Jardim Botânico de Coimbra: contraponto entre a arte e a

Transcrição

Jardim Botânico de Coimbra: contraponto entre a arte e a
Jardim Botânico de Coimbra: contraponto entre a Arte e a Ciência
Coimbra Botanical Garden: Counterpoint between Art and Science
Joana Brites
O Jardim Botânico de Coimbra nasce com a
reforma pombalina da Universidade, constituindo um dos mais fiéis reflexos do espírito e objectivos que a impulsionaram. Com
efeito, a renovação científica e pedagógica
dos estudos, de acordo com as novas directrizes emanadas do movimento das Luzes
e do experimentalismo, traduziu-se numa
decidida aposta nas faculdades naturais,
necessariamente apoiadas por estabelecimentos capazes de à teoria aliar a prática,
introduzindo no processo de aprendizagem
a observação e a demonstração1.
É certo que o projecto de criação de uma
tal valência na cidade não era novo pois,
durante o longo reitorado de Francisco
Carneiro de Figueiroa, Jacob de Castro Sarmento enviara àquele reitor, um plano, idealizado pelo arquitecto E. Oakley, com data
de 1731, para a realização de um jardim
botânico. O projecto [1] apresentava semelhanças com o Chelsea Physic Garden de
Londres, o que se poderá explicar, não só
pelo facto de Jacob Sarmento ter estado
em Inglaterra, onde foi membro do Real
Colégio dos Médicos, como também pela
familiaridade entre o arquitecto Oakley e o
Jardim londrino, para o qual desenharia, por
esta altura, o projecto das estufas.
Esta proposta pioneira denunciava já o
intuito de articular a modernização da ciência botânica com o desenvolvimento da
medicina. Não passaria, contudo, do papel,
sendo necessário aguardar pelo pragmatismo férreo da «nova fundação» para que
a formulação concreta de um horto botânico no espaço da Universidade visse a luz
do dia.
Os novos Estatutos foram publicados em
1772, na sequência do Compêndio histórico do estado da Universidade, apresen-
Coimbra Botanical Garden dates from the
Pombaline reform of the University, and
faithfully reflects the spirit and aims of
those times. Indeed, it emerged out of the
scientific and pedagogical changes that
were introduced in order to bring the curriculum into line with the values of the
Enlightenment and experimentalism; this
led to investment in science faculties, supported by establishments that emphasized the practical component, introducing
observation and demonstration into the
learning process1.
The idea to create a botanical garden in the
city was not in fact new. A plan for one [1],
drawn up by the architect E.Oakley in 1731,
had been sent to the rector of the University, Francisco Carneiro de Figueiroa, during
his long period in office, by Jacob de Castro
Sarmento. That first pioneering project,
which aimed at forging links between a
modernized botanical science and medicine, bore some resemblance to the Chelsea
Physic Garden in London, which is not surprising if we consider that Jacob Sarmento
had spent some time in England, where he
was a member of the Royal College of Physicians, and that Oakley in fact designed the
greenhouses for that garden at around the
same time. However, it did not get further
than the drawing board. It was necessary
to await the iron pragmatism of the “new
foundation” before any project could properly come to fruition.
In 1772, the new Statutes were published,
following the presentation, in 1771, to the
king of the “Historical Compendium of the
State of the University” by the Literary Providence Committee (which had been charged
in 1770 with analysing the causes of the
University’s decline and suggesting ways in
31
tado ao rei em 1771, pela Junta de Providência Literária, encarregue em 1770 de analisar
as causas da decadência da Universidade e
apontar os meios para a sua reestruturação.
A par da profunda reformulação das faculdades existentes – Teologia, Cânones, Leis e
Medicina –, era extinta a das Artes e criadas
a de Matemática e a de Filosofia, ocupandose esta das Ciências da Natureza. Previa-se
ainda a construção de diversos equipamentos: o hospital escolar, o teatro anatómico, o
dispensatório farmacêutico (anexos à Faculdade de Medicina); o observa­tório astronómico (dependente da Faculdade de Matemática); e os gabinetes de História Natural e de Física Experimental, o Laboratório
Químico e o Jardim Botânico (agregados à
Faculdade de Filosofia).
Com o propósito de complementar o Gabinete de História Natural, os Estatutos preconizavam a indispensabilidade de um jardim
botânico, ditando, desde logo, os objectivos a que este espaço deveria obedecer:
“Ainda que no Gabinete de Historia Natural
se incluem as Producções do Reino Vegetal; como porém não podem ver-se nelle as
Plantas, senão nos seus Cadaveres, secos,
macerados, e embalsamados; será necessario para complemento da mesma Historia o
Estabelecimento de hum Jardim Botanico,
no qual se mostrem as Plantas vivas. Pelo
que: No lugar, que se achar mais proprio, e
competente nas vizinhanças da Universidade, se establecerá logo o dito Jardim: Para
que nelle se cultive todo o genero de Plantas; e particularmente aquellas, das quaes se
conhecer, ou se esperar algum prestimo na
Medicina, e nas outras Artes; havendo o cuidado, e providencia necessaria, para se ajuntarem as Plantas dos meus Dominios Ultramarinos, os quaes tem riquezas immensas,
no que pertence ao Reino Vegetal.”2
No sentido de levar à prática os Estatutos definidos, Sebastião José de Carvalho e
Melo escreve uma carta, a 7 de Novembro
de 1772, dirigida a D. Francisco de Lemos
de Faria Pereira Coutinho, reitor da Uni-
32
which it could be restructured). With these,
the existing faculties (Theology, Canon Law,
Law and Medicine) were radically restructured, the Faculty of Arts was extinguished
and new faculties of Mathematics and Philosophy were created, the last of which was
to concern itself with the Natural Sciences.
The construction of other facilities was also
envisaged, including a teaching hospital,
anatomical theatre, pharmaceutical dispensary (attached to the Faculty of Medicine),
astronomical observatory (subordinated
to the Faculty of Mathematics), and, within
the Faculty of Philosophy, offices of Natural
History and Experimental Physics, a Chemistry Laboratory and the Botanical Garden.
The Statutes emphasised the importance
of the Botanical Garden as a complement
to the Natural History Office, and set forth
its aims as follows: “Although the Office of
Natural History contains examples from
the vegetable kingdom, the plants included
therein are no better than corpses, dried,
macerated and embalmed. A Botanical
Garden is thus a necessary complement to
that History, in order to display living plants.
Hence, such a garden shall be established
in an appropriate place in the neighbourhood of the University, where all manner of
plants shall be cultivated, particularly those
that are known or hoped to offer some benefits to Medicine and other arts. Plants shall
be collected there from my overseas territories, which are immensely rich as regards
the vegetable kingdom.”2
The first step towards putting the Statutes into practice was taken by Sebastião
José de Carvalho e Melo, the Marquis de
Pombal, in a letter dated 7th November
1772 addressed to D. Francisco de Lemos de
Faria Pereira Coutinho, rector of the University and main executor of the reform. The
letter was accompanied by a list of specifications, in which a section of the grounds
of the St Bento College was indicated as the
most suitable site for the Botanical Garden.
This opinion was corroborated by Domen-
versidade e principal executor da reforma,
fazendo-a acompanhar de uma memória
onde se indicava a porção de terreno da
cerca de S. Bento como a mais adequada
para a instituição do «Horto Botânico», opinião corroborada por Domenico Vandelli,
encarregado da direcção do novel Jardim,
que então se encontrava na corte.
A respeito da referida implantação acrescentava ainda que “o Abbade do Collegio de Saõ Bento, e todos os seus Frades;
achando-se possuidos por hum terror
pânico de que lhe hiam tomar parte do seu
Collegio, e toda a sua cerca para se establecer o referido Horto: E querendo sacrificar
huma parte para salvar o todo: Me viéram
offerecer pelo seu Procurador Geral o Terreno, (…) o qual V. S.ª com os Professores da
Faculdade pode hir ver; demarcar, e fazer
murar, logo que se recolherem os Doutores Ciera, e Vandelli”. Rematava apelando
ao uso prudente da referida oferta, a fim de
não se estender para além do indispensável
o Horto que, dizia, em nenhuma parte ter
visto ser “huma Quinta extensa”3.
A 3 de Fevereiro de 1773, o reitor-reformador tranquilizava o ministro, noticiando-o
de que “já se acham n’esta cidade os Doutores Ciera, Vandelli e Dalabella, e com
elles e Franzini irei ámanhã ver o sítio que
V.ª Ex.ª designou para n’elle estabelecer-se o
Jardim Botanico”4. Em resposta, o marquês
de Pombal anunciava a vinda do tenentecoronel Guilherme Elsden, ensamblador ou
marceneiro londrino, estabelecido em Portugal pelo menos desde 1763, que executava serviços de engenharia e arquitectura.
Era este inglês, igualmente responsável por
outros edifícios da reforma pombalina, que
o estadista encarregava de delinear o Jardim
“pelos apontamentos dos professores”5. Aos
docentes cabia, na companhia de Francisco
de Lemos, o reconhecimento do local.
Cumprida com brevidade tal inspecção,
verificou-se, porém, não ser o destinado
sítio o mais apropriado, dada a existência
de acentuados desníveis que implicariam
ico Vandelli, who had been appointed curator of the new garden, and who was at that
time at court.
The letter went on: “The Abbot of the College of St Bento and all his friars, terrified of
that their college and all its grounds would
be taken over for the establishment of the
Garden, and wanting to sacrifice a part to
save the whole, offered me, through their
legal representative, the terrain (…), which
you and your Faculty professors may view,
demarcate and enclose, as soon as Doctor
Ciera and Doctor Vandelli return”. It concluded by urging that the offer be used prudently, not going beyond what was strictly
necessary, for nowhere should the Garden
be perceived as “an extensive estate”3.
On 3rd February 1773, the reformer rector
informed the Marquis that “Doctors Ciera,
Vandelli and Dalabella are now in the city,
and they and Franzini shall go tomorrow
to the site that Your Excellency has designated for the establishment of the Botanical Garden”4. In his reply, the Marquis
announced the arrival of Lieutenant Colonel William Elsden, a joiner or cabinetmaker from London, who had been based
in Portugal since at least 1763, and who performed services in engineering and architecture. Elsden, who was also responsible
for other buildings of the Pombaline reform,
had been commissioned to demarcate the
Garden “from the professors’ notes”5; the
professors, for their part, were to survey the
site in the company of Francisco de Lemos.
However, following the brief inspection, it
was decided that the site was not really suitable for the garden since it contained sharp
differences in level, which would require
“great expense in the creation of terraces
one above the other and even so, would
remain uneven”. The College garden, located
in Alegria, near the so-called ‘Ínsua dos
Bentos’, was considered as a second choice,
but was also rejected as not viable “since it
is very cramped, is exposed to flooding of
the Mondego, would also require extensive
33
“fazer uma imensa despeza em sucalcos uns
acima dos outros, e ainda depois de tudo
isto ficaria sempre irregular”. Ponderada
como segunda possibilidade a ocupação da
horta do Colégio, situada na Alegria, junto
à denominada Ínsua dos Bentos, concluiuse não ser igualmente viável “por ser muito
apertado, ficar exposto ás inundações do
Mondego, necessitar tambem de grandes
sucalcos, e ficar longe da Universidade”.
Finalmente, uma solução reuniu consenso:
“a parte da mesma cêrca [dos monges beneditinos] que confronta de uma parte os
Arcos da cidade, da outra com a estrada que
vae para S. José dos Mariannos, e da outra
com huma vinha dos ditos P.es Mariannos”.
As vantagens de tal escolha residiam na
proximidade da Universidade e dos Arcos,
no fácil acesso a água através do Aqueduto
do convento das freiras de Santa Ana e
também na “circumstancia de ficar o Jardim
visinho a uma estrada, que indireitada e alinhada fórma hum bello e necessario passeio
publico para recreação dos Estudantes”6.
Num ofício de 2 de Março de 1773, acompanhado por uma provisão da mesma
data, o marquês de Pombal elogiava o cuidado posto no exame do terreno destinado
ao dito estabelecimento, determinando
a compra do mesmo, bem como a sua
demarcação. No espaço de meses, os professores italianos enviam para Lisboa uma
sumptuosa planta para o Jardim Botânico
da Universidade de Coimbra. Trata-se, presumivelmente, do desenho a tinta-da-china
e aguada sobre papel [2] que se encontra
na biblioteca do Departamento de Botânica, sem data ou assinatura devido à falha
que apresenta na sua parte central supe-
34
terracing and is a long way from the University”.
Finally, a consensus was reached. It was
decided to construct the garden in “that
part of the same grounds [i.e. of the Benedictine college] that at one side faces the
city Aqueduct, at another faces the road
that goes to S. José dos Mariannos, and
at another a vineyard belonging to those
Marian priests”. The advantages of this site
lay in its proximity to the University and
the Aqueduct, the easy access to water via
the Aqueduct of the convent of Saint Anne,
and also in the fact that "the Garden will be
next to a road, forming a beautiful straight
public promenade for the recreation of the
Students”6.
In an official letter of 2nd March 1773,
accompanied by a writ of the same date, the
Marquis praised the care taken in the examination of the land destined for the Garden,
and announced his decision to purchase it
and order its demarcation. Within months,
the Italian professors had sent a sumptuous plant to Lisbon destined for the Botanical Garden of the University of Coimbra.
This is presumably what is represented in
a Chinese ink and watercolour drawing on
paper [2] in the Botany Department library,
though unfortunately its date and signature
are missing due to the fact that the part of
the paper where this information would
have been given, together with the key to
the plan, is torn.
The massive project for the Garden is
remarkably similar to the undated “Sketch
of the Botanical Garden for the University
of Coimbra” [3] by Júlio Mattiazzi, published together with the other “Sketches
for Works on the University of Coimbra” in
1983 by the Machado de Castro National
Museum. This project was probably prepared after the other, since it is somewhat
simplified in relation to it. It contains fewer
flowerbeds, fountains and sculptures, and
the arboretum is laid out differently, in the
form of a square subdivided into four.
rior, onde se leriam essas informações, bem
como as legendas do plano.
O colossal projecto do Jardim apresenta
uma notória semelhança com o Risco do
Jardim Botânico para a Universidade de
Coimbra [3], não datado, da autoria de
Júlio Mattiazzi, publicado juntamente com
outros Riscos das obras da Universidade de
Coimbra, em 1983, pelo Museu Nacional de
Machado de Castro. Este projecto foi, com
probabilidade, formulado a jusante do primeiro, pois denota em relação a ele alguma
simplificação. As diferenças resultam da
redução do número de canteiros e de fontes
de repuxo, bem como das peças escultóricas. O arboreto evidencia ainda uma disposição distinta, assumindo a forma de um
quadrado, subdividido em quatro.
Ambos os desenhos denunciam fortes paralelismos com o Jardim Botânico de Pádua,
fundado em 1545. Com efeito, o esquema
do círculo de canteiros que envolve o quadrado central, dividido, por sua vez, em
quatro canteiros, é comum aos dois hortos.
A distribuição das fontes de repuxo nesta
zona coincide igualmente, tal como se verifica pelo confronto das respectivas plantas.
Ora, esta «marca» paduana deve ser compreendida à luz do percurso de dois homens,
cujo rumo passou quer por Pádua, quer por
Coimbra. Referimo-nos a Domenico Vandelli e a Júlio Mattiazzi, ambos nascidos na
dita cidade italiana e familiarizados com o
seu Jardim. O primeiro, naturalista de reconhecido prestígio, concluiu os cursos de
filosofia natural e medicina na Universidade
de Pádua em 1761 e manteve correspondência com Lineu entre 1759 e 1773. Chega
a Lisboa, a convite do marquês de Pombal,
em 1764, à partida destinado à docência
no Colégio dos Nobres mas, na realidade,
sem exercício de funções oficiais até 1768,
altura em que aparece nomeado para dirigir
as obras do Jardim Botânico da Ajuda. Em
1772 vem para Coimbra ensinar química e
história natural na recém criada Faculdade
de Filosofia, tendo-se nela graduado gratui-
Both designs have strong parallels with the
Botanical Garden of Padua, founded in 1545.
In fact, the scheme of a circle of flowerbeds
around the central quadrangle, divided in
turn into four beds, is shared by the two
gardens, while the fountains in this area are
distributed in a very similar manner, as comparison of the two plans clearly shows.
This influence must surely be understood in
the light of the careers of two men, whose
path passed through both Padua and Coimbra. We are of course referring to Domenico
Vandelli and Júlio Mattiazzi, who were both
born in Padua and were familiar with its
garden. The former, a naturalist of acknowledged prestige, completed his degrees in
natural philosophy and medicine at the
University of Padua in 1761 and maintained
a correspondence with Linnaeus between
1759 and 1773. He was invited to Lisbon by
the Marquis of Pombal and arrived in 1764,
ostensibly to take up a lectureship at the
College of Nobles, though he did not in fact
perform any official functions until 1768,
when he was appointed to supervise the
works being carried out at the Ajuda Botanical Garden. In 1772 he came to Coimbra
to teach chemistry and natural history in
the recently created Faculty of Philosophy,
graduating from it on 9th October of that
year and on 12th of the same month from
the Faculty of Medicine. The Statutes stipulated that the lectureship in natural history
should entail responsibility for the Botanical Garden, and so he directed it until his
retirement in January 1791, when he was
replaced by Félix Avelar Brotero.
35
tamente a 9 de Outubro desse ano e a 12 do
mesmo mês na Faculdade de Medicina. A
leccionação de história natural acarretava,
cumulativamente, tal como se previa nos
Estatutos, a «intendência» do Jardim Botânico, tarefa que exerceu até Janeiro de 1791,
ano em que se jubilou e foi substituído na
direcção do Jardim por Félix Avelar Brotero.
Vandelli surge-nos associado a outros dois
paduanos que se debruçariam sobre o horto
conimbricense. João António Dalla-Bella,
graduado a 4 de Maio de 1773 na Faculdade
de Medicina e na de Filosofia, onde ensinou
física, integrou, como acima relatámos, o
grupo de professores que, juntamente com
o reitor, visitaram e analisaram o local para
o estabelecimento do Jardim. Mas é sobretudo Júlio Mattiazzi que nos importa destacar, uma vez que, antes de ser trazido por
Vandelli para Portugal, em 1768, para com
ele colaborar em Lisboa e em Coimbra,
desempenhava funções de jardineiro no
Jardim Botânico de Pádua. Não é, por conseguinte, de estranhar que o risco do Jardim
da Universidade por ele executado deixe
transparecer o modelo do da sua cidade
natal.
Permanece incerto o lugar de Guilherme
Elsden no delineamento do inicial programa
do Jardim, não sendo possível assegurar ser
da sua autoria a planta guardada na biblioteca do Departamento de Botânica. Por
um lado, sabe-se que, em Maio de 1773, o
tenente-coronel já havia chegado a Coimbra e, à partida, tudo indica que se tenha
dedicado a tal tarefa, uma vez que o marquês o havia expressamente responsabilizado pela mesma. Aliás, quando, em Fevereiro de 1773, D. Francisco de Lemos escrevia ao ministro sobre a análise do terreno
para o Jardim e o andamento das restantes
obras universitárias, garantia que “fico esperando o tenente-coronel Elsden para com
elle conferir tudo quanto respeita á execução das Plantas que V.ª Ex.ª foi servido
remetter-me, e o mais que for preciso. E
sem elle nada obrarei”7. A própria planta do
36
Vandelli’s name frequently appears associated with two other Paduans that were
also connected to the Coimbra Garden,
João António Dalla-Bella and Júlio Mattiazzi. Dalla-Bella, who graduated on 4th May
1773 from the Faculty of Medicine and Philosophy, where he taught physics, was in
the group of professors that, together with
the Rector, visited and analysed the site for
the Garden, as we have mentioned. But it
is Júlio Mattiazzi that is most deserving of
our attention, since before being brought
to Portugal by Vandelli in 1768 to collaborate with him in Lisbon and Coimbra, had
been the gardener at the Botanical Garden
of Padua. It is therefore not surprising that
his sketch for the University Garden should
reflect features of the model in his native
city.
The role played by William Elsden in the
delineation of the initial programme for
the Garden remains unclear, since we do
not know for certain if the plan kept in the
Botany Department library is in fact by
him. On the one hand, we know that he
arrived in Coimbra in May 1773 and everything indicates at the outset that he was
to undertake the task, since the Marquis
had expressly appointed him for it. Indeed,
when D. Francisco de Lemos wrote to the
minister in February 1773 about the analysis of the terrain for the Garden and the
progress of the remaining university works,
he assured him that he was “awaiting Lieutenant-Colonel Elsden to discuss with him
the plans that Your Excellency has sent me
and anything else that is deemed necessary. Until he comes I shall not proceed”7.
The plan itself, which had been drawn in
the meantime, also reveals ignorance of the
unevenness of the terrain, which could be
explained by the fact that Elsden had not
accompanied the rector and professors on
their visit to the site, having been in Lisbon
at the time “incapacitated with an attack of
gout”8.
On the other hand, we do not have his sig-
Jardim entretanto concebida deixa transparecer um certo alheamento relativamente
ao seu desnivelado terreno de implantação, o que se poderia explicar pelo facto de
Elsden não ter acompanhado o reitor e os
professores na visita ao local, por se encontrar nessa altura ainda em Lisboa, “impossibilitado com um accidente de gota”8.
Por outro lado, não temos a sua assinatura
no projecto depositado na referida biblioteca, presumivelmente o enviado a Pombal,
nem tão pouco a avaliação que dele o ministro fez refere Elsden como autor, sendo
apenas vagamente mencionada “a Planta,
que esses Professores delinearam”, esclarecendo-se, mais adiante, que “os ditos professores saõ italianos” 9. A própria feição
barroca da molduração do plano afasta-se
do traço neoclássico que caracteriza os edifícios projectados por Elsden para a Universidade e, recorde-se ainda, o carácter paduano da planta não poderia resultar da experiência de um engenheiro inglês. Além disso,
no relatório que Elsden dirige a Sebastião
José de Carvalho e Melo, dando-lhe conhecimento dos trabalhos que, no âmbito das
obras da Universidade, executou precisamente entre Julho e Setembro de 1773, não
faz qualquer referência ao traçado da planta
para o Jardim.
Certo é o facto de uma primeira proposta
não ter sido aprovada. Num ofício de 5 de
Outubro de 1773, o estadista rejeita veementemente o “dilatado espaço”, talhado
“pelas medidas da (…) Fantasia”, o qual
“absorberia os meyos pecuniarios da Universidade antes de concluir-se”. Frisando
que “as couzas naõ saõ boas, por que saõ
muito custozas, e Magnificas; mas sim, e taõ
somente, porque saõ proprias, e adequadas
para o uso, que dellas se deve fazer”, ordenava que se delineasse outro plano, “reduzido somente ao numero de Ervas Medicinaes, que saõ indispensaveis para os exercicios Botanicos, e necessarios para se darem
aos Estudantes as noçoens precizas para
que naõ ignorem esta parte da Medicina;
nature on the plan that is in the library
(presumably the one sent to Pombal), nor
does the Marquis’ assessment of it make
any mention of Elsden as author. Instead it
vaguely mentions “the plan that those professors drew up”, clarifying later on that “the
aforementioned professors are Italian”9. The
Baroque flavour of the ground plan is also
quite different from the neoclassical style
of the buildings designed by Elsden for the
University; and of course, the Paduan influence could not have resulted from the experience of an English engineer. Moreover, the
report that Elsden addressed to Sebastião
José de Carvalho e Melo informing him of
the works that he had undertaken at the
University between July and September
1773 made no mention of the plans for the
Garden.
What is clear, however, is that the first proposal was not approved. In an official letter
dated 5th October 1773, the Marquis vehemently rejected the “extensive space”,
shaped “with fantastic dimensions”, which
“would absorb the pecuniary resources of
the University before it is finished”. Adding
that “things are not good simply because
they are very costly and magnificent, but
rather, and only, because they are appropriate and suitable for the use that is to be
made of them”, he ordered another plan to
be drawn up, “reduced only to the number
of medicinal herbs that are indispensable for botany exercises, and necessary to
give the students precise notions so that
they are not ignorant of that part of Medicine; (…) leaving for another time all that
is botanical luxury, at present spreading all
over Europe”.
To dispel any doubts, he explained that
the new design should be no bigger and
no more sumptuous than Chelsea Garden,
which he would certainly have known,
having been stationed in London on diplomatic duty between 1739 and 1743. Finally,
he advised that “a budget be calculated that
is appropriate for a boys’ Study Garden,
37
(…) Deixando-se para outro tempo o que
pertencer ao Luxo Botanico, que actualmente grassa em toda a Europa”.
Para dissipar qualquer dúvida, esclarecia que
a nova concepção não devia ser nem maior
nem mais sumptuosa do que a do Jardim
de Chelsea em Londres, certamente familiar ao marquês que nesta cidade desempenhara funções diplomáticas entre 1739
e 1743. Por fim, recomendava que “se calcule por hum justo Orçamento o que hade
custar o tal Jardim de Estudo de rapazes, e
naõ de Ostentaçaõ de Princepes, ou de particulares, daquelles extravagantes, e Opulentos, que estaõ arruinando grandes Cazas
na Cultura de Brêdos, Beldroégas, e Poejos
da India, da China e da Arabia.”10
Os trabalhos acabariam por se iniciar sob
planos mais modestos, mantendo, todavia, um traço tipicamente italiano. A Universidade tomou conta do terreno a 16
de Janeiro de 1774 e sem demora as obras
foram avançando. Principiou-se a construção da muralha de suporte do lado da cerca
dos Beneditinos, bem como as obras de terraplanagem. Para ambas foram aproveitadas grandes quantidades de pedra e entulho, provenientes de demolições de parte
do edifício dos Jesuítas e do castelo.
Em Novembro desse ano o Horto Botânico estava pronto para receber as primeiras plantas, vindas por mar. Da sua plantação era encarregado Júlio Mattiazzi, jardineiro do Real Jardim Botânico da Ajuda, o
qual deveria regressar à corte após o cumprimento de tal diligência, ficando João Luís
Rodrigues responsável por delas cuidar, tornando-se este, assim, o primeiro jardineiro
do novo Jardim.
Desconhece-se o alcance da acção de Mattiazzi, aquando da sua presença em Coimbra, no âmbito da imposta redefinição
do Jardim exigida por Pombal. Sabemos
que o jardineiro tinha propensão a arquitecto, pois, quando Vandelli caracterizou
o seu desempenho, na parcial administração do Real Museu de História Natu-
38
rather than for the ostentation of princes or
private individuals, that extravagance and
opulence that is ruining the great houses
with the cultivation of amaranth, purslane and pennyroyal from India, China and
Arabia.”10
When the work eventually started, it was
based upon more modest plans, though
retaining typically Italian traits. The University took over the land on 16th January
1774 and work went ahead without delay.
It began with the construction of a support
wall alongside the grounds of the Benedictine College, and with the levelling of the
land. Both operations made use of large
quantities of stone and rubble from the
demolition of part of the Jesuits’ building
and the castle.
In November of that year, the Botanical Garden was ready to receive the first
plants, which were brought in by sea. Júlio
Mattiazzi, gardener for the Royal Botanical
Garden of Ajuda, was responsible for the
planting, but returned to court afterwards,
leaving João Luís Rodrigues in charge of looking after them. It was he who thus became
the first gardener of the new Garden.
The extent of Mattiazzi’s actions as regards
the redefinition of the Garden in accordance with Pombal’s demands is not known.
However, we do know that the gardener
had a certain propensity for architecture,
for Vandelli, describing his compatriot’s
partial administration of the Royal Museum
of Natural History and Botanical Garden of
Ajuda while teaching in Coimbra, specifically mentioned his fascination with architecture. The Paduan’s experience may therefore have resulted in a reconfiguring of the
terrain, although there are no known documents that confirm it. Mattiazzi’s stay was
relatively short, and he was probably on his
way back to Lisbon in January.
We are sure, however, that, shortly after
the arrival of the gardener, alterations were
made to the area and levelling of the Garden.
In fact, the Rector, who wanted to increase
ral e Jardim Botânico da Ajuda durante o
período em que o naturalista assegurava a
docência coimbrã, deixa bem claro a sedução do seu compatriota pela arquitectura.
Da experiência do paduano poderia ter
resultado uma reconfiguração do terreno.
No entanto, desconhece-se qualquer documento que o confirme. A estadia de Matti
azzi foi relativamente curta e, provavelmente em Janeiro, estaria já de volta a
Lisboa.
Resta-nos a certeza de que, pouco depois da
vinda do referido jardineiro, se realizaram
alterações ao nível da área e nivelamento
do Jardim. De facto, entendendo-se necessário aumentar o terreno destinado às culturas, o Reitor estendeu, através da compra
de um olival, a área do Jardim até à estrada
pública e pediu autorização ao Governo
para adquirir mais terreno, com vista a conferir ao Horto uma forma mais regular. Concedida a licença a 7 de Dezembro de 1774,
a compra foi ajustada com os frades marianos, apesar de só muito mais tarde ter sido
realizada.
A partir de 1777, com o falecimento do rei
D. José I e a consequente «morte política»
do marquês, o abrandamento do ritmo das
obras universitárias não deixou de se reflectir também na construção deste estabelecimento, apesar dos esforços movidos por
D. Francisco de Lemos para cativar a atenção da nova rainha, D. Maria I. A Relação
geral do estado da Universidade redigida
pelo reitor-reformador e remetida, em 1777,
à soberana, materializa o intuito de não
deixar cair por terra a reestruturação principiada. Misto de justificação da própria
reforma e de balanço da obra feita e da por
realizar, o texto salienta, na parte referente
ao Jardim, o facto de este continuar longe
de estar terminado pois, à excepção de uma
pequena estufa construída em 1776, os trabalhos e verbas gastas até então (1.349$045
reis) tinham sido essencialmente dedicados
a entulhar as partes baixas, a fim de se obter
no recinto “a igualdade possivel”11.
the amount of land given over to cultures,
bought an olive grove and extended the
Garden as far as the public road; he also
applied for authorization from the Government to acquire more land in order to make
it more regular in shape. After the granting
of the licence on 7th December 1774, the
purchase was negotiated with the Marian
friars, although the deal was only finalized
much later.
From 1777, with the death of the king D.
José I and the consequent political demise
of the Marquis, there was a slackening of
momentum as regards the building works
at the university, reflected also in the construction of the Garden, despite the efforts
of D. Francisco de Lemos to interest the new
queen, D. Maria I, in the project. The “General Report on the State of the University”
drawn up by the reformer rector and sent
to the sovereign in 1777 reflects his intention not to abandon the plan for restructuring. The text, which both justifies the
reform itself and presents a balance of the
works done and still to do, mentions that
the Garden was far from being finished;
with the exception of a small greenhouse
built in 1776, almost all the work and funds
spent until then (1349$045 reis) had been
directed at filling in the low parts in order
to obtain a surface “as level as possible”11.
It is believed that this manuscript was complemented by a volume entitled, on the
binding, Riscos das Obras da Universidade
de Coimbra (“Sketches for Works on the
University of Coimbra”), which included
not only a description of the state of the
new constructions in September 1777 and
a list of expenses, but also a series of thirty
drawings of those constructions. The last
two concern the Botanical Garden: one is
the plan drawn up by Júlio Mattiazzi, which
we have already described; the other is the
“Sketch of the Greenhouses of the Botanical
Garden of the University of Coimbra” [4],
undated and unsigned. Curiously, there is
a very similar drawing to this in the Botany
39
Este manuscrito tinha como complemento,
segundo se crê, um volume intitulado, na
encadernação, Riscos das Obras da Universidade de Coimbra, o qual compreende, além
da descrição do estado em que se encontravam, em Setembro de 1777, os novos estabelecimentos, bem como da enumeração
das despesas, uma série de trinta desenhos,
relativos a essas construções. Os dois finais
dizem respeito ao Jardim Botânico: um é o
plano elaborado por Júlio Mattiazzi, sobre
o qual já nos detivemos; o outro é o Risco
das Estufas do Jardim Botanico da Universidade de Coimbra, sem data ou assinatura
Department.
Entitled Risco das Estufas do Real Jardim
Botânico da Universidade de Coimbra
(“Sketch of the Greenhouses of the Royal
Botanical Garden of the University of Coimbra’) [5], the grandiose project shows,
despite visible deterioration, the ground
plans, elevations and cross-sections of the
greenhouses, with a key on the left hand
side. The ground plan of the main greenhouse shows nine compartments: in the
centre was the “lichen house”, to the left of
which, in the upper half of the building, was
a temperate house, a hot house, another
[4]. Curiosamente, este último encontra
também, na biblioteca do Departamento
de Botânica, um desenho que muito se lhe
assemelha.
Titulado Risco das Estufas do Real Jardim
Botânico da Universidade de Coimbra [5], o
grandioso projecto apresenta, pese embora
a sua visível deterioração, as plantas, alçados
e cortes das estufas, cuja interpretação nos
é facilitada pela legenda à esquerda do conjunto. A planta da estufa principal apresenta
nove compartimentos: ao centro localiza-se
a “caza das liçoens”; à sua esquerda, do meio
para o topo do edifício, prevê-se um tepidário, um “calidário”, um novo tepidário e,
por fim, uma casa destinada à conservação
temperate house and finally, a place for
the conservation of seeds and the “dry herbarium”. To the right of the lichen house is
the same succession of temperate and hot
houses, culminating in a room destined for
the “botanical library”. A “bench of green”
covers the corridor of the stoves which, at
the back of the greenhouses, controls the
temperature of the various sections.
The main façade, which contained eight
doors into the “greenhouse passage”, is
punctuated at intervals, according to neoclassical taste, by a sequence of rounded
arches on rustic-style pillars, on top of
which is a balustrade decorated with alternating vases and statues. The statues are all
40
das sementes e “erbario seco”; à direita da
casa das lições surge-nos a mesma sucessão de tepidários e “calidário”, rematada, no
extremo, por uma divisão destinada a “livraria botanica”. Uma “banqueta de verdura”
cobre o corredor dos fornos que, na parte
posterior das estufas, permitem controlar a
temperatura das várias secções.
A fachada principal, na qual se abrem oito
portas para a “serventia das Estufas”, é ritmada, ao gosto neoclássico, por uma
sequência de arcos redondos assentes
sobre pilares rusticados, encimada por uma
balaustrada decorada por uma alternância
identified by a Latin name carved into the
plinth of each one, confirming the erudite
and symbolic character of this construction.
From right to left, we have the following figures: Avicenna (Arab doctor and philosopher), Galen (one of the greatest doctors of
antiquity), Hippocrates (Greek doctor, considered the “father of medicine”), Bauhino
(Swiss doctor and botanist), Cesalpino (Italian doctor and philosopher), Dioscorides
(Greek doctor and naturalist), Pliny (Roman
soldier, imperial official, historian and scientist, and author of the Historia Naturalis)
and Theophrastus (philosopher and scien-
de vasos e estátuas. Graças ao nome latino
inscrito no plinto de cada escultura, é-nos
possível identificá-las na totalidade, confirmando o carácter erudito e simbólico desta
construção. Da direita para a esquerda
sucedem-se as seguintes figuras: Avicena
(médico e filósofo árabe), Galeno (um dos
maiores médicos da Antiguidade), Hipócrates (médico grego, considerado o “pai
da Medicina”), Bauhino (médico e botânico suíço), Cesalpino (médico e filosofo
italiano), Dioscórides (médico e naturalista
grego), Plínio (militar, funcionário imperial, historiador e cientista romano, autor
da Historia Naturalis) e Teofrasto (filósofo
e cientista sucessor de Aristóteles e autor
de uma vasta produção, onde se incluem
tist that succeeded Aristotle, and author of
a vast oeuvre, including the works History of
Plants and Causes of Plants, which earned
him the epithet of creator of botany). In the
centre of this imposing corpus is a triangular pediment crowned with the Portuguese
royal coat-of-arms, itself flanked by two allegorical figures.
At the right end of the building is the door
leading into the greenhouses on the Bentos
side, overlooked by the sculptures of Avicenna and Petiver (English botanist); at the
opposite end, a statue of Theophrastus and
another of Micheli (Florentine botanist)
complete a window that “overlooks part
of the Mondego”. The pediment over the
door leading into the lichen house, on the
41
as obras Historia das Plantas e Causas das
Plantas, as quais lhe valem o epíteto de criador da botânica). Ao centro deste imponente corpo destaca-se um frontão triangular coroado pelo escudo real português,
ladeado, por sua vez, por duas figuras alegóricas de cada lado.
Na extremidade direita do edifício situase a porta de ingresso para as estufas do
lado dos Bentos, sobrepujada pelas esculturas de Avicena e Petiver (botânico inglês);
no extremo oposto, uma estátua de Teofrasto e outra de Micheli (botânico florentino) rematam uma janela que “cahe p.ª a
parte do Mondego”. A frontaria da porta de
ingresso para a “caza das liçoens”, do lado
dos Bentos, é adequadamente coroada por
quatro estátuas de botânicos que foram
professores em universidades europeias em
finais do século XVII e inícios do XVIII: Pontedera (botânico italiano, professor da Universidade de Pádua e director do Jardim
Botânico desta cidade), Morison (médico
e botânico inglês, professor na Universidade de Oxford), Dillen (botânico alemão,
docente em Oxford) e Lineu (célebre naturalista sueco, professor na Universidade de
Upsala). Concomitantemente, o projecto
prevê a construção de uma estufa de menor
dimensão e modesto acabamento que serviria para as “sementeiras de America e
Africa q dependem de muito calor”.
Comparativamente ao plano das estufas
que acompanharia a Relação geral do estado
da Universidade, este desenho denota
um maior desenvolvimento pois, além da
descrição das construções já mencionadas,
igualmente presentes no projecto enviado
em 1777, contempla mais três edificações:
o portal de entrada para o Jardim da parte
dos Bentos, decorado com a representação
de Hércules, famoso herói grego, e Minerva,
deusa romana da sabedoria, do qual se faria
uma cópia para o ingresso da parte dos
Carmelitas Descalços; o portal de ingresso
ao Jardim pela rua da Alegria, adornado
com uma estátua de Fortuna, deusa romana
42
Bentos side, is appropriately crowned with
statues of four botanists that were professors in European universities at the end of
the 17th and beginning of the 18th centuries: Pontedera (Italian botanist, professor
at the University of Padua and curator of
that city’s botanical garden), Morrison (English physician and botanist, and professor at
the University of Oxford), Dillen (German
botanist and lecturer at Oxford) and Linnaeus (famous Swedish naturalist, professor
at the University of Uppsala). The project
also envisaged the construction of a smaller
greenhouse with more modest finishings
that would serve as “seedbeds for plants
from America and Africa that require a lot
of heat”.
Compared to the plan of the greenhouses
that accompanied the “General Report on
the State of the University”, this one is more
developed, since, in addition to the description of the constructions already mentioned, also present in the project sent in
1777, it includes three more buildings: the
gateway into the Garden from the Bentos
College, decorated with a representation
of Hercules, the famous Greek hero, and
Minerva, the Roman goddess of knowledge, a copy of which was later made for
the entrance from the Barefoot Carmelites;
the gateway into the Garden from Alegria
Street, adorned with a statue of Fortuna,
the Roman goddess of luck, and another of
Ceres, Roman earth mother goddess; and
the ground plan and cross section of the
staircase that allowed access to the Garden
from the public footpath, and the gateway
protecting it, decorated with two sculptures, including Asklepius, the Roman god
of medicine.
A comparison of the two sketches reveals
that the undated drawing from the Botany
Department library was probably executed
before the one in the album “Sketches for
Works on the University of Coimbra” that
was sent to the queen. In fact, it could have
accompanied the first Botanical Garden
do Acaso, e outra de Ceres, deusa maternal
da Terra para os romanos; a planta e corte
da escada que permitiria o acesso ao Jardim
pelo passeio público, bem como o portal
que a resguardaria, guarnecido de duas
esculturas, entre as quais Esculápio, deus
romano da medicina.
Do confronto entre ambos os riscos podese, portanto, concluir que, embora o desenho da biblioteca do Departamento de
Botânica não patenteie uma data, ele terá
sido, com probabilidade, formulado antes
daquele que viria a integrar o álbum Riscos
das Obras da Universidade de Coimbra,
enviado à rainha. Poderia, com efeito, ter
acompanhado o primeiro projecto para o
Jardim Botânico avaliado e recusado, pela
sua sumptuosidade, em 1773 pelo marquês.
Por outro lado, o facto de tanto o plano do
Jardim como o das estufas que se acham na
dita biblioteca encontrarem um «correspondente» nos desenhos enviados em 1777
à soberana, leva-nos a considerar a hipótese de ter havido, da parte do reitor, a tentativa de retomar a configuração outrora
reprovada pelo ministro de D. José. Se assim
foi, o intuito de D. Francisco de Lemos não
vingou uma vez mais, pois nem estas estufas foram construídas, nem o Jardim obedeceu ao grandioso feitio. O remediado plano
seguido parece ter sido, afinal, o resultado
da adaptação das linhas italianas às possibilidades económicas, às sensibilidades
dos que sobre este espaço se foram debruçando, aos condicionalismos do terreno e
das ocasiões e às necessidades pedagógicas que reclamavam um ponto final a este
moroso processo construtivo.
O ano de 1779 assinala a exoneração de D.
Francisco de Lemos, o qual só voltaria ao
governo da Universidade vinte anos mais
tarde. Neste entretanto, correspondente
aos reitorados de D. José Francisco de Mendonça e D. Francisco Rafael de Castro, prosseguiram os trabalhos. Edificou-se uma
casa para as lições de botânica. Em 1790
ficou terminado o terrapleno inferior, ainda
project that had been assessed and rejected
by the Marquis for being too sumptuous.
On the other hand, the fact that the plans
of both garden and greenhouses found in
that library have a counterpart in the drawings sent in 1777 to the queen suggests that
there may have been an attempt on the part
of the rector to revive the earlier configuration rejected by the Marquis. If so, then it
was unsuccessful a second time round, for
the greenhouses remained unbuilt and the
garden did not follow the grandiose design.
The plan that was eventually adopted seems
to have been the result of an adaptation of
Italian lines to the economic possibilities,
the sensibilities of those involved, the limitations of the terrain and circumstances,
and educational needs, which demanded
an end to the longwinded process of construction.
In 1779 D. Francisco de Lemos was discharged from his position as rector, only
returning to govern the University twenty
years later. During this interval, under the
rectorates of D. José Francisco de Mendonça and D. Francisco Rafael de Castro,
the works went ahead. A house was built
for botany lessons. In 1790, the lower level,
still today known as the “central quadrangle”, was completed, as was the tank in the
middle of it and the plumbing system used
for most of the waters. In this period, the
order was also given to construct a larger
greenhouse, as the existing one “would not
satisfy the purposes for which it had been
built”12.
The plan for the greenhouses of the Botanical Garden, signed by Manuel Alves Macomboa and dated April 1791, responds to this
need. This master carpenter, who had been
called by the Marquis in 1773 to work on
the University buildings, had also since 1777
performed the role of master stonemason
and, following the death of William Elsden,
took over the function of architect in 1782.
His designs of the ground plan and elevation of the main façade of the greenhouses,
43
hoje conhecido por «quadrado central», o
tanque situado no meio deste e o encanamento de grande parte das águas. É igualmente desta época a ordem de construção
de uma estufa de maiores dimensões, visto
que a existente “não satisfazia o fim a que
era destinada”12.
O projecto para as estufas no Jardim Botânico, assinado por Manuel Alves Macomboa e datado de Abril de 1791, articula uma
resposta a esta necessidade. Chamado pelo
marquês, em 1773, para as obras da Universidade, este mestre carpinteiro acumula,
desde 1777, os serviços de mestre pedreiro
e, depois do falecimento de Guilherme
Elsden, assume, a partir de 1782, a função
de arquitecto. O desenho que faz da planta
e alçado da fachada principal das estufas,
para o qual apresenta duas propostas divergentes apenas na altura, filia-se num sóbrio
classicismo. Três vãos laterais emolduram
um arco central encimado por frontão
triangular em correspondência com a porta
de entrada, igualmente dotada de frontão
triangular, interrompido por um medalhão com “Busto [que] pode ser de Lineu =
querendo=”13.
Desconhece-se se este traçado veio a
ser executado. No entanto, a julgar pelo
Mapa do terreno que ocupa o Jardim
Botânico da Universidade de Coimbra
[6], elaborado em 1795 por Macomboa,
parece-nos que tal proposta veio a ter,
de forma parcial, seguimento. De facto, a
planta das estufas delineada no dito mapa
assemelha-se à proposta por si avançada
em 1791, indicando-se a parte já acabada
e a somente projectada. Este mapa dá-nos
ainda conta do andamento dos trabalhos,
representando já os lanços de escadas e
parapeitos do grande quadrado inferior que
haviam sido terminados em 1794. Neste ano
foram também concluídos os portões de
acesso ao quadrado central, encontrandose no do lado Este uma inscrição laudatória
a D. Maria com a data de 1791.
Em 1799 o bispo-conde D. Francisco de
44
for which he presented two proposals that
differed only as to height, are in a sober classical style. Three side bays frame a central
arch topped by a triangular pediment, leading to a doorway, also with triangular pediment, decorated with a medallion bearing a
“bust [that] could be Linnaeus”13.
We do not know if this design was ever executed. However, judging by the “Map of the
terrain occupied by the Botanical Garden
of University of Coimbra” [6] drawn in 1795
by Macomboa, it would seem that it was at
least partially followed. In fact, the outline
of the greenhouses in that map resembles
his own proposal put forward in 1791, indicating the part that was already completed
and that which was merely planned. This
groundplan also informs us of the progress
of the works and already shows the flights of
stairs and parapets of the large lower quadrangle that had been finished in 1794. In
that year, the doorways giving access to the
central quadrangle were also finished, with
an inscription in praise of D. Maria, dated
1791, on the eastern side.
In 1799, the bishop-count D. Francisco de
Lemos returned to direct the University,
remaining in the post until 1821. From the
moment he resumed functions, he committed himself to furthering the works on the
Botanical Garden, an effort which unfortunately was less fruitful than in his first
period in office, given the context, marked
by the French invasions and political convulsions on the national scale.
In 1801, he ordered the construction of the
stairs on the second level. The unsigned and
undated design in Chinese ink and watercolour on paper that is found in the General
Library of the University of Coimbra was
probably the project for the stairs linking
the second and third levels of the Garden,
drawn up at the end of the 18th century
and put into practice at the beginning of
the 19th. In fact, this plan was clearly followed since, on both the north and south
sides of the Garden, the staircases leading to
Lemos retoma a direcção da Universidade,
mantendo-se no cargo até 1821. Logo que
reassumiu funções empenhou-se em dar o
maior desenvolvimento às obras do Jardim
Botânico, esforço que, porém, não viria a ser
tão frutífero como no seu primeiro reitorado dado o contexto, marcado pelas invasões francesas e pelas convulsões políticas
nacionais, em que se desenrolou.
Em 1801 ordenou a construção das escadas do segundo plano. O desenho a tinta-da-china e aguada castanha e cinzenta
sobre papel, não datado nem assinado, que
se encontra na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, constitui, com probabilidade, o projecto, guisado no final do
século XVIII e posto em prática no começo
da centúria seguinte, para o levantamento
das escadas entre o segundo e terceiro
plano do Jardim. De facto, da sua observação resulta o reconhecimento que tal plano
veio a ter consecução, uma vez que, quer do
lado Norte, quer do lado Sul do Jardim, as
the third level follow the scheme proposed.
Moreover, of the two solutions put forward
for the endings of the walls, it is precisely
the decoration marked “not suitable” that
seems to have been used, if we look carefully at the present Garden.
In 1807, the purchase of part of the grounds
belonging to the Marian priests, negotiated 33 years before, finally went ahead. It
was also the year when Félix Avelar Brotero (who had been in charge of the scientific organization of the Garden since 1791
and was responsible for the teaching of
botany and agriculture) made his most
decisive pronouncement about the plan
to be followed in the Garden. The report
sent to the rector on 5th March 1807 is of
great importance, not only because in it
Avelar Brotero specifies the definition and
aims of this type of establishment, but also
because he indicates which parts of it were
essential and which secondary [7], accompanied by a survey of what had been com-
45
escadarias que dão acesso ao terceiro patamar obedecem ao esquema proposto. Por
outro lado, das duas soluções avançadas
para o remate dos muretes, é precisamente
o ornato indicado como aquele que “não
serve”, o que irá, segundo nos parece, ter
seguimento, tal como se conclui através de
um olhar atento sobre o Jardim actual.
Do ano de 1807, altura em que realizou
finalmente a compra da parte da cerca dos
Marianos, agendada há já 33 anos, data
o pronunciamento mais decisivo de Félix
Avelar Brotero, encarregado desde 1791
da organização científica do Jardim e da
regência da cadeira de botânica e agricultura, acerca do plano a seguir no Jardim. O
relatório enviado ao reitor, a 5 de Março de
1807, reveste-se da maior importância, quer
pelo facto de nele Avelar Brotero precisar a
definição e os objectivos deste tipo de estabelecimento, quer pela indicação das suas
partes essenciais e secundárias [7], acompanhada do levantamento do que estava feito
e do que havia de o ser. Dela se depreende,
concomitantemente, uma crítica velada às
anteriores restrições pombalinas, as quais,
embora na memória, seriam conveniente e
conscientemente esquecidas com o passar
dos anos e o avolumar de exemplos de similares jardins que outras universidades europeias vinham promovendo.
Da exposição deste naturalista, por muitos
46
pleted and what was still to do. It also offers
a veiled criticism of the previous Pombaline
restrictions, which, though still within living
memory, had been conveniently and consciously forgotten with the passage of the
years and the development of similar gardens in other European universities.
The arguments put forward by this naturalist (whom many called the “Portuguese Linnaeus”) are interesting as regards the Coimbra Garden. In relation to its essential parts,
Brotero highlighted: “ordered beds” (E),
confirming that “this is done with walls, balconies and iron gates”; “Parterre – groups
without any scientific order, contributing to
the decoration and conservation of many
species” (P), adding that this was “almost
finished on the upper level”; “hot and temperate house” (T), of which the temperate
house was ready; “Shelter” (A), “begun on
the eastern side of the temperate house;
“Site for seed beds” (S), “begun on the side of
the arches and only later planted with trees
that demand shelter”; “Avenues and copses”
(L), “1. on the land between the main street
and the wall along the public road; 2. on
the slopes of the hill next to the walls of
the Carmelite and Benedictine grounds;
3. on a portion of the terrain right next to
the northern gate entrance”; “Damp shady
place (the hill next to the grounds of the
Benedictine friars)” and finally, the “water
apelidado de “Linneo portuguez”, interessanos sobretudo sublinhar o que a respeito do
Jardim conimbricense se discriminava. Em
relação às suas partes essenciais, Brotero
destacava: “eschola methodica” (E), confirmando que “está feita com muros, varandas
e portas de ferro”; “Parterre – grupos sem
ordem scientifica, contribuindo para decoração e conservação de muitas especies”
(P), acrescentando estar “quasi estabelecido
no plano superior á eschola”; “Estufa quente
e temperada” (T), estando feita a temperada; “Abrigadouro” (A), “principiado ao
lado oriental da estufa temperada; “Logar
para sementeiras” (S), “começado do lado
dos arcos, sendo depois plantado com arvores que exigiam abrigo”; “Lamedas e bosquetes” (L), “1.º no terreno que fica entre a
rua principal e o muro ao longo da estrada
publica; 2.º nas encostas da collina contigua
aos muros das cercas dos Carmelitas e benedictinos; 3.º numa porção de terreno que
fica logo á entrada da porta septentrional”;
“Logar húmido e sombrio (a collina vizinha
á cerca dos frades bentos)” e, finalmente,
“depositos de agua”14. Quanto às partes
secundárias destacava a aula, o lugar de cultura de plantas medicinais (M), a decoração
(adequada à natureza do local e às possibilidades económicas) e as casas do professor,
do jardineiro e do guarda.
O minucioso exame que acabámos de
transcrever deixa transparecer não só o
pragmatismo do docente, mas também o
seu profundo conhecimento da realidade
do dito recinto. Contudo, os tempos que
se avizinhavam não viriam a permitir que
este relatório assumisse o carácter de programa a levar à prática. Com efeito, aproximavam-se as invasões francesas e, com
elas, todas as obras seriam interrompidas.
O último apontamento que temos do ano
de 1807, um plano do Jardim elaborado por
José do Couto [8], ficaria na gaveta e só seria
retomado após o fim da Guerra Peninsular. Entretanto, Avelar Brotero partiria para
Lisboa para aí dirigir o Jardim Botânico da
tanks”14. As regards the secondary parts, he
indicated the classroom; the place for the
cultivation of medicinal plants (M); decoration (suitable for the nature of the site and
economic possibilities) and the houses of
the professor, gardener and guard.
This careful examination reveals not only
the teacher’s pragmatism but also his profound knowledge of the site itself. However,
in the coming years, it would not be possible for this report to become a programme
to be put into practice. In fact, the French
invasions were at hand, and with them, all
building work was interrupted. The last
notes we have from the year 1807, a ground
plan of the Garden by José do Couto [8],
were shelved and would only be taken up
again at the end of the Peninsula War. In the
meantime, Avelar Brotero left for Lisbon to
run the Ajuda Botanical Gardens, retiring in
1811.
If there were any designs or plans dating
from the period of the French invasions,
they are not known. We do, however, have
the testimony of a contemporary witness
who allows us to imagine what the place
was like at that time. Laura Junot, duchess
of Abrantes and wife of the French ambassador in Portugal, declared in 1808 that “the
Botanical Garden of Coimbra was considerably better than the garden of the king
in Lisbon. Each plant had a plaque with its
classification number, like in the Paris ‘Plant
Garden’, which meant that the strange and
beautiful flora of Portugal could be properly studied”15.
While the botanical merits of the Garden
were recognised, architecturally it had still
to be completed. Work was resumed on it
from 1814 under the direction of António
José das Neves e Mello. Between 1814 and
1821, the land was levelled between the central and upper roads, and work went ahead
on the construction of the outer wall and
railings, with iron brought over from Stockholm for this purpose. In 1822, the gate on
the side of the seminary was built.
47
Ajuda, jubilando-se em 1811.
Do período das invasões francesas, se a
desenhos ou plantas não nos podemos
reportar, temos porém um testemunho
contemporâneo que nos possibilita imaginar o estado em que se encontrava este
espaço. Laura Junot, duquesa de Abrantes e
esposa do embaixador francês em Portugal,
declarava em 1808 que “el Jardín Botánico
de Coimbra era bastante superior al jardín
del rey en Lisboa. Cada planta tenía tablilla
com su nombre de clasificación, como en el
«Jardin des Plantes» de Paris, permitiendo
estudiar perfectamente la curiosa y bella
flora de Portugal”15.
Se do ponto de vista botânico se reconheciam méritos, a parte arquitectónica permanecia por apurar. A ela se dedicariam
os trabalhos, retomados a partir de 1814 e
cuja direcção se entregou a António José
das Neves e Mello. Entre 1814 e 1821 realizaram-se as terraplanagens entre a rua central e a superior e procedeu-se à construção
do muro e gradaria exterior, mandandose vir, para este efeito, ferro de Estocolmo.
Em 1822 foi construído o portão do lado do
48
José do Couto dos Santos Leal’s project for
the main gate of the Garden was approved
in 1818. This is a design in Chinese ink and
watercolour on paper [9], which is preserved in the Machado de Castro National
Museum. It presents two alternative proposals; the columns and pillars are on tall
bases and are topped by an entablature finished off with pronounced volutes, differing mostly as regards the coping. The one
on the right is completed with an allegorical
figure of Nature; the one on the left, which
was approved and executed, develops more
modestly, culminating upwards in two urns
and a pinnacle.
The project was certainly executed before
1839, the date of publication of the famous
watercolour of Saint Anne’s Fountain, lithographed by Louis Hague, which shows the
gateway already built, with only its iron gate
missing. This was placed later, since it has
the date of 1844 on its upper wing and the
name of the locksmith, Manuel Bernardes
Galinha, near the lock.
The gateway near St Sebastian’s aqueduct
was also built in the first decades of the 19th
seminário.
Data de 1818 a aprovação do projecto para
o portal principal do Jardim, da autoria de
José do Couto dos Santos Leal. Trata-se
de um desenho a tinta-da-china e aguada
sobre papel [9] que se conserva no Museu
Nacional de Machado de Castro. Apresenta
duas propostas alternativas – definidas por
um alto envasamento sobre o qual se conjugam colunas e pilastras encimadas por
um entablamento rematado por uma pronunciada voluta – que diferem sobretudo
ao nível do coroamento. A da direita é concluída por uma figura alegórica da Natureza; a da esquerda, aprovada e executada,
desenvolve-se de forma mais modesta, culminando, em ritmo ascendente, com duas
urnas e um pináculo.
O projecto foi certamente realizado ainda
antes de 1839, data da publicação da célebre água-tinta, representando a Fonte de
Sant’Ana, gravada por Louis Hague, na qual
se observa, em segundo plano, o portal já
levantado, faltando-lhe apenas a colocação da sua porta de ferro. Esta é posterior,
patenteando na bandeira a data de 1844 e
o nome do serralheiro responsável, Manuel
Bernardes Galinha, junto da fechadura.
O portal de entrada do lado do aqueduto
de S. Sebastião foi erguido também nas primeiras décadas do século XIX, pois aparece
já representado quer na água-tinta a que
já nos referimos, quer num desenho de D.
Maria José Pereira Forjaz de Sampaio, da
primeira metade do século XIX, representando a parte Norte do Jardim ainda sem as
estufas.
Em Outubro de 1854 foi aprovado o projecto geral da estufa, riscada pelo engenheiro francês Pedro José Pezerat, e um ano
depois já estavam concluídos os seus alicerces. Em Julho de 1857 celebrou-se com
o Instituto Industrial de Lisboa o contrato
para a execução da obra, tendo chegado a
Coimbra, em Outubro de 1859, a primeira
parte da estufa. Iniciados os trabalhos da
sua colocação e armação, por operários
century, since it appears both in the watercolour mentioned above and in a drawing by D. Maria José Pereira Forjaz de Sampaio from the first half of the 19th century,
showing the northern part of the Garden as
yet without the greenhouses.
In October 1854, the general plan for the
greenhouse, sketched by the French engineer Pedro José Pezerat, was approved, and
a year later, the foundations were already
laid. In July 1857, a contract was celebrated
with the Lisbon Industrial Institute for the
execution of the work, and the first part of
the greenhouse arrived in Coimbra in October of 1859. Work began on the structure,
using workers specially recruited in Lisbon
for the purpose, and in July 1860, most of
it was already in place. However, various
problems, particularly the lack of resources,
delayed the completion of the works. The
rest of the greenhouse was only ordered
two years later, from the Massarelos Foundry in Oporto, without any alterations to
the sketches and plans adopted.
In 1865, the greenhouse, consisting of three
sections with different temperatures and
conditions, was finished and the first exotic
plants started to arrive. Work then began
on two smaller greenhouses, “destined for
the propagation and culture of special specimens”16. The gardener Edmond Goëze from
Holstein, who had worked in the gardens of
Kew and Paris, was appointed to oversee
the cultures and greenhouses in 1866.
The years 1854 to 1867, under the curatorship of Henrique do Couto d’Almeida,
saw the construction of flights of stairs on
the southern side, most of the irrigation
tanks, the pilasters and railings of most of
the levels of the Garden. In 1868, the year
Antonino José Rodrigues Vidal took over
as curator, the first Index Seminum (a seed
catalogue that facilitated exchanges and
transfers with similar institutions) was
published. In this period, the grounds of
the now extinct Benedictine College were
definitively incorporated, putting an end to
49
contratados em Lisboa expressamente para
este fim, em Julho de 1860 estava já assente
grande parte. No entanto, dificuldades de
ordem diversa, sobretudo relativas a falta
de meios, atrasaram a finalização dos trabalhos. Só dois anos depois se encomendou o
resto da estufa, sem alteração dos riscos e
planos adoptados, à Fábrica de Fundição de
Massarelos no Porto.
Em 1865, a estufa, composta de três corpos
de temperatura e condições distintas, estava
concluída e começava a albergar as primeiras plantas exóticas. Procedeu-se seguidamente à construção de outras duas pequenas estufas, “destinadas á multiplicação e
a algumas culturas mais especiaes”16. Para
dirigir os trabalhos de cultura das estufas foi
contratado, em 1866, o jardineiro Edmond
Goëze, que era natural de Holstein e havia
trabalhado nos jardins de Kew e de Paris.
Entre 1854 e 1867, período que corresponde à direcção de Henrique do Couto
d’Almeida, foram construídos os lanços de
escadas do lado Sul, grande parte dos reservatórios de água para regas, as pilastras
e grades da maioria dos planos do Jardim.
Em 1868, ano em que Antonino José Rodrigues Vidal passa a chefiar os destinos do
estabelecimento, foi publicado o primeiro
Index Seminum, catálogo de sementes que
tornou possível a permuta com instituições congéneres. Nesta época procedeu-se
ainda à definitiva incorporação da cerca do
extinto Colégio dos beneditinos, pondo-se
fim a um processo que se vinha arrastando
desde 1836. A hoje denominada “mata”,
cujo acesso está vedado ao público, começou por esta altura a ser sistematicamente
plantada, sob a direcção do jardineiro
Gabriel Douverel, e a ser desbravada pela
abertura de várias ruas e atalhos delineados
por António Borges Medeiros.
Em 1873 era confiada a Júlio Augusto Henriques a direcção do Jardim Botânico de
Coimbra. Abria-se, a vários níveis, um novo
capítulo da história deste Jardim que, a
partir de então, afirmaria sem precedentes
a process that had dragged out since 1836.
The area of woodland and thicket known
today as the mata, which is not open to the
public, began to be systematically planted
at this time, under the direction of gardener
Gabriel Douverel, and was opened up with
a number of roads and paths designed by
António Borges Medeiros.
In 1873, Júlio Augusto Henriques took over
as curator of the Botanical Garden and a
new chapter opened in its history. The scientific status of the garden was now confirmed in an unprecedented way. Symbolically, the first step was to transfer the
botany lessons, till then given in the Natural History Museum, to the S. Bento building; the professor also announced his support for a teaching methodology that was
essentially practical in nature, something
he in fact fought for his whole life. With the
scanty resources available, he managed to
furnish the classroom, acquire materials to
use in his lessons and equip the botanical
laboratory that he created. He replaced academic dissertations with practical work in
microscopy, comparative morphology and
herborizations, encouraging the students to
compile little herbariums that would contribute to the Garden’s own collection.
Aware that “the effective teaching of botany
requires not only a garden where the most
important species can be studied, but also
collections of another order, amongst which
an important place is occupied by diverse
vegetal products”17, he set to work organizing the museum, using at first the examples that already existed in the Museum of
Natural History. His model was the Royal
Gardens at Kew, which he visited in 1878,
adapting it the Portuguese context and, of
course, limited resources available.
The museum, which was established in the
old Benedictine refectory, expanded, until
by the end of the century it had spilled over
into two additional rooms, a sign of the
increase in the size of the collection. The
cabinets were made of wood from differ-
51
o seu estatuto científico. Simbolicamente, o
primeiro passo dado pelo lente foi a transferência da aula de botânica, então leccionada no Museu de História Natural, para o
edifício de S. Bento, anunciando a defesa de
um ensino prático, pelo qual pugnaria toda
a sua vida. Dentro dos parcos rendimentos
de que dispunha, conseguiu mobilar a sala
de aula, adquirir material para usar nas suas
lições e para apetrechar o laboratório botânico que criou. Substituiu as dissertações
académicas por trabalhos de microscopia,
de morfologia comparada e por herborizações, incentivando os alunos a compilar
pequenos herbários que contribuíam para a
própria colecção do Jardim.
Por outro lado, ciente de que “o ensino proveitoso da botanica exige, além d’um jardim
onde se possam encontrar os elementos
fundamentaes do seu estudo, collecções
de outra ordem, entre as quaes occupa
de certo logar importante a que for constituida de diversos productos fornecidos
pelos vegetaes”17, empenhou-se em organizar o museu, aproveitando, numa primeira
fase, os exemplares existentes no Museu de
História Natural. Uma visita, em 1878, ao
acervo do Jardim Real de Kew, serviu-lhe
de modelo, o qual procurou depois adaptar à realidade portuguesa e, sobretudo, aos
escassos meios de que dispunha.
Estabelecido no antigo refeitório beneditino,
o museu expandiu-se até ao fim da centúria
por outras duas salas, sinal do aumento da
colecção que detinha. Os armários foram
feitos de madeiras provenientes de várias
colónias portuguesas, designadamente de S.
Tomé, Angola, Moçambique e Índia, constituindo “por si já parte do mesmo museu”18.
Na esteira de uma museologia hoje denominada «tradicional», pretendia-se reunir
no mesmo espaço, de acordo com o âmbito
do museu, “a maior copia de objectos”, não
obstante a preocupação em “dispor e ordenar esses objectos de modo que o todo
cause boa impressão ao visitante, porque
então o exame das partes será feito com
52
ent Portuguese colonies, such as S. Tomé,
Angola, Mozambique and India, and as such
“were themselves part of the museum”18.
Following a museological policy which today
would be called “traditional”, the aim was
to collect together in the same space “the
largest copy of objects”, despite the concern
with “organizing and ordering those objects
in such a way as to make a good impression
on the visitor, so that more attention will be
given to examining the parts”19.
In 1880, Júlio Henriques founded the Broterian Society to further the acquisition and
exchange of plants with different places
in the country, and its first bulletin was
published in 1883. The library, which was
located in the room before the herbarium, was enriched by an exchange scheme
established with numerous foreign journals and publications. The herbarium too,
laid out in the former sacristy of the College of S. Bento and co-directed by Joaquim
de Mariz, an assistant naturalist, was given
an important impulse, immediately evident
in the increase in the number of requests
from other gardens, teaching institutions
and private establishments, and in the need
expressed by the curator in 1887 to construct a gallery above the main group of cabinets in order to accommodate the growing
number of species; these had been donated,
obtained by exchange or through herborizations undertaken in Portugal and its colonies, or were purchased, as happened with
the famous herbarium collected by Heinrich Moritz Willkomm.
In the Botanical Garden itself, there were
reforms on the scientific, aesthetic and
material levels, within the constraints of
the limited budget. At a time when “scientific colonization” was widely supported,
Júlio Henriques, assisted by his head gardener, Adolfo Frederico Moller, encouraged attempts at different cultures and
sent seeds and plants (particularly cinchonas, which were considered to be “sources
of wealth” and “medically precious for many
maior interesse e attenção”19.
Em 1880, com vista à aquisição e troca de
plantas de diversos locais do país, Júlio Henriques fundou a Sociedade Broteriana, cujo
primeiro boletim foi publicado em 1883.
A permuta estabelecida com numerosas
revistas e publicações estrangeiras permitiu
enriquecer a biblioteca, situada na sala que
precedia o herbário. Este, disposto na antiga
sacristia do Colégio de S. Bento e co-dirigido
por Joaquim de Mariz, naturalista adjunto,
conheceu também um decisivo impulso,
desde logo patente no crescimento de solicitações por parte de outros jardins, instituições de ensino e particulares, bem como
na necessidade, expressa pelo director,
em 1887, de construir uma galeria sobre o
corpo principal de armários para acomodar
o número crescente de espécies oferecidas
ou obtidas quer por troca, quer através das
herborizações realizadas no país e nas colónias, quer ainda por compra, como sucedeu
com o famoso herbário coligido por Heinrich Moritz Willkomm.
No Jardim Botânico, as reformas estenderam-se, dentro de um orçamento limitado,
ao campo científico, estético e material.
Numa altura em que ecoava a defesa duma
“colonização científica”, Júlio Henriques,
auxiliado pelo jardineiro chefe, Adolfo Frederico Moller, promoveu o ensaio de várias
culturas e o envio, para a África ocidental, de sementes e plantas, sobretudo cinchonas, consideradas “fontes de riqueza” e
“medicamento precioso para muitas enfermidades”20, nomeadamente para a malária.
Crítico do seu tempo e, particularmente, do
modo como era conduzida a colonização,
não deixou de sublinhar e de fazer chegar
às instâncias superiores a crença de que
“não necessitamos (…) de grandes exércitos,
porque a nossa nacionalidade está garantida pelas condições geraes do equilibrio
europeo; mas temos necessidade de sciencia, que anime as nossas industrias, que
vivifique as nossas colónias, que nos torne
emfim respeitados.”21
infirmities”20, such as malaria) to western
Africa. Critical of his times and particularly
of the way colonization was conducted, he
made sure his superiors knew his belief that
“we don’t need (…) large armies, because
our nationality is guaranteed by the general
conditions of European equilibrium; we do,
however, need science, which animates our
industries, enlivens our colonies and ultimately wins us respect.”21
The central quadrangle, where the plants
had long been arranged in the Linnaean
order in concentric beds with the tank,
was reconfigured to create a “geographical garden”, where the species were placed
in such a way as to represent the different
botanical regions of the earth. Thus, in 1891,
the species that had occupied this space
were replanted in other parts of the Garden,
in accordance with the curator’s guidelines.
The trays immediately above this level were
also modified, receiving ornamental plants
that would therefore frame the roads and
avenues. On the remaining terraces and on
the terrain near the “Avenue of Lindens”,
they were distributed according to natural
families.
As well as sporadic improvements to the
plumbing and greenhouse heating system,
and the repainting of the railings and large
greenhouse, there were also some more
significant changes. Two new greenhouses
were built: one of them, whose iron roof
was finished in 1887, replaced the two older
ones used for orchids and reproduction;
the other, raised in the area of the College
grounds, was destined for the cultivation of
ferns and other plants that required a damp
environment. The enclosure of the inner
zones (such as in the area near the small
greenhouse and on the "Avenue of Lindens")
with stone pillars and iron railings was also
completed, in 1888 and 1891 respectively.
One of the most visible legacies of Júlio
Henriques’ curatorship is the statue of
Félix Avelar Brotero in front of the main
gate to the Garden. This homage had first
53
O quadrado central, onde as plantas haviam
permanecido muito tempo dispostas pela
ordem linneana em canteiros concêntricos
com o tanque, foi reconfigurado, com vista
a constituir um “jardim geográfico”, onde
as espécies fossem colocadas de forma a
representar as diversas regiões botânicas
da Terra. Nesse sentido, em 1891, replantaram-se em outras partes do Jardim as
que ocupavam este espaço, dando início à
concretização das orientações do director.
Os tabuleiros imediatamente superiores a
este patamar foram também modificados,
recebendo plantas ornamentais que, assim,
enquadravam as ruas e alamedas. Nos restantes terraços e no terreno contíguo à
«avenida das Tílias», imperava a sua distribuição por famílias naturais.
A par de melhoramentos pontuais ao nível
da canalização das águas, do aquecimento
das estufas, da repintura da gradaria do
Jardim e da estufa grande, destacam-se
algumas obras significativas. Construíramse duas estufas: uma, concluída em 1887
com a colocação da sua cobertura em ferro,
veio substituir as duas antigas de orquídeas
e de reprodução; outra, erguida na zona
da cerca, foi destinada à cultura de fetos e
outras plantas que exigissem humidade.
Além disso, completou-se a cercadura,
formada pelo gradeamento de ferro e por
pilares de pedra, nas zonas interiores em
falta, nomeadamente na área junto da
estufa pequena, em 1888, e na «avenida das
Tílias», finalizada em 1891.
Uma das heranças mais visíveis da direcção
de Júlio Henriques é a estátua de Félix Avelar
Brotero, erguida em frente do portão principal do Jardim. A proposta desta homenagem remontava a 1876; porém, só a partir
de 1880 se iniciaram as diligências, nomeando-se uma comissão e abrindo-se uma
subscrição com vista a angariar fundos para
a sua efectivação. Definido o material (mármore) e assente que o distinto professor
deveria ser representado com os hábitos
académicos, encarregou-se o escultor Antó-
54
been proposed in 1876; however, nothing was done about it until 1880, when a
committee was appointed and a fund set
up to attract donations. Once it had been
decided that the material would be marble
and that the distinguished professor would
be represented in his academic gown, the
sculptor António Soares dos Reis was commissioned to execute the statue and the
architect Tomás Augusto Soller the pedestal. The whole thing was placed in position
and inaugurated on 1st April 1887.
In 1918, Júlio Henriques retired. He had
made a profound mark on the Garden
during his four decades as curator, and this
was acknowledged. The avenue running
parallel to the main entrance of the Garden
was named after him in that same year,
and in April 1925, following a proposal presented to the Government by the Faculty of
Sciences, a decree was issued determining
that the Coimbra Botanical Garden and its
annexes (herbariums, museum, library and
laboratories) would thereafter be named
the Dr. Júlio Henriques Botanical Institute.
In 1918, the management of the Garden
passed into the hands of Luiz Wittnich Carrisso, who undertook the complex task of
renovation. He regenerated the teaching
staff, the Broterian Society, the library, herbarium and garden, and was also concerned
with the premises of the former Benedictine building, part of which had been given
over to the José Falcão High School, obliging some of the annexes to be relocated and
the limited space to be managed imaginatively.
As regards the garden, Luiz Carrisso was
adept at reconciling the demands of science with landscaping precepts. With the
new curator, more attention was now given
to the visitor, a sign that the space was no
longer conceived as a place for “boys’ study”,
but for the education and enjoyment of
an increasingly broader public. As well as
extending the area that was open to visitors, this period also saw the cultivation of
nio Soares dos Reis de executar a estátua e
o arquitecto Tomás Augusto Soller de delinear o pedestal. O conjunto foi colocado no
devido lugar e inaugurado no dia 1 de Abril
de 1887.
Em 1918, Júlio Henriques jubila-se. A profunda marca deixada no estabelecimento
que dirigiu durante mais de quatro décadas
ser-lhe-ia reconhecida. A alameda paralela
à entrada principal do Jardim receberia o
seu nome nesse mesmo ano e, em Abril de
1925, por proposta apresentada pela Faculdade de Ciências ao Governo, é publicado
um decreto determinando que o Jardim
Botânico de Coimbra e seus anexos – herbários, museu, biblioteca e laboratórios –
passassem a denominar-se Instituto Botânico Dr. Júlio Henriques.
A gerência do Jardim passaria, em 1918, para
as mãos de Luiz Wittnich Carrisso. Cabia-lhe
uma profunda tarefa de renovação. Impunha-se a regeneração do corpo docente, da
Sociedade Broteriana, da biblioteca, do herbário e do Jardim. A estas somava-se a preocupação com as instalações no antigo edifício beneditino, dado que parte deste fora
entregue ao Liceu José Falcão, forçando a
reinstalação de dependências e a gestão da
falta de espaço com imaginação.
No que concerne ao Jardim, Luiz Carrisso
soube conciliar a exigência científica com os
preceitos paisagísticos. A atenção concedida
ao visitante, em progressão ao longo da
história do horto botânico, deu com o novo
director mais um passo, sinal da própria
evolução da concepção deste espaço,
agora não apenas pensado para «estudo de
rapazes», mas também para a educação e
a usufruição de um público cada vez mais
vasto. Além de se aumentar a área visitável,
procedeu-se, nesta altura, ao cultivo de
numerosas plantas ornamentais; criaram-se
viveiros; procurou-se que as várias Escolas
estivessem completas e devidamente
classificadas; ajardinou-se parte da mata
e numa das suas encostas estabeleceuse, em novos moldes, a Escola das
numerous ornamental plants; the creation
of nurseries; the completion and proper
classification of the various sections; and
the landscaping of part of the mata, with
the establishment of a new-format monocotyledon bed on one of its slopes. The
greenhouses were also radically improved
[10], particularly as regards structure, heating and flora cultivated, and the famous
Victoria amazonica was introduced into
the small greenhouse.
However, it was in the area of “scientific colonization” that Luiz Carrisso made the biggest mark, continuing and extending the
work begun by his master. Under his guidance, the Institute’s activities were largely
oriented towards the botanical exploitation
of the colonies, justified as a tool of socioeconomic progress and political legitimation,
but in practice exceeding all these purposes.
In fact, the three expeditions to Angola (the
botanical mission of 1927, the academic
mission of 1929 and the botanical mission
of 1937) resulted not only in the collection
of species that can still be seen today in the
museum, herbarium and garden, and in the
study and divulgation of Angolan plant life,
but also in the production of audiovisual,
written and photographic documents that
are invaluable not only to botany, but also
to anthropology, history and sociology.
Luiz Carrisso lost his life in the Mocamedes
desert on 14th June 1937. His premature
death left a vacuum in the running of the
Botanical Garden, for the Faculty of Science
regulations stipulated that the post had
to be filled by a full professor. Abílio Fernandes, a discipline of Carrisso and at that
time assistant lecturer, performed the functions indirectly, while management was formally attributed to Rui Couceiro da Costa
(chemistry) and José Custódio Morais (mineralogy and geology). Abílio Fernandes only
took over as curator of the Garden in 1942,
after being appointed to the chair of botany;
he occupied the post until 1974.
Thus we move into what has been really the
55
Monocotiledóneas. As estufas receberam
também profundos melhoramentos [10],
nomeadamente ao nível da estrutura, do
aquecimento e da flora cultivada, tendose introduzido na estufa pequena a famosa
Victoria amazonica.
Contudo, foi no âmbito da «colonização
científica» que Luiz Carrisso deixou o cunho
mais forte da sua acção e personalidade,
prolongando e ampliando o testemunho
do seu mestre. Grande parte da actividade
do Instituto foi, sob a sua orientação,
direccionada para a exploração botânica das
colónias, justificada como instrumento de
progresso socio-económico e legitimação
política, e posta em prática extravasando
todos estes os propósitos. Com efeito, as três
expedições organizadas rumo a Angola –
missão botânica de 1927, missão académica
de 1929 e missão botânica de 1937 – não se
saldaram apenas pela recolha de espécies
56
last phase of the construction of the Garden
that we know today. This was a period of
great change as regards town planning
and architecture under the Estado Novo.
From the beginning of the 1940s, plans
were drawn up for the high part of Coimbra, involving the transformation of existing spaces and construction of new buildings from scratch; no mention was made of
the Botanical Garden in the general plan for
the university campus, and despite the fact
that it formally exceeded the remit of the
Administrative Committee for the Works
Planning of Coimbra University Campus
(CAPOCUC), the possibility of improving it
was broached early on.
The first studies in this regard were undertaken in the academic year of 1943-44 and
quickly won the support of the Botanical Institute, which invested in CAPOCUC
its hopes of finally obtaining the financial
hoje passíveis de serem observadas no
museu, herbário e Jardim, ou pelo estudo
e divulgação da fitodiversidade angolana.
Delas resultaram, também, documentos
audiovisuais, escritos e fotográficos de
enorme valor, não apenas ao nível da
botânica, mas também da antropologia, da
história e da sociologia.
Em pleno deserto de Moçâmedes, Luiz Carrisso perde a vida a 14 de Junho de 1937. A
sua morte prematura deixava um vazio na
direcção do Jardim Botânico. Este cargo, de
acordo com o regulamento da Faculdade de
Ciências, tinha de ser desempenhado por
um professor catedrático. Abílio Fernandes, discípulo de Carrisso e então docente
auxiliar, desempenharia tal função indirectamente, sendo formalmente a gerência atribuída a Rui Couceiro da Costa (química) e José Custódio Morais (mineralogia
e geologia). Seria apenas em 1942 que, realizadas as provas e nomeado catedrático do
grupo de botânica, Abílio Fernandes encabeçaria a direcção do Jardim, a qual ocuparia até 1974.
Entramos, assim, naquele que foi, verdadeiramente, o último período construtivo do
Jardim que hoje conhecemos. Esta etapa
inscreve-se na profunda intervenção urbanística e arquitectónica levada a cabo pelo
Estado Novo a partir do início da década de
quarenta na Alta de Coimbra, a qual contemplou, a par de edificações de raiz, transformações nos espaços existentes. Embora
não constando do plano geral da cidade
universitária e formalmente ultrapassar as
atribuições da Comissão Administrativa do
Plano de Obras da Cidade Universitária de
Coimbra (CAPOCUC), a possibilidade de
efectuar melhoramentos no Jardim Botânico irrompeu desde cedo.
Os primeiros estudos arrancaram no ano
lectivo de 1943-44 e depressa granjearam
o apoio do Instituto Botânico que depositou na CAPOCUC as esperanças de vir a
obter, finalmente, os meios financeiros para
empreender as reformas de que o Jardim e
means to implement the reforms that were
so needed in the garden and facilities of the
former St Bento College. Abílio Fernandes’
negotiating skills and above all, the relationship of trust which he seemed to have
established with the director-delegate of
the Committee, the engineer Manuel de Sá
e Mello, smoothed the way for his requests
and suggestions.
The “works of refurbishment and embellishment”, as they were defined by the CAPOCUC, were carried out mostly between
1944 and 195022. They began with the
installation of central heating in the tropical
plant greenhouses, the arborization of the
mata and the opening up of roadways. Also
in 1944, Cottinelli Telmo, head architect of
the Committee between 1941 and 1948,
designed stone benches for the Garden and
planned how they would be positioned.
Six backless double benches were arranged
around the statue of Brotero and twenty
eight simple ones were distributed around
the rest of the garden. An order was also
made for fifty wooden benches and, in
1951, a further twelve stone ones, identical
to those already in existence, were ordered.
The year 1945 was dominated by the launch
of two important projects: the remodelling
of the central quadrangle and the construction of the cold greenhouse. The former,
designed by Cottinelli Telmo and Armand
Van Bellinghen, gardener of the Lisbon
City Council hired in 1944, was justified by
the fact that, according to the authors, the
garden “has a beautiful geometric shape,
but it is flat, without relief (…) and being
largely decorated with seasonal flowers,
cannot permanently retain a desirable decorative appearance, which also brings problems and costs for conservation”.
The solution proposed [11] consisted
firstly in “surrounding all beds with boxwood hedges, descending in height from
the centre”; these, being easy to look after,
would give “the garden a dignity appropriate to its grandeur and broad vistas”. With
57
as instalações no antigo Colégio de S. Bento
careciam. A capacidade de negociação de
Abílio Fernandes com os técnicos responsáveis e, sobretudo, a confiança que parece
ter estabelecido com Manuel de Sá e Mello,
engenheiro director-delegado da Comissão,
facilitaram o acolhimento dos seus pedidos
e sugestões.
“Obras de arranjo e aformoseamento”,
como as definiu a CAPOCUC, centraramse, essencialmente, no que diz respeito ao
Jardim, entre 1944 e 195022. Principiaram
com a instalação de aquecimento central
nas estufas de plantas tropicais, a arborização da mata e a abertura de arruamentos. Ainda no ano de 1944, Cottinelli Telmo,
arquitecto-chefe da Comissão entre 1941 e
1948, se deteve a desenhar bancos de pedra
para o Jardim e a planear o seu posicionamento. Foram dispostos seis duplos sem
costas ao redor da estátua de Brotero e
vinte e oito simples pelo restante Jardim. A
este número se juntou uma encomenda de
cinquenta bancos com réguas de madeira
e, em 1951, o fornecimento de mais doze
bancos de pedra iguais aos existentes.
O ano de 1945 surge dominado pelo arranque de duas obras fundamentais: a remodelação do quadrado central e a construção da estufa fria. A primeira, idealizada por
Cottinelli Telmo e por Armand Van Bellinghen, jardineiro da Câmara Municipal de
Lisboa contratado em 1944, justificavase, no entender dos autores, “porque é um
jardim com um belo traçado geométrico,
sim, mas que se apresenta chato, sem relevo
(…) e porque sendo na sua maior parte
guarnecido por flores de estação não pode
manter permanentemente aquele aspecto
decorativo que seria desejar, acarretando a
sua conservação, ao mesmo tempo, dificuldades e despesas”.
A solução proposta [11] consistia em, primeiramente, “rodear todos os canteiros
com sebes de buxo, de altura decrescente
a partir do centro”, que, sendo de fácil conservação, dariam “ao jardim uma dignidade
58
this layout, “an observer standing near the
lake would, without losing his overview of
the whole, find himself in a more intimate
first zone, limited by higher hedges and
boxwood pyramids instead of a flat open
space, decorated with flowering shrubs and
bushes in accordance with the flavour of
the occasion and fantasy of gardeners – and
when standing at the edge, he would have
a view of the amphitheatre of hedges that
would soften the negative effects of the
digging undertaken to replace the species”.
Secondly, they would create “large areas of
lawn and bright flowers”. Thirdly, they would
place “a statue, with its respective pedestal,
in the lake in the centre”. Finally, they would
lower the height of the border around the
beds and create “a curtain of climbing roses”
to “give interest to the periphery”23.
The project, which was approved by the
director of the Botanical Institute in the
same year, was only completely implemented in April 1949 with the construction
of the monumental fountain, in Outil stone,
on the existing tank. The fountain [12] was,
we believe, designed by the architect Álvaro
da Fonseca, since he had been commissioned for the task and the sketch seems to
show his monogram (the letters A, V and F
entwined) in the bottom right hand corner.
The cold greenhouse was planned by Cottinelli Telmo in the shape of a trapezium,
with a series of pillars and beams in reinforced concrete forming “the skeleton of
a box, with the walls and roof covered in
wooden latticework through which the air
could circulate and the sunlight filter in”. To
implement it “in accordance with the Curator’s wishes”, they chose “an almost treeless area of thicket near the support wall
of the Botanical Garden opposite the main
entrance, in the wall that serves the back of
the Greenhouse”. As regards the aesthetic
appearance of the exterior, the architect
favoured a “picturesque” approach in tune
with the place, reflected particularly in the
materials used. As well as the wood that
em relação com a sua grandeza e com o seu
rasgado traçado”. Com esta disposição, “o
observador colocado junto do lago encontrar-se-ia, sem perder o abrangimento visual
do conjunto, numa primeira zona mais
íntima, limitada pelas sebes mais altas e respectivas pirâmides talhadas no buxo, em
vez de ter diante de si um campo raso, guarnecido de maciços de flores e arbustos ao
sabor da ocasião e da fantasia dos jardineiros – e, quando colocado na periferia – teria
a visão do anfiteatro de sebes que atenuaria o mau efeito das cavas para substituição
de espécies”. Em segundo lugar, criar-se-iam
“grandes zonas de relva e flores vivazes”. Em
terceiro lugar, colocar-se-ia “uma estátua –
lined the “box”, they also added “irregular
slabs of stone, with roughly hewn surfaces”
used for the sills, steps and walls24.
The contracts were awarded in 1945 and
must have been near conclusion by the end
of the following year since, in June 1946, an
invitation to tender was issued for a complementary construction, namely the bridge
connecting the garden with the mata. The
project, which was also signed by Cottinelli,
involved rebuilding in a new style the old
bridge that connected the western side of
the central quadrangle to the arboretum,
while also improving the spot by “‘disciplining’ what is presently no more than a plot of
land with haphazard relief and a few foot-
e respectivo pedestal – no lago do centro”.
Finalmente, reduzir-se-ia a altura excessiva
do lancil que contorna os canteiros e “uma
cortina de roseiras trepadeiras contribuiria
para dar interesse à parte periférica”23.
Aprovado no mesmo ano pelo director do
Instituto Botânico, o projecto só seria totalmente concretizado em Abril de 1949, com
a colocação da fonte monumental, em
pedra de Outil, sobre o tanque já existente.
O desenho da fonte [12] foi, julgamos, elaborado por Álvaro da Fonseca, pois sabe-se
que este arquitecto fora encarregado de a
riscar e o próprio debuxo parece apresentar o seu monograma (entrelaçamento das
letras A, V e F) no canto inferior direito.
A estufa fria foi projectada por Cottinelli
Telmo como um trapézio composto por
uma série de pilares e vigas de betão armado
que constituíam “o esqueleto de uma caixa
cujas paredes e cobertura são fechados por
ripado de madeira por onde circula o ar e a
luz do sol entra coada pelos intervalos entre
as ripas”. Para a sua implantação, escolheuse, “de acordo com o Exmo. Director”, “uma
zona de terreno da mata, quase sem árvores,
junto do muro de suporte do Jardim Botâ-
60
paths”.
“So that the work planned is not simply
utilitarian but also takes account of aesthetics, without losing sight of the economic aspect”, the architect decided to
embellish the reinforced concrete structure with ashlar masonry, trying to make
the new construction tone in with the gateway into the Garden. He also used rough
coursed masonry in the coping of the walls
and balustrades of the staircase and steps.
The whole thing was finished in September
1948 with the fitting of the bridge railings25.
In 1949, the finishing touches were put on
six brick turrets with reinforced concrete
roofs and wooden doors designed for provide shelter for the guards of the mata, and
also on the head gardener’s house, which
had been altered to reflect the model of
the “Portuguese house” using a collage of
formal and decorative elements characteristic of traditionalist eclecticism. In addition, other smaller buildings were scattered
around the garden and wood: public toilets,
staff outhouses, tanks for fertilizer, toolhouses, greenhouses and cold frames.
As regards decoration, CAPOCUC applied
the same policy here as in the much larger
buildings constructed on the University
hill. Sculpture was used to dignify the space
and indoctrinate visitors, both as a tribute
to notable figures and as allegory of knowledge. The first statue to be planned for the
garden was of Júlio Henriques. The contract
for its execution was celebrated in August
1944 with Salvador Barata Feyo, although
it was only actually installed in 1950, opposite the eastern façade of the old Benedictine college.
In July 1946, the sculptor Joaquim Martins Correia was contracted to make an
allegorical statue to botany in plaster. This
was finished in 1948 but was only transferred into stone in 1949, the year when
discussions were held as to where to put it,
eventually opting for the cold greenhouse.
Finally, between April and September 1948,
nico que se opõe à entrada principal deste,
muro que serve de fundo à Estufa”. Relativamente à linguagem estética do exterior,
o arquitecto procurou favorecer, em consonância com o local, “o aspecto pitoresco”,
traduzindo-o sobretudo ao nível dos materiais. À madeira que forrava a “caixa”, acresciam as “lajes irregulares, de superfícies desbastadas grosseiramente” empregues nas
soleiras, degraus, muretes e muros24.
Adjudicados os trabalhos em 1945, deveriam estar perto da conclusão no fim do
ano seguinte pois, em Junho de 1946, era
aberto o concurso para uma construção
complementar a esta: a ponte de ligação
do Jardim com a mata. O projecto, assinado
igualmente por Cottinelli, visava reconstituir, em novos moldes, a antiga ponte que
ligava o lado oeste do quadrado central
ao arboreto, melhorando-se, simultaneamente, este local, “«disciplinando» aquilo
que actualmente não é senão um terreno
com uma orografia de acaso e com caminhos de pé posto”.
“Para que a obra projectada se não resumisse à sua função utilitária mas «juntasse»
a utilidade à estética, sem perder de vista
o aspecto económico”, o autor optou por
enobrecer a estrutura de betão armado com
a utilização de cantaria aparelhada, procurando assim que a nova construção não
destoasse da própria moldura do portal do
Jardim, e com o emprego de pedra de aparelho grosseiro no capeamento dos muretes,
guardas de escada e degraus. O conjunto foi
terminado em Setembro de 1948 com a instalação do gradeamento da ponte25.
Em 1949 foram finalizadas a edificação
de seis guaritas em tijolo com cobertura
de betão armado e porta de madeira para
abrigo dos guardas da mata, bem como a
reforma da casa do chefe dos jardineiros,
onde se afirmou o modelo da «casa portuguesa» através de uma «colagem» de elementos formais e decorativos característicos do eclectismo tradicionalista. Além
destas, outras construções de menor enver-
the sculptor José Pereira dos Santos made
a bronze medallion with a portrait of Luiz
Carrisso to crown the corner opposite the
D. Maria gateway, which had a small tank
where we can still see today a number of
designed pieces, though unsigned and
undated.
Other miscellaneous improvements completed the general effect that was desired
for the Botanical Garden and got rid of the
blemishes left by time “so that the whole
thing would be more harmonious”26. The
stone steps of the main staircase of the
garden were replaced, and the railings,
gates and masonry of the steps of the central quadrangle were restored; a wall was
built alongside the Arch of Betrayal; name
plates were attributed to plants in the different areas, and consideration was given to
the suggestion of installing grandiose lighting in the mata.
As regards the flora, as well as replacing and
fertilizing the earth in the flowerbeds, new
species were introduced which till then had
not existed in the collections. While it is not
surprising that examples should have come
from the colonies and Brazil, it is interesting
to note the naturalness with which CAPOCUC also managed to establish contacts
with horticulturalists and botanical gardens
throughout Europe, with a view to acquiring plants for Coimbra, at a time when the
old continent was embroiled in the Second
World War.
The irrigation system in the Botanical
Garden was one of the aspects that most
motivated Abílio Fernandes to continue
his appeal for state support. By 1944, it had
been generally acknowledged that the existing plumbing was inadequate and in a poor
state of repair, and some improvements
were made to the water system. However,
the situation continued to worsen, as the
curator of the Garden informed the president of CAPOCUC on 20th June 1945,
owing to the expansion of the planted
area, frequent drought and, particularly,
61
gadura pontuaram o Jardim e a mata: instalações sanitárias, dependências para o pessoal, depósitos para adubos e arrecadação
de ferramentas, estufas e estufins.
Ao nível do programa decorativo, a CAPOCUC não deixou de aplicar aqui a mesma
política que seguira nos grandes volumes
erguidos na Alta universitária. À escultura reservou-se o papel de enobrecer o
espaço e «doutrinar» os seus utilizadores,
ora enquanto tributo a «figuras notáveis»,
ora enquanto alegoria do saber. A primeira
estátua pensada para o Jardim foi a de Júlio
Henriques. O contrato para a sua execução
foi celebrado em Agosto de 1944 com Salvador Barata Feyo; porém, só em 1950 seria
assente em frente à fachada Este do antigo
Colégio beneditino.
Em Julho de 1946, ajustou-se, com o escultor Joaquim Martins Correia, a execução em
gesso de uma estátua alegórica à botânica
que, concluída em 1948, só seria passada à
pedra em 1949, altura em que se procedeu
enfim ao estudo do sítio da sua colocação,
optando-se por remetê-la para a estufa fria.
Por último, entre Abril e Setembro de 1948,
o escultor José Pereira dos Santos executou
um medalhão em bronze com o retrato de
Luiz Carrisso, destinado a coroar o recanto
em frente do portal de D. Maria, dotado
de um pequeno tanque, de que subsistem
peças desenhadas, embora não assinadas
nem datadas.
Outros melhoramentos pontuais completaram o efeito geral que se pretendida conferir ao Jardim Botânico, apagando as «mazelas» que o tempo lhe havia impresso “para
o conjunto ficar mais harmonioso”26. Substituíram-se os degraus em pedra da escadaria principal do Jardim, restaurou-se a gradaria, os portões e as cantarias das escadas
do quadrado central, edificou-se o muro
do lado do Arco da Traição, distribuíram-se
placas identificativas de plantas por diversas zonas e chegou ainda a ponderar-se uma
iluminação grandiosa da mata.
No que diz respeito à flora, para além da
62
the obstruction of the underground water
channels, which reduced the Garden’s water
resources to the increasingly restricted
Municipal supply.
Despite odd improvements, in 1949 the situation became unsustainable as a result of
the threat to cut off the water supply by the
municipal services. Abílio Fernandes managed to resist a definitive cut, but the continuation of the drought in 1950 ultimately
led him to make a new appeal to the president of CAPOCUC, urging the construction of a tank near the statue of Avelar
Brotero, under the avenue running parallel to Avenue Júlio Henriques. The site was
considered the most suitable for four reasons: it was the entry point for the waters
from the underground springs; its relative
height meant that it could supply most of
the Garden; it would be simple to connect
the tank to the pipes, and it could be supplied by autotanks, if there were a shortage
of water from the springs.
In February of the same year, the project
was approved. However, the invitation to
tender was only issued in September 1960.
The tank was to be buried, as planned,
between the statue of the former scholar
and the main gate. This “concealment”, justified for “technical reasons”, also overcame
“an architectural problem that was difficult to solve”, as described in the specifications27.
The part of the former College of St Bento
that housed the Botanical Institute also
received attention from CAPOCUC. After
considering various possibilities, it was
decided to reserve it for the Institutes
of Botany and Anthropology. The work
needed to adapt the space and divide it
between the two institutions progressed
slowly with frequent interruptions, and was
only properly finished in the 1970s.
As regards the Botanical Institute, there was
an exchange of correspondence in 1944 and
1945 between Manuel de Sá e Mello and the
Consul of Great Britain in order to obtain
substituição e respectiva adubação da terra
dos canteiros, introduziram-se novas espécies até aí inexistentes nas colecções. Se o
plantio de exemplares das várias colónias ou
do Brasil não nos causa surpresa, é, porém,
interessante constatar a naturalidade com
que a CAPOCUC estabeleceu contactos
com horticultores e vários jardins botânicos
europeus com vista à aquisição de plantas
para Coimbra, numa altura em que o velho
continente se encontrava a braços com a
Segunda Guerra Mundial.
O sistema de rega do Jardim Botânico constituiu um dos aspectos que mais motivou
Abílio Fernandes a continuamente apelar
à intervenção estatal. Já em 1944, o reconhecimento da insuficiência e deterioração
da canalização existente incentivara alguns
progressos na rede de distribuição de água.
Contudo, como relatava o director do
Jardim ao presidente da CAPOCUC em 20
de Junho de 1945, a situação não deixou de
se agravar, em consequência do aumento da
área plantada, da ocorrência de frequentes
períodos de seca e, sobretudo, da obstrução
das minas de água em vários pontos, o que
reduzia os recursos hídricos do Jardim ao
abastecimento facultado, cada vez de forma
mais restrita, pela Câmara Municipal.
Apesar das melhorias pontuais, em 1949 a
situação tornou-se insustentável em virtude da ameaça de suspensão da rega por
parte dos Serviços Municipalizados. Abílio
Fernandes conseguiu suster o corte definitivo, mas a prevalência da estiagem no
ano de 1950 acabaria por conduzir o director a fazer uma nova exposição ao presidente da CAPOCUC, sugerindo a construção urgente de um depósito junto à estátua
de Avelar Brotero, debaixo da alameda que
corre paralela à Avenida Júlio Henriques. O
local era apontado como o mais indicado
por quatro motivos: era o ponto de entrada
das águas das minas; poderia, pela sua elevação, abastecer a maior parte do Jardim; a
ligação do depósito à canalização seria simples e aquele poderia ser abastecido por
information about the facilities and organization of the Kew Botanical Institute “to
be taken into consideration at the Coimbra
Botanical Institute”. Communication problems resulting from the war that was still
in progress meant that contacts between
CAPOCUC and London had to be made via
the Portuguese consul in London. Through
this intermediary, the curator of the Royal
Botanic Gardens at Kew responded to
Abílio Fernandes’ questions and requests
about the facilities in the Garden, its greenhouses, and the structure and disinfecting
of its herbariums28. It is not unreasonable
to suppose, then, that the refurbishment
of the Coimbra Botanical garden was once
again subject to English influence, on the
scientific level.
As well as a large lecture hall and offices for
lecturers and researchers, two big laboratories were created for the general courses and
two smaller ones for the special courses. The
library, museum and herbariums were given
better premises. Inside the building, CAPOCUC tried to recreate an old atmosphere,
ordering for the purpose some reproductions of 17th century tiles showing flowers
and birds, similar to those in the Machado
de Castro National Museum, which were
used to line the corridors, lobbies, hall and
stairs of the Institute.
However, it was in the area adjacent to the
Benedictine complex and the St Sebastian aqueduct that the monumentalism of
the Estado Novo was most felt. Although
inside the Botanical Gardens the neoclassical gigantism of the new buildings was
restrained, using instead of the traditionalist Portuguese suave (“smooth Portuguese”)
style, the exterior clearly reveals the taste
for grandeur, with the glorification of the
monument’s individuality and the “purging” of all animate or inanimate “excrescences” that could reduce it.
In September 1958, the minister for Public
Works, Eduardo de Arantes e Oliveira,
declared the urgent need to expropriate
63
auto-tanques, no caso de a água das minas
se tornar insuficiente.
Em Fevereiro desse mesmo ano era aprovada a organização do respectivo projecto
para ser cumprido. Todavia, só em Setembro de 1960 se abriu o concurso para a sua
arrematação. Ficaria enterrado, como previsto, entre a estátua do antigo lente e o
portal principal. Esta “ocultação”, justificada por “razões técnicas”, deixou também,
como se lê na memória descritiva, “de criar
um problema de ordem arquitectónica de
ingrata solução”27.
O antigo Colégio de S. Bento, em parte do
qual se encontrava já o Instituto Botânico,
recebeu igualmente a atenção da CAPOCUC que, depois da ponderação de várias
hipóteses, acabou por o reservar para os Institutos de Botânica e Antropologia. As obras
de adaptação e de repartição do espaço por
ambos os estabelecimentos foram lentas
e por inúmeras vezes interrompidas, atingindo o seu termo já na década de sessenta.
No que concerne ao Instituto de Botânica, a
documentação consultada revela a troca de
correspondência, nos anos de 1944 e 1945,
entre Manuel de Sá e Mello e o Cônsul da
Grã-Bretanha, com vista a obter referências
acerca das instalações e organização do Instituto Botânico de Kew “para serem tomadas em consideração no Instituto Botânico
de Coimbra”. As dificuldades de comunicação, oriundas do confronto bélico em
decurso, acabaram por determinar que os
contactos entre a CAPOCUC e Londres
se fizessem através do Cônsul de Portugal
nessa cidade. Por intermédio deste, o director do Royal Botanic Gardens de Kew atendeu às solicitações de Abílio Fernandes,
interessado em receber informações sobre
as instalações daquele Jardim, das suas estufas e da estruturação dos seus herbários e
respectiva desinfecção28. Consequentemente, torna-se plausível pressupor a influência inglesa, ao nível científico, na remodelação do Instituto Botânico de Coimbra.
Além de um anfiteatro e de gabinetes para
64
a series of buildings backing onto the St
Sebastian aqueduct as part of the project
to provide access areas to the University
campus, approved in August of that year.
The demolition of the houses built into the
arches began at the end of 1959. The desire
to clear away the space in front of the College and aqueduct to isolate them and display them in all their “purity” also led to the
felling of the trees that obstructed their
view. Ironically, this also coincided with the
demolition in 1959 of the last arch of the
aqueduct, which had for decades been considered a national monument, in order to
link Martim de Freitas Street with the road
that went around the Faculty of Science
buildings.
After the completion of the improvements
to the Botanical Institute and the extinction
of CAPOCUC in 1969, the Garden did not
undergo any further serous intervention
until the end of Abílio Fernandes’ period
as curator, in 1974, the year of the “carnation revolution”. The democratization of
Portuguese society and of the University as
an institution will also have had an impact
upon the strategies and objectives of the
establishment. Today, as always, the conservation and rehabilitation of the cultural and
natural heritage depend upon political and
ideological decisions, the financial resources
available and social pressures. Coimbra’s
Botanical Garden has not escaped this web
of influences, nor will it in future; thus it
constitutes a space par excellence for the
confrontation and conciliation of the various synergies that affect our heritage.
This survey of the Garden’s evolution reveals
that it has developed out of a counterpoint
between Art and Science and represents a
compromise between what was dreamt and
what was achievable, what was desired and
what was possible. It bears traces of the Italian and English influences that characterized Portugal in the Pombaline era, the economic and political vicissitudes of the 19th
century, and the various nationalisms that
professores e investigadores, criaram-se
dois grandes laboratórios para os cursos
gerais e dois mais pequenos para os cursos
especiais. Instalaram-se, por seu turno, condignamente, a biblioteca, o museu e os herbários. No interior do edifício, a CAPOCUC
procurou recriar uma ambiência antiga,
encomendando, nesse sentido, a reprodução de azulejos seiscentistas com flores e
pássaros, semelhantes aos existentes no
Museu Nacional de Machado de Castro,
que passaram a cobrir os corredores, vestíbulos, átrios e escadas do Instituto.
Contudo, foi na zona adjacente ao complexo beneditino e ao aqueduto de S. Sebastião que a acção monumentalizadora do
Estado Novo mais se fez sentir. Se no interior do Jardim Botânico se refreou o gigantismo neoclássico patente nas novos imóveis erguidos, optando-se antes por um
«português suave» de cunho tradicionalista; no exterior, afirmou-se, claramente, a
busca de uma perspectiva grandiosa, exaltadora da individualidade do monumento
e, por conseguinte, «expurgadora» de todas
as «excrescências» animadas ou inanimadas que a pudessem diminuir.
Em Setembro de 1958, o ministro das Obras
Públicas, Eduardo de Arantes e Oliveira,
declarava a urgência em expropriar uma
série de prédios adossados ao aqueduto de
S. Sebastião, de acordo com o projecto das
zonas de acesso à cidade universitária de
Coimbra, aprovado em Agosto desse ano.
A demolição do casario «incrustado» nos
arcos iniciou-se em finais de 1959. O intuito
de «desafrontar» o Colégio e o aqueduto,
isolando-os e exibindo-os na sua «pureza»,
ditou também o corte do arvoredo que
«obstruía» a sua vista. Ironicamente, a
assepsia instaurada coexistiu com a demolição, em 1958, do último arco do aqueduto, há décadas considerado monumento
nacional, em prol da conciliação topográfica entre as Ruas Martim de Freitas e a
que circunda os edifícios da Faculdade de
Ciências.
marked the 20th. As a living witness to all
that, it can best be appreciated, as always,
with knowledge of the circumstances that
contributed to making it what it is today.
1 Fernando Taveira da Fonseca, “O Jardim
Botânico no contexto da Reforma Pombalina
da Universidade de Coimbra (1772)”, paper presented at the conference O Século das Luzes:
Portugal, Brasil e região do Rio Prata, (Berlin,
19th to 24th May 2003).
2 Estatutos da Universidade de Coimbra (1772),
vol. III, Coimbra, Coimbra University, 1972, p.
266-267.
3 Manuel Lopes de Almeida, Documentos da
reforma pombalina, [Doc. XXXIV. 7th November 1772. Letter from the Marquis of Pombal to
D. Francisco de Lemos], vol. I, 1771-1782, Coimbra, Coimbra University, 1937, p. 52-53.
4 Letter from Francisco de Lemos to the Marquis
of Pombal, dated 3rd February 1773. Quoted by
Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrucção publica
portugueza, vol. III, 1700-1800, Lisbon, Royal
Academy of Sciences, 1898, p. 470.
5 Manuel Lopes de Almeida, Documentos da
reforma pombalina, [Doc. XLIV. 12th February
1773. On the arrival of the machines and instruments for Physics and the demarcation of the
Botanical Garden], vol. I, 1771-1782, p. 69.
6 Letter from Francisco de Lemos to the Marquis
of Pombal, dated 3rd February 1773. Quoted by
Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrucção publica
portugueza, vol. III, 1700-1800, p. 479-480.
7 Teófilo Braga, Historia da Universidade de
Coimbra nas suas relações com a instrucção
publica portugueza, vol. III, 1700-1800, p. 477.
8 Teófilo Braga, Historia da Universidade de
Coimbra nas suas relações com a instrucção
publica portugueza, vol. III, 1700-1800, p. 476.
9 Manuel Lopes de Almeida, Documentos da
reforma pombalina, [Doc. LXV. 5th October
1773. Document about the Botanical Garden],
vol. I, 1771-1782, p. 104.
10 Manuel Lopes de Almeida, Documentos da
reforma pombalina, [Doc. LXV. 5th October
1773. Document on the Botanical Garden], vol.
I, 1771-1782, p. 105.
65
Realizada a campanha de melhoramentos
no Instituto Botânico e extinta a CAPOCUC em 1969, o Jardim não voltou a ser
objecto de uma séria intervenção até ao
fim da direcção de Abílio Fernandes, a qual
culminou, precisamente, no mesmo ano da
«revolução dos cravos». A democratização da sociedade portuguesa e, por conseguinte, da instituição universitária conimbricense, não deixou, julgamos, de ter um
impacto no campo das estratégias e objectivos deste estabelecimento. Hoje, tal como
desde sempre, a salvaguarda e a requalificação da herança cultural e natural desenvolvem-se a reboque das opções políticas e
ideológicas, das disponibilidades financeiras
e das pressões sociais. O Jardim Botânico de
Coimbra não escapou, nem escapa, a esta
teia de cumplicidades, constituindo, por
excelência, um espaço de confronto e conciliação das sinergias que concorrem para a
modelagem do património.
Do caminho percorrido resulta a consciência de que este Jardim se talhou no contraponto entre a Arte e a Ciência, no equilíbrio entre o sonhado e o alcançado, entre
o desejado e o possível. Correm-lhe, nas
veias, as influências italianas e inglesas que
marcaram o Portugal pombalino, as vicissitudes económicas e políticas que acompanharam o século XIX, bem como os diferentes nacionalismos que percorreram o século
XX. De todos constitui um testemunho
vivo, cuja valorização depende, como invariavelmente acontece, do grau de conhecimento a seu respeito.
1 Sobre este assunto, veja-se Fernando Taveira
da Fonseca, “O Jardim Botânico no contexto da
Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra (1772)”, em O Século das Luzes: Portugal,
Brasil e região do Rio Prata. Actas do Congresso
realizado em Berlim de 19 a 24 de Maio de 2003,
(no prelo).
2 Estatutos da Universidade de Coimbra (1772),
vol. III, Coimbra, Universidade de Coimbra,
66
11 Francisco de Lemos, Relação Geral do Estado
da Universidade (1777), Coimbra, Coimbra University, 1980, p. 132.
12 Júlio Henriques, “O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. II (1792-1810)”, O Instituto, 2nd series, vol. XXIII, Coimbra, University
Press, July/December 1876, p. 19, 55.
13 Lurdes Craveiro, “A arquitectura da ciência”,
in Laboratório do Mundo. Idéias e saberes do
século XVIII, São Paulo/Lisbon, Pinacoteca/Imprensa Oficial, 2004, [Catalogue], p. 99.
14 Júlio Henriques, “O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. II (1792-1810)”, p. 58-59.
15 Duquesa de Abrantes, Portugal a principios
del siglo XIX. Recuerdos de una embajadora, 2nd
ed., Madrid, Editorial Espasa-Calpe, 1968, p. 113.
16 Júlio Henriques, “O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. V (1855-1873)”, O Instituto, 2nd series, vol. XXIII, Coimbra, University
Press, July/December 1876, p. 158.
17 Júlio Henriques, “O museu botanico da Universidade e as collecções de productos de
Macau e Timor”, O Instituto, 2nd series, vol. 30,
Coimbra, 1883, p. 60.
18 Júlio Henriques, “Relatorio do professor da
cadeira de botanica relativo ao anno lectivo
de 1887 a 1888”, Annuario da Universidade de
Coimbra, Coimbra, University Press, 1889, p.
313.
19 “Universidade de Coimbra. O museu botanico”, [Júlio Henriques], Annuario da Universidade de Coimbra, Coimbra, University Press,
1888, p. V-VI.
20 Júlio Henriques, “Relatorio do professor da
cadeira de botanica relativo ao anno lectivo
de 1881 a 1882”, Annuario da Universidade de
Coimbra, Coimbra, University Press, 1882, p.
245; Júlio Henriques, “A cultura das plantas que
dão a quina nas possessões portuguezas”, O
Instituto, 2nd series, vol. 22, Coimbra, 1876, p.
189.
21 Júlio Henriques, “Oração de sapiencia recitada na Sala dos Actos Grandes da Universidade
de Coimbra no dia 16 de Outubro de 1894”,
Annuario da Universidade de Coimbra, Coimbra, University Press, 1895, p. XXIII.
22 CAPOCUC Files consulted: 114, 114A, 114B,
114C, 148, 167, 169, 172, 180, 198, 197, 198, 199,
200, 210, 219, 243, 548, 613, 622 e 699 da CAPOCUC. Coimbra University Archive.
23 CAPOCUC File 198 – Botanical Garden
(Project for alterations). Coimbra University
1972, p. 266-267.
3 Manuel Lopes de Almeida, Documentos da
reforma pombalina, [Doc. XXXIV. 7 de Novembro de 1772. Carta do Marquês para D. Francisco de Lemos], vol. I, 1771-1782, Coimbra, Universidade de Coimbra, 1937, p. 52-53.
4 Carta de Francisco de Lemos, enviada ao marquês de Pombal com data de 3 de Fevereiro de
1773. Citado por Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a
instrucção publica portugueza, tomo III, 1700 a
1800, Lisboa, Academia Real das Sciencias, 1898,
p. 470.
5 Manuel Lopes de Almeida, Documentos da
reforma pombalina, [Doc. XLIV. 12 de Fevereiro
de 1773. Sobre a chegada das máquinas e instrumentos de Física e delineamento do Horto
Botânico], vol. I, 1771-1782, p. 69.
6 Carta de Francisco de Lemos, enviada ao marquês de Pombal com data de 22 de Fevereiro de
1773. Citado por Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a
instrucção publica portugueza, tomo III, 1700 a
1800, p. 479-480.
7 Teófilo Braga, Historia da Universidade de
Coimbra nas suas relações com a instrucção
publica portugueza, tomo III, 1700 a 1800, p.
477.
8 Teófilo Braga, Historia da Universidade de
Coimbra nas suas relações com a instrucção
publica portugueza, tomo III, 1700 a 1800, p.
476.
9 Manuel Lopes de Almeida, Documentos da
reforma pombalina, [Doc. LXV. 5 de Outubro
de 1773. Ofício sobre o Jardim Botânico], vol. I,
1771-1782, p. 104.
10 Manuel Lopes de Almeida, Documentos da
reforma pombalina, [Doc. LXV. 5 de Outubro
de 1773. Ofício sobre o Jardim Botânico], vol. I,
1771-1782, p. 105.
11 Francisco de Lemos, Relação Geral do Estado
da Universidade (1777), Coimbra, Universidade
de Coimbra, 1980, p. 132.
12 Júlio Henriques, “O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. II (1792-1810)”, O Instituto, 2.ª série, vol. XXIII, Coimbra, Imprensa da
Universidade, Julho/Dezembro de 1876, p. 19,
55.
13 Lurdes Craveiro, “A arquitectura da ciência”, em Laboratório do Mundo. Idéias e saberes
do século XVIII, São Paulo/Lisboa, Pinacoteca e
Imprensa Oficial, 2004, [Catálogo], p. 99.
Archive.
24 CAPOCUC File 199 – Cold greenhouse.
Coimbra University Archive.
25 CAPOCUC File 210 – Bridge and alterations to the connection between the Botanical Garden and the thicket Coimbra University
Archive.
26 CAPOCUC File 114A – Botanical Garden.
Coimbra University Archive.
27 CAPOCUC File 548 – Adaptation of the St
Bento building into the Botanical Institute.
Coimbra University Archive.
28 CAPOCUC File 114 – Botanical Garden.
Coimbra University Archive.
67
14 Júlio Henriques, “O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. II (1792-1810)”, p. 58-59.
15 Duquesa de Abrantes, Portugal a principios
del siglo XIX. Recuerdos de una embajadora, 2.ª
ed., Madrid, Editorial Espasa-Calpe, 1968, p. 113.
16 Júlio Henriques, “O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. V (1855-1873)”, O Instituto, 2.ª série, vol. XXIII, Coimbra, Imprensa da
Universidade, Julho/Dezembro de 1876, p. 158.
17 Júlio Henriques, “O museu botanico da Universidade e as collecções de productos de
Macau e Timor”, O Instituto, 2.ª série, vol. 30,
Coimbra, 1883, p. 60.
18 Júlio Henriques, “Relatorio do professor da
cadeira de botanica relativo ao anno lectivo
de 1887 a 1888”, Annuario da Universidade de
Coimbra, Coimbra, Imprensa da Universidade,
1889, p. 313.
19 “Universidade de Coimbra. O museu botanico”, [Júlio Henriques], Annuario da Universidade de Coimbra, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1888, p. V-VI.
20 Júlio Henriques, “Relatorio do professor da
cadeira de botanica relativo ao anno lectivo
de 1881 a 1882”, Annuario da Universidade de
Coimbra, Coimbra, Imprensa da Universidade,
1882, p. 245; Júlio Henriques, “A cultura das
plantas que dão a quina nas possessões portuguezas”, O Instituto, 2.ª série, vol. 22, Coimbra,
1876, p. 189.
21 Júlio Henriques, “Oração de sapiencia recitada na Sala dos Actos Grandes da Universidade
de Coimbra no dia 16 de Outubro de 1894”,
Annuario da Universidade de Coimbra, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1895, p. XXIII.
22 Para o estudo da intervenção da CAPOCUC
no Jardim foram consultados os processos 114,
114A, 114B, 114C, 148, 167, 169, 172, 180, 198,
197, 198, 199, 200, 210, 219, 243, 548, 613, 622 e
699 da CAPOCUC. Arquivo da Universidade de
Coimbra.
23 Processo 198 da CAPOCUC – Jardim Botânico (Projecto de remodelação). Arquivo da
Universidade de Coimbra.
24 Processo 199 da CAPOCUC – Estufa fria.
Arquivo da Universidade de Coimbra.
25 Processo 210 da CAPOCUC – Ponte e arranjo
da ligação do Jardim Botânico com a mata.
Arquivo da Universidade de Coimbra.
26 Processo 114A da CAPOCUC – Jardim Botânico. Arquivo da Universidade de Coimbra.
27 Processo 548 da CAPOCUC – Adaptação
68
do edifício de S. Bento a Instituto Botânico.
Arquivo da Universidade de Coimbra.
28 Processo 114 da CAPOCUC – Jardim Botânico. Arquivo da Universidade de Coimbra.
Imagens
Fig. 1 Planta para um Horto Botânico idealizada pelo arquitecto E. Oakley e executada por
B. Cole. Peça desenhada dedicada por Jacob de
Castro Sarmento em 1731 ao reitor da Universidade de Coimbra, D. Francisco Carneiro de
Figueiroa. Biblioteca Geral da Universidade de
Coimbra, Ms. 3377/75.
Fig. 2 Planta para o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Sem autor. 1773 (?). Biblioteca do Departamento de Botânica da Universidade de Coimbra, Sala E.
Fig. 3 Risco do Jardim Botânico para a Universidade de Coimbra. Júlio Mattiazzi. Sem data.
Reprodução de Riscos das obras da Universidade de Coimbra, Coimbra, Museu Nacional de
Machado de Castro, 1983, p. 55. [Álbum original
pertencente à família Santos Simões]
Fig. 4 Risco das estufas do Jardim Botânico da
Universidade de Coimbra. Sem autor. Sem data.
Reprodução de Riscos das obras da Universidade de Coimbra, Coimbra, Museu Nacional de
Machado de Castro, 1983, p. 56. [Álbum original
pertencente à família Santos Simões]
Fig. 5 Risco das estufas do Real Jardim Botânico
da Universidade de Coimbra. Sem autor. Sem
data (século XVIII). Biblioteca do Departamento de Botânica da Universidade de Coimbra, Sala E.
Fig. 6 Mapa do terreno que ocupa o Jardim
Botânico da Universidade de Coimbra. Manuel
Alves Macomboa. 1795. Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Ms. 3380.
Fig. 7 Planta do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, com a indicação das partes
essenciais e secundárias, segundo Félix Avelar
Brotero. Reprodução de Júlio Henriques, “O
Jardim Botânico da Universidade de Coimbra.
II (1792-1810)”, O Instituto, 2.ª série, vol. XXIII,
Coimbra, Imprensa da Universidade, Julho/
Dezembro de 1876, s/p.
Fig. 8 Primeiro orçamento fundamental do
risco do Jardim Botânico. [José do] Couto. Outubro de 1807. Biblioteca do Departamento de
Botânica da Universidade de Coimbra, Sala E.
Fig. 9 Projecto para o portal principal do Jardim
Botânico da Universidade de Coimbra. José do
Couto dos Santos Leal. 1818. Museu Nacional
de Machado de Castro. MNMC 2898; DA 37.
Fig. 10 Obras na estufa pequena, Luiz Carrisso,
1934. Colecção do Departamento de Botânica
da Universidade de Coimbra.
Fig. 11 Projecto de remodelação do Jardim
Botânico da Universidade de Coimbra. Cottinelli Telmo e Armand Van Bellinghen. 1945 (?).
Arquivo da Universidade de Coimbra. Processo
198 da CAPOCUC – Jardim Botânico (Projecto
de remodelação).
Fig. 12 Desenho da fonte monumental para o
quadrado central do Jardim Botânico. Álvaro da
Fonseca (?). Sem data. Na margem direita lê-se
“Falta para o Jardim Botânico de Coimbra”. Processo 114B da CAPOCUC – Jardim Botânico.
Arquivo da Universidade de Coimbra.
69

Documentos relacionados