Edificação e aprendizado

Transcrição

Edificação e aprendizado
Brasil
Presbiteriano
O Jornal Brasil Presbiteriano é órgão oficial
da Igreja Presbiteriana do Brasil
Ano 53 nº 688 – Março de 2012
Edificação e aprendizado
APMT realiza
Semana de
Orientação para
missionários,
candidatos e
filhos. Além
de capacitar,
os presentes
participaram de
uma reciclagem
sobre como
funciona a IPB,
sua estrutura
e filosofia de
missões da igreja.
Página 12
LEIA OS ARTIGOS:
A escola de onde nunca
saímos
Página 4
Desigrejei! Em busca do
Página 5
Futuro incerto
Página 20
novo
O primeiro culto
protestante no Brasil
Há 455 anos os presbiterianos realizam
o primeiro culto protestante em solo
brasileiro. O evento aconteceu em uma
colônia fundada pelos franceses na baía
de Guanabara.
Página 9
Brasil
Presbiteriano
2
Março de 2012
EDITORIAL
Brasil
Presbiteriano
Provação
N
ossa capelã, Missionária Eleny Vassão,
pede nossas orações diante
da provação trazida pelos
ataques que tem sofrido
o trabalho de Capelania
Hospitalar.
Segundo Eleny, “a ACEH
– Associação de Capelania
Evangélica Hospitalar,
através das Capelanias
Evangélicas do Centro de
Referência (CRT-AIDS)
e Treinamento em DSTAIDS e do Instituto de
Infectologia Emílio Ribas,
em São Paulo, estão sendo
atacadas com acusações
difamatórias”.
O trabalho da Capelania,
conforme explica a capelã,
consiste em prestar assistência espiritual regular
aos enfermos, aos seus
cuidadores e aos profissionais da saúde e funcionários dos hospitais. Esse
envolvimento requer treinamento que é oferecido
pela ACEH – Associação
de Capelania Evangélica
Hospitalar (www.capelania.com).
Não se trata de trabalho novo. Já são mais
de 20 anos cuidando de
enfermos, especialmente
os atingidos pela AIDS,
envolvendo seus aspectos
social, emocional e espiritual. O ministério de
capelania tem uma extensão de seu trabalho na
Casa do Aconchego. Ali
“as famílias encaminhadas pelo Serviço Social
Ano 53, nº 688
Março de 2012
dos hospitais participam
de programa semanal e
recebem aconselhamento bíblico, participam de
cursos, palestras, atividades recreativas, recebem
refeições e também uma
cesta básica, roupas, sapatos e leite”. A viabilização
desse trabalho se dá “através do Projeto Mãos e
Coração, tendo como principal parceiro o Instituto
Presbiteriano Mackenzie,
com a participação da
Sociedade Bíblica do
Brasil, empresas parceiras
e diversas igrejas evangélicas”.
“... dirá o Rei aos que
estiverem à sua direita:
Vinde, benditos de meu
Pai! Entrai na posse do
reino que vos está preparado desde a fundação do
mundo. Porque tive fome,
e me destes de comer; tive
sede, e me destes de beber;
era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me
vestistes; enfermo, e me
visitastes; preso, e fostes
ver-me” (Mt 24.34,36).
Há um enorme trabalho a
ser feito em relação aos
enfermos, mas não sem o
enfrentamento das forças
contrárias à igreja e ao
evangelho, porque contrárias a Cristo.
A situação pede nossas
orações e iniciativas no
sentido de mantermos a
liberdade para acudir os
necessitados e anunciarlhes o evangelho.
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Aristides Neto
Impressão
Folhagráfica
Brasil
Presbiteriano
Março de 2012
3
FAMÍLIAS PRESBITERIANAS DO BRASIL
Família Kerr
Alderi Souza de Matos
A
família Kerr descende
de
Elisa
Ruland Kerr, uma viúva
do sul dos Estados Unidos
que veio para o Brasil com
os dois filhos em 1867.
O primeiro membro da
família a ingressar na
Igreja Presbiteriana foi seu
neto William Cleary Kerr
(“Willie”), mais conhecido como Rev. Guilherme
Kerr (1888-1956). Ele
foi o sexto e último filho
do engenheiro Warwick
Stephen Kerr com sua
primeira esposa, Emma
Ottillie Lina Lorenz. Do
segundo casamento, com
Amélia Silva Caldas,
Warwick teve outros dez
filhos.
Aos 19 anos, Guilherme
foi recebido por confirmação na igreja episcopal de Santos. Pouco
depois, residindo no Rio
de Janeiro, passou a frequentar a IPB, pastoreada pelo Rev. Álvaro
Reis, onde despertou sua
vocação para o ministério pastoral. Após estudar
no Instituto Evangélico
de Lavras (1909-1912),
ingressou no Seminário
do Sul, em Campinas. Foi
ordenado pelo Presbitério
de São Paulo no dia 21 de
janeiro de 1917. Pastoreou
inicialmente as igrejas de
Sorocaba e Itapetininga.
Destacou-se por sua piedade e cultura.
Em 1926, o Rev.
Rev. Guilherme, D. Aurora e filhos - bodas de prata - 1942
Guilherme foi eleito professor de Antigo Testamento
no Seminário do Sul, do
qual também foi deão e
reitor por muitos anos. Foi
o primeiro presidente do
Supremo Concílio da IPB
(1938-1942). Outras igrejas que pastoreou foram as
do Brás, Lapa e Pinheiros,
na capital paulista. Era
casado com a professora
Aurora de Campos Kerr
(1895-1979), de uma antiga família presbiteriana de
Sorocaba. Seu avô, José
Carlos de Campos, foi
evangelizado pelo Rev.
José Manoel da Conceição
em 1866.
O casal teve sete filhos.
Nydia (1918-2006) lecionou música no Seminário
do Sul. Samuel (19192000) foi engenheiro
e membro da IP da Vila
Mariana (SP). Neander
(1921-2008),
também
engenheiro, foi presbítero e projetou muitos templos presbiterianos, principalmente em Campinas.
Gerson (1926-2006), outro
engenheiro, frequentou
a Igreja Batista. Lysias
(1929-2006), que chegou a
almirante da Marinha, foi
membro fundador e presbítero da IP do Grajaú (RJ).
Júnia, nascida em 1924,
é casada com o engenheiro Epaminondas Melo do
Amaral Filho, cujo pai foi
um conhecido ministro da
IPI, e Lílian (1931), com o
Rev. Carl Joseph Hahn Jr.
Quanto aos irmãos do
Rev. Guilherme, um dos
mais velhos foi Emílio
Warwick Kerr (18801959), que se tornou pastor batista em São Paulo.
Amélia (1895-1950) foi a
primeira esposa do Rev.
José Carlos Nogueira.
Warwick Kerr ou “Vick”
(1907-1984), o mais novo
dos irmãos, foi diácono e
presbítero da IP Unida de
São Paulo. Ele e a esposa
Ondina de Moraes Kerr
participaram por mais de
50 anos do coral dessa
igreja. Em 1997, o nome de
Ondina foi dado ao coral
feminino da Unida. Seu
Rev. Guilherme Kerr e D. Aurora - 1945
filho Samuel Kerr é muito
conhecido nos meios musicais de São Paulo e escreveu um livro sobre a familia (Vick: lembranças dos
Kerr, 2007). A organista e
regente Dorotea Kerr foi
casada com Warwick Kerr,
irmão de Samuel.
Diversos netos do Rev.
Guilherme Kerr estão
envolvidos com a igreja. Octávio Brochado de
Almeida, filho de Nydia,
estudou teologia no
Seminário Betel Brasileiro
e frequenta a IP de Vila
Pompeia (SP). Guilherme
Kerr Neto, filho de
Neander, é pastor batista, músico e compositor
sacro nos Estados Unidos.
Sua irmã Marta é casada com o Rev. Charles
Timothy Carriker, da
IPI. Roberto Kerr, filho
de Samuel, é membro da
IP de Moema (SP), professor da Universidade
Presbiteriana Mackenzie
e fundador do Grupo de
Professores Cristãos. Seu
irmão Ricardo Borges
Warwick Kerr e Ondina de
Moraes Kerr - 1982
Kerr, filiado à mesma igreja, integra a diretoria da
Associação Evangélica
Beneficente (AEB). O
bisneto Paulo Severino da
Silva Filho, neto de Nídia,
é professor de teologia e
pastor auxiliar da IP de
Botafogo (RJ).
Como diz a Escritura,
“será abençoada a geração
dos justos” (Sl 112.2).
O Rev. Alderi Souza de Matos
é pastor presbiteriano e historiador
oficial da IPB.
[email protected]
Brasil
Presbiteriano
4
Março de 2012
ARTIGO
A escola de onde nunca saímos
Enos Moura
O
s pais vivem um período no começo do
ano que é, ao mesmo
tempo, satisfatório e doloroso: a volta dos filhos às
aulas.
Satisfatório pela alegria
em saber que os filhos
podem estudar, seja em instituições públicas ou privadas, e tem a oportunidade
de aprender com profissionais preparados para isso.
Claro, infelizmente, não é
a realidade para 100% da
população, mas já foi bem
pior.
E doloroso em dois
aspectos. O primeiro, mais
subjetivo, que é uma nova
separação da família após
o tempo de férias, quando, teoricamente, a família
passa mais tempo junto. O
segundo aspecto, mais tangível, é a necessidade de
investimento na educação,
leia-se: matrícula, material
escolar e uniformes. Notem
que não usei a palavra custo,
ou gasto. É um investimento, doloroso apenas pelo
fato de ser alto, mas com
retorno seguro, pois sempre
se aprende algo, no mínimo
têm-se a alfabetização da
criança! Um dito popular
diz que “se você acha cara
a educação, experimente a
ignorância”.
Pensando ainda por esse
caminho, lembro que há
uma placa na entrada da
Universidade de Oxford
que diz: “The more I study,
the more I know, the more
I know, the more I forget,
the more I forget, the less
I know, so why study?”
Numa tradução livre significa: “Quanto mais eu
estudo, mais eu sei, quanto
mais eu sei, mais eu esqueço, quanto mais eu esqueço,
menos eu sei, então pra que
estudar?
Ora, educar é mandamento bíblico:
“Educa a criança no caminho em que deve andar; e
até quando envelhecer não
se desviará dele” (Pv 22.6).
Mas como sabermos qual
é esse “caminho” citado
no versículo de Provérbios
22.6?
A própria Bíblia, Palavra
de Deus, nos responde.
Uma das respostas está na
segunda carta de Paulo a
Timóteo:
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o
ensino, para a repreensão,
para a correção e para a
instrução na justiça” (2Tm
3.6).
Em boa parte das igrejas
os pais costumam batizar
os filhos ainda bem pequenos, e uma das coisas com
as quais se comprometem
perante Deus é proporcionar ensinamento bíblico à
criança, levando-a a igreja
e compartilhando a Palavra
de Deus em casa também.
No Antigo Testamento
Deus já nos dava as diretrizes: “E as ensinarás a teus
filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando
pelo caminho, e deitando-te
e levantando-te” (Dt 6.7).
No início do sexto capítulo do livro de Deuteronômio
Deus estava falando de seus
estatutos e também mais
especificamente do que o
próprio Jesus denominou de
primeiro e grande mandamento (Mt 22.38): “Amarás,
pois, o SENHOR teu Deus
de todo o teu coração, e de
toda a tua alma, e de todas
as tuas forças” (Dt 6.5).
Notem que a ordem para
ensinar aos filhos é descrita sugerindo que haja uma
continuidade.
Entendemos que, como
consequência de uma educação bíblica, os valores
que fomentarão a educação
secular também procurarão refletir, e não se opor
aos ensinos das Escrituras
“Toda a Escritura
é inspirada por
Deus e útil para
o ensino, para a
repreensão, para
a correção e para
a instrução na
justiça”
(2Tm 3.6).
Sagradas. Assim, quando
ensinamos nossos filhos
nesse caminho citado em
Provérbios, garantimos que
é uma via pavimentada
por ensinos bíblicos, e por
assuntos que construam o
conhecimento e o caráter
dos aprendizes em sintonia
com os padrões esperados.
Podemos controlar tudo o
que nossos filhos aprendem
fora de casa e fora da igreja?
Não! Infelizmente. Aqueles
que são pais com certeza
já foram surpreendidos por
seus filhos dizendo algo não
muito lisonjeiro, cantando
uma ou outra musiquinha
de gosto duvidoso, ou pior
ainda, adotando um modo
de pensar de acordo com o
padrão do mundo. Contudo,
a base e o grosso do conhecimento devem ser de ótima
qualidade moral, não só técnica. Isso renderá frutos nos
anos vindouros.
A escola, com todos
os seus níveis de ensino,
depois a faculdade, os cursos profissionalizantes,
enfim, a educação secular,
são extremamente importantes na preparação para o
mundo. Eles têm seus tempos, ciclos e prazos. Mas o
ensinamento bíblico é contínuo, constante, ininterrupto, onde sempre será possível se aprofundar um pouco
mais. Nele somos preparados, atualizados, reciclados, para viver no mundo
de acordo com a vontade
de Quem o criou. Os dois
são complementares e não
excludentes. Exemplos: a
Bíblia não me ensina como
montar um balanço financeiro, mas me instrui a
fazê-lo de forma honesta.
Não me ensina como abrir o
peito de um doente cardíaco
e tratar seu coração, mas
me ensina que tudo aquilo é
criação de Deus merece se
tratado da melhor maneira
digna.
A escola bíblica é a escola
de onde nunca saímos, seja
a escola dominical, seja o
estudo bíblico nos lares...
Não há formatura nela nesse
mundo terreno. A nossa
graduação será na Glória
eterna. Quando, então, estaremos com o Mestre dos
mestres.
Enos Moura é presbítero da IP de
Guarulhos, SP
Brasil
Presbiteriano
Março de 2012
5
ARTIGO
Desigrejei! Em busca do novo
Naziaseno Cordeiro Torres
U
m fenômeno curioso tem acontecido nos nossos dias: a
busca ansiosa pelo novo.
É comum encontrarmos
releituras de ideologias
cristalizadas pela história com novas roupagens. Fala-se em Novo
Calvinismo, Neoateísmo,
Neopuritanismo, Neocapitalismo, Neoliberalismo...
Enfim, o “neo” está na
moda!
Como
comprovação
dessa verdade, a revista
Época publicou uma matéria de capa, tempos passados, com o seguinte título:
Os Novos Protestantes. A
ideia básica que a matéria
transmite é que os novos
protestantes ensinam que
o desejável para os nossos
dias “é despir tanto quanto
possível os ensinamentos
cristãos de todo aparato
institucional”. Em outras
palavras é simplesmente
dizer: “Desigrejei!”.
A Eclesiologia (a doutrina da Igreja) está no centro da discussão teológica
atual. Novas nuances têm
sido aplicadas a fim de
remodelar a forma antiga
e tradicional da instituição/Igreja. A justificativa
é tornar a mensagem do
evangelho mais atraente e, também, criar a real
possibilidade de distinção
do atual modelo, batido,
sacralizado pelos neopentecostais.
Agora, é bom que se
diga que esse processo de
apresentar novas diretrizes para a Igreja não é
algo realmente novo. Na
trajetória da história eclesiástica várias situações
foram infundidas. Abraão
Kuyper, por exemplo,
ensinava que deveria se
fazer uma distinção entre
atividades sociais e levar a
efeito o mandato cultural”.
A crítica severa a Kuyper é
que com o passar do tempo
ele parecia dizer que a
igreja verdadeira não era
a igreja como instituição,
mas a igreja como organismo. Ou seja, ele pregava
que a igreja como instituição existe para servir
mos é um novo modelo de
Igreja. Agora, em Kuyper
a Igreja deveria tomar
consciência do seu mandato e entrar no mundo para
influenciar todas as esferas
da vida. Parece que a estratégia dos novos protestantes é totalmente contrária
a Kuyper. Na realidade os
novos protestantes querem
“A minha preocupação é
que o novo protestantismo,
com a sua bandeira de
quebrar paradigmas,
produza ao longo do
tempo crentes superficiais
– sem compromisso, sem
comunhão, sem história,
sem igreja”.
a igreja como instituição e
a igreja como organismo.
Como “instituição, a igreja foi investida com três
ofícios (profético, sacerdotal e real) e é chamada
a pregar e administrar os
sacramentos e a exercer a
disciplina. Como organismo, ou corpo de crentes,
ela deve se envolver em
a igreja como organismo,
equipando os santos para a
sua tarefa no mundo. Qual
tarefa? O engajamento
político-social sob os auspícios do mandato cultural. Essa fase ficou conhecida na Europa, especificamente na Holanda, como o
Neocalvinismo.
Hoje, o que presencia-
preparar a Igreja para que
o mundo entre nela e permaneça. Assim sendo, a
Igreja precisa ser remodelada para atender o cliente
chamado Mundo. Quais
são as reformas?
1º Esqueça o sermão
bíblico expositivo. Palestra
soa melhor aos ouvidos do
cliente Mundo;
2º Templo? Isso é coisa
do passado. Pequenos grupos, ou células, são mais
interessantes;
3º E o que falar dos dízimos? O ofertório na hora
do culto é politicamente
incorreto para os nossos
dias.
4º Não se identifique
como evangélico, ou crente ou irmão.
5º O termo igreja é
questionado. Os novos
protestantes preferem termos como Comunidade,
Estação, entre outros...
6º Ah! Quase esqueço...
Informalidade é a base
da comunicação verbal e
visual. Portanto, aposente
o terno/gravata e afie a
língua para uma sincronia com a comunicação da
moda.
Bom, esses são os novos
protestantes. Estão eles
certos? A igreja institucionalizada está em crise? É
preciso novas estratégias
para alcançar o mundo? A
Escritura, porém, nos apresenta as veredas antigas.
O antigo evangelho. Voltar
a ele é avançar. A minha
preocupação é que o novo
protestantismo, com a sua
bandeira de quebrar paradigmas, produza ao longo
do tempo crentes superficiais – sem compromisso,
sem comunhão, sem história, sem igreja.
O Rev. Naziaseno Cordeiro Torres
é pastor da IP de Capela do Alto
Alegre/Ba
Brasil
Presbiteriano
6
Março de 2012
BP LEGAL
O presbiterianismo e suas implicações
Quais implicações tem o sistema presbiteriano de
governo para a igreja e que efeitos práticos ele gera
para vida espiritual de seus membros (que antes de
presbiterianos, se supõem serem crentes e servos fiéis
ao Senhor Jesus Cristo e, por assim dizer, verdadeiros
cristãos reformados)?
Ricardo Barbosa
D
iz-nos o artigo 1º
da
Constituição
da IPB que “A Igreja
Presbiteriana do Brasil é
uma federação de igrejas
locais...”. O federalismo
estatal não tem origem em
Calvino, pois surge com
a formação dos Estados
Unidos da América como
uma resposta à necessidade
de um governo eficiente
em vasto território que, ao
mesmo tempo assegurasse
os ideais republicanos que
vingaram com a revolução
de 1776.
No entanto, transposta
a ideia federalista para o
contexto eclesiástico, verificamos que no livro de
Atos dos Apóstolos, capítulo 15, já havia rudimentos de uma estrutura federada de igrejas que buscava a unidade em meio
à expansão missionária
ante o desafio da extensão
geográfica e diversidade
cultural das regiões que se
pretendia cobrir.
A IPB adotou, portanto, um sistema composto
por Presbitérios, Sínodos
e Supremo Concílio por
meio do qual diferentes
grupos de uma nação vasta
com a brasileira estivessem unidos em torno das
Escrituras Sagradas, como
única regra de fé e prática,
e de sua Confissão de Fé e
Catecismos Maior e Breve,
como o sistema expositivo
de doutrina e prática.
“o poder da igreja
é espiritual e
administrativo,
residindo na
corporação, isto é,
nos que governam
e nos que são
governados”.
Decorre do princípio
federativo que o cristão
presbiteriano não pensa
nem age apenas no âmbito
local, mas pertence a uma
igreja federal, de alcance
nacional, disso implicando
maiores responsabilidades
e visão nos esforços para
a implantação e avanço do
reino de Deus.
No mesmo artigo 1º da
Constituição consta que a
IPB “...exerce o seu governo por meio de concílios
e indivíduos regularmente
instalados”.
A ideia de um sistema
conciliar parte do princípio
federativo e introduz os
chamados princípios da
apelação, de revisão e de
controle (Hodge, 1869)
sobre os atos praticados
pelos líderes da igreja.
Uma decisão eclesiástica
tomada no âmbito de uma
igreja local pode ser submetida à revisão perante
instâncias superiores – os
Presbitérios, Sínodos e
Supremo Concílio – que
se superpõem hierarquicamente na tarefa de revisão,
fiscalização e controle dos
atos conciliares e assim
se mantenha a unidade da
igreja em torno de seus
símbolos de fé.
Por fim, no artigo 3º da
Constituição da IPB: “o
poder da igreja é espiritual
e administrativo, residindo
na corporação, isto é, nos
que governam e nos que
são governados”. O §1º
trata da autoridade dos
que são governados que é
exercida pelo povo reunido em assembléia para
eleger ou pedir exoneração
de pastores e oficiais da
igreja; pronunciar-se sobre
questões orçamentárias e
administrativas quando o
Conselho solicitar; e deliberar sobre a aquisição ou
alienação de imóveis e
propriedades. O §2º diz
sobre a autoridade dos
governantes, do ponto de
vista individual e no exercício coletivo sob a forma
conciliar.
“Ser presbiteriano
implica a adoção
de um sistema
de governo e
de vida em que
se reconhece o
senhorio de Cristo
sobre a sua igreja”.
Repousa aqui o princípio
representativo. O governo na igreja é teocrático,
sendo Jesus o Cabeça e a
sua Palavra a nossa constituição escrita. Deriva de
Jesus Cristo todo o poder
que reside tanto nos que
governam (os oficiais da
igreja) quanto nos que
são governados (o povo).
Ocorre que o exercício
do poder pertencente ao
povo se dá pela via representativa dos presbíteros regentes, imperando,
neste aspecto particular, o
princípio democrático na
igreja. Um presbítero age
conforme as Escrituras,
mas não passa de um representante do povo que
tem direito a parte substancial no governo da
igreja.
Decorre daí que presbíteros (docentes e regentes) não são monarcas, mas
devem sujeitar-se a mandatos por tempo determinados, renovados ou não
por eleições periódicas.
De igual modo, presbíteros somente exercem seu
poder de jurisdição para
julgar membros, mediante processo disciplinar
válido, garantidos o contraditório e o devido processo legal ao crente que
se supõe faltoso.
Por fim, conselhos
devem ser ciosos da
prestação de contas à
igreja, lembrando-se de
que o tesoureiro da igreja
responde com seus bens
pelas importâncias sob sua
responsabilidade.
Como se verifica, ser
presbiteriano (e por assim
dizer, reformado) implica
a adoção de um sistema
de governo e de vida em
que se reconhece o senhorio de Cristo sobre a sua
igreja, sem perder de vista
a ampla liberdade que o
povo tem para expressarse e conduzir os rumos da
igreja, segundo diretrizes
dados pelo próprio Deus,
por meio de representantes saídos do povo e
destacados pela sua vida
irrepreensível, piedosa e
temente a Deus.
Ricardo de Abreu Barbosa, é
advogado e presbítero da 1ª IP de
São Bernardo do Campo, SP
Brasil
Presbiteriano
Março de 2012
7
GRATIDÃO
Uma família segundo o coração de Deus
70 anos de união
conjugal e ordenação de
mais um neto do casal.
Jarbas de Oliveira Camargo e
Rev. Ailton Gonçalves Dias Filho
N
o dia 21 de janeiro aconteceu na IP
Central de Americana, um
culto de gratidão a Deus
pelos 70 anos de união
conjugal do Pb. Antônio
Camargo Jr (95anos), presbítero emérito da igreja
local, e Janice Alves de
Lima Camargo (88 anos).
Seu Tózinho, como é
conhecido, é filho e neto
de presbíteros e descendente da tradicional e primeira família da IPB, família Gouvêa, convertida ao
evangelho no século 19 e
tendo como oficiante no
batismo e profissão de fé
dos membros naquela ocasião o missionário Rev.
Alexander L. Blackford, e
que teve como pregador, o
então ex-padre José Manuel
da Conceição.
Quando o casal iniciou
o namoro, a dona Janice
era católica e não aceitou
de forma nenhuma que se
casassem na igreja “dos
crentes” e sob a condição
de que os filhos também
fossem batizados na igreja
católica, resolveram casarse apenas no civil, e assim
foi feito no dia 22 de janeiro
de 1942 na cidade de Dois
Córregos.
Convivendo diariamente
com família de evangélicos,
Família presente no culto para agradecer
a dona Janice aos poucos
foi ouvindo a Palavra, lendo
a Bíblia e cantava hinos
sempre escondida pois não
queria se render a seguir
a religião do esposo. Com
o nascimento do primeiro filho e não tendo mais
como esconder sua admiração pela IPB, converteu-se
ao evangelho e após alguns
anos foi batizada e fez sua
profissão de fé.
Depois disso se tornou
uma dedicada e estudiosa
serva da palavra do Senhor,
seguindo até os dias de hoje
firme na fé passando boa
parte do dia em oração.
O casal confirmou o casamento no religioso 25 anos
depois da união por ocasião
das bodas de prata tendo
como ministrante o Rev.
Daniel ao lado do pai e do avô
Antônio Lemos da Silveira,
pastor da IP de Americana
na época. Pais de nove
filhos, sendo sete homens
e duas mulheres. Os sete
filhos, todos oficiais da IPB
sendo cinco presbíteros e
dois diáconos.
Dos netos, dois também
são presbíteros, dois diáconos e um pastor, rev. Felipe
de O. Camargo da IPB do
bairro do Estoril em São
Bernardo do Campo – SP.
A grande família é formada por 91 pessoas tendo
nos agregados casados
com netas um pastor, rev.
Joselito Moraes Gomes e
mais dois diáconos.
O casal que conduziu
os filhos no caminho do
Senhor passou pelas igrejas de: Pederneiras – SP,
Dona Janice, Presb. Antônio e filhos
Arapongas – PR, Central
de Americana – SP, Mooca
– Capital SP, Valinhos –
SP e novamente Central de
Americana.
Por onde passou, o casal
fez grandes amigos e manteve a casa sempre aberta para receber os irmãos.
Dona Janice, sempre atenciosa e prestativa, os recebia com seus famosos pães,
bolachas caseiras e bolos
que ainda hoje são lembrados por muitos.
Deus também agraciou a
família dando dons musicais a muitos membros
tendo vários instrumentistas e regentes e cantores
com os quais formamos um
coral com aproximadamente quarenta vozes.
Nós filhos, rendemos a
Deus toda nossa honra, glória e louvor, pela benção de
ter nos dado Seu Tózinho
e Dona Janice como pais,
pelos ensinamentos e educação que eles nos proporcionaram, e que hoje repassamos para nossos filhos de
forma que, a família tem
procurado seguir e andar
nos caminhos do Senhor.
COMPROMETIDOS
COM O REINO
Na manhã do dia 11 de
dezembro de 2011, no
culto matutino, a IP de
Americana, SP, foi ordenado mais um presbítero para
a IPB, Daniel de Oliveira
Camargo, neto do Pb.
Antônio Camargo Júnior,
mencionado acima. O pai
de Daniel, Pb. Hélio de
Oliveira Camargo, além de
presbítero em atividade é
também presbítero emérito
na mesma Igreja. A IP de
Americana agradece continuamente a Deus a bênção
de poder contar em seu quadro de oficiais com mais
um presbítero oriundo de
uma família historicamente
comprometida com o Reino
de Deus e com a IPB.
“Portanto, (...) visto que
temos a rodear-nos tão
grande nuvem de testemunhas (...) corramos com perseverança a carreira que nos
está proposta...”
Jarbas é diácono da IP de São
Bernardo do Campo e o Rev. Ailton
pastoreia a IP de Americana, SP.
Brasil
Presbiteriano
8
Março de 2012
II Encontro de Diácon
os
ção da IP
Três anos de organiza
uaia/PA
em Santana do Arag
guaia começou pela
o em Santana do Ara
O trabalho presbiterian
onça em 11 de abril de
Dalmo da Cruz Mend
r e o missionário
JMN com o missionário
a missionária Claudeci
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De
1999.
da. A IP em Santana do
Moisés da Corte Miran
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Marthon, além do Rev.
de Sousa, comemoro
pelo Rev. José Pedro
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Araguaia, pastoreada
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prometida com a obra
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IP
a
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De
Graças a
de Deus.
No dia 14 de abril os
diáconos terão
uma programação
preparada para
eles na IP de Ermelin
o Matarazzo. O II
Encontro de Diáconos
acontecerá das
9h às 16h e é direcion
ado à todos que
tenham o interesse de
refletir e conhecer mais sobre o dia
conato. O tema
abordado será “A mis
são do diácono na
igreja”, tendo como pre
letor o secretário
de apoio às Juntas Dia
conais do Presbitério Sul do Paraí
ba, presidente da
Confederação Sinodal
da Paraíba no trabalho
masculino e historiador,
diácono Eliezer Gome
s. Para participar é pre
ciso preencher uma ficha
de inscrição, pois as vag
as são limitadas. O inv
estimento é de R$10,00
com direito a café-da-m
anhã e almoço.
Projeto “A Bíblia no Cárcere”
História da SAF em DVD
Em novembro de 2011 a SAF
Pioneira, Sociedade Auxiliadora
Feminina, completou 127 anos
de história e luta no trabalho
cristão feminino. No culto de
ação de graça, na IP de Campina Grande, na Paraíba, foi
lançado o DVD comemorativo,
com o registro sobre a gênese e
o desenvolvimento da SAF/IPB
nestes 127 anos, e de um novo
site para a SAF, que é uma parc
eria
com a Apecom, Agência Presbite
riana de Evangelização e Com
unicação. No DVD, além de um brev
e histórico da SAF, há testemunho
s
emocionantes de mulheres que
dedicam tempo e oração em prol
da
IPB, dos ministérios da Igreja e em
favor de missões e da divulgação
do
Evangelho. Há inda ouças unidade
s para serem adquiridas pelo valo
r
de R$15,00. Para mais informaçõe
s e pedidos ligue: (81) 3037-2305.
No dia 29 de fevereiro a Sociedade Bíblica do Brasil deu início
ao projeto A Bíblia no Cárcere no estado do Rio Grande do Sul.
Inserida no programa a Bíblia e Paz, a iniciativa foi implementada
nos presídios gaúchos por meio de convênio com a Superintendência de Serviços Penitenciários do Rio Grande do Sul (SUSEPE).
“Nossa expectativa é que nos próximos quatro anos, este projeto
venha atender cerca de 100% da população carcerária do estado,
ou aproximadamente 34 mil detentos, em mais 90 presídios”, relata
o secretário de Comunicação e Ação Social da SBB, Erní Seibert.
Na cerimônia, além de expor o projeto, cronograma e metodologia,
a SBB também apresentou os materiais que doados aos presídios.
O público alvo desta ação são lideranças dos âmbitos civil, religioso
e político, e voluntários ligados ao setor.
Brasil
Presbiteriano
Março de 2012
9
HISTÓRICO
O primeiro culto Protestante no Brasil
Alderi Souza de Matos
C
abe aos presbiterianos a honra de terem
realizado o primeiro culto
evangélico na história do
Brasil e das Américas.
Esse evento singular ocorreu há 455 anos em uma
pequena colônia fundada
pelos franceses na baía de
Guanabara.
Após o descobrimento do
Brasil, Portugal demorou
a interessar-se pela ocupação e a colonização dos
novos domínios. Com
isso, a colônia atraiu a
atenção de outras nações
europeias, especialmente a
França. Após a experiência
mal sucedida das capitanias hereditárias e as constantes incursões estrangeiras, Portugal resolveu
tomar providências concretas. Em 1549 enviou
o primeiro governadorgeral do Brasil, Tomé de
Souza, que se instalou em
Salvador. Todavia, o controle da imensa costa era
ainda muito limitado. Foi
nesse contexto que o militar e aventureiro Nicolas
Durand de Villegaignon
teve a ideia de fundar uma
colônia numa região bem
conhecida dos franceses: a
baía de Guanabara.
Villegaignon aproximou-se do vice-almirante
Gaspard de Coligny, um
dos principais conselheiros
do reino, que nutria fortes
simpatias pela Reforma.
Com isso, conseguiu o
apoio do rei Henrique II
(1547-1559), que lhe forneceu dois navios aparelhados e recursos para a
viagem. A expedição chegou à Guanabara no dia
10 de novembro de 1555,
sendo bem recebida pelos
índios tupinambás, acostumados à presença de franceses na região. O grupo
instalou-se na pequena
ilha de Serigipe, mais tarde
denominada Villegaignon,
onde foi construído o Forte
Coligny.
A VINDA DOS
REFORMADOS
Diante de várias dificuldades
surgidas,
Villegaignon escreveu
à Igreja Reformada de
Genebra solicitando o
envio de pastores e colonos evangélicos que contribuíssem para a elevação
do nível moral e espiritual
da colônia. Coligny convidou para liderar o grupo
um ex-vizinho seu, Filipe
de Corguilleray, conhecido
como senhor Du Pont. Por
sua vez, João Calvino e
seus colegas alegremente
escolheram para acompanhar os colonos os pastores
Pierre Richier (50 anos)
e Guillaume Chartier (30
anos). Os seus objetivos
específicos eram implantar a fé reformada entre os
franceses e evangelizar os
indígenas.
Os huguenotes que os
acompanharam
foram
Pierre Bourdon, Matthieu
Verneil, Jean du Bourdel,
André Lafon, Nicolas
Denis, Jean Gardien,
Martin David, Nicolas
Raviquet, Nicolas Carmeau, Jacques Rousseau
e o sapateiro Jean de Léry,
o cronista da viagem, que
escreveria a obra Viagem à
Terra do Brasil (publicada
em 1578). Eram ao todo
catorze pessoas. No dia 19
de novembro embarcaram
para o Brasil no porto de
Honfleur, na Normandia.
A frota de três navios,
comandada por Bois
Le Conte, sobrinho de
Villegaignon, levava cerca
de 290 pessoas, inclusive
algumas mulheres. Como
de costume, a viagem foi
muito penosa. A certa altura, diante da situação em
que se achavam, os reformados recitaram o salmo
107 (ver os v. 23-30). No
dia 7 de março de 1557, os
viajantes finalmente entraram no “braço de mar”
chamado Guanabara pelos
selvagens e Rio de Janeiro
pelos portugueses.
O PRIMEIRO CULTO
O desembarque no forte
Coligny deu-se no dia 10
de março, uma quarta-feira. O vice-almirante recebeu o grupo afetuosamente e demonstrou alegria
porque vinham estabele-
cer uma igreja reformada.
Logo em seguida, reunidos todos em uma pequena sala no centro da ilha,
foi realizado um culto de
ação de graças, o primeiro
culto protestante ocorrido nas Américas, o Novo
Mundo.
O ministro Richier orou
invocando a Deus. Em
seguida foi cantado em
uníssono, segundo o costume de Genebra, o salmo
5: “Dá ouvidos, Senhor, às
minhas palavras”. Em seguida, o pastor
Richier pregou um sermão com base no salmo
27:4: “Uma coisa peço ao
Senhor e a buscarei: que
eu possa morar na casa do
Senhor todos os dias da
minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e
meditar no seu templo”.
Após o culto, os huguenotes tiveram sua primeira
refeição brasileira: farinha de mandioca, peixe
moqueado e raízes assadas
no borralho. Dormiram em
redes, à maneira indígena.
A Santa Ceia segundo o
rito reformado foi celebrada pela primeira vez
no domingo 21 de março
de 1557.
Infelizmente, o vicealmirante acabou entrando em conflito com os
huguenotes sobre questões
doutrinárias e os expulsou
da colônia. Em 4 de janeiro de 1558, eles partiram
para a França a bordo de
um velho navio. O comandante avisou que a viagem
iria ser difícil e não haveria alimento para todos.
Diante disso, cinco huguenotes se ofereceram para
voltar à terra. Inicialmente
Villegaignon os recebeu de
modo cordial, mas logo os
acusou de serem traidores
e espiões. Formulou um
questionário sobre pontos
doutrinários e lhes deu
doze horas para responderem por escrito. O resultado foi a bela Confissão
de Fé da Guanabara ou
Confissão Fluminense
[Publicada pela Cultura
Cristã em A Tragédia da
Guanabara) .
O almirante declarou
heréticos vários artigos
e decidiu pela morte dos
reformados.
Essa efêmera presença calvinista no início
da história do Brasil não
produziu efeitos permanentes. Não foi possível
aos reformados alcançar
seus dois intentos principais: criar uma igreja
reformada e evangelizar
os nativos. Todavia, esse
episódio é considerado um
marco significativo na história das missões cristãs,
pois foi a primeira vez
que os protestantes buscaram anunciar a sua fé a
um povo pagão. O fruto
mais duradouro do singelo
empreendimento foi a bela
confissão de fé selada com
sangue.
Brasil
Presbiteriano
10
Dezembro
Março de 2012
2011
MISSÕES
Porto Suárez, Bolivia, recebe equipe de volun
Emma Castro
Profissionais da saúde, universitários, pedreiros, cabeleireiros, e pessoas dispostas
a servir ao próximo, visitam país vizinho, compartilham a mensagem de salvação
e fazem atendimento médico e odontológico a uma população muito carente.
A
viagem
missionária
“Alcançando a Bolívia” aconteceu do dia 17 a 21 de fevereiro de 2012. A equipe lotou um
ônibus com 45 voluntários e foi
formada de pastores, evangelistas,
médicos, enfermeiros, dentistas,
universitários, pedreiros, cabeleireiros, psicólogos, nutricionistas e
pessoas que trabalharam no apoio,
dando suporte ao intenso trabalho de realizado. A base para esta
atividade foi o templo da Igreja
Presbiteriana de Puerto Suarez,
Bolívia, campo missionário da
APMT (Agência Presbiteriana de
Missões Transculturais).
A Dra. Maria Célia del Valle,
missionária da APMT, coordenou a
equipe de médicos e o Dr. Ricardo
Guttierrez, a equipe de dentistas. A
viagem contou com o apoio logístico dos projetos “Espaço jovem” e
“Expresso da Salvação”. A maioria
dos voluntários são membros da IP
Jardim Apurá e da IP do Jaraguá na
cidade de São Paulo.
O referido trabalho causou
grande impacto na cidade, sendo
amplamente divulgado por um
canal aberto de televisão, Canal
12 - Pantanal, com o apoio da Cruz
Vermelha.
No dia em que se iniciaram os
atendimentos, o prefeito da cidade,
Roberto Vaca, visitou o projeto e
manifestou seu apoio e gratidão por
tão grande iniciativa da IPB e pela
solidariedade com os mais necessi-
tados. “Estou muito contente de ver
os médicos brasileiros aqui, e agradeço à IPB que está fazendo possível este atendimento, uma vez que
muitos não têm onde recorrer por
causa das dificuldades financeiras.
Vocês não somente nos deram o
atendimento necessário como também nos doaram os medicamentos
para o tratamento. Gostaríamos de
dar o nosso apoio, como autoridade
local, para que este trabalho possa
se ampliar para as outras comunidades”, disse o prefeito.
A presidente da Cruz Vermelha,
Sônia Valdéz, manifestou sua alegria pelos benefícios que a população recebeu com os atendimentos
realizados. “Fizemos contato com
as pessoas responsáveis pelo projeto em dezembro de 2011 e agora
já podemos ver que a proposta se
fez realidade e superou o que havíamos imaginado. Agradeço não só
a ajuda social que estamos recebendo, mas, principalmente, o trabalho
espiritual que vocês estão realizando aqui, nesta época. Enquanto
o carnaval oferece uma proposta,
vocês estão oferecendo a Palavra
de Deus”, enfatizou Sônia.
No culto do dia 19 de fevereiro, o
Rev. Geraldo Batista Neto, missionário da APMT, assumiu a liderança da igreja local, que há três anos
estava sem pastor. Os membros da
igreja não tinham palavras para
louvar a Deus e agradecer a pre-
sença de um novo pastor no meio
deles.
Os atendimentos realizados
foram: 291 atendimentos de enfermagem, 205 consultas médicas;
101 atendimentos odontológicos
(em cada pessoa foi realizado mais
de um procedimento, como obturações, extrações e limpeza bucal);
08 consultas com nutricionista; 10
consultas psicológicas; 40 cortes
de cabelo e a participação de cerca
de 70 crianças nas atividades preparadas.
O Dr. Ricardo Guttierrez disse
ao final da jornada: “Fisicamente
estamos super cansados, mais felizes em poder servir a este povo tão
sofrido. Temos aqui vários evan-
Dezembro
Março
de 2012
de 2011
Brasil
Presbiteriano
untários da área da saúde
gelistas que enquanto estamos trabalhando eles estão explicando a
Palavra de Deus e isso, para mim,
é o principal. As pessoas vêm aqui
para tirar a cárie, mas o que nós
queremos é que elas conheçam a
Salvação por meio de Jesus Cristo,
que limpa todo pecado. Estamos
fazendo este tipo de trabalho em
vários lugares, no Brasil e fora
dele, e temos visto grandes resultados”, concluiu.
Os que desejarem participar de
projetos como este, podem entrar
em contato com a missionária, Dra.
Maria Célia Del Valle, pelo e-mail
[email protected]
Emma Castro é missionária e faz parte da
equipe de comunicação da APMT
11
Brasil
Presbiteriano
12
Março de 2012
EDIFICAÇÃO E APRENDIZADO
Semana de Orientação da APMT – Não
Emma Castro
A
Semana de Orientação da APMT 2012
(Agência Presbiteriana de
Missões Transculturais)
aconteceu dos dias 6
a 10 de fevereiro passado, no Sítio Ecolândia,
em Araçariguama, SP.
Estiveram presentes 53
missionários, candidatos,
e filhos juntamente com a
equipe da APMT.
O objetivo da Semana de
Orientação não é apenas
orientar e capacitar os futuros missionários da APMT.
aspecto institucional, filosofia, estatuto, regimento
interno, aspecto operacional, a dinâmica da Base,
a questão dos repasses,
conta bancária, boletos,
os materiais, as campanhas, os treinamentos, os
cursos, o cuidado integral
do missionário. Também
são tratadas questões referentes a documentações
pessoais,
previdência,
INSS, previdência privada, Acordo Internacional,
Imposto de Renda, emissão de passaportes e vistos. O aspecto relacional
As crianças tiveram uma programação direcionada para suas
idades
É também uma reciclagem
para os missionários que
já estão engajados, para
relembrarem como funciona a IPB, qual é a sua
estrutura, qual é a Filosofia
de Missões da Igreja, como
a IPB funciona, o que é o
“Comitê Gestor” e como é
feita a captação de recursos para os projetos. São
explanados os aspectos
protocolares da Agência, a
respeito da sua ação missionária, por exemplo: o
do missionário com as
igrejas, Agência e campo.
Também é dedicada boa
parte do tempo ao curso
DESM – Desenvolvimento
de Equipe de Sócios em
Ministério, curso ministrado pela missionária
Mônica Mesquita.
As informações sobre
a dinâmica da Base da
Agência são apresentadas
pela Equipe da Base, que
trabalha nos diferentes setores: Recursos Humanos,
Relações Públicas, Recursos Financeiros, Revista
Alcance, Comunicação,
etc. Outras informações
gerais são apresentadas pelo Executivo, Rev.
Marcos Agripino.
Uma das famílias presentes foi a do missionário
conhecido como Ashok.
Ele atua na Ásia há 18 anos
e ressaltou que é muito
bom conhecer os novos
candidatos da Agência e
poder compartilhar a experiência da sua caminhada.
Ao se referir aos filhos de
missionários ele disse: “O
segredo para que os filhos
dos missionários amem a
obra missionária e queiram
se envolver nela é transmitir o valor da mensagem
que temos e o valor que
temos de ser o que somos.
Acima de tudo é a graça de
Deus” e continuou dizendo: “É importante entender que precisamos preservar nossos filhos tanto no
campo missionário quanto
aqui no Brasil, das experiências amargas que pas-
Grupo de participantes durante a preparação
samos. Minha esposa e eu
tentamos protegê-los ao
máximo de coisas que não
lhes pertencem. Uma família que tem problema numa
igreja, numa organização
ou numa instituição, deve
resguardar os filhos e mostrar sempre o amor de Deus
independente do desamor
de pessoas ou das organizações” concluiu Ashok.
Para algumas esposas de pastores candida-
Equipe que trabalhou e organizou o evento
tos da APMT, a Semana
de Orientação foi o ponto
chave para esclarecer o
chamado da família. Kézia
Oliveira, esposa do Rev.
Cléber M. de Oliveira,
falou da mudança de
paradigma que ocorreu
na visão dela durante a
SO. “Esta semana mudou
minha visão, com certeza.
Quando você ouve falar
de missões, ouve muita
história e acaba criando
Brasil
Presbiteriano
Março de 2012
13
PREGAÇÃO
é por acaso!
uma visão meio romântica
da situação. Mas quando
começa a ver as coisas de
modo concreto, então você
começa a ver que é tudo
muito sério. Tem que haver
um envolvimento e uma
entrega, senão não vai. Não
adianta eu falar ‘Meu bem
vai você que eu estou indo
por tabela’, não funciona,
eu tenho que ter convicção
Missionária Mônica Mesquita
de que ele tem o ministério dele e que junto com
o ministério dele eu também tenho o meu ministério. Não posso dizer ‘se
prepare você que tudo vai
dar certo’ eu te apoio ... eu
tinha essa ideia” concluiu
Kézia. Por outro lado, para
Sumaia Diniz, esposa do
Rev. Humberto Diniz,
uma das preocupações que
foi bastante esclarecida é
como funciona o levantamento de recursos para o
sustento missionário e para
os projetos.
Uma das candidatas que
está se preparando para
ser enviada, cumprindo os
pré-requisitos é a Magali
Cristina Fidelix, pedagoga, com muita experiência no ensino. Ela solicitou
licença da Secretaria de
Educação de Nova Lima,
MG, onde atuava como
Coordenadora do Núcleo
do Ensino Fundamental na
Rede Municipal, para cumprir os pré-requisitos da
APMT. Magali destacou:
“Eu tive a clareza de que
o trabalho missionário não
pode mesmo ser realizado
sozinho pelo missionário,
mas que esse desafio é um
papel da Igreja”.
A Semana de Orientação
é um tempo em que, além
dos seminários e das informações, os missionários
e candidatos interagem
constantemente enriquecendo assim a experiência
de cada um.
Emma Castro é missionária e faz
parte da equipe de comunicação da
APMT
Atendimento à população indígena
Nos dia 18 a 22 de julho acontecerá o
7º Congresso do CONPLEI (Conselho
Nacional de Pastores e Líderes
Evangélicos Indígenas) em comemoração ao Centenário da Evangelização
Indígenas (1912 – 2012). O evento será
realizado no Centro de Treinamento
Ami, Rodovia Manuel Pinheiro, Km
56 – Chapada dos Guimarães – MT.
A missionária da APMT, Dra. Maria
Célia Del Valle está formando uma
equipe de voluntários médicos e dentista que estarão atendendo a toda a
população indígena que participará do
evento. A estimativa é de um público
de 4 mil indígenas. Informações pelo
email: delvalle.mariacelia@gmail.
com.
Brasil
Presbiteriano
14
Março de 2012
PREGAÇÃO
Missões no estrangeiro
O
s países da América
Latina vivem submergidos numa religiosidade
tradicional católico-romana
e, também, num sincretismo religioso popular, legado dos povos indígenas ou
civilizações antigas que formam um cinturão de resistência à aceitação da mensagem salvadora em Cristo,
o evangelho da graça de
Deus.
O Rev. Odair Olivetti,
pastor presbiteriano e
missionário no Chile por
cinco anos, em seu retorno ao Brasil foi nomeado Secretário Executivo
da antiga JME – Junta
de Missões Estrangeiras.
Ele propôs ao Supremo
Concílio da IPB, em 1968,
o início do trabalho missionário transcultural, sem
a ajuda da Igreja Norte
Americana, política missionária usada na época.
O Paraguai foi o primeiro
campo missionário da Junta
de Missões Estrangeiras,
que a IPB assumiu integralmente. Era um novo modelo de fazer missões sem
depender da parceria com a
Igreja dos EUA.
Com visão e intrepidez o
Rev. Olivetti, enfrentando
muitas dificuldades, seguiu
para Concepción em 1968
e, num culto realizado no
dia 14 de julho, na casa do
Sr. Florentín Dominguez,
declarou oficialmente o início da obra presbiteriana
naquele país.
Volta ao Brasil com a
comitiva que o acompanhava e convida o Rev. Evandro
Luiz da Silva a seguir para
ser o primeiro missionário
enviado integralmente, pela
IPB, ao Paraguai. A partir
daí, foram realizadas campanhas motivando as igrejas a contribuírem para a
aquisição do local, previamente escolhido.
Em janeiro de 1970 o Rev.
Evandro e família seguem
para Concepción, onde realizam um trabalho muito
relevante, apesar de todas
as dificuldades enfrentadas.
No ano de 1974, o rev.
Evandro e sua família retornam ao Brasil.
A obra iniciada em
Concepción,
Paraguai,
mesmo passando por muitos problemas, prosseguiu
e, pela graça de Deus se
expandiu para as cidades:
Asunción, San Lorenzo,
Santa Rita e Pedro Juan
Caballero.
Nos meados da década
de 90, alguns missionários,
buscando estratégias para
alcançar o povo paraguaio,
entenderam que através da
educação eles romperiam
barreiras que pareciam instransponíveis. Essa foi a
mesma visão que os reformadores tiveram, a abertura
de escolas para a educação
do povo.
No ano 1998 foi fundado o CEP – Centro
Educacional Presbiteriano
– em Concepción, e no ano
1999, o IPPB – Instituto
Presbiteriano Paraguay
Brasil – na cidade de San
Lorenzo, grande Asunción.
Ainda que com poucos
recursos financeiros, mas,
com muita fé, entusiasmo
e coragem, essas escolas
prosseguiram.
Muitas igrejas, irmãos e
amigos, acreditando que
essa era a estratégia cor-
um prédio de quatro andares que ainda está em fase
de acabamento.
Já o CEP (Centro
Educacional Presbiteriano)
tem abençoado a IP de
Concepción onde muitos
adolescentes e jovens tem
sido recebidos como membros. Até o final do ano
reta para a evangelização,
investiram suas ofertas,
orações e deram total apoio
a esses projetos.
Hoje, depois de alguns
anos, podemos ver que o
projeto deu certo e, pela
graça de Deus, continuará
sendo uma grande bênção.
O IPPB, em San Lorenzo,
tem uma média de cem alunos, que vão do jardim à 6ª
série. Muitos destes alunos
participam das atividades
da igreja e famílias inteiras já foram arroladas como
membros. Foi construído
passado foram recebidos
por Pública Profissão de
Fé e Batismo, 24 jovens,
mesmo em meio à luta para
obter a permissão dos pais
para se tornarem membros
da Igreja. Outros jovens
continuam frequentes e
vão sendo discipulados,
enquanto aguardam a permissão, de seus pais, para,
também, se unirem à igreja,
o Corpo de Cristo.
Estes alunos são discipulados pelo jovem Rodrigo
Torres, presbítero da Igreja
de Concepción e profes-
sor de Bíblia no CEP, que
tem acompanhado de perto
todos esses adolescentes
e jovens realizando reuniões de estudo bíblico nos
lares e atividades na Igreja.
A Escola de Concepción
conta atualmente com 280
alunos que vão do Jardim
ao 3º ano do Ensino Médio.
O Rev. Francisco Villalba
tem dado assistência à IP
em Concepción e a partir
desde ano estará atuando
como capelão no CEP.
Essas duas escolas
enfrentam, ainda, muitas
dificuldades financeiras e
passam muitas necessidades, uma vez que a mensalidade cobrada não supre
todas as necessidades. O
contexto em que elas estão
tem população de famílias
assalariadas, o que não
permite uma mensalidade
maior. Ao mesmo tempo,
essas instituições precisam
manter os funcionários com
seus encargos, fazer pequenas reformas de manutenção do prédio, adquirir ou
reformar os móveis das
aulas, equipamentos e tudo
o que envolve o funcionamento de uma escola.
A partir deste ano o Rev.
Buenaventura Gimenez
López assumiu a responsabilidade do IPPB. O referido pastor tem vasta experiência no trabalho com
jovens em colégios e vai
somar esforços com o Rev.
Eulógio G. López, pastor
da IP em San Lorenzo onde
funciona o instituto.
Brasil
Presbiteriano
Março de 2012
15
MISSÕES
Escola Evangélica de Buriti
Melanchton Scheffde
A
história da Escola
Evangélica de Buriti,
começou propriamente
no ano de 1913, quando a Missão Evangélica
Presbiteriana do Brasil
Central, enviou um de
seus missionários, mais
exatamente o reverendo
Franklin Graham, em uma
viagem a cavalo, desde a
Bahia até a Bolívia, a fim
de escolher nesse percurso
os lugares que apresentariam condições favoráveis
para a instalação de futuras subsedes da referida
Missão. Essas condições
diziam respeito ao clima,
salubridade,
facilidade de acessos a regiões
mais desenvolvidas ou em
desenvolvimento, necessidades do povo etc.
Um destes lugares escolhidos foi justamente
o Buriti, na época uma
fazenda decadente em consequência da libertação dos
escravos. Pertencia a família Siqueira de Chapada
dos Guimarães.
Em 1919, a Missão
Evangélica Presbiteriana
do Brasil Central enviou
dois missionários para
comprarem a fazenda
Buriti: reverendos George
Landes e Adam Martin.
Nesse tempo as fronteiras da Fazenda Buriti iam
até os limites da cidade de
Chapada dos Guimarães. A
Missão, considerando que
era muita terra, resolveu
doar para o Estado toda
extensão de terra que vai
desde a Aldeia Velha até as
proximidades do perímetro
urbano de Chapada. Essas
terras devolutas e hoje pertencem a várias pessoas.
Efetuada a compra da
fazenda, a Missão contratou o casal Moisés Chaves
e D. Davina, de Cuiabá,
para administrar a fazenda
e ajudar os missionários a
estabelecerem a nova sede
do trabalho missionário,
além de remodelar as antigas instalações da fazenda
a fim de servirem como
alojamento para os alunos,
salas de aulas, refeitório,
cozinha, moradia para os
missionários e trabalhadores, salão de cultos e atividades sociais.
Em seguida chegou o
estimado casal de missionários Homero e D. Edite
Mosar para dirigir a fazenda e a escola. Em 26 de
maio de 1923 deu-se início
às aulas. Desse histórico
primeiro ano letivo participaram apenas quatro
alunos.
Os primeiros professores
dessa época foram o reverendo Augusto Araújo, que
mais tarde foi pastor da
IP de Cuiabá, e D. Júnia
Serra. No ano seguinte
já foram sete alunos e o
número só aumentou.
Enquanto o casal Moser
cuidava da escola e da
fazenda, o Rev. Adam
Martin viajava para evangelizar os vários garimpos
das cercanias, bem como
para consolidar as várias
Igrejas Presbiterianas já
formadas, dando continuidade a seus trabalhos
evangélicos.
Em 1927, chegou outra
missionária para ajudar na
escola, Diana Hastings,
que ali permaneceu por
treze anos. Foi ela quem
plantou os dois pés de buritis gêmeos (palmeiras),
que vieram a se tornar um
dos símbolos da escola.
Ainda em 1927 chegou o
Kurt Freygang, outro grande incansável colaborador
dessa obra e verdadeiro
baluarte da Missão.
No início da Escola
Evangélica de Buriti se
destinava a acolher os
filhos de famílias evangélicas, mas a escola sempre
recebeu de braços abertos
toda e qualquer pessoa, de
toda e qualquer religião ou
condição social, uma vez
que o objetivo principal
foi sempre o ensino e a
propagação do evangelho
bíblico.
Aliás, este sempre foi o
alvo de todas as escolas
evangélicas fundadas neste
país. Como exemplo podemos citar o Mackenzie
College (hoje Universidade
Mackenzie, que também
foi fundada pela mesma
missão que fundou Buriti,
e que em 1962 foi doado
pela Missão da Igreja
Evangélica Presbiteriana
do Brasil; o Instituto
Gammon, juntamente com
a ESAL – Escola Superior
de Agricultura de Lavras
(a primeira Faculdade de
Agronomia fundada no
Brasil), o Colégio Benett,
o Colégio Grambery, e
muitos outros, pelos quais
passaram grandes nomes
de nossa pátria.
A partir de 1962 a
Missão começou a entregar a direção da escola
aos brasileiros. Durante o
período que se estendeu
de 1948 a 1951 a escola não pode funcionar por
falta de cooperadores e
principalmente pela falta
absoluta de comunicação
com Cuiabá. Nesse tempo
a estrada praticamente deixou de existir, tornando-se
intransitável, uma vez que
as pontes foram destruídas
e muitos trechos desmoronaram.
Em 1958 foi construída
a bela Capela da Escola,
também com os fundos
levantados pela Sociedade
Amigos de Buriti.
A partir de 1964, com a
chegada de alunos menores e que não possuíam
experiência de trabalhos
rurais, adotou-se o sistema
de cobrança de anuidades
escolares, de modo que a
produção agropecuária da
escola foi decaindo. Até
1964 os alunos dormiam
em redes.
A princípio a escola oferecia apenas o curso primário e três primeiras séries
do ensino fundamental.
Em 1967 implantou-se a
oitava série e também oficializou-se o ensino, além
de criar o Curso Técnico
em Agropecuária e o Curso
Técnico de Contabilidade.
Em 1976, a escola foi
transformada em Fundação
Educacional jurisdicionada
pelas Igrejas Presbiterianas
de Cuiabá. Isto se deve ao
fato de a Missão ter encerrado as suas atividades no
Brasil para ir atuar em países mais pobres.
Infelizmente com o passar do tempo, nossa escola,
como outras em regime de
internato, foi sendo considerada um reformatório. Os pais que possuíam
filhos rebeldes internavaos na Escola de Buriti,
como forma de punição e
também com a esperança
de que eles fossem corrigidos.
Felizmente uma grande
maioria deles se regenerou pelo conhecimento do
evangelho, tornando-se
pessoas úteis e dignas. Ao
verem a mudança de água
para o vinho, ainda mais
os pais continuavam a pensar que Buriti realmente
era uma organização que
possuía fórmula misteriosa
para recuperação de pessoas desajustadas. A fama de
reformatório permaneceu.
Todavia, pela escola passaram alunos excelentes,
orgulho para suas famílias, para a escola e para a
sociedade.
Melanchton Scheffder é ex-professor
da Escola Evangélica do Buriti
Brasil
Presbiteriano
16
ANIVERSÁRIO
NOVO TEMPLO
Editora Cultura Cristã
64 anos contribuindo para reformar a igreja no Brasil por meio da literatura
O
A Casa Editora
Presbiteriana (Editora
Cultura Cristã é o nome
fantasia) é a editora oficial
da IPB. Organizada a 25 de
Fevereiro de 1948 com o
nome de Casa Publicadora,
a CEP publica as revistas
das sociedades internas da
denominação, bem como
um currículo completo
para a Escola Dominical
e uma linha bem diversificada de livros cristãos.
Embora se trate de uma
editora
denominacional, seus clientes não são
apenas os presbiterianos.
Março de 2012
Cada vez mais, crentes de
todas as convicções estão
tomando conhecimento de
nosso bom material e o
estão adotando para o seu
crescimento espiritual.
Os livros apresentam a
solidez e consistência da
teologia reformada. São
rigorosamente bíblicos e
apresentam alto nível. Dos
livros teológicos aos mais
leves, devocionais ou de
pesquisa e consulta, todos
foram escritos por autores
escolhidos por sua fidelidade à Palavra.
O currículo para Escola
Dominical cobre todas as
faixas etárias, oferecendo
ajuda significativa e prática aos professores e professoras para bem cumprirem sua missão de ensinar
as Escrituras.
Localizada no bairro do
Cambuci, em São Paulo,
a Editora comemora mais
um aniversário no dia 27
de março. São 64 anos
contribuindo para o conhecimento e crescimento do
Reino de Deus. Conheça-a
melhor visitando o site
www.editoraculturacrista.
com.br.
Adorando a Jesus e
fazendo-o conhecido
O
s irmãos da IP de Recanto Verde comemoram o
sucesso na construção do novo templo. A igreja
está entrando no sexto mês de construção, agora, rebocando e embuçando por fora toda a estrutura do novo
prédio. Em andamento está a construção do telhado,
a parte hidráulica e elétrica, o pio fino para receber o
piso definitivo, colocação de cerâmica e pastilhas na
fachada, além da colocação de 19 janelas.
É um grande desafio para os irmãos que além do
esforço físico, dedicam tempo para a oração, consagrando o templo ao Senhor Jesus. Os passos são dados
graças à doação de materiais de construção, recolhimento de ofertas e muita oração.
“Grandes coisas o Senhor tem feito por nós, por isso
estamos alegres” Salmo 126.3
Brasil
Presbiteriano
Março de 2012
Boa Leitura
Bandeirantes da Fé (Maria
de Meio Chaves)
Essas questões são o núcleo
e as paixões centrais deste
livro. Suas respostas a essas
perguntas
determinarão
como a história de sua vida
será escrita. Esse é o ponto:
a cosmovisão pela qual você
vive tem tudo a ver com o
que você se tornará. Entender isso muda sua vida por
completo.
Entretenimento e reflexão
Filmes para curtir e pensar
Vinhas da ira
Relacionamentos
(Timothy Lane e Paul Tripp)
O livro contém 144 páginas e custa R$ 25,00.
Uma Boa Vida
(Charles Colson)
Uma boa vida busca respostas para perguntas que
sempre fazemos: Quem sou?
Por que estou aqui? Como
posso encontrar significado
para minha vida? Como
posso fazê-la valer a pena?
O livro apresenta a ideia
dos autores de que não
precisamos de novas e sofisticadas técnicas para que os
relacionamentos floresçam.
Relacionamentos
criam
confusão, mas não precisam
continuar assim. Neste livro,
Lane e Tripp nos fornecem
ajuda valiosa para desembaraçar essas complicações.
Evitando lugares comuns ou
técnicas complicadas vistas
em outros livros do gênero,
esses talentosos autores nos
lembram de que um coração
transformado é a chave para
relacionamentos saudáveis.
O livro contém 176 páginas e custa R$ 34,00.
Sobre esses e outros títulos acesse
www.editoraculturacrista.com.br
ou www.facebook.com/editoraculturacrista
ou ligue 0800-0141963
e como ele conseguiu sobreviver ao Holocausto. Incrementado com cenas chocantes e
belas músicas, o filme venceu
3 Oscars e a Palma de Ouro em
Cannes. Quem somos durante e
depois de duras provações?
Depois do vendaval
O livro contém 352 páginas e custa R$ 61,00.
Há, no entrelaçamento de
todos os capítulos, um “fio de
ouro”. É a oração, a poderosa
arma do crente em Cristo. O
objetivo do livro é mostrar a
todos aqueles que trilham o
caminho apontado pelo Salvador dos homens e cujo fim
é a porta da Cidade Santa.
17
Baseado na obra de John
Steinbeck o filme conta a história de uma família de trabalhadores rurais pobre durante a
Grande Depressão de 29. Buscando oportunidades de uma
vida melhor, Tom Joad (Henry
Fonda), após cumprir pena, leva
sua família em uma pequena caminhonete, de Oklahoma para
a Califórnia, que dizem ser um
lugar mais próspero e de maiores oportunidades. Durante a
viagem eles se deparam com a
nova realidade, ao mesmo tempo que descobrem que o lugar
onde estão indo pode ser pior
do que o que deixaram para trás.
Vencedor de 2 Oscar, incluindo
Melhor Diretor, o filme apresenta forte conteúdo ideológico e se
presta a proveitosa discussão.
O Pianista
As memórias do pianista polonês Szpilman são retratadas
nesse emocionante filme, contando como começaram as restrições aos judeus em Varsórvia
catequisar índios ainda arredios
à noção de Deus. Martin Quarrier (Aidan Quinn) é sociólogo e
termina sendo motivado pelas
experiências de outro casal, os
Huben. As intenções religiosas e
a harmonia entre brancos e índios no local ficam instáveis devido à presença de Lewis Moon,
um mercenário descendente dos
índios americanos. Quanto preparo têm os missionários que
pretendem evangelizar outras
etnias?
Minhas tardes com Margueritte
Sean Thornton (John Wayne)
é um ex-lutador de boxe que
retorna à Irlanda, sua terra natal, para tentar esquecer seus
dramas obscuros. Chegando
lá, conhece Mary Kate Danaber,
uma bela e pobre moça, por
quem se apaixona. A relação é
abalada pelas atitudes do irmão
de Mary que se recusa a pagar
o dote da irmã. O filme recebeu
dois Oscars, de Melhor Direção
e Melhor Fotografia. O que vale
mais na vida?
Brincando nos campos
do Senhor
Um casal de evangélicos e seu
filho pequeno embrenham-se na
selva amazônica brasileira para
Imagine o encontro de duas
forças. De um lado, mais de
100 quilos de pura ignorância e
do outro menos de 50, carregados de ternura. Entre eles, uma
diferença de décadas de idade
e em comum, o encanto pelos
livros. Esta é a história de um
cinquentão pobre com as palavras e uma idosa inversamente
rica com elas. Quando criança,
Germain (Gérard Depardieu) foi
chamado de burro na escola
por todos e em casa, com sua
mãe solteira, não era diferente.
Contudo, quando Margueritte (Gisèle Casadesus) faz com
que as páginas de um livro se
abram novamente para ele, este
reencontro com o universo das
letras amplia seu horizonte e
o único limite, agora, será somente a sua vontade. Crentes
que não leem (você conhece algum?) deviam ver esse filme. Os
que leem, também.
Brasil
Presbiteriano
18
Março de 2012
FALECIMENTO
No BRASIL E NO MUNDO
Sarah Ribeiro
Bíblia em áudio é estratégia
de evangelização no nordeste
Um projeto, encabeçado pelo pastor da Igreja Presbiteriana
Renovada Rev. Jonathan Ferreira dos Santos visa implantar, nos
próximos dez anos, dez mil igrejas na região nordeste do Brasil
onde se encontram, segundo estatísticas, 71% das cidades menos
evangelizadas do país. Para apoiar o projeto, a Sociedade Bíblica
do Brasil (SBB) vai disponibilizar o Novo Testamento em áudio,
visto que boa parte da população do nordeste não é alfabetizada.
Com o objetivo de apresentar melhor a realidade do nordeste
brasileiro e discutir esta e outras estratégias, o Rev. Jonathan promove entre os dias 19 e 24 de março o “Congresso Nacional de
Evangelização do Serão Nordestino”, em Juazeiro no Norte (CE).
A expectativa é reunir mil líderes de todo o país. Mais informações
pelo site www.congressosertaonordestino.com.br.
Fonte: SBB
Brasil é o segundo país
que mais “exporta” missionários
De acordo com levantamento feito pelo “Centro para o Estudo
do Cristianismo Global”, sediado no Seminário Teológico GordonConwell em Massachusetts, o Brasil é o segundo país que mais
envia missionários para o exterior. Dos 400 mil missionários
enviados para países estrangeiros em 2010, o Brasil enviou 34 mil,
ficando atrás apenas dos Estados Unidos, que enviou 127 mil.
O estudo mostrou também que o Brasil tem a segunda maior
população protestante do mundo, atrás novamente dos Estados Unidos, e que a grande maioria dos missionários voluntários enviados
pelo Brasil é proveniente da JOCUM (Jovens com uma Missão).
De acordo com site Christian Today, Dana Robert, autora de
“Missão cristã: Como o cristianismo se tornou uma religião mundial”, afirmou que até o ano 2000 cerca de dois terços dos cristãos do mundo vieram de países onde os missionários ocidentais
trabalharam um século antes. Ela ressaltou a participação norteamericana no trabalho missionário e a recente explosão de interesse
no trabalho missionário entre os cristãos da Ásia, África e América
Latina.
Fonte: Gospel+
Rev. José Costa
Em um culto de ação de graças
realizado no dia 13 de dezembro
de 2011, pastores do Presbitério de
Maringá e de outras regiões, bem
como membros da IP Central de
Maringá e demais irmãos, juntaramse à família e amigos do finado irmão
Rev. José Costa para agradecer ao
Senhor pela sua vida e ministério.
A Palavra foi pregada pelo Rev.
João Francisco dos Anjos, do
Presbitério Vale do Ivaí, onde o Rev.
Costa foi jubilado. Lembrou-se que foi
em Campo Mourão-PR que o mesmo iniciou o seu ministério em
1954 tendo organizado uma igreja que hoje é referência na região.
Em seguida, pastoreou em Uberlândia-MG e em Maringá-PR e,
na década de 1970, assumiu a presidência da Junta de Missões
Nacionais, de onde partiu para evangelizar no Acre e em diversas
regiões amazônicas organizando o trabalho presbiteriano ao
percorrer grandes distâncias, muitas vezes com o sacrifício de ficar
longe da família. Em seguida, foi diretor do Colégio Presbiteriano
Instituto Gammon em Lavras-MG por sete anos e, ao completar 68
anos, voltou para o Paraná para pastorear a IP de Paranavaí-PR
onde permaneceu até ser jubilado aos 70 anos.
Registrou suas memórias em dois livros Missionário Pioneiro e
Companhia Divina, lançados em 1996 e 1997, tendo passado seus
últimos anos em Maringá (onde pastoreou em 1963-1968, 19701972 e 1975 e construiu o belo templo da Igreja Central), vivendo
com sua esposa Mina Rickli Costa e sempre rodeado pelos filhos
Márcio, Silas e Maria Amélia, netos e bisnetos.
Em carta à família que foi lida diante da igreja, o Presidente do
Supremo Concílio da IPB, Rev. Roberto Brasileiro Silva, escreveu:
“Ao longo dos anos, o servo do Senhor, Rev. José Costa, serviu ao
Senhor e à Igreja do Senhor com esmero, probidade e competência,
comuns somente aos nobres verdadeiramente lavados no sangue
do Cordeiro.”
Texto enviado pelo Rev. Elizeu Dourado de Lima da IP Central
de Maringá.
Presb. Luiz Pereira Martins
Faleceu no dia 04 de fevereiro em Juiz de Fora, com 73 anos, o
Presb. Luiz Pereira Martins. Presb. Luiz era presbítero em disponibilidade da 4ª IP de Juiz de Fora. Trabalhou ativamente na UPH de
forma incansável. Foi o reorganizador da UPH local na 4ª IP e um
dos membros fundadores da federação de homens de Juiz de Fora
e também da Sinodal Leste de Minas, sendo o seu primeiro vicepresidente. Na federação foi presidente oito vezes. Foi por muitos
anos representante no presbitério. Foi eleito deputado ao SC/IPB
para a reunião de Vitoria – ES. Manteve ativo por 28 anos o programa
radiofônico Pingos de Ouro, com ênfase total no evangelismo. Deixa
esposa e cinco filhos atuantes na igreja, sendo dois presbíteros e dois
diáconos da IPB.
Nota enviada pelo Presb. Alexandre Almeida
Brasil
Presbiteriano
Março de 2012
19
Consultório Bíblico
Casamento e Divórcio - II
Odayr Olivetti
“Pode me dizer uma palavra sobre o divórcio?”
Na primeira parte da resposta expus algo
sobre o casamento. Agora: sobre o divórcio.
1. Declaração Básica: A união matrimonial foi estabelecida por Deus para nunca se
desfazer, exceto pela morte. Nesse sentido é
indissolúvel. Não é indissolúvel no sentido
de que não é possível dissolvê-la, mas sim
no sentido de que não se deve dissolvê-la.
ordem de Jesus que proíbe o divórcio.
2. Biblicamente, o divórcio só é permitido
quando há infidelidade conjugal (adultério),
como se vê em Mt 19.4. A Confissão de Fé
de Westminster, Capítulo XXIV, Seção VI,
considera a deserção obstinada e irremediável de um cônjuge como infidelidade conjugal semelhante ao adultério, e nesse caso
justifica o divórcio.
3. Sempre existe a possibilidade de recuperação, ou do casamento, ou da comunhão
…para manter o seu casamento forte,
unido, fiel e amoroso, desenvolvam em sua
vida o amor de Deus. Ele o derrama nos
crentes pelo Espírito Santo (Rm 5.5).
Confirma isso o que disse o Senhor Jesus
Cristo em Mt 19.4, depois de citar as palavras da instituição do matrimônio. Disse
Jesus: “O que Deus ajuntou não o separe
o homem”. Estas palavras de Jesus Cristo
significam principalmente: (1) Que é possível dissolver os laços matrimoniais; (2) Que
os homens e as mulheres devem obedecer à
com a igreja – sobre a base de um verdadeiro
arrependimento. É consoladora a mensagem
que se vê, por exemplo, em Is 1.18: “Vinde,
pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que
os vossos pecados sejam como a escarlata,
eles se tornarão bancos como a neve...”.
4. Aplicação responsabilizante: Cabe aos
cônjuges o dever de zelar para que o seu
casamento não seja desfeito. Peço ao digno
consulente e aos demais leitores que deem
toda a atenção aos três fatores pró-unidade
do casamento de que falo a seguir:
A paixão (eros); o amor real (agape); e a
fidelidade.
A paixão comparo ao bronze; o amor à
prata; e a fidelidade ao ouro.
Por quê? Porque a fidelidade sobrevive quando a paixão e o amor de marido e
mulher fenecem. A fidelidade é o poderoso
antídoto contra a dissolubilidade da união
matrimonial. Que bom se o casal mantiver os
três: paixão, amor e fidelidade! Mas, aconteça o que acontecer, que ambos se mantenham
fiéis.
É o que faz muita falta na sociedade
moderna: fidelidade partidária, fidelidade no
cumprimento de promessas e compromissos,
fidelidade entre amigos. – É tragédia quando falta a fidelidade entre marido e mulher!
Quanto aos cristãos é bom lembrar que a
fidelidade nasce da fé. Até etimologicamente: fides, fidelis, fidelitas (fé, fiel, fidelidade).
A fé verdadeira Deus oferece de presente:
“Pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto
não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.8).
Querem os meus amigos leitores uma
chave para manter o seu casamento forte,
unido, fiel e amoroso? Desenvolvam em
sua vida o amor de Deus. Ele o derrama nos
crentes pelo Espírito Santo (Rm 5.5).
Os casais cristãos têm esta grande
vantagem: O amor de Deus foi derramado
em seus corações.
Procurem, pois, dar testemunho do amor
de Deus mantendo-se unidos pelo amor,
para sempre.
O reverendo Odayr Olivetti é pastor presbiteriano, ex-professor de Teologia Sistemática do Seminário Presbiteriano de Campinas, escritor e tradutor. - [email protected]
Brasil
Presbiteriano
20
Março de 2012
ARTIGO
Futuro incerto
Augustus Nicodemus Lopes
Q
uando olho o atual
cenário da igreja evangélica brasileira – estou
usando o termo “evangélica” de maneira ampla –
confesso que me sinto incapaz de prever o que vem
pela frente. Há muitas e
diferentes forças em operação em nosso meio hoje,
boa parte delas conflitantes
e opostas. Olho para frente
e não consigo perceber um
padrão, uma indicação que
seja, do futuro da igreja.
Há, em primeiro lugar,
o crescimento das seitas
neopentecostais. Embora
estatísticas recentes tenham
apontado para uma queda na
membresia de seitas como
a Universal do Reino do
Deus, outras estão surgindo
no lugar, como na lenda
grega da Hidra de Lerna,
monstro de sete cabeças
que se regeneravam quando
cortadas. A enorme quantidade de adeptos desses
movimentos que pregam
prosperidade, cura, libertação e solução imediata
para os problemas pessoais
acaba moldando a imagem
pública dos evangélicos e a
percepção que o restante do
Brasil tem de nós.
Na África do Sul conheci
uma seita que mistura pontos da fé cristã com pontos das religiões africanas,
um sincretismo que acaba
por tornar irreconhecível
qualquer traço de cristianismo restante. Temo que
a continuar o crescimento
das seitas neopentecostais e
seus desvios cada vez maiores do cristianismo histórico, poderemos ter uma
nova religião sincrética no
Brasil, uma seita que mistura traços de cristianismo
com elementos de religiões
afro-brasileiras, teologia
da prosperidade e batalha
espiritual em pouquíssimo
tempo.
Depois há o movimento “gospel”, que recentemente mostrou sua popularidade ao ter o festival
“Promessas” veiculado
pela emissora de maior
audiência do país. Não me
preocupa tanto o fato de
que a Rede Globo exibiu o
show, mas a mensagem que
foi passada ali. A teologia
gospel confunde “adoração” com pregação, exalta
o louvor como o principal
elemento do culto público, anuncia um evangelho
que não chama pecadores
e crentes ao arrependimento e mudança de vida, que
promete vitórias mediante o louvor e a declaração
de frases de efeito e que
ignora boa parte do que a
Bíblia ensina sobre humildade, modéstia, sobriedade
e separação do mundo.
Para muitos jovens, os
shows gospel viraram a
única forma de culto que
conhecem, com pouca
Bíblia e quase nenhum discipulado. O impacto negativo da superficialidade desse
movimento se fará sentir
nessa próxima geração,
especialmente na incapaci-
dade de impedir a entrada
de falsos ensinamentos e
doutrinas erradas.
Em Brasília, temos os
deputados e senadores
evangélicos que, gostemos
ou não, têm conseguido
retardar e mesmo impedir as tentativas de grupos
ativistas LGTB de impor
leis como o famigerado PL
122. O lado preocupante é
que eles “representam” os
evangélicos nesses assuntos e acabam, por associação, nos representando de
maneira generalizada diante do grande público e da
grande mídia.
Por um lado, lamento
que foram líderes de seitas neopentecostais e pastores de teologia e práticas
duvidosas, em sua maioria,
que conseguiram alcançar
uma posição de destaque
a ponto de serem ouvidos
em Brasília. Essa é uma
posição que deveria ter sido
ocupada pelos reformados,
como aconteceu em outros
países. Mas, falhamos. E a
bem da justiça, não posso
deixar de reconhecer que
Deus usa quem ele quer
para refrear, ainda que por
algum tempo, a rápida deterioração da nossa sociedade. O que isso representará
no futuro, é incerto.
Notemos ainda o rápido
crescimento do calvinismo, não nas igrejas históricas, mas fora delas, no
meio pentecostal. Não são
poucos os pentecostais que
têm descoberto a teologia
reformada – particularmen-
te as doutrinas da graça, os
cinco slogans (“solas”) e os
chamados cinco pontos do
calvinismo. Boa parte destes tem tentado preservar
algumas ideias e práticas
características do pentecostalismo, como a contemporaneidade dos dons de
línguas, profecia e milagres
e um culto mais informal,
além de uma escatologia
dispensacionalista.
Outros têm entendido –
corretamente – que a teologia reformada inevitavelmente cobra pedágio também nessas áreas e já passaram para a reforma completa. Mas o tipo de movimento, igrejas ou denominações
resultantes dessa surpreendente integração ainda não
é previsível. O que existe
de mais próximo é o movimento neocalvinista, mas
este é por demais vinculado
à cultura americana para ser
reproduzido com sucesso
aqui, sem adaptações. Estou
curioso para ver o que vai
dar esse cruzamento de
soteriologia calvinista com
pneumatologia pentecostal.
O impacto das mídias
sociais também não pode
ser ignorado. E há também
o número crescente de desigrejados, que aumenta na
mesma proporção da apropriação das mídias sociais
pelos evangélicos. Com a
possibilidade de se ouvir
sermões, fazer estudos e
cursos de teologia online,
além de bate-papo e discipulado pela internet, aumenta
o número de pessoas que se
dizem evangélicas, mas que
não congregam em uma
igreja local. São cristãos
virtuais que “frequentam”
igrejas virtuais e têm comunhão virtual com pessoas
que nunca realmente chegam a conhecer. Admito o
benefício da tecnologia em
favor do Reino.
Eu mesmo sou professor há quinze anos de um
curso de teologia online e
sei a benção que pode ser.
Mas, não há substituto para
a igreja local, para a comunhão real com os santos,
para a celebração da ceia e
do batismo, para a oração
conjunta, para a leitura em
uníssono das Escrituras e
para a recitação em conjunto da oração do Pai Nosso,
dos Dez Mandamentos.
Isto não dá para fazer pela
internet. Uma igreja virtual
composta de desigrejados
não será forte o suficiente
em tempos de perseguição.
Eu poderia ainda mencionar a influência do liberalismo teológico, que tem aberto picadas nas igrejas históricas e pentecostais e a falta
de maior rapidez e eficiência das igrejas históricas
em retomar o crescimento
numérico, aproveitando o
momento extremamente
oportuno no país. Afinal,
o cristianismo tem experimentado um crescimento
fenomenal no chamado Sul
Global, do qual o Brasil faz
parte.
Rev. Dr. Augustus Nicodemus
Lopes é Chanceler da Universidade
Presbiteriana Mackenzie

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