O LIVRO SAGRADO

Transcrição

O LIVRO SAGRADO
O LIVRO SAGRADO
Renato Carreira e Sua Santidade, Pio XII
A presente edição do ‘Livro Sagrado’ resulta de um árduo e rigoroso trabalho de recolha de vários textos muitas vezes referidos, frequentemente
imitados, mas nunca igualados. As suas origens são diversas. Vêm de vários pontos da Europa, do Médio Oriente, do Norte de África e até das Américas.
Alguns são conhecidos há muito, outros são aqui publicados pela primeira vez. Independentemente das suas naturezas diversas, ou que poderão aparentar
ser diversas aos olhos do observador menos informado, são o espelho de séculos de devoção religiosa, merecedores do mais profundo respeito até mesmo
daqueles que se consideram ateus, agnósticos ou afins. Os responsáveis pela presente edição pretendem abrir uma porta nos espíritos menos crédulos à
revelação das verdades divinas.
O Editor
GÉNESE
Os dez livros que constituem a primeira parte desta compilação receberam o título genérico de “Génese”. Aparentemente, o nome foi pela primeira vez referido
no séc. XI pelo monge responsável pelo trabalho original de reunião de textos, François Jaguenot de Tréves, que, no entanto, não incluía os dois últimos (“A provação
de Bob” e “Leis”), o que deve ter gerado alguma confusão nos primeiros investigadores. O número 10 parece possuir algum carácter místico e é repetido noutros
pontos do Livro (os dez mandamentos, por exemplo). De acordo com Francis McQuaid, o esoterismo do número estará relacionado com o comprimento da barba do
primeiro sacerdote da cidade suméria de Uruk, Zalzibrabesh, que, de acordo com relatos da época, seria de 10 passos de gnu (vide “The Number Ten and the Sexual
Orientation of the Ancient Mesopotamians”-McQuaid, Francis; Edimburgo; 1957). Em 1878, o arqueólogo Gerhard Krause descobriu o nono livro (“A provação de
Bob”) numa escavação arqueológica a meio caminho entre Malinaltepec e Xochistlahuaca, no México Oriental. O porquê da presença deste texto em tão remotas
paragens permanece um mistério. A única teoria apresentada até agora foi a do inglês John Malcolm-Davies e propõe que o texto teria sido transportado por um
bando de aves migratórias aparentadas com o abelharuco. A comunidade científica nunca levou Malcolm-Davies muito a sério desde o escândalo dos rebuçados de
alçacuz. Já neste século, em 1905, um agricultor iraquiano de nome Ahmmed Ali Mubarak Sid-Muhammad encontrou o décimo texto (“Leis”) quando lavrava um
terreno nas margens do Tigre para plantar girassol. Desconhecendo o real valor do seu achado, não hesitou em trocá-lo com um mercador local por dois quilos de
feijão, uma enxada, duas foices e um tubérculo com forma vagamente obscena. O mercador levou os pergaminhos milenares até Beirute e vendeu-os por uma pequena
fortuna ao astrónomo amador turco, Gecen Arif, que, imediatamente, trocou a sua paixão astronómica pela arqueologia e por uma escandalosa jaqueta de veludo
púrpura com chinelos a condizer.
I
A Criação
Os três primeiros livros têm o mesmo autor, cujo nome se desconhece, apesar de, pelo estilo da escrita, ser óbvio não se tratar nem de William
Shakespeare, nem de Ernest Hemingway ou, muito menos, de Karl Marx, apesar de existirem autores que defendem a existência de uma semelhança relativa
com o “Manifesto do Partido Comunista”. Estes três livros, escritos num estilo que faz deles um tríptico, são, por vezes, referidos como: “Os três livros”.
*
No início era o caos. Deus movia-se através do vazio. Um dia, porém, Deus achou que aquilo estava vazio demais e resolveu fazer umas obras. Contratou um
decorador muito afamado que concluiu o seu trabalho em pouco tempo. Deus contemplou e percebeu, do alto da Sua sabedoria, que não gostava. Desfez a obra do
decorador e fulminou-o com um relâmpago. O decorador logo se desfez em bocados que se espalharam pelo caos, formando os corpos celestes. Das lantejoulas que
se tinham desprendido do casaco do infeliz decorador, Deus fez as estrelas que pendurou sobre o caos para o iluminar. Deus chamou aos corpos celestes "planetas",
"luas", "asteróides" e "cometas", conforme o seu tamanho.
Depois de um repouso, Deus separou as águas da terra e reuniu-as em oceanos em redor da terra seca. E Deus viu que isto era bom. A seguir, Deus fez com
que a terra produzisse toda a sorte de plantas e animais. No entanto, nem todas as Suas criações foram inteiramente bem sucedidas como, por exemplo, o aipo voador
com carapaça, o aipo voador sem carapaça, o esquilo insuflável, o peixe vibrador, a lesma gigante carnívora, o morcego de muletas, o autoclismo de bolso, o
funcionário público apressado e muitas outras. Para reinar sobre todas as criaturas da Terra, Deus criou o homem, mas não na primeira tentativa, nem na segunda.
Primeiro, Deus criou o poste de alta tensão. A seguir, a gaita-de-beiços e, só à terceira tentativa, o homem. Para fazer companhia ao homem, Deus criou outro homem,
mas como já tinha gasto muita matéria-prima na criação do poste de alta tensão e da gaita-de-beiços, o novo homem ficou com peças a menos e o revestimento piloso
não chegou para o corpo todo. Deus logo encontrou uma solução. Revestiu o novo homem de uma série de protuberâncias curvilíneas e esperou que ninguém
reparasse. A esta nova criatura, chamou deus "pauliteiro de Miranda" mas, por achar que o nome não era adequado, rebaptizou-a como "mulher". Deus colocou a
mulher junto do homem. Pouco tempo depois, Deus afastou a mulher do homem pois estes não paravam de "testar o equipamento". Deus decidiu então que a mulher
não poderia pensar do mesmo modo que o homem porque passariam o resto das suas vidas "naquilo". Depois de umas alterações, Deus voltou a colocar a mulher
junto do homem. A maneira de pensar do homem não foi alterada e este logo começou a perseguir a sua companheira por toda a Terra. Deus reflectiu e viu que aquilo
não estava bem. Retirou algumas folhas de uma árvore e cobriu os corpos do homem e da mulher com elas. Isto acalmou um pouco as coisas. Ao homem chamou
Deus João e à mulher Elsa. Deus contemplou a Sua criação e alegrou-se.
Apesar dos Seus melhores esforços, João e Elsa não paravam com “aquilo”. Pouco tempo depois, houve um escândalo sexual de grandes proporções no
Paraíso envolvendo João, Elsa, uma serpente e uma peça de fruta. Deus ficou tão envergonhado que acabou por expulsar João e Elsa do Jardim do Éden e por
amputar as pernas à serpente que, em abono da verdade, só lhe dificultavam o movimento.
II
Joaquim e Manel
No tempo que se seguiu, Deus não interferiu mais com a vida das suas criações, deixando que estas governassem livremente os seus destinos.
João conheceu Elsa por duas vezes, tendo-lhe nascido dois filhos. Neste momento, Deus percebeu a existência de grandes falhas no vocabulário do homem e
da mulher. Como o termo “conheceu” não Lhe pareceu suficientemente descritivo, Deus criou logo uma série de termos novos e ricos a que chamou “palavrões” e que
seriam daí em diante usados com grande frequência. Assim criou Deus a brejeirice.
Segundo esta nova terminologia, João f*deu Elsa por duas vezes, tendo-lhe nascido dois filhos a que chamaram Joaquim e Manuel. João f*deu Elsa uma outra
vez, tendo nascido um terceiro filho a que chamaram Oit. Após isto, Deus achou por bem que as restantes vezes que João f*desse com Elsa não ficassem registadas,
pois tal ocuparia muito espaço e violaria a intimidade do casal.
Os filhos de João e Elsa casariam, por sua vez, e teriam filhos das suas mulheres. Percebendo que, no mundo, só existiam João, Elsa e os seus três filhos e que
a origem das esposas de Joaquim, Manuel e Oit não eram suficientemente claras, Deus criou a incoerência para lidar com este problema.
Joaquim era lavrador e Manuel era pastor e ambos deviam prestar tributo ao Criador de seus pais com a oferta do melhor das suas produções. Oit era cantor
lírico e foi dispensado de prestar tal tributo.
Deus olhava primeiro para as ofertas de Manuel e prestava menos atenção às de Joaquim pois Manuel, por ser pastor, ofertava a Deus a melhor carne dos
seus rebanhos enquanto que Joaquim apenas trazia perante o Senhor os molhos de ervas daninhas que colhia nos campos. Mais tarde, Deus lembrar-se-ia de criar os
cereais e as colheitas úteis para tornar mais fácil a vida aos lavradores.
Joaquim não gostava desta situação e, um dia, convidou Manuel para ir ao monte dizendo-lhe “Vem comigo ao monte para ver se este machado é tão afiado
como parece”. Manuel foi e assim nasceu a ingenuidade. Ao chegarem ao monte, Joaquim lançou-se sobre Manuel e matou-o. Deus estava a ver e disse-lhe “Mataste
o teu irmão, Joaquim?” ao que Joaquim respondeu “Não, Senhor”. Então Deus questionou Joaquim. “Se não o mataste, o que faz o seu cadáver a teu lado com teu
machado cravado em sua testa?” ao que Joaquim replicou “Aquilo não é o cadáver de meu irmão, Senhor, mas um arbusto que a ele se assemelha”. Ao ouvir isto Deus
achou por bem melhorar a capacidade do Homem para mentir pois, daquele modo, não iria muito longe.
III
Linhagens
Joaquim viveu até aos 876 anos e Oit até aos 889. A razão de tão longa vida deveu-se à necessidade de povoar a Terra e, por isso, tanto Joaquim como Oit
não fizeram outra coisa até à sua morte por exaustão.
Joaquim gerou Pedro, Paulo e Lurdes. Pedro gerou John, Paul, George e Ringo. Paulo gerou Ediberto, Erivonaldo e Edmilson. Lurdes não gerou ninguém
porque não estava para isso.
Oit gerou Tibúrcio, Acúrcio e Camúrcio. Tibúrcio gerou Athos, Porthos, Aramis e o cardeal Richelieu. Acúrcio gerou Marilyn, Marlene e Ingrid, Cary Grant,
Burt Lancaster, Vasco Santana e Beethoven.
Camúrcio gerou Jonas Savimbi, Walt Disney, Eusébio, o Homem-Aranha, Estaline, Mussolini, Otelo Saraiva de Carvalho, Baltazar, Gaspar e Melchior, os
Xutos e Pontapés, Aladino e o génio da lâmpada, David Hasselhoff, Pamela Anderson, Júlio Isidro, a cadela Lassie, o padre Gonçalo Pereira da paróquia de Á-dosCoitados, Fritz o rei dos sado-masoquistas de Frankfurt e um pequeno ardina da Lisboa oitocentista chamado Tomé Peixotto. Camúrcio gerou mais filhos do que
qualquer um dos seus irmãos e primos, o que muito agradou a Deus.
IV
O Barco de Mané
Este livro que, durante muito tempo, foi erroneamente chamado: “O bote de José” devido a uma tradição deficiente do original aramaico “adesh
bil-barga geneth manuah” relata o grande dilúvio que se abateu sobre a Ásia menor num período indeterminado mas que coincidirá com o reinado de
Nabucodonosor IV. Não há provas científicas de que tal acontecimento tenha sido real, mas climatologistas conceituados acreditam que, por volta deste
mesmo período, o tempo não estava bom para ir à praia.
*
Como Deus via que a descendência de João e Elsa se entregava à prática de pecados como o sexo com preservativo, o aborto e o futebol aos Domingos,
resolveu inundar a Terra inteira e assim destruir pela força das águas todas as criaturas vivas. Para infortúnio de Deus, nem todas as criaturas pereceram com este
dilúvio. Um velho tresloucado de nome Mané, que tinha o estranho hábito de morar num enorme barco de madeira com a sua família mais próxima e com centenas de
animais, sobreviveu e, com ele, todos os que se encontravam dentro do barco. Irritado com esta situação, Deus fez baixar o nível das águas e lançou o barco contra o
monte Ararat, tendo este ficado aí encalhado. Nem com isso as criaturas morreram. Deus ficou ainda mais irritado e lançou contra Mané um bando de aves carregando
objectos aguçados nos seus bicos para que o castigassem. Infelizmente, as aves perderam-se e apenas uma pomba branca que transportava um pequeno ramo de
oliveira chegou ao destino. Para cúmulo, a dita pomba foi recebida com grande alegria por Mané e pelos seus, que a viram como um sinal de graça divina. Então Deus
desistiu e deixou que os tripulantes do barco sobrevivessem.
V
Agriãao
Livro que relata a vida do patriarca Agriãao e que, hoje em dia, hermeneutas experientes consideram ter sido escrito sob o efeito de alucinógenios.
*
O Senhor disse a Agriãao: “Sai da tua terra, da terra dos teus pais, da terra dos teus avós, da terra dos teus bisavós, etc, etc e dirige-te para a terra que te
indicar, onde farei do povo de Asrael, um povo que dominará todos os seus vizinhos com a minha benção.” Agriãao era um líder nato e o homem mais justo, recto e
cumpridor dos mandamentos divinos.
O único problema de Agriãao era que não podia ter filhos, pois a sua legítima esposa, Tara era ésteril, o que a ambos trazia grande amargura. O senhor quis
recompensar Agriãao, por ser tão bom, e providenciou que tivesse um filho, o que muito lhe agradou.
Passados os meses que a natureza determinou para estas coisas da reprodução, a mulher de Agriãao deu à luz um bonito rapaz a que chamaram Iraac, apesar
de ter havido uma certa hesitação entre este nome e Carlos Paulo. Alguns meses após o nascimento de Iraac, o Senhor anunciou a Agriãao que a sua mulher iria
conceber outro filho. Agriãao, mais uma vez ficou muito contente com a nova e Tara acompanhou-o na alegria. Só que, desta vez, não era a sério. Por esta altura, o
Senhor havia desenvolvido um sentido de humor particularmente retorcido e tudo não passava de uma brincadeira.
Agriãao partiu assim na peregrinação que o Senhor lhe havia ordenado e fixou-se na cidade de Acetoma, uma cidade rica e próspera, vizinha da igualmente
poderosa cidade de Modorra. Em toda a antiguidade, não havia povo que melhor se soubesse divertir do que os habitantes de Acetoma e Modorra. As suas festas
eram lendárias e atraíam pessoas vindas de muito longe. Isto irritava particularmente o Senhor, não por considerar que as festas eram pecaminosas, nada disso, mas,
muito simplesmente, porque os organizadores das festas, bailes de máscaras, banquetes, orgias e afins nunca o convidavam, pois nunca pensaram que Deus TodoPoderoso tivesse inclinação para este tipo de divertimento mundano.
O Senhor estava a ficar roxo de inveja e, por isso, decidiu destruir as duas cidades e todos os seus folgazões habitantes. Antes disso, chamou até si Agriãao,
que resolvera poupar por pena, já que este era um homenzinho particularmente monótono, e disse-lhe: “Agriãao. Deixa a cidade de Acetoma com os teus, pois tomei a
decisão de a destruir e a todos os seus habitantes. Destruirei também a cidade de Modorra pelo fogo, pelo enxofre e por outras coisas pouco agradáveis porque não
me caiu bem a vida de libertinagem e pecado que as pessoas lá levam”. Como é óbvio, Deus não ia dizer a Agriãao o verdadeiro motivo da sua atitude. Agriãao
respondeu: “Mas, Senhor, eu sou apenas um servo, um reles mortal, um verme, um monte de pó...,” “Anda lá com isso,” disse o Senhor, pois tinha uma agenda muito
ocupada. Agriãao prosseguiu: “Enfim, eu não sou ninguém, mas não quererás reconsiderar esse teu gesto? Pensai nos justos que partilham o espaço com os
pecadores.” O Senhor replicou: “Se lá encontrares 50 justos, não destruirei as cidades.” “Então e se forem só 45?” tornou Agriãao. “Idem,” disse o Senhor. “E que tal
40?” inquiriu Agriãao. “Muito bem,” condescendeu o Senhor. “30?” regateou Agriãao. “Claro,” condescendeu o Senhor. No entanto, Deus pensou, por momentos, e
viu que o negócio não lhe era muito favorável. “Vamos fazer antes assim,” disse, “em vez de 30 justos, para que não lance a minha fúria sobre as cidades de Acetoma e
Modorra, basta que encontres 15 malabaristas ventríloquos que saibam cantar com voz de falsete e imitar o canto de acasalamento do alce e 2 pinguins.” Agriãao
voltou para casa e procurou desesperadamente aquilo que o Senhor lhe havia indicado, mas sem sucesso, o que não surpreendeu já que o malabarismo ainda não tinha
sido inventado, não havia alces naquelas paragens e muito menos pinguins.
Então, o Senhor advertiu Agriãao de que era chegada a hora de abandonar a cidade, o que este fez sem hesitar, levando consigo a sua família, um seu sobrinho
de nome Pot e a mulher. Pot deixou a cidade depois de Agrãao e só o alcançou mais tarde. Como vinha sozinho, Agriãao perguntou-lhe o que tinha acontecido à
esposa. Pot respondeu que a coitada não tinha resistido a olhar para trás quando fugiam e foi transformada numa estátua de sal. A verdade é que a mulher de Pot era
particularmente chata e a razão do atraso de Pot foi ter estado a fechá-la na despensa. O Senhor sempre soube a verdade mas perdoou Pot pois até aos olhos de
Deus a Sra. Pot parecia insuportável.
Tendo ficado muito tempo sem falar com Agriãao, o Senhor voltou a chamá-lo e disse-lhe: “Vai buscar o teu filho Iraac e sacrifica-o em minha honra.” “A
sério?” quis saber Agriãao. “A sério,” respondeu o Senhor, tentando conter uma gargalhada. Agriãao apressou-se a ir a casa buscar o seu filho e a colocá-lo num altar
onde seria sacrificado. Iraac, como era uma criança um pouco apática, nem sequer resistiu. Quando Agriãao já erguia o punhal, a voz de Deus ouviu-se. “Mas que
estás tu a fazer?”, perguntou. “Faço o que me ordenastes, Senhor, sacrifico o meu filho Iraac,” respondeu Agriãao. “Mas tu não és capaz de perceber uma piada?”
disse o Todo-Poderoso, “sacrifica antes esse cordeiro que está aí atrás de ti.” “De certeza?” perguntou Agriãao. “SIM,” gritou o Senhor e, a partir daí, desistiu de
partilhar o seu sentido de humor com Agriãao, pois com gente chata não há brincadeira que aguente.
VI
O êxodo
“O êxodo”, uma narrativa da libertação do povo erveu do jugo egípcio é dos poucos textos do Livro Sagrado de autor conhecido. A autoria deste
livro poderá ser atribuída, sem qualquer tipo de dúvida, ao grande ensaísta, dramaturgo e poeta hitita, Raman-Kash de Til Barsip, autor, entre outras obras
marcantes, do poema épico “A Epopeia de Tarnabril, o Onanista” e de vários episódios da telenovela venezuelana “Corazón Latino-La Vida de una Rubia”.
*
Naquele tempo, os descendentes de João e Elsa que tinham escolhido para si o nome de erveus, habitavam nas terras do Egipto. O rei do Egipto era um
homem mau e nada agradável para com os seus súbditos erveus. Pouco depois da sua chegada, já os erveus eram perseguidos e atormentados pelas sevícias do rei.
O rei tinha dois filhos. A um, o mais velho, chamou Ruben Eduardo Michel, pois o bom gosto só seria inventado no século seguinte. Ao mais novo, que tinha
sido encontrado pela mulher do faraó a boiar no Nilo num cesto de vime e que era, na realidade, um dos erveus, chamou Mousés.
Quando o velho rei morreu, o seu primogénito subiu ao trono e passou a governar o Egipto como o seu pai havia feito.
Mousés, ao ver como o seu povo era tratado, revoltou-se contra o irmão e contra a autoridade estabelecida (assim criou Deus o adolescente rebelde) e juntouse aos seus irmãos erveus, fundando o PSR (Partido Semita Revolucionário).
Um dia, quando Mousés apascentava o gado de seu sogro, viu um arbusto que parecia arder sem se consumir. Era Deus que se revelava e comandava a
Mousés que fosse junto do faraó pedir-lhe que libertasse o seu povo. Mousés assim fez. Infelizmente, o espírito de Deus abandonou o arbusto sem apagar o fogo e
este consumiu na totalidade as vastas florestas do Egipto, transformando-o num deserto. Assim criou Deus o incêndio florestal.
Mousés foi ter com o faraó e transmitiu-lhe a mensagem de Deus. Como prova da verdade das suas palavras, lançou a sua vara ao chão e esta trasformou-se
numa serpente. Pouco impressionado, o faraó mandou chamar o mago da corte que fez desaparecer a serpente, levitou por cima do Grand Canyon, atravessou a
grande muralha da China, fez desaparecer um avião e casou com uma top model alemã. Mousés retirou-se envergonhado.
Como o faraó não tinha cumprido a vontade divina, Mousés voltou para o avisar de que o Senhor lançaria pragas sobre o Egipto para que o faraó acedesse a
libertar os erveus.
A primeira praga foi a transformação das águas do Nilo em sangue. Isto só veio melhorar a culinária egípcia pois a canja que faziam com a água do seu rio
adquiriu um melhor paladar. Assim foi criado o frango de cabidela.
A segunda, terceira, quarta e quinta pragas consistiram, respectivamente, em grandes números de rãs, mosquitos, moscas venenosas e gafanhotos. Estas pragas
não tiveram grande resultado porque as rãs devoraram os insectos e foram depois vendidas com grande lucro a uma tribo de cozinheiros franceses nómadas de
passagem pelo Egipto.
Como sexta praga, Deus eliminou os furos de todos os cintos que existiam no Egipto, esquecendo-se, no entanto, de um pequeno pormenor. No Egipto
ninguém usava calças e os cintos pouco faziam pelas túnicas.
Como sétima praga, Deus lançou sobre o Egipto, dezenas de gigantescas pirâmides de pedra que esmagariam os incautos. Para gáudio do faraó, ninguém foi
atingido pelas pirâmides e os egípcios cedo aprenderam a usar as pirâmides em seu proveito para atrair turistas.
Por esta altura, Deus começava a ficar desesperado pois nada do que fazia parecia convencer o faraó a deixar partir os erveus. Mas os egípcios, incluindo o
faraó, estavam mergulhados numa epidemia de riso histérico incontrolável ao verem o resultado das pragas que o Deus dos erveus lançava sobre si e pouco podiam
fazer para os impedir.
Assim, os erveus partiram para o deserto em busca da terra prometida liderados por Mousés. Uma noite, enquanto estavam acampados, Mousés subiu a um
monte e recebeu de Deus duas tábuas contendo os dez mandamentos da sua lei que eram os seguintes:
-Não perseguirás o carteiro como um cão raivoso.
-Não encomendarás pizzas para casa de desconhecidos que as não pretendam.
-Não embalsamarás o joelho do próximo.
-Não cobiçarás a colher do próximo.
-Não engordarás um frade capuchinho só pelo gozo de o ver rebentar como um balão enquanto cantas a “Marselhesa”.
-Não usarás preservativos com sabores como sobremesa em lares de terceira idade, convencendo os velhinhos incautos de que são gomas de fruta.
-Não andarás nu em casa se no prédio da frente viver alguém com problemas cardíacos.
-Não semearás salsichas na praia só para ver a reacção dos banhistas.
-Não usarás catecismos como base para copos em orgias romanas.
-Não usarás os mesmos catecismos para qualquer outro propósito em orgias romanas.
Ao descer do monte, Mousés escorregou e deixou cair as tábuas que se estilhaçaram. Mousés voltou a subir e explicou a situação a Deus que providenciou
outras mas não com o mesmo conteúdo pois a Sua memória não andava muito boa.
No sopé, Mousés viu que os erveus, na sua ausência, tinham esculpido um enorme pónei de ouro e que o rodeavam, prestando-lhe culto através de práticas
absolutamente bárbaras e incivilizadas, colocando-se de joelhos ante o ídolo, erguendo os braços para o céu, repetindo frases estranhas e sem sentido e rastejando
pelo chão de um modo nada respeitador da sua integridade física.
Mousés, chocado pelo comportamento dos seus seguidores, exaltou-se e lançou o pónei dourado ao chão, gritando: “O que haveis feito, povo insensato? Não
vedes que não precisais de vos envolver em tais práticas de bajulação irracional? Se quereis rastejar, fazei-lo em adoração do Deus que está no cimo deste monte.”
Os erveus logo se recompuseram da perda do seu ídolo e puseram-se a rastejar ao mesmo tempo que arrancavam os cabelos e batiam com a cabeça no chão,
o que muito agradou aos olhos de Deus que tudo observava do alto.
Quando os egípcios pararam, finalmente, de rir, lançaram-se em perseguição dos erveus. Para lhes barrar a passagem e pensando em futuras adaptações
cinematográficas, Deus criou uma gigantesca coluna de fogo, dividiu o mar vermelho em dois e lançou contra os egípcios uma esquadrilha de naves espaciais tripuladas
por extraterrestres verdes e com muitos braços. Assim criou Deus os efeitos especiais.
VII
Os Primeiros Reis
Relato de autor desconhecido dos feitos dos primeiros monarcas erveus, Davi e Barrosão. Os críticos literários da época foram unânimes em
considerar este livro “um traste insípido sem revelar sequer uma partícula de talento e que mais parece saído da mente de uma criança de 3 anos”.
*
Assim se instalaram os erveus na terra que Deus lhes havia prometido e a baptizaram com o nome de Asrael. Os habitantes originais desta terra não viram com
muito bons olhos as visitas indesejáveis e logo começaram a fazer-lhes guerra. Os erveus responderam e com a grande força dos seus exércitos depressa derrotaram
os seus inimigos. Findos os combates, Deus dotou os erveus de um poder fantástico que lhes permitia convencer os outros povos do mundo do seu direito legítimo de
habitar em terra alheia.
Um dos primeiros soberanos dos erveus chamou-se Davi e ascendeu ao trono por ter realizado um feito admirável enquanto jovem que salvou a terra de Asrael
de uma invasão estrangeira. Quando era apenas um pobre pastor, Davi enfrentou e derrotou o campeão do povo invasor a que chamavam coliseus. Este chamava-se
Tobias e era o melhor soldado de todo o exército coliseu. Uma tarde, Davi aproximou-se de Tobias quando este praticava o costume a que os coliseus chamavam
“sesta” e deixou-lhe cair um enorme pedregulho na cabeça que imediatamente lhe ceifou a vida. Receoso de que a História não registasse condignamente o seu feito
como algo glorioso, Davi deu-lhe algum retoques. Assim convenceu Davi os erveus de que tinha derrotado Tobias, que descrevia como um gigante grande como uma
montanha, utilizando apenas a sua funda e uma pequena pedra. Os erveus ficaram imensamente agradecidos a Davi e logo o aclamaram como seu rei.
A Davi, sucedeu o grande rei Barrosão. Barrosão era um homem dotado de um grande sentido de justiça que se tornou lendário. Um dia, levaram até diante do
rei duas mulheres que reclamavam serem mães da mesma criança. Após questionar as duas mulheres, o sábio rei ordenou que cortassem a criança em duas partes
iguais que seriam entregues às duas mulheres. Uma das mulheres não se mostrou muito preocupada enquanto que a outra começou a implorar que não maltratassem a
criança, preferindo entregá-la à custódia da primeira. Com isto se descobriu quem era afinal a verdadeira mãe. Satisfeito, o rei mandou que castigassem a falsa mãe e
que entregassem à verdadeira o seu filho. Infelizmente, os servos de Barrosão eram muito zelosos e já tinham executado a ordem anterior, cortando a criança de alto a
baixo com uma grande espada. Apesar disso, não se pouparam a esforços para voltar a unir as duas metades.
Barrosão era também famoso pela sua grande voracidade sexual. No início, Barrosão tomou como amante a rainha de Sabá que se encontrava de visita a
Asrael. Quando a rainha partiu, o rei foi buscar a paragens longínquas as suas futuras companheiras. Uma veio da Rússia, três da Hungria, uma da Polónia, cinco do
Brasil, quatro da Tailândia e uma do nordeste trasmontano. Para além destas concubinas, o rei também tomou sob sua guarda dois transformistas holandeses e um
sueco e um massagista cabo-verdiano a quem chamavam Nilton.
Os apetites do rei acabaram por ser a sua desgraça quando foi encontrado a praticar sexo oral com uma estagiária na sala do trono.
De entre as muitas obras que o rei Barrosão deixou, a de maior importância foi o grande templo de Jerusalém de que apenas foi construída uma das paredes
pois o rei gastara a maior parte dos fundos com as suas concubinas. No entanto, usando de sua infinita sabedoria, Barrosão conseguiu convencer o mundo de que o
templo havia sido destruído pelo exército de um país vizinho.
VIII
Damião e Camila
O livro de Damião e Camila, inicialmente, deveria ser publicado como folhetim num semanário fenício de Tiro. Quando, por considerar que os
critérios jornalísticos adoptados pelos jornalistas e direcção eram algo dúbios, a administração encerrou o jornal, o autor de “Damião e Camila” resolveu
proceder a algumas alterações e transformar o seu trabalho num texto sagrado.
*
Naquele tempo, os coliseus tinham ocupado a terra de Asrael e faziam muito mal aos olhos de Deus. O que mais irritava Deus nos coliseus eram os seus
penteados que revelavam um mau gosto escandaloso. Coisas como o risco ao meio, a franja e o corte meia-tijela não podiam ser toleradas por isso Deus resolveu, do
alto da Sua grandeza, intervir.
Vivia naquela terra, um casal que não tinha filhos. Certo dia, quando a mulher estava sozinha no campo, Deus revelou-Se-lhe e disse: “Vais conceber uma
criança. Quando nascer, não permitirás que nenhuma lâmina se aproxime do seu cabelo, pois tal é a Minha vontade. A partir de agora, não mais beberás vinho e terás
cuidado com a alimentação. Virás ter comigo frequentemente para que Me possa assegurar de que tudo está a correr bem.” Assim, criou Deus a medicina obstetrícia.
Ao ouvir tais palavras, a mulher tentou explicar a Deus que não tinha filhos porque não os desejava e porque queria fazer carreira no mundo dos negócios, sugerindoLhe que fosse impregnar do Espírito Santo a vizinha do lado. Deus não atendeu ao seu pedido.
A mulher foi para casa e relatou o sucedido ao marido que ficou muito contente, não só por a sua mulher estar grávida de alguém que não era ele, mas porque
sempre desejara ter filhos. Deus ficou maravilhado com a credulidade do marido perante a gravidez repentina da mulher e pensou repetir a brincadeira mais tarde para
ver se o resultado seria o mesmo.
Quando a criança nasceu, puseram-lhe o nome de Damião, como era da vontade de Deus.
Damião cresceu forte e saudável e, como nenhuma lâmina se tinha aproximado do seu cabelo, tinha as madeixas rebeldes mais longas, belas e brilhantes de
Asrael e tudo sem recurso a champôs vitaminados.
Um dia, passeava Damião pelas ruas da sua cidade, quando viu um leão feroz que tinha escapado de um jardim zoológico próximo e que aterrorizava a
população. Damião aproximou-se do leão e, após um breve confronto, matou-o, fazendo uso do maxilar que tinha arrancado a um pobre burro que pastava por perto.
A população ficou-lhe imensamente agradecida mas os coliseus da Associação de Defesa dos Animais não acharam muita piada e logo se lançaram em
perseguição de Damião para o castigarem.
Como eram muitos, Damião viu-se obrigado a fugir. Após muito correr, e porque estava cansado, Damião refugiou-se numa porta que encontrou aberta. Era o
salão de Camila, a cabeleireira coliseia mais famosa da cidade e uma das responsáveis pela moda capilar que tanto tinha desagradado aos olhos de Deus. Damião logo
se apaixonou por ela, pois era muito formosa.
Com os seus encantos, Camila convenceu Damião a sentar-se na sua cadeira para que descansasse um pouco. Damião assim fez e, pouco tempo depois, tinha
adormecido.
Ao ver aquela cabeleira esteticamente tão desagradável, Camila pegou numa tesoura e num secador e remodelou o penteado de Damião, fazendo-lhe uma
exuberante melena que lhe caía sobre a testa e um risco ao lado. Este, ao acordar e ao contemplar o seu cabelo no espelho, perdeu as forças e toda a vontade de
viver. Arrancou o secador da mão de Camila e apontou-o aos olhos, cegando-os para não mais ter de olhar para o que tinha restado da sua pujante cabeleira.
Os perseguidores de Damião encontraram-no e entraram pelo salão de Camila adentro. Damião tentou escapar mas como estava cego, não conseguiu e
depressa se viu rodeado pelos coliseus que eram tantos que já se amontoavam contra as paredes do salão de Camila.
Enquanto bombardeavam Damião com palestras sobre os direitos dos animais, os coliseus, por serem muitos num espaço tão reduzido, levaram as paredes a
ruir, tirando a vida a Damião, a Camila e a si próprios. Para evitar que tal se repetisse no futuro, Deus entendeu por bem criar a engenharia civil e a lotação máxima.
IX
A provação de Bob
Foi a respeito deste livro que o eminente filólogo albanês, Edmond Rraskerj, disse: “Vjihamet nu mir ‘Utartjha na Bobu’ kjuhet nedit salmar pönte
gusherj. Pendalje zosh müka, vjahet kalmjre angüsh.”
*
Naquele tempo, vivia na terra de Rus, um homem de nome Bob que era justo e verdadeiramente temente a Deus. Bob era também um homem rico, pois o seu
trabalho era abençoado pelo Senhor como recompensa pela sua devoção.
Um dia, Deus encontrou-se com um antigo colega da Escola Superior de Divindades de nome Ananás, que, enquanto bebiam um copo na esplanada do
firmamento, lhe falou de Bob, alguém que tinha conhecido enquanto passeava pelo mundo, espalhando o mal, a crueldade, o sofrimento, a dor, a doença, a
escravatura, a prostituição, a pornografia, as telenovelas, a pedofilia, os maus tratos aos animais, o karaoke, a guerra, os parques de campismo e outras coisas
desagradáveis do género.
Ananás argumentava que a devoção de Bob era proporcional às graças que Deus lhe concedia. Dizia ele que, no momento em que as coisas lhe começassem a
correr mal, Bob não hesitaria em maldizer o nome do Senhor e em virar-se para o mal. Deus não concordou e propôs uma aposta. O destino de Bob ficaria entregue a
Ananás. Se este renegasse o seu Deus, o Senhor forçaria os membros das ordens religiosas a usar apetrechos sadomasoquistas nas suas orações. Se nada acontecesse
e a devoção de Bob permanecesse intacta, Ananás faria com que os músicos dos grupos de Heavy Metal se vestissem como anjinhos. Feita a aposta, Ananás lançou
as suas piores maldições sobre Bob.
Certo dia, estava Bob a jantar com a família, quando lhe entrou um servo quase sem fôlego pela sala de jantar adentro. “Senhor, venho informar-te de que
aconteceu uma desgraça,” disse o servo. “O que aconteceu homem?” quis saber Bob. O servo explicou que, enquanto estava nos campos a pastar os rebanhos, os
camelos começaram a estrebuchar e a salivar abundantemente da boca. Passado pouco tempo estavam mortos. Ao ver aquilo, as vacas ficaram com um brilho
sanguinário nos olhos e lançaram-se sobre as ovelhas, devorando-as. Depois, as cabras começaram a inchar e explodiram. A explosão provocou um incêndio que em
pouco tempo devastou todas as colheitas menos a de centeio. Logo a seguir, um mensageiro chegara com uma mensagem que dizia que o preço do centeio tinha
baixado para menos de metade. Mal se calou, as terras abateram e foram engolidas por um buraco sem fundo. A seguir, o mensageiro deixou-se cair e morreu.
Após ouvir as terríveis novas, Bob suspirou e disse: “Seja feita a vontade do Senhor. Pelo menos, ainda tenho a minha família”. No mesmo instante, sete dos
seus filhos e a sua mulher caíram inanimados no chão e Bob viu que estavam mortos. O oitavo filho, o único sobrevivente foi subitamente transformado em bailarino
profissional, o que para qualquer pai é um destino pior que a morte. Mas nem isto fez Bob abandonar a sua fé. “O Senhor deu, o Senhor tirou. Bendita seja a Sua
palavra”, disse. Mal acabou de pronunciar estas palavras, a sua casa desabou-lhe sobre a cabeça. Felizmente, o material usado na construção não era de grande
qualidade e não houve ferimentos de maior. Bob livrou-se dos escombros, rasgou as roupas e saiu para a rua completamente nu em sinal de luto. Foi multado por
atentado ao pudor, pisou uma pedra pontiaguda que lhe feriu a planta do pé e uma abelha picou-o numa parte sensível da sua anatomia. Enquanto se contorcia com
dores, um mercador que por ali passava vendeu-lhe uma colecção completa da Grande Enciclopédia das Espécies de Alface Silvestre da Mesopotâmia e enganou-se
no troco. Ananás lançou então sobre o corpo de Bob uma lepra peçonhenta que, de imediato, lhe cobriu o corpo de chagas. A tudo isto, Bob resistiu com fé.
Ananás fez, então, uso do seu último recurso e transformou Bob num dos funcionários que lêem os números em voz alta no Bingo. A isto Bob não pôde resistir
e, de imediato, renunciou a Deus e jurou lealdade a Ananás que, prontamente, lhe restituiu toda a sua felicidade anterior.
A aposta fora ganha por Ananás e Deus não teve outro remédio senão cumprir a promessa. Foi assim que, em todo o mundo, os membros das ordens
religiosas começaram a usar apetrechos sadomasoquistas nas suas orações. Para ocultar o facto, o Senhor providenciou que os monges, frades e freiras passassem a
viver em conventos e mosteiros, longe de olhares indiscretos.
X
Leis
Livro que reúne as leis e usos dos povos que habitavam nas margens do deserto do Sinai por volta dos sécs. VI e V a.C. A tribo papua dos
Mandlakhone ainda usa esta lista como código de conduta.
*
A respeito da alimentação:
O Senhor disse: “Não comerás da carne do animal que chafurda na lama, enquanto canta música tradicional italiana e bate as asas, porque tal criatura não
existe e a sua carne poderia ser indigesta. Não comerás da carne dos animais que arrastam o ventre pelo chão, pois tal será nojento. Não comerás da carne dos
animais com três patas porque tal não é sinal de boa saúde e poderás adoecer. Não comerás da carne dos peixes e crustáceos que nadam pelo fundo do mar dos
Sargaços porque não. Não comerás da carne dos teus irmãos e irmãs porque tal será mal visto pelos teus semelhantes, apesar de ser bastante saboroso. Não comerás
da carne dos animais a que chamam gansos, pois são uns bichos giros e não merecem tal sorte.”
Acerca da procriação:
“Não comerás a mulher do próximo, por mais vontade que tenhas. Não partilharás o teu leito com qualquer adolescente de corpo tenro, só porque casaste
com um traste qualquer. Não coabitarás com a tua mulher mais do que nove vezes por semana, porque isso já começa a ser tara, apesar de dar um grande gozo. Não
usarás fruta de qualquer espécie como brinquedo sexual porque as frutas são melhores em sumo.”
Acerca da circuncisão:
“Selarás a tua aliança comigo com a tua própria carne. Cortarás o prepúcio dos teus filhos com mais de oito dias de idade para que sejam recebidos como
Meus filhos e porque gosto de ver crianças a chorar. Quanto às meninas, ainda tenho de pensar num processo equivalente.”
Acerca de assuntos vários:
“Não tolerarás que chicos espertos passem à tua frente nas filas, pois tal é uma chatice do raio. Vingarás as ofensas de que sejas alvo, besuntando quem te
ofende com natas e chocolate líquido. Não usarás amêndoas porque isso já seria crueldade a mais. Não praticarás o desporto conhecido como ciclismo, só porque
gostas de depilar as pernas e não queres que as pessoas reparem. Não cuspirás para o chão, seu grandessíssimo porco! Não olharás para mulheres desconhecidas na
rua enquanto gritas impropérios como: ‘Boazona!’ e ‘Oh, grossa!’ ou ainda: ‘Anda cá ao pai se queres ver o que é bom’. Contarás o mínimo de anedotas possível,
seleccionando apenas as que têm alguma qualidade, pois a maior parte já começa a enjoar. Guardarás o Domingo para ires ao supermercado ou para ficares em casa a
vegetar enquanto vês televisão. Esforçar-te-ás por não ser uma pessoa séria em demasia, porque ninguém gosta de chatos.”
O EVANGELHO
Os livros que constituem este evangelho são da autoria dos quatro evangelistas, Marcos, Lucas, Mateus e João, antes de cada um ter seguido a sua carreira a
solo. O mérito desta obra merece ainda mais atenção por se tratar de um trabalho conjunto dificultado por uma série de factores: a situação política da época (por
volta do ano 73 a.C.), os problemas económicos dos autores (com a excepção de Mateus, que tinha recebido uma herança de um tio, pouco tempo antes), a saúde
precária da madrasta de Lucas e, principalmente, o facto de João ter vivido aproximadamente cem anos depois dos outros três.
*
XI
A anunciação
Muitos séculos depois da morte do rei Barrosão, a terra de Asrael foi invadida por um povo que dava a si mesmo o nome de “romanos”. Esta invasão foi
profundamente injusta pois os erveus, habituados a subjugar os seus vizinhos, não estavam preparados para lutar contra um exército com armamento mais refinado do
que paus, pedras e caras feias. Assim, os romanos ocuparam toda a terra dos erveus e aí passaram muitos anos, fazendo muito mal a todo o povo.
Foi por isto que os erveus começaram a implorar a Deus por ajuda. Este, do alto de Sua magnificência, tentou não ligar às súplicas que vinham da Terra mas os
erveus foram tão persistentes que o Senhor resolveu enviar-lhes um subalterno. Só assim, poderia dedicar-se à sua última criação: um planeta inteiro povoado
exclusivamente por mulheres de seios volumosos.
Assim, o subalterno de Deus, um anjo, desceu até à cidade de Belão onde vivia uma jovem mulher de nome Faria que desposara um carpinteiro de nome Tomé
mas que ainda não o “conhecera”. Por esta altura, já Deus havia criado o pudor literário que impedia referências explícitas ao acto sexual.
O anjo apareceu a Faria e disse-lhe: “Avé Faria, cheia de graça.” Faria desviou-se dele pois receou que fosse mais um indigente tresloucado com asas e
auréola radiante dos que enchiam as ruas chiques das cidades de Asrael, pedindo esmola.
“Não, espera,” disse-lhe o anjo, “pois eu fui enviado pelo Senhor teu Deus.” “Pois, pois,” respondeu Faria que conhecia os perigos que podiam advir da
contradição dos loucos. O anjo tornou a falar. “Venho anunciar-te que irás conceber um filho...”. Ao ouvir estas palavras, Faria assustou-se e apressou o passo. “...
por intermédio do Espírito Santo”, prosseguiu o anjo. “Mete lá o teu Espírito Santo para dentro das calças, meu porcalhão com asas,” disse Faria, já a correr em
direcção de casa.
XII
O nascimento
Certa noite, Faria deu à luz uma criança, um rapaz a quem chamaram Jesé. A criança foi recebida com grande alegria quer pela mãe, quer por Tomé, o pai, que
já havia ultrapassado a desconfiança inicial relativamente à inesperada gravidez da sua mulher que nunca o tinha “conhecido” nem a outro homem. Vendo isto, Deus
resolveu criar a biologia e a medicina ginecológica para evitar futuras incoerências deste tipo.
Pouco tempo depois de a criança nascer num modesto estábulo de Belão, recebeu a visita de três magos astrólogos, vindos do oriente que diziam ter sido
guiados até ali por uma estrela. Faria e Tomé não ligaram grande importância à conversa da estrela pois já estavam mais que fartos de gente maluca. Dos presentes que
os magos traziam guardaram o ouro e livraram-se do incenso e da mirra porque ninguém gosta de receber presentes inúteis.
Naquele tempo, reinava em Asrael um lacaio dos romanos chamado Bigodes. O rei Bigodes era um homem amável e gentil, muito estimado pelo povo. Certo
dia, trouxeram perante si um profeta que lhe revelou que naquela noite iria nascer o Messias que o substituiria como soberano dos erveus. O rei ficou radiante com esta
notícia e logo mandou que os seus guardas percorressem as ruas da cidade de Belão à procura de tão afortunada criança. Os soldados assim fizeram, levando alegria a
todas as crianças que encontraram. Infelizmente, Tomé e Faria haviam decidido mudar-se para a cidade vizinha de Nazarus e, por isso, o jovem Messias não foi
encontrado. Em verdade, foi apenas isto que aconteceu, apesar de, mais tarde, a história ter sido um pouco exagerada.
XIII
João Fascista
Jesé de Nazarus cresceu até à idade de 33 anos e decidiu dedicar-se à sua vocação messiânica, começando a vaguear pelos desertos que rodeavam a terra de
Nazarus. Certo dia, quando se preparava para atravessar a ponte sobre o rio Jordão, Jesé deparou-se com um homem enorme que lhe disse: “Desvia-te, pois esta
ponte não é suficientemente grande para os dois”. Jesé muito se admirou com a falta de delicadeza do homem que dizia chamar-se João Pequeno. Jesé tentou explicarlhe que se se encolhessem, poderiam passar os dois ao mesmo tempo mas o homem insistia que alguém teria que recuar e que, de certeza, não seria ele. Com isto, o
gigante pegou num cajado que trazia e tentou atingir a cabeça de Jesé com ele. Ao ver aquilo, Jesé recorreu aos seus poderes divinos e logo fez aparecer uma centena
de pães. Como aquilo não servia para grande coisa, lançou-os a uma multidão de famintos que por ali passava. Em seguida, Jesé materializou uma centena de peixes
que seguiram o mesmo caminho. A multidão delirava com a súbita abundância mas Jesé começava a entrar em pânico pois o seu opositor cada vez estava mais perto.
Numa terceira tentativa, Jesé fez aparecer a seus pés uma centena de ânforas de água que quase o levavam ao desespero. Olhando para as ânforas, Jesé lembrou-se
de transformar a água em ácido sulfúrico que poderia lançar à cara de João Pequeno, mas, mais uma vez, as coisas não correram bem e a água transformou-se em
vinho. A multidão, ao ver o vinho, começou a gritar: “Passa a pinga, ó Salvador!”, por não saberem o nome do seu benfeitor inesperado e julgarem que este era
apropriado. Por alguma razão, o nome pegou.
Desesperado, Jesé fez uma última tentativa e fez aparecer um bando de leprosos. A princípio, ainda tentou esconder-se atrás dos leprosos mas estes fugiram na
direcção da multidão ao verem o banquete. Os convivas não apreciaram esta última proeza e começaram a reclamar, dizendo: “Ó Sana, ó Sana!” Sana era o nome do
delegado de saúde pública da região que se encarregava de afastar os leprosos para lugar seguro.
Perante a ineficácia dos milagres de Jesé, João Pequeno chegou até junto dele e empurrou-o para dentro do rio com o cajado. Jesé caíu à água mas conseguiu
agarrar a túnica do seu opositor, arrastando-o consigo. Completamente encharcados, os dois começaram a rir e logo esqueceram as suas divergências.
Deus via tudo do alto, pois já havia perdido o interesse nas mulheres de seios volumosos, que deixam de ter piada passado algum tempo, e achou muito
divertido aquele folguedo aquático. Gostou tanto de ver Jesé e João Pequeno a chapinhar na água que decidiu que, daí em diante, todos os seus filhos deveriam levar
com água na cabeça antes de poderem chegar até junto de Si. Aproveitando o embalo, mudou o nome de João Pequeno para João Fascista para evitar confusões com
personagens de outras histórias.
XIV
Os apóstolos
Depois do seu baptismo, Jesé partiu em peregrinação pelas terras de Israel e chegou à região a que chamavam Larileia. Nesta terra, os homens viviam da
pesca no grande lago que ali existia e a que chamavam “Mar da Larileia.” Por esta altura, Jesé decidiu que precisava de ajudantes para o auxiliarem na sua missão
divina e começou a recrutar apóstolos ali mesmo. Aproximou-se da margem do lago e gritou para a tripulação de um barco de pesca ocupada com a sua faina: “Vinde
até mim, pois eu sou o Messias.” Ao que os pescadores replicaram: “Se és o Messias, então manda-nos ir ter contigo, andando sobre as águas.” “Então, vinde sobre
as águas, pois eu sou o filho de Deus”. Os pescadores, num repente de fé, lançaram-se à água e logo morreram afogados. Atrapalhado, Jesé disse o mesmo a um
outro grupo de pescadores que tinha estado a ouvir a conversa: “Vinde sobre as águas, pois eu sou o filho de Deus”, acrescentando, porém: “Mas vede primeiro se
tendes pé.” Os pescadores aproximaram o seu barco das margem e rodearam Jesé, reconhecendo-o como o único e verdadeiro Messias.
Assim, recrutou Jesé os seus discípulos. Toni a quem chamou Calhau; Valdnei, o brasileiro; Jorge, António, Júlio, filho de Maracuc; Pepe; Júlio, o contabilista ;
Alceu, o incrédulo; Cajó, o pastor; Meireles; Mohammed, o marroquino; e Carlos Alberto que o trairia.
XV
O sermão do planalto
Naquele tempo, já a fama de Jesé de Nazarus como prestidigitador se tinha espalhado por toda a terra de Asrael. Certo dia, Jesé subiu a um planalto e sentouse. Os seus discípulos imitaram-no. Passado pouco tempo, já uma multidão rodeava o Messias, esperando, ansiosamente as suas palavras.
Jesé começou então a ensiná-los, dizendo:
“Bem aventurados os pequenos, pois nunca poderão jogar basquetebol.
Bem aventurados aqueles que cheiram cola, pois deles será o reino das doenças do nariz e esófago.
Bem aventurados os copos de vinho branco, pois serão bebidos.
Bem aventurados os sinais de trânsito, pois terão cores lindas.
Bem aventurados os que gostam de ver luta livre praticada por alfaces, pois o desporto com hortaliça vai estar muito em alta, daqui a uns anos.
Bem aventurados os bifinhos de cebolada, pois...” Ao dizer isto, Jesé lembrou-se de que já estava na hora do jantar e convidou os apóstolos para comer num
restaurante afamado da zona a que chamavam “A Última Ceia”, não se conhecendo a origem de tão original designação.
XVI
O último petisco
Enquanto comiam, Jesé levantou-se, tomou o pão em suas mãos e disse para os discípulos: “Tomai e comei todos, este é...” Os discípulos não o deixaram
acabar e arrancaram-lhe o pão das mãos, pois estavam esfomeados e eram um bocado alarves. De seguida, Jesé tomou o cálice e disse: “Tomai e bebei todos, este é
o meu...” Mais uma vez, os discípulos tiraram-lhe o cálice e beberam tudo com grande voracidade. Jesé ficou profundamente agastado com este comportamento dos
apóstolos e não disse mais nada. Começava a pensar se teria acertado na escolha dos seus seguidores.
Quando os criados já traziam para a mesa as febras com batatas fritas e as cervejas, pois o pão e o vinho eram só para abrir o apetite (também havia manteiga
e queijo fresco, mas Jesé achou melhor não fazer o mesmo outra vez porque já sabia qual iria ser a reacção), as portas do restaurante abriram-se e entrou um
destacamento de legionários romanos comandado por um centurião que perguntou: “Qual de vós é Jesé de Nazarus?”. Os apóstolos logo se puseram de pé e
apontaram para o Mestre sem pensar duas vezes. Os romanos tinham sido ali mandados pelos erveus que se tinham sentido ludibriados por um número efectuado por
Jesé em que ressuscitara um homem de nome Ladislau que já se encontrava no túmulo. Os erveus tinham-se irritado, gritando que o homem estava só a dormir e que
aquilo não era um túmulo, mas uma oficina de sapateiro em que Ladislau trabalhava.
Os legionários prenderam Jesé e arrastaram-no para fora naquela que foi a primeira manifestação de violência policial. Antes de saírem, Carlos Alberto
aproximou-se de Jesé e disse-lhe que lhe tinham pago trinta dinheiros para o entregar às autoridades e que serviriam para pagar as últimas prestações da mula. A
seguir, deu-lhe um beijo porque era um homenzinho de gostos muito estranhos.
XVII
O julgamento de Pilau
Jesé foi então levado perante Pôncio Pilau, o governador da Jureia e também juiz daquela terra, pois a incompatibilidade de cargos ainda não havia sido
inventada. Disse-lhe Pilau: “És tu o rei dos erveus?”, pois era essa a acusação que os erveus tinham lançado sobre ele. Jesé disse que não, que aquilo era uma mentira
inventada por aqueles que dele tinham inveja. Pilau era um homem sensato e viu que Jesé falava a verdade. Voltando-se para os erveus, disse-lhes: “Este homem não
tem culpa alguma e, por isso, vou libertá-lo”. Os erveus responderam-lhe que não, que Jesé era um perigoso revolucionário anti-romano. “Então que quereis que lhe
faça?” perguntou Pilau. “Crucifica-o,” gritaram os erveus. “O quê?” tornou Pilau. “Prega-o numa cruz até morrer por asfixia,” explicaram os erveus. “A sério?” quis
saber Pilau.
“Sim!” gritaram os erveus. “Mas isso não é um bocado doloroso?” perguntou o romano. “Não. E até podemos enriquecer com a venda de miniaturas de Jesé
de Nazarus crucificado,” disseram os erveus. Pilau concordou e foi assim que os romanos passaram à história como um povo sanguinário.
Pilau resolveu tentar mais uma vez e perguntou à multidão se não queriam que libertasse Jesé porque era costume, por altura da Páscoa, libertar um criminoso.
“Solta antes Aguarrás”, gritaram os Erveus. Ora, Aguarrás era um perigoso assassino em série. “Muito bem”, disse finalmente Pilau. “Façam como entenderem,” e
mandou vir uma bacia de água para lavar as mãos, pois estavam sujas.
XVIII
O martírio
Jesé foi entregue aos legionários que o despiram e açoitaram, pondo-lhe uma coroa de espinhos na cabeça. Em seguida, foi conduzido a um monte perto da
cidade a que chamavam: “o lugar do tornozelo” que em aramaico se diz: “Shashkab-Maknuh-El-Bartrah-Kibab-Sadin-Valan-Kam”, pois esta era um língua
complicada. Aí, os romanos preparavam-se para pregar Jesé a uma cruz de madeira mas um deles, que tinha a mania da originalidade, lembrou-se de que seria muito
mais engraçado pregá-lo a uma pirâmide de madeira. Assim fizeram, mas logo perceberam que aquilo não era muito estético. O mesmo soldado sugeriu, então, um
malmequer de madeira. Despregaram Jesé da pirâmide e construíram um malmequer, voltando a pregá-lo, de seguida. O resultado continuava a não lhes agradar.
Pregaram Jesé ainda a um cilindro, a uma estrela de cinco de pontas, a uma tábua de engomar e a uma réplica em tamanho real do Monte Vesúvio. Nada parecia
funcionar. Finalmente, lá decidiram cumprir a sua ordem inicial e pregar Jesé a uma cruz, até porque já não tinham forças para construir estruturas de madeira mais
complicadas. Quando o fizeram, já Jesé havia morrido há muito tempo, pois nem o filho de Deus aguenta tamanhos maus-tratos. Os soldados ergueram a cruz e
lamentaram a sua falta de originalidade pois uma cruz nem sequer daria um símbolo decente para uma seita religiosa.
XIX
A “quase” ressurreição
Depois de morto, Jesé foi retirado da cruz e colocado num túmulo de pedra, como era uso entre os erveus. Três dias depois, voltaram a abrir o túmulo porque
um dos apóstolos tinha deixado lá uma sandália. Quando retiraram a enorme pedra redonda que tapava a entrada, espreitaram lá para dentro com uma candeia e viram
que o corpo do seu mestre lá não estava. Surpresos, começaram a gritar e a erguer os braços na direcção do céu, dizendo: “Ele ressuscitou. Ele ressuscitou.” Enquanto
faziam isto, o apóstolo Alceu, a que justamente chamavam “o incrédulo” chamou-lhes a atenção para o facto de se terem enganado e de o túmulo de Jesé de Nazarus
ser o que estava ali ao lado. Os apóstolos pararam de gritar, abriram o túmulo seguinte e viram que o corpo do Messias ainda lá se encontrava como seria de esperar.
Da sandália, no entanto, não havia o mínimo sinal.
O APOCALIPSE
XX
O livro do apocalipse é o mais enigmático de todos os que constituem o Livro Sagrado. É também o mais recente, datando do séc. II da nossa era. Os
acontecimentos relatados parecem ser uma previsão de algo que sucederá no fim do mundo, não se indicando uma data. Os elementos que mais confundem
os estudiosos são a referência a Michael Jackson e o “AAAAAAARGGHHH” final. Sir Duncan Fitzgerald, baronete de Plimroy, afirmou, no seu livro “Oh
My Dear, I Feel Rather Woopsy Today” que este grito simboliza a agonia do espírito livre a ser esmagado pelo peso insuportável da ambivalência de valores
da sociedade contemporânea.
*
No fim dos tempos, Deus passará a sua mão sobre a Terra para castigar os pecadores e premiar os justos com a vida eterna a Seu lado. Os mortos sairão das
sepulturas e voltarão a andar sobre a terra (como a imaginação de Deus já não andará em muito bom estado por esta altura, ver-Se-á forçado a copiar um videoclip de
Michael Jackson). Então, a Terra inteira será tragada por um mar de fogo e as bestas do Inferno correrão livres entre os homens ímpios, saciando-se com as suas
entranhas.
Assim, será o dia do Juízo, tal como Deus o revelou em sonhos a este Seu humilde seguidor. Arrependei-vos enquanto é tempo porque o fim aproxima-se e
lembrai-vos de que o Senhor pune aqueles que conspurcam a Palavra Divina com a morte mais cruel e dolorosa. Ámen. A paz e a glória de Deus seja convo...
AAAAAARGH!!!!!!!

Documentos relacionados