Untitled - Goodreads
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...........................................................................................7 ................................9 .......................................................................... 11 ................................................................................ 12 ................................................................................................... 13 AS AVENTURAS DO JOÃO SEM VIDA .................................................. 17 O JOÃO SEM VIDA E O FANTASMAS DAS CUECAS ROTAS.................... 21 O JOÃO SEM VIDA E OS CLINTSONES ................................................. 24 O JOÃO SEM VIDA NO VATICANO ...................................................... 27 O JOÃO SEM VIDA ENCONTRA O GRANDE EURICO A. CEBOLO........... 30 O JOÃO SEM VIDA NO EGIPTO ........................................................... 34 O JOÃO SEM VIDA NA CAPELA SISTINA.............................................. 37 O JOÃO SEM VIDA NO AUTO DA BARCA DO INFERNO........................ 41 A REENCARNAÇÃO DO JOÃO SEM VIDA ............................................ 45 AS AVENTURAS DO NOVO JOÃO REENCARNADO .............................. 51 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O TEMÍVEL MONG.......................... 57 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O GRANDE SHAKESPEARE .............. 60 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O PADRE MARCELO ROÇA .............. 63 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O HOMEM-CATÁLOGO.................... 67 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O PRIMO DO MACACO ANDRÉ ....... 71 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O DAMBI ........................................ 74 A CRISE EXISTENCIAL DO NOVO JOÃO REENCARNADO ...................... 76 O NOVO JOÃO REENCARNADO NO PAÍS DAS MIL MARAVILHAS ........ 79 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O GRANDE FREUD .......................... 85 O NOVO JOÃO REENCARNADO E A GRANDE ENTROPIA ..................... 91 AS AVENTURAS DO JOÃO IRREAL ...................................................... 95 O JOÃO IRREAL E OS JETSETSONS ...................................................... 99 Pois é. Após tanto tempo de espera* eis que chega às vossas mãos o segundo volume das aventuras do personagem mais complexo, mais simples, mais íntegro e mais díspare da literatura.** Para aqueles que estão a pensar: “Mas ele não tinha morrido no outro livro?”, então não pensem, falem. Se não falarem eu não vos oiço. Não é que eu vos vá ouvir mesmo, mas sempre fica melhor. Portanto, para aqueles que estão a perguntar: “Mas ele não tinha morrido no outro livro?”, a minha resposta é: não é “tinha morrido”, é “morreu”. Aprendam a falar bem. Para além dessa pequena correcção, devo dizer-vos que são muito cépticos se acham que é uma coisinha tão insignificante como a morte que vai parar um personagem destes. Só para verem, a primeira parte desta livro é toda ela passada com o personagem morto e depois continua até à reencarnação, até à irrealidade, até à realidade e até ao fim. Definitivo? Não sei. Aqui não dá para ter certezas. Mas, por agora, vamos fazer uma pausa. * Espero não estar enganado. É que esta página foi escrita antes do livro estar acabado. (Primeira Nota Não-Creditada do Autor) ** Podia perfeitamente trocar o “mais” por “menos”. Não ia fazer qualquer diferença. (Segunda e última Nota Não-Creditada do Autor) Poema do pescador O pescador acorda cedo para apanhar peixe. Se o pescador se porta mal não há quem o deixe Apanhar peixe fresco. O pescador leva sempre uma rede e um cesto. O pescador vai para o alto mar Para o seu peixe apanhar. O pescador tem um pequeno barco de madeira Mas gostava de ter uma traineira. O pescador usa um anzol Com uma minhoca E à noite tapa-se com um lençol. O pescador quer ir para os mares do norte E, apanhar uma foca. Mas, o pescador não tem sorte. Para que é que serviu este poema? Para gastar tinta Para ocupar espaço na folha Para eu escrever Para vocês lerem Para nada Destas cinco respostas, qualquer uma delas é válida. O mesmo acontece em relação a este livro. Ninguém é obrigado a lê-lo e gostar. Nem tão pouco são obrigados a ler. Agora, não se admirem se estiverem com os vossos amigos e começarem a ser postos de lado por não saberem do que é que eles estão a falar. A culpa é e será toda vossa. Não leiam isto, por favor. Está muito mal escrito e é apenas o último recurso de alguém tem como intuito obter dinheiro fácil à custa dos outros. Pessoas assim deviam ser queimadas vivas, espetadas num pau e acusadas de fraude. Exactamente por esta ordem. Parasitas da sociedade, é o que eles são! Andam entre nós, tipo lobos em pele de cordeiro e assim que um de nós se distrai… pumba! Saltam-nos para cima. Eles não se lembram que as pessoas têm um vida para tratar? As pessoas hoje em dia não têm tempo para ouvir sempre a mesma lengalenga, sempre as mesmas pessoas. Ainda por cima, a maioria desses charlatões não tem certeza daquilo que está a falar. Um dos onze, perdão, dez mandamentos, o primeiro ou o segundo… (Ou seria o terceiro? Acho que é o quarto…) Bom, não interessa. Dizia eu que um desses mandamentos diz que não devemos enganar o próximo… acho eu. Mas, esse mandamento (supondo que exista mesmo) é tanto válido tanto para as pessoas que estão próximas como para as que estão afastadas. Enganar as pessoas é feio! Pedia-vos agora que fizessem um minuto de silêncio em homenagem a todos aqueles que já foram enganados. Minuto de silêncio em homenagem a todos aqueles que já foram enganados. Vêem como custou? Um minuto não chega para tanta gente! Por isso, se não querem fazer parte desse conjunto de pessoas, não leiam este livro. é um aviso de Deus, nosso Senhor. E, por falar em Deus, já adquiriu o seu seguro pósvida? Não? Então, despache-se. A apólice custa apenas quinhentos mil euros por mês. Entre outras vantagens, este seguro dá-lhe a possibilidade de morrer em qualquer parte do mundo, mesmo em território muçulmano ou hindu ou budista ou pagão, e ter sempre a garantia de ir para o Paraíso cristão. Compre já! FIM DO COMUNICADO Neste espaço irei enunciar os nomes das pessoas que, de algum modo, contribuíram para a origem desta obra. Muitos deles não os conheço, mas a sua influência foi de grande influência. Alguns deles, fizeram uma contribuição póstuma (no sentido em que já estão mortos) o que torna a sua presença neste livro ainda mais interessante. Obrigado a: Mim Paulo Lameira (co-autor da primeira história do pequeno João) Deus Gil Vicente Vicente Eurico A. Cebolo Padre Marcelo Rossi Líderes de canais de televisão públicos e privados William Shakespeare Walt Disney Irmãos Grimm Freud Marquês de Sade Robert Louis Stevenson Lewis Carroll Não incluo o nome dos meus amigos e familiares porque quero respeitar a privacidade deles. Aliás, para ser honesto, não quero é que eles saibam que tiveram qualquer coisa a ver com isto. Neste espaço pretendo enumerar algumas pessoas a quem este livro é dedicado. Como são muitas, optei por uma conversão universal separada por diversas categorias. Este livro é dedicado a: todas as pessoas que leram o primeiro livro e gostaram todas as pessoas que lerem o segundo livro e gostarem todas as pessoas que lerem o primeiro e o segundo livro e gostarem se alguém não ler ou não gostar do primeiro ou do segundo livro, fica excluído da página de dedicatórias “Lê-se.” Rui, jovem irreverente e sem instrução “O elemento humano é de uma extrema complexidade quando em ambientes hostis.” Narrador de documentários não-emitidos “A divisão entre o personagem e a realidade que o envolve é parca.” Pseudo-comentador de assuntos diversos “Mais outro não!” Fernando “É o melhor livro que eu já escrevi.” Eu “É o melhor livro que ele já escreveu.” Quem leu e gostou “Neste livro, vemos as taxas de juro subindo em flecha e… É pá! Enganei-me no livro!” Jovem empresário licenciado em Economia à procura do primeiro emprego Num belo dia de Verão o João sem vida estava acabando de terminar sua viagem até à Zona da Morte. 1 Aí, o João sem vida chegou ao fim do túnel e viu uma luz branca. 2 Aí, o João sem vida olhou para o sítio donde estava a luz… era duma lâmpada. E à mais à frente estava… outra lâmpada. E à mais à frente estava… outra lâmpada. E à mais à frente estava… outra lâmpada. E ainda mais à frente estava não outra lâmpada mas sim… 3 …. o Purgatório. 4 Aí, o João sem vida olhou 5 e 1 É difícil explicar porque é que era Verão, estando ele morto. Por isso, não me peçam para explicar isso, está bem? (P. N. A.) (Primeira Nota do Autor) 2 Não se pode variar muito nestes tópicos sobre a vida e a morte. Não existem muitas teorias comprovadas cientificamente que comprovem essas mesmas teorias. (S. N. A.) (Segunda Nota do Autor) 3 Estou a tentar criar suspense. Se bem que é um suspense um pouco forçado. (T. N. A.) (Terceira Nota do Autor) 4 Tanta coisa e nem sequer pus um ponto de exclamação. Não é que o Purgatório seja um sítio muito especial, antes pelo contrário, mas podia ter dado um bocadinho mais de ênfase. Só um bocadinho de nada. (Q. N. A.) (Quarta Nota do Autor) 5 Se estão a pensar como é que um morto consegue andar, ver e fazer todas as coisas que fazia quando estava vivo, não pensem mais nisso. Alguém consegue explicar porque a gravidade não nos puxa para cima? (Q. N. A.) (Quinta Nota do Autor) viu o Guardião do Purgatório - era o Purgador. Depois de ter morrido, o João sem vida 6 tinha que ser avaliado pelos seus actos afim de determinar se iria para o Céu ou para o Inferno. Embora, o João sem vida já tivesse visitado tanto o Céu como o Inferno. E até o Paraíso. E tinha sido expulso de todos. Ou seja, uma entidade morta que não pode ir para o Céu nem para o Inferno, nem para o Paraíso vai para onde? – João. - João sem vida. - Calado! Tu morreste há três horas! Porque é que demoraste tanto tempo a chegar aqui? - Perdi-me. - Como é que te perdeste? O túnel é sempre em frente. - Só descobri isso depois de ter atravessado aquela parede. 7 - Qual parede? - A parede do túnel. - Qual delas? - Não sei. Estava escuro. - Então como é que sabes que era uma parede? Podia ser o tecto, não podia? - Podia. - Continuando… Diz aqui no teu processo que foste expulso do Céu, do Inferno e do Paraíso. É 6 Reparem bem que ele só recebeu o nome de João sem vida depois de morrer. (S. N. A.) (Sexta Nota do Autor) 7 Qualquer morto que se preze é capaz de atravessar uma parede sem ter que a partir. O que não é o caso do João sem vida. (S. N. A.) (Sétima Nota do Autor) verdade? - Acho que sim. - E como é que isso aconteceu? Sei lá. Sei que do Inferno fui expulso por morder a cauda do pequeno demónio Satã. E fui expulso do Céu porque tinha sido expulso do Paraíso porque não tinha ajudado o grande pai Deus a acabar com as minhocas que estavam comendo suas maçãs premiadas. - Ah… 8 Aí, o Guardião do Purgatório levantou-se da sua cadeira e foi pedir aconselhamentos aos espíritos mortos. 9 Depois de ter falado com os espíritos mortos o Guardião do Purgatório disse: - Decidi que… Ai! OK! Decidimos que irás fazer uma viagem pela Dimensão da Negação. O sítio para onde enviamos os mortos sem destino. - Eu não posso ir para aí. - Porquê? - Porque assim eu passo a ter um destino. - Tens razão. Então vais para a Terra. Se provares que consegues viver na Terra, ficas lá e reencarnas. Senão vens para aqui trabalhar como varredor. Pessoalmente não sei o que era pior - isto até que está a precisar duma varridela - mas, não me apetece nada ter 8 Esta expressão designa toda a compreensão que é possível mostrar numa frase. (O. N. A.) (Oitava Nota do Autor) 9 Os espíritos mortos eram os espíritos dos mortos que tinham morrido depois de viver. Se os mortos podem andar e falar como se estivessem vivos, porque é que não hão-de poder morrer? (N. N. A.) (Nona Nota do Autor) que te aturar. - Tá bom! - Agora… põe-te a andar! Aí, o João sem vida saiu do Purgatório e voltou ao túnel e voltou à Terra. Só não voltou à vida porque tinha tido tanto trabalho a morrer que era chato ressuscitar já. FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo Num belo dia de Verão, o João sem vida estava passeando pelo planeta Terra.10 Estava um lindo dia.11 – Ei! Quer parar de dizer o que é que não me faz diferença? Aí, o autor parou de dizer ao João sem vida o que é que não fazia diferença ao João sem vida.12 Obrigado.13 Pára com isso! Queres que ele desista?14 Vamos continuar então. Aí, o João sem vida assustou-se. – Ai! Que susto! Ou melhor, o João sem vida assustou-se de forma convincente. – Ai! Que susto convincente!15 10 Falo do planeta Terra em geral porque, sendo o João sem vida uma entidade espiritual, podia passear por onde bem lhe apetecesse. (D. N. A.) (Décima Nota do Autor) 11 Embora isso não lhe fizesse qualquer diferença. (D. P. N. A.) (Décima Primeira Nota do Autor) 12 Eu já parei de dizer ao João sem vidao que é que lhe faz diferença. (D S. N. A.) (Décima Segunda Nota do Autor) 13 Embora isso nao lhe faça muita diferença. (D. T. N. A.) (Décima Terceira Nota do Autor) 14 Não me importava nada. Tinha era que arranjar outro emprego. (D. Q. N. A.) (Décima Quarta Nota do Autor) À sua frente estava o Fantasma das Cuecas Rotas.16 O Fantasma das Cuecas Rotas estava a pendurar o seu lençol branco numa corda. Podia se perceber que era o Fantasma das Cuecas Rotas porque via-se um par de cuecas flutuando no ar. Ou isso, ou alguém estava passando um trote no João sem vida. – Ei! Quem é você? – Sou o Fantasma das Cuecas Rotas. – Sei… E aí? – Não me arranjas um par de cuecas? – O quê? – Não me arranjas um par de cuecas? – Hã? – Não sabes o que são cuecas? – Não sei. O meu autor nunca me despiu, por isso não sei o que trago debaixo desta roupa. Eu nunca te despi porque tenho medo do que possa encontrar. – Tá bom… Então, você quer um par de cuecas, né? – É. – E se em vez disso for agulha e linha? Aí, você podia cozer as suas cuecas. É coser com “s”, não é com “z”. – Nada disso. Para cozer tem de ser mesmo com 15 Era para ter sido um susto com o Vicente, mas como eu não conhecia ninguém chamado Vincente que estivesse disposto a pregar um susto, teve de ser assim. (D. Q. N. A.) (Décima Quinta Nota do Autor) 16 Estava à sua frente porque o João sem vida tinha-se virado para o lado oposto ao qual ele estava virado quando o Fantasma das Cuecas Rotas surgiu. (D. S. N. A.) (Décima Sexta Nota do Autor) agulha e linha. – Que grande ideia! Tens aí agulha e linha? – Não. – Seu idiota! – Eu sei que foi uma grande ideia. – Seu idiota! – Não é preciso ficar sempre repetindo isso. – Seu… eu… eu… eu… – Seu quê? Aí, o João sem vida aproximou-se um pouco mais e viu que as cuecas rotas do Fantasma das Cuecas Rotas estavam penduradas por um fio e no chão (ou na relva) estava um gravador tocando.17 – Eu… eu… eu… Aí, o João sem vida viu que o Fantasma das Cuecas Rotas tinha desaparecido.18 FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo 17 A teoria confirma-se. Estavam a burlar o João sem vida. Eu já sabia disso mas, como quiseram que eu ficasse calado, não lhes disse nada. Agora, o que me incomoda mais no meio disto tudo é: como é que eles sabiam o que o João sem vida ia dizer antes dele o dizer? Será que estas histórias são assim tão previsíveis? (D. S. N. A.) (Décima Sétima Nota do Autor) 18 Na verdade, uma vez que ele nunca chegou a ver o Fantasma das Cuecas Rotas, o “desaparecido” neste caso é meramente acessório. (D. O. N. A.) (Décima Oitava Nota do Autor) Num belo dia de Verão, o João sem vida resolveu aproveitar as vantagens da sua forma mortal e viajar até à Pré-História19. O seu objectivo era encontrar o seu velho amigo Eduardo Mãos-de-Sílex.20 Aí, o João sem vida chegou à Pré-História mas, era uma Pré-História diferente, um pouco mais avançada. Em todas as cavernas estavam cartazes feitos de pedra: “VOTE EM CLINTSTONE” ou “VOTE EM AL ROCK”. Por isso, sendo as cavernas feitas de pedra, os cartazes estavam gravados nas próprias paredes. Aí, o João sem vida ficou muito surpreendido. - Que lugar é este? Isso aqui mudou muito desde a última vez. Aí, uma multidão aproximou-se do João sem vida e agarrou o João sem vida, ou melhor, tentou agarrá-lo mas, como o João sem vida estava morto eles não podiam agarrá-lo. Na verdade, eles não podiam ver o João sem vida por isso mesmo. A multidão estava atrás doutra pessoa, era o cara que estava no cartaz21 - o candidato Clintstone. 19 Na sabiam que uma entidade sem vida podia viajar pelo tempo? (D. N. N. A.) (Décima Nona Nota do Autor) 20 Ver A SAGA DO PEQUENO JOÃO I para mais detalhes. (V. N. A.) (Vigésima Nota do Autor) 21 O que estava no cartaz era só o retracto do candidato Clintstone, não era o próprio candidato Clintstone. (V. P. N. A.) (Vigésima Primeira Nota do Autor) Aí, a multidão agarrou no candidato Clintstone e colocou-o num saco22 e levou-o para um esconderijo secreto que não devia ser tão secreto assim já que eles sabiam onde é que ficava. Aí, o João sem vida decidiu seguir a multidão. Aliás, ele decidiu fazer isso antes da multidão ir para o esconderijo secreto, o que lhe deu algum tempo de avanço. Quando chegou ao esconderijo secreto, a multidão colocou o candidato Clintstone numa prateleira. O João sem vida estava perguntando o que se estava passando ali mas, ninguém lhe respondia porque ninguém o via. - O que se está passando aqui? Ninguém me responde? Será que ninguém me vê? Aí, o João sem vida chegou a uma brilhante conclusão: as pessoas que estavam no esconderijo secreto eram todas cegas, surdas e mudas. Aí, o João sem vida tentou agarrar no saco que tinha o candidato Clintstone mas, como era um ser etéreo23 não conseguiu agarrar em nada. Aí, o João sem vida saiu do esconderijo secreto e continuou o seu passeio pela Pré-História moderna. Quando ao candidato Clintstone, morreu sufocado e a sua família teve que se candidatar a um subsídio de pobreza. 22 De pedra, claro. (V. S. N. A.) (Vigésima Segunda Nota do Autor) 23 Consegui escrever isto sem ir ver ao dicionário mas, continuo a não ter certeza do que é. (V. T. N. A.) (Vigésima Terceira Nota do Autor) NOTA: Esta história surge fora de tempo, dado que a família Clintstone já não se encontra no centro das atenções. Mas, não se preocupem, no próximo volume irão ter um pequeno extra: AS AVENTURAS DO PRESIDENTE DESTEMIDO CONTRA OS LÍDERES DO TERRORISMO INTERNACIONAL. FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo Num belo dia de Verão, o João sem vida estava sentindo um grande peso na sua consciência e resolveu ir ao Vaticano confessar-se. O que era uma ideia completamente inútil, uma vez que um ser sem vida não tem consciência. A única consciência que eventualmente pode ter é a de que está morto. E, mesmo que tivesse outra consciência para além dessa, não teriam qualquer peso, nem material e muito menos moral. Mas, mesmo assim, o João sem vida decidiu ir até ao Vaticano para se confessar. (Embora um ser sem vida não tivesse poder de decisão.)24 Quando chegou ao Vaticano, o João sem vida foi directamente até à sala de confissões. Ou quase directamente… Antes tinha passado pela casa de banho para ver os vitrais. Aí, o João sem vida pegou numa cadeira e aproximou-se do Confessionário.25 Aí, o João sem vida sentou-se numa cadeira e disse para o padre. - Oi, cara! Eu quero me confessar. - Não pode estar sentado enquanto se está a confessar. 24 Mais uma para acrescentar à desigualdade entre as classes. (V. Q. N. A.) (Vigésima Quarta Nota do Autor) 25 Ao fazer isto, é óbvio que ele já tinha saído da casa de banho. A não ser que o Confessionário estivesse lá. (V. Q. N. A.) (Vigésima Quinta Nota do Autor) - Porque não? - Porque não. Tem que se pôr de joelhos. - Mas porquê? Você tá pensando que eu sou uma secretária?26 - Tens que te pôr de joelhos, meu filho. - Filho? Vá chamar filho a outro! - Não posso. Não está aqui mais ninguém. - Então vá bugiar! - Não sejas grosseiro. Olha que Deus castiga-te. - Esse? Esse já não me pode fazer nada. Já me expulsou do Céu e do Paraíso. Não tenho medo nenhum dele. - Ainda vais para o Inferno se continuas com essas blasfémias. - Já fui para o Inferno e também já fui expulso de lá. - O que é que fizeste? - Mordi a cauda do pequeno demónio Satã. - Pois… Ele detesta quando lhe fazem isso. E o que é que estás a fazer aqui? Posso saber? - Vim me confessar. - Não. Porque é que estás aqui? - Porque me quero confessar. - Não é isso! És burro ou quê? - Você não se explica. 26 Não façam caso a esta piada. Mesmo que o João sem vida fosse uma secretária, seria uma secretária morta. A não ser que o padre fosse um necrófago. E mesmo que o João sem vida estivesse vivo, e fosse uma secretária viva e o padre gostasse de transformistas ainda havia a parede do Confessionário entre o João sem vida e o padre. (V. S. N. A) (Vigésima Sexta Nota do Autor) - O que eu quero saber é porque é que estás aqui se já estás morto?27 - Ah! Já podia ter dito que era isso. Estou aqui porque o Guardião do Purgatório me mandou para a Terra. - Para fazeres o quê? - Hã… Não sei. - E não achas que era melhor ires-te embora? - Mas, eu ainda não me confessei. - Deixa estar. Eu perdoo-te desde que te vás embora. - Tá bom. Aí, o João sem vida foi-se embora. E, acrescento isto, se ele tivesse uma consciência ela estaria muito mais tranquila agora. FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo 27 O padre havia deduzido que o João sem vida estava morto, não por ser um representante de Deus na Terra e isso tudo mas, porque o João sem vida, sempre lento em tudo, só agora é que se começara a decompor. (V. S. N. A.) (Vigésima Sétima Nota do Autor) Num belo dia de Verão, o João sem vida estava se sentindo muito triste. Aliás, ele não se estava sentindo triste porque estava morto e já não podia sentir nada mas, havia qualquer coisa na sua morte que o estava incomodando. E não era a sua lenta decomposição. Não. Faltava qualquer coisa. Qualquer coisa que o animasse.28 Música! É isso aí! Música para o seu coração e os ouvidos.29 Agora só faltava encontrar alguém que desse música ao João sem vida.30 Alguém como… - Eurico A. Cebolo! Sim, pode ser. - Não. Eurico A. Cebolo está à minha frente. Está? … Olha, pois está. Com efeito, à frente do João sem vida estava o grande Eurico A. Cebolo. - Tá vendo? Mas, ele já está morto. 28 Animar aqui vem no sentido de algo que pode alegrar. (V. O. N. A.) (Vigésima Oitava Nota do Autor) 29 Embora o seu coração esteja parado e os seus ouvidos já não ouçam nada. (V. N. N. A.) (Vigésima Nona Nota do Autor) 30 Literalmente falando. (T. N. A.) (Trigésima Nota do Autor) - E daí? Eu também tou.31 Pois é. Aí, o João sem vida aproximou-se do grande Eurico A. Cebolo. - Oi! Você é o grande Eurico A. Cebolo? - Grande Eurico A. Cebolo? Sim, acho que me podes chamar isso. Porque é que lhe perguntaste se ele era o grande Eurico A. Cebolo, se já sabias que ele era o grande Eurico A. Cebolo? - Era só para a confirmar. Passa lá à frente, mas é! - Mas, se eu passar à frente dele isso não é falta de respeito? E desde quando é que tu tens respeito por alguma coisa? - Mas, assim fico com menos ainda. Então, olha, mete-te ao lado dele. Aí, o João sem vida colocou-se ao lado do grande Eurico A. Cebolo. - O que você tá fazendo aqui? - Estou a passear. - Mas, você está morto, não está? - De corpo, sim. Mas, a alma… essa vive para sempre! - Tá bom. É como você quiser. - Eu sei. - Mas o que eu queria saber era o que você tá fazendo aqui na Terra. 31 Finalmente ele compreendeu que está morto. (T. P. N. A.) (Trigésima Primeira Nota do Autor) - Estou à procura dum sentido para a morte. - Ah… Deve ser sempre em frente. - Em frente não é porque foi donde eu vim. - Você veio foi de trás. - Não eu vim em frente mas o frente donde eu vim agora é trás. - Tá bom. Oiça, você não me quer ensinar a tocar uma música? - Pode ser. Aí, o grande Eurico A. Cebolo fez duas violas aparecerem do nada. - Legal! Aí, o João sem vida pegou numa das violas e começou tocando muito depressa, muito depressa, muito depressa, muito depressa, muito depressa, muito depressa, muito depressa, muito depressa, muito depressa, muito depressa, muito depressa, muito depressa, muito depressa, até que… partiu as cordas.32 - Quem é que te mandou seres bruto? Agora, ficas aí quieto e ouves. Aí, o grande Eurico A. Cebolo começou tocando. Mas… a música era ruim para caramba! Seria pelo grande Eurico A. Cebolo estar morto e já não saber tocar bem? Aí, o João sem vida colocou as mãos nos ouvidos e gritou: - Você não tem dó, não?33 32 Convém dizer que as violas, obviamente, também estavam mortas. (T. S. N. A.) (Trigésima Segunda Nota do Autor) 33 Ele destapou os ouvidos quando estava a gritar, para confirmar que o grande Eurico A. Cebolo o estava a ouvir. (T. T. N. A.) (Trigésima Terceira Nota do Autor) - Tenho. Pões este dedo aqui e este aqui. E depois fazes: 34 Aí, o João sem vida finalmente desistiu de ouvir o grande Eurico A. Cebolo tocar e foi-se embora, deixando o grande Eurico A. Cebolo tocando para o boneco. 35 FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo 34 O som era tão mau que nem me atrevo a descrevê-lo. Também, mesmo que quisesse, ou melhor, mesmo que me obrigassem, não o podia fazer. Estas folhas não funcionam com som e eu também não sei escrever pautas. (T. Q. N. A.) (Trigésima Quarta Nota do Autor) 35 Um boneco de borracha que alguém tinha deixado ali. (T. Q. N. A.) (Trigésima Quinta Nota do Autor) Num belo dia de Verão, o João sem vida gostaria de estar num sítio verde e belejante, perdão, belo e verdejante. Mas, em vez disso, estava num sítio arenoso36 tentando subir uns degraus enormes. Como sempre, o João sem vida estava numa situação inexplicável e, mesmo que soubesse porquê, não a poderia evitar, uma vez que já estava nela. Lentamente, o João sem vida foi subindo os degraus. Primeiro subiu um. Depois subiu outro. E depois… outro. E depois… outro. E depois… outro. E depois… outro. E depois… outro.37 Aí, quando o João sem vida chegou ao cimo, ele teve que descer tudo de novo.38 Mas, enquanto estava a descer, o João sem vida reparou numa entrada secreta.39 Aí, o João sem vida resolveu entrar na pirâmide.40 36 Que tem areia. (T. S. N. A.) (Trigésima Sexta Nota do Autor) Para quem ainda não percebeu, ele está a subir uma pirâmide. (T. S. N. A.) (Trigésima Sétima Nota do Autor) 38 O motivo desta descida é muito simples: não me apetecia ir ter com ele para continuar a história. (T. O. N. A.) (Trigésima Oitava Nota do Autor) 39 Que não devia ser assim tão secreta já que ele a viu. (T. N. N. A) (Trigésima Nona Nota do Autor) 40 Se ele queria entrar na pirâmide podia muito bem atravessar a parede. Não era preciso nenhuma entrada secreta. (Q. N. A.) (Quadragésima Nota do Autor) 37 NOTA: O texto que se segue é a transcrição do relato da viagem do João sem vida no interior da pirâmide feita a mim pelo João sem vida. NOTA 2: O que ele fez foi a viagem, não a pirâmide. Quando entrou na pirâmide, o João sem vida caminhou por um corredor escuro em busca de luz. Aí, o João sem vida chegou numa sala muito grande iluminada por quatro archotes. (Um em cada parede.) No centro da sala estava uma tumba. O João sem vida estava se sentindo mal. - O que estou fazendo aqui? Aí, o João sem vida ouviu uma voz vindo da tumba. - Está aí alguém? - Quem falou? - Está aí alguém? - Se eu estou falando, é porque estou aqui, né? - Ajuda-me a sair daqui. - Porquê? - Porque eu estou-te a mandar! - Tá bom. Aí, o João sem vida abriu a tumba41 e saiu de lá de dentro uma múmia – a múmia do Faraó Flipzés I. - Obrigado. - O que você estava fazendo aí? - Estou sepultado. 41 Ele conseguiu abrir a tumba porque a pedra estava morta. Depois de tantos milénios ali presas era natural que as pedras não estivessem vivas. (Q. P. N. A.) (Quadragésima Primeira Nota do Autor) - E você não se cansa disso? - Não. É chato é pela sujidade. A mulher da limpeza só vem cá uma vez por século. - Pois. - Importas-te de me ajudar a trocar as ligaduras? - O que é que eu tenho que fazer? - É só ajudar-me a trocar as ligaduras. - Como? - Agarras aqui nesta ponta e puxas. Aí, o João sem vida agarrou na ponta e puxou. - Tem cuidado para não espirrares. - Atchim! Esqueçam lá isso… - Ei! Cê tá me ouvindo? Aí, como o Faraó Flipzés I não respondeu, o João sem vida resolveu ir-se embora dali e sair da pirâmide e ir ter comigo à esplanada da cidade mais próxima.42 FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo 42 Pensavam que eu estava à espera dele ao sol? Cancro da pele. Diz-vos alguma coisa? (Q. S. N. A.) (Quadragésima Segunda Nota do Autor) Num belo dia de Verão, o João sem vida estava visitando a Itália de há muitos séculos atrás quando um impulso irresistível o atraiu uma modesta capela. Um impulso na forma de um íman gigante. Aí, o João sem vida ficou preso no íman gigante, juntamente com muitas outras almas. O cheiro deveria ser insuportável se os espíritos deitassem cheiro43, o que não acontecia. Felizmente, alguém desligou a tomada do íman gigante ou fez qualquer coisa assim do género tipo isso. O que é certo é que o íman gigante deixou de funcionar e o João sem vida e as outras almas mais desprevenidas caíram no chão; as mais sábias flutuaram para fora da capela. Saíram todos da capela, ou quase todos, o João sem vida foi o único que ficou para observar melhor aquele lugar. O João sem vida começou caminhando pela capela. Fazia-lhe lembrar aquele igrejinha do Vaticano mas, não tinha nada a ver. O tecto era muito esquisito – tinha umas pinturas mal acabadas e um cara em um andaime pintando o tecto. 43 Passada a fase da decomposição corporal, o João sem vida entrava agora na fase da decomposição espiritual. (Q. T. N. A.) (Quadragésima Terceira Nota do Autor) Aí, o João sem vida gritou:44 - Ei! Que é que você está fazendo aí? Aí, o cara que estava pintando o tecto da capela desequilibrou-se e caiu. Caiu mas, não morreu. Ficou a olhar para o João sem vida por alguns momentos e depois disse: - Meu Deus! - Não sou eu, não. Esse aí que você tá falando é um velho de barbas. - Ai que desgraça! Agora quem é que vai pintar o tecto? - Ora… você. - Eu? Com uma perna partida? - E daí? É a perna que tá partida, não é o braço. - Tu é que me assustaste! Foi por tua causa que caí! Aguentem aí um bocadinho. BREVE INTERLÚDIO Na qualidade de autor do João sem vida45 decidi darlhe a capacidade de falar com qualquer personagem seja ela histórica ou criada por mim (excepções feitas ao rapaz do quisto, ao pequeno rapaz hispânico-masoquista e outros que não me atrevo a mencionar só para não vos lembrar que fui eu que os criei. Podem continuar. 44 Gritou porque, como já não tinha cordas vocais, tinha medo que não o ouvissem. (Q. Q. N. A.) (Quadragésima Quarta Nota do Autor) 45 Até certo ponto… (Q. Q. N. A.) (Quadragésima Quinta Nota do Autor) - Tá bom, eu pinto. Mas, você tem que me dizer como é que é. Aí, o grande pintor Michelangelo46 tirou um papel do bolso. - Faz como está aqui. Aí, o João sem vida olhou para o papel e disse: - Isso é muito difícil. Posso fazer outra coisa? - Hum… podes. Mas vê lá o que é que fazes. Aí, o João sem vida subiu no andaime e pegou no pincel e no balde de tinta e começou pintando o tecto da capela. Começou por pintar uma bola branca, depois um triângulo branco, depois um quadrado, depois um rectângulo, depois um hexágono, depois um pentágono, depois um octógono, depois um trapézio e depois um casal de trapezistas.47 Aí, o grande pintor Michelangelo gritou:48 - Desce já daí! Pára com isso! - Mas, para eu descer, tenho que parar primeiro. - Não me respondas! Desce daí e vai-te embora! Aí, o João sem vida desceu do andaime. - Olhem só para isto! Agora vou ter que dar duas de 46 Eles aproveitaram o interlúdio para se apresentarem. (Q. S. N. A.) (Quadragésima Sexta Nota do Autor) 47 Tanto o quadrado, como o rectângulo, como o hexágono, como o pentágono, como o octógono, como o trapézio, como o casal de trapezistas eram brancos. Não me apeteceu estar sempre a escrever a mesma coisa. (Q. S. N. A.) (Quadragésima Sétima Nota do Autor) 48 Não por ter medo que o João sem vida não o ouvisse mas por estar zangado. (Q. O. N. A.) (Quadragésima Oitava Nota do Autor) mão. Tanto trabalho para nada. Vai-te já embora! Aí, o João sem vida saiu da capela e foi-se embora. Entretanto o grande pintor Michelangelo ficou à espera que a sua perna ficasse curada e depois foi acabar de pintar o tecto. FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo Num belo dia de Verão, o João sem vida estava passeando por um lugar inospitamente estranho. Era um sítio quente e escuro mas, o João sem vida estava reconhecendo aquele sítio. Fora por ali que ele tinha vindo quando tinha vindo ali pela primeira vez. Era o caminho para o inferno do pequeno demónio Satã! E à frente do João sem vida estava algo que ele nunca tinha reparado antes: um stand de barcos e automóveis49 do inferno. Aí, o João sem vida decidiu ir pedir um barco para atravessar o rio dos mortos e dar um olá para seu velho chapa, o pequeno demónio Satã. Aí, o João sem vida chegou junto do dono do stand e disse50: - Oi! Importa-se de me emprestar um desses barcos aí? - Não. - Então, vou escolher. - Não é “Não, não me importo.” É “Não, não empresto.” 49 É claro que ele já tinha visto um stand de automóveis antes. A novidade era haver um ali. (Q. N. N. A.) (Quadragésima Nona Nota do Autor) 50 Na verdade, a pessoa que estava lá era um simples empregado. O dono tinha ido para as Caraíbas mas, isso não interessa nada para a história. (Q. N. A.) (Quinquagésima Nota do Autor) - Porquê não? - Porque os barcos são para alugar. - Eu não quero alugar. Só quero levar emprestado. - Não podes. Se queres atravessar o rio tens que ir naquela barca. - Aquela barca? - Sim, a… Barca do Inferno! Música tenebrosa.51 INÍCIO DUMA PAUSA NARRATIVA Nunca gosto de fazer isto, mas sinto-me no dever de vos esclarecer sobre um assunto: esta história era para ser focalizada, inicialmente, no stand de barcos e automóveis do inferno mas, acabei por mudar de ideias. Acho que para melhor. FIM DUMA PAUSA NARRATIVA Aí, o João sem vida subiu a bordo daquela barca que ia para o inferno. Era uma barca pequena.52 Aí, o João sem vida olhou para os outros passageiros: um empresário53, o seu empregado54, um 51 De meter medo. Não confundir com músicas de discoteca que, apesar de meterem medo, não se enquadram no espírito desta história. Até certo ponto… (Q. P. N. A.) (Quinquagésima Primeira Nota do Autor) 52 Era o mínimo que se podia dizer. (Q. S. N. A.) (Quinquagésima Segunda Nota do Autor) 53 Condenado por enganar toda a gente. (Q. T. N. A.) (Quinquagésima Terceira Nota do Autor) anjo55, um cara com disfunções mentais56, um sapateiro57, um padre58, uma mulher da praça59, um judeu60, um Juiz e um advogado61, um homem sem cabeça62 e quatro cantores de rap63. Aí, os quatro cantores de rap começaram cantando e todo mundo começou discutindo e falando frases sem sentido. Aí, o João sem vida disse: - Esta barca é pequena demais para nós todos! Aí, o capitão da barca, um sujeito alcoólico e 54 Condenado por ser enganado por toda a gente. (Q. Q. N. A.) (Quinquagésima Quarta Nota do Autor) 55 Desconheço se este anjo fazia parte de algum ajuntamento musical. (Q. Q. N. A.) (Quinquagésima Quinta Nota do Autor) 56 Condenado por falta de espaço no Céu. (Q. S. N. A.) (Quinquagésima Sexta Nota do Autor) 57 Talvez tenha sido condenado ao inferno por usar couro de segunda categoria. (Q. S. N. A.) (Quinquagésima Sétima Nota do Autor) 58 Condenado por heresia e pedofilia. (Q. O. N. A.) (Quinquagésima Oitava Nota do Autor) 59 Condenada por vender peixe podre. (Q. N. N. A.) (Quinquagésima Nona Nota do Autor) 60 Condenado por fazer circuncisões mal feitas. (S. N. A.) (Sexagésima Nota Do Autor) 61 Condenados por razões óbvias. (S. P. N. A.) (Sexagésima Primeira Nota do Autor) 62 Era para ser um homem enforcado mas, com a decomposição do corpo, a sua cabeça caiu. (S. S. N. A.) (Sexagésima Segunda Nota do Autor) 63 Dignos representantes da nova mensagem espiritual. (S. T. N. A.) (Sexagésima Terceira Nota do Autor) enganado pela mulher64 disse: - Tens razão. Aí, o capitão da barca lançou o João sem vida pela borda fora. A barca continuou o seu caminho até chegar ao mar de lava onde ardeu por completo. Quanto ao João sem vida, desistiu de ir ter com o pequeno demónio Satã porque, entretanto, se lembrara que não gostava dele, e foi-se embora. FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo 64 Portanto, era vermelho, tinha cornos e um grande rabo. (S. Q. N. A.) (Sexagésima Quarta Nota do Autor) Num belo dia de Verão, o João sem vida estava sentindo um formigueiro mental. Quase como se um bando de formigas estivesse passeando dentro de sua cabeça. Mas, não era bem isso que estava acontecendo. O formigueiro estava agora em todo o seu corpo. Alguma coisa estava prestes a acontecer. O João sem vida conseguia sentir isso.65 Aí, sem mais nem menos, mas com um sinal de vezes e outro de dividir na cabeça, surgiu a imagem do Guarda do Purgatório.66 – João! – Já disse pra você que é João sem vida! Ainda não aprendeu direito, não? – Cala-te! Os meus pais não podiam pagar a faculdade. Tenho estado a observar-te. Não deve ter mais nada que fazer. – E? – E tal como te tinha dito, caso ficasses apto, 65 Logicamente, ele não sentia pois o seu sistema nervoso já estava morto. Quanto à tal sensação de formigueiro, é apenas um pequeno adiantar de acontecimentos que irão surgir brevemente. (S. Q. N. A.) (Sexagésima Quinta Nota do Autor) 66 Na verdade, a imagem surgiu apenas ali. Era para ter surgido em todo o lado por causa do efeito cénico, mas depois pensei que as outras pessoas não iam ter qualquer interesse em ver o Guardião do Purgatório. (S. S. N. A.) (Sexagésima Sexta Nota do Autor) poderias regressar à vida na Terra. – Sei. – Bom, a verdade é que não passaste no teste. – Tive negativa? – Sim. – Quanto é que tive? – Não faço ideia… Não conseguimos descobrir que número é aquele. Mas, é também verdade que não podes vir para aqui porque nós não queremos. Os meus superiores julgam que a tua presença na Terra pode levar muita gente a cometer suicídio, homicídio, talvez, quem sabe, genocídio, e isso poderia ajudar a combater o aumento da densidade populacional que tanto ameaça a vida deste planeta. – Cê tá querendo dizer que eu vou ficar aqui? – Eu não estou a querer dizer nada. Eu estou mesmo a dizer. – Sabe, é que eu tenho estado sentindo aqui um formigueiro e… – É o teu corpo que está a voltar à vida. – Então não vou ter um corpo novo? – Pensas que isto aqui é o quê? Algum stand de corpos? Levas esse e já vais com sorte. Aí, o Guardião do Purgatório desapareceu do céu. Aí, o João sem vida começou sentindo o formigueiro aumentando. O seu corpo transparente estava começando a ficar sólido.67 O sangue estava de novo fluindo em suas veias. Conseguia mexer seu corpo e fazer tudo o que fazia antes de ter morrido. O João sem vida havia 67 Sólido e visível. (S. S. N. A.) (Sexagésima Sétima Nota do Autor) reencarnado!68 – Agora que já reencarnei que tal um nome novo? Estás muito calmo. O que é que se passa? – Nada. Já me acostumei a estas mudanças. Então, a partir de agora, serás o novo João reencarnado. Aí, o novo João reencarnado colocou as mãos nos bolsos e foi dar um passeio. FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo 68 Já perceberam que o corpo é o mesmo, não já? Por isso, para mim, essa história da reencarnação é mas é uma grande treta. (S. O. N. A.) (Sexagésima Oitava Nota do Autor) Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava passeando pela rua, sentindo uma alegria imensamente imensa. Ele estava vivo de novo!69 Ele tinha regressado para que suas velhas glórias pudessem ser de novo relembradas. E, para provar isso, nada melhor que enviar o novo João reencarnado para um canal de reposições para que o próprio público se possa deliciar com o seu passado glorioso.70 – O que é que você está querendo dizer? Estou a querer dizer que vamos para a televisão. – Então diga! Vamos para a televisão.71 Assim, o novo João reencarnado caminhou por entre corredores cheios de programas que outrora foram grandes sucessos junto do público e que agora estavam condenados a viver uma existência forçada junto de 69 É uma nota um pouco inútil esta. Mesmo morto como se estivesse vivo. Redundante, não acham? (Sexagésima Nona Nota do Autor) 70 É o passado do novo João reencarnado e não público. (S. N. A.) (Septagésima Nota do Autor) 71 Não estou nada confiante em relação a isto. (Septagésima Primeira Nota do Autor) ele fazia tudo (S. N. N. A.) o passado do (S. P. N. A.) audiências fantasmas.72 Aí, o novo João reencarnado chegou junto do Revivador, o cara que pegava em objectos de entretenimento lúdico que tiveram um sucesso considerável junto do público em eras remotas e conseguia reavivá-los de tal modo que eles eram apresentado como sendo algo completamente novo. Estou a empatar um pouco, não estou? Aí, o novo João reencarnado chegou junto do Revivador e disse: – Esperem. Primeiro tenho que estabelecer um plano de aproximação. Narrativa oculta.73 Já sei. Aí, o novo João reencarnado disse:74 – Oi. Cê não quer colocar minhas histórias aí, não? – Não! Quem és tu? – Sou o novo João reencarnado. – O que é queres daqui? – Quero que transforme minhas histórias em 72 No máximo, está poético. No mínimo, é tudo mentira. (S. S. N. A.) (Septagésima Segunda Nota do Autor) 73 Isto significa que mesmo que eu tivesse escrito alguma coisa, vocês não poderiam ler. Isto é bastante prático, porque poupa-me o trabalho de escrever. (S. T. N. A.) (Septagésima Terceira Nota do Autor) 74 Mesmo sabendo que é um plano de aproximação, não nos podemos esquecer que o novo João reencarnado já estava próximo do Revivador. (S. Q. N. A.) (Septagésima Quarta Nota do Autor) objectos de cultivo. Não é “cultivo”, é “culto” – Para você também. – O quê? – Não é com você. – Bom, conta-me lá algumas dessas histórias. – Bom, teve uma vez em que eu caí de um abismo e fui salvo três vezes durante a queda e depois caí. Teve outra vez que eu ajudei o Pai Natal e… – Pára! Pára! Que histórias são essas de cair dum abismo e ajudar o Pai Natal? Tanto quanto sei o Pai Natal não existe e quando alguém cai dum abismo geralmente costuma morrer.75 A não ser que esteja a ser filmado.76 Aí, o novo João reencarnado contra-argumentou: – É verdade que quando alguém cai de um abismo, morre. Mas, eu não sou qualquer, eu sou o novo João reencarnado. – E o que é que eu tenho a ver com isso? – Hã… que eu saiba, nada. O que eu quero dizer é que eu não morro facilmente. Só morro se quiser. – Gostava de ver isso. É melhor não te pores com experiências. – Fique tranquilo. Ele não vai fazer nada. 75 Isto do “costuma morrer” aplica-se apenas uma vez por pessoa, dado que, uma vez morto, pode-se saltar do abismo quantas vezes se quiser sem que haja qualquer perigo de morrer. (S. Q. N. A.) (Septagésima Quinta Nota do Autor) 76 É uma piada pessoal. Só uma pessoa é que a percebe… eu. De qualquer modo, decidi colocá-la na mesma. Pode ser que alguém a perceba. Alguém que não seja eu, entenda-se. (S. S. N. A.) (Septagésima Sexta Nota do Autor) – Não vou? Aí é que tu te enganas! Aí, o Revivador deu um tiro no novo João reencarnado mas não aconteceu nada. Aliás, não aconteceu nada do que era esperado. Como o novo João reencarnado era lento, o seu corpo ainda não estava totalmente ressuscitado e a bala atravessou um bocado de espírito que ainda estava a descoberto. – Tá vendo? Ainda estou vivo. Agora… Vai passar minhas histórias para aí ou não? – Sabes… O problema é que as tuas histórias não têm grande interesse temporal. – Interesse temporal? – Sim. – É que eu já viajei através do tempo várias vezes. Se for esse o problema– – Não é nada disso. As tuas histórias são muito giras e eu gosto muito delas. O problema é que as histórias são escolhidas segundo as audiências que tiveram enquanto eram exibidas num canal principal. – Não compreendo. – O que eu quero dizer é que as pessoas que escolheram as séries a serem reavivadas são muitas vezes demasiado broncas para perceber quando é que uma coisa tem qualidade.77 E mesmo que gostassem das tuas histórias, elas só poderiam ser reavivadas se já tivessem existido antes num canal principal e, para isso acontecer, as pessoas teriam que gostar das tuas histórias 77 Não quero dizer com isto que estas histórias têm qualidade. Quer dizer, hão-de ter qualquer coisa, mas eu ainda não consegui descobrir o que é. (S. S. N. A.) (Septagésima Sétima Nota do Autor) sem as ver. – Fiquei na mesma. Eu também. – Eu também.78 Eu acho é melhor passarmos à realidade.79 Aí, a história regressou à realidade.80 – … por isso, só daqui a muitos anos é que as tuas histórias poderão ser reavivadas e já que se tratam de livros, isso será feito através de segundas, terceiras e quartas edições. Até lá, podes esperar. – Sentado? – Sim. Desde que não esperes aqui. – Posso esperar lá fora? – Podes. Aí, o novo João reencarnado foi esperar na sala de esperas até que fosse chegada a hora de reavivar suas histórias. Uma hora depois… Aí, um cara se chegou junto do novo João reencarnado e disse: – Vai fechar. – Hã? – Vai fechar. – Vou fechar o quê? – Tu não vais fechar nada, eu é que vou fechar isto. 78 É melhor explicar de novo. Acho que ninguém percebeu. (S. O. N. A.) (Septagésima Oitava Nota do Autor) 79 Óptima ideia. (S. N. N. A.) (Septagésima Nona do Autor) 80 Tanto quanto possível. (O. N. A.) (Octogésima Nota do Autor) – Ah… Faliu, foi? – Não. Ainda não. – Eu estou esperando que o Revivador me chame. – Quem? – O Revivador. Um cara que está ali dentro daquele escritório. Aí, o novo João reencarnado apontou para a porta do gabinete do Revivador. – Ali? Ali é o armário das vassouras. – Não é não. Aí, o cara abriu a porta e o novo João reencarnado viu duas vassouras. E o cara também as viu. – Vês? Agora, se não for pedir muito, põe-te a andar. Aí, o novo João reencarnado foi-se embora. Quanto ao personagem do Revivador foi considerado desinteressante pelo público autorial… (eu) e foi condenado a ver a sua vil e apagada existência reduzida ao máximo da sua nulidade.81 E assim termina a história de um homem como tantos outros, um homem que viu a sua vida arrastada para os meandros mais recônditos e obscuros da… Zona do Crepúsculo. FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo 81 Esqueci-me do que ia pôr aqui. (O. P. N. A.) (Octogésima Primeira Nota do Autor) Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava passeando quando de repente sentiu um tremor. E não era ele que estava tremendo – era o chão82. O chão estava tremendo por todo o lado. O céu estava vermelho e estava chovendo fogo. Era um verdadeiro inferno! Aí, uma nave surgiu do céu e apanhou o novo João reencarnado com um gancho. O novo João reencarnado foi parar dentro da nave. Era uma nave como qualquer outra: uma decoração italiana estilo século XVI com influências barrocas mas estava muito desarrumada. Havia muita coisa espalhada pelo chão. Era um caos total! Quem seria a mente insana responsável por tudo aquilo? Aí, uma porta abriu-se e o responsável por tudo aquele caos surgiu – o temível Mong. Aí, o novo João reencarnado começou rindo da cara do temível Mong.83 – Pára! Ninguém se ri assim do temível… Mong! – Quem? – O temível… Mong! 82 Aliás, como ele estava em cima do chão que tremia, era natural que ele tremesse também. (O. S. N. A.) (Octogésima Segunda Nota do Autor) 83 Se vocês o vissem também se riam. Acreditem… (O. T. N. A.) (Octogésima Terceira Nota do Autor) – Que som é esse? – Som? Que som? – Você não tá ouvindo? – Não. – Diga lá seu nome outra vez. – Temível… Mong. – Agora já ouviu? – Espera um pouco. Aí, o temível Mong carregou duas vezes num botão e dois guardas vindos do nada caíram no chão e ficaram carbonizados instantaneamente.84 – Quem são esses? – São, eram a minha guarda pessoal. Agora têm, tinham a mania que são, eram músicos. Já não os podia ouvir! – Porque não? Cê tava surdo? – Hoje de manhã, sim. Fui assistir a um bombardeamento em Tetretia ontem à noite. Aquela barulheira toda deixou-me surdo. – Mas agora já ouve não já? – Já. – E quando é que eles começaram tocando? – Foi assim que tu apareceste. – Cê tá querendo dizer que a culpa disso foi minha? – Estou. Porquê. Tens problemas? – Tenho, mas você não tem nada que ver com isso.85 84 O mais certo é terem caído do tecto. (O. Q. N. A.) (Octogésima Quarta Nota do Autor) 85 Tendo dois intervenientes tão dotados como o novo João reencarnado e o temível Mong, esta conversa até que está a ter um certo nível. (O. Q. N. A.) (Octogésima Quinta Nota do Autor) – Não fales assim comigo! – Então falo como? – Sobes para cima daquele degrau, depois equilibras-te na perna esquerda, levantas o braço direito e inclinas a cabeça para trás num ângulo de… – Eu vou é embora daqui! – Ai sim? E como é que vais fazer isso? – Não sei. Mas… – Mas o quê? – Mas, nada. – Ah! – Ah! Já sei! Mas, se você conseguiu me trazer até aqui também me pode enviar de novo para donde eu vim. Aí, o novo João reencarnado começou carregando em tudo o que era botão. E então… aconteceu: os desastres na Terra pararam86, o novo João reencarnado regressou de volta à Terra e a nave do temível Mong explodiu. Aí, uma vez de novo na Terra, o novo João reencarnado foi dar um bem merecido passeio. FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo 86 Desastres como chuvas de fogo e terramotos artificiais. Os de viação continuaram. (O. S. N. A.) (Octagésima Sexta Nota do Autor) Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava passeando por um sítio que não visitava há muito tempo. Era um sítio nebuloso onde o novo João reencarnado encontrara pela primeira e última vez o velho empirista de ângulo sexo-sónico. A única diferença é que o novo João reencarnado na altura era conhecido por pequeno grande João.87 Hoje estava menos nevoeiro mas, o sítio também estava diferente. Era o mesmo sítio mas, havia ali qualquer coisa de estranho. As luzes não podiam ser porque não se via luz nenhuma. Aí, o novo João reencarnado quase que ia sendo atropelado por uma carroça. E, então, o novo João reencarnado percebeu o que tinha acontecido: (ou melhor, eu percebi e fiz de conta que ele também tinha percebido) aquela névoa transportara o novo João reencarnado através dos tempos para uma época desconhecida. Aí, o novo João reencarnado decidiu ir dar uma passeio para ficar a conhecer melhor aquele sítio igual mas, diferente ao que ele tinha conhecido antes e que 87 Ver O PEQUENO GRANDE JOÃO E OS EMPIRISTAS DE ÂNGULO SEXO-SÓNICO in A SAGA DO PEQUENO JOÃO I (O. S. N. A.) (Octagésima Sétima Nota do Autor) agora estava igual mas, diferente em relação àquele sítio onde ele estava agora. Aí, o novo João reencarnado chegou numa casa muito estranha. Além de ser a única casa naquela rua, era transparente.88 Aí, o novo João reencarnado viu um cara sentado numa secretária escrevend. Aí, o cara levantouse, a secretária parou de escrever e escondeu-se atrás duma árvore.89 Aí, o outro cara gritou: – Raios e coriscos! Assim não dá! Esta gaja não me inspira nem um bocadinho! Aí, o novo João reencarnado decidiu ir ajudar aquele cara zangado, que não era nem mais nem menos, mas o próprio… Shakespeare, o grande William Shakespeare! - Porque é que eu tenho de ir? Porque sim. – Mas porquê? Eu não conheço esse cara de lado nenhum. E desde quando é que isso te faz diferença? – Desde agora. Vai lá ter com ele. Aí, o novo João reencarnado aproximou-se do grande Shakespeare e disse: – Oi. Eu venho… ajudar você. – Vens me ajudar, é? – Você é surdo? Foi o que eu falei, não foi? 88 Podemos concluir duas coisas: uma, ele já tinha saído da casa e estava agora no campo; duas, a casa tinha janelas grandes. (O. O. N. A.) (Octagésima Oitava Nota do Autor) 89 Das duas, três: ou a árvore estava dentro de casa ou a porta estava aberta ou não havia nenhuma casa. (O. N. N. A.) (Octogésima Nona Nota do Autor) – Sim, tu disseste que eu era surdo, mas… – Eu não disse que você era surdo, eu disse que você é surdo. – Mas, não sou. – Já podia ter dito. E aí, o que é que você quer que eu faça? – Eu preciso que alguém me inspire. Inspira-me se conseguires. Aí, o novo João reencarnado tentou inspirar o grande Shakespeare. Primeiro pela narina esquerda. Não conseguiu. Depois pela narina direita. Também nada. Aí, o novo João reencarnado tentou inspirar o grande Shakespeare pela boca90 mas, também não conseguiu. Desiludido mas, ao mesmo tempo, satisfeito por dado o seu melhor, o novo João reencarnado foi-se embora à procura de uma saída de volta para a sua época. FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo 90 O que deve ser muito incómodo porque já se sabe que a boca não tem filtros para filtrar as impurezas do ar. (N. N. N. A.) (Nonagésima Nona Nota do Autor) Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava passeando em frente a uma igreja quando ouviu alguém cantando. Pior ainda, era alguém cantando mal, mas mal mesmo. Aí, o novo João reencarnado entrou na igreja e ficou surpreso com o que viu. A igreja por dentro era um armazém e em cima dum monte de caixotes estava um cara de branco cantando. E mais estranho ainda era o facto de estarem dentro dessa igreja-armazém pessoas ouvindo esse cara de branco cantando. E mais estranho ainda era o facto dessas pessoas que estavam dentro da igreja-armazém ouvindo o cara de branco que estava cantando estarem gostando de ouvir o cara de branco cantando! Aí, o cara de branco começou cantando uma música diferente e aí as pessoas começaram indo embora. Aí, o cara de branco se pôs de joelhos e começou rezando no seu telemóvel de último modelo: – Perdoa-lhes, Senhor. Eles não sabem o que fazem. E do outro lado ouviu-se uma voz profunda, tenebrosa e grave91: – Mas é melhor que aprendam. Ando a gastar muito dinheiro contigo. 91 Grave no sentido de não ser aguda. (N. P. N. A.) (Nonagésima Primeira Nota do Autor) Aí, o novo João reencarnado aproximou-se do “palco” e disse para o cara de branco. – Oi. – Quem está aí? Ah! Olá. Vejo que ficou aqui. Gostou da música, foi? Já tem um lugar garantido no Céu. – Não gostei de sua música, não. Ela é muito ruim! E já estive no Céu e não gostei. – Quem é você? – Sou o novo João reencarnado. – João da parte da mãe e reencarnado da parte do pai? – Deve ser. Não sei. – Muito prazer. Eu sou o padre Marcelo Roça. – Marcelo da parte da mãe e Roça da parte do pai? – Ao contrário. – Eu não consigo dizer isso tudo ao contrário! – Tente. – Iap od etrap ad açoR e eãm ad etrap ad olecraM?92 - Não era isso que eu queria dizer. – Ah! Pai do parte da Roça e mãe da parte da Marcelo? – Não! – Roça da parte do pai e Marcelo da parte da mãe? – Não… – Roça da parte da mãe e Marcelo da parte do pai? – Sim. – Já podia ter dito antes, né? Não era preciso ficar perdendo esse tempo todo. Aí, o novo João reencarnado perguntou: 92 Notem que fui eu que escrevi isto ao contrário. (N. S. N. A.) (Nonagésima Segunda Nota do Autor) – Porque é que aqueles caras foram embora? – Acho que eles não gostam da minha música. – Você quer que eu o ajude a fazer uma música nova? – Pode ser. Como é que você acha melhor? Aí, o padre Marcelo Roça bateu palmas e uma música começou. Aí, o novo João reencarnado perguntou: – Ei! Como é que você fez isso? – Shiu… Aí, o novo João reencarnado se calou e o padre Marcelo Roça começou cantando. Ó meu Deus, ó Deus meu! Aleluia, irmãos e irmãs! Ele é o Senhor do Céu Que abençoa nossas manhãs! Coro: Ele é o Salvador! Ele é o Salvador Aí, o padre Marcelo Roça bateu palmas e a música parou. – Gostou? – Hum… não. Tente outra coisa. Aí, o padre Marcelo Roça bateu palmas e outra música começou. Era a mesma música só que dessa vez estava mais rápida. Ó Deus meu, ó meu Deus! Vós que abençoais nossas manhãs! Vós sois o Senhor dos Céus! Aleluia, irmãos e irmãs! Coro: Ele é o Redentor! Ele é o Redentor! Aí, a música parou. Mas, desta vez, foi o novo João reencarnado quem bateu palmas. – Acho que você devia desistir de cantar e dedicar-se à pesca. – Acha que eu canto assim tão mal? – Pior. – Óptimo! Vou aceitar seu conselho. Aí, o novo João reencarnado foi-se embora daquela igreja-armazém e continuou seu caminho.93 Quanto ao padre Marcelo Roça, dedicou-se à pesca e terminou seus dias pescando bacalhau nos mares do norte. FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo 93 Isto de continuar o seu caminho não quer dizer que ele andava a fazer uma estrada. (N. T. N. A.) (Nonagésima Terceira Nota do Autor) Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava passeando pelas ruas de uma cidadezinha quando sentiu um cheiro muito ruim. Um cheiro parecido com aquele que ele tinha quando estava morto e em decomposição. Aí, ele apareceu. Vinha vestido de preto e tinha a cabeça parecida com um porco-espinho. Aí, o novo João reencarnado tentou falar com ele. – Oi. – Olá!! Posso ajudar-te nalguma coisa? – Eu sou o novo João reencarnado. – Encantando! Eu sou o Emperor-Man, ou em português, Homem-Catálogo94! – Porque é que você cheira tão mal? – Eu não cheiro mal! Isto é o cheiro do sucesso! – É? Pois esse seu sucesso não me está cheirando bem, não. – Achas isso, é? Quero ver o que é que dizes do meu parceiro, o… – Não é preciso. Eu acredito em você. – Mas acreditas no quê? – No que você quiser. – Óptimo. 94 A tradução não é das melhores, mas estou no meu pleno direito. Com as traduções que se fazem por aí, esta até está muito boa. (N. Q. N. A.) (Nonagésima Quarta Nota do Autor) – O que é que você faz, então? – Ajudo as pessoas a expandirem os seus horizontes. – Não acredito. – Ainda agora disseste que acreditava em tudo o que eu dissesse. – Sim, mas só no que fosse verdade. O horizonte é do mesmo tamanho para todo mundo. – Aí é que tu te enganas! Se uma pessoas estiver muito perto do horizonte ele parece mais pequeno do que se estiver longe. É ou não é? – É. Tem razão. E que mais você faz? – Sou capaz de decorar catálogos de música… – Completos? – Sim, completos, e de identificar qualquer música através dum simples nota. – Já pensou em ir até à televisão? – Não. A fama não me interessa. Aí, o novo João reencarnado olhou à sua volta. Por todo o lado estavam cartazes com a cara do HomemCatálogo. Um avião voava no céu deixando uma mensagem com fumo: “O HOMEM-CATÁLOGO É VESTIDO PELA MÃE.”95 – Quer dizer que vcoê é um super-herói? – Um, não! O super-herói! E dos bons! – E tem muitos inimigos? – Alguns. Os piores são o Super Feijão Verde Atómico, o Fantasma das Bandas Desconhecidas, o Homem-Gás e o Professor Doutor Carlos Alberto. 95 Desnecessário será dizer que o avião estava a deitar aquele fumo todo porque estava a cair, mas eu digo na mesma: o avião estava a deitar aquele fumo todo porque estava a cair. (N. Q. N. A.) (Nonagésima Quinta Nota do Autor) – Puxa vida! E como é que você os consegue vencer a todos? – Bom, consigo disparar o meu cabelo a dez metros de distância. – O seu cabelo? – E tenho também a minha arma secreta, o meu bafo super-poderoso a alho. Queres experimentar? – É melhor não.… Mas, e se por acaso algum dos seus inimigos cortar seu cabelo e tapar sua boca? O que é que você faria? – Em primeiro lugar, o meu nome não é Faria, é Homem-Catálogo! E se isso acontecesse, usava a minha arma ultra-secreta: emanações odoríficas sovacais. Quem as respirar, desmaia. – E se eles estiverem usando máscaras? – Não há máscara que resista a isso. – E se houver? – Se houver, posso sempre contar com a ajuda do meu fiel parceiro. – E se o seu parceiro também estiver preso? – Ouve lá! O que é que tu queres, afinal? Queres que eu deixe de ser um super-herói, é? – Não era má ideia, não. Você é o super-herói mais ridículo que eu já vi em toda a minha existência. E olhe que eu já vi muitos. – Bom, mas eu não vou desistir! Vou continuar a ser o Homem-Catálogo até ao fim dos meus dias! – Faça como você quiser, eu vou-me embora. – Óptimo! Esta cidade é pequena demais para nós os dois. Aí, o novo João reencarnado foi-se embora daquela cidade, deixando sob a protecção do Homem-Catálogo e do seu fiel parceiro, o Rapaz-Sagaz. FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava passeando por uma praia quando ouviu um barulho estranho. Aí, o novo João reencarnado saiu da praia e entrou numa floresta, sempre ouvindo aquele barulho estranho. Aí, o novo João reencarnado encontrou um macaco com as mãos em sua barriga.96… 97 Aí, o novo João reencarnado e perguntou: - Que é que você tem? - Fome! Quem és tu? - Sou o novo João reencarnado. E você, quem é? - Sou o primo do macaco André. - Não conheço. E você, quem é? - Sou o primo do macaco André. - Você não se cansa de ficar sempre repetindo o mesmo? Qual é o seu nome? - É este! Primo do macaco André! - Posso tratá-lo por você? - Podes. Aí, o barulho aumentou. - Ai! Ajuda-me, por favor! - O que é que você quer que eu faça? 96 Na parte de fora da barriga. (N. S. N. A.) (Nonagésima Sexta Nota do Autor) 97 Na barriga do macaco. (N. S. N. A.) (Nonagésima Sétima Nota do Autor) - Preciso de bananas. Aí, o novo João reencarnado olhou à sua volta e só viu bananeiras.98 - Mas, você tem aqui muitas bananas. - Não são destas. São umas bananas azuis. Só crescem numa ilha perdida no meio do mar. Vou-te desenhar um mapa. Aí, o… símio falante99 pegou num graveto e desenhou um mapa no chão. - Vês? É aqui no x. - Mas, se é aqui porque é que você está tão preocupado? - Não é aqui… é aqui! - É o que eu tou dizendo. - Olha, é assim: vais até à água, nadas sempre em frente e páras na primeira ilha que encontrares. - Tá bom. Aí, o novo João reencarnado foi-se embora para a praia e nadou até à primeira ilha que encontrou. Quando lá chegou pegou num ramo de bananas e nadou de volta para a outra margem.100 Aí, o novo João reencarnado foi ter com o símio falante. 98 Ele até viu mais coisas, mas, o que interessa para agora é que ele tenha visto as bananeiras. (N. O. N. A.) (Nonagésima Oitava Nota do Autor) 99 Estou a usar esta designação só para simplificar. Este símio falante não tem nada a ver com os símios falantes da história O NOVO PEQUENO JOÃO NO PLANETA DOS SÍMIOS FALANTES. Ver a SAGA DO PEQUENO JOÃO I para mais detalhes. (N. N. N. A.) (Nonagésima Nona Nota do Autor) 100 Ele podia não ter feito nada disto. Se bem se lembram, o primo do macaco André só lhe disse para ir até à ilha, não disse para fazer mais nada. (C. N. A.) (Centésima Nota do Autor) - Aqui estão suas bananas. Aí, o símio falante pegou nas bananas, apalpou-as, provou uma e depois deitou-as fora. - E aí? Gostou? - Não! Tão molhadas! Sabem a sal! E estão muito maduras! Para a próxima não me ajudes! - Tá bom. Aí, o novo João reencarnado foi-se embora e o símio falante morreu de fome. FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava passando por um bosque encantado quando ouviu um animal chorando.101 Aí, o novo João reencarnado foi à procura e encontrou um filhote de veado. E esse filhote de veado estava chorando porque tinha uma de suas patas presas em uma armadilha para ursos.102 Aí, o novo João reencarnado tentou falar com o filhote de veado. - Oi. Cê precisa de ajuda aí? Mas, o filhote de veado não respondeu porque os animais não falam e porque isto não é uma fábula. - Cê tá me ouvindo? Como o filhote de veado não respondeu, o novo João reencarnado concluiu que aquele filhote de veado estava surdo. Aí, o novo João reencarnado disse: - Fazemos assim: eu falo e você diz que “sim” ou que “não” com a cabeça103, tá bom? Aí, o filhote de veado fez que “sim” com a cabeça e o novo João reencarnado reformulou a sua teoria: aquele 101 Neste caso, não seria bem chorar mas, o equivalente. (C. P. N. A.) (Centésima Primeira Nota do Autor) 102 Portanto, ele estava a chorar por ter sido apanhado numa armadilha destinada a outro animal. Já viram tamanha xenofobia entre animais? (C. S. N. A.) (Centésima Segunda Nota do Autor) 103 Sendo o “sim” para sim e o “não” para não. (C. T. N. A.) (Centésima Terceira Nota do Autor) filhote de veado sofria de um problema na fala.104 Aí, o novo João reencarnado sentiu um cheiro de queimado. Aí, o filhote de veado começou se debatendo e o novo João reencarnado soltou a pata do filhote de veado. Aí, o filhote de veado começou correndo e o novo João reencarnado foi atrás dele sem saber porquê. E aí, de repente, todos os animais do bosque estavam correndo e lá atrás tudo vinha em último lugar um cara com um lança-chamas pegando fogo em tudo. Aí, todo o mundo chegou junto dum abismo e aí, todo mundo conseguiu saltar o abismo. Isto é, todo o mundo menos o novo João reencarnado e o cara do lançachamas que caiu e bateu com a cabeça numa rocha e teve morte imediata. O novo João reencarnado caiu nas água dum rio e deixou-se levar pela corrente. Os outros animais, enganaram-se no caminho e foram parar numa zona de caça onde tiveram morte imediata. Todos menos o filhote de veado, Dambi, que foi apanhado numa armadilha para veados e morreu feliz de forma lenta agonizante. FIM 105 Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo 104 O mais estúpido nisto tudo é o novo João reencarnado pensar que o filhote de veado percebe o que ele diz. (C. Q. N. A.) (Centésima Quarta Nota do Autor) 105 O filhote de veado morreu de negligência autorial. (C. Q. N. A.) (Centésima Quinta Nota do Autor) Num belo dia de Verão, que estava prestes a tornar-se menos belo, o novo João reencarnado estava se sentindo muito estranho. O novo João reencarnado tinha uma dor. Mas, não era uma dor física, era uma dor metafísica106. O novo João reencarnado sabia que havia algo se passando com ele mas, não sabia o quê. Aí, o novo João reencarnado tentou perceber o que se estava passando com ele e recordou todos os momentos que vivenciara desde sua primeira história107 E aí, o novo João reencarnado chegou a uma conclusão. - Como é que você sabe tanto de mim? Porque é que eu não me lembro de nada do que aconteceu antes de minha primeira história? E então, eu vi-me obrigado a responder-lhe: Eu sei tanto de ti porque fui que te criei e… - Você o quê??? Fui eu que te criei e sou eu quem escreve as tuas histórias. - Então, tudo o que eu falo, faço penso e digo… 106 Dor metafísica é uma dor com uma meta. (C. S. N. A.) (Centésima Sexta Nota do Autor) 107 A HISTÓRIA DO PEQUENO JOÃO. Ver A SAGA DO PEQUENO JOÃO I para mais detalhes. (C. S. N. A.) (Centésima Sétima Nota do Autor) Sou eu que escrevo. - Não acredito nisto. Mas é verdade. E o motivo de não te lembrares de nada do que aconteceu antes da tua primeira história, é porque eu não escrevi histórias contigo antes disso. Pelo menos, ainda não… - Porque é que você nunca me disse nada antes? Tu nunca perguntaste. - E como é que eu podia saber disso? Não me digas que nunca tinhas desconfiado de nada. - Não. Pensavas que a falares com vozes ocultas eras o quê? - Um padre. Podias ser mas, não era. - Um maluco. Também. - Tá vendo? Eu podia ser outras coisas sem ser um personagem de ficção. Mas, ser um personagem de ficção faz parte da tua natureza. - Faz, porque você diz que faz. Não. Faz porque eu escrevo que tu dizes que faz. - Mas, eu podia ser outra coisa! Não podias! Tens que compreender duma vez por todas que as tuas histórias são muito importantes. - Importantes para o quê? Primeiro, porque ajudam-me a gozar com as pessoas sem elas saberem e segundo, porque posso prestar homenagem às coisas que gosto de forma pessoal. - Só por isso? Não. É também porque gosto de escrevê-las. Tens que ver uma coisa, tu sem as minhas histórias não existias. Mas, eu sem ti também não existia. - Como é que você sabe que sem você eu não existia? Não sei. Mas, percebes o que eu digo ou não? - É. Acho que você tem razão. Então, o que me dizes a acabar esta história e passar para outra? - Pode ser uma no País das Mil Maravilhas? Pode. - Então, vamos lá! FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava passeando no País das Mil Maravilhas.108 - Brigadão! Aí, o novo João reencarnado viu um camelo branco saltitando. O que era muito estranho, pois o novo João reencarnado sabia que ali não deviam estar camelos brancos, ali era a zona das senhoras cenouras cantoras. Aí, surgiu um cão recitando Nietzsche e o novo João reencarnado reparou que alguém tinha trocado as coisas todas ali no País das Mil Maravilhas. Aí, o novo João reencarnado foi ter com o chefe do local, o Xeque de Paus para saber o que estava passando. Mas, quando chegou ao palácio do Xeque de Paus, o Xeque de Paus não estava lá. Em vez do Xeque de Paus, estava o Sultão de Ouros. Aí, o novo João reencarnado aproximou-se do Sultão de Ouros.109 - Ahá! O que é que tu queres? 108 Como podem ver, cumpri a missa promenha, perdão, minha promessa. (C. O. N. A.) (Centésima Oitava Nota do Autor) 109 Obviamente, o Sultão de Ouros estava protegido por vários guardas. E foram esses guardas que pegaram no novo João reencarnado e levaram-no junto do Sultão de Ouros. Vistas as coisas, não foi nada mau: ele não se cansou nada. (C. N. N. A.) (Centésima Nona Nota do Autor) - Quem é você? O que é que você está fazendo no lugar do Xeque de Paus? - Sou o Sultão de Ourros. Eu já sabia. - Já podia ter dito. - Só agorra é que perrguntaste. - O que é que você fez com o Xeque de Paus? - Mandei encerrá-lo. - Encerrá-lo? - Não, encerrá-lo. Ele estava todo riscado. - E quem é que trocou os camelos brancos de sítio.? - Fui eu. Não gostava de os verr onde eles estavam. Agora sou eu quem manda aqui. Vou mudarr isto tudo. - E aquele cão? Ele não costumava recitar Nietzsche. Ele sempre gostou de Kant e de Hegel. - Isso não me interressa. Essa foi a gota de água! Se havia coisa que o novo João reencarnado não suportava era crueldade com os animais. - Onde é que estão os outros? - Quais outrros? - Os outros dois, o Marajá de Copas e Princesa de Espadas? - Não sei. Estão em lua-de-mel. - Isso aí é mentira! O Marajá de Copas é diabético. Eu vou procurá-los e contar-lhes o que você está fazendo aqui. Aí, o novo João reencarnado saiu do palácio do Xeque de Paus, agora ocupado pelo Sultão de Ouros e foi procurar o Marajá de Copas e a Princesa de Espadas. FLASHBACK ou ANDALÉPCE Este é um momento novo nas aventuras do novo João reencarnado. Pela primeira vez irei realizar uma andalépce. Uma andalépce, por definição, é quando o autor e narrador, neste caso eu, recua atrás na acção para explicar acontecimentos que estão ocorrendo no presente e que não foram explicados ao leitor. Como é que o novo João reencarnado sabe tanto acerca do País das Mil Maravilhas se é a primeira vez que ele o visita? Na verdade, não faço a menor ideia. Se bem se lembram, o espaço temporal entre esta história e a história anterior é quase nulo, ou seja, não houve tempo para o novo João reencarnado visitar o País das Mil Maravilhas previamente nem antes disso. Mas, não se preocupem. Esta história irá confundirvos ainda mais do que as outras. ACÇÃO PRENDA Aí, o novo João reencarnado pegou num tapete voador e voou até à lua-de-mel. O caminho foi fácil, apesar de alguma turbulência. O pior foi mesmo para aterrar – a abelha rainha não queria dar autorização ao novo João reencarnado para ele aterrar. Mas, por fim, a abelha rainha acabou por ir para a cama com um zangão e o novo João reencarnado aterrou na lua-de-mel. Aí, o novo João reencarnado procurou pelo Marajá de Copas e pela Princesa de Espadas mas, eles não estavam lá. Tal como o novo João reencarnado suspeitava. Porque é que ele tinha ido lá? Para perder tempo e para eu acrescentar mais espaço à história. Aí, o novo João reencarnado voltou ao seu tapete voador e enquanto estava voando, uma vaca voadora110 se aproximou do novo João reencarnado e passou em direcção ao céu mas, ainda teve tempo de dizer ao novo João reencarnado: - Camelo! - Camelo é você, sua vaca! Mas aí, o novo João reencarnado começou pensando. Aquela vaca sabia que nem ele nem ela eram camelos.111 Por isso, o que é que ela poderia estar querendo dizer? Aí, o novo João reencarnado ouviu a voz da vaca ao longe: - Cão! - É você! Aí, o novo João reencarnado compreendeu tudo. Ou por outra, compreendeu o que era necessário compreender nesta altura. - O cão e o camelo branco! É isso! 110 A vaca não tinha asas. Ela usava um cinto anti-gravitacional. Infelizmente, para ela, o cinto só ligava, não desligava e a vaca ia em direcção às estrelas. (C. D. N. A.) (Centésima Décima Nota do Autor) 111 Não sei qual dos dois está mais longe. (C. D. P. N. A.) (Centésima Décima Primeira Nota do Autor) Ainda sem saber o que isso “É isso!” queria dizer112, o novo João reencarnado decidiu voltar ao local onde a história tivera início. E assim, o novo João reencarnado voltou ao País das Mil Maravilhas. E quando chegou lá é que ele reparou em uma coisa: o cão tinha um símbolo de copas na sua coleira e o cam; duas coisas: o cão tinha um símbolo de copas na sua coleira e o camelo branco tinha o símbolo de espadas numa bossa e não era; três coisas: o cão tinha um símbolo de copas na sua coleira e o camelo branco tinha o símbolo de espadas numa bossa e não era um macho. Feitas as contas, o novo João reencarnado percebeu que alguém tinha dado os símbolos de copas e de espadas àqueles animais para eles os guardarem. Aí, o novo João reencarnado tirou a coleira do cão e tirou o autocolante da bossa da camela branca e aí, uma coisa espantosamente previsível aconteceu: o cão transformou-se no Marajá de Copas e a camela branca transformou-se na Princesa de Espadas. - Ei! - Obrigado por nos teres salvo. - Depressa! Temos que voltar para o palácio. Aí, o novo João reencarnado, o Marajá de Copas e o Princesa de Espadas voaram no tapete voador até ao palácio mas, foram derrubados por um míssil terra-ar. Aí, o novo João reencarnado olhou para baixo113 Era o 112 Isto é ridículo. Uma expressão não pode querer dizer nada, porque as expressões não falam. (C. D. S. N. A.) (Centésima Décima Segunda Nota do Autor) 113 Isto enquanto caía. (C. D. T. N. A.) (Centésima Décima Terceira Nota do Autor) exército das senhoras cenouras cantoras, que estavam fartas daquela inércia governamental e resolveram dar um golpe cenoural. Os outros dois regentes, o Xeque de Paus e o Sultão de Ouros já tinham sido eliminados, só faltavam o Marajá de Copas e a Princesa de Espadas.114 Aí, o novo João reencarnado parou de cair para baixo e começou caindo para cima, pois a vaca voadora tinha conseguido consertar o cinto anti-gravitacional e estava levando o novo João reencarnado para fora do País das Mil Maravilhas. Mas, muitas perguntas ficaram por responder: Afinal, como é que o novo João reencarnado conhecia aquilo tudo se era primeira vez que ele estava lá?115 E a resposta é: eu não sei, ele também não e vocês muito menos. FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo 114 Mas já falta pouco. (C. D. Q. N. A.) (Centésima Décima Quarta Nota do Autor) 115 Todas as outras perguntas podem-se englobar nesta. (C. D. Q. N. A.) (Centésima Décima Quinta Nota do Autor) Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava sonhando com aquela garota116 que tinha conhecido uma vez.117 Era um sonho muito erótico para os padrões de censura do novo João reencarnado por isso, como o novo João reencarnado não tem qualquer tipo de padrões de censura, daqui a algumas linhas podem imaginar como é que o sonho seria. Aí, o novo João reencarnado acordou mas a garota continuava lá. Agora estavam numa praia e ela estava… Aí, o novo João reencarnado acordou (desta vez a sério). Ela tinha desaparecido. Aí, o novo João reencarnado levou com uma folha de papel na cara e aí, o novo João reencarnado perguntou: - Que negócio é esse aqui? É um papel. - Não. Aí no papel. Ah! É “Sigmund Freud, psiquiatra especializado” 116 Ele estava a sonhar sozinho e não acompanhado porque a partir do momento em que ele estivesse a sonhar acompanhado já não estaria a sonhar sozinho. E vice-versa. (C. D. S. N. A.) (Centésima Décima Sexta Nota do Autor) 117 Até se esquecer dela e conhecê-la de novo, só a terá conhecido uma vez. (C. D. S. N. A.) (Centésima Décima Sétima Nota do Autor) - O que é isso? O quê? - Um psiq… psiq… Tás engasgado? - Não. Não consigo dizer psiq… Não consegues dizer o quê? - Psiq… psiq… Fala! - Psiq… psiq… Não consegues dizer psiquiatra? - Não. Então é o quê? - É isso. Isso o quê? - Você tá complicando tudo porquê? Quem complica as coisas aqui sou eu, tá ouvindo? Adiante… Um psiquiatra é uma pessoa que analisa os sonhos das pessoas e tenta perceber porque é que as pessoas se comportam de determinada maneira. - E isso quer dizer o quê? Não sei. Mas, se estás tão preocupado, porque é que não vais ter com ele? - É. Acho que vou indo. Se vais não achas que vais é porque vais mesmo. - Quer parar com isso? Já me calei! Aí, o novo João reencarnado foi até ao consultório do grande Freud e depois de bater à porta do gabinete do grande Freud, o novo João reencarnado entrou no gabinete do grande Freud. - Oi. Posso entrar? - Entra. Deita-te aí. Aí, o novo João reencarnado deitou-se118 e dormiu. - Acorda! Aí, o novo João reencarnado acordou. - Não era para dormires. - Eu vim aqui para saber o que se está passando comigo. - Eu sei. - Como é que você sabe? - O teu autor contou-me. Ele é meu paciente. Então e a minha privacidade? - Pois… Como se eu fosse o único a saber dos teus problemas. - Ei! É a minha vez agora! - Vamos começar então. Tocaste à campainha com que mão? - Não toquei à campainha, bati à porta. - Tens medo de tocar à campainha? - Não. - Então porque é que não tocaste? - Porque não havia nenhuma campainha. - Ahá! E bateste à porta com que mão? - Com a direita. - Porque é que não bateste com a esquerda? - Porque tava coçando a cabeça com ela. - Costumas coçar sempre coçar a cabeça com a mão esquerda enquanto bates à porta com a mão direita? 118 Não sei bem onde é que o grande Freud mandou o novo João reencarnado deitar mas, deve ter sido num daqueles sofás que os psiquiatras costumam ter nos seus gabinetes. (C. D. O. N. A.) (Centésima Décima Oitava Nota do Autor) - Não. Foi só agora. - Porquê? - Pergunte para ele. Ele que está escrevendo. Eu não sei de nada. - Porque é que dormiste quando eu te disse para te deitares aí? - Porque tava com sono. - Ainda tens sono? - Sim. - E porque é que não dormes? - Você disse para não dormir. - Gostas de dormir. - Gosto. - Gostas de sonhar? - Às vezes. - Quando é que não gostas? - Às vezes sonho com uma garota que conheci e nós estamos a… - Estão a quê? - Você sabe. - Como é que eu hei-de saber? - Ele não contou para você? - Nós não estamos a falar dele. - Tá bom. Eu digo no seu ouvido. Aí, o novo João reencarnado aproximou-se do grande Freud e disse o que ele e a garota faziam em seus sonhos.119 119 Estão todos a pensar em sexo, não é? Para quem não sabe, essa garota misteriosa surgiu na história A INICIAÇÃO SEXUAL DO NOVO PEQUENO JOÃO QUE JÁ NÃO É GRANDE. Ver A SAGA DO PEQUENO JOÃO I. (C. D. N. N. A.) (Centésima Décima Nona Nota do Autor) Podem imaginar agora. - Deita-te lá. Deixa-me respirar um pouco. Ufa! Isso tudo? - Não conte a ninguém, tá bom? - Porquê? Achas que comer cem biscoitos duma só vez é assim tão mau? - Eram de chocolate! E eu disse-lhe para não contar! - Agora já contei. - Você ainda não me disse o que é que se está passando comigo. - Calma. Ainda faltam algumas perguntas. Como é que é a tua relação com o teu autor? Vê lá o que é que dizes. - Sabe, ele às vezes é um pouco chato. Tou sempre dizendo e fazendo a mesma coisa. E isso é muito chato para um personagem multi-facetado como eu. - Consideras-te um figura imaginária? - Sim. - Não acreditas que és real? - Não. - Quem é que te disse isso? Não vês, não sentes, não falas? - Sim. - Achas que se fosses irreal, fazias isso tudo? - Não… Isso é ridículo! Ele é um personagem de ficção! Qual é a discussão? - Não o oiças! Conta-me mais. Não te preocupes com ele que ele tem medo do escuro. Não tenho nada! - Tens sim que eu sei! Fala! Não fala nada! - Não tenhas medo dele! - Ele é muito possessivo. Tem que ser sempre do jeito dele. Isso é mentira! - E nunca aceita que os outros tenham razão. Mentira! - Nunca me deixa falar sobre os meus problemas. Agora chega! Não te deixo falar, é? Sou chato? Sou possessivo? Sabes o que é que este chato e possessivo vai fazer? Vai acabar com a história! FIM Quero ver com quem é que tu falas agora. - Eu falo com quem quiser! Só se eu quiser! Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo 120 Num belo dia de Verão… o novo João reencarnado desapareceu. FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo 120 ENTROPIA: s. f. Medida da capacidade de um sistema em poder efectuar transformações espontâneas; termodinâmicante, a variação de entropia numa variação infinitesimal é igual ao calor absorvido dividido pela temperatura absoluta a que se deu a absorção; estatisticamente, medida do grau de desordem ou caos de um sistema. (N. A. M. D. C. U. D. L. P. C. S. P. S. S. E.) (Nota do Autor que Mesmo Depois de Consultar Um Dicionário de Língua Portuguesa Continuou Sem Saber o que é a Entropia) (D. V. N. A.) (Centésima Vigésima Nota do Autor) Num belo dia de Verão, o João irreal estava navegando pelos mares salgados de um oceano qualquer quando… - Espere! Que ideia é essa de me tar chamando João irreal? Pensava que já soubesses. - Não. Não sabia. Ficas a saber agora. Posso continuar? - Pode. Aí, o João irreal chegou numa ilha. Devia ser uma ilha deserta mas, estava cheia de gente. - Que sítio é este? Deixa-me ver no mapa. Espera aí. Ah! É a ilha da dona São. - Quem é essa dona São? Não faço ideia. - O que é que se gente toda tá fazendo aqui? E eu é que sei? - A história é sua. E lá por a história ser minha, sou obrigado a saber tudo? Pergunta lá a alguém. Aí, o João irreal aproximou-se de um cara e tentou falar com esse cara: - Oi. O que vocês estão fazendo aqui? Mas, o cara não respondeu. O João irreal pensou que o cara fosse surdo ou mudo.121 Mas, na verdade, o cara não respondeu porque não viu o João irreal. - Ah! Ele é cego, é? Não. Tu é que não existes. - Não existo? Se és irreal é porque não existes. - Isso não tem nada a ver. Se eu sou irreal é porque não sou real e eu nunca fui real. Fui sempre uma figura de ficção. Desde quando é que tu pensas tanto? - Deve ser passageiro… Queres saber o que é que eles estão a fazer? - Pensava que você não sabia. Mas sei. - Então, porque é que você me disse para perguntar? Para ocupar espaço. - Só por isso? Não. Era para ver se eles tinham alguma ideia melhor que a minha. - Se calhar ajudava se eles me pudessem ouvir. Se calhar. - E qual é a sua ideia? Isto que está a acontecer aqui é um reality-show. - Você quer dizer um irreality-show, né? Não queiras tudo também. - Isso aí é o quê? Bem, eles reúnem várias pessoas e depois filmam 121 Mas rapidamente deixou de pensar que fosse mudo a partir do momento em que o ouviu falar. E, assim, também não podia ser mudo. (C. V. P. N. A.) (Centésima Vigésima Primeira Nota do Autor) tudo que essas pessoas fazem. - Ah! E que é que elas fazem? Nada. - E os que não sabem nadar? Morrem afogados ou são comidos pelos tubarões.122 - E fora isso? Falam, passeiam. Sei lá. - Tipo minhas histórias, né? Mais ou menos. - Sem graça, desinteressantes. O povo vê, fala nos cafés mas, não percebe nada. Ei! Nada de auto-críticas! - Não posso falar mal de mim? Não. Quando falas mal de ti estás a falar mal de mim porque sou eu que controlo as tuas acções. - Isso não quer dizer nada. E se eu quiser participar nesse tal de irreality-show? Não podes. - Não posso? Espere para ver! Aí, o João irreal aproximou-se da equipa de filmagens mas, a reacção foi igual:123 ninguém lhe ligou nenhuma. Desanimado, o João irreal voltou para o sítio onde estava antes. - Droga. Conseguiste? 122 Nesse caso, podemos supor que mesmo os que sabem nadar são comidos pelos tubarões. (C. V. S. N. A.) (Centésima Vigésima Segunda Nota do Autor) 123 Igual à reacção do outro cara com que o João irreal tinha tentado falar antes. (C. V. T. N. A.) (Centésima Vigésima Terceira Nota do Autor) - Não. Vês? Eu avisei-te. - Porque é que não me ligam nenhuma? Já te expliquei que é por seres irreal. - E eu já disse que o oposto do irreal é o real e se eu não sou real é porque sou um personagem de ficção. Não compliques as coisas ainda mais do que elas já estão! Não existes e acabou-se! - Você sabia de tudo, não sabia? Se soubesse, fazia alguma diferença? - Não. Nesse caso, sabia. Aí, o João irreal regressou ao seu barco e navegou para fora daquela ilha. FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo Num belo dia de Ferão, o João irreal estafa se interrogando como seria a actual sociedade elitista que pofoafa as refistas cor-de-rosa daqui a muitos anos.124 A actual sociedade PMI, Pessoas Muito Importantes125 é um enigma que os psicólogos do nosso tempo ainda não conseguiram explicar. Uma raça que por desígnios misteriosos do destino coloca-se à parte de outras espécies, fifendo num isolamento total. Mas, isto não interessa para nada, o que interessa é… como é que essa classe será daqui a fários anos? - Você além de tar repetindo tudo ainda por cima tá repetindo tudo errado. Se eu estou a repetir mal é porque não estou a repetir, estou a dizer a mesma coisa de maneira diverente. - Pois acho que já era altura de você me enviar para esse tal sítio. Qual sítio? - Onde a história se vai passar. A história fai-se passar aqui na volha. Onde é que querias que vosse? 124 Entende-se por revistas cor-de-rosa, todas as revistas que tenham artigos que toquem no coração das pessoas, ou seja, revistas para cardíacos. (C. V. Q. N. A) (Centésima Vigésima Quarta Nota do Autor) 125 Não confundir com PMI – Pessoas Muito Imbecis. (C. V. Q. N. A.) (Centésima Vigésima Quinta Nota do Autor) - Porque é que você tá falando assim? Assim como? - Assim. Trocando as letras todas. Oufiste-me a trocar alguma coisa? - Deixe para lá… Eu tava falando do espaço da história. Como é que queres que eu saiba o espaço da história se ainda não a escrefi? Quando chegar ao vim logo fejo o espaço que ela ocupa. - Você não tá entendendo? Local da história! Percebeu? Mau! Tás a gozar comigo ou quê? 126 Tu também? Tou a acabar a história não tarda. - Eu passo bem sem você. Ah é? Diz-me como. - Eu falo, né? E o cara das notas escreve a acção. Qual acção? - Quer ver? 127 - Ei! Você tem que pôr isso aqui! 128 - Não dá, não. Tem que ser você a escrever. Eu afisei-te. Aí, um milagre aconteceu. Aliás, não voi um milagre 126 Acho que já era tempo de parares com isso e começares a trabalhar. Estamos fartos desses impasses. (C. V. S. N. A.) (Centésima Vigésima Sexta Nota do Autor) 127 Aí, o João irreal falou para (C. V. S. N. A.) (Centésima Vigésima Sétima Nota do Autor) 128 Só posso escrever aqui. (C. V. O. N. A.) (Centésima Vigésima Oitava Nota do Autor) mas, um mero despertar de uma consciência anteriormente adormecida. Tu quando estavas a dizer local querias dizer sítio, não era? - Não. Queria dizer local mesmo. Mas, sítio é a mesma coisa. - Eu sei. Está bem. Vou-te enfiar, perdão, enviar para lá. Aí, o João irreal fiajou para o vuturo.129 Vuturo.130 Quando lá chegou, o João irreal vicou espantado com o que fiu. Parecia uma cidade do vuturo.131 Aí, o João irreal procurou alguém que o pudesse informar sobre a sociedade PMI daquela era. Aí, o João irreal caminhou pela cidade até encontrar algum PMI. 132 O quê?133 Ah! Já sei. É assim: quando escrefi “enviar” e apareceu “enfiar”, resolfi escrever “enfiar” para que aparecesse “enviar”.134 129 Para onde? (C. V. N. N. A.) (Centésima Vigésima Nona Nota do Autor) 130 Ah… (C. T. N. A.) (Centésima Trigésima Nota do Autor) 131 Talvez porque fosse mesmo uma cidade do futuro. (C. T. P. N. A.) (Centésima Trigésima Primeira Nota do Autor) 132 Como é que fizeste aquilo lá atrás? (C. T. S. N. A.) (Centésima Trigésima Segunda Nota do Autor) 133 Quando disseste “Vou-te enfiar, perdão, enviar para lá.” (C. T. T. N. A.) (Centésima Trigésima Terceira Nota do Autor) 134 Sabes o que é que se está a passar? (C. T. Q. N. A.) (Centésima Trigésima Quarta Nota do Autor) Sei lá. Acho que apanhei um vírus no computador.135 Deve ser psicológico. Foltando à história… Aí, o João irreal encontrou uma vamília de PMIs, os Jetsetsons.136 Como é que pode? Já estiveste no futuro?137 Se estás agora não é vuturo, é presente.138 - Como é que vocês são? 139 Idem. - Isso quer dizer o quê? Quer dizer que concordo com ele. Vaz outra pergunta. - Já tou farto de fazer perguntas! Ainda só vizeste uma! - Fiz mais quando vocês estavam falando um com outro. Mas, tu não podes vazer isso! - Mas fiz. E o que é que perguntaste? - Como é que se chamavam, o que é que faziam…140 135 É estranho é isso só aparecer quando és tu a falar. (C. T. Q. N. A.) (Centésima Trigésima Quinta Nota do Autor) 136 Isso por acaso não é inspirado naquela família do futuro? (C. T. S. N. A.) (Centésima Trigésima Sexta Nota do Autor) 137 Estou agora. (C. T. S. N. A.) (Centésima Trigésima Sétima Nota do Autor) 138 Continua lá com isso! (C. T. O. N. A.) (Centésima Trigésima Oitava Nota do Autor) 139 Que pergunta idiota. Ele não tem olhos? (C. T. N. N. A.) (Centésima Trigésima Nona Nota do Autor) Não. Era circunstancial. Ou por outra, ele quis convirmar se eles não tinham mudado de nome, não era? - Não. 141 E o que é que eles responderam?142 - Nada. Ignoraram-me por completo. Era como se eu não existisse. Mas, tu não existes.143 - A quem é que você tá chamando inferior?144 - É verdade. Vamos mas é foltar para o presente.145 Se eu quisesse dizer passado, tinha dito passado.146 Mas não queria. E agora acabou-se a discussão. Aí, o João irreal foltou ao presente147 140 Ele perguntou-lhes como é que eles se chamavam? Isso quer dizer que aquele nome que tu disseste dos Jetsetsons era falso? (C. Q. N. A.) (Centésima Quadragésima Nota do Autor) 141 Como é que ele podia saber se eles mudaram de nome sem saber o nome anterior? (C. Q. P. N. A.) (Centésima Quadragésima Primeira Nota do Autor) 142 Não respondes? (C. Q. S. N. A.) (Centésima Quadragésima Segunda Nota do Autor) 143 Isso é verdade. Mas, também pode ser que estes PMIs sejam iguais aos PMIs do passado e ignorem todos os seres inferiores. (C. Q. T. N. A.) (Centésima Quadragésima Terceira Nota do Autor) 144 A ti. Eles eram maiores que tu, não eram? (C. Q. Q. N. A.) (Centésima Quadragésima Quarta Nota do Autor) 145 Passado, queres tu dizer. (C. Q. Q. N. A.) (Centésima Quadragésima Quinta Nota do Autor) 146 Pensava que querias dizer passado. (C. Q. S. N. A.) (Centésima Quadragésima Sexta Nota do Autor) Presente.148 - É melhor ser eu a acabar isto: FIM Versão original: Lord F. Ullman C. Koko Versão mal traduzida: Humberto Ricardo CONTINUA NA PRÓXIMA HISTÓRIA E NÃO NA QUE VEM ANTES 147 Passado. (C. Q. S. N. A.) (Centésima Quadragésima Sétima Nota do Autor) 148 Passado. (C. Q. O. N. A.) (Centésima Quadragésima Oitava Nota do Autor)