O Espólio da encosta do Lado Ocidental do Castelo de Alcácer do Sal

Transcrição

O Espólio da encosta do Lado Ocidental do Castelo de Alcácer do Sal
Espacio, Tiempo y Forma, Serie II, H.ª Antigua, t. 26, 2013, págs. 371-410
O Espólio da encosta do Lado Ocidental
do Castelo de Alcácer do Sal (LOCAS)
Alentejo, Portugal
A terra sigillata de tipo itálico decorada
e marcas de oleiro II
(Um projecto de João Carlos Faria)
Samian ware of the western slope of the Castle of Alcácer
do Sal (LOCAS), Alentejo, Portugal
Stamps and decorated Italian terra sigillata – II
(A long term project of João Carlos Faria)
Eurico de Sepúlveda 1
Vanessa da Mata 2
Marisol Ferreira 3
RESUMO
Com este artigo dá-se início ao segundo
ciclo e final do estudo sobre as cerâmicas
exumadas no Lado Ocidental do Castelo
de Alcácer do Sal. Privilegiámos a terra
sigillata de tipo itálico na sua vertente
decorada, para além das várias marcas
de oleiro. Dedicamos esta comunicação
ao nosso grande Amigo, arqueólogo,
coordenador e impulsionador do estudo
deste espólio, o JOÃO CARLOS FARIA,
que infelizmente não o pôde terminar.
RESUMEN
Con este artículo se da inicio al segundo
ciclo y final del estudio de la cerámica fina
localizada en el sitio arqueológico que se
encuentra ubicado en la cuesta occidental
del castillo de la ciudad de Alcácer do Sal
(Alentejo, Portugal). Nuestra investigación
tuvo como objeto de estudio una parte
residual de la terra sigillata de origen itálica,
decorada, así como sus marcas de alfarero.
Dedicamos este artículo a nuestro gran
Amigo arqueólogo y coordinador de este
proyecto, JOÃO CARLOS FARIA, quien
infelizmente no pudo terminarlo.
1
Arqueólogo, Associação Cultural de Cascais. [email protected] Avenida de Saboia,
1032, Cv. Dta – Monte, 2765-277 Estoril, Portugal.
2
Arqueóloga. [email protected] Rua da Junqueira, nº 2, 2580-088 Alenquer, Portugal.
3
Arqueóloga, Câmara Municipal de Alcácer do Sal. [email protected]
Câmara Municipal de Alcácer do Sal. Largo Pedro Nunes, Alcácer do Sal, Portugal.
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ABSTRACT
The authors present the ultimate results of
a study concerning Italian terra sigillata
excavated on the western slope of the
castle of Alcácer do Sal. Decorated
sherds and fragments with potter’s stamps
were analysed.This paper is in honour of our
beloved friend who suddenly died in 2007.
PALAVRAS-CHAVE
Castelo de Alcácer do Sal; terra sigillata
de tipo itálico decorada; marcas de oleiro
PALABRAS CLAVE
Castillo de Alcácer do Sal; terra sigillata;
origen itálica; decoración; marcas
de alfarero
KEY WORDS
Castle of Alcácer do Sal, Portugal;
decorated Italian Samian ware; potter’s
stamps.
Recibido el 7 de marzo de 2013. Aceptado el 18 de abril de 2013
Introdução
Por motivos inerentes à condição humana, a nossa equipa ficou, recentemente, reduzida pelo desaparecimento do seu, ainda jovem, coordenador, JOÃO FARIA, que foi o grande entusiasta dos estudos relacionados com os materiais exumados aquando da intervenção de emergência na encosta do lado ocidental do
castelo de Alcácer do Sal no ano de 1996, por uma equipa do IPPAR, então Instituto de Tutela, a qual contou com o seu valioso apoio.
Contudo, os seus planos, em relação ao material arqueológico que ainda faltava estudar, uma dezena de contentores, foram gorados de forma tão infeliz.
Até ao presente e na sequência da mencionada intervenção arqueológica realizada em 1996, iniciou-se, então, um projecto que tinha por objectivo o estudo e
respectiva publicação de todo o espólio romano recolhido aquando do corte efectuado numa área da referida encosta, com o fim de se obter um alargamento da
estrada que permitiria o acesso à pousada de turismo, que seria construída aproveitando o edifício/estruturas do Convento de Nossa Senhora de Aracaeli (Paixão,
A. et alii, 2007) assim como da limpeza do lixo acumulado na vertente e à abertura de valas que possibilitassem a eletrificação da via pública.
Foi então que no ano de 2000 se iniciou o estudo do imenso espólio encontrado em superfície, do qual resultou um primeiro artigo, que visou o estudo de um
conjunto de terra sigillata, constituído por 60 fragmentos de tipo itálico, sudgálica e
hispânica (Sepúlveda, E. et alii, 2000).
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Posteriormente, foram trazidas à colação as cerâmicas de verniz negro e cinzentas (Sepúlveda, E. et alii, 2001) e um conjunto que incluía vasos de cerâmica
de paredes finas, discos de lucernas e pratos/frigideiras com engobe de tipo vermelho pompeiano (Sepúlveda, E. et alii, 2003).
Para além destes tipos cerâmicos que constituíam o material recolhido, na
escavação de 1996, encontravam-se também contentores cerâmicos do tipo ânfora, num total de 44 fragmentos, que viriam a ser publicados em 2006, e onde se
efectuou um estudo sobre os seus tipos, cronologias e locais de produção (Pimenta, J. et alii), sendo mais tarde analisadas cerâmicas comuns de importação, almofarizes, pesos de tear e cossoiros (Sepúlveda, E. et alii, 2006).
No seguimento do que tinha sido planeado retomamos, pois, o estudo ao espólio remanescente, tendo em mente a preocupação de não nos afastarmos das linhas
que tínhamos seguido anteriormente, motivo que nos levou, desde o início deste
novo trabalho, a seguirmos a metodologia adoptada nos artigos já publicados.
O problema da quantificação tem conhecido estudos controversos que se
transformam, por vezes, em obstáculos difíceis de ultrapassar. A investigação estatística tenta, por isso, superar os problemas apresentados pelos arqueólogos
com resultados que nem sempre conseguem satisfazer todo o universo cerâmico 4,
motivo que leva a que as comparações entre espólios se tornem tarefa de difícil
resolução.
Decidimos, portanto, utilizar, como método de análise de contagem, a noção
de NMI (número mínimo de indivíduos), que significará o conjunto daqueles «qui
reflètent déjà une interprétation du matériel […] après le recollage» 5. Estaremos,
assim, mais aptos a fazer comparações quantitativas com trabalhos de investigação que tenham empregado o mesmo conceito estatístico, como sejam os casos
dos estudos de Catarina Viegas sobre o espólio da Alcáçova de Santarém e o de
Rui Morais para as cerâmicas exumadas, até este momento, na cidade de Braga.
Com o fim de facilitar outros tipos de comparação, apresentaremos uma contagem
dos fragmentos (NR) 6 de terra sigillata de tipo itálico.
Quanto às formas, privilegiámos a tipologia de Conspectus (Ettlinger, E. et alii,
1990), complementada pela do «Atlante» (Pucci, G., 1985) e a de Bolsena (Goudineau, C., 1968).
HUSI, P., 2000, p. 8.
Ibidem, p. 4.
6
De acordo com a tradução livre de Catarina Viegas da sigla NR (nombre de restes) presente nos
textos do protocolo de Beauvray e também utilizada por Philipe Husi (ibidem: 3).
4
5
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1. O espólio
O espólio que constituiu o objecto da nossa investigação apresenta um total
de 336 fragmentos de terra sigillata de tipo itálico, a que correspondem 175 NMI.
No quadro 1, indicamos os subconjuntos em que dividimos ambas as classes
indicadas. Do total dos 175 NMI apurados, não iremos apresentar as peças não
decoradas, 146, que se encontram já estudadas e que representam a maioria,
atendendo ao facto de fugirem ao âmbito da comunicação que apresentámos, pois
privilegiámos, nela, as produções decoradas e os fragmentos com marcas de
oleiro que representam 9,1 e 7,4 % do total (Q. 1).
Quadro 1. Totais de fragmentos e NMI e suas percentagens
Terra sigillata tipo
Itálico
Fragmentos
%
NMI
%
Não decorada
307
91,36
146
83,43
Decorada
16
4,77
16
9,14
Marcas de oleiro
13
3,87
13
7,43
Total
336
100,00
175
100,00
2. A terra sigillata de tipo itálico
Na nossa análise tivemos como preocupação fundamental efectuar, ao longo
dela, comparações com outras estações arqueológicas que tivessem sido objecto
de um estudo criterioso sobre a sigillata de tipo itálico, presentes nos seus espólios. Optámos por tornar a escolha o mais coerente possível, tentando, dentro da
disponibilidade bibliográfica que possuíamos, apresentar uma panóplia de arqueossítios que pudessem relacionar-se com a cidade de Salacia utilizando como
critérios de escolha a localização geográfica (Encarnação, J., 2004), a situação
administrativa e, quiçá, a económica, durante o período que vai de finais da República a meados do século I d. C. (Morais, R.; Bernardes, J., 2011). 7
Quanto ao aspecto geográfico, escolhemos, na Bética, a cidade de Baelo
Claudia, que se localizava bem a sul da província e que se encontrava, no Itinerário de Antonino, a pouco mais de 78 km de Gades 8, em zona costeira, na enseada
de Bolonia. Esta cidade conheceu, entre a década de 60 e os inícios dos anos 70
do séc. XX, uma série de escavações que deram lugar a um conjunto de publica-
7
Este limite final, deverá ser, talvez, um pouco mais alargado até toda a época neroniana; justifica-se
pela ausência na colecção de fabricos designados como terra sigillata de tipo itálico tardia.
8
SILLIÈRES, P., 1997, p. 17.
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ções, das quais se destaca o volume dedicado ao estudo da terra sigillata de
Bourgeois e Mayet (Bourgeois, A.; Mayet, F., 1991), o qual tem sido utilizado como
um dos casos paradigmáticos para a comparação dos fluxos de comércio mediterrânico/ibérico deste tipo de cerâmica para/na Hispania.
Para além de Baelo Claudia estabeleceremos comparações, no domínio
das importações da terra sigillata de tipo itálico, com outras cidades situadas na
Bética, que consideramos en route para os produtos itálicos destinados à costa
atlântica, como sejam Carteia e a própria Gades, não esquecendo as cidades
norte-africanas de Ceuta (Septem Fratres), Tanger (enclaves de Tingis e Cotta) e
Tamuda, situadas na região do estreito de Gibraltar.
Já quanto à cidade de Lixus e seu enclave de ad Mercury, na costa atlântica
para sul, far-lhe-emos uma breve referência, na medida em que poderemos aferir
da popularidade de que os oleiros aretinos desfrutaram (Limane, H., 2004) 9 durante o período que estamos a analisar.
Privilegiámos também a cidade romana de Cosa 10, situada junto à costa do
Mar Tirreno, na região da Toscânia. As primeiras escavações arqueológicas
ocorreram logo após a II Guerra Mundial, entre 1948 e 1954, conhecendo-se um
interregno de cerca de onze anos, altura em que a Academia Americana em Roma
as reassumiu, terminando-as em 1972. Das várias publicações sobre o espólio
recolhido utilizámos a de Marabini (Marabini, M., 2006) sobre a terra sigillata, que
será de uma ajuda preciosa, especialmente no que toca às produções itálicas
decoradas.
Já quanto ao aspecto administrativo utilizámos como exemplo comparativo a
vertente das trocas comerciais da capital da província – Augusta Emerita 11. Para
tal serviu-nos de referência o último trabalho do investigador espanhol Jerez Linde
(Jerez Linde, J., 2005), que actualizou os estudos referentes às marcas de oleiros
de Françoise Mayet, publicados nos finais de 1970, de Pérez Outeiriño de 1990 e
pertencentes ao espólio do museu de Mérida e o mais recente, de Macarena Bustamante (Bustamante Álvarez, M., 2008). Devemos destacar na obra de Jerez
Linde a apresentação das formas lisas, que até então não tinham sido estudadas
e cujo conhecimento se tornava uma necessidade premente, atendendo à cronologia fundacional e às importações de louça fina de mesa de origem itálica durante os primeiros anos de vida da colónia.
Escolhemos também duas sedes de conventos jurídicos romanos, pertencentes hoje em dia ao território português, que conheceram investigações, nos últimos anos, de mérito reconhecido – Scallabis e Bracara Augusta. Seguimos, bem
de perto, os trabalhos de Catarina Viegas (Viegas, C., 2003) e o de Rui Morais
Apud BUSTAMANTE ÁLVAREZ, M., 2010, Anexo VIII.
Moderna cidade de Ansedonia.
11
Apenas foi possível obter dados referentes ao espólio depositado no Museu Nacional de Arte
Romano (Mérida).
9
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(Morais, R., 2005), procurando paralelos para a atribuição a esta ou àquela forma
de fragmentos de tamanho reduzido, os quais, pertencendo a bordos ou bases,
são sempre de reconhecida dificuldade em classificar.
Também a situação geográfica da Alcáçova de Santarém, bem perto de uma
via fundamental de comércio, o Tejo, punha-a em paralelo com a localização de
Alcácer, ambas a apresentarem grande acessibilidade a intercâmbios comerciais
marítimos.
Já Braga nos interessou também por ser uma cidade de fundação augustana.
A afirmação de Rui Morais «somos, assim, tentados a considerar que Bracara
Augusta, fundada num espaço de tempo correspondente ao ano 15/13 a. C.» 12
coloca-a dentro de um espectro cronológico análogo aos de Salacia e de Scallabis Praesidium Iulium 13.
Por fim, a pequena cidade romana de Conimbriga. Na década de 70 do
séc. XX, são dados à estampa vários volumes com o estudo efectuado aos diversos espólios, obtidos durante as escavações. Entre estes é de distinguir o volume
dedicado à terra sigillata de tipo itálico, da autoria de Adília Alarcão 14, que se tornou, desde então, referência bibliográfica obrigatória.
2.1 As formas decoradas
No espólio das cerâmicas de terra sigillata de tipo itálico obtivemos um conjunto de 16 peças decoradas bastante fragmentadas, que foram divididas em bordos
(4) e paredes (12) e que possuem uma gramática decorativa variada.
No respeitante à forma, todos esses fragmentos pertencerão a cálices, embora sejam só os fragmentos de bordo —LOCAS 248, 351, 357 e 358/96— os que
nos permitem adiantar uma classificação dentro da tipologia de Conspectus, pois
possuem tamanho bastante significativo. Os restantes doze fragmentos de parede,
atendendo às suas dimensões reduzidas, não possibilitaram esta classificação.
Contudo, a parede 363/96 pertencerá a um cálice, Consp. R2.3., pois encontrámos paralelo para a sua decoração num cálice deste tipo.
2.1.1 Bordos de cálice 15
Os fragmentos LOCAS 248/96 (Est. V.54) e LOCAS 358/96 pertencem a cálices do tipo Consp. R4. O primeiro insere-se na variante Consp. R4.1, e está de MORAIS, R., 2005, p. 31.
VIEGAS, C., 2003, pp. 17, 18.
14
No respeitante à terra sigillata seria imperdoável esquecer Manuela Delgado e Françoise Mayet.
15
Estampa V.
12
13
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corado com uma banda de guilhochis. Os paralelos que obtivemos para eles estão
localizados em Braga (Morais, R., 2005:152, nº 10) e Santarém, onde os fragmentos do tipo R4, pelas suas dimensões, não podem ser subdivididos.
O fragmento LOCAS 351/96 (Est. V.53) insere-se no tipo Consp. R2.3. Tem
bordo emoldurado e a parede apresenta vestígios de decoração. Em Santarém,
foram identificados dois fragmentos (Viegas, C., 2003:76, 77, nºs 1173 e 1211). No
que se refere a Braga, dos cálices deste tipo apenas um pertence a este subtipo
(Morais, R., 2005:125, nº 9). Em Conímbriga, foi exumado um, considerado como
proveniente da oficina de Perennivs (fase barghatea). Para Cosa, dos cálices R2,
existe apenas um R2.3 (Marabini, T., 2006, nº 67). Em Mérida, foram identificados
dois, mas já do tipo R2.2.1, atribuídos, também, a Perennivs (Jerez Linde, J.,
2005, nºs 34014 e 32062).
A parede do vaso, perto do bordo, LOCAS 357/96, embora de dimensões consideráveis, não forneceu pista que permitisse incluí-la em qualquer forma dos
vastos tipos de cálices, modiolvs, copos e cântaros apresentados por Ettlinger (op.
cit.) e por Francesca Porten Palange (Porten Palange, F., 2009).
Catálogo
Nº Inv
Oleiro Consp.
Origem
Ø mm
Esp.
Cronologia
mm
Observações
LOCAS
248/96
Ind.
R4.1
Arezzo
140*
4
15 a. C./
14 d. C.
Banda em guilhochis
LOCAS
351/96
Ind.
R2.3
Arezzo
210
5
15 a. C./
14 d. C.
Vestígios de decoração
LOCAS
357/96
Ind.
—
Arezzo (?)
Ind.
5
—
—
LOCAS
358/96
Ind.
R4
Arezzo
Ind.
4
15 a. C./
14 d. C.
Banda em guilhochis
* A meio da parede.
2.1.2 Paredes decoradas 16
Passemos, então, à análise destes fragmentos que, como afirmámos supra,
pertencem a um conjunto constituído por 12 elementos, que nos permitiram estabelecer as seguintes considerações, tendo sempre presente a nossa impossibilidade
de atribuição destes fragmentos às formas das quais fariam parte. Tornou-se, assim,
necessário, na maioria das vezes, optar pela utilização do termo genérico cálice.
16
Estampas II, III e V.
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1. No primeiro fragmento, LOCAS 249/96 (Est. II.15 e Est. V.41), encontra-se
representada uma figura, para a esquerda, que pensamos ser feminina, embora
só se possa observar uma porção do torso compreendido desde um pouco abaixo
do ombro até à anca. Perto desta, encontra-se a mão esquerda, que nos dá a
sensação de estar apoiada em algo não bem definido, segurando, talvez, um fino
ramo sem folhagem.
Na parte posterior parecem existir os restos de um véu ou, quiçá, de uma asa,
o que nos levaria a pensar relacioná-la com a representação de uma Vitória alada.
A peça foi efectuada num molde que lhe deu excelente relevo, embora com imperfeições na parte frontal do torso e nas costas.
2. O fragmento LOCAS 250/96 (Est. II.16 e Est. V.42) pertence à parede inferior, junto ao pé, de um cálice, de tipologia indeterminada e em que a composição,
da parte do friso que possuímos, atendendo ao seu estilo decorativo, permite
afirmar ser um produto da oficina de PVBLIVS CORNELIVS. Esta oficina situada
em Cincelli (Arezzo) foi estudada por Cristina Troso, que aponta para o início da
produção um terminus ante quem referenciado ao abandono do campo de Haltern
e com final no principado de Tibério, podendo, no entanto, estender-se, com grande probabilidade, até Cláudio 17. Kenrick (OCK, 2000, oleiro nº 623) define o intervalo entre 5 a. C. e 40 d. C. para o funcionamento da oficina de Cornélio.
O friso decorativo da peça foi elaborado a partir de três punções: Troso 160
(círculos duplos), 177 (roseta de 8 pétalas com círculo central) e 230 (folhas do
tipo «pluma» com nervura central da qual saem outras colocadas de forma simétrica). Embora de dimensões exíguas para se definir toda a composição decorativa, podemos, com base em paralelos, interpretá-la como sendo um conjunto de
folhas de nervuras segmentadas, que formam «angoli e rombi che racchiudono
una foglia plumata» 18, limitadas por um friso de círculos duplos, colocado na parte
inferior.
Vários foram os paralelos encontrados na bibliografia consultada. Destacamos
nas colecções do Museu Britânico a porção de um cálice com os mesmos motivos, exumado no Egipto (Coptos) por Petrie, durante finais do século XIX, que faz
parte de um dos catálogos de Walters (Walters, H., 1908) 19, sobre a cerâmica romana no Departamento de Antiguidades do museu, o que não impediu que Dragendorff e Watzinger, em 1948, no estudo sobre a cerâmica aretina decorada, inserissem na Tafel 37, nº 561 (invent. nº 4648) o mesmo fragmento, considerando-o,
obviamente, corneliano; os exemplares da Tav. 68 e 69, nºs 408 a 421 do catálogo
de Troso, provenientes do Museu Arqueológico G. C. Mecenate de Arezzo, têm o
mesmo tema decorativo, especialmente o 411, e são atribuídos à terceira fase da
TROSO, C., 1991, p. 66.
Ibid.: nº 411, 118.
19
WALTERS, H., 1908, Appendix (L 156-172), 1. Ornamented vases from Egypt (L 156-158),
nº L 156, p. 41.
17
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produção que se caracteriza por apresentar um punção P. Cor^n^eli 20 com caracteres de pequena dimensão; Marabini (Marabini, M., 2006) menciona, para Cosa,
um fragmento recolhido nas escavações efectuadas na zona de ocupação habitacional desta cidade, sem estratigrafia, 21 considerando este conjunto de punções
como «very common in the repertory of Cornelius» 22; em Portugal e num estudo
recente (Gomes, N., 2002) 23, tivemos conhecimento de uma peça, exumada nas
escavações de emergência na Praça da Figueira (Lisboa), durante os anos de
1999 a 2001 24, idêntico na sua gramática decorativa.
Para além do fragmento apresentado para Salacia e do da Praça da Figueira existem peças decoradas deste oleiro em arqueossítios romanos que
fazem parte do actual território português. Apenas com mera intenção informativa podemos indicar: Alcácer do Sal, onde já tinha sido referenciada uma
marca juntamente com um dos seus escravos PRIMVS numa taça de tipo
Drag. V (Faria, J. et alii, 1987); no espólio romano do Museu de Setúbal/Convento de Jesus tivemos oportunidade de identificar alguns punções de Cornélio (Sepúlveda, E.; Cardoso, G., 2007); Rui Morais (Morais, R., 2005) atribui à
produção deste oleiro três peças resultantes das escavações feitas em Braga,
no Largo São João do Souto, nas Termas e nas Cavalariças 25; em Santarém,
Catarina Viegas (Viegas, C., 2003), entre os fragmentos decorados, analisa
três que poderão pertencer à oficina de Cornélio, dois dos quais, cálices do
tipo Consp. R4 (2590 e 2591), apresentam «faixa lisa de separação do bordo
da área decorada» 26, motivo que a leva a comparar com cálices idênticos encontrados em Conímbriga e associados a ANTIOCO, escravo de Cornélio. Finalmente, o outro (nº 2872) está decorado com o punção de Troso 230 (folha
emplumada) 27 idêntico ao da nossa peça; Adília Alarcão (Alarcão, A., 1975) no
volume IV das Fouilles de Conímbriga, considera como pertencentes a P. Cornelivs ou a seus escravos, três peças decoradas todas do tipo cálice 28; por fim,
no Castelo da Lousa (Mourão), está referenciado, por Afonso do Paço (Paço,
A.; Leal, J., 1966) 29, um fragmento de cálice, em que foi utilizado um punção
representando uma figura de homem com calção (?).
3. Já o fragmento de pequenas dimensões, LOCAS 255/96 (Est. II.17 e Est.
V.43), está decorado com o resto de dois punções que se tornaram de difícil identificação. Num deles estará representado um pé (?), que se encontra quase tan Marca definida como do tipo C, fig. 1.
MARABINI, M., 2006, p. 46, nº 57, pls.47 e 82.
22
Ibidem p. 46, nº 57.
23
GOMES, N., 2002, p. 50, fig. II e Est. II nº 5. (revisto em 2011 por Catarina Bolila).
24
Direcção de Rodrigo Banha da Silva e Marina Carvalhinhos (Museu da Cidade de Lisboa).
25
MORAIS, R., Op. Cit., pp. 151, 152 e 155, nºs 17, 19 e 40 (embora este último seja indicado com
interrogação).
26
VIEGAS, C., Op. Cit., p. 78.
27
Ibidem, p. 82.
28
ALARCÃO, A. et alii, 1975 pp. 8 e 9, Pl. I, 2, 8 e 10.
29
PAÇO, A., 1966, Fig. 21, nº 2.
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gente ao segundo punção, um arco de elipse que nos parece ser a parte superior
de uma cabeça com penteado em bandó (?). O fragmento termina por linha de
hífenes feita à mão livre, elemento decorativo muito utilizado no reportório dos
oleiros itálicos.
4. A parede de cálice LOCAS 362/96 (Est. III.19 e Est. V.44) pertencerá certamente ao reportório de RASINIVS e parece delinear a parte da asa esquerda de
uma Nike (Porten Palange, F. 2004: wMG/Nike fr 5a), enquanto no estudo de Stenico, sobre este oleiro, o punção tem o número 14 (Stenico, A., 1960: 28, N. 37; 53,
nº 14). Por sua vez, Marabini (Marabini, M., 2006:91-95) apresenta, para Cosa, um
cálice de tipo R1.1, onde se encontra o mesmo punção e que vai atribuir, não sem
reservas, a RASINIVS-MEMMIVS.
5. O fragmento LOCAS 363/96 (Est. II.18 e Est. V.45) está decorado por três
frisos paralelos, marcando o início da decoração. Estes apresentam, de cima para
baixo, pérolas de tamanho pequeno, hífenes, feitos a mão livre e rosetas de dezasseis pétalas. Encontrámos um paralelo, na região do Reno 30, num cálice completo do tipo Consp. R2.3.1, com diacronia de meados de Augusto, assinado no
interior pelo oleiro aretino ATEIVS (Oxé, A., 1933: Tafel XXXII, nº 132 a, b e c). A
conjugação da forma com a gramática decorativa levou-nos a atribuir, a nossa
peça, à oficina daquele oleiro, que laborou entre 15 e 5 a. C.
6. O fragmento seguinte, LOCAS 364/96 (Est. III.20 e Est. V.46), consta da
cabeça, do torso e do braço direito estendido para cima, de uma figura masculina,
voltada à direita. Deparámo-nos com sérias dificuldades para encontrar paralelos.
Pensamos, no entanto, poder identificar esta figura com a de um sátiro presente
na «procissão de Ônfale», cena incluída no chamado «Ciclo de Hércules e
Ônfale» 31. Marabini (Marabini, M., 2006:107-109, nº 18) descobriu, em Cosa, um
conjunto de fragmentos de cálice que lhe permitiram reconstituir esta procissão
mitológica. Da colagem de alguns fragmentos obteve uma sequência de várias figuras, entre as quais individualizou um sátiro, idoso, que segura na mão direita
uma tocha, enquanto com a outra mão agarra um pequeno odre de vinho, que
leva ao ombro. No fragmento por nós estudado, esta posição parece-nos bastante
semelhante, embora não seja possível identificar o restante. O desenho do cabelo,
da testa e da barba não destoa da descrição feita por Marabini e da de um exemplar do Reno apresentado por Oxé 32. Esta gramática decorativa pertencerá à oficina de M. Perénio na conhecida fase de TIGRANVS, embora o cálice de Cosa seja
assinado por CERDO. A diacronia destes oleiros cinge-se ao período entre Augusto e inícios de Cláudio.
Estes cálices são extremamente abundantes no forte romano de Haltern.
Ferrari, A., 1999 p. 285: «La schiavitù di Eracle presso Onfale fa pensare al mito di una figura
divina femminile di origine orientale a fianco della quale si trovava un consorte di rango inferiore.»
32
Tafel LXIV, 155ª, exemplar atribuído a M. PERENIVS. Não devemos descartar a hipótese de se
tratar de um auriga que segura as rédeas do seu carro.
30
31
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O Espólio da encosta do Lado Ocidental do Castelo de Alcácer do Sal (LOCAS)…
7. Outro fragmento de cálice, LOCAS 365/96 (Est. III.21 e Est. V.47), apresenta-se decorado com um punção que, embora muito incompleto, nos permite identificar a cabeça de um/uma jovem de perfil para a direita, com o braço direito coberto por uma manga curta com dobras (possivelmente de um quíton), em
posição de quem estaria a apontar para baixo. É uma figura extremamente bem
concebida, em que se vislumbra a preocupação do oleiro em expressar movimento. Este é dado por uma sequência contínua de três imagens, que, pelo traço
apresentado, nunca poderá ter ocorrido devido à «derrapagem» do punção. Atendendo ao facto de não possuirmos mais nenhum outro elemento que possibilite a
reconstituição da cena decorativa em que este/a jovem estivesse inserido/a não
conseguimos obter paralelos para ele.
8. A parede de cálice, LOCAS 366/96 (Est. III.22 e Est. V.48), é decorada com
uma composição de tipo vegetalista, em que se reconhecem folhas de videira, um
pequeno cacho de três uvas (?) e gavinhas enroladas. Entre os exemplos com
este motivo decorativo encontrámos um paralelo em Cosa, originado na oficina de
RASINIVS (Marabini, M., 2006:Plate 60, nº 4b).
9 e 10. Dois pequeníssimos fragmentos fazem parte deste espólio. O primeiro,
LOCAS 375/96 (Est. III.23 e Est. V.49), exibe um motivo vegetalista – folha de
acanto –, presente nos reportórios de Cornélio (Troso, C., 1991: nº 216) e de Rasinio (Stenico, A., 1960: nº 263), que se combina com um «cordão de caracóis»,
segmentado, que poderemos assimilar à composição do oleiro de Pozzuoli NAEVIVS (Oxé, A., 1933, Tafel LXX, nº 323), assim como à de outro cálice Consp.
R.5.1.2. (ibidem, Tafel XIV, 61), para além do pertencente ao espólio do Museu de
Mérida (Jerez Linde, J., 2005: 29, nº 17; 142, fig. 6-17).
O segundo fragmento, LOCAS 376/96 (Est. III.24 e Est. V.50), tem a particularidade de apresentar uma espessura finíssima, o que nos levaria a pensar pertencer a um vaso de cerâmica de paredes finas; no entanto, a técnica utilizada é a da
terra sigillata. Quanto à temática decorativa, identifica-se uma canelura seguida da
ponta de uma asa, que pensamos pertencer, pelo seu tamanho reduzido, a um
pequeno amor.
11. No fragmento MMPN 2629 (Est.III.25 e Est. V.51), parede inferior de cálice,
apenas detectámos uma série de linhas irregulares, acompanhadas de relevos
que interpretámos como o drapejamento de uma colcha ou lençol e que poderia
fazer parte de cenas relacionadas com festivais em honra de Baco, cenas de tipo
simpósio ou de simplegmas amorosos/eróticos. Poderíamos apresentar vários
paralelos para ele; no entanto, escolhemos uma peça, inédita, de grande valor
estético, encontrada na intervenção arqueológica urbana, da Rua dos Bacalhoeiros (Lisboa), que ocorreu sob a direcção de Lídia Fernandes (Sepúlveda, E.; Fernandes, L., 2012).
12. Terminamos com a peça MMPN 2639 (Est. III.26 e Est. V.52), em que
se encontra representada a figura de um jovem sátiro, de perfil para a direita, de
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EURICO DE SEPÚLVEDA, VANESSA DA MATA Y MARISOL FERREIRA
que não possuímos a cabeça e os pés, segurando nas mãos uma flauta de tipo
aulos (αύλός).
Este punção está classificado como S re 5a no catálogo dos punções referentes a Arezzo apresentado por Porten Palange, em 2004 33, que o considera como
tendo origem nas oficinas do «grupo Rasinio Memio». A descrição desta autora
para o resto do punção completa a leitura do mesmo: o sátiro encontra-se colocado numa posição em que «Der kopf nach links in Profil…» enquanto os pés se
encontram voltados para a direita. Este punção tem como paralelos dois fragmentos que constam do estudo efectuado em 1948 por Dragendorff e Watzinger sobre a terra sigillata aretina de Tubingen, presentes na figura (Beil) 4 com os números 23 e 24.
Catálogo
Ø
mm
Esp.
mm
Crono
Observações
Arezzo
—
3
?
Possivelmente menade
dançante
Ind.
Arezzo
—
6
5 a. C./
40 d. C.
Frag de parede
de cálice
Ind.
Ind.
Arezzo
—
3
?
—
LOCAS
362/96
Rasinivs
Ind.
Arezzo
—
3
15 a. C./
15+ d.C.
Excelente execução
LOCAS
363/96
Ateius
R2.3.1
Arezzo
—
3
15-5 a.C.
—
LOCAS
364/96
Cerdo /
Tigranvs (?)
—
Arezzo
—
3
Augusto/
Cláudio
Procissão de Ônfale
LOCAS
365/96
Ind.
—
Arezzo
—
4.5
—
—
LOCAS
366/96
Rasinivs
(?)
––
Arezzo
(?)
—
4
—
Possivelmente
de cronologia
augusta/ cláudia
LOCAS
375/96
Naevivs
R.
5.1.2
Pozzuoli
(?)
—
2,7
1-20 d. C.
—
Nº Inv
Oleiro
Consp. Origem
LOCAS
249/96
Ind.
Cálice
LOCAS
250/96
P. Cornelivs
LOCAS
255/96
PALANGE, P., 2004, p. 199, Tafel 107.
33
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O Espólio da encosta do Lado Ocidental do Castelo de Alcácer do Sal (LOCAS)…
Ø
mm
Esp.
mm
Crono
Observações
Arezzo
(?)
—
1,6
—
Asa de amor
Ind.
Arezzo
—
4.4
?
Possivelmente terá
uma cronologia augusta
Ind.
Arezzo
—
3,3
—
Sátiro
Nº Inv
Oleiro
Consp. Origem
LOCAS
376/96
Ind.
Ind
MMPN
2629
Ind.
MMPN
2639
Rasinivs/
Memmivs
2.2 Os oleiros itálicos 34
Na intervenção arqueológica da encosta do Castelo de Alcácer obtivemos um
conjunto de 14 oleiros itálicos, que apresentam marcas em cartelas de tipo variado, tendo-se verificado a mesma dificuldade, que ressalvámos para as paredes
decoradas, quanto à identificação tipológica dos vasos onde estas marcas foram
apensas.
Estabelecemos, assim, a partir do total das marcas, 5 grupos, constituídos
tendo como base um critério de identificação geográfico das olarias. Definimos,
deste modo, oleiros com oficina em Arezzo; com oficina, possivelmente em Arezzo; em Pozzuoli/Cumae; em sítio indeterminado e, por fim, marcas de difícil atribuição ou mesmo de leitura incerta.
Pensamos serem estes agrupamentos explicativos, na sua essência, motivo
por que passaremos a expor os resultados obtidos da análise feita a cada oleiro.
2.2.1 Oleiros com oficina em Arezzo
1. A marca LOCAS 270/96 (Est. I.1 e Est. IV.27) é proveniente das oficinas de
P. CORNELIVS e está assinada pelo seu escravo FIRMVS. A oficina de Públio
Cornélio é, sem dúvida, das mais conhecidas por todo o Império, visto terem trabalhado nela, pelo menos, 55 escravos 35, o que provocou, ao longo dos anos,
uma oferta dos seus produtos das mais significativas 36. Quanto à presente marca,
esta foi feita com um punção de tipo rectangular, dividido ao meio por uma linha
irregular incisa em que se lê no espaço superior, com dificuldade, I’IRM e, no infe Estampas I, II e IV.
Destes, apenas seis são conhecidos como tendo produzido terra sigillata de tipo itálico decorada:
Antíoco, Bituhvs, Fausto, Heráclidas, Primo e Rodo.
36
No actual território português, são inúmeros os exemplos que podíamos indicar, quer do oleiro
«marcando» sozinho, quer conjuntamente com os seus escravos.
34
35
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EURICO DE SEPÚLVEDA, VANESSA DA MATA Y MARISOL FERREIRA
rior, P·CO (também pouco nítido). Aquando da aplicação, houve um ligeiro desvio,
que motivou um «esborratar», provocando a sua leitura difícil. Corresponde no
OCK ao oleiro Firmo número 646, punção nº 6, que tem como início da sua produção 15 a. C., embora o seu final ainda não tenha sido determinado. Para a Lusitânia, encontramos este tipo de marca em fragmentos provenientes de Conímbriga
(Alarcão, A., 1975) 37 e, em Mérida, num exemplar da Alcazaba (Jerez Linde, J.,
2005), embora com as posições de leitura invertidas: na primeira linha P CORN e,
na segunda, o nome do escravo I’IR^M 38.
2. Outro dos oleiros é SAVFEIVS, OCK nº 1800, que manteve a sua actividade
desde 15 a. C. até pelo menos 30 d. C., diacronia baseada no tipo da cartela OCK
617 (in planta pedis). Esta está completa, centrada, aplicada num fundo, LOCAS
267/96 (Est. I.2 e Est. IV.28), de uma taça de forma cónica de que possuímos uma
porção do fundo, interior, em que se lê SAVEE^I (o S é retrógrado e o primeiro E
parece um F com um ponto). Kenrick apresenta exemplos deste tipo de variantes
(1800, 16 a 21) e, embora seja difícil indicarmos um paralelo, pensamos ser a do
museu de Arezzo com o nº 16 a mais idêntica. Saufeio é um oleiro relativamente
pouco conhecido na Lusitânia romana. Conceição Lopes, em 1994, identificou nas
Represas a primeira marca, incompleta, em cartela de forma rectangular (nº de
Inv. 4120). A marca completa de Salacia, torna-se assim, a segunda marca encontrada deste oleiro, no actual território português, pois, Saufeio está ausente em
Braga, Balsa, Lisboa (Teatro Romano) e na Alcáçova de Santarém. Em Mérida
são, no entanto, conhecidas duas marcas de escravos seus, Félix e Filomuso,
oriundas da «Casa Basílica» e da lixeira da «Plaza de Toros», (Jerez Linde, J.,
2005: 90 e Fig. 22, nºs 118, 119).
3. A próxima marca, LOCAS 360/96 (Est. I.3 e Est. IV.29), incompleta, encontra-se colocada num pequeníssimo fragmento de fundo de uma taça numa cartela
rectangular Consp. 100, com nome do oleiro inscrito em duas linhas paralelas
sem qualquer tipo de separador. Identificámos, na primeira linha, as letras T T I e
na segunda I A. Trata-se de uma das variantes epigráficas do oleiro L. TETTIVS
SAMIA (OCK 2109), que desenvolveu a sua actividade de oleiro entre 20 a. C. e 5
d. C., na Etrúria 39. Adília Alarcão e Dias Diogo 40 referenciaram em Alcácer três
marcas deste oleiro. Embora estas sejam pouco conhecidas nas estações arqueológicas portuguesas, existem em Santarém (Viegas, C., 2003) e no Monte do
Manuel Galo (Maia, M., 1974), estando ausentes nos espólios de Braga, Conímbriga, Teatro Romano de Lisboa e Represas. De Mérida apenas foi publicada uma
marca da Alcazaba, com cartela rectangular e com separação entre as duas linhas (Jerez Linde, J., 2005: 92, e Fig. 23, nº 126).
ALARCÃO, A., op. cit., números 242 e 243; 40, 44, 62 e 63 e Plate XIII.
JEREZ LINDE, J., 2005, figura 20, nº 35.
Kenrick levanta dúvidas sobre a localização da/s olaria/s de L. Tetios Samia, embora conclua que
«the workshop is surely in Etruria at least, and perhaps not far away.».
40
DIOGO, A., 1980, pp. 14 e 20.
37
38
39
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4. Outra marca completa está impressa em cartela rectangular de cantos
arredondados, LOCAS 268/96 (Est. I.4 e Est. IV.30), identificando-se os seguintes
nexos L^T (?), T^H^Y e S^I. Devido ao punção ter sido aplicado de maneira
deficiente, torna-se difícil a sua leitura. Daí pensarmos ser possível pertencer a
uma de duas oficinas: a de THYRSVS oleiro nº 2120 do OCK com cronologia
de 20 – 1 a. C., ou a de L. TITIVS THYRSVS, (OCK nº 2246, 41), com diacronia
de 20 a. C. – 10 d. C. Em relação ao oleiro 2120, verifica-se ter tido como mercados preferenciais a Germania, a Belgica e a Itália. Na Península Ibérica, são conhecidas apenas duas marcas suas na Tarraconense (Ampúrias e Tarragona).
Quanto ao oleiro com o número 2246, podemos considerá-lo como um dos mais
profícuos, sendo conhecido em todas as províncias do Império, com ressalva para
a Bética. Na Tarraconense, encontramos, possivelmente, uma marca em Braga
(Morais, R., 2005:173, oleiro nº 7) 41 e para a Lusitânia duas em Imperatoria Salacia (a primeira publicada em 1980) 42.
5. A próxima marca, LOCAS 262/96 (Est. I.5 e Est. IV.31), pertence ao oleiro A.
VIBIVS SCROFVLA (OCK 2400), que, se atendermos à diacronia que é atribuída
à sua oficina, 40 a 15 a. C., será a marca mais antiga do espólio que apresentamos. Com oficina em Stª. Maria in Gradi, são-lhe conhecidos 16 escravos. Trata-se
de uma marca de dimensões reduzidas aplicada em cartela rectangular (tipo OCK
100), em duas linhas em que se lê, na primeira AVB, e, na segunda SCR. Embora
seja um oleiro sobejamente conhecido nas províncias da Iberia não tinha sido
ainda encontrada qualquer marca na Lusitânia, excepção feita para esta e uma
outra indicada por Faria (Faria, J. et alii, 1987) 43, num prato de tipologia não determinada, em que pode ler se AVIBI/SCROF.
2.2.2 Oleiros com oficina, possivelmente, em Arezzo
6. A primeira marca pertence a L. GELLIVS, oleiro nº 879 do OCK, com cronologia localizada entre 15 a. C. e 50 d. C., que terá desenvolvido a sua actividade
possivelmente em Arezzo. Marca completa inscrita em cartela rectangular de cantos arredondados, LOCAS 265/96 (Est. I.6 e Est. IV.32), sem nexos em que se lê
LGELL. O primeiro L parece-nos um I, facto que leva a pensar na existência de um
pequeno desvio aquando da aplicação do punção. No entanto, identificámos no
OCK um punção com o nº 102 (tipo 451, rectângulo com cantos arredondados),
que dá a leitura IGELI, encontrado em Roma, que se terá de indicar, possivelmente, como paralelo para o exemplar de Alcácer do Sal. Kenrick apresenta um total
41
A atribuição a este oleiro da marca nº 7 de Braga, em cartela de duas linhas à qual falta a
segunda, é feita na base da existência de um possível paralelismo com o tipo do desenho das letras
da primeira linha, onde se lê L. TITI, de uma marca do Museo Nazionale delle Terme e de uma outra
de Viena.
42
DIOGO, A., op. cit., nº 16; FARIA, J., 1987, oleiro nº 53.
43
Marca que já constava do trabalho apresentado por Diogo em 1980.
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EURICO DE SEPÚLVEDA, VANESSA DA MATA Y MARISOL FERREIRA
de 563 marcas em diferentes tipos de punções, o que nos dá, apenas, uma ténue
ideia da sua actividade. 44 Na Lusitânia, para além desta, da publicada por Luísa
Ferrer Dias 45 e doutra trazida por nós à colação em 2000 46, este oleiro já era conhecido em Beja (Lopes, M., 1994). 47 Quanto à marca das Represas, são evidentes os problemas de identificação, pois a leitura do punção é feita na base das
letras L.C ou L.G, o que tem provocado controvérsia entre vários autores: para
Adília Alarcão, esta marca pode ser interpretada como pertencente a
L.C[RISPIVS], oleiro de Arezzo nº 771 do OCK 48, enquanto que, para Conceição
Lopes, é identificada como originária das oficinas de GELLIVS a partir da forma
da cartela, do tipo in planta pedis. Para os autores do OCK ela não está identificada com nenhum tipo de cartela; daí a atribuição ao tipo 0, considerando-se assim
como uma marca de leitura duvidosa.
7. À oficina de L. Umbrício pertence a marca LOCAS 273/96 (Est. I.7 e Est.
IV.33), com o punção de um dos seus escravos HOSPES 49. Numa cartela, rectangular com duas linhas (OCK tipo 261), que se encontra partida, conseguimos ler
na primeira HO e na segunda L∙V. A leitura que obtivemos corresponde ao oleiro
nº 2459 do OCK com diacronia aproximada, entre 15 e 1 a. C. Enquanto L. Umbrício é oleiro com difusão relativamente vasta, a maior parte da localização das
oficinas em que trabalharam os seus escravos é desconhecida. Excluindo a Península Itálica, as Germânias, a Narbonense e a Mauritânia, a marca HOSPES L.
UMBRICIVS apenas foi encontrada na Península Ibérica, na Tarraconense (Elche
e Varea). Assim, com reservas, pensamos ser, a marca estudada, a primeira encontrada na Lusitania romana.
8. A próxima marca, LOCAS 266/96 (Est. I.8 e Est. IV.34), da qual possuímos
apenas 7 mm, está inserida numa cartela de tipo indeterminado, que poderá
estar centrada, e dá-nos uma leitura muito reduzida do nome do oleiro. Apenas
duas letras, de espessura muito fina, cerca de 1 mm, estão impressas de maneira cuidada. A primeira é G e a segunda a porção de um A, com o traço de ligação das duas pernas ligeiramente oblíquo. A sua identificação a um oleiro implica elevado grau de incerteza, pois no OCK o começo por GA pode ser
identificado a, pelo menos 7, oleiros; no entanto, parece-nos serem apenas dois
44
Pois funcionou cerca de 65 anos. Devemos levar, também, em linha de conta o facto de o OCK
ter já oito anos.
45
DIOGO, A. ibidem, pp. 148 e 154, nº3.
46
Nesse nosso artigo de 2000 (SEPÚLVEDA, E. et alii, 2000 p. 136, nº 43) uma marca de L. GELLI,
em duas linhas, à qual faltava a segunda, foi assimilada à produção do oleiro L. GELLI QUADRATVS.
Jerez Linde (2005, nº 85) apresenta uma marca recolhida na Alcazaba de Mérida, que, já tinha sido
estudada por Pérez Outeiriño, e atribuída a L. GELLI QUADRATVS com o que não concordamos, visto
que, no OCK, esta marca foi atribuída, sem dúvidas, ao oleiro GELLI, nº 878.
47
Ver RIBEIRO, F., 1959; ALARCÃO, A., 1971 e OCK, 2000.
48
Pensamos ter esta investigadora apostado nesta identificação baseando-se na ocorrência da
existência nas Represas de mais duas marcas deste oleiro onde foram utilizados os punções do OCK
nº 11 (L. CRIS) inserido em cartela do tipo in planta pedis e nº 8 (L. CR) em cartela do tipo 431.
49
Até ao presente apenas é conhecido um punção-tipo deste escravo de Umbrício.
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os que estarão mais próximos: GALLVS (nº 864 com olaria algures na Itália central e com cronologia de 10 a. C. até para além do ano 30 d. C.) e GAVIVS (nº
867, com oficina em Arezzo (?) e com uma diacronia entre 10 a. C. e 20 d. C).
Partindo do pressuposto de se encontrar desenhado, provavelmente, o calcanhar de um pé, e não esquecendo o tamanho reduzido deste fragmento, poderemos pensar ser uma cartela in planta pedis dos tipos OCK 601-607.
No reportório de punções deste oleiro encontrámos no CVA 50 uma marca de
Gávio, em Cartago, que apresenta a leitura GA. Contudo, Kenrick quando elenca
a «List of occurrences» para Gávio, interroga-se sobre a possibilidade de a marca
ser realmente dele. Quanto a nós, achamos poder atribuir, com um certo grau de
reserva, a marca de Alcácer a GAVIVS, visto ser um oleiro conhecido em toda a
Hispania e com paralelo em Mérida (Jerez Linde, J., 2005:79, e Fig. 22, nº 83) 51.
2.2.3 Oleiros com oficina em Pozzuoli/Cumae
9. Embora seja Arezzo a principal zona de concentração de olarias que produziram terra sigillata de tipo itálico, existem, na Itália, outros centros oleiros importantes que produziram este tipo de cerâmica fina de mesa. Entre estes, iremos
começar por referenciar o de Pozzuoli 52, que não deve ter iniciado a sua produção
antes de 10 a. C., atendendo ao tipo de vasos que ali foram descobertos 53.
Dos oleiros que laboraram neste centro foi exumada uma marca de EPIGONVS, LOCAS 271/96 (Est. I.9 e Est. IV.35), cuja actividade tem como baliza cronológica 10 a. C., não se tendo confirmação arqueológica para o seu final. Apenas
quatro variantes são conhecidas da marca de Epígono (OCK nº 770). A explicação
que achamos ser a mais plausível para este facto reside em ser este oleiro pouco
conhecido para além da região de Pozzuoli. Contudo, temos referências suas nas
províncias da Achaea, da Arabia e na própria Lusitania. A marca de Alcácer está
incompleta, inserida numa cartela de tipo rectangular com os cantos arredondados onde se lê EPIG. Os caracteres são extremamente finos com espessuras que
não ultrapassam 1 mm. Na Lusitânia, para além da marca apresentada, só temos
conhecimento de mais duas nas Represas (Beja).
Uma dessas marcas está completa (Ribeiro, F., 1959: nº 99) e a outra, com
leitura EPI, consta da monografia da autoria de Conceição Lopes (Lopes, C.,
1994: nº 4117).
OXÉ, A.; COMFORT, H., 1968 p. 204, oleiro 727, q.
Pérez Outeiriño, 1990: nº 74 (Apud. JEREZ LINDE, J., op. cit., pp. 79, 80 e 110). Esta marca, assim
como a nº 84, de El Chorrillo, são consideradas como pertencentes ao oleiro aretino C. GAVIVS.
52
Cidade costeira do Mar Tirreno situada a pouca distância de Nápoles, cuja excelente situação
geográfica permitia a existência de um comércio intenso efectuado por via marítima e/ou terrestre.
53
OCK, 2000, p. 32 e 33.
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EURICO DE SEPÚLVEDA, VANESSA DA MATA Y MARISOL FERREIRA
Não devemos terminar sem salientar o facto de este oleiro estar ausente na
capital da Lusitânia, num total de 162 marcas de oleiros itálicos 54 (!).
2.2.4 Oleiros com oficina em sítio indeterminado
Pertencem a este grupo apenas duas marcas, LOCAS 263/96 (Est. II.10 e Est.
IV.36) e LOCAS 272/96 (Est. II.11 e Est. IV.37), que seguidamente estudaremos
em pormenor.
10. A primeira, aplicada no fundo de um vaso de que não conseguimos definir
a forma, está incompleta e encontra-se inserida numa cartela de tipo rectangular
com elemento separador do tipo OCK 261, onde se lê, na primeira linha, A (ou
P^A ?) VILI e, na segunda, PHI(…). A colocação do gentilicivm, Avillivs, na primeira linha poderia querer significar que o oleiro, possivelmente PHILA( ) 55, seria um
liberto, hipótese que questionamos tendo em linha de conta a «chamada de atenção» de Kenrick, a propósito de AVILLIVS PROTVS (OCK: 156, oleiro nº 394).
Em Braga, foi referenciada uma marca, proveniente das Cavalariças (Morais,
R., 2005:175, nº 15), onde a posição dos nomes se encontra trocada em relação
ao nosso exemplar, o que significaria ser a marca da autoria do escravo de Avilio.
Não será, todavia, despiciendo assimilar também esta marca, do espólio de
Salacia, ao oleiro P. AVILLIVS PHILA( ), OCK 409, com cronologia para a sua produção «possivelmente augustana», se considerarmos a leitura do nexo P^A, embora no exemplo apresentado por Kenrick o P e o A se encontrem separados 56.
11. A segunda marca poderá estar relacionada com a anterior, pois deverá
pertencer a um dos AVILII, atendendo à leitura que propomos A•A^VI (OCK, 395).
Está aplicada numa taça, de que possuímos a base (Consp. B 4.9), numa cartela
rectangular de vértices arredondados (OCK, 451). A. Avílio é um oleiro cuja localização da oficina não foi identificada até agora e que deve ter laborado durante um
longo período de tempo, de 15 a. C. a 30 d. C.
Esta marca tem como paralelo, na província da Tarraconense, os punções
identificados em Tarragona e Valência, enquanto que, para a Baetica foram encontradas marcas idênticas (Córdova e Astia Regia), mas em punções da forma OCK
0 e 603.
Das estações com espólios que nos têm servido como elementos para comparação conhecemos, apenas, uma marca radial de um dos seus escravos, Eros,
JEREZ LINDE, J., op. cit.
O espaço que é bem definido para o resto das letras, atendendo à área do rectângulo, não permite
mais do que duas letras, logo a nossa escolha de leitura PHILA( ).
56
OCK, 2000, p. 159.
54
55
388
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Serie II, H.a Antigua, t. 26, 2013
O Espólio da encosta do Lado Ocidental do Castelo de Alcácer do Sal (LOCAS)…
em Scallabis (Viegas, C., 2003:86), e uma de C. Avilio, em Belo (Bourgeois, A.;
Mayet, F., 1991:54, Tableau 23, nº 24).
2.2.5 Marcas de difícil atribuição ou mesmo de leitura incerta
Finalmente, analisaremos o grupo que foi formado a partir de um critério baseado num grau crescente de dificuldade/indeterminação de leitura, constituído por
três marcas.
12. A primeira marca, incompleta, LOCAS 269/96 (Est. II.12 e Est. IV.38), encontra-se impressa num fragmento de fundo de uma base de taça Consp. 7, inserida em cartela rectangular de cantos arredondados e limitada por dois círculos
paralelos, um à distância de 8mm e o outro à de 4. Distingue-se, perfeitamente,
um nexo de três letras P^H^I, seguido de um outro carácter de que possuímos
uma porção diminuta do que nos parece ser um L. A identificação a um oleiro específico tornou-se assim difícil. A investigação efectuada levou-nos às seguintes
hipóteses de identificação.
No OCK não existe nenhum oleiro que tenha um punção, dentro do grupo dos
PHI… (nºs 1438 a 1461), com o referido nexo, excepção feita a PHILEROS
(OCK:328, oleiro nº 1449, nºs 3 e 4), oleiro de Pisa com uma diacronia de cerca
de 10 a. C. até para além do início da Era, e a PHILOSI(TVS), que apresenta punções aplicados em cartelas do tipo OCK 100, idênticos ao da nossa marca, o que
permitiria o «encaixe» das restantes letras. A cronologia atribuída a este oleiro, de
20 a 1 a. C., é também um factor bastante atractivo, quando conjugada com o tipo
de taça onde a marca, agora estudada, está aplicada – Consp. 7 57.
Se atendermos às difusões apresentadas para cada um dos oleiros com nomes iniciados por PHI, no OCK, não seria despiciendo escolher o oleiro aretino
PHILOGENES (nº 1456), cujas marcas são encontradas, nos arqueossítios de
ocupação romana, de forma «substancial» (por exemplo, Alicante, Ampúrias e
Segóbriga, situadas na província romana da Tarraconensis).
Porém, a existência de uma marca de PHILOSITVS L. TITIVS, OCK, nº 1460,
1 e 2, exumada aquando da intervenção urbana no Alto de São Miguel (Alcácer do
Sal) e por nós estudada 58 será, sem dúvida, uma das hipóteses mais aliciantes
para a identificação do oleiro que aplicou esta marca.
13. Outra das marcas encontra-se todavia completa, LOCAS 264/96 (Est. II.13
e Est. IV.39) e está aplicada no fundo interno de uma pequena taça. Está inserida
numa cartela circular do tipo genérico OCK 500 e pensamos poder identificar,
Cronologia entre 40 a. C. e 10/25 d. C.
SEPÚLVEDA, E., FERREIRA, M., MATA, V., 2008 pp. 282-284, fig. 3.
57
58
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Serie II, H.a Antigua, t. 26, 2013
389
EURICO DE SEPÚLVEDA, VANESSA DA MATA Y MARISOL FERREIRA
talvez, um A ou V, um pequeno traço horizontal e outro traço, mais pequeno, oblíquo, que formarão, possivelmente, um nexo.
Tornou-se, pois, impossível identificar a oficina não tendo encontrado nenhum
paralelo, na nossa bibliografia. Pareceu-nos ser a hipótese mais viável relacioná-la
com uma marca do tipo «unattributable (2)» presente no OCK com o nº 2585.132.
14. Por fim, a última marca muito incompleta que foi inserida no fundo interno
de uma base de pequena taça LOCAS 274/96 (Est. II.14 e Est. IV.40).
Nela identifica-se o que resta de uma aplicação indefinida que se encontra
numa cartela, muito partida, que será do tipo rectangular com vértices redondos.
Pensamos, no entanto, poder tratar-se de uma marca de tipo vegetalista —palma—, que se encontra presente no Corpvs Vasorvm Arretinorvm (OCK 2580.139).
Catálogo
Consp.
(frag.)
Origem
Tipo cartela
(OCK, nº)
OCK
(nº)
Crono
geral
AVILLIVS
PHILA
()
—
Ind.
Rectangular (261)
?
15 a. C.+
ou
10 a. C.+
-
Centrada?
Incompleta
LOCAS
272/96
A.AVILLIVS
Consp.
B 4.9
Ind
Rectangular (451)
395
15 a. C./
30 d. C.+
A^V
Taça
Centrada
LOCAS
270/96
P. CORNELIVS FIRMVS
Consp.
B3.13
Arezzo
Rectangular (261)
646
15 a. C.
-
Centrada.
Pouco nítida
LOCAS
271/96
EPIGONVS
—
Pozzuoli
/Cumae
Rectangular (100)
770
10 a. C.
-
Centrada?
Incompleta
LOCAS
266/96
GA
—
Arezzo
(?)
in planta
pedis
(601/607)
867
10 a. C./
20 d. C.
-
Opção
GAVIVS
LOCAS
265/96
L. GELLIVS
—
Arezzo
(?)
Rectangular (451)
879
15 a.C./
50 d. C.
-
Segundo L
elevado
LOCAS
267/96
SAVFEIVS
Consp.
B 23.2
Arezzo
in planta
pedis (617)
1800
15 a. C./
30 d.C. +
E^I
S retrógrado.
Centrada
LOCAS
360/96
L. TETTIVS
SAMIA
—
Arezzo
Rectangular (100)
2109
20 a.C./
5 d. C.
-
Na 1ª linha
TTI, na 2ª IA
LOCAS
268/96
THYRSVS
Consp.
B 24.3
Arezzo
Rectangular (100)
2120
20 – 1
a. C.
L^T;
T^H^Y;
S^I
Centrada.
Pouco
nítida
LOCAS
262/96
A. VIBIVS
SCROFVLA
—
Arezzo
Rectangular (100)
2400
40 – 15
a. C.
-
Centrada
Nº Inv
Oleiro
LOCAS
263/96
390
Nexos Observações
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O Espólio da encosta do Lado Ocidental do Castelo de Alcácer do Sal (LOCAS)…
Origem
Tipo cartela
(OCK, nº)
OCK
(nº)
Crono
geral
—
Arezzo
(?)
Rectangular (261)
2459
15 – 1
a. C.
-
Centrada?
Incompleta
PHIL (?)
Consp.
7
Ind.
Rectangular (100)
?
Época
Augusta
P^H^I
Centrada
Incompleta
LOCAS
264/96
(?)
(?)
Ind.
Circular
(500)
2585,
132
(?)
-
—
LOCAS
274/96
Anepígrafa.
Consp.
B 4.7
Ind.
Rectangular
2580,
13
(?)
Palma
(?)
Taça
Nº Inv
Oleiro
LOCAS
273/96
L. VMBRICIVS
HOSPES
LOCAS
269/96
Consp.
(frag.)
Nexos Observações
3. Difusão das olarias itálicas na Lusitânia, Bética e na
Mauritânia Tingitana
Para Salacia verifica-se, desde os inícios da produção da terra sigillata de tipo
itálico, a existência de novos padrões de importação de cerâmica fina de mesa,
atestando-se uma ligação ao centro abastecedor itálico por excelência, Arezzo,
que, ao deter o «monopólio» da produção durante o período tardo-republicano/
inícios do Império, coloca os seus produtos em centros consumidores que passam
a estar dependentes desse abastecimento. Facto este que se verifica na alta percentagem de mais de 57% de marcas, encontradas e analisadas neste estudo,
respeitantes a oleiros com as suas oficinas ali localizadas.
Quadro 2. Distribuição das novas marcas apresentadas por centros oleiros itálicos.
Proveniência
Arezzo
Arezzo (?)
Pozzuoli
Ind.
Total
Marcas
5
3
1
5
14
%
35,71
21,43
7,15
35,71
100,00
Os resultados obtidos permitem-nos levantar a hipótese de que as importações de terra sigillata originada neste complexo oleiro teriam tido um significado
de modernidade ou, quiçá, reflectindo o acompanhamento de modelos equivalentes do consumo em Itália (Bustamante Álvarez, M., 2008) por parte dos cidadãos
de Imperatoria Salacia.
Estes estariam assim dispostos a adquirir esta cerâmica, pois possuíam padrões de desenvolvimento económico e social (de tipo elitista) que lhes advinham
da situação privilegiada que a própria cidade apresentava para o período que se
analisa.
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391
EURICO DE SEPÚLVEDA, VANESSA DA MATA Y MARISOL FERREIRA
Podemos, também, verificar esta influência tão acentuada da importância do
grupo de olarias aretinas ao analisar os totais agregados, obtidos até ao momento,
das marcas de oleiros itálicos encontradas em Salacia, ao longo das várias escavações e prospecções descontextualizadas que permitiram a elaboração do
quadro 3.
Aqui as percentagens referentes ao centro produtor de Arezzo já serão mais
elevadas das que indicamos no quadro 2, atingido os 69% (=61+8), muito afastadas das percentagens das olarias suas concorrentes, localizadas em zonas costeiras como seja o caso de Pisa no mar Tirreno (2%) e Pozzuoli, na Campânia,
com 8% (=7+1).
Quadro 3. Totais e percentagens de oleiros itálicos encontrados em Alcácer do
Sal, por proveniência, até ao momento do estudo efectuado.
Proveniência
Faria;
Ferreira;
Diogo
(1987)*
Faria
(1998)
Sepúlveda;
Sepúlveda; Sepúlveda;
Faria
Ferreira;
Mata;
et al
Mata (2009) Ferreira **
(2000)
Arezzo
44
2
10
X
Arezzo?
5
X
X
Pozzuoli
4
X
Pozzuoli ?
1
Itália Norte
Total
%
5
61
61,00
X
3
8
8,00
2
X
1
7
7,00
X
X
X
X
1
1,00
X
X
1
X
X
1
1,00
Itália Centro
3
X
X
X
X
3
3,00
Luni
1
X
X
1
X
2
2,00
Pisa?
2
X
X
X
X
2
2,00
Roma
2
X
X
X
X
2
2,00
Roma?
4
X
X
X
X
4
4,00
Ind.
1
1
1
1
5
9
9,00
TOTAL
67
3
14
2
14
100
100,00
* Dados compilados a partir de: Alarcão, A., 1971; Dias, L., 1978; Diogo, A., 1980 e 1982.
** Dados que constam do presente trabalho.
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O Espólio da encosta do Lado Ocidental do Castelo de Alcácer do Sal (LOCAS)…
Estes resultados parecem conferir uma padronização ao comércio marítimo da
terra sigillata de tipo itálico, visto que esta seria considerada como uma mercadoria que, quanto ao seu transporte, pensamos ser de tipo secundário. As cidades
lusitanas da costa atlântica beneficiariam, então, de uma rota comercial que teria
como fim, para além do abastecimento de mercadorias de tipo principal, o desta
cerâmica fina de mesa.
Certamente que este fluxo marítimo para atingir o Atlântico teria de atravessar
a região do estreito de Gibraltar assim fazendo porto na importante cidade de
Gades. As cidades a que chamámos en route (supra) seriam, assim, de igual maneira, abastecidas com estas cerâmicas.
Estarão então incluídas as cidades costeiras do sul da Bética, servindo como
pólos difusores para o abastecimento dos mercados consumidores do interior o
que aconteceria igualmente nas suas cidades congéneres, localizadas no Norte
de África, pertencentes do ponto de vista administrativo, a partir de Cláudio, à
província romana da Mauritânia Tingitana 59.
Os testemunhos deixados em relação às marcas de terra sigillata de tipo itálico em cidades da Bética como, Carteia, Baelo Claudia e Gades, assim como nas
cidades do norte de África de Tamuda, Septem Frates (Ceuta), Tingis (Tânger),
Cotta e Lixus (Fig. 2) foram recentemente alvo de estudo numa obra mais abrangente sobre o comércio da terra sigillata, precisamente na área que inclui estas
cidades.
No que diz respeito aos valores das importações de terra sigillata de tipo itálico, a autora, Bustamante Álvarez (2010: 164-166) afirma ser Arezzo, com 60,9%,
considerado como o centro exportador/abastecedor por excelência para esta região. Por sua vez, as olarias da foz do Arno – Pisa, ocupam uma segunda posição
com um valor equivalente a 1⁄3 da percentagem de Arezzo, sendo o restante distribuído por outros centros oleiros itálicos e pelas produções gauleses provenientes de Lyons (Rue de La Muette).
Por sua vez, a «rota atlântica» teria como pontos de contacto as cidades do sul
da Lusitania (actual, Algarve), tais como Baesuri (Castro Marim), Balsa e Ossonoba
entre outros, prosseguindo assim para o norte, tocando aglomerados urbanos costeiros ou muito próximo da costa, como seja o caso de Chãos Salgados, até atingir
Salacia e continuando, mais além para Olisipo, Scallabis e Conimbriga, centros
urbanos que conheceram intervenções arqueológicas que deram lugar a trabalhos
especializados, no estudo desta cerâmica, de valor cientifico comprovado.
De maneira sucinta podemos concluir ser, para as cidades do sul, todas elas
com um número reduzido de marcas itálicas (Viegas, C., 2011: 133-136, 293-295,
442-444), o centro oleiro de Pisa o que se destaca como fornecedor privilegiado,
59
Para uma melhor compreensão da situação política/administrativa na África do Norte, durante o
séc. I d.C., veja-se HUGONOIT, C., 2000, pp. 40-66.
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Serie II, H.a Antigua, t. 26, 2013
393
EURICO DE SEPÚLVEDA, VANESSA DA MATA Y MARISOL FERREIRA
casos de Baesuris e Ossonoba, enquanto que Balsa será a cidade em que se
reconhece novamente uma supremacia de Arezzo, embora o número de marcas
num total de 3 não seja, a nosso ver, uma razão forte para se tirar tal ilação.
Quanto a Chãos Salgados, o cenário não é muito diferente pois o número total
de marcas não ultrapassa a meia dúzia com cinco leituras possíveis, onde estão
representados o centro produtor «monopolista» de Arezzo em número elevado,
tendo em conta a dimensão do conjunto com apenas 3 marcas. Os restantes
exemplares apresentam marcas de oleiros oriundos de Pisa e de Pozzuoli, ambos
com uma marca (Quaresma, J., 2012: 81-84)
Por sua vez, e continuando para norte, os valores que apurámos para Olisipo,
não esquecendo que o centro produtor de Arezzo inicia a sua actividade de produção deste tipo cerâmico cerca de três a quatro décadas anteriores em relação às
olarias de Pisa 60, dão-nos, contabilizando apenas as marcas do Teatro Romano,
uma percentagem de 40,9% contra uns meros 13,7%, para as olarias que laboraram em Pisa.
A partir daqui apresentava-se a possibilidade de abastecimento a Scallabis
Praesidium Iulium aproveitando a bacia do Tejo. Mercado que seria bastante atraente, atendendo ao número de consumidores de origem itálica, e que apresenta
um conjunto apreciável de marcas em que os oleiros aretinos se encontram dentro
dos valores que temos vindo a apresentar, neste caso na ordem dos 41% sendo
seguidamente as olarias localizadas no Centro de Itália as privilegiadas no abastecimento local em detrimento de Pisa.
Por fim não podemos acabar este périplo sobre a difusão desta cerâmica sem
deixar de mencionar Conimbriga, pequena cidade da Lusitania, que conheceu um
programa de intervenções arqueológicas bem estruturado a partir do qual se obteve um conjunto de publicações paradigmáticas que, ainda hoje, se encontram
carregadas de interesse para o conhecimento do abastecimento e consumo da
sua população em época romana.
É pois com um comentário referente à origem das marcas de terra sigillata de
tipo itálico que terminaremos esta resenha, que propusemos fazer, em relação à
difusão desta cerâmica, tendo como pressuposto as marcas de oleiro obtidas em
centros urbanos costeiros da região do Estreito de Gibraltar e da Costa Atlântica,
situadas na Lusitânia, na Bética e na Mauritânia Tingitana.
Na impossibilidade de calcularmos as percentagens, o que nos tem servido
como instrumento de análise, seguiremos de perto as considerações a que Adília
Alarcão chegou sobre este tema (1975:39-47).
Não obstante a dificuldade, que ao tempo existia, para a identificação das
olarias que estavam envolvidas no abastecimento da cidade indica que «le princi Veja-se OCK, op. cit., pp. 25-35.
60
394
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Serie II, H.a Antigua, t. 26, 2013
O Espólio da encosta do Lado Ocidental do Castelo de Alcácer do Sal (LOCAS)…
pal centre fornisseur…» 61 era, sem dúvida, Arezzo, seguido pelas olarias napolitanas de Pozzuoli/Cumae e, por fim, pelo grupo de centros oleiros localizados no
vale do Pó (Faenza?).
4. Conclusões
As conclusões que seguidamente apresentamos encontram-se penalizadas,
logo à partida, por uma série de entraves que este estudo conheceu e que as vão
tornar bastante incompletas, na medida em que abundantes espólios, de época
romana de Imperatoria Salacia, se encontram depositados em diversas instituições e aos quais não tivemos acesso visto, terem sido atribuídos, ou distribuídos,
para estudo a outros investigadores.
No caso particular das marcas de oleiro, sabemos da existência de, pelo menos, cerca de mais de uma vintena em exposição no Museu da Cripta do Castelo
de Alcácer do Sal, quantitativo que iria alterar os totais e percentagens indicadas,
já para não falar do espólio romano depositado em Lisboa no MNA.
— A importância da localização de Alcácer do Sal (*BEUIPO), junto à margem
direita do rio Sado com acesso fácil e a pouca distância do litoral atlântico (Fig. 1),
tinha-a tornado num ponto de trocas comerciais importantes já em época sidérica
(Encarnação, J., 2004), como provam os achados de tanques de salga de peixe e/
ou destinados à obtenção do sal, os quais foram encontrados 62 aquando da construção da pousada do INATEL, de cerâmicas de origem ática, já para não falar de
outras importações de raiz mediterrânica, que poderemos classificar como de
características sumptuárias.
Este facto tem continuidade em época republicana romana que nos parece ser
bem ilustrado pela importância política e administrativa dos Cornelli Bocchi 63, família pertencente à classe equestre que teria tido, sem dúvida, a sua residência,
em Salacia, uma das cidades romanas mais bem colocadas, do ponto de vista
geográfico e comercial, na Lusitânia litoral (Morais, R.; Bernardes, J., 2011), como
afirmámos supra.
A ligação desta família ao comércio de abastecimento das populações locais 64
e às suas necessidades em bens primários tem sido analisada, focalizando-se,
primeiro, nas importações de azeite de origem bética e do vinho itálico e, posteriormente, no controlo da produção local de contentores cerâmicos, do tipo ânfora,
ALARCÃO, A., 1975, p. 39.
Os quais foram, infelizmente, destruídos por razões imperativas que se prenderam com a
construção da própria Pousada.
63
De importância fundamental para a compreensão da força política, administrativa e do
evergetismo dos Bocchi, e entre os vários trabalhos de investigação até hoje publicados, devemos
realçar o último Colóquio Internacional efectuado em Tróia em Outubro de 2010.
64
Não esquecendo as funções desempenhadas em relação ao abastecimento das legiões.
61
62
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395
EURICO DE SEPÚLVEDA, VANESSA DA MATA Y MARISOL FERREIRA
em época tardo-republicana e inícios do Império, que se destinariam ao envasamento de produtos como o sal, a salga de peixe e seus derivados. Estes produtos
focalizados para a exportação e provenientes da pesca efectuada num mar, tradicionalmente variado e abundante (Encarnação, J., 2004), certamente entravam
num clima de franca concorrência com os produtos gaditanos e itálicos que eram
dominantes no mercado «global» de então (Morais, R., 2007).
— Embora na chamada «primeira fase» a exploração de recursos mineiros
não seja de todo esquecida (Morais, R., 2007:135; Cardoso, J. et alii, 2011), defendemos a hipótese de que, para além destas actividades, a indústria de fiação devia ter tido um papel muito importante na vida económica da cidade e do seu
ager, na medida em que, como já o afirmámos, Plínio-o-Velho quando se refere
aos tecidos 65 de Salacia elucida-nos que só seriam «... comparados, apenas, com
iguais tecidos da Gália» (Guerra, A., 1995:121; Sepúlveda, E. et alii, 2007b: 258).
Mais ainda: a descoberta recente e fortuita de uma placa votiva, em Alcácer
do Sal, na qual se pode ver a representação da figura de uma ovelha é, em nossa
opinião, prova duma actividade deveras lucrativa e que, na análise de José
d’Encarnação e Marisol Ferreira «... constitui desde cedo grande mais-valia» merecendo mesmo uma «... dedicatória solene.» (Encarnação, J.; Ferreira, M., 2012:
FE, 93, 416; 2012, FE, 100, Ad 416).
— O número de oleiros itálicos até este momento publicado para Salacia vai
corresponder a um total de 100, o qual poderá ser comparado com os 70 de Olisipo (Silva, R., 2005; Sepúlveda, E., Amaro, C., 2007c; Sepúlveda, E., Fernandes,
L., 2009) 66, os 57 de Conímbriga (Alarcão, A., 1975), os 29, com leitura de Santarém (Viegas, C., 2003:83), os 26 de Braga (Morais, R., 2005), os 132 de Belo
(Bustamante Álvarez, M., 2010), os 162 de Mérida (Jerez Linde, J., 2005) e os 99
de Cosa (Marabini, M., 2006). Este número, agora obtido, coloca Salacia num lugar que só é suplantado pela capital da província, de fundação augustana, Mérida, e pela cidade bética de Belo Cláudia.
— Em consequência dos resultados que obtivemos em relação aos oleiros
presentes no nosso estudo, é de salientar que o oleiro aretino P. Cornélio, tendo
uma vasta produção virada para o abastecimento das províncias romanas, fora da
Itália 67, seja um dos mais presentes nos espólios romanos de Alcácer do Sal. É,
pois, com naturalidade que, ao identificarmos mais uma peça com gramática decorativa corneliana e de uma marca de Firmo, que, como explicámos supra, é um
dos seus escravos, estejamos a contribuir para o aprofundamento do conhecimento sobre a actividade «exportadora» deste oleiro.
65
Para o estudo da indústria têxtil romana no Ocidente do Império e especialmente no que diz
respeito à sua estrutura, foi utilizado como referência LIU, J., 2009, capítulo II, «Centonarii and the
Roman Textile Economy», pp. 57-96.
66
Correspondendo a: 34 marcas da Praça da Figueira, 31 do Teatro Romano e 5 à Casa dos Bicos.
67
«Uma vocação comercial mediterrânica e não galo-germânica (Ettlinger, 1987, p. 16) …», apud
QUARESMA, J., 2012, p. 224.
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O Espólio da encosta do Lado Ocidental do Castelo de Alcácer do Sal (LOCAS)…
Tornou-se deveras sintomático verificar a existência da grande popularidade
de P. Cornélio e da preferência do consumidor lusitano, ao estabelecermos o paralelismo da peça de Alcácer do Sal decorada, com a famosa «foglia plumata»
(punção 230 de Troso), com iguais peças encontradas em Braga, Lisboa e Santarém, o que confirma o gosto do consumidor lusitano pelos seus punções decorativos.
— Não será, porém, só Cornélio que deve ser destacado, pois para além
dele, constam do estudo duas composições atribuíveis a Rasinio, confirmando,
também, a procura que os seus cálices tiveram para os centros consumidores
romanos, e não só, situados no actual território português, pois a oficina de Rasinio encontra-se bem documentada, para todas as suas fases de laboração ao
longo dos anos em que funcionou, quer em Olisipo, Braga ou Santarém, embora
se encontre estranhamente ausente em Conímbriga.
— Podemos concluir, embora saibamos que as recolhas foram efectuadas
arqueologicamente descontextualizadas, ter sido o comércio de terra sigillata de
tipo itálico caracteristicamente contínuo, com diacronias que vão desde a década
de 40 a. C. até meados de 50 d. C., tendo como referências as marcas de Víbio
Scrófula e a de L. Gélio, desde que se apontem como base para este raciocínio os
limites propostos, no OCK por Kenrick, para os inícios e finais da produção de
cada um dos dois oleiros.
Estas cronologias que acabámos de apresentar são também confirmadas pela
análise crono-tipológica feita aos fragmentos de material anfórico encontrados no
mesmo sítio arqueológico, igualmente em recolhas de superfície (Pimenta, J.; Sepúlveda, E.; Ferreira, M., no prelo).
Para além desta análise, serão de interesse fundamental, para a afinação do
intervalo temporal que indicámos, os estudos que iremos efectuar, num futuro
próximo, aos fragmentos de cerâmica de paredes finas (com produções que
abrangem o período de transição entre a época tardo republicana e inícios/ 3º
quartel séc. I d. C) 68, aos de cerâmica campaniense, aos de lucernas, e aos de
cerâmica dita ‘comum’, que foram igualmente encontradas na encosta do lado
ocidental do Castelo de Alcácer do Sal.
O conjunto dos resultados obtidos servirá, assim, para a construção de uma
matriz que nos permitirá ter uma panorâmica do consumo global dos vários tipos
de cerâmica e aferir o movimento comercial entre as várias províncias do Império
e a Urbs Imperatoria Salacia, durante um período que consideramos ser como um
dos de maior prosperidade da sua história.
Em Memória de João Carlos Lázaro Faria
Existem cerca de três centenas de fragmentos de cerâmica de paredes finas.
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ESCLARECIMENTO
Ao revermos o nosso primeiro artigo sobre a terra sigillata de tipo itálico do
lado ocidental do Castelo, verificámos ter cometido uma imprecisão, ao classificarmos um bordo de prato como sendo atribuível a produções com origem em Itália
(Sepúlveda, E. et alii, 2000:120, 134, 146, fig. 6, nº 36). No entanto, mais tarde, ao
termos comparado este bordo com mais três fragmentos da encosta do Castelo de
Alcácer do Sal (MMPN 1268, LOCAS 381 e 382/96) com pastas idênticas, concluímos ser um fragmento de terra sigillata Oriental A da forma Hayes 11, com datação de 50-20 a. C., permitindo-nos poder afirmar da existência de outros pontos
produtores/exportadores de cerâmica fina de mesa, da bacia do Mediterrâneo
para Salacia.
Os autores
Agradecemos ao Professor Dr. José d’Encarnação as suas sugestões e correcções, assim como aos Mestres Inês Ribeiro e Guilherme Cardoso e a Severino
Rodrigues as fotografias e composição das estampas.
(Texto elaborado para as Actas, não publicadas, do «1º Encontro 5000 anos
de Arqueologia e História. Tributo a João Carlos Faria», em 2009. Revisto em Janeiro de 2013).
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O Espólio da encosta do Lado Ocidental do Castelo de Alcácer do Sal (LOCAS)…
ESTAMPA I
ESTAMPA I
1
2
3
5
6
4
8
7
9
Oleiros – 1 a 5, de Arezzo; 6 a 8, possivelmente, de Arezzo; 9, de Pozzuoli/Cumae.
Oleiros – 1 a 5, de Arezzo; 6 a 8, possivelmente, de Arezzo; 9, de Pozzuoli/Cumae
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ESTAMPA II
ESTAMPA II
10
14
11
13
12
15
16
17
18
Oleiros – 10 e 11, com oficina em sítio indeterminado; 12 a 14,com oficina de difícil
Oleirosatribuição
– 10 e 11,ou
com
oficina incerta.
em sítioFragmentos
indeterminado;
12 a 14,
de leitura
decorados:
15 com
a 18 oficina de difícil atribuição ou de
leitura incerta. Fragmentos decorados: 15 a 18.
2
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O Espólio da encosta do Lado Ocidental do Castelo de Alcácer do Sal (LOCAS)…
ESTAMPA III
20
21
19
23
22
25
24
26
Fragmentos decorados: 19 a 26 Fragmentos decorados: 19 a 26.
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ESTAMPA IV
27
28
30
33
31
34
36
39
29
32
35
37
38
40
Oficina
em27Arezzo:
27 a 31; possivelmente,
Arezzo:
32 a 34; em 35; em
MarcasMarcas
– Oficina– em
Arezzo:
a 31; possivelmente,
em Arezzo: 32em
a 34;
em Pozzuoli/Cumae:
Pozzuoli/Cumae:
35; em sítio
36 e ou
37;de
difícil
atribuição
ou ade40.leitura
sítio indeterminado:
36 eindeterminado:
37; difícil atribuição
leitura
incerta: 38
incerta: 38 a 40
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O Espólio da encosta do Lado Ocidental do Castelo de Alcácer do Sal (LOCAS)…
ESTAMPA V
41
42
44
45
47
50
43
46
48
51
53
49
52
54
Terra sigillata
tipo itálico
decorada:
41 a 52; Bordos
deBordos
cálice: de
53 cálice:
e 54 53 e 54.
Terradesigillata
de tipo
itálico decorada:
41 a 52;
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Fig. 1 – Localização de Imperatoria Salacia (Alcácer do Sal) in Hispaniae Veteris Descriptio. Ex conatibus Geographicis. Abrah. Ortelij”, ORTELLIUS, Abraham, 1586 [versão 1595]
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O Espólio da encosta do Lado Ocidental do Castelo de Alcácer do Sal (LOCAS)…
Fig. 2 – Sítios arqueológicos referidos no texto e localizados nas províncias romanas da Mauritânia
Tingitana, Bética, Lusitânia e Hispânia Citerior. 1 – Lixus; 2 – Cotta; 3 – Tânger; 4 – Tamuda; 5 –
Ceuta; 6 – Carteia; 7 – Belo; 8 – Cádis; 9 – Castro Marim; 10 – Balsa; 11 – Faro; 12 – Chãos Salgados;
13 – Alcácer do Sal; 14 – Mérida; 15 – Lisboa; 16 – Santarém; 17 – Conímbriga; 18 – Braga.
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EURICO DE SEPÚLVEDA, VANESSA DA MATA Y MARISOL FERREIRA
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LIBROS
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