A VERDADE Quando saí da biblioteca, no início dos anos 1990, me
Transcrição
A VERDADE Quando saí da biblioteca, no início dos anos 1990, me
A VERDADE Quando saí da biblioteca, no início dos anos 1990, me lancei ao mundo como um jovem romântico, sem muitas responsabilidades, querendo buscar um sentido para a vida. Fiquei duas semanas em uma barraca de camelô no centro da cidade, observando o movimento da vida urbana. Era muito emocionante, mas ninguém me dava muita atenção. Até que o vendedor resolveu me oferecer de brinde para quem comprasse um álbum infantil para colorir. Assim, fui parar na gaveta de roupas da Betina – uma menininha de seis anos de idade muito desorganizada, mas bastante esperta; tão esperta que sabia fazer a sua mala de viagem sozinha. Não deu outra: em meio a roupas, creme dental aberto, algumas bonecas e o zíper da mala mal fechado, fui parar em Nova York. A caminho do hotel, caí do porta-malas do carro, que estava semi-aberto a fim de acomodar toda a bagagem. Levei um tombo que jamais esqueceria: quase fui atropelado por um ônibus que vinha logo atrás e fui parar em cima de uma calçada extremamente povoada. Estava meio atordoado, perdido, sem saber o que fazer. Olhando para cima, via os prédios tocando o céu e os galhos das árvores, tudo misturado. Até que, por trás de uma nuvem, saiu uma letra “A” flutuando. Eu não estava entendendo nada. Quis acreditar que era um pássaro, mas a sua forma era muito nítida, era um “A”, definitivamente. Preocupado, pensei que estava ficando louco. Lembrei-me da biblioteca e dos meus velhos amigos, e me passou um sentimento de arrependimento por ter saído de lá. Como se não bastasse, o “A” começou a descer na minha direção e atrás dele apareceram outras duas letras: o “D” e o “R”. As coisas só estavam piorando. Fiquei esperando por ajuda, mas ninguém prestava atenção em mim. Até que as letras começaram a se multiplicar; devem ter aparecido todo o alfabeto algumas vezes por cima de mim. Pensei comigo mesmo: “Tudo bem, é a minha tontura, isso tudo já passa...”. Até que surgiram letras que eu jamais havia visto, de vários idiomas. Tive a nítida sensação de que enlouquecera de vez, e que não mais voltaria ao normal. Então, algumas letras desconhecidas se ordenaram diante de mim; por um instante algumas ficaram estáticas, enquanto as demais se moviam confusas. Alguns segundos depois, a primeira letra, a do meio e a última deste alfabeto começaram a brilhar intensamente, até que toda essa visão sumiu por completo, e recuperei minhas forças. Dormi por alguns instantes, e acordei. Comecei a refletir sobre o que havia acontecido. Percebi que fiquei realmente perturbado pelo que vi. Mas, não sei porque, aquelas letras brilhando me deram uma sensação única; apesar de tudo, no final, me confortaram. Tive a impressão de que era uma mensagem para mim. Anotei as três letras que brilharam em uma folha minha, bem escondida, e continuei o meu caminho, sem destino, pelas ruas de Nova York. Fiquei de boca aberta do começo ao fim do passeio. É incrível o espetáculo que eu estava perdendo parado nas prateleiras daquela biblioteca! Até que pensei comigo mesmo: “Um livro não precisa pagar passagem aérea para percorrer o mundo”. No meio de todas estas reviravoltas, lembrei-me das perguntas fundamentais... Até que cheguei à seguinte conclusão: “Vamos à luta! Vou percorrer o mundo e ver o que encontro de respostas para a minha vida”. Levei comigo a anotação das letras, talvez elas me ajudassem. Mas antes disso, eu firmei um compromisso comigo mesmo: não iria aceitar uma resposta qualquer. Precisaria, antes de tudo, refletir um pouco sobre como procurar uma resposta verdadeira; o que deveria aceitar e o que não. Viajei para lugares com histórias ricas e de grande conhecimento. Fui para a Índia, Egito, Noruega, Espanha, e passei por alguns Países da África Central. Este período da minha vida durou quatro anos e meio. E veja só o que presenciei em meus caminhos: Durante todo esse tempo li e conversei com muita gente. Na Índia presenciei coisas incríveis: Pessoas deixando o cabelo crescer por mais de 20 anos, um homem que estava com a mão direita levantada há 10 anos, um peregrino dando a volta ao redor de todo o País carregando a mãe nas costas, dentre muitas outras histórias. Foi incrível e atraente... O que faz alguém ter tanta devoção? Fui investigar, procurei falar com muita gente, e para algumas mostrei as três letras da minha visão. Mas, apesar de tudo, embora fossem tão dedicadas, não conseguia entender por que faziam o que faziam. Perguntava-lhes se alguém de influência havia lhes pedido para agir daquela maneira; mas as respostas eram confusas. É verdade que eu tampouco encontrava respostas para a minha visão. Muitos cometem o mesmo engano: nós nos dedicamos muito a algumas causas, mas não sabemos porquê. Alguns cursam várias faculdades de determinada matéria, dedicam anos para alguma coisa e não sabem porque estão fazendo isso; simplesmente fizeram porque sentiram vontade, ou porque alguém lhes disse que era bom, ou porque todos em volta agem desta maneira. Mas não se perguntaram a fundo sobre a validade de tudo isso. Devemos tomar cuidado para não desprendermos forças em vão. Segui em frente com a minha pesquisa. Fui conversar com livros de filosofia em outros Continentes e percebi que várias correntes filosóficas defendiam o princípio de que o homem deve se questionar permanentemente sobre sua origem, sua existência, a existência do mundo e sobre sua conduta no dia-a-dia. Identifiquei-me bastante com este princípio e quis ir mais a diante, mas percebi que eles paravam por aí. O simples ato de perguntar já era suficiente para que uma pessoa fosse considerada inteligente. Mas há um problema nisso: Onde está a resposta? Para que serve a pergunta sem ela? Não devemos nos contentar em perguntar, mas devemos buscar respostas. No entanto, isso demanda uma investigação profunda e totalmente imparcial. A pergunta, agora, é: Onde encontrar as respostas? É aí que entra o conceito de verdade. Não devemos nos contentar em encontrar apenas uma boa resposta às perguntas fundamentais, uma que nos satisfaça. Precisamos encontrar a resposta verdadeira, independente da nossa apreciação.