RELATÓRIO RECOQUAR_1
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RELATÓRIO RECOQUAR_1
Rede de Controlo da Qualidade da Água de Rega – RECOQUAR - Relatório Anual - 2005 Beja, 2006 ÍNDICE 1 - INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................5 2 - OBJECTIVOS ..........................................................................................................................................5 3 - IMPLEMENTAÇÃO DO PROJECTO.................................................................................................5 4 – MATERIAL E MÉTODOS....................................................................................................................8 4.1 - CARACTERIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA .....................................................................................8 4.1.1 – Considerações gerais.................................................................................................................8 4.1.2 - Caracterização das parcelas......................................................................................................8 4.1.2.1 – Solos.................................................................................................................................................... 8 4.1.2.2 - Culturas................................................................................................................................................ 9 4.2– PARCELAS EXPERIMENTAIS ...............................................................................................................10 4.3 - QUALIDADE DA ÁGUA DE REGA, DE DRENAGEM E SUBTERRÂNEA ....................................................11 4.4 – QUALIDADE DA SOLUÇÃO DO SOLO ..................................................................................................13 4.5 – CARACTERIZAÇÃO DO SOLO .............................................................................................................13 4.6 - MONITORIZAÇÃO DA REGA ................................................................................................................15 4.7 - CONSUMO DE ÁGUA DAS CULTURAS..................................................................................................15 4.8 - MONITORIZAÇÃO DA ÁGUA NO SOLO ................................................................................................15 4.9 - BALANÇO DA ÁGUA NO SOLO ............................................................................................................16 4.10 - AVALIAÇÃO DOS SISTEMAS DE REGA USADOS NOS CAMPOS EXPERIMENTAIS ................................16 4.11 – MONITORIZAÇÃO DOS VOLUMES ESCOADOS NA SECÇÃO JUSANTE DA BACIA ................................17 4.12 – TRABALHOS SUPLEMENTARES ........................................................................................................19 5 – RESULTADOS E DISCUSSÃO ..........................................................................................................20 5.1 – QUALIDADE DA ÁGUA DE REGA, DE DRENAGEM E SUBTERRÂNEA ...................................................20 5.1.1 - Salinidade da Água...................................................................................................................20 5.1.2 - Influência da qualidade da água de rega na infiltração da água no solo..............................22 5.1.3 - Riscos de salinização e sodicização.........................................................................................23 5.1.4 - Toxicidade de alguns iões específicos e outros efeitos que afectam a susceptibilidade das culturas.................................................................................................................................................24 5.1.4.1 - Toxicidade específica dos iões Sódio e Cloreto ............................................................................... 24 5.1.4.2 - Azoto (Nitratos)................................................................................................................................. 26 5.1.4.3 - pH ...................................................................................................................................................... 27 5.2. – QUALIDADE DA SOLUÇÃO DO SOLO .................................................................................................28 5.3. – CARACTERIZAÇÃO DO SOLO ............................................................................................................32 5.4 - MONITORIZAÇÃO DA REGA ................................................................................................................32 5.5 - CONSUMO DE ÁGUA DAS CULTURAS..................................................................................................34 5.6 – AVALIAÇÃO DOS SISTEMAS DE REGA USADOS NOS CAMPOS EXPERIMENTAIS ..................................37 5.7 - MONITORIZAÇÃO DOS VOLUMES ESCOADOS NA SECÇÃO JUSANTE DA BACIA ..................................37 6 - ESTRATÉGIA A SEGUIR NO ANO DE 2006 ..................................................................................42 7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................................43 ANEXO I.......................................................................................................................................................45 ANEXO II .....................................................................................................................................................47 ANEXO III ...................................................................................................................................................52 ANEXO IV....................................................................................................................................................54 2 ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1 – Ocupação das várias manchas de solos ......................................................... 8 Quadro 2 - Representatividade das várias culturas da bacia A......................................... 9 Quadro 3 – Caracterização das parcelas experimentais.................................................. 11 Quadro 4 – UF aplicadas na parcela experimental do tomate ........................................ 11 Quadro 5 – UF aplicadas na parcela experimental do melão ......................................... 11 Quadro 6 – Produções das parcelas experimentais......................................................... 11 Quadro 7 – Resumo dos volumes de água aplicados nas várias culturas ....................... 33 Quadro 8 – Consumo de água da cultura do tomate....................................................... 34 Quadro 9 - Consumo de água da cultura do melão......................................................... 34 Quadro 10 - Consumo de água da cultura do algodão.................................................... 35 Quadro 11 – Precipitação, Rega, Escoamentos e Coeficiente de Escoamento............... 38 Quadro 12 – Balanço entre entradas e saídas de água para rega .................................... 40 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 - Bacias hidrográficas na freguesia de Figueira de Cavaleiros (Projecto). ........ 6 Figura 2 - Aspecto da vala de drenagem. ......................................................................... 6 Figura 3 - Aspecto geral do sistema cultural numa das bacias hidrográficas inicialmente previstas. ........................................................................................................................... 6 Figura 4 – Carta Militar com as duas bacias hidrográficas. ............................................. 7 Figura 5 – Carta de solos da bacia hidrográfica implantada sobre a carta militar............ 9 Figura 6 – Mapa da bacia hidrográfica com as várias culturas instaladas...................... 10 Figura 7 – Parcelas experimentais. ................................................................................. 10 Figura 8 - Recolha de amostras de água ......................................................................... 12 Figura 9 – Recolha da solução do solo. .......................................................................... 13 Figura 10 - Sonda de registo pontual “Diviner”............................................................. 16 Figura 11 - Esquema da soleira sobre elevada ............................................................... 17 Figura 12 - Vista do local de instalação da estrutura de medição de caudal. ................. 17 Figura 13 - Início da construção da estrutura de medição.............................................. 17 Figura 14 - Estrutura em estado de secagem. ................................................................. 18 Figura 15 - Estrutura de medição de caudais concluída. ................................................ 18 Figura 16 – Estrutura de abrigo, logger Warren Jones 460 e computador portátil......... 18 Figura 17 – Sensor ultrassónico suspenso na estrutura de medição. .............................. 19 Figura 18 - Medição do nível freático do poço. ............................................................. 19 Figura 19 - Colocação de manilhas em pontos de circulação de veículos. .................... 19 Figura 20 - Limpeza da vala de drenagem. .................................................................... 20 Figura 21 - Grau de restrição do uso da água dos vários pontos de amostragem quanto à salinidade ........................................................................................................................ 21 Figura 22 - Valores de CE vs Valor Máximo Recomendado. ........................................ 22 Figura 23 - Influência da relação entre a salinidade da água de rega e a razão de adsorção de sódio (SAR) na taxa de infiltração da água no solo (Ayers & Westcot, 1994)............................................................................................................................... 22 Figura 24 - Classificação da qualidade da água de rega segundo o United States Salinity Laboratory (USSL). ........................................................................................................ 23 Figura 25 - Valores do SAR das análises vs Valor Máximo Recomendado. ................. 24 3 Figura 26 - Graus de restrição no uso da água de rega e de drenagem quanto à toxicidade específica do ião sódio na rega por aspersão (rampas rotativas). ................. 25 Figura 27 - Grau de restrição no uso da água de rega e de drenagem quanto à toxicidade específica do ião cloreto. ................................................................................................ 25 Figura 28 - Enquadramento das análises de água no Valor Máximo Recomendado. .... 26 Figura 29 - Grau de restrição do uso das águas referente ao seu teor em nitratos. ........ 26 Figura 30 - Teor de nitratos vs Valor Máximo Recomendado. ...................................... 27 Figura 31 - pH dos vários pontos de amostragem. ......................................................... 27 Figura 32 - Enquadramento dos valores de pH no VMR e no VMA ............................. 28 Figura 33 - Evolução da CE – tomate. ………………………………………………29 Figura 34 - Evolução da CE – melão. ………………………………………………29 Figura 35 - Zona de acumulação e de saturação no campo do tomate. .......................... 29 Figura 36 - Evolução do SAR – tomate………………………………………………...30 Figura 37 - Evolução do SAR – melão........................................................................... 30 Figura 38 - Evolução do teor de nitratos - tomate …….……………………………….30 Figura 39 - Evolução do teor de nitratos – melão……...……………………………….30 Figura 40 - Evolução do azoto amoniacal – tomate……………………………………31 Figura 41 - Evolução do azoto amoniacal – melão. ....................................................... 31 Figura 42 - Evolução do pH – tomate…………………………………………………..31 Figura 43 - Evolução do pH – melão.............................................................................. 31 Figura 44: Evolução do teor de sódio – tomate. ……………………………………..32 Figura 45: Evolução do teor de sódio – melão. ……………………………………..32 Figura 46: Evolução do teor de cloretos – tomate. …………………………………..32 Figura 47: Evolução do teor de cloretos – melão. …………………………………..32 Figura 48 - Variação da humidade do solo em profundidade, na cultura do melão....... 35 Figura 49 - Variação da humidade do solo em profundidade, na cultura do algodão. ... 36 Figura 50 - Variação da humidade do solo em profundidade, na cultura do tomate...... 36 Figura 51 – Escoamento superficial para a vala de drenagem. ...................................... 37 Figura 52 – Precipitação, Rega e Escoamento ocorridos na bacia hidrográfica............. 39 Figura 53 – Comparação das necessidades das culturas (método da FAO) com as entradas de água (dotação útil+precipitação efectiva).................................................... 41 Figura 54 – Evolução do nível freático do poço............................................................. 41 4 1 - Introdução As disposições da Directiva 2000/60/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 23 de Outubro para que se estabeleça um quadro comunitário de actuação no âmbito da política de águas, a necessidade de implementação do Código de Boas Práticas Agrícolas e o estabelecimento de programas de actuação nas zonas vulneráveis com o objectivo de prevenir ou reduzir o problema, incentiva a conveniência de que se disponha de uma Rede para o Controlo da Qualidade da Água. Assim, O COTR em conjunto com a Estação Agronómica Nacional –EAN, e a Associação de Beneficiários da Obra de Rega de Odivelas – ABORO, submeteu a proposta de projecto Rede de Controlo da Qualidade da Água de Rega - RECOQUAR – ao programa PEDIZA II – Eixo IV, Medida 4, Acção 2 e Subacção 2.2 . Indo de encontro ao acima disposto, o presente projecto com o número de candidatura – 2004.64.001978.4-, foi aprovado a 26 de Novembro de 2004, por Sua Excelência o Sr. Ministro Carlos Costa Neves, Ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas. O presente relatório refere-se ao período compreendido entre 1 de Fevereiro e 31 de Dezembro de 2005. A equipa de projecto é a inicialmente prevista, à excepção da Eng.ª Rita Sobral, inicialmente englobada na equipa técnica do COTR, a qual foi substituída pelo técnico Eng.ª Marta Varela. Esta substituição foi motivada pela sua saída do COTR. 2 - Objectivos O projecto tem como principal objectivo criar na zona, o embrião de uma futura rede de monitorização de controlo da qualidade da água de rega que permita: • Caracterizar e avaliar a qualidade da água de rega no Alentejo; • Controlar e demonstrar a influência que as diferentes estratégias de rega usadas pelo agricultor podem ter na potencial degradação das águas de superfície e subterrâneas a jusante. Com este propósito, o projecto pretende ensaiar as metodologias de controlo em duas pequenas bacias hidrográficas. 3 - Implementação do projecto O projecto previa inicialmente a sua implantação em duas bacias hidrográficas, respectivamente com cerca de 740 e 550 ha, dentro do actual perímetro de rega de Odivelas, na freguesia de Figueira de Cavaleiros, concelho de Ferreira do Alentejo (Figura 1). 5 Figura 1 - Bacias hidrográficas na freguesia de Figueira de Cavaleiros (Projecto). Aquando da candidatura do projecto, as condições e as informações existentes acerca das bacias hidrográficas sob as quais foi delineado, eram, à partida, as mais indicadas. No entanto, com o decorrer da implementação do projecto no terreno, várias dificuldades foram ocorrendo, nomeadamente: • Necessidade de limpeza de uma grande extensão das valas de drenagem (Figura 2); • Falta de acordo com alguns agricultores para a limpeza e transporte dos resíduos das valas de drenagem para fora das respectivas parcelas agrícolas. Figura 2 - Aspecto da vala de drenagem. • Baixa taxa de ocupação agrícola das bacias hidrográficas (Figura 3); Figura 3 - Aspecto geral do sistema cultural numa das bacias hidrográficas inicialmente previstas. 6 • Fraca representatividade de culturas regadas; • Caudais de drenagem provenientes da água de rega, bastante improváveis. A este conjunto de problemas estará associada a introdução do sistema de Pagamento Único por exploração com o desligamento das ajudas à produção, por parte da Comunidade Europeia, tendo como consequência o recebimento pelo agricultor da ajuda correspondente, sem que se torne necessário semear, bastando para tal levar a cabo uma série de normas condicionantes num determinado número de hectares associados. Ponderada esta situação, optou-se por procurar outras possíveis bacias hidrográficas que se enquadrassem nas características pretendidas. Dentro destas, a escolha recaiu numa bacia, junto à povoação de Olhas (bacia A) situada no bloco de rega da designada Infra-estrutura 12 do Sistema Global de Rega de Alqueva, junto a Ferreira do Alentejo (Figura 4). Com base no que foi dito anteriormente foi decidido que no ano de 2005 apenas se actuaria na bacia A, tendo ainda sido decidido que no ano de 2006 além desta bacia seria englobada uma das bacias inicialmente escolhidas, junto a Figueira de Cavaleiros (bacia B) – situada no perímetro de rega de Odivelas – FASE I, embora com uma área mais pequena (Figura 4). Figura 4 – Carta Militar com as duas bacias hidrográficas. 7 4 – Material e Métodos 4.1 - Caracterização da bacia hidrográfica 4.1.1 – Considerações gerais O Projecto foi implantado, em 2005, como foi dito anteriormente, na bacia A com cerca de 360 ha. A rega das culturas instaladas nesta bacia é efectuada com água proveniente da albufeira de Odivelas. A bacia hidrográfica encontra-se dentro da denominada infra-estrutura 12, primeira mancha de regadio do Sistema Global de Rega de Alqueva. Trata-se de uma bacia hidrográfica, em que o abastecimento de água é feito sob pressão, com água proveniente da albufeira do Monte Branco, a qual por sua vez, é parcialmente proveniente da albufeira de Odivelas. A rede de rega foi projectada para que a rega seja efectuada a pedido. O ano agrícola de 2004/2005 foi o ano de entrada em funcionamento do sistema de rega. Até esta data, tratava-se de uma área ocupada quase exclusivamente por cereais de Outono/Inverno, e por uma ou outra cultura hortícola, cujo fornecimento de água era assegurado através de pequenas captações subterrâneas. 4.1.2 - Caracterização das parcelas 4.1.2.1 – Solos No Quadro 1 e na Figura 5, observam-se os diferentes tipos de solos, bem como a sua distribuição em termos percentuais, existentes na bacia hidrográfica (as denominações das manchas de solos são as adoptadas pelo ex-SROA). Quadro 1 – Ocupação das várias manchas de solos Manchas de Solos Rg Sb(h) Pac+Pc Pag+Ppt Ps Cp+Pac Pac+Pag Cp Pac Pag Área (%) 0,2 1,5 2,6 3,4 8,2 10,8 13,6 14,7 21,3 23,8 8 Figura 5 – Carta de solos da bacia hidrográfica implantada sobre a carta militar. 4.1.2.2 - Culturas No Quadro 2 e na Figura 6 apresentam-se as várias culturas existentes na bacia, em 2005, bem como a percentagem de área de ocupação afecta a cada uma delas. Quadro 2 - Representatividade das várias culturas da bacia A Cultura Ocupação (%) Olival 2 Pimento 2 Cevada 4 Girassol 5 Beterraba 6 Tomate 12 Trigo 12 Algodão 18 Melão 39 9 Figura 6 – Mapa da bacia hidrográfica com as várias culturas instaladas. 4.2– Parcelas experimentais Para atingir os objectivos propostos, e tendo em conta os solos existentes e as culturas presentes, foram escolhidas três parcelas - P1, P2 e P3, consideradas as mais representativas em termos do binómio solo/cultura (Figura 7). Figura 7 – Parcelas experimentais. 10 No Quadro 3, encontra-se a informação mais relevante das parcelas experimentais. Quadro 3 – Caracterização das parcelas experimentais Número da parcela/local de ensaio Cultura Sistema de rega Cultura antecedente Densidade de sementeira Data de sementeira Preparação do terreno Algodão Área da cultura monitorizada (ha) 34 9094 (Local P1) Centerpivot Trigo 30 Março 2005 9135 (Local P2) Tomate 18 Gota-agota Girassol 30 kg/semente/h a 33 000 pl/ha 9133 (Local P3) Melão 5 Gota-agota Trigo 6000 pl/ha 17 Abril 2005 Lavoura, Gradagem, Fresagem Lavoura, Gradagem, Fresagem Lavoura, Gradagem, Fresagem 20 Abril 2005 Nos Quadros 4 e 5 encontram-se os dados relativos às Unidades de Fertilização (UF) aplicadas nos campos de tomate e melão. Quadro 4 – UF aplicadas na parcela experimental do tomate UF (kg/ha) N P K 76 51 59 Quadro 5 – UF aplicadas na parcela experimental do melão Unidades de Fertilizante (kg/ha) N P K CaO B 69 46 31 0.8 0.004 No caso do algodão não foi possível obter as UF aplicadas pelo agricultor. O Quadro 6 mostra as produções obtidas pelas culturas das parcelas experimentais. Quadro 6 – Produções das parcelas experimentais Cultura Produção (ton/ha) Tomate 78 Melão 15 Algodão 4,2 4.3 - Qualidade da água de rega, de drenagem e subterrânea A determinação da qualidade de água de rega foi feita a partir de uma zona piloto com o objectivo de ensaiar e validar o método de trabalho a aplicar. Consideraram-se os seguintes pontos de amostragem: • • • • Canal de Abastecimento de Odivelas Hidrantes Poço Vala de Drenagem As amostras foram recolhidas segundo as normas gerais para este tipo de operação (Figura 8). Após a colheita das amostras, os recipientes foram etiquetados e acondicionados em caixas termoeléctricas, sendo posteriormente enviados para o Laboratório de Salinidade da EAN. 11 Figura 8 - Recolha de amostras de água Estas amostras são usadas para determinação dos seguintes parâmetros: condutividade eléctrica, pH, catiões e aniões solúveis (cálcio, magnésio, sódio, potássio, cloreto, sulfato, carbonato, bicarbonato, azoto nítrico e amoniacal, fosfato) e razão de adsorção de sódio (SAR). Com base nos resultados das análises, classificaram-se as águas segundo: • • • United States Salinity Laboratory (USSL) Directriz da FAO (Ayers & Westcot, 1994) Decreto-Lei n.º 236/98, tendo em conta essencialmente o grau de restrição de uso da água de rega quanto a problemas de salinidade, relacionados com a quantidade total de sólidos dissolvidos que afectam a água disponível para as culturas, e a problemas de infiltração que dificultam a rega. Tais problemas são resultantes quer de um baixo teor de electrólitos, quer de uma elevada percentagem de sódio relativamente aos teores de cálcio e magnésio nas águas de rega, ou seja, para um determinado SAR, a taxa de infiltração aumenta quando a salinidade da água sofre um acréscimo. Mencionam-se de seguida, os métodos usados para a caracterização da água de rega: • pH - potenciometria (Hissink, 1930); • Condutividade eléctrica - electrometria, com recurso a um condutivímetro (Silva et al., 1975); • Cloretos - potenciometria directa, utilizando um eléctrodo selectivo (Adriano & Doner, 1982); • Azoto Nítrico (N-NO3-) - método de redução de nitratos a nitritos por coluna de cádmio (Hendrilsen & Selmer-Olsen, 1970), implementado no aparelho automático de fluxo segmentado (Skalar); • Azoto Amoniacal (N-NH4+) - método modificado de Bertholot (Searle, 1984), implementado no aparelho automático de fluxo segmentado (Skalar); • Catiões solúveis - espectrofotometria de absorção atómica, a partir dos quais se calculou a razão de adsorção de sódio (SAR): 12 SAR = onde, Na+, Ca2+, Mg2+ Na + solúvel (Ca 2 + solúvel + Mg 2 + solúvel ) 2 são as concentrações dos catiões solúveis (mmol(c) L-1). 4.4 – Qualidade da solução do solo A monitorização da solução do solo (Figura 9) efectuou-se através da instalação de lísimetros de sucção nos três locais (P1, P2 e P3) de montante para jusante da bacia seleccionada. Em cada local de monitorização foram instalados 3 conjuntos de lísimetros ou cápsulas porosas, colocados a 20 e a 40 cm de profundidade, num total de 6 lísimetros por local. A solução do solo obtida nos locais P2 e P3, durante o ciclo de rega (24 de Junho a 19 de Agosto de 2005), foram submetidas a determinações de pH, CE e teores em cloretos, catiões solúveis (sódio, cálcio, magnésio e potássio) e azotos nítrico e amoniacal, cujas metodologias são idênticas às mencionadas no ponto 4.3. Figura 9 – Recolha da solução do solo. 4.5 – Caracterização do solo O estudo relativo aos solos consistiu na abertura de covas nas quais se procedeu à descrição dos perfis de solo e ainda à recolha de amostras de terra (perturbadas e não perturbadas) para caracterização física, química e hidrológica do solo nos três locais de monitorização já referidos. Assim, em P1, procedeu-se à abertura de uma cova onde se descreveu o perfil do solo P102, em 13/12/2005. Em P2 e P3 colheram-se, a 18/10/2005, amostras perturbadas em 4 profundidades (0-20, 20-40, 40-60 e 60-80 cm), para caracterização física e química, tendo ainda em P3 sido efectuada a descrição do perfil de solo (P100), a 25/10/2005. Nos perfis amostrados colheram-se amostras de solo perturbadas e não perturbadas. As amostras não perturbadas, obtidas através de cilindros de 100 cm3, 200 cm3 e 630 cm3 foram utilizadas para a determinação de curvas de retenção de água, de condutividade hidráulica e 13 da massa volúmica aparente. As amostras perturbadas foram utilizadas na restante caracterização física e química dos perfis de solo. A partir de amostras no estado natural, de 100 cm3, obtiveram-se as curvas de retenção de água no solo utilizando caixas de sucção (Stakman, 1974) para tensões efectivas menos elevadas (log10 h≤ 2.7 ou |h| ≤ 500 cm de água) e dispositivos de placa de pressão para |h| > 500 cm de água. Recorreu-se ainda ao método da evaporação (Wind, 1968), utilizando amostras de 630 cm3, para a determinação simultânea da curva de retenção de água e da condutividade hidráulica para valores de h entre –50 e –800 cm de água. A condutividade hidráulica saturada (Ks) foi obtida através do método da carga constante (Solte, 1997) e a condutividade hidráulica insaturada K(h), através dos métodos da evaporação para h entre -100 e -800 cm (Wind, 1968) e do ar quente (Arya et al., 1975) para valores de h < -50 cm. Os dados laboratoriais foram ajustados pelo programa RETC (van Genuchten et al., 1991) ao modelo de retenção de água no solo de Mualem-van Genuchten (van Genuchten, 1980), −(1−1 / n ) θ −θr = 1 + (αh) n θs −θr [ ] ((1 + (αh) n )1−1 / n − (αh) n−1 ) 2 (1 + (αh) n ) (1−1 / n )( l + 2 ) em que θ é o teor de água (cm3 cm-3), h é a pressão efectiva (cm de água), θr e θs são respectivamente, os teores de água residual e na saturação, K(h) é a condutividade hidráulica em solo insaturado (cm dia-1), Ks é a condutividade hidráulica no estado saturado (cm dia-1) e α, n e l são parâmetros de ajustamento que definem a forma das curvas. A massa volúmica aparente (ρ) foi determinada pela secagem do solo a 105 ºC em amostras no estado natural (100 cm3). K ( h) = K s Nas amostras perturbadas, colhidas nos diferentes horizontes ou camadas dos perfis de solo, foram determinadas as seguintes propriedades básicas: • Composição granulométrica do solo utilizando os limites da escala de Atterberg e seguindo a metodologia descrita em Silva et al. (1975); • pH em água, na relação solo/água (1/2,5), determinado pelo método potenciométrico descrito por Hissink (1930); • Teor de matéria orgânica (MO) utilizando a relação MO = 1,724 x C, em que C é o teor em carbono orgânico determinado segundo a metodologia descrita em Walkley (1947); • Condutividade eléctrica do extracto de saturação do solo com água, determinada por electrometria, com recurso a um condutivímetro (Silva et al., 1975); • Teores de catiões solúveis no extracto de saturação do solo com água, determinados por espectrofotometria de absorção atómica. A determinação dos teores de catiões extraíveis foi efectuada pelo método da trietanolamina e cloreto de bário (TEA+BaCl2) a pH 8.1 (Melich, 1948). Os teores de catiões de troca obtiveram-se pela diferença entre os teores de catiões extraíveis e os de catiões solúveis; • Capacidade de troca catiónica pelo método de Bascomb, descrito por Mesquita & Alvim (1981); • Concentração de cloretos no extracto de saturação do solo com água, determinada por potenciometria directa, utilizando um eléctrodo selectivo (Adriano & Doner, 1982); 14 • Teor de azoto total, determinado pelo método descrito por Bremmer & Mulvaney (1982). • Teores em Azoto Nítrico (N-NO3-), pelo método de redução de nitratos a nitritos por coluna de cádmio (Hendrilsen & Selmer-Olsen, 1970), implementado no aparelho automático de fluxo segmentado (Skalar); • Teores em Azoto Amoniacal (N-NH4+) o método modificado de Bertholot (Searle, 1984), implementado no aparelho automático de fluxo segmentado (Skalar); Foram ainda calculadas a razão de adsorção de sódio (SAR) e a percentagem de sódio de troca (ESP), as quais são definidas por: Na + solúvel SAR = (Ca 2 + solúvel + Mg 2 + solúvel ) 2 onde Na+, Ca2+, Mg2+ são as concentrações dos catiões solúveis do extracto de saturação, expressas em mmol(c) L-1, e: Na + troca × 100 CTC em que Na+ é a quantidade de sódio adsorvido (cmol(c) kg-1 de solo) e CTC a capacidade de troca catiónica (cmol(c) kg-1 de solo). ESP = 4.6 - Monitorização da rega A rega de cada uma das culturas e em cada uma das parcelas foi monitorizada pela ABORO, através do sistema de telegestão, que permite o registo em contínuo dos volumes aplicados a partir das bocas de rega. 4.7 - Consumo de água das culturas De acordo com os objectivos do projecto, para a análise da estratégia de rega do agricultor, foi necessário determinar as necessidades hídricas das culturas com o recurso a modelos de previsão já internacionalmente testados, nomeadamente os disponibilizados pela FAO. A determinação das necessidades em água foi, inicialmente feita com recurso à base de dados de culturas disponibilizada pela FAO (Allen et al., 1998) e complementada posteriormente com recurso à análise da evolução das culturas nas parcelas experimentais do projecto. A sua aplicação em tempo real foi assegurada com recurso aos dados climáticos provenientes da estação meteorológica automática pertencente ao SAGRA – Sistema Agrometeorológico para a Gestão da Rega no Alentejo, instalada nas proximidades da bacia hidrográfica localizada na Infra-estrutura 12 – Monte do Outeiro – Canhestros – Ferreira do Alentejo. 4.8 - Monitorização da água no solo Para controlar o teor de água do solo e permitir fazer a comparação entre a previsão dos consumos de água pelas plantas efectuado de forma teórica através do modelo da FAO, e os 15 consumos reais, determinados a partir do balanço da água no solo recorreu-se à seguinte metodologia: • Método capacitivo - Sonda “Diviner” (Figura 10) Figura 10 - Sonda de registo pontual “Diviner”. Em cada local de monitorização, foram colocados três tubos de acesso à sonda “Diviner”. Os tubos de acesso foram colocados na linha da cultura, entre duas plantas. Com a sonda “Diviner” foi feito o registo das leituras duas vezes por semana, de 10 em 10 cm, até à profundidade máxima de 0,50 m. Para o equipamento foi utilizada, na determinação do teor em água do solo, a curva de calibração de fábrica. 4.9 - Balanço da água no solo Para cada uma das culturas das parcelas experimentais, foi feito um balanço entre as previsões de consumo de água com base nos dados da rede SAGRA e a metodologia citada no ponto anterior. Atendendo ainda à recomendação da FAO, procedeu-se ao ajuste dos coeficientes culturais, devido à constatação do eventual "stress" hídrico a que as culturas por vezes estavam sujeitas, à influência das perdas por evaporação directa do solo, nas alturas em que a rega era frequente e ao grau de cobertura do solo reduzido. Este ajuste do coeficiente cultural, permitiu ajustar a ETc (ETcaj), e assim calcular um balanço ajustado. 4.10 - Avaliação dos sistemas de rega usados nos campos experimentais Tendo como objectivo, por um lado, cruzar os diferentes tipos de informação sobre a quantidade de água realmente aplicada no solo, e por outro, a uniformidade da rega, com especial acuidade, nas parcelas de ensaio, torna-se necessário proceder à avaliação dos equipamentos de rega. 16 A avaliação pretende verificar o estado actual de funcionamento do equipamento e comparálo com as condições potenciais dos mesmos, de modo a detectar possíveis anomalias, optimizar o seu funcionamento, determinar as dotações de rega reais, uniformidade de distribuição da água na parcela, etc. 4.11 – Monitorização dos volumes escoados na secção jusante da bacia Para permitir a medição dos caudais escoados na rede de drenagem da bacia hidrográfica, foi construída uma estrutura de medição em canal – canal com soleira sobre elevada (Figura 11), situada no extremo da bacia hidrográfica, na vala de drenagem principal. Figura 11 - Esquema da soleira sobre elevada Da Figura 12 à 15, mostra-se uma pequena sequência dos trabalhos de construção da estrutura de medição de caudais. Figura 12 - Vista do local de instalação da estrutura de medição de caudal. Procedeu-se à limpeza de uma secção com cerca de 15 m de comprimento. Figura 13 - Início da construção da estrutura de medição. Na imagem é possível ver a colocação da cofragem, que irá suportar a estrutura de betão. 17 Figura 14 - Estrutura em estado de secagem. Figura 15 - Estrutura de medição de caudais concluída. O registo dos volumes escoados foi feito de modo contínuo, na estrutura de medição de caudais. Este registo foi feito com um medidor ultrassónico ligado a um datalogger (Warren Jones 460), instalado num abrigo (Figura 16). Figura 16 – Estrutura de abrigo, logger Warren Jones 460 e computador portátil. O sensor ultrassónico foi suspenso na estrutura de medição de acordo com a Figura 17, segundo as normas do fabricante e tendo em conta as características da estrutura de medição. Com este sensor é possível registar continuamente a altura do escoamento, possibilitando assim, através da equação de vazão da estrutura de medição, conhecer o caudal escoado. 18 Figura 17 – Sensor ultrassónico suspenso na estrutura de medição. Simultaneamente foram registadas as variações do nível freático no poço (Figura 18). Figura 18 - Medição do nível freático do poço. 4.12 – Trabalhos suplementares Para além dos trabalhos relacionados directamente com a construção do medidor de caudal, outros trabalhos tiveram de ser executados, para garantir na medida do possível, o encaminhamento da água na vala de drenagem, sem obstáculos ou interrupções. As Figuras 19 e 20 dão o exemplo de algumas das tarefas executadas. Tornou-se necessária a colocação de manilhas de betão (Figura 19), em determinados locais de passagem de máquinas agrícolas. Figura 19 - Colocação de manilhas em pontos de circulação de veículos. 19 Procedeu-se à limpeza e regularização da vala de drenagem (Figura 20), de forma a garantir que o movimento da água de montante para jusante se fizesse com o mínimo de obstáculos, e assim, assegurar uma leitura no ponto de medição de caudais, a mais fidedigna possível. Figura 20 - Limpeza da vala de drenagem. 5 – Resultados e Discussão 5.1 – Qualidade da água de rega, de drenagem e subterrânea As águas de rega provenientes do canal de abastecimento, dos hidrantes, do poço e da vala de drenagem, foram recolhidas a partir de Junho de 2005. Os resultados analíticos encontram-se no Anexo I. De acordo com os objectivos do projecto e com a metodologia apresentada no ponto 4.3, avaliou-se a qualidade da água, quanto a: • • • • Salinidade (condutividade eléctrica); Influência da qualidade da água de rega na infiltração da água no solo; Riscos de salinização e de sodicização ou alcalização (SAR); Toxicidade de alguns iões específicos e outros efeitos que afectam a susceptibilidade das culturas; A determinação dos teores em bicarbonatos, carbonatos, sulfatos e fosfatos não foi possível ser realizada no primeiro ano do projecto, estando prevista a sua execução no segundo ano. 5.1.1 - Salinidade da Água Na Figura 21, apresenta-se o Grau de Restrição do Uso da Água para Rega, dos vários pontos de amostragem, no que se refere à salinidade. 20 10,00 Severo 9,00 8,00 CE (dS/m) 7,00 6,00 5,00 Ligeiro a Moderado 4,00 3,00 2,00 Nenhum 1,00 0,00 28-Mai 17-Jul 5-Set 25-Out 14-Dez 2-Fev Data Colheita canal boca rega vala poço Figura 21 - Grau de restrição do uso da água dos vários pontos de amostragem quanto à salinidade Da análise da Figura 21 e considerando os limites 0,7 dS/m (abaixo do qual não há qualquer restrição de uso) e 3,0 dS/m (acima do qual o grau de restrição é severo), verifica-se que: • No canal de abastecimento e na boca de rega, não existem alterações do valor da CE ao longo do tempo, sendo o intervalo de variação entre 0,4 e 0,6 dS/m, não havendo nenhum grau de restrição no uso da água. Isto significa que o facto da água do canal ser misturada com a água da albufeira da barragem do Monte Branco, não conduz a alteração da qualidade da água de rega. • Entre a boca de rega e a vala de drenagem, a salinidade aumenta significativamente, elevando o grau de restrição do uso da água para um nível ligeiro a moderado, com excepção de uma amostra que forneceu um valor com grau de restrição severo. • No que ao poço diz respeito, os valores da CE são bastante superiores (entre 5 e 9 dS/m de Junho a Outubro) em relação aos outros pontos de amostragem, sendo severo o grau de restrição do uso como água de rega. Embora sem dados suficientes que permitam sustentar qualquer justificação para este facto, pensa-se que tal poderá ter origem não na rega, dado tratar-se do primeiro ano de regadio, mas em factores geogénicos. De acordo com o Decreto-Lei nº 236/98, os valores da condutividade eléctrica são inferiores ao VMR (Valor Máximo Recomendado) para o canal e para a boca de rega, enquanto que os valores de CE da água da vala e do poço são superiores ao VMR, tal como se pode observar na Figura 22. 21 10,00 9,00 8,00 CE (dS/m) 7,00 6,00 5,00 4,00 3,00 2,00 1,00 0,00 28-Mai 17-Jul 5-Set 25-Out 14-Dez 2-Fev Data Colheita canal boca rega vala poço VMR Figura 22 - Valores de CE vs Valor Máximo Recomendado. 5.1.2 - Influência da qualidade da água de rega na infiltração da água no solo Na Figura 23, extraída de Ayers & Westcot, 1994, apresenta-se a influência da relação entre a salinidade da água e a razão de adsorção de sódio na taxa de infiltração do solo. Figura 23 - Influência da relação entre a salinidade da água de rega e a razão de adsorção de sódio (SAR) na taxa de infiltração da água no solo (Ayers & Westcot, 1994). Da análise da Figura 23, constata-se que: • A água de rega pode reduzir a taxa de infiltração de água no solo num nível ligeiro. • A água proveniente da vala de drenagem não apresenta características para potencialmente modificar as condições de infiltração de água no solo. 22 5.1.3 - Riscos de salinização e sodicização A Figura 24 resume a classificação das águas dos vários pontos de amostragem, de acordo com os parâmetros de salinização e sodicização, segundo o United States Salinity Laboratory (Richards,1954) e (Kanwar,1961). Legenda: ● Canal abastecimento ● Boca de rega ● Vala drenagem ● Poço Figura 24 - Classificação da qualidade da água de rega segundo o United States Salinity Laboratory (USSL). De acordo com a Figura 24, verifica-se que a água de rega, não supera a classificação C2S1, ou seja, apresenta um perigo de salinização médio podendo ser usada, desde que se verifique uma lavagem moderada. Por outro lado, mostra um baixo risco de sodicização do solo (S1) pelo que pode ser usada para rega em quase todos os solos. Quanto à água proveniente da vala de drenagem, verifica-se que esta se enquadra entre o nível C3S1 e C4S2, o que significa que é uma água com um risco de salinização do solo alto a muito alto e por isso indicada apenas em solos bastante permeáveis e bem drenados, e desde que sejam escolhidas culturas resistentes a muito resistentes. Em relação ao perigo de sodicização, a água da vala apresenta um perigo baixo a médio, pelo que poderá apresentar um risco apreciável de sodicização do solo. Relativamente à água do poço, verifica-se que esta se situa entre o nível C4S3 e C5S4, o que significa que esta água apresenta um perigo extremamente elevado de salinização e de sodicização do solo, não devendo ser utilizada em nenhuma situação. 23 Na Figura 25 apresenta-se a relação entre os valores das análises dos vários pontos de amostragem e o VMR para o SAR, de acordo com o Decreto-Lei nº 236/98. 16 SAR (mmol (C) L-1) 0,5 14 12 10 8 6 4 2 0 28-Mai 17-Jul 5-Set 25-Out 14-Dez 2-Fev Data Colheita canal boca rega vala poço VMR Figura 25 - Valores do SAR das análises vs Valor Máximo Recomendado. Verifica-se que apenas a água do poço apresenta valores de SAR que excedem o VMR (SAR=8 (mmol(c)/L)0,5). 5.1.4 - Toxicidade de alguns iões específicos e outros efeitos que afectam a susceptibilidade das culturas Neste ponto apresentam-se os dados referentes à toxicidade específica do catião sódio (Na+) e do anião cloreto (Cl-), por serem aqueles que causam um maior número de problemas e por serem aqueles que mais aparecem nas águas de rega, de drenagem e subterrâneas. Avaliaramse também outros parâmetros, tais como: a concentração de nitratos na água e a acidez ou basicidade da água (pH). 5.1.4.1 - Toxicidade específica dos iões Sódio e Cloreto Nas Figuras 26 e 27 pode-se observar o grau de restrição no uso da água de rega de cada ponto de amostragem, quanto à toxicidade dos iões sódio e cloreto, respectivamente. 24 30,00 Na (mmol (C)L-1) 25,00 Ligeiro a Moderado 20,00 15,00 10,00 Nenhum 5,00 0,00 28-05-2005 17-07-2005 05-09-2005 25-10-2005 14-12-2005 02-02-2006 Data Colheita canal boca rega vala Figura 26 - Graus de restrição no uso da água de rega e de drenagem quanto à toxicidade específica do ião sódio na rega por aspersão (rampas rotativas). Cl (mmol (C)L-1) 50,00 40,00 Ligeiro a Moderado 30,00 20,00 10,00 0,00 28-05-2005 Nenhum 17-07-2005 05-09-2005 25-10-2005 14-12-2005 02-02-2006 Data Colheita canal boca rega vala Figura 27 - Grau de restrição no uso da água de rega e de drenagem quanto à toxicidade específica do ião cloreto. No que diz respeito aos teores de cloretos e de sódio na água de rega, sempre inferiores a 3 mmol(c)/L, não existe nenhum grau de restrição. No que respeita à água da vala de drenagem, verifica-se que as concentrações de sódio e cloretos são muito elevadas em relação à água de rega, sendo pois o grau de restrição no uso da água ligeiro a severo. Na Figura 28 pode-se observar o comportamento das águas analisadas, no que aos cloretos diz respeito, face aos valores máximos recomendados (segundo o Decreto-Lei nº 236/98). 25 Cl (mg/l) 1800,00 1600,00 1400,00 1200,00 1000,00 800,00 600,00 400,00 200,00 0,00 28-Mai 17-Jul 5-Set 25-Out 14-Dez 2-Fev Data Colheita canal boca rega vala VMR Figura 28 - Enquadramento das análises de água no Valor Máximo Recomendado. De acordo com a Figura 28 a água de rega situa-se muito próxima do VMR (2 mmol(c)/L ou 70 mg/L), enquanto que a água da vala situa-se consideravelmente acima do VMR. Estes resultados vêm confirmar a tendência para o teor de cloretos da água da vala ser relativamente elevado, tal como foi verificado no ponto anterior (Figura 27). 5.1.4.2 - Azoto (Nitratos) Na Figura 29, apresentam-se valores relativos aos teores de azoto nítrico dos vários pontos de amostragem, que correspondem a graus de restrição diferentes. Severo 35 N-NO3 (mg/l) 30 25 Ligeiro a Moderado 20 15 10 Nenhum 5 0 28-Mai 17-Jul 5-Set 25-Out 14-Dez 2-Fev Data Colheita canal boca rega vala poço Figura 29 - Grau de restrição do uso das águas referente ao seu teor em nitratos. Da análise da Figura 29, verifica-se que num ponto de amostragem, correspondente à vala de drenagem (amostragem em 12/10/2005), o teor de azoto nítrico atingiu 5,8 mg/L, excedendo levemente o limite de 5 mg/L, acima do qual o grau de restrição é ligeiro a moderado. A água recolhida em todos os outros pontos de amostragem pode, quanto a este parâmetro, ser utilizada sem qualquer restrição. De acordo com a Figura 30 a concentração de nitratos nas águas, em todos os pontos de amostragem, está abaixo do VMR (50 mg/L). 26 Daqui se pode reforçar a ideia de que a má qualidade da água do poço, em termos de salinidade e de risco de sodicização do solo, não terá origem nas práticas agrícolas. 60 NO3 (mg/l) 50 40 30 20 10 0 17-Jun 27-Jun 7-Jul 17-Jul 27-Jul 6-Ago 16-Ago 26-Ago 5-Set 15-Set Data Colheita canal boca rega vala poço VMR Figura 30 - Teor de nitratos vs Valor Máximo Recomendado. 5.1.4.3 - pH O pH é um indicador da acidez ou da basicidade de uma água, mas é raramente um problema por si só, desde que o intervalo normal da variação do pH para as águas de rega se situe entre 6,5 e 8,4. Um valor fora daquele intervalo pode causar um desequilíbrio nutritivo, ou pode conter um ião tóxico. pH Na Figura 31 pode-se observar o pH dos vários pontos de amostragem. 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 17-Jun Gam a norm al 27-Jun 7-Jul 17-Jul 27-Jul 6-Ago 16-Ago 26-Ago Data Colheita canal boca rega vala poço Figura 31 - pH dos vários pontos de amostragem. A Figura 31, segundo a FAO, mostra que os valores do pH dos pontos de amostragem se enquadram dentro da gama normal do pH. 27 Tais resultados podem ser confirmados na Figura 32, onde os valores de pH, de todos os pontos de amostragem se situam dentro dos limites dos valores máximos recomendados, entre 6,5 e 8,4 (segundo o Decreto-Lei 236/98). Os valores máximos admissíveis (VMA) correspondem a 4,5 e 9,0. 10 9 8 pH 7 6 5 4 3 2 1 0 17-Jun 27-Jun 7-Jul 17-Jul 27-Jul 6-Ago 16-Ago 26-Ago 5-Set 15-Set Data Colheita canal boca rega vala poço VMR VMA Figura 32 - Enquadramento dos valores de pH no VMR e no VMA 5.2. – Qualidade da solução do solo De acordo com o projecto, monitorizou-se a solução do solo quanto ao pH, condutividade eléctrica, catiões e aniões solúveis, de forma a conhecer o efeito da qualidade da água de rega e da aplicação de fertilizantes e produtos fitossanitários na salinização secundária dos solos e na contaminação dos solos e das águas superficiais e subterrâneas. É de referir que em P1, não se conseguiu obter amostras da solução do solo face à natureza do solo (textura grosseira até cerca de 50 cm) e à baixa frequência de rega. Os resultados dos estudos efectuados são apresentados no Anexo II. Apresentam-se de seguida, um conjunto de gráficos relativos à evolução de alguns dos parâmetros estudados. No que respeita à salinidade, constata-se que os valores da CE da solução do solo no campo do tomate são bastante superiores aos observados no campo do melão (Figuras 33 e 34). 28 12 12 10 10 8 8 6 6 4 4 2 2 0 17-Jun 7-Jul 27-Jul 16-A go 5- Set 0 17-Jun 7-Jul D ata 20 cm 40 cm 27-Jul 16 -A go 5-Set D at a bo ca vala Figura 33 - Evolução da CE – melão. 20 cm 40 cm bo ca vala Figura 34 - Evolução da CE – tomate. Os elevados valores da CE da solução do solo, no campo com tomate, não se poderão atribuir à qualidade da água de rega dado que os valores da CE da água de rega (boca de rega) são bastante baixos. A origem daqueles valores altos derivará do facto de os lisímetros terem sido instalados numa zona com drenagem externa deficiente, correspondente à base de uma encosta conforme se pode verificar na Figura 35, donde resultou uma acumulação de sais e de sedimentos transportados pelas águas de escorrimento ao longo da encosta (os círculos assinalam a localização dos lisímetros de sucção). Figura 35 - Zona de acumulação e de saturação no campo do tomate. Quanto ao campo do melão, verifica-se que a condutividade eléctrica da solução do solo, para as profundidades de 20 cm e 40 cm, é relativamente baixa, pelo que neste caso não haverá risco de salinização secundária do solo, provocada pela agricultura de regadio. Na vala de drenagem, os valores são um pouco mais elevados, tal como seria de esperar, pois a vala recebe principalmente as águas de drenagem externa, e também alguma água de drenagem interna de toda a bacia. No que refere à razão de adsorção de sódio (SAR), verifica-se, no campo do tomate, que os valores da solução do solo são também bastante elevados (Figura 37), o que vem confirmar ser aquele campo uma zona de acumulação de sais e de sedimentos. 29 Relativamente ao campo do melão (Figura 36), verifica-se que os valores de SAR da solução do solo se mantiveram baixos durante todo o ciclo cultural e próximos dos valores da água de rega. 3 5,0 3 0,0 35 ,0 30 ,0 2 5,0 2 0,0 15,0 10,0 25 ,0 20 ,0 15 ,0 10 ,0 5,0 0,0 17 - J un 7 - J ul 2 7 - J ul 16 - A go 5-Set 5 ,0 0 ,0 17-J un D ata 7- Jul 2 7- Jul 16 -A go 5-S e t D a ta 20 c m 40 cm bo c a 20 c m v a la Figura 36 - Evolução do SAR – melão. 4 0 cm bo c a v ala Figura 37 - Evolução do SAR – tomate. Nas Figuras 38 e 39, pode-se observar a evolução do teor de azoto nítrico na solução do solo nos dois campos. 4 ,5 4 3 ,5 3 2 ,5 2 1,5 1 0 ,5 0 17 - J un 7 - J ul 2 7 - J ul 16 - A go 5-Set 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 17-Jun 7-Jul D ata 20 cm 40 cm bo c a 27-Jul 16-Ago 5-Set Data v a la Figura 38 - Evolução do teor de nitratos - tomate 20 cm 40 cm bo c a v a la Figura 39 - Evolução do teor de nitratos - melão A análise das Figuras 38 e 39 mostra que a presença de azoto na forma nítrica na solução do solo, em ambos os campos, é baixa, embora o campo do tomate apresente níveis ligeiramente mais altos. Relativamente ao azoto na forma amoniacal, pode-se observar através da Figura 40, que a concentração é muito baixa, no campo do melão. Quanto ao campo do tomate (Figura 41), verifica-se que a concentração de azoto amoniacal na solução do solo, apresenta uns picos mais elevados que corresponderão às datas de adubação azotada, e, tal como foi referido anteriormente, a zona de monitorização da solução do solo neste campo corresponde a uma zona de acumulação, para onde escorrem preferencialmente as águas superficiais, pelo que será normal que este campo apresente sempre valores mais elevados. 30 7 7 6 6 5 5 4 4 3 3 2 2 1 1 0 0 17-Jun 7-Jul 27-Jul 16 -A go 5-Set 17-Jun 7-Jul 27-Jul D a ta 20 cm 16-A go 5 -S et D ata 20 cm 40 cm Figura 40 - Evolução do azoto amoniacal – melão. 40 c m Figura 41 - Evolução do azoto amoniacal – tomate. Nas Figuras 42 e 43 apresenta-se a evolução, durante o ciclo de rega, do pH da solução do solo nas duas profundidades de solo, para as culturas do melão e do tomate, respectivamente, assim como o pH da água de rega (boca) e da vala de drenagem (vala). 14 14 12 12 10 10 8 8 6 6 4 4 2 2 0 0 17 - J un 7 - J ul 2 7 - J ul 16 - A go 5-Set 17 - J un 7 - J ul D ata 20 cm 40 cm 2 7 - J ul 16 - A go 5-Set 25-Set D ata bo c a v a la Figura 42 - Evolução do pH – melão. 20 cm 40 cm bo c a v a la Figura 43 - Evolução do pH – tomate. De acordo com as Figuras 42 e 43, verifica-se que não existem grandes oscilações no pH da solução do solo, ao longo do ciclo das duas culturas, nem existem diferenças significativas entre o pH a 20 cm e a 40 cm. Os valores obtidos para o pH da solução do solo nos dois campos são da mesma ordem de grandeza. Refira-se ainda que a água de rega não tem efeito no pH da solução do solo, já que ao longo do tempo, os valores do pH da água de rega (boca de rega) e da solução do solo se mantêm próximos. Quanto ao teor de sódio e de cloretos na solução do solo (Figuras 44 a 47), verifica-se mais uma vez que no campo do tomate os teores são bastante mais elevados relativamente ao campo do melão. É de salientar que os elevados teores em sódio no campo do tomate, vêm justificar os elevados valores de SAR (Figura 36) verificados neste campo. 31 140 120 100 80 60 40 20 0 17- Jun 7 -J ul 2 7- Jul 16- A go 5- S et 14 0 12 0 10 0 80 60 40 20 0 17 - J un 7 - J ul 2 7 - J ul D at a 20 40 16 - A go 5-Set D ata bo ca va la 20 Figura 44: Evolução do teor de sódio – melão. 40 bo c a v a la Figura 45: Evolução do teor de sódio – tomate. 2 50 250 2 00 200 150 15 0 100 10 0 50 50 0 17-Jun 0 7-Jul 27-Jul 16-A go 5-Set 17 - J un 7 - J ul 2 7 - J ul 20 cm 40 cm 16 - A go 5-Set D ata D ata bo ca vala Figura 46: Evolução do teor de cloretos – melão. 20 cm 40 cm bo c a v a la Figura 47: Evolução do teor de cloretos – tomate. 5.3. – Caracterização do solo Como atrás referido, os resultados analíticos sobre as amostras de solos colhidas no último trimestre de 2005 não estão ainda disponíveis dado que as determinações laboratoriais se encontram em progresso. Porém, apresenta-se, no Anexo III, as descrições dos perfis 100 e 102, correspondentes aos solos dos locais P3 e P1, respectivamente. A descrição do perfil relativa ao local P2 apresentar-se-á em 2006. 5.4 - Monitorização da rega Os valores da rega aplicada foram fornecidos pela ABORO. No Quadro 7 é possível observar os volumes de água correspondentes às bocas de rega que fornecem água às culturas instaladas dentro da bacia hidrográfica, distinguindo-se a vermelho os referentes às culturas instaladas nas parcelas experimentais. 32 Quadro 7 – Resumo dos volumes de água aplicados nas várias culturas Parcela 9094 9096 9114 9135 9111 9111 9111 9111 9111 9112 9112 9112 9112 9112 9112 9116 9119 9133 9133 9134 9136 9143 9143 Boca de rega 4-42-1 4-47-1 3-5-2 3-59-1 3-54-1 3-55-1 3-57-1 3-58-1 4-11-1 4-10-1 4-10-1 4-10-1 4-9-1 4-9-1 4-9-1 3-4-3 3-6-1 3-52-1 3-52-1 3-52-2 3-3-1 3-7-1 3-7-1 Cultura algodão olival tomate tomate melão melão melão melão melão beterraba girassol trigo beterraba girassol trigo pimentão melão melão beterraba melão beterraba cevada trigo 2004 Jan/05 Fev/05 Mar/05 4378 Abr/05 31722 6351 5 629 3761 2358 2358 Volume (m3) Jun/05 Jul/05 18306 57526 766 1019 8333 17571 34057 43622 Ago/05 59617 1426 13038 8451 Set/05 8650 938 339 1106 5517 4796 3738 18363 5622 6106 6604 34867 15485 10336 5099 29433 18390 12668 814 2735 3385 3627 Mai/05 3914 1393 4942 9684 2914 1186 2474 6920 5167 6006 4128 3674 5625 9025 11531 15725 24501 22571 10311 17 1156 5495 1801 4989 2169 7541 4923 8934 2459 5874 Out/05 7 349 Nov/05 Dez/05 28794 1897 2104 1666 8034 10370 14596 13624 4037 291 2538 35 2950 946 1959 5441 4477 7798 9521 11123 10496 13243 11354 9730 2987 1493 2419 72 3541 11096 15441 105338 295 34284 11352 56618 49810 48789 86 1964 20447 81990 Total 184119 5890 44223 102165 5 17989 94677 47678 32738 5578 87230 169171 264415 186579 30581 737 0 0 870045 33 O mês de Julho com 264415 m3 foi aquele que registou o maior consumo de água por parte das culturas instaladas na bacia hidrográfica, em contraste com o mês de Outubro, que apresentou o menor consumo. 5.5 - Consumo de água das culturas A rega foi controlada através da monitorização da água no solo. O balanço da água no solo referente a cada cultura apresenta-se em Anexo IV, com a seguinte informação: • Balanço ajustado - linha representativa do balanço (ETc - Pe e/ou Rega) sendo a ETc o valor ajustado – ETcaj. • Capacidade de Campo (CC) – linha representativa da capacidade máxima de armazenamento de água no solo após cessarem todos os movimentos gravitacionais. • Ponto de Emurchecimento Permanente (PEP) – linha representativa do teor mínimo de água de um solo para o qual a planta não conseguirá viver. • Défice de Gestão Permissível (DGP) – linha representativa da percentagem de água utilizável possível de ser extraída do solo pela cultura, sem que implique perdas de produção predefinidas para tal valor. • “Diviner” - pontos representativos da evolução do armazenamento de água no solo. Nas Figuras 48, 49 e 50, observa-se a variação do teor de água no solo para as três parcelas experimentais. Nos Quadros 8, 9 e 10, apresentam-se os valores dos consumos para as diferentes culturas. Quadro 8 – Consumo de água da cultura do tomate Abril Março Junho Julho Agosto Balanço ETcaj (mm) 31.2 83.7 145 247.1 80.7 587.7 P (mm) 0.0 34.1 0.8 0.4 0.0 35.3 Pe (mm) 0.0 27.3 0.6 0.3 0.0 28.2 ETcaj-Pe (mm) 31.2 56.4 144.4 246.8 80.7 559.5 Rega (mm) 34.6 52.8 185.6 237.7 46.1 556.8 Dotação Útil (mm) 32.9 50.2 176.3 225.8 43.8 529.0 Quadro 9 - Consumo de água da cultura do melão Abril Março Junho Julho Agosto Balanço ETcaj (mm) 37 118.5 188.7 159.5 14.3 518 P (mm) 1.1 34.1 0.8 0.4 0.0 36.4 Pe (mm) 0.9 27.3 0.6 0.3 0.0 29.1 ETcaj-Pe (mm) 36.1 91.2 188.1 159.2 14.3 488.9 Rega (mm) 67.3 138.3 194.6 164.5 13.6 578.3 Dotação Útil (mm) 63.9 131.4 184.9 156.2 13.0 549.4 34 Quadro 10 - Consumo de água da cultura do algodão Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Balanço ETcaj (mm) 7.6 P (mm) 0.1 97.7 43.6 49.6 149.0 147.7 37.7 13.2 546.1 6.4 34.1 0.8 0.4 0.0 3.6 40 85.4 Pe (mm) 0.1 5.1 27.3 0.6 0.3 0.0 2.9 32.0 68.3 477.8 ETcaj-Pe (mm) 7.5 92.6 16.3 49.0 148.7 147.7 34.8 -18.8 Rega (mm) 12.8 92.8 11.4 53.5 168.2 174.3 25.3 0.0 538.4 Dotação Útil (mm) 10.9 78.8 9.7 45.5 143.0 148.2 21.5 0.0 457.6 Da análise dos Quadros 8, 9 e 10 pode concluir-se que: • Na parcela experimental do melão, a rega foi ligeiramente por excesso atendendo a que as necessidades em água foram de 488,9 mm enquanto a rega aplicada foi de 549.4 mm. Esta ideia pode ser detectada pela análise dos perfis hídricos da Figura 48. Teor de humidade (%) 0.00 10.00 20.00 30.00 40.00 50.00 60.00 0 Profundidade (cm) 10 20 30 40 50 60 30-Jun 04-Jul 08-Jul 15-Jul 19-Jul 22-Jul 26-Jul 29-Jul 05-Aug 09-Aug 12-Aug 16-Aug 19-Aug 23-Aug Figura 48 - Variação da humidade do solo em profundidade, na cultura do melão. Da análise da Figura 48 pode concluir-se que, por um lado, o teor de humidade vai aumentando com a profundidade, e por outro, o perfil hídrico evolui, ao longo da campanha, no sentido do aumento do teor de humidade no solo. Esta evolução positiva pode inferir que, provavelmente, a estratégia de rega seguida pode vir a potenciar perdas de água por infiltração profunda, e como tal, a contaminação do lençol freático. Contudo, não é possível tornar estes valores conclusivos, atendendo a que não há informação abaixo dos 50 cm. Será um ponto a alterar na próxima campanha de rega. 35 • Nas parcelas experimentais do algodão e do tomate, as necessidades em água das culturas não foram satisfeitas na totalidade. Esta situação pode ser analisada nas Figuras 49 e 50, onde se apresentam os perfis hídricos destas culturas. Teor de humidade (%) 0 10 20 30 40 50 60 0 Profundidade (cm) 10 20 30 40 50 60 30-Jun 04-Jul 08-Jul 15-Jul 19-Jul 22-Jul 26-Jul 29-Jul 05-Aug 09-Aug 16-Aug 19-Aug 23-Aug Figura 49 - Variação da humidade do solo em profundidade, na cultura do algodão. Da análise da Figura 49 pode concluir-se que a evolução do perfil hídrico ao longo da campanha foi no sentido de diminuição do teor de humidade no solo. Esta evolução negativa permite inferir que a estratégia de rega seguida não potenciou perdas de água por infiltração profunda, e como tal, contaminação do lençol freático. Teor de Humidade (%) 0 10 20 30 40 50 60 0 Profundidade (cm) 10 20 30 40 50 60 30-06-2005 04-07-2005 08-07-2005 12-08-2005 16-08-2005 19-08-2005 15-07-2005 19-07-2005 22-07-2005 26-07-2005 29-07-2005 05-08-2005 09-08-2005 Figura 50 - Variação da humidade do solo em profundidade, na cultura do tomate. 36 No caso do tomate, comparando o Quadro 8 com a Figura 50, observa-se uma discordância, ou seja, com base no primeiro as necessidades da cultura não foram integralmente satisfeitas, enquanto que da segunda, se pode concluir que o solo se encontrou sempre acima da sua capacidade de armazenamento. Esta situação poderá ser devida ao local de instalação do equipamento de monitorização de água no solo. Este foi instalado numa zona de baixa, que se veio a mostrar um local de acumulação de água de drenagem superficial e profunda (Figuras 35 e 51). Figura 51 – Escoamento superficial para a vala de drenagem. Da análise da Figura 50 pode concluir-se que o teor de humidade vai aumentando com a profundidade, e ao longo da campanha. Esta evolução positiva pode inferir que, provavelmente, a estratégia de rega seguida pode vir a potenciar perdas de água por infiltração profunda, e como tal, a contaminação do lençol freático. Contudo, não é possível tornar estes valores conclusivos, atendendo a que não há informação abaixo dos 50 cm. Será um ponto a alterar na próxima campanha de rega. 5.6 – Avaliação dos sistemas de rega usados nos campos experimentais Devido ao volume de trabalho da área da Assistência Técnica, que desempenha este tipo de funções, não foi possível durante o ano de 2005, realizar a avaliação dos sistemas de rega usados nas parcelas experimentais. Esta tarefa será assim executada assim que possível no ano de 2006. 5.7 - Monitorização dos volumes escoados na secção jusante da bacia Apesar das tecnologias de rega estarem cada vez mais desenvolvidas, visando o máximo de eficiência no aproveitamento da água de rega, e das técnicas culturais irem de encontro à maximização da produção em função da água, nem sempre isto se consegue. Uma parte da água que entra na bacia hidrográfica, por questões relacionadas com a tecnologia da rega, com os solos, com a topografia, com a qualidade da água, etc., acaba por se perder por escoamento superficial e/ou profundo. 37 Este escoamento, mais ou menos afectado pelas diferentes práticas agrícolas, acaba por ser fortemente influenciado pelas deficientes técnica e gestão de rega usadas pelo agricultor, com resultados negativos não só no custo afecto à rega, como na qualidade da água que se escoa para fora da zona regada. De acordo com a metodologia citada anteriormente, apresenta-se no Quadro 11 a informação mensal e acumulada respeitante aos escoamentos registados na estrutura de medição (de 1 de Agosto a 31 de Dezembro). No mesmo quadro apresentam-se ainda os valores da precipitação mensal ocorrida na EMA do Outeiro, bem como os volumes aplicados na bacia hidrográfica a partir das bocas de rega instaladas na mesma, com base, nas quais, foi efectuada a rega das culturas citadas anteriormente. No sentido de tentar fazer a diferenciação da influência dos escoamentos influenciados pela rega e pela precipitação, os valores do Quadro 11, são apresentados por diferentes blocos de meses, ou seja, um primeiro, correspondente aos meses de Novembro e Dezembro de 2004, um segundo de Janeiro a Março (predominantemente precipitação), um terceiro aos meses de Abril a Setembro (essencialmente rega) e o quarto aos meses de Outubro a Dezembro (predominantemente precipitação). 2005 2004 Quadro 11 – Precipitação, Rega, Escoamentos e Coeficiente de Escoamento Novembro Dezembro Total Janeiro Fevereiro Março Total Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Total Outubro Novembro Dezembro Total Entradas de água Escoamentos Coeficiente de Escoamento Precipitação Rega Total mm m3 m3 m3 m3 85.6 308435 803 309238 57.2 206104 1555 207659 142.8 514539 2358 516897 1.4 5045 11096 16141 26.7 96206 15441 111647 25.3 91161 20447 111607 53.4 192411 46984 239395 6.4 23061 81990 105051 34.1 122869 87230 210099 0.7 2522 169171 171694 0.1 360 264415 264775 0.0 0 186579 186579 387 0.002 3.6 12972 30581 43553 22 0.001 44.9 161784 819967 981750 409 0.002 115.1 414729 737 415466 13315 0.032 85.6 308435 0 308435 6766 0.022 57.2 206104 0 206104 49721 0.241 257.9 929268 737 930005 69802 0.075 Da análise deste quadro pode concluir-se que, a nível global, e no período correspondente a 1 de Agosto a 31 de Dezembro, o escoamento total acumulado medido é de aproximadamente 70000 m3, correspondente a um volume total de água aplicado na bacia de 1160137 m3 (precipitação + rega), o que representa aproximadamente 6 %. Da análise deste quadro pode ainda concluir-se que, se se tiver em conta o período essencialmente da rega (Agosto e Setembro), os escoamentos provenientes de uma gestão menos adequada representa apenas cerca de 0,2 %. 38 160000 80 140000 70 120000 60 100000 50 80000 40 60000 30 40000 20 20000 10 27/12/2005 12/12/2005 27/11/2005 12/11/2005 28/10/2005 13/10/2005 28/09/2005 13/09/2005 29/08/2005 14/08/2005 30/07/2005 15/07/2005 30/06/2005 15/06/2005 31/05/2005 16/05/2005 01/05/2005 16/04/2005 01/04/2005 17/03/2005 02/03/2005 15/02/2005 31/01/2005 16/01/2005 0 01/01/2005 0 mm m3 Os dados do Quadro 11 podem ser vistos na forma gráfica através da apresentação da Figura 52. data Escoamento Escoamento acumulado Bocas de rega Precipitação Precipitação (mm) Figura 52 – Precipitação, Rega e Escoamento ocorridos na bacia hidrográfica. Com base na metodologia da FAO, foram determinadas as necessidades hídricas das culturas. Tendo em conta estes valores e as dotações úteis aplicadas, apresenta-se no Quadro 12 a comparação entre estes dois parâmetros, bem assim como o balanço, ou seja, a diferença entre as entradas de água (precipitação efectiva e dotações úteis) e a evapotranspiração das culturas. As dotações úteis foram estimadas a partir do volume registado nas bocas de rega, considerando uma eficiência de aplicação respectivamente de 75% no caso dos pivots e 90% na rega gota a gota. A precipitação efectiva foi, para já, considerada como 20% da precipitação total diária, considerando-se desprezável sempre que esse valor fosse inferior a 1 mm/dia. O Quadro 12 tem início em Novembro de 2004, uma vez que, embora as medições de escoamento só tenham tido início em Agosto, as culturas da beterraba e trigo foram semeadas neste mês. Assim, e apesar desta situação, foi considerado oportuno dar início à estratégia do projecto, observando apenas a eventual existência de escoamento. Tendo em conta que tal nunca se veio a verificar, considerou-se como início desta análise o referido mês de Novembro. 39 2005 2004 Quadro 12 – Balanço entre entradas e saídas de água para rega Novembro Dezembro Total Janeiro Fevereiro Março Total Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Total Outubro Novembro Dezembro Total Precipitação efectiva mm m3 66 24034 44 18181 111 42215 0 0 20 8487 18 8742 37 17230 4 3833 27 44631 0 0 0 0 0 0 2 2498 33 50961 91 3844 66 2594 44 0 202 6438 Dotação Útil m3 602 1166 1768 7447 8117 13420 28983 63257 70654 137947 218632 165915 27582 683986 651 0 0 651 Total 24636 19347 43983 7447 16604 22162 46213 67090 115285 137947 218632 165915 30079 734947 4494 2594 0 7089 Etc m3 4793 9661 14455 11330 15797 31446 58573 79679 105985 135899 215611 166539 36190 739903 2845 1913 0 4758 Balanço m3 19843 9686 29529 -3883 807 -9284 -12361 -12590 9300 2048 3021 -624 -6111 -4956 1649 681 0 2330 Considerando a mesma estratégia de apresentação dos valores do Quadro 11, poder-se-á concluir da análise do Quadro 12 que, apesar das necessidades úteis das culturas instaladas dentro da bacia terem apresentado para o período de Abril a Setembro um balanço negativo (necessidades superiores às entradas de água), foi registado, neste período, um escoamento que, embora muito pequeno, pode indiciar uma menos correcta gestão da rega aplicada, a qual pode ser justificada por uma eficiência de aplicação menos correcta, justificada através do exemplo das Figuras 35 e 51. Esta situação leva à necessidade de, na próxima campanha de rega se proceder à avaliação dos sistemas de rega para perceber se a menos correcta eficiência de rega tem a ver com o deficiente desempenho dos equipamentos de rega ou com a gestão dos mesmos. Esta mesma conclusão pode tirar-se da análise do que foi dito no ponto 5.5, onde se constatou que, no caso do melão, a rega foi ligeiramente por excesso, enquanto que nos casos do algodão e do tomate, as necessidades em água das culturas, embora não tenham sido satisfeitas na totalidade se verificou, no caso do tomate, acumulação de água nas zonas mais baixas adjacentes à linha de água (Figuras 35 e 51). Os dados do Quadro 12 podem ser vistos na forma gráfica através da apresentação da Figura 53. 40 mm 26/12/05 11/12/05 26/11/05 11/11/05 27/10/05 12/10/05 27/09/05 12/09/05 28/08/05 13/08/05 29/07/05 14/07/05 0 29/06/05 0 14/06/05 5 30/05/05 2000 15/05/05 10 30/04/05 4000 15/04/05 15 31/03/05 6000 16/03/05 20 01/03/05 8000 14/02/05 25 30/01/05 10000 15/01/05 30 31/12/04 12000 16/12/04 35 01/12/04 14000 16/11/04 40 01/11/04 m3 16000 data Necessidades das culturas Precipitação diária efectiva Dotação Útil Precipitação diária efectiva (mm) Figura 53 – Comparação das necessidades das culturas (método da FAO) com as entradas de água (dotação útil+precipitação efectiva) 30/12/05 16/12/05 02/12/05 18/11/05 04/11/05 21/10/05 07/10/05 23/09/05 09/09/05 6.00 5.50 5.00 4.50 4.00 3.50 3.00 2.50 2.00 1.50 1.00 0.50 0.00 26/08/05 Altura (m) Na Figura 54, apresenta-se a evolução do nível freático do poço situado dentro da bacia hidrográfica, na tentativa de, na ausência de outro tipo de informação, poder justificar a não contribuição deste para os escoamentos superficiais registados na estrutura de medição, durante a época de rega, fazendo crer que estes são apenas devido aos escoamentos superficiais com origem na rega, já que, durante esta época, os níveis freáticos se situaram na ordem dos -2,00 a -2,50 m. Data Nível freático (m) Figura 54 – Evolução do nível freático do poço A partir de finais de Outubro, tal como se pode ver na Figura 54, após o aumento da precipitação, o nível freático subiu para valores da ordem dos -1,50 m, mantendo-se com pequenas oscilações até final do ano de 2005. 41 6 - Estratégia a seguir no ano de 2006 Face às conclusões do trabalho realizado no ano de 2005, prevê-se: • • • • Continuar a programação prevista no projecto relativo à bacia hidrográfica localizada na Infra-estrutura 12. Permanecer com as mesmas parcelas de cultura estudadas durante o período a que diz respeito o relatório (Infra-estrutura 12). Atendendo a que foi possível recorrer a equipamento de medição (medidor de caudal) disponibilizado por outra equipa de experimentação, que o custo das estruturas de medição foi inferior ao projectado, e à necessidade de haver um maior controlo sobre a evolução dos níveis e da qualidade do lençol freático, propõe-se a utilização das verbas correspondentes para a instalação de dois piézometros, sendo um, localizado na extremidade sul desta bacia, e outro na bacia localizada na Perímetro de Rega de Odivelas. Iniciar a programação prevista no projecto para a bacia hidrográfica localizada na Perímetro de Rega de Odivelas. 42 7 - Referências bibliográficas Adriano, D. C. & Doner, H. E., 1982. Bromine, chlorine and fluorine. In: Page, A.L.; Miler, R. H. & Keeney, D. R. (Eds.). Methods of Soil Analysis. Part 2. Chemical and Microbiological Properties. 2nd ed: 449-483. Agronomy (9). Am. Soc. Agron., Inc. Madison, Wisconsin, USA. Alarcón,C. T., !965. 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