Envelhecendo com Qualidade de Vida
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Envelhecendo com Qualidade de Vida
GESTÃO DE PACIENTES INTERNADOS “Envelhecendo com Qualidade de Vida” Por: Luanita Flor Trabalho: “Envelhecendo com Qualidade de Vida” 1* PRÊMIO SAUDE UNIDAS – 2012 2 RESUMO Os aspectos introdutórios do presente estudo possibilitam compreender as atuais preocupações do setor de saúde suplementar com o envelhecimento populacional no Brasil. Colocar em foco os idosos, o processo de envelhecimento e suas consequências, além de evidenciar a preocupação do setor com o aumento dos custos hospitalares. O envelhecimento das carteiras aumenta a utilização desta população e os seus custos, em geral ocasionado pelo aumento da incidência de DCNT (doenças crônicas não transmissíveis) e suas complicações. Tenta provar que o acompanhamento ativo dos pacientes crônicos, inclusive quando internados tem grande impacto na desospitalização precoce e na redução do tempo de internamento hospitalar. Apresenta novas ferramentas substitutivas utilizadas para tentar reverter o modelo de saúde hospitalocêntrico atual e um novo conceito de auditoria de enfermagem baseado no acompanhamento clínico e presencial das internações hospitalares. O objetivo geral se concentrou em reduzir o tempo de internação sem perder a qualidade do atendimento e acompanhamento do paciente além de analisar as vantagens da implantação de ações para a desospitalização como um processo de auditoria clínica para a melhoria da qualidade dos serviços de saúde oferecidos pelas operadoras e planos de saúde, com consequente interação destas com a sua rede credenciada. Desta forma, foi possível concluir que a implantação de ações para a Desospitalização traz benefícios significativos às Operadoras de Saúde, às Instituições Hospitalares e aos pacientes/beneficiários, tanto na redução de custos como no controle da qualidade dos serviços prestados por sua rede credenciada contribuindo de sobremodo com o envelhecimento com qualidade de vida. Palavras-chaves: Desospitalização. Auditoria clínica. Qualidade de vida. 3 ABSTRACT The introductory aspects of this study allow to understand the current concerns of the private health care market with population aging in Brazil. Putting focus on the elderly, the aging process and its consequences, and to highlight the concern of the industry with increased hospital costs. The aging of the portfolio increases the utilization of this population and its costs, usually caused by an increasing incidence of NCDs (noncommunicable chronic diseases) and its complications. Attempts to prove that active surveillance of chronic patients, even when hospitalized dehospitalization has great impact on early and reducing the length of hospital stay. It features new tools substitutive used to reverse the current hospital-centered model of health and a new concept of nursing audit based on clinical and classroom hospitalizations. The overall objective focused on reducing hospitalization time without losing the quality of care and patient follow-up in addition to analyzing the advantages of implementing actions for deinstitutionalization as a process of clinical audit to improve the quality of health services offered by providers and health plans, with subsequent interaction of these with its network. Thus, it was concluded that the implementation of actions to dehospitalization brings significant benefits to operators of Health Institutions Hospital and patients / beneficiaries, both to reduce costs and to control the quality of services provided by its network of contributing greatly with aging with quality of life. Keywords: Dehospitalization. Clinical audit. Quality of life. 4 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO _________________________________________________________ 05 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO _________________________________________________ 05 1.2 RELEVÂNCIA DO TRABALHO ___________________________________________ 07 1.3 OBJETIVO DO TRABALHO _____________________________________________ 09 2 APRESENTAÇÃO ______________________________________________________ 10 2.1 CASUÍSTICA E MÉTODO _______________________________________________ 10 2.1.1 Conhecimento Detalhado do Problema ___________________________________ 11 2.1.2 Descrição das Ações e a Implantação do Serviço ___________________________ 14 3 RESULTADOS _________________________________________________________ 17 4 DISCUSSÕES _________________________________________________________ 22 5 CONCLUSÕES ________________________________________________________ 24 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ________________________________________ 26 5 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO Segundo o IBGE, no ano de 2050 a população brasileira será de idosos e a pirâmide etária brasileira se comportará até 2050, da seguinte maneira: 6 O rápido processo de envelhecimento visto, ainda não tem sido suficientemente estudado, para fornecer os elementos necessários ao desenvolvimento de políticas de saúde adequadas a essa parcela da população. Nesta faixa etária, saúde não se restringe apenas à ausência de doença, mas sim a manutenção de capacidade funcional. Estando, a perda da mesma, relacionada a maior hospitalização e ao aumento da mortalidade. É grande a desinformação a respeito da saúde do idoso e das particularidades e desafios do envelhecimento populacional para os serviços de saúde, no entanto, o IBGE afirma que o idoso possui maior prevalência de doenças crônicas e incapacitantes, 85% dos idosos apresentam no mínimo uma doença crônica e 10% apresentam no mínimo 5 doenças crônicas, ocorre predominância das doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, a frequência de doenças neurodegenerativas é elevada e ocorre um aumento significativo das neoplasias gerando uma maior demanda para novas estratégias de cuidado. Idosos têm grande impacto no uso dos serviços de saúde e apresentam elevadas taxas de internação além de maior tempo médio de ocupação do leito hospitalar, segundo o IBGE, a taxa de internação para a faixa de idade acima de 60 anos está em torno de 242,2 internações por 1.000 hab./ano, representando o triplo da taxa de internação para faixa dos 15 aos 39 anos, e o tempo médio de permanência é o dobro quando comparados a mesma faixa etária, consumindo 26% de todos os recursos financeiros destinados a saúde. Modelos assistenciais de atenção integral à saúde da pessoa idosa devem ser desenvolvidos na esfera da saúde suplementar, justificado pelo envelhecimento populacional assim como pela demanda por serviços de saúde que vislumbrem a especificidade da população idosa. Em 2025 o Brasil será, segundo projeções demográficas do Ministério da Saúde, o 7 sexto país do mundo em número de idosos, cerca de 32 milhões de pessoas. 1.2 RELEVÂNCIA DO TRABALHO Segundo a ANS: “A implementação de programas que coadunem estratégias para a promoção da saúde e a prevenção de riscos, vulnerabilidades e doenças tem por objetivo, entre outros, qualificar a gestão em saúde, através de um modo de produção do cuidado centrado nas necessidades dos indivíduos e, ao mesmo tempo, racionalizar os custos assistenciais.” Observando estas especificidades, quando analisamos a situação da população idosa do ASFEB Saúde observamos o crescente percentual de pacientes idosos, acima de 60 anos, contabilizando 24% da população total da carteira. 8 Habitualmente um programa padrão de gerenciamento de pacientes crônicos procura atender cerca de 3 a 5% de toda a população da carteira, no nosso caso, esse percentual seria insuficiente para atender a faixa de população considerada hoje, dentro do ASFEB Saúde, como grupo de risco. Por conta disto, foi iniciado em maio de 2011 o Programa ASFEB Sênior, com foco na promoção de saúde e prevenção de riscos e hoje tem-se 356 pacientes sendo acompanhados de forma regular em ambulatório e em domicílio com médicas geriátricas e equipe multidisciplinar com foco no envelhecimento com qualidade de vida e manutenção da autonomia. Total da carteira ASFEB Saúde Idosos acima 60 anos (26,24% da carteira) Meta sugerida pelo mercado 5% do total da carteira 5884 1544 295 ASFEB Senior: 6,78% do total da carteira 399 ASFEB Senior 22,27% do total de idosos > 60 anos 344 Em análise financeira de 2010 e 2011, confirmava-se a preocupação pungente das 9 ASFEB Saúde com esta população. O percentual de beneficiários acima de 60 anos, 24% da carteira total, consumiu em utilização, o correspondente a 80% dos custos totais em 2010 e já como reflexo das ações de promoção de saúde e prevenção de riscos iniciadas em maio de 2011, no mesmo ano já se observava uma queda no percentual de custo desta faixa etária. 10 Conceituando Promoção de Saúde e Prevenção de Riscos e Doenças pela ANS: “...considera como Programa de Promoção da Saúde e Prevenção de Riscos e Doenças aquele que possua um conjunto de atividades estrategicamente ordendas e sistematizadas pelas operadoras de planos privados de saúde, não só para o controle de patologias e agravos, mas, prioritariamente, para a sua prevenção, direcionada a toda a população da carteira, ou aos indivíduos com perfil epidemiológico de risco conhecido, sob ação e coordenação multiprofissional.” Apesar das ações de saúde implementadas em 2011, alguns pacientes idosos, ainda não acompanhados ou os crônicos em acompanhamento, necessitavam de internações, a maioria por conta da própria evolução da doença de base, e analisando a origem dos custos e o mapa de internamento foi observado que os idosos que estavam internando tinham longo tempo de permanência hospitalar que impactava negativamente na qualidade de vida e restabelecimento da saúde no pós-alta. Iniciamos então, um novo projeto, concomitante com o já existente, voltado para o monitoramento ativo das internações hospitalares, prioritariamente por motivos clínicos, e nomeamos este projeto como Gestão de Pacientes Internados. 1.3 OBJETIVO DO TRABALHO Mostrar os resultados obtidos na redução do tempo total das internações hospitalares, do número total de pacientes internados e nas reinternações e como isso foi alcançado, através do Programa de Gestão de Pacientes Internados. 11 2 APRESENTAÇÃO 2.1 CASUÍSTICA E MÉTODO A elaboração da casuística abrangeu duas fases, a primeira fase para o conhecimento detalhado do problema e a segunda para descrição das ações e a implantação do serviço. 2.1.1 Conhecimento detalhado do problema Inicialmente foi feito um estudo para conhecer o perfil de pacientes que internavam, os tempos médios de internação em cada hospital da rede, o tempo médio total de internação no mês e o percentual da carteira de internados por mês. Foram analisados os dados dos mapas de internamentos armazenados em sistema de informações da ASFEB Saúde, o GPSS, referentes aos anos de 2010 e 2011. A forma de atualização do mapa não foi alterada. Os números foram tabulados e criados gráficos para facilitar a evolução. 12 2011 2010 TOTAL DIAS INTERN./PERÍODO TOTAL PAC INTERNADOS CARTEIRA % INT jan/10 533 92 5909 1,56 fev/10 387 70 5915 1,18 mar/10 508 81 5912 1,37 abr/10 417 64 5909 1,08 mai/10 660 105 5905 1,78 jun/10 536 79 5919 1,33 jul/10 596 91 5926 1,54 ago/10 385 67 5932 1,13 set/10 402 90 5925 1,52 out/10 529 92 5929 1,55 nov/10 487 85 5924 1,43 dez/10 363 58 5930 0,98 MÊS TOTAL 5803 974 Tempo Médio de Internamen to 5,79 5,53 6,27 6,52 6,29 6,78 6,55 5,75 4,47 5,75 5,73 6,26 5,96 TOTAL DIAS INTERN./PERÍ ODO TOTAL PAC INTERNADOS CARTEIRA % INT jan/11 434 78 5919 1,32 fev/11 471 84 5916 1,42 mar/11 513 77 5918 1,30 abr/11 589 94 5964 1,58 mai/11 534 78 5956 1,31 jun/11 477 85 5955 1,43 jul/11 475 83 5949 1,40 ago/11 596 94 5942 1,58 set/11 534 83 5935 1,40 out/11 421 72 5937 1,21 nov/11 378 74 5933 1,25 dez/11 463 85 5940 1,43 MÊS TOTAL 5885 Tempo Médio de Internam ento 987 Foi observado que o número total de pacientes internados praticamente, se mantinha o mesmo nos dois anos, mas já estava sendo examinado certa tendência a estabilização do número de internados com menor variação da linha no gráfico em 2011. 5,56 5,61 6,66 6,27 6,85 5,61 5,72 6,34 6,43 5,85 5,11 5,45 5,96 13 Na análise do total de dias internados também não foi notada muita diferença nos anos de 2010 e 2011. 14 A avaliação do percentual total de pacientes internados que foi feita dividindo o número total de pacientes internados/mês pelo número total de beneficiários ativos da carteira/mês, evidenciou a estabilização dos números em 2011 comparando com 2010, apesar das ações do programa promoção de saúde e prevenção de riscos, iniciadas em maio de 2011, ainda não havia sido atingido a meta percentual abaixo de 1% conforme preconizado pelo ASFEB Saúde. 2.1.2 Descrição das ações e a implantação do serviço A partir da identificação dos problemas foram descritas ações pró-ativas e medidas corretivas, e através da auditoria técnica e das intervenções sociais traçou-se o objetivo de reduzir o tempo total das internações hospitalares, as reinternações e o número total de pacientes internados. 15 No mês de março de 2012, já com as ações descritas, foi implantado o programa. As ações previam a atenção total ao paciente durante e após a sua internação, para colocar em prática essas ações, foi destacada da equipe multidisciplinar, uma enfermeira auditora e uma assistente social. As ações seriam realizadas de segunda a sexta-feira, sempre no período da manhã, tomando por base o mapa de internamento do dia anterior e seriam praticadas prioritariamente através de ligações telefônicas para os pacientes e/ou responsáveis pelos mesmos, evoluindo para contatos com enfermeiras, assistentes sociais dos hospitais e por fim contato direto com o médico assistente. Caso houvesse necessidade, ou uma ou outra, ou ambas as profissionais, se fariam presentes nas unidades hospitalares para o alcance do objetivo principal que seria desospitalizar o paciente. É evidente que todo o treinamento prévio e orientações éticas foram abordadas e fornecidas à equipe envolvida. O paciente deveria permanecer internado se essa fosse a sua vontade, de seus familiares e se esta manifestação coincidisse com a necessidade relatada pela equipe médica do paciente. Como ferramentas para a desospitalização foi disponibilizado para os pacientes internados o serviço de Home Care, atendimento pré-hospitalar, programa preventivo de gerenciamento de pacientes crônicos ambulatorial e domiciliar, e serviços parciais complementares como fisioterapia, fonoaudiologia, nutrição, enfermagem, assistente social e visitas médicas domiciliares. 16 As ações descritas foram: Identificar e acompanhar pacientes desde o momento da internação hospitalar; Agilizar autorização de procedimentos hospitalares; Avaliar justificativas para prorrogação; Precocemente indicar casos passíveis de Home Care, visando reduzir tempo de internamento, diminuição dos custos com internação hospitalar e evitar complicações causadas pelo internamento prolongado; Identificar pacientes com potencial risco de longa permanência (períodos superiores a sete dias) ou que teriam necessidades especiais de acompanhamento como procedimentos externos ou remoções; Suporte à família do paciente hospitalizado; Estabelecer contato com o Médico Assistente com o intuito de acelerar a desospitalização; Identificar não-conformidades e resolvê-las in loco (deficiências técnicas ou operacionais como aparelhos quebrados, falta de especialistas para avaliação ou realização de procedimentos, atraso na realização de exames, etc); Verificar a possibilidade de transferência de beneficiários para hospitais mais capacitados para o cuidado de casos especiais; Identificar pacientes elegíveis para o programa de gerenciamento de crônico; Garantir o processo “de volta para casa” com monitoramento do paciente para evitar reinternação precoce. Após alta hospitalar, realizar abordagem telefônica de todos os beneficiários internados em período não superior a 48h, para orientações e identificação de possível condição crônica; Atualização diária das informações que justificam a permanência hospitalar dos pacientes; Aumentar o grau de resolutividade; Promover a melhoria na qualidade de vida; 17 Análise social para detecção de não adesão ao tratamento medicamentoso ou problemas sociais quando necessário; Gerar melhora da qualidade de vida do indivíduo e da família; Reduzir custos com saúde, através da utilização otimizada dos recursos; Evitar elevada demanda pelos serviços de assistência médica da rede credenciada; Criação do vínculo com o cliente e familiares; Orientar quanto à doença de base em domicílio ou em ambulatório conjuntamente como o médico assistente; Promover a compreensão da doença e de estratégias de enfrentamento para estabilizar, clinicamente, a doença crônica; Envolver o paciente na educação continuada e aconselhamento; Referenciar uma equipe de saúde para dúvidas, orientações e direcionamentos; Garantir um melhor atendimento; Disponibilizar atendimento médico domiciliar de urgência e emergência 24h/dia; Possibilitar acesso direto ao Home Care através do Programa de Implantação Direta, sem necessidade de internamento em unidade hospitalar, segundo os critérios de elegibilidade para Home Care. 3 RESULTADOS Foi estabelecido como prazo para a primeira análise, o período de 6 meses, e no final de setembro de 2012, fechado o mapa de internamento, iniciamos as análises. 18 A receptividade dos pacientes e familiares em relação as abordagens da assistente social e da enfermeira foram positivas e bem recebidas agregando valor ao programa e à empresa. A Gestão de Pacientes Internados foi vista como atenção ao beneficiário e apoio aos familiares. Durante os seis meses de programa apenas uma queixa foi feita ao SAC, pois houve a interpretação de que a autogestão estava querendo “tirar” o paciente do hospital. Foi observada a redução do tempo de internação hospitalar e o impacto positivo que isso trazia a cada um dos idosos envolvidos e á suas famílias. Além disso, foi necessário fazer ligação com as diversas ferramentas de desospitalização já existentes no mercado e as formas como tais ferramentas influenciam diretamente na redução dos custos hospitalares. O Home Care foi a principal ferramenta de desospitalização garantindo ao paciente assistência com qualidade e conforto até a resolução do problema, além de aproximar ainda mais o paciente da autogestão e facilitou a sua captação para o programa de crônicos, aumentando a receptividade. Após, captados para o programa os pacientes passavam a ser acompanhados de forma linear e orientados para a utilização da rede de forma otimizada. No caso de novas intercorrências ou agravos os pacientes eram acolhidos com o serviço de atendimento pré-hospitalar, 24h/dia, durante os sete dias da semana, orientados, solucionados ou direcionados, primeiramente para Home Care e quando necessário para os hospitais da rede já identificados como de melhor resolutividade. As intervenções da assistente social e da enfermeira auditora, o acolhimento dos pacientes e familiares, o reconhecimento do serviço pelos profissionais do hospital, a facilidade de comunicação com a operadora a fim de agilizar as autorizações e 19 emissões de senhas contribuíram para a redução da permanência do paciente nos hospitais. O acompanhamento diário das internações em tempo real, permitiu a identificação e correção imediata de inúmeras não-conformidades durante o processo de internação hospitalar, que contribuíam de forma desfavorável para o tempo de internação e o custo destas internações. Por outro lado, a identificação precoce destas não-conformidades permitiu as suas correções precoces e com melhor resolutividade. As dificuldades iniciais identificadas foram a resistência das instituições hospitalares à adequação de sua estrutura para correção das não-conformidades identificadas e o desconhecimento dos médicos sobre as possibilidades e reais indicações de Home Care. Algumas não-conformidades foram identificadas como geradoras de diárias desnecessárias que impactavam negativamente no tempo de internação dos pacientes, agravo dos quadro clínicos e oneração da autogestão, que acabava arcando com os custos nas contas hospitalares sem ter o conhecimento de que, na realidade, estava pagando por falhas no processo interno de seus prestadores. Algumas delas eram causadas por deficiências operacionais ou falha no fluxo de processos internos mal mapeados e mal descritos dos hospitais, muitas vezes desconhecidos pelos próprios gestores e que, quando identificadas e corrigidas, trouxeram benefícios impressionantes para a operação da própria unidade hospitalar. Os resultados eram monitorados mensalmente: 20 MÊS TOTAL DIAS INTERN. / PERÍODO jan/12 fev/12 mar/12 abr/12 mai/12 jun/12 jul/12 ago/12 set/12 409 461 593 588 569 395 433 455 347 TOTAL PAC INTERNA DOS 68 63 99 89 84 72 67 72 58 CARTEIRA % INT Tempo Médio de Internamento 5912 5909 5906 5907 5891 5895 5896 5896 5888 1,15 1,07 1,68 1,51 1,43 1,22 1,14 1,22 0,99 6,01 7,32 5,99 6,61 6,77 5,49 6,46 6,32 5,98 Ao final de seis meses foram feitas as seguintes observações: Obtenção de uma carteira melhor orientada quanto a suas doenças de base; Melhor direcionamento clínico e melhor uso da rede de prestadores de serviços pela carteira direcionada ao programa; Melhora na estabilidade clínica dos beneficiários idosos que apresentam redução da sua capacidade funcional. (Redução das frequentes reinternações dessa população) Aumento na identificação dos beneficiários portadores de doenças crônicodegenerativas; Promoção da qualidade de vida através do diagnóstico precoce de doenças crônico-degenerativas; Redução das internações hospitalares, principalmente nas faixas etárias mais elevadas; Melhor acompanhamento de custo da carteira direcionada ao PDC; Redução dos custos assistenciais; Diminuição dos custos com internações, reinternamentos desnecessários ou evitáveis e média de permanência hospitalar; Redução da utilização de diárias hospitalares de UTI e enfermaria; 21 Redução do sinistro através da redução dos custos com reinternamentos desnecessários ou evitáveis e redução com atendimentos em emergências; Promoção da operadora, perante sua clientela, com a preocupação em saúde de uma forma holística e organizada. Comparando-se com os dados do número total de internamentos por faixa etária dos anos anteriores e levando-se em conta que ainda nos restam 3 meses até o fim do ano, a expectativa é de que consigamos reduzir o número dos pacientes internados nas faixas etárias acima de 60 anos, ou pelo menos reduzir o tempo de internamento destes mesmos pacientes. Ano Faixa etária 0a9 10 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 a 79 80 a 89 acima 90 TOTAL 2010 2011 n* 51 32 88 132 82 131 112 158 154 34 974 n* 30 27 102 130 97 114 142 163 126 56 987 2012 até setembro 35 13 59 81 62 63 88 102 119 50 672 Os resultados financeiros também apontam para uma redução do custo dos pacientes acima de 60 anos. Os gráficos abaixo mostram a evolução dos custos por faixa etária entre o ano de 2010 e agosto de 2012, valores de contas apresentadas, levando-se em conta o prazo de até 60 dias para apresentação das mesmas a partir da data do evento. 22 23 O maior impacto na redução dos custos vem ocorrendo exatamente na faixa de populacão que tem o seu maior percentual de acompanhamento no Programa para Promoção da Saúde e Prevenção de Riscos e Doença, o ASFEB Sênior, os pacientes acima de 70 anos. PROGRAMA AMBULATORIAL Faixa Etária TOTAL 275 20 a 29 3 30 a 39 3 40a 49 6 50 a 59 36 60 a 69 66 70 a 79 90 80 a 89 61 acima 90 10 24 PROGRAMA DOMICILIAR TOTAL Faixa Etária 124 40 a 49 1 50 a 59 6 60 a 69 3 70 a 79 20 80 a 89 55 acima 90 39 Estes pacientes são acompanhados com periodicidade pré-determinada, em domicílio ou ambulatorialmente, de acordo com as suas patologias e necessidades clínicas. Recebem atendimento médico, de enfermagem, nutricional e quando necessário de fonoaudióloga e/ou fisioterapeuta. Têm suporte do serviço social e à sua disposição atendimento pré-hospitalar e serviço de Home Care. Quando apresentam agravos ou intercorrências entram em contato com a equipe médica do ASFEB Sênior ou acionam o serviço de emergência, tendo a maior parte de suas problemas resolvidos em domicílio. 4 DISCUSSÕES Segundo o Ministério da Saúde, auditoria é um conjunto de ações, de caráter independente, consistindo em exame de atividades e componentes do Sistema Único de Saúde para determinar se as ações e serviços de saúde, seus resultados e os recursos aplicados estão de acordo com as disposições planejadas, as normas e 25 legislação vigentes, indicando os dispositivos infringidos, apontando medidas administrativas e penalidades a serem aplicadas (SESAB, 2003). Transportando este conceito para a área de saúde suplementar, a auditoria, como ferramenta de gestão, torna-se, talvez, a maior aliada das operadoras de planos de saúde, uma vez que passa a fiscalizar os investimentos, a qualidade do atendimento e os recursos de saúde disponibilizados e disponíveis. Dentro deste conceito destaca-se a auditoria de enfermagem, pois ninguém melhor que as enfermeiras para conhecer os ramos de operação e os caminhos a serem percorridos no hospital para se atingir os fins esperados. É claro que existe uma preocupação com a economia e a eficiência das operações para que isso resulte em desospitalização precoce, redução do tempo de internação e, finalmente, redução dos custos. Isto propicia a gestão do resultado de todos os serviços propostos, inclusive com a identificação de pacientes portadores de doenças crônicas não transmissíveis ─ DCNT, e o seu direcionamento para programas de gerenciamento, mas a prioridade estabelecida para o sucesso deste programa foi a preocupação constante com a qualidade da assistência e o acolhimento dos pacientes e seus beneficiários. Portanto, tanto a auditoria clínica quanto o suporte do serviço social também se enquadram como ferramentas de desospitalização e se definem como peças essenciais e vinculadoras de várias outras ferramentas propostas. 26 5 CONCLUSÒES O Programa de Gestão de Internados além de se preocupar com o bem-estar do paciente, a qualidade da assistência prestada e a agilidade na realização de exames e procedimentos, também analisa o fluxo, a organização das atividades e dos segmentos operacionais envolvidos em diversos setores da instituição hospitalar com foco na melhoria da assistência e na agilidade de finalização de diversos processos. Com isso, consegue reduzir o tempo de permanência hospitalar de cada paciente, seja identificando o paciente precocemente para o Home Care, seja antecipando a autorização de algum procedimento ou mesmo viabilizando uma transferência para realização antecipada de algum exame que o hospital encontra-se incapacitado de realizar, beneficiando não só a operadora de plano de saúde, mas, também, a unidade hospitalar, já que efetua a identificação de falhas ou excessos nas operações e permite uma maior rotatividade dos leitos, corrigindo e melhorando o aproveitamento dos recursos. Todo o processo ocorre sem que haja prejuízos para o paciente/beneficiário, ao contrário, contribui para a melhora da qualidade dos serviços e da assistência. Na última quarta-feira, dia 04 de outubro de 2012, a ANS divulgou um artigo informando que: “O número de internações entre idosos que aderiram a programas de envelhecimento saudável de operadoras de planos de saúde caiu 70%, de acordo com monitoramento do Ministério da Saúde, por meio da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)”. Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e o diretorpresidente da ANS, Maurício Ceschin, a queda no número de internações é um dos resultados do Programa para Promoção da Saúde e Prevenção de Riscos e Doença (Promoprev), que completou um ano. Os dados apresentados corroboram os nossos resultados e nos incentiva a manter o Programa de Pacientes Internados fazendo-o 27 parte integrante do nosso Programa para Promoção da Saúde e Prevenção de Riscos e Doença, o ASFEB Sênior. 28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, M. Custos na atividade hospitalar. Temas contábeis em destaque. Conselho Regional do Estado de São Paulo. 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