Rastreabilidade pode resultar em ganhos

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Rastreabilidade pode resultar em ganhos
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Rastreabilidade pode resultar em ganhos
Cada R$ 1,00 investido em rastreabilidade, pode ser revertido em ganhos
de R$ 10,00, afirma o presidente do
Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC), Sebastião Costa Guedes.
Não basta, no entanto, que o Brasil invista em sanidade animal: é necessário
trabalhar com os demais países do Mercosul, a fim de garantir a erradicação da
aftosa. Também presidente do Grupo
Interamericano de Erradicação da Febre Aftosa (Giefa), Guedes visitou o Rio
Grande do Sul e concedeu entrevista
para o Sul Rural.
Sul Rural - O que o senhor acha da legislação em tramitação sobre a coleta
dos frascos de vacina anti-aftosa?
O Brasil já tem uma legislação adequada. Precisamos afinar a sintonia entre governo federal, governo estadual,
municípios e setor privado. Temos problemas sérios no Brasil de falta de autoridade sanitária preponderante. Temos
um centralismo enorme de recursos na
mão da União, previstos no orçamento,
mas nunca gastam na agropecuária, que
chegam sempre atrasados. Esse negócio de recolher frascos demonstra a
melhor das intenções, mas isso não resolve, já temos uma legislação adequada. Temos que fazer boas campanhas
de vacinação durante três ou quatro
anos. Depois, vamos avaliar a circulação viral e tomar as medidas que o caso
requeira. A meta de se atingir a erradicação da aftosa sem vacinação é uma
meta real, mas temos que passar por fase
de três, quatro, cinco anos de intensa
vacinação em todo o rebanho.
O senhor acha que, fazendo os investimentos certos, o Brasil vai conseguir ser livre de aftosa se os outros
países não investirem?
Eu acho que a situação do RS é fácil, mas precisa de um entrosamento regional. Temos de juntar os governos da
Argentina, do Brasil, do Paraguai e da
Bolívia e trabalhar nas regiões críticas.
Temos que largar mão desta palhaçada
de autoridades sanitárias do Mato Grosso do Sul acharem que o problema é só
do Paraguai. O problema é misto. Agora, não adianta querer acabar com isso
com rifle, com policiamento. As autoridades sanitárias dos países têm que chegar a um acordo.
Qual a importância de ser livre de
de aftosa sem vacinação?
A importância de sermos livre de aftosa, em uma fase inicial com vacinação,
e posteriormente sem vacinação, é muito grande, porque vai descomplicar mui-
Quatrocentos quilos
aos doze meses
Getúlio Marcantonio*
Investir em sanidade do rebanho pode gerar novos mercados para a carne brasileira
to os negócios do Brasil. Não só da carne, mas negócios de toda a agropecuária, porque a aftosa tem sido colocada
como uma barreira não comercial às
commodities que o Brasil exporta. Na
hora que erradicarmos a aftosa, vai estar demonstrado que temos uma estrutura de defesa sanitária que funciona e
que vai servir para outras doenças. Vamos agregar mais valor na exportação
da carne brasileira. Erradicando a aftosa, vamos poder colocar nossa carne no
mercado norte-americano, vamos poder
ampliar nossa presença na União Européia e poderemos entrar no Japão, na
Tailândia e na Coréia, mercados de alto
preço. Se entrarmos nestes mercados,
parte da nossa produção de carne sai
de um patamar de 2 mil dólares a tonelada e pode ir a 4 mil, 5 mil dólares a
tonelada. Isso vai propiciar o frigorífico
de remunerar melhor o produtor.
O dinheiro que seria investido em
sanidade seria revertido em ganhos?
Rapidamente. Cada R$ 1,00 investido, você terá R$ 10,00, R$ 11,00 de
retorno rápido. Veja o Uruguai. Teve a
crise da aftosa em 2000, 2001, e agora
entra numa fase de livre com vacinação.
Sabe quantas toneladas o Uruguai mandou aos EUA nos últimos 12 meses? 300
mil toneladas, a 3 mil dólares a tonelada. As exportações uruguaias estão crescendo ao redor de 10% ao mês, porque está livre de aftosa com vacinação.
Temos chances de exportar 500 mil toneladas a um preço melhor, 1 mil a 1,5
mil dólares a mais por tonelada.
O senhor acha que as alterações
no Sisbov são congruentes com o objetivo de erradicar a aftosa?
O Sisbov começou com um grande
problema. A obrigatoriedade de se fazer a rastreabilidade de todos os bovinos no Brasil era algo incongruente. Não
temos condições de exigir isso de todos
os criadores. São diferentes Brasis. Pessoalmente, sou a favor. Tudo isso está
amarrado em um programa de rastreabilidade bem definido e com eletrônica.
Essa história de que é muito caro é conversa. É muito caro, mas o retorno que
você tem compensa. A proposta do
Conselho Nacional de Pecuária de Corte é que rastreabilidade seja facultativa
no mercado interno, mas obrigatória
para todos que exportam, porque era
uma maneira de dar volume de animais
rastreados, de treinar e equipar frigoríficos para ter estes dados. O que aconteceu? Tiraram a obrigatoriedade da exportação. Acho isso um erro. Acho que
deveria ser, nesta fase inicial, obrigatória para toda a exportação brasileira.
Mandamos amanhã um navio de carne
no Egito. Chega lá, encontram um resíduo de uma droga proibida. Tendo esses animais rastreados, chega no criador que usou esta droga. A repercussão
que tem um fator negativo desses é imediata na União Européia, e começamos
a sofrer sanções. Somos um país com
potencial enorme em produção de carne, produzimos hoje 9 milhões de toneladas por ano, e exportamos de 25% a
30% disso, mas poderíamos dobrar o
volume de exportação, porque o mundo tem demanda por carne. Acredito que
a demanda mundial de carnes tem potencial de mais 25 milhões de toneladas
de carne, é o triplo da atual produção
brasileira. O Brasil pode assumir 25% a
30% deste volume, isso significa dobrar
a produção brasileira de carne. Para
isso, temos que ter algumas preocupações. Acho que o Brasil tem que parar
com esta expansão acentuada no rebanho. Temos que procurar ganhos de produtividade. Temos que ter uma imagem
que estamos equilibrando ecologia, bem
estar animal, porque é isso que o consumidor pede no mundo.
A preocupação com a limpeza do
campo levou-me à procura das búfalas. Desconhecia, então, o elenco
de suas qualidades. Com dois companheiros do Cite 5, trouxemos do
Paraná uma carga de novilhas bubalinas, em 1977. Passados três
anos, mostraram eficiência superior às matrizes vermelhas, todas tamanho médio, tal como recomendaram os zootecnistas. Era o meu sonho de criador. Com objetivo econômico, e não sentimental, as lindas
vermelhas embarcaram todas para
remate. Doeu o coração. E as pretas
surpreendentes se adonaram dos
campos da Pastoril Cincerro.
Na busca pela precocidade, a opção foi pela Murrah, considerada a
leiteira por excelência entre as 20 raças bubalinas. O cuidado no campo,
na genética e o auxílio da manjedoura Cincerro anteciparam a terminação para o sobre ano. A produtividade bubalina permitiu produzir 288
quilos de carne por hectare, em 2005,
nos campos da Serra do Sudeste. A
rusticidade bubalina permitiu o custo de R$ 0,58 por quilo produzido,
dois anos antes.
Em 2005, fiz um teste para avaliar o desempenho de 50 terneiros búfalos, a pasto, até chegarem aos 12
meses de vida. O doutorando da Ufrgs em Zootecnia Davi Teixeira dos
Santos acompanhou o teste. É a motivação destas linhas. Nascidos em
abril, em 6 de maio pesaram 90 quilos, quando receberam os brincos
identificadores. Durante o aleitamento, foram suplementados com
feno na manjedoura Cincerro e, depois, tiveram acesso à pastagem de
azevém, passando pelo brete Cincerro. Desmamados em dezembro, pastaram em campo natural, melhorado e diferido. A partir de fevereiro,
foram colocados na pastagem Tifton
85. Em 13 de maio de 2006, pesaram 403 quilos em média. Aos 12
meses, eram bois prontos para abate, engordados a leite e a pasto, produzindo carne da melhor qualidade.
O superprecoce é o mais próximo,
mas a idade de abate é perto dos dois
anos e confinado. A manjedoura
Cincerro foi fundamental para este
resultado, porque antecipa a terminação e o entoure.
*Presidente da Federacite

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