O HOMEM DUPLAMENTE SÁBIO E TRIPLAMENTE EGOÍSTA
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O HOMEM DUPLAMENTE SÁBIO E TRIPLAMENTE EGOÍSTA
O HOMEM DUPLAMENTE SÁBIO E TRIPLAMENTE EGOÍSTA “Somos o maior vírus de todos os tempos Possuímos uma dupla sabedoria, porém um triplo egoísmo Somos destruidores por natureza, sugadores dos recursos naturais Dizem que a cura para a Terra está longe de ser encontrada Mas na verdade, para o mundo não morrer, só depende do próprio vírus Ele precisa passar a ser duplamente egoísta e triplamente sábio Pois se o mundo morrer, ele também morrerá” - afirmo! Em 300.000 a.C. evoluímos finalmente para o Homo sapiens sapiens, o auge da evolução humana. Um homem duplamente sábio, como o próprio do nome da espécie diz. Sendo a dupla sabedoria sua maior habilidade. Cada ser evoluiu e continua evoluindo buscando sempre, por meio de mutações genéticas, atributos melhores. Vale lembrar que cada espécie possui uma habilidade em que se destaca, em que é melhor; de modo simples e genérico: os pássaros voam, os microorganismos fazem a decomposição, os peixes nadam, as árvores absorvem o CO2, etc. Qualquer um que tentar imitar a habilidade da outra espécie, fracassará. Assim como cada espécie possui uma grande habilidade, a melhor do homem duplamente sábio consiste em sua dupla inteligência; pode-se dizer que sua parte física é fraca e inútil. Planeta Terra equilibrado, ideal. Desenho estilo "for kids" por Mariana Lorenzo. 2010. Cada espécie com sua habilidade contribui para um equilíbrio mundial. Como se cada habilidade de cada espécie fosse uma peça de um quebra-cabeça e todas unidas e encaixadas de modo correto foram uma imagem completa e harmoniosa. Uma peça faria falta. Causaria um desequilíbrio. Há, portanto, uma interligação entre todos os seres e o meio abiótico. O homem, infeliz com sua habilidade, foi além. Ultrapassou os limites da natureza e desequilibrou todo o sistema ecológico. A bela imagem do quebra-cabeça completo transformou-se numa distorção. O homem duplamente sábio gerou o desequilíbrio universal. Ele utilizou sua maior habilidade para causar malefícios ao mundo, mesmo sem ter essa intenção. Planeta Terra atual, desequilibrado. Desenho estilo "for kids" por Mariana Lorenzo. 2010. O homem de certa forma busca a perfeição: construiu o microscópio para enxergar além do que é capaz. Fez o mesmo com o telescópio, binóculos, lupa, óculos, etc. Construiu carros, ferrovias, navios, aviões, dentre outros meios de transporte para alcançar o que seus pés não alcançavam – e que sua preguiça não deixava. Como aponta Freud em seu livro O Mal-Estar Na Cultura (1930): “Com todas as suas ferramentas, o homem aperfeiçoa os seus órgãos – tanto os da motilidade quanto os da sensibilidade – ou remove as barreiras para a sua operação. Os motores lhe colocam forças gigantescas à disposição, que ele pode direcionar, como os seus músculos, para onde quiser; o navio e o avião fazem com que nem a água nem o ar possam impedir sua movimentação. Com os óculos, ele corrige as deficiências da lente em seu olho; com o telescópio, enxerga a distâncias remotas; com o microscópio, supera os limites da visibilidade impostos pela estrutura de sua retina. Com a máquina fotográfica, ele criou um instrumento que retém as fugazes impressões visuais, algo que o disco de gramofone faz com as igualmente passageiras impressões sonoras, sendo ambos, no fundo, materializações de sua capacidade de recordação, de sua memória. Com a ajuda do telefone, ele ouve a distancias que mesmo os contos de fadas respeitariam como inalcançáveis; originalmente, a escrita é a linguagem de quem está ausente; a moradia, um substituto para o útero materno, a primeira, provavelmente ainda aspirada habitação, em que estávamos seguros e nos sentíamos tão bem.” Em outras palavras, os humanos, fracos fisicamente, construíram coisas para se satisfazerem; estas coisas lhe davam o que seu físico era incapaz de dar; buscaram adquirir atributos que não tinham construindo-os por meio de sua dupla inteligência, porém, alimentando seu triplo egoísmo e assim, desequilibrando o mundo mais ainda, quebrando as interligações entre as espécies. Distorcendo a bela imagem que existia do quebra-cabeça ideal e equilibrado. Créditos: WWF. É como se cada espécie, cada ser no mundo, tivesse um papel, que só ela consegue fazer; e cada uma cumprindo a sua parte, acarreta em um equilíbrio universal. Todavia, cumpre observar que o homem não foi capaz de apenas contribuir para o equilíbrio. Sua curiosidade e inquietação eram tanta que o levou a dar infinitos passos em direção a perfeição, e esta, nunca atingida, por ser inexistente. Créditos: WWF. De maneira geral, os humanos não conseguem estacionar em um degrau. Ele precisa continuar subindo a escada sem fim. Precisa buscar adquirir atributos que não têm. Precisa ir além. A ansiedade e a busca pela satisfação os levam a caminhos escuros, em que a luz raramente aparece. Além disso, vale lembrar que o homem nunca enxerga a realidade. Vê o que ele quer ver nas coisas. Seus pensamentos, em sua maioria, abstratos, confundem os olhos humanos, levando a mente as mais profundas ilusões. Como observa Thoreau em Walden (1854): “Pensamos que as coisas são o que parecem ser.” As atitudes humanas desequilibram o planeta e alimentam o ego humano. Além de criarmos um mundo desordenado e maléfico, vale afirmar que viramos escravos do próprio sistema que construímos. Nunca ouvi falar de alguém que esteja satisfeito com ele. As pessoas vivem se arrastando para trabalhar e em sua maioria se sentem miseráveis e infelizes, desejando muitas vezes, uma vida luxuosa que poucos possuem, achando que a chave para a felicidade está aí. “Vivemos mesquinhamente, como formigas, embora conte a fábula que fomos transformados em homens muito tempo atrás”, diz Thoreau (1854). Poucos têm a chance de viver a vida fazendo o que gosta, ou ainda, poucos despertam a vontade de viver. E são poucos aqueles que reconhecem que felicidade não se encontra ao possuir bens materiais e sim ao se tornar livres deles. Ou melhor, a felicidade é atingida ao encontrar a liberdade, em todas as suas formas. “Pois a riqueza de um homem é proporcional ao número de coisas que ele pode deixar em paz”, afirma Thoreau (1854). O autor continua: “Mas eu diria a meus semelhantes, de uma vez por todas: Enquanto der, vivam livres e sem se prender. Pouca diferença faz se você está preso a um sítio ou na cadeia do condado.” Pode-se enxergar o Homo sapiens sapiens como um vírus, que dominou o planeta de tal forma que o deixou fraco demais para recuperar-se. Podemos o chamar agora de Vírus Man, o maior vírus de todos os tempos. Desequilibra o mundo com sua inquietação e egoísmo inato, porém curáveis. Este Vírus tem a capacidade de quebrar as interligações entre as espécies para alimentar seu egoísmo. Sua dupla inteligência pode-se ser vista como dupla ignorância, pois mais realizou coisas malignas e destrutivas às sábias e harmoniosas. Vírus man - desenho por M. Lorenzo. 2010 Pode-se concluir que o homem duplamente sábio, também visto como Vírus Man, destruidor por natureza, é triplamente egoísta. Poucos são aqueles que se destacam por não alimentarem seu ego e sim por se livrarem dele: Buda, Jesus, São Francisco, Gandhi. Estes acharam a chave para a felicidade e nós conhecemos suas frases, porém, não a seguimos. Livrar-se do sistema hipnotizador é muito difícil para os humanos presos no comodismo e em seu mundo rodeado por concretos e conforto. Porém, só ao se livrar dele é que iremos parar de alimentar o sofrimento terrestre e assim, pararemos de ser triplamente egoísta e passaremos a ser duplamente sábios e bons. E ainda, deste modo, contribuiríamos para o equilíbrio terrestre e para que as interligações entre as espécies existam harmoniosamente. Buda por Gyokusei Jikihara Sensei “Estamos cercados por concretos e CO2 O comodismo nos domina e o sistema nos sufoca A liberdade está longe do mundo” - digo. Mariana Lorenzo Janeiro de 2011 Referências bibliográficas: THOREAU, Henry David. Walden. 1854. Coleção L&PM Pocket. Rio de Janeiro. 2010. FREUD, Sigmund. O Mal-Estar Na Cultura. 1930. Coleção L&PM Pocket. Rio de Janeiro. 2010.