Natureza, Cultura e Desenvolvimento

Transcrição

Natureza, Cultura e Desenvolvimento
Natureza, Cultura e Desenvolvimento.
Ensaio pensando em Angola e em Portugal
Tomaz Moreira1, 6
Nuno Gonçalves2
Joaquim Lauriano3
Anaz Vidro4
Káchia Téchio5
Resumo
Há algum tempo conhecemos e recebemos Amizade do Dr. Ondrey Majaernick,
checo, que no seu País conheceu duas invasões de sinais aparentemente diferentes,
ambas fortemente tirânicas. É um caso entre tantos que ocorrem e/ou têm ocorrido
em várias zonas e em várias épocas do nosso mundo. Esteve preso num campo de
concentração onde havia prisioneiros de várias nacionalidades. Havia em particular
prisioneiros de nacionalidade F e de nacionalidade R. (por delizadeza não
concretizamos alguns aspectos). Chega o natal e é permitido que as famílias
enviem lembranças do exterior, lembranças que são distribuídas. Os prisioneiros F,
discretamente escondem os presentes e cada um come-os "ás escondidas". Mas os
do grupo R, abrem-nas à vista de todos, R e não R, e compartilham, sendo uma
prova para cada um. Mas para todos.
O conflito acava, muitos regressam às suas pátrias. Passou a realizar-se o
pressuposto triangular Paz, Liberdade, Equidade, razoável Equidade.
Um subgrupo de F continua a estudar. Monta uma empresa que vem a ter êxito
económico. Esse subgrupo cresce com êxito em saber e tamanho. E aceita o que
podemos chamar a Lei da "Jungle".
1
Departamento de Ecologia – Universidade de Évora; [email protected]
2
Ibid.; [email protected]
3
Universidade de Belas –1 Angola; [email protected]
4
Serviços de Agricultura – Angola; [email protected]
5
Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas; [email protected]
6
com a colaboração de: Júlio César Lima, Florbela Melhorado e Carla Nóbrega
409
Tomaz Moreira, Nuno Gonçalves, Joaquim Lauriano, Anaz Vidro e Káchia Téchio
Os casos de empresas que conhecemos do grupo R, cresceram pouco em
tamanho, mas apreciavelmente em saber. E sobretudo continuavam a cultivar
Amizade.
Vamos apresentar um conceito de Desenvolvimento duma comunidade, dum
grupo ou duma pessoa, com base na experiência. Aliás está contido no Case Study
anterior. Há Desenvolvimento quando se cresce em tamanho, em saber e em
generosidade.
Mas antes não podemos ignorar a guerra, os cataclismos e as grandes doenças.
Que fazer quando ocorrem? Pararemos, a reflectir sobre Crises Ecológicas, e depois
Crises Económicos e seu paralelismo parcial. Claro que há um pressuposto
triangular: Paz, Liberdade e Equidade.
Será quási ocioso falar de Natureza e de Cultura.
Há, depois um "combustível", que pessoas como Sebastião da Gama, apontam
como essencial. De que se trata?
Onde e como consegui-lo?
Palavras-chave
Ambiente, Desenvolvimento, crises, Ecologia, Economia, Cultura.
1. Intr
odução. Desen
v ol
viment
o: o q
ue é isso?
Introdução.
Desenv
olviment
vimento:
que
Há algum tempo conhecemos e recebemos Amizade do Dr. Ondrey Majaernick,
checo, que no seu País conheceu duas invasões de sinais aparentemente diferentes,
ambas fortemente tirânicas. É um caso entre tantos que ocorrem e/ou têm ocorrido
em várias zonas e em várias épocas do nosso mundo. Esteve preso num campo de
concentração onde havia prisioneiros de várias nacionalidades. Havia em particular
prisioneiros de nacionalidade F e de nacionalidade R. (por delizadeza não concretizamos alguns aspectos). Chega o Natal e é permitido que as famílias enviem
lembranças do exterior, lembranças que são distribuídas. Os prisioneiros F,
discretamente escondem os presentes e cada um come-os “às escondidas”. Mas os do
grupo R, abrem-nas à vista de todos, R e não R, e compartilham, sendo uma prova
para cada um. Mas para todos.
O conflito acaba, muitos regressam às suas pátrias. Passou a realizar-se o
pressuposto triangular Paz, Liberdade, Equidade, razoável Liberdade.
410
Natureza, Cultura e Desenvolvimento. Ensaio pensando em Angola e em Portugal
Um subgrupo de F continua a estudar. Monta uma empresa que vem a ter êxito
económico. Esse subgrupo cresce em saber técnico e tamanho. E aceita o que podemos
chamar a Lei da “Jungle”.
Os casos de empresas que conhecemos do grupo R, cresceram pouco em
tamanho, mas apreciavelmente em saber técnico e em cultura. E sobretudo continuavam a cultivar Amizade.
Entre o Huambo e Benguela, também tempos atrás, acompanhávamos um grupo
de trabalhadores rurais africanos contratados por uma empresa para apoiar estudos de solo. À hora duma refeição, sensivelmente correspondente ao nosso almoço,
quando estavam sentados a comer, apareceu um menino, africano também, desconhecido. Não houve formalidades, houve compreensão imediata. O menino tinha
fome. O convite e a aceitação foram breves. O menino sentou-se e comeu. Não era
fácil esta generosa abertura na nossa sociedade ocidental. Aprendamos outrossim
aqui.
Vamos apresentar um conceito de Desenvolvimento duma comunidade, dum
grupo ou duma pessoa, com base na experiência. Aliás está contido nos Case Studies
anteriores. Há Desenvolvimento quando se cresce em tamanho, em saber e em generosidade. Repetimos: em generosidade….
Mas antes não podemos ignorar a guerra, os cataclismos e as grandes doenças.
Que fazer quando ocorrem? Claro que há um pressuposto triangular: Paz, Liberdade,
Equidade.
Pararemos, a reflectir sobre crises ecológicas, crises económicas e seu paralelismo
parcial.
Será quási ocioso falar de Natureza e de Cultura.
Há, depois um “combustível”, que pessoas como Sebastião da Gama, apontam
como essencial. De que se trata?
E onde e como consegui-lo?
2. Natureza, Ecologia e Ambientologia
Algum tempo atrás, em Angola, no Amboim da Laurisiva, na altura grande zona
Cafeícola, procurávamos uma mancha com coberto vivo e solo que não tivessem sido
tocados nem pelo homem nem pelo fogo. Reparemos que se trata duma área assaz
húmida.
411
Tomaz Moreira, Nuno Gonçalves, Joaquim Lauriano, Anaz Vidro e Káchia Téchio
Perguntámos, perguntámos e quási já desapontados e prestes a desistir houve
alguém que nos disse onde sabia tal se situar. Lá nos conduziu amavelmente. Subimos
uma encosta alcantilada e no topo, com coberto vivo baixo, parámos. Com uma
enxada cavámos, mas logo nos primeiros centímetros de espessura encontrámos uma
camada de rocha. A rocha estava meteorizada à superfície. A própria delgada camada
de terra estava fortemente impregnada de saibro, de cascalho e de pedras.
A mancha tinha sido poupada por não ter valor nem para a cultura do café nem
para culturas alimentares.
Soubemos depois dum grupo de melhoradores genéticos, á procura duma zona
intocada para obter genómios de leguminosas alimentares, que só conseguiu uma
mancha, num sítio protegido por uma cadeia de montanhas. O homem ocupa tudo.
E depois há os fogos. Mais difícil ainda. Muitas e muitas vezes, temos que nos contentar
como os restos. Como bem sabemos muitas espécies animadas e não animadas se
perderam. Nas não animadas incluímos fisionomias de paisagem e tipos de solo (no
seu desenvolvimento tri aliás tetra-dimensional).
Trabalharemos com o que temos e procuraremos não perder mais, pelo menos
mais do que a Natureza na sua selecção (na sua incessante crivagem) elimina.
Não vamos definir Natureza nem as suas acepções. O sentido que escolhemos
está implícito neste escrito. Queremos que se aproxime do que existia, eventualmente
com o homem, antes deste dispor (não dizemos dominar) do fogo.
Há uma certa emulação entre ecólogos e ambientólogos. O ambiente de alguém
(X) contém o “everything but X, ao passo que o X faz parte do ecossistema”. Mas
lidamos com muitos sistemas (v.g. na agricultura) que não são eco-sistemas. E até
com agregados que nem sistemas são. O ecossistema é um meta-organismo, e é um
paradigma com muito para ensinar, mas não seguir rigidamente. O Ecossistema capta
e transfere sucessiva e quasi-ordenadamente energia a uma série de estratos ou
sectores, transferência em, que por entropisação, se vai perdendo (sob a forma de
calor, deformações e desordem em geral), energia útil. Mas o ES mantém ou eleva
a sua bio-riqueza, a sua biodiversidade; paralelamente capta e transfere matéria,
mas esta é reciclada. Tudo se faz auto-reguladamente. Frequente, mas não
necessariamente, a fonte primária de energia é o Sol. Mas pode ser uma fonte de
energia química, mineral ou orgânica ou outra. O caso da Ria Formosa no Algarve
é um dos vários em grande parte não alimentado apenas pelo sol.
412
Natureza, Cultura e Desenvolvimento. Ensaio pensando em Angola e em Portugal
Outro paradigma é a Natureza, ela própria um grande ecossistema, na medida
em que não estiver degradada.
Acresce que os ambientólogos por vezes tem uma forte formação química e
matemática mais que biológica, agrícola e paisagística. Tudo interessa, com sensatez.
3. Cultura: um esboço. Que é um Homem?
Não há muito fizemos e publicamos um ensaio que coincide em parte com este
título: Cultura e Agricultura tem a mesma raíz e não será (?) por acaso. A afirmaçãopista foi feita pelo Professor Caldeira Cabral (Dotc) e nós procurámos segui-la. A
Cultura (e isso é essencial) também se cultiva, o que é essencial para ela, mas é anterior
à Agricultura. Só para efeitos pragmáticos (“to make progress, let’s assume that...”
como diria Pennan, lembrado por Montheith), admitiremos que a Agricultura terá
cerca de 10.000 anos e o Homo sapiens-sapiens cerca de 40.000; e se admitirmos ainda
que a cultura andará desde o princípio (ou quási) com o Homem...então não haverá
dúvida neste ponto. Mas já haverá quanto...ao homem em si. “What’s a man? The
quintessence of dust...” – Pergunta e responde Shakespeare. Ainda pragmáticamente
José M. Mascarenhas, com um Grupo Francês, defende que chamemos “Homem”
a partir da altura em que há culto dos falecidos; arqueológicamente testável –
acrescentamos. E o Neanderthal? E os elos (?) mais recentemente descobertos? E a
Bíblia? Com todo o respeito (D.n.p.) não é fácil distinguir no “Livro”, o símbolo do
facto, especialmente no Génesis. E claro o universitário é livre na sua escolha, para
crer ou não; e no que crer, desde que respeite o seu próximo. Sem esse respeito não é
universitário. Desnecessário é dizer que os tiranos não o são. Adiante veremos que
além de “respeito” se pode (e deve) pedir mais a quem quer pertencer, de facto, à
Universidade. E para tal não é preciso “ser-se formado em Finanças, nem ter Biblioteca”,
pode até ser-se analfabeto. Não resistimos a lembrar; que o Universitário tem ânsia de
saber, ânsia de cultura. Ânsia de servir. Adiante retomaremos este ponto não já com
Fernando Pessoa mas com Sebastião da Gama.
O célebre Aldous Huxley (parodeado por Bertrand Russel) impôs-se um programa
para ler diariamente duas (?) horas da Enciclopédia Britânica. Queria cobri-la de A a Z.
E Gabriel Garcia Marques (Prémio Nobel) seguiu-o! Sem querer desrespeitar, dá-nos
vontade de responder como o nosso Camilo Castelo-Branco: Se nessas terras os
expoentes “são assim; como serão os burros”. Que tolice.
413
Tomaz Moreira, Nuno Gonçalves, Joaquim Lauriano, Anaz Vidro e Káchia Téchio
Também não faz sentido ficar frustrado como Almada Negreiros, cada vez que
entrava numa grande livraria e sentia a sua incapacidade para tudo ler. Desesperado
porquê? Ainda que lêssemos tudo ficaríamos mais cultos?
A Parábola do atarefado Rei da Pérsia (do Professor Lopes de Oliveira), que mandou
três sábios coligir tudo o que era saber – será porventura de recordar. Voltaram depois com uma caravana de camelos carregados de livros e documentos. Onde tenho
eu tempo para tudo isso ler? Vão de novo e resumam. Mais duas tentativas fizeram
(cada uma levando dez anos). Por fim, voltou só o sábio sobrevivente, ainda com um
burro carregado. Mas o rei já estava quási moribundo. Pediu-lhe então – resume-me
agora o que é importante na vida do homem! O velho sábio concentrou-se e por fim
respondeu: “Os homens nascem, sofrem e morrem”. Claro que a Universidade existe
para sublimar isto, em esperança e alegria.
A facção militarista japonesa atacou (e destruiu) sem aviso a esquadra naval
americana em Pearl Harbour. Não era da sua ética o ter que avisar. Certas comunidades pensam que roubar for a do seus, não é condenável. Padrões.
Stephen Hawking defende que a concepção da velha senhora que pensava que
o Universo era um grande prato em cima duma tartaruga (e assim sucessivamente
caminhando para o sempre maior) – defende, dizíamos, que a nossa concepção mesmo
com o (ou os) Big-Bang, não será muito melhor. Quem somos? Donde viemos? Para
onde vamos? Como havemos de ir? Clássica e sempre actual série de perguntas.
As concepções fundamentais e mesmo as pragmáticas destilam-se em “frames”.
A cultura é essencialmente composta “por patterns e por frames”, que destilados
são. Krutchov que só tardiamente poude estudar conhecia bem a riqueza dos
provérbios russos. E comportava-se como culto. A riqueza proverbial bantu é imensa.
A dos Mukankalas tem que ser melhor conhecido, bem como a dos Kuepes. “O olho
do dono engorda o gado”: Que destilado tão sábio.
Quando se diz que a Cultura é o que fica na mente, quando tudo o mais se
esquece, se entendermos que se trata de esquecer o concreto para ficar o abstracto,
o duplamente proverbial – quando assim for-diremos-estará provavelmente certo.
Talvez afinal não estejamos tam longe do caso recordado pela C. de Ségur
(lembrado pelo Prof. Miguel Pereira Coutinho – DotC): um universitário era no
exame final interrogado sobre “Todo o Conhecimento”. Em termos de erudição
é actualmente um quantitativo enorme, e indomável, por uma pessoa. E
414
Natureza, Cultura e Desenvolvimento. Ensaio pensando em Angola e em Portugal
constantemente crescente. Mas em termos de cultura sê-lo-á porventura, se redestilarmos, caminhando para o essencial.
4. Crises ecológicas e crises económicas. Paralelismo parcial
Ecologia e Economia têm a mesma raíz. Ambas se referem ao que se passa na
“casa”, no ECOS. A par de muitas diferenças há algumas semelhanças mais, que
podemos aproveitar, para enfrentar crises.
Consideremos uma Utopia Ecológica (U) representada por uma zona africana
com fronteiras bem definidas por dois rios caudalosos que a transformam numa quasi
ilha. U é ecologicamente equilibrada com herbívoros (do tipo “grazer”: gazela; e do
tipo “browser”: girafa anã); claro com carnívoros, decompositores, fragmentívoro,
e os produtores primários. Os rios, sua fronteira natural defendem-na eficazmente de
herbívoros ágeis como a cabra alta (“browser”) e o coelho (“grazer”). Porém um
aproveitamento hidro-agrícola reduz drasticamente o caudal dos rios, e a Eco-Utopia
é invadida por novos e dinâmicos herbívoros. As cabras dominam rapidamente as
girafas; e os coelhos dominam as gazelas, captando-lhes os respectivos alimentos: os
coelhos as ervagens; as cabras os arbustos. Que fazer para recuperar o equilíbrio inicial? As fronteiras terão que ser fechadas; e os novos e dinâmicos herbívoros
afastados? Provávelmente.
Um País frágil que entre numa comunidade forte, como a União tende a ser
colonizado. E mais ainda se abre a porta a trabalhadores de países ainda mais frágeis.
As empresas grandes são vencidas e as pequenas também. A breve tempo estará
colonizado. Daí até á penúria, ao desânimo e à humilhação dos próprios vai menos
dum passo.
Isto aconteceu e está em vias de se consumar com os países débeis da União
Europeia. E o nosso caso?
Se sobre isto se sobrepuser uma crise nos grandes, pior. Os pequenos exportam,
menos, menos contam com o Turismo e com as compras feitas por pessoal estrangeiro
residente e pertencente ás empresas (dos grandes). Isto acontece mesmo que a União
tenha ajudado a construir infra-estruturas e feito soprar ventos de “modernização”.
O medo (por exemplo das corridas aos bancos) pode transformar-se em pânico tudo
tendendo a desintegrar.
415
Tomaz Moreira, Nuno Gonçalves, Joaquim Lauriano, Anaz Vidro e Káchia Téchio
Dentro duma Comunidade pluri-nacional há países que claramente precisam
dum mais forte e mais prolongado estatuto de transição. E Portugal? O problema de
Angola é outro.
Um País para progredir tem que atender antes de mais ao Efeito Possinger: Não
pode deixar-se colonizar! Depois precisa de não se deixar Adormecer: Telenovelas e
futebol, droga e concupiscência fácil para a juventude – são narcotizantes perigosos.
Big-brother não! Pobre George Orwell. Além disso adormecemos com a colonização,
tivemos uma guerra colonial iníqua, a perturbação do 25 do 26 de Abril, os prós e os
contras da emigração, e a entrada na Comunidade Europeia.
Tem sim que procurar challenge (á Toynbee), claro não excessivo. Subsídios só
em casos excepcionais, como a Nova-Zelândia fez e da crise saiu!
A nossa Lei das Sesmarias deve ser relembrada: Não pode haver um palmo de
terra por cultivar; nem, por outro lado, braços e cérebros desaproveitados. Terra
agora em sentido lato, é tudo o que possa ter valor económico, capacidade
produtiva.
O New Deal de Roosevelt, do fim da década de 20 e início da de 30, nos E.U.A.
Deve ser meditado. Os desempregados na pior das hipóteses trabalharão em obras
públicas. Inventemos se necessário: qualquer outra tarefa útil para a sociedade. Criase riqueza e evita-se uma atmosfera de desânimo e morbidez.
Que aconteceria se Portugal ganhasse o Campeonato da Europa de Futebol?
Uma onda de “entusiasmo” e optimismo varreria o País e ficaria algum tempo, tempo
que bons leaders aproveitariam para mobilizar a comunidade? Nas crises, cuidado
porém com os leaders-tiranos especialemente com os que têm forte poder hipnótico
sobre as “massas” (massas? Que dizemos: grupos) e que a princípio (disse Germano)
parecem sempre bons, parecem salvadores. Mas a breve trecho se desmascaram. E
então a comunidade já não vai a tempo de se libertar. Pobre Alemanha e pobre Itália
e pobre Rússia dos anos 20 e 30.
Trata-se dum Paralelismo Parcial. Parcialmente aproveitável?
5. Guerra, cataclismos, doenças ainda indomáveis
Salvo casos especiais, como as guerras de libertação contra opressões iníquas, as
guerras são comandadas como lembrou A. Bettencourt: “Por poucos dos dois lados,
416
Natureza, Cultura e Desenvolvimento. Ensaio pensando em Angola e em Portugal
que se conhecem e se poupam, empurrando muitos, de cada lado, que não se
conhecem e se vão massacrar.”. Incrível.
Guerra é um mal de feição dir-se-ia diabólica.
E que pode o Universitário quando tem que defender a família, ele que quer
respeitar o princípio universitário da fraternidade? Não longe de nós, no espaço e no
tempo, em grave crise de sangrenta guerra civil, os díscipolus de Llanos perguntaram
ao mestre: Estamos cercados e os sitiantes preparam-se para fazer o indizível às nossas
crianças, às nossas mulheres. Que podemos fazer? Que nos dizes, tu que nos ensinaste
a respeitar, e mais: a estimar? Que nos dizes? Llanos lembrou: Atirem sim, mas sem
ódio! Que diferença do comum!
E os cataclismos e doenças indomáveis?
Claro, há que fazer o possível para curar e depois o incurável, aceitar, mas
continuando a tentar, cada vez com mais força.
6. Uma palavra imensamente poluída
Quando Assiz pediu para lhe ser dado: “mais compreender que ser compreendido,
mais perdoar que ser perdoado, mais amar que ser amado” – lembrando ainda: que
“é dando que se recebe”....Estava a definir o que é AMAR na plenitude, como uma
Mãe ama um filho.
Mas a palavras Amor foi raptada pela vulgaridade e pela pornografia, poluída e
rebaixada ao mais baixo nível.
Que fazer? A juventude poderá restaurá-la! Enquanto o não consegue, usemos
por exemplo “Estimar” como sinónimo no sentido elevado?
7. Sebas
tião da Gama: uma sensibilidade apont
a a sol
ução
Sebastião
aponta
solução
Não nos sentimos capazes. Precisamos que nos elevem às nuvens, para ver melhor
e melhor querer fazer, e mais querer apoiar.
Quem nos poderá ajudar? Um grande poeta? Uma grande sensibilidade? Seja
Sebastião da Gama: Como curar estas enfermidades de relação, que geram malentendidos, iras, ódios, conflitos, guerras?
Ele responde: Tudo está em Amar. (Despoluamos a palavra, ou utilizemos uma
sinónima ainda que mais fraca embora).
417
Tomaz Moreira, Nuno Gonçalves, Joaquim Lauriano, Anaz Vidro e Káchia Téchio
8. Es
timar
Estimar
timar.. Mas como?
Retirámo-nos contentes mas a breve trecho percebemos que algo fundamental
faltava.
E como conseguir Estimar?
Nós não sabemos, mas conhecemos quem sabe: qualquer dos três
revolucionários modernos: Ghandi, Luther King e Teresa de Calcutá. Por exemplo. O
Lenine da sua última e pouco conhecida fase, porventura também.
9. Sumário
Natureza, Cultura e Desenvolvimento
Ensaio pensado em Angola e em Portugal
Durante uma guerra passada, num campo de concentração de prisioneiros, havia
um grupo que no Natal, se destacou: recebeu presentes e desde logo os partilhou. A
maioria porém ocultou o recebido e comeu-o às escondidas. Destes últimos, dos
comuns, após a libertação, restaurada a paz, um outro grupo houve que formou uma
empresa que cresceu em tamanho e saber técnico. Mas só.
Acompanhámos um grupo de trabalhadores de campo africanos entre o Huambo
e Benguela chegou o meio dia. Preparavam uma refeição. Entretanto passou ali um
menino desconhecido. Parou e naturalmente sentou-se e comeu com eles, connosco.
Isto não é comum na Europa.
Só há verdadeiramente desenvolvimento quando ocorre um triplo crescimento:
em Tamanho Material, em Saber e em Generosidade. Claro pressupomos que haja
Paz, Liberdade e uma razoável Equidade.
Como se consegue a Liberdade? Como se consegue a Paz? Como se consegue
Equidade?
Blonde defendia: A Liberdade “conquista-se a tiro”, se se derramar kilólitros
de sangue, paciência. É uma concepção, que muitos perfilham. Muitos. Mas Ghandi,
Luther King, Teresa de Calcutá e o Lenine da segunda fase, deploravam. Cultivaram a
via oposta, acaso mais lenta, mas efectiva. E não destrói a Paz. Adiaremos um pouco
este tema. Consideremos o seguinte exemplo:
418
Natureza, Cultura e Desenvolvimento. Ensaio pensando em Angola e em Portugal
Um ecossistema tendo uma fronteira em anel defendida por dois caudolosos
rios, viu a sua fronteira anulada por um aproveitamento hidro-agrícola. Por um lado
entravam herbívoros do tipo browser; por outro entravam grazers. Os arbustos e
árvores pequenas foram delapidadas pelos primeiros; e as ervagens pelos segundos.
Com isso os elos herbívoros pré-existentes, browsers e grazers, menos eficazes, entravam praticamente em colapso. Como salvar o sistema? Haverá que re-fechar as
fronteiras e controlar os invasores instalados?
Um país fraco que entre na Comunidade Europeia corre o risco da dupla invasão,
e perder praticamente a autonomia, se não conseguir um estatuto de transição
pensado e prolongado. É o que aconteceu a certos países invadidos por ricos e também
por pobres, imigrantes dentro dos quais nos contamos.
Um País para progredir tem que atender antes de mais ao Efeito Possinger. Não
pode deixar-se colonizar. Depois precisa de não se deixar adormecer. Telenovelas,
futebol (não o desporto mas a alienação), e concupiscência fácil para a juventude –
são narcotizantes perigosos.
Tem sim que procurar challenge (à Toynree), claro não excessivo. Subsídios só
em casos excepcionais, como a Nova Zelândia fez e da crise saiu!
A nossa Lei das Sesmarias deve ser relembrada. Não pode haver um palmo de
terra (terra efectiva, simbólica) por cultivar, nem por outro lado, braços e cérebros
desaproveitados. O New Deal de Roosevelt dos anos 20-30, nos E.U.A., deve ser
relembrado. Os desempregados serão aproveitados nem que seja em obras públicas.
Cria-se infraestruturas e evita-se um ambiente de desânimo.
Deixamos, atrás, em suspenso palavra generosidade. Mas tratar disto ultrapassanos. Chamemos o poeta Sebastião da Gama em nosso auxílio: “Tudo está em dar-se,
em compreender, numa palavra em Amar”.
Esquecemos que a palavra está poluída.
De qualquer modo como se consegue Estimar? (palavra mais fraca mas menos
degradada). Como? Também não sabemos. Mas sabemos de quem sabe, por exemplo:
Ghandi, Luther King, Teresa de Calcutá e o Lenine da segunda fase (já atrás referidos)
saberão.
Falámos ainda de Natureza, e da Cultura, da Guerra. Mas isso ficará para outra
oportunidade.
419
Tomaz Moreira, Nuno Gonçalves, Joaquim Lauriano, Anaz Vidro e Káchia Téchio
A não ser um ponto da Guerra: O que fazer quando somos atacados e temos que
defender as nossas crianças? Llanos respondeu, atirem chorando, atirem sim; mas
sem ódio. Quanto ao resto (Natureza e Cultura) quererá consultar o texto afim anterior
mais desenvolvido?
Agradecendo
Estamos muito gratos:
Á Florbela, ao Júlio, á Carla, ao Soveral, ao Silva Carvalho, a David Morais, ao
Alexandre Bettencourt, ao Luís Torres de Castro, ao Tó Cunha e ao Wladimiro, ao
Mendes da Ponte, ao Gaspar, ao Domingos, ao Vieira da Silva, ao Peixinho, a Manuela
Costa, a João Bernardo, a Mascarenhas, a Pinto Gomes, ao Catarino, à Antonieta, à
Céu.
Não podemos esquecer os mestres: Arriaga e Cunha, Sebastião e Silva, Sebastião
da Gama, Fernando Pessoa, Caldeira Cabral, Azevedo Gomes, Baeta Neves, Cruz de
Carvalho, Malato Beliz, Bastos de Macedo, Ilídio Araújo, Ário Azevedo, Rui Pinto
Ricardo, Manuel Bessa, Custódio Antunes, Castro Caldas e José Esteves.
Com veemência queremos de novo destacar todos os dirigentes e técnicos, os
grupos e as pessoas –, de Angola e de Portugal, que vivem o nosso problema, o problema do Muceque.
Documentos utilizados
Da Nossa Dívida Ética ao Ultramar – Por Tomaz Moreira et al. 2006. Arquivos do
Departamento de Ecologia. Universidade de Évora. Évora.
Mas a fonte principal foi o imenso diálogo que travámos com os já referidos e
certamente com mais alguém.
420
Natureza, Cultura e Desenvolvimento. Ensaio pensando em Angola e em Portugal
Anexos
Anexo 1 – Os Objectivos do Milénio da O.N.U. Como vão? E terão
esquecido algo?
Como vão os ODM, os Objectivos Do Milénio, metas das Nações Unidas. Seleccionaram, como sabemos, oito metas. Estarão envoludas as que nós defendemos e
com a devida prioridade? Vejamos o primeiro o rol.
Vamos apoiar-nos em Dulce Furtado, no “Millenium Development Goals Report
2008”, em Ba-Ki-Moon (Secretário Geral da O.N.U.) e em Miguel d’Escoto Brockmann
(Presidente da Assembleia Geral da ONU:
M1 – Erradicar a Pobreza Extrema
Reduzir a pobreza extrema – 400 milhões de pessoas. Baixamos 400 milhões em
relação a 1990. Queremos baixar até aos 900 milhões até 2015. Obter emprego pleno e
digno para todos.
M2 – Alcançar a Educação Primá
ria Universal
Primária
Garantir que todos os rapazes e raparigas completem o primeiro grau do ensino.
M3 – Promover a Igualdade de Géneros (M e F) e Capacitar as Senhoras
Eliminar a desigualdade no primeiro e segundo grau do ensino.
M4 – Reduzir a Mortalidade Infantil
Baixar em dois terços a taxa de mortalidade nas crianças com menos de cinco anos.
M5 – Melhorar a Saúde Maternal
Reduzir em três quartos o meio milhão de mulheres que morrem todos os anos no
parto ou por complicações de gravidez; acesso universal à Medicina de Reprodução.
M6 – Combat
er a SID
A , a MAL
ÁRIA e OUTR
AS DOEN
Ç AS (S
AR
AMPO, DISENTRIAS)
Combater
SIDA
MALÁRIA
OUTRAS
DOENÇ
(SAR
ARAMPO,
Parar e começar a inverter a expansão da SIDA e a incidência da MALÁRIA e obter até
2010 acesso universal aos medicamentos e tratamentos anti-retrovirais.
M7 – Garantir a Sustentabilidade Ambiental
Integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas nacionais e inverter
a perda de recursos ambientais.
421
Tomaz Moreira, Nuno Gonçalves, Joaquim Lauriano, Anaz Vidro e Káchia Téchio
M8 – Desenvolver uma Parceria Global para o Desenvolvimento
Dar resposta às necessidades dos Países Menos Desenvolvidos e implantar um sistema
financeiro e de comércio aberto e não discriminatório.
Complemento:
• Mais de 1500 milhões de pessoas passaram a ter acesso a água potável nos últimos
oito anos.
• Atenção à Mudança Climática Global especialmente na África sub-sahriana e no Sul
da Ásia (aí muitas pessoas vivem com menos de um dólar por dia).
• Os doadores ultimamente têm-se reprimido. Receia-se a crise económica mundial.
• Aguarda-se o Relatório da Cimeira Mundial de 25 de Setembro em Nova-Yorque com
a abordagem conjunta dos três eixos:
• Pobreza;
• Subida de Preços dos Alimentos e do Petróleo;
• Alterações Climáticas.
Trata-se duma cooperação que nos anima. Mas há subtilezas possivelmente só
abordáveis por Ghandis: Como ensinar a não aceitar conflitos, e diferendos políticos
e religiosos? Como controlar os tiranos e os factores da guerra? De novo e porventura
acima de tudo o mais: como ensinar a Estimar? Os grandes gestores nem sequer nisto
falam!
Anexo 2 – Um pólo de desenvolvimento
Anos atrás, a instituição em que estávamos, que desejava trabalhar em investigação ligada ao Desenvolvimento, em Angola, essa instituição dizia, passava por
uma crise financeira. Por coincidência na altura fomos visitados por dois grandes
responsáveis da Fundação Gulbenkian (da Gulbenkian, passe respeitosamente o nome
em resumo). Pelo Presidente Doutor Azeredo Perdigão e pelo mais tarde também
Presidente, Doutor Vitor Sá Machado. Não resistimos aproximámo-nos deles – e fomos
simpaticamente atendidos. Pedimos então ajuda financeira para enfrentar a crise
da nossa instituição, sempre amavelmente sorriram e disseram-nos que ajudavam
sim, mas na preparação de gente. Só excepcionalmente investiam em edifícios, alfaias
e suportes materiais.
422
Natureza, Cultura e Desenvolvimento. Ensaio pensando em Angola e em Portugal
Contou-nos o Doutor Azeredo Perdigão na altura, que tinha dialogado com
Salazar e oferecido os préstimos da Gulbenkian. Salazar não terá respondido. E pelo
contrário despediu-se dizendo Se precisar de nós (entenda-se de mim Salazar e do
Governo em que eu mando) queira dizer.
Quando a certa altura um de nós se dirigiu à Gulbenkian para obter uma bolsa
para doutoramento em Inglaterra, foi recebido pelo então responsável do serviço,
Doutor Vitor Sá Machado. Como poderemos classificar: Cordialmente? Amavelmente?
Estimulantemente? Tudo isso. Com muita naturalidade o Doutor Sá Machado, disselhe: Quem me dera ter o seu curriculum, a sua Mente. Claro que era um grande
exagero, uma mentira, mas o estímulo foi eficaz. Era assim. Será assim. Bem também
correu em casos afins com o Dr. Carmelo Rosa. E mais recentemente, com a Doutora
Margarida Abecasis: a eficácia e a sensibilidade feitas descrição.
Muitos de nós beneficiámos de bolsas para o Desenvolvimento e para outros
fins, no estrangeiro e cá. Não é fácil medir, o certamente enorme impacto, que tal
ajuda tem sido na nossa gente, no nosso País. Não é fácil. Mas isto é Desenvolvimento
– incluindo a Arte e a Cultura em geral.
Poderemos é perguntar se o próprio esquema de ensino no nosso País é eficaz.
Anos atrás os EUA tinham uma estrutura mais pesada e mais morosa que a Inglesa, e
porventura não mais eficaz. Churchill pensava que a preparação mesmo em Inglaterra
era demasiado lenta. (Churchill que Carl Popper punha ao lado de Eisntein, como as
duas pessoas mais inteligentes que ele conhecera). De Churchill ouvimos da boca do
nosso mestre, Mansfield: “The man for the war, but just for the war”; sabe, dizia
ainda: como ele, imperialista, propôs resolver o problema da Índia que reivindicava a
Independência: “Send soldiers”. Incrível.
Anexo 3 – Guerra
Goa (com Damão, Diu, Dadrá...) eram pequenos enclaves portugueses na imensa
índia. Ficariam pertença de Portugal ou da já independente União Indiana? Um
referendo que desse a aquelas gentes a escolha, seria aceite pela U.I., e cremos, pela
maioria dos portugueses. E a escolha parecia inclinar-se para Portugal.. Mas Salazar
não aceitou (Receamos julgar á distância no tempo e no espaço e com falta de dados).
Repetimos Salazar não aceitou. Noutros aspectos, no que parece havia dificuldades, aliás naturais, no colosso que era a U.I., que recentemente se tornara inde-
423
Tomaz Moreira, Nuno Gonçalves, Joaquim Lauriano, Anaz Vidro e Káchia Téchio
pendente. Nehru, o “pacifista”, ter-se-ia contradito, e optou por uma invasão que
tinha um duplo condão. Desviar as atenções do povo indiano e restaurar prestígio,
tanto mais que seria uma vitória fácil. E as forças militares portuguesas em Goa, na
eminência de esmagamento, renderam-se, pela mão do General Vassalo e Silva.
Poupou-se muitas vidas. Conta-se que Salazar não gostou e que teria dito: “Só conheço
militares ou vencedores ou mortos!”. E se tem havido referendo, e se tem havido
diálogo? E nas colónias portuguesas de África? E em Timor? (Macau tinha um estatuto
especial). Porque não se auscultou a vontade da maioria dos naturais? Porque não se
dialogou, e com suficiente antecipação? Os avisos eram claros e fortes, desde o Kenya
ao Congo-Leopold? Que loucura diabólica a Guerra, repetimos. Guerra que em Angola
acabou por ser seguida por um conflito fraticida – prolongado e sangrento.
Abrimos uma revista sobre o Ultramar quasi ao acaso, de Setembro passado. Eis
alguns títulos:
N1) 200 milhões de armas ligeiras em circulação.
N2) A China vende aviões de guerra ao Sudão. Há raides aéreos contra objectivos civis no
Darfur Ocidental.
N3) Irão testa mísseis e armas nucleares. Israel prepara contra-ofensiva relâmpago.
N4) Ingrid Betencourt, candidata á Presidência da Colombia foi por isso sequestrada, 6
anos e meio, pelas FARC – ditas Forças Armadas Revolucionárias da Colombia, hoje
ligando paramilitares de direita e guerrilha de esquerda especialistas em sequestro e
narcotráfico.
N5) Os Índios brasileiros de Raposa Serra do Sol, no Roraíma, veêm as suas terras
constantemente invadidas e as suas casas e lavras destruídas, por grupos plutocráticos,
que desrespeitam quer o Direito Consuetudinário quer o Decreto de 2005 de Lula da
Silva.
Ainda não esquecemos os milhões mortos e violentados pelo nazismo, pelo
stalinismo, pelo Maoismo e tantas violências posteriores? Guerras – Colonização?
Tiranos. Egoísmos e mal-entendidos serão os grandes responsáveis.
Milhões de mortes? Uma só pessoa que fosse e seria quási igualmente grave na
contabilidade do transfinito.
E as catástrofes, tsunamis e terramotos? Mas estas não serão da culpa do homem.
Só quando esquecemos os atingidos.
424
Natureza, Cultura e Desenvolvimento. Ensaio pensando em Angola e em Portugal
Tiranos e opressores inventam antagonismos, e procuram semear ódio, iniciando
e ateando incêndios que facilmente se agigantam.
Não é fácil trabalhar em Desenvolvimento assim. Mas há grandes corações que
o fazem. “Se queimam uma casa, construímos duas”, diz Pierangel da Cunha, no
Brasil dos Índios. Muita gente jovem (idade medida na alma) em Portugal e em Angola
profere palavras equivalentes.
Anexo 4 – Crise na Europa, crise em Portugal?
Um grupo de jovens veio ter connosco e perguntar. Perguntar e amável mas
firmemente discordar.
Crise Eco-Fin em Portugal? Na União Europeia? Nos E.U.A.? No Mundo?
A população portuguesa tem envelhecido. A demografia mostra-o claramente
como de resto na Europa. E habituou-se a trabalhar pouco. Não está a ser a gente dos
nossos primeiros séculos.
Percebemos, dizem: Exportaremos menos ainda, teremos menos empregos fora,
teremos menos turistas.....Mas contrapõem:
Ainda temos alguma terra (a construção civil levou a melhor; as vendas ao
estrangeiro também). Mas temos braços, temos cabeças (inventemos), temos coração
(façamos). Não temos medo a não ser do comodismo e do pânico.
Que podemos fazer senão concordar com os jovens? Concordar, meditar, realizar.
E se fosse descoberto um grande e acessível jazigo de petróleo em Portugal? Os
poderes do mundo imediatamente mover-se-iam. Alguns “egos” em Portugal também.
Muitos transigentes cederiam e aceitariam um prato de lentilhas? A “mais valia” seria
para a comunidade? E o custo ecológico-ambiental? Muitos jovens achariam a
resultante negativa e considerariam a hipótese não um sonho mas um pesadelo.
425

Documentos relacionados