Cecília Parra – Didática da Matemática, Reflexões Psicopedagógicas
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Cecília Parra – Didática da Matemática, Reflexões Psicopedagógicas
CEMAF – SME Rio Claro – PEB I PARRA, Cecília; SAIZ, Irma (org). Didática da Matemática: Reflexões Psicopedagógicas. Porto Alegre: Editora Artmed, 2001. Prof. M.Sc. Fabricio Eduardo Ferreira [email protected] Prefácio A obra constitui uma coletânea de artigos relacionados à Didática da Matemática que “estuda o processo de transmissão e aquisição de diferentes conteúdos desta ciência” (p. 4). Luis A. Santaló Espanha, Matemático 1. Matemático para não-matemáticos Grecia Galvez Chile, Psicóloga 2. A didática da matemática Roland Charnay França, Professor de Matemática 3. Aprendendo (com) a resolução de problemas Guy Brousseau França, Doutor em Ciências 4. Os diferentes papéis do professor Apresentação da obra Délia Lerner e Patricia Sadovsky Irma Saiz Argentina e Argentina, Argentina, Licenciada em Ciências da Licenciada em Matemática Educação e Professora de 6. Dividir com dificuldade Matemática ou a dificuldade de dividir 5. O sistema de numeração: um problema didático Cecília Parra Grecia Galvez Argentina, Licenciada em Chile, Psicóloga Ciências da Educação 8. A geometria, a 7. Cálculo mental na psicogênese das noções escola primária espaciais e o ensino de geometria na escola primária 1. Matemático para não-matemáticos. SANTALÓ, Luis A. A missão dos educadores é preparar as novas gerações para o mundo que terão que viver; (...) como o mundo atual é rapidamente mutável, também a escola deve estar em contínuo estado de alerta para adaptar seu ensino, seja em conteúdos como em metodologia (p. 11); (...) o problema reside em decidir “como” educar esse homem informático; (...) a vida tem-se tornado mais difícil, e a escola deve evoluir para preparar indivíduos com capacidade para atuar neste mundo complexo (p. 13); (...) [da mesma forma que na época de Platão] hoje pensamos em educar o pensamento e também fornecer regras para a ação, e opina-se que a matemática que necessita todos os cidadãos deve ser uma mistura bem equilibrada de matemática pura e aplicada (p. 14). O quê ensinar da matemática no mundo atual? “Aos professores de matemática compete selecionar entre toda matemática existente, a clássica e a moderna, aquela que possa ser útil aos alunos em diferentes níveis na educação”. (p. 15) “(...) o sentido da matemática deve ser um constante equilíbrio entre a matemática formativa e a informativa (...) É preciso formar, porém ao mesmo tempo, informar das coisas úteis”. (p. 15) SANTALÓ, Luis A. “A escolha da matemática para aqueles que vão ser matemáticos profissionais é relativamente fácil (...) O problema reside na seleção da matemática para a educação daqueles que não tem interesse particular por ela”. (p. 15) Como ensinar da matemática no mundo atual? “É preciso decidir a respeito dos conteúdos e também sobre a metodologia mais conveniente” (p. 16) “Como regra geral, pode-se recomendar que sempre é preferível saber pouco e bem, que muito e mal. É mais recomendável fazer cabeças ‘bem feitas’ do que cabeças ‘bem cheias’” (p. 16) SANTALÓ, Luis A. “No que diz respeito à didática, seja no nível que for, o ensino da Matemática deve estimular a criatividade, mostrando que a Matemática é como um edifício em construção” (p. 19) Sugestões de temas para uma nova matemática escolar Probabilidade e Estatística Computação Cálculo infinitesimal Raciocínio lógico e dedutivo Teoria dos Grafos Teoria de conjuntos Geometria Fractal Teoria do Caos 2. A didática da matemática. GÁLVEZ, Grecia O trabalho inicia-se mostrando o trabalho dos Institutos de Investigação acerca do Ensino da Matemática (IREM) na França no início dos anos 60 (formação de professores, produção de material, práticas em sala de aula); (...) A partir da reflexão das atividades realizadas no IREM, o pesquisador Guy Brousseau propõe o estudo das condições nas quais são constituídos os conhecimentos; o controle destas condições permitiria reproduzir e otimizar os processos de aquisição escolar de conhecimentos (p. 27); (...) Parte-se do pressuposto de que o conhecimento dos fenômenos relativos ao ensino da matemática não seja resultado da simples fusão de conhecimentos (...) como a matemática, psicologia e pedagogia, mas algo que exige pesquisas específicas (p. 27). Classificação de Brousseau das análises das situações didáticas Situações de ação • Gera uma interação entre os alunos e o meio físico. Os alunos devem tomar as decisões que faltam para organizar sua atividade de resolução do problema formulado. Situações de formulação • O objetivo é a comunicação de informações entre alunos. Para isto, devem modificar a linguagem que utilizam habitualmente, precisando-a e adequando-a às informações que devem comunicar. Situações de validação • Nas quais tenta-se convencer a um ou vários interlocutores da validade das afirmações que são feitas. Neste caso, os alunos devem elaborar provas para demonstrá-las. Situações de institucionalização • São destinadas a estabelecer convenções sociais. Nestas situações busca-se que o conjunto de alunos de uma aula assuma o significado socialmente estabelecido de um saber que foi elaborado por eles mesmos, em situações de ação, de formulação e de validação. Alguns pontos importantes do artigo “A análise de uma situação didática passa por sua comparação com outras situações didáticas”. (p. 30) “A finalidade da didática da matemática é o conhecimento dos fenômenos e processos relativos ao ensino da matemática para controlá-los e, através deste controle, otimizar a aprendizagem dos alunos”. (p. 31) GÁLVEZ, Grecia “Até agora, tem predominado uma concepção segundo a qual basta decompor um saber, em sua modalidade cultural, em pequenos pedacinhos isolados, e então organizar sua ingestão por parte dos alunos, em períodos breves e bem delimitados, segundo sequências determinadas sobre a base da análise do próprio saber”. (p. 31) Mais alguns pontos importantes “Esta maneira de organizar o ensino não atribui importância ao contexto específico em que os conhecimentos são adquiridos, nem à sua significação e valor funcional, durante sua aquisição” (p. 31) “Brousseau coloca que é preciso criar situações didáticas que façam funcionar o saber, a partir de saberes definidos culturalmente nos programas escolares’” (p. 32) GÁLVEZ, Grecia “Em síntese, trata-se de colocar os alunos diante de uma situação que evolua de forma tal, que o conhecimento que se quer que aprendam seja o único meio eficaz para controlar tal situação” (p. 33) 3. Aprendendo (com) a resolução de problemas. CHARNAY, Roland A matemática têm se construído como resposta a perguntas traduzidas em outros tantos problemas (p. 36); (...) a atividade de resolução de problemas tem estado no próprio coração da elaboração da ciência matemática. “Fazer matemática é resolver problemas!” (p. 37); (...) Um dos objetivos essenciais (e ao mesmo tempo uma das dificuldades principais) do ensino da matemática é precisamente que o que se ensine esteja carregado de significado, tenha sentido para o aluno (p. 37); (...) A questão essencial do ensino da matemática é então: como fazer para que os conhecimentos ensinados tenham sentido para o aluno? [grifo do autor] (p. 38). Construindo o sentido ... (...) a construção da significação de um conhecimento deve ser considerada em dois níveis: um nível “externo” um nível “interno” • Qual é o campo de utilização deste conhecimento e quais são os limites deste campo? • Como e por que funciona tal ferramenta? (por exemplo, como funciona um algoritmo e por que conduz ao resultado procurado? O aluno deve ser capaz não só de repetir ou refazer, mas também de ressignificar em situações novas, de adaptar, de transferir seus conhecimentos para resolver novos problemas (p. 38). Estratégias de aprendizagem Para descrever alguns modelos de aprendizagem o autor apoia-se na ideia de “contrato didático”: “conjunto de comportamentos (específicos) do professor que são esperados do aluno, e conjunto de comportamentos do aluno que são esperados pelo professor, que regulam o funcionamento da aula” (BROUSSEAU) (...) uma situação de ensino pode ser observada através das relações que se movimentam entre três pólos: professor, aluno, saber. Os três modelos de referência são: Modelo normativo (centrado no conteúdo) Modelo incitativo (centrado no aluno) Modelo aproximativo (centrado na construção do saber pelo aluno) P P P P A S A S A S A S As diferenças entre os modelos Notemos que nenhum professor utiliza exclusivamente um dos modelos (p. 40); (...) Três elementos da atividade pedagógica mostram-se privilegiados para diferenciar estes três modelos e refletir acerca de suas colocações em prática: O comportamento do professor diante dos erros de seus alunos • Que interpretação faz deles, como intervém, para fazer o quê, o que pedirá então a seus alunos? As práticas de utilização da avaliação • Para que serve a avaliação, em que momentos intervém no processo de aprendizagem, sob que formas? O papel e o lugar que o professor dá à atividade de resolução de problemas • O que é para ele um problema, quando utiliza problemas, em que momentos da aprendizagem, com que finalidade? A resolução de problemas e os modelos apresentados As posições a respeito da resolução de problemas em relação aos modelos apresentados são: Modelo normativo • O problema como critério de aprendizagem. • Exemplo: o aluno pergunta-se se já não resolveu um do mesmo tipo. Modelo incitativo • O problema como motor da aprendizagem. • Exemplo: as situações “naturais” são com frequência demasiado complexas para permitir ao aluno construir por si mesmo as ferramentas. Modelo aproximativo • O problema como recurso de aprendizagem. • Exemplo: é principalmente através da resolução de uma série de problemas escolhidos pelo professor que o aluno constrói seu saber. Opções a favor de uma seleção Tais opções baseiam-se na pergunta “como os alunos aprendem?”. Os conhecimentos não se empilham, não se acumulam. As produções do aluno são uma informação sobre seu estágio de conhecimento. A ação exerce um papel na aprendizagem. Os conceitos matemáticos não estão isolados. Só existe aprendizagem quando o aluno percebe que existe um problema para resolver ... CHARNAY, Roland A interação social é um elemento importante da aprendizagem. Que problemas e que ação pedagógica escolher? Inicialmente, uma explicitação: o termo “problema”, que tem sido utilizado, não se reduz à situação proposta (enunciado-problema). Define-se melhor como uma tríade: Só há problema se o aluno percebe uma dificuldade (...) Há então, a ideia de obstáculo a ser superado. Situação O meio é um elemento do problema, particularmente as condições didáticas da resolução (organização da aula, intercâmbios, expectativas explícitas ou implícitas do professor). Meio Aluno Uma determinada situação, que “provoca problema” para um determinado aluno pode ser resolvida imediatamente por outro (e então não será percebida por este último como sendo um problema). 4. Os diferentes papéis do professor. BROUSSEAU, Guy Os principais conceitos da Teoria das Situações Didáticas elaborada por Brousseau são: a DESDIDATIFICAÇÃO (situações adidáticas) e a INSTITUCIONALIZAÇÃO. (...) O professor realiza primeiro o trabalho inverso ao do cientista (...) procura situações que dêem sentido aos conhecimentos que devem ser ensinados (p. 48); (...) Podem ser vistas aqui as duas partes, bastante contraditórias, do papel do professor: fazer viver o conhecimento, fazê-lo ser produzido por parte dos alunos como resposta razoável (...) e, ainda, transformar essa “resposta razoável” em um “fato cognitivo extraordinário” (p. 49); (...) Considerar a aprendizagem como uma modificação do conhecimento que o aluno deve produzir por si mesmo e que o professor só deve provocar (p. 49). Devolução do problema e “desdidatificação” Conceito de desdidatificação (...) O trabalho do professor consiste, então, em propor ao aluno uma situação de aprendizagem para que elabore seus conhecimentos como resposta pessoal a uma pergunta, e os faça funcionar ou os modifique como resposta às exigências do meio e não a um desejo do professor (p. 49). Definição de devolução do problema Denominamos “devolução” a atividade por intermédio da qual o professor tenta alcançar os objetivos da desdidatificação (p. 49). As etapas da devolução de uma situação adidática 1ª Etapa Abordagem puramente lúdica 3ª Etapa Devolução de uma responsabilidade e de uma causalidade 2ª Etapa Devolução de uma preferência • Os alunos não compreendem que alguns dos resultados da situação são indesejáveis • Os alunos compreendem bem qual é o efeito desejado, porém atribuem os resultados à fatalidade ou azar. 4ª Etapa Devolução da antecipação • O aluno se encarrega das antecipações • Para aceitar a sua responsabilidade no que está acontecendo, o aluno deve considerar o que faz como uma escolha entre diversas possibilidades. 5ª Etapa Devolução da situação adidática • As decisões competem ao aluno A institucionalização (1) Conceito de institucionalização A consideração “oficial” do objeto do ensino por parte do aluno, e da aprendizagem do aluno por parte do professor, é um fenômeno social muito importante e uma fase essencial do processo didático: este duplo reconhecimento constitui o objeto da INSTITUCIONALIZAÇÃO [grifo do autor] (p. 56). a) Os conhecimentos (...) O papel do professor também consiste em institucionalizar! (p. 56); (...) Naturalmente, tudo pode ser reduzido à institucionalização. As situações de ensino tradicionais são situações de institucionalização, porém sem que o professor se ocupe da criação do sentido: se diz o que se deseja que o aluno saiba, explica-se a ele e verifica-se o que aprendeu (p. 56). A institucionalização (2) b) O sentido (...) O sentido também deve ser um pouco institucionalizado (p. 57); (...) O mais difícil do papel do professor é dar um sentido aos conhecimentos e, sobretudo, reconhecê-lo (p. 57). c) Epistemologia (...) Outro papel do professor é assumir uma epistemologia; por exemplo, os pedagogos preconizam a busca de situações que permitam colocar as crianças em contato com problemas reais (p. 59); (...) Ao mesmo tempo que ensina um saber, o professor recomenda como usá-lo (p. 59). A institucionalização (3) d) O lugar do aluno (...) O lugar do aluno na relação didática tem sido reivindicado – como o lugar da realidade – através de diferentes abordagens – psicanalítica, psicológica, pedagógica, etc. (p. 64); (...) A didática ingênua só permite propor ao aluno exercícios lógicos (matemáticos) a respeito de componente escolhido (p. 65); (...) O raciocínio do aluno é um ponto cego na didática “ingênua” , porque seu tratamento exige uma modificação do contrato didático (p. 66). e) A memória e o tempo (...) O que o aluno tem em sua memória parece ser o objetivo final da atividade de ensino (p. 67); (...) Transformar as lembranças em conhecimentos mobilizáveis é uma operação didática e cognitiva, e não somente um ato individual de memorização. Conclusão “O professor é uma espécie de ator. Atua segundo um texto escrito em outro contexto e segundo determinada tradição” (p. 71) BROUSSEAU, Guy “Um professor que simplesmente recita, não pode comunicar o essencial, e se quisermos fazê-lo apresentar uma situação sem margem para recriá-la, o ensino fracassaria.” (p. 71) 5. O sistema de numeração: um problema didático. LERNER, Délia e SADOVSKY, Patricia Questão principal do artigo Como é que as crianças se apropriam do conhecimento do sistema de numeração? (p. 75) Principais hipóteses levantadas pelas autoras • (...) Acreditávamos que as crianças construíam desde cedo critérios para comparar números; • pensávamos que (...) alguma relação elas deveriam estabelecer entre a posição dos algarismos; • acreditávamos que as crianças detectavam regularidades ao interagir com a escrita fragmentada da sequência numérica (p. 76). LERNER, Délia SADOVSKY, Patrícia Resultados importantes Este é maior, você não está vendo que tem mais números? Alina afirma que 23 é maior que 5 pois o primeiro têm dois algarismos, enquanto que o segundo só tem um algarismo (quantidade de algarismos e magnitude do número). É maior o número que contém o algarismo mais alto, independente do lugar em que este esteja posicionado. O primeiro algarismo é quem manda! Lucila afirma que 21 é maior que 12 pois o primeiro começa com dois, enquanto que o segundo começa com um (posição dos algarismos como critério de comparação). Yael afirma que 25 é maior que 31 pois o primeiro tem 2 e 5 que são maiores que 3 e 1. Alguns números importantes: o papel dos “nós” “A apropriação da escrita convencional dos números não segue a ordem da série numérica: as crianças manipulam em primeiro lugar a escrita dos “nós” – quer dizer, das dezenas, das centenas, unidades de mil ..., exatas – e só depois elaboram a escrita dos números que se posicionam nos intervalos entre estes nós (p. 87)”. O papel da numeração falada “As crianças elaboram conceitualizações a respeito da escrita dos números, baseando-se nas informações que extraem da numeração falada e em seu conhecimento da escrita convencional dos “nós” (p. 92)”. 700 Setecentos 25 Vinte e Cinco Por favor, escreva no seu caderno (utilizando algarismos) o número setecentos e vinte e cinco. A justificativa verificada pelas autoras A hipótese segundo a qual a escrita numérica é o resultado de uma correspondência com a numeração falada, conduz as crianças a resolver notações não-convencionais. Por que isto ocorre? Porque a diferença da numeração escrita da numeração falada está em que esta última NÃO É POSICIONAL. Assim, se a organização da numeração falada fosse posicional, a denominação oral correspondente a 4705, por exemplo, seria “quatro, sete, zero, cinco”, no entanto, a denominação realmente utilizada para este número explicita, além dos quatro algarismos quatro, sete e cinco, as potências de dez correspondentes a tais algarismos (quatro mil setecentos e cinco) (p. 94). Do conflito à notação convencional As escritas produzidas pelas crianças para os números que se posicionam entre dois “nós” determinados terão mais algarismos que os números que representam os mesmos “nós”: elas escreveram convencionalmente, por exemplo, 2000 e 3000, porém dois mil setecentos e oitenta e dois será representado como 200070082 (ou eventualmente 2000782) (p. 98). Relações entre o que as crianças sabem e a organização posicional do sistema de numeração Segundo afirmam as crianças, um número é maior que que outro “porque tem mais algarismos” ou “porque o primeiro é quem manda” (...) Então, o que tem o sistema posicional que os outros não têm? Justamente, a posicionalidade. Ela é a responsável pela relação quantidade de algarismos – valor do número; dela depende também a validade do “o primeiro é quem manda” (p. 109). Questionamento do enfoque usualmente adotado para ensinar o sistema de numeração Sistema de Numeração A modalidade que o ensino da notação numérica em geral assume pode caracterizar-se assim: Estabelecem-se metas definidas por série: na 1ª série trabalha-se com números menores que 100, na 2ª série com números menores que 1000 e assim sucessivamente. Uma vez ensinados os dígitos, se introduz a dezena como conjunto resultante do agrupamento de dez unidades, e só depois apresenta-se formalmente para as crianças a escrita do número 10. A explicação do valor posicional de cada algarismo em termos de “unidades”, “dezenas”, etc., para os números de determinado intervalo da série considera-se requisito prévio para as operações. Tenta-se “concretizar” a numeração escrita materializando o agrupamento em dezenas ou centenas. Mostrando a vida numérica da aula As ideias que desde o princípio orientaram o trabalho didático das autoras são: • Trabalhar com a numeração escrita e só com ela; • Abordá-la em toda sua complexidade; • Assumir que o sistema de numeração – enquanto objeto de ensino – passará por sucessivas definições e redefinições antes de chegar a sua última versão (p. 116). São quatro atividades básicas que constituem eixos ao redor dos quais organizam-se as situações didáticas que as autoras propõe: operar, ordenar, produzir e interpretar (p. 118). As autoras propõe por construir duas grandes categorias: a primeira abrange todas as situações didáticas que de alguma maneira se vinculam à relação de ordem e a segunda abrange aquelas situações que estão centradas nas operações aritméticas (p. 118/119). A sugestão das autoras Situações didáticas vinculadas à relação de ordem Situações centradas nas operações matemáticas Comparar números Reflexão acerca das operações para descobrir “leis” do sistema de numeração Produzir ou interpretar números (a ordem como recurso) Resolvendo operações e confrontando procedimentos Buscar regularidades 6. Dividir com dificuldade ou a dificuldade de dividir. SAIZ, Irma Neste artigo a autora tenta mostrar algumas das dificuldades que enfrentam (e não resolvem) muitas crianças de escolas primárias em relação ao assunto da divisão (p. 157); (...) os resultados dos cálculos com as três primeiras operações (adição, subtração e multiplicação) geralmente coincidem, não acontecendo o mesmo nos resultados correspondentes à divisão (p. 157). O capítulo apresenta três considerações muito significativas: A respeito do significado da divisão Análise da resolução de problemas Uma análise dos algoritmos utilizados A respeito do significado da divisão Algumas das perguntas que podem ser formuladas são, por exemplo: • Qual é o sentido da divisão, ou seja, que significado atribuem os alunos a este conhecimento? • Como reconhecem que um problema é de divisão, ou melhor, como concluem que formulando e resolvendo uma divisão se resolve o problema, ainda que se trata de problemas em princípio tão diferentes? • O que têm em comum estes problemas? Como funciona a divisão? Como se relaciona com as demais operações? • Que outras propriedades a caracterizam e às vezes a distinguem das outras operações? (p. 161) “Em geral, o ensino das operações matemáticas está baseado na comunicação de um procedimento de cálculo associado posteriormente a um pequeno universo de problemas que, supõe-se, “darão conta” do significado do conceito (p. 162)”. “Porém, isolados de seu contexto, os algoritmos se convertem em respostas adquiridas para perguntas futuras a respeito das quais não se sabe muito. Os algoritmos são aprendidos sabendo-se que vão servir para resolver problemas, porém se desconhece de que problemas se trata (p. 162)”. SAIZ, Irma Análise dos problemas A análise das respostas aos problemas propostos levam a autora a fazer as seguintes afirmações: Os alunos não atribuem significado ao algoritmos que aplicam, portanto não podem interpretar o que obtiveram nas diferentes etapas do cálculo. O algoritmo ensinado aparece como um puro trabalho sobre os números, independente dos dados da situação enunciada. Eles mostram uma relação superficial com o conhecimento. Colocam distância entre si e a situação formulada. As crianças carecem de recursos para reconhecer se sua solução é errada ou não. Tudo isso é provocado por um ensino de resolução de problemas reduzido a “adivinhar” qual é a operação adequada e aplicar o algoritmo correspondente. A resolução dos problemas (...) depende do significado que o aluno atribui à situação que lhe é proposta. Em relação ao algoritmo Neste item se fará referência às dificuldades na execução do algoritmo, encontradas nos problemas ou nas “contas” apresentadas. As principais dificuldades encontradas foram: Redução a um algarismo Frequentemente, uma divisão de dois ou três algarismos é resolvida erroneamente, utilizando um algoritmo “inventado” que a reduz a uma divisão de um algarismo Análise do resto (...) a exigência de que os restos sucessivos sejam menores que o divisor não parece estar presente. Dificuldades com o zero Um exemplo onde as crianças “riscam” o 0 de 104 e dividem por 14. O algoritmo nos livros escolares O algoritmo tradicional da divisão passou a constituir-se na atualidade em um exemplo de transmissão oral. É muito difícil encontrar nos livros os diferentes passos do algoritmo. Conclusão “A atribuição de um significado a cada uma das etapas do cálculo, em termos da situação de referência, lhes permitirá resolver os problemas com controle suficiente para determinar sua validade (p. 183)”. “As dificuldades dos alunos com os algoritmos, frequentemente constatadas, deveriam obrigar os professores a “enfrentá-las” na aula, analisá-las e corrigí-las (p. 183)”. “Não se pode deixar de lado com um simples ‘Você deve exercitar mais as divisões’ ou ‘prestar mais atenção’ ... (p. 183)”. SAIZ, Irma 7. Cálculo mental na escola primária. PARRA, Cecília “Cálculo mental” é uma expressão que pode ter muitos significados, dividindo opiniões, provocando dúvidas ou expectativas (p. 186); • Com frequência, fazemos a oposição cálculo escrito e cálculo mental. Neste sentido, queremos esclarecer que a concepção de cálculo mental que vamos desenvolver não exclui a utilização de lápis e papel (p. 188); • O primeiro costuma ser chamado de cálculo automático ou mecânico, e se refere à utilização de um algoritmo ou de um material (ábaco, régua de cálculo, calculadora, etc.); • O segundo é chamado cálculo pensado ou refletido. É em relação a este significado que vamos considerar o cálculo mental; • Para muitas pessoas, cálculo mental está associado a cálculo rápido (p. 189). Por que ensinar cálculo mental na escola primária? As principais hipóteses didáticas levantadas pela autora são: 1) As aprendizagens no terreno do cálculo mental influem na capacidade de resolver problemas (não se pretende supervalorizar o cálculo mental); 2) O cálculo mental aumenta o conhecimento no campo numérico (os alunos devem raciocinar sobre o cálculo efetuado); 3) O trabalho de cálculo mental habilita para uma maneira de construção do conhecimento que, a nosso entender, favorece uma melhor relação do aluno com a matemática (os alunos devem articular aquilo que sabem com o que devem aprender); 4) O trabalho de cálculo pensado deve ser acompanhado de um aumento progressivo do cálculo automático (o cálculo mental deve propiciar a compreensão de algoritmos avançados). Os procedimentos mentais de resolução As metas que a autora deseja que os alunos vislumbrem durante o processo são: a) Memorização de cálculos simples; b) Resolução de cálculos utilizando outros mais simples. Um exemplo de atividades de reflexão sobre os cálculos: fáceis e difíceis Um dos primeiros requisitos é que os alunos comecem a tomar consciência dos procedimentos que utilizam: Que critérios usaram os alunos para classificar os cálculos (em fáceis e difíceis)?; O que é fácil para alguns é difícil para outros; As descobertas não são generalizadas de imediato; A categoria dos fáceis mostra que os alunos reconhecem os pontos de apoio. 8. A geometria, a psicogênese das noções espaciais e o ensino da geometria na escola primária. GÁLVEZ, Grecia A autora inicia o capítulo fazendo um breve histórico das origens da geometria, fazendo um retrospecto desde a Geometria Euclidiana (axiomática) e a evolução que a mesma sofreu. Em seguida a autora fundamenta-se nos trabalhos de Piaget para explicar como a criança constrói as noções de espaço e forma. “Nos alunos jovens a ação sobre os objetos torna-se totalmente indispensável para a compreensão, não só das relações aritméticas, mas também das geométricas” (p. 244) GÁLVEZ, Grecia O ensino da geometria na escola primária A reflexão sobre o ensino da geometria na escola primária levou-nos a delimitar uma série de problemas, que nos limitaremos a enunciar: 1. Promover a passagem da geometria de observação para a geometria dedutiva; 2. Compatibilizar o caráter variável, aproximado, dos resultados empíricos, com o caráter único, exato, dos resultados conseguidos através do cálculo; 3. Garantir a compreensão dos procedimentos algoritimizados que os alunos devem aprender; 4. Coordenar a conceitualização dinâmica dos objetos geométricos com sua conceitualização estática; 5. Organizar a passagem da linguagem natural, para referir-se às relações espaciais, até a linguagem matemática sem rupturas; 6. Relacionar as aquisições no âmbito das relações espaciais com as relações numéricas. Conclusão Fundamentada em Brousseau, a autora afirma que: “O ensino da geometria, em nossas escolas primárias, se reduz a fazer com que nossos estudantes memorizem os nomes das figuras, os mapas “Brousseau afirma que esta aprendizagem da geometria puramente cultural, baseada na obtenção dos nomes e propriedades geométricos, constitui um verdadeiro escândalo (...)” (p. 250) geométricos e as fórmulas que servem para calcular áreas e volumes” (p. 250) GÁLVEZ, Grecia
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