filosofia alemã: idealismo e romantismo
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filosofia alemã: idealismo e romantismo
filosofia alemã: idealismo e romantismo “There once was a young man who said: "God Must think it exceedingly odd If he finds that this tree Continues to be When there's no one about in the Quad." Ronald Knox “Dear Sir, Your astonishment's odd; I am always about in the Quad; And that's why the tree Will continue to be, Since observed by Yours faithfully, God.” Langford Reed. (ed.) The Complete Limerick Book. London: Jarrolds. 1924. “existir é percipi ou percipere. O cavalo está na cavalariça, os livros estão no gabinete de trabalho como anteriormente.” Berkeley. Notebook A §429 Argumento de Berkeley: 1. Percepcionamos através da nossa mente objectos singulares (cavalos na cavalariça; livros nas biblioteca, etc.) 2. Só percepcionamos mentalmente representações (“Ideias”) 3. Logo os objectos individuais são representações (“Ideias”) Corolário 1: conceitos como extensão, matéria, substância, ser, etc. são apenas o resultado do nosso pensamento abstracto - afirmar que eles existem para lá dos objectos singulares é uma conclusão indevida. Corolário 2: mentes e representações são distintas (dualismo em Berkeley?): a) representações são modos da mente - ondas do mar? b) representações estão incluídas na mente - peixes num lago? c) representações são implantadas na mente - embrião na matriz? Corolário 3: as “ideias” não são tudo o que a mente se ocupa, mas, sim, tudo o que pode ser concebível, i.e. seres concretos e singulares Exemplificação do procedimento inerente à abstracção 1. separação da cor vermelha da extensão ou da figura de uma rosa; 2. criação da ideia abstracta de vermelho - o vermelho para lá de todos os matizes dessa cor (através de um processo de comparação e selecção); 3. criação de seres compósitos irreais que seriam o conglomerado de ideias abstractas por analogia: separação da extensão da forma da rosa; criação da ideia de um espaço absoluto; formação de ideias segundo as quais as coisas singulares estão nesse espaço. ”Houve quem fizesse distinção entre qualidades primárias e secundárias, contando nas primeiras a extensão, a forma, o movimento, o repouso, a solidez ou impenetrabilidade ou número; nas segundas, as qualidades sensíveis, como cor, som, sabor, etc. (...) pretendem que as ideias de qualidades primárias sejam imagens de coisas existentes fora do espírito em uma substância impensante a que dão o nome de matéria. Por matéria há-de entender-se uma substância inerte e não sensível em que subsistem actualmente extensão, figura, e movimento. Mas como vimos é evidente que extensão, figura, e movimento são apenas ideias existentes no espírito, e a ideia só pode assemelhar-se a outra ideia; portanto nem elas nem os seus arquétipos podem existir em uma substância incapaz de perceber. De onde a verdadeira noção da chamada matéria ou substância corpórea envolve contradição.” Berkeley. A Treatise concerning the Principles of Human Knowledge (1710) I § 9 “Se interrogarmos sobre isto os melhores filósofos,vê-lo-emos concordes em atribuir à “substância material” apenas o sentido do ser em geral, juntamente com a noção relativa de suporte de acidentes. A ideia geral de Ser parece-me a mais abstracta e incompreensível de todas” Berkeley. A Treatise concerning the Principles of Human Knowledge (1710) I §17 “Não argumento contra a existência de alguma coisa que apreendo pelos sentidos ou pela reflexão. O que os olhos vêem e as mãos tocam existe; existe realmente não o nego. Só nego o que os filósofos chamam matéria ou substância corpórea” Berkeley. A Treatise concerning the Principles of Human Knowledge (1710) I §35 Idealismo Transcendental “Compreendo por idealismo transcendental a doutrina que considera todos os fenómenos, globalmente, simples representações e não coisas em si e segundo a qual, o tempo e o espaço são apenas formas sensíveis da nossa intuição, mas não determinações dadas por si, ou condições dos objectos considerados como coisas em si.” Kant. KrV A 369 ≠ ”não possuímos conceitos do entendimento e, portanto, tão-pouco elementos para o conhecimento das coisas, senão quando nos pode ser dada a intuição correspondente a esses conceitos; daí não podermos ter conhecimento de nenhum objecto, enquanto coisa em si, mas tão-somente como objecto da intuição sensível, ou seja, como fenómeno; de onde deriva, em consequência, a restrição de todo o conhecimento especulativo da razão aos simples objectos da experiência. Todavia, deverá ressalvar-se e ficar bem entendido que devemos, pelo menos, poder pensar esses objectos como coisas em si embora os não possamos conhecer. Caso contrário, seríamos levados à proposição absurda de que haveria fenómeno (aparência), sem haver algo que aparecesse.” Kant. KrV B XXV-XXVI ≠ ”O conceito transcendental dos fenómenos no espaço é uma advertência crítica de que nada, em suma, do que é intuído é uma coisa em si, de que o espaço não é uma forma das coisas, forma que lhe seria própria, de certa maneira, em si, mas que nenhum objecto em si mesmo nos é conhecido e que os objectos exteriores são apenas simples representações da nossa sensibilidade, cuja forma é o espaço, mas cujo verdadeiro correlato, isto é, a coisa em si, não é nem pode ser conhecida” Kant. KrV B 45 Vive, dizes, no presente; Vive só no presente. Mas eu não quero o presente, quero a realidade; Quero as coisas que existem, não o tempo que as mede. O que é o presente? É uma coisa relativa ao passado e ao futuro. É uma coisa que existe em virtude de outras coisas existirem. Eu quero só a realidade, as coisas sem presente. Não quero incluir o tempo no meu esquema. Não quero pensar nas coisas como presentes; quero pensar nelas como coisas. Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes. Eu nem por reais as devia tratar. Eu não as devia tratar por nada. Eu devia vê-las, apenas vê-las; Vê-las até não poder pensar nelas, Vê-las sem tempo, nem espaço, Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê. É esta a ciência de ver, que não é nenhuma. 19-7-1920 Poemas de Alberto Caeiro. Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993), 99. o irrepresentável como ideia estética “o incondicionado que a razão exige por necessidade e com plena legitimidade nas coisas em si” Kant KrV B xx “Temos a Ideia do mundo (a totalidade daquilo que é), mas não temos a capacidade de dar um exemplo dele. (…) Podemos conceber o absolutamente grande, o absolutamente poderoso, mas qualquer “presentificação” de um objecto destinado a ‘fazer ver’ essa grandeza ou esse poder absolutos surge-nos, ainda, como dolorosamente insuficiente. Estas são Ideias de que não há “presentificação” possível e, portanto, não fazem conhecer nada da realidade; proíbem também a concordância livre das faculdades que produz o sentimento do belo, impedem a formação e a estabilização do gosto.” Lyotard, Correspondência (15 de Maio de 1982) o irrepresentável como ideia estética (2) “Se é verdade que a modernidade se desenvolve (...) segundo a relação sublime do “presentificável” com o concebível, podem distinguir-se no seio desta relação, dois modos, para falar como um músico. O acento pode ser colocado na inadequação da faculdade de “presentificação”, na nostalgia da presença experienciada pelo sujeito humano em o fazer apesar de tudo. Ou em vez disso, o acento pode ser posto na potência de conceber a “inumanidade” (é a qualidade que Apollinaire exige aos artistas modernos). (...) Compreenderás o que eu quero dizer através da distribuição caricatural de alguns nomes no tabuleiro de xadrez da história vanguardista: do lado melancolia, os expressionistas alemães e, do outro lado, novatio, Braque e Picasso. (...) A “nuance” que distingue estes dois modos de ser pode ser ínfima, coexistem frequentemente na mesma obra, quase indiscerníveis e, no entanto, atestam uma diferença/tensão (différend) no qual se joga desde há muito, e se jogará, a sorte do pensamento, entre o remorso e o ensaio.” Lyotard, Correspondência (15 de Maio de 1982) Caspar - Nevoeiro matinal nas montanhas - 1808 - Museum Schloss Heidecksburg Winterlandschaft - Paisagem de Inverno - 1811 - Schwerin Caspar. Winter - Inverno - 1807-08 Caspar. Abadia na Floresta de Carvalhos. 1809/1810. Berlim Caspar. Paisagem com grandes montanhas ao nascer do nevoeiro - 1820 Edgar Allan Poe. The Raven (1845)