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Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.64-78 Estudos de Métodos de Coleta de Mosquitos (Diptera: Culicidade) Alternativos ao deAtração Humana Paoola Cristina Bezerra Vieira* Inocêncio de Sousa Gorayeb** RESUMO Houve uma evolução dos tipos de armadilhas ao longo do tempo e vários métodos de captura de mosquitos foram desenvolvidos, porém nenhum obteve rendimento semelhante à coleta direta por atração humana. Este trabalho teve por objetivo testar métodos de captura de culicídeos alternativos ao método de atração humana, incluindo o desenvolvimento de novas técnicas, que podem substituir o método tradicional de captura direta em humanos. O estudo foi desenvolvido próximo ao Parque Estadual do Utinga no município de Ananindeua, estado do Pará, Brasil. Os métodos utilizados foram: armadilhas CDC, CDC UV, Shannon, armadilha desenvolvida por J. A. Rocha, armadilha desenvolvida por I. S. Gorayeb e captura direta em humanos. As armadilhas foram instaladas em seis pontos, por seis noites consecutivas. Foram capturados 13.099 espécimes de Culicidae distribuídas em sete gêneros e 27 espécies, sendo Anopheles triannulatus a mais abundante. A captura por atração humana foi o método que coletou maior diversidade e abundância de mosquitos, seguido pela armadilha de Shannon para abundância e pela armadilha de Gorayeb para diversidade. Palavras-chave: Culicidae, Diptera, métodos de coleta, armadilhas, Amazônia oriental ABSTRACT There was an evolution of the types of traps over time and various methods of capturing mosquitos were developed, but none achieved similar performance to direct human bait. This study aimed to test methods of capturing Culicidae alternative method of human attraction, including the development of new techniques, which can replace the traditional method of direct human bait. The study was conducted near the “Parque Estadual do Utinga, Ananindeua, Pará, Brazil”. The methods used were: CDC traps, CDC UV, Shannon trap developed by J. A. Rocha, trap developed by I. S. Gorayeb and collection by human attraction. The traps were installed in six points for six consecutive nights. 13,099 specimens of Culicidae were captured, distributed in seven genera and 27 species, Anopheles triannulatus being the most abundant. Capturing by human attraction method was collected higher diversity and abundance of mosquitoes, followed by Shannon trap for abundance and Gorayeb trap for diversity. Key words: Culicidae, Diptera, collection methods, traps, eastern Amazon *Parte da dissertação de mestrado ao Programa de Pós-graduação em Zoologia da Universidade Federal do Pará e Museu Paraense Emilio Goeldi. Coordenadora da Entomologia do Laboratório Central do Estado do Pará (LACEN) da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (SESPA), graduada em biologia pela Universidade Federal do Pará e mestrado pelo Programa de Pósgraduação em Zoologia da Universidade Federal do Para / Museu Paraense Emílio Goeldi, Pará, Brasil. **Pesquisador da Entomologia, Coordenação de Zoologia do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, Pará; graduado em biologia pela Universidade Federal do Pará; especialista, mestre e doutor pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia; pós-doutorado na “Florida State Collections of Arthropods, University of Florida, Gainesville, USA”. 64 Revista Perspectiva Amazônica Introdução Ano33N° N°66 p.64-78 p.XXX Ano Nos últimos anos, uma variedade de alternativas à coleta por atração humana direta tem sido utilizada para estimar populações de mosquitos. Essa variedade inclui coletas com pulverização à base de piretroides, armadilhas com animais iscas, abrigos para repouso de mosquitos, redes eletrônicas, armadilhas com odores para atrair insetos picadores e armadilhas de luz (SEXTON et al, 1986; RUBIO-PALIS; CURTIS, 1992; RUBIO-PALIS, 1996; BURKETT et al, 2001; SITHIPRASSANA et al, 2004; OKUMU et al, 2010a; OKUMU et al, 2010b), além de armadilhas utilizando animais como atrativos, odores lácteos, meias de nylon com odores humanos, CO2, octenol, entre outros (OKUMU et al, 2010a; OKUMU et al, 2010b; OWINO, 2010; JAWARA et al, 2009; GAMA et al, 2007; HIWAT et al, 2011). Há também um longo histórico de uso de armadilhas alternativas para coletar anofelíneos na América Latina e no Caribe (PRITCHARD; PRATT, 1944; BUSTAMANTE; PIRES, 1949; WILTON, 1975; LOURENÇO-DE-OLIVIERA, 1984). Apesar dos vários métodos utilizados para amostrar as populações de adultos, nenhum deles é tão eficiente como a coleta por atração humana direta para estudos de comportamento das espécies antropofílicas. Os resultados são diretos e importantes para: análises das espécies; capacidade vetorial; taxas de infecção; comportamento intra e peridomiciliar; atividades horárias de hematofagia; sazonalidade; respostas a substâncias repelentes; dentre outros. No entanto, esse método tem sido ultimamente usado com maior cautela, pois expõe os coletores ao risco de contraírem doenças veiculadas por mosquitos. A coleta por atração humana direta foi praticamente desautorizada, mas, apesar disso, muitas pesquisas continuaram sendo desenvolvidas porque não existiam métodos alternativos com a mesma eficiência de captura e que correspondessem às relações naturais entre as populações de espécies de mosquitos e humanas. O Manual de Entomologia e Controle de Vetores da Organização Mundial de Saúde (WHO, 2003) define como um fator determinante da transmissão da malária o número de vetores que picam humanos, portanto é importante saber: quais espécies de anofelinos picam humanos e quais picam animais; quais são vetores de malária; frequência de ataque do vetor; se o vetor ataca fora ou dentro das residências; pico de atividades hematofágicas das espécies vetoras; e sazonalidade. Este manual orienta também que, nas coletas de mosquitos em humanos, devem-se tomar cuidados adequados e eficazes para evitar contrair malária. Além disso, os mosquitos devem ser coletados antes que piquem as pessoas. Devem ser mensuradas as taxas de busca aos humanos em vez das taxas de picadas dos mosquitos. Existem preocupações éticas porque as pessoas estão em risco de infecção. Estas preocupações devem ser consideradas antes de utilizar esta técnica. Recomenda-se evitar o uso desta técnica especialmente se existem outras que possibilitem estimar as taxas de mosquitos que buscam picar as pessoas. Em 2008, no “II Seminário Internacional de Ferramentas e Instrumentos Utilizados no Controle de Vetores” formou-se um “Grupo de Trabalho sobre captura de mosquitos utilizando atração humana” que emitiu um importante parecer 65 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.64-78 p.XXX Ano técnico, a Normatização da Captura por Atração Humana (Ministério da Saúde do Brasil, 2008) e, em consequência disso, vários avanços foram alcançados para a proteção dos coletores contra as picadas dos mosquitos durante as coletas por atração humana. O Ministério da Saúde do Brasil vem induzindo, incentivando e apoiando pesquisas para o desenvolvimento de novos métodos que possam avançar os procedimentos de coletas alternativas ao de atração humana direta. Okumu et al (2010a) comentaram que o Plano de Ação Global para Malária da OMS prioriza a realização de proteção com mosquiteiros tratados com repelentes e inseticidas residuais intradomiciliares, junto com diagnóstico e tratamento (WHO, 2009), mas também a eliminação da transmissão da malária (WHO, 2009; ROBERTS; ENSERINK, 2007). Apesar destes esforços, há preocupações crescentes porque as ferramentas existentes podem não ser adequadas para alcançar estes objetivos e porque alternativas ou intervenções complementares são urgentemente necessárias (WHO, 2009; ROBERTS; ENSERINK, 2007; TANNER; SAVIGNY, 2008; TAKKEN; KNOLS, 2009; GREENWOOD, 2009; HEMINGWAY et al, 2006). O uso de métodos alternativos para coletar culicídeos que tragam resultados como os citados acima terá implicações importantes para programas de prevenção de várias doenças veiculadas por mosquitos, como dengue, febre amarela, filarioses e, principalmente, a malária, no Brasil. Um método alternativo à coleta direta por atração humana pode diminuir consideravelmente o risco de contrair doenças, principalmente para as pessoas que trabalham rotineiramente com entomologia e saúde pública, além de possibilitar o avanço das pesquisas com espécies antropofílicas. Neste trabalho, se compara a capacidade operacional de cinco métodos de coleta de culicídeos (dos quais três utilizam humanos como atrativos e os dois outros não o fazem) com o método tradicional de atração humana direta. Assim, a cobertura de um programa de saúde pode ser aumentada e as novas técnicas de controle podem ser avaliadas com menores riscos. Metodologia Aspectos Éticos Seguindo orientação da Resolução 196/1996 (CONEP, 1996), este trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Instituto Evandro Chagas/SVS/MS. Todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido elaborado para este estudo. Área de Estudo 66 O estudo foi realizado em uma área privada, no município de Ananindeua, Pará, Brasil, que faz limite com o Parque Estadual do Utinga em Belém, Pará, Brasil, localizada nas coordenadas geográficas 01º24'35,60”S 48º24'30,87”W. Ao longo de sua extensão existe uma floresta com tipologia predominante de floresta de terra firme e outras tipologias como: florestas de várzeas (alta e baixa), matas secundárias, igapós e macrófitas aquáticas nos lagos Água Preta e Bolonha (IMBIRIBA JUNIOR; COSTA, 2003). Revista Perspectiva Amazônica Métodos de Captura Ano 3 N° 6 p.64-78 Métodos que envolvem humanos como atrativo a) GORAYEB (Anexo -Figura 1) - Uma nova armadilha para captura de mosquitos com atração humana foi desenvolvida por Inocêncio de Sousa Gorayeb (pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi), buscando não submeter pessoas as picadas e diminuir o esforço de trabalho no ato de capturar. Esta armadilha foi pela primeira vez testada neste experimento. A armadilha é composta basicamente de duas pirâmides sobrepostas e conectadas; uma, superior, de plástico preto resistente (lona plástica), que não permite a passagem do ar ventilado; outra, interna, de tecido telado fino (filó), que permite bem a passagem de ar, mas não permite a passagem dos mosquitos. Um frasco coletor posicionado no topo da pirâmide superior, feito de pedaços de canos de PVC de 75 mm de diâmetro, que contém vedação superior com filó e ventoinha, que produz corrente de ar de direção antigravitacional, mantém os mosquitos aprisionados. Um sistema de ventiladores, posicionados perto do chão, acionados por corrente elétrica de 12 volts de uma bateria de 60 Hz, empurra os culicídeos para cima. Seu funcionamento consiste em manter uma pessoa sentada em uma cadeira, dentro da armadilha, protegida por tela de filó. Os mosquitos são empurrados para a parte superior da armadilha por correntes de vento acionadas pelos ventiladores, que funcionam em intervalos temporais reguláveis. A patente desta armadilha foi registrada no INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial em 30 de junho de 2010, pelo protocolo No 0000221003638702, PI 1002058-6 A2, tendo como depositante o Museu Paraense Emílio Goeldi, como inventor Inocêncio de Sousa Gorayeb e como procuradora Lenice de Melo Soares (SANTOS; OLIVEIRA) (INPI - Revista da Propriedade Industrial, 2011). b) ROCHA (Anexo -Figura 2) - Desenvolvida por José Almir Moraes da Rocha (professor da Faculdades Integradas do Tapajós, Universidade do Estado do Pará e Universidade Federal do Oeste do Pará). Consiste em uma pessoa permanecer deitada em uma rede de dormir, protegida por telas de filó. O princípio está baseado no aprisionamento de mosquitos que são atraídos para a pessoa na busca de repasto sanguíneo; ficam presos em compartimentos (câmaras), não atingindo a pessoa. Após o período de coleta, a pessoa, com auxílio de um aspirador de sucção, coleta todos os mosquitos presos nas câmaras da armadilha. A armadilha está descrita na tese de doutorado de Rocha (2005) e foi testada pela primeira vez nos experimentos deste trabalho. É constituída por uma rede de dormir e um mosquiteiro, adaptados. Este último é feito de filó, sendo composto de uma parte central (câmara de proteção), à qual o usuário tem acesso por uma abertura com zíper. Após sua instalação na câmara, essa abertura é isolada pelo fechamento do zíper. Nas partes superior e inferior da câmara de proteção, há compartimentos que percorrem toda a sua extensão; nestes há várias aberturas que possibilitam tanto a entrada dos mosquitos que estão à procura de repasto sanguíneo, como a introdução 67 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.64-78 p.XXX Ano do aspirador para a retirada dos mosquitos das câmaras. A armadilha é suspensa pelos punhos da rede e fica distendida com o auxílio de varetas colocadas nas câmaras superior e inferior. A parte inferior e dos punhos da armadilha são feitas de um tecido mais resistente (brim). A parte inferior é esticada por apoios de cordões fixados no solo. c) SHANNON – Desenvolvida por Shannon (1939) para ser utilizada com isca animal, porém já sofreu diversas modificações. Neste trabalho, utilizamos uma versão modificada desta armadilha, que consiste em um grande compartimento de 160 cm de comprimento por 130 cm de largura e 90 cm de altura, com septo central de 160 cm de comprimento por 200 cm de altura, e toda feita de um tecido resistente de algodão. Na parte superior da armadilha, pelo lado de dentro, próximo ao septo central, foi colocada uma lâmpada fluorescente, que serviu de atrativo para os mosquitos. Duas pessoas coletoras, totalmente protegidas, percorriam a armadilha em intervalos de 30 min coletando, com aspiradores elétricos de sucção, os mosquitos atraídos. Métodos que não utilizam humanos como atrativo a) CDC (Centers for Disease Control) – As armadilhas luminosas do tipo CDC (SUDIA & CHAMBERLAIN, 1962) atraem os insetos a uma pequena fonte de luz de tungstênio. Quando estes se aproximam da luz são sugados para o interior da armadilha por uma ventoinha. Os insetos coletados por este método permanecem vivos no compartimento receptor. A armadilha CDC consiste em um cilindro de acrílico transparente de aproximadamente 20 cm de comprimento e 10 cm de diâmetro. Na parte superior, há uma pequena lâmpada e, logo abaixo, uma ventoinha que produz uma corrente de ar com direção gravitacional e funciona por uma corrente de 6 ou 12 v. Uma bandeja de alumínio cobre a armadilha, protegendo-a da chuva. Na parte inferior, acopla-se um saco de tecido de tela fina (organza), onde os insetos ficam aprisionados. b) CDC UV – Descrita por Wilton e Fay (1972). Esta armadilha é uma versão modificada da armadilha de luz CDC. Ela consiste em um cano de PVC de aproximadamente 15 cm de comprimento e 10 cm de diâmetro; na parte inferior, há uma pequena lâmpada ultravioleta e, logo acima, uma pequena ventoinha com ventilação direcionada para cima. Acima desta, está o saco de tecido (organza), onde os insetos ficam aprisionados; acima do saco de coleta, há uma bandeja de metal que serve de proteção da chuva. A diferença para a CDC normal é que a luz é ultravioleta em vez da luz incandescente amarela de tungstênio, e a ventilação é invertida, ou seja, antigravidade: o ventilador empurra os mosquitos para cima, onde são aprisionados no coletor de tecido de malha fina. Captura por atração humana direta As coletas por atração humana direta foram feitas com auxílio de tubos de ensaio contendo papel toalha umedecido com acetato de etila. Quando o mosquito pousa sobre a pele, o tubo de ensaio é colocado sobre o mosquito, que voa para dentro dele. Em seguida, o tubo é fechado com algodão. Os tubos foram colocados em sacos plásticos separados a 68 cada hora. As pessoas que atuaram como coletores foram devidamente treinadas, visando a captura dos mosquitos antes de serem picadas, diminuindo o risco de contraírem doenças. Revista Perspectiva Amazônica Desenho Experimental Ano 3 N° 6 p.64-78 As coletas foram realizadas durante seis dias no mês e replicadas por três meses consecutivos, no período de setembro a novembro de 2006, durante os dias de lua nova, para evitar a influência da luz da lua nas armadilhas (RUBIO-PALIS, 1992). Na área experimental fez-se um transecto onde os seis métodos de coleta foram instalados, em seis pontos diferentes (P1-P6), com 100 m de distância um do outro. Em cada mês foi feito um desenho de replicações 6 x 6 durante seis noites consecutivas, e cada armadilha foi rotacionada ponto a ponto, a cada noite. As armadilhas funcionaram das 18 às 22 horas. Os insetos coletados foram acondicionados e transportados para o laboratório, onde foram identificados com auxílio das chaves de Faran e Linthicum (1981) e Consoli e Lourenço-de-Oliveira (1994). Os indicadores para comparação entre os métodos são a densidade e a diversidade de mosquitos coletados. As comparações foram testadas utilizando-se os métodos distância euclidiana para definir as armadilhas com eficiências mais semelhantes e o método ANOVA para comprovar se há diferença significativa entre os métodos testados. Os testes foram feitos utilizando-se o pacote estatístico Bioestat 5,3 (AYRES et al, 2007). Resultados Durante o estudo, foram coletados 13.099 espécimes de Culicidae, representados por 27 espécies, sendo Anopheles triannulatus Neiva & Pinto, 1922, com 4.180 espécimes, a mais abundante (Anexo -Tabela 1). O método por atração humana direta foi o que coletou maior quantidade de mosquitos, com 6.316 exemplares, seguido da armadilha Shannon, que capturou 2.639 espécimes de culicídeos, sendo as armadilhas CDC e CDC UV pouco eficientes na coleta de espécimes desses mosquitos (Anexo -Figura 3). A análise multivariada (distâncias euclidianas) demonstrou que a armadilha mais semelhante ao método por atração humana direta em abundância de mosquitos coletados por ponto foi a armadilha Shannon, com 4,08 de distância, seguida da armadilha Gorayeb, com 4,52 de distância. As armadilhas CDC, CDC UV e Rocha foram as que mais se diferenciaram do método por atração humana direta, com 5,98; 6,90 e 6,82 de distância, respectivamente (Anexo -Figura 4). A análise entre as armadilhas demonstrou que, quando comparadas com o método por atração humana direta, apenas a armadilha Shannon mostrou-se significativamente semelhante na captura em número de mosquitos (p>0,05). O método por atração humana direta, além de ter sido eficiente para o número de mosquitoscoletados,tambémfoioquecoletouomaiornúmerodeespécies,com25nototal, seguido da armadilha Gorayeb, com 19 espécies.Aarmadilha CDC UV foi a que coletou o menornúmerodeespécies,apenasnove(Anexo -Figura5)Aanálisedadistânciaeuclidiana mostrou que a armadilha Gorayeb foi a que mais se aproximou do método por atração humana direta, com 2,96 de distância, apesar de mostrar-se significativamente diferente do métodoporatraçãohumanadireta(p<0,05)(Anexo-Figura6). 69 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.64-78 p.XXX Ano Ao analisar os pontos de coleta a ANOVA demonstrou que não há diferença significativa entre os pontos de coletas amostrados (p>0,05) e mostrou também que não há diferença significativa no número de espécies capturadas nos diferentes pontos (p>0,05). Ao comparar as médias do número de mosquitos capturados por métodos com atrativos humanos e métodos sem atrativos humanos, as análises estatísticas mostram que há diferença significativa entre ambos (p<0,05). Os métodos que utilizam humanos como atrativos são mais eficientes do que os que não os utilizam, mas não há diferença significativa entre os pontos de coleta (p>0,05). Discussão Rubio-Palis e Curtis (1992) ao avaliar o número de espécimes coletados constataram que o número de mosquitos coletados em captura por atração humana foi significativamente maior que os coletados pelas armadilhas CDCs; os dados do presente estudo reforçam os acima citados, pois a avaliação dos métodos utilizados neste trabalho demonstrou que o método por atração humana direta foi o que coletou maior abundância. Estudos de Sexton et al (1986) e Rubio-Palis (1996), demonstraram que a armadilha CDC UV foi mais eficiente que outros métodos experimentados, incluindo o de atração humana, quando associadas à componentes químicos. Esta discrepância pode ser justificada pela ausência das espécies mais abundantes na área estudada em Belém, além de que esta armadilha não foi testada associada com CO2 e Octenol. Burkett et al. (2001) compararam diversas armadilhas com a armadilha de Shannon e mostraram que esta foi mais eficiente para a captura de mosquitos anofelinos, reforçando os dados deste trabalho. As análises estatísticas mostraram que a armadilha de Shannon pode ser uma possível substituta ao método de captura por atração humana direta, quando se quer analisar a densidade de anofelinos capturados, pois os resultados apresentaram significância, no entanto não podemos desconsiderar o fato da armadilha de Shannon também utilizar indiretamente a atração humana. A armadilha desenvolvida por Rocha não foi tão eficiente quanto as outras. Esta armadilha parece ser eficiente apenas quando a quantidade de mosquitos no local é muito alta, pois, no primeiro mês de amostragem, quando houve alta abundância de mosquitos, ela capturou um número elevado de culicídeos; no entanto, nos outros meses de coleta, em que houve um declínio na quantidade, esta armadilha coletou pouquíssimos exemplares. Das armadilhas que utilizam humanos como atrativos, esta é a que proporciona maior conforto à pessoa, pois esta fica deitada numa rede durantetodo período de coleta, sem empreender esforços na captura de mosquitos, além de não se expor a picadas, pois ela fica protegida por um mosquiteiro. Hiwat (2011) comparou três diferentes tipos de armadilhas com a captura direta em humanos e observou que nenhuma das armadilhas testadas, mesmo quando 70 associadas a CO2, foi tão eficiente quanto a atração direta, resultados que também foram observados neste experimento. Além da eficácia deste método, tanto para diversidade Revista Perspectiva Amazônica quanto para densidade, podemos observar também que ele apresenta outras vantagens, tais como: melhor qualidade do material coletado (o que facilita na identificação) e maior seletividade (pois apenas os anofelinos são capturados). Ano 3 N° 6 p.64-78 Porém, a principal desvantagem deste método é que a pessoa coletora fica exposta às picadas de mosquitos, e, consequentemente, mais suscetível a contrair doenças transmissíveis por vetores, além de sofrer maior desconforto. Tal fato faz com que a utilização deste método seja objeto de diversas discussões éticas que não aconselham seu uso. Após a realização desses experimentos, alguns aparatos de coleta de mosquitos foram desenvolvidos e merecem ser testados com as espécies brasileiras e comparados com os métodos apontados no presente artigo. Por exemplo, Okumu et al (2010a) desenvolveram um aparato que denominaram Ifakara Odor-Baited Station que é uma cabana em forma de caixa, feita de tela, sobre uma armação de madeira (de 1,5 m x 1,5 m x 1,75 m), com sete aberturas para a entrada de mosquitos. Esta estação pode ser utilizada tanto para capturar como para contaminar mosquitos com substâncias. O mesmo grupo de pesquisa do Ifakara Health Institute, na Tanzânia (OKUMU et al (2010b), desenvolveu uma substância sintética que é mais atrativa para mosquitos que os humanos. A armadilha desenvolvida por Gorayeb também pode ser utilizada sem uma pessoa como atração, e, em vez disso, pode funcionar com substâncias atrativas (INPI, 2011); também ela precisa ser testada em localidades com altas populações de Anopheles darlingi, principal vetor da malária no Brasil. Conclusão A partir dos resultados obtidos nesta pesquisa, observou-se que nenhum dos métodos testados pode ser utilizado com a mesma eficácia obtida pelo método de atração humana direta. No entanto, é possível que duas ou mais das melhores metodologias testadas possam ser utilizadas de forma associada, para que se possa aproximar dos resultados obtidos pelo método de atração humana. Ao comparar os métodos que utilizam humanos como atrativo (armadilhas Gorayeb, Rocha e Shannon), concluiu-se que nenhum deles é significativamente semelhante ao método de atração humana direta na captura de culicídeos, porém a armadilha que obteve resultados mais próximos, ao se avaliar diversidade de espécies capturadas, foi a Gorayeb. Quando o objetivo for analisar diversidade, a armadilha Gorayeb, apesar de não ser significativamente semelhante, foi a que mais se aproximou do método de captura por atração humana direta e pode ser uma possível substituta ao método. No entanto, quando o objetivo for avaliar a densidade de mosquito, a armadilha Shannon foi a que mais se aproximou do método de captura por atração humana direta, mostrando-se significativamente próxima a este para coleta de anofelinos. Assim, esta armadilha pode ser uma possível substituta para o método de atração humana direta. 71 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.64-78 p.XXX Ano Referências AYRES, M.; AYRESJR, M. ; AYRES, D. L. & SANTOS, A. A. S. Bioestat 5,3 – Aplicações estatísticas nas áreas das ciências bio-médicas. 5ª ed. Belém. 2007. A c e s s o e m 2 3 / 0 1 / 2 0 1 3 , d i s p o n í v e l e m : http://mamiraua.org.br/downloads/programas . BURKETT, D.A.; LEE, W. J.; LEE, K. W.; KIM, H. C.; LEE, H. I.; LEE, J. S.; SHIN, E.H.; WIRTZ, R. A.; CHO, H. W.; CLABORN, D. M.; COLEMAN, R. E. & KLEIN, T. A. Light, carbon dioxide, and octenol-baited mosquito trap and hostseeking activity evaluations for mosquitoes in a malarious area of the Republic of Korea. 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Journal of the American Mosquito Control Association. 1986; 2:168-173. 2003; 107p. 74 Tabela 1 – Espécies e número de exemplares de Culicidae coletados pelos seis métodos utilizados em Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.64-78 Ananindeua, Pará; número de exemplares acumulados de todas as coletas. (AHD = atração humana direta). CDC Shannon Gorayeb AHD Rocha Total UV Aedeomyia sp. Teobald, 1901 6 13 8 27 Anopheles darlingi Root, 1926 21 4 7 3 23 2 60 A. deaneorun Rosa-Freitas, 1989 1 4 5 A. intermedius Peryassú, 1908 1 2 3 A. triannulatus Neiva &Pinto, 1922 428 161 1227 418 646 300 4180 A. braziliensis Chagas, 1907 2 8 10 A. nuneztovari Gabaldon, 1940 89 68 320 9 52 10 548 A oswaldoi Peryassú, 1922 9 9 Anopheles sp. 161 31 427 323 201 34 1177 Coquillettidia nigrans, Coquillett 1904 27 22 84 199 218 4 554 Coquillettidia sp.1 57 46 97 113 284 24 621 Coquillettidia sp.2 10 14 37 85 3 149 Culex coronator Dyar &Knab, 1907 6 6 3 15 120 3 153 C. portesi Senevet &Abonnene, 1941 5 1 54 60 C. spissipes Theobald, 1903 8 15 12 38 73 Culex sp.1 94 91 244 774 27 1230 Culex sp.2 72 24 122 154 988 10 1370 Mansonia amazonensis Theobald, 1901 32 39 111 1 183 M. humeralis Dyar &Knab, 1916 21 42 197 675 13 948 M. titillans Walker, 1848 32 36 64 100 403 32 667 Ochlerotatus fulvus Wiedemann, 1928 3 3 6 O. hortator Dyar &Knab, 1907 9 7 16 O. scapularis Rondani, 1848 68 315 6 389 O. serratus Theobald, 1901 5 85 74 199 4 367 Ochlerotatus sp. 6 6 11 4 27 Psorophora cingulata Fabricius, 1805 4 6 10 P. ferox Humboldt, 1819 11 30 41 Não identificados 3 2 20 138 52 1 216 1045 402 2659 2195 6316 482 13099 Total Sinal convencional utilizado (-): Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento Espécies CDC Figura 1 – Armadilha Gorayeb, testada pela primeira vez nesta pesquisa. 75 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.64-78 p.XXX Ano Figura 2 - Armadilha Rocha, testada pela primeira vez nesta pesquisa. Figura 3 – Número de exemplares de Culicidae coletados nos seis métodos testados, no Parque Estadual do Utinga, município de Ananindeua, Pará. (AH = Atração humana; CDC = Armadilha CDC; CDC UV = Armadilha CDC com luz ultravioleta). 76 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.64-78 Métodos Figura 4 – Distâncias euclidianas entre os seis métodos experimentados, baseadas na abundância de Culicidae capturados. Quanto menor valor apresentado no gráfico mais semelhante os métodos são quanto a culicidiofauna amostrada. Figura 5 – Número de espécies de Culicidae coletadas nos seis método testados no Parque Estadual do Utinga, município de Ananindeua, Pará. (AH = Atração humana; CDC = Armadilha CDC; CDC UV = Armadilha CDC com luz ultravioleta). 77 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.64-78 p.XXX Ano Métodos Figura 6 – Distâncias euclidianas entre os seis métodos experimentados, baseadas na diversidade de Culicidae capturados. Quanto menor o valor apresentado no gráfico mais semelhante são as armadilhas quanto a culicidiofauna amostrada. 78