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Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014
V Enebio e II Erebio Regional 1
CIRCUITO BIÓLOGO DOCENTE: A RELAÇÃO SER HUMANO – MEIO
AMBIENTE - ENSINO
Edilene Freitas (Universidade Federal do Ceará – Ex-Monitora do LEBIO e bolsista
BIOLAB)
Gabriel Lima (Universidade Federal do Ceará –Ex-Monitor do LEBIO e bolsista PIBIDBiologia)
George Watson Monteiro (Universidade Federal do Ceará – Ex-Monitor do LEBIO e bolsista
PIBID-Biologia)
Kariny de Sousa (Universidade Federal do Ceará – Ex-Monitora do LEBIO e bolsista PIBIDBiologia)
Christiano Franco Verola (Universidade Federal do Ceará – Professor Coordenador do
LEBIO)
Erika Freitas Mota (Universidade Federal do Ceará – Professora Adjunta do Departamento de
Biologia da UFC e Coordenadora do PIBID Biologia)
Raquel Crosara Maia Leite (Universidade Federal do Ceará – Ex-Professora da Disciplina de
IPEC I e atual Professora Adjunta do Departamento de Educação)
RESUMO
O Circuito Biólogo Docente (CBD) é um evento elaborado por monitores das disciplinas de
Instrumentalização para o Estudo e Ensino de Ciências da Universidade Federal do Ceará.
Durante o período de Setembro à Dezembro de 2013, foram desenvolvidas, no III CBD,
diversas atividades que contribuíssem para a formação e valorização do biólogo docente, tais
como: Visita guiada ao Parque do Cocó; Exibição e discussão sobre o Documentário
“Criança, a alma do negócio” e a Construção do HortoBio. Houve palestras sobre
Construtivismo na Prática; Educação Ambiental e Grade Curricular do Curso de Ciências
Biológicas Licenciatura. Esse trabalho visa relatar toda a ação desenvolvida, dissociando-se
do modelo prussiano e tomando como referencial a transdisciplinaridade.
Palavras-Chave: Circuito Biólogo Docente, Instrumentalizações, Transdisciplinaridade
INTRODUÇÃO
Estamos preparados para nos posicionar como docentes diante de uma sala de
aula? Há apenas uma forma de posicionamento? E o comportamento de todos os indivíduos
que interagem dentro de uma sala de aula não é fruto do que vivem fora dela? Tais perguntas
norteiam o presente trabalho, que vai relatar ações desenvolvidas durante o III Circuito
Biólogo Docentes (III CBD), um evento organizado pelos monitores das disciplinas de
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Instrumentalização Para o Estudo e Ensino de Ciências e do Laboratório de Ensino de
Biologia – LEBIO, com colaboração dos bolsistas do PIBID-Biologia da Universidade
Federal do Ceará no ano de 2013.
O percurso escolar muitas vezes nos torna estudantes universitários sem
questionamentos, alheios às problemáticas e simplesmente metódicos. Mas qual a origem
desse método educativo? A educação pública brasileira teve grande influência dos ideais
franceses de liberdade, igualdade, fraternidade, na Revolução Francesa, no qual a população
pedia uma educação obrigatória para todas as classes sociais, porém o modelo utilizado
nasceu décadas antes, na Prússia. De acordo com Celeti(2011), o modelo educacional
prussiano estabelecia uma educação pública obrigatória, porém não partiu do mesmo intuito
francês, que buscava uma reformulação social, mas o fortalecimento do Estado perante os
cidadãos.
“Algumas características da Educação Obrigatória são frequentar uma
instituição previamente habilitada para tal competência, sendo o excesso de
falta punível ao aluno e aos pais negligentes. Os profissionais responsáveis
pela educação devem estar previamente habilitados através de certificados
aprovado pelo Estado. Os períodos diários, semanal e anual são
determinados pelo governo para as instituições de ensino. As grades
curriculares devem estar de acordo com as grades definidas pelo governo”
(CELETI, 2011).
É notável a instalação do modelo educacional prussiano em nosso país, sendo
também observado que o mesmo não supri as carências cognitivas e afetivas do
desenvolvimento humano, pois leva em consideração, a aprendizagem como um fator de
repetição, a falta de autonomia do aluno e a ausência de importância dos relacionamentos e
sentimentos na educação para o crescimento individual e coletivo, Celeti(2011).
Visto que vivemos em meio ao mundo em constantes mudanças e encaramos o ser
humano como propulsor e receptor destas, em que esse não é um ser estático que apenas
absorve conhecimento, mas possui a capacidade de concordar e discordar, de gerar
conhecimento e ser autor da própria história, conforme destaca Feire(1984). Dissociamo-nos
do modelo prussiano a que se refere Celeti(2011) e nos apoderamos de outros modelos e
ideias educacionais para o desenvolvimento humano por completo, fora da perspectiva de
produção e controle político. E buscamos expor e envolver os estudantes nessas mesmas
concepções. Portanto, na procura de novos modelos e ideias, embasamos nosso trabalho nas
seguintes pergunta e afirmações:
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“Quais as possíveis contribuições do atual pensamento científico para
repensar uma nova proposta educacional? (...) Acreditamos que a aplicação
dos critérios decorrentes do pensamento pós-moderno na educação e o
estudo das teorias que tenha maior correspondência com eles poderão
significar uma importante contribuição não apenas em relação aos aspectos
educacionais, mas também para o resgate do ser humano, com base em uma
visão sistêmica, ecológica, interativa, indeterminada. O aluno passará a ser
visto como aquele ser que aprende, que atua na sua realidade, que constrói o
conhecimento não apenas usando o seu lado racional, mas também
utilizando todo o seu potencial criativo, o seu talento, a sua intuição, o seu
sentimento, as suas sensações e as suas emoções” (MORAES, 2006, p.84).
Esse tipo de pensamento é visto também a partir de Gardner(1983) que aborda
sobre a Teoria das inteligências múltiplas, na qual cada indivíduo possui habilidades
específicas e distintas, estas são identificáveis, cuja a tarefa muitas vezes é cabível ao
professor. Por esse e outros motivos, educar sempre foi e sempre será um desafio para o
educador, visto que este é um dos primeiros indivíduos que participam da formação de
qualquer ser humano fora do âmbito familiar. Participa de todo o processo de
desenvolvimento humano, e possui papel fundamental nas conquistas individuais dos alunos,
formação da responsabilidade social e construção de valores. Portanto, embasamos nosso
trabalho em mais uma afirmação:
“Quanto mais cedo nos convencermos de que o ensino não é tarefa
mecânica, mas uma arte liberal que exige criação, melhor será. Muitas coisas
estão dependendo disso. A civilização, em progresso, está grandemente
subordinada à educação, para que se permita à escola que continue no seu
mister, com processos rudes e empíricos. O ensino precisa ser arte mais
elevada, baseada na liberdade da ciência e da filosofia. Só a esse ensino é
que a sociedade pode confiar a sua continuidade” (KILPATRICK, 1967,
pág. 87).
Segundo Gómez(1995) o professor reflexivo age como um mediador entre a
comunidade científica e a sociedade comum, sempre levando e discutindo temas pertinentes
ao bem estar da população, tal pensamento constitui um importante conceito trabalhado nas
atividades. A partir disto é evidente a capacidade de transformação que a educação possui,
mas, no entanto, também fica claro que não se transforma com qualquer educação, necessitase de um trabalho de construção, reflexivo e filosófico sobre as nossas ações e pensamentos.
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Segundo Freire(1984), a consciência se constitui como consciência do mundo e
não é possível se conscientizar separadamente dos demais.
Nesse contexto, o papel da
educação é mais do que possibilitar a mobilidade e progresso individual. Educar é possibilitar
que o homem se perceba como autor da história e do mundo, que se entenda como ser capaz
de se inter-relacionar com o ambiente em que vive e com as outras pessoas do espaço,
ajudando-as a entender a importância da participação de cada um. Para isso é necessário que o
professor esteja aberto à mudança e que se entregue a um constante estado de reflexão do seu
próprio comportamento, para que ele consiga agir como agente transformador de si mesmo e
do mundo. Essa tomada de consciência por parte do ser humano, e especialmente por parte do
docente, tem um importante papel propagador, uma vez que segundo Hensor e Eller (2000) o
ser humano possui a capacidade de aprendizagem pela observação, ou seja, um indivíduo se
modifica em função da exposição ao comportamento de outros indivíduos.
Daí, o propósito do CBD, é criar espaços de relações e mais que isso propor
discussão e construção, e a partir do que foi dito anteriormente, propor vivências para que
haja mudança pelo exemplo. O grande foco do CBD é a transdisciplinaridade, esta não deve
estar presente apenas no ensino básico, mas também presente na universidade, para que o
pensamento acadêmico esteja fortemente ligado aos aspectos sociais, principalmente em uma
área como a das Ciências Biológicas, que compreende todo o conhecimento relacionado à
vida, mas ao mesmo tempo não recebem a importância e atenção devida, justamente por esta
falta de ligação com as vivências comuns. Esse fato também justifica-se pela forte tradição
disciplinar, que acaba por impedir soluções envolvendo um caráter mais interdisciplinar na
formação, vinculado ao campo da prática curricular da escolarização básica (GATTI &
BARRETTO, 2009).
Pode-se citar ainda que o processo de oferta dos cursos permite inferir que as
condições de formação dos professores continuam longe de serem consideradas satisfatórias,
principalmente pela ausência de um desenho mais claro do perfil profissional a ser atingido,
vinculado de forma mais orgânica ao campo da prática docente (GATTI & BARRETTO,
2009). O CBD foi pensado e existe para transpor essas barreiras, tendo como ideal traçar
novos horizontes e modelos educacionais para torná-los mais próximos dos futuros docentes.
Ademais incrementa a formação dos licenciandos com discussões pertinentes e atuais na área
de ensino e biologia.
“A construção de professores críticos e reflexivos, de intelectuais engajados
e capacitados para a construção da cidadania na sala de aula é desafio
emergente e imprescindível em qualquer tentativa consequente de
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transformação da escola. Favorecer, incentivar, estudar e/ou provocar as
condições para que este desenvolvimento ocorra, capacitando os professores
para enfrentar estes desafios, é tarefa a que a universidade não pode (mais)
se furtar” (DIAS-DA-SILVA, 1998, p. 6).
Desta forma, o Circuito Biólogo Docente apresenta como objetivo principal a
valorização do profissional biólogo na área de ensino, através da divulgação do seu trabalho.
Outro ponto importante é a proposição de vivências e despertar docentes criadores, reflexivos
e transformadores. O CBD visa também evidenciar problemáticas nas áreas sociais que estão
relacionadas à biologia, aproximando os futuros docentes dessa visão, para que entendam a
relação ambiental e social e a partir disto proponham como docentes atividades
contextualizadas para seus alunos. Busca trabalhar e expor metodologias de ensino que
procurem a formação humana holística e contribuir na formação dos estudantes e dos
monitores das disciplinas.
A CONSTRUÇÃO DO III CBD
A proposta das atividades foi desenvolvida a partir das ideias dos monitores das
disciplinas de Instrumentalização para o Estudo e Ensino da Ciência e apoio dos professores
orientadores. Escolhemos como tema “A relação ser humano, meio ambiente e ensino” em
virtude de mudanças dentro do espaço físico do curso de Ciências Biológicas, no espaço
físico da cidade e nos ideais sobre o que é verdadeiramente ter uma boa educação. Os
monitores se reuniram semanalmente durante o primeiro semestre de 2013.1 e traçaram datas
para o desenvolvimento das atividades, como filmes e palestras. O período do evento foi de
16 de Setembro a 13 de Dezembro do ano de 2013, tal período foi escolhido para que se
acolhessem estudantes em diversas datas, contribuindo para uma melhor participação e
desenvolvimento do evento. Foram elaboradas 6 atividades, que proporcionassem grande
aprendizado e experiências engrandecedoras e reflexivas sobre o papel do ser humano e do
biólogo no desenvolvimento social. As atividades realizadas foram: visita guiada ao Parque
do Cocó, exibição do documentário “Criança, a alma do negócio”, palestra “Construtivismo
na prática”, construção do HortoBio, Palestra “Educação Ambiental: realidades, experiências
e sentimentos” e a palestra "Formação de Professores nas Ciências Biológicas: entre histórias
e políticas de currículo". Cada uma das atividades ocorreu com uma carga horária diária de
uma a duas horas, exceto à visita guiada ao Parque do Cocó, que teve uma carga horária de
seis horas. Todas as atividades tinham ampla divulgação através de páginas na web, por meio
da página do LEBIO – Laboratório de Ensino de Biologia no facebook e em seu blog, na qual
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foram feitos os posts de cartazes pelos monitores, para a divulgação de horário, local,
atividade e vagas.
III CBD: A REALIZAÇÃO
1ª Atividade: A Primeira atividade foi realizada em campo, no Parque do Cocó. Para tanto,
houve a locação prévia de um ônibus de forma que as vagas eram limitadas e seguiam a
ordem de inscrição no evento. Para os alunos menores de 18 anos foi requerida autorização do
responsável legal. A atividade durou em torno de 6 horas juntamente com o deslocamento.
Durante a trajetória foi exposta pelos monitores (realizadores do evento) a problemática que o
Parque Ecológico do Cocó e o Rio Cocó estavam passando, foi divulgada uma notícia de que
o Rio já era considerado 100% poluído, da nascente à foz, e um mapa que falava sobre as
propostas de delimitação de área do Parque, e todas as obras que estavam sendo construídas e
planejadas, que invadiam cada vez mais essa área. Vale ressaltar que no período da visita,
encontrava-se no Parque o Acampamento Ocupe o Cocó, um grupo de pessoas que tinha o
mesmo objetivo, o de defesa do Parque, pois no local do acampamento em meio à área
florestal, o governo pretendia construir um viaduto, este tinha como finalidade melhorar o
trânsito local. No entanto, interferia fortemente no meio ambiente, visto que cada vez mais o
Parque perdia espaço, ao invés de optarem pela desapropriação de áreas já construídas. Nesse
contexto, nós monitores fomos instigados a pensar sobre como inserir estudantes do curso de
Ciências Biológicas nessa problemática que estava gerando graves conflitos na cidade e que
iria interferir fortemente com o meio ambiente. Foi então que se conseguiu levar 26 alunos do
curso de Ciências Biológicas, entre licenciandos, bacharelados e graduados, o guia Leonardo
Jales e a representante do BNB, Thaís Monteiro. Por meio destes dois últimos, foi possível a
realização da prática, totalizando 28 pessoas. Na chegada ao local, foram identificadas áreas
que seriam degradadas. Adentramos, observamos e reconhecemos a flora e fauna do local, em
seus diversos ambientes, dentro de um mesmo ecossistema pudemos percorrer a restinga, as
dunas, a floresta fechada e úmida próxima ao rio e o apicum, onde neste último já no horário
de fim de tarde, sentamos em círculo e pudemos fazer uma breve reflexão sobre o nosso
papel, naquele espaço, com aquelas pessoas. Discutimos sobre a justiça ecológica, que de
acordo com Leonardo Boff(2004), trata-se de uma responsabilidade individual de prover os
recursos ambientais necessários para a manutenção das futuras gerações, ou seja, é uma
escolha individual para um bem coletivo. Esse mesmo pensamento foi baseado no seguinte
autor:
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“As diferentes raças e culturas não têm o mesmo direito de habitar o planeta
terra? Não é da responsabilidade de cada geração da espécie humana de
preservar o planeta para as gerações futuras? Edgar Morin (2000) diz que um
especialista que somente é especialista é um perigo para o mundo e para a
humanidade.” (AKIKO SANTOS Apud EDGAR MORIN, 2005).
E assim encerrou-se a visita, com reflexões e agradecimentos aos guias e a
presença de todos os estudantes.
2ª Atividade: Foi apresentado um documentário: “Criança a alma do negócio” que aborda a
temática do consumismo e mostra que o público infantil tornou-se alvo preferencial da
publicidade. O documentário expôs vários dados graves sobre o consumo no Brasil, e o papel
da mídia para influenciar crianças a desenvolver desde cedo o desejo em possuir
exageradamente algo. Nesse contexto, qual o papel dos professores de diversas áreas, em
especial professores de biologia, para trabalhar esta questão? Como mudar um
comportamento trabalhado pela mídia desde cedo e muitas vezes com o apoio do governo? E
como trabalhar a sensação de impotência diante de um problema tão grave e que nos guiará a
consequências ruins? Além da questão do consumo influenciado pela mídia, pudemos assistir
também a influência da mídia na sexualidade de crianças e pré-adolescentes, dois temas muito
presentes nos conteúdos a serem abordados pelo professor de biologia, mas que são assuntos
que extrapolam a questão conteudista e que precisam ser trabalhados por envolverem
diretamente noções de responsabilidade, o bom relacionamento social e comportamento
cidadão. O documentário teve duração de 50 minutos. Ao término os alunos expuseram suas
observações e foi feita uma síntese pelos monitores.
3ª Atividade: Palestra “Construtivismo na prática”, na qual se discutiu uma nova proposta
Pedagógica com uma das coordenadoras e uma professora da Escola Vila, Morena Limaverde
e Aline Néris, respectivamente. Diferentemente das escolas tradicionais, o projeto pedagógico
da Escola Vila propõe um ambiente de aprendizagem Construtivista que a partir de outros
valores essenciais como cooperação e autonomia, trabalha com o aluno os valores humanos, a
consciência ecológica e a cidadania, para que dessa forma ele possa, com suas atitudes,
assumir responsabilidades. A palestra teve duração de uma hora. Os estudantes tiveram acesso
a uma nova ideologia educacional e refletiram sobre os aspectos positivos e negativos perante
o ponto de vista individual, de cada futuro profissional docente. Ao final da palestra os alunos
relataram experiências positivas e negativas vividas em ambientes escolares, havendo nesse
momento uma troca de experiência.
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4ª Atividade: Tal atividade teve como objetivo a Construção do Mine Horto dentro do bloco
didático da Biologia. Visto que o bloco era novo e havia sido recentemente liberado para as
aulas, se encontrando “sem vida” e sem identidade “biológica”. Dessa forma, os monitores
buscaram desenvolver alguma atividade que tivesse ligação com o tema da palestra anterior
sobre Construtivismo, surgindo assim a proposta da construção da identidade dos estudantes
com o bloco novo e uma pegada ecológica, através da agroecologia. Para a construção do
Horto, houve uma coleta prévia de garrafas descartáveis de refrigerantes de 200 mililitros e de
5 litros. Foram comprados antecipadamente sementes, mudas e adubo. Em um espaço
subutilizado dentro do departamento de Biologia, o projeto construção do HortoBio foi
iniciado pelos Monitores e alunos com a limpeza. Em seguida os buracos foram cavados e
colocado o adubo e posteriormente foram plantadas as mudas. As garrafas de 200 mililitros
foram utilizadas para delimitar os espaços entre as mudas, já as garrafas de 5 litros foram
utilizadas para algumas mudas serem expostas verticalmente. Alguns alunos trouxeram as
mudas de casa. A manutenção do HortoBio ficou sendo feita pelos monitores durante a
semana e aos finais de semana ficou sob os cuidados voluntários dos zeladores que também
colaboraram com a confecção do mesmo. Em parceria com o Centro Acadêmico da Biologia,
eles desenvolveram uma semana zero, com os calouros, para cuidados e revitalização da
horta, todo começo de semestre. O local foi denominado como HortoBio e não tem
delimitação de tempo para conclusão da construção, pois está sempre sendo aperfeiçoada..
Essa prática se embasou nos pensamentos de Marc Augé(1994) que disserta sobre lugares,
ambientes em que há identificação pessoal, sentimento, cuidado e responsabilidade; e não
lugares ou ambientes que sem identificação tornam-se apenas locais de passagem.
5ª Atividade: Nessa palestra convidamos o pedagogo, educador ambiental e artista plástico
Vinícius Lima, em parceria com o PET Biologia. Ele nos relatou vários fatos que fizeram
parte da sua carreira/vivência, alguns que lhe motivaram outros que quase lhe fizeram desistir.
Tal exposição de experiências foi muito importante para os estudantes de biologia que
desejam seguir a docência. Conhecemos uma educação que prioriza os sentimentos e
relacionamentos e que a partir disto pode haver uma troca mútua de conteúdos e
conhecimentos bastante respeitosa. É impossível o ser humano conquistar o equilíbrio do
ambiente se ele não conseguir conquistar seu próprio equilíbrio. Educar é colocar-se no local
do outro, entende-lo, identificar e desenvolver suas capacidades e inteligências múltiplas. A
palestra teve duração de 90 minutos. Ao término houve questionamentos e exposição de
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alguns de seus trabalhos como artista plástico para os alunos, como pinturas em tela,
esculturas, os quais ele utiliza como válvula de escape e criação para futuras ações educativas.
6ª Atividade: Por último, houve a palestra da Professora Márcia Ferreira da Universidade
Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, intitulada "Formação de Professores nas Ciências
Biológicas: entre histórias e políticas de currículo", em parceria com o PIBID Biologia. Foi
importante para que os alunos entendessem como é feita a construção da grade curricular dos
estudantes de biologia, modalidade licenciatura. Puderam verificar que nada é estático, e que
nos últimos anos o curso vem sofrendo grandes mudanças e reformulações, para que haja
cada vez mais inserção de disciplinas de ensino em todas as grades curriculares dos cursos de
licenciatura. Além disso, ficou claro ações que visem colocar a escola de ensino básico não
mais apenas como destino final do graduado, mas que fosse objeto de estudo e participante da
formação dos estudantes de licenciatura ainda na graduação desempenhando um papel de
extrema relevância. Isto pode dar-se através da inserção de estágios e programas de iniciação
à docência, como o PIBID – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, para
aprimorar a formação do licenciado, valorizá-lo e capacitá-lo. A inserção antecipada na
dinâmica escolar proporciona maior tempo de adaptação, segurança e desenvolvimento. A
palestra teve duração de 90 minutos.
ESTABELECENDO RELAÇÕES
Algumas relações podem ser feitas entre os CBD’s já produzidos e o III CBD, no
qual participamos ativamente, quanto ao número de participantes, atividades e variedade de
abordagens. O que foi observado foi que houve uma diminuição do público, porém um
aumento de atividades e variadas abordagens (Quadro 1). Nesse CBD foram usadas diferentes
modalidades didáticas, sendo propostas atividades: de campo (Cocó), documentário (Criança,
a alma do negócio), palestras (Educação Ambiental, Currículo do licenciado em Ciências
Biológicas e Construtivismo) e práticas (Construção do HortoBio). Foram atividades
formadoras, criadoras e reflexivas, que buscavam envolver o público com fatores e assuntos
que se não hoje, futuramente estarão fortemente relacionadas ao contexto escolar. Os CBD’s
passados utilizaram-se de apresentações de TCC’s, palestras e exposições, podendo
possivelmente justificar pelas modalidades utilizadas, o alcance de um público maior.
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Quadro 1. Relação entre CBD, alcance, atividades e variedade de abordagens.
I CBD
II CBD
III CBD
Alcance
104
133
77
Nº de Atividades
5
3
6
Variedade de abordagens
2
1
4
Fonte:
CIRCUITO
BIÓLOGO
DOCENTE:
ALIADO
NA
“FORMAÇÃO
E
INFORMAÇÃO” DOS LICENCIANDOS EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA UFC.
Quando comparados os números de monitores que participaram nas três diferentes
edições do CBD, o III CBD teve uma menor quantidade (5 monitores), II CBD (10 monitores)
e I CBD (6 monitores), porém apesar disso, foi organizado o máximo de atividades já
registradas, sugerindo um maior empenho dos monitores em desenvolverem atividades que
contribuam na formação do licenciando em Ciências Biológicas.
RELATOS DOS PARTICIPANTES
“Foi revigorante e motivadora a visita feita ao Parque do Cocó no dia 25 de Setembro de
2013. Começando o tour pela parte recentemente desmatada, pudemos observar um pouco da
sucessão ecológica em ação além de sentirmos na pele a diferença térmica dessa área para a
parte arborizada do parque. Nas belas trilhas do parque, além de observarmos a fauna e a flora
do local, ouvimos nosso guia falar sobre o contexto atual da administração e manejo do
parque, os riscos que ele corre o que já vem sendo feito para tentar protege-lo. Ao final da
trilha, relaxamos no topo das dunas milenares e parabólicas do Cocó (também ameaçadas),
enquanto nos alimentávamos e discutíamos as poligonais do parque. Antes de voltarmos
fizemos ainda uma roda de conversa e uma visita ao acampamento que tentava impedir a
construção de dois viadutos no final da Antônio Sales (a primeira das 11 obras dentro da
poligonal do Cocó). A experiência foi riquíssima: Aprendemos sobre a fauna e a flora do
maior parque natural urbano da América Latina, o contexto histórico e administrativo deste,
além de conhecermos o dia a dia das pessoas que estavam resistindo às investidas das
construtoras. O velho e verdadeiro clichê foi muito bem praticado: Conhecer para preservar!”.
Gabriel Aguiar (Estudante do 1º semestre em Ciências Biológicas).
“As palestras foram de grande importância, por envolverem temas tão pertinentes na ação do
biólogo docente. Serviu como orientação em diversas temáticas, sobre a grade curricular do
curso, além é claro de ter acesso a outras linhas de pensamento sobre a educação e ter acesso
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direto a profissionais que vivenciaram isso na prática e puderam expor suas dificuldades e
motivações. Foram oportunidades únicas, as quais deveriam sempre estar acontecendo e
contribuindo para a boa formação do profissional docente.”
Yuri Furtado (Estudante do 7º semestre em Ciências Biológicas).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim como as versões anteriores, o III CBD preocupou-se com a inserção de
discussões pertinentes ao ensino de biologia. Nas atividades desenvolvidas no Parque do
Cocó e na palestra de Educação Ambiental evidenciou-se bem uma relação de mutualidade
entre a atividade docente e a científica, destacando implicações científicas e sociais
relacionadas principalmente ao meio ambiente e o papel da educação nesse contexto.
Questões sobre uma prática educacional reflexiva voltada para a sensibilização fizeram parte
desses dois momentos, mas foi na palestra “Construtivismo na prática” e na palestra
“Formação de Professores nas Ciências Biológicas: entre histórias e políticas de currículo”
que as discussões direcionadas especialmente para a prática docente se desenvolveram mais
fortemente, tanto nos relatos que descortinaram novas práticas de ensino, como nas análises
expostas sobre a formação dos professores de ciências e de biologia atualmente.
O documentário “Criança: a alma do negócio” provocou reações interessantes.
Assim como nas atividades de caráter ambiental, foi possível uma leitura que considerava os
aspectos da biologia sem dissocia-los da realidade. Temas como consumo, sexualidade e
saúde foram abordados no filme e despontaram nas discussões revestidas de suas repercussões
sociais, éticas, políticas e econômicas. Já a construção do mini-horto foi uma atividade prática
que envolveu os participantes à trabalharem com criatividade e colaboração por um bem em
comum. O grupo acredita no êxito do evento pelos futuros biólogos e professores de biologia
estarem cada vez mais envolvidos e responsáveis pela resolução das problemáticas educativas
e socais. As atividades devem servir como instigadores aos futuros docentes pela busca de
novas práticas importantes para a realidade atual em que vivemos.
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