Carta de Mireille Delmas-Marty aos estudantes do curso Impacto da
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Carta de Mireille Delmas-Marty aos estudantes do curso Impacto da
Carta de Mireille Delmas-Marty aos estudantes do curso Impacto da internacionalização do Direito sobre as Relações Internacionais – São Paulo, 21 a 23 de julho de 2015 Caros estudantes brasileiros, Acudindo em tão grande número ao programa da cátedra « Internacionalização do direito e relações internacionais : interações e metamorfoses », acolhido pela Universidade de São Paulo, vocês se propuseram a participar de uma dinâmica que nós, há alguns anos, buscamos discernir – juntamente com Kathia Martin-Chenut e Deisy Ventura, além de outros colegas de diversas partes do mundo – no âmbito das redes ID (sigla que significa « internacionalização do direito, mas também « imaginação e direito »). Não se trata de uma escolha fácil, pois é mais seguro trabalhar sobre conceitos estáticos e modelos imóveis do que tentar compreender os processos de transformação, a começar pelo processo de internacionalização do direito, que evoca o estudo das interações entre diversos sistemas de direito (o direito internacional e seus variados ramos, e o direito interno e suas distintas famílias) e das metamorforses que estas interações poderiam anunciar. Porém, trata-se de uma escolha essencial. No momento em que a nova geração deve se preparar para tomar em mãos, e em breve, o leme do navio chamado Terra, a navegação se anuncia perigosa. Avisos de tempestade aparecem por todos os lados, que se trate, por exemplo, das violências ligadas ao terrorismo e outros confltos armados, civis, militares e paramilitares ; do doloroso problema dos fluxos migratórios, ou do desequilíbrio climático (e outras ameaças ao ecossistema) ; ou ainda a crise financeira e suas consequências, especialmente quanto às exclusões sociais. Claro está que nós precisaríamos de uma verdadeira governança mundial para proteger os bens comuns, que são a paz, a hospitalidade e a solidariedade, ou de modo mais amplo o equilíbrio da biosfera. No fundo, o que nós tentamos fazer, e transmitir, são alguns instrumentos de navegação. É preciso em primeiro lugar um mapa para situar os obstáculos e uma bússola para localizar, como pólos atrativos, os direitos do homem, os bens públicos mundiais ou os crimes de vocação universal (genocídio e crime contra a humanidade, até mesmo o ecocídio). É preciso também aprender a avaliar a direção e a força dos ventos que animam nossas sociedades : vento do medo, mas também vento da liberdade ; vento do lucro, mas também vento da solidariedade ; vento da inovação, mas também vento da preservação ; vento da repressão mas também vento da reconciliação. O objetivo não é se deixar levar pelo vento dominante, seja qual for, mas de aprender a avançar contra o vento e até a ziguezaguear para avançar contra o vento dominante. E como este curso aceita o desafio das metamorfoses, é preciso ainda aprender a avaliar as velocidades pois é claro que nem todos os países se transformam na mesma velocidade, aliás nem de formas idênticas. Nós precisamos de um Jus commune universal mas este universal deve ser plural e ter em conta os contextos nacionais e infranacionais em sua diversidade. Resta-me desejar, caros estudantes brasileiros, assim como às grandes navegadoras, a um só tempo peritas e imaginativas, que pilotam o seu programa : « boa estrada e bom vento ! ». Paris, 14 de julho de 2015. Mireille Delmas-Marty Chers étudiants brésiliens, En vous inscrivant si nombreux au programme de la chaire « Internationalisation du droit et relations internationales : interactions et métamorphoses » accueillie par l’Université de Sao Paulo, vous avez choisi de participer à la dynamique que nous essayons depuis quelques années de saisir, avec Kathia Martin Chenut et Deisy Ventura, et d’autres collègues des diverses parties du monde, dans le cadre des réseaux ID (pour « internationalisation du droit », mais aussi pour « imagination et droit »). Ce n’est pas un choix facile car il est plus rassurant de travailler sur des concepts statiques et des modèles immobiles que de tenter de comprendre les processus transformateurs, à commencer par le processus d’internationalisation du droit qui appelle l’étude des interactions entre les divers systèmes de droit (le droit international et ses diverses branches et le droit interne et ses diverses familles) et des métamorphoses qu’elles pourraient annoncer. Ce choix est pourtant essentiel. A l’heure où votre génération doit se préparer à prendre bientôt en mains le gouvernail du navire nommé Terre, la navigation s’annonce périlleuse. Des avis de tempête s’affichent un peu partout, qu’il s’agisse, par exemple, des violences liées au terrorisme et autres conflits armés, civils, militaires, paramilitaires, du douloureux problème des flux migratoires, ou du dérèglement climatique (et autres menaces pour l’écosystème) ; voire encore de la crise financière et de ses conséquences, notamment sur les exclusions sociales. Il est clair que nous aurions besoin d’une véritable gouvernance mondiale pour protéger ces biens communs que sont la paix, l’hospitalité et la solidarité ou plus largement l’équilibre de la biosphère. Au fond, ce que nous tentons de faire, et de transmettre, ce sont quelques instruments de navigation. Il faut d’abord une carte pour situer les obstacles et une boussole pour repérer, comme pôle attractif, les droits de l’homme, les biens publics mondiaux ou les crimes à vocation universelle (génocide et crime contre l’humanité, voire écocide). Il faut aussi apprendre à évaluer la direction et la force des vents qui animent nos sociétés : vent de la peur, mais aussi vent de la liberté ; vent du profit, mais aussi vent de la solidarité ; vent de l’innovation, mais aussi vent de la préservation ; vent de la répression mais aussi vent de la réconciliation. L’objectif n’est pas de se laisser porter par le vent dominant, quel que soit, mais d’apprendre à avancer vent de travers et même à louvoyer pour remonter contre le vent dominant. Et puisque ce cours prend le pari des métamorphoses, il faudra encore apprendre à évaluer les vitesses car il est clair que tous les pays ne se transformeront pas à la même vitesse, ni d’ailleurs selon des formes identiques. Nous avons besoin d’un Jus commune universel mais cet universel doit être pluriel et tenir compte des contextes nationaux et infranationaux, dans leur diversité. Il me reste à vous souhaiter, chers étudiants brésiliens, ainsi qu’aux grandes navigatrices, à la fois expertes et imaginatives, qui pilotent votre programme : « Bonne route et bon vent ! ».