Projeções Astrais - Journal of Consciousness

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Projeções Astrais - Journal of Consciousness
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Resenha de Livro
Projeções Astrais
Autor: Michael Ross.
Editora: Melrose Books, Cambridge, GB;
183 páginas; 2010.
ISBN 978-1-907040-14-6
É uma satisfação para mim poder revisar “Projeções Astrais”,
o livro recentemente publicado de Michael Ross, autor conhecido
dos leitores do Journal of Conscientiology, tendo publicado, ao longo
dos anos, um número considerável de artigos interessantes, notas
pessoais e cartas. Ross, licenciado em Filosofia Mental e atualmente
professor aposentado da escola primária, é o que chamamos de
projetor veterano, tendo vivenciado até agora, mais de 200 experiências fora do corpo (EFC) e muitos outros fenômenos psíquicos
relatados desde uma idade bastante precoce. Seu livro é, portanto,
mais um esforço bem-vindo e uma contribuição significativa para
o desenvolvimento da projetabilidade lúcida neste planeta.
Como explicado por Ross na introdução, o livro é estruturado
em torno de dois temas principais. O primeiro é a busca de longa
data por uma prova incontestável da realidade não-alucinatória da
viagem extracorpórea; o segundo é o desejo de dar o testemunho da
sua história parapsíquica pessoal. O resultado pode ser visto num
texto ponderado e de leitura agradável, que embora não satisfaça
os requisitos científicos quanto à garantia de “provas”, certamente
oferecerá ao leitor, uma enriquecedora e dinâmica visão do panorama
multifacetado do parapsiquismo e da multidimensionalidade vividos
pelo autor durante sua vida; tudo isso acompanhado por muitas
histórias pessoais e reflexões, que garantem grande parte do charme
e da autenticidade desse ensaio autobiográfico.
O conteúdo desse livro é organizado em 15 capítulos. No primeiro, o autor descreve sua primeira recordação da projeção que
revolucionou suas atitudes e crenças em relação à existência da
alma, que pode existir independentemente do corpo físico. Desde
o início, enfatiza a importância de termos uma atitude de autopesquisa quanto às nossas experiências, anotando tudo o que seja de
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importante sobre elas, o que Ross se arrepende de não ter feito
naquela ocasião. O autor também explica como certas circunstâncias, tais como a mãe com habilidades parapsíquicas, as palestras
sobre as pesquisas psíquicas e a prática de determinadas asanas,
posturas da yoga, podem ter sido fatores importantes que influenciaram sua primeira experiência lúcida para fora do corpo.
No segundo capítulo, Ross descreve seu interesse inicial no
problema filosófico mente-corpo, seguido do forte desejo de obter
a prova definitiva da existência da alma (corpo sutil). Ele descreve
uma experiência interessante realizada por dois anos no Instituto
de Pesquisas Psicofísicas em Oxford, na qual ele tinha que definir,
por meio das experiências fora do corpo (EFC), um número alvo de
cinco dígitos colocado no Instituto, mas não obteve sucesso. Isso
ocorreu provavelmente, segundo o próprio autor, devido à sua
inexperiência, falta de treinamento com as técnicas que permitam
promover a experiência fora do corpo (EFC) de forma lúcida, e certa
falta de entusiasmo (ou seja, falta de foco), ingrediente fundamental
para melhorar significativamente as capacidades parapsíquicas, em
particular a projeção astral, explica.
Em seguida, o autor prossegue descrevendo o insucesso de projetores
lúcidos ilustres na obtenção de provas inequívocas de caráter nãoilusório do fenômeno, como aquelas realizadas por Robert Monroe
com o psicólogo e parapsicólogo americano Charles T. Tart, ou as
tentativas iniciais da psicóloga e parapsicóloga inglesa Susanne
Blackmore, que posteriormente tornou-se uma verdadeira cética
quanto à existência de qualquer fenômeno paranormal. Ele conclui
que não há absolutamente nenhuma prova cientificamente legítima
relativa à existência de qualquer capacidade psíquica ou fundamentação.
Na minha opinião, porém, houve uma apreciação muito negativa
em relação aos resultados obtidos por vários pesquisadores parapsíquicos ao longo dos anos. Penso que teria sido útil neste caso se
o autor pudesse ter feito uma distinção conceitual entre a experiência
fora do corpo (EFC) e outros fenômenos parapsíquicos relacionados
(mas certamente não equivalentes), como telepatia, clarividência
(incluindo clarividência viajora), precognição e telecinesia. Na verdade, como é bem conhecido nas pesquisas da parapsicologia moderna, é quase impossível se distinguir experimentalmente entre,
por exemplo, a leitura de um número-alvo obtido por meio dos mecanismos de clarividência viajora, e outro por uma experiência fora
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do corpo (EFC) (independentemente, é claro, da percepção e
descrição subjetivas do experimentador quanto à experiência). Além
disso, o autor se esquece de mencionar a enorme quantidade de
dados estatísticos que, em mais de um século de pesquisas
laboratoriais, foram coletados ao redor do mundo. Certamente estes
resultados não permitem ao pesquisador concluir sobre a existência
do fenômeno da experiência fora do corpo (EFC) de per si, mas
seguramente oferecem (nomeadamente através do poderoso
instrumento de meta-análise) evidências muito fortes em favor da
realidade dos efeitos psi, como clarividência, precognição e
telecinesia. Para uma revisão rápida, por exemplo, consulte o
excelente livro de Dean Radin (Radin, 1997), ou a obra mais recente
do próprio Charles T. Tart (Tart, 2009).
Por questões de esclarecimento, gostaria de salientar aqui
que, a meu ver, o mais apropriado à ciência não é a busca de provas
absolutas (como, a rigor, e apesar de uma crença geral, a ciência
não é feita para provar alguma coisa), mas, em vez disso, de
evidências (baseadas em fatos suficientemente estáveis,
reprodutíveis e observacionais, ou seja, fenômenos) e a construção
de teorias explicativas que permitam a compreensão dessas
evidências no âmbito de uma visão de mundo coerente e consistente;
teorias que, à semelhança dos organismos biológicos que evoluem
através de um mecanismo de seleção natural, sofrerão variações
ao longo do tempo por meio de um mecanismo de seleção que se
manifesta por meio de nossas críticas racionais e experimentais
(falseabilidade). Dito isto, gostaria de lembrar que houve um debate
bastante edificante com o autor, neste jornal, sobre esses assuntos
científicos, e em particular sobre a questão da busca pela prova da
experiência fora do corpo (EFC) e fenômenos relacionados - ver
artigo interessante de Ross (Ross, 2005) e da correspondência
gerada posteriormente: (Sassoli de Bianchi, 2005), (Bryan, 2005),
(Sissing, 2005), (Ross, 2006), (Rouanet, 2006) e (Ross, 2007).
No terceiro capítulo, Ross cita alguns eventos interessantes
de sua primeira infância: o fato de ter nascido prematuro, que ele
acredita ter tido algum efeito no aumento de suas habilidades
parapsíquicas; a possibilidade de os amparadores terem assistido a
ele, ainda na incubadora, propondo a uma enfermeira mais sensível
que pronunciasse as palavras certas, para a pessoa certa, no
momento certo, dando a sua vida futura uma direção totalmente
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nova. Ele prossegue lembrando a importância de se manter diários
dos sonhos, sonhos lúcidos e projeções, e em seguida explica o sentimento de “estar em casa” experimentado por ele durante as experiências fora do corpo: um inexplicável receio que tinha enquanto
participava, na sua adolescência, dos círculos espirituais, onde testemunhava muitos fenômenos parapsíquicos interessantes, como
transfiguração ectoplásmica facial, leituras psicométricas e assim
por diante. Particularmente interessante é sua observação de que
um mesmo clarividente que em certas ocasiões pode fornecer informações muito precisas sobre parentes falecidos, em outros, poderia
falhar completamente. De acordo com Ross, isto se daria, provavelmente, devido à pressão psicológica vivida pelo médium ao tentar
satisfazer as expectativas do público mesmo sem as condições
necessárias para tal leitura.
A observação de Ross expõe um tema importante e complexo,
que penso poderia ter merecido um desenvolvimento mais extenso
por parte do autor, dado o seu interesse pela questão da legitimidade
científica dos fenômenos parapsíquicos. Na verdade, muitas vezes
a tendência, nos círculos científicos, é simplificar demais o debate
sobre a fraude, considerando-se que se um médium for pego trapaceando, todos os fenômenos manifestados por este médium seriam,
necessariamente, resultado de falsificação. Mas, como sugerido
por Ross, a psicologia humana é mais complexa e articulada do que
isso, e entre o preto da fraude sistemática e o branco da autenticidade
pura todos os tons de cinza são possíveis. Como exemplo emblemático, deixe-me citar um caso bem conhecido pelos italianos, da
médium Eusapia Paladino, que apesar de seu grande (e difícil de
duvidar) talento parapsíquico, em muitas ocasiões foi pega em fraude.
Mas, como pesquisador parapsíquico e perito em Paladino, Hereward
Carrington explica em seu livro sobre a médium (Carrington, 2010),
que a maioria dos enganos de Paladino foram, provavelmente, inconscientemente provocados quando ela se encontrava em estado de
transe. Citando Carrington: “Há um forte impulso de se produzir fenômenos e, se ela não se contiver, tentará produzi-lo de maneira
perfeitamente normal. Mas se ela se controlar, produzirá fenômenos
genuínos, tal como repetidamente verificado”
Ross conclui o capítulo enfatizando mais uma vez a instância da
legitimidade de cientistas convencionais para que os dados científicos
experimentais sejam verificáveis. Ao fazer isso, ele cita o famoso “desafio de um milhão de dólares” oferecido pela fundação James
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Randi para qualquer pessoa que demonstre, sob condições adequadas de observação, a evidência de qualquer poder paranormal, sobrenatural ou poder oculto ou evento. Segundo Ross, até agora ninguém
foi capaz de ser agraciado com um prêmio por provar seus referidos
talentos no campo parapsíquico. Deixe-me observar, contudo que
o autor, com sua forte e certamente admirável determinação em
fornecer uma prova irrefutável de que os fenômenos paranormais
são reais, deposita muita confiança no desafio de James Randi, e em
particular na sinceridade de Randi quando confrontado por alguns
“desafiadores desafiantes.” Parece de fato que os opositores foram
refutados por Randi no passado com base apenas em sua rejeição,
conforme o famoso caso “vivendo da luz” de Rico Kolodzey pareceu
demonstrar.
No capítulo quarto, nós tomamos conhecimento do interesse
do autor por filosofia, que ele estudou na Universidade de Aberdeen;
interesse este que foi motivado principalmente pelo seu desejo de
adentrar as grandes questões da metafísica, como o “sentido da
vida”, “Para que estamos aqui?”, “Qual é a nossa origem?”, e obviamente, o problema da existência da “alma” e as diferentes maneiras
deste conceito poder ser entendido e explicado. Ross fala sobre
a filosofia idealista de Francis Hebert Bradley, enfatizando os limites
da linguagem e, portanto, a impossibilidade de reduzir a verdadeira
essência da realidade a “um balé de categorias inanimadas”. Ele
também compartilha com o leitor sua fascinação por grandes pensadores como Schopenhauer e Hume, apesar de sua descrença na
existência humana além do corpo físico, não porque fossem limitados, mas porque a noção de “vida após a morte”, como originalmente entendida, não podia ser analiticamente comprovada pela
razão, e, como sugere Ross, provavelmente porque eles pessoalmente não experimentassem experiências lúcidas fora do corpo.
Outro filósofo interessante do qual Ross nos fala é Charles Broad,
um excêntrico professor e doutor na Trinity College, Cambridge.
Contrário a Schopenhauer e Hume, Broad, era simpático ao parapsiquismo do ponto de vista filosófico e era conhecedor de todos os
diferentes tipos de fenômenos psíquicos. Todavia, era muito rigoroso
em suas teorias de investigação, observando, por exemplo, que
a experiência fora do corpo (EFC) não implica necessariamente na
sobrevivência da alma após a morte, como também não se pode
excluir logicamente que talvez a alma só funcione enquanto o corpo
físico ainda estiver vivo. Ross conclui o capítulo lamentado a ten-
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dência atual de os filósofos modernos cada vez mais se distanciarem
das questões metafísicas originais, tratando cada vez mais de temas
não-metafísicos, tais como a percepção e a análise linguística.
No capítulo cinco descobrimos que o autor, desde criança, era
capaz de perceber pessoas mortas, como uma senhora psicótica
post mortem, ainda vestindo trajes vitorianos, vista com extrema
clareza por ele aos três anos de idade. O capítulo continua com um
assunto interessante sobre a importância de se cultivar o “sentido
de si”, seja no sentido da “auto-identidade” destacada por Carl Jung,
ou o ato da “lembrança de si mesmo” descrita por Ouspensky, discípulo de Gurdjeff. Isso para enfatizar, mais uma vez, a importância
dos atributos de memória e auto-consciência, quando nos aventuramos pelo caminho espiritual.
O capítulo seis é dedicado à descrição de vários projetores astrais famosos, muitos dos quais Ross conheceu pessoalmente, e suas
explicações sobre alguns dos inúmeros fenômenos experimentados
relacionados à experiência fora do corpo (EFC), tais como “consciência dupla”, “apego à dimensão astral” e “guias ocultos”. Em
relação aos guias ocultos, ou amparadores, ele menciona o caráter
enigmático de Rebazar Tarz, um dos guias ocultos mais proeminentes
no chamado sistema Eckankar. Curiosamente, o personagem
recordado por ele era também conhecido pelo projetor lúcido William
Bulhman, como descrito em seu livro “Aventuras além do corpo”,
e Ross uma vez encontrou um ser extrafísico cuja aparência era
idêntica às descrições e fotos de Rebazar Tarz. Isso permite-lhe,
mais uma vez, advertir o leitor sobre as possíveis interferências do
nosso subconsciente, por meio da imaginação, na criação de coisas
ou seres que não existem necessariamente. O capítulo também
menciona outros projetores pioneiros, como Robert Monroe, Sylva
Muldoon, Vee Van Dam, Robert Bruce e Waldo Vieira. Ross também explica, até certo ponto, o famoso problema da “mudança de
prioridades” quando uma pessoa se encontra num estado projetado;
expressando sua perplexidade sobre o fato de projetores talentosos,
como Muldoon, não terem tentado qualquer experiência alvo simples
que pudesse ter revolucionado, segundo ele, toda a investigação
científica.
O capítulo sete é de natureza mais íntima. Ele descreve uma
das mais belas experiências de sua vida, relacionada à projeção
astral, embora ela tenha se originado a partir de um trágico episódio:
o suicídio de seu filho. Ross conta sobre os avisos que ele e sua
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esposa receberam antes do suicídio sob a forma de sonho simbólico
precognitivo, e das visões sobre a condição de seu filho após a morte
física. Em seguida, ele descreve em detalhes o encontro tão esperado
no astral com seu filho, facilitado pela presença de um amparador
extrafísico que o acompanhava. Um aspecto importante no texto
de Ross é que ele sempre tenta unir a força evocativa da sua narrativa ao desejo de informar e instruir o leitor sobre a multidimensionalidade. Neste caso específico, ele se questiona sobre o verdadeiro
papel dos amparadores durante nossas projeções, enfatizando que,
segundo muitos autores, seria extremamente comum que entidades
extrafísicas acompanhassem a maioria das projeções, embora essa
não seja sua percepção habitual. Ele também informa ao leitor sobre
o importante papel desempenhado pelas emoções e reações emocionais no desenvolvimento das projeções astrais. Ele pôde experimentar claramente tal fato quando se encontrou com seu filho na
dimensão extrafísica, e como as emoções fortes geradas por esse
encontro fez com ele, de repente, retornasse ao soma. Outra questão
interessante levantada por Ross neste capítulo é a visão de túnel
(um fenômeno experimentado por ele muitas vezes) e sua possível
interpretação.
As visões de túnel, também conhecidas como efeitos túnel, ou
aberturas extrafísicas, são fenômenos conhecidos na Projeciologia,
muito provavelmente causados pela experiência da passagem da
consciência de uma dimensão para outra. Ross avança com uma
possível explicação, a de que esse efeito interdimensional poderia
resultar da passagem da consciência através de um de seus chacras
específicos. Esse é um tema interessante, que certamente merece
uma análise mais aprofundada, visto que há uma literatura ocultista
bastante extensa falando tanto sobre os diferentes efeitos produzidos
pela exteriorização da consciência por todos os diferentes chacras,
quanto o estado de consciência promovido por essa exteriorização
e, consequentemente, o nível de realidade extrafísica passível de
visitação. Não é preciso dizer que este é um assunto controverso,
visto que, aparentemente, o psicossoma pode separar-se do corpo
físico de diferentes maneiras, não necessariamente relacionadas
às estruturas dos chacras. Portanto, mais pesquisas são necessárias
para elucidar o tema, especialmente em relação à fundamentação
de certas afirmações místicas e sua confrontação com o que já
é conhecido na Projeciologia sobre a “fase da decolagem”, como
explicado por Vieira, no seu livro de referência sobre o assunto
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(Vieira, 2002). Acredito que o autor esteja bem qualificado para
realizar essa investigação de maneira mais extensa, vendo o seu amplo
conhecimento da literatura ocultista sobre o assunto e suas múltiplas
experiências pessoais, tal como o fenômeno do “efeito túnel”.
O capítulo 8 é inteiramente dedicado a Jane Roberts e ao volumoso “Material Seth” ao qual ela se dedica há mais de duas décadas.
Aqui, Ross está interessado no que Seth, consciência extrafísica
manifestada que falou através de Roberts, tem a dizer sobre a experiência fora do corpo (EFC); e oferece ao leitor uma valiosa e instigante seleção de citações, em que, entre muitos outros temas,
Roberts/Seth tenta elucidar os motivos pelos quais as memórias da
experiência fora do corpo são tão difíceis de serem acessadas pelo
nosso cérebro físico e, portanto, lembradas.
O capítulo 9 é dedicado ao encontro do autor com o movimento
Ekankar e Rudolf Steiner da Sociedade Antroposófica. Aqui, o aviso
é para não cair na tentação do caminho mais fácil no que concerne
ao sistema Ekankar, e para não ser sufocado pelos ensinamentos
obscuros em relação a algumas das teorias ocultistas de Steiner.
Os capítulos 10 e 11, por outro lado, são dedicados ao trabalho de
Gurdjeff e seu discípulo Ouspensky, e o discípulo de Ouspensky,
Rodney Collin. Nele, Ross comenta inteligentemente sobre os ensinamentos instigantes dessas personalidades notáveis (embora controversas), e enfatiza mais uma vez que o progresso espiritual não é fácil,
nem acontece sem esforço pessoal, e que precisamos nos libertar
de nossos comportamentos robóticos e inconscientes para incrementar e desenvolver os nossos corpos sutis, que é o local do nosso
“eu” mais permanente. Segundo sua experiência, o problema da
falta de incremento e desenvolvimento dos nossos corpos sutis pode
ocorrer devido à dificuldade, muitas vezes observada pelos praticantes da projeção astral, em controlar amplamente o psicossoma,
como foi o caso do autor quando, pela falta de controle do corpo
emocional, não pôde estender sua visita extrafísica a seu filho.
O capítulo 12 trata do encontro de Ross com a IAC, que ele
descreve como uma das experiências mais gratificantes na sua busca
de conhecimento de tudo o que diz respeito a fenômenos da experiência fora do corpo (EFC). O capítulo é bem informativo no que
se refere às inúmeras atividades da academia e será útil para o leitor
obter informações sobre o funcionamento e a missão da instituição.
Ross descreve, entre outras coisas, sua surpresa durante a prática
da clarividência facial em sua primeira aula no Curso de Desenvol-
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vimento da Consciência em Londres; e os muitos fenômenos de psicoenergia que pôde vivenciar durante o campo no curso de imersão
ministrados pelos epicons Wagner Alegretti e Nanci Trivellato, bem
como sua inscrição em um curso de oito dias, feito sob medida para
um só participante – VIP Training – durante o qual ele pôde assistir
a um intenso trabalho de cura realizado em seu corpo por uma
equipe de amparadores extrafísicos.
O capítulo 13 é um curto diário das experiências fora do corpo,
apresentando uma seleção das projeções mais representativas do
autor, com variações de diferentes graus de lucidez, retirados de
seus cinco espessos diários, que ele começou a escrever em 1997.
O capítulo 14, por outro lado, é uma seleção de alguns dos muitos
artigos escritos por Ross ao longo dos anos, principalmente sobre
projeção astral, que constitui um bom complemento e a integração
das muitas ideias discutidas nos capítulos anteriores, embora às
vezes produza algumas inevitáveis (mas úteis) repetições.
Finalmente, com o capítulo 15 o autor conclui seu trabalho compartilhando algumas reconsiderações do fenômeno da experiência
fora do corpo (EFC). Ross, que há alguns anos foi diagnosticado
com a doença de Parkinson, interroga-se sobre o papel da falta de
dopamina no cérebro, provocada por seu distúrbio neurológico, no
desencadeamento de suas aventuras extracorpóreas. A questão
fundamental que ele aborda é de natureza dualista entre um cérebro
físico e uma mente não-física (extrafísica). Seriamão as mudanças
físicas promovidas pela ingestão de substâncias físicas ou algum
tipo de condição médica responsáveis pelas experiências fora do
corpo (EFC), ou, ao contrário, o trabalho espiritual-energético que realizamos a fim de obter essas experiências, é que seria responsável
por estas alterações na fisiologia do nosso soma, por exemplo, em
termos de uma redução da dopamina? O autor não fornece uma
resposta para esta questão fundamental, que é obviamente importante
para esclarecer muitas outras questões, especialmente em relação
à compreensão do fenômeno da experiência fora do corpo (EFC) pelos
cientistas convencionais; como a possibilidade de induzir o fenômeno
da EFC, alterando o funcionamento do cérebro, geralmente considerada por pesquisadores acadêmicos como uma “prova” de que
esse fenômeno é de caráter puramente alucinatório.
Na questão final, Ross me remete a uma pesquisa interessante
realizada em 2002 por Olaf Blanke e sua equipe (Blanke et al, 2002),
na qual vívidas experiências extracorpóreas eram facilmente
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induzidas em um paciente epilético ao estimular eletricamente a região
temporal-parietal de seu cérebro. Na seqüência de uma Revisão
do trabalho de Olaf, que foi recentemente publicado na revista “La
Recherche” (Olaf & Lopez, 2010), escrevi uma breve carta ao editor
ressaltando que, do ponto de vista lógico, a capacidade de induzir,
por qualquer meio físico, uma experiência fora do corpo (EFC), não
significa que a exteriorização da consciência tenha que ser (ou
sempre tenha que ser) um fenômeno alucinatório. Na mesma carta
eu perguntei ao autor se, durante a indução repetida do fenômeno
no seu paciente, ele já teria pensado em testar o seu caráter presumidamente alucinatório verificando se o indivíduo, quando flutuando
para cima, e olhando para baixo, visualizando seu corpo sobre a cama,
seria capaz de ver o seu “corpo extrafísico”, ou seja, um alvo que
seu corpo físico devido à sua posição não seria capaz de perceber.
Minha carta fora publicada depois (La Recherche, N. 441, Maio
2010) com uma resposta dos autores, afirmando que, embora eles
estivessem cientes de que a questão é de interesse da parapsicologia,
não teriam tentado a experiência com o objetivo de investigação de
corpos sutis, mas de estudo da epilepsia. Esta resposta, por mais
compreensível que seja, é na minha opinião um fato sintomático de
como os pesquisadores modernos relacionam o problema da “prova”
tão estimada por Ross: aparentemente, e por razões que não precisam
ser investigadas aqui, eles não estão muito interessados no assunto,
e mesmo quando estão numa posição privilegiada para realizar
facilmente um teste crítico, eles sequer pensam em fazê-lo.
Assim, à perplexidade de Ross sobre o fato de os projetores
talentosos, tal como Muldoon, não terem tentado a experiência alvo
simples que poderia ter revolucionado a pesquisa psíquica, posso
acrescentar a minha própria perplexidade sobre a falta de interesse
de cientistas convencionais (que estudam atualmente a experiência
fora do corpo (EFC) sob uma perspectiva neurocientífica) em relação às questões metafísicas fundamentais, cruciais para uma plena
compreensão da evolução humana. Vamos torcer para que o bem
escrito e bem pensado livro de Michael Ross, em conjunto com
todos os livros e artigos escritos por mais e mais projetores lúcidos
do mundo todo sobre o tema da multidimensionalidade, contribuam
para fornecer aos futuros pesquisadores um ponto de vista mais
amplo e a capacidade de fazer a pergunta certa no momento certo.
Massimiliano Sassoli de Bianchi
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Traduzido por Líssia Pinheiro
Revisado por Alba Cardoso
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