PDF - Revista Ciências da Saúde - Universidade Federal de Santa

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PDF - Revista Ciências da Saúde - Universidade Federal de Santa
REVISTA
CIÊNCIAS
DA SAÚDE
ISSN 0101 – 9546
Revista Ciências da Saúde
Florianópolis
V. 28, N. 1
P. 1-56
2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Reitor: Álvaro Toubes Prata
Vice-Reitor: Carlos Alberto Justo da Silva
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Diretora: Kenya Schmidt Reibnitz
Editoração eletrônica
STUDIO S ● Diagramação & Arte Visual
[email protected]
(48) 3025-3070
Capa
Paulo Roberto da Silva
Revisão
Rodrigo Brasil
Secretário
Luiz Vicente Vieira
Revista Ciências da Saúde é uma revista semestral editada pelo Centro de
Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina.
Comissão Editorial: Tânia Silvia Fröde (Editora-chefe-UFSC), Roberto Henrique
Heinish (Clínica Médica – UFSC), Inês Beatriz Rath (Estomatologia-UFSC), Liliane
Janete Grando (Patologia-UFSC), Elisabeth Wazlawik (Nutrição-UFSC), Maria Itayra
Coelho de Souza Padilha (Enfermagem-UFSC), Patrícia Haas (Análises ClínicasUFSC).
Comissão Consultiva: Cláudia Maria Mattos Penna (UFMG), Márcia de Assunção
Ferreira (UFRJ), Almerinda Moreira (UNIRIO), Rubens Rodrigues Filho (UFSC),
Cleusa Rios Martins (UFSC), Maurício Pereima (UFSC), Elisete Navas Sanches
Próspero (UNIVALI), Carlos Alberto Bezerra Tomaz (UNB), Beatriz Gonçalvez
Ribeiro (UFRJ), Luciane Azevedo (Unifal MG), Mercedes Gabriela Ratto Reiter
(FURB), Antônio Carlos Marasciulo (UFSC), Rosane Nitschke (UFSC), Marize Melo
dos Santos (UFPI), Maria do Carmo Machado Guimarães (Universidade Católica de
Brasília), Fabian Calixto Fraiz (UFPR).
(Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da
Universidade Federal de Santa Catarina)
Revista Ciências da Saúde / Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de
Ciências da Saúde. -- v.1, n.1 (1982)- , - Florianópolis: Imprensa Universitária, 1982.
v.: 27cm
Semestral
ISSN 0101-9546
1.Ciências Médicas. 2. Saúde-pesquisas. I. Universidade Federal de Santa Catarina.
II Centro de Ciências da Saúde.
Indexada na Base de Dados LILACS
Endereço:
Revista Ciências da Saúde - Secretaria do Centro de Ciências da Saúde da UFSC
Campus Universitário - Trindade
Caixa Postal 476
88040 970 - Florianópolis - SC
Telefone (0xx) 48 3721-9525 / 3721-9783 / (0xx) 48 3721-9712 ramal 211
SUMÁRIO
Editorial..................................................8
AÇÃO EDUCATIVA DE ENFERMAGEM
COM
ADOLESCENTES:
CONHECENDO
A
SEXUALIDADE.
[Educative action of nursing with
adolescents: knowing the sexuality].
Gabriela Marcellino de Melo Lanzoni;
Mônica Motta Lino; Kenya Schmidt
Reibnitz; Vânia Marli Schubert Backes e
Miriam
Alice
do
Lago.......................................................9
PERDAS
DENTÁRIAS:
CAUSAS,
IMPACTOS E EXPECTATIVAS DE
PACIENTES DAS CLÍNICAS DO
CURSO DE ODONTOLOGIA DA
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ –
UNIVALI. [Tooth loss: causes, impacts,
expectations of patients at the clinics of
the Dentistry course of the University of
Vale do Itajaí (SC) – UNIVALI]. Elisabete
Rabaldo Bottan; Luciane Campos;
Constanza
Marín
de
Los
Rios
odebrechet...........................................16
FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS
CARDIOVASCULARES
E
SUAS
ASSOCIAÇÕES COM OBESIDADE.
[Risk factors for cardiovascular disease
and its associations with obesity].
Michele Medeiros Silveira, Maria da
Graça Winckler Balen, Rodrigo Schütz,
Elizabeth
Martins
Hermes,
Diva
Sonaglio;
Geny
Aparecida
Cantos..................................................23
DADOS
PRELIMINARES
DO
“PROGRAMA
DE
PSICOLOGIA
CONSULTA ÚNICA PRELIMINARY
[Data
of
the
“psychology
only
consultation
program]
Rachel
Schlindwein-Zanini;
Cláudio
José
Amante;
Lilian
Tedy
Pereira……………...............................31
ATENÇÃO
À
SAÚDE
DO
ADOLESCENTE:
ESTUDO
DO
CONTEXTO SOCIAL ENVOLVENDO
PROJETOS E PROGRAMAS EM UMA
COMUNIDADE
DE
FLORIANÓPOLIS/SC [Teenagers health
care: study of social context involving
projects and programs in a community
from Florianópolis/SC] Thaís Titon de
Souza; Monica Barreto; Leandro Ribeiro
Molina; Maria Fernanda Cabral; Viviane
Hultmann Nieweglowski; Marco Aurélio
Da Ros.................................................36
A HUMANIZAÇÃO DA ATENÇÃO
NUTRICIONAL
A
PARTIR
DA
READEQUAÇÃO DE HORÁRIOS DE
REFEIÇÕES HOSPITALARES
[The
humanization of nutritional care through
adequation of hospital meal schedules]
Thaís Titon de Souza; Anete Araújo de
Sousa...................................................44
Normas Editoriais.................................51
Revista Ciências da Saúde
Editorial
Prezado Leitor,
Os sonhos são muito importantes para que a gente
tenha esperanças e perspectivas futuras na realização pessoal
bem com na vida profissional. É por este motivo que estamos
divulgando neste editorial a poesia “Não fossem os Sonhos”,
de Cissa de Oliveira, Doutora em Genética e Biologia
Molecular pela UNICAMP.
Se não fossem os sonhos
as estrelas são as bolhas de sabão do céu
cristalizadas nos sonhos que a gente
não sabe que tem
não acorde os sonhos com o barulho
das máquinas erguendo casas
por onde abrigá-los
deixe-os quarando ao vento
sob a sua poeira líquida
de anil inocência
e liberte-os ao sol derretido
entre as águas límpidas
de um rio
- não fossem os sonhos
não haveria estrelas
no mar
Cissa de Oliveira.
Boa leitura!
Tânia Silvia Fröde
8
Lanzoni, G. M. M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 9-15, jan./jun. 2009
AÇÃO EDUCATIVA DE ENFERMAGEM COM ADOLESCENTES: CONHECENDO
A SEXUALIDADE. [Educative action of nursing with adolescents: knowing the
sexuality]
Gabriela Marcellino de Melo Lanzoni1; Mônica Motta Lino2; Kenya Schmidt Reibnitz3;
Vânia Marli Shubert Backes4; e Miriam Alice do Lago5.
Resumo: Atividade educativa desenvolvida por Acadêmicos do Curso de Graduação em
Enfermagem, praticada em uma escola do município de Florianópolis. Sua realização ocorreu no
período de dois meses, por meio de cinco encontros com duas turmas de alunos de 7ª série, atendidos
separadamente. Os resultados demonstraram acentuado interesse sobre sexualidade, por parte dos
adolescentes, por ser assunto pouco discutido na escola e em casa. A ação educativa fortaleceu o
vínculo entre Unidade Local de Saúde e escola.
Palavras-chave: Enfermagem, Adolescente, Sexualidade.
Abstract: Educative activity developed by Academics of the Graduation in Nursing, developed in a
school in the city of Florianópolis. This realization happened in the period of two months, in two
groups of 7 graders, who worked separately in five meetings each group. The results had
demonstrated great interest on the subject in guideline - sexuality - on the part of the adolescents, for
being a little discussed in their classes. This subject rarely discussed in their school and at houses. The
educative action fortified the bond between Local Unit of Health and the school.
Keywords: Nursing, Adolescent, Sexuality.
INTRODUÇÃO
Quando o profissional enfermeiro se
insere no campo de saúde pública,
especialmente na Unidade Local de Saúde
(ULS), é indispensável que trace o perfil da
comunidade, a partir da coleta de dados
formais (indicadores sociais) e informais
(relatos e conversas com os indivíduos
inseridos neste contexto). Levando em conta
esses dados, pode entender e desenvolver seu
trabalho com responsabilidade, gerando
maior envolvimento, facilidade para
compreender a realidade e direcionamento
em sua prática assistencial.
A partir desta lógica no campo de
trabalho, é importante também que os
acadêmicos de enfermagem desenvolvam
esta habilidade durante a sua formação, em
atividade prática orientada, com o intuito de
formar profissionais com maior preparo e
qualificação.
Como proposta de ensino e atuação
no campo da saúde coletiva, um grupo com-
_____________________________
1
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa
Catarina. Bolsista CNPq. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração de Enfermagem e Saúde
(GEPADES/UFSC). Endereço: Rua Jomilda Carmargo da Cunha, n.237, apto101, Bl A, Kobrasol, São José
(SC) – Brasil. E-mail: [email protected]
2
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa
Catarina. Bolsista CNPq. Membro do Grupo de Pesquisas em Educação em Enfermagem e Saúde
(EDEN/UFSC). E-mail: [email protected]
3
Drª em Enfermagem. Profª Titular Deptº Enfermagem UFSC. Membro do Grupo de Pesquisas em Educação
em Enfermagem e Saúde - EDEN/PEN/UFSC. Vice - diretora do Centro de Ciências da Saúde - CCS/UFSC. Email: [email protected]
4 Drª em Enfermagem. Profª Adjunta Depto Enfermagem UFSC. Diretora de Educação ABEN/SC.
Coordenadora do Grupo de Pesquisas em Educação em Enfermagem e Saúde – EDEN/PEN/UFSC. Vicecoordenadora Pós-graduação em Enfermagem da UFSC. E-mail: [email protected]
5
Mestre em Saúde Pública - UFSC. Enfermeira Sanitarista do CAPSi – Centro de Atenção Psicossocial Infantil
da Secretaria Municipal da Saúde de Florianópolis/SC. E-mail:[email protected]
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Lanzoni, G. M. M. et al.
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posto por dez acadêmicos de graduação em
enfermagem por dez acadêmicos de
graduação em enfermagem da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC)
desenvolveu uma atividade educativa
durante seu período de estágio na ULS, na
disciplina Enfermagem na Atenção Primária
de Saúde – INT5131, durante a quarta fase
da graduação. Para tanto, as autoras deste
relato buscaram apoio na literatura específica
e levantamento de dados objetivos e
subjetivos sobre a comunidade e a ULS a
qual foram desenvolvidas as atividades, para
discussão, reflexão e construção de um
diagnóstico da realidade encontrada.
Entendemos que a territorialização é
indispensável
para
caracterizar
a
comunidade. Por meio da interpretação dos
indicadores
sócio-econômicos,
populacionais, culturais e de nível de saúde,
visa traçar um perfil e mapear a área de
abrangência da Unidade Local de Saúde.
Para tanto é necessário efetuar o diagnóstico
da comunidade, que consiste em investigar o
contexto geral no qual está inserido, em
busca de deficiências, fragilidades e
necessidades, com o intuito de propor
possíveis soluções1.
Assim sendo, o plano de ação, ou
seja, a atividade educativa escolhida para
trabalhar no período de estágio na ULS foi
pautada na “Sexualidade na Adolescência”,
realizada com alunos da sétima série, em
uma escola pública de ensino fundamental.
Orientar, desenvolver e discutir questões
sobre este assunto foi, de fato, relevante
levando-se em consideração a análise dos
indicadores da comunidade assistida e por se
tratar de um tema atual, crescente e
preocupante. A prática educativa é cabível
dentro deste contexto, sendo que faz parte
das ações de enfermagem no que tange à
promoção de saúde.
Educação em saúde nas escolas e na
ULS trata-se de uma atitude da Enfermagem
inerente ao cuidado integral ao ser humano.
“As discussões envolvendo o cuidar
associado ao educar, podem ser vistas como
extremamente convenientes e saudáveis, haja
vista, a importância de se trabalhar estes dois
conceitos de maneira integrativa. Cuidar e
educar são ações inerentes ao ser humano, e,
por conseguinte, intrínsecas aos profissionais
da área da saúde. Neste aspecto, a articulação
entre cuidar e educar é o arcabouço para o
exercício do desenvolvimento profissional
em saúde, versando entre outros aspectos, os
saberes de forma criativa, estética, ética,
política e técnica”2:609.
Plano
de
adolescência
ação:
sexualidade
na
A partir dos dados coletados por meio
dos indicadores estatísticos, discussão com
moradores e trabalhadores do bairro, se
identificou que gravidez na adolescência é
um tema que preocupa tanto moradores da
comunidade quanto profissionais da ULS.
As modificações corporais, durante a
adolescência, despertam novos desejos,
sentimentos, medos e ansiedades. Nesta
etapa iniciam-se os namoros. Tudo muda
muito rápido, tão rápido que é difícil
adaptar-se a essas transformações, o que gera
insegurança.
Sabe-se que os adolescentes, no
mundo inteiro, estão começando a vida
sexual cedo, o que os deixa expostos a riscos
como o de uma gravidez indesejada ou de
contrair doenças sexualmente transmissíveis
(DST). A orientação e a informação podem
minimizar os riscos e ajudar o adolescente a
viver essa etapa com menos dúvidas e medo,
permitindo, assim, um crescimento saudável
e feliz.
Os objetivos da ação educativa foram
orientar, desenvolver e discutir sobre
sexualidade na adolescência com os
adolescentes, oportunizando momentos de
reflexão, de trocas e crescimento dos
estudantes, acadêmicos e dos profissionais
da ULS envolvidos.
Os sujeitos: Duas turmas de
adolescentes que freqüentam a 7ª série de
uma escola pública de ensino básico,
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Lanzoni, G. M. M. et al.
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somando 50 estudantes, com faixa etária
entre 13 e 17 anos.
As parcerias estabelecidas: Os
profissionais da Unidade Local de Saúde
estimularam e apoiaram a ação educativa
fornecendo materiais didáticos (folder,
canetas,
mostruário
de
métodos
contraceptivos, caixa de planejamento
familiar...) e ainda, camisinhas masculinas
para distribuição entre os estudantes. Uma
Agente Comunitária de Saúde auxiliou a
ação, favorecendo o vínculo entre a direção
da escola e acadêmicas de enfermagem. A
equipe de Residência em Saúde da Família
demonstrou interesse no trabalho, sendo que
uma assistente social e uma psicóloga desta
puderam contribuir com as atividades
durante alguns encontros.
A escola apoiou prontamente, a
diretora, juntamente com a pedagoga da
instituição, disponibilizam horários de aula
para a execução das atividades, bem como
amplo ambiente, iluminado, com carteiras,
tapetes, quadro e colchonetes. Houve apoio
de alguns professores que inclusive
participaram do trabalho, mas também houve
resistência de outros, se configurando na
dificuldade em liberar os adolescentes dos
horários de aula para participarem das
atividades.
Metodologia
Optou-se por trabalhar com esta
escola, por ser referência na região, dada sua
maior abrangência de casos de gestação na
adolescência e DST referidos, bem como
preocupação e empenho por parte da direção
e orientação da escola em resolver a situação
exposta.
As turmas escolhidas foram duas
turmas de 7ª série, onde a questão
sexualidade é bastante conveniente, dada a
abrangência de faixa etária (13 a 17 anos) e
por ser uma turma que tem mais um ano
ainda na escola (8ª série), possibilitando a
continuidade do trabalho por outros
profissionais da ULS que demonstrarem
interesse.
Foram realizados cinco encontros
com os estudantes, com duração de duas
horas aula cada, ou seja, 100 minutos, no
mês de setembro de 2005. As turmas foram
atendidas separadamente. Os dias de
encontro foram alternados, para não ocupar a
mesma disciplina caso fosse fixado um dia
na semana.
Iniciou-se o estudo com uma pesquisa
por meio da aplicação junto aos estudantes,
de um questionário estruturado, visando
traçar um rápido perfil desses adolescentes e
identificar o interesse da população em
questão sobre a proposta. Assim, seria
possível focar a atenção nos pontos que se
mostrassem mais frágil, bem como interesses
de abordagens que os adolescentes
manifestassem. A ação educativa visou
oficinas, num ambiente descontraído o
suficiente para discutir temas sobre
sexualidade (que ainda é um tema
constrangedor e pouco abordado), tendo
como ponto de partida o perfil dos
adolescentes conforme resultados do
questionário e esclarecer dúvidas que forem
surgindo com o decorrer das atividades
realizadas, a serem descritas.
Por se tratar de uma ação educativa
desenvolvida com adolescentes, este trabalho
seguiu os trâmites necessários em respeito às
normas éticas previstas para ações com seres
humanos. Os pais dos adolescentes
autorizaram a participação dos filhos na ação
educativa por meio do setor de orientação
educacional da escola, bem como houve
autorização formal da instituição para
desenvolver a atividade.
Antes de cada atividade, foi entregue
um roteiro com o planejamento, descrição,
objetivo e justificativa das ações para o
professor e a direção da escola, bem como
uma cópia para a ULS.
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Lanzoni, G. M. M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 9-15, jan./jun. 2009
Relatando o processo educativo
a) A apresentação: primeiro encontro
O primeiro contato com os alunos foi
iniciado com uma dinâmica de apresentação,
feita em círculo, para que houvesse um maior
entrosamento entre todos os envolvidos. A
opção de trabalhar em círculo partiu da
experiência vivenciada anteriormente pelas
acadêmicas, em sala de aula. Há um
princípio figurativo de que no centro do
círculo há um objetivo que todos temos em
comum. A distância para alcançar este
objetivo, almejado coletivamente, é a mesma
de qualquer membro no círculo e que
devemos construir maneiras para atingir o
objetivo, em grupo, além de possibilitar que
todos se olhem e se respeitem independente
do posicionamento na sala. Esta foi a idéia
trazida ao grupo nesta dinâmica.
Este propósito vem ao encontro da
idéia de que “não há um que sabe e outro que
não sabe, mas dois que sabem coisas
distintas”3:13 e, além disso, que é importante
a troca de informações e experiências, onde
não há um que ensina e um que aprende, mas
dois que crescem juntos por meio de
educação dialogada e participativa.
Na dinâmica, o primeiro estudante
falou seu nome. O segundo estudante falava
o nome do primeiro e o seu próprio. O
terceiro falava o nome do primeiro, do
segundo e o seu nome e assim por diante até
que todos tenham se apresentado. O objetivo
é que com a repetição dos nomes eles se
sintam mais valorizados e mais facilmente
lembrados.
Após a apresentação de todos, a ação
educativa foi explicada para os adolescentes:
como seria conduzida e qual eram o objetivo
desta e, então, o instrumento inicial
(questionário) foi aplicado para traçar o
diagnóstico situacional de cada turma no que
tange a sexualidade. Dos 50 adolescentes que
compuseram as duas turmas, participaram
desta atividade 36 adolescentes, pois 14
deles estiveram ausentes.
Do total de participantes, 16 eram do
sexo feminino e 20 do sexo masculino, os
quais relataram que para falar sobre sexo, a
maioria, 71,25% dos sujeitos, escolhe falar
com os amigos, já 52,5% escolhem os pais,
40% dos participantes conversam com o (a)
namorado (a) e 38,25% dos adolescentes não
falam sobre o assunto.
Quando questionados se sabem o que
fazer para não engravidar, todos os
participantes
do
sexo
masculino
responderam que sim, já 6,25% das
adolescentes não responderam, denotando
uma lacuna no conhecimento acerca do tema.
Todos os sujeitos do sexo masculino
responderam que tem conhecimentos sobre
os métodos para evitar a gravidez; no
entanto, observa-se que 10% deles já
possuem filhos.
A atividade sexual foi iniciada por
55% dos sujeitos do sexo masculino, dentre
o grupo do sexo feminino 87,5% ainda não
teve experiência sexual, 6,25% já iniciaram e
6,25% não responderam.
Do grupo que já teve experiências
sexuais, 100% dos sujeitos do sexo feminino
e 50% do masculino usam camisinha sempre,
15% usa às vezes e 35% nunca usam.
Também foi questionado se já
pensaram em fazer um aborto. Sobre isso,
93,75% dos sujeitos do sexo feminino
responderam que não, e 6,25% não
responderam. Os participantes do sexo
masculino, em sua maioria (75%), também
não pensaram em incentivar ao aborto, sendo
que 5% responderam que já pensaram e 20%
não responderam.
Quanto
aos
cuidados
pessoais
femininos e orientação mais especializada,
questionamos se já foram se consultar com
um ginecologista. Do grupo do sexo
feminino 25% já foram e 75% ainda não. E
ao
questionarmos
acerca
do
conhecimento/controle do ciclo menstrual,
62,5% das adolescentes responderam que
sim e 37,5% informaram que não.
Estes dados serviram de balizadores
para o planejamento de nossas atividades,
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Lanzoni, G. M. M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 9-15, jan./jun. 2009
ficando estabelecidos os seguintes temas a
serem discutidos: Conhecendo o nosso
corpo, Sexualidade e sexo, Doença
Sexualmente Transmitida e Saúde e, por fim,
Métodos contraceptivos.
b) Conhecendo o nosso corpo: segundo
encontro
O objetivo desta atividade, no
segundo encontro, foi o de reconhecer como
os alunos em questão percebiam as
modificações que ocorreram e estão
ocorrendo em seu corpo físico, assim como
observar se havia constrangimento em falar
sobre este assunto, já que meninos e meninas
estavam juntos nesta atividade. A atividade
foi desenvolvida da seguinte forma: foi
incumbido a cada um que se desenhasse
como bebê e depois, como se vê agora –
como adolescente. Em seguida eles fizeram a
comparação do antes e do depois/agora e
foram discutidas as mudanças que ocorreram
em seu corpo, como eles vêem essas
mudanças e o porquê dessas modificações. A
atividade transcorreu de maneira tranqüila e
os objetivos propostos pela equipe foram
alcançados. As turmas participaram de forma
satisfatória, embora duas alunas de uma das
turmas se isolaram um pouco do restante por
se mostrarem pouco à vontade com o tema.
Vale lembrar que todos tinham total
liberdade em querer ou não participar das
oficinas.
c) Sexualidade e sexo: terceiro encontro
O objetivo desta atividade foi
estimular a discussão sobre elementos
importantes da sexualidade e sexo de um
modo lúdico por meio de um jogo de cartas,
e também conhecer o ponto de vista dos
adolescentes sobre os assuntos.
O jogo constituiu-se das seguintes etapas:
 Distribuíram-se cartas contendo as
perguntas/afirmações: “Sêmen é a
mesma coisa que espermatozóide”;
“Mulheres que já menstruam podem
ter filhos”; “Só meninos se
masturbam”; “A transmissão da
AIDS só acontece pela relação
sexual”; ”Meninas também podem
usar camisinha e é a mesma que os
meninos usam”; “Sexo é uma coisa
feia”; “A menstruação acontece por
causa de hormônios”; “Ovulação é a
mesma coisa que menstruação”; “A
camisinha serve apenas para prevenir
gravidez”; “A ejaculação é a saída do
sêmen devido a um estímulo sexual”;
“Na adolescência surgem espinhas e
cravos”; “Sexo oral pode transmitir
doenças”; “Quanto tempo leva para
nascer um bebê?”; e, “Para que serve
o anticoncepcional?”;
 Cada participante iniciou com uma
ou duas cartas;
 Com o lado escrito virado para si, o
iniciante pediu ao colega da
direita/esquerda que a lesse sem saber
qual mensagem estava contida na
carta;
 Esta pessoa leu a mensagem em voz
alta, discutiu se estava “certo/errado”;
caso não soubesse a resposta, as
facilitadoras esclareceram;
 O jogo continuou até que todas as
cartas foram lidas e esclarecidas;
 Ganhou um brinde quem respondeu
corretamente.
Esta atividade foi avaliada como
muito produtiva e gerou boas discussões,
todos participaram com bastante interesse e
atenção, várias dúvidas foram esclarecidas e
a partir desta atividade também foram
selecionados os temas dos encontros
seguintes: DST e prazer na relação sexual.
d) Doença Sexualmente Transmitida e
Saúde: Quarto encontro
O objetivo desta oficina foi realizar
uma atividade lúdica de forma a fornecer
informações, discutir, saber se já existia
contato prévio dos estudantes com o
conteúdo, conhecer as opiniões e
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Lanzoni, G. M. M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 9-15, jan./jun. 2009
manifestações a respeito das seguintes DST:
gonorréia, clamídia, sífilis, HPV e cancro
mole, utilizando como estratégia uma
Gincana.
A atividade lúdica consistiu em uma
gincana na forma de circuito integrado. A
turma foi dividida em cinco subgrupos. Cada
subgrupo possuía um moderador (acadêmica
de enfermagem) que apresentou um cartaz
contendo imagens de uma doença
sexualmente transmissível. Nesta etapa os
adolescentes puderam manifestar suas
opiniões a respeito das doenças, livres para
escrever no cartaz, bem como dirimir suas
dúvidas em relação ao assunto.
Num segundo momento do circuito,
cada moderador (responsável por uma DST)
esclareceu as dúvidas, orientou e transmitiu
noções sobre cada uma das DST debatidas.
Após
um
determinado
tempo,
os
moderadores alternavam-se nos grupos de
modo que todos pudessem trabalhar cada
uma das DST abordadas.
Foi planejada uma segunda etapa que
consistia numa gincana intitulada “Gincana
DST x Saúde”, contendo perguntas e
respostas, e também uma Palavra Cruzada
conforme planejamento das atividades, mas
devido ao pouco tempo não foi possível
realizá-la.
e) Métodos
encontro
Contraceptivos:
Quinto
O objetivo desta oficina foi realizar
uma atividade lúdica, de forma a fornecer
breves noções sobre o uso e eficácia dos
métodos contraceptivos existentes, dentre
eles: camisinha masculina e feminina,
diafragma, espermicida, contraceptivos
hormonais (pílula e injetável), DIU
(dispositivo intra-uterino) e métodos
comportamentais
(tabelinha
e
coito
interrompido).
Outro objetivo da atividade consistia
em estimular os adolescentes ao uso dos
métodos conteraceptivos de modo a
promover a prevenção de DST e gravidez
não planejada.
A metodologia empregada foi a
formação de pequenos grupos, no total de
seis equipes com média de três e quatro
adolescentes
cada.
Esses
subgrupos
possuíam um moderador (acadêmica de
enfermagem) que tratava de um método
contraceptivo específico.
Nessa oportunidade, os adolescentes
dirimiam suas dúvidas a respeito dos
principais métodos abordados, possibilitando
discussão sobre os temas. Cada equipe – por
meio dos próprios adolescentes - repassou as
informações a respeito de seu método
contraceptivo ao grande grupo. Essa
atividade foi realizada de forma que envolvia
a todos. Ao término da explicação de cada
equipe surgiam aplausos e incentivos gerais.
O clima alegre e descontraído era
contagiante e favoreceu a troca recíproca de
conhecimentos e experiências vividas.
Pode-se perceber que a divisão em pequenos
grupos para a realização das atividades
lúdicas em questão, favoreceu, e muito, a
aproximação com os alunos, com suas
dúvidas, com seus questionamentos e
contribuiu
sobremaneira
para
o
estabelecimento de um vínculo, de certo
modo até mesmo afetivo, que aperfeiçoou o
aprendizado.
Nesta última atividade foi realizada
também avaliação das atividades aplicadas
através de uma dinâmica de grupo da
seguinte
forma:
cada
aluno,
sem
identificação, escrevia em um pequeno papel
sua opinião sobre as atividades até então
realizadas, sendo que era oportunizada,
também, a possibilidade de realizar
quaisquer perguntas sobre o tema e eventuais
críticas. Cada aluno recebia uma bexiga
(balão), onde colocava o seu papel contendo
seu relato. Em seguida os balões eram
jogados para cima e depois misturados.
Todos estouravam os balões e recolhiam um
papel aleatoriamente. Fizemos um grande
círculo onde cada aluno lia o relato descrito
no papel recolhido, dos quais destacamos:
14
Lanzoni, G. M. M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 9-15, jan./jun. 2009
Achei
essa
aula
hoje
muito
interessante e legal. Porque eu aprendi
muitas coisas que eu não sabia
principalmente como tomar pílula.
(Estudante 05)
Eu achei que foram os dias mais
importantes de minha vida. Eu agora
tenho certeza que daqui para frente eu
vou saber e posso ensinar para os
outros que não é muito bom
engravidar antes de ter um futuro. E eu
até aprendi a perder a vergonha,
porque eu tinha que falar na frente. Eu
quero dizer que essas meninas são um
exemplo a todas aquelas que pensam
em ter filho ainda nova, elas
ensinaram um futuro para nós.
(Estudante 12)
vínculo de confiança entre o grupo para que
fossem discutidas abertamente as temáticas
sem constrangimento. Isso enriqueceu as
discussões, sendo que a troca de informações
mostrou-se espontânea e bastante produtiva,
promovendo a aprendizagem significativa.
Os
adolescentes
demonstraram
interesse nos conteúdos abordados, por ser
um tema que, como foi relatado por alguns,
não é abertamente discutido em casa e na
escola. O resultado da atividade fortaleceu e
favoreceu a melhoria da qualidade de vida
dos adolescentes da comunidade, sendo
ressaltada ao final, a importância da
continuidade do trabalho e a participação de
outros profissionais da Unidade Local de
Saúde junto à comunidade escolar,
estimulando a educação, promoção e
prevenção em saúde.
Eu gostei muito porque foi muito Referências
importante, pois essas coisas não são
mostradas em casa e nem faladas. 1. Verdi M, Bohes AE, Zampieri MFM.
Achei vocês muito legais e espero que
Enfermagem na atenção primária de
vocês voltem. (Estudante 03)
saúde: textos fundamentais. Florianópolis:
Ressalta-se
ainda
que
alguns
Editora da UFSC; 2005.
valorizaram o preparo e a criatividade na 2. Ferraz F, Backes VMS, Silva LAA, Silva
elaboração dos encontros, despertando o
LWS, Reibnitz KS. Cuidar-educando em
interesse e conseqüentemente estimulando a
Enfermagem: passaporte para o
aprendizagem significativa.
aprender/educar/cuidar em saúde. Revista
Brasileira de Enfermagem. 2005;58:607Reflexões sobre a prática educativa
10. Disponível em URL:
http://www.scielo.br/pdf/reben/v58n5/a20
Conforme especificado no plano de
v58n5.pdf. Acesso em: set 2008.
ação, ao final do estágio, o objetivo geral da 3. Briceño-León R. Siete tesis sobre la
ação educativa em saúde foi alcançado.
educación sanitaria para la participación
Percebeu-se a aprendizagem dos
comunitaria. Caderno de Saúde Pública.
conteúdos, sendo permitido visualizar isso a
1996;12:7-30. Disponível em URL:
partir do momento em que os estudantes
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010
eram instigados a apresentarem o que
2aprenderam aos seus colegas e por meio dos
311X1996000100002&script=sci_arttext.
relatos do último encontro. A participação e
Acesso em: out de 2008.
a colaboração de todos foi o destaque desta
proposta
educativa,
ressaltando
a
importância das ações em parceria.
As oficinas foram realizadas como na
proposta inicial: ambiente confortável para
abordar temas delicados, de forma a criar um
15
Bottan, E. R. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 16-22, jan./jun. 2009
PERDAS DENTÁRIAS: CAUSAS, IMPACTOS E EXPECTATIVAS DE PACIENTES
DAS CLÍNICAS DO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIVERSIDADE DO VALE
DO ITAJAÍ – UNIVALI. [Tooth loss: causes, impacts, expectations of patients at the
clinics of the Dentistry course of the University of Vale do Itajaí (SC) – UNIVALI].
Elisabete Rabaldo Bottan1; Luciane Campos2; e Constanza Marín de Los Ríos
Odebrecht3.
Resumo: O objetivo desta pesquisa foi conhecer as causas e os impactos de perdas dentárias, bem
como expectativas com relação ao tratamento restaurador, para pacientes adultos, das clínicas do
curso de Odontologia da UNIVALI. O instrumento para coleta de dados foi uma entrevista
estruturada. A análise dos dados foi por meio da análise de conteúdo de Bardin. A principal causa
apontada foi a cárie em decorrência do modelo hegemônico de atenção à saúde bucal. Os principais
impactos decorrentes da perda dentária foram funcionais e estéticos. Quanto às expectativas, todos
esperam restabelecer suas funções de forma a levar uma vida mais saudável.
Palavras-chave: Qualidade de Vida, Reabilitação Bucal, Serviços de Saúde Bucal.
Abstract: The objective of this research was to know the meanings of tooth loss and expectations
with respect to restorative treatment for adult patients assisted at the clinics of the course of Dentistry
of UNIVALI. The instrument for data collection was a structured interview. Data analysis was
performed by the technique of content analysis of Bardin. The main cause of tooth loss was the
cavities in the hegemonic model of oral health. The impacts current of tooth lost were functional and
esthetics. As for expectations, all hope of restoring its duties to lead a healthier life.
Keywords: Quality of Life; Mouth Rehabilitation; Oral Health; Dental Health Services.
Introdução
De acordo com os dados do
levantamento epidemiológico brasileiro - SB
2003 - realizado em 2003, o CPO-D médio
para a faixa etária de 35 a 44 anos foi de 20,1
e de 27,8 para a faixa etária de 65 a 74 anos.
Além de ser um índice extremamente alto,
revelando uma baixa qualidade de saúde
bucal, destaca-se que o dente perdido é o
fator que mais influencia na determinação
dessa baixa qualidade1.
Na área odontológica, a utilização de
dados clínicos, tais como o número de dentes
cariados, restaurados e perdidos, necessidade
de prótese, para diagnosticar as condições de
saúde, ainda é priorizada. No entanto, esses
achados são limitados, pois, não informam o
impacto que a condição bucal gera na
qualidade de vida dos indivíduos. Desta
forma, além da pesquisa epidemiológica, o
estudo da autopercepção é relevante, pois,
demonstra como a pessoa avalia sua
condição bucal, importância atribuída e o seu
comportamento. Contudo, até recentemente,
no campo da pesquisa clínica, pouca ênfase
foi dada à relação entre as condições de
saúde bucal e o impacto na vida das
pessoas2-4.
_____________________________
1
Mestre em Educação e Ciências. Professora das disciplinas de Trabalho de Iniciação Científica e
Pesquisadora do Grupo Atenção à Saúde Individual e Coletiva, do curso de Odontologia da Universidade do
Vale do Itajaí. Email para correspondência: [email protected]
2
Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho. Professora das disciplinas de Odontologia Social e Preventiva e
Pesquisadora do Grupo Atenção à Saúde Individual e Coletiva, do curso de Odontologia da Universidade do
Vale do Itajaí. Email para correspondência: [email protected]
3
Doutora em Periodontia; Especialista em Saúde Coletiva; Professora das disciplinas de Periodontia da
Univali e da Univille e Pesquisadora do Grupo Atenção à Saúde Individual e Coletiva da Universidade do Vale
do Itajaí. Email para correspondência: cmgeo@ terra.com.br
16
Bottan, E. R. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 16-22, jan./jun. 2009
A partir da última década, a
compreensão dos aspectos biopsicosociais
relacionados ao cotidiano dos sujeitos com
perdas dentárias e o impacto do conjunto
destes fatores sobre a qualidade de vida
destas pessoas vem sendo enfocada com
mais destaque, porque os significados
expressos pela população ampliam as
possibilidades de oferta de serviços públicos
e de sucesso dos tratamentos viabilizados4.
Diante da importância da participação
ativa do paciente, quando da recuperação por
meio
de
tratamentos
odontológicos
adequados, definiu-se como objeto desta
investigação conhecer os significados das
perdas dentárias e as expectativas com
relação ao tratamento restaurador para
pacientes adultos, em atendimento nas
clínicas do curso de Odontologia da
UNIVALI.
Métodos
A pesquisa desenvolvida caracterizase como um estudo exploratório com análise
qualitativa.
A população-alvo foi constituída
pelos pacientes adultos, que foram
selecionados por meio do serviço de triagem,
para atendimento na Clínica de Prótese do
Curso de Odontologia da UNIVALI, em
2007.
Considerando-se
a
abordagem
qualitativa adotada na análise dos dados,
definiu-se pela construção de um corpus, em
substituição
a
uma
amostragem
representativa. O corpus é delineado com
base na linguagem5 e, no caso desta
pesquisa, foi estruturado a partir de textos
obtidos com a transcrição das falas dos
sujeitos pesquisados. Assim, o número de
sujeitos entrevistados foi delimitado pela
técnica da saturação dos dados5.
Os pacientes eram abordados na sala
de espera das clínicas, quando os
pesquisadores explanavam sobre os objetivos
e procedimentos da pesquisa, solicitando,
posteriormente, a participação por livre e
espontânea vontade. Àqueles sujeitos que
aceitavam participar era entregue o termo de
Consentimento Livre e Esclarecido para
leitura e assinatura em duas vias, tendo-lhes
sido garantido o sigilo e anonimato.
O projeto de pesquisa foi, previamente,
aprovado pela Comissão de Ética em
Pesquisa da UNIVALI sob o nº 156/07.
O instrumento de coleta de dados foi
uma entrevista estruturada conduzida por
dois auxiliares de pesquisa, que foram
treinados para o desenvolvimento da
entrevista. O período de coleta dos dados
ocorreu de março a agosto de 2007.
A entrevista foi organizada em três
blocos; o primeiro tinha por objetivo
caracterizar o entrevistado quanto ao gênero,
idade, grau de escolaridade e situação
clínica. O segundo enfocou as causas da
perda dental e o impacto na vida destes
sujeitos; e, o terceiro abordou as expectativas
quanto ao tratamento reabilitador a que seria
submetido.
A análise dos dados foi efetuada
mediante a técnica de análise de conteúdo de
Bardin6,
cujos
procedimentos
foram
desenvolvidos em três etapas: pré-análise,
exploração do material e tratamento dos
resultados e interpretação.
Na pré-análise, procedeu-se à leitura
exaustiva da transcrição das falas dos
entrevistados
para
identificação
das
categorias de análise. Ao se proceder a
transcrição
das
falas
dos
sujeitos
pesquisados, manteve-se literalmente a
estrutura das falas, daí porque, quando da
apresentação de trechos destas falas, o leitor
irá se deparar com uma linguagem coloquial.
As categorias e subcategorias foram préestabelecidas com base na literatura
revisada3,4,7,8.
A etapa de exploração do material
consistiu no recorte das falas em frases
(unidades de registro) que expressavam as
diferentes categorias. As unidades de registro
foram, então, agregadas por categoria e
respectivas subcategorias.
A fase de tratamento e interpretação
17
Bottan, E. R. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 16-22, jan./jun. 2009
dos resultados consistiu na produção do texto
síntese com base na literatura analisada2-4,719
.
Resultados
O grupo de entrevistados ficou
constituído por 48 sujeitos, quando ocorreu a
suspensão
da
inclusão
de
novos
participantes, pois, na avaliação dos
pesquisadores, já estava acontecendo
redundância de informações, não justificando
a inclusão de mais sujeitos5.
A maioria dos entrevistados era do
gênero feminino (63%), com idades que
variaram de 31 a 78 anos, sendo a faixa
etária de 51 a 60 anos a mais frequente
(40%).
CATEGORIAS
Causas das perdas
dentárias
A baixa escolaridade foi outra
característica encontrada no grupo, pois,
62,5% possuíam, apenas, primeiro grau
(completo ou incompleto).
A maioria (57,5%) procurou o
serviço da clínica para reabilitar a região
inferior (mandíbula). Quanto ao uso de
próteses, 61,9% utilizavam algum tipo de
prótese há vários anos, sem, no entanto,
qualquer procedimento de proservação.
Com relação à análise das causas e
impactos das perdas dentárias e expectativas
com relação ao tratamento restaurador, os
resultados obtidos foram expressos segundo
as frequencias relativas das subcategorias de
análise, conforme figura 1.
SUBCATEGORIAS
*Modelo hegemônico de atenção à saúde/Falta de acesso aos
serviços
*Falta de informação sobre hábitos e modos de vida saudável
Problemas com:
Impactos decorrentes
das perdas dentárias
Expectativas quanto ao
tratamento reabilitador
*Mastigação
*Mastigação estética
*Mastigação, Estética e Relacionamento Interpessoal
*Recuperação da auto-estima, melhora das relações interpessoais e melhora da mastigação
*Melhora da mastigação
%
69
31
56
21
23
42
58
Figura 1: Frequência das categorias/subcategorias de análise
Discussão
Para organização da discussão dos
resultados obtidos nesta pesquisa, com o
intuito de favorecer a leitura, estruturou-se o
texto segundo as três categorias de análise
(causas das perdas dentárias; impactos
decorrentes
das
perdas
dentárias;
expectativas
quanto
ao
tratamento
reabilitador).
Causas das perdas dentárias atribuídas
pelos pesquisados
As causas mais comuns do
edentulismo são atribuídas à cárie dental e à
doença periodontal. No entanto, a instalação
destas doenças, geralmente, está relacionada
a situações psicológicas, sociais e
econômicas abrangentes, tais como: falta de
programas de saúde bucal, fatores
econômicos, culturais e iatrogênicos, acesso
18
Bottan, E. R. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 16-22, jan./jun. 2009
aos serviços de saúde bucal e atitude em
relação aos cuidados dentários3,4,7-12.
E, entre os sujeitos desta pesquisa,
esta foi a situação identificada, pois a
maioria vinculou suas perdas dentárias à dor
determinada pela doença cárie, mas tal
condição sempre era justificada em
decorrência do modelo hegemônico de
atenção à saúde e à falta de informação sobre
hábitos e modos de vida saudável, que era
muito frequente, e até aceita, à época da
infância e adolescência destes sujeitos. Estas,
também, foram causas identificadas em
outras pesquisas7,8,10,11,13-15.
Algumas das falas dos pesquisados
que traduzem estes aspectos, estão a seguir
transcritas.
A genti morava no interior. Aqueles
anos em vez do dentista arrumar ele tirava.
Os dentistas não eram instruído naquela
época prá preservá os dentes. Qualquer
problema nos dente o dentista arrancava.
(S4, mulher, faixa etária de 51 a 60 anos)
Fui arrancando ... Quando a gente
era pequeno o dente doía e o pai levava para
arrancar. A gente não tinha condição de
pagá o tratamento. (S32, mulher, faixa etária
de 31 a 40 anos)
Antigamente era assim. Os dentes
estragados o dentista arrancava. A genti não
dava valor pros dentes. Doía, extraía ... era
sempre assim. (S9, homem, faixa etária de
41 a 50 anos)
No passado, a prática odontológica
mutiladora era hegemônica, em especial nos
serviços públicos, a qual se manifestava pela
realização, em massa, da exodontia como
procedimento de solução para a dor. A
confirmação desta afirmativa dá-se pelo alto
índice de sujeitos edêntulos (parciais ou
totais), na faixa etária adulta, conforme
dados do Projeto SB Brasil 20031,8,12,13,16.
A falta de informação sobre o
autocuidado e a higiene adequada foi
frequentemente apontada pelos sujeitos
integrantes
desta
pesquisa.
Muitos
expressaram que as extrações dentárias a que
foram submetidos refletem suas atitudes
quanto aos cuidados que deveriam ter tido
para com a boca. Muitos responsabilizaram a
si próprios, ou aos seus pais, atribuindo ao
relaxamento, à má-higiene, ao medo do
dentista, que os fazia fugir da consulta
odontológica, procurando-a somente em
situação de dor extrema. Algumas das falas
que expressam estes sentimentos foram, a
seguir, destacadas.
(...) A gente só se arrepende de não
ter arrumado, de não ter cuidado... Se eu
tivesse escovado o dente quando era
pequena, com quatro, cinco anos... A mãe
tem que ficar em cima pra escová... (S39,
mulher, faixa etária entre 31 e 40 anos)
Depois que eu perdi que eu dei valor
... eu não sabia como cuidá ... então deu
nisso. (S20, homem, faixa etária de 50 a 60
anos)
Perdi porque era relaxado, não dava
valor prá essas coisas de que tem escová
direitinho, como hoje se ensina já prás
crianças. (S6, homem, faixa etária de 60 ou
mais anos)
Perdi pelo cigarro, a doçura que eu
comia e também pelo relaxamento. (S19,
homem, faixa etária de 41 a 50 anos)
A importância de um processo
educativo que oriente e estimule a adoção de
comportamentos saudáveis é fundamental
para o alcance e manutenção de uma boa
qualidade de vida12,13. O reconhecimento de
que o processo educativo é fundamental à
promoção da saúde só assumiu dimensões
significativas, no Brasil, a partir da
implantação do Sistema Único de Saúde
(SUS), ou seja, no final da década de 1980.
As diretrizes do SUS puseram em cheque os
modelos de atenção à saúde em vigência. E,
mais recentemente, a Política Nacional da
Saúde Bucal1 enfocou a necessidade da
reorganização da atenção à saúde, em todos
os níveis, e apontou a linha do cuidado como
eixo norteador para a mudança. No entanto, a
reversão da realidade quanto aos níveis de
condição da saúde bucal dos brasileiros é um
processo em construção, portanto, ainda,
vamos nos deparar com quadros de perdas
19
Bottan, E. R. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 16-22, jan./jun. 2009
dentárias em virtude do sistema de atenção à
saúde que é disponibilizado à população.
Impactos da perda dentária para os
pesquisados
As perdas dentais ocasionam, além de
deficiências funcionais e estéticas, o
desequilíbrio dos componentes do sistema
estomatognático. O edentulismo acarreta
consequências
físicas
e
fisiológicas
importantes, tais como: redução do tônus da
musculatura, produzindo deformação da
face, dificuldades com a fala, deglutição e
mastigação, o que, por sua vez, compromete
o início do processo digestivo. Além das
dificuldades de natureza orgânico-funcional,
as questões de estética e de relacionamento,
também, podem decorrer com as perdas
dentárias e a não reabilitação adequada7-11,1315,17
.
A dificuldade para mastigar, assim
como os aspectos estéticos, foi muito
destacada pelos pesquisados. Todos se
reportaram a problemas para realizarem a
mastigação e a conseqüente mudança de
hábitos alimentares e/ou impactos sobre o
processo de digestão. Mastigar e sentir o
gosto dos alimentos são essencialmente
prazerosos e emocionalmente necessários
para o bem-estar do indivíduo e de sua
qualidade de vida3, percepções estas
identificadas nas seguintes falas dos sujeitos
que integraram esta pesquisa.
A mastigação ficou difícil. Parece
que se perde um pouco do gosto dos
alimentos. (S36, homem, faixa etária entre
41 e 50 anos)
A alimentação é difícil. Prá mastigá
dói e muito. Aí a genti vai deixando de
comer muita coisa. (S 2, mulher, faixa etária
entre 31 e 40 anos)
(...) dependendo da comida a genti
mastiga a gengiva ... uma carne assada não
dá porque machuca. (S30, mulher, faixa
etária de 51 a 60 anos)
sentimentos de insegurança, impotência e
vazio. Ter uma boca com dentes é uma das
formas de o sujeito se apresentar de acordo
com os padrões desejados pela sociedade,
portanto, a falta dos dentes é uma ameaça à
identidade individual, social e familiar,
fazendo com que a pessoa se retraia,
acarretando
dificuldades
quanto
ao
relacionamento interpessoal. A boca
desdentada adquire significados que são
interdependentes de fatores históricos,
sociais, culturais, psicológicos e fisiológicos
3,7-9,12,13,18
.
Entre os relatos dos entrevistados,
encontramos alguns que revelam os impactos
estéticos e de relacionamento interpessoal
sofridos, como os que destacamos a seguir.
Meu Deus! ... um processo de
mutilação, horrível! Tem horas que nem me
olho no espelho. (S22, mulher, faixa etária
entre 51 e 60 anos)
Fico com vergonha de dá risada. (S7,
homem, faixa etária 31 a 40 anos)
Prá mim é a mesma coisa que perdê
um braço, um membro da genti ... (S21,
homem, faixa etária 31 a 40 anos)
Fica meio ruim, perde chance de
emprego e fisicamente fica feio. (S5, homem,
faixa etária de 41 a 50 anos)
Expectativas
reabilitador
quanto
ao
tratamento
O termo qualidade de vida é frequente,
na literatura da área da saúde, sendo adotado
para definir o impacto de uma enfermidade.
A qualidade de vida só pode ser avaliada
pela própria pessoa, quando ela refere os
vários aspectos afetados por mudanças, no
seu estado de saúde, e que são significativos
para a sua qualidade de vida19. E, o que se
identificou, no grupo investigado, é que
havia uma grande expectativa de melhorarem
suas vidas em diversos aspectos, através do
tratamento reabilitador a que estavam sendo
submetidos. Alguns trechos das entrevistas
confirmam esta perspectiva alentada.
20
Bottan, E. R. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 16-22, jan./jun. 2009
Minha prótese quebrava muito,
então, agora, aqui, eu tenho a esperança de
podê mastigar direito, de ter dentes de uma
cor só, de ter saúde. (S15, homem, faixa
etária acima de 60 anos)
Eu espero melhorar a minha
comunicação. Eu falo pouco. Melhorar a
minha imagem. (S28, homem, faixa etária 50
a 60 anos)
Tudo na minha vida vai melhora. Eu
espero, tenho fé. (S18, mulher, faixa etária
51 a 60 anos)
Considerando-se que o tratamento
restaurador, por meio da prótese removível, é
uma alternativa viável para a realidade
brasileira, é necessário destacar que o
processo clínico deste procedimento depende
de um planejamento e de uma confecção
com rigor técnico, que é de responsabilidade
do cirurgião-dentista e do protético. No
entanto, além do aspecto técnico, é
fundamental, também, a participação ativa
do paciente, importante variável para o
alcance do sucesso da reabilitação oral. O
sucesso, ou o fracasso, de um tratamento,
portanto, não está vinculado somente à
capacidade técnica do profissional, mas ao
campo relacional paciente-dentista.
Uma boa relação entre paciente e
profissional é um fator que contribui para
com a motivação e o comportamento
colaborativo por parte do paciente. E, para
que ela efetivamente se estabeleça, o dentista
precisa ter uma visão integral do seu
paciente, como um ser humano. Faz-se
necessário, portanto, que ele compreenda que
os pacientes edêntulos não perdem apenas
seus dentes, juntamente com os dentes
perdem a autoconfiança, a autoestima.
A percepção destes aspectos, pelo
cirurgião-dentista,
reveste-se
de
um
importante significado, pois, uma vez que
muitos dos sujeitos associaram suas perdas
dentárias a um modelo de prática
odontológica mutiladora, que vivenciaram
durante a infância e juventude, e relataram
diferentes dificuldades a que se submeteram
em decorrência destas perdas, é
compreensível que os pacientes convivam
com um conflito de idéias. Por um lado,
almejam uma recuperação da qualidade de
suas vidas e acreditam que o dentista é o
profissional que poderá auxiliá-los nesta
conquista, no entanto, por outro lado,
provavelmente, em seu imaginário, ainda,
persista uma visão negativa do cirurgiãodentista, em virtude do paradigma da
odontologia que, no passado, desempenhou
papel importante na perda precoce de seus
dentes.
Assim, reforça-se a necessidade de que o
cirurgião-dentista deva conhecer seus
pacientes, deva saber interagir e se
comunicar, para criar uma relação
profissional-paciente satisfatória, que é
fundamental para o estabelecimento de um
vínculo de confiança e facilitar a execução
do tratamento odontológico.
Conclusão
Para o grupo investigado, as causas
de perdas dentárias foram a cárie e/ou a
doença periodontal, em decorrência do
modelo de atenção mutilador, hábitos e
autocuidado deficiente.
Como consequências, o edentulismo
levou à queixa de dificuldades na
mastigação, dificuldades de relacionamento e
alteração da estética.
Os entrevistados apresentaram uma
alta e positiva expectativa quanto ao
tratamento restaurador.
Agradecimentos
-Ao Fundo de Apoio à Pesquisa/ PróReitoria de Pesquisa, Pós-Graduação,
Extensão e Cultura da Universidade do Vale
do Itajaí, pelo apoio financeiro à execução da
pesquisa.
-A Douglas R. V. da Silva e Renato F.
Magalhães, que na condição de acadêmicos,
à época do desenvolvimento da pesquisa,
efetuaram a coleta de dados.
21
Bottan, E. R. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 16-22, jan./jun. 2009
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Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 23-30, jan./jun. 2009
FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES E SUA
ASSOCIAÇÃO COM OBESIDADE. [Risk factors for cardiovascular disease and its
association with obesity].
Michele Medeiros Silveira1; Maria da Graça Winckler Balen2; Rodrigo Schütz3;
Elizabeth Martins Hermes4; Diva Sonaglio5; e Geny Aparecida Cantos6.
Resumo: Este trabalho determina a ocorrência de fatores de risco para doenças cardiovasculares
(dislipidemia, hipertensão, diabetes e sedentarismo) e suas associações com a obesidade. Foram
atendidos 273 pacientes no setor de nutrição do Hospital Universitário em Florianópolis, entre os
meses de fevereiro e novembro de 2005. Avaliou-se: perfil lipídico, pressão arterial, atividade física e
diabetes. Estes parâmetros foram associados ao índice de massa corporal e à obesidade. Observou-se
que 46,52% dos pacientes eram sedentários, 23,44% apresentaram hipertensão, 16,12% eram
diabéticos e 49,08% apresentaram dislipidemia. A obesidade foi o fator de risco mais relevante, sendo
que 60,44% apresentaram algum grau de obesidade.
Palavras-chave: Dislipidemia, obesidade, fatores de risco.
Abstract: This study determines the occurrence of risk factors for cardiovascular disease
(dyslipidemia, hypertension, diabetes and sedentary lifestyle) and their associations with obesity. 273
patients were attended in the nutrition sector at the University Hospital, in the city of Florianópolis, in
the period from February to November, 2005. It was evaluated: the lipid profile, blood pressure,
physical activity and the diabetes. These parameters were associated to the body-mass index and
obesity. It was observed that 46, 52% of the patients were sedentary, 23,44% presented hypertension,
16,12% were diabetic and 49,08% presented dyslipidemia. The obesity was the most relevant risk
factor, where 60, 44% of the individuals presented some degree of obesity.
Keywords: dyslipidemia, obesity, risk factors.
Introdução
As últimas Diretrizes da Sociedade
Brasileira de Cardiologia classificam a
hipertensão arterial sistêmica (HAS), o
diabetes, a obesidade e as dislipidemias
como os fatores de risco (FR) mais evidentes
e importantes para doenças cardiovasculares
no Brasil1. Estas doenças guardam entre si
uma complexa relação, formando um
conjunto de doenças crônico-degenerativas
com história natural prolongada2, podendo
também apresentar associações com os
hábitos alimentares, obesidade, e a realização
de
atividades
físicas3,4. A obesidade é uma doença
metabólica crônica caracterizada pelo
acúmulo excessivo de tecido adiposo no
organismo. É de origem multifatorial,
envolvendo fatores genéticos, endócrinos,
ambientais e emocionais5. Atualmente, o
sobrepeso e a obesidade são importantes
preocupações na saúde pública mundial,
tendo alta prevalência tanto em países
desenvolvidos
como
os
em
6
desenvolvimento .
Assim, o objetivo deste estudo foi
avaliar
alguns
FR
para
doenças
cardiovasculares relacionadas com a obe-
_____________________________
1
Acadêmica do Curso de Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC
Nutricionista do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina-HU-UFSC
3
Acadêmico do Curso Pós-Graduação em Farmácia da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC
4
Farmacêutica Bioquímica do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC
5
Prof.(a) Dr.(a) do Departamento de Ciências Farmacêuticas-Centro de Ciências da Saúde da Universidade
Federal de Santa Catarina-CCS-UFSC
6
Prof.(a) Dr.(a) do Departamento de Análises Clinicas da Universidade Federal de Santa Catarina-ACLUFSC.
2
23
Silveira, M. M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 23-30, jan./jun. 2009
sidade, a fim de colher dados que permitam
uma adequada intervenção, contribuindo,
dessa forma, para a prevenção dessas
doenças na comunidade em estudo.
Métodos
Esta pesquisa foi realizada com 273
indivíduos, 187 do sexo feminino e 86 do
sexo masculino, com estágio de vida
variando entre 17 e 77 anos, no período de
fevereiro a novembro de 2005, na cidade de
Florianópolis, os quais foram atendidos na
unidade de nutrição do Serviço de
Atendimento aos Servidores e Comunidade
do Hospital Universitário da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC).
Considerou-se para este estudo o peso,
a altura, a pressão arterial, a presença de
diabetes, a dislipidemia, e a realização de
atividade física. As medidas de peso foram
obtidas com os indivíduos descalços,
trajando roupas leves e empregando-se
balanças
microeletrônicas
previamente
aferidas, com resolução de 100g. As medidas
de altura foram obtidas empregando-se
estadiômetros afixados à parede, com
resolução de 0,1cm. A pressão arterial foi
aferida uma vez com o funcionário sentado e
após repouso de aproximadamente cinco
minutos,
por
meio
de
um
esfingnomanômetro de coluna de mercúrio,
sendo que o primeiro e último ruído de
Korotkoff definiram a pressão sistólica e a
diastólica. Os valores de referências adotados
obedeceram às recomendações do Joint
National Committee VI, que define como
hipertensão arterial níveis ≥ 90 mmHg de
pressão diastólica e ≥ 140 mmHg de pressão
sistólica1. As pessoas que estavam com
pressão arterial abaixo desses níveis, mas
referiam uso de drogas anti-hipertensivas,
também foram consideradas hipertensas.
O índice de massa corporal (IMC) foi
obtido pela divisão da massa corporal, em
quilogramas, pelo quadrado da estatura em
metros (IMC = massa (kg) / estatura2). Os
indivíduos foram classificados como: baixo
peso (IMC<18,5kg/m2), eutrófico (18,524,9kg/m2), sobrepeso ou pré-obeso (2529,9kg/m2), e obesidade grau I (3034,9kg/m2), grau II (35-39,9kg/m2) e grau III
(> 40kg/m2)7. Para dislipidemia foram
dosados os níveis de colesterol total (CT) e
triglicerídeos (TG) utilizando o método
enzimático-colorimétrico
automatizado,
sendo considerados elevados a partir de
200mg/dL. A fração LDL-C foi obtida por
cálculo, utilizando a fórmula de Friedewald,
e a fração HDL-C foi obtida pelo método de
precipitação seletiva acoplada à dosagem por
método
enzimático
colorimétrico
automatizado, sendo considerada baixa
quando foi menor que 40mg/dL8.
Para o rastreamento do diabetes,
utilizou-se glicemia de jejum por 8 horas,
pelo método da glicose oxidase enzimático,
cujo valor preconizado pelo Consenso
Brasileiro de Diabetes 2007, serviu como
referência para controle glicêmico9.
Quanto à atividade física regular, foi
considerado como tal qualquer exercício
realizado pelo menos três vezes por semana,
com duração mínima de 30 minutos10.
Planejamento estatístico e análise fatorial
Usou-se delineamento fatorial como
ferramenta para realizar um screening das
variáveis significantes e possibilitar a
predição de resultados. Neste estudo, as
variáveis
independentes
(ou fatores)
avaliadas foram idade, divididas em três
níveis (inferior = 17 a 34 anos; intermediário
= 35 a 64 anos; superior = > 65anos), e sexo,
considerando dois níveis (inferior =
masculino; superior = feminino). Como
variáveis
dependentes
(denominadas
“respostas”), foram escolhidas e analisadas a
“obesidade”, “dislipidemia”, “HAS”, o
“sedentarismo” e a “diabetes”. As análises da
variância (ANOVA) do modelo fatorial e da
influência das variáveis foram realizadas
para cada resposta, com uma probabilidade
de erro de 95% (P=0,05), empregando-se
24
Silveira, M. M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 23,30, jan./jun. 2009
software Design Expert, versão 6.0.6
(StatEase, Minneapolis, MN)13.
Esta pesquisa teve aprovação da
Comissão de Pesquisa e Ética da Instituição,
cujo projeto se intitula “Avaliação da
Intervenção
Multiprofissional
e
Interdisciplinar na Prevenção e Tratamento
de Eventos Cardiovasculares em uma
Comunidade Universitária”, sob o parecer nº
323/06, sendo que todos os pacientes
assinaram o consentimento escrito após
esclarecimento quanto aos objetivos do
estudo, métodos e necessidades de exames
laboratoriais.
Resultado e Discussão
O crescente número de indivíduos com
doenças cardiovasculares (DC) originou uma
busca incessante pelos fatores de risco
relacionados ao seu desenvolvimento, pois o
conhecimento dos FR de uma determinada
população é fundamental, propiciando o
estabelecimento
de
estratégias
de
intervenção que, a longo ou médio prazo,
possam mudar o perfil de morbidade e
mortalidade
cardiovascular
atualmente
observado. As doenças crônicas mais
frequentemente associadas à obesidade,
como o diabetes e a HAS, são causas
relevantes de complicações sistêmicas e de
óbito12, 13, 14. Este estudo traz importantes
achados e confirma o fato de que a obesidade
vem assumindo caráter epidemiológico em
qualquer estágio de vida, sendo importante
que se estabeleçam intervenções para que se
possam modificar futuros riscos15, 16.
A adolescência corresponde a um
período da vida no qual ocorrem profundas
modificações no crescimento e maturação do
ser humano. Este período de transição,
segundo a WHO, corresponde ao intervalo
dos 10 aos 19 anos17. Neste trabalho, dois
adolescentes com idade de 17 e 18 anos
foram incluídos juntamente com os adultos,
sendo que a maior parte da população
estudada tinha entre 35 a 64 anos. Como a
prevalência de obesidade tem sido
aumentada em todos os grupos etários,
consideramos que este fato não interferiu na
presente investigação.
a) Obesidade
Têm-se observado um aumento
expressivo na prevalência de obesidade e
suas co-morbidades em todo o mundo 4, 5, 6, 7.
A ocorrência de obesidade em indivíduos
reflete na interação entre fatores dietéticos e
ambientais
com
uma
predisposição
genética12, 13, 15. O excesso de peso interfere
de forma significante na qualidade de vida,
particularmente nas do sexo feminino7, 18.
Embora haja controvérsias na literatura19,
neste trabalho pode-se observar que a
obesidade ocorreu principalmente em
indivíduos do sexo feminino (tabelas 1 e 2).
Segundo Lebrão e Laurenti (2005), a maior
proporção de sobrepeso e obesidade no sexo
feminino deve-se ao fato de que as mulheres
possuem massa corporal inferior aos
homens20. Outros estudos sugerem que o
aumento do tecido adiposo visceral em
mulheres poderia representar um risco à
saúde aumentado devido às suas ações
hormonais13.
A ANOVA do modelo fatorial para a
resposta obesidade está representada na
Tabela 3. Os valores obtidos variaram de
1.46 a 22.34 % (tabela 1), sendo que as
variáveis A (faixa etária) e B (sexo) foram
estatisticamente influentes (P < 0,05).
Considerando o alto valor do coeficiente de
correlação (R2 = 0,9864), e do R2 preditivo
(0,8775), além da precisão do método
(=18.227, sendo que um valor maior do que
4 é desejável), este modelo pode ser usado
para predizer resultados, levando-se em
consideração as variáveis analisadas.
Analisando-se a Figura 1 pode-se
verificar que, tanto para homens como para
mulheres, o percentual de obesidade
aumentou ao atingir a faixa de 35 a 64 anos,
diminuindo após os 65 anos. Por outro lado,
pelas figuras 2 (a e b) pode-se notar que até
os 65 anos ocorreu um maior percentual de
25
Silveira, M. M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 23-30, jan./jun. 2009
obesidade em mulheres, mas que esta
diferença foi praticamente inexistente após
os 65 anos (Figura 2c).
Independente do sexo, nesta pesquisa podese observar que 36,6% da população
analisada eram obesas (tabela 1), mostrando
a relevância da promoção e manutenção do
estado de saúde e qualidade de vida para essa
população e que terapias, como exercícios
físicos,
acompanhamento
nutricional,
psicológico e médico, podem ser usadas
como ferramentas profiláticas.
semelhante àquele verificado para a
obesidade.
Percebe-se, pois, que a dislipidemias
fazem parte de uma realidade preocupante e
precisam ser mais investigadas. Ainda que a
genética, o sexo e a idade sejam de grande
importância para o desenvolvimento das
mesmas, a qualidade de uma dieta e a prática
de atividade física exercem efeitos benéficos
nos componentes lipídicos e demais fatores
de riscos cardiovasculares22,23.
c) Hipertensão Arterial Sistêmica
b) Dislipidemia
A dislipidemia é uma doença
caracterizada por alterações da concentração
de lipídios ou lipoproteínas no sangue,
constituindo um fator de risco determinante
para o desenvolvimento de doenças
cardiovasculares (DC) no adulto12,21.
Os valores obtidos para a resposta
dislipidemia mostram que 40,08% da
população analisada apresentavam alguma
alteração no perfil lipídico, variando de 2.57
a 14.24 % (tabela 1). A ANOVA (Tabela 2),
para o modelo fatorial selecionado,
apresentou um valor de F = 154,70,
indicando que o modelo é significante (P <
0,05). O único termo significante (P < 0,05)
do modelo foi com relação à idade (variável
A), com valor de F = 231,35. A variável B
(sexo) não influenciou na resposta em análise
(P > 0,05). Da mesma forma que para a
obesidade, os altos valor do coeficiente de
correlação (R2 = 0,9957), do R2 preditivo
(0,9614) e da precisão do método (27,389)
indicam que este modelo pode ser usado para
navegar e predizer resultados considerando a
população analisada.
Analisando-se a Figura 3, pode-se
verificar que ocorreu um aumento da
dislipidemia na faixa de 35 a 64 anos, não
havendo distinção entre homens e mulheres,
conforme verificado pela ANOVA (tabela 2).
Observou-se uma acentuada diminuição com
a idade, sendo este comportamento
A HAS, juntamente com diabetes e
dislipidemia, são importantes fatores no
desenvolvimento da doença arterial coronária
(DAC)23. Estudos epidemiológicos têm
demonstrado também que o sobrepeso tem
sido considerado fator determinante na
elevação da pressão arterial, mostrando uma
notável relação entre o aumento do IMC e a
prevalência de HAS24,25. Neste trabalho
pode-se notar que 46,52% da população
analisada eram hipertensas (tabela 1),
mostrando que a intervenção no tratamento e
no acompanhamento de pacientes por meio
de uma equipe multidisciplinar se faz
necessário. De fato, diversas publicações têm
reportado a importância de programas
educativos para promover maior adesão ao
tratamento, resultando em melhor controle da
hipertensão arterial23, 24, 25.
Alguns fatores considerados de risco,
associados entre si e a outras condições,
favorecem o aparecimento da hipertensão
arterial. Neste trabalho analisou-se a
influência do sexo e idade. A ANOVA do
modelo fatorial para a resposta dislipidemia
está representada na Tabela 3. Os valores
obtidos variaram de 1.10 a 9.52% (tabela 1).
A ANOVA, para o modelo fatorial
selecionado, apresenta um valor de F = 3,18,
indicando que o modelo não é significante (P
> 0,05) considerando o universo de
indivíduos analisados.
Da mesma forma, nenhum termo do
modelo (A e B) foi significante, ou seja, a
26
Silveira, M. M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 23-30, jan./jun. 2009
pressão arterial não foi influenciada pela
idade ou pelo sexo, considerando-se a
amostra analisada.
Embora seja relatado na literatura1 que
a HAS tem mostrado relação com a idade,
consideramos que os resultados obtido nesse
estudo podem não ser conclusivos, devido ao
reduzido nº de indivíduos da amostra
analisada.
d) Sedentarismo
O baixo nível de condicionamento
físico promove o risco de mortalidade por
doença coronariana e outras causas,
diminuindo a longevidade26. A prática
regular de atividade física proporciona um
efeito positivo na qualidade de vida, na
melhoria da saúde individual e coletiva27.
Neste trabalho, os valores obtidos
variaram de 1.10 a 17.58 % (tabela 2). A
ANOVA da resposta sedentarismo (tabela 2)
apresentou um valor de F = 3,32 para o
modelo fatorial selecionado, indicando que o
modelo não foi significante (P > 0,05). Da
mesma forma, nenhum termo do modelo (A
e B) foi significante, podendo-se assim
inferir que o sedentarismo não é influenciado
por nenhuma das variáveis, considerando-se
a amostra analisada. O valor negativo do
coeficiente de correlação preditivo (R2
preditivo = -0,5061) implica que a média é a
melhor forma de predizer a resposta.
e) Diabetes
O diabetes é uma doença crônica cuja
incidência e prevalência está aumentando no
mundo todo, alcançando proporções
epidêmicas28,29. O maior desafio para o
controle da síndrome é manter a glicemia
dentro de parâmetros adequados. O controle
glicêmico almejado é: glicemia de jejum
menor que 126 mg/dl e hemoglobina
glicolisada menor que 7%. Os dados
encontrados neste trabalho mostram que
6,11%
dos
indivíduos
analisados
apresentavam diabetes, sendo estes dados
compatíveis com estuo realizado com uma
população de Florianópolis, segundo o qual
5,8% 30 das pessoas apresentavam a doença.
Neste trabalho, os valores variaram de
zero a 6,96 % (tabela 1). A ANOVA do
modelo fatorial para a resposta diabetes está
representada na tabela 3. O modelo fatorial
selecionado apresentou um valor de F =
767,46, indicando que o modelo foi
significante (P < 0,05). O único termo
significante do modelo foi a idade (fator A),
com valor de F = 1149,19. O fator B (sexo)
não influenciou significativamente na
resposta em análise (P > 0,05). O alto valor
do coeficiente de correlação (R2 = 0, 0,9991)
e do R2 preditivo (0,9922), além da adequada
precisão do método (56,190), este modelo
pode ser usado para navegar e predizer
resultados
relacionados
ao
diabete,
considerando a população analisada.
O risco relativo de desenvolver o
diabetes tipo 2 aumenta proporcionalmente
com o aumento do IMC, estando fortemente
relacionado com a obesidade31 e ao
comportamento alimentar32. Pela análise da
Figura 4 pode-se verificar que o diabetes
acentua-se com a idade, alcançando um
máximo na faixa de 35 a 64 anos, não
havendo distinção entre homens e mulheres.
A magnitude do diabetes como problema de
saúde pública e o impacto dessa doença na
qualidade de vida dos idosos preocupa
profissionais da saúde e conduz a um
processo de reflexão com esse grupo de
pessoas33.
Conclusão
Os dados deste trabalho confirmam a
importância de se conhecer os FR para
doenças cardiovasculares e a importância da
conscientização do caráter crônico da
obesidade. Reforça-se a importância da
educação nutricional e a realização de
atividades físicas como uma importante
estratégia de intervenção, visando à
prevenção
primária
dessas
doenças.
Contudo, novas pesquisas são necessárias
27
Silveira, M. M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 23-30, jan./jun. 2009
para que se possa observar a influência da
idade e do sexo na pressão arterial e a
relação do sedentarismo com a obesidade,
sendo talvez necessário aumentar a amostra
analisada para a confirmação dos resultados.
As novas pesquisas devem também estudar,
com
maior
atenção,
determinantes
comportamentais e hereditários relacionados
ao processo saúde-doença.
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29
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30
Zanini, R. S. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 31-35, jan./jun. 2009
DADOS PRELIMINARES DO “PROGRAMA DE PSICOLOGIA CONSULTA
ÚNICA PRELIMINARY [Data of the “psychology only consultation program]
Rachel
Schlindwein-Zanini¹;
Cláudio
José
Amante²;
Lilian
Tedy
Pereira³.
Resumo: Atualmente é crescente participação da Universidade na vida do jovem universitário, no
aspecto emocional, cognitivo, financeiro, psicossocial, acadêmico e na perspectiva de concretização
de ideais, necessitando de programas destinados a assistência a saúde mental deste estudante.
OBJETIVO: Apresentar os dados preliminares acerca da implantação do “Programa de Psicologia
Consulta Única” (PPSICONSU), na PRAE/UFSC, que abrange procedimentos de triagem,
encaminhamento e atendimento psicológico e neuropsicológico de alunos da UFSC, que
estão,preferencialmente, em situação de vulnerabilidade social e uso de psicotrópicos. CONCLUSÃO:
Este programa promove benefícios em saúde mental para o universitário e a instituição, estando em
concordância com o PNAES e FONAPRACE.
Palavras-chave: Psicologia, Neuropsicologia, Saúde Mental, Referência e Consulta.
Abstract: Currently, it is increasing participation of the University in the life of the young college
student, in emotional, cognitive, financial, psicossocial, academic aspects the perspective of
concretion of ideals. It has the necessity of destined programs the assistance the mental health of this
student. OBJECTIVE: To present the preliminary data concerning the implantation of the Psychology
Only Consultation Program (PPSICONSU),in the PRAE/UFSC that encloses procedures of selection,
guiding and psychological attendance and neuropsychological of students of the UFSC preferential in
situation of social vulnerability that use psychotropic drugs. CONCLUSION:This program promotes
benefits in mental health for the college student and the institution, being in agreement with the
PNAES and FONAPRACE.
Key-word: Psychology, Neuropsychology, Mental Health, Referral and Consultation.
Embasamento teórico
Atualmente, nota-se a crescente
influência da Universidade na vida do jovem
universitário, inclusive no âmbito emocional,
cognitivo e financeiro, na promoção do
desenvolvimento
psicossocial,
do
ajustamento acadêmico e quanto à
perspectiva de concretização de ideais
profissionais e pessoais.
Estas competências devem ser
promovidas
através
de
atividades
curriculares e extracurriculares, tendo em
vista a preparação dos alunos para a vida
ativa, considerando as coordenadas históricosócio-culturais e geográficas em que vivem 1.
Há cinco grandes áreas isoladas
(pessoal, interpessoal, vocacional, de estudo,
e institucional) representam alguns dos
domínios
que,
seguramente,
melhor
descrevem a adaptação acadêmica, servindo
aos objetivos de quem pretende investigar e
intervir tomando como referência os níveis e
a qualidade dessa adaptação em estudantes
ingressados na universidade 2.
As universidades podem executar
____________________________
¹Neuropsicóloga (Psicóloga especialista em Neuropsicologia pelo Conselho Federal de Psicologia – CFP).
Doutora em Ciências da Saúde (área: Neurociências) pela Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS). Pós-Doutorado em Psicologia pela Universidade Federal de Santa
Catarina – UFSC. Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis – PRAE/UFSC. [email protected]
²Cirurgião-dentista. Doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina –
UFSC. Pró-reitor de Assuntos Estudantis da Universidade Federal de Santa Catarina. Pró-Reitoria de Assuntos
Estudantis – PRAE/Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. [email protected]
³Assistente Social Coordenadora do Serviço Social – COSS. Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis –
PRAE/Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. [email protected]
31
Zanini, R. S. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 31-35, jan./jun. 2009
políticas mais dinâmicas destinadas aos
problemas de alunos, como aqueles
relacionados ao uso de substâncias.
Primeiramente, os centros de saúde do
campus precisam de serviços destinados aos
estudantes que compreendam a necessidade
de prevenção e tratamento, contudo os
centros de saúde são insuficientes em
recursos para abarcar a demanda existente 3.
Desse
modo,
percebe-se
a
existência de diversas variáveis que
interferem
na
ambientação
e
desempenho do aluno na instituição
universitária.
O impacto das variáveis do curso de
graduação, como “conhecimentos para o
curso", "relacionamento com os professores"
e
a
"adaptação
ao
curso",
são
estatisticamente
significativos.
O
"relacionamento com os colegas" também
tem um efeito significativo de interação de
gênero e curso escolhido (percepções
pessoais mais positivas no relacionamento
com os colegas). A variável da situação
econômica
do
estudante
interfere
consideravelmente na "gestão dos recursos
econômicos"
no
"envolvimento
em
1
atividades extracurriculares" do estudante .
O estudo de Huang et al 4 avaliou
estudantes de 26 universidades e sugere que
a baixa renda da família, o baixo status
social, e o estilo parental (pais solteiros,
famílias adotivas), estado civil (solteiros e
não-solteiros),
contribuem
do
desenvolvimento
de
transtornos
de
personalidade, como por exemplo, alterações
paranóides,
anti-sociais,
depressivas,
passivo-agressivas e esquizotípicas.
Tal panorama sinaliza a importância
da
intervenção
psicológica
/
neuropsicológica.
A
Consulta
Psicológica é um procedimento do
profissional psicólogo que inclui em seus
objetivos, também, a intervenção focada no
processo psicopatológico que interfere na
condição global (especialmente acadêmica)
do aluno, visando a investigação e
esclarecimento de questões associadas à
queixa clínica e à adesão aos esquemas
terapêuticos. A citada consulta também é útil
na triagem psicológica e sugerindo o
encaminhamento do caso (psicoterapia,
avaliação/
exame
neuropsicológico,
atendimento psiquiátrico ou neurológico).
Nesse sentido, destaca-se que
alterações em doenças neurológicas podem
ser confundidas com doenças psiquiátricas,
reforçando a importância do diagnóstico
diferencial e da avaliação neuropsicológica 5.
Quanto ao exame neuropsicológico,
suas indicações incluem a avaliação e o
acompanhamento
de
pacientes
que
apresentam
demências
(Alzheimer,
Vascular); déficit mnêmico associado à
idade; avaliação do déficit cognitivo pósAcidente
Vascular
Cerebral
(AVC),
Traumatismo Crânio-Encefálico (TCE),
meningo-encefalites, intoxicações; déficit
cognitivo associado ao consumo abusivo de
álcool (demência Wernicke Korsakoff),
associado ao uso de drogas (por exemplo, a
cocaína), na epilepsia; deficiência mental;
déficit atentivo no transtorno do déficit de
atenção persistente; na esquizofrenia; na
avaliação de formas residuais de transtornos
do aprendizado; e no diagnóstico diferencial
(por exemplo, depressão versus demência) 6.
A Organização Mundial da Saúde –
OMS 7, em 2000, cita que casos de
homicídio, suicídio e acidentes, geralmente
associados ao uso de álcool e drogas, estão
entre as três maiores causas de morte em
jovens em transição, entre 15 e 24 anos de
idade.
Nota-se que muitos distúrbios
psicológicos/ neuropsicológicos dos jovens
mostram história prévia ao seu ingresso na
universidade.
Ainda acerca das variáveis influentes
na vida do estudante universitário destacamse distúrbios psicológicos e psiquiátricos,
além de limitações financeiras do mesmo.
Sendo estas duas condições, focos
problemáticos que merecem atenção.
Segundo a Coordenadoria de Serviço
Social da Pró-Reitoria de Assuntos
32
Zanini, R. S. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 31-35, jan./jun. 2009
Estudantis – PRAE, da UFSC, as despesas
referentes ao auxílio para compra de
medicação (principalmente psicofármacos)
teve um valor médio mensal de R$ 3.000,00
em 2008, enquanto que o gasto médio
destinado ao auxílio moradia, refeição e
bolsa de alunos foi R$ 225.000,00 mensais
em 2008.
Conforme dados do Fórum Nacional
de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e
Estudantis 8, 21,41% dos estudantes têm
menos de vinte anos, identificam-se alguns
temas considerados desafiadores dessa faixa
etária, que demandam programas de saúde
específicos: prevenção de DST/AIDS;
planejamento
familiar;
saúde
mental/dependência química, saúde oral e de
prevenção de doenças imunopreviníveis.
O Programa Nacional de Assistência
Estudantil – PNAES informa que as ações de
assistência
estudantil
são
iniciativas
desenvolvidas nas áreas de moradia
estudantil,
alimentação,
transporte,
assistência à saúde, inclusão digital, cultura,
esporte, creche, e apoio pedagógico afim de
contribuir para a melhora do desempenho
acadêmico e na prevenção de situações de
repetência e evasão decorrentes da
insuficiência de condições financeiras 9,
Nesse sentido, destaca-se aqui a assistência a
saúde, especialmente, a saúde mental.
Os estudantes das categorias de maior
vulnerabilidade social são os que mais
freqüentam os serviços públicos de saúde 8.
A Associação Nacional dos Dirigentes
das Instituições Federais de Ensino Superior
– Andifes realizou uma pesquisa8, que
evidenciou que 39% dos estudantes das
Instituições Federais de Ensino Superior
(Ifes) passam por alguma dificuldade
emocional. No estudo8 a incidência de crise
emocional é similar entre estudantes que se
encontram no começo e no final da
graduação, com índices de 39% e 40%,
respectivamente. Entre estes estudantes,
muitos associam ansiedade ou crises de
fundo emocional ao uso de álcool e drogas.
Tendo em vista que a missão da PRAE é
desenvolver
ações
institucionais,
pedagógicas e acadêmicas, direcionadas para
o acesso, para a permanência e para a
conclusão de discentes matriculados nos
cursos de graduação presencial da UFSC, em
articulação com as demais estruturas
universitárias 10; acredita-se na viabilidade
do “Programa de Psicologia Consulta única”
nesta instituição.
O tema deste trabalho refere-se a
Assistência Estudantil, e sua delimitação é o
atendimento psicológico e neuropsicológico.
Assim, conforme o presente trabalho,
acredita-se na validade da consulta e do
parecer psicológico para o estudante
universitário, que passa a ser um paciente,
em virtude de uma condição de saúde
mental. Reforçando, assim, a realização
destes
procedimentos
em
jovens
universitários, especialmente aqueles em
situação de vulnerabilidade social. As
indicações, neste programa, relacionam-se,
principalmente, com déficit cognitivo,
dependência
química,
distúrbios
psicológicos/ psiquiátricos e neurológicos,
necessitando de procedimentos referentes à
Psicologia.
Considerando o papel da universidade, é
válido citar que o seu ensino permite a cada
geração concretizar os seus projetos e, assim,
servir a sociedade da melhor forma possível1.
Objetivo
Apresentar os dados preliminares
acerca da implantação do “Programa de
Psicologia Consulta Única” (PPSICONSU),
na PRAE/UFSC, que abrange procedimentos
de triagem, encaminhamento e atendimento
psicológico e neuropsicológico de estudantes
matriculados nos cursos presenciais de
graduação da UFSC preferencialmente em
situação de vulnerabilidade social.
33
Zanini, R. S. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 31-35, jan./jun. 2009
Sujeitos e métodos (metodologia)
Conclusões
Os sujeitos envolvidos incluem um
Psicólogo efetivo da Universidade Federal
de Santa Catarina – UFSC e alunos da
graduação da Universidade Federal de
Santa Catarina, conforme critério de
inclusão.
Os critérios de inclusão destinam-se
aos alunos da graduação da Universidade
Federal de Santa Catarina, acima de 18
anos, de ambos os sexos, solicitantes do
auxílio para compra de medicação
(psicotrópico), com história do uso de
algum procedimento terapêutico na área de
saúde mental (intervenção psicológica,
psiquiátrica, neurológica, neurocirúrgica e
/ou medicamentosa) cadastrados na
Coordenadoria de Serviço Social, da Próreitoria de Assuntos Estudantis – PRAE,
classificados segundo o “Índice SócioEconômico”, que considera renda familiar,
número de dependentes, despesas do aluno
com moradia, situações de doença e de
desagregação na família.
Acerca dos procedimentos, informase que os indivíduos selecionados realizam,
a princípio, uma consulta (01) psicológica/
neuropsicológica,
que
entre
estes
escolhidos, seriam um requisito para a
solicitação do “auxílio medicação”. Na
consulta, haveria entrevista/ anamnese e
poderá ocorrer a aplicação de instrumentos
(como testes e escalas psicológicas) e outras
consultas, conforme a indicação do
profissional em questão. Na ocasião da
consulta psicológica/ neuropsicológica o
profissional assegura ao paciente o
anonimato e sigilo de suas informações
entre outros aspectos éticos envolvidos. O
paciente, ao comparecer apresenta, caso
tenha, seus exames de neuroimagem, laudos
anteriores e a medicação utilizada com
respectiva dosagem.
Por meio do presente trabalho,
conclui-se que:
A implantação do “Programa de
Psicologia Consulta Única” foi possível e o
mesmo funciona há cerca de 06 meses com
sucesso.
Entre as queixas mais freqüentes dos
alunos beneficiados pelo programa, estão a
depressão, déficit cognitivo, problemas de
relacionamento,
déficit
de
atenção,
comportamentos anti-sociais, déficit de
memória, dependência química (álcool e
drogas), ansiedade e idéias paranóides,
principalmente.
Alterações
psicológicas
e
neuropsicológicas podem interferir na vida
social e acadêmica do indivíduo.
O Programa de Psicologia Consulta
Única – PPSICONSU é necessário e
promove benefícios no âmbito de saúde
mental ao universitário e a instituição.
O citado Programa de Psicologia
Consulta Única - PPSICONSU está em
concordância com o Programa Nacional de
Assistência Estudantil – PNAES, Ministério
da Educação e com o Fórum Nacional de
Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e
Estudantis - FONAPRACE.
Agradecimentos
Cláudia Chupel, Elisandra Fortkamp de
Oliveira, Rosilene dos Anjos, Cátia Peixer.
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Andifes Recife, 4 de abril de 2001.
Disponível
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http://www.unb.br/
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Acesso em 24/03/2009.
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03/03/2009.
35
Souza, T. T. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 36-43, jan./jun. 2009
ATENÇÃO À SAÚDE DO ADOLESCENTE: ESTUDO DO CONTEXTO SOCIAL
ENVOLVENDO PROJETOS E PROGRAMAS EM UMA COMUNIDADE DE
FLORIANÓPOLIS/SC [Teenagers health care: study of social context involving
projects and programs in a community from Florianópolis/SC]
Thaís Titon de Souza1; Monica Barreto2; Leandro Ribeiro Molina3; Maria Fernanda
Cabral4; Viviane Hultmann Nieweglowski5; e Marco Aurélio da Ros6.
Resumo: a partir da descrição do contexto social comunitário e da identificação de programas e
projetos direcionados para adolescentes, objetiva-se realizar reflexão crítica sobre atenção à sua saúde
em uma comunidade de Florianópolis/SC. Recorreu-se à territorialização e a dados secundários,
encontrando-se grande vulnerabilidade social e pouca disponibilidade de programas e projetos. São,
portanto, necessárias políticas públicas baseadas na promoção da saúde e programas que atendam às
demandas originadas no contexto encontrado. Resultados foram discutidos com as equipes de saúde,
oferecendo subsídios para planejamento, execução e avaliação de ações e para busca de parcerias
intersetoriais para a promoção da saúde na adolescência.
Palavras-Chave: Saúde; Atenção Básica; Vulnerabilidade Social; Adolescência.
Abstract: from the description of a Florianópolis/SC community’s social context and the
identification of programs and projects directed to teenagers, a critical reflection about their health
attention inside the community is sought. By means of territorialization and secondary data, a great
vulnerability was found and low availability of programs and projects. Public policies based on the
promotion of health and programs that attend to the demands created in the found contexts are
necessary. The results were discussed with health teams, offering subsidies for planning, execution
and evaluation of actions and for search of inter-sector partnerships for the promotion of teenagers’
health.
Keywords: Health; Primary health care; Social Vulnerability; Teenage.
Introdução
O Programa de Residência Integrada
em Saúde da Família da UFSC tem como
objetivo formar profissionais de saúde
através da educação em serviço, baseando-se
no modelo assistencial da Estratégia de
Saúde da Família (ESF). Desta forma, em
uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de
Florianópolis/SC atuam seis equipes básicas
e duas equipes complementares, estas
compostas por um profissional de cada uma
das seguintes profissões: serviço social,
___________________________
farmácia, psicologia e nutrição. O processo
de trabalho destes profissionais foi
estruturado de forma a equipe complementar
ser referência para três áreas de abrangência.
Com
a
proposta
de
criar
possibilidades de construção de respostas às
necessidades correlacionadas das três áreas
de que é referência, a partir do diagnóstico
de saúde, de forma resolutiva e
interdisciplinar, caracterizando-se como uma
ação da UBS, a equipe complementar
desenvolve um Projeto Integrado. Entende-se
que esta forma de atuação consolida o
vínculo com os demais profissionais que
1
Nutricionista, Residente em Saúde da Família/UFSC. [email protected]
Psicóloga, Residente em Saúde da Família/UFSC. [email protected]
3
Farmacêutico, Residente em Saúde da Família/UFSC. [email protected]
4
Assistente Social; Residente em Saúde da Família/UFSC. [email protected]
5
Psicóloga, Mestre em Psicologia e Tutora do Programa de Residência Integrada em Saúde da Família/UFSC.
[email protected]
6
Médico, Doutor em Educação e Preceptor Acadêmico do Programa de Residência Integrada em Saúde da
Família/UFSC. [email protected]
2
36
Souza, T. T. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 36-43, jan./jun. 2009
compõem a área e amplia o olhar sobre o
cuidado, tendo como consequência maior
resolutividade na atenção básica.
Desta forma, planejando e analisando
o diagnóstico de saúde em conjunto com os
profissionais
das
equipes
básicas,
destacaram-se problemáticas relacionadas à
violência, drogas e prostituição - envolvendo
principalmente adolescentes. Além disso, a
mesma questão foi levantada em reuniões
interinstitucionais realizadas, especialmente
naquelas com representantes de instituições
escolares da comunidade. Diante desta
realidade, detectou-se a necessidade de
entender o contexto social e a situação atual
dos adolescentes do bairro em questão,
através da análise de dados epidemiológicos
desta faixa etária, bem como identificando
projetos e programas direcionados para esta
população.
Revisão de Literatura
Segundo a Organização Mundial da
Saúde, a adolescência constitui um processo
fundamentalmente biológico de vivências
orgânicas, apresentando desenvolvimento
cognitivo e estruturação da personalidade.
Esta fase do ciclo de vida abrange a préadolescência (10 a 14 anos) e a adolescência
propriamente dita, dos 15 aos 19 anos1.
Considera-se que este período é
também resultante de processos inerentes aos
contextos sociais (históricos, políticos e
econômicos) nos quais os adolescentes estão
imersos. Entretanto, “o trabalho da
adolescência na busca de uma identidade
adulta em uma sociedade de leis
fragmentadas,
valores
instáveis
e
individualizados, torna o adolescente mais
vulnerável e predisposto a comportamentos
aos quais chamamos de risco” 2 (p.125).
No
contexto
das
políticas
socioeconômicas brasileiras, os campos da
saúde e da educação pública não atingem de
forma satisfatória a grande massa da
população, existindo, ainda, carência de
bases mínimas que atendam às necessidades
básicas do ser humano3. Neste contexto,
muitos adolescentes são iniciados na
prostituição, excluídos do sistema formal de
ensino e aliciados pelo crime organizado e
tráfico de drogas, estando expostos a
violências de diferentes formas.
Percebe-se,
então,
que
a
vulnerabilidade aos agravos à saúde justifica
a necessidade de atenção mais específica à
saúde dos adolescentes. A vulnerabilidade
relaciona-se aos processos que amplificam os
riscos para o desenvolvimento de um agravo,
enquanto os mecanismos de proteção os
diminuem ou inibem4. Os riscos são
considerados como a alta probabilidade que
se tem de sofrer, no futuro, um dano em sua
saúde5. Já os fatores de risco seriam todas as
características ou circunstâncias pessoais,
ambientais ou sociais ligados ao aumento
desta possibilidade. Como fatores de
proteção, consideram-se todos os recursos
pessoais e contextuais que auxiliam a reduzir
ou neutralizar os riscos do ambiente. A
ausência de mecanismos protetores ou a
insuficiência destes para o provimento de
respostas positivas conduz os indivíduos à
vulnerabilidade frente às situações adversas.
Nesse sentido, o uso que o
adolescente faz de seu tempo livre pode
gerar consequências positivas ou negativas
para seu desenvolvimento. Um documento
produzido pela UNESCO sobre o tema
complementa esta discussão, ao colocar a
necessidade de investir na juventude,
combatendo a vulnerabilidade social através
da valorização do protagonismo juvenil6.
Evidencia-se, assim, a necessidade de que
sejam oferecidas atividades aos adolescentes
não apenas para preenchimento do tempo
ocioso e sim a fim de oferecer oportunidades
de crescimento pessoal, excitação e desafio,
na busca pela promoção de sua saúde7.
No
contexto
latinoamericano,
caracterizado
por
graves
problemas
econômicos e sanitários, a proposta de
promoção da saúde ganha uma forte
conotação política que preconiza a
articulação entre Estado e sociedade na
37
Souza, T. T. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 36-43, jan./jun. 2009
busca da equidade. Os espaços sociais onde
vivem as pessoas – ou seja, as cidades, os
locais de trabalho, as escolas, enfim, a
comunidade – são os principais locais de
efetivação das ações de promoção da saúde8.
Neste sentido, especificamente a atenção
básica, considerado o primeiro nível de
contato preferencial do usuário com o
sistema de saúde, demonstra-se um lócus
privilegiado para a construção de ações de
promoção da saúde direcionadas aos
adolescentes.
Embora recentemente, observa-se na
sociedade brasileira um consenso inicial em
torno da necessidade de implantação de
políticas públicas que promovam a saúde, o
bem-estar e o desenvolvimento desta
população9. Alguns setores da sociedade
brasileira têm se voltado para a discussão da
situação dos adolescentes e dos jovens a
partir de uma concepção ampliada de
direitos, cuja expressão maior está no
Estatuto da Criança e do Adolescente.
Entretanto, historicamente no Brasil os
jovens são abrangidos por políticas sociais
destinadas a todas as demais faixas etárias,
especialmente às crianças10.
Considera-se o planejamento e a
execução de experiências promotoras de
saúde uma possibilidade de construção de
ambientes mais saudáveis na comunidade,
sendo necessário que a sociedade como um
todo se responsabilize por oferecer e
assegurar aos adolescentes estes ambientes.
Na cidade de São Carlos/ SP, identificou-se
que a maioria das ações voltadas a esta faixa
etária focaliza atividades de assistencialismo
e
complementação
escolar.
Ensino
profissionalizante, esportes, atendimentos de
saúde e educação e atendimentos exclusivos
para autores de atos infracionais também
foram encontrados11.
Diante da relevância desta discussão,
analisou-se o contexto social de uma
comunidade de Florianópolis/SC, com
posterior identificação de projetos e
programas direcionados aos adolescentes,
fomentando a reflexão crítica para a
construção de novos caminhos e de novas
práticas de saúde em âmbito municipal,
centradas nos princípios e nas diretrizes do
SUS.
Procedimentos Metodológicos
Trata-se de um estudo descritivo,
realizado em 3 áreas de abrangência de uma
UBS de Florianópolis/SC. Devido à
importância do reconhecimento da dinâmica
social, hábitos e costumes para a
determinação de vulnerabilidades para a
saúde, utilizou-se o reconhecimento do
território como metodologia, através de
práticas em campo e da utilização de dados
secundários12.
Assim, recorreu-se ao processo de
territorialização para reconhecimento do
contexto comunitário e mapeamento de
instituições que desenvolvem atividades
voltadas aos adolescentes dessa localidade.
Considera-se que a territorialização consiste
em uma estratégia que possibilita à equipe de
saúde incorporar em seu cotidiano um novo
fazer em saúde, a partir da aproximação e da
apropriação do conhecimento do território.
Com este entendimento, foi elaborado
um “formulário-guia” que norteou a ação,
abrangendo
aspectos
relacionados
a
condições de vida e moradia e à identificação
de recursos que pudessem ser direcionados
aos
adolescentes
na
comunidade.
Individualmente, os membros da equipe
complementar envolvida preencheram as
informações contidas neste formulário
durante o período de reconhecimento do
território. A agregação dos dados foi
realizada
posteriormente,
através
de
discussão entre todos os profissionais.
Foi realizada busca a programas e
projetos que promovessem a saúde e o
desenvolvimento de
adolescentes em
situação de vulnerabilidade social cujos
objetivos não se relacionassem a medidas de
proteção e sócio-educativas, sendo assim
desconsiderados aqueles direcionados a
jovens com violação de seus direitos, como
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vítimas de violência e em conflito com a lei.
Além disso, o estudo recorreu a
fontes secundárias, através de pesquisa
documental realizada em 2007. Para
identificação do número de adolescentes e da
situação de escolaridade, recorreu-se às
fichas de cadastro familiar preenchidas e
utilizadas pelos Agentes Comunitários de
Saúde (ACS) para registro do Sistema de
Informações da Atenção Básica (SIAB). Em
todas as etapas deste estudo foi garantido o
anonimato dos adolescentes inseridos no
mesmo e o sigilo sobre as informações
coletadas.
Por fim, os resultados foram
discutidos com as equipes de saúde da
família das áreas de abrangência da referida
equipe complementar, oferecendo subsídios
para o planejamento, a execução e a
avaliação de ações direcionadas aos
adolescentes desta comunidade, assim como
para a busca de parcerias intersetoriais para a
promoção de sua saúde.
Resultados e Discussão
Contexto comunitário:
dinâmica social
descrição
da
A
partir
do
processo
de
territorialização,
foram
identificadas
características das três áreas de abrangência
referidas neste estudo, denominadas de
“Área A”, “Área B” e “Área C”.
A área “A” tem início na rua em
frente à UBS e é predominantemente
composta por morros, sendo constatadas
áreas de risco localizadas principalmente na
parte mais alta, onde é difícil o acesso.
Verificou-se que o abastecimento de água é
oriundo de uma cachoeira, sendo o
saneamento
básico
inexistente
nesta
comunidade (existem locais onde há esgoto a
céu aberto). A coleta de lixo é realizada três
vezes por semana e há lixeiras apenas em
duas ruas. Quanto às moradias, existe um
grande número de casas construídas com
madeira, enquanto as de alvenaria, em sua
maioria, encontram-se inacabadas. Com
relação à demanda por atendimento
identificada na UBS, a maior parte de seus
moradores é usuária do SUS.
Os recursos identificados na área “A”
foram uma quadra de esportes, uma
associação de moradores, uma capela e
estabelecimentos comerciais de alimentos.
Não há farmácias comerciais na área e foi
encontrado apenas um telefone público.
Também não há relato de nenhum canteiro
ou área destinada ao cultivo e/ou distribuição
de ervas e outras plantas medicinais.
A
área
“B”
apresenta-se
essencialmente plana, com poucas áreas de
morro, e inicia-se ao lado da UBS. Marcada
pela discrepância na realidade social de seus
moradores – sendo observada a existência de
um condomínio de classe média ao lado de
um conjunto habitacional popular – não
conta com saneamento básico, apresentando
esgoto a céu aberto que desemboca no
mangue onde se costumava pescar há cerca
de 20 anos.
Como recursos, a área dispõe de uma
creche particular, uma escola e uma creche
municipal localizadas em anexo ao conjunto
habitacional referido. Nesta há dois espaços
inutilizados, sendo que um deles abrigou
uma associação de moradores que
atualmente encontra-se desativada. O outro
espaço foi sede por alguns meses entre 2005
e 2006 do Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS), desativado na
comunidade por solicitação dos moradores,
conforme informação da coordenação do
programa no município. Além disso, a área
conta com um centro comunitário, uma
associação de deficientes visuais (referência
para Santa Catarina), uma instituição de
nível federal de ensino profissionalizante
(oferece cursos gratuitos), uma associação
médica
estadual
e
estabelecimentos
comerciais.
A área “C” apresenta-se mais distante
da UBS, sendo composta por áreas planas e,
essencialmente, por morros. Um destes não
possui calçamento, sendo o acesso
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Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 36-43, jan./jun. 2009
dificultado principalmente para gestantes e
idosos e constitui-se como uma importante
área de risco. Observou-se que, apesar de
apresentar algumas moradias em situação
precária, há predomínio de condições
habitacionais satisfatórias, apresentando
residências com condições adequadas de
água e saneamento básico e outras com
condições precárias semelhantes às demais
áreas.
Esta área também dispõe de recursos,
como duas associações de moradores,
estabelecimentos comerciais, uma igreja
evangélica, uma igreja católica e um núcleo
de educação infantil municipal. Nesta área de
abrangência, também está situada uma
importante instituição administrativa do
governo estadual. É importante colocar que
uma das associações da área “C” conta com
amplo espaço de lazer, onde atualmente são
desenvolvidas
algumas
atividades
direcionadas às crianças e aos adolescentes
da comunidade. Entretanto, as ações são
desenvolvidas apenas aos sábados através de
voluntariado
e
não
contam
com
financiamento
para
sua
execução,
dificultando sua expansão, com subutilização
dos espaços.
Com relação ao acesso aos serviços
básicos de saúde e educação, percebeu-se
que, por ser uma área de grande extensão
territorial,
o
mesmo
é dificultado
especialmente para aqueles que residem nos
morros, seja por não possuírem meios
próprios
de
locomoção
e/ou
por
apresentarem
condições
financeiras
insuficientes para utilização do transporte
coletivo.
De forma geral, o território abrangido
por este estudo é essencialmente uma grande
área de vulnerabilidade social: a UBS
referida está subordinada a uma Regional de
Saúde que contém sob sua responsabilidade
nove UBS. A regional contempla, ao todo, 6
áreas de interesse social, das quais quatro
estão presentes no território analisado13.
Identificação dos adolescentes
Os dados encontrados a partir da
pesquisa documental revelaram a existência
de 517 adolescentes nas três áreas de
abrangência, aproximadamente 20,2% (151)
destes na faixa etária entre 10 – 12 anos,
39,4% (204) entre 13 – 15 anos e 31,3%
(162) entre 16 – 19 anos. A população de
cada área está estimada em cerca de 3500
habitantes, obtendo-se, portanto, cerca de 5%
da população total estudada na faixa etária
entre 10 a 19 anos14.
É importante considerar que a
projeção colocada pelo IBGE para o ano de
2007 demonstra a existência de 1145
adolescentes nesta localidade15. Comparando
este dado com os resultados encontrados
neste estudo, tem-se uma cobertura de
apenas 45,15% do número de pessoas nesta
faixa etária a partir das fontes levantadas
pelos pesquisadores, o que pode indicar subregistro através das fichas cadastrais do
SIAB por diferentes motivos, dentre eles a
existência de áreas de abrangência não
cobertas por Agentes Comunitários de Saúde
na localidade estudada.
Com relação à matrícula na escola,
identificou-se que aproximadamente 89%
dos adolescentes desta comunidade estão,
atualmente, estudando. Não foi possível
conhecer se estes adolescentes estão
empregados ou se participam de projetos
e/ou programas fora do ambiente escolar, por
serem dados que não constam nas bases
pesquisadas neste estudo.
Identificação de recursos da comunidade:
projetos direcionados aos adolescentes
A
partir
do
processo
de
territorialização e do contato com os ACS
em reuniões de planejamento das equipes de
saúde, foram reconhecidas instituições que
desenvolvem
ações
voltadas
para
adolescentes no território de abrangência
desta
equipe
complementar.
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No Conselho Comunitário de
Moradores do bairro (localizado na área “B”)
é desenvolvido o Projeto Renascer, mantido
pela Secretaria Municipal de Assistência
Social com contrapartida da Secretaria
Estadual de Educação. O Projeto atende
crianças e adolescentes até 14 anos, e tem
como objetivo fornecer complementação
escolar através de atividades de apoio
pedagógico, educação física, escola de
futebol, oficina de bijuterias e aulas de
dança. São atendidos cerca de 50 alunos,
divididos em duas turmas – uma no período
matutino e outra no vespertino -, abrangendo
adolescentes deste bairro e de outro vizinho.
Este mesmo Conselho é sede do
projeto Agente Jovem, que atende quinze
adolescentes entre 15 e 17 anos e abrange
também jovens do bairro vizinho. São
realizadas atividades que propiciam o
desenvolvimento pessoal dos menores e
prepara-os, ainda, para a futura inserção no
mercado de trabalho. Em contrapartida, o
jovem deve permanecer no sistema de ensino
com frequência mínima de 75%, condição
indispensável para que receba uma bolsa.
Houve uma tentativa de que este Programa
tivesse sua cobertura ampliada, através de
uma nova sede na área A, o que não se
tornou realidade devido a desavenças entre
grupos relacionados ao tráfico de drogas.
Desta
forma,
sua
ampliação
foi
desconsiderada, aparentemente sendo negada
a possibilidade de sua oferta nos dois locais
separadamente.
Ainda na área “B” está alocada uma
instituição de ensino profissionalizante de
âmbito federal que disponibiliza aos jovens
da comunidade local, a partir de 15 anos, 32
vagas para o curso de “Informática e
desenvolvimento comportamental”.
Na área “C” ocorre o projeto Sábado
Criativo – também desenvolvido em uma
Associação de Moradores – com atividades
de lazer e esporte para cerca de 123 crianças
e adolescentes aos sábados.
Com relação à utilização destes
recursos pelas equipes de saúde da UBS,
percebeu-se que, de forma geral, alguns
destes projetos não eram, sequer, conhecidos
por seus membros. No entanto, o domínio do
território de abrangência, no sentido de
reconhecimento,
poderia
auxiliar
os
profissionais
nos
encaminhamentos
necessários, possibilitando a outros jovens o
acesso a esses serviços. Ao serem
desconhecidas as singularidades do território
e os recursos de que este dispõe, minimiza-se
o efeito promotor da saúde destas ações na
comunidade, dificultando-se a prática da
intersetorialidade e da integralidade. Desta
forma, dificilmente a atenção básica
conseguirá se aproximar da produção social
da saúde e de seus problemas.
Considerações Finais
A análise do número de adolescentes
e da oferta de programas e projetos
disponíveis
no
território
analisado
demonstrou
deficiência
em
sua
disponibilidade,
pois
um
número
relativamente pequeno de jovens tem acesso
a estas ações. Verificou-se a existência de
517 adolescentes, sendo que os projetos
desenvolvidos oferecem, ao todo, 97 vagas.
Com relação ao projeto Sábado Criativo, por
ser aberto à livre demanda e atender também
crianças, não foi possível uma análise
criteriosa de sua oferta.
Identifica-se, assim, que além das
vagas serem insuficientes, sua diversidade é
restrita, dificultando a promoção da saúde.
Apesar disso, existem, no território,
instituições onde projetos já realizados
poderiam ser ampliados e onde outros
poderiam ser desenvolvidos, mas inexistem
recursos nas instâncias mais próximas que
viabilizem essa expansão.
Com
base
neste
diagnóstico,
identifica-se o importante papel do setor
saúde para efetivação da inter-relação das
ações de saúde às outras ações já
desenvolvidas no território. É preciso
conhecer, conhecer para interpretar e
interpretar para atuar12, tendo a ESF a
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Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 36-43, jan./jun. 2009
possibilidade de desenvolver um papel
central nos territórios em que está inserida.
Ao identificar suas singularidades e
apropriar-se do uso que as pessoas ali
inseridas fazem de seus recursos, é possível
o desenvolvimento de ações de promoção da
saúde, almejando a criação de espaços
saudáveis e um entendimento diferenciado
do processo saúde-doença, que não centrado
apenas em seu caráter biológico.
Entende-se que as ações de saúde
devem estar integradas às outras ações
desenvolvidas em diferentes setores da
sociedade, avançando na prática da
intersetorialidade. O conjunto dessas ações
precisa ser norteado pelas especificidades do
território, almejando aproximação com sua
realidade sem excluir as relações com outros
níveis de decisão, fora dos limites
territoriais, que podem influenciar em sua
dinâmica. Considera-se assim, como
inadequada a criação e implantação de
políticas e programas direcionados a todos,
em qualquer território, pois a identificação
de condições reais e de sistemas de relações
existentes nos territórios é que deve
determinar sua execução12.
É importante considerar que,
organizados de modo a atender doenças, os
serviços de saúde são pouco buscados pelos
adolescentes por serem uma população que,
de modo geral, pouco adoece. Aliado a isso
percebe-se que estes serviços parecem estar
despreparados para atender às peculiaridades
e necessidades destes usuários. A ESF não
trata o adolescente como prioridade absoluta
como determina a Lei 8069/90, não sendo o
adolescente sequer um marcador prioritário
para a estratégia. No SIAB, somente dois
itens tratam de informações sobre o
adolescente – Identificação de gestantes
menores de 18 anos e Óbitos causados por
violência em adolescentes – e, ainda assim,
não voltados para a promoção e a prevenção.
Diferentemente de outros países, no
Brasil nunca existiu uma tradição de
políticas especificamente destinadas aos
jovens, como alvo diferenciado e, desta
forma, estes acabam sendo atendidos como
adultos ou crianças, sem quaisquer
prioridades para atendimento nas Unidades
de Saúde2. Neste sentido, os profissionais de
saúde devem trabalhar conjuntamente com
outros setores, como a escola, na prática de
ações de educação em saúde direcionadas
aos adolescentes e sua família e no
planejamento de políticas voltadas à
construção de ambientes protetores e
saudáveis16.
A construção de espaços de discussão
sobre programas que atendam às demandas
originadas no contexto de vulnerabilidade
social em que os adolescentes estão
inseridos, no intuito de diminuir os riscos a
que habitualmente estão expostos, precisa ser
realizada a fim de promover a atenção a este
grupo respeitando características inerentes a
este período da vida.
Por fim, a descrição da dinâmica
social da comunidade e a contextualização
sobre projetos e programas direcionados aos
adolescentes desenvolvidos no território
estudado, bem como a identificação do
pouco conhecimento dos profissionais de
saúde da família envolvidos sobre a
realidade verificada, reforçam a necessidade
de políticas públicas que visem contribuir
para o desenvolvimento dos adolescentes a
partir do referencial da promoção da saúde.
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43
Souza, T. T. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 44-50, jan./jun. 2009
A HUMANIZAÇÃO DA ATENÇÃO NUTRICIONAL A PARTIR DA
READEQUAÇÃO DE HORÁRIOS DE REFEIÇÕES HOSPITALARES
[The
humanization of nutritional care through adequation of hospital meal schedules]
Thaís Titon de Souza1 e Anete Araújo de Sousa.
Resumo: Tradicionalmente determinados a partir da organização da estrutura hospitalar, os horários
de refeições apresentam-se freqüentemente distantes daqueles em domicílio. Desta forma, objetiva-se
identificar a percepção de pessoas internadas e de nutricionistas em um hospital de Florianópolis/SC
em relação aos horários de distribuição das refeições, propondo sua aproximação à realidade dos
indivíduos, fundamentando-se na humanização da atenção. Como método, utilizou-se a pesquisa
participante, através de perguntas-guias. Estabeleceu-se, então, uma proposta de reestruturação
através da readequação de horários de rotinas dos funcionários do serviço de nutrição e de horários de
distribuição das refeições, resgatando a alimentação como fonte de prazer e bem-estar.
Palavras-chave: serviço hospitalar de nutrição, humanização da assistência.
Abstract: Traditionally determined based on the hospital’s organization, meal schedules frequently
present themselves far from those maintained at home. Thus, through the perception of admitted
patients from a hospital in Florianópolis/SC and nutritionists about the schedules of meal distribution,
a proposition closer to the realities of these individuals is made, based on care humanization. The
method employed was participative research, through guiding-questions. A restructuration proposition
was established through adequations to the meal distribution schedules and nutrition service
employees’ activities schedules, transforming eating back into a source of pleasure and well-being.
Keywords: Food Service Hospital; humanization of assistance.
Introdução
A alimentação é um fenômeno
complexo,
envolvendo
aspectos
psicológicos, biológicos, sociais e diferentes
significados que interferem diretamente no
processo de trabalho do nutricionista, seja
este no ambiente hospitalar ou em outros
níveis de atenção à saúde1. Desta forma, é
função da equipe de nutrição fortalecer as
interfaces da alimentação dentro do hospital,
procurando melhorar sua aceitação, uma vez
que a associação da refeição neste ambiente
com proibições e privações freqüentemente
ocasiona sua recusa, resultando em baixo
consumo pelos comensais2.
Comumente, os aspectos nutricionais e
higiênico-sanitários são super valorizados,
deixando-se de incorporar outras funções à
alimentação hospitalar – a função hedônica,
___________________________
ligada ao prazer e aos aspectos sensoriais, e a
função convivial, relacionada à percepção do
indivíduo de pertencer a um grupo social e
culturalmente construído3.
Boeger4 destaca que as Unidades de
Alimentação e Nutrição (UANs) hospitalares
centraram seus esforços na recuperação de
seus pacientes, esquecendo-se das demais
funções dos alimentos. Desta forma, a
refeição hospitalar é percebida popularmente
como uma comida sem graça - sem
temperos, criatividade, sabor e cor. O
resultado pode ser a ocorrência da
desnutrição intra-hospitalar, problema a ser
amplamente combatido. Dentre os fatores
causais atribuídos à desnutrição hospitalar, a
alimentação é considerada um fator
circunstancial ocasionado pelas trocas de
hábitos e horários alimentares.
1
Nutricionista, Especialista em Saúde da Família, Secretaria de Saúde de Florianópolis/SC. E-mail para
correspondência: [email protected]
2
Nutricionista, Mestre em Ciências dos Alimentos, Doutora em Engenharia de Produção e Professora do
Departamento de Nutrição da UFSC. E-mail para correspondência: [email protected]
44
Souza, T. T. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 44-50, jan./jun. 2009
No Brasil, a intolerância à alimentação
hospitalar e a progressão da desnutrição
durante a internação foi discutida por
Waitzberg e colaboradores5 com base em um
estudo multicêntrico – Inquérito Brasileiro
de Avaliação Nutricional Hospitalar
(Ibranutri) - realizado em 1996.
Neste contexto, alguns estudos vêm
discutindo o problema da alimentação
hospitalar. Em um destes, ao ser avaliada a
ingestão de alimentos e as preferências
alimentares de pacientes geriátricos,
demonstrou-se que a ingestão foi insuficiente
para atender às suas necessidades
nutricionais diárias6. O estudo destacou que
o serviço de alimentação deveria levar em
conta as preferências alimentares dos idosos
internados, a fim de melhorar o quadro
encontrado6. Com o mesmo grupo
populacional e objetivando avaliar a
qualidade do atendimento alimentar, outras
pesquisas realizadas encontraram avaliações
negativas sobre os serviços oferecidos7,8.
Como estratégia para melhoria da
qualidade do atendimento prestado nos
hospitais públicos que integram o Sistema
Único de Saúde, foi criado o Programa
Nacional de Humanização da Assistência
Hospitalar (PNHAH) em 2000, pelo
Ministério da Saúde. As ações são pautadas
na humanização destas instituições em três
dimensões: o cuidado ao paciente, o cuidado
ao cuidador e o atendimento da instituição
hospitalar em suas atividades básicas9. Em
2003, o referido programa de humanização
passou a ser uma Política Nacional de Saúde,
denominando-se HumanizaSUS10.
Assim, considerando os aspectos
referentes à problemática da alimentação
hospitalar, conjugados ao atendimento
humanizado em saúde, o cuidado alimentar e
nutricional pode ser repensado de forma a
adequar a alimentação às preferências e
costumes
alimentares
da
pessoa
hospitalizada. No presente estudo, pretendese identificar a percepção de pessoas
internadas e de nutricionistas em um hospital
de Florianópolis/SC em relação aos horários
de distribuição das refeições, propondo sua
aproximação à realidade dos indivíduos,
fundamentando-se na humanização da
atenção.
Procedimentos metodológicos
O estudo foi desenvolvido em uma
UAN hospitalar de Florianópolis/SC,
apresentando como modelo de abordagem a
pesquisa participante11,12. Os preceitos
dispostos na resolução 196/96 do Ministério
da
Saúde
foram
respeitados
no
desenvolvimento da pesquisa, que foi
submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa
com Seres Humanos da Universidade
Federal de Santa Catarina como parte de um
estudo intitulado “Cuidado alimentar e
nutricional ao paciente hospitalizado:
construção de um modelo fundamentado na
humanização”, sendo aprovada sob o número
de protocolo 021/06.
Para a caracterização dos horários em
que as pessoas internadas costumam realizar
suas refeições no domicílio e avaliação dos
horários de distribuição das refeições, foram
realizadas entrevistas, através de perguntas
guias. As metodologias avaliativas que
incorporam a visão do usuário são
entendidas como parte instrumentos que
reafirmam princípios de ética e cidadania,
tais como expressos no conceito de
humanização13.
Neste sentido, foi questionada às
pessoas internadas sua avaliação sobre os
horários das refeições no hospital inserido no
estudo e quais seus horários habituais de
refeições (desjejum, colação, almoço, lanche
da tarde, jantar e ceia). Aos nutricionistas,
questionou-se sua avaliação quanto aos
horários de distribuição de refeições no
hospital e à aceitação das pessoas internadas.
Os conteúdos foram utilizados de forma
sigilosa, mantendo-se o anonimato dos
participantes do estudo.
O número de indivíduos entrevistados
não apresentou um critério numérico para
sua representatividade, mas atendeu a
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Souza, T. T. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 44-50, jan./jun. 2009
critérios mínimos de inclusão: pessoas
internadas nas clínicas médicas (menor
rotatividade); com três ou mais dias de
internação; sem dificuldades com a fala; e,
dispostas a participar do estudo14. Os
nutricionistas entrevistados exerciam cargos
de chefia (geral, dietoterapia e produção de
refeições) ou atuavam nas clínicas médicas
incluídas na pesquisa.
Para caracterização e adequação da
escala de horários, rotinas e atividades dos
funcionários da UAN foram entrevistados os
responsáveis pelos setores de higienização de
utensílios dos internados, da cozinha
geral/dietética (responsável pelo preparo de
desjejum, almoço, lanche, jantar e ceia,
atendendo unidades de internação e
refeitório), da despensa, do preparo da
colação das pessoas internadas e do preparo
de café e sobremesas. Esta etapa objetivou o
conhecimento da rotina destes indivíduos no
setor, a fim de adequar os horários de suas
atividades com o novo horário de
distribuição das refeições. Foram, ainda,
realizados o acompanhamento e a
observação de um plantão (12 horas) na
UAN, fornecendo maiores subsídios para o
ajuste.
Para registro das falas foi utilizado um
gravador, sendo as questões categorizadas de
acordo com a análise de conteúdo15. Dados
relativos ao número de pessoas entrevistadas,
sexo e tempo de internação foram tabulados
no programa Microsoft Office Excel®.
Por fim, a proposta de horários foi
desenvolvida em conjunto com nutricionistas
chefes, tendo como base as avaliações das
etapas anteriores.
internação foi de cerca de 17 dias e a idade
média de 52,7 anos.
Foram encontradas diferenças entre os
horários de refeições habituais em domicílio
e aqueles praticados pelo hospital. Com
exceção do desjejum e da colação, o costume
da maioria dos entrevistados é o de realizálos mais tarde, se comparados com a
instituição.
Apesar desta diferença, nem sempre foi
possível detectar insatisfação com os
horários de distribuição das refeições do
hospital.
Rigaud
e
colaboradores1
salientaram que as pessoas internadas podem
ter suas respostas influenciadas por alguns
fatores: por ser uma clientela cativa, podem
ter receio de dar respostas muito negativas
ou, ainda, podem ser complacentes em sua
avaliação por não considerarem a
alimentação importante no tratamento ou por
considerarem que a mesma não pode ser
melhorada.
Na avaliação dos horários das
refeições, formaram-se três categorias de
significados:
Resultados e discussão
“Acho muito cedo...” - Os pacientes
relataram insatisfação principalmente em
relação às grandes refeições, como expresso
nas falas a seguir:
“Assim, a janta vem muito cedo.
Deveria vir depois das dezoito horas.
Acho que o que mais atrapalha é o
horário
da
janta.”
Conversando com os pacientes...
Foram entrevistadas 33 pessoas
internadas, totalizando 43% dos indivíduos
internados nas Clínicas Médicas. Houve
predominância de indivíduos do sexo
masculino (64%). O tempo médio de
“Tá tudo bom...” - Os sujeitos
limitaram-se a responder que os horários
estavam bons, sem maiores esclarecimentos
sobre o porquê desta avaliação, como se a
condição encontrada fosse inquestionável e
insubstituível. No ambiente hospitalar, o fato
de a pessoa, ao adoecer e ao se internar,
sofrer uma redução do próprio espaço e
abdicar de sua autonomia é verificado
também na percepção do ato de alimentar-se,
passando, assim, por um importante processo
de despersonalização16.
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“É diferente dos meus horários, né,
porque vem o almoço onze horas...”
Segundo Canesqui17, os padrões e as
estruturas das refeições são culturalmente
específicos para cada sociedade, refletindo a
continuidade da identidade social e das
tradições, permeando sabores e gostos
aprendidos simbolicamente pelos indivíduos.
A seqüência de comer no meio
hospitalar encobre especificidades relativas à
doença e à própria estrutura do serviço,
sendo difícil representarem-se as dimensões
simbólicas2. Desta forma, não é oferecido
aconchego às pessoas internadas, uma vez
que a burocracia dos serviços de saúde
dificulta o desenvolvimento de um “toque
pessoal”, podendo gerar apreensão e
ansiedade para estes indivíduos.
“Tá bom, estou no hospital e doente
mesmo...” - Os sujeitos limitaram-se a
avaliar o serviço prestado levando em
consideração a condição de hospitalização. A
estrutura do serviço é considerada como algo
sem possibilidades de mudanças ou
melhorias, porém os intervalos de tempo
entre as refeições são analisados como
condicionantes
para
menor
ingestão
alimentar. Pode-se observar esta avaliação
nas falas a seguir:
“Eu acho que a minha casa é uma
coisa, aqui é outra e eu tenho que
respeitar o horário, não tenho nada
pra reclamar.”
“Achei normal, só muito repetitivo,
por exemplo, eu tô comendo agora,
não desceu ainda e já vem outra em
cima. Não dá tempo nem de fazer a
digestão.”
“Aí vai ficando tudo muito perto. Daí a
gente vai empurrando, até por causa
do tratamento. Até tenho que fechar o
olho pra empurrar.”
Na França, um estudo desenvolvido
com 10% dos hospitais ligados à Assistência
Pública dos Hospitais de Paris constatou
falhas importantes relacionadas à qualidade
dos serviços prestados, destacando a
variedade e a quantidade da alimentação, a
apresentação das preparações e os horários
de distribuição das refeições18. Como
resposta, Corbeau2 colocou que a
alimentação coletiva deve conhecer melhor e
aprender a respeitar a pluralidade da
população hospitalar, não reduzindo a
refeição a nutrientes, mas tornando-a fonte
de prazer e respeitando a identidade da
pessoa hospitalizada.
Conversando com os nutricionistas
Todos os nutricionistas entrevistados
revelaram a existência de reclamações sobre
os horários de distribuição das refeições,
principalmente no que se refere ao almoço e
ao jantar, conforme descrito na fala a seguir:
“Dos pacientes, eu acho que é geral, é
unânime, eu acho que é universal a
reclamação dos horários. Aqui no
nosso caso, é mais almoço, que é um
pouquinho cedo demais... Mas não é o
pior. Pior mesmo é o jantar.”
Foi levantada a relação entre a
ocorrência das reclamações por parte das
pessoas internadas e as estações do ano.
Segundo os nutricionistas, as queixas se
tornam
mais
comuns
no
verão,
principalmente devido à mudança de horário,
tornando maior a insatisfação. Pode-se
observar este aspecto nos seguintes relatos:
“Eu acredito que as reclamações
sejam mais freqüentes no verão porque
tá jantando às quatro e meia da tarde,
horário de verão. Então, com sol a
pino, né? Então, durante o inverno,
como escurece mais rápido, até que
não...”
Outro ponto abordado foi relativo aos
costumes dos pacientes, diferentes da rotina
alimentar instituída pelo hospital.
“As pessoas não têm hábito de comer
de três em três horas e aqui no hospital
é fornecido nesse período. Então eles
acham que vem muito seguido.”
“Acho que tinha que rever almoço e
jantar, o que vai implicar em uma série
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de mudanças internas, tanto de rotina
quanto de horário de pessoal, mas
seria muito mais adequado porque
ficaria mais próximo da realidade de
casa.”
Quanto às mudanças exigidas do
Serviço, comentadas na última fala, é
levantado que “o maior empecilho de
mudança de horários vai ser principalmente
o horário dos funcionários, as saídas, que
vai ficar oito, nove da noite, vai ser mais
complicado.”, reforçando que a instituição
hospitalar organiza-se claramente para
atender às exigências de sua estrutura e
pessoal, muito mais do que às necessidades
da pessoa internada.
Quando indagados sobre a aceitação de
novos horários de distribuição de refeições,
os nutricionistas revelaram expectativas,
principalmente quanto à redução da recusa
alimentar, diminuindo, conseqüentemente o
risco de desenvolvimento de desnutrição
intrahospitalar e suas conseqüências: “Então
eu acho que realmente deveria, pelo menos a
janta, ser mais tarde, que daí o paciente ia
ficar mais nutrido e não ia ter tanto
problema.”
Desta forma, evidencia-se a necessidade de
investir esforços na mudança da cultura
alimentar hospitalar, fazendo da atenção
nutricional parte importante do tratamento ao
indivíduo hospitalizado19.
A proposta de mudança dos horários de
refeições
Frente à necessidade de humanização
do cuidado alimentar e nutricional, detectada
através das falas dos nutricionistas e diante
das entrevistas realizadas com os pacientes,
organizou-se um novo modelo de horários
para a distribuição de refeições no âmbito
hospitalar, conforme pode ser observado na
Tabela 1. Considerando ainda que esta
proposta implica em modificações de rotinas
das pessoas que cuidam dos internados e de
seus acompanhantes, ocorreram alterações
também no horário de distribuição das
refeições aos funcionários do hospital no
refeitório.
Tabela 1: Proposta de novos horários de distribuição das refeições aos pacientes
internados no hospital analisado. Florianópolis, 2009.
Refeição
Desjejum
Colação
Almoço
Lanche
Jantar
Ceia
Horário de distribuição
Pacientes
Refeitório
Existente Proposto Existente Proposto
07h30
08h
07h
08h
09h30
10h
11h
12h
11h30
12h00
14h30
15h30
15h00
15h30
17h30
18h45
18h00
19h00
21h00
21h00
22h30
20h00
Quanto ao horário de distribuição da
ceia aos funcionários, segundo um dos
nutricionistas: “tem gente que acha muito
tarde a ceia dos funcionários, eles gostariam
de ter uma alimentação mais cedo, eles já
vêm de outros hospitais, vêm com fome e
gostariam de comer mais cedo do que
quando é servido.” Assim, diante desta
constatação e devido à reestruturação dos
turnos dos funcionários da UAN, optou-se
também em fazer uma reavaliação e
modificação no horário desta refeição,
passando-a das 23:00h para as 20:00h.
As mudanças efetuadas nas rotinas dos
funcionários limitaram-se à readequação de
horários, sem alterações nas atividades
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Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 44-50, jan./jun. 2009
(Tabela 2). Em síntese, a principal
modificação proposta foi relativa ao turno
noturno. Com a reestruturação dos horários
de distribuição de refeições, propõe-se que,
ao invés de 1 cozinheiro e 3 copeiras em
turnos de 12 horas, sejam realizados turnos
noturnos de 6 horas, com a presença de 3
cozinheiros
e
apenas
1
copeira.
Tabela 2: Horários de funcionários, segundo cargos, e proposta de adequação aos novos
horários de distribuição do hospital analisado. Florianópolis, 2009.
Copeira diurno
Turno
Horário existente
07h - 19h
Turno
Horário proposto
07h30 – 19h30
Copeira noturno
19h - 07h
18h30 – 06h30
Produção diurno (cozinheiros e auxiliares)
07h - 19h
08h – 20h00
Produção noturno (cozinheiros)
19h - 07h
17h – 23h00
07h30 – 19h30
09h – 21h00
Despensa
07h - 19h
07h – 19h00
Café e sobremesas
07h - 19h
06h30 – 18h30
Colação
07h - 13h
07h – 13h
Cargo
Higienização de utensílios
Considerações finais
A partir da percepção de pacientes e
nutricionistas em relação aos horários de
distribuição das refeições no hospital
analisado, foi revelada a distância entre o
praticado na instituição hospitalar em
questão e o realizado fora da condição de
hospitalização.
O nutricionista é um agente promotor
de saúde na ampla visão deste conceito. Sua
função não se reduz a prevenir doenças ou
curar indivíduos a partir da restrição ou da
adição de componentes nutricionais aos
costumes alimentares dos indivíduos. Vai
além disto, pois permeia a cultura dos
indivíduos, o sabor dos alimentos, as
recordações por eles evidenciadas.
A alimentação e a nutrição não
precisam vir carregadas de conotação
proibitiva e de castigo. Podem ser conforto e
prazer mesmo quando as necessidades se
tornam especiais diante de situações
particulares. Desta forma, a condição de
hospitalização – em geral entendida como
um processo permeado de características e
processos insubstituíveis, como identificado
na fala da maioria dos entrevistados – pode
realmente ser organizada de acordo com as
necessidades da pessoa internada e não a
partir de dimensões mais voltadas às
exigências de pessoal e do conjunto da
estrutura hospitalar, como ocorre com os
horários de visitas e de refeições.
Desta
forma,
a
proposta
de
reestruturação do horário de distribuição das
refeições baseada na humanização do
atendimento em saúde, política adotada pela
instituição estudada, mostra-se de extrema
relevância, na medida em que se faz
instrumento para sua efetivação. Para tal,
foram necessárias modificações nos horários
de turnos de trabalho e de execução das
atividades de funcionários da UAN, não
sendo necessárias mudanças nas ações
prestadas pelos profissionais.
É importante salientar a necessidade de
avaliação da efetividade e da eficácia da
proposta, a fim de qualificar o atendimento
prestado pela UAN em questão, resgatando a
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Souza, T. T. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 44-50, jan./jun. 2009
alimentação como fonte de prazer e bemestar aos seus comensais.
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Saúde 2003;22:50-9.
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Sistema da Atenção Hospitalar Brasileira.
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11. Brandão CR. Pesquisa Participante.
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12. Demo P. Metodologia em Ciências
Sociais. São Paulo: Atlas; 1989.
13. Vaitsman J, Andrade GRB. Satisfação
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14. Minayo MCS. Pesquisa social: teoria,
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15. Bardin L. Análise do Conteúdo.
Lisboa: Edições 70; 1997.
16. Amin TCC. O paciente internado no
hospital, a família e a equipe de saúde:
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17. Canesqui AM. Mudanças e
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Canesqui
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Garcia
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um diálogo possível. Rio de Janeiro: Rio
de Janeiro; 2005. p. 167-204.
18. Guy-Grand B. La Restauration
Hospitaliere: vers une prise en compte de
la Nutrition dans les Structures
Hospitalières de soins. La Lettre
Scientifique 1998;1:1-5.
19. Garcia RWD. A dieta hospitalar na
perspectivas dos sujeitos envolvidos em
sua produção e em seu planejamento.
Revista de Nutrição 2006;19:129-44.
50
Normas de Publicação
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 51-54, jan./jun. 2009
NORMAS EDITORIAIS DA REVISTA CIÊNCIAS DA SAÚDE
1. Serão aceitos, no máximo 2 (dois)
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originais por autor que,
destinados exclusivamente à Revista
Ciências da Saúde, serão submetidos à
avaliação e aprovação de uma
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Editorial.
2. A Comissão Editorial assegura o
anonimato do(s) autor(es) no processo
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5. Excepcionalmente,
serão
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trabalhos já publicados em periódicos
estrangeiros, desde que autorizados pela
Comissão Editorial do periódico onde o
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sido
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6. A Consultoria Científica se reserva o
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de
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eventuais
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do trabalho, que serão acordadas com os
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ou alterações após o envio para
composição editorial.
7. As opiniões emitidas nos trabalhos, bem
como a exatidão, adequação e
procedência das citações bibliográficas,
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8. A revista classificará os textos
encaminhados de acordo com as
seguintes seções:
8.1
EDITORIAL
–
matéria
de
responsabilidade da Comissão Editorial da
Revista.
8.2
ARTIGOS
ORIGINAIS:
a)
PESQUISA – constará de relatos de
investigações científicas concluídas. b)
REVISÃO – abrangerá revisões de literatura
sobre temas específicos. c) RELATO DE
EXPERIÊNCIA/CASOS CLÍNICO –
incluirá descrições de atividades acadêmicas
assistenciais e de extensão. d) REFLEXÃO
– apresentará materiais de caráter opinativo
e/ou análise de questões que possam
contribuir para o aprofundamento de temas
relacionados à área a que se destina a revista.
8.3 OUTRAS SEÇÕES: a) ENTREVISTA
– espaço destinado a entrevistas de
autoridades / especialistas / pesquisadores. b)
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE
CURSO
/
DISSERTAÇÕES
DE
MESTRADO
E
TESES
DE
DOUTORADO
–
RESUMOS
E
ABSTRACT c) PÁGINA DO LEITOR.
9. NORMAS DE APRESENTAÇÃO DE
TRABALHOS
9.1 – FORMATO – O trabalho deverá ser
encaminhado em 02 (duas) vias. Na
digitação deverá ser utilizado espaço 1,5;
com margem esquerda 3 cm; margem direita
(superior e inferior) 2 cm; letra Times New
Roman, tamanho 12, observando a ortografia
oficial, editor Word For Windows. O título
deverá ser em caixa alta, negrito, espaço 1,5
simples e justificado. Os autores deverão
estar abaixo do título do artigo, em negrito,
espaço simples e em caixa baixa. O texto
deverá conter seus respectivos títulos, de
acordo com as características do trabalho
(ex. Artigo de pesquisa: Introdução,
Métodos, Resultados e Discussão, etc.),
formatados em caixa baixa, negrito. É
obrigatório o envio de disquete ou CD-ROM
na primeira etapa do trabalho.
9.2 – PADRÃO DE APRESENTAÇÃO –
a) ARTIGOS ORIGINAIS – redigidos de
acordo com as normas da Revista do CCS
devendo conter no máximo 15 laudas de
texto para artigos originais e 25 para revisões
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e observar o que segue:  Título do artigo em
português (caixa alta) e inglês (caixa baixa) e
entre colchetes. Nome(s) completo(s) do(s)
autor(es). Em nota de roda pé a(s)
credencial(is) e local de atividade do(s)
autor(es) (espaço 1,5 cm), email para
correspondência.  Resumo indicativo em
português, de acordo com as normas da
Revista do CCS, com até 100 palavras, em
espaço 1,5.  Palavras-chave - palavras ou
expressões que identifiquem o artigo. Para
determinação das palavras-chave consultar
a lista de “Descritores em Ciências da Saúde
– DECS-LILACS”, elaborada pela BIREME
e/ou “Medical Subject Heading –
Comprehensive Medline”. Texto – incluindo
ilustrações (quadros, fotos, modelos, mapas,
desenhos, gravuras, esquemas, gráficos e
tabelas), com seus respectivos títulos e fontes
(quando houver). Exceto gráficos e tabelas,
todas as ilustrações deverão ser designadas
como figuras. As despesas com os fotolitos
de figuras somente coloridas serão de
responsabilidade dos autores  Abstract –
tradução do resumo em inglês, em espaço 1,5
cm.  Keywords – tradução das palavraschave para o inglês.
As referências (Normas de Vancouver) no
texto
deverão
ser
numeradas
consecutivamente de forma crescente e na
ordem que aparecem no texto pela primeira
vez, identificando assim os autores
SOMENTE
POR
NÚMEROS.
A
numeração, no texto, portanto deve ser em
ORDEM
CRESCENTE
e
SOBRESCRITO. NÃO LISTAR OS
NOMES DOS AUTORES NO TEXTO.
No setor de referências: (Normas de
Vancouver)
A
listagem
de
referências deverá seguir a mesma ORDEM
NUMÉRICACRESCENTE do texto. NÃO
COLOCAR OS AUTORES EM ORDEM
ALFABÉTICA.
 EXEMPLOS DE REFERÊNCIAS
A) Artigos de revistas
1. Artigo padrão de revista:
Listar os primeiros seis autores seguido por
et al.
Vega KJ, Pina I, Krevsky B. Heart
transplantation is associated with an
increased risk for pancreatobiliary disease.
Ann Intern Med 1996;124:980-3.
Mais do que seis autores:
Parkin DM, Clayton D, Black RJ, Masuyer
E, Friedl HP, Ivanov E, et al. Childhood-leukaemia in Europe after Chernobyl: 5 year
follow-up. Br J Cancer 1996;73:1006-12.
2. Organização como autor:
The Cardiac Society of Australia and New
Zealand. Clinical exercise stress testing.
Safety and performance guidelines. Med J
Aust 1996;164:282-4.
3. Sem menção de autor:
Cancer in South Africa [editorial]. S Afr
Med J 1994;84:15.
4. Volume com suplemento:
Shen HM, Zhang QF. Risk assessment of
nickel carcinogenicity and occupational lung
cancer. Environ Health Perspect 1994;102
Suppl 1:275-82.
5. Número com suplemento:
Payne DK, Sullivan MD, Massie MJ.
Women's psychological reactions to breast
cancer. Semin Oncol 1996;23(1 Suppl 2):8997.
6. Volume com parte:
Ozben T, Nacitarhan S, Tuncer N. Plasma
and urine sialic acid in non-insulin
dependent diabetes mellitus. Ann Clin
Biochem 1995;32(Pt 3):303-6.
7. Número com parte:
Poole GH, Mills SM. One hundred
consecutive cases of flap lacerations of the
leg in ageing patients. N Z Med J
1994;107(986 Pt 1):377-8.
8. Número sem menção de volume:
Turan I, Wredmark T, Fellander-Tsai L.
Arthroscopic ankle arthrodesis in rheumatoid
arthritis. Clin Orthop 1995;(320):110-4.
9. Sem menção de número nem de
volume:
52
Normas de Publicação
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Browell DA, Lennard TW. Immunologic
status of the cancer patient and the effects of
blood transfusion on antitumor responses.
Curr Opin Gen Surg 1993:325-33.
10. Paginação em numeração romana:
Fisher GA, Sikic BI. Drug resistance in
clinical
oncology
and
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Introduction. Hematol Oncol Clin North Am
1995 Apr;9(2):xi-xii.
11. Indicação do tipo de artigo, se
necessário:
Enzensberger W, Fischer PA. Metronome in
Parkinson's
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[carta].
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Hematological complications of hantavirus
nephropathy (HVN) [resumo]. Kidney Int
1992;42:1285.
12. Artigo contendo retratação:
Garey CE, Schwarzman AL, Rise ML,
Seyfried TN. Ceruloplasmin gene defect
associated with epilepsy in EL mice
[retractação de Garey CE, Schwarzman AL,
Rise ML, Seyfried TN. In: Nat Genet
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13. Artigo retratado:
Liou GI, Wang M, Matragoon S. Precocious
IRBP gene expression during mouse
development
[retractado
em
Invest
Ophthalmol Vis Sci 1994;35:3127]. Invest
Ophthalmol Vis Sci 1994;35:1083-8.
14. Artigo com erratum publicado:
Hamlin JA, Kahn AM. Herniography in
symptomatic patients following inguinal
hernia repair [erratum publicado encontra-se
em West J Med 1995;162:278]. West J Med
1995;162:28-31.
B- Livros e outras monografias
1. Autor(es) individual:
Ringsven MK, Bond D. Gerontology and
leadership skills for nurses. 2nd ed. Albany
(NY): Delmar Publishers; 1996.
2. Editor(es), compilador, como autor:
Norman IJ, Redfern SJ, editors. Mental
health care for elderly people. New York:
Churchill Livingstone; 1996.
3. Organização como autor e editor:
Institute of Medicine (US). Looking at the
future
of
the
Medicaid
program.
Washington: The Institute; 1992.
4. Capítulo de um livro:
Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and
stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis,
and management. 2nd ed. New York: Raven
Press; 1995. p. 465-78.
5. Livro de atos de conferência, congresso,
encontro:
Kimura J, Shibasaki H, editors. Recent
advances in clinical neurophysiology.
Proceedings of the 10th International
Congress
of
EMG
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Clinical
Neurophysiology; 1995 Oct 15-19; Kyoto,
Japan. Amsterdam: Elsevier; 1996.
6. Comunicação em conferência:
Bengtsson S, Solheim BG. Enforcement of
data protection, privacy and security in
medical informatics. In: Lun KC, Degoulet
P, Piemme TE, Rienhoff O, editors.
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North-Holland; 1992. p. 1561-5.
7. Relatório técnico ou científico:
Publicado pela entidade financiadora ou
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8. Dissertação:
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Univ.;
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53
Normas de Publicação
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 51-54, jan./jun. 2009
9. Patente:
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The Holy Bible. King James version. Grand
Rapids (MI): Zondervan Publishing House;
1995. Ruth 3:1-18.
6. Dicionário e referências semelhantes:
Stedman's medical dictionary. 26th ed.
Baltimore: Williams & Wilkins; 1995.
Apraxia; p. 119-20.
7. Texto clássico:
The Winter's Tale: act 5, scene 1, lines 1316. The complete works of William
Shakespeare. London: Rex; 1973.
B) Material não publicado
8. Aguardando publicação:
Leshner AI. Molecular mechanisms of
cocaine addiction. N Engl J Med. Em
publicação 1996. Material electrónico
C) Material eletrônico
9. Revista em formato eletrônico:
Morse SS. Factors in the emergence of
infectious diseases. Emerg Infect Dis [serial
online] 1995 Jan-Mar [cited 1996 Jun 5];
1(1):[24 ecrans]. Disponível em: URL:
http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm
10. Monografia em formato eletrônico:
CDI, clinical dermatology illustrated
[monografia em CD-ROM]. Reeves JRT,
Maibach H. CMEA Multimedia Group,
producers. 2nd ed . Version 2.0. San Diego:
CMEA; 1995.
11. Ficheiro de computador:
Hemodynamics III: the ups and downs of
hemodynamics [programa de computador].
Version 2.2. Orlando (FL): Computerized
Educational Systems; 1993.
10.O(s) autores deverão encaminhar o artigo
para análise acompanhado de uma carta com
os seguintes dizeres:
(Cidade, data)
À Comissão Editorial
Revista de Ciências da Saúde
Os autores abaixo assinados transferem come
exclusividade, os direitos de publicação, na
Revista de Ciências da Saúde do artigo
intitulado: (escrever título do artigo) e
garantem que o artigo é inédito e não está
sendo avaliado ou foi publicado por outro
periódico.
(incluir nome completo de todos os autores,
endereço postal, telefone, email, fax, e
assinaturas respectivas.
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