mapaus - Master Eco

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mapaus - Master Eco
mapaus
master in programmazione di ambienti urbani sostenibili
Università degli Studi di Ferrara (Italia)
Pontificia Università Cattolica del Paranà (Brasil)
Università Cattolica di Cordoba (Argentina)
Università Tecnica Federico Santa Maria di Valparaiso (Chile)
ano acadêmico 2005-2006
DESENVOLVIMENTO DE ACER E A SUA RELAÇÃO
COM A CIDADE DE FERRARA
Kariny Jorge Ferreira
Ferrara, Itália, Fevereiro 2007.
mapaus
master in programmazione di ambienti urbani sostenibili
Università degli Studi di Ferrara (Italia)
Pontificia Università Cattolica del Paranà (Brasil)
Università Cattolica di Cordoba (Argentina)
Università Tecnica Federico Santa Maria di Valparaiso (Chile)
ano acadêmico 2005-2006
DESENVOLVIMENTO DE ACER E A SUA RELAÇÃO
COM A CIDADE DE FERRARA
Kariny Jorge Ferreira
Ferrara, Itália, Fevereiro 2007.
2
INDICE
LISTA DE ABREVIATURAS E DE SIGLAS
4
RESUMO
5
1. INTRODUÇÃO
6
2. ASPECTOS HISTÓRICOS DE ACER
8
3. EXEMPLO DE REQUALIFICAÇÃO URBANA
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3.1.Barco
12
3.2.Plano Particolareggiato ( plano particular)
13
3.3.Variante 2002
15
3.4.PRU – Plano Estratégico Urbano
18
3.5. Requalificação via Bentivoglio
21
4. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
23
4.1.O que é a sustentabilidade
23
4.2.Itália e o meio ambiente
25
4.3.Condomínio sustentável
27
4.4.Exemplos de casos de estudos
29
4.5.Condomínio sustentável realizado por ACER
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5. CONCLUSÃO
33
6. BIBLIOGRAFIA E WEBGRAFIA
36
3
LISTA DE ABREVIATURAS E DE SIGLAS
ACER Azienda Case Popolare della Emilia Romagna
ACOSEA Azienda per la Gestione del Ciclo Integrale dell’ acqua nella Provincia di Ferrara
AGEA Azienda Gas Energia e Ambiente
ATC Azienda Territoriale per la Casa di Torino
ATER Azienda Teritoriale per l’ Edilizia Residenziale di Padova
ECO - 92 Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
IACP Istituto Autonomo per le Case Populare della Provincia di Ferrara
INA - CASA Istituto Nazionale di Assicurazione
GESCAL Gestione Casa Lavoratori
PEEP Piani Edilizia Economica e Populare
PRG Plano Regulador Geral
PRU Programma di Recupero Urbano
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RESUMO
O discurso sobre habitação popular não está somente relacionado com a função de abrigo pra uma
família necessitada, é uma reflexão mais complexa e está profundamente associada aos problemas
decorrentes da densidade populacional urbana e do crescimento das cidades nas últimas décadas. Nesse
contexto as novas tipologias de habitação e sua relação com o espaço urbano representam o núcleo inicial de
investigações e experimentações desenvolvidas em âmbito disciplinar da arquitetura para uma possibilidade
real de transformação em grande escala do ambiente urbano.
Devemos entender como cidade um organismo urbano gerado através de um longo processo histórico.
Neste contexto, tanto o traçado urbano como a habitação popular são elementos que não podem ser
concebidos separadamente. Não existem, portanto espaços indefinidos nesta relação restrita aos domínios do
publico e do privado.
A tentativa do presente estudo concentra-se em constituir um raciocínio crítico do processo projetual,
através do processo evolutivo de ACER, Azienda Casa Popolare della Emilia Romanga, estabelecendo
distinções sobre as estratégias da habitação popular e sua relação com a trajetória do desenvolvimento da
cidade de Ferrara através de uma visão ampla do elemento urbano que por essência é o mais coletivo de
todos. Interessa enfatizar nestas condições o constante confronto entre habitação e espaço habitável, o qual ao
longo da historia vem transformado a paisagem, a sociedade, a cultura, os hábitos e o desenho das cidades.
5
1.INTRODUÇÃO
A escolha pelo tema habitação popular surgiu pelo interesse de compreender esta realidade em um
país europeu, a Itália.Uma realidade totalmente diversa daquela que conheço, da América Latina, onde este
tema é bastante explorado e talvez, não utilizado em seu significado completo, que é o de proporcionar uma
necessidade fundamental e básica ao ser humano: um abrigo, onde as pessoas possam viver de uma forma
justa e digna.
O fio condutor desta analise é o desenvolvimento de ACER e sua relação com a cidade de Ferrara.
Através deste percurso é possível observar todos os aspectos importantes sejam eles positivos e/ou negativos
de uma atuação de um órgão público que apresenta esta finalidade, a de realizar empreendimentos de
habitação popular.
O ponto inicial é conhecer a origem da criação deste tipo de órgão público entendendo o momento
social e econômico em que a Itália atravessava naquele momento,no inicio do século passado.A partir daí, os
acontecimentos históricos foram direcionando o caminho a ser seguido o que modificou a sua estratégia de
intervenção, e hoje ACER tem um reconhecimento importante dentro do contexto italiano, principalmente com
os projetos realizados no “ quartiere “ Barco.
O que é ACER?
ACER è um órgão do estado de Ferrara que se ocupa da construção e gestão de casas populares e
atualmente de requalificaçao urbana. Quando foi criado na década de 20 se chamava IACP, Istituto Autonomo
per le Case Populare della Provincia di Ferrara, e tinha somente atuação na capital, e a partir do ano de 1938,
expande sua área de atuação por todo o estado.
Este Instituto foi um ator de fundamental importância no processo de desenvolvimento da cidade, e
sempre atuou com uma política de ações orientada a satisfazer as necessidades da classe menos provida de
recursos de toda a população do estado, e sempre fazendo o máximo empenho possível com o capital
financeiro disponível, sem perder de vista o seu objetivo que é o de realizar construções visando a qualidade
de seus empreendimentos.
A presença de seus projetos é um aspecto importante na cidade, e esta idéia de construção da cidade
que se concretiza na paisagem urbana é hoje reconhecida pela presença de complexos residenciais fortemente
caracterizados em bairros, “quartiere”, frutos de projetos de habitação popular, e que geralmente são
localizados nos prolongamentos externos do centro histórico, fora da muralha.
Ao longo dos anos de acordo com as necessidades que foram surgindo, a sua forma de atuação foi
transformada.Primeiro era apenas uma intervenção singular de uma casa ou um edifício de apartamentos para
as pessoas necessitadas e hoje se revela em uma proporção maior, com projetos de requalificaçao urbana e
também com a implantação de um condomínio sustentável.
Esta transformação foi produzida juntamente com os benefícios de caráter social que interessa aos
moradores de um projeto realizado por ACER tanto quanto aos cidadãos de Ferrara.O exemplo mais
característico disto é o Barco, bairro vizinho à zona industrial, com seus complexos de edificações públicas, e
hoje apresentando um padrão de construção e qualidade de moradia elevados, e se consagrando como um
6
grande modelo da intervenção urbana dotado de uma grande infra-estrutura e de uma quantidade variada de
serviços oferecidos à comunidade.
Na figura abaixo estão assinaladas as principais áreas de atuações de ACER, localizados os complexos
residenciais de grande importância e alguns juntamente com projetos de intervenções urbanas.
Figura n°1 :Fonte Edilizia Popolare Rivista di Architettura e Urbanistica, 277-278.
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2.ASPECTOS HISTÓRICOS DE ACER
No fim do século XIX, a Itália passava por graves problemas no setor social devido a um período de
crises, como a crise agrária de 1880 e a crise comercial de 1887, e junto a isto surgia uma crescente
industrialização do país e conseqüentemente uma rápida urbanização das cidades.
Era necessária a intervenção do Governo Italiano devido à situação que se encontrava a população,
pois a quantidade de pessoas sem uma assistência social era já muita elevada.No ano de 1903, o Parlamento
aprovava a primeira norma referente ao intervento do Governo no setor de habitação. Esta norma se dirigia as
pessoas de classe baixa e não a classe trabalhadora proveniente da rápida industrialização que era uma
quantidade mais considerável. A construção destes edifícios para abrigar as pessoas de classe baixa era
responsabilidade do setor privado ou de uma iniciativa individual, mas o controle de todo este processo era
estatal.
Durante essa experiência, observava-se que este sistema era inadequado porque não solucionava o
problema de moradia para a população.O Governo Federal então, resolve criar o IACP, Instituto Autônomo per
le Case Popolare, com o fim de construir casa para a população em geral que necessitava de um
abrigo.Durante cinco anos, se verificava o surgimento dos institutos por todo o país e cada cidade tinha a
responsabilidade de gestão destes institutos.
No inicio do séc. XX, o Governo já unificado, sentia a obrigação de dar uma orientação às cidades que
cresciam de acordo com a implantação dos serviços, como: rede elétrica, de água , transporte e etc. No ano de
1911 foi criado o Plano Contini, o que podemos chamar do primeiro estudo para o Plano Regulador Geral, PRG,
de Ferrara. Este plano priorizava a ampliação interna da muralha medieval, a zona noroeste da cidade com a
abertura da Porta Catena, a ampliação da Arianuova que até então era uma área agrícola ,a área vizinha à
estação ferroviária “spianata” e a estrada sobre o rio Pò, que fazia ligação com o Foro Boario, uma área da
cidade chamada como periferia,mas já havia uma previsão
um futuro desenvolvimento habitacional. Também
o plano previa o desenvolvimento externo da cidade no trecho entre a estação ferroviária e Pontelagoscuro.
No ano de 1915, o país participa da Primeira Guerra Mundial, com um desenvolvimento industrial
direcionado, sobretudo para a industria bélica. Depois da guerra, o cenário econômico e social do país foi
alterado, e sem recursos o Plano Contini foi interrompido e muito das suas diretrizes não foram realizadas.
O IACP de Ferrara foi fundado em 20 de Junho de 1920 e suas atividades foram concentradas na
cidade de Ferrara. Os primeiros edifícios construídos se situavam em 2 zonas: o Borgo S. Giovani, vizinho a via
Mortara, via Borsai e via Porta Mare; e segundo o direcionamento do Plano Contini na zona considerada
“spianata”, com intervenção de obras isoladas na via Fiume, corso Piave e corso Isonzo , que na época era
considerado como uma periferia.
Somente no ano de 1938, o Instituto assume dimensões estadual tornando-se Istituto Autonomo per le
Case Popolare della Provincia di Ferrara. As características gerais das habitações deste período eram de
caráter muito simples e não apresentavam serviço higiênico e calefação.O seu patrimônio neste momento era: a
sua sede na corso Isonzo n°10, 53 edifícios em Ferrara, 54 casas no quartiere Barco e de 50 casas no
quartiere Foro Boario,estes dois últimos eram áreas novas de urbanização onde foram realizadas obras de
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pequeno porte,como: casas com no máximo dois pavimentos e construidos com materiais simples, e também
habitações em Cento, Copparo, Mesola, Poggiorenatico e Tresigallo.
Figura n° 2: casa ano 1938 quartiere Barco
Figura n° 3: casa ano 1942 quartiere Foro Boario
A Segunda Guerra Mundial trouxe para o país graves problemas. O bombardeamento sofrido por
Ferrara durante a guerra destruiu quase 41% dos edifícios, a zona industrial, assim como Pontelagoscuro.Logo
depois da guerra, em meio a um cenário caótico de escombros, a quantidade de pessoas sem abrigo, sem
alimentação e sem assistência a saúde era muito grande. Para tentar solucionar a questão de moradia, foi
implantado um plano emergencial, o Plano de Reconstrução em 1945 que priorizava a expansão da zona
industrial, a reconstrução de Pontelagoscuro, a zona Arianuova, a zona da estação ferroviária e o centro
histórico. Este plano teve uma duração de cinco anos, logo os anos após a guerra, e a ação do Instituto, dentro
deste plano, estavam concentrada na reconstrução da cidade e na construção de casas para os desabrigados.
As construções eram feitas muito rapidamente, com materiais escassos e continuavam com a carência de
serviços higiênicos e calefação e apresentavam uma tipologia muito popular, porque neste momento, a
quantidade era mais importante que a qualidade.
Figura n° 4: construção casas área aqueduto
Figura n° 5: construção aqueduto
No ano de 1949, foram implantadas duas leis para acelerar a construção das habitações populares. A
primeira lei 2 (dois) de Julho de 1949, n° 408, o governo dava um contributo para as pessoas construírem suas
próprias casas, e cobrava a juros baixos.Uma cooperativa de cidadãos recebia este contributo e junto com o
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IACP coordenavam as construções. As zonas de principal atuação foram: zona aqueduto, zona via Primo
Maggio, zona Foro Boario e zona Barco, todas as edificações com uma tipologia melhorada, mas ainda de
caráter muito econômico.
A segunda lei, Lei 8 (oito) de Agosto de 1954, n° 640 INA - CASA, construção de casa para os
trabalhadores, este processo era mais rápido para obter o dinheiro e para construir, e existiam normas próprias
para a projetação. No período de atuação de INA-CASA, o desenvolvimento de Ferrara era em direção ao
norte, nas proximidades do canal do rio Pò, onde eram previstos um balneário e uma área de esportes
paralelamente a zona industrial. Surge então, com o seu financiamento, um “ quartiere” satélite, o Barco,com a
intenção de reforçar a crescimento da cidade de acordo com o PRG de 1960. Outras zonas de principal atuação
foram: zona ex- Forteza e zona Arianuova, e as edificações já apresentavam uma tipologia bastante melhorada,
mas ainda com carência de matérias duráveis.Em 1963, esta lei é transformada em outra lei, GESCAL
(Gestione Casa Lavoratori) que favorecia o plano de habitação para os trabalhadores agrícolas dependentes da
Lei 30 de Dezembro de 1960, n° 1976.
A Segunda Guerra Mundial foi um ponto importante nas ações do Instituto. Antes da guerra, as
habitações tinham um caráter muito simples porque as vidas das pessoas eram sem exigências, elas
apresentavam dimensões mínimas, iluminação e ventilação eram aproveitadas do local, carência de serviço
sanitário e de instalações. Depois da guerra, por volta dos anos 60, se começava a falar de melhorias.
E no período entre os anos de 1950 a 1970 que o Instituto se dedica a uma intensa produção
habitacional. A produção neste período de acordo com os agentes financeiros era: contributo estatal - 2249
apartamentos, contributo per conta do INA-CASA e GESCAL - 2639 apartamentos, com uma forte atuação nos
bairros: Arianuova, Barco, via dei Frutteti e via Pomposa e Krasnodar.Também, um instrumento que colaborou
com esta produção foi o PEEP, Piani Edilizia Economica e Populare, que entrou em vigor depois do ano de
1968. Este era um plano particular, piano particolareggiato, e que tinha uma certa autonomia e prioridade em
relação aos outros planos e era mais rápido o seu andamento.
Figura n° 6: edifício ano 1950 INA-CASA
Figura n° 7: edifício ano 1970 GESCAL
Observava-se que era necessário fazer melhorias nas habitações, já que a classe trabalhadora não
tinha uma vida decente e nem acesso aos avanços tecnológicos. O plano neste momento era: manutenção,
reparação e reestruturação das habitações, mas ao longo dos anos, somente estas ações não eram suficientes
porque significavam mais um paliativo e não sanavam o problema, e além do mais, não apresentavam
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resultados apreciáveis nem do ponto de vista substancial e nem do ponto de vista de uma boa qualidade de
imagem.
A solução era muito mais complexa e não se encontrava em solucionar os problemas do edifício,
porque a qualidade do edifício tem relação direta com a qualidade urbana.A partir desta idéia, vários planos de
intervento foram realizados com o objetivo de orientar a expansão da cidade e favorecer a requalificaçao e a
revitalização do território urbanizado, através da recuperação de áreas e de complexos de edifícios. Neste
momento, era alto o índice de imigração para as zonas rurais e cidades vizinhas, ou para outras regiões e era a
oportunidade de diminuir esse acontecimento e assegurar uma qualidade de espaço urbano para os cidadãos.
Com isto, as atividades do Instituto se voltaram para: intervenções de áreas internas ao núcleo urbano,via IV
Novembro e quartiere Arianuova, e em área da periferia - quartiere Barco e sem esquecer a atenção à
qualidade de construção.
Nos anos de 1988 -1989, a Lei 457, introduz o plano de recupero integrado das áreas residenciais e
neste modo, o Instituto passa a atuar não mais com interventos isolados, mas com um contexto de atuação em
uma zona urbana. A sua visão passa de fornecer um simples abrigo aos mais necessitados para uma
intervenção mais complexa com uma reestruturação urbana e mais atual, introduzindo um modelo de
desenvolvimento que está sendo construído na Europa e em outras zonas do mundo.Isto se deve também à
transformação dos tipos de usuários, não são somente pessoas sem condição de moradia ou com baixa renda,
mas hoje podemos encontrar pessoas da classe média baixa que fazem esta opção de morar em uma estrutura
de habitação popular porque não tem condição de pagar os altos preços de aluguel pedidos pelo mercado
imobiliário.
A iniciativa de requalificaçao urbana e de reestruturação do patrimônio imobiliário público, assume uma
importância sempre maior, em particular aquela de transformar parte da cidade construída em período em que
os recursos financeiros eram escassos e também quando a expansão da cidade acontecia de uma forma muito
desordenada.
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3.EXEMPLO DE REQUALIFICAÇÃO URBANA
3.1.BARCO
Uma das principais imagens que Ferrara possui é aquela de conservação e preservação de um centro
histórico circundado de uma muralha renascentista em um estado físico perfeito. Muitas pessoas que vem de
fora, turistas, estudantes ou habitantes de curta temporada, não percebem a extensão da cidade, porque existe
uma convergência muito forte para o centro histórico.
Este forte caráter de centralização faz com que existam como “dois mundos” em uma mesma cidade:
fora, aparentemente caótico e dilatado, e dentro da muralha, organizada e densa. O governo local tenta eliminar
esta “descriminação” e levar a qualidade urbana do centro histórico para as áreas fora da muralha que são
conhecidas como periferia e são vistas como locais de pouca infra-estrutura, de baixa qualidade de vida, em
fim, áreas marginais. Esta expansão da cidade não significa somente quebrar esta dicotomia, mas também
alargar as características urbanas e definir novos limites.
Uma das conseqüências que decorrem do processo de formação de periferias e de novos territórios
urbanos, com implicações sobre a gestão dos serviços urbanos, é a consolidação de um sistema
descentralizado.Nos novos contingentes periféricos, a população perde o sentido de centralidade que
tradicionalmente presidiu a formação dos núcleos urbanos e que, em geral, se mantém, até que a cidade atinja
uma certa escala de crescimento. Desassistida, no que diz respeito aos mais distintos serviços urbanos, a
população desenvolve um sentido de identidade próprio, nos limites de seus novos territórios, e,
progressivamente, passa a organizar-se em função de interesses que têm referências no âmbito local.
O Barco é um exemplo desta tentativa de ruptura com “dois mundos”.Ele é um bairro que foi construído
nos anos 40, com financiamento de INA-CASA, para abrigar os trabalhadores da zona industrial, quando a
industria química havia um peso importante na economia ferrarese, e é considerado o primeiro bairro operário
de Ferrara. A idéia de fazer um bairro operário, habitável e não sò um bairro dormitório, protegia o centro
histórico, porque este não era capaz de suportar um maior número de pessoas e também reduzia o tempo de
locomoção dos trabalhadores em relação casa - local de trabalho.
A reestruturação das periferias tinham uma certa prioridade neste período comparado com a
preservação e com a recuperação do centro histórico no passado, porque era para onde se direcionava o
crescimento das cidades.Sua expansão ocorre de forma linear saindo da área dentro da muralha, parte norte,
em direção a Pontelagoscuro, sempre margeando a zona industrial. Esta expansão acontece sem uma
continuidade, pois, há muito tempo, não existiam intervenções urbanas com um caráter mais profundo nesta
área.
O Barco apresenta uma paisagem consolidada aos desenhos dos núcleos de habitação popular com o
traçado da cidade, a concessão de um real e próprio bairro satélite descentralizado e auto-suficiente. Suas
edificações foram realizadas em diversos períodos, podemos considerar o período antes da Segunda Guerra
Mundial até hoje, ressaltando a forte presença de edificações destinadas às pessoas de baixa renda, como por
exemplo, a forte atuação de INA-CASA.
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3.2.PIANO PARTICOLAREGGIATO (Plano Particular)
Em meados dos anos 70 que começam os problemas de degradação dos espaços abertos e também
dos edifícios que apresentavam uma baixa qualidade de vida no “ quartiere “ Barco. O Plano Regulador Geral,
PRG,de 1975 classificava esta área como passiva de uma transformação, para remover uma situação de
evidente degrado, e previa uma reestruturação urbanística nesta área, mas isto sò foi possível com o plano
particular, “piano particolareggiato” de iniciativa publica, elaborado e apresentado ao governo local pelo ACER
em 1995.
A iniciativa de ACER foi propor nesta zona um programa de reestruturação urbanística, com demolição
e reconstrução para substituir os edifícios já existentes, utilizando mais racionalmente os espaços, melhorando
a qualidade de vida através do urbanismo e de edificações com qualidade de materiais e técnicas
construtivas.Foram demolidos 200 apartamentos e com previsão de construção de 530 novos apartamentos
ainda destinados à habitação popular. Esta foi uma ação inovadora dentro do contexto italiano de preservação
do patrimônio imobiliário.
Dentro dos limites de recursos financeiros para a implantação deste empreendimento, buscou-se
realizar um projeto de edifícios com um bom nível médio, em uma cidade em plena evolução como Ferrara,
com o objetivo de propor um complexo de habitação popular que possa ser habitável não somente pelas
pessoas de baixa renda, mas também àquelas da classe media. Esta è uma tendência evidente que vem
acontecendo nos últimos anos dentro do setor de habitação popular, que é reduzir a diferença entre os edifícios
e melhorar o nível de construção.
Um dos objetivos principais deste intervento é integrar e racionalizar a implantação de serviços, que
antes era insuficiente, fazendo com que os habitantes do local se sintam mais confortáveis e possam observar
uma melhor qualidade onde morram.
O terreno escolhido, de propriedade de ACER, é um perfeito retângulo que foi desenvolvido na década
de 40 entre as ruas: ao norte, via dell’industria; a leste, via Bentivoglio; ao sul, via R. Maragno; e a oeste, pelas
vias Martini del Lavoro e via delle Sirena; que era ocupado por casas isoladas “casette” de não mais que dois
pavimentos e abrigavam quatro ou seis pequenos apartamentos, que não tinham instalações adequadas em
relação a calefação e instalações sanitárias; isto é, eram habitações completamente inadequadas em relação
as exigências mínimas de vida.Com relação à ocupação de uso do solo, pode –se dizer que o terreno era mal
utilizado de acordo com as leis para áreas periféricas e existiam muitos espaços ociosos sem nenhuma função.
Com relação à intervenção urbana, o novo desenho urbanístico racionaliza o sistema viário e áreas de
estacionamentos, com a intenção de evitar o encontro de fluxos de automóveis e de tornar acessível toda a
área do objeto de estudo, evitando assim a ausência de áreas abandonadas. O projeto está acessível para um
pedestre, para pessoas portadoras de necessidades especiais, ciclistas e também para os veículos, já que esta
è uma zona ao lado de uma zona industrial, deve facilitar o escoamento de veículos pela área e região.
O projeto consiste em ocupar toda a área com edificações de no máximo três pavimentos, sempre com
a presença do verde. Estas edificações possuem uma leitura de tipologias diferente uma das outras para evitar
uma monotonia paisagística e que, com o passar dos anos, todo o complexo não entre em uma sò vez na
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degradação urbana, já que este è um processo difícil de se evitar, ao menos se pode direcionar este
fenômeno.Uma característica comum a um grande número de edificações é a possibilidade de garantir
autonomia dos serviços e de acessos independentes a cada edificação, este é um ponto forte reconhecido pelo
programa de habitação popular.
No seu sentido longitudinal, como ponto de marcação visual e de eixo central, a locação de quatro
torres com seis pavimentos cada uma, nas vias S. Gatti e G. Grosoli. No centro desta área, está previsto ponto
de serviços e de comércios juntamente com a integração de um centro social do bairro. Também foi previstos
uma atenção especial para o bem estar e cultural da população do Barco, com a construção de uma academia
com um laboratório fisioterápico e um centro comunitário na parte central desta área.
Figura n° 8: Vista de uma das torres de marcação;
Figura n° 9: Fachada principal da Academia;
14
3.3.VARIANTE 2002
Dentro de uma serie de ações para coordenar um projeto complexo como este, durante o percurso è
natural que surjam alterações de idéias, não somente pela insuficiência de recursos financeiros, mas também
de qualidade de projeto, como: melhorar as tipologias das edificações e as soluções arquitetônicas dos lotes
que ainda estavam para serem construídos.
Essas modificações ocorreram com a Variante do Plano Regulador de 2002. O número de atores
envolvidos foi alterado e o projeto passou de uma intervenção somente publica para uma intervenção de atores
públicos e de outros operadores privados, realizando assim, um projeto com diferentes tipologias, não somente
aquela de caráter popular.Isto ocorreu com a finalidade de tornar o projeto mais flexível, sem impor uma rigidez
na paisagem visual do conjunto de edificações proposto e que se adapte ao tempo.
Essa relação entre publico e privado foi a solução encontrada e de caráter inovador para dar
continuidade ao projeto, devido à diminuição dos financiamentos públicos para a habitação popular e também
às novas normas de modificações para a construção de habitação popular da Região Emilia Romagna
ocorridas no ano 2000, o que direcionava ainda mais ACER através da requalificaçao das edificações existente
degradadas.
O exemplo desta relação entre o público e o privado foi à construção do supermercado na área central
do bairro, principalmente, para obter financiamento dos operadores privados e assim, continuar com a
realização do projeto, a implantação do abrigo para pessoas da terceira idade. ACER sempre se manteve
responsável pela definição arquitetônica do projeto do supermercado e gerenciou todo o processo de seleção
para a empresa que iria ocupar o local. Foram abertas as inscrições para o “ponto comercial” e um critério de
escolha foi que a empresa tivesse uma presença forte no ramo e que pudesse atrair um número significativo de
pessoas. A empresa selecionada, ao final da construção, tornou-se proprietária e ficou responsável pela gestão
do empreendimento.
Pontos principais da Variante de 2002:
•
Redução da quantidade de apartamentos para 390, prevendo a possibilidade de aumentar a
quantidade de serviços e proporcionar uma maior integração das edificações com o verde
urbano;
•
Uma estrutura comercial de médio porte, com a presença de um supermercado de dimensões
limitadas em substituição a um lote destinado a um complexo residencial entre as via
Bentivoglio e via Grosoli;
•
Exclusão da disposição linear das edificações para uma disposição menos rígida, mais
orgânica;
•
Individualização de uma grande área verde no centro, como uma melhora na qualidade urbana;
•
Uma residência para pessoas da terceira idade, visto que o Barco apresenta uma grande
população de idosos.
•
A praça Emilia foi reestruturada sendo um grande espaço livre que serve de estacionamento e
abriga as feiras livres nos dias preestabelecidos da semana, não rompendo a tradição local.
15
•
Criação de uma biblioteca com capacidade para 40.000 volumes tornando-se a segunda maior
biblioteca de Ferrara. Esta biblioteca tem um caráter especial dentro do projeto, porque o
comum na Itália é que as bibliotecas sejam inseridas dentro de prédios históricos, e ao
contrario, pois, esta biblioteca teve um edifício projetado exclusivamente para abrigar sua
função, e além do mais, è um elemento de marcação dentro do contexto urbano, porque è uma
edificação completamente com seu entorno livre, com uma arquitetura moderna fazendo
evidenciar o seu jogo de volumes.
Um aspecto que foi levado em consideração nesta intervenção de ACER foi à qualidade de vida sem
aumentar ou diminuir a densidade populacional e com ambição de construir um grande “quartiere” que sirva
como modelo de uma requalificação urbana no contexto europeu. O projeto agora tem uma escala mais
humana, entre a relação entre as novas edificações, que apresentam uma escala mais baixa, com as antigas,
velhas casas que foram mantidas, e ao final todo este conjunto foi inserido no espaço verde.
Figura n° 10: Fachada principal da Biblioteca
Figura n° 11: Interior da Biblioteca
Com as figuras da pagina a seguir, podemos observar a diferença de projeto entre aquele do ano de
1996, que tinha uma intervenção menor e ainda se observava à permanência de algumas das edificações
antigas e aquela resultante da Variante de 2002, com uma disposição das edificações de uma forma mais
flexível e que quase compreendendo todo os limites da grande área destinada ao projeto.
16
Figura n° 12: planta geral do piano particolareggiato 1995, plano particular; Fonte: ACER Ferrara.
Figura n° 13: planta geral da variante 2002; Fonte: ACER Ferrara.
17
3.4.PRU - PLANO ESTRATÉGICO URBANO
Em 1999 o governo de Ferrara inicia a elaboração do Programma de Recupero Urbano, PRU, com o
objetivo de dar um novo utilizo as áreas urbanas até então esquecidas ou não utilizadas adequadamente. A
política de habitação e urbanização estava orientada mais para a produção de qualidade que de quantidade,
com o objetivo de melhorar as moradias e os serviços.
O governo da cidade aprovou o PRU tendo dois objetivos importantes: o primeiro, atuar em áreas da
cidade sem utilizo, como escolha estratégica de desenvolvimento, e segundo, com a recuperação destas áreas,
principalmente no lado leste da cidade, promover o desenvolvimento imobiliário e proteger a cinta muralha.
As áreas escolhidas foram: Mura, Po di Volano, San Rocco, via Bologna, zona industrial Boicelli e
Barco; o que se pode observar em comum nestas áreas è: uma redução da população e um número grande de
imóveis não habitados em zonas com grande potencial de desenvolvimento.
De acordo com as pesquisas, para a escolha das áreas de atuação do PRU, encontram-se os
resultados abaixo. Foram individualizados 13 zonas de intervenção mobiliaria dentro das 6 áreas de atuação:
AREA
N° DE ZONAS DE INTERVENÇÃO
1. le Mura
3 ( 2 destas se estende a área n°2)
2. Pó di Volano
7 ( 3 destas se estende a área n° 1 e 1 também se estende a área de n°4)
3.S. Rocco
2
4. Via Bologna
2 ( 1 destas se estende também a área n°2)
5:Zona Industriale Boicelli
2
6: Barco
1
Figura n°14: retirada do livro:Città e strategia: urbanística e rigenerazione econômica delle città, pp283.
No ano de 1996, foi declarado oficial o declínio industrial da cidade que começou na década de 70, e a
taxa de desocupação era o dobro da média nacional. O produto desta crise è: uma grande área de território
ocupado com edificações em desuso e poluentes.
SUPERFICIE m 2
POPULAÇÃO 1991
POPULAÇÃO 1999
1. le Mura
1.644.958
783
699
2. Pó di Volano
2.221.093
7.643
6.764
477.541
1.755
1.600
1.117.690
5.606
5.090
5:Zona Industriale Boicelli
618.364
127
86
6: Barco
914.000
5.350
4.603
AREA
3.S. Rocco
4. Via Bologna
Figura n°15: retirada do livro:Città e strategia: urbanística e rigenerazione econômica delle città, pp286.
18
Em relação ao número de imóveis desocupados, no ano de 1991, existia um total de 9.458 unidades
imobiliárias, de cujo 8.734 destas eram habitações principais e 724 eram habitações não ocupadas. A
quantidade de habitações residencial própria era em número superior nas áreas já descritas em comparação
com outros tipos de edificações, mas em comparação com o centro histórico, isto é, interno da muralha, era
uma porcentagem inferior.
AREA
N° DE HABITAÇÕES
1. le Mura
356
2. Pó di Volano
3.677
3.S. Rocco
793
4. Via Bologna
2.389
5:Zona Industriale Boicelli
51
6: Barco
2.192
Figura n°16: retirada do livro:Città e strategia: urbanística e rigenerazione econômica delle città, pp286.
O PRU atua com uma ação de requalificação urbana intensa através de uma política global de
renovação da cidade de Ferrara e que pouco a pouco estas ações vão construindo uma realidade concreta. A
recuperação das edificações degradadas é somente um aspecto de uma ação, que para ter um efeito eficaz,
deve ter uma finalidade alta, como a promoção sócio-econômica da cidade inteira e de seus habitantes.A
estratégia geral deste plano è orientar a requalificação urbana com a valorização dos seguintes pontos de força:
Ferrara cidade saudável e por um desenvolvimento sustentável, Ferrara cidade das bicicletas, Ferrara cidade
criança, Ferrara cidade universitária e Ferrara cidade de arte, cultura e do turismo.
A inclusão do Barco dentro do PRU è justificada pela ligação da cidade com o Parco Urbano, que é uma
grande potencialidade. O Parco Urbano é uma zona agrícola muito ampla entre a estrada ao norte da cidade e
o rio Pó e foi objeto de um projeto de reestruturação de seu interior de acordo com o Plano Regulador Geral de
1975. Em seu interno encontram-se áreas publica, com atividades destinadas ao lazer, e privadas, com
plantações.
O PRU delimitou toda a área do “quartiere” Barco, como zona de atuação e ressaltou dentro desta as
intervenções desenvolvidas pelo “Piano Particolareggiato”, plano particular,de 1996 e suas alterações
decorridas da Variante 2002. Com esta inclusão, o projeto recebeu financiamento para a construção do
alojamento para os idosos e a sua finalização esta prevista para o final do ano de 2008.
19
Figura n° 17: planta geral do PRU, retirada do livro: Città e strategia: urbanística e rigenerazione econômica delle
città, pp 285.
20
3.5.REQUALIFICAÇÃO VIA BENTIVOGLIO
No ano de 2002, o Governo da cidade de Ferrara lançou o projeto de requalificaçao da via Bentivoglio.
A Via Bentivoglio é uma rua com um tráfico bastante intenso principalmente pelos moradores de
Pontelagoscuro e S.Maria Maddalena, que utilizam esta rua, atravessando toda a zona do Barco, para fugir dos
sinais de trânsito da via Padova que faz ligação com a cidade, e um problema maior é que Via Bentivoglio é
considerada como uma rua inadequada para este grande fluxo de automóveis.
A ação se concentra em amenizar o tráfico reestruturando o desenho da via Bentivoglio e fazendo com
que o seu entorno seja melhorado, possibilitando uma maior qualidade viária para o deslocamento interno
(automóveis, pedestres e ciclistas) e, ao acesso aos serviços existentes (comércio, escolas, igreja, academia, e
etc.).A prioridade é criar um espaço seguro aos moradores do Barco, um espaço em que possam estar, viver,
as crianças possam brincar e jogar bola sem correr o risco de um acidente de trânsito. O objetivo é a
construção de rotatórias também na via Padova, modificação do desenho dos espaços existentes, organização
dos percursos, das paradas de ônibus e dos estacionamentos.
Figura n° 18: planta “ quartiere” Barco.
21
O projeto prevê o alargamento da rua Bentivoglio em toda a sua extensão desde do encontro com a via
Fratelli Rosselli até Pontelagoscuro. No trecho entre as vias Maragno e dell’ industria, em frente à área de
atuação do projeto de requalificaçao realizado por ACER, o projeto se apresenta de uma forma especial, com a
construção de um grande canteiro central separando os sentidos dos veículos e trazendo maior segurança aos
pedestres. As paradas de ônibus e também os estacionamentos laterais, com curto tempo como 15 ou 30
minutos permitidos que possibilita uma grande rotatividade de fluxo de veículos, são recuados da pista de
rolagem. O pedestre se sentirá realmente seguro com esta nova intervenção, pois foram inseridas largas faixas
de pedestres, ciclovias de mão dupla, espaço para pessoas portadoras de necessidades especiais, porque
existem rampas adaptadas para pessoas rolantes com inclinação permitida por lei e com pavimentação
adequada, antiderrapante, e a sinalização ao longo de todo percurso de pedestre se dá por sinais visuais e
sonoros.
No trecho antes e depois da área de atuação do projeto de requalificaçao realizado por ACER, a rua
não apresenta toda a configuração citada anteriormente, com um grande alargamento e com canteiro central,
mas se desenvolve com uma pista de rolagem maior que a existente, facilitando o fluxo de veículos, e se
configura com as mesmas características relacionadas com paradas de ônibus, faixas de pedestres e
estacionamento quando necessário.Vale ressaltar a ligação destes trechos com o trecho em frente à área de
atuação do projeto de requalificaçao realizado por ACER que acontece de forma sútil e faz com que o motorista
não sinta uma mudança brusca de percurso.
Este projeto exclusivo da Comune de Ferrara, governo municipal, faz parte de uma ação do PRU,
Programa de Requalificaçao Urbana.Esta reestruturação da via Bentivoglio vai valorizar ainda mais o projeto de
ACER, citado anteriormente, porque afinal, é uma complementação valiosa e de grande complexidade dentro
do contexto urbano, e fará ainda mais com que o Barco se consagre como um modelo.
22
4.DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
4.1.O QUE È A SUSTENTABILIDADE
Sustentabilidade é um conceito sistêmico, relacionado à continuidade dos aspectos econômicos,
sociais, culturais e ambientais da sociedade humana.Propõe-se a ser um meio de estabelecer a civilização e as
atividades humanas, de tal forma que a sociedade, seus membros e suas economias possam preencher suas
necessidades e expressar seu maior potencial no presente, e ao mesmo tempo preservar a biodiversidade e os
ecossistemas naturais, planejando e agindo de forma a atingir pró-eficiência na manutenção indefinida desses
ideais.
Com o passar dos anos, as exigências das pessoas vão crescendo, de acordo com: o aumento da
população, o melhoramento da qualidade de vida e ao aumento do número de paises com uma forte economia
industrial, enquanto, os recursos naturais disponíveis tendem a cair, isto acontece devido o gradual declínio dos
recursos não renováveis e a destruição dos recursos renováveis devido a poluição. Tudo isso pode ser
transformado se a atual geração utiliza sobretudo: fontes energéticas renováveis, diminuem a poluição e se
adequam as próprias exigências de acordo com os recursos disponíveis no próprio território, porque a cidade
jamais será auto-sustentável, pois se trata de sistema aberto, que não tem fim em si mesmo,todavia resta ao
ser humano a responsabilidade de minimizar a degradação ambiental urbana para a sua própria sobrevivência.
A sustentabilidade abrange vários níveis de organização, desde uma atividade simples até o planeta
inteiro.Para uma ação ser sustentável necessita atender a quatro requisitos básicos:
•
Ecologicamente correto;
•
Economicamente viável;
•
Socialmente justo;
•
Culturalmente aceito.
O desenvolvimento sustentável é uma idéia que deve ser difundida e se faz necessário construir uma
rede de relações entre: poder institucional, órgãos internacionais, sociedade e cooperações. É o único processo
capaz de harmonizar as exigências econômicas, sociais e ambientais, mas com uma ótica de atuação de longo
período, porque a final, estamos falando, principalmente, de transformação de ecossistemas.
Podemos dizer que são três os “instrumentos de comunicação” da sustentabilidade entre políticos,
especialistas e comunidade:
•
Processo
participativo:
consiste
em
um
amplo
envolvimento
dos
interessados
no
desenvolvimento da sociedade e do planejamento territorial, a sua aplicação pode ser com a
sociedade em geral, com comunidades de bairros, escolas e condomínios;
•
Comunicação ambiental: tem como objetivo informar aos cidadãos das possibilidades concretas
que eles dispõe de contribuir no dia-a-dia para a realização do desenvolvimento sustentável;
•
Educação ambiental: educar através de projetos experimentais e inovadores, desde crianças a
pessoas da terceira idade, um modelo de comportamento de respeito em relação ao meio
ambiente;
23
Com todo esse discurso nos dias atuais sobre sustentabilidade é cada vez mais crescente a
preocupação das pessoas, principalmente, sobre a questão do meio ambiente. A década de 70 teve a primeira
conferência mundial sobre o tema que foi na Suécia, com a Conferencia das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente, a partir dai, surgiram outras conferências, uma de grande destaque foi a ECO – 92 no Rio de
Janeiro, que produziu a Agenda 21 que é um programa de ação que viabiliza o novo padrão de
desenvolvimento ambientalmente racional com um caráter de atuação de nível local e que foi assinado por 180
paises.
Com a criação da Agenda 21 se compreende que somente através da responsabilidade e o
envolvimento de todos os níveis da sociedade, a partir do nível mais alto da política, as autoridades
governamentais, ao nível mais baixo da comunidade, a sociedade de uma maneira geral pode intervir nessa
situação atual em que vivemos utilizando os princípios da sustentabilidade juntamente com a atuação de um
processo educativo, participativo, envolvendo a sociedade e principalmente com planos de ações realizados
pelas autoridades políticas.
24
4.2.A ITÁLIA E O MEIO AMBIENTE
Em um contexto geral,o desenvolvimento da política ambiental teve um acompanhamento de um
processo de crescente internacionalização, mas na mesma escala, os problemas foram aumentando e é
chegado um ponto em que se observava a escassa autoridade política de intervenção no setor.
A política ambiental italiana começou um pouco atrasada em relação aos outros paises que apresentam
um nível econômico compatível ao seu, por exemplo: Grã-Bethania, Alemanha, França e etc; e também em
relação ao conhecimento da gravidade do problema de degradação dos recursos ambientais.
Esta política começou a atuar nos anos 60, com as primeiras leis sobre a poluição atmosférica e a sua
intervenção sobre as indústrias, fábricas e veículos, com a intenção de diminuir os gases enviados a atmosfera,
e tinha atuação somente em áreas urbanas de acordo com dimensões e a localização geoclimatica. Um de
seus incentivos era de diminuir os impostos dos agentes menos poluentes e incentivar a troca dos óleos
combustíveis poluentes, isto acontecia muito no âmbito regional e não tinha uma atuação rígida.
Com o passar dos anos, outras leis foram surgindo sempre com um caráter descentralizado, mas no
ano de 1974, foi decretado o Ministério dos Bens Culturais e Ambientais, com um destaque bem maior no setor
ambiental, mas tinha ainda uma atuação elitista e conservadora.
A Comunidade Européia teve um grande impulso no que diz respeito ao desenvolvimento desta política
ambiental italiana e introduziu algumas leis, principalmente com relação ao utilizo da
água potável, o que
serviu para impulsionar e transformar uma mentalidade social fechada, e assim, muitos anos depois, em 1986,
foi criado o Ministério do Ambiente, um órgão capaz de atuar especificamente sobre o meio ambiente dando um
maior enfoque e responsabilidade sobre a temática ecológica e também com o objetivo de envolver os cidadãos
nesta política, que até então, a sociedade era deixada de fora.
Depois da Conferencia Eco 92, este discurso sobre a questão do meio ambiente teve uma força maior e
traz clara a idéia de união de todos os níveis da sociedade e da política para uma atuação perfeita sobre esta
temática.
Na Itália, foi sediado em Ferrara, no ano de 1999, o Vertice Mondiale Sviluppo Sostenibile, conferência
que estimula a difusão e a aplicação da Agenda 21 por parte das autoridades em todos os níveis políticos e o
resultado produzido até o ano de 2004 foi:
•
1309 projetos foram realizados de acordo com a Agenda 21 por governos estaduais e
municipais;
•
45% destes projetos tiveram partnership com o setor publico e o setor privado ;Dentro deste
setor privado podemos enumerar singulares atores que ativaram automaticamente projetos
como: escolas,imprensa, associação ambiental, grupos de cidadãos, e etc.
Hoje o nível de atuação da Agenda 21 é bastante considerável, existem muitas iniciativas por parte do
governo municipal e estadual e também pelo setor privado em realizar projetos sejam de pequena ou grande
escala, existem até projetos que envolvem as crianças, e isso é de grande importância, porque a
conscientização está começando muito cedo e isso traz uma mudança no futuro, um grande melhoramento.
25
Uma coisa é importante: se a política ambiental não receber um grande impulso ela será derrotada
devido a grande velocidade com que os problemas ambientais crescem, tanto é que os problemas que podem
ser resolvidos já estão sendo afrontados, enquanto aqueles que permanecem, são os mais complexos e que
necessitam de ações profundas e que requerem um grande capital para se tentar fazer alguma coisa.A questão
ambiental não deve ser mais vista como um custo a mais, e sim como perspectiva a mais para um futuro
desenvolvimento econômico.
26
4.3.CONDOMÍNIO SUSTENTÁVEL
O termo condomínio significa, segundo o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, “ uma situação em
que uma coisa indivisa (um prédio, por exemplo) pertence a vários titulares, tendo cada um deles direitos
exclusivos sobre uma ou mais frações determinadas e sendo, ao mesmo tempo, co-proprietário das partes do
edifício que constituem a sua estrutura comum”.
Um condomínio sustentável é aquele onde um grupo de pessoas que moram no mesmo (ou conjunto)
de edifício ou conjunto de casas, onde a construção foi realizada utilizando tecnologia e materiais que não
agridem o meio ambiente, seguindo os princípios de uma construção sustentável, e que estas pessoas
colaboram com ações cotidianas, como por exemplo: separação da coleta de lixo, não desperdício de água, etc;
para o funcionamento perfeito deste condomínio com um equilíbrio ambiental.
Os princípios de uma construção sustentável são:
1.Gestão da obra;
2.Aproveitamento passivo dos recursos naturais;
3.Eficiência energética;
4.Gestão e economia da água;
5.Gestão dos resíduos produzidos pelos usuários;
6.Qualidade do ar e do ambiente interior;
7.Conforto térmico e acústico;
8.Uso de materiais ecológicos e de tecnologias sustentáveis para todo o processo da obra; Este è um
ponto muito importante e devemos ter algumas considerações como:
•
Avaliação do ciclo de vida dos materiais;
•
Desenvolvimento do uso das matérias-primas e das energias renováveis;
•
Redução da quantidade de material e de energia utilizados durante todo o ciclo de vida dos
produtos a serem empregados, desde a sua extração passando por seu envelhecimento e
processo de reciclagem.
O lugar onde se vive é muito importante para o bem estar das pessoas, pois é o espaço onde se está,
na maior parte do tempo dos momentos de relaxamento e lazer, e quanto menos à presença de produtos
químicos melhor para a saúde, porque estes podem causar danos ao longo prazo ao homem, aos moradores e
também as pessoas que trabalham na construção e que manuseiam estes materiais, e é claro ao meio
ambiente.
É importante no momento de projetar, seja um condomínio ou uma singular casa sustentável, haver um
conhecimento entre a relação meio ambiente e objeto a ser construído, isto è, saber transferir as condições
ambientais do sitio escolhido para o interior do espaço a ser construído propondo assim, um melhoramento nas
condições de vida naquele local.
É verdade que hoje a nova tecnologia de equipamentos que proporcionam o aproveitamento de
energias e os materiais de construção que não são nocivos ao meio ambiente, não são difundidos de uma
maneira mais ampla e apresentam um custo de implantação muito elevado, tornando - se inacessível à maioria
27
da população.Devido a este problema, encontramos poucos exemplos deste tipo de construção, mas, de fato,
isto não é considerado uma coisa impossível e lentamente se avança para que esta realidade seja
alcançada.Podemos enumerar as vantagens deste tipo de construção: bem-estar de moradia, ambiente sano,
alta qualidade de construção, proteção do clima e do meio ambiente e aumento do valor comercial do imóvel.
28
4.4.EXEMPLOS DE CASOS DE ESTUDOS
Já foram realizados vários projetos sobre este assunto e seguem abaixo alguns casos de estudos na
Itália e na Alemanha, que englobam critérios importantes como: ambiente sustentável, economia energética,
utilização de energia renovável, redução dos agentes poluidores e o melhoramento da qualidade da construção
e do urbanismo.
Na Itália, em Torino, o ATC, Azienda Territoriale per la Casa, antigo IACP, elaborou em 2003 o “Projeto
Modelo 2006”. O projeto é baseado na construção de habitação publica de dois edifícios com 40 apartamentos
cada um, com volumetria e distribuição idênticas que foram construídos utilizando técnicas diferentes; um
seguindo os critérios da arquitetura ecológica e o outro seguindo os métodos tradicionais de construção, para
fazer uma relação de comparação entre custo beneficio, gestão e conforto térmico. A intenção do ATC é de que
este intervento possa ser um modelo na área para a construção da futura Vila Olímpica e também para outros
projetos em pequena escala.
Foram utilizados painéis solares para aquecimento das águas utilizadas nas áreas molhadas, painéis
fotovoltaici para a produção de energia elétrica, acumulo de águas pluviais e seu utilizo para regar as áreas
verdes e os acessórios do banho, chuveiro e bacia sanitária, materiais para acabamento de origem natural e
privados de emissões de agentes nocivos, escada em ferro (reciclável), a cobertura é composta de um teto
verde para garantir um conforto térmico na edificação tanto no inverno quanto no verão e também o edifício è
dotado de um sistema de controle de energia.
Em Padova, foi realizado em 2000 um projeto de recuperação de um complexo de edifícios construído
nos anos 20 pelo ATER, Azienda Teritoriale per l’ Edilizia Residenziale di Padova, antigo IACP, com
aproximadamente 200 apartamentos.Estava prevista a recuperação de cada apartamento segundo as novas
normas de padronização vigentes, os princípios da arquitetura ecológica, e a integração do complexo com o
contexto urbano. Também foi utilizado o processo de participação popular para a definição dos objetivos do
programa de recuperação urbana, na discursão do projeto e na sua gestão, através da realização de seminários
sobre vários tipos de informações sobre o projeto.
O projeto teve uma particular atenção com a qualidade do ecossistema, com o conforto ambiental,
economia energética, com o ciclo da água, isto è, sua coleta, seu utilizo e sua reciclagem e a utilização de
matérias naturais.
Na Alemanha, em Friburgo, foi entregue no ano passado, 2006, um complexo de edificações para a
moradia de famílias jovens, aproximadamente 5000 pessoas, que foi realizado pela autoridade municipal. O
projeto também contou com o processo de participação popular, que deu origem ao Fórum Vauban, onde foi
traçado o fio condutor para o desenvolvimento sustentável, levando em consideração a economia energética,
coleta de águas pluviais e seu utilizo nas áreas molhadas, banheiro e irrigação do jardim, utilização de isolante
térmico e utilização de painéis solares para o aquecimento de águas.
29
4.5.CONDOMÍNIO SUSTENTÁVEL REALIZADO POR ACER
Em dezembro de 2002 o governo de Ferrara juntamente com ACER, ACOSEA, AGEA e outros e com o
financiamento da Regione Emilia-Romagna implantaram o primeiro “condomínio sustentável” de Ferrara no
Barco, periferia da cidade. Na realidade este projeto pode ser considerado mais como um processo educativo e
um incentivo à alteração dos hábitos cotidianos das pessoas em relação à preservação do meio ambiente.
O condomínio selecionado é composto de 85 apartamentos e 4 comércios, e aproximadamente 2/3 dos
imóveis é de propriedade de ACER, situado entre as ruas: via Bentivoglio, via del Guercino, via F. lli. Rosselli e
via Catti Gasazza. A maioria dos habitantes do condomínio è composta por pessoas da terceira idade,
aposentados, o que requereu uma atenção especial em relação ao processo informativo, e os apartamentos
estão ocupados, na maioria, por dois habitantes.A grande quantidade de habitantes foi importante porque como
este é um processo que envolve a boa vontade das pessoas nem todos participam, e quanto mais pessoas no
total, maiores as chances de obter um número razoável de participantes.
Figura n° 19: planta “ quartiere” Barco.
A escolha por um projeto de habitação popular foi para construir um modelo não só de cidadania e de
educação ambiental para a sociedade em geral, mas para impulsionar uma transformação na comunidade
oriunda de uma classe social mais baixa.Também foi levada em consideração: a relação entre os condôminos,
assim como uma construção que não seja muito recente com espaço comum, uma área verde e calefação
autônoma em cada apartamento.
O objetivo principal do projeto foi de levar às famílias um conhecimento sobre pequenas praticas
cotidianas que melhoram a qualidade de vida e do meio ambiente, e também de gerar um estimulo de
curiosidade e de busca de um conhecimento sobre a aplicação da Agenda 21 aos administradores e
representantes de condomínios. Para ajudar este estimulo cada patrocinador presenteou uma família com
objetos que colaboram de alguma forma com a preservação do meio ambiente.
30
O projeto teve dois períodos de atuação, o primeiro com uma duração de 15 meses para os habitantes
do condomínio, foi iniciado em Dezembro de 2002 e concluso em Março de 2004; e o segundo que foi
direcionado para os administradores e representantes dos condomínios no tempo de dois meses, Abril e Maio
de 2005.
Para o primeiro período, foram implantadas 5 fases de atuações:
•
Sensibilização;
•
Analise ambiental inicial;
•
Educativa;
•
Atuação;
•
Comunicação transversal;
Na fase de sensibilização foi introduzida uma explicação de todo o projeto, quais os benefícios, como
seria realizado, em fim, todas as informações possíveis para ao final, os organizadores poderem obter a
colaboração dos habitantes e a presença de um maior número de pessoas. Foi também introduzida uma teoria
sobre o desenvolvimento sustentável e as corretas praticas ambientais aplicadas nas ações cotidianas.
A fase de analise ambiental inicial foi realizada através da aplicação de um questionário a todos os
condôminos.Este foi o caminho didático mais fácil para se obter informações e poder avaliar o conhecimento
dos habitantes sobre a proteção ambiental. O questionário foi divido em quatro seções: a) aquisição de
produtos ecológicos; b) lixo; c) mobilidade das pessoas; d) consumo energético. O resultado desta pesquisa
serviu de base para os organizadores sobre o estilo de vida dos condôminos, sobre os seus conhecimento com
a relação de certos produtos com o meio ambiente e se eles realmente tinham uma informação concreta sobre
os perigos e os danos que certos produtos causam ao meio ambiente e a saúde, e assim, com todas essas
respostas os organizadores puderam direcionar os principais aspectos a serem enfocados.
Na fase educativa foi ilustrada a importância da água para a saúde, para o meio ambiente e a situação
em que este recurso natural encontra-se hoje e também sobre o lixo. Sobre a água foram citados recursos e
técnicas para o seu não desperdício e como aproveitar as águas pluviais; sobre o lixo teve uma explanação
sobre a coleta seletiva e os seus benefícios para o meio ambiente, quanto ao tempo de decomposição de
certos materiais e quais os seus efeitos no meio ambiente.
Dentro desta fase foram realizadas duas visitas com os moradores nas empresas AGEA e ACOSEA
para um conhecimento pratico sobre as gestões de água e do lixo.Na AGEA, as diversas tipologias de lixo são
separadas, alguns materiais são tratados e enviados a outras empresas que fazem os seus reutilizo.Esta visita
foi muito importante porque alguns moradores tinham duvidas de como o lixo poderia ser reaproveitado, e neste
momento todas as duvidas foram tiradas. Na ACOSEA, os moradores puderam observar o processo de
tratamento da água do rio Pó que resulta potável depois de todo o processo e acessível à saúde de todos.
Na fase de atuação, como o próprio nome já diz, foi o momento em que os condôminos puseram em
pratica tudo aquilo que assimilaram através das reuniões com os organizadores e palestrantes.
31
E a ultima fase, a de comunicação transversal, aconteceu durante todo o projeto e o governo municipal
foi o responsável por esta ação no sentido de informar, através de uma pagina web, todos os passos do
andamento do processo.
Como um incentivo aos participantes deste projeto cada patrocinador doou um brinde que fosse útil no
dia a dia em respeito ao meio ambiente.Foram distribuídos redutores de fluxos de água para as torneiras e
chuveiros, sacos plásticos para a coleta seletiva do lixo, produtos ecológicos como produtos de limpeza, e
ACER implantou três instalações de painéis solares, para a produção de energia na área comum do
condomínio.
No dia do encerramento do projeto foi realizado um almoço, onde os próprios participantes puderam
compartilhar suas experiências e quais seriam as suas expectativas em relação ao futuro do condomínio. Foi
apresentado um vídeo, como um resumo dos acontecimentos durante todo o período, e os organizadores
sempre fizeram questão de que este relacionamento fosse encarado de forma descontraída, e esta foi à forma
encontrada, o que também foi notável ao longo do projeto.
Com relação ao segundo período do projeto, em relação aos administradores e representantes de
condomínios, foram realizados seis encontros ao longo de dois meses com um enfoque mais técnico e
especifico, para que assim, estes participantes possam ser instrumentos e repassar o conhecimento adquirido a
muito mais pessoas, seguindo o modelo do primeiro período do projeto, fazendo com que a própria população
possa seguir adiante com essa idéia, sem precisar de um apoio do governo ou de autoridades.
O processo foi realizado através de seminários sobre os temas:introdução ao desenvolvimento
sustentável, os sistemas de gestão ambiental,sobre os recursos ambientais, lixo sua redução e
educação,energia renovável e didáticas de como organizar reuniões.
Segundo os organizadores, dentro de todas as dificuldades encontradas com a quantidade de pessoas
de diversas culturas envolvidas e com uma analise da didática utilizada, o resultado final deste projeto foi
satisfatório, mas infelizmente, não se sabe como o condomínio está funcionando nos dias atuais.Isto é uma
grande falha dos órgãos públicos envolvidos porque este foi o primeiro projeto desta natureza e seria
importante o seu monitoramento. Outro projeto surgiu, também em um edifício já existente na via Padova no
bairro Barco, não de responsabilidade de ACER, mas somente do governo municipal e que no ano passado
recebeu um prêmio. Está é uma idéia que pouco a pouco se firma na sociedade e que já é um grande começo
para se alcançar um condomínio sustentável perfeito.
32
5.CONCLUSÃO
ACER e a cidade de Ferrara tem uma ligação muito importante que é caracterizada pela construção de
vários edifícios no centro da cidade e também pela colaboração de seu desenvolvimento, principalmente sua
expansão para as áreas periféricas. Sua trajetória acontece de forma racional e sempre tendo em consideração
o seu papel de órgão público atuando em beneficio dos cidadãos, esta é uma responsabilidade de grande
dimensão, a de produzir uma moradia e de dar início a uma condição de vida digna a uma família.
Podemos dizer que os projetos realizados por ACER, ao longo de toda a sua existência, sofreram uma
renovação não somente como de um objeto material, um intervento construtivo, mas sobretudo de ideologia no
que diz respeito ao conceito de bem-estar de um ser humano e do significado de viver em uma cidade.
Os seus primeiros projetos eram caracterizados como simples habitações, e em certo período, como
depois da Segunda Guerra Mundial, eram caracterizados de uma maneira mais simples ainda, como projetos
de urgência, realizados de uma forma rápida e sem a menor preocupação com a qualidade e sim com a
quantidade.
Entre as década de 50 e 70, os seus projetos sofreram um grande melhoramento com INA-CASA e
Gescal. A qualidade tornou-se uma prioridade já que existiam recursos financeiros disponíveis e também um
maior rigor de leis sobre a construção de habitação popular. Muitas edificações de grande porte foram
realizadas nas localidades : Arianuova, Barco, via dei Frutteti e via Pomposa e via Krasnodar. Depois, na
década de 80, surgiu a oportunidade de intervenção no espaço público, e é neste período em que ACER
alcança o seu melhor momento como agente público transformador de uma sociedade.
O Barco, bairro periférico, é o local da cidade de Ferrara em que podemos observar todas as etapas do
processo evolutivo de ACER, desde habitações no período logo após a Segunda Guerra Mundial, um projeto
mais atual, o de requalificaçao urbana que deverá ser finalizado no próximo ano. Este projeto de requalificaçao
urbana é certamente um modelo no contexto italiano e europeu no setor de habitação popular, não somente
pela qualidade das construções e da idéia de concepção projetual, mas também pela utilização de um
instrumento inovador: o de associar os poderes públicos e privados sem perder de vista a sua autoria como
projeto público, isto é, o setor público utiliza o capital privado e realiza e gerencia todo o projeto, e todos os dois
são beneficiados com esta união.
Uma outra inovação praticada por ACER foi à preocupação com a relação entre: ser humano, habitação
e o meio ambiente. Hoje a conscientização das pessoas com relação à preservação e a correta utilização dos
recursos naturais cresce sem escala e o acesso a estas informações, infelizmente, não alcança uma proporção
esperada, principalmente a população de um baixo poder aquisitivo.
Com a realização de um “condomínio sustentável”, podemos dizer que não foi na realidade implantado
este conceito de uma forma completa, mas apenas uma introdução e um exemplo a ser seguido de corretas
práticas cotidianas com relação ao utilizo do meio ambiente, ACER atingiu
um
importante momento de
atuação dentro da sociedade que foi o de educar as pessoas através de uma obra sua, não somente aos
moradores deste condomínio, mas de proporcionar a difusão de conceitos e idéias, porque pode parecer fácil
afirmar a idéia de que temos uma sociedade consciente da importância de um equilíbrio ecológico, mas ao
33
contrário, isto está muito longe da realidade, uma coisa é ter o conhecimento e outra coisa é colocar este
conhecimento em funcionamento, e sempre se deve começar com pequenos passos.
É neste momento, depois de toda esta analise, em que se pode destacar os principais pontos positivos
e/ ou negativos da atuação de ACER através da analise SWOT, ilustrada nos quadros abaixo:
PONTOS DE FRAQUEZA
PONTOS DE FORÇA
•
Forte presença na história de Ferrara;
•
Financiamentos públicos escassos;
•
Melhoramento do processo de construção;
•
Perca de propriedade de imóveis;
•
Desenvolvimento de periferias;
•
Não
•
Projetos de requalificaçao urbana;
•
Barco como exemplo de empreendimento
acompanhamento
do
condomínio
sustentável implantado.
realizado.
OPORTUNIDADES
•
Realizações
RISCOS
de
outros
condomínios
sustentáveis;
•
Utilização da arquitetura ecológica;
•
Utilizo do convênio entre publico e privado.
•
Diminuição do número de projetos;
•
Futuro incerto.
Todo esse percurso de ações inovadoras de ACER tem como conseqüência uma melhoria da qualidade
de vida da população e do espaço urbano. Com um espaço urbano mais estruturado, a população apreende
uma educação e uma conscientização do seu espaço publico e progride ainda mais, não somente em relação a
conservação e manutenção deste espaço, mas se direcionando da escala macro para a micro, até chegar no
aspecto de educação ambiental, reciclagem e ao não desperdício de recursos não renováveis, porque a
sustentabilidade está sendo uma condição essencial para o desenvolvimento urbano nos dias atuais.
ACER realizou projetos importantes na cidade de Ferrara e nos dias atuais a sua atuação vem sendo
reduzida devido à escassez de recursos financeiros.Isto vem acontecendo, de uma forma geral, em relação aos
outros órgãos públicos deste tipo no país.É certo que existe uma diferença entre as zonas norte e sul da
Itália,na zona norte, estes órgãos conseguem se manter e gerenciar o seu próprio patrimônio, mesmo em
momentos de dificuldades, diferente da zona sul, onde o problema é mais grave e o governo local sempre
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intervem para a manutenção destes, mas ainda não foi verificado nenhum falimento.Assim como ACER, outros
institutos passam pela incerteza de um futuro, talvez eles não sejam completamente extintos, mas com certeza
a realização de grandes projetos será muito difícil, e quem deixa de ganhar com isso certamente é a população
e as cidades.
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6.BIBLIOGRAFIA
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Roberto Parisinia cura di (2003),I piani della città:trasformazione urbana,identità politiche e sociali tra fascismo,
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www.fundaj.gov.br
www.provincia.fe.it/ecoidea
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