PARECER DE ARTIGO – CADERNO DO CEAM

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PARECER DE ARTIGO – CADERNO DO CEAM
ANDRADE, E. DE SOUZA; DRESCH, L. DE O. & TREDEZINI, C. A. O. Circuitos curtos de produção,
distribuição e consumo: novas oportunidades de comercialização pela agricultura familiar em Nova
Andradina/MS.
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Circuitos curtos de produção, distribuição e consumo: novas oportunidades de
comercialização pela agricultura familiar em Nova Andradina/MS.
Elisabeth de Souza Andrade1
Leonardo de Oliveira Dresch2
Cícero Antônio Oliveira Tredezini3
Resumo
O objetivo desse trabalho é analisar as formas de comercialização de produtos pela agricultura
familiar através de circuitos curtos de produção, distribuição e consumo no município de Nova
Andradina/ MS. Para tanto, utilizou-se a fundamentação teórica referente a circuitos curtos. O
método empregado foi o qualitativo, com análise de dados secundários e entrevistas em
profundidade com agricultores familiares e informantes chaves do município de Nova Andradina/
MS. A análise dos resultados evidenciou que a agricultura familiar tem buscado novas
oportunidades de comercialização de seus produtos, a partir de sua participação em circuitos
curtos de produção, distribuição e consumo. Essa participação da agricultura familiar tem
desenvolvido novos mercados e uma maior capacidade de organização dos produtores. Concluise que essa modalidade de comercialização é capaz de desenvolver novas relações com o
mercado e gerar uma maior agregação de valor para a agricultura familiar.
Palavras chaves: Agricultura familiar, circuitos curtos, agregação de valor
Abstract
The aim of this paper is to examine ways of marketing products to family farmers through short
circuits of production, distribution and consumption in Nova Andradina / MS. For this, we used
the theoretical framework concerning short circuits. The method used was qualitative, with
analysis of secondary data and interviews with farmers and key informants from Nova Andradina
/ MS. The analysis showed that family farming has pursued new opportunities to sell their
products from their participation on short circuits of production, distribution and consumption.
This participation of family farming has developed new markets and greater organizational
capacity of producers. It is concluded that this type of marketing is able to develop new
relationships with the market and generate greater added value to family farming.
Key words: Family farms, shorts circuits, adding value
1
Mestre em Administração pela UFMS
Mestre em Administração pela UFMS
3
Dr. Geografia e Professor Adjunto da UFMS
2
SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.5, n. 1 – Set – 2011.
www. inagrodf.com.br/revista
ISSN 1981-1551
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distribuição e consumo: novas oportunidades de comercialização pela agricultura familiar em Nova
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1. Introdução
A agricultura familiar representa 84,4% dos estabelecimentos rurais brasileiros e ocupa
24,3% das terras de uso agrícola, sendo responsável por 38% do valor bruto da produção e
empregando 74,4 do pessoal ocupado no campo (Censo Agropecuário/ IBGE, 2010). Apesar dos
números expressivos, a classe denominada como agricultor familiar foi por muito tempo
negligenciada. Foi fortemente afetada pela abertura comercial e a desregulamentação de
mercados, vindos de sucessivas crises na década de 80 e já debilitados para enfrentar a nova
conjuntura.
A agricultura familiar foi colocada em evidencia a partir da década 90, tanto na academia,
a partir de estudos que procuravam desenvolver modelos rurais baseados na inclusão dos
pequenos produtores, como no cenário político, a partir de pressões de movimentos sociais que
buscavam impulsionar políticas de reforma agrária mais adequadas às realidades vivenciadas nos
campos brasileiros. Em julho de 2006, a Lei nº 11.326, ampliou formalmente o conceito de
agricultor familiar permitindo que essa categoria fosse estudada de forma sistêmica em suas
várias faces antes ocultas sobre uma infinidade de termos e conceitos.
A atenção política à agricultura familiar está longe de mitigar completamente as
dificuldades enfrentadas pela classe. Além de sujeita às especificidades comuns da atividade
agropecuária, tais como, de acordo com Buainain e Souza Filho (2001), a dependência de fatores
climáticos, sazonalidade da oferta, demanda estável que causa uma instabilidade dos preços e da
renda, entre outras, a agricultura familiar encontra ainda restrições no campo institucional,
organizacional, em questões básicas de infra-estrutura e em relação do distanciamento com
mercados (INSTITUTO INTERAMERICANO DE COOPERAÇÃO PARA A AGRICULTURA,
2006).
De acordo com os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2010) e
Pesquisa Nacional de Amostras por Domicilio (PNAD), em abril de 2010, mais de 70% dos
agricultores familiares não assumiam compromisso de venda de alguma parte de sua produção.
Esse mesmo estudo demonstra que a maior parte da produção dos agricultores, cerca de 50%,
permanece nas mãos de intermediários e apenas 20% é vendida diretamente ao consumidor.
O grande varejo, que poderia servir como eficiente canal de distribuição para os produtos
oriundos da agricultura familiar, se transforma em mais um obstáculo, uma vez que, além de
absorverem as maiores parcelas dos lucros obtidos com a comercialização, ainda impõem padrões
de qualidade e quantidade que dificilmente são passiveis de atendimento pela grande maioria dos
pequenos agricultores familiares. Em nichos de mercados, tais como o fair-trade, ou em cidades
em que o grande varejo ainda não atende, as dinâmicas de mercado são mais receptivas a
estratégias dos circuitos curtos de produção e comercialização, podendo estes servirem de base
para o desenvolvimento da agricultura familiar na região. Neste trabalho as dinâmicas do
município sul matogrossense de Nova Andradina foram investigadas para aumentar o
conhecimento sobre a problemática. O problema que este trabalho se propõe a responder é: como
os agricultores familiares utilizam-se dos circuitos curtos de produção e comercilialização como
estratégias para reprodução e desenvolvimento na cidade de Nova Andradina/MS?
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Vários trabalhos acadêmicos discutem a temática de desenvolvimento rural, e alguns
autores e instituições exaltam os circuitos curtos como estratégias privilegiadas para tal fim, entre
eles, podemos citar MALUF e Instituto Leader. Na região do Mato Grosso do Sul,
especificamente, não se observou a existência de trabalho com tal foco. As contribuições do
trabalho podem subsidiar com informações as políticas públicas que visem o desenvolvimento
rural através da agricultura familiar.
Desta forma, o objetivo deste artigo consiste em analisar a importância dos circuitos
curtos de produção, distribuição e consumo para os agricultores familiares de Nova Andradina/
MS, onde as condições vivenciadas pelos agricultores os levaram a buscar outras formas de
inserção a mercados, além das usualmente conhecidas como a integração a cadeias ou a grandes
distribuições.
2. Circuitos Curtos de produção, distribuição e consumo
O caminho percorrido por um produto, desde o momento de sua produção até a sua
disponibilização ao consumidor final, é realizado por uma série de atividades distintas. Nesse
caminho a matéria-prima sofre várias transformações operadas por intermediários, sendo que, a
cada uma dessas atividades, são repartidos os valores acrescentados aos produtos. O caminho
mais curto realizado pelo produto corresponde ao circuito curto de produção onde o produtor
vende diretamente seus produtos ao consumidor, independente de transformado ou não.
(LEADER, 2010).
Para Ploeg (2006) o domínio das grandes redes varejistas (império) sobre o produtor de
alimentos representa um contínuo movimento desagregador de valor. Para o autor a autonomia
consiste na apropriação da agregação de valor, no fortalecimento da base de recursos dos
agricultores familiares e na construção de mercados locais.
De acordo com Mendes e Junior (2007, p.37), a atividade da comercialização é
responsável por 40% de cada real gasto pelo consumidor na aquisição de produtos, ou seja, quase
metade dos reais gastos fica nas mãos de vários especialistas da comercialização. Para os autores
a comercialização deve ser considerada nas estratégias de desenvolvimento econômico uma vez
que os paralelismos entre agricultura tradicional e familiar condicionam a existência de estruturas
e análise de mercados diferenciados.
Silva (2007) coloca que a noção de circuitos econômicos permite investigar as formas de
participação da agricultura familiar como produtora de alimentos. Conforme o autor, as formas de
comercialização da agricultura familiar revelam as conexões entre os lugares e os processos de
construção de um território sócio-espacial, assim o sistema alimentar pode ser “construído de
modo a criar condições favoráveis à continuidade social e promoção econômica das famílias”.
A comercialização em circuitos curtos traz vantagens econômicas, sociais e culturais;
desenvolve condições para práticas de reciprocidade através de trocas e favores realizados entre
vizinhos; impulsiona a criação de associações e cooperativas pela necessidade de formalização
das relações; e promove o desenvolvimento local, alterando a dinâmica social e econômica com
uma maior circulação de renda, serviços e produtos, (LEADER, 2010).
A participação da agricultura familiar em circuitos curtos não exclui a participação do
agricultor em canais mais longos, ao contrário, um conjunto de agricultores pode se organizar e
aproveitar as oportunidades nos dois circuitos. Os circuitos curtos representam condições de
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aproveitamento de oportunidades locais, nichos de mercados e apropriação de valor pelo
produtor, uma vez que a venda é realizada face-a-face com o consumidor, sem a presença de
intermediários.
A agricultura familiar, segundo Maluf (2004), consiste na mais conveniente forma de
ocupação social do campo, pois é capaz de gerar ocupação e renda às famílias, além de
diversificar e ofertar uma quantidade maior de alimentos. Assim sendo, os agricultores familiares
podem participar dos mercados integrados a cadeias, integrados a rede de distribuição ou pela
venda de seu produto diretamente ao consumidor.
Diferentemente da forma de participação da agricultura patronal em sistemas
agroalimentares sugerida por Zylberstajn (2005), as relações da agricultura familiar com o
mercado ocorrem de forma muito singular, no mesmo ambiente organizacional e institucional,
mas com peculiaridades como as trocas e a reciprocidade, que não podem ser explicadas pela
formas capitalistas conhecidas.
Desta forma, as relações dos agricultores familiares com o ambiente podem ser resumidas
pela figura abaixo:
Figura 3 - Sistema familiar de empreendimento agrícola
Fonte: elaborado pela autora
Na União Européia, de acordo com o instituto Leader (2010), os circuitos curtos são
organizados como forma de desenvolvimento de pequenas cidades através do aproveitamento das
vantagens comparativas e econômicas das regiões. Essas oportunidades são exploradas através da
produção de produtos que carreguem uma identificação cultural com região onde foram
produzidos, assim, são criados comércios locais como rotas de queijos, vinhos, artesanatos e
qualquer produto que possa ser explorado pela venda direta ao consumidor.
No Brasil as formas mais conhecidas de exploração de circuitos curtos pela agricultura
familiar correspondem à venda porta-a-porta, às feiras livres, às barracas, às cooperativas
agrícolas e, recentemente, ao Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura familiar
(PAA).
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3. A construção de mercados
O mercado, como o conhecemos, apresenta-se como uma etapa complexa entre a
determinação sobre o que deverá ser produzido e a efetivação do consumo final. Para Polanyi
(2000), o mercado originalmente correspondia ao local onde se compravam, a preços
estabelecidos, pequenas quantidades de gêneros de primeira necessidade. Até o final do século
XVIII, a economia estava imersa na sociedade, e os mercados eram espaços dominados pelas
atividades de redistribuição e reciprocidade. Ainda, segundo o autor, em uma economia não
capitalista, as relações de proximidade favorecem trocas e reciprocidades não existentes em uma
sociedade auto-regulada pelo impessoal mercado de capitais. A sociedade industrial ocasionou a
criação de um mercado autorregulável, onde as trocas desiguais ocorrem de forma a propiciar a
acumulação de valor e a apropriação de excedentes.
Nesse sentido, Demo (2005) coloca o mercado capitalista como maldito na sua tentativa
de regular a cidadania e de promover o enriquecimento de minorias. O autor não imagina como a
sociedade pode sobreviver sem o mercado, mas estes podem coexistir se a sociedade aprender a
controlá-lo e utilizá-lo como instrumento de cidadania.
Para Bagnasco e Triglia (1993), os mercados não são criados por uma mão invisível e
mágica, mas socialmente construídos pela interação entre indivíduos, pela força institucional e
pela capacidade de organizações e empresas desenvolverem ligações dinâmicas que possibilitem
o fortalecimento de culturas e tradições.
Os mercados entendidos como espaços de interação social fornecem uma estrutura social
que consiste na relação entre atores e uma estrutura institucional para que ocorra a troca
voluntária dos direitos de bens e serviços. Os mercados não contêm apenas o elemento troca, mas
são caracterizados pela competição, a existência de um mercado pressupõe pelo menos três
atores: um lado que compra, o mercado que vende e o outro lado onde as ofertas podem ser
comparadas (BECKERT, 2007).
A sociologia econômica discute a impossibilidade de separar as relações sociais da
comercialização. Nessa abordagem, as relações sociais estão enraizadas no processo de produção,
distribuição, troca e consumo de bens e serviços escassos; nesse contexto, o mercado é um
composto de variáveis econômicas e não econômicas. (SMELSER, 1968).
O mercado não se restringe ao espaço onde se realiza a compra e a venda, mas sim ao
conjunto de todas as operações e relações que ocorrem desde o momento em que está sendo
planejada a produção até a efetivação da compra pelo consumidor final. Nesse intervalo de
tempo, uma complexidade de relações se desenvolve, e informações sobre preferências,
oportunidades e nichos de mercado estão sendo repassadas. É dessa forma que o mercado se
reproduz: “a noção de mercados consiste de estruturas que são reproduzidas através da
sinalização ou comunicação entre os participantes”. (WHITE, 1981, p. 268).
Para Fligstein (2002), em momentos de formação e transformações em campos políticos e
de mercado, o atores se tornam auto-conscientes em buscar novas interações que resultem em
novos arranjos e novos entendimentos que resultem em meios de descobrir o que os clientes
querem, como obtê-lo e como conviver com outras pessoas que querem outras coisas.
Radomsky e Schneider (2007) colocam a importância das redes sociais, a cooperação e a
reciprocidade como fatores importantes que possibilitam o processo de construção social de
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mercados. Neste contexto, a articulação entre os atores sociais, além de promover a
diversificação do mercado local, altera as dinâmicas que exercem efeitos no desenvolvimento de
territórios como um todo.
De acordo com Wilkinson (2008), frente às transformações ocorridas nas grandes cadeias,
novos mercado podem ser criados pela agricultura familiar aproveitando-se de uma vantagem
estratégica na medida em que for associado à tradição, à natureza, ao artesanal, e ao local. Desta
forma, dois tipos distintos de fatores poderiam ser amplamente explorados:
i) persistência de mercados locais de proximidade (condição de economia “informal”)
(Ex. política pública Merenda escolar, à beira de rodovias).
ii) timidamente nos mercados domésticos e mais enfaticamente nos mercados dos países
desenvolvidos, são os próprios aspectos “tradicionais” da pequena produção que se
transformam em valores de mercado (Ex. atividades tradicionais, small farmer,
preservação do meio ambiente, fair trade, orgânicos.
O desenvolvimento capitalista e o processo acentuado de divisão do trabalho impuseram,
ao agricultor, necessidades que não são mais atendidas dentro da propriedade, sejam essas sociais
ou materiais, de modo que se estabeleceram relações de dependência entre o agricultor e o
mercado. O agricultor utiliza o mercado para adquirir outros bens que não consegue produzir,
para complementar seu processo de produção e para satisfazer as necessidades de sua família.
(WOLF, 1970).
De acordo com Wolf (1970), as relações que os agricultores mantêm com o mercado são
complexas; não se restringem apenas à comercialização, mas também ao atendimento das
necessidades de consumo da família e à necessidade de interação social.
Para Ploeg (2008), o agricultor (camponês) é constantemente ameaçado por redes de varejo,
leis institucionais, mecanismos estatais e modelos científicos e tecnológicos que procuram
manipular e controlar o consumo de alimento global. Dessa perspectiva, o agricultor, para fugir
do domínio imposto, desenvolve estratégias de resistência e luta por autonomia.
As estratégias de sobrevivência da agricultura familiar (camponesa) estão centradas no
fortalecimento da base de recursos, na co-produção do camponês com a natureza e no valor
agregado. Conforme Ploeg (2008), existem diferenças entre a agricultura camponesa e a
agricultura empresarial, pois, enquanto a primeira é capaz de estabelecer as raízes do
desenvolvimento rural por meio da valorização do local e da região, a segunda se preocupa com
os lucros obtidos por ganhos de escala.
Alguns autores, entre eles Schneider (2004), Wilkison (1999) e Mior (2005), defendem a
participação da agricultura familiar nos mercados por meio da agregação de valor aos produtos,
ou seja, a criação de agroindústrias familiares. Para esses autores, a agroindústria familiar
representa uma alternativa de inclusão produtiva fora das cadeias agroalimentares. Nesse
contexto, Schneider destaca a agroindústria familiar como forma “para-agrícola”, ou forma
pluriativa de oportunidades.
Maluf (2004) defende a criação de cadeias da agricultura familiar; Silva (2007), a inclusão
de agricultores em circuitos econômicos. A partir desses estudos, é possível estabelecer que
existe um esforço teórico para definir qual a melhor alternativa de inclusão econômica da
agricultura familiar. O recorte de análise deste trabalho centra-se especialmente nos mercados
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onde é possível a venda direta ao consumidor final através dos circuitos curtos de produção,
distribuição e consumo.
4. Metodologia
A pesquisa teve cunho exploratório e qualitativo como forma de entender a relação entre
os atores envolvidos e situar o pesquisador no ambiente de pesquisa, sendo que a escolha do
método qualitativo deve-se ao fato de o estudo tentar descrever um nível de realidade que não
pode ser quantificado, pois tratam das percepções, crenças, dos motivos e significados das
relações humanas, procurando sempre demonstrar resultados com verdades mais próximas dos
fenômenos envolvidos (CRESWELL, 2007).
O método de coleta de dados estatístico se deu pela pesquisa em fonte secundária, na
literatura e na utilização de entrevistas em profundidade realizadas com foco no assunto,
tendendo por aplicação de paradigmas fenomenológicos, na tentativa de entender o
comportamento humano (Collis & Hussey, 2005).
Para responder o problema de pesquisa, procedeu-se à realização de 10 entrevistas em
profundidade, de março a abril de 2010, com agricultores familiares do município de Nova
Andradina em MS.
Algumas entrevistas foram realizadas com informantes-chaves da AGRAER e Prefeitura
Municipal, para compreender a realidade e a complexidade das relações existentes entre os
produtores e o ambiente. As pessoas entrevistadas foram identificadas como influentes na
comunidade e com forte influência política e social.
A amostragem dos produtores e informantes-chaves foi realizada através do método Bola
de Neve, onde, a partir da identificação de um elemento da amostra, foram colhidas informações
para os demais elementos da amostra.
5. Resultados e discussões
5.1 Aspectos gerais do município de Nova Andradina/ MS
A cidade de Nova Andradina localiza-se ao sul do Estado de Mato Grosso do Sul,
distancia-se a 288 km da capital, tem 50% da sua arrecadação comprometida com a agricultura e
a pecuária (SEMAC, 2010), principalmente com rebanhos bovinos e com a plantação de cana-deaçúcar que abastece as usinas na região. A proximidade do município com os estados do Paraná e
de São Paulo favorece a entrada de produtos nos setores varejistas; desta forma, produtos
tradicionalmente produzidos pela agricultura familiar competem por preços com produtos
trazidos da CEAGESP e de cidades próximas da fronteira com o estado de Mato Grosso do Sul.
O parque industrial é formado basicamente por frigorífico, usina de açúcar e álcool e
fecularia. O município possui 6,5% de sua área formada por assentamentos rurais, sendo o
assentamento Casa Verde o mais significativo em dinâmicas e desenvolvimento.
As dificuldades do município, segundo o ZEE (2010), relacionam-se ao pouco incentivo à
diversificação das indústrias, à baixa capacitação dos empresários do setor, ao não investimento
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dos lucros obtidos das atividades econômicas no município, à baixa qualificação de professores, a
dificuldades de escoamento da produção municipal e à baixa organização dos produtores rurais.
Figura 2. Localização do Município de Nova Andradina/ MS
Fonte: ZEE MS, 2010
A cidade conta com cerca de oito supermercados e alguns pequenos estabelecimentos para
atender uma população de mais de 45 mil habitantes, não existindo grande rede varejista. De
acordo com informantes chaves, em sua maioria, o abastecimento de legumes e verduras é
realizado através de aquisição em outras regiões, com veículos próprios e, geralmente,
semanalmente. Quando os legumes e verduras são adquiridos na cidade, o abastecimento é
realizado, geralmente, por poucos produtores, que recebem apenas pelo produto vendido, tendo
que arcar com as perdas ocasionadas pela exposição dos produtos nas prateleiras e no transporte.
A agricultura familiar na região se consolidou a partir da desapropriação de fazendas para
a constituição dos assentamentos de reforma agrária Teijin, Santa Olga e Casa Verde, somando
mais de 1500 agricultores. Recentemente, o assentamento Casa verde foi emancipado pelo
INCRA, sendo considerado como exemplo da capacidade da agricultura familiar em desenvolver
as regiões onde ela está presente.
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5.2 Acessos a mercados
A falta de opções de comercialização no mercado local levou à mobilização dos
agricultores familiares. Recentemente, com o apoio da prefeitura municipal, foi criada uma
cooperativa de produtores. Esta cooperativa mediante contribuição de R$ 25,00 reais mensais
disponibiliza aos produtores barracas e permissão para venda na feira de produtores que acontece
duas vezes por semana.
Outra iniciativa da Prefeitura Municipal com a participação do Consórcio de Segurança
Alimentar e Desenvolvimento Local (CONSAD) foi a doação de infra-estrutura para a construção
de uma Mini usina no Assentamento Santa Olga. Essa construção mobilizou os assentados a
fundar uma cooperativa (Coopaolga) para gerir a Mini usina. De acordo com o relato dos
associados, a adesão no início era tratada com desconfiança, muitos assentados não se associaram
à cooperativa com medo de fracassos e de promessas não-realizáveis. Hoje, muitos assentados
gostariam de participar da cooperativa por existir a possibilidade da venda direta de leite
ensacado para a merenda escolar, através do PAA.
Alguns agricultores realizam a venda de seus produtos porta-a-porta nas ruas da cidade.
De acordo com eles, a oferta de produtos de boa qualidade e com preços inferiores aos dos
supermercados é preferida pelas donas de casa.
Em quase todos os relatos, foi possível identificar que os preços praticados pelos
agricultores familiares são inferiores aos praticados no mercado. Segundo eles, independente de
os preços cobrirem os custos, a escolha do preço de venda leva em consideração o preço dos
produtos no supermercado, pois estes oferecem facilidades que eles não têm condições de
oferecer, tais como a venda parcelada em cartão ou cheque ou a prazo.
Ficou evidenciado a forte atuação do pode público municipal na criação de acesso a
mercados para a agricultura familiar. Em quase todas as alternativas de vendas, é possível
observar o apoio da prefeitura na disponibilização de treinamentos, infra-estrutura e, até mesmo,
no incentivo à criação de associações que representem os agricultores.
A iniciativa da prefeitura está presente na organização da feira dos produtores, na
perspectiva de compra de alimentos para a alimentação escolar, e no oferecimento de cursos de
qualificação profissional. Em entrevista com informante chave da prefeitura, foi relatada a
intenção de criação de um mercado destinado ao produtor rural familiar.
As feiras, além de possibilitar a integração do agricultor na sociedade, estão promovendo
mudanças de hábitos e criando a cultura de adquirir produtos fora dos supermercados. A oferta de
alimentos nas feiras agrícolas é diversificada, mas a comercialização dos produtos ainda é
essencialmente agrícola, na maioria das vezes sem nenhuma agregação de valor.
A propriedade deixou de ser o único território onde atuam os agricultores; as feiras
tornaram-se espaços de apropriação dos novos comerciantes. É na feira que novas relações
sociais são desenvolvidas; na relação face to face, o agricultor obtém informações para o
direcionamento de sua produção e sente-se reconhecido como agricultor familiar.
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5.3 Agregações de valor
Para Maluf (2004), a agregação de valor constitui-se numa estratégia de mercado capaz de
reverter os poderes dos intermediários e de concentrar mais renda nas mãos dos agricultores.
Com o apoio da prefeitura, muitos agricultores conseguem agregar valor aos produtos vendidos
diretamente ao consumidor. Como exemplo, há a iniciativa de um grupo de mulheres do
assentamento Santa Olga que, a partir da participação em um curso de manipulação de alimentos,
constituíram um grupo que fabrica alimentos e doces em conserva com marca e selo próprios. Os
alimentos e produtos utilizados na fabricação dos doces e conservas são colhidos nas hortas
espalhadas em seus lotes. Esses produtos são vendidos em uma feira conhecida como: “mulheres
de atitude” que incentiva a inclusão da mulher no mercado.
Os espaços destinados à confecção de conservas e doces não são próprios, mas a
associação de mulheres conseguiu que o projeto de construção de uma cozinha industrial fosse
aprovado, aumentando a perspectiva de atender mais mulheres, além das seis integrantes do
grupo.
Há também a fabricação de queijos a partir da criação de gado leiteiro e também de
búfalos, sendo já bem conhecida a fabricação de mussarela e queijo de búfala disponível na feira
do produtor rural.
Um informante relatou também a venda, na feira do produtor, de “garapas” obtidas a
partir da extração de caldo da cana de açúcar produzida nos sítios. Quando questionado sobre a
renda da família, o informante respondeu que a maior parte da renda da família é obtida pela
comercialização na feira, uma vez que os valores pagos por intermediários eram inferiores ao que
a família alcançava nas barracas da feira.
6. Considerações Finais
Não há duvida de que os mercados podem ser construídos e a inserção dos agricultores
familiares pode ser estimulada. No entanto, o que se percebe é que, no município de Nova
Andradina, a participação de agricultores em circuitos alternativos deve-se ao fato de forte
influência das instituições em criar essas oportunidades.
A proximidade do município com o Estado de São Paulo proporciona uma barreira de
acesso dos produtos da agricultura familiar ao setor de varejo de alimentos e tem como
conseqüência a baixa remuneração dos produtos no mercado local.
Assim sendo, a estratégia de inserção em mercados encontrada pela agricultura familiar
corresponde à exploração do mercado local pelos circuitos curtos, representada pela venda direta
ao consumidor sem a presença de intermediários. A venda direta dos produtos pelos
agricultores, ainda que em feiras, por intermédio de cooperativas e da prefeitura, representa uma
estratégia de desenvolvimento, reprodução e sobrevivência face à dificuldade de comercialização
e escoamento de produtos na região.
A participação dos agricultores familiares de Nova Andradina em circuitos curtos foi
possível através da construção de novos mercados como a feira de produtores e através do grupo
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“mulheres de atitude”. Essa participação revela o desenvolvimento de organizações e novas
relações sociais entre os envolvidos.
Trabalhos futuros poderiam avaliar a efetividade dos programas de aquisição de
alimentos da agricultura familiar na região como potencializador de desenvolvimento, tendo em
vista a carência de dados em relação à agricultura familiar no Estado como um todo e não
somente no município.
7. Referências
BAGNASCO, Arnaldo; TRIGLIA, Carlo. La construction sociale du marché: le defi de la
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