécie de minizoológico, com muitas das aves da Nova Zelândia, e uma maternidade de Kiwis, a ave símbolo do país, aproveitei e fiquei até a noite, horário em que é possível ver essas aves em atividade. Voltei para o centrinho de Rotorua e desta vez optei por dormir num hostel, com direito a gerente brasileira, pizza no jantar, chuveiro quente, e um bom papo em português, o que na Nova Zelândia não é difícil, pois os brasileiros estão por todos os lados. Saindo de Rotorua o próximo destino foi Taupo, cidade em cima das montanhas, cercada por picos nevados, e que abriga o maior lago da Nova Zelândia, que possui o mesmo nome da cidade. O caminho entre Taupo e Rotorua é cercado por hotéis com águas termais, lindas paisagens, cachoeiras de rios glaciais, como as do Rio Waikato, o rio mais longo da Nova Zelândia, de uma água indescritivelmente azul. A quantidade de águas termais na região é tão grande, que tive a oportunidade de conhecer uma usina geotérmica, usina que gera eletricidade através do afloramento de águas vulcânicas. Em um dos paredões formados pelo rio Waikato, já na cidade de Taupo, está localizado o Taupo Bungy, o Bungy Jump com toque na água mais alto da Nova Zelândia, com 47m de altura, encravado num visual paradisíaco. Lá você pode escolher um cardápio de estilos de saltos, mais uma vez escolhi o salto frontal clássico, mas na hora que me perguntaram se eu queria tocar na água minha resposta foi instantânea: “o máximo que eu puder”. Após pesagem, fui pra plataforma me preparar, elásticos presos nos pés, sem camisa pra não molhar, me aproximo da beirada com direito a torcida, e “one, two, three, bungeeee!!!” saltei e entrei na água com tudo, só os pés ficaram para fora. Foi sem dúvida o melhor salto de bungy da minha vida, mas sai congelado feito um picolé, pois além de ser inverno e o rio ser glacial, estava ventando muito. Aproveitei o resto do dia para passear pela cidade, conhecer o famoso lago, algumas paisagens lindas, e estudar os próximos destinos no posto local de informações. Nesta noite optei por dormir em um camping que tinha os tão famosos banhos termais. O dia seguinte foi de ainda mais adrenalina, fui para o Monte Ruapehu fazer snowboard, com direito a cenários do filme Senhor dos Anéis. Dirigi até onde começou a ter neve demais na pista, e meu carro sem correntes nos pneus conseguia ir. Deixei o carro na Whakapapa Village e peguei um ônibus para subir até a estação de esqui, era um dos E x p l o r a W e b M a g a z i n e 21 Happy Valley, na estação de esqui do Monte Ruapehu, abaixo o salto no Taupo Bungy melhores dias de neve naquele inverno. Na estação de esqui existem diferentes modalidades de ingresso, passes para a montanha inteira para pessoas experientes no esporte, passes para a pista iniciante com aulas introdutórias, mas não tinha a opção de passe para a montanha inteira com aula introdutória, então peguei o passe sem aula mesmo. Equipei-me e fui para o “Happy Valley” arriscar minhas primeiras descidas e tomar as primeiras quedas. Após algumas delas, achei que estava preparado para sair da pista dominada por crianças e encarar um nível B. Foi só subir no teleférico que começou uma nevasca, e parecia que eu nunca chegaria ao começo da pista, uma forte neblina tomou conta da montanha, e de vez em quando passava um esquiador em alta velocidade sob o teleférico, desviando de alguns dos vários desfiladeiros, já comecei a me questionar o que eu estava fazendo naquele lugar com quase nada de experiência. Chegando ao final do teleférico o jeito foi encarar a descida, nessa sim, cai muitas vezes, a visibilidade estava ruim, os desfiladeiros eram muitos e a adrenalina estava a todo nível, mas consegui chegar vivo no final da pista, apesar de estar com as mãos quase congeladas. Voltei para o “Happy Valley” para treinar mais um pouco, até que me senti preparado novamente, e dessa vez E x p l o r a W e b M a g a z i n e 22 Fim de tarde no Cape Egmont Lighthouse com sol e sem nevasca, arrisquei mais duas descidas na montanha alta, agora com maior domínio sobre o snowboard a brincadeira foi realmente desafiadora e divertida. Já se aproximava das 16h, hora de fechamento da estação de esqui e de seguir viagem, peguei o ônibus para descer a montanha e encontrar meu carro coberto por neve, coloquei o pé na estrada deixando aquele visual das montanhas nevadas para trás. Agora era momento de descer a serra, e voltar para o litoral, só que desta vez para a costa oeste do país. No mesmo dia, passei por Opunake, já no litoral, e cheguei a Pungarehu no final da tarde. Minha parada ali era para pernoitar, mas deu tempo de assistir a um belíssimo pôr do sol no Cape Egmont Lighthouse, um farol que compõe um visual fascinante. Em dias de céu aberto é possível ver o Monte Taranaki, ou Egmont, por trás do farol, uma montanha com pico nevado muito próxima a praia, um daqueles lugares inacreditáveis que só existem na Nova Zelândia. Já pensou surfar e fazer snowboard no mesmo dia? A poucos minutos de distância? Lá é possível. Mas infelizmente o céu estava bem encoberto. Depois de umas voltas na praia, um sanduiche e alguns kiwis de jantar, encontrei um terreninho bem sossegado próximo a rodovia em Pungarehu, local perfeito para parar e encarar mais uma noite de sono no carro. O descanso foi bom, as energias estavam quase zeradas, e o próximo dia seria puxado. Assim que o sol nasceu segui em direção a New Plymouth, o céu ainda estava cheio de nuvens e neblina, logo eu ainda não conseguia ver o Monte Taranaki. Cheguei a cidade ainda no começo da manhã, lugarzinho muito simpático, um lindo sol apareceu no céu junto com o desaparecimento das nuvens, e pude ver por entre os prédios e casas o imponente Egmont ao fundo. Nesse momento eu estava na orla marítima da cidade, foi emocionante ver as nuvens abrindo caminho para aquele visual branco da neve. Localizei o centro de informações turísticas para descobrir as atividades e conhecer os mapas locais, e sem a menor dúvida do que eu iria fazer, me dirigi ao centro de visitantes do Parque Nacional Egmont, nos pés da montanha. A estrutura local era incrível, existiam muitas trilhas para eu escolher, todas bem sinalizadas, com mapas gratuitos bem desenhados, de curta duração, média, e até de vários dias, como a trilha ao pico. Algumas delas tinham recomendações de equipamentos especiais, experiência na neve, ou acompanhamento de um alpinista experiente. Eu, sozinho, dotado de um bom casaco e calça para neve, com tênis completamente inadequado, mas com o espírito E x p l o r a W e b M a g a z i n e 23 aventureiro aflorado, optei por duas trilhas moderadas, uma em direção ao cume, mas eu não chegaria até lá, e outra de retorno por dentro do vale. A trilha de ida foi uma verdadeira transição entre três paisagens, no começo uma borda de floresta úmida com alguns pinheiros, passando para um ambiente de vegetação mais rasteira com algum indício de neve, e por fim uma paisagem somente branca, com neve por todos os lados. Quando cheguei nesse estágio, passavam por mim grupos de alpinistas muito bem equipados, com botas dotadas de crampons, e eu com um simples tênis qualquer. Ali fiz meu primeiro boneco de neve, e pude ver o cenário mudar muito em questões de segundos, hora com uma linda visão de tudo ao redor, e outras horas que não era possível ver mais de um palmo na frente do nariz devido à neblina. Subi a montanha até a Tahurangi Translator Tower, no momento que achei que tinha tempo suficiente para voltar antes do parque fechar, voltei um pedaço pela mesma trilha e então entrei na outra trilha que descia o vale. Esta entrava numa floresta extremamente úmida, que só faltavam ter “goblins” e árvores falantes, caminho diferente e um pouco mais longo para me levar de volta ao centro de visitantes. Dia cheio, completo e muito cansativo, mas maravilhoso, com aqueles lugares que te fazem pensar na quantidade de locais com mesmo potencial que temos em nosso Brasil, mas com estruturas e investimento que passam muito longe do que vivenciei. O Monte Taranaki, a estrutura de suas trilhas e o centro de visitantes ficarão pra sempre na memória. Agora era o momento de seguir de volta em direção ao norte, nessa estrada lembro bastante das ruas estreitas próximas a grandes desfiladeiros, e de E x p l o r a W e b M a g a z i n e 24 um túnel encravado nas montanhas, minúsculo, de mão única, onde tinha que esperar os outros veículos passarem para poder atravessá-lo. Cheguei à cidadezinha de Te Kuiti onde aproveitei para acessar a internet e fazer contato com o mundo, jantei em um McDonalds e passei minha ultima noite no carro e na estrada. No outro dia de manhã segui direto de volta para Auckland, um sentimento de saudades de toda aquela aventura e daquelas lindas paisagens já começava a tomar conta de mim. No meu ultimo dia inteiro de viagem aproveitei para conhecer alguns destinos de Auckland, na minha manhã me ocupei conhecendo o Kelly Tarlton's, um oceanário subterrâneo que possui o primeiro túnel de acrílico dentro de um aquário construído no mundo. Lá é possível ver várias espécies de tubarões, raias, peixes, inclusive amazônicos, brincar com jogos educativos e fazer um mini tur a bordo de um snowcat dentro de um recinto de pinguins, quase uma viagem no tempo do começo da exploração antártica pelo Capitão Scott. Pela tarde fui conhecer o Zoológico de Auckland, me surpreendi com a estrutura do Zoo, com os recintos mais bem enriquecidos ambientalmente que já tive contato, além de uma fauna exuberante de todo o mundo, desde cangurus australianos, tuataras neozelandesas, tigres asiáticos, macacos africanos, jacarés sulamericanos e outros vários animais. No final da tarde aproveitei para conhecer o centro, a Sky Tower e comprar lembranças para os amigos. Na ultima noite voltei a dormir na casa de um amigo, juntei minhas coisas, arrumei as malas, e logo pela manhã cedinho dei uma lavada no carro por fora e tirei tudo que eu havia espalhado por dentro dele, afinal depois de 8 dias sendo minha casa e passando por grandes aventuras, ele parecia ter voltado de um rali. Hora de abastecer o carro e ir para o aeroporto para devolvê-lo a locadora e fazer meu check-in de embarque para a América do Sul. Naquele meu nono dia em solo maori eu percebi a grandeza e a intensidade do que haviam sido meus dias anteriores. Após as burocracias, subi a bordo de um Airbus A340 com destino a Santiago do Chile, deixando aquela grande experiência para trás, mas com a grande certeza que eu ainda haveria de voltar, afinal deixei uma outra ilha inteira para conhecer, e o que vi na Ilha Norte foi inesquecível. Na página anterior acima, logo a trilha do Monte Taranaki ficou completamente coberta por neve, e poucos eram os alpinistam que cruzavam meu caminho; abaixo a vista do imponente Taranki e da Translator Tower em um dos poucos momentos com visibilidade. Acima a Sky Tower em Auckland, vista da esquina da movimentada Queen Street, ultimo dia de viagem. E x p l o r a W e b M a g a z i n e 25 Encontros Ver lagostas mergulhando pelo Brasil está cada vez mais incomum, ainda mais em mergulhos diurnos. Em alguns dos mergulhos durante uma pesquisa que desenvolvi no Arquipélago dos Abrolhos em 2010 tive a oportunidade de esbarrar com essa espécie incomum por lá, a Lagosta Cabo Verde (Panulirus laevicauda), a mais frequentemente observada no Brasil é a Lagosta Vermelha (Panulirus argus). Em Abrolhos ainda ocorre uma terceira espécie, a Lagosta Pintada (Panulirus echinatus), completando todas as três espécies de lagostas de espinho que ocorrem no Brasil. O curioso é que no sul do Brasil a frequência de avistamentos é o inverso, apesar da abundância de lagostas ser muito menor que no nordeste, quando encontramos uma lagosta no sul do país, normalmente é a Cabo Verde, e muito raramente a Vermelha, esta foi avistada em um mergulho noturno no natal de 2011 em Bombinhas/SC. por Juliana Gaeta Acima, à direita a Lagosta Vermelha (Panulirus argus) encontrada em Bombinhas/SC; em baixo a Lagosta Cabo Verde (Panulirus laevicauda) encontrada no Arquipélago dos Abrolhos, Sul da Bahia. E x p l o r a W e b M a g a z i n e 26 w w w . b e r t u o l . c o m . b r i n f o @ b e r t u o l . c o m . b r Bombinhas - SC - Brazil APRENDA A MERGULHAR! CONTINUE SUA AVENTURA! - Mergulhe na Ilha do Arvoredo, o melhor destino de mergulho do sul do país. - Equipe com os melhores instrutores, todos biólogos. - Centro de Mergulho autorizado PADI, a maior e melhor certificadora mundial