1 - Revista Ecológico

Transcrição

1 - Revista Ecológico
ANO 8 - Nº 88 - MARÇO DE 2016 - R$ 12,50
EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA
UM FILME DA CONSERV A
“Eu já cobri este pla n
E eu posso cobri -
RODRIGO S
O OCE
anaturezaesta fa
V AÇÃO INTERNACIONAL
a neta inteiro uma vez.
ri -lo novamente.”
O SANTORO É
CEANO
a falando.org.br
EXPEDIENTE
FOTO: ROBERTO MURTA
1
Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck
COLUNISTAS
Antonio Barreto, Leonardo Boff,
Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e
Roberto Souza
DIRETORA DE GESTÃO
Eloah Rodrigues
[email protected]
REVISÃO
Gustavo Abreu
EDITOR-EXECUTIVO
Luciano Lopes
[email protected]
CAPA
Foto: Victor Moriyama/Greenpeace
DIRETOR DE ARTE
Sanakan Firmino
[email protected]
DEPARTAMENTO COMERCIAL
Fábio Vincent
[email protected]
CONSELHO EDITORIAL
Fernando Gabeira, José Cláudio
Junqueira, José Fernando Coura,
Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani,
Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson,
Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e
Sérgio Myssior
Sarah Caldeira
[email protected]
CONSELHO CONSULTIVO
Angelo Machado, Célio Valle, Evandro
Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos
Carvalho, Roberto Messias Franco,
Vitor Feitosa e Willer Pos
REPORTAGEM
Cristiane Mendonça, Déa Januzzi,
Luciana Morais e Vinícius Carvalho
EDITORIA DE ARTE
André Firmino
Representante Comercial Brasília
Forza CM - Comunicação e Marketing
[email protected]
Representante Comercial
Rio de Janeiro
Tráfego Publicidade
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MARKETING
Janaína De Simone
[email protected]
ASSINATURA
Ana Paula Borges
[email protected]
IMPRESSÃO
Log & Print Gráfica e Logística S/A
PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL
Ecológico Comunicação em
Meio Ambiente Ltda
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REDAÇÃO
Rua Dr. Jacques Luciano, 276
Sagrada Família - Belo Horizonte-MG
CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755
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VERSÃO DIGITAL
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(*) Os artigos são de responsabilidade
de seus autores e não expressam
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sou_ecologico
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EMISSÕES CONTABILIZADAS
DIRETOR-GERAL E EDITOR
Hiram Firmino
[email protected]
ecologico
2,16 tCO2 e
Dezembro de 2015
IMAGEM DO MÊS
RIO DE LIXO
Após autoridades fecharem o aterro de Naameh, na
periferia de Beirute, no Líbano, e não apresentarem
um novo local para a disposição de resíduos, milhões
de sacolas de lixo vêm sendo jogadas em uma rua da
região. O "rio" que se formou no subúrbio da capital
libanesa é um protesto da população que há seis
meses convive com o problema.
FOTO: AZIZ TAHER / REUTERS
1
1
ÍNDICE
CAPA
NA TERCEIRA PARTE DA REPORTAGEM SOBRE A
TRAGÉDIA DE MARIANA, UMA REFLEXÃO SOBRE O
FUTURO DA REGIÃO E O ACORDO ENTRE A SAMARCO
E OS GOVERNOS FEDERAL E ESTADUAIS PARA A
RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DO RIO DOCE.
Pág.
28
64
AS PEGADAS
DE LUND
PRIMEIRA PARTE DA
SÉRIE RETRATA AS
DESCOBERTAS DE
FÓSSEIS EM MINAS
GERAIS, DATADAS DE 1785
73
E mais...
CARTAS DOS LEITORES 08
CARTA DO EDITOR 10
GENTE ECOLÓGICA 12
ECONECTADO 14
ESTADO DE ALERTA 16
FELIS CONCOLOR 18
PÁGINAS VERDES 20
ECOLÓGICO NAS
ESCOLAS
CÉU DO MUNDO 44
UMA AMEAÇA À
SEGURANÇA ALIMENTAR, A
DESERTIFICAÇÃO AVANÇA
NO BRASIL. NO ENTANTO,
HÁ COMO EVITÁ-LA
ALMA PLANETÁRIA 48
82
SAÚDE 46
EMPRESA E MEIO AMBIENTE 50
AQUECIMENTO GLOBAL 56
BIODIVERSIDADE 60
GESTÃO & TI 62
EDUCAÇÃO AMBIENTAL 70
ENSAIO
FOTOGRÁFICO
NATUREZA MEDICINAL 78
LIVRO “OS SERTÕES DO
BRASIL” TRAZ SÉRIE DE
FOTOS FEITAS POR JOSÉ
ISRAEL ABRANTES SOBRE
A NATUREZA AGRESTE
MEMÓRIA ILUMINADA 86
VOCÊ SABIA? 80
O SEGREDO (1) 92
OLHAR POÉTICO 98
FIEMG.COM.BR
SS001316-A forca de quem faz-AD Revista Ecologico-Homem Fundo Roxo-205x275 mm-FIN.indd 1
3/4/16 6:47 PM
1
CARTAS DOS LEITORES
OECOLÓGICO NAS ESCOLAS – BRASIL É CAMPEÃO!
A reciclagem de latas de alumínio no país chega a 98,4%
e bate recorde mundial
“Só porque uma embalagem é completamente
reciclável não é sinônimo de sustentabilidade.
Deve-se observar os fatores mais importantes,
que são os custos de sua fabricação, o consumo
de água e energia para chegar ao produto final. Se
pesquisarem mais sobre isso, vão se assombrar com
a contradição de todo este processo de produção
e sua logística. Além do que ninguém está levando
em conta os custos ambientais e energéticos para a
extração e produção do alumínio para esses fins.”
Juan Mario Arenas Sandoval, via Facebook
“O fato é bom, no entanto, só ocorre por conta dos
catadores de latinha que as usam como fonte de
renda. Para se comemorar mesmo, essa reciclagem
teria de acontecer por conta da educação ambiental.
Mas, acredito que estamos no caminho.”
Lailla Coutinho, via Facebook
OMATÉRIA DE CAPA - E AGORA, MARIANA? (2)
Especialistas analisam a tragédia do rompimento
da Barragem de Fundão, em Mariana (MG)
“Até agora, não vimos nada de concreto sendo feito,
ministra Izabella Teixeira. O mundo inteiro já sabe
quem são os responsáveis.”
Neusa Costa Santos Saraiva, via Facebook
“A tragédia só aconteceu porque as leis ambientais
brasileiras são uma piada, somado à ineficiência dos
fiscais corruptos, que culminou em um acidente de
proporções desastrosas e inseparáveis. Tem algum
culpado preso? Nem vai ter. No Brasil só vai preso
bandido pé de chinelo!”
Marcos Naval, via Google+
“Isso não foi um acidente, foi um crime de
omissão, pois os fatos já estavam apontando
que iria acontecer.”
William Silva, via Google+
OMEMÓRIA ILUMINADA - CHICO SEM DESCULPAS
Matéria sobre o documentário “Chico – Artista
Brasileiro”, que fala da vida e carreira
do cantor Chico Buarque
“O documentário é imperdível! Assisti e adorei!”
Christiane Carvalho Uchoa, via Facebook
08 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
OREFLEXÕES – O REGRESSO CLIMÁTICO
O ator e ativista ambiental Leonardo DiCaprio
fala sobre o papel da sociedade na questão
das mudanças climáticas
“Guarde esse discurso na gaveta! Aqui no Brasil
precisamos é investir em educação, segurança,
saneamento básico e na recuperação das matas e
florestas. Gastar com energias renováveis num país
que a duras penas vem estabelecendo sua matriz
energética é só para alienados!”
Aloisio Cotta, via Facebook
“Que mais personalidades como Leonardo
DiCaprio usem de sua arte para abrir a cabeça
das pessoas sobre a questão ambiental. Investir
em energia limpa é algo urgente e isso pode
ser feito paralelamente ao oferecimento de
uma melhor educação ambiental, projetos que
fortaleçam a economia de água, a coleta seletiva,
não desperdício de energia e, principalmente,
fomentem o reflorestamento.”
Kelly Lígia, via e-mail
“Com a quantidade de impostos que pagamos,
é possível investir em tudo isso. O problema é a
corrupção dos nossos gestores, que não
fazem nada pela sociedade.”
Romilda Alves, via Facebook
FA L E C O N O S C O
Envie sua sugestão, opinião ou crítica para
[email protected]
Por motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.
ORÉQUIEM DA IMPRENSA VERDE
Mais longeva e educativa publicação do país, Folha do
Meio Ambiente deixa de ser impressa por falta
de publicidade e apoio governamental
“Credito ao Silvestre Gorgulho não só o pioneirismo
na imprensa verde no Brasil, mas também a
motivação para que eu, ainda um publicitário,
seguisse o incerto caminho do meio ambiente como
profissão, lá em 1989, quando comecei. Silvestre
é um dos mais cultos jornalistas que conheço,
um grande especialista na história de Brasília e
de seus construtores, e poderia estar em qualquer
redação do país ocupando posição sênior. Silvestre,
continue na internet - ou melhor ainda, reinvente-
“Como rotina da minha
profissão, tenho contato
diário com vários veículos de
comunicação. Mas o prazer
em ler a Revista Ecológico
é o de sentir e saber sobre
os movimentos de pessoas
e empresas em direção à
sustentabilidade. Os temas
ligados à qualidade de vida,
reciclagem, preservação da
natureza, espiritualidade e
ética são valores que tornam a publicação referência no
setor. Para mim, ecologia sempre esteve na moda e faz
parte dos meus princípios. E, por todos esses motivos, a
cada lua cheia aguardo ansiosa por mais uma edição.”
Cristiane Nobre, empresária e profissional de
Relações Públicas
se e amplie-se nela, que é um espaço muito maior
do que algumas páginas impressas, inclusive para
promover educação.”
Rogerio Ruschel, via site
RESGATE A TRADIÇÃO DO FOGÃO A LENHA COM UM ECOFOGÃO
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FOTO:OLÍCIO SILVEIRA
“Minas Gerais foi do período colonial até hoje vítima
de violações de sua natureza. A importância de
restabelecer nossas florestas vai refletir no futuro.”
Renato Pereira, via Facebook
EU LEIO
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
OMINAS PLANTA O FUTURO
Projeto liderado pela Codemig pretende plantar
30 milhões de árvores e recuperar 40 mil nascentes
FOTO: FERNANDA MANN
1
CARTA DO EDITOR
HIRAM FIRMINO | [email protected]
VELHO CHICO
P
arece estar escrito, desde sempre, no dicionário
da nossa travessia sobre a Terra: o que nos move,
mesmo feito gado indo para o matadouro das
mudanças climáticas, acelerando a colheita do que
fazemos com a sua natureza, é a esperança. Quando
estamos confusos e deprimidos, buscando um sentido na vida, seja em nós mesmos ou no que fazemos ao
planeta, é ela que nos salva: a “velha” esperança, por
nós compartilhada, de sobrevivermos. A confiança de
que algo bom irá nos acontecer. De que quanto maior
o desamor e a escuridão da noite, mais próxima está
a chegada de um novo amanhecer, a luz de um novo
amor, como poetizava Vinicius de Moraes.
É com essa crença que, apesar de nossa escolha preferencial pela dor, parece estarmos condenados a dar
certo. Predestinados a evoluir sempre, tal como todas
as espécies vivas do planeta.
É com esse pensamento de “re-acreditar” sempre na
melhora natural do ser humano, que a Revista Ecológico acompanha, em mais uma edição especial sobre o
“Dia Mundial da Água”, o desfecho/acordo federal que
se esboça para enfrentar e sanar o ocorrido com a tragédia de Mariana. Um acordo de reparação ambiental
de R$ 20 bilhões, seguido de governança pela própria
Samarco, que causou o acidente, ninguém pode negar
e tem o aval dos ambientalistas mais moderados:
os:
ele é melhor que a falta de acordo e governança
a
alguma, vide o perigo desse dinheirão entrar noss
cofres públicos e nada chegar ao Rio Doce.
Foi o que não aconteceu há 15 anos, na tragédia da Mineração Rio Verde, em Macacos,
Nova Lima (MG), onde cinco operários morreram; e a Ecológico também recorda, com muita
a
dor, nesta edição. Um recado comparativo dito
o
pela própria ministra Izabella Teixeira, para se
e
manter a eterna vigilância: “O modelo do nosso acordo com a Samarco só vai ser exitoso se
tivermos o engajamento da sociedade”. É o cha10 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
mado segundo passo que se espera do processo.
Caro leitor, você também vai conferir uma outra tragédia anunciada, muito maior e silenciosa, prestes a
acontecer, segundo o professor, doutor em Arqueologia
e especialista em Cerrado, Altair Sales Barbosa: o fim
anunciado deste bioma brasileiro, o maior ecossistema
da parte central de toda a América Latina, incluindo as
veredas e os buritis de Guimarães Rosa.
Você vai saber ainda por que o arroto do boi no Brasil, hoje o maior criador de gado e exportador de carne
do mundo, ameaça nos levar mais depressa ao inferno
do aquecimento global.
Vai entender o que se passa na mente do “Cabeça da
Terra”, como é chamado Ailton Krenak, um dos maiores
líderes políticos e intelectuais dos povos indígenas no país.
E, por fim, para não perdermos de vez a velha esperança no mundo, no Brasil e em nós mesmos, vide a
crise econômica e financeira que nos abate, além dos
embates éticos e políticos, você vai reler o primeiro
capítulo da série, acredite se quiser, de “O Segredo”, o
best-seller de Rhonda Byrne, que publicamos originalmente na JB Ecológico, revista antigamente encartada no Jornal do Brasil.
No mais, é aguardarmos para ver se a nova novela
da Rede Globo também irá tratar, mesmo de leve, mas
de forma
esperançosa e educativa, a questão amf
biental.
O nome do seu personagem principal diz
bi
tudo:
é o Velho Chico mesmo! Quando ainda lhe
tu
havia
água abundante, antes da sua degradação,
h
como diria Drummond: 90% de água em seu
curso e 80% nas almas das pessoas ribeirinhas.
É dele, do Velho São Francisco, um dos temas
do “VI Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, que também estaremos
falando em nossa próxima edição, com a cobertura completa do evento, o registro de seus vencedores e recados de esperança hídrica.
Boa leitura! Até o dia 22, lua cheia de abril. O
F4L74M P4L4VR45
P4R4 4GR4D3C3R.
AINDA BEM QUE SOBRAM NÚMEROS: O HOJE EM DIA TEM MAIS DE
400 MIL CURTIDAS NO FACEBOOK.
O Hoje em Dia
tem mais seguidores
no Facebook do que
nossos dois principais
concorrentes somados.
Liderança de quem
tem sempre conteúdo
de qualidade e vive
a informação em todas
as plataformas.
/JORNALHOJEEMDIA
FOTO: DANNY MOLOSHOK / REUTERS
GENTE ECOLÓGICA
ILUSTRAÇÃO: GERALDINHO LEMOS
1
“Toda crise é
fonte sublime de
espírito renovador
para os que sabem
ter esperança.”
FOTO: D
CHICO XAVIER,
médium espírita
“O animal selvagem e
cruel não é aquele que
está atrás das grades.
É o que está na
frente delas.”
FOTO: .A. E MARIA JOSÉ DE LENCASTRE
AXEL MUNTHE, médico
e escritor sueco
“Às vezes ouço passar
o vento. E só de ouvir
o vento passar, vale a
pena ter nascido.”
FERNANDO PESSOA,
poeta português
12 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
“‘O Regresso’ foi sobre a relação do homem com a natureza,
um mundo que teve em 2015 o ano mais quente já registrado.
Nossa produção teve que se mudar para a parte mais ao sul
do planeta só para achar neve. A mudança climática é real.
Está acontecendo agora. É a ameaça mais urgente à nossa
espécie. E precisamos trabalhar coletivamente e parar de
adiar isso. Precisamos apoiar os líderes mundiais que não
falam pelos grandes poluidores e grandes corporações. Mas
que falam por toda a humanidade, pelos povos indígenas do
mundo, pelos bilhões de pessoas desamparadas que serão as
mais afetadas por isso. Pelos nossos netos e pelas pessoas
que tiveram suas vozes afogadas pela ganância política.”
LEONARDO DICAPRIO, ator norte-americano, ao receber o Oscar
de “Melhor Ator” por sua atuação no filme “O Regresso”
FERNANDO HENRIQUE
CARDOSO, ex-presidente
da República
“A natureza tem uma
estrutura feminina: não
sabe se defender. Mas sabe
se vingar como ninguém.”
“Não são poucos os exemplos
de córregos canalizados,
escondidos sob concreto,
que transbordam causando
transtornos sérios para a
população. Esconde-se o curso
d’água e sobre ele constrói-se
uma avenida, que funciona
bem até que a chuva destrua
tudo novamente.”
PAULO CÉSAR OLIVEIRA, jornalista
e diretor-geral da VB Comunicação
FOTO: GUILHERME BERGAMINI / ALMG
MARINA SILVA, ex-ministra
de Meio Ambiente
FOTO: BEBEL BALDONI / PBH
MALU NUNES, diretora-executiva
da Fundação Grupo Boticário
de Proteção à Natureza
DÉLIO MALHEIROS
O vice-prefeito e
secretário de Meio
Ambiente de BH foi
visto, e virou viral,
descendo de seu
carro em uma das
avenidas menos
verdes da capital
mineira. Sozinho, ele
levantou e "amarrou"
várias mudas de árvores caídas no
chão, que estavam soltas de suas
estacas ao longo do canteiro central:
“Estou dando o exemplo de que cada
cidadão pode fazer o mesmo. E não
ficar contando só com a prefeitura
para zelar o verde da cidade”, disse
ele em seu blog.
GISELE BÜNDCHEN
Embaixadora da Boa
Vontade do Programa
das Nações Unidas
para o Meio
Ambiente (Pnuma),
a modelo participou
recentemente de
um encontro na
sede da ONU no
“Dia Mundial da Vida
Selvagem” (03 de março), cujo tema
é “O futuro dos elefantes está em
nossas mãos”. No evento foram
debatidos os desafios e as novas
iniciativas para os países acabarem
com o tráfico ilegal de animais.
FOTO: LILI FERRAZ
FOTO: BEBEL BALDONI / PBH
FOTO: ACERVO FUNDAÇÃO BOTICÁRIO
“A pior guerra é a guerra
contínua contra a
natureza, que é silenciosa,
que destrói ao longo
do tempo.”
FOTO: ALESSANDRO CARVALHO
“A natureza não sabe
fazer perguntas como
nós. Mas tem respostas
claras e diretas para o que
fazemos com ela.”
CRESCENDO
SÉRGIO MYSSIOR
Especialista em
Meio Ambiente e
Urbanismo, atual
conselheiro titular
estadual no Conselho
de Arquitetura e
Urbanismo de Minas
Gerais (CAU-MG)
e do Conselho
Municipal de
Meio Ambiente de Belo Horizonte
(Comam), Myssior foi nomeado
diretor de Sustentabilidade
do Sindicato das Empresas de
Arquitetura e Engenharia Consultiva
de Minas Gerais (Sinaenco-MG).
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O13
ECONECTADO
CRISTIANE MENDONÇA
ECO LINKS
O“Não há debate sobre
o clima; a mudança
climática é inequívoca,
verdadeira e urgente de
resolver. As escolhas
que fazemos agora
asseguram ou eliminam
o nosso futuro.”
@JimCameron - James Cameron,
cineasta canadense
FOTO: ANGELA GEORGE
TWITTANDO
O“Não há um só índio entre 513
O“Os jovens
desempenham um
papel essencial
para a construção
de um novo futuro
para o mundo
árabe, integrado à
economia global.”
@Lagarde - Christine Lagarde,
diretora-gerente do FMI
FOTO: FONDS MONÉTAIRE
INTERNATIONAL E
deputados e 81 senadores. Se a
PEC 215 for aprovada, nunca mais
haverá demarcação de terra no Brasil
#PEC215Nao.”
@silva_marina - Marina Silva,
ex-senadora
O“Muito triste...O ser humano ainda tem
que aprender muito com a natureza.”
@gewbank - Giovanna Ewbank, atriz
O“Pelo menos uma a duas vezes
por semana, é preciso dar uma geral
na casa. Água parada e descoberta,
nunca!” #zikazero
@drfernandoneuro – Fernando Gomes
Pinto, neurologista
#ZIKAZERO
As temidas doenças dengue, zika
e chikungunya, transmitidas pelo
mosquito Aedes aegypti, têm causado
grande apreensão nas pessoas. Para
reforçar ações de prevenção, como
não deixar água parada em nenhum
recipiente, já existem aplicativos que
ajudam a mapear focos de possível
reprodução do Aedes. Um bom
exemplo é o app AntiZika. Criado por
universitários da Escola Superior de Tecnologia da Universidade
do Estado do Amazonas (EST-UEA), o programa permite que você
tire fotos de reservatórios de reprodução do mosquito e coloque no
mapa. Ao acessar o aplicativo você também pode visualizar quais
lugares no seu bairro são mais críticos e até mesmo utilizar a
informação para denunciar às autoridades responsáveis.
Em Belo Horizonte, o número é 156. O aplicativo é gratuito
e pode ser baixado no Google Play.
FICA A DICA!
O site da Revista Ecológico é atualizado diariamente com notícias
sobre meio ambiente e sustentabilidade. Política e educação
ambiental, denúncias, bons exemplos, dicas e entrevistas com
especialistas são alguns dos assuntos publicados.
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preservados, não deixe de se informar em: http://goo.gl/MMx3Kq
FOTO: ANTÔNIO A. T. DE ALMEIDA
1
O “62 pessoas têm a
mesma renda de 3,5
bilhões, segundo a
Oxfam! Alguma coisa
está mesmo fora da
ordem!”
@ReinaldoCanto Reinaldo Canto, jornalista
14 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
FOTO: REPRODUÇÃO FACEBOOK
O “Pobreza global: obesidade supera
a fome no Brasil e, na França, lei
obriga a doar alimentos.”
@AmeliaGonzalez8 - Amelia Gonzalez,
jornalista
CACHOEIRA do Crioulo,
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1
ESTADO DE ALERTA
MARIA DALCE RICAS (*)
[email protected]
A
Samarco tem obrigação de arcar com a recuperação de tudo que causou com a ruptura da Barragem de Fundão. Mas isso, nem de longe, significa
salvar o rio Doce. Esta tarefa depende do poder público
- governos federal, estadual e municipal, do Legislativo - e da sociedade, que é cúmplice, omissa e também
responsável por sua agonia. A população das cidades
que foram atingidas pela lama da Samarco, ficaram sem
água ou sofreram prejuízos, com exceção provável de alguns “gatos-pingados” e ambientalistas “chatos”, enxerga o rio como depósito de esgoto e lixo.
Não tivemos acesso ao plano de recuperação apresentado pela Samarco. Mas sabemos que o Rio Doce e
a maior parte de seus afluentes já estavam em processo de agonia antes da ruptura da barragem, em função de: mau uso do solo, representado pelo alto nível
de erosão que entupiu seu leito de terra; destruição
de suas matas ciliares e nascentes; ocupação urbana desenfreada; lançamento de esgotos domésticos
e industriais; lixo; e construção sequencial de barragens para geração de energia elétrica. Estruturas que
ameaçam matar o Rio Santo Antônio, um dos poucos
afluentes que mantêm qualidade ambiental. Além
de tudo isso, estão na lista de ameaças ao Rio Doce a
abertura e manutenção de estradas por prefeituras e
particulares, agricultura, minerações etc.
A lama da barragem obviamente foi um duro e decisivo golpe nesse processo de morte. Mas atingiu
muitas áreas que, sob ponto de vista ambiental, já
estavam degradadas - como as margens do Rio Doce,
onde a lama está agora depositada.
É preciso então saber se a recuperação consistirá
em voltá-las à condição de antes da lama. Ou se elas
serão realmente recuperadas com plantio de mata
ciliar. A segunda opção esbarra na concordância dos
proprietários rurais que ocuparam as margens para
atividades agrícolas ou criação de gado. E a empresa
não pode obrigá-los a aceitar o plantio, que prevê, no
mínimo, restrições de uso. Se o governo quer realmente recuperar o Rio Doce, o que duvido, a oportunidade
deveria ser aproveitada. Mas, se assim for, terá de adotar medidas diversas e até conflitivas com os proprietários. Para a empresa, retirar a lama é provavelmente
mais fácil e mais barato do que recriar a floresta que
protegia as barrancas do rio contra desmoronamento
16 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
FOTO: FRED LOUREIRO / SECOM ES
A LIÇÃO FOI APRENDIDA?
LAMA na foz do Rio Doce,
no Espírito Santo:
biodiversidade impactada
e criava condições para a vida aquática e terrestre.
A recuperação da fauna terrestre, que foi duramente atingida, principalmente nas áreas de encosta
onde ainda existiam ambientes naturais como florestas, é um ponto fundamental.
CAMINHOS A SEGUIR
Penso que não há muito que fazer em termos de diagnosticar o tamanho do impacto. E mesmo se é possível
questionar a utilidade disso. Pragmaticamente, a Samarco deve assumir compromisso, com projeto executivo completo, incluindo monitoramento de resultados
e proteção contra incêndios, de recriar esses ambientes
e transformar a área em unidade de conservação de
proteção integral. Se as terras não forem de sua propriedade, deve comprá-las. Como são impróprias para atividades econômicas pela declividade, qualidade do solo,
áreas de ocorrência de Mata Atlântica protegidas por
Lei, o custo é baixo. Penso também que as barragens devem ser definitivamente encerradas, com recuperação e
anexação às unidades de conservação propostas.
A recuperação da fauna aquática é fundamental
e depende de fatores pouco controláveis. É preciso
aguardar e monitorar a sedimentação e dispersão
da lama ao longo de seu leito e no mar. A proteção
de afluentes, principalmente o Rio Santo Antônio, é
ação indispensável na recuperação. Será a partir deles que o Doce será recolonizado. Ele é um rio de piracema e o maior berçário de reprodução da bacia.
Também não é demais lembrar: se a Semad conceder
“Não deixar ‘um tostão’ nas mãos do governo do Estado, da União e das prefeituras,
criar instituição privada para administrá-los, com espaço institucional para
acompanhamento pela sociedade, são parâmetros para acreditarmos que a
tragédia causada pela Samarco servirá realmente de lição neste país.”
licença para construção das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHS) em “cascata” projetadas para ele,
adeus fauna aquática! Adeus, recuperação do Rio
Doce! Adeus, “demagogia ambiental”!
Na verdade, o verbo “recuperar” é impróprio. O correto é “paralisar” a degradação. Recuperar suas matas
ciliares, proteger nascentes e afluentes que o alimentam, recuperar os milhares de hectares de terra que
se transformaram em deserto por causa do desmatamento, fogo e super pastoreio, agricultura em encostas, tratar esgotos e não jogar lixo é tarefa gigantesca,
desafiadora, longa. Mas possível.
Retirar a terra que durante séculos entupiu o leito
do Rio Doce devido ao mau uso do solo e a lama que
desceu da mineração e reduziu sua profundidade média para 90 cm é impossível. Mesmo assim, continua
sendo um rio; e sua água, vital para as populações humanas que vivem em sua bacia, mesmo sem ter consciência ou preocupação com ele.
Há muitos atores sérios atuando nessa discussão.
Mas seu número é bem menor que o dos oportunistas que enxergam nos recursos que a Samarco está
aportando ou será obrigada a fazê-lo a chance de
ganhar dinheiro ou desviá-lo para outros fins. Não
deixar “um tostão” nas mãos do governo do Estado,
da União e das prefeituras, criar instituição privada
para administrá-los, com espaço institucional para
acompanhamento pela sociedade, são parâmetros
para acreditarmos que a tragédia causada pela Samarco servirá realmente de lição neste país.
E o governo do Estado e a União teriam de garantir
a execução das ações ambientais a serem realizadas,
pois lhes cabe fazer cumprir a lei. Mas, alguém acredita que Fernando Pimentel considera que salvar o Rio
Doce é “política de Estado”? Que contrariará interesses
mesquinhos de ruralistas, prefeitos, políticos etc?
Importante: essas interrogações valem para qualquer outro governo, de qualquer partido. O
(*) Superintendente-executiva da Associação
Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).
1
SELVA DE CONCRETO
FOTO: SANAKAN
FELIS CONCOLOR
[email protected]
A TRAGÉDIA das 15 mil
árvores condenadas, inspirada
na canção de Toni Tornado: "A
gente tambem morre na BR-3"
É O FIM DA PICADA!
A
lô, alô, meus leitores de antigamente! Vocês
se lembram de mim, Felis Concolor? Essa veia
onça parda, suçuarana, que costumava infernizar quem estivesse fora da lei da vida? Pois é. Como
naquela canção do Roberto... “eu voltei! Agora pra ficar, porque aqui, aqui é meu lugar...”.
É verdade. Também conhecido como puma brasileiro, fui obrigado a voltar para conseguir confiar novamente na espécie humana, flagrada que fui outro
dia mesmo, adivinha onde? Em plena Serra do Cipó,
mais precisamente no Ermo das Gerais, logo depois
da Lapinha, no município de Santana do Riacho.
Tava subindo rumo ao Cruzeiro e ao Pico do Breu, em
direção a Conceição do Mato Dentro, quando dois jovens ciclistas, Leandro Figueiredo e Paulo Henrique
Moreira, me flagraram.
Os dois esportistas acharam que me assustei. Assustei, não. Apenas saí de cena, faminta. Contornei
o rio e fui até o acampamento deles para ver se ti18 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
nha sobrado algo de comer. E o que li numa edição já
amarelada do jornal “O Tempo”, na porta da barraca?
Que a empresa Via 040, nova administradora da Rodovia BR-040, já estava iniciando o corte de mais de
15 mil árvores frondosas nas margens e nos canteiros
centrais, entre o trevo de Ouro-Preto e Curvelo, para
implantar um novo deserto ao longo de... 145 quilômetros de distância entre os dois locais!
A alegação dada pela empresa, de uma ignorância e
desamor profundo pelo meio ambiente e a natureza
que nos resta, é pior que soneto antiecológico: “Para
diminuir a gravidade dos acidentes e aumentar a segurança dos motoristas naquele trecho”. E, o fim da
picada: com autorização dada pelo Ibama, cuja tradução é “Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis”.
Segundo a concessionária, o fim das árvores “irá
permitir que sejam criadas áreas de escapes livres de
obstáculos fixos aos motoristas”. E, assim, “que eles
FOTO: PAULO HENRIQUE MOREIRA
BEAGÁ SORTUDA
“Nos anos 1990, a Prefeitura de BH planejou uma
reforma completa para a Avenida do Contorno. Tudo
seria revisto e melhorado. Mas, ao ser examinado
pelos órgãos ambientais, notou-se um problema
sério: o projeto incluía o corte de centenas de
árvores. O objetivo era alargar a pista para os carros,
sacrificando os canteiros centrais.
Deu-se uma discussão em torno da escolha "árvores
versus carros”. Ao fim, quase todas as árvores
permaneceram. Boa parte delas, ipês."
Paulo André Barros
(*) Jornalista e geógrafo, colaborador da Arca Amaserra.
Fonte: O Tempo
possam reduzir a velocidade dos carros ou mesmo
retornar o controle da direção sem se chocar contra
uma árvore, o que pode aumentar consideravelmente a gravidade de um acidente”.
Em sua defesa, essa tal de Via 040 disse ter se baseado em vários estudos sobre o tema, o que cabe a essa
suçuarana aqui perguntar: será que ela ou o Ibama
contaram quantos passarinhos não terão mais onde
fazer seus ninhos e se reproduzir, tal como soltar seus
cocôs com sementes, que caem no chão e fazem a
natureza recriar a biodiversidade, naturalmente? E a
custo zero, para todos nós?
Li também no jornal, e pasmei com o que disse o
especialista em trânsito (e não na universalidade da
vida) Silvestre de Andrade Filho (observem a ironia
do nome dele - Silvestre): “O corte é algo praticado
na engenharia mundial, em outros países, e faz parte
do manual de segurança da engenharia”. Parece que
ele não sabe que, há muito, já existe a “engenharia
ambiental”, e ela é irreversível, se quisermos sobreviver neste planeta. Ele
continuou: “A retirada das árvores não
elimina um acidente, mas minimiza
muito o impacto da batida. É uma medida válida”, ajudou a sentenciar.
Nessa visão surrealista, ele, a Via 040
e o Ibama encarnam o mesmo pensamento que o presidente dos Estados
Unidos, George W. Bush, nos anos 2000,
que criou polêmica internacional ao
propor o corte das árvores das florestas
públicas para evitar incêndios em seu
país. O plano e o manual de Bush tam-
OLHEM EU aí, em carne e osso, flagrada por dois
jovens ciclistas na região do Ermo das Gerais,
logo depois da Lapinha, distrito do município
de Santana do Riacho, no Parque Nacional da
Serra do Cipó, a 160 km de BH: “Eu voltei...”
bém incluía a retirada das matas fechadas e de arbustos, para conter o avanço das chamas. Sem natureza,
era a sua tese, o cidadão americano estaria salvo.
Bush, então presidente do país considerado um
dos maiores poluidores do mundo, entrou para a história como o inimigo número um da humanidade,
por se recusar a assinar o Protocolo de Kyoto contra o
aquecimento global e defender sua outra tese maior,
mais antropocêntrica impossível: a de o ser humano
estar acima da natureza e ser mais importante que
ela, vide o aceleramento das mudanças climáticas
que ele provocou. E a escola antiecológica e insustentável que ele continua fazendo.
Fica, então, a sugestão dessa onça
veia. A Via 040 prestar-lhe uma paritária homenagem, colocando uma placa de asfalto e cimento, com a foto e
o nome dele, quando da inauguração
da futura rodovia sem árvores. Passarinho algum estará presente, nem irá
defecar sementes nas nossas cabeças,
o que na roça interior significa “sorte”.
Apenas o asfalto mais quente e a natureza morta na paisagem ensolarada,
monótona e sonolenta.
Azar nosso! O
PRIMEIRA EDIÇÃO da JB Ecológico, em 2002, com o Bush na
capa: na época, ele declarou que os EUA eram o maior poluidor
do mundo. E que, se fosse preciso, iriam "poluir ainda mais para
evitar uma recessão na economia americana"
1
PÁGINAS VERDES
A EXTINÇÃO QUE
FOTO: WAGMAR ALVES / DICOM-PUC GOIÁS
AMEAÇA O BERÇO
Luciano Lopes
[email protected]
Para quem acha que água saindo da torneira é sinal de infinitude, é
melhor rever seus valores, porque a realidade e o futuro são desanimadores. A crise hídrica é um fantasma que veio para ficar. E será cada vez
mais grave caso ecossistemas como o Cerrado, que abrigam grandes bacias hidrográficas no país, entrem em colapso. É o que diz o antropólogo e doutor em Arqueologia Pré-Histórica pelo Smithsonian Institution
National Museum Of Natural History (EUA), Altair Sales Barbosa.
Nesta entrevista concedida à Ecológico, ele alerta que qualquer dano
feito ao bioma, como desmatamento para plantação de monoculturas,
é irreversível e tem impacto direto na absorção de água pelos lençóis
freáticos que alimentam os rios. Também denuncia as grandes empresas
multinacionais que se apossaram das águas. E aponta que a privatização do recurso natural já está acontecendo.
Sales, que é fundador do institutos Goiano de Pré-História e Trópico
Subúmido em Goiânia (GO), não é um pessimista. O que ele nos mostra é a realidade cientificamente provada de que a revitalização completa do bioma já não é mais possível. E que os efeitos da degradação
ambiental que todos nós permitimos poderão ser uma conta a ser paga
com mais racionamento, desemprego, epidemias e miséria num futuro
próximo. Confira:
Por que uma mudança de atitude
em relação à preservação da
água é tão difícil de acontecer?
O homem atual é o resultado de
dois processos evolutivos que se
sobrepuseram ao longo do tempo:
o biológico, que compartilha com
os demais seres vivos e que fundamentalmente consiste na transferência de adaptações biológicas,
que facilitam a sobrevivência e a
seleção das espécies; e o cultural,
resultado dos avanços tecnológicos logrados pela espécie humana
em sua evolução biológica. A evolução cultural tem significado, por
um lado, a organização do homem
em grupos sociais que tem gerado
problemas demográficos, de saúde, educação, institucionais etc. E,
por outro lado, agregou o fluxo do
dinheiro como resultado dos intercâmbios e das transações, gerando
assim uma série de variáveis econômicas relacionadas com produção, capital, trabalho, comércio, indústria, consumo, níveis de
preços, maximização de ganho... A
aplicação das diversas tecnologias
sobre as biogeoestruturas naturais
não só originou diversas manufaturas como também criou uma
ALTAIR SALES: “A extinção do berço das águas,
como conhecemos o Cerrado, irá agravar a crise
hídrica até à parte central da América Latina"
A LTA I R S A L E S B A R B O S A
grande quantidade de ecossistemas artificiais: cidades, metrópoles, campos de cultivo, pastagens
artificiais, represas, canais de regadio, rodovias, vias férreas, aeroportos, grandes usinas, complexos
atômicos, etc. E, para tudo isso
funcionar, água é fundamental.
FOTO: SANAKAN
Antropólogo e doutor em
Arqueologia Pré-Histórica
Mas não é infinita.
Exato. O fato é que hoje temos
conhecimento suficiente para
afirmar que a água é um recurso
finito, que em breve vai faltar em
várias partes do mundo, que os
aquíferos que sustentam os rios
estão na base mínima de suas reservas e que com a retirada da
vegetação nativa a recarga desses
aquíferos se torna impossível. Sabemos que precisamos de água
em nossas casas para a produção
de alimentos e de energia, para a
indústria, mas também sabemos
que sem saneamento a água, que
é fonte da vida, se transforma num
veneno letal.
Qual a avaliação que o senhor
faz da crise hídrica que vem
assolando o Brasil?
A tecnologia, que possibilitou ao
homem sair do seu planeta e fincar bandeirolas em outros rincões
do Sistema Solar, trouxe também o
consumismo voraz como modelo
de desenvolvimento e progresso.
E, em nome deste, uma pequena
parcela da humanidade moderna,
de posse dessa alta tecnologia, é representada por grandes empresas
multinacionais desvinculadas dos
estados. E, por isso, sem responsabilidade social e moral, se apossaram das águas modernas, poluindo
os rios, construindo represas, desviando e transpondo os cursos dos
corpos d’água, sem levar em consideração as histórias evolutivas particulares de cada lugar.
“Os buritis, eternizados na obra de Guimarães Rosa,
levam até 500 anos para atingir 30 metros, em
ambientes já degradados. Se o Cerrado morrer,
eles não sobreviverão em outro lugar.”
A privatização das águas será
então um caminho sem volta?
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O21
1
PÁGINAS VERDES
“Sem saneamento,
a água, que é
fonte de vida, se
transforma em um
veneno letal.”
FOTO: SÉRGIO G. COUTINHO
Os donos do mundo já estão falando em privatização das águas,
ou seja, querem considerá-la
apenas um bem comercial, em
contraposição aos que a veem
como patrimônio da humanidade e que, por isso, deve ser preservada e não privatizada. E muito menos transplantada. Agindo
dessa forma, os grupos poderosos, que em nome de um falso
progresso já desestruturaram o
território, orquestram agora o
controle do planeta pela privatização da água.
A crise hídrica é uma
confirmação de que o Cerrado
está em vias de extinção?
Sim. O Sistema Biogeográfico do
Cerrado, que ocupa desde a aurora do Cenozóico à parte central da América do Sul, também
é conhecido como o “berço das
águas” ou a “cumeeira” do continente, porque é distribuidor das
águas que alimentam as grandes
bacias hidrográficas da América do Sul. Isso ocorre porque, na
área de abrangência do Cerrado,
encontram-se três grandes aquí-
22 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
feros responsáveis pela formação
e alimentação dos grandes rios
continentais. Um deles, e o mais
conhecido, é o aquífero Guarani,
associado ao arenito Botucatu e a
outras formações areníticas mais
antigas. Esse aquífero é responsável pelas águas que alimentam
a bacia hidrográfica do Paraná,
além de alguns formadores que
vertem para a bacia Amazônica.
E os outros dois?
São os aquíferos Bambuí e Urucuia. O primeiro está associado às formações geológicas do
Grupo Bambuí, o segundo está
associado à formação arenítica
Urucuia, que em muitos locais
está sobreposta ao Bambuí. Em
certos pontos, há até um contato entre os dois aquíferos, apesar de existir entre ambos uma
imensa diferença cronológica.
Os aquíferos Bambuí e Urucuia
são responsáveis pela formação
e alimentação dos rios que integram a bacia do São Francisco e as sub-bacias hidrográficas
do Tocantins, Araguaia, além de
outras situadas na abrangência
do Cerrado. Além dessas imponentes bacias hidrográficas
de dimensões continentais, no
bioma ainda nascem águas que
dão origem a bacias hidrográficas independentes de grande
importância regional. Assim,
representada por uma complexa teia, as águas que brotam do
Cerrado são as responsáveis pela
alimentação e configuração das
grandes bacias hidrográficas da
América do Sul.
Como esses aquíferos
são alimentados?
O aquífero possui área de descarga e recarga. A área de recarga se
situa nos chapadões ou em suas
áreas mais planas. Quem exerce
a função de alimentar os lençóis
profundos é a água da chuva, que
penetra no solo por meio da vegetação, especialmente a nativa.
No caso específico das plantas do
Cerrado, elas possuem um sistema radicular extremamente profundo e complexo, muito eficiente na absorção das águas pluviais.
De que forma uma área de
A LTA I R S A L E S B A R B O S A
Antropólogo e doutor em
Arqueologia Pré-Histórica
plantação ou criação de gado
impacta a absorção de água pelo
solo/aquíferos?
Com a introdução da monocultura, as plantas do Cerrado são
substituídas por vegetais com
raízes subsuperficiais, que não
sugam as águas como as plantas
nativas. A consequência é que,
com o passar dos tempos, as
águas dos aquíferos foram diminuindo. Num primeiro momento,
ocorre o fenômeno denominado
“migração de nascentes”, que se deslocam
das partes mais elevadas para as partes mais
baixas. Num segundo
momento, os cursos
d’águas menores iniciam um processo de
diminuição da vazão e,
com o tempo, o desaparecimento. E assim
por diante, são veias
menores que deixam
de irrigar as maiores.
No caso do fantasma
da crise de água que
vem afetando grande
parte do Brasil nos
últimos anos, o
problema então jamais
será solucionado em
sua totalidade?
A situação está intimamente ligada a dois fatores: o
primeiro é a estiagem prolongada
provocada por fatores que independem da ação humana, como
El Niño, por exemplo. O segundo é
a vazão dos rios alimentadores das
represas, que não ostentam mais
a quantidade de água de tempos
atrás. Consequência: mesmo com
a normalização da precipitação
pluviométrica, como aconteceu
no início deste ano, depois de certo tempo é possível que os níveis
das represas atinjam a plenitude. Entretanto, com o advento de
outra estiagem cíclica, a situação
voltará a se repetir, tendendo a se
agravar em função da diminuição
da vazão dos rios.
Historicamente, o que
potencializou esse fato?
A partir de 1970, uma nova matriz
territorial foi implantada na área
do Cerrado. Essa matriz tem raízes e consequências predatórias.
A partir daí, foi só uma questão de
tempo para que os problemas am-
bientais viessem a aparecer e se
agravarem com o tempo. A questão atual do desaparecimento dos
pequenos cursos d’água, alimentadores dos maiores, é apenas a
ponta de um “iceberg” que tende
a se tornar cada vez mais evidente.
Em um futuro não muito distante, não haverá mais água para alimentar os rios.
O Cerrado é um ambiente
passivo de revitalização
ou qualquer dano à sua
biodiversidade é irreversível?
Em primeiro lugar, o Cerrado dos
Chapadões Centrais do Brasil é
um sistema biogeográfico com vários subsistemas. Eles se diferenciam por solos, fisionomia vegetal,
quantidade de água nos lençóis,
comunidades animais etc. Qualquer modificação nos elementos
dos subsistemas provoca modificações no Sistema como um todo.
Em segundo lugar, convém destacar que o Cerrado é uma das matrizes ambientais mais antigas da
história recente do Planeta Terra, que tem seu
início no Cenozóico.
Isso significa que este
ambiente já chegou ao
seu clímax evolutivo,
ou seja, uma vez degradado, não se recupera
jamais na plenitude de
sua biodiversidade. Em
terceiro lugar, a maior
parte das plantas do
Cerrado tem um desenvolvimento lento,
algumas levam séculos
para atingirem a maior
idade, fato que torna
quase impossível um
trabalho de recomposição vegetal. Sem
mencionar que estas
plantas estão condicionadas a um tipo de
solo oligotrófico com
balanço hídrico específico, fato
hoje difícil de ser encontrado em
equilíbrio no Cerrado. Isso faz dele
o bioma que mais limpa a atmosfera, pois esse tipo de solo se alimenta de CO2.
O bioma guarda importantes
espécies da flora, como os buritis,
que só vivem em ambientes com
água. Existe alguma solução
biotecnológica que possa garantir
o crescimento e a manutenção
dessa espécie, por exemplo,
se o solo estiver seco?
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O23
1
PÁGINAS VERDES
Até o presente momento as
plantas nativas do Cerrado têm
enfrentado grandes problemas
com relação à produção através da biotecnologia. Eles estão
relacionados essencialmente à
existência de fungos, que no ambiente natural vive em simbiose
com as plantas do Cerrado, mas,
“in vitro”, constitui elementos
inibidores do desenvolvimento das espécies. Portanto, não
há solução biotecnológica para
produção em massa de diversas espécies de plantas nativas
do Cerrado, como também não
há até o momento, soluções que
mantenham o desenvolvimento de plantas nativas, como os
buritis, que levam até 500 anos
para atingir 30 metros, em ambientes já degradados. Ou seja: se
o Cerrado morrer, os buritis não
sobreviverão em outro lugar. No
entanto, vale lembrar que não se
mede a degradação ambiental
apenas pela ocorrência de uma
ou outra planta. Há de se considerar comunidades, tanto vegetais quanto animais, incluindo
insetos polinizadores, água etc., e
tudo isso já não existe no Cerrado
de forma contínua. O que há são
fragmentos que não representam
10% da área total.
O que é preciso para garantir a
preservação das poucas áreas
ainda preservadas do Cerrado
e de suas águas? A criação de
novos espaços protegidos por lei
é suficiente?
Essas áreas são insignificantes em
relação à grande biodiversidade
que o Cerrado apresentava até
bem pouco tempo. As existentes
mais ou menos preservadas são
relictos de um ambiente outrora
muito mais diverso e representam apenas parcelas de um subsistema. Não há todos os elementos do sistema preservados. No
24 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
“As empresas se
apossaram das águas
modernas, poluindo
os rios, construindo
represas, desviando
e transpondo os
cursos dos corpos
d’água, sem levar em
consideração as histórias
evolutivas particulares
de cada lugar.”
entanto, para garantir a existência
desses locais são necessários dois
pontos importantes: primeiro
deixá-los como estão. Segundo,
demonstrar a importância do valor científico e econômico da vegetação ainda existente.
Depois do Rio São Francisco,
no Nordeste, agora é a vez
do Rio Paraíba do Sul, no
Sudeste, ser transposto. Fazer
uma transposição é assinar o
atestado de óbito dos rios?
No caso específico do Rio São
Francisco, já escrevi inúmeros
artigos salientando os perigos da
transposição, pois o fato significa a médio prazo a morte lenta
dos rios, já que o Velho Chico tem
mais de 90% de sua perenização regulada pelos cursos d’água
que o alimentam pela margem
esquerda. Esses rios existentes,
principalmente no oeste de Minas
e da Bahia, estão todos doentes e
uma mudança significativa na sua
dinâmica, provocada essencialmente pela transposição, poderá
acelerar o processo de desaparecimento desses rios, fato que vem
acontecendo de forma crescente.
Como a urbanização pode
impactar os rios do Cerrado,
tendo em vista que a maioria das
cidades localizadas no bioma
cresceu em função dos seus
cursos d’água?
Incrementada atualmente pelo
processo de desterritorialização
do homem do campo, a urbanização impacta os rios do Cerrado de
diversas maneiras. Uma delas é a
poluição generalizada (esgotos,
resíduos sólidos, produtos químicos etc.), que afetam a qualidade
da água e a vida nela existente.
Outro impacto fundamental se dá
em função da grande expansão
das malhas urbanas que requerem a pavimentação dos solos,
impedindo-os de “transpirarem”,
como também impede a infiltração das águas que alimentam os
lençóis freáticos, que na época
da estação chuvosa, regulam os
níveis desses rios. A pavimentação desenfreada provoca cheias
e inundações violentas na época
chuvosa trazendo graves transtornos sociais.
Qual será o futuro hídrico do
Cerrado e, consequentemente,
do país?
O potencial agrícola que ele tem
demonstrado o transformou em
uma das últimas reservas da Terra capazes de suportar, de modo
imediato, a produção de grãos e
a formação de pastagens. E o desenvolvimento das técnicas modernas de cultivo tem atraído,
recentemente, grandes investimentos e criado modificações
significativas do ponto de vista
da infraestrutura de suporte. O
fato da não existência de uma
política global para a agricultura
tem provocado a desterritorialização, trazendo as consequências amargas da desestruturação
da população rural, que provoca
migrações em massa e dão origem ao crescimento desordenado dos núcleos urbanos. Todos
A LTA I R S A L E S B A R B O S A
FOTO: ASCOM / IBAMA / EVERTON PIMENTEL
Antropólogo e doutor em
Arqueologia Pré-Histórica
esses fatores, no seu conjunto,
têm provocado situações nocivas
ao meio ambiente, com perspectivas preocupantes.
De todas as grandes matrizes
ambientais brasileiras, o
Cerrado é a que mais tem sofrido
mudanças nos últimos anos.
Quais são elas?
Não são apenas transformações
das técnicas de produção, mas outras muito mais profundas, isto é,
transformações culturais, que têm
afetado o próprio modo de vida das
populações, desestruturando os
valores e, muitas vezes, provocando um “vazio”. Não falo de algo que
venha a preencher o espaço deixado pelos elementos que foram
ou estão sendo subtraídos. Os antigos núcleos urbanos veem-se de
repente transformados em polos
regionais de inovações e agenciadores de “mudanças radicais” nos
sistemas de relações, com seus inúmeros serviços, quase todos voltados para atividades agroindustriais
e com preocupações imediatistas
e consumistas. A retirada total da
cobertura vegetal tem afetado de
“A retirada da
cobertura vegetal tem
afetado a já reduzida
recarga dos aquíferos.
Em um futuro não
muito distante, não
haverá mais água para
alimentar os rios.”
forma decisiva a já reduzida recarga dos aquíferos, cujas reservas
chegarão a um nível crítico, pois
as águas pluviais que conseguirem penetrar através do solo serão
de imediato absorvidas por estes,
dado seus estados de aridez em
função da insolação. A pouca umidade retida se evaporará de forma
rápida pelas mesmas causas.
Por quê?
No início, os problemas oriundos
dessa situação serão contornados
com a construção de barramentos, através de curvas de níveis e
pequenos açudes, para reterem as
águas das chuvas. Entretanto, os
ambientes que surgem desse pro-
cesso têm caráter bêntico, fato que
origina a argilicificação e a consequente impermeabilização do
fundo dos poços, que, associada
à forte insolação, resultará numa
ação de nula eficácia, provocando
a diminuição do nível de água dos
lençóis subterrâneos. Essa situação começará a refletir de forma
visível nos polos urbanos.
O que acontecerá caso o cenário
pessimista que vivenciamos
duramente em 2015 retorne
este ano?
Haverá mais racionamento de
água, em função da diminuição
da vazão dos rios, que, por sua
vez, provocará a redução do nível
dos reservatórios. O racionamento de energia elétrica também será
cada vez mais imposto pelas mesmas causas. O desemprego e os
serviços, antes fartos e variados,
afundarão numa crise sem precedentes. Os polos urbanos serão
assolados por diversas epidemias,
que provocarão índices alarmantes de mortalidade. E a maioria da
população sucumbirá diante da
miséria crescente. O
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O25
1 MARIANA? 3
E AGORA,
POR UM NOVO
FOTO: CIDAH CAMPOS
FUTURO
28 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
“I Seminário Internacional sobre Direito Ambiental e Minerário” debateu as
consequências da maior tragédia da mineração e ressalta como a mediação de
conflitos é essencial para solucionar a reparação de danos sociais e ambientais
J. Sabiá
FOTO: RICARDO GUIMARÃES
[email protected]
O
dia 05 de novembro passado amanheceu ensolarado
em Mariana. A vida na primeira capital de Minas e em seus
distritos seguia normalmente. Por
ser uma região rica em recursos
minerais e muito explorada, ela
teve seu crescimento impulsionado pelo pagamento de royalties
das empresas que atuavam na região, notadamente a Samarco, que
em 2014 teve lucro líquido de R$
2,8 bilhões.
Mas os R$ 20 milhões pagos
em royalties à cidade se tornariam ínfimos perante a devastação provocada pelos 55 milhões
de metros cúbicos de rejeitos da
Barragem de Fundão, que desceram vale abaixo na tarde do dia
05. E ceifaram 19 vidas, quase
1.500 hectares de florestas, levando também a memória cultural,
histórica e social de comunidades
como Bento Rodrigues e Paracatu
de Baixo. Aquele passado ensolarado se tornou um presente enlameado. E um futuro incerto.
“A catástrofe se abateu sobre
Mariana. O acidente gerou perdas de receita, comprometendo os
serviços essenciais para a população. Mariana clama por justiça”,
afirmou o prefeito Duarte Júnior
durante a abertura do “I Seminário Internacional de Direito Ambiental e Minerário”, promovido
pela Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB-MG) em Mariana, no
mês passado.
Na ocasião, foram debatidas a
necessidade urgente de reparação
O EVENTO reuniu especialistas sobre meio ambiente, direito
minerário e ambiental na primeira capital de Minas
dos danos ambientais e sociais, as
questões jurídicas relacionadas ao
meio ambiente e à atividade minerária, consequências e perspectivas pós-tragédia. Também foram
feitos questionamentos quanto à
segurança da disposição de rejeitos em barragens de contenção.
CONTROLE, SEGURANÇA
E FISCALIZAÇÃO
“As barragens de alteamento a
montante, como era a de Fundão,
constituem a solução mais econômica para as mineradoras em geral, mas tais soluções apresentam
também uma condição mais crítica em termos de segurança. Na
disposição dos rejeitos na forma
de polpa (mistura sólido-líquido),
os materiais granulares são mais
simples de controle tecnológico, ao
passo que os materiais mais finos
(lamas) são muito mais complexos
de manejo operacional e podem
levar, por exemplo, a processos repentinos de ruptura da barragem
por fenômenos de liquefação”,
afirmou Romero César Gomes,
professor da Universidade Federal
de Ouro Preto (UFOP) e doutor em
Geotecnica pela Universidade de
São Paulo (USP).
Um dos palestrantes do seminário, ele afirmou que a alma da
atividade minerária é a água. “Por
isso, o monitoramento e o controle
da drenagem interna da barragem
são fundamentais, principalmente
neste tipo de estrutura, que utiliza
comumente os próprios rejeitos
como materiais e construção.”
Três aspectos principais devem
ser observados na gestão de uma
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O29
1 MARIANA? 3
barragem de rejeitos, aponta Romero: “A implantação de uma
borda livre (free board) adequada,
para evitar galgamentos; um sistema de drenagem interna eficiente
para evitar problemas de piping,
fenômeno de ruptura hidráulica
induzida pela passagem descontrolada da água através do maciço
da barragem; e a garantia da não
ocorrência de situações críticas no
caso de rejeitos que apresentam
uma suscetibilidade ao fenômeno
da liquefação”.
Ele também destacou a importância da fiscalização ambiental
de empreendimentos de mineração a céu aberto: “Barragens
devem ser cuidadosamente monitoradas e estudadas de forma
global. Elas são corpos dinâmicos,
exigem manejo operacional criterioso e avaliações periódicas do
seu comportamento. Uma questão relevante é esclarecer como
os órgãos ambientais podem
controlar e aferir comportamentos de barragens com múltiplos
alteamentos. Estes empreendimentos envolvem uma sistemática contínua de acompanhamento
e monitoramento. A Barragem de
Fundão, por exemplo, foi alteada
11 vezes em um período de apenas sete anos!”.
Soluções para o rejeito existem,
como a Ecológico mostrou em
sua edição 86, com o paviECO,
piso ecológico feito de rejeitos sedimentados retirados de cursos
d’água assoreados pela mineração,
em substituição à areia e à brita. É
enxergar o resíduo como oportunidade, transformando-o em produto industrial.
Para as barragens de contenção,
há inúmeras alternativas para o
aporte sustentável de rejeitos. Uma
bastante simples, informa o professor Romero Gomes, é a separa30 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
FOTOS: RICARDO GUIMARÃES
E AGORA,
ROMERO GOMES: “Barragens
devem ser extremamente
monitoradas”
ção do rejeito total em suas frações
granular e fina, dispostos de forma
compartilhada em pilhas (inclusive com outros materiais). “Assim,
evita-se a disposição dos rejeitos
totais, envolvendo grandes volumes de água, em reservatórios de
barragens.” Foram apresentadas
na palestra diversas outras alternativas tecnológicas para a disposição de rejeitos de mineração, sem a
opção por barragens de contenção,
discutindo-se suas principais vantagens e limitações.
APERFEIÇOAMENTO LEGAL
Rinaldo Mancin, diretor de Meio
Ambiente do Instituto Brasileiro
de Mineração (Ibram), reconhece
"O princípio que rege o meio
ambiente é o da precaução.
Tem de se precaver para que
não haja o dano ambiental. E
como se faz isso? Através de
uma estrutura de fiscalização
efetiva e eficaz, que nós não
temos em Minas Gerais."
ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA,
promotor de Justiça da Curadoria de
Meio Ambiente da Comarca de Mariana
RINALDO MANCIN: “Há uma
dissonância conceitual no
setor sobre o que é rejeito”
que há uma dissonância conceitual no setor sobre o que é rejeito. Mas destacou a importância
da Política Nacional de Segurança de Barragens (Lei 12.334) para
nivelamento equitativo do setor.
“Continuamos trabalhando nas
regulamentações posteriores à
legislação. Não como olhar de
auditores, mas de oportunidade
de melhoria do processo de gestão desses empreendimentos.
Antes do acidente em Mariana,
o Ibram estava atuando para o
aperfeiçoamento de duas normas específicas da ABNT sobre
barragens de rejeitos. O trabalho
foi interrompido temporariamente, mas será retomado em
breve. E envolve toda a sociedade, incluindo especialistas acadêmicos, projetistas, mineradoras e órgãos fiscalizadores.”
Entre as novas exigências em
discussão para a operação de barragens, segundo Mancin, estão a
limitação da construção delas em
sequenciamento de vales, reengenharia de minas e redução de rejeitos e uma maior interação com
as comunidades, mineradoras e
Defesa Civil em relação aos planos
de emergência.
FOTO: TODD SOUTHGATE / GREENPEACE
SEGUNDO palestrante, toda crise
nasce de uma percepção. No
caso de Mariana, a população
tem de convergir para uma visão
coletiva mais forte
Mediação sustentável
Cristiane Mendonça
[email protected]
Mediar conflitos não é tarefa
fácil. Principalmente quando
a questão envolve não apenas
duas ou três pessoas, mas uma
comunidade inteira. Esse foi o
foco da palestra inspiradora do
presidente da Comissão Especial do Conselho Seccional de
Direito Ambiental, Luiz Oosterbeek, em que ele propôs uma
análise dos pontos culturais, sociais e econômicos que influenciam as tomadas de decisões em
casos de crises.
Para se ter uma ideia, o Brasil
ocupa o terceiro lugar, ao lado
da Nigéria, em conflitos ambientais, segundo um mapa divulgado pela Universidade Autônoma
de Barcelona, em 2014. A pesquisa mostra que as comunidades
mais impactadas por conflitos
ecológicos são pobres e frequen-
temente não têm poder político
para ter acesso à justiça ambiental e aos sistemas de saúde.
Esses dados vão ao encontro das observações feitas por
LUIZ OOSTERBEEK: “Em vez
de Mariana aparecer chorando,
é hora de ela se tornar
esperança para o mundo”
Oosterbeek. “A primeira coisa
sobre um conflito é que ele é o
seu próprio contexto. Não existem posições absolutas. Toda
crise nasce de uma percepção.
E essa percepção é sempre relativa a alguma coisa. Nesse caso,
vamos ter múltiplas variáveis
sociais, culturais, psicossociais
e econômicas. Mas há, basicamente, duas cadeias que geram
mais conflito: a desigualdade e
a discordância.”
Oosterbeek explica que a desigualdade pode ser tanto de atendimento de direitos quanto de
acesso a recursos. “Estou falando
do conhecimento daqueles que
percebem que na vida encontrar
um ponto de equilíbrio é o melhor
para todos, porque o confronto
de ruptura leva habitualmente à
destruição”, reforçou, citando que
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O31
1 MARIANA? 3
E AGORA,
32 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
Eles disseram
“O desastre era muito possível de que
viesse a acontecer. Mas não estamos
procurando culpa. E sim responsabilidade.”
Cármen Lúcia Antunes, ministra
do Supremo Tribunal Federal
“O Direito está moribundo e suas fontes
estão secas, reduzidas a leis, doutrina e
jurisprudência. O Direito é diferente de lei e a
justiça se aplica não só com o cumprimento
da lei, mas com sensibilidade. A lei tem que
respeitar o direito. O dano moral causado pelo
acidente tem que ser compensado.”
FOTOS: RICARDO GUIMARÃES
o esforço em caso de conflitos
deve ser o de “minimizar a desigualdade, mas, ao mesmo tempo,
maximizar a discordância”.
E explica: “A discordância não é
ruim. Ter perspectivas e interesses diferentes é fundamental. A
história do nosso sucesso de sete
milhões de anos de evolução é a
da diversidade. Ninguém que está
vivo hoje sabe a estratégia para
continuarmos vivos daqui a 100
anos. A humildade é isso: perceber que temos uma ideia e que devemos lutar por ela. Mas, ao mesmo tempo, levar em consideração
que podemos estar enganados”.
É o caso do rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, e
como se deve planejar o futuro a
partir dele. “O problema da barragem que se rompeu aconteceu
numa escala. Como enfrentar
uma situação de conflito, de tensão, de contradição, de interesses
divergentes, nesse modelo? Mudando de escala. Não existe solução de contradição de interesses
que seja resumível na própria escala, porque é preciso encarar as
dificuldades. As pessoas não são
todas iguais, não têm os mesmos
interesses, as mesmas ansiedades. Portanto, nunca vão estar
de acordo unanimamente sobre
o caminho a prosseguir frente a
uma dificuldade”.
E completa: “Como é que elas
podem continuar divergindo e
não romper? Construindo uma
visão de futuro numa escala mais
ampla, uma visão coletiva que
seja mais forte. “Em vez de Mariana aparecer chorando, é hora de
se tornar esperança para o mundo. Se fizer isso, ela será um exemplo positivo no mundo global. E
aí, sim, ela terá investimentos.”
Eduardo Cruz, reitor da Universidade de Portugal
“O distrito de Bento Rodrigues é um retrato na
parede. Esse seminário não se presta a ser um tribunal
de condenação ou absolvição, e sim um fórum de
diretrizes para balizar os interesses nacionais em
relação ao meio ambiente e à mineração.”
Roque José de Oliveira, presidente da Casa de Cultura e
da Academia Marianense de Artes e Letras
“O marco regulatório de barragens no plano
federal deve ser modificado. No estadual,
a mudança já está acontecendo. É preciso
diminuir os riscos da mineração com urgência.”
Caetano de Souza, doutor em Fitotecnia e especialista em Geociências com ênfase em Hidrogeologia
“A expectativa que temos é que a discussão melhore
e avance. É importante criar uma perspectiva de
que as coisas possam ser solucionadas de forma
consciente e sem radicalismos.”
Mário Werneck, presidente da Comissão Especial do
Conselho Seccional de Direito Ambiental da OAB
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| ECOLÓGICO OXX
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1 MARIANA? 3
E AGORA,
Mesmo sob uma saraivada de
balas disparadas pelos mais diversos movimentos e instituições
sociais, ambientais e jurídicas da
vida nacional, sob a alegação de
que não participaram democraticamente da sua feitura, muito menos serão incluídos na sua
aplicação, já existe um acordo. Um
acordo, que se espera matricial,
para a recuperação ambiental, social e econômica de toda a Bacia
Hidrográfica do Rio Doce agredida pelo rompimento da Barragem
do Fundão, da Samarco, há quase
cinco meses da sua tragédia anunciada, na simbólica Mariana.
Com valor total de até R$ 20 bilhões, a ser investido ao longo de
15 anos, ele foi assinado em Brasília, no último dia dois de março,
entre a presidência da República,
o Ministério do Meio Ambiente, os
governos de Minas e do Espírito
Santo, e representantes da Samarco, Vale e BHP Billiton, empresas
responsáveis pelo custeio.
O acordo prevê a criação, em até
quatro meses, de uma fundação
de direito privado para a sua governança junto à Samarco, a qual
responderá pela execução de 40
programas de reparação socioambiental e socioeconômica. Somente nos primeiros três anos, haverá
a liberação de R$ 4,4 bilhões e a
destinação de outros R$ 500 milhões unicamente para serem
aplicados na área de saneamento,
tamanho o contraste de realidade entre os municípios banhados
pelo Rio Doce – como Governador
Valadares, que pouco investe.
A prefeita Elisa Costa, todos se
lembram, convocou os mais de
34 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
FOTOS: MARIELA GUIMARAES / O TEMPO
Alô Rio Doce, temos um acordo!
DEPENDÊNCIA CRUCIAL: as manifestações pelo retorno da
mineradora tiveram início 16 dias após o acidente
200 mil habitantes da cidade para
ver a lama passar, à época da tragédia. Mas omitiu a informação que
o mesmo município, administrado
por ela, está no ranking dos “cinco piores” em saneamento básico
do país. Ou seja, a lama apenas se
somou – e fez piorar, como nunca
antes na história de Valadares – a
todo o esgoto humano e industrial
“in natura” jogado no Velho Doce.
O acordo foi um primeiro passo,
sim, de cima pra baixo. Autoritário
e excludente, à primeira vista, vide
a reação da sociedade civil e o fato
de não ter havido nas negociações
o aval democrático e orientador do
Ministério Público Federal, nem
dos Ministérios Públicos de ambos os estados atingidos. Eles são,
hoje, os principais protagonistas
do debate da questão mineral no
país. Mas, devemos também reconhecer, foi um passo importante e
inegável para romper a inércia de
recuperação e requalificação socioambiental do Rio Doce.
AGUARDAR OS
DESDOBRAMENTOS
“Temos um acordo!” já é melhor
que somente “temos um problema!”. Os ambientalistas mais
moderados comemoram mineiramente, com cautela e estratégia
políticas de longo alcance.
Diante da impossibilidade real
e até ideológica de todas as partes interessadas, prós e contras,
discutirem e apresentarem um
acordo 100% participativo, uma
delas é aguardar os desdobramentos. Acompanhar e verificar
se a proposta governamental e
empresarial vai, de fato, andar
e funcionar. E, se positivo, conseguir que ela também seja gradativamente legitimada. Aí sim,
pela sociedade civil, por meio de
sua participação em programas
específicos, somada à anuência
do Ministério Público e dos comitês de bacia hidrográfica. Não
apenas quem conhece e luta pela
preservação do Rio Doce em sua
FOTO: ROBERTO STUCKERT FILHO / PR
Eles prometeram
“Haverá reparação das condições socioeconômicas
e do meio ambiente das regiões afetadas pelo
desastre, sem limites financeiros, até sua integral
reparação. Este acordo demonstra que é possível
fazer justiça sem destruir empresas, empregos e
modos de vida. É possível corrigir erros e, ao mesmo
tempo, zelar pelos direitos da população.”
FOTO: VALTER CAMPANATO / AGÊNCIA BRASIL
Dilma Rousseff, presidente do Brasil
“As ações ainda estão sendo diagnosticadas e
planejadas; e, por isso, não há um valor final. Os
recursos serão repassados à fundação para financiar as
ações programadas a cada período do acordo. Como
ainda há coisas que estão sendo estudadas, pode ser
mais ou menos de R$ 20 bilhões.”
“Todos nos mobilizamos para evitar aquilo que seria
a segunda tragédia de Mariana e do Rio Doce; o início
de uma disputa judicial infindável. Não faltou maturidade para que, num espaço de tempo curtíssimo,
construíssemos o caminho que vai permitir o início
quase que imediato dos trabalhos de recuperação da
calha do rio e de toda a bacia do Rio Doce.”
Fernando Pimentel, governador de Minas
“Vamos ter capacidade de avaliar a qualidade
dessa caminhada daqui a um ano, dois, dez
anos. Vamos ter que falar muito. Nosso objetivo
é devolver à população uma bacia do Rio Doce
melhor do que antes do desastre.”
Paulo Hartung, governador do Espírito Santo
FOTO: ROSE BRASIL / AGÊNCIA BRASIL
FOTO: ANTÔNIO CRUZ / AGÊNCIA BRASIL
Roberto Lúcio de Carvalho, novo presidente da Samarco
FOTO: JOSÉ CRUZ / AGÊNCIA BRASIL
calha maior. Mas, tão importante
e sábio, a anuência e participação também dos comitês de seus
rios menores, afluentes. Seria
algo semelhante ao que ocorre
na própria natureza que, a partir
de suas nascentes, onde as águas
brotam livres e limpas, antes do
contato e da degradação humana, se refaz permanentemente.
Um exemplo dessa possibilidade de inclusão a posteriori, que é
democratizar o acordo, está expressa no que foi assinado em
Brasília. Diz, textualmente, o
documento: “Faz parte, a título
compensatório, a recuperação de
cinco mil nascentes a serem definidas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce”.
Está, pois, nas mãos da Vale, da
BHP e, principalmente, da Samarco, vide seus memoráveis conceitos de mineração e modelo de gestão levados e desacreditados junto
à lama, a validação social, jurídica
e ambiental do primeiro e maior
acordo ecológico jamais assinado
na história do país. Em nome de
um rio chamado “Atu”, na língua
Krenak, cujo vale mais verde e populoso trocou o “Doce” pelo “Aço”,
depois dos ciclos na época nada
sustentáveis do café, da cana e da
pecuária extensiva que depredaram a natureza e empobreceram
a qualidade de vida da sua população. Não deixaram nem árvores
nas suas margens. Até tornou os
seus morros “carecas”, tamanha a
perda de vegetação e assoreamento. E trocaram suas nascentes por
manilhas de esgoto ainda hoje jorrando a céu aberto.
Que haja mais acordos, planos
e projetos. Mais amorosidade e
concretude, enfim, na nossa esperança. É o que a Revista Ecológico
continuará acompanhando.
“O acordo é ímpar, mas é preciso dotá-lo de
credibilidade. Não queremos uma nova Ingá no país.
Quem é do Rio sabe disso. Ficou uma massa falida 20
anos na Baía de Sepetiba.”
Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O35
1 MARIANA? 3
E AGORA,
“É urgente um plano
de desenvolvimento”
36 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
municípios em Minas e no Espirito Santo-, “embora possa parecer
o contrário, o setor privado e a
própria empresa têm muito mais
capacidade de gestão e governança para o desafio da reconstrução
que o Estado brasileiro. Seja o governo federal ou os governos estaduais de Minas e Espírito Santo,
por meio de seus órgãos ambientais, a maioria deles depauperados. Além de agilidade, qualidade
e preço melhor”.
Acrescentou Olavo: “Se deixarmos uma soma dessa de recursos
nas mãos do Estado, nós sabemos
o que pode acontecer ou deixar de
acontecer em termos de contingenciamento financeiro ou político. Entendo que não cabe à so-
FOTO: PAULO AUGUSTO
“A
Samarco era um exemplo
de mineração sustentável para o país e o mundo. E, de repente, se transformou
no patinho feio da nossa história
socioambiental. Nós todos lamentamos o que aconteceu com o Rio
Doce. Como também sabemos que
acidentes podem acontecer. Não
existe risco zero em qualquer atividade humana. Agora, a aludida
prisão de seu ex-dirigente maior,
o Ricardo Vescovi, que abraçou e
valorizou a causa da sustentabilidade, não vai nos levar a lugar
algum. Ele é um dos poucos líderes da mineração preparados para
consertar o que aconteceu.”
A declaração exclusiva à Revista
Ecológico é do presidente da Federação das Indústrias do Estado
de Minas Gerais (Fiemg), Olavo
Machado, ao comentar a decisão
do acordo de R$ 20 bilhões anunciado pelo governo brasileiro com
a Samarco e suas controladoras,
a Vale e a BHP. Nele está expresso
que quem irá gerir e fiscalizar a
aplicação desse recurso na recuperação socioambiental e econômica da Bacia Hidrográfica do Rio
Doce é uma fundação privada de
direito público ainda a ser criada
pela Samarco.
Na visão dele, também a favor
de que a mineradora volte logo
a operar dentro da lei para manter os seus empregados e voltar a
contribuir com 80% do orçamento arrecadatório do município de
Mariana - e certamente de outros
OLAVO MACHADO: “Ao invés
da aludida prisão, Ricarco
Vescovi é um dos poucos
líderes preparados para
consertar o que aconteceu”
ciedade civil operar, executar, mas
sim acompanhar, fiscalizar e participar da governança do acordo”.
Em sua opinião, a crise causada pela tragédia de Mariana tem
de ser vista imediatamente como
oportunidade a mais do que está
sendo previsto no acordo oficial.
“As pessoas falam na aplicação
acertada de R$ 20 bilhões como
se isso não fosse dinheiro. É muito dinheiro. Acertadamente ele já
tem as suas destinações específicas. O que precisamos fazer, e é
para isso que a Fiemg está fixando
parcerias com a Fundação Dom
Cabral, o IBio, a Codemig e a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, é avançarmos
além da recuperação do que foi
degradado. Precisamos aproveitar
esta oportunidade e desenvolver
sustentavelmente toda a bacia do
Rio Doce, que já estava ecologicamente degradada muito antes do
acidente. Investir em barramentos, com eclusas ao longo do rio
para transporte industrial e exploração do turismo, por exemplo. É
isso que estamos preparando para
propormos à nova Fundação e às
empresas responsáveis. E depois,
é claro, aos demais atores da iniciativa privada e dos governos federal e estaduais de Minas Gerais
e do Espírito Santo. O que precisamos, doravante, é transformar
o Vale do Rio Doce em um grande
projeto nacional de oportunidades e investimentos.”
O presidente da Fiemg lembrou
FOTO: PRA
do que aconteceu em Lisboa, Portugal, em 1755: “Nós temos que
fazer o que o Marquês de Pombal
disse e fez quando do terremoto
na capital portuguesa. ‘Enterramos os mortos com todo o pesar
e cuidamos dos vivos com todo o
respeito’. Aproveitar a oportunidade de desenvolvimento criada, tal
como também aconteceu no Vale
do Tennessee (EUA), na década de
1930. Em plena recessão econômica, no Rio Mississipi, onde foram
criados postos de trabalho que
não só o preservaram, mas incentivou investimentos do governo e
transformou toda a região”.
“Não temos o direito de, tal
como fazemos no Vale do Jequitinhonha, caracterizado por sua
pobreza secular, criar obstáculos
para a implantação de uma empresa do porte da Manabi, com
investimentos canadenses capazes de gerar emprego, renda e desenvolvimento local. O Estado não
se posiciona, e o projeto sob júdice e críticas permanentes acaba
não acontecendo, perdendo todo
mundo com isso.”
Olavo Machado também listou
os empecilhos deste processo em
Minas e no Brasil: “Além da excessiva judicialização que temos visto
do licenciamento ambiental, notadamente na área de mineração,
o que afasta investidores internacionais, incluindo a constante
falta do poder público, que não
se posiciona nem contra nem a
favor; ficamos reféns das leis e da
interpretação do Ministério Publico que, com razão, exige o cumprimento da lei, que muitas vezes
é obsoleta e atrasada. Tudo alinhado com a falta de informações e
estatísticas oficiais, que gera desconfiança, ignorância e preconceito no mercado”.
RIO MISSISSIPI em Nova Orleans (EUA): investimentos
e preservação em plena recessão norte-americana
“Isso nos aconteceu” – continuou ele – “quando implantamos
o nosso Programa Minas Sustentável, em Contagem (MG). Preparamo-nos, do ponto de vista da
legislação ambiental, para orientar
as ditas 1.700 empresas fora-da-lei
naquele município. E quando fomos lá, existiam somente em torno
de 400 empresas. E onde existia ou
passou a existir empresas e empresários 100% envolvidos e compromissados com a causa ecológica”.
“Precisamos deixar de nos autodesvalorizar, de fazer comentários
negativos, típicos ainda do nosso
comportamento enquanto ser social. “Fulano de tal e sua empresa
já fizeram isso e aquilo de exemplar na área de sustentabilidade,
mas... Ou seja, há sempre um teor
negativo, o que joga todos nós pra
baixo. Isso é terrível, é real e acontece em nosso meio” – disse Olavo.
Sobre mineração, ele voltou a citar o exemplo da Samarco, em Mariana: “Sangrá-la, mais ainda, com
novas multas e interdições, não é
sustentável. Precisamos apoiar e
acreditar na sua volta ambientalmente correta perante a Semad,
logo ao mercado e à própria governança. Minerar é usar bem a riqueza mineral que temos no nosso
subsolo e pertence à toda população. No caso do Rio Doce degradado, até os peixes nativos que não
foram atingidos por estarem nas
cabeceiras de seus afluentes estão
nos ajudando naturalmente, no
seu repovoamento natural”.
E concluiu: “Somos mineradores e devemos nos orgulhar disso.
Temos de agregar valor às nossas
riquezas e nos preparar para o futuro, criando condições para que
quando as reservas minerais se
exaurirem nossos descendentes
possam criar novas oportunidades.
Quem vai nos ajudar a salvar o país
ainda adormecido que temos?”.
(*) Presidente da Federação das Indústrias
do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O37
1 MARIANA? 3
E AGORA,
ENTRE O ÓDIO
E O AMOR
A “escolha de Sofia” que a mineração ainda não fez 15 anos
depois da tragédia da Rio Verde em Macacos (MG)
Hiram Firmino
[email protected]
S
ão Sebastião das Águas Claras, distrito de Nova Lima, Minas Gerais, mais conhecido
por Macacos, no coração geográfico da Área de Proteção Ambiental
(Apa-Sul) da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Às 16h45 do
trágico dia 22 de junho de 2001, o
rompimento da barragem de contenção de rejeitos de minério de
ferro da Mineração Rio Verde matou cinco trabalhadores.
Eles foram soterrados e levados pela lama até seis quilômetros abaixo do Córrego Taquaras,
afluente do Fechos, próximo à
ponte que dá acesso ao vilarejo
turístico - famoso por suas riquezas naturais. A exemplo do que
aconteceu em Bento Rodrigues,
na tragédia de Mariana, causada
pelo rompimento da barragem de
Fundão, da Samarco, um dos corpos jamais foi encontrado.
Foi assim que o último número do então suplemento Estado
Ecológico, do jornal “Estado de
Minas”, precursor da hoje Revista
Ecológico, noticiou em sua Edição
Especial “Entre o ódio e o amor”,
sob a lembrança do artigo 225, parágrafo 2º, da Constituição Brasileira: “Aquele que explora recursos
38 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
minerais fica obrigado a recuperar
o meio ambiente degradado, de
acordo com a solução técnica exigida pelo órgão público”.
Reveja, caro (a) leitor (a), a atualidade da abordagem, já decorridos
quase 15 anos do acidente que abalou a sociedade e fez piorar, mais
ainda, a imagem pública do setor em
um estado chamado Minas Gerais:
“A Mineração Rio Verde, que
degradou o Córrego Taquaras,
cinco vidas humanas, dois caminhões e um trator sob uma lama
cinza e mortal de rejeitos na ba-
Não é só a atividade
minerária por
responsabilidade
solidária, do explorador ao
comprador e exportador,
que corre perigo. São
as nossas nascentes,
córregos, rios e mares
que, juntos, podem morrer
ou se recuperar. É a
escolha final que o
setor deve fazer
cia hidrográfica de Macacos, não
está sozinha. A dor é e vem de todos. A mineradora, que se encontra no banco dos réus por não ter
projeto, nem sabido operar uma
barragem ecologicamente correta, já teve contrato com a MBR
(antiga Minerações Brasileiras
Reunidas, hoje Vale). Ela minera (50% da sua produção) para a
Ferteco, que foi comprada pela
Vale, em Brumadinho.
A Vale, que também comprou a
Samitre e estuda comprar a MBR,
passou a ser vizinha, em Sabará, da
AngloGold, antiga Mineração Morro Velho. A Mineração Brumafer,
que herdou o passivo ambiental
da Miprisa, que degradou metade
da Serra da Piedade, quer explorar
o seu outro lado, em Caeté, para
atender à Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira, em João Monlevade”.
Minas é assim.
Vai por aí, como já foram, e
eram várias, as suas montanhas.
Curral, Cauê e Piedade, agora, já
pela metade. Várias minas, crateras gerais. As mesmas e clonadas paisagens lunares onde
a beleza era estonteante. Uma
beleza que, querendo alcançar
as estrelas, sempre se molhou
A ESCOLHA final que o setor
deve fazer: acirrar mais ainda
o ódio da população cada dia
mais indignada com os danos
causados pela mineração
ou se abrir para o amor que
advém, naturalmente, de tudo
aquilo que é feito com respeito
FOTO: GUALTER NAVES
FOTO: GUALTER NAVES
de nuvens, mesmo quando tudo
abaixo estava deserto e seco.
Minas também é assim.
De vez em quando, um oásis.
Uma esperança. Um exemplo de
recuperação ambiental. É a MBR,
por exemplo, toda verde e atlântica, preservando a Mata do Jambreiro e devolvendo água limpa
para Nova Lima. É a CBMM, em
Araxá, que chega até a se confundir com um parque, de tão limpa,
ajardinada e florida.
Entretanto, o trabalho de reconstrução da imagem de um
setor que, tradicionalmente, foi
inimigo e desprezou a natureza,
está apenas começando. Tem condições e promete bons frutos. Isso
porque a feiura e o jeito antigo,
nada ecológico e ainda degradante, que, infelizmente, caracteriza a
maioria das nossas mineradoras,
não têm como se sustentar mais.
Não é só a atividade minerária,
por responsabilidade solidária,
do explorador ao comprador e exportador, que corre perigo. São as
nossas nascentes, córregos, rios e
mares que, juntos, podem morrer
ou se recuperar.
É a escolha final que o setor
deve fazer. Acirrar mais ainda o
ódio da população cada dia mais
consciente, amedrontada e indignada com os danos causados
pela mineração. Ou se abrir para
o amor que advém, naturalmente, de tudo aquilo que é feito por
respeito, e não apenas pela força
de lei, no solo que é impactado
para nos servir como consumidores – e não abrimos mão – de
minério de ferro.
Ódio ou amor à mineração?
A escolha é mineral. É deles.
É nossa!
A torcida é da natureza, incluindo a natureza humana.
O setor decide!
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O39
1 MARIANA? 3
E AGORA,
Novo “divisor de águas”?
Segundo o ambientalista Marcus
Polignano, coordenador-geral do
Projeto Manuelzão, a tragédia de
Mariana, causada pela Samarco,
será lembrada um dia como o “divisor de águas” na história da mineração brasileira: “O setor vai ter que se
reinventar. Mariana é o grito de que
não temos mais como caminhar
com esse modelo”, disse ele.
Será?
Quinze anos atrás, tamanho o impacto visual causado pelas imagens
dos corpos das vítimas boiando sobre a lama, o acidente da Mineração
Rio Verde também foi anunciado
como um “divisor de águas” para o
setor. Na época, sob a coordenação
da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), os órgãos ambientais
se juntaram ao Conselho Regional
de Engenharia e Agronomia (Crea-MG), Departamento Nacional de
Produção Mineral (DNPM) e ao
Ministério Público prometendo um
basta a toda e qualquer atividade
predatória em Minas Gerais.
Foi o que o Estado Ecológico também registrou nessa sua mesma edição, sob o título igualmente esperançoso de “Nada será como antes”
(veja na página ao lado), que reproduzimos a seguir, tamanha a sua indesejada e ameaçadora atualidade:
“O tempo do xiismo ecológico
passou. Ninguém vai proibir a mineração como atividade produtiva,
responsável e ecologicamente correta. Mas o tempo da tolerância ecológica também passou. A mineração
predatória, irresponsável ou com
passivo ainda não acertado com
o meio ambiente – esta, sim – está
com os dias contados.
Todas as suas licenças, planos de
operação e pedidos de expansão
passarão a ser revistos sob a nova
40 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
ótica do licenciamento integrado.
Isso significa análise, acompanhamento, fiscalização e pareceres a serem dados em conjunto, doravante,
pelos técnicos da Feam, Igam e IEF.
Isso antes de passar pela Câmara de
Atividades Minerárias e, finalmente,
à decisão final do Conselho Estadual
de Política Ambiental (Copam). A
mudança mais profunda que pode
entrar para a história, envolvendo e
definindo mais os papéis do DNPM,
Crea e Ministério Público é a aplicação, na prática, da ‘responsabilidade
solidária’ do setor.”
Esse foi também, em síntese, o
posicionamento do então governo Itamar Franco quando Paulino
Cícero era titular da Semad. Não
apenas a Mineração Rio Verde, mas
toda a situação da mineração, tanto na bacia hidrográfica de Macacos quanto na parte sul da Região
Metropolitana de BH, passou por
esta varredura. E o que se constatou nas vistorias é trágico, de meter
medo mesmo na população.
A maioria das mineradoras ainda
traz traços de uma cultura antiga,
quando se jogava rejeitos de minério, esgotos industriais e humanos
rio abaixo e o DNPM nem se importava. Depois, com o advento da
consciência ambiental e a escassez das águas, que essas empresas
provocavam, descobriu-se que era
melhor construir barragens. Mas
isso foi feito de qualquer jeito, sem
técnicas apropriadas, na medida
em que uma barragem (modelo) de
água não é o mesmo que uma para
conter sedimentos.
Foi o que adiantou, na época, o
então secretário-adjunto da Semad, Celso Castilho, ao Estado
Ecológico: “O Instituto Brasileiro de
Mineração (Ibram), que representa
a maioria das grandes e médias mineradoras, também será convocado a sair do discurso para a prática
ambiental de ajudar a recompor a
paisagem das nossas montanhas
degradadas indistintamente pelo
setor ao longo do tempo”.
FOTO: TODD SOUTHGATE / GREENPEACE
REPORTAGEM vanguardista do Estado Ecológico, de agosto de
2001, já apontava a necessidade de monitoramento
mais eficiente de barragens de rejeitos
2
NOV/DEZ
MARÇO DE 2015
2016 | ECOLÓGICO O41
1 MARIANA? 3
E AGORA,
A gota que transbordou
Um mês após o rompimento
da barragem, o próprio diretor
da Mineração Rio Verde, Pedro
Lima, declarou ter sido o resultado trágico de “um copo que
já estava prestes a transbordar”.
Ou seja, cheio de outros acidentes na história nada ecológica da
região com mais passivos ambientais acumulados do Quadrilátero Ferrífero do Estado. Vide
a ruptura também, em 1986, 15
anos antes, da barragem de rejeitos da mina Fernandinho, da
Itaminas, que provocou a morte
de sete funcionários.
“O nosso acidente, infelizmente, foi a gota d´água que
faltava para transbordar este
copo”, lamentou Pedro, lembrando que a barragem onde
ocorreu a tragédia já vinha sendo impactada há anos por várias
outras empresas e empreiteiros
terceirizados que exploraram a
região muito antes da existência
da consciência ecológica e da
legislação ambiental.
O terreno da lavra explorada
pela Rio Verde, ele explicou, foi
comprado da MBR que, por sua
vez, teve outros empreiteiros,
como a Empresa Técnica de Mineração, que pertencia ao Grupo
Caemi, hoje Vale:
“Não quero, com isso, eximir
a nossa responsabilidade. Pelo
contrário, eu não desejo para
empresa alguma o que nos aconteceu. Inclusive, isso nunca deveria acontecer em lugar algum.
E como não temos mais como
voltar no tempo, nossa única
preocupação, doravante, é conseguirmos condições, novamen-
42 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
te, para operarmos. E, assim,
consertar o que causamos.”
DO BERÇO AO TÚMULO
A própria MBR, ele lembrou, já
foi fornecedora de material para
a Rio Verde. A Ferteco, então
comprada pela Vale, correspondia com 50% de seu mercado: “O
nosso relacionamento com ela é
apenas comercial, o que significa que estamos sozinhos diante
do ocorrido”.
Ele refutou a posição, então
defendida pelos ambientalistas
e órgãos de governo na época,
de que a responsabilidade quanto ao ressarcimento dos danos
causados por acidentes ao meio
ambiente deveria ser estendida a toda a cadeia produtiva, tal
como prevê a norma de qualidade ambiental ISO 14.000, do
“Berço ao Túmulo”.
Quando do acidente em Macacos, uma média de seis mil toneladas de minério explorado pela
Rio Verde seguia diariamente via
Na época do acidente
em Macacos, uma
média de seis mil
toneladas de minério
explorado pela
Rio Verde seguia
diariamente via
caminhões para a
planta industrial da
Ferteco, na Apa-Sul
caminhões para a planta industrial da Ferteco, localizada também na Apa-Sul. Os outros parceiros da Rio Verde, enquanto seus
compradores, eram a Açominas, o
setor guseiro e a própria Vale.
Segundo a nova política ambiental em estudo pelo governo
estadual, isso significava que, a
partir do acidente, também essas empresas deveriam, solidariamente, participar do plano de
recuperação ecológica da região,
impactada há anos pelo setor
mineral como um todo.
Quinze anos depois da tragédia, a hoje Revista Ecológico
voltou ao cenário do Córrego Taquaras, em Macacos, Nova Lima,
para ver o que de fato aconteceu.
É o que você, caro (a) leitor (a),
vai conferir e se estarrecer na
nossa próxima edição, dia 22,
lua cheia de abril. Nela, iremos
trazer a recordação de uma entrevista concedida pelo consultor Joaquim Pimenta de Ávila,
membro do Comitê Brasileiro
de Barragens e representante do
Brasil junto à ONU. O mesmo
especialista envolvido na tragédia da Samarco em Mariana que,
desde a dor e o desamor mineral
ocorrido em Macacos, já defendia uma nova lei para o setor, a
partir de Minas.
“Só assim” – ele anteveu – “vamos obrigar as empresas a serem
mais responsáveis. Afinal, as experiências comprovam que o conhecimento técnico disponível
para evitar acidentes não é utilizado pelas mineradoras, seja por
ignorância ou negligência”.
Aguarde!
Todd Southgate / Greenpeace
FOTO: TODD SOUTHGATE / GREENPEACE
NO LIMITE DE DEUS
Foi esse o artigo intitulado “Remissão Solidária”, que a repórter Luciana Morais
escreveu durante a cobertura jornalística
do acidente em Macacos:
“Poucos setores produtivos têm uma relação tão estreita com a sociedade e a natureza
como a mineração. Em Minas Gerais, então,
estado minerador por vocação, esse vínculo
é natural. Faz parte do trabalho de inúmeras
empresas que extraem, de nossas montanhas, a riqueza que constrói divisas e sustenta a economia brasileira e mundial. Mas,
ironicamente, muitas delas ainda fecham os
olhos para a grandeza de seu ofício, degradando mais do que protegendo.
A nossa mineração, que representa 30%
do total da produção mineral do país, é a
mesma que mostra o peso de sua mão ao
devastar Macacos. Retira minerais preciosos e raros, mas não tem piedade suficiente para devolver a vida às suas crateras.
Estamos no limite da natureza que Deus
nos deu. E o tempo da remissão é agora!
Dizer não à mineração, como querem os
ambientalistas extremistas, é negar que
consumimos automóveis, geladeiras, garfos e facas.
Queremos a mineração, sim. Sustentável, com seus empregos, com o seu dom
de transformar metal em bens de produção. Mas queremos somente a mineração
responsável, que proteja o meio ambiente
e a vida humana.
Queremos minério de ferro, bauxita, prata, ouro e todo metal necessário para sustentar nossas vidas. As tecnologias, estudos e levantamentos estão aí, à espera de
serem aplicados, inclusive para garantir a
segurança das barragens de rejeitos.
O que falta, mais que tudo, é o desejo de
minerar com respeito à natureza, em parceria com a vida. Mostrar o exemplo das
empresas que têm o orgulho de abrir as
suas portas e comunicar seus avanços. Ou
seguiremos esse caminho juntos ou não
haverá futuro para ninguém”. O
2
JAN/FEV
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O43
39
FOTO: NASA
CÉU DO MUNDO
O ANO DO CALOR
FOTO: DAMIAN RYSZAWY
Segundo a Nasa, 2015 foi o
ano mais quente registrado na
história. A temperatura média
da Terra e dos oceanos foi
de 0,90ºC acima da média do
século XX. O recorde anterior
era de 2014, com 0,16ºC.
DESASTRES METEOROLÓGICOS
FOTO: NASA
Segundo um relatório do Escritório
da ONU para a Redução dos Riscos de
Desastres, o UNISDR, os desastres
meteorológicos naturais foram
responsáveis por 606 mil mortes nos
últimos 20 anos. O clima foi responsável
por 90% dos grandes desastres no
período: foram registradas 6.457
inundações, tempestades, ondas de
calor, secas e outros eventos.
CRIANÇAS AMEAÇADAS
Mais de 500 milhões de crianças vivem em
áreas com risco extremo de inundações e
cerca de 160 milhões vivem em zonas afetadas
por fortes períodos de seca por consequência
dos efeitos da mudança climática, informa
o Fundo das Nações Unidas para a Infância
(UNICEF). A maioria das áreas com alto risco
de inundação está na Ásia e as que estão em
risco de maior seca se encontram na África.
44
OECOLÓGICO
| MARÇO DE 2016
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14/03/16 16:22
1 SAÚDE
#DENGUEZERO
#CHIKUNGUNYAZERO
SAÚDE EM PRIMEIRO LUGAR
A Revista Ecológico também entra na luta contra o
Aedes aegypti. Participe desse movimento conosco!
N
eymar? Roberto Carlos?
Xuxa? Luan Santana? Não.
Hoje, a “celebridade” mais
famosa do Brasil se chama... Aedes
aegypti. O que o diferencia dos
outros nomes citados é que ele
não tem nenhum fã, mas, ainda
assim, vem causando comoção (e
deixando muita gente acamada)
por onde aparece.
Para se ter ideia, apenas nos três
primeiros meses deste ano, este
mosquitinho de tamanho entre
0,5 e um centímetro foi responsável por provocar casos prováveis
de dengue em mais de 124 mil
pessoas em Minas. E há também
o registro importante de outras
doenças transmitidas por ele.
Em relação aos casos de chikungunya, 413 foram notificados,
sendo 233 descartados e 180 em
investigação. Para os de zika vírus,
informa a Secretaria de Estado da
Saúde de Minas Gerais (SES-MG),
“todos os 755 casos notificados em
46 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
2016 seguem sob investigação”.
“Os criadouros mais comuns do
Aedes aegypti são aqueles criados
pelo próprio homem”, afirma José
Bento Pereira, pesquisador do Laboratório de Fisiologia e Controle
de Artrópodes Vetores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em
vídeo publicado no site da instituição. Entre esses criadouros estão
caixas d’água abertas e qualquer
recipiente que possa acumular
água, como pneus, vasos de planta e tampas de refrigerante.
“Por ser um mosquito que vive
perto do homem, sua presença é
mais comum em áreas urbanas
e a infestação é mais intensa em
regiões com alta densidade populacional - principalmente, em
espaços urbanos com ocupação
desordenada, onde as fêmeas têm
mais oportunidades para alimentação e dispõem de mais criadouros para desovar. A infestação do
mosquito é sempre mais intensa
no verão, em função da elevação
da temperatura e da intensificação
de chuvas – fatores que propiciam
a eclosão de ovos do Aedes aegypti.
Para evitar esta situação, é preciso
adotar medidas permanentes para
o controle do vetor, durante todo o
ano, a partir de ações preventivas
de eliminação de focos de reprodução do mosquito. Como ele tem
hábitos domésticos, essa ação depende, sobretudo, do empenho da
população”, informa a Fiocruz.
O Ministério da Saúde publicou vários materiais explicativos
que podem ser baixados gratuitamente no site portalsaude.saude.
gov.br, apresentando informações e dicas para se evitar a proliferação do mosquito (a seguir,
reproduzimos algumas delas).
São hábitos simples, que não levam mais que dez minutos, e que
fazem grande diferença para que
a epidemia não avance.
Faça a sua parte! O
COMBATA O MOSQUITO
PERIODICAMENTE
1
2
Mantenha bem
tampados tonéis
e barris de água.
6
Encha os pratinhos de
vasos de plantas com
areia até a borda.
11
Mantenha as garrafas
com a boca virada
para baixo, evitando
o acúmulo de água.
3
5
4
Remova folhas, galhos
e tudo que possa
impedir a água de
correr pelas calhas.
Lave semanalmente por
dentro com escova e sabão
os tanques utilizados
para armazenar água.
Mantenha a caixa-d’água
bem fechada. Coloque
também uma tela no
ladrão da caixa-d’água.
7
8
9
Outra opção para os
pratinhos de plantas é lavar
uma vez por semana.
Troque a água dos vasos
de plantas aquáticas
e lave-os com escova,
água e sabão uma
vez por semana.
Coloque o lixo em sacos
plásticos e mantenha a
lixeira bem fechada.
12
13
14
Pneus devem ser
acondicionados em
locais cobertos.
16
Não deixe água
acumulada em
folhas secas e
tampas de garrafas.
17
Não deixe água
acumulada
sobre a laje.
10
Feche bem os sacos de
lixo e deixe-os fora do
alcance de animais.
15
Faça sempre a manutenção Se o ralo não for de abrir e
de piscinas ou fontes
fechar, coloque uma tela
utilizando os produtos
fina para impedir o acesso
químicos apropriados.
do mosquito à água.
18
Os vasos sanitários fora
Limpe sempre a bandeja do
de uso ou de uso eventual
ar-condicionado para
devem ser tampados e
evitar o acúmulo de água.
verificados semanalmente.
Coloque areia dentro
de todos os cacos que
possam acumular água.
19
Lonas usadas para cobrir
objetos ou entulhos
devem ser bem esticadas
para evitar poças-d’água.
APOIO:
TUDO QUE ACUMULE ÁGUA
É FOCO DE MOSQUITO.
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O47
1
ALMA PLANETÁRIA
LEONARDO BOFF (*)
www.leonardoboff.com
A SEDE ESPIRITUAL
HUMANA
S
FOTO: KANTVER
e é verdade que os transtornos climáticos
são antropogênicos, quer dizer, possuem sua
gênese nos comportamentos irresponsáveis
dos seres humanos (menos dos pobres e muito
mais das grandes corporações industriais), então
fica claro que a questão é antes ética do que científica. Vale dizer, a qualidade de nossas relações
com a natureza e a Casa Comum não eram e não
são adequadas e boas.
Citando o Papa Francisco em sua inspiradora
encíclica “Laudato Si: sobre o cuidado da Casa Comum”: “Nunca maltratamos e ferimos a nossa Casa
Comum como nos últimos dois séculos. Essas si-
48 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
tuações provocam os gemidos da irmã Terra, que
se unem aos gemidos dos abandonados do mundo,
com um lamento que reclama de nós outro rumo”.
Esse outro rumo implica, urgentemente, uma ética regeneradora da Terra, que deve ser fundada em
alguns princípios universais, compreensíveis e praticáveis por todos. É o cuidado essencial, que é uma
relação amorosa para com a natureza; é o respeito
por cada ser porque possui um valor em si mesmo;
é a responsabilidade compartida por todos pelo futuro comum da Terra e da humanidade; é a solidariedade universal pela qual nos entreajudamos; e,
por fim, é a compaixão pela qual fazemos nossas as
"Temos sede, num mundo feito deserto, de encontrar
companheiros com os quais dividimos o pão."
dores dos outros e da própria natureza.
Esta ética da Terra deve devolver-lhe a vitalidade vulnerada a fim de que possa continuar a nos
presentear com tudo o que sempre nos presenteou durante todos os tempos de nossa existência
sobre esse planeta.
Mas não é suficiente apenas uma ética da Terra.
Precisamos fazê-la acompanhar por uma espiritualidade. Esta lança suas raízes na razão cordial e
sensível. De lá, nos vem a paixão pelo cuidado e um
compromisso sério de amor, de responsabilidade
e de compaixão para
com a Casa Comum.
O conhecido e sempre apreciado escritor
francês Antoine de
Saint-Exupéry, num
texto póstumo, escrito em 1943 – “Carta ao
General X” – afirma
com grande ênfase:
“Não há senão um
problema, somente
um: redescobrir que
há uma vida do espírito que é ainda mais
alta que a vida da inteligência, a única
que pode satisfazer o
ser humano”.
No texto “É preciso
dar sentido à vida”,
de 1936, quando era
correspondente do
jornal “Paris Soir”,
durante a guerra da Espanha, ele retoma o tema da
vida do espírito. Para isso, afirma que “precisamos
nos entender reciprocamente; o ser humano não
se realiza senão junto com outros seres humanos,
no amor e na amizade. No entanto, os seres humanos não se unem apenas se aproximando uns
dos outros, mas se fundindo na mesma divindade.
Temos sede, num mundo feito deserto, de encontrar companheiros com os quais dividimos o pão”.
E assim termina a “Carta ao General X”: “Temos
tanta necessidade de um Deus!”.
Efetivamente, só a vida do espírito satisfaz plenamente o ser humano. Ela representa um belo sinônimo para a espiritualidade, não raro identificada ou
confundida com religiosidade. A vida do espírito é
mais, é um dado originário de nossa dimensão profunda, um dado antropológico como a inteligência e
a vontade, algo que pertence à nossa essência.
Sabemos cuidar da vida do corpo, hoje um verdadeiro culto celebrado em tantas academias de
ginástica. Os psicanalistas de várias tendências nos ajudam a
cuidar da vida da psique, de como equilibrar nossas pulsões, os
anjos e demônios que
nos habitam para levarmos uma vida com
relativo equilíbrio.
Mas, na nossa cultura,
praticamente
esquecemos de cultivar a vida do espírito,
que é nossa dimensão
mais radical, onde se
albergam as grandes
perguntas, se aninham os sonhos mais
ousados e se elaboram as utopias mais
generosas. A vida do
espírito se alimenta
de bens não tangíveis,
como o amor, a amizade, a compaixão, o cuidado
e a abertura ao infinito. Sem a vida do espírito divagamos por aí, desenraizados e sem um sentido
que nos oriente e que torna a vida apetecida.
Uma ética da Terra não se sustenta sozinha por
muito tempo sem esse supplément d’âme (suplemento da alma) que é a vida do espírito. Ela nos
convoca para o alto e para ações salvadoras e regeneradoras da Mãe Terra. O
Sustentabilidade
é a nossa pauta!
Leia e assine!
(*) Professor e teólogo.
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O49
EMPRESA & MEIO AMBIENTE
%,2',9(56,'$'(
3527(*,'$
Parcerias e programas conduzidos pela mineradora Anglo American
favorecem a criação de unidades de conservação e o aumento da
disponibilidade hídrica na região da Serra do Espinhaço
Q
uanto mais áreas verdes se
preserva e se cria, mais impactos positivos se tem sobre os recursos hídricos. É amparada
nessa certeza que a Anglo American
vem fortalecendo e ampliando a sua
atuação em prol da conservação da
biodiversidade. Em especial na região
GH LQÁXrQFLD GR 6LVWHPD 0LQDV5LR
que inclui a mina de minério de ferURHDXQLGDGHGHEHQHÀFLDPHQWRHP
&RQFHLomR GR 0DWR 'HQWUR H $OYRUDGDGH0LQDVQDSRUomRPLQHLUDGD
6HUUDGR(VSLQKDoR
3URYDGLVVRpR´3URMHWRGH5HFXSHUDomR GH 1DVFHQWHV H 0DWDV &LOLDUHV
GD&DEHFHLUDGRV5LRV6DQWR$QW{QLR
e Peixe”, importantes tributários da
PDFUREDFLD GR 5LR 'RFH H HVVHQciais para manter o equilíbrio hídrico
da região. Esse projeto foi aprovado
com maioria expressiva na reunião do
&RPLWr GH %DFLD +LGURJUiÀFD GR 5LR
6DQWR $QW{QLR UHDOL]DGD HP RXWXEUR
GRDQRSDVVDGRHP,WDELUD0*
6HXIRFRpDPHOKRULDDPELHQWDOGH
áreas que hoje estão degradadas e
FXMD UHFXSHUDomR WHUi UHÁH[RV GLUHtos no aumento da oferta de água aos
usuários da bacia, além de melhorar a
TXDOLGDGHGHVVHUHFXUVRYLWDOHÀQLWR
“O projeto de recuperação envolve uma série de atividades, entre
elas o plantio de mudas, ações de
PDQHMR ÁRUHVWDO H D UHVWDXUDomR GH
áreas de recarga hídrica. Nossas expectativas são as melhores possíveis.
A ideia é que ele possa se tornar inclusive um modelo de recuperação
ambiental para toda a bacia”, infor-
ÁREA de preservação próxima ao Rio
do Peixe: a proposta da Anglo American
é proteger quase 10 mil hectares de
florestas em forma de RPPNs
50 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
PD7LDJR$OYHVTXHWUDEDOKDQDiUHD
GH 'HVHQYROYLPHQWR 6XVWHQWiYHO QD
$QJOR $PHULFDQ 0LQpULR GH )HUUR
Brasil e representa a empresa como
VHFUHWiULR GR &RPLWr GH %DFLD GR
5LR6DQWR$QW{QLR
$WXDOPHQWH Ki FLQFR HVWDo}HV ÁXYLRPpWULFDV QDV VXEEDFLDV GR 6DQWR
$QW{QLR ORFDOL]DGDV HP XPD iUHD GH
GH] TXLO{PHWURV SUy[LPD DR HPSUHHQGLPHQWR+iDLQGDXPSRQWRGH
FRQWUROH QR 5LR GR 3HL[H GHVWLQDGR
DRPRQLWRUDPHQWRGHYD]mR7RGDVDV
informações coletadas são analisadas
em conjunto com os dados de moniWRUDPHQWRKtGULFRGD$JrQFLD1DFLRQDOGDVÉJXDV$1$
VISÃO SISTÊMICA
No dia a dia de trabalho, além de
Há ainda uma área
de cerca de 200
hectares, localizada no
município de Tombos,
famoso por suas
cachoeiras, na Zona
da Mata, que também
recebeu proposta de
compensação ambiental
dimento. Com base nessas análises, foi
criado um plano de ação para a mitigação dos riscos.
“Possuímos um processo de gestão
DPELHQWDOVLVWrPLFRHLQWHJUDGRYLVDQdo alcançar a conservação dos recursos
naturais e o ganho ambiental em nossas
ações de mitigação e compensação.
Ou seja, desde o início do empreendimento, sempre procuramos ir além.
0DLV GR TXH VLPSOHVPHQWH FXPSULU D
legislação, estamos permanentemente
em busca das melhores práticas susWHQWiYHLVµIULVD$OGR6RX]DGLUHWRUGH
6D~GH 6HJXUDQoD H 'HVHQYROYLPHQWR
6XVWHQWiYHOGD$QJOR$PHULFDQ0LQpULR
GH)HUUR%UDVLO
COBERTURA VEGETAL AUMENTA
Outro ponto forte da atuação da An-
glo American é o seu empenho em
salvaguardar áreas representativas de
0DWD $WOkQWLFD XP GRV ELRPDV PDLV
ULFRV H DPHDoDGRV GR %UDVLO 7RGD D
atenção e cuidado demonstrados pela
FRPSDQKLDVHMXVWLÀFDP$ÀQDOR6LVWHPD0LQDV5LRHVWiORFDOL]DGRQXPD
região altamente estratégica para a
formação de mosaicos de unidades
de conservação.
6mRiUHDVTXHWDPEpPLQFOXHPIRUmações vegetais de campos rupestres
IHUUXJLQRVRVFHUUDGRHPDWDDWOkQWLFD
DRORQJRGD6HUUDGR(VSLQKDoRWRPEDGDFRPR´5HVHUYDGD%LRVIHUDµSHOD
Unesco em 2006. Por meio da integração de projetos de relocação de
iUHDVGHFRPSHQVDomRÁRUHVWDOUHJXODUL]DomRGH5HVHUYDV/HJDLVHFULDomR
GH 5HVHUYDV 3DUWLFXODUHV GR 3DWULP{-
FOTO: ANGLO AMERICAN/DIVULGAÇÃO
seguir as diretrizes globais de conservação ambiental estabelecidas
pela companhia, as equipes da Anglo
American procuram adaptá-las à reaOLGDGHHjVQHFHVVLGDGHVORFDLV7XGR
é feito com base em estudos criteriosos e com a chancela de universidaGHV EUDVLOHLUDV H WDPEpP GH 21*V
mundialmente reconhecidas, como
D )DXQD )ORUD ,QWHUQDWLRQDO )),
considerada a mais antiga entidade
internacional de conservação da natureza, fundada em 1903.
2V SHVTXLVDGRUHV GD )), SHUFRUUHUDP WRGR R 6LVWHPD 0LQDV5LR H À]Hram uma completa avaliação dos recurVRVQDWXUDLVH[LVWHQWHVLGHQWLÀFDQGRDV
áreas essenciais para a conservação e
também os riscos de impacto à biodiversidade ocasionados pelo empreen-
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O51
O RIO SANTO ANTÔNIO
tem 283 quilômetros de
extensão e passa por 29
municípios
QLR 1DWXUDO 5331 D $QJOR $PHULcan vem investindo de forma maciça
no aumento da cobertura vegetal em
toda a região.
A proposta de criação de aproximadamente 10 mil hectares de áreas verdes – que estão sendo instituídas sob
D IRUPD GH 5331V ² FRPSURYD HVVH
compromisso da empresa. E o conceito-base que norteia todo o processo
de criação e conservação dessas áreas
é exatamente o da conectividade.
Assim, a cada proposta de reguODUL]DomR GH 5HVHUYD /HJDO RX GH
FRPSHQVDomR ÁRUHVWDO TXH D FRPpanhia faz, o principal critério de
escolha das áreas é a possibilidade
de conectá-las a outras unidades de
conservação existentes, fomentando
D FULDomR GH FRUUHGRUHV HFROyJLFRV
e, consequentemente, a proteção da
IDXQDHGDÁRUD
´7HPRV DOJXPDV iUHDV GHÀQLGDV H
nas quais já atuamos de forma efetiva na conservação, por meio de
URQGDVGHYLJLOkQFLDHGHEULJDGDVGH
FRPEDWH D LQFrQGLRV ÁRUHVWDLV SRU
exemplo. Agora, estamos na fase de
contratação dos planos de gestão, visando aprimorar o manejo e favorecer o enriquecimento ambiental desVDVUHVHUYDV2SUy[LPRSDVVRVHUiD
52 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
formalização de todos esses processos junto ao Estado, para a criação
HIHWLYD GDV 5331Vµ GHWDOKD 5RJpULR
3LQWR 9DVFRQFHOORV FRRUGHQDGRU GH
0HLR $PELHQWH GD 8QLGDGH GH 1HJyFLR0LQpULRGH)HUUR%UDVLO
Os resultados obtidos até agora
são animadores. “Quando analisamos
as imagens de satélite da região do
empreendimento, principalmente do
HQWRUQR GD PLQD ÀFD FODUR TXH GH
2008 até agora, houve um aumento
considerável da cobertura vegetal”,
UHIRUoD7LDJR$OYHV$PDLRUSDUWHGDV
áreas que será protegida sob a forma
GH 5331V ÀFD QD %DFLD GR 5LR 6DQWR
$QW{QLR+iDLQGDXPDiUHDGHFHUFD
de 200 hectares, localizada no municíSLRGH7RPERVQD=RQDGD0DWDTXH
também recebeu proposta de compensação ambiental.
´6mRPXLWRVRVWUDEDOKRVHSURMHWRV
que desenvolvemos. E esperamos colher, em conjunto com a comunidade,
os melhores frutos de todo o nosso
comprometimento com a conservação ambiental. Queremos ser reconhecidos como um agente ativo na
busca do desenvolvimento equilibrado
e sustentável das regiões onde atuamos. Essa é a nossa visão”, ressalta o
GLUHWRU$OGR6RX]D
FOTO: ÉZIO P. MORAIS
EMPRESA & MEIO AMBIENTE
FIQUE POR DENTRO
OO Rio Santo Antônio nasce na
Serra do Espinhaço, no município
de Conceição do Mato Dentro, e se
estende por 283 quilômetros.
OCriado em 2002, o seu Comitê de
Bacia Hidrográfica é formado por 64
membros, sendo 32 titulares e 32
suplentes. Sua composição inclui
18 representantes do poder público,
distribuídos de forma paritária entre
o estado e os municípios inseridos
na bacia; bem como representantes
de usuários e de entidades da
sociedade civil.
OA Bacia do Santo Antônio integra a
macrobacia do Rio Doce e abrange uma
área de 10,4 mil km2. Entre os seus
principais cursos d’água estão ainda os
rios Guanhães, do Peixe e Tanque, em
29 municípios mineiros, beneficiando
uma população de 182 mil pessoas.
OA Serra do Espinhaço é uma
das mais importantes cadeias de
montanhas do Brasil, localizada entre
Minas Gerais e Bahia. Tem mais de
mil quilômetros de extensão e reúne
famosos cartões-postais brasileiros,
como a Serra do Cipó, a Chapada
Diamantina (BA) e a cidade de
Diamantina.
FOTO: LUIZ CLÁUDIO OLIVEIRA
APOIO A PRODUTORES
Para a Anglo American, o incentivo
à atuação sustentável de pequenos
produtores rurais nos municípios em
seu entorno também é prioridade.
Por isso, a empresa apoia a regularização ambiental das propriedades e
promove a capacitação dos produtores, para que eles conheçam e adotem práticas mais amigáveis de uso
dos recursos naturais.
Atualmente, 17 proprietários rurais
já aderiram de forma voluntária à iniFLDWLYDGHFULDomRGRFRUUHGRUHFROyJLco. “Essa adesão é essencial, uma vez
que a responsabilidade de manutenção
desse corredor não cabe apenas à empresa. Ela deve ser compartilhada por
todos os atores envolvidos”, explica
7LDJR$OYHV
CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO, com a Serra da Ferrugem ao fundo,
na cadeia do Espinhaço: terra-mãe do Rio Santo Antônio
ARTE: ANGLO AMERICAN
SISTEMA MINAS-RIO
OO Sistema Minas-Rio inclui uma mina de minério de
ferro e unidade de beneficiamento em Conceição do
Mato Dentro e Alvorada de Minas (MG); um mineroduto
com 529 km de extensão, que atravessa 33 municípios
mineiros e fluminenses; e o terminal de minério de
ferro do Porto de Açu, no qual a Anglo American é
parceira da Prumo Logística com 50% de participação,
localizado em São João da Barra (RJ).
O Atualmente, a Anglo American tem mais de 460 mil
hectares preservados sob o seu controle e gestão em todo
o mundo, sendo que apenas 84.214 foram impactados de
forma direta pelas atividades de mineração.
O No Brasil, ela está presente com quatro negócios:
minério de ferro, com o Sistema Minas-Rio; níquel,
com operações nos municípios de Barro Alto e
Niquelândia, em Goiás; nióbio, em Catalão e Ouvidor,
em Goiás; e fosfatos, com operações em Ouvidor (GO),
Catalão (GO) e Cubatão (SP).
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O53
FOTO: ANGLO AMERICAN/DIVULGAÇÃO
EMPRESA & MEIO AMBIENTE
AÇÕES DE PROTEÇÃO
OEstão em execução até
o momento atividades de
conservação, enriquecimento e
plantio de áreas, em um montante
de, aproximadamente, 1.300
hectares na região de Conceição
do Mato Dentro, nos municípios de
Tombos e Santo Antônio do Grama.
OAlém disso, está planejado um
total de recuperação e manejo
de cerca de 3.000 hectares
contemplados nas compensações
florestais do Sistema Minas-Rio,
além de doações de áreas em
unidades de conservação de gestão
pública, a exemplo do Parque
Nacional de Jurubatiba (na vegetação
de restinga) e do Monumento Natural
da Serra da Ferrugem.
VEGETAÇÃO rupestre da Mata Atlântica: maravilha endêmica e protegida
Na prática, ele esclarece, o nome
mais adequado seria “corredor agroeFROyJLFRµ ,VVR SRUTXH HP PRPHQWR
algum, a criação dessas áreas de conectividade tem como objetivo paralisar
ou impedir qualquer atividade produtiva tradicional na região.
“A ideia é fazer mais do que isso.
Queremos seguir atuando em parceria com os produtores rurais, para que
possam conhecer e aplicar os melhoUHV FRQFHLWRV GH VXVWHQWDELOLGDGH 6y
assim conciliaremos conservação com
desenvolvimento.”
PROTEÇÃO E RESPEITO
(PWRPRWLPLVWD7LDJR$OYHVHVFODUHce que todas as ações de conservação
ambiental promovidas pela empresa –
além de trazer ganhos reais para a natureza – também fomentam a pesquisa
FLHQWtÀFD H LQFHQWLYDP D PXGDQoD GH
cultura, fortalecendo a conscientização
das populações vizinhas.
54 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
"Queremos ser
reconhecidos como um
agente ativo na busca
do desenvolvimento
equilibrado e sustentável
das regiões onde
atuamos."
OTambém houve registro de
Henochilus wheatlandii (andirá),
espécie endêmica de peixe da bacia
do Rio Santo Antônio que teve um
exemplar registrado nos estudos
anteriores de monitoramento. De
maneira geral, todas as ações de
conservação destinadas às bacias
beneficiam essas espécies que
necessitam de áreas preservadas
para manterem suas populações
viáveis no longo prazo.
(VVD VLQHUJLD FRP R PHLR DFDGrPLco tem se mostrado valiosa para toda
D VRFLHGDGH $ÀQDO TXDQWR PDLV VH
conhece uma região e as suas riquezas
naturais, mais se pode fazer para que
elas sejam protegidas e respeitadas.
´1yVGD$QJOR$PHULFDQDFUHGLWDmos que há muitas formas de proteAldo Souza
ger os recursos naturais. No entanto,
poucas iniciativas nesse sentido são
*UDoDVDFRQYrQLRVFRPDVXQLYHUVL- concebidas e implementadas numa
GDGHVIHGHUDLVGH9LoRVD8)9HGRV SHUVSHFWLYDKROtVWLFDHVLVWrPLFDFRPR
9DOHV GR -HTXLWLQKRQKD H 0XFXUL 8)- D DGRWDGD QR 6LVWHPD 0LQDV5LR (VVH
9-0 &kPSXV 'LDPDQWLQD D iUHD GR pVHPG~YLGDXPGRVGLIHUHQFLDLVGH
6LVWHPD0LQDV5LRWHPVHUYLGRGHEDVH nossa atuação, tendo como principal
SDUD LQ~PHUDV SHVTXLVDV TXH SHUPL- catalisador o envolvimento das comutem conhecer melhor toda a biodiver- QLGDGHVµFRQFOXL7LDJR$OYHVO
sidade e também as particularidades da
UHJLmR1RV~OWLPRVDQRVDOJXQVGHVVHV
SAIBA MAIS
estudos já resultaram em teses de meswww.angloamerican.com.br
trado e de doutorado.
CY000116H-Olimpiadas de Matematica-AD Revista Ecologico-202x275 mm-FIN.indd 1
2/16/16 11:16 AM
1 AQUECIMENTO GLOBAL
O ARROTO QUE
ESQUENTA O MUNDO
Arrotos bovinos são uma fonte importante de gases do aquecimento global;
cientistas brasileiros colocaram tubos na boca do gado para medir quanto gás sai
de lá e descobriram que, infelizmente, não será tão fácil cortar as emissões
Reinaldo José Lopes (*)
[email protected]
A
char maneiras de minimizar o efeito dos arrotos
de bois e vacas -por incrível que pareça, uma fonte importante de gases que aquecem
o planeta- pode ser mais difícil
do que se imaginava, indica um
novo estudo.
Esperava-se que, conforme a
criação de bovinos ficasse mais
eficiente - ou seja, com os animais ganhando o mesmo peso,
mas consumindo menos comi-
56 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
da-, seria reduzida a emissão de
metano (CH4), gás causador do
efeito estufa produzido durante
a digestão dos bichos.
Cientistas brasileiros descobriram, porém, que isso não
acontece. Bois que engordam
facilmente soltam tanto metano
quanto os comilões.
É uma notícia ruim, porque,
de maneira geral, o gado brasileiro não é conhecido por ser
econômico em gases. O fenô-
meno pode estar ligado à alimentação do rebanho, que é de
qualidade relativamente pobre
(rica em celulose) e levaria as
bactérias do estômago dos bichos a trabalharem bastante e,
assim, gerarem mais metano.
O estudo, coordenado por cientistas do Instituto de Zootecnia de
São Paulo, sugere, portanto, que
vai ser preciso intervir em outros
aspectos da criação de bovinos do
país para diminuir as emissões.
Arroto complicado
Entenda a relação entre gases de
bovinos e aquecimento global
FIQUE POR DENTRO
DIGESTÃO
Animais como os bovinos possuem um estômago
altamente especializado para digerir matéria vegetal,
que inclui o rúmen (daí a palavra "ruminantes")
Intestino
O Segundo a Secretaria de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Seapa) de Minas, o abate de bovinos
cresceu 6,3% em 2014, totalizando 3,2 milhões de
cabeças. O número representa quase 10% do total de
bovinos abatidos no país.
Rúmen
O Em 2014, 33,9 milhões de cabeças de gado foram
abatidas no Brasil, 1,5% a menos do que o recorde
registrado em 2013. Segundo o IBGE, isso se deve à
redução do consumo, já que, com a alta do preço da carne
bovina, a população tem consumido mais frango e suínos.
Esôfago
Omaso
Abomaso
20% é o potencial
Disso, cerca de
produzido pela ação
humana ligado às
emissões de metano
derivaria do metano
dos rebanhos (há
outras fontes do gás)
de mudança climática
um terço
MICRÓBIOS
Nessas câmaras estomacais,
vivem bactérias que ajudam
bois e vacas a "quebrar"
as moléculas complexas
do capim. 0 problema é
que, nesse processo, os
micróbios também liberam
metano (CH4), um potente
gás-estufa.
1
QUANTIDADE
Ao eructar (arrotar),
cada bovino emite
uma quantidade
pequena de metano (150
gramas por dia). Mas, com
um rebanho mundial na
casa dos bilhões (cerca
de 200 milhões só no
Brasil), o metano
emitido pelos
bichos se torna
um problema
considerável .
2
3
MEDIÇÃO
Pesquisadores
brasileiros conduziram
experimentos para medir
os "arrotos" de metano
do gado nelore na fase de
crescimento. Verificaram que
a emissão do gado brasileiro
é elevada, mesmo entre os
animais mais eficientes no ganho
de peso por dia.
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O57
1 AQUECIMENTO GLOBAL
Calcula-se que o metano seja
responsável por cerca de 20% do
aquecimento global até agora.
Mas o aumento de emissões da
molécula preocupa porque seu
efeito é dezenas de vezes mais potente que o do dióxido de carbono (CO2), o principal gás-estufa.
A “usina” de metano no organismo dos bovinos é o rúmen, uma das
estruturas que compõem o complexo estômago dos ruminantes.
Para “quebrar” as moléculas
mais complexas presentes nos vegetais que comem, o organismo
dos bichos conta com a ajuda de
bactérias que povoam o rúmen.
É o metabolismo dos micróbios
que acaba produzindo o metano.
CÁPSULAS E CABRESTOS
A coordenadora do estudo, Maria Eugênia Zerlotti Mercadante,
explica que o método para medir
as emissões do gado brasileiro
(animais da raça nelore) envolve,
antes de mais nada, a colocação
de cápsulas de SF6 (hexafluoreto
XX OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
O procedimento foi
realizado com 464
animais em fase
de crescimento
de enxofre) no rúmen dos bichos.
Se as cápsulas estiverem funcionando direito, liberarão a substância num ritmo constante. O aparato
de medição, que inclui um cabresto
especial com um cano muito fino,
vai sugando tanto o SF6 quanto o
metano. Se a proporção de SF6 for a
esperada, quer dizer que a medição
está sendo feita corretamente.
Esse cano desemboca num receptáculo de PVC, que guarda os
gases que serão posteriormente
analisados. O procedimento foi
feito em 464 animais em fase de
crescimento, junto com medidas
de seu consumo de alimentos e
de produção de fezes, no pasto e
em confinamento.
Os resultados: embora os animais mais eficientes consumis-
sem 10% menos alimento e tivessem uma capacidade de absorção
de nutrientes 4% maior para ganhos equivalentes de peso, não
houve diferenças significativas
quanto ao metano nos arrotos.
“A dieta dos nossos animais é
muito mais fibrosa do que a dos
bois nos EUA, por exemplo”, explica Maria Eugênia. “É possível
que, no nosso contexto, os animais mais eficientes sejam aqueles cujo organismo ataca mais essas fibras, o que acabaria levando
à maior produção de metano.”
Segundo a pesquisadora, isso
não significa necessariamente que
os animais mais eficientes não
teriam nenhum efeito benéfico
para o clima ao consumir menos
comida, por exemplo, eles poderiam contribuir para uma cadeia
produtiva menos poluente, daí o
interesse em entender o organismo deles para investir no melhoramento genético do rebanho. O
(*) Colaboração para a Folha de São Paulo.
Um veículo mais leve, seguro e sustentável.
É aço Usibor®.
Usibor®. Agora produzido no Brasil.
A aplicação da solução em aço Usibor® contribui para a diminuição do peso da carroceria, economia de combustível
e redução das emissões de CO2, além de proporcionar maior resistência contra impactos. Tudo isso com a qualidade
e a sustentabilidade da ArcelorMittal, a maior empresa do setor de Siderurgia e Metalurgia no ranking da
edição especial EXAME Melhores & Maiores 2015.
brasil.arcelormittal.com
1 BIODIVERSIDADE
A RPPN Mata do
Passarinho agora tem
950 hectares de Mata
Atlântica preservadas
FOTO: LUIZ FABIANO/PREF. OLINDA
MATA DO PASSARINHO
AMPLIADA
Reserva da Biodiversitas, que ganhou mais 300 hectares,
é refúgio de aves ameaçadas de extinção, como o entufado-baiano
A Mata do Pasarinho abrange
os municípios de Bandeira e Jordânia (MG) e Macarani (BA). O
FOTO: ARQUIVO BIODIVERSITAS
A
Fundação
Biodiversitas,
com o apoio da American
Bird Conservancy (ABC),
vem trabalhando intensamente
para promover a conservação da
Mata Atlântica e de sua fauna exuberante. A conquista mais recente
é a ampliação da Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN)
Mata do Passarinho, localizada na
divisa entre Minas Gerais e Bahia,
na região do Vale do Jequitinhonha. Foram incorporados cerca
de 300 hectares, totalizando 950
hectares de área preservada.
GLÁUCIA DRUMMOND: “A RPPN
protege uma infinidade de animais”
60 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
novo espaço inclui grandes áreas
de floresta primária, bem como
antigas zonas de criação de gado
que, intocadas por mais de uma
década, tornaram-se florestas secundárias robustas.
De propriedade da Biodiversitas, a reserva foi criada em 2007
e passou a proteger o último remanescente de Mata Atlântica
em bom estado na região. Um
dos principais motivos de ter
sido criada foi a presença de uma
ave extremamente ameaçada
de extinção – o entufado-baia-
Com mais de 25 anos de
experiência no desenvolvimento
de ações voltadas para a
conservação da biodiversidade
brasileira, a Fundação
Biodiversitas é uma organização
sem fins lucrativos. Com sede
em BH e atuação nacional,
vem implementando projetos
de conservação e estudos
científicos de espécies
ameaçadas da fauna e da flora
brasileiras. Reconhecida por
suas publicações técnicocientíficas, entre elas, as
Listas Vermelhas de Espécies
Ameaçadas de Extinção, a
Biodiversitas possui três
reservas: Estação Biológica
de Canudos, em Canudos
(BA), dedicada à conservação
da arara-azul-de-lear
(Anodorhynchus leari), a RPPN
Mata do Sossego, em Simonésia
(MG), dedicada à conservação do
muriqui-do-norte (Brachyteles
hypoxanthus), o maior primata
das Américas; e a RPPN Mata
do Passarinho.
no (Merulaxis stressemani). Até
2007, ela estava em vias de ser
considerada extinta pelos cientistas. Estima-se que haja apenas
15 indivíduos na natureza.
Segundo Gláucia Drummond,
presidente da Fundação Biodiversitas, a RPPN Mata do Passarinho é considerada um baú de
biodiversidade. “Além do entufado, provavelmente a espécie mais
ameaçada da região, a reserva
protege uma infinidade de outros
animais, muitos deles ameaçados de extinção em grau regional,
nacional ou mundial”, explica
ela, que também é bióloga. São
várias espécies de mamíferos,
como o macaco-prego-do-peito-amarelo, o tatu-canastra e a onça-parda (ou suçuarana). Trezentas e trinta espécies de aves estão
protegidas no local, tornando a
reserva um paraíso para observadores – os birdwatchers.
FOTO: CIRO ALBANO / ACERVO BIODIVERSITAS
FIQUE POR DENTRO
ENTUFADO-BAIANO: só
existem 15 exemplares
da espécie na natureza
Após a publicação da "Lista de Espécies da
Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção"
pelo Ministério do Meio Ambiente em 2014,
a Mata do Passarinho teve sua importância
elevada no que tange à proteção da
fauna brasileira. O número de espécies
ameaçadas na reserva passou de 39 para 46
OBSERVAÇÃO DE AVES
A Fundação Biodiversitas investiu
em infraestrutura para proporcionar o recebimento de turistas,
observadores de aves e pesquisadores na RPPN. Além da reforma
de algumas edificações que já
existiam no local, foram construídos um quiosque na mata - ponto
de parada das trilhas interpretativas que podem ser feitas na
reserva-, um centro de visitantes
multimídia e um alojamento para
turistas. Este último tem uma característica peculiar: todo o esgoto produzido pelos visitantes
é tratado na própria reserva por
meio de um canteiro biosséptico,
tecnologia ecologicamente correta e muito barata.
GUIA FOTOGRÁFICO
Recentemente, a Biodiversitas
lançou o “Guia Fotográfico das
Aves da Reserva Mata do Passarinho”, de autoria de Thais Aguilar
e Alexandre Enout, ecólogo da
Fundação Biodiversitas, que tem
apoio da Petrobras e da Fundação Grupo Boticário.
Com imagens de um dos mais
experientes guias de observadores de aves do Brasil, o fotógrafo
cearense Ciro Albano, a publicação é inteiramente dedicada às
espécies de aves que habitam a
RPPN. São 140 fotos que registram a beleza de algumas das
aves catalogadas na reserva.
Cada foto vem acompanhada de informações da espécie,
como hábitat, estrato, tamanho,
dieta e peso, distribuição e os
principais fatores de ameaça. O
guia apresenta preferencialmente imagens de espécies de maior
interesse para os observadores
de aves, como as florestais, as
ameaçadas de extinção ou de difícil identificação. O
SAIBA MAIS
www.biodiversitas.org.br
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O61
1
GESTÃO & TI
ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*)
[email protected]
O DESAFIO DE WATSON
“E
FOTO: REPRODUÇÃO
lementar, meu caro Watson!” A frase, de Sir Se pegarmos firme, é possível que Watson nos ajude
Sherlock Holmes a seu médico e assistente muito a plantar corretamente, a prevenir doenças do
John Watson, sempre deixou o segundo com campo, a conservar nascentes, a prevenir desastres
cara de tacho. Lendo as histórias de Conan Doyle, fica ambientais. Não é à toa que a IBM comprou o The
latente a intenção de idiotizar o médico, constante- Weather Channel, uma empresa de tecnologia que
mente surpreso diante das brilhantes e inesperadas atua com... meteorologia!
conclusões do amigo investigador.
Feitas as contas, a computação cognitiva está sendo
Mas Watson mudou.
festejada como um fenômeno de muito maior impacEle não é mais um assistente periférico de Holmes. to do que tudo o que já se construiu em tecnologia,
Fruto de homenagem ao fundador da
uma espécie de extensão do fenômeno da
IBM, Watson já recebeu o título de “Pessoa
“uberização”, em que a próxima onda não
do Ano” em 2011, indicado pelo Webby
é termos outros motoristas mais gentis,
Awards, prêmio de destaques na internet.
mas carros sem motorista que, certamenJá ganhou um jogo de TV, o “Jeopardy”, diste, poderão conversar conosco enquanto
putando com dois humanos, os mais quanos transportam, tratando de assuntos
lificados do game em todos os tempos.
que gostamos e nos distraindo a contento.
Watson venceu!
Feitas as contas, o desafio de Watson é
Mas quem é Watson?
o desafio da humanidade: ou a usamos
Trata-se de uma solução cognitiva da
bem, para justificar as ações que só huIBM, um computador que aprende, litemanos poderão tomar, ou sucumbiremos
ralmente. Ao ter acesso a um conjunto de
a um planeta em que o Fórum Econômico
O ATOR Jude Law, que
textos sobre determinado tema, Watson
Mundial, em seu relatório de setembro de
interpretou Watson no
é capaz de ler, ler e ler sobre o assunto,
2015, prevê diretores-máquinas sentados
em segundos, e apresentar as hipóteses filme "Sherlock Homes", em boards - aquilo a que chamo de CRO
mais prováveis, de doenças a estratégias de Guy Ritchie: a tecnologia (Chief Robotic Officer). Isso até 2025.
copiando a realidade
de mercado.
É tempo de pensarmos nisso. É tempo
Watson é isso... só que não! Watson se transformou, de enfrentarmos, cada um de nós, em nossas indúsdesde então, num conjunto de dezenas de funções trias, esta profunda transformação. É preciso corafornecidas em nuvem que compõe os diversos aspec- gem e decisão. Sem elas, brevemente correremos o
tos da computação cognitiva. Ver, falar, analisar perso- risco de ouvir, sem qualquer piedade, uma frase esnalidade e vai por aí afora.
tranha: “Elementar, meu caro humano!”.
Temos medo dessas coisas, é verdade. Não negue,
Não aposto nisso. Estou a postos. Já me pus a camicaro leitor, que, saída de cenas da série Jornada nas nho. Deixo o convite. O
Estrelas, a perspectiva de homens conversando e
sendo aconselhados por máquinas é assustadora,
principalmente no terreno da velocidade, onde é notória a capacidade das máquinas.
Empresas brasileiras, como o Bradesco, já estão
avançando para ensinar a Watson suas regras de neOO que é o Webby Awards e o prêmio de 2011
gócio e, por esta via, oferecer melhor atendimento a
http://goo.gl/DeXfH9
seu público, livrando-os de respostas modorrentas
em seu call center.
O Computação cognitiva no call center
Não se trata mais de ficção. A computação cognihttp://goo.gl/qXjLGZ
tiva é uma realidade presente, expressa em produtos
que podem ser comprados e instalados em poucos
O O que quer uma companhia de TI com o
meses ou consumidos como serviço na internet.
Weather Channel?
É possível que o meio ambiente agradeça um dia.
http://goo.gl/p4DZ8A
TECH NOTES
62 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente do Comitê para
a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.
1
AS PEGADAS DE LUND (1)
A SAGA DO
DESBRAVAMENTO
Nesta edição, você acompanha os primeiros
passos das descobertas do dinamarquês
Peter Lund, o “pai” da paleontologia
Cástor Cartelle
[email protected]
N
a primeira metade do século XIX não poucos naturalistas escolheram a
América do Sul como centro de
suas atividades. Governos europeus subvencionavam essas pesquisas: Alemanha, Rússia, França,
Espanha... foram responsáveis
pelos trabalhos de naturalistas
como Azara, Von Humboldt, Saint
Hilaire, Spix, Martius, Agassiz,
Wallace ou do mais célebre de todos, Charles Darwin, financiado
pela coroa inglesa. Nesse período,
coleções de numerosos museus
da Europa tiveram grande incremento. Novos horizontes abriam-se para as ciências naturais.
Na pequena Dinamarca, ao longo da história, surgiram notáveis
cientistas, como Tycho Brahe e
Ole Romer, astrônomos, Christian
J. Thomsens, arqueólogo, ou Niels
Stensen (=Nicolaus Steno), médico e mineralogista, o primeiro a
interpretar corretamente a natureza dos fósseis.
É consequência dessa tradição
a existência no país de museus e
coleções excepcionais. Podemos
citar, na capital Copenhague, os
a
Museus de Zoologia, Geologia
e Botânica, este com quase 2,5
milhões de espécimes. Não é
64 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
de se estranhar que o dinamarquês Peter Wilhem Lund, como
outros cientistas da época, chegasse ao Brasil para aqui realizar
suas pesquisas.
Pedro Guilherme Lund nasceu
em Copenhague no dia 14 de junho
de 1801. Seu pai era um dos mais
prósperos comerciantes de lãs da
cidade. Com 17 anos, iniciou o curso de medicina, que abandonou
para estudar zoologia e botânica.
Aos 23 anos publicou seus primeiros trabalhos científicos nas áreas
da fisiologia médica e da zoologia,
que tiveram grande destaque.
Para realizar estudos botânicos
AOS 17 anos, Lund iniciou o curso de
medicina, que abandonou para estudar
zoologia e botânica. Aos 23, publicou
seus primeiros trabalhos científicos
no Brasil, obteve financiamento de
um fundo público, deixando Copenhague em 28 de setembro de
1825. Além do interesse pela botânica brasileira, o medo da tuberculose, que vitimara dois dos seus
irmãos, o influenciou para deixar a
Europa. Lund conservaria durante
toda a sua vida grande preocupação com a saúde, tornando-se um
tanto hipocondríaco.
COLEÇÕES VEGETAIS
Em 8 de dezembro, após penosa travessia de veleiro, chegou ao
Rio de Janeiro em festa pelo nascimento daquele que viria a ser o
Imperador Pedro II. Além da capital do Império, Campos e Nova
Friburgo foram os principais locais nos quais realizou seus estudos e formou as coleções de vegetais que faria chegar ao Museu
botânico de Copenhague, onde
ainda se preservam.
Em 1829 retornou à Europa, pretendendo dedicar-se ao estudo do
material coletado. Chegando no
mês de abril, já em outubro recebeu
o título de doutor e iniciou viagens
por diversos países, mantendo contato com destacados cientistas da
época, como Humboldt, Ampère,
Milne Edwards e Georges Cuvier.
Publicou então diversos trabalhos
versando sobre aves, moluscos e
formigas brasileiras.
Cuvier, diretor do Museu de
História Natural de Paris, além de
hábil político, o que fez com que
se mantivesse no cargo apesar
do conturbado período pelo qual
a França passava, foi um gênio
científico. Excepcional anatomista, é considerado o pai da paleontologia. A influência de Cuvier
sobre Lund foi intensa. A teoria
catastrofista do cientista francês
iria fornecer-lhe um parâmetro
científico para interpretar as descobertas que realizaria na sua volta ao Brasil.
Além de visitar diversos centros
científicos, como Berlin, Viena,
Roma e Paris, recebeu convites
de diversas universidades para
permanecer na Europa e estudar
o material que coletara durante
sua estadia no Brasil. A morte da
mãe, o clima inóspito, a pobreza
da fauna e da flora europeias e o
desejo de conhecer mais amplamente as riquezas da exuberante
Para realizar estudos
botânicos no Brasil, Lund
obteve financiamento
de um fundo público,
deixando Copenhague em
1825. Além do interesse
pela botânica brasileira,
o medo da tuberculose
também o influenciou
para deixar a Europa
natureza do Brasil o fizeram decidir pelo regresso.
TIRADENTES E DIAMANTES
Em janeiro de 1833, o naturalista
dinamarquês desembarcou pela
segunda e última vez no Rio de Janeiro. No ano anterior, Darwin permanecera vários dias nesse porto,
na sua viagem ao redor do mundo.
Retomou imediatamente seus estudos de botânica, associando-se
ao alemão Ludwig Riedel.
Ambos programaram ambiciosa expedição para o estudo
e coleta de plantas do Cerrado,
partindo de São Paulo para o
planalto central no mês de outubro desse mesmo ano. As cidades de Campinas, Franca e
Catalão ficaram para trás. Mas
as dificuldades aumentaram até
que, finalmente, foi abandonado o projeto de chegarem à capital de Goiás.
Passara-se um ano desde o
início dessa aventura. A solidão
inóspita do planalto central e
doenças que atingiram Riedel
abortaram a ambiciosa expedição. Iniciaram, então, o regresso
ao Rio de Janeiro. A alquebrada caravana, com sua tropa de
equinos, menos carregada do
que o previsto ao iniciar-se a
viagem, adentrou-se por território da então Província de Minas
Gerais, dirigindo-se a Uberaba
e daí a Paracatu para rumar em
direção a Curvelo. Desde lá, a
fatigada comitiva dirigir-se-ia a
Ouro Preto, a capital da Provín-
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O65
ILUSTRAÇÃO: AUGUSTUS EARL
RIO DE JANEIRO, Cais, Paço
Imperial e Catedral: neste local,
Lund desembarcou em 1833
1
AS PEGADAS DE LUND (1)
cia das Gerais e, pela Estrada Real,
descendo serranias, chegaria até
o Rio de Janeiro.
Essa estrada, que se estendia por
1.200 quilômetros e da qual se preservam trechos calçados e pontes
de cantaria, foi aberta no século
XVII para escoar e controlar as riquezas minerais das Gerais e, em
consequência, era a única via permitida para o transporte de mercadorias. No controle dos impostos, a
metrópole Portugal era implacável.
Em trechos estratégicos dela foram expostos membros do arauto da Independência, Tiradentes,
após seu esquartejamento. Era
essa a forma mais eficiente de
espalhar a notícia da brutal punição. A Rota dos Diamantes ia de
Diamantina a Ouro Preto. Daí bifurcava-se: até o Rio de Janeiro era
o Caminho Novo; o outro ramo, o
Caminho Velho, passava por São
João d’El Rei, Tiradentes, Passa
Quatro e finalizava em Paraty, no
Estado do Rio de Janeiro.
CRÂNIO DE TIGRE
Mas em Curvelo, a casualidade estava à espreita para mudar planos
e fazer história. Peter Claussen era
conhecido pela população como
Pedro Cláudio dinamarquês. Trabalhara para o botânico e naturalista alemão Sellow, que chegara ao
Brasil em 1814 a convite de Langsdorff, médico e cônsul da Rússia
no Rio de Janeiro, a fim de fazer
parte da expedição científica que
organizara para percorrer o país.
No Rio Grande do Sul e no Uruguai chegaram a coletar fósseis,
pelo que adquirira certa prática
e tomara consciência da importância que os museus da Europa
davam a essas peças. Sellow morreu afogado em 1831 no Rio Doce,
perto da atual cidade de Ipatinga.
Claussen permaneceu na região,
adquirindo em Curvelo uma pequena fazenda, Porteirinhas, onde
a abortada expedição botânica
acabou se hospedando. Na época,
numerosas grutas da região eram
66 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
exploradas para a obtenção de salitre, nitrato de potássio de origem
orgânica, usado como fertilizante
e na fabricação de pólvora. Claussen, além de retirar esse produto,
coletava fósseis que comercializava na Europa.
Destaca-se, entre eles, o crânio de
um tigre-de-dentes-de-sabre hoje
guardado no Museu de História
Natural de Paris e uma pequena coleção de peças depositadas no Museu Britânico em Londres. O inesperado encontro, ocorrido em 10
de outubro de 1834, com um compatriota na imensidão quase vazia
Em trechos
estratégicos da
Estrada Real
foram expostos
membros do arauto
da Independência,
Tiradentes, após seu
esquartejamento. Era
essa a forma mais
eficiente de espalhar
a notícia da brutal
punição
de habitantes do sertão mineiro,
teve imediata reação de Lund. Ao
contemplar os fósseis que Claussen
lhe mostrou, certamente afloraram
na sua memória os contatos havidos com Cuvier em Paris.
CAVERNAS DE OSSOS
Dez dias depois, a viagem prosseguiu em direção a Ouro Preto,
passando por diversas localidades. Uma delas, o Arraial de Nossa Senhora da Saúde de Lagoa
Santa. Tiveram também a oportunidade de conhecer a Serra da
Piedade, onde fizeram grande
coleta de plantas, e as minas de
ouro dirigidas por ingleses nos
arredores de Sabará.
A expedição chegou, finalmen-
te, a Ouro Preto no final de novembro. Lund permaneceu na
então capital da Província por dez
semanas, até que seu amigo Ridel
se restabeleceu e pôde prosseguir
viagem pela Estrada Real até o Rio
de Janeiro. Nesses dias de estadia
em Ouro Preto, redigiu e enviou à
Sociedade de Ciências de Copenhague uma memória sobre a vegetação dos planaltos do interior
do Brasil.
Em 9 de fevereiro retomou o caminho de volta para Curvelo, decidido a estudar as “cavernas de ossos”, como eram denominadas. As
cidades históricas de Congonhas e
Sabará foram visitadas na viagem
de retorno e, pela segunda vez, Lagoa Santa. Em Curvelo iniciaria o
trabalho na paleontologia, a nova
ciência que Cuvier fundamentara. Permaneceu como hóspede de
Claussen de março a setembro de
1835, conhecendo, então, o norueguês Andreas Brant, excelente
desenhista, que viera visitar seu
anfitrião e que se tornou seu secretário e melhor amigo.
Realizou imediatamente sua
primeira escavação, que ocorreu
no admirável marco da Gruta de
Maquiné, situada no atual município de Cordisburgo e que havia
pouco, em 1825, sido descoberta.
O resultado desse trabalho, que
demorou três meses, foi ampla e
poética memória escrita em 1836,
mas publicada na Europa em
1837, o que dá a Lund a primazia
ou paternidade na América no trabalho sistemático de três ciências.
GUIMARÃES ROSA
Pela magnífica descrição da gruta
– que mais de um século depois
seria apelidada de Mil Maravilhas
pelo escritor Guimarães Rosa, filho de Cordisburgo – completada
com minuciosa topografia, Lund é
o fundador da espeleologia americana. Ao longo dos anos registraria numerosas grutas (escreveu
que penetrou em mais de 800),
faria outras descrições, como a do
FOTO: P.A. BRANDT. NATURAL HISTORY MUSEUM OF DENMARK
LAPA DO MOSQUITO, em Curvelo (MG): o desenho de Lund está exposto no Musel de História Natural da Dinamarca
conjunto de Cerca Grande (Matozinhos), e diversas topografias.
Nessa primeira memória referida
a Maquiné narra também o achado
de instrumentos líticos e a presença de pinturas nas paredes do salão
da entrada, que interpretou como
feitos por primitivos moradores.
No mês de dezembro de 1836
escreveu uma segunda memória
sobre as cavernas, publicada também em 1837, na qual registra,
pela primeira vez na história, uma
figura com pinturas rupestres que
observara no conjunto de Cerca
Grande. E pouco depois, em 1841,
anuncia a notável descoberta de
fósseis humanos. Tudo isso permite considerá-lo o iniciador da arqueologia sistemática americana.
As numerosas pinturas rupestres observadas por Lund foram
inicialmente interpretadas por
ele como manifestações de indígenas nômades que supôs seriam
Caiapós. Ao descrever o conjun-
A expedição chegou,
finalmente, a Ouro
Preto. Lund permaneceu
na então capital da
Província por dez
semanas... Nesses dias
de estadia, redigiu e
enviou à Sociedade de
Ciências de Copenhague
uma memória sobre a
vegetação dos planaltos
do interior do Brasil
to de Cerca Grande, relata que lá
ter-se-iam fixado “...encontrando
abrigo nas grutas do imponente
rochedo. Entusiasmados pela beleza da paisagem, tentaram imitar
os objetos ali existentes, e o sopé
do rochedo se acha coberto de
desenhos, que são, na verdade,
toscos como a imaginação que os
criou; também o Rochedo dos Índios... será sempre um lugar clássico para o naturalista viajante,
em vista da extraordinária raridade de monumentos comemorativos dos selvagens do Brasil...”.
Há diversos registros de achados paleontológicos anteriores a
Lund nas Américas, como os de
Darwin na Argentina e do citado
Sellow no Uruguai. No Brasil, o
Padre Cazal, em 1817, encontrou
um grande esqueleto no Rio das
Contas (BA) que seria de mastodonte. Saint-Hilaire, nesse mesmo ano, recebeu um dente, também de mastodonte, em Minas
Novas (MG).
Spix e Martius, em 1818, recolheram fósseis numa caverna de
Montes Claros e, segundo Darwin, encontraram, nos arredores
de Formiga, ossos que seriam de
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O67
1
AS PEGADAS DE LUND (1)
uma preguiça terrícola. Já foram
referidos os achados do dinamarquês Claussen em Curvelo, na
coleta esporádica de fósseis com
a finalidade de comercializá-los.
Além desses há outros registros de
viajantes que encontraram fósseis
em cavernas de Minas Gerais antes
de Lund, como os geólogos Mawe,
britânico, em 1809, e Eschwege,
alemão, em 1816, e Pohl, médico e
geólogo austríaco, em 1817.
ARRAIAL DOS PRADOS
O mais antigo registro de fósseis
em Minas Gerais (e provavelmente
do Brasil) teria ocorrido em 1785,
no “Arraial de Prados”, próximo da
já então importante cidade de São
João d’El Rei. O governador da Capitania de Minas Gerais, Luiz da
Cunha e Meneses, Conde de Lumiares, narrava em carta que “...
no desmonte de uma lavra apareceu um esqueleto de 56 palmos
de comprido e na altura de 46 palmos... e não me parecendo desprezível uma sempre extraordinária
notícia... mandei indagar qual a
sua origem... e sua qualidade...; os
restos resíduos... tinham ficado em
grande desordem que houve quando conheceram ser ossos de algum
animal depois de três dias que... tinham andado quebrando os mesmos ossos com labancas, cuidando
que eram raízes de pau. Já mandei
ser avisado, logo que se encontrar
mais algum... com vestígios que
indiquem antiguidades por todos
os grandes socavões que continuadamente se andam fazendo pelas
lavras de toda esta capitania...”.
Os restos foram enviados a
Coimbra, juntamente com um
relatório minucioso feito pelo tenente Sardinha. São poucos os
dados descritivos contidos no
arrazoado do relator, mas por
algumas tênues pistas as peças,
identificadas como “restos antediluvianos”, poderiam ser de mastodonte. Desconhece-se o paradeiro dessas peças.
Nos Estados Unidos da Améri-
68 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
ca do Norte, Caspar Wistar, médico e anatomista, citou alguns
fósseis em seus escritos. Thomas
Jefferson, que chegou à Presidência da República, teria descoberto
ossos de uma preguiça terrícola.
Richard Harlan, médico e naturalista referiu, numa monografia de
1825 sobre a fauna americana, alguns fósseis. Mas foram achados
circunstanciais e nenhum dos citados teve dedicação continuada
à paleontologia.
Joseph Leidy (1823-1891) é considerado o pai da paleontologia
norte-americana. Em 1844, graduou-se em medicina, iniciando
em 1845 sua atividade científica,
que incluiu a paleontologia, justamente quando Lund abandonava
Lund definiu Lagoa
Santa como “um
lugar bom para
se viver”. Sua
primeira viagem de
pesquisa a partir
desta localidade
ocorreria em 1836,
de meados de abril
a meados de maio
seus trabalhos de campo. Em consequência, Lund foi o primeiro a
empreender o trabalho e o estudo sistemáticos, também nessa
área, na América. Deve, pois, ser
considerado o “pai” da arqueologia, espeleologia e paleontologia
americanas.
MUDANÇA PROFUNDA
O paleontólogo iniciante pesquisou durante sua estadia em Curvelo algumas grutas como a Lapa
do Saco Comprido e a Lapa do
Mosquito. Em 2 de setembro de
1835, encerrou sua permanência
nessa cidade, iniciando viagem
rumo a Lagoa Santa. O lento des-
locamento foi aproveitado na pesquisa de diversas grutas, ao todo
19, mas somente em duas achou
restos de animais extintos. Chegou, finalmente, a Lagoa Santa no
dia 17 de outubro.
Iniciava uma mudança profunda
de vida, escolhendo para morar a
então pequena vila de Nossa Senhora da Saúde de Lagoa Santa, que
teria sido fundada em 1773 por um
tropeiro e que consistia em poeirenta rua única, de onde se avistava a lagoa que hoje lhe empresta o
nome. Era localidade estrategicamente equidistante de numerosos
maciços calcários perfurados por
grutas. No arraial não chegavam
a 180 as casas ocupadas por cerca
de 1.500 moradores. Lund definiu a
localidade como “...um lugar bom
para se viver”. Sua primeira viagem
de pesquisa a partir de Lagoa Santa
ocorreria em 1836, de meados de
abril a meados de maio.
Empregou dez árduos anos em
trabalho sistemático de exploração, sendo o período da seca (abril
a novembro) dedicado à coleta de
fósseis nas grutas. Como já assinalado, mais de 800 foram pesquisadas por ele ou seus ajudantes.
Somente umas poucas, em volta
de 60, guardavam os fósseis que
Lund tanto procurava, dos quais
somente a metade tinha real importância científica. Trabalho
hercúleo pelas dificuldades logísticas enfrentadas: deslocamentos
distantes com tropas de equinos,
abertura de caminhos em vegetação cerrada, transporte de ferramentas e alimentação, iluminação
com lampiões e tochas... O
CONFIRA na próxima edição:
"Uma picada de aranha e o embate de
uma nova biologia na Europa".
Apoio cultural:
1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL
SALA VERDE: as paredes
são árvores e as aulas
tratam de rios e plantas
APRENDENDO NA
FLORESTA
Instituição educacional de Nova Lima (MG) mostra que é
possível aliar teoria e prática de forma integrada à natureza
Cristiane Mendonça
[email protected]
A
fumaça do fogão a lenha
sobe vagarosa, enquanto
na horta o sol forte ilumina as ervas. A cigarra canta pedindo chuva quando, de repente,
um esquilo sobe em uma árvore
para buscar alimento. As crianças
e adolescentes estão espalhadas:
algumas na sala tocando flauta,
enquanto outras, sentadas em círculo no meio da mata, debatem as
últimas notícias.
Se você acha que estou descrevendo um ambiente rural, errou.
Na verdade, esse é o cotidiano de
70 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
uma escola diferente que a Ecológico visitou em Nova Lima, Região Metropolitana de BH: o Instituto Educacional Ouro Verde.
Localizada no bairro Ouro Velho,
a instituição tem princípios que
se baseiam na Pedagogia Waldorf
– que busca integrar de maneira
holística o desenvolvimento físico, espiritual, intelectual e artístico dos alunos.
O ambiente da escola encanta
à primeira vista. Situado em uma
casa branca rodeada por uma Área
de Proteção Ambiental (APA), o
espaço atende atualmente 130
alunos dos ensinos infantil e fundamental. E só nos remete à ideia
de uma escola tradicional quando
cruzamos com as crianças e adolescentes e ouvimos de uma delas
algo sobre uma lição que será feita em alemão. Ou ainda, quando
durante o recreio os meninos disputam uma partida de futebol. No
resto, tudo destoa dos prédios de
muros altos e das estruturas iguais
das escolas que comumente encontramos pela vida.
O Instituto Educacional Ouro
FOTOS: SANAKAN
OS CONTEÚDOS das disciplinas são dados de forma interdisciplinar e trabalham o mesmo tema em diferentes aspectos
Verde é uma associação sem fins
lucrativos, criada por um grupo de
pessoas que inclui pais na busca
de um ensino mais integrado para
os filhos. A escola foi fundada há
dois anos e não apenas segue o
modelo pedagógico desenvolvido pelo filósofo austríaco Rudolf
Steiner. Também se orienta pelos
princípios da gestão participativa
dos pais e da chamada “escola verde”, cujos conceitos de agricultura, resíduos e alimentação seguem
uma lógica sustentável.
Em pouco mais de oito mil metros quadrados, os estudantes
aprendem disciplinas tradicionais, como matemática, português e física, conforme diretrizes
do Ministério da Educação (MEC),
intercaladas de forma interdisciplinar a aulas de marcenaria, modelagem, astronomia e agricultura biodinâmica, entre outras.
AULA DE PLANTAR
O professor de agricultura, Gustavo Passos, é quem ministra as
aulas sobre como produzir hortas
seguindo os preceitos da agrofloresta, que agrega as culturas agrícolas às florestais. Nelas, os jovens
literalmente colocam a mão na
terra para plantar, adubar, colher
e até mesmo fazer compostagem.
Reunido no meio da mata com os
estudantes, ele não apenas “os ensina a cuidar das plantas, mas pesquisar sobre os nomes das bacias
hidrográficas e córregos que os rodeiam”. Mais. Instrui todos a plantar levando em consideração um
hábito ancestral: respeitar as fases
da lua e as constelações. Por meio
dessa vivência, os alunos produzem, na sequência, relatórios com
observações sobre a influência
dos astros no cultivo das espécies.
DA ESCOLA PARA A MESA
Outra atividade que conquistou
os estudantes do Instituto Educacional Ouro Verde é a oportunidade de levar o alimento que eles
mesmos plantaram na horta da
escola para ser preparado lá. Um
bom exemplo é o trigo, que recentemente foi colhido e encaminhado para a cozinha para que os
próprios alunos pudessem fazer
massas e pães.
Esta prática está diretamente
ligada ao projeto de reeducação
alimentar que a escola chama de
“ecologia da boca para dentro”,
que visa conscientizar os alunos
sobre os benefícios de uma ali-
IZABEL Stewart: “No instituto
nós pregamos que nosso corpo é
nosso primeiro planeta!”
mentação saudável. Para se ter
uma ideia, no cardápio não entra carne vermelha, mas apenas
frango caipira, um dia, durante
a semana.
Izabel Stewart, diretora de Meio
Ambiente da escola, conta que o
instituto busca constantemente
fazer uma reflexão sobre o que se
come. “Servimos arroz integral e,
de repente, um aluno chega contando que o intestino dele está
funcionando melhor. Isso reflete
o que nós pregamos aqui: de que
seu corpo é o seu primeiro planeta!”, resume.
A presença dos pais no ambiente escolar também é recorrente. Existem oficinas artesanais
feitas exclusivamente para eles,
incluindo feirinhas, onde as peças produzidas são vendidas. Izabel, que também é mãe de duas
alunas do instituto, conta que a
presença dos pais se dá em conselhos participativos que discutem e determinam temas ligados
à escola, além de contarem com
o apoio deles em outras atividades. “Estamos construindo uma
nova sala e os pais de um aluno
que são arquitetos colaboraram
com o projeto”, afirma ela, apontando um exemplo prático de
gestão participativa e sustentável
que está consolidando uma nova
forma de educar.
PEDAGOGIA WALDORF
O plano pedagógico anual do
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O71
FOTOS: SANAKAN
1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A presença dos
pais no ambiente
escolar também é
recorrente. Existem
oficinas artesanais
feitas exclusivamente
para eles, incluindo
feirinhas, onde as
peças produzidas
são vendidas
MODELAGEM: aula artesanal conta com a participação de alunos e pais
Instituto Educacional Ouro Verde é elaborado no início de cada
ano letivo. Um assunto pode ser
trabalhado em sala de aula durante três ou quatro semanas, de
acordo com o desenvolvimento
de cada turma. Se o tema é Idade
Média, por exemplo, esse conteúdo será amplificado em todas as
matérias, de forma a ser moldado ao perfil de cada uma delas. A
Pedagogia Waldorf prevê que um
mesmo professor acompanhe a
turma do primeiro até o oitavo
ano. Ele ministrará exclusivamente os conteúdos até a quinta
série. Do sexto ano em diante, o
professor poderá contar com o
apoio de novos professores para
ministrar os demais conteúdos.
As avaliações e reprovações
também são trabalhadas de forma diferenciada. Segundo a diretora pedagógica, Eliza Alves, no
modelo Waldorf as avaliações são
continuadas. “Ao contrário das
instituições tradicionais, a nossa
avaliação é feita quase que diariamente. A partir do momento
que é dada a aula principal, fazemos uma recapitulação dos conteúdos ministrados no dia anterior. Isso funciona como uma
sondagem. A todo o momento o
professor convida o aluno a participar do conteúdo que ele está
ministrando. Dessa forma, acre72 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
ditamos que a construção da avaliação é feita desde a oralidade
até o momento em que ele tem
um trabalho de ditado, de redação, uma cópia de texto.”
A diretora também diz que os
pais recebem boletins descritivos semestralmente até o quinto
ano. E, trimestralmente, a partir
do sexto ano - onde se registra
todo o conteúdo dado e quais foram os avanços e deficiências do
aluno em cada tema trabalhado.
Dessa forma, Eliza explica que
não existe o termo reprovação.
“Como nós vamos destacando o
que cada aluno alcança e não alcança, ele vai tendo um registro
que fica para o instituto e para
a Secretaria de Educação sobre
suas conquistas. Para nós, isso
não faz do aluno melhor ou pior
LUCAS Gallo sonha em ser
biólogo e contribuir para um
mundo melhor
que o outro. É um reconhecimento de aptidões”, conclui.
Esta forma de aprendizagem
vem deixando os alunos satisfeitos. Lucas Schneider Gallo, de 13
anos, é estudante do sexto ano e
conta que sempre estudou em escolas tradicionais, mas que, este
ano, optou por frequentar o Instituto Educacional Ouro Verde.
Quando perguntado sobre a principal diferença entre a antiga escola e a nova, ele respondeu rápido: “Senti muita diferença no jeito
de os professores darem as aulas.
Onde eu estudava, o professor
apenas repassava a matéria e saía.
Aqui, sinto que os professores são
mais envolvidos com o aluno, o
que deixa a aula mais interessante! Temos também mais liberdade
para dar opinião. Não é só sentar e
ouvir”, afirma. Lucas, que integra
a Comissão de Meio Ambiente da
escola, quer ser biólogo quando
crescer. Também disse que quis
estudar no instituto por “gostar
da paisagem e da natureza, além
de querer contribuir mais com o
meio ambiente”. E completou: “A
gente vê tanta gente desmatando.
O ser humano não precisa disso,
ele pode viver com pouco, sem
precisar destruir tudo!”. O
SAIBA MAIS
www.institutoouroverde.com.br
Nº 37
1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS -DESERTIFICAÇÃO
UMA AMEAÇA
SILENCIOSA
Causada por fatores que envolvem variações climáticas e atividades humanas, a
desertificação tem repercussões social, econômica e ambiental. Boas práticas de uso e
conservação do solo são saídas para interromper e reverter o processo de degradação
Luciana Morais
[email protected]
D
efinida como um processo
cumulativo de degradação
ambiental passível de ocorrer nas zonas de clima seco de todo
o mundo, a desertificação é causada por diversos fatores que envolvem variações climáticas e atividades humanas. E requer ações de
mitigação urgentes.
No Brasil, segundo dados do
Ministério do Meio Ambiente (MMA), são 1.488 municípios
suscetíveis a esse fenômeno, que
necessitam de boas práticas para
interromper e reverter o processo
de degradação. O Semiárido brasileiro, com quase um milhão de
quilômetros quadrados, é a região
com mais áreas afetadas – particularmente nos estados do Nordeste –, além de alguns núcleos
em Minas Gerais.
A desertificação ameaça a segurança alimentar, pois reduz continuamente a superfície das terras agricultáveis e o rendimento
das colheitas, fazendo com que
moradores do campo se mudem
para novos territórios em busca de
74 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
melhor qualidade de vida. Afeta,
portanto, as condições ambientais, econômicas e sociais de uma
região ou país, comprometendo a
produtividade do solo, os serviços
ambientais (como a produção de
água e a conservação das paisagens), interferindo no equilíbrio
de toda a biodiversidade.
Estudos feitos pelo MMA indicam que as áreas suscetíveis à
desertificação englobam 16% do
território brasileiro e 27% do total
de municípios, envolvendo mais
de 31 milhões de habitantes, exatamente no polígono em que se
concentra 85% da população mais
carente do país. Atualmente, estima-se que uma área maior que a
do estado do Ceará já tenha sido
atingida pela desertificação de forma grave ou muito grave.
São seis os Núcleos de Desertificação do Semiárido onde o processo de deterioração dos solos
se encontra em estágio avançado:
Seridó (PB e RN), Cariris Velhos
(PB), Inhamuns (CE), Gilbués (PI),
Sertão Central (PE) e Sertão do
São Francisco (BA), correspondendo a 200 mil km2.
OS GRANDES VILÕES
O desmatamento é uma das práticas que contribuem para a degradação de terras e a desertificação.
Em especial na Caatinga, expondo
os solos ao sol, à água e ao vento, favorecendo assim a erosão. A
agropecuária sem manejo adequado dos solos é outra causa de estragos, abrindo espaço para a erosão, que leva ao empobrecimento
do solo e, consequentemente, ao
maior escoamento superficial e ao
assoreamento dos cursos d’água.
A criação de gado (pecuária)
também é vilã. O pisoteio contínuo
de animais compacta o solo e dificulta a regeneração da vegetação. A
todos esses fatores, soma-se ainda
o manejo inadequado dos sistemas
de irrigação, que podem levar à salinização dos solos. As áreas brasileiras suscetíveis à desertificação
caracterizam-se por longos períodos secos, seguidos por outros de
intensas chuvas. Em MG, elas com-
FOTOS: REPRODUÇÃO
FOTO: YURI KUIDIN
DESERTIFICAÇÃO:
é um processo de
degradação que resulta
da ação humana e das
mudanças climáticas.
DESERTO:
ecossistema natural
que ocorre em zonas
áridas do planeta.
MITIGAÇÃO: medidas tomadas para reduzir
causas ou consequências de um desastre ou de
uma situação a um nível mínimo aceitável de
riscos ou de danos.
prreendem mais de 50 cidades localizadas no Vale do Jequitinhonha e
no Norte do estado.
A baix
ixa fertilidad
de natural dos
solos e a topografia acidentada
da
que ca
ara
ract
cte
eriz
izam
am boa par
arte
te do Je
Jequitinhonha e do Norte de Mina
as
reduzem ainda mais a cap
a accid
i ade
de suporte
e das
a pasta
agens e aumentam a oco
corrência de erosão.
Extensas florestas plan
nta
tada
d s co
com
eucalipto e a produção de so
oja em
regiime de mo
mono
nocu
cult
ltu
ura ta
também
deg
de
gradam
a inúmeros terrenos, assim como o garimpo rud
udim
men
enta
tarr
de our
uro
o e de dia
iama
mant
nte e a exploraçã
ão de ardósia e de quartzo.
EROSÃO: desgaste
progressivo do solo
decorrente do arraste
de partículas que o
compõem. De modo
geral, é provocada pela
ação da água, do vento,
do homem ou dos
animais.
RECUPERAÇÃO
E GERENCIAMENTO
Com sede em Campina Grande,
na Paraíba, o Instituto Nacional
do Semiárido (Insa), criado em
2004, desenvolve uma série de
estudos sobre a dinâmica do processo de desertificação, contemplando diferentes aspectos. Entre
eles, destacam-se as estratégias
de recuperação e gerenciamento
das áreas afetadas.
Um dos programas desenvolvidos pelo Insa, órgão vinculado ao
Ministério da Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI), é voltado para
o monitoramento sistemático da
SALINIZAÇÃO DOS
SOLOS: processo
resultante do
manejo inadequado
da irrigação e da
drenagem em regiões
áridas e semiáridas.
Afeta a germinação, o
desenvolvimento e a
produtividade
das lavouras.
desertificação e se fundamenta em dois focos. O primeiro é o
estabelecimento de uma linha de
investigação de base científica
consistente e rigorosa sobre a situação dos processos de desertificação no semiárido.
Já o segundo visa à geração de
informações consistentes, sistematizadas e acessíveis a diferentes
públicos-alvo, favorecendo a criação de políticas públicas adequadas e a elaboração de modelos de
utilização que promovam a conservação e a sustentabilidade dos
recursos naturais em toda a região
semiárida brasileira.
2
MARÇO
M
MA
MAR
ARÇ
AR
ÇO
O DE
DE 2016
20
201
2
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16
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ECOLÓGICO
COL
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LÓGICO
LÓ
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G
CO O75
75
1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS -DESERTIFICAÇÃO
ACORDO INTERNACIONAL
Instituída na França em 17 de junho de
1994, a Convenção das Nações Unidas
para o Combate à Desertificação
(UNCCD, na sigla em inglês) é um
acordo internacional que vincula
juridicamente o meio ambiente e o
desenvolvimento à gestão sustentável
dos solos. Em vigor desde 1996, ela
foi ratificada pelo Brasil por meio do
Decreto Legislativo nº 28, de 13 de
junho de 1997. Ela é um importante
resultado da implementação da
Agenda 21 e trata especificamente das
zonas áridas, semiáridas e subúmidas
secas, onde podem ser encontrados
alguns dos ecossistemas mais
vulneráveis. Já o “Programa de Ação
Nacional de Combate à Desertificação
(PAN-Brasil)”, de 2005, visa identificar
os fatores que contribuem para
a desertificação e as medidas de
ordem prática necessárias tanto ao
seu combate quanto à mitigação dos
efeitos da seca.
FIQUE POR DENTRO
O O Semiárido brasileiro se
estende por oito estados do
Nordeste – Alagoas, Bahia, Ceará,
Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio
Grande do Norte e Sergipe – e pelo
norte de Minas Gerais.
O As regiões semiáridas
representam quase 1/3 da
superfície do planeta. Abrigam
mais de um bilhão de pessoas e
são responsáveis por quase 22% da
produção mundial de alimentos.
O São áreas importantes pela
extensão de terras, pelo contingente
populacional e potencial
econômico, bem como pelos
desequilíbrios que podem provocar
no clima e na biodiversidade,
quando mal manejadas.
O Apesar do grande potencial
produtivo dessas regiões, uma série
de fatores históricos e estruturais
vem condicionando os padrões de
organização social e exploração dos
recursos naturais ali encontrados,
provocando perdas econômicas
e ambientais significativas,
destruindo a produtividade da
terra e contribuindo para o
aumento da pobreza.
76 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
FOTO: DIVULGAÇÃO
TRÊS PERGUNTAS PARA...
ALEXANDRE PEREIRA DE BAKKER
Pesquisador titular III do Instituto Nacional do Semiárido (Insa/MCTI)
MANEJO SUSTENTÁVEL DA TERRA
Quais foram, em termos de pesquisas e de ações práticas,
os principais resultados alcançados pelo Insa em 2015?
Destacaria a participação na UNCCD e a abertura de uma
representação da Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO), o escritório do Nordeste, dentro do Insa. Acredito ser este um grande passo
para que o instituto desenvolva mais ações de pesquisa
e sobretudo de extensão na área de desertificação, que é
de extrema importância para o Semiárido brasileiro. Em
2015, a FAO celebrou o “Ano Internacional dos Solos” e o
Insa promoveu diversas ações em torno desse tema, por
meio de parceria com o Ministério do Meio Ambiente
(MMA) e a própria FAO. Um exemplo foi o “Dia Nacional da Caatinga”, que em 2015 foi focado em discussões
ligadas à conservação e ao uso sustentável dos solos.
O Insa desenvolve iniciativas ou projetos voltados
para jovens, no sentido de evitar o êxodo rural em
razão da desertificação?
A principal missão do Insa é promover a convivência sustentável com o Semiárido brasileiro. Nesse sentido, busca
promover de forma direta a permanência de homens e
mulheres em seus territórios. Mais que isso, considera
fundamental permitir o acesso à educação contextualizada à realidade do Semiárido, bem como o acesso a
políticas que propiciem melhores condições de vida à
população. Sob esse ponto de vista, todas as nossas iniciativas visam contribuir para evitar o êxodo rural. Os
jovens também têm sido foco das ações. De 28 a 31 de
janeiro passado, promovemos o “Encontro de Jovens Rurais do Semiárido Brasileiro”, em parceria com o governo
da Paraíba, por meio do “Projeto de Desenvolvimento
Sustentável do Cariri, Seridó e Curimataú” (Procase),
e com o Fundo Internacional para o Desenvolvimento
da Agricultura (Fida). Nosso objetivo central é fortalecer
as pautas das juventudes do Semiárido nos espaços de
participação e no processo de construção das políticas
de desenvolvimento territorial. Além de contribuir com
subsídios e diretrizes para o Plano Nacional de Juventude
e o Plano de Sucessão Rural.
O senhor considera que há esforços suficientes por
parte dos estados e prefeituras no combate e/ou
controle da desertificação?
Existem esforços variados por parte dos governos e da
sociedade civil. O Insa, em parceria com o MMA, tem
atuado no âmbito da Comissão Nacional de Combate
à Desertificação (CNCD) para apoiar projetos em prol
da conservação e sustentabilidade dos solos, além
de mobilizar a população para a importância das
boas práticas e do manejo sustentável de terras para
a segurança hídrica, alimentar e energética. Cursos
de capacitação técnica voltados para pesquisadores,
técnicos agrícolas, líderes comunitários e agricultores
são fundamentais para promover a conservação e o uso
sustentável dos solos. No entanto, ainda observo que
falta sensibilização dos gestores públicos, em sua grande
maioria, sobre esse assunto de grande importância para
o homem do semiárido. Há que se ter mais ações. Urge
que nesta região e no país como um todo haja ações
efetivas para se implantar um sistema educacional de
boa qualidade, com escolas em tempo integral, nas quais
as crianças aprendam desde cidadania à conservação
dos recursos naturais, nacionais e territoriais. O
Não podemos mudar o passado, mas podemos
iniciar um novo futuro. E ele começa pela educação.
Junte-se a nós!
Nós apoiamos essa ideia!
O77
MARÇO
MAR
RÇO DE 2016 | ECOLÓGICO
Ó
1
NATUREZA MEDICINAL
MARCOS GUIÃO (*)
[email protected]
O AFAMADO ARATICUM
D
FOTO: MARCOS GUIÃO
ia desses estava encarapitado no derredor de
um braseiro, assoprando um enorme fole no
intento de amolecer um feixe de mola de caminhão. A ideia era fazer daquilo um facão e a lâmina
em brasa esticada, por riba da bigorna, recebia severas marretadas do Tião, mestre nessas artes aqui do
sertão. Homem sério, dotado de muitas habilidades,
ele aos poucos foi dando forma à ferramenta.
O trem tava inté dando certo, quando João Barriga adentrou na oficina. Seu rosto estava vermelho qual o fogo da forja. E um dos pés descalços se
apresentava igual uma pipa, de tão inchado. A cada
passo, ele soltava uma praga e fazia uma careta,
dando maior visibilidade ao seu sofrimento. Ele foi
ARATICUM
(Anonna crassifolia)
78 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
me vendo e dizendo: “É essa danada da gota! Num
tô me aguentando em pé. Passei essa noite em claro
esperando amanhecer pra buscar recurso e dar fim
nesse sofrimento. Pois chego na farmácia e num tem
o remédio... Maria, valei-me!”
Fiquei observando sua expressão injetada pelos
olhos vermelhos da insônia e me alembrei que a Gota
é uma doença que aparece derivada do excesso de ácido úrico circulando no sangue, fazendo com que cristais de sódio se depositem nos tecidos e articulações,
gerando dor e inflamação que acompanha os “gotosos”. Tem uma planta afamada nas tratativas de casos
como o do João, que é o araticum (Anonna crassifolia).
Típica de nosso Cerrado, nessa época do ano esparrama seus frutos de paladar arenoso, cheiro adocicado
(e até enjoativo) nas feiras sertanejas.
Foi só o tempo de falar sobre essa possibilidade que
ele logo se interessou. E foi se apoiando em meu braço enquanto dizia: “Por misericórdia, você sabe donde arranjo desse remédio aí? Num tô me aguentando
de dor”. Maldade demais deixar um amigo em sofrimento! Prontamente me dispus a buscar um bocado da entrecasca da árvore, pois sabia de um pé dele
beirando a cerca da casa de Mariinha de Antônio.
Fui num pé e voltei noutro - gastei tiquim de tempo.
Trouxe uns galhos e rapidamente raspei a parte morta da casca, se dei na entrecasca e bati forte com um
porrete, até que ele deu de soltar grandes lascas, que
fui picando em pedaços menores.
A água já tava no fogo e joguei um punhado equivalente a pouco mais que uma colher de sopa das cascas, deixei ferver e esperamos até dar ponto de tomar.
Num demorou um “tim” e ele já havia tomado todo o
chá em grandes goles enquanto conversávamos. Aos
poucos foi se acalmando e acabei por levá-lo em casa
para evitar o sofrimento da caminhada. Poucos dias
depois nos esbarramos na rua e ele fez festa agradecendo “santo remédio, que jogou água na fervura”. O
facão até hoje ainda não tá pronto, mas o remédio do
João Barriga até já deu resultado.
Inté a próxima lua! O
(*) Jornalista e consultor
em plantas medicinais.
1 VOCÊ SABIA?
Flora aquática
Cristiane Mendonça
[email protected]
N
o mês em que se celebra o “Dia Mundial
da Água”, a Ecológico faz uma viagem pelo
universo das plantas aquáticas, tipos de
vegetação que adornam lagoas e rios e colaboram
para o equilíbrio dos ecossistemas. E que, devido
à ação humana, podem se tornar um sinal de
desequilíbrio ambiental e contaminar corpos
hídricos. Ficou curioso? Então saiba mais, a
seguir, sobre as plantas que podem desempenhar
o papel de mocinhas e vilãs da natureza:
QUEM SÃO ELAS?
FLOR-DE-LÓTUS
Uma das plantas aquáticas mais conhecidass no
mundo é a flor-de-lótus (Nelumbo nucifera).. Seu
hábitat natural são os pântanos, onde ela cresce
esce se
nutrindo das águas permeadas por lodo e lama.
ma.
Mas, ainda que “sua morada” possa parecerr um
ambiente inóspito, a flor-de-lótus cresce bela
la e
imponente. Outra curiosidade interessante sobre
esta espécie é que todas as noites sua flor se
e fecha
e ela submerge, voltando apenas no dia
seguinte, tão bonita quanto no dia anterior.
Tudo porque ela possui micro-organismos que
repelem a sujeira. Características que fizeram
am da
flor um símbolo, principalmente, das religiões
es orientais,
que veem na espécie uma metáfora do progresso
resso da
condição humana ao superar as adversidades.
es.
80 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
FOTO: SIXTYBOLTS
FOTO: DOLLARPHOTOCLUB
Plantas aquáticas são vegetações
adaptadas ao meio hídrico e
classificadas pelos pesquisadores
como macrófitas (macro =
grande, fita = planta). Pelo fato de
constituírem um grupo amplo de
variações, essas plantas recebem
sete diferentes classificações
conforme seu modo de vida,
que podem designar vegetais
que habitam desde brejos até
ambientes totalmente submersos.
Esse grupo inclui desde macroalgas
até plantas com folhas que podem
atingir 2,5 m de diâmetro e suportar
até 40 kg bem distribuídos, como a
vitória-régia (Victoria amazonica).
BELEZA INTERIOR
FOTO: STAN SHEBS
Não tão bela como a flor-de-lótus, porém bem mais
comum em terras brasileiras, é a taboa (Typha
Domingensis). A planta é perene. Possui uma espiga
marrom e seu caule cilíndrico pode atingir até três
metros de altura. Seu crescimento desordenado pode
representar risco de desequilíbrio, já que é capaz de
abafar outras plantas e reduzir as áreas abertas de
espelhos d’água. Ainda assim, é um vegetal que tem
grande capacidade de absorver metais pesados, podendo
servir para limpeza de águas contaminadas. Sua fibra
é durável e resistente, sendo utilizada como matériaprima no artesanato de bolsas, caixas e até móveis.
SALVE O BURITI!
FOTO: HANS HILLEWAERT
O buriti (Mauritia flexuosa),
reverenciado nas obras do escritor
mineiro Guimarães Rosa, é também
classificado como uma planta
aquática. A palmeira, comum no
Cerrado, cresce apenas em regiões
úmidas
- as veredas - e sua presença
ú
indica que a água é de boa qualidade.
Infelizmente, a palmeira está incluída na lista de
espécies ameaçadas de extinção, já que seu hábitat
vem sofrendo com a crise hídrica e a expansão
desordenada da agricultura. Mesmo ameaçado, do
buriti tudo se aproveita: seus frutos são utilizados na
culinária e na obtenção de óleos, tanto para indústria
de cosméticos quanto na medicina natural, além do
uso da madeira para construção de móveis.
INDICADORES BIOLÓGICOS
Sabe aqueles rios cujas águas parecem estar
literalmente verdes? Ou ainda outros completamente
cobertos por aguapés (Eichhornia crassipes)? Esse
fenômeno é chamado de “eutrofização”. Trata-se de
um processo de multiplicação de plantas, comum em
corpos d'água sem tanta movimentação, como lagos
e represas. Quando as plantas aquáticas crescem de
forma desordenada, elas indicam dois problemas:
o primeiro é que a quantidade de nutrientes como
nitrogênio e fósforo, comuns em esgotos domésticos,
estão altas. O segundo é que ao formar uma cortina
verde sobre a superfície, elas impedem a passagem
de luz e a realização da fotossíntese. Assim, o nível de
oxigênio diminui, causando a morte da biodiversidade
aquática, como os peixes. Péssimo sinal!
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O81
1 ENSAIO FOTOGRÁFICO - JOSÉ ISRAEL ABRANTES
GRANDE SERTÃO:
BRASIL
Premiado fotógrafo registra a beleza dos sertões brasileiros
com textos-poemas de Olavo Romano e Geraldo Amâncio
LAJEDO de Pai Mateus,
Cabaceiras (PB)
82 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
U
chel de Queiroz; “Auto da Compadecida”, de Ariano
Suassuna; “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de
Melo Neto; e “Fogo Morto”, de José Lins do Rego. Foi
no rastro desses cenários inspiradores que José Israel Abrantes empreendeu a sua jornada fotográfica.
Com a experiência de mais de três décadas vasculhando o Brasil, ele mirou a sua lente com sensibilidade e precisão, nos entregando um livro memorável.
SAIBA MAIS
(31) 99941-5152
[email protected]
(31) 3225-1888
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O83
FOTOS: JOSÉ ISRAEL ABRANTES
ma viagem pelo Brasil profundo dos grotões
distantes das grandes cidades. Esta é a proposta da obra "Sertões do Brasil", do fotógrafo José
Israel Abrantes. Resultado de cinco anos de pesquisas e
viagens pelo interior dos estados de Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Ceará e Alagoas, o livro faz um percurso de rara beleza pelos magníficos sertões do país.
A obra é uma realização da Conceito Editorial, em
edição bilíngüe (português/inglês), com patrocínio
da Pottencial Seguradora, via Lei de Incentivo à Cultura/Ministério da Cultura.
Em 184 páginas e mais de 100 fotografias, selecionadas especialmente para este projeto, encontramos a natureza agreste, os homens na lida do
gado, os mestres do artesanato, as festas populares
e as manifestações da fé. São imagens carregadas de
força e simbolismo. Nos registros da vida cotidiana
ou nos detalhes que saltam das caatingas, cavernas,
rios e cerrados, o que se exprime é um Brasil profundo, pouco conhecido, mas exuberante.
Três fotos do livro foram selecionadas recentemente no concurso Itaú BBA e no 11º Prêmio New
Holland de Fotojornalismo.
“Sertão é lonjura onde a terra azula, a vista mal
alcança e vivente desiste de seguir adiante”, escreve
Olavo Romano. O livro viaja por esse território mítico que já inspirou grandes clássicos da literatura
brasileira, como “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa; “Memorial de Maria Moura”, de Ra-
FOTOS: JOSÉ ISRAEL ABRANTES
1 ENSAIO FOTOGRÁFICO - JOSÉ ISRAEL ABRANTES
PARQUE Nacional da
Serra da Capivara, São
Raimundo Nonato (PI)
SACA de Lã,
Cabaceiras (PB)
VEREDAS do
Rio Pandeiros,
Januária (MG)
QUEM É
ELE
Graduado em Comunicação Visual pela
Universidade Mineira de Arte, José
Israel Abrantes começou a publicar
seus trabalhos em 1980. A partir de
1982, passou a atuar no mercado
publicitário como fotógrafo e editor
de fotografia. Entre seus principais
trabalhos autorais estão os livros "São
Francisco Rio Abaixo" (2006), vencedor
do "Prêmio ABIGRAF" do mesmo
ano, "Retratos de Minas" (2007) e
"Tesouros de Minas" (2014). Suas fotos
integraram ainda o livro “Caminhos de
Ouro e a Estrada Real”, vencedor do
"Prêmio Jabuti" de 2006.
IPÊ-AMARELO,
Parque Nacional Grande
Sertões Veredas
IGREJA Senhor do Bonfim,
Piranhas (AL)
1
M E M Ó R I A I LU M I N A DA - A I LTO N K R E N A K
FOTO: VINÍCIUS CARVALHO
KRENAK: "O nosso território
é o 'Atu', o rio que vocês
chamam de Doce"
86 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
O "CABEÇA" DA
TERRA
Principal líder do movimento indígena dos anos 1970 recebe o
título de “Professor Honoris Causa” pela Universidade Federal
de Juiz de Fora e tem sua história de luta rememorada
Luciano Lopes
[email protected]
Q
ualquer pessoa que estudar
mais a fundo a vida e a obra
do brasileiro-índio Ailton
Krenak irá entender literal e verdadeiramente o sentido da palavra
“líder”. Verá que liderar é um verbo
que só faz sentido de ser conjugado
se for para ajudar e unir os seres humanos. E, mais importante, tornar
o mundo um lugar melhor – mais
justo e igualitário – para se viver.
Não há como separar a vida de
Ailton Krenak do movimento indígena brasileiro. Ele nasceu em
1953, no Vale do Rio Doce. Aos 17
anos, mudou-se com a família para
o Paraná, onde se alfabetizou e se
tornou jornalista e produtor gráfico. A invasão e a destruição das terras indígenas pelo “povo branco”
levou Krenak a se tornar um ativista de destaque a partir dos anos
1970, encabeçando a luta para que
a Constituição brasileira contemplasse os direitos dos índios em sua
totalidade. O discurso de Krenak
no Congresso Nacional, em 1987, é
histórico e também está registrado
no livro (leia mais no box).
“Queríamos ser respeitados na
nossa identidade. Que o índio
continuasse a ser índio”, disse ele
durante o lançamento do livro da
série “Encontros” (Azougue Editorial), na capital mineira, que reúne
entrevistas concedidas à imprensa entre 1984 e 2013. “A sociedade
achava que tínhamos de evoluir
quase que biologicamente para ter
direitos humanos. Percebi isso e
comecei a ‘espernear’.”
Mesmo com as conquistas da
Constituição Federal de 1988, a luta
de Krenak não havia terminado: a
repressão ao índio e as ameaças ao
povo e ao território continuaram.
Nas décadas seguintes, atuou, com
a participação de representantes
de outras tribos, na criação de ins-
tituições para lutar pelos direitos
e garantir melhores condições de
vida para os indígenas, como a ONG
Núcleo de Cultura Indígena, que ele
mesmo fundou. E, ainda, o Centro
de Pesquisa Indígena e a Embaixada dos Povos da Floresta, centro cultural localizado na capital paulista
que reúne povos indígenas e extrativistas da Amazônia com a proposta de divulgar a cultura e o conhecimento dos povos tradicionais.
O trabalho de Krenak foi reconhecido no país e fora dele em
várias ocasiões: em 1989, recebeu
o “Prêmio de Direitos Humanos
Letelier-Moffitt", nos Estados
Unidos. E, na Grécia, foi homenageado pela Fundação Aristóteles
Onassis com o “Prêmio Homem
e Sociedade”. Recentemente, ele
também foi condecorado com o
título de “Professor Honoris Causa em Sabedoria Indígena” pela
Universidade Federal de Juiz de
Fora (UFJF).
Confira, a seguir, alguns dos
seus principais pensamentos deste grande líder indígena:
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O87
M E M Ó R I A I LU M I N A DA - A I LTO N K R E N A K
O ETNIA KRENAK
“Na nossa língua, ‘kren’, é cabeça.
‘Nak’ é terra. O nome do meu povo
é ‘cabeça da terra’. Estávamos aqui
antes de ganharmos o apelido de
‘índio’. A nossa autoidentificação
é que somos ‘burum’, gente. Como
quem sempre escreveu a história
foram os portugueses, eles diziam
que tinham encontrado índios.
Mas somos gente mesmo.”
“Esse nome – krenak – é o nome
da minha tribo, de onde eu venho.
E o nosso território é o Atu, aquele
rio que, nos mapas, vocês conhecem
como Rio Doce. Esse povo vive em
uma região de Minas Gerais, que é o
Médio Rio Doce e que chamamos de
Uatu. Quando começaram a explorar essa região, passaram a chamá-la de Vale do Aço.”
“Não somos sedentários. Mesmo
o Estado tendo criado uma reserva
para nós, nós circulamos por outros
lugares. Uma das nossas fontes de
conflito com os nossos vizinhos – os
brancos –, foi exatamente porque
eles queriam que ficássemos confinados dentro da reserva.”
“Tanto os krenak quanto os maxacali, nas décadas de 1940, 1950 e
1960, foram retirados de seus territórios de origem e despejados em territórios distantes, pelo governo, como
política de dissolução da família
indígena. Fizeram isso intencionalmente, para os índios acabarem.”
O SER BRASILEIRO
“O Brasil diz que é formado por índios, negros e brancos. Mas a vida
inteira ele tenta apagar da ‘foto’
os dois parentes que não são os
brancos. Então, que família mais
perversa é essa? Brasileiros somos
todos, inclusive os índios.”
OLUTA CONSTITUCIONAL
“Estávamos definidos pelo Código
Civil Brasileiro e pelas Constituições anteriores como relativamente capazes do ponto de vista jurídico. E essa situação de capacidade
relativa jurídica é que nos colocava numa situação que não era
88 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
FOTOS: VINÍCIUS CARVALHO
1
"Mais de 250
indígenas foram
assassinados nos dez
primeiros anos do
governo Lula/Dilma."
vantajosa, assim como as mulheres
e os doentes mentais.”
“Teve uma época em que o jornalista Hiram Firmino teve que
‘apanhar’ para que tirassem as
algemas daqueles que eram considerados doidos.Uma coisa que
o Brasil fazia era achar, naquela
época, que os índios eram incapazes de brigar por si mesmos eles também prendiam qualquer
pessoa que eles achavam que era
doida. O nosso Código Civil achava que os índios, as mulheres, os
doidos deveriam ser assistidos
juridicamente. Isso denunciava
que nós, até recentemente, éramos considerados uma sociedade
atrasada, no sentido de se perceber como plural.”
“Na Constituinte de 1988, liderei
um movimento indígena que tinha vários povos, como os xavantes, ianomamis, guaranis, pataxós,
os karajás, da Ilha do Bananal, os
terenas, do Mato Grosso, os índios
do Nordeste, xucuru-pariri, quiriri, pancaradu, os caingangue, do
Sul do Brasil. Todos eles se sentiram ameaçados pela política do
estado brasileiro. E, na década de
1980, com 26 anos, já estava engajado no movimento.”
“Organizamos uma união das
nações indígenas, com todos esses
povos reunidos em um conselho de
tribos. E foi representando esse conselho que fizemos uma intervenção na Constituinte de 1988, reivindicando os direitos aos nossos
territórios, e sinalizando aos povos
que não estávamos ali temporariamente para depois virar branco.
Não temos interesse nenhum nessa
perspectiva. Queríamos ser respeitados na nossa identidade. Que o
povo indígena continue sendo índio. Que meus tataranetos possam
sentar aqui e falar ‘eu sou Krenak’,
contar a história de seus antepassados com orgulho.”
O MEIO AMBIENTE
“Se você for a uma nascente e se
abastecer de água ali, é preciso ter
certeza que, passadas cinco, seis
gerações, a sétima também poderá
ir àquele lugar e beber água com a
mesma qualidade.”
“A natureza não é uma fonte
inesgotável de recursos naturais.”
“Se perguntarmos para alguém
o que é meio ambiente, cada um
vai falar uma coisa. Quando o
Brasil foi deixando de ser um país
de economia agrícola e começou
a acabar com nossas nascentes e
percebeu que as florestas estavam
sendo desmatadas – e, mais recen-
temente, começou a ver a crise de
abastecimento de água e agravamento do clima - é que se percebeu
que existia uma coisa chamada
meio ambiente.”
“Na cultura da maioria dos povos indígenas, a percepção de que o
vento mudou é desde que o camarada nasceu. Meio ambiente, de povos que sempre viveram colados na
natureza, é uma experiência mais
do ambiente integrado a todo o ciclo da vida do que apenas à ideia do
recurso natural. A grande diferença
que existe entre o pensamento dos
índios e o pensamento dos brancos
é que estes acham que o ambiente
é recurso natural, como se fosse um
almoxarifado em que se tira as coisas. Para o índio, é um lugar que
tem de se pisar suavemente, porque
está cheio de outras presenças.”
“Meio ambiente pode ser qualquer lugar, um depósito onde se
tira minério, água, floresta, se
exaure todo. Essa visão de recursos naturais, na qual foi consagrado o meio ambiente, é equivocada. Tentaram consertar isso
com a expressão desenvolvimento sustentável, mas os recursos
naturais devem ser renováveis.
Para o povo índigena, não há
nada de sustentável naquilo que
chamamos de economia, porque
esse termo supõe que se vai saquear a terra. Se você tira e não
põe, não é sustentável.”
“A natureza foi sendo configurada como um lugar perigoso para
as crianças. Quando pequenos, a
gente nem sabia andar direito, mas
já se misturava a ela, entrando nos
córregos, cachoeiras, brincando
com os animais...”
“Se somos capazes de nos desfazer da paisagem, a ponto de daqui
a gerações nossos tataranetos não
terem a oportunidade de vê-la,
como é que podemos dizer que estamos sendo sustentáveis? Que
sustentabilidade há nisso? Pode-se,
por exemplo, roubar o que é imaterial, porque ele não conta? O que
é espírito, o que dá sentido à vida,
‘surtou’ alguns de nossos governos
estaduais e municipais de que é
importante conservar a água. Eles
estavam o tempo todo transformando os nossos rios em esgoto. E
depois fazem campanhas para não
abrirmos a torneira, tipo se você ver
uma gota, recolha e guarde...”
O SUSTENTABILIDADE
“Hoje, é de uma convicção absoluta que o meio ambiente tem valor. Toda empresa bacana agora
faz relatório de sustentabilidade,
principalmente se ela for usuária
e transformadora de matéria-prima visível que vira mercadoria.
Ela tem de fazer propaganda para
dizer que é sustentável, que se pode
comprar carro, geladeira, porque
para fazer aquilo não foi preciso tirar nada de lugar nenhum. Parece
que são mágicos. É como se não tivessem depredando as montanhas,
exaurindo os rios, o subsolo, mas
têm relatórios de sustentabilidade.”
"A grande diferença
entre o pensamento dos
índios e o dos brancos
é que estes acham que
o meio ambiente é um
almoxarifado em que
se tira coisas."
que é subjetivo, que só poetas e índios enxergam, se pode tirar?”
“O meio ambiente que devemos
pensar é a nossa casa comum. Não
podemos desfazer de uma parte de
nossa casa porque o sentido de comum nos obriga a cuidar dela. Não é
a casa que a mãe cuida, cozinha, depois todo mundo suja e vai embora. É
preciso cuidar da água, da floresta...”
“Fiquei impressionado com o
tanto de consciência ambiental que
O MÁRIO JURUNA
“Muitos de vocês, principalmente
os que têm a minha idade, se lembram do Mário Juruna, um xavante que saiu do Mato Grosso, comprou um gravador e gravava fitas e
falas das autoridades. Um dia, ele
gravou uma fala do então ministro do Interior Mário Andreazza, e
percebeu que ele se contradisse, que
era mentiroso. Naquela época, dizer que um ministro era mentiroso
ainda não era moda.”
“Mário Juruna não falava português e saiu da aldeia xavante depois de ter liderado, como chefe e
guerreiro, a resistência dela contra
a entrada dos gaúchos e dos catarinenses que estavam derrubando o
Cerrado para promover campos de
monocultura. Toda aquela extensão de florestas foi território indígena até o início do século XX. Quando os brancos entraram nas terras
dos xavantes para tomá-las, o Juruna liderou uma resistência contra essa ocupação e ele aprendeu
a falar português brigando com os
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O89
M E M Ó R I A I LU M I N A DA - A I LTO N K R E N A K
brancos. Ele não teve professor, falava um português muito peculiar.
Conseguiu se eleger deputado pelo
Rio de Janeiro e viram que ele tinha
potência mobilizadora.”
“O primeiro discurso que Juruna fez no Congresso foi no idioma
da tribo dele. E a presidência da
casa cortou o microfone e disse
que ele não podia falar línguas
estranhas no Congresso, mas sim
o português. O jeito do Juruna
se comportar era uma flagrante
contestação da babaquice que estava no Brasil naquele momento.
Ele fez o discurso em xavante, sua
língua materna, e exigiu que fosse registrado porque isso era maravilhoso, já que os integrantes
do Congresso não sabiam falar a
mesma língua que ele.”
O HISTÓRIA
“Se eu fosse escrever a história, seria
como o poema ‘Erro de Português’,
de Oswald de Andrade: ‘Quando
português chegou/ debaixo de uma
bruta chuva/ vestiu o índio./ Que
pena!/ Fosse uma manhã de sol/ o
índio tinha despido o português’.”
O ESPIRITUALIDADE
“Há uma banalização da vida. Se
nós achamos que podemos tratar
a água, o ar que nós respiramos,
os alimentos, a terra de onde os
suprimos, todas essas bênçãos que
temos na nossa vida de uma maneira superficial, também estaremos tratando a nossa existência
superficialmente. Só vamos levar
um susto e mudar quando estivermos perto de ter uma tragédia.”
“Quanta gente foi convencida de
que quando uma pessoa está doente deve enfiá-la em um hospital?
Isso porque as pessoas não querem
admitir que a gente nasce, passa
um tempo aqui na Terra e, com
muita sorte, fica velho e morre. Parece que querem contar às crianças
que morrer é chato. Então, cultivam essa ideia da espiritualidade
como um recurso auxiliar para
90 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
DISCURSO HISTÓRICO NO CONGRESSO
“Espero não agredir, com a minha
manifestação, o protocolo desta
casa. Mas acredito que os senhores
não poderão ficar omissos, alheios,
a mais esta agressão movida pelo
poder econômico, pela ganância,
pela ignorância do que significa ser
um povo indígena. Temos um jeito
de pensar, de viver. Temos condições
fundamentais para a manifestação
da nossa tradição, da nossa vida, da
nossa cultura, que nunca colocaram
em risco a existência dos animais
que vivem ao redor das áreas
indígenas, quanto mais a dos seres
humanos. Nenhum dos senhores
poderia apontar atos da gente
indígena do Brasil que colocaram em risco seja a vida seja o patrimônio
de qualquer pessoa, grupo humano, nesse país. Hoje, somos alvo de uma
agressão que pretende atingir, na essência, a nossa fé, a nossa confiança
de que ainda existe dignidade, de que é possível construir uma sociedade
que sabe respeitar os mais fracos, aqueles que não têm dinheiro para
manter uma campanha incessante de difamação. Que saiba respeitar
um povo que sempre viveu à revelia de todas as riquezas, que habita
casas cobertas de palha, que dorme em esteiras no chão. Um povo que
não deve ser identificado como inimigo dos interesses do Brasil e nem
coloca em risco qualquer forma de desenvolvimento. O povo indígena
tem regado com sangue cada hectare dos oito milhões de quilômetros
quadrados do Brasil. Os senhores são testemunhas disso.”
não aceitar que somos como as folhas das árvores, que florescem, ficam bonitas e depois caem e viram
adubo na terra. Somos assim.”
“Não é simpático lembrar que
as pessoas morrem, por isso se fica
despistando todo mundo. Quando
uma avó, por exemplo, está com 93
anos e adoece, correm com ela para
um hospital, porque não suportam ficar junto com ela. Aí dizem
que ‘todo mundo trabalha’. Com a
criança é a mesma coisa. São duas
categorias de gente que se põem em
algum lugar. Aí fica aquele pessoal
achando que sempre terá saúde,
correndo... Essa turma bacana não
se preocupa com espiritualidade.
Isso é para quem vai morrer.”
O TRANSCENDÊNCIA
“Todos os seres humanos naturalmente têm uma transcendência
FOTO: REPRODUÇÃO
1
que nos põe além da mediocridade. Quando dormimos, o nosso espírito sonha. E é por isso que conseguimos acordar no outro dia e
andar. Na minha tribo, temos essa
coisa de perguntar para o outro
com o que ele sonhou. Sonho é importante. Dependendo do que se
sonhou, se tem material para decidir sobre o que você vai fazer durante o dia. Agora, se você não tem
tempo de contar o que sonhou, saberá muito pouco sobre o que terá
de fazer na vida.”
“Viver é uma experiência que
pode ser muito mais compensadora do que viver sem saber o que
está comendo, fazendo, dormindo, sonhando. Talvez isso implica
em renunciar algumas coisas que
a vida moderna fez com que acreditássemos que é importante, que
não conseguimos viver sem.” O
“Tudo que você deseja - alegria, amor,
abundância, prosperidade, bemaventurança - está ali, pronto para
você pegar. E você precisa ter fome
disso. Precisa ter intenção. E quando
você agir intencionalmente e deseja
com ardor, o Universo lhe entregará
cada coisa que você desejou.”
Lisa Nichols, escritora
92 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
PARA VENCER A
CRISE
(1)
Em tempos de recessão econômica, ceticismo
e depressão generalizada, a Revista Ecológico
reedita a série de artigos que publicou enquanto
“JB Ecológico”, no Jornal do Brasil e em
parceria com a Ediouro, sobre o livro-filme
“O Segredo”, da escritora Rhonda Byrne,
best-seller mundial até hoje
Q
uem assistiu ao filme ou leu o livro “O Segredo”, de Rhonda Byrne, se surpreendeu com a simplicidade que é descobrir o poder dos pensamentos e sua influência em nossos
corpos e na nossa vida. Mais que isso, é descobrir que eles são
a mola propulsora da felicidade, funcionando como um escudo
contra a tensão e outros males que assolam a humanidade hoje.
Com uma filosofia ecológica e direta, “O Segredo” profetiza: você
atrai, é e vive o que pensa.
Mas como pode um filme ou um livro despertar tanta curiosidade e provocar uma comoção em escala mundial? Os números
dizem por si: mais de 20 milhões de cópias foram vendidas em
todo o mundo desde o seu lançamento, em 2007. Isso porque
o “O Segredo” sagra-se por ser mais do que um instrumento de
auto-ajuda. Traz uma grande quantidade de depoimentos, histórias reais que às vezes até parecem inacreditáveis. A ciência já
havia provado que o pensamento positivo tem um efeito poderoso sobre o corpo, mas esses depoimentos parecem estar além.
São casos em que o universo e as pessoas produzem e atraem
tanta energia que todas as ações humanas têm resultados satisfatórios. Mais. Conclama a “Ecologia da Atração” como a grande
esperança de um mundo melhor, com paz, igualdade e liberdade
comuns à toda vida pulsante no único planeta com vida conhecido na Via Láctea. É isso que você, caro leitor, irá conferir aqui,
na primeira das três partes da série especial sobre “O Segredo”,
que a Ecológico apresentará até o mês de maio. Boas vibrações!
Seja bem-vindo (a) ao segredo mais poderoso do universo para
sair da crise. Desde que você acredite, é claro. E tenha fé em si
mesmo, como Jesus nos ensinou. Boa e proveitosa leitura!
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O93
O que é o
segredo
O segredo é a lei da atração.
Tudo o que vem até você é atraído por você mesmo. É
atraído pelas imagens que você mantém em sua mente.
É o que você está pensando. Alguns povos, como os babilônios, sempre souberam disso. São grupos privilegiados de pessoas. Por que você acha que 1% da população
mundial ganha cerca de 96% do dinheiro que é gerado
em todo o planeta? Você acha que isso é um acidente?
Isso não é um acidente!
É planejado dessa forma. Eles entendem o segredo.
Sabem que o modo mais simples de se encarar a lei da
atração é imaginar a si mesmo como um imã. Um ímã
atrai outro ímã.
Basicamente, os semelhantes se atraem, tendo em vista que essa é uma lei que trabalha no nível do pensamento. Nosso trabalho, como seres humanos, é pensar no
que nós queremos e deixar isso absolutamente claro em
nossas mentes. A partir desse ponto em diante, nós passamos a invocar uma das leis mais poderosas do Universo ou de Deus, da Criação, como quiser: a lei da atração.
Muitas pessoas não entendem que pensamentos possuem uma frequência. E nós podemos medi-la em um
pensamento. Se você pensa em uma mesma coisa por
várias e várias vezes, se mantém aquela imagem na cabeça: aquele carro novo, a casa ou o apartamento de seus
sonhos, tendo o dinheiro de que você precisa, construindo aquela empresa, encontrando a sua cara metade, etc.
“O que está em cima é como o que
está embaixo. O que está dentro é
como o que está fora.”
Tábua de Esmeraldas, cerca de 3.000 a.C.
94 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
Se você imagina como seriam essas coisas, você emite
uma determinada frequência consistentemente.
Pensamentos emitem um sinal magnético que atrai
um sinal semelhante de volta a você. Imagine-se vivendo
com abundância e você atrairá isso. Sempre funciona.
Funciona a qualquer momento, com qualquer pessoa.
Muitas pessoas pensam naquilo que não querem
e se perguntam porque essas coisas aparecem repetidamente na vida delas. A lei da atração não quer
saber se você busca algo que seja bom ou ruim ou
se você quer ou não determinada coisa. Ela simplesmente responde aos seus pensamentos. Se você fica
olhando para um monte de dívidas e sente-se mal
a respeito, este é o sinal que você está enviando
para o Universo: “Eu me sinto muito mal por
conta desse monte de dívidas que eu tenho”. Você está afirmando isso para
você mesmo. Você sente essa
situação ruim profundamente em todos os níveis do seu ser. Assim,
você terá mais dívidas ainda.
LEI DA ATRAÇÃO
Quando você olha
para algo que quer e
diz sim para esse algo,
você está ativando o pensamento, e a lei da atração responde a ele. Ela lhe traz coisas que combinem com esse algo. Quando olhar para algo que você
não quer e diz não para ele, você, na verdade, não o está
afastando. Você está ativando o pensamento relacionado ao que você não quer e a lei da atração trata de trazer
mais desse algo para você. Tudo está relacionado a ela.
A lei da atração trabalha o tempo todo, quer você acredite nela, a entenda ou não.
Você pode estar pensando em algo relacionado ao
passado, presente ou futuro. Quer esteja relembrando,
observando ou imaginando, ainda assim você ativa o
processo do pensamento e a lei da atração responde
ao seu pensamento. A Criação acontece o tempo todo.
Toda vez que um indivíduo tem um pensamento, no
processo de criação algo irá se manifestar.
A lei da atração diz: nós lhe daremos o que quer que
você diga e no que quer que você se foque. Então se
você reclama de quão ruim uma situação é, você cria
mais dessa mesma situação. Nós podemos ser muito
positivos na nossa orientação e, assim, tendermos a
atrair pessoas, eventos e circunstâncias positivistas.
Se nós formos negativos na nossa orientação, nós tenderemos
a atrair pessoas, eventos e circunstâncias negativistas.
Você atrai até você os pensamentos mais
predominantes na sua mente. Quer eles sejam
conscientes ou inconscientes. Se você prestar
atenção no poder da nossa mente, no poder das
nossas intenções, das nossas vidas diárias, o segredo está por todos os lados! Tudo o que nós temos de fazer é abrir os olhos e ver!
Você vê a lei da atração evidente na nossa sociedade
quando percebe que aqueles que mais falam de doenças as têm, quando você percebe que aqueles que mais
falam de prosperidade a têm. A lei da atração é evidente
ao nosso redor se você entende o que ela é. Tem a ver
com você ser um ímã atraindo pensamentos, atraindo
pessoas, atraindo eventos, atraindo estilos de vida. De
fato, tudo o que você traz à sua experiência de vida você
traz por causa dessa poderosa lei.
Esse entendimento é básico e profundo. A física quântica diz que não se pode ter um Universo com a mente
separada dele. A mente, na verdade, molda o tempo
todo o que está sendo percebido por ela mesma.
Geralmente quando as pessoas começam a entender isso elas ficam com medo por conta da quantidade de pensamentos negativos que normalmente têm.
Há duas coisas das quais você precisa estar ciente: a
primeira é que já foi provado cientificamente que um
pensamento positivo é centenas de vezes mais forte do
que um pensamento negativo. Isso, por si só, já elimina
um certo grau de preocupação.
Segundo, é que vivemos numa realidade onde nós
temos um tempo de espera. E isso nos é útil. Você não
gostaria de viver num ambiente onde os seus pensamentos se manifestassem imediatamente. As coisas
vêm constantemente, mas a um certo prazo, o que é
muito bom. Você quer estar ciente dos seus pensamentos, quer escolher os seus pensamentos cuidadosa-
“A imaginação é tudo. É uma prévia
das próximas atrações da vida.”
Albert Einstein, cientista
“Na há como escapar à lei do amor.
É o sentimento que transmite
vitalidade ao pensamento.
Sentimento é desejo, e desejo é
amor. O pensamento impregnado
de amor se torna invencível.”
Charles Haanel, empresário e escritor
mente e ainda quer se divertir com isso. Porque você é a
obra prima da sua própria vida. Você é o Michelangelo
da sua própria vida. A obra que você está esculpindo é
você! E você faz isso através dos seus pensamentos.
Tudo ao seu redor nesse momento da sua vida, incluindo as coisas das quais você reclama, você atraiu.
Isso é algo que você vai odiar ouvir. Você pode dizer que
não atraiu aquele acidente de carro, não atraiu aquele
cliente específico, não atraiu aquela dívida, não atraiu
qualquer que seja a coisa da qual você reclama. Você
atraiu, sim. Esse é um dos conceitos mais difíceis de absorver. Mas, uma vez que você aceite isso, é transformador. Faz parte do grande segredo.
Costumamos pensar que nós não temos nenhum
controle sobre os pensamentos, que eles funcionam em piloto automático. Mas tudo é trazido até
nós por eles.
ECOLOGIA EMOTIVA
As emoções são um dispositivo incrível que nós temos para nos informar sobre o que temos atraído.
Há apenas duas emoções: uma é boa e a outra, ruim.
Você as chama por vários nomes diferentes. Mas, essencialmente, todas aquelas emoções negativas, quer
você as chame de culpa, raiva ou frustração, todas elas
carregam a mesma sensação: uma sensação ruim. E
tais emoções mostram que o que você está pensando
nesse exato momento não está alinhado com o que
você realmente quer.
De um outro ponto de vista isso pode ser chamado de
uma frequência ruim ou uma vibração ruim ou qualquer outro nome que você queira. Aquelas emoções
boas, aqueles sentimentos de esperança ou felicidade
ou amor, aquelas emoções positivas, mostram que o
que você está pensando nesse momento está alinhado
com o que você realmente quer. Nossos sentimentos ou
emoções são como um termômetro que informa se estamos nos trilhos ou não. Quanto melhor você se sente,
mais alinhado está. Quanto pior você se sente, mais desalinhado está. O que você faz quando você passa pelas
2
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O95
“A maioria de nós jamais se permitiu
querer o que verdadeiramente
queremos, porque não podemos ver
como isso vai se manifestar.”
Jack Canfield, escritor
variedades das experiências do seu dia-a-dia é oferecer
pensamentos que, literalmente, dão forma às suas experiências futuras. Você pode saber pelo modo como
você se sente se as coisas que você está buscando irão
lhe agradar quando as conquistar. O que quer que você
esteja sentindo é um reflexo perfeito do que está acontecendo no processo de criação.
Você atrai exatamente o que sente, não exatamente o
que pensa. Se uma pessoa levanta da cama e já tropeça
em algo, ela tende a reclamar da má sorte e seguir assim
o resto do dia. As pessoas não fazem ideia de que uma
simples mudança na atitude e humor delas pode mudar um dia inteiro e até as suas vidas. Se você começa o
dia se sentindo bem e se mantém nesse estado, contanto que você não permita que algo mude o seu ânimo,
você passará o dia, continuamente, de acordo com a lei
da atração, atraindo mais situações e pessoas que mantenham esse ânimo.
Você pode passar a se sentir saudável nesse exato momento, ou próspero, ou mesmo sentir o amor que está
ao seu redor. Mesmo que estas coisas ainda não estejam lá de verdade. O que acontece é que o Universo irá
corresponder ao ritmo da sua música, do seu sentimento interior. Ele irá se manifestar simplesmente porque
é assim que você se sente. Aquilo no qual você se foca
com pensamento e sentimento é o que você atrai. Quer
seja algo que você queira ou não. É duro de engolir. Mas
quando nós conseguimos aceitar isso, as consequências são maravilhosas. Significa que o que quer que o
pensamento já tenha feito na sua vida pode ser desfeito
por uma mudança na sua consciência.
“Você cria a sua própria realidade à medida
que caminha.”
É muito importante que você se sinta bem, porque
esse sentimento é o que é disperso como um sinal para
o Universo e começa a atrair mais desse mesmo senti-
96 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
mento até você. Quanto mais você se sentir bem mais
você irá atrair as coisas que o (a) ajudarão a se sentir
bem e continuará elevando você cada vez mais.
Quando você se sente para baixo, você já notou que
é possível mudar isso num estalo de dedos? Coloque alguma música, comece a cantar, isso mudará
o seu ânimo. Ou pense em algo lindo, pense em
um bebê chorando ou sorrindo, talvez um que
você ame. Se apegue a isso, mantenha esse pensamento na sua cabeça, se esqueça de tudo e se
foque somente nesse pensamento. Você passará
a se sentir bem.
Você é o criador da sua própria realidade. O
processo de criação é um processo que consiste
em três passos.
O primeiro é pedir o que você deseja.
Você não precisa usar palavras para
pedir, porque o Universo não ouve as
suas palavras. O Universo (Deus) responde completamente aos seus pensamentos e à intensidade dos seus
bons sentimentos.
O que você realmente quer?
Sente-se e escreva o que você quer
num pedaço de papel, no presente
do indicativo. Você pode começar
assim: “Eu estou muito feliz e grato
agora que tenho...” e então explique
como deseja que seja a sua vida em
todas as áreas. Isso é muito divertido. É como se você tivesse o Universo
como o seu catálogo: você o folheia e
pensa: “Puxa, gostaria de ter esta experiência, este produto, uma pessoa assim etc.”. É você fazendo encomendas
com o Universo. É fácil assim!
O segundo passo é responder. É provo-
“Você quer ficar ciente de seus
pensamentos, escolhê-los com
cuidado e também se divertir com
isto, porque você é a obra-prima
de sua própria vida. Você é o
Michelângelo de sua própria vida.
O Davi que você esculpe é você
mesmo.”
Joe Vitale, doutor em Metafísica
O: J
FOT
car, atrair uma resposta ao que você está pedindo. Essa
não é a sua parte, fisicamente falando. Essa é a parte
do Universo. Todas as forças do Universo estão respondendo aos pensamentos e aos bons sentimentos que
você enviou. Então o Universo passará a se rearranjar para fazer com que as coisas aconteçam para
você. Muitas pessoas nunca se permitem querer o
que elas realmente querem porque não conseguem
ver como isso pode se concretizar.
Se você fizer uma pequena pesquisa, verá como
é evidente que todos que já conquistaram algo não
sabiam como o fariam. Eles sabiam somente que iriam fazer. Você não precisa
saber como as coisas virão. Você não
precisa saber como o Universo vai
se rearranjar. Você não sabe como,
mas será mostrado a você. Você
atrairá o caminho.
Algumas pessoas irão dizer provavelmente que pedem, mas
nada acontece. Então veremos:
você está pedindo, está em dia
com o passo um; o Universo está
respondendo, - sempre responde,
sem exceção - mas há uma outra coisa que você
deve compreender.
O terceiro passo é o da recepção. Esse é o
passo no qual você deve se alinhar com o que
está pedindo. Quando você está alinhado com
o que quer, se sente esplêndido. Isso é o que
se conhece por entusiasmo, alegria, gratidão,
paixão. Mas quando você se sente desesperado, com medo ou com raiva, demonstra
indicadores fortíssimos de que não está
em alinhamento com o que está pedindo.
Quando você passa a se dar conta de que
o modo como se sente é tudo e passa a direcionar os seus pensamentos baseados
no modo como eles fazem você se sentir, pouco a pouco consegue encontrar
o pensamento e sentimento corretos.
E passa a fazer com que o que pediu
se manifeste em sua vida.
Quando você fizer dessa fantasia um fato, estará em posição de
construir fantasias ainda maiores e melhores. E isso é o processo de criação. O estudo e a prática da lei da atração consistem
em descobrir o que pode lhe
ajudar a gerar os sentimentos
de já possuir o que deseja.
Vá fazer o test drive do carro
que você deseja, visite a casa
que você quer comprar,
“Se você é contra a guerra, em
vez disso seja pro-paz. Se você é
antifome, seja pro-fartura.”
Hale Dowoskin, escritor
ÖRG
BIT
TNE
faça o que puder para gerar o sentimento de já possuir
o que você quer! E lembre dessas pequenas sensações,
guarde-as e irá atrair o que deseja.
Pode ser que você acorde de manhã e o que você pediu já esteja lá. Ou você pode ter uma inspiração para
alguma coisa que lhe levará até o que deseja. Pode ser
solicitada uma ação sua. Você pode pensar nas ações
que tenha que tomar e detestar ter que fazer tais coisas,
talvez porque você não goste de tais atividades. Se você
não se sente bem com as ações que tem que tomar,
você está no caminho errado. Você não está alinhado
com o que você pediu. Ações serão solicitadas de sua
parte. Mas se você estiver em alinhamento com o que
você quer, essas ações lhe serão prazerosas.
O Universo gosta de velocidade. Não adie, não pense
duas vezes, não duvide. Quando a oportunidade estiver
lá, quando o impulso estiver lá, quando algo lhe cutucar por dentro, aja! É esse o seu trabalho. E é tudo o que
você tem a fazer. Você irá atrair tudo o que você solicitar. Quer sejam grandes recursos financeiros que você
queira atrair, quer sejam pessoas ou um livro. Você deve
prestar atenção para o que você está sendo atraído. Você
será atraído a coisas e elas serão atraídas a você. Elas se
movem na realidade física com e através de você. E isso
acontece seguindo uma lei.
Você pode começar do nada. E partindo do nada, partindo de alternativa nenhuma, um caminho será construído. Pense nisso: um carro sendo guiado no meio
da noite. Só é possível se enxergar cerca de 60 metros
à frente. Mesmo assim, é possível que você vá de Porto
Alegre até São Paulo dirigindo no escuro, porque tudo
o que você precisa ver são esses 60 metros. É assim que
a vida tende a se desenrolar para nós. Se você confiar
que os próximos 60 metros estarão lá, a vida continuará
se desenrolando. E você chegará ao destino, qualquer
que seja ele, desde que realmente queira chegar lá. Você
chegará lá, porque você quer. O
RU
NN
A
Não perca, na nossa próxima edição,
a segunda parte de "O Segredo".
Para adquirir o livro, acesse www.ediouro.com.br.
MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO O97
1
OLHAR
AR POÉTICO
ANTONIO
ONIO BARRETO (*)
[email protected]
[email protected]
NÓ D’ÁGUA
água ainda
da é tudo que nada
no nada humano
mano do mundo
água é mundo
o que ainda
no humano nada
a do mundo
água é ainda o humano
ano
de mundo que nada no
o tudo
t
água ainda é o mundo
de tudo que nada no nada
nonada
no nada
nonada
no nada
nonada
no nada
nonada
do nada
tudo que nada no mundo
é água que ainda se acaba
do nada humano de mundo
que em mágoa se acaba
em má
nágua
nonada
nonada
nonada
tudo que ainda é mundo
é água que ainda se acaba
no nada humano da dor
que em mágoa se acaba
na mágoa
de sede que pinga da água
em nonágua
em nó d’água
em nonada
(jornada)
(jorrada)
(adornada)
(amarrada)
(nadágua)
(*) Autor de “A Noite é um Circo sem Lona” (Editora RHJ).
[email protected] | facebook.com/antonio.barreto.12139
98 OECOLÓGICO | MARÇO DE 2016
Mais direitos.
Mais participação.
Mais poder.
É assim que, nós mulheres,
estamos construindo uma vida
do jeito que a gente quer.
Por isso, as políticas públicas
são importantes para seguirmos
conquistando ainda mais.
Março. Mês da Mulher.
brasil.gov.br/mulheres
Secretaria de
Políticas para as Mulheres
Ministério das
Mulheres, da Igualdade Racial
e dos Direitos Humanos
A Assembleia Legislativa trabalhou sem parar, desde o
primeiro dia da tragédia do rompimento das barragens
em Mariana. Ficou claro para os deputados de Minas o
caminho a ser seguido: cobrar, fiscalizar e acompanhar
todas as ações para restabelecer a qualidade de vida das
vítimas, os empregos e o desenvolvimento econômico
dos municípios atingidos.
Depois de inúmeras visitas ao local para ouvir a comunidade,
as autoridades públicas e a empresa, a Assembleia
convocou agentes das polícias Federal, Civil e Militar,
os empresários responsáveis e dezenas de outras
autoridades. Os resultados já começaram a surgir, com
indenização às vítimas, recurso para revitalização do meio
ambiente, reconstrução da infraestrutura e apuração de
todas as responsabilidades, como mostra o relatório final
do laudo de peritos da Polícia Civil, apresentado no dia
23 de fevereiro, no Legislativo Mineiro.
A Assembleia quer evitar novas catástrofes, mas não
vai deixar que a maior de todas caia no esquecimento.
#nãoesqueçamariana.
CONHEÇA TODAS AS AÇÕES DA COMISSÃO EXTRAORDINÁRIA
DAS BARRAGENS NO PORTAL ALMG.GOV.BR
O
ER
AT O.
MB IT
CO OSQU É A EI.
M A L
ESS OSSA
N
O rastro da
tragédia não
nos deixa
esquecê-la,
mas há
caminhos
a seguir.