as conversas da maria joana

Transcrição

as conversas da maria joana
COM.TEMA
AS CONVERSAS DA
MARIA JOANA
It smells like weed spirit
por Joana Andrade
(Funchal, Madeira)
(2011)
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PERSONAGENS
Afonseca - o puto
Nuno - o experiente
Paulo - o não fumador
ÉPOCA: Período actual - 2011;
LUGAR DO DRAMA: Funchal
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Cena I
[Música: Nirvana - In Utero - Smells like teen spirit]
[Cenário: sala - sofá, cadeira, tapete, candeeiro, tv, um bongo]
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[Abre a cortina. Nuno e Paulo estão sentados. Um na cadeira o
outro no sofá. Em cima da mesa mortalhas, maços de tabaco,
um cinzeiro, cerveja]
[Ouve-se um toque de campainha]
[Baixa o som]
Nuno - Abre... deve ser o Afonseca.
Paulo - Tão cedo?
Nuno - Ele trás a cerveja.
[O Paulo levanta-se para abrir a porta]
Paulo - Então pá? 'tasse bem? Como é que é? [Apertam as mãos]
Afonseca - Yahhh, tá tudo meu! Como é? Vamos beber uns copos?
Paulo – Siga, é fim-de-semana!
[3 vezes]
[Chegam á sala ao pé do Nuno; Afonseca tira uma garrafa de
whisky para fora do saco e põe-na em cima da mesa]
Nuno - Eu gosto mesmo é de 6as feiras... [com ar sorrateiro,
dirigindo-se ao público]... nada p'ra fazer... ninguém a chatear...
os gajos cá em casa... beber copos... e fumar a bela da GANZA!
Re-la-xar. 6as feiras é que é !!!
Paulo – Nuno, hoje é sábado…
Nuno – Ou isso…
[NUNO começa a enrolar]
Paulo - Vais começar já com essa merda?
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Nuno – Eiiiiiiii olha a voz da consciência! Já? Merda? Qual merda?
Merda é cagalhão [com tom alto e teatral]...e isto é MARIJUANA!
As coisas que se dizem sobre isto são treta. Dizem que isto põe um
gajo desmotivado. Tretas! Quando um gajo está ganzado consegue
fazer o que faz normalmente e fica muito mais feliz!
[Nuno Vira um copo sem querer ]
Paulo – Exactamente! [irónico]
[Paulo apanha o copo e põe novamente como estava]
Nuno - Percebemos é que fazer essas merdas não valem o
esforço. É essa a diferença!
[Nuno deita o copo novamente para o chão mas agora de
propósito]
Afonseca - [Dirigindo-se ao Nuno, a olhar para o público]
Eiiiiiiiiiii já estás é aviado...começaste cedo!?
Nuno - Aviado? Qual aviado rapaz? Tou sempre despachado.
Ainda nem fumei nada! Ouve aqui o teu padrinho... isto hoje vai ser
a desgraça. [Mais sério] É hoje que vais fumar um charrito?
Paulo - Sabes bem que o puto não fuma... [Encolhe os ombros]
Nuno – Oh... Não sabe o que é bom, isto não faz mal a ninguém
[Dirigindo-se ao Afonseca] Vá, serve aí umas cervejas à gente
puto… [Nuno começa a enrolar uma ganza] que isto não dói
nada.
Afonseca - Olha...nunca se sabe... acho que é hoje que o afilhado
fuma uma ganza! Não?
Paulo - Depois chegas ao Marginal todo fodido, quero ver os gajos
te deixarem a ficar à porta, e tu todo maluco a querer entrar! Fumas
e começas a bater mal, a ver anõezinhos voadores, bailarinas em
todo lado e o Rodolfo em cima de uma árvore!
Nuno – Então era isso.
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Afonseca - Tás a gozar meu? Eu conheço os porteiros todos.
Achas que alguém me deixa ficar na rua? Eu sou VIP. Sou aquele
gajo que chega a qualquer lado e não tem problemas desses.
Nuno – Também era o que mais te faltava sendo filho de quem és,
primo de quem se sabe e amigo daquele outro.
Afonseca - Enrola isso, eu hoje vou fumar contigo.
[Nuno começa a fazer a ganza; Paulo liga a TV]
Nuno - Estava para aqui a pensar que se os morcegos quando não
estão a voar estão de cabeça para baixo, como é que os gajos
cagam?
Afonseca – Os morcegos não cagam, são mamíferos… portanto
mamam!
Paulo - Vocês vão aos anos do André?
Afonseca - É já para a semana não é?
Paulo - É. Epá, podíamos juntar-nos os três e oferecer-lhe qualquer
coisa…
Afonseca - O quê?
Paulo - Sei lá… um livro!
Afonseca - Nãããã… o gajo já tem um!
Nuno – Se há coisa que não dispenso é fumar uma ao fim de
semana. Gosto pá!
Paulo - Pois o consumo foi despenalizado... tás à vontade.
Nuno - À vontade como quem diz...
Afonseca – Mas a compra é crime!... E isso é uma coisa que não
percebo. Um gajo pode ter erva e consumir... mas não pode
comprar! Isto é um bocado estranho, não é? Já agora onde é que
compras isso? Na Exposição Alemã?
Nuno – Já estás a querer saber muito... Crime é o preço do tabaco!
Mas se não a comprar como é que a vou fumar?
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Afonseca e Paulo - Não fumas!
Nuno - Mas eu gosto de fumar...faz-me sentir liiiiivre. Um gajo
chega a casa, depois de um longo dia de trabalho metido num
banco a atender clientes com contas quase a zeros e já não pode
com mais nada. A troika, a perestroika, os moikanos a cavalo e o
raio que o parta. Todo o dia a ouvir reclamações. Já não aguento.
Eu gosto é de chegar a casa e fazer um belo charro. Tem mal? E
agora com tanta gente a comprar tabaco de enrolar já ninguém liga
quando se compram as mortalhas. Antes, era uma vergonha do
caraças...
Paulo – Vais ver então com o IVA a aumentar, se o tabaco passa a
custar 2 vezes mais, sai-te mais barato comprar essa merda.
Nuno – Podes crer, qualquer dia é mais barato comprar chamon do
que tabaco.
Paulo – Quanto é que custa essa porcaria?
Nuno – 30 euros!
Paulo – 30? Tenho um amigo que diz que compra ali ao pé do
Dolce Vita por 10 e rende mais do que isso que tens aí...
Nuno – Isso não é droga a sério!
Paulo – Não?
Nuno – Tal como os vegetarianos substituíram a carne pela soja
alguém achou que a erva estava muito cara e inventou as "drogas
legais". Cá para mim foram os mesmos gajos que inventaram o
Tofu! Aquilo são tretas à base de fertilizantes para plantas…daqui a
uns dias esse teu amigo ainda aparece com um jardim no nariz…
Afonseca – Ou então nasce-lhe uma tabaibeira no cu!
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Nuno – São tipo genéricos! São mais baratos e têm o mesmo
efeito! Eu gosto do original... descontracção... relax total... ah, e,
claro, garantia de satisfação imediata!
Afonseca – Gosto disso. [faz sinal de LIKE]
Paulo – Acho que 'tás a precisar é de uma gaja! Tanta necessidade
de descontracção...isso é um bocado estranho...
Nuno – Mulheres? Chatices! Um belo charrito faz o mesmo efeito e
chateia menos. Para dizer a verdade...não tenho pachorra para
mulheres. Já me chegou a outra, que mal saímos da faculdade
queria casar e ter filhos... se o casamento fosse bom não era
preciso testemunhas… e depois.... deixou-me por um gajo todo pipi,
mais arrumadito, com mais papel e um Porche com mais de 20
anos. Oxalá sejas muito feliz sua desgraçada e a crise te deixe na
miséria! Vai para a Troika que te pariu. Agora é assim [Levanta-se
da cadeira e anda p'ra cá e p'ra lá com as mãos nos bolsos a
olhar para o chão] se quero [olha para o público] pago! Estou-me
a cagar. Essa coisa dos engates dá muita maçada. E eu já não
estou p'ra isso. E sai-me sempre mais barato que um divórcio.
Paulo - Podes crer. A gaja fica-te com a casa, com os filhos, com o
carro, mas não fica com ela…
Afonseca – Com ela? [Abana a cabeça afirmativamente]
Paulo – Sim… Não fica com a ganza!
Nuno – Disso podes ter a certeza! Puta que a pariu... é como vos
digo: gajas agora é como no supermercado! É só escolher: loira,
morena, ruiva. Baixa, alta, magra. Mamas grandes, pequenas.
Paulo – Um homem!
Afonseca – Deves ter muita escolha naquelas que andam ali à
volta do Dolce Vita, deves!
Paulo – Sem dentes!
Afonseca – A dizer: “vais querer uma mamada, queride”?
Paulo – Eu sou contra, sou contra essas coisas. Amor, amor! Amor
é que é.
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Afonseca - Lembraste daquela gaja que conhecemos na semana
passada no JAM?
Paulo - Qual? Aquela que estava com dois amigos e com o
namorado?
Afonseca - Namorado? Ela não tem namorado!
Paulo - Desculpa mas ela quando se apresentou disse que o gajo
que estava ao lado era o namorado… “Hello… This is my
boyfriend!” e tu até disseste: Good nice, thank you! Pensei que
tinhas percebido.
Afonseca – Ca merda… tenho que aprender inglês!
[Nuno começa a fumar a ganza e cruza a perna relaxado]
Nuno – Acabadinho de enrolar… [acende o charro]… este
material vem da Tânzania. [passa] Adoro o cheiro da Tânzania no
inverno!
Paulo – A Tanzânia? Tiveste sorte. Só a comi uma vez e foi no Dia
das Bruxas.
Afonseca – Dá cá isso Nuno, é hoje.
Paulo – Toma juízo pá!
Afonseca - Deixa-te de merdas. Dá cá isso padrinho, é hoje que
vou experimentar.
Nuno - Deixa lá o gajo!
Afonseca - Mas eu sou alguma criança ou quê?
[Nuno passa a ganza ao Afonseca e observa-o a fumar.]
Nuno - Então puto tás vivo?
Afonseca - É só isto? [Dá mais uns bafos e fuma] Tanta conversa
para isto?
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Nuno – Tem calma, relaxa. Liberta a mente. Ninguém disse que era
nada de extraordinário. É só uma coisa normal, no meio de tantas
outras. Aposto que neste momento numa outra sala desta cidade
tens um casalinho a fumar o seu belo charro depois de dar uma
bela de uma queca. [para Afonseca] Então já sentes alguma
coisa?
Afonseca – Não sinto nada!
Nuno – Dá mais uma passa!
[Afonseca dá mais uma passa]
Nuno – E então?
Afonseca – Não sinto nada!
Nuno – Oh homem!? Dá mais uma!
[Afonseca dá mais uma passa]
Nuno – E agora? Já sentes alguma coisa?
Afonseca – Não sinto nada… não sinto os braços, não sinto as
pernas, não sinto os pés… não sinto nada! Queres Paulo?
Paulo - Não preciso disso. Sou mocado por natureza. Sabes bem
que não curto essas merdas. Quem quiser que fume. Eu não. Até
podes dizer que é normal. Mas isso p’ra mim não é.
Nuno – Tu cá não fumas porque tens medo de falar muito...
Paulo – Falar do quê...? Não tenho segredos para ti meu cabrão.
Nuno - Nunca contas nada a ninguém... E a outra que andavas a
comer?
Paulo – Comi! Qual delas?
Nuno - Mais do que uma? Elááaa... olha o homem do amor.....
Paulo - Não é para me gabar mas... é muito amor para dar.
Obrigado e bom dia!
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[Entretanto Afonseca levantou-se e começa a girar com as
mãos abertas a fazer de conta que é um avião]
Afonseca - Foda-se esta merda é mesmo fixe [Pega na cerveja e
bebe enquanto fuma a ganza. Começa a dançar como se
tivesse numa discoteca]. Fogoooo... Grande moca. Que cena...
[Passa as mãos no corpo] úaaaaaaaaaaaaaaaaa mãe... co
caraças... tou dermente!
Paulo [para Nuno] - Já viste o que fizeste ao puto? Agora quero
ver quem é que o atura...
[Nuno começa a fazer mais uma ganza]
Nuno - Queres ver que é preciso-lhe mudar as fraldas? Bem...isto
vai correr tudo bem... [já muita relaxado, muito zen]
Paulo - Fraldas? O gajo tem 21 anos se ainda precisar de fraldas
estamos mal. Olha falando em fraldas...vi o Manel no outro dia. O
gajo já tem um puto. Não era fixe ter um miúdo? Mas só um miúdo.
Sem a gaja. É que um gajo já tem uma certa idade [diz a apontar
para si]... começo a me fartar dessas tipas que andam por aí na
noite em cima das colunas que a gente olha e num instante salta
pra cima. Sempre todas loucas com meia dúzia de martinis ou
vodkas... O rabo metido nas leggins e os tops de renda
transparente. A mesma história de sempre...
Afonseca – Pessoal... épá... eu nem sou gajo de acreditar nestas
coisas... mas eu acho que tem pessoal aqui... [aponta para o
público]... tou a ficar com medo pessoal... dassssss... eu tou
mesmo a ver... do tipo... uma gajo com bigode e coisa...
[Afonseca fica de novo estático]
Nuno - Querias ser paizinho?
Paulo - Não, mas gosto que elas digam "ai paizinho"... [Faz o
famoso gesto do Táu!]
Nuno – Andas metido com pitas agora é?
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Paulo - Achas mesmo?… É que um gajo fica confuso [levanta-se
com ar atrofiado]: entra na discoteca e elas estão ali todas bonitas.
Altas, magras, lindas, arranjadas. Per-fei-tas. Depois vai-se a saber
e têm 15, 16 anos. Já não é a primeira vez que ia sendo
enganado... As de 16 parece que têm 20, as de 20 parecem ter 25,
as de 25 têm namorado e as de 30 estão na cama – e não é
comigo!... E isso tá mal!
Nuno – Estou a ver que isto é um assunto complicado.
Afonseca - Como é pessoal? Vamos sair? Vamos a despachar… a
vida é curta. Num momento estamos cá, noutro já não. Estive
apensar e já tenho 21 anos… 21 anos! Só me vão restar 2, 45 ou 9
anos de vida. Não sou casado, não tenho filhos. Vou deixar o
mundo tal como vim…
Nuno – Como? De cesariana?
Paulo – Tás lindinho!
Nuno - Vou fumar mais uma.
Paulo [a olhar para a TV] - Este José Castelo Branco é cá uma
bicha...
Afonseca - Bicha? O gajo é tão bicha, tão bicha… que devia passar
no Discovery Channel!
Paulo – Põe isso no concurso dos gordos!
Nuno - O concurso já acabou. Os gordos foram enfardar! Ou então
fumar ganzas. [aponta para si]
Afonseca - Epá e a ganza como é? Tou com 1 moca... isto é bom!
Também gosto da Tânzania!
Paulo – Não digas esse nome!
Afonseca – Home... a Tanzânia é fixe!
Paulo – Não digas esse nome…
Nuno – Já tá todo fodido este gajo...
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Afonseca – Não...a falar a sério, isto está a ser uma experiência
interessante. Sinto… eish... sinto. Epá, não sei. Zen. Estou bem.
Um bocado estranho mas estou bem. Muito bom... Achas que dói
se um polvo te chupar um olho?
Paulo – Se pensares que polvo é o Governo e o olho é o do cu,
sim… vai doer pra caralhos e é já este ano!
Nuno – Esta ganza é mesmo boa. Chamon directamente importado
da Tânzania.
Paulo – O homem pára cu isso… não digas esse nome!
[Afonseca levanta-se]
Afonseca [música a tocar e começa a dançar] - This is my
church… está na hora de ir á igreja! Está na hora de sair! Já estou a
1000%!
Segundo acto
Cena I
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Paulo – Então não é que chega um preto com mais de dois
metros… o gajo aproximou-se… aquilo era demais! Era preto que
nunca mais acabava… deixa ver se consigo explicar bem… já
alguma vez viste um eclipse?
Nuno – E eu é que fumo ganzas!?
Afonseca - Epá, ganda som...
Paulo - Querem beber?
Nuno - Isso pergunta-se?
[Afonseca afasta-se para ir buscar bebidas]
Afonseca - Aquela ganza que fumamos à bocado...p'ra mim foi a
melhor.
Nuno – Até parece que já tinhas fumado de outra!
[Pausa grande]
Afonseca - Tás a ver… havia aquele elefante que era treinado por
um anão. O treinador costumava vestir um tutu de bailarina ao
elefante. E andava o elefante aos saltos a fazer “bariiiiii”… na altura
em que os conheci achava piada a isto! Corria um rumor no circo de
que o elefante e o anão eram amantes. Cada vez que apertavam os
tomates ao elefante ele fazia “bariiii”. Tiveram que matar o coitado
do elefante. Não sei se é boato ou não… mas dizem que os dois
foram enterrados juntos! A lápide é que teve de ser muito grande…
por causa do elefante!
Nuno - Que história mais estúpida! Vê se arranjas outra…
Afonseca - Pode ser com elefantes?
Nuno - Não… estou farto de elefantes!
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Afonseca - Ok… uma vez num circo vi dois elefantes siameses. Em
vez de estarem “colados” nas costas ou nas patas estavam
“colados” pela ponta da tromba… assim [faz gesto
demonstrativo]… era giro… principalmente quando o domador os
mandava ficar de pé com as trombas coladas… e vinha um
macaquinho que atravessava as trombinhas de um lado para o
outro… depois parava a meio e fazia a dança do “Ai se eu te pego”
[faz um pouco da dança]… os bichinhos faziam-me pena…
quando tentavam berrar, como tinham as trombas pegadas, em vez
de fazerem “bariiii” faziam “snorfff”… e ficavam com os olhos
esbugalhados…
Nuno - Pois… agora imagina que estavam colados pelo cu!?
Paulo – Forca-se, a tua mãe sabe disso?
Afonseca – O quê? Dos elefantes?
Paulo – Não palerma, se ela sabe que estás com essa bomba?
Nuno – Dassssssss!
Paulo - Fuma menos.
Nuno - Fuma mais!
Paulo – O puto já está a bater mal…Queres ver que isso é uma
erva "Made in Madeira"?
Nuno - Por acaso não é mas e se fosse? Até podíamos fazer um
bom dinheiro. A não ser que o Alberto João fosse usar as receitas
para exterminar os cubanos...e investisse em Kalashikovs para
andarmos por aí todos aos tiros a defender os nossos poios.
Podíamos ser o próximo principado do Mónaco mas ainda mais
ricos. Até a Marina do Lugar de Baixo ia estar cheia de iates. Era a
puta da loucura. Qual Saint-Tropez, qual Miami, nós éramos os
maiores!
Afonseca [Aproxima-se] – Arranjava-se uns dj’s, vinha o David
Guetta e o Morales, o Tiesto e o Paul Van Dyke, o Carl Cox e o
Benny Benassi. Era a puta da loucura!
[Afonseca distribui os copos e começam todos a dançar com o
Afonseca todo maluco – ouve-se 1 pouco de música
electrónica]
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Afonseca – Sempre que oiço música com os copos há aquele
momento espectacular quando um gajo está todo xailú em que tem
a mania que sabe as letras das músicas todas.
Nuno - Quando eu era puto cantava: “Atirei o pau ao gato to to…
mas o gato to to… não morreu eu eu… QUE EU NASCI CÁ CÁ
assustou-se se... muitas horas passei eu a pensar: "Mas por que
raio o gato se assusta por eu ter nascido cá?”
Paulo - Mas já fumavas ganzas em pequeno?
Afonseca - Essa música leva muita gente ao engano...eu achava
que era "atirei o pão ao gato"…
Paulo - Eu pensava que era "atirei o pai ao gato"... mas isso se
calhar tem a ver com o meu sotaque madeirense...
Afonseca - Ganda sooooooooooooooommmmmmmmmmm! Tens
aí mais da Tânzania?
Paulo – Não digas esse nome! Tás cá com uma ramada...!
Nuno - Uma vergalhada!
Afonseca - Tão não... uma louca! Já não vejo nada!
Paulo - Não me falem em loucas que me lembro logo da minha ex...
Afonseca - Qual, aquela das mamas boas, booooas, boas?
[Afonseca faz desejos de mamas no ar] Caraças, ganda som...
Paulo - Ah rapazzzzzzz, põe-te quieto!
Nuno – Silicone! Quem é que quer aquilo?
Afonseca - Eu!
Paulo - Vais dizer que não é boa a gaja? [Para o Nuno]
Nuno - Boa é... e? É uma cabra do...
Paulo [falando em cima] - Vou mijar!.
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[Sai do palco chateado]
Nuno - Então e nós como é?
Afonseca - Nós bebemos mais uma.
Nuno - Acho que sim. E faço já mais uma. Já tou todo roto.
Afonseca - Não sinto a cabeça, não sinto o chão, não sinto nada.
[Nuno começa a enrrolar]
Nuno – Dá aqui uma ajuda!
Afonseca – A única forma de te ajudar é deixar-te estar! Tu não
queres a minha ajuda!
Nuno – Vá lá ajuda-me!
[Afonseca ajuda e deita tabaco por todo o lado]
Nuno – Pára… é assim que se faz essa merda seu atrasado
mental? Deitaste tudo ao chão! Sai daqui!
Afonseca – Obrigado! Bom dia!
[Vão batendo o pé como se estivessem a ouvir música]
Afonseca - Ganda som...
Nuno - É fixe....
[Começam a fumar a ganza]
Afonseca - Já estou todo fodido... [passa as mãos pelo cabelo e
dá um gole no copo]
Nuno - Caga nisso...sem stress.
[Entra o Paulo]
Afonseca [para Paulo] – Lavaste as mãos?
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Paulo – Não é preciso! Quando vou à casa de banho enrolo um
bocado de papel em redor das mãos, tipo luva e assim já não
preciso de as lavar! [começa a cheirar a mão]
Afonseca – Yaaaaaaaaaa… fixe… ganda ideia!
Nuno – Devias fazer uma empresa para vender rolos de papel
higiénico para pôr à volta das mãos…
Afonseca – Era um negócio do caraças… o pessoal anda sempre a
cagar… pelo menos duas vezes ao dia…
Paulo – Tenho a mão a cheirar a merda?
Afonseca – Acho que puseste o papel na mão errada!
Paulo – Ainda estou a pensar na minha ex. É uma louca de
primeira.
Afonseca - É boa!
Nuno - 500ml de silicone bem postos fazem milagres em qualquer
cara!
Paulo - No outro dia encontrei-a no La Barca!...
Nuno – Estava com quem?
Paulo – Estava bem acompanhada! Com um Vodka Red Bull e um
Hambuger! Queria apresentar-me uma amiga!
Nuno - Quem era a amiga?
Paulo - Uma Isadora Silva, sabes quem é?
Nuno – Uhmmm… Been there, done that!
Afonseca - O quê?
Nuno - Ya, ya... a Madeira é pequena, já sabes como é. Deixa tar
que também não era pó teu bico. [para Paulo] E isso deu em quê?
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Paulo - Mas achas que tenho pachorra para aturar aquela gaja?
Depois passa uma semana a me mandar mensagens. Não há
queca que valha isso
Afonseca – Devias ter ido com ela.
Paulo – Nem pensar.
Afonseca - Claro que devias ter ido.
Paulo – Vocês são é malucos.
Nuno – Devias, devias.
Paulo – Eu? Quero é distância dessa gaja… Vou-lhe ligar! [liga do
telemóvel e afasta-se]
Nuno - Sabes uma das coisas que me fazem mais impressão
quando ando de avião?
Afonseca - Vai sair merda de certeza!
Nuno - É quando um gajo vai à casa de banho. A retrete faz aquela
sucção… Será que se puxarmos o autoclismo enquanto estamos a
cagar a sucção vai-nos arrancar a língua pelo cu?
Afonseca - Eu não disse… a retrete vai-te chupar é o restinho de
miolos que tens!
[Paulo aproxima-se]
Nuno – Pessoal… preciso de vos perguntar uma coisa. Visto que
já nos conhecemos há muito tempo, partilhamos o balneário do
ginásio, tendo o à-vontade que temos e a confiança e cumplicidade
que nos une… [Afonseca interrompe]
Afonseca – “Calma, calma… não faças barulho, ninguém vai
saber”!
Nuno – Hein? Não tou “intendiendo”…
Afonseca – Sim, no ano passado quando fiquei preso nos
balneários!
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Nuno – Sim, o que é que tem?
Afonseca – “Está escuro, prometo que não vai doer”… eras tu?
Nuno – Não!
Afonseca – Dassss…
Nuno – Como eu estava a dizer: visto que já nos conhecemos à
muito tempo, partilhamos o balneário do ginásio, tendo o à-vontade
que temos e a confiança e cumplicidade que nos une… [Afonseca
interrompe]
Afonseca – E à três anos na Festa da Flor?
Paulo – Homem: cala-te! Diz de uma vez Nuno!
Nuno – Vocês alguma vez disseram a alguém que eu tinha uma
pila pequena?
Afonseca – Pois, não eras tu!... ganda merda!
Paulo – Não fui eu! E acho que o Afonseca também não era gajo
para isso! Porquê?
Nuno – Epá… estou sempre a receber emails para aumentar a pila!
Se não foram vocês alguém lhes deve ter dito porque recebo uma
data deles por semana.
Afonseca – Nããããã… nada disso! Eles mandam para toda a gente!
Paulo – Fala por ti… eu cá não recebi nenhum! Isto é
enormeeeee... [aponta]
Afonseca – Eu sei de uns comprimidos que fazem crescer a belica.
Tenho um amigo que experimentou e diz que resulta… duplica o
tamanho, vê lá!
Nuno – A sério?
Afonseca – Sim, chama-se Penis-All! E deve tomar-se dois de
manhã e dois à noite!
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[Paulo afasta-se ligeiramente e começa a escrever no telemóvel]
Nuno – Isso cá para mim é tanga do gajo, então era isso….
medicamentos para aumentar o material.
Paulo [interrompendo] – Nisal é com H ou sem H?
Afonseca – É sem H…
Paulo – CH?
Afonseca – Não! sem o H!
Paulo – E se a pessoa que tomar tiver hemorróidas? Tem efeitos
secundários?
Nuno – Tem… ficas com a hemorróida do tamanho da pila!
Paulo – Porra... conversa de ir ao cu?... não vai dar!!!
[toque de mensagem recebida no telemóvel do Paulo]
Paulo – É a minha EX. Vou ter com ela para tomarmos um copo!
Vocês vêm?
Nuno – Vamos fumar mais um e depois vamos lá ter!
[Paulo sai]
Afonseca – Achas mesmo que o gajo vai ter com a gaja?
Nuno – Acho que sim! Mas primeiro passa na farmácia!
[Luz cai]
[Fim do segundo acto]
3º acto
Cena I
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[Cenário: cela da cadeia; o Nuno e o Afonseca estão
alegamados
Afonseca - Sem stress? Sem stress? Sem stress??! Foda-se, já
viste no que deu?
Nuno - Epá... nunca me tinha acontecido....
Afonseca - Agora como é que vamos sair daqui?
Nuno - Calma o Paulo vem-nos buscar. Pagamos a multa e vamos
embora.
Afonseca - Multa? Isto vai dar é um processo! E pensas o quê? Eu
estou desempregado e nem subsídio de desemprego tenho! Se ao
menos me saísse o Euromilhões…
Nuno - Quando é que jogaste?
Afonseca - Na sexta-feira!
Nuno - E querias que te saísse? À sexta já toda a gente escolheu
os melhores números!
Afonseca – Garanto-te que se alguma vez me sair o Euromilhões
dou metade para caridade!
Nuno – A sério?
Afonseca – Não!... Achas mesmo?!
Nuno – Isto foi mesmo um azar do caraças. Tou farto de fumar
ganzas ali e nunca levei com a polícia em cima!
Afonseca - Eisssssssssssssssh, já me estou a passar...a minha
mãe vai-me matar.
Nuno - Vai nada, eu falo com ela.
Afonseca - Claro, porque isto é tudo culpa tua!
Nuno - Ouve depois falamos disso... 'tou cá com uma broa....
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Afonseca - E eu...
Nuno - Esquece, vai correr tudo bem. Não tinha quase nada
comigo. Os gajos é que foram foleiros. Conhecem-me lá do
banco… ainda fazem é com que seja despedido...
Afonseca - Deves-me 5 garrafas de whyskie, 2 jantares e uma ida
ao Bada Bing. Só me metes em merdas.
Nuno - És fodido...
Afonseca - Só te digo: primeira e última vez... já não aguento a
cabeça e tou com uma fome... xiii...
Nuno – E eu...Comia uma piza!
Afonseca – Uhmmm...Um hambúrguer da rulote!
Nuno – Olha, era capaz de comer um Boi!
Afonseca – e eu uma vaca!
Nuno – Por falar em comer uma vaca será que o Paulo já está
despachado?
Afonseca – Falando no Diabo...[Apontando para o Paulo]
[Chega o Paulo com volume nas calças, vulgo tesão]
Paulo - Vocês são mesmo cromos...
Afonseca - Nós?
Nuno - Eu!
Afonseca - Nós!
Paulo - Vocês!
Afonseca e Nuno - Nós!
Nuno [apontando para o volume das calças de Paulo] – Foste à
farmácia, não?
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Afonseca – Eiiiii…. olha o Penis-All do gajo!!!!!
Paulo – Enganaram-me e fui à padaria da Paniçal e deram-me
isto… [tira um cacete das calças]
Afonseca – Épa… tou cheio de fome! [dá uma dentada]
Nuno – Foda-se… cu nojo! Mas tu sequer sabes o que é que o gajo
andou a fazer?
Afonseca – Quero lá saber! Com a fome que eu estou o gajo até
podia tirar isto do cu!
Paulo – Até parece que és bruxo!
[Afonseca cospe o pão]
Paulo - Devia ter ido para babysitter. Tu [para o Nuno] já tens
idade para ter juízo. E tu [para o Afonseca] também já tens idade
para ter juízo. Vocês vão se por a fazer charros com a bófia ao
lado? Não viam logo que ia dar nisto? Tás a ver porque é que eu
não fumo? Depois eu é que tenho que vos safar destas merdas!
Nuno - Os gajos costumam ser fixes.
Paulo - Muito fixes. Tanto são fixes que vocês agora têm 30 dias de
serviço comunitário para fazer.
Nuno - Fiquei foi sem a ganza...
Paulo - Homem, caga nisso, isso é o menos.
Afonseca - Vá vamos mas é embora daqui.
[Saem os 3 do palco mas antes que tudo acabe Afonseca volta
para trás e dirige-se ao público]
Afonseca - P'ra mim? Primeira e última vez!
[Nuno volta ao palco]
22
Nuno – Paulo ainda tens pão aí? [Sai]
FIM

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