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Ministério da Educação Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro Campus Realengo – Curso de Bacharelado em Farmácia TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO BACHARELADO EM FARMÁCIA “FATORES DE RISCO ASSOCIADOS AO DESENVOLVIMENTO DE INFECÇÃO EM PACIENTES SUBMETIDOS À HEMODIÁLISE” Aluna: Renata Lourenço Lydio Orientadora: Profª Drª Débora Leandro Rama Gomes Rio de Janeiro, 23 de março de 2013. FATORES DE RISCO ASSOCIADOS AO DESENVOLVIMENTO DE INFECÇÃO EM PACIENTES SUBMETIDOS À HEMODIÁLISE RISK FACTORS ASSOCIATED WITH THE DEVELOPMENT OF INFECTION IN HEMODIALYSIS PATIENTS Renata Lourenço Lydio1, Débora Leandro Rama Gomes1 1 Curso de Bacharelado em Farmácia – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) – Campus Realengo LYDIO&GOMES, 2013 E-mail: [email protected] Página 1 RESUMO Nas últimas décadas, as alterações relacionadas aos hábitos e condições de vida da população aumentaram a ocorrência de doenças crônicas, como a doença renal crônica (DRC). Os estágios mais críticos da DRC podem levar à realização de tratamentos substitutivos da função renal, como a hemodiálise (HD). Este tratamento requer a inserção de um cateter, para que a água ― seu principal insumo ― e o dialisato possam passar pelo corpo do paciente, a fim de depurar o sangue. Este sistema trouxe uma maior longevidade aos pacientes, mas também ocasionou complicações, como as infecções. As duas principais fontes que propiciam o desenvolvimento de infecções em HD são: a água e o uso de cateter venoso central (CVC). Após avaliar as normas vigentes nacionais e internacionais, percebeu-se que não há concordância no que tange à qualidade microbiológica da água utilizada em HD, o que facilita o desenvolvimento de infecções e diminui a sobrevida dos pacientes. Com relação ao uso de CVC, verificou-se que a formação de biofilme por microorganismos é a principal fonte de contaminação. Com isso, constatou-se a importância da promoção de programas de atualização, da supervisão eficiente e do treinamento adequado para os profissionais da saúde. Somente com normas rigorosas e com o envolvimento da equipe multiprofissional, a ocorrência de casos de infecção em pacientes em HD diminuirá ― o que beneficiará não somente a qualidade dos serviços prestados, mas, sobretudo, a qualidade de vida dos pacientes. PALAVRAS-CHAVE: Hemodiálise; Qualidade da Água em Hemodiálise; Cateter Venoso Central; Infecção. LYDIO&GOMES, 2013 Página 2 ABSTRACT In the last decades, the changes related to habits and living conditions of the population have increased the occurrence of chronic diseases, such as chronic kidney disease (CKD). The most critical stages of CKD can lead to renal function replacement treatments, such as hemodialysis (HD). This treatment requires the insertion of a catheter, so that water — its main material — and the dialysate may pass through the patient’s body, in order to purify his blood. This system brought greater longevity to patients, but it also caused complications, such as infection. The two main sources that lead to the development of infections in HD are: the water and the use of central venous catheter (CVC). After evaluating national and international standards, it could be observed that there is no agreement regarding the microbiological quality of the water used in HD, what facilitates the development of infections and decreases the survival of patients. In relation to the use of CVC, it was found that the biofilm formation by micro-organisms is the primary source of contamination. So, the importance of promoting programmes, efficient supervision and adequate training for health professionals became clear. Only with strict regulations and with the involvement of the multidisciplinary team, the occurrence of cases of infection in patients in HD will decrease — what will benefit not only the quality of the services provided, but, above all, the patients’ quality of life. KEYWORDS: Hemodialysis; Water Quality in Hemodialysis; Central Venous Catheter; Infection. LYDIO&GOMES, 2013 Página 3 INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, as doenças renais crônicas têm representado um importante papel na morbimortalidade da população mundial e, por este motivo, vêm recebendo maior atenção pelos profissionais da saúde (RAMIREZ, 2009). Isso ocorre devido à mudança do perfil da população mundial, onde houve o deslocamento do eixo das doenças infecciosas para as doenças crônicodegenerativas. Esta mudança se deve ao crescimento da população idosa e à transformação dos hábitos de vida da população em geral, o que evidenciou o aumento das doenças crônicas, como a diabetes mellitus e a hipertensão arterial ― principais causas de falência renal em todo o mundo. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, a hipertensão e a diabetes são as maiores causas presumidas de falência renal, representando 26% e 18% dos casos, respectivamente (OLIVEIRA et al., 2005). A doença renal crônica (DRC) caracteriza-se pela perda progressiva da função renal, acarretando o acúmulo de produtos de degradação metabólica no sangue, sendo este um processo que evolui gradativamente e irreversivelmente, tendo como causas principais a diabetes, a hipertensão arterial, infecções nos rins e inflamações. Além destes, o envelhecimento e o histórico familiar também são fatores que podem causar o desenvolvimento desta doença, sendo que a presença de obesidade, dislipidemia e tabagismo aceleram sua progressão (BUGNO et al., 2007). Os tratamentos disponíveis para a DRC são: a hemodiálise (HD), o transplante renal (TR) e a diálise peritoneal – a qual se divide em ambulatorial contínua (DPAC), automatizada (DPA) e a intermitente (DPI). Esses tratamentos não são curativos, mas substituem parcialmente a função renal, tendo o papel de aliviar os sintomas provocados pela doença, aumentando, assim, a sobrevida do paciente. Perante isso, estes tratamentos devem ser vistos como uma terapêutica capaz de proporcionar uma melhor qualidade de vida e maior longevidade ao paciente (LUGON et al., 2003). LYDIO&GOMES, 2013 Página 4 Dados estatísticos da Sociedade Brasileira de Nefrologia mostraram que nos anos de 2010 e 2011 mais de 90.000 pessoas realizaram tratamento dialítico por ano, sendo a faixa etária de 19 a 64 anos a mais atingida e as regiões sudeste, sul e nordeste as que possuem a maior concentração de pacientes em diálise. A taxa de prevalência deste tratamento no ano de 2012 foi de 483 pacientes por milhão de população (pmp), variando de 265 pmp na região Norte a 591 pmp na Sudeste (SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, 2011). A HD é um processo que promove a retirada de substâncias tóxicas, a restauração dos eletrólitos, do balanço ácido/base e a remoção do excesso de água e sais minerais do organismo através da passagem do sangue por um filtro. Em geral, é realizada três vezes por semana, em sessões que duram em média de três a quatro horas, com o auxílio do dialisador, também conhecido como “rim artificial”, dentro de clínicas especializadas neste tipo de tratamento. Este dialisador possui um sistema contendo uma membrana semipermeável, em que existe um fluxo contraparalelo do sangue do paciente e o fluido de diálise, onde ocorre a migração de substâncias entre esses dois sistemas. Após esse processo, o sangue depurado retorna ao paciente. Para que o sangue passe pela máquina é necessário a colocação de um cateter ou a confecção de uma fístula, que é um procedimento frequentemente realizado nas veias do braço, permitindo que fiquem mais calibrosas, fornecendo um fluxo de sangue adequado para ser filtrado (HOENICH et al., 2006; SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, 2011). Na terapia de HD, a água é um produto essencial, tanto na produção de fluido de diálise (ou dialisato) como na reutilização dos dialisadores. O fluido de diálise é uma solução não estéril, composta por uma mistura de água e concentrado polieletrolítico numa proporção de 34:1 e serve para banhar o dialisador (membrana semipermeável) (FERREIRA, 2009). Nas sessões de HD, são utilizados aproximadamente 120 litros de água purificada, misturados em proporções adequadas ao chamado "concentrado polieletrolítico para HD", utilizados na depuração de sangue (BOMMER & JABER, 2006). LYDIO&GOMES, 2013 Página 5 Comparando as normas nacionais e internacionais vigentes, notam-se diferenças entre alguns parâmetros quanto, a contagem de bactérias e concentração de endotoxinas. No Brasil, a resolução RDC nº 154/2004 da Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA) rege todas as normas de tratamento e limites de substâncias e micro-organismos na água para hemodiálise (NYSTRAND, 2008; BUZZO et al., 2010). O tratamento dialítico modificou o prognóstico dos pacientes com insuficiência renal crônica, mas também é responsável por complicações, cuja intensidade e frequência são cada vez mais relatadas (BUGNO et al., 2007). Uma frequente fonte de complicações é o uso de cateter venoso central (CVC). Segundo o censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia, a média de pacientes em tratamento dialítico com acesso venoso central, temporário ou permanente era de 9,4% em janeiro de 2007, sendo o seu uso em 35% das unidades analisadas maior que 10% (BIERNAT et al., 2008). Dentre as complicações que o uso de CVC apresenta, estão, principalmente, as doenças infecciosas, que são a segunda causa de morte em pacientes renais crônicos, superadas apenas pelas doenças cardiovasculares. Nessas infecções, aproximadamente 75% dos pacientes sofrem septicemia (VARO et al., 2007). Com isso, o presente trabalho teve como objetivo central avaliar a importância de uma legislação mais rígida com relação à qualidade da água utilizada no processo de HD e o cuidado com o uso de CVC pelos profissionais de saúde, a fim de se evitar a contaminação bacteriana e de se aumentar a sobrevida do paciente. Busca-se, nesse sentido, como objetivos específicos, caracterizar a DRC e seu panorama no Brasil, descrever a HD e suas complicações, abordar as normas e os cuidados com a água utilizada durante a HD, abordar as normas e os cuidados com o uso de CVC e identificar os principais micro-organismos isolados não somente em infecções associadas à água utilizada na HD, mas também aquelas associadas ao uso de CVC. A metodologia do presente estudo consiste na pesquisa bibliográfica com levantamento de dados da literatura científica no período de 2002 a 2012. Este levantamento foi realizado através de documentação indireta com busca LYDIO&GOMES, 2013 Página 6 no banco de dados do Pubmed, Periódicos CAPES, Scientific Electronic Library Online (Scielo) e do Portal Saúdelegis, utilizando as seguintes palavras-chave com ou sem combinações entre si: hemodiálise, doença renal crônica, infecção relacionada ao uso de cateter venoso central, bacteremia, septicemia, contaminação em água utilizada em HD, controle de qualidade, surtos, Pseudomonas aeruginosa, Burkholderia cepacia e Staphylococcus aureus. DOENÇA RENAL CRÔNICA As doenças renais crônicas (DRCs) vêm assumindo importância global em virtude do aumento no número de casos na população mundial. Por este motivo, vêm recebendo maior atenção pelos profissionais da saúde (MADEIRA et al., 1998). Atualmente, o crescimento da população idosa no mundo e as mudanças dos hábitos de vida da população em geral evidenciam o aumento das doenças crônicas, como a diabetes mellitus e a hipertensão arterial, as quais são umas das principais causas de falência renal. Dados mostram que 45% dos pacientes em terapia renal substitutiva tiveram a diabetes como diagnóstico primário e 26% a hipertensão arterial. Já na Europa, de 15 a 33% dos casos de DRC, foram decorrentes da diabetes e de 7 a 20% devido as glomerulonefrites. Estudos mostram que, na Austrália, 25% dos pacientes possuem a diabetes como causa de falência renal, o mesmo ocorre em países como Hong Kong (38%), Paquistão (42%), Taiwan (35%), Filipinas (25%) e Cingapura (50%) (ATKINS, 2005). No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, a diabetes e a hipertensão são as maiores causas presumidas de falência renal, representando 18% e 26% dos casos, respectivamente (OLIVEIRA et al., 2005). A DRC é definida como a presença de lesão renal ou a diminuição da função renal durante três meses ou mais, independente do diagnóstico obtido. Na fase mais avançada é denominada como "Insuficiência Renal Crônica" (ICR) ou como "Estágio Final de Doença Renal" (EFDR), que é quando ocorre a perda progressiva e irreversível da função renal (INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION, 2002; ROMÃO, 2004). Esta perda progressiva da LYDIO&GOMES, 2013 Página 7 função renal acarreta o acúmulo de produtos de degradação metabólica no sangue, sendo este um processo que evolui gradativamente e irreversivelmente, tendo como causas principais a diabetes, a hipertensão arterial (como já citado), infecções nos rins e inflamações. Além destes, o envelhecimento e o histórico familiar também são fatores que podem levar ao desenvolvimento desta doença. Vale ressaltar que a presença de obesidade, dislipidemia e tabagismo aceleram a progressão da DRC (BUGNO et al., 2007; SBN, 2011). Com a perda de função, ocorre o acúmulo de toxinas no sangue, as quais são utilizadas para avaliar a proporção do problema. Para se obter a concentração dessas substâncias no organismo, analisa-se a filtração glomerular. Esta é uma ótima maneira de avaliação e classificação da DRC. A taxa de filtração glomerular pode ser definida como a capacidade dos rins em eliminar uma substância do sangue, sendo isso expresso pelo volume de sangue que é completamente depurado em uma unidade de tempo. Na clínica, a taxa de filtração glomerular (TFG) é avaliada por meio da mensuração de níveis de substâncias que são normalmente produzidas pelo corpo. Dentre essas substâncias está a uréia, o primeiro marcador endógeno utilizado. Porém, este marcador não é completamente confiável, pois seus níveis são vulneráveis a mudanças que não estão relacionadas à TFG. Por muito tempo utilizou-se a creatinina como marcador endógeno, cujo perfil se assemelhava mais ao de uma substância endógena ideal para medir a TFG. Atualmente, os dois fatores limitantes para a utilização desta molécula como marcador são: (A) como a creatinina é produzida nos músculos, ela depende da massa muscular e deve ser ajustada para fatores relacionados à massa muscular quando usada como parâmetro para determinação de TFG; (B) a relação inversa entre a creatinina e a TFG não é linear, e isto significa que o nível de creatinina só aumentará após um decaimento de 50% a 60% do nível normal da TFG. Logo, o uso isolado de creatinina pode levar a atrasos no diagnóstico. Com isso, o ideal é a utilização do método de depuração de creatinina, com a coleta de urina ao longo de 24 horas, sendo isso relevante quando a TFG for > 60 mL/min, em extremos de idade e tamanho corporal, LYDIO&GOMES, 2013 Página 8 desnutrição grave, obesidade, doença do aparelho músculo esquelético, paraplegia ou quadriplegia, dieta vegetariana, função renal com alterações rápidas e cálculo de ajuste de dosagem de medicamentos potencialmente nefrotóxicos. Outro método utilizado é a documentação de dano renal parenquimatoso, onde a albuminúria é o principal marcador. O teste pode ser realizado com fitas reagentes em que se identificam concentrações maiores que 300 mg/L. Quando a proteinúria é identificada, o próximo passo é a quantificação realizada pelo teste com urina de 24 horas. Quando o paciente apresenta o risco para DRC, mas apresenta o teste para proteinúria negativo, deve-se realizar o teste de microalbuminúria, que pode ser realizado por vários métodos: os que utilizam anticorpos como o ensaio imunoenzimático ligado à enzima (ELISA) ou a cromatografia líquida de alto desempenho (HPLC), os quais verificarão não somente a albumina imunorreativa como também a albumina intacta não reativa. A Figura 1 mostra a proposta de um modelo de triagem, baseado na TFG estimada e na medida de albuminúria (BASTOS & KIRSZTAJN, 2011). Figura 1. Fluxograma para diagnóstico de doença renal crônica. DRC: Doença Renal Crônica. TFG: Taxa de Filtração Glomerular. Fonte: BASTOS & KIRSZTAJN, 2011. LYDIO&GOMES, 2013 Página 9 Com base nestes dados, a DRC possui os seguintes estágios (BASTOS & KIRSZTAJN, 2011): Estágio 1: Apresenta TFG maior que 90 mL/min, mas já há evidências de lesão renal, como o aumento da excreção de albumina em amostra de urina. Porém, nesta fase não há sintomas. Estágio 2: Apresenta insuficiência renal leve. Ocorre dano renal (aumento de albuminúria) e diminuição leve da função, com TFG entre 60-80 mL/min. Esta fase apresenta a concentração de creatinina normal, pois os rins ainda conseguem manter o controle razoável do meio interno. Estágio 3: Apresenta insuficiência renal moderada. A TFG está entre 3059 mL/min. Os sinais e sintomas neste estágio são discretos e o paciente apresenta-se clinicamente bem. Porém, a taxa de creatinina no sangue está aumentada. Estágio 4: Apresenta insuficiência renal severa. A TFG está entre 15-29 mL/min, com presença do seguintes sintomas: fadiga, falta de energia, falta de apetite, náuseas e pressão alta. Nesta fase, os exames laboratoriais ficam alterados, apresentando retenção de fósforo, queda de cálcio no sangue, alterações hormonais com deficiência de vitamina D e aumento de paratormônio, anemia mais intensa e retenção de ácidos produzidos pelo organismo (acidose). Estágio 5: Neste estágio ocorre a necessidade de transplante de rim ou diálise. A taxa de filtração glomerular é menor que 15 mL/min. Os rins já não são capazes de manter o equilíbrio do meio interno e os distúrbios metabólicos podem ser graves, podendo ocorrer aumento de potássio no sangue e retenção de ácidos. Além disso, pode acarretar intensa perda de apetite, náuseas, vômitos, perda de peso e desnutrição. A diurese pode diminuir significativamente neste período levando ao acúmulo de líquido nas pernas e nos pulmões do paciente, causando falta de ar e cansaço. Ao chegar ao quinto estágio da DRC, os rins já não conseguem desempenhar suas funções, sendo necessários tratamentos que proporcionem o bem-estar do paciente. Os tratamentos disponíveis são: a hemodiálise (HD), LYDIO&GOMES, 2013 Página 10 o transplante renal (TR) e a diálise peritoneal – a qual se divide em ambulatorial contínua (DPAC), automatizada (DPA) e intermitente (DPI) (ROMÃO JÚNIOR et al., 1995). Esses tratamentos não são curativos, mas substituem parcialmente a função renal, tendo o papel de aliviar os sintomas provocados pela doença, aumentando, assim, a sobrevida do paciente. Com isso, o tratamento dialítico mantém as características clínicas dos pacientes que aguardam por um transplante renal. Porém, o que se observa é que somente uma pequena parcela dos pacientes consegue transplantar. Diante disso, a HD deve ser vista como uma terapêutica capaz de proporcionar uma melhor qualidade de vida e maior longevidade ao paciente (LUGON et al., 2003). HEMODIÁLISE A primeira diálise realizada na história da medicina ocorreu em 1945, na Holanda. No Brasil, a HD teve início em 1949 no Hospital das Clínicas da USP, realizada pelo Dr. Tito Ribeiro de Almeida. Dados estatísticos da Sociedade Brasileira de Nefrologia mostram que nos anos de 2010 e 2011 mais de 90.000 pessoas realizaram tratamento dialítico por ano, sendo a faixa mais atingida os idosos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, 2011). Um levantamento feito por esta mesma instituição mostrou que a maior concentração de pacientes em tratamento dialítico ocorre na região sudeste, seguida pelas regiões sul e nordeste. A taxa de prevalência deste tratamento no ano de 2012 no Brasil foi de 483 pacientes por milhão de população (pmp), variando de 265 pmp na região Norte a 591 pacientes pmp na Sudeste (Figura 2) (JORNAL BRASILEIRO DE NEFROLOGIA, 2011). A HD é um processo que promove a retirada das substâncias tóxicas, a restauração dos eletrólitos e do balanço ácido/base e a retirada do excesso de água e sais minerais do organismo através da passagem do sangue por um filtro. Em geral, é realizada três vezes por semana, em sessões que duram em média de três a quatro horas, com o auxílio do dialisador, também conhecido como “rim artificial” dentro de clínicas especializadas neste tipo de tratamento. Este dialisador possui um sistema contendo uma membrana semipermeável, LYDIO&GOMES, 2013 Página 11 em que existe um fluxo contra-paralelo do sangue do paciente e o fluido de diálise, onde ocorre a migração de substâncias entre esses dois sistemas. Após esse processo, o sangue depurado retorna para o paciente, como mostra a Figura 3. Para que o sangue passe pela máquina, é preciso que se coloque um cateter ou que se implante uma fístula, que é um procedimento frequentemente realizado nas veias do braço, permitindo que se tornem mais calibrosas, fornecendo um fluxo de sangue adequado para ser filtrado (HOENICH et al., 2006; SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, 2011). Figura 2. Prevalência estimada de pacientes em diálise no Brasil, por região, Censo 2010. Fonte: SESSO et al., 2011. LYDIO&GOMES, 2013 Página 12 Figura 3. Esquema representativo do processo de hemodiálise. Fonte: GOLDMAN & AUSIELLO, 2009. LYDIO&GOMES, 2013 Página 13 O tratamento dialítico modificou o prognóstico dos pacientes com insuficiência renal crônica, mas também é responsável por complicações, cuja intensidade e frequência são cada vez mais relatadas (BUGNO et al., 2007). Dentre as complicações, estão as doenças infecciosas ― que são a segunda causa de morte em pacientes renais crônicos, superadas apenas pelas doenças cardiovasculares. Nessas infecções, aproximadamente 75% dos pacientes sofrem septicemia. O desenvolvimento dessas infecções depende principalmente da relação entre três fatores: paciente, micro-organismo e o processo de diálise. As condições do paciente se referem à capacidade de ativação de células T, deficiências nas funções dos neutrófilos e macrófagos e quanto à resposta humoral. Com relação ao micro-organismo, leva-se em consideração a expressão de genes de virulência, as propriedades de aderência a diferentes superfícies, bem como a capacidade de formar biofilme. Quanto ao processo de diálise, estão envolvidos tanto o tratamento dado a água, como o uso de cateter (VARO et al., 2007). ÁGUA UTILIZADA EM HD No processo de HD, percebe-se a relevância de uma maior atenção à qualidade da água utilizada nos pacientes, uma vez que a água é o maior insumo utilizado. Logo, uma maior preocupação quanto à qualidade deste processo se refere aos parâmetros físico-químicos e microbiológicos deste material. Na década de 70, utilizava-se água potável para o tratamento dialítico, porém observou-se uma ligação entre os contaminantes presentes na água potável e os efeitos adversos no tratamento, nascendo a necessidade de se realizar um tratamento de purificação da água (BUGNO et al., 2007). A presença de contaminantes químicos pode levar a anemias, osteopatias, hipertensão, hipotensão, acidose e distúrbios neurológicos. Já os contaminantes microbiológicos, como endotoxinas e micro-organismos, podem acarretar complicações agudas como infecções, hipotensão, reações pirogênicas, instabilidade cardiovascular, dor de cabeça, náuseas, ou sintomas crônicos relacionados à presença de endotoxinas, como inflamação sistêmica crônica e desnutrição. LYDIO&GOMES, 2013 Página 14 Visto que a qualidade da água influencia na qualidade da diálise e na vida dos pacientes, foram estabelecidos padrões mínimos de qualidade. Comparando-se a legislação brasileira com a de outros países, percebe-se que os parâmetros microbiológicos de alguns exigem limites mais baixos para contagem de bactérias e também para concentração de endotoxinas. Em algumas normas, a presença de Pseudomonas aeruginosa e fungos também é avaliada. No Brasil, esses padrões foram inicialmente definidos pela portaria n°2042/96 e atualmente pela resolução RDC n°154/2004 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (NYSTRAND, 2008; BUZZO et al., 2010). Na terapia de HD, a água é um produto essencial, tanto na produção de fluido de diálise (ou dialisato) como na reutilização dos dialisadores. O fluido de diálise serve para banhar o dialisador (membrana semipermeável); porém, esta solução não é estéril e é composta por uma mistura de água e concentrado polieletrolítico numa proporção de 34:1 (FERREIRA, 2009). Nas sessões de HD, são utilizados aproximadamente 120 litros de água purificada, misturados em proporções adequadas ao chamado concentrado polieletrolítico para HD, utilizados na depuração de sangue (BOMMER & JABER, 2006). Ao final de um ano, são gastos entre 18.000 a 36.000 litros de água por paciente. Com isso, percebe-se a importância de um tratamento eficaz, pois se a água não for tratada corretamente, contaminantes químicos potencialmente tóxicos ou contaminantes biológicos, poderão ser transferidos para os pacientes, levando ao aparecimento de efeitos adversos potencialmente letais (COIMBRA et al., 2007). Apesar de a água que chega aos hospitais ou às unidades de saúde ser potável para o consumo humano, ela é imprópria para o uso em HD ou para outros fins como hemodinâmica, lavagem de cateteres ou preparação de dietas enterais. Isso se deve principalmente à presença de cloro e, dependendo da rota percorrida nas tubulações, à presença de material orgânico, sais minerais, metais pesados, micro-organismos, endotoxinas ou microcistinas produzidas por algas (PEGORARO, 2005). LYDIO&GOMES, 2013 Página 15 Conforme a RDC Nº 154/2006, a água utilizada em HD deve ter sua qualidade garantida em todas as etapas de seu tratamento, armazenagem e distribuição, mediante o monitoramento microbiológico e físico-químico. A água que chega aos hospitais deve estar em conformidade com o descrito na Portaria GM/MS Nº 219 de 2011, a qual afirma que a água potável deve apresentar os padrões físicos, organolépticos, químicos e microbiológicos exigidos, conforme mostra os Quadros 1 e 2. Para que, então, seja tratada e utilizada em HD. Além disso, indica que é necessário um responsável técnico para a realização da documentação de cada controle realizado. Os métodos para o tratamento da água utilizada para HD devem ser adequados para a obtenção de água do tipo I – que possui como limite de micro-organismos totais < 100 UFC\ mL e < 2 UE\ mL (de acordo com o sistema de obtenção recomendado e estabelecido nas condições vigentes da Farmacopeia Europeia e da Farmacopeia dos Estados Unidos da América) (EUROPEAN PHARMACOPEIA, 2008; THE UNITED STATES PHARMACOPEIA, 2008), sendo os métodos recomendados a osmose reversa e a deionização (LEME & SILVA, 2003; PEGORARO, 2005). Porém, antes do tratamento, é necessária a realização de um pré-tratamento da água para a retirada de substâncias e partículas que possam comprometer os equipamentos de purificação, acarretando na diminuição da sua eficácia. São utilizados filtros de areia, carvão ativado e abrandadores no pré-tratamento. Da água obtida é realizada a purificação utilizando, como citado anteriormente, os sistemas de osmose reversa ou de deionização (COIMBRA et al., 2007). Segundo a 5ª edição da Farmacopeia Brasileira (FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2010), o processo de osmose reversa se baseia em membranas semipermeáveis com propriedades especiais para a remoção de íons, microorganismos e endotoxinas bacterianas e que podem remover de 90% a 99% dos contaminantes. Já a deionização, se baseia na remoção de sais orgânicos LYDIO&GOMES, 2013 Página 16 Característica Cor Aparente Turvação Sabor Odor Cloro Residual Livre pH Parâmetro Aceitável Incolor Ausente Insípido Inodoro Maior que 0,5 mg/L 6,0-9,5 Quadro 1. Padrões físicos e organolépticos da água tratada para hemodiálise. Fonte: ANVISA, 2006. Componentes Coliformes Fecais Contagem de Bactérias Heterotróficas Endotoxinas Nitrato Alumínio Cloramina Cloro Cobre Fluoreto Sódio Cálcio Magnésio Potássio Bário Zinco Sulfato Arsênio Chumbo Prata Cádmio Cromo Selênio Mercúrio Berílio Tálio Antimônio Valor Máximo Permitido Ausência em 100 mL 200 UFC/mL 2 EU/mL 2 mg/mL 0,001mg/L 0,1 mg/L 0,5mg/L 0,1 mg/L 0,2 mg/L 70 mg/L 2 mg/L 4 mg/L 8mg/L 0,1mg/L 0,1 mg/L 100mg/L 0,005mg/L 0,005 mg/L 0,005 mg/L 0,001mg/L 0,014mg/L 0,09mg/L 0,0002 mg/L 0,0004 mg/L 0,002 mg/L 0,006 mg/L Quadro 2. Padrões químicos e microbiológicos da água tratada para hemodiálise. Fonte: ANVISA, 2006. LYDIO&GOMES, 2013 Página 17 dissolvidos por meio de resinas de troca iônica específicas para cátions ou ânions. Apesar de esses dois métodos serem eficientes, o tratamento da água com osmose reversa é o mais indicado por causa da qualidade da água obtida. No Brasil, segundo dados do censo de 2008 da Sociedade Brasileira de Nefrologia, 93,7% das clínicas de HD utilizam o sistema de osmose reversa, 5,6% utilizam os dois sistemas e 0,7% utilizam apenas o processo de deionização (SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, 2008). A água depois de purificada é armazenada em reservatórios e distribuída para as máquinas através de tubulações. A projeção destas deve ser realizada de forma a evitar zonas mortas e volumes de água que não circulem. Além disso, o sistema deve ser planejado de forma a facilitar a limpeza, desinfecção e enxague com desinfetantes, e que possibilite a circulação constante da água, evitando a proliferação bacteriana. Os métodos utilizados para a desinfecção podem ser físicos ― como a radiação ultravioleta e o aquecimento da água até > 80ºC ― ou químicos ― como o ozônio, hipocloritos, formaldeído e ácido paracético. Vale ressaltar que é de extrema importância que as unidades mantenham um programa de desinfecção utilizando mais de um método (FERREIRA, 2009). Mesmo após passar por algum tratamento, a contaminação bacteriana da água pode ocorrer devido à ineficiência do sistema ou do método de desinfecção. Isso pode propiciar a formação de biofilmes microbianos que podem se desenvolver em diferentes pontos do sistema e diminuir a eficácia dos processos de desinfecção. Por isso, é importante o conhecimento da origem do problema na linha de tratamento e a utilização de métodos de desinfecção adequados para a prevenção da contaminação bacteriana (SMEETS et al., 2003; CAPPELLI et al., 2006). Os critérios quanto à qualidade microbiológica da água utilizada em HD estão relacionados à possibilidade de ocorrência de bacteremia (presença de bactérias na corrente sanguínea) e de reações pirogênicas que são desencadeadas pela presença de soluções contaminadas com endotoxinas e a presença de bactérias no sangue, levando geralmente à ocorrência de LYDIO&GOMES, 2013 Página 18 tremores e/ou febre em pacientes assintomáticos antes do início da HD. Também podem ser acompanhadas de cefaleia, hipotensão, mialgia, náuseas e vômitos. Teoricamente, a membrana do dialisador deve impedir a passagem de bactérias do dialisato para o sangue do paciente; porém, (i) se houver defeitos na integridade da membrana, (ii) se o nível de contaminação microbiana estiver elevado ou (iii) se ocorrer contaminação durante o processo de reuso dos dialisadores, podem acontecer casos de bacteremia. Além destes fatores, a alta taxa microbiana pode estar associada a um elevado nível de endotoxinas bacterianas, as quais podem interagir com os monócitos através da membrana do dialisador e estimular a liberação de citocinas ou podem atravessar a membrana e estimular diretamente uma resposta imune (BUGNO et al., 2007). LONNEMANN (2000) mostrou que as endotoxinas provenientes de bactérias Gram-negativas conseguem penetrar a membrana semipermeável do dialisador, sendo responsáveis por reações pirogênicas nos pacientes em HD. Com base nisso, praticamente todos os componentes do sistema de tratamento da HD podem ser fontes potenciais de contaminação por microorganismos, sendo necessária a substituição e a desinfecção destes quando necessário. É importante que a desinfecção seja realizada em um só tempo, nos tanques, tubulações e máquinas, para que o processo seja eficaz (COIMBRA et al., 2007). Ao longo dos anos, muitas recomendações têm sido publicadas quanto à qualidade microbiológica e físico-química da água utilizada em HD, tanto por órgãos nacionais como internacionais. Dentre essas publicações, a mais utilizada é a da "Associação para o Avanço da Instrumentação Médica" (AAMI) nº 52, a qual estabelece que o limite da quantidade de bactérias não deve exceder 200 UFC/mL e o de endotoxinas 2 EU/mL (ASSOCIATION FOR THE ADVANCEMENT OF MEDICAL INSTRUMENTATION, 2004). Alguns estudos mostraram a importância de se manter a contagem bacteriana de 100 UFC/mL para a prevenção de complicações clínicas oriundas da contaminação bacteriana do fluido de diálise. No Brasil, os limites estabelecidos são iguais aos da AAMI; porém, certos órgãos internacionais estabeleceram contagens menores para a água de diálise (< 100 UFC/mL e < 0,250 EU/mL), conforme a Farmacopeia Europeia (BRUNET & BERLAND, 2000; LONNEMANN, 2010). LYDIO&GOMES, 2013 Página 19 Esta variação de limites microbiológicos mostra a necessidade de padronização das normas, a qual pode ser parcialmente sanada pela Organização Internacional de Normalização (ISO)11663:2009 e 23500:2011, que oferece orientação completa na gestão da qualidade e grau de pureza dos fluidos. Atualmente, os parâmetros estabelecidos pela ISO já são aceitos pela AAMI. Isto pode ser visto na Tabela 1, a qual compara os limites de bactérias heterotróficas e de endotoxinas da ISO, AAMI RD (2004), Farmacopeia Europeia e RDC nº 154/2004 (FERREIRA, 2009; GLORIEUX et al., 2012). Cerca de 90% das bactérias mais frequentemente isoladas na água de HD são Gram-negativas (Tabela 2). Estas conseguem se multiplicar rapidamente ― mesmo em água esterilizada ― e podem alcançar concentrações maiores que 105 UFC/mL em menos de 24 horas. Em soluções de diálise, este crescimento pode ser mais acelerado pela presença de glicose e bicarbonato, o que acarreta altos níveis de endotoxinas. Dentre os surtos de Gram-negativas em unidades de HD, a principal fonte de contaminação foi a desinfecção inadequada do sistema de tratamento de água e distribuição, o que favoreceu o crescimento bacteriano e a formação de biofilmes (BORGES et al., 2007; RAMIREZ, 2009). Dentre o grupo das Gram-negativas as espécies mais isoladas são a Pseudomonas aeruginosa e a Burkholderia cepacia. A P. aeruginosa é um bacilo Gram-negativo não fermentador, aeróbio e não formador de esporos. É fisiologicamente versátil, conseguindo sobreviver e se multiplicar em sistemas aquáticos, na superfície de vegetais e no solo. Ainda, apresenta flagelos polares, que lhe conferem mobilidade, e produz enzimas e toxinas, que favorecem o desenvolvimento de infecções (MURRAY et al., 2007). A sua rápida multiplicação nos dialisatos é favorecida pela presença dos elementos químicos do sangue dos pacientes que passam pelas máquinas durante o processo de hemodiálise. Além da sua característica oportunista, a importância desta bactéria como um patógeno hospitalar também está associada à resistência intrínseca aos antibióticos, sua susceptibilidade diminuída aos antissépticos desinfetantes e a sua forte capacidade de formação de biofilme (FERREIRA & LALA, 2010). LYDIO&GOMES, 2013 Página 20 Tabela 1. Parâmetros microbiológicos para a água utilizada em hemodiálise. Normas AAMI (2004) Resolução RDC154/2004 Farmacopéia Europeia ISSO (2009) Bactérias Heterotróficas (UFC/mL) < 200 Endotoxinas (EU/mL) <2 < 200 <2 < 100 < 100 < 0,25 < 0,25 Fonte: GLORIEUX et al., 2012. Tabela 2. Micro-organismos mais frequentemente isolados em amostras de água utilizada em hemodiálise. Achromobacter spp. Acinetobacter haemolyticus Aspergillus spp. Burkholderia cepacia Enterobacter spp. Mycobacterium chelonae Mycobacterium fortuitum Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas fluorescens Pseudomonas putida Pseudomonas stutzeri Stenotrophomonas maltophilia Serratia marcescens Vibrio metschnikovii Vibrio vulnificus Fonte: BORGES et al., 2007. LYDIO&GOMES, 2013 Página 21 BORGES et al. (2007) demonstraram que em uma unidade de HD em Ponta Grossa – PR, cepas de P. aeruginosa apresentaram resistência a vários antibióticos, sendo o cloranfenicol e a tetraciclina os antimicrobianos aos quais apresentou mais resistência. Isso mostra a importância de um controle maior quanto à presença desta espécie na água utilizada em HD. Analisando a legislação vigente, no Brasil percebe-se uma falha quanto a esse quesito, pois a análise de P. aeruginosa não é exigida por lei. No entanto, em alguns países, como a Austrália, a Alemanha e a Itália, existe a obrigatoriedade desta análise, sendo que o valor permitido deve ser inferior a 1 UFC/50mL, 1 UFC/100mL e 1 UFC/250mL, respectivamente. O gênero Burkholderia é ubíquo e universal e seus habitats incluem sedimentos de rios, solos e plantas. São bactérias muito versáteis, com capacidade para várias interações complexas, como a degradação de compostos aromáticos e interação com células humanas e animais, podendo causar infecções oportunistas em pacientes imunocomprometidos (CHAVES, 2010). Pode-se notar na literatura um crescente relato de surtos causados por B. cepacia. Uma análise de amostras de água de HD mostrou que entre 17 espécies de bacilos Gram-negativos não fermentadores, o complexo Burkholderia cepacia foi o mais prevalente, chegando a 59% (REIS, 2010). SOUZA et al. (2004) relataram a ocorrência de surto por B. cepacia (complexo) em 28 pacientes de uma unidade de HD. Foram analisados isolados ambientais e clínicos, chegando à conclusão de que o fornecimento de água foi o foco do surto (limpeza inadequada e um vazamento da conexão de osmose reversa foram as possíveis causas de contaminação), e que mesmo com as medidas de prevenção tomadas e os padrões de qualidade de água atendidos, ainda foram isoladas amostras de B. cepacia no sangue de pacientes. Tudo isso confirma a importância de padronizações mais exigentes para a água utilizada em HD. CASCIO e colaboradores (2006) relataram um surto de bacteremia em cateter, envolvendo 38 pacientes em duas unidades de HD de Verona, onde foram isoladas cepas de B. cepacia do sangue dos pacientes e de LYDIO&GOMES, 2013 Página 22 guardanapos utilizados para a desinfecção de cateteres utilizados nestes pacientes. Neste mesmo estudo, são relatados um caso de infecção por B. cepacia em hospital brasileiro (devido à limpeza inadequada das membranas da osmose reversa e um vazamento da conexão da osmose com a tubulação) e um caso de infecção em hospital da Tailândia (devido ao uso de soluções desinfetantes de cetrimida e cloreximida contaminadas). Ainda, MAGALHÃES et al. (2003) descreveram um surto de bacteremia policlonal envolvendo 24 pacientes em uma unidade de HD em Recife. Na análise das amostras foram encontradas três cepas de B. cepacia em amostras de sangue, de água e dos fluidos de HD. Isso mostra que a ocorrência de um surto dentro de um hospital exige a implantação de medidas preventivas como a higienização das mãos, a instituição de precauções de contato e a revisão de técnicas de desinfecção e de esterilização de materiais, para que seja possível seu controle e contenção. Cabe ressaltar também o aumento da incidência de infecções fúngicas em pacientes em HD (VARO et al., 2007). Estudos epidemiológicos em relação a este tipo de infecção são pouco conhecidos no Brasil, assim como os fatores associados e os impactos destas infecções nos pacientes. Apesar de o monitoramento da água e do dialisato ser realizado mensalmente ou imediatamente nos casos de reação pirogênica ou septicemia, no Brasil e nas legislações internacionais não há procedimentos de rotina da água que incluam a pesquisa e/ou identificação de fungos e poucas são as publicações que relatam o encontro destes na água. VARO et al. (2007) observaram que a partir de 100 amostras de água obtiveram-se 116 isolados de fungos filamentosos, uma recuperação de 100%. Das amostras as espécies mais isoladas foram Trichoderma spp., Cladosporium spp., Aspergillus spp. e Fusarium spp.. PIRES (2010) aborda em seu estudo a prevalência do gênero Candida em amostras de água. Este gênero é comensal e habita vários nichos do corpo humano, tendo um aumento na taxa de mortalidade entre os pacientes acometidos por candidíase. Este autor também relata que a transição do fenótipo comensal ao parasita depende LYDIO&GOMES, 2013 Página 23 de alguns fatores, como o estado imunológico do hospedeiro e a versatilidade da amostra de Candida em se adaptar a uma grande variedade de habitats, além da capacidade de formação de biofilme. USO DE CATETERES EM HD O uso do acesso vascular em HD constitui outra fonte de contaminação e potencial risco de infecção. Os acessos vasculares utilizados nos procedimentos dialíticos são: fístula arteriovenosa (FAV), FAV artificial (prótese), cateteres percutâneos tunelizáveis e não-tunelizáveis. A FAV é um acesso vascular permanente de maior durabilidade e também o mais seguro. Este acesso consiste de uma anastomose subcutânea da artéria radial com a veia cefálica ao nível do antebraço. Apesar de ser mais segura a fístula pode não ser possível em pacientes com sistema arterial deficitário, pacientes obesos, pacientes idosos, mulheres com veias pequenas ou profundas, ou em pacientes cujas veias foram trombosadas e recanalizadas devido a múltiplas punções venosas. (FERREIRA, 2005). Já a utilização de cateteres ocorre quando o paciente ainda não possui FAV ou se ele perdeu seu acesso vascular. Segundo o censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia, a média de pacientes em tratamento dialítico com acesso venoso central, temporário ou permanente era de 9,4% em janeiro de 2007, havendo, em 35% das unidades, emprego maior que 10%. O uso deste dispositivo médico representa um importante avanço tecnológico, porém está associado a graves complicações infecciosas (BIENART et al., 2008). Estas complicações podem ser locais ou sistêmicas, incluindo infecção no local de inserção, tromboflebite séptica, infecção da corrente sanguínea relacionada ao uso de cateteres vasculares, endocardite e demais infecções metastáticas como abscesso pulmonar, abscesso cerebral, osteomielite e endoftalmite (O’GRADY et al., 2002). Os casos de infecção em pacientes em HD ocorrem devido aos efeitos imunossupressores causados pela insuficiência renal crônica, comorbidades, alimentação inadequada e a necessidade de manutenção de acesso vascular LYDIO&GOMES, 2013 Página 24 por longos períodos. Além disso, os pacientes submetidos à HD simultaneamente no mesmo ambiente facilitam a disseminação de microorganismos por contato direto ou indireto com dispositivos, equipamentos, superfícies ou através dos próprios profissionais de saúde. Outro fator que deve ser considerado é a resistência bacteriana a antimicrobianos, uma vez que pacientes em tratamento dialítico frequentemente se encontram hospitalizados e expostos a micro-organismos multirresistentes (FRAM et al., 2009). Dentre os dispositivos utilizados, o mais empregado é o cateter venoso central (CVC) (Figura 4). O emprego de cateter em vez da fístula na realização da HD tem alcançado taxas superiores a 25%, como descrito por FINELLI et al. (2005). O CVC é um sistema intravascular indispensável na prática médica diária. Através deste dispositivo, muitos procedimentos clínicos e cirúrgicos puderam ser realizados. No entanto, junto com os avanços proporcionados por este material, vieram também as preocupações com a infecção hospitalar, uma vez que o CVC permite o acesso direto do meio externo com o meio intravascular. Isso facilita a disseminação de bactérias para o sangue e também funciona como um corpo estranho, podendo desencadear um processo inflamatório no local da inserção (MELO et al., 2007). O acesso das bactérias ao cateter pode ocorrer (i) no momento da inserção, (ii) por meio da colonização da pele pelo orifício, (iii) por contaminação das conexões entre o sistema de infusão e o acesso vascular, (iv) pela infusão de soluções contaminadas utilizadas para manter a permeabilidade do cateter, (v) por via hematogênica de outro foco infeccioso à distância, (vi) por transdutores contaminados utilizados na monitoração hemodinâmica dos pacientes e (vii) pelas mãos contaminadas dos profissionais de saúde (Figura 5) (SILVA et al., 2009). LYDIO&GOMES, 2013 Página 25 Figura 4: Representação de cateter venoso central. Fonte: Ramanathan et al., 2012. Figura 5. Fisiopatogenia da infecção relacionada ao uso de cateter. Fonte: Manual da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, p.10. 2010. LYDIO&GOMES, 2013 Página 26 Com o crescente uso do CVC e o aumento do número de casos de infecções nosocomiais, ocorreram modificações no perfil de micro-organismos patogênicos causando infecção de corrente sanguínea (ICS), fazendo com que algumas espécies bacterianas que antes eram encontradas somente na microbiota da pele, se tornassem frequentes causadoras de ICS, como os cocos Gram-positivos Staphylococcus epidermidis e Staphylococcus aureus. Cabe ressaltar que se classifica uma infecção como relacionada ao uso de cateter quando houver uma contagem igual ou superior a 15 UFC na técnica de rolamento de cateter em meio de cultura sólido, de preferência ágar sangue (MAKI, 1977). Qualquer valor inferior é indicativo de colonização (BEGHETTO & TEIXEIRA, 2002). As infecções decorrentes da disseminação de micro-organismos através do cateter resultam na maioria das vezes em bacteremia, podendo também acarretar em septicemia. As possíveis manifestações clínicas são: febre e pirogenia (calafrios e tremores). Vale ressaltar que somente as hemoculturas e as culturas da ponta do cateter colhidas após 48 horas de internação que apresentarem resultados positivos podem confirmar o cateter como única fonte de infecção (FERREIRA, 2005; BARROS et al., 2006). Esta disseminação acontece pela colonização e/ou formação de biofilme na superfície do cateter. Isto pode ocorrer tanto no compartimento interno (lúmen) como no revestimento externo do dispositivo, os quais podem funcionar como substrato. O material utilizado na fabricação da cânula dos cateteres influencia diretamente na ocorrência de complicações, devido à especificidade da composição de cada um e as técnicas utilizadas para a inserção do mesmo. Os materiais mais comumente utilizados na fabricação de cateteres são o politetrafluoretileno (PTFE), o cloreto de polivinila (PVC) e o polietileno. Para as cânulas metálicas, utiliza-se o aço inoxidável (ANVISA, 2010). A etiologia das ICSs depende de alguns fatores como: o tipo de cateter, o local de inserção, a frequência de manipulação, o diagnóstico de base, a unidade de inserção do CVC e a qualidade dos cuidados prestados ao paciente LYDIO&GOMES, 2013 Página 27 fazendo uso deste dispositivo (BOUZA et al., 2002). Embora a maioria das ICSs relacionada ao uso de cateter seja causada por Staphylococcus (tanto Staphylococcus coagulase negativa como S. aureus), bacilos Gram-negativos também são causa importante dessas infecções nos Estados Unidos e em outros países desenvolvidos, assim como fungos (Tabela 3) (RAAD et al., 2004). Além de serem resistentes ao calor e tolerantes a altas concentrações de sal (7,5% NaCl), os estafilococos são bactérias bastante resistentes às mudanças do meio ambiente, tendo a capacidade de sobreviver por meses em amostras clínicas secas. Evidências na literatura mostram que, das bactérias isoladas de diferentes sítios de inserção do corpo humano, os estafilococos coagulase negativo (SCN) são os mais frequentes. Já o Staphylococcus aureus, é o mais virulento, sendo encontrado usualmente colonizando a superfície externa do cateter. Estas bactérias são consideradas como os agentes de infecções nosocomiais mais importantes do Brasil, o que aumenta ainda mais a importância da sua identificação rápida e eficiente (MELO et al., 2007; MARQUES et al., 2011). Nas unidades brasileiras de terapia intensiva, os bacilos Gram-negativos também configuram um grave problema, uma vez que frequentemente colonizam o lúmen do cateter. Além disso, são considerados patógenos emergentes causadores de ICSs relacionadas ao uso de cateter venoso. Os bacilos Gram-negativos são classificados em dois grandes grupos: os não fermentadores de glicose e os fermentadores de glicose. O grupo dos não fermentadores é representado pelas espécies Pseudomonas aeruginosa, Burkholderia cepacia e Acinobacter baumanii. LYDIO&GOMES, 2013 Página 28 Tabela 3: Micro-organismos frequentemente encontrados em infecções relacionadas ao uso de cateter. Cocos Gram-positivos Staphylococcus aureus Staphylococcus coagulase negativa Staphylococcus epidermidis Enterococcus spp. Enterococcus faecium Enterococcus faecalis Bacilos Gram-negativos Klebsiella pneumoniae Serratia marcescens Enterobacter cloacoe Stenotrophomonas maltophilia Escherichia coli Proteus mirabilis Burkholderia picketti Bacilos Gram-positivos Corynebaterium spp. Fungos Aspergillus spp. Candida spp. Fonte: SHARIFF et al., 2004. LYDIO&GOMES, 2013 Página 29 Já no grupo dos fermentadores de glicose encontramos os seguintes micro-organismos: Enterobacter spp., Escherichia coli, Klebsiella spp. e Serratia spp.. Nesse grupo também encontramos importantes agentes produtores de beta-lactamases de espectro ampliado (ESBLs), principalmente a Klebsiella spp. e a E. coli (MARQUES et al., 2011). Atualmente, as enterobactérias vêm apresentando crescente importância nos processos infecciosos, especialmente as produtoras de ESBLs. Isso se dá pela resistência ampliada aos antimicrobianos da classe dos beta-lactâmicos, como as cefalosporinas, penicilinas e monobactâmicos. Nos hospitais brasileiros, a ESBL mais frequente é a E. coli. Ao contrário do que ocorre com os estafilococos, a transmissão de E. coli decorre, principalmente, da manipulação dos profissionais com os pacientes (MARQUES et al., 2011). ROSS et al. (2006) mostraram que amostras de K. pneumoniae, P. aeruginosa e A. baumanii obtiveram taxas significativas de isolamento, chegando a 8.5%, 7.6% e 7.6 %, respectivamente. Além disso, os autores ressaltaram que nos últimos anos tem ocorrido um aumento no isolamento de bactérias Gram-negativas no trato gastrointestinal, na nasofaringe e na pele dos pacientes. Estes micro-organismos estão presentes geralmente em ambientes hospitalares úmidos e possuem a capacidade de colonizar instrumentos cirúrgicos. Ainda, são também encontrados como contaminantes de infusões e soluções intravenosas administradas via cateter, além de serem carreadas pelas mãos dos profissionais de saúde (ROSS et al., 2006). De um modo geral, os fungos também vêm sendo isolados em pacientes graves, imunocomprometidos, com neoplasias e portadores de cateteres de longa permanência. Das infecções causadas por fungos, 80% são causadas pelo gênero Candida, onde a espécie Candida albicans é o agente mais prevalente. As leveduras do gênero Candida podem ser isoladas da boca, do tubo digestivo, do intestino, da orofaringe, da vagina e da pele de indivíduos saudáveis. A C. albicans apresenta como fatores de virulência e patogenicidade, a capacidade de aderência aos epitélios e a mucosa, o dimorfismo que auxilia a invasão tissular, a termotolerância significativa e a LYDIO&GOMES, 2013 Página 30 produção de várias enzimas. A colonização de cateteres ocorre devido a sua capacidade de aderência e formação de biofilme (ROSS et al., 2006; MENDONÇA, 2008). Porém, a frequência de espécies de Candida não albicans vem aumentando, principalmente pelo uso prévio de fluconazol. Suas manifestações clínicas são inespecíficas, sendo a febre o sinal mais comum. Seu diagnóstico se mostra um desafio, pois o principal exame para diagnóstico é a hemocultura e seu resultado só positiva em aproximadamente 50% dos casos. Além disso, a mortalidade é alta, sendo estimada entre 40% e 60%, com mortalidade atribuível de 38% (FRANÇA et al., 2008). Dentre todos os micro-organismos relacionados com infecção de CVC, o Staphylococcus aureus é o mais frequente. O S. aureus é uma bactéria do grupo dos cocos Gram-positivos e faz parte da microbiota humana, sendo principalmente encontrado na pele e nas fossas nasais. No entanto, este coco Gram-positivo também pode provocar desde simples infecções como espinhas e furúnculos, até as mais graves, como pneumonia, meningite, endocardite, síndrome do choque tóxico e septicemia. Por ser um componente da microbiota da pele, pacientes em uso de cateteres venosos podem ser infectados por esta bactéria através da invasão a partir do local de inserção, pois os componentes proteicos do hospedeiro facilitam a aderência e colonização do cateter. Depois de invadir, ela é capaz de migrar pelo cateter alcançando a corrente sanguínea, podendo ocorrer quadros graves de bacteremia, principalmente se a microbiota abrigar cepas resistentes à meticilina, denominadas MRSA (S. aureus resistente à meticilina) (SANTOS et al., 2007). Segundo LEONE & SUTER (2010), o MRSA é atualmente o patógeno mais comumente identificado em hospitais norte-americanos e contribui de forma significativa para a mortalidade do paciente. Este mesmo estudo relatou que uma pesquisa realizada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), descobriu que a incidência global de MRSA em pacientes em diálise foi de 45,2 casos por mil pessoas, indicando um risco 100 vezes mais elevado do que para a população em geral. LYDIO&GOMES, 2013 Página 31 A principal característica de disseminação das bactérias via cateter é a capacidade de formação de biofilme. Biofilmes são sistemas biológicos com elevado nível de organização, onde micro-organismos formam comunidades estruturadas e funcionais, fixadas a superfícies bióticas ou abióticas e envolvidas por uma complexa matriz extracelular de substâncias poliméricas produzida pelas próprias células bacterianas. Assim, garantem o estabelecimento de um sistema de comunicação que coordena atividades metabólicas para benefício mútuo, bem como a produção de fatores de virulência que facilitam a disseminação no hospedeiro (DONLAN & COSTERTON, 2002). Em geral, as etapas de desenvolvimento de um biofilme microbiano incluem: (i) a fixação inicial reversível a uma superfície, seguida pela (ii) fixação irreversível, (iii) formação de microcolônias, (iv) maturação das microcolônias em um biofilme maduro envolto em exopolissacarídeos (EPS), e, finalmente, (v) a dispersão, onde células individuais ou em grupos se desprendem do biofilme, retornando ao modo de vida planctônico e, portanto, fechando o ciclo de desenvolvimento (Figura 6) (VERMELHO et al., 2008). Acredita-se que o processo comece quando as bactérias sentem certos parâmetros ambientais que acionam a transição do crescimento planctônico à vida em uma superfície. Após a aderência inicial fraca e reversível, as bactérias devem manter contato com a superfície. Porém, para que desenvolvam um biofilme maduro, é necessário que a adesão se torne irreversível. Para tal, precisam se multiplicar, ancorar seus apêndices, produzir uma matriz exopolímerica e formar microcolônias (STOODLEY et al., 2002). A matriz exopolimérica dos biofilmes microbianos é de composição heterogênea e variada entre as espécies, podendo apresentar polissacarídeos, proteínas, ácidos nucleicos, glicoproteínas e fosfolipídos. A matriz do biofilme possui grande importância para os micro-organismos, uma vez que lhes garante integridade mecânica e é responsável pelas propriedades físicoquímicas que proporcionam a fisiologia das células presentes em seu interior (REIS & BOTELHO, 2012). LYDIO&GOMES, 2013 Página 32 Figura 6: Representação das etapas que compõem o ciclo de desenvolvimento do biofilme microbiano. Fonte: VERMELHO et al., 2008. LYDIO&GOMES, 2013 Página 33 Microcolônias são comunidades constituídas de três a cinco camadas de células bacterianas que se desenvolvem após a aderência a uma superfície (DAVEY & O’TOOLE, 2000). GERKE e colaboradores (1998) mostraram que células sésseis de Staphylococcus epidermidis produziram uma adesina intercelular polissacarídica que as uniu mais fortemente não somente à superfície, mas também umas as outras facilitou a formação de microcolônias e a posterior maturação do biofilme. A fase de maturação do biofilme resulta na geração de uma arquitetura complexa com canais e poros que forma sua estrutura tridimensional, a qual pode ser bem espessa e visível a olho nu (STOODLEY et al., 2002). A estrutura pode ser caracterizada morfologicamente, observando-se propriedades como espessura, densidade e forma. SAUER e colaboradores (2002) demonstraram que células de P. aeruginosa em biofilmes maduros apresentaram perfis de expressão gênica muito diferentes, sendo que mais de 50% (cerca de 800 proteínas) foram expressas seis vezes mais do que em células planctônicas. Estas proteínas pertenciam às cinco principais classes: proteínas do metabolismo de carbono e aminoácidos, biossíntese de fosfolipídios e lipopolissacarídeos (LPS), secreção e transporte de membrana e em mecanismos de adaptação e proteção. A dispersão é a última fase do desenvolvimento de um biofilme. Este termo é geralmente utilizado para descrever o destacamento de células (individuais ou em grupos) de um biofilme ou substrato. O destacamento é um evento fisiologicamente regulado e dependente da densidade celular, que pode ativar a liberação de enzimas degradadoras de matriz, permitindo que bactérias se desprendam do biofilme quando há uma elevada densidade celular dentro das microcolônias (STOODLEY et al., 2002). SAUER e colaboradores (2002) compararam padrões de proteínas em géis bidimensionais para mostrar que células de P. aeruginosa em dispersão são mais similares às células planctônicas do que as encontradas em biofilmes maduros. Essa descoberta indica que células que se destacam de biofilmes voltam ao modo de crescimento planctônico, fechando, portanto, o ciclo de vida de desenvolvimento de um biofilme. LYDIO&GOMES, 2013 Página 34 A habilidade de formação de biofilme por micro-organismos patogênicos na superfície inerte do cateter ou em tecidos do hospedeiro constitui uma importante origem das infecções constantes que resistem à resposta do sistema imune. O arranjo obtido em biofilme protege os micro-organismos da ação de antimicrobianos, da fagocitose e da ativação do complemento. Além disso, a produção de peróxido de hidrogênio e a secreção de anticorpos opsonizantes são ineficazes, pois essas substâncias não conseguem penetrar a matriz exopolimérica (FUX et al., 2005). Mesmo em pacientes saudáveis, as infecções relacionadas a biofilmes microbianos são dificilmente resolvidas pelos mecanismos de defesa do hospedeiro. Na verdade, elas são comumente crônicas e de tratamento difícil, apresentando sintomas recorrentes, e mesmo após ciclos de terapia antimicrobiana, são eliminadas muitas vezes por método cirúrgico ou com elevadas doses de agentes quimioterápicos. Por tudo isso, o custo do tratamento destas infecções é elevado, chegando a cerca de um bilhão de dólares por ano (FUX et al., 2005). Perante isso, percebe-se a importância da realização de medidas preventivas direcionadas ao controle de biofilmes, a fim de garantir a qualidade do processo dialítico. O controle da formação de biofilmes microbianos pode ser realizado por diversos métodos, como a utilização de biocidas, biodispersantes, enzimas, dentre outros (CAPPELLI et al., 2006). Além dessas atitudes, outro modo de prevenção é a utilização de cateteres impregnados com substâncias que possuam atividade antimicrobiana e/ou que inibam a aderência de micro-organismos a superfícies. Como exemplo podemos citar a utilização de prata elementar, prata zeólita e nanopartículas de prata. A prata possui um amplo espectro de atividade antimicrobiana contra bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, contra fungos, protozoários e certos vírus. Estudos mostram que a utilização da prata é mais eficaz quando esta é impregnada em vez de revestida diretamente na superfície do cateter, pois o revestimento direto pode causar a desativação da prata por íons de proteínas. Já a impregnação, fornece proteção à região interna e externa do cateter contra a possível adesão bacteriana (MONTEIRO LYDIO&GOMES, 2013 Página 35 et al., 2009). POLLINI e colaboradores (2011) demonstraram a atividade antibacteriana de nanopartículas de prata impregnadas na superfície de cateteres utilizados em HD em amostra padrão de E. coli, enquanto PALLADINI et al. (2013) relataram a mesma propriedade também para amostra padrão de S. aureus. Cateteres impregnados com rifampicina/minociclina, também se apresentaram eficientes na redução das taxas de colonização e de infecção da corrente sanguínea (ANVISA, 2010). Uma pesquisa realizada por BIENART e colaboradores (2008), mostrou a utilização de ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) para prevenção e tratamento de contaminação de cateter em hemodiálise. Isso é realizado com a associação do EDTA com a minociclina. O EDTA é uma substância quelante, que atua removendo o cálcio, o magnésio e o ferro da membrana celular de bactérias Gram-negativas, Gram-positivas e fungos, permitindo a passagem de agentes biocidas após a lesão da membrana. Esta ação também ocorre contra a estrutura físico-química do biofilme, permitindo a penetração e ação efetiva do antimicrobiano nas bactérias sésseis, eliminando-as. TAMINATO et al. (2012) aborda o uso profilático de mupirocina em CVC. A mupirocina é um antibiótico que age inibindo a síntese proteica e que possui atividade principalmente contra Grampositivos. Sua utilização levou à redução significativa dos casos de infecção por CVC e vem sendo indicada no combate a infecções causadas por S. aureus. A decisão sobre a utilização de cateteres impregnados com antimicrobianos ou antissépticos na prevenção de infecção de corrente sanguínea deve ser realizada após a realização de medidas básicas (O’GRADY et al., 2002). Estas medidas podem ser realizadas por meio de programas de educação continuada, capacitação dos profissionais de saúde, vigilância epidemiológica das infecções relacionadas a assistência a saúde. Vários estudos demonstraram que a aplicação conjunta de medidas preventivas, por meio de pacotes de medidas, reduziu os casos de infecções de modo consistente e duradouro. Este pacote conta com cinco componentes: a higienização das mãos, precauções de barreira máxima (higienização das mãos, uso de gorro, máscara, avental, luvas estéreis e campos estéreis que LYDIO&GOMES, 2013 Página 36 cubram o paciente), o preparo da pele do paciente, seleção do sítio de inserção do CVC e revisão diária da necessidade de permanência do CVC, com pronta remoção quando não houver indicação (ANVISA, 2010). CONCLUSÃO As alterações relacionadas aos hábitos e condições de vida da população trouxeram um aumento na ocorrência de doenças crônicas, como a DRC. Os estágios mais críticos da DRC muitas vezes podem levar à necessidade de transplante renal ou a realização de tratamento substitutivo das funções renais, como a HD. Este tratamento requer a inserção de um cateter, para que a água ― seu principal insumo ― e o dialisato passem pelo corpo do paciente, fazendo a depuração do sangue. Este sistema trouxe uma maior longevidade aos pacientes, mas também ocasionou complicações, como as infecções. As duas principais fontes que propiciam o desenvolvimento dos quadros de infecção em HD são a água e o uso de cateter. Ao avaliar as normas vigentes nacionais e internacionais, percebe-se que não há concordância no que tange à qualidade microbiológica da água utilizada em HD. Além disso, não há exigência em se analisar a presença de fungos nem protocolos de desinfecção para os centros de HD. Toda essa falta de padronização promove a ocorrência de falhas e facilita o desenvolvimento de infecções. NYSTRAND (2008) alerta para a necessidade de padronização das recomendações oficiais para a qualidade tanto dos fluidos, quanto da água utilizada em HD, visando à harmonização e uma referência mundial de qualidade, de modo a facilitar a interpretação de estudos internacionais e, consequentemente o aumento na sobrevida dos pacientes. Também seria importante a criação de padrões regionais quanto a água utilizada para hemodiálise, visto que cada região possui particularidades em relação a característica e origem da água. Além disso, seria relevante também a criação de POP’s ( programa orientado padrão) para os profissionais de forma a otimizar o processo de controle de qualidade da água destinada aos pacientes em hemodiálise. LYDIO&GOMES, 2013 Página 37 Finalmente, como já abordado, uma das principais fontes de infecção em pacientes em HD é o uso de CVC. O principal fator que pode levar à contaminação é a formação de biofilme na superfície interna ou externa do cateter. Os micro-organismos formadores de biofilme podem vir principalmente das seguintes fontes: da microbiota da pele do próprio paciente, pela infusão de soluções contaminadas utilizadas para manter a permeabilidade do cateter, por transdutores contaminados utilizados na monitoração hemodinâmica dos pacientes e pelas mãos contaminadas dos profissionais de saúde. Com isso, percebe-se a importância da promoção de programas de atualização, da supervisão eficiente e do treinamento adequado para os profissionais da saúde. Somente com normas rigorosas e com o envolvimento da equipe multiprofissional, a ocorrência de casos de infecção em pacientes em HD diminuirá ― o que beneficiará não somente a qualidade dos serviços prestados, mas, sobretudo, a qualidade de vida dos pacientes. LYDIO&GOMES, 2013 Página 38 REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILANCIA SANITARIA (ANVISA). Resolução da Diretoria Colegiada nº 154 15 de Junho de 2006. Regulamento Técnico para funcionamento do serviço de diálise. 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