Presidente da OGMA: "No novo hangar podemos pintar um avião
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Presidente da OGMA: "No novo hangar podemos pintar um avião
Presidente da OGMA: "No novo hangar podemos pintar um avião todo" ALDA MARTINS | [email protected] | 11 Abril 2016, 22:00 Os oito milhões investidos no novo hangar vão alavancar mais negócio. A empresa que já foi estatal e é quase centenária, teve lucros de 11,6 milhões de euros em 2015 e prevê continuar a crescer. Ogma – Indústria Aeronáutica de Portugal está a construir um hangar de pintura. O projecto, avaliado em cerca de oito milhões de euros, deve estar concluído em Julho e dá uma nova valência à empresa detida pela Embraer (65%) e pelo Estado português (35%). O anúncio foi feito por Rodrigo Rosa, presidente da empresa, em entrevista ao Negócios. Que balanço faz dos 11 anos da Ogma privatizada? Positivo. Implementámos várias medidas para a melhoria da eficiência, modernização, satisfação dos empregados e busca de novos negócios, sobretudo no exterior. A empresa tem reportado lucros, sempre num crescendo. Chegaram aos 11,6 milhões de euros em 2015. O volume de negócios atingiu os 188 milhões de euros. Um crescimento significativo face aos 166 milhões de 2014. Os [resultados] operacionais não revelamos. Que percentagem vai para distribuição de dividendos? Varia. São os accionistas que decidem a percentagem, em função, também, dos investimentos previstos. Só em 2015 foram cerca de 10 milhões de euros – de investimento – e este ano o mesmo. Ficou decidido que os accionistas vão receber 1,1 milhões de euros. E os trabalhadores ? Este ano distribuímos 1,8 milhões de euros. As nossas grandes expectativas [de exportação] são para a Europa, a América do Norte e África. Os trabalhadores pediram a actualização das tabelas salariais. Já está normalizada a situação? Está resolvido. Diferenças de opinião existem sempre. Fizemos uma avaliação de mercado em termos de políticas salariais e estamos a empreender ajustes por mérito, mas adequando os salários internos às práticas de mercado. É diferente de fazer ajustes gerais porque achamos que, neste momento, em função das discrepâncias, essa opção iria causar mais divergências. Têm quantos colaboradores? 1.595. Vão manter-se? Estamos sempre a olhar para a estrutura e a analisar que tipo de competências precisamos. De 2014 para 2015 – entre saídas e entradas –, aumentámos em 29 os colaboradores. Para já, o número actual deve ficar estável. Mas formamos muitas pessoas. Temos parcerias com o IEFP e com escolas técnicas para capacitar pessoas para a indústria aeronáutica. Até porque estamos a passar por um processo de aposentações. Há pessoas com muito tempo de empresa e que terão de ser repostas porque são altamente qualificadas. Em 2015, investimos cerca de dois milhões de euros na formação de pessoas, tanto nas de dentro como nas que, potencialmente, podem vir para os quadros. Quantos colaboradores foram para a reforma? Nos últimos dois anos e meio, foram 55. E nos próximos devem ser cerca de 40. Quais os grandes objectivos para 2016? Estamos a construir um novo hangar: pintura para aeronaves. Há espaço para aeronaves de grande e pequeno porte. O hangar tem equipamentos e tecnologia do mais moderno que existe na área. É um investimento significativo para trazer mais negócios, nomeadamente para a manutenção. Investimos cerca de oito milhões de euros neste projecto. Estará concluído em Julho. Não faziam este trabalho? Fazíamos, mas de uma forma simples e ligeira. Com este hangar, vamos poder pintar uma aeronave na totalidade da forma que o cliente quiser. O resto do bolo do investimento deste ano vai para onde? A Ogma tem quase 100 anos e vários prédios muito antigos que precisam de manutenção. Parte desse investimento é para isso. E o que sobra é canalizado, por um lado para aumentar a capacitação nas áreas de manutenção e aeroestruturas – organização e compra de equipamentos e máquinas. Por exemplo, em 2013/2014 adquirimos um robô que faz rebitagem [fixa parte da aeronave com rebites – uma espécie de parafusos]. Inclusive já está a ser utilizado no [avião] KC390. Por outro lado, [investimos] nos processos de certificação novos. A investigação é uma componente importante neste sector? É. Para a Ogma, é uma competência que acresce à manutenção. Estamos a capacitarmos para conseguirmos abraçar mais propostas dessa natureza. São mais complexas, mas trazem um valor acrescentado superior às manutenções rotineiras. Mas a investigação mais pesada, normalmente, é da responsabilidade dos nossos clientes, os fabricantes. No caso do KC390 foi um pouco diferente, mas nada se compara com o nível de investigação que a Embraer teve de fazer. A situação financeira da empresa é confortável? Não temos tido problemas de financiamento dos nossos projectos, hoje muito apoiados em capital próprio. A rentabilidade gerada pela empresa tem permitido isso. Não temos financiamento com a banca. Quando termina o seu mandato? Está na empresa para ficar? Ele tem terminado, e tem sido renovado. Sim. Como olha para a situação actual do seu país [Brasil] apesar de viver há muito tempo em Portugal? Estou a aguardar. Gostaria de falar só da Ogma e do meu negócio porque é complexo fazer uma análise do Brasil hoje. Pelo que vemos, nem quem lá está sabe bem o que se passa, muito menos eu, que estou há muito tempo longe. Os meus negócios são com a Embraer, não são com o Brasil. PERFIL O brasileiro que conduz a Ogma Rodrigo Rosa assumiu o cargo de presidente da Ogma a 15 de Novembro de 2013, por substituição de Almir Borges. Brasileiro de nacionalidade, Rodrigo Rosa trabalhava na Embraer – a empresa que ganhou a privatização da Ogma – desde 1999. Na gigante brasileira ocupou vários cargos executivos nas áreas financeira e de negócios. Em 2013, quando foi nomeado para presidir à Ogma, já tinha feito parte do conselho de administração e do conselho fiscal de diversas empresas controladas pela Embraer, em países tão diversos como China, EUA, Irlanda, Holanda Inglaterra e Espanha. O gestor é licenciado em Direito pela Universidade Mackenzie, com uma pósgraduação posterior em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, também no Brasil. A que se seguiu um Master of Business Administration (MBA) pela Cranfield University, do Reino Unido. Rodrigo Rosa: A OGMA vai "participar mais na produção das aeronaves da Embraer" ALDA MARTINS | [email protected] | 11 Abril 2016, 22:00 América do Norte, África e Europa são as grandes apostas internacionais da Ogma para captar clientes. De resto, o exterior já representa cerca de 95% da facturação da empresa. Já recuperaram totalmente do impacto da crise na Rolls-Royce? Preparámo-nos para esse impacto em 2015, mas o que aconteceu foi que conseguimos, até, mais negócios indo directamente ao mercado [uma vez que tinha sido transmitido pela marca que a reestruturação implicaria a entrega, por parte da própria, de menos motores na Ogma para manutenção]. Mas os números da Rolls-Royce não foram tão negativos quanto eles tinham anunciado e acabámos por ter um resultado bastante positivo. Ao sermos um centro autorizado, temos todos os processos para fazer manutenção de motores Rolls-Royce certificados pela marca e isso traz um conforto maior para os clientes. A estratégia da empresa continua a passar pela internacionalização? Sim. Em 2015, 95% do volume de negócios foi captado lá fora. Em que países? América do Norte, sobretudo por causa da Rolls-Royce. E África, por causa da manutenção da aeronaves de defesa. Tinha também grandes expectativas em relação ao Médio Oriente? Estava no nosso radar, mas não com grandes expectativas. Essas são mais para a Europa, América do Norte e África. E na América Latina? Temos, obviamente, a Embraer como cliente e conquistámos, no ano passado, um contrato na Argentina – a modificação do P3 – que também foi importante. A capacidade adicional vai reflectir-se na área civil. Este ano qual é a expectativa em matéria de peso dos vários mercados no volume de negócios? Que a América do Norte se mantenha bastante relevante, mas que a Europa cresça. A situação no Brasil vai atrasar ainda mais a entrega dos 28 KC390? O nosso cliente é a Embraer e, como sabe, já houve o anúncio de adiamento do prazo de entrega [agora previsto para 2017], mas isso só ajustou o nosso cronograma e já estamos perfeitamente adaptados. É pouco – 28 aeronaves contratualizadas [contratos firmes com o Governo brasileiro]-, para rentabilizar todo o investimento que a Ogma fez? Eu não estou envolvido, directamente, com campanhas de vendas, mas a Embraer já disse que existem várias campanhas em todo o mundo. E interessados. Ao nível da Defesa portuguesa vai haver novos projectos? A Força Aérea Portuguesa é um cliente importantíssimo para nós, até pela origem da empresa. Todos os anos damos suporte aos C130, P3, F16, helicópteros EH101. Aliás, temos 30 pessoas dedicadas aos helicópteros na base do Montijo. É uma parte grande do negócio? Hoje representa 3 a 4% do volume. Podia representar mais? Há necessidades de manutenção que vão acontecendo e depois há necessidades de modernização, como aconteceu com os 40 [aviões] F16 da Força Aérea, durante dois anos e meio. Portugal devia aumentar a frota destas aeronaves? [Risos] É difícil falar sobre isso. Todas as decisões dependem de um plano estratégico do país que nunca é do conhecimento geral. Ao que sabemos, Portugal, hoje, tem um número de aeronaves suficientes para responder às suas necessidades. Não consigo opinar. Quais as perspectivas que tem para este negócio a médio/ longo prazo? Há duas áreas principais de desenvolvimento futuro. Há aeroestruturas, que vai continuar a desenvolver-se bastante nos próximos anos. Certamente, vai crescer um pouco em volume total – hoje representa cerca de 20% – e em termos absolutos crescerá muito. Na área de manutenção, cada vez mais, a aviação civil vai destacar-se. A capacidade adicional de fazer manutenção vai reflectir-se na área civil – comercial e executiva. Como correu o "Portuguese Industry Day", promovido pela Nato Support and Procurement Agency (NSPA)? Foi importante, sobretudo, para mostrar como a Ogma é importante no volume da NATO em Portugal e para a própria NATO. Do volume total de 33 milhões de euros que a NATO contratualizou em Portugal, em 2015, 30 milhões foram com a Ogma. O que para nós é motivo de orgulho, porque a NATO é bastante exigente e a procura bastante selectiva. Estão sempre a participar em concursos? Sempre. E vamos começar a participar mais na produção de aeronaves da Embraer como aconteceu com o KC390. Vamos entrar na cadeia de fornecimento de outros produtos da Embraer. Ainda este ano? E do que se trata? Mais para segundo semestre, mas ainda não tenho os resultados.