Guião do PRESSE - Agrupamento de Escolas de Padrão da
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Guião do PRESSE - Agrupamento de Escolas de Padrão da
Administração Regional de Saúde do Norte, I.P. Departamento de Saúde Pública GUIÃO PRESSE FORMAÇÃO PARA PROFESSORES DO 5º ANO DE ESCOLARIDADE GRUPO DE TRABALHO PRESSE MARIA NETO MARIA DA PAZ LUÍS DELGADO MIRIAM GONZAGA CÁRMEN GUIMARÃES PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Índice........................................................................................................Página TEMA: A SEXUALIDADE HUMANA ............................................................................ 2 TEMA: PUBERDADE E ASPECTOS BIOLÓGICOS: CORPO EM TRANSFORMAÇÃO E CARACTERES SEXUAIS SECUNDÁRIOS ............................................................. 5 TEMA: REPRODUÇÃO HUMANA E CRESCIMENTO; CONTRACEPÇÃO E PLANEAMENTO FAMILIAR ...................................................................................................... 9 TEMA: VIH/SIDA.................................................................................................. 21 TEMA: DIVERSIDADE E TOLERÂNCIA ..................................................................... 30 TEMA: AFECTIVIDADE E GÉNERO NA ADOLESCÊNCIA .............................................. 38 TEMA: ABUSO SEXUAL ........................................................................................ 45 TEMA: PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO: JEAN PIAGET E ERIK ERIKSON ............. 48 TEMA: ASSERTIVIDADE ........................................................................................ 70 TEMA: AUTO-CONCEITO E AUTO-ESTIMA ............................................................... 93 TEMA: ÉTICA E DILEMAS MORAIS ....................................................................... 107 TEMA: TEORIAS DA APRENDIZAGEM .................................................................... 115 TEMA: A IMPORTÂNCIA DO ENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE ESCOLAR NO SUCESSO DOS PROGRAMAS DE PREVENÇÃO .............................................................. 127 1 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar TEMA: A SEXUALIDADE HUMANA Componente teórica: Sabe-se hoje que todos somos seres sexuados e que existe sexualidade nas crianças, nos jovens, idosos e deficientes. A sexualidade está presente, embora de formas diferentes, ao longo de toda a vida. Existe uma cada vez maior consciência, por parte de adultos e jovens, de que os conhecimentos sobre sexualidade, longe de encorajarem a promiscuidade, antes podem servir para desenvolver as nossas capacidades de comunicação, de entendimento mútuo, de ternura, de sensibilidade e de responsabilidade em relação aos outros. Não nos podemos esquecer que a sexualidade influencia os nossos pensamentos, emoções, acções e interacções e, portanto, a nossa saúde física e mental. A educação para a sexualidade é, pois, uma questão muito mais ampla do que a simples transmissão de informação sobre os órgãos sexuais femininos e masculinos, a contracepção, as infecções sexualmente transmitidas ou a sida. Vários estudos mostram que quanto mais informados, maior é a responsabilidade dos jovens de ambos os sexos, face à sexualidade. A educação para a sexualidade contribuirá igualmente para eliminar toda e qualquer atitude que pretenda considerar as mulheres numa situação de subalternidade em relação aos homens. Não há dúvida que a falta de comunicação entre adultos e jovens é um dos grandes obstáculos a vencer. Temos que garantir que as fontes de informação sobre sexualidade, disponíveis aos jovens, não se limitam aos amigos, aos meios de comunicação social ou mesmo à indústria de pornografia. 2 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar A sexualidade deixou, pois, de ser sinónimo de reprodução, de pecado e de impureza para passar a fazer parte integrante dos afectos, do prazer, da comunicação interpessoal, da maternidade e da paternidade responsáveis. Há muitas definições de sexualidade mas a que nos parece mais completa é a da Organização Mundial de Saúde, que define sexualidade da seguinte forma: “A sexualidade é uma energia positiva que nos motiva a procurar amor, contacto, ternura, intimidade; que se integra no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser-se sensual e ao mesmo tempo sexual; ela influencia pensamentos, sentimentos, acções e interacções e, por isso, influencia também a nossa saúde física e mental” (OMS). Ao longo do ciclo de vida, todos nós fazemos aprendizagens em diversos domínios, sendo um desses domínios a sexualidade, pois como área de desenvolvimento humano que é, implica aprendizagem. Essa aprendizagem faz-se de uma forma informal, determinada pelas experiências do quotidiano, mas também formal/intencional com recurso a profissionais, assumindo a escola e o professor um meio educativo por excelência. “A escola e os professores são o contexto e os agentes privilegiados para intencionalizar processos de análise, consciencialização e mudança ao nível de conhecimentos, sentimentos e comportamentos em termos de sexualidade humana”(Júlio Machado Vaz,1996). Material didáctico: Livro: “Os Jovens e a Sexualidade” (Miguel, 1988) Livro: “Educação Sexual na Escola” (Machado Vaz, 1996) Sugestões de actividade(s): Objectivo: 1. Criar consensos sobre o conceito de sexualidade 2. Definir o conceito de sexualidade de acordo com a OMS 3 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Descrição das tarefas: 1. Entregar a cada formando 3 rectângulos de papel e uma caneta 2. Pedir para que escrevam de imediato uma palavra (em letras grandes) em cada rectângulo de papel, após ouvirem a palavra que lhes é proposta 3. A palavra proposta é SEXUALIDADE 4. Recolher todos os rectângulos de papel preenchidos 5. Agrupar de uma forma aleatória todos os rectângulos escritos na parede ou quadro preto 6. Reorganizar as diferentes palavras de acordo com a sua ligação, interligação, construindo de forma lógica e coerente o conceito de sexualidade Material: Rectângulos de papel (3 por formando), Canetas, Fita-cola e Quadro. Tempo médio de duração do tema: 30 minutos Bibliografia a consultar: Alcobia, H., Mendes, A. R. & Serôdio, H. M. (2003). Educar para a Sexualidade. Porto: Porto Editora; Machado Vaz, J. (1996). Educação Sexual na Escola. Lisboa: Universidade Aberta; Miguel, N. & Allen Gomes, A. M. (1991). Só para jovens! Juventude, afecto e sexualidade. Lisboa: Texto Editora; Miguel, N. S. (1988). Os Jovens e a Sexualidade. Lisboa: Grupo de Trabalho da Sida/Ministério da Saúde/ INSA Pereira, M. M. & Freitas, F. (2002). Educação Sexual – Contextos de sexualidade e adolescência. Porto: Edições ASA. 4 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar TEMA: PUBERDADE E ASPECTOS BIOLÓGICOS: CORPO EM TRANSFORMAÇÃO E CARACTERES SEXUAIS SECUNDÁRIOS Componente Teórica: A Puberdade marca o início da adolescência, período da vida em que já não se é criança mas também não se é adulto. Inicia-se com a entrada em funcionamento dos órgãos sexuais, ou seja, com o aparecimento da primeira menstruação nas raparigas e a possibilidade de ejaculação no rapaz. Em termos de idade é muito variável iniciando-se mais cedo nas raparigas e em algumas a partir dos 8-9 anos. Algumas já terão aos 13 anos corpo de mulher enquanto outras nem iniciaram a puberdade. Cada pessoa tem um ritmo próprio de crescimento. Aquele que inicia a puberdade cedo não significa que termine cedo ou vice-versa. Em média as raparigas costumam ter a primeira menstruação a partir dos 10 anos e os rapazes a possibilidade da primeira ejaculação a partir dos 12. Diz-se possibilidade porque um rapaz pode ser já adolescente sem nunca ter ejaculado em sonhos ou na masturbação; pode-se no entanto dizer que a possibilidade de ejacular costuma coincidir no tempo com o aparecimento dos pêlos axilares (e não dos pêlos púbicos, que aparecem antes). A puberdade caracteriza-se por um conjunto de transformações biológicas em que o formato do corpo e do rosto mudam e os órgãos reprodutores ou sexuais crescem e desenvolvem-se. As responsáveis por estas mudanças na puberdade são as hormonas. As hormonas são substâncias químicas que o corpo produz e que actuam não somente sobre os órgãos reprodutores, mas também sobre o cérebro. Quando se chega à puberdade, uma área do cérebro, chamada hipotálamo, envia uma mensagem para uma glândula chamada pituitária ou hipófise. Esta, situada também no cérebro e do tamanho de uma ervilha, começa a produzir duas hormonas: a Lúteo-estimulina (LH) e a Foliculoestimulina (FSH). Estas hormonas viajam pelo sangue até aos ovários das raparigas e até aos testículos nos rapazes. 5 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Com a chegada das hormonas, os óvulos que estão dentro dos ovários começam a amadurecer e os testículos iniciam a produção de espermatozóides. MUDANÇAS FÍSICAS Nas raparigas: as ancas começam a alargar, as nádegas e as coxas tornam-se mais volumosas, desenvolve-se tecido adiposo e criam-se formas arredondadas; há desenvolvimento das glândulas mamárias, embora raramente cresçam ao mesmo tempo dos dois lados; há aparecimento de pêlos púbicos e da vulva que têm uma função protectora; crescem pêlos nas axilas; os ovários aumentam de volume, libertam-se os primeiros óvulos. Tem início a ovulação e as modificações do endométrio e do colo do útero, ocorrendo a menarca; surgem as secreções vaginais. Nos rapazes: os ombros e o peito alargam; os músculos desenvolvem-se; há desenvolvimento dos órgãos sexuais, o pénis fica mais volumoso e toma uma coloração mais escura; os testículos aumentam de volume e dão início à produção de espermatozóides; a mudança de voz; o aparecimento dos pêlos púbicos, axilares, barba, bigode, etc; nalguns casos, um ligeiro desenvolvimento das glândulas mamárias, ou apenas de uma delas (sem importância e que desaparece algum tempo depois). 6 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Nos dois sexos: o corpo cresce muito rapidamente, nem sempre de forma harmoniosa; é frequente o aparecimento de acne, que está relacionado com a actividade hormonal e que habitualmente passa algum tempo depois; as glândulas sudoríparas são activadas. Aumenta a transpiração em todo o corpo e o seu cheiro torna-se intenso. A pele e o cabelo tornam-se por vezes mais oleosos; a possibilidade da expressão física, através da excitação e do orgasmo, dos desejos sexuais, tornados mais importantes pelas hormonas em circulação. A menarca apresenta a passagem da infância para a idade adulta. A hipófise dá ordem a um dos ovários para expulsar um óvulo. Quando um bebé nasce, os seus ovários transportam de 300.000 a 400.000 óvulos. Destes, só 400 a 500 irão adquirir maturidade. Ao longo da infância os óvulos ficam em quiescência até à puberdade, momento em que as hormonas sexuais desencadeiam o ciclo menstrual. A partir daí todos os meses amadurece um óvulo num dos dois ovários da jovem ao mesmo tempo que o útero se prepara para uma gravidez. Quando os testículos são activados por influência das hormonas produzidas pela hipófise, começam a produzir testosterona, a hormona sexual masculina. Por acção destas hormonas ocorre a produção de espermatozóides, que são as células sexuais masculinas. O número de espermatozóides que o testículo produz por dia é de cerca de cem milhões a trezentos milhões. De cada testículo, eles vão deslocar-se através do epidídimo do mesmo lado, passando pelos canais deferentes e pelas vesículas seminais. A mistura dos espermatozóides com o líquido das vesículas seminais e da próstata dá origem ao esperma ou sémen. Na puberdade são frequentes as chamadas poluções nocturnas ou “sonhos molhados”. Estes fenómenos ocorrem geralmente quando os rapazes têm sonhos sensuais e agradáveis e libertam algum esperma. 7 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Material didáctico: CD “Função Reprodutiva e sua Regulação... para o bem-estar da mulher”; Livro “Educar para a Sexualidade” (Alcobia, Mendes & Serôdio, 2003); Sugestões de actividade(s): Jogos de avaliação de conhecimentos do CD “Função Reprodutiva e sua Regulação... para o bem-estar da mulher”; Livro “Educação Sexual na Escola – Guia para Professores, Formadores e Educadores” (Frade, Marques, Alverca & Vilar, 2003) Tempo médio de duração do tema: 30-45 minutos Bibliografia a consultar: Alcobia, H., Mendes, A. R. & Serôdio, H. M. (2003). Educar para a Sexualidade. Porto: Porto Editora; Frade, A., Marques, A. M., Alverca, C. & Vilar, D. (2003). Educação Sexual na Escola – Guia para professores, formadores e educadores. Lisboa: Texto Editora; Miguel, N. (1988). Os Jovens e a Sexualidade. Lisboa: Grupo de trabalho da sida/ministério da saúde/INSA Miguel, N. & Allen Gomes, A. M. (1991). Só para jovens! Juventude, afecto e sexualidade. Lisboa: Texto Editora; Pereira, M. M. & Freitas, F. (2002). Educação Sexual – Contextos de sexualidade e adolescência. Porto: Edições ASA; Schering Lusitana. (s.d.). CD “Função Reprodutiva e sua Regulação... para o bem-estar da mulher”; Suplicy, M. (1988). Sexo para adolescentes. Porto: Edições Afrontamento. 8 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar TEMA: REPRODUÇÃO HUMANA E CRESCIMENTO; CONTRACEPÇÃO E PLANEAMENTO FAMILIAR Componente teórica: Reprodução Humana e Crescimento O crescimento, em termos sexuais, acarreta algumas diferenças, nomeadamente a produção de esperma no caso dos rapazes e a primeira menstruação no caso das raparigas. A fecundação é habitualmente definida como a união entre o óvulo e o espermatozóide. Este processo ocorre, habitualmente na Trompa de Falópio, e o ovo, produto da fecundação, migra para o interior do útero, e se as condições forem adequadas implanta-se no endométrio – nidação. Inicia-se aqui um processo que vai durar cerca de 40 semanas: a gravidez. (In Educação Sexual – Contextos de sexualidade e adolescência, Pereira & Freitas, 2002) A gravidez na adolescência. Como é encarada? Existem diferentes tipos de gravidez na adolescência, em função da desejabilidade e do planeamento da gravidez (Vilar & Gaspar, 1997; cit in Pais, 2000): - Planeada: - Planeada conjugalmente - Antecipação ao planeamento - Planeamento não assumido 1 * - Não planeada: - Indesejada - Desejada * -(In)Desejada 1 desejo de ter um filho não verbalizado ou assumido pelo casal 9 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar “Uma gravidez não esperada é sempre um risco de quem tem uma vida sexual activa. Mesmo ter relações sexuais uma única vez, sem a utilização de um método contraceptivo, pode ser suficiente para que uma gravidez aconteça, mesmo que essa seja a primeira vez que se tem relações sexuais. Quando uma gravidez não esperada acontece, sempre aparecem duas perguntas na mente das adolescentes: ter ou não ter o bebé? Sem entrar em controvérsias e valores pessoais, sociais e religiosos, existem consequências em ambos os casos, que é preciso que estejam presentes no momento da decisão.” Saídas que podem ser apresentadas à adolescente, face a uma gravidez indesejada: -Continuar a gravidez e manter a criança; -Continuar a gravidez e entregar a criança para adopção; -Interromper a gravidez. Gravidez na adolescência: Riscos físicos Riscos psicológicos O corpo da adolescente ainda não Não atingiu o desenvolvimento completo conclusão do percurso identidade Excessiva académico Maior probabilidade de problemas no Perda de parto e depois do parto, com a mãe e responsabilidade, o bebé que se pode reflectir, posteriormente, na relação coma a criança Maior probabilidade de depressão pós Falta de conhecimentos para tratar do parto bebé Bebés com baixo peso à nascença Falta de apoio do pai da criança, da família, dos colegas Sempre que possível, é muito importante ter a ajuda da família. Existem vários locais aos quais os adolescentes podem recorrer se uma gravidez 10 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar acontecer: centros de saúde, médicos de família, consulta de planeamento familiar, apoio psicológico e várias associações que dão apoio neste sentido. É essencial relembrar os jovens que uma gravidez é sempre responsabilidade de duas pessoas. Assim, não é só a rapariga que se tem de preocupar neste sentido, mas também o rapaz. Assim, é justo que ambos colaborem no cuidado de a evitar. “ Direitos durante a gravidez e a amamentação: “A mulher grávida e o futuro pai possuem vários direitos definidos na legislação e que se encontram referidos no Boletim de Saúde da Grávida. Direito ao Ensino: Estão abrangidos por estes direitos as mães e os pais estudantes que se encontrem a frequentar os ensinos básico e secundário, o ensino profissional ou o ensino superior, em especial as jovens grávidas, puérperas e lactantes. “As grávidas e mães têm direito: a) a realizar exames em época especial, a determinar com os serviços escolares, designadamente no caso de o parto coincidir com a época de exames; b) à transferência de estabelecimento de ensino; c) a inscreverem-se em estabelecimentos de ensino fora da sua área de residência. As mães e pais estudantes cujos filhos tenham até 3 anos de idade gozam dos seguintes direitos: a) um regime especial de faltas, consideradas justificadas, sempre que devidamente comprovadas, para consultas pré-natais, período de parto, amamentação, doença e assistência a filhos; b) adiamento da apresentação ou entrega de trabalhos e da realização em data posterior de testes sempre que, por algum dos factos indicados na alínea anterior, seja impossível o cumprimento dos prazos estabelecidos ou a comparência aos testes; 11 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar isenção de cumprimento de mecanismos legais que façam c) depender o aproveitamento escolar da frequência de um número mínimo de aulas; d) dispensa da obrigatoriedade de inscrição num mínimo de disciplinas no ensino superior. (Art.º 2º e 3º da Lei 90/2001, de 20 de Agosto)” In “A gravidez adolescente”, Direcção Geral da Saúde, Lisboa, 2005. Contracepção In http://www.esec-tondela.rcts.pt/sexualidade/contracepcao.htm A contracepção é qualquer processo que evite a fertilização do óvulo ou a implantação do ovo. Os métodos de contracepção são múltiplos, podendo ser classificados de acordo com o seu objectivo em barreiras mecânicas e químicas, impeditivas de nidação e contracepção hormonal. Barreiras mecânicas Impedem o encontro entre o espermatozóide e o óvulo. Preservativo masculino – Manga em forma de saco, de borracha (látex) muito fina. É colocado no pénis antes da relação sexual e recolhe o sémen num reservatório que tem, impedindo que ele entre na vagina. Preservativo feminino – Manga em forma de saco colocado na vagina, recobrindo-a internamente. 12 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Diafragma – Dispositivo de borracha em forma de cúpula que é inserido na vagina antes da relação sexual. Cobre a entrada no útero impedindo a passagem dos espermatozóides. Devido a terem diferentes tamanhos, a sua adaptação deve ser feita por um médico. Barreiras químicas Substâncias que matam os espermatozóides. Espermicidas – Espumas, cremes ou óvulos colocados na vagina antes da relação sexual. Impeditivos de nidação Aparelhos que impedem a implantação do óvulo fecundado no útero. Dispositivo intra-uterino (DIU) – Pequeno dispositivo de metal ou plástico, de formas variadas, inserido no útero por um médico. Contracepção hormonal Comprimidos de hormonas sintéticas (estrogénio e progesterona) que impedem a ovulação 13 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Pílula – Deve ser tomada diariamente durante 21 dias consecutivos, seguido de uma paragem de 7 dias. Métodos naturais Baseiam-se na determinação através de diversas técnicas de observação, do momento de ovulação da mulher. São altamente falíveis em mulheres jovens e não devem ser aconselhados a casais sem vida sexual estável. Método do calendário – Anotando o dia em que surge a menstruação, durante uns meses, é possível calcular a altura da ovulação. Método das temperaturas – Implica a verificação diária da temperatura da mulher. Sabendo que a temperatura desce um pouco antes da ovulação para subir de seguida, é possível também determinar a altura do período fértil. Método de billings – Determina os períodos férteis da mulher com base na secreção e propriedades da mucosa produzida no colo do útero. 14 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Métodos definitivos A forma mais segura de evitar a gravidez pela esterilização, já que implicam uma intervenção cirúrgica. Laqueação de trompas – É o corte ou o bloqueio das trompas de Falópio na mulher, que impede que o óvulo seja “encontrado” pelos espermatozóides. Vasectomia – A vasectomia é o corte ou o bloqueio dos canais deferentes no homem, impedindo assim a saída dos espermatozóides na ejaculação. Ver também as “Orientações técnicas – Saúde Reprodutiva, Planeamento Familiar, Direcção Geral de Saúde, Lisboa, 2001” (em anexo). Planeamento familiar O Planeamento familiar é uma componente fundamental da prestação de cuidados no âmbito da Saúde Sexual e Reprodutiva. É objectivo destas consultas assegurar “Actividades de promoção da saúde, tais como informação e aconselhamento sexual, prevenção e diagnóstico precoce das DTS, do cancro do colo do útero e da mama, prestação de cuidados pré-concepcionais e no puerpério, prevenção do tabagismo e do uso de drogas ilícitas” (DGS). 15 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar As “Orientações técnicas – Saúde Reprodutiva, Planeamento Familiar, Direcção Geral de Saúde, Lisboa, 2001” definem os objectivos, as actividades a desenvolver e a importância do aconselhamento nas consultas de planeamento familiar: 16 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar 17 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Material didáctico: Livro “Educar para a Sexualidade” (Alcobia, Mendes & Serôdio, 2003) Pág. 15 a 26 Livro “Educação Sexual na Escola” (Machado Vaz, 1996) Livro “Educação Sexual na Escola – Guia para Professores, Formadores e Educadores” (Frade, Marques, Alverca & Vilar, 2003) Sugestões de actividade(s): Actividade: Conhecer a Contracepção Apresentação das diferentes tipologias de contracepção existentes através de demonstração das mesmas, nomeadamente preservativo masculino e feminino, espermicidas, contracepção hormonal (pílula, monofásica e trifásica, anel vaginal, adesivo contraceptivo, pílula de emergência), diafragma e dispositivo intra-uterino, entre outros. Paralelamente com a apresentação de cada um dos meios pode ser disponibilizada uma apresentação em diapositivo que complementa a informação apresentada tendo em conta o público-alvo. Actividade: Métodos contraceptivos e a adolescência Material: Métodos contraceptivos Panfletos Notícias de imprensa Textos informativos Tempo para a realização da actividade: 30m 1. Constituir grupos de 3, 4 pessoas; 2. Escolher um método contraceptivo; 3. Realizar uma apresentação inovadora do método contraceptivo escolhido dirigida a pré-adolescentes; 4. Apresentação ao grupo. 18 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Actividade: Gravidez Leitura do texto “Sofia” extraído do livro “Mulheres & Mulheres, Ldas” de Teresa Sousa Fernandes, seguido de debate sobre esta história de vida (In Educação Sexual – Contextos de sexualidade e adolescência, Pereira & Freitas, 2002) “Sofia Não sei como pudeste transformar um filho num quisto no ovário, mas conseguiste. Seria bem mais difícil o milagre de conseguires fazer de um quisto um recém-nascido. Tudo isto é banal, não me impressionaste quando solicitaste ajuda e silêncio. Só a primeira vez nos confunde. Com a minha vasta experiência, já me pesa a idade, foste mais uma miúda que deixou para trás um longo sofrimento que guardaste sozinha na tua conturbada meninice. (…) Compreendo que não tivesses feito contracepção embora a conhecesses, compreendo que tivesses vontade de uma gravidez até ele a constatar e a ter recusado, compreendo que prosseguisses sozinha porque nem dinheiro tinhas para o aborto, compreendo o teu silêncio perante a família que nem para ti olhou, pelos vistos. Tiveste muita coragem. E ainda tiveste mais quando levaste o teu trabalho até ao fim, até ao dia do parto, respondendo com brejeirices de “quistos ováricos” às tuas supostas modificações do corpo olhadas pelos teus amigos. Diria que foste uma heroína no teu silenciado sofrimento. Nunca te vi vacilar na tua decisão de ofereceres a criança a um casal que a adoptasse e a fizesse feliz, já que para ti seria o impensável, o impossível. Terias do continuar a ser vista pela tua família como o tal exemplo que eras, pelos amigos também. Pensaste tudo com o rigor e a maturidade de um adulto. Guardaste folgas no emprego acumulando-as para uma semanita de férias algures em Lisboa com a tua melhor amiga que nem suspeitou dessa dor. A família, como sempre, concordou. Merecidas férias. Os teus telefonemas feitos do internamento curto souberam-lhes a vida boa por Lisboa, pela capital, sorte. Voltaste para todos cinco dias depois, mais bonita, mais fresca, mais leve por fora. Por dentro pesam-te as lágrimas que não choraste e que te irão magoar eternamente… As lágrimas não são só para correrem sentidas quando se ouve o grito do bebé, quando se tem de registar como filho, quando se tem de assinar o consentimento para adopção. Devias ter aproveitado o internamento para chorares o teu quisto, para chorares tudo de vez. Toma conta de ti…e chora…porque as meninas choram…quantas vezes sem motivo” 19 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Tempo médio de duração da sessão: 2 horas Bibliografia a consultar: Alcobia, H., Mendes, A. R. & Serôdio, H. M. (2003). Educar para a Sexualidade. Porto: Porto Editora; Frade, A., Marques, A. M., Alverca, C. & Vilar, D. (2003). Educação Sexual na Escola – Guia para professores, formadores e educadores. Lisboa: Texto Editora; Machado Vaz, J. (1996). Educação Sexual na Escola. Lisboa: Universidade Aberta; Pereira, M. M. & Freitas, F. (2002). Educação Sexual – Contextos de sexualidade e adolescência. Porto: Edições ASA; “Orientações técnicas – Saúde Reprodutiva, Planeamento Familiar”, Direcção Geral de Saúde, Lisboa, 2001; “A gravidez adolescente”, Direcção Geral da Saúde, Lisboa, 2005. Sites a consultar: www.abcdasaude.com.br www.adolescencia.org.br www.mulheres.org.br www.e-family.com www.esec-tondela.rcts.pt/sexualidade/contracepcao.htm 20 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar TEMA: VIH/SIDA Componente teórica: Consultar o site da Coordenação Nacional para a Infecção VIH/sida www.sida.pt In “O VIH/sida na Comunidade Escolar - Aprender a prevenir. Informação para os alunos” do Programa de Promoção e Educação para a Saúde do Ministério da Educação e Comissão Nacional de Luta Contra a Sida do Ministério da Saúde, 1997: Definição: Sida: Síndrome de Imunodeficiência Humana Adquirida S Síndrome, que significa conjunto de sinais e sintomas de uma doença; I Imunodeficiência, refere-se ao sistema imunitário que nos protege dos microrganismos patogénicos que são os causadores de doenças e infecções; D Deficiência, ou falha, mau funcionamento; A Adquirida, ou desenvolvida durante a vida. “Em resumo, o VIH é adquirido durante a vida e vai provocar uma falência do sistema imunitário produzindo assim a síndrome.” “O VIH ataca e destrói precisamente as células coordenadoras do sistema imunitário (linfócito T4) que se torna progressivamente incompetente para nos defender dos microrganismos patogénicos ou causadores de doenças, deixando-nos abertamente expostos a elas. Por fim, quando se está na fase de SIDA, o organismo não resiste às infecções graves e tumores que surgem como consequência da falta de defesas que antes lhe eram proporcionadas pelo sistema imunitário.” 21 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Modos de transmissão e formas de prevenção: Via Sexual: “Como pode acontecer? Durante as relações sexuais, homo ou heterossexuais, sem protecção e com intercâmbio de secreções genitais, com uma pessoa infectada. Quanto maior for o número deste tipo de relações maior será o risco de transmissão do vírus.” Sempre que exista uma relação sexual com penetração vaginal, anal ou oral, é possível a transmissão do vírus. O risco é maior em relações sexuais com parceiros múltiplos, ocasionais ou desconhecidos. Forma de prevenção: Uso consistente do preservativo em todo o tipo de relações sexuais. Via parentérica, sanguínea: “Como pode acontecer? Quando os utilizadores de drogas por via endovenosa partilham seringas, se algum deles for portador de VIH pode transmiti-lo a outra ou outras pessoas.” Forma de prevenção: Nunca devem ser partilhadas seringas ou agulhas. “Através de transfusões com sangue contaminado. Actualmente, nos países desenvolvidos, os produtos sanguíneos são submetidos a um controlo sistemático e rigoroso pelo que o risco de transmissão é praticamente inexistente. Outros objectos que leses a pele e mucosas como máquinas de barbear, escovas de dentes, brincos, agulhas de tatuagem ou de furar as orelhas, etc, podem ser também veículos de transmissão quando partilhados.” Forma de prevenção: Nunca devem ser partilhados objectos que possam perfurar a pele ou as mucosas ou outros objectos de uso pessoal que possam estar em contacto com sangue. 22 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Via Peri-natal ou mãe-filho “Como pode acontecer? Quando uma mulher portadora de VIH transmite o vírus ao seu bebé durante a gravidez, parto ou amamentação.” Forma de prevenção: Qualquer mulher, antes de engravidar deve consultar o médico. A sida não se transmite através de: Aperto de mão Tosse Espirro Partilha de loiça ou talheres Picadas de insectos Conversa com seropositivos Beijos Partilha de roupa Utilização de casas de banho Material didáctico: Livro “Educar para a Sexualidade” (Alcobia, Mendes & Serôdio, 2003) Livro “Educação Sexual na Escola” (Machado Vaz, 1996) Livro “Educação Sexual na Escola – Guia para Professores, Formadores e Educadores” (Frade, Marques, Alverca & Vilar, 2003) Jogo do Risco da Coordenação Nacional para a Infecção VIH/sida Jogo da Glória da Coordenação Nacional para a Infecção VIH/sida Sugestões de actividade(s): Actividade 2 do ponto 2.8. Sida, do manual “Educação Sexual na Escola – Guia para professores, formadores e educadores” (Frade, Marques, Alverca & Vilar, 2003). 23 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Actividade Jogo do Contágio: Objectivo: -Discutir os conceitos de Risco e Comportamento de risco; -Tomar consciência da facilidade de propagação das IST; -Reflectir sobe a pressão dos pares. Descrição das tarefas: -Sentar os participantes em círculo, em redor da sala; -Entregar a cada um dos participantes um cartão com uma indicação especifica, solicitando que as mantenha em segredo e que as sigam; -Dar início ao jogo, pedindo aos participantes que se levantem e circulem pela sala. -À medida que vão circulando pela sala, solicitam aos outros elementos, 3 assinaturas no seu cartão; -Quando todos tiverem recolhido as 3 assinaturas, sentam-se novamente. -O orientador pede: a) ao elemento cuja ficha está marcada com um X que se levante; b) a todos os elementos que têm a assinatura do participante X, ou que assinaram o seu cartão, que se levantem; c) a todos os elementos que têm assinaturas dos que já estão em pé, ou que assinaram os seus cartões, que se levantem também. Apenas ficaram sentados os 3 elementos com as fichas “Não siga as minhas instruções”. Os P significam a utilização de preservativo. O X significa infectado por VIH/sida. Material (em anexo): Fichas em número suficiente para todos os participantes: -1 marcada com um X -3 marcadas com um P -3 com a mensagem “não siga as minhas instruções” -todas as restantes marcadas com a mensagem “Siga as minhas instruções”. 24 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Anexo: Jogo do contágio SIGA AS MINHAS INSTRUÇÕES X SIGA AS MINHAS INSTRUÇÕES P SIGA AS MINHAS INSTRUÇÕES Não SIGA AS MINHAS INSTRUÇÕES 25 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Actividade “Discussão de cartoons” Exemplo de cartoons (disponibilizados em anexo) geradores de debate: 26 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar 27 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar In OMS 28 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Actividade “Apresentação e discussão de vídeos de campanhas publicitárias sobre VIH” Apresentação das campanhas publicitárias sobre a prevenção do VIH/sida (disponibilizadas em anexo), e discussão das mensagens preventivas, criação de novas mensagens preventivas e análise critica das diferentes problemáticas e realidades apresentadas. Tempo médio de duração do tema: 1h00 Bibliografia a consultar: Frade, A., Marques, A. M., Alverca, C. & Vilar, D. (2003). Educação Sexual na Escola – Guia para professores, formadores e educadores. Lisboa: Texto Editora; “O VIH/sida na Comunidade Escolar - Aprender a prevenir. Informação para os alunos” do Programa de Promoção e Educação para a Saúde do Ministério da Educação e Comissão Nacional de Luta Contra a Sida do Ministério da Saúde, 1997; “O VIH/sida na Comunidade Escolar - Aprender a prevenir. Informação para pais” do Programa de Promoção e Educação para a Saúde do Ministério da Educação e Comissão Nacional de Luta Contra a Sida do Ministério da Saúde, 1997. 29 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar TEMA: DIVERSIDADE E TOLERÂNCIA Componente teórica: A orientação sexual é usualmente definida como a preferência de um indivíduo por um determinado sexo (Pereira & Freitas, 2002). Assim, heterossexualidade implica envolvimento sexual com um indivíduo do sexo oposto; homossexualidade implica envolvimento sexual com um indivíduo do mesmo sexo e bissexualidade implica envolvimento sexual com indivíduos de ambos os sexos. No entanto “na adolescência, com o despertar da sexualidade poderão existir relações homossexuais, sem que isso determine a orientação sexual.” (Alcobia, Mendes & Serôdio, 2003). Na sociedade actual, a heterossexualidade é a orientação mais comum. In http://tvtel.pt/psicologia/page20.htm retirado a 4 de Julho de 2008 às 19h23m A Orientação Sexual “Não existem respostas definitivas que expliquem a origem das orientações sexuais. Muitas teorias (biológicas, neuroanatómicas, psicológicas) tem sido avançadas por diversas ciências ao longo das últimas décadas. Mas será possível encontrar explicações, causas ou origens para um conceito que é complexo, multivariado, flexível, fluído e que pode variar ao longo da vida e que tem tido diversos significados ao longo do tempo? Provavelmente, a Orientação Sexual será o resultado de uma complexa interacção de factores biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Muitas pessoas já ouviram falar de certos termos relacionados com a orientação sexual. Existem alguns conceitos "populares" 30 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar que em geral, quase que pretendem "dividir" ou classificar as pessoas segundo algumas categorias. Se bem que por vezes possa ter alguma utilidade algum tipo de classificação, porque nos ajuda a compreender a realidade e a ordena-la, o mais provável é estarmos a simplificar e a reduzir uma infinita complexidade e variedade de pessoas a meras "categorias". Muitas vezes ouvimos falar de alguns termos “convencionais” como homossexual, bissexual, heterossexual. Basicamente, homossexual refere-se a alguém com uma preferência emocional e física por pessoas do mesmo sexo, bissexual à atracção física e emocional por ambos os sexos e heterossexual à atracção física e emocional por pessoas de sexo diferente. Todavia, estas definições restritas não conseguem explicar, por exemplo, o porquê de muitos homens e mulheres perfeitamente heterossexuais terem fantasias com pessoas do mesmo sexo (e vice-versa). Da mesma forma que um homem ou mulher, heterossexuais, possam ter sonhos eróticos ou mesmo apaixonar-se e ter relações sexuais com uma pessoa do mesmo sexo, não deixando de ter a orientação heterossexual. Além destas definições, é sabido que a orientação pode mudar ao longo da vida e muitas vezes é dinâmica: ela pode variar infinitamente na sua complexidade e vamos ver porquê. Os estudos também demonstram que a orientação sexual não é uma escolha voluntária (Coleman, 1987); este tipo de motivação é algo que transcende a cada indivíduo, pois não é possível mudar "conscientemente" nem através de técnicas psicológicas (na época em que erradamente a ciência e a cultura determinavam como adequado ou normal, apenas a orientação heterossexual). Provavelmente, em alguns países 31 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar do mundo que ainda punem a homossexualidade, certamente não teríamos aí indivíduos homossexuais, pois não desejariam a pena de morte. Em 1948, Kinsey propôs uma forma um pouco mais rigorosa de descrever a orientação sexual, ultrapassando as categorias dicotómicas da época (homossexual/ heterossexual). Para Kinsey, o comportamento sexual podia ser descrito num continuum, numa escala de 0 a 6, onde cada um dos extremos representa um comportamento exclusivamente hetero ou homossexual: 0. Exclusivamente heterossexual 1. Predominantemente heterossexual e apenas incidentalmente homossexual 2. Predominantemente heterossexual e com experiências homossexuais mais que incidentais 3. Igualmente heterossexual e homossexual 4. Predominantemente homossexual e com experiências heterossexuais mais que incidentais 5. Predominantemente homossexual e apenas incidentalmente heterossexual 6. Exclusivamente homossexual Mais tarde, em 1978, Bell & Weinberg, adoptaram esta mesma escala de 0-6, mas os indivíduos seriam avaliados segundo o comportamento sexual e segundo as fantasias eróticas. Foi outro autor, Klein (1978, 1980) quem expandiu a compreensão da orientação sexual, considerando-a dinâmica e 32 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar multi-variada. Inclui 7 dimensões na composição da orientação sexual. Além disto, para a melhor compreensão da orientação sexual ao longo da vida, ela pode ser descrita em 3 momentos: no presente (os últimos 12 meses), no passado (há mais de 12 meses) e o ideal (que corresponde à intenção real e predição do comportamento futuro do indivíduo). Passado Presente Ideal 1- Atracção sexual: quem acho atraente como parceiro real ou potencial? 2- Comportamento Sexual: quem são os meus parceiros sexuais 3- Fantasias sexuais: sonhos e pensamentos; com quem sonho acordado? 4- Preferência emocional: com quem prefiro estabelecer laços emocionais íntimos 5- Preferência social: com quem prefiro estar nos tempos livres 6- Estilo de Vida 7- Autoidentificação: como me identifico em termos de orientação sexual. 33 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Para Fritz Klein, a complexidade da orientação sexual poderá ser descrita tendo em conta cada uma destas dimensões e a variável "tempo". Para preenchimento da grelha pode-se utilizar a escala de Kinsey citada. Esta perspectiva mais ampla torna os tradicionais pólos homo/ bissexual obsoletos pois não explicam nem descrevem a complexidade da orientação sexual. Nesta perspectiva, quando é que poderemos considerar alguém heterossexual? Será alguém que sente atracção e desejo sexual por indivíduos de sexo diferente e experimenta sentimentos positivos e de afecto por eles; o indivíduo terá consciência disto e pode-se reconhecer como heterossexual (a sua identidade) e ter relações sexuais de acordo com ela. Algumas pessoas podem reconhecer algum nível de "bissexualidade" na descrição da sua orientação sexual. Mas mesmo que um indivíduo tenha heterossexuais (ou homossexuais) comportamentos não quer dizer obrigatoriamente que se auto-identifique como heterossexual (ou homossexual). Podem haver comportamentos homossexuais sem que as pessoas se sintam homossexuais tal como pode haver comportamentos heterossexuais sem que a pessoas se sintam heterossexuais. Alguns autores (Sell, 1997) criticam a escala de Fritz Klein porque a importância relativa de cada dimensão da orientação sexual não foi devidamente investigada ou fundamentada teoricamente. Todavia, Wayson (1983) considera a grelha de Klein um instrumento válido e fiável na avaliação da orientação sexual. (…) Provavelmente teremos no futuro uma concepção ainda mais vasta e complexa que permita melhorar a compreensão da 34 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar orientação sexual. As categorias “convencionais” de orientação sexual (homossexual, bissexual, heterossexual) são muito simplistas para compreendermos a diversidade sexual. Estes conceitos não são estáticos e certamente terão outros significados de acordo com as constantes evoluções das sociedades e das culturas, que interagem na construção das identidades individuais. Outra hipótese é que estas "categorias" de orientações sexuais poderão não fazer sentido e desaparecer, no futuro. O conceito de homossexualidade só apareceu no XIX, construído pela medicina e deu-lhe um significado preciso, médico. Mas da mesma forma que estes significados das orientações sexuais foram construídos culturalmente, eles poderão ser "desconstruídos" ao longo do tempo. Será que, tendo em conta as infinitas características da identidade de alguém (género, sexo, idade, profissão, origem social, etc) fará algum sentido descrever alguém pela sua orientação sexual? Qual o significado que atribuímos às pessoas devido à sua orientação sexual?” Fernando Lima Magalhães Bibliografia Consultada: Coleman, E. (1990). Toward a synthetic understanding of sexual orientation. In McWhirter, D. P.,Sanders, S. A., and Reinisch, J. M. (eds.), Homosexuality/ Heterosexuality. Concepts of Sexual Orientation, Oxford University Press, New York. Sell, R. L. (1997). Defining and measuring sexual orientation: A review. Archives of Sexual Behavior, 26, 643-658. Shively, M. G., and DeCecco, J. P. (1977). Components of sexual identity. J. Homosexuality 3: 41-48. 35 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Texto retirado integralmente do site: In http://tvtel.pt/psicologia/page20.htm retirado a 4 de Julho de 2008 às 19h23m Material didáctico: Livro “Educar para a Sexualidade” (Alcobia, Mendes & Serôdio, 2003) Livro “Educação Sexual na Escola” (Machado Vaz, 1996) Livro “Educação Sexual na Escola – Guia para Professores, Formadores e Educadores” (Frade, Marques, Alverca & Vilar, 2003) Sugestões de actividade(s): Comente a seguinte notícia: 04 Julho 2008 - 16h42 Líder parlamentar do PS contra declarações de Ferreira Leite Casamento homossexual alvo de debate O líder parlamentar do PS, Alberto Martins, defendeu esta sexta-feira um amplo debate sobre os casamentos homossexuais, criticando a posição assumida pela líder do PSD, Manuela Ferreira Leite. No entanto, o socialista adiou o debate das uniões entre pessoas do mesmo género para a próxima legislatura, sustentando que “tudo deverá ser discutido a seu tempo”. “As questões dos casamentos de duas pessoas do mesmo sexo, de reconhecimento de situações de facto, de situações de outra natureza, é algo que está no debate político e que a seu tempo o PS participará nesse debate. Não constituo programa do Governo e, por isso, terá de ser colocado na próxima legislatura”. O líder parlamentar não quis igualmente adiantar a posição do PS nesta matéria, justificando que “não se pode comprometer com o futuro programa” do partido. Na passada terça-feira, em entrevista à TVI, Manuela Ferreira Leite recusou “atribuir o mesmo estatuto àquilo que é uma relação de duas pessoas do mesmo sexo igualmente ao estatuto de pessoas de sexo diferente”. A nova líder social-democrata admitiu mesmo estar “a fazer uma discriminação”. 36 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Tempo médio de duração do tema: 30 minutos Sites a consultar: http://juventude.gov.pt/Portal/SaudeSexualidadeJuvenil/ExpressoesSexual idade/A+orienta%C3%A7%C3%A3o+sexual.htm 37 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar TEMA: AFECTIVIDADE E GÉNERO NA ADOLESCÊNCIA Componente teórica: Afectividade Formar para a afectividade ou formar para os afectos consiste, no essencial, em criar espaços para a discussão de emoções, sentimentos, experiências e memórias, visando a autonomia, a responsabilidade, o autoconhecimento e a auto-realização. Na adolescência, a par das transformações físicas, muitas transformações emocionais, psicológicas e morais vão surgindo também… O Primeiro amor… “Questão é curiosa nesta Filosofia, qual seja mais precioso e de maiores quilates: se o primeiro amor, ou o segundo? Ao primeiro ninguém pode negar que é o primogénito do coração, o morgado dos afectos, a flor do desejo, e as primícias da vontade. Contudo, eu reconheço grandes vantagens no amor segundo. O primeiro é bisonho, o segundo é experimentado; o primeiro é aprendiz, o segundo é mestre: o primeiro pode ser ímpeto, o segundo não pode ser senão amor. Enfim, o segundo amor, porque é segundo, é confirmação e ratificação do primeiro, e por isso não simples amor, senão duplicado, e amor sobre amor. É verdade que o primeiro amor é o primogénito do coração; porém a vontade sempre livre não tem os seus bens vinculados. Seja o primeiro, mas não por isso o maior.” Padre António Vieira, in "Sermões" O primeiro amor ocorre habitualmente na adolescência e “acontece quando um rapaz ou uma rapariga sentem que é aquela ou aquele a pessoa com quem sempre sonharam. Não existem dúvidas, apenas certezas.” (Pereira & Freitas, 2002) A paixão… A adolescência marca o início das “grandes paixões”. Estar apaixonado é sentido como algo único, impossível de verbalizar, é prazer e dor, medo e 38 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar vontade, é tudo… Francesco Alberoni afirma mesmo que a paixão entre duas pessoas é feita do mesmo combustível que move as grandes revoluções. “A antropóloga Helen Fisher, da Universidade Rutgers, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, diz que o modo como a paixão é vista nas diferentes sociedades é a chave para se entenderem mecanismos como liberdade, poder e submissão feminina. (…) Segundo Helen, o ser humano tem vivido esse sentimento cada vez mais. Para ela, isso é sinal de evolução do comportamento humano. Segundo a antropóloga, uma pesquisa recente da Organização das Nações Unidas mostrou que, em dois terços dos países, as pessoas declararam ter estabelecido um relacionamento com base na paixão, tanto no Ocidente como no Oriente.” (in http://super.abril.com.br/superarquivo/2003/conteudo_273821.shtml ) Assim, a paixão pode acontecer a qualquer um, em qualquer idade. No entanto, a paixão, principalmente quando vivenciada de uma forma tão intensa como o é na adolescência também pode ter o seu “lado negro”. Assim, e segundo Pereira e Freitas (2002) é “necessário alertar para o perigo dos sentimentos de posse que não respeitam o outro como indivíduo. Embora exista amor e paixão entre duas pessoas, cada uma delas deve ser encarada como um indivíduo que tem direito a espaços próprios, até de silêncio e solidão, para que possa ser feliz. A paixão e o amor podem funcionar como uma prisão que se deseja, mas ao fim de um certo tempo é, apenas, uma prisão. E as pessoas que não são livres dificilmente se sentem felizes. Cabe aqui recordar que quando duas pessoas se apaixonam existe, habitualmente, um afastamento dos outros. Queres estar juntos e, se possível, sozinhos todo o tempo que podem. Vivem um para o outro e não precisam de mais ninguém. Ao fim de algum tempo, no entanto, é normal que voltem a sentir desejo de se relacionarem com os amigos, o que não significa que tenham deixado de investir na relação. Se um deles não compreender isto pode sentir-se traído ou rejeitado.” Os adolescentes devem ser alertados para este outro lado da paixão, e apoiados por adultos significativos na consciencialização de si e do outro(s). 39 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Para que todas estas problemáticas possam ser discutidas na escola, o professor necessita de se tornar um facilitador da acção. A sua própria vivência das emoções, das sensações e dos afectos pode ser uma força geradora de partilha de experiências em contexto de sala. Não é possível falar de afectos sem falar de sentimentos, não é possível falar sobre sentimentos sem sentir. Existe toda uma dimensão criativa na educação para a sexualidade e para os afectos que tem de ser valorizada, já que os afectos desempenham um papel fundamental na vivência de uma sexualidade responsável e autónoma, que a escola pode e deve promover. Género “O conceito género refere-se à “construção social do “ser-se homem” ou “ser-se mulher” elaborada a partir das diferenças biológicas entre ambos os sexos. Numa determinada sociedade, o género define os papéis e as responsabilidades dos indivíduos enquanto elementos de um ou de outro grupo, induz experiências de vida, determina expectativas pessoais, condiciona oportunidades e modela a forma como homens e mulheres se relacionam mutuamente. Implica, portanto, não apenas diferenças socialmente construídas entre os mundos masculino e feminino, mas também uma hierarquia estabelecida entre ambos, em que o primeiro tem sido dominante ao longo dos tempos” (Prazeres, 2003). Esta construção da identidade de género, que se vai concretizando ao longo da vida, advém não só da representação que temos de nós próprios enquanto homens ou mulheres, mas também da representação que julgamos que os outros têm de nós. Formação da identidade de género: “A expressão das emoções é controlada pelos estereótipos sociais que nos levam a tolerar menos as lágrimas dos rapazes do as das raparigas. Aliás, as próprias mães e outros membros femininos da família podem, inadvertidamente, reforçar a visão tradicional da masculinidade, encorajando os rapazes a “refrearem” ou a esconderem as suas emoções e a não se 40 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar queixarem sobre questões de saúde, ou mesmo, não os envolvendo nas tarefas domésticas.” Os adolescentes recebem, desta forma, estímulos contraditórios ao nível dos valores. Se por um lado há uma abertura maior no discurso sobre a sexualidade, por outro lado continuamos a viver “contos de fadas”tradicionais. As meninas ficam com o primado do afecto e do “príncipe encantado” e os meninos preferem as “princesas encantadas” qualquer que seja o aspecto, se houver afecto melhor e depois logo se vê. O primado é o sexo… É, assim, contexto da sexualidade que as diferenças de género se tornam mais acentuadas e mesmo relevantes. Embora cada vez mais a sociedade ocidental se paute por uma evolução no que respeita às questões de género, continua a subsistir um “duplo padrão mediador do comportamento masculino e feminino” que se manifesta nas atitudes, crenças, comportamentos e valores associados à vivência da sexualidade no masculino ou no feminino (Prazeres, 2003). De seguida apresentamos alguns exemplos de modelos tradicionais de socialização, face à sexualidade, atribuídos aos diferentes géneros: Modelos tradicionais de Modelos tradicionais de socialização masculinos socialização femininos Sexualidade orientada para o coito Sexualidade orientada para o amor, a afectividade e a reprodução Disponibilidade permanente actividade sexual Desejo sexual sexual biologicamente Comportamento passivo na actividade determinado e incontrolável Responsabilidade para Menor disponibilidade para o acto no sexual uso da Responsabilidade pelo planeamento contracepção apenas no que se familiar, refere á utilização do preservativo pôr em causa “invulnerabilidade masculina” uso do método contraceptivo Sugestão do uso do preservativo Sugestão parece e do preservativo implica a premeditação da actividade sexual o que suscita a ideia de promiscuidade 41 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar O rapaz é fortemente incentivado A vida sexual deve começar tarde, e a pelos pares e/ou família a iniciar a sua virgindade é encarada como algo a vida sexual cedo, e a ter muitas salvaguardar até ao matrimónio experiências sexuais. Embora cada vez mais a sociedade ocidental tenda a afastar-se deste modelos sociais tradicionais, é importante não enveredar por um discurso incoerente centrado numa mudança rápida, radical e drástica dos comportamentos masculinos e femininos. Por outro lado, não devemos manter-nos nesta distinção entre masculino e feminino apenas porque é mais confortável perpetuar estas diferenças do que investir na mudança. No entanto, e segundo Prazeres (2003) “são perceptíveis sinais de alteração gradual nas formas de aprendizagem do género, que, nas gerações futuras, terão, certamente, impacto significativo. Os adolescentes de ambos os sexos constituem verdadeiros motores de mudança, pese embora a persistência da visão clássica da masculinidade e da feminilidade em muitas famílias e em muitos profissionais de diversos sectores”. Material didáctico: Livro “Educar para a Sexualidade” (Alcobia, Mendes & Serôdio, 2003) Livro “Educação Sexual na Escola” (Machado Vaz, 1996) Livro “Educação Sexual na Escola – Guia para Professores, Formadores e Educadores” (Frade, Marques, Alverca & Vilar, 2003) Sugestões de actividade(s): Afectividade - Livro “Educar para a Sexualidade” (Alcobia, Mendes & Serôdio, 2003) Pág. 72, Actividade Nº 4.1 42 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar - In Educação Sexual – Contextos de sexualidade e adolescência, Pereira & Freitas, 2002, pág. 41: Debate: Os afectos: liberdade ou servidão? Existe pudor em mostrar sentimentos positivos? Há muitos modelos de início de uma relação de amor. Acontece o mesmo no que se refere a terminar uma relação? A relação amor/sexualidade é vivida pelo rapaz e pela rapariga da mesma maneira? As rupturas amorosas terão que ser necessariamente tristes? Género - Livro “Educar para a Sexualidade” (Alcobia, Mendes & Serôdio, 2003) Pág. 70, Actividade Nº 2.2 - In Educação Sexual – Contextos de sexualidade e adolescência, Pereira & Freitas, 2002: Ler o seguinte texto: “Esta noite não consegui pregar olho porque a Joana não parou de chorar e vomitou várias vezes. Não sabia se devia ir com ele para a urgência do Hospital ou esperar até de manhã e leva-la ao Centro de Saúde. Como se isto não chegasse, tenho hoje uma reunião que nem sei a que horas termina e ainda por cima vão montar-me os móveis novos da cozinha que estão encomendados há tanto tempo. a) Indicar se é um homem ou uma mulher que profere este texto. b) Imaginar a continuidade desta situação. Sugestões para debates: - Comportamentos dos rapazes e das raparigas em função do vestuário e adornos que utilizam. - “Os homens não estão interessados em desenvolver valores femininos porque têm receio de perder a sua identidade sexual”. - Profissões masculinas VS profissionais femininas. 43 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Tempo médio de duração do tema: 1h Bibliografia a consultar: LBSE Decreto Lei nº 46/86 art. 3 j); Ferreira, A. M. (2002). Desigualdades de género no actual sistema educativo português. Coimbra: Edições Quarteto; Prazeres, V. (2003). Adolescentes, Pais e tudo o mais. Lisboa: Texto Editora. 44 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar TEMA: ABUSO SEXUAL Componente teórica: In Educação Sexual – Contextos de sexualidade e adolescência, Pereira & Freitas, 2002: Abuso sexual é definido pelo National Center of Child Abuse and Neglect (EUA) como “Contactos e interacções entre um adulto e uma criança, quando o adulto usa a acriança para se estimular sexualmente a si próprio, à criança ou a outrem. Também pode ser cometido por outra pessoa quando a sua idade for significativamente superior à da vítima, ou quando está em clara posição de poder ou controlo sobre ela”. Mitos e crenças sobre o abuso sexual: -Não são frequentes; -Só acontece às meninas; -O agressor é um doente mental; -As crianças não dizem a verdade; -Os menores são os responsáveis; -Quando acontece é denunciado pelos familiares; -É um assunto privado: -... As estratégias utilizadas pelos agressores para abusarem das suas vítimas “incluem habitualmente a surpresa, comportamentos com significado dúbio, persuasão e ameaças, entre outras. Um exemplo que referimos é o de aproximação gradual, começando por estabelecer um contacto afectivo natural que não inclui qualquer tipo de actividades com conotação sexual e, ganha a confiança do(a) jovem, o agressor passa à fase de abusos.” As vítimas apresentam frequentemente sentimentos de culpa e vergonha pelo que lhes aconteceu, e tem muito medo das represálias que os agressores podem vir a exercer sobre eles, quer através da concretização de ameaças, quer através da ideia mesmo que a criança conte a alguém, ninguém vai acreditar. 45 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Efeitos que podem ser observados nas vitimas de abuso sexual: “Emoções e afectos: Ansiedade, distúrbios de humor, angústia; Desconfiança, medos; Agressividade, hostilidade. Auto-representação: Baixa auto-estima, culpabilidade, vergonha, auto-estigamatização. Sexualidade: Precocidade de comportamentos sexuais; Curiosidade excessiva; Prostituição infantil e juvenil. Outras manifestações: Dificuldades de ordem cognitiva (memória, concentração); Perturbações alimentares e do sono; Insucesso escolar; Comportamentos anti-sociais; Abandono do lar.” In Educação Sexual – Contextos de sexualidade e adolescência, Pereira & Freitas, 2002 Caso se verifiquem estes efeitos em algum aluno, a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco local, deve ser informada pelo Conselho Executivo da escola. Material didáctico: Livro “Educar para a Sexualidade” (Alcobia, Mendes & Serôdio, 2003) Pág. 65 Livro “Educação Sexual na Escola – Guia para Professores, Formadores e Educadores” (Frade, Marques, Alverca & Vilar, 2003) - Pág. 105 a 107 46 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Sugestões de actividade(s): - Debate subordinado ao tema: O abuso sexual nunca é perpetrado pela família. Tempo médio de duração do tema: 30 minutos Bibliografia a consultar: Azevedo, M. C. & Maia, A. C. (2006). Maus-tratos à criança. Lisboa: Climepsi Editores; Machado, C. & Gonçalves, R. A. (Coords.) (2002). Violência e Vítimas de Crimes. Coimbra: Quarteto Editora. 47 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar TEMA: PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO: JEAN PIAGET E ERIK ERIKSON Componente teórica: A Psicologia do Desenvolvimento é um tema fundamental no âmbito deste programa de Educação Sexual, uma vez que consideramos importante contextualizar o funcionamento cognitivo, social e emocional das crianças de 10 anos, para optimizar as suas aquisições e aprendizagens. Jean Piaget e a Teoria do Desenvolvimento Cognitivo “Piaget deu uma contribuição muito significativa para a nossa compreensão do desenvolvimento mental enquanto processo de interacção. Através de um estudo intensivo de crianças, durante longos períodos de tempo – um penoso processo de observações quase infindáveis – Piaget começou a delinear o inexplorado território da mente humana e a produzir um mapa dos estádios de desenvolvimento cognitivo. Piaget propôs, antes de mais, que o desenvolvimento cognitivo se processa em estádios de desenvolvimento, o que significa que tanto a natureza como a forma da inteligência mudam profundamente ao longo do tempo. As diferenças não são de grau (os que aprendem com lentidão e os que aprendem com rapidez) mas sim qualitativas. Os estádios de desenvolvimento diferem marcadamente uns dos outros e o conteúdo de cada estádio consiste num sistema fechado que determina a forma como compreendemos e damos sentido às experiências (particularmente à experiencia de aprender com alguém). Deste modo, se pretendemos proporcionar experiências que alimentem e facilitem o desenvolvimento, temos de ter em consideração o sistema intelectual que a criança utiliza num dado momento. O trabalho de Piaget delimitou os vários sistemas cognitivos que as crianças usam em diferentes períodos das suas vidas. Cada novo sistema em evolução constitui uma transformação qualitativa fundamental.” (Sprinthall & Sprinthall, 1993). Após examinar os padrões de pensamento que as crianças usam desde o nascimento até ao final da adolescência, Piaget começou a encontrar 48 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar sistemas consistentes dentro de certas faixas etárias amplas. Definiu, assim, quatro estádios principais.” (Sprinthall & Sprinthall, 1993). São eles: O estádio sensório-motor, que inclui as crianças dos 0 aos 2 anos “No estádio sensório-motor, a inteligência é fundamentalmente sensorial – o bebé capta todas as informações que recebe através dos órgãos dos sentidos –, e motora – exprime-se através de movimentos. É uma inteligência prática, em que não há linguagem nem a capacidade de representar mentalmente os objectos. Começando por uma actividade essencialmente reflexa, o bebé vai construindo progressivamente novos meios que lhe permitem explorar o ambiente, agindo sobre ele. É através dos esquemas sensório-motores que a inteligência se adapta ao meio. É neste estádio que aparece o conceito de objecto permanente ou permanência do objecto – a criança procura um objecto escondido porque tem a noção de que o objecto continua a existir, mesmo quando não o vê. É graças à observação e exploração do mundo que a rodeia que a criança constrói as estruturas cognitivas imprescindíveis ao desenvolvimento das estruturas lógicas que aparecerão mais tarde. A inteligência prática centrada nas acções directas vai dar lugar à inteligência representativa, ao pensamento constituído por acções interiorizadas, características do estádio seguinte” (Monteiro & Pereira, 2003). O estádio pré-operatório, que inclui as crianças dos 2 aos 7 anos “Uma das mais importantes conquistas do estádio pré-operatório é a emergência da função simbólica, isto é, a capacidade de representar mentalmente objectos ou acontecimentos que não ocorrem no presente, através de símbolos – palavras, objectos, gestos. A linguagem é uma das mais importantes manifestações da função simbólica: as palavras, as frases representam pessoas, situações, objectos, acções. No jogo simbólico, no faz-de-conta, a criança imita, representa um conjunto de comportamentos, de acções: finge que dorme, que lê o jornal, etc. Os objectos passam a representar o que a criança deseja: um garfo pode ser 49 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar um telefone ou um avião. A imagem mental (representação mental de objectos ou acções não presentes no campo perceptivo) e o desenho são também manifestações da função simbólica. Este estádio vai buscar a sua designação – pré-operatório – ao facto de a criança já pensar, mas ainda não ser capaz de fazer operações mentais (acção interiorizada reversível). É um pensamento intuitivo baseado na percepção dos dados sensoriais. Nas experiências levadas a cabo por Piaget, a criança responde à questão que lhe é colocada com base na aparência, isto é, com base nos dados imediatos da percepção – depois de ter constatado que dois copos têm a mesma quantidade de água, se diante dela se verter o líquido de um dos recipientes para um copo mais alto e mais fino, a criança responderá que este tem maior quantidade de água. Uma outra característica deste estádio é o egocentrismo – a centração impede a criança de compreender que, sobre a realidade, há outras perspectivas para além da sua. Domina, portanto, uma visão unilateral e superficial do real. A realidade, encarada por um pensamento mágico, é o que a criança sonha e imagina no jogo simbólico” (Monteiro & Pereira, 2003). O estádio das operações concretas, que inclui as crianças dos 7 aos 11/12 anos “É durante o estádio das operações concretas que as crianças começam a ultrapassar o egocentrismo que caracteriza o estádio pré-operatório. O pensamento é lógico desenvolvendo conceitos e sendo capaz de realizar operações mentais. Contudo, como a designação do estádio indica, só é capaz de operar, isto é, de resolver problemas concretamente, se estiver na presença dos objectos, das situações. A capacidade de operar assegura que já há reversibilidade. Reversível significa ser “capaz de voltar ao seu ponto de origem”: no exemplo atrás descrito, a criança já é capaz de dizer que a quantidade de água é a mesma porque interiormente, mentalmente, desenvolve a acção inversa. Na matemática, podemos exemplificar assim a reversibilidade: 20+10=30 e 3010=20. 50 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar É neste estádio que a criança desenvolve a noção de conservação da matéria sólida e líquida e mais tarde do peso e do volume. Desenvolve os conceitos de espaço, tempo, número e lógica. Compreende a relação partetodo e já é capaz de fazer classificações e seriações” (Monteiro & Pereira, 2003). O estádio das operações formais, que inclui as crianças dos 11/12 aos 16 anos “Este estádio caracteriza-se pelo aparecimento de um novo tipo de pensamento: um pensamento abstracto, lógico e formal. Diferentemente do estádio anterior, a criança já resolve problemas, já opera sem o suporte concreto – realiza operações formais. (...) Pensa abstractamente, formula e verifica hipóteses. Esta capacidade abre caminho à reflexão filosófica e científica. Compreende que, para além da sua perspectiva sobre um dado problema ou situação, os outros podem ter posições diferentes da sua. Surge um novo tipo de egocentrismo: o egocentrismo intelectual, que leva o adolescente a considerar que através do seu pensamento pode resolver todos os problemas e que as suas ideias e convicções são as melhores” (Monteiro & Pereira, 2003). “Cada estádio é um sistema de pensamento qualitativamente diferente do precedente e constitui uma transformação fundamental dos processos de pensamento – comparando com o estádio precedente, um salto para a frente, um importante avanço no conhecimento. É também importante lembrar que a criança deve atravessar cada estádio segundo uma sequência regular. É impossível saltar um estádio ou cortar caminho: os estádios de desenvolvimento cognitivo são sequenciais, seguem uma sequência invariável. As crianças não podem superar um atraso de desenvolvimento nem acelerar o seu movimento de um estádio para o seguinte; precisam de experiência suficiente em cada estádio e de tempo suficiente para interiorizar essa experiencia antes de poderem prosseguir. 51 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar A nossa maior preocupação como educadores é compreender a essência fundamental de cada estádio. Só então podemos começar a ponderar o que ensinar e como fazê-lo. Embora a essência fundamental de cada estádio seja a estrutura ou esquema principal de um grupo etário específico, estes estádios nunca existem numa forma pura: estão sempre presentes alguns elementos do estádio precedente e do seguinte. Por outras palavras, embora uma forma fundamental de actividade cognitiva defina cada estádio, coexistem elementos de outros estádios” (Sprinthall & Sprinthall, 1993). Erik Erikson e a Teoria do Desenvolvimento Psicossocial “Erik Erikson, aluno de Freud, fez mais do que qualquer outro teórico pela modernização da teoria freudiana, tornando-a uma teoria do desenvolvimento da criança e do adolescente mais completa. Num certo sentido, uma das principais dificuldades da perspectiva de Freud foi a de ser demasiado determinista. Segundo Freud, por volta dos seis ou sete anos o desenvolvimento pessoal praticamente acabou: as nossas estruturas básicas de personalidade já estão estabelecidas. Erikson prolongou a ideia de estádios de desenvolvimento para um quadro de referência mais lato, isto é, um ciclo de vida, e delineou dimensões positivas e negativas para cada um dos períodos. Ajudou a clarificar e equilibrar a teoria de Freud como meio de compreensão do desenvolvimento pessoal. Enquanto Freud havia sublinhado os aspectos negativos e patológicos do desenvolvimento emocional, Erikson dirigiu a teoria para um contexto mais abrangente. Para Erikson, o desenvolvimento continuava por toda a vida” (Sprinthall & Sprinthall, 1993), “através de oito “idades”, oitos estádios psicossociais. É a progressão nos estádios psicossociais que explica a construção da personalidade, que acompanha, portanto, todo o ciclo de vida. Segundo este psicólogo, cada idade ou período de desenvolvimento é caracterizado por tarefas específicas (que é necessário cumprir para se progredir para o estádio seguinte) e pela experiência de determinado conflito, ou crise. É através da resolução do conflito de cada estádio que o indivíduo adquire novas capacidades, que se desenvolve. A resolução positiva, 52 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar favorável, da crise constitui uma aquisição positiva que se manifesta a diferentes níveis: psicológico, emocional e social.” (Monteiro & Pereira, 2003). Assim, as oito idades que Erikson postulou são: 1ª idade (dos 0 aos 12/18 meses) – Confiança vs Desconfiança (Esperança) 2ª idade (dos 12/18 meses aos 3 anos) – Autonomia vs Dúvida/vergonha (Vontade) 3ª idade (dos 3 aos 6 anos) – Iniciativa vs Culpa (Finalidade) 4ª idade (dos 6 aos 12 anos) – Indústria/mestria vs Inferioridade (Competência) “Na nossa cultura, predominam as actividades escolares neste estádio. Se a criança corresponde ao que lhe é exigido no processo de aprendizagem, a sua curiosidade é estimulada bem como o desejo de aprender. O sucesso desenvolve nela sentimentos de auto-estima, de competência (mestria). Se, pelo contrário, a criança se sente incapaz de atingir com sucesso as actividades escolares, quando os seus companheiros o atingem, pode desenvolver um sentimento de inferioridade, desinvestindo nas tarefas. A questão-base neste estádio é “sou bem sucedido ou incompetente?”, sendo que a sua vertente positiva é o desenvolvimento do sentido de competência, e a vertente negativa é a falta do sentido de competência e algum sentimento de inferioridade.” (Monteiro & Pereira, 2003). 5ª idade (dos 12 aos 18/20 anos) – Identidade vs Confusão da identidade (Fidelidade) 6ª idade (dos 20 aos 30 anos) – Intimidade vs Isolamento (Amor) 7ª idade (dos 30 aos 65 anos) – Produtividade vs Estagnação (Cuidados) 8ª idade (a partir dos 65 anos) – Integridade vs Desespero (Sabedoria) 53 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Desenvolvimento cognitivo no período escolar (adaptado de Papalia, Olds & Feldman, 2001) Avanços nas capacidades cognitivas As crianças no estádio das operações concretas, sensivelmente entre os 7 e os 12 anos, realizam muitas tarefas a um nível mais elevado do que o poderiam fazer no estádio pré-operatório. Têm uma compreensão maior das diferenças entre fantasia e realidade, classificação, relações lógicas, causa e efeito, conceitos espaciais e conservação e são mais competentes com os números. Distinguindo entre fantasia e realidade A capacidade para distinguir entre o que é real e imaginário torna-se mais sofisticada durante o estádio das operações concretas. Quando se perguntou a alunos do 2° e 5° anos o que fazem os enfermeiros e os polícias na vida real e na televisão, as crianças mais velhas reconheciam mais frequentemente as representações televisivas como irrealistas. Contudo, as crianças que viam muita televisão tinham mais probabilidades de acreditarem que esta era igual à vida real e de quererem ser enfermeiros ou polícias iguais aos do pequeno ecrã (J. C. Wright et aI., 1995). “Não obstante, ao abandonarem sem reservas o seu pensamento mágico, fantasias e amigos imaginários, as crianças deste estádio tornam-se quase que exageradamente concretas. A sua capacidade de compreender o mundo é agora tão lógica quanto anteriormente era ilógica. Por exemplo, as crianças podem facilmente distinguir sonhos de factos, mas não podem separar hipóteses de factos. Crianças de cinco anos de idade descrevem normalmente um sonho como qualquer coisa que acontece no seu quarto de dormir, que vêem como um filme, enquanto que aos nove anos descrevem os sonhos como imagens mentais que se desenrolam dentro das suas cabeças. Igualmente, quando uma criança de nove anos chega a uma determinada conclusão, nova 54 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar informação dificilmente mudará esse ponto de vista.” (Sprinthall & Sprinthall, 1993). Classificação Uma das capacidades de classificação desenvolvida no período escolar é a inclusão de classes, a capacidade para compreender a relação entre o todo e as partes. Se apresentarmos a crianças pré-operatórias um ramo composto por 10 flores – 7 rosas e 3 cravos – e lhes perguntarmos se há mais rosas ou mais flores, elas dirão que há mais rosas, porque comparam as rosas com os cravos e não com a totalidade do ramo. Apenas no estádio das operações concretas, as crianças começam a compreender que as rosas são uma subclasse das flores e, em consequência, não pode haver mais rosas do que flores (Flavell, 1963). Raciocínio indutivo e dedutivo A capacidade de classificar torna possível o pensamento lógico da criança. Os dois tipos de raciocínio lógico, dedutivo e indutivo, procedem de premissas (afirmações sobre o que conhecemos, acreditamos ou assumimos como verdadeiro) para conclusões. A dedução inicia-se com uma afirmação geral (premissa) sobre uma classe de indivíduos, animais, objectos ou acontecimentos e aplica-se aos membros particulares dessa classe. Se a premissa é verdadeira para o conjunto da classe e o raciocínio é correcto, então a conclusão é verdadeira: "Todos os cães ladram. O Pintas é um cão. O Pintas ladra". A indução começa com observações particulares para retirar conclusões gerais: "O meu cão ladra. O cão do Tiago e o cão da Ana também ladram. Parece que todos os cães ladram". As conclusões indutivas são menos seguras que as dedutivas, porque é sempre possível encontrar nova informação que não apoia a conclusão. Investigadores colocaram 16 problemas indutivos e dedutivos a 16 crianças do jardim-de-infância, 17 do 2° ano, 16 do 4° ano e 17 do 6° ano. Os problemas foram concebidos de modo a não apelar a conhecimentos do mundo real. Por exemplo, um dos problemas dedutivos era: "Todos os psiguís usam 55 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar botas azuis. Tombor é um psiguí. O Tombor usa botas azuis?" O problema indutivo correspondente era: "O Tombor é um psiguí. O Tombor usa botas azuis. Todos os psiguís usam botas azuis?" As crianças do 2° ano de escolaridade (mas não as do jardim de infância) eram capazes, não só de responder correctamente aos dois tipos de problemas, mas também de ver a diferença entre eles e explicar as suas respostas, e expressavam (apropriadamente) mais confiança nas suas respostas dedutivas do que nas indutivas. A sensibilidade para a distinção entre indução e dedução aumentava entre o segundo e o sexto ano (GaIotti, Komatsu & Voelz, 1997). Causa e efeito A capacidade para fazer julgamentos sobre causa e efeito também aumenta durante o período escolar. Quando se pediu a crianças dos 5 aos 12 anos que predissessem o comportamento de balanças, sob determinadas condições, as crianças mais velhas deram mais respostas correctas do que as crianças mais jovens. As crianças percebiam a influência dos atributos físicos (o número de objectos em cada lado da balança) antes de reconhecerem a influência de factores espaciais (a distancia dos objectos do centro da balança). A consciência de quais as variáveis que têm um efeito parece não estar relacionada com a consciência de quais as variáveis que não o têm (por exemplo, a cor dos objectos). Aparentemente, estes dois processos mentais desenvolvem-se separadamente à medida que a experiência ajuda as crianças a rever as suas teorias intuitivas sobre o modo como as coisas funcionam (Amsel, Goodman, Savoie & Clark, 1996). Seriação e inferência transitiva As crianças demonstram que compreendem a seriação quando são capazes de arrumar objectos numa série, colocando-os por ordem segundo uma ou mais dimensões tais como o peso (do mais leve ao mais pesado) ou cor (do mais claro ao mais escuro). Piaget (1952) testou esta capacidade, pedindo a crianças que colocassem pauzinhos por ordem, do mais pequeno para o maior. Pelos 4 ou 5 anos, as crianças são capazes de escolher o mais 56 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar pequeno e o maior. Pelos 5 ou 6 anos conseguem arrumar o resto dos pauzinhos, por tentativa e erro. Finalmente, pelos 7 ou 8 anos, são capazes de compreender imediatamente as relações entre os pauzinhos, escolhendo o mais pequeno, depois o imediatamente a seguir e por aí adiante até ao maior. A inferência transitiva, a capacidade de reconhecer uma relação entre dois objectos através do conhecimento da relação de cada um deles com um terceiro objecto, também se desenvolve no período escolar. Mostraram-se três pauzinhos à Sara: um amarelo, um verde e um azul. Mostra-se-lhe que o pauzinho amarelo é mais comprido do que o verde, e que o verde é mais comprido do que o azul. Sem comparar fisicamente os paus amarelo e azul, ela é capaz de dizer que o amarelo é mais comprido que o azul. A sua resposta baseia-se no conhecimento da comparação de cada um deles com o pauzinho verde (M. Chapman & Lindenberger, 1988; Piaget & Inhelder, 1967). Pensamento espacial Porque confiamos que as crianças de 6 ou 7 anos sabem o caminho de e para a escola, enquanto a maioria das crianças mais novas não são capazes de o fazer? Uma razão é que as crianças neste estádio das operações concretas são mais capazes de compreender, visualizar e usar as relações espaciais. Têm uma concepção melhor da distância de um lugar a outro e do tempo necessário para lá chegar e conseguem lembrar-se melhor do caminho e dos marcos de referência que nele encontram. A experiência tem um papel importante neste desenvolvimento. Tal como um bebé que começa a gatinhar adquire um melhor conhecimento do meio espacial imediato, explorando-o de uma variedade de posições e pontos, uma criança que vai para a escola familiariza-se com os espaços vizinhos, fora de casa. Tanto a capacidade para usar mapas e modelos como a capacidade para comunicar informação espacial desenvolvem-se com a idade (Gauvin, 1993). Apesar das crianças de 6 anos serem capazes de procurar e encontrar objectos escondidos, não dão, habitualmente, indicações bem organizadas para encontrar os mesmos objectos. Em parte, isso deve-se a limitações linguísticas ou à incapacidade para reconhecer qual a informação que o 57 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar interlocutor necessita (Plumert, Pick, Marks, Kintsch & Wegesin, 1994). Num estudo (Gauvin & Rogoff, 1989), as crianças de 9 anos eram mais capazes de fazer “viagens mentais” numa casinha de brincar, do que as de 6 anos. As crianças de 9 anos eram capazes de descrever tanto o esquema como o caminho através da casinha de brincar; mas as mais pequenas, quando se lhes pedia que prestassem atenção ao esquema, listavam simplesmente os lugares, sem uma ordem específica. Noutro estudo (Waller & Harrois, 1988), as crianças de 8 anos fizeram descrições de caminhos a crianças mais novas, mas as de 5 anos apenas o fizeram quando lhes disseram que esse tipo de descrição facilitava a compreensão por parte das crianças mais novas. Conservação Piaget e outros investigadores testaram a aquisição pelas crianças da conservação, a capacidade para reconhecer que a quantidade de uma coisa permanece igual, mesmo quando o material é modificado, desde que nada seja acrescentado ou retirado. Os testes de conservação lidam com atributos tais como número, substância, comprimento, área, peso e volume. Ao resolver os problemas de conservação, as crianças operatórias concretas conseguem elaborar as respostas nas suas cabeças; não necessitam de medir ou pesar os objectos. Num típico teste de conservação da substância, um experimentador mostra à criança duas bolas de barro idênticas. Depois da criança reconhecer que a quantidade de barro nas duas bolas é igual, o experimentador ou as crianças rolam ou amassam uma das bolas até ficar com uma forma diferente, por exemplo, uma "salsicha" fina e comprida. Pergunta-se à criança se os dois objectos ainda contêm a mesma quantidade de barro e porquê. O Filipe, que está ainda no estádio pré-operatório, é enganado pelas aparências. Diz que o rolo fino e comprido contém mais barro, porque parece mais comprido. A Sara, que já atingiu o estádio das operações concretas, responde correctamente que a bola e a "salsicha" têm a mesma quantidade de barro. Quando são questionados sobre o raciocínio que levou à resposta, Sara mostra que compreende o princípio da identidade: sabe que o barro continua a 58 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar ser o mesmo barro, mesmo que tenha uma forma diferente. Ela também percebe o princípio da reversibilidade: sabe que pode reverter a transformação e restaurar a forma original (mudar a salsicha de novo para uma bola). O Filipe, a criança pré-operatória, não compreende nenhum destes dois princípios. A Sara consegue ainda fazer a descentração: consegue focar mais do que uma dimensão relevante – neste caso, o comprimento e a espessura. Ela reconhece que apesar da bola ser mais curta do que a “salsicha”, é também mais espessa. O Filipe centra-se numa só dimensão (comprimento) e exclui a outra (espessura). Geralmente, as crianças conseguem resolver problemas envolvendo conservação da substância (como aquele que acabámos de descrever) pelos 7 ou 8 anos. Contudo, em tarefas envolvendo a conservação do peso – nas quais se lhes pergunta, por exemplo, se a bola ou a “salsicha” pesam o mesmo – as crianças não dão, geralmente, respostas correctas antes dos 9 ou 10 anos. Em tarefas envolvendo a conservação do volume – nas quais as crianças têm de avaliar se a “salsicha” e a bola deslocam uma quantidade de líquido igual, quando colocadas num copo de água – as respostas correctas são raras antes dos 12 anos. O termo de Piaget para esta inconsistência no desenvolvimento de diferentes tipos de conservação é desfasamento horizontal. O pensamento das crianças neste estádio é tão concreto, tão próximo de uma situação particular, que estas não conseguem facilmente transferir o que aprenderam sobre um tipo de conservação para outro tipo, apesar de os princípios subjacentes serem os mesmos. Também as crianças que estão a iniciar a compreensão da conservação, podem atravessar um estádio transitório no qual nem sempre a aplicam. Estas crianças poderão responder correctamente quando vêem uma "salsicha" curta, mas serão incapazes de fazer a conservação se a "salsicha" for muito longa e fina. O desfasamento horizontal pode, igualmente, aplicar-se a outras tarefas que não a conservação; sugere que níveis mais elevados de capacidades cognitivas não emergem todos em simultâneo, mas sim gradual e continuamente. 59 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar O número e a matemática Os avanços cognitivos descritos anteriormente ajudam a criança a dedicar-se à aritmética. A sua maior capacidade para manipular símbolos, para compreender a inclusão de classes e seriação e para apreciar conceitos como a reversibilidade, possibilitam o cálculo. As crianças mais novas inventam intuitivamente estratégias para adicionar, contando pelos dedos ou usando outros objectos. Pelos 6 ou 7 anos, conseguem contar mentalmente. Aprendem também a contar a partir de: para somar 5 e 3, começam a contar a partir de 5, e depois 6, 7 e 8, para adicionar a quantidade 3. Conseguem igualmente reverter os números, começando no 3 e somando 5. Poderão ser necessários mais 2 ou 3 anos para serem capazes de realizar a operação comparável para a subtracção mas, pelos 9 anos, a maioria das crianças consegue contar no sentido ascendente, a partir dos números menores ou contar no sentido descendente, a partir dos maiores para obter a resposta (L. B. Resnick, 1989). As crianças tornam-se também mais peritas a resolver problemas simples, como: “O Pedro foi a uma loja. Tinha 5 escudos e gastou 2 escudos em rebuçados. Com quanto dinheiro ficou?” Quando a quantidade inicial é desconhecida (“O Pedro foi a uma loja, gastou 2 escudos e ficou com 3 escudos. Quanto dinheiro tinha o Pedro?”), o problema é mais difícil, porque a operação necessária para o resolver (a adição) não está claramente indicada. Poucas crianças conseguem resolver este tipo de problemas antes dos 8 ou 9 anos (L. B. Resnick, 1989). Julgamento moral Segundo Piaget, o desenvolvimento moral está ligado ao crescimento cognitivo. Piaget defendeu que as crianças fazem julgamentos morais mais correctos, quando são capazes de ver as coisas sob mais do que uma perspectiva. Propõe que o julgamento moral se desenvolve em dois estádios. As crianças podem evoluir nestes estádios, em idades diferentes, mas a sequência é a mesma. No primeiro estádio, moralidade heterónoma (de coacção), a criança pequena pensa rigidamente sobre os conceitos morais. Neste estádio, as 60 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar crianças são bastante egocêntricas; não conseguem imaginar mais do que uma maneira de encarar uma questão moral. Acreditam que as regras não podem ser alteradas, que um comportamento está certo ou errado e que qualquer ofensa merece ser castigada (a não ser que sejam eles próprios os ofensores!). O segundo estádio, moralidade autónoma (de cooperação) caracterizase pela flexibilidade. À medida que crescem, as crianças interagem com mais pessoas e estão em contacto com um crescente número de pontos de vista. Alguns destes contradizem o que aprenderam em casa. Afastam então a ideia de que há um padrão único e absoluto do certo e do errado, e começam a formular o seu próprio código moral. Como conseguem considerar mais do que um aspecto da situação, podem fazer julgamentos morais mais subtis. Por exemplo, conseguem considerar a intenção subjacente ao comportamento. Para captar o pensamento das crianças relativamente a este aspecto, Piaget (1932) contou-lhes uma história sobre dois rapazinhos: “Um dia, o Augusto verificou que o tinteiro do pai estava vazio e decidiu ajudar o pai, e enchê-lo. Quando estava a abrir o frasco, saltou uma grande quantidade de tinta para a toalha da mesa. Júlio, o outro rapaz, estava a brincar com o tinteiro do pai e saltou-lhe uma pequena quantidade de tinta para a roupa.” Perguntava, então, Piaget “Qual foi o rapaz que se portou pior e porquê?” As crianças com idades inferiores a 7 anos, no estádio da moralidade heterónoma, consideram habitualmente o Augusto como o que se portou pior, uma vez que fez a mancha de tinta maior. As crianças mais velhas, no estádio da moralidade autónoma, reconhecem que Augusto tinha uma boa intenção e fez a mancha grande de tinta por acidente, enquanto que o Júlio provocou uma mancha pequena ao fazer uma coisa que não devia fazer. Os julgamentos morais imaturos centram-se apenas no grau da ofensa; os julgamentos de maior maturidade consideram a intenção. A importante teoria do desenvolvimento moral de Lawrence Kohlberg, que surge a partir da teoria de Piaget, será discutida posteriormente, no módulo dos Dilemas Morais. 61 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Desenvolvimento social e emocional no período escolar “Mestria Versus Inferioridade: Competência Erikson refere que o desenvolvimento pessoal e emocional se vira para o exterior durante os anos correspondentes ao 1.º e 2.º ciclos do ensino básico. As crianças entram para um novo mundo: a sala de aula, a vizinhança ou o grupo. Estas passam a ser as arenas do desenvolvimento. O lar continua a ser uma importante base de operações, mas as outras arenas têm um significado especial. Em termos de número de horas, as crianças passam agora mais tempo do que nunca (excluindo as horas de dormir) fora de casa. Como crianças mais velhas, já participam plenamente como membros de um grupo de jovens do mesmo sexo. De Piaget retivemos que só a partir dos seis ou sete anos as crianças conseguem genuinamente ouvir ou falar com outras crianças. Na altura em que os «monólogos colectivos» são substituídos pela discussão genuína podem construir-se grupos novos e importantes. Nesta altura, os grupos da vizinhança e da sala de aula tornam-se os principais agentes socializadores. Em oposição aos de adolescentes, os grupos da segunda infância ou juvenis são quase exclusivamente constituídos apenas por rapazes ou por raparigas. De vez em quando, um grupo de rapazes permitirá que uma «Maria rapaz» particularmente talentosa entre, mas regra geral, o mundo juvenil e estável é claramente estereotipado. Esse mundo divide tudo em dois campos: rapazes e raparigas, bons com chapéus brancos e maus com chapéus pretos, os mais novos são todos «bebés», todos os adultos tem sempre razão incluindo todos os professores. Não há lugar para a relatividade. De novo, se recordarmos Piaget, este é o estádio do pensamento concreto. Do ponto de vista pessoal, este factor proporciona um período de estabilidade emocional considerável. A criança geralmente tem, em casa, uma relação em nada ambígua. Poderá ter bastante liberdade para vaguear pela vizinhança. Os adultos não estão excessivamente preocupados com o desempenho escolar, embora, nesta idade as crianças estejam interessadas em aprender muitas das 62 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar competências que lhes são ensinadas. A um nível concreto e funcional é «divertido» decifrar letras, aprender a escrever, somar e subtrair, pois cada uma destas competências dá acesso a um novo conjunto de experiências disponíveis: ler banda desenhada, escrever recados, fazer contas para saber quanto é que a nova bicicleta custa e assim por diante. Não há qualquer necessidade de ensinar às crianças desta idade a importância da aprendizagem destas competências. Para além das muitas competências orientadas pela escola neste período, a criança também desenvolve um sentido geral de mestria pessoal. É imenso o número de novas actividades e jogos que as crianças desta idade aprendem: nadar, montar a cavalo, fazer vela, esquiar, patinar, acampar, fazer remo, jogar basebol, basquetebol, futebol, hóquei, jogos populares, coser, cozinhar, coleccionar coisas (olhe para os bolsos de uma criança desta idade!), a lista é infindável e testemunha a quantidade de energia «bruta» e a motivação para a competência que existe nesta fase. O ditado mais apropriado é o antigo que afirma que uma criança tem 10 000 músculos que se querem mexer e apenas alguns servem para se sentar quietos. Simultaneamente, devemos compreender a questão central de Erikson: esta tremenda quantidade de energia pode ser posta ao serviço da motivação para a competência pessoal. Se não se encoraja a criança a envolver-se activamente com o meio circundante, o seu sentido de mestria ou «indústria» pessoal será substituído pelo de inferioridade pessoal. Por outras palavras, é nesta altura que a necessidade de a criança funcionar e adquirir activamente múltiplas competências afecta ao máximo o seu sentido de mestria pessoal. O termo competência, utilizado por Erikson para reflectir a resolução dessa mestria é invulgarmente apropriado. A razão pela qual a ideia de competência é tão importante para os educadores talvez seja, desde já, óbvia. O desenvolvimento pessoal e emocional dos seis aos doze anos ocorre em larga escala na escola. Nesta idade, as crianças passam mais tempo na escola do que em qualquer outro lugar. Assim, a situação da sala de aula constitui uma influência determinante no seu desenvolvimento. Com demasiada frequência, ouvimos professores a fazer comentários do tipo: «O que é que podemos fazer com uma criança que 63 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar provém de um mau ambiente em casa?» A questão é que não devemos assumir que não podemos ter um efeito positivo no desenvolvimento pessoal e, em especial, na motivação para a competência dos nossos alunos. De facto, os professores primários e do ciclo preparatório estão numa posição particularmente estratégica para realçar actividades que podem nutrir e nalguns casos restituir, o sentido de mestria. As escolas elementares norte-americanas estão gradualmente a afastar-se da memorização «de cor», da recepção passiva e da «limpeza» («pinta sempre dentro das riscas») e a aproximar-se da sala de aula aberta e activa. A chamada sala de aula aberta realça muitas actividades e projectos individuais e absorve muita energia. Ao colocar a tónica no «fazer» em vez de no «ouvir», a escola activa promove no aluno um sentido de mestria pessoal. Para Erikson, entre os seis e os doze anos, a criança está maximamente pronta para a aprendizagem activa. A nossa tarefa, enquanto educadores, é responder à sua tendência natural de modo a facilitar e não prejudicar um desenvolvimento pessoal saudável. Não nos devemos preocupar em criar alunos calados, arrumados, ordenados e delicados. Este tipo de objectivo não dá oportunidade ao desenvolvimento da mestria pessoal.” (Sprinthall & Sprinthall, 1993). O mundo interno do self Durante o período escolar, as alterações desenvolvimentais permitem que a criança adquira uma visão mais completa, madura e integrada de si própria (Soares, 2004; Sroufe, 1996). Esta visão inclui o chamado “self psicológico”: um conceito do self como sendo constituído por capacidades mentais e sentimentos (ibidem). Para estar consciente destas características psicológicas, as crianças no período escolar têm de considerar os vários aspectos das suas experiências e vê-los como parte do mesmo self “interno” (Soares, 2004; Sroufe, 1996). Por esta altura, as crianças passam da mera descrição física (um menino de 4 anos diria, provavelmente, que é diferente de uma coleguinha porque tem cabelo castanho e ela tem-no loiro), para um “retrato psicológico”: as crianças a partir dos 7 anos já se descrevem em termos de pensamentos, 64 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar sentimentos, capacidades, etc. (Sroufe, 1996). Por detrás destas alterações nas auto-descrições das crianças a partir do período escolar, estão alterações no seu pensamento sobre a natureza das pessoas em geral: esta visão geral chama-se metateoria do self (ibidem). A metateoria do self requer que a criança considere várias situações, de modo a conhecer ou saber quais são as suas características (Soares, 2004; Sroufe, 1996). Por exemplo, para uma menina de 9 anos se avaliar como meiga, ela considera os seus actos de meiguice em relação aos seus colegas, ao seu irmão, ao gato do vizinho, etc., e junta-os todos como se derivassem de uma só característica (Sroufe, 1996). Um outro avanço na auto-compreensão, que ocorre no período escolar, é o desenvolvimento do self social (Sroufe, 1996). O self social é a consciência de que a identidade de uma pessoa está intimamente ligada às outras pessoas à sua volta (Soares, 2004; Sroufe, 1996), e um dos sinais do seu desenvolvimento é que as crianças em idade escolar começam a fazer descrições de si mesmas baseadas nos seus comportamentos em relação aos outros: “sou simpática”, “sou prestável”, “sou tímido”, etc. (Sroufe, 1996). Paralelamente, estas crianças também começam a incluir nas suas autodescrições a pertença a um ou mais grupos sociais (“sou escuteiro”, “sou guarda-redes na equipa de minis de andebol”, etc..) (Sroufe, 1996), o que significa que colocam o conceito do self num contexto social. (Soares, 2004). Extremamente ligada à inclinação para definir o self em termos das relações com os outros, está a tendência para usar os outros como fonte de informação para avaliar o self (Sroufe, 1996). A isto se chama comparação social, que depende de vários factores. Por um lado, da diminuição do egocentrismo, ou seja, da menor centração num só aspecto da realidade (Soares, 2004; Sroufe, 1996). Só quando a criança consegue considerar o seu desempenho e o de outra pessoa ao mesmo tempo, é que a comparação social é possível (Sroufe, 1996). Por outro lado, a comparação social também depende da compreensão normativa da capacidade, ou seja, da aptidão de pensar sobre uma capacidade em função do que “a maioria das crianças” consegue fazer (ibidem). Com a compreensão normativa da capacidade, a criança tem tendência para olhar para os outros quando avalia as suas 65 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar competências (Sroufe, 1996). Por fim, a utilização da comparação social depende do contexto cultural: em algumas culturas a comparação social é encorajada, noutras não. (ibidem). Um outro aspecto do self que se desenvolve no período escolar é o sentido do género (Soares, 2004; Sroufe, 1996). No fim do 1º ciclo, as crianças sabem perfeitamente as actividades, ocupações e traços de personalidade considerados apropriados para homens e mulheres na sua cultura (Sroufe, 1996). Um último aspecto do self que se desenvolve durante o período escolar é a crença das crianças de que podem dominar e desafiar as circunstâncias e que o seu sucesso depende do esforço (Sroufe, 1996). Ou seja, nestas idades as crianças já percebem, por exemplo, que um amigo não se faz por acaso, mas sim com algum empenho no desenvolvimento de uma relação de amizade. Relações com os pares Durante o período escolar, os grupos de pares adquirem uma importância bastante grande, só comparável à importância que os pais têm para as crianças (Sroufe, 1996). Esta importância advém em parte do aumento do tempo gasto com os pares, mas também pelo facto de o grupo proporcionar experiências únicas de aprendizagem às crianças (partilha, justiça, reciprocidade, cooperação, igualdade, normas e regras de convivência social, aprender a regular a agressão e a compreender princípios de lealdade) (Soares, 2004; Sroufe, 1996). Além disso, os grupos de pares no período escolar são importantes porque desafiam as crianças a desenvolver as suas competências de interacção – de compreensão do outro, de defesa do seu ponto de vista, de compreensão mútua, de negociação de conflitos, etc. (Soares, 2004; Sroufe, 1996). 66 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Desenvolvimento Emocional Embora durante o período pré-escolar as crianças tenham experienciado todas as emoções humanas básicas, o desenvolvimento emocional continua no período escolar (Sroufe, 1996), passando agora a criança a perceber essas emoções e as suas causas (Soares, 2004). Além disso, a criança neste período adquire a capacidade de compreender os múltiplos aspectos da situação de activação / excitação emocional: as crianças sabem que agora a experiência emocional não depende apenas do que acontece, mas também do que se espera, sente ou pensa (Soares, 2004; Sroufe, 1996). Mais ainda, a criança atinge a capacidade para tomar em conta a situação particular, passando a compreender que as emoções podem variar na mesma situação dependendo dos resultados, que diferentes pessoas podem experienciar diferentes emoções nas mesmas circunstâncias e que eles próprios podem ter reacções diferentes em diferentes momentos (Soares, 2004; Sroufe, 1996). Contextos de desenvolvimento Tal como nas outras fases de desenvolvimento, as alterações do período escolar ocorrem em vários contextos ambientais como, por exemplo, a família e a escola (Sroufe, 1996). Dentro da família, quer os pais, quer os irmãos funcionam como poderosas influências no comportamento da criança (Sroufe, 1996). Durante este período há alterações bastante grandes na relação com os primeiros, o que é em parte devido aos avanços cognitivos que estas crianças apresentam (Sroufe, 1996). Assim, a maior capacidade de auto-controlo das crianças conduz a terem maiores responsabilidades, por exemplo, a participarem nas tarefas de casa (Soares, 2004; Sroufe, 1996). Paralelamente, os pais tendem a usar menos a coacção física e a estimular/usar mais a utilização do raciocínio (Soares, 2004; Sroufe, 1996). A escola funciona igualmente como um agente de socialização poderoso. Com efeito, a criança aprende muito mais do que o professor ensina: 67 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar a escola pode encorajar o comportamento pró-social e a cooperação, a aprender a lidar com as diferenças (étnicas ou sócio-económicas, por exemplo) e a proporcionar a construção de amizades. Sugestões de actividade(s): Actividades de pequenos grupos (com posterior discussão em grande grupo) o Actividade 1 (em anexo) Tempo médio de duração do tema: 1h30 Bibliografia a consultar: Machado Vaz, J. (1996). Educação Sexual na Escola. Lisboa: Universidade Aberta; Monteiro, M. & Pereira, N. (2003). Acesso ao Ensino Superior 2003 – Psicologia. Porto: Porto Editora; Papalia, D., Olds, S. & Feldman, R. (2001). O Mundo da Criança (8ª ed.). Lisboa: McGraw Hill; Piaget, J. (1990). Seis estudos de Psicologia (10ª ed.). Lisboa: Publicações Dom Quixote; Piaget, J. & Inhelder, B. (1993). A psicologia da criança. Porto: Ed. ASA; Soares, I. (2004). Material de apoio à cadeira Psicologia do Desenvolvimento – 2º Semestre do ano lectivo 2003/2004 (não publicado). Braga: Universidade do Minho; Sprinthall, N. & Sprinthall, R. (1993). Psicologia Educacional. Lisboa: McGraw Hill; Sroufe, A., Cooper, R. & DeHart, G. (1996). Child Development: its nature and course. (3rd ed.). USA: McGraw Hill. 68 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar ANEXO: ACTIVIDADE 1 Tendo em consideração tudo o que foi exposto sobre a fase de desenvolvimento cognitivo, emocional e social em que se encontram os alunos no 2º ciclo do Ensino Básico, apresente as melhores formas de lidar com os casos apresentados. Caso 1 – Uma aluna do 9º ano apareceu grávida na escola. Ao sair da sala dos professores, encontrou alguns dos seus alunos em animada discussão e, ao aproximar-se deles, apercebeu-se que estavam a comentar o caso, sendo que os comentários variavam entre os espantados e os indignados. Caso 2 – O pai de um dos seus alunos é seropositivo, e os restantes meninos e meninas têm gradualmente vindo a colocar esse menino de parte. Ao questioná-los sobre essa atitude, um deles responde “a minha mãe só me disse para me afastar dele porque era perigoso”. 69 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar TEMA: ASSERTIVIDADE Componente teórica: “A assertividade é o acto de defender os direitos pessoais e exprimir pensamentos, sentimentos e convicções de forma apropriada, directa e honesta, de modo a não violar os direitos dos outros. É, como tal, um estilo de comunicação que nos permite ser mais construtivos na relação com os outros.” (Gabriel, 1996). A pessoa assertiva pronuncia-se de forma serena e construtiva e, além disso, é alguém que desenvolve a sua capacidade de se relacionar com o mundo e que privilegia a responsabilidade individual (Fachada, 2006). Comunicar de forma assertiva é dizer aos outros “Eis o que penso, eis o que sinto. Este é o meu ponto de vista. Porém, estou pronto para te ouvir e compreender o que pensas, o que sentes e qual o teu ponto de vista” (ibidem). Além disso, é também dizer “Eu sou importante, tanto quanto tu; compreendemo-nos mutuamente” (Fachada, 2006). A assertividade não é uma característica inata ou um traço de personalidade que alguns possuem e outros não (Gabriel, 1996). É, sim, uma aptidão que pode ser aprendida, isto é, que cada um pode desenvolver mediante um treino sistemático e estruturado (ibidem). Com efeito, a maior parte das pessoas não é assertiva em todas as situações: a título de exemplo, podemos comunicar assertivamente com um colega de trabalho e ter bastante dificuldade em fazê-lo com familiares (Gabriel, 1996). Não será correcto dizer que uma pessoa é simplesmente assertiva ou não assertiva, mas sim que há ou não tendência para comunicar assertivamente em determinadas situações (ibidem). “Ser assertivo aumenta o respeito por nós próprios, reduz a noção de insegurança e vulnerabilidade, aumenta a autoconfiança no relacionamento com os outros, diminuindo a necessidade de aprovação para aquilo que fazemos. Fará com que os outros aumentem o seu respeito e admiração por nós. Permitirá que, ao defendermos os nossos direitos, consigamos que as nossas preferências sejam respeitadas e as nossas necessidades satisfeitas. É 70 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar um estilo de relacionamento interpessoal que poderá ser extremamente recompensante, uma vez que proporciona maior proximidade entre as pessoas e maior satisfação na comunicação das nossas emoções. Ou, dito simplesmente, é possível que se goste mais de uma pessoa quando ela age assertivamente.” (Gabriel, 1996). A assertividade poderá ter bastante utilidade quando é preciso dizer algo desagradável a alguém, quando se pretende pedir algo invulgar, quando é necessário dizer “não” a algo que alguém pede, quando se é criticado ou quando se pretende desmascarar uma manipulação (Fachada, 2006). O indivíduo que age de forma assertiva mantém o seu equilíbrio psicológico e favorece o bom clima, quer no trabalho quer na família (ibidem). Mas será que o sistema educativo favorece a atitude assertiva? Na maioria dos casos o sistema educativo não permite que as pessoas exprimam livremente os seus sentimentos porque é considerado perigoso para si e para os outros (Fachada, 2006). Com efeito, a educação familiar e social, regra geral, não favorece o desenvolvimento da assertividade (ibidem). Ao longo da sua escolaridade e vivência social, o indivíduo não é motivado para desenvolver a sua capacidade de exprimir os seus pensamentos e sentimentos (Fachada, 2006). A sociedade, nas suas múltiplas vertentes, apela mais para um tipo de relações humanas demasiado mistificadas, baseadas na dicotomia autoridade-obediência (ibidem). Nesta relação está subjacente uma certa submissão e ajustamento ao pensamento dos outros à custa da não afirmação de si (Fachada, 2006). Assim, e uma vez que a assertividade é fundamental para o desenvolvimento de relações interpessoais saudáveis e é algo que pode ser desenvolvido e melhorado com a prática, urge promover o treino assertivo nos indivíduos. Quanto mais cedo se iniciar este treino, preferencialmente desde o pré-escolar, mais e melhores resultados se obterão, no sentido de uma vivência saudável e responsável dos relacionamentos interpessoais. 71 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Os direitos assertivos (Gabriel, 1996) São um conjunto de direitos que permitem a cada um de nós sermos nós próprios, agir e expressarmo-nos como nós próprios, perante os outros, sem distinções de cor, sexo, idade ou estatuto social. É importante considerar que os direitos vêm definidos em termos abstractos, e que deverão ser particularizados de acordo com as nossas situações individuais. Não é obrigatório concordarmos com todos eles, a listagem constitui apenas um auxiliar para cada um de nós construir o seu “guia de acção” na comunicação assertiva. Mas ao fazê-lo teremos obrigatoriamente que aceitar que não são direitos exclusivamente nossos mas sim aplicáveis a todas as pessoas com quem interagimos. Não podemos defender direitos sem aceitar a responsabilidade que lhes é inerente, a de defender os nossos direitos considerando sempre os direitos dos outros. Eles são: Eu tenho o direito de ser respeitado e tratado de igual para igual, qualquer que seja o papel que desempenho ou o meu status social. Eu tenho o direito de manter os meus próprios valores, desde que eles respeitem os direitos dos outros. Eu tenho o direito de expressar os meus sentimentos e opiniões. Eu tenho o direito de expressar as minhas necessidades e pedir o que quero. Eu tenho o direito de dizer NÃO e não me sentir culpado por isso. Eu tenho o direito de pedir ajuda e de escolher se quero prestar ajuda a alguém. Eu tenho o direito de me sentir bem comigo próprio sem sentir necessidade de me justificar perante os outros. Eu tenho o direito de mudar de opinião. Eu tenho o direito de pensar antes de agir ou tomar uma decisão. Eu tenho o direito de dizer “Eu não estou a perceber” e pedir que me esclareçam ou ajudem. Eu tenho o direito de cometer erros sem me sentir culpado. 72 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Eu tenho o direito de fixar os meus próprios objectivos de vida e lutar para que as minhas expectativas sejam realizadas, desde que respeite os direitos dos outros. Formas de comunicação não assertiva Por oposição à definição que foi dada de assertividade, o que está em causa na comunicação não assertiva é um desrespeito pelos direitos dos outros ou pelos nossos próprios direitos (Gabriel, 1996). Há três tipos de comunicação não assertiva: a passividade, a agressividade e a manipulação. Passividade É o acto de violar os próprios direitos ao não expressar honestamente sentimentos, pensamentos e convicções, dando como tal permissão aos outros para que também eles violem os nossos direitos (Gabriel, 1996). A pessoa passiva “é, quase sempre, um explorado e uma vítima. Raramente está em desacordo e fala como se nada se pudesse fazer por si próprio e pelos outros. Tende a ignorar os seus direitos e os seus sentimentos. Tende a evitar os conflitos a todo o custo. Dificilmente diz não, quando lhe pedem alguma coisa, porque pretende agradar a todos. Porém, a curto prazo, não agrada a ninguém porque, como é frequentemente solicitado, não pode fazer tudo o que diz que quer fazer, de forma correcta. Não afirma as suas necessidades porque é muito sensível às opiniões dos outros.” (Fachada, 2006). Os sinais que se podem identificar nas pessoas passivas são: roer as unhas, mexer os músculos da face, rangendo os dentes, tamborilar os dedos na mesa, rir nervosamente, mexer frequentemente os pés, estar frequentemente ansioso ou ter insónias (Fachada, 2006). Agressividade É a expressão de sentimentos, pensamentos e convicções de um modo que viola os direitos dos outros, (com recurso a formas inadequadas de expressão, como a zanga, o tom de voz elevado, a ironia...) (Gabriel, 1996). 73 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Poderemos dizer que é uma defesa unilateral de direitos: defendemos os nossos mas não queremos saber os dos outros (ibidem). “A pessoa que utiliza com frequência o estilo agressivo tende a agir como uma pessoa reivindicativa face aos outros. Age como se fosse intocável e não tivesse falhas nem cometesse erros. Estas pessoas têm uma grande necessidade de se mostrarem superiores aos outros e, por isso, são excessivamente críticos. Na relação com os outros tornam-se tirânicos ao ponto de desprezarem os direitos e os sentimentos dos outros. Emitem muitas vezes a opinião de que os outros são estúpidos. O objectivo principal do agressivo é ganhar sobre os outros, de dominar e de forçar os outros a perder. Muitas vezes ganha, humilhando e controlando os outros, de tal modo que não lhes dá a possibilidade de se defenderem. As pessoas que adoptam este estilo não conseguem estabelecer relações íntimas e de segurança.” (Fachada, 2006). Os sinais que se podem identificar nas pessoas agressivas são: falar alto, interromper alguém quando está a falar, fazer barulho com os seus afazeres enquanto os outros se exprimem, não controlar o tempo enquanto está a falar, olhar de revés o seu interlocutor, sorrir de forma irónica, manifestar por mímica o seu desprezo ou a sua desaprovação, recorrer a imagens chocantes ou brutais (ibidem). Manipulação Consiste em dar a entender que satisfazemos os direitos e necessidades dos outros, mas apenas o fazemos para satisfação dos nossos (Gabriel, 1996). Aqui, como na agressividade, estamos a desconsiderar os direitos dos outros, mas fazemo-lo de forma discreta, implícita, de modo a não provocar qualquer desconfiança (ibidem). “O manipulador considera-se hábil nas relações interpessoais, apresentando discursos diferentes consoante os interlocutores a quem se dirige. Dificilmente aceita a informação directa, preferindo fazer interpretações pessoais. Diz com frequência: «poderíamos entender-nos». Apresenta-se, quase sempre, como um útil intermediário e considera-se, mesmo, 74 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar indispensável. Raramente se assume como responsável pelas situações. Agindo por interpostas pessoas, tira partido delas para atingir os seus próprios objectivos. Fisicamente, parece, muitas vezes, um actor de teatro.” (Fachada, 2006). Exemplos de comportamento manipulativo Apresenta uma relação táctica com os outros. Tende a desvalorizar o outro através de frases que pretende que sejam humorísticas e que denotem inteligência e cultura. Exagera e caricatura algumas partes da informação emitida pelos outros. Repete a informação desfigurada e manipula-a. Utiliza a simulação como instrumento. Nega factos e inventa histórias para mostrar que as coisas não são da sua responsabilidade. Fala por meias palavras; é especialista em rumores e “diz-que-disse”. É mais hábil em criar conflitos no momento oportuno do que reduzir as tensões existentes. Tira partido do sistema (das leis e das regras), adapta-o aos seus interesses e considera que, quem não o faz é estúpido. Oferece os seus talentos em presença de públicos difíceis. A sua arma preferida é a culpabilidade. Ele explora as tradições, convicções e os escrúpulos de cada um; faz chantagem moral. Emprega frequentemente o “nós” e não o “eu”: “falemos francamente”, “confiemos um no outro”... Apresenta-se sempre cheio de boas intenções. (Fachada, 2006) O que fazer perante este tipo de comportamento? (Gabriel, 1996) Recorde os seus direitos. Recorde as suas aptidões assertivas de comunicação. Não se deixe cair na ratoeira. Seja directo e obrigue-os a seres directos também! 1. Reconheça que essa pessoa está a tentar manipular. 75 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar 2. Revele o que está a sentir: Ex: Sinto-me confuso com o que estás a dizer. 3. Seja claro e específico: diga porquê Ex: ... Porque não estou a perceber bem o que queres. ... porque ainda não respondeste à minha pergunta. 4. Pergunte assertivamente: Peça mais informações. Ex: “Estás a dizer que sim ou que não?” (para alguém que lhe diga “Não me importo”) “Tens algum problema quanto a isto?” 5. Disco-riscado: Insista nas questões assertivas se não obtiver uma resposta. Ex: “Gostaria muito de saber o que é que queres, de facto” 6. Peça uma mudança de comportamento, para que sejam directos consigo, de futuro. Ex: “se surgirem outra vez problemas deste género, por favor diz-me logo, em vez de os guardares para ti. É melhor para ambos, se soubermos.” Material didáctico: Livro “Psicologia das Relações Interpessoais” (Fachada, 2006). Livro “Educação para a Saúde na Escola para Prevenção da SIDA e de outras DST”. Sugestões de actividade(s): Actividades de grande grupo o “Dizer bem nas costas” (em anexo); Actividades individuais o “Exercício de autodiagnóstico” (Fachada, 2006, págs. 212-216 – em anexo); 76 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Actividades de pequenos grupos (com posterior discussão em grande grupo) o “Quem é assertivo?” (actividade 9, unidade 2, livro “Educação para a Saúde na Escola para Prevenção da SIDA e de outras DST” – em anexo); o “A tua mensagem assertiva” (actividade 12, unidade 2, livro “Educação para a Saúde na Escola para Prevenção da SIDA e de outras DST” – em anexo); o “Actividade 10” (Fachada, 2006, pág. 241 e 242 – em anexo); o “Actividade 11” (Fachada, 2006, pág. 243 e 244 – em anexo). Tempo médio de duração do tema: 2h (tempo estimado contando com a realização de três das seis actividades propostas). Bibliografia a consultar: Educação para a Saúde na Escola para Prevenção da SIDA e de outras DST – Documento para o desenvolvimento de programas escolares – Actividades para os Alunos. Comissão Nacional de Luta Contra a SIDA, 2002 – Lisboa; Educação para a Saúde na Escola para Prevenção da SIDA e de outras DST – Documento para o desenvolvimento de programas escolares – Actividades para os Professores. Comissão Nacional de Luta Contra a SIDA, 2002 – Lisboa; Fachada, O. (2006). Psicologia das Relações Interpessoais (8ª ed.). Lisboa: Edições Rumo; Gabriel, G. (1996). Excerpto do Manual “Communicação pela Assertividade”. Retirado de http://namp.ist.utl.pt/documentos/020304.pdf a 29 de Fevereiro de 2008 às 16h13. 77 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar ANEXOS ACTIVIDADE 1: “DIZER BEM NAS COSTAS” OBJECTIVOS o Promover o comportamento assertivo o Desenvolver o espírito crítico DESCRIÇÃO DA TAREFA o Os formandos estão distribuídos pela sala. o Cada formando tem nas suas costas uma folha de post-it. o Os formandos andam pela sala e escrevem nas costas dos colegas 3 elogios e 3 características que os definam. o Passado algum tempo o formador recolhe as folhas (onde previamente escreveu o nome do formando a que pertence) e lê em voz alta. o Os formandos tentam identificar a folha que corresponde a cada um deles. TEMPO ESTIMADO o 30 minutos MATERIAL o Folhas de post-it ou a folha sugerida em baixo o Canetas “Dizer bem nas costas” 3 características da pessoa 3 elogios à pessoa - - - - - - 78 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar ACTIVIDADE 2: EXERCÍCIO DE AUTO-DIAGNÓSTICO 79 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar 80 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar 81 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar 82 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar 83 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar ACTIVIDADE 3A: “QUEM É ASSERTIVO?” – ACTIVIDADE PARA OS ALUNOS 84 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar ACTIVIDADE 3B: “QUEM É ASSERTIVO?” – GUIA PARA OS PROFESSORES 85 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar ACTIVIDADE 4A: “A TUA MENSAGEM ASSERTIVA” – ACTIVIDADE PARA OS ALUNOS 86 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar 87 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar ACTIVIDADE 4B: “A TUA MENSAGEM ASSERTIVA” – GUIA PARA OS PROFESSORES 88 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar ACTIVIDADE 5: “ACTIVIDADE 10” 89 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar 90 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar ACTIVIDADE 6: “ACTIVIDADE 11” 91 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar 92 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar TEMA: AUTO-CONCEITO E AUTO-ESTIMA Componente teórica: O Auto-conceito “A conceptualização do auto-conceito tem variado em função dos vários autores que se têm debruçado sobre esta temática, verificando-se uma grande imprecisão da terminologia e discordância das definições” (Melo, 2008). “Contudo, Faria e Fontaine (1992) referem que, apesar da literatura não revelar uma definição operacional clara, concisa e universalmente aceite, existe uma certa concordância em torno da definição geral do auto-conceito como sendo «a percepção que o indivíduo tem de si próprio, das suas capacidades e competências em vários domínios da existência como, por exemplo, o social, o físico, o cognitivo e o emocional»” (Melo, 2008). Podemos, então, dizer que o auto-conceito é a percepção que o indivíduo tem de si, é o que cada um pensa e conhece de si (Fachada, 2006). É, também, a capacidade que cada pessoa tem de se descrever a si própria, capacidade esta que evolui com a idade (ibidem). Com efeito, a descrição que uma criança de 6 anos faz de si é diferente da descrição de uma criança de 10 anos (Fachada, 2006), e será necessariamente diferente da descrição que um adolescente ou um adulto fará de si. “A capacidade de auto-análise vai evoluindo com o crescimento porque: - por um lado, a realidade interna do sujeito muda e, como sua consequência, muda também a descrição que o sujeito faz de si. No fundo, o próprio sujeito é diferente nos diferentes momentos do seu evoluir; - por outro lado, a capacidade que o sujeito tem para se auto-analisar e descrever, também muda” (Fachada, 2006). Podemos considerar que “o auto-conceito tem a ver com a questão formulada pelo sujeito «Quem sou eu?». Responder a esta questão é avaliar as suas competências nos mais variados domínios: espiritual, social, material, corporal, escolar, etc.” (Fachada, 2006). Cada pessoa reconhece-se como mais ou menos competente num determinado domínio do desenvolvimento do “Eu”, julgando-se mais ou menos competente num todo (ibidem). 93 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar “O modo como o indivíduo se descreve a si próprio e se considera mais ou menos competente tem a ver com uma série de factores: 1. A apreciação que os outros nos fazem O ser humano depende dos outros, nas suas múltiplas variáveis. O que os outros pensam acerca de si e o modo como o apreciam, é fundamental para o seu auto-conceito. O modo como o indivíduo se descreve e se pensa é, de certo modo, construído em função do modo como os outros o vêem e o pensam. São as pessoas mais significativas para o Eu, pais e professores que, numa primeira fase do desenvolvimento, mais contribuem para a formação do auto-conceito. Os pais, durante muitos anos, têm a oportunidade única de se apresentarem aos seus filhos como modelo e de os informar acerca do que gostariam que eles fossem. Se aquilo que os pais desejavam que o filho fosse, e aquilo que ele é realmente, é muito diferente, isso reflectir-se-á no seu autoconceito, através do sentimento de desvalorização. Os filhos que são bem aceites pelos pais desenvolvem um auto-conceito valorizado e têm facilidade nos contactos interpessoais” (Fachada, 2006). Em contrapartida, os filhos que ouvem frequentemente expressões do tipo: “És um incompetente, és um inútil, não sei a quem sais, etc.” formam de si um mau auto-conceito, com todas as consequências daí inerentes (ibidem). Corroborando este facto, “investigações realizadas em Portugal com o Inventário Clínico do Auto-conceito (ICAC) demonstraram que existe uma associação positiva entre as relações com os pais e o auto-conceito (Serra, 1988). Assim, um bom ambiente familiar, com relações positivas com os pais, com base na tolerância, na compreensão e na capacidade de incentivo aos filhos, ajudando-os a ultrapassarem as dificuldades, são factores importantes no desenvolvimento de um bom auto-conceito” (Melo, 2008). 2. O significado atribuído ao comportamento e ao que os outros dizem de si 94 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar “Nós sabemos quem somos mediante um processo de comunicação interpessoal. O que nós pensamos acerca de nós mesmos é uma consequência do modo como os outros nos vêem. Desde o nascimento, o ser humano vive constantemente com outras pessoas, dependendo delas para viver; são as pessoas que exercem a influência sobre cada um, que servem de modelo e adquirem um papel significativo para o Eu. O indivíduo conhece-se tanto melhor quanto maior for a sua habilidade para manter relações construtivas e responsáveis com os outros. Aquilo que cada um de nós julga ser, determina as nossas acções. O que cada um de nós julga ser é o produto das diferentes respostas que os outros com quem comunicamos dão, ao nosso comportamento. Cada indivíduo elabora uma imagem em função do tipo de relação que se estabelece com os outros. As experiências interpessoais anteriores desenvolvem o auto- conhecimento não de uma forma directa e cumulativa, mas em função das significações que cada um dá a essas experiências” (Fachada, 2006). Ou seja, “se, por um lado, as relações interpessoais que o indivíduo estabelece e o modo como se relaciona com os outros são influenciados pelo conceito que tem de si próprio, por outro, o auto-conceito também se pode modificar ao longo da vida, devido às experiências relacionais e aos contextos sociais em que vive (Serra, 1986).” (Melo, 2008). “Os dados empíricos de diversos estudos (Serra, 1986; Faria e Fontaine, 1992; Serra e Pocinho, 2001; Melo, 2005 e Melo, 2007) apoiam a ideia de que um auto-conceito positivo ajuda a pessoa a ter uma percepção positiva de si próprio, a perceber o mundo de forma menos ameaçadora, a ter estratégias de coping mais adequadas, a desenvolver melhor as competências relacionais de ajuda e a sentir-se bem consigo e com os outros. Pelo contrário, o fracasso escolar, as dificuldades nas relações interpessoais (Serra, 1986), perturbações emocionais, ansiedade social elevada, desenvolvimento de sintomatologia devido ao stress e outras alterações têm sido relacionados com um autoconceito pobre (Serra, 1986)”. (Melo, 2008). 95 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar A Auto-estima A auto-estima é o grau em que o sujeito gosta de ser como é (Fachada, 2006). A auto-estima corresponde aos aspectos avaliativos e emocionais do indivíduo (ibidem). Esta dimensão está, de certo modo, relacionada com o auto-conceito, porque a desvalorização do primeiro contribui para um auto-conhecimento desfavorável ou negativo (Fachada, 2006). “Todas as pessoas sentem como que umas vozes dentro delas que lhes sussurram quais os aspectos positivos e negativos da sua personalidade. A auto-estima é a valorização que a pessoa faz de si própria. As pessoas que têm uma baixa auto-estima têm pensamentos negativos sobre si próprios, têm mais dificuldade de relacionamento em contextos sociais, laborais e sexuais. A voz que predomina dentro de si é uma voz acusadora. As pessoas que têm uma visão realista de si próprias, e se aceitam de uma maneira positiva, conhecem os seus limites e capacidades, gostam de si como são, confiam nos outros e têm boas relações interpessoais.” (Pereira & Freitas, 2002). “A auto-estima resulta de uma análise integrada dos vários domínios de manifestação do Eu, contribuindo uns mais do que outros para a sua constituição, dependendo do valor que o sujeito atribui a essas dimensões. O sujeito pode gostar de si na forma de convivência social, do modo como se relaciona com os outros, porque é comunicativo, simpático e, por isso, amado. Porém, noutras dimensões, como seja a académica, pode ser um fracasso, não atingindo os objectivos como estudante. Pode ainda não gostar de si no campo desportivo. O seu grau de auto-estima depende do modo como o sujeito vai integrar estas dimensões. A auto-estima depende da valência atribuída a cada uma das dimensões do Eu. O que é mais importante para o self é o que vai determinar predominantemente a auto-estima. 96 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Tal como foi referido para o auto-conceito, também a auto-estima se desenvolve em função do valor que os outros atribuem ao Eu, pelo valor que eles transmitem. Pensa-se que a auto-estima é caracterizada mais cedo que o autoconceito, porque é um conceito mais ligado com a afectividade do que com a cognição.” (Fachada, 2006) “A auto-estima das crianças e dos adolescentes é elevada quando eles sentem que a família os considera, são amados e levados a sério. Se, pelo contrário, sentem que são constantemente alvo de crítica, pode acontecer-lhes perder a confiança em si mesmos.” (Pereira & Freitas, 2002). E isto foi comprovado por experiências recentes levados a cabo por Bursnith (1999, citado por Fachada, 2006) que revelam que: 1. “os jovens com uma elevada auto-estima (avaliada através de uma escala) descrevem a sua infância como estando sujeita a limites claros do seu comportamento, isto é, os pais eram rigorosos na disciplina que impunham aos filhos, mas permitiam, por outro lado, que estes participassem na determinação desses limites e dessa disciplina. Não eram exclusivamente os pais que definiam os limites comportamentais (o que podiam ou não fazer) mas os filhos discutiam com eles as regras, ficando estas bem claras, quer para os pais quer para os filhos. Por outro lado, estes adolescentes referiam que os pais elogiavam os seus comportamentos e os resultados escolares, quando estes correspondiam às suas expectativas. De um modo geral, estes jovens descrevem o seu mundo de forma coerente e ordenada, onde a sua participação é importante para a clarificação do seu comportamento e das exigências familiares e escolares. 2. Os jovens com baixa auto-estima descrevem a sua infância como tendo sido vivida num ambiente onde as normas e as regras facilmente variavam, em função dos estados emocionais dos pais. 97 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Existia uma grande arbitrariedade no comportamento e nas normas que limitavam. Os jovens nunca perceberam qual o seu papel e a sua participação nesta realidade caótica; eles nunca sabiam o que podiam esperar, em função do seu comportamento. O seu mundo familiar não era estruturado. 3. Outros jovens, porém, igualmente com baixa auto-estima descrevem a sua realidade familiar, como autoritária e déspota, ou seja, a criança, neste meio, deve ser obediente e conformista, não tendo hipótese de intervir na elaboração das normas reguladoras do seu comportamento. O que há de comum a estas duas situações descritas pelos jovens com baixa auto-estima é o facto de não exercerem qualquer poder, qualquer controlo ou terem qualquer participação em relação ao meio onde se inseriam. Teoricamente, poder-se-á admitir que as pessoas que desde muito cedo intervieram no seu meio e, de certo modo, o controlaram, construíram um nível de auto-estima e de auto-confiança elevado. Poder-se-á concluir, pois, que os estilos de educação são determinantes para a auto-estima.” (Fachada, 2006). “Também no contexto da sexualidade ter uma auto-estima adequada significa correr menos riscos (de gravidez não desejada, frustrações amorosas, etc.), comunicar melhor, confiar nos outros e ter relacionamentos mais satisfatórios. A voz que predomina dentro de si é uma voz “saudável”. Por outro lado, se a auto-estima for muito baixa pode significar não ter esperança no futuro e maior probabilidade de envolvimento em actividades de risco – álcool, drogas ou actividade sexual sem contraceptivos, entre outras. O grau de auto-estima depende das experiências sociais com a família e os pares.” (Pereira & Freitas, 2002). Material didáctico: Livro “Psicologia das Relações Interpessoais” (Fachada, 2006). Cartoons (ver anexo). 98 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Sugestões de actividade(s): Actividades de grande grupo o Discussão orientada com o auxílio dos cartoons em anexo; Actividades individuais (com posterior exploração em grande grupo) o “Actividade 4” e “Actividade 5” (Fachada, 2006, pág. 160 – em anexo); Actividades de pequenos grupos (com posterior discussão em grande grupo) o “Actividade 12” (Fachada, 2006, pág. 169 – em anexo). Tempo médio de duração do tema: 1h30 Bibliografia a consultar: Fachada, O. (2006). Psicologia das Relações Interpessoais (8ª ed.). Lisboa: Edições Rumo; Melo, R. (2008). Auto-conceito: implicações no desenvolvimento de estratégias de coping. Nursing nº 230, Retirado de http://www.forumenfermagem.org/index.php?option=com_magazine&func= show_article&id=170 em 14 de Março de 2008, às 15h38. Pereira, M. M. & Freitas, F. (2002). Educação Sexual – Contextos de sexualidade e adolescência. Porto: Edições ASA. 99 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar ANEXOS CARTOONS PARA O TEMA DO AUTO-CONCEITO 100 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar PARA O TEMA DA AUTO-ESTIMA 101 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar 102 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar 103 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar 104 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar ACTIVIDADE 2: “ACTIVIDADES 4 E 5” 105 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar ACTIVIDADE3: “ACTIVIDADE 12” 106 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar TEMA: ÉTICA E DILEMAS MORAIS Componente teórica: Retirado de http://wallon.futuro.usp.br/upload/image/ethos2_dilemas_morais_viram_debate _de_rua.doc em 22 de Junho de 2008 às 18h48. Ética, segundo o dicionário, é um conjunto de princípios morais ao qual os membros de uma sociedade se devem ajustar. Dito assim parece simples. Só que o tal "conjunto" não é um pacote pronto, e é no dia-a-dia que nos deparamos com situações em que a ética é posta à prova. No terreno da ética, o que é certo ou errado é algo muito relativo. "A ética é valor, não é ser. Quando se afirma 'a água (em certas circunstâncias) ferve a cem graus', estamos a dizer algo que pode ser certo ou errado, porque ou é verdade ou mentira. Mas isso porque se está a descrever as coisas como elas são. Na ética, não é assim. Não se descreve as coisas como são. Afirmase que as pessoas (e não as coisas) devem agir de determinada forma. Mas não se tem garantia alguma de que seja essa a melhor saída, o melhor caminho" (Renato Janine Ribeiro, da Universidade de São Paulo). Para este filósofo, é graças aos conflitos éticos que amadurecemos como indivíduos e como sociedade. Vejamos o caso do aborto. Para uns, é assassinato. Com assassinos, não há contemplação. Para outros, o direito ao aborto é um mal menor, evita que nasça uma criança mal amada, que uma mulher se torne mãe sem ter maturidade nem recursos para isso. Esta questão divide certas sociedades, como a norte-americana. Vivemos disputas éticas. Isso é bom, porque não podemos deixar com terceiros as nossas convicções morais. Não podemos deixar que outros escolham por nós. E é na experiência da escolha, no dilema ético, que a pessoa cresce. Além disto, é importante realçar que defender os nossos valores não pode ser uma atitude passiva. "Muitas pessoas consideram que ser ético é não fazer determinadas coisas erradas: não matar, não roubar... Mas apenas se 107 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar abster de fazer o mal não basta. Ser ético é fazer coisas positivas", lembra o professor. Os dilemas morais são, então, situações nas quais nenhuma solução é satisfatória, como é o caso do famoso dilema do Heinz, apresentado em seguida. “Uma mulher está a morrer de cancro. Um farmacêutico descobriu um medicamento que os médicos acreditam que a pode salvar. O farmacêutico está a cobrar 2000 dólares por uma dose pequena – 10 vezes mais do que os custos de produção do medicamento. O marido da mulher doente, Heinz, pediu dinheiro a toda a gente que conhecia, mas só conseguiu juntar 1000 dólares. Pede ao farmacêutico para lhe vender o medicamento por 1000 dólares, ou deixá-lo pagar o resto mais tarde. O farmacêutico recusa, dizendo, "Eu descobri o medicamento e vou fazer dinheiro com ele”. Heinz, desesperado, entrou na loja do farmacêutico e roubou o medicamento. Deveria Heinz ter feito isso? Porque sim ou porque não? (Kohlberg, 1969). O problema de Heinz é o exemplo mais famoso da abordagem do estudo do desenvolvimento moral de Lawrence Kohlberg. Começando nos anos 50, Kohlberg e os seus colegas colocaram dilemas hipotéticos, tal como este, a 75 rapazes de 10, 13 e 16 anos e continuaram a questioná-los, periodicamente, por mais de 30 anos. No âmago de cada dilema está o conceito de justiça. Kohlberg concluiu, questionando os entrevistados acerca do modo como tinham chegado às suas respostas, que a maneira como as pessoas pensam acerca de questões morais, reflecte o desenvolvimento cognitivo e que as pessoas chegam aos julgamentos morais por si próprias, em vez de pela mera internalização de padrões dos pais, dos professores ou dos pares. Níveis e estádios de Kohlberg O desenvolvimento moral na teoria de Kohlberg mantém alguma similaridade com a de Piaget (ver módulo da Psicologia do Desenvolvimento) mas o seu modelo é mais complexo. Com base nos processos de pensamento, 108 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar evidenciados pelas respostas aos seus dilemas, Kohlberg (1969) descreveu três níveis de raciocínio moral, cada um dividido em dois estádios (ver quadro): Nível I: Moralidade pré-convencional. As pessoas, sob controlo externo, obedecem às regras para evitar castigos ou para ser premiado, ou agir por interesse próprio. Este nível é típico de crianças dos 4 aos 10 anos. Nível II: Moralidade convencional (ou moralidade da conformidade do papel convencional). As pessoas internalizaram os padrões das figuras de autoridade, estão preocupadas com o ser "bom", agradar aos outros e manter a ordem social. Este nível é tipicamente atingido depois dos 10 anos; muitas pessoas, mesmo na idade adulta, nunca vão além deste nível. Nível III: Moralidade pós-convencional (ou moralidade dos princípios morais autónomos). As pessoas, agora, reconhecem os conflitos entre padrões morais e o seu próprio julgamento com base em princípios de certo ou errado, igualdade e justiça. As pessoas, geralmente, não atingem este nível de raciocínio moral até, pelo menos, ao início da adolescência, ou mais vulgarmente no período de jovem adulto, ou nunca. 109 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Quadro 1: Os seis estádios do raciocínio moral de Kohlberg Níveis Estádios de raciocínio Respostas típicas ao dilema de Heinz Nível I: Moralidade pré-convencional (entre os 4 e os 10 anos) A ênfase neste nível é colocada no controlo externo. Os padrões são os dos outros e são seguidos quer para evitar a punição, quer para ser premiado. Estádio 1: Orientação para a punição e para a obediência. “O que me acontecerá?” As crianças obedecem às regras dos outros para evitar a punição. Ignoram os motivos de um acto e centram-se na sua forma física (tal como o tamanho de uma mentira) ou nas suas consequências (por exemplo, a quantidade de danos físicos). Pró: “Deveria roubar o medicamento. Não é mau de todo roubá-lo. Não é como se ele, no início, não tivesse pedido para o pagar. O medicamento que ele roubou vale apenas 200 dólares; efectivamente, ele não estava a roubar um medicamento de 2000 dólares.” Contra: “Não deveria roubar o medicamento. É um crime grande. Não pediu licença; usou a força e arrombou. Causou muitos prejuízos, roubando um medicamento muito caro e destruindo também a loja.” Pró: “Está correcto roubar o medicamento, porque a sua mulher precisa dele e ele queria que ela vivesse. Não é que ele tivesse querido roubar, mas tinha de o fazer para conseguir o medicamento para a salvar.” Contra: “Não deveria roubá-lo. O farmacêutico não estava errado nem era mau; apenas queria ter lucro. É por isso que está nos neg6cios – para fazer dinheiro.” Pró: “Deveria roubar o medicamento. Estava apenas a fazer algo, que é natural que um bom marido faça. Não se pode culpa-lo por fazer algo por amor à sua mulher. Culpá-lo-ia se ele não amasse o suficiente a sua mulher para a salvar." Contra: “Não deveria roubar. Se a sua mulher morrer, não pode ser culpado. Não é por ele não ter bom coração ou por não a amar o suficiente para fazer tudo o que legalmente seja possível. O farmacêutico é que é o egoísta ou o sem coração.” Pró: “Deveria roubá-lo. Se não fizesse nada, estaria a deixar a sua mulher morrer. É da sua responsabilidade se a sua mulher morre. Deve roubá-lo com a ideia de pagar ao farmacêutico.” Contra: “É uma coisa natural para Heinz querer salvar a sua mulher. Mas, por outro lado, é sempre errado roubar. Sabe que está a roubar, e a levar um medicamento caro, do homem que o fez.” Estádio 2: Orientação instrumental e troca. “Tu coças-me as costas, eu coço as tuas”. As crianças submetem-se às regras, devido a interesses pessoais e consideração pelo que os outros podem fazer por eles em troca. Olham para um acto em termos das necessidades humanas que este satisfaz e diferenciam este valor da forma e consequências do acto físico. Nível II: Moralidade convencional (a partir dos 10 aos 13 anos) As crianças querem agora agradar às outras pessoas. Ainda seguem os padrões dos outros, mas internalizaram estes padrões, até certo ponto. Agora, querem ser consideradas “boas” pelas pessoas cujas opiniões são importantes para elas. São agora capazes de assumir os papéis de figuras de autoridade, suficientemente bem para decidir, a partir dos seus padrões, quando uma acção é boa. Estádio 3: Manutenção das relações mútuas, aprovação dos outros, a regra de ouro. “Sou um bom rapaz ou uma boa rapariga?” As crianças querem agradar e ajudar os outros, podem julgar as intenções dos outros e desenvolver as suas próprias ideias acerca do que é ser uma boa pessoa. Avaliam um acto segundo o motivo que está por detrás desse acto ou da pessoa que o pratica e tomam as circunstâncias em consideração. Estádio 4: Preocupação social e consciência. “O que acontecia se toda a gente o fizesse?” As pessoas estão preocupadas com o seu dever, mostrando respeito pela autoridade e mantendo a ordem social. Independentemente do motivo ou das circunstâncias, consideram um acto sempre errado, se este viola uma regra ou prejudica outros. 110 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Nível III: Moralidade pós-convencional (a partir da adolescência) Este nível marca o atingir da verdadeira moralidade. Pela primeira vez, a pessoa reconhece a possibilidade do conflito entre dois padrões socialmente aceites e tenta decidir entre eles. O controlo do comportamento é agora interno, quer nos padrões observados, quer no raciocínio acerca do certo e do errado. Os estádios 5 e 6 podem ser expressões alternativas do mais elevado nível de raciocínio moral. Estádio 5: Moralidade do contrato social, dos direitos individuais e da lei aceite democraticamente. As pessoas pensam em termos racionais, valorizando a vontade da maioria e o bem-estar da sociedade. Geralmente, vêem estes valores como melhor apoiados pela adesão à lei. Embora reconheçam que há momentos em que as necessidades humanas e a lei estão em conflito, acreditam que é melhor para a sociedade, a longo prazo, se obedecerem a lei. Estádio 6: Moralidade dos princípios éticos universais. As pessoas fazem o que como indivíduos, pensam que está correcto, sem olhar às restrições legais ou às opiniões dos outros. Agem segundo os seus padrões internalizados, sabendo que se condenariam a si próprios se não o fizessem. Pró: “A lei não foi feita para estas circunstâncias. Roubar o medicamento, neste caso, efectivamente não está correcto, mas é justificado.” Contra: “Não se pode culpar completamente alguém por roubar, mas as circunstâncias extremas não justificam fazer justiça com as próprias mãos. Não se pode ter pessoas a roubar sempre que estejam desesperadas. O fim pode ser bom, mas os fins não justificam os meios.” Pró: “Esta é uma situação que o forçará a escolher entre roubar ou deixar a sua mulher morrer. Numa situação em que tem de ser feita uma escolha, é moralmente correcto roubar. Tem de agir em termos do princípio de preservar e de respeitar a vida.” Contra: “Heinz é confrontado com a decisão de considerar as outras pessoas, que precisam tanto do medicamento, como a sua mulher. Heinz deve agir não segundo os seus sentimentos particulares, em relação à sua mulher, mas considerando o valor de todas as vidas envolvidas. Kohlberg, mais tarde, acrescentou um nível de transição entre os níveis II e III, quando as pessoas não se sentem limitadas pelos padrões morais da sociedade mas também ainda não desenvolveram, racionalmente, princípios derivados da justiça. Em vez disso, baseiam as suas decisões morais em sentimentos pessoais. Na teoria de Kohlberg, é o raciocínio perante um dilema moral, que está subjacente à resposta de uma pessoa e não a resposta em si mesma, que indica o estádio de desenvolvimento moral. Tal como é ilustrado no Quadro 1, se o raciocínio se baseia em factores similares, duas pessoas, que dão respostas opostas podem estar no mesmo estádio. Os estádios iniciais de Kohlberg correspondem, grosseiramente, aos estádios de Piaget do desenvolvimento moral na infância, mas os estádios mais avançados de Kohlberg vão até à idade adulta. Alguns adolescentes, e mesmo alguns adultos, permanecem no nível I de Kohlberg. Tal como as 111 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar crianças pequenas, procuram evitar o castigo ou satisfazer as suas próprias necessidades. A maioria dos adolescentes e dos adultos parece estar no nível II. Eles sujeitam-se às convenções sociais, mantêm o status quo e fazem as coisas "certas" para agradar aos outros ou para obedecer à lei. Muito poucas pessoas atingem o nível III, quando podem escolher entre dois padrões, socialmente aceites. De facto, numa determinada altura, dado que tão poucas pessoas pareciam atingi-lo, Kohlberg questionou a validade do estádio 6. Contudo, mais tarde, propôs um 7° estádio – "cósmico" – no qual as pessoas consideram o efeito das suas acções, não só nas outras pessoas mas também no universo como um todo (Kohlberg, 1981, Kohlberg & Ryncarz, 1990). Uma das razões pela qual as idades ligadas aos níveis de Kohlberg são tão variáveis é que, para além da cognição, factores como o desenvolvimento emocional e a experiência de vida, afectam o julgamento moral. As pessoas que atingiram um nível elevado de desenvolvimento cognitivo, nem sempre atingem um nível comparavelmente elevado de desenvolvimento moral. Assim, um certo nível de desenvolvimento cognitivo é necessário mas não é suficiente para um nível semelhante de desenvolvimento moral.” (Papalia, Olds & Feldman, 2001). Com este manual, pretende-se então que estes exercícios de dilemas sejam um treino para facilitar a tomada de decisão consciente em temas controversos como o aborto, a adopção, etc. Sugestões de actividade(s): Actividades de pequenos grupos (com posterior discussão em grande grupo) o Actividade 1 (em anexo) Tempo médio de duração do tema: 1h Bibliografia a consultar: Papalia, D., Olds, S. & Feldman, R. (2001). O Mundo da Criança (8ª ed.). Lisboa: McGraw Hill; 112 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar ANEXO: ACTIVIDADE 1 Discuta em pequeno grupo os casos que se seguem Caso Heinz (Kohlberg, 1969) Uma mulher está a morrer de cancro. Um farmacêutico descobriu um medicamento que os médicos acreditam que a pode salvar. O farmacêutico está a cobrar 2000 dólares por uma dose pequena – 10 vezes mais do que os custos de produção do medicamento. O marido da mulher doente, Heinz, pediu dinheiro a toda a gente que conhecia, mas só conseguiu juntar 1000 dólares. Pede ao farmacêutico para lhe vender o medicamento por 1000 dólares, ou deixá-lo pagar o resto mais tarde. O farmacêutico recusa, dizendo, “Eu descobri o medicamento e vou fazer dinheiro com ele.” Heinz, desesperado, entrou na loja do farmacêutico e roubou o medicamento. Deveria Heinz ter feito isso? Porque sim ou porque não? A escolha de Sofia (William Styron) Uma prisioneira polonesa em Auschwitz recebe um "presente" dos nazis: ela pode escolher, entre o filho e a filha, qual será executado e qual deverá ser poupado. Escolhe salvar o menino, que é mais forte e tem mais hipóteses na vida, mas nunca mais tem notícias dele. Atormentada com a decisão, Sofia acaba por se matar anos depois. 113 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Comboio sem rumo (Joshua Greene) Um comboio vai atingir 5 pessoas que trabalham desprevenidas sobre a linha. Mas você pode evitar a tragédia se accionar uma alavanca que leva o comboio para outra linha, onde atingirá apenas uma pessoa. Mudaria o trajecto do comboio, salvando as 5 e matando 1? Comboio sem rumo – parte II (Joshua Greene) Um comboio vai atingir 5 pessoas que trabalham desprevenidas sobre a linha. Agora, porém, só há uma linha. O comboio pode ser parado por algum objecto pesado colocado nos trilhos. Um homem com uma mochila muito grande está ao lado da linha. Se você o empurrar, o comboio vai parar, salvando as 5 pessoas, mas matando uma. Empurraria o homem da mochila para a linha? Eutanásia ou boa acção? (Georg Lind) Havia uma mulher com cancro e não havia nenhuma esperança de a salvar. Ela sofria de dores terríveis e estava tão fraca que uma dose mais elevada de um analgésico como a morfina, por exemplo, poderia matá-la. Durante um período de recuperação temporária, a paciente implorou ao médico que lhe desse morfina suficiente para matá-la. Ela disse que não poderia suportar a dor por muito mais tempo e que, de qualquer forma, estaria morta dentro de poucas semanas. O médico atendeu ao seu desejo. 114 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar TEMA: TEORIAS DA APRENDIZAGEM Componente teórica: O conceito de Aprendizagem pode ser definido como modificação ou alteração relativamente estável do comportamento ou do conhecimento que resulta do exercício, experiência, treino ou estudo. É um processo que, envolvendo factores cognitivos, motivacionais e emocionais, se manifesta em comportamentos (Monteiro & Pereira, 2003). Existem diversos tipos de aprendizagem, isto é, diversas formas de adquirir, apreender e desenvolver comportamentos e conhecimentos, e foram vários os autores que se debruçaram sobre esta temática e que apresentaram explicações para a ocorrência deste fenómeno que é a Aprendizagem. Contudo, e porque as teorias são realmente vastas, optou-se por apresentar aqui apenas as que nos parecem mais relevantes para o contexto da Educação Sexual. Burrhus Frederik Skinner e a Teoria do Condicionamento Operante “O condicionamento operante é um tipo de aprendizagem que foi inicialmente investigado por Thorndike (1874-1949). Na sequência de algumas experiências que realizou com animais, Thorndike viria a enunciar a lei do efeito, que nos diz que uma resposta seguida de um reforço positivo tem mais probabilidades de ocorrer. (Monteiro & Pereira, 2003)” “Skinner (1904-1990) aprofundaria esta investigação com a criação de uma caixa especial – a caixa de Skinner.” (Monteiro & Pereira, 2003). Com este instrumento, Skinner realizou inúmeras experiências com animais, nomeadamente com ratos, de onde surgiram os conceitos de reforço, reforço positivo e reforço negativo. Assim, o reforço é um estímulo que, por trazer consequências positivas, aumenta a probabilidade de uma resposta ocorrer (Monteiro & Pereira, 2003). 115 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Podemos ter dois tipos de reforço, o reforço positivo e o reforço negativo. O primeiro é um estímulo que tem consequências positivas e agradáveis e que se segue a um dado comportamento (por exemplo, um elogio em consequência de uma resposta correcta) (Monteiro & Pereira, 2003). Por outro lado, o reforço negativo é a eliminação do estímulo que permite evitar uma situação dolorosa, ou seja, o sujeito evita uma situação dolorosa se se comportar de um determinado modo (por exemplo, ao tomar um analgésico, o sujeito evita a situação dolorosa que eram as dores de cabeça) (Monteiro & Pereira, 2003). “Quer o reforço positivo quer o reforço negativo têm as mesmas consequências: fortalecer e aumentar a ocorrência de um comportamento. Os dois tipos de reforço aumentam a probabilidade de a resposta ocorrer. (Monteiro & Pereira, 2003)” “É importante não confundir reforço negativo com punição. A punição (ou castigo) é um procedimento que diminui a probabilidade de ocorrer uma resposta através do recurso a um estímulo aversivo, e é infligida quando a resposta do sujeito não é a desejável (por exemplo, a aplicação de uma multa devida a uma infracção de trânsito – a multa visa evitar que a infracção se repita) (Monteiro & Pereira, 2003)” “Deve notar-se que no caso da punição o estímulo aversivo ocorre depois da resposta ou comportamento e eventualmente diminui a probabilidade de esta se verificar de novo; no caso do reforço negativo, o estímulo aversivo ocorre antes da resposta e a sua negação torna possível a repetição da mesma resposta.” (Rodrigues, 2001). Podemos ainda distinguir a punição positiva da punição negativa. Embora ambas tenham como objectivo diminuir a ocorrência de uma resposta indesejável, a punição positiva prende-se com a atribuição de algo desagradável para o sujeito (por exemplo, a multa), enquanto a punição negativa tem a ver com a retirada de algo agradável para o sujeito (por exemplo, proibir de ver televisão durante uma semana). 116 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Albert Bandura e a Teoria da Aprendizagem Social ou Modelagem (adaptado de Sprinthall & Sprinthall, 1993) Albert Bandura, um proeminente psicólogo contemporâneo, sugeriu que uma parte significativa daquilo que um indivíduo aprende ocorre através da imitação ou da modelagem. Bandura tem sido referido como um teórico da aprendizagem social, na medida em que se preocupa com a aprendizagem que ocorre no contexto de uma situação social. No decurso de uma interacção social o indivíduo poderá modificar o seu comportamento como resultado das respostas dos outros membros do grupo. A teoria da aprendizagem social de Bandura é uma psicologia verdadeiramente abrangente, retomando elementos tanto dos comportamentalistas como dos cognitivistas. Para Bandura, o comportamento, as estruturas cognitivas internas e o meio interagem para que cada uma actue como determinante indissociável da outra. As pessoas são, até certo ponto, produto do seu meio, mas também escolhem e moldam o seu meio. Não estamos perante uma rua de sentido único. Modelagem Versus Condicionamento Operante Embora reconhecendo a importância do condicionamento operante de Skinner, Bandura insiste que nem toda a aprendizagem resulta do reforço directo de respostas. As pessoas também aprendem imitando o comportamento de outros, ou de modelos, e este tipo de aprendizagem ocorre mesmo quando as respostas imitativas não são reforçadas. Por exemplo, as crianças podem levantar-se quando ouvem o Hino Nacional a ser tocado, porque viram os pais a fazer isso. A resposta da criança não é, naquele momento, seguida de um chocolate ou de qualquer outro reforço primário. A criança imita simplesmente o comportamento dos pais. Aprendizagem de Novas Respostas No exemplo anterior, a capacidade para a criança se levantar já fazia parte do seu repertório comportamental. Bandura acrescenta que as pessoas podem ainda aprender novas respostas observando simplesmente o 117 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar comportamento dos outros. A criança aprende esqui ou o adulto aprende a bater a bola de ténis imitando o comportamento do professor. O método de ensino de uma língua estrangeira denominado «laboratório de línguas» baseia-se na premissa que as pessoas conseguem aprender eficazmente ao imitarem frases que ouvem reproduzidas electronicamente. É praticamente infinita a lista das novas formas de comportamentos que podem ser aprendidos através da modelagem e, embora os exemplos anteriores se refiram a formas positivas de aprendizagem, a modelagem pode também criar comportamentos indesejáveis. Uma criança pode aprender a ter uma atitude agressiva, a dizer mentiras ou a ser desonesta através do mecanismo da modelagem. Num já clássico estudo, Bandura sujeitou um grupo de crianças (dos três aos seis anos) a ver o espectáculo improvável de modelos adultos a darem murros e pontapés e a gritarem a um enorme boneco insuflável. Quando, a seguir, se deixavam as crianças brincar com o boneco, estas apresentavam duas vezes mais respostas agressivas do que as crianças do grupo de controlo que não haviam testemunhado o espectáculo. A forma de imitação neste estudo foi de facto directa. As crianças até gritavam as mesmas frases que os adultos tinham utilizado: «Dá-lhe pontapés!», «Espeta-lhe um soco no nariz!», e assim por diante. Pode especular-se que, se os adultos tivessem dançado com o boneco em vez de a agredir, as crianças também teriam agido de uma forma mais terna e dócil. Modelagem na sala de aula Para além dos pais, os professores poderão ser o modelo mais importante no meio da criança. Sabe-se que muitas crianças modelam tão bem o comportamento do seu professor que, até certo ponto, «encarnam» o professor quando interagem com os irmãos e irmãs mais novas em casa. Nalguns casos, estas crianças exigem que os irmãos mais novos as tratem pelo nome da professora: «Eu não sou Ana. Sou a D. Aurora». O facto de um professor preferir ou gostar menos de uma determinada matéria pode ser óbvio para os alunos e resultar em comportamentos imitativos. O professor que gosta de Musica mas detesta Matemática pode, através da aprendizagem vicariante, 118 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar transmitir estes sentimentos à turma. Os chamados «bloqueios de Matemática» poderão ser criados desta forma e o aluno poderá ficar afectado para sempre. Outros tipos de comportamentos negativos por parte do professor podem também ser imitados pelos alunos. Uma professora do 1.º ano estava a ter dificuldade em manter o comportamento que considerava disciplinado por parte dos alunos. Passou a gritar cada vez mais com os alunos. Os pais de uma das alunas verificaram que esta se enfiava dentro do quarto depois das aulas e gritava com as suas bonecas (utilizando as mesmas palavras que a professora tinha utilizado). A atitude de um professor face a um grupo minoritário poderá também ter um efeito significativo, tanto na forma como o aluno pertencente a minoria aprende a olhar para si próprio, como na forma como esse aluno é percebido pelos outros membros da turma. Em suma, os professores proporcionam as condições para a aprendizagem na sala de aula não só através do que dizem, mas também através do que fazem. A modelagem na sexualidade (adaptado de Machado Vaz, 1996) “Desde o nascimento que o indivíduo é sujeito a influências educativas, nos contextos de vida mais imediatos, como sejam a família e as relações sociais mais próximas, e no contexto cultural envolvente, mediatizado nomeadamente pelos media. É nestes contextos que as atitudes, informações e comportamentos relativos à sexualidade se conformam, de acordo com a valoração neles dominante. A sexualidade desenvolvimento, por aprende-se via de então, tal informações, como outras instruções e áreas de reforços do comportamento (prémios e punições) proporcionados pelos agentes educativos e, ainda, pela observação de modelos (dos seus comportamentos e atitudes), especialmente os emocionalmente significativos para o indivíduo. Em função dos reforços obtidos e dos comportamentos desenvolvidos ao longo da socialização favorece-se ou não determinadas aprendizagens. 119 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar As práticas educativas, ao nível dos conteúdos sexuais, são, no entanto, pouco consistentes e pouco explícitas, o que não favorece a aprendizagem de atitudes, opiniões e comportamentos sexuais autónomos, responsáveis e gratificantes. Contudo a socialização sexual é inevitável, ainda que predomine a sua vertente negativa: as mensagens oscilam entre a risível e a solene, subsistindo a repressão sob a forma de silêncio. Podemos agrupá-las em função de três estratégias socializadoras básicas: a «evitativa», que comporta atitudes como o silêncio, a desatenção e a proibição, esta frequentemente utilizada de forma indirecta ou sem explicação; a «anedótica», que inclui exemplos ficcionais, palavras substitutas daquelas que remetem directamente para matérias sexuais, como, por exemplo, as denominações dos órgãos sexuais, e ainda anedotas que distorcem as realidades da sexualidade; a «solene», que diz respeito a didácticas apresentadas num dado momento e espaço específico, em desarmonia com o estilo de comunicação habitual ou com o ritmo de desenvolvimento afectivo-intelectual do indivíduo. Assim, a ausência de reforço positivo e o reforço da ambiguidade parecem ser os padrões educativos mais consistentes ao nível da sexualidade. A aprendizagem da sexualidade por modelagem (observação do comportamento do modelo) é, também, fundamental no processo de educação informal: Os comportamentos sexuais são especialmente susceptíveis à aprendizagem por imitação, pois [...] aparecem continuamente nos meios de comunicação e estão presentes em todos os modelos, e portanto também nos mais valorizados pelas crianças, porque todos os seres humanos e seus comportamentos são sexuados. (Lopez Sanchez, 1990, p. 58). A aprendizagem por observação do comportamento pode ser mediada por Modelos Reais, como sejam os pais e os pares, por Modelos Intermediários (os jogos, os vestidos, adornos, posturas, actividades), por Modelos Simbólicos (ligados à televisão, cinema e literatura) que veiculam opiniões, valores e comportamentos sexuais personificados em modelos fictícios ou em modelos reais mediatizados e, ainda, por via dos Modelos Exemplares, isto é, 120 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar personagens públicas cuja sexualidade é objecto de especial revelação pelos media. Os principais agentes educativos (adaptado de Machado Vaz, 1996) Os pais são os modelos mais importantes, pois são simultaneamente figuras de apego e de identificação. São essenciais no processo de aquisição da identidade sexual e do papel de género: é com os pais que a criança primeiramente se familiariza com as características do homem e da mulher e o modo de ser do género masculino ou do feminino. A segurança emocional e a capacidade de comunicação íntima, nas relações estabelecidas com outras pessoas ao longo da vida, depende em grande medida do modo como foram vividas as primeiras relações afectivas, por exemplo o grau de estabilidade da vinculação com a mãe, as atitudes e expressões afectivas do pai e a relação entre as figuras de apego. Os pais são, portanto, a fonte de influência mais precoce e prevalecente no desenvolvimento do ser sexuado, tanto mais que são também determinantes, especialmente nos primeiros anos de vida, da influência dos outros agentes educativos, mesmo que de forma não intencional. De facto, os pais têm alguma possibilidade de decisão sobre o tipo de jogos, brinquedos, adornos e actividades a oferecer ao filho(a), mais ou menos no sentido da tipificação segundo o sexo. O contacto com pares e outros adultos depende do seu estilo de vida, em particular a nível social. Os pais controlam ainda, ou têm essa possibilidade, o acesso a livros, a programas de TV, que abordam de forma mais ou menos reducionista a sexualidade humana. Poderão também relativizar os critérios dominantes (poder económico e prestígio social) que determinam os modelos de sucesso, dignos de imitação. Um estudo com jovens universitários questionados acerca de atitudes e comportamentos face à sexualidade indica que os pais «exerceram algum tipo de influência sobre as suas atitudes face à sexualidade» apesar de constituírem uma fonte mínima de informação sobre sexualidade. É certo, pois, 121 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar que a comunicação entre pais e filhos(as) não se faz de forma explícita e aberta, sendo geralmente pontual, em função de uma pergunta directa, e com mais frequência entre mãe e filho(a). Para além disso, os resultados do questionário referido apontam para influências de carácter negativo, como, por exemplo, sentimentos de culpa ligados à sexualidade em geral. Estes dados, aparentemente contraditórios, tornam-se compreensíveis pelo poder de influência dos pais acima ressaltado. Atenda-se, ainda, ao facto de que a fonte de informação preferencial dos jovens, quando se lhes coloca a hipótese «se pudesse escolher», serem os pais, ou seja os próprios jovens sentem que seria importante comunicar mais abertamente sobre a sexualidade. Os pares são considerados a principal fonte de informação. Esta tendência confirma-se também nas respostas aos questionários do estudo acima referido que indicam também os livros como fonte de procura espontânea. Os pares constituem modelos sexuais reais que favorecem processos de identificação dada a similaridade de idades, de interesses e, em particular, a atractividade dos modelos intermediários exibidos, por exemplo, o vestuário. A influência dos pares é benéfica, na medida em que a aprendizagem numa relação horizontal é recíproca. Experiências comuns, múltiplas e repetidas, permitem testar as referências oferecidas pelos adultos e ensaiar alternativas. No entanto, existem também aspectos negativos associados à aprendizagem através dos pares: a informação transmitida entre eles é frequentemente imprecisa; o riso acompanha regularmente os conteúdos sexuais, por exemplo, através das anedotas; a pressão do grupo, no sentido da experimentação, leva à descoberta da sexualidade, muitas vezes sem preparação e desrespeitando ritmos pessoais. Parece-nos, porém, que estes aspectos negativos se prendem fundamentalmente com o facto de os pares ocuparem actualmente, ainda, o primeiro lugar como fonte de informação e de os outros modelos sexuais serem referências frágeis (implícitas e contraditórias). É, precisamente, neste quadro de referências que se 122 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar compreendem os comportamentos de risco ao nível da sexualidade dos jovens, por exemplo, o aumento de certas doenças sexualmente transmissíveis. Parece-nos, assim, que na base da dificuldade de previsão e adopção de medidas preventivas na adolescência, para além do valor que o jovem dá à espontaneidade do comportamento, estará essencialmente o facto de a educação não promover a consciencialização de si como ser sexuado. Os media são actualmente inegáveis fontes de influência e agentes de Educação Sexual incidental. A televisão, nomeadamente, assume uma posição central como fonte de informação nos países referenciados como desenvolvidos e em vias de desenvolvimento, não só pelas características audiovisuais que facilitam a atracção e a assimilação, como pelo facto de ver televisão constituir uma das actividades diárias em que a criança despende mais tempo. Assim sendo, actualmente, é com frequência fonte das primeiras experiências de modelagem, para além das figuras de apego, portanto um poderoso meio educativo. A televisão transmite de modo preponderante conteúdos sexuais do tipo comercial e estereotipado. A publicidade, por exemplo, reforça ostensivamente o duplo padrão sexual (corresponde à atribuição e expectativa diferencial de papéis sociais, características psicológicas e comportamentais em função do sexo do indivíduo). A programação, em geral, veicula noções reducionistas, apresentando essencialmente comportamentos sexuais perversos, violentos e sem contexto afectivo, com pormenor e repetição. A sua influência negativa é ainda mais poderosa: quando a interacção com modelos reais, os mais indicados para comunicar aspectos afectivos, é reduzida; quando reforça mensagens sobre sexualidade, do modelo dominante, transmitidas pelos outros agentes de Educação Sexual; quanto mais precoce a fase de desenvolvimento moral da criança (ver manual dos Dilemas Morais, teoria de Lawrence Kohlberg), em que a reflexão crítica está pouco desenvolvida, facilitando a conformação, por exemplo, aos papéis de género diferenciais. 123 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar Sugestões de actividade(s): Actividades de pequenos grupos (com posterior discussão em grande grupo) o Actividades 1 e 2 (em anexo) Tempo médio de duração do tema: 1h Bibliografia a consultar: Machado Vaz, J. (1996). Educação Sexual na Escola. Lisboa: Universidade Aberta; Monteiro, M. & Pereira, N. (2003). Acesso ao Ensino Superior 2003 – Psicologia. Porto: Porto Editora; Rodrigues, L. (2001). Psicologia, 12º ano. Lisboa: Plátano Editora; Sprinthall, N. & Sprinthall, R. (1993). Psicologia Educacional. Lisboa: McGraw Hill. 124 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar ANEXOS: ACTIVIDADE 1 A professora distribuiu as tarefas naquela manhã. João deveria distribuir os cadernos pelos colegas, e recolhê-los antes do almoço, afim de os colocar de novo na estante. Como sempre, foi o primeiro a realizar a sua tarefa, chegando junto da professora com um grande sorriso e um “já acabei!”. Face a isto, a professora sorriu também e disse ao João “Boa querido! Muito bem! Estou muito orgulhosa de ti!” 1 – discuta que tipo de resposta foi dada ao comportamento da criança. 2 – discuta que consequências é que isso teve para a auto-estima e autoconceito da criança. 3 – discuta que consequências é que o comportamento da professora teve no comportamento futuro da criança. 125 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar ACTIVIDADE 2 Era manhã de artes plásticas e a professora distribuiu as tarefas. Pedro deveria lavar os pincéis, apanhar os papéis dos recortes que estivessem no chão e recolher as colas e as tintas, para colocar no armário. Contrariamente ao habitual, demorou bastante com as suas tarefas: trouxe os pincéis mal lavados, pelo que sujou a toalha da sala, não fechou bem os tubos de cola, pelo que foi a pingar pelo chão... enfim um desastre! A Professora, vendo a confusão, aproximou-se do Pedro e gritou-lhe “seu incompetente! Já viste o que fizeste? Vais ficar aqui na hora do recreio a limpar isto tudo!” 1 – discuta que tipo de resposta foi dada ao comportamento da criança. 2 – discuta que consequências é que isso teve para a auto-estima e autoconceito da criança. 3 – discuta que consequências é que o comportamento da professora teve no comportamento futuro da criança. 4 – apresente uma solução alternativa. 126 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar TEMA: A IMPORTÂNCIA DO ENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE ESCOLAR NO SUCESSO DOS PROGRAMAS DE PREVENÇÃO Componente teórica: A comunidade escolar assume um papel fundamental na implementação de programas de educação sexual, dada a possibilidade de complementaridade e multidisciplinaridade entre os diferentes agentes educativos pais, professores, auxiliares de acção educativa e alunos. As escolas são um contexto de intervenção privilegiado neste âmbito, já que não só permite o acesso a uma número elevado de jovens de diferentes faixas etárias, mas também porque a educação sexual pode ser abordada e deve de ser assumida como parte de uma educação mais geral, a qual compete também à escola fornecer. “No entanto, apesar de todo o potencial educativo patente nas escolas, a educação sexual nas mesmas enfrenta uma série de limitações, não só por não se adequar às necessidades individuais de cada jovem, mas também por não ter em conta todos os aspectos religiosos, culturais e morais que cada jovem da escola possui. A controvérsia, neste sentido, gira em torno do que é permitido e do que se pode ensinar aos jovens. Esta dificuldade, por seu turno, está ligada a uma adversidade: quem é capaz, quem está disponível e, principalmente, quem é habilitado para o fazer. Tendencialmente, a “responsabilidade” da educação sexual recai sobre os professores das áreas de ciências naturais e de educação física, por serem aqueles que possuem maior nível de conhecimentos teóricos acerca da fisiologia humana. No entanto, não é qualquer pessoa que abordar este tema tão específico, independentemente dos conhecimentos que possuir sobre a natureza humana. Para falar sobre sexualidade, mais do que conhecimentos teóricos é preciso ter a capacidade para compreender e saber ensinar, é necessário explicar os 127 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar termos correctos, é importante a sensibilidade para as questões que preocupam os jovens. Por todas as questões anteriormente enumeradas, a escola constitui uma oportunidade única de abordar a população jovem e trabalhar com ela estas áreas de forma a criar um ambiente de suporte onde o compromisso com a saúde sexual é visto como positivo. Oferece ainda a oportunidade de a comunidade envolvente da escola participar também nesses programas, estendendo os seus benefícios para além das salas de aula. Mas para que tais potencialidades sejam maximizadas é fundamental apostar na formação de professores, que habitualmente são referidos pelos alunos como preferenciais agentes de educação sexual”. (Artigo de psicologia escolar). Os professores como agentes de educação sexual O papel do professor enquanto agente de educação sexual é, em tudo, semelhante ao papel que desempenha diariamente na sala de aula, na medida em que o objectivo de ambas as situações se prende com a educação dos jovens. Nesse sentido, não será viável circunscrever esta função apenas aos professores cujas habilitações incluem formação sobre corpo humano e seus mecanismos de funcionamento, até porque os variados temas que constituem a educação sexual são susceptíveis de serem incluídos no currículo de todas as disciplinas. Qual é o perfil desejável dos professores que queiram desenvolver acções de educação sexual? (in Went, 1985) -“ Genuína preocupação com o bem-estar físico e psicológico dos outros; - Aceitação confortável da sua sexualidade e da dos outros; - Respeito pelas opiniões das outras pessoas; - Atitude favorável ao envolvimento dos pais e encarregados de educação e outros agentes de educação; - Compromisso de confidencialidade sobre informações pessoais que possam ser explicitadas pelos alunos; 128 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618 PRESSE – Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar - Capacidade para reconhecer as situações que requerem a intervenção de outros profissionais/técnicos para além dos professores. Quais os factores de sucesso de um professor no desenvolvimento de acções de educação sexual? (Sanders & Swiden, 1995) “- Ser tão neutro quanto possível; - Não atribuir previamente “certos” ou “errados”; - Controlar a emissão de juízos de valor; - Proporcionar a identificação de valores pessoais, de forma a criar um ambiente aberto e não constrangedor; - Actuar pedagogicamente através da partilha em vez da imposição de definições do saber; - Permitir que se façam escolhas.” Material didáctico: Livro “Educar para a Sexualidade” (Alcobia, Mendes & Serôdio, 2003) Livro “Educação Sexual na Escola” (Machado Vaz, 1996) Livro “Educação Sexual na Escola – Guia para Professores, Formadores e Educadores” (Frade, Marques, Alverca & Vilar, 2003) Sugestões de actividade(s): Debate sobre as limitações encontradas no contexto de intervenção dos formandos. Tempo médio de duração do tema: 30 m Bibliografia a consultar: Sanders, P. & Swinden, L. (1995). Para me conhecer. Para te conhecer…estratégias de educação sexual para o 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico. Lisboa: Associação para o Planeamento da Família. 129 Rua Anselmo Braancamp, 144 4000-078 PORTO Telef. 225105548 / 3480 E-mail: [email protected] Fax 225101618
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