Programa de Pós-Graduação em Comunicação
Transcrição
Programa de Pós-Graduação em Comunicação
UNIVERSIDADE PAULISTA REPRESENTAÇÕES DO GÊNERO MASCULINO NA PROPAGANDA DE MODA DIRECIONADA À MULHER: REVISTA VOGUE Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Midiática da Universidade Paulista - UNIP, para obtenção do título de mestre em Comunicação. ROBERTO BALDUZZI São Paulo 2014 UNIVERSIDADE PAULISTA REPRESENTAÇÕES DO GÊNERO MASCULINO NA PROPAGANDA DE MODA DIRECIONADA À MULHER: REVISTA VOGUE Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Midiática da Universidade Paulista - UNIP, para obtenção do título de mestre em Comunicação. Orientadora: Profª. Drª. Bárbara Heller ROBERTO BALDUZZI São Paulo 2014 Balduzzi, Roberto. Representações do gênero masculino na propaganda de moda direcionada a mulher: revista vogue / Roberto Balduzzi - 2014. 119 f.: il. color. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de PósGraduação em Comunicação e Cultura Midiática da Universidade Paulista, São Paulo, 2014. Área de Concentração: Contribuições da mídia para a integração entre grupos sociais. Orientadora: Profª. Dra. Barbara Heller. 1. Revista vogue. 2. Violência de gênero. 3. Publicidade. 4. Moda. 5. Gênero do discurso. I. Título. II. Heller, Barbara (orientadora). ROBERTO BALDUZZI REPRESENTAÇÕES DO GÊNERO MASCULINO NA PROPAGANDA DE MODA DIRECIONADA À MULHER: REVISTA VOGUE (2013-2014) Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Midiática da Universidade Paulista - UNIP, para obtenção do título de mestre em Comunicação. Aprovado em: ___/__/____. BANCA EXAMINADORA ____________________________ Profª. Drª. Bárbara Heller ____________________________ Prof. Dr. Jorge Miklos ____________________________ Profª. Drª. Virginia Maria Antunes de Jesus Dedicatória Dedico este trabalho à mulher capaz de fazer um homem sorrir e ao homem capaz de fazer uma mulher sentir-se mulher. AGRADECIMENTOS Agradeço à minha orientadora Profª. Drª. Bárbara Heller, pelas manhãs deliciosas de aula e por me indicar o caminho mais seguro para a realização deste trabalho. À Profª. Drª. Janette Brunstein Gorodscy, por me fazer ordenar o antes, o primeiro e o seguir neste estudo. Aos Professores: Drª. Malena Segura Contrera, Dr. Jorge Miklos e Dr. Maurício Ribeiro da Silva, por pensarem a comunicação de um modo especial. À Profª. Drª Virgínia Maria Antunes de Jesus, por me atirar de cabeça e olhos abertos no mundo acadêmico. E aos meus pais Leda e Jorge Balduzzi, por me terem feito com carinho e muito capricho. Cos’è la vita senza l’amore? RESUMO Analisamos as peças publicitárias direcionadas à mulher e veiculadas na revista Vogue, focalizando a construção do gênero masculino, suas representações e os gêneros do discurso como construção de sentidos. Utilizamos as teorias de Pierre Bourdieu e Gilles Lipovetsky para as questões de gênero e contemporaneidade. Como metodologia, aplicamos a análise descritiva e qualitativa, verificando as proporções e seus significados, bem como a maneira que as publicidades referidas organizam as relações de poder ou o papel social desempenhado pelo gênero masculino em confronto com o feminino. Pretendemos confirmar ou rejeitar a hipótese de que a publicidade de moda dirigida pelas principais marcas internacionais e veiculadas na principal revista de moda feminina no mundo, a Revista Vogue, traz em sua mensagem um apagamento da figura masculina ou a coloca em um papel social de menor relevância. Palavras-chave: Revista Vogue. Violência de gênero. Gênero do discurso. Publicidade. Moda. ABSTRACT We analysed the advertisements addressed to the woman in Vogue magazine, focusing on the building of the male gender, its representations and speech genders as building of senses. We used the theories of Pierre Bourdieu and Gilles Lipovetsky for the gender and contemporary issues. As methodology we applied descriptive and qualified analysis, checking the proportions and their meanings, as well as the way the referred advertisements organize their power relations on the male social role against the female one. We intend to confirm or reject the hypothesis that the main international fashion brands advertisements on the world main female magazine, Vogue, brings on its message a complete fading of the male figure or its setting in a minor social role. Keywords: Vogue magazine. Gender Fashion. violence. Speech gender. Advertisement. Carta ao Leitor Antes de iniciarmos este estudo sobre comunicação, mídia, publicidade, moda e gêneros, precisamos ter claro que os gêneros não são apenas dois. Feminino e masculino são um reducionismo, são extremos de uma palheta infinita de cores. São preto e branco. Mas é nas nuances intermediárias, nos tons de cinza, nas sfumature, que reside o grosso e o mais interessante da vida. Na questão dos gêneros humanos, a combinação de hormônios, cultura e experiências pessoais é capaz de produzir uma riqueza infinita de possibilidades deliciosas. Derrotados pelo cientificismo, pelo método e, finalmente, pela ilusão do conhecimento humano, vimo-nos obrigados a trabalhar com masculino e feminino, homem e mulher, presença de pênis ou vagina. Ainda por sorte, na amostragem selecionada, nenhuma das três edições da revista Vogue trouxe uma peça publicitária que apresentasse um transexual. Se a modelo ítalo-brasileira, Lea T, fosse, por exemplo, protagonista da campanha de qualquer uma das marcas anunciantes, a polarização pênis, vagina teria a obrigação de ser repensada. Interessamo-nos pelo reducionismo da comunicação midiática e publicitária. Interessamo-nos pelo papel do homem e da mulher na sociedade capitalista como nos é apresentada desde muito cedo. Interessamo-nos por descobrir se para a publicidade veiculada na revista Vogue e direcionada prioritariamente à mulher, o menino ainda brinca com a bola e o carrinho, enquanto a menina gosta de boneca. Ao ler nosso trabalho, você poderá perceber que descobrimos que não. A menina que encontramos brinca agora com o boneco. O menino é o brinquedo dela. Cansada de apanhar dele, ao invés de pedir paz e acabar com a violência, essa mulher prefere agredir. É a vez de ela bater. Maurício de Souza nos ensinou há 50 anos que a Mônica bater no Cebolinha é divertido, a publicidade parece acreditar que vende. O contrário, o Cebolinha batendo na Mônica, como sabemos (e a Lei Maria da Penha está aí para nos lembrar), é crime. Até hoje, a publicidade em pouquíssimos momentos, apresentou-se à sociedade como um fator positivo na educação. Ela prefere e preferiu, até aqui, entender e captar o comportamento reinante, embalá-lo e devolvê-lo. Somos uma sociedade de consumo, a porta-voz mais barulhenta dessa sociedade é a publicidade. E a publicidade acredita que sua missão principal é vender. Em um mundo governado pelas grandes marcas e não pelos governos ou pelas pessoas, seria de se esperar que a função de educar, de socializar, de incluir fosse também das grandes marcas. Para Oliviero Toscani, a publicidade, em uso, esta reinante, “é um cadáver que nos sorri”. Para nós, a publicidade realizada pelas grandes marcas nos mais influentes meios de comunicação é um professor, um pai, uma mãe, adormecidos, entorpecidos, iludidos por um mundo qualquer que não aquele que desejamos. Os países mais ricos há muito terceirizaram a produção, agora terceirizam o consumo. Um enorme contingente de pessoas, de nações inteiras são, oficialmente, consumidores. Russos, brasileiros, chineses e indianos estão em todos os lugares. A classe “C” compra. E a publicidade mostra o que comprar e por quanto. Deveria ensinar o “porquê”. A grande maioria das marcas e agências acredita que o belo vende. O belo, no entanto, deve também ser vendido. Enquanto pessoa, publicitário e comunicador defendo que a integração, a educação e a beleza sejam as verdadeiras vocações da publicidade. Sócrates entendia que a Beleza também se construía na harmonia existente em todos os homens que vivessem em comunhão, numa cidade justa. Só por meio da sabedoria é que o homem tornar-se-ia virtuoso. Para Sócrates, a Beleza Ideal é a reunião dos fragmentos que compõem a Natureza e o caminho faz-se no sentido da desordem para a ordem ou do relativo para a existência plena, eterna e imutável. Para se encontrar a Beleza, temos de começar pelo conhecimento que nos leva às verdades do mundo. No pensamento de Sócrates, só por meio do conhecimento é que se chega a ver a Beleza na sua plenitude já que a Beleza é eterna e imutável e nunca será outra coisa senão a Beleza, que é absoluta e única. A Beleza por si só, não é o corpo e não se encontra no Sensível (mundo por nós interpretado através dos cinco sentidos), mas apesar disso, é através dos sentidos que nos podemos aproximar da Beleza. (Filosofia tintim por tintim - online- 2014) Que a publicidade torne pública a beleza. A grande beleza. E que as marcas, para continuar a vender, sejam suas patrocinadoras. Mas este já é o tema de um próximo trabalho. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12 1. HIPERMODERNIDADE E GÊNEROS ................................................................. 16 2. A EDIÇÃO AMERICANA DE JUNHO DE 2013 DA REVISTA VOGUE ............... 21 3. A EDIÇÃO ITALIANA DE MAIO DE 2013 DA REVISTA VOGUE ....................... 64 4. A EDIÇÃO DE FEVEREIRO DE 2014 DA VOGUE BRASIL ................................ 84 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 103 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 108 ANEXOS ................................................................................................................. 114 12 INTRODUÇÃO Este trabalho estuda as representações do gênero masculino nas publicidades veiculadas em três edições da revista Vogue no mundo: a edição norteamericana de junho de 2013, a edição italiana de maio de 2013 e a edição brasileira de fevereiro de 2014. A revista Vogue é a revista de moda feminina mais importante e conceituada do mundo. Nascida nos Estados Unidos da América ao final do século XIX, é hoje publicada em 21 países pela Condè Nast Publications em edições mensais. Nenhuma outra revista de moda é publicada em tantos países ou atinge um número tão representativo de leitoras. (Vide anexo 3). Contando com modelos e fotógrafos renomados, a revista apresenta as tendências da moda feminina e os trabalhos de diversos estilistas pelo mundo. Escolhemos, dentro dos anos de 2013 e 2014, uma única edição da revista por país selecionado, tabulamos e analisamos a mensagem publicitária das peças veiculadas, procurando estabelecer como elas representam o gênero masculino. A escolha dos países de publicação se deu pelos motivos que se seguem: Estados Unidos da América, por ser o país de nascimento da revista, sua sede e por sua relevância no mercado da moda, mercado publicitário e influenciador internacional em comportamento; Brasil, por ser o país onde se desenvolve o presente estudo e por sua recente relevância no mercado da moda; Itália, para que tenhamos um representante europeu entre os países que completam o grupo dos quatro mais importantes no circuito da moda no ocidente ao lado dos EUA, França e Inglaterra, além de contar com diversas marcas e estilistas renomados. A escolha dos meses das respectivas edições deu-se pela casualidade temporal do estudo. Com o objetivo de realizarmos um recorte, o mais atual possível das mensagens veiculadas nas publicidades, fomos selecionando os últimos exemplares disponíveis na época em que se redigia este trabalho. Assim, a última edição analisada foi exatamente a brasileira, no mês de fechamento deste trabalho, fevereiro de 2014. Todas as peças publicitárias de página inteira ou página dupla, das três edições, foram analisadas. 13 Tabulamos as proporções em que o gênero masculino aparece ou é mencionado, analisamos o discurso verbal e não verbal no que se refere à representação do homem, procuramos compreender os sentidos produzidos, discutimos se os elementos verbais e não verbais presentes nas peças publicitárias veiculadas reforçam estereótipos, enaltecem ou apagam o gênero masculino. A revista Vogue, também por meio de sua publicidade que chega a compor em algumas edições até metade de seu conteúdo, comunica-se com mulheres ao redor do mundo. As mensagens por ela divulgadas, seja em editoriais, matérias ou anúncios publicitários, encontrarão como receptoras essas mesmas mulheres, gerando reflexões e possível aceitação do discurso proposto. É enquanto instrumentos estruturados e estruturantes de comunicação e de conhecimento que os sistemas simbólicos cumprem a sua função política de instrumentos de imposição ou de legitimação da dominação, que contribuem para assegurar a dominação de uma classe sobre outra (violência simbólica) dando reforço da sua própria força às relações de força que as fundamentam e contribuindo assim, segundo a expressão de Weber, para a ‘domesticação dos dominados'. (BOURDIEU, 2002, p.11). Estudamos as representações do gênero masculino dentro desse tipo de comunicação, em que proporção aparecem, como são referidas e a hierarquia de gêneros proposta, com o objetivo de auxiliar na compreensão das representações de homem no imaginário das principais agências publicitárias e suas marcas clientes. Nossa pesquisa pretende ainda contribuir para os estudos publicitários, em geral, bem como para os estudos de gêneros, com informações de um nicho específico, mas fundamental dentro da sociedade de consumo e da comunicação em geral; o sedutor mundo da moda. Nossa hipótese é a de que a publicidade de moda, veiculada na principal revista de moda feminina no mundo, promova o apagamento da figura masculina ou a coloque em papel social secundário ou inferior ao da mulher. Se confirmada tal hipótese, as relações de poder se inverteriam, conferindo, dessa forma, à publicidade de moda direcionada à mulher um caráter contra hegemônico, se não, premonitório. 14 Utilizamos como referencial teórico de nosso estudo autores que trabalham com imagens e textos na comunicação, bem como estudiosos dos papéis representados pelos gêneros na sociedade e suas relações de poder. Dentre os autores pesquisados se destacam: Pierre Bourdieu em A dominação masculina, Gilles Lypovetski em A 3ª mulher; Dulcília S.Buitoni em Mulheres de Papel e Joan Scott em Gênero: Uma categoria útil para análise histórica. Podemos ainda citar: John L. Scotson em Os estabelecidos e os outsiders, C. Melman em O Homem sem gravidade – gozar a qualquer preço, bem como A. F. Pieruci com seu texto O desencantamento do mundo. Todo o referencial nos auxiliou a verificar a relevância dos diversos elementos imagéticos e textuais nas peças publicitárias, bem como entender sua narrativa simbólica. Assim, pudemos analisar qualitativamente o conteúdo do texto visual nas publicidades em que o gênero masculino está, de alguma forma, presente, conseguimos verificar a quantidade de peças publicitárias, seus respectivos patrocinadores, o número de vezes em que a figura masculina aparece em imagem, texto ou fica ainda referida, mesmo se ausente. Analisamos essas proporções e seus significados, bem como a maneira que as publicidades referidas organizam as relações de poder ou o papel social desempenhado pelo gênero masculino em confronto com o feminino. Utilizando os referenciais teóricos citados anteriormente, pretendemos confirmar ou rejeitar a hipótese apresentada e aqui repetida: a de que a publicidade de moda dirigida pelas principais marcas internacionais e veiculadas na principal revista de moda feminina no mundo, a Revista Vogue, traz em sua mensagem um apagamento da figura masculina ou a coloca em um papel social de menor relevância. 15 Busquei sentidos. Toda busca de sentido envolve interpretações, pontos de vista. Procurar os contornos da imagem da mulher na imprensa feminina brasileira é, antes de mais nada, uma leitura pessoal de uma série de elementos encadeados. A linguagem não serve só para relatar ou descrever. A linguagem diz as coisas. E a imprensa feminina, sendo linguagem, diz a mulher. Ela produz formas, configurações que não aparecem à primeira vista. Procurei a mulher sendo dita nas seções de moda, reportagens, artigos, perfis, comentários. Houve seleção e decifração, para depois chegar ao desvendamento e a crítica. Mulheres de Papel – Dulcília S.Buitoni 16 1. HIPERMODERNIDADE E GÊNEROS A revista Vogue é um produto da cultura de massa direcionado , prioritariamente, ao público feminino. Ao estudarmos as representações do gênero masculino nela veiculados devemos ter claro o momento histórico em que vivemos, os paradigmas de comportamento e as intenções de uma sociedade de consumo da qual fazemos parte. Assim, as mensagens diversas veiculadas na revista em suas várias formas, inclusive a publicitária, serão construídas de acordo com as relações humanas vigentes. As relações entre os gêneros e suas transformações serão também, e portanto, autoras e obras dessas mensagens. Pierre Bourdieu fala, ao ceder entrevista à Folha de S. Paulo, em 07 de fevereiro de 1999: [...] A análise critica do papel da televisão é um elemento capital da luta contra a imposição da visão dominante do mundo social e do seu devir. O mais importante consiste na influência que a televisão exerce sobre a totalidade do jornalismo e através dele, sobre o conjunto da produção cultural. A lógica do comércio, simbolizada pelos índices de audiência, do sucesso comercial, da venda e do marketing, como meio específico para atingir esses fins puramente temporais, impôs-se em primeiro lugar ao campo filosófico, com os “novos filósofos”, e ao campo literário com os grandes best sellers internacionais e o que Pascale Casanova chamou de world fiction, ou seja, em especial os romances acadêmicos à David Lodge ou Umberto Eco; mas ela atingiu também o campo jurídico; com os processos sensacionalistas arbitrados pela mídia, e no próprio campo científico, com a intrusão da notoriedade jornalística na avaliação dos cientistas e das suas obras. [...] Bourdieu lembra-nos, também, do poder da mídia enquanto formadora e divulgadora de hábitos os mais diversos. Na elaboração de qualquer discurso existirá sempre uma opção, uma escolha. A publicidade da revista Vogue pretende vender. Assim, formula um discurso que acredita comprável pela mulher. A sociedade pós-moderna exige consumo. 17 O filósofo francês Gilles Lipovetsky, em seu Tempos hipermodernos assim descreve o pós-modernismo: Rápida expansão do consumo e da comunicação de massa; enfraquecimento das normas autoritárias e disciplinares; surto de individualização; consagração do hedonismo e do psicologismo; perda da fé no futuro revolucionário; descontentamento com as paixões políticas e as militâncias... (Lipovetsky, 2004, p. 01) E propõe, ainda, que pensemos as consequências dessas relações: A mitologia da ruptura radical foi substituída pela cultura do mais rápido e do sempre mais; mais rentabilidade, mais desempenho, mais flexibilidade, mais inovação. Resta saber se, na realidade, isso não significa modernização cega, niilismo técnico mercantil, processo que transforma a vida em algo sem propósito e sem sentido. (Lipovetsky, 2004, p. 03) Para garantir um ritmo frenético de consumo, é preciso agir sobre o comportamento, reforçar como positivos, vencedores, aqueles que privilegiem o individualismo, a velocidade, a superficialidade, o desejar tudo para não se apegar a nada. Enquanto o princípio-moda “tudo o que é novo apraz” se impõe como rei, a neofilia se afirma como paixão cotidiana e geral. Instalaram-se sociedades reestruturadas pela lógica e pela própria temporalidade da moda; em outras palavras, um presente que substitui as ações coletivas pelas felicidades privadas, a tradição pelo movimento, as esperanças do futuro pelo êxtase do presente sempre novo. Nasce toda uma cultura hedonista e psicologista que incita a satisfação imediata das necessidades, estimula a urgência dos prazeres, enaltece o florescimento pessoal, coloca no pedestal o paraíso do bem estar, do conforto e do lazer. Consumir sem esperar, viajar, divertir-se; não renunciar a nada: as políticas do futuro radiante foram sucedidas pelo consumo como promessa de um futuro eufórico. (Lipovetsky, 2004, p. 05) É preciso padronizar o comportamento, mas sob o discurso da diferenciação. Os gêneros, as fases de amadurecimento: infância, adolescência, juventude, maturidade, velhice, as culturas locais, tudo deve desaparecer enquanto único para se tornar universal. Só assim todo e cada indivíduo poderá consumir tudo. O homem, objetizado, deve cuidar da aparência, como faz a mulher. Consumindo a mesma quantidade de cosméticos, produtos de higiene, de moda. Infantilizado, deve jogar o mesmo vídeo game de seu filho. A mulher, independente, autônoma, deve morar sozinha, ter seu carro, exercitar-se para atingir padrões estéticos masculinos. A criança precisa sexualizar-se, o idoso ser ativo, todos devem sensualizar, agir, comprar. Produtos, festas, tradições locais capazes de 18 incentivar consumo são glamourizadas e se tornam desejos de todos. As incapazes morrem. O paradoxo se torna ainda mais complicado à medida que exige tudo de todos. Então, masculino e feminino assumem papeis avessos e similares. Os papéis, anteriormente pré-determinados e fixos, são agora mutáveis de acordo com o que a situação exija. Segundo Bourdieu (1999, p. 84), [...] tal mudança, entretanto, encontra dificuldades, porque o acesso ao poder pelas mulheres não é fácil, pois seja ele qual for, coloca as mulheres em situação de double bind: se atuam como homens, elas se expõem a perder os atributos obrigatórios da ‘feminilidade’ e põem em questão o direito natural dos homens às posições de poder; se elas agem como mulheres, parecem incapazes e inadaptadas à situação. É o que Melman define como ‘psicose social’. Diferente do que ocorria anteriormente: “Quando você se fizesse reconhecer por um certo número de qualidades, sua ‘passagem’ para um certo estatuto era admitida e definitiva”. (MELMAN, 2003, p. 172) . As características não pertencem mais aos gêneros, mas à situação. O ambiente profissional exige uma atitude, o bar outra, a universidade, a praia, a intimidade. Há apenas décadas, o discurso direcionado à mulher era o de agradar ao homem. Os papéis estavam estabelecidos e os códigos de conduta eram bastante claros. O discurso midiático atual parece querer apagar todo o histórico da dominação masculina através de uma supercorreção. A mulher deve ocupar o lugar de dominadora e o homem resignar-se ao de dominado para que isso ocorra. [...] O efeito da dominação simbólica (seja ela de etnia, de gênero, de cultura, de língua etc) se exerce não na lógica pura das consciências cognoscentes, mas através dos esquemas de percepção, de avaliação e de ação que são constitutivos dos ‘habitus’ e que fundamentam, aquém das decisões da consciência e dos controles da vontade, uma relação de conhecimento profundamente obscura a ela mesma. Assim a lógica paradoxal da dominação masculina e da submissão feminina, que se pode dizer ser, ao mesmo tempo e sem contradição, espontânea e extorquida, só pode ser compreendida se nos mantivermos atentos aos efeitos duradouros que a ordem social exerce sobre as mulheres (e os homens), ou seja, às 19 disposições espontaneamente harmonizadas com esta ordem que as impõem. [...] (BOURDIEU, 2002, p. 49-50). Bourdieu imaginava a dominação de maneira unilateral. No entanto, essa mulher vai além do que fizeram os porcos no livro A Revolução dos Bichos de George Orwell. Quando por vezes, em lugar de simplesmente substituir e mimetizar o comportamento humano, ela opta por administrar a fazenda dominando o próprio homem, sem sequer eliminá-lo. A cultura parece sofrer dos mesmos sintomas. O regional precisa ser internacionalizado e o universal deve invadir a região. O marketing aponta para a tendência de que tudo deve ser ‘glocal’, global e local, simultaneamente. “De um lado, a mídia eletrônica e informática possibilitam a informação e os intercâmbios em ‘tempo real’, criando uma sensação de simultaneidade e de imediatez que desvaloriza sempre mais as formas de espera e de lentidão.”. (LIPOVETSKY, 2004, p. 05). A arquitetura propõe as mesmas soluções em massa. Nos lançamentos imobiliários, o apartamento decorado ensina onde sentar, onde comer, dormir, como viver. A família ideal deve ter dois filhos, preferencialmente um casal, e não deve se manter unida por muito tempo, só enquanto a felicidade não precisar ser negociada e for “absoluta”. Tudo vem em série, inclusive a customização. O contramovimento aparece na forma da revalorização do artesanal, do brechó, do sob medida, do orgânico. Tudo isso elevado a um status de nobreza e preços igualmente nobres. E o contramovimento se torna de novo consumo, movimento. Para Lipovetzky (2004, p. 6) "Viveu-se certa despreocupação com o futuro, mas agora é na insegurança que cada vez mais, vive-se o presente. O autor ainda afirma que "Os mais jovens temem não achar lugar no universo do trabalho; os mais velhos, perder definitivamente o deles". (ibidem, p.9). Dessa maneira, de acordo com o filosófo: No universo da pressa, dizem, o vínculo humano é substituído pela rapidez; a qualidade de vida, pela eficiência; a fruição livre de normas e de cobranças, pelo frenesi. Foram-se a ociosidade, a contemplação, o 20 relaxamento voluptuoso: o que importa é a auto superação, a vida em fluxo nervoso, os prazeres abstratos da onipotência proporcionados pelas intensidades aceleradas. Enquanto as relações reais de proximidade cedem lugar aos intercâmbios virtuais, organiza-se uma cultura de hiperatividade caracterizada pela busca de mais desempenho, sem concretude e sem sensorialidade, pouco a pouco dando cabo dos fins hedonistas. (LIPOVETSKY, 2004, p12). A sociedade se distancia do humano. Comer, dormir, copular e se movimentar vão sendo terceirizados e ficam cada vez mais a cargo do virtual, do tecnológico. Para comer é sempre mais necessário o industrial, o suplemento energético, a vitamina sintetizada, a receita pronta, as drogas para abrir ou fechar o apetite; para dormir, o relaxamento induzido pela droga, para "transar" o produto de sex shop, as aulas de sexo em suas diversas formas, o Viagra; para se exercitar, a academia, o programa, o super tênis, a ingestão de hormônios. A sociedade moderna é a sociedade das drogas, legais e ilegais. Assim, a época ultra-moderna vê desenvolver-se o domínio técnico sobre o espaço-tempo, mas declinarem as forças interiores do indivíduo. Quanto menos as normas coletivas nos regem nos detalhes, mais o indivíduo se mostra tendencialmente fraco e desestabilizado. Quanto mais o indivíduo é socialmente cambiante, mais surgem manifestações de esgotamento e “panes” subjetivas. Quanto mais ele quer viver intensamente e livremente, mais acumulamos sinais do peso de viver. (LIPOVETSKY, 2004, p.14) Esse é o retrato de nosso momento. É nesse universo que se insere a revista Vogue e sua publicidade. É onde homens, mulheres e suas muitas variações, interagem e atuam. E é onde também se encontra a leitora - e os eventuais leitores da revista Vogue e da publicidade nela veiculada. 21 2. A EDIÇÃO AMERICANA DE JUNHO DE 2013 DA REVISTA VOGUE Figura 1 – Capa da edição americana da Revista Vogue de junho de 2013 1 A edição americana do mês de junho do ano de 2013 da revista Vogue tem, considerada a capa, exatas 232 páginas, das quais 226 são numeradas. 1 Todas as imagens foram fotografadas dos originais das revistas pelo autor. 22 Desse total, 105 são integralmente espaços publicitários, o que significa que 45% da revista são constituídos por publicidade. Existem, ainda eventualmente, espaços menores de outras páginas também dedicados à publicidade. Não será um exagero dizermos, portanto, (uma vez que este não é um estudo de escopo matemático, mas de comunicação), que metade da informação oferecida pela editora a seus leitores são publicidades diversas. As leitoras - e eventuais leitores - pagaram pelo exemplar americano: US$ 4,99 para receberem informações do mundo da moda. Essas páginas inteiras dedicadas à publicidade fornecem informações relevantes para esta pesquisa: quais produtos, marcas e, principalmente, em que proporção aparece a figura masculina e qual o papel desempenhado pela mesma. Chanel A segunda, terceira, quarta e quinta páginas foram ocupadas pela marca de moda francesa Chanel. Com duas publicidades sequenciais de página dupla e linguagem muito semelhante entre elas, encontramos as imagens que seguem: 23 Figura 2 – A atriz Tilda Swinton veste Chanel2 O fundo da imagem, em tons de marrom escuro, destaca a modelo (a atriz Tilda Swinton, vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante por sua atuação em Michael Clayton) sentada e em roupas de cor areia, ocupando, assim, a maior parte da página à direita, deixando para a página à esquerda a logo da Chanel e informações como o endereço do site e registro de marca. O fundo figurativo revela uma situação histórica medieval ou renascentista, fazendo referência a uma época de reis, rainhas, príncipes e princesas. O caráter artístico da imagem de fundo, suas cores e a própria cena representada conferem um caráter elegante e luxuoso a toda a peça. A modelo andrógina assume uma posição de corpo delicada. Sentada, olhando diretamente para o leitor, tem uma perna cruzada deixando o joelho alto e um braço que segura seu próprio pescoço, em uma postura que indica descanso. Seus cabelos loiros estão cortados curtos, remetendo a um corte masculino e suas 2 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013, págs. 2 e 3. 24 roupas Chanel têm referência estética e de corte nas roupas de antigos príncipes, o que explica a utilização das imagens selecionadas para o painel de fundo. É o feminino que assume o papel do masculino. A menina é o príncipe e não a princesa. Se o passado histórico trazia restrições ao comportamento da mulher, que não podia ir à guerra, tendo que se travestir de homem e permitia ao homem muito mais, hoje a mulher pode o que quiser, inclusive ser príncipe. O descanso assumido pela modelo talvez insinue que a conquista de igualdade entre os gêneros já tenha acontecido, ficando reservados à história privilégios sociais ao gênero masculino. No entanto, é interessante notar que isso se fez por meio da imitação, da mimese da representação do masculino em outros tempos. Segundo Bourdieu (1999, p. 84), tal mudança, entretanto, encontra dificuldades, porque o acesso ao poder pelas mulheres não é fácil, pois seja ele qual for, coloca as mulheres em situação de double bind: se atuam como homens, elas se expõem a perder os atributos obrigatórios da ‘feminilidade’ e põem em questão o direito natural dos homens às posições de poder; se elas agem como mulheres, parecem incapazes e inadaptadas à situação. A Chanel apresenta uma nova condição da mulher, não prevista na afirmação de Bourdieu. E consegue transmitir elegância, atitude e conquistas do feminino nessa peça. 25 Figura 3 – A atriz Tilda Swinton com outro modelo Chanel3 Essa imagem, à semelhança da anterior, tem um painel de fundo em tons escuros com uma cena que representa uma provável caça à raposa. O período histórico representado também é o mesmo, conferindo às peças coesão, coerência e continuidade de raciocínio. A primeira página novamente traz a logo Chanel e informações sobre o site e registro de marca. Na página à direita, encontramos de novo a modelo, desta vez de pé, com um sobretudo escuro, quase mimetizada ao fundo, não fossem seus cabelos loiros e os acessórios que leva ao ombro e mãos. Mais uma vez, trata-se do feminino assumindo o lugar do masculino. O corte de cabelo é masculino como na imagem anterior e a escolha do sobretudo de cor sóbria indica um possível membro da guarda do mesmo período histórico 3 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013, págs. 4 e 5. 26 representado no painel. Sua arma é substituída por uma bolsa Chanel e o acessório no ombro, com delicadeza, remete a uma corrente ou parte de um traje de combate medieval. A Chanel nos oferece o mesmo tema em uma segunda representação, apresentando outra peça do vestuário masculino, que teria migrado ao feminino, e outra atitude de menino, que teria migrado na mesma direção. É importante destacar que o olhar e gestual da modelo mantêm muito mais de feminilidade, deixando para os acessórios e outros elementos superficiais as características masculinas. Miu Miu A propaganda de óculos não faz qualquer referência ao masculino. Estee Lauder A propaganda de reparador para os olhos não faz qualquer referência ao masculino. 27 Dolce e Gabbana Figura 4 – A atriz Monica Belluci e a modelo Bianca Balti4 A propaganda de página dupla da marca italiana Dolce e Gabbana apresenta a atriz italiana Monica Bellucci e a modelo italiana Bianca Balti em primeiro plano e ocupando o centro da peça publicitária. O rosto de Monica, maduro, apresenta-se ao espectador com um olhar que se dirige diretamente a ele, enquanto Bianca parece perder seu olhar em algo que se encontra à direita do leitor. Ao fundo o mar, uma praia e rochas desfocadas servem de cenário para emoldurar o rosto das duas protagonistas, enquanto figuras masculinas aparecem como figurantes atrás delas. À direita na imagem, os meninos são pouco mais que 4 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 28 crianças que mal aparecem, enquanto, à esquerda, temos um meio tronco e rosto de um rapaz. O discurso se baseia na beleza e alegria das mulheres que, com expressões tranquilas, parecem felizes e completas em suas belezas. A diferença de idade entre elas é notória, entretanto, irrelevante. A alegria de uma e outra, talvez exatamente por não dependerem do julgamento masculino, dão a impressão de bastarem a si próprias. Os homens fazem figuração e estão posicionados atrás delas como parte de uma natureza que hospeda o feminino e possibilita que esse reine em um lugar de verão. Lancôme A propaganda de um creme para pele não faz qualquer referência ao masculino. 29 Chanel Figura 5 – Os óculos da Chanel 5 A Chanel aparece novamente nessa edição da Vogue, agora com um anúncio de página dupla de óculos. O rosto da modelo ocupa praticamente toda a segunda página do anúncio, deixando para a primeira página a logo da marca e pouco mais que um fragmento de seu ombro. Com ombros nus e a alça de um top aparecendo, a modelo endossa uma gargantilha de couro e metal que faz referência a uma coleira. Utiliza ainda um quepe com viseira transparente e ornamentado com uma flor artificial enorme, que nos remete a um provável marinheiro de duvidosa sexualidade. Veste ainda uns óculos Chanel. 5 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 30 Existe aí uma aproximação com uma tribo de homossexuais norteamericanos, que utiliza o couro, o quepe e até a coleira em sua indumentária. Como o policial do grupo musical Village People. No entanto, a flor enorme e em destaque no quepe da modelo parece querer deixar claro que se trata de um corpo de mulher com toda a exuberância de sua genitália oferecida e desabrochada. Há referência, também aqui, à prática sexual sadomasoquista que se utiliza dos mesmos ícones em sua representação e jogos sexuais. O olhar firme da modelo, mesmo por trás dos óculos, não deixa dúvidas de que aqui não se trata de uma submissa, mas muito mais de uma controladora. A coleira ganha uma inversão em seu papel, uma vez que não é controlada por ninguém que não ela mesma, o quepe garante sua autoridade e a flor desabrochada, símbolo de seu órgão sexual torna-se um ícone de poder. [...] O efeito da dominação simbólica (seja ela de etnia, de gênero, de cultura, de língua etc) se exerce não na lógica pura das consciências cognoscentes, mas através dos esquemas de percepção, de avaliação e de ação que são constitutivos dos ‘habitus’ e que fundamentam, aquém das decisões da consciência e dos controles da vontade, uma relação de conhecimento profundamente obscura a ela mesma. Assim a lógica paradoxal da dominação masculina e da submissão feminina, que se pode dizer ser, ao mesmo tempo e sem contradição, espontânea e extorquida, só pode ser compreendida se nos mantivermos atentos aos efeitos duradouros que a ordem social exerce sobre as mulheres (e os homens), ou seja, às disposições espontaneamente harmonizadas com esta ordem que as impõem. [...] (BOURDIEU, 2002, p. 49-50). A peça toda em preto e branco parece pretender trazer os diversos tons de cinza e o claro escuro, tão utilizados na arte como elementos de riqueza psicológica, onde muitas das nuances da sexualidade podem encontrar seu espaço, mas com o domínio hierárquico do feminino. 31 Dolce e Gabbana Figura 6 – Monica Belluci 6 A atriz Monica Bellucci aparece novamente nessa publicidade de maquiagem da marca Dolce e Gabbana. Ocupando, desta vez, a quase totalidade da primeira página, aposta-se em seus atributos físicos e no testemunho da atriz, querida pelo público e bem-sucedida em sua carreira, para vender a linha de maquiagem que leva seu nome. O fundo desfocado apresenta cores claras e parte de uma parede e janelas, enfeitados por galhos de um limoeiro e flores típicos da região da Sicilia, ao sul da Itália. Terra de nascimento dos estilistas da marca, Domenico Dolce e Stefano Gabbana, também terra de origem da atriz, dando credibilidade ainda maior ao título: “True Monica”. (A Monica de verdade) 6 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 32 O título se completa com “Lips and Eyes” (lábios e olhos), fazendo referência ao lápis e às sombras para olhos e batom anunciados. A mensagem, no entanto, tem um reforço de argumentação no batom aberto de ponta vermelha e em pé. Único referimento ao masculino que aparece, sem dúvida, em aprovação à beleza e qualidades de Mônica. Apesar de sutil, trata-se de um detalhe importante e é a primeira vez que o masculino aparece nesta edição da Vogue, mesmo que secundariamente, para avalizar a beleza do feminino. Marc Jacobs Figura 7 – Modelo veste Marc Jacobs7 A peça da marca do estilista Marc Jacobs apresenta uma modelo deitada e abraçada a uma bicicleta. Uma atitude moleca, reforçada por um corte de cabelos 7 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 33 curto, mas ainda assim femininos, e pelo deslocamento dos óculos à ponta do nariz de uma maneira bastante infantil e desleixada. A modelo praticamente esconde qualquer curva que seu corpo possa apresentar atrás da roupa zebrada que utiliza. Não há o interesse em seduzir quem quer que seja. E as suas curvas, sua pose e atitude deixam claro que ela não precisa da aprovação de quem quer que seja. Aqui, O masculino não é apenas omitido; nesta imagem, é como se existisse um desprezo a um possível julgamento. Venha este de onde vier. Clinique Não há qualquer referência ao masculino na propaganda desse creme da Clinique para a pele. L’Oeal Não há qualquer referência ao masculino no bronzeador anunciado pela L’Oreal. Omega O anúncio de relógio feminino da Omega não faz qualquer referência ao masculino. M.A.C. A marca de maquiagem anuncia seus produtos sem qualquer referência ao masculino. 34 Yves Saint- Laurent Figura 8 – Anúncio do perfume masculino de Yves Saint-Laurent8 8 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 35 O anúncio de página simples do perfume masculino L’homme, da marca Yves Saint-Laurent, traz a imagem em preto e branco do rosto de um modelo masculino com a barba por fazer. O público da revista é, predominantemente, feminino e o anúncio está aqui muito mais para conversar com a mulher do que com os homens. O consumidor homossexual, segundo público de interesse da revista e da peça publicitária também, é impactado com a mensagem que pouco nos fala. Ela utiliza o apelo da beleza masculina, como argumento de sinestesia, para remeter ao provável bom cheiro do perfume. Buscando na memória olfativa da mulher uma boa experiência que reafirme as qualidades do perfume. Tiffany & Co. A publicidade não faz referência ao masculino. Fekkai A publicidade de shampoo e produtos para o cabelo não faz referência ao masculino. 36 Macy’s Figura 9 – Anúncio da Macy’s faz referência aos ícones americanos9 A loja de departamentos americana Macy’s, em seu anúncio de página dupla, traz o título: “American Icons a celebration of people, places and things we love”, ou o equivalente em português a: “Icones americanos, uma celebração a pessoas, lugares e coisas que amamos.” E nos oferece um mosaico de imagens que seriam uma coleção desses ícones amados pelo povo americano. São vinte fotos de situações diversas e em duas delas notamos a presença masculina. A própria proporção, apenas 10% das imagens com referência ao elemento masculino, já nos diz muito do papel de importância que o masculino representa na 9 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 37 mensagem. Assim, apenas uma (em cada dez coisas amadas pelas mulheres) teria relação com homens. Além disso, em uma das imagens onde o homem aparece, a foto é em preto e branco e o casal, representado em um quase beijo, está trajando roupas que fazem referência à década de 60, como se esse par romântico tivesse lugar no passado. Uma fábula de outros tempos, talvez. Na segunda das imagens em que o homem aparece, temos o rapaz em uma foto quase 3x4, de camisa cinza, óculos azuis e um topete estilo anos 60. A menina de óculos e batom vermelhos encontra-se atrás dele com a cabeça sobre a sua, sinalizando paz com as duas mãos. No entanto, essa posição comunica, também, se quisermos ler, um par de chifres conferidos ao rapaz. É importante, ainda, observar o texto que convida a mulher a clicar na página da marca, na internet, com o apelo de que ali encontrará os responsáveis por todos poderem sentir-se orgulhosos em viver na terra da liberdade e casa dos bravos. Todos esses feitos: automóveis clássicos, tortas de maçã, designers legendários e locais parecem pertencer ao universo feminino, com pouca ou nenhuma participação masculina. O jeito americano, segundo nos propõe a Macy’s, é obra, quase em sua totalidade, das meninas. Chanel O anúncio de maquiagem da Chanel não traz qualquer referência ao elemento masculino. Dolce e Gabbana O anúncio do perfume feminino da marca italiana Dolce e Gabbana não faz qualquer referência ao masculino. Excluindo-se, talvez, o nome: Desire (desejo em português), que nos remete ao sexo e a uma possível, mas não obrigatória, participação do elemento masculino no imaginário implícito à comunicação. 38 Macy’s A loja de departamentos volta com novo mosaico de imagens, desta vez, apresentando sua nova coleção. Sete imagens de modelos trajando a nova coleção são apresentadas em anúncio de página dupla, em um formato quase que de catálogo. E, absolutamente, como até é comum em um catálogo de moda para mulheres, sem nenhuma menção ao masculino. Olay A marca de maquiagem e creme regenerador não faz nenhuma menção ao masculino. Dior O anúncio de óculos da marca francesa Dior não faz qualquer menção ao masculino. Bulgari O anúncio de página dupla da marca italiana Bulgari não faz qualquer menção ao masculino. Pantene O anúncio de produtos para os cabelos da Pantene não faz qualquer referência ao masculino. Louis Vuitton O anúncio de bolsas da marca francesa Louis Vuitton não faz qualquer referência ao masculino. 39 Giorgio Armani Figura 10 – Anúncio de perfume masculino Armani10 O anúncio de perfume masculino Armani code nos apresenta o rosto em close de um modelo com uma mulher que parece sussurrar ao seu ouvido ou, talvez, beijá-lo. A mensagem comunicada pela marca seria, portanto, a da aprovação da mulher em relação ao homem que utiliza o perfume, devido à proximidade e à atenção dela em relação a ele. O título: “the code of seduction for men”, em português, “o código da sedução para homens”, vem legendar a imagem. Se o homem quiser a admiração da mulher, se a quiser seduzir, deverá utilizar o produto. Rolex O anúncio da marca de relógio não faz referência ao masculino. 10 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 40 L' Oreal O anúncio de produtos para cabelos cacheados da L’Oreal traz-nos uma modelo negra, que ocupa meia página e divide a cena com o produto e seus atributos dispostos na outra metade. O elemento masculino aparece timidamente na base do anúncio embaixo, na forma do testemunho do consultor de estilos da L’Oreal, Johnny Lavoy, e apenas para reforçar elementos técnicos do desempenho do produto. Sua foto em tamanho bastante pequeno, vem acompanhada dos dizeres: “A fórmula do EverCurl é suave, hidratante e livre de sulfatos. Respeita seus cachos únicos, deixando-os primaveris, leves, brilhantes e definidos.” Trata-se, portanto, da posição de um profissional que, devido a seu cargo, teria autoridade para falar sobre o produto. H&M O anúncio de página dupla da H&M não faz qualquer referência ao masculino. Clarins O anúncio do produto anti-idade não faz referência ao masculino. Michael Kors O anúncio de óculos e relógios da marca Michael Kors não faz qualquer referência ao masculino. 41 Giorgio Armani Figura 11 – Anúncio do perfume masculino Essenza 11 O anúncio do perfume masculino Essenza Acqua di Giò traz um modelo homem ocupando toda a página em imagem preto e branca. Ele encontra-se sem roupa da cintura para cima, segurando e olhando para seu braço direito em uma alusão à maneira como estaria olhando e manuseando seu pênis. Duas pequenas gotas escorrem de seu braço, em uma atitude que poderia, facilmente, já no primeiro nível de leitura ser comparada com masturbação. O anúncio do perfume masculino veiculado para o público da revista Vogue parece querer lembrar o homem enquanto ser viril, belo e sexual. A página detrás do anúncio traz, mais uma vez, a embalagem e a possibilidade de se sentir o cheiro do perfume, devido à manipulação da mídia 11 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 42 utilizada. O elemento multissensorial reforçaria a proximidade do leitor com as sensações físicas. H.Stern O anúncio da marca de joias não faz qualquer referência ao masculino. Olay O anúncio de creme regenerador não faz referência ao masculino. Vidal Sassoon O anúncio de tintura para cabelos não faz referência ao masculino. Vidal Sassoon O anúncio sequencial da marca de produtos para o cabelo tampouco faz referência ao masculino. 43 Ford Figura 12 – Anúncio do Ford Focus12 Não apenas inexiste referência ao masculino, como a publicidade se dirige à mulher diretamente, com um discurso que parece ignorar a própria existência do homem. Notável para um produto tão representativo no imaginário masculino. O curioso anúncio do Ford Focus apresenta o carro em uma cor azul forte, em um fundo de tom amarelo. O título se utiliza de uma expressão para oferecer manicure ou pedicure: “Mani or pedi?”, equivalente em português a: “Mãos ou pés?”. A cor do carro, em contraposição ao fundo, estaria fazendo menção a esmalte em unhas das mãos ou dos pés. Essas escolhas seriam desnecessárias, pois a Ford oferece isso e aquilo. É o “ou” do título versus o “e” do texto. No texto, o apelo bastante representativo no universo feminino sugere que só a Ford oferece a economia Ecoboost de combustível e muito mais. 12 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 44 Quer dizer, o apelo é racional no texto e emocional na imagem, é importante comunicar à mulher: economia de combustível e cuidados estéticos que, por um raciocínio de aproximação, estendem-se do carro à própria mulher. A publicidade trata a mulher como um ser incondicionalmente independente e com um universo completo, do qual o carro faz absolutamente parte. O carrinho é brinquedo de menina e acessório de beleza racional e ecológico. Olay O anúncio do creme corretivo e anti-idade não faz referência ao masculino. Banana Republic Figura 13 – Anúncio da marca americana Banana Republic13 A publicidade da marca de moda norte-americana Banana Republic apresenta a coleção “Milly”. 13 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 45 A imagem apresenta quatro modelos sentados em um banco e olhando diretamente para o leitor. O modelo masculino aparece entre as moças e é abraçado pela ruiva à direita como prováveis namorados. O homem aparece, portanto, inserido no contexto de maneira não hierarquizada e em inferioridade apenas numérica. Coerente com o veículo utilizado pelo anúncio e com a proporção de consumo da coleção. Tacori O anúncio da marca de joias não faz referência ao masculino, apesar da simbologia conferida às alianças. Miss Dior O anúncio de perfume feminino não faz qualquer referência ao masculino. 46 New Exposure Figura 14 – Anúncio da competição fotográfica New Exposure14 O anúncio da competição fotográfica “New Exposure” convida a participar do concurso e receber um prêmio de US$ 10.000,00. A imagem mostra uma modelo em frente a uma janela. O fundo preto da sala, em sintonia com o preto da malha, destaca a luz proveniente da janela, das joias e do rosto da modelo. O corte de cabelo preso de maneira a masculinizar a modelo, de traços já andróginos, contrasta com os acessórios femininos. É como se a dureza, sobriedade e seriedade do preto oferecessem espaço para as joias brilharem, artifício esse utilizado em exposição de joias. Assim 14 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 47 também, a dureza dos traços e do corte de cabelo masculino servirá de fundo para destacar os elementos suavizantes de feminino. O concurso é oferecido pela marca de moda “Bottega Veneta” e oferece, além do prêmio em dinheiro, exposição do portfólio do vencedor em Nova York. O júri elencado no texto tem a proporção de onze homens para uma mulher. Laura Mercier O anúncio de produto hidratante para o cabelo não apresenta qualquer referência ao masculino. Pantene O anúncio sequencial de quatro páginas da Pantene não faz referência ao masculino. Aveeno O anúncio de hidratante não faz qualquer referência ao masculino. INC O anúncio de vestidos em parceria com a loja de departamentos Macy’s não faz referência ao masculino. Elizabeth Arden O anúncio de produto anti-idade em parceria com a loja de departamentos Macy’s não faz referência ao masculino. 48 Ford 2 Figura 15 – Anúncio do modelo Escape da Ford15 Desta vez, a Ford anuncia o Escape e oferece a opção entre o tipo forte ou silencioso. O “ou“ do título contrasta, mais uma vez, com o “e” do texto. Pois com a Ford, a escolha é desnecessária. 15 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 49 No produto anunciado, não existe antagonismo entre forte e silencioso. A escolha seria retórica. Como há uma dupla interpretação para a proposta, referente contemporaneamente ao carro e a tipos de homem, seria razoável aceitarmos que é necessário escolher entre um homem do tipo forte e outro do tipo silencioso. A mulher pode ter os dois e no caso, pelo menos do carro, em um só produto. Vogue Figura 16 – Anúncio da edição especial da revista Vogue16 O anúncio da edição especial da Vogue “Festa do ano” apresenta um mosaico de imagens. A cantora e atriz Beyoncé aparece como protagonista da 16 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 50 imagem central à esquerda, de vestido azul e sobre um tapete vermelho, ela reina absoluta, enquanto é fotografada por um exército de fotógrafos, em sua grande maioria homens. Uma festa com temas como o “punk”, o “caos”, a anarquia e a alta-costura, realizada no MET (Metropolitan Museum), coberta pela imprensa e, aqui, especialmente pela Vogue. Uma festa pensada, segundo a comunicação da Vogue, para a mulher brilhar. AT&T O anúncio de telefonia não faz referência ao masculino. Revlon Os anúncios sequenciais da Revlon ocupam quatro páginas. Com produtos diversos, como máscara, creme hidratante e esmalte não fazem qualquer referência ao masculino. Camel O anúncio de cigarros não se refere ao masculino. Fage O anúncio de iogurte de página dupla não faz referência ao masculino. 51 Merck Figura 17 – Anúncio de contraceptivo do laboratório Merck17 O anúncio do laboratório Merck, de quatro páginas sequenciais, apresenta Nexplanon, um contraceptivo em forma de implante que inibe a gravidez por três anos. O título: “Quando ficar grávida não é parte dos seus planos para os próximos três anos” serve de ponto de partida para apresentar as possibilidades que se seguem à não gravidez. Usando o Nexplanon e evitando a gravidez pelos próximos três anos, a mulher estaria livre para: viajar, ter sua casa própria, arranjar trabalho, terminar a escola, economizar e até se apaixonar. 17 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 52 A relação sexual está completamente desvinculada da formação de um casal, onde o homem em questão não faz parte da decisão e o homem objeto de paixão poderia aparecer, inclusive depois, e devido a não gravidez anterior. Melman (2003, p. 182) nos fala de uma “nova economia psíquica”, articulada de maneira insidiosa ao “desenvolvimento da economia de mercado”, “numa comunidade organizada pelo individualismo exacerbado e pela concorrência de um contra todos”. O se apaixonar, assim como a casa, a viagem, o trabalho e tudo aquilo que a leitora pode obter não engravidando, fica assim objetizado e se torna um produto individual. A própria gravidez e a gestação passariam a ser um produto a ser consumido no momento adequado. A segunda, terceira e quarta páginas do anúcio são ocupadas por um longo texto com informações técnicas do produto sem qualquer referência ao masculino. A mulher é absolutamente dona do seu corpo e controla sua vida de forma incondicionalmente independente. Dorme com quem quiser e reserva espaço para quando resolver se apaixonar. Massimo Dutti O anúncio não faz referência ao masculino. Neutrogena O anúncio de produto para o cabelo não faz referência ao masculino. Crystal Light O anúncio de bebida light não faz referência ao masculino. 53 Plan B one step O anúncio de produto para controle de natalidade, caso o contraceptivo falhe, não faz qualquer referência ao homem. Figura 18 – Anúncio de um produto para controle de natalidade18 A mulher, mais uma vez, reina soberana na tomada de decisão. No entanto, caso ela decidisse pelo contrário, ou seja, pela gravidez, o homem em questão estará legalmente obrigado a assumir todas as responsabilidades de pai. A publicidade opta por comunicar o efeito do produto, desconsiderando causas e consequências da ação, incentivando, assim, discordâncias entre os gêneros como uma má agente da educação. 18 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 54 Bourdieu (1999) considera que o sistema educacional reforça as desigualdades entre os gêneros, exatamente ao incentivar os comportamentos mais adequados ao masculino e ao feminino. Dermstore.com, blush.com, hairenvy.com O anúncio de produtos estéticos para o verão, comercializados nos diferentes sites, não faz referência ao masculino. Essie O anúncio de esmalte não faz referência ao masculino. Olay O anúncio de hidratante não faz referência ao masculino. Crest O anúncio de clareador dentário não faz qualquer referência ao masculino. Fuze O anúncio de chá gelado propõe uma mulher perfeitamente balanceada e não faz referência ao masculino. A imagem nos mostra uma mulher em três momentos, nos quais o equilíbrio é essencial e ela dá conta, movimentando-se com leveza e elegância, frente às diferentes propostas e faces da vida. O homem não é mencionado e, aparentemente, não faz parte de uma vida balanceada. 55 Figura 19 – Anúncio do chá Fuze19 Estamos, possivelmente, diante do que Melman (2003) chama de “polissubjetividade”. “Esse sujeito não é psicótico, mas participa dele, com efeito, atraído por essa perspectiva, essa promessa que essa nova economia faz brilhar: é 19 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 56 possível, doravante, ter vidas múltiplas”, Melman (2003, p. 95). E essas vidas múltiplas parecem harmonizar-se, sem qualquer necessidade do outro. Caesars Palace Figura 20 – Anúncio do hotel Caesars Palace 20 O anúncio de três páginas sequenciais do hotel de luxo Caesars Palace propõe na primeira página uma mulher que, segundo o texto, naquele momento exato, sabia ter chegado lá, atingido sua metas. 20 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 57 Uma vitória, aparentemente, individual, uma vitória econômica de uma mulher que chegou sozinha ao luxo. O masculino não é mencionado. Figura 21 – Anúncio de um chef de cozinha21 Na segunda página, um chef de cozinha aparece como prestador de serviço e professor de culinária. A mulher em questão poderá aprender, também, a cozinhar. 21 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 58 Figura 22 – Anúncio de um spa22 Já, na terceira página, temos uma modelo desfrutando do relaxamento oferecido pelo spa. Com o título: “Redescubra o que significa deixar para lá.”, referese ao abandono das preocupações da mulher que conquistou tudo aquilo. Uma mulher que trabalha e é independente. O masculino não aparece. 22 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 59 Versace Figura 23 – Anúncio da Versace com a modelo Kate Moss23 - A modelo Kate Moss e o modelo masculino aparecem do meio do tórax para cima, ocupando toda a imagem e com um tom de cobre na pele, lembrando estátuas de bronze. 23 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 60 A mulher, no entanto, segura com sua mão direita o rosto do homem, parecendo exibi-lo ao mundo e infantilizando-o ao mesmo tempo. Ela diz para onde esse homem deve olhar e exibe a beleza dele, conquistada por ela, como parte, metonímia de sua própria beleza. São seres divinos pela perfeição estética e aura, imortalizados pela situação de estátua em movimento, onde o controle parece ser todo feminino. Brahmin O anúncio de bolsa, sequencial de duas páginas, não faz referência ao masculino. Windows 8 Figura 24 – Anúncio de um lap top24 24 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 61 O anúncio, com fundo laranja, apresenta um lap top reversível e apresenta o título: “Abaixe o top e relaxe.”. A venda do Windows 8 acontece com mensagem direta à mulher. A brincadeira sugere, ao mesmo tempo, que se abaixe o monitor do lap top, transformando-o em tablet e que a mulher tire o sutiã e relaxe. Uma referência feliz a conquistas anteriores como a queima do sutiã e consequentes conquistas, mais recentes, no campo profissional. O computador utilizado para o trabalho se transforma em relaxamento, quando transformado em tablet utilizado para lazer. E a mulher de negócios se transforma em um ser livre e relaxado quando tira as armaduras impostas em outros tempos ou por situações de trabalho. O masculino não é referenciado. Clinique Figura 25 – Anúncio dos esmaltes da Clinique25 25 Fonte: Revista Vogue americana, edição de junho de 2013. 62 O anúncio de esmaltes não faz referência ao masculino, a não ser por uma possível similaridade, uma metáfora, das gotas do esmalte que escorrem como o gozo masculino. O texto fala de peles e olhos sensíveis a esmaltes, em geral, que seriam protegidos com a utilização do produto fabricado pela Clinique. A referência sugerida ao desconforto e irritação que o esmalte comum causa à pele e olhos, se estenderia à mesma sensação do gozo masculino em contato com a mulher menos disposta a aceitar o que vem do homem. Trata-se de um recurso bastante sutil na comunicação. Prada O anúncio que ocupa a contracapa, ou segunda capa para alguns, e que conclui a revista não apresenta qualquer referência ao masculino. Tabulação da Edição Americana da revista Vogue. De um total de 76 anúncios veiculados na edição da Vogue americana, temos a figura masculina aparecendo em imagem por 10 vezes, cerca de 13%. Das quais: três vezes em anúncio de perfume masculino; três vezes por motivos profissionais; uma vez como figurante, ao fundo; uma vez e meia objetizado ou infantilizado; uma vez e meia em igualdade de situação com a mulher, apesar de numericamente inferior. O masculino citado em forma de texto apenas uma vez (em um anúncio de perfume masculino). Cerca de 1,5%. Existe referência ao masculino de forma indireta em 8 ocasiões. 10,5%. 63 O masculino é infantilizado, ignorado propositalmente, objetizado ou desprezado em 11 oportunidades, isto é, cerca de 14,5%. Essas instituições asseguram a dominação através da violência simbólica – violência suave, insensível, invisível às suas próprias vítimas, que se exerce essencialmente pelas vias puramente simbólicas da comunicação e do conhecimento, ou, mais precisamente, do conhecimento, do reconhecimento ou, em última instância, do sentimento. (BOURDIEU, 1999, p. 7-8). A argumentação de Bourdieu somada à observação dos números quer confirmar nossa hipótese primeira. 64 3. A EDIÇÃO ITALIANA DE MAIO DE 2013 DA REVISTA VOGUE Figura 26 – Capa da Vogue italiana26 26 Fonte: Capa da Vogue italiana, maio de 2013. 65 A edição italiana do mês de maio do ano de 2013 da revista Vogue tem, consideradas as capas, exatas 214 páginas, das quais 212 são numeradas. Desse total, 72 são integralmente espaços publicitários, o que significa que 34% da revista são constituídos por publicidade. Um terço da informação oferecida pela editora a seus leitores é, portanto, composto por publicidades diversas. As leitoras - e eventuais leitores - pagaram pelo exemplar italiano: 5,00 euros para receberem informações do mundo da moda. É perceptível um volume publicitário menor, se comparada à edição norteamericana, estudada no primeiro capítulo. Além disso, os anunciantes pertencem quase que, integralmente, ao universo da moda propriamente dito. Medicamentos, automóveis e outros anúncios praticamente não aparecem. Gucci Figura 27 – Os óculos femininos e masculinos da Gucci27 27 Fonte: Vogue italiana de maio de 2013. 66 A segunda e terceira páginas foram ocupadas pela marca de moda italiana Gucci. O anúncio de óculos masculinos e femininos nos traz a imagem de um belo casal que olha para o leitor através dos óculos Gucci. Apesar do olhar dos dois dirigidos às leitoras, a imagem pode passar uma cumplicidade entre o casal, a proteção e a vontade de proximidade entre ambos estão explicitas na maneira como o homem se aproxima da mulher por trás: ela tem os cabelos afastados para o lado inverso, permitindo ou, até mesmo, convidando à aproximação. A boca semiaberta, com batom vermelho, o vestido também vermelho e a postura subentendida dos corpos nos remetem a um possível ato sexual ou, pelo menos, a um ato de aconchego. A postura da mulher, à frente dacena, a coloca em ligeira evidência em relação à figura masculina que tem parte da cabeça cortada pela foto. Apesar disso, a imagem é bastante equilibrada. A relação entre eles parece consensual e saudável. Um momento raro de mensagem publicitária tendo em vista tudo o que encontramos, até aqui, na publicidade de moda voltada à mulher. Dolce e Gabbana A propaganda já foi devidamente analisada em sua publicação na edição da Vogue americana, onde concluímos que o elemento masculino presente se verifica no batom, representante do falos, em aprovação à beleza da protagonista. Miu Miu Não existe referência ao masculino. Dior Não existe referência ao masculino. Chanel 67 Figura 28 – Roupas e acessórios da Chanel28 A marca francesa Chanel, em seu anúncio preto e branco de página dupla, escolheu um conceito de comunicação bastante significativo. Apresenta uma mulher montada em um cavalo branco e com as rédeas na mão. O cavalo caminha de cabeça baixa ao lado de um homem, também de cabeça baixa. Esse poderia ser o condutor do cavalo, não fossem as rédeas nas mãos da protagonista. Fica, então, a possibilidade da leitura de que a mulher conduz não um, mas os dois animais: homem e cavalo. Os rostos de um e outro estão cortados pela foto, o que significa sua pouca importância. Relevantes são apenas suas funções. A modelo feminina apresenta ainda um corte de cabelo bastante rente ao couro cabeludo, com cabelos longos somente na parte superior da cabeça. Ela tem, ao mesmo tempo, um corte masculino e equino, onde o cabelo curto e o rosto forte 28 Fonte: Vogue italiana de maio de 2013. 68 garantem-lhe as características masculinas, sua crina compete e rouba a cena do cavalo. Ela é senhora absoluta deste pequeno universo e suas costas são molduradas por uma sólida parede de uma casa grande, garantindo ainda maior firmeza à sua atitude. De maneira, ao mesmo tempo, sutil e intensa, a Chanel deixa claro seu recado sobre como conceitua as relações de mundo e imagina a força e o poder da mulher. Dolce e Gabbana O anúncio, já analisado na edição norte-americana, coloca as protagonistas emolduradas por frágeis figuras do masculino e pela natureza exuberante da Sicilia. Louis Vuitton O anúncio da marca francesa não faz referência ao masculino. Saint Laurent O anúncio não faz referência ao masculino. Chanel O anúncio de relógio Chanel não faz referência ao masculino. Dior O anúncio de página dupla do perfume J’adore da Dior não faz referência ao masculino. A única possibilidade nessa direção seria o slogan colocado na página um, à esquerda, em tipologia muito pequena em proporção ao anúncio e com os dizeres: a sensualidade revelada. 69 Sensualidade essa explícita em toda a cena e que pode ser ou não dirigida à sedução do masculino. Fontana Milano O anúncio quase em forma de catálogo não faz referência ao masculino. As bolsas apresentadas, no entanto, tem uma fortíssima referência no guarda- roupa dos homens. São basicamente pastas de trabalho masculino com detalhes que as suavizam. 70 Fendi Figura 29 – Anúncio de óculos femininos da Fendi29 O anúncio de óculos da Fendi nos traz duas modelos mulheres em uma posição um pouco mais do que amistosa, indicando intimidade. Os cabelos alisados e recolhidos atrás da cabeça nos fazem pensar em um penteado masculino, deixando homossexualidade. 29 Fonte: Vogue italiana de maio de 2013. a possibilidade de hermafroditismo ou 71 Qualquer uma das duas mulheres, senão as duas, substituem o homem na cena e, ao mesmo tempo, não perdem a feminilidade, comunicada em muitos outros elementos como as roupas, suas cores, as bocas, a maquiagem e a pele. É o feminino autossuficiente e soberano. Calzedonia O anúncio de maiôs não faz referência ao masculino. Philipp Plein Figura 30 – O fotógrafo Terry Richardson como modelo30 30 Fonte: Vogue italiana de maio de 2013. 72 A peça publicitária utiliza o respeitado fotógrafo de moda norte- americano Terry Richardson como protagonista. O tema é: Terry Richardson e a gangue. Por gangue fica entendido o casal de modelos que aparece na imagem com roupas Philipp Plein e, por extensão, todos os demais consumidores da marca. Não existe preocupação em hierarquizar os gêneros, mas em incluí-los com igual força à gangue do fotógrafo. Esse, sim, protagonista masculino e em evidência por suas qualidades profissionais. Hermès O anúncio de perfume não faz referência ao masculino. O frasco do perfume, por sua vez, remete-nos à figura masculina. É praticamente a representação de um tórax de homem. Chopard Não há referência ao masculino. Fendi Não há referência a gêneros, apenas o produto aparece. 73 Loewe Figura 31 – A atriz Penélope Cruz e a bolsa da Loewe31 A marca espanhola traz a atriz Penélope Cruz segurando uma bolsa e abraçada a uma escultura. Ela parece buscar conforto na estátua, como se estivesse com a cabeça em seu colo. Como fundo, a imagem de uma pintura, onde uma mulher com roupas de época monta um cavalo. A mensagem é ampla, não traz diretamente a figura masculina, mas não a exclui das complexas possibilidades do que está realmente acontecendo na cena. A mulher é a protagonista de um mundo belo, repleto de arte, segredos e histórias que podem ou não conter um amor, um romance, um ou mais homens ou mulheres. 31 Fonte: Vogue italiana de maio de 2013. 74 Dior A propaganda de Gloss da Dior não faz referência ao masculino, além do formato fálico e vermelho do frasco. Alexander Mcqueen Não há referência ao masculino. Cartier Figura 32 – Anel da Cartier32 32 Fonte: Vogue italiana de maio de 2013. 75 O anúncio de joias da marca francesa Cartier nos apresenta um anel em forma de prego torcido. O design do anel, pensado nos anos 70, é um clássico Cartier, seu slogan: “juste un clou”, “simplesmente um prego”, já leva a leitora a pensar. O anel que poderia ser uma aliança em forma de prego está posicionado sobre uma superfície vermelha de vidro trincado com rachaduras que partem do prego. Podemos ver ainda o reflexo do anel no vidro, simbolizando, talvez, a aliança a ser utilizada pela pessoa amada. A imagem do prego como aliança pode traduzir a rigidez da fixação em um casamento, a beleza de objetos simples e cotidianos, a dor e sua beleza, a força e uma série de outras ideias. Interessa-nos, aqui, a imobilidade do prego e sua relação com a ideia de aliança, uma vez que a peça será utilizada como anel e trará em si um depoimento sobre o casamento. É o fixo que não o é. A possibilidade de modificação está na própria escolha do prego como representante da ligação, mas, deslocado de sua função original, como a latrina de Marcel Duchamp. A mensagem é de escolha, de opção. Levar a mulher a pensar para não se autopregar. Givenchy Não há referência ao masculino. Pinko Não há referência ao masculino. Michael Kors Não há referência ao masculino. Pomellato A marca de joias italiana não faz referência ao masculino, além da escolha da atriz Tilda Swinton, naturalmente andrógina, para protagonizar sua peça. 76 Rimowa Figura 33 – Anúncio da marca de malas Rimowa33 O anúncio da marca alemã de malas nos traz um casal: Alessandra Ambrosio e Johannes Huebl, em um aeroporto, em situação de pré-embarque, ou um possível recém-desembarque. O avião e o enquadramento da cena nos levam ao filme Casablanca. A releitura do filme nos coloca, portanto, diante de um casal apaixonado. Os gêneros não são hierarquizados, deixando uma atenção maior a Alessandra por conta do vermelho de seu vestido, em contraposição ao bege da capa de Johannes. 33 Fonte: Vogue italiana de maio de 2013. 77 Comptoir dês Cotonniers O anúncio não faz referência ao masculino. Jimmy Choo Figura 34 – Anúncio da Jimmy Choo34 A peça da Jimmy Choo apresenta um casal de modelos em um jardim. A mulher aparece de corpo inteiro, em primeiro plano, vestido vermelho, decote generoso na perna e cabelos soltos. Seu andar é seguro e o olhar forte e diretivo. O homem vem pouco mais discreto, atrás, todo de preto e observa alguma coisa à direita do leitor. 34 Fonte: Vogue italiana de maio de 2013. 78 O protagonismo da cena é da modelo e do feminino que também emoldura o casal com uma parede de plantas floridas. H&M A marca não faz referência ao masculino e utiliza a cantora Beyoncé em foto de página dupla. Repetto Não há referência ao masculino. Swarovski Não há referência ao masculino. Golden point A peça de quatro páginas sequenciais não faz referência ao masculino. Stroilli O anúncio da marca italiana de joias traz uma modelo nua, com colar brinco e pulseiras em um abraço em si própria. O texto fala de estilo, da nova coleção e do desejo em possuí-la. Nem imagem, nem texto fazem qualquer referência ao masculino. Alviero Martini Não há referência ao masculino. Caractère A publicidade não faz referências ao masculino. 79 PalazzoReale A publicidade do espaço de eventos em Milão anuncia a exposição de Modigliani e tem como imagem um de seus muitos retratos de mulher. La Perla Figura 35 – Anúncio da marca de lingerie La Perla35 35 Fonte: Vogue italiana de maio de 2013. 80 A marca italiana de lingerie apresenta uma modelo em plano americano, à frente do que parece ser uma casa bastante rica de arquitetura clássica. A ítalo-brasileira Jeiza Chiminazzo aparece com um conjunto íntimo preto, de características vintage e modernas, ao mesmo tempo, e um meio véu na cabeça. Seria uma provável viúva. Poderosa, devido à pose de quase heroína, rica, e sensual, com lábios rosa e corpo magro, mas com formas. Talvez, o "golpe do baú" realizado em sua totalidade. Ela é ainda muito jovem e bonita e já está novamente disponível. A viuvez não parece ter afetado seu estado de espírito e ela se apresenta firme, segura e muito mulher a quem possa interessar. Vogue O anúncio próprio da publicação física ou em formato virtual não traz referência ao masculino. Thierry Mugler O anúncio do perfume Alien não faz referências ao masculino. Collistar O anúncio de creme anticelulite não faz menção ao masculino. 81 Chime for Change Figura 36 – Anúncio da organização Chime for Change36 O anúncio é de uma organização mundial que promove saúde, educação e justiça para todas as mulheres em todo o globo. Neste caso, a protagonista é diretora criativa, mãe e filha, Frida Giannini. 36 Fonte: Vogue italiana de maio de 2013. 82 Trata-se de uma iniciativa da marca italiana Gucci, anunciada por mulheres e para mulheres no mundo todo. A cantora Beyoncè e a atriz Salma Hayek são exemplos de outras celebridades utilizadas pela organização. A modelo de olhar firme, não perde absolutamente a feminilidade. Em trajes que ficam entre o casual elegante e o profissional, ela consegue ser intimista e representar autoridade simultaneamente. A comunicação não exclui o homem, mas também não o representa ou parece preocupar-se com ele. Vogue Mais um anúncio de assinatura próprio. Também não faz menção ao masculino. Vogue Gioello Terceiro anúncio próprio da revista. Não trata do masculino. Nespresso A propaganda não menciona o masculino. Giorgio Armani A peça publicitária da segunda capa da edição italiana da revista Vogue não traz referências ao masculino. Tabulação da Edição Italiana da revista Vogue. De um total de 45 anúncios veiculados na edição da Vogue italiana, temos: A figura masculina aparecendo em imagem por 7 vezes. Cerca de 15%. Esse percentual fica assim distribuídos: 83 Uma vez e meia por motivos profissionais; uma vez como figurante ao fundo; uma vez objetizado ou infantilizado; três vezes e meia em igualdade de situação com a mulher. O masculino não é citado em forma de texto em nenhum dos anúncios. Existe referência ao masculino de forma indireta em 4 ocasiões: 9%. O masculino é infantilizado, ignorado propositalmente, objetizado ou desprezado em 4 oportunidades, cerca de 9%. 84 4. A EDIÇÃO DE FEVEREIRO DE 2014 DA VOGUE BRASIL Figura 37 – Capa da edição brasileira da revista Vogue37 37 Fonte: Capa da revista Vogue Brasil, edição nº 426, fevereiro de 2014. 85 A edição brasileira do mês de fevereiro de 2014 da revista Vogue tem, consideradas as capas, exatas 228 páginas, das quais 226 são numeradas. Desse total, 48 são integralmente espaços publicitários, o que significa que 21% da revista são constituídos por publicidade. Apenas um quinto da informação oferecida pela editora a seus leitores são, portanto, publicidades diversas, o menor percentual entre as edições estudadas. As leitoras - e eventuais leitores - pagaram pelo exemplar brasileiro: R$ 18,00 para receberem informações do mundo da moda. Preço maior do que os da edição americana e italiana. Talvez o menor percentual de anúncios explique esse preço mais alto ou, talvez, seja apenas o custo Brasil (impostos e taxas). Dior Não existe referência ao masculino. Prada Figura 38 – Anúncio das bolsas Prada38 38 Revista Vogue Brasil, edição nº 426, fevereiro de 2014. 86 O anúncio de página dupla da Prada nos apresenta 12 modelos mulheres que posam para o que poderia ser uma foto de pré-jogo de futebol. A presença de meiões, golas e punhos, com forte referência no esporte, reforçam essa ideia bem como os cabelos que, apesar de longos, estão alisados rentes ao couro cabeludo, lembrando cortes curtos e masculinos. O excesso de cores e até o brilho dos tecidos utilizados também ajudam a construção dos uniformes futebolísticos. Portanto, as meninas estão aqui se apresentando como praticamente uma equipe de futebol, território prioritariamente masculino, sem, no entanto, deixar a feminilidade de lado. Ao contrário, são meninas bastante delicadas que tomam os lugares dos meninos. Le Lis Blanc Figura 39 – Anúncio da marca brasileira Le Lis Blanc39 39 Revista Vogue Brasil, edição nº 426, fevereiro de 2014. 87 A marca nacional de moda apresenta duas meninas abraçadas em um sofá. A cena é bastante amistosa e deixa pouco espaço à conotação sexual. As duas parecem ser amigas autossuficientes a caminho ou retornando de uma festa ou de um programa qualquer. Os meninos não são citados. John John Figura 40 – Marca de jeans nacional John John40 Mais uma marca nacional, a John John, traz quatro moças em um bar. Sentadas de costas para o leitor, elas parecem estar descontraídas e bebendo qualquer coisa. A posição de seus corpos, com pernas abertas, a ausência de saias, a presença do jeans, tanto em shorts como em calças, o jogo de futebol americano nas TVs, tudo parece compor um típico cenário de bar masculino, mas agora ocupado pelas meninas. 40 Revista Vogue Brasil, edição nº 426, fevereiro de 2014. 88 A proposta da marca parece bastante explicita, no sentido de dominação de espaço literalmente. O que era deles, agora, é exclusivamente delas. Carmen Steffens Não há referência ao masculino. Dimy O anúncio de 4 páginas sequenciais não faz referências ao masculino. Absolut Elyx Figura 41 – Anúncio da vodka Absolut Elyx41 O anúncio de vodka não faz referência ao masculino. E a marca aposta no público da Vogue para veicular o anúncio. 41 Revista Vogue Brasil, edição nº 426, fevereiro de 2014. 89 O produto menor assina a peça, deslocando para o lado superior direito a assinatura tradicional, enquanto a modelo ocupa praticamente toda a cena. Seu rosto, cabelos e roupas passam uma ideia do relaxamento oferecido pela bebida. A comunicação utiliza pouquíssimos elementos: o busto de uma mulher em preto e branco e a garrafa da bebida, à direita, a mensagem parece acreditar que a mulher não precise de outros argumentos para consumir a bebida de volume alcoólico próximo aos 40%. A vodka é tão naturalmente para elas como é para eles. Camila Klein Figura 42 – Anúncio dos acessórios Camila Klein42 42 Revista Vogue Brasil, edição nº 426, fevereiro de 2014. 90 A modelo à direita posiciona o braço na barriga insinuando uma possível gravidez. Sua companheira,posicionada na parte posterior à esquerda, parece apoiá-la psicologicamente, tomando o lugar do pai biológico. Ela protege o casal, enquanto a grávida flerta com o leitor. Seu olhar busca um terceiro elemento alheio a essa família, macho ou fêmea. A mulher de trás, como ocupou o lugar do homem, já não tem mais direito à cumplicidade, merece ser traída. É um casal à espera de sua cria. Os acessórios com referências africanas bem como o penteado parecem nos querer transportar para algo antropológico, tribal. Um universo onde a mulher completa a mulher e o homem parece não existir sequer para conceber. Vivara O anúncio com Gisele Bündchen não faz referência ao masculino. Macadamia Não há referência ao masculino. Ateen Não há referência ao masculino. 91 Cruciani Figura 43 – Anúncio das pulseiras italianas Cruciani43 43 Revista Vogue Brasil, edição nº 426, fevereiro de 2014. 92 O anúncio das pulseiras italianas de crochê da Cruciani é rico em cores e nos mostra uma modelo com ar de moleca com um sorvete em sua mão direita. Explicitamente malicioso, o sorvete derrete em sua mão, enquanto o polegar de sua mão esquerda toca seus lábios. A alusão ao sexo oral, a um beijo pós-gozo no pênis do parceiro e ao próprio gozo escorrendo deixa clara a intenção de intimidade com o sexo masculino. A blusa de crochê aberta exibindo os seios em um biquíni reforça os conceitos de verão, sensualidade e liberdade. Cores, verão, liberdade, sexo moleque, pulseiras Cruciani, tudo se mistura na comunicação. A mensagem é de alegria mútua, onde menino e menina estão felizes, mas a agente da ação e o poder em dar prazer é, sem dúvida, da mulher. Von der Volke Figura 44 – A marca brasileira Von der Volke44 44 Revista Vogue Brasil, edição nº 426, fevereiro de 2014. 93 A marca brasileira opta por um modelo masculino de camisa preta e um fundo de pedras. Seu rosto encoberto pelas sombras o torna um pouco misterioso. A mão na corrente ao pescoço pode remeter a algo religioso. Trata-se de um homem com uma possível história, fé, mistério, diz-nos pouco e deixa quase tudo para a leitora. Dona Florinda Com o slogan: “Feliz por natureza”; a propaganda não faz referência ao masculino. Cravo e Canela Não há referência ao masculino. 94 Alto giro Figura 45 – Anúncio da marca Alto Giro45 A peça publicitária traz uma modelo de costas sorrindo e trajando uniforme de futebol americano. Esporte primordialmente masculino. Sua camisa número 10 é preta e branca, seria a camisa de um possível time da equipe do Brasil de futebol americano. Ela talvez fosse a nossa quarterback. 45 Revista Vogue Brasil, edição nº 426, fevereiro de 2014. 95 Mais uma vez a menina tomou o lugar do menino, mas aqui com leveza e com um sorriso que sugere até cumplicidade. Canal Não há referência ao masculino. Contém1g Figura 46 – Anúncio de maquiagem da Contém1g46 Poderíamos concluir a ausência de referência ao masculino, não fosse o forte elemento fálico do próprio produto anunciado, o batom. 46 Revista Vogue Brasil, edição nº 426, fevereiro de 2014. 96 O título sugere mais de 100 opções de cores e os batons abertos e em posição vertical nos recordam, uma vez mais, a riqueza de opções. Tanto em termos de homens quanto de batons. A proximidade da boca da modelo em relação ao produto legenda a insinuação sexual óbvia e oferece tudo, ao mesmo tempo e agora, à mulher. Minotti O anúncio de decoração não faz referência a qualquer gênero. Simplesmente apresenta o produto: uma sala decorada. Moroccanoil O anúncio de produto para o cabelo utiliza a sensualidade e a beleza como argumento de venda. Na há referência direta ao masculino. Sierra O anúncio de móveis não faz referência a gêneros. Magnum O anúncio de sorvete da Unilever não faz referência direta aos gêneros, mas sugere em seu slogan a busca pelo prazer, seja esse do tipo que for. The French Market O teaser publicitário não faz referência aos gêneros, apenas comunica sua vinda ao Brasil e abertura de loja. KNT Não há referência direta ao masculino. 97 Sky Figura 47 – Anúncio da TV por assinatura Sky47 A cantora Claudia Leitte de vestido vermelho e um pouco à frente do grupo musical J Quest apresenta a promoção do serviço de TV por assinatura. 47 Revista Vogue Brasil, edição nº 426, fevereiro de 2014. 98 Ela protagoniza a cena que tem o vocalista e os demais elementos do grupo como moldura e reforço de testemunho. Lupo Figura 48 – Neymar no anúncio da cueca Lupo48 O jogador Neymar aparece de cueca preta e segura uma camiseta enrolada na parte de trás do pescoço. 48 Revista Vogue Brasil, edição nº 426, fevereiro de 2014. 99 Ao fundo, como cenário, observamos uma ferradura branca pintada em fundo azul, reforçando a ideia do título: “Este é o ano da cueca da sorte.”. Uma brincadeira com a superstição do brasileiro em ano de Copa do Mundo. A Copa do Mundo e o jogador seminu são apresentados à leitora como sugestão de assunto e presente que a aproxime do universo, predominante e anteriormente, masculino do futebol. Mitsubishi Figura 49 – Anúncio da Pajero TR 4 da Mitsubishi49 O anúncio da Pajero TR4 não faz alusão aos gêneros e apresenta o carro com o título: “Os melhores cartões-postais são os que vêm do seu instagram.”, apostando na febre de ostentação das redes sociais para vender o automóvel às leitoras da Vogue. 49 Revista Vogue Brasil, edição nº 426, fevereiro de 2014. 100 Granado O anúncio de esmaltes em estilo vintage traz uma pin up com uma palheta de cores e não faz alusão direta ao masculino. Ciroc Figura 50 – Anúncio da vodka Ciroc50 O anúncio de vodka coloca uma mulher, ao centro, sentada em um sofá, acompanhada por um homem à sua direita e outra mulher à esquerda. A bebida parece ter tornado as coisas mais divertidas e o ambiente é, ao mesmo tempo, elegante e descontraído. O título: “Existe sempre mais para aproveitar” parece querer lembrar que existem possibilidades diversas na vida e que as opções para a formação de um casal, ou até de um trio, estão aí para serem exploradas. 50 Revista Vogue Brasil, edição nº 426, fevereiro de 2014. 101 O encontro com o masculino pode se dar ou não. Compartilhar, também, pode ser uma opção. Dudalina Figura 51 – Roupas da marca Dudalina51 A modelo encontra-se relaxada ao lado de seu parceiro que dirige o carro. Ambos vestem camisas da marca anunciada e o carro, um conversível com acentos em couro claro, ajuda a construção da ideia de elegância. Apesar de a modelo feminina estar mais evidente na imagem, podemos considerar um tratamento igual entre os gêneros, onde quem dirige é ele e quem relaxa é ela. Vifran 51 Revista Vogue Brasil, edição nº 426, fevereiro de 2014. 102 O anúncio de sacolas e embalagens não menciona os gêneros. Bobô Não há referência ao masculino. Victor Hugo Não há referência ao masculino. Tabulação da Edição Brasileira da revista Vogue. De um total de 33 anúncios veiculados na edição da Vogue brasileira temos: A figura masculina aparecendo em imagem por 5 vezes, cerca de 15%. A imagem masculina aparece três vezes em anúncio de moda masculina; uma vez como coprotagonistas, ao fundo da imagem; uma vez em igualdade de situação com a mulher, apesar de numericamente inferior. Existe referência ao masculino de forma indireta em 2 ocasiões em 6% dos anúncios. O masculino é infantilizado, ignorado propositalmente, objetizado ou desprezado em 7 oportunidades, cerca de 21%. 103 CONSIDERAÇÕES FINAIS A edição americana compõe suas páginas com um percentual maior de anúncios, cerca de 50%, enquanto as edições italiana e brasileira têm cerca de um terço e um quinto, respectivamente. A edição italiana, por sua vez, concentra seus anúncios muito mais no mundo da moda propriamente dito. As marcas internacionais parecem, inclusive, servir de modelo àquelas regionais, tanto estética quanto conceitualmente. Além disso, existe uma enorme quantidade de marcas que anunciam nas três edições. Assim, as edições americana e brasileira são mais ecléticas e trazem uma gama de produtos mais variada: automóveis, medicamentos, maquiagem em quantidade e, principalmente, marcas de roupas, calçados, bolsas e demais acessórios de moda. É importante notar que as edições das revistas Vogue analisadas apresentam diferenças em seu conteúdo publicitário. Existem, ainda, perceptivelmente, diferenças culturais e de qualidade de produção expressas nos anúncios de marcas regionais. No entanto, naquilo que diz respeito à mensagem relativa aos gêneros e suas representações, as tendências das mensagens são muito próximas. Os apelos de venda e modelos de comportamento de homens e mulheres expressos nos anúncios são basicamente os mesmos. Nossa tabulação considerará, portanto, a soma das amostras estudadas. Tabulação das três edições A primeira conclusão de nossa tabulação é que dos 154 anúncios observados, a figura masculina aparece em imagem por 22 vezes, cerca de 14,3%; já em texto, isso ocorre uma única vez. Existe referência ao masculino de forma indireta em 14 ocasiões, 9,1%. 104 Independendo se positiva ou negativamente, somadas imagens, textos e até mesmo as referências indiretas, o gênero masculino aparece em 37 anúncios. O que significa dizer que 117 peças publicitárias optaram por, simplesmente, não citar o homem, ou seja, 76%, que representam três quartos das publicidades, inventaram um mundo onde o homem não existe. O segundo ponto fundamental de nossa pesquisa é que em 22 oportunidades o homem aparece sendo infantilizado, ignorado propositalmente, objetizado ou desprezado. Cerca de 14,3% das mensagens publicitárias direcionadas às mulheres têm conteúdo, no mínimo, pejorativo em relação ao papel masculino nas relações sociais. Vale destacar que algumas marcas ainda colocam o homem e a mulher em situação de equivalência. Em 6 peças, pudemos observar essa quase exceção, pouco menos de 4% das vezes. E absolutamente em nenhuma ocasião, observamos o homem em situação de superioridade em relação à mulher. O dono da casa, o dominador, o mais forte simplesmente não existe. A publicidade veiculada nas edições estudadas da revista Vogue não enxerga um mundo patriarcal ou com domínio masculino. Ou, se enxerga, não o comunica. Seduzir seria talvez uma consequência, não uma necessidade, não uma obrigação. E a quem seduzir, se homem, mulher, grupo social, ou a mídia, ficam a cargo da leitora da Vogue? Concluímos pelo apagamento da figura masculina. O discurso predominante parece ser o de consumir para se sentir segura e bela para si mesma, ou para o mundo. Autossuficiência, independência e poder são os conceitos de feminilidade apresentados. Ao masculino sobram papéis secundários. O homem pode ser um objeto de consumo, um servidor, parte da decoração e, em algumas poucas ocasiões, (quatro em cada cem) parceiro. Concluímos verdadeira nossa hipótese inicial de que a publicidade de moda, veiculada na principal revista de moda feminina no mundo, promove o apagamento da figura masculina ou a coloca em papel social secundário ou inferior ao da mulher. 105 As relações de poder se invertem, conferindo à publicidade de moda direcionada à mulher um caráter contra-hegemônico, se não, premonitório. O filósofo francês Gilles Lipovetsky dividiu a mulher em três momentos históricos. Assim, tínhamos a primeira mulher, a mulher pré-histórica, bíblica, grega, romana, a mulher que era sempre menos, a mulher representante das vaidades, das tentações, o feminino satanizado. Durante a Idade Média, passamos para a segunda mulher, a mulher idealizada, representante da mais absoluta beleza, a mulher a ser adulada, a ser cortejada, o feminino como objeto de adoração. Nesses dois momentos, de qualquer forma, Lipovetsky chama a atenção para a subordinação da mulher em relação às vontades masculinas. Depreciada ou idealizada, a mulher sempre estava sujeita às representações imaginadas pelo homem: “Ela não era mais do que aquilo que o homem pretendia que ela fosse.”. (LIPOVETSKY, 2000, p.232). A terceira mulher seria a mulher atual, para o filósofo. Uma mulher que deixa de ser dependente do homem. A mulher que estuda, que trabalha, que vota, que lidera, que tem liberdade sexual, que atua na vida pública e privada. A mulher que tem vontade própria. A essa terceira mulher, Lipovetsky chama: mulher indeterminada, indefinida. Uma vez que ela compartilha os mesmos anseios, as mesmas angústias masculinas, no sentido de que aqui ele e ela são igualmente responsáveis pelas próprias vidas. No entanto, o filósofo destaca que a mulher ainda não conseguiu se livrar, se desgarrar dos seus papéis tradicionais. Não podemos nos enganar. A época que relegava a mulher ao espaço doméstico e a punha à margem da sociedade política está definitivamente te rminada. Mas essa imensa transformação não significa de modo algum permutabilidade entre os dois sexos diante da dicotomia privado/público. (LIPOVETSKY, 2000, p.293). Nosso estudo descobre um discurso agressivo a ser ouvido e analisado pela mulher. Um discurso que parece propor à mulher uma tomada de poder, uma virada definitiva de mesa. 106 O papel de presa deve ser substituído pelo de predadora. É a mulher quem caça agora. Helena inventa e trava sua própria guerra agora. Julieta desceu do balcão e invade luxuriosa o quarto de Romeu. Amélia é professora de “pole dance”. Estaríamos diante de uma quarta mulher? Essa que objetiza o homem, que é superior a ele, que o trata como criança, que está sempre um passo à frente. Uma mulher absolutamente independente den tro e fora de casa, que atua em qualquer ramo da atividade humana com qualidade e resultados superiores aos masculinos. Que engravida, pare, gera vida, independente da vontade masculina. Ela compra sêmen, insemina, copula com quantos homens desejar e tantos quantos necessários para ocultar uma paternidade. Mas, essa nova mulher não precisa cuidar da cria, ela tem empregados e terceiriza a função de mãe. E que a escola, a TV, o DVD, a internet, o vídeo game eduquem as crianças. Esse discurso, presente como verificamos na publicidade veiculada nas edições estudadas da revista Vogue e que também pode ser observado em outras e muitas mídias, cria ou reforça também um novo homem. O cinema, a música, as novelas, a literatura, as diversas campanhas publicitárias nos trazem um homem que diz não ao sexo. Que se dá ao luxo de se desinteressar pelo nu feminino. Um masculino que já que é caça, foge. Mas não foge simplesmente assustado. Escapa ciente de seu novo e inesperado poder, cedido por essa possível quarta mulh er. O poder de sentir dor de cabeça, o poder de dizer sim e não. E assim, aguardamos. Para verificar se esse discurso publicitário e midiático é um exagero, uma caricatura, ou se estamos diante do mais verdadeiro “mise em scène”. 107 Aguardamos e continuamos a estudar a comunicação humana. Desejosos de que a igualdade entre os gêneros humanos não venha nunca.Esperançosos de que as deliciosas diferenças entre os sexos permaneçam. 108 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES-MAZZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER, F. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. ALVES, R. Filosofia da ciência. São Paulo: Loyola, 2000. BAITELLO JR., N. A era da iconofagia. São Paulo: Hacker, 2005. ______________ . O pensamento sentado. São Leopoldo: Unisinos, 2012. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1988. BARROS, A T.; JUNQUEIRA, R. Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2006. BAUDRILLARD, J. Telemorfose. Rio de Janeiro: Mauad, 2004. ______________. Sob a sombra das maiorias silenciosas – fim do social e o surgimento das massas. São Paulo: Brasiliense, 1993. BAUMAN, Z. Comunidade – a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. BOOTH, W. C; COLOMB, G. G.; WILLIAMS, J.M. A arte da pesquisa. São Paulo: Martins Fontes, 2000. BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999 e 2002. BRAIT, Beth (Org.). Bakhtin. Conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005. _______________. Bakhtin e outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2006. BRYMAN, A. Social research methods. Oxford: University Press, 2004. 109 BRYMAN, A. Quantity and quality in social research. London: Unwin Hyman, 2004. BUITONI, Dulcília S. Mulher de papel: a representação da mulher pela imprensa feminina brasileira. São Paulo: Summus, 2009. BRUSCHINI, Cristina (Org.). Uma questão de gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos Ventos; São Paulo: Fundação Carlos Chagas, 1992. CONTRERA, M. S. Mídia e pânico. São Paulo: Annablume, 2002. ______________. O titanismo na comunicação e na cultura – os maiores e os melhores do mundo. In: MACHADO, J. ; LEMOS, A. (Org.). Mídia Br . Porto Alegre: Sulina, 2004. ______________. Mediosfera – meios, imaginário e desencantamento do mundo. S. Paulo: Annablume, 2010. CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. São Paulo: Artmed, 2010. DENZIN, N. K. ; LINCOLN, Y. S. (Ed.). Handbook of qualitative research. Thousand Oaks, CA: Sage, 2000 DESLAURIERS, J. P.; KÉRISIT, M. O delineamento da pesquisa qualitativa. In: POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2008. DURAND, G. A imaginação simbólica. Lisboa: Edições 70, 1995. ECO, U. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 1983. ELIAS, Norbert; SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os outsiders. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. ESCOSTEGUY, Ana Carolina; MESSA, Marcia Rejane.Os estudos de gênero na pesquisa em comunicação no Brasil. In: Comunicação e gênero: a aventura da pesquisa. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. Disponível em: <http://www.pucrs.br/edipucrs/comunicacaoegenero.pdf>. Acesso em: 20 jan 2013. 110 FILOSOFIA TINTIM POR TINTIM. Disponível em: http://filosofiatintimportintim.blogspot.com.br/2013/04/a-beleza-o-amor-e-sabedoriasegundo.html. Acesso em: 2 fev 2014. FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2007. FLICK, U. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Bookman, 2004. FOUCAULT. M. História da Sexualidade. Rio de Janeiro: Graal, 2009. v. 3. ____________. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996. GREGOLIN, Maria do Rosário. Discurso e mídia. A cultura do espetáculo. São Carlos: Claraluz, 2003. GUBA, E. G.; LINCOLN, Y. S. Competing paradigms in qualitative research. In: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. (Ed.). Handbook of qualitative research. Thousand Oaks, CA: Sage, 1994. HALL, Stuart. Reflexões sobre o modelo de codificação/decodificação: uma entrevista com Stuart Hall. In: SOVIK, Liv (Org.) Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Stuart Hall. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2003. HILLMAN, J. Cidade e Alma. São Paulo: Studio Nobel, 1993. __________. Paranoia. Petrópolis: Vozes, 1993. IMBERT, G. El transformismo televisivo – postelevisión e imaginários sociales. Madrid: Cátedra, 2008. JESUS, Virginia Maria Antunes de; WEG, Rosana M. O texto científico – Como fazer projetos, artigos, relatórios, memoriais, trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses e participar de eventos científicos. São Paulo: Cia dos Livros, 2011. 2ª ed. LIPOVETSKY, Gilles. A terceira mulher; permanência e revolução do feminino. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 111 LIPOVETSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 2004 LOIZOS, P. Vídeo, filme e fotografias como documentos de pesquisa. In: BAUER, M. W. ; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002. LOPES, M. I. V. Pesquisa em comunicação. São Paulo: Loyola, 1994. LOPES, M.I.V. (Org.). Epistemologia da comunicação. São Paulo: Loyola, 2003. LORENZ, K. Civilização e Pecado. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. MARSHALL, C.; ROSSMAN, G. B. Designing qualitative research. 3rd. ed. Newbury Park, CA: Sage, 1999. MARTIN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009. MELMAN, C. O homem sem gravidade - gozar a qualquer preço. Rio de Janeiro: Ed. Cia. de Freud, 2003. MERRIAM, S. B. Qualitative research in practice: examples for discussion and analysis. New York: Jossey-Bass, 2002. MICHELET, Jules. A mulher. São Paulo: Martins Fontes, 1995. MOREIRA, D. A. O método fenomenológico na pesquisa. São Paulo: Pioneira, 2004. MORIN, E. O paradigma perdido. Lisboa: Europa-América, 1985. ________. Para sair do séc. XX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. PAIVA, R. Histeria na mídia. Rio de Janeiro: Mauad, 2000. PIERUCCI, A. F. A magia. São Paulo: Publifolha, 2001. 112 PIERUCCI, A. F. O desencantamento do mundo. S. Paulo: Ed. 34, 2003. ROWLEY, J.; SLACK, F. Conducting a literature review. Management Research News, v. 27, n. 6, p. 31-39, 2004. SALGADO, Plínio. A mulher no século XX. Porto: Tavares Martins, 1946. SANTAELLA, L. Comunicação e pesquisa: projetos para mestrado e doutorado. São Paulo: Hacker, 2001. SCHULER, F.; SILVA, J. M. (Org.). Metamorfoses da cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2006. SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Tradução de C. Dabat, M B Ávila. Recife: SOS-CORPO, 1991. SILVA, J. M. As tecnologias do imaginário. Porto Alegre: Sulina, 2006. _________. O que pesquisar quer dizer. Porto Alegre: Sulina, 2010. SILVERMAN, D. Interpretação de dados qualitativos: métodos para análise de entrevistas, textos e interações. Porto Alegre: Artmed, 2009. SLOTERDIJK, P. O desprezo das massas. São Paulo: Estação Liberdade, 2002. SODRÉ, M. As estratégias sensíveis. Petrópolis: Vozes, 2006. SUTTON, R. I.; STAW, B. M. O que não é teoria. RAE – Revista de Administração de Empresas, v. 43, n. 3, p. 74-84, jul/set 2003. THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2004. TRIVINHO, E. O mal-estar da teoria. Rio de Janeiro: Quartet, 2001. WHETTEN, D. A. O que constitui uma contribuição teórica? RAE – Revista de Administração de Empresas, v. 43, n. 3, p. 69-73, jul/set 2003. VIRILIO, P. Velocidade e Política. São Paulo: Estação Liberdade, 2006. 113 WEBER, Maria Helena. Comunicação e espetáculos da política. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2000. WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Cia. das Letras, 2004. ZIELINSKI, S. Arqueologia da mídia. S. Paulo: Annablume, 2006. 114 ANEXOS 1 - I MASCHI (Gianna Nannini) Tu, con l'espressione malinconica Você com a expressão melancólica E quel sorriso in piu, E aquele sorriso a mais, Cosa mi fai? O que você me faz? Stai cosí vicino, cosí immobile Está assim pertinho, assim imóvel Parla qualcosa, non ti ascolto ma. Fala alguma coisa, não te escuto, mas... I maschi disegnati sui metro Os machos desenhados no metrô Confondono le linee di Miró. Confundem as linhas de Miró. Delle vetrine, dietro ai Bistrot Das vitrines, atrás dos bistrôs Ogni carezza della notte è quasi amor. Cada carícia da noite é quase amor. I maschi innamorati dentro ai bar Os machos apaixonados dentro dos bares Ci chiamano dai muri di citta Nos chamam dos muros da cidade Dalle vetrine, dietro ai juke box Das vitrines, atrás dos juke Box Ogni carezza della notte è quasi amor. Cada carícia da noite é quase amor. Tu sotto la giacca, cosa avrai di piu? Você, embaixo da jaqueta, o que terá de mais? 115 Quando fa sera Quando chega a noite E il cuore si scatena. E o coração se liberta. Mi va, sulle scale poi te lo daro Eu quero, nas escadas depois eu te darei Quello che sento Aquilo que sinto Parlami ancora un po'. Fala-me ainda um pouco. Ai maschi innamorati come me Aos machos apaixonados como eu Ai maschi innamorati come te Aos machos apaixonados como você Quali emozioni, quante bugie, Quais emoções, quantas mentiras, Ma questa notte voglio farti le pazzie. Mas esta noite quero fazer para você loucuras. Ai maschi innamorati come me Aos machos apaixonados como eu Ai maschi allucinati piu di me Aos machos alucinados mais que eu Non è mai ora di dire addio Não é nunca hora de dizer adeus Tutta la notte voglio farti ancora mio...si A noite toda quero te fazer ainda meu...sim Fonte: Álbum: Maschi E Altri, Gianna Nannini. Data de lançamento: 12 Jun 1995. 116 2- TROCANDO DE LUGAR – OS ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO Estudantes canadenses produzem vídeo no qual invertem os “papéis” femininos e masculinos em anúncios para mostrar como a propaganda perpetua representações equivocadas Da Redação Sarah Zelinski, Kayla Hatzel e Dylan Lambi-Raine, alunas do curso de estudos de gênero da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, tiveram uma ideia criativa para expor a forma como a publicidade explora massivamente os estereótipos de gênero. As estudantes canadenses produziram um vídeo no qual invertem o papel de homens e mulheres em anúncios reais. Quando acaba de apresentar os anúncios originais, o vídeo pergunta se o espectador achou os mesmos “ridículos”. Após o questionamento, são apresentados os anúncios com os “papéis” invertidos. O resultado é a sensação de que os estereótipos de gênero estão de tal forma culturalmente enraizados que o ridículo de explorá-los só se torna evidente com a inversão dos “papéis”. O vídeo, intitulado ‘Representations of gender in advertising’ (‘Representações de gênero na propaganda’), ainda apresenta estatísticas quanto aos números da violência de gênero no Canadá e os relaciona com a representação da mulher nos anúncios publicitários. “Algumas campanhas retratam a mulher como altamente sexual e submissa. E o homem, como dominante e agressivo”, diz Sarah Zelinsky. Disponível em: <http://revistaforum.com.br/blog/2013/07/trocando-de-lugar/>. Acesso em: 117 3 – SOBRE A VOGUE Montagem com a capa das revistas Vogue italiana, inglesa e francesa Falar da Vogue é covardia. Publicada pela Condé Nast, uma das maiores editoras do mundo, e espalhada por todo o planeta, a Vogue tem edições nacionais desde a Índia até a Rússia, passando por Portugal (aliás, uma boa dica de compra, já que tem um preço convidativo nas bancas do Brasil), pela maravilhosa Vogue Paris e a incrível Vogue inglesa. Uma das publicações mais antigas e prestigiadas (a primeira edição foi em 1892), a Vogue é uma espécie de bíblia de moda e sua edição americana – a original - é a revista de moda de maior vendagem, tendo a poderosa Anna Wintour – sim, ela mesma, a “diaba” que veste Prada, do filme como editora. Cada país procura marcar uma identidade própria, então abaixo apresentamos as mais importantes: Vogue Itália: a minha preferida, é a edição mais artística de toda a família Vogue. Com editoriais de fotógrafos como Mario Testino e Steve Meisel, a Vogue Itália traz as imagens mais grandiloquentes, dando muita força para a alta-costura e para a moda de luxo mais ousada. Lar da saudosa Anna Piagi, uma das figuras mais excêntricas e interessantes da moda, a Vogue Itália procura manter-se na vanguarda da moda, baseando seu estilo no glamour e na sofisticação. Vogue Paris: vedete da coleção, a Vogue Paris não nega sua origem. É charmosa e cheia de estilo parisiense. Seus editoriais são coquetes, bem mulherzinha, e seu leque se abre bastante para estilo de vida. Em cada canto de 118 página parece que vamos encontrar um vaso de flor, assim, derramado de pétalas cheirosas. Sua editora é Carine Roitfeld. Valoriza bastante a ilustração de moda, o que é raro nas demais publicações. Vogue Inglesa: é mais sóbria que suas irmãs, mas promove o estilo arrojado da moda inglesa. Sem muita frescura, traz imagens impactantes em seus editoriais que contam com Nick Night e Tom Craig como fotógrafos. A editora é Alexandra Schulman. Disponível em: <http://estilo.uol.com.br/moda/dicas/2010/04/15/conheca-as-15melhores-revistas-de-moda-da-atualidade.jhtm >. Acesso em: 12 out 2013. Vogue (1892 — ) A principal revista de moda feminina em todo o mundo. É a revista mais famosa do mundo, a mais vendida, a mais influente e a mais criticada. Quando apareceu nos EUA, em 1892, poucos vaticinaram um tão grande sucesso e uma vida tão longa a uma publicação que tinha como temas centrais assuntos perfeitamente fúteis: a moda, o luxo, a vida mundana e o design. Mais de cem anos volvidos, a Vogue é traduzida e publicada em várias línguas em países tão díspares como a Índia, o Japão, a Rússia, a Grécia ou a China, continuando a fazer a apologia do luxo, do estilo e da vida social dos «happy few». É publicada mundialmente pela editora Condé Nast, à excepção da edição brasileira que é a única do mundo controlada por outra, a Carta Editorial. Disponível em: <http://tipografos.net/magazines/vogue.html>>. Acesso em: 12 out 2013. 119 How Many People Read Vogue Magazine? Answer There is an estimate of 1,250,000 total circulation each month for Vogue Magazine. However how many people actually read it is unknown because there is no way to tell how many people read the same magazine in the same household. Disponível em: <http://www.ask.com/question/how-many-people-read-vogue- magazine >. Acesso em: 12 out 2013.