212 CAPÍTULO XVIII MUITOS OS CHAMADOS E POUCOS OS
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212 CAPÍTULO XVIII MUITOS OS CHAMADOS E POUCOS OS
CAPÍTULO XVIII MUITOS OS CHAMADOS E POUCOS OS ESCOLHIDOS Parábola do festim de núpcias – A porta estreita – Os que dizem: Senhor! Senhor! Não entrarão todos no reino dos céus – Muito se pedirá àquele q muito recebeu – Instruções dos Espíritos: Dar-se-á àquele que tem – Reconhece-se o cristão pelas suas obras. * PARÁBOLA DO FESTIM DE NÚPCIAS 1. Jesus falando ainda por parábolas lhes disse: O reino dos céus é semelhante a um rei que, querendo realizar as núpcias de seu filho, enviou seis servidores para chamar às núpcias aqueles que foram convidados; mas eles se recusaram a vir. Ele enviou ainda outros servidores com ordem de dizer de sua parte aos convidados: Eu preparei meu jantar; fiz matar meus bois e tudo o que havia feito cevar; tudo está preparado, vinde Às núpcias. Mas eles não se preocuparam e se foram, um à sua casa de campo, e outro ao seu negócio. Os outros se apoderaram de seus servidores, e os mataram após lhes ter feito vários ultrajes. O rei, tendo sabido disso, se encheu de cólera, e tendo enviado seus exércitos, exterminou esses homicidas e queimou a sua cidade. Então, ele disse aos seus servidores: O festim de núpcias está todo preparado; mas aqueles que haviam sido chamados, dele não foram dignos. Ide, pois nas encruzilhadas e chamai para as núpcias todos aqueles que encontrardes. Seus servidores indo então pelas ruas reuniram todos aqueles que encontraram, bons e maus; e a sala de núpcias ficou cheia de pessoas, que sentaram à mesa. O rei entrou em seguida para ver aqueles que estavam à mesa, e tendo notado um homem que não estava com a roupa nupcial, lhe disse: Meu amigo, como entrastes aqui sem ter a roupa nupcial? E esse homem permaneceu mudo. Então o rei disse aos seus servos: atai-lhe as mãos e os pés e lançai-o nas trevas exteriores; aí haverá pranto e ranger de dentes; porque há muitos os chamados e poucos os escolhidos. (São Mateus, cap. XXII, v. de 1 a 14). 212 O incrédulo sorri a esta parábola que lhe parece de uma puerilidade ingênua, porque não compreende que se possa criar tanta dificuldade para assisti a uma festa, e ainda menos que os convidados estendessem a resistência até o massacre dos enviados do senhor da casa. “As parábolas, diz ele, sem duvida,, são figuras, mas ainda é preciso que elas não saiam dos limites do verossímil.” Pode-se dizer o mesmo de todas as alegorias, das fábulas mais engenhosas, se não são despojadas de seu envoltório para procurar-lhe o sentido oculto. Jesus hauriu as suas nos usos mais vulgares da vida, e as adaptou aos costumes e ao caráter do povo ao qual falava; a maioria tem por fim fazer penetrar nas massas a ideia da vida espiritual; o seu sentido não parece frequentemente ininteligível senão porque não se parte desse ponto de vista. Nesta parábola, Jesus comprara o reino dos céus, onde tudo é alegria e felicidade, a uma festa. Para os primeiros convidados, fez alusão aos Hebreus, que Deus chamou primeiro ao conhecimento da sua lei. Os enviados do Senhor são os profetas que vieram exortá-los a seguir o caminho da verdadeira felicidade. Mas suas palavras foram pouco escutadas; suas advertências foram menosprezadas; vários foram mesmo massacrados, como os servidores da parábola. Os convidados que se excusam com os cuidados a dar a seus campos e aos seus negócios são o símbolo das pessoas do mundo que, absorvidas pelas coisas terrestres, são indiferentes quanto às coisas celestes. Era uma crença, entre os Judeus de então, que sua nação deveria adquirir a supremacia sobre todas as outras. Deus não havia, com efeito, prometido a Abraão que a sua posteridade cobriria toda a Terra? Mas sempre, tomando a forma pelo fundo, eles acreditavam numa dominação efetiva e material. Antes da vinda do Cristo, à exceção dos Hebreus, todos os povos eram idólatras e politeístas. Se alguns homens superiores ao vulgo; conceberam a ideia da unidade divina, essa ideia ficou no estado de sistema pessoal, mas em nenhuma parte foi aceta como verdade fundamental, a não ser por alguns iniciados que escondiam os seus conhecimentos sob um véu misterioso, impenetrável ás massas. Os Hebreus foram os primeiros que praticaram publicamente o monoteísmo; 213 foi a eles que Deus transmitiu a sua lei, primeiro por Moisés, depois por Jesus; foi desse pequeno foco que partiu a luz que deveria se derramar sobre o mundo inteiro, triunfar do paganismo e dar a Abraão uma posteridade espiritual “tão numerosa quanto às estrelas do firmamento”. Mas os Judeus repelindo a idolatria haviam negligenciado a lei mora para se apegarem à prática mais fácil das formar exteriores. O mal chegara ao auge; a nação dominada estava fragmentada pelas facções, dividida pelas seitas; a incredulidade mesmo havia penetrado até o santuário. Foi então que apareceu Jesus, enviado para lembra-los quanto á observância da lei, e abrir-lhes os horizontes novos da vida futura; convidados dos primeiros para o grande banquete da fé universal, repeliram a palavra do celeste Messias e o fizeram perecer; foi assim que perderam o fruto que teriam recolhido de sua iniciativa. Seria injusto, todavia, acusar o povo inteiro desse estado de coisas; essa responsabilidade cabe principalmente aos Fariseus e aos Saduceus que perderam a nação, pelo orgulho e pelo fanatismo de uns e pela incredulidade de outros. São eles, sobretudo, que Jesus compara aos convidados que recusam comparecer ao repasto de núpcias. Depois, acrescenta: “O Senhor, vendo isso, fez convidar todos os que se encontravam nas encruzilhadas, bons e maus”; ele queria dizer com isso que a palavra foi pregada a todos os outros povos, pagãos e idólatras, e que estes a aceitando, seriam admitidos na festa em lugar dos primeiro convidados. Mas não basta ser convidado; não basta levar o nome de cristão, nem se assentar à mesa para tomar parte no celeste banquete; é preciso, antes de tudo, e como condição expressa, estar revestido com a roupa nupcial, quer dizer, ter a pureza de coração e praticar a lei segundo o espírito; era, essa lei está inteiramente nestas palavras: Fora da caridade não há salvação. Mas entre todos aqueles que ouvem a palavra divina, quão poucos há que a guardam e a praticam! Quão poucos se tornam dignos de entrar no reino dos céus! Por isso, Jesus disse: Haverá muitos chamados e poucos escolhidos. 214 A PORTA ESTREITA 3. Entrai pela porta estreia, porque a porta da perdição e larga, e o caminho que a ela conduz é espaçoso e, há muitos que por ela entram. Como a porta da vida é pequena! Como o caminho que a ela conduz é estreito! E como há poucos que a encontram! (São Mateus, cap. VII, v. 13 e 14). 4. Alguém tendo feito esta pergunta: Senhor haverá os que se salvam? Ele lhe respondeu: Fazei esforços para entrar pela porta estreita, porque eu vos asseguro que vários procurarão por ela entrar e não poderão. E quando o pai de família tiver entrado e fechado à porta, e que vós estando do lado de fora, começardes a bater dizendo: Senhor abrinos; ele vos responderá: Eu não sei de onde sois. Então recomeçareis a dizer: Comemos e bebemos em vossa presença e vós ensinastes em nossas praças públicas. E ele vos responderá: Eu não se de onde sois; retirai-vos de mim, todos vós que cometeis a iniquidade. Será então que haverá prantos e ranger de dentes, quando vereis que Abraão, Isac, Jacó e todos os profetas estarão no reino de Deus e, que vós outros sereis enxotados para fora. Virão do Oriente e do ocidente, do Setentrião e do Meio-Dia, os que terão lugar ao festim no reino de Deus. Então aqueles que são os últimos serão os primeiros e, aquele que são os primeiros serão os últimos. (São Lucas, cap. XIII, v. de 23 a 30) 5. A porta da perdição é larga, porque as más paixões são numerosas, e o caminho do mal e frequentado pela maioria. A da salvação é estreita, porque o homem que quer transpô-la deve fazer grandes esforços sobre si mesmo para vencer as suas más tendências e, poucos a isso se resignam; é o complemento da máxima: Há muitos chamados e poucos escolhidos. Tal é o estado atual da Humanidade terrestre porque a Terra, sendo um mundo de expiação, o mal nela predomina; quando ela estiver transformada, o caminho do bem será o mais frequentado. Essas palavras devem entender-se em seu sentido relativo e não no sentido absoluto. Se tal devesse ser o estado normal da Humanidade, Deus teria voluntariamente votado à perdição a imensa maioria de suas criaturas; 215 suposição inadmissível desde que se reconhece que Deus é todo justiça e todo bondade. Mas de que ações más esta Humanidade poderia se tornar culpada para merecer uma sorte tão triste, em seu presente e em seu futuro, se ela estava inteiramente relegada na Terra, e se a alma não tivesse tido outras existências? Por que tantos entraves semeados em seu caminho? Por que essa porta tão estreita, que é dada ao menor número transpor, se a sorte da alma esta fixada para sempre depois da morte? É assim que, com a unicidade da existência, se está incessantemente em contradição consigo mesmo e com a justiça de Deus. Com a anterioridade da alma e a pluralidade dos mundos, o horizonte se amplia; a luz se faz sobre os pontos mais obscuros da fé; o presente e o futuro são solidários com o passado; então, somente se pode compreender toda a profundeza, toda a verdade e toda a sabedoria das máximas do Cristo. AQUELES QUE DIZEM: SENHOR! SENHOR! NÃO ENTRARAO TODOS NO REINO DOS CEUS 6. Aqueles que dizem: Senhor! Senhor! Não entrarão todos no reino dos céus; nas somente entrará aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus. Vários me dirão naquele dia: Senhor! Senhor! Não profetizamos em vosso nome? Não expulsamos os demônios em vosso nome e não fizemos vários milagres em vosso nome? E então eu lhes direi claramente: Retirai-vos de mim, vós que fazeis obras de iniquidade. (São Mateus, cap. VII, v. 21 a 23). 7. Todo aquele que ouve estas palavras que eu digo e as prática será comprado a um homem sábio que construiu sua casa sobre a rocha; e logo que a chuva caiu e que os rios transbordaram, que os ventos sopraram e se abateram sobre essa casa, ela não tombou porque estava fundada sobe a rocha. Mas todo aquele que ouve estas palavras que eu digo e não as prática, será semelhante a um homem insensato que construiu sua casa sobre a areia; e logo que a chuva caiu, que os rios transbordaram, que os ventos sopraram e se abateram sobe essa casa, ela ruiu e sua ruína foi grande. (São Mateus, cap. VII, v. de 24 a 27. – São Lucas, cap. VI, v. de 46 a 49). 216 8. Aquele que violar um desses menores mandamentos e que ensinar aos homens a violá-los, será considerado no reino dos céus como o último; mas aquele que os executar e ensinar, será grande no reino dos céus. (São Mateus, cap. V, v. 19). 9. Todos aqueles que proclamam a missão de Jesus dizem: Senhor! Senhor! Mas de que serve chama-lo Mestre ou Senhor se não lhe seguem os preceitos? São cristãos aqueles que o honram por atos exteriores de devoção e sacrificam, ao mesmo tempo, ao orgulho, ao egoísmo, a cupidez e a todas as suas paixões? São seus discípulos aqueles que passam dias em prece e não são com isso nem melhores, mais caridosos, nem mais indulgentes para com os seus semelhantes? Não, porque assim como os Fariseus, eles têm a prece sobre os lábios e não no coração. Com a forma eles, podem se impor aos homens, mas não a Deus. Em vão dirão a Jesus: “Senhor, nós profetizamos, quer dizer, ensinamos em vosso nome; expulsamos os demônios em vosso nome; bebemos e comemos convosco”; ele lhes responderá: “Eu não sei quem sois; retiraivos de mim, vós que cometeis iniquidades, vós que desmentis as vossas palavras com as vossas ações, que caluniais o vosso próximo, que espoliais as viúvas e cometeis o adultério; retirai-vos de mim, vós cujo coração destila ódio e fel, vós que derramais o sangue dos vossos irmãos em meu nome, que fazeis correr as lágrimas em lugar de secá-las. Para vós haverá prantos e ranger de dentes, porque o reino de Deus é para aqueles que são dóceis , humildes e caridosos. Não espereis dobrar a justiça do Senhor pela multiplicidade das vossas palavras e das vossas genuflexões; o único caminho que vos está aberto para encontrar graça diante dele á prática sincera da lei de amor e de caridade.” As palavras de Jesus são eternas, porque são a verdade. Elas são não somente a salvaguarda da vida celeste, mas a garantia da paz, da tranquilidade e da estabilidade nas coisas da vida terrestre; por isso, todas as instituições humanas, politicas, sociais e religiosas que se apoiarem sobre as suas palavras, serão estáveis como a casa construída sobre a pedra; os homens as conservarão porque nelas encontrarão a sua felicidade; mas aqueles que as violarem, serão como a casa construída sobe a areia; o vento das revoluções e o rio do progresso as carregarão. 217 MUITO SE PEDIRÁ ÀQUELE QUE MUITO RECEBEU 10. O servidor que soube a vontade de seu senhor e que, todavia, não estiver preparado e não tiver feito o que esperava dele, será batido rudemente; mas aquele que não souber soube sua vontade, e que tiver feito coisas dignas de castigo, será menos punido. Muito ser pedirá àquele a quem se tiver muito dado, e se fará prestar maiores contas àqueles a quem se tiver confiado mais coisas. (São Lucas, cap. XII, v. 47, 48). 11. Eu vim a este mundo para exercer um julgamento a fim de que aqueles que não veem vejam, e aqueles que veem se tornem cegos. Alguns fariseus que estavam com ele, ouviram estas palavras e lhe disseram: Somos nós, pois, também cegos? Jesus lhes respondeu: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas agora dizeis que vedes e é por isso que vosso pecado permanece em vós. (São Joao, cap. IX, v. 39 a 41). 12. Estas máximas encontram, sobretudo, sua aplicação nos ensinamentos dos Espíritos. Todo aquele que conhece os preceitos do Cristo é culpável, seguramente, de não o praticar; mas, além do Evangelho que as contém não estar difundido senão nas seitas cristãs, entre estas, quantas pessoas não o leem, e entre aqueles que o leem quantos há que não o compreendem! Disso resulta que as próprias palavras de Jesus estão perdidas para a maioria. O ensinamento dos Espíritos, que reproduz estas máximas sob diferentes formas, que as desenvolve e as comenta para coloca-las ao alcance de todos, tem a particularidade de não ser circunscrito a cada um, letrado ou não, crente ou incrédulo, cristão ou não, pode recebê-lo uma vez eu os Espíritos se comunicam por toda a parte; nenhum daqueles que o recebem diretamente, ou por intermediários, pode pretextar ignorância; não pode se desculpar, me por sua falta de instrução, nem pela obscuridade do sentido alegórico. Aquele que não as aproveita para o seu adiantamento, e as admira como coisas interessantes e curiosas sem seu coração por elas ser tocado, não é nem menos apegado aos bens materiais, nem melhor para o seu próximo, é tanto mais culpado, quanto tenha maiores meios de conhecer a verdade. Os médiuns que obtêm boas comunicações são ainda mais repreensíveis em persistir no mal, porque, frequentemente, escrevem a 218 sua própria condenação e, sem não estivessem cegos pelo orgulho, reconheceriam que é a eles os Espíritos se dirigem, mas, em lugar de tomar para eles as lições que escrevem ou que veem escrever, seu único pensamento e aplicar aos outros, realizando assim estas palavras de Jesus: “Vedes um argueiro nos olho do vosso vizinho e, não vedes a trave que está no vosso.” (Cap. X, nº 9). Por estas outras palavras: “Se fosseis cegos não teríeis pecado”, Jesus que dizer que culpabilidade está em razão das luzes que se possui; ora, os Fariseus que tinham a pretensão de ser o que eram, com efeito, a parte mais esclarecida da nação, eram mais repreensíveis aos olhos de Deus do que o povo ignorante. Ocorre o mesmo hoje. Aso espíritas será pedido muito, porque muito receberam. Também àqueles que tiverem aproveitado será dado muito. O primeiro pensamento de todo espírita sincero deve ser o de procurar nos conselhos dados pelos Espíritos, se não há alguma coisa que possa lhe dizer respeito. O espiritismo vem multiplicar o número dos chamados; pela fé proporciona, multiplicará também o número dos escolhidos. INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS DAR-SE-ÁQUELE QUE TEM 13. Seus discípulos, se aproximando lhe disseram: Por que lhes falais por parábolas? E, lhes respondendo, disse: É porque para vós outros foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas para eles, não lhes foi dado. Porque a todo aquele que já tem se lhe dará ainda, e estará na abundância; mas para aquele que não tem, se lhe tirará mesmo o que tem. Por isso eu lhes falo por parábolas; porque vendo eles não veem, e escutando não ouvem, nem compreendem. E a profecia de Isaías se cumpre neles quando disse: Escutareis com os vossos ouvidos e não ouvireis; olhareis com os vossos olhos e não vereis. (São Mateus, cap. XIII, v. 10 a 14). 14. Prestai atenção naquilo que ouvis; porque se servirá para convosco da mesma medida da qual vos servirdes para com os outros, e 219 vos será dado ainda mais; porque se dará àquele que já tem, e para aquele que não tem se lhe tirará mesmo o que tem. (São Marcos, cap. IV, v. 24, 25). 15. “Dá-se àquele que já tem e se tira daquele que não tem”; meditai estes grandes ensinamentos que, frequentemente, vos pareceram paradoxais. Aquele que recebeu é o que possui o sentido da palavra divina; não a recebeu senão porque tentou dela se tornar digno, e o Senhor, em seu amor misericordioso, encoraja os esforços que tendem ao bem. Estes esforços firmes perseverantes atraem as graças do Senhor; é um imã que chama para si as melhoras progressivas, as graças abundantes que vos tornam fortes para escalar a montanha santa, no cume da qual está o repouso depois do trabalho. “Tira-se daquele que nada tem, ou que tem pouco”; tomai isto como uma oposição figurada. Deus não retira as suas criaturas do bem que se dignou fazer-lhes. Homens cegos e surdos! Abri as vossas inteligências e os vossos corações; vede pelo vosso espírito; ouvi pela vossa alma e, não interpreteis de maneira tão grosseiramente injusta as palavras daquele que fez resplandecer aos vossos olhos, a justiça do Senhor. Não é Deus quem retira daquele que havia recebido pouco, é o próprio Espírito, ele mesmo, sendo pródigo e negligente, não sabe conservar o que tem, e aumentar, na fecundidade, o óbolo caído no coração. Aquele que não cultiva o campo que o trabalho de seu pai lhe ganhou, e o qual ele herda, vê esse campo se cobrir de ervas parasitas. É seu pai quem lhe toma as colheitas que não quis preparar? Se deixou as sementes destinadas a produzir nesse campo, mofar por falta de cuidado, deve acusar seu pai, se elas não produzem nada? Não. Em lugar de acusar aquele que tinha tudo preparado para ele, de retomar seus dons, que acuse o verdadeiro autor das suas misérias e que, então, arrependido e ativo, se lance à obra com coragem; que rompa o solo ingrato com o esforço da sua vontade; que o lavre a fundo com a ajuda do arrependimento e da esperança; que nele jogue com confiança a semente que tiver colhido como boa entre as más, e a regue com seu amor e sua caridade e, Deus, o Deus de amor, e de caridade, dará ao àquele que recebeu. Então ele verá os seus esforços coroados de sucesso, e um grão produzir cem, e outro mil. Coragem, lavradores; tomai as vossas grades e 220 as vossas charruas; lavrai os vossos corações; arrancai dele o joio; semeai aí a boa semente que o Senhor vos confia, e o orvalho do amor o fará produzir os frutos da caridade. (UM ESPÍRITO AMIGO, Bordéus, 1862). RECONHECE-SE O CRISTÃO PELAS SUAS OBRAS 16. Aqueles que me dizem: Senhor! Senhor! Não entrarão todos nos reinos dos céus, mas só aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.” Escutai essas palavras do Senhor, todos vós que repelis a Doutrina Espírita como um obra do demônio. Abri os vossos ouvidos, pois o momento de ouvir chegou. Basta traja a libré do Senhor para ser fiel servidor? Basta dizer: Eu sou Cristão? Para seguir o Cristo? Procurai os verdadeiros cristãos e vós os reconhecereis por suas obras. “Uma árvore boa não pode produzir maus frutos e, toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo.” Eis as palavras do Mestre; discípulos de Cristo; compreendei-as bem. Quais são os frutos que deve produzir a árvore do Cristianismo, árvore poderosa cujos ramos espessos cobrem com sua sombra, uma parte do mundo, mas ainda não abrigaram todos àqueles que devem se reunir ao seu redor? Os frutos da árvore de vida são os frutos de vida, de esperança e de fé. O Cristianismo, tal como o fez durante muitos séculos, prega sempre essas divinas virtudes; procura espalhar os seus frutos, mas quão poucos os colhem. A árvore é sempre boa, mas os jardineiros são m aus. Eles quiseram conformá-la à sua ideia; quiseram modelá-la segundo as suas necessidades; eles a cortaram diminuíram-na, mutilaram-na; seus ramos estéreis não produzem maus frutos, pois nada mais produzem. O viajor sedento que se detém sob sua sombra para procurar o fruto da esperança que deve lhe restituir a fora e a coragem, não distingue senão ramos infecundos fazendo pressentir a tempestade. Em vão ele procura o fruto de vida na árvore de vida. As folhas caem secas; a mão do homem de tanto manejá-las, queimou-as. Abri os vossos ouvidos e vossos corações, meus bem amados! Cultivai essa árvore de vida cujos frutos dão a vida eterna. Aquele que a plantou vos convida a cuidá-la com amor, e a vereis produzir ainda, com abundância, seus frutos divinos. Deixai-a tal como Cristo a entregou ao 221 homem, não a mutileis; sua sombra imensa quer se estender sobre o Universo; não encurteis seus ramos. Seus frutos benfazejos caem em abundância para sustentar o viajante sedento que quer atingir o objetivo; não os colheis, esses frutos, para guardá-los e os deixar apodrecer, a fim de que não sirvam a ninguém. “Há muitos chamados e poucos escolhidos”; há açambarcadores do pão de vida como os há; frequentemente, para o pão material. Não vos enfileireis ente eles; a árvore que produz bons frutos deve distribuí-los para todos . Ide, procura aos sedentos; conduza-os sob os ramos da árvore e divide com eles o abrigo que ela oferece. “Não se colhem uvas dos espinheiros.” Meus irmãos, distanciai-vos daqueles que vos chama para vos apresentar as dificuldades do caminho, e segui aos que aos que vos conduzem à sombra da árvore de vida. O divino Salvador, o justo por excelência, disse e suas palavras não passarão: Aqueles que me dizem: “Senhor! Senhor! Não entrarão no reino dos céus, mas só aqueles que fazem a vontade do meu Pai que está nos céus.” Que o Senhor de bênçãos vos abençoe; que Deus de luz vos ilumine; que a árvore de vida derrame sobre vós seus frutos com abundância! Crede e orai. (SIMEÃO, Bordéus, 1863) 222
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