Tese - Cirurgiaonline
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA UNIFESP – EPM GILMARA SILVA AGUIAR YAMAGUCHI REPERCUSSÕES METABÓLICAS E MORFOLÓGICAS INTESTINAIS APÓS INTERPOSIÇÃO ILEAL ISOLADA EM RATOS São Paulo 2012 GILMARA SILVA AGUIAR YAMAGUCHI REPERCUSSÕES METABÓLICAS E MORFOLÓGICAS INTESTINAIS APÓS INTERPOSIÇÃO ILEAL ISOLADA EM RATOS Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo para obtenção do Título de Doutor em Ciências Orientador: Prof. Dr. João Luiz Moreira Coutinho de Azevedo Coorientadores: Profª. Dra. Maria Teresa de Seixas Alves Profª. Dra. Aparecida Emiko Hirata São Paulo 2012 Aguiar-Yamaguchi, Gilmara Silva Repercussões metabólicas e morfológicas intestinais após interposição ileal isolada em ratos. /Gilmara Silva Aguiar-Yamaguchi. -- São Paulo, 2012. xx, 107f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação em Medicina Translacional. Título em inglês: Metabolic and morphological intestinal repercussions after isolated ileal interposition in rats. 1.Cirurgia Bariátrica. 2. Diabetes Mellitus Tipo 2/cirurgia. 3. Peptídeo 1 Semelhante ao Glucagon. 4. Íleo/cirurgia. 5. Íleo/anatomia&histologia. 6. Células Enteroendócrinas. 7. Animais. 8. Ratos. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TRANSLACIONAL Chefe do Departamento: Prof. Dr. Álvaro Nagib Atallah Coordenador do Programa: Profa. Dra. Dulce Elena Casarini iii UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TRANSLACIONAL COORDENADORA: Profa. Dra. Dulce Elena Casarini GILMARA SILVA AGUIAR YAMAGUCHI Repercussões metabólicas e morfológicas intestinais após interposição ileal isolada em ratos Presidente da Banca: 1. Prof. Dr. João Luiz Moreira Coutinho de Azevedo Prof. Livre Docente do Departamento de Cirurgia/ Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. BANCA EXAMINADORA 1. Prof. Dr. Otávio Cansanção de Azevedo Preceptor da Residência Médica do Serviço de Gastroenterologia Cirúrgica do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo – HSPE. 2. Prof. Dr. Gustavo Peixoto Soares Miguel Prof. Adjunto do Departamento de Clínica Cirúrgica/ Universidade Federal do Espírito Santo – UFES. 3. Prof. Dr. Ricardo Artigiani Neto Prof. Adjunto do Departamento de Patologia/ Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. 4. Prof. Dr. Evandro de Souza Portes Diretor do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital do Servidor Estadual de São Paulo – HSPE. MEMBROS SUPLENTES 1. Profa. Dra. Maria Teresa Zanella Profa. Titular da Disciplina de Endocrinologia do Departamento de Medicina/ Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. 2. Profa. Dra. Lila Missae Oyama Profa. Adjunta do Departamento de Fisiologia / Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. iv DEDICATÓRIA Aos que me trouxeram à vida e são os principais responsáveis pela minha formação: meus pais, Solon Humberto Barbosa de Aguiar e Neide da Silva Aguiar. Esta é uma conquista nossa. Muito obrigada por todo amor, esforço e sacrifício durante toda a vida para que pudéssemos receber a formação acadêmica à qual não tiveram oportunidade. Meu eterno reconhecimento e agradecimento. Aos meus irmãos, Glaucimar e Solon Neto, pelo amor e companheirismo constante apesar de, muitas vezes, à distância. Obrigada, ainda, pelo auxílio com as questões de informática. Ao meu amado esposo, Fábio Yoriaki Yamaguchi, amigo, companheiro, incentivador, exemplo de ser humano, marido e pai. Obrigada por toda a vida que temos construído, pela família que somos e por todo apoio nos diversos âmbitos da nossa feliz convivência. À minha filha Lara, que faleceu antes de vir ao mundo e ensinou-me muito, mesmo durante o seu pouco tempo de existência aqui conosco. Sua força foi estimulante para o término deste trabalho. Um dia nos reencontraremos. Ao meu filho Lucas, que está por chegar, que renovou as minhas forças e mostrou-me que há sempre um caminho para seguir. Os seus “chutes” frequentes lembram-me como a natureza é perfeita e que a vida renova-se sempre. Você é querido, desejado e esperado com muito amor. A todos da minha família – Silva, Aguiar, Yamaguchi e Ohkawara - pois esta vitória só foi possível devido ao apoio e contribuição direta e indireta de várias pessoas. Nenhuma conquista é alcançada por um indivíduo apenas. Sintam-se orgulhosos por este passo, que é nosso. v AGRADECIMENTOS À Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, que por meio dos Programas de Pós-graduação em Cirurgia e Experimentação e Medicina Translacional, recebeu-me e permitiu a realização deste estudo, bem como o meu aprendizado e desenvolvimento como pesquisadora. Ao Prof. Dr. João Luiz Moreira Coutinho de Azevedo, Professor Livre Docente do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e meu Orientador, que me acolheu como entusiasta inexperiente e possibilitou trilhar os caminhos árduos da Pesquisa Científica. Pela incansável busca do rigor e do método científico, em prol da qualidade; pelo estímulo e pelos ensinamentos recebidos em diversos aspectos da vida. À Profa. Dra. Maria Teresa de Seixas Alves, Professora Associada Livre Docente e Chefe do Departamento de Patologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e minha Coorientadora, pela competência e paciência na condução deste estudo, e por todo empenho e dedicação incansáveis que possibilitaram a viabilização do mesmo. Agradeço, acima de tudo, por todo o carinho que recebi sob a vossa orientação, que foram fundamentais para o meu crescimento como pesquisadora e como ser humano. À Profa. Dra. Aparecida Emiko Hirata, Professora Adjunta do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e minha Coorientadora, pela paciência e atenção constantes no desenvolvimento deste trabalho, pelos ensinamentos e ideias que permitiram o início e o encaminhamento do mesmo até à sua conclusão, e por todo o entusiasmo e disponibilidade para orientar pesquisadores inexperientes como eu. Mais do que tudo, agradeço pela inestimável amizade conquistada. À Profa. Dra. Dulce Elena Casarini, Professora afiliada e Livre Docente da Disciplina de Nefrologia do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), pela gestão instigante e desafiadora, pelo estímulo à produção científica, pelo acolhimento inquestionável quando da minha transferência para este Programa de Pós-graduação e pelo empenho e compreensão em viabilizar a conclusão desta pesquisa. vi Aos professores do Programa de Pós-graduação em Cirurgia e Experimentação da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Prof. Dr. José Luiz Martins, Profa. Dra. Edna Frasson de Souza Montero, Prof. Dr. Ivan Hong Jun Koh, Prof. Dr. Djalma José Fagundes, Prof. Dr. Murched Omar Taha, Prof. Dr. Hélio Plapler, Profa. Dra. Simone de Campos Vieira Abib, Prof. Dr. Paulo de Oliveira Gomes e Prof. Dr. Sérgio Tomaz Schettini, pelas colaborações, críticas, ensinamentos, incentivos, e experiências transmitidas durante a maior parte do desenvolvimento deste estudo. Os mesmos foram essenciais para a qualidade do mesmo. Ao estimado Colega de Pós-graduação, Wellington Cardia, Gastroenterologista, Endoscopista, Nutrólogo e amigo, pelo apoio e trabalho conjunto durante todos esses anos de convivência. Seu empenho, bom humor, conselhos, críticas, competência e dedicação foram estímulos fundamentais. Aos Colegas da Pós-graduação, principalmente Eduardo Bastos, Bianca Marigliani e Linda Bernardes, pela convivência, críticas, sugestões e auxílio. À Profa. Dra. Ângela Tavares Paes, Professora do Curso de Análise Estatística, oferecido pelo Setor de Estatística Aplicada da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), doutora em Estatística pelo Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP), responsável pelo despertar do meu interesse e fascínio pela Estatística. Seus ensinamentos desvendaram mistérios e trouxeram à realidade este campo da Ciência anteriormente obscuro para mim. Ao Prof. Pedro da Silva Peixoto, mestre e doutorando em Matemática Aplicada no Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP), pela paciência e competência com que me auxiliou nas análises estatísticas deste trabalho. Ao técnico do Biotério da Biofísica, Sr. Mauro, que cuidou dos animais durante todo o período de observação desta pesquisa. Aos técnicos dos laboratórios do Departamento de Patologia, Joaquim, Tiago, Fernanda, Kátia e Maria José que participaram da confecção dos blocos e lâminas para o estudo histológico. Em especial à Leonor Cristina Manoja Roman, bióloga e mestra em imunohistoquímica que cuidou pessoalmente desta parte do estudo. vii Aos estudantes de graduação de Medicina, bolsistas de iniciação científica, Paolo Henrique Barganogo Lourenço e Marcelo Casciato Carlini, que participaram dos procedimentos cirúrgicos e ajudaram na captura e análise das imagens microscópicas. Aos secretários da Patologia, Cirurgia Pediátrica e Técnica Cirúrgica, Sr. Norberto Lobo, Sra. Valdelice Justiniano Soares, Sra. Elaine Bazzi e Sra. Adriana Bazzi, que sempre foram solícitos em atender às necessidades dos pósgraduandos. À Profa. Nadege da Silva Dantas, Professora de Língua Portuguesa e Linguística da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), com mestrado em Língua Portuguesa e Linguística pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e minha querida tia, pelo auxílio com a correção ortográfica deste texto. À Sra. Ana Maria Castello, bibliotecária da Biblioteca Central da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), pelo auxílio com a ficha catalográfica. viii EPÍGRAFE “Não sei como pareço aos olhos do mundo, mas eu mesmo vejo-me como uma criança brincando à beira-mar, divertindo-me em descobrir uma pedrinha mais lisa vez ou outra, ou uma concha mais bonita que as outras, enquanto o imenso oceano da verdade permanece completamente inexplorado diante de mim”. Isaac Newton “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota”. Madre Teresa de Calcutá ix SUMÁRIO DEDICATÓRIA ............................................................................................................ v AGRADECIMENTOS ................................................................................................. vi EPÍGRAFE ................................................................................................................. ix LISTA DE FIGURAS .................................................................................................xiii LISTA DE TABELAS ................................................................................................. xv LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS ...............................................xvii RESUMO................................................................................................................... xx 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1 1.1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 6 2 MÉTODOS ............................................................................................................ 7 2.1 COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ................................................................... 7 2.2 AMOSTRA .......................................................................................................... 7 2.3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS .............................................................. 7 2.3.1 Dieta ................................................................................................................. 7 2.3.2 Curva de peso e consumo de ração no pós-operatório (PO)............................ 8 2.3.3 Jejum ................................................................................................................ 8 2.3.4 Anestesia .......................................................................................................... 8 2.3.5 Coletas sanguíneas e testes laboratoriais ........................................................ 8 2.3.6 Dosagem de insulina ........................................................................................ 9 2.3.7 Dosagem de colesterol total, HDL-colesterol e triglicérides ............................ 10 2.4 PROCEDIMENTOS OPERATÓRIOS ............................................................... 10 2.5 EVOLUÇÃO PÓS-OPERATÓRIA ..................................................................... 13 2.6 EUTANÁSIA...................................................................................................... 14 2.7 ESTUDO HISTOLÓGICO ................................................................................. 14 2.7.1 Coloração com hematoxilina-eosina ............................................................... 15 2.7.2 Coloração com imunohistoquímica ................................................................. 15 2.8 ANÁLISE DAS IMAGENS MICROSCÓPICAS.................................................. 15 x 2.9 ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................... 18 3 RESULTADOS.................................................................................................... 20 3.1 PESO ................................................................................................................ 20 3.2 CONSUMO ALIMENTAR .................................................................................. 21 3.3 TESTES LABORATORIAIS .............................................................................. 22 3.3.1 Glicemia basal ................................................................................................ 22 3.3.2 Insulina ........................................................................................................... 24 3.3.3 Teste se tolerância insulínica (TTI) ................................................................. 25 3.3.4 Colesterol........................................................................................................ 26 3.3.5 HDL-colesterol ................................................................................................ 28 3.3.6 Triglicérides .................................................................................................... 30 3.4 COMPRIMENTO DO INTESTINO DELGADO .................................................. 31 3.5 ESTRUTURA DA MUCOSA INTESTINAL ........................................................ 32 3.5.1 Jejuno ............................................................................................................. 32 3.5.2 Íleo .................................................................................................................. 36 3.5.3 Segmento Interposto....................................................................................... 40 3.6 CÉLULAS L ENTEROENDÓCRINAS ............................................................... 43 3.6.1 Jejuno ............................................................................................................. 43 3.6.2 Íleo .................................................................................................................. 45 3.6.3 Segmento interposto ....................................................................................... 46 4 DISCUSSÃO ....................................................................................................... 48 5 CONCLUSÕES ................................................................................................... 56 6 ANEXOS ............................................................................................................. 57 Anexo 1 – Formalina tamponada .............................................................................. 57 Anexo 2 – Protocolo de coloração com Hematoxilina-eosina ................................... 58 Anexo 3 – Protocolo de silanização de lâminas ........................................................ 59 Anexo 4 – Protocolo de coloração com imunohistoquímica ...................................... 60 7 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 62 ABSTRACT ............................................................................................................... 82 APÊNDICES.............................................................................................................. 83 Apêndice 1 - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP ...................... 83 xi Apêndice 2 – Emenda ao Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP .. 85 Apêndice 3 – Ficha de coleta de dados .................................................................... 86 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ................................................................................ 87 xii LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Identificação e exposição do ceco e íleo terminal ..................................... 11 Figura 2 - a) Esquema demonstrativo das regiões de secção intestinal e do segmento a ser transposto no GI. No GS, as secções foram nas mesmas regiões com anastomose em seguida, sem a transposição. b) Esquema demonstrativo do segmento de íleo distal já interposto ao jejuno proximal no GI......................................................................................................... 12 Figura 3 - Visão microscópica da anastomose intestinal terminoterminal (aumento de 4 vezes) .................................................................................................... 13 Figura 4 - Fotomicrografia de corte histológico de segmento de jejuno, em aumento de 40 vezes, obtida pelo programa QCapture Pro® ................................. 16 Figura 5 - Fotomicrografia de corte histológico de segmento de íleo, em aumento de 40 vezes, obtida pelo programa QCapture Pro® ...................................... 17 Figura 6 - a) Fotomicrografia de corte histológico de segmento de íleo, em aumento de 400 vezes, obtida pelo programa QCapture Pro®. b) Mesma fotomicrografia editada no programa Adobe Photoshop CS4®, em que se realizou a seleção e isolamento da região de criptas ............................... 18 Figura 7 - Evolução do peso médio (±erro padrão) nos dois grupos, após a operação ................................................................................................................. 20 Figura 8 - Variação percentual do peso médio (±erro padrão) nos dois grupos, em relação à 12ª semana ............................................................................... 21 Figura 9 - Consumo alimentar médio diário (em gramas)(±erro padrão), nos dois grupos ...................................................................................................... 21 Figura 10 - Consumo alimentar acumulado (em gramas), nos dois grupos, no final do experimento .............................................................................................. 22 Figura 11 - Comparação da glicemia basal (mg/dL) em cada grupo, antes e depois da operação ............................................................................................. 23 Figura 12 - Comparação da insulina basal (ng/mL) em cada grupo, antes e depois da operação .................................................................................................. 25 Figura 13 - Comparação do TTI (%/min) em cada grupo, antes e depois da operação ................................................................................................................. 26 xiii Figura 14 - Comparação do colesterol total (mg/dL) em cada grupo, antes e depois da operação ............................................................................................. 28 Figura 15 - Comparação do HDL-colesterol (mg/dL) em cada grupo, antes e depois da operação ............................................................................................. 29 Figura 16 - Comparação dos triglicérides (mg/dL) em cada grupo, antes e depois da operação .................................................................................................. 31 Figura 17 - Altura das vilosidades no jejuno (µm) em cada grupo, antes e depois da operação .................................................................................................. 33 Figura 18 - Profundidade das criptas no jejuno (µm) em cada grupo, antes e depois da operação ............................................................................................. 34 Figura 19 - Relação vilosidade/cripta no jejuno em cada grupo, antes e depois da operação .................................................................................................. 35 Figura 20 - Altura das vilosidades no íleo (µm) em cada grupo, antes e depois da operação .................................................................................................. 37 Figura 21 - Profundidade das criptas no íleo (µm) em cada grupo, antes e depois da operação .................................................................................................. 38 Figura 22 - Relação vilosidade/cripta no íleo em cada grupo, antes e depois da operação .................................................................................................. 40 Figura 23 - Altura das vilosidades no segmento interposto (µm) em cada grupo, antes e depois da operação ..................................................................... 41 Figura 24 - Profundidade das criptas no segmento interposto (µm) em cada grupo, antes e depois da operação ..................................................................... 42 Figura 25 - Relação vilosidade/cripta no segmento interposto em cada grupo, antes e depois da operação .................................................................................. 43 Figura 26 - Densidade de células L no jejuno (cel/µm2) em cada grupo, antes e depois da operação .................................................................................. 44 Figura 27 - Densidade de células L no íleo (cel/µm2) em cada grupo, antes e depois da operação ............................................................................................. 46 Figura 28 - Densidade de células L no segmento interposto (cel/µm 2) em cada grupo, antes e depois da operação ..................................................................... 47 xiv LISTA DE TABELAS Tabela 1- Peso médio (em gramas) nos dois grupos, após a operação ................... 20 Tabela 2 - Variação percentual do peso médio nos dois grupos, após a operação .. 21 Tabela 3 - Glicemia basal (mg/dL) nos dois grupos, antes e depois da operação .... 23 Tabela 4 - Insulina basal (ng/mL) nos dois grupos, antes e depois da operação ...... 24 Tabela 5 - TTI (%/min) nos dois grupos, antes e depois da operação ...................... 25 Tabela 6 - Colesterol total (mg/dL) nos dois grupos, antes e depois da operação .... 27 Tabela 7 - HDL-colesterol (mg/dL) nos dois grupos, antes e depois da operação .... 29 Tabela 8 - Triglicérides (mg/dL) nos dois grupos, antes e depois da operação ........ 30 Tabela 9 - Comprimento do intestino delgado (cm) nos dois grupos, no momento da operação .................................................................................................. 31 Tabela 10 - Altura das vilosidades no jejuno (µm) nos dois grupos, antes e depois da operação ................................................................................................ 32 Tabela 11 - Profundidade das criptas no jejuno (µm) nos dois grupos, antes e depois da operação ........................................................................................... 33 Tabela 12 - Relação vilosidade/cripta no jejuno nos dois grupos, antes e depois da operação ................................................................................................ 35 Tabela 13 - Altura das vilosidades no íleo (µm) nos dois grupos, antes e depois da operação ................................................................................................ 36 Tabela 14 - Profundidade das criptas no íleo (µm) nos dois grupos, antes e depois da operação ........................................................................................... 37 Tabela 15 - Relação vilosidade/cripta no íleo nos dois grupos, antes e depois da operação ................................................................................................ 39 Tabela 16 - Altura das vilosidades no segmento interposto (µm) nos dois grupos, depois da operação ................................................................................ 40 Tabela 17 - Comparação da profundidade das criptas no segmento interposto (µm) entre os grupos, depois da operação ..................................................... 41 Tabela 18 - Relação vilosidade/cripta no segmento interposto nos dois grupos, depois da operação ................................................................................ 42 Tabela 19 - Densidade de células L no jejuno (cel/µm2) nos dois grupos, antes e depois da operação ................................................................................ 44 xv Tabela 20 - Densidade de células L no íleo (cel/µm2) nos dois grupos, antes e depois da operação ........................................................................................... 45 Tabela 21 - Densidade de células L no segmento interposto (cel/µm2) nos dois grupos, depois da operação ................................................................... 46 xvi LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS - Subtração % Percentual / Dividido + Adição < Menor que = Igual > Maior que ± Mais ou menos ® Marca registrada °C Graus Celsius µm Micrômetro 125 Iodo 125 ANOVA Análise de variância BSA Soro Albumina Bovina CEDEME Centro de Desenvolvimento de Modelos Experimentais cel Célula cm Centímetro COBEA Colégio Brasileiro de Experimentação Animal DAB Diaminobenzidina dL Decilitro DP Desvio padrão Dr. Doutor Dra. Doutora EP Erro padrão EPM Escola Paulista de Medicina etc Etecetera EUA Estados Unidos da América f Folhas g Grama GI Grupo Interposição I xvii GIP Gastric inhibitory polypetide GLM Modelo Linear Generalizado GLP-1 Glucagon-like peptide 1 GLP-2 Glucagon-like peptide 2 GS Grupo Sham h Hora HCl Ácido clorídrico HDL Colesterol em fração lipoproteína de alta densidade HSPE Hospital do Servidor Público Estadual IgG Imunoglobulina G IIQ Intervalo interquartil IL Íleo IMC Índice de massa corporal IME Instituto de Matemática e Estatística JE Jejuno Kcal Quilocaloria Kg Quilograma Ln Logaritmo neperiano m Metro M Mol mg Miligramas MG Minas Gerais N Número ng Nanograma PBS Tampão Salina Fosfato pH Potencial hidrogeniônico PO Pós-operatório PR Paraná Prof. Professor Profa. Professora p-valor Nível descritivo PYY Peptide tyrosine tyrosine S12 Semana 12 t½ Meia-vida xviii T Interposto T tempo TTI Teste de Tolerância Insulínica UFCG Universidade Federal de Campina Grande UFES Universidade Federal do Espírito Santo UFPB Universidade Federal da Paraíba UI Unidades internacionais UNIFESP Universidade Federal de São Paulo USP Universidade de São Paulo α Alfa (nível de significância) xix RESUMO Objetivos: Conhecer os efeitos da interposição ileal isolada em animais de experimentação normais (não obesos e não diabéticos), avaliando as modificações metabólicas e morfológicas intestinais. Métodos: Estudo experimental em ratos normais (Wistar-EPM1), com 12 semanas de vida, distribuídos em dois grupos, Grupo Interposição (GI) com 11 animais, submetidos à interposição ileal isolada, e Grupo Sham (GS) com 14 animais, submetidos à operação simulada. Foram avaliados parâmetros metabólicos (peso, consumo alimentar e bioquímicos) e histológicos (gerais e enteroendócrinos) antes e após oito semanas do procedimento cirúrgico. Resultados: Não houve diferença entre os grupos quanto aos seguintes parâmetros: peso, consumo alimentar, glicemia, insulina, teste de tolerância insulínica (TTI), níveis de colesterol total, HDL-colesterol e triglicérides. No entanto, na análise isolada de cada grupo, observou-se elevação dos níveis de glicemia (p=0,032) e de triglicérides (p=0,009) apenas no GS ao final do experimento; bem como diminuição dos níveis de colesterol total (p=0,004) e aumento dos níveis de insulina (p=0,016) e de HDL-colesterol (p<0,001) apenas no GI. O segmento ileal interposto no GI apresentou aumento da altura de vilosidades (p=0,002) e da relação vilosidade/cripta (p=0,021), adquirindo características semelhantes ao jejuno. Todavia, manteve a quantidade de células L enteroendócrinas inalterada. Os demais segmentos intestinais não apresentaram diferenças estruturais entre os grupos. Conclusões: A interposição ileal isolada não promove perda ponderal ou diminuição da ingestão alimentar, não provoca hipoglicemia, nem modifica a sensibilidade à insulina em animais euglicêmicos. Pode modificar favoravelmente alguns aspectos do metabolismo glicídico e lipídico. O segmento ileal interposto mantém a quantidade de células L enteroendócrinas após a interposição ileal isolada, apesar da “jejunização” da mucosa. Por conseguinte, a interposição ileal isolada deve ser considerada como um potencial procedimento cirúrgico para o tratamento de casos selecionados de diabetes tipo 2. xx 1 1 INTRODUÇÃO Grande parcela da população mundial apresenta excesso de peso, e a obesidade tem sido referida como uma epidemia mundial, com índices crescentes ao longo das últimas décadas1-7, mesmo nos países em desenvolvimento8,9. Diversas doenças estão relacionadas à obesidade, como distúrbios cardiovasculares, hipertensão arterial sistêmica, diabetes9, neoplasias10, doenças osteoarticulares, entre outras. Tudo isto acarreta grande impacto nos custos socioeconômicos7,11-13 e na mortalidade relacionada14. A obesidade em níveis mais elevados proporciona diminuição na expectativa de vida em cerca de 13 anos em relação a indivíduos com peso normal15. Uma das condições mais associadas à obesidade é o diabetes mellitus doença que também apresenta elevados índices de incidência e prevalência mundial16, com previsões de dados alarmantes para as próximas décadas 17. Ultimamente tem sido usado o termo “diabesidade”18 para referir-se a esta condição mórbida, na qual a fisiopatologia central é um aumento na resistência à ação da insulina. Trata-se de doença progressiva e de difícil controle clínico, mesmo com cuidados intensivos e vigilância rigorosa19-24, e que produz complicações em diversos órgãos e sistemas do organismo – nefropatias, retinopatias, doenças cardiovasculares, neuropatias, distúrbios dentários, entre outros12,21,23,25,26 – que representam as causas de morbimortalidade associadas à mesma14,27. Os tratamentos conservadores para a obesidade grave (a partir do grau 3) apresentam-se ineficazes em longo prazo28,29, sendo o tratamento cirúrgico considerado mais duradouro30-32, proporcionando perda ponderal sustentada28, controle e/ou remissão das doenças associadas33, melhora da qualidade de vida34 e diminuição da mortalidade35-37. Assim, diante dos benefícios evidentes do tratamento cirúrgico para a obesidade, tem ocorrido aumento progressivo na realização do mesmo nos últimos anos no mundo inteiro29,35. Nas últimas décadas, com a observação cuidadosa dos resultados obtidos após as operações bariátricas, evidenciou-se a existência de um complexo sistema enteroendócrino envolvido nos mecanismos de controle da fome e da saciedade, na motilidade gastrintestinal e no metabolismo glicídico e lipídico38-45. Foram identificados diversos hormônios produzidos pelo trato gastrintestinal que têm ação em vários segmentos do tubo digestório, no sistema nervoso central, no pâncreas, 2 nos tecidos periféricos, entre outros. Alguns desses hormônios são: grelina, glucagon-like peptide 1 (GLP-1), peptide tyrosine tyrosine (PYY) e gastric inhibitory polypetide (GIP)39,40,42,44,46-53. Ao observar que os pacientes diabéticos conseguem um controle mais rápido da glicemia após a cirurgia bariátrica, antes mesmo que haja perda de peso significativa, passou-se a investigar os possíveis mecanismos de interação entre os êntero-hormônios ponderal e o metabolismo glicídico, independente da perda 18,39,40,43-45,54 . Sabe-se, há longa data, da ocorrência do “efeito incretínico” que designa a amplificação da secreção de insulina por hormônios secretados pelo trato gastrintestinal em resposta à chegada de nutrientes no lume intestinal55,56. Estes hormônios são designados como “incretinas”53,57,58. Atualmente o GLP-1 é o hormônio incretínico mais associado aos efeitos antidiabéticos da cirurgia bariátrica54,59-63. O GLP-1 é um polipeptídeo secretado pelas células L intestinais, células enteroendócrinas existentes em maior número no intestino delgado distal, em resposta à chegada de alimentos na luz intestinal56,64-70. As ações do GLP-1 incluem efeito sacietógeno direto no hipotálamo56,67,69,71-74, diminuição da absorção de gorduras pelo trato gastrintestinal75-77 e inibição da motilidade intestinal78-80. Entretanto, suas principais ações são a estimulação da liberação de insulina pelas células beta das ilhotas pancreáticas, a diminuição da liberação de glucagon pelas células alfa, a diminuição da apoptose de células beta e a melhora da sensibilidade periférica à insulina52,59,60,79,81-96. Por isso, esse hormônio tem sido o centro dos estudos voltados ao tratamento do diabetes tipo 230,74,81-83,86,88,92,97-100. Os procedimentos cirúrgicos que abreviam o percurso do alimento ingerido através do tubo digestório, permitindo que este (ainda não digerido) entre em contato com as células do intestino delgado distal, provocam a liberação maior e mais precoce de GLP-1 pelas células L e são os mais eficazes em controlar o diabetes, como o “bypass” gástrico em Y-de-Roux (operação de Fobi-Capella)18,40,45, ou as operações que predominantemente diminuem a absorção como o “bypass” jejunoileal101,102 e as derivações biliopancreáticas103-106. Por outro lado, apesar dos bons resultados das operações bariátricas, as intervenções realizadas na atualidade não são isentas de efeitos adversos importantes 107,108 , que podem ser graves, principalmente em longo prazo, a saber: vômitos frequentes, síndrome de dumping51, tendência à ocorrência de úlceras 3 pépticas101,109, fístulas gastrogástricas e enteroentéricas109, cálculos renais, deficiências nutricionais, desnutrição protéica101, descalcificação e osteoporose, hipocalemia51,101,109,110, dilatação do “pouch” gástrico, estenoses das anastomoses e diarreia crônica101,111. Também deve ser considerada a dificuldade de acesso endoscópico para diagnóstico de doenças nas áreas excluídas do tubo digestório112114 , que podem apresentar hemorragias ou neoplasias tardiamente. Assim, diante das dificuldades de controlar clinicamente o diabetes, das evidências dos benefícios metabólicos duradouros das operações bariátricas e do conhecimento cada vez mais aprofundado do sistema enteroendócrino, atualmente, utiliza-se o termo “Cirurgia Metabólica” ao invés de “Cirurgia Bariátrica”. De forma que se busca, cada vez mais, entender os mecanismos fisiológicos e, principalmente hormonais, relacionados a essa condição para melhorar o tratamento desses pacientes. Pesquisam-se tratamentos farmacológicos mais eficazes e com menos efeitos colaterais81,82,92,94,97,99,115-117 e procedimentos cirúrgicos que estimulam ou inibem determinados hormônios sem que sejam necessários a retirada ou o desvio de grandes segmentos gastrintestinais118-126, com o intuito de tratar os distúrbios do metabolismo e minimizar os efeitos adversos das operações atualmente realizadas. Duas grandes teorias na atualidade norteiam os estudos nesta área: a teoria do “foregut” e a teoria do “hindgut”. A primeira baseia-se na observação dos resultados obtidos após as operações bariátricas de “bypass” gastroduodenal e derivação biliopancreática que promovem desvio do trânsito de alimentos ingeridos através do duodeno e de parte do jejuno, obtendo melhores resultados no controle do diabetes do que as operações apenas restritivas como, por exemplo, a banda gástrica ajustável101,104,106. Infere-se um possível fator “anti-incretínico” produzido nesses segmentos intestinais que, quando desviados do trânsito intestinal, pode ter sua produção e/ou ações reduzidas, promovendo assim um benefício no metabolismo glicídico e melhorando o controle do diabetes44,125. Estudos experimentais em ratos diabéticos não obesos, submetidos a desvio gastrojejunal sem redução do estômago, demonstraram melhora na tolerância à glicose e na sensibilidade à insulina44,125. Também foram replicados esses resultados em estudos clínicos com diabéticos não obesos127,128 e/ou com obesidade grau I129. Em contrapartida, estudo com ratos com obesidade induzida por dieta realizando esse procedimento, não foi observada nenhuma melhora na sensibilidade à insulina130. Além disso, ainda não foi identificada nenhuma substância que tenha 4 exatamente essa função “antidiabética”, nem se conhecem os efeitos em longo prazo dessa operação. A teoria do “hindgut” – na qual está inserida a interposição ileal - baseia-se no fato de que as operações bariátricas que encurtam o caminho dos alimentos através do tubo digestório, permitindo a chegada mais precoce de alimentos não digeridos ao intestino delgado distal, promovem a liberação de hormônios, pelas células L do íleo distal, que interferem no metabolismo da glicose, principalmente o GLP-1. Consequentemente, os resultados mais eficazes dessas operações no controle do diabetes em longo prazo. Nessa ordem de ideias, apenas a transposição de um segmento do íleo distal para uma porção mais proximal do tubo digestório pode estimular a liberação do hormônio GLP-1, de maneira a influir beneficamente no metabolismo glicídico, sem que haja removidos segmentos gastrintestinais exclusos do trânsito alimentar e/ou 75,131-141 . Na última década foram demonstrados resultados clínicos animadores com a interposição ileal. No entanto, esta operação tem sido realizada de forma combinada a outras operações118-124, de maneira que não se conhece o papel de cada procedimento isoladamente. A interposição ileal foi realizada em humanos obesos e com síndrome metabólica, em associação ao procedimento restritivo de gastrectomia vertical, sendo demonstrados bons resultados: controle da obesidade em 86,4%; do diabetes em 84,2%; da hipertensão arterial em 88,4% e da dislipidemia em 82,3%; num tempo de seguimento médio de 38,4 ± 10,2 meses, com complicações maiores em 5,9%118. Vale salientar ainda um dado muito importante que é o fato de que, apesar de o diabetes estar mais comumente associado à obesidade, observa-se uma prevalência crescente da doença em indivíduos eutróficos ou apenas com sobrepeso9,16,142,143. De maneira que são necessárias formas de tratamento mais eficazes para o controle da mesma, sem que necessariamente induzam perda ponderal significativa. Estudos com interposição ileal em humanos diabéticos com IMC abaixo de 35 Kg/m2, demonstraram modesta diminuição de peso e ingestão alimentar, com satisfatório controle de comorbidades (diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia, etc) e com poucas complicações maiores precoces119,144,145. No entanto, estes 5 ensaios clínicos também associaram o procedimento de gastrectomia vertical, não havendo nenhuma pesquisa conduzida com a interposição ileal isolada. No campo da pesquisa experimental, têm sido realizados nos últimos 30 anos experimentos com transposição de segmentos intestinais com objetivos diversos. Estudos com interposição ileal em animais obesos demonstraram perda ponderal e menor ingestão alimentar, sem alterações na absorção de nutrientes133,138,141. Outros estudos demonstraram ainda os efeitos metabólicos desse procedimento em animais diabéticos, obesos146 e não obesos75,84,135, com melhora na tolerância à glicose e na sensibilidade à insulina em curto e médio prazos75,84,135,146. A melhora na tolerância à glicose foi demonstrada mesmo em animais não obesos e euglicêmicos 84. Demonstrou-se ainda aumento nos níveis séricos de hormônios intestinais após esse procedimento75,136,139. Por outro lado, pesquisas anteriores em que foi alterada a anatomia do tubo digestório, com a diminuição do seu comprimento ou com a transposição de segmentos - naquela ocasião visando melhorar o tratamento da “síndrome do intestino curto” - demonstraram a ocorrência de modificações (ou adaptações) dos segmentos intestinais remanescentes e do segmento transposto em longo prazo, adquirindo este a morfologia e/ou a função aproximada da região para o qual foi transferido147-153. Dentro deste contexto, compreender os efeitos dos diversos procedimentos cirúrgicos, os mecanismos de atuação dos diferentes êntero-hormônios, as células que os produzem, onde e como atuam, com o intuito de estabelecer tratamentos mais efetivos para as doenças metabólicas, principalmente o diabetes mellitus é, no momento, o alvo de inúmeras pesquisas científicas. Estudos histológicos e moleculares podem fornecer informações para o desenvolvimento de substâncias que possam ser usados em tratamentos farmacológicos. Além disso, atualmente não se conhecem as alterações enteroendócrinas em longo prazo ocorridas após a transposição isolada de um segmento de íleo distal para uma situação proximal no jejuno; se há a presença de células L funcionais tardiamente no segmento intestinal interposto154; ou se os resultados clínicos obtidos são devido, principalmente, aos procedimentos associados realizados, uma vez que não se realizou a interposição ileal isolada. Diante disto, este estudo propôs-se a pesquisar as alterações metabólicas gerais e bioquímicas, bem como as modificações morfológicas no intestino delgado, 6 após o procedimento de interposição ileal isolada, em animais de experimentação normais (não obesos e não diabéticos), visando avaliar a segurança e eficácia do mesmo. 1.1 OBJETIVOS Geral Avaliar os efeitos da interposição ileal isolada em ratos normais (não obesos e não diabéticos). Específicos Avaliar os efeitos no peso e no consumo alimentar; Pesquisar as modificações no metabolismo glicídico e lipídico; Estudar as alterações estruturais no intestino delgado; e Verificar a presença de células L enteroendócrinas no intestino delgado. 7 2 2.1 MÉTODOS COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA O projeto de pesquisa foi encaminhado para o Comitê de Ética em Pesquisa Experimental da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM) e aprovado em 21 de dezembro de 2007 sob o número 1478/07. 2.2 AMOSTRA Foram utilizados 25 ratos machos (Rattus norvegicus albinus), Wistar-EPM1, com 11 semanas de idade, fornecidos pelo Centro de Desenvolvimento de Modelos Experimentais para Medicina e Biologia (CEDEME) - Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM). Os animais foram transferidos para o Biotério Setorial da Biofísica, alojados em gaiolas coletivas e mantidos com temperatura ambiente controlada de 23 2C, umidade relativa de 55 15%, e com dispositivo automático (Timer – Kienzle) proporcionando ciclo de alternância de luminosidade entre claro e escuro de 12 por 12 horas (6h/ 18 h). Esta transferência dos animais foi realizada de maneira escalonada, de forma a proporcionar grupos de animais com diferentes idades em acompanhamento no alojamento. Após uma semana de aclimatação ao novo ambiente, os animais foram distribuídos em dois grupos: Grupo Interposição (GI) – submetido à interposição ileal, com 11 animais; e Grupo Sham (GS) – submetido à operação simulada, com 14 animais. Todos os animais foram acompanhados até a 8ª semana do pós-operatório (PO), com 21 semanas de vida, quando foram sacrificados. 2.3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS 2.3.1 Dieta Durante todo o estudo, todos os animais receberam, ad libitum, a dieta padrão Nuvilab CR-1, normocalórica (4,5 Kcal/g), peletizada, com 10% de gorduras, 22% de 8 proteínas e 68% de carboidratos, da marca Nuvital (Colombo, PR, Brasil) e fornecida pelo CEDEME. 2.3.2 Curva de peso e consumo de ração no pós-operatório (PO) Foi realizada a pesagem semanal, em todos os grupos, desde a décima segunda semana de vida até a oitava semana de pós-operatório, com balança apropriada (Filizola BP-6), e o peso foi expresso em gramas. O consumo de ração foi avaliado semanalmente, nos dois os grupos, da décima segunda à vigésima primeira semana de vida, calculando-se a diferença do peso da ração oferecida e a restante na gaiola, entre duas semanas consecutivas, fazendo-se assim o cálculo da estimativa de consumo diário médio de ração, em gramas. 2.3.3 Jejum Durante as seis horas que antecederam a coleta de sangue, o teste de tolerância insulínica (TTI) e o procedimento cirúrgico, os animais permaneceram em jejum, sendo oferecido somente água. 2.3.4 Anestesia Foi realizada anestesia geral dissociativa para as coletas sanguíneas e as intervenções cirúrgicas, utilizando Zoletil 50® (tiletamina+zolazepan) na dose de 20 mg/Kg e Fentanil® na dose de 0,025 mg/Kg, coletados na mesma seringa e injetados simultaneamente por via intramuscular. O animal foi mantido em ventilação espontânea durante os procedimentos, e o plano anestésico foi controlado mediante avaliação periódica (a cada 45 minutos) dos reflexos auricular e interdigital, que deveriam estar abolidos. Sempre que houve o reaparecimento desses reflexos, realizou-se suplementação anestésica com 1/3 da dose inicial155. 2.3.5 Coletas sanguíneas e testes laboratoriais Foram realizadas coletas sanguíneas sete dias antes do dia da operação (12ª semana de vida) e na ocasião da eutanásia. 9 Inicialmente, realizou-se a coleta de 1 mL de sangue através de punção da veia da cauda para determinações séricas de insulina, colesterol total, HDLcolesterol e triglicérides. Em seguida, a amostra foi transferida para frascos apropriados devidamente identificados e congelada a –4oC até a análise laboratorial. Após 10 minutos da coleta sanguínea, foi realizada a determinação da glicose sérica com uma gota de sangue, obtida por puntura da cauda, depositada em fita reagente e avaliada com glicosímetro (Kit Accu-Chek Advantage, Roche®) (Mannheim, Alemanha). Sequencialmente, procedia-se ao Teste de Tolerância Insulínica (TTI): infusão de uma solução de insulina recombinante humana (Humulin R®, Eli Lilly) (Indianapolis, Indiana, EUA) na concentração de 1 UI/Kg de peso corpóreo, através da veia peniana e, em seguida, efetuou-se dosagens de glicemia, pelo mesmo método da glicemia basal, nos tempos 4, 8, 12 e 16 minutos após a injeção de insulina. A velocidade de desaparecimento da glicose foi calculada pela fórmula 0,693 / t ½. O t ½ da glicose foi calculado a partir da inclinação da curva de regressão mínima durante a fase linear de declínio da concentração plasmática de glicose156. Esses resultados foram avaliados utilizando o software PRISMA para cálculo do TTI. 2.3.6 Dosagem de insulina A dosagem da insulina sérica foi determinada por radioimunoensaio. Para tanto, a solução reagente inclui uma quantidade conhecida de anticorpo, uma quantidade conhecida do hormônio marcado radioativamente (insulina marcada com iodo – 125 I, Amershan Biosciences, Inglaterra) e uma quantidade desconhecida de hormônio não radioativo (amostra). Como as duas formas de hormônio, radioativo e não radioativo, competem por um mesmo número de locais de ligação ao anticorpo, quanto mais hormônio não radioativo estiver presente, menos o hormônio radioativo irá se ligar. O complexo formado, insulina-anticorpo marcado, é precipitado com polietilenoglicol (PM 6000) e dosado em contador tipo gama (PerkinElmer, Turku, Finlândia). Uma curva padrão foi preparada, na qual a relação ligação/livre para o hormônio radioativo é plotada com função da concentração do hormônio não radioativo. A relação ligado/livre do hormônio radioativo é maior quanto menor número de não radioativo estiver presente. A curva padrão foi utilizada para determinar a concentração do hormônio em cada amostra. 10 2.3.7 Dosagem de colesterol total, HDL-colesterol e triglicérides As dosagens de colesterol total e de triglicérides foram realizadas pelo método enzimático monorreagente e o HDL-colesterol pelo método enzimático birreagente. Nestas análises foram utilizados kits comerciais da marca Labtest Diagnóstica (Lagoa Santa, MG, Brasil). 2.4 PROCEDIMENTOS OPERATÓRIOS Nos dias determinados, na 13ª semana de vida, dois ratos foram separados e, aleatoriamente, distribuídos no GS e no GI, mediante sorteio com moeda para cada animal. Os animais anestesiados foram posicionados em decúbito dorsal horizontal na mesa cirúrgica, com as patas e a cauda devidamente imobilizadas. A antissepsia da região abdominal foi feita com clorohexidine em veículo aquoso. Utilizou-se campo cirúrgico esterilizado fenestrado na região abdominal do animal, sendo realizada uma incisão longitudinal mediana da parede, com aproximadamente 5 cm de extensão, utilizando-se bisturi descartável de lâmina número quinze. Inicialmente, o ceco foi identificado e exposto, juntamente com o íleo terminal (Figura 1). Foi realizada a mensuração do intestino delgado, em centímetros, utilizando-se segmento de fio previamente medido. Em seguida, em ambos os grupos, seccionou-se perpendicularmente o intestino delgado na região distando 5 cm da transição ileocecal e removeu-se um segmento ileal de 1 cm para estudo histológico. 11 Figura 1 - Identificação e exposição do ceco e íleo terminal No GI, o íleo foi perpendicularmente seccionado a 5 cm e a 15 cm da transição ileocecal, dessa forma, separando-se um segmento de 10 cm (Figura 2a), o qual foi envolto em gaze umedecida com solução aquecida de cloreto de sódio a 0,9%. Em seguida, foi restabelecida a continuidade do tubo digestório mediante a anastomose dos segmentos do íleo remanescente. O jejuno foi, então, seccionado numa região distante 5 cm da transição duodenojejunal, removendo-se um segmento de 1 cm para estudo histológico. O segmento do íleo distal, anteriormente separado, foi agora interposto aos segmentos do jejuno seccionado, em posição isoperistáltica (Figura 2b). 12 Figura 2 - a) Esquema demonstrativo das regiões de secção intestinal e do segmento a ser transposto no GI. No GS, as secções foram nas mesmas regiões com anastomose em seguida, sem a transposição. b) Esquema demonstrativo do segmento de íleo distal já interposto ao jejuno proximal no GI No GS, o intestino foi seccionado perpendicularmente nas regiões distantes, 5 cm e 15 cm da transição ileocecal e 5 cm da transição duodenojejunal, com imediata reconstrução do tubo digestório, sem a transposição do segmento ileal (Figura 2a). Foram retirados segmentos de 1 cm do íleo distal e do jejuno proximal para estudo histológico. Todas as anastomoses intestinais foram terminoterminais e realizadas com 6 pontos totais separados, utilizando-se fios de polipropileno 7-0 pré-montados em agulha cilíndrica (Figura 3). 13 Figura 3 - Visão microscópica da anastomose intestinal terminoterminal (aumento de 4 vezes) O fechamento da parede abdominal foi realizado com sutura contínua em monobloco do peritônio parietal, da camada muscular e da aponeurose utilizando-se fio de poliglactina 4-0 pré-montado em agulha cilíndrica. Na pele, realizou-se sutura contínua, utilizando-se fio de poliglactina 4-0 pré-montado em agulha cilíndrica, com pontos invertidos. Ao término da operação, foi realizada hidratação com injeção de solução fisiológica 0,5% subcutânea no dorso dos animais, na dose de 10 mL/Kg de peso. 2.5 EVOLUÇÃO PÓS-OPERATÓRIA Os animais foram mantidos em observação até a recuperação completa da anestesia, quando, então, foram colocados em gaiolas individuais e encaminhados para a sala de albergue, no Biotério da Biofísica, sob as mesmas condições ambientais pré-operatórias. 14 Foram reintroduzidas dieta e água, ad libitum, tão logo houve recuperação anestésica. Os animais foram acompanhados até a 8ª semana do PO, ou seja, até 21 semanas de vida. 2.6 EUTANÁSIA A eutanásia ocorreu pela técnica de decapitação, conforme orientação do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA), na 8ª semana de PO (21 semanas de vida). Em ambos os grupos, foram realizados os mesmos procedimentos de jejum, anestesia, pesagem, coleta de sangue e testes laboratoriais descritos por ocasião dos procedimentos da décima segunda semana. 2.7 ESTUDO HISTOLÓGICO No momento da realização das operações, foram coletadas as seguintes amostras para avaliação histológica: a) Segmento de jejuno proximal – Segmento JE 1 (jejuno, no tempo 1); e b) Segmento de íleo distal – Segmento IL 1 (íleo, no tempo 1). Após a eutanásia, foram coletadas as seguintes amostras para avaliação histológica: c) Segmento de íleo interposto no GI e o segmento correspondente no GS (segmento de íleo entre as duas anastomoses ileoileais) – Segmento T 2 (segmento interposto, no tempo 2); d) Segmento de jejuno proximal à anastomose jejunoileal no GI e jejunojejunal no GS – Segmento JE 2 (jejuno, no tempo 2); e e) Segmento de íleo, distal à anastomose ileoileal – Segmento IL 2 (íleo, no tempo 2). As amostras foram enviadas ao Departamento de Patologia fixadas em formalina tamponada (Anexo 1), em um volume aproximado de vinte vezes o volume do espécime, por um período compreendido entre 12 e 24 horas. Em seguida, procedeu-se à desidratação do tecido com cinco banhos, de uma hora cada, de álcool etílico em concentrações progressivamente maiores até 100%. A diafanização 15 foi feita com dois banhos consecutivos de xilol, de uma hora cada e, após, realizouse a embebição em parafina líquida para confecção dos blocos e posterior microtomia. 2.7.1 Coloração com hematoxilina-eosina Realizou-se cortes histológicos a partir dos blocos de parafina, com 3 m de espessura, utilizando-se micrótomo rotativo. Estes cortes foram colocados em lâminas que foram para estufa, por 20 minutos, para adesão. As lâminas com os cortes histológicos seguiram protocolo para coloração com hematoxilina e eosina (Anexo 2). 2.7.2 Coloração com imunohistoquímica Foram realizados cortes histológicos a partir dos blocos de parafina, em micrótomo rotativo do tipo Minot regulado para 3 m de espessura, e colocados em lâminas tratadas com organosilano para imunohistoquímica (Anexo 3). As lâminas com os cortes histológicos seguiram protocolo para coloração com método imunohistoquímico (Anexo 4), utilizando o anticorpo primário policlonal Rabbit anti-GLP-1 (7-37) – IgG - Código T4362 – Lote 023583 - Peninsula Laboratories, Bachem Group) (San Carlos, California, EUA), diluídos em BSA 1% em titulação 1:1000. 2.8 ANÁLISE DAS IMAGENS MICROSCÓPICAS Para a captura das imagens, utilizou-se um sistema computadorizado, constituído por microscópio de luz (Olympus - Modelo BX4OF-3), adaptado a uma câmera de alta resolução (Olympus – Modelo QColor 3) e monitor de vídeo colorido (LG Flatron®). Foram realizadas fotomicrografias utilizando o programa QCapture Pro® (desenvolvido pela QImaging, Surrey, Canadá), em equipamento disponível no Departamento de Patologia da UNIFESP/EPM. A análise morfométrica das vilosidades e criptas intestinais foi realizada em cortes histológicos corados pela hematoxilina-eosina, no aumento de 40 vezes, digitalizando-se 10 imagens microscópicas com adequada preservação da 16 integridade mucosa (Figura 4 e Figura 5). As imagens digitalizadas foram analisadas através do programa Imagetool®, fornecido pelo Health Science Center da Universidade do Texas (San Antonio, Texas, EUA). Os seguintes parâmetros foram avaliados: a) média da altura das vilosidades mensuradas (em micrômetros); b) média da profundidade das criptas mensuradas (em micrômetros); e c) relação vilosidade/cripta. Figura 4 - Fotomicrografia de corte histológico de segmento de jejuno, em aumento de 40 vezes, obtida pelo programa QCapture Pro® 17 Figura 5 - Fotomicrografia de corte histológico de segmento de íleo, em aumento de 40 vezes, obtida pelo programa QCapture Pro® A avaliação da expressão do GLP-1 foi realizada em cortes histológicos corados por imunohistoquímica, no aumento de 400 vezes, de imagens digitalizadas compreendendo todo o perímetro intestinal. A partir destas imagens, selecionaramse os locais de criptas na mucosa como objeto de interesse, delimitando esta área com o auxílio do programa Adobe Photoshop® CS4 (Adobe Systems Incorporated, California, EUA) (Figura 6). Em seguida, estas imagens trabalhadas foram avaliadas através do programa Image J®, fornecido pelo National Institute of Mental Health (Bethesda, Maryland, EUA), sendo mensurada a área da imagem digitalizada (em micrômetros quadrados) e o número de células que expressaram GLP-1 (coloração marrom-acastanhada – padrão citoplasmático). Os resultados obtidos foram expressos a partir da relação entre estes dois parâmetros. 18 Figura 6 - a) Fotomicrografia de corte histológico de segmento de íleo, em aumento de 400 vezes, obtida pelo programa QCapture Pro®. b) Mesma fotomicrografia editada no programa Adobe Photoshop CS4®, em que se realizou a seleção e isolamento da região de criptas 2.9 ANÁLISE ESTATÍSTICA Inicialmente realizou-se uma análise exploratória dos dados. Para as variáveis de natureza quantitativa, foram calculadas medidas-resumo, como média, mediana, valor mínimo, valor máximo, desvio-padrão, e confeccionados gráficos do tipo boxplot. Nos boxplots, destacou-se a média com um símbolo de losango e os valores extremos (outliers) com asteriscos (menos extremos) ou círculos (mais extremos). As análises descritivas foram feitas no Microsoft Excel 2010 com auxílio do complemento PTS Charts – Box and Whisker Plot para o Excel. Analisaram-se as distribuições das variáveis quantitativas quanto a outliers, desvio da média em relação à mediana e normalidade (teste de Anderson-Darling) e optou-se por usar testes não paramétricos na grande maioria das variáveis, com exceção das variáveis peso e consumo alimentar, para as quais utilizou-se metodologia paramétrica do tipo ANOVA. As análises inferenciais empregadas foram: a) Modelo linear generalizado (GLM), do tipo ANOVA com medidas repetidas e 2 fatores (tempo e grupo), com testes de Tukey como post-hoc na 19 análise da evolução do peso e consumo alimentar (software SigmaPlot 12.0); b) Teste Mann-Whitney na comparação entre os grupos (GS e GI), antes e depois da intervenção cirúrgica (software ExStat - Excel Statistics Calculator 1.8); c) Teste de Sinais de Postos de Wilcoxon na comparação entre os momentos antes e depois da operação para cada grupo (GS e GI) (software ExStat - Excel Statistics Calculator 1.8). Em todas as conclusões obtidas através das análises inferenciais foi utilizado o nível de significância α igual a 5%, e níveis descritivos (p-valor) inferiores a esse valor foram considerados significantes. 20 3 3.1 RESULTADOS PESO Os grupos apresentaram peso inicial e evolução ponderal semelhante durante todo o seguimento pós-operatório, não havendo efeito de interação entre grupo e tempo (p>0,999), conforme se verifica na Tabela 1 e na Figura 7. Ou seja, independentemente do momento de avaliação, não houve diferença entre os grupos (p=0,190), com ambos apresentando aumento ponderal significante ao longo do tempo (p=001). Tabela 1- Peso médio (em gramas) nos dois grupos, após a operação Tempo (semanas) Grupo 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 GS 408,08 396,54 407,31 420,38 432,69 449,23 456,54 465,38 471,92 477,31 GI 406,36 399,18 400,91 414,09 426,36 438,64 445,45 454,55 462,27 462,18 GLM: Fatores analisados: Grupo p=0,190; Tempo p=0,001; GrupoXTempo p>0,999 500 480 Peso (gramas) 460 440 420 400 380 360 340 GI 320 300 12 13 14 15 16 17 Tempo (semanas) 18 19 20 21 GS Figura 7 - Evolução do peso médio (±erro padrão) nos dois grupos, após a operação Na primeira semana pós-operatória, como era esperado, ocorreu uma diminuição do peso médio dos animais, voltando os mesmos a elevarem progressivamente nas semanas seguintes. Ao comparar-se a evolução percentual do peso semanal, entre os grupos, observou-se um discreto ganho ponderal maior no Grupo Sham em relação ao Grupo Interposição. No entanto, não foi detectada diferença estatisticamente significante entre os grupos (Tabela 2 e Figura 8). 21 Tabela 2 - Variação percentual do peso médio nos dois grupos, após a operação Tempo (semanas) Grupo 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 GS 0,00 -2,51 0,20 3,41 6,40 10,57 12,32 14,52 16,15 17,43 GI 0,00 -1,66 -1,41 1,88 4,96 7,90 9,59 11,78 13,72 13,62 GLM: Fatores analisados: Grupo p=0,090; Tempo p=0,010; GrupoxTempo p=0,990 25 Peso (% S12) 20 15 10 5 0 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 -5 GI -10 GS Tempo (semanas) Figura 8 - Variação percentual do peso médio (±erro padrão) nos dois grupos, em relação à 12ª semana 3.2 CONSUMO ALIMENTAR A Figura 9 mostra o consumo alimentar médio diário dos animais. 35 Consumo (gramas) 30 25 20 ** 15 10 * 5 GI 0 12 13 14 15 16 17 Tempo (semanas) 18 19 20 21 GLM: Fatores analisados: Grupo p=0,046; Tempo p=0,010; GrupoxTempo p=0,037 Pós-HOC (Teste de Tukey): *p=0,008; **p=0,010 Figura 9 - Consumo alimentar médio diário (em gramas)(±erro padrão), nos dois grupos GS 22 Houve uma menor ingestão alimentar na primeira semana pós-operatória nos dois grupos, sendo a média normal esperada recuperada nas semanas seguintes. No entanto, esta diminuição da ingestão foi maior no GI do que no GS (Semana 13: p=0,008), bem como a recuperação foi mais lenta no GI do que no GS (Semana 15: p=0,010). A partir da Semana 16, os dois grupos apresentaram consumo semelhante de dieta. O consumo alimentar acumulado no final do experimento foi semelhante nos dois grupos (Figura 10). 2500 Consumo Acumulado (gramas) 2000 1500 1000 500 0 GS GI Teste de Mann-Whitney: p=0,176 Figura 10 - Consumo alimentar acumulado (em gramas), nos dois grupos, no final do experimento 3.3 TESTES LABORATORIAIS 3.3.1 Glicemia basal Não houve diferença entre os grupos antes e depois do procedimento cirúrgico (Tabela 3). 23 Tabela 3 - Glicemia basal (mg/dL) nos dois grupos, antes e depois da operação GS GI p-valor* 12 11 Média (DP) 113,67 (32,02) 117,64 (24,55) Mediana (IIQ) 108,50 (51,75) 110,00 (36,00) 60,00-169,00 80,00-164,00 14 11 Média (DP) 130,29 (36,90) 120,36 (26,60) Mediana (IIQ) 111,50 (48,50) 116,00 (37,00) 99,00-225,00 84,00-178,00 Pré-operatório N Mínimo-máximo 0,200 Pós-operatório N Mínimo-máximo 0,371 *Teste de Mann-Whitney No entanto, ao avaliar cada grupo, separadamente, verifica-se que o GS apresentou uma glicemia basal mais elevada no momento da eutanásia. Tal evolução não ocorre no GI, conforme se vê na Figura 11. 250 * ** Glicemia (mg/dL) 200 150 100 50 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: * p=0,032; **p=0,278 Figura 11 - Comparação da glicemia basal (mg/dL) em cada grupo, antes e depois da operação 24 3.3.2 Insulina Não houve diferença entre os grupos, antes e depois da operação, em relação à insulinemia basal (Tabela 4). Tabela 4 - Insulina basal (ng/mL) nos dois grupos, antes e depois da operação GS GI 9 8 Média (DP) 3,73 (5,35) 1,84 (0,94) Mediana (IIQ) 1,86 (2,15) 1,71 (1,13) Mínimo-máximo 1,20-17,70 1,00-3,87 7 8 Média (DP) 9,18 (11,58) 8,28 (10,76) Mediana (IIQ) 3,32 (10,79) 2,47 (13,80) 1,70-33,66 1,62-30,78 p-valor* Pré-operatório N 0,200 Pós-operatório N Mínimo-máximo 0,200 *Teste de Mann-Whitney Ao avaliar a evolução em cada grupo, separadamente, constatou-se um aumento significante na insulinemia no GI e não no GS, conforme ilustrado na Figura 12. 25 40 * 35 ** Insulina (ng/mL) 30 25 20 15 10 5 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: * p=0,500; **p=0,016 Figura 12 - Comparação da insulina basal (ng/mL) em cada grupo, antes e depois da operação 3.3.3 Teste se tolerância insulínica (TTI) Não houve diferença entre os grupos, nos dois momentos (Tabela 5). Tabela 5 - TTI (%/min) nos dois grupos, antes e depois da operação GS GI 13 11 Média (DP) 2,68 (1,56) 2,62 (1,59) Mediana (IIQ) 2,60 (2,65) 2,15 (2,27) 0,69-5,69 0,66-5,23 14 11 Média (DP) 3,59 (2,23) 2,45 (1,18) Mediana (IIQ) 3,31 (3,95) 2,26 (1,86) 0,75-8,29 0,20-4,01 p-valor* Pré-operatório N Mínimo-máximo 0,442 Pós-operatório N Mínimo-máximo *Teste de Mann-Whitney 0,136 26 Na análise da evolução do TTI em cada grupo, separadamente, não foi detectada diferença significante antes e depois da operação (Figura 13). 9 * 8 ** TTI (%/min) 7 6 5 4 3 2 1 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: *p=0,095; **p=0,384 Figura 13 - Comparação do TTI (%/min) em cada grupo, antes e depois da operação 3.3.4 Colesterol Não houve diferença significante entre os dois grupos nos dois momentos (Tabela 6). 27 Tabela 6 - Colesterol total (mg/dL) nos dois grupos, antes e depois da operação GS GI 12 10 Média (DP) 109,99 (35,10) 123,65 (49,00) Mediana (IIQ) 101,66 (42,50) 121,66 (97,49) 30,00-169,98 43,32-189,98 11 9 Média (DP) 94,95 (41,94) 75,54 (43,75) Mediana (IIQ) 99,99 (45,47) 63,27 (51,67) 3,33-153,32 3,33-156,65 p-valor* Pré-operatório N Mínimo-máximo 0,200 Pós-operatório N Mínimo-máximo 0,150 *Teste de Mann-Whitney Analisando cada grupo, isoladamente, observou-se que o GI apresentou redução significante nos níveis de colesterol no pós-operatório. Tal fato não ocorreu no GS, conforme se verifica na Figura 14. 28 200 * 180 ** 160 Colesterol (mg/dL) 140 120 100 80 60 40 20 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: *p=0,056; **p=0,004 Figura 14 - Comparação do colesterol total (mg/dL) em cada grupo, antes e depois da operação 3.3.5 HDL-colesterol Não houve diferença entre os grupos, antes e depois do procedimento cirúrgico (Tabela 7). 29 Tabela 7 - HDL-colesterol (mg/dL) nos dois grupos, antes e depois da operação GS GI p-valor* 6 7 Média (DP) 27,95 (5,28) 21,99 (9,78) Mediana (IIQ) 29,08 (10,38) 18,27 (20,11) 21,62-33,63 11,39-36,81 10 4 Média (DP) 24,53 (8,42) 26,70 (9,78) Mediana (IIQ) 24,11 (14,31) 26,79 (18,94) 12,96-39,38 15,36-37,87 Pré-operatório N Mínimo-máximo 0,166 Pós-operatório N Mínimo-máximo 0,200 *Teste de Mann-Whitney No entanto, ao avaliar a evolução em cada grupo, separadamente, observouse aumento do HDL-colesterol no GI e não no GS (Figura 15). 45 * HDL-colesterol (mg/dL) 40 ** 35 30 25 20 15 10 5 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: *p=0,437; **p<0,001 Figura 15 - Comparação do HDL-colesterol (mg/dL) em cada grupo, antes e depois da operação 30 3.3.6 Triglicérides Não houve diferença entre os grupos, antes e depois do procedimento cirúrgico (Tabela 8). Tabela 8 - Triglicérides (mg/dL) nos dois grupos, antes e depois da operação GS GI 12 9 Média (DP) 47,69 (17,08) 59,49 (19,22) Mediana (IIQ) 47,69 (23,84) 64,62 (40,00) 15,39-76,93 33,84-83,08 11 9 Média (DP) 99,87 (77,44) 88,87 (35,24) Mediana (IIQ) 83,08 (76,93) 76,93 (49,32) Mínimo-máximo 30,77-273,85 27,69-141,54 p-valor* Pré-operatório N Mínimo-máximo 0,116 Pós-operatório N 0,200 *Teste de Mann-Whitney Analisando a evolução dos triglicérides, em cada grupo, separadamente, observou-se aumento significante no GS no momento da eutanásia, e não no GI, conforme ilustrado na Figura 16. 31 300 * ** Triglicérides (mg/dL) 250 200 150 100 50 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: * p=0,009; **p=0,074 Figura 16 - Comparação dos triglicérides (mg/dL) em cada grupo, antes e depois da operação 3.4 COMPRIMENTO DO INTESTINO DELGADO A Tabela 9 mostra o comprimento do intestino delgado mensurado no momento do procedimento cirúrgico, nos dois grupos. Vê-se que os dois grupos apresentaram dados semelhantes. Tabela 9 - Comprimento do intestino delgado (cm) nos dois grupos, no momento da operação GS GI 14 11 Média (DP) 112,50 (16,14) 120,91 (24,88) Mediana (IIQ) 110,00 (21,25) 120,00 (45,00) 85,00-150,00 85,00-155,00 N Mínimo-máximo *Teste de Mann-Whitney p-valor* 0,229 32 3.5 ESTRUTURA DA MUCOSA INTESTINAL 3.5.1 Jejuno Ao comparar as características morfológicas nos dois grupos, antes e depois dos procedimentos cirúrgicos, observou-se diferença significante na altura das vilosidades do jejuno, após a operação (Tabela 10). Tabela 10 - Altura das vilosidades no jejuno (µm) nos dois grupos, antes e depois da operação GS GI 13 11 Média (DP) 381,74 (48,25) 409,85 (72,89) Mediana (IIQ) 384,43 (72,86) 417,96 (109,04) Mínimo-máximo 311,86-485,45 197,92-547,21 11 8 Média (DP) 390,81 (91,80) 500,70 (53,18) Mediana (IIQ) 370,46 (150,55) 484,66 (69,07) 272,83-552,86 416,510-588,95 p-valor* Pré-operatório N 0,129 Pós-operatório N Mínimo-máximo 0,007 *Teste de Mann-Whitney Analisando cada grupo, separadamente, antes e depois da operação, comprovou-se aumento das vilosidades do jejuno apenas no GI e não no GS, conforme demonstra a Figura 17. 33 700 * ** Vilosidades jejuno (µm) 600 500 400 300 200 100 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: * p=0,480; **p<0,001 Figura 17 - Altura das vilosidades no jejuno (µm) em cada grupo, antes e depois da operação Em relação às criptas, não foi detectada diferença entre os grupos nos dois momentos, conforme evidenciado na Tabela 11. Tabela 11 - Profundidade das criptas no jejuno (µm) nos dois grupos, antes e depois da operação GS GI 13 11 Média (DP) 246,77 (50,75) 253,12 (41,07) Mediana (IIQ) 252,29 (62,28) 258,04 (59,11) Mínimo-máximo 145,81-348,33 182,29-309,51 11 8 Média (DP) 252,69 (47,40) 291,58 (66,04) Mediana (IIQ) 248,56 (87,47) 322,12 (107,06) Mínimo-máximo 196,01-346,73 178,12-353,62 p-valor* Pré-operatório N 0,311 Pós-operatório N *Teste de Mann-Whitney 0,100 34 Também não houve diferença na profundidade das criptas em cada grupo avaliado isoladamente, entre os dois momentos, conforme demonstra a Figura 18. 400 * ** 350 Criptas jejuno (µm) 300 250 200 150 100 50 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: *p=0,380; **p=0,098 Figura 18 - Profundidade das criptas no jejuno (µm) em cada grupo, antes e depois da operação A análise da evolução da relação vilosidade/cripta não evidenciou diferença estatisticamente significante entre os grupos nos dois momentos, conforme se verifica na Tabela 12. 35 Tabela 12 - Relação vilosidade/cripta no jejuno nos dois grupos, antes e depois da operação GS GI p-valor* 13 11 Média (DP) 1,62 (0,45) 1,67 (0,50) Mediana (IIQ) 1,58 (0,26) 1,57 (0,35) 0,90-2,88 1,16-3,00 11 8 Média (DP) 1,60 (0,53) 1,83 (0,59) Mediana (IIQ) 1,53 (0,69) 1,63 (0,94) 0,90-2,82 1,27-2,95 Pré-operatório N Mínimo-máximo 0,442 Pós-operatório N Mínimo-máximo 0,200 *Teste de Mann-Whitney Também não houve diferença em cada grupo avaliado separadamente antes e depois da operação, conforme mostra a Figura 19. 3,5 Relação vilosidade/cripta jejuno * ** 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: *p=0,350; **p=0,055 Figura 19 - Relação vilosidade/cripta no jejuno em cada grupo, antes e depois da operação 36 3.5.2 Íleo Não foi detectada diferença na altura das vilosidades no íleo entre os grupos, nos dois momentos (Tabela 13). Tabela 13 - Altura das vilosidades no íleo (µm) nos dois grupos, antes e depois da operação GS GI 14 11 Média (DP) 273,97 (34,91) 274,05 (49,00) Mediana (IIQ) 282,42 (47,08) 266,66 (81,25) Mínimo-máximo 206,43-323,45 209,17-354,31 13 10 Média (DP) 348,59 (45,11) 376,51 (87,93) Mediana (IIQ) 358,00 (61,69) 348,87 (106,90) Mínimo-máximo 272,47-440,56 298,04-466,57 p-valor* Pré-operatório N 0,456 Pós-operatório N 0,309 *Teste de Mann-Whitney No entanto, avaliando separadamente cada grupo nos dois momentos, observou-se que ambos apresentaram aumento significante na altura das vilosidades do íleo, após a operação (Figura 20). 37 700 * ** Vilosidades íleo (µm) 600 500 400 300 200 100 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: *p=0,001; **p=0,005 Figura 20 - Altura das vilosidades no íleo (µm) em cada grupo, antes e depois da operação A Tabela 14 mostra que não houve diferença entre os grupos quanto à profundidade das criptas no íleo, antes e depois da operação. Tabela 14 - Profundidade das criptas no íleo (µm) nos dois grupos, antes e depois da operação GS GI 14 11 Média (DP) 257,04 (49,95) 240,90 (54,07) Mediana (IIQ) 245,41 (77,34) 220,26 (100,40) Mínimo-máximo 187,87-348,70 179,08-329,99 13 10 Média (DP) 266,60 (61,05) 241,73 (30,68) Mediana (IIQ) 275,24 (88,74) 256,79 (47,30) Mínimo-máximo 139,06-347,76 183,78-281,31 p-valor* Pré-operatório N 0,190 Pós-operatório N *Teste de Mann-Whitney 0,053 38 A Figura 21 mostra a evolução das profundidades das criptas no íleo, antes e após a operação, nos dois grupos, que não apresentou modificação significante. 400 * ** 350 Criptas íleo (µm) 300 250 200 150 100 50 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: *p=0,240; **p=0,470 Figura 21 - Profundidade das criptas no íleo (µm) em cada grupo, antes e depois da operação Quanto à relação vilosidade/cripta no íleo, verificou-se que não houve diferença entre os grupos nos dois momentos (Tabela 15). 39 Tabela 15 - Relação vilosidade/cripta no íleo nos dois grupos, antes e depois da operação GS GI 14 11 Média (DP) 1,08 (0,12) 1,16 (0,15) Mediana (IIQ) 1,11 (0,21) 1,18 (0,31) 0,89-1,29 0,94-1,39 13 10 Média (DP) 1,41 (0,59) 1,57 (0,39) Mediana (IIQ) 1,21 (0,50) 1,46 (0,29) 0,88-3,17 1,31-2,63 p-valor* Pré-operatório N Mínimo-máximo 0,085 Pós-operatório N Mínimo-máximo 0,060 *Teste de Mann-Whitney No entanto, avaliando-se cada grupo separadamente, nos dois momentos, observou-se que houve aumento significante na relação vilosidade/cripta no íleo de ambos os grupos, após o procedimento cirúrgico (Figura 22). 40 3,5 * ** Relação vilosidade/cripta íleo 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: *p=0,037; **p=0,003 Figura 22 - Relação vilosidade/cripta no íleo em cada grupo, antes e depois da operação 3.5.3 Segmento Interposto A Tabela 16 mostra a altura das vilosidades no segmento interposto do GI e simulado do GS (íleo entre anastomoses), após a operação, que foram diferentes. Tabela 16 - Altura das vilosidades no segmento interposto (µm) nos dois grupos, depois da operação GS GI 11 7 Média (DP) 341,96 (62,22) 503,11 (100,46) Mediana (IIQ) 349,85 (87,89) 473,83 (97,29) Mínimo-máximo 245,24-462,55 367,68-689,60 N p-valor* 0,002 *Teste de Mann-Whitney As vilosidades do segmento interposto no GI e simulado no GS aumentaram (em relação ao íleo no pré-operatório), após o procedimento cirúrgico, conforme mostra a Figura 23. 41 800 * ** Vilosidades interposto (µm) 700 600 500 400 300 200 100 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: *p=0,027; **p<0,001 Figura 23 - Altura das vilosidades no segmento interposto (µm) em cada grupo, antes e depois da operação Os dois grupos foram semelhantes quanto à profundidade das criptas no segmento interposto, após a operação (Tabela 17). Tabela 17 - Comparação da profundidade das criptas no segmento interposto (µm) entre os grupos, depois da operação GS GI 11 7 Média (DP) 288,08 (51,97) 288,93 (66,79) Mediana (IIQ) 284,32 (89,25) 299,56 (120,32) Mínimo-máximo 219,12-356,74 188,92-381,48 N p-valor* 0,200 *Teste de Mann-Whitney No entanto, avaliando separadamente cada grupo, antes e depois da operação, quanto à profundidade das criptas, observou-se aumento significante apenas no GI, conforme evidenciado na Figura 24. 42 450 * Criptas interposto (µm) 400 ** 350 300 250 200 150 100 50 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: *p=0,200; **p<0,001 Figura 24 - Profundidade das criptas no segmento interposto (µm) em cada grupo, antes e depois da operação A relação vilosidade/cripta no segmento interposto foi diferente entre os grupos, após a operação (Tabela 18). Tabela 18 - Relação vilosidade/cripta no segmento interposto nos dois grupos, depois da operação GS GI 11 7 Média (DP) 1,22 (0,29) 1,83 (0,58) Mediana (IIQ) 1,15 (0,56) 1,58 (0,90) 0,87-1,63 1,20-2,80 N Mínimo-máximo p-valor* 0,021 *Teste de Mann-Whitney A relação vilosidade/cripta no segmento interposto do GI aumentou significantemente no pós-operatório, conforme mostrado na Figura 25. 43 Relação vilosidade/cripta interposto 3 * ** 2,5 2 1,5 1 0,5 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: *p=0,051; **p<0,001 Figura 25 - Relação vilosidade/cripta no segmento interposto em cada grupo, antes e depois da operação 3.6 CÉLULAS L ENTEROENDÓCRINAS 3.6.1 Jejuno Os dois grupos apresentaram semelhante densidade de células L no jejuno, antes e após a operação (Tabela 19). 44 Tabela 19 - Densidade de células L no jejuno (cel/µm2) nos dois grupos, antes e depois da operação GS GI p-valor* 14 11 Média (DP) 1,37 (0,50) 1,46 (0,75) Mediana (IIQ) 1,35 (0,82) 1,25 (0,52) 0,72-2,36 0,74-3,42 12 10 Média (DP) 1,34 (0,38) 1,19 (0,30) Mediana (IIQ) 1,50 (0,59) 1,20 (0,52) 0,63-1,83 0,74-1,69 Pré-operatório N Mínimo-máximo 0,434 Pós-operatório N Mínimo-máximo 0,143 * Teste de Mann-Whitney Também não houve modificação quando se avaliou cada grupo isoladamente (Figura 26). Densidade cel L jejuno (x100000) 4 * 3,5 ** 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: *p=0,425; **p=0,187 Figura 26 - Densidade de células L no jejuno (cel/µm2) em cada grupo, antes e depois da operação 45 3.6.2 Íleo Não houve diferença na densidade de células L no íleo nos dois grupos, antes ou após a operação (Tabela 20). Tabela 20 - Densidade de células L no íleo (cel/µm2) nos dois grupos, antes e depois da operação GS GI p-valor* 12 11 Média (DP) 2,96 (0,93) 3,19 (0,61) Mediana (IIQ) 2,80 (1,27) 3,26 (0,97) 1,96-4,80 2,17-4,05 14 11 Média (DP) 3,35 (0,98) 3,33 (1,01) Mediana (IIQ) 3,26 (0,95) 3,39 (1,27) 1,90-5,40 2,12-5,52 Pré-operatório N Mínimo-máximo 0,171 Pós-operatório N Mínimo-máximo 0,500 *Teste de Mann-Whitney Também não foi separadamente (Figura 27). observada modificação em cada grupo avaliado 46 6 Densidade cel L íleo (x100000) * ** 5 4 3 2 1 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: *p=0,088; **p=0,288 Figura 27 - Densidade de células L no íleo (cel/µm2) em cada grupo, antes e depois da operação 3.6.3 Segmento interposto Não houve diferença entre os grupos quanto à densidade de células L no segmento interposto do GI e simulado do GS, após a operação (Tabela 21). Tabela 21 - Densidade de células L no segmento interposto (cel/µm2) nos dois grupos, depois da operação GS GI 13 11 Média (DP) 3,01 (0,87) 3,26 (0,94) Mediana (IIQ) 2,78 (1,63) 3,31 (1,35) 1,68-4,17 1,48-4,81 N Mínimo-máximo p-valor* 0,311 *Teste de Mann-Whitney Avaliando-se a evolução na densidade de células L no segmento interposto em cada grupo, antes e após a operação, observou-se que não houve diferença, entre os dois momentos, em nenhum dos grupos, conforme se vê na Figura 28. 47 Densidade cel L interposto (x100000) 6 * ** 5 4 3 2 1 0 GS Antes GS Depois GI Antes GI Depois Teste de Wilcoxon: *p=0,415; **p=0,350 Figura 28 - Densidade de células L no segmento interposto (cel/µm2) em cada grupo, antes e depois da operação 48 4 DISCUSSÃO A difusão das operações bariátricas em todo o mundo, as observações clínicas e as pesquisas relacionadas levaram à identificação de um sistema enteroendócrino mais complexo do que se sabia previamente 38,43-45,52,53. Foram observadas novas funções de hormônios já conhecidos53,54, e descobertos novos hormônios39,40,48,73,157 e novas células endócrinas em diferentes segmentos do tubo digestório49,64-66,68. O conhecimento de que determinados hormônios intestinais atuam no ciclo fome-saciedade46,71, na motilidade gastrintestinal53, no pâncreas57,82,93 e no metabolismo glicídico e lipídico75,77,158,159, entre outros órgãos e funções, suscita a idealização de mecanismos para estimular e/ou inibir determinados hormônios no intuito de melhorar o tratamento de diversas doenças metabólicas, principalmente a obesidade e o diabetes mellitus81,86,92,97. O íleo terminal tem um papel importante nesse eixo enteroendócrino, onde há uma densidade maior das células endócrinas L, produtoras de GLP-1 e PYY – hormônios com diversas funções já identificadas, principalmente relacionadas ao metabolismo glicídico. No entanto, com as operações bariátricas atualmente aprovadas para execução na prática clínica, não há como estudar isoladamente a função desse segmento intestinal, uma vez que os procedimentos envolvem, na maior parte das vezes, um componente restritivo e outro que dificulta a absorção, que proporcionam perda de peso, diminuição de ingestão alimentar, má-absorção e exclusão de partes de estômago e/ou intestino delgado que também ocasionam alterações endócrinas. De forma que há uma sobreposição de fatores e segmentos do tubo digestório envolvidos e modificados, decorrentes das operações realizadas na prática médica, que confundem a avaliação dos efeitos do íleo e do GLP-1. Assim, a escolha do modelo de interposição ileal isolada deveu-se ao objetivo de avaliar as modificações decorrentes desse procedimento isolado, estudando o papel do íleo terminal no metabolismo do indivíduo. Esse é o único modelo em que é possível realizar a análise da função do íleo terminal isoladamente, permitindo estimular a liberação mais precoce dos hormônios produzidos pelas células L e avaliar os efeitos disso. Permite, ainda, que sejam analisadas também as possíveis modificações/adaptações ocorridas deslocado da sua posição normal. tardiamente nesse segmento intestinal 49 Além disso, escolhemos utilizar animais normais (sem obesidade e/ou diabetes) para estudar os efeitos desse procedimento em relação aos aspectos nutricionais e metabólicos, visando avaliar a segurança do mesmo. Nesse sentido, se o procedimento mostrar-se seguro, sem determinar perda ponderal e/ou desnutrição, interferir positivamente no metabolismo glicídico e lipídico, e não houver falha em longo prazo, pode ser uma opção terapêutica em pacientes diabéticos não obesos. No presente estudo, os grupos foram homogêneos, não ocorrendo diferença em nenhum dos dados biométricos, bioquímicos e/ou histológicos avaliados no préoperatório. O número diferente de animais dos grupos deveu-se à randomização, uma vez que foi realizado sorteio para cada animal, de forma que havia igual probabilidade de ser direcionado para qualquer grupo. Além disso, houve perda de animais: 8 óbitos no pós-operatório imediato (6 do GI e 2 do GS) – que foram atribuídas ao trauma cirúrgico/anestésico e não a complicação da técnica cirúrgica diretamente - e 1 óbito no 14º PO (do GS), de causa não esclarecida. E ainda, o número diferente nos diversos parâmetros avaliados deveu-se à impossibilidade de coleta de dados de alguns animais, por motivos diversos: dificuldade de coleta de amostra sanguínea suficiente, impossibilidade de cateterização venosa, hemólise acentuada que inviabilizou a mensuração, autólise de mucosa intestinal em algumas amostras teciduais e intensa “reação de fundo” na coloração imunohistoquímica que dificultou a avaliação. A evolução do peso corporal foi semelhante nos dois grupos. No entanto, houve diminuição de peso nas primeiras duas semanas após a operação e retorno ao aumento progressivo de peso após esse período. Atribuímos essa queda inicial ao trauma cirúrgico, uma vez que ocorreu em ambos os grupos de maneira similar. No final do experimento, os dois grupos apresentaram peso corpóreo médio semelhante, evidenciando que não houve deficiência calórica com a interposição ileal em animais não obesos e não diabéticos. Ao analisarmos a variação percentual do peso semanal, observamos que houve um discreto ganho ponderal maior no Grupo Sham em relação ao Grupo Interposição, no entanto não foi detectada diferença estatisticamente significante entre os grupos. Esses resultados foram coincidentes com os observados previamente em outros estudos experimentais com ratos normais84,88,135,160. 50 Quanto à ingestão alimentar observamos diminuição importante nas primeiras semanas de pós-operatório nos dois grupos, sendo esta diminuição mantida por mais tempo no GI (até a quarta semana após a operação). Isso pode ser devido ao aumento na liberação de hormônios anorexígenos pelo íleo terminal, exposto ao conteúdo da luz intestinal mais precocemente no GI. Apesar de não termos analisado estes hormônios no presente estudo, outros trabalhos realizados com ratos submetidos mesmos à interposição ileal demonstraram o aumento dos 84,133,160,161 . Tardiamente, não houve diferença entre os grupos, quanto ao consumo alimentar. Fato também demonstrado em outro experimento com duração de seis semanas após procedimento cirúrgico semelhante161. Estudos que avaliaram a absorção de gorduras em ratos submetidos a interposição ileal demonstraram não haver disabsorção com este procedimento 133. Apesar de não analisarmos a absorção alimentar em nosso estudo, podemos inferir, a partir dos dados anteriormente demonstrados, que a interposição ileal não proporciona restrição alimentar nem disabsorção de nutrientes. Ao avaliarmos os efeitos da interposição ileal em relação à glicemia e à tolerância insulínica, observamos que não houve diferença entre os grupos, antes e depois do procedimento cirúrgico. Este resultado coincide com o de outros experimentos realizados com ratos euglicêmicos e não obesos88,135,160, o que corrobora a idéia de que o GLP-1 não influencia diretamente na sensibilidade à insulina, como demonstrado em estudo utilizando clamp hiperinsulinêmico e euglicêmico em humanos euglicêmicos162. Além disso, a ação dos hormônios incretínicos, principalmente o GLP-1, parece ser dependente dos níveis de glicemia. O presente estudo não avaliou o GLP-1, porém estudos experimentais prévios, utilizando a interposição ileal isolada em animais não obesos e não diabéticos, demonstraram mudança na secreção dos hormônios produzidos pelo íleo terminal, seja um pico de secreção mais elevado ou uma liberação mais prolongada84,88,139. Assim, apesar do provável aumento nos níveis de GLP-1, não ocorreu hipoglicemia. Analisando separadamente cada grupo do presente estudo, percebemos que o GS apresentou aumento dos níveis glicêmicos ao longo do tempo, o que não aconteceu no GI. Observamos, ainda, aumento dos níveis séricos de insulina no GI e não no GS. Assim, não sabemos se o aumento dos níveis glicêmicos é a evolução natural com o envelhecimento dos animais, ou se a interposição ileal realizada no GI 51 modificou a mesma, através da interferência nas incretinas e justificando a glicemia estável. Se assim o for, é mais um dado a favor da interferência positiva desse procedimento no metabolismo glicídico. Em relação ao metabolismo lipídico, não observamos diferença entre os grupos no momento da eutanásia. No entanto, ao avaliarmos a evolução isoladamente dentro de cada grupo, comparando o pré e o pós-operatório, pudemos verificar que houve diminuição dos níveis de colesterol total no GI e não no GS, bem como aumento dos níveis de triglicérides no GS e não no GI. Isso coincide com resultados obtidos previamente em estudos com animais diabéticos75,77, levando a crer, também, numa possível associação entre a melhora do diabetes e/ou da tolerância à glicose e a diminuição dos níveis lipídicos, possivelmente influenciada pelos hormônios GLP-1 e PYY, bem como pela modificação do círculo ênterohepático de sais biliares com a exposição e absorção mais precoce destes pelo segmento de íleo interposto. Estudos realizados em humanos com síndrome metabólica, utilizando a interposição ileal associada à gastrectomia vertical, também demonstraram resultados positivos no tocante à melhora do perfil lipídico, com diminuição de colesterol total e triglicérides, bem como aumento dos níveis de HDL-colesterol119,163. Este último parâmetro laboratorial também foi demonstrado no presente estudo, com aumento no GI e não no GS. A influência da interposição ileal no círculo êntero-hepático de sais biliares e no metabolismo lipídico foi analisada em outro estudo com ratos alimentados com dieta hiperlipídica e submetidos à interposição ileal, sendo obtidos resultados semelhantes aos deste estudo, com diminuição dos níveis de colesterol nos animais do Grupo Interposição e não do Grupo Sham. Foram avaliadas, ainda, a quantidade e a composição de ácidos biliares intraluminais ao longo do tubo digestório, sendo evidenciada uma absorção mais precoce nos animais do Grupo Interposto em relação aos do Grupo Sham, com aumento dos níveis séricos destas substâncias, sem modificação nos níveis das proteínas hepáticas relacionadas ao metabolismo das mesmas161. Assim, infere-se atualmente um possível papel importante dessa modificação na recirculação dos ácidos biliares nos benefícios metabólicos obtidos após as operações bariátricas que “encurtam o caminho” dos alimentos até o íleo terminal, assim como a interposição ileal. 52 No tocante às análises morfométricas intestinais do presente estudo, observamos que os animais apresentavam morfologia semelhante no pré-operatório, tanto quanto ao comprimento intestinal quanto aos dados microscópicos. Sabe-se que alterações na anatomia do tubo digestório, com modificações no comprimento (com retiradas de segmentos), no calibre ou com a realização de desvios de segmentos, ocasionam modificações nas partes remanescentes do intestino. Estudos experimentais da década de 90, utilizando modelos de síndrome de intestino curto, em que foi realizada a interposição de um segmento de cólon entre os segmentos de jejuno e íleo remanescentes, demonstraram a ocorrência de modificação na estrutura intestinal como forma provável de adaptação. Foi demonstrado, no segmento colônico interposto, aumento na altura da mucosa intestinal com proliferação das criptas 151 , aumento na absorção de glicose149 e modificações na motilidade148. Isto também foi evidenciado em humano com síndrome do intestino curto, em que ocorreu hiperplasia de criptas e aumento na altura da mucosa no segmento colônico interposto, bem como o surgimento de células semelhantes às típicas células de Paneth presentes no intestino delgado 164. No entanto, um questionamento a fazer é se estas modificações poderiam ser devidas à adaptação a uma condição de diminuição do comprimento do tubo digestório, com a diminuição da superfície absortiva, e não à transposição de segmentos. Com o advento das operações bariátricas e a identificação de diversos hormônios gastrintestinais que influenciam no metabolismo dos indivíduos, passouse a estudar também a interposição ileal isolada, sem modificações na extensão do intestino. Demonstrou-se, em diversos estudos, que este procedimento produz aumento da espessura da mucosa em todo o intestino delgado 132,152,153,165, com uma “jejunização” do segmento ileal transposto tornando-se o mesmo indistinguível dos segmentos jejunais adjacentes153. Neste estudo, ocorreu aumento na altura das vilosidades e na relação vilosidade/cripta do segmento ileal interposto do GI, de forma que este adquiriu características morfológicas semelhantes ao jejuno adjacente - posição para o qual foi transportado. No segmento jejunal, houve aumento significante nas vilosidades no GI e não no GS, no entanto, como também ocorreu aumento na profundidade das criptas (não estatisticamente significante), a relação vilosidade/cripta não foi alterada. Em relação ao íleo em sua posição normal, observamos que houve um 53 aumento na altura das vilosidades e na relação vilosidade/cripta em ambos os grupos, ao longo do tempo, não havendo diferença entre os mesmos. Isso evidencia provável manutenção dos mecanismos tróficos intestinais, e com possível mediação hormonal, como demonstrado em estudos prévios que analisaram os níveis dos êntero-hormônios - enteroglucagon132 e glucagon-like peptide 2 (GLP-2)166 - após este procedimento cirúrgico. O GLP-2 foi identificado como hormônio com função trófica sobre a mucosa intestinal, sendo o mesmo também produzido pelas células L intestinais em resposta à presença de nutrientes na luz intestinal70,157,167,168. O aumento na produção desse hormônio parece explicar estas modificações existentes quando o íleo terminal é exposto mais precocemente aos alimentos ainda não digeridos, como avaliado em estudo experimental realizado com ratos submetidos à ressecção de jejuno ou de íleo ou interposição ileal. Houve aumento significante no peso e nas áreas de mucosa e musculatura intestinais nos animais submetidos à ressecção de jejuno e interposição ileal, com aumento concomitante nos níveis séricos de GLP-2; o que não ocorreu no grupo submetido à ressecção de íleo166. Para esclarecer dúvidas quanto à viabilidade do procedimento de interposição ileal como mecanismo de estimulação mais precoce de liberação do GLP-1 pelas células L do segmento ileal interposto, avaliamos a densidade destas células neste segmento após o referido procedimento. Inicialmente, o presente estudo confirmou a sua presença em maior densidade no íleo do que no jejuno, como já previamente demonstrado 65,68. E, mais importante, não ocorreu mudança deste parâmetro no período do experimento em nenhum dos segmentos intestinais avaliados. Especificamente o segmento interposto, mesmo tendo apresentado alterações estruturais importantes, não apresentou modificação na quantidade de células L nos distintos períodos da pesquisa, ou seja, permaneceu com características enteroendócrinas ileais apesar da “jejunização” da mucosa. Estudo anterior com ratos Long-Evans evidenciou aumento no número das células L no segmento ileal interposto seis semanas após o procedimento cirúrgico. Diferentemente deste trabalho, naquele estudo foi utilizada dieta hipercalórica e hiperlipídica desde seis semanas antes até seis semanas depois dos procedimentos cirúrgicos, com o aumento dos níveis de gordura corporal dos animais e nos níveis de leptina. Os autores não publicaram dados de pré-operatório em relação ao 54 metabolismo glicídico, de forma que não está evidente se houve ou não o desenvolvimento de distúrbios no mesmo, o que poderia justificar a diferente resposta histológica. Além disso, a análise das células L foi realizada mais precocemente (duas semanas antes) que no nosso estudo161. Este estudo trouxe conhecimentos novos na medida em que foi realizada a interposição ileal isolada em animais de experimentação, não doentes (não obesos e não diabéticos) e com um tempo de acompanhamento razoável (8 semanas)154. Permitiu-nos observar tratar-se de procedimento seguro, no sentido de não provocar diminuição no consumo alimentar nem no peso dos animais, não produzir hipoglicemia e não haver modificação na sensibilidade à insulina com os testes realizados. O mesmo pode ter modificado a evolução natural em alguns aspectos do metabolismo dos animais, na medida em que foi observado elevação dos níveis de glicemia e de triglicérides no GS ao final do experimento e não no GI, bem como diminuição dos níveis de colesterol total e aumento do HDL-colesterol no GI e não no GS. No entanto, a principal contribuição deste estudo foi no tocante à avaliação histológica realizada, demonstrando-se que, apesar das modificações estruturais ocorridas na mucosa do segmento de íleo interposto, este manteve as células L sem diminuição da sua quantidade. Assim, este pode representar um potencial procedimento cirúrgico para o tratamento de determinadas doenças metabólicas, principalmente casos selecionados de diabetes tipo 2 sem boa resposta ao tratamento convencional com dieta e medicamentos. No entanto, estudos clínicos controlados devem ser realizados no intuito de verificar e avaliar melhor os seus efeitos em seres humanos, e o presente estudo serve de subsídio para estudos subsequentes nessa linha de pesquisa. Perspectivas futuras O tema em questão é atual e relevante, no sentido de estar relacionado a condições mórbidas com grande prevalência mundial e com elevados custos envolvidos no tratamento das mesmas. O presente estudo está inserido numa linha de pesquisa de cirurgia bariátrica e metabólica, da qual é o marco inicial na pesquisa experimental com a interposição ileal isolada. Consideramos de fundamental importância estudos subsequentes, que 55 analisem os efeitos deste procedimento em animais obesos e/ou diabéticos e estudos clínicos para avaliar os efeitos deste procedimento no tratamento do diabetes mellitus em indivíduos não obesos. 56 5 CONCLUSÕES 1. A interposição ileal isolada não promove diminuição no consumo alimentar nem no peso, em ratos normais; 2. A interposição ileal isolada não modifica os níveis glicêmicos nem a sensibilidade insulínica, em ratos normais; 3. A interposição ileal isolada promove diminuição dos níveis de colesterol total e aumento nos níveis de HDL-colesterol, em ratos normais; 4. A interposição ileal isolada promove uma “jejunização” no segmento ileal interposto, com aumento na altura das vilosidades e na relação vilosidade/cripta; 5. A interposição ileal isolada não modifica a densidade de células L nos diversos segmentos intestinais; e 6. Após a interposição ileal isolada, o segmento de íleo interposto mantém as células L em quantidade semelhante ao íleo em sua posição normal. 57 6 ANEXOS ANEXO 1 – FORMALINA TAMPONADA A formalina tamponada apresenta um percentual de formaldeído variável entre 3,7 e 4% com pH estável em 7,4. Fórmula para preparo de 1 litro de formol tamponado: 1. Diluir 6,5g de fosfato de sódio dibásico anidro em 450 mL de água filtrada; 2. Diluir 4g de fosfato de sódio monobásico monohidratado em 450 mL de água filtrada; 3. Juntar as duas soluções; 4. Acrescentar 100 mL de formol comercial a 37% ou 40%. 58 ANEXO 2 – PROTOCOLO DE COLORAÇÃO COM HEMATOXILINA-EOSINA a) Três lavagens com xilol de cinco minutos cada; b) Quatro lavagens com álcool 100%; c) Água para hidratação; d) Hematoxilina por cinco minutos. Diferenciar com 0,5 mL de HCl para 100 mL de água; e) Lavagem das lâminas em água; f) Lavagem das lâminas em água amoniacal; g) Lavagem das lâminas em água; h) Eosina por três minutos; i) Quatro passagens em álcool; e j) Quatro passagens em xilol. 59 ANEXO 3 – PROTOCOLO DE SILANIZAÇÃO DE LÂMINAS Lâmina Silanizada: (3–Aminopropyl) triethoxy-silane, minimum 98% (Sigma A3648). Protocolo de silanização das lâminas: As lâminas são colocadas em carrinhos de metal (usa-se luvas). Em cubas de vidro com capacidade para aproximadamente 500ml são colocados os seguintes reagentes: 1. Álcool absoluto: submersão do carrinho com as lâminas por três minutos; 2. Álcool absoluto: submersão do carrinho com as lâminas por três minutos; 3. Silano 4% em acetona: submersão do carrinho com as lâminas por três minutos; 4. Álcool absoluto: seis a dez banhos de imersão; e 5. Álcool absoluto: seis a dez banhos de imersão; Ao passar o carrinho de uma cuba para outra, esgotar bem o excesso do reagente, para não “contaminar” o reagente seguinte. Retira-se o excesso de acetona em papel toalha e seca-se as lâminas em estufa, a 80ºC, por trinta minutos. As lâminas são guardadas em caixas, ficando protegidas de poeira. 60 ANEXO 4 – PROTOCOLO DE COLORAÇÃO COM IMUNOHISTOQUÍMICA a) Desparafinação: as lâminas foram deixadas em estufa a 60ºC, por 12 horas, para melhor adesão do tecido e, em seguida, desparafinadas com 3 banhos em xilol, por 5 minutos cada, em temperatura ambiente; b) Hidratação: as lâminas foram submersas duas vezes em etanol absoluto, por 5 minutos, e lavadas com água corrente, por 2 minutos, para hidratação dos cortes; c) Recuperação antigênica: as lâminas foram colocadas em solução de citrato de sódio 10 mM pH 6,0, por 3 minutos, em panela de vapor (95ºC), deixando-se depois esfriar, à temperatura ambiente, por 20 minutos, e lavadas em PBS (Tampão Salina Fosfato) 0,05M, pH 7,4; três vezes, por 3 minutos cada; d) Bloqueio da peroxidase endógena: as lâminas foram incubadas com peróxido de hidrogênio 3%, quatro vezes, por 5 minutos cada, e, em seguida, lavadas com água corrente e tampão PBS pH 7,4; três vezes, por 3 minutos cada; e) Bloqueio de sítios inespecíficos: as lâminas foram incubadas em PBS pH 7,4 + BSA (Soro Albumina Bovina) 1%, por 30 minutos, em temperatura ambiente; f) Ligação com anticorpo primário: os cortes histológicos de cada lâmina foram incubados com o anticorpo primário (anticorpo policlonal Rabbit antiGLP-1 (7-37) – IgG - Código T4362 – Lote 023583 - Peninsula Laboratories, Bachem Group) (San Carlos, California, EUA), diluídos em BSA 1% em titulação 1:1000, em câmara úmida a 4ºC, por 16 a 18 horas e, posteriormente, lavadas em PBS pH 7,4 por 3 vezes; g) Ligação do anticorpo secundário biotinilado: os cortes foram incubados com o anticorpo secundário conjugado com biotina do kit Dako LSAB, por 30 minutos, à temperatura ambiente, em câmara úmida e, após a incubação, as lâminas foram lavadas em PBS pH 7,4, por 3 vezes, e novamente incubadas com o Kit de amplificação estreptavidina Biotina conjugada com peroxidase (Dako – K0690), por 30 minutos, e, em seguida, foram lavadas com tampão PBS pH 7,4 por três vezes; 61 h) Revelação: os cortes foram cobertos com solução de cromógeno 3,3’diaminobenzidina (DAB) líquido (Dako – K3468); i) Contracoloração: os cortes foram lavados em água corrente, por 5 minutos, e, em seguida, contracorados com hematoxilina de Harris, por 3 minutos; e j) Desidratação e montagem: as lâminas foram lavadas em água corrente, por 10 minutos, submersas em etanol absoluto, quatro vezes, e, a seguir, em xilol, por 3 vezes, e levadas para montagem com lamínula e em meio de montagem Enttelan® (Merck) e identificadas. 62 7 1. 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Methods: Experimental study in 12-week-old normal rats (Wistar-EPM1), distributed into two groups, Interposition Group (GI) composed of 11 animals submitted to isolated ileal interposition, and Sham Group (GS) composed of 14 animals submitted to sham operation. Metabolic (body weight, food intake and biochemical) and histological (general and enteroendocrine) parameters were analyzed before the surgery and eight weeks after it. Results: There was no difference between groups in relation to the following parameters: weight, food intake, blood glucose, insulin, insulin tolerance test (ITT), total cholesterol, HDLcholesterol and triglycerides levels. Nevertheless, when analyzing each group separately, it was observed an increase of blood glucose (p = 0,032) and triglycerides (p = 0,009) levels only in the GS at the end of the experiment. It was also possible to observe a decreased in total cholesterol (p = 0,004) and increased insulin levels (p = 0,016) and HDL-cholesterol (p <0,001) levels only in the GI. The interposed ileal segment of the GI showed an increased in villi size (p = 0,002) and in increased villous/crypt ratio (p = 0,021), acquiring similar characteristics of the jejunum. However, the enteroendocrine L cell quantity remained the same. Other intestinal segments did not show structural differences between groups. Conclusions: Isolated ileal interposition does not cause weight loss, food intake decrease, hypoglycemia, or modifications in insulin sensitivity in euglycemic rats. This surgery can favorably change some aspects of glycidic and lipid metabolism. The interposed ileal segment keeps the amount of L enteroendocrine cells after ileal interposition alone, despite the mucosal "jejunization". Consequently, isolated ileal interposition must be considered a potential surgical procedure for the treatment of selected cases of type 2 diabetes. APÊNDICES APÊNDICE 1 - PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA UNIFESP APÊNDICE 2 – EMENDA AO PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA UNIFESP APÊNDICE 3 – FICHA DE COLETA DE DADOS ANIMAL Nº __________ NASCIMENTO _____/ ______/______ PESO ____________________________________________________ DATA DAS COLETAS _____ / _____/_____ E ______/ _____/_______ ANESTESIA/DOSES________________________________________ SANGUE PARA EXAME LABORATORIAL 1/ CÓDIGO____________________ DADOS DO TTI: DOSE DE INSULINA____________________ DATAS TEMPO GLICEMIA GLICEMIA 0 4’ 8’ 12 16’ 20’ DATA DA OPERAÇÃO______/ _______/ _________ OPERAÇÃO REALIZADA____________________________________________ COMPRIMENTO DO INTESTINO______________________________________ TEMPO OPERATÓRIO______________________________________________ MATERIAIS COLETADOS PARA EXAME HISTOLÓGICO: _____________________________CÓDIGO____________ _____________________________CÓDIGO____________ DATA DA EUTANÁSIA________/_______/________ SANGUE PARA EXAME LABORATORIAL 2 / CÓDIGO____________________ MATERIAIS COLETADOS PARA EXAME HISTOLÓGICO: _____________________________CÓDIGO____________ _____________________________CÓDIGO____________ _____________________________CÓDIGO____________ BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BIREME. Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde. Biblioteca Virtual em Saúde. DeCS – Descritores em Ciências da Saúde [citado 2012 Jun. 27]. São Paulo: BIREME. Disponível em URL: http://decs.bvs.br/cgi-bin/wxis1660.exe/decsserver/ Rother ET, Braga MER. Como elaborar sua tese: estrutura e referências. 2ª ed. São Paulo, 2005.