REVISTA N.º 14 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · NOVEMBRO 2012

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REVISTA N.º 14 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · NOVEMBRO 2012
O DESEMBAR UE
REVISTA N.º 14 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · NOVEMBRO 2012
índice
ficha técnica
Editorial
A Dinâmica Institucional em Período de Paz
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Notícias
Lançamento do Livro “Alpoim Calvão – Honra e Dever”
Uma quase biografia
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Poesia
Dois Poemas
5
Cultura e Memória
Emboscada a um combóio de lanchas e batelões – Guiné 1969
Afundamento do batelão “Guadiana” por EEA – Parte II
Salpicos de Vida – SPM 0468 N.º 7 - Patos, galinhas e cabritos…
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Opinião
O Dever de Memória
O Direito de Dizer – O Advogado como Participante Activo e Imprescindível
na Administração da Justiça Ser Fuzileiro
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Convívios
Companhia de Fuzileiros N.º 3 – Angola 1972/74
40 Anos Depois – Oficiais do 20.º CFORN FZ/29.º CFE na Escola de Fuzileiros
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 12 – Guiné 1970/71
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 2 – Angola 1965/67
DFE N.º 1 – Moçambique 1964/66 e DFE N.º 2 – Angola 1967/69
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Crónicas
Cadetes do Mar de Portugal
Crónica de um feito na Guiné, pelo DFE 5
Relacionamento Inter-Armas durante a Guerra no Ultramar
Os Pequenos Gestos dos Grandes Homens
Crónicas de Outros Tempos – Ponte Aérea Nova Lisboa (Huambo) – Lisboa
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Delegação do Algarve
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Delegação de Juromenha/Elvas
Duas das suas Intervenções e Iniciativas
Participação na Expo São Mateus em Elvas30
Delegação de Vila Nova de Gaia
Representações, Actividades e Uma Boa Notícia
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Corpo de Fuzileiros
Cursos IPG 04 – Team Building ao BPI
Treino de Liderança Funcional ao ISCTE
Abate e reflorestação do parque arbóreo da Escola de Fuzileiros
Curso de Formação de Sargentos Fuzileiros
Novo desafio para os Fuzileiros no Teatro de Operações do Afeganistão
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Cooperação Desportiva/Associativa
Visita às Caves Vínicas de José Maria da Fonseca
Tiro desportivo – Precisão/Pistola Sport 9 mm
Caminhada do Alambre
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38
38
O Dia do Fuzileiro – 7 de Julho de 2012
Director
Lhano Preto
Directores Adjuntos
Cardoso Moniz e Marques Pinto
Colaborações
Delegações da AFZ
LP, MP, CM, Ribeiro Ramos,
Miranda Neto, CMP, CCFZ, EFZ, BFZ,
Ribeiro (fotografia), Afonso Brandão (fotografia)
Coordenação gráfica
e paginação electrónica
Manuel Lema Santos
[email protected]
Impressão e acabamento
Gazela - Artes Gráficas, Lda.
Rua Sebastião e SIlva, n.º 79 - Massamá
2745-838 Queluz
Tel.: 214 389 750 • Fax: 214 371 931
www.gazela.pt
39
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Dia do Fuzileiro
Edição e Redacção
Direcção da Associação de Fuzileiros
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Divisões
Propriedade
Associação de Fuzileiros
Rua Miguel Pais, n.º 25, 1.º Esq.
2830-356 Barreiro
Tel.: 212 060 079 • Telem.: 927 979 461
email: [email protected]
www.associacaofuzileiros.pt
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Delegações
Publicação Periódica da
Associação de Fuzileiros
Revista n.º 14 • Novembro 2012
Tiragem
2.000 exemplares
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Discurso do Presidente da Associação Nacional de Fuzileiros
44
Discurso do Comandante do Corpo de Fuzileiros
45
Obituário
Diversos
47
47
Exceptuando-se os artigos assinalados e da
responsabilidade dos respectivos autores,
a redacção desta revista não está adaptada
às regras de novo acordo ortográfico
O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
editorial
A Dinâmica Institucional em
Período de Paz
Francisco Lhano Preto
C
omo os nossos Associados facilmente poderão verificar,
quer pela informação que lhe vai chegando, através do Site
– www.associacaofuzileiros.pt – via correio electrónico
e, em suporte de papel, designadamente, pelas últimas Revistas
“O Desembarque”, quer ainda pelas iniciativas e eventos em que
muitos têm participado – a dinâmica institucional na AFZ tem-se
revelado progressiva e particularmente crescente.
Isto quer dizer que temos procurado um desempenho que dignifique a nossa já grande Família de Associados e que igualmente
os envolva e convide à participação para que todos nos sintamos
como fazendo parte de um grupo dinâmico, coeso e, sem unanimismos, mas com uma fortalecida unidade que foi sempre o
segredo criador da mística dos Fuzileiros.
As mais recentes iniciativas – para além daquelas que provieram
do grande mérito das nossas, cada vez mais activas, Delegações,
do Algarve de Gaia e de Juromenha/Elvas – foram organizadas
pela Divisão Cultural e da Memória, sob a coordenação do seu
responsável, Moreira Martins e constituíram eventos culturais.
Tratou-se de uma “Noite de Fados”, de nível invulgarmente elevado, e de uma “Conferência” proferida pelo nosso Camarada,
Amigo e Associado n.º 28, Comandante Malhão Pereira que de
forma clara, elucidativa e participada, onde reinou o debate, dissertou sobre uma problemática muito actual, desenvolvendo o
tema “Um Novo Rumo para Portugal”. A forma e o estilo da sua
exposição ultrapassaram, em muito, a modesta designação de
“palestra”, tocando o nível de uma verdadeira conferência.
A propósito, não poderíamos deixar de abordar, também, a Divisão do Mar e das Actividades Lúdicas e Desportivas, coordenada
por Espada Pereira que já nos habituou a uma actividade que divulga e muito prestigia a AFZ. Basta ver em “O Desembarque”, a
sua dinâmica, para se retirarem ilações: desde “caminhadas”, a
“apoios a outras organizações” e a “visitas lúdico-culturais”, ao
“tiro de competição”, esta divisão planeia e executa na perfeição,
pedindo muito pouco e dando muito.
Por último, a Divisão dos Associados, chefiada por Benjamim Correia, já que sendo a que menos se deixa ver, tem sido uma pedra fundamental e imprescindível, contribuindo para uma melhor
ligação entre a Associação e os nossos Sócios, que são afinal a
nossa única razão de ser.
Por tudo o que foi feito e pela sua dedicação não queria deixar
de manifestar o meu apoio incondicional aos nossos Chefes de
Divisão, Moreira Martins, ao Espada Pereira e Benjamin Correia,
pelo que se disse e pelo que ficou por dizer, uma vez que o nosso
camarada e amigo Lema Santos (homem que exige mais dele do
que de todos nós, na concretização da Revista) não me permitiria
alongar muito mais, já que do Editorial se exige sempre que seja
o último a apresentar como texto.
Em jeito de louvor aos nossos colaboradores mais directos cumpre-nos, também, mencionar todos os elementos da Direcção,
onde reina a PAZ e uma vontade forte de participar e fazer, não
raro ultrapassando o próprio Presidente da Direcção com ideias,
propostas e decisões acertadas, bastando consultar as actas das
respectivas reuniões para se monitorizar e saborear uma dinâmica tal que, nos perguntamos, as mais das vezes, se em breve não
poderá “esmagar-nos”.
A talhe de foice relembro que, a nossa Festa de Natal (almoço)
vai ter lugar no dia 16 de Dezembro e tem como incontornável
“task-force”, o nosso Vice-Presidente e amigo José Cardoso Moniz, o Jaime Azevedo e o Manuel Conceição, todos eles voluntários na realização desta grande, mas agradável tarefa.
Outros Grupos de Acção estão em funcionamento e disso é
exemplo o que comanda os “Cadetes do Mar Fuzileiros”, liderado
pelo nosso Membro do Conselho de Veteranos, camarada José
Talhadas, acolitado pelo Afonso Brandão, na monitoria e pelo
Mário Manso, nas relações públicas, conjunto que deixa dormir
descansada a Direcção, no âmbito do cumprimento do Protocolo
subscrito com o GAMMA (Grupo de Amigos do Museu de Marinha)
pesem embora as responsabilidades por nós assumidas.
Cumpre, também, manifestar o nosso agradecimento ao incondicional e diligente apoio que tem sido prestado pelo Vice-Presidente Marques Pinto de que é merecedor pois basta relembrar
que – para além dos protocolos negociados e estabelecidos – se
a última Revista “O Desembarque” saiu em tempo, a ele se ficou
a dever.
Claro está que existem outros elementos, que por vezes nos esquecemos de nomear, mas que são fundamentais para a nossa
organização e, não podendo mencioná-los a todos, acrescento
apenas mais uns nomes que me vêm à memória no momento:
Egas Soares, o “sempre atento”; Jaime Ferro, o “electricista
de dia”; Pinto, “o “sempre pronto”; Parreira, o “fuzileiro fadista”; Leal, o “crítico”; Pires Carmona, o “mais rápido”; Couto, o
“boxer”; Edgar, o “mediador”; Mário Gonçalves o “tesoureiro de
serviço” e “secretário-geral sempre atento” e a Ana, a “bonita e
eficiente secretária”, que labutam diariamente e dos quais nos
socorremos para resolver das tarefas mais árduas às mais banais, não havendo um dia em que não nos tenham de ouvir a voz.
A todos quantos mencionámos e aos muitos que injustamente
não puderam ser referidos (sobretudo por falta de espaço – Lema
Santos, dixi) e que nos têm apoiado, o nosso OBRIGADO. A “Dinâmica da Paz” obriga a que a nossa Associação já não possa
viver sem o empenho de muitos precisando cada vez mais, de
muitos mais.
No advento da época natalícia, período de reflexão, de paz e
harmonia, quiçá de alguma ou outra saudade, não podíamos
deixar de desejar umas excelentes Boas Festas a todos os
Associados e Famílias desejando ainda, que o Ano de 2013 nos
traga muita saúde e a tal Esperança de que necessitamos, já que
de próspero, poderá ter pouco.
Porém, os fuzileiros ensinaram-nos a ser fortes e unidos, sobretudo nos momentos difíceis, pelo que iremos concerteza ultrapassar esta fase difícil que o País atravessa.
Portugal pode contar connosco.
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“Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre”
Lhano Preto
Presidente da Direcção
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notícias
Lançamento do Livro
“Alpoim Calvão – Honra e Dever”
Uma quase biografia
O
correu no passado dia 11 de Outubro, na Sala Portugal da Sociedade de Geografia
de Lisboa, o lançamento do Livro “Alpoim Calvão – Honra e Dever: Uma Quase
biografia” escrito em co-autoria pelo jornalista Rui Hortelão e pelos Comts Luís
Sanches Baiena e Abel Melo e Sousa (para os amigos o “Bellini”).
A obra, com prefácio do Gen. Carlos Azeredo teve a apresentação do Prof. Doutor Rui de
Azevedo Teixeira que, a propósito da co-autoria e dos autores (segundo Melo e Sousa, in
Revista da Armada-Nov.º/12, Página 29) afirmou: «Sendo uma obra de autor colectivo,
à partida faria torcer o nariz ao leitor mais exigente. Particularmente ao académico que
tem a experiência da estopada que pode ser, e normalmente é, analisar e classificar
um trabalho de grupo. Adivinho, aliás, daí a piada segundo a qual o camelo é um cavalo
desenhado por um grupo de trabalho. Mas não é esse o caso presente. Bem pelo
contrário. Este livro não tem bossas. Os co-autores potenciaram-se e a obra surgiu…
vitoriosa, francamente vitoriosa. Em boa verdade, teria sido muito difícil a um só autor
concluir um livro com o fôlego deste».
A mesa presidida pelo nosso Sócio Honorário e Mandatário dos Actuais Órgãos Sociais da Associação de Fuzileiros, Almirante Nuno
Vieira Matias, em representação do Presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa, teve a representação dos autores e do representante da editora “Caminhos Romanos”.
O Almt. Vieira Matias, a dado passo do seu
discurso afirmou: «De facto, o Comandante
Guilherme Almor de Alpoim Calvão é um
dos protagonistas da História de Portugal
das últimas décadas, pouco se havendo
escrito sobre ele, além do que o próprio
publicou no calor dos acontecimentos
mais significativos em que participou»
(Ibidem).
A AFZ fez-se representar, em peso, pela
sua Direcção e por várias dezenas de sócios e fuzileiros. Representações, ao mais
alto nível da Marinha de Guerra e outras
instituições marcaram, também, presença.
Tratou-se de uma manifestação de solidariedade e patriotismo, no exacto sentido
da palavra, verdadeiramente esmagadora,
com mais de setecentas pessoas que fez
transbordar a Sala Portugal da Sociedade
de Geografia.
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noticias
A AFZ felicita os autores e, especialmente, o nosso Presidente do Conselho de Veteranos, Comt Alpoim Calvão que deu alma e, porventura parte da forma, à sua brilhante “Quase Biografia” já que terá muito ainda que motivar para a sua total biografia – desejando-lhe
e à Sua Família muita saúde, porque este Fuzileiro detentor de todas as condecorações possíveis, designadamente, a Medalha da
Torre Espada, Valor Lealdade e Mérito, individual, é a grande referência viva dos Fuzileiros da Marinha de Guerra Portuguesa, quiçá,
da própria Marinha.
Marques Pinto
poesia
DOIS POEMAS
Júlio de Deus Lopes Vaz Gomes (n.º 130/64) é Sócio Originário n.º 1748 da Associação de
Fuzileiros e fez comissões desde 1966, durante os conflitos armados, nas ex-Províncias
Ultramarinas de Angola e Moçambique.
ILHA DE MOÇAMBIQUE
Devemos a esta ilha mítica
nobres heróis do passado.
quinhentos anos da nossa história,
Vejo Camões e seus dilemas,
em eternas caminhadas.
onde o passado colectivo
pensador de infinitos, prostrado,
é exame final em memória.
Mais pura do que a fiel mulher
corroído pelas rasteiras da vida,
Nos passos poisam olhos em recantos,
deixada na distância.
no emaranhado de encantos,
pela saudade da terra que cantou - Portugal.
Sem pudor ou relutância,
neste espaço que o Índico pariu,
quantas vezes acarinhada,
embalado pela magia do mar
quantas vezes adormecida
com mão leve e certeira.
Nostálgica, jamais esquecida
em campanha bem sofrida,
entre as pernas cansadas...
Vasco da Gama, no jardim, imponente,
O mesmo país outro tempo e Estado,
mesma determinação e valentia.
Estamos em mil novecentos e setenta.
Noutro contexto, em paz e harmonia,
diz ao passante, a toda a gente:
coração triste, garganta sedenta,
- de trabalho feito se leva a dianteira!...
a degustar camarão grelhado.
Aqui o minarete da mesquita,
Mas a mesma dor perene, a nostalgia,
Minha boa companheira,
que chama o povo para a oração,
afogada com Laurentinas fresquinhas,
querida, saudosa amante G-3.
ali a igreja revestida de túmulos,
como convém num clima tropical.
Nunca humilhada ou vencida,
solícita, disponível, cortês.
29/03/2012
13/05/2012
Nota da Redacção: Não conseguimos uma foto do autor, para encimar os seus poemas, por se encontrar internado num hospital para intervenção cirúrgica em situação que não parece ser
grave. Desejamos contudo ao nosso Camarada Júlio Vaz Gomes BOAS MELHORAS e que se torne colaborador assíduo de “O Desembarque”.
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Ilustração retirada de Wikipédia - Gravura belga de 1598 (Petrus Kaerius)
AMANTE
cultura e memória
Emboscada a um combóio de lanchas e batelões
Guiné 1969
Afundamento do batelão “Guadiana” por
EEA (Engenho Explosivo Aquático) – Parte II*
Muito provavelmente a detonação terá
sido accionada electricamente de terra,
com resultado agravado pelo transporte
de bidons de gasolina e detonadores que
seguiam como carga. Houve a lamentar
5 mortos e 8 feridos com diversos graus
de gravidade, todos autóctones, sendo 2
tripulantes e 11 passageiros.
O batelão começou a alagar rapidamente
e, em face desta situação, o oficial que
comandava operacionalmente o combóio,
2TEN FZE RN José António Lopes da
Silva Leite ordenou o imediato reboque,
por uma das LDMs, para um local mais
afastado da área forte do inimigo – a ilha
de Como – onde a embarcação pudesse
ser encalhada numa das margens.
Efectivamente o batelão “Guadiana” ainda
percorreu rebocado cerca de uma milha,
ficando imobilizado de proa na margem
esquerda do rio Ganjola, de popa para
montante e a cerca de 300 metros da
confluência com o rio Como.
Análise da situação e
reconhecimento local
A tracejado violeta o percurso Bolama - ponto TT - Catió e os restantes percursos parciais, ponto CC (confluência dos rios
Cobade e Cumbijã) - Bedanda - Cabedú - Cacine - Gadamael e respectivos regressos a tracejado laranja
... F
oram consumidas, na resposta à emboscada 2.200
munições de 20 mm, 2.100
de 7,62 mm, 8 granadas ofensivas, 30
munições de ALG’s (dilagramas), 4 de LGF
(lança-granadas foguete) e 10 “rockets”.
O comandante operacional, por intermédio de um militar do exército responsável
pelo carregamento, foi informado de que
a carga era composta por 17 bidons de
gasolina, cerca de 2.000 detonadores e
caixas de whisky velho. O transporte deste
material terá agravado substancialmente
as consequências da explosão.
Observou-se ainda a presença de
inúmeros passageiros civis sem qualquer
identificação que, por serem familiares
de militares ou por lhes interessar visitar
as famílias fora da localidade a que
pertenciam, pediam aos patrões das
embarcações civis para lhes facilitarem
transporte para pontos de paragem do
combóio de conhecimento antecipado.
Depois da chegada àquela cidade, no dia
28 pelas 18h00, foi dissolvida a “task
unit”, regressando o 2TEN FZE RN Silva
Leite a Bissau, de avião.
Resumo do acidente
Entretanto, o Comandante-Chefe alertou as
FT sedeadas na margem norte do rio Cobade, para a possível utilização daqueles
meios, antecipando uma tentativa de recuperação a efectuar no dia 29 de Maio. Deveriam aguardar o contacto directo do CDMG.
Pelas 13h30 do dia 27 de Maio de 1969,
na posição de latitude 11º 14,3’ N e
longitude 15º 18,1’ W, quando o combóio
naval RCU 09/69 navegava no rio Cobade
estreito, no percurso rio Cumbijã – foz do
rio Tombali com o apoio aéreo de dois
aviões T6 –, o batelão “Guadiana” nele
integrado foi atingido pela explosão de
uma mina flutuante fundeada, a meio de
uma passagem do rio que não teria mais
de 20 metros de largura.
* A primeira parte deste artigo pode ser lida na Revista “O Desembarque “ nº. 11 de Abril de 2011, págs. 29 a 32
6
No dia seguinte foi efectuado um heli-reconhecimento pelo chefe do Estado-Maior
do CDMG, acompanhado pelo responsável
do Serviço de Assistência Oficinal (SAO),
comandante do DFE 12 e chefe da Secção de Mergulhadores para, com base nos
elementos recolhidos, se proceder a uma
análise prévia da possibilidade de recuperação do batelão.
Um avião Harvard T6 sobrevoando o rio Cumbijã, próximo
de um combóio
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cultura e memória
a LFG “Cassiopeia”, 2 LDMs e ainda um
grupo de assalto do DFE 7 com 6 botes
de borracha. Os trabalhos foram acompanhados de helicóptero pelo próprio
Comandante do CDMG acompanhado do
Sub-chefe do Estado-Maior.
O “Guadiana” tinha como principais características 17 metros de comprimento,
5,5 metros de boca e 2,2 metros de pontal. Possuía duas anteparas, a de ré que
limitava os alojamentos da tripulação e a
de vante que limitava o porão da amarra.
Tinha duas bocas de porão, a de ré com
7,3x3,0 metros e a de vante com 3,2x 2,0
metros. As balizas e a sobrequilha, em ferro, eram rebitadas ao costado.
Na continuação da vistoria efectuada pela
secção de mergulhadores e outro pessoal
técnico embarcados na LDM 105, constatou-se que o batelão estava enterrado
cerca de um metro no lodo fino da margem com caimento a ré e adornado a estibordo, com balizas bastante danificadas,
rebitagem desfeita e a própria sobrequilha
Conclusões
No final do reconhecimento, vistoria, estudos efectuados e relatórios técnicos de
todos os intervenientes concluiu o Estado-Maior haver remotas possibilidades de
recuperação, questionando simultaneamente a razoabilidade de tal decisão. Assim:
– Militarmente, seria importante transformar um “navio afundado” numa
“unidade temporariamente avariada”,
evitando uma moralização do inimigo
que incentivasse prosseguir com a utilização de minas flutuantes nos rios da
Guiné, podendo vir a tornar insegura a
navegação.
– Do ponto de vista de princípio, o salvamento de um navio afundado ou
encalhado, deveria ser sempre encarado como meta a atingir desde que
existissem consideráveis probabilidades de êxito, em função dos riscos e
encargos que daí adviessem.
Era responsável por aquele sector o BART
2865, com sede em Catió, englobando
Catió, Cufar e Bedanda, tendo sido determinado à CART 2476 (Catió) para efectuar
fogo de artilharia de interdição, durante
duas noites, para a área de Cachil. Simultaneamente, sobre a Ilha de Como, foram
ordenados ataques com heli-canhão e
bombardeamentos utilizando aviões Fiat
G91, quer por haver conhecimento de numerosos alvos de interesse a atingir quer
por represália.
Neste reconhecimento local, para ser
apreciada a estrutura, resistência e forma de recuperação possível do batelão,
deslocaram-se técnicos do SAO e mergulhadores, além de outro pessoal e
equipamento diverso. Participaram ainda
A LFG “Cassiopeia” que participou nas operações de apoio
retorcida, tudo numa extensão apreciável
(cerca de 10 m). O lodo tinha invadido o
fundo numa altura próxima dos 50 cm.
A impossibilidade de tornar a embarcação
estanque, a estrutura fragilizada, a dificuldade na utilização de bidons que aumentassem a flutuabilidade e o intervalo
de tempo entre marés disponível, deixava colocar sérias dúvidas quanto a uma
tentativa de recuperação com resultados
positivos.
Mapa da zona do rio Cobade entre os rios Tombali (ponto TT)
e proximidade do rio Cumbijã (ponto CC); assinalada a parte
do Cobade estreito, próximo de Catió
A impossibilidade de concretizar, com os
meios disponíveis, qualquer salvamento
levou a que todo o pessoal e meios presentes regressassem às suas unidades de
origem.
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– Em face de informações e relatórios
técnicos disponíveis, o batelão teria
necessariamente reduzido valor residual e os elevados custos de reparação previstos desaconselhavam a
prossecussão desse objectivo.
Assim veio a suceder por determinação do
Comandante-Chefe e, mais tarde, o que
restava do “Guadiana” veio a ser destruído
por uma equipa de mergulhadores sapadores utilizando cargas explosivas.
Manuel Lema Santos
1TEN RN (1965-1972)
8.º CEORN
7
cultura e memória
Salpicos de Vida
SPM 0468
N.º 7
Patos, galinhas e cabritos…
Neste cenário, como que guiado por mão invisível, a maioria do
DFE 4 iniciou uma intensa caça às galinhas, patos, leitões e cordeiros que podiam guardar.
Era ver o corrupio de fatos camuflados cheio de pequenos animais domésticos gritando pela sobrevivência.
De nada valeram os gritos de aviso dos mais responsáveis para
que mantivessem a calma pois estávamos num local perigoso...
æ
Lembro-me das chamadas bem fortes dos chefes de secção que,
obviamente, caíram em saco roto, continuando o regabofe da
“caça” miúda com elevada eficiência. Só se viam fatos camuflados cheios de galinhas, leitões e cordeiros, que cada vez mais
barulho faziam.
M
arço de 66, operação “Órbita”. Estávamos com seis meses de comissão, naquele momento de inversão que desconta os dias e perturba os sonhos.
O nível operacional do DFE 4 estava no auge, porque já havia
experiência de sobra e vaidade que baste. Embora já tivéssemos
alguns feridos não tínhamos tido mortos, o que levava os níveis de
confiança para valores mais elevados do que seria normal, o que
era perigoso. Muito perigoso.
Estávamos convencidos que éramos os “maiores” e que poderíamos resolver qualquer problema que nos aparecesse.
Calhou-nos, então, uma operação na península de Jabadá, desembarcando no lado do Rio Corubal e reembarcando no Rio
Geba.
Era um sítio que o Estado-maior da Defesa Marítima classificava
de perigoso. Mas, naquela altura o perigo andava cada vez mais
connosco e, mesmo que não andasse, nós fazíamos por isso. Era
o princípio da inconsciência do grande operacional.
De repente, esta “festa” foi interrompida pelo barulho inconfundível das PPSH e dos tiros isolados de espingardas. Tínhamos sido
apanhados de calças na mão. Como por milagre, todos reagimos
de imediato da forma correcta, como que voltando à realidade da
vida e do medo, com a confusão de toda a caça procurar, no meio
de tanto barulho, sair dos camuflados, feitos gaiola, a caminho
da liberdade.
Foi uma situação ridícula mas angustiante, no meio da guerra ver
galinhas e leitões a berrar e fugir por onde podiam e denunciando as nossas posições. Lá resolvemos a papeleta com alguma
serenidade e, com mais algumas escaramuças e imensa sorte,
acabamos de reembarcar sem feridos, uma vez mais.
Serviu-nos de lição, e nunca mais baixamos a guarda em situações críticas, que o DFE 4, repetidas vezes, voltou a encontrar.
Posso no entanto dizer que o brio nunca se perdeu, e, dessa vez,
ainda houve quem em Bissau comesse belas canjas e cordeiros
assados para matar saudades da Metrópole.
A nós já não souberam tão bem.
CMG Francisco Rosado
Sócio Originário N.º 1900
Cerca das três horas da madrugada já estávamos em terra e
tentando atingir o objectivo principal, que era a tabanca de
Jabadá. O terreno era relativamente aberto pelo que a deslocação
não era penosa, embora fosse mais fácil sermos detectados aos
primeiros alvores. Até aqui tudo eram estranhas facilidades.
Cerca das sete horas da manhã estávamos a fazer cuidadosamente a aproximação ao objectivo, tentando, obviamente, evitar
sermos detectados.
Assim, entrámos no meio das muitas palhotas sem encontrar
vivalma, embora com todos os sinais de presença muita recente.
Fumos de fogueira, cheiro a vida, rastos de hora. Os animais
domésticos passeavam por todo o lado sem se preocuparem
connosco.
Perante tanta facilidade o pessoal ficou deslumbrado, e pensou
provavelmente que o IN “sabendo que éramos fuzos fugiram em
grande velocidade”.
8
O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
opinião
O Dever de Memória
António Ribeiro Ramos
P
ara se ser verdadeiramente português, não basta ter-se nascido em Portugal. É preciso que se goste de Portugal com
grandeza de alma, com uma idóneidade determinada, e com
um sentido constante na busca do Bem. É isso que ainda nos
pode tornar dignos da nossa própria história, que ainda nos pode
conferir uma dimensão universal comum a todos os tempos, e
que ainda nos poderia expor à admiração do Mundo.
“Ser português, é muito mais do que ser europeu. É sentir os
largos ventos da aventura oceânica, percorrer mundo, contactar
povos, criar nações, amar sem distinção de raças ou credos, na
busca do porto sempre por achar”.
Esta definição magnífica, da autoria do Sr. Comandante Alpoim
Calvão, contém em poucas palavras todo o sentido, e a razão de
ser da nossa nacionalidade.
Ora, nos nossos dias, nem sempre esta foi uma peocupação prioritária entre nós. O pragmatismo das ideologias superficiais de
ocasião, conjuntamente com os caprichos, as derrapagens e as
urgências da economia, não obstante a necessidade indiscutível e
premente de lidar com eles e de lhes fazer face, secundarizaram
largamente todo um critério valorativo, que nem custa dinheiro
nem pode perder-se de vista, sob pena de que tudo à nossa volta
se torne opaco e deixe de fazer sentido. E aí sim! São de esperar
malefícios de toda a ordem, incluindo desvios e perdas humanas e materiais incontroláveis. Quando o presente se projecta
mal no futuro, quando o valor das coisas se avalia apenas pelo
seu preço, quando os mercados são os únicos valores tangíveis,
quando o saber se desliga da sabedoria, e quando as próprias
coisas deixam de nos dizer alguma coisa, não podemos esperar
pelo benefício do Bem.
Pelo contrário, os portugueses afastaram-se do legado da sua
própria história, e neste contexto têem vindo a desligar-se também das suas Forças Armadas. Ora, sendo a defesa uma das
preocupações primordiais de qualquer nação próspera, independente e soberana, e sendo que o conceito daquela se alarga modernamente muito para além do âmbito estritamente militar, não
deixa de ser estranho que um tal afastamento possa ser visto em
qualquer país como um fenómeno normal de aceitação comum.
Vale a pena pararmos um pouco para repararmos no que acontece em países europeus bem próximos de nós, para que daquí
possamos retirar as devidas ilações. Na França, por exemplo, e
tudo isto consta na Internet, existem dois tipos de reservistas,
para além do pessoal no activo nas Forças Armadas. Aqueles,
podem pertencer à “Rèserve Opérationelle” ou à “Rèserve Citoyenne”.
A “Rèserve Operationelle” é constituída por pessoal, que se encontra na vida civil, mas que quer permanecer ligado às Forças
Armadas no sentido de reforçar as suas capacidades operacionais.
Para integrar a “Rèserve Opérationelle”, é necessário ser voluntário, ser cidadão françês, ter uma idade mínima de 17 anos (existe
também um limite máximo de idade), possuir a robustez física
necessária, ter em dia as suas obrigações cívicas e não ter averbamentos no registo criminal.
Para que a capacidade operacional e o esforço de actualização
se mantenham, existem periodos de treino que estão previstos
em acordos assinados entre as empresas empregadoras, que
se constituem em “partenaires de la Defense”, e os organismos
apropriados do Ministério da Defesa.
Esta reserva militar, em uniforme, permite ainda rentabilizar
ao máximo o proveito da instrução ministrada ao pessoal que
prestou serviço militar activo, em vez de a desperdiçar completamente com a passagem à disponibilidade. Lembremo-nos, por
exemplo, dos ex-Fuzileiros.
A “Rèserve Citoyenne” é constituída por pessoal que deixou a
“Rèserve Operationelle” por limitações diversas, entre as quais
a idade, reformados militares, ou civis que não tendo prestado
serviço militar, se sentem vocacionados para colaborarem com
as Forças Armadas.
Estes reservistas promovem o espírito da defesa e reforçam com
as suas iniciativas, as ligações entre a nação e as suas Forças
Armadas.
Quando oriundos da vida civil, sem terem prestado serviço militar,
é-lhes atribuído, mediante instrução adequada, um posto militar
a título honorífico apenas, mas que lhes permite o uso do uniforme. As associações de reservistas e de antigos militares, também
contribuem para a defesa nacional nos termos de uma carta de
“partenaires de la Rèserve Citoyenne”.
Para congregar as reservas militares e para promover o espírito
que lhes assiste, celebra-se anualmente na França o dia do reservista, “la journée nationale du réserviste”.
Associado à “Rèserve Citoyenne”, surge um conceito curioso que
se desenvolveu em França na década de 1950, ainda sob o efeito
dos resquícios da Segunda Guerra Mundial. Trata-se do “Devoir
de Memoire”, ou Dever de Memória, que serve por definição para
“afirmar a obrigação que tem um país de reconhecer o sofrimento
imposto a certos grupos da população, sobretudo quando o Estado tem responsabilidade por esse sofrimento”.
Trata-se de um conceito cujo objectivo é a prevenção da prática
de crimes e de injustiças sociais no futuro, pela via da memória
de acontecimentos relativamente recentes da história da França,
mas que, não digo que se o quiséssemos tomar como modelo,
mas sim, se nele nos quiséssemos inspirar, fácilmente nos remeteria também para um Dever de Memória, do humanismo e da
originalidade dos valores da nossa própria identidade como nação
ancestral de mérito próprio.
E ainda teríamos a vantagem, se um tal Dever se exercesse, de
nos assistirir o Direito de nos esquecermos finalmente de aceitar
a subjectividade estéril, a inovação corrosiva, o interesseirismo
egoista e a mediocridade que nos injustiça, que nos exclui e que
nos destroi, para que fiquemos expostos a uma vulnerabilidade
devastadora, e á possibilidade futura de enormes malefícios sociais, dos quais não desejamos ter que nos lembrar.
O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
António Ribeiro Ramos
Sócio Aderente n.º 1053
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opinião
O Direito de Dizer
Carla Marques Pinto
(Advogada)
O Advogado como Participante Activo e
Imprescindível na Administração
da Justiça
A
o ritmo da publicação da nossa revista “O Desembarque”,
aqui estamos de novo a conversar um pouco com os nossos
consócios e com todos quantos, ao desfolharem as páginas desta edição, se interessem por estas coisas do direito e da
justiça.
Já nos referimos, em artigo anterior, aos comandos Constitucionais e à Lei da Organização e do Funcionamento dos Tribunais Judiciais para apoiar e clarificar, do ponto de vista do ordenamento
jurídico nacional, que a Advocacia é uma profissão de interesse
público.
Para quem nos leu nos números anteriores será fácil de concluir
que se trata de artigos de opinião – no âmbito da deontologia –
cuja responsabilidade é quase exclusivamente de quem os subscreve.
Quando não fora o peso da história, as “praxis” forenses, outros
ordenamentos jurídicos, designadamente, dos Países da Comunidade Europeia, o senso comum e a vivência democrática, as
mesmas disposições legais estabeleceriam, por si sós, a imprescindibilidade da participação activa do Advogado na Administração da Justiça.
Como se retrata no grande título destes textos – “O Direito de
Dizer” – é, de facto, um direito a que nos arrogamos. E por mais
que a Justiça se incline para alguma descredibilização, o que é
incontornável é que sem ela os povos civilizados não podem viver
e que o advogado continua a representar a profissão das liberdades, mesmo que a democracia se venha confundindo, por toda a
Europa e particularmente neste País, com a ditadura orçamental.
O Art.º 208.º da Constituição da República Portuguesa passou a
dispor, depois da IV revisão constitucional que, «a lei assegura
aos advogados, as imunidades necessárias ao exercício do
mandato e regula o patrocínio forense como elemento essencial à administração da justiça».
Do número 10 (Novembro de 2010) ao número 13 (Julho de 2012)
titulámos os nossos textos da seguinte forma: «Em Jeito de Introdução para umas Notas Soltas de Deontologia»; a «Deontologia,
Origem Etimológica, Definição»; «Dos deveres Deontológicos Gerais aos Específicos da Profissão»; e «A Advocacia como Profissão
de Interesse Público».
A Constituição impõe, claramente, a intervenção do Advogado (“o
patrocínio forense”) como «elemento essencial à administração da justiça», o que significa, exactamente, a sua imprescindibilidade e a necessidade da sua activa participação, isto é, que
na sua ausência ou mesmo no desconhecimento passivo da sua
presença, não há justiça.
Agora falaremos da imprescindibilidade do Advogado na administração da justiça.
Aqui ficam pois, algumas ideias.
O Art.º 6.º da LOFTJ (Lei n.º 3/99 de 13 de Janeiro) por sua vez
dispõe: «Os Advogados participam na administração da justiça, competindo-lhes de forma exclusiva e com as excepções
previstas na lei, o patrocínio das partes».
Chegados ao fim das férias judiciais, com novas deambulações
políticas ao nível do mapa judiciário (estes Senhores não param
de mudar quando chegam ao poder) será necessário que todos
os Advogados se sintam participantes activos na administração
da Justiça e que Magistraturas e Funcionários Judiciais os considerem, de facto e não apenas “de jure”, como suas peças imprescindíveis. Aos advogados compete, porém, prestigiarem-se
impondo-se ética e deontologicamente a todos quantos se pretendam considerar como exclusivos operadores da justiça.
Parece linearmente óbvio que esta exigência de activa participação do Advogado na administração da justiça – não só em
Portugal mas na quase totalidade dos países europeus (excepção
feita, curiosamente, à França que se crê paladina dos direitos,
liberdades e garantias!!!) retira ao Advogado qualquer aspecto de
auxiliar ou de colaborador da justiça firmando-o, cada vez com
mais consistência, como um verdadeiro ”órgão” da administração judiciária, com total independência e respondendo apenas
perante a sua consciência e a respectiva Ordem.
Mas vamos concretamente ao nosso tema, com uma abordagem
necessariamente sucinta.
Não terá sido por mero acaso que o Art.º 92.º da revogada Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais (Lei n.º 38/87 de 23 de Dezembro,
na redacção da Lei n.º 24/92 de 20 de Agosto) passou a incluir
a palavra «participam» ao contrário de “colaboram” como até
parece que por erro ou imprecisão de linguagem não terá sido
anteriormente consagrado…!
É também por isso, por o Advogado ser um verdadeiro órgão da
administração da justiça, que a Ordem dos Advogados (e também
a maioria das ordens e associações dos países comunitários) é
uma Associação de Direito Público na vertente específica de integrar entidades privadas. (vide – Guedes da Costa – Almedina, Out.º 2003).
Tudo isto é assim e parece ter de ser assim, para que se não negue o Estado de Direito, no terreno de um dos seus mais importantes pilares – os Tribunais – mesmo que, à boa maneira portuguesa, alguns “Velhos do Restelo”, do alto da sua cátedra, olhem
os Advogados de soslaio, com ares de desconfiança e, por vezes,
como quem olha para um malabarista de um qualquer número
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O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
opinião
circense dando a sensação que lhes passa pelo pensamento que
o Advogado só ali está para confundir e atrapalhar, como se fosse
possível conceber uma Justiça civilizada sem advogados, tão ferida de desequilíbrios e desigualdades ela seria!
Enquanto existirem estas mentalidades quinhentistas (e nada
disto tem a ver com idades cronológicas) não será possível que
o Estado de Direito se firme na sua mais nobre dimensão e se
plasme a verdadeira democracia na Administração da Justiça. É
que esta funde-se no contraditório processual, de que o Advogado
é detentor e motor, enquanto participante da função jurisdicional.
A terminar esta breve abordagem pedimos vénia para novamente
referenciar Guedes da Costa que ao afirmar – do nosso ponto de
vista com grande propriedade – «que a Jurisprudência não é
tanto criação do Juiz, por mais que este imprima na sentença o seu estilo» citando, com particular e relevante felicidade,
Buffon «no sentido de que o estilo é o homem mas, antes, co-produção do Juiz e do Advogado que mutuamente se completam na Administração da Justiça».
Apelo às nossas Ilustres Magistraturas: leiam-se e ouçam-se – ao
menos aparentemente – os não menos Ilustres Advogados com
um mínimo de atenção. É uma atitude de esclarecido saneamento
intelectual mas, sobretudo, de educação que também funciona
como acção pedagógica.
E pronto. Para a próxima cá estaremos, se os homens e a
Providência deixarem, com um tema particularmente interessante,
qual seja «O Advogado, o Dever de Servir a Justiça e o seu
Direito/Dever de Protestar».
Até lá, para os Fuzileiros – grande força de elite de Portugal – e
para quantos lhe encarnem a alma o meu grito:
“Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre”.
Carla Marques Pinto
Sócia Descendente n.º 1870
Email: [email protected]
Ser Fuzileiro
Carlos Manuel Alves
Martins
R
euniram-se no passado dia 12 de Maio, na Escola de Fuzileiros, os oficiais do 20.º Curso de Oficiais da Reserva Naval,
para celebrarem e recordarem com saudade, o 29.º Curso
de Fuzileiros Especiais que ali frequentaram de Maio a Agosto
de 1972.
Logo à entrada da Unidade voltámos a sentir o calor e a amizade com que a Escola sempre soube e continua a saber receber os seus “filhos”. É de toda a justiça agradecermos ao seu
Comandante, CMG FZ Teixeira Moreira, a forma ímpar com que
nos franqueou as portas da EF e o magnífico convívio que nos
proporcionou.
Foi também com emoção que podemos contar com a presença dos dois oficiais responsáveis pela nossa preparação militar,
dois seres humanos de excepção, com experiência do teatro de
guerra, e cuja competência, saber e exemplo, nos permitiram
sobreviver às duras provações por que passámos. Eles sabem
que sempre poderão contar com a nossa mais profunda gratidão.
Referimo-nos ao CMG Gomes Pedrosa e ao CMG FZE Vidal de
Resende, respectivamente Comandante/Director de Curso e Imediato daquela Unidade de Instrução.
a ter um grande significado para nós, é demonstrado pela forma
maciça com que respondemos à chamada.
Viemos reviver, agora com outros olhos, e sobretudo com muita tranquilidade e saudade, tudo o que passámos em conjunto
e que serviu para nos unir como grupo e para cimentar a nossa
amizade como pessoas; como esquecer o túnel, o tronco, o raid,
os nossos “banhos de beleza” no lodo, as descidas do Sado, as
manobras na Arrábida, a península de Tróia, a descida do Vouga
e a Ria de Aveiro, o boxe com o Mestre Ferraz, a meia maratona
com equipamento, as granadas a meio da refeição? Como esquecer a ajuda que nos demos uns aos outros em momentos de
maior dificuldade e que nos foi permitindo actuar cada vez mais
com espírito de corpo e sobretudo com sentido de pertença a algo
que nos transcendia mas que valia a pena viver e experimentar?
Foi também grande a alegria com que reencontrámos os camaradas de Curso que connosco partilharam momentos tão importantes das nossas vidas, podermos olhar os nossos cabelos brancos
e as nossas “barriguinhas”, hoje tão afastados da invejável forma
física de há 40 anos atrás, mas ainda com o mesmo orgulho de
quem foi e se continua a sentir Fuzileiro.
Mas afinal, o que significa ter sido e continuar a SER FUZILEIRO.
É sempre mais fácil dizer o que sentimos individualmente do que
procurarmos traduzir em palavras o sentimento do colectivo. Contudo, afirmarmos que a nossa passsagem pela EF teve e continua
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opinião
Como esquecer a emoção que sentimos ao recebermos a guia
de marcha para nos apresentarmos numa unidade a ser formada para seguir para o Ultramar? Ou para seguirmos em rendição
individual para uma unidade já presente no teatro de guerra? E a
emoção sentida ao pisarmos África pela primeira vez? E a nossa
primeira missão no mato? Temos tantas coisas a recordar em
conjunto, sobretudo agora, com a tranquilidade de quem sabe ter
conseguido ultrapassar tantas situações difíceis.
Cada um de nós teve o seu percurso de vida, necessáriamente
diferente do dos outros, mas houve um momento em que os nossos caminhos se cruzaram, e isso aconteceu precisamente aqui.
A partir do momento em que passámos à disponibilidade, cada
um regressou ao seu caminho individual, mas não deixamos de
correr ao encontro uns dos outros sempre que chamados para
tal. Porquê?
Os motivos que nos movem são muitos e variados e certamente
diferentes para cada um. O que é que nos faz voltar aqui uma e
outra vez, e reviver sempre com muita alegria todos estes rostos
amigos e todo este ambiente inesquecível?
Todos nós, os que por aqui passámos, esperamos ter ainda um
futuro. A idade não é obstáculo a que isso aconteça. Mas quem
quer prever o seu futuro não pode deixar de olhar para o seu
passado.
Todos os dias, quando acordamos, estamos a receber uma nova
oportunidade para realizarmos tudo o que gostaríamos de ter feito
anteriormente, mas que não concretizámos por qualquer razão
que muitas vezes nos escapa. Só que hoje partimos em vantagem, pois podemos contar com a experiência que nos faltou anteriormente.
Fomos e somos uns priveligiados pois na Escola de Fuzileiros
aprendemos as virtudes da disciplina, da honestidade, da lealdade, da solidariedade, do respeito pelos outros independentemente
da sua condição social, a camaradagem que perdura por toda a
vida, o espírito de corpo, o espírito de sacrifício, a sã competição
e o bem estar que resulta de procurarmos um desenvolvimento
saudável e equilibrado quer em termos intelectuais, quer físicos.
Acredito que todos nós sempre olhámos com orgulho para a nossa história, para a nossa capacidade de nos mantermos independentes perante vizinhos agressivos e muito mais poderosos, que
tantas vezes nos tentaram dominar e quase sempre sem sucesso.
Acredito que sempre sentimos um enorme respeito pelos nossos
antepassados os quais, além de se manterem e nos manterem
livres, ainda tiveram a capacidade de se meter em frágeis caravelas, arrostando a fúria dos oceanos, desbravando novos mundos
para o mundo, enfrentando novas culturas e não poucas vezes
combates com inimigos mais numerosos, e tudo isto sempre com
uma tenacidade e com uma coragem assombrosas.
Admirava-me com a nossa capacidade para ocuparmos territórios
várias vezes maiores do que o nosso torrão natal, e os sacrifícios
que várias gerações fizeram para os conservar durante quase 500
anos.
Ainda no passado mês de Fevereiro podemos ler um artigo no
Financial Times, em que era relembrado o relevante papel que
teve um pequeno país situado no extremo mais ocidental do continente europeu, na descoberta de todo um mundo desconhecido
até então, considerando-o um dos países mais importantes de
todo o século XVI: esse país era Portugal.
E não podemos esquecer que a Marinha foi a grande responsável pela execução da aventura dos descobrimentos, nem que a
Infantaria de Marinha, depois chamada de Terço da Armada, foi
o nosso valoroso antepassado, cuja coragem, espírito e tradições
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nos coube, séculos depois, agora como Fuzileiros, personificar,
respeitar e manter bem vivos.
Estou certo que muitas vezes, quando jovens, nos interrogámos
sobre o que aconteceria se fossemos de novo chamados a defender a Pátria, nela incluídas as parcelas a que chamávamos o
nosso Ultramar.
Seríamos capazes de cumprir o nosso dever e de nos sentirmos
merecedores dos nossos antepassados? Boa pergunta de se fazer
mas mais difícil de responder.
Sempre ouvimos dizer aos mais sábios que depois da batalha
sempre apareciam os valentes. Nós não queriamos parecer ou
ser valentes, muito menos heróis, apenas queriamos ser capazes
de cumprir o nosso dever se a isso fossemos chamados.
Mas seriamos mesmo capazes?
Embora talvez tenhamos chegado a pensar que a guerra, de tão
longa já, não iria chegar até nós, a verdade é que, de repente,
fomos apanhados por ela.
Ao entrar na Escola de Fuzileiros percebi que, afinal, na selva
que vim encontrar fora do Colégio Militar, onde tive o privilégo
de estudar, ainda apareciam de quando em vez oásis de
companheirismo, de solidariedade e de amizade. Este ambiente
de entreajuda foi o que aqui viemos encontrar e manifestou-se
entre todos nós e durante todo o curso, onde os mais fortes em
determinadas áreas ajudavam os mais fracos.
O nosso espírito era o de que, já que tínhamos de ir para África,
que conseguíssemos receber a melhor preparação possível e
não deixarmos que algum de nós ficasse para trás. E para isso
contámos, como referi antes, com um grupo de formadores de
elite, liderados por dois oficiais de excepção, que não só nos
ensinaram os segredos da guerra de guerrilha, mas também a
sermos duros sem que essa dureza trouxesse ao de cima o que
de pior pode existir no ser humano: a violência gratuita.
Nunca me apercebi de que os Fuzileiros precisassem de usar
esse tipo de violência para se fazerem respeitar e temer pelos
seus adversários. E isso, também nos distingue.
Chegara finalmente a altura de sabermos a resposta à nossa
pergunta de adolescentes. Seríamos capazes de cumprir o nosso
dever? Como aconteceu com todos nós, acredito que fomos
capazes, de forma mais ou menos modesta, de cumprir o nosso
dever e o nosso desejo de pisarmos, juntos, a terra da verdade.
Pessoalmente, recordo também com saudade a primeira vez
que ouvi tocar e cantar, às escondidas, numa cave de um bar
na marginal de Cascais, a musica que se viria a tornar no hino
dos Fuzileiros, bem como todo o complicado processo que me
levou à fundação da Associação de Fuzileiros, juntamente com o
Comandante Alberto Rebordão de Brito, o Comandante Heitor dos
Santos Patrício e seis outros camaradas.
Acredito que tudo o que vivemos e experimentámos desde que
nos juntámos aos Fuzileiros, foi uma experiência única de vida
que não trocaríamos por dinheiro nenhum do Mundo. Tudo o que
então aprendemos foi para nós de grande utilidade no caminho
que seguimos já na vida civil, em particular nos momentos mais
difíceis que tivemos de enfrentar.
Por tudo isto, quando agora olhamos para trás, para os 40 anos
que já passaram desde a nossa entrada nos Fuzileiros, vejamos
não apenas a formação militar de excepção que nos foi ministrada,
não só os amigos que aqui todos fizemos, não só os excelentes
profissionais que nos prepararam com o saber prático e não apenas teórico de quem viveu as situações de guerra que nos transmitiram, mas também a extraordinária aprendizagem de vida que
O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
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os fuzileiros nos proporcionaram e de que seremos, para sempre
devedores. Sem esta experiência recebida, estou certo que o caminho que percorremos nas nossas vidas pessoal e profissional,
teria sido diferente do que foi.
Percebemos assim melhor, do que quando para aqui entrámos
pela primeira vez faz agora 40 anos, vermos hoje não apenas a
instituição militar que nos formou para a guerra mas, e sobretudo,
toda uma escola e experiência de vida que nos prepararam
também para os tempos de paz, escola e experiência essas que
nos foram proporcionadas durante todos estes anos de convívio
com os Fuzileiros, quer aqui na Escola, quer em África, quer no
período pós revolução de Abril de 74, quer mesmo depois da
nossa passagem à vida civil e que, estou certo, muito contribuiu
para conseguirmos ultrapassar os obstáculos com que a vida de
vez em quando nos presenteia.
Gostava de terminar invocando um pensamento que apesar de
um pouco utópico, traduz em boa medida o que pensamos e
sentimos acerca da nossa passagem pelos Fuzileiros e que, por
não ter sido escrito por um dos nossos, não nos podem acusar de
sermos juízes em causa própria. Foi escrito por uma mulher, de
nome Isabel Queirós e reza assim: “Quando se houverem acabado
os soldados no Mundo, quando reinar as pazes absolutas, que
fiquem pelo menos os Fuzileiros, como exemplo de tudo de belo e
fascinante que eles foram”.
Peço-vos que continuem sempre a celebrar e a homenagear
todas as gerações de Fuzileiros, do passado, do presente e do
futuro, para que nunca deixem cair a nossa mística, que serve
também como nosso lema e nos faz acreditar e sentir que “uma
vez Fuzileiro, Fuzileiro para sempre”.
Carlos Manuel Alves Martins
Tenente FZE RN (34/72)
Sócio cofundador da AFZ
convívios
Companhia de Fuzileiros N.º 3
Angola 1972/74
30 de Junho de 2012
R
ealizou-se no passado 30 de Junho,
o 2.º encontro dos fuzileiros que
prestaram serviço na Companhia
n.º 3 de FZ – Angola (Vila Nova da Armada)
em 1972/74.
Estiveram presentes cerca de 100 pessoas,
entre fuzileiros e familiares. O almoço foi
servido pela Escola de Fuzileiros, sendo
que o convívio se estendeu até às 16h00.
Foi um dia em cheio para matar saudades
e recordar tempos passados.
Aos que estiveram presentes o nosso obrigado. Para os que faltaram fazemos votos
de que estejam presentes, com saúde, no
próximo ano.
Autor desconhecido
O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
13
convívios
40 Anos Depois
Oficiais do 20.º CFORN FZ/29.º CFE
na Escola de Fuzileiros
E
m 12 de Maio de 2012, na Escola de
Fuzileiros, os oficiais do 20.º Curso de
Oficiais da Reserva Naval, classe de
Fuzileiros, relembraram e reviveram o 29.º
Curso de Fuzileiros Especiais que ali frequentaram entre Maio e Agosto de 1972.
Pelas 11h00 começou a concentração dos
oficiais que, do continente ou das ilhas, ali
demandaram para mais um dos encontros
que aciclicamente têm protagonizado,
tendo comparecido 17 dos 26 cadetes do
20.º CFORN, acompanhados pelo Contra-almirante reformado Gonçalves Cardoso,
também ele aluno do 29.º CFE e pelos
Comandante/Director de Curso e Imediato
da 3.ª Companhia, CMG Gomes Pedrosa
e CMG FZE Vidal de Rezende, este último também na altura oficial da reserva
naval e já com uma comissão de serviço
cumprida em Angola com o brilho e lustre
atestados pela medalha da Cruz de Guerra
14
com que foi agraciado. Porque é importante falar e fazer a história dos fuzileiros,
não deixamos de referir os dois oficiais
do 20.º CFORN FZ, Tenentes FZ RN Pires
Carmona e Melo e Sousa “Bellini”, que a
partir de finais dos anos 70 integraram os
quadros permanentes da Marinha e ali, nos
Fuzileiros, em organismos politico-militares ou de novo em África e durante cerca
de 40 anos, serviram Portugal na Marinha.
Após a cerimónia de homenagem aos “fuzileiros mortos em combate”, que como
habitualmente decorreu junto ao Monumento ao Fuzileiro, iniciou-se a visita à
Escola de Fuzileiros onde houve oportunidade de reviver as “diversões” vividas
nas pistas de obstáculos (a nossa “aldeia
dos macacos”) e de lodo e por fim, na
Sala Museu e perante todo aquele magnífico espólio, relembrar todos os fuzileiros e o seu passado e, na pessoa do seu
Comandante, CMG FZ Teixeira Moreira, fazer entrega à Escola de Fuzileiros de uma
placa em mármore evocativa dos 40 anos
passados após a frequência do 29.º Curso
de Fuzileiros Especiais.
Face à importância da efeméride foi obtida
antecipada anuência de Sua Excelência o
Almirante CEMA para que o almoço de
confraternização decorresse dentro da
Escola de Fuzileiros, facto que permitiu
tranquilidade e emoções acrescidas que,
face à gentileza do Comandante da Escola,
culminaram no café e digestivos finais no
bar da messe de oficiais, talvez o local
fulcral de todas as recordações, porque ali,
após os exercícios matinais e nocturnos,
as marchas e as semanas de campo, e
perante os “mimos” que eram colocados à
disposição, rapidamente eram esquecidas
as dificuldades e vicissitudes acabadas de
viver e sentir na própria “pele”.
O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
convívios
Durante o almoço de confraternização
foram vários aqueles que com as suas
palavras quiseram reviver em conjunto
episódios ocorridos, salientando-se as
intervenções do Comandante Gomes Pedrosa, também ele emérito combatente
do teatro de operações da Guiné e por
isso agraciado com a medalha da Cruz de
Guerra de 1.ª classe, que voltou a recordar os objectivos perseguidos no Curso de
Fuzileiros Especiais, metodologias que se
procuravam seguir e as dificuldades com
que era desenvolvida a instrução, e do
Cadete/Tenente Alves Martins que, numa
longa e pensada intervenção explanou a
importância da sua passagem pela Escola
e pelos Fuzileiros, a importância de um dia
ter entrado na Escola de Fuzileiros e dali
ter saído FUZILEIRO UMA VEZ, FUZILEIRO
PARA SEMPRE. Porque de certa forma
aquela intervenção exprime o sentir de
cada um de nós, que não queremos deixar
de partilhar com todos aqueles que viveram experiências semelhantes, da mesma
permitimo-nos citar:
“… Acredito que não corro o risco de
ser desmentido se disser que revivemos,
agora com outros olhos, e sobretudo com
muita tranquilidade e saudade, tudo o que
passámos em conjunto e que serviu para
nos unir como grupo e para cimentar a
nossa amizade como pessoas; como esquecer o túnel, o tronco, o raid, os nossos
banhos de beleza no lodo, as descidas do
Sado, as manobras na Arrábida, a península de Tróia, a descida do Vouga e a Ria
de Aveiro, o boxe com o Mestre Ferraz, a
meia maratona com equipamento, as granadas a meio da refeição? Como esquecer a ajuda que nos demos uns aos outros
em momentos de maior dificuldade e que
nos foi permitindo actuar cada vez mais
com espírito de corpo e sobretudo com
sentido de pertença a algo que nos transcendia mas que valia a pena viver e experimentar? Como esquecer a emoção que
sentimos ao recebermos a guia de marcha
para nos apresentarmos numa unidade a
ser formada para seguir para o Ultramar?
Ou para seguirmos em rendição individual
para uma unidade já presente no teatro
de guerra? E a emoção sentida ao pisarmos África pela primeira vez? E a nossa
primeira missão no mato? Temos tantas
coisas a recordar em conjunto, sobretudo
agora, com a tranquilidade de quem sabe
ter conseguido ultrapassar tantas situações difíceis”.
Para terminar e para a história, a listagem
dos Oficiais e Cadetes do 29.º Curso de
Fuzileiros Especiais e unidades onde cumpriram missão.
Oficiais:
1TEN M José Luis Gonçalves Cardoso (DFE 2 – Angola)
1TEN EMQ José Manuel Correia Graça (DFE 6 – Angola)
1TEN M Leopoldo Câmara de Oliveira Bastos Jorge (CF4 – Angola)
2TEN M José Maria da Silva Horta (DFE 21 – Guiné)
Cadetes:
Abel Ivo de Melo Ferreira de Sousa (DFE 1 – Guiné)
Alberto José dos Santos Marques Cavaco (CF 6 – Angola)
António Afonso Aguiar Mamede (Pelotão Independente – Moçambique)
António Augusto de Barahona Fernandes de Almeida (EFuzileiros)
António Jacinto Vasconcelos Raposo (DFE2 – Angola)
António Alberto Correia Fernandes (CF 6 – Angola)
António Guilherme Berbereia Ribeiro Moniz (DFE 9 – Moçambique)
Cândido Alexandre Lucas (DFE 21 – Guiné)
Carlos Manuel Alves Martins (DFE 5 e CF 11 – Moçambique)
Carlos Alberto Maia Teixeira (DFE 6 – Angola)
Duarte Rodrigo Cardoso Belard da Fonseca (CF 10 – Moçambique)
Eduardo Augusto de Oliveira Pereira Machado (CF 11 – Moçambique)
Humberto da Silva Ramos Rodrigues (CF 4 – Angola)
João Manuel Pereira Forjaz de Sampaio (CF 11 – Moçambique)
João Alberto Pires Carmona (CF 6 – Angola)
João Henrique Martins Dias (DFE 6 – Angola)
João Manso Mais de Carvalho (DFE 8 – Guiné)
Joaquim Maria Feijó (DFE 11 – Moçambique)
Jorge Alberto Vieira Ferraz Pinheiro (CF 4 – Angola)
Jorge Manuel Albuquerque de Alvaleide (DFE 2 – Angola)
José Pedro Soares de Albergaria Corte Rela (DFE 4 – Guiné)
José Bernardo Ferreira (DFE 11 – Moçambique)
Luís António Rodrigues de Queirós (DFE 10 – Angola)
Reinaldo da Costa Campos Coelho (FFC – CF13)
Sérgio Tavares de Almeida (DFE 6 – Angola)
Vicente Cabral (DFE 1 – Guiné)
J. Pires Carmona
CMG FZ REF
Sócio Originário n.º 1544
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convívios
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 12
Guiné 1970/71
19 de Maio de 2012
R
ealizou-se no passado dia 19 de Maio,
um almoço convívio que contou com
a presença de antigos militares que
constituíram o Destacamento de Fuzileiros
Especiais n.º 12, Guiné-Bissau, entre
Janeiro de 1970 e Dezembro de 1971, e
seus familiares, em Vila Viçosa, distrito
de Évora, num dos habituais encontros de
camaradagem e de saudade.
O início do evento efetuou-se com uma
missa católica para aqueles que nela desejassem participar, e que foi celebrada
na Igreja de Nossa Senhora da Conceição.
Seguidamente, os presentes reuniram-se
junto ao edifício do Paço Ducal de Vila Viçosa para uma visita ao Palácio Real, que
durante séculos foi sede da sereníssima
Casa de Bragança, e cujo cicerone foi o
antigo imediato ex-Ten M FZE João Luís
Costa Ruas, que foi, durante décadas, funcionário superior desta Instituição, e que
presentemente se encontra aposentado.
Após a visita, teve lugar um lauto almoço,
num restaurante local, bem apetrechado
de comida tipicamente alentejana e com
um bom vinho da região, onde decorreu
num ambiente de alegria e de sã camaradagem.
16
O antigo Comandante do DFE12, Capitão-de-Mar-e-Guerra FZ (Reformado) Francisco Coelho Mendes Fernandes fez um
discurso sobre o evento, recordando ainda
o papel que a unidade desempenhou no
TO da ex-colónia portuguesa.
Depois da sobremesa e dos cafés, falou-se dos “velhos tempos” pela tarde dentro, até que o último rumou a casa, ficando
acordado que para o próximo lá estaremos
novamente juntos.
Serafim Lobato
Sócio Originário n.º 1792
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convívios
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 2
Angola 1965/67
23 de Junho de 2012
R
ealizou-se no passado dia 23 de
Junho o encontro anual do Destacamento n.º 2 de Fuzileiros Especiais –
Angola 1965 /1967.
Passados todos estes anos não podemos
deixar de louvar o espírito de camaradagem
que reina entre muitos de nós, incluindo
as respectivas famílias a quem cumpre
agradecer por, desde a primeira hora, nos
terem apoiado e acompanhado sempre
e fazerem questão de constituírem parte
integrante destes convívios.
Para todos aqueles que, por qualquer
motivo, não puderam estar presentes vai,
também a nossa solidariedade, esperando
que para o próximo ano se juntem a nós.
É que, infelizmente, já vamos sendo
poucos, mas não podemos deixar morrer
estas bonitas e agradáveis manifestações
de camaradagem e amizade enquanto
tivermos forças para isso.
Uma palavra de agradecimento a dois
grandes Camaradas e amigos que, não
tendo integrado este Destacamento,
quiseram, também, marcar presença
revelando o espírito que é apanágio do
fuzileiro – Mário Manso, Óscar Barradas e
suas famílias.
Em nome da organização, que esteve a
cargo de Hélder José Borges e José Magalhães Borges, queremos agradecer, igualmente, e com especial relevância, à Exm.ª
Sr.ª D.ª Fátima de Oliveira (Filha do Comt.
Abel de Oliveira) a sua assídua e sempre
agradável e prestigiante presença.
Afonso Brandão
Sócio Original n.º 1277
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convívios
DFE N.º 1 – Moçambique 1964/66
e DFE N.º 2 – Angola 1967/69
20 de Outubro de 2012
N
o passado dia 20 Outubro, teve lugar
um almoço/convívio que juntou o DFE
n.º 1 – Moçambique 1964/1966 e o
DFE n.º 2 – Angola 1967/1969 realizado
na Quinta da Alegria, comandados respectivamente pelos Comts Maxfredo Costa Campos e Medeiros Ferreira.
O convívio esteve muito animado e durou
até ao fim do dia.
Egas Soares
Sócio Originário n.º 805
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crónicas
Cadetes do Mar de Portugal
1.ª actividade formativa da Unidade
de Cadetes do Mar Fuzileiros
no ano lectivo 2012/2013
José Gomes Talhadas
P
ermitam-me uma curta resenha para
vos recordar a instituição dos Cadetes do Mar de Portugal, iniciativa do
Grupo de Amigos do Museu da Marinha
(GAMMA) entidade fundadora e com a qual
a Associação de Fuzileiros (AFZ) subscreveu, oportunamente, um Protocolo de Colaboração.
Os Cadetes do Mar constituem um movimento mundial de jovens que aprendem
a ter orgulho na história dos seus países
virados para o mar e a valorizarem as causas e os sucessos da Pátria.
Assim, entre nós os Cadetes do Mar empenham-se em interiorizar o “Espírito Naval” divulgando e promovendo, nas suas
comunidades, a noções de estratégia de
Segurança e Defesa de Portugal.
Lembramos que Portugal acaba de chegar ao 11.º lugar entre os países do mundo com mais território em solo e subsolo
marítimo e que, merecidamente foi reconhecido, em 2010, como o vigésimo país
aliado a integrar a “International Sea Cadet Association”.
Os Cadetes do Mar funcionam nas instalações escolares dos estabelecimentos
públicos ou privados ou nos clubes que
hajam estabelecido protocolos com a Entidade Gestora e Fundadora, o Grupo de
Amigos do Museu da Marinha (GAMMA)
e com a própria Marinha, utilizando gratuitamente e os seus espaços, recursos
didáticos e equipamento náuticos ou desportivos.
Iniciam actividades no ano lectivo de
2012/2013, duas novas Unidades: uma no
Clube do Mar do Colégio Pedro Arrupe, em
Lisboa e outra ligada ao curso Profissional
de Turismo (Dever e Memória) da Escola
Secundária de Carcavelos.
No caso particular da Unidade de Cadetes
do Mar Fuzileiros e à semelhança do ano
lectivo de 2011/2012, foi apresentado já
e aprovado, no mês de Junho o Calendário de Actividades à entidade fundadora,
o GAMMA.
Na margem sul do Tejo, no Barreiro, está
em pleno funcionamento desde 2011,
a Unidade de Cadetes do Mar Fuzileiros,
patrocinada pela nossa Associação de
Fuzileiros com a colaboração do Corpo de
Fuzileiros desenvolvendo as principais actividades na Escola de Fuzileiros, em Vale
do Zêbro.
A Formação da Unidade de Cadetes do
Mar Fuzileiros para este ano lectivo de
2012/2013 está programada em quatro
áreas:
De uma forma geral, os responsáveis pelas unidades e pela formação dos respectivos cadetes são Oficiais e Sargentos da
Marinha de Guerra, na reserva ou reforma,
Comandantes e Pilotos da Marinha Mercante e de Pesca, Patrões e Skippers da
Marinha de Recreio, ou mesmo Empresários ligados ao mar que oferecem o seu
trabalho voluntário e de forma absolutamente graciosa.
A Marinha de Guerra dá-nos o seu apoio
institucional e – como já referimos – facilita-nos o acesso às suas instalações,
escolas, museus e navios, de acordo com
um plano anual e com os programas de
instrução de cada Unidade. Os militares
da Armada em serviço activo prestam,
também, a sua colaboração ministrando,
tanto quanto possível, também, instrução
aos jovens Cadetes.
1. Cerimonial Naval – Conhecimentos
básicos de Infantaria, Regulamentos,
e Organização Militar Naval;
2. Ciências Militares – Conhecimentos
básicos de História Militar Naval e dos
Fuzileiros, Liderança, Orientação, e
manobra de Botes Zebro III;
3. Aptidão Física – Testes Físicos, Pista
de destreza, de Lodo, Escalada e Natação.
4. Regras de Cidadania – Conhecimentos básicos de Comportamento Cívico
e do Espaço Marítimo Português.
Permitam agora convidar-vos a acompanhar a 1.ª Actividade de Formação da Unidade de Cadetes do Mar Fuzileiros.
Às 9h00 de 22 de Setembro dirigimo-nos
para a Estação Fluvial do Barreiro, local
previamente marcado para encontro do
Comando da Unidade, dos jovens Cadetes
do 1.º Ano, e dos Candidatos que teriam
de efectuar os testes físicos para integrar
esta Unidade no ano lectivo de 2012/2013.
Sendo o Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) o seu Comandante-Chefe Honorário, o acesso ao Museu de Marinha,
aos Navios e às instalações da Armada
para as actividades que aí se realizem,
são autorizados.
Os nossos Cadetes do Mar estão no seu
terceiro ano de vida em Portugal existindo
já, em funcionamento, as seguintes Unidades:
No centro do País: na Escola Básica Marinas do Sal, em Rio Maior, duas Unidades,
com actividades náuticas em Peniche.
Na grande Lisboa: uma Unidade na Escola
de Actividades Náuticas de Cascais (Clube
Naval de Cascais) outra Unidade do “Projecto Este Mar”, na Escola Secundária de
Carcavelos.
O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
19
crónicas
(Relembro a sensação de “déjà-vu” que já
vivi há muitos anos atrás, só que o local e
a época eram diferentes…).
Todos eles, com o saco de mão cochichavam uns com os outros e obviamente
com menos à vontade os três novos candidatos. Depois de os saudar formalizei
de imediato as apresentações entre os
que não se conheciam e reparei que as
expressões faciais dos mais novos rapidamente se desvaneceram. Disse-lhes que
a partir daquele momento o grupo seria
“uno e indivisível”, porque todos iriam
passar pelas mesmas dificuldades quiçá,
por alguns sacrifícios mas também pelos
mesmos êxitos, constituindo assim uma
família, como sempre fizeram os Fuzileiros.
Naturalmente que os tempos são outros
mas, nestas idades da adolescência,
(16/17 anos) todos têm sonhos de juventude, tal como nós tivemos! Pese embora
a fase difícil que o País atravessa que se
projetcta porventura, num futuro menos
promissor que de certo modo escurece os
seus horizontes de vida, enfim… apesar
de tudo precisamos de lhes inculcar Esperança!
Após estes iniciais encontros seguimos
viagem em direcção à E.F. na carrinha da
Associação de Fuzileiros. De princípio, algum silêncio. Passado pouco tempo ouço
o primeiro “chilrear”:
- “É pá de onde és?” - Perguntava um
Candidato a um já Cadete. - Resposta do
“Sr.” Cadete na sua pose já de veterano:
- “Sou de Vale de Zebro, porquê?” Suou
uma gargalhada geral. O novato estava a
referir-se à Escola de Fuzileiros!
Entretanto, chegados ao portão da Escola
de Fuzileiros informei o Mestre da Unidade, Sargento Afonso Brandão, que conduzia a viatura, que eu ia desembarcar juntamente com os alunos.
Fui cumprimentar o pessoal de serviço à
porta de armas e logo me dirigi aos alunos
20
e disse-lhes: - “Bem, meus meninos vão
ter a honra de, pela primeira vez fazer o
percurso “sagrado” que todos os Fuzileiros fazem quando chegam a esta Escola”.
Percorri pois, com eles a distância entre
a entrada da Unidade e o edifício de Comando, aproveitando para passar a mensagem da honra e do orgulho que todos
os Fuzileiros sentem pela sua “Casa Mãe”,
afirmando-lhes: “Esta Escola, já com 50
anos de história está repleta de recordações e memórias das várias gerações de
Fuzileiros que por ela passaram”!...
Quando chegámos ao edifício do Comando
avistei os Senhores Oficiais que nos iriam
acompanhar. Como sempre impecáveis
no seu aprumo e postura de fuzileiro. O 1.º
Tenente TSN Dias, que será o coordenador
das actividades dos Cadetes do Mar deste ano e o 2.º Tenente TSN Vieira Rosinha
que desempenhou as mesmas funções no
ano lectivo anterior.
O 2.º Tenente TSN Vieira Rosinha deixou
em cada aluno uma marca profunda na
sua formação, pelos seus ensinamentos
e exemplo que todos eles jamais esquecerão, cujo desempenho foi testemunhado
pelo louvor conferido pelo GAMMA, instituição que gere os Cadetes do Mar e que
constará, certamente, da sua folha de registo.
Depois da apresentação dos referidos
Senhores Oficiais, os alunos formaram e
seguiram em direcção à Secção de Fardamento, onde receberam o uniforme que
irão usar ao longo do ano lectivo na Escola
de Fuzileiros.
E num ápice, tal como a um toque de varinha de condão, aí estão eles, os do 1.º
ano, tal como “irmãos” mais velhos, a
ajudar a vestir os mais novos, dando-lhe
os primeiros conselhos: - “É pá, a fivela
tem que ser colocada no outro extremo do
cinto; a camisa só pode ficar com um botão por abotoar; tu vê lá se pões as calças
por fora das meias; ouve lá, olha que os
Cadetes do Mar Fuzileiros têm que estar
sempre bem ataviados e aprumados; é
por isso que nós somos sempre diferentes
nas cerimónias do Corpo de Cadetes do
Mar e nos destacamos dos outros”. Depois de ouvir estes comentários, trocados
entre eles sorri e comentei para o Mestre
da Unidade, meu camarada de recruta do
ano de 1964: - “O que te faz lembrar estes
jovens, Afonso?” Resposta: - “Parece que
estamos a voltar ao passado! Lembras-te
quando ficávamos nestas velhas camaratas?”
É por isso que vale a pena dar a nossa
contribuição voluntaria às Instituições
que promovem e apoiam esta iniciativa,
porque estas situações que vivemos hoje
com os alunos são a imagem fiel da nossa
juventude …
Entretanto, mandei formar e seguir em
marcha acelerada até ao Edifício do Comando onde seriamos recebidos pelo
Comandante. Para grande surpresa e satisfação fomos recebidos no salão Nobre
da Escola pelos Senhores Comandante
do Corpo de Fuzileiros, Comandante da
Escola de Fuzileiros, Director de Instrução
e SMOR Adjunto do Comandante da Escola Fuzileiros. Foram proferidas palavras
de incentivo aos alunos, e o conselho de
aproveitar tudo o que fosse adquirido na
sua formação que certamente os ajudaria
no seu percurso de vida fosse ela civil ou
militar.
Seguiram-se os testes físicos, orientados
pelos Oficiais Fuzileiros Tenentes Silva e
Vieira Rosinha, em que os alunos mostraram excelente condição física.
Não deixarei de relatar um episódio na
prova dos 2.400 metros: já perto da sua
conclusão, um dos alunos devido ao cansaço foi ficando para trás, atrasando-se
dos restantes; alguns deles, porém, depois
de a concluir voltaram de novo ao percurso
com palavras de incentivo: -“vá lá miúdo,
não podes desistir, nós acompanhamos-te;
como dizem os nossos formadores “os Fuzileiros nunca deixam ninguém para trás”.
O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
crónicas
Era claro que o espírito de grupo começava a consolidar-se.
Seguiram-se os testes de natação, em que
todos realizaram uma exigente bateria de
provas que deixaram os oficiais muito satisfeitos. Estes testes são semelhantes aos
efectuados por Fuzileiros no activo!
Quando um deles terminou o teste olhou-me e disse: - “Senhor Sargento, esta
ultima prova de transportar a arma não
correu tão bem como desejava”. Respondi: - “Não te preocupes porque também
foste o melhor a recuperar a manilha. Os
Fuzileiros são assim: completam-se uns
aos outros”.
No final dos testes dei a informação ao
Chefe de Turma para que, no prazo de 10
minutos estivessem formados em frente
do refeitório. E foi o que aconteceu. Seguiu-se o almoço, aproveitando-se o facto
de estarmos todos à mesa, (formadores
da Escola de Fuzileiros e acompanhantes
dos Cadetes do Mar) para trocar e passar
experiências de vida passadas naquela
Escola.
Depois de nos despedirmos dos Oficiais da
Escola de Fuzileiros seguimos na viatura
da AFZ em direcção a Lisboa, onde a próxima actividade iria decorrer no Museu da
Marinha.
O ruído da viatura era propício a um certo
embalo e alguns deles começavam a ser
abraçados pelo velho “Morfeu” (sono). Eis
quando um cadete do 1.º ano eleva a voz:
- “Ó rapazinho abre a pestana, porque um
fuzileiro nunca dorme em serviço”. Assim
terminou a monotonia da viagem e as conversas voltaram rapidamente.
No Museu de Marinha deu-se início à disciplina de História Militar Naval e dos Fuzileiros, ministrada pelos dois professores
de História Comandantes Bellem Ribeiro e
Ribeiro Ramos.
A visita ao Museu desenvolveu-se através
das salas, sempre com esclarecimentos
históricos correspondente a cada tela,
maquete ou figura que íamos encontrando
ao longo do percurso, sempre com o entusiasmo e com o cuidado nos esclarecimentos das dúvidas que os alunos apresentavam aos professores. Já no final, surge
então um recanto dedicado aos Fuzileiros.
Foi o momento para se falar da sua história, desde criação do “Terço da Armada
Real da Coroa de Portugal”, (1621) depois
ao seu novo nome “Terço da Armada Real
Mar e Oceano” (1640) o seu percurso, e
as diversas denominações, que tiveram ao
longo dos séculos, como os “Marinheiros
do Fuzil”, a “Brigada Real de Marinha “ (a
qual acompanhou e garantiu a segurança
O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
da família Real para o Brasil) o “Batalhão
Naval” (servindo a bordo como Infantaria
de Marinha e guarnecendo as fortalezas
do Ultramar) o “Batalhão de Marinha“
(constituído para combater no Sul de Angola por ocasião da 1.ª Guerra Mundial)
seguindo-se um intervalo de tempo, até à
recriação dos Fuzileiros (1961) pela mão
do Almirante Roboredo e Silva, tal como
se mantêm actualmente.
Foi um dia cheio e para os alunos desta
Unidade adquirirem mais conhecimentos
sobre a história militar naval do seu País.
Esta actividade de formação terminou pelas 17h00 horas no Museu de Marinha.
Toda a cobertura fotográfica foi realizada
pelo Relações Públicas e Técnico de imagem do Corpo de Cadetes do Mar de Portugal, Mário Manso.
Termino este pequeno périplo com os
agradecimentos pelo apoio prestado à
Unidade dos Cadetes do Mar Fuzileiros,
por todas as Entidades envolvidas e especialmente ao Corpo de Fuzileiros à Escola
de Fuzileiros e à Associação de Fuzileiros.
José Gomes Talhadas
SMOR FZE (R)
Sócio Originário n.º 95 e membro do CV
21
crónicas
Crónica de um feito na Guiné,
pelo DFE 5
António Figueiredo
C
orria o ano de 1974 e estávamos
em Março. O meu Destacamento
de Fuzileiros Especiais N.º 5 estava
aquartelado em Cafine, a Sul da Guiné,
onde tínhamos rendido o DFE 12, sendo
eu, 2.º Sarg. H/FZE, o Enfermeiro do Destacamento.
Era consabido que, nesse tempo, na Guiné, a guerrilha estava bem apetrechada e
ajudada, no que concerne a armamento e
treino.
Efetivamente, o movimento de libertação
da Guiné/Cabo Verde (PAIGC) dispunha,
porventura, de armas mais adequadas à
guerra do que os soldados portugueses.
Detinha o melhor e mais moderno material, nomeadamente, armamento ligeiro
de infantaria, morteiros, lança-foguetes,
obuses de artilharia, armas antiaéreas,
incluindo mísseis e viaturas blindadas que
utilizou no início de 1974, no Sul da Guiné,
no ataque à guarnição do Exército, em Bedanda, e estava prestes a dispor de aviões,
contando já com os respetivos pilotos!
O nosso aquartelamento em Cafine, ladeado por arame farpado, tal como o quartel do Exército que distava poucos metros
dali (cujo pessoal ficava a tomar conta das
nossas instalações, quando o pessoal do
DFE 5 saía todo para o mato) bem como
os demais aquartelamentos a Sul, eram
constantemente flagelados, com morteiradas, pelos guerrilheiros do PAIGC, ao
ritmo de quase uma vez por semana. O IN
atacava de longe, com durações de cerca
de 30 a 60 minutos, com resposta sempre pronta, pela nossa parte e por parte
do pessoal da Companhia do Exército,
com quem convivíamos, frequentemente,
numa sã camaradagem.
O DFE 5 daí partia para as suas missões,
com patrulhamentos no rio Cubidjan e
seus canais, e também, em operações pelas matas da zona.
Em 31 de Março de 1974, foi violentamente atacado pelo PAIGC, durante todo o dia
e até às primeiras horas da noite, o quartel de Bedanda e a sua guarnição militar,
constituída por uma Companhia de Caçadores do Exército que ficava, também, a
Sul da Guiné, próximo de Cafine, “a uma
distância” de cerca de uma hora de bote
a motor.
O quartel de Bedanda era um dos maiores
22
do Sul, dispondo até de um OBUS (grande peça de artilharia pesada) e ocupava
uma zona estratégica que o inimigo queria
“apanhar”, pelo que era muitas vezes flagelado.
Certamente que para o PAIGC era o dia
“D” para “conquistar” Bedanda!
Com efeito, o quartel de Bedanda começou
a ser flagelado pela manhã, flagelação que
não cessou todo o dia, entrando pela noite, demonstrando que os guerrilheiros do
PAIGC com todo o seu potencial de guerra
tinham o firme propósito de, naquele dia
tomarem aquela Unidade do Exército.
Foi a guarnição, massacrada e desgastada todo o dia, com morteiradas, foguetões,
canhonadas, de tal forma que os levou a
pedirem a Bissau apoio aéreo e terrestre,
o que foi tardando, mas foram resistindo,
com os seus próprios meios, mostrando a
guarnição, um elevado espírito combativo
e a sua valentia, fedendo-se, com podia,
para evitar a perda de vidas e do quartel,
mantendo sempre resposta, com intenso
fogo.
A força aérea, só pelas 21 horas apareceu,
sobrevoando a zona suspeita, largando
bombas, não obstante as comunicações
do Comandante, durante o dia (que o DFE
5 ouvia) pedindo socorro imediato, porque
corriam o risco de terem de se “entregar”.
Mas nada! Quase sempre, naquela zona
era problemático o apoio da aviação! É
que, o PAIGC já dispunha dos mísseis terra-ar “Strella”, armas eficazes no ataque
aos aviões.
O DFE 5 esteve de prevenção, todo o dia, a
aguardar ordens de Bissau para ir em socorro de Bedanda, por sermos a unidade
de forças especiais, com maior proximidade ao local.
Era já noite e - após uma vivência, pelos
homens de exército, de todo o dia debaixo de intenso ataque e de terem respondido ao inimigo como foi possível, com
morteiradas, com o seu “Obus”, com as
suas armas ligeiras, mantendo algum sangue frio e intensa resposta de fogo – e os
guerrilheiros do PAIGC não conseguiram a
desejada aproximação ao quartel e a sua
tomada.
Porém, a grande surpresa estava para
ocorrer, já noite dentro, com o aproximar,
pela picada em direção à entrada Sul do
quartel de Bedanda, de umas pequenas
luzes: eram dois carros de combate do
PAIGC, viaturas blindadas, “BTR-152”, de
fabrico soviético e equipadas com autometralhadora!
Este acontecimento mais desmoralizou o
pessoal do Exército, perdido e frustrado,
após ter vivido um dia de intenso tiroteio,
com vários mortos e feridos, com muitas
palhotas dos nativos, a arder (as quais ficavam ao lado do quartel junto à entrada
de onde vinham os carros de combate) e
com parte das instalações do aquartelamento destruídas. Porque o inimigo não
desistia todos pensaram, ao verem os carros de combate, que era o seu fim, tanto
mais que não apareceram as ajudas que
ao longo do dia foram intensamente pedidas!
Essa tentativa de assalto ao aquartelamento de Bedanda realizado pelo PAIGC,
com aqueles blindados, quase que teve
sucesso, pois estes conseguiram chegar a
poucos metros do portal em arame e madeira que existia na entrada Sul do quartel,
com a agravante de a guarnição ter esgotado as granadas de bazuca essenciais
para os deter.
O DFE 5 também tardava a receber ordens
de Bissau para partir para lá, não obstante
tudo estar pronto, há muitas horas.
A salvação do quartel de Bedanda foi que
uma das viaturas blindadas do PAIGC, a
que vinha à frente, já muito próximo do dito
portal de entrada, a uns escassos 30 metros deste, tinha-se desviado do caminho
de terra batida por onde circulava e vinha
descendo (temendo talvez a existência de
minas) e entrou com as rodas de frente
num poço largo que existia ao lado desse
caminho ficando imobilizada. O inimigo
tentou salvar essa viatura, receando avançar só com a outra, para o que dispuseram
da cobertura do seu fogo à distância. Após
algum tempo lá conseguiram retirar o carro de combate do poço, com a ajuda da
outra viatura e, de seguida, recuaram com
os dois blindados, o que foi determinante
para desistência do assalto ao quartel, que
esteve prestes a realizar-se face à confusão instalada e a superioridade de fogo do
inimigo. Só foguetões caídos no quartel e
ao seu redor contaram-se cerca de cinquenta, instalando-se o desespero entre
O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
crónicas
os militares (com soldados e civis mortos
e feridos, palhotas dos indígenas a arder e
várias instalações destruídas)!
Porém, a sorte estava com a nossa gente.
Não era ainda o tal dia “D”!
Recolheram-se várias versões para o recuo inusitado dos carros de combate do
IN: problemas de reabastecimento; a hipótese de os guerrilheiros do PAIGC não
terem saído das viaturas dado o intenso
fogo de armas ligeiras da guarnição militar portuguesa; a eventual falta de preparação das guarnições dos blindados que
desistiram em razão das dificuldades surgidas. Enfim…
Por fim, já era meia-noite foi recebida a
mensagem no DFE 5 para se preparar
para ir em auxílio do quartel de Bedanda
e, pelas 2 horas e meia da manhã veio a
ordem expressa para a ida imediata.
Seguimos em botes de borracha tipo zebro III pelo rio fora, em direção a Bedanda;
passámos de fronte de uma povoação próxima de Cafine, de nome Cadique, que nos
ficava à direita ao subirmos pelo rio Cubidjan; e antes de Cufar, por onde também
passamos e, mais adiante, nas proximidades de Bedanda, a uma distância talvez
de mais ou menos 2 Km desta, desembarcamos pela nossa direita, na margem
esquerda do rio Cubidjan, do lado de Bedanda, tendo os nossos botes regressado
a Cafine, apenas com dois homens do DFE
5 em cada bote. Depois, em “coluna por
um” fomos progredindo no terreno, contornando as clareiras, sempre com muita
atenção não dando a menor “chance” ao
inimigo, sendo nossa intenção um envolvimento que possibilitasse surpreendê-los.
Porém, já não o vimos. Ainda ouvimos uns
tiros, mas muito longe de nós.
Ao fim de algumas horas de progressão lográmos entrar no quartel de Bedanda, em
segurança. Eram já sete horas da manhã.
Aí chegados, os soldados animaram-se,
choraram de alegria, dizendo: “ainda bem
que vieram porque nós já não aguentávamos mais se o inimigo continuasse. Teríamos que nos entregar”!
E diga-se de passagem (modéstia à parte)
que o pessoal do exército confiava plenamente nos Fuzileiros Especiais, que eram
forças prestigiadas, pela sua conhecida
valentia.
Eu, como enfermeiro do DFE 5, e os moços da botica (auxiliares de enfermagem)
fomos imediatamente para a enfermaria
de Bedanda para ajudar o Enfermeiro do
Exército, um Furriel Miliciano. Havia imensos feridos para tratar, uns a soro, outros
para pensos, outros com fraturas para
imobilizar. Outros ainda já mortos!
Alguns feridos tiveram de ser evacuados para Bissau, passando por Cufar que
possuía uma pista. Foram transportados
até Cufar por Lancha de Desembarque
Pequena. Esta LDP estava num canal do
rio, atracada num pontão, no fundo do caminho em terra batida, a cerca de 500 m
de Bedanda. A meio caminho passava-se
por palhotas de nativos, do lado oposto,
de onde tinham vindo os ditos carros de
combate.
Pelas 11 horas da manhã integrei o DFE
5 numa primeira patrulha de reconhecimento, ao redor do quartel de Bedanda, a
toda a mata, num raio de cerca de 6 Km,
procurando o inimigo e os vestígios por
ele deixados. Observámos os locais por
onde passaram os carros de combate, e
as trincheiras que foram construídas pelos
guerrilheiros, na mata, a menos de 1 Km
do quartel, para se defenderem do contra-ataque do Exército e de onde atacaram
com morteiradas e foguetões.
Encontrámos muitas ferramentas deixadas pelo IN nos abrigos (trincheiras)
fundos, de cerca de um metro e meio de
altura (picaretas, enxadas, etc., que trouxemos para o quartel).
Permanecemos em Bedanda cerca de 15
dias e, a partir daí fazíamos patrulhamentos tentando localizar o IN e eliminá-lo.
Num determinado dia alargámos no tempo
e no espaço o patrulhamento estendendo-se a acção pela noite dentro. Seguimos
os seus rastos até uma ponte que o PAIGC
reconstruiu e que muito antes tinha sido
destruída pelo Exército, segundo nos relataram no quartel. Para concluírem todo
este trabalho de reconstrução da ponte, o
PAIGC dispôs de semanas, sem ser detetado. Foi pela ponte que os guerrilheiros
do PAIGC circularam com viaturas e materiais e foi precisamente por essa ponte que
passaram os carros de combate, vindos do
país vizinho, a Guiné-Conacri que lhe dava
cobertura e apoio. Regressamos no final
da manhã do dia seguinte ao Quartel de
Bedanda.
Noutro patrulhamento, detectámos postos
de sentinelas do PAIGC, construídos em
madeira, em duas árvores, sobre os seus
ramos, a uma altura de sensivelmente 10
metros próximo do quartel de Bedanda,
talvez a 1 Km, de onde observavam, além
do mais, os movimentos do quartel.
Continuando a operação tivemos contacto com o inimigo que, de longe, próximo
de um rio, fez fogo a que respondemos,
perseguindo-o.
Eu, mesmo como enfermeiro, não era dispensado de ir em operação.
O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
Foram dias de muito sacrifício e sofrimento, com alimentação muito deficiente,
naquele quartel de Bedanda. As refeições
eram muito pobres, em frescos e carne ou
peixe.
Ao contrário, do nosso aquartelamento em
Cafine onde nada faltava!
Os nossos fuzileiros tiveram de protestar
passando nós a ser abastecidos pelo nosso Sargento Quartel Mestre que nos enviava frutas, frescos, peixe e carne de Bissau.
Lembro-me de uma vez comermos uma
grande sardinhada. Foi um regalo! Pequenas regalias a que se dava particular importância, face às difíceis circunstâncias!
Por vezes, em patrulhas nas matas de
Bedanda chegámos a beber água dos
charcos da bolanha, porque o cantil de
1 litro de água potável se esgotava e o
calor desesperava-nos!
Com a presença dos fuzileiros, ao fim
de quinze dias, em Bedanha estava tudo
tranquilo pelo que recebemos ordem de
regressar a Cafine.
Fizeram-se as despedidas amáveis e emocionadas dos Oficiais, Sargentos e Praças
do Exército que muito nos agradeceram.
No ambiente e na segurança que criámos
despontava já alguma saudade!
E partimos até Cafine para o nosso aquartelamento.
Mais uma missão cumprida.
Os Fuzileiros são assim
Sempre prontos p´ra atuar
Sem nunca baixar os braços
Para a frente e toca a andar.
“FUZILEIRO UMA VEZ, FUZILEIRO PARA
SEMPRE!”
António Figueiredo
Sócio Originário nº 2012
NOTA: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
23
crónicas
Relacionamento Inter-Armas
durante a Guerra no Ultramar
José Cardoso Moniz
A
narrativa que passo a apresentar, a título de exemplo,
julgo ter interesse para os nossos sócios, em especial os
mais novos, e para outros que não tenham vivido aquelas
“andanças”!
Trata-se de episódios soltos, entre dezenas ou centenas que diariamente ocorriam por terras de Angola. Nunca havia dois dias
iguais. As únicas rotinas que se mantinham eram a Alvorada às
6h00 e a Formatura Geral às 7h00, para todos, depois de tomado
o pequeno-almoço.
Lembro, a quem não passou pelo Leste de Angola que às 6h00
horas o Sol já ia alto. A formatura era para todos, oficiais, sargentos e praças, excepto para os que estavam de serviço.
Após a formatura, os que tinham serviços fixos seguiam para os
seus destinos, os outros eram distribuídos pelas actividades julgadas necessárias.
O DFE 10, no Chilombo, era apoiado por duas lanchas e dispunha
de dezenas de botes e motores. Estava integrado no Subsector
do Cazombo, fazendo parte da Zona Militar Leste, sob o comando
de um oficial general. O general estava na cidade do Luso e no
Cazombo estava um tenente-coronel ou coronel, a comandar o
subsector.
Feito o esquema das dependências, vamos aos factos que terão
algum interesse e são a imagem de como vivíamos aqueles tempos
“difíceis”. As aspas são propositadas porque em abono da verdade
verdadinha, nós todos, sem excepção, fazíamos uma vida muito
divertida, agradável mesmo, nos intervalos entre as operações.
24
Um belo dia, em meados de Dezembro de 1972, estava à frente
da Formatura, aparece-me um dos telegrafistas, esbaforido.
– Sr. Comandante desculpe, só agora acabámos de decifrar uma
msg (mensagem) que veio do Cazombo.
Respondi: – Obrigado, dá cá.
Ao ler a msg não me contive. Ali, à frente de toda a gente, desatei
às gargalhadas.
A msg “rezava”: “O Comte. do Subsector Militar do Cazombo
tem a honra de convidar Sexa Comte. da Defesa Fluvial do
Zambeze e seus afluentes, para um almoço, hoje, na sede deste
batalhão, por volta das 123h0 horas. A ementa, confeccionada
especialmente para o receber, incluirá as mais diversas iguarias
a saber: Entradas: “Espumas” geladas, destilados de cevada da
Escócia, etc. etc. Os acompanhamentos, além das tradicionais
ginguba e pevides, haverá enchidos das melhores proveniências;
Sopa: Canja de estrondo; Prato Principal: Arroz de estilhaços;
Sobremesas: Frutas daqui; Café: acompanhado por digestivos
das melhores destilarias. Informação adicional: Todas as
excelentes matérias-primas que deram origem a este manjar
foram fornecidas pela excelsa organização DMMTS. Só produtos
exclusivos, da mais alta qualidade. Traje: de passeio, multicores,
com predominância dos verdes e castanhos”.
Passo a decifrar para quem não entendeu: Espumas, são cervejas; Destilados, são whisky, gin, aguardentes, etc.; Canja de
Estrondo é sopa de feijão; Arroz de Estilhaços é uma espécie de
arroz à valenciana, com pedacinhos de carne, frango, chouriça,
O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
crónicas
era lá mais à frente. Fui pôr a berliet no local indicado e, de
regresso, pus no camuflado as passadeiras com os galões de
Capitão-tenente. Tinha sido promovido em Novembro. O tarata
quando me encarou deve ter-se borrado. Ficou lívido, perplexo,
com os olhos esbugalhados. Passei por ele sem lhe dizer nada,
só um sorriso.
O fulano foi ter com o Zé Armando Ribeiro, o Lagos, perguntando: “Quem é este gajo?” “É o nosso Comandante”, respondeu o
Zé Armando. “Então o teu Comandante é que conduz o rebenta-minas?” “Nos “Fuzileiros é assim”. “E agora? Se ele faz queixa
de mim!” O Zé Armando diz ter-lhe respondido: “Se ele tivesse
ficado aborrecido tinha-te dito, não precisava de fazer queixa”.
salchicha às rodelinhas, etc. A organização DMMTS era a Delegação da Manutenção Militar, em Teixeira de Sousa, onde todos
nos abastecíamos.
Perante tão “apetecível” repasto, pedi aos responsáveis pela nossa “LAVRA” (Cabo Rossa e Marinheiros Rodrigues e Machado, os
três transmontanos), para fazerem um caixote com bastantes pepinos, pimentos, couves, cenouras, tomates, alfaces, morangos,
etc. para oferecermos aos nossos simpáticos anfitriões.
A saída foi marcada para as 11h00 horas. Eram 80 Km de picadas
magníficas. O Sargento André preparou uma berliet e um unimog.
Pedi 15 voluntários, mais um telegrafista e um moço de botica.
Às onze saímos. As pontes sobre os cursos de água eram troncos
de árvore. Era necessária atenção para não cair nos ribeiros.
Eu conduzi a berliet que saiu à frente, nunca perdendo de vista o
unimog que nos seguia. Sempre com atenção ao piso, não estivesse mexido. Seria sinal de mina.
Às 12h00 horas estávamos a entrar na porta de armas do Batalhão, onde estava um plantão. Todos saltaram das viaturas, excepto os motoristas. O plantão fez sinal para avançarmos e nós,
condutores, avançamos para o parque de estacionamento.
Como sempre fazia, fui estacionar a berliet num parque perto da
porta de armas. Mal tinha desligado o motor, ouvi: “Olha lá oh
caramelo, estás a gozar comigo ou quê?” Olhei à roda, não havia
mais ninguém, o “caramelo” só podia ser eu! Logo respondi:
“Estou quê”? Gozar com o magala não estava nos meus planos.
O tarata não gostou da resposta e retorquiu: “Ouve lá, queres que
chame o nosso… (qualquer coisa)?” Respondi: “Podes chamar o
teu … (qualquer coisa). Meu não é de certeza, não o quero para
nada! Mas qual é o problema?” Respondeu que o estacionamento
Todos almoçámos muito bem. Passámos uma tarde magnífica,
com excelentes camaradas e amigos. Pelas 17h00/18h00 regressámos ao Chilombo sem problemas, a tempo de jantar.
Falta referir que o Comandante do Subsector do Cazombo era o
Tenente-coronel Bordadágua, natural da Covilhã. Um bom amigo
com quem passei momentos de excelente relacionamento e
amizade. Depois de regressarmos fazia escritório na “Taverna
Imperial”, nos Restauradores, onde as suas “sobrinhas” o
cobriam de atenções e gentilezas! São outras histórias. Ficam
para outra ocasião.
Como deduzirão, a vida no Chilombo era muito “difícil”. Mantenho
as aspas.
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José Cardoso Moniz
Sócio Originário n.º 36
Cofundador da AFZ
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crónicas
Os Pequenos Gestos dos
Grandes Homens
António Moreira Martins
O
Comandante Alpoim Calvão é certamente a referência maior
dos fuzileiros portugueses. Os seus feitos em combate,que
lhe valeram a atribuição das mais altas condecorações que
o País concede aos seus heróis – em que se destaca a Ordem
da Torre Espada do Valor Lealdade e Mérito – atestam bem as
suas qualidades de excepcional chefe militar.
Mas, o Comandante Alpoim Calvão não é apenas o homem de
grande coragem e invulgar vocação guerreira que fizeram dele
uma figura pública.
Dentro dele, existe um ser humano muito culto, dotado de grande
sensibilidade para as artes, apreciador e conhecedor de boa poesia e do canto lírico, que ainda pratica de vez em quando
Tive oportunidade de o conhecer de uma forma pouco usual, no
fim de uma manhã do mês de Novembro, do longínquo ano de
1967 quando, cadete da Reserva Naval, transitei da Escola Naval
para a Escola de Fuzileiros, juntamente com os restantes catorze
cadetes da mesma classe, para aí frequentarmos o exigente curso de Fuzileiros Especiais.
À chegada, depois de uma breve exposição sobre as actividades
da Escola e da formulação de simpáticos votos de boas-vindas
por um oficial da guarnição, fomos encaminhados para a messe
de oficiais, para o primeiro almoço na nova Casa.
Quando ainda algo surpreendidos pela honra de nos darem acesso ao convívio com os senhores oficiais, aguardávamos no bar
que o almoço começasse a ser servido, fui inesperadamente chamado ao Senhor Comandante da Escola.
Dirigí-me imediatamente ao seu gabinete, à porta do qual o seu
ordenança, um grumete corpulento, me disse que devia aguardar
um instante, para logo de seguida abrir a porta para eu entrar.
Depois de uns segundos de silêncio, que me pareceram uma
eternidade, o Senhor Comandante, levantou a Guia de Marcha
que estava pousada na secretária, destacou a tal notinha em anexo e rasgou-a em pedaços, que de seguida deixou cair no cesto
dos papéis. Fiquei perplexo!!!
Depois, olhando-me bem nos olhos, disse com voz grave mas
nada ameaçadora: “Aqui na Escola de Fuzileiros, há duas formaturas por dia, que são absolutamente obrigatórias. Uma é às oito
e vinte da manhã, e a outra ao meio dia e vinte. E aqui, senhor
cadete, nunca ninguém chega atrasado às formaturas”.
Frequentei o curso de Fuzileiro Especial, findo o qual parti para
a comissão em África. No regresso, fiquei na Escola mais um
ano e meio, primeiro como instrutor e depois como imediato da
3.ª Companhia.
Não me lembro de alguma vez ter chegado atrasado a qualquer
formatura!
No gabinete, sentado à secretária estava o Senhor Comandante,
um um homem alto e forte, com uma toalha turca azul em volta
da cintura. Depreendi que tinha chegado de uma sessão de treino
no ginásio.
Contei esta história ao Senhor Comandante Alpoim Calvão quando, depois de muitos anos sem o ver, ele teve a gentileza de me
ir cumprimentar em Bissau, creio que em 2004, quando eu ali
exercia funções de Embaixador Chefe da Delegação da Comissão
da União Europeia na Guiné.
A sua figura, que me pareceu imponente, correspondia à imagem
que eu tinha criado a partir do que a seu respeito tinha ouvido na
Escola Naval.
Ele já não se recordava, pois tinha passado muito tempo, mas
isso também não diminuiu a grande satisfação que senti por voltar a encontrá-lo.
Tendo eu ficado parado a alguma distância da sua secretária,
mandou-me avançar, depois de minuciosamente me ter inspeccionado da cabeça aos pés com o seu olhar firme e penetrante.
Conto-a hoje, de novo, para a nossa Revista, para descrever as
circunstâncias pouco vulgares em que pela primeira vez vi o Comandante Alpoim Calvão mas, sobretudo, para exemplificar como
os pequenos gestos também definem os grandes homens.
Depois, falou:
“Apenso à Guia de Marcha dos senhores cadetes que chegaram
esta manhã da Escola Naval, vem uma notinha a dizer que o senhor cadete tem dois fins de semana para cumprir. Mandei-o
chamar, para que me explique porquê, qual é o motivo?”
Como de repente, a garganta se tinha secado, apenas consegui
explicar com voz um pouco sumida, que certamente seria por ter
chegado atrasado a algumas formaturas.
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António A. Moreira Martins
Sócio Originário n.º 1621
António Avelino Moreira Martins pertenceu à classe de Fuzileiros do 11.º CFORN.
Ingressou na Escola Naval em 19.02.68 e foi promovido a Aspirante em 26.09.68. Foi
integrado na Companhia de Fuzileiros n.º 5, Angola 1968/70. Em 5.11.70 regressou à
Escola de Fuzileiros.
O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
crónicas
Crónicas de Outros Tempos
Marques Pinto
P
eço vénia para citar um pequeno extrato que eu próprio escrevi, no número 12 da nossa revista já que servirá para um melhor enquadramento do
episódio que ora se dá à estampa:
«Na nossa “O Desembarque” n.º 12, de
Outubro de 2011 (páginas 16, 17, 18, 19 e
20) tentei explicar as razões porque decidi dar à estampa as minhas “Crónicas de
Outros Tempos” partilhando o que constituiu, creio, uma experiência única qual
seja a de ter a dita ou a desdita – acredito
que tenha sido um privilégio já que “nada
se perde, tudo se soma” às rodas das nossas vidas – de ter coordenado uma Ponte
Aérea que terá constituído das maiores,
senão a maior do Mundo, das operações
de evacuação de civis, exclusivamente por
via aérea, num percurso de cerca de 7.000
quilómetros, em cenário de pré catástrofe
e sem outros meios que não fossem aviões nacionais e de outos cedidos por países amigos e em regime de “ponte aérea”,
isto é, de actividade não comercial».
Na edição n.º 13 de “O Desembarque dizia
eu – páginas 17, 18 e 19: «Estes episódios
que se publicarão, nos sucessivos números de “O Desembarque” terão carizes
dramáticos uns, e outros mesmo trágico-cómicos».
Porque de episódios de uma “estória” complexa e mal conhecida se trata, para uma
aproximada compreensão poderá ser útil a
consulta das “Crónicas de Outros Tempos”
publicadas nas anteriores edições.
Aqui fica, pois, a história de uma Mulher –
Uma Mulher das Arábias.
Ponte Aérea
Nova Lisboa (Huambo) – Lisboa
Uma Mulher das Arábias
Na impossibilidade de se evacuarem por
terra os milhares de desalojados já então
legalmente caracterizados por “retornados” - em razão dos confrontos armados
entre os movimentos ditos de libertação,
Nova Lisboa (Huambo) viu-se, de um momento para o outro, “cercada” por tais
confrontos, num raio de cerca de 80/100
quilómetros - estabeleceu-se uma Ponte
Aérea directa a Lisboa, por onde se “drenaram” mais de cinquenta mil refugiados.
A Comissão de Desalojados, promovida
pelo então Governo Português/Alto-Comissário de Angola e, de início, supervisionada por o hoje General Gonçalves Ribeiro,
cuja coordenação me veio parar às mãos
por razões meramente circunstanciais,
constituiu-se, como é óbvio, exclusivamente por civis voluntários já que, com o
poder na rua e com as estruturas administrativas a paralisarem, dia após dia, apenas restavam os militares, também cada
dia mais fragilizados que, por razões ditas
político-militares, não pretendiam assumir
tal responsabilidade.
Já não sei bem porquê, apareceu a colaborar com a Comissão (que atingiu um volume de cerca de 200 voluntários) a Maria
Teresa.
Revejo-a e à família.
Três filhos, em escadinha: o Nuno, a Paula
e a Solange creio que entre os cinco/sete
e os 13 anos. Naturalmente, também, um
Marido.
Conheci esta pequena Grande Mulher em
Julho de 1975, em Angola, Huambo (ex-Nova Lisboa) na fase em que se desenhou a Ponte Aérea Nova Lisboa/Lisboa
cuja Comissão de Voluntários tive a dita,
“porque tudo se soma, nada se perde”, de
coordenar.
Apenas para relevar o perfil da Senhora
que ora retrato é preciso que se diga que a
então Nova Lisboa (hoje Huambo – Angola)
considerada a cidade da “paz”, com cerca
de setenta mil habitantes teve de albergar
mais outros tantos – ninguém sabe muito bem quantos – de todas as cores, que
vinham fugindo da autêntica balcanização
de Angola, sobretudo, na faixa a norte do
rio Cuanza.
O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
Dos Filhos a que deu origem sei pouco.
Mas vale a pena dizer que o varão é Oficial
da Marinha de Guerra Portuguesa e já –
como o tempo leva o tempo, meu Deus!
– Oficial Superior!
Como se poderá imaginar tenho escritas
algumas páginas da “estória” da minha
vida que incluem também alguns dos
meus heróis.
De entre estes repesquei a heroína que
aqui hoje homenageio. E é com algumas
dessas páginas, apenas alteradas no que
o senso me aconselha que pretendo que
conheçamos um excepcional perfil de Mulher e de Cidadã.
Páginas que o Tempo não levará…
A Comissão de Repatriamento da Comissão Nacional de Apoio aos Desalojados
(CNAD) chegou a integrar cerca de 200
colaboradores voluntários.
Porém – e porque muitos se ofereciam
apenas para conhecer os meandros que
lhes permitissem fugir – acabou por reunir
cerca de dúzia e meia de “pedras-chaves”, o núcleo duro da Comissão, constituído por gente altruísta que fez ponto de
honra em permanecer até ao fim ao lado
do Coordenador.
Um dos elementos considerados imprescindíveis era a Secretária.
Mulher de trinta e cinco anos, pequena,
mais bonita do que feia, olhos expressivos, intensos, com uma cara fresca, vistosa e, sobretudo, determinada e… eficaz.
Casada, era o protótipo da mulher matriarca. O marido, homem bom, não era colaborador da Ponte Aérea, continuando com
todo o idealismo, a tentar dar continuidade
a uma empresa já moribunda e sem qualquer viabilidade.
A Maria Teresa era bancária. Só que o seu
Banco já tinha fechado as portas.
Ofereceu-se voluntariamente para a Comissão de Repatriamento e exercia, simultaneamente, duas funções: coordenava a
área de triagem final dos “desembaraços”
e secretariava o Coordenador, com quem
havia feito um pacto de honra: só abandonaria Angola quando o Coordenador o
fizesse.
27
crónicas
É óbvio que se havia programado um voo
destinado a assegurar que, aquela dúzia e
meia de voluntários da CNAD e o pessoal
da Cruz Vermelha tinham os seus lugares
garantidos no último avião – ficasse quem
ficasse... Era legítimo e o mínimo que se
podia garantir a todos quantos não abandonassem a Comissão (optando por fugir,
nem que fosse no “cockpit” de um qualquer avião português ou de país amigo)
quando vissem os seus problemas resolvidos ou quando fossem já incapazes de
controlar o medo.
Uma Mulher das Arábias, sobretudo em
discurso directo:
A Maria Teresa girava com à vontade,
entre a cidade e o aeroporto, “deitava a
mão” a todos os problemas com que deparava e ganhou, por si mesma, estatuto
de respeito, nomeadamente, perante o
Coordenador que nela depositava incondicional confiança.
Em finais de Setembro já o ambiente na
cidade estava muito degradado e com o
poder literalmente na rua.
A família vinha há uns dias pressionando
a Maria Teresa a embarcar para Portugal
com o argumento de que ela já havia cumprido a sua obrigação e de que não era razoável sujeitar os miúdos àquela pressão e
a eventuais riscos de vida.
O Coordenador sentia também a pressão
familiar junto da Secretária e já lhe havia
dito claramente:
– Maria Teresa, não pretendo que por razões de honra e fidelidade funcional degrade, eventualmente, relações familiares.
Quando entender que chegou o momento
de partir, só lhe agradeço que me avise
com o mínimo de antecedência.
absurdo! Vá-se embora, porque é legítimo
que o faça e tem esse direito mas não me
dê esperança de regresso.
Olhou-me de frente com laivos de raiva
e de comoção – era esta a sua fibra – e,
com as lágrimas a bailarem-lhe nos olhos
ripostou, com dignidade e alguma dureza:
– Não lhe admito, Chefe, que duvide de
mim. O marido e os miúdos estão ali fora e
querem despedir-se de si.
Mandei-os entrar, dei um beijo aos miúdos
e um abraço ao marido, dei também um
beijo à Teresa e disse:
– Boa viagem e até breve. Lá nos encontraremos, se a Providência deixar. Mas,
não deixem a Maria Teresa regressar.
O avião manobra, imobiliza-se, o pessoal
de terra encosta-lhe a escada, eu aproximo-me (pronto a receber a confirmação
de que os géneros e, sobretudo, o leite
vinham) abre-se a porta e, de imediato, lá
em cima vejo a silhueta da Maria Teresa!!!
Ela desce as escadas, no seu habitual
passo apressado, pisando com ar seguro
e desenvolto para, junto de mim, com postura de desafio, dizer:
– Então, Chefe? Era eu que já não voltava?
Como vê, aqui estou. Inteirinha.
O marido sempre disse:
Emocionei-me, abracei-a e não contive o
que me saiu pela boca fora:
– Sei lá, Doutor a tipa é maluca! Já sabe
como ela é!...
– Mulher das Arábias. Se fosse um homem
tinha de lhe dizer que os tinha no sítio.
Acompanhei-os ao aeroporto e à placa,
subi as escadas do avião (já que foram os
últimos a entrar) permaneci à porta junto
do Comandante enquanto se instalavam e,
dada luz verde para que o avião partisse,
ainda ouvi alguém dizer-me:
Deslocámo-nos para o hangar em passo
estugado – esperavam-nos montes de
problemas – com o meu braço por cima
dos seus ombros.
– São mais uns que se vão, não é, Doutor?
– É verdade!
Acenei-lhes com a mão e desci as escadas
com a certeza absoluta de que acabava de
ficar sem o meu braço direito.
Passadas 48 horas aponta um avião à pista, em ocultação de luzes (já aterravam em
Nova Lisboa 12 aviões por, ou por noite,
um de hora a hora, sempre com ocultação
de luzes não fosse o diabo tecê-las…) e eu
aguardo na placa a manobra do aparelho
que, de acordo com o seu “order-move”
deveria trazer de Portugal vários géneros
alimentares e leites para as crianças.
Ela, a minha pequena grande Secretária
merecia a ternura do Chefe.
E a sua Grande Admiração.
É sobre esta Grande Senhora, que já não
está entre nós, que eu me devo inclinar.
Marques Pinto
Sócio Originário n.º 221
Nota: Escrevi crónica semelhante para a Revista da AORN,
porque mo pediram, em Agosto de 2011 quando do falecimento da Maria Teresa. Não tiveram a gentileza de a publicar. Não havia espaço. Figura no Site daquela Associação.
Resposta da Maria Teresa:
– Já não lhe disse, Chefe, (era este o tratamento carinhoso com que me honrava)
que vou consigo no avião onde formos todos? Está dito e é para cumprir.
Passados uns dias, a Maria Teresa procurou-me no meu gabinete e, de rompante,
disparou:
– Chefe: vou hoje, no 2.º avião a Portugal
levar família. Vou deixar os miúdos, em
Tomar, com os meus sogros e depois de
amanhã estou de volta.
Encarei-a com um misto de admiração e
descrédito e disse-lhe:
– Maria Teresa, não precisa de me dar
qualquer explicação. É justo que se vá embora. Agora tentar convencer-me de que
vai a Portugal, “depositar” o marido e os
filhos e que, uma vez em Tomar, a família
permite o seu regresso – é um completo
28
O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
delegações
Delegação do Algarve
Duas das suas Intervenções e Iniciativas
I - FATACIL 2012
espetáculos de música portuguesa de elevada qualidade, exposições, arte equestre,
gastronomia regional, bem como varadíssimas valências regionais.
D
ecorreu entre os dias 17 e 26 de
Agosto a FATACIL 2012, para a
qual a Delegação da Associação
de Fuzileiros do Algarve foi convidada, a
participar com um pavilhão/expositor, pela
Câmara Municipal de Albufeira:
Esta Feira, que é extremamente participada, para além da degustação de todo
o tipo de produtos regionais, apresenta
À semelhança do ano anterior a Delegação
da Associação de Fuzileiros (DFZA) esteve
presente dignificando a própria Delegação
mas também a nossa Associação Nacional
e a Marinha de maneira muito significativa tendo sido muito elogida. Pela Feira
passaram cerca de 35.000 visitantes entre
os quais muitos marinheiros onde os Fuzileiros se destacavam na abordagem que
faziam ao nosso pavilhão.
Pela presença que tivemos e pelo que nos
foi dado observar, fica-nos a convicção do
“DEVER CUMPRIDO” e a certeza de que
a Marinha e os seus Fuzileiros irão ser recordados para o evento que será a FATACIL/2013.
Havemos de voltar!
Foram aqui vividas muitas horas de saudades dos tempos idos e da camaradagem
na vivência náutica e recordados muitos
episódios que se encontravam no fundo
do baú. Para além dos materiais expostos,
foram distribuídos muitos documentos de
divulgação da Marinha, da Associação de
Fuzileiros e da sua Delegação do Algarve.
II - Descida do Rio Arade
C
onforme projetado no Plano de Atividades, realizou-se no passado dia 23
de Setembro a descida do Rio Arade
desde Silves até Portimão, em embarcações a remos.
Chegados, sãos e salvos e atingido o objetivo final que eram as instalações de apoio
naval (PAN) em Portimão, realizou-se aí
um “golpe de mão” seguido de assalto
onde um fausto almoço nos esperava.
De Silves, pelas 8h30, saíram 138 participantes que pela sua grande ansiedade
quase se esqueciam da disciplina que é
apanágio dos Fuzileiros cujo silêncio foi difícil de controlar. Isto é: quase se instalou
o granel generalizado. Porém intervenção
do Presidente da Direção da Delegação
acalmou as hostes mas, se não fora esta,
ainda lá haveria gente para embarcar…
Como bolo de honra, tivemos o prazer de
ser recebidos em visita ao Navio Escola
Sagres que se encontrava na muralha das
instalações atrás indicadas.
Controlada a situação de embarque “organizado” e após breve briefing operacional,
deu-se início às primeiras remadelas, havendo tripulações que muito cedo iniciaram o reabastecimento de víveres e, como
bons marujos, de bebíveis.
Dos apoios obtidos, é com justeza que
pretendemos realçar a cedência das
instalações do PAN por parte do Comando
da Zona Marítima do Sul, bem como do
apoio de pessoal da Capitania do Porto
de Portimão e em especial à guarnição do
NRP Sagres pela simpática maneira como
fomos recebidos.
Nos apoios materiais, tivemos a cedência
pela Escola de Fuzileiros de sete botes
Zebros, três botes pneumáticos pelo Clube
Naval de Portimão, para além das diversas
embarcações pessoais intervenientes e de
apoio.
Ao almoço/convívio tivemos o prazer de
ter como convidados representantes do
Comando da Zona Marítima do Sul, da Capitania de Portimão e o Vice-Presidente da
Direção Nacional da Associação de Fuzileiros, Dr. Marques Pinto, cujas presenças
muito nos honraram.
Não fora a intempérie que se abateu
sobre este passeio lúdico e teria sido
ele de agradabilidade total, mas mesmo
assim não deixou de pôr à prova todas as
capacidades de organização e espírito de
entreajuda de todos os participantes.
O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
29
delegações
Da realização destes
dois eventos, extraordinariamente distintos,
fica-nos a certeza de
estarmos mais fortes
do ponto de vista organizativo e do nosso
espírito de unidade e,
necessariamente, mais
preparados para o futuro.
Delegação de Juromenha/Elvas
Participação na Expo São Mateus em Elvas
A decoração do espaço de exposição que incluía, em boa parte,
fotos actuais e antigas, promovendo o dia do Fuzileiro foi particularmente apreciada e elogiada.
Foi conferida bênção aos Guiões Nacional e das Delegações do
Algarve, Juromenha/Elvas e de Vila Nova de Gaia que se fizeram
representar no seu tradicional apoio solidário. Uma vez mais o
espírito e o nome dos FUZILEIROS foram engrandecidos, desta
vez em pleno Alentejo.
N
o passado dia 20 de Setembro a Delegação da Associação
de Fuzileiros de Juromenha/Elvas participou, uma vez mais,
na Procissão dos Pendões, integrada nas festividades em
honra do Senhor Jesus da Piedade, em Elvas.
A Delegação da Associação de Fuzileiros de Juromenha/Elvas tem
a sua sede no Concelho do Alandroal, Freguesia de Juromenha,
num espaço cedido pela Autarquia, constituindo um agradável
espaço, de quatro divisões, já reconstruído equipado e decorado
pela Delegação, onde há anos funcionou o Posto da antiga Guarda
Fiscal. A sede da Delegação já pode oferecer, a todos ao fuzileiros, um magnífico bar, ponto de encontro para matar saudades
e mitigar nostalgias, que é de todos e para todos, pelo que se
convocam os FUZOS para uma visita.
A Delegação também marcou presença
com um “stand” na área de exposições
da Expo São Mateus, no período de 20 a
30 de Setembro. De referir que “stand”
dos fuzileiros teve uma enorme afluência,
sobretudo de antigos e de actuais camaradas como, também, de público em geral.
30
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delegações
Delegação de Vila Nova de Gaia
Representações, Actividades e Uma Boa Notícia
A
Delegação da Associação de Fuzileiros de Vila Nova de Gaia
vem desenvolvendo grande actividade, estando sempre disponível para representar a Associação Nacional em cerimónias e eventos para que a Direcção Nacional é convidada, de que
é exemplo mais marcante o aniversário da APVG – Associação
Portuguesa de Veteranos de Guerra, em Braga, comemorado com
um almoço/convívio, antecedido de missa, onde estiveram representadas as Associações de Combatentes e seus familiares e em
que a Direcção Nacional foi representada pelo Vice-Presidente
da Delegação, Augusto Teixeira que, como sempre, honrou com
enorme orgulho a nossa Associação e os Fuzileiros.
Para além das suas actividades diárias – e são muitas – a Delegação de V.N. de Gaia realizou nas suas instalações a sua “Sardinhada Anual” que juntou muitas dezenas de fuzileiros, famílias
e amigos desenvolvendo, durante a tarde,
concursos de jogos tradicionais, v. g. a
malha, o “raio-la”, e a moedinha, para não
se falar nas renhidas partidas de sueca.
Passou-se um dia excelente e muito saudável que podemos apelidar de “Um dia
em Família”.
Ao longo do ano, a actividade da Delegação de fuzileiros de Gaia foi notável sendo
que a nossa gente é muito mais de fazer
do que de dizer. Os convívios e as sessões lúdicas e culturais foram frequentes
e reveladores do espírito de unidade, de
amizade e de camaradagem que a todos
nos envolve e que contagia não só fuzileiros mas camaradas e familiares de outras
classes de marinha onde se incluem os
conhecidos mergulhadores da Armada.
E para terminar uma boa notícia: é quase
certo que a Delegação da Associação de
Fuzileiros de Gaia obteve, por cortesia da
respectiva Câmara Municipal, instalações
com cerca de 80 metros quadrados de
área.
O próximo Almoço de Natal, no dia 1.º de
Dezembro, comemora também o nosso
2.º Aniversário. Estamos convencidos
de que será acontecimento relevante
que obviamente será notícia no próximo
“O Desembarque”.
Cremos pois que, em 2013, se encetará
uma nova e promissora fase para a
Delegação de Vila Nova de Gaia e para os
fuzileiros do Norte.
Henrique Mendes
Sóc. Orig. n.º1089
Presidente da Delegação de Gaia
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corpo de fuzileiros
Cursos IPG 04 – Team Building ao BPI
Dr. Luís Duarte
(Formando)
N
o decorrer do ano escolar 20112012, tiveram lugar na Escola de
Fuzileiros quatro ações de formação
de Liderança, no âmbito do protocolo1
existente, entre a Marinha e o BPI Banco
Português de Investimento. Estas ações
inseridas no módulo IPG 04 – Estágio em
Team Building (por terem uma carga formativa prática muito acentuada), foram
ministrados pelo DFCO – Departamento
de Formação em Comportamento Organizacional, em 24 e 25 de setembro e
22 e 23 de outubro de 2011, 24 e 25 de
março e 2 e 3 de junho de 2012, respetivamente.
As atividades, que contaram com a participação de 140 quadros (intermédios e
superiores) do banco, de diversas zonas
do país e áreas funcionais do BPI, tiveram
como objetivo habilitar os participantes
com técnicas e comportamentos no âmbito do Team Building, identificadas como
fundamentais no quadro das necessidades do contexto de trabalho atual, nomeadamente para otimização dos recursos
humanos nas empresas e entidades.
1
Da avaliação dos cursos efetuado pelos
participantes, importa realçar a opinião
generalizada de que o estágio conferiu,
de forma muito eficaz e eficiente, ferramentas que habilitaram os colaboradores
a liderar e organizar o trabalho de equipa,
mas foi, sobretudo, uma atividade que irá
ter impacto no trabalho interdepartamental do banco, pois facilitou o conhecimento
mútuo entre os diversos colaboradores,
fortalecendo a entidade grupal.
Deste facto destaca-se o texto que a seguir se reproduz:
“A ideia nasceu informalmente, em Maio,
quando assumi funções na Direcção de
Área de Almada e por ocasião de uma
reunião de trabalho em que fiquei a
conhecer melhor o alcance do Protocolo
celebrado entre o Banco BPI e a Marinha
Portuguesa, nomeadamente no âmbito
da celebração dos 50 Anos da Escola de
Fuzileiros.
Detectada a oportunidade, perspectivei
desde logo o interesse que uma acção de
formação em Liderança e Team Building
promovida por um dos mais prestigiados
e afamados “braços” das Forças Armadas
portuguesas por certo teria para as Equipas comerciais do Banco, tão sujeitas a
tantos e tão grandes desafios no seu dia-a-dia.
«Deus quer, o Homem sonha e a obra nasce» e assim nos apresentámos às primeiras horas do dia 24 de Setembro à Porta
de Armas, com uma enorme expectativa
e algum receio (será que estaremos à altura de tamanho desafio? será que estarei
à altura do que quer que me peçam para
fazer?!...).
Reunimos neste primeiro grupo de
“recrutas” cerca de 40 elementos, entre
quadros directivos e Gerentes de diversos
Balcões da Região Sul, representando as
respectivas áreas geográficas (Almada,
Barreiro, Setúbal, Alentejo e Algarve),
gente habituada a estar sob grande
pressão, com objectivos para cumprir
todos os dias pelas Equipas que lideram.
Não havia por isso que ter quaisquer
receios…
Celebrado em 10 de dezembro de 2010
32
O DESEMBARQUE • n.º 14 • Novembro de 2012 • www.associacaodefuzileiros.pt
corpo de fuzileiros
Vencê-los passa pelo desenvolvimento
contínuo das aptidões de liderança, pelo
sentido de grupo, pela coragem, perseverança e espírito de sacrifício que conseguimos incutir nos respectivos elementos,
mas passa também pela determinação
colectiva de alcançar o Sucesso enquanto concretização do superior objectivo da
Equipa.
Desempenhando funções de liderança
desde 1997, primeiro como Gerente e,
desde 2002, como Director de Área,
tive oportunidade ao longo dos anos de
frequentar inúmeras acções de formação
visando precisamente os temas da
Liderança e Motivação. Muito tenho
por isso aprendido, não apenas graças
à formação, mas também graças à
experiência proporcionada pelas diversas
Equipas que já liderei e pelas dinâmicas
que em cada uma delas se gerou. As
expectativas que tinha em relação à acção
eram por isso muito grandes quanto à
forma, mas relativamente mais modestas
quanto ao conteúdo…
Não obstante, após a distribuição do fardamento e já devidamente “equipados”
para os trabalhos que se seguiriam, o
meu primeiro destaque vai para o briefing
inicial, em sala, e para a apresentação
sobre “Liderança” efectuada pelo Senhor
Comandante Lourenço Afonso, responsável pelo Departamento de Formação em
Comportamento Organizacional da Marinha. Seria possível que ao nível das Forças
Armadas, nomeadamente na Marinha, os
militares pudessem fazer uma abordagem
ao tema tão próxima daquela a que estava
habituado e, ao mesmo tempo, apresentarem o tema de uma forma tão pragmática
e tão apelativa?!...
Formadas as Equipas e conhecido o modo
como a acção se iria desenrolar, com rotação do elemento chamado a desempenhar
o papel de Líder em cada exercício, seguimos os Monitores Sargento-mor Pereira,
Sargento-ajudante Beja, Primeiro-sargento Caldeira e Primeiro-sargento Amândio,
e partimos para o terreno com a ansiedade
em crescendo, seguindo os … “É agora!”
Os primeiros exercícios foram marcantes.
Fez-me muita confusão porque é que se
estava a dar tanto enfoque ao planeamento de acções cujos objectivos pareciam
tão simples de alcançar, mas a verdade é
que rapidamente percebi (percebemos todos) que, independentemente do desafio,
a melhor forma de o conseguir superar é
mesmo através de um planeamento adequado, muito bem definido, envolvendo
todos os elementos da Equipa, sem equívocos nem improvisos.
E à medida que o dia avançava e as provas se sucediam, foi ficando cada vez
mais clara a proximidade entre aquela experiência e o meu dia-a-dia: desafios que
se sucedem uns aos outros, objectivos
que têm que ser cumpridos, escassez do
tempo, tarefas que nem sempre têm uma
complexidade especial, por vezes até são
repetitivas, mas que dependem sempre
do envolvimento dos vários elementos das
minhas Equipas, e finalmente, os resultados alcançados e a avaliação que é feita a
esses resultados.
Devo confessar que as minhas expectativas iniciais foram claramente superadas.
Para além da forma (e neste particular, de
salientar a atenção, a disponibilidade e a
pedagogia dos Monitores, sempre atentos
aos detalhes e objectivos nas suas avaliações), também ao nível dos conteúdos
relacionados com a temática da Liderança
pude apreender a importância da estratégia e do planeamento para o sucesso das
tarefas que desempenho no meu dia-a-dia. O tempo, porque escasso, é um dos
nossos principais adversários; mas querer
fazer bem e depressa é outro e talvez até
seja o maior de todos eles!
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Após a realização da prova de orientação
nocturna na Mata da Machada – Prova Noturna de Liderança, regressámos à Messe
(para onde, curiosamente, todos aprendemos rapidamente o caminho!) onde o
Sargento-mor Pereira e respectiva equipa
nos presentearam com uma reconfortante
ceia. Encerrámos a jornada de Sábado já
pela madrugada de Domingo recolhendo
às camaratas do Batalhão de Instrução
para um curto, mas merecido descanso!
Não foi por isso de estranhar que pelas
7H00 de Domingo já estivéssemos todos
a banhos, na Piscina, onde decorreram
as últimas actividades “lectivas” pondo à
prova as derradeiras capacidades de resistência dos “recrutas”!
A eficácia e a utilidade deste programa de
formação foram muito relevantes para as
funções que desempenho, na medida em
que ficou comprovado, na prática, que a
concretização de um objectivo se consegue com os recursos que estiverem disponíveis dependendo da forma como se
envolvem todos os elementos da Equipa,
como se planeia a acção, como se comunica e como se acompanha a execução do
plano.
Foi por isso com um sentimento de dever
cumprido, mas também de grande satisfação e realização pessoal que, à saída, ao
passar pela Porta de Armas, não escondo
que me senti orgulhosamente “fuzileiro”!
Luís Duarte
NOTA: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
FUZOS/88
As Escolas de 88 vão celebrar 25 anos de
incorporação em 2013.
Estamos a organizar o seu encontro anual que terá lugar no próximo dia 23 de
Fevereiro 2013 na Escola de Fuzileiros.
Os pormenores do encontro serão divulgados nos Sites:
www.fuzos-88.no.comunidades.net.
e/ou
www.associacaofuzileiros.pt
33
corpo de fuzileiros
Treino de Liderança Funcional
ao ISCTE
NOTA: Este texto foi escrito
segundo o novo acordo
ortográfico
Pista de Liderança
Duas delas corresponderam ao MSc.BA – Master in Business
Admnistration – Mestrado Internacional – e ocorreram em 26/27
de novembro de 2011 e 05/06 de maio de 2012, tendo sido integralmente ministradas em Inglês.
Nelas estiveram envolvidos sessenta e dois formandos de diferentes nacionalidades.
Prova Noturna de Liderança
N
o decorrer do ano escolar 2011-2012 a Escola de Fuzileiros
ministrou três ações de formação de Liderança Funcional
ao ISCTE – Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da
Empresa, no âmbito do protocolo1 existente, entre esta instituição
universitária e a Marinha.
Estas ações tiveram uma carga formativa exclusivamente prática
e foram ministradas pelo DFCO – Departamento de Formação em
Comportamento Organizacional. Destacam-se as Tarefas Práticas
de Liderança, Provas de Planeamento e uma Prova Noturna de
Liderança.
1
Já a terceira ação inserida no módulo Liderança e Motivação do
EMBA 2011/2012 decorreu em 26/27de maio de 2012, para quarenta e dois formandos.
Da avaliação dos cursos efetuada pelos participantes, importa
realçar a opinião generalizada de que as ações conferiram, de
forma muito eficaz e eficiente, ferramentas que habilitaram os
formandos a liderar e organizar o trabalho de equipa, valorizando
as dimensões de liderança, de adaptação à mudança, de inovação e capacidade empreendedora, cada vez mais decisivas num
mundo global e competitivo.
26 de setembro de 2005
Prova Noturna de Liderança
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corpo de fuzileiros
Abate e reflorestação
do parque arbóreo
da Escola de Fuzileiros
NOTA: Este texto foi escrito segundo o novo acordo ortográfico
C
om a colaboração da Câmara Municipal do Barreiro, através
do Vereador do Ambiente e responsável pela futura Reserva
Natural Local do Sapal do Rio Coina e Mata Nacional da
Machada, Engenheiro Nuno Miguel Banza, com o consequente
aconselhamento dos Engenheiros Nuno Cabrita e António
Pinheiro, do Centro de Educação Ambiental da Mata da Machada,
e supervisão e acompanhamento permanente deste último, foi
dado início ao desbaste de árvores que proliferavam na Escola
de Fuzileiros.
As espécies abatidas foram o Pinnus Pinea (Pinheiro Manso), o
Pinnus Pinaster (Pinheiro Bravo), e o Eucalyptus Alba (Eucalipto
Branco).
Estas espécies, por durante muitos anos não terem sido alvo
de desbaste, representavam uma carga de combustível muito
elevada, pondo em causa a segurança das instalações por risco de
incêndio. Existiam, ainda, muitos espécimenes que apresentavam
problemas sanitários, nomeadamente pragas (Processionária e
Nemátodo) e também problemas ao nível de Necroses internas.
O trabalho de desbaste que foi efetuado, para além de salvaguardar as situações atrás descritas, pretendeu respeitar compassos
entre árvores, que permitam a entrada de máquinas, de forma a
fazer as operações de limpeza do solo necessárias.
Por outro lado, existiam sobreiros de várias idades que estavam
a ser impedidos de ter o seu desenvolvimento normal, devido à
competição de árvores de maior porte, mas cuja longevidade é
muito reduzida.
Assim, optou-se por deixar desenvolver a espécie Querqus Suber
(Sobreiro) que, para além de ser uma espécie longeva, é uma
espécie interessante do ponto de vista económico e patrimonial.
Estão previstas ações de reflorestação em que se privilegiará a
espécie Querqus Suber, devendo essa ação ter início no mês de
Outubro do corrente ano.
Para atingir esse desiderato, serão adquiridas cerca de 2.000
plantas de Sobreiro, a serem plantadas com o envolvimento da
guarnição da Escola de Fuzileiros, dentro do espírito “um Fuzileiro, uma vida, uma árvore”.
Colaboração: Engenheiro António Pinheiro, Centro de Educação Ambiental da Mata da Machada
A VOSSA ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS VIVE DAS VOSSAS QUOTAS
Prezados Camaradas:
Pela estima que temos por todos os Sócios, Fuzileiros ou não, aqui estamos de novo, a dizer-vos quanto é importante, a Vossa participação.
Todos somos herdeiros de um património de que nos orgulhamos. Mas, para que tenhamos condições de levar em frente a tarefa a que
nos propusemos é determinante podermos contar com a quotização de todos nós, desta grande Família que, à volta da sua Associação
se vai juntando.
Temos a consciência de que o atraso no pagamento de quotas podem ter várias leituras, quiçá “razões” diversas, algumas das quais
evidentemente ponderosas. Porém, para todas elas haverá uma solução desde que, em conjunto, nos dispusemos a resolver o problema.
Esperamos pela vontade e disponibilidade desta família de Fuzileiros no sentido de ultrapassarmos esta dificuldade já que as portas da
Associação e dos membros da sua Direcção estão permanentemente franqueadas.
Pensamos que uma das razões, de menor importância, porque alguns sócios têm as suas quotas em atraso será por puro esquecimento.
Para obstar a isto aconselhamos e incentivamos a que optem pelo débito, em conta bancária, de 6 em 6 ou de 12 em 12 meses.
Já pensaram que o valor de um ano de quotas representa apenas cerca de quatro cafés por mês?
Por razões de custos – e desta vez será em definitivo – vamos suspender o envio da revista “O Desembarque”, que custa muito dinheiro
à Associação, para os camaradas sócios com quotas em atraso por período superior a um ano.
Consideramos ser este um acto de justiça, uma vez que os que assiduamente pagam não devem suportar as despesas dos que não
pagam.
Cordiais e amigas saudações associativas.
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corpo de fuzileiros
Curso de Formação de Sargentos Fuzileiros
NOTA: Este texto foi escrito segundo o novo acordo ortográfico
I
niciou-se no passado dia 12 de Março de 2012 a Fase Técnica do Curso de Formação de Sargentos Fuzileiros (CFS FZ) que
se prolongará até 30 de Novembro do corrente ano. O curso
decorre na Escola de Fuzileiros, em Vale de Zebro – Barreiro e
destina-se a proporcionar às praças que o frequentam a habilitação profissional e as competências pessoais, militares e técnicas
adequadas ao ingresso na categoria de Sargento dos Quadros
Permanentes da classe de Fuzileiros.
Frequentam este curso 10 praças – 6 cabos e 4 marinheiros -,
que, após uma fase de Formação Geral Comum a todas as classes, decorrida na ETNA - Escola de Tecnologias Navais da Armada, que ocorreu entre 30 de setembro de 2011 a 9 de março
de 2012, recebem agora a sua formação técnica na Escola de
Fuzileiros.
Na Escola de Fuzileiros irão receber instrução de Armamento
e Tiro; Explosivos, Minas e Armadilhas; Infantaria de Combate;
Motricidade e Fisiologia; Operações Terrestres; Comunicações e
Operações Anfíbias, para além da natural componente prática de
treino físico.
Será um período de aproximadamente 33 semanas de grande
intensidade académica e grande exigência física, que culminará
com a apresentação das PAP’s – Provas de Aptidão Profissionais,
no Anfiteatro da Escola de Fuzileiros.
Esta fase técnica irá exigir dos alunos grande empenho, sacrifício pessoal, disciplina, coragem, integridade e sentido de missão,
pois só assim poderão desenvolver as suas competências técnicas e de liderança, fundamentais quando mais tarde comandarem com o seu exemplo1, pequenos grupos de Fuzileiros.
Fazem parte do Plano de Curso do CFS, entre outros, conteúdos
teóricos, conteúdos práticos, como exercícios de campo, participação em provas organizadas pelo Comando do Corpo de Fuzileiros dos quais se relatam os já realizados:
1. Exercício SOL NASCENTE/LIPOCHE 1201
“Na semana de 21 a 25 de maio decorreu no Campo de Tiro do
Estabelecimento Prisional de Pinheiro da Cruz, o exercício SOL
NASCENTE / LIPOCHE 1201.
Realizaram este exercício os alunos do Curso de Formação de
Sargentos Fuzileiros (CFZ FZ), e nele treinaram técnicas, táticas e
procedimentos aprendidos nas aulas de Infantaria de Combate e
Armamento e Tiro.
Ao longo desta semana os alunos do CFS FZ efetuaram várias séries nomeadamente: manobras de contacto (diurnas e noturnas);
entrada tática em posição de armas de apoio (MG3 e Carl Gustaf);
estabelecimento de postos de observação; transposição de campos minados; lançamento de granadas de mão; reabastecimentos
táticos e tactical combat casualty care.
O empenho dos alunos foi elevado ao longo de todo o exercício e
os resultados obtidos superaram as expectativas, demonstrando
uma boa aquisição das matérias ministradas”.
2. Semana de 28MAI12 a 1JUN12
“A última semana de maio dos alunos do Curso de Formação de
Sargentos Fuzileiros (CFS FZ) foi mais uma vez, muito preenchida.
Começaram a semana com uma frequência teórica e um teste de
identificação de equipamento de minas e armadilhas. Na terça-feira efetuaram mais um treino de Pista de Lodo, fundamental no
condicionamento físico e no desenvolvimento de destrezas e da
confiança dos alunos.
O ponto alto da semana foi sem dúvida a participação e conquista
do 4.º lugar na prova de Remo em Botes do Comando do Corpo de
Fuzileiros, entre 27 equipas na edição de 2012.
No final da semana e no decorrer das aulas de operações terrestres, os alunos treinaram técnicas, táticas e procedimentos de
combate em áreas edificadas, bem como o comando de um efetivo de escalão secção neste ambiente, onde a liderança de pequenos escalões é difícil, mas crítico nas operações militares atuais.
Esta semana não terminaria sem que os alunos fossem submetidos a mais uma avaliação teórica da sua aprendizagem, com uma
frequência de Operações Terrestres que abordou a temática das
operações ofensivas.”
1
“Não é o número de tropas ou a bravura inata, mas sim competência e disciplina que geralmente produzem as grandes vitórias” - Flávio Vegécio, escritor romano do séc. IV.
36
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corpo de fuzileiros
Novo desafio para os Fuzileiros
no Teatro de Operações do Afeganistão
NOTA: Este texto foi escrito segundo o novo acordo ortográfico
R
ecentemente, face à nova reorientação estratégica da NATO, foram
solicitadas contribuições nacionais,
particularmente no âmbito da proteção do
Kabul International Airport (KAIA).
Neste sentido e tendo em conta os
compromissos superiormente assumidos
por Portugal, foi constituída a Companhia
conjunta denominada de KAIA APOD FP
COY (Portuguesa) para ser projetada para
o Teatro de Operações do Afeganistão,
em meados de julho de 2012, integrando
o Contingente Nacional.
Exercício de Fogo Real em áreas edificadas
Adaptação e Treino com HMMWV
A KAIA APOD FP COY é comandada pelo
CTEN FZ Frescata e é constituída por 8
oficiais, 9 sargentos e 48 praças, sendo
destes, 4 oficiais, 5 sargentos e 24 praças militares Fuzileiros e 4 oficiais, 4 sargentos e 24 praças militares da Policia do
Exército (PE).
A missão da Companhia consiste em garantir a segurança interna a KAIA, incluindo defesa interna do perímetro, controlo
de acessos de militares e civis nos Entry
Control Points (ECP`s) guarnecimento das torres de segurança, atuar como
Força de Reação Rápida e como força
de escolta a movimentos e providenciar
elementos de forma a guarnecer o Kaia
North Operations Center (KANOC) para
efeitos de comando e controlo.
O programa de treino operacional da
companhia consistiu em três fases, sendo a fase inicial realizada nos respetivos
Ramos, a fase conjunta no Regimento de
KAIA – Local onde será realizada a missão
Lanceiros n.º 2 (RL2) e a fase de projeção
realizada entre o RL2 e a Brigada Mecanizada. A força está pronta, coesa e motivada com o cumprimento da missão.
Os Fuzos têm assim mais um honroso
desafio fazendo jus à sua história!
Colaboração do Corpo de Fuzileiros
INFORMAÇÕES
A Direcção Nacional informa que já foram assinados os seguintes
protocolos que proporcionam várias vantagens e benefícios aos
nossos Associados:
– Universidade Lusófona;
– Instituto Superior de Segurança da Universidade Lusófona;
– Grupo de Amigos do Museu de Marinha (GAMMA);
– Motricidade Humana - Associação de Formação Desportiva;
– KANGAROO - Gimnoparque;
– Casa de Repouso “Quinta da Relva”;
– Casas de Repouso “Villa Pinhal Novo” e “S. João de Deus”;
– ARISTON Termo Grupo;
– ANASP - Associação Nacional de Agentes de Segurança Privada.
Continuamos em negociações com quatro Companhias de Seguros.
Os Protocolos estão publicados no site da AFZ e foram remetidos
para todos os sócios de que conhecemos o respectivo endereço
electrónico.
Aconselhamos os nossos Sócios a consultarem o site, na Internet
– www.associacaofuzileiros.pt – ou a informarem-se através
de email: [email protected], do tel.: 212 060 079 ou do
telem.: 927 979 461.
Aconselhamos também os nossos associados a remeterem-nos os seus endereços de correio electrónico para facilitar as
comunicações que esta direcção pretende estabelecer em tempo
real.
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37
divisões
Cooperação Desportiva/Associativa
Grupo de Escoteiros 231
Vila Nogueira de Azeitão – AEP
N
o âmbito da cooperação desportiva e associativa fomentada pela Associação de
Fuzileiros, a DALD efectuou no passado dia 26 de Julho, juntamente com o Grupo
de Escoteiros 231 de Vila Nogueira de Azeitão uma actividade desportiva e pedagógica de escalada na “Fenda da Arrábida”.
Esta acção, em que a DALD da AFF disponibilizou o equipamento de escalada baseou-se
em três pontos chaves a saber: Segurança, Equipamento e Técnicas de Escalada.
Após uma abordagem teórica/prática, iniciaram-se as actividades de escalada que se
prolongaram por toda a manhã onde a adrenalina esteve sempre presente a acompanhar
os mais entusiastas desta modalidade de ar livre.
Tendo como desafio uma parede rochosa de cerca de 18 metros de altitude, todos os
participantes demonstraram determinação e capacidades de aplicar a informação previamente ministrada.
Sem incidentes, e com o sentimento de dever cumprido, a actividade terminou por volta
das 13 horas, com os participantes a revelarem grande vontade de voltar a viver a experiência da escalada em plena Serra da Arrábida.
Saudações a todos os Escoteiros do 231… e boas escaladas!
Espada Pereira
Chefe da Divisão das A. L. D.
Visita às Caves Vínicas
de José Maria da Fonseca
Azeitão
N
o passado dia 28 de Julho, a Divisão das Actividades Lúdicas e Desportivas (DALD)
da Associação de Fuzileiros promoveu mais um evento para os seus sócios,
familiares e amigos, realizando uma visita guiada às Caves Vínicas de José Maria
da Fonseca, em Azeitão.
Com a apresentação da Loja de Vinhos aos visitantes, seguiu-se a visita à Sala Museu,
Jardins e Caves Térreas do Moscatel de Setúbal e Vinho Piriquita. Durante uma visita de
cerca de uma hora, conheceu-se a história do famoso Moscatel de Setúbal e todo o seu
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processo evolutivo de produção em série e
no que concerne ao seu engarrafamento.
Seguiu-se uma passagem pelos seus
magníficos Jardins que, para além da
beleza, têm particular importância e influência na qualidade do Moscatel e Vinho
armazenado nas caves adjacentes. Um
dos principais efeitos dos jardins é a sua
influência no clima, que se refecte na qualidade final dos vinhos, – de acordo com o
que nos disseram – face à sua influência
na baixa temperatura das Caves Térreas.
Como não poderia deixar de ser, no final
do encontro, fez-se prova dos vinhos. A visita terminou com um agradável brinde a
todos os participantes concluindo-se mais
um evento que a todos terá enriquecido,
do ponto de vista dos valores culturais.
Espada Pereira
Chefe da Divisão das A. L. D.
Tiro desportivo – Precisão/Pistola Sport 9 mm
O nosso Sócio Comt. Semedo de Matos
obtém o título de Mestre Atirador
R
ealizou-se no passado dia 1 de
Setembro, nas instalações da Carreira
de Tiro do Centro de Educação
Física da Armada (CEFA) o Campeonato
Regional Sul em Pistola Sport 9mm,
onde a Associação de Fuzileiros esteve
representada pelo seu atleta Comandante
Semedo de Matos.
A competição, que foi disputada por vários atletas de clubes de tiro da Região
Sul constituiu um marco histórico para a
nossa Associação, com o nosso atleta a
consagrar-se Campeão Regional Sul na
modalidade, obtendo o 1.º lugar e, em
simultâneo, o Título de Mestre Atirador,
atribuído pela Federação Portuguesa de
Tiro.
Na mesma modalidade, a 15 de Setembro,
o Comandante Semedo de Matos disputou
o Campeonato Nacional que se realizou na
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Carreira de Tiro da OTA (Força Aérea) onde
se classificou em 3.º lugar!
O nosso sócio, Comandante Semedo
de Matos constitui, sem dúvida, um
verdadeiro exemplo para todos os atletas,
face à sua tenacidade e à dedicação que
coloca no tiro desportivo bem como aos
resultados que vem obtendo.
Os parabéns da Associação de Fuzileiros.
Espada Pereira
Chefe da Divisão das A. L. D.
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divisões
Caminhada do Alambre
Arrábida/Vale do Alambre
N
o passado dia 17 de Junho de 2012, a Secção Desportiva da
Associação de Fuzileiros realizou mais um passeio pedestre
para os seus associados, familiares e amigos que juntou
cerca de 40 participantes!
Com o nascer do dia a prometer-se quente, às 8h30, começaram
a chegar os primeiros participantes ao Parque de Merendas
do Alambre, em plena Serra da Arrábida. Às 9h15, com todos
os elementos já presentes, lá arrancámos para um agradável
passeio de 6,5 Km pelo conhecido “Bosque Encantado”.
Sempre a bom ritmo de passeio, foi-se admirando a paisagem,
sempre com a encosta norte da Serra da Arrábida como pano de
fundo a encantar a vista. Contando com gerações de Fuzileiros
Veteranos do Ultramar e de Fuzileiros das novas gerações, foram
muitas as histórias que se partilharam entre o trilho de beleza
única da nossa serra.
Às 12h30, como previsto, concluiu-se a rota traçada, com chegada ao Parque do Alambre para um desejado almoço à sombra
reconfortante de elegantes sobreiros. Num agradável almoço de
churrasco onde não faltou a sardinha e a febra, acompanhada do
vinho e da cerveja, para recuperar forças, conclui-se mais um
evento que já ficou a deixar vontade para novas aventuras…
Espada Pereira
Chefe da Divisão das A. L. D.
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dia do fuzileiro
O Dia do Fuzileiro
7 de Julho de 2012
Tudo correu muito bem. Com irrepreensível disciplina, cortesia e
respeito, mas total à-vontade entre todos – mais graduados e menos graduados, mais importantes e menos importantes, Senhoras
e Homens – onde as diferenças se esbateram completamente e
a igualdade do que, no fundo, somos emergiu e teve o condão de
nos aproximar mais ainda.
Os Fuzileiros são isto mesmo. E por isso, ninguém deve ficar
para trás.
N
uma organização conjunta do Corpo de Fuzileiros e da Associação Nacional de Fuzileiros comemorámos mais um Dia
do Fuzileiro conforme Convite/Programa que, oportunamente, publicámos.
A partir das 8h30 horas desenhou-se a concentração na Escola de
Fuzileiros. Os participantes foram chegando nos seus automóveis
ou de autocarro provenientes de todo o País, do Norte ao Algarve
e das raias de Espanha ao Mar.
A recebê-los elementos do Corpo e da Escola de Fuzileiros e outros da Associação Nacional de Fuzileiros, com especial destaque
para um dos seus directores, SARG Couto e para o SMOR Leal.
A “Família” juntou-se na “Escola Mãe”, para um dia memorável
de confraternização, camaradagem e espírito de união, onde
ficaram plasmadas, também, muita nostalgia de tempos que já
não voltarão e essa inevitabilidade tão nossa, que só é possível
exprimir-se pela palavra SAUDADE, esse misto de tristeza, alegria
e conforto pelo que já se viveu, pelo se aprendeu e pelo que se
ensinou.
Os Fuzileiros são assim. E quando alguns de nós se enganam
no caminho – pode sempre acontecer – um dia, quando disso
se derem nota, devem tomar o rumo inverso porque são sempre
bem acolhidos pelo grande grupo e ajudados a prosseguir. Este
procedimento faz parte do nosso ADN e sobre isto ninguém deve
pretender dar-nos lições, porque se trata de algo que é genético
e a que não podemos furtar-nos.
O programa das solenidades cumpriu-se e – para além da pista
de lodo que teve a vantagem de mostrar aos mais jovens que
os mais antigos ainda se lembram dos lamaçais do Rio Coina,
porque aprenderam a tratá-los por tu – e após a Missa, marcou
ponto alto a cerimónia militar e de homenagem – com guarda de
honra de uma Companhia com estandartes e fanfarra – aos que
já partiram e deposição de coroa de flores no Monumento, pelo
Comandante do Corpo de Fuzileiros e pelo Presidente da Direcção
da Associação Nacional de Fuzileiros.
Também aqui a nossa Associação Nacional e os seus Veteranos –
impecavelmente “uniformizados” e sempre irrepreensivelmente
“comandados” pelo membro do nosso Conselho de Veteranos,
SARG José Talhadas – marcou presença importante e prestigiada,
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dia do fuzileiro
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dia do fuzileiro
a que deram cor e dignidade, um representante Nacional, SMOR
José Coisinhas e os Presidentes das nossas Delegações que
ostentaram o Guião Nacional e os das Delegações.
A seguir, discursaram o Presidente da Direcção da AFZ e o Comandante do CF, cujas palavras, em representação das duas instituições, aqui se reproduzem para a posteridade.
Visita à Sala Museu, exposição da maquete da antiga viatura
LVT-4, lançamento do livro do Comt Patrício Leitão (DFE 8 – Moçambique – 66/68) “O Quarto da Alva” e passagem do filme, de
cerca de 100 minutos, editado pela Associação Nacional de Fuzileiros, intitulado “Fuzileiros – 1621/2012 – Quatrocentos anos de
história”, com realização do jornalista Carlos Santos, assessorado
pelo membro do nosso Conselho de Veteranos e ex-Presidente da
AFZ, Comt Mateus, foram momentos importantes.
Relevante é também referenciar que, o Comando do Corpo de
Fuzileiros – na presença das respectivas famílias – condecorou,
a título póstumo, com a Medalha dos Serviços Distintos Grau
Cobre o SMOR Fuzileiro Raposo e prestou homenagem, também
postumamente, ao VALM Bustorff Guerra, descerrando placa
toponímia com a designação de «Avenida Vice-Almirante
Bustorff Guerra» personalidade que constitui, uma das muitas
referências para os fuzileiros.
Calcula-se que estiveram presentes às cerimónias, no período da
manhã, cerca de 1.000 pessoas – fuzileiros, sócios da AFZ e famílias – uma vez que muitos não ficaram para almoçar, eventualmente para cumprirem outros compromissos e outros trouxeram
os seus farnéis. Porém, estima-se que tivessem sido distribuídas,
entre pessoal de serviço na Escola de Fuzileiros e participantes no
almoço/convívio cerca de 700 refeições.
Por mera curiosidade, mas também porque representa bem o
significado e a importância que a Associação Nacional de Fuzileiros tem, no Dia do Fuzileiro, reproduzem-se alguns dados para
informação dos nossos sócios:
– Valor dos bilhetes cobrados para o almoço, pela AFZ:
4.480,00 €;
– Valor dos bilhetes cobrados pela EF: 1.900,00 €;
– Cobrança de quotas pela AFZ: 1.415,00 €;
– Valor apurados em vendas várias pela AFZ: 2.300,00 €;
– Sócios novos: 9
Deve esclarecer-se que os valores cobrados pela AFZ pelos bilhetes para o almoço reverteram, na totalidade, para a Escola de Fuzileiros, não tendo a Associação usufruído de qualquer benefício
que não fosse o espirito de colaboração e de serviço.
É justo referenciar aqui o trabalho da equipa coordenada pelo
Tesoureiro Nacional e Secretário-Geral, SARG Mário Quintas Gonçalves.
O dia 7 de Julho de 2012 acabou à roda de muitas mesas, com
belas sardinhas (as melhores que se comeram este ano – diziam
várias pessoas) e óptimas febras, entremeadas e entrecosto, regados com bom vinho e agradável sangria, numa manifestação
a que só o espirito do fuzileiro sabe dar um sabor de alma que o
discurso não consegue exprimir.
É justo, também, destacar aqui o esforço dos Comandos do Corpo
e da Escola de Fuzileiros mas, sobretudo, do pessoal que deu
execução ao evento, Sargentos e Praças, sem esquecer o indispensável pessoal da taifa que deram mais um Sábado dos seus
tempos livres e se deram, com especial dedicação, a todos quantos de nós usufruímos do seu trabalho.
Por fim cortou-se o Bolo do Aniversário – representativo de mais
um ano passado, bem vivido e comemorado – um bolo feito com
os ingredientes de todos nós, enfeitado com o orgulho do desinteressado amor à causa, de um patriotismo moderno e sentido e
com o grito do fuzileiro:
«Fuzos – Prontos – do Mar – prá Terra – desembarcar –
– ao assalto – desembarcar – ao assalto»
E depois:
«vai acima – vai abaixo – vai acima – bota abaixo».
«Fuzileiro uma vez, fuzileiro para sempre»
Marques Pinto
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dia do fuzileiro
Discurso do Presidente da
Associação Nacional de Fuzileiros
Exm.º Senhor, Almt Comandante do Corpo de Fuzileiros
Exm.º Senhor, Almt Presidente da Assembleia-Geral da Associação de Fuzileiros
Exm.º Senhor, Almt Vice-Presidente do Conselho de Veteranos da AFZ
M. I. Almirantes
Ilustres Camaradas
Minhas senhoras e
Meus Senhores
Porque os tempos são muito mais de acção, do que de discursos
e porque são, também, muito mais de união do que de pequenos
contenciosos desprovidos de razão e de qualquer sentido que só
têm por objectivo afagar alguns egos;
Porque o espírito do Fuzileiro é muito mais de partilha e de humildade na firmeza, do que da construção de pequenas ilhas que nos
enfraquecem e que sempre se esgotam na sabedoria do tempo;
Permitam, Minhas Senhoras, Meus Senhores e Ilustres Camaradas, apenas breves palavras, distribuídas:
Por “alguma coisa” do se vem fazendo;
Pelo conceito de associativismo presente nesta família que são
os sócios da AFZ, em particular e em geral, de todos os fuzileiros;
Pelos 391 anos deste Corpo Militar de elite;
Pelos que integram ou integraram missões problemáticas de Paz,
do Afeganistão a Timor;
Pelos que cruzam os Mares da pirataria do Corno de Africa ou que
cumprem a Pária em missões de cooperação;
Por todos quantos cooperam, desinteressadamente, na Associação Nacional e nas nossas Delegações que tanto nos vêm prestigiando, dando o que podem e o melhor que sabem;
E, enfim, por aqueles que já nos deixaram.
A todos prestamos sentidas homenagens.
Do que se vem fazendo falam as accções concretas simbolizadas
pelo Monumento ao Fuzileiro, inaugurado por S. Ex.ª o Presidente
da República, na importante centralidade do Barreiro que a Autarquia decidiu integrar na toponímia da cidade com a designação de
Praça dos Fuzileiros;
Do nosso associativismo, num País relativamente individualista
onde 5% de participação activa é considerada acima da média,
falam o pensamento e a filosofia dos que ora integram os Órgãos
Sociais da AFZ: os almoços e jantares, os eventos culturais, lúdicos e desportivos, os símbolos e a nossa “farda” (entre aspas) o
alargamento do nosso corpo social, o crescimento e o crescente
prestígio da Associação Nacional de Fuzileiros – longe de constituírem um fim, são meios necessários, indispensáveis mesmo,
mas ainda não suficientes, visando sociabilizar a instituição no
plano da entreajuda e do apoio aos que mais precisem.
que, quando da invasão napoleónica (1808) acompanhou a fuga
da Família Real para o Brasil dando origem aos actuais Fuzileiros
Navais Brasileiros; passando ainda pela unidade anfíbia permanente, a Brigada da Guarda Naval (1924); e, pesem embora todas
as vicissitudes, culminando (1961) com o início da Guerra do Ultramar, na criação de Destacamentos de Fuzileiros Especiais e de
Companhias de Fuzileiros Navais (14.000 fuzileiros combateram
nos teatros de operações de Angola, Guiné e Moçambique) que se
reuniram no actual Corpo de Fuzileiros, com esta Escola, a “Escola Mãe”, assegurando especial formação – falará a História.
A História dos Fuzileiros e, quiçá mesmo, a da sua Associação
Nacional vem-se fazendo todos os dias por cada um de nós, mas
também por quem deferentemente nos visita.
Por se tratar de um registo muito especial e porque, ao que nos foi
revelado, terá sido a primeira vez que um Presidente da Republica, em Portugal inaugurou, pessoalmente, por solicitação de uma
Associação de direito privado, um monumento de um ramo das
Forças Armadas, aqui ficam algumas das palavras de S. Excelência nesse acto, para nós tão significativo:
«É o espírito vivido nas dificuldades de quem sentiu o perigo à sua
volta, de quem viu os camaradas sofrerem no corpo e na alma as
agruras do combate, é o orgulho de serem servidores da Pátria
com uma conduta digna, e quantas vezes heroica, que hoje vos
une e aqui vos traz em tão grande número, para um são convívio e
partilha de emoções. Como é vosso apanágio, “Fuzileiro uma vez
Fuzileiro para sempre”.
É este espírito que vos leva a congregarem-se à volta da vossa Associação, contagiando aqueles que vos são próximos com o apego
a valores essenciais, bem vivos em cada um de vós: o sentido do
dever, a amizade, a camaradagem e a solidariedade.
A Associação de Fuzileiros tem acompanhado com dedicação os
problemas dos seus associados. A união de esforços e as acções
de apoio àqueles a quem a vida não corre de feição são fundamentais. Na vida, como no combate, o Fuzileiro não deixa ninguém para trás».
E a História falará ainda, do reinício do nosso percurso pelos cinco continentes: da Europa à Africa e à Ásia marcando presença,
designadamente, na Bósnia, na Guiné, no Congo, em Angola, em
Moçambique, em Timor, no Afeganistão e tantos outros, sempre
com igual garbo, sentido de missão e honrando a Pátria.
Hoje como surpresa disponibilizámos um DVD, que faz uma resenha dos 391 anos da nossa história.
Vivam os Fuzileiros
Do que, para os Fuzileiros significam mais de três séculos, de
história – desde o famoso Terço da Armada da Coroa criado em
1621, a quem foi também, confiada a responsabilidade e a honra da guarda pessoal do Rei de Portugal; passando pela Brigada
Real com as suas Divisões de Fuzileiros, Artilheiros e Lastradores
Presidente da ANF
com a colaboração de
Marques Pinto
Vice-Presidente da ANF
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Viva Portugal
Lhano Preto
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dia do fuzileiro
Discurso do Comandante
do Corpo de Fuzileiros
Fuzileiros!
Comemoramos mais um Dia do Fuzileiro, vamos na sua 4.ª edição.
Em parceria e estreito relacionamento com a Associação de Fuzileiros, temos conseguido, aos poucos, cimentar este evento como
o grande encontro anual dos fuzileiros. Um encontro onde o mote
principal será sempre o convívio, o reencontro de camaradas de
armas, de companheiros, amigos, a oportunidade de se ir mantendo o contacto para além das redes sociais que as novas tecnologias permitem. Um contacto presencial onde a palavra pode ser
complementada com o abraço.
Poderá não haver capacidade para grandes desfiles militares,
demonstrações de capacidades, eventos culturais de vulto, mas
sobrará sempre o espaço para acolher quem pura e simplesmente queira estar. Poderemos ter pouco para dar, mas não faltará
calor humano.
E aqui estamos, em festa. Não precisamos de verbas para homenagear os nossos mortos, e se um dia não houver uma coroa,
arrancaremos uma flor do mato e aqui nos recolheremos em silêncio. Quando não conseguirmos arranjar uma placa toponímica,
gravaremos a cinzel e tinta o nome na parede. Não temos, como
gostaríamos, a capacidade de oferecer o almoço. Mas tal não tem
sido impeditivo de aqui trazer fuzileiros. Em suma, ninguém nos
detém, assim haja vontade.
Cumprimos o nosso momento religioso, vergamo-nos aos que
nos deixaram, iremos inaugurar mais um espaço de homenagem
a alguém que nos é querido, iremos lançar uma obra onde se relatam feitos de fuzileiros, demos oportunidade aos mais afoitos de
recuperarem aquele tratamento de pele proporcionado pela Pista
de Lodo, e terminaremos em conversa, debaixo do arvoredo que
acalma os raios solares.
Porque descobrir um tema ajuda a caminhar num sentido, entendemos dedicar este dia aos veteranos. Sempre prestámos
atenção aos nossos veteranos, aos que fazem parte do nosso
património histórico.
Foi nesta linha que eternizámos nas paredes da Escola os nomes
dos que são apontados como referências a seguir: Roboredo e Silva, Alpoim Calvão, Rebordão de Brito, Benjamim Lopes de Abreu,
Elias Gaspar dos Reis, Jomel Seidi, Melo Cristino, Apolónio Piteira, Gaspar dos Reis, Manuel Viana e, dentro em breve, Bustorff
Guerra. Foi nesta linha que demos os nomes das suas operações
aos exercícios dos cursos de fuzileiros. Cada instruendo aprende
o que foi a “Noite Escura”, “Guidaje”, “Tridente”, “Alfange”, “Antares”, “Finalmente”, “Mar Verde”…
Foi nesta linha que eternizámos num monumento o esforço e a
dedicação de meio século de instrutores que formaram fuzileiros.
É nesta linha que mantemos as portas abertas a todos quantos,
regularmente, aqui fazem romagens de saudade, aos que consideram esta Escola como a “sua Escola”.
É nesta linha que mantemos contactos privilegiados com a Associação e suas Delegações, naquilo que se corporiza como elo
de ligação entre antigos e novos, como veículo de divulgação dos
Fuzileiros por esse País fora.
A par de “reformado” e “antigo combatente”, o nosso dicionário
aponta o veterano como sendo aquele que tem muito tempo de
serviço e de experiência. Assumimos então nós que veteranos
são todos os que por aqui passaram, independentemente das
idades. De comum, têm o facto de sempre ter cumprido as missões que lhes foram cometidas. De guerra, de paz, em África,
nos Balcãs, na Oceânia, no mar, em terra, apareceram onde foram chamados, voltaram com o dever cumprido.
Alguns não volta­
ram, porque o
cum­primento desse dever lhes exigiu que ficassem,
até ao exangue
da última gota
de sangue. Outros
apre­sentam marcas
profundas do sacrifício requerido.
Mas o dever, esse, sempre cumprido.
Sempre afirmei que defenderei, intransigentemente, aquilo que
se constitui como factor de união dos Fuzileiros – desde logo a
boina, depois os valores cultivados de espírito de corpo e sentido
de dever, e que jamais se perca aquele braço deixado para trás a
puxar o camarada em dificuldade.
E se com os veteranos muito aprendemos, muito temos para ensinar. Só assim conseguiremos manter a união. É preciso saber,
em cada momento, o que fazem os fuzileiros. Sabemos o que
foi a armalite e o lança-chamas, e ensinamos o que são IED’s, a
Gloch e o Milan.
Aprendemos a dizer Lungué e Chilombo, e ensinamos Oecussi e
Baucau; ouvimos Cobué e Magoé, dizemos Visoko, Brazaville e
Port Gentil; Escutamos Chungué, Cumbijã e Ganturé, replicamos
com Kaia, Camp Werause e Pol-i-shark; E para a Pedra do Feitiço
e Mepoche, contrapomos Salala e Djibuti.
Ouvimos falar de Zodiacs e LFG’s, e falamos de VBLA’s e Skif’s.
Aprendemos Sector Operacional e Comando-Chefe, ensinamos
NRF, FRI e EUABG.
Queremos saber sobre os povos Banto, Balantas e Macuas, e
queremos ensinar os Pastuns e Tajics. Trocamos o Crioulo pelo
Tétum. Descodificamos guia e picador e desafiamos com FAC’s
e AVPD’s. Descrevem-nos as tempestades tropicais e replicamos
com as Monções do Índico e as neves dos Balcãs.
Os fuzileiros de hoje querem que os mais velhos, os veteranos,
tenham orgulho deles. Não serão tantos quantos noutros tempos,
mas estão cá, e neste preciso dia, há uma boina azul ferrete que
pode ser vista a fazer segurança a 7 instalações militares, em
Nápoles e em Bissau, a navegar na nossa costa e nos Açores, em
Mons e em Luanda, em cada praia do nosso extenso areal, em
Norfolk e na Catembe, no rio Douro, em Kabul e na cidade da Praia,
em rondas nas margens do Tejo, em Díli e no Líbano. Há fuzileiros,
em terra e no mar, em 10 países espalhados por 5 continentes.
Afirmar que “Os fuzileiros devem ser dados como um exemplo a seguir, mantendo o espírito de corpo, espalhando uma
cultura de profissionalismo e de capacidade de bem fazer” –
seria uma imodéstia da minha parte, mas poderei referi-lo citando o seu autor, o Comandante Supremo das Forças Armadas, na
cerimónia de inauguração do Monumento ao Fuzileiro na cidade
do Barreiro no passado ano.
Mas subscrevo, na íntegra, cada palavra.
Consigam os fuzileiros manter a difusão deste espírito de união,
de sacrifício e de solidariedade, o seu orgulho de servirem a Pátria, e teremos, seguramente, um Portugal melhor.
Cortes Picciochi
CAMT
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dia do fuzileiro
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obituário
A Associação Nacional de Fuzileiros e a nossa Revista
“O Desembarque” apresentam sentidas condolências às
Suas Famílias, publicando-se as respectivas fotografias
que correspondem às que encontrámos, com menor ou
razoável qualidade, nos nossos ficheiros.
Aqui se presta homenagem
aos que nos deixaram
Estes nossos Camaradas e amigos conservar-se-ão sempre entre nós.
Ambaibesso Figueira
João Conceição Agostinho
José Clemente
José Neto Guerreiro
Vicente Raminhos Pereira
diversos
Donativos
Nome do sócio N.º
Novos Sócios
Donativo
Álvaro Xarana da Silva
2103 Quadro (Dist. FZE)
Fernando Costa (Neta)
1772
5,00 €
479
20,00 €
680
1386
António Esperança
Carlos Bernardo
Manuel Carrapato
Nome do sócio
Novos Sócios
N.º
Nome do sócio
N.º
Joaquim Almeida Campos
2146
Helder Manuel Lopes Gaspar
2160
Alvaro Augusto Amador Dias de Melo
2147
Pedro Manuel de Bastos Moreira
2161
Manuel Oliveira Nascimento
2148
Eduardo Jaime Fernandes Azevedo
2162
40,00 €
Helder de Jesus Pacheco
2149
Agostinho Gomes de Oliveira
2163
50,00 €
Carlos José Almeida Mendes Seco
2150
Francisco Manuel dos Santos Gomes
2164
João Mauricio dos Santos Hallewell
2151
Filipe André Botequilma Félix
2165
Pedro Fernandes Gonçalves Mendes
2152
Paulo Alexandre Clemente Campos
2166
David Alexandre de Carvalho Martins
2153
José António da Costa Macedo
2167
João Gustavo Nogueira Pinheiro
2154
Jorge Alexandre Correia dos Santos
2168
L. Osvaldo Pires
2155
Fernando Pereira Dias
2169
Valdemar Sampaio dos Santos
2156
Thiers Guerreiro Calado
2170
Gabriel Marques da Silva Sadio
2157
Carlos Augusto Maeta Dias
2171
Manuel Augusto de Oliveira Costa
2158
Joaquim Manuel Leonardo Lopes
2172
José Manuel Alves dos Santos
2159
Manuel de Jesus Rodrigues Tripa
2173
Noite de Fados
Por iniciativa da Divisão Cultural e da Memória foi organizado e teve lugar, no passado dia 4 de Outubro, no Salão Nobre da
Associação de Fuzileiros, um evento cultural denominado “Noite de Fados” que teve
a presença de cerca de 80 sócios e familiares.
O evento, que incluiu jantar, com o tradicional caldo verde e chouriço assado decorreu com elevado nível e teve também,
a presença de quase toda a Direcção e de
membros da Assembleia-Geral, do Conselho Fiscal, do Conselho de Veteranos e de
responsáveis pelas Divisões.
Conferência
Comandante Malhão Pereira
Também da iniciativa da Divisão Cultural e
da Memória teve lugar, no passado dia 19
de Outubro, no Salão Nobre da AFZ, uma
Conferência proferida pelo Comandante
Malhão Pereira, subordinada ao tema «Um
Novo Rumo para Portugal».
A frequência foi particularmente notável
para eventos desta natureza, tendo-se contado com a presença de mais de meia centena de pessoas de entre as quais destacamos, designadamente, ex-comandantes do
Corpo de Fuzileiros e do actual, Almirante
Cortes Picciochi.
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“Esta foto foi-me enviada
por email... Não sei quem
foi o autor mas está de parabéns!
Uma imagem que vale mais
que mil palavras em qualquer parte do globo.
Aqui, neste vazio cultural,
que mais belo exemplo?”
mls
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