Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social

Transcrição

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social
Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La
Laguna, diciembre 2010
TV Local e a alegação da sociedade civil, a diversidade e o pluralismo:
O (não) caso português
Cristina Tereza Salvador Rebelo
Doutora em Comunicação pela Faculdade de Ciências Sociais e da
Comunicação – UV.
Investigadora do CELCC.
Email: [email protected] ; [email protected]
Resumo
____________________________________________________________
A globalização trouxe uma mudança de paradigma, cuja perda da noção de
identidade é uma das consequências ruinosas à sociedade civil.
A ambivalência ganha rosto pela reflexão da duplicidade ou dominação,
resultando numa formulação plausível: a leitura do “outro” remete à
introspecção sobre o “mesmo”.
Juntamos a comunicação com a identidade e o desenvolvimento, adoptando a
identidade local percebida como um processo dinâmico de expressão e
significação de praxes concretas e simbólicas, que as comunidades locais
activam para garantir a sua existência, reforçar a coesão e enfrentar as
incertezas do futuro.
Discute-se neste artigo, a televisão local na realidade portuguesa enquanto
latente condutora de transformação social e a possibilidade que a sociedade
civil tem de ali/por ali se manifestar na defesa das suas aspirações.
Palavras-chave: Sociedade civil, TV local, Globalização, Inscrição, Porto Canal.
Sumário
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1-Introdução
2-Metodologia
3- Globalização: Mediatização e sociedade civil
4- TV Local como mecanismo de “inscrição
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5 – Síntese do contexto da televisão Regional e Local em Portugal
6- O primeiro projecto de televisão local e regional a norte: o NTV
7-Porto Canal: o canal que “inscreve” o Porto?
- Evolução e análise da audiência
- Perfil do espectador
- Divisão do público
- Influência fora do Porto
- Proporção da programação local/regional
8- Conclusão
1-Introdução
É a partir do local que devem ser geridas as formas de ligação com o global;
E esta aparente relação de duplicidade embora sugira sempre o domínio da
globalização que pela sua inevitável energia e dinâmica submete os actores e
agentes locais, não confirma de facto uma dicotomia das esferas locais e
globais e sim, um ressurgimento da configuração do local.
Este espaço geográfico e sócio - humano que designamos de local, há muito
que tem enveredado pela contestação das alienações globais numa arena onde
infelizmente, a disputa do poder está sempre presente.
A redução de capacidade de pensamento, essencialidade e até de criatividade,
a própria limitação da linguagem e do “comunis” reclamam en passant, a sã
poetização dessa forma de aproximação pela reacção contra a mundialização;
digamos que esta realidade divide o cidadão que sente necessidade de rebater
e procurar saber o que se passa no seu bairro, na sua região, no seu país e
não apenas em locais mais longínquos
Assim, temos como objectivo fundamental, concretizar uma reflexão sobre a
televisão inscrevendo a comunidade, activando a massa crítica e abrindo
espaço à expressão da sociedade civil que afinal é a principal génese das
televisões de proximidade como ambiciona o projecto existente e que aqui
apresentamos.
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2- Metodologia
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As técnicas documentais são um auxiliar precioso ao investigador permitindo
uma apropriação rápida e credível, desde que baseada em órgãos emissores
de confiança reconhecida, de uma grande quantidade de informação
diversificada a qual o investigador pode manobrar e cruzar no sentido do
objectivo e exigências da sua pesquisa, e por isso, a utilização de dados
documentais é tão comum em trabalhos de dissertação. Optámos assim, em
função do objecto e finalidade da investigação, dar especial relevo às técnicas
documentais aplicadas a várias fontes, utilizando as possibilidades fornecidas
por dados oficiais e fontes estatísticas, artigos de imprensa generalista e
especializada, netgrafia ou sítiografia mas também obras publicadas, obtendo
informações relevantes capacitadas na descrição, comparação e caracterização
do tema e descrição do estudo proposto: O Porto Canal.
Pareceu-nos assim, a técnica apropriada à análise de alguns fenómenos que
cercaram, por exemplo, a averiguação do aparecimento e evolução do canal
nos últimos anos, construindo um quadro de referências importante sobre a
fundação e estratégia do meio e igualmente, todos os aspectos que nos
permitiriam descortinar e questionar a sua vocação e missão local.
As técnicas documentais assumem grande importância em análises tipo
macrossocial e de desenvolvimento histórico.
Encontrámos alguma dificuldade em apurar informação sobre o tema em
Portugal, pela sua ainda pouca visibilidade. Para colmatar esta omissão,
estamos a finalizar um estudo mais abrangente sobre segmentação,
georeferenciação e brand equity cujas conclusões serão atempadamente,
objecto de novo artigo.
No que respeita às fontes de dados, destacamos as seguintes:
-
Marktest- Instituição especializada em audiências, sondagens e
estudos de mercado. As fontes estatísticas existentes foram
seleccionadas pelo interesse no contorno do tema e na análise de
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alguns pressupostos descritivos e quantificáveis, permitindo a
sistematização de informação.
-
Obras Literárias – Estas obras, encontram-se detalhadas na secção
dedicada à Bibliografia e foram importantes na apreensão e
compreensão do tema, com a finalidade de reunir um conjunto de
hipóteses e pareceres relacionadas com o mesmo.
-
Netgrafia- Recurso a bases de dados e fontes de informação
académica relevante.
-
Documentação particularizada e disponibilizada pelo Porto Canal.
-
Estudo em conclusão “Portoguesmente” falando: a pronúncia e
narrativa do Porto Canal”: inquéritos realizados entre Julho e Outubro
de 2010.
3 - Globalização: Mediatização e Sociedade Civil
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“Se todos os períodos históricos têm a sua palavra mágica (…) da mesma forma que houve uma Idade da
Fé, uma Idade da Razão e uma Idade dos Descobrimentos, a nossa parece ser a Idade da
Comunicação.”
João Correia
Desde os anos 90, que as reflexões sobre o termo sociedade civil são
frequentemente utilizadas por comentadores e activistas como uma referência
às fontes de resistência sobre o domínio da vida social, as quais devem ser
protegidas da globalização. Esta, é vista por alguns. como persistindo além
fronteiras através de diferentes territórios, com consequências ambíguas na
relação entre os movimentos regionais e subregionais e as redes e
movimentações globais. Diferentemente, outros encaram a globalização como
um fenómeno social agregando valores liberais clássicos, os quais, fatalmente
levarão a uma acção mais expressiva por parte da sociedade civil na sua
relação com as instituições politicamente derivadas do Estado e ao emergir
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daquilo que Boaventura Sousa Santos,1 após vinte anos de intensificação da
globalização, classifica de “consciência do mundo”.
Na actualidade, Arato & Cohen expressa-se sobre a sociedade civil como
incluindo todas as instituições e formas associativas que requerem interacção
comunicativa.
Desta forma, o que proporciona a sociedade civil é a comunicação, e a
sociedade civil é autónoma quando as suas actividades são governadas por
normas que são retiradas do mundo da vida e reproduzidas e reformuladas
através da comunicação. 2
Também recentemente, Robert Putnam alega extensivamente que mesmo
organizações não-políticas na sociedade civil são essenciais para a
democracia. Isto porque elas edificam capital social, confiança e valores de
partilha, os quais são transferidos para a alçada política, unindo a sociedade e
facilitando uma cooperação dos interesses no seu seio.3
É a batalha pela diferença e reconhecimento que impele estes movimentos à
acção.
Este arremesso, resulta numa emergente articulação de áreas concretas de
acção sobre as fórmulas organizativas em prol da cidadania e crescendo da
sociedade civil, originando movimentos sociais com um forte pendor
estratégico, organizativo e actuante,
Como afirmou Touraine:4
“Se uma das consequências da globalização é que desvalorizou as identidades baseadas em papéis
sociais em detrimento crescente de identidades baseadas em pertenças culturais, os media emergem
mais fortes na sua ligação quase estruturante com a definição dos territórios simbólicos que permitem a
formulação destes novos tipos de afirmação social”.
Os media como referimos, revelaram-se ao longo da sua história, e embora de
forma ambivalente, como um vector de transformação social; actualmente, com
a evolução tecnológica e a potencialidade da interactividade estes agregam
uma condição de mutabilidade das relações entre o público e o privado e de
1
SANTOS, Boaventura de Sousa. A emergência do Mundo, Revista Visão, 27 de Novembro de 2003
O conceito de sociedade civil,
Cf. : http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0310315_05_cap_04.pdf ( 18/10/08)
3
PUTNAM, R. Making Democracy Work: Civic Traditions In Modern Italy. Princeton, 1993.
4
Apud CORREIA, Comunicação e Cidadania: os media e as dinâmicas nas sociedades pluralistas., p.258
2
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forma ainda mais interessante, como meio privilegiado, se disso houver
intenção, na veiculação das ideias e reivindicações da sociedade civil através
das inúmeras formas discursivas.
É desta forma, que a utilização convergente de diversas formas de
comunicação - email, blogs, chats, fóruns, rádios e televisões de proximidade,
imprensa alternativa - dá origem à proliferação de campos de discussão e
informação conglutinados numa espécie de Ágora dos tempos modernos, onde
se propagam as alternativas, oportunidades e denúncias convenientes aos
intuitos revisitados da cidadania e da democracia, numa fórmula permeável aos
interesses daqueles que nesse discurso se pretendem rever,
reforçando a
sociedade civil.
Na opinião de Boaventura Sousa Santos:5
“ (…) Os media desempenham duas funções básicas nas sociedades democráticas. Por um lado, uma
função de vigilância em relação aos detentores de poder político, económico e social, dando a informação
que torne possível o controle democrático. Por outro lado, a função de fornecer informação credível e um
espectro amplo de opiniões sobre questões importantes para o desenvolvimento da cidadania. Claro que
nenhum órgão de informação pode, por si só, garantir o desempenho pleno destas funções. É o conjunto
deles que o pode e deve fazer.”
A esfera dos media, na óptica do seu desempenho em Portugal, tem de ser
pensada.
Enquanto factor de integração social, pelas mudanças estruturais sobrevindas
do processo de transformação da própria sociedade na busca da promoção de
oportunidades de desempenho das plenitudes colectivas, respeito e cultivo das
diferenças validando o exercício da cidadania; mas, igualmente, pela
notoriedade que estes espaços de mediação e resistência que integram a
sociedade civil, transportam para a reflexão sobre a forma como os media
actuam, não apenas na sua concepção de modelo de pensamento dominante
mas analogamente, como um sistema de criação estrutural do espaço público
proporcionando novas dinâmicas e olhares cruzados, em suma, perspectivando
a mediatização da própria sociedade civil.
5
SANTOS, Boaventura Sousa, Media e Democracia. Revista Visão, 25 Nov. 2004
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A resistência fechada, baseada em individualismo ou hermetismo, contraria o
projecto basilar que dá força ao ideal democrático que é o centro da
universalidade e igualdade onde se fundamentam a sociedade civil.
Ao considerar-se que os media têm um papel elementar na consolidação dos
aspectos culturais, da ordem social e das normativas que dão corpo à vida
social, não é possível demitir daqui a discussão acerca da melhor forma de
aplicação destes instrumentos evitando que se criem apenas representações
ou simulacros destes ideais.
A visão que acompanha esta discussão, não é de forma alguma ingénua, não
rejeita a existência do confronto de poderes, e defende que a reflexibilidade e a
resistência são ocorrências determinantes na construção da identidade e da
cidadania.
Em resposta à emergência da intensificação da identidade e participação, esta
convergência tem repercussões no discurso comunicativo regional e local com
expressão marcante na esfera da sociedade civil, que cada vez mais é
concebida como uma sociedade comunicativa e plural; ou pelo menos, assim o
esperaríamos.
4- TV Local como mecanismo de “inscrição”
_______________________________________________________________
“ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..) é
uma pura miséria, uma máquina de fabricação e sedimentação da iliteracia, (…) o que contribui para o
espaço de não inscrição.”
José Gil
As televisões de proximidade já não assentam a sua definição num conceito
meramente geográfico; a comunidade está inserida para além de um espaço
físico, criando-se uma relação de cumplicidade e proximidade partilhada e que
na essência, constitui a sua identidade.
Observa-se que o panorama mediático está sustentado, actualmente, sobre o
desafio do global e o local: a comunicação local surge para contrapor alguns
efeitos desta dialéctica tentando reavivar o local.
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Desta forma, os meios de comunicação de proximidade podem e devem ser
encarados como instrumentos de mediação na busca de metas e objectivos
concernentes aos locais e comunidades, cumprindo diferentes papéis através
do auxílio de uma massa crítica colectiva e participativa, sem que o elemento
mercado promova uma sombra no evoluir da sua missão.
A condenação ao silêncio é combatida, rejeitando-se incertos argumentos que
têm sustentado a falta de investimento no sector num passado ainda recente.
No que diz respeito à realidade portuguesa, desde a Comissão de Reflexão
sobre o Futuro da Televisão, que a sustentabilidade destes projectos é
discutida.
Sob a égide da alegação económica se atribuiu à falta de mercado publicitário
e à não existência de regiões, e ainda a proximidade com os poderes locais e
regionais, o não surgimento destes fenómenos, de forma expressiva, em
Portugal.
Mas serão estes argumentos válidos no panorama actual da comunicação?
Um lugar onde se encontram os particularismos e as identidades singulares
num mesmo espaço coexistente com o nivelamento global e onde pululam os
motes de uma nova democracia oriunda da interactividade?
Parece-nos que a resposta contraria estes fundamentos e poderá basear-se
nos seguintes factores: 6
1- O argumento político de fundo: o direito ao audiovisual no plano das
regiões e das comunidades locais é um direito que se configura no
quadro do direito à cidadania e à liberdade de acesso ao sistema dos
media pela sociedade civil, em particular pelos cidadãos do interior do
país - ou das ilhas - que habitualmente não se reconhecem nos meios
de comunicação de cobertura nacional.
2- O argumento jurídico formal: em abstracto, a legitimidade de
existência de uma televisão local ou regional é idêntica à de uma rádio
local ou regional.
3- O argumento cultural: ou seja, pela necessidade das regiões e das
comunidades locais participarem de forma activa no modelo de
6
CÁDIMA, Francisco Rui, Os media regionais face à TV locall. Cf.http://irrealtv.blogspot.com/2005/05/osmedia-regionais-face-tv-local.html . (14/01/09)
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comunicação audiovisual cada vez mais próximo das suas tradições e
das suas realidades quotidianas e culturais, e cada vez necessariamente
menos dependente de fluxos de informação globalizantes e/ou paneuropeus, mais afastados do modelo de comunicação que a Europa
precisa para o seu projecto político, económico e cultural.
Desta forma, Cádima acredita não ser possível “passar um atestado de
insanidade económica e cultural aos habitantes e ao potencial das grandes
cidades e das regiões portuguesas que os afaste irremediavelmente de um
projecto de TV local, emanado directamente da sua sociedade civil, ou de
qualquer grupo autónomo dos seus cidadãos.”7
É aqui que reside a conveniência da criação de uma televisão regional e local –
nenhum outro meio poderá, eventualmente, assumir-se como tão poderoso
mobilizador dos espaços públicos regionais, no robustecimento da cidadania e
comunhão na região/local.
Neste âmbito, tem supremacia a sua acção enquanto mediadora mas ao
mesmo tempo criadora, renovadora e consolidadora da consciência e
identidade.
Esta concepção, passa pela consciência nem sempre pacífica, de que uma
região, um local só poderá ser competitivo se e também for portador de um
sistema comunicacional integrador, que é um factor visto como fundamental ao
desenvolvimento. Sendo intérprete das mesmas, fomenta e chama a si a
missão de agente de desenvoltura, aproveitando as capacidades endógenas e
as suas vantagens, fixando a “massa crítica”.8
E neste sentido questionamos:
- Como pode uma região, uma comunidade, expressar-se se não existe um
meio de comunicação social que divulgue com frequência, oportunidade e
relevância questões e problemas relativos ao seu espaço?
7
Id. Ibid.
REBELO, Cristina, Televisão regional e Região Norte: uma contextualização à proximidade regional, p.
144-145
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- Como pode uma região, uma comunidade evidenciar as suas emergências, as
suas aspirações à afirmação e projecção, quando as instituições falham e o
sistema não lhe dá voz, se não se cria um meio de comunicação social
realmente capacitado em aglutinar os seus objectivos e interesses e que
chegue em efectivo, a todos os cidadãos da mesma em termos de qualidade,
entendimento e empatia?
Estas questões evidenciam a responsabilidade dos indivíduos, grupos,
localidades e espaços motivadores pelo desejo de referências e enraizamento e
também pelo interesse da expressão;
Assim, diferentes tópicos abrem um novo espaço para que a alternativa tenha
lugar e tenha voz, num legítimo direito de se expressar sem a prepotência dos
grandes centros.
No fundo, trata-se de criar uma narrativa local, que assuma o retrato da
comunidade como protagonista e que essa característica seja perceptível ao
receptor mesmo que de forma reivindicativa.
“Ante la globalización mercantil, la continua superación en el campo tecnológico y la universalización a
través de las telecomunicaciones, la empresa de comunicación local no puede quedarse de brazos
cruzados. La homogeneización, como amenaza, exige una respuesta inmediata, una reivindicación de lo
próximo. (…) Un medio local existe en relación con un espacio social, con el que mantiene una relación
de retroalimentación mutua. El público se reconoce como identificado, se ve reflejado como si estuviese
ante un espejo; esa imagen reflejada responde al deseo de protagonismo de cada uno de los usuarios.”
9
Ao emitir esta opinião, Xosé López, Fermin Galindo e Manuel Vilar, acreditam
que é um direito legítimo das comunidades a expressão da sua “personalidade”
num esforço de rejeição de modelos distantes e pouco distintivos do tema local.
Este direito compreenderá o resgatar dos seus interesses e fidelização às suas
ideias, ocupando um espaço no terreno público dos meios nacionais e
internacionais e respondendo a um âmbito de cobertura específico.
O imperativo local advém da mútua relação entre a comunidade e os seus
habitantes, onde o conceito de proximidade é a garantia de renúncia frente à
globalização: a sobrevivência desta proposta está articulada à ideia do próximo
9
LOPEZ, Xosé , GALINDO, Fermín, y VILLAR, Manuel, El valor social de la información de proximidad.
<http://www.ull.es/publicaciones/latina/a/68xose.htmf> (23/01/09)
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e à valorização do local como espaço sentido e fonte de experiência; não
apenas como elemento material mas metafórico.
5 – Síntese do contexto da Televisão Regional e Local em Portugal
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A origem dos projectos remonta aos finais dos anos 70 e início dos anos 80,
altura em que o advento das experiências de rádios locais e do debate acerca
da iniciativa privada, trouxe consigo a vontade de iniciar projectos de televisão
no mesmo âmbito, embora uma espécie de ligação perigosa com o caos da
situação observada com as rádios, tenha contribuído entre outros factores, para
a omissão durante anos, à viabilidade destes projectos.
A este interesse, o Estado responde tendo decido dar o seu abono às rádios
locais legalizando-as, mas permanecendo omisso relativamente à iniciativa da
televisão regional e local.
Esta foi aliás, a grande questão à volta das Televisões locais e regionais:
- a falta de uma vontade política consistente e a consequente falta de legislação
adequada confirmando assim, a falha do estabelecimento da relação entre o
audiovisual e o desenvolvimento pelos governantes.
A questão das televisões regionais terá sido o tema que mais dividiu os
elementos da então criada, Comissão de Reflexão para o Futuro da Televisão.
Assim, no capítulo do documento sobre “A televisão Local e Regional”
defenderam-se duas teses divergentes, tentando colmatar a falta de consenso
dos seus constituintes e que aqui se refere:
Tese nº 1
A tese nº 1 reconhecia a existência de uma dinâmica favorável por parte de
alguns grupos de cidadãos no sentido da criação de televisões locais e
regionais. No entanto, este passo não deverá ser considerado “objectivo
prioritário” propondo ao invés, a implementação do serviço público dado “não
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estarem criadas as condições jurídicas, técnicas e económicas” ao seu
funcionamento.
João Soares Louro, Fernando Lopes, Susete Abreu, António Trigo de Sousa e
Nuno Cintra Torres apoiam esta posição, acrescentando “que a realidade
portuguesa não é comparável em termos étnicos, linguísticos e geográficos a
outros países”.
Tese nº 2
Aqui defendia-se a ideia de Televisão Regional associada à participação cívica
- o fenómeno de TV de proximidade ganha cor como instrumento alternativo de
participação popular em prol da defesa da singularidades.
No ponto 4.2 se declara:
- “Sendo convicção prevalecente no seio desta Comissão, a de que não há razões para o Estado continuar
a protelar a criação de espaços televisivos de dimensão inferior à sua, em particular de todos aqueles que
contribuam para uma maior participação da sociedade civil e para a diversificação das fontes de
informação.(…)”
Com isto se remata, propondo que este sector carecia e necessitava de um
estudo mais profundo. 10
Entre as muitas iniciativas, destacaram-se algumas relacionadas com
personalidades e instituições portuenses, com vista à criação de uma TV de
âmbito local na área metropolitana do Porto, sendo que em 1985, surge um
movimento de cidadãos, o Fórum Portucalense, insurgindo-se na defesa de
uma televisão regional.
A abordagem da necessidade de uma televisão regional no Norte, dá projecção
à ideia inicial para a geração do projecto que recebeu o nome de Televisão
10
A 8/2/97 foi elaborado um debate em Mangualde com representantes de partidos, representantes da TV
Cabo e membros da supracitada Comissão, com o intuito de discutir o futuro da Tv Regional em Portugal.
“Riscos e Desafios” foi o tema que o Movimento para a Legalização das Televisões Regionais (TRP) veio
trazer num fórum que pretendia a veiculação no circuito interno da Televisão de Mangualde e via Internet.
Este fórum contou aliás com uma iniciativa inovadora protagonizada pelo Centro de Estudos e
Telecomunicações da Telecom. O sistema, viria a designar-se de Mangualde 2000 e junta vídeoconferência, um demonstrador de tecnologias e serviços e uma rede de televisão integrada. Suportado
por uma rede de fibras ópticas faz a ligação em 3 centros, sendo que em cada um estava instalado um
computador apoiado por serviços multimédia, uma televisão e um estúdio de vídeo conferência. As zonas
de recepção por seu lado também estão equipadas com linhas telefónicas, transmissão de dados e canal
de TV.
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Regional do Norte (TVN) e assentava em alguns pilares oportunos à sua
criação:
“Face à evolução para a democracia que Portugal está imparavelmente a prosseguir; face ao aumento
relevante da capacidade de penetração em Portugal das televisões estrangeiras; face à necessidade de
manter a individualidade e as raízes culturais das populações, em contraposição indispensável ao
alargamento de âmbito geográfico da informação; face à importância da região Norte (...) importa criar um
dispositivo de televisão no Norte de Portugal que permita o desenvolvimento da comunicação na região e
possibilite a sua afirmação global no espaço nacional e mundial”.
11
Assim, “criar ou divulgar uma ideia do Norte”
12
era o elemento central do
projecto que se assumia como promotor dos anseios nortenhos, reivindicando
poder
à
região
e
planeava
conseguir
alguns
objectivos,
devendo
privilegiadamente: 13
- Fazer a cobertura noticiosa da vida regional;
-Informar a região sobre os acontecimentos nacionais e internacionais
significativos, segundo um critério e uma abordagem assentes na perspectiva
nortenha das coisas, ou seja segundo os interesses e idiossincrasias da região;
- Provocar o diálogo entre as forças vivas da região;
- Debruçar-se sobre a identidade histórico-social e cultural da região;
- Reflectir os anseios políticos, económicos, culturais, sociais e religiosos da
região;
- Exercer uma missão pedagógica e esclarecedora junto dos cidadãos da região
Norte.
Portugal continuava a ser dos poucos países da Europa que tinham atrasado
sistematicamente, um atentar de ideias sobre a viabilidade da TV local ou
regional, rejeitando intrinsecamente as vantagens que daí adviriam.
Sobre estas, em que a defesa de identidades e participação cívica e o
desenvolvimento das comunidades são de suprema importância, se contra
argumenta com a escassez do mercado publicitário que já contava com 4
canais nacionais, o espaço radioeléctrico e com a dúvida se “há vontade,
mercado e regiões”.
11
VILAR, António, Criação Imediata da TV Norte Como Sociedade Alargada aos Cidadãos, Jornal de
Notícias, 17/11/1985
12
REBELO, Cristina, op cit. p. 135
13
Proclamação do Fórum Portucalense, Jornal de Notícias, 17/11/1985
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A legislação aprovada em 1998 abria a possibilidade às televisões regionais por
cabo, mas o decreto - lei nunca foi regulamentado.
Curiosamente, proclamada em entrevista à SIC a 29/4/1998, esta afirmação
parecia contrariar uma disponibilidade manifestada pelo então Secretário de
Estado, Arons de Carvalho, relativamente ao acolhimento destes projectos e
que em 1995, na oposição, escrevia assim num artigo ao jornal, “O Público”:14
“(…)Ninguém contesta a inevitabilidade e até a proximidade de uma abertura na televisão. As
acessibilidades tecnológicas e financeiras anunciam de facto o inevitável:
Vêm aí os novos canais de televisão, por via hertziana ou cabo, acessíveis a toda a gente ou codificados,
regionais ou locais, generalistas ou temáticos.(…) Tudo está cada vez mais dependente apenas da
viabilidade económica dos projectos. O poder político não tem outro álibi para atrasar a chegada de novos
canais de televisão que não seja precisamente esse.”
De qualquer modo e muito embora a situação da televisão regional parecesse
receber um novo fôlego com a prevista regionalização, o debate circulou muito
em função desse projecto político que saiu logrado, atrasando mais uma vez o
aparecimento dos projectos neste domínio. Mais recentemente, Arons de
Carvalho transfere todo o comprometimento desta obstrução para a sociedade
civil.15
“Não existe em Portugal um movimento a reclamar as televisões locais e regionais, a sociedade civil não
está mobilizada. Se a regionalização tivesse avançado a sociedade civil poderia estar mais desperta para
as vantagens destas televisões de proximidade”
A individualidade refere ainda a influência de grupos de pressão contrários ao
movimento das televisões regionais e locais mas, de facto, nunca houve
consonância entre a sua defesa destas televisões e a rejeição da lei perante a
intervenção do Estado nas mesmas.
Conclui-se que:
“ A falta de uma vontade política forte que associe o país às televisões de proximidade, tem sido ao longo
da história, amparada pela inexistência de uma pressão social reivindicativa, por parte das comunidades
regionais.
14
15
CARVALHO, Alberto Arons de , Vêm aí as novas Televisões, O Público- 10/05/95
COELHO, Pedro, TV de proximidade e os novos desafios do espaço público. p.190
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Nos últimos vinte anos assistimos ao aparecimento e desaparecimento de experiências frágeis,
concretizadas por curiosos e voluntários de que os poderes locais de tornaram cúmplices, num primeiro
momento, mas se divorciaram quando estes projectos apresentaram sinais de dasagregação.
Esse
divórcio resultava normalmente do desaparecimento do entusiasmo inicial , que caracteriza todos os
projectos nesta área e da pressão dos serviços de fiscalização do Estado com vista ao encerramento das
16
emissões.”
Sempre muito dependente ou subvertido por questões políticas, o enfrentar da
televisão local e regional foi sendo desacreditado. Embora presente em muitos
discursos políticos e/ou eleitorais, o tema foi travado tendo uma evolução
desvirtuada pelos sucessivos governos e pela ligação a uma regionalização
não conseguida.
A política dos últimos anos assim o confirma.
A anterior coligação, demite mais uma vez o assunto da ordem do dia e as
inúmeras dificuldades do panorama do serviço público criam indefinições várias
para uma gestão atempada e eficiente do assunto da televisão local e regional;
em 2005 o decreto - lei continuava por regulamentar. No entanto, o progresso
tecnológico impôs rapidamente que a lei e o legislador se deixassem impregnar
pela revolução incontornável dos últimos anos. E embora sempre com muitas
reservas, nomeadamente na acepção dos projectos enquanto mentores de
desenvolvimento activo das localidades e regiões, a legislação consegue ser
mais esclarecida quanto à impossibilidade de travar os processos que
mormente, através das novas tecnologias, têm surgido abundantemente
embora apresentando algumas fragilidades. A convergência TV- Web
crescente expansão
e a
de estações televisivas cada vez mais facilitada pelo
cenário da televisão digital, têm colocado desafios importantes ao panorama
televisivo português permitindo destacar os projectos de TV na Web.
Um desses projectos recentemente falados, é o da "Localvisão TV" que
promete criar 308 canais, um em cada concelho do País através da
Internet.Este projecto de televisão local promete criar 308 canais de TV em
cada concelho de Portugal com difusão através da Internet, estando os
primeiros 12 já operacionais no Distrito de Bragança, onde foi em Outubro
16
Id ibid. p. 192
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apresentada a "Localvisão Tv". Numa apresentação única, estes são canais de
proximidade cujo sinal é difundido pela Internet, que também têm algo de
WebTV na medida em que as pessoas podem pesquisar conteúdos já emitidos.
Vislumbra-se, no horizonte, um novo paradigma de TV local.
6- O primeiro projecto de televisão local e regional a norte: o NTV
________________________________________________________________
O interesse do aparecimento de uma TV Regional ou Local no Norte do país,
gerou alguma movimentação no sentido de se cimentarem ideias e firmarem
decisões.
A ligação ao debate da Regionalização e o empate no quadro legislativo, foram
os dois factores mais proeminentes do problema da viabilização da televisão,
cujos mais interessados eram os autarcas principalmente nos projectos de TV
Com data prevista para finais de 2000, o canal Porto TV Informação e
Multimédia, projectava-se dotado de interactividade num formato moderno que
permitia emissões não só em televisão, mas igualmente em multimédia,
pretendendo privilegiar a informação sobre a AMP (Área Metropolitana do
Porto) tendo à sua frente três parceiros principais - TV Cabo, RTP e Lusomundo
- com aproveitamento das instalações do Monte da Virgem.
A Câmara do Porto sempre manifestou interesse em ingressar no projecto,
fazendo fé na crença que esta possibilidade se operasse com a alteração da
legislação sobre Televisão.
A verdade é que embora não se concretizando desta forma, este organismo
mostrou-se como um dos impulsionadores da ideia.
Isto terá gerado aliás, uma polémica com outros autarcas, assente na questão
do protocolo assinado com a Porto TV, que dava à Câmara do Porto, mediante
o pagamento de 75 mil contos/ano (aprox. 355.000 euros) e pela “prestação de
serviços”, a possibilidade de incluir noticiários diários sobre a Câmara entre
outros serviços patrocinados e produzidos com o apoio desta. 17
17
Vieira de Carvalho, autarca da Maia, decide abrir guerra à Porto TV, por considerar que o P.S. queria
controlar o novo canal e o acordo que viria a ser celebrado representava “uma flagrante violação do
espírito da Lei”. Este autarca considera ainda a possibilidade de este canal se tornar um “poderoso
instrumento de propaganda político-partidária”. (Público,13/8/99)
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As principais críticas resultam da noção que “parte dos temas a tratar pelo
referido canal de televisão dependem da indicação prévia” dos serviços da
edilidade em questão.
Acresce ainda a associação da TV Cabo e da RTP, “duas empresas de capitais
públicos directa ou indirectamente tuteladas pelo governo”, mas também ao
desenvolvimento de um projecto que deveria servir toda uma região no intuito
da preocupação de “ver um projecto de grande utilidade e importância (…)
nascer assim desvirtuado”18
Esta fórmula, subliminar aos olhos de alguns, e que no fundo viria a contornar a
Lei, apelidou este canal como “o canal dos Senhores Presidentes”;
Se esta modalidade se alargasse a outras Câmaras, o novo projecto tinha em
princípio o seu problema de viabilidade financeira resolvido, mas passaria a ter
que lidar com a sensível questão dos protagonismos de tempo dados a cada
Câmara nas emissões do Canal Porto. Para o director que reiterava a força do
projecto, declarando que aguarda “que apareça um canal de televisão com esse
mesmo espírito (…) ganhador como o Futebol Clube do Porto; (…) um projecto
a partir do Porto, como se isto fosse a planta para o resto do país, ou se se
quiser, a partir de Barcelona para o resto de Espanha,” vinculando a ideia de
partilha e espaço de auto-afirmação e reafirmando que “o Porto só ganha se for
cosmopolita”. O novo canal pretendia ser “temático com características
metropolitanas (…), um canal alternativo (…) dentro da overdose de informação
que hoje existe, onde há lugar para a curiosidade e a surpresa – coisas que vão
faltando”. 19
“O canal Porto “tem ambições globais. Isto é não se consegue ser global se não se tiver um espírito tribal.
É preciso mostrar e promover o Porto cosmopolita.
É fundamental recuperar aquela velha frase do Prof. Agostinho da Silva: Há muito Norte a Sul do Equador
que nos passa pela cabeça”.
20
18
CARVALHO, Vieira , O Independente, 13/8/99
19
MAGNO, Carlos, Jornal de Notícias, 16/12/00
Id.
20
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Deste processo, conclui-se que o aparecimento da, finalmente designada, NTV
(re)colocava algumas questões ao sentido da existência e viabilização de
canais de cariz regional.
A primeira ilação passava forçosamente pelo impacto que o canal do Porto terá
gerado questionando afinal a mais valia que a existência deste “produto”
poderia representar à região e à cidade, aos cidadãos e até ao país.
Não foi contudo, com uma nota positiva que ficou marcada a estreia do canal
que recebeu aliás, bastantes críticas quanto ao formato e descaracterização,
O surgimento do NTV, supunha-se, viria colmatar uma lacuna no deficitário
papel que os media nacionais têm na abordagem de questões de índole local e
regional, apresentando-se com muitos intuitos à partida, difíceis de concretizar
num projecto único e pouco conhecido no país. As inúmeras expectativas
criadas à sua volta acabaram por representar a fonte principal das críticas
apontadas, dificultando a concretização do que aparecia muito simplesmente
como - o Canal do Norte.
Nesta medida, a NTV assumia uma enorme responsabilidade: a de fazer
passar a todos a mensagem do Norte.
Uma tarefa difícil num cenário marcado por uma identidade mal ou pouco
dirigida, uma região díspar, uma realidade complexa cuja relação com a
televisão, que muito pouco tem feito pela proximidade, pela cidadania e
projecção da região, poderia demarcar a sua posição como agente inovador
capaz de se afirmar a nível regional e nacional, criando as condições
necessárias para que o NTV criasse cumplicidade e reconhecimento num leque
já extenso de oferta de canais por cabo, muito embora este sistema ainda limite
o número de espectadores em Portugal.
Em segundo lugar, nesta abordagem que é naturalmente multifacetada, ficam
ainda subjacentes algumas questões.
Recordemos nomeadamente, a relevância destes projectos na óptica do
desenvolvimento regional, criando sinergias para a viabilização de uma
televisão de proximidade, de cidadania – um espaço de projecção que sirva a
sociedade civil esgotada do excessivo e habitual pendor por vezes oco e menos
próprio de projectos feitos em seu nome.
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Não obstante o desiderato da NTV, o canal foi adquirido pela RTP
transformando-se na RTPN sem qualquer cariz ou missão local ou regional.
O projecto seguinte, teve o objectivo de ressuscitar a NTV emitindo já há quatro
anos sob o nome de Porto Canal.
7- Porto Canal: o canal que “inscreve” o Porto?
_________________________________________________________________
Sendo o Porto Canal um “canal extremamente afecto ao Porto”, considera-se
que ainda há um caminho amplo a percorrer devido à percepção de que muitas
pessoas desconhecem ainda a existência do canal dado não terem acesso à
TV cabo.
Actualmente, a TV cabo apresenta um share de 23,5% tendo vindo a crescer
desde Janeiro de 2009, o que é explicável pela possibilidade de acesso às
alternativas mais ao gosto dos consumidores de televisão; porém, ainda não é
um crescendo tão acentuado devido à limitação do poder de compra dos
consumidores.21
Nos quadros seguintes podem verificar-se as diferenças de share entre 2009 e
2010 sendo o último quadro correspondente a Novembro de 2010.
21
Cf.Cabo tem melhor resultado de sempre e ultrapassa SIC e TVI:
http://pdf.clipping.mediamonitor.pt/pdfTemp/etn_6192414_527_0.pdf (6/04/09)
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Fig 1 -Audiências TV Janeiro 2009
Fig.2 Marktest - http://www.marktest.com/wap/a/n/id~152d.aspx (22/11/2010)
Outro dado de interesse é o que mede a frequência de visionamento para o
Porto Canal, que apresenta o estudo em curso. Resultados menos positivos,
para reflectir o lugar adentro das ofertas da TV Cabo.
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Fig 3- Estudo “Portoguesmente” falando: a pronúncia e narrativa
do Porto Canal”: dados da autora – Nov 2010
Evolução e análise das audiências:
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Fig. 4: Dados fornecidos pelo Porto Canal
Fig. 5: Dados fornecidos pelo Porto Canal
As audiências do Porto Canal em crescimento, de forma contínua e sustentada
durante o primeiro ano, numa programação com conteúdos “diferenciados,
exclusivos, interactivos e adequados ao seu público.”
Um dado interessante, é o aumento do share verificado na passagem do ano.
O Porto Canal liderou, pelo terceiro ano consecutivo, as audiências televisivas
na noite de passagem de ano na região do Grande Porto, entre os canais que
transmitem por cabo, segundo se apurou pelas fontes impressas.
"O Porto Canal foi líder absoluto, no Grande Porto, entre os canais de cabo"
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Segundo dados da Marktest, divulgados na mesma fonte impressa, entre as
00:00 e as 00:30 do dia 1 de Janeiro, a estação de televisão liderou com 43,8
por cento.
O programa que atraiu as atenções dos telespectadores do Grande Porto foi a
transmissão em directo, da Avenida dos Aliados, do espectáculo de fogo de
artifício que assinalou a entrada no novo ano.22 O Porto Canal, apresenta nesta
data, bem como na noite de S.João (festa do santo popular) e na Queima das
Fitas (festividades académicas), uma forte relação com a cidade. 23 A conclusão
reside pois, na desejada inclinação de proximidade com as raízes do Porto e
do Norte.
Perfil do espectador
Fig. 6- Divisão por classes sociais de Janeiro de 2007 a Novembro de 2007.
Dados baseados no Manual de Apresentação
22
Porto Canal liderou audiências entre canais por cabo, no Grande Porto, na Passagem do Ano. Cf.
http://tv1.rtp.pt/noticias/?article=168494&visual=3&layout=10 . (18/03/09)
23
Cf. Mediamonitor, Marktest: http://pdf.clipping.mediamonitor.pt/pdfTemp/etn_4478641_527_0.pdf
(18/03/09)
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Fig. 7- Divisão por idades de Janeiro de 2007 a Novembro de 2007.
Dados baseados no Manual de Apresentação
Com uma programação diversificada, embora as 24H de emissão sejam
sustentadas pela repetição, a qual vai do entretenimento ao desporto,
passando pelos debates, entrevistas e informação, abrange um público
diversificado e diferenciado etária e socialmente. Segundo dados mais
recentes, destacam-se as alterações positivas na captação das classes A/B e
perda na classe C1 e sem alterações significativas para os restantes
parâmetros.
4%
4%
12%
26%
Idade 4/14
Idade 15/24
Idade 25/34
Idade 35/44
Idade 45/54
23%
Idade 55/64
Idade + 64
21%
10%
Fig 8- Divisão por classes (Jan. 2008/Mar 2009)
Baseado em Marktest-Audimetria/MediaMonitor
Dados retirados do MMW/Telereport/Audicabo
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4%
4%
12%
26%
Idade 4/14
Idade 15/24
Idade 25/34
Idade 35/44
Idade 45/54
23%
Idade 55/64
Idade + 64
21%
10%
Fig 9-Divisão por Idades (Jan. 2008/Mar 2009)
Baseado em Marktest-Audimetria/MediaMonitor
Dados retirados do MMW/Telereport/Audicabo
Em relação ao ano de 2007, a variável Idade relativa à audiência sofre algumas
alterações, nomeadamente as faixas dos 23/34 anos que sofre uma diminuição
praticamente para metade (22,7% para 11,7%), dos 35/44 anos que
suplantaram mais de metade das preferências (9,1% para 23,2%) e dos + de
64 anos onde se verifica um aumento para o dobro dos valores (13,3 para
26,9).
Os valores mais elevados são encontrados em pessoas de idade mais
avançada, provavelmente reformados e paralelamente, observa-se que
diminuem as audiências das faixas abaixo dos 35 anos. Este dado
seguramente sugere uma preferência ou apetência deste tipo de audiência em
relação à selecção e agenda do Porto Canal.
Divisão do público:
No que respeita à classificação de género os dados são explícitos, embora a
predominância masculina não se assuma tão preponderante, analogicamente
falando. O corrente estudo, “Portoguesmente” falando: a pronúncia e
narrativa do Porto Canal” confirma estes dados.
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48%
Mas c ulino
F eminino
52%
Fig. 10- Divisão por sexo: (Jan 2008/Mar/2009)
Baseado em Marktest-Audimetria/MediaMonitor
Dados retirados do MMW/Telereport/Audicabo
Fig. 11- - Estudo “Portoguesmente” falando: a pronúncia e narrativa
do Porto Canal”: dados da autora – Nov 2010
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Fig. 12- - Estudo “Portoguesmente” falando: a pronúncia e narrativa
do Porto Canal”: dados da autora – Nov 2010
No que respeita a estes dados, verifica-se que o nível da escolaridade
obrigatória abarca a maior percentagem: do 9º ao 12º ano apura-se um valor
de 45,1% nas pessoas entrevistadas.
Em relação ao estado civil, um dado interessante: um maior número de
solteiros, parece indicar faixas etárias mais novas associadas ao canal do que
os dados apontados no estudo fornecido pela Marktest e Porto Canal em
2008/09.
Um dado a cruzar, posteriormente, com o estudo referido e em conclusão.
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Influência fora do Porto
Sobre este ponto, existiu muita limitação ao acesso a dados mais significativos
porque é um parâmetro muito pouco explorado, inclusive nas instituições
designadas para estudos de audiências.24 Segundo apurámos junto do Porto
Canal, estes não possuem quaisquer dados pois há grande dificuldade em
medir o cabo e os resultados não têm nenhuma relevância estatística. Este
aspecto constitui uma fragilidade no auxílio à gestão e monitorização do
impacto do canal, apenas efectuado empiricamente pela verificação da
participação popular em programas e fóruns de cidadão fora da AMP.
3%
7%
2%
6%
7%
G rande L is boa
G rande P orto
L itoral Norte
L itoral C entro
Interior
S ul
75%
Fig. 13: Divisão por regiões (Jan 2008/Mar/2009)
Baseado em Marktest-Audimetria/MediaMonitor
Dados retirados do MMW/Telereport/Audicabo
De qualquer forma, junto da empresa Marktest, conseguimos obter alguns
dados que acima demonstramos e onde se destaca a influência LOCAL do
canal.
Curiosamente os valores para o Litoral Norte e Grande Lisboa têm o mesmo
peso estatístico, do qual se depreende a visualização da estação na capital e
24
Dados mais conclusivos e recentes serão objecto de publicação pela autora em 2011. sob a
designação “Portoguesmente” falando: a pronúncia e narrativa do Porto Canal”.
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provavelmente, a fraca adesão ao cabo nas outras regiões também explique a
sua fraca penetração; a inclinação regional, pelo menos a Norte, não foi ainda
alcançada.
No que respeita ao estudo, “Portoguesmente” falando: a pronúncia e narrativa
do Porto Canal” a finalizar, adiantamos que a conclusão reitera que as zonas
mais substantivas são Vila Nova de Gaia, Porto, Maia, Braga, Guimarães,
Valongo e Gondomar.
Igualmente se registam valores significativos na Póvoa do Varzim e Paços de
Ferreira. Estes dados, são relevantes para estratégia de alargamento regional
pretendida pelo Porto canal e também de ilustração de tendências de
fidelização local.
Fig 14- Estudo “Portoguesmente” falando: a pronúncia e narrativa
do Porto Canal”: dados da autora – Nov 2010
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Proporção de programação local/ regional- 2009/2010
21%
Programas com
ancoramento regional
Outra programação
79%
Fig. 15- Percentagem de programas regionais, de 2ª a 6ª feira
Fim de semana:
40%
Programas com
ancoramento regional
Outra programação
60%
Fig. 16- Percentagem de programas regionais, ao fim de semana.
As escolhas temáticas de alinhamento local ou regional ainda estão aquém do
espectável. No entanto, a estação tem intenções de alargar o seu campo de
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transmissão para a região Norte, constituindo este ano diversas janelas de
correspondência com várias regiões nortenhas.
Do estudo que se encontra a finalizar, retiraremos mais esclarecidas
conclusões sobre esta matéria que serão objecto de posterior apreciação.
Conclusão
_______________________________________________________________
Falar de um meio de comunicação social do Porto ou para o Norte, fez levantar
o véu ao tema da falência do diálogo da região consigo própria que em muitos
sentidos, se deve a questões políticas, e que existe, persiste aniquilando o
verdadeiro sentido da comunicação.
Ora, a comunicação – técnica e ciência – existe como instrumento ao serviço
da satisfação de necessidades e intenções num sentido bidireccional; e como
se sabe, a complexidade deste processo obriga por vezes às mais criativas
estratégias para que se consiga fazer passar uma mensagem cuja eficácia dita
a convergência com o outro.
Sem estes espaços de convergência que permitem incorporar interesses,
valores, identidades e até anseios de afirmação, torna-se difícil a gestão do
conhecimento que a própria comunidade deve ter de si. E por consequência, o
desconhecimento, a falta de integração e até um certo desenraizamento
condicionam o aparecimento de fragilidades gritantes:
- onde não existe questionamento, não pode haver desenvolvimento.
Neste sentido, órgãos de comunicação locais são de extrema importância;
ainda mais o é a televisão que pode assumir real valor estratégico não só como
veículo, mas como intermediário à sociedade civil e à região.
Na vertente do interesse local, poderíamos aqui questionar até se um espaço,
uma comunidade também pode “fazer-se” através de uma televisão.
Dir-se-á que o que se defende é uma provável construção mediática do local;
mas se a “região faz a televisão” 25, parece-nos lógico considerar o oposto e até
que as duas versões se complementam. Uma região conhecer-se melhor a si
25
MUSSO, Pierre, Apud. CÁDIMA, Francisco R, Os desafios dos novos media, p. 13
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mesma, as suas idiossincrasias, as suas gentes, a sua forma de vida, os
meandros da sua política, possibilitando-lhe a recuperação de elementos de
ordem social e cultural, querendo ter e dar voz nesta era de uniformização
imposta a título de igualdade, resultam de um tipo de construção mediática? Se
assim for, bastará que se assegure uma vigilância aos perigos de uma fórmula
mais propagandística ou de grande intimidade com poderes capazes de
desvirtuar a ideia central na base destes projectos.
Em suma, insurge-se em continuidade, uma reflexão que deverá ser
acompanhada de um campo de interesses mais alargado, contribuindo para a
operacionalidade dos projectos, os quais estão muito facilitados pela tecnologia
mas não tanto pela legislação e reivindicação suficiente da sociedade civil que.
Virtualmente, continuamos a acreditar que embora estes projectos possam ser
mais ou menos bons, esperando sempre que sejam os melhores no
cumprimento dos seus objectivos e atendendo a que, neste percurso, muitos
podem falhar,
principalmente se
atendermos apenas a questões de
rentabilidade e lucro, estas televisões têm a sua viabilidade na simbiose entre a
missão desenvolvimentista e a formação social e cultural de cidades e locais,
fazendo um forte apelo à voz local, na medida em que procurem dar relevo à
expressão da sociedade civil e aos seus problemas, promovendo uma
perspectiva inovadora de reflectir activamente sobre o local, a identidade e os
sentimentos de pertença.
Com uma história muito recente, o Porto Canal resiste à incredulidade e
descrença que tem acompanhado a história dos meios locais na cidade do
Porto.
Durante a vigência dos primeiros dados apresentados, conclui-se que estação
não tem vocação regional em efectivo, mas tem importância local: é
reconhecida a nível da AMP pelo contacto nas ruas e pela participação popular
em fóruns e debates.
A programação tem uma preocupação local e uma perspectiva também local
mas falta a criação de espaços de real permuta, no que respeita à geração de
opinião e massa crítica, capaz de gerar linhas de força activas em prol da
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O acto de “não inscrição” fica patente por alguma descontextualização operada
pela falta de experiência do próprio mercado das televisões locais pouco
estimulado ainda para a sua presença, por razões de sensibilização e pouco
investimento permitido no sector, e igualmente do tecido social local.
Não obstante, os valores e missão do canal são subjacentes à proximidade
com a vizinhança e a comunidade; não teria sentido apresentar conteúdos que
não constituíssem uma mais valia para este objectivo que de facto, fundam o
sentido e existência da estação, ou seja o seu “cariz genético”.
Por outro lado, a oferta de programação fica comprometida na sua
potencialidade, uma vez que a produção se torna mais sofrível nos géneros e
nos formatos; embora sejam de realçar os valores elevados e atraentes de
produção portuguesa visionados, envolvemo-nos novamente com a questão da
sustentabilidade do canal.
Sustentabilidade essa que é, essencialmente, facilitada por uma organização
não portuguesa e resultado de um interesse mais comercial que alia o capital
ao know-how.
Questionamos a falta de investimento e a participação de instituições
carismáticas do local e da região, que traduzem a desconfiança ainda existente
em relação ao papel e missão destes meios; não há, politicamente, um efectivo
empenho em aderir à movimentação participativa e democrática destas
televisões, o que compromete a estabilidade das mesmas.
Há ideias e projectos, mas faltam meios e recursos capazes de dar vida ao
desafio criado pela falta de concorrência significativa; o espaço do Porto Canal
não é disputado mas a oportunidade existente “melindra-se” com a
obstaculização da legislação em relação à participação de instituições locais, o
que provavelmente só irá alterar-se quando se voltar a falar de Regionalização
no país. Atrever-nos-íamos a dizer, que este é um dos factores críticos no
exercício e na vocação local do meio, embora este faça conjunto
multidisciplinar com outros factores.
A presença e visibilidade do meio estão em crescimento, para que se crie a
convergência e a afectividade entre o espaço e a sua gente; falta-lhe ainda, por
razões óbvias, a “garra” que punge a identificação e a identidade.
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A adesão ao cabo constitui outra situação de fragilidade; pelo facto de envolver
um pagamento, não se torna disponível a toda a gente e contribui para o
desconhecimento regional e societal da estação.
Por outro lado, não verificamos ainda uma invocação decisiva da sociedade e
das instituições de peso local em relação à estação, o que compromete a sua
evolução e arremesso; cria-se um ciclo de virtualidade existencial que não é
positivo para a geração de reconhecimento e sinergia entre ambas as partes da
relação: canal e audiências.
Logo, o processo pedagógico de intercâmbio inerente, não cimenta: dilui-se ou
esvazia-se de maior sentido.
Em relação à categorização da audiência e perfil do espectador, observamos
nos dados auditados, que os acréscimos nas faixas etárias referidas traduzem,
sob o ponto de vista da eficácia local, uma perda de interesse da camada que
poderíamos chamar de “decisora”. Uma audiência mais idosa, não concretiza o
apelo à cidadania e ao envolvimento enérgico com os temas locais, porque a
maioria destas pessoas já não tem uma participação activa na sociedade local
(pelo menos no que concerne à realidade portuguesa). Daí que, se o Porto
Canal anseia, como é desejável, estreitar a sua intervenção e predisposição no
envolvimento local, terá como tarefa examinar e decompor estes dados.
Esperamos os resultados do estudo em conclusão, para melhor apreciar este
parâmetro.
Com estas condicionantes, a sobrevivência tem sido um acto de coragem e
até, de afirmação.
Cremos que o projecto se encontra em construção e reconhecemos nele
pontos positivos a continuar a desenvolver ou aprimorar.
A grande percentagem de programação em português, por exemplo, traduz a
preocupação mais vernácula do canal. Como já referimos, não teria sentido
não obedecer a este pressuposto que descaracterizaria o projecto, retirandolhe capacidade de criar opção ou preferência.
A afectação ao Porto e a vinculação ao “portoguês” são destacáveis no
conjunto da programação, e isso acaba por ajudar a construir um projecto mais
genuíno, “tripeiro” e dinâmico dando visibilidade aos temas associados à
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cidade e vizinhança. Por outro lado, a estação aposta claramente nos
“directos”, o que, eventualmente, nem sempre resulta de modo eficaz.
De forma reformadora, igualmente o impacto das novas tecnologias resulta
muito bem tecnicamente e pensamos que nos últimos tempos, a estação
aprimorou e tornou mais atraentes, alguns aspectos relativos à imagem e
grafismo. No âmbito da capacidade de produção de uma televisão local, tem a
seu favor custos mais reduzidos que nos projectos pensados no passado e
que, inclusivamente, obstaculizaram o seu desenvolvimento.
O que se estimaria evitar, é aquilo que José Gil chama de sombra branca ao
referir-se aos media:
“ Por um lado estão ali, o mundo agora, o seu país, a sua cidade ou a sua aldeia numa abertura virtual de
imagens; por outro é apenas aquilo, com o sentido que deve ser pensado, as notícias, os comentários
semanais dos comentadores, os pensamentos que confirmam o meu pensamento antes de o ter, a minha
existência reduzida a uma massa pastosa que engole imagens e nunca treme realmente com o que
vê ou ouve.”
26
Em suma, um projecto de quatro anos, os quais são ainda limitados para uma
mais vasta prospectiva sobre o futuro do Porto Canal; mas já é também um
tempo suficientemente importante, no contexto português, para que se faça
uma reflexão sobre o interesse do canal e as reais expectativas que recaem
sobre ele, transportando-nos para o Porto de Sophia de Mello Breyner, o Porto
a pátria dentro da Pátria,
É para esta reflexão que esperamos contribuir.
26
GIL, José, Portugal Hoje, o medo de existir. p. 35
ISBN: 978-84-9384-28-0-2
Página 35
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(18/03/09)
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http://www.marktest.com/wap/a/n/id~152d.aspx (22/11/2010)
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(6/04/09)
Outros
Estudo da autora, em conclusão - “Portoguesmente” falando: a pronúncia e
narrativa do Porto Canal”.
Manual de Apresentação do Porto Canal.
ISBN: 978-84-9384-28-0-2
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