Nova Zelândia 9dias em

Transcrição

Nova Zelândia 9dias em
Ano I - Volume I - Out/Nov/Dez - 2012
Encontros
Todas as
lagostas do Brasil
Diário de Campo
Antártica, minha
primeira expedição
Nova
Zelândia
em
dias
9
Out/Nov/Dez -2012 - Ano 1 - Nº 1
Seções
Do Editor 3
Mural 4
O local pra sua idéia,
críticas e sugestões
O Foco é seu 5
Suas aventuras, suas fotos,
o seu espaço
Edson Faria Jr
Crônicas 6
15
A viagem solitária de 9 dias ao
redor da Nova Zelândia
Um jeito diferente de
contar os fatos
Páginas Verdes 8
Problemáticas, propostas e
a realidade verde
Diário de Campo 10
Os bastidores do meu
trabalho
Encontros 26
Antártica, minha
primeira expedição
10
Ano I - Volume I - Out/Nov/Dez - 2012
Diário de Campo
Ingrid Balasteros Silva
Na hora certa, em
qualquer lugar
Encontros
Todas as
lagostas do Brasil
Diário de Campo
Antártica, minha
primeira expedição
Nova
Zelândia
em
dias
9
CAPA
A imponência do
monte Taranaki visto do
centro de visitantes.
Foto: Edson Faria Jr.
Explora Web Magazine é uma produção independente de
periodicidade trimestral. Diretor Geral: Edson Faria Júnior.
Colaboradores: Juliana de Carvalho Gaeta, Paulo Eduardo Pereira
Faria, Rodrigo de Araújo, Paola Sanches. Sede: Florianópolis/SC
Explore em www.facebook.com/exploramagazine.
C o n t a t e e x p l o r a m a g a z i n e @ g m a i l . c o m
Do Editor
minhas experiências e os visuais com quem
quisesse ter aquela percepção, e a certeza de
que gostaria mesmo era de trabalhar com
divulgação de ciências ambientais.
Juntamente com a biologia e com o convívio
com a natureza fui desenvolvendo aptidão e
gosto pela fotografia, em terra e subaquática,
as quais já me felicitaram com alguns prêmios
e títulos de concursos, que me motivaram a
cada vez mais desenvolver também este lado.
C
omecei a me aventurar pela natureza
aos sete anos de idade, quando fui
morar em Florianópolis, SC e
costumava passar os finais de semana em
Bombinhas, litoral norte do estado, que
possuia os cenários ideais para quem quisesse
explorar o ambiente natural. Cresci então em
contato com o mar e com a natureza em geral,
sempre praticando mergulho livre nos
costões das praias de águas claras, fazendo
trekkings pelas inúmeras trilhas dos
remanescentes de mata atlântica, às vezes até
mesmo sem trilhas, escalando as rochas dos
costões e ajudando a puxar redes de pesca na
época da tainha. O contato com aquele
ambiente aguçava minha curiosidade, e
sempre era a observação e questionamentos a
respeito dos bichos estranhos que vinham nas
redes de arrasto, dos insetos das matas, dos
pepinos e outros seres estranhos do mar, ou
dos encontros ocasionais com tucanos e
outras aves, crescia um futuro biólogo, e
acima de tudo apaixonado pelo mar.
Assim foi meu caminho até entrar no curso de
Ciências Biológicas, na UFSC, em 2006.
Depois, fui me enveredando cada vez mais
para tudo que tivesse relação com o mar,
estágios, cursos, viagens, congressos e cursos
de mergulho. Sempre junto com um novo
cilindro de mergulho, com uma nova bota
suja de lama ou com algumas fotografias
vinha uma vontade de compartilhar as
Me formei em 2010, nesses cinco anos de
graduação algumas experiências foram
realmente marcantes: 1 mês de estágio no
Projeto Coral Vivo trabalhando com
conservação de recifes de coral, duas
expedições de 1 mês morando no Arquipélago
dos Abrolhos, incontáveis mergulhos diurnos
e noturnos ao longo da costa catarinense, 16
dias em Cuba com grandes mergulhos, 4
meses morando na Austrália, 10 dias morando
embarcado na Grande Barreira de Corais, 9
dias morando em um carro na Nova Zelândia,
além de inúmeras outras experiências não
menos importantes.
Nesse contexto surgiu o projeto EXPLORA
Web Magazine, uma revista eletrônica com a
proposta de ser uma ferramenta para
compartilhar todas essas experiências
incríveis, minhas e de todos os outros
companheiros de ciência e aventura que
sempre me regaram com as mais instigantes
histórias.
Edson Faria Júnior
Diretor Geral
Explora Web Magazine 3
Mural
Esse espaço é seu, leitor. Aqui você pode nos contar suas experiências e aventuras, ou ainda fazer
críticas e sugestões ou expor opiniões sobre matérias de edições anteriores, não deixe de nos escrever.
Não esqueça, a Explora é uma revista completamente aberta a participação do leitor. Teve alguma
experiência que acha que se enquadra na proposta da revista? Nos envie. Existem quatro seções
abertas para que suas hisórias sejam publicadas: Mural, O Foco é seu, Diário de Campo e Encontros.
Solicite por e-mail as informações gerais para a publicação nas diferentes seções. As publicações são
trimestrais, publicadas nos meses de Janeiro, Abril, Julho e Outubro. Você têm até o primeiro dia mês
anterior a publicação para nos enviar sua contribuição,quanto maior a antecedência no envio, maior a
possibilidade de sua matéria estar na edição consecutiva.
Para tudo isso basta nos escrever, nosso canal de comunicação estará sempre aberto, e sempre
buscaremos ao máximo ter a maior agilidade e atenção em respondê-lo.
Destine seu e-mail para [email protected], ainda, no título deve constar o nome da seção
na qual ele é endereçado.
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Explora Web Magazine 4
O foco é seu
As suas fotos para todos verem! Depois de viver aquele momento inesquecível, conesguir
enquadrar, focar e fazer o registro fotográfico, você pode agora compartilhá-lo com diversos outros
aventureiros. Envie sua foto para [email protected] com o assunto “O foco é seu”. Não
esqueça ainda de mandar informações básicas sobre a foto, como: O que é?, Onde foi tirada?, Quando?
e Quem tirou? As melhores fotos selecionadas aparecerão aqui.
Ilha da Trindade, Brasil
Há 1100 km do
continente, a Ilha da Trindade é o pedaço de chão mais
remoto do Brasil. No inverno as baleias-jubarte
(Megaptera novaengliae) passam pela região a caminho
de se reproduzirem no Banco dos Abrolhos. A água
cristalina permite a chance única de se observar esses
animais debaixo d´água. Renato Morais
Florianópolis, SC
Cayo Coco, Cuba Além de uma cultura incrível,
salsa e charutos o país abriga uma natureza exuberante,
tanto dentro como fora da água. Mariana Paz
Florianópolis, SC
Explora Web Magazine 5
De louco e de
biólogo
Crônicas
por Rodrigo Costa Araújo
P
ouco ou muito, todos têm. E já adianto que
não me sinto nada constrangido em começar
com esse lugar tão comum a médicos - estou
convencido da veracidade de ambas vertentes
desse dito e vou provar. É impressionante como
pessoas leigas, não-técnicas, são detentoras de uma
ou mais verdades a respeito de como curar doenças
ou sobre qual a melhor maneira de lidar com o
ambiente natural à sua volta. Claro que o
conhecimento acadêmico não é fundamental para
remediar uma dor de cabeça ou fazer uma boa
colheita de mandioca, por exemplo. Isso sem falar
no conhecimento tradicional, construído longe dos
bancos da academia através da experimentação,
transmitido e modificado ao longo de gerações.
Falo de outras proezas, que muito me intrigam e
fascinam: associações, abstrações e deduções
inacreditáveis, que são criadas na face oculta da
mente das pessoas através de suas relações com a
“natureza”. Comédias e tragédias se tornam
conflitos reais, muitas vezes difíceis de serem
intermediados. Tenta explicar a uma boa alma que
plantar, no Brasil, “uva-do-japão” (Hovenia dulcis)
para servir de alimento à fauna é errado, quando a
fauna local se esbalda com os frutos e entenderás o
que eu digo. Aliás, quem foi que disse que pombos
“domésticos” são legais? Com certeza não era
naturalista: manda a correspondência a cavalo,
tchê! Problemas complexos podem ser gerados de
maneira simples. Ainda mais quando não há boa
vontade de aprender. Mas isso é muito sério e a
loucura está, até aqui, discreta. Afinal, “separar o
lixo é besteira”.
Humildemente, divido com quem teve a
coragem de seguir minhas linhas até aqui, as
pérolas (cômicas ou não) que venho colhendo ao
longo da vivência com pessoas em áreas “naturais”.
A mais recente foi bombástica, pasme: há gorilas na
Mata Atlântica! Segundo uma mulher muito
simpática de uns 45 anos, há alguns destes enormes
primatas na mata dos fundos de sua casa, em pleno
Rio de Janeiro! Essa informação hoje, momento em
que o “muriqui” (Brachyteles sp.) e o “mico-leãodourado” (Leontopithecus rosalia) fazem cada qual
sua campanha para mascote das olimpíadas de 2014
no Rio, seria como uma bomba na esperança de
ambas: sem dúvida, eliminadas por competição em
favor do primo africano, muito mais famoso. Não
entendo, mas confusões com primatas são
recorrentes: “sim! é enorme, agressivo, tem um
metro e meio de altura e anda em pé”, foi o que me
respondeu uma pessoa quando perguntada se
conhecia o “bugio-ruivo” (Alouatta guariba animais pacatos, cujos maiores representantes não
chegam a 1m da ponta do nariz à base da cauda,
rarissimamente adotam postura bípede e passam a
maior parte do dia descansando). E quem detém o
conhecimento, faz o que numa hora dessas? Tem a
obrigação/responsabilidade de aproveitar o
momento e corrigir essas maluquices com clareza e
simplicidade. Ou não.
Sem dúvida, a situação mais hilária vivi com
um senhor de uns 50 anos que conheci em Barra do
Ribeiro, Rio Grande do Sul. Depois de um dia
cansativo de trabalho, em um churrasco à noite na
base – um terreno com algumas casas de aluguel –
conheci um biólogo diferente que ali fez morada.
Estavam todos animados e com muito assunto para
conversar conosco, o pessoal da capital: seu Paulo,
proprietário do terreno e também protagonista de
boas histórias, sua esposa, filhos e o ilustre
personagem. Este último quando descobriu que
éramos biólogos, abriu um sorriso enorme, seus
olhos brilharam e prontamente se disse colega de
profissão. Inicialmente, fiquei impressionado em
encontrar ali um biólogo e ao mesmo tempo curioso
sobre a trajetória desse cidadão de maneiras e vestes
simples. Conversa vai e vem, contou que gostava
mesmo é de estar no mato, que já havia viajado pelo
Brasil, feito pesquisas na Amazônia, conhecia as,
Explora Web Magazine 6
plantas, os bichos e tinha até publicações. Fiquei completamente perplexo e desconfiado. Então apelei, o
indagando sobre qual universidade que ele havia frequentado:
– Sou biólogo formado pela vida, não tenho diploma de faculdade. Respondeu ele, cheio de orgulho.
Ainda continuava biólogo; há “leigos” que sabem mais sobre floresta do que muito acadêmico. Fui em frente:
– E as publicações?
– Sim, tenho duas!
– Interessante. Onde estão publicados os artigos? Perguntei eu, ainda mais desconfiado.
– Não são artigos, são dois livros.
– E de que tratam os livros?
– Meio ambiente em geral...
Hein??
Dois Romances, não exatamente publicados. Textos muito bons, segundo ele, com igarapés amazônicos,
plantas e animais como pano de fundo. Neste momento era difícil de conter o riso, dada a singularidade do
nobre colega.
– Mas então, compadre Biólogo, tens alguma especialidade?
– Não sou especialista, entendo um pouco de tudo!
– Que ótimo! O que, por exemplo?
– Ah, sei desde anatomia até fauna e sauna.
- ...
Vida longa aos malucos biólogos!
Rodrigo Costa Araújo é Biólogo, Mestre em Ecologia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Aceitou o
desafio em coloaborar com a Explora Web Magazine, e foi o idealizador da seção Crônicas
Explora Web Magazine 7
Uso Público X
Conservação: rivais ou
aliados?
A
s unidades de conservação com
desenvolvimento de atividades planejadas
e controladas de Uso Público – UP
parecem ter melhores resultados em indicadores de
proteção, mesmo, muitas vezes, contando com uma
força de trabalho aquém da ideal.
Por que isso acontece? Quais as
consequências reais do desenvolvimento de Uso
Público para a proteção e a gestão de uma unidade
de conservação?
Vejo que no furor emotivo da defesa
genérica da “natureza intocada”, prática comum de
muitos acadêmicos e gestores públicos,
esquecemos de observar algumas questões
interessantes.
Dentro de um Parque, que tem maior
“trânsito de pessoas”, sempre existe uma Reserva
Biológica – Rebio ou uma Estação Ecológica - Esec:
as zonas intangíveis do zoneamento da UC. E, uma
vez o zoneamento sendo bem feito, as áreas
sensíveis ou importantes para espécies vulneráveis,
são conservadas de forma “intocada”, isenta da
presença ou atividade humana.
Parques Nacionais possuem pequenas
porções de sua área como zona de uso intensivo
(Chapada dos Guimarães, por exemplo, possui
2,82% de área em zona de uso intensivo), onde
estruturas pesadas podem ser instaladas, e, no
restante de suas áreas, as atividades permitidas são
bastante limitadas e de baixo impacto. Via de regra,
vemos Parques Nacionais com mais de 80% de suas
áreas como zonas intangíveis ou primitivas, como
nos casos da Serra dos Órgãos e Chapada dos
Guimarães, onde as atividades permitidas são
seriamente limitadas, contribuindo para o
cumprimento dos objetivos da unidade de
conservação.
Atividades de uso Público também ajudam
a fomentar o número de pesquisas realizadas nas
UCs, e a relação é mais direta do que se pensa: entre
as 10 unidades mais pesquisadas no Brasil nos
primeiros meses de 2012, segundo relatório de
divulgação do SISBio, temos 8 Parques Nacionais
(Chapada Diamantina, Serra da Bocaina, Serra da
Canastra, Serra do Cipó, Serra dos Órgãos, Brasília,
Caparaó e Itatiaia) e apenas duas Reservas
Biológicas – Augusto Ruschi e Sooretama.
Páginas Verdes
por Paulo Eduardo P. Faria
Estranho, não? Isso ocorre não só pela proximidade
de centros urbanos, mas também pelo
desenvolvimento de atividades de ecoturismo que,
normalmente, vem relacionado com melhoria nas
condições de acesso e estruturação de suporte e
fomento à pesquisa, atraindo mais pesquisadores.
As pessoas que transitam na Unidade de
forma controlada ocasionam em uma maior pressão
de fiscalização simplesmente por atividades
legalizadas estarem sendo realizadas ali, e os ilícitos
diminuem – no Parque Nacional da Chapada dos
Guimarães, por exemplo, a partir do controle de
acesso de pessoas e de atividades na área conhecida
como Rio Claro I, o número de infrações caiu nos
últimos 3 anos – e o mesmo se observa em outras
áreas.
A arrecadação promovida com
desenvolvimento de atividades de Uso Público
(bilheteria, permissões, autorizações e concessões
de serviços), também, acabam colocando a UC em
evidência dentro da gestão orçamentária do órgão
gestor – sabemos que o bolo é pequeno para tantas
bocas, certo? E as unidades com potencial de
atividades de UP e negócios adicionalmente ainda
geram recursos para a gestão das outras unidades.
Geração de riqueza e renda para
comunidades próximas às UC e desenvolvimento
de percepção de utilidade e pertencimento nos
usuários de Parques são outras consequências do
desenvolvimento de turismo controlado nas
unidades de conservação, que acabam por gerar
apoio e pressão social positiva nos esforços públicos
de conservação.
Ao entrar, ainda, na seara da multiplicação
dos resultados de desenvolvimento de consciência
ambiental e conservação de recursos naturais e
biodiversidade, uma unidade que recebe visitantes
e consegue oferecer uma boa qualidade de
experiência extrapola seus resultados de
sensibilização para além dos limites da UC, de
forma mais ampla e abrangente do que as unidades
onde não há visitação.
Naturalmente, há impactos negativos
relacionados à visitação. Sempre há. Mas os
impactos são gerenciáveis e manejáveis na maior
parte das vezes e se limitam a poucas áreas da UC,
ou às áreas menos sensíveis e mais resilientes, que
Explora Web Magazine 8
Diversas Unidades de
Conservação Brasileiras possuem
conflitos de uso, como é o caso do
Parque Nacional Marinho dos
Abrolhos, no sul da Bahia
suportam pressões maiores.
Lembremos: Parques são unidades de
conservação de proteção integral, e possuem como
principais objetivos “preservação de ecossistemas
naturais de grande relevância ecológica e beleza
cênica” e, assim, “possibilitando a realização de
pesquisas científicas e o desenvolvimento de
atividades de educação e interpretação ambiental,
de recreação em contato com a natureza e de
turismo ecológico” (Sistema Nacional de Unidades
de Conservação – Lei 9985/00).
Enfim, que passemos a perceber o
ecoturismo não como um vilão devastador de
mares e florestas, mas como uma arma importante
para trazer pessoas para o “nosso lado” e para
fortalecer o trabalho a favor conservação da
biodiversidade brasileira.
Paulo Faria é biólogo, graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina, e atua como Analista Ambiental do
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Foto acima de: Edson Faria Jr.
Explora Web Magazine 9
Antártica:
O sonho realizado
Diário de Campo
por Paola Franzan Sanches
Para o Biólogo de
campo, grandes
expedições científicas
representam muitas
vezes grandes
conquistam pessoais.
Ter a possibilidade de
pisar em locais tão
remotos como a
Antártica realça os
grandes desafios e
motivações da
profissão
E
screver sobre a Antártica e de como foi
minha experiência profissional (e também
pessoal) nesse continente tão diferente, é
retomar parte da minha história. Meu sonho de
bióloga começou com a minha paixão pelas orcas e
assim que descobri que elas habitavam águas
antárticas, decidi, ainda menina, que eu trabalharia
naquele lugar. Com o passar do tempo no curso de
Biologia, pela Universidade Federal de Santa
Catarina, comecei a trabalhar com macroalgas. Meu
orientador, o professor doutor Paulo Horta, tinha
contato com outro professor da USP, o professor
doutor Pio Colepicolo. Trabalhamos juntos na
minha monografia e uns meses depois, ele me disse
que tinha aprovado um projeto para coletar na
Antártica e me perguntou se eu gostaria de ir. Isso
foi em Abril de 2011. Em Julho fiz o treinamento
pré- antártico (TPA) em uma base da Marinha do
Brasil (que é quem leva os pesquisadores para a
Estação Antártica Brasileira, em cooperação com a
Força Aérea). E apenas em Outubro recebi a
confirmação da viagem. No final de Novembro
embarcamos ao destino que muitos já haviam
estado (alguns mais de uma vez) e que outros
apenas sonhavam.
Mas, para alcançarmos o lugar que habitava
nossas imaginações, temos que passar por Punta
Arenas, cidade da Patagônia Chilena. Lá, tomamos
contato com um friozinho e nos preparamos para o
que vem adiante. Apesar de ser verão, o vento
gelado causa certo incômodo para quem está sem a
jaqueta corta vento. O voo é feito pelo avião
Hércules, projetado para transportar todo tipo de
carga e também passageiros. De Punta Arenas
voamos até a Estação Chilena Presidente Eduardo
Frei, onde nos aguarda o navio polar brasileiro
Comandante Maximiano, que nos levará da Estação
Chilena até a Estação Antártica Brasileira
Comandante Ferraz (EACF). Ao descermos do
avião em Frei, pisamos no gelo e sentimos pela
primeira vez o vento antártico nos nossos rostos.
Impossível não nos emocionarmos. Esse é o começo
de uma frequência interminável de emoções, que
acredito não terminar jamais, nem mesmo quando
saímos desse lugar lindo. O mar congelado a nossa
frente e alguns pinguins que andam livremente, são
uma prévia do que enfrentaremos nas saídas de
campo e a ansiedade toma conta de todos mais uma
vez.
Após um breve percurso de bote, é chegada
a hora de subirmos no navio. A viagem da Frei à
EACF, dura cerca de 3 horas, e o trajeto nos mostra
belíssimas paisagens, em meio a montanhas
cobertas de neve, ilhas e blocos de gelo no mar. Ao
E x p l o r a W e b M a g a z i n e 10
chegarmos à praia onde fica estação, o Grupo de
Base da Marinha nos recebe e logo podemos pisar
em terra firme novamente. Sob nossos pés, rochas
congeladas e gelo, novidade para alguns de nós,
mas apenas um reencontro para tantos outros
pesquisadores que já desempenham atividades
nesse lugar. Após uma caminhada que parece a
mais difícil até então, entramos pela porta da frente
da estação e logo somos apresentados às
acomodações e ao resto da equipe dos militares e
arsenal de marinha que nos ajudará a cumprir com
nossos projetos, seja guiando os botes nas saídas de
coleta, seja consertando equipamentos, ou
garantindo a qualidade e funcionamento da estação
como um todo. Pelos próximos 35 dias, dividiremos
a casa, o local de trabalho, a academia, a lavanderia.
Nos próximos dias, dividiremos as intempéries que
assolam esse local, dividiremos as mudanças da
paisagem a nossa frente e saudades de casa.
Já no primeiro dia temos uma reunião com
todos os 22 pesquisadores, o chefe e o subchefe da
estação, sobre as normas da estação, as regras para a
saída de campo, as prioridades de trabalho e as
atividades na estação. De quando em quando cada
um ajudaria nos serviços da cozinha e uma vez por
semana teríamos o “faxinão” da estação. Cada
dormitório é ocupado por dois homens ou duas
mulheres e os banheiros são divididos em dois
Fotos acima de: Paola Franzan Sanches
femininos e um masculino. No total éramos 60
pessoas vivendo ali. Instalados e com o cronograma
de saídas definidos, esperávamos o dia seguinte
chegar para a primeira ida ao campo.
Após uma noite de sono nada tranquilo,
devido à excitação provocada pelo ambiente novo,
a saída é confirmada no café da manhã. O mar ainda
está com muitos blocos grandes de gelo, mas sem
ondas e não está ventando, o que já é suficiente para
No topo o avião Hércules, da Força Aérea Brasileira, parte
de Punta Arenas com destino a estação chilena. Abaixo à
direita, a primeira paisagem ao pisar em solo antártico
E x p l o r a W e b M a g a z i n e 11
sairmos de bote para fazermos a primeira coleta. Na
mochila de campo em territórios tropicais
geralmente levamos água, algo para comer, em caso
da saída se prolongar e o material para coleta: sacos
plásticos, quadrados, máquina fotográfica,
espátula, canetas, papel e GPS. Na Antártica, além
disso, temos que usar obrigatoriamente óculos
escuros (por conta dos ferimentos que a quantidade
de luz pode causar nos olhos), filtro solar (devido ao
ar muito seco e da maior incidência de raios
ultravioletas) e ainda levamos uma touca extra, um
par de luvas e meias extra, uma blusa extra, em caso
de nos molharmos no bote e precisarmos trocar de
roupas. Caso isso aconteça, a primeira providência
é tirar todas as roupas molhadas, nos secarmos, e
colocarmos roupas secas, evitando assim uma
hipotermia. Para podermos sair de bote ou de Skua
(uma lancha polar), temos que usar um traje
especial que a Marinha fornece: o “Mustang”. Ele é
flutuável, e caso caiamos na água, não afundamos
até subirmos no bote novamente. Assim, para
sairmos para coletar algas, usávamos: segundas
peles (blusa e calça), moletom e blusa de frio,
jardineira corta-vento, jaqueta corta vento, duas
meias e a bota caribu com forro de pele de carneiro
(também fornecidos pela Marinha). Para coleta de
macroalgas em costão rochoso, geralmente
utilizamos roupa de banho e coberturas leves. Lá,
andamos pelo costão com todas essas vestimentas e
mais o peso da mochila e dos sacos de material
coletado. Além do desgaste físico causado pelo
clima frio, ainda acrescenta-se o peso que
carregamos. Chegamos a pesar mais de 4 kg com
todas essas roupas e botas.
O percurso até as ilhas pontos de coletas são
uma aventura a parte, com direito a focas, pinguins
e icebergs no caminho. Em caso de acidente, uma
pessoa aguenta cerca de 15 minutos nas águas
geladas do polo, antes de morrer de hipotermia. A
temperatura da água varia de -2 °C a +2°C e se o
bote vira, as chances de sobrevivência diminuem
muito, pois devemos desvira-lo, para podermos
sair da água. No treinamento, funciona bem, porém
os botes são grandes, pesados e possuem motores.
Torcemos sempre para que não precisemos
desvirar um bote, e nem que precisemos subir em
um, da água. Lembro bem de uma das saídas que
fizemos e o mar estava arredio com muitas ondas.
Era a segunda vez que iríamos a Punta Hennikin,
uma ilha que possui ninhos de skuas (ave típica da
Antártica). Altas ondas batiam contra o bote e todos
nos molhamos muito. Pensamos que o bote pudesse
virar a qualquer momento. Quando chegamos à
ilha, tivemos que tirar as roupas e nos esquentar no
Refúgio Equatoriano.
Nas primeiras coletas não conseguimos
muitas algas. Acreditamos ser porque o mar
demorou a descongelar e as algas, assim,
demoraram a se desenvolver. À medida que foi
avançando o mês de dezembro, cada vez
obtínhamos maiores quantidades de alga. O
trabalho em campo consistia em coletar todas as
algas diferentes que encontrássemos e em
laboratório, separávamos uma parte para análises
bioquímicas, que seriam congeladas para serem
analisadas no Brasil, parte para identificação
taxonômica (que fazíamos ali mesmo), parte para a
análise da biologia molecular e parte para a
herborização. Havia dias de coletas e dias de
trabalhos no laboratório. Minha colega Ingrid e eu,
passávamos horas na lupa e no microscópio
analisando as estruturas das algas, comparando
com as chaves de identificação, para que
pudéssemos determinar qual espécie tínhamos em
mãos. Foi um trabalho cansativo, porém lindo.
Conseguimos identificar grande parte do material
coletado.
A cada saída, uma paisagem nova.
Conhecemos diversas praias e nos deparamos com
diversos animais. Um dia, na praia de Machu
Picchu, onde fica a estação Peruana, eu estava
olhando para baixo procurando algas e me deparei
a menos de um metro de uma foca caranguejeira
deitada no meio do caminho. Essas surpresas
aconteciam o tempo todo. Em outra saída, a Botany,
enquanto uma das meninas do nosso projeto estava
dentro d'água, coletando algas que estavam
intangíveis sem a roupa especial impermeável que
ela usava, o rádio tocou e ouvimos a mensagem do
grupo que trabalhava com pinguins, 200 metros à
frente: “Aline, acabamos de ver uma foca leopardo
se alimentando e ela está indo em sua direção”.
Como se sabe, a foca leopardo é o predador mais
voraz das águas antárticas.
Assim como uma nova paisagem, cada
saída da estação reserva uma aventura, uma
incerteza. A água é fria, e congela os dedos durante
o procedimento de coleta. Aguentamos durante
alguns minutos, mas logo sentimos a dor do
congelamento. Quando para de doer, é hora de se
preocupar. Assim, temos que tirar as luvas
molhadas, secar e esquentar as mãos, para só depois
E x p l o r a W e b M a g a z i n e 12
Ingrid Balasteros Silva
“Além do desgaste físico causado pelo clima frio, ainda acrescenta-se o
peso que carregamos. Chegamos a pesar mais de 4 kg com todas essas
roupas e botas.”
Acima Paola veste o Mustang, traje especial antártico fornecido pela Marinha Brasileira.
Abaixo à esquerda, a Skua, ave típica do continente antártico; À direita um refúgio equatoriano.
E x p l o r a W e b M a g a z i n e 13
recomeçar a coletar. Esse processo de aquecer o
membro congelado é tão doloroso quanto à
primeira parte. Senti essas dores pessoalmente,
quando em uma saída a Arctowski (praia onde se
localiza a Estação Polonesa) as ondas estavam
enormes. No bote eu estava de frente para elas e
quando passávamos, éramos acertados em cheio e
ficávamos encharcados. Por conta disso, eu entrei
no primeiro estágio de hipotermia. Sentia correntes
elétricas percorrendo o meu corpo e meus pés
congelaram. Não fosse a Estação Polonesa e seus
membros, eu poderia ter passado mais mal do eu
realmente passei. Fui levada a um quarto quente e
meus membros inferiores foram descongelando
vagarosamente. A única consequência que tive foi
um dedo do pé que teve a ponta necrosada.
Mas, independente dos sufocos e dos
apertos, com certeza, os campos na Antártica foram
os mais impressionantes que já tive, e quiçá, terei
durante minha trajetória. As algas são em sua
maioria gigantes e totalmente singulares em
comparação com as que temos no Brasil. Às vezes,
encontramos indivíduos de mais de 10 metros e os
sacos de coleta chegam a pesar 30 kg.
Além dessas peculiaridades ambientais, a
Antártica emana uma energia única, que nos
mostra que somos parte da natureza, não como
observadores, mas como membros da Teia da Vida
que compõe todas as relações entre os seres vivos
entre si e entre o meio que habitam. E todo aquele
que pisa nesse chão, que respira esse ar, sente esses
ventos, sabe que retorna mudado. Volta
entendendo as reais necessidades vitais (comida,
água e um lugar aquecido e nada mais). Acredito
que jamais me referirei à Antártica no pretérito, mas
sempre no presente, pois essas sensações, jamais
abandonam nossas mentes e nossos corações.
“As algas são em sua maioria gigantes e totalmente singulares em
comparação com as que temos no Brasil”
Paola Franzan Sanches é bióloga, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina e
mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ecologia na mesma universidade
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Nova Zelândia
em
nove dias
Uma viagem
solitária ao redor
da Ilha Norte
texto e fotos
por Edson Faria Jr
E
m somente nove dias viajando por um país,
só é possível conhecê-lo bem caso este seja
do tamanho de Mônaco, o que não é o caso
da Nova Zelândia. O país não é realmente grande,
mas com seus 268.680Km² divididos basicamente
em dois territórios, a Ilha Norte e a Ilha Sul, nove
dias não seriam suficientes para conhecer todo o
território. A primeira escolha foi escolher um
destino compatível com o tempo: Ilha Norte.
O objetivo da viagem era regar o corpo com
adrenalina, aventuras e visuais incríveis. Com o
orçamento relativamente curto, pouco tempo e
muitos lugares e atividades para fazer optei por
alugar um carro, um carro chinês comum, um
Daihatsu Sirion, compacto, realmente compacto,
câmbio manual, e todo ao contrário, pois
lembrando os desavisados, na Nova Zelândia o
trânsito funciona em mão inglesa. Durante esses 9
dias, aquele carrinho azul não seria simplesmente
meu meio de transporte, mas também minha casa, e
não era uma “campervan” não, era simplesmente
um carrinho, mas meu lar durante a viagem.
A viagem foi bem planejada, mas o roteiro
não era fechado, era extremamente flexível, com
várias lacunas a serem preenchidas durante a
própria viagem, poucas coisas eu já havia reservado
antes de pisar em solo maori, somente meu carrocasa e dois mergulhos autônomos. De maneira
geral eu queria buscar o máximo que aquele país
formidável pudesse me oferecer, desde os visuais
clássicos de montanhas nevadas próximas a praias,
florestas, cachoeiras, esportes de aventura, cultura,
e tudo mais que estivesse por vir.
Cheguei no inverno, o avião aterrissou no
aeroporto internacional de Auckland, e depois de
perguntas como “Tem certeza que vai ficar só 9 dias
no meu país?” ou “O que o senhor veio fazer na
NZ?” deixei a aduana para trás e já me considerava
em solo kiwi, ou maori. Para os neozelandeses, kiwi
além de ser a fruta e o animal, é o povo branco de
origem inglesa, maori é o povo local, originário dos
povos polinésios, que já habitavam as ilhas antes da
colonização. Uma das coisas que chamam a
atenção, é que muitas placas estão escritas com o
nome dos lugares em inglês e o respectivo nome em
maori. Uma dica, não tente “inglesar” as palavras
maoris, quando você ler Whakapapa, não tente
dizer “Uakapapa” e sim “Fakapapa”.
Logo que desci em Auckland já tinha meu
transporte esperando, e comecei minha viagem
efetivamente. No começo é um pouco estranho
dirigir em mão inglesa, trocar a marcha com a mão
esquerda, mas logo acostumamos. Auckland é uma
cidade bem sinalizada, não é muito difícil dirigir
por lá, com um mapa rodoviário comprado numa
banquinha de revistas pude encontrar facilmente a
casa de um amigo brasileiro, onde passei minha
primeira noite.
Deixei o que podia de bagagem em
Auckland e então parti para minha jornada,
somente 9 dias mais tarde eu voltaria a ver a Sky
Tower. Por volta das 5 da manhã segui para o meu
primeiro destino, Tutukaka há cerca de 186Km ao
Norte, de onde parti para Poor Knights Island
Marine Reserve, com o objetivo de fazer dois
mergulhos autônomos. Poor Knights possui
condições de mergulho incríveis, com uma água
extremamente clara, próximo dos 40m de
visibilidade, mas bem fria, água de menos de 13°C.
Para os mergulhos usei uma roupa de 7mm duas
partes, mas observando os mergulhadores de
roupa seca no meu entorno, cheguei a conclusão de
que é a melhor escolha para as águas do inverno
local. A paisagem fora d'água também é surreal, um
monte de rochedos, cavernas e túneis por onde é
possível inclusive passar de barco. Fiz dois
mergulhos em dois pontos diferentes, no primeiro
chamado Southern Arch além da exuberante
floresta de kelps cobrindo o fundo rochoso, pude
ver raias, lagostas gigantes e tive um encontro com
um tubarão “Bronze whaler” (Carcharhinus
brachyurus). O segundo ponto de mergulho, Blue
Maomao Arch, era um lugar que estava no meu
inconsciente juvenil, considerado por Jean Jacques
Yves-Cousteau um dos 10 melhores pontos de
mergulho do mundo, um túnel subaquático que
atravessa a ponta de uma das ilhas, com uma
abundância incrível de peixes. Se ficar parado por
alguns instantes neste local, você tem a sensação de
estar mergulhando em peixes, e não em água, é
indescritível. Difícil foi querer terminar o
mergulho, mesmo com o frio, aquele lugar é
mágico, mas era hora de voltar para o continente e
seguir viagem.
Saindo de Tutukaka, já final da tarde
comecei minha jornada costeando a costa nordeste
da ilha, meu roteiro era descer a costa em direção ao
sul, cruzar as montanhas em direção ao outro lado
da ilha, subir pela costa oeste e voltar a Auckland.
Minha primeira parada foi em Orewa, parei a noite
para comprar mantimentos, kiwi, água, biscoitos,
suco de frutas, pães, enlatados, o que iria me
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“Foram nove dias de viagem
sozinho em um carro, as vezes
era difícil encarar a solidão, mas
facilitava na hora de decidir os
destinos”
Tutukaka
Orewa
Auckland
Coromandel
Tauranga
Te Kuiti
Rotorua
Taupo
New Plymouth
Mt. Ruapehu
Opunake
Chegada/Partida
Atividades
Pernoite
sustentar pelos próximos dias. Foi neste mesmo
lugar que tive minha primeira noite de sono no
carro, daqui pra frente isso seria frequente. Embora
proibido dormir nos perímetros urbanos,
procurava um local sombreado e pacato, deitava
todo o banco do carona e estava pronta minha cama.
Os primeiros raios de sol começariam a ser meu
despertador, hora de me preparar para pegar
estrada outra vez. Cruzei Auckland direto, deixaria
para visitar a grande cidade no meu ultimo dia no
país. Seguindo para o sul, pela costa leste,
procurava parar nos postos de combustíveis e
postos de informações turísticas para pegar os
mapas gratuitos e panfletos informativos, acredite,
foi assim que descobri os melhores lugares que eu
não poderia deixar de conhecer.
O próximo destino foi a Península de
Coromandel, entrei pelo lado norte da península, e
tinha como destino a Cathedral Cove. Para chegar
lá através da estrada que eu havia escolhido eu teria
que contornar toda a península, como queria chegar
cedo, para aproveitar o dia, encontrei no mapa uma
estradinha que atravessava a península pelo meio,
novo caminho traçado. Nos primeiros 100m percebi
que não se tratava de uma rua bem acessível, mas
resolvi arriscar. Logo o asfalto deu lugar a chão
batido, a rua começou a ficar cada vez mais estreita,
mais íngreme, os precipícios mais pertos da rua, a
floresta mais fechada, era uma verdadeira floresta
de samambaias gigantes, continuei. A travessia foi
quase um rali, e próximo ao final desta rua
começaram a aparecer diversos rios e pequenas
cachoeiras, lindos para fazer uma parada para
tomar um banho.
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Poor Knights possui uma beleza ímpar dentro e fora da água, o ponto
abaixo conhecido como Blue Maomao Arch, é considerado um dos 10 melhores
pontos de mergulho do mundo
Chegando a Cathedral Cove comecei o meu
contato com as mais lindas paisagens emersas, e
com as excelentes infraestruturas dos parques
nacionais, algo muito diferente da realidade
brasileira. Estacionamento pavimentado, mirante
construído com material integrado a paisagem,
banheiros, painéis informativos sobre o local, a
fauna e a flora, trilhas bem dimensionadas, escolhi a
trilha mais longa e fui em direção a praia. Cathedral
Cove é realmente linda, cercada por vegetação e
paredões de arenito desenhados pelo vento, além
de uma imensa caverna, visual que escolhi para
meu pic-nic de almoço com a companhia das
gaivotas. Na volta da trilha fui parando nas outras
pequenas praias do caminho, em uma delas havia
uma trilha subaquática de mergulho livre, muito
bem sinalizada e com lindas placas informativas
fixadas no costão, pausa para um banho de mar na
água fria.
Seguindo viagem, fui parando nas praias ao
sul de Cathedral Cove, e curti um final de tarde na
Hot Water Beach com direito a banho de aguas
termais. Nesta praia, emerge do solo águas
vulcânicas extremamente quentes, dai o nome da
praia, onde os turistas fazem piscininhas na areia,
misturando a água fervente, com a água fria da
praia para tomar banhos nessas águas termais. A
sensação de estar no frio do inverno, tomando
banho em águas quentes na praia, é extremamente
energizante. Baterias recarregadas, hora de seguir
viagem, segui até Tauranga para mais uma noite
dormindo no carro.
Como já era de praxe, acordei bem cedo,
tomei um café no McDonalds, li meus e-mails,
estudei os mapas rodoviários, e segui com destino a
Rotorua. Chegar em Rotorua foi um verdadeiro
contraste, aos sair do litoral e começar a subir a serra
A esquerda o começo da travessia da península de
Coromandel, à direita a belíssima Cathedral Cove.
comecei a ver paisagens que eu ainda não estava
habituado. Com estradas muito boas, cercada por
montanhas, a viagem para o alto da serra foi
tranquila, agora eu estava em contato com a NZ das
plantações de kiwis, e não mais das lindas praias.
Este era um local que eu estava ansioso pra chegar,
apesar da aparência de cidadezinha pacata, em
volta de um lindo lago, e com fortes características
europeias, o local respira adrenalina, é um daqueles
lugares que nos remete ao porque da NZ ser
considerada um paraíso dos esportes radicais. Era
hora de começar a sentir a adrenalina circular, e
Rotorua tem uma grande variedade de escolhas.
Uma visita ao centro de informações turísticas local
é o suficiente para conhecer as possibilidades, ainda
sempre encontramos guias turísticos com uma
infinidade de cupons de desconto para atrações
locais.
Com os cupons de desconto nas mãos
comecei meu circuito de aventura, e primeiro que
escolhi foi o famoso Zorby. A atividade é
basicamente o sentimento de um hamster,
resumidamente, uma bola gigante transparente
onde você entra dentro e é jogado de um barranco,
sai literalmente rolando. O local tem uma
infraestrutura bem legal, com banheiros, vestiário,
e três pistas diferentes de lançamento. É possível
escolher entre duas modalidades, na mais clássica
você vai sentado e amarrado dentro da bola, na
segunda você vai solto e é colocado água dentro
para você escorregar melhor dentro do Zorby,
escolhi um pacote de três descidas, era mais em
conta e eu poderia experimentar as duas
modalidades, e ainda repetir a que eu mais
gostasse. Ambas foram muito divertidas, mas a
versão com água, o wet zorby, foi sem dúvida mais,
logico que na minha reprise da versão wet tentei
ficar em pé e correr na medida em que a bola rolava
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morro abaixo, resultado, uma bela escorregada,
pernas pra um lado, pescoço pro outro, e algumas
dores que me acompanhariam no dia seguinte, mas
sem dúvidas repetiria a brincadeira.
Meu segundo destino do dia foi o
Agroventures, um complexo que abriga algumas
opções diferentes de atividades radicais, optei por
duas, meu primeiro bungy na NZ e o túnel de vento,
um simulador de paraquedismo. Parecia sem
duvida um ventilador gigante, coloquei minha
roupinha de paraquedismo, recebi as instruções,
treinei em um banquinho, e fui pra turbina junto
com dois instrutores. Aquilo que parecia fácil era
muito difícil, e logo entendi a função dos dois
instrutores, deitei na grade em cima da turbina, e
assim que foi ligada começaram 5 minutos muito
divertidos. A maior dificuldade era se manter em
cima do túnel de vento, bem como entender os
comandos manuais dos instrutores, mas a sensação
de sentir seu corpo decolando do chão, e mantendo
certa altura é sem duvida inesquecível, sai de lá
querendo um brinquedinho daquele no meu
quintal. Logo na sequência fui fazer meu salto no
Bungy Jump, instrutores super divertidos, o salto
foi do jeito clássico, de frente, em cima de um
riachinho, sem dúvida uma das descargas de
No topo, entardecer em
Hot Water Beach, abaixo
o Zorby.
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Uma das cachoeiras do
Waikato River
adrenalina mais abruptas, e uma sensação
incrivelmente gostosa.
Depois do dia de Adrenalina ainda fui
conhecer o Rainbow Springs, uma espécie de minizoológico, com muitas das aves da Nova Zelândia, e
uma maternidade de Kiwis, a ave símbolo do país,
aproveitei e fiquei até a noite, horário em que é
possível ver essas aves em atividade. Voltei para o
centrinho de Rotorua e desta vez optei por dormir
num hostel, com direito a gerente brasileira, pizza
no jantar, chuveiro quente, e um bom papo em
português, o que na Nova Zelândia não é difícil,
pois os brasileiros estão por todos os lados.
Saindo de Rotorua o próximo destino foi
Taupo, cidade em cima das montanhas, cercada por
picos nevados, e que abriga o maior lago da Nova
Zelândia, que possui o mesmo nome da cidade. O
caminho entre Taupo e Rotorua é cercado por hotéis
com águas termais, lindas paisagens, cachoeiras de
rios glaciais, como as do Rio Waikato, o rio mais
longo da Nova Zelândia, de uma água
indescritivelmente azul. A quantidade de águas
termais na região é tão grande, que tive a
oportunidade de conhecer uma usina geotérmica,
usina que gera eletricidade através do afloramento
de águas vulcânicas.
Em um dos paredões formados pelo rio
Waikato, já na cidade de Taupo, está localizado o
Taupo Bungy, o Bungy Jump com toque na água
mais alto da Nova Zelândia, com 47m de altura,
encravado num visual paradisíaco. Lá você pode
escolher um cardápio de estilos de saltos, mais uma
vez escolhi o salto frontal clássico, mas na hora que
me perguntaram se eu queria tocar na água minha
resposta foi instantânea: “o máximo que eu puder”.
Após pesagem, fui pra plataforma me preparar,
elásticos presos nos pés, sem camisa pra não
molhar, me aproximo da beirada com direito a
torcida, e “one, two, three, bungeeee!!!” saltei e
entrei na água com tudo, só os pés ficaram para fora.
Foi sem dúvida o melhor salto de bungy da minha
vida, mas sai congelado feito um picolé, pois além
de ser inverno e o rio ser glacial, estava ventando
muito. Aproveitei o resto do dia para passear pela
cidade, conhecer o famoso lago, algumas paisagens
lindas, e estudar os próximos destinos no posto
local de informações. Nesta noite optei por dormir
em um camping que tinha os tão famosos banhos
termais.
O dia seguinte foi de ainda mais adrenalina,
fui para o Monte Ruapehu fazer snowboard, com
direito a cenários do filme Senhor dos Anéis. Dirigi
até onde começou a ter neve demais na pista, e meu
carro sem correntes nos pneus conseguia ir. Deixei o
carro na Whakapapa Village e peguei um ônibus
para subir até a estação de esqui, era um dos
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Happy Valley, na estação de
esqui do Monte Ruapehu,
abaixo o salto no Taupo
Bungy
melhores dias de neve naquele inverno. Na estação
de esqui existem diferentes modalidades de
ingresso, passes para a montanha inteira para
pessoas experientes no esporte, passes para a pista
iniciante com aulas introdutórias, mas não tinha a
opção de passe para a montanha inteira com aula
introdutória, então peguei o passe sem aula mesmo.
Equipei-me e fui para o “Happy Valley” arriscar
minhas primeiras descidas e tomar as primeiras
quedas. Após algumas delas, achei que estava
preparado para sair da pista dominada por crianças
e encarar um nível B. Foi só subir no teleférico que
começou uma nevasca, e parecia que eu nunca
chegaria ao começo da pista, uma forte neblina
tomou conta da montanha, e de vez em quando
passava um esquiador em alta velocidade sob o
teleférico, desviando de alguns dos vários
desfiladeiros, já comecei a me questionar o que eu
estava fazendo naquele lugar com quase nada de
experiência. Chegando ao final do teleférico o jeito
foi encarar a descida, nessa sim, cai muitas vezes, a
visibilidade estava ruim, os desfiladeiros eram
muitos e a adrenalina estava a todo nível, mas
consegui chegar vivo no final da pista, apesar de
estar com as mãos quase congeladas. Voltei para o
“Happy Valley” para treinar mais um pouco, até
que me senti preparado novamente, e dessa vez
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Fim de tarde no Cape Egmont
Lighthouse
com sol e sem nevasca, arrisquei mais duas descidas
na montanha alta, agora com maior domínio sobre o
snowboard a brincadeira foi realmente desafiadora
e divertida. Já se aproximava das 16h, hora de
fechamento da estação de esqui e de seguir viagem,
peguei o ônibus para descer a montanha e encontrar
meu carro coberto por neve, coloquei o pé na
estrada deixando aquele visual das montanhas
nevadas para trás.
Agora era momento de descer a serra, e
voltar para o litoral, só que desta vez para a costa
oeste do país. No mesmo dia, passei por Opunake,
já no litoral, e cheguei a Pungarehu no final da
tarde. Minha parada ali era para pernoitar, mas deu
tempo de assistir a um belíssimo pôr do sol no Cape
Egmont Lighthouse, um farol que compõe um
visual fascinante. Em dias de céu aberto é possível
ver o Monte Taranaki, ou Egmont, por trás do farol,
uma montanha com pico nevado muito próxima a
praia, um daqueles lugares inacreditáveis que só
existem na Nova Zelândia. Já pensou surfar e fazer
snowboard no mesmo dia? A poucos minutos de
distância? Lá é possível. Mas infelizmente o céu
estava bem encoberto.
Depois de umas voltas na praia, um
sanduiche e alguns kiwis de jantar, encontrei um
terreninho bem sossegado próximo a rodovia em
Pungarehu, local perfeito para parar e encarar mais
uma noite de sono no carro. O descanso foi bom, as
energias estavam quase zeradas, e o próximo dia
seria puxado.
Assim que o sol nasceu segui em direção a
New Plymouth, o céu ainda estava cheio de nuvens
e neblina, logo eu ainda não conseguia ver o Monte
Taranaki. Cheguei a cidade ainda no começo da
manhã, lugarzinho muito simpático, um lindo sol
apareceu no céu junto com o desaparecimento das
nuvens, e pude ver por entre os prédios e casas o
imponente Egmont ao fundo. Nesse momento eu
estava na orla marítima da cidade, foi emocionante
ver as nuvens abrindo caminho para aquele visual
branco da neve. Localizei o centro de informações
turísticas para descobrir as atividades e conhecer os
mapas locais, e sem a menor dúvida do que eu iria
fazer, me dirigi ao centro de visitantes do Parque
Nacional Egmont, nos pés da montanha.
A estrutura local era incrível, existiam
muitas trilhas para eu escolher, todas bem
sinalizadas, com mapas gratuitos bem desenhados,
de curta duração, média, e até de vários dias, como a
trilha ao pico. Algumas delas tinham
recomendações de equipamentos especiais,
experiência na neve, ou acompanhamento de um
alpinista experiente. Eu, sozinho, dotado de um
bom casaco e calça para neve, com tênis
completamente inadequado, mas com o espírito
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aventureiro aflorado, optei por duas trilhas
moderadas, uma em direção ao cume, mas eu não
chegaria até lá, e outra de retorno por dentro do
vale. A trilha de ida foi uma verdadeira transição
entre três paisagens, no começo uma borda de
floresta úmida com alguns pinheiros, passando
para um ambiente de vegetação mais rasteira com
algum indício de neve, e por fim uma paisagem
somente branca, com neve por todos os lados.
Quando cheguei nesse estágio, passavam por mim
grupos de alpinistas muito bem equipados, com
botas dotadas de crampons, e eu com um simples
tênis qualquer. Ali fiz meu primeiro boneco de
neve, e pude ver o cenário mudar muito em
questões de segundos, hora com uma linda visão de
tudo ao redor, e outras horas que não era possível
ver mais de um palmo na frente do nariz devido à
neblina. Subi a montanha até a Tahurangi
Translator Tower, no momento que achei que tinha
tempo suficiente para voltar antes do parque
fechar, voltei um pedaço pela mesma trilha e então
entrei na outra trilha que descia o vale. Esta entrava
numa floresta extremamente úmida, que só
faltavam ter “goblins” e árvores falantes, caminho
diferente e um pouco mais longo para me levar de
volta ao centro de visitantes. Dia cheio, completo e
muito cansativo, mas maravilhoso, com aqueles
lugares que te fazem pensar na quantidade de locais
com mesmo potencial que temos em nosso Brasil,
mas com estruturas e investimento que passam
muito longe do que vivenciei. O Monte Taranaki, a
estrutura de suas trilhas e o centro de visitantes
ficarão pra sempre na memória.
Agora era o momento de seguir de volta em
direção ao norte, nessa estrada lembro bastante das
ruas estreitas próximas a grandes desfiladeiros, e de
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um túnel encravado nas montanhas, minúsculo, de
mão única, onde tinha que esperar os outros
veículos passarem para poder atravessá-lo.
Cheguei à cidadezinha de Te Kuiti onde aproveitei
para acessar a internet e fazer contato com o mundo,
jantei em um McDonalds e passei minha ultima
noite no carro e na estrada. No outro dia de manhã
segui direto de volta para Auckland, um
sentimento de saudades de toda aquela aventura e
daquelas lindas paisagens já começava a tomar
conta de mim.
No meu ultimo dia inteiro de viagem
aproveitei para conhecer alguns destinos de
Auckland, na minha manhã me ocupei conhecendo
o Kelly Tarlton's, um oceanário subterrâneo que
possui o primeiro túnel de acrílico dentro de um
aquário construído no mundo. Lá é possível ver
várias espécies de tubarões, raias, peixes, inclusive
amazônicos, brincar com jogos educativos e fazer
um mini tur a bordo de um snowcat dentro de um
recinto de pinguins, quase uma viagem no tempo
do começo da exploração antártica pelo Capitão
Scott. Pela tarde fui conhecer o Zoológico de
Auckland, me surpreendi com a estrutura do Zoo,
com os recintos mais bem enriquecidos
ambientalmente que já tive contato, além de uma
fauna exuberante de todo o mundo, desde
cangurus australianos, tuataras neozelandesas,
tigres asiáticos, macacos africanos, jacarés sulamericanos e outros vários animais. No final da
tarde aproveitei para conhecer o centro, a Sky
Tower e comprar lembranças para os amigos.
Na ultima noite voltei a dormir na casa de
um amigo, juntei minhas coisas, arrumei as malas, e
logo pela manhã cedinho dei uma lavada no carro
por fora e tirei tudo que eu havia espalhado por
dentro dele, afinal depois de 8 dias sendo minha
casa e passando por grandes aventuras, ele parecia
ter voltado de um rali. Hora de abastecer o carro e ir
para o aeroporto para devolvê-lo a locadora e fazer
meu check-in de embarque para a América do Sul.
Naquele meu nono dia em solo maori eu percebi a
grandeza e a intensidade do que haviam sido meus
dias anteriores. Após as burocracias, subi a bordo
de um Airbus A340 com destino a Santiago do
Chile, deixando aquela grande experiência para
trás, mas com a grande certeza que eu ainda haveria
de voltar, afinal deixei uma outra ilha inteira para
conhecer, e o que vi na Ilha Norte foi inesquecível.
Na página anterior acima, logo a trilha do Monte Taranaki
ficou completamente coberta por neve, e poucos eram os
alpinistam que cruzavam meu caminho; abaixo a vista do
imponente Taranki e da Translator Tower em um dos
poucos momentos com visibilidade.
Acima a Sky Tower em Auckland, vista da esquina da
movimentada Queen Street, ultimo dia de viagem.
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Encontros
Ver lagostas mergulhando pelo Brasil está cada
vez mais incomum, ainda mais em mergulhos diurnos.
Em alguns dos mergulhos durante uma pesquisa que
desenvolvi no Arquipélago dos Abrolhos em 2010 tive
a oportunidade de esbarrar com essa espécie incomum
por lá, a Lagosta Cabo Verde (Panulirus laevicauda), a
mais frequentemente observada no Brasil é a Lagosta
Vermelha (Panulirus argus). Em Abrolhos ainda
ocorre uma terceira espécie, a Lagosta Pintada
(Panulirus echinatus), completando todas as três
espécies de lagostas de espinho que ocorrem no Brasil.
O curioso é que no sul do Brasil a frequência de
avistamentos é o inverso, apesar da abundância de
lagostas ser muito menor que no nordeste, quando
encontramos uma lagosta no sul do país, normalmente
é a Cabo Verde, e muito raramente a Vermelha, esta foi
avistada em um mergulho noturno no natal de 2011 em
Bombinhas/SC.
por Juliana Gaeta
Acima, à direita a Lagosta Vermelha (Panulirus argus) encontrada em Bombinhas/SC; em baixo a Lagosta Cabo Verde
(Panulirus laevicauda) encontrada no Arquipélago dos Abrolhos, Sul da Bahia.
E x p l o r a W e b M a g a z i n e 26
w w w . b e r t u o l . c o m . b r
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