1. A Rede Apostólica Inaciana segundo a CG 34 2. A Rede
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1. A Rede Apostólica Inaciana segundo a CG 34 2. A Rede
RAI A REDE APOSTÓLICA INACIANA 1. A Rede Apostólica Inaciana segundo a CG 34 A CG 34, no seu decreto n.13, sobre "Colaboração com os leigos na missão", fala da criação de uma "rede apostólica inaciana". A rede estaria formada por todas aquelas pessoas e grupos "que encontram na experiência dos Exercícios Espirituais uma base comum de espiritualidade e de motivação apostólica".(n. 21) Tal rede fomentará uma melhor comunicação e proporcionará apoio pessoal e espiritual entre essas pessoas e grupos. Tornará mais eficiente a missão das pessoas de inspiração inaciana em sua tarefa de evangelização do mundo. Desse modo a Companhia de Jesus pode dar sua contribuição específica à nova evangelização. Dar forma a essa rede apostólica inaciana requererá ampla consulta, discernimento cuidadoso e planejamento desenvolvido gradualmente. A CG 34 pede ao Pe. Geral que, com a ajuda de jesuítas e nãojesuítas qualificados, estude essa possibilidade."(n. 22) 2. A Rede Apostólica lnaciana na Província do Brasil Centro-Leste Na Província do Brasil Centro-Leste da Companhia de Jesus, já temos iniciado esta rede, de um modo ainda experimental, esperando o dia quando possa ser estabelecida oficialmente, no âmbito da Companhia universal. Os dois requisitos mencionados pela CG 34 para fazer parte de tal rede são: a) uma comum espiritualidade de cunho inaciano, fundada na experiência dos Exercícios Espirituais; b) a motivação e compromisso apostólicos que essa experiência dos Exercícios necessariamente implica. Poder-nos-íamos perguntar, e nós de fato nos perguntamos na Província, se qualquer experiência, mesmo curta e superficial, dos Exercícios, bastaria para fazer parte dessa rede, ou se seria necessária uma experiência mais prolongada e profunda. O mesmo poder-se-ia aplicar à motivação apostólica que deveria inspirar e animar os futuros membros da rede. A CG 34 não define com clareza esses pontos, mas pelo contexto do decreto achamos que não basta qualquer experiência espiritual, nem qualquer motivação apostólica para ser membro da rede. Chegamos a essa conclusão baseados não, apenas no texto mesmo do decreto, mas também no fato da inutilidade da rede, para os fins que se pretendem, se o acesso a ele ficar fácil demais. O decreto fala de pessoas que desejam assumir a tarefa da evangelização do mundo, no contexto da "nova evangelização" que a Igreja promove. Também supõe que as pessoas e/ou os grupos entram na rede para encontrar "apoio pessoal e espiritual" e tornar a sua tarefa evangelizadora mais eficiente. Tudo parece indicar, portanto, que se trata de pessoas que, no espírito dos EE.EE., desejam seriamente fazer algo por Cristo e se engajar de verdade em atividades apostólicas. A rede também deveria oferecer a essas pessoas a ajuda humana e espiritual que procuram para o desempenho da sua missão. Por outro lado, que aconteceria se não definíssemos com maior rigor os requisitos necessários para pertencer à rede e qualquer pessoa, com um mínimo de conhecimento e experiência dos EE.EE. e com uma superficial e vaga motivação apostólica, entrasse na rede? Como acontece com associações ou organizações de massa, com critérios para admissão vagos e pouco exigentes, a rede tornar-se-ia inteiramente ineficaz para o fim que se pretende, ao incluir um vasto e heterogêneo número de pessoas ou grupos com graus de experiência religiosa e motivação apostólica muito diversos. 1 RAI Se abríssemos com excessiva liberalidade as portas da rede, teríamos nela desde as pessoas que fizeram o mês completo dos EE.EE., em algumas das suas modalidades, e que renovam anualmente essa experiência, até pessoas que fizeram apenas um breve retiro de fim de semana, anos atrás, e ficaram nisso; desde pessoas que estão engajadas ou desejam se engajar seriamente no apostolado e ser protagonistas da nova evangelização, sacrificando tempo e energias para isso, até pessoas que nutrem apenas um vago desejo de fazer apostolado, mas nunca tomam os meios necessários para concretizar esse desejo; desde pessoas que estão dispostas a procurar, através da rede apostólica, o acompanhamento e apoio pessoal e espiritual de que precisam, para melhor levar adiante a sua missão, e também um espaço para partilhar com outros a sua espiritualidade e ideais apostólicos, até aquelas que preferem trabalhar sozinhas e não vêem necessidade de apoio comunitário, nem de colaboração e partilha. Por esses motivos, na nossa Província, preferimos não abrir demais as portas e não fixar condições excessivamente generosas e pouco exigentes para pertencer à rede, do contrário não valeria a pena iniciar essa experiência. Uma vez as portas estivessem escancaradas e qualquer um pudesse entrar, depois seria difícil fechá-las. Preferimos, pelo menos no início e para manter a autenticidade e vitalidade da rede, ser exigentes e criar os primeiros núcleos da rede sobre a base de uma experiência profunda dos EE.EE., e de uma sólida motivação apostólica: isto é, começar com núcleos de pessoas que, além da experiência espiritual pessoal, acreditem verdadeiramente na relevância dos Exercícios inacianos e da sua espiritualidade para os dias de hoje; com pessoas dispostas a partilhar essa espiritualidade com outros e a assumir, de verdade, o seu protagonismo apostólico. Tudo isso levou-nos a estabelecer como condição mínima, mas não única, para pertencer à rede, os Exercícios completos de 30 dias, feitos em alguma das suas modalidades, e a disposição de se engajar seriamente no desempenho da sua missão cristã no mundo de hoje, dedicando tempo para isso. A disponibilidade apostólica seria uma prova de que a experiência dos Exercícios teria sido integrada na dinâmica da vida de cada pessoa, em termos dum discernimento apostólico cotidianamente vivido, e dum trabalho apostólico motivado pela experiência espiritual e no contexto dela discernido e mantido. Também achamos que seria necessário para os - membros da Rede ter alguma referência comunitária, onde pudesse ajudar a outros e ser ajudados a viver a sua vocação e missão, partilhando idéias e experiências relativas à sua vida espiritual e aos seus compromissos apostólicos, particularmente com os membros da mesma Rede. 3. Necessidade de assumir um compromisso pessoal para entrar na Rede Se a rede é algo sério, concreto e exigente, as pessoas deveriam entrar nela consciente e deliberadamente, depois de discernir o que Deus deseja delas. Por esse motivo, achamos que ninguém deveria entrar sem preencher o mínimo de condições acima indicadas e sem assumir, diante de Deus, um certo compromisso formal e, de algum modo, também público. Depois de uma primeira fórmula de compromisso que incluía alguns aspectos que, depois de uma certa reflexão e consulta consideramos desnecessários, chegamos ao seguinte modelo de compromisso para a adesão à rede: "Eu ....., diante de Deus Nosso Senhor e desta comunidade aqui reunida, me comprometo a viver plenamente, com a graça de Deus, minha vocação e missão cristãs: - através da experiência dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, vividos fielmente e renovados anualmente; - através da partilha e transmissão dessa espiritualidade inaciana a outros cristãos leigos; 2 RAI - através do testemunho de uma vida apostólica voltada para o serviço dos outros e a evangelização e transformação de nossa sociedade. Assim fazendo, desejo e me comprometo a participar da Rede Apostólica Inaciana, em estreita união com todos os seus membros, no comum serviço à única missão de Cristo. Anima-me saber que a Companhia de Jesus se compromete não apenas a ajudar-me e acompanhar pessoalmente no desempenho da minha missão, mas também a colocar a serviço dessa Rede os recursos humanos e institucionais de que dispõe." (Local, data e assinatura) 4. Relação da Rede e dos seus membros com a Companhia de Jesus É evidente que como é a Companhia de Jesus a que toma a iniciativa para lançar a idéia dessa Rede Apostólica e de fato a lança, tentativa e experimentalmente, na nossa Província, existe uma estreita relação entre a Rede e os seus membros e a Companhia. Além do mais, tratando-se de uma Rede inspirada pela experiência religiosa dos Exercícios e pela espiritualidade inaciana, é natural que a Companhia considere os membros da Rede como parte da sua família espiritual, como pessoas que estão muito perto dela. Não é, porém, uma relação de dependência ou que estabeleça qualquer tipo de vinculação jurídica entre os membros da Rede e a Companhia ou os seus superiores. A adesão à Rede não implica absolutamente qualquer dependência ou subordinação a qualquer instância que seja, dentro da Companhia de Jesus. No mesmo decreto 13, a CG 34 também previu a possibilidade de pessoas se associarem com a Companhia mais formalmente, estabelecendo com ela uma vinculação jurídica, mas não se trata disso quando se fala da Rede e essa vinculação mais estreita, de natureza jurídica, não é absolutamente o objetivo ou a finalidade da Rede, embora não a exclua. Sendo a Rede uma entidade ou instituição criada pela Companhia de Jesus, toca a esta definir a sua natureza, finalidade e as condições para aceder a ela. Se qualquer um pudesse criar livremente núcleos da Rede, com inteira independência da Companhia, seria difícil manter a sua autenticidade inaciana e bem cedo a Rede poderia perder a sua identidade e vitalidade. Na Província do Brasil Centro-Leste da Companhia de Jesus, foi a Comissão Provincial para o Apostolado do Leigo (CAL), constituída por três jesuítas e três leigos (duas mulheres e um homem), que fixou os critérios para a admissão de membros: critérios que o P. Provincial aprovou. Também, para preservar a identidade da Rede o P. Provincial se reservou o direito de admitir, para fazer o compromisso de adesão à Rede, os leigos que assim o desejarem. De fato é a CAL que ajuda o Provincial a fazer esse discernimento para a admissão de futuros membros. Também, no início, o Provincial se reservou o direito de receber pessoalmente o compromisso dos primeiros 24 membros. Bem cedo, porém, foi estipulado que todo Superior ou Diretor de Obra da Província poderia receber esse compromisso, uma vez a admissão tiver sido aprovada pelo Provincial (ou pela CAL, por sua delegação). Embora a pertença a Rede não implique nenhum vínculo jurídico com a Companhia de Jesus, nem nenhuma dependência dos seus Superiores, é evidente que, como apontávamos antes, o fato de pertencer a uma Rede criada pela mesma Companhia, inspirada e animada pela experiência religiosa dos Exercícios Espirituais inacianos e pela espiritualidade apostólica que eles comportam, estabelece quase automaticamente uma relação muito estreita entre os membros da Rede e a Companhia de Jesus. Ainda que se exclua qualquer dependência dos membros da Rede da Companhia, temos de reconhecer que será de grande ajuda para eles manter uma relação estreita e um contato freqüente com a Companhia e com os seus membros, para aprofundar a mesma espiritualidade inaciana que os anima a melhor conhecer o carisma religioso e apostólico 3 RAI que ela implica, sem que isso signifique que eles renunciem de algum modo à autonomia e especificidade da sua vocação laical. O compromisso maior toca à Companhia de Jesus que cria a Rede, deve mantê-la, inspirála, animá-la e não pode nunca abandoná-la à sua sorte! A Companhia na medida das suas possibilidades, se compromete a colocar a serviço da Rede e dos seus membros, de modo a manter a Rede viva e operante, os recursos humanos e institucionais de que dispõe. 4 RAI No espírito do decreto 13 da CG 34, os jesuítas se comprometem a colaborar com os leigos na missão, não apenas nas obras da Companhia nas quais os leigos trabalham lado a lado com jesuítas, nem apenas em obras comuns, nas quais leigos e jesuítas compartiriam igual responsabilidade pela sua existência, funcionamento e continuidade, mas também em obras que os leigos iniciassem por própria iniciativa, sempre que, naturalmente, essas obras forem condizentes com o carisma apostólico próprio da Companhia. Isso aplica-se a todos os leigos. Muito mais, portanto, aos membros da Rede. 5. A Rede Apostólica Inaciana e as Comunidades de Vida Cristã (CVX) Com uma única exceção, todas as pessoas que pela primeira vez assumiram o compromisso de aderir à rede, criando assim o seu primeiro núcleo, pertenciam de fato às CVX. Por esse motivo, criou-se uma certa confusão na mente de algumas pessoas. Qual é a relação entre as CVX e essa Rede? Apresenta-se a Rede como uma alternativa em lugar das CVX? Qual é a diferença entre o compromisso que os membros da CVX também devem fazer, de um modo temporário ou definitivo, e o compromisso feito pelos membros da Rede? Podemos já adiantar, como uma primeira resposta a esses questionamentos, que a Rede não é uma alternativa em relação com as CVX e as duas coisas, embora distintas, são perfeitamente compatíveis: uma não exclui a outra. As CVX nasceram, como sabemos, das antigas Congregações Marianas, fundadas pelos jesuítas (mais concretamente, pelo Pe. Jean Leunis), já nos primórdios da Companhia, e que também se inspiram nos Exercícios e na espiritualidade inaciana. Embora haja muitos jesuítas vinculados com as CVX e o nosso Pe. Geral seja hoje, de fato (mas não "de iure"), o seu Assistente Eclesiástico, no nível mundial, elas não são propriamente uma obra da Companhia de Jesus como o é a Rede. "O Assistente Eclesiástico Mundial das CVX é indicado pela Santa Sé, após receber uma lista de nomes proposta pelo Conselho Executivo Mundial" (Princípios Gerais, n. 42). É verdade que o Vice-Assistente Eclesiástico é sempre "de iure" um jesuíta que preside o Secretariado Jesuíta para as CVX em Roma, Elas, porém, podem ser, e de fato algumas foram e são, estabelecidas e animadas por não-jesuítas, sempre que preencham as condições estabelecidas pelos seus estatutos e sejam reconhecidas como tais pelos órgãos diretores no nível mundial. Como uma Associação internacional pública de fiéis, de direito pontifício, não estão de modo nenhum subordinadas à Companhia de Jesus, mas regem-se pelos seus "Princípios Gerais" aprovados pela Santa Sé. O fato de ser membro das CVX, portanto, não implica necessariamente que se deva manter algum tipo de contato com a Companhia de Jesus, embora por razões históricas e, sobretudo, por causa da espiritualidade inaciana que as anima, esses contatos sejam de fato freqüentes e se não fosse pelo apoio da Companhia talvez elas não existiriam hoje. As CVX são parte integrante da grande família inaciana, e neste sentido, dada a sua natureza, a sua relação de parentesco com a Companhia é, sem dúvida, muito mais estreita e profunda da que têm outros membros dessa extensa família, como, por exemplo, os antigos alunos dos nossos colégios ou até os membros do Apostolado da Oração. Nada impede que os membros das CVX, como já o fizeram 28 deles na nossa Província, adiram à Rede, sempre que preencham as condições estabelecidas para essa adesão. Membros da Rede não pertencentes às CVX, também podem um dia formar uma CVX, se assim o desejarem. Em princípio, dada a inspiração que anima as CVX, sempre que houver membros das CVX que tiverem passado pela experiência dos EE.EE. completos, feitos seriamente em alguma das suas modalidades, e tiverem já feito o seu compromisso definitivo, seriam os candidatos "naturais" para fazer parte da Rede. Em que se distinguiria a Rede das CVX e que acrescentaria a Rede às CVX? 5 RAI 1) Em primeiro lugar, a Rede, como já dizemos, é uma "obra" da Companhia de Jesus e como tal depende dela. Não no sentido de ser "controlada" por ela, já que foi constituída para ser um projeto de "colaboração com os leigos na missão, no espírito da CG 34, mas simplesmente porque foi a Companhia que lhe deu existência e por isso mesmo assumiu o compromisso de mantê-la viva e operante. Nesse sentido, o grau de vinculação da Rede com a Companhia de Jesus é maior do que aquele que vige entre esta e as CVX". 2) Em segundo lugar, não existem na Rede, pelo menos por agora, pré-membros, membros temporários ou algo parecido. Os que entram na rede já devem ter a maturidade espiritual que supõe ter feito seriamente o mês completo dos Exercícios inacianos e a disponibilidade que se espera deles para assumir a sua missão e se engajar nas atividades apostólicas que um atento discernimento sugerir. 3) A dimensão apostólica é "o" elemento essencial da Rede. Trata-se não simplesmente de uma Rede de pequenos núcleos ou grupos de pessoas que reúnem periodicamente, como "comunidades de vida" para se ajudar mutuamente, confraternizando, rezando, meditando, etc., mas de uma REDE APOSTÓLICA: Rede inspirada e animada, como as CVX, pelo carisma religioso e apostólico e pela mística dos EE.EE. inacianos, mas orientada prioritariamente "para fora": para a missão, para a evangelização e transformação da sociedade (do ambiente familiar, do ambiente profissional e do trabalho, da vida pública, das instituições e estruturas da nossa sociedade, etc.), no contexto da "nova evangelização" desejada pela Igreja, e da qual os leigos estão convidados, pela mesma Igreja, a serem os protagonistas. 4) A Rede quer dar maior visibilidade e eficácia, no âmbito da Igreja e da sociedade e, eu diria, no nível "macro" e não apenas pessoal, familiar e comunitário, a um carisma e a uma espiritualidade nos quais acreditamos, que, do ponto de vista apostólico, achamos bastante relevantes para o mundo de hoje, e cujo valor para a formação espiritual e religiosa do laicato tem sido repetidamente reconhecido pela Igreja. A Rede, portanto, quer se tornar bem "pública" ("go public") e mobilizar um número cada vez maior de pessoas com essa perspectiva espiritual e apostólica e para isso dedicar tempo e energia para a sua formação. A Rede teria alguns dos elementos que caracterizam os "movimentos". 5) Nesse contexto, as CVX podem alimentar a Rede com novos membros, como aconteceu na nossa Província, e, a sua vez, a Rede pode alimentar e fornecer novos membros para as CVX. A Rede, porém, pode incluir membros que não são das CVX e, por outro lado, não todo membro da CVX, mesmo depois ter feito os Exercícios completos e o seu compromisso definitivo, pode se sentir necessariamente chamado a se engajar nessa Rede Apostólica, obra da Companhia de Jesus, e que por isso mesmo supõe um relacionamento mais estreito com ela e com os seus membros. 6. O papel e o valor do "experimento" apostólico para a concretização da "reforma da própria vida" e preparação para a missão A maior parte dos atuais membros da Rede já estavam engajados em atividades pastorais ou apostólicas antes de fazerem o mês de EE.EE. Para alguns deles os Exercícios não fizeram senão confirmar e aprofundar esses compromissos. Para outros, embora engajados em algum tipo de apostolado, o mês de EE. motivou um questionamento que, no espírito do "magis" inaciano, levou-os a se perguntar se não deveriam assumir novos ou diferentes compromissos. Finalmente, existe ainda outro grupo que ainda busca o modo de concretizar, livre e criativamente, o seu compromisso apostólico. Essa diversidade de situações, revela, por um lado, a seriedade com que os EE.EE. têm sido feitos e o seu impacto real na vida das pessoas. Por outro lado, no entanto, mostra a dificuldade de estabelecer uma "ponte", ou canal de comunicação, entre os valores evangélicos que constituem a novidade sempre atual dos EE.EE. no nível pessoal, e a 6 RAI concretização destes valores pessoais no nível social ou "macro". Não é fácil nem simples mudar hábitos profundamente enraizados, evitar os estímulos que, de toda parte, nos incitam a fazer isso ou aquilo, superar os condicionamentos que o "mundo", no sentido inaciano da palavra, nos impõe, etc. Reflete-se aqui a dificuldade que todos experimentamos para que o nosso desejo de conversão se concretize e encarne de fato na nossa vida de cada dia. Existem, porém, meios ou fatores que nos podem ajudar a superar esses obstáculos e, assim, "reformar a própria vida". Em grande parte, o método de aprendizagem espiritual, "o processo de transmissão de novos valores (de novos "conhecimentos", princípios, critérios... da mística) que o evangelho implica, contribui ou não para que de fato esses valores possam ser "apropriados", para que se estabeleça a "ponte" e se efetue aquela "passagem". Nesse contexto um "experimento" apostólico, de uma certa duração, em um "ambiente" ou "local" diverso daquele em que vivemos e trabalhamos, em contato com os mais pobres e necessitados, pode nos ajudar a superar aquelas barreiras e fazer a tão necessária passagem. Santo Inácio sabia disso e colocou os "experimentos" como parte importante e integrante da formação do jovem jesuíta e também da reciclagem e da vida do jesuíta não tão jovem e já formado. É preciso mudar, pelo menos por algum tempo, o nosso "status" ou "locus existencial", colocar-se em outro "habitat", servir a outro tipo de pessoas, fazer outro tipo de trabalho, por amor ao Reino e para se preparar para servi-lo melhor. Isso não é apenas espiritualmente saudável, mas até, do ponto de vista humano e psicológico, algo necessário para quebrar os condicionamentos em que vivemos, sair do "nosso" mundo, do nosso esquema ("pattern") de valores, e sair ao encontro do "outro", do "novo". É, com freqüência, o choque de que precisamos para desbloquear aponte e estabelecer a passagem entre o velho e o novo e assim discernir, com liberdade, o que Deus quer de nós aqui e agora. É interessante constatar que muitos outros, motivados por valores não tão explicitamente cristãos, nem tão inacianos, reconhecem o grande valor transformador do voluntariado e de um trabalho fora do ambiente em que vivemos, particularmente em ambientes pobres, e longe das pessoas com as quais nos relacionamos diariamente. A importância do voluntariado e o seu efeito transformador estão sendo reconhecidos, por exemplo, por uma das grandes firmas comerciais do Brasil que mantém um instituto de Desenvolvimento Social do qual participam, como voluntários, um grande número de funcionários e empregados. Na publicação periódica do instituto, uma gerente de uma das lojas declara: "P Instituto... possibilita ao voluntário tomar contato com uma realidade social que ele geralmente desconhece, o que faz com que passe a encarar a vida de outra maneira. Quando ele conhece as carências de uma outra entidade, começa a valorizar mais as pequenas coisas que possui e as relações em família." Outro gerente acha que "os voluntários são pessoas mais sensibilizadas e dispostas a colaborar, bem informadas e receptivas ao seu entorno, o que as torna mais competentes no trabalho." Segundo outro, através desse trabalho adquire-se "uma maior visão crítica". Outro acha que essas atividades voluntárias contribuem para melhorar a "auto-estima, pois leva a descoberta de que se tem muito a doar". O Diretor do Instituto sublinha que, além da solidariedade, o trabalho voluntário desenvolve a motivação pessoal e a capacidade de liderança e acrescenta: "Temos vários exemplos de associados que admitem ter melhorado suas relações em família e também a performance profissional depois de se tornarem voluntários." A Companhia de Jesus está agora estudando a possibilidade de desenvolver um sistema de voluntariado para o laicato, jovem e adulto, para toda a América Latina. O voluntariado, patrocinado pela Companhia, já existe em vários outros países da Europa e América do Norte, e até em alguns países da América Latina (México, Bolívia). Na Rede Apostólica Inaciana, o papel principal do "experimento" apostólico, em regime de 7 RAI voluntariado, seria ajudar os seus membros a se preparar melhor para concretizar a reforma da própria vida e para discernir e assumir a sua missão apostólica, em geral ou em termos de projetos apostólicos concretos, já de um modo mais duradouro e permanente. 7. Estrutura, organização e funcionamento da Rede A Rede Apostólica Inaciana nasceu faz pouco tempo (1996). É algo novo, experimental. Mas é necessário estruturar de algum modo a Rede, organizá-la e definir melhor o que se espera dela, antes que esse bebê recém-nascido morra de inanição! A atual coordenadora da Rede, Maria Clara Bingemef, já tem sugerido uma série de atividades e de encontros para manter o diálogo entre os membros da Rede aberto, e para podermos chegar, aos poucos, a essa maior definição dos meios necessários para o fim que pretendemos. Acho que essa abordagem é sábia. Tratando-se de algo novo, de uma rede na qual os leigos são os protagonistas, devemos evitar de precipitar-nos ou impor algo de cima para baixo e que não tenha sido o fruto de um processo de reflexão e discernimento em comum. Do ponto de vista de estrutura e organização, acho que a Rede, dados os fins que pretende, deve se organizar primeiro por núcleos regionais e, por agora, não em núcleos menores, já que esse nível mais baixo, pessoal e "comunitário", seria preenchido por outro tipo de organização, incluindo as CVX ou outros grupos, sem excluir absolutamente aqueles formados por membros da Rede que não pertencerem de fato a nenhuma outra organização. Nesse contexto é essencial que se desenvolvam núcleos nas outras principais cidades da nossa Província, particularmente em São Paulo e Belo Horizonte, para que a Rede não apareça como algo típico apenas do Rio. No que toca o núcleo do Rio, acho que também ajudaria criar uma certa distância e separação entre a Rede e o Centro Loyola, para não dar a impressão que pertencer à Rede não é tanto uma vocação, um chamado, quanto o "ideal", a finalidade ou meta de chegada dos que freqüentam centros para a formação espiritual e religiosa do laicato, como o Centro Loyola do Rio. Seria errado passar essa impressão. Não desejo deter-me demais nesse aspecto estrutural e organizativo, pelas razões indicadas. Acho que temos que discernir e descobrir juntos o nosso caminho. Quero apenas acrescentar, antes de terminar essas páginas, que, no meu modo de ver, a Igreja precisa hoje, muito e urgentemente, de um grupo que seja bem visível, dê a conhecer e encame uma espiritualidade e carisma apostólicos, hoje bastante necessários, que têm uma solidez e um efeito integrador reconhecidos pela Igreja e por todos aqueles e aquelas que fizeram em profundidade, a experiência dos Exercícios Espirituais inacianos. Acredito que a Rede poderia responder a essa necessidade. Os começos são sempre difíceis, mas a causa do reino de Deus merece os nossos estorços. Francisco Ivern, S.J. (10.04.97) Pe. Francisco Ivern S.J. é Provincial da Província do Brasil Centro-Leste. 8
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