coiiiiisa estraaaanha!!!

Transcrição

coiiiiisa estraaaanha!!!
LINGÜÍSTICA NOSSA QUE SE PRETENDE SER DE CADA DIA
Jornal Imagem (Nova Andradina-MS), 28/06/2008, p. 02.
Papo de Lingüista: coiiiiisa estraaaanha!!!
A proposta desta coluna é trazer um assunto semanal para discussão sobre os
estudos de língua ou estudos lingüísticos, nada de teoria, apenas uma conversa fluente
(caso o papo fique teórico por força do hábito, conto com a intervenção dos leitores)
daquela de butiquim que muitas vezes valem mais do que uma aula (não pretendemos
também ensinar nada, apenas bater um bom papo). Como somos democráticos,
aceitamos sugestões de temas e inclusive réplicas e tréplicas sobre as posições aqui
expostas, tudo que torne a conversa e a interlocução menos enfadonha. Acho que é isso,
queremos inaugurar um bom papo sobre língua, papo de lingüista.
Para iniciar a conversa, gostaria de tentar esclarecer o que é ou o que venha ser
lingüística, considerando que os próprios lingüistas se enrolam às vezes para explicar o
que eles fazem dizendo que estudar a língua é isto ou aquilo. Vou tentar.
O homem, desde a antigidade, se apercebeu como aquele (em oposição aos
animais) que fala e fala uma língua distinta das outras. Na tentativa de compreender e
estudar a sua fala, o homem elaborou a gramática normativa como forma de descrever e
entender a própria língua, assim, estabelencendo o que é certo e errado (força da
convençao de classe), neste momento surgiu o gramático e simultaneamente a
Lingüística e o lingüista. Ressalto que o lingüista não se confunde com o gramático,
este se preocupa com a tradição de uma derteminada forma ou norma da fala de uma
determinada época e classe social, razão pela qual atribui valor e sentidos, daí vem o
problema da estigmatização lingüística que reflete também a desigualdade social.
O gramático para justificar esta ou aquela forma de uso da língua se vale dos
escritores clássicos, da literatura. Já o lingüista estuda a língua em sua amplitude
(fonética/fonologia,
semântica,
morfologica,
estilística,
sintática,
pragmática,
sociolingüística, discurso etc.), muito embora seja descritivista, o próprio ato de não
atribuir valor já é valor (polêmicas a parte). Mas o lingüísta não prescreve o uso, ele
procura compreender o funcionamento da língua considerando os usos sociais, o gênero,
as profissões, as classes sociais, o funcionamento enquanto discurso, a relação entre
língua e pensamento, língua e comportamento etc.
Uma parada: é possível pensar uma primeira distinção entre gramáticos e
lingüistas. Os gramáticos possuem a norma de prestígio social como objeto de atenção,
os lingüistas tomam a língua em sua totalidade como objeto de preocupação para
estudar alguns de seus aspectos, daí as várias especialidades em Lingüística.
Outra diferença: enquanto os gramáticos se preocupam com a norma de
prestígio social, os lingüistas voltam sua atenção para as normas com o objetivo de
procurar descrever o seu funcionamento em relação a forma de organização social, os
vários usos sociais da língua.
O lingüista não é aquele que fala ou domina várias línguas, como uma vez me
perguntaram. O lingüista também não é especialista necessariamente de uma língua.
Para finalizar, sei que faltou alguns exemplos, mas fica para outra conversa, assim,
podemos considerar que a Gramática é uma prática que possui a tradição literária, dos
bons escritors, como referência para a validação social de uso da língua e a Lingüística
se constituiu em ciência da língua (não se trata de uma língua em particular) no início
do século.
Prof. Dr. Marlon Leal Rodrigues
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
Unidade Universitária de Nova Andradina
Núcleo de Estudos em Análise do Discurso
Contato: [email protected]