subprojeto novos talentos furb
Transcrição
subprojeto novos talentos furb
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul SUBPROJETO NOVOS TALENTOS FURB – EDUCAÇÃO PARA O ECODESENVOLVIMENTO COM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR: UMA PROPOSTA ALTERNATIVA DE PESQUISAAÇÃO-FORMAÇÃO Cristiane Mansur de Moraes Souza (Universidade Regional de Blumenau – FURB - [email protected]) Carlos Alberto Cioce Sampaio (Universidade Regional de Blumenau - FURB e Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC-PR – [email protected]) Juarês José Aumond (Universidade Regional de Blumenau - FURB - [email protected]) Luciano Felix Florit (Universidade Regional de Blumenau - FURB - [email protected]) Anderson de Miranda Gomes (Universidade Regional de Blumenau – FURB - [email protected]) Eixo temático: Institucionalização da interdisciplinaridade Resumo: Com a aprovação no edital Novos Talentos (55/2012), o subprojeto Educação para o Ecodesenvolvimento com enfoque interdisciplinar, conjuntamente a outros três subprojetos, passou a compor o projeto institucional/FURB - Ecoformação e Literacia Informacional para a Educação Cientifica. Este projeto considera o fortalecimento do ensino básico em Blumenau (SC), por meio de ações dos programas de pós-graduação da FURB. O Município demanda atenção especial devido ao paradoxo entre os temas desenvolvimento e meio ambiente: Neste contexto, tem-se um dos IDH mais altos registrados entre as regiões metropolitanas brasileiras versus a alta vulnerabilidade aos desastres (68 enchentes num período de 150 anos). Assim, o Programa oportuniza o desenvolvimento de competências locais (para estudantes e professores da rede pública de ensino básico) na elaboração de projetos de desenvolvimento por meio de oficinas a partir dos temas: mudanças climáticas, associativismo e desenvolvimento territorial. Destarte, operacionalizar a interdisciplinaridade no ensino, pesquisa e extensão possibilita que uma dada atividade se valha simultaneamente de diferentes instrumentos de coleta e análise de dados, levando em conta pluralidade de variáveis que cada disciplina melhor comporta. O referido subprojeto considera a interdisciplinaridade como método para produção do conhecimento, o que pressupõe a integração entre professores de diferentes formações e estudantes de graduação e pós-graduação com os da rede pública de ensino básico. Neste artigo, apresentam-se traços gerais da experiência do subprojeto educação para o ecodesenvolvimento do programa Novos talentos em fase de implantação. Portanto, neste momento os resultados são apenas teóricos. O texto se justifica pela inovação institucional e por aliar educação, meio ambiente e desenvolvimento. 1 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul Palavras-chave: Educação para o ecodesenvolvimento; Interdisciplinaridade; Pós-graduação e graduação; Ensino básico; Blumenau (SC). 1. Introdução Como resultado dos compromissos firmados durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro, em 1992, avolumam-se reformas institucionais e regulamentações jurídicas, ao mesmo tempo em que se adensam redes transnacionais de movimentos ambientalistas (SCHERER-WARREN, 1999, p. 67). Neste sentido, ao se considerar o caso brasileiro, parece existir certo consenso entre especialistas quanto à evolução progressiva da consciência ambiental de alguns setores da população, incluindo-se nisto a percepção mais clara das transformações que vêm sendo processadas na estrutura e dinâmica do sistema político (CRESPO, 2000, p. 38). Contextualizado a essa prerrogativa, conceito de ecodesenvolvimento, termo cunhado no início da década de 70 para designar modalidade política e ambiental simultaneamente preventiva e proativa, afirma que é preciso considerar os problemas de recursos, ambiente, população e desenvolvimento de forma unificada (SACHS, 1997). Esta política é baseada no questionamento ético dos padrões comportamentais das sociedades no agravamento de uma crise multidimensional (AZKARRAGA et al,, 2011), sendo necessárias a formulação de estratégias e ações coletivas de longo prazo. O enfoque do ecodesenvolvimento pode ser considerado como um dos vários estilos de pensamento e de intervenção que coexistem no debate contemporâneo sobre ambiente e desenvolvimento (GODARD, 1997; LARRÉRE, 1997). Este pode ser considerado como um estilo de desenvolvimento em que cada ecorregião insiste na busca de soluções específicas para seus problemas localizados, o que originou o termo zona de educação para o ecodesenvolvimento - ZEE, levando em conta não só a dimensão ecológica, mas também a cultural, bem como as necessidades socioeconômicas imediatas e de longo prazo. Destarte, o ecodesenvolvimento opera com critérios de progresso relativizados a cada caso específico, desempenhando assim um papel importante a adaptação ao meio, tal como se vislumbra na ZEE. Não obstante, não é negada a importância dos intercâmbios, mas sim tenta reagir à moda predominante das soluções pretensamente universalistas e das fórmulas aplicáveis a qualquer situação. No exercício de se atribuir uma importância excessiva à ajuda externa, confia-se na capacidade das comunidades em identificar seus próprios problemas e apresentar soluções originais para os mesmos, ainda que se inspirando em experiências alheias. Ou seja, reage contra as transferências passivas e o espírito de imitação ao enaltecer a autoconfiança de um grupo e valorizar suas potencialidades e saberes locais. 2 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul De mesma maneira, o ecodesenvolvimento, mesmo que o nome venha a induzir um pensamento equivocado do termo, não vem resvalar um ecologismo exacerbado, sugerindo em oposição, a possibilidade de canalizar um esforço criador visando aproveitar a margem de liberdade oferecida pelo meio ambiente, por maiores que sejam as restrições climáticas e naturais. Além disso, a diversidade de culturas e das realizações humanas obtidas em meios naturais comparáveis são testemunhos eloquentes desta possibilidade de convergir transformações no meio de maneira sustentável e geradora de oportunidades. Ou seja, o êxito na aplicação do ecodesenvolvimento pressupõe o conhecimento do meio por parte dos atores que lhe integram e a vontade de atingir um equilíbrio durável entre o homem e a natureza. Uma forte e coerente reflexão sobre essa política ambiental e modelo de desenvolvimento está pautada na verificação de que os fracassos e os desastres que algumas sociedades sofreram oferecem um testemunho menos eloquente do preço elevado que se paga pela incapacidade de gerir as relações entre o homem e a natureza (SACHS, 2007, p. 65). Ao se pensar sobre modelos de desenvolvimento que incidem sobre as sociedades, observa-se que as transformações ambientais no planeta correspondem à expressivas contribuintes na elaboração e execução das mesmas. Neste contexto, a globalização e a consequente ampliação dos níveis de produção e consumo também estão agregadas a outro fenômeno ainda mais complexo e que reflete diretamente no processo de desenvolvimento das populações, as mudanças climáticas. Segundo ao 4º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2007) a temperatura planetária aumentará de 1,8% a 4% até 2100, sendo que as emissões por mudança do uso da terra e das florestas contribuem com 17% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE). (Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República – Brasil, 2011; JUVENAL, 2011). A elevação da temperatura impacta diretamente os aspectos socioeconômicos, pois incide sobre o regime das chuvas, ocasionando distorções como secas e inundações; desencadeiam epidemias e pragas, ameaça à infraestrutura de abastecimento de água e energia; incide sobre o processo de eustasia, resultando na elevação do nível dos oceanos e na consequente transgressão do mar sobre o continente, ocasionando o processo erosivo costeiro; além dos impactos na produção de alimentos que ocasionaria um cenário de fome e miséria (GOMES, et al., 2013). As políticas públicas nacionais e subnacionais tem um papel muito importante na alteração do território e das transformações socioeconômicas e ambientais. Nesse contexto, o amadurecimento de políticas públicas nacionais sobre mudanças climáticas pode desempenhar um papel essencial para o avanço da agenda internacional do clima, contribuindo para que tal agenda seja mais harmônica, uníssona e, portanto, mais efetiva (ROMEIRO, 2011, p.43). 3 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul Frente a essa situação, as medidas de mitigação reportam-se ao âmbito regional e local, o qual deve ser tratado de maneira pragmática, considerando que uma abordagem que contemplem estes problemas de maneira interdisciplinar. A multidisciplinaridade não é suficiente para abarcar as questões complexas da atualidade, as questões dos problemas gerados na relação sociedade e meio ambiente (LEFF, 1994; GARCIA, 1994; PAUL, 2011). Assim, tem-se o meio ambiente como conceito relacional sistêmico, definido através de relações de interdependência socioambientais (GARCIA, 1994). Neste contexto, uma abordagem que contemple todas as nuanças sobre o meio ambiente, na sua visão mais contemporânea, deve estar baseada num estudo interdisciplinar. Atualmente, a interdisciplinaridade é proclamada não só como um método e uma prática para a produção do conhecimento, mas também como instrumento de integração operativa na resolução dos cada vez mais complexos problemas de desenvolvimento, além de aparecer com a pretensão de promover intercâmbios teóricos entre as ciências e de fundar novos objetos científicos (LEFF, 1994, p. 70). Na abordagem dos problemas da relação sociedade e meio ambiente, alicerçam-se entre os documentos brasileiros da Rio + 20 – Conferencia das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, especificamente o documento sobre desafios emergentes do desenvolvimento sustentável. Neste, o item educação indica que “cabe ao Estado e à sociedade civil organizada desenvolver ações abrangentes e colaborativas que visem ao fortalecimento da dimensão cultural do desenvolvimento, levando em consideração a construção de sociedades mais justas e conscientes (UNESCO, 2010). Ao lado de experiências brasileiras emblemáticas de educação para o desenvolvimento territorial, como o caso da Universidade Camponesa (Unicampo), a qual formou trinta e cinco líderes camponeses em um dos territórios mais pobres da região do Nordeste do país (COUDEL & TONNEAU, 2010), a Zona Costeira Catarinense (VIEIRA, 2011), a ZEE do Rio Sagrado (DIAS, SAMPAIO, SKEWES, 2011; MANSUR et al., 2012; MANSUR et al., 2013) e a ZEE de Blumenau podem ser apontadas como trajetórias inovadoras de educação para o codesenvolvimento territorial1. A educação nos casos citados é pensada a partir de experiências que dão respostas a problemas reais, uma educação centrada em vivencias do cotidiano, e projetos de ação, superando a tradição de ensino e 1 Termo utilizado pelo professor Paulo Freire Vieira, o qual considera o ecodesenvolvimento como um processo de mudança gradual de estilos de vida. Ao mesmo tempo em que valoriza o ecodesenvolvimento surgido em Estocolmo em 1972, desvaloriza o termo desenvolvimento sustentável, que se popularizou a partir do Rio-92. O termo ecodesenvolvimento territorial prioriza o fundamento normativo do ecodesenvolvimento e agrega o conceito de desenvolvimento territorial, que considera princípios de economia associados a recursos, serviços e atores de forma territorializada. 4 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul aprendizagem que delimita a teoria em espaço abstrato, de cunho conteudista, distanciada da realidade (MANSUR & SAMPAIO, 2011). Na sociedade chamada da informação, muitas vezes, há excesso de conteúdo, a ponto que há um transbordamento de dados que não necessariamente levam a informação e muito menos ao conhecimento. Há que se desfazer o mal entendido de que o termo sociedade da informação funciona como sinônimo de sociedade do conhecimento. Acredita-se, atualmente, que o processo de ensino e aprendizagem não é outra coisa que adquirir e processar informação (BONDÍA, 2002). No entanto, parte-se como pressuposto que é componente fundamental deste processo a experiência, a prática, o saber territorial, no qual conduz a transformação, a autotransformação e, enfim, a emancipação do sujeito. Portanto, o enfoque de ensino e aprendizagem relevando a experiência nestes termos desempenha papel central no que se está chamando de educação para o ecodesenvolvimento territorial. Este artigo vai ao encontro desta demanda, relatando aportes teóricos e metodológicos, e a institucionalização da interdisciplinaridade do subprojeto Educação para o ecodesenvolvimento com enfoque interdisciplinar, pertencente ao Programa institucional FURB, Ecoformação e Literacia informacional, edital Novos Talentos FURB edital 55/2002 - CAPES. O programa faz parte da Zona de Educação para o Ecodesenvolvimento (ZEE) de Blumenau (SC), e mais especificamente na Microbacia do Ribeirão Fidélis, Microbacia hidrográfica do Itoupava Central, Microbacia hidrográfica do Ribeirão Fresco, e bairro Itoupavazinha, os quais contextualizam áreas rurais e urbanas do município de Blumenau (SC). A ZEE baseia-se em enfoque de pesquisa-ação participante que pode ser definida como processo de questionamento sistêmico, no qual aqueles que estão experimentando uma situação problemática participam, em colaboração com pesquisadores, na execução da pesquisa e nos rumos das decisões a serem tomadas, diante das demandas comunitárias surgidas e não necessariamente das priorizadas pelo pesquisador (SEIXAS, 2005, p. 80). A primeira parte do texto apresenta breve introdução ao tema. A segunda parte aborda os desafios colocados à construção da interdisciplinaridade e a problemática socioambiental, com uma subdivisão sobre o referido subprojeto Novos Talentos - FUB e sua metodologia. Inclui-se na terceira parte algumas reflexões, de escopo mais genérico sobre o papel da interdisciplinaridade na educação. Na quarta parte apresentam-se as considerações finais. 5 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul 2. Educação para o ecodesenvolvimento: O desafio da construção de competências a partir da interdisciplinaridade e da problemática socioambiental O significado de competência segundo o dicionário (BUENO, 1975) designa a qualidade de quem é capaz de apreciar certo assunto, aptidão ou luta. Em relação ao termo em língua inglesa correspondente à competência, “know-how” – “pratical knowleage” ou “skill” (HORNBY, 1984), tem-se a referência como conhecimento prático e habilidade de saber fazer algo. Se o processo de produção do conhecimento se dá por meio de experiências, é certo que o significado de conhecimento seja ciência, experiência (BUENO, 1975). Assim, observa-se que o que diferencia os termos competência e conhecimento é a capacidade de agir dos indivíduos ou das coletividades. Pode-se entender que uma maneira de se aprender é por meio da atividade prática, ou seja, o do fazer. Neste sentido, o que é fundamentalmente novo, nesta experiência, é que a mesma foi centrada no desenvolvimento das competências, não só dos membros comunitários, mas nas competências dos doutorandos, mestrandos e acadêmicos da graduação, que conduzem as oficinas e que vivenciam na prática a teoria sobre a qual estavam estudando. Diferente da maioria de programas de extensão que se dá por meio de cursos de capacitação à comunidade e para seus próprios acadêmicos, o Novos Talentos privilegia o envolvimento da pós-graduação com os problemas reais do educação básica, privilegiando o enfoque de pesquisa-ação participativa. O que se pretende com este programa é enfatizar que essa nova abordagem na geração e gestão do conhecimento, que cada vez mais afeta os modelos éticos, científicos, tecnológicos e educativos (VILLAVERDE, 1997), requer um olhar interdisciplinar rumo a transdisciplinaridade, capaz de explicar a natureza sistêmica e complexa do problema a ser abordado/pesquisado. Um olhar interdisciplinar requer uma síntese integrativa dos elementos de análise a partir de três fontes: (i) o objetivo de estudo, ou seja, o complexo sistema. A origem de um problema não se reduz à mera justaposição de situações ou fenômenos que permanecem ao domínio exclusivo de uma disciplina; (ii) o quadro conceitual a partir do qual aproxima-se do objeto de estudo, ou seja, o teórico cuja perspectiva os pesquisadores identificam, selecionam e organizam dados para propor o estudo.(iii) os estudos disciplinares que correspondem aos aspectos ou “cortes” de uma realidade complexa, vistos de uma disciplina específica (GARCÍA, 1994, p. 6). Não são mais tão raros os estudos que utilizam equipes multidisciplinares, no entanto privilegiam-se apenas a chamada interdisciplinaridade teórica. A interdisciplinaridade teórica pode ser entendida como a construção de um novo objeto científico, a partir da colaboração de diversas disciplinas e não somente como o tratamento comum de uma temática (LEFF, 1994). A verdadeira interdisciplinaridade pressupõe uma 6 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul cooperação intensa e coordenada sobre uma finalidade, porém, de uma problemática comum (JOLLIVET & PAVÉ, 1998). Segundo Villaverde (1997), o enfoque ecossistêmico parte de um modelo mental, de uma correlação metodológica, isto é, de um planejamento que permite trabalhar de maneira articulada e orientar os processos para um conhecimento integrado entre diferentes disciplinas. Nas palavras do mesmo autor traduzir esta ideia ao plano da ação supõe buscar aproximações metodológicas coerentes. Ao fazê-lo, a metodologia interdisciplinar apresenta-se como a formula mais apropriada para se associar diversos enfoques na interpretação de realidades complexas, como são os sistemas ambientais (VILLAVERDE, 1997, p. 41). Assim o sistema socioambiental complexo das Microbacias Hidrográficas do Rio Fidélis, Ribeirão Fresco e Itoupava Central e bairro Itoupavazinha, está sendo abordado a partir de uma análise ambiental participativa. Constitui-se no desenvolvimento de uma metodologia que pode prestar auxílio aos atores que interagem no processo de planejamento e gestão para desenvolvimento de bacias hidrográficas. Se o desenvolvimento, por definição, é sempre territorializado (JEAN, 2010), implica que o desafio está no processo de participação, da territorialização do desenvolvimento, à medida que há ato de determinação nas comunidades de promovê-lo (JEAN 2010; BRANDÃO, 2004). Esta noção é uma necessidade imperiosa para que os processos de desenvolvimento aconteçam sem a necessidade de se ter em tempo integral, uma equipe externa de acompanhamento. Neste momento, desenvolve-se o que se chama de emancipação. Destarte, um desenvolvimento social emancipatório, tal como sugere Paulo Freire, ou seja, um desenvolvimento humano, que é o objetivo fim e o grande desafio na construção de competências. No desafio da construção de competências, o método de pesquisa-ação é recomendado a partir de um visão interdisciplinar pelo fato de se permitir em princípio a realização de dinâmicas coletivas e um duplo circuito de aprendizagem. Em outras palavras, os facilitados assim como os educandos desenvolvem suas competências, a partir da experiência. O programa prioriza a inserção de acadêmicos no processo de extensão, sendo que os alunos de pósgraduação realizam a parte empírica de suas dissertações e teses nas atividades junto a comunidade. Desta forma se envolvem com a experiência, fomentando a formação de professores e alunos da educação básica de ensino fundamental de Blumenau. Durante as oficinas valoriza-se o resultado dos trabalhos em grupo dos professores do ensino fundamental, criando espaço institucional para que estes apresentassem sua posição e projetos de ação, perante a sociedade civil organizada de cada localidade, onde as escolas estão inseridas. Desta forma, fortalece-se o pacto territorial rural no sentido de formação de competências para o ecodesenvolvimento. Estes esforços se inscrevem na tentativa de reverter, ou pelo menos, minimizar os efeitos perversos do padrão de desenvolvimento que se instala na localidade. Como mencionado anteriormente, a área de 7 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul estudo está centrada no contexto de um projeto em andamento na Zona de Educação para o Ecodesenvolvimento nas Microbacias hidrográficas do Ribeirão Fidélis, Ribeirão Itoupava Central, Ribeirão Fresco, e bairro Itoupavazinha (todos pertencentes ao Município de Blumenau, SC). As referidas áreas apresentam sensibilidade ambiental seja porque ocupam as planícies de inundação dos rios as quais pertencem, ou ocupam áreas muito declivosas, suscetíveis a deslizamentos. Tem-se especial atenção a Microbacia do Ribeirão Fresco, a qual está densamente ocupada em sua parte mais elevada (com características de favelas), e na sua maioria situada em áreas de Área de Preservação Permanente -APP. Nas encostas com declividade superior a 45º a ocupação ocorre de maneira irregular. Além disso, a ocupação se deu principalmente no entorno e sobre o rio, o que torna a área extremamente vulnerável aos desastres ambientais como deslizamentos e fortes enxurradas. No trabalho de campo realizado é possível notar cicatrizes de escorregamentos antigos, evidenciando o risco em que as famílias estão submetidas. Em eventos de deslizamentos várias famílias perderam bens materiais, contudo, devido à falta de condições financeiras, acabaram permanecendo no local. A área mais densamente ocupada é caracterizada por ser um vale em forma de “V” fechado, evidenciando a sua vulnerabilidade aos desastres. Nesta localidade do Ribeirão Fresco percebe-se um forte impacto ambiental, seja pelo desmatamento para a construção de casas irregulares, bem como da grande quantidade de lixo encontrada no curso do rio e em suas margens. Neste sentido, os trabalhos de campanha, do programa de extensão, mostram realidade local de conflitos entre assentamentos, legislação ambiental e problemas sociais. Partiu-se então do princípio de que o caminho para um novo modelo de desenvolvimento necessita abordar a problemática ambiental de forma interdisciplinar, o que poderia corroborar no entendimento coletivo da região onde se vive (tomando-se neste caso as microbacias hidrográficas como unidades de análise). Atualmente, em todas as áreas do conhecimento, incluindo as ciências sociais, econômicas e ambientais, está se consolidando um ponto de vista que propõe que toda ação científica tende a se organizar para uma prática que transcende o conhecimento de uma disciplina isolada. Para Max-Neef (2007), a grande dificuldade na gestão do conhecimento é que os problemas contemporâneos são enfrentados e resolvidos sob uma visão disciplinar. Leff (2003) sugere que para se pensar uma racionalidade ambiental, deve-se valer também da lógica instrumental, de maneira em que haja interlocução com o paradigma economicista, que sob tais argumentos apresentados, não seria difícil de redenominá-lo como mau desenvolvimento (SACHS, 2003; 2004). Diante deste quadro, apresenta-se a questão norteadora: Qual seria a abordagem para os conflitos ambientais na tentativa de construção interdisciplinare em ensino, pesquisa e extensão? O programa “Novos Talentos subprojeto Educação para o ecodesenvolvimento”, apresenta-se como um primeiro passo para a 8 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul construção da interdisciplinaridade, no sentido de mediar conflitos ambientais, através da mobilização de atores locais, professores de escolas públicas básicas das localidades em estudo. 2.1 Programa Novos Talentos subprojeto Educação para o ecodesenvolvimento com enfoque interdisciplinar Uma das missões da Universidade Regional de Blumenau – FURB é promover o ensino, pesquisa e extensão, com intensa inserção social. Entre os objetivos estratégicos destacam-se a busca em atender demandas locais e intervir proativamente no ambiente externo por meio da ampliação do relacionamento, representatividade e inserção comunitária (FURB, 2008). Neste sentido, a FURB vem realizando parcerias com outras instituições sociais no sentido de se fazer cumprir esta missão. Dentre as muitas parcerias, destaca-se a estabelecida com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Universidade Austral do Chile, que deu origem a Zona de Educação para o Ecodesenvolvimento (ZEE), nas comunidades do sudoeste da Microbacia hidrográfica do Rio Sagrado, em Morretes, Paraná. O aprendizado adquirido nesta experiência e durante outros estudos e vivencias (2009-2012), serviu de suporte para a criação do subprojeto Educação para o ecodesenvolvimento com enfoque interdisciplinar, que se inscreve no programa institucional FURB Novos Talentos, edital 55/2012 – CAPES. Considerando o binômio desenvolvimento e meio ambiente em toda sua complexidade, processos de sensibilização ambiental são desenvolvidos, a partir da Zona de Educação para o Ecodesenvolvimento ZEE, que fazem parte da região laboratório de educação para o ecodesenvolvimento do Litoral de Santa Catarina, Ibiraquera, (VIEIRA, 2011), a ZEE do Morretes - Rio Sagrado/PR (DIAS, SAMPAIO, SKEWES, 2011; MANSUR ET AL, 2012; MANSUR et al, 2013) de Blumenau. Entende-se como regiões laboratórios os espaços de diálogo entre pesquisadores, gestores, coletivos de pesquisa no intuito de fomentar a pesquisa explorando o potencial pedagógico e o diálogo entre os atores sociais múltiplos na formação para a cidadania, dados confiáveis e projetos de rede (LÉVÊQUE, 2000). Esta proposta é inovadora no sentido de que articula estratégias educacionais para fortalecer a educação básica, a partir de temas da geografia e perspectivas econômicas. Na geografia estuda os temas impactos ambientais da produção do espaço e na economia estimula a contextualização de arranjos produtivos locais entendidos a partir do enfoque do cooperativismo. Abre para os alunos e professores da rede pública uma forma inovadora e contextualizada de compreender a relação entre as características econômicas das sociedades e a produção do espaço. 9 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul Neste contexto, a ZEE, é uma experiência que procura compreender e propor alternativas para que se fortaleçam os modos de vida tradicionais das populações a partir do conceito de ecodesenvolvimento. Neste sentido, o programa de Novos Talentos da FURB (2013-2014) tem como desafio a criação de cenários alternativos para experimentação de novas metodologias de ensino-aprendizagem frente ao papel da universidade no desenvolvimento local. Neste programa de extensão considera-se a interdisciplinaridade como método para a produção do conhecimento, integrando cientistas na reflexão sobre os problemas complexos de desenvolvimento. O programa proposto envolve um grupo multidisciplinar de pesquisadores que inclui: geólogo, arquiteta, geógrafo, ecossocioeconomista e sociólogo; estudantes dos Programas de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional/FURB e Meio Ambiente e Desenvolvimento/UFPR e; acadêmicos da graduação dos cursos de Arquitetura e Biologia da FURB. A participação comunitária é uma forma de tornar possível a articulação entre atividades acadêmicas e anseios legítimos da comunidade. Neste contexto, a pesquisa sobre os fatores físicos naturais da mesma localidade coordenada pelo grupo de pesquisa análise ambiental e geoprocessamento fornece conhecimento sobre a geografia da área e o programa Novos Talentos da FURB, através deste subprojeto, valoriza o modo de vida de populações tradicionais e indiretamente incentiva esta população a permarnecer na localidade e a preservá-la. O objetivo central das oficinas do referido subprojeto do programa Novos Talentos FURB é transpor a noção reativa de resolução de problemas para a proativa, a partir das noções de desenvolvimento local à luz do ecodesenvolvimento. É neste contexto que se inscreve o subprojeto Educação para o Ecodesenvolvimento com enfoque interdisciplinar. 2.1.1 Metodologia do Subprojeto Educação para o ecodesenvolvimento com enfoque interdisciplinar Em ambiente de pesquisa-ação-formação, a metodologia das oficinas implica elaboração participativa de mapas temáticos sobre meio físico natural da área de localização das escolas municipais parceiras do projeto, exposição de filmes, trabalhos de campo. Nos temas abordados considera-se a crise socioambiental e seu contexto, ecodesenvolvimento, cooperativismo com enfoque de prioridade ao alcance de finalidades sociais e valorização da participação e da autonomia. No final a oficina construção de competências para projetos de ação territorial, elabora-se projetos que melhorem a qualidade do meio onde os participantes vivem. A metodologia do projeto se expressa com destaque na valorização de atitudes inerentes ao pleno exercício da cidadania e responsabilidade ecológica na oficina e prevenção de desastres/monitoramento. Esta contempla alternadamente as três esferas interrelacionadas que estão na base de um novo projeto de 10 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul sociedade e de civilização (SAUVÉ, 2001), ou seja: (1) A esfera da relação da pessoa consigo mesma: construindo o sentido de identidade pessoal, que se desenvolve quando o aluno se identifica como monitor de indicadores ambientais (oficina de prevenção de desastres naturais e monitoramento); (2) A esfera da relação da pessoa com outras pessoas: entende-se que estudar os efeitos das mudanças climáticas, não só no caso da ocupação da serra do Mar (Blumenau), relaciona o entendimento sobre processos naturais do litoral como todo, tema, aliás, recorrente nos vestibulares das universidades. Sugere-se que o diagnóstico ambiental deve ser realizado durante a etapa 2; 3) A esfera da relação ecológica (do espaço da vida compartilhada que leva em conta a rede formada por outros seres vivos). Neste caso, incluí-se o estado do meio ambiente biofísico e social, as transformações na paisagem provocadas por diferentes modalidades de apropriação do espaço territorial ao longo do tempo. O projeto pedagógico das oficinas procura integrar a graduação e a pós-graduação e os professores e alunos da rede pública através das oficinas (1), (2) e (3), o que conflui para valorização de atitudes e valores de conservação da biodiversidade e para a autorrealização individual e comunitária. A metodologia considera uma abordagem complexa de saberes locais, isto é, das compreensões distintas sobre o mundo natural (TOLEDO & BARRERA-BASSOLS, 2010). Esta compreensão emerge do contexto da crise paradigmática da ciência moderna e da necessidade de abertura ao diálogo com outros saberes. Trata-se de uma construção de metodologia que propõe a aprendizagem e compartilhamento entre conhecimentos tradicionais e científicos, estratégia particularmente apropriada na educação para o ecodesenvolvimento (SAUVÉ, 1996: 89). O processo de educação está em curso no contexto de uma Zona de Educação para o Ecodesenvolvimento (ZEE) de Blumenau. A ZEE é um espaço de educação e práticas de projetos em torno do conceito de ecodesenvolvimento, que prioriza o artigo 127 da constituição brasileira, que obedece ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. O conhecimento desenvolvido durante as atividades práticas das oficinas objetiva identificar e caracterizar as unidades da paisagem da área de estudo, pode ser definido como pesquisa servindo de base empírica para os trabalhos dos alunos da pós-graudação e utilizado como base para dar exemplos práticos aos professores e alunos da rede pública, sendo desta forma aplicado na extensão. Na educação para o ecodesenvolvimento procura-se integrar saberes locais e conhecimento científico, tomando por base o indivíduo em constante processo de maturidade, para torná-lo protagonista de sua história. Neste processo o que o mais importa como resultado deste subprojeto Novos Talentos é o desenvolvimento da autonomia dos professores e alunos da rede pública e dos monitores alunos da graduação e pós-graduação da FURB. 11 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul Na oficina de prevenção de desastres naturais, destacam-se os indicadores pluviométricos e hidrológicos, no ensino do monitoramento dos indicadores socioambientais participativos. Desta forma, a metodologia e os resultados esperados cumprem com o que se preconiza na Zona de Educação para o Ecodesenvolvimento, aplicando o conceito de Freire (1983) que afirma: só aprende aquele que se apropria do aprendido, [...], sendo capaz de aplicar o aprendido às situações existenciais e concretas. Neste sentido a interdisciplinaridade é fundamental, pois a partir dela é que se pode observar os problemas reais, particularmente na abordagem dos problemas ambientais (GARCÍA, 1994). Sobretudo, prioriza-se o desenvolvimento humano, tanto do educando como do educador. Acredita-se que durante o processo, os alunos e professores da rede pública, por participarem das atividades de monitoramento de diagnóstico ambiental aprendem uma forma de redescobrir a realidade local, usando para tanto a troca de saberes e o diálogo. Para os monitores alunos da graduação e pós- graduação envolvidos neste subprojeto, destacam-se a aprendizagem e vivencia como parte do processo mais amplo da educação e entende-se que esta não pode ser unidirecional, no sentido educador-educando, pois como tal seria domesticadora e não libertadora (FREIRE, 1976). Assim, deve transitar em ambos os sentidos, dialeticamente, de tal modo que o educador, além de ensinar, passa a aprender e o educando, além de aprender, passa a ensinar. Surgirá assim: i) não mais um educador do educando; ii) não mais um educando do educador; iii) mas um educador–educando com um educando-educador (BECKER, 2010, p. 17). Entre as ações previstas nas oficinas a interação entre os alunos e professores da educação básica com os cursos de graduação e pós-graduação da FURB, se dá através do desenvolvimento das oficinas, que incluem, por exemplo: trabalhos de campo com análise geológicas das área de estudos, visitas técnicas á defesa civil, departamento de geologia da prefeitura municipal de Blumenau (PMB), secretaria de desenvolvimento regional e viagem de estudos para o Ecomuseu Agobar Fagundes em Blumenau, como forma de estimular a aprendizagem significativa e responsabilidade ecológica. 3. Papel da educação e sua contribuição para a institucionalização da insterdisciplinaridade A despeito da crise civilizatória, a qual foi enunciada de forma sucinta na primeira parte deste trabalho, tem-se que se pensar as dimensões morais conjuntamente com um olhar crítico de análises científicas e econômicas. Como proposto por Dansereau (VIEIRA, RIBEIRO, 1999) a grande parte dos problemas até então vividos está na causa e consequência da crise de valores e moral presentes na visão antropocentrista das sociedades ocidentais capitalistas, gerando assimetrias nas relações homem e natureza e também homem e homem (FERNANDES & SAMPAIO, 2008). Sendo que a prescrição moral não advém da prescrição ecológica, os riscos impostos à biosfera (de maneira irreversível), ainda não são percebidos na 12 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul sua totalidade, gerando uma crise na consciência sobre os problemas gerados pela ação antrópica e suas consequências na natureza (MORIN & KERN, 1995). Diante de tal contexto, surge a oportunidade das experiências no subprojeto Educação para o Ecodesenvolvimento do Projeto Novos Talentos. Este privilegia o conhecimento e a compreensão, a proposição e o agir sobre o território por meio da difusão do conhecimento e do estreitamento dos laços entre Universidade, ensino básico e comunidade. O protagonismo do sujeito, sugerido por Freire (1996), no qual o indivíduo passa a ter consciência do seu papel social, sendo parte indissociável e importante de sua comunidade, faz com que seja promovido o ecodesenvolvimento territorial. Essa consciência é alcançada quando por meio das percepções pessoais do grupo os problemas podem ser abarcados por visões interdisciplinares, levando a pensar questões de ordem epistemológica, reinterando as ciências humanas às biológicas, nas ciências ambientais, pensando o ecodesenvolvimento territorial e revelando que os custos ecológicos de nossa geração serão os custos sociais das gerações futuras (PENA-VEGA, 2003). Assim, a complexidade de um sistema não está determinada apenas na heterogeneidade dos elementos (subsistemas) que compõe a natureza do que é normalmente situado dentro do domínio de vários ramos da ciência e da tecnologia. Ha também a dependência mútua e a interdefinição das funções destes elementos dentro do sistema integral, que exclui a possibilidade de uma análise de um sistema complexo, simplesmente pelo estudo de cada setor dos elementos isoladamente (GARCIA, 1994). Quando se diz que a pesquisa é interdisciplinar, não tem se por si só um tipo de estudo necessário para que se entenda o sistema complexo, não excluído, mas quaisquer estudos parciais de seus elementos ou funções e nem dispensar estudos especializados. Ao deixar de fragmentar o estudo diminui-se os riscos de perder contato com o problema original, pois se tem visão geral dos problemas na interpretação de uma realidade complexa. O trabalho interdisciplinar exige equipe composta por especialistas de diferentes áreas, sendo condição necessária, não obstante insuficiente para alcançar a compreensão do problema. Ainda, a interdisciplinaridade não surge espontaneamente com a junção destes especialistas, mas requer uma preocupação conjunta destes sobre determinadas questões que os afligem. O conhecimento científico interdisciplinar deve ser empírico, interpretativo e também crítico. De mesma maneira, o trabalho científico e as universidades tem se defrontado com um grau de complexidades que exige ir além das fronteiras disciplinares (LEIS, 2011, p. 117). Neste sentido, considerando o papel do sistema de ensino, ou seja, da educação na institucionalização da interdisciplinaridade reveste-se de sentido quando observamos a natureza dos sistemas complexos. 13 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul Somente com a interdisciplinaridade que o sistema de ensino e de inovação toma vida, no sentido de que o conteúdo, as estruturas e os pontos de junção das disciplinas mudam constantemente sob a influência das ligações de coordenação que estabelecemos ao perseguir o objetivo de um sistema comum. A interdisciplinaridade torna-se assim uma noção chave para empreender o ensino e as inovações na ótica dos sistemas (JANTSCH, 1972, p. 107). Os sistemas complexos ambientais só podem ser vivenciados se tratados de forma interdisciplinar, eles exemplificam a necessidade da interdisciplinaridade em abordagens ambientais. [...] é mais fácil chegar a acordo sobre o que abandonar e vencer a velha prática de pesquisa, para chegar ao acordo sobre uma proposta. Há certamente o consenso de que tratam os problemas ambientais com a verdadeira articulação das várias disciplinas envolvidas, a fim de obter um estudo integrado neste problema complexo. Os estudos interdisciplinares são uma preocupação fundamental em muitas universidades e institutos de pesquisa. A busca de formas organizacionais que fazem trabalhos interdisciplinares surge sem dúvidas como uma reação à excessiva especialização que revalece no desenvolvimento da ciência moderna (GARCIA, 1994, p.4). Pois se é na interdisciplinaridade que se aborda os problemas concretos, é na vivencia na experiência que a educação precisa estar centrada. Para seguir por este caminho, “o problema não é tanto o de se abrir as fronteiras entre as disciplinas, mas o de se transformar aquilo que gera essas fronteiras: os princípios organizadores do conhecimento" (MORIN, 2000, p. 25) No contexto brasileiro, sete anos após a realização da CNUMAD, continuamos a nos ressentir da ausência de uma política educacional coerente com estes princípios (VIEIRA, 2002). No caso da educação para o ecodesenvolvimente e a educação ambiental. A educação ambiental é confundida - com a transmissão de resultados obtidos pela pesquisa científica de orientação analítico-reducionista, exprimindo assim uma abertura ainda muito incipiente das nossas escolas e universidades aos desafios epistemológicos e éticos suscitados pelo debate de vanguarda sobre a complexidade sistêmica, sobre a estrutura e a dinâmica da cognição humana e sobre o "fim das certezas" (Prigogine, 1996; Laszlo, 2001; Dansereau, 1999b; Aubin, 1973). (VIEIRA, 2002, p. 7) Neste sentido, na educação os educandos, professores da educação básica do Novos Talentos FURB, precisam passar por experiências que: confrontem visões tradicionais de ensino e aprendizagem, a fim de capacutá-los a construir uma pedagogia que se posicione em contraste com visões mais antigas,... [....]. Além disso, as experiências de campo precisam permitir investigação e experimentação nas áreas de desenvolvimento infantil, aprendizagem e ensino; e as escolas precisam abordar o currículo de uma forma integrada, centrada no aluno com ênfase nas investigações, reflexões e discurssos dos alunos (FOSNOT, 1998) 4. Considerações Finais Os fundamentos normativos do conceito de ecodesenvolvimento, considerado como enfoque de planejamento, apóia-se nos critérios interdependentes de (a) Prioridade ao alcance de finalidades sociais; (b) Prudência ecológica; (c) Valorização da participação e da autonomia da populações e; (d) Viabilidade econômica, sobretudo preservando as dinâmicas próprias da economia comunitária no contexto da economia 14 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul de mercado, tal como sugere a economia solidária e de comunhão, fair trade, benefits company e tantos outras práticas ecossocioeconômicas, como sugere Sampaio (2010). Seus princípios se pautam ainda em abordagem de desenvolvimento à escala humana, que segundo Max-Neef (2012) baseiam-se em indicadores de desenvolvimento sinérgicos que satisfazem multiplas necessidades, sem contudo gerar outras, alinhadas à abordagem interdisciplinar com visão transdisciplinar do desenvolvimento, na qual releva especificidades da realidade e anseios locais, sensível a complexidade dos problemas socioambientais contemporâneos, e à "inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre os saberes separados, fragmentados, compartimentados entre disciplinas, e as realidades ou problemas cada vez mais polidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais, planetários" (MORIN, 2000, p. 13). O projeto Novos Talentos se alinha também ao projeto político pedagógico do campus do litoral da Universidade Federal do Paraná, no qual é preciso conhecer para compreender, compreender para propor e propor para agir (UFPR Litoral, 2008). A aproximação da educação superior, não apenas da graduação, mas sobretudo da pós-graduação, à educação básica se justifica pela experiência bem sucedida do sistema de avaliação implantado na Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), mesmo que ainda haja muito a avançar, que vem apontando que as políticas públicas devam ser alinhadas, inclusive com o surgimento de mestrados profissionais que deem conta dos desafios de temáticas junto a rede pública de educação básica brasileira. A área de ciências ambientais da Capes, trata dos desafios da interdisciplinaridade na pós-graduação brasileira, indicando a si mesma como não sendo o somatório entre ciências, como as humanas e as ciências da vida, ou, ainda, com outras formas de saberes, ou seja, é intrínseca a ela, à sua concepção, à abordagem interdisciplinar, isto é, trata-se mais de uma abordagem de construção de conhecimento partindo de uma problemática/complexidade ambiental que se deseja compreender e, também, resolver (CACIAMB, 2013, p.1). O papel da educação na construção da interdisciplinaridade recai na construção de competências, sendo que a esta construção não pode ser feita pela simples transferência de informação. A construção de competências e o conhecimento são construídos com vivências, experiências concretas e podemos assim dizer que a interdisciplinaridade é uma forma de vivenciar questões concretas. Neste sentido, esta tem um papel central na construção do conhecimento e na educação. ....os alunos aprendem não só por meio da transmissão de informação dos professores, mas também como resultado das vivências que experimentam através das interações sociais que acontecem na instituição e nas salas de aula (LUZZI, PHILIPPI JR, 2011, p.130). 15 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul Referências AZKARRAGA, J., MAX-NEEF, M., FUDERS, F., ALTUNA, L. Evolución sostenible: apuntes para uma salida razonable. Eskoriatza: Instituto de Estudios Cooperativo de la Universidad de Mondragón (Lanki), 2011. BECKER, F. O caminho da aprendizagem em Jean Piaget e Paulo Freire: da ação à operação. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2010. BONDÍA, J. L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Campinas: UNICAMP. Revista Brasileira de Educação. Campinas, n.19, p. 20-28. Jan/Fev/ Mar/Abr/ 2002. BRANDÃO, C. Teorias, estratégias e políticas regionais e urbanas recentes: anotações para uma agenda do desenvolvimento territorializado. Revista Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba, n.107, p. 55-74, jul./Dez. 2004. BUENO, F. de S. Dicionário escolar da língua portuguesa”. Ministério da Educação e Cultura, 1975. COUDEL E; TONNEAU, J. P. Formação para o desenvolvimento territorial sustentável. In: VIEIRA, P. F. et al. Desenvolvimento territorial Sustentável no Brasil. Florianópolis: APED: SECCO, 2010. CACIAMB, COORDENAÇÃO DE ÁREA EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Documento de área em ciências ambientais. Brasília: Capes, 2013. CRESPO, S. Pesquisa revela a consciência ambiental do brasileiro. Marco Social v. 3, p. 38-43, 2001. DIAS, A., SAMPAIO, C. A. C., SKEWES, J. C.. Programa de honra em estudos e práticas em ecossocioeconomia. In: SAMPAIO, C. A. C., HENRÍQUEZ, C., MANSUR, C.. Turismo comunitário solidário e sustentável. Blumenau, Brasília: EDIFURB, 2011. FOSNOT, C. T. Construtivismo: Teorias, perpectivas e prática pedagógica. Porto Alegre: ARTMED, 1998. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996. Ver se consta no texto. FURB, UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU. Relatório de planejamento estratégico. Blumenau: Edifub, 2008. GARCÍA, R. Interdisciplinaridad y Systemas Complejos. In E. Leff (org) Ciencias Sociales y Formulacion ambiental. Barcelona: Gedisa p.85-125, 1994. GODARD, O. 1997. A gestão integrada dos recursos naturais e do meio ambiente: conceitos, intituições e desafios de legitimação. In: Vieira, P. F.; Weber, J. Gestão de recursos naturais renováveis e desenvolvimento: Novos desafios para a pesquisa ambiental. São Paulo: Cortez, 1997, p. 201-266. GOMES, A. de M.; et al. O município de Itapoá/sc: uma análise sobre os aspectos geofísicos para se pensar o ecodesenvolvimento. In: ANAIS DO VIII ENANPUR- ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E POS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL – ANPUR, Recife, 2013. 16 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul HORNBY, A. S. “Oxford advanced learner’s dictionary of current English”. Oxford: Oxford University Press, décima quinta impressão em1984. JEAN, B. Do desenvolvimento regional ao desenvolvimento territorial sustentável: rumo a um desenvolvimento territorial solidário para um bom desenvolvimento dos territórios rurais. In: VIEIRA, P. F. et al. Desenvolvimento territorial sustentável no Brasil. Florianópolis: APED: SECCO, 2010. JOLLIVET, M. e PAVÉ, A. “O meio ambiente: questões e perspectivas para a pesquisa”. In: VIEIRA, P. F.; WEBER, J. (Orgs). Gestão de recursos naturais renováveis e desenvolvimento. São Paulo: Cortez, 1998, p.51-112. JUVENAL, T. L. REDD e o Desafio Da Proteção Da Cobertura Florestal Global. In: Secretaria De Assuntos Estratégicos Da Presidência Da República - Brasil. Mudança do Clima no Brasil: Aspectos Econômicos, Sociais e Regulatórios. Brasília, 375-386, 2011. LARRERÈ, C. e LARRERÈ, R. Du bom usage de la nature. Pour une philosophie de l’enviroment. Paris: Aubier, 1997. LEFF, E. Interdiciplinariedad y ambiente. In: LEFF, E. Ecologia y capital. Mexico: Siglo XXl, 1994, p. 68123. LEFF, E. Pensar a complexidade ambiental. São Paulo: Cortez, 2003. LÉVÊQUE, C.; et al. Les zones ateliers, dês dispositifs pour La recherche sur l’environment et les anthroposystèmes. NS, V. 8, n.4, p. 454-52, 2000. MANSUR de M. S., C.; SAMPAIO, C. A. C. Educação para o desenvolvimento territorial sustentável: impactos de um programa de extensão rural. Revista brasileira de estudos regionais e urbanos. Vol. 4, n. 2: 200-220, 2010. MANSUR et al. Análise ambiental dos fatores físico-naturais: zoador, microbacia hidrográfica do rio sagrado, Morretes (PR), Brasil. 14º Encontro de geógrafos da América Latina. Lima, 2013. MANSUR DE M. S., C. et al. Programa de extensão Fortalecimento dos modos de vida do campo: experiências de abordagens participativas. III CEPIAL, Congresso de Cultura e Educação para integração da América Latina, Curitiba, 2012. MATTEDI, M. A. et al. O desastre se tornou rotina. In: FRANK, Beate; SEVEGNANI, Lúcia; TOMASELLI, Carla Caroline. Desastre de 2008 no Vale do Itajaí: água, gente e política. Blumenau: Agência de Água do Vale do Itajaí, 2009. Ver se consta no texto MAX-NEEF, M. Desenvolvimento à escala humana. Blumenau: Edifurb, 2012. MAX-NEFF. M. El proceso descentralizador y las reformas regionales a la luz de la creación de la Nueva Región de Los Ríos. Uach, 2007 MORIN, E. A cabeça bem feita. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS (IPCC). IPCC: Climate Change 2007: Synthesis Report. Contribution of Working Groups I, II and III to the Fourth Assessment 17 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [Core Writing Team, Pachauri, R.K and Reisinger, A. (Ed.)]. Geneva, Switzerland. PAUL, P. Pensamento complexo e interdisciplinaridade: abertura para mudança de paradigma? In: PHILLIPI JUNIOR, A. SILVA NETO, A. Interdisciplinaridade em ciência, tecnologia e inovação. Barueri: Manole, 2011, p.229-258. Ver se consta ROMEIRO, A. R. 1999. Globalização e meio ambiente. Texto para Discussão. IE/UNICAMP. Disponível em: < http://www3.fsa.br/localuser/Luciana/Nova%20pasta/No%C3%A7%C3%B5es%20de%20Gest%C3%A3o% 20Ambiental/Globaliza%C3%A7%C3%A3o%20e%20meio%20ambiente.pdf >Acessado em: ago 2012. SACHS, I. Desenvolvimento numa Economia Mundial Liberalizada e Globalizante: um desafio impossível. Estudos Avançados 11(30): 213-242, 1997. SACHS, I. Desenvolvimento numa Economia Mundial Liberalizada e Globalizante: um desafio impossível. Estudos Avançados 11(30): 65, 1997. SACHS, I. Inclusão social pelo trabalho. Rio de Janeiro: Garamond, 2003. SACHS, I. Desenvolvimento includente, sustentável, sustentado. RJ: Garamond, 2004. SCHERER-WARREN, I. Redes ecologistas conectando o local e o global. In: I. Scherer-Warren, Cidadania sem fronteiras. Ações coletivas na era da globalização. São Paulo: Hucitec, 1999, p. 67-77. SAMPAIO, C. A. C. (Org.). Gestão que privilegia uma outra economia: ecossocioeconomia das organizações. Blumenau: Edifurb, 2010. SAMPAIO, C. A. C.; HENRÍQUEZ Z., C.; MANSUR DE M. S., C. Turismo comunitário, solidário e sustentável: da crítica às ideias das ideias à prática. Blumenau: Edifurb, 2011. SAUVÉ, L. (1996) Education relative à l´environnement: pour um savoir critique et um agir responsable. In Tessier, R. e Vaillancourt, J. G. La recherche sociale em environnement Nouveaux paradigmes. Montréal: Les Presses de l`Université de Montreal, p. 89-106. Tradução livre por Luciana Butzki, não publicada. TOLEDO, V. M. M., BARRERA-BASSOLS, N. A etnoecologia: uma ciência pós-normal que estuda as sabedorias tradicionais. Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente, 20, 31- 45, 2010. UFPR Litoral, Universidade Federal do Paraná, Campus Litoral. Projeto político pedagógico. Matinhos: UFPR, 2008. UNESCO - A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Cultura de paz: da reflexão à ação; balanço da Década Internacional da Promoção da Cultura de Paz e Não Violência em Benefício das Crianças do Mundo. – Brasília: UNESCO; São Paulo: Associação Palas Athena, 2010. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001899/189919por.pdf, acesso em 29/09/2013. VIEIRA, P. F.; RIBEIRO, M. A. Ecologia humana, ética e educação: a mensagem de Pierre Dansereau. Porto Alegre: Pallotti; Florianópolis : APED, 1999. VIEIRA, P. F. Repensando a educação para o ecodesenvolvimento no Brasil. In: Tecnologia e cidadania. In: 8º Encontro Nacional de Ensino Agrícola. Camboriú, SC, 30-31 de outubro de 2002. Anais ..., Camboriú, 2002. 18 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul VIEIRA, P. F., FIKRET, B., SEIXAS, C. “Gestão integrada e participativa de recursos naturais”. Florianópolis: Secco/APED, 2005. VIEIRA, Paulo Freire. Pesquisa-ação-formação em Regiões-laboratório de Desenvolvimento Territorial Sustentável. In: TREMBLAY, Gaetan; VIEIRA, Paulo Freire (Org.). O papel das universidades no desenvolvimento local: experiências brasileiras e canadenses. Florianópolis: APED; Secco, 2011, p. 185217. VILLAVERDE, M. N. El analisis de los problemas ambientales. In: NOVO, M.; LARA, L. (orgs). El analisis interdisciplinar de la problemática ambiental. Madrid: UNESCO, 1997, p. 21-59. 19