formação do usuário de biblioteca infantil
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formação do usuário de biblioteca infantil
FORMAÇÃO DO USUÁRIO DE BIBLIOTECA INFANTIL Alessandra Boy dos Santos1, Louise Moore de Figueiredo2, Maria Conceição da Silva3, Ramaiana Lobo do Prado4 1 Graduanda de Biblioteconomia, UFF, Niterói, RJ 2 Graduanda de letras, UFF, Niterói, RJ 3 4 Bibliotecária, UFF, Niterói, RJ Graduanda de Pedagogia, UFF, Niterói, RJ RESUMO O presente trabalho relata o cotidiano da Biblioteca Flor de Papel, uma biblioteca infantil que tem como foco a formação do sujeito leitor e do usuário de biblioteca, através do trabalho realizado com crianças em idade pré-escolar (de um ano e meio a seis anos) que freqüentam a Creche UFF, onde a biblioteca está situada. Essa prática tem alcançado excelentes resultados, que vão de encontro a nossa proposta inicial, não só com as crianças que freqüentam esse espaço como também com os educadores em atividade na creche, proporcionado campo de estudo bastante diversificado. Palavras-chave: Biblioteca infantil. Usuário de Biblioteca Infantil ABSTRACT This paper presents the daily of Flor de Papel Library, a children's library that focuses on the formation of the reader and library user, through work with children in preschool (one year and a half to six years ) who attend the Creche UFF, where the library is located. This practice has achieved excellent results that meet our initial proposal, not only with children who attend this space as well as educators at work in the daycare, providing a very diverse field of study. Key-Words: Children’s library, 1 Introdução A maioria das escolas e pré-escolas possui algum espaço dedicado aos livros, ou mesmo salas de leitura. Porém, na creche UFF, A Flor de Papel se apresenta como a biblioteca que é por possuir a responsabilidade dupla de formar o sujeito leitor e o usuário de biblioteca. O ambiente organizacional e administrativo da biblioteca Flor de Papel funciona como qualquer outra biblioteca do sistema do Núcleo de Documentação da Universidade Federal Fluminense (NDC/UFF), portanto participa da compra de bibliografia básica (referente à literatura sobre a criança de zero a seis). Apresenta relatórios, estatísticas, etc. A história da biblioteca Flor de Papel na Creche UFF começa em 1999, quando um grupo de crianças e seus educadores decidem fazer uma visita a Biblioteca Central do Gragoatá para consultar as suas obras infantis. Esta visita, apesar dos momentos prazerosos para as crianças, gerou momentos de incomodo para os estudantes que lá estavam. A partir deste momento foi desenvolvido e implantado o Projeto de Extensão “Coleção Flor de Papel: uma biblioteca na creche UFF” em uma parceria entre o NDC e Creche UFF, contando com a participação do Instituto de Letras (especialização em literatura infantil) e o departamento de biblioteconomia. Para viabilizar a formação do sujeito leitor, propiciamos situações prazerosas que proporcionem uma aproximação da criança com o livro, em um ambiente que buscamos ser acolhedor, arejado e organizado para o conforto da criança. O ambiente apesar de pequeno, possui espaços diferenciados para os leitores: tradicionais, para os que gostam de ler com seus livros apoiados sobre a mesa; alternativos, para os eu gostam de ler sentados ou mesmo deitados sobre as almofadas ou puffs; e ainda opção para aqueles inovadores que preferem ler debaixo das mesas. Outro foco é a formação do usuário de biblioteca, consciente e antenado com os mecanismos de funcionamento de uma biblioteca (aspectos gerais) compreendendo as razões dos combinados e as implicações práticas do diaa-dia. Cativando desde criança o usuário para perceber no ambiente da biblioteca a possibilidade do crescimento cultural e do conhecimento, o estreitamento dos laços entre o usuário e a biblioteca gera uma familiaridade entre o leitor e o livro, ampliando seu olhar desde a infância. 2 Materiais e métodos Nosso acervo é diversificado e pré-selecionado, pois prezamos pela qualidade ao invés da quantidade. Para tanto mudamos nossa formas de aquisição ao longo destes anos da trajetória da Flor de Papel. No primeiro momento nossas aquisições advinham da doação dos pais, solicitadas junto com a lista de material. Os livros recebidos por esta via nem sempre tinham a qualidade esperada. Como a política da Creche UFF sempre foi de parceria com os pais, durante uma reunião decidimos mudar a forma desta doação: ela passou a ser sugerida pela biblioteca, que considerava as lacunas existentes em nosso acervo e as necessidades geradas pelos interesses dos projetos de pesquisa (que sempre são demandados pelos interesses das crianças). A listagem gerada a partir desta demanda era colocada a disposição da equipe e também dos pais para conhecimento, avaliação e novas sugestões. Após a análise da lista, a compra era rateada pelos pais. Possuímos também uma parceria muito valiosa com o Programa de Alfabetização e Leitura (PROALE) que, como votante da Fundação Nacional de Literatura InfantoJuvenil(FNLIJ), recebe livros de diversas editoras para serem avaliados e posteriormente, acabando a vigência do processo avaliativo, repassa para a Flor de Papel. Essa parceria alimenta assim o nosso acervo com livros novos, recém lançados e de qualidade, atualizando a nossa coleção com livros com abordagem sobre raça, conflitos por separações, perdas e outros. Temos também uma boa quantidade de material de referência que é uma das seções mais consultadas de nossa biblioteca. Seguindo o preceito da autonomia da criança que perpassa o projeto pedagógico da Creche UFF, a utilização da biblioteca se dá sem a intermediação direta do adulto: as crianças freqüentam este espaço com liberdade, sendo necessário para isto apenas combinar com o educador de sala. As crianças têm acesso a um acervo bibliográfico, audiovisual e também fazem consultas à Internet. Na biblioteca as crianças fazem pesquisa e leitura livre (na maior parte do tempo) e em alguns momentos pontuais, quando solicitado por elas, o adulto realiza essa leitura. Na biblioteca buscamos que a criança tenha um momento seu com o livro e explorando sua leitura imagética, formulando conceitos através dessas imagens, trabalhando de forma intensa a sua oralidade, pois a criança compartilha com seus colegas as descobertas que fez com suas leituras. Além do acesso aos livros no local, nossos usuários podem levar livros para casa, sendo escolha da criança o livro que levará. A biblioteca difere da maioria das bibliotecas infantis, que trabalha com sistema de cores, mas com uma classificação alfanumérica constituída de um sistema classificatório numérico alternativo em substituição a notação de CDD, seguido das três primeiras letras do autor principal e a data da edição do livro. A política da biblioteca é aproximar a criança do objeto, livro, e como aqui não temos zelo exagerado pelo livro, é possibilitado às crianças terem um relacionamento direto com o mesmo. Por conta disto ocasionalmente os livros são rasgados, amassados, mordidos ou ainda se tornam objeto de disputas acaloradas. Entendemos que acidentes acontecem, e muitas vezes vemos neles o caminho para o bom relacionamento entre o pequeno leitor e o livro no futuro. Para solucionarmos problemas deste tipo são realizados pequenos reparos nos livros danificados. Os grandes reparos são assessorados pelo Laboratório de restauração da UFF (LACORD), responsável pelos consertos dos livros danificados da Universidade. Já os consertos de menor porte são realizados na própria biblioteca, com técnicas aprendidas. Alguns consertos são realizados na presença da criança, porém sem a sua intervenção e outros ainda com a participação das crianças, para que percebam a importância de tratar bem o livro e entendam como o seu conserto é trabalhoso e nem sempre o livro fica com aspecto tão simpático como quando era novo. Para diminuir a incidência desses acidentes e, conseqüentemente, dos reparos, em alguns momentos se faz necessária uma mediação da equipe entre nossos usuários e o livro: para os livros mais delicados (livros-brinquedo ou pop-up) fazemos um acompanhamento mais próximo, acompanhamos a virada das páginas e orientamos no manuseio (como, por exemplo, não puxar o livro pela lombada, não pisar no livro que está no chão ou ainda dobrar as folhas dos livros no sentido contrário ao da lombada). Para os livros mais resistentes mantemos as recomendações, fazendo um acompanhamento mais distante, que seja mais casual para as crianças. 3 Resultados parciais/finais Toda essa autonomia proporcionada às crianças é revertida em responsabilidade, visível na relação e participação das crianças com a biblioteca. Desde as brincadeiras que reproduzem as atividades do ambiente da biblioteca (algumas crianças do sexo feminino reproduzem o nosso comportamento, realizam empréstimos, fazem cobranças e por vezes até passam “pito” nas crianças que não estão se comportando bem) passando pelo cuidado desses usuários tanto no momento do empréstimo quanto no prazo para devolução dos livros, até a insistência no cumprimento dos combinados por parte de todas as crianças que freqüentam a biblioteca. Podemos também notar a ampliação do leque de interesse da criança, que passa a ter interesse em descobrir livros ainda desconhecidos ao invés de buscar sempre os mesmos, embora alguns usuários deixem claro suas insubstituíveis preferências. 4 Considerações Parciais/finais O projeto ainda contribui para o desenvolvimento dos bolsistas vinculados e alguns profissionais da área, dotando-os de maiores recursos e olhar crítico na seleção e proposições de títulos para a biblioteca infantil. O Projeto trabalha a perspectiva de ampliar o espaço da biblioteca para além do tratamento e a guarda de livros, objetivando uma movimentação caleidoscópica do acervo em relação ao mundo que o produziu e o alimenta. Buscamos ainda a elevação da biblioteca como elemento fomentador da cultura além dos limites do texto escrito, apresentando a cultura e permitindo que nossos usuários se apropriem dela. As atividades desenvolvidas propiciam situações que favorecem a compreensão, por parte das crianças, do uso da leitura, o que leva a formação do sujeito leitor crítico. Através do viés da formação do sujeito leitor formamos o usuário de biblioteca. O trabalho em uma biblioteca infantil é, por vezes, sensorial: é necessário por exemplo, estar atento aos ruídos, páginas viradas de forma violenta, livros sendo arrastados no chão e tudo isso sem estar olhando para o que está acontecendo e, mais importante, atento à forma de intervenção com as crianças, que precisa ser doce e ao mesmo tempo firme; Apesar de todas essas peculiaridades, proporciona muitas satisfações: é muito gratificante ver a interação de crianças tão pequenas com o universo da leitura 5 Referências RIBEIRO, Maria Solange. Desenvolvimento de coleção na biblioteca escolar: uma contribuição à formação crítica sócio-cultural do educando. Transinformação, v.6, n.1/3, p.60/73, jan./dez. 1994. SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura na escola e na biblioteca, Campinas: Papirus, 1986. STUMPF, Ida Regina. Funções da biblioteca escolar. Cadernos do CED, Florianópolis, v.4, n.10, p.67-80,jul./dez. 1987. YUNES, Eliana, PONDÉ. Leitura e leituras da literatura infantil. 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