Jesus Cristo Nunca Existiu

Transcrição

Jesus Cristo Nunca Existiu
Jesus Cristo Nunca Existiu
Autor: La Sagesse
“Existe uma chave para a liberdade: Pense! Se quiseres ser um
cordeiro, seja feita a tua vontade. Não reclames, entretanto, quando
fores servido em nosso grande Sabbath!”
Um “bem velho” dito pagão, do século XX
Prefácio
Tenho a satisfação de recomendar ao público a presente obra, escrita sob o título
“Jesus Cristo Nunca Existiu”, de La Sagesse, em cujo conteúdo o autor revela o seu
pensamento de modo fiel e sem reticências a respeito de tão delicado assunto. Embora
seja este o seu primeiro trabalho publicado, o autor revela-se um escritor em potencial,
de quem muito ainda se pode esperar. Diante da necessidade sempre crescente da
verdade, encetou a presente obra para doar à humanidade a sua contribuição de
natureza cultural, querendo apenas cumprir o seu dever de informar, perante si próprio
e perante os homens.
Aos oportunistas pouco importa se sob a palavra sonora se oculta a hipocrisia e a
mentira. Contudo, para os espíritos puros e corajosos, para os quais os interesses
particulares não devem sobrepor-se aos anseios do povo, mister se faz que a verdade
surja em toda a sua plenitude, deitando por terra toda a fraude e mistificação. Este é
um livro corajoso, concebido sem a preocupação de agradar ou desagradar, não
importando se suscetibilidades são feridas pelo que aqui está exposto. O seu intuito é
exclusivamente patentear as provas inequívocas de falsificação e mistificação, as quais
foram impostas aos homens a ferro e fogo, durante séculos.
No decurso da obra, são reveladas todas as idéias da Igreja como realmente são:
a mais pútrida e falsa amoedação que pode haver, capaz de desprezar a natureza e os
valores naturais. Constituiu-se a Igreja em verdadeiro parasita do homem crente, a
verdadeira tarântula através da qual o clero que se constitui em uma minoria
privilegiada vem sugando e envenenando sem parar o sangue e a vida daqueles que,
iludidos por falsas promessas, mantêm os olhos fechados para a realidade da vida e das
coisas.
Em todo o tempo, a meta principal da Igreja é tornar o homem o mais
desgraçado possível, daí a idéia do pecado e da culpabilidade, para criar uma raça de
escravos e de castrados de pensamento. Assim, tolhida a sua liberdade de pensamento,
torna-se presa fácil e maleável nas mãos da Igreja. O temor dos castigos eternos,
prometidos para os que se insurgem contra os ensinamentos da Santa Igreja, impede o
homem crente de duvidar sequer do que a mesma lhe incute no espírito como verdade.
Só o homem que consegue vencer a barreira do temor e da ignorância goza realmente
de uma liberdade plena que poderá torná-lo feliz.
Apesar de haver uma acentuada liberalidade existente em nossos dias, ainda é
pequeno o número dos que sacodem o jugo opressor, libertando-se da tutela hostil e
interesseira da Igreja, de seus dogmas e vãs promessas. E é bem menor ainda o número
dos que têm a coragem de proclamar em altas vozes o seu pensamento, liberto dos
preconceitos religiosos que subjugam o homem.
Felizmente, La Sagesse faz parte deste círculo restrito, para quem a verdade e o
bem estar do homem estão acima de qualquer coisa e dependem em muito de sua
liberdade. A própria bondade do homem deve revelar-se por si só, e não porque a ela
seja constrangido, porquanto assim perderá a sua verdadeira característica, passando a
ser um ato subalterno, sem nenhum valor moral.
Não se omite a esta altura a homenagem que faz jus a quem não economizou
esforços no sentido de patentear a verdade, antes se multiplicou em cuidados para
fornecer aos leitores uma obra capaz de despertar o interesse pelo seu real valor e
critérios adotados. O autor possui uma vasta obra literária ainda inédita, que deverá vir
a público oportunamente.
Maria Ribeiro
Prólogo
Homem ateu é assim chamado aquele que não crê em Deus.
Etimologicamente, “Theos”, do grego, significa Deus. Anexando-se o prefixo “a”,
o qual indica ausência ou negação, teremos ateu, isto é, sem Deus. No mundo
moderno onde vivemos, no qual impera a razão, a lógica e o conhecimento
científico, não nos é mais possível estabelecer diferença essencial entre ateus ou
crentes.
Os que acreditam em um Deus materializável, prosternando-se e orando
diante de seus altares, em seus templos, são também verdadeiros ateus. Apenas
deste fato não se dão conta. A seguir tentaremos explicar o nosso ponto de vista. O
homem primitivo, sentindo-se indefeso diante do mundo hostil que o rodeia e que
desconhece, a tudo teme. Apavoram-no os fenômenos da natureza, tais como as
tempestades, os trovões, os relâmpagos e tantos outros os quais julga serem a
manifestação digna de um Ser Supremo, muito poderoso e desconhecido. Então,
na sua impotência para controlar a natureza, e não encontrando explicações
razoáveis para os acontecimentos, volta-se o nosso homem para aquele Ser
Poderoso que imagina comandar o mundo. Submisso e suplicante, implora-lhe
perdão pelas faltas cometidas, simula preces e oferece-lhe sacrifícios. Com isso,
supõe aplacar a ira dos deuses e ganhar-lhes sua benevolência para dias
vindouros, Está, assim, lançada a semente da religião que no decorrer do tempo
irá ganhando novas formas e sofrerá modificações, de acordo com o próprio
homem, suas necessidades e aspirações.
Então perguntaremos, diante de que ou de quem ajoelha-se o homem?
Diante de Deus? Não. Por incrível que pareça, o homem ajoelha-se, ainda hoje,
diante do altar rústico, erguido pelo temor do homem primitivo castigado pelas
forças adversas da natureza, e impotente para contê-las. Não é lógico que o
homem que evoluiu conseguindo maravilhas, obtendo os meios necessários para
definir e mesmo refrear os furores da natureza, paradoxalmente continue
praticando os cultos de desagravo, criados pelos amedrontados ancestrais.
Concluímos do que acima foi dito que os religiosos de qualquer espécie são
ateus, porquanto, de acordo com a própria etimologia da palavra ateu, continuam
sem Deus. Isto é verdadeiro, porquanto, não é possível a ninguém ter algo
inexistente, no caso o Ser Poderoso, Deus ou deuses, conforme prefiram. À
medida que o homem foi evoluindo, promoveu sua organização social, inclusive a
religiosa. E o homem permaneceu contrito, ajoelhado diante de Deus e do
sacerdote. Aos poucos, vai a religião tornando-se um ótimo e cômodo meio de vida
para a minoria privilegiada composta pelos sacerdotes, verdadeiro comércio com
o qual o povo tem sido espoliado através dos tempos.
Surgiram deuses e religiões idealizadas pelos espertos, a fim de satisfazer a
todos os gostos e tendências. Até o século IX, os estudiosos do assunto já haviam
catalogado nada menos de 60 mil deuses, sob as mais variadas formas, desde a de
animal, semi-animal, até atingir o aspecto integral do corpo humano. Criaram
deuses como Baco, o deus do vinho, homenageado com tremendas bebedeiras.
Vênus, a deusa do amor. Para reger a cada ato da vida, foram criados deuses
especiais; inclusive para cada fenômeno da natureza.
Apesar do fervor com o qual os deuses têm sido incensados através dos
tempos, jamais se conseguiu provar que a fé a eles devotada tenha melhorado a
sorte do homem e do mundo. Por isso somos levados a crer que todos aqueles que
têm adorado aos deuses têm perdido o seu precioso tempo. O homem, com o
poder de sua inteligência e imaginação, vai aos poucos adquirindo e
sistematizando os seus conhecimentos, tornando-os cultura e ciência.
Gradativamente vai levantando o véu do mistério que lhe obscurecera a razão. A
explicação dos fatos fundamentada na ciência liberta-o dos temores.
O conhecimento científico, alijando as trevas da ignorância, leva-nos a
compreender que os milhares de deuses dos quais temos tido conhecimento são
produtos de mentes férteis e pretensiosas, como a do clero e outros interessados
em lucros fáceis. A total ausência de uma intervenção direta de Deus nos destinos
do homem e do mundo é prova de que o clero conduz o homem por caminho
errado. Valendo-se da boa fé do povo incauto é que o clero, em todos os tempos,
tem desenvolvido sua atividade parasitária, chorando tanto quanto possível a
economia humana. Assim, pode desfrutar de boa vida, luxo e palácios,
praticamente sem trabalhar, com o dinheiro que o homem religioso passa-lhe às
mãos, julgando assim comprar sua entrada no céu.
O sacerdote é sempre categórico em suas afirmações diante do crente,
mostrando-se, contudo, reticente e cauteloso em face do conhecimento científico
do homem de saber aprimorado. A este falará sobre tudo, mas evitará abordar o
que se refere a Deus, religião ou teologia. Tendo ultrapassado a época do medo, a
raça humana não se libertou totalmente do sentimento religioso, porquanto,
existem os que se valem do nome de Deus e das religiões para viverem
ociosamente, desfrutando de boa posição e respeito, sem, contudo, dar aos homens
qualquer contribuição que lhes aproveite para sua felicidade e bem estar. Apenas
a promessa de uma boa vida futura, após a morte. Todavia, até esta ser-lhe-á
garantida apenas com a condição de suportar, pacientemente, muitos sofrimentos
em sua passagem pela terra. Ora, são promessas vãs e mentirosas. Será que o
sacerdote daria para alguém o Reino dos Céus, se dele dispusesse? Tudo nos leva
a crer que não.
Não acreditamos que as religiões possam desaparecer tão cedo da face da
Terra, apesar do aprimoramento, sempre em expansão, do conhecimento
científico. As religiões não morrem, modificam-se. Desde os primórdios da
humanidade, o aparecimento sempre de novos deuses e modalidades de culto
justificam tal afirmativa. Em vista de tantas e tais modificações, é que chegamos à
era do advento de Cristo e do cristianismo, religião esta abraçada por boa parte
da população do mundo atual, em suas variadas ramificações.
E qual o fundamento sobre o qual foi criada a religião cristã? Nada tem de
positivo, palpável ou verdadeiro. É apenas uma lenda o nascimento de Jesus,
como toda a vida e os atos a ele imputados. Aqueles que criaram o cristianismo
sequer primaram pela originalidade, porquanto, a lenda que envolve a
personalidade de Jesus Cristo é apenas copia de tantas outras que relatam o
nascimento e tudo quanto se referiu aos deuses criados pelos antigos, tais como
Ísis, Osíris, Hórus Átis. Apolo, Mitra, etc.
O homem do nosso século tem, forçosamente, de ser prático. Daí, não
poderá fundamentar os atos de sua vida em lendas ou mitos. As lendas possuem,
evidentemente, um grande valor, fazem parte do folclore dos povos, influindo na
formação de suas culturas. Entretanto, o seu valor cultural não deve ultrapassar o
limite lógico e aceitável.
I
Jesus Cristo Nunca Existiu
Os pesquisadores que se dedicaram ao estudo das origens do cristianismo
sabem que, desde o Século II de nossa era, tem sido posta em dúvida a existência
de Cristo. Muitos até mesmo entre os cristãos procuram provas históricas e
materiais para fundamentar sua crença. Infelizmente, para eles e sua fé, tal
fundamento jamais foi conseguido, porquanto, a história cientificamente
elaborada denota que a existência de Jesus é real apenas nos escritos e
testemunhas daqueles que tiveram interesse religioso e material em prová-la.
Desse modo, a existência, a vida e a obra de Jesus carecem de provas
indiscutíveis. Nem mesmo os Evangelhos constituem documento irretorquível. As
bibliotecas e museus guardam escritos e documentos de autores que teriam sido
contemporâneos de Jesus, os quais não fazem qualquer referência ao mesmo. Por
outro lado, a ciência histórica tem-se recusado a dar crédito aos documentos
oferecidos pela Igreja, com intenção de provar-lhe a existência física. Ocorre que
tais documentos, originariamente, não mencionavam sequer o nome de Jesus;
todavia, foram falsificados, rasurados e adulterados visando suprir a ausência de
documentação verdadeira.
Por outro lado, muito do que foi escrito para provar a inexistência de Jesus
Cristo foi destruído pela Igreja, defensivamente. Assim é que, por falta de
documentos verdadeiros e indiscutíveis, a existência de Jesus tem sido posta em
dúvida desde os primeiros séculos desta era, apesar de ter a Igreja tentado
destruir a tudo e a todos os que tiveram coragem ousaram contestar os seus
pontos de vista, os seus dogmas.
Por tudo isso é que o Papa Pio XII, em 955, falando para um Congresso
Internacional de História em Roma, disse: “Para os cristãos, o problema da
existência de Jesus Cristo concerne à fé, e não à história”.
Emílio Bossi, em seu livro intitulado “Jesus Cristo Nunca Existiu”, compara
Jesus Cristo a Sócrates, que igualmente nada deixou escrito. No entanto, faz ver
que Sócrates só ensinou o que é natural e racional, ao passo que Jesus ter-se-ia
apenas preocupado com o sobrenatural. Sócrates teve como discípulos pessoas
naturais, de existência comprovada, cujos escritos, produção cultural e filosófica
passaram à história como Platão, Xenófanes, Euclides, Esquino, Fédon. Enquanto
isso, Jesus teria por discípulos alguns homens analfabetos como ele próprio tê-loia sido, os quais apenas repetiriam os velhos conceitos e preconceitos talmúdicos.
Sócrates, que viveu 5 séculos antes de Cristo e nada escreveu, jamais teve
sua existência posta em dúvida. Jesus Cristo, que teria vivido tanto tempo depois,
mesmo nada tendo escrito, poderia apesar disso ter deixado provas de sua
existência. Todavia, nada tem sido encontrado que mereça fé. Seus discípulos
nada escreveram. Os historiadores não lhe fizeram qualquer alusão.
Além disso, sabemos que, desde o Século II, os judeus ortodoxos e muitos
homens cultos começaram a contestar a veracidade de existência de tal ser, sob
qualquer aspecto, humano ou divino. Estavam, assim, os homens divididos em
duas posições: a dos que, afirmando a realidade de sua existência, divindade e
propósitos de salvação, perseguiam e matavam impiedosamente aos partidários
da posição contrária, ou seja, àqueles cultos e audaciosos que tiveram a coragem
de contestá-los.
O imenso poder do Vaticano tornou a libertação do homem da tutela
religiosa difícil e lenta. O liberalismo que surgiu nos últimos séculos contribuiu
para que homens cultos e desejosos de esclarecer a verdade tentassem, com
bastante êxito, mostrar a mistificação que tem sido a base de todas as religiões,
inclusive do cristianismo. Surgiram também alguns escritos elucidativos, que por
sorte haviam escapado à caça e à queima em praça pública. Fatos e descobertas
desta natureza contribuíram decisivamente para que o mundo de hoje tenha uma
concepção científica e prática de tudo que o rodeia, bem como de si próprio, de
sua vida, direitos e obrigações.
A sociedade atualmente pode estabelecer os seus padrões de vida e moral, e
os seus membros podem observá-los e respeitá-los por si mesmos, pelo respeito ao
próximo e não pelo temor que lhes incute a religião. Contudo, é lamentavelmente
certo que muitos ainda se conservam subjugados pelo espírito de religiosidade,
presos a tabus caducos e inaceitáveis.
Jesus Cristo foi apenas uma entidade ideal, criada para fazer cumprir as
escrituras, visando dar seqüência ao judaísmo em face da diáspora, destruição do
templo e de Jerusalém. Teria sido um arranjo feito em defesa do judaísmo que
então morria, surgindo uma nova crença. Ultimamente, têm-se evidenciado as
adulterações e falsificações documentárias praticadas pela Igreja, com o intuito
de provar a existência real de Cristo. Modernos métodos como, por exemplo, o
método comparativo de Hegel, a grafotécnica e muitos outros, denunciaram a má
fé dos que implantaram o cristianismo sobre falsas bases com uma doutrina
tomada por empréstimos de outros mais vivos e inteligentes do que eles, assim
como denunciaram os meios fraudulentos de que se valeram para provar a
existência do inexistente.
É de se supor que, após a fuga da Ásia Central, com o tempo os judeus
foram abandonando o velho espírito semita, para irem-se adaptando às crenças
religiosas dos diversos povos que já viviam na Ásia Menor. Após haverem
passado por longo período de cativeiro no Egito, e, posteriormente, por duas vezes
na Babilônia, não estranhamos que tenham introduzido no seu judaísmo
primitivo as bases das crenças dos povos com os quais conviveram. Sendo um dos
povos mais atrasados de então, e na qualidade de cativos, por onde passaram,
salvo exceções, sua convivência e ligações seria sempre com a gente inculta,
primária e humilde. Assim é que, em vez de aprenderem ciências como
astronomia, matemática, sua impressionante legislação, aprenderam as
superstições do homem inculto e vulgar.
Quando cativos na Babilônia, os sacerdotes judeus que constituíram a nata,
o escol do seu meio social, nas horas vagas, iriam copiando o folclore e tudo o que
achassem de mais interessante em matéria de costumes e crenças religiosas, do
que resultaria mais tarde compendiarem tudo em um só livro, o qual recebeu o
nome de Talmud, o livro do saber, do conhecimento, da aprendizagem. Por uma
série de circunstâncias, o judeu foi deixando, aos poucos, a atividade de pastor,
agricultor e mesmo de artífice, passando a dedicar-se ao comércio.
A atividade comercial do judeu teve início quando levados cativos para a
Babilônia, por Nabucodonosor, e intensificou-se com o decorrer do tempo, e ainda
mais com a perseguição que lhe moveria o próprio cristianismo, a partir do século
IV. Daí em diante, a preocupação principal do povo judeu foi extinguir de seu
meio o analfabetismo, visando com isso o êxito de seus negócios. Deve-se a este
fato ter sido o judeu o primeiro povo no meio do qual não haveria nenhum
analfabeto. Destarte, chegando a Roma e a Alexandria, encontrariam ali apenas a
prática de uma religião de tradição oral, portanto, terreno propício para a
introdução de novas superstições religiosas. Dessa conjuntura é que nasceu o
cristianismo, o máximo de mistificação religiosa de que se mostrou capaz a mente
humana.
O judeu da diáspora conseguiu o seu objetivo. Com sua grande habilidade,
em pouco tempo o cristianismo caiu no gosto popular, penetrando na casa do
escravo e de seu senhor, invadindo inclusive os palácios imperiais. Crestus, o
Messias dos essênios, pelo qual parece terem optado os judeus para a criação do
cristianismo, daria origem ao nome de Cristo, cristão e cristianismo. Os essênios
haviam-se estabelecido numa instituição comunal, em que os bens pessoais eram
repartidos igualmente para todos e as necessidades de cada um tornavam-se
responsabilidade de todos.
Tal ideal de vida conquistaria, como realmente aconteceu, ao escravo, a
plebe, enfim, a gente humilde. Daí, a expansão do cristianismo que, nada tendo de
concreto, positivo e provável, assumiu as proporções de que todos temos
conhecimento. Não tendo ficado restrita à classe inculta e pobre, como seria de se
pensar, começou a ganhar adeptos entre os aristocratas e bem-nascidos.
De tudo o que dissemos, depreende-se que o cristianismo foi uma religião
criada pelos judeus, antes de tudo como meio de sobrevivência e enriquecimento.
Tudo foi feito e organizado de modo a que o homem se tornasse um instrumento
dócil e fácil de manejar, pelas mãos hábeis daqueles aos quais aproveita a religião
como fonte de rendimentos.
Métodos modernos como, por exemplo, o método comparativo de Hegel, a
grafotécnica, o uso dos isótopos radioativos e radiocarbônicos, denunciaram a má
fé daqueles que implantaram o cristianismo, falsificando escritos e documentos na
vã tentativa de provar o que lhe era proveitoso. Por meios escusos tais como os
citados, a Igreja tornou-se a potência financeira em que hoje se constitui.
Finalmente, desde o momento em que surgiu a religião, com ela veio o sacerdote
que é uma constante em todos os cultos, ainda que recebam nomes diversos. A
figura do sacerdote encarregado do culto divino tem tido sempre a preocupação
primordial de atemorizar o espírito dos povos, apresentando-lhes um Deus
onipotente, onipresente e, sobretudo, vingativo, que a uns premia com o paraíso e
a outros castiga com o inferno de fogo eterno, conforme sejam boas ou más suas
ações.
No cristianismo, encontraremos sempre o sacerdote afirmando ter o homem
uma alma imortal, a qual responderá após a morte do corpo, diante de Deus,
pelas ações praticadas em vida. Como se tudo não bastasse, o paraíso, o
purgatório dos católicos e o inferno, há ainda que considerar a admissão do
pecado original, segundo o qual todos os homens ao nascer, trazem-no consigo.
Ora, ninguém jamais foi consultado a respeito de seu desejo ou não de
nascer. Assim sendo, como atribuir culpa de qualquer natureza a quem não teve a
oportunidade de manifestar vontade própria. Quanta injustiça! Condenar
inocentes por antecipação. O próprio Deus e o próprio Cristo revoltar-se-iam por
certo ante tão injusta legislação, se os próprios existissem.
II
As Provas e as Contra Provas
A Igreja serviu-se de farta documentação, conforme já mencionamos
anteriormente, com intenção de provar a existência de Cristo. No entanto, a
história ignora-o completamente. Quanto aos autores profanos que
pretensamente teriam escrito a seu respeito, foram nesta parte falsificados. Por
outro lado, documentos históricos demonstram sua inexistência. As provas
históricas merecem nosso crédito, porque pertencem à categoria dos fatos certos e
positivos, e constituem testemunhos concretos e válidos de escritores de
determinadas escolas.
A interpretação da Bíblia e da mitologia comparada não resiste a uma
confrontação com a história. Flávio Josefo, Justo de Tiberíades, Filon de
Alexandria, Tácito, Suetônio e Plínio, o Jovem, teriam feito em seus escritos,
referências a Jesus Cristo. Todavia, tais escritos após serem submetidos a exames
grafotécnicos, revelaram-se adulterados no todo ou em parte, para não se falar
dos que foram totalmente destruídos. Além disso, as referências feitas a Crestus,
Cristo ou Jesus, não são feitas exatamente a respeito do Cristo dos Cristãos. Seria
mesmo difícil estabelecer qual o Cristo seguido pelos cristãos, visto que esse era
um nome comum na Galiléia e Judéia.
Segundo Tácito, judeus e egípcios foram expulsos de Roma por formarem
uma só e mística superstição cristã. As expulsões ocorreram duas vezes no tempo
de Augusto e a terceira vez no governo de Tibério, no ano 19 desta era. Tais
expulsões desmentem a existência de Jesus, porquanto, ocorreram quando ainda
o nome de cristão aplicava-se a superstição judaico-egípcia, a qual se confundiu
com o cristianismo.
Filon de Alexandria, apesar de ter contribuído poderosamente para a
formação do cristianismo, seu testemunho é totalmente contrário à existência de
Cristo. Filon havia escrito um tratado sobre o Bom Deus – Serapis –, tratado este
que foi destruído. Os evangelhos cristãos a ele muito se assemelham, e os
falsificadores não hesitaram em atribuir as referências como sendo feitas a Cristo.
Os historiadores mostram que essa religião nasceu em Alexandria, e não em
Roma ou Jerusalém. Fazem ver que ela nasceu das idéias de Filon que,
platonizando e helenizando o judaísmo, escreveu boa parte do Apocalipse. A
mesma transformação que o cristianismo dera ao judaísmo ao introduzir-lhe o
paganismo e a idolatria, Filon imprimira a essa crença, até então apenas
terapeuta, dando-lhe feição grega, de cunho platônico.
Embora tenha sido de certo modo o precursor do cristianismo, não deixou a
menor prova de ter tomado conhecimento da existência de Jesus Cristo, o mago
rabi, e isto é lógico porque o cristianismo só iria ser elaborado muito depois de
sua morte.
Bastaria o silêncio de Filon para provar estarmos diante de uma nova
criação mitológica, de cunho metafísico. Entretanto, escrevendo como cristão, os
lançadores do cristianismo louvaram-se nas suas idéias e escritos. Tivesse Jesus
realmente existido, jamais Filon deixaria de falar em seu nome, descreveria
certamente sua vida miraculosa. Filon relata os principais acontecimentos de seu
tempo, do judaísmo e de outras crenças, não mencionando, porém, nada sobre
Jesus. Cita Pôncio Pilatos e sua atuação como Procurador da Judéia, mas não se
refere ao julgamento de Jesus a que ele teria presidido.
Fala igualmente dos essênios e de sua doutrina comuna dizendo tratar-se de
uma seita judia, com mosteiro à margem do Jordão, perto de Jerusalém. Quando
no reinado de Calígula esteve em Roma defendendo os judeus, relata diversos
acontecimentos da Palestina, mas não menciona nada a respeito de Jesus, seus
feitos ou sua sorte e destino.
Filon, que foi um dos judeus mais ilustres de seu tempo, e sempre esteve em
dia com os acontecimentos, jamais omitiria qualquer notícia acerca de Jesus, cuja
existência, se fosse verdadeira, teria abalado o mundo de então. Impossível
admitir-se tal hipótese, portanto.
Por isso é que M. Dide fez ver que, diante do silêncio de homens
extraordinários como Filon, os acontecimentos narrados pelos evangelistas não
passam de pura fantasia religiosa. Seu silêncio é a sentença de morte da existência
de Jesus.
O mesmo silêncio se estende aos apóstolos, assinala Emílio Bossi. Evidencia
que tudo quanto está contido nos Evangelhos refere-se a personalidades irreais,
ideais, sobrenaturais de inexistentes taumaturgos. O silêncio de Filon e de outros
se estende não apenas a Jesus, mas também aos seus pretensos apóstolos, a José, a
Maria, seus filhos e toda a sua família.
Flávio Josefo, tendo nascido no ano 37, e escrevendo até 93 sobre judaísmo,
cristianismo terapeuta, messias e Cristos, nada disse a respeito de Jesus Cristo.
Justo de Tiberíades, igualmente não fala em Jesus Cristo, conquanto houvesse
escrito uma história dos judeus, indo de Moisés ao ano 50. Ernest Renan, em sua
obra “Vie de Jesus”, apesar de ter tentado biografar Jesus, reconhece o pesado
silêncio que fizeram cair sobre o pretenso herói do cristianismo.
Os Gregos, os romanos e os hindus dos séculos I e II jamais ouviram falar
na existência física de Jesus Cristo. Nenhum dos historiadores ou escritores,
judeus ou romanos, os quais viveram ao tempo em que pretensamente teria vivido
Jesus, ocupou-se dele expressamente. Nenhum dedicou-lhe atenção. Todos foram
omissos quanto a qualquer movimento religioso ocorrido na Judéia, chefiado por
Jesus.
A história não só contesta a tudo o que vem nos Evangelhos, como prova
que os documentos em que a Igreja se baseou para formar o cristianismo foram
todos inventados ou falsificados no todo ou parte, para esse fim. A Igreja sempre
dispôs de uma equipe de falsários, os quais dedicaram-se afanosamente a
adulterar e falsificar os documentos antigos com o fim de pô-los de acordo com os
seus cânones.
O piedoso e culto bispo de Cesaréia, Eusébio, como muitos outros
tonsurados, receberam ordens papais para realizar modificações em importantes
papéis da época, adulterando-os e emendando-os segundo suas conveniências.
Graças a esses criminosos arranjos, a Igreja terminaria autenticando
impunemente sua novela religiosa sobre Jesus Cristo, sua família, seus discípulos
e o seu tempo.
Conan Doyle imortalizou o seu personagem, Sherlock Holmes, assim como
Goethe ao seu Werther. Deram-lhes vida e movimento como se fossem pessoas
reais, de carne e ossos. Muitos outros escritores imortalizaram-se também através
de suas obras, contudo, sempre ficou patente serem elas pura ficção, sem
qualquer elo que as ligue com a vida real. Produzem um trabalho honesto e
honrado aqueles que assim procedem, ao contrário daqueles que deturpam os
trabalhos assinados por eminentes escritores, com o objetivo premeditado de
iludir a boa fé do próximo. E procedimento que, além de criminoso, revela a
incapacidade intelectual daqueles que precisam se valer de tais meios para
alcançar seus escusos objetivos.
Berson, citado por Jean Guitton em “Jesus”, disse que a inigualável
humildade de Jesus dispensaria a historicidade; entretanto, erigiu os Evangelhos
como documento indiscutível como prova, o que a ciência histórica de hoje
rejeita. Só depois de muito entrado em anos é que se tornaria indiferente para
com a pirracenta crença religiosa dos seus antepassados, como aconteceu com
mentes excepcionalmente cultas, tornadas ilustres pelo saber e pelo conhecimento
e não apenas pelo dinheiro.
Diante da história, do conhecimento racional e científico que presidem aos
atos da vida humana, muitos já se convenceram da primária e irreal origem do
cristianismo, o qual nada mais é do que uma síntese do judaísmo com o
paganismo e a idolatria greco-romana do século I.
Graças ao trabalho de notáveis mestre de Filosofia e Teologia da Escola de
Tübíngen, na Alemanha, ficou provado que os Evangelhos e mesmo toda a Bíblia
não possuem valor histórico, pondo-se em dúvida conseqüentemente tudo quanto
a Igreja impôs como verdade sobre Jesus Cristo. Tudo o que consta dos
Evangelhos e do Novo Testamento são apenas arranjos, adaptações e ficções,
como o próprio Jesus Cristo o foi.
Através da pesquisa histórica e de exames grafotécnicos ficou evidenciado
que os escritos acima referidos são apócrifos. De sorte que, não servindo como
documentos autênticos, devem ser rejeitados pela ciência. Jean Guitton diz que o
problema de Jesus varia e acordo com o ângulo sob o qual seja examinado:
histórico, filosófico ou teológico.
A história exige provas reais, segundo as quais se evidenciem os movimentos
da pessoa ou do herói no palco da vida humana, praticando todos os atos a ela
concernentes, em todos os seus altos e baixos. Pierre Couchoud, igualmente citado
por Guitton, sendo médico e filósofo, considerou Jesus como tendo sido “a maior
existência que já houve, o maior habitante da terra”, entretanto, acrescentou: “não
existiu no sentido histórico da palavra: não nasceu. Não sofreu sob Pôncio Pilatos,
sendo tudo uma fabulação mítica”.
A passagem de Jesus pela terra seria o milagre dos milagres: “o continente,
embora fosse o menor, contivera o conteúdo, que era o maior!” A Filosofia quer
fatos para examinar e explicar à luz da razão, generalizando-o. No que se refere à
existência de Jesus, é patente a impossibilidade de generalização, porquanto, na
qualidade de mito, como os milhares que o antecederam, sua personalidade é
apenas fictícia, por conseguinte, nenhum material pode oferecer à Filosofia para
ser sistematizado, aprofundado ou explicado.
No tocante à Teologia, cabe-lhe apenas a parte doutrinária acerca das coisas
divinas. A ela, interessa apenas incutir nas mentes os seus princípios, sem,
contudo, procurar neles o que possa existir de concreto, o que inclusive seria
contrário aos interesses materiais, daqueles aos quais aproveita a religião. Os
Enciclopedistas mostraram como eram tolos e irracionais os dogmas da Igreja,
lembrando ainda que ela era um dos mais fortes pilares do feudalismo
escravocrata.
Voltaire mostrou as coincidências entre o Evangelho de João e os escritos de
Filon, lembrando ter sido ele um filósofo grego de ascendência judia, cujo pai, um
outro judeu culto, teria sido contemporâneo de Jesus, se ele tivesse realmente
existido. A filosofia religiosa de Filon era a mesma do cristianismo, tanto que
inicialmente foi cogitada sua inclusão entre os fundadores da nova crença.
Contudo, após exame rigoroso de sua obra, foram encontradas idéias opostas aos
interesses materiais dos lideres cristãos da época.
Devemos aos Enciclopedistas, bem como a Voltaire, o incentivo para que
muitos pensadores futuros pudessem desenvolver um trabalho livre, na pesquisa
da verdade. As convicções de Voltaire são o fruto de profundo estudo das obras
de Filon. Os racionalistas, posteriormente, servindo-se de seus escritos,
concluíram que a Igreja criou seus dogmas de acordo com a lenda e o mito,
impondo-os a ferro e fogo.
Bauer, aplicando os princípios hegelianos na Universidade de Tübingen,
concluiu que os Evangelhos haviam sido escritos sob a influência judia, de acordo
com seu gosto. Posteriormente, interesses materiais e políticos motivaram
alterações nos mesmos. Em vista de tais interesses é que Pedro, o pregador do
cristianismo nascente, que era pró-judeu, teve de ser substituído por Paulo,
favorável aos romanos. E Marcião teria sido o autor dos escritos atribuídos ao
inexistente Paulo.
O mérito da Escola de Tübingen consiste em haver provado que os
Evangelhos são apócrifos, e assim não servem como documento aceitável pela
história. Levando ao conhecimento do mundo livre que os fundamentos do
cristianismo são mistificações puras, os mestres da referida Escola abalaram os
alicerces de uma empresa, que há séculos explora a humanidade crente, vendendo
o nome de Deus a grosso e a varejo.
Tudo nos leva a crer que, no futuro, o conhecimento científico exigirá bases
sólidas para todas as coisas, quando então as religiões não mais prevalecerão,
porquanto, não poderão contribuir para a ciência ou para a história, com
qualquer argumento sólido e fiel.
Ademais, não nos parece lógico que o homem atual, o qual já atingiu um tão
elevado nível de desenvolvimento, o que se verifica em todos os setores do
conhecimento, tais como científico, tecnológico e filosófico, permaneça preso a
crenças em deuses inexistentes, em mitos e tabus.
Diz-se que a Bíblia, o livro sagrado dos cristãos, do qual se valem eles para
provar a existência de seu Deus e Jesus Cristo, seu filho unigênito, foi escrito sob a
inspiração divina. O Próprio Deus tê-lo-ia escrito, através de homens inspirados
por ele, claro. A doutrina cristã ensina que Deus, além de onipotente, é
onipresente e onisciente. Sendo dotado de tais atributos – onisciência e
onipresença –, seria de se esperar que Deus, ao ditar aos homens inspirados o que
deveriam escrever, não se restringisse apenas ao relato das coisas, fatos ou lugares
então conhecidos pelos homens.
Sendo onipresente, deveria estar no universo inteiro. Conhecê-lo e levá-lo ao
conhecimento dos homens, e não apenas limitar-se a falar dos povos ou lugares
que todos conheciam ou sabiam existir. Sendo onisciente, deveria saber de todas s
coisas de modo certo, correto, exato, e assim inspirar ou ensinar.
Todavia, aconteceu justamente o contrário. A Bíblia, escrita por homens
inspirados por Deus onipresente e onisciente, está repleta de erros, os mais
vulgares e incoerentes, revelando total ignorância acerca da verdade e de tudo
mais.
Vejamos apenas um exemplo. Diz a Bíblia que o sol, a lua e as estrelas
foram criadas em função da terra: para iluminá-la. Seria o centro do universo,
então, o que é totalmente falso. Hoje, ou melhor, há muito tempo, todos sabemos
que a terra é apenas um grão de areia perdido na imensidão do universo, sendo
mesmo uma das menores porções que o compõe, inclusive dentro do sistema solar
de que faz parte.
Como teria Josué feito parar o sol, a fim de prolongar o dia e ganhar sua
batalha contra os canamitas, sem acarretar uma catástrofe? Decididamente,
quem escreveu tais absurdos, sendo homem, sujeito a falhas e erros, é perdoável.
Entretanto, sendo um Deus onipresente e onisciente, ou por sua inspiração, é
inconcebível. E mais inconcebível ainda é que o homem moderno permaneça
escravo desta ou de qualquer outra religião. Dispondo de modernos meios de
difusão e divulgação da cultura, o homem não pode ignorar o quanto é falsa a
doutrina cristã, além de absurda, o mesmo estendendo-se a qualquer outra forma
de culto ou religião. Como entender que sendo Deus onipresente e onisciente, não
saberia que todos os corpos do universo possuem movimento, e que este os
mantém dentro de sua órbita, sem atropelos ou abalroamento?
Quando Jeová resolveu disciplinar o comportamento dos hebreus, marcou
encontro com Moisés, no Monte Sinai, para lhe entregar as tábuas da lei. Fato
idêntico acontecera muito antes, quando Hamurabi teria recebido das mãos do
deus Schamash a legislação dos babilônios no século XVII a.C.. A mesma foi
encontrada em Susa, uma das grandes metrópoles do então poderoso império
babilônio, encontrando-se atualmente guardada no Museu do Louvre, em Paris.
No que concerne aos Evangelhos, foram escritos em número de 315,
copiando-se sempre uns aos outros. No Concílio de Nicéia, tal número foi
reduzido para 40, e destes foram sorteados os 4 que até hoje estão vigorando.
A. Laterre, entre outros escritores, assinala ter sido o Evangelho de Marcos
o mais antigo, e haver servido de paradigma para os outros, os quais não
guardaram sequer fidelidade ao original, dando margem a choques e
entrechoques de doutrina.
Após o Evangelho de Marcos, começaram a surgir os demais que,
alcançando elevado número, foram reduzidos. A escolha não visou os melhores, o
que seria lógico, mas baseou-se tão-somente no prestigio político dos bispos das
regiões onde haviam sido compostos.
A. Laterre patenteou igualmente, em “Jesus e sua doutrina”, que a lenda
composta pelos fundadores do cristianismo, para ser admitida pelos homens como
verdade, fora copiada de fontes mitológicas muito anteriores ao próprio
judaísmo, remontando aos antigos deuses hindus, persas ou chineses.
No século II, quando começou a aparecer a biografia de Jesus, havia apenas
o interesse político e material em se manter a sua santa personalidade idealizada.
Constantino, no século IV, tendo verificado que suas legiões haviam-se tornado
reticentes no cumprimento de suas ordens contra os cristãos, resolveu mudar de
tática e aderir ao cristianismo. Percebendo que os bispos de Alexandria,
Jerusalém, Edessa e Roma tinham a força necessária para fazer-lhe oposição,
sentiu-se na contingência de ceder politicamente, com o objetivo de conseguir
obediência total e unificar o império. De sorte que sua adesão ou conversão ao
cristianismo não se baseou em uma convicção intima, espiritual, porém, resultou
de conveniências políticas.
Embora não crendo na religião cristã, percebeu que a cruz dar-lhe-ia a
força que lhe faltava para tornar-se o imperador único e obedecido cegamente.
Daí a história do sonho que tivera antes de uma batalha, segundo o qual vira a
cruz desenhada no céu e estas palavras escritas abaixo: “in hoc signo vincis”, com
este sinal, vencerás. Não era cristão verdadeiro, apenas fingia sê-lo para conseguir
os seus objetivos.
Dujardin conta-nos que o cristianismo só surgiu a partir do ano 30, graças a
um rito em que se via a morte e a ressurreição de Jesus, o qual seria uma
divindade pré-cristã. Nesta seita, os seus adeptos denominavam-se apóstolos,
significando missionários, os que traziam uma mensagem nova. Os apóstolos
desse Jesus juravam terem-no visto, após sua morte, ressuscitar e ascender ao
céu. Entretanto, não era este o Jesus dos cristãos.
O Padre Aífred Loisy, diante do enorme descrédito que o mito do
cristianismo vinha sofrendo nos meios cultos de Paris, resolveu pesquisar-lhe as
origens, visando assim desfazer as objeções apresentadas de modo seguro e bem
fundamentado. Buscava a verdade para mostrá-la aos demais. Entretanto, ao
fazer seus estudos, o Padre Loisy constatou que realmente a crítica havia se
baseado em fatos incontestáveis. Por uma questão de honra, não poderia ocultar o
resultado de suas pesquisas, publicando-o logo em seguida. Sendo tal resultado
contrário fundamentalmente aos cânones da Igreja, foi expulso de sua cátedra de
Filosofia, na Universidade de Paris, e excomungado pelo Papa, em 1908.
O Pe. Loisy havia concluído que os documentos nos quais a Igreja firmarase para organizar sua doutrina provieram do ritual essênio. Jesus Cristo não
tivera vida física. Era apenas o reaproveitamento da lenda essênia do Crestus, o
seu Messias. Verificou-se também que as Paulinianas, de origem insegura, haviam
sido refundidas em vários pontos fundamentais e por diversas vezes, antes de
serem incluídas definitivamente nos Evangelhos. Do mesmo modo chegou à
conclusão de que os Evangelhos não poderiam servir de base para a história, nem
para provar a vida de Jesus, dada a sua inautenticidade.
Por sorte sua, já não mais existia a Santa Inquisição; do contrário, o sábio
Padre Loisy teria sido queimado vivo. Os documentos relativos ao governo de
Pilatos, na Judéia, nada relatam a respeito de alguém que, se intitulando de Jesus
Cristo, o Messias ou o enviado de Deus, tenha sido preso, condenado e crucificado
com assentimento ou mesmo contra sua vontade, conforme narram os evangelhos.
Não tomou conhecimento jamais de que um homem excepcional praticasse coisas
maravilhosas e sobrenaturais, ressuscitando mortos e curando doentes ao simples
toque de suas mãos, ou com uma palavra, apenas.
Se Pôncio Pilatos, cuja existência é real e historicamente provável, que
estava no centro dos acontecimentos da época como governador da Judéia,
ignorou completamente a existência tumultuada de Jesus, é que de fato ele não
existiu. Alguém que, pelos atos que lhe são atribuídos, chega mesmo ao cúmulo de
ser aclamado “Rei dos Judeus” por uma multidão exaltada, como ele o foi, não
poderia passar despercebido pelo governador da região.
O imperador Tibério, inclusive, jamais soube de tais ocorrências na Judéia.
Estranho que ninguém o informasse de que um povo, que estava sob o seu
domínio, aclamava um novo rei. Ilógico. A ele, Tibério, é que caberia nomear um
rei, governador ou procurador.
Prosper Alfaric, em L'Ecole de la Raison, assinala as invencíveis
dificuldades do cristianismo em conciliar a fé com a razão. Por isso, a nova crença
teve de apoderar-se das lendas e crenças dos deuses solares, tais como Osíris,
Mitra, Ísis, Átis e Hórus, quando da elaboração de sua doutrina. Expôs,
igualmente, que os documentos descobertos em Coumrã, em 1947, eram o elo que
faltava para patentear que Cristo é o Crestus dos essênios, uma outra seita judia.
O cristianismo nada mais é, então, do que o sincretismo das diversas seitas
judias, misturadas às crenças e religiões dos deuses solares, por serem as religiões
que vinham predominando há séculos. A palavra “evangelho” em grego significa
“boa nova”, já figura na Odisséia de Homero, Século XII, a.C.. Foi depois
encontrada também numa inscrição em Priene, na Jônia, numa frase
comemorativa e de endeusamento de Augusto, no seu aniversário, significando a
“boa nova” no trono. E isto ocorreu muito antes de idealizarem Jesus Cristo.
Conforme já mencionamos anteriormente, no inicio do cristianismo, os
evangelhos eram em número de 315, sendo posteriormente reduzidos para 4, no
Concílio de Nicéia. Tal número indica perfeitamente as várias formas de
interpretação local das crenças religiosas da orla mediterrânea acerca da idéia
messiânica lançada pelos sacerdotes judeus. Sem dúvida, este fato deve ter levado
Irineu a escrever o seguinte: “Há apenas 4 Evangelhos, nem mais um, nem menos
um, e que só pessoas de espírito leviano, os ignorantes e os insolentes é que andam
falseando a verdade”. A verdade da Igreja, dizemos nós.
Havia, então, os Evangelhos dos naziazenos, dos judeus, dos egípcios, dos
ebionistas, o de Pedro, o de Barnabé, entre outros, os quais foram queimados,
restando apenas os 4 sorteados e oficializados no Concílio de Nicéia. Celso,
erudito romano, contemporâneo de Irineu, entre os anos 170 e 180, disse: “Certos
fiéis modificaram o primeiro texto dos Evangelhos, três, quatro e mais vezes, para
poder assim subtrai-los às refutações”.
Foi necessária uma cuidadosa triagem de todos eles, visando retirar as
divergências mais acentuadas, sendo adotada a de Hesíquies, de Alexandria; e de
Pânfilo, de Cesaréía e a de Luciano, de Antióquia. Mesmo assim, só na de Luciano
existem 3500 passagens redigidas diferentemente. Disso resulta que, mesmo para
os Padres da Igreja, os Evangelhos não são fonte segura e original.
Os Evangelhos que trazem a palavra “segundo”, que em grego é “cata”, não
vieram diretamente dos pretensos evangelistas. A discutível origem dos
Evangelhos explica porque os documentos mais antigos não fazem referência à
vida terrena de Jesus. Nos Evangelhos, as contradições são encontradas com
muita freqüência. Em Marcos, por exemplo, em 1:1-17: “a linhagem de Jesus vem
de Abraão, em 42 gerações”; ao passo que em Lucas 2:23-28 lê-se que proviera
diretamente de Adão e Eva, sendo que de Abraão a Jesus teriam havido 43
gerações.
Eusébio, comentando o assunto e não sabendo como dirimir a questão,
disse: “Seja lá o que for, só o Evangelho anuncia a verdade”.(?) Tais divergências,
entretanto, parecem indicar que os Evangelhos não se destinavam inicialmente à
posteridade, visando tão-somente a catequese imediata de povos isolados uns dos
outros. Os escritos destinados a um povo dificilmente seriam conhecidos dos
outros.
O Evangelho de Mateus teria sido destinado aos judeus, arranjado para
agradá-los. Por isso, não fala nos vaticínios nem no Messias. Por isso ainda é que
puseram na boca de Jesus as palavras seguintes: “Não vim para abolir as leis dos
profetas, mas sim para cumpri-las”. Tudo indica ter sido feito em Alexandria,
porquanto, o original em hebraico jamais existiu. Baur provou, entretanto, que as
Epístolas são anteriores aos Evangelhos e o Apocalipse, o mais antigo de todos, do
ano 68. Todos os escritos do cristianismo desse tempo falam apenas no Logos, o
Cordeiro Pascoal, imolado desde o princípio dos tempos, referindo-se à
personalidade ideal de Jesus Cristo.
Justino, filósofo e apologista cristão, escrevendo em torno do ano 150, não
emprega a palavra Evangelho nem uma vez. Isto mostra que ele, ainda nessa
época, ignorava-a, não tendo conhecimento de sua existência. Justino ignorava
igualmente as paulinianas, Paulo e os Atos dos apóstolos, o que prova que foram
inventados posteriormente.
Marcião, no ano de 140, trouxe as Epístolas a Roma, as quais não foram
inicialmente consideradas merecedoras de fé. Sofreu rigorosa triagem, sendo
cortada muita coisa que não convinha à Igreja. Marcião fora contemporâneo de
Justino. As Epístolas trazidas por ele eram endereçadas aos Romanos, aos
Gálatas e aos Coríntios. Apresentavam Jesus como um Deus encarnado. Teria
nascido de uma mulher e sofrera o martírio para resgatar os pecados da
humanidade, isto é, dos ocidentais, porque os orientais não tomaram
conhecimento da personalidade de Jesus, seus milagres e sua pregação e do seu
romance religioso.
Engels constatou que as Epístolas são 60 anos mais novas do que o
Apocalipse. E, ainda, os cristãos contrários ao bispo de Roma rejeitaram-nas
durante séculos. Foi o que se deu com os ebionitas e os severianos, conforme
Eusébio escreveu e Justino confirmou. O Apocalipse fala em um cordeiro com
sete cornos e sete olhos, o qual foi imolado desde a fundação do mundo (13-8). O
Apocalipse foi composto apenas em 68, sendo o mais antigo de todos os escritos
cristãos.
Lutero e Swinglio disseram que o Apocalipse foi incluído nos Evangelhos
por engano, tendo a Igreja de inventar, por isso, a ordem cronológica dos seus
livros. Hoje se pode provar que o Apocalipse surgiu entre os anos 68 e 70; os
Evangelhos, no século II, e os Atos dos Apóstolos são os mais recentes de todos.
Eusébio em sua “História Eclesiástica”, 4-23, diz: “Compus as Epistolas conforme a
vontade do irmão: mas os ‘apóstolos do diabo' tacharam-nas de inverídicas contandolhes certas coisas e acrescentando outras”.
Irineu, ao mesmo tempo, ordenava ao copista: “Confronta toda cópia com
este original utilizado por ti, e corrige-a cuidadosamente”. Não te esqueças de
reproduzir em tua cópia o pedido que te faço. Essas citações servem para
medirmos que tipo de santidade havia entre os bispos e seus calígrafos, na arte
eusebiana de eméritos falsificadores de documentos importantes.
Com isto, deram autenticidade a todas as invencionices do cristianismo e
legitimaram sua liderança na posse material do que pertencia aos outros. Irineu
ainda registrou o seguinte: “Ouvi dizer que não acreditam esteja isto nos
Evangelhos, se não se encontrar nos arquivos”. Ao que Eusébio respondera: “É
preciso demonstrá-lo”.
Uma excelente prova da existência de Jesus seria uma comunicação feita
por Pilatos a seu respeito. Entretanto, tal documento não existe. Justino, instado
pelos falsificadores, referiu-se a Jesus, contudo, dada a sua honradez pessoal, no
caso do seu escrito ser autêntico, fê-lo de modo inseguro e hesitante. Tertuliano,
que é mais seguro do que ele, afirmou que esse valioso documento deverá ser
encontrado nos arquivos imperiais. Contudo, a Igreja apesar de haver se
apoderado de Roma a partir do século IV, não teve a coragem de apresentar essa
indispensável jóia documentária, a qual de certo seria refutada pela ciência e pelo
conhecimento.
Mesmo assim, a partir do século IV, essa prova espúria foi produzida;
contudo, a Igreja não teve a petulância de submetê-la à grafotécnica. Daniel Rops,
embora fosse um apaixonado cristão, reconheceu a veracidade dessa falsificação
dizendo que: “a que arranjaram era uma carta enviada a Cláudio, que reinou de
41 a 44, e não a Tibério, sob cujo governo Pilatos fora Procurador da Judéia”.
No Apocalipse João, escreveu: “Se alguém acrescentar alguma coisa nisto,
Deus castigará com as penas descritas neste livro; se alguém cortar qualquer
coisa, Deus cortará sua parte na árvore da vida e na cidade santa descrita neste
livro”. Ai está mais uma prova de como as falsificações eram usuais na fase da
Igreja nascente. O mais interessante é essa gente falar em Deus, como se fosse
coisa cuja existência já tivesse sido provada, não se justificando mais que o
conhecimento e a razão estudassem as bases dessa existência.
Os padres mostravam-se estar de tal modo familiarizados com Deus e sua
vontade que por isso achavam certo e justo julgar e queimar vivos a todos os que
deles discordassem. Entretanto, embora dessem a impressão de estar em contato
com Deus, usavam de processos criminosos, dos quais todos os ociosos usam para
sacar contra o seu meio social. Assim é que hoje se pode provar que o cristianismo
foi construído sobre um terreno atapetado de mentiras, falsificações e
mistificações.
O Novo Testamento atualmente oficializado é cópia de um texto grego do
século IV. É exatamente o sinótico descoberto em 1859, em um convento do
Monte Sinai, onde vem informada a origem grega. Os originais do mesmo estão
guardados nos museus do Vaticano e de Londres. Foram publicados com as
devidas corrigendas, feitas por Hesíquios, de Alexandria.
Um papiro encontrado no Egito, em 1931, apresenta-nos uma ordem
cronológica totalmente diferente da oficializada pela Igreja. Atualmente, as fontes
testamentárias aceitáveis são as do século II em diante, provindas de Justino,
Taciano, Atenágoras, Irineu e outros, os quais são considerados os verdadeiros
criadores do cristianismo.
Taciano foi o “bem amado” discípulo de Justino. Ele, entretanto, omite a
genealogia de Jesus, dizendo apenas que ele descendia de reis judeus, de modo
muito vago, divergindo assim da orientação oficializada. Irineu foi que
sistematizou o cristianismo. Foi ele a fonte em que Eusébio inspirou-se. Por isso é
que daí em diante seria obrigatória a confrontação entre os dois textos. O bispo de
Cesaréia fora encarregado pelo todo poderoso bispo de Roma de falsificar tudo
quanto prejudicasse os interesses materiais da Igreja de então. De modo que, por
onde passou a mão de Eusébio, foi tudo conspurcado criminosamente contra a
verdade.
Eusébio foi realmente um bispo que cria apaixonadamente na divindade de
Jesus Cristo, contudo, já conhecia o poder que possuía o bispo de Roma. Graças a
Eusébio e outros iguais a ele, tornou-se uma temeridade descrer-se na verdade
oficializada pela Igreja. Após tantas falsificações, todos ficaram realmente
inseguros quanto à verdadeira origem do cristianismo, tal a tumultuação
impressa por Eusébio.
Tertuliano e Clemente de Alexandria lutaram um pouco para sanar essas
fontes, anulando boa parte do que restara das criminosas unhas de Eusébio.
Jacob Buckhardt, examinando essa documentação, concluiu que o Novo
Testamento merece confiança.
Em Coumrã, em 1947, como á vimos, foram encontrados documentos com
escrita em hebraico e não em grego, falando em Crestus não em Cristo. Ali,
Habacuc refere-se à perseguição sofrida por essa seita judia, assim como a morte
de Crestus, igualmente traído por Judas, um sacerdote dissidente. A Igreja, ao ter
conhecimento da existência de tais documentos, pretendeu informar que Crestus
era o Cristo de sua criação, contudo, verificou-se que eles datavam de pelo menos
um século antes do lançamento do romance do Gólgota. Além disso, continham
revelações contrárias aos interesses da Igreja. Eles relatam as lutas de morte em
que viviam as diversas seitas do judaísmo.
A Didaquê não pôde entrar nos Evangelhos, devendo silenciar
completamente a respeito da pretensa passagem de Jesus pela terra. De qualquer
forma, a lenda que existia em torno no nome de Crestus foi aproveitada na época
porque, sendo uma seita comunista, suas pregações iriam servir para atrair ao
cristianismo a atenção dos escravos, em luta contra os seus senhores, a eterna luta
do pobre contra o rico.
Escavações feitas em Jerusalém desenterraram velhos cemitérios, onde
foram encontradas muitas cruzes do século I e mesmo anteriores. Todavia, apesar
de já ser usada nessa época, só a partir do século IV é que a Igreja iria oficializála como seu emblema. Levantamentos arqueológicos posteriores provariam que a
cruz já era um piedoso emblema usado desde há milênios.
Orígenes, polemizando contra Celso, um dos mais cultos escritores romanos
de seu tempo, e que mais combateram as bases falsas da Igreja e de Jesus Cristo,
acusa Flávio Josefo por não haver admitido a existência de Jesus. Flávio não
poderia referir-se a Jesus nem ao cristianismo porque ambos foram arranjados
depois de sua morte. Assim, os livros de Flávio que falam de Jesus foram
compostos, ou melhor, falsificados muito tempo após sua morte, no decorrer do
século III, conforme as conclusões alcançadas pelos mestres da Escola de
Tübingen.
Sêneca, que foi preceptor de Nero, suicidando-se para não ser assassinado
por ele, já pensava mais ou menos como os cristãos. Do que se conclui que as
idéias de que se serviu o cristianismo para se fundamentar são emprestadas das
lendas que giravam em torno de outros Cristos Messias, assim como de outros
cultos. Nada tendo, portanto, de original. Sêneca acreditava em um Deus único e
imaterializável.
Por tudo isso, vemos que os líderes do cristianismo nada mais fizeram do
que se apropriar das idéias já existentes. Apenas tiveram o cuidado de promover
as modificações necessárias, com vistas a melhor consecução dos seus objetivos
materiais. Sêneca, embora não fazendo em seus escritos qualquer alusão à
existência de Jesus Cristo, teve muitos de seus escritos aproveitados pelo
cristianismo nascente.
Em Tácito, escritor do século II, encontram-se referências a respeito de
Jesus e seus adeptos. Contudo, exames grafotécnicos demonstraram que tais
referências são falsas, e resultam de visível adulteração dos seus escritos.
Suetônio, que existiu quando Jesus teria vivido, escreveu a “História dos Doze
Césares”, relatando os fatos de seu tempo. Referindo-se aos judeus e sua religião,
apenas falou em “distúrbios de judeus exaltados em torno de Crestus”. Por aí se
vê que ele não se referia aos cristãos, porquanto, eles sempre se mostraram
humildes e obedientes à ordem constituída, evidentemente a fim de passar, tanto
quanto possível, despercebidos. Desse modo, iriam solapando o poder imperial,
manhosamente, como realmente aconteceu.
Suetônio escreveu ainda que haviam supliciado alguns cristãos que eram
gente que se dedicava demasiado a tolas superstições, orientadas por uma idéia
malfazeja. Disse mais que Nero tivera de mandar expulsar os judeus de Roma,
porque eles estavam sempre se sublevando, instigados por Crestus. Os cristãos
estavam sempre organizados de modo a atrair aos escravos, sem, contudo,
desagradar às autoridades. Assim sendo, jamais provocariam tumultos. Os
cristãos aos quais Suetônio refere-se poderiam ser os zilotas, os essênios ou os
terapeutas, mas nunca os cristãos de Jesus Cristo, porquanto, conforme já
dissemos acima, os cristãos eram ensinados a não provocar desordens.
Plínio, o Jovem, viveu entre os anos 62 e 113, tendo sido subpretor da
Bitínia. Na carta enviada ao imperador, perguntava como agir em relação aos
cristãos, ao que Trajano teria respondido que agisse apenas contra os que não
renegassem à nova fé. Entretanto, não ficou evidenciado a quais cristãos,
exatamente, eram feitas as referências: se aos crestãos ou aos cristãos. De
qualquer forma, a carta em questão, após ser submetida a exames grafotécnicos e
métodos rádio-carbônicos, revelou haver sido falsificada.
Justiniano, Imperador romano, mandou queimar os escritos de Porfírio,
através de um edito, em 448, alegando que: “impelido pela loucura, escrevera
contra a santa fé cristã”.
Vespasiano, ao morrer, disse: “Que desgraça! Acreditei que me havia
tornado um deus imortal!”. Suas palavras justificam-se pela credulidade
supersticiosa. Partindo do preceito ensinado pelos judeus, aliás, um falso preceito,
de que Cristo havia subido ao céu com corpo e alma, não seria de estranhar que
os imperadores pretendessem tornar-se deuses, a fim de escapar ao inapelável
destino dos que nascem: a morte.
Calígula, por isso, fizera-se coroar como Deus-Sol, o Sol Invictus, o Helius.
Nessa época o Império romano, embora em declínio, ainda dominava uma porção
de províncias afastadas de Roma. O homem espoliado pela força bruta, unificada
em torno das regiões, sentindo não ser possível contar com a justiça humana,
passa a esperar pela justiça dos deuses. Mas, mesmo assim, teriam de apelar para
os deuses dos pobres e não dos ricos, privilegiados e poderosos.
Conta a lenda que Osíris, o deus solar dos egípcios, foi morto por seu irmão
Seth, o qual dividiu o corpo em 14 pedaços e os espalhou pelo mundo afora. Ísis,
sua esposa e irmã, saiu em busca dos pedaços, levando seu filho Hórus ao colo.
Todos os anos o povo fazia a festa de Ísis, relembrando o acontecimento. Havendo
conseguido juntar todas a partes do corpo, Osíris ressuscitou, passando a ser
incensado como o deus da morte e da sombra. Fora uma ressurreição conseguida
pelo amor da esposa. Ísis separou a terra do céu, traçou a órbita dos astros, criou
a navegação e destruiu todos os tiranos. Comandava os rios, as vagas e os ventos.
Seu culto assemelhava-se muito ao de Astartê, de Adônis e de Átis, religiões muito
aparentadas entre si, dominando toda a orla do Mediterrâneo. Seu culto era uma
reminiscência do culto de Tamus, um deus babilônio, cuja doutrina ensinava que
os deuses nasciam e renasciam, ressuscitando-se.
O judaísmo e, mais tarde, o cristianismo, beberam dessas fontes grande
parte da sua liturgia. No cristianismo, encontramos Ísis representada pela Virgem
Maria e Hórus transformado em Jesus Cristo. Maria e Jesus, fugindo de Herodes
e indo para o Egito, é a mesma lenda de Ísis e Hórus, fugindo de Seth.
O Deus-Homem que morria e ressuscitava já era uma velha “crença
religiosa” naqueles tempos. O cristianismo apenas deu novos nomes e novas
roupagens aos deuses de velhas crenças. A revelação de Deus aos homens é outra
lenda cuja origem perde-se na noite dos tempos. Muitos séculos antes do
surgimento do judaísmo, Zoroastro ou Zaratrusta havia criado uma religião,
segundo a qual havia uma eterna luta entre o bem e o mal. Aura Mazzda ou
Ormuzd, o deus do fogo e da luz, representava o bem em luta contra Angra
Maniú ou Iarina, o deus das trevas. Nessa luta, Ormuzd foi auxiliado por seu filho
Mitra, o espírito do bem e da justiça, mediador entre Ormuzd e os homens.
Ormuzd mandou seu filho à terra, o qual nasceu de uma virgem pura e bela, que
o concebeu através de um raio de sol. Morreu e ressuscitou em seguida.
Essa religião foi levada para Sicília pelos marinheiros persas, nos últimos
séculos da era passada.
Inventando o cristianismo, os judeus nada mais fizeram do que sincretizar o
judaísmo ortodoxo com a religião de Mitra, sem esquecer de Osíris e Átis, cujas
religiões eram também muito aceitas em Roma e Alexandria. Vestígios do
mitraísmo foram encontrados em escavações recentes, feitas em Óstia, os quais
datam do século I. O mitraísmo era praticado em catacumbas, em grutas e em
subterrâneos. O cristianismo copiou-lhe a prática. Daí porque disseram ter Jesus
nascido em uma gruta e, nos primeiros tempos, o cristianismo foi praticado em
catacumbas.
Assim sendo, os cristãos foram para as catacumbas, não fugindo das
autoridades imperiais, mas tão-somente para observar o ritual mitraico. Os
mitraicos também davam seus banquetes subterrâneos, eram os banquetes
pessoais, comuns nos ritos solares e no judaísmo. Em ambos, havia o rito do pão e
do vinho.
Mitra, o Sol Invictos, era festejado em dezembro, como Jesus. Outras
aproximações entre o culto de Mitra e o de Jesus, no cristianismo: o uso da cruz
do Sol Radiante, a cruz do Sol Invictus a qual expandia raios; o uso da pia
batismal com a água benta, as refeições comunais, a destinação do domingo para
o descanso em homenagem ao Senhor; a águia e o touro do ritual mitraico foram
tomados para símbolos dos evangelistas Marcos e Lucas. Antigos quadros e
painéis trazem a figura dos evangelistas com a cabeça desses animais.
Do judaísmo, copiaram a crença da imortalidade da alma, a vida no além, o
Inferno, o diabo, a ressurreição, o dia do juízo; práticas e crenças igualmente
existentes no mitraísmo. Graças a esses espertos arranjos, durante muito tempo, o
crente freqüentou indiferentemente o templo cristão, de Mitra ou de Ísis, crendo
estar na Igreja antiga, onde iam consultar o oráculo.
Por isso, Teofilo, em Alexandria, mandou construir um templo cristão ao
lado de um templo de Ísis, onde se anunciava o oráculo quando as profecias
vinham de uma revelação astral, mediante a camuflagem das vozes de antigos
bispos ali enterrados. Uma das coisas que favoreceram o cristianismo foi a
abolição do sacrifício sangrento. Muitos correram a abraçar a nova crença para
escapar da morte em um desses atos propiciatórios.
Spinoza e Hobbes, no século XVIII, mostraram que o Pentateuco foi
composto no século II a.C. graças ao que o sacerdote judeu havia aprendido no
cativeiro babilônio, fato que aconteceu no século IV a.C. Em seguida, mostraram
uma série de contradições quanto à cronologia. Em uma das fontes, apresentam
Adão e Eva como tendo sido criados ao mesmo tempo, enquanto em outra
informam que ela havia sido feita de uma costela de Adão. Em uma, o homem
aparece antes dos outros animais, na outra os animais surgem primeiro.
Levantamentos arqueológicos do começo do século XX, levados a efeito nos
subsolos da Babilônia, provaram que o Deuteronômio resultou, em grande parte,
do que os sacerdotes judeus haviam copiado da legislação religiosa, civil e
criminal de Hamurabi, a qual por sua vez resultara do que se sabia da civilização
acádia, e que naqueles tempos já era vetusta. Isaías, ao profetizar acerca de
diversos reis de várias épocas, mostra que seu nome foi inventado séculos depois
dos fatos haverem ocorrido. Um desses reis foi Dano, rei persa que governou em
538 a.C., quando libertou os judeus do cativeiro.
Herodes morreu no ano IV a.C., foi responsabilizado pela matança dos
inocentes, para compor o controvertido romance da fuga para o Egito. Tudo o
que até agora temos relatado constitui provas evidentes de que a Bíblia não tem a
antiguidade nem a veracidade que lhe pretendem imprimir. Os zilotas que
seguiam a linha comunista dos essênios combatiam tanto os judeus ricos como a
ocupação romana. Os essênios, ao professar, faziam votos de pobreza, quando
juravam nada contar da seita para os estranhos e nada ocultar dos companheiros.
Era um dos ramos do judaísmo em que não mais se oferecia sacrifício sangrento,
o que foi copiado pelo cristianismo.
Os Evangelhos foram compostos para enquadrar Jesus no que está previsto
no versículo 17 do salmo 22. De modo que Jesus não passou de um ator arranjado
para representar o drama do Gólgota. Cumpriu as Escritas como ator e não como
sujeito de uma vida real. Reimarus, filósofo alemão que morreu em 1768, estudou
a fundo a história de Jesus. Chegou a conclusões irrefutáveis, que assombraram a
Igreja muito mais do que Copérnico ou Darwin. Disse que, se Jesus tivesse mesmo
existido, seria, quando muito, um político ambicioso que fracassara
completamente em suas conspirações contra o governo.
Emmanuel Kant foi o primeiro filósofo que conseguiu racional e
inteligentemente expulsar Jesus da história humana, através de uma
impressionante e profunda exegese do herói do cristianismo. Volney, em “As
Rumas de Palmira”, após regressar de uma longa viagem de pesquisas sobre
Antigüidade clássica pelo Oriente Médio, elaborou o trabalho acima referido, no
qual nega a existência física de Jesus Cristo.
Arthur Drews igualmente viveu muitos anos na Palestina dedicando-se ao
estudo de sua história antiga; concluiu que Jesus Cristo jamais foi um
acontecimento palestino. Examinou todos os lugares pelos quais os evangelistas
pretenderam tivesse Jesus passado. Constatou, então, que o cristianismo foi
totalmente estruturado em mitos; entretanto, organizado de modo a assumir o
aspecto de verdade incontestável, a ser imposta pela Igreja. Todavia, para sorte
nossa, homens estudiosos e inteligentes contestam as falsas verdades elaboradas
pelo cristianismo, com argumentos irretorquíveis.
Dupuis disse que, aqueles que fizeram de Jesus um homem, conseguiram
enganar tanto quanto os que o transformaram em um deus. Em suas observações,
deixa patente que o romance de Jesus nada mais é do que a repetição das velhas
lendas dos deuses solares. Vejamos suas palavras: “Quando tivermos feito ver que a
pretensa história de um deus que nasceu de uma virgem, no solstício do inverno,
depois de haver descido aos infernos, de um deus que arrasta consigo um cortejo de
doze apóstolos, – os doze signos solares – cujo chefe tem todos os atributos de Jano,
um deus vencedor do deus das trevas, que faz transitar o homem império da luz e que
repara os males da natureza, não passa de uma fábula solar... ser-lhe-á pouco menos
indiferente examinar se houve algum príncipe chamado Hércules, visto haver-se
provado que o ser consagrado por um culto, sob o nome de Jesus Cristo, é o Sol, e que
o maravilhoso da lenda ou do poema tem por objeto este astro, então parecerá que os
cristãos tem a mesma religião que os índios do Peru, a quem os primeiros fizeram
degolar”.
Albert Kalthoft diz que Jesus personifica o movimento sócio-econômico que
no século I sublevava o escravo, o pobre e o proletário. O seu messianismo foi
espertamente aproveitado pelos líderes dos judeus da diáspora, aqueles que
exploravam a desgraça do judeu pobre em benefício próprio. Acrescenta que a
divergência que existe entre os quatro evangelistas resulta das várias tendências
daquele movimento social revolucionário nascido em Roma, do qual a versão
palestina é apenas o reflexo.
Salonmon Reinach, em “Orheus”, salienta o completo silêncio dos autores
contemporâneos de Jesus Cristo acerca de sua pretensa existência. Tal silêncio
verifica-se tanto entre os escritores judeus como entre os não judeus. Examina em
profundidade as “Acta Pilati” e constata que os acontecimentos que o
cristianismo situou em seu governo não foram do que ressuscitou no equinócio da
primavera, de seu conhecimento, e assim sendo Pilatos jamais soube qualquer
coisa a respeito de Jesus Cristo.
Pierre Louis Couchoud afirma que a existência real de Jesus é
indemonstrável, do ponto de vista histórico. E acrescenta que as referências feitas
por Flávio Josefo a Jesus não passam de falsificação de textos, sobejamente
provada hoje pelos peritos da crítica histórica. Os maiores movimentos históricos
tiveram como origem os mitos, cujo papel social é dar forma aos anseios
inconscientes do povo. Compara, inclusive, a lenda de Jesus com a de Guilherme
Tell, na Suíça. Todos sabem tratar-se de uma lenda nacional, todavia, Guilherme
Tell é ali reverenciado como herói verdadeiro e real. Seu nome promove a união
política dos cantões, embora falem línguas diferentes.
É possível que o mesmo aconteça em relação a Jesus e o cristianismo.
Estando em jogo interesses de ordem social, política e, sobretudo, econômica, os
líderes cristãos preferem deixar o mito de pé, pois enquanto houver cristãos, sua
profissão estará garantida e os lucros continuarão sendo por eles auferidos.
O que se faz necessário é que o povo seja esclarecido acerca dos assuntos de
crenças e religiões nos termos da verdade, da razão e da lógica, a fim de que, se
libertando dos velhos preconceitos e tabus, possa enfim ver o mundo e as coisas
em sua realidade objetiva.
E não ignoramos qual a realidade objetiva que predomina no cristianismo:
é a exploração dos menos aquinhoados intelectual e economicamente. Quem mais
contribui para as campanhas da Igreja são aqueles que menos possuem, cuja
mente encontra-se obstruída pelas idéias e crenças religiosas. Sua pobreza
material alia-se à pobreza intelectual.
Uma boa dose de conhecimentos científicos é certamente a melhor maneira
de remover os obstáculos à libertação do homem, criados pelos lideres religiosos,
em suas pregações. Entretanto, sabemos que nem sempre é possível a aquisição de
tais conhecimentos. Muitos são os fatores que se interpõem entre o homem pobre,
o operário, o trabalhador, e a cultura. Um desses fatores, por sinal, muito
ponderável, é o econômico-financeiro. Como fazer para ir à escola, comprar
livros, etc, se tem que trabalhar duro pela vida, e o que ganha mal dá para
sobreviver?
Bem poucos são os que conseguem reunir os conhecimentos necessários que
lhe permitam enxergar mais longe e romper as invisíveis cadeias que os prendem
aos dogmas e preconceitos ultrapassados pela razão e pela ciência.
O mais cômodo para aqueles deserdados será esperar a recompensa das
agruras da vida no céu, após a morte. Afinal de contas, os padres e os pastores
estão aí para isto: vender Deus e o céu a grosso e no varejo.
Tobias Barreto escreveu estes inolvidáveis versos:
“Se é sempre o mesmo engodo;
Se o homem chora e continua escravo;
De que foi que Jesus salvar-nos veio?”
Poderá alguém
Provavelmente não.
responder
a
tal
interrogação
satisfatoriamente?
É possível que, movido pela mesma razão, Proudhon tenha escrito: “Os que
me falam em religião querem o meu dinheiro ou a minha liberdade”. Desta forma, em
poucas palavras, ficou bem claro o sentido e o objetivo da religião: subtrair ao
indivíduo a sua liberdade de pensamento e de ação, e, com ela, o seu dinheiro.
III
As Falsificações
Vimos, assim, que os únicos autores que poderiam ter escrito a respeito de
Jesus Cristo, e como tal foram apresentados pela Igreja, foram Flávio Josefo,
Tácito Suetonio e Plínio. Invocando o testamento de tais escritores, pretendeu a
Igreja provar que Jesus Cristo teve existência física, e incutir como verdade na
mente dos povos todo o romance que gira em torno da personalidade fictícia de
Jesus.
Contudo, a ciência histórica, através de métodos modernos de pesquisa,
demonstra hoje que os autores em questão foram falsificados em seus escritos.
Estão evidenciadas súbitas mudanças de assunto para intercalações feitas
posteriormente por terceiros. Após a prática da fraude, o regresso ao assunto
originalmente abordado pelo autor.
Tomemos, primeiramente, Flávio Josefo como exemplo. Ele escreveu a
história dos acontecimentos judeus na época em que pretensamente Jesus teria
existido. Os falsificadores aproveitaram-se então de seus escritos e
acrescentaram: “Naquele tempo nasceu Jesus, homem sábio, se é que se pode
chamar homem, realizando coisas admiráveis e ensinando a todos os que
quisessem inspirar-se na verdade. Não foi só seguido por muitos hebreus, como
por alguns gregos. Era o Cristo. Sendo acusado por nossos chefes do nosso país
ante Pilatos, este o fez sacrificar. Seus seguidores não o abandonaram nem mesmo
após sua morte. Vivo e ressuscitado, reapareceu ao terceiro dia após sua morte,
como o haviam predito os santos profetas, quando realiza outras mil coisas
milagrosas. A sociedade cristã, que ainda hoje subsiste, tomou dele o nome que
usa”.
Depois deste trecho, passa a expor um assunto bem diferente no qual referese a castigos militares infligidos ao populacho de Jerusalém. Mais adiante, fala de
alguém que conseguira seus intentos junto a uma certa dama fazendo-se passar
como sendo a humanização do deus Anubis, graças aos ardis dos sacerdotes de
Ísis. As palavras a Flávio atribuídas são as de um apaixonado cristão. Flávio
jamais escreveria tais palavras, porquanto, além de ser um judeu convicto, era
um homem culto e dotado de uma inteligência excepcional.
O próprio Padre Gillet reconheceu em seus escritos ter havido falsificações
nos textos de Flávio, afirmando ser inacreditável que ele seja o autor das citações
que lhe foram imputadas. Além disso, as polêmicas de Justino, Tertuliano,
Orígenes e Cipriano contra os judeus e os pagãos demonstram que Flávio não
escreveu nem uma só palavra a respeito de Jesus. Estranhando o seu silêncio,
classificaram-no de partidário e faccioso. No entanto, um escritor com o seu
mérito escreveria livros inteiros acerca de Jesus, e não apenas um trecho.
Bastaria, para isto, que o fato realmente tivesse acontecido. Seu silêncio, no caso,
é mais eloqüente do que as próprias palavras.
Exibindo os escritos de Flávio, Fócio afirmava que nenhum judeu
contemporâneo de Jesus ocupara-se dele. A luta de Fócio, que viveu entre os anos
de 820 a 895, e foi patriarca de Constantinopla, teve ensejo justamente por achar
desnecessário a Igreja lançar mãos de meios escusos para provar a existência de
Jesus. Disse que bastaria um exemplar autêntico não adulterado pela Igreja e fora
do seu alcance para por em evidência as fraudes praticadas com o objetivo de
dominar de qualquer forma. Embora crendo em Jesus Cristo, combateu
vivamente os meios sub-reptícios empregados pelos Papas, razão porque foi
destituído do patriarcado bizantino e excomungado. De suas 280 obras, apenas
restou o “Myriobiblion”, tendo o resto sido consumido, provavelmente por ordem
do Papa.
Tácito escreveu: “Nero, sem armar grande ruído, submeteu a processos e a
penas extraordinárias aos que o vulgo chamava de cristãos, por causa do ódio que
sentiam por suas atrapalhadas. O autor fora Cristo, a quem, no reinado de
Tibério, Pôncio Pilatos supliciara. Apenas reprimida essa perniciosa superstição,
fez novamente das suas, não só na Judéia, de onde proviera todo o mal, senão na
própria Roma, para onde de confluíram de todos os pontos os sectários, fazendo
coisas as mais audazes e vergonhosas. Pela confissão dos presos e pelo juízo
popular, viu-se tratar-se de incendiários professando um ódio mortal ao Gênero
humano”.
Conhecendo muito bem o grego e o latim, Tácito não confundiria
referências feitas aos seguidores de Cristo com os de Crestus. As incoerências
observadas nessa intercalação demonstram não se tratar dos cristãos de Cristo,
nem a ele se referir. Lendo-se o livro em questão, percebe-se perfeitamente o
momento da interpelação. Afirmar que fora Cristo o instigador dos arruaceiros é
uma calúnia contra o próprio Cristo. E conforme já referimos anteriormente, os
cristãos seguidores de Cristo eram muito pacatos e não procuravam despertar
atenção das autoridades para si. Como dizer em um dado momento que eles eram
retraídos e, em seguida, envolvê-los em brigas e coisas piores? É apenas mais uma
das contradições de que está repleta a história da Igreja.
Ganeval afirma que foram expulsos de Roma os hebreus e os egípcios, por
seguirem a mesma superstição. Deduz-se então que não se referia aos cristãos,
seguidores de Jesus Cristo. Referia-se aos Essênios, seguidores de Crestus, vindos
de Alexandria. A Igreja não conseguiu por as mãos nos livros de Ganeval, o que
contribuiu ponderavelmente para lançar uma luz sobre a verdade. Por
intermédio de seus escritos, surgiu a possibilidade de provar-se a quais cristãos,
exatamente, referia-se Tácito.
Suetônio teria sido mais breve em seu comentário a respeito do assunto.
Escreveu que “Roma expulsou os judeus instigados por Crestus, porque
promoviam tumultos”. É evidente, também, a falsificação praticada em uma carta
de Plínio a Trajano, quando perguntava o que fazer aos cristãos, assunto já
abordado anteriormente. O referido texto, após competente exame grafotécnico,
revelou-se adulterado. É como se Plínio quisesse demonstrar, não apenas a
existência histórica de Jesus, mas sua divindade, simbolizando a adoração dos
cristãos. É o quanto basta para evidenciar a fraude.
Se Jesus Cristo realmente tivesse existido, a Igreja não teria necessidade de
falsificar os escritos desses escritores e historiadores. Haveria, certamente, farta e
autêntica documentação a seu respeito, detalhando sua vida, suas obras, seus
ensinamentos e sua morte. Aqueles que o omitiram, se tivesse de fato existido,
teriam falado dele abundantemente. Os mínimos detalhes de sua maravilhosa
vida seriam objeto de vasta explanação. Entretanto, em documentos históricos
não se encontram referências dignas de crédito, autênticas e aceitáveis pela
história. Em tais documentos, tudo o que fala de Jesus e sua vida é produto da
má-fé, da burla, de adulterações e intercalações determinadas pelos líderes
cristãos. Tudo foi feito de modo a ocultar a verdade. Quando a verdade esta
ausente ou oculta, a mentira prevalece. E há um provérbio popular que diz: “A
mentira tem pernas curtas”. Significa que ela não vai muito longe, sem que não
seja apanhada. Em relação ao cristianismo, isto já aconteceu. Um número
crescente de pessoas vai, a cada dia que passa, tomando conhecimento da
verdade. E, assim, restam baldados os esforços da Igreja, no que concerne aos
ardis empregados na camuflagem da verdade, visando alcançar escusos objetivos.
IV
O Doloroso Silêncio Histórico
A existência de Jesus Cristo é um fato jamais registrado pela história. Os
documentos históricos que o mencionam foram falsificados por ordem da Igreja,
num esforço para provar sua pretensa existência, apesar de possuir provas de que
Jesus é um mito. E assim agiu, movida pelo desejo de resguardar interesses
materiais. Ganeval apontou a semelhança entre o culto de Jesus Cristo e o de
Serapis. Ambos são uma reencarnação do deus “Phalus”, que, por sua vez, era
uma das formas de representação do deus Sol.
Irineu chegou a afirmar que o deus dos cristãos não era homem nem
mulher. Papias cita trechos dos Evangelhos, mostrando que se referiam ao Cristo
egípcio. Referindo-se ao “logos”, que seria Jesus Cristo, disse ter sido ele apenas
uma emanação de Deus, produzida à semelhança do Sol. É bom lembrar que essas
opiniões divergentes entre si são de três teólogos do cristianismo. Essas opiniões
foram emitidas quando estava acesa a luta de desmentidos recíprocos da Igreja
contra os seus numerosos opositores, ou seja, os que desmentiam a existência
física de Jesus. Então, criaram uma filosofia abstrata, baseando-se nos escritos de
Filon.
Ganeval, baseando-se em Fócio, disse que Eudosino, Agápio, Carino,
Eulógio e outros teólogos do cristianismo primitivo não tiveram um conceito real
nem físico de Jesus Cristo. Disse mais, que Epifânio, falando sobre as seitas
heréticas dos marcionítas, valentinianos, saturninos, simonianos e outros, falava
que o redentor dos cristãos era Horus, o filho de Ísis, um dos três deuses da
trindade egípcia, que mais tarde viria a ser Serapis.
Ganeval afirmou ainda que os docetistas negavam a realidade de Jesus, e,
para refutar a negação, o IV Evangelho põe em relevo a lança que fez sair água e
sangue do corpo de Jesus, com o intuito de provar sua existência física. Segundo
Jerônimo, esses docetistas teriam sido contemporâneos dos apóstolos. Lembra
ainda que o imperador Adriano, viajando em 131 para Alexandria, declara que
“o deus dos cristãos era Serapis, e que os devotos de Serapis eram os mesmos que
se chamavam os bispos de cristãos”.
Adriano, decerto, estava com a verdade. Documentos daquela época
informam que existiam os atuais Evangelhos, assim como Tácito informa que os
hebreus e os egípcios formavam uma só superstição. Os escritos de Filon não se
referem a Jesus Cristo, conforme pretenderam fazer crer os falsificadores, mas a
Serapis. Quando havia referências aos cristãos terapeutas, afirmavam que se
falava dos cristãos de Jesus.
Por sua vez, Clemente de Alexandria e Orígenes escreveram negando Jesus
e falando em Cristo, o qual seria Crestus. No entender de Fócio, tudo isso não
passava de fabulação mítica, não tendo existido Jesus nem Cristo, de que a Igreja
criou o seu Jesus Cristo.
Duquis e Volney, fazendo o estudo da mitologia comparada, mostram de
onde retiraram Jesus Cristo: do próprio mito. Filon, escrevendo a respeito dos
cristãos terapeutas, disse que o seu teor de vida era semelhante ao dos cristãos e
essênios. Abandonavam bens e família para seguir apaixonadamente aos
sacerdotes. Epifânio escreveu que os cristãos terapeutas viviam junto do lago
Mareótides, tendo os seus Evangelhos e os seus apóstolos. É sobre esses cristãos
que Filon escreveu. Se os cristãos seguidores de Jesus Cristo já existissem, Filon
não poderia deixar de falar deles. Quando do pretenso nascimento de Cristo,
Filon contava apenas 25 anos de idade. Os Evangelhos, tendo surgido muito
tempo após a morte de Filon e de Jesus, não poderiam ser os do cristianismo por
ele referido.
Clemente de Alexandria e Orígenes não criam na encarnação nem na
reencarnação, motivo porque não creram na encarnação de Jesus Cristo, embora
fossem padres da Igreja. Orígenes morreu em 254.
Fócio escreveu sobre “Disputas” de Clemente e afirmou que ele negara a
doutrina do “Logos”, dizendo que o “Verbo” jamais se encarnou, afirmação
igualmente feita por Ganeval. Analisando os quatro volumes de “Principia”, de
Orígenes, percebe-se que o “Logos” ou o “Verbo” era o mesmo sopro de Jeová,
referido por Moisés. Fócio, tendo-se escandalizado com isso, disse que Orígenes
era um blasfemo.
Apenas analisando como se referia ao Verbo, a Crestus e ao Salvador, é que
se pode excluir a possibilidade da existência física de Jesus. Tratá-lo-iam de modo
bem diferente, se tivesse realmente existido.
V
Um Jesus Cristo Não Histórico
A história, conforme mencionamos, não tem registro da existência de Jesus
Cristo. Os autores que temos em apreço e que seriam seus contemporâneos
omitiram-se completamente. Os documentos históricos que o mencionam, fazemno esporadicamente, e bem assim revelam-se rasurados e falsificados, motivo pelo
qual de nada adiantam, neste sentido, para a história. É óbvio, portanto, que a
história não poderia registrar um evento que não aconteceu.
Tomando conta da história, o cristianismo deixou-a na contingência de
referir o nome de Jesus Cristo como sendo um deus antropomorfizado, mas
nunca uma pessoa de carne e ossos que tenha realmente vivido.
Ao fazê-lo, principia por um estudo filológico e etimológico dos termos
“Jesus” e “Cristo”, e termina mostrando que os dois nomes foram reunidos em
um só, para ser dado posteriormente a um indivíduo. O termo “Jesus” significa
salvador, enquanto que “Cristo” é o ungido do Senhor, o “oint” dos judeus, o
Messias esperado doe judeus. Nesse estudo, a história mostra que a crença
messiânica havia tomado a orla do Mediterrâneo a partir do século II antes de
nossa era. O norte da África, o sul da Europa, a Ásia Menor, estavam todos
repletos de Messias e Cristos, e de milhares de pessoas que os seguiam e neles
criam.
Ao referir-se aos pretensos Messias, o Talmud deu esse nome até mesmo a
diversos reis pagãos, como no caso de Ciro, conforme está em Isaias 44:1, ou ao
rei de Tiro, como está em Ezequiel 28:14 e nos Salmos, quando se verifica que os
nomes de Jesus e de Cristo já vinham sendo atribuídos a diversos líderes
religiosos da Antigüidade.
As fontes pesquisadas pela história mostraram que Jesus Cristo, ao ser
estudado como fato histórico, só pode ser encarado como sendo o “ungido do
Senhor”, uma personalidade de existência abstrata apenas, não tendo possuído
contextura física pelo que deixou de ser histórico. É apenas uma figura simbólica,
através da qual a humanidade tem sido ludibriada de há muitos séculos.
Cumprindo seu dever de informar, a história põe diante dos olhos do crente
e do estudioso as provas de que foi a luta dos líderes cristãos a partir do século II
para que o mito Jesus Cristo adquirisse a consistência granítica que levou a
crença religiosa dos europeus da Idade Média sob o guante do criminoso
absolutismo dos reis e dos Papas de então.
Este estudo demonstra que Jesus Cristo foi concebido no século II para
cumprir um programa messiânico elaborado pelos profetas e pelos compiladores
do Velho Testamento e das lendas, sob o seu pretenso nome. Vê-se, então, que os
passos de Jesus pela terra aconteceram conforme o Talmud, para que se
cumprissem as profecias que o judaísmo havia inventado.
Jesus Cristo pode ser considerado o ator no palco. Representou o drama do
Gólgota e retirou-se da cena ao fim da peça. Mateus 1:2 descreve-nos um Jesus
Cristo que nasce milagrosamente, apenas para que se cumprissem as escrituras.
Em 2:5 diz que nasceu em Belém, porque foi ali que os profetas previram que
nasceria. Em 2:14 deixa-o fugir para o Egito, para justificar estas palavras: “Meu
filho será chamado do Egito”. Em 2:23 faz José regressar a Nazaré porque Jesus
deveria ser nazareno. Em 3:3 promove o encontro de Jesus com João Batista,
porque Isaías predissera-o. Em 4:4 Jesus foi tentado pelo diabo, porque as
escrituras afirmaram que tal aconteceria e que ele resistiria. Em 4:14 leva Jesus
para Carfanaum para conferir outra predição de Isaías. Em 4:12 Jesus diz que
não se deve fazer aos outros senão aquilo que gostaríamos que a nós fosse feito,
porque isto também estava na lei dos profetas. Em 7:17 Jesus cura os
endemoniados, conforme predissera Isaías. Em 11:10-14 Jesus palestra com João
Batista porque assim predissera Elias. Em 12:17 Jesus cura as multidões, quando
pede que não propalem isso, igualmente dando cumprimento às palavras de
Isaías. Em 12:40 permanece sepultado durante três dias porque os deuses do
paganismo, os deuses solares ou redentores, também estiveram; como Jonas, que
foi engolido por uma baleia, a qual depois de três dias jogou para fora, intacto
como se nada tivesse acontecido. E tudo isto aconteceu em um mar onde não há
possibilidade de vida para esse cetáceo, portanto, só poderia acontecer graças aos
milagres bíblicos. Em 13:14 diz que Jesus falava por meio de parábolas, como
Buda também o fez. Assim também falavam os antigos taumaturgos, para que
apenas os sacerdotes entendessem; assim só eles seriam capazes de interpretar
para os incautos e crédulos religiosos, e, afinal, porque Isaías assim o previa. Em
21:14 Jesus entra em Jerusalém montado em um burreco, conforme as profecias.
Em 26:54 Jesus diz que não foi preso pelo povo quando junto dele se assentou no
templo para ensinar, porque também estava previsto. Em 27:9 Judas trai a Jesus,
vendendo-o por trinta dinheiros e recebendo à vista o preço da traição. Em 27:15
os soldados repartem entre si as roupas do crucificado.
Apenas o cumprimento desta profecia choca-se frontalmente com a história.
E, de acordo com ela, nessa época não havia legionários romanos na Palestina.
Lucas 23:27 diz que Jesus mandou comprar espadas, para que assim fosse
confundido com os malfeitores comuns, porque assim estava previsto. Em
seguida, diz que Jesus, ao ensinar aos seus apóstolos, afirmava que tudo o que lhe
acontecesse, era para que estivesse de acordo com o que escreveram Moisés e os
profetas, e como estava descrito nos salmos. Em 24:44-46 diz que Jesus afirmou
“Como era necessário que Cristo padecesse e ressuscitasse ao terceiro dia, dentre
os mortos”.
Para ficar de acordo com as previsões testamentárias, João 19:27 diz que
Jesus teve sede e pediu água. Em 19:30, ao beber a água, disse que era vinagre e
exclamou: “Tudo se cumpriu”. Em 19:32-37 diz que não lhe quebraram nenhum
osso, apenas o feriram com a lança para verificar se havia expirado. E isto
também estava predito. Por ai, percebe-se que tudo ali é puro simbolismo, e que
Jesus foi idealizado apenas para cumprir as escrituras. Está ai uma prova de que
a existência de Jesus nada mais é do que uma fabulação evangélica. Do mesmo
modo que inventaram as profecias, inventaram alguém para cumpri-las. Tanto é
verdade, que os judeus que ainda hoje acreditam em profecias, não aceitaram
Jesus como tendo sido o Messias prometido pelo Talmud.
Além disso, os seus escritores esgotaram todos os argumentos possíveis com
o fim de provar que Jesus não foi um acontecimento palestino, e que não passou
de um romance escrito pelos judeus dispersos e dos que se aproveitaram do
messianismo judeu para criar uma empresa comercial, como tem sido o Vaticano.
O messianismo não foi uma lenda que tenha atingido a todas as classes
sociais judias. Essa lenda foi criada pelos sacerdotes judeus visando com isso
ajudar ao povo da rua a suportar melhor as agruras da pobreza e não reagir
contra as classes privilegiadas. Essas promessas são cumpridas pelos sacerdotes, a
seu modo, a fim de que o pobre viva de esperanças e não sinta que o rico continua
metendo as mãos em seus bolsos, impunemente. O homem do povo raramente
compreende a finalidade desse tipo de engodo.
O Talmud traz uma porção de profecias, e ao mesmo tempo critica aos que
lhes dão crédito. A crítica representa uma evolução do pensamento das lideranças
judias. Um estudo comparado do judaísmo e do cristianismo mostra a enorme
quantidade de crendices dessas religiões forjadas pelos seus líderes e afastadas
pela evolução do conhecimento.
Em nossos dias, o conhecimento atingiu um ponto em que a própria Igreja
começou a relegar para um canto os seus ídolos de aspecto humano. O
conhecimento humano terminara por vencer definitivamente, provando que todos
os deuses e ídolos têm os pés de barro. Nossos antepassados viram muitos ídolos
cair. Certas práticas e crenças religiosas ainda permanecem válidas porque os
sacerdotes, como bons psicólogos que são, observam o desenvolvimento mental do
povo e sabem que uns encontram a verdade, enquanto outros, jamais
conseguiram alcançá-la.
Idealizando um Jesus Cristo adaptado às profecias talmúdicas, criaram um
personagem incoerente e inseguro, o que nos dá a medida exata do quilate mental
dos seus criadores. Podiam ser espertos, mas nunca inteligentes ou cultos.
Não deve ter sido tarefa das mais fáceis a de adaptar um Cristo vindo para
cumprir as profecias no fanatismo das populações ignaras. Foi um trabalho de
titãs não acorrentados à verdade, nem à sinceridade que o homem deve ao seu
semelhante. Nunca foi fácil transformar uma fantasia em realidade. Por isso, o
cristianismo teve de valer-se da espada de Constantino e das armas de seus
legionários para impor dogmaticamente o que a razão e o conhecimento jamais
aceitariam passivamente. Nos dois primeiros séculos do cristianismo, cada qual
queria ser o primeiro e mandar mais e, se possível, ficar sozinho. Tivemos muitos
reis e Papas analfabetos, atestando o primarismo dos judeus dispersos, como dos
lideres europeus da época do lançamento do cristianismo.
Tentando racionar a teologia do judaísmo e do cristianismo, fizeram de
Jeová um deus absurdo e de Jesus um ser irreal, ambos incoerentes, o que se
tornou a essência do Talmud e dos Evangelhos. Através de Jesus Cristo,
valorizaram as profecias do pretenso profeta Isaías, revitalizando assim o
judaísmo e dando seriedade ao Talmud, fazendo dos Evangelhos um amontoado
de mentiras e de impossíveis humanos. Assim é que criaram um relato
inconsistente, que desmorona completamente em face de uma análise mais
profunda.
Scherer escreveu que Jesus não foi um filósofo nem fundador de uma
religião. Foi apenas Messias. O sentido da vida de Jesus era apenas dar
cumprimento às profecias messiânicas, e tal idéia é o centro dos fatos evangélicos,
a razão de ser Jesus. Tendo vindo ao mundo tão-somente para cumprir as
profecias, deixou de ser humano e tornou-se um fantasma, ou um símbolo do que
nunca teve existência real.
A vida de Jesus e de seus apóstolos desenrola-se apenas como uma peça
teatral, na qual Jesus acumula os papéis de deus e de homem. Um dia o público
há de convencer-se de que esteve diante de um ser bíblico, sem uma realidade
histórica.
Segundo Arthur Weigal, o único testemunho escrito por quem teria
convivido com Jesus teria sido a epístola atribuída a Pedro. Teria surgido quando
começaram as pretensas perseguições aos cristãos, na qual ele os animava.
Entretanto, como a existência de Pedro é igualmente lendária, a epístola em
questão não merece fé, tendo sido composta por qualquer cristão, menos pelo
mitológico Pedro.
Os escritos de Tácito, dadas as adulterações sofridas, carecem de valor
histórico. Dai não se poder admitir como verdade que Nero, entre os anos 54 e 68,
tenha realmente perseguido aos seguidores de Jesus Cristo. Tertuliano,
entretanto, afirma que Pedro foi martirizado no governo de Nero.
Contudo, vários pesquisadores, entre os quais Holmann e Weizsacker,
demonstraram que essas perseguições somente começaram a partir do século II.
Irineu, no ano 180, achava que a epístola de Pedro fora escrita em 83, mas não
por Pedro. Nesta epístola, Pedro dizia que “Jesus sofreu por nós, deixando-nos
um exemplo”. Acrescentara ter sido testemunha pessoal dos seus sofrimentos,
após os quais subiu ao céu, de onde voltaria em breve. No entanto, sua volta não
ocorreu até hoje, apesar de terem se passado dois mil anos. A falta de
cumprimento dessa promessa invalida todas as suas afirmações.
Disse Pedro, ainda, que Jesus mandou que se amasse uns aos outros,
pagando o mal com o bem, retribuindo a injúria com a bênção. Recomendou a
caridade, a hospitalidade e a humildade; o dever de evitar o mal, fazer o bem e
buscar a paz, assim como a abstinência da ambição da carne, evitar o rancor, a
inveja e a maledicência; a submissão às autoridades, crer em Deus e honrar o rei.
As epístolas de Paulo viriam em segundo lugar, como importância histórica.
Pedro teria aprendido a doutrina cristã na convivência direta com Jesus. Suas
epístolas seriam consideradas autênticas por terem sido escritas 20 ou 30 anos
após a crucificação. Pedro, assim como Paulo, afirmaram que Jesus voltaria em
breve para julgar a humanidade. Contudo, ambos estavam enganados e
enganaram aos outros. Paulo teria conhecido pessoalmente a Pedro e a Jaques,
um dos irmãos de Jesus Cristo, assim como referia-se a outras pessoas que teriam
convivido com Jesus. A crucificação e a ressurreição teriam sido fatos
indiscutíveis para Pedro e Paulo, cujos escritos estariam muito próximos dos
acontecimentos.
Paulo, em I Coríntios 11:1, diz: “Imitam-me como se fosse Jesus”. Teria
pregado o amor, a paz, a temperança, a caridade, a alegria, a paciência, a doçura,
a confiança e a boa vontade. A lei divina deveria ser interpretada segundo o
espírito e não conforme a letra. “Amarás ao próximo como a ti mesmo”, seria um
amor paciente, caridoso e humilde.
As epístolas procuraram estabelecer a historicidade de Jesus, assim como
revelar muitos pontos do seu caráter. Jesus teria vivido apenas para redimir a
humanidade, não teria pecado, sendo, sem dúvida alguma, o filho de Deus.
Papias, em 140, escreveu que Mateus havia colecionado as máximas de Jesus, e
Marcos recolhera muitas notas para o Evangelho. Assim, os Evangelhos seriam o
espelho de Jesus, contado pelos apóstolos, espalhando entre os homens o ideal de
perfeição moral e mental.
As curas, milagres e pregações de Jesus, em pouco tempo, haviam
espalhado o seu nome, galvanizando as multidões, todos sentiam que havia
surgido o Messias. Assumiu o papel de Messias e com isso entusiasmou a
multidão, pelo que entrou em Jerusalém cercado da emoção e do respeito do
povo. Ao anoitecer abandonou a cidade, e, no dia seguinte, ao regressar, encontra
muita agitação. As autoridades haviam tomado medidas contra ele. Dois dias
antes da páscoa, tomou sua última refeição com os companheiros e ali
permaneceu a espera dos acontecimentos, sabendo que o seu reino não era deste
mundo. À noite, foi preso, e, no dia seguinte, julgado. O povo quis que o
sacrificassem em lugar de Bar Abbas. Seria o sacrifício pascal, rito multimilenar
que iria mais uma vez acontecer. Após a morte, sai do sepulcro, ressuscitado, e vai
ao encontro dos apóstolos, pede comida, e depois de permanecer algum tempo
com eles, ascende ao céu prometendo voltar em breve.
Foi este o retrato feito de Jesus Cristo pelo cristianismo, e que ainda hoje
milhões de pessoas adoram. Entre nós, são bem poucos os que põem em dúvida a
veracidade desse romance contado pelos judeus da diáspora e aproveitado por
seus seguidores latinos.
No entanto, a razão e o conhecimento estão se encarregando de destruir a
pretensa veracidade desse conto. Muitas coisas consideradas como milagres são
hoje conseguidas naturalmente através da ciência, da tecnologia moderna, da
medicina, do conhecimento científico em todas as suas modalidades, e mesmo
através da hipnose. Diante das conquistas que o homem tem feito, é possível que
ele abra os olhos para a verdade e perceba então que Deus jamais se preocupou
com sua sorte e com o mundo. A história desmente peremptoriamente que Deus
tenha comparecido ao mundo nos momentos de festa ou de dor. O homem foi
abandonado à própria sorte e tem lutado muito para sobreviver através dos
tempos, e tem obtido sucesso porque está sempre acumulando conhecimentos, os
quais emprega em situações futuras.
Diante de tudo o que foi exposto, só nos resta dizer que a história, em dois
mil anos, não encontrou uma única prova ou documento que mereça crédito no
que diz respeito à vida de Jesus. Sua existência é fictícia e só encontra agasalho no
seio da mitologia. Seu nascimento, sua vida, sua morte, sua família, seus
discípulos, tudo, enfim, que lhe diz respeito, tem analogia com as crenças, ritos e
lendas dos deuses solares, adorados sob diversos nomes e modalidades e por povos
diversos, também.
Dele, a história nada sabe.
VI
Jesus e o Tempo
O mítico dia do nascimento de Jesus Cristo foi oficializado por Dionísio, o
Pequeno, no século VI, que marcou no ano 1 do século I, correspondendo ao ano
753 da fundação de Roma, com um erro de previsão calculado em seis anos. Para
chegar a essa artificiosa fixação, serviu-se de diversos sistemas de cálculo. Calvísio
e Moestrin contaram até 132 sistemas e Fabrício arredondou para 200.
Para uns, teria sido entre 6 e 10 de janeiro, para outros, 19 ou 20 de abril,
enquanto outros ainda situavam entre 20 e 25 de março. Os cristãos orientais
determinaram a data entre 1 e 8 de janeiro, enquanto os ocidentais escolheram a
6 de janeiro.
Em 375, São João Crisóstomo escreveu que a data de 25 de dezembro foi
introduzida pelos orientais. Entretanto, antes do ano 354, Roma já o havia fixado
para esta mesma data, segundo o calendário de Bucer. Essas diferenças foram o
resultado da preocupação da Igreja em fazer com que o nascimento de Jesus
coincidisse e se confundisse com os dos deuses solares, os deuses salvadores, e
especialmente com o Deus Invictus, que era Mitra. E era justamente ao mitraismo
que a religião cristã pretendia absorver.
No dia 25 de dezembro todas as cidades do império romano estavam
iluminadas e enfeitadas para festejar o nascimento de Mitra. A preocupação de
ligar o nascimento de Jesus ao de Mitra denota o artificialismo que fundamentou
o cristianismo. Foi a divinização do deus dos cristãos às custas da luz do Sol dos
pagãos.
Foi um dos grandes trabalhos de mistificação da Igreja a confluência dos
dois nascimentos para a mesma data. Assim, o nascimento do novo deus apagava
da memória do povo a lembrança de Mitra, no fim do inverno.
A tradição religiosa, desde milênios, fizera com que todos os deuses
redentores nascessem em 25 de dezembro. Quanto ao lugar de nascimento de
Jesus, disseram ter sido em Belém, para combinar com as previsões messiânicas
que, fazendo de Jesus um descendente de David, teria a adesão dos judeus
incautos.
O II e o IV Evangelhos não mencionam o assunto, enquanto o I e o III
aludem ao caso, mas se contradizem. Uns dizem que os pais de Jesus moravam em
Belém, enquanto outros afirmam que eles ali estavam de passagem. Essa
insegurança deve-se ao fato de pretenderem ligar a vida de Jesus à de David,
conforme as profecias. Todavia, isto confundia as tendências históricas ligadas ao
nascimento dos deuses solares. A preocupação apologética, contudo, invalidou a
pretensão histórica.
De tudo isto resultou que a história pode hoje provar que tudo aquilo que se
refere a Jesus é puro convencionalismo, e sua existência é apenas ideal e não real.
De modo que a morte dos inocentes nada mais é do que a repetição da matança
das criancinhas egípcias, contada no Êxodo. A estrela só pôde ser inventada
porque naquele tempo o homem ainda não sabia o que era uma estrela; tanto
assim que a Bíblia afirma que Josué fez parar o sol com um aceno de sua mão
apenas. Assim, a estrela que guiou os magos é coisa realmente absurda. Antes de
tudo, ninguém soube realmente de onde vieram esses reis e onde eram os seus
países.
Outros fenômenos relatados como terremotos, trevas e trovões, assinalados
pelo Bíblia, não o são pela história dos judeus nem dos romanos. Só os
interessados no mito puderam ver tais acontecimentos. Os escritores que
relataram fatos ocorridos na Palestina e no Império Romano não transmitiram
estes fatos que teriam ocorrido na morte de Jesus à posteridade. Muita coisa pode
ter acontecido naqueles tempos, menos as que estão nos Evangelhos.
Pilatos, por exemplo, morreu ignorando a existência de Jesus. Os
legionários romanos jamais receberam ordens para prendê-lo. Nenhum
movimento social, político ou religioso contrário às normas da ocupação surgiu na
Judéia, para justificar a condenação de seu líder por Pilatos.
Entretanto, Jesus teria sido julgado e condenado pelos sacerdotes judeus,
pois Pilatos deixara o caso praticamente em suas mãos e do povo, lavando as suas
próprias. Nem Pilatos, nem Caiaz, nem Hannã deixaram qualquer referência
acerca desse processo. Nenhum deles poderia dizer qual a aparência física de
Jesus. Tertuliano, baseando-se em Isaías, disse que ele era feio, ao passo que
Agostinho afirmou que ele era bonito. Uns afirmaram que era imberbe, outros
que era barbado. Sua cabeleira espessa e barba fechada resultaram de uma
convenção realizada no século XII. O Santo Sudário retrata um Jesus Barbudo.
Nada do que se refere a Jesus pode ser considerado ponto pacífico. Tudo é
discrepante e contraditório. Ora, se aqueles que tinham e os que ainda têm
interesse em defender a veracidade da existência de Jesus não conseguiram
chegar a um acordo no que lhe diz respeito, isso não é bom sinal.
Moy escreveu: “Desde que se queira tocar em qualquer coisa real na vida de
Jesus, esbarra-se logo na contradição e incoerência”. Por isso, até o aspecto físico
de Jesus tornou-se discutível, o que ajuda a provar que ele nunca existiu. De
acordo com a história, não se pode aceitar o que está escrito nos evangelhos coma
prova de sua existência. Também a Igreja não dispõe de argumentos válidos,
nesse sentido. A arqueologia, por outro lado, nada encontrou até aqui capaz de
elucidar a questão.
De tudo isto depreendemos que a existência física de Jesus jamais poderá
ser provada de modo irrefutável, e, por conseguinte, é muito difícil ser acatada
por homens cultos e amantes da verdade. O romance, as lendas, os contos, a
ficção, interessam como cultura, como expressão do pensamento de um povo, e
desse modo são perfeitamente aceitos. Entretanto, a apresentação de tais
modalidades de cultura como fatos reais, consumados e verdadeiros e como tal
serem impostos ao povo, é condenável.
A atitude do cristianismo tem sido, através dos tempos, justamente a que
nós acabamos de condenar: a imposição das lendas, do romance e da novela como
realidade palpável, como fato verdadeiro e incontestável.
Em sua “Vida de Jesus”, Strauss diz: “Poucas coisas são certas, nas quais a
ortodoxia se apóia de preferência – as milagrosas e as sobrehumanas –, as quais
jamais aconteceram. A pretensão de que a salvação humana dependa da fé em
coisas das quais uma parte é certamente fictícia, outra sendo incerta, é um
absurdo, que em nossos dias nem sequer devemos nos preocupar, refutando-o”.
Ernest Havet, comparando Jesus com Sócrates, diz que Sócrates é um
personagem real, enquanto Jesus é apenas ideal. Homens como Platão e
Xenófanes, os quais conviveram com Sócrates, deixaram o seu testemunho a
respeito do mesmo. Em seus escritos relatam tudo sobre Sócrates: a vida, o
pensamento, os ensinamentos e a morte. E nada do que lhe diz respeito foi
adulterado, e, portanto, é autêntico, verdadeiro e indiscutível.
Quanto a Jesus, não teve existência real, e aqueles aos quais se atribui
escritos e referências em relação a ele, uns foram adulterados em seus escritos,
outros não existiram. Pílatos, que teria autorizado seu sacrifício, omite o fato
quando relata os principais acontecimentos de seu governo. Por acaso mandaria
matar um deus, e não saberia? Assim, quem descreveu Jesus, apenas imaginou o
que ele teria sido, não foi sua testemunha.
Renan disse em sua “Vida de Jesus”: “Nossa admiração por Jesus não
desapareceria nem mesmo quando a ciência nada pudesse decidir de certo, e
chegasse forçosamente às negações”. Termina dizendo que o divino encontrado
pelos cristãos em Jesus é o mesmo que a beleza de Beatriz, que apenas resultou do
pensamento de Dante ou de seu gênio literário. Da mesma forma, as belezas de
Cristina residem nos sonhos religiosos dos hindus. As maravilhas de Jesus e a
beleza de Maria são produtos do gênio inventivo da liderança oradora dos mitos
Jesus e Maria.
Se de ambos apenas se diz o bem, há sinal que eles não tiveram existência
real. Jesus Cristo é uma criação do homem, o qual esteve em cena apenas para
realizar as profecias dos primários profetas judeus. Esta é também a opinião de
Didon, exposta em seu livro “Vida de Jesus”. Diz ele que é suspeita a sonegação de
quase trinta anos da vida de Jesus à história evangélica.
“Nós apenas sabemos um nada da vida de Jesus”, escreveu Miron. Os
redatores dos Evangelhos e os primeiros autores eclesiásticos, recolhendo as
tradições correntes na comunidade cristã, podem ter adquirido alguns
fragmentos da verdade; mas como assegurar que, entre tantos elementos
mitológicos e legendários, haja algo de verdade? Assim, a vida de Jesus em si é
impossível.
Acontece com Cristo o mesmo que acontece com todos os entes legendários:
quanto mais os buscamos, menos os encontramos. A tentativa feita até aqui de
colar na história, de arrebatar às trevas da teologia, um personagem que até a
idade de trinta anos é absolutamente desconhecido, e que depois da referida idade
aparece fazendo impossíveis humanos – os milagres – é absurda e ridícula.
Labanca, em “Jesus Cristo”, impugna a possibilidade de uma biografia
científica de Jesus, baseando-se na inautenticidade dos Evangelhos, uma vez que
os mesmos não tiveram finalidade histórica, mas tão-somente religiosa e
propagandística. Jesus não está nos Evangelhos por causa de sua esquisita
divindade, mas porque isso convém aos seus lançadores e aos que ainda hoje
vivem do seu nome, como rendoso meio de vida.
VII
Jesus Cristo nos Evangelhos
Assim como a história não tomou conhecimento da existência de Jesus, os
Evangelhos igualmente desconhecem-no como homem, introduzindo-o apenas
como um deus. Maurice Vernés mostrou com rara mestria que o Velho
Testamento não passa de um livro profético de origem apenas sacerdotal, fazendo
ver que tudo que ai está contido não é histórico, sendo apenas simbólico e
teológico. O mesmo acontece com o Novo Testamento e os Evangelhos. Tudo na
Bíblia é duvidoso, incerto e sobrenatural.
Tratando dos Evangelhos, mostra que sua origem foi mantida anônima,
talvez de propósito, não se podendo saber realmente quem os escreveu. Por isso,
eles começam com a palavra “segundo”; Evangelho segundo Mateus; segundo
Marcos. Daí se deduz que não foram eles os autores desses Evangelhos, foram, no
máximo, os divulgadores.
Igualmente deixaram em dúvida a época em que foram escritos. A
referência mais antiga aos Evangelhos é a de Papias, bispo de Yerápoles, o qual
foi martirizado por Marco Aurélio entre 161 e 180. Seu livro faz parte da
biblioteca do Vaticano. Irineu e Eusébio foram os primeiros a atribuir a Marcos e
a Mateus a autoria dos Evangelhos, mas ambos permanecem desconhecidos da
história, como o próprio Jesus Cristo. Destarte, pouco ou nenhum valor têm os
Evangelhos como testemunha dos acontecimentos. Se só foram compostos no
século III ou IV, ninguém pode garantir se os originais teriam realmente existido.
Os primitivos cristãos quase não escreveram, e os raros escritos
desapareceram. Por outro lado, no Concílio de Nicéia foram destruídos todos os
Evangelhos. Esse Concílio foi convocado por Constantino, que era pagão. Daí,
devem ter sido compostos outros Evangelhos para serem aprovados por ele ou
pelo Concílio. Com isto, perderam sua autenticidade, deixando de ser impostos
pela fé para serem-no pela espada.
Celso, no século II, combateu o cristianismo argumentando somente com as
incoerências dos Evangelhos. Irineu diz que foram escolhidos os quatro
Evangelhos, não porque fossem os melhores ou verdadeiros, mas apenas porque
esses provieram de fontes defendidas por forças políticas muito poderosas da
época. Os bispos que os apoiaram tinham muito poder político. Informam ainda
que antes do Concílio de Nicéia os bispos serviam-se indiferentemente de todos os
Evangelhos então existentes, os quais alcançaram o número de 315. Até então eles
se equivaliam para os arranjos da Igreja. Mesmo assim, os quatro Evangelhos
adotados conservaram muitas das lendas contidas nos demais que foram
recusados. De qualquer forma, era e continuam sendo todos anônimos, inseguros
e inautênticos. Os adotados foram sorteados, e não escolhidos de acordo com
fatores valorativos. Mesmo estes adotados desde o Concílio de Nicéia sofreram a
ação dos falsificadores que neles introduziram o que mais convinha à época, ou
apenas a sua opinião pessoal.
Esta é a história dos Evangelhos que, através dos tempos, vêm sofrendo a
ação das conveniências políticas e econômicas. Embora a Igreja houvesse se
tornado a senhora da Europa, nem por isso preocupou-se em tornar os
Evangelhos menos incoerentes. Sentiu-se tão firme que julgou que sua firmeza
seria eterna.
Os argumentos mais poderosos contra a autenticidade dos Evangelhos
residem em suas contradições, incoerências, discordâncias e erros quanto a datas
e lugares, e na imoralidade de pretender dar cunho de verdade a velhos e pueris
arranjados dos profetas judeus. Essa puerilidade avoluma-se à medida que a
crítica verifica o esforço evangélico em tornar realidade os sonhos infantis de uma
população ignorante. Para justificar sua ignorância, se dizem inspirados pelo
Espírito Santo, o qual também é uma ficção religiosa, resultante da velha lenda
judia segundo a qual o mundo era dominado por dois espíritos opositores entre si:
o espírito do bem e o do mal. Adquiriram essa crença no convívio com os persas,
os egípcios e os hindus.
Os egípcios tiveram também os seus sacerdotes, os quais escreveram os
livros religiosos como o “Livro dos Mortos”, sob a inspiração do deus Anubis.
Hamurabi impôs suas leis como tendo sido oriundas do deus Schamash. Moisés,
descendo do Monte Sinai, trouxe as tábuas da lei como tendo sido ditadas a ele
por Jeová. Maomé, igualmente, foi ouvir do anjo Gabriel, em um morro perto de
Meca, boa parte do Alcorão. Allah teria mandado suas ordens por Gabriel.
O conhecimento mostra que as religiões, para se firmarem, têm-se valido
muito mais da força física do que da fé. Quanto à verdade, esta não existe em suas
proposições básicas. De modo que, Anubis, Schamash, Allah e Jeová nada mais
são do que o Espírito Santo sob outros nomes.
Stefanoni demonstrou que todos esses escritos não representam o Espírito
Santo, mas o espírito dominante em cada época ou lugar. Assim surgiram os
Evangelhos, os quais, como Jesus Cristo, foram inventados para atender a certos
fins materiais, nem sempre confessáveis.
“Não creria nos Evangelhos, se a isso não me visse obrigado pela autoridade
da Igreja”. São palavras de Sto. Agostinho. Com sua cultura e inteligência,
poderia hoje estar no rol dos que não crêem.
VIII
Jesus Cristo É um Milagre
No que diz respeito a Jesus Cristo, a teologia toma em consideração,
sobretudo, o aspecto sobrenatural e os seus milagres. João Evangelista foi trazido
para a cena a fim de criar o Logos, o Jesus metafísico, destruindo, assim, o JesusHomem. As contradições surgidas em torno de um Jesus saído da mente de
pessoas primárias e incultas tornaram-no muito vulnerável à crítica dos mais bem
dotados em conhecimento. Então vem João e substitui o humano pelo divino, por
ser o mais seguro. O mesmo iria fazer a Igreja no século XV, quando, para
abafar, grita contra os que haviam queimado miseravelmente uma heroína
nacional dos franceses, tiraram o uniforme do corpo carbonizado de Joana D'Aro
e vestiram-lhe a túnica dos santos. O mesmo aconteceu com Jesus: teve de deixar
queimar a pele humana que lhe haviam dado, para revestir-se com a pele divina.
A Igreja, na impossibilidade de provar a existência de Jesus-Homem,
inventou o Jesus-Deus. Assim atende melhor à ignorância pública e fecha a boca
dos incrédulos. Do que relatamos, conclui-se que, no caso de Joana D'Arc, a
igreja obteve os resultados esperados. Contudo, continua com as mesmas
dificuldades para provar que Jesus Cristo, como homem ou como deus, tenha
vivido fisicamente. E não é só. Ela não tem conseguido provar nada do que tem
ensinado e imposto como verdade. Falta-lhe argumentos sérios e convincentes
para confrontar com o conhecimento científico e com a história sem que sejam
refutados.
A Igreja tudo fez para tornar Jesus Cristo a base e a razão de ser do
cristianismo. E isto satisfez plenamente a seus interesses materiais nestes dois
milênios de vida. Da mesma forma, os portugueses, os espanhóis e os ingleses, de
Bíblia na mão e cruz no peito, foram à longínqua África para arrastar o negro
como escravo, para garantir a infra-estrutura econômica do continente
americano. Jamais se preocuparam em saber se o pobre coitado queria separar-se
de seus entes queridos, nem o que estes iriam sofrer com a separação.
A Igreja está realmente atravessando uma crise. Acontece que os processos
tecnológicos e científicos descortinam para o homem novos horizontes, e então ele
percebe que foi iludido miseravelmente. Sua fé, sua crença e seu deus morrem
porque não têm mais razão de ser.
Jesus Cristo foi inicialmente um deus tribal, que teria vindo ao mundo por
causa das desgraças dos judeus. Eles sonhavam ser donos do mundo, mas, mesmo
assim, foram expulsos até mesmo de sua própria terra. Contudo, o cristianismo
ganhou a Europa, com a adesão dos reis e imperadores.
Renan, não conseguindo encontrar o Jesus-Divino, tentou ressuscitar o
Jesus-Homem. Mas o que conseguiu foi apenas descrever uma esquisita tragédia
humana, cujo epílogo ocorreu no céu. Jesus teria sido um altruísta mandado à
terra para que se tornasse uma chave capaz de abrir o céu. Teria sido o homem
ideal com que o religioso sonha desde seus primórdios. Existindo o homem ideal,
cuja idealidade ficasse comprovada, o histórico seria dispensável. Mas, ao tentar
evidenciar um desses dois aspectos, Renan perdeu ambos. Mostrou então que,
para provar o lado divino de Jesus, compuseram os Evangelhos. Seu objetivo:
relatar exclusivamente a vida de um homem milagroso e não de um homem
natural.
Elaborando os Evangelhos, cometeram tantos erros e contradições, que
acabaram por destruir, de vez, a Jesus. A exegese da vida de Jesus, baseada no
conhecimento e na lógica, separando-se o ideal do real, eles destroem-se
mutuamente. Quem descreve o Jesus real, não poderá tocar o ideal, e vice-versa,
porque um desmente o outro.
Em suma, os Evangelhos não satisfazem aos estudiosos da verdade livre de
preconceitos, destruindo o material e o ideal postos na personalidade mítica de
Jesus. A fabulação tanto recobre o humano como o divino.
Verificamos, então, estarmos em presença de mais um deus redentor ou
solar. Jesus, através dos Evangelhos, pode ser Brama, Buda, Krishna, Mitra,
Horus, Júpiter, Serapis, Apolo ou Zeus. Apenas deram-lhe novas roupas. O
Cristo descrito por João Evangelista aproxima-se mais desses deuses redentores
do que o dos outros evangelistas. É um novo deus oriental, lutando para
prevalecer no ocidente como antes tinha lutado para impor-se no oriente. É um
novo subproduto do dogmatismo religioso dos orientais, em sua irracional e
absurda metafísica. Por isso, criaram um Jesus divino, não por causa dos seus
pretensos milagres, mas por ser o Logos, o Verbo feito carne. Essa essência divina
é que possibilitou os milagres. É um deus antropomorfizado, feito conforme o
multimilenar figurino idealizado pelo clero oriental. Jesus não fez milagres, ele é o
próprio milagre. Nasceu de um milagre, viveu de milagres e foi para o céu
milagrosamente, de corpo e alma, realizando assim mais uma das velhas
pretensões dos criadores de religiões: a imortalidade da alma humana.
Sendo Jesus essencialmente o milagre, não poderá ser histórico, visto não
ter sido um homem normal, comum, passando pela vida sem se prender às
necessidades básicas da vida humana. Jesus foi idealizado exclusivamente para
dar cumprimento às profecias do judaísmo, é o que verificamos através dos
Evangelhos. Tudo quanto ele fez já estava predito, muito antes do seu nascimento.
Jesus surgiu no cenário do mundo, não como autor do seu romance, mas
tão-somente como ator para representar a peça escrita, não se sabe bem onde, em
Roma ou, talvez, Alexandria. O judaísmo forneceu o enredo, o Vaticano ficou
com a bilheteria. E, para garantir o êxito total da peça, a Igreja estabeleceu um
rigoroso policiamento da platéia, através da confissão auricular. Nem o marido
escapava à delação da esposa ou do próprio filho. O pensamento livre foi
transformado em crime de morte. Os direitos da pessoa humana, calcados aos
pés. Nunca a mentira foi imposta de modo tão selvagem como aconteceu durante
séculos com as mentiras elaboradas pelo cristianismo. À menor suspeita, a polícia
tonsurada invadia o recinto e arrastava o petulante para um escuro e
nauseabundo calabouço onde as mais infames torturas eram infligidas ao
acusado. Depois, arrastavam-no à praça pública para ser queimado vivo, o que,
decerto, causava muito prazer ao populacho cristão.
Desse modo, a Igreja tornou-se um verdugo desumano, exercendo o seu
poder de modo impiedoso e implacável, ao mesmo tempo em que escrevia uma
das mais terríveis páginas da história da humanidade.
Durante muito tempo o sentimento de humanidade esteve ausente da
Europa, e a mentira triunfava sobre a verdade. Milhares de infelizes foram
sacrificados porque ousaram dizer a verdade. O poder público apoiava a farsa
religiosa, e era praticamente controlado pela Igreja. Aquele que ousasse apontar
as inverdades, as incoerências e o irracionalismo básicos do catolicismo, seria
eliminado. Tudo foi feito para evitar que o cristianismo fracassasse, devido à
fragilidade de seus fundamentos. O que a Igreja jura de mãos postas ser a
verdade, é desmentido pelo conhecimento, pela ciência e pela razão.
IX
Jesus Cristo, um Mito Bíblico
Folheando as páginas da história humana, e não encontrando aí qualquer
referência à passagem de Jesus pela terra, nós, estudiosos do assunto, convencernos-emos de que ele nada mais é do que um mito bíblico. Pesquisando os
Evangelhos na esperança de encontrar algo de positivo, deparamo-nos mais uma
vez com o simbolismo e a mitologia. A história que o envolve desde o nascimento
até a morte é a mesma do surgimento de inúmeros deuses solares ou redentores.
É de se notar o cuidado que tiveram os compiladores dos Evangelhos para
não permitir que Jesus praticasse senão o que estava estabelecido pelas profecias
do judaísmo. Assim, a vida de Jesus nada mais é do que as profecias postas em
prática. O cristianismo e os Evangelhos são um modo de reavivamento da chama
do judaísmo, ante a destruição do templo de Jerusalém. É uma transformação do
judaísmo, de modo a existir dentro dos muros de Roma, de onde, posteriormente,
ultrapassou os limites, alcançando boa parte do mundo.
O sofrimento que o judaísmo infligiu ao povo pobre deveria ser o suficiente
para que se acabasse definitivamente. Acreditamos que a ambição de Constantino
é que deu lugar ao alastramento do cristianismo, ou, melhor dizendo, do judaísmo
sob novas roupagens e novo enredo. Não fosse isso, a falta de cumprimento das
pretensas promessas de Abraão, de Moisés e do próprio Jesus Cristo já teria feito
com que o judaísmo e o cristianismo fossem varridos da memória do homem. De
há muito o homem estaria convencido da falsidade que é a base da religião.
Idealizaram o cristianismo que, baseado no primarismo da maioria, deu
novo alento ao judaísmo, criando assim, o capitalismo e a espoliação
internacional. O liberalismo que surgiu graças ao monumental trabalho dos
enciclopedistas, é que possibilitou ao homem uma nova perspectiva de vida. A
partir do enciclopedismo, os judeus e o judaísmo deixaram de ser perseguidos por
algum tempo, e com isto, quase perdeu sua razão de ser.
Ao surgir Hitler e seu irracional nazismo, encontrou quase a totalidade dos
judeus alemães integrada de corpo e alma na pátria alemã. O Führer deu então
um novo alento ao judaísmo, ao persegui-lo de modo desumano. Graças à
perseguição de que foram vítimas os judeus de toda a Europa durante a guerra de
1940, surgiu a justificativa internacional para que se criasse o Estado de Israel.
Talvez o Estado de Israel, revivendo sua velha megalomania racial, invalide em
sangue a tendência natural para a socialização do mundo e universalização do
conhecimento. A socialização do mundo acabaria com a irracional e absurda idéia
de ser o judeu um bi-pátrida. Nasça onde nascer, não se integra no meio em que
nasce e vive. Daí a perseguição.
Os judeus ricos de todo o mundo carreiam para Israel todo o seu dinheiro e,
com ele, a tecnologia e o conhecimento alugados. Graças a isto, poderá embasar
ali os seus mísseis teleguiados, tudo quanto houver de mais avançado na química,
física e eletrônica. Assim, terão meios de garantir a manutenção da sócioeconomia estruturada no capitalismo. Esta é uma situação realmente grave, a
qual poderá tornar-se dramática no porvir. O poder econômico concentrado em
poucas mãos é uma ameaça contra o homem e sua liberdade.
Apesar de o cristianismo liderar o movimento que faz do homem e do seu
destino o centro das preocupações das altas lideranças sociais, a grande maioria
dos homens está marginalizada, porque o poder econômico do mundo acumula-se
em poucas mãos. E, se permanecemos crendo em tudo quanto criaram os judeus
de dois milênios atrás, isso é sinal de que não evoluímos o bastante para justificar
o decurso de tanto tempo. Se o progresso científico e a tecnologia avançada não
conseguirem libertar-nos dos mitos, estará patente mais uma vez o estado pueril
em que ainda se encontra o desenvolvimento mental do homem. O homem não
será de todo livre enquanto permanecer preso às convenções religiosas, as quais
possuem como único fundamento o mito e a lenda.
Se assim falamos, não é que estejamos sendo movidos por um antisemitismo ou um anticlericalismo doentio; de modo algum isto é verdadeiro. O
que nos motiva tomar em pauta o assunto é o desejo de ver um crescente número
de pessoas partilhar conosco do conhecimento da verdade.
Temos dito repetidas vezes que tudo aquilo em que se fundamenta o
cristianismo é apenas uma compilação de velhas lendas dos deuses adorados por
diversos povos. Strauss diz que saiu do Velho Testamento a pretensão de que
Jesus encarnar-se-ia em Maria, através do Espírito Santo. Em números, 24:17
estava previsto que uma estrela guiaria os reis magos.
Cantu lembra que, juntando-se os livros do Velho Testamento com os do
Novo, teremos 72 livros, o mesmo número de anciãos teria Moisés escolhido para
subir com ele ao Monte Sinai. O Velho Testamento previa que o povo seguiria a
Jesus, mesmo sem conhecê-lo. Seriam os peixes retirados da água pelos apóstolos,
e os mesmos da pescaria de São Jerônimo. Moisés teria feito da pedra o símbolo
da força de Jeová, por isto, Jesus devia dar a Pedro as chaves do céu.
Oséias 11:1 e Jeremias 31:15-16-4-10-28 profetizam que o Messias seria
chamado por Jeová, do Egito, ligado ao pranto de Raquel pelo assassinato dos
filhos. Então arranjaram a terrível matança dos inocentes, a qual consta apenas
em dois evangelhos, sendo silenciado o assunto pelos outros dois e pelos relatos
enviados a Roma.
Strauss lembra também que a discussão de Jesus com doutores do templo,
assim como a passagem de Ana e Semeão, bem como a circuncisão, estava tudo
previsto no Velho Testamento. Diz ainda que teria ido para Nazaré após o
regresso do Egito apenas para que os Evangelhos pudessem atribuir-lhe a alcunha
de nazareno. Entretanto, Nazaré não existia, pelo menos naquela época; era uma
cidade fantasma, só passando a existir nas páginas dos Evangelhos. Assim, Jesus
foi nazareno, não por ter nascido em Nazaré, visto que não poderia nascer em
dois lugares, como também não poderia nascer em uma cidade que não existia.
Ele foi nazareno por ter sido um comunista essênio. A anunciação e o nascimento
de João Batista foram copiados do Talmud.
As tentações de Jesus pelo demônio, no deserto, segundo Emilio Bossi,
foram copiadas das Escrituras. Os quarenta dias passados no deserto são
oriundos do cabalismo de Roma e da crença dos babilônios, os quais atribuíam a
esse número força cabalística. Por isso, tal número repete-se várias vezes no
decorrer das dissertações bíblicas: o dilúvio descrito na Bíblia durou quarenta
dias; Moisés esteve quarenta anos na corte do Faraó; passou quarenta anos no
deserto, e os ninivitas jejuaram quarenta dias.
Ezequiel teria sido conduzido por um espírito de um lugar para outro,
através do espaço. Abraão teria sido tentado pelo demônio; os mesmos episódios
passaram ao Novo Testamento, tendo Jesus como protagonista. Perguntamos nós:
por que tais coisas não mais se repetem? A resposta só pode ser esta: elas jamais
aconteceram. Tudo isto não passa de lendas ou sonhos, os quais foram impostos
como fatos reais.
O Talmud diz: “Então se abrirão os olhos aos cegos e os ouvidos aos
surdos”. Jesus teria de dizer: “Então o coxo pulará como o cervo e a língua dos
mudos se soltará”.
Em Lucas 4:27 Jesus cura Naamã, reproduzindo uma cura efetuada por
Eliseu, de um outro leproso. Elias e Eliseu ressuscitaram mortos, por seu lado,
Jesus ressuscitaria a Lázaro. Os discípulos de Jesus, não sabendo como curar os
endemoniados, recorrem ao Mestre. Passagem semelhante está em Eliseu, cujo
servo teria recorrido a ele para curar o filho da sunamita. A multiplicação dos
pães e dos peixes é a repetição de Moisés no deserto, fazendo cair maná e
cordonizes. Moisés transformou as águas do rio em sangue e Jesus transforma a
água em vinho.
Em Jeremias 7:11 e Isaías 56:7 está escrito que o templo não deve se
converter em um covil de ladrões, o que leva os evangelistas a dizer que Jesus
expulsou os mercadores do templo.
A transfiguração de Jesus é a mesma coisa que aconteceu a Moisés, ao subir
ao Monte Sinai, quando encontrou com Jeová. Aliás, Moisés havia prometido que
viria um profeta semelhante a ele. A traição de Judas repete o mesmo
acontecimento em relação a Crestus.
A prisão de Jesus foi descrita de modo igual no Talmud. A fuga dos
apóstolos estava prevista por Isaías. Jesus foi crucificado na Páscoa,
representando o cordeiro pascal.
Essas comparações patenteiam a existência do cristianismo muito antes de
Filon. Donde se deduz que Jesus foi inventado de acordo com as Escrituras, sem
esquecer de anexar as idéias de Filon ao relato de sua pretensa vida. Fócio
demonstrou que os Evangelhos foram copiados de Filon. São Clemente e
Orígenes, embora fossem padres da Igreja, orientaram-se por Filon e não pelo
bispo de Roma.
Estas citações seriam suficientes para se provar que Jesus jamais existiu. É
apenas um produto da mente clerical, a qual o compôs baseada em mitos e lendas.
X
As Contradições sobre Jesus Cristo
Como tudo o mais que se refere à existência de Jesus na terra, também a
sua ascendência é objeto de controvérsias. Segundo Mateus e Lucas, Jesus
descende ao mesmo tempo de David e do Espírito Santo. Entretanto, como filho
do Espírito Santo, não poderá descender de José, conseqüentemente deixa de ser
descendente de David e o Messias esperado pelos judeus. Assim, Jesus ficará
sendo apenas Filho de Deus, ou Deus, visto ser uma das três pessoas da trindade
divina.
Em ambos os evangelhos acima citados há referências quanto a data de
nascimento de Jesus, mas tais referências são contraditórias o Jesus descrito por
Mateus teria onze anos quando nasceu o de Lucas. Mateus diz que José e Maria
fugiram apressadamente de Belém, sem passar por Jerusalém, indo direto para o
Egito, após a adoração dos Reis Magos. Herodes iria mandar matar as
criancinhas. Todavia, Lucas diz que o casal estivera em Jerusalém e acrescenta a
narração da cena de que participaram Ana e Semeão. De modo que um
evangelista desmente o outro. Lucas não alude à matança das criancinhas, nem à
fuga para o Egito.
Por outro lado, Marcos e João não se reportam à infância de Jesus,
passando a narrar os acontecimentos de sua vida a partir do seu batismo por João
Batista.
Mateus que conta o regresso de Jesus, vindo do Egito e indo para Nazaré,
deixa-o no esquecimento, voltando a ocupar-se dele somente depois dos seus trinta
anos, quando ele procura João Batista. Diz ainda que João já o conhecia e, por
isto, não o queria batizar, por ser um espírito superior ao seu.
Lucas narra a discussão de Jesus com os doutores da lei, aos doze anos de
idade. Sendo perguntado pela mãe sobre o que estava ali fazendo, teria
respondido que se ocupava com os assuntos do pai.
Emilio Bossi, referindo-se a esta passagem, estranha a atividade da mãe. Se
o filho nascera milagrosamente, e ela não o ignora, só poderia esperar dele uma
seqüência de atos milagrosos. Mesmo a sua presença no templo, entre os doutores,
não deveria causar preocupação à sua mãe, visto saber ela que o filho não era
uma criança qualquer, e sim um Deus.
Lucas diz que os samaritanos não deram boa acolhida a Jesus, o que muito
irritara a João. Contudo, João, o Evangelista, diz que os samaritanos deram-lhe
ótima acolhida e, inclusive, chamaram-no de salvador do mundo.
Os evangelistas divergem também quanto ao relato da instituição da
eucaristia. Três deles afirmam que Jesus instituiu-a no dia da Páscoa, enquanto
João afirma que foi antes. Enquanto os três descrevem como aconteceu, João
silencia.
Na última noite Jesus estava muito triste, como, aliás, permaneceria até a
morte. Pondo o rosto em terra, orou durante muito tempo. Segundo os
evangelistas, ele estava de tal modo triste e conturbado que teria suado sangue,
coisa, aliás, muito estranha, nunca verificada cientificamente.
Enquanto isto, seus companheiros dormiam despreocupadamente, não se
incomodando com os sofrimentos do Mestre. Entretanto João não fala sobre esse
estado de alma do Mestre. Pelo contrário, diz que Jesus passara a noite
conversando, quando se mostrava entusiasta de sua causa e completamente
tranqüilo. Lucas, Mateus e Marcos afirmam que o beijo de Judas denunciara-o
aos que vieram prendê-lo. Todavia, João diz que foi o próprio Jesus quem se
dirigiu aos soldados dizendo-lhes tranqüilamente: “Sou eu”.
Lucas é o único que fala no episódio da ida de Jesus de Pilatos para Herodes
Antipas. Os outros caem em contradição quanto à hora do julgamento pelo
Conselho dos Sacerdotes em presença do povo. João não fala a respeito do
depoimento de Cireneu, nem na beberagem que teriam dado a Jesus. Omite-se
ainda quanto à discussão dos dois ladrões, crucificados com Jesus, e quanto à
inscrição posta sobre a cruz.
De forma que seu relato é bastante diferente daquilo que os outros
contaram. E as divergências continuam ainda no que concerne ao quebramento
das pernas, ao embalsamamento, à natureza do sepulcro e ao tempo exato em que
ele esteve enterrado. Quanto ao embalsamamento, por exemplo, há muita coisa
que não foi dita. Teriam retirado seu cérebro e intestinos como se procede
normalmente nesses casos? Se a resposta for positiva, como explicar o fato de
Jesus, após a ressurreição, pedir comida? Como se vê, as verdades bíblicas são
além de controvertidas, incompreensíveis.
Lucas diz que Jesus referiu-se aos que sofrem de fome sede, enquanto
Mateus diz que ele se referia aos que têm fome e sede de justiça, aos pobres de
espírito. Uns afirmam que Jesus tratara os publicanos com desprezo e ódio,
outros dizem que ele se mostrou amigável em relação a eles. Para uns, Jesus teria
dito que publicassem as boas obras, para outros, que nada dissessem a respeito.
Uma hora Jesus aconselha o uso da força física e da resistência, mandando até
que comprassem espada; noutra, ameaça os que pretendem usar a força.
Marcos, Mateus e Lucas dizem que Jesus recomendara o sacrifício.
Entretanto, não tomou parte em nenhum deles.
Mateus diz que Jesus afirmou não ter vindo para abolir a lei nem os
profetas, enquanto Lucas diz que ele afirmara que isso já estava no passado, já
tivera o seu tempo. Os três afirmam ainda que Jesus apenas pregara na Galiléia,
tendo ido raramente a Jerusalém, onde era praticamente desconhecido. Todavia,
João diz que ele ia constantemente a Jerusalém, onde realizara os principais atos
de sua vida. As coisas ficam de modo que não se sabe quem disse a verdade, ou,
melhor dizendo, não sabemos quem mais mentiu. Ora, se Jesus tivesse realmente
praticado os principais atos de sua vida em Jerusalém, seria conhecido
suficientemente, e, então, não teriam que pagar a Judas 30 dinheiros para
entregar o Mestre.
João, que teria sido o precursor do Messias, não se fez cristão, não seguiu a
Jesus, pregando apenas o judaísmo no aspecto próprio. Entretanto, depois de
preso, enviou um mensageiro a Jesus, indagando-lhe: “És tu que hás de vir, ou
teremos de esperar um outro?”, ao que Jesus teria respondido: “Você é o profeta
Elias”. Talvez houvesse esquecido que o próprio João antes já declarara isso
mesmo. Contam os Evangelhos que, desde a hora sexta até Jesus exalar o último
suspiro, a terra cobriu-se de trevas. Contudo, nenhum escritor da época comenta
tal acontecimento.
Marcos 25:25 diz que Jesus foi sacrificado às 9 horas. João diz que ao meio
dia ele ainda não havia sido condenado à morte, e acrescenta que, a esta hora,
Pilatos tê-lo-ia apresentado ao povo exclamando: “Eis aqui o vosso rei”!
Emilio Bossi assinala detalhadamente todas estas contradições, e as que se
deram após a pretensa ressurreição, dizendo que nada do que vem nos
Evangelhos deve ser levado a sério. O sobrenatural é o clima em que se encontra a
Bíblia, e esta é apenas o resultado da combinação de crenças e superstições
religiosas dos judeus com as de outros povos com os quais conviveram.
XI
As Contradições Evangélicas
Mateus e Marcos afirmam enfaticamente que os discípulos de Jesus
abandonaram tudo para segui-lo, sem sequer perguntar antes quem era ele. Em
Mateus, lê-se que Jesus teria afirmado que não viera para abolir as leis de Moisés.
Contudo, esta seria uma afirmativa sem sentido algum, visto que hoje sabemos
que os livros atribuídos a Moisés são apócrifos.
Segundo João, quando Jesus falou ao povo, foi por este acatado e
proclamado rei de Israel, aos gritos de “Hosanna”. Mas, um pouco adiante, ele se
contradiz, afirmando que o povo não acreditou em Jesus, e imprecando contra
ele, ameaçava-o a ponto de ele haver procurado esconder-se.
Mateus diz que Jesus entrara em Jerusalém, vitoriosamente, quando a
multidão tê-lo-ia recebido de modo festivo, e marchando com ele, juncava o chão
com folhas, flores e com os próprios mantos, gritando: “Hosanna ao Filho de
David! Bendito seja o que vem em nome do Senhor!” Aos que perguntavam quem
era, respondiam “Este é Jesus, o profeta de Nazaré da Galiléia”. No entanto,
outros evangelistas afirmam que ele era um desconhecido em Jerusalém.
Disseram que Pilatos estava convencido da inocência de Jesus, razão porque
teria tentado salvá-lo, abandonando-o logo a seguir, indefeso e moralmente
arrasado.
João faz supor que Pilatos teria deixado matar a Jesus, temendo que
denunciassem sua parcialidade ao imperador. Se ele não castigasse a um
insurreto que se intitulara rei dos judeus, estaria traindo a César. No entanto, tal
atitude por parte de Pilatos não combina com o seu retrato moral, pintado por
Filon. Era um homem duro e tão desumano quanto Tibério. A vida de mais um ou
menos um judeu, para ambos, era coisa da somenos importância. Filon faz de
Pilatos um carrasco, e mostra que ele, em Jerusalém, agia com carta branca.
Além disso, as reações de Pilatos com Tibério eram quase fraternais e ele era um
delegado de absoluta confiança do imperador. Mas, como os Evangelhos foram
compostos dentro dos muros de Roma, teriam de ser de modo a não desagradar
às autoridades Imperiais. Pilatos foi posto nisso apenas porque os bens e a vida
dos judeus estavam sob sua custódia. Entretanto, como a ocupação romana foi
feita em defesa dos judeus ricos, contra os judeus pobres e os salteadores do
deserto, as autoridades romanas temiam muito mais ao povo do que a Roma.
Além disso, muitas eram as razões para não gostarem de Pilatos nem de
Herodes Antipas. Eles eram antipáticos aos judeus pobres, por isso teriam temido
a ira popular. Esta é a razão apresentada pelos historiadores que levam a sério os
Evangelhos, justificando assim o perdão do criminoso Bar Abbas e a condenação
do inocente Jesus. Entretanto, se as legiões romanas realmente ali estivessem
naquela época, nem Pilatos nem Herodes tomariam em consideração a opinião do
povo, porque se sentiriam garantidos nos seus postos.
Além disso, a opinião popular é fator ainda bem novo na técnica de
formação dos governos. Tudo o que sabemos é o que está nos Evangelhos. Jesus
era um homem do povo e um dos que temiam o governo. Por isso é que em
Marcos, 16:7 encontraremos Jesus aconselhando os discípulos a fuga. Em Lucas
10:4 Jesus está aconselhando aos discípulos a não falarem a ninguém em suas
viagens.
Em Mateus 35:23 encontraremos Jesus reprovando os judeus que haviam
assassinado Zacarias, filho de Baraquias, entre o adro do templo e o altar. A
história, no entanto, afirma ser esse episódio imaginário. Flávio Josefo relata um
acontecimento semelhante, registrado no ano 67, 34 anos após a pretensa morte
de Jesus, referindo-se no caso a um homem chamado Baruch. Isto evidencia o
descuido dos compiladores dos Evangelhos, que os compuseram sem levar em
conta que, no futuro, as contradições neles encontradas seriam a prova da
inautenticidade dos fatos relatados.
Nicodemos, que teria sido um fariseu rico, membro de Senedrin, homem de
costumes morigerados e de boa-fé, não se fez cristão, apesar de ter agido em
defesa de Jesus contra os próprios judeus. Por certo ele, como João Batista, não se
convenceram da pretensa divindade de Jesus Cristo, nem mesmo se
entusiasmaram com suas pregações.
Outra ficção evangélica é debitada a Paulo, o qual inventou um Apolo, que
não figura entre os apóstolos e em nenhum outro relato. Em Atos dos Apóstolos
18, lê-se: “Veio de Éfeso um judeu de nome Apolo, de Alexandria, homem
eloqüente e muito douto nas Escrituras. Este era instruído no caminho do Senhor,
falando com fervor de espírito, ensinando com diligência o que era de Jesus, e
somente conhecia João Batista. Com grande veemência convencia publicamente
os judeus, mostrando-lhes pelas Escrituras que Jesus era o Cristo”. Seria um
judeu fiel ao judaísmo que, segundo Paulo, procurava levar seus próprios
patrícios para o Cristo? Na epístola I aos Coríntios, diz que: “Apolo era igual a
Jesus”.
Paulo, já no fim do seu apostolado, afirma que o imperador Agripa era um
fariseu convicto, e que sua religião era a melhor que então existia. Era, assim, um
divulgador do cristianismo afirmando a excelência do farisaísmo. Falando de
Jesus, Paulo descreve apenas um personagem teológico e não histórico. Não se
refere ao pai nem à mãe de Jesus, sendo um ser fantástico, uma encarnação da
divindade que viera cumprir um sacrifício expiatório, mas não se reporta ao
modo como teria sido possível a encarnação. Não diz sequer a data em que Jesus
teria nascido. Não relata como nem quando foi crucificado. No entanto, estes
dados têm muita importância para definir Jesus como homem ou como um ser
sobrenatural. Está patente, desse modo, que Paulo é uma figura tão mitológica
quanto o próprio Jesus.
Em Atos dos Apóstolos 28:15 e em 45 Paulo diz que, quando chegou a
Pozzuoli, ele e os seus companheiros foram ali bem recebidos, havendo muita
gente à beira da estrada esperando-os. Entretanto, chegando a Roma, teve de
defender-se das acusações de haver ofendido em Jerusalém ao povo e aos ritos
romanos.
Na Epístola aos Romanos 1:8 Paulo diz que a fé dos cristãos de Roma
alcançara todo o mundo, razão porque encerraria sua missão tão logo regressasse
da Espanha, onde saudaria um grande número de fiéis. Mas, se assim fosse, por
que Paulo teve de se defender perante os cristãos de Roma, contra o seu próprio
judaísmo?
Com pouco tempo Paulo já pensava encerrar sua missão porque o
cristianismo já se universalizara. Entretanto, ele continuava considerando como
melhor religião o farisaísmo. O cristianismo a que Paulo referia-se deveria ser
anterior a Jesus Cristo, que era o seguido pelos cristãos de Roma, e não pelos
cristãos dos lugares por onde Paulo havia passado pregando.
Eusébio disse que o cristianismo de Paulo era o terapeuta do Egito, e Tácito
disse que os hebreus e os egípcios formavam uma só superstição.
XII
Algumas Fontes do Cristianismo
O passado religioso do homem está repleto de deuses solares e redentores.
Na índia, temos Vishnu, um deus que se reencarnou nove vezes para sofrer pelos
pecados dos homens. No oitavo avatar foi Krishna e, no nono, Buda. Krishna foi
igualmente um deus redentor, nascido de uma virgem pura e bela, chamada
Devanaguy. Sua vinda messiânica foi predita com muita antecedência, conforme
se vê no Atharva, no Vedangas e no Vedanta. O deus Vishnu teria aparecido a
Lacmy, mãe da virgem Devanaguy, informando que a filha iria ter um filho-deus,
e qual o nome que deveria dar-lhe. Mandou que não deixasse a filha casar-se,
para que se cumprissem os desígnios de deus. Tal teria acontecido 3.500 anos a.C.
no Palácio de Madura. O filho de Devanaguy destronaria seu tio. Para evitar que
acontecesse o que estava anunciado, Devanaguy teria sido encerrada em uma
torre, com guardas na porta. Mas, apesar de tudo, a profecia de Poulastrya
cumpriu-se, “O espírito divino de Vishnu atravessou o muro e se uniu à sua
amada”. Certa noite ouviu-se uma música celestial e uma luz iluminou a prisão,
quando Viscohnu apareceu em toda a sua majestade e esplendor. O espírito e a
luz de deus ofuscaram a virgem, encarnando-se. E ela concebeu. Uma forte
ventania rompeu a muralha da prisão quando Krishna nasceu. A virgem foi
arrebatada para Nanda, onde Krishna foi criado, lugar este ignorado do rajá.
Os pastores teriam recebido aviso celeste do nascimento de Krishna, e então
teriam ido adorá-lo, levando-lhe presentes. Então o rajá mandou matar todas as
criancinhas recém-nascidas, mas Krishna conseguiu escapar. Aos 16 anos,
Krishna abandonou a família e saiu pela Índia pregando sua doutrina,
ressuscitando os mortos e curando os doentes. Todo o mundo corria para vê-lo e
ouvi-lo. E todos diziam: “Este é o redentor prometido a nossos pais”. Cercou-se
de discípulos, aos quais falava por meio de parábolas, para que assim só eles
pudessem continuar pregando suas idéias.
Certo dia os soldados quiseram matar Krishna, quando seus discípulos
amedrontados fugiram. O Mestre repreendendo-os, e chamou-os de homens de
pouca fé, com o que reagiram e expulsaram os soldados. Crendo que Krishna
fosse uma das muitas transmigrações divinas, chamaram-no “Jazeu”, o nascido
da fé. As mulheres do povo perfumavam-no e incensavam-no, adorando-o.
Chegando sua hora, Krishna foi para as margens do rio Ganges, entrando
na água. De uma árvore, atiraram-lhe uma flecha que o matou. O assassino teria
sido condenado a vagar pelo mundo. Quando os discípulos procuraram recolher o
corpo, não o encontraram mais porque, então, já teria subido para o céu.
Depois Vishnu tê-lo-ia mandado novamente à terra pela nona vez, receberia
o nome de Buda. O nascimento de Buda teria sido, igualmente, revelado em
sonhos à sua mãe. Nasceu em um palácio, sendo filho de um príncipe hindu. Ao
nascer, uma luz maravilhosa teria iluminado o mundo. Os cegos enxergaram, os
surdos ouviram, os mudos falaram, os paralíticos andaram, os presos foram soltos
e uma brisa agradável correu pelo mundo. A terra deu mais frutos, as flores
ganharam mais cores e fragrância, levando ao céu um inebriante perfume.
Espíritos protetores vigiaram o palácio, para que nada de mal acontecesse à mãe.
Buda, logo ao nascer, pôs-se de pé maravilhando os presentes.
Uma estrela brilhante teria surgido no céu no dia do seu nascimento.
Nasceu também, nesse mesmo dia, a árvore de Bó, a cuja sombra o menino deus
descansaria. Entre os que foram ver Buda, estava um velho que, como Semeão,
recebeu o dom da profecia. Sua tristeza seria não poder assistir à glória de Buda
por ser muito velho.
Buda teria maravilhado os doutores da lei com a sua sabedoria. Com
poucos anos de idade, teria começado sua pregação. Teria ficado durante 49 dias
sob árvore de Bó, e sido tentado várias vezes pelo demônio. Pregando em Benares,
convertera muita gente. O mais célebre de seus discursos recebeu o nome de
“Sermão da Montanha”. Após sua morte apareceria também aos seus discípulos,
trazendo a cabeça aureolada. Davadatta trai-lo-ia do mesmo modo que Judas a
Jesus. Nada tendo escrito, os seus discípulos recolheriam os seus ensinamentos
orais. Buda também tivera os seus discípulos prediletos, e seria um revoltado
contra o poder abusivo dos sacerdotes bramânicos. Mais tarde, o budismo ficaria
dividido em muitas seitas, como o cristianismo.
Quando missionários cristãos estiveram na índia, ficaram impressionados e
começaram a perceber como nasceu o romance da vida de Jesus. O Papa do
budismo, o Dalai-Lama, também se diz ser infalível.
Mitra, um deus redentor dos persas, foi o traço de união entre o
cristianismo e o budismo. Cristo foi um novo avatar, destinado aos ocidentais.
Mitra era o intermediário entre Ormuzd e o homem. Era chamado de Senhor e
nasceu em uma gruta, no dia 25 de dezembro. Sua mãe também era virgem antes
e depois do parto. Uma estrela teria surgido no Oriente, anunciando seu
nascimento. Vieram os magos com presentes de incenso, ouro e mirra, e
adoraram-no. Teria vivido e morrido como Jesus. Após a morte, a ressurreição
em seguida.
Fírmico descreveu como era a cerimônia dos sacerdotes persas, carregando
a imagem de Mitra em um andor pelas ruas, externando profunda dor por sua
morte
Por outro lado, festejavam alegremente a ressurreição, acendendo os círios
pascais e ungindo a imagem com perfumes. O Sumo Sacerdote gritava para os
crentes que Mitra ressuscitara, indo para o céu para proteger a humanidade.
Os ritos do budismo, do mitraísmo e do cristianismo são muito semelhantes.
Horus foi o deus solar e redentor dos egípcios. Horus, como os deuses já citados,
também nasceria de uma virgem. O nascimento de Horus era festejado a 25 de
dezembro.
Amenófis III criou um mito religioso, que depois foi adaptado ao
cristianismo. Trata-se da anunciação, concepção, nascimento e adoração de Iath.
Nas paredes do templo, em Luxor, encontram-se os referidos mistérios.
Baco, o deus do vinho, foi também um deus salvador. Teria feito muitos
milagres, inclusive a transformação da água em vinho e a multiplicação dos
peixes. Em criança, também quiseram matá-lo.
Adonis era festejado durante oito dias, sendo quatro de dor e quatro de
alegria; as mulheres faziam as lamentações, como as carpideiras pagas de
Portugal. O rito do Santo Sepulcro foi copiado do de Adonis. Apagavam todos os
círios, ficando apenas um aceso, o qual representava a esperança da ressurreição.
O círio aceso ficava semi-escondido, só reaparecendo totalmente no momento da
ressurreição, quando então o pranto das mulheres era substituído por uma
grande alegria.
Também os fenícios, muitos milênios antes, já tinham o rito da paixão, do
qual copiaram o rito da paixão de Cristo.
Todos os deuses redentores passaram pelo inferno, durante os três dias
entre a morte e a ressurreição. Isto é o que teria acontecido com Baco, Osiris,
Krishna, Mitra e Adonis. Nestes três dias, os crentes visitavam os seus defuntos,
segundo Dupuis, em “L' Origine des tous les cultes”.
Todos os deuses redentores eram também deuses-sol, como Átis, na Frígia;
Balenho, entre os celtas; Joel, entre os germanos; Fo, entre os chineses.
Assim, antes de Jesus Cristo, o mundo já tivera inúmeros redentores. Com
este ligeiro apanhado da mitologia dos deuses, deixamos patente a origem do
romance do Gólgota. Acreditamos ter esclarecido quais as fontes onde os
criadores do cristianismo foram buscar inspiração.
XIII
Jesus Cristo, uma Cópia Religiosa
O precedente estudo permite-nos constatar que, nas diversas épocas da
história, as religiões transformam-se, variando em razão da complexidade cada
vez maior das sociedades em que elas existem.
Vimos que a crença em um deus redentor é muito anterior ao judaísmo,
sempre ligada à ânsia da necessidade de redenção das tremendas aflições do
populacho. Quanto a Jesus Cristo, resultou de uma série de mitos, que os hebreus
copiaram dos babilônicos, dos egípcios e de outros povos, visando com isto dar
consistência ao judaísmo.
Estudos filológicos forneceram as bases para o estabelecimento de um traço
de união entre as crenças dos deuses orientais e o judaísmo. Tomemos, por
exemplo, as palavras Ahoura-Mazzda e Jeová, que significam “O que é”.
Partindo de velhas lendas orientais, e baseando-se na origem comum da palavra,
foi compilado o Gênese, numa tentativa de explicar a criação do mundo. Segundo
o Zend-Avesta, o Ser Eterno criou o céu e a terra, o sol a lua, as estrelas, tudo em
seis períodos, aparecendo o homem por último.
O descanso foi posto no sétimo dia. Manu havia ensinado, muito antes, que
no começo tudo era trevas, quando Bhrama dispersou-as, criou e movimentou a
água, em seguida produziu os deuses secundários, os anjos dirigidos por Mossura,
os quais posteriormente rebelar-se-iam contra Deus. Veio então Shiva, e arrojouos ao inferno. Shiva tornou-se a terceira pessoa da Santíssima Trindade
Bhramânica em conseqüência das sucessivas invasões bárbaras sofridas pela
Índia. Os bárbaros, crendo em Shiva, o deus da lascívia e do sensualismo,
impuseram sua inclusão, com o que surgiu a trindade divina de Bhrama.
Manu ensinara igualmente que Deus criara o homem e a mulher, fazendoos apenas inferior a Devas, isto é, Deus. O primeiro homem recebera o nome de
Adima ou Adam, e a primeira mulher, Heva, significando o complemento da vida.
Foram postos no paraíso celeste e receberam ordem de procriar. Deveriam
adorar a Deus, não podendo sair do paraíso. Mas, um dia, indo ver o que havia
fora dali, desapareceram. Bhrama perdoou-os, mas expulsou-os, condenando-os a
trabalhar para viver. E disse que, por haverem desobedecido, a terra tornar-se-ia
má, porque o espírito do mal dela se apoderara.
Entretanto, mandaria seu filho Vishnu que, se encarnando em uma virgem,
redimiria a humanidade, libertando-a definitivamente do pecado da
desobediência.
Ormuzd teria prometido ao primeiro casal humano que, se fossem bons,
seriam felizes na terra. Mas Arimã mandou que um demônio em forma de
serpente aconselhasse a desobedecerem a deus. Comeram os frutos que Arimã
lhes deu, acabou a felicidade humana, e todos os que nascessem daí em diante
seriam infelizes. Sendo levados cativos para a Babilônia, os judeus ali
encontraram tal lenda. Libertos, voltando à Judéia, trouxeram essa crendice,
como também a crença da imortalidade da alma e da vida futura, dos espíritos
bons e espíritos maus, surgindo daí os anjos Gabriel, Miguel e Rafael, os
querubins e serafins. Nasceu daí o mito do diabo, o anjo rebelado.
A palavra paraíso é o termo persa que significa jardim. Os persas, os
hindus, os egípcios e os gregos criam no paraíso. Da mesma forma, todos eles
criam no inferno. Entretanto, as crenças antigas desconheciam as penas eternas,
que foram criadas pelo cristianismo, aliás, uma das poucas coisas originárias
dessa crença. Também o purgatório, naturalmente, é outra novidade do
cristianismo, sendo desconhecido do judaísmo. A idéia do purgatório vem de
Platão, que havia dividido as almas em puras, curáveis e incuráveis.
Os filhos de Adima e Heva haviam-se tornado numerosos e maus. Por isso,
Deus mandou o dilúvio para matá-los. Mas deu ordem a Vadasuata para
construir um barco e nele entrar com a família, devido ao fato de ser um homem
virtuoso. Deveria levar consigo, além da família, um casal de cada espécie de
animal existente: esta é a história do dilúvio relatada nos Vedas, e que foi incluída
na Bíblia dos cristãos.
As origens do cristianismo repousam, incontestavelmente, nas lendas e
crenças dos deuses mitológicos, não apenas dos judeus, mas também de outros
povos.
Os caldeus e os fenícios, como os judeus, haviam-se especializado no
comércio, e por dever de ofício, alfabetizaram-se. Assim, sabendo ler e escrever,
puderam copiar as lendas e o folclore dos povos com os quais comerciavam e
conviviam, os quais puderam adquirir longevidade e fixar-se melhor na memória
humana.
Sendo comerciantes por excelência, os judeus perceberam que a religião
poderia tornar-se uma boa mercadoria, através da qual adviria o domínio de
muitos povos e vontades. Desta forma, tendo compilado o que julgaram mais
interessante ou mais proveitoso em relação aos seus propósitos, passaram a
difundir pelo mundo as suas idéias religiosas. Com isto, o conhecimento e a razão
foram substituídos pelas crendices e superstições religiosas.
Desde há muito a religião tem servido para moderar os impulsos humanos,
sobretudo daqueles que pertencem a uma classe social menos favorecida.
Salientamos o prejuízo que o mundo tem sofrido com o rebaixamento
mental imposto com as crenças e superstições religiosas, com o que o
conhecimento sofre uma estagnação sensível.
No entanto, o homem tem-se deixado levar pelas crenças e práticas
religiosas sem que nenhum benefício lhe advenha em retribuição. O homem tem
feito tudo por si mesmo, apesar de sua religiosidade. A única classe beneficiada
realmente com a religião é a dos sacerdote.
Retornamos ao assunto em pauta, após uma rápida digressão. A Bíblia cita
dez patriarcas que teriam morrido em idade avançada, antes do dilúvio. Contudo,
essa lenda provém da tradição caldáica, segundo a qual dez reis governaram
durante 432 anos. Da mesma forma, as lendas hindus, egípcias, árabes, chinesas
ou germânicas fazem referência a homens que teriam tido uma longa vida, como
a do Matusalém da Bíblia.
Igualmente, a lenda de Abraão, que deveria sacrificar o seu filho Isaac,
procede de lendas anteriores ao judaísmo. O livro das profecias hindus relata
uma história igual. Ramatsariar conta que Adgitata, protegido de Bhrama, por
ser um homem de bem, teve um filho que nasceu tão milagrosamente como Jesus.
Entretanto, Bhrama, para experimentá-lo, ordena-lhe que sacrificasse o filho. Ele
obedece, mas Bhrama impede-o no momento exato, seu filho seria o pai de uma
virgem, a qual, por sua vez, seria a mãe de deus-homem.
José e a mulher de Putifar foi a cópia de uma velha lenda egípcia, conforme
documentos recentemente traduzidos. Era uma história intitulada “Os dois
irmãos”.
Emílio Bossi, relatando o achado, dá a palavra a Jacolliot: “Um homem da
Índia fez leis políticas e religiosas; chamava-se Manu. Esse mesmo Manu foi o
legislador egípcio, Manas. Um cretense vai ao Egito estudar as instituições que
pretende dar ao seu pais, e a história confirma-nos isto dizendo que esse cretense
foi Minos. Enfim, o libertador dos escravos judeus chamava-se Moisés, que teria
recebido as leis das mãos do próprio Jeová. Temos, então, Manu, Manes, Minos e
Moisés, os quatro nomes que predominaram no mundo antigo. Aparecem nos
albores de quatro diversos povos para representar o mesmo papel, rodeados da
mesma auréola misteriosa, os quatro são legisladores, grandes sacerdotes e
fundadores das sociedades teocráticas e sacerdotais. Esses quatro nomes têm a
mesma raiz sânscrita. O hinduismo deu origem ao judaísmo. Por isso, de Jeseu
Krishna fizeram Jesus Cristo”.
Documentos recentemente estudados mostram terem sido os hindus os
prováveis colonizadores do Egito. A documentação demonstra que o
conhecimento nasceu do saber hindu.
A assiriologia mostra que a lenda de Moisés foi copiada da de Sargão I, rei
acádio, que igualmente teria sido salvo em um cesto deixado no rio, à deriva.
A lenda de Sansão é outro exemplo. Sansão representa o sol. O poder que
lhe foi atribuído é o mesmo dos deuses solares. E, assim, examinando os escritos
de antigas civilizações, chegamos ao conhecimento das origens de tudo o que a
Bíblia narra como fatos reais. Concluímos então que Jesus Cristo nada mais
representa que uma cópia das lendas e mitos dos deuses adorados por povos os
mais remotos e variados.
XIV
Os Deuses Redentores
Percebendo a importância da luz do sol sobre a terra, o homem imaginou
que essa luz seria uma emanação protetora de Deus. Da idéia de que existia um
único sol, surgiu o monoteísmo, isto é, a crença em um só Deus.
Das palavras Devv e Divv, que em sânscrito significam sol e luminoso,
originou-se a palavra deus. Daí, em grego, a palavra Zeus; em latim, deo; para os
irlandeses, dias; em italiano dio, etc.
A parte do tempo em que a terra recebe a luz do sol recebeu o nome dia em
oposição ao período de trevas, a noite. O dia teria sido um presente divino, graças
à luz solar. Conseguindo produzir o fogo, aumentou a crença humana no deus sol.
Graças ao fogo, o homem pôde libertar-se de um dos seus maiores inimigos, que
era o frio, assim como passou a cozinhar os seus alimentos. Devendo cada vez
mais a vida ao calor, a gratidão do homem para com o sol cresceu ainda mais. Foi
assim que nasceu o mito solar, do qual Jesus Cristo é o último rebento.
Por uma série de ilações, chegaram igualmente à concepção do significado
místico da cruz. Dos raios solares foi criada uma cruz, espargindo raios por todos
os lados. Da mesma forma foi a idéia do Espírito Santo, um espírito benfazejo,
que irradia a bondade divina. Depois a seqüência mística do sol, o fogo e o vento,
dando origem a Salvitri, Agni e Vayu, do mito védico.
O rito védico celebra o nascimento de Salvitri, o deus-sol, em 25 de
dezembro, no solstício, quando aparecem as refulgentes estrelas. As estrelas
trazem a boa nova, a perspectiva de boas colheitas. Daí os sacrifícios e os ritos
propiciatórios oferecidos ao deus-sol.
Assim os cristãos encontraram o seu Jesus Cristo.
A vida dos deuses redentores é a vida do sol. Por isso, todos eles tiveram
suas datas de nascimento fixadas em 25 de dezembro: Mitra, Horus e Jesus
Cristo. Também é simbólica a ressurreição na primavera, tempo da germinação e
das folhas novas. Baseando-se nisto, Aristóteles e Platão admitiram uma certa
racionalidade dos que adoravam o sol.
Heródoto e Estrabão diziam que Mitra era o deus-sol, tendo por emblema
um sol radiante. Plutarco conta que o culto de Mitra veio para a Sicília trazido
pelos piratas do mar. Em escavações feitas no solo italiano, foram encontradas
placas de barro solidificados ao sol trazendo esta inscrição: “Deo Soli Invicto
Mitrae”, lembrando o deus dos persas.
Niceto escreveu que certos povos adoraram a Mitra como o deus do fogo,
outros como sendo o deus-sol.
Júlio Fírmino Materno disse que Mitra era a personificação do deus fogo,
enquanto Aquelau considerava-o o deus-sol.
São Paulino descreveu os mistérios de Mitra como sendo os de um deus
solar e redentor. Karneki, rei hindo-escita, no começo de nossa era, mandou
cunhar moedas em que se vê a efígie de Mitra dentro de um sol radiante. Mitra
ainda era representado com um disco solar na cabeça, segurando um globo com a
mão esquerda. Do mesmo modo os cristãos representam Jesus Cristo. Era o
Senhor. Ao surgir o cristianismo, os cristãos primitivos ainda chamavam o sol de
“Dominus”, com o que, lentamente, foi absorvendo o ritual mitráico.
No Egito, o sol era o “Pai Celestial”. Um obelisco trazido para o Circo
Máximo de Roma trazia esta inscrição: “O grande Deus, o justo Deus, o todo
esplendente”, tendo um sol espargindo seus raios para todos os lados.
Da mesma forma, todos os deuses dos índios americanos pertenciam ao rito
solar, assim como os deuses dos hindus, dos chineses e japoneses. Os caldeus,
adorando o sol como seu deus, dedicaram-lhe a cidade de Sípara, onde ardia o
fogo sagrado, eternamente, em sua honra. Em Edessa e em Palmira foram
encontrados templos dedicados ao deus-sol. Orfeu considerava o sol como sendo o
deus maior. Agamenon disse que o sol era o deus que tudo via e de que tudo
provinha.
Os judeus e os líderes do cristianismo, para a formação deste, só tiveram de
adaptar as crenças e rituais antigos a um novo personagem: Jesus Cristo. Toda a
roupagem necessária para vestir o novo deus preexistia. Apenas fazia-se
necessário amoldá-la um pouco.
XV
Jesus Cristo É um Mito Solar
Tendo em vista o completo silêncio histórico a respeito de Jesus Cristo, bem
como as evidentes ligações deste com o mito dos deuses-solares, Dupuis escreveu o
seguinte: “Um deus nascido de uma virgem, no solstício do inverno, que ressuscita
na Páscoa, no equinócio da primavera, depois de haver descido ao inferno; um
deus que leva atrás de si doze apóstolos, correspondentes às doze constelações;
que põe o homem sob o império da luz, não pode ser mais que um deus solar,
copiado de tantos outros deuses heliosísticos em que abundavam as religiões
orientais. No céu da esfera armilar dos magos e dos caldeus via-se um menino
colocado entre os braços de uma virgem celestial, a que Eratóstenes dá como Ísis,
mãe de Horus. Seu nascimento foi a 25 de dezembro. Era a virgem das
constelações zodiacais. Graças aos raios solares, a virgem pôde ser mãe sem
deixar de ser virgem... Via-se uma jovem ‘Seclanidas de Darzana', que em árabe é
‘Adrenadefa', e significa virgem pura, casta, imaculada e bela... Está assentada e
dá de mamar a um filho que alguns chamam de Jesus e, nós, de Cristo”.
Já vimos que Jesus repete todos os mistérios dos deuses solares e redentores,
pelo que Heródoto, Plutarco, Lactâncio e Firmico puderam afirmar que esse deus
redentor é o sol. De modo que Jesus é apenas mais um deus solar.
Ainda hoje, grande parte do rito cristão é de origem solar. Na Bíblia,
encontramos estas palavras: “Deus estabeleceu sua tenda no sol”, e ainda: “Sobre
vós que temeis o meu nome, levantar-se-á o sol da justiça e vossa vida estará em
seus raios”.
João diz que “o verbo é a lei, a luz e a vida, a luz que Ilumina a vista de
todos os mortais, a luz do mundo”. E ainda chama a Jesus de o “cordeiro”, o
“Agnus Dei qui tollit peccata mundi”. Com isto, o Apocalipse fez de Jesus o
“cordeiro pascal”, e a Igreja adorou-o sob a forma de um cordeiro até o ano de
680. Era o Cristo o Áries zodiacal, vindo de Agnus, com a significação de fogo, o
sol condensado.
Origenes justificava a adoração do sol tendo em vista a sua luz sensível e
também pelo aspecto espiritual.
Tertuliano reconheceu que o dogma da ressurreição tem sua origem na
religião persa de Mitra. Para S. Crisóstomo, Jesus era o sol da justiça, para
Sinésio, o sol intelectual. Fírmico Materno descreveu Jesus baixando ao inferno,
esplendente como o sol.
O domingo, o dia do Senhor, o dia do descanso, procede de Dominus, o
deus-sol, o Senhor.
Segundo Teodoro e Cirilo, para o maniqueus Cristo era o sol. Os
Saturnilianos acreditavam que a alma tinha substância solar, deixando o corpo e
voltando para o sol, de onde proviera, após a morte.
O antigo rito do batismo determinava que o catecúmeno voltasse o rosto em
primeiro lugar para o ocidente, para retirar de si a satanás, símbolo das trevas.
Igualmente, as festas do sábado santo são reminiscências do mito da luta do
sol contra as trevas, na Páscoa. As orações desse ofício são cópia dos hinos
védicos. A palavra aleluia, que era o grito de alegria dos persas, adoradores do
sol, quando na Páscoa festejavam a sua volta, significa: elevado e brilhante.
Foram necessários muitos séculos para que a igreja pudesse alienar um
pouco do que lembrava que o seu culto era de um deus solar. Entretanto, a
história escrita é inflexível, e demonstra que todos os deuses redentores ou solares
foram tão adorados quanto o mitológico Jesus Cristo. E embora tenha havido
longas fases em que foram impostos a ferro e fogo, nem por isto deixaram de cair,
nada mais sendo hoje do que o pó do passado religioso do homem.
O certo é que Jesus Cristo é mitológico de origem, natureza e significação.
O seu surgimento ocorreu para atender à tendência religiosa e mística da maioria,
que ainda hoje teme as realidades da vida e, portanto, procura, para orientar-se,
algo fora da esfera humana, na esperança de assim conseguir superar a si mesmo
e aos obstáculos que surgem quotidianamente.
O cristianismo é produto de tendências naturais de uma época,
aproveitadas espertamente pelos líderes do cristianismo. O judeu pobre e
oprimido, não tendo para quem apelar, passou a esperar de Deus aquilo que o seu
semelhante lhe negava. O sacerdote, valendo-se do deplorável estado de espírito
de uma população faminta e, sobretudo, desesperançada, ressuscitou um dentre
os velhos deuses para restaurar a esperança do povo judeu. E, assim, surgiu mais
um mito solar, mais um deus com todos os atributos divinos, tal como os que
antecederam. O novo deus solar em questão é Jesus Cristo.
XVI
Outras Fontes do Cristianismo
Conforme temos dito repetidas vezes, o cristianismo tomou por empréstimo
tudo quanto se fez necessário à sua formação. Assim, todos os ensinamentos
atribuídos a Cristo foram copiados dos povos com os quais os judeus tiveram
convivência. A sua moral, a moral que Cristo teria ensinado, aprendeu-a com os
filósofos que o antecederam em muitos séculos.
De sorte que não há inovações em nenhum setor ou aspecto do cristianismo.
Antigos povos, milênios antes, adoraram seus deuses semelhantemente.
Dentre as máximas adotadas pelo cristianismo, comentaremos a seguinte:
“Não faças aos outros o que não queres que a ti seja feito”. Este ensinamento não
teria partido de Jesus, conforme pretendem os cristãos, não sendo sequer uma
máxima cristã, originariamente.
Encontrá-la-emos em Confúcio, e ainda no bramanismo, no budismo e no
mazdeismo, fundado por Zoroastro. Era uma orientação filosófica e religiosa,
adotada pelos hindus. A originalidade do cristianismo consistiu apenas em criar
as penas eternas, um absurdo desumano e irracional. Enquanto isso, o mazdeismo
cria a possibilidade de regeneração do pior bandido, admitindo mesmo a sua
plena reintegração no seio da sociedade.
O perdão aos inimigos foi, muito antes de Jesus, aconselhado por Pitágoras.
Os egípcios religiosos praticavam uma moral muito elevada. No “Livro dos
Mortos” encontramos a confissão negativa, de acordo com a qual a alma do
morto comparecia ante o tribunal de Osiris e proferia em alta voz as suas más
ações.
O sentimento de igualdade e fraternidade para com os homens foi ensinado
por Filon. O cristianismo adotou os seus ensinamentos, atribuindo-os a Jesus. São
de Filon as seguintes palavras: “Os que exaltam as grandezas do mundo como
sendo um bem, devem ser reprimidos.”; “A distinção humana está na inteligência
e na justiça, embora partam do nosso escravo, comprado com o nosso dinheiro.”;
“Porque hás de ser sempre orgulhoso e te achares superior aos outros?”; “Quem
te trouxe ao mundo? Nu vieste, nu morrerás, não recebendo de Deus senão o
tempo entre o nascimento e a morte, para que o apliques na concórdia e na
justiça, repudiando todos os vícios e todas as qualidades que tornam o homem um
animal”; “A boa vontade e o amor entre os homens são a fonte de todos os bens
que podem existir”. Como vemos, não há nada de novo no cristianismo.
Platão salientou a felicidade que existe na prática da virtude. Ensinou a
tolerância à injúria e aos maus tratos, e condenou o suicídio. Recomendou o
humanismo, a castidade e o pudor, e condenou a volúpia, a vingança e o apego
demasiado aos bens. Sua moral baseou-se na exaltação da alma, no desprezo dos
sentidos e na vida contemplativa. O Padre Nosso foi copiado de Platão. Quem
conhece bem a obra de Platão percebe os traços comuns entre a mesma e o
cristianismo. Filon inspirou-se em Platão e, a Igreja, na obra de Filon, que
helenizou o judaísmo.
Aristóteles afirmou que a comunidade repousa no amor e na justiça.
Admitia a escravatura, mas libertou os seus escravos. Poderiam existir escravos,
mas não a seu serviço. A comunidade deveria instruir a todos, independentemente
da classe social, com o que ensinou o evangelho aos Evangelhos.
A abolição do sacrifício sangrento não foi introduzida pelo cristianismo.
Não lhe cabe tal mérito. Gélon, da Sicília, firmando a paz com os cartagineses,
estipulou como condição a supressão do sacrifício de vidas animais aos seus
deuses.
Sêneca aconselhava o domínio das paixões, a insensibilidade à dor e ao
prazer. Recomendava igualmente a indulgência para com os escravos, dizendo
que todos os homens são iguais. Referia-se ao céu como fazem os cristãos,
afirmando que todos são filhos de um mesmo pai. Concebia como pátria o
Universo. Os homens deveriam se ajudar e se amar mutuamente. Enquanto isso, o
humanismo cristão limitou-se apenas aos irmãos de fé. O bem visa somente a
salvação da alma, o que é egoísmo, nunca humanismo. Sêneca manifestou-se
contrário à pena de morte; o cristianismo, ao contrario, é responsável por
inúmeras execuções. Admitia a tolerância mesmo em face da culpa. Em vez de
perseguir e punir, por que não persuadir, ensinar e converter?
Epíteto e Marco Aurélio foram bons professores dos cristãos. Os filósofos
greco-romanos foram grandes mestres da moral cristã e da consolação, sem que
para isto criassem empresas, negócios ou castas. O cristianismo existente antes de
Jesus Cristo já pregava a moral anterior ao martírio do Gólgota. A moral cristã
não veio de Jesus Cristo nem dos Evangelhos, mas nasceu da tendência natural
para o aperfeiçoamento do homem. Não fosse a destruição sistemática de antigas
bibliotecas, determinada pelo clero no intuito de preservar os seus escusos
interesses, hoje seria possível patentear com documentos à mão que a moral
anterior à cristã era bem melhor do que esta, tendo-lhe servido de modelo. Assim,
vê-se que a moral jamais foi patrimônio de castas ou de indivíduos, sendo uma
lenta conquista da humanidade, com ou sem religião, e mesmo contra ela. Por isso
é que o mundo racionaliza-se continuamente, e avança sempre no sentido do seu
aperfeiçoamento. A bondade humana independe da idéia religiosa. A razão
ensina-nos o que devemos ao nosso meio social, independentemente da fé e da
religião. Para justificar o aparecimento de Jesus, fez-se necessário recorrer a uma
moral que, no entanto, já era um patrimônio da humanidade. Jesus nada mais foi
do que a materialização de qualidades que já existiam. Por isso, mesmo em moral,
Jesus foi ator, não autor. O cristianismo apenas sistematizou e industrializou essa
velha moral, estabelecendo-a como um rendoso comércio. A Igreja é responsável
pela deturpação dessa moral. Havia a moral pela moral, que foi substituída pela
moral bíblica, em que só se é bom para ganhar o céu.
Superpondo-se um grupo empresarialmente forte, extinguiu-se a moral
individual.
XVII
Judaísmo e Cristianismo
Pesquisas recentes e estudos comparados têm demonstrado que a mitologia
judaico-cristã é bem anterior ao próprio judaísmo, quando se percebe que
dogmas como o da imortalidade da alma, da ressurreição e do Verbo encarnado
são muito anteriores ao cristianismo.
A imortalidade da alma já era multimilenar quando os judeus foram
levados cativos para a Babilônia. Zoroastro ensinara, muito antes, ser a alma
imortal, e que essa imortalidade seria produto de uma opção humana. O livre
arbítrio levaria o homem a escolher uma vida que o levaria ou não à
imortalidade. O erro e o mal produziriam a morte definitiva, a prática do bem, a
imortalidade.
Do mesmo modo, na Ciropédia, bem anterior a Zoroastro, lê-se que Ciro,
moribundo, disse: “Não creio que a alma que vive em um corpo mortal se extinga
desde que saia dele, e que a capacidade de pensar desapareça apenas porque
deixou o corpo que não tem como pensar por si mesmo”. Por outro lado Einstein,
pouco antes de morrer, declarou não crer que algo sobrasse do ser vivo após a
morte.
Os egípcios, os hindus, os sumérios, os hititas e os fenícios criam na
imortalidade da alma.
A ressurreição foi um dos fundamentos do Zend-Avesta. Zoroastro também
ensinou que o fim do mundo seria precedido por um grande acontecimento, a ser
predito por profetas. Os persas tiveram os seus profetas, que foram Ascedermani
e Ascerdemat, os quais passaram à Bíblia sob os novos nomes de Enock e Elias,
entidades míticas, como se vê. Desses mitos surgiram o Talmud e os Evangelhos, o
que mostra que, em religião, a idéia original pertence à noite dos tempos.
A doutrina do Verbo já era antiqüíssima no Egito. Deus teria gerado Kneph
– a palavra, o Verbo –, que é igual ao pai. Da união de Deus com o Verbo nasceu o
fogo, a vida, Fta, a vida de todos os seres.
O monoteísmo e a Santíssima Trindade eram crenças muito antigas na
Índia. Os deuses únicos e os deuses secundários são uma velha doutrina oriental.
A religião greco-romana já possuía o seu Apolo e Zeus, acolitados por uma
porção de deuses secundários. Essas velhas lendas deram origem ao Deus do
cristianismo, com toda sua corte de santos e anjos. O politeísmo de há muito
vinha caminhando para o monoteísmo. Os gregos já haviam concebido a idéia de
um intermediário entre os homens e Júpiter, que era Apolo, tendo-se encarnado
para redimir os homens.
Porfírio citou o seguinte oráculo de Serapis: “Deus é antes e depois e ao
mesmo tempo, é o Verbo e o Espírito, como um e outro”.
O mundo antigo cria em um Deus único, pai de todas as coisas, afirmou
Máximo de Tiro. O povo então já dizia: Deus o sabe! Deus o quer! Deus o
abençoe! Os oráculos só se referiam a Deus e não aos deuses.
Os apologistas do cristianismo, tais como Eusébio, Agostinho, Lactâncio,
Justino, Atanásio e muitos outros, ensinavam que unidade de Deus era conhecida
desde a mais remota antiguidade. Os órficos, inclusive, admitiam-na.
Na Bíblia, ao ser traduzido para o grego e para o latim, o nome de Deus
passou a ser muitas vezes Senhor, Dominus, para ficar conforme o nome do Deus-
sol do mitraísmo.
O amor a Deus foi a base de todas as religiões copiadas pelo judaísmo.
Isaías falava de Deus como Pai Celestial. Ezequiel dizia que Deus não queria a
morte do pecador, preferindo antes a sua conversão. O justo viverá eternamente
pela fé. São palavras de Habacuc, repetidas por Paulo em Gálatas 3:2.
Como vimos, a doutrina do Verbo vem de Platão, tendo sido este o
intermediário entre os metafísicos e os cristãos. Foi ele quem concebeu a idéia da
separação do corpo e da alma, e pôs aquele na dependência desta. Na sua opinião,
a terra era o desterro da alma. Foi o criador do sistema filosófico da decadência
moral do homem, fazendo dos sentidos uma ameaça, do mundo um mal, e da
eternidade o delírio, o sonho.
Cícero e Sêneca tinham idéias cristãs, mas não conheceram a Jesus Cristo
nem ao cristianismo. Agostinho leu as obras de Cícero e trocou o maniqueísmo
pelo cristianismo. A Igreja procurou destruir as principais obras de Cícero e de
Sêneca para que a posteridade não percebesse que eles não tinham sido cristãos
seguidores de Cristo, mas apenas que as suas idéias coincidiam com as que o
cristianismo esposou.
O cristianismo nasceu da helenização do judaísmo. Os cristãos terapeutas
abandonaram o judaísmo ortodoxo porque este tinha posto de lado o culto
nacional do templo e o sacrifício Pascal, retirando-se para uma vida
contemplativa nos montes, longe dos homens e dos negócios. Estabeleceram uma
sociedade comunal, considerando o casamento um apego à carne, um empecilho à
salvação da alma, com o que proscreveram os principais prazeres da vida,
exaltando o celibato e a pobreza, como os essênios, além de aconselhar a caridade.
Eusébio chamou aos terapeutas de cristãos sem Cristo. Para ele, um
terapeuta era um autêntico cristão. Isto levou Strauss a escrever: “Os terapeutas,
os essênios e os cristãos dão sempre muito o que pensar”.
A doutrina dos essênios, a moral dos terapeutas, a encarnação do Verbo,
vinda do judaísmo helenizado, é o cristianismo de Filon. Desse modo, Filon foi
criador do cristianismo, sem o saber. Ele refere-se ao Verbo nos termos da
mitologia egípcia, sem, contudo, mencionar a crença em Jesus Cristo.
Salomão fez da sabedoria divina a criação. O Livro da Sabedoria define a
natureza desse principio intermediário, transformando o pensamento vago do rei
judeu sobre a sabedoria da doutrina do Verbo.
Sirac, em “Eclesiástico”, faz a doutrina do Verbo ser mais precisa: “A
sabedoria vem de Deus, estando sempre com ele. Foi criada antes de todas as
coisas. A voz da inteligência existe desde o principio. O Verbo de Deus, no mais
alto do céu, é a fonte da sabedora”! Filon disse que o Verbo se fizera humano.
Segundo ele, Deus era infalível e inacessível à inteligência humana, não nos
alcançando senão pela graça divina. Para ele, ainda, o Verbo não era apenas a
palavra, mas a imagem visível de Deus. O Verbo seria o Ungido do Senhor, o ideal
da natureza, o Adão Celeste, é a doutrina da encarnação do Verbo, tomando a
forma humana. O Verbo é o intermediário entre Deus e os homens. Diz ainda que
o Verbo é o pão da vida. Por ai vemos que não foi o Cristo o criador do
cristianismo, mas este é que o criou.
Clemente de Alexandria, Origenes ou Paulo, assim como os primeiros
padres do cristianismo, jamais se referiram a Jesus Cristo como tendo sido um
homem que tivesse caminhado do Horto ao Gólgota, mas tiveram-no apenas como
o Verbo, conforme a doutrina de Platão e de Filon.
XVIII
O Cristianismo sem Jesus Cristo
Está patente a existência do cristianismo sem Cristo. A existência do clero,
por outro lado, foi uma exigência bramânica. Pregando por meio de parábolas, os
sacerdotes faziam-se necessários para esclarecer o sentido das mesmas. Justificase, assim, o pagamento com as esmolas dos crentes. Ensinavam a religião e
apoderavam-se do dinheiro. Suas terras e os templos já eram isentos dos
impostos. O sumo-sacerdote não se casava e era venerado como um deus.
No budismo, tanto os bonzos como os mosteiros são mantidos pela
comunidade, e os monges, igualmente, não se casam. O Dalai-Lama é o Vigário de
Deus, o sucessor de Fó, sendo Infalível como o Papa se diz ser. Nos mosteiros
todos se chamam de irmãos.
O clero persa era dividido em ordens hierárquicas, e tinha o direito a um
décimo da renda da comunidade. Os magos persas, como os profetas judeus, eram
puros e não trabalhavam.
No Egito, a classe mais alta era a dos sacerdotes. Elegiam o rei e limitavam
a sua ação. O povo arrendava as terras do templo. Só o clero ensinava a religião e
presidia aos sacrifícios. O regime era teocrata e todos tinham de submeter-se às
regras eclesiásticas. O sacerdote era o adivinho, fazia os oráculos, as profecias, os
sortilégios e os exorcismos. Afirmava ter força sobre a natureza, para o bem da
humanidade.
Os brâmanes procuravam afugentar os malefícios e as maldições. Para isto,
cultivam certas plantas, como o lótus e o cânhamo, das quais faziam licores como
o “amrita”, que possuía virtudes milagrosas. Tinham as mesmas modalidades de
expiação ainda hoje adotadas pelo cristianismo.
As mortificações hindus são as mesmas praticadas pelos cristãos medievais.
Certos crentes carregaram durante toda a vida enormes colares de ferro, outros,
pesadas correntes de ferro. Alguns se marcavam com o ferro em brasa, avivando
a ferida todos os dias. Muitos vão rolando deitados até Benares, pagar ali suas
promessas. Também usam sandálias cravadas de finos pregos, os quais entram
pelas solas dos pés.
No Egito, os sacerdotes de Ísis açoitavam-se em sua honra, expiando, com
isso, suas próprias culpas e as do povo.
Entre os gregos havia a água lustral para as expiações e para as
propiciações. Os sacerdotes de Dodona feriam-se e os de Diana praticavam tais
coisas em seus corpos, que às vezes punham em perigo a própria vida.
Os romanos procuravam livrar-se das calamidades públicas oferecendo aos
seus deuses sacrifícios humanos. Os Indostânicos tornavam-se celibatários,
pediam esmolas, jejuavam e isolavam-se do convívio com outras Pessoas.
No budismo, as crianças eram ensinadas a fazer votos de castidade. O
governo concedia honras especiais ao que chegavam aos 40 anos castos. No Egito,
existiam mosteiros apropriados para os que faziam votos de castidade. Também
os sacerdotes de Baco, na Grécia, faziam tais votos. Os sacerdotes de Cibele eram
castos e castrados. Em Roma, as vestais viviam em mosteiros, indo para eles até
aos seis anos de idade, e juravam não deixar extinguir-se o fogo sagrado e
manterem-se virgens. A que faltasse ao juramento seria enterrada viva e, o
amante, condenado à morte.
Os budistas consagravam o pão e o vinho, representando o corpo e o sangue
de Agni, quando os bonzos aspergiam os crentes. Enquanto aspergem água
lustral, cantam hinos ao sol e ao Fogo, o “Kirie Eleison” que os católicos copiaram
e cantam ou recitam durante a missa. Inicialmente o sacrifício constava da
imolação de uma pessoa, a qual posteriormente foi substituída pela hóstia. Tal
como o padre católico, o sacerdote budista também lava as mãos antes das
libações. A cerimônia budista é em tudo semelhante à missa da Igreja Católica.
Os persas tinham, em seus ritos religiosos, a eucaristia, ou seja, a mesma
oferenda do pão e do vinho que também consta do ritual da missa, bem como o
Pater Noster, o Credo e o Confiteor.
Na Grécia, rezava-se pela manhã e à noite. Os etruscos juntavam as mãos
quando oravam. Também a confissão lá era praticada pelos persas. O ritual do
catolicismo tem muito do ritual mitraico, assim como a vestimenta dos sacerdotes
católicos foi copiada do figurino dos sacerdotes de Mitra.
Muitas das religiões pré-cristãs já festejavam a Páscoa e a Natividade. Os
persas inclusive dedicaram um dia aos mortos. E, no dia em que o filho começava
a receber instrução religiosa, havia festa na casa dos pais.
Entre os gregos, cada dia da semana era dedicado a um deus.
Os Hindus viviam peregrinando de um templo para outro. Criam na
existência de dias bons e dias maus, como também em sortilégios e malefícios.
Cada pessoa era dedicada a um anjo que a protegia desde o nascimento. Benziam
as vacas, os instrumentos agrícolas e animais domésticos.
A história do passado religioso do homem está repleta de virgens puras e
belas, que são as mães dos deuses. Maria, mãe de Jesus Cristo, é apenas mais uma
dentre tantas outras.
Igualmente, as procissões constituem práticas multimilenares. É
antiqüíssima tal modalidade de culto. Juno e Diana passearam em andores
durante muitos séculos. As cidades sempre se enfeitaram à passagem dos santos e
dos deuses.
Por aí vemos que nem Jesus nem o cristianismo têm nada de original. A
veneração das imagens já era muito anterior ao cristianismo. Por outro lado, o
judaísmo, que as baniu, não foi, entretanto, o primeiro a tomar tal atitude.
Plutarco disse que os tebanos não as usavam, assim como Numa Pompílio proibiu
os romanos de usarem-nas, durante o seu governo. O batismo era uma cerimônia
praticada pelos antigos muito antes de se cogitar, sequer, do nome de cristão. Os
hindus lavam o recém-nascido em água lustral, dando-lhe um nome de um gênio
protetor. Aos oito anos, a criança aprende a recitar os hinos ao Deus-Sol. A
extrema-unção também, de há muito antes do cristianismo, era praticada pelos
hindus.
Copiando detalhes dos ritos e cultos de uma grande variedade de seitas, o
cristianismo constituiu o seu próprio ritual, tudo girando em torno do Deus-Sol,
no qual, por fim, vestiram a roupa de Jesus Cristo.

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