Rastreabilidade pode resultar em ganhos
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Rastreabilidade pode resultar em ganhos
Página 15 Rastreabilidade pode resultar em ganhos Cada R$ 1,00 investido em rastreabilidade, pode ser revertido em ganhos de R$ 10,00, afirma o presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC), Sebastião Costa Guedes. Não basta, no entanto, que o Brasil invista em sanidade animal: é necessário trabalhar com os demais países do Mercosul, a fim de garantir a erradicação da aftosa. Também presidente do Grupo Interamericano de Erradicação da Febre Aftosa (Giefa), Guedes visitou o Rio Grande do Sul e concedeu entrevista para o Sul Rural. Sul Rural - O que o senhor acha da legislação em tramitação sobre a coleta dos frascos de vacina anti-aftosa? O Brasil já tem uma legislação adequada. Precisamos afinar a sintonia entre governo federal, governo estadual, municípios e setor privado. Temos problemas sérios no Brasil de falta de autoridade sanitária preponderante. Temos um centralismo enorme de recursos na mão da União, previstos no orçamento, mas nunca gastam na agropecuária, que chegam sempre atrasados. Esse negócio de recolher frascos demonstra a melhor das intenções, mas isso não resolve, já temos uma legislação adequada. Temos que fazer boas campanhas de vacinação durante três ou quatro anos. Depois, vamos avaliar a circulação viral e tomar as medidas que o caso requeira. A meta de se atingir a erradicação da aftosa sem vacinação é uma meta real, mas temos que passar por fase de três, quatro, cinco anos de intensa vacinação em todo o rebanho. O senhor acha que, fazendo os investimentos certos, o Brasil vai conseguir ser livre de aftosa se os outros países não investirem? Eu acho que a situação do RS é fácil, mas precisa de um entrosamento regional. Temos de juntar os governos da Argentina, do Brasil, do Paraguai e da Bolívia e trabalhar nas regiões críticas. Temos que largar mão desta palhaçada de autoridades sanitárias do Mato Grosso do Sul acharem que o problema é só do Paraguai. O problema é misto. Agora, não adianta querer acabar com isso com rifle, com policiamento. As autoridades sanitárias dos países têm que chegar a um acordo. Qual a importância de ser livre de de aftosa sem vacinação? A importância de sermos livre de aftosa, em uma fase inicial com vacinação, e posteriormente sem vacinação, é muito grande, porque vai descomplicar mui- Quatrocentos quilos aos doze meses Getúlio Marcantonio* Investir em sanidade do rebanho pode gerar novos mercados para a carne brasileira to os negócios do Brasil. Não só da carne, mas negócios de toda a agropecuária, porque a aftosa tem sido colocada como uma barreira não comercial às commodities que o Brasil exporta. Na hora que erradicarmos a aftosa, vai estar demonstrado que temos uma estrutura de defesa sanitária que funciona e que vai servir para outras doenças. Vamos agregar mais valor na exportação da carne brasileira. Erradicando a aftosa, vamos poder colocar nossa carne no mercado norte-americano, vamos poder ampliar nossa presença na União Européia e poderemos entrar no Japão, na Tailândia e na Coréia, mercados de alto preço. Se entrarmos nestes mercados, parte da nossa produção de carne sai de um patamar de 2 mil dólares a tonelada e pode ir a 4 mil, 5 mil dólares a tonelada. Isso vai propiciar o frigorífico de remunerar melhor o produtor. O dinheiro que seria investido em sanidade seria revertido em ganhos? Rapidamente. Cada R$ 1,00 investido, você terá R$ 10,00, R$ 11,00 de retorno rápido. Veja o Uruguai. Teve a crise da aftosa em 2000, 2001, e agora entra numa fase de livre com vacinação. Sabe quantas toneladas o Uruguai mandou aos EUA nos últimos 12 meses? 300 mil toneladas, a 3 mil dólares a tonelada. As exportações uruguaias estão crescendo ao redor de 10% ao mês, porque está livre de aftosa com vacinação. Temos chances de exportar 500 mil toneladas a um preço melhor, 1 mil a 1,5 mil dólares a mais por tonelada. O senhor acha que as alterações no Sisbov são congruentes com o objetivo de erradicar a aftosa? O Sisbov começou com um grande problema. A obrigatoriedade de se fazer a rastreabilidade de todos os bovinos no Brasil era algo incongruente. Não temos condições de exigir isso de todos os criadores. São diferentes Brasis. Pessoalmente, sou a favor. Tudo isso está amarrado em um programa de rastreabilidade bem definido e com eletrônica. Essa história de que é muito caro é conversa. É muito caro, mas o retorno que você tem compensa. A proposta do Conselho Nacional de Pecuária de Corte é que rastreabilidade seja facultativa no mercado interno, mas obrigatória para todos que exportam, porque era uma maneira de dar volume de animais rastreados, de treinar e equipar frigoríficos para ter estes dados. O que aconteceu? Tiraram a obrigatoriedade da exportação. Acho isso um erro. Acho que deveria ser, nesta fase inicial, obrigatória para toda a exportação brasileira. Mandamos amanhã um navio de carne no Egito. Chega lá, encontram um resíduo de uma droga proibida. Tendo esses animais rastreados, chega no criador que usou esta droga. A repercussão que tem um fator negativo desses é imediata na União Européia, e começamos a sofrer sanções. Somos um país com potencial enorme em produção de carne, produzimos hoje 9 milhões de toneladas por ano, e exportamos de 25% a 30% disso, mas poderíamos dobrar o volume de exportação, porque o mundo tem demanda por carne. Acredito que a demanda mundial de carnes tem potencial de mais 25 milhões de toneladas de carne, é o triplo da atual produção brasileira. O Brasil pode assumir 25% a 30% deste volume, isso significa dobrar a produção brasileira de carne. Para isso, temos que ter algumas preocupações. Acho que o Brasil tem que parar com esta expansão acentuada no rebanho. Temos que procurar ganhos de produtividade. Temos que ter uma imagem que estamos equilibrando ecologia, bem estar animal, porque é isso que o consumidor pede no mundo. A preocupação com a limpeza do campo levou-me à procura das búfalas. Desconhecia, então, o elenco de suas qualidades. Com dois companheiros do Cite 5, trouxemos do Paraná uma carga de novilhas bubalinas, em 1977. Passados três anos, mostraram eficiência superior às matrizes vermelhas, todas tamanho médio, tal como recomendaram os zootecnistas. Era o meu sonho de criador. Com objetivo econômico, e não sentimental, as lindas vermelhas embarcaram todas para remate. Doeu o coração. E as pretas surpreendentes se adonaram dos campos da Pastoril Cincerro. Na busca pela precocidade, a opção foi pela Murrah, considerada a leiteira por excelência entre as 20 raças bubalinas. O cuidado no campo, na genética e o auxílio da manjedoura Cincerro anteciparam a terminação para o sobre ano. A produtividade bubalina permitiu produzir 288 quilos de carne por hectare, em 2005, nos campos da Serra do Sudeste. A rusticidade bubalina permitiu o custo de R$ 0,58 por quilo produzido, dois anos antes. Em 2005, fiz um teste para avaliar o desempenho de 50 terneiros búfalos, a pasto, até chegarem aos 12 meses de vida. O doutorando da Ufrgs em Zootecnia Davi Teixeira dos Santos acompanhou o teste. É a motivação destas linhas. Nascidos em abril, em 6 de maio pesaram 90 quilos, quando receberam os brincos identificadores. Durante o aleitamento, foram suplementados com feno na manjedoura Cincerro e, depois, tiveram acesso à pastagem de azevém, passando pelo brete Cincerro. Desmamados em dezembro, pastaram em campo natural, melhorado e diferido. A partir de fevereiro, foram colocados na pastagem Tifton 85. Em 13 de maio de 2006, pesaram 403 quilos em média. Aos 12 meses, eram bois prontos para abate, engordados a leite e a pasto, produzindo carne da melhor qualidade. O superprecoce é o mais próximo, mas a idade de abate é perto dos dois anos e confinado. A manjedoura Cincerro foi fundamental para este resultado, porque antecipa a terminação e o entoure. *Presidente da Federacite