Das origens do RPG

Das origens do RPG
Publicado originalmente na lista de discussão da Ordem do Dragão Dourado
(www.dragaodourado.com.br)
A guerra foi, durante muitos séculos na história da humanidade, a
atividade principal da sociedade. A partir das capacidades de combate de
um povo ou de um indivíduo se definiam relações de superioridade,
escravidão ou até mesmo a estrutura social dessas comunidades. Com o
advento das revoluções sociais, industriais e da ascensão do comércio como
principal atividade humana moderna, a guerra foi perdendo espaço no
cotidiano das pessoas e hoje representa um dos maiores temores do mundo
civilizado. Entretanto, o instinto de combate, de enfrentamento é algo
inerente ao ser humano e persiste nos indivíduos modernos em várias
formas. Algumas dessas formas são brutais, ignorantes e primitivas, como a
guerra entre torcidas no futebol, e outras mais saudáveis e lúdicas, como
jogos com temáticas de enfrentamento estratégico, dos quais poderíamos
citar o xadrez, damas, baduk, etc.
Um dos jogos que busca se assemelhar mais a uma guerra real é o
“kriegspiel” (literalmente “jogo de guerra”), que surgiu na região da Prússia
e teve um dos seus momentos mais importantes no século XVIII. Em sua
forma antiga mais conhecida, o “kriegspiel” consistia em embate entre dois
exércitos, cada um controlado por um jogador, formado por várias
miniaturas, que representavam diferentes tipos de unidades bélicas
(infantaria, cavalaria, canhões, fortes, etc) e que podiam se movimentar
sobre um grande mapa quadriculado de um determinado território. Cada
um dos tipos de peças tinha suas características (velocidade, alcance,
ataque, defesa, etc) e podiam ser usados de forma estratégica para
derrotar o inimigo. Havia ainda um fator determinante para o resultado das
batalhas, a sorte, pois se utilizava de um dado para decidir determinados
acontecimentos.
O “kriegspiel” foi utilizado por muitas escolas militares a partir do
século XVIII na Prússia e em outro países como Áustria, França, Estados
Unidos e Japão. Versões mais populares foram se espalhando entre os civis
e o jogo tornou-se o chamado “wargame”, sendo difundido por todo o
planeta. Nos Estados Unidos o mercado cresceu rapidamente e existiam
“caixas de wargame” temáticas para cada uma das grandes batalhas
modernas. Com o surgimento de uma febre mundial em fantasia medieval,
com uma boa contribuição da redescoberta do universo de O Senhor dos
Anéis, de J. R. R. Tolkien pelos jovens, começaram a ser feitos (ainda que
de forma caseira) “wargames” com essa temática. Neste período surge uma
das grandes figuras na história do RPG: Gary Gygax, que lança um livro
com regras para “wargames” medievais chamado “Chainmail”, ou “cota-demalha”.
Pouco tempo depois, esse novo jogo passa por outra
transformação. Conta-se que em determinado cenário criado por Gygax,
havia um castelo impenetrável, no qual muitos soldados haviam perdido
suas vidas. Então, um certo jogador chamado Dave Arneson, propôs que as
defesas deste castelo poderiam ser destruídas se um único soldado (ou um
grupo muito pequeno deles) entrasse sorrateiramente por suas masmorras
e o atacasse de dentro pra fora. No desenvolvimento desta idéia, os
jogadores passaram a representar não mais todo um exército, e sim um
único personagem, em uma aventura em masmorras e calabouços
pequenos, repletos de armadilhas e inimigos a serem vencidos. Assim, em
1974, estava criado o “Dungeons & Dragons”, ou “Masmorras e Dragões”
(mais conhecido como D&D), o primeiro e mais conhecido cenário de RPG
do mundo.
Muitos outros sistemas nasceram depois, de aperfeiçoamento e
modificações do sistema proposto pelo D&D original. Hoje em dia, o
chamado RPG de mesa representa um seguimento próprio e totalmente
independente do RPG com miniaturas. Mudam-se as regras; mudam-se os
cenários; mudam-se os dados; mas para todos nós, entusiastas do RPG, a
emoção continua a mesma.
"O verdadeiro objetivo da guerra é a paz" - Sun Tzu em A Arte da Guerra.
Do Guardião da Torre de Albon,
Carrião.
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