Análise sobre a dinâmica das cidades médias: Patos de Minas (MG
Transcrição
Análise sobre a dinâmica das cidades médias: Patos de Minas (MG
ANDRÉ VELLOSO MAGRINI Análise sobre a dinâmica das cidades médias: Patos de Minas (MG), um olhar. Uberlândia – MG 2008 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA ANDRÉ VELLOSO MAGRINI Análise sobre a dinâmica das cidades médias: Patos de Minas (MG), um olhar. Monografia apresentada ao Curso de Bacharelado em Geografia do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Geografia. Orientadora: Profa. Dra. Beatriz Ribeiro Soares Uberlândia – MG 2008 André Velloso Magrini Análise sobre a dinâmica das cidades médias: Patos de Minas (MG), um olhar. Uberlândia, 18 de Dezembro de 2008. Banca Examinadora: _________________________________________ Prof. Dr. William Rodrigues Ferreira (IGUFU) _________________________________________ Prof. Dr. Nágela Aparecida de Melo (IGUFU) _________________________________________ Profª. Dra. Beatriz Ribeiro Soares (IGUFU) - Orientadora À minha família e, principalmente, aos meus pais, os verdadeiros responsáveis pelo meu crescimento pessoal e profissional. AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, à orientadora Profª. Beatriz Ribeiro Soares pela competência, paciência e apoio dispensados no desenvolvimento deste trabalho. À Mizmar, pelo o suporte dado a mim e a todos os alunos ao longo do curso de graduação em Geografia da UFU, bem como aos professores dessa instituição que tanto contribuíram para o meu crescimento pessoal e profissional. A todos os amigos que me acompanham e estão sempre na torcida pelo meu sucesso, participando comigo dos momentos felizes e também dos momentos difíceis. Em especial, à minha família: aos meus irmãos, Renato e Luiza, aos meus pais, Magrini e Laura, e à minha maior e incondicional companheira, Luana, por serem as pessoas mais importantes da minha vida. Por fim, agradeço a todos que de maneira direta ou indireta contribuíram para que essa pesquisa fosse realizada com sucesso. “Você deve ser a mudança que gostaria de ver no mundo.” Mahatma Gandhi RESUMO O presente estudo aborda a questão da dinâmica das cidades de médio porte dando destaque para a cidade de Patos de Minas/MG. Apresenta um contexto histórico que justifica a movimentação das cidades e seus acessos durante muitos anos, informando o quanto a industrialização foi significativa para que determinadas cidades se destacassem desde então. Menciona também a criação de políticas públicas que sustentaram interesses promovendo o progresso, mas que também comprometeram centros em seu desenvolvimento, atrasando sua economia e represando sua produção. Relata também a questão da urbanização já que a mesma é responsável pela organização da cidade, implicando, inclusive, em seu desenvolvimento social, condições de infra-estrutura, índices de violência dentre outros. A cidade de Patos de Minas se destaca hoje no cenário nacional como pólo detentor de índices importantes para o desenvolvimento da região do Alto Paranaíba sendo a 16° cidade do estado em população. O presente estudo constatou que as cidades médias têm a função de intermediação e articulação com as grandes cidades e demais regiões sendo de suma importância para que o progresso aconteça e permaneça, facilitando procedimentos na economia que sustenta empregos e garante qualidade de vida ao trabalhador. Patos de Minas é uma cidade com boa infra-estrutura, tem atrativos culturais e uma história que lhe garante referências politicamente importantes que a fazem também respeitada no cenário nacional. Palavras-chave: cidades médias, Patos de Minas/MG, pólo regional, centro regional, dinâmica sócio-espacial. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01. Mapa de localização do Município de Patos de Minas – MG 14 Figura 02. Descoberta da Urna Funerária na Fazenda de Contendas, Distrito de Santana. 27 1999 Figura 03. Descoberta da Urna Funerária na Fazenda de Contendas, Distrito de Santana. 27 1999 Figura 04. Avenida Paracatu, em 1929 29 Figura 05. Avenida Getúlio Vargas, no final da década de 1940 30 Figura 06. Avenida Getúlio Vargas, na década de 1960 31 Figura 07. Foto aérea da Avenida Getúlio Vargas e entorno, na década de 1970 31 Figura 08. Gráfico da evolução da ocupação em Patos de Minas por período e situação de domicílio 32 Figura 09. Mapa da evolução da ocupação no Município de Patos de Minas – MG 33 Figura 10. Patos de Minas: Rua Major Gote 35 Figura 11. Vista panorâmica de Patos de Minas 37 Figura 12. Mapa da Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e Microrregião de Patos de Minas – MG 38 Figura 13. Mapa da Bacia do Rio Paranaíba 39 Figura 14. Mapa da malha viária do Município de Patos de Minas – MG 42 Figura 15. Avenida Major Gote 43 Figura 16. Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM) 44 Figura 17. Sociedade de Ensino Superior de Patos de Minas (SESPA) 45 Figura 18. Faculdade de Patos de Minas (FPM) 46 Figura 19. Praça do Coreto 47 Figura 20. Vista aérea da Avenida Getúlio Vargas 48 Figura 21. Vista aérea do bairro Alto Caiçaras 48 Figura 22. Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba: hierarquia urbana, 2001 52 Figura 23. Mapa dos fluxos entre cidades do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba 53 LISTA DE TABELAS Tabela 01. Hierarquia das cidades médias mineiras, 1999. 22 Tabela 02. População residente por situação de domicílio e período 32 Tabela 03. Relação da malha viária microrregional. 40 Tabela 04. Participação dos municípios por tamanho no PIB e na população nacional (Em porcentagem) 48 Tabela 05. Crescimento populacional e do Produto Interno Bruto (PIB) por faixa de tamanho dos municípios (2002-2005) (Em porcentagem) 48 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 11 CAPÍTULO I - PATOS DE MINAS: CONTEXTO HISTÓRICO E PROCESSO DE URBANIZAÇÃO 16 1.1 – O processo de urbanização e as transformações ocorridas nas cidades brasileiras 16 1.2 – As cidades médias brasileiras de Minas Gerais 19 1.3 – O processo de ocupação de Minas Gerais e da Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (MTMAP) 23 1.4 – A evolução da ocupação no Município de Patos de Minas (MG) 26 1.5 – Transformações no espaço urbano de Patos de Minas (MG) 33 CAPÍTULO II - A CIDADE, SEU ESPAÇO E SUA INFRA-ESTRUTURA 35 2.1 – Patos de Minas 35 2.2 – Infra-Estrutura 40 2.3 – A situação das cidades médias 48 CAPÍTULO III - CONTEXTUALIZANDO A DINÂMICA DAS CIDADES DE MÉDIO PORTE 50 CONSIDERAÇÕES FINAIS 56 REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS 58 INTRODUÇÃO A passagem de uma sociedade fundamentada na vida e na produção agrária para o modelo urbano-industrial no Brasil ocorre no contexto das transformações internas e externas das primeiras décadas do século XX. Antes dos anos 30, a forte migração internacional já dava as primeiras contribuições para alterações mais profundas no mercado de trabalho e nas relações sociais que se darão durante o Estado Novo. Neste momento, as migrações internas começam a protagonizar os movimentos populacionais mais importantes do país, refletindo uma integração maior do mercado de trabalho nacional, pela oferta de oportunidades de trabalho nos crescentes centros urbanos. Na década de 1930, novas condições políticas e organizacionais permitem que a industrialização conheça, de um lado, uma nova impulsão, vinda do poder público e, de outro, comece a permitir que o mercado interno ganhe um papel de uma nova lógica econômica e territorial. A partir dos anos 1940-1950, é essa lógica da industrialização que prevalece. Santos (1996, p. 30) refere-se ao termo industrialização em sua mais ampla significação O termo industrialização não pode ser tomado, aqui, em seu sentido estrito, isto é, como criação de atividades industriais nos lugares, mas em sua mais ampla significação, como processo social complexo, que tanto inclui a formação de um mercado nacional, quanto os esforços de equipamento do território para torná-lo integrado. Daí em diante, como conseqüência dessa nova base econômica, tem-se o crescimento demográfico sustentado das cidades médias e maiores, incluídas as capitais de estados. Aliado a esse crescimento demográfico, o crescimento da industrialização e as alterações na economia do país, ocorridos a partir da década de 1950, resultaram em modificações na organização social, como o crescimento dos centros urbanos e a integração do território pelas redes de transportes e comunicações. De forma simplificada, pode-se dizer que as políticas de desenvolvimento regional, a partir dos meados da década de 1950, procuraram fortalecer a integração do mercado nacional e equilibrar, espacialmente, o desenvolvimento econômico. Apesar dos esforços, o eixo São Paulo-Rio e, posteriormente, a Região Econômica de São Paulo, transformaram-se, cada vez mais, em centro econômico e o resto do país em periferia, impulsionados pelo excedente de 12 produção do café no Estado de São Paulo. As políticas regionais conseguiram se traduzir na canalização de recursos federais para o Norte e Nordeste, embora seus impactos sobre a redistribuição espacial de atividades econômicas tenham sido muito abaixo do esperado. Até 1970, o processo de desenvolvimento econômico do Brasil caminhou para uma concentração, principalmente, na Área Metropolitana de São Paulo (AMSP). Houve então um processo de concentração industrial na região da grande São Paulo que fez com que o estado atingisse o status de grande centro econômico do Brasil e, assim, recebesse os maiores fluxos migratórios. No início da década de 1970, o processo de reversão da polarização começa a se desenvolver. Em uma primeira etapa do processo, há uma relativa dispersão da produção industrial para o Brasil como um todo, como conseqüência das deseconomias dos custos de aglomeração na AMSP (transporte) e as políticas de descentralização industrial adotadas pelos governos federal e estadual nos anos 70, reforçadas por políticas municipais. A partir do processo de desconcentração da atividade industrial da AMSP, as cidades médias brasileiras são vistas como localidades potenciais de absorção destes empreendimentos, especialmente do Sul e Sudeste, pois apresentam algum tipo de economia de aglomeração potencial, ao mesmo tempo em que não incorrem em deseconomias de aglomeração típicas das grandes metrópoles. A década de 1970 é marcada por uma grande difusão das modernizações, tanto no campo como nas cidades. O sistema capitalista começa a atuar de forma expressiva na vida das pessoas e cria necessidades de integrar o país por meio de modernas redes de transportes e de comunicações, o que permite a unificação de um mercado consumidor cada vez maior e o surgimento de uma sociedade cada vez mais globalizada em termos tecnológicos, econômicos e culturais, se expressando na reorganização rápida e profunda dos vários setores econômicos e sociais que caracterizam tanto o meio urbano quanto o meio rural. A integração dos centros urbanos às redes de grande complexidade, resultado do crescimento da urbanização e da industrialização, cria um ambiente perfeito para a expressão cultural, relações sociais de diversas maneiras refletindo, assim, novas formas de organização social e econômica, o que produz o ambiente das cidades. Desta forma, segundo Corrêa (2002, p. 42), a cidade é um local onde ocorrem diversas formas de utilização da terra, onde os homens com seu poder de explorar e modificar as coisas transformam a natureza em edifícios, casas, indústrias, e faz do espaço da cidade um “local de concentração da atividade comercial, de serviços e de gestão”, tornando-se assim, o espaço de atuação maior do capitalismo. 13 Historicamente, as migrações internas no Brasil partiram do Nordeste em direção às grandes cidades do Sudeste em busca de melhores condições de vida, como emprego, saúde, educação e saneamento básico, o que contribuiu para a expansão da economia urbana. Contudo, de acordo com dados dos últimos anos de censos demográficos elaborados pelo IBGE, os fluxos de migrações se alteraram de forma significativa nos últimos anos, nos quais se pode perceber a redução do fluxo migratório para as grandes cidades e o aumento do fluxo populacional para as cidades médias, o que significa um aumento no número de municípios que chegam às categorias de cidade grande e média e na importância desta. No período de 1960-1980, a população urbana brasileira apresentou um incremento de 49 milhões de pessoas, das quais 28 milhões podem ser atribuídos aos deslocamentos do tipo campo-cidade. O êxodo rural foi, assim, responsável por 58% do crescimento urbano e pelas taxas elevadas de urbanização no período. Em decorrência das políticas públicas de ordenamento territorial que tinham como objetivo reprimir a migração em direção às metrópoles, bem como incentivar a criação de novos pólos de desenvolvimento em regiões periféricas, o interesse em se estudar este conjunto de cidades, no Brasil, vem desde a década de 1970. Na década de 1990, o tema cidades médias retorna como área de estudos no meio acadêmico, tendo em vista as características apresentadas pela urbanização brasileira decorrentes, principalmente, das mudanças estruturais na economia mundial. Diante desse cenário, o trabalho aqui proposto faz uma análise sobre a dinâmica urbana das cidades médias, tomando como objeto de estudo a cidade de Patos de Minas (MG). O texto busca elaborar uma reflexão sobre a redefinição do papel e das funções dessa cidade média, analisando as condições que permitiram a este centro urbano ser considerado pólo econômico regional e líder da Microrregião que o abrange. O município de Patos de Minas é integrante da Bacia do Rio Paranaíba e localiza-se na região intermediária à Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, na porção oeste do Estado de Minas Gerais e sua posição geográfica é de latitude 18º35´32”S e longitude de 46º31´15”. O município faz divisa ao norte com as cidades de Lagamar e Presidente Olegário; ao sul com Carmo do Paranaíba, Lagoa Formosa, Serra do Salitre e Cruzeiro da Fortaleza, a leste com Varjão de Minas e Tiros e a oeste com Coromandel e Guimarânia (figura 01), e ganhou projeção nacional através da Festa Nacional do Milho, realizada no mês de maio e que movimenta vários setores da economia. 14 Figura 01: Mapa de localização do Município de Patos de Minas - MG. Fonte: Prefeitura Municipal de Patos de Minas Organizado por: Magrini, A. V. (2008). A metodologia utilizada na confecção deste trabalho se baseia, em um primeiro momento, em um levantamento bibliográfico acerca do tema escolhido, bem como na organização dos dados existentes sobre Patos de Minas nos diversos órgãos públicos municipais, estaduais e federais, como: Prefeitura Municipal de Patos de Minas, Fundação João Pinheiro, Assembléia Legislativa de Minas Gerais, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre outras, quando foram utilizadas variáveis como contingente 15 populacional, funções, dinâmica intra-urbana, intensidade das relações interurbanas e com o campo, indicadores de qualidade de vida e infra-estrutura, relações externas e comando regional. A estrutura desse trabalho se dá em três capítulos, sendo o primeiro uma reflexão sobre o processo de urbanização no Brasil, analisando o redirecionamento socioeconômico para as cidades de porte médio e discutindo a importância dessas cidades para a dinâmica urbana atual. Ainda no primeiro capítulo é apresentado o processo histórico de formação do município de Patos de Minas, enfatizando também as transformações sócio-econômicas e espaciais desencadeadas pelo seu processo de urbanização. Concluindo o trabalho, as considerações finais oferecem ao leitor o entendimento sobre a dinâmica urbana de Patos de Minas e as condições que tornaram essa importante cidade média do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba em pólo econômico regional, chegando a ser considerado o quinto município com maior desenvolvimento socioeconômico, entre 1970 e 1996, no Brasil. CAPÍTULO I PATOS DE MINAS: O CONTEXTO HISTÓRICO E O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO 1.1 – O processo de urbanização e as transformações ocorridas nas cidades brasileiras Podemos afirmar que o Brasil, hoje, é um país urbanizado. Com a saída de pessoas do campo em direção às cidades, os índices de população urbana vêm aumentando sistematicamente em todo o país. Contudo, sabe-se que o processo de urbanização no Brasil é relativamente recente e seu início se articula a um conjunto de mudanças estruturais na economia e na sociedade brasileira. A partir da década de 1960, as cidades passaram por um processo de dispersão espacial, à medida que novas porções do território foram sendo apropriadas pelas atividades agropecuárias. Porém, de acordo com estimativas do IBGE, apenas em 1970 a população brasileira que residia em áreas urbanas chegou a ser superior às que residiam em áreas rurais, o que não quer dizer que as cidades já não fizessem parte da paisagem social do país desde o período colonial. Apesar da sua restrita dimensão demográfica, neste período, o espaço urbano refletia nitidamente o caráter de exploração colonial da economia. As cidades se caracterizaram como o lugar de expressão de poder e dominação do país, uma vez que se formaram com o objetivo de ocupação, dominação e extração das riquezas existentes no Brasil. De acordo com Santos (1996, p. 31) O forte movimento de urbanização que se verifica a partir do fim da segunda guerra mundial é contemporâneo de um forte crescimento demográfico, resultado de uma natalidade elevada e de uma mortalidade em descenso, cujas causas essenciais são os progressos sanitários, a melhoria relativa nos padrões de vida e a própria urbanização. O crescimento populacional percebido a partir de meados do século XIX permitiu um processo de reconfiguração dos centros urbanos e, Conforme Andrade (1979, p.10), esse crescimento não se deu apenas porque o modo de produção rural agia de forma a provocar este fluxo, mas também em virtude de eventos como a Lei Áurea em 1888, que atribuía aos negros a situação de liberdade e muitos deles, sem alternativas, migraram para as cidades. 17 A necessidade de maior produção de alimentos para atender a população urbana e as redes de transportes para o fluxo de mercadorias gera uma movimentação da economia urbana e rural da época, favorecida também pela industrialização que, neste momento, ainda era bastante discreta. O crescimento da industrialização no país foi favorecido pelo período de expansão da economia cafeeira e, como conseqüência, ocorre a emergência da burguesia industrial e de um mercado de bens e serviços que tiveram influência direta no processo de urbanização e formação do sistema urbano que, como já foi mencionado na introdução deste trabalho, o ocorreu de forma desigual, inicialmente concentrando-se na região do Rio de Janeiro e, mais tarde, na região de São Paulo, que crescia acelerada. Na opinião de Santos e Silveira (2002, p. 266) No século XIX, sobretudo na sua segunda metade, as coisas começam a tomar uma feição diferente, na medida em que a introdução da estrada de ferro vai permitir um uso mais dinâmico do território. Criam-se aí duas lógicas. Exceto na área hoje nucleada por Rio de Janeiro e São Paulo, a estrada de ferro reforça os laços privilegiados entre metrópoles regionais e sua respectiva hinterlândia, mas sem estabelecer, entre tais metrópoles, relações outras que não as permitidas pela navegação marítima. Todavia, no Sudeste criam-se, de um lado, uma rede localizada de ferrovias e, de outro, um intercâmbio baseado em uma divisão territorial do trabalho. É esse o embrião do que atualmente podemos chamar de área concentrada. Em virtude da modernização do campo e do já consolidado processo de industrialização na região Centro-Sul, assiste-se a uma verdadeira expulsão dos pobres, que encontram nas grandes cidades seu único refúgio. Percebe-se uma intensificação dos fluxos migratórios para essa região à procura de emprego nas indústrias. Contudo, o crescimento da oferta de emprego pelos empreendimentos não acompanhou o aumento da mão-de-obra disponível e a realidade do desemprego hoje é reflexo de uma urbanização sem planejamento. Como as indústrias absorvem cada vez menos mão-de-obra e o setor terciário apresentam um lado moderno, que exige qualificação profissional, a urbanização brasileira vem caminhando lado a lado com o aumento da pobreza e a deterioração crescente das possibilidades de vida digna aos novos cidadãos urbanos. Em 1940, de acordo com os dados do IBGE, apenas 31,2% da população brasileira residia em áreas urbanas, em uma população total de aproximadamente 41.236.315 habitantes. Nas décadas seguintes esse percentual aumenta significativamente, observando-se tendência crescente de urbanização. Contudo, é somente em 1970 que se registrou, para o país como um todo, uma população urbana superior à rural (55,9%). 18 O IBGE afirma, ainda, que nos anos de 1960 o Brasil era um país agrícola, com uma taxa de urbanização de apenas 44,7%. Em 1980, 67,6% do total da população já viviam em cidades. Entre 1991 e 1996, houve um acréscimo de 12,1 milhões de habitantes urbanos, o que se reflete na elevada taxa de urbanização (78,4%). De 1970 a 1980, a população urbana das cidades com mais de 20 mil habitantes aumenta de 37.398.842 para 60.745.403 habitantes, ou seja, houve um aumento da ordem de 60%. Para Santos (1996. p. 30) de 1940 a 1980, A população urbana brasileira varia de 653,03%. O aumento médio da taxa de urbanização de 1970 a 1980 foi de 111.53%, e de 1980 a 1990 foi de 107,66%. Na década de 1980, o crescimento numérico da população urbana é maior do que o da população total. Isso apenas para demonstrar a realidade enfrentada na década de 1970 para a formulação da política urbana. O que aparece como um grande destaque no caso brasileiro foi a velocidade do processo de urbanização, que aconteceu de forma desorganizada, sem levar em consideração um planejamento de infra-estrutura que minimizasse os impactos dessa ocupação. Isto significa simplesmente que o processo de urbanização é uma característica definitiva da dinâmica da população brasileira. Na concepção de Corrêa (1995, p. 13) Os grandes proprietários industriais e das grandes empresas comerciais são, em razão da dimensão de suas atividades, grandes consumidores de espaço. Necessitam de terrenos amplos e baratos que satisfaçam requisitos locacionais pertinentes às atividades de suas empresas – junto ao porto, às vias férreas ou em locais de ampla acessibilidade à população etc. A terra urbana tem assim, em princípio, um duplo papel: o de suporte físico e o de expressar diferencialmente requisitos locacionais específicos às atividades. A urbanização brasileira eslava intimamente ligada aos processos migratórios naquele período. O Censo Demográfico de 1970 indicava que cerca de 50% do crescimento urbano era devido às migrações internas em termos de média geral para o Brasil, que constituíram um dos elos mais importantes entre as profundas mudanças estruturais ocorridas no país e a expansão urbana. A região Centro-Sul obteve um rápido crescimento econômico, que propiciou o aparecimento das regiões metropolitanas. As migrações internas redirecionavam a população do campo para as cidades, principalmente, para as regiões metropolitanas do Sudeste, em particular, para a cidade de São Paulo. 19 Mesmo que grande parte dos fluxos migratórios ainda se dirigia às metrópoles, no início do século XXI, percebe-se um redirecionamento e um notável aumento destes em direção às cidades médias. Apesar do notável crescimento da economia, as migrações se mostram como a fonte de diversos desequilíbrios econômicos e sociais, tanto nas regiões de origem, quanto nas de destino. Os aumentos populacionais e econômicos nas cidades médias apontam uma série de modificações, reformulando e reestruturando espaço e as relações ali existentes. Como apontou Santos (1996), trata-se, portanto, de uma nova geografia, com mudanças no contexto, no conteúdo e nas formas de uso do espaço, cujos resultados combinados configuram um novo Brasil urbano, no qual se destaca um complexo e variado processo de reestruturação da rede urbana. Nesse contexto de reestruturação da rede urbana, cabe reconhecer, portanto, os novos papéis e valores desempenhados pelas cidades e suas respectivas regiões, assim como importa identificar as novas funções urbanas e as novas interações espaciais que delas derivam, particularmente, as relações cidade-região e as relações interurbanas. A cidade começa a ser pensada, portanto, como reflexo da dinâmica do capitalismo, das redes, dos fixos e fluxos, e do consumismo, que se reflete na estrutura funcional e ideológica das cidades. Surgem, nesse período, diversos planos para melhorar o funcionamento das cidades, como aqueles ligados ao saneamento (principalmente de drenagem urbana) e a infraestrutura (circulação, iluminação pública, abastecimento de água etc.). A partir daí, o planejamento urbano começa a se destacar como parte de medidas para o melhoramento estético e funcional das cidades. 1.2 - As cidades médias brasileiras de Minas Gerais As cidades médias brasileiras vêm apresentando, nas últimas décadas, um ritmo de crescimento demográfico superior ao observado para o conjunto dos centros urbanos brasileiros e distinguem-se pelos índices de crescimento populacional. Dados do IBGE1 demonstram que as cidades na faixa de tamanho populacional entre 50 mil e 500 mil habitantes, em 1970, eram em número de 240 e saltaram para 496, em 2000, 1 www.ibge.gov.br acessado em 12/11/2008 20 registrando crescimento de 106,6%. Tais cidades abrigavam, em 1970, 25.040.543 habitantes e, em 2000, passaram a abrigar 60.545.697 habitantes, indicando incremento populacional de 141,7%. Considerando a faixa de tamanho populacional entre 100 mil e 500 mil habitantes, grupo que define, segundo a Fundação IBGE, as cidades de porte médio no Brasil, os dados evidenciam que, em 1970, eram em número de 83 cidades chegando a 193 cidades, em 2000, o que indica crescimento de 132,5%. Com relação à concentração demográfica, as cidades desta última faixa de tamanho populacional, em 1970, concentravam 14.606.904 habitantes alcançando, em 2000, 39.541.616 habitantes, o que corresponde a um incremento populacional de 170,7%. Além desse dinamismo populacional, há que se destacar o papel singular das cidades médias no relativo processo de desconcentração da população brasileira, dado que elas proporcionam um maior equilíbrio interurbano a partir da redução do fluxo migratório em direção às metrópoles. Apesar de o parâmetro demográfico ser freqüentemente utilizado para classificar as cidades médias, é importante lembrar que o recorte demográfico identifica apenas o grupo ou a faixa que pode conter cidades médias, ou seja, identifica as cidades de porte intermediário, mas não aquelas que exercem essencialmente o papel de cidades médias na sua essência. O conceito de cidades médias varia de acordo com a época e o autor. Em um primeiro momento, Andrade e Lodder (1979, p.35) classificaram como cidades médias os centros e aglomerações urbanos que possuíam, em 1970, uma população urbana entre 50 mil e 250 mil habitantes. Já para Andrade e Serra (2001), em estudo posterior, em um sistema de cidades nacional, que vem sofrendo alterações significativas como o brasileiro, há, nas extremidades de sua hierarquia, grandes e pequenas cidades; e, entre esses dois extremos, têm-se centros intermediários, cuja população urbana está entre 50 e 500 mil habitantes. Considerando que, no ápice da hierarquia urbana brasileira, se tem a grande cidade de porte metropolitano, na base, a cidade local ou pequena, aquela de influência estritamente local e, em uma posição intermediária, a cidade média: O que chamávamos de cidade média em 1940/50, naturalmente, não é a cidade média dos anos 1970/80, no primeiro momento, uma cidade com mais de 20.000 habitantes poderia ser classificada como média, mas, hoje, para ser uma cidade média uma aglomeração deve ter população em torno dos 100.000 habitantes. Esse autor salienta que, atualmente, ...as cidades intermediárias apresentam, assim, dimensões bem maiores..., nas quais 100 mil habitantes é o novo limiar das cidades médias e 500 mil habitantes seria o limite superior de uma grande cidade média. (SANTOS, 1996, p.70-71). 21 Em definições mais recentes, o IBGE afirmou que as cidades médias brasileiras são aquelas com população entre 100 mil e 500 mil habitantes. No Brasil, a emergência das cidades médias coincide com a fase de expansão do meio técnico científico-informacional, que impôs um novo patamar ao movimento de urbanização, fazendo-se necessário considerar tais características quando da análise dessas cidades. Para caracterizar as cidades médias faz-se necessário observar aspectos relacionados às estruturas dimensionais, funcionais e espaciais, tais como: o crescimento numérico e a posição territorial; a evolução dos dados demográficos, especialmente de população urbana; o desenvolvimento e o grau de especialização e diversificação econômica; a organização espacial intra-urbana e os indicadores de qualidade de vida, particularmente os relacionados à existência de serviços de educação e saúde, de centros de consumo e lazer, e também aspectos referentes à qualidade ambiental, dentre outros; o papel de comando regional e a qualidade das interações mantidas com outras cidades e com o campo; assim como o papel que exerce e a posição que ocupa na rede urbana regional e no sistema urbano brasileiro. (BESSA, 2005, p. 276) Diante do processo histórico de formação e ocupação de Minas Gerais, percebe-se que o estado tem se destacado como formador de importantes centros regionais, com um crescente destaque para a economia da região como, por exemplo, o setor de prestação de serviços, o varejo e os agronegócios. Alvos de intensas migrações, as grandes cidades absorveram uma série de problemas urbanos e de saúde, provocando iniciativas governamentais na elaboração de 26 planos para reduzir a quantidade de migrantes para essas cidades e incentivar a interiorização das pessoas e empresas. Nesse contexto, surge o II Plano Nacional de Desenvolvimento (1970)2, que incentivava o desenvolvimento de vários setores da economia e, influenciado por este, Minas Gerais apresenta um forte crescimento demográfico e econômico. Utilizando concessões de incentivos fiscais, o governo do estado promove a notável industrialização da região. Aliando a crescente industrialização à política de planejamento das cidades (melhorias em infraestrutura) e ao processo de desconcentração de São Paulo, Minas Gerais foi beneficiado com uma considerável dinamização em sua economia e em aspectos demográficos. 2 PND II - Geisel, surpreendentemente, ao invés de utilizar-se de uma política recessiva de maior contenção, se propôs a investir no crescimento econômico. O Brasil permaneceu, assim, com grande endividamento externo, mas direcionando os investimentos na indústria, para projetos que substituíssem importações. A meta era alcançar um crescimento industrial de 12% ao ano até 1979. Para isso desenvolveu o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que visava a criar bases para a indústria (procurando reduzir a dependência em relação a fontes externas). 22 Como uma maneira de reestruturar e até mesmo servir de alavanca para o desenvolvimento da economia na região mineira, observa-se a forte influência de políticas públicas, bem como políticas de incentivo à mecanização e ao desenvolvimento do setor agropecuário, utilizando-se de incentivos fiscais e concessões de benefícios. A partir dos anos 70, de acordo com França (2007, p.56), o estado elevou a participação na produção agropecuária em âmbito nacional, principalmente a região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, proporcionando um notável impulso no processo de urbanização das principais cidades mineiras, destacando-se a região metropolitana de Belo Horizonte, e algumas cidades médias, como Uberlândia e Uberaba. Segundo uma classificação realizada por Amorim Filho e Abreu (1999), representada no quadro 01, na qual os autores demonstram as condições e classificações das cidades médias mineiras sobre os níveis de destaque e de características comuns que eles possuem, Juiz de Fora e Uberlândia aparecem como os “grandes centros regionais” (nível 1). Lavras, Montes Claros, Passos, Patos de Minas, Uberaba e Varginha, dentre outras, como “cidades médias de nível superior” (nível 2). Classificam ainda em “cidades médias propriamente dita” (nível 3) como exemplos Araxá e Patrocínio, e os “Centros emergentes” (nível 4), onde o autor destaca municípios como São Gotardo e Tupaciguara. Tabela 01: Hierarquia das cidades médias mineiras, 1999. Nível 1 Nível 2 Grandes centros regionais Juiz de Fora e Uberlândia Cidades Médias de Nível Superior Alfenas, Araguari, Barbacena, Divinópolis, Governador Valadares, Ipatinga (aglomeração), Itajubá, Ituiutaba, Lavras, Montes Claros, Passos, Patos de Minas, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Sete Lagoas, Uberaba e Varginha. 23 Nível 3 Nível 4 Cidades Médias Propriamente Ditas Centros Emergentes Araxá, Caratinga, Cataguases, Conselheiro, Leopoldina, Muriaé, Ouro Preto, Pará de Minas, Paracatu, Patrocínio, Ponte Nova, Lafaiete, Curvelo, Formiga, Frutal Guaxupé, Itabira, Itaúna, João Monlevade, Santa Rita do Sapucaí, São João del Rei, São Lourenço, São Sebastião do Paraíso, Teófilo Otoni, Três Corações, Ubá, Unaí e Viçosa. Abaeté, Aimorés, Além Paraíba, Almenara, Andradas, Araçuaí, Arcos, Bambuí, Barãode Cocais, Boa Esperança, Bocaiúva, Bom Despacho, Campo Belo, Carangola, Carlos Chagas, Carmo do Paranaíba, Caxambu, Congonhas, Conselheiro Pena, Corinto, Diamantina, Dores do Indaiá, Ibiá, Itabirito, Itambacuri, Itapecerica, Iturama, Janaúba, Januária, Jequitinhonha, João Pinheiro, Lagoa da Prata, Machado, Manhuaçu, Manhumirim, Mantena, Mariana, Monte Carmelo, Nanuque, Nova Era, Fonte: Amorim Filho e Abreu (1999) Organizado por: Magrini, A. V (2008). Frente à configuração atual dos municípios mineiros e da importância destes no cenário nacional, Bessa (2008) conclui: Percebe-se a necessidade de aprofundamentos teóricos sobre a temática e a realização de estudos quantitativos e qualitativos que demonstrem a dinâmica sócioespacial, identificando, dentre as cidades médias, aquelas que apresentam maiores possibilidades de polarização e de capacidade de desenvolvimento das cidades do entorno. (BESSA, 2008. p. 27-28) Pretende-se, portanto, nas próximas seções deste capítulo, conhecer a dinâmica sócioespacial do Estado de Minas Gerais, da Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba e de suas Microrregiões, buscando-se captar os impactos desta dinâmica sobre a configuração do espaço, com maior destaque para a Microrregião de Patos de Minas 1.3 – O processo de ocupação de Minas Gerais e da Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (MTMAP) A descoberta do ouro em meados do século XVII teve papel fundamental para o povoamento do Estado de Minas Gerais. Com o objetivo de acumular metais e pedras preciosas no Brasil, Portugal teve papel fundamental no processo de ocupação Estado, uma vez que promoveu expedições para o interior do país com o intuito de povoá-las e explorar o 24 ouro e de outros metais. Contudo, essas explorações aconteceram de modo precário e provocaram a decadência da economia mineradora no estado de Minas Gerais. Todas as alternativas para restabelecimento da economia na região pareciam inviáveis, e iniciou-se uma agricultura de subsistência, em um primeiro momento e na pecuária, posteriormente, por volta de 1830. Segundo Oliveira (2003), a atuação política de Getúlio Vargas no Estado de Minas Gerais, a partir do século XX, estimula a atividade na região, através da implementação do Conselho de Desenvolvimento da Pecuária (CONDEPE). Essa atuação foi muito importante para promover o crescimento econômico da região, primeiro com incentivo ao café, arroz e pecuária e, mais recentemente, com o desenvolvimento industrial no setor agropecuário que, por meio de incentivos fiscais, se fez sentir, principalmente, na mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Desenvolvimento este que provocou grandes fluxos de investimentos de capital e de migrantes, inspirados no intenso crescimento por qual passa a região. A Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (MTMAP), região definida por 66 municípios e sete microrregiões (IBGE, 2003), se destaca pelo importante papel que cumpre no desenvolvimento econômico e social de Minas Gerais e do país como um todo, auxiliada pela sua excelente localização geográfica no interior do Brasil. Centralizada em relação à área de maior expansão econômico-financeira do País, o Estado de São Paulo, e os Estados de Goiás e Mato Grosso do Sul, com economias agro-industriais em expansão, bem como em relação ao centro político, o Distrito Federal, sua localização representa importante fator logístico de desenvolvimento, uma vez que proporcionou a interiorização das infraestruturas e um redirecionamento das atividades econômicas. Esta condição permitiu que o Triângulo Mineiro assumisse o papel de entreposto comercial, servindo de passagem de produtos manufaturados que saiam de São Paulo em direção ao Centro-Oeste, o que conferiu à região um crescimento econômico acelerado, com extrema importância para a economia nacional e regional. Aliada a essa condição, os investimentos governamentais e privados, impulsionados principalmente pela idéia de “Revolução Verde” que estava sendo disseminada em todo o mundo, o país começa a desenvolver tecnologia própria para aumentar a produção e, nesse contexto, o Triângulo Mineiro e outras áreas mineiras tornaram-se um importante elemento da expansão da produção agropecuária nos padrões da agricultura moderna, baseada nos interesses da Revolução Verde, favorecendo a urbanização de seus municípios. 25 Nesse período, a economia urbana encontrava-se centralizada em algumas cidades como Uberlândia, Uberaba e Ituiutaba, que se consolidavam como pólos de atração para populações de outros estados, em virtude de seu dinamismo econômico. Em 1991, o Grau de Urbanização da MTMAP acentua-se em quase 90%, sendo que todas as MC concentram acima de 70% de população no meio urbano, enquanto as Microrregiões de Uberlândia e Uberaba superam os 90% (BERTOLUCCI, 2001). A extensão da pecuária e a ampliação e diversificação da economia urbana, aliadas à intensificação da mecanização na produção agrícola, deram condições para o crescimento das atividades agroindustriais em Minas Gerais e no país, o que provocou uma diversificação das atividades industriais e intensificou o comércio e o setor terciário. Uberlândia, Uberaba, Araguari, Ituiutaba e Patos de Minas foram as cidades que mais sentiram essa intensificação no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Dessa maneira, a MTMAP se torna grande exportador de grãos e cereais para o mundo inteiro, assumindo um papel importante em âmbito nacional e absorvendo grande parte de contingentes populacionais. Contudo, alguns municípios se destacam em relação aos demais por apresentarem melhor situação sócio-econômica. O município de Uberlândia, principalmente, e outros como Uberaba, Araxá e Patos de Minas ocuparam posição de destaque. De acordo com Mello (1992), desde as primeiras décadas do século XX, homens como Jacques Dias Maciel e Moacyr Viana de Novais entendiam que a fertilidade do solo de Patos de Minas merecia a associação de empreendimentos científicos e tecnologias como instrumento de multiplicação econômica. Em 1911 foi fundada a Escola Agrícola de Patos de Minas com auxílio da Prefeitura Municipal na aquisição da Fazenda Limoeiro que passou a ser laboratório da escola. Moacyr Viana de Novais realizou experimentos genéticos revolucionários com o trigo e com o milho, culminando com o famoso milho híbrido. Desde então Patos de Minas ficou conhecida como a "Capital do Milho", não só por sua extraordinária produção do rico grão, mas também por ser o centro produtor de sementes mais importante do país. Assim se expressa Mello (1970, p. 298) Vieram novas festas e novas rainhas e princesas e em cada ano mais se afirmava a Festa do Milho e mais se espalhava a sua fama no Estado a ponto de varar as suas fronteiras. Por força do Decreto n° 56.286 de 17 de maio de 1965, do Presidente da República, Mal. Humberto de Alencar Castelo Branco, o dia 24 de maio, “Dia da Cidade de Patos de Minas, foi instituído como o “Dia Nacional do 26 Milho”. Desde então, a festa passou a ter caráter nacional e tornou-se Festa Nacional do Milho. Tal fato justifica a escolha de Patos de Minas como objeto desta pesquisa, tendo em vista que, apesar de o crescimento econômico e demográfico no Estado de Minas Gerais ter ocorrido, primeiramente, na região metropolitana de Belo Horizonte e, mais recentemente, nas cidades médias do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, como Uberlândia e Uberaba, estas vêm perdendo pessoas para cidades menores como Patos de Minas. 1.4 – A evolução da ocupação no Município de Patos de Minas (MG) O processo de colonização da região hoje ocupada pelo município de Patos de Minas e distritos vizinhos, provavelmente, iniciou-se na metade do século XVIII, período que antecede a descoberta do outro nas regiões das minas, com o movimento das entradas e bandeiras rumo às terras de Paracatu, seguindo as margens dos Rios São Francisco e Paracatu, através da picada de Goiás, primeiro caminho oficial aberto das Minas Gerais ao território de Goiás. Comenta-se que a bandeira de Lourenço Castanho Taques, por volta de 1670, teria feito um giro pela região, se dirigindo a Paracatu. Posteriormente, Bartolomeu Bueno da Silva, o velho, atravessou a região em busca das minas de Goiás. A partir desse período, encontra-se registrada a denominação “Os Patos” para designar a povoação à beira desse caminho. Contudo, considerando ocorrências arqueológicas já detectadas em distritos, a existência de uma urna funerária pré-histórica, datada provavelmente de 3.000 BP (Before Present) encontrada na Fazenda de Contendas, Distrito de Santana e de propriedade de Manoel dos Reis Bessa, se faz necessário recuar às datas de ocupação da região até a préhistória. Encontra-se em processo de viabilização a realização do levantamento sistemático voltado para a definição do patrimônio arqueológico do Município, que permitirá a sua inserção no mapa da arqueologia brasileira (figuras 02 e 03). 27 Figura 02: Descoberta da Urna Funerária na Fazenda de Contendas, Distrito de Santana. 1999 Fonte: Prefeitura Municipal de Patos de Minas Figura 03: Descoberta da Urna Funerária na Fazenda de Contendas, Distrito de Santana. 1999 Fonte: Prefeitura Municipal de Patos de Minas Ao que tudo indica, as ocorrências minerais na região de Patos de Minas eram pouco atrativas, esgotando-se rapidamente; o que não favoreceu, nesta fase inicial, uma ocupação 28 mais efetiva. Isto não significa, entretanto, a inexistência de vestígios desta época, principalmente, quando se tratava de atividade mineradora. Estudos comprovam a predominância de tribos indígenas no período que antecede a dominação branca na região, através da existência de vestígios arqueológicos deixadas por estas nações. Ao que indicam os estudos, elas em nada se diferiram das demais tribos que habitavam as terras brasileiras: as doenças, os maus tratos, as contendas travadas e o processo brutal de miscigenação aceleraram o seu extermínio. As evidências históricas conhecidas através de documentos e da tradição oral registram a presença de negros vivendo em quilombos – do Ambrósio (Ibiá) e outros – ao longo do caminho que percorriam em direção a Goiás, passando pelo atual território patense, na primeira metade do século XVIII. Os negros viviam da agricultura e criação de gado, que eram roubados ou desgarrados de manadas que por ali passavam. Não se sabe por quantos anos sobreviveram os quilombolas, com a chegada de Afonso Manoel Pereira, viandante do caminho do Rio de Janeiro, um dos pioneiros e portador da carta de sesmaria concedida pelo Conde de Valadares, em 1770, mais antigo documento que permite a localização das terras, o refúgio dos negros, livres das correntes e do tronco, foi destroçado, resultando em mortes, prisões e destruição. Com relação à escritura do patrimônio, há referência do termo assinado em 19 de agosto de 1826, por Antônio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa, Luzia Corrêa de Andrade, como doadores das terras na qual está situada parte da cidade de Patos de Minas. Há informações de que no ano de 1824, a região de Paracatu recebeu a visita do Bispo de Pernambuco que dava assistência espiritual àquela região, e que ele possa ter influenciado na decisão dos doadores. Em janeiro de 1832, feito o requerimento e após providenciar as medidas exigidas, entre elas a contratação de um padre e a construção da capela de Santo Antônio, foi criado o Distrito de Santo Antônio da Beira do Paranaíba, nome dado a povoação “Os Patos”, conforme o edital baixado pela Câmara de Paracatu (Prefeitura Municipal de Patos de Minas, 2003) No período da elevação do Julgado São Domingos do Araxá à Vila, a sua jurisdição abrangia a povoação “Os Patos”, mas o município pertencia à Paracatu. Como o Julgado não podia legislar por não ter Câmara, ficou subordinado a Paracatu. E no período de 1833 a 1840 a Araxá, para desassossego dos paranaibanos, pela má fama da região – reduto de prostituição, marginais, criminosos etc. Descontentes, recolheram assinaturas, se rebelaram, enfrentando o Município Sede, repudiando as injustiças, insistiram para conseguir se incorporarem novamente a Paracatu. Somente depois de longo tempo é que a Comissão de Estatística da Assembléia Provincial encerra o assunto com um parecer, definindo a 29 transferência para a recente criada Vila do Patrocínio em 1842, alegando ser mais próximo, facilitando a assistência. A partir de 1839, a denominação Santo Antônio da Beira do Rio Paranaíba desaparece oficialmente, em seu lugar passa a vigorar Santo Antônio dos Patos. A emancipação política foi iniciada com a denúncia histórica de fraudes na primeira eleição da Vila de Patrocínio no ano de 1848, de autoria do então vereador Antônio José dos Santos Formiguinha. Após apuração dos fatos, D. Pedro II resolveu anular e convocar novas eleições, favorecendo a região. O pedido de elevação do Distrito de Santo Antônio dos Patos à categoria de Vila foi formalizado em 25 de dezembro de 1866 e aprovado somente mais tarde, 29 de fevereiro de 1868, quando veio a ordem do executivo da Província para a instalação da Vila. Conforme a lei de criação do município, para estabelecer a região como Vila era preciso que fossem construídas a Cadeia e a Casa da Câmara. Com grandes dificuldades, sacrifícios e o tempo limitado, a população conseguiu cumprir o compromisso no prazo estipulado, mas não se viu livre de ameaças de ser suprimido como município. A Vila de Santo Antônio dos Patos foi elevada à categoria de cidade, juntamente com todas as vilas sedes de comarcas na época, através da Lei nº 23 de 24 de maio de 1892, após um processo bastante lento, com a denominação de Patos. Em 1943, o governo do Estado mudou o nome para Guaratinga, provocando insatisfação na população. Atendendo aos apelos populares em 03 de junho de 1945, muda novamente para Patos de Minas para distingui-lo de Patos da Paraíba (PB), município mais antigo. Figura 04: Avenida Paracatu, em 1929. Fonte: Prefeitura Municipal de Patos de Minas 30 Desde o começo do arraial, o patense se preocupou em promover o desenvolvimento da região. Destaca-se a criação da primeira Escola Pública (1853), a agência dos Correios (1875), a publicação do Primeiro Jornal - “O trabalho” (1905), a instalação da energia elétrica (1915), da rede de telefonia urbana (1917) e interurbana (1921), serviço de abastecimento de água, sendo que na década de 1970, a instalação da COPASA abastece a cidade com água tratada. No contexto destes novos investimentos na infra-estrutura do município, percebem-se intensas transformações em âmbito sócio-espacial que remodelaram a cidade. A partir daí, Patos de Minas começa a se destacar, promovendo o crescimento populacional, econômico e estrutural (crescimento horizontal e vertical). Estas transformações conferiram uma nova dinâmica à cidade, que pode ser mais bem compreendida pelas figuras 05, 06 e 07 a seguir. Comparando-se as fotos, percebe-se a influência e a utilização de métodos de planejamento que estruturou a largura e as formas das ruas de Patos de Minas. Figura 05: Avenida Getúlio Vargas, no final da década de 1940. Fonte: Prefeitura Municipal de Patos de Minas 31 Figura 06: Avenida Getúlio Vargas, na década de 1960. Fonte: Prefeitura Municipal de Patos de Minas Figura 07: Foto aérea da Avenida Getúlio Vargas e entorno, na década de 1970. Fonte: Prefeitura Municipal de Patos de Minas. 32 A tabela 02 e a figura 08 mostram a evolução da população residente por domicílio, desde a década de 50 até o ano de 2008, podendo evidenciar o grande salto populacional urbano da década 50 para a década de 60, um crescimento de 159,57%, enquanto as décadas de 70 e 80 mantiveram um crescimento da população urbana de aproximadamente 40 %. Já da década de 90 para o ano 2000 o crescimento foi de 27,38% e daí até o ano de 2008, a taxa de crescimento populacional foi de, aproximadamente, 12%. Tabela 02: População residente por situação de domicílio e período PERÍODO 1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000 2003 2008 TOTAL 45.399 72.839 76.211 86.121 102.946 112.712 123.881 130.331 138.466 POPULAÇÃO URBANA 12.525 32.511 44.877 63.302 87.403 99.414 111.333 RURAL 32.874 40.328 31.334 22.819 15.543 13.298 12.548 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Organizado por: Magrini, A. V (2008). Figura 08: Gráfico da evolução da ocupação em Patos de Minas por período e situação de domicílio Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Organizado por: Magrini, A. V (2008). 33 O mapa a seguir (figura 09) representa com mais clareza o processo de evolução da ocupação da cidade de Patos de Minas em seu espaço urbano. Nele é possível observar as manchas da ocupação de Patos de Minas do final do século XIX ao início do século XXI, tornando fácil notar os altos índices de desenvolvimento pelos quais a cidade passou nas décadas de 1930, 1950 e final da década de 1970, onde se encontram os maiores índices de ocupação. Figura 09: Mapa da evolução da ocupação no Município de Patos de Minas – MG Fonte: Prefeitura Municipal de Patos de Minas Organizado por: Magrini, A. V. (2008) 34 1.5 – Transformações no espaço urbano de Patos de Minas (MG) O desenvolvimento maior do município foi marcado na década de 1930 pelos melhoramentos executados pelo Governo do Estado, cujo Presidente era Olegário Dias Maciel. Em seu governo, instalou e construiu a sede da Escola Normal (hoje, Escola Estadual “Professor Antônio Dias Maciel”), o Hospital Regional “Antônio Dias Maciel”, o Fórum “Olympio Borges” e o Grupo Escolar “Marcolino de Barros”. Essas obras muito ampliaram as influências do município na região. Nesse período, ocorre a emancipação política do muncípio de Presidente Olegário (01.01.39). Para Santos (2001) A cidade de Patos de Minas é edificada, desde os finais do século dezenove, levandose em consideração a planificação urbana e o respectivo controle social. A urbanização internaliza questões de ordem social, na medida em que a cidade, plena das contradições, é pensada dentro do referencial das fronteiras. A segregação social, incorporando a exclusão em um primeiro momento e, posteriormente, o controle, faz parte das políticas públicas no ideário do progresso. A década de 50 foi de grande avanço regional, quando houve grande surto imigratório e instalação de grandes firmas comerciais nos mais diversos segmentos. Nessa época, construiuse o primeiro Terminal Rodoviário e iniciou-se a comemoração da Festa Nacional do Milho, evento de grande relevância em todo país e expressa com vigor as manifestações culturais da região. No período da Ditadura Militar, décadas de 1960 e 1970, houve pequena estagnação econômica motivada pela mudança de capital do país para Brasília, para onde grande número da população se deslocou em busca de emprego. A capital continuou atraindo a população patense, principalmente pela criação das universidades, e hoje, encontra-se uma colônia bastante significativa de patenses. Esse momento foi marcado pelas presenças da CEMIG; fundação do Colégio Municipal, com o curso científico, transformado em Escola Estadual “Professor Zama Maciel”; a criação da Fundação Educacional Patos de Minas, com a instalação da primeira escola superior, a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, no ano de 1970 e a consolidação da rede rodoviária com as rodovias asfaltadas (BR-354 e BR-365), ligando o município à capital do estado, à capital nacional, ao norte de Minas e ao nordeste do país. 35 A descoberta da jazida de Fosfato Sedimentar, na localidade da Rocinha (área rural), no final dos anos 80, projetou Patos de Minas nacionalmente, ocasionando a primeira visita de um Presidente da República à cidade, o General Ernesto Geisel. Na área agrícola, houve crescente desenvolvimento técnico, iniciado pelas Sementes Agroceres S/A, reforçada pela Sementes Ribeiral Ltda. Não se pode esquecer da implantação, pela Agroceres, do Núcleo de genética suína, uma das mais importantes do país. Esse período foi marcado pela imigração gaúcha que começou a cultivar na região de cerrado, vizinha do município, principalmente o noroeste de Minas, representado pelos municípios de Presidente Olegário e São Gonçalo do Abaeté, instalando suas residências e escritórios de venda de sementes, principalmente de soja. Houve maior desenvolvimento técnico da agricultura, através da irrigação e do cultivo de novos cereais. Grandes foram os reflexos do desenvolvimento comercial, implantações de indústrias de confecções são nitidamente multiplicadas e uma grande multinacional, maior processadora de tomates da América Latina, aqui se instalou, promovendo o crescimento de cultivo de milho doce, ervilha e tomate na região. Desde 2001, da indústria funciona apenas o setor de processamento de tomate. O setor de processamento de produto acabado foi transferindo para o Estado de Goiás, reduzindo o número de funcionários e contribuindo para o crescimento do índice de desemprego na cidade. Figura 10: Patos de Minas: Rua Major Gote. Fonte: www.panoramio.com Autor: Antonio, S. CAPITULO II A CIDADE, SEU ESPAÇO E SUA INFRA-ESTRUTURA É certo que o desenvolvimento deste Município se deve em grande parte às suas terras excepcionais, de legitima fama em todo o País. Mas a fertilidade dos terrenos, que causa admiração a todos os que o visitam, não se estancou abandonada e inútil, como um contraste entre a natureza e o homem. Este tem sabido com inteligência, capacidade de iniciativa e perseverança, servir-se do solo ubérrimo para transformar esta região em poderosa realidade econômica, influindo de maneira relevante na prosperidade mineira. José Maria de Alkmin – Patos de Minas em seu Centenário – 29/02/68 2.1 – Patos de Minas Considerada pólo econômico regional, Patos de Minas lidera a microrregião do Alto Paranaíba. O município possui uma área de 3.189,006 Km² e uma população, estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2008, de 138.466 habitantes. A construção da BR-050 em 1972, da BR-365 em 1974 e a descoberta de uma gigantesca jazida de Fosfato na Rocinha, no final dos anos 80, juntamente com o desenvolvimento das atividades econômicas (agropecuária e agricultura) na região, abriram as portas para o desenvolvimento e a cidade se tornou atrativo para a migração, possuindo hoje uma densidade demográfica de, aproximadamente, 45 hab/Km². Patos de Minas ocupa uma posição privilegiada no ranking das cidades mineiras, figurando entre as 20 maiores cidades do Estado de Minas Gerais em arrecadação geral de tributos do estado e a 16ª maior cidade de Minas Gerais em população. Um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) e publicado pela revista Veja em 2001 apontou Patos de Minas como o quinto município com maior desenvolvimento socioeconômico, entre 1970 e 1996. Foram pesquisados cinco mil municípios brasileiros, de 50 a 500 mil habitantes. Vários fatores contribuem para o sucesso econômico e social do município, entre eles incentivos políticos, investimentos em infra-estrutura (saneamento básico, água, serviços e transportes), crescimento dos índices de qualidade de vida da população e maiores preocupações com educação e saúde, bem como a sua localização estratégica e a malha viária 37 da mesorregião onde se encontra, que permite a ligação da cidade a grandes centros comerciais como São Paulo, Uberlândia e Belo Horizonte, facilitando o intercâmbio comercial, o desenvolvimento ordenado e melhorando a qualidade de vida da população. Historicamente, Patos de Minas surgiu na segunda década do século XIX em torno da Lagoa dos Patos, onde existia uma enorme quantidade de patos silvestres. O aniversário da cidade é comemorado em 24 de maio, data da elevação da vila à categoria de cidade, quando então se realiza a Festa Nacional do Milho. Figura 11: Vista panorâmica de Patos de Minas. Autor: Magrini, A. V. (2008) O município de Patos de Minas é privilegiado pela sua localização geográfica, sendo um portal de entrada para as regiões Norte, Nordeste do país e para o noroeste de Minas. Por suas terras férteis é destaque regional e nacional como grande produtor de grãos, além da alta qualidade de sua produção cafeeira. Situa-se na mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, sendo parte desta última, juntamente com 9 municípios: Araxá, Patrocínio, Monte Carmelo, São Gotardo, Carmo do Paranaíba, Coromandel, Sacramento, Ibiá e Lagoa Formosa. A microrregião de Patos de Minas é composta, por sua vez, por dez municípios: Arapuá, Carmo do Paranaíba, 38 Guimarânia, Lagoa Formosa, Matutina, Rio Paranaíba, Santa Rosa da Serra, São Gotardo, Tiros e Patos de Minas, que figura como município mais importante. (figura 12). Figura 12: Mapa da Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e Microrregião de Patos de Minas - MG. Fonte: www.wikipedia.org Organizado por: Magrini, A. V. (2008). Seu clima tem temperaturas médias entre 16° C e 27° C, com umidade relativa do ar de 72%. Seu relevo é de 90% ondulado, 05% plano e montanhoso. Como integrante da Bacia 39 do Rio Paranaíba3, este se destaca na hidrografia como o principal rio que banha o município de Patos de Minas (figura 13). Sua vegetação abriga a floresta tropical latifoliada, regionalmente conhecida como Mata da Corda, mas existem também pequenas florestas dispersas pelo município. Figura 13: Mapa da Bacia do Rio Paranaíba Fonte: www.epe.gov.br/Lists/MeioAmbiente/DispForm.aspx?ID=12 - Empresa de Pesquisa Energética Organizado por: Magrini, A. V. (2008) 3 O Rio Paranaíba é o principal formador do rio Paraná. Nasce na serra da Mata da Corda, município de Rio Paranaíba, estado de Minas Gerais, na altitude de 1.148m; na contra-vertente desta serra, encontram-se as nascentes do rio Abaeté, tributário do rio São Francisco. Tem aproximadamente 1.070Km de curso até a junção ao rio Grande, onde ambos passam a formar o rio Paraná, no ponto que marca o encontro entre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.O Rio Paranaíba é conhecido principalmente pela sua riqueza diamantífera e pelas grandes possibilidades hidrelétricas que apresenta. Cruza o município e cidade de Patos de Minas em uma altitude de 770m, recebendo pequenos afluentes que descem do espigão do Magalhães e da serra do Barbaça, contrafortes da serra da Mata da Corda. 40 O desenvolvimento maior do município foi marcado na década de 1930 pelos melhoramentos executados pelo Governo do Estado, cujo presidente era Olegário Dias Maciel. Em seu governo, instalou e construiu a sede da Escola Normal (hoje, Escola Estadual Professor Antônio Dias Maciel), o Hospital Regional Antônio Dias Maciel, o Fórum Olympio Borges e o Grupo Escolar Marcolino de Barros. Essas obras foram bastante significativas e ampliaram as influências do município na região. A década de 1950 foi de grande avanço regional, quando houve grande surto migratório e instalação de grandes firmas comerciais nos mais diversos segmentos. Nessa época, foi construído o primeiro Terminal Rodoviário e iniciou-se a comemoração da Festa Nacional do milho, evento de grande relevância em todo o país e expressa claramente as manifestações culturais da região. No período da Ditadura Militar, décadas de 1960 e 1970, houve pequena estagnação econômica motivada pela mudança de capital do país para Brasília, para onde grande número da população se deslocou em busca de empregos. A capital continuou atraindo a população patense, principalmente pela criação das universidades, e hoje encontra-se uma colônia expressiva de patenses naquela região. A descoberta da jazida de Fosfato Sedimentar, na localidade da Rocinha (área rural), no final dos anos 80, projetou Patos de Minas nacionalmente, ocasionando a primeira visita de um Presidente da República à cidade, o General Ernesto Geisel. Na área agrícola, houve crescente desenvolvimento técnico, iniciado pelas Sementes Agroceres S/A, reforçada pelas Semente Ribeiral S/A. Não se pode esquecer da implantação, pela Agroceres, do Núcleo de genética suína, uma das mais importantes do país. Esse período foi marcado pela imigração gaúcha que começou a cultivar na região do cerrado, vizinha do município pelos municípios de Presidente Olegário e São Gonçalo do Abaeté, instalando suas residências e escritórios de venda de sementes, principalmente de soja. Houve maior desenvolvimento técnico da agricultura, através da irrigação e do cultivo de novos cereais. Nas décadas de 1980 e1990 o setor terciário registrou um crescimento de mais de 130% e, ainda hoje, figura-se como o setor de maior participação no PIB – Produto Interno Bruto -, o que resulta em alto efeito multiplicador sobre os outros setores. O material de divulgação produzido pela Prefeitura do município no ano de 2000 registra a existência de 442 indústrias e 2108 estabelecimentos comerciais. 41 2.2 – Infra-Estrutura É da própria natureza da cidade a sua concepção como território da convivência de interesses múltiplos, divergentes e conflituosos. O espaço urbano é construído, estruturado e hierarquizado socialmente. Forças econômicas, políticas, religiosas e culturais atuam forjando significados, moldando novos padrões de sociabilidade, enfim, definindo espaços específicos de exercício do poder. A cidade é, ininterruptamente, construída e transformada. De forma incessante, ela é reinventada e refundada. Roberto Carlos dos Santos A cidade é moderna, limpa e bem organizada, de topografia plana e clima agradável. A infra-estrutura é adequada para receber turistas e investimentos. O traçado do município é regular e apresenta boa sinalização. A caixa das vias é larga, a maioria de pista dupla. As ruas pavimentadas são providas de drenagem pluvial e rede de esgoto do tipo separadora. A malha rodoviária microrregional é composta por rodovias federais e estaduais, o que facilita o escoamento da produção dos setores econômicos do município e pode ser mais bem visualizada na tabela 03 e na figura 14 a seguir. Tabela 03. Relação da malha viária microrregional. BR-354 que liga Patos de Minas - São Gotardo - BR-262 Rodovias Federais BR-365 que liga Patos - Uberlândia e Patos de Minas - Montes Claros Município MG-354 que liga Patos de Minas - Presidente Olegário - Vazante Rodovias Estaduais MG-410 que liga Presidente Olegário - BR-040 Estradas Municipais Extensão de 2.864,00 Km. Região BR-262; BR-040; BR-146 Fonte: Prefeitura Municipal de Patos de Minas. Organizado por: Magrini, A. V (2008). Figura 14: Mapa da malha viária do Município de Patos de Minas – MG Fonte: Prefeitura Municipal de Patos de Minas Organizado por: MAGRINI, A. V. (2008). 42 43 Cerca de 99% das ruas da cidade são asfaltadas e possuem iluminação pública. Quase a totalidade dos habitantes (97%) são beneficiados com água tratada de excelente qualidade. O sistema de abastecimento de água da COPASA em Patos foi premiado por 2 vezes (1999 e 2002) pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), recebendo o Prêmio Nacional de Qualidade em Saneamento. O sistema de esgotamento sanitário atinge cerca de 98% da população. Figura 15: Avenida Major Gote. Fonte: www.panoramio.com Autor: Eusébio, R. S. A área da saúde merece destaque nas últimas gestões devido, entre outros fatores, aos programas desenvolvidos, aos postos de assistência localizados em áreas estratégicas e aos baixos níveis de mortalidade infantil registrados. Os hospitais particulares e públicos têm capacidade de 300 leitos. A rede escolar possui uma boa infra-estrutura abrangendo escolas estaduais, municipais e particulares do ensino infantil e médio, e do profissionalizante ao universitário. Em 2000, a rede municipal atendia mais de 10 mil alunos e a evasão escolar era quase nula. 44 Considerada pólo educacional, a cidade é sede da 28° Superintendência Regional de ensino cobrindo 14 municípios. Além disso, Patos de Minas se destaca por um Ensino Superior responsável, no qual estão presentes 3 faculdades: o Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM) (figura 16), o mais antigo, pertencente à Fundação Educacional de Patos de Minas (FEPAM); a Sociedade de Ensino Superior de Patos de Minas (SESPA) (figura 17) e a Faculdade Patos de Minas (FPM) (figura 18), bem como cursos ministrados à distância como o Eadcon. Alguns cursos do Cefet Uberaba serão ministrados em uma extensão que está em fase de implantação. A cidade de Patos de Minas, enquanto pólo regional, catalisa e referencia o desenvolvimento da microrregião e isso se constata no elevado número de alunos oriundos destes municípios, que buscam aqui realizar o seu Curso Superior. Figura 16: Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM). Fonte: Prefeitura Municipal de Patos de Minas A primeira faculdade do Centro Universitário de Patos de Minas foi criada em 1970. A escola começou com apenas cinco cursos: Ciências Biológicas, História, Letras, Matemática e Pedagogia atendendo a pouco mais de 200 alunos, no turno noturno. Hoje, 40 anos depois, o UNIPAM funciona nos três turnos, oferecendo 27 cursos de graduação nas áreas de ciências 45 humanas, ciências exatas, ciências biológicas, ciências da saúde, ciências agrárias e Letras, além de vários cursos de pós-graduação e de extensão universitária. Seu corpo discente atual totaliza uma população que ultrapassa 5000 alunos. Todo esse crescimento, iniciado em 1970, exigiu a criação de uma complexa estrutura física e administrativa que hoje constitui o campus em que se encontra instalada a instituição. Figura 17: Sociedade de Ensino Superior de Patos de Minas (SESPA). Fonte: Prefeitura Municipal de Patos de Minas A Sociedade de Ensino Superior de Patos de Minas, mantenedora da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde, nasceu do ideal educativo de seus sócios-fundadores: Terezinha de Deus Fonseca e Ivan Batista da Silva que, após longa jornada como educadores e diretores na educação do ensino médio e fundamental, se uniram na proposta de ampliar o campo de ação educacional, agora no Ensino Superior, para melhor atender à comunidade de Patos de Minas e região. A SESPA com os cursos de Educação Física, Psicologia, Nutrição, Geografia, Turismo, pós-graduação na área de agro-negócios e ainda Educação à Distância tem atuado com sucesso na cidade. 46 Figura 18: Faculdade de Patos de Minas (FPM). Fonte: Prefeitura Municipal de Patos de Minas A FPM, Faculdade de Patos de Minas, localizada de maneira privilegiada no centro da cidade e consolida-se como um centro de excelência em ensino superior em toda a região. Oferece vários cursos, dois campi no centro da cidade e o terceiro em fase de implantação, dentre eles estão os cursos de Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Fisioterapia, Odontologia, Administração e Psicologia. Além da policlínica escola que será inaugurada em breve, da clínica de psicologia e farmácia já em fase de inauguração, o campus definitivo da FPM será iniciado no começo do próximo ano e projeta-se como o mais moderno campus universitário de toda a região. Com posição de destaque, Patos de Minas está entre os principais municípios mineiros, oferecendo infra-estrutura adequada para a expansão e investimentos, em especial na área da educação superior acadêmica e tecnológica, além de boa qualidade de vida. Elaborado pela ONU, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mede a qualidade de vida, considerando o índice renda calculado pela renda familiar per capita média. O IDH de Patos de Minas mediante os parâmetros da ONU é de 0,8, estando acima do índice apresentado pelo Brasil que é de 0,739. Esse índice, juntamente com o analfabetismo (11,4% 1.991 – Fundação João Pinheiro) e aliado à situação da cidade (limpeza das ruas, praças, dos jardins, das lagoas e a um serviço de saúde com resultado satisfatório em relação aos apresentados no País), faz de Patos de Minas um município com possibilidades de progresso contínuo. 47 Figura 19: Praça do Coreto. Fonte: www.panoramio.com Autor: Silva, F. F. O setor agropecuário é uma atividade de expressiva importância econômica no município, sendo o setor responsável pela maior parte da geração de empregos e o segundo maior gerador de renda da população. Os principais produtos agrícolas desta região são café, soja, feijão, milho, arroz e cana. Contudo, o setor terciário também é responsável por grande capacidade de geração de emprego e renda. O número de estabelecimentos cresceu substancialmente no período de 1.980/97, passando de 667 (Fundação IBGE: Censo Comercial do Estado de Minas Gerais, 1.980) em 1.980 para 2.662 em 1.997 como demonstra a tabela 8.35, ou seja, uma expansão de 229,10%. O setor serviços tem apresentado também um crescimento significativo na cidade, tanto na iniciativa privada como na rede de entidades públicas, exercendo Patos um centro de prestação de serviços aos demais municípios da região. O crescimento tem sido acompanhado também por uma significativa diversificação da malha de entidades prestadoras de serviços, a 48 qual, em 1.980 se mostrara concentrada em basicamente cinco gêneros e hoje se apresenta muito aparelhada para atender ao crescimento e diversificação da demanda. Figura 20: Vista aérea da Avenida Getúlio Vargas. Fonte: www.panoramio.com Autor: Alves, S. Figura 21: Vista aérea do bairro Alto Caiçaras. Fonte: www.panoramio.com Autor: Alves, S. 49 2.3 – A situação das cidades médias Com o crescimento das cidades médias, faz-se necessário que o Brasil articule melhor suas políticas urbanas e de desenvolvimento regional. Isso porque, esses centros urbanos, e aí se encontram cidades como Patos de Minas, têm desempenhado um papel importante na interiorização da população brasileira e na desconcentração da atividade produtiva. Os dados prévios fornecidos por meio de uma pesquisa do IPEA4 mostram que as cidades com população entre 100 mil e 500 mil habitantes tiveram crescimento populacional de 2000 a 2007 e do PIB entre 2002 e 2005 superior ao das demais cidades do país (tabelas 04 e 05). No caso do PIB, foi observado aumento, principalmente, dos setores industrial e de serviços. Tabela 04. Participação dos municípios por tamanho no PIB e na população nacional (Em porcentagem) Fonte: IBGE, Produto Interno Bruto dos Municípios, Censo Demográfico 2000 e estimativas populacionais. Elaboração: Diana Motta e Daniel da Mata, do IPEA. Tabela 05. Crescimento populacional e do Produto Interno Bruto (PIB) por faixa de tamanho dos municípios (2002-2005) (Em porcentagem) Fonte: IBGE, Produto Interno Bruto dos Municípios, Censo Demográfico 2000 e estimativas populacionais. Elaboração: Diana Motta e Daniel da Mata, do IPEA. 4 www.ipea.gov.br acessado em 03/11/2008. 50 Os dados revelam que as cidades médias cresceram além das médias nacionais, com aumento do PIB acima dos 5% ao ano e crescimento populacional em torno dos 2% ao ano, passando a ser, então, capazes de absorver o crescimento populacional e apresentar também crescimento do PIB, contribuindo para a expansão e o adensamento da rede urbana do Brasil. As cidades médias também obtiveram o maior crescimento do PIB per capita. Ou seja, tiveram um crescimento do PIB superior ao aumento populacional. Quando uma cidade apresenta um elevado crescimento econômico, torna-se um atrativo para migrantes em busca de melhores condições de trabalho. Maior migração significa maior crescimento populacional, supondo que não há diferença substancial entre as taxas de natalidade e mortalidade entre as cidades do sistema urbano. Nesse sentido, quanto ao processo de urbanização do país, as cidades médias apresentaram uma posição de destaque. No período de 2002 a 2007, a população dessas cidades cresceu à taxa de 2% ao ano, mais que as taxas das cidades grandes (1,66%) e das cidades pequenas (0,61%). Ainda de acordo com a pesquisa, os fatores que levam as pessoas a migrarem estão relacionados à dinâmica de emprego, melhores condições de trabalho, melhor educação e amenidades, como o clima. A questão da violência também consta como fator importante. As cidades observadas pela pesquisa se encontram, em geral, em áreas urbanas já consolidadas como as da Região Sudeste e as áreas da fronteira econômica como o centrooeste e o norte. Cidades assim tendem a estar em três situações distintas tais como ligadas a centros metropolitanos, podem ser centros para cidades menores ou então estão isoladas, especialmente nas áreas de fronteira econômica. CAPÍTULO III CONTEXTUALIZANDO A DINÂMICA DAS CIDADES DE MÉDIO PORTE Conforme Corrêa (1995, p. 9) O espaço urbano (...) é constituído por diferentes usos da terra. Cada um deles pode ser visto como uma forma espacial. Esta, contudo, não tem existência autônoma, existindo porque nela se realizam uma ou mais funções, isto é, atividades como a produção e venda de mercadorias, prestação de serviços diversos ou uma função simbólica, que se acham vinculadas aos processos da sociedade. Estes são, por sua vez, o movimento da própria sociedade, da estrutura social, demandando funções urbanas que se materializam nas formas especiais. Formas estas que são socialmente produzidas por agentes sociais concretos. Assim nomeado, o espaço urbano implica em uma hierarquia das cidades levando-se, pois, em consideração, as diferenças de tamanho e suas funções. São considerados: maior ou menor tamanho populacional; influência regional e importância econômica, política e cultural. Daí é possível nomear as cidades grandes, cidades de médio porte e cidades pequenas (figura 22). Como caracteriza Santos (1996, p. 69) A partir dos anos 70, o processo de urbanização alcança novo patamar, tanto do ponto de vista quantitativo, quanto do ponto de vista qualitativo. Desde a redução urbana brasileira, consecutiva à revolução demográfica dos anos 50, tivemos primeiro, uma urbanização aglomerada, com o aumento do número – e da população respectiva – dos núcleos com mais de 20.000 habitantes e, em seguida, uma urbanização concentrada, com a multiplicação de cidades do tamanho intermediário, para alcançarmos, depois, o estágio de metropolização com o aumento considerável do número de cidades milionárias e de grandes cidades médias (em torno de meio milhão de habitantes). 52 Figura 22: Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba: hierarquia urbana, 2001 Fonte: http://www.ig.ufu.br/revista/volume16/artigo24_vol16.pdf Organização: Bessa, Kelly C. F. O. Com relação às cidades de médio porte é preciso ressaltar sua função de intermediação, articulando-se com as grandes cidades bem como as de menor porte, sem esquecer ainda, as áreas rurais. As cidades de médio porte formam, pois, o desenho de um sistema de cidades que abrange uma região e que faz parte ainda de um sistema de cidades maior através do qual a reprodução do sistema econômico atual se realiza, como demonstra o mapa dos fluxos entre as cidades da mesorregião do Triangulo Mineiro e Alto Paranaíba (figura 23). Tendo em vista o número significativo de cidades de médio porte nos últimos anos, assim como a sinalização de estudos sobre os problemas sociais e ecológicos a elas inerentes, novas pesquisas e abordagens são necessárias. Para tanto, é importante definir uma cidade de médio porte e suas características. 53 Figura 23: Mapa dos fluxos entre cidades do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Fonte: http://www.ig.ufu.br/revista/volume16/artigo24_vol16.pdf Organização: Bessa, Kelly C. F. O. São muitos os caminhos que levam à definição de uma cidade de médio porte. Um dos principais evidencia seu tamanho populacional, ou seja, quanto maior a concentração de população no espaço relativo à cidade, maior será, conseqüentemente, o seu tamanho e importância na rede urbana. Nas décadas de 1960 e 1970 do século XX era essa uma primeira avaliação. O número da população de um centro urbano como aspecto que determina sua posição hierárquica do sistema de cidades pode ser, pelo menos, uma primeira aproximação do retrato da rede urbana, mas há outros aspectos ainda a serem considerados. Santos e Silveira (2002, p. 279) ressaltam que Uma das razões que também levam as atuais cidades médias a ter maior população que as surgidas em épocas anteriores vem do fato das novas solicitações do consumo tanto das famílias e do governo quanto da própria atividade agrícola. Junte-se a essas causas o fato de que, graças às facilidades de transporte e também às novas formas de organização do trabalho agrícola, um mínimo considerável de trabalhadores na agricultura vive na cidade, que se torna um reservatório de mão-de-obra. Talvez seja esse um dos motivos pelos quais, a partir de certo volume demográfico, tais localidades são 54 capazes de atrair e reter um grande número de pobres. É o caso, sobretudo, das metrópoles e das grandes cidades. Em tempos idos, a classificação de uma cidade de médio porte se devia a um critério de natureza essencialmente quantitativa, ou seja, o tamanho populacional, à concentração da população em determinadas parcelas do espaço. Na França, no início dos anos 60, as cidades consideradas de médio porte eram as que tinham entre 20.000 a 100.000 habitantes. Já as que apresentavam população entre 250.000 e um milhão de habitantes eram classificadas como as “metrópoles de equilíbrio”. No Brasil, a classificação implicava dizer que as cidades de médio porte tinham entre 50.000 e 250.000 habitantes. Estudos mostram que a partir de 1974 surgiram algumas idéias na tentativa de frear o crescimento das grandes cidades como em um esforço geral para repensar a reorganização do território brasileiro e também pra avaliar as condições que permitiriam a interiorização do desenvolvimento. Dessa maneira, nasceu o “programa das cidades médias”. Sua proposta teve com pano de fundo as seguintes questões5: • A velocidade acelerada do processo de urbanização que gerou uma sociedade predominantemente urbana; • O desequilíbrio do sistema urbano com a metropolização prematura, a proliferação de grandes aglomerados urbanos e a pulverização de pequenas cidades sem um número de cidades para dar equilíbrio ao conjunto além de uma distribuição espacial concentrada no litoral; • As cidades como núcleos concentradores de riqueza, mas como locais onde os problemas urbanos assumiam grandes dimensões, a exemplo da desigualdade na distribuição dos equipamentos sociais urbanos. No Brasil, portanto, as cidades médias passaram a ter também tratamento privilegiado, ficando como preocupação do poder público sobre a questão urbana em geral e, principalmente, destacando-se o fato de que as cidades de médio porte passavam a ser pólos alternativos à atração de população e de capital e a apresentar certa independência quanto ao 5 ANDRADE, T. A.; SERRA, R. V.; (Org.). Cidades médias brasileiras. Rio de Janeiro: IPEA, 2001. p. 43 55 desenvolvimento de suas potencialidades econômicas e de atendimento às necessidades de seu entorno rural e de cidades menores circunvizinhas. Já na década de 1980 foi possível verificar “um certo” esquecimento às cidades desse tipo. Os governos não priorizaram as cidades médias em suas agendas com políticas públicas. Assim sendo, já na década de 1990, foram muitas as transformações por todo o país possibilitando um clima de maior abertura comercial e um cenário político com profundas alterações no papel do Estado. O processo de globalização passa a interessar mais ao governo, o que favorece o tema das cidades médias. Um fator importante relacionado às cidades médias é o que a identifica, além do aspecto da hierarquia urbana, a situação das cidades em relação com as metrópoles. São dois os tipos de cidades médias: a) as cidades médias metropolitanas que estão vinculadas ao espaço da grande metrópole fazendo parte geralmente da grande região metropolitana e com economias e funções vinculadas a esta; e b) as cidades médias não-metropolitanas que se tornam centros “mais independentes” e mais ou menos distantes da região metropolitana acumulando identidade e poder de influência sobre outras cidades e microrregiões. Estas geralmente se tornam entrepostos na relação da grande cidade com a pequena cidade, bem como a zona rural, e, quanto maior a sua distância da grande cidade, maior será também a área de influência desta. As cidades médias estão se tornando, à medida de seu crescimento e desenvolvimento, um lugar de concentração técnica e atuação intelectual, atividades necessárias para o desenvolvimento da economia de sua região, de sua hinterlândia principalmente no que diz respeito às atividades agrícolas. De acordo com essa avaliação, estão Santos (1996) e Santos e Silveira (2002) quando caracterizam as cidades médias sendo (e são de fato) recebedoras de grandes fluxos das classes médias, enquanto as metrópoles continuarão a receber os pobres e os despreparados, embora as mesmas também continuem atraindo riqueza. O que há de novo é o aumento da qualidade de vida nas cidades médias, em geral. Dessa forma, Patos de Minas se destaca como pólo regional propiciando uma vida de relações próprias. Essa funcionalidade das cidades médias, essa inserção como focos de transmissão e de comunicação, na rede urbana, contrapõe-se à sua quase nula participação na tomada de decisões no que respeito à gestão do território, função, aliás, somente das metrópoles. 56 Na década de 1990 é grande o interesse pelas cidades médias mas, nestes últimos anos, não mais apenas em função de seu papel na região ou na rede urbana de que fazem parte. São três os grupos de razões para o renascimento atual do interesse pelas cidades médias: • a boa qualidade de vida, quase sempre mais presente nesse grupo de cidades do que em outros níveis da hierarquia urbana; • a maior facilidade de conservação dos patrimônios ambientais e arquitetônicos nesse grupo de cidades, favorecendo a manutenção da memória e da identidade coletivas, neste mundo marcado pelos nivelamentos da globalização, cujos principais emissores e difusores se encontram nas grandes metrópoles e nas megalópoles; • o fato das cidades médias representarem um foco privilegiado das “percepções, valores, motivações e preferências sociais e individuais, aspectos correlacionados com a intensidade e o direcionamento dos fluxos turísticos de massas humanas cada vez maiores”. A proliferação de cidades com mais de 100.000 habitantes, sobretudo a partir da década de 1970, é reflexo das expressivas transformações econômicas e sócio-espaciais às quais foi submetido o território brasileiro, fomentando a necessidade de complexificação da organização espacial. As atividades produtivas passam, a partir de então, a demandar uma crescente quantidade de trabalho intelectual, intensificando a divisão do trabalho (social e regional) e promovendo uma especialização do território. Neste contexto é que começa a se multiplicar rapidamente o número de cidades com mais de 100.000 habitantes, se espalhando em regiões que anteriormente possuíam índices de urbanização relativamente pequenos, como pode ser observado no caso de Minas Gerais. Sendo assim, as cidades médias começam a receber população com mais especialização tendo em vista o desenvolvimento da técnica e do processo de globalização. A informalidade da economia é um dado freqüente nas médias e grandes cidades, passando a ser, então, a metrópole que abriga grandes contingentes de população de baixa renda. CONSIDERAÇÕES FINAIS O contexto das cidades médias no Brasil ampara-se em um histórico de industrialização e nos desdobramentos que a economia do país teve ao longo do tempo configurando, por fim, em uma situação de transformações almejadas para o bem-estar dos seus habitantes, mas também algo insuficiente devido a tantos fatores de ordem social. O crescimento demográfico exige sempre uma reorganização social desalojando pessoas que buscam por melhores condições de vida ao mesmo tempo em que fomenta setores específicos da economia desenhando, por fim, trajetos diferenciados para a área urbana. No Brasil, o sistema capitalista influi diretamente nos interesses de empresários, industriais, governo e trabalhadores. Sustenta a prática da vida, estimula o lado cultural e permite ao homem servir-se do seu espaço. Este, por outro lado, nem sempre o faz de maneira ordenada e organizada. Com a população indo e vindo, fazendo o deslocamento acontecer em diferentes áreas do país e em diferentes circunstâncias, as cidades foram se formando e exigindo providências como políticas públicas mais eficientes que possam garantir uma vida digna, dando direito a condições de transporte, moradia, emprego, educação, etc. Assim sendo, a dinâmica urbana das cidades médias tem sido motivo de estudos mais freqüentes já que sua condição é responsável pela interiorização do país, promovendo o progresso, a interação, a abertura de novas frentes de trabalho e a descoberta de novas riquezas naturais. Como conseqüência, os pólos regionais ganharam força e reconhecimento na geografia de estados e municípios definindo prioridades como infra-estrutura, acessibilidade e desenvolvimento. Mas tudo isso relacionado a interesses particulares, individualistas que acabam por afetar a ordem social, os direitos do cidadão, o espaço rural e tantas outras demandas que acabam se transformando em problemas grandes a serem resolvidos por prefeitos e governadores. Dentre as muitas cidades do interior do Brasil que se colocam hoje de maneira destacada no cenário nacional, está a cidade de Patos de Minas considerada pólo econômico regional. O município ocupa uma posição privilegiada no ranking das cidades mineiras, estabelecendo-se entre as vinte maiores cidades do estado de Minas Gerais em arrecadação geral de tributos do estado e a 16° maior cidade do estado em população. 58 A urbanização do país abrange muitas situações relativas a um conjunto de mudanças estruturais na economia e na sociedade brasileira. É preciso destacar o fato de que as cidades se caracterizam como um lugar de expressão de poder e dominação o que implica, por sua vez, interesses políticos. A urbanização também é responsável pela estruturação da sociedade já que, na organização das cidades, as melhores localizações são sempre alvo de interesses de uma classe social mais alta e, por outro lado, as periferias vão se formando com pessoas de baixa renda. Socialmente, isso implica em índices de violência, serviços de infra-estrutura, benefícios com a saúde e educação. Sem dizer ainda, que a maioria das cidades, na sua dinâmica, sofre com a falta de planejamento o que compromete a qualidade de vida de seus habitantes. Com relação às cidades de médio porte, o presente estudo constatou que a sua função de intermediação e articulação com as grandes cidades e demais regiões é de suma importância para que o progresso aconteça e permaneça, facilitando procedimentos na economia que sustenta empregos e garante qualidade de vida ao trabalhador. Patos de Minas se firma, pois, como uma cidade importante, recebendo bem as pessoas que nela se abrigam vindas de outras regiões, abrindo frente a novos investimentos que trazem progresso e garantem empregos. Serve-se de sua boa localização no estado permitindo o trânsito e escoamento de produção de toda espécie e, ao mesmo tempo, fomenta a comercialização de sua própria produção. Como cidade pólo, tem hoje importante papel na educação e saúde sendo responsável por eventos significativos em ambas as áreas o que faz dela, destaque nacional. Concentra atividades econômicas e sociais. É protagonista de eventos importantes no estado, recebendo seus governantes para debates decisivos de suas políticas. Patos de Minas é uma cidade com boa infra-estrutura, tem atrativos culturais e uma história que lhe garante referências politicamente importantes que a fazem também respeitada no cenário nacional. Merecedora, portanto, do seu posto de cidade pólo no estado de Minas Gerais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTOLUCCI Jr., Luiz. As Migrações na Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba - Qüinqüênios 1975/80 e 1986/91. Belo Horizonte: Cedeplar/UFMG. Dissertação de Mestrado, 2001. SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: HUCITEC, 1993. 3 ed. 1996, 157p. SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2002. 471p. CORREA, Roberto Lobato. O espaço Urbano. – 4 ed. São Paulo: Ática, 2002. 94p. ANDRADE, T. A.; LODDER, C. Sistema urbano e cidades médias no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA/INPES, 1979. ANDRADE, T. A.; SERRA, R. V.; (Org.). Cidades médias brasileiras. Rio de Janeiro: IPEA, 2001. FRANÇA, I. S. de. As cidades médias e suas centralidades: o exemplo de Montes Claros no norte de Minas Gerais. 2007. 238 f. Dissertação – Instituto de Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2007. BESSA, K. C. Reestruturação da Rede Urbana Brasileira e Cidades Médias: O exemplo de Uberlândia (MG). In: Revista Caminhos de Geografia, V.16, p. 268 – 288. Outubro de 2005. Disponível em: < http://www.ig.ufu.br/revista/volume16/artigo24_vol16.pdf>. Acesso em Novembro de 2008. BESSA, G. A. Organização do espaço no Triângulo Mineiro: (re) estruturação sócioespacial de Ituiutaba – MG. Trabalho Final de Graduação/UFU, 2008. OLIVEIRA, B. S. Ituiutaba (MG) na rede urbana tijucana: (re)configurações sócioespaciais no período de 1950 a 2000. 2003. 208 f. Dissertação – Instituto de Geografia, Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, 2003. MELLO, Oliveira. Minha terra: suas lendas e seu folclore. Belo Horizonte: Livraria Lê Ltda. Editora da Academia Patense de Letras, 1970 60 SANTOS, R. C. Urbanização Moral e Bons Costumes: Vertigens da Modernidade em Patos de Minas (1900-1960). Dissertação de Mestrado/UFU, 2001. PREFEITURA Municipal de Patos de Minas. Disponível em: <www.patosdeminas.gov.mg.br>. Acesso em Novembro de 2008. ASSEMBLÉIA Legislativa de Minas Gerais. Disponível em: <http://www.almg.gov.br >. Acesso em Novembro de 2008 INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística- Sidra – Cidades@. Disponível em: <http://ibge.gov.br>. Acesso em Novembro de 2008. INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística- Sidra. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em Novembro de 2008. INSTITUTO de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Disponível em: < http://www.ipea.gov.br>. Acesso em Novembro de 2008. EMPRESA de Pesquisa Energética (EPE). Disponível em: <http://www.epe.gov.br/Lists/MeioAmbiente/DispForm.aspx?ID=12>. Acesso em Novembro de 2008. PANORÂMIO – Fotos do Mundo. Disponível em: < http://www.panoramio.com>. Acesso em Novembro de 2008.