Jardim Botânico de Coimbra: contraponto entre a arte e a
Transcrição
Jardim Botânico de Coimbra: contraponto entre a arte e a
Jardim Botânico de Coimbra: contraponto entre a Arte e a Ciência Coimbra Botanical Garden: Counterpoint between Art and Science Joana Brites O Jardim Botânico de Coimbra nasce com a reforma pombalina da Universidade, constituindo um dos mais fiéis reflexos do espírito e objectivos que a impulsionaram. Com efeito, a renovação científica e pedagógica dos estudos, de acordo com as novas directrizes emanadas do movimento das Luzes e do experimentalismo, traduziu-se numa decidida aposta nas faculdades naturais, necessariamente apoiadas por estabelecimentos capazes de à teoria aliar a prática, introduzindo no processo de aprendizagem a observação e a demonstração1. É certo que o projecto de criação de uma tal valência na cidade não era novo pois, durante o longo reitorado de Francisco Carneiro de Figueiroa, Jacob de Castro Sarmento enviara àquele reitor, um plano, idealizado pelo arquitecto E. Oakley, com data de 1731, para a realização de um jardim botânico. O projecto [1] apresentava semelhanças com o Chelsea Physic Garden de Londres, o que se poderá explicar, não só pelo facto de Jacob Sarmento ter estado em Inglaterra, onde foi membro do Real Colégio dos Médicos, como também pela familiaridade entre o arquitecto Oakley e o Jardim londrino, para o qual desenharia, por esta altura, o projecto das estufas. Esta proposta pioneira denunciava já o intuito de articular a modernização da ciência botânica com o desenvolvimento da medicina. Não passaria, contudo, do papel, sendo necessário aguardar pelo pragmatismo férreo da «nova fundação» para que a formulação concreta de um horto botânico no espaço da Universidade visse a luz do dia. Os novos Estatutos foram publicados em 1772, na sequência do Compêndio histórico do estado da Universidade, apresen- Coimbra Botanical Garden dates from the Pombaline reform of the University, and faithfully reflects the spirit and aims of those times. Indeed, it emerged out of the scientific and pedagogical changes that were introduced in order to bring the curriculum into line with the values of the Enlightenment and experimentalism; this led to investment in science faculties, supported by establishments that emphasized the practical component, introducing observation and demonstration into the learning process1. The idea to create a botanical garden in the city was not in fact new. A plan for one [1], drawn up by the architect E.Oakley in 1731, had been sent to the rector of the University, Francisco Carneiro de Figueiroa, during his long period in office, by Jacob de Castro Sarmento. That first pioneering project, which aimed at forging links between a modernized botanical science and medicine, bore some resemblance to the Chelsea Physic Garden in London, which is not surprising if we consider that Jacob Sarmento had spent some time in England, where he was a member of the Royal College of Physicians, and that Oakley in fact designed the greenhouses for that garden at around the same time. However, it did not get further than the drawing board. It was necessary to await the iron pragmatism of the “new foundation” before any project could properly come to fruition. In 1772, the new Statutes were published, following the presentation, in 1771, to the king of the “Historical Compendium of the State of the University” by the Literary Providence Committee (which had been charged in 1770 with analysing the causes of the University’s decline and suggesting ways in 31 tado ao rei em 1771, pela Junta de Providência Literária, encarregue em 1770 de analisar as causas da decadência da Universidade e apontar os meios para a sua reestruturação. A par da profunda reformulação das faculdades existentes – Teologia, Cânones, Leis e Medicina –, era extinta a das Artes e criadas a de Matemática e a de Filosofia, ocupandose esta das Ciências da Natureza. Previa-se ainda a construção de diversos equipamentos: o hospital escolar, o teatro anatómico, o dispensatório farmacêutico (anexos à Faculdade de Medicina); o observatório astronómico (dependente da Faculdade de Matemática); e os gabinetes de História Natural e de Física Experimental, o Laboratório Químico e o Jardim Botânico (agregados à Faculdade de Filosofia). Com o propósito de complementar o Gabinete de História Natural, os Estatutos preconizavam a indispensabilidade de um jardim botânico, ditando, desde logo, os objectivos a que este espaço deveria obedecer: “Ainda que no Gabinete de Historia Natural se incluem as Producções do Reino Vegetal; como porém não podem ver-se nelle as Plantas, senão nos seus Cadaveres, secos, macerados, e embalsamados; será necessario para complemento da mesma Historia o Estabelecimento de hum Jardim Botanico, no qual se mostrem as Plantas vivas. Pelo que: No lugar, que se achar mais proprio, e competente nas vizinhanças da Universidade, se establecerá logo o dito Jardim: Para que nelle se cultive todo o genero de Plantas; e particularmente aquellas, das quaes se conhecer, ou se esperar algum prestimo na Medicina, e nas outras Artes; havendo o cuidado, e providencia necessaria, para se ajuntarem as Plantas dos meus Dominios Ultramarinos, os quaes tem riquezas immensas, no que pertence ao Reino Vegetal.”2 No sentido de levar à prática os Estatutos definidos, Sebastião José de Carvalho e Melo escreve uma carta, a 7 de Novembro de 1772, dirigida a D. Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho, reitor da Uni- 32 which it could be restructured). With these, the existing faculties (Theology, Canon Law, Law and Medicine) were radically restructured, the Faculty of Arts was extinguished and new faculties of Mathematics and Philosophy were created, the last of which was to concern itself with the Natural Sciences. The construction of other facilities was also envisaged, including a teaching hospital, anatomical theatre, pharmaceutical dispensary (attached to the Faculty of Medicine), astronomical observatory (subordinated to the Faculty of Mathematics), and, within the Faculty of Philosophy, offices of Natural History and Experimental Physics, a Chemistry Laboratory and the Botanical Garden. The Statutes emphasised the importance of the Botanical Garden as a complement to the Natural History Office, and set forth its aims as follows: “Although the Office of Natural History contains examples from the vegetable kingdom, the plants included therein are no better than corpses, dried, macerated and embalmed. A Botanical Garden is thus a necessary complement to that History, in order to display living plants. Hence, such a garden shall be established in an appropriate place in the neighbourhood of the University, where all manner of plants shall be cultivated, particularly those that are known or hoped to offer some benefits to Medicine and other arts. Plants shall be collected there from my overseas territories, which are immensely rich as regards the vegetable kingdom.”2 The first step towards putting the Statutes into practice was taken by Sebastião José de Carvalho e Melo, the Marquis de Pombal, in a letter dated 7th November 1772 addressed to D. Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho, rector of the University and main executor of the reform. The letter was accompanied by a list of specifications, in which a section of the grounds of the St Bento College was indicated as the most suitable site for the Botanical Garden. This opinion was corroborated by Domen- versidade e principal executor da reforma, fazendo-a acompanhar de uma memória onde se indicava a porção de terreno da cerca de S. Bento como a mais adequada para a instituição do «Horto Botânico», opinião corroborada por Domenico Vandelli, encarregado da direcção do novel Jardim, que então se encontrava na corte. A respeito da referida implantação acrescentava ainda que “o Abbade do Collegio de Saõ Bento, e todos os seus Frades; achando-se possuidos por hum terror pânico de que lhe hiam tomar parte do seu Collegio, e toda a sua cerca para se establecer o referido Horto: E querendo sacrificar huma parte para salvar o todo: Me viéram offerecer pelo seu Procurador Geral o Terreno, (…) o qual V. S.ª com os Professores da Faculdade pode hir ver; demarcar, e fazer murar, logo que se recolherem os Doutores Ciera, e Vandelli”. Rematava apelando ao uso prudente da referida oferta, a fim de não se estender para além do indispensável o Horto que, dizia, em nenhuma parte ter visto ser “huma Quinta extensa”3. A 3 de Fevereiro de 1773, o reitor-reformador tranquilizava o ministro, noticiando-o de que “já se acham n’esta cidade os Doutores Ciera, Vandelli e Dalabella, e com elles e Franzini irei ámanhã ver o sítio que V.ª Ex.ª designou para n’elle estabelecer-se o Jardim Botanico”4. Em resposta, o marquês de Pombal anunciava a vinda do tenentecoronel Guilherme Elsden, ensamblador ou marceneiro londrino, estabelecido em Portugal pelo menos desde 1763, que executava serviços de engenharia e arquitectura. Era este inglês, igualmente responsável por outros edifícios da reforma pombalina, que o estadista encarregava de delinear o Jardim “pelos apontamentos dos professores”5. Aos docentes cabia, na companhia de Francisco de Lemos, o reconhecimento do local. Cumprida com brevidade tal inspecção, verificou-se, porém, não ser o destinado sítio o mais apropriado, dada a existência de acentuados desníveis que implicariam ico Vandelli, who had been appointed curator of the new garden, and who was at that time at court. The letter went on: “The Abbot of the College of St Bento and all his friars, terrified of that their college and all its grounds would be taken over for the establishment of the Garden, and wanting to sacrifice a part to save the whole, offered me, through their legal representative, the terrain (…), which you and your Faculty professors may view, demarcate and enclose, as soon as Doctor Ciera and Doctor Vandelli return”. It concluded by urging that the offer be used prudently, not going beyond what was strictly necessary, for nowhere should the Garden be perceived as “an extensive estate”3. On 3rd February 1773, the reformer rector informed the Marquis that “Doctors Ciera, Vandelli and Dalabella are now in the city, and they and Franzini shall go tomorrow to the site that Your Excellency has designated for the establishment of the Botanical Garden”4. In his reply, the Marquis announced the arrival of Lieutenant Colonel William Elsden, a joiner or cabinetmaker from London, who had been based in Portugal since at least 1763, and who performed services in engineering and architecture. Elsden, who was also responsible for other buildings of the Pombaline reform, had been commissioned to demarcate the Garden “from the professors’ notes”5; the professors, for their part, were to survey the site in the company of Francisco de Lemos. However, following the brief inspection, it was decided that the site was not really suitable for the garden since it contained sharp differences in level, which would require “great expense in the creation of terraces one above the other and even so, would remain uneven”. The College garden, located in Alegria, near the so-called ‘Ínsua dos Bentos’, was considered as a second choice, but was also rejected as not viable “since it is very cramped, is exposed to flooding of the Mondego, would also require extensive 33 “fazer uma imensa despeza em sucalcos uns acima dos outros, e ainda depois de tudo isto ficaria sempre irregular”. Ponderada como segunda possibilidade a ocupação da horta do Colégio, situada na Alegria, junto à denominada Ínsua dos Bentos, concluiuse não ser igualmente viável “por ser muito apertado, ficar exposto ás inundações do Mondego, necessitar tambem de grandes sucalcos, e ficar longe da Universidade”. Finalmente, uma solução reuniu consenso: “a parte da mesma cêrca [dos monges beneditinos] que confronta de uma parte os Arcos da cidade, da outra com a estrada que vae para S. José dos Mariannos, e da outra com huma vinha dos ditos P.es Mariannos”. As vantagens de tal escolha residiam na proximidade da Universidade e dos Arcos, no fácil acesso a água através do Aqueduto do convento das freiras de Santa Ana e também na “circumstancia de ficar o Jardim visinho a uma estrada, que indireitada e alinhada fórma hum bello e necessario passeio publico para recreação dos Estudantes”6. Num ofício de 2 de Março de 1773, acompanhado por uma provisão da mesma data, o marquês de Pombal elogiava o cuidado posto no exame do terreno destinado ao dito estabelecimento, determinando a compra do mesmo, bem como a sua demarcação. No espaço de meses, os professores italianos enviam para Lisboa uma sumptuosa planta para o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Trata-se, presumivelmente, do desenho a tinta-da-china e aguada sobre papel [2] que se encontra na biblioteca do Departamento de Botânica, sem data ou assinatura devido à falha que apresenta na sua parte central supe- 34 terracing and is a long way from the University”. Finally, a consensus was reached. It was decided to construct the garden in “that part of the same grounds [i.e. of the Benedictine college] that at one side faces the city Aqueduct, at another faces the road that goes to S. José dos Mariannos, and at another a vineyard belonging to those Marian priests”. The advantages of this site lay in its proximity to the University and the Aqueduct, the easy access to water via the Aqueduct of the convent of Saint Anne, and also in the fact that "the Garden will be next to a road, forming a beautiful straight public promenade for the recreation of the Students”6. In an official letter of 2nd March 1773, accompanied by a writ of the same date, the Marquis praised the care taken in the examination of the land destined for the Garden, and announced his decision to purchase it and order its demarcation. Within months, the Italian professors had sent a sumptuous plant to Lisbon destined for the Botanical Garden of the University of Coimbra. This is presumably what is represented in a Chinese ink and watercolour drawing on paper [2] in the Botany Department library, though unfortunately its date and signature are missing due to the fact that the part of the paper where this information would have been given, together with the key to the plan, is torn. The massive project for the Garden is remarkably similar to the undated “Sketch of the Botanical Garden for the University of Coimbra” [3] by Júlio Mattiazzi, published together with the other “Sketches for Works on the University of Coimbra” in 1983 by the Machado de Castro National Museum. This project was probably prepared after the other, since it is somewhat simplified in relation to it. It contains fewer flowerbeds, fountains and sculptures, and the arboretum is laid out differently, in the form of a square subdivided into four. rior, onde se leriam essas informações, bem como as legendas do plano. O colossal projecto do Jardim apresenta uma notória semelhança com o Risco do Jardim Botânico para a Universidade de Coimbra [3], não datado, da autoria de Júlio Mattiazzi, publicado juntamente com outros Riscos das obras da Universidade de Coimbra, em 1983, pelo Museu Nacional de Machado de Castro. Este projecto foi, com probabilidade, formulado a jusante do primeiro, pois denota em relação a ele alguma simplificação. As diferenças resultam da redução do número de canteiros e de fontes de repuxo, bem como das peças escultóricas. O arboreto evidencia ainda uma disposição distinta, assumindo a forma de um quadrado, subdividido em quatro. Ambos os desenhos denunciam fortes paralelismos com o Jardim Botânico de Pádua, fundado em 1545. Com efeito, o esquema do círculo de canteiros que envolve o quadrado central, dividido, por sua vez, em quatro canteiros, é comum aos dois hortos. A distribuição das fontes de repuxo nesta zona coincide igualmente, tal como se verifica pelo confronto das respectivas plantas. Ora, esta «marca» paduana deve ser compreendida à luz do percurso de dois homens, cujo rumo passou quer por Pádua, quer por Coimbra. Referimo-nos a Domenico Vandelli e a Júlio Mattiazzi, ambos nascidos na dita cidade italiana e familiarizados com o seu Jardim. O primeiro, naturalista de reconhecido prestígio, concluiu os cursos de filosofia natural e medicina na Universidade de Pádua em 1761 e manteve correspondência com Lineu entre 1759 e 1773. Chega a Lisboa, a convite do marquês de Pombal, em 1764, à partida destinado à docência no Colégio dos Nobres mas, na realidade, sem exercício de funções oficiais até 1768, altura em que aparece nomeado para dirigir as obras do Jardim Botânico da Ajuda. Em 1772 vem para Coimbra ensinar química e história natural na recém criada Faculdade de Filosofia, tendo-se nela graduado gratui- Both designs have strong parallels with the Botanical Garden of Padua, founded in 1545. In fact, the scheme of a circle of flowerbeds around the central quadrangle, divided in turn into four beds, is shared by the two gardens, while the fountains in this area are distributed in a very similar manner, as comparison of the two plans clearly shows. This influence must surely be understood in the light of the careers of two men, whose path passed through both Padua and Coimbra. We are of course referring to Domenico Vandelli and Júlio Mattiazzi, who were both born in Padua and were familiar with its garden. The former, a naturalist of acknowledged prestige, completed his degrees in natural philosophy and medicine at the University of Padua in 1761 and maintained a correspondence with Linnaeus between 1759 and 1773. He was invited to Lisbon by the Marquis of Pombal and arrived in 1764, ostensibly to take up a lectureship at the College of Nobles, though he did not in fact perform any official functions until 1768, when he was appointed to supervise the works being carried out at the Ajuda Botanical Garden. In 1772 he came to Coimbra to teach chemistry and natural history in the recently created Faculty of Philosophy, graduating from it on 9th October of that year and on 12th of the same month from the Faculty of Medicine. The Statutes stipulated that the lectureship in natural history should entail responsibility for the Botanical Garden, and so he directed it until his retirement in January 1791, when he was replaced by Félix Avelar Brotero. 35 tamente a 9 de Outubro desse ano e a 12 do mesmo mês na Faculdade de Medicina. A leccionação de história natural acarretava, cumulativamente, tal como se previa nos Estatutos, a «intendência» do Jardim Botânico, tarefa que exerceu até Janeiro de 1791, ano em que se jubilou e foi substituído na direcção do Jardim por Félix Avelar Brotero. Vandelli surge-nos associado a outros dois paduanos que se debruçariam sobre o horto conimbricense. João António Dalla-Bella, graduado a 4 de Maio de 1773 na Faculdade de Medicina e na de Filosofia, onde ensinou física, integrou, como acima relatámos, o grupo de professores que, juntamente com o reitor, visitaram e analisaram o local para o estabelecimento do Jardim. Mas é sobretudo Júlio Mattiazzi que nos importa destacar, uma vez que, antes de ser trazido por Vandelli para Portugal, em 1768, para com ele colaborar em Lisboa e em Coimbra, desempenhava funções de jardineiro no Jardim Botânico de Pádua. Não é, por conseguinte, de estranhar que o risco do Jardim da Universidade por ele executado deixe transparecer o modelo do da sua cidade natal. Permanece incerto o lugar de Guilherme Elsden no delineamento do inicial programa do Jardim, não sendo possível assegurar ser da sua autoria a planta guardada na biblioteca do Departamento de Botânica. Por um lado, sabe-se que, em Maio de 1773, o tenente-coronel já havia chegado a Coimbra e, à partida, tudo indica que se tenha dedicado a tal tarefa, uma vez que o marquês o havia expressamente responsabilizado pela mesma. Aliás, quando, em Fevereiro de 1773, D. Francisco de Lemos escrevia ao ministro sobre a análise do terreno para o Jardim e o andamento das restantes obras universitárias, garantia que “fico esperando o tenente-coronel Elsden para com elle conferir tudo quanto respeita á execução das Plantas que V.ª Ex.ª foi servido remetter-me, e o mais que for preciso. E sem elle nada obrarei”7. A própria planta do 36 Vandelli’s name frequently appears associated with two other Paduans that were also connected to the Coimbra Garden, João António Dalla-Bella and Júlio Mattiazzi. Dalla-Bella, who graduated on 4th May 1773 from the Faculty of Medicine and Philosophy, where he taught physics, was in the group of professors that, together with the Rector, visited and analysed the site for the Garden, as we have mentioned. But it is Júlio Mattiazzi that is most deserving of our attention, since before being brought to Portugal by Vandelli in 1768 to collaborate with him in Lisbon and Coimbra, had been the gardener at the Botanical Garden of Padua. It is therefore not surprising that his sketch for the University Garden should reflect features of the model in his native city. The role played by William Elsden in the delineation of the initial programme for the Garden remains unclear, since we do not know for certain if the plan kept in the Botany Department library is in fact by him. On the one hand, we know that he arrived in Coimbra in May 1773 and everything indicates at the outset that he was to undertake the task, since the Marquis had expressly appointed him for it. Indeed, when D. Francisco de Lemos wrote to the minister in February 1773 about the analysis of the terrain for the Garden and the progress of the remaining university works, he assured him that he was “awaiting Lieutenant-Colonel Elsden to discuss with him the plans that Your Excellency has sent me and anything else that is deemed necessary. Until he comes I shall not proceed”7. The plan itself, which had been drawn in the meantime, also reveals ignorance of the unevenness of the terrain, which could be explained by the fact that Elsden had not accompanied the rector and professors on their visit to the site, having been in Lisbon at the time “incapacitated with an attack of gout”8. On the other hand, we do not have his sig- Jardim entretanto concebida deixa transparecer um certo alheamento relativamente ao seu desnivelado terreno de implantação, o que se poderia explicar pelo facto de Elsden não ter acompanhado o reitor e os professores na visita ao local, por se encontrar nessa altura ainda em Lisboa, “impossibilitado com um accidente de gota”8. Por outro lado, não temos a sua assinatura no projecto depositado na referida biblioteca, presumivelmente o enviado a Pombal, nem tão pouco a avaliação que dele o ministro fez refere Elsden como autor, sendo apenas vagamente mencionada “a Planta, que esses Professores delinearam”, esclarecendo-se, mais adiante, que “os ditos professores saõ italianos” 9. A própria feição barroca da molduração do plano afasta-se do traço neoclássico que caracteriza os edifícios projectados por Elsden para a Universidade e, recorde-se ainda, o carácter paduano da planta não poderia resultar da experiência de um engenheiro inglês. Além disso, no relatório que Elsden dirige a Sebastião José de Carvalho e Melo, dando-lhe conhecimento dos trabalhos que, no âmbito das obras da Universidade, executou precisamente entre Julho e Setembro de 1773, não faz qualquer referência ao traçado da planta para o Jardim. Certo é o facto de uma primeira proposta não ter sido aprovada. Num ofício de 5 de Outubro de 1773, o estadista rejeita veementemente o “dilatado espaço”, talhado “pelas medidas da (…) Fantasia”, o qual “absorberia os meyos pecuniarios da Universidade antes de concluir-se”. Frisando que “as couzas naõ saõ boas, por que saõ muito custozas, e Magnificas; mas sim, e taõ somente, porque saõ proprias, e adequadas para o uso, que dellas se deve fazer”, ordenava que se delineasse outro plano, “reduzido somente ao numero de Ervas Medicinaes, que saõ indispensaveis para os exercicios Botanicos, e necessarios para se darem aos Estudantes as noçoens precizas para que naõ ignorem esta parte da Medicina; nature on the plan that is in the library (presumably the one sent to Pombal), nor does the Marquis’ assessment of it make any mention of Elsden as author. Instead it vaguely mentions “the plan that those professors drew up”, clarifying later on that “the aforementioned professors are Italian”9. The Baroque flavour of the ground plan is also quite different from the neoclassical style of the buildings designed by Elsden for the University; and of course, the Paduan influence could not have resulted from the experience of an English engineer. Moreover, the report that Elsden addressed to Sebastião José de Carvalho e Melo informing him of the works that he had undertaken at the University between July and September 1773 made no mention of the plans for the Garden. What is clear, however, is that the first proposal was not approved. In an official letter dated 5th October 1773, the Marquis vehemently rejected the “extensive space”, shaped “with fantastic dimensions”, which “would absorb the pecuniary resources of the University before it is finished”. Adding that “things are not good simply because they are very costly and magnificent, but rather, and only, because they are appropriate and suitable for the use that is to be made of them”, he ordered another plan to be drawn up, “reduced only to the number of medicinal herbs that are indispensable for botany exercises, and necessary to give the students precise notions so that they are not ignorant of that part of Medicine; (…) leaving for another time all that is botanical luxury, at present spreading all over Europe”. To dispel any doubts, he explained that the new design should be no bigger and no more sumptuous than Chelsea Garden, which he would certainly have known, having been stationed in London on diplomatic duty between 1739 and 1743. Finally, he advised that “a budget be calculated that is appropriate for a boys’ Study Garden, 37 (…) Deixando-se para outro tempo o que pertencer ao Luxo Botanico, que actualmente grassa em toda a Europa”. Para dissipar qualquer dúvida, esclarecia que a nova concepção não devia ser nem maior nem mais sumptuosa do que a do Jardim de Chelsea em Londres, certamente familiar ao marquês que nesta cidade desempenhara funções diplomáticas entre 1739 e 1743. Por fim, recomendava que “se calcule por hum justo Orçamento o que hade custar o tal Jardim de Estudo de rapazes, e naõ de Ostentaçaõ de Princepes, ou de particulares, daquelles extravagantes, e Opulentos, que estaõ arruinando grandes Cazas na Cultura de Brêdos, Beldroégas, e Poejos da India, da China e da Arabia.”10 Os trabalhos acabariam por se iniciar sob planos mais modestos, mantendo, todavia, um traço tipicamente italiano. A Universidade tomou conta do terreno a 16 de Janeiro de 1774 e sem demora as obras foram avançando. Principiou-se a construção da muralha de suporte do lado da cerca dos Beneditinos, bem como as obras de terraplanagem. Para ambas foram aproveitadas grandes quantidades de pedra e entulho, provenientes de demolições de parte do edifício dos Jesuítas e do castelo. Em Novembro desse ano o Horto Botânico estava pronto para receber as primeiras plantas, vindas por mar. Da sua plantação era encarregado Júlio Mattiazzi, jardineiro do Real Jardim Botânico da Ajuda, o qual deveria regressar à corte após o cumprimento de tal diligência, ficando João Luís Rodrigues responsável por delas cuidar, tornando-se este, assim, o primeiro jardineiro do novo Jardim. Desconhece-se o alcance da acção de Mattiazzi, aquando da sua presença em Coimbra, no âmbito da imposta redefinição do Jardim exigida por Pombal. Sabemos que o jardineiro tinha propensão a arquitecto, pois, quando Vandelli caracterizou o seu desempenho, na parcial administração do Real Museu de História Natu- 38 rather than for the ostentation of princes or private individuals, that extravagance and opulence that is ruining the great houses with the cultivation of amaranth, purslane and pennyroyal from India, China and Arabia.”10 When the work eventually started, it was based upon more modest plans, though retaining typically Italian traits. The University took over the land on 16th January 1774 and work went ahead without delay. It began with the construction of a support wall alongside the grounds of the Benedictine College, and with the levelling of the land. Both operations made use of large quantities of stone and rubble from the demolition of part of the Jesuits’ building and the castle. In November of that year, the Botanical Garden was ready to receive the first plants, which were brought in by sea. Júlio Mattiazzi, gardener for the Royal Botanical Garden of Ajuda, was responsible for the planting, but returned to court afterwards, leaving João Luís Rodrigues in charge of looking after them. It was he who thus became the first gardener of the new Garden. The extent of Mattiazzi’s actions as regards the redefinition of the Garden in accordance with Pombal’s demands is not known. However, we do know that the gardener had a certain propensity for architecture, for Vandelli, describing his compatriot’s partial administration of the Royal Museum of Natural History and Botanical Garden of Ajuda while teaching in Coimbra, specifically mentioned his fascination with architecture. The Paduan’s experience may therefore have resulted in a reconfiguring of the terrain, although there are no known documents that confirm it. Mattiazzi’s stay was relatively short, and he was probably on his way back to Lisbon in January. We are sure, however, that, shortly after the arrival of the gardener, alterations were made to the area and levelling of the Garden. In fact, the Rector, who wanted to increase ral e Jardim Botânico da Ajuda durante o período em que o naturalista assegurava a docência coimbrã, deixa bem claro a sedução do seu compatriota pela arquitectura. Da experiência do paduano poderia ter resultado uma reconfiguração do terreno. No entanto, desconhece-se qualquer documento que o confirme. A estadia de Matti azzi foi relativamente curta e, provavelmente em Janeiro, estaria já de volta a Lisboa. Resta-nos a certeza de que, pouco depois da vinda do referido jardineiro, se realizaram alterações ao nível da área e nivelamento do Jardim. De facto, entendendo-se necessário aumentar o terreno destinado às culturas, o Reitor estendeu, através da compra de um olival, a área do Jardim até à estrada pública e pediu autorização ao Governo para adquirir mais terreno, com vista a conferir ao Horto uma forma mais regular. Concedida a licença a 7 de Dezembro de 1774, a compra foi ajustada com os frades marianos, apesar de só muito mais tarde ter sido realizada. A partir de 1777, com o falecimento do rei D. José I e a consequente «morte política» do marquês, o abrandamento do ritmo das obras universitárias não deixou de se reflectir também na construção deste estabelecimento, apesar dos esforços movidos por D. Francisco de Lemos para cativar a atenção da nova rainha, D. Maria I. A Relação geral do estado da Universidade redigida pelo reitor-reformador e remetida, em 1777, à soberana, materializa o intuito de não deixar cair por terra a reestruturação principiada. Misto de justificação da própria reforma e de balanço da obra feita e da por realizar, o texto salienta, na parte referente ao Jardim, o facto de este continuar longe de estar terminado pois, à excepção de uma pequena estufa construída em 1776, os trabalhos e verbas gastas até então (1.349$045 reis) tinham sido essencialmente dedicados a entulhar as partes baixas, a fim de se obter no recinto “a igualdade possivel”11. the amount of land given over to cultures, bought an olive grove and extended the Garden as far as the public road; he also applied for authorization from the Government to acquire more land in order to make it more regular in shape. After the granting of the licence on 7th December 1774, the purchase was negotiated with the Marian friars, although the deal was only finalized much later. From 1777, with the death of the king D. José I and the consequent political demise of the Marquis, there was a slackening of momentum as regards the building works at the university, reflected also in the construction of the Garden, despite the efforts of D. Francisco de Lemos to interest the new queen, D. Maria I, in the project. The “General Report on the State of the University” drawn up by the reformer rector and sent to the sovereign in 1777 reflects his intention not to abandon the plan for restructuring. The text, which both justifies the reform itself and presents a balance of the works done and still to do, mentions that the Garden was far from being finished; with the exception of a small greenhouse built in 1776, almost all the work and funds spent until then (1349$045 reis) had been directed at filling in the low parts in order to obtain a surface “as level as possible”11. It is believed that this manuscript was complemented by a volume entitled, on the binding, Riscos das Obras da Universidade de Coimbra (“Sketches for Works on the University of Coimbra”), which included not only a description of the state of the new constructions in September 1777 and a list of expenses, but also a series of thirty drawings of those constructions. The last two concern the Botanical Garden: one is the plan drawn up by Júlio Mattiazzi, which we have already described; the other is the “Sketch of the Greenhouses of the Botanical Garden of the University of Coimbra” [4], undated and unsigned. Curiously, there is a very similar drawing to this in the Botany 39 Este manuscrito tinha como complemento, segundo se crê, um volume intitulado, na encadernação, Riscos das Obras da Universidade de Coimbra, o qual compreende, além da descrição do estado em que se encontravam, em Setembro de 1777, os novos estabelecimentos, bem como da enumeração das despesas, uma série de trinta desenhos, relativos a essas construções. Os dois finais dizem respeito ao Jardim Botânico: um é o plano elaborado por Júlio Mattiazzi, sobre o qual já nos detivemos; o outro é o Risco das Estufas do Jardim Botanico da Universidade de Coimbra, sem data ou assinatura Department. Entitled Risco das Estufas do Real Jardim Botânico da Universidade de Coimbra (“Sketch of the Greenhouses of the Royal Botanical Garden of the University of Coimbra’) [5], the grandiose project shows, despite visible deterioration, the ground plans, elevations and cross-sections of the greenhouses, with a key on the left hand side. The ground plan of the main greenhouse shows nine compartments: in the centre was the “lichen house”, to the left of which, in the upper half of the building, was a temperate house, a hot house, another [4]. Curiosamente, este último encontra também, na biblioteca do Departamento de Botânica, um desenho que muito se lhe assemelha. Titulado Risco das Estufas do Real Jardim Botânico da Universidade de Coimbra [5], o grandioso projecto apresenta, pese embora a sua visível deterioração, as plantas, alçados e cortes das estufas, cuja interpretação nos é facilitada pela legenda à esquerda do conjunto. A planta da estufa principal apresenta nove compartimentos: ao centro localiza-se a “caza das liçoens”; à sua esquerda, do meio para o topo do edifício, prevê-se um tepidário, um “calidário”, um novo tepidário e, por fim, uma casa destinada à conservação temperate house and finally, a place for the conservation of seeds and the “dry herbarium”. To the right of the lichen house is the same succession of temperate and hot houses, culminating in a room destined for the “botanical library”. A “bench of green” covers the corridor of the stoves which, at the back of the greenhouses, controls the temperature of the various sections. The main façade, which contained eight doors into the “greenhouse passage”, is punctuated at intervals, according to neoclassical taste, by a sequence of rounded arches on rustic-style pillars, on top of which is a balustrade decorated with alternating vases and statues. The statues are all 40 das sementes e “erbario seco”; à direita da casa das lições surge-nos a mesma sucessão de tepidários e “calidário”, rematada, no extremo, por uma divisão destinada a “livraria botanica”. Uma “banqueta de verdura” cobre o corredor dos fornos que, na parte posterior das estufas, permitem controlar a temperatura das várias secções. A fachada principal, na qual se abrem oito portas para a “serventia das Estufas”, é ritmada, ao gosto neoclássico, por uma sequência de arcos redondos assentes sobre pilares rusticados, encimada por uma balaustrada decorada por uma alternância identified by a Latin name carved into the plinth of each one, confirming the erudite and symbolic character of this construction. From right to left, we have the following figures: Avicenna (Arab doctor and philosopher), Galen (one of the greatest doctors of antiquity), Hippocrates (Greek doctor, considered the “father of medicine”), Bauhino (Swiss doctor and botanist), Cesalpino (Italian doctor and philosopher), Dioscorides (Greek doctor and naturalist), Pliny (Roman soldier, imperial official, historian and scientist, and author of the Historia Naturalis) and Theophrastus (philosopher and scien- de vasos e estátuas. Graças ao nome latino inscrito no plinto de cada escultura, é-nos possível identificá-las na totalidade, confirmando o carácter erudito e simbólico desta construção. Da direita para a esquerda sucedem-se as seguintes figuras: Avicena (médico e filósofo árabe), Galeno (um dos maiores médicos da Antiguidade), Hipócrates (médico grego, considerado o “pai da Medicina”), Bauhino (médico e botânico suíço), Cesalpino (médico e filosofo italiano), Dioscórides (médico e naturalista grego), Plínio (militar, funcionário imperial, historiador e cientista romano, autor da Historia Naturalis) e Teofrasto (filósofo e cientista sucessor de Aristóteles e autor de uma vasta produção, onde se incluem tist that succeeded Aristotle, and author of a vast oeuvre, including the works History of Plants and Causes of Plants, which earned him the epithet of creator of botany). In the centre of this imposing corpus is a triangular pediment crowned with the Portuguese royal coat-of-arms, itself flanked by two allegorical figures. At the right end of the building is the door leading into the greenhouses on the Bentos side, overlooked by the sculptures of Avicenna and Petiver (English botanist); at the opposite end, a statue of Theophrastus and another of Micheli (Florentine botanist) complete a window that “overlooks part of the Mondego”. The pediment over the door leading into the lichen house, on the 41 as obras Historia das Plantas e Causas das Plantas, as quais lhe valem o epíteto de criador da botânica). Ao centro deste imponente corpo destaca-se um frontão triangular coroado pelo escudo real português, ladeado, por sua vez, por duas figuras alegóricas de cada lado. Na extremidade direita do edifício situase a porta de ingresso para as estufas do lado dos Bentos, sobrepujada pelas esculturas de Avicena e Petiver (botânico inglês); no extremo oposto, uma estátua de Teofrasto e outra de Micheli (botânico florentino) rematam uma janela que “cahe p.ª a parte do Mondego”. A frontaria da porta de ingresso para a “caza das liçoens”, do lado dos Bentos, é adequadamente coroada por quatro estátuas de botânicos que foram professores em universidades europeias em finais do século XVII e inícios do XVIII: Pontedera (botânico italiano, professor da Universidade de Pádua e director do Jardim Botânico desta cidade), Morison (médico e botânico inglês, professor na Universidade de Oxford), Dillen (botânico alemão, docente em Oxford) e Lineu (célebre naturalista sueco, professor na Universidade de Upsala). Concomitantemente, o projecto prevê a construção de uma estufa de menor dimensão e modesto acabamento que serviria para as “sementeiras de America e Africa q dependem de muito calor”. Comparativamente ao plano das estufas que acompanharia a Relação geral do estado da Universidade, este desenho denota um maior desenvolvimento pois, além da descrição das construções já mencionadas, igualmente presentes no projecto enviado em 1777, contempla mais três edificações: o portal de entrada para o Jardim da parte dos Bentos, decorado com a representação de Hércules, famoso herói grego, e Minerva, deusa romana da sabedoria, do qual se faria uma cópia para o ingresso da parte dos Carmelitas Descalços; o portal de ingresso ao Jardim pela rua da Alegria, adornado com uma estátua de Fortuna, deusa romana 42 Bentos side, is appropriately crowned with statues of four botanists that were professors in European universities at the end of the 17th and beginning of the 18th centuries: Pontedera (Italian botanist, professor at the University of Padua and curator of that city’s botanical garden), Morrison (English physician and botanist, and professor at the University of Oxford), Dillen (German botanist and lecturer at Oxford) and Linnaeus (famous Swedish naturalist, professor at the University of Uppsala). The project also envisaged the construction of a smaller greenhouse with more modest finishings that would serve as “seedbeds for plants from America and Africa that require a lot of heat”. Compared to the plan of the greenhouses that accompanied the “General Report on the State of the University”, this one is more developed, since, in addition to the description of the constructions already mentioned, also present in the project sent in 1777, it includes three more buildings: the gateway into the Garden from the Bentos College, decorated with a representation of Hercules, the famous Greek hero, and Minerva, the Roman goddess of knowledge, a copy of which was later made for the entrance from the Barefoot Carmelites; the gateway into the Garden from Alegria Street, adorned with a statue of Fortuna, the Roman goddess of luck, and another of Ceres, Roman earth mother goddess; and the ground plan and cross section of the staircase that allowed access to the Garden from the public footpath, and the gateway protecting it, decorated with two sculptures, including Asklepius, the Roman god of medicine. A comparison of the two sketches reveals that the undated drawing from the Botany Department library was probably executed before the one in the album “Sketches for Works on the University of Coimbra” that was sent to the queen. In fact, it could have accompanied the first Botanical Garden do Acaso, e outra de Ceres, deusa maternal da Terra para os romanos; a planta e corte da escada que permitiria o acesso ao Jardim pelo passeio público, bem como o portal que a resguardaria, guarnecido de duas esculturas, entre as quais Esculápio, deus romano da medicina. Do confronto entre ambos os riscos podese, portanto, concluir que, embora o desenho da biblioteca do Departamento de Botânica não patenteie uma data, ele terá sido, com probabilidade, formulado antes daquele que viria a integrar o álbum Riscos das Obras da Universidade de Coimbra, enviado à rainha. Poderia, com efeito, ter acompanhado o primeiro projecto para o Jardim Botânico avaliado e recusado, pela sua sumptuosidade, em 1773 pelo marquês. Por outro lado, o facto de tanto o plano do Jardim como o das estufas que se acham na dita biblioteca encontrarem um «correspondente» nos desenhos enviados em 1777 à soberana, leva-nos a considerar a hipótese de ter havido, da parte do reitor, a tentativa de retomar a configuração outrora reprovada pelo ministro de D. José. Se assim foi, o intuito de D. Francisco de Lemos não vingou uma vez mais, pois nem estas estufas foram construídas, nem o Jardim obedeceu ao grandioso feitio. O remediado plano seguido parece ter sido, afinal, o resultado da adaptação das linhas italianas às possibilidades económicas, às sensibilidades dos que sobre este espaço se foram debruçando, aos condicionalismos do terreno e das ocasiões e às necessidades pedagógicas que reclamavam um ponto final a este moroso processo construtivo. O ano de 1779 assinala a exoneração de D. Francisco de Lemos, o qual só voltaria ao governo da Universidade vinte anos mais tarde. Neste entretanto, correspondente aos reitorados de D. José Francisco de Mendonça e D. Francisco Rafael de Castro, prosseguiram os trabalhos. Edificou-se uma casa para as lições de botânica. Em 1790 ficou terminado o terrapleno inferior, ainda project that had been assessed and rejected by the Marquis for being too sumptuous. On the other hand, the fact that the plans of both garden and greenhouses found in that library have a counterpart in the drawings sent in 1777 to the queen suggests that there may have been an attempt on the part of the rector to revive the earlier configuration rejected by the Marquis. If so, then it was unsuccessful a second time round, for the greenhouses remained unbuilt and the garden did not follow the grandiose design. The plan that was eventually adopted seems to have been the result of an adaptation of Italian lines to the economic possibilities, the sensibilities of those involved, the limitations of the terrain and circumstances, and educational needs, which demanded an end to the longwinded process of construction. In 1779 D. Francisco de Lemos was discharged from his position as rector, only returning to govern the University twenty years later. During this interval, under the rectorates of D. José Francisco de Mendonça and D. Francisco Rafael de Castro, the works went ahead. A house was built for botany lessons. In 1790, the lower level, still today known as the “central quadrangle”, was completed, as was the tank in the middle of it and the plumbing system used for most of the waters. In this period, the order was also given to construct a larger greenhouse, as the existing one “would not satisfy the purposes for which it had been built”12. The plan for the greenhouses of the Botanical Garden, signed by Manuel Alves Macomboa and dated April 1791, responds to this need. This master carpenter, who had been called by the Marquis in 1773 to work on the University buildings, had also since 1777 performed the role of master stonemason and, following the death of William Elsden, took over the function of architect in 1782. His designs of the ground plan and elevation of the main façade of the greenhouses, 43 hoje conhecido por «quadrado central», o tanque situado no meio deste e o encanamento de grande parte das águas. É igualmente desta época a ordem de construção de uma estufa de maiores dimensões, visto que a existente “não satisfazia o fim a que era destinada”12. O projecto para as estufas no Jardim Botânico, assinado por Manuel Alves Macomboa e datado de Abril de 1791, articula uma resposta a esta necessidade. Chamado pelo marquês, em 1773, para as obras da Universidade, este mestre carpinteiro acumula, desde 1777, os serviços de mestre pedreiro e, depois do falecimento de Guilherme Elsden, assume, a partir de 1782, a função de arquitecto. O desenho que faz da planta e alçado da fachada principal das estufas, para o qual apresenta duas propostas divergentes apenas na altura, filia-se num sóbrio classicismo. Três vãos laterais emolduram um arco central encimado por frontão triangular em correspondência com a porta de entrada, igualmente dotada de frontão triangular, interrompido por um medalhão com “Busto [que] pode ser de Lineu = querendo=”13. Desconhece-se se este traçado veio a ser executado. No entanto, a julgar pelo Mapa do terreno que ocupa o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra [6], elaborado em 1795 por Macomboa, parece-nos que tal proposta veio a ter, de forma parcial, seguimento. De facto, a planta das estufas delineada no dito mapa assemelha-se à proposta por si avançada em 1791, indicando-se a parte já acabada e a somente projectada. Este mapa dá-nos ainda conta do andamento dos trabalhos, representando já os lanços de escadas e parapeitos do grande quadrado inferior que haviam sido terminados em 1794. Neste ano foram também concluídos os portões de acesso ao quadrado central, encontrandose no do lado Este uma inscrição laudatória a D. Maria com a data de 1791. Em 1799 o bispo-conde D. Francisco de 44 for which he presented two proposals that differed only as to height, are in a sober classical style. Three side bays frame a central arch topped by a triangular pediment, leading to a doorway, also with triangular pediment, decorated with a medallion bearing a “bust [that] could be Linnaeus”13. We do not know if this design was ever executed. However, judging by the “Map of the terrain occupied by the Botanical Garden of University of Coimbra” [6] drawn in 1795 by Macomboa, it would seem that it was at least partially followed. In fact, the outline of the greenhouses in that map resembles his own proposal put forward in 1791, indicating the part that was already completed and that which was merely planned. This groundplan also informs us of the progress of the works and already shows the flights of stairs and parapets of the large lower quadrangle that had been finished in 1794. In that year, the doorways giving access to the central quadrangle were also finished, with an inscription in praise of D. Maria, dated 1791, on the eastern side. In 1799, the bishop-count D. Francisco de Lemos returned to direct the University, remaining in the post until 1821. From the moment he resumed functions, he committed himself to furthering the works on the Botanical Garden, an effort which unfortunately was less fruitful than in his first period in office, given the context, marked by the French invasions and political convulsions on the national scale. In 1801, he ordered the construction of the stairs on the second level. The unsigned and undated design in Chinese ink and watercolour on paper that is found in the General Library of the University of Coimbra was probably the project for the stairs linking the second and third levels of the Garden, drawn up at the end of the 18th century and put into practice at the beginning of the 19th. In fact, this plan was clearly followed since, on both the north and south sides of the Garden, the staircases leading to Lemos retoma a direcção da Universidade, mantendo-se no cargo até 1821. Logo que reassumiu funções empenhou-se em dar o maior desenvolvimento às obras do Jardim Botânico, esforço que, porém, não viria a ser tão frutífero como no seu primeiro reitorado dado o contexto, marcado pelas invasões francesas e pelas convulsões políticas nacionais, em que se desenrolou. Em 1801 ordenou a construção das escadas do segundo plano. O desenho a tinta-da-china e aguada castanha e cinzenta sobre papel, não datado nem assinado, que se encontra na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, constitui, com probabilidade, o projecto, guisado no final do século XVIII e posto em prática no começo da centúria seguinte, para o levantamento das escadas entre o segundo e terceiro plano do Jardim. De facto, da sua observação resulta o reconhecimento que tal plano veio a ter consecução, uma vez que, quer do lado Norte, quer do lado Sul do Jardim, as the third level follow the scheme proposed. Moreover, of the two solutions put forward for the endings of the walls, it is precisely the decoration marked “not suitable” that seems to have been used, if we look carefully at the present Garden. In 1807, the purchase of part of the grounds belonging to the Marian priests, negotiated 33 years before, finally went ahead. It was also the year when Félix Avelar Brotero (who had been in charge of the scientific organization of the Garden since 1791 and was responsible for the teaching of botany and agriculture) made his most decisive pronouncement about the plan to be followed in the Garden. The report sent to the rector on 5th March 1807 is of great importance, not only because in it Avelar Brotero specifies the definition and aims of this type of establishment, but also because he indicates which parts of it were essential and which secondary [7], accompanied by a survey of what had been com- 45 escadarias que dão acesso ao terceiro patamar obedecem ao esquema proposto. Por outro lado, das duas soluções avançadas para o remate dos muretes, é precisamente o ornato indicado como aquele que “não serve”, o que irá, segundo nos parece, ter seguimento, tal como se conclui através de um olhar atento sobre o Jardim actual. Do ano de 1807, altura em que realizou finalmente a compra da parte da cerca dos Marianos, agendada há já 33 anos, data o pronunciamento mais decisivo de Félix Avelar Brotero, encarregado desde 1791 da organização científica do Jardim e da regência da cadeira de botânica e agricultura, acerca do plano a seguir no Jardim. O relatório enviado ao reitor, a 5 de Março de 1807, reveste-se da maior importância, quer pelo facto de nele Avelar Brotero precisar a definição e os objectivos deste tipo de estabelecimento, quer pela indicação das suas partes essenciais e secundárias [7], acompanhada do levantamento do que estava feito e do que havia de o ser. Dela se depreende, concomitantemente, uma crítica velada às anteriores restrições pombalinas, as quais, embora na memória, seriam conveniente e conscientemente esquecidas com o passar dos anos e o avolumar de exemplos de similares jardins que outras universidades europeias vinham promovendo. Da exposição deste naturalista, por muitos 46 pleted and what was still to do. It also offers a veiled criticism of the previous Pombaline restrictions, which, though still within living memory, had been conveniently and consciously forgotten with the passage of the years and the development of similar gardens in other European universities. The arguments put forward by this naturalist (whom many called the “Portuguese Linnaeus”) are interesting as regards the Coimbra Garden. In relation to its essential parts, Brotero highlighted: “ordered beds” (E), confirming that “this is done with walls, balconies and iron gates”; “Parterre – groups without any scientific order, contributing to the decoration and conservation of many species” (P), adding that this was “almost finished on the upper level”; “hot and temperate house” (T), of which the temperate house was ready; “Shelter” (A), “begun on the eastern side of the temperate house; “Site for seed beds” (S), “begun on the side of the arches and only later planted with trees that demand shelter”; “Avenues and copses” (L), “1. on the land between the main street and the wall along the public road; 2. on the slopes of the hill next to the walls of the Carmelite and Benedictine grounds; 3. on a portion of the terrain right next to the northern gate entrance”; “Damp shady place (the hill next to the grounds of the Benedictine friars)” and finally, the “water apelidado de “Linneo portuguez”, interessanos sobretudo sublinhar o que a respeito do Jardim conimbricense se discriminava. Em relação às suas partes essenciais, Brotero destacava: “eschola methodica” (E), confirmando que “está feita com muros, varandas e portas de ferro”; “Parterre – grupos sem ordem scientifica, contribuindo para decoração e conservação de muitas especies” (P), acrescentando estar “quasi estabelecido no plano superior á eschola”; “Estufa quente e temperada” (T), estando feita a temperada; “Abrigadouro” (A), “principiado ao lado oriental da estufa temperada; “Logar para sementeiras” (S), “começado do lado dos arcos, sendo depois plantado com arvores que exigiam abrigo”; “Lamedas e bosquetes” (L), “1.º no terreno que fica entre a rua principal e o muro ao longo da estrada publica; 2.º nas encostas da collina contigua aos muros das cercas dos Carmelitas e benedictinos; 3.º numa porção de terreno que fica logo á entrada da porta septentrional”; “Logar húmido e sombrio (a collina vizinha á cerca dos frades bentos)” e, finalmente, “depositos de agua”14. Quanto às partes secundárias destacava a aula, o lugar de cultura de plantas medicinais (M), a decoração (adequada à natureza do local e às possibilidades económicas) e as casas do professor, do jardineiro e do guarda. O minucioso exame que acabámos de transcrever deixa transparecer não só o pragmatismo do docente, mas também o seu profundo conhecimento da realidade do dito recinto. Contudo, os tempos que se avizinhavam não viriam a permitir que este relatório assumisse o carácter de programa a levar à prática. Com efeito, aproximavam-se as invasões francesas e, com elas, todas as obras seriam interrompidas. O último apontamento que temos do ano de 1807, um plano do Jardim elaborado por José do Couto [8], ficaria na gaveta e só seria retomado após o fim da Guerra Peninsular. Entretanto, Avelar Brotero partiria para Lisboa para aí dirigir o Jardim Botânico da tanks”14. As regards the secondary parts, he indicated the classroom; the place for the cultivation of medicinal plants (M); decoration (suitable for the nature of the site and economic possibilities) and the houses of the professor, gardener and guard. This careful examination reveals not only the teacher’s pragmatism but also his profound knowledge of the site itself. However, in the coming years, it would not be possible for this report to become a programme to be put into practice. In fact, the French invasions were at hand, and with them, all building work was interrupted. The last notes we have from the year 1807, a ground plan of the Garden by José do Couto [8], were shelved and would only be taken up again at the end of the Peninsula War. In the meantime, Avelar Brotero left for Lisbon to run the Ajuda Botanical Gardens, retiring in 1811. If there were any designs or plans dating from the period of the French invasions, they are not known. We do, however, have the testimony of a contemporary witness who allows us to imagine what the place was like at that time. Laura Junot, duchess of Abrantes and wife of the French ambassador in Portugal, declared in 1808 that “the Botanical Garden of Coimbra was considerably better than the garden of the king in Lisbon. Each plant had a plaque with its classification number, like in the Paris ‘Plant Garden’, which meant that the strange and beautiful flora of Portugal could be properly studied”15. While the botanical merits of the Garden were recognised, architecturally it had still to be completed. Work was resumed on it from 1814 under the direction of António José das Neves e Mello. Between 1814 and 1821, the land was levelled between the central and upper roads, and work went ahead on the construction of the outer wall and railings, with iron brought over from Stockholm for this purpose. In 1822, the gate on the side of the seminary was built. 47 Ajuda, jubilando-se em 1811. Do período das invasões francesas, se a desenhos ou plantas não nos podemos reportar, temos porém um testemunho contemporâneo que nos possibilita imaginar o estado em que se encontrava este espaço. Laura Junot, duquesa de Abrantes e esposa do embaixador francês em Portugal, declarava em 1808 que “el Jardín Botánico de Coimbra era bastante superior al jardín del rey en Lisboa. Cada planta tenía tablilla com su nombre de clasificación, como en el «Jardin des Plantes» de Paris, permitiendo estudiar perfectamente la curiosa y bella flora de Portugal”15. Se do ponto de vista botânico se reconheciam méritos, a parte arquitectónica permanecia por apurar. A ela se dedicariam os trabalhos, retomados a partir de 1814 e cuja direcção se entregou a António José das Neves e Mello. Entre 1814 e 1821 realizaram-se as terraplanagens entre a rua central e a superior e procedeu-se à construção do muro e gradaria exterior, mandandose vir, para este efeito, ferro de Estocolmo. Em 1822 foi construído o portão do lado do 48 José do Couto dos Santos Leal’s project for the main gate of the Garden was approved in 1818. This is a design in Chinese ink and watercolour on paper [9], which is preserved in the Machado de Castro National Museum. It presents two alternative proposals; the columns and pillars are on tall bases and are topped by an entablature finished off with pronounced volutes, differing mostly as regards the coping. The one on the right is completed with an allegorical figure of Nature; the one on the left, which was approved and executed, develops more modestly, culminating upwards in two urns and a pinnacle. The project was certainly executed before 1839, the date of publication of the famous watercolour of Saint Anne’s Fountain, lithographed by Louis Hague, which shows the gateway already built, with only its iron gate missing. This was placed later, since it has the date of 1844 on its upper wing and the name of the locksmith, Manuel Bernardes Galinha, near the lock. The gateway near St Sebastian’s aqueduct was also built in the first decades of the 19th seminário. Data de 1818 a aprovação do projecto para o portal principal do Jardim, da autoria de José do Couto dos Santos Leal. Trata-se de um desenho a tinta-da-china e aguada sobre papel [9] que se conserva no Museu Nacional de Machado de Castro. Apresenta duas propostas alternativas – definidas por um alto envasamento sobre o qual se conjugam colunas e pilastras encimadas por um entablamento rematado por uma pronunciada voluta – que diferem sobretudo ao nível do coroamento. A da direita é concluída por uma figura alegórica da Natureza; a da esquerda, aprovada e executada, desenvolve-se de forma mais modesta, culminando, em ritmo ascendente, com duas urnas e um pináculo. O projecto foi certamente realizado ainda antes de 1839, data da publicação da célebre água-tinta, representando a Fonte de Sant’Ana, gravada por Louis Hague, na qual se observa, em segundo plano, o portal já levantado, faltando-lhe apenas a colocação da sua porta de ferro. Esta é posterior, patenteando na bandeira a data de 1844 e o nome do serralheiro responsável, Manuel Bernardes Galinha, junto da fechadura. O portal de entrada do lado do aqueduto de S. Sebastião foi erguido também nas primeiras décadas do século XIX, pois aparece já representado quer na água-tinta a que já nos referimos, quer num desenho de D. Maria José Pereira Forjaz de Sampaio, da primeira metade do século XIX, representando a parte Norte do Jardim ainda sem as estufas. Em Outubro de 1854 foi aprovado o projecto geral da estufa, riscada pelo engenheiro francês Pedro José Pezerat, e um ano depois já estavam concluídos os seus alicerces. Em Julho de 1857 celebrou-se com o Instituto Industrial de Lisboa o contrato para a execução da obra, tendo chegado a Coimbra, em Outubro de 1859, a primeira parte da estufa. Iniciados os trabalhos da sua colocação e armação, por operários century, since it appears both in the watercolour mentioned above and in a drawing by D. Maria José Pereira Forjaz de Sampaio from the first half of the 19th century, showing the northern part of the Garden as yet without the greenhouses. In October 1854, the general plan for the greenhouse, sketched by the French engineer Pedro José Pezerat, was approved, and a year later, the foundations were already laid. In July 1857, a contract was celebrated with the Lisbon Industrial Institute for the execution of the work, and the first part of the greenhouse arrived in Coimbra in October of 1859. Work began on the structure, using workers specially recruited in Lisbon for the purpose, and in July 1860, most of it was already in place. However, various problems, particularly the lack of resources, delayed the completion of the works. The rest of the greenhouse was only ordered two years later, from the Massarelos Foundry in Oporto, without any alterations to the sketches and plans adopted. In 1865, the greenhouse, consisting of three sections with different temperatures and conditions, was finished and the first exotic plants started to arrive. Work then began on two smaller greenhouses, “destined for the propagation and culture of special specimens”16. The gardener Edmond Goëze from Holstein, who had worked in the gardens of Kew and Paris, was appointed to oversee the cultures and greenhouses in 1866. The years 1854 to 1867, under the curatorship of Henrique do Couto d’Almeida, saw the construction of flights of stairs on the southern side, most of the irrigation tanks, the pilasters and railings of most of the levels of the Garden. In 1868, the year Antonino José Rodrigues Vidal took over as curator, the first Index Seminum (a seed catalogue that facilitated exchanges and transfers with similar institutions) was published. In this period, the grounds of the now extinct Benedictine College were definitively incorporated, putting an end to 49 contratados em Lisboa expressamente para este fim, em Julho de 1860 estava já assente grande parte. No entanto, dificuldades de ordem diversa, sobretudo relativas a falta de meios, atrasaram a finalização dos trabalhos. Só dois anos depois se encomendou o resto da estufa, sem alteração dos riscos e planos adoptados, à Fábrica de Fundição de Massarelos no Porto. Em 1865, a estufa, composta de três corpos de temperatura e condições distintas, estava concluída e começava a albergar as primeiras plantas exóticas. Procedeu-se seguidamente à construção de outras duas pequenas estufas, “destinadas á multiplicação e a algumas culturas mais especiaes”16. Para dirigir os trabalhos de cultura das estufas foi contratado, em 1866, o jardineiro Edmond Goëze, que era natural de Holstein e havia trabalhado nos jardins de Kew e de Paris. Entre 1854 e 1867, período que corresponde à direcção de Henrique do Couto d’Almeida, foram construídos os lanços de escadas do lado Sul, grande parte dos reservatórios de água para regas, as pilastras e grades da maioria dos planos do Jardim. Em 1868, ano em que Antonino José Rodrigues Vidal passa a chefiar os destinos do estabelecimento, foi publicado o primeiro Index Seminum, catálogo de sementes que tornou possível a permuta com instituições congéneres. Nesta época procedeu-se ainda à definitiva incorporação da cerca do extinto Colégio dos beneditinos, pondo-se fim a um processo que se vinha arrastando desde 1836. A hoje denominada “mata”, cujo acesso está vedado ao público, começou por esta altura a ser sistematicamente plantada, sob a direcção do jardineiro Gabriel Douverel, e a ser desbravada pela abertura de várias ruas e atalhos delineados por António Borges Medeiros. Em 1873 era confiada a Júlio Augusto Henriques a direcção do Jardim Botânico de Coimbra. Abria-se, a vários níveis, um novo capítulo da história deste Jardim que, a partir de então, afirmaria sem precedentes a process that had dragged out since 1836. The area of woodland and thicket known today as the mata, which is not open to the public, began to be systematically planted at this time, under the direction of gardener Gabriel Douverel, and was opened up with a number of roads and paths designed by António Borges Medeiros. In 1873, Júlio Augusto Henriques took over as curator of the Botanical Garden and a new chapter opened in its history. The scientific status of the garden was now confirmed in an unprecedented way. Symbolically, the first step was to transfer the botany lessons, till then given in the Natural History Museum, to the S. Bento building; the professor also announced his support for a teaching methodology that was essentially practical in nature, something he in fact fought for his whole life. With the scanty resources available, he managed to furnish the classroom, acquire materials to use in his lessons and equip the botanical laboratory that he created. He replaced academic dissertations with practical work in microscopy, comparative morphology and herborizations, encouraging the students to compile little herbariums that would contribute to the Garden’s own collection. Aware that “the effective teaching of botany requires not only a garden where the most important species can be studied, but also collections of another order, amongst which an important place is occupied by diverse vegetal products”17, he set to work organizing the museum, using at first the examples that already existed in the Museum of Natural History. His model was the Royal Gardens at Kew, which he visited in 1878, adapting it the Portuguese context and, of course, limited resources available. The museum, which was established in the old Benedictine refectory, expanded, until by the end of the century it had spilled over into two additional rooms, a sign of the increase in the size of the collection. The cabinets were made of wood from differ- 51 o seu estatuto científico. Simbolicamente, o primeiro passo dado pelo lente foi a transferência da aula de botânica, então leccionada no Museu de História Natural, para o edifício de S. Bento, anunciando a defesa de um ensino prático, pelo qual pugnaria toda a sua vida. Dentro dos parcos rendimentos de que dispunha, conseguiu mobilar a sala de aula, adquirir material para usar nas suas lições e para apetrechar o laboratório botânico que criou. Substituiu as dissertações académicas por trabalhos de microscopia, de morfologia comparada e por herborizações, incentivando os alunos a compilar pequenos herbários que contribuíam para a própria colecção do Jardim. Por outro lado, ciente de que “o ensino proveitoso da botanica exige, além d’um jardim onde se possam encontrar os elementos fundamentaes do seu estudo, collecções de outra ordem, entre as quaes occupa de certo logar importante a que for constituida de diversos productos fornecidos pelos vegetaes”17, empenhou-se em organizar o museu, aproveitando, numa primeira fase, os exemplares existentes no Museu de História Natural. Uma visita, em 1878, ao acervo do Jardim Real de Kew, serviu-lhe de modelo, o qual procurou depois adaptar à realidade portuguesa e, sobretudo, aos escassos meios de que dispunha. Estabelecido no antigo refeitório beneditino, o museu expandiu-se até ao fim da centúria por outras duas salas, sinal do aumento da colecção que detinha. Os armários foram feitos de madeiras provenientes de várias colónias portuguesas, designadamente de S. Tomé, Angola, Moçambique e Índia, constituindo “por si já parte do mesmo museu”18. Na esteira de uma museologia hoje denominada «tradicional», pretendia-se reunir no mesmo espaço, de acordo com o âmbito do museu, “a maior copia de objectos”, não obstante a preocupação em “dispor e ordenar esses objectos de modo que o todo cause boa impressão ao visitante, porque então o exame das partes será feito com 52 ent Portuguese colonies, such as S. Tomé, Angola, Mozambique and India, and as such “were themselves part of the museum”18. Following a museological policy which today would be called “traditional”, the aim was to collect together in the same space “the largest copy of objects”, despite the concern with “organizing and ordering those objects in such a way as to make a good impression on the visitor, so that more attention will be given to examining the parts”19. In 1880, Júlio Henriques founded the Broterian Society to further the acquisition and exchange of plants with different places in the country, and its first bulletin was published in 1883. The library, which was located in the room before the herbarium, was enriched by an exchange scheme established with numerous foreign journals and publications. The herbarium too, laid out in the former sacristy of the College of S. Bento and co-directed by Joaquim de Mariz, an assistant naturalist, was given an important impulse, immediately evident in the increase in the number of requests from other gardens, teaching institutions and private establishments, and in the need expressed by the curator in 1887 to construct a gallery above the main group of cabinets in order to accommodate the growing number of species; these had been donated, obtained by exchange or through herborizations undertaken in Portugal and its colonies, or were purchased, as happened with the famous herbarium collected by Heinrich Moritz Willkomm. In the Botanical Garden itself, there were reforms on the scientific, aesthetic and material levels, within the constraints of the limited budget. At a time when “scientific colonization” was widely supported, Júlio Henriques, assisted by his head gardener, Adolfo Frederico Moller, encouraged attempts at different cultures and sent seeds and plants (particularly cinchonas, which were considered to be “sources of wealth” and “medically precious for many maior interesse e attenção”19. Em 1880, com vista à aquisição e troca de plantas de diversos locais do país, Júlio Henriques fundou a Sociedade Broteriana, cujo primeiro boletim foi publicado em 1883. A permuta estabelecida com numerosas revistas e publicações estrangeiras permitiu enriquecer a biblioteca, situada na sala que precedia o herbário. Este, disposto na antiga sacristia do Colégio de S. Bento e co-dirigido por Joaquim de Mariz, naturalista adjunto, conheceu também um decisivo impulso, desde logo patente no crescimento de solicitações por parte de outros jardins, instituições de ensino e particulares, bem como na necessidade, expressa pelo director, em 1887, de construir uma galeria sobre o corpo principal de armários para acomodar o número crescente de espécies oferecidas ou obtidas quer por troca, quer através das herborizações realizadas no país e nas colónias, quer ainda por compra, como sucedeu com o famoso herbário coligido por Heinrich Moritz Willkomm. No Jardim Botânico, as reformas estenderam-se, dentro de um orçamento limitado, ao campo científico, estético e material. Numa altura em que ecoava a defesa duma “colonização científica”, Júlio Henriques, auxiliado pelo jardineiro chefe, Adolfo Frederico Moller, promoveu o ensaio de várias culturas e o envio, para a África ocidental, de sementes e plantas, sobretudo cinchonas, consideradas “fontes de riqueza” e “medicamento precioso para muitas enfermidades”20, nomeadamente para a malária. Crítico do seu tempo e, particularmente, do modo como era conduzida a colonização, não deixou de sublinhar e de fazer chegar às instâncias superiores a crença de que “não necessitamos (…) de grandes exércitos, porque a nossa nacionalidade está garantida pelas condições geraes do equilibrio europeo; mas temos necessidade de sciencia, que anime as nossas industrias, que vivifique as nossas colónias, que nos torne emfim respeitados.”21 infirmities”20, such as malaria) to western Africa. Critical of his times and particularly of the way colonization was conducted, he made sure his superiors knew his belief that “we don’t need (…) large armies, because our nationality is guaranteed by the general conditions of European equilibrium; we do, however, need science, which animates our industries, enlivens our colonies and ultimately wins us respect.”21 The central quadrangle, where the plants had long been arranged in the Linnaean order in concentric beds with the tank, was reconfigured to create a “geographical garden”, where the species were placed in such a way as to represent the different botanical regions of the earth. Thus, in 1891, the species that had occupied this space were replanted in other parts of the Garden, in accordance with the curator’s guidelines. The trays immediately above this level were also modified, receiving ornamental plants that would therefore frame the roads and avenues. On the remaining terraces and on the terrain near the “Avenue of Lindens”, they were distributed according to natural families. As well as sporadic improvements to the plumbing and greenhouse heating system, and the repainting of the railings and large greenhouse, there were also some more significant changes. Two new greenhouses were built: one of them, whose iron roof was finished in 1887, replaced the two older ones used for orchids and reproduction; the other, raised in the area of the College grounds, was destined for the cultivation of ferns and other plants that required a damp environment. The enclosure of the inner zones (such as in the area near the small greenhouse and on the "Avenue of Lindens") with stone pillars and iron railings was also completed, in 1888 and 1891 respectively. One of the most visible legacies of Júlio Henriques’ curatorship is the statue of Félix Avelar Brotero in front of the main gate to the Garden. This homage had first 53 O quadrado central, onde as plantas haviam permanecido muito tempo dispostas pela ordem linneana em canteiros concêntricos com o tanque, foi reconfigurado, com vista a constituir um “jardim geográfico”, onde as espécies fossem colocadas de forma a representar as diversas regiões botânicas da Terra. Nesse sentido, em 1891, replantaram-se em outras partes do Jardim as que ocupavam este espaço, dando início à concretização das orientações do director. Os tabuleiros imediatamente superiores a este patamar foram também modificados, recebendo plantas ornamentais que, assim, enquadravam as ruas e alamedas. Nos restantes terraços e no terreno contíguo à «avenida das Tílias», imperava a sua distribuição por famílias naturais. A par de melhoramentos pontuais ao nível da canalização das águas, do aquecimento das estufas, da repintura da gradaria do Jardim e da estufa grande, destacam-se algumas obras significativas. Construíramse duas estufas: uma, concluída em 1887 com a colocação da sua cobertura em ferro, veio substituir as duas antigas de orquídeas e de reprodução; outra, erguida na zona da cerca, foi destinada à cultura de fetos e outras plantas que exigissem humidade. Além disso, completou-se a cercadura, formada pelo gradeamento de ferro e por pilares de pedra, nas zonas interiores em falta, nomeadamente na área junto da estufa pequena, em 1888, e na «avenida das Tílias», finalizada em 1891. Uma das heranças mais visíveis da direcção de Júlio Henriques é a estátua de Félix Avelar Brotero, erguida em frente do portão principal do Jardim. A proposta desta homenagem remontava a 1876; porém, só a partir de 1880 se iniciaram as diligências, nomeando-se uma comissão e abrindo-se uma subscrição com vista a angariar fundos para a sua efectivação. Definido o material (mármore) e assente que o distinto professor deveria ser representado com os hábitos académicos, encarregou-se o escultor Antó- 54 been proposed in 1876; however, nothing was done about it until 1880, when a committee was appointed and a fund set up to attract donations. Once it had been decided that the material would be marble and that the distinguished professor would be represented in his academic gown, the sculptor António Soares dos Reis was commissioned to execute the statue and the architect Tomás Augusto Soller the pedestal. The whole thing was placed in position and inaugurated on 1st April 1887. In 1918, Júlio Henriques retired. He had made a profound mark on the Garden during his four decades as curator, and this was acknowledged. The avenue running parallel to the main entrance of the Garden was named after him in that same year, and in April 1925, following a proposal presented to the Government by the Faculty of Sciences, a decree was issued determining that the Coimbra Botanical Garden and its annexes (herbariums, museum, library and laboratories) would thereafter be named the Dr. Júlio Henriques Botanical Institute. In 1918, the management of the Garden passed into the hands of Luiz Wittnich Carrisso, who undertook the complex task of renovation. He regenerated the teaching staff, the Broterian Society, the library, herbarium and garden, and was also concerned with the premises of the former Benedictine building, part of which had been given over to the José Falcão High School, obliging some of the annexes to be relocated and the limited space to be managed imaginatively. As regards the garden, Luiz Carrisso was adept at reconciling the demands of science with landscaping precepts. With the new curator, more attention was now given to the visitor, a sign that the space was no longer conceived as a place for “boys’ study”, but for the education and enjoyment of an increasingly broader public. As well as extending the area that was open to visitors, this period also saw the cultivation of nio Soares dos Reis de executar a estátua e o arquitecto Tomás Augusto Soller de delinear o pedestal. O conjunto foi colocado no devido lugar e inaugurado no dia 1 de Abril de 1887. Em 1918, Júlio Henriques jubila-se. A profunda marca deixada no estabelecimento que dirigiu durante mais de quatro décadas ser-lhe-ia reconhecida. A alameda paralela à entrada principal do Jardim receberia o seu nome nesse mesmo ano e, em Abril de 1925, por proposta apresentada pela Faculdade de Ciências ao Governo, é publicado um decreto determinando que o Jardim Botânico de Coimbra e seus anexos – herbários, museu, biblioteca e laboratórios – passassem a denominar-se Instituto Botânico Dr. Júlio Henriques. A gerência do Jardim passaria, em 1918, para as mãos de Luiz Wittnich Carrisso. Cabia-lhe uma profunda tarefa de renovação. Impunha-se a regeneração do corpo docente, da Sociedade Broteriana, da biblioteca, do herbário e do Jardim. A estas somava-se a preocupação com as instalações no antigo edifício beneditino, dado que parte deste fora entregue ao Liceu José Falcão, forçando a reinstalação de dependências e a gestão da falta de espaço com imaginação. No que concerne ao Jardim, Luiz Carrisso soube conciliar a exigência científica com os preceitos paisagísticos. A atenção concedida ao visitante, em progressão ao longo da história do horto botânico, deu com o novo director mais um passo, sinal da própria evolução da concepção deste espaço, agora não apenas pensado para «estudo de rapazes», mas também para a educação e a usufruição de um público cada vez mais vasto. Além de se aumentar a área visitável, procedeu-se, nesta altura, ao cultivo de numerosas plantas ornamentais; criaram-se viveiros; procurou-se que as várias Escolas estivessem completas e devidamente classificadas; ajardinou-se parte da mata e numa das suas encostas estabeleceuse, em novos moldes, a Escola das numerous ornamental plants; the creation of nurseries; the completion and proper classification of the various sections; and the landscaping of part of the mata, with the establishment of a new-format monocotyledon bed on one of its slopes. The greenhouses were also radically improved [10], particularly as regards structure, heating and flora cultivated, and the famous Victoria amazonica was introduced into the small greenhouse. However, it was in the area of “scientific colonization” that Luiz Carrisso made the biggest mark, continuing and extending the work begun by his master. Under his guidance, the Institute’s activities were largely oriented towards the botanical exploitation of the colonies, justified as a tool of socioeconomic progress and political legitimation, but in practice exceeding all these purposes. In fact, the three expeditions to Angola (the botanical mission of 1927, the academic mission of 1929 and the botanical mission of 1937) resulted not only in the collection of species that can still be seen today in the museum, herbarium and garden, and in the study and divulgation of Angolan plant life, but also in the production of audiovisual, written and photographic documents that are invaluable not only to botany, but also to anthropology, history and sociology. Luiz Carrisso lost his life in the Mocamedes desert on 14th June 1937. His premature death left a vacuum in the running of the Botanical Garden, for the Faculty of Science regulations stipulated that the post had to be filled by a full professor. Abílio Fernandes, a discipline of Carrisso and at that time assistant lecturer, performed the functions indirectly, while management was formally attributed to Rui Couceiro da Costa (chemistry) and José Custódio Morais (mineralogy and geology). Abílio Fernandes only took over as curator of the Garden in 1942, after being appointed to the chair of botany; he occupied the post until 1974. Thus we move into what has been really the 55 Monocotiledóneas. As estufas receberam também profundos melhoramentos [10], nomeadamente ao nível da estrutura, do aquecimento e da flora cultivada, tendose introduzido na estufa pequena a famosa Victoria amazonica. Contudo, foi no âmbito da «colonização científica» que Luiz Carrisso deixou o cunho mais forte da sua acção e personalidade, prolongando e ampliando o testemunho do seu mestre. Grande parte da actividade do Instituto foi, sob a sua orientação, direccionada para a exploração botânica das colónias, justificada como instrumento de progresso socio-económico e legitimação política, e posta em prática extravasando todos estes os propósitos. Com efeito, as três expedições organizadas rumo a Angola – missão botânica de 1927, missão académica de 1929 e missão botânica de 1937 – não se saldaram apenas pela recolha de espécies 56 last phase of the construction of the Garden that we know today. This was a period of great change as regards town planning and architecture under the Estado Novo. From the beginning of the 1940s, plans were drawn up for the high part of Coimbra, involving the transformation of existing spaces and construction of new buildings from scratch; no mention was made of the Botanical Garden in the general plan for the university campus, and despite the fact that it formally exceeded the remit of the Administrative Committee for the Works Planning of Coimbra University Campus (CAPOCUC), the possibility of improving it was broached early on. The first studies in this regard were undertaken in the academic year of 1943-44 and quickly won the support of the Botanical Institute, which invested in CAPOCUC its hopes of finally obtaining the financial hoje passíveis de serem observadas no museu, herbário e Jardim, ou pelo estudo e divulgação da fitodiversidade angolana. Delas resultaram, também, documentos audiovisuais, escritos e fotográficos de enorme valor, não apenas ao nível da botânica, mas também da antropologia, da história e da sociologia. Em pleno deserto de Moçâmedes, Luiz Carrisso perde a vida a 14 de Junho de 1937. A sua morte prematura deixava um vazio na direcção do Jardim Botânico. Este cargo, de acordo com o regulamento da Faculdade de Ciências, tinha de ser desempenhado por um professor catedrático. Abílio Fernandes, discípulo de Carrisso e então docente auxiliar, desempenharia tal função indirectamente, sendo formalmente a gerência atribuída a Rui Couceiro da Costa (química) e José Custódio Morais (mineralogia e geologia). Seria apenas em 1942 que, realizadas as provas e nomeado catedrático do grupo de botânica, Abílio Fernandes encabeçaria a direcção do Jardim, a qual ocuparia até 1974. Entramos, assim, naquele que foi, verdadeiramente, o último período construtivo do Jardim que hoje conhecemos. Esta etapa inscreve-se na profunda intervenção urbanística e arquitectónica levada a cabo pelo Estado Novo a partir do início da década de quarenta na Alta de Coimbra, a qual contemplou, a par de edificações de raiz, transformações nos espaços existentes. Embora não constando do plano geral da cidade universitária e formalmente ultrapassar as atribuições da Comissão Administrativa do Plano de Obras da Cidade Universitária de Coimbra (CAPOCUC), a possibilidade de efectuar melhoramentos no Jardim Botânico irrompeu desde cedo. Os primeiros estudos arrancaram no ano lectivo de 1943-44 e depressa granjearam o apoio do Instituto Botânico que depositou na CAPOCUC as esperanças de vir a obter, finalmente, os meios financeiros para empreender as reformas de que o Jardim e means to implement the reforms that were so needed in the garden and facilities of the former St Bento College. Abílio Fernandes’ negotiating skills and above all, the relationship of trust which he seemed to have established with the director-delegate of the Committee, the engineer Manuel de Sá e Mello, smoothed the way for his requests and suggestions. The “works of refurbishment and embellishment”, as they were defined by the CAPOCUC, were carried out mostly between 1944 and 195022. They began with the installation of central heating in the tropical plant greenhouses, the arborization of the mata and the opening up of roadways. Also in 1944, Cottinelli Telmo, head architect of the Committee between 1941 and 1948, designed stone benches for the Garden and planned how they would be positioned. Six backless double benches were arranged around the statue of Brotero and twenty eight simple ones were distributed around the rest of the garden. An order was also made for fifty wooden benches and, in 1951, a further twelve stone ones, identical to those already in existence, were ordered. The year 1945 was dominated by the launch of two important projects: the remodelling of the central quadrangle and the construction of the cold greenhouse. The former, designed by Cottinelli Telmo and Armand Van Bellinghen, gardener of the Lisbon City Council hired in 1944, was justified by the fact that, according to the authors, the garden “has a beautiful geometric shape, but it is flat, without relief (…) and being largely decorated with seasonal flowers, cannot permanently retain a desirable decorative appearance, which also brings problems and costs for conservation”. The solution proposed [11] consisted firstly in “surrounding all beds with boxwood hedges, descending in height from the centre”; these, being easy to look after, would give “the garden a dignity appropriate to its grandeur and broad vistas”. With 57 as instalações no antigo Colégio de S. Bento careciam. A capacidade de negociação de Abílio Fernandes com os técnicos responsáveis e, sobretudo, a confiança que parece ter estabelecido com Manuel de Sá e Mello, engenheiro director-delegado da Comissão, facilitaram o acolhimento dos seus pedidos e sugestões. “Obras de arranjo e aformoseamento”, como as definiu a CAPOCUC, centraramse, essencialmente, no que diz respeito ao Jardim, entre 1944 e 195022. Principiaram com a instalação de aquecimento central nas estufas de plantas tropicais, a arborização da mata e a abertura de arruamentos. Ainda no ano de 1944, Cottinelli Telmo, arquitecto-chefe da Comissão entre 1941 e 1948, se deteve a desenhar bancos de pedra para o Jardim e a planear o seu posicionamento. Foram dispostos seis duplos sem costas ao redor da estátua de Brotero e vinte e oito simples pelo restante Jardim. A este número se juntou uma encomenda de cinquenta bancos com réguas de madeira e, em 1951, o fornecimento de mais doze bancos de pedra iguais aos existentes. O ano de 1945 surge dominado pelo arranque de duas obras fundamentais: a remodelação do quadrado central e a construção da estufa fria. A primeira, idealizada por Cottinelli Telmo e por Armand Van Bellinghen, jardineiro da Câmara Municipal de Lisboa contratado em 1944, justificavase, no entender dos autores, “porque é um jardim com um belo traçado geométrico, sim, mas que se apresenta chato, sem relevo (…) e porque sendo na sua maior parte guarnecido por flores de estação não pode manter permanentemente aquele aspecto decorativo que seria desejar, acarretando a sua conservação, ao mesmo tempo, dificuldades e despesas”. A solução proposta [11] consistia em, primeiramente, “rodear todos os canteiros com sebes de buxo, de altura decrescente a partir do centro”, que, sendo de fácil conservação, dariam “ao jardim uma dignidade 58 this layout, “an observer standing near the lake would, without losing his overview of the whole, find himself in a more intimate first zone, limited by higher hedges and boxwood pyramids instead of a flat open space, decorated with flowering shrubs and bushes in accordance with the flavour of the occasion and fantasy of gardeners – and when standing at the edge, he would have a view of the amphitheatre of hedges that would soften the negative effects of the digging undertaken to replace the species”. Secondly, they would create “large areas of lawn and bright flowers”. Thirdly, they would place “a statue, with its respective pedestal, in the lake in the centre”. Finally, they would lower the height of the border around the beds and create “a curtain of climbing roses” to “give interest to the periphery”23. The project, which was approved by the director of the Botanical Institute in the same year, was only completely implemented in April 1949 with the construction of the monumental fountain, in Outil stone, on the existing tank. The fountain [12] was, we believe, designed by the architect Álvaro da Fonseca, since he had been commissioned for the task and the sketch seems to show his monogram (the letters A, V and F entwined) in the bottom right hand corner. The cold greenhouse was planned by Cottinelli Telmo in the shape of a trapezium, with a series of pillars and beams in reinforced concrete forming “the skeleton of a box, with the walls and roof covered in wooden latticework through which the air could circulate and the sunlight filter in”. To implement it “in accordance with the Curator’s wishes”, they chose “an almost treeless area of thicket near the support wall of the Botanical Garden opposite the main entrance, in the wall that serves the back of the Greenhouse”. As regards the aesthetic appearance of the exterior, the architect favoured a “picturesque” approach in tune with the place, reflected particularly in the materials used. As well as the wood that em relação com a sua grandeza e com o seu rasgado traçado”. Com esta disposição, “o observador colocado junto do lago encontrar-se-ia, sem perder o abrangimento visual do conjunto, numa primeira zona mais íntima, limitada pelas sebes mais altas e respectivas pirâmides talhadas no buxo, em vez de ter diante de si um campo raso, guarnecido de maciços de flores e arbustos ao sabor da ocasião e da fantasia dos jardineiros – e, quando colocado na periferia – teria a visão do anfiteatro de sebes que atenuaria o mau efeito das cavas para substituição de espécies”. Em segundo lugar, criar-se-iam “grandes zonas de relva e flores vivazes”. Em terceiro lugar, colocar-se-ia “uma estátua – lined the “box”, they also added “irregular slabs of stone, with roughly hewn surfaces” used for the sills, steps and walls24. The contracts were awarded in 1945 and must have been near conclusion by the end of the following year since, in June 1946, an invitation to tender was issued for a complementary construction, namely the bridge connecting the garden with the mata. The project, which was also signed by Cottinelli, involved rebuilding in a new style the old bridge that connected the western side of the central quadrangle to the arboretum, while also improving the spot by “‘disciplining’ what is presently no more than a plot of land with haphazard relief and a few foot- e respectivo pedestal – no lago do centro”. Finalmente, reduzir-se-ia a altura excessiva do lancil que contorna os canteiros e “uma cortina de roseiras trepadeiras contribuiria para dar interesse à parte periférica”23. Aprovado no mesmo ano pelo director do Instituto Botânico, o projecto só seria totalmente concretizado em Abril de 1949, com a colocação da fonte monumental, em pedra de Outil, sobre o tanque já existente. O desenho da fonte [12] foi, julgamos, elaborado por Álvaro da Fonseca, pois sabe-se que este arquitecto fora encarregado de a riscar e o próprio debuxo parece apresentar o seu monograma (entrelaçamento das letras A, V e F) no canto inferior direito. A estufa fria foi projectada por Cottinelli Telmo como um trapézio composto por uma série de pilares e vigas de betão armado que constituíam “o esqueleto de uma caixa cujas paredes e cobertura são fechados por ripado de madeira por onde circula o ar e a luz do sol entra coada pelos intervalos entre as ripas”. Para a sua implantação, escolheuse, “de acordo com o Exmo. Director”, “uma zona de terreno da mata, quase sem árvores, junto do muro de suporte do Jardim Botâ- 60 paths”. “So that the work planned is not simply utilitarian but also takes account of aesthetics, without losing sight of the economic aspect”, the architect decided to embellish the reinforced concrete structure with ashlar masonry, trying to make the new construction tone in with the gateway into the Garden. He also used rough coursed masonry in the coping of the walls and balustrades of the staircase and steps. The whole thing was finished in September 1948 with the fitting of the bridge railings25. In 1949, the finishing touches were put on six brick turrets with reinforced concrete roofs and wooden doors designed for provide shelter for the guards of the mata, and also on the head gardener’s house, which had been altered to reflect the model of the “Portuguese house” using a collage of formal and decorative elements characteristic of traditionalist eclecticism. In addition, other smaller buildings were scattered around the garden and wood: public toilets, staff outhouses, tanks for fertilizer, toolhouses, greenhouses and cold frames. As regards decoration, CAPOCUC applied the same policy here as in the much larger buildings constructed on the University hill. Sculpture was used to dignify the space and indoctrinate visitors, both as a tribute to notable figures and as allegory of knowledge. The first statue to be planned for the garden was of Júlio Henriques. The contract for its execution was celebrated in August 1944 with Salvador Barata Feyo, although it was only actually installed in 1950, opposite the eastern façade of the old Benedictine college. In July 1946, the sculptor Joaquim Martins Correia was contracted to make an allegorical statue to botany in plaster. This was finished in 1948 but was only transferred into stone in 1949, the year when discussions were held as to where to put it, eventually opting for the cold greenhouse. Finally, between April and September 1948, nico que se opõe à entrada principal deste, muro que serve de fundo à Estufa”. Relativamente à linguagem estética do exterior, o arquitecto procurou favorecer, em consonância com o local, “o aspecto pitoresco”, traduzindo-o sobretudo ao nível dos materiais. À madeira que forrava a “caixa”, acresciam as “lajes irregulares, de superfícies desbastadas grosseiramente” empregues nas soleiras, degraus, muretes e muros24. Adjudicados os trabalhos em 1945, deveriam estar perto da conclusão no fim do ano seguinte pois, em Junho de 1946, era aberto o concurso para uma construção complementar a esta: a ponte de ligação do Jardim com a mata. O projecto, assinado igualmente por Cottinelli, visava reconstituir, em novos moldes, a antiga ponte que ligava o lado oeste do quadrado central ao arboreto, melhorando-se, simultaneamente, este local, “«disciplinando» aquilo que actualmente não é senão um terreno com uma orografia de acaso e com caminhos de pé posto”. “Para que a obra projectada se não resumisse à sua função utilitária mas «juntasse» a utilidade à estética, sem perder de vista o aspecto económico”, o autor optou por enobrecer a estrutura de betão armado com a utilização de cantaria aparelhada, procurando assim que a nova construção não destoasse da própria moldura do portal do Jardim, e com o emprego de pedra de aparelho grosseiro no capeamento dos muretes, guardas de escada e degraus. O conjunto foi terminado em Setembro de 1948 com a instalação do gradeamento da ponte25. Em 1949 foram finalizadas a edificação de seis guaritas em tijolo com cobertura de betão armado e porta de madeira para abrigo dos guardas da mata, bem como a reforma da casa do chefe dos jardineiros, onde se afirmou o modelo da «casa portuguesa» através de uma «colagem» de elementos formais e decorativos característicos do eclectismo tradicionalista. Além destas, outras construções de menor enver- the sculptor José Pereira dos Santos made a bronze medallion with a portrait of Luiz Carrisso to crown the corner opposite the D. Maria gateway, which had a small tank where we can still see today a number of designed pieces, though unsigned and undated. Other miscellaneous improvements completed the general effect that was desired for the Botanical Garden and got rid of the blemishes left by time “so that the whole thing would be more harmonious”26. The stone steps of the main staircase of the garden were replaced, and the railings, gates and masonry of the steps of the central quadrangle were restored; a wall was built alongside the Arch of Betrayal; name plates were attributed to plants in the different areas, and consideration was given to the suggestion of installing grandiose lighting in the mata. As regards the flora, as well as replacing and fertilizing the earth in the flowerbeds, new species were introduced which till then had not existed in the collections. While it is not surprising that examples should have come from the colonies and Brazil, it is interesting to note the naturalness with which CAPOCUC also managed to establish contacts with horticulturalists and botanical gardens throughout Europe, with a view to acquiring plants for Coimbra, at a time when the old continent was embroiled in the Second World War. The irrigation system in the Botanical Garden was one of the aspects that most motivated Abílio Fernandes to continue his appeal for state support. By 1944, it had been generally acknowledged that the existing plumbing was inadequate and in a poor state of repair, and some improvements were made to the water system. However, the situation continued to worsen, as the curator of the Garden informed the president of CAPOCUC on 20th June 1945, owing to the expansion of the planted area, frequent drought and, particularly, 61 gadura pontuaram o Jardim e a mata: instalações sanitárias, dependências para o pessoal, depósitos para adubos e arrecadação de ferramentas, estufas e estufins. Ao nível do programa decorativo, a CAPOCUC não deixou de aplicar aqui a mesma política que seguira nos grandes volumes erguidos na Alta universitária. À escultura reservou-se o papel de enobrecer o espaço e «doutrinar» os seus utilizadores, ora enquanto tributo a «figuras notáveis», ora enquanto alegoria do saber. A primeira estátua pensada para o Jardim foi a de Júlio Henriques. O contrato para a sua execução foi celebrado em Agosto de 1944 com Salvador Barata Feyo; porém, só em 1950 seria assente em frente à fachada Este do antigo Colégio beneditino. Em Julho de 1946, ajustou-se, com o escultor Joaquim Martins Correia, a execução em gesso de uma estátua alegórica à botânica que, concluída em 1948, só seria passada à pedra em 1949, altura em que se procedeu enfim ao estudo do sítio da sua colocação, optando-se por remetê-la para a estufa fria. Por último, entre Abril e Setembro de 1948, o escultor José Pereira dos Santos executou um medalhão em bronze com o retrato de Luiz Carrisso, destinado a coroar o recanto em frente do portal de D. Maria, dotado de um pequeno tanque, de que subsistem peças desenhadas, embora não assinadas nem datadas. Outros melhoramentos pontuais completaram o efeito geral que se pretendida conferir ao Jardim Botânico, apagando as «mazelas» que o tempo lhe havia impresso “para o conjunto ficar mais harmonioso”26. Substituíram-se os degraus em pedra da escadaria principal do Jardim, restaurou-se a gradaria, os portões e as cantarias das escadas do quadrado central, edificou-se o muro do lado do Arco da Traição, distribuíram-se placas identificativas de plantas por diversas zonas e chegou ainda a ponderar-se uma iluminação grandiosa da mata. No que diz respeito à flora, para além da 62 the obstruction of the underground water channels, which reduced the Garden’s water resources to the increasingly restricted Municipal supply. Despite odd improvements, in 1949 the situation became unsustainable as a result of the threat to cut off the water supply by the municipal services. Abílio Fernandes managed to resist a definitive cut, but the continuation of the drought in 1950 ultimately led him to make a new appeal to the president of CAPOCUC, urging the construction of a tank near the statue of Avelar Brotero, under the avenue running parallel to Avenue Júlio Henriques. The site was considered the most suitable for four reasons: it was the entry point for the waters from the underground springs; its relative height meant that it could supply most of the Garden; it would be simple to connect the tank to the pipes, and it could be supplied by autotanks, if there were a shortage of water from the springs. In February of the same year, the project was approved. However, the invitation to tender was only issued in September 1960. The tank was to be buried, as planned, between the statue of the former scholar and the main gate. This “concealment”, justified for “technical reasons”, also overcame “an architectural problem that was difficult to solve”, as described in the specifications27. The part of the former College of St Bento that housed the Botanical Institute also received attention from CAPOCUC. After considering various possibilities, it was decided to reserve it for the Institutes of Botany and Anthropology. The work needed to adapt the space and divide it between the two institutions progressed slowly with frequent interruptions, and was only properly finished in the 1970s. As regards the Botanical Institute, there was an exchange of correspondence in 1944 and 1945 between Manuel de Sá e Mello and the Consul of Great Britain in order to obtain substituição e respectiva adubação da terra dos canteiros, introduziram-se novas espécies até aí inexistentes nas colecções. Se o plantio de exemplares das várias colónias ou do Brasil não nos causa surpresa, é, porém, interessante constatar a naturalidade com que a CAPOCUC estabeleceu contactos com horticultores e vários jardins botânicos europeus com vista à aquisição de plantas para Coimbra, numa altura em que o velho continente se encontrava a braços com a Segunda Guerra Mundial. O sistema de rega do Jardim Botânico constituiu um dos aspectos que mais motivou Abílio Fernandes a continuamente apelar à intervenção estatal. Já em 1944, o reconhecimento da insuficiência e deterioração da canalização existente incentivara alguns progressos na rede de distribuição de água. Contudo, como relatava o director do Jardim ao presidente da CAPOCUC em 20 de Junho de 1945, a situação não deixou de se agravar, em consequência do aumento da área plantada, da ocorrência de frequentes períodos de seca e, sobretudo, da obstrução das minas de água em vários pontos, o que reduzia os recursos hídricos do Jardim ao abastecimento facultado, cada vez de forma mais restrita, pela Câmara Municipal. Apesar das melhorias pontuais, em 1949 a situação tornou-se insustentável em virtude da ameaça de suspensão da rega por parte dos Serviços Municipalizados. Abílio Fernandes conseguiu suster o corte definitivo, mas a prevalência da estiagem no ano de 1950 acabaria por conduzir o director a fazer uma nova exposição ao presidente da CAPOCUC, sugerindo a construção urgente de um depósito junto à estátua de Avelar Brotero, debaixo da alameda que corre paralela à Avenida Júlio Henriques. O local era apontado como o mais indicado por quatro motivos: era o ponto de entrada das águas das minas; poderia, pela sua elevação, abastecer a maior parte do Jardim; a ligação do depósito à canalização seria simples e aquele poderia ser abastecido por information about the facilities and organization of the Kew Botanical Institute “to be taken into consideration at the Coimbra Botanical Institute”. Communication problems resulting from the war that was still in progress meant that contacts between CAPOCUC and London had to be made via the Portuguese consul in London. Through this intermediary, the curator of the Royal Botanic Gardens at Kew responded to Abílio Fernandes’ questions and requests about the facilities in the Garden, its greenhouses, and the structure and disinfecting of its herbariums28. It is not unreasonable to suppose, then, that the refurbishment of the Coimbra Botanical garden was once again subject to English influence, on the scientific level. As well as a large lecture hall and offices for lecturers and researchers, two big laboratories were created for the general courses and two smaller ones for the special courses. The library, museum and herbariums were given better premises. Inside the building, CAPOCUC tried to recreate an old atmosphere, ordering for the purpose some reproductions of 17th century tiles showing flowers and birds, similar to those in the Machado de Castro National Museum, which were used to line the corridors, lobbies, hall and stairs of the Institute. However, it was in the area adjacent to the Benedictine complex and the St Sebastian aqueduct that the monumentalism of the Estado Novo was most felt. Although inside the Botanical Gardens the neoclassical gigantism of the new buildings was restrained, using instead of the traditionalist Portuguese suave (“smooth Portuguese”) style, the exterior clearly reveals the taste for grandeur, with the glorification of the monument’s individuality and the “purging” of all animate or inanimate “excrescences” that could reduce it. In September 1958, the minister for Public Works, Eduardo de Arantes e Oliveira, declared the urgent need to expropriate 63 auto-tanques, no caso de a água das minas se tornar insuficiente. Em Fevereiro desse mesmo ano era aprovada a organização do respectivo projecto para ser cumprido. Todavia, só em Setembro de 1960 se abriu o concurso para a sua arrematação. Ficaria enterrado, como previsto, entre a estátua do antigo lente e o portal principal. Esta “ocultação”, justificada por “razões técnicas”, deixou também, como se lê na memória descritiva, “de criar um problema de ordem arquitectónica de ingrata solução”27. O antigo Colégio de S. Bento, em parte do qual se encontrava já o Instituto Botânico, recebeu igualmente a atenção da CAPOCUC que, depois da ponderação de várias hipóteses, acabou por o reservar para os Institutos de Botânica e Antropologia. As obras de adaptação e de repartição do espaço por ambos os estabelecimentos foram lentas e por inúmeras vezes interrompidas, atingindo o seu termo já na década de sessenta. No que concerne ao Instituto de Botânica, a documentação consultada revela a troca de correspondência, nos anos de 1944 e 1945, entre Manuel de Sá e Mello e o Cônsul da Grã-Bretanha, com vista a obter referências acerca das instalações e organização do Instituto Botânico de Kew “para serem tomadas em consideração no Instituto Botânico de Coimbra”. As dificuldades de comunicação, oriundas do confronto bélico em decurso, acabaram por determinar que os contactos entre a CAPOCUC e Londres se fizessem através do Cônsul de Portugal nessa cidade. Por intermédio deste, o director do Royal Botanic Gardens de Kew atendeu às solicitações de Abílio Fernandes, interessado em receber informações sobre as instalações daquele Jardim, das suas estufas e da estruturação dos seus herbários e respectiva desinfecção28. Consequentemente, torna-se plausível pressupor a influência inglesa, ao nível científico, na remodelação do Instituto Botânico de Coimbra. Além de um anfiteatro e de gabinetes para 64 a series of buildings backing onto the St Sebastian aqueduct as part of the project to provide access areas to the University campus, approved in August of that year. The demolition of the houses built into the arches began at the end of 1959. The desire to clear away the space in front of the College and aqueduct to isolate them and display them in all their “purity” also led to the felling of the trees that obstructed their view. Ironically, this also coincided with the demolition in 1959 of the last arch of the aqueduct, which had for decades been considered a national monument, in order to link Martim de Freitas Street with the road that went around the Faculty of Science buildings. After the completion of the improvements to the Botanical Institute and the extinction of CAPOCUC in 1969, the Garden did not undergo any further serous intervention until the end of Abílio Fernandes’ period as curator, in 1974, the year of the “carnation revolution”. The democratization of Portuguese society and of the University as an institution will also have had an impact upon the strategies and objectives of the establishment. Today, as always, the conservation and rehabilitation of the cultural and natural heritage depend upon political and ideological decisions, the financial resources available and social pressures. Coimbra’s Botanical Garden has not escaped this web of influences, nor will it in future; thus it constitutes a space par excellence for the confrontation and conciliation of the various synergies that affect our heritage. This survey of the Garden’s evolution reveals that it has developed out of a counterpoint between Art and Science and represents a compromise between what was dreamt and what was achievable, what was desired and what was possible. It bears traces of the Italian and English influences that characterized Portugal in the Pombaline era, the economic and political vicissitudes of the 19th century, and the various nationalisms that professores e investigadores, criaram-se dois grandes laboratórios para os cursos gerais e dois mais pequenos para os cursos especiais. Instalaram-se, por seu turno, condignamente, a biblioteca, o museu e os herbários. No interior do edifício, a CAPOCUC procurou recriar uma ambiência antiga, encomendando, nesse sentido, a reprodução de azulejos seiscentistas com flores e pássaros, semelhantes aos existentes no Museu Nacional de Machado de Castro, que passaram a cobrir os corredores, vestíbulos, átrios e escadas do Instituto. Contudo, foi na zona adjacente ao complexo beneditino e ao aqueduto de S. Sebastião que a acção monumentalizadora do Estado Novo mais se fez sentir. Se no interior do Jardim Botânico se refreou o gigantismo neoclássico patente nas novos imóveis erguidos, optando-se antes por um «português suave» de cunho tradicionalista; no exterior, afirmou-se, claramente, a busca de uma perspectiva grandiosa, exaltadora da individualidade do monumento e, por conseguinte, «expurgadora» de todas as «excrescências» animadas ou inanimadas que a pudessem diminuir. Em Setembro de 1958, o ministro das Obras Públicas, Eduardo de Arantes e Oliveira, declarava a urgência em expropriar uma série de prédios adossados ao aqueduto de S. Sebastião, de acordo com o projecto das zonas de acesso à cidade universitária de Coimbra, aprovado em Agosto desse ano. A demolição do casario «incrustado» nos arcos iniciou-se em finais de 1959. O intuito de «desafrontar» o Colégio e o aqueduto, isolando-os e exibindo-os na sua «pureza», ditou também o corte do arvoredo que «obstruía» a sua vista. Ironicamente, a assepsia instaurada coexistiu com a demolição, em 1958, do último arco do aqueduto, há décadas considerado monumento nacional, em prol da conciliação topográfica entre as Ruas Martim de Freitas e a que circunda os edifícios da Faculdade de Ciências. marked the 20th. As a living witness to all that, it can best be appreciated, as always, with knowledge of the circumstances that contributed to making it what it is today. 1 Fernando Taveira da Fonseca, “O Jardim Botânico no contexto da Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra (1772)”, paper presented at the conference O Século das Luzes: Portugal, Brasil e região do Rio Prata, (Berlin, 19th to 24th May 2003). 2 Estatutos da Universidade de Coimbra (1772), vol. III, Coimbra, Coimbra University, 1972, p. 266-267. 3 Manuel Lopes de Almeida, Documentos da reforma pombalina, [Doc. XXXIV. 7th November 1772. Letter from the Marquis of Pombal to D. Francisco de Lemos], vol. I, 1771-1782, Coimbra, Coimbra University, 1937, p. 52-53. 4 Letter from Francisco de Lemos to the Marquis of Pombal, dated 3rd February 1773. Quoted by Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrucção publica portugueza, vol. III, 1700-1800, Lisbon, Royal Academy of Sciences, 1898, p. 470. 5 Manuel Lopes de Almeida, Documentos da reforma pombalina, [Doc. XLIV. 12th February 1773. On the arrival of the machines and instruments for Physics and the demarcation of the Botanical Garden], vol. I, 1771-1782, p. 69. 6 Letter from Francisco de Lemos to the Marquis of Pombal, dated 3rd February 1773. Quoted by Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrucção publica portugueza, vol. III, 1700-1800, p. 479-480. 7 Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrucção publica portugueza, vol. III, 1700-1800, p. 477. 8 Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrucção publica portugueza, vol. III, 1700-1800, p. 476. 9 Manuel Lopes de Almeida, Documentos da reforma pombalina, [Doc. LXV. 5th October 1773. Document about the Botanical Garden], vol. I, 1771-1782, p. 104. 10 Manuel Lopes de Almeida, Documentos da reforma pombalina, [Doc. LXV. 5th October 1773. Document on the Botanical Garden], vol. I, 1771-1782, p. 105. 65 Realizada a campanha de melhoramentos no Instituto Botânico e extinta a CAPOCUC em 1969, o Jardim não voltou a ser objecto de uma séria intervenção até ao fim da direcção de Abílio Fernandes, a qual culminou, precisamente, no mesmo ano da «revolução dos cravos». A democratização da sociedade portuguesa e, por conseguinte, da instituição universitária conimbricense, não deixou, julgamos, de ter um impacto no campo das estratégias e objectivos deste estabelecimento. Hoje, tal como desde sempre, a salvaguarda e a requalificação da herança cultural e natural desenvolvem-se a reboque das opções políticas e ideológicas, das disponibilidades financeiras e das pressões sociais. O Jardim Botânico de Coimbra não escapou, nem escapa, a esta teia de cumplicidades, constituindo, por excelência, um espaço de confronto e conciliação das sinergias que concorrem para a modelagem do património. Do caminho percorrido resulta a consciência de que este Jardim se talhou no contraponto entre a Arte e a Ciência, no equilíbrio entre o sonhado e o alcançado, entre o desejado e o possível. Correm-lhe, nas veias, as influências italianas e inglesas que marcaram o Portugal pombalino, as vicissitudes económicas e políticas que acompanharam o século XIX, bem como os diferentes nacionalismos que percorreram o século XX. De todos constitui um testemunho vivo, cuja valorização depende, como invariavelmente acontece, do grau de conhecimento a seu respeito. 1 Sobre este assunto, veja-se Fernando Taveira da Fonseca, “O Jardim Botânico no contexto da Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra (1772)”, em O Século das Luzes: Portugal, Brasil e região do Rio Prata. Actas do Congresso realizado em Berlim de 19 a 24 de Maio de 2003, (no prelo). 2 Estatutos da Universidade de Coimbra (1772), vol. III, Coimbra, Universidade de Coimbra, 66 11 Francisco de Lemos, Relação Geral do Estado da Universidade (1777), Coimbra, Coimbra University, 1980, p. 132. 12 Júlio Henriques, “O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. II (1792-1810)”, O Instituto, 2nd series, vol. XXIII, Coimbra, University Press, July/December 1876, p. 19, 55. 13 Lurdes Craveiro, “A arquitectura da ciência”, in Laboratório do Mundo. Idéias e saberes do século XVIII, São Paulo/Lisbon, Pinacoteca/Imprensa Oficial, 2004, [Catalogue], p. 99. 14 Júlio Henriques, “O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. II (1792-1810)”, p. 58-59. 15 Duquesa de Abrantes, Portugal a principios del siglo XIX. Recuerdos de una embajadora, 2nd ed., Madrid, Editorial Espasa-Calpe, 1968, p. 113. 16 Júlio Henriques, “O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. V (1855-1873)”, O Instituto, 2nd series, vol. XXIII, Coimbra, University Press, July/December 1876, p. 158. 17 Júlio Henriques, “O museu botanico da Universidade e as collecções de productos de Macau e Timor”, O Instituto, 2nd series, vol. 30, Coimbra, 1883, p. 60. 18 Júlio Henriques, “Relatorio do professor da cadeira de botanica relativo ao anno lectivo de 1887 a 1888”, Annuario da Universidade de Coimbra, Coimbra, University Press, 1889, p. 313. 19 “Universidade de Coimbra. O museu botanico”, [Júlio Henriques], Annuario da Universidade de Coimbra, Coimbra, University Press, 1888, p. V-VI. 20 Júlio Henriques, “Relatorio do professor da cadeira de botanica relativo ao anno lectivo de 1881 a 1882”, Annuario da Universidade de Coimbra, Coimbra, University Press, 1882, p. 245; Júlio Henriques, “A cultura das plantas que dão a quina nas possessões portuguezas”, O Instituto, 2nd series, vol. 22, Coimbra, 1876, p. 189. 21 Júlio Henriques, “Oração de sapiencia recitada na Sala dos Actos Grandes da Universidade de Coimbra no dia 16 de Outubro de 1894”, Annuario da Universidade de Coimbra, Coimbra, University Press, 1895, p. XXIII. 22 CAPOCUC Files consulted: 114, 114A, 114B, 114C, 148, 167, 169, 172, 180, 198, 197, 198, 199, 200, 210, 219, 243, 548, 613, 622 e 699 da CAPOCUC. Coimbra University Archive. 23 CAPOCUC File 198 – Botanical Garden (Project for alterations). Coimbra University 1972, p. 266-267. 3 Manuel Lopes de Almeida, Documentos da reforma pombalina, [Doc. XXXIV. 7 de Novembro de 1772. Carta do Marquês para D. Francisco de Lemos], vol. I, 1771-1782, Coimbra, Universidade de Coimbra, 1937, p. 52-53. 4 Carta de Francisco de Lemos, enviada ao marquês de Pombal com data de 3 de Fevereiro de 1773. Citado por Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrucção publica portugueza, tomo III, 1700 a 1800, Lisboa, Academia Real das Sciencias, 1898, p. 470. 5 Manuel Lopes de Almeida, Documentos da reforma pombalina, [Doc. XLIV. 12 de Fevereiro de 1773. Sobre a chegada das máquinas e instrumentos de Física e delineamento do Horto Botânico], vol. I, 1771-1782, p. 69. 6 Carta de Francisco de Lemos, enviada ao marquês de Pombal com data de 22 de Fevereiro de 1773. Citado por Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrucção publica portugueza, tomo III, 1700 a 1800, p. 479-480. 7 Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrucção publica portugueza, tomo III, 1700 a 1800, p. 477. 8 Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrucção publica portugueza, tomo III, 1700 a 1800, p. 476. 9 Manuel Lopes de Almeida, Documentos da reforma pombalina, [Doc. LXV. 5 de Outubro de 1773. Ofício sobre o Jardim Botânico], vol. I, 1771-1782, p. 104. 10 Manuel Lopes de Almeida, Documentos da reforma pombalina, [Doc. LXV. 5 de Outubro de 1773. Ofício sobre o Jardim Botânico], vol. I, 1771-1782, p. 105. 11 Francisco de Lemos, Relação Geral do Estado da Universidade (1777), Coimbra, Universidade de Coimbra, 1980, p. 132. 12 Júlio Henriques, “O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. II (1792-1810)”, O Instituto, 2.ª série, vol. XXIII, Coimbra, Imprensa da Universidade, Julho/Dezembro de 1876, p. 19, 55. 13 Lurdes Craveiro, “A arquitectura da ciência”, em Laboratório do Mundo. Idéias e saberes do século XVIII, São Paulo/Lisboa, Pinacoteca e Imprensa Oficial, 2004, [Catálogo], p. 99. Archive. 24 CAPOCUC File 199 – Cold greenhouse. Coimbra University Archive. 25 CAPOCUC File 210 – Bridge and alterations to the connection between the Botanical Garden and the thicket Coimbra University Archive. 26 CAPOCUC File 114A – Botanical Garden. Coimbra University Archive. 27 CAPOCUC File 548 – Adaptation of the St Bento building into the Botanical Institute. Coimbra University Archive. 28 CAPOCUC File 114 – Botanical Garden. Coimbra University Archive. 67 14 Júlio Henriques, “O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. II (1792-1810)”, p. 58-59. 15 Duquesa de Abrantes, Portugal a principios del siglo XIX. Recuerdos de una embajadora, 2.ª ed., Madrid, Editorial Espasa-Calpe, 1968, p. 113. 16 Júlio Henriques, “O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. V (1855-1873)”, O Instituto, 2.ª série, vol. XXIII, Coimbra, Imprensa da Universidade, Julho/Dezembro de 1876, p. 158. 17 Júlio Henriques, “O museu botanico da Universidade e as collecções de productos de Macau e Timor”, O Instituto, 2.ª série, vol. 30, Coimbra, 1883, p. 60. 18 Júlio Henriques, “Relatorio do professor da cadeira de botanica relativo ao anno lectivo de 1887 a 1888”, Annuario da Universidade de Coimbra, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1889, p. 313. 19 “Universidade de Coimbra. O museu botanico”, [Júlio Henriques], Annuario da Universidade de Coimbra, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1888, p. V-VI. 20 Júlio Henriques, “Relatorio do professor da cadeira de botanica relativo ao anno lectivo de 1881 a 1882”, Annuario da Universidade de Coimbra, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1882, p. 245; Júlio Henriques, “A cultura das plantas que dão a quina nas possessões portuguezas”, O Instituto, 2.ª série, vol. 22, Coimbra, 1876, p. 189. 21 Júlio Henriques, “Oração de sapiencia recitada na Sala dos Actos Grandes da Universidade de Coimbra no dia 16 de Outubro de 1894”, Annuario da Universidade de Coimbra, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1895, p. XXIII. 22 Para o estudo da intervenção da CAPOCUC no Jardim foram consultados os processos 114, 114A, 114B, 114C, 148, 167, 169, 172, 180, 198, 197, 198, 199, 200, 210, 219, 243, 548, 613, 622 e 699 da CAPOCUC. Arquivo da Universidade de Coimbra. 23 Processo 198 da CAPOCUC – Jardim Botânico (Projecto de remodelação). Arquivo da Universidade de Coimbra. 24 Processo 199 da CAPOCUC – Estufa fria. Arquivo da Universidade de Coimbra. 25 Processo 210 da CAPOCUC – Ponte e arranjo da ligação do Jardim Botânico com a mata. Arquivo da Universidade de Coimbra. 26 Processo 114A da CAPOCUC – Jardim Botânico. Arquivo da Universidade de Coimbra. 27 Processo 548 da CAPOCUC – Adaptação 68 do edifício de S. Bento a Instituto Botânico. Arquivo da Universidade de Coimbra. 28 Processo 114 da CAPOCUC – Jardim Botânico. Arquivo da Universidade de Coimbra. Imagens Fig. 1 Planta para um Horto Botânico idealizada pelo arquitecto E. Oakley e executada por B. Cole. Peça desenhada dedicada por Jacob de Castro Sarmento em 1731 ao reitor da Universidade de Coimbra, D. Francisco Carneiro de Figueiroa. Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Ms. 3377/75. Fig. 2 Planta para o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Sem autor. 1773 (?). Biblioteca do Departamento de Botânica da Universidade de Coimbra, Sala E. Fig. 3 Risco do Jardim Botânico para a Universidade de Coimbra. Júlio Mattiazzi. Sem data. Reprodução de Riscos das obras da Universidade de Coimbra, Coimbra, Museu Nacional de Machado de Castro, 1983, p. 55. [Álbum original pertencente à família Santos Simões] Fig. 4 Risco das estufas do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Sem autor. Sem data. Reprodução de Riscos das obras da Universidade de Coimbra, Coimbra, Museu Nacional de Machado de Castro, 1983, p. 56. [Álbum original pertencente à família Santos Simões] Fig. 5 Risco das estufas do Real Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Sem autor. Sem data (século XVIII). Biblioteca do Departamento de Botânica da Universidade de Coimbra, Sala E. Fig. 6 Mapa do terreno que ocupa o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Manuel Alves Macomboa. 1795. Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Ms. 3380. Fig. 7 Planta do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, com a indicação das partes essenciais e secundárias, segundo Félix Avelar Brotero. Reprodução de Júlio Henriques, “O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. II (1792-1810)”, O Instituto, 2.ª série, vol. XXIII, Coimbra, Imprensa da Universidade, Julho/ Dezembro de 1876, s/p. Fig. 8 Primeiro orçamento fundamental do risco do Jardim Botânico. [José do] Couto. Outubro de 1807. Biblioteca do Departamento de Botânica da Universidade de Coimbra, Sala E. Fig. 9 Projecto para o portal principal do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. José do Couto dos Santos Leal. 1818. Museu Nacional de Machado de Castro. MNMC 2898; DA 37. Fig. 10 Obras na estufa pequena, Luiz Carrisso, 1934. Colecção do Departamento de Botânica da Universidade de Coimbra. Fig. 11 Projecto de remodelação do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Cottinelli Telmo e Armand Van Bellinghen. 1945 (?). Arquivo da Universidade de Coimbra. Processo 198 da CAPOCUC – Jardim Botânico (Projecto de remodelação). Fig. 12 Desenho da fonte monumental para o quadrado central do Jardim Botânico. Álvaro da Fonseca (?). Sem data. Na margem direita lê-se “Falta para o Jardim Botânico de Coimbra”. Processo 114B da CAPOCUC – Jardim Botânico. Arquivo da Universidade de Coimbra. 69