faculdade de ciencias e tecnologia de campos gerais
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1 FACULDADE DE CIENCIAS E TECNOLOGIA DE CAMPOS GERAIS CURSO DE CIENCIAS BIOLÓGICAS AMANDA OLIVEIRA EDNA PEREIRA Levantamento etnobotânico de plantas medicinais da comunidade rural Dois Paus II, município de Campos Gerais, MG Campos Gerais 2011 2 AMANDA OLIVEIRA EDNA PEREIRA Levantamento etnobotânico de plantas medicinais da comunidade rural Dois Paus II, município de Campos Gerais, MG Trabalho de Conclusão de Curso de Ciências Biológicas (Licenciatura e Bacharel) da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Campos Gerais como requisito parcial para aprovação na disciplina. Orientador: Gabriel Silva Pinto Co-orientador: Hetiene Pereira Marques Campos Gerais 2011 3 Ficha catalográfica Elaborada pela bibliotecária Ângela Cristina Pereira Caiafa CRB: 2422 O43 Oliveira,Amanda Levantamento etnobotânico da comunidade Rural Dois Paus II, no município de Campos Gerais - MG. Amanda Oliveira./Edna Pereira. Campos Gerais: FACICA, 2011. 40 f. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação)-. Faculdade de Ciências e Tecnologia de Campos Gerais, Curso de Ciências Biológicas Licenciatura/ Bacharelado. Orientador: Gabriel Silva Pinto 1. Sociedades tradicionais 2.Plantas medicinais 3. Levantamento etnobotânico CDD: 515 4 FOLHA DE APROVAÇÃO Título: Levantamento etnobotânico de plantas medicinais da comunidade rural Dois Paus II, município de Campos Gerais-MG Autores: Amanda de Oliveira e Édna Pereira Orientador: Gabriel Silva Pinto Co-orientadora: Hetiene Pereira Marques Aprovados ambos como parte das exigências para obtenção do título de LICENCIADO/BACHAREL EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS pela Examinadora. ______________________________________________ Prof. Gabriel Silva Pinto Orientador- FACICA ______________________________________________ Msc. Inaiara Rocha de Carvalho Professora FACICA ______________________________________________ Prof. Poliana Alves Silva Professora FACICA Campos Gerais, 1º de Dezembro de 2011. Prof. Gabriel Silva Pinto Presidente da Comissão Examinadora Orientador Comissão 5 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho primeiramente a Deus que me deu força, sabedoria e discernimento para seguir em frente e conquistar meu objetivo. Aos meu pais Maria e Pedro e minhas irmãs por todo carinho, amor, apoio e incentivo. A meu esposo Ricardo, pela compreensão por minhas ausências, pelo companheirismo e pelo grande amor. A minha filha Maria Júlia que veio trazer maisd sentido e alegria a minha vida e com seu lindo sorriso ilumina os meus dias. A minha amiga e companheira de trabalho Amanda, por todos os momentos que passamos juntas. Amo vocês. Edna pereira 6 DEDICATÓRIA Primeiramente a Deus, por ter me dado a oportunidade e forças para que fosse possível realizar algo que antes era apenas o sonho de uma menina, mas que com o tempo foi se tornando um objetivo, e hoje uma realidade. A minha família e meu namorado, por acreditarem em mim, mesmo que muitas vezes com medo de que eu me machucasse ao longo desta longa e árdua caminhada nunca deixaram de estar ao meu lado. Aos mestres Tânia Fontellas e Poliana Coelho, que por tantas e tantas vezes estiveram ao meu lado apoiando, não deixando que eu desistisse, e até me ouvindo chorar; Andréia Camargo e meu orientador Gabriel Silva, que com tamanha sabedoria, paciência e compreensão nos auxiliaram durante este projeto. A minha amiga e companheira de trabalho Edna, que com sua calma e serenidade conseguiu tornar tudo mais fácil enquanto eu achava que não iríamos conseguir. A todos vocês o meu muito obrigado, não só pelo que fizeram, mas pelo simples fato de existirem. Amo todos vocês. Amanda de Oliveira 7 AGRADECIMENTOS Agradecemos a todos os mestres que estiveram conosco desde o primeiro período, pois foram eles os responsáveis pelos profissionais que hoje somos. Aos moradores da comunidade rural Dois Paus II que tão bem nos receberam e colaboraram com tanto carinho para que fosse possível a realização deste trabalho. 8 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 13 2. OBJETIVOS....................................................................................................... 15 2.1 Objetivos Gerais................................................................................................15 2.2 Objetivos Específicos....................................................................................... 15 3. REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................16 3.1 A etnobotânica e as populações tradicionais.....................................................16 3.2 O Bioma Cerrado e sua diversidade..................................................................18 3.3 O Bioma Mata Atlântica e sua biodiversidade...................................................19 4. MATERIAL E MÉTODO......................................................................................21 4.1 Material..............................................................................................................21 4.1.1 Sujeitos da pesquisa.......................................................................................21 4.1.2 Critérios para a seleção dos sujeitos..............................................................21 4.2 Metodologia.......................................................................................................23 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES.........................................................................24 5.1. Fonte de informação e obtenção das plantas medicinais.................................27 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................34 7. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO.....................................................................36 8. ANEXO 1............................................................................................................39 9 LISTA DE FIGURAS E TABELAS Figura 1- Vista aérea do município de Campos Gerais – MG..................................21 Figura 2 - Porcentagem do uso das plantas medicinais pela comunidade...............24 Figura 3 - Moradora coletando funcho, em sua horta de verduras..........................25 Figura 4 - Porcentagem sexo dos sujeitos da pesquisa...........................................26 Figura 5 - Porcentagem de idade dos sujeitos da pesquisa.....................................26 Figura 6 - Porcentagem dos ambientes onde são encontrados as plantas medicinais.................................................................................................................27 Figura 7- Morador coletando camomila, plantada junto a seu jardim......................28 Tabela 1- Relação das famílias botânicas, nome científico e popular.....................29 Tabela 2 - Relação das espécies com respectiva finalidade de uso, parte da planta utilizada e forma de preparo.....................................................................................31 10 LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística PNPMF- Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos SUS- Sistema Único de Saúde ANVISA- Agência Nacional de Vigilância Sanitária EMBRAPA- Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária BRL- Beira de rios e lagos MCA- Matas Ciliares e Campos Abertos MPE- Matas próximas a estradas 11 RESUMO OLIVEIRA, AMANDA DE; PEREIRA, ÉDNA. Levantamento etnobotânico de plantas medicinais da comunidade rural Dois Paus II, município de Campos Gerais-MG. O grande conhecimento detido pelas populações tradicionais quanto à obtenção e uso de plantas medicinais e a cultura por estas passada ao longo das gerações é de considerável importância científica e para conservação e preservação da biodiversidade da flora medicinal. Nosso país possui uma das maiores biodiversidades do planeta, no entanto, grande parte desta ainda é desconhecida quanto à sua eficácia terapêutica. Os levantamentos etnobotânicos aqui apresentados foram realizados na comunidade rural Dois Paus II no município de Campos Gerais-MG, no mês de Agosto de 2011, com objetivo de identificar qualitativamente as espécies utilizadas na comunidade e suas formas de utilização. Através da coleta de dados por meio de um questionário semi-estruturado e de coleta de espécimes de plantas doadas pelos moradores, foi elaborado um herbário contendo 32 espécies de 16 famílias botânicas; que por sua vez foram comparadas a Lista de Plantas Medicinais de Interesse do SUS divulgada pelo Ministério do Meio Ambiente. O presente trabalho mostra a grande importância dos levantamentos etnobotânicos associados ao conhecimento popular, pois estes são aliados quanto ao resgate, preservação e a descoberta de novos fitoterápicos. Palavras-chave: etnobotânico. plantas medicinais; populações tradicionais; levantamento 12 ABSTRACT OLIVEIRA, Amanda; Pereira, Edna. Ethnobotanical survey of medicinal plants of the rural community Two woods II, the city of Campos Gerais, Minas Gerais. The great traditional knowledge held by people regarding the collection and use of medicinal plants and culture through these last through the generations is of considerable scientific importance and conservation of biodiversity and preservation of medicinal flora. Our country has one of the greatest biodiversity on the planet, however, much of this is unknown as to its therapeutic efficacy. The ethnobotanical surveys presented here were carried out in the rural community Two woods II in the municipality of Campos Gerais, Minas Gerais, in August 2011, aiming to qualitatively identify the species used in the community and its forms of use. By collecting data through a semi-structured questionnaire and collecting specimens of plants donated by residents, was prepared a herbarium containing 32 species of 16 botanical families, which in turn were compared to List of Medicinal Plants of Interest SUS published by the Ministry of Environment. This work shows the importance of ethnobotanical surveys related to popular knowledge, because they are allies on the rescue, preservation and discovery of new herbal medicines. Keywords: medicinal plants, traditional populations; ethnobotanical survey. 13 1. INTRODUÇÃO A etnobiologia é essencialmente o estudo do conhecimento e das conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da biologia, ou seja, é o estudo do papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a determinados ambientes (COSTA et al. 2006). O mesmo estudo afirma que a investigação dos usos étnicos de diferentes espécies vegetais é muito importante para o desenvolvimento de medicamentos modernos, para agricultura e até mesmo para os setores de fabricação industrial. Brasil (2001), entre outros autores citados por Silva et al (2005) demonstraram através de seus estudos que a biodiversidade não é só um produto da natureza, mas também um produto da ação das sociedades e culturas, em particular das sociedades tradicionais, não-industriais, que, interagindo com o meio natural, selecionam espécies de seu interesse para o cultivo e preservação, modificando o meio natural. Estudos realizados sobre a flora das regiões e principalmente examinando como as populações humanas as utilizam são de extrema importância à ciência, pois ainda não se conhecem todos os princípios ativos dos vegetais, que podem ser utilizados como remédios nos tratamentos das doenças. Devido a isso Calixto & Ribeiro (2006) afirmam que o conhecimento tradicional sobre os recursos naturais tem sido muito utilizado por cientistas para a descoberta, apropriação e patenteamento de algumas espécies da flora nacional, eliminando metade dos custos com pesquisa. No contexto das espécies vegetais, “o Brasil possui uma das maiores diversidades em relação às demais regiões do planeta” (CALIXTO & RIBEIRO, 2006). Os estudos sobre a flora medicinal do Brasil, no estado de Minas Gerais poucas pesquisas foram realizadas, e muitas das vezes o conhecimento tradicional das comunidades sobre o uso de fitoterápicos não são documentados cientificamente ou devido à perda da cultura do uso de medicamentos fitoterápicos, ou em muitos casos conseqüente da redução da biodiversidade vegetal devido os efeitos da ação antrópica no meio natural. O município de Campos Gerais apresenta fitofisionomias vegetais pertencentes aos biomas, Cerrado e Mata Atlântica (IBGE, 2007), e uma vez que 14 ocorre um constante uso do solo pela agropecuária e a extensão de áreas cultivadas, tais, como plantações de café, esta vegetação nativa está sendo fragmentada e destruída, afetando substancialmente a diversidade de espécies vegetais. 15 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivos gerais O objetivo do presente trabalho é realizar um levantamento etnobotânico das plantas medicinais que são cultivadas e utilizadas pelos moradores da comunidade rural Dois Paus II, no município de Campos Gerais, MG. 2.2. Objetivos específicos Identificação qualitativa das plantas medicinais utilizadas pelos moradores da comunidade rural do município de Campos Gerais - MG; Identificar a importância do uso das plantas medicinais por esta população, quanto à saúde familiar; Conhecer como é feita a utilização dos fitoterápicos provenientes das plantas medicinais pelas famílias; Resgatar o conhecimento tradicional quanto a utilização de fitoterápicos, disponibilizando os resultados obtidos para o meio científico. 16 3. REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 A etnobotânica e as sociedades tradicionais Silva et al (2005) afirma que as populações tradicionais detêm grande conhecimento quanto à utilização de plantas medicinais, tornando-se assim elementos de fundamental importância na manutenção das espécies nativas e de seus sistemas de manejo. A etnobotânica constitui uma ponte entre o saber popular e o científico, já que aborda a forma como os diferentes grupos humanos interagem com a vegetação, é de interesse ao meio científico. As questões relativas ao uso e manejo dos recursos vegetais e a percepção e classificação pelas populações locais (AMOROZO, 2007), uma vez que promovem o resgate e conservação da cultura e do conhecimento das comunidades, além de promover a preservação dos recursos naturais e o uso sustentável do mesmo, principalmente em paises subtropicais, onde as populações rurais dependem em parte das plantas e seus produtos para própria subsistência (KRUEL, SILVA & PINHEIRO, 2005; HAMILTON et al, 2003) . Os levantamentos etnobotânicos têm sido realizados junto à população rural, utilizando a metodologia descrita por Silva, Dreveck & Zeni (2009), citados por Marques, Lima & Melo (2010) que realizaram pesquisas junto à população rural do Mato Dentro, município de Campos Gerais - MG. Silva, Dreveck & Zeni (2009) concluíram que as espécies são cultivadas no próprio quintal dos moradores e que essas espécies utilizadas são na maioria exóticas em relação às espécies nativas. Este estudo concluiu que essas populações rurais, em alguns casos, quando compartilham características como determinação, produção para subsistência, instituições locais e cultura própria, são consideradas tradicionais conforme propuseram também Dieques & Arruda (2001). Amorozo (2002) afirma que as sociedades tradicionais possuem uma grande farmacopéia natural, sendo grande parte desta proveniente dos recursos vegetais encontrados nos ambientes naturais ocupados por estas populações (MARQUES, LIMA & MELO, 2010). Calixto & Ribeiro (2002), afirmam que conhecimento adquirido pelas populações tradicionais é um fator que pode ser usado em prol da conservação do ambiente, através de formas de manejo que surgem a partir de observações da 17 natureza, e não da simples vontade de dominá-la nos sistemas de produção difundidos pelo meio das ciências agrárias. Deste modo, é transmitido ao longo de gerações o conhecimento não sobre somente sobre o uso das plantas como medicamentos, mas sim a cultura de que é necessário fazer o manejo adequado do meio ambiente, fazendo com que a população desfrute de uma forma de vida mais sustentável, preservando assim os recursos naturais. A relação entre as populações tradicionais e o meio ambiente revela o respeito e preocupação em proteger o meio ambiente, pelo fato de terem em vista uma necessidade de uso, já que muitas vezes a planta representa a cura de doenças ou alívio de uma dor repentina, pois, o acesso a medicamentos industrializados são de mais difícil acesso, pela comunidade se localizar em uma considerável distância à zona urbana. Segundo Matos (2002) muitas plantas ainda não foram estudadas quanto à sua eficácia terapêutica, devido a isso grande parte desta é ainda desconhecida químico/farmacologicamente. Mas o conhecimento tradicional sobre as mesmas já as tornou parte integrante da prática médica popular, sendo utilizadas por até 90% da população economicamente carentes principalmente da região Nordeste, para a cura de seus problemas de saúde (SILVA et al, 2005). No Brasil, a utilização de algumas plantas medicinais e fitoterápicas foi liberada em 2006 pelo Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), por meio do Decreto nº 5.813, aprovado pela Portaria Interministerial nº 2.960/2008. O PNPMF visa promover o desenvolvimento sócio-econômico na área de plantas medicinais e fitoterápicos e proporcionar melhorias na qualidade de vida da população brasileira; garantindo o acesso seguro e o uso racional das plantas medicinais e promovendo o uso sustentável de nossa biodiversidade. Desde o ano de 2008, o SUS fornece medicamentos fitoterápicos à base de algumas plantas medicinais. Os estados que pactuaram fitoterápicos e também remédios homeopáticos a sua rede pública de saúde foram: BA, DF, GO, MT, PB, PR, RJ, RN, RO, RS, SC, SE, TO. O estado de Minas Gerais ainda não incluiu o uso de fitoterápicos na rede pública de saúde. Isso se deve ao fato de o estado ainda não ter realizado todos os estudos de toxicidade pré-clínica dos fitoterápicos de seu interesse como determina a ANVISA na Resolução - RE Nº 90, de 16 de Março de 2004, como já foi realizado nas demais regiões do país; e também pela dificuldade 18 de aceitação da própria população quanto a formas alternativas de tratamento. Estes preferem recorrer aos métodos já conhecidos com medicamentos sintéticos por julgarem mais seguros e com obtenção de resultados mais rápidos. 3.2 O Bioma Cerrado e sua Biodiversidade O Bioma Cerrado á considerado o segundo maior do Brasil, com cerca de 207 milhões de hectares, equivalentes a 24% do território nacional onde se situa 25% da produção de grãos e 40% da pecuária brasileira. Alguns dados afirmam que o desenvolvimento agrícola do Cerrado foi impulsionado pela facilidade de remoção da vegetação nativa e por fatores positivos como temperatura, luminosidade, topografia plana e grande disponibilidade de calcário. Fatores socioeconômicos que beneficiaram esse desenvolvimento foram: preço baixo da terra, infra-estrutura, pesquisa, assistência técnica, políticas de investimentos com juros subsidiados e de prazos longos, migração de agricultores do sul do País, afeitos à agricultura mais intensiva e ao mercado em desenvolvimento (EMBRAPA, 2009). Inserido nesse quadro de devastação o bioma cerrado encontra-se segundo Myers (2000) & Dajoz (2005), nas zonas críticas chamadas de hotspots, ou seja, regiões que possuem uma rica diversidade endêmica e cuja existência está muito ameaçada. Os autores também afirmam que de 1.786,2 10³ km² de superfície original do cerrado, resta apenas 20%. Além disso, o cerrado possui um total de 10.000 mil espécies vegetais e que 1.5% dessas espécies são consideradas endêmicas em relação à flora mundial estimada em 300.000 espécies O clima caracteriza-se por possuir duas estações bastante distintas: uma estação seca que abrange o período do mês de maio ao mês de setembro e outra estação chuvosa que vai de outubro ao mês de abril. Segundo o IBGE (2007) precipitação média anual é de 1500 ± 500 mm3; e os períodos de seca de uma a três semanas. Os veranicos podem ocorrer durante a estação chuvosa especialmente nos meses de janeiro e fevereiro. A amplitude térmica anual pode variar de 21,3ºC a 27,2ºC. A hidrografia possui relevada importância para o país, pois 6 das bacias hidrográficas brasileiras possuem nascentes em áreas do cerrado; são elas Bacia 19 Araguaia/Tocantins, Atlântico Norte/Nordeste, São Francisco, Atlântico Leste e Atlântico Sul/Sudeste e Bacia Paraguai/Paraná (LIMA & SILVA [S.N]). Os solos são classificam-se em Latossolos, Concrecionários, Podzólicos, Litólicos, Cambissolos, Terras Roxas, Areias Quartzosas, Lateritas Hidromórficas e Gleis. São classificados assim pelo fato de serem solos bastante antigos, profundos, bem drenados, e com baixa fertilidade natural pela sua acidez acentuada. A fitofisionomia do cerrado se abrange em vários conceitos onde muitos autores buscaram formas diferentes de classificação da formas vegetais do bioma como explica Walter (2006). Este autor discutiu sobre 21 trabalhos publicados que classificavam o fitofisionomia do bioma em formas diferentes. Heriques (2005) explica que apesar das diferenças fitofisionômicas citadas pelos autores, usando altura e a densidade de plantas lenhosas, pode-se ordenar as fisionomias vegetais (latu sensu) em: campo limpo; campo sujo; cerrado sensu strictu e cerradão, portanto devido ao contínuo gradiente vegetal, não havendo limites entre uma fisionomia e outra, existem formas intermediárias de vegetação. De acordo com Pereira et al (2007), o cerrado apresenta uma grande diversidade tanto em ordens, famílias e gêneros e quanto maior for à diversidade supra taxonômica, maior é o distanciamento filogenético entre as espécies e maior é a diferença e diversidade química entre elas, demonstrando assim, sua importância para pesquisas com plantas medicinais. Com efeito, o bioma é muito rico em espécies utilizadas na medicina popular, em função de características morfológicas, como xilopódios e cascas, que acumulam reservas e, com freqüência, possuem substâncias farmacologicamente ativas. 3.3 O Bioma Mata Atlântica e sua Biodiversidade As florestas tropicais por suas condições de umidade e calor são os ecossistemas terrestres que dispõem da maior diversidade de seres vivos, entre elas a Mata Atlântica, segundo estudos levados a efeito nas últimas décadas é a floresta que apresenta a maior quantidade de diferentes espécies arbóreas, afirma Lino (2003). Apesar da importância ecológica das áreas de Mata Atlântica, associada à excepcional biodiversidade e elevadas taxas de endemismo, são muito poucas as informações acerca do potencial e dinâmica destes fragmentos. 20 O Bioma Mata Atlântica e ecossistemas associados compõem cerca de 1,1 milhão quilômetros quadrados (13% do território brasileiro), que atualmente em virtude de um grande contingente populacional e destruição ambiental passou a ter uma área territorial de apenas 300 mil quilômetros quadrados (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2008). A formação vegetal do bioma é composta por florestas Ombrófila Densa, Ombrófila Mista (mata de araucárias), Estacional Semidecidual e Estacional Decidual e os ecossistemas associados como manguezais, restingas, brejos interioranos, campos de altitude e ilhas costeiras e oceânicas (FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA, 2010). A hidrografia do bioma, segundo dados do SOS Mata Atlântica é formada por rios de importância nacional e regional, do São Francisco e Paraná, ao Tietê, Paraíba do Sul, Rio Doce e Ribeira do Iguape, abrigando ricos ecossistemas aquáticos onde grande parte deles estão ameaçados pelo desmatamento das matas ciliares e conseqüente assoreamento dos mananciais, pela poluição da água, e pela construção de represas sem os devidos cuidados ambientais. De acordo com Dajoz (2005), a Floresta Atlântica é classificada também como uma zona crítica de perca da biodiversidade. Segundo o autor a Floresta Atlântica de sua superfície original (1.227,6 km²) resta apenas 7.5%. Além disso, possui 20.000 mil espécies vegetais e que, 2,7% dessas espécies são consideradas endêmicas em relação à flora mundial estimada em 300.000 espécies. 21 4. MATERIAL E MÉTODO 4.1. Material O levantamento foi na comunidade rural do município de Campos Gerais (-45,75º, -21,23º), localizado no Sul de Minas Gerais, possui 769.21 km² de extensão territorial com 27.964 mil habitantes, distribuídos em áreas urbanas e rurais (IBGE, 2007). Figura 1 – Vista aérea do município de Campos Gerais - MG (GOOGLE EARTH,2003). O município está localizado em uma região de transição de biomas, chamada de ecótone, que segundo Odum (1983) é caracterizada por possuir muitos organismos de cada uma das comunidades superpostas, e além desses, organismos característicos do ecótone, que, muitas vezes são restritos a ele. O clima é do tipo Cwa Koppen; tropical de altitude com verões amenos e estação seca bem definida entre os meses de maio a setembro e mais úmidos entre os meses de outubro a março. 22 A comunidade dos Dois Paus II localiza-se a 8 km da sede do município de Campos Gerais-MG. Possui cerca de 15 famílias rurais. Possui como principais tipos vegetacionais, campos sujos, restingas, matas ciliares alem disso é cercada por um remanescente de Mata Atlântica e banhada pela represa de Furnas. A principal fonte de renda é a monocultura do café, sendo que as famílias cultivam arroz e feijão para a própria subsistência. Existe na comunidade extrativismo de areia, sendo esta mais uma prática para obtenção de renda dos moradores. Para ter acesso a serviços básicos de saúde os moradores necessitam deslocar-se a sede do município, onde também vendem produtos produzidos na própria residência e adquirem produtos industrializados. 4.1.1 Sujeitos da Pesquisa Foram escolhidos como sujeitos da pesquisa membros das famílias da comunidade rural Dois Paus II, localizada no município de Campos Gerais - MG. 4.1.2 Critérios para a seleção dos sujeitos O critério utilizado para a seleção dos sujeitos é que estes sejam membros de famílias que residam por tempo mínimo de 5 anos na zona rural no município de Campos Gerais pertencente à comunidade Dois Paus II e possuam idade superior ou igual a 18 anos. 4.2 Metodologia O trabalho teve como base metodológica a pesquisa qualitativa, com roteiro de entrevista semi-estruturada. Foram entrevistadas famílias da comunidade rural 23 Dois Paus II, município de Campos Gerais – MG. Adotando a metodologia de Rodrigues (2007) também utilizada por Marques, Lima & Melo (2010), foi realizada amostragem de forma dirigida aos elementos da população, perguntando às pessoas que possam ter algum conhecimento, sobre o assunto em questão. A coleta de dados foi realizada através de um questionário qualitativo semiestruturado aplicado aos sujeitos foco da pesquisa, que foi realizada no mês de agosto de 2011 na comunidade rural Dois Paus II. O questionário está disponível no anexo. A análise de dados foi realizada através da confecção de um herbário contendo amostras das plantas que foram citadas no questionário e doadas pelos moradores da comunidade. Neste consta também o meio de utilização citado pela comunidade. Os resultados obtidos foram analisados e representados na forma de tabelas e gráficos. 24 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES A comunidade dos Dois Paus II, é composta de 15 famílias, dessas foram entrevistadas 9 (nove) contabilizando cerca de 54,6% do total das famílias da comunidade, enquanto as outras, 6 (seis) restantes não se encontravam ou não utilizam plantas com finalidades medicinais (Figura 2). Este resultado difere do levantamento etnobotânico realizado por Teixeira e Melo (2006) no município de Jupi, estado do Pernambuco, em que todos os entrevistados (60), 100% deles utilizavam plantas medicinais para o tratamento de alguma enfermidade (MARQUES, LIMA & MELO, 2010). Não utilizam Não estavam Utilizam fitoterápicos Figura 2 – Porcentagem do uso das plantas medicinais pela comunidade Em relação aos entrevistados, cinco pessoas (66,7%) possuem idade acima de 40 anos de idade, enquanto que duas (16,7%) possui idade igual ou superior a 18 anos, e em outra família entrevistadas (16,7%) dois dos moradores possuem idade entre 25 a 40 anos. Mulheres acima de 40 anos tem maior conhecimento em relação às plantas medicinais que os outros indivíduos com idade inferior independente do sexo. 25 Figura 3- Moradora coletando funcho, em sua horta de verduras. Uma provável explicação para isto é citada por Jacoby et al (2002) em seu trabalho realizado na comunidade rural do Guaramirim, município de Irati, estado do Paraná, ele afirma que esse resultado pode ser devido ao horário e ao trabalho doméstico que faz com que as mulheres não se distanciem muito tempo de casa. Outra possível explicação é o fato das mães terem que tomar alguns cuidados durante a criação dos bebês, tais como, alívio das cólicas, curativos do umbigo, entre outros, buscando informações sobre métodos através de outras mães de gerações anteriores. 26 Masculino Feminino Figura 4- Porcentagem sexo dos sujeitos da pesquisa. Entre 18 a 25 anos Entre 25 a 40 anos Acima de 40 anos Figura 5 - Porcentagem de idade dos sujeitos da pesquisa 27 5.1. Fonte de informação e obtenção das plantas medicinais A partir das entrevistas foi possível observar que o resultado obtido foi o mesmo que Marques, Lima & Melo (2010), onde afirmaram que 100% das famílias adquirem seus conhecimentos sobre as plantas medicinais através de amigos, parentes e familiares, o que nos permite constatar que é a maior forma de transmissão da cultura ainda persistente nas relações sociais entre as pessoas de uma comunidade, dispensando o uso de meios de comunicação, como rádio, televisão e revistas. Isso se deve pela tradicionalidade dos costumes familiares observados principalmente em comunidades rurais. O local onde são encontradas e obtidas as plantas varia de acordo com a sua espécie, onde 23 (71,88%) das plantas são encontradas no próprio quintal; 4(12,5%) encontradas em Beira de rios e lagos; 3 (9,38%) encontradas em Matas Ciliares e Campos Abertos 1 (3,13%) encontradas próximos a Lavouras e 1(3,13%) encontradas em ambientes distintos, Beira de estradas e Matas ciliares e Campos Abertos. 80 70 Próprios Quintais 60 Beira de rios e lagos 50 40 Matas ciliares e Campos abertos 30 Próximo a lavouras 20 Matas próximo a estradas 10 0 Figura 6 – Porcentagem dos ambientes onde são encontradas as plantas medicinais 28 Figura 7- Morador coletando camomila, plantada junto a seu jardim. O levantamento amostrou 32 espécies de plantas utilizadas pela comunidade, distribuídas em 16 famílias botânicas (tabela1). As famílias Lamiaceae e Compositae Asteraceae, também foram as famílias de maior número de espécies citadas nos trabalhos de Magalhães et al (2009), Dreveck, Zeni & Silva (2009) e Teixeira & Melo (2006). Portanto, quanto maior o número de espécie em uma família botânica, maior a chance de que estas venham a ser utilizadas pela população humana que fazem uso dos recursos da flora nativa, afirma Pereira et al. (2007). 29 Tabela 1 – Relação das famílias botânicas, nome científico e popular NOME POPULAR FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO Arruda Rutaceae Ruta graveolens Alecrim Lamiaceae Rosmarinus officinalis L. Alcanfor ou Cânfora Lauraceae Cinnamomun canphora L. Carquejo Campositae/Asteraceae Baccharis trimera Funcho Apiaceae Foeniculum vulgare mill Erva terrestre Lamiaceae Glechoma hederacea L. Mentruz Cruciferae (Brassicaceae) Coronopus didymus Bálsamo Crassulaceae. Sedum praealtum DC. Malva Malvaceae Malva sp. Arnica Campositae/Asteraceae Solidago microglossa D.C Hortelã Labiatae Mentha ssp. Semente de abóbora Cucurbitaceae Cucurbita spp Cidra Rutaceae Citrus medica L Canela Lauraceae Cinnamomum zeylanicum Manjericão Lamiaceae Ocimum basilicum L. Stryphnodendron Barbatimão Mimosaceae obovatum Benth. Caninha da Índia Poaceae Arundo donax Salsinha Apiaceae Petroselinum crispum Gengibre Zingiberaceae Zingiber officinale Roscoe Guaco Campositae/Asteraceae Mikania laevigata Açafrão Zingiberaceae Curcuma longa L. Espinheira-santa Celastraceae Maytenus ilicifolia Martius Chamomilla recutita (L.) Camomila Asteraceae Rauschert Palicourea coriacea Congonha Rubiaceae (Cham.) K. Schum. 30 Alismataceae Echinodorus macrophyllum Novalgina Asteraceae Aquiléa millefolium Alfa-vaca Lamiaceae Ocimum basilicum L Erva cidreira de folha Labiatae Melissa officinalis Chapéu de couro Erva cidreira – capim Cymbopogon citratus limão Gramineae (Poaceae) Sálvia Lamiaceae Salvia officinalis L. Boldo Grade Lamiaceae Plectranthus barbatus Boldo pequeno Lamiaceae Vernonia condensata Foi observado quanto ao horário de coleta que os moradores não utilizam horários específicos para a coleta das plantas. Em sua grande maioria as plantas são colhidas somente no momento do preparo do fitoterápico. Quanto preparo e uso (Tabela 2) são: 20(64,52%) chá (infuso); 2(6,45%) curtidos na água; Chá frio 1(3,23%); macenera com água 3(9,3%); e chá queimado com leite, semente torrada, xarope do fruto, conserva em álcool e folhas maceradas apenas 1(3,23%) cada. Em relação aos órgãos utilizados (tabela2), 20 (66,6%) utilizam folhas, 3 (10%) raiz; 2 (6,6%) folhas e caule da mesma planta; 1 (3,33%) utilizam a planta inteira e 1 (3,33%) utilizam fruto, 1(3,33%) semente, 1(3,33%) raiz e folhas da mesma planta, e 1(3,33%) utilizam a casca. A utilização das folhas como principal parte vegetal, também foi encontrado no estudo de Jacoby et al, (2002) citado por Marques, Lima & Melo (2010), isto mostra que a utilização das folhas para preparos, pode em muitos casos preservar e conservar a espécie na região. O trabalho realizado por Pereira et al., (2007), revela que a parte vegetal mais utilizada como medicinal é a raiz, mostrando que é necessária a retirada desta do solo, deixando vulnerável a redução da população da espécie. 31 Tabela 2 - Relação das espécies com respectiva finalidade de uso, parte da planta utilizada e forma de preparo. NOME POPULAR NOME USO HABITAT CIENTÍFICO ÓRGÃO MODO DE UTILIZADO PREPARO Banhar os Arruda Ruta graveolens olhos Quintal Folha Chá frio officinalis L. Falta de ar Quintal Folha Chá Cinnamomum Cicatrizante e canphora L. antitetânica Rosmarinus Alecrim Alcanfor ou Cânfora Folhas com Quintal caule Baccharis Carquejo trimera Chá Curtido na Estômago BRL Folha água Quintal Folha Chá Folhas Chá Dores Foeniculum estomacais e vulgare mill prisão de Funcho Erva terrestre Mentruz ventre Glechoma Tosse e hederacea L. resfriados Quintal Coronopus Cicatrizante e Próximo a didymus Antibiótico Lavouras Folha com água Quintal Folhas Macerada Quintal Folhas Chá Folhas e Conserva caule com álcool Macenera Cicatrizante e Bálsamo Sedum úlceras praealtum DC. estomacais Calmante e problemas Malva Arnica Malva sp. cardíacos Solidago Picada de microglossa D.C insetos MCA 32 Continuação da Tabela 2: Mentha ssp. Hortelã Gripe, cicatrizante Quintal Folhas Semente de abóbora Chá Sementes Cucurbita spp. Vermífugo Quintal Sementes torradas Xarope do Cidra Citrus medica L. Tosse Quintal Fruto fruto Chá Cinnamomum Canela zeylanicum "queimado" Gripe MCA Condimento Ocinum Manjericão Barbatimão Índia Curtido em basilicum L. Gripe Stryphnodendron Gastrite, obovatum Benth. Ùlcera Caninha da com leite Quintal Folhas água MCA Casca Chá Quintal Folhas Chá Quintal Raiz Chá Quintal Raiz Chá Problemas Arundo donax renais Antibiótico Salsinha Petroselinum (uso externo, crispum machucados) Zingiber officinale Roscoe Gengibre Guaco Gripe, Resfriado Mikania Resfriado, laevigata Gripe Quintal Folhas Chá Catapora Quintal Raiz Chá BRL, MCA Folhas Chá Curcuma longa Açafrão L. Cólicas renais, Espinheirasanta Maytenus Cólicas e ilicifolia Martius gastrites 33 Continuação da Tabela 2: Chamomilla recutita (L.) Camomila Rauschert Planta Calmante Quintal inteira Chá Schum. Gripe MCA Folhas Chá Echinodorus Depurativo do macrophyllum Sangue, àcido BRL Folhas Chá Quintal Folhas Chá Palicourea coriacea (Cham.) K. Congonha Chapéu de couro úrico Aquiléa Dores de millefolium cabeça e Novalgina Alfa-vaca Erva cidreira de folha pressão alta Ocimum Resfriado, basilicum L Gripe Quintal Folhas Chá Gripe, Tosse Quintal Folhas Chá Melissa officinalis Raiz - Chá Erva cidreira – capim Cymbopogon citratus limão Sálvia quente / Calmante, pressão, gripe Sálvia officinalis Calmante e L. antidepressivo Raiz, Folha chá Quintal, MPE folhas frio Quintal Folhas Chá Plectranthus Boldo Grade barbatus Boldo Vernonia pequeno condensata Macerada Estômago Quintal Folhas em água Macerada Estômago Quintal Folhas em água 34 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A transferência do conhecimento etnobotânico da comunidade rural dos Dois Paus II do município de Campos Gerais estado de Minas Gerais segue padrões de comunidades tradicionais, onde o conhecimento é passado de geração em geração, e principalmente entre os próprios moradores, assim foram identificadas 32 espécies de plantas medicinais distribuídas em 16 famílias botânicas. Diferentemente de vários resultados etnobotânicos, uma entrevistada alegou usar as plantas para fins curativos e de tratamento aliados a crença religiosa, como a utilização de água e algumas plantas bentas. Alguns entrevistados alegaram não usar muito as plantas medicinais devido ao fácil acesso a medicamentos industrializados. Outro entrevistado alegou conhecer, mas não utilizar plantas medicinais. Mas uma vez é necessário o olhar da comunidade científica, pois cada vez mais a cultura e o conhecimento popular estão sendo dizimados. Os entrevistados demonstraram um grande conhecimento acerca das plantas medicinais. Alegaram que algumas plantas são mais difíceis de achar como a Carqueja. Alem disso, conhecem bem acerca do tipo de solo e habitats onde coletam as plantas. Um entrevistado citou a importância do estudo das plantas medicinais, pois hoje quase não se usa mais e a cultura está se perdendo e junto com ela vão se esquecendo das plantas usadas como fitoterápicos. Quanto mais longe da cidade a localidade do entrevistado maior é o conhecimento deste acerca das plantas medicinais. É possível perceber também que a comunidade apesar de um vasto conhecimento em espécies medicinais não adotam práticas especiais de coletas, como horário, influencia da lua e outros. Além disso, é necessário que sejam estudados os princípios ativos das plantas medicinais usadas pelas comunidades e que resultados sejam disponibilizados a eles. Pois todo medicamento, seja este fitoterápico ou não deve ser usado de forma consciente e cautelosa quanto às partes dos vegetais a serem utilizados e dosagem, principalmente no caso dos fitoterápicos onde ainda são desconhecidos os efeitos colaterais para uso indiscriminado. Algumas plantas medicinais utilizadas na comunidade rural Dois Paus II, tais como Camomila (Chamomilla recuitita (L.) Rauschert) e Erva cidreira- capim limão (Cymbopogoin citratus) constam na Lista de Plantas Medicinais e Fitoterápicos de 35 Interesse do SUS, divulgada pelo Ministério da Saúde em fevereiro de 2009 na sua página oficial na internet. Na lista constam também plantas como a Cynara scolymus (alcachofra), Schinus terebenthifolius (aroeira da praia) e a Uncaria tomentosa (unha-de-gato), usadas pela sabedoria popular e confirmadas cientificamente, para distúrbios de digestão, inflamação vaginal e dores articulares, respectivamente. Estas plantas são mais difíceis de serem encontradas em nossa região. O presente trabalho mostra a grande importância dos levantamentos etnobotânicos e do conhecimento popular, pois estes são aliados quanto ao resgate, preservação e a descoberta e divulgação ao meio científico de novos fitoterápicos que podem ser possíveis tratamentos de doenças que até hoje são consideradas incuráveis, ou que possuem tratamentos que proporcionam grande sofrimento ao paciente. 36 7. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ODUM, Eugene P. Ecologia. Traduzido por TRIBE, Christopher J. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1983. GALVANI, Francisco Renato; BARRENECHE, Maria de Lujan. Levantamento das espécies utilizadas em medicina popular no município de Uruguaiana (RS). Revista da FZVA.Uruguaiana, v. 1, n. 1, p. 1-14, 1994. AMOROZO, Maria Christina de Mello. Uso e Diversidade de Plantas Medicinais em Santo Antonio do Leverger, Mt, Brasil. Acta bot. bras, Rio Claro – SP, v.16, n.3, p. 189-203, 2002. CALIXTO, Juliana Sena. Botica da natureza: conhecimento, uso e regulação de recursos vegetais para a saúde em comunidades rurais do Alto Jequitinhonha. Lavras: UFLA,34p, Monografia, Engenharia Florestal, departamento de Ciências Florestais,Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2002. CALIXTO, Juliana Sena; RIBEIRO, Magalhães Eduardo. O cerrado como fonte de plantas medicinais para uso dos moradores de comunidades tradicionais do alto Jequitinhonha, MG. Universidade Federal de Lavras, Lavras, p3, 2002. DAJOZ; Roger. Princípios de Ecologia. Traduzido por MURAD, Fátima. 7º ed. Porto Alegre, 2005. PAIOLA, Lucy Mara; TOMANIK, Eduardo Augusto. Populações Tradicionais, Representações Sociais e Preservação Ambiental: Um Estudo Sobre as Perspectivas de continuidade da Pesca Artesanal em uma Região Ribeirinha do Rio Paraná. Acta Scientiarum, Maringá, v. 24, n. 1, p. 175-180, 2002. 37 SILVA, Francisca da Silva; MACEDO, Renato Luiz Grisi;VENTURIM, Nelson; MORAIS, Verlândia de Medeiros; GOMES, Jozebio Esteves. Levantamento etnobotânico das plantas medicinais da zona rural do municipio de piumhi - Minas Gerais. Revista científica eletrônica de engenharia florestal - issn 1678-3867 publicação científica da Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal de Garça/FAEF. Ano lll, número, 06, agosto de 2005. Periodicidade: semestral TEIXEIRA, Sílvia Alves; MELO José Iranildo Miranda de. Plantas medicinais utilizadas no município de Jupi, Pernambuco, Brasil. ALBUQUERQUE, Ulysses Paulino de; HANAZAKI, Natália. As pesquisas etnodirigidas na descoberta de novos fármacos de interesse médico e farmacêutico: fragilidades e pespectivas. Revista Brasileira de Farmacognosia. Brazilian Journal of Pharmacognosy, 16(Supl.): 678-689, Dez. 2006. WALTER, Bruno Machado Teles. Fitofisionomias do Bioma Cerrado: Síntese teminológica e relações florísticas. Tese de Doutorado. Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília. 389 pág. Mar 2006. RODRIGUES, J.S. Camejo. 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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Unidades da Federação/Cidades/Campos Gerais. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso em: 05 de junho de 2011. PORTAL DA SAÚDE SUS. Programa Nacional de Plantas medicinais e Fitoterápicos. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/plantas_medicinais.pdf. Acessado em 22 de novembro de 2011 SILVA, Maria Silene da; ANTONIOLLI, Angelo Roberto; BATISTA, Josemar Sena; MOTA, Clarice Novaes da. Plantas medicinais usadas nos distúrbios do trato gastrintestinal no povoado Colônia Treze, Lagarto, SE, Brasil. Acta bot. bras. 20(4): 815-829. 2006 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 6, DE 23 DE SETEMBRO DE 2008. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/MMA_IN_N_6.pdf. Acessado em Novembro de 2011. 39 8. ANEXO 1 Questionário aplicado nas comunidades: Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa tendo como tema: Levantamento Etnobotânico da comunidade rural Dois Paus II, tendo como pesquisador responsável o Doutor Gabriel Silva Pinto, professor da FACICA. A qualquer momento poderá interromper e se recusar a responder este questionário, demonstrando liberdade na escolha da participação deste projeto. O objetivo é compreender e conhecer as principais plantas medicinais utilizadas na sua comunidade, através de um questionário a ser respondido por você, sendo que os resultados serão posteriormente divulgados no meio cientifico preservando seu anonimato. Não há nenhum tipo de despesa da sua parte na participação desse projeto. 1. A família utilizou recentemente ou ainda está utilizando alguma planta como remédio? ( ) Sim ( ) Não Em caso de sim , cite algumas plantas mais usadas e quais suas utilidades a)_________________________________________________________ b)_________________________________________________________ c) _________________________________________________________ d) _________________________________________________________ 2. Como tomou conhecimento da utilização da planta? ( ) Com parentes, amigos ou vizinhos; ( ) Livros, Jornais e revistas; ( ) Rádio ou televisão; ( ) Profissional da saúde; ( ) Outras fontes. Quais?__________________________________________________________ 40 3. Qual o meio de obtenção da planta? ( ) Próprio quintal; ( ) Beira de estradas; ( ) Matas; Campos Abertos: ( ) Beira de rios e lagos; ( ) Próximo de lavouras; ( ) Mercado, feiras; ( ) Outros. Quais?_____________________________________________________ 4. Qual o órgão da planta utilizado? ( ) Raiz; ( ) Folha; ( ) Flores; ( ) Cascas; ( ) Sementes; ( ) Frutos; ( ) Outros. Quais?____________________________________________________ 5. Qual a forma de preparo? ( ) Chá; ( ) Xarope; ( ) Banho; ( ) Compressas; ( ) Gargarejo; ( ) Pomada; ( ) Outros. Quais?____________________________________________________