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Este encarte é parte integrante da edição de nº 335 do Jornal da Imagem Casos apresentados na Seção Casos do Dia da JPR’2004. Responsáveis: Drs. Antônio José da Rocha, Carlos Jorge da Silva, Guinel Hernandez Filho, Gustavo Santos de Souza e Ígor Teixeira da Matta C a s o 1 São Paulo, julho de 2006 Caderno Dois Drs. Pedro Péricles e Eduardo Sadao Yanomime História Clínica Masculino, 9 anos, proveniente de zona rural, queixando-se de dores nas pernas, principalmente na direita, há 1 mês. C a s o 2 Dr. Antônio José da Rocha História Clínica Masculino, 10 anos, com dor lombar, paresia de membros inferiores e incontinência fecal há 1 mês. 2 Caderno Dois C a s o 1 São Paulo, julho de 2006 Drs. Pedro Péricles e Eduardo Sadao Yanomime Blastomicose sul-americana (paracoccidioidomicose) Diagnóstico Blastomicose sul-americana (paracoccidioidomicose). Discussão A blastomicose sul-americana (paracoccidioidomicose) é uma micose sistêmica de distribuição geográfica limitada à América Latina. A prevalência é variável de país a país, sendo os casos relatados fora da área endêmica, provenientes de indivíduos de países latino-americanos. Em crianças, a forma mais comum de apresentação é a subaguda (juvenil) com quadro C a s o 2 clínico multiforme, sendo os sintomas mais comuns: febre, emagrecimento, aumento do volume abdominal e tosse. Ao exame físico, observa-se linfonodomegalias predominantemente cervicais, hepatoesplenomeglia, massas intra-abdominais, ascite, lesões cutâneas e mais raramente lesões ósseas. As lesões ósseas, de aspecto lítico bem definido, com esclerose marginal e periostite, podem ser solitárias ou múltiplas, predominando nos arcos costais, cintura escapular, tíbia e crista ilíaca. O diagnóstico é feito através de biópsia, com aspecto histológico e confirmação da detecção do fungo blastomyces paracoccidioides) brasiliensis com fixação do complemento, imunodifusão dupla e contraimunoeletroforese. O tratamento antifúngico preferencial é a associação sulfametoxazol-trimetoprim. O diagnóstico diferencial inclui as lesões ostelíticas multicêntricas em crianças como histiocitose X, leucemia e metástases. review (1911-1934). Anais brasileiros de pediatria 4: 128-137, 1997. 2. Hildebrand TM, Rosário Filho NA, Queiroz Telles Filho F, Costa O, Miasaki N, Mira JGS, Miyaki M. Paracoccidioidomicose na criança. Aspectos clínicos e laboratoriais em 25 dos casos. Jornal de Pediatria 63:92-97, 1987 3. Resnick & Niwayama. Diagnosis of bone and joint disorders, second edition, p. 2711, 1988. Referências bibliográficas Caso cedido pelos Drs. Pedro Péricles e Eduardo Sadao Yanomime, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. 1. Londero AT, Rios Gonçalves AJ, Terra GMF. Paracoccidioidomycosis in brazilian children. A critical Dr. Antônio José da Rocha Esquistossomose medular Diagnóstico Esquistossomose medular. Discussão A esquistossomose é causada por infestação pelo verme do gênero Schistosoma. Humanos e outros mamíferos são hospedeiros definitivos, sendo que 5 espécies são descritas infectando o homem: Schistosoma mansoni, Schistosoma haematobium, Schistosoma japonicum, Schistosoma intercalatum e Schistosoma mekongi, sendo o mansoni localizado no Brasil, restante da América do Sul e África. A infestação ocorre pela exposição à água contaminada, por via percutânea, quando o verme (cercária) penetra na pele parasitando posteriormente os plexos venosos. Os vermes adultos parasitam sítios vasculares distintos. O S. haematobium habita o plexo venoso perivesical e ureteral, sendo que S. mansoni, japonicum, intercalatum e mekongi estão localizados nos vasos mesentéricos. Aproximadamente 20% dos pacientes com esquistossomose na forma hepatoesplênica vão apresentar infestação do sistema nervoso central (SNC) e destes, apenas 25% são sintomáticos. Existem duas formas de acometimento do SNC: encefálico e medular. Em ambas, os ovos podem chegar ao sítio de acometimento tanto por migração pela corrente sangüínea quanto pela postura in locus. A forma encefálica é na maioria das vezes assintomática com formação de granuloma parenquimatoso. O acometimento medular (o mais comum) pode ser de 3 formas: mielítica (a mais freqüente), granulomatosa ou pseudotumoral e radicular ou mielorradicular. Na coluna, o acometimento mais comum é no cone medular. O envolvimento dos segmentos cervical e torácico é raro. O diagnóstico é feito através da análise do líquor, exame parasitológico de fezes e biópsia retal. A ressonância magnética (RM) é bastante sensível para detecção das alterações da esquistossomose medular, desde de que analisada num contexto clínico adequado. São observados expansão da medula com hipossinal em T1 e hipersinal difuso em T2, denotando afecção medular inflamatória e edema vasogênico. A injeção do contraste paramagnético demonstra impregnação linear central circundada por múltiplos nódulos que também se impregnam e medem entre 1 e 2 mm. A biópsia demonstra que os nódulos de realce representam os granulomas com extenso edema inflamatório e congestão venosa. O uso de praziquantel associado a corticosteróide é a modalidade de escolha para o tratamento. A melhora das condições do paciente ocorre em 6 semanas com resolução do quadro em 6 meses. O grau de recuperação e possíveis seqüelas dependem da extensão das lesões e instituição precoce do tratamento. Referências bibliográficas 1. Scott W. Atlas. Magnetic resonance of the brain and spine, 3a edição, volume II, pág 1946-1947. 2. Unique Linear and Nodular MR Enhancement Pattern in Schistosomiasis os the Central Nervous System: Report of Three Patients, AJR: 177, December 2001. 3. Spinal Cord Schistosomiasis In Children, Analysis of seven cases, Arq Neuropsiquiatr 2002; 60 (2-A): 224-230. Caso cedido pelo Dr. Antônio José da Rocha, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo São Paulo, julho de 2006 C a s o 3 Caderno Dois Dr. Carlos Alberto Ferreira História Clínica Feminino, 40 anos, nódulo palpável na mama esquerda. C a s o 4 Caso cedido pelo grupo de Tórax do Centro de Medicina Diagnóstica Fleury – São Paulo História Clínica Masculino, 35 anos, com tosse crônica produtiva. 3 4 Caderno Dois C a s o 3 São Paulo, julho de 2006 Dr. Carlos Alberto Ferreira Fibroadenolipoma (hamartoma) mamário Diagnóstico Fibroadenolipoma (hamartoma) mamário. Discussão O hamartoma é uma proliferação de elementos nodulares fibrosos e adenomatosos na gordura, cercados por uma cápsula de tecido conjuntivo. Esta lesão foi descrita com vários nomes que são permutações de seus componentes (por exemplo, fibroadenolipoma, lipofibroadenoma, adenolipofibroma). É uma lesão benigna relativamente incomum. Em uma série, 16 casos foram diagnosticados em 10.000 mamografias. Como o fibroadenolipoma contém os C a s o 4 elementos principais da mama em uma lesão encapsulada, acredita-se que represente um hamartoma mamário, embora alguns acreditem que represente apenas um lipoma com elementos retidos da mama. Por conter ductos, lóbulos, tecido fibroso e adiposo podem apresentar-se como nódulo palpável ou como um achado incidental na mamografia. A menos que a cápsula seja evidenciada, a lesão pode não ser diagnosticada ou ser diagnosticada erroneamente como um fibroadenoma. A importância desta lesão benigna está em sua aparência diagnóstica típica na mamografia, evitando-se a necessidade de cirurgia. Na mamografia, os hamartomas são usualmente característicos em sua aparência e o diagnóstico pode ser feito com certeza pelo método. As lesões são heterogêneas, com partes radiolucentes devido ao seu componente gorduroso e outras radiodensas, devido aos elementos fibrosos e adenomatosos. Possuem margens nítidas e cercadas por uma fina cápsula de tecido conjuntivo, radiodensa, que é evidente se houver gordura ao redor da lesão (como nesse caso). À exceção de um único relato de um sarcoma com uma aparência similar, esta lesão é sempre benigna. Densidades lobuladas dispersas dentro da gordura encapsulada dão ao hamartoma sua aparência característica, que alguns compararam a uma fatia de “salame”. Como em um lipoma ou cisto sebáceo, a aparência mamográfica do hamartoma é tão característica que geralmente não há nenhuma indicação para a utilização de ultra-som na análise desta lesão. Referência bibliográfica 1. Kopans, DB. Imagem da mama. Lippincot-Raven. 1998, p. 558-560. Caso cedido pelo Dr. Carlos Alberto Ferreira, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Caso cedido pelo grupo de Tórax do Centro de Medicina Diagnóstica Fleury - São Paulo Síndrome de Mounier-Kuhn Diagnóstico Síndrome de Mounier-Kuhn. Discussão A síndrome de Mounier-Kuhn (SMK) é uma doença rara caracterizada por uma grande dilatação traqueal e dos brônquios principais. Associadamente, alguns pacientes podem apresentar diverticulose traqueal, bronquiectasias e infecção do trato respiratório inferior. Os achados clínicos e broncoscópicos da traqueobroncomegalia foram descritos por Mounier-Kuhn em 1932. A etiologia é incerta. Estudos de autópsia sugerem um defeito congênito ou atrofia das camadas elástica e muscular lisa da traquéia e brônquios principais. Devido ao enfraquecimento traqueal, alguns pacientes desenvolvem herniações mucosas entre os anéis traqueais, levando à diverticulose traqueal com retenção de secreções. As vias aéreas distais aos brônquios de quarta ou quinta ordens geralmente apresentam diâmetro normal. A forma familiar tem uma provável herança recessiva, enquanto que as formas adquiridas costumam ser complicações da fibrose pulmonar em adultos ou de ventilação mecânica em neonatos pré-termo. Traqueobroncomegalia secundária tem sido descrita em associação com as síndromes de Ehlers-Danlos, Marfan, Kenny-Caffey, Brachamann-de-Lange, doenças do tecido conectivo, ataxia-teleangiectasia, agamaglobulina de Bruton, espondilite anquilosante e cutis laxa. A maioria dos casos de SMK é esporádica. A doença acomete predominantemente indivíduos na terceira ou quarta décadas de vida. Os sintomas da traqueobroncomegalia são inespecíficos, com tosse produtiva secundária à bronquiectasia e infecção do trato respiratório inferior. As vias aéreas cronicamente dilatadas e enfraquecidas e a higienização ineficiente pelo aparato mucociliar leva a uma retenção mucosa com pneumonias recorrentes, bronquiectasias e fibrose. A tosse produtiva com hemoptise ocasional pode ocorrer, sendo que os pacientes podem desenvolver dispnéia e falência respiratória à medida que os pulmões se tornam progressivamente danificados. Na radiografia simples, o aumento de calibre das vias aéreas centrais é usualmente visível. Esses achados são melhor demonstrados nas incidências em perfil. Para um adulto, qualquer diâmetro traqueal, dos brônquios-fonte direito e esquerdo que excederem 3,0 cm, 2,4 cm e 2,3 cm, respectivamente, em uma radiografia torácica padrão ou broncografia é diagnóstico de traqueobroncomegalia, pois tais valores correspondem ao limite superior da normalidade mais 3 desvios-padrão. Para a tomografia computadorizada, esses valores são: 3,0 cm, 2,0 cm e 1,8 cm, respectivamente. A diverticulose traqueal é vista em aproximadamente um terço dos pacientes com SMK e originam-se mais comumente da parede posterolateral. A experiência com ressonância magnética ainda é limitada a um relato de caso na literatura. Os testes de função pulmonar revelam um padrão obstrutivo com aumento do volume residual. O tratamento é limitado a fisioterapia para drenar as secreções acumuladas e tratamento apropriado com antimicrobianos durante os processos infecciosos. Não há indicação cirúrgica devido a natureza difusa dessa síndrome. Porém, “stents” traqueais têm sido ocasionalmente usados em casos avançados, com algum sucesso. Referências bibliográficas 1. Lazzarini-de-Oliveira LC, Franco CACB, de Salles CLG, de Oliveira AC Jr. A 38-Yearold man with tracheomegaly, tracheal diverticulosis, and bronchiectasis*. Chest. 120(3):1018-1020, 2001. 2. Anadol D, Ozcelik U, Kiper N, Gocmen A, Ocal T. A case of tracheobronchomegaly (Mounier-Kuhn syndrome) diagnosed via flexible bronchoscopy. Journal of Bronchology. 8(3):190-192, 2001.
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