Verdadeiro versus falso - primeira parte versão revista e aumentada

Transcrição

Verdadeiro versus falso - primeira parte versão revista e aumentada
Verdadeiro versus falso - primeira parte
versão revista e aumentada
Alan Neil Ditchfield
1o de janeiro de 2002
" As massas sucumbem a uma mentira grande
com mais facilidade do que a uma pequena."
Adolf Hitler (1889-1945), Mein Kampf,
vol. 1, capítulo. 10 (1925)
Nota à primeira versão (publicada neste site em 15 de dezembro de 2001):
-- O dr. Alan Neil Ditchfield, de Curitiba, que conheci quando ele
estrava traduzindo Senso Incomum do físico Alan Cromer para a Editora da
UniverCidade, onde então eu trabalhava, é um dos homens mais
inteligentes deste país. Filho de um engenheiro inglês que veio morar no
Brasil, é ele próprio engenheiro,além de empresário e, querendo ou não,
filósofo. Observador arguto da maluquice nacional e mundial, de vez em
quando ele me envia umas notas simplesmente deliciosas, que eu teria de
ser um mórbido egoísta para sonegar aos visitantes deste site. Eis a
mais recente delas. - O. de C.
NOTA
A CONTROVÉRSIA A PROPÓSITO DO AQUECIMENTO GLOBAL, ORA IMPUTADO À
ATIVIDADE ECONÔMICA HUMANA, SURGIU POR CAUSA DA PRECARIEDADE DAS
OBSERVAÇÕES DAS FORÇAS NATURAIS QUE ESTÃO A MOLDAR O CLIMA DO PLANETA. SÃO
ALARDEADAS PREVISÕES CATASTRÓFICAS GERADAS EM MODELOS MATEMÁTICOS DE CLIMA
GLOBAL, CARENTES DE BASE EMPÍRICA. A AMBIGÜIDADE ALIMENTA TODA SORTE DE
PENSAMENTO ESPECULATIVO, QUE SERVE A AGENDAS POLITICAS PARA CERCEAR A
LIBERDADE. URGE, POIS, MELHORAR A QUALIDADE DE DADOS SOBRE CLIMA.
O GLOBO TERRESTRE, DA CAPA, É ENVOLVIDO POR UMA FIGURA GEOMÉTRICA QUE
FECHA A ESFERA COM 750 ARCOS DE IGUAL COMPRIMENTO, 7°58' 32''. FOI CRIADA
PELO AUTOR, E APRESENTADA À CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE
REFERENCIAMENTO GEOGRÁFICO CONVOCADA EM MARÇO DE 2000 PELA UNIVERSITY OF
CALIFORNIA - SANTA BARBARA. SERÁ ÚTIL PARA NOVO PADRÃO INTERNACIONAL DE
REFERÊNCIA DE POSIÇÕES, NECESSÁRIO PARA LIDAR COM A EXPANSÃO DO TRÁFEGO DE
DADOS DE IMAGENS USADAS EM ESTUDOS DE RECURSOS NATURAIS, DE CLIMA E DE
MEIO-AMBIENTE. A ANTIGA DESIGNAÇÃO DE POSIÇÕES, COM LATITUDES E
LONGITUDES, ESTÁ FICANDO INADEQUADA.
ALAN NEIL DITCHFIELD
ALAMEDA PRINCESA IZABEL 2640 / 24
CURITIBA PR BRASIL 80730-080
TEL (+55 41) 339 1571
[email protected]
Apresentação
É persistente a investida da autocracia contra a liberdade. Ruy Barbosa
execrou o poder arbitrário como "o bramir de um oceano de barbárie
ameaçando as fronteiras de nossa nacionalidade". Contra os vagalhões da
barbárie ele ergueu seu Credo Político:
Creio na Liberdade onipotente, criadora das nações robustas;
Creio na Lei, o seu órgão capital, a primeira de suas necessidades;
Creio que, neste regime, o soberano é o Direito interpretado pelos
tribunais.
Creio que a própria soberania popular necessita de limites, e que estes
limites vêm a ser as suas Constituições, por ela mesma criadas, nas suas
horas de inspiração jurídica, em garantia contra seus impulsos de paixão
desordenada;
Creio que a República decai, porque se deixou estragar confiando-se no
regime de força;
Creio que a federação perecerá se continuar a não saber acatar e elevar
a justiça; porque da justiça nasce a confiança; da confiança o trabalho,
do trabalho a produção, da produção o crédito, do crédito a opulência,
da opulência a respeitabilidade, a duração, o vigor.
Creio na tribuna sem fúrias e na imprensa sem restrições porque creio no
poder da razão e da verdade;
Creio na moderação e na tolerância, no progresso e na tradição, no
respeito e na disciplina, na impotência fatal dos incompetentes e no
valor insuprível das capacidades.
Rejeito as práticas de arbítrio;
Abomino as ditaduras de todo o gênero, militares ou científicas,
coroadas ou populares;
Detesto os estados de sítio, as suspensões de garantias, as razões de
Estado, as leis de salvação pública;
Odeio as combinações hipócritas do absolutismo dissimulado sob formas
democráticas e republicanas;
Oponho-me aos governos de seita, aos governos de facção, aos governos de
ignorância.
Os adeptos de governos de ignorância lançam mão de falácias alardeadas
como verdades científicas. Este ensaio trata da pseudociência, das
inverdades mais invocadas para fundamentar esquemas de poder autocráticos
que ameaçam a vida de todo cidadão. Para tanto:
Conceitua e contrasta a Ciência e sua antítese, a pseudociência;
Recapitula falácias da pseudociência, com largo uso político;
Aponta o aquecimento global como fenômeno sociológico, não físico
Comenta o Protocolo de Kyoto e Limites do Crescimento;
Passa em revista conseqüências do cerceamento da liberdade;
Ilustra o uso do ridículo como arma contra a pseudociência.
MOTIVO DO ENSAIO
A consciência liberal fica angustiada pela exploração de inverdades com o
propósito de cercear a liberdade e proscrever a democracia. O estado de
direito é hoje universalmente reconhecido como palco essencial ao
funcionamento eficiente de uma economia, com capacidade para criar a
fartura que supera as carências da coletividade. Todavia, é caluniado por
inimigos da liberdade como antagônico aos pobres, aos humildes, aos
excluídos, aos deserdados. Na verdade, é antagônico apenas aos interesses
à espreita para seqüestrar o poder público e colocá-lo a serviço do
próprio bolso. Neste ensaio declaro-me inimigo da pseudociência que serve
de arrazoado para o exercício do poder arbitrário, uma inimizade que
remonta aos primeiros anos de vida. Minha educação, em Teoria Geral do
Estado, começou cedo e foi marcada por três episódios em que aprendi o que
é governo, como exerce controle sobre a vida alheia, e identifiquei os
interesses servidos por tais controles.
Quando eu tinha sete anos via, à porta da escola, um pipoqueiro de cabelos
brancos que lá ganhava a vida honestamente, exposto à chuva e ao sol. Era
periodicamente achacado por uma dupla de fiscais da prefeitura, que
confiscavam o carrinho, gritavam imprecações e faziam ameaças à garotada.
Vestiam roupa de bandido: chapéu panamá de aba larga, terno azul listrado,
paletó jaquetão, arma ostensivamente à cintura. O velhinho voltava no dia
seguinte, visivelmente mais pobre. Os garotos mais velhos explicavam que o
governo fazia aquela maldade. Eu não sabia o que é governo; passou a ser
algo maligno, encarnado naquela dupla de facínoras. Nunca mais mudou a má
impressão inicial. Através da vida vi a repetição do mesmo enredo de abuso
de poder para extorquir dinheiro de quem trabalha e produz; mudaram os
atores e os palcos, mas o enredo foi sempre o mesmo.
Aos onze anos passei a tratar pessoalmente do emplacamento anual de minha
bicicleta, o que foi minha experiência introdutória ao mundo cartorário. À
época, tudo que rodava era emplacado, para melhor controle das
autoridades. O ato inicial era o requerimento encerrado com as palavras
cabalísticas, P. Deferimento, selado com um selo azul e um vermelho,
assinatura aposta aos selos; firma reconhecida. Como menor de idade, não
tinha carteira de identidade para provar que existia, por isso precisava
do sucedâneo: fotocópia autenticada de certidão de nascimento. Pagamento
de taxas em coletoria no centro da cidade; emplacamento em bairro
distante. Filas em todos as etapas. Foi minha introdução à via sacra de:
licença, alvará, permissão, concessão, autorização, homologação, certidão,
aprovação, autenticação, regulamentação, inspeção, fiscalização, controles
que rimam com corrupção porque não podem concordar com nada construtivo.
Para completar a rima nunca é demais repetir que a ocasião faz o ladrão:
se um carimbo for colocado na mão de um funcionário público, surge preço
pela carimbada.
Minha instrução em Teoria Geral do Estado foi completada em nível
universitário quando fui obrigado a tratar com o Banco do Brasil,
monopolista de operações de câmbio, o único estabelecimento para a compra
ou venda legal de dólares. Estava em vigor o Regime de Licença Prévia;
qualquer transação em moeda estrangeira precisava da aprovação do Banco do
Brasil, para ter validade jurídica. O regime fora instituído em nome da
austeridade, para evitar o malbaratamento de dólares com importações
supérfluas; só seriam admitidos gastos de divisas para compras essenciais
ao país. Eu comprava livros de engenharia em livraria de Nova York, que
fornecia catálogos das grandes editoras de livros técnicos, e despachava
os pedidos. Constatei que os sábios do serviço público conceituavam livros
de engenharia como artigo supérfluo, de compra tolerada até o limite de
dez dólares mensais, o que me obrigava a ir todo mês ao Banco do Brasil,
munido de documentação, catálogos, listas de preços, para explicar o que
faria com os dólares. A perda de tempo e as demoras eram os inconvenientes
menores; o pior era ter que ouvir desaforo, porque desejava comprar livros
profissionais com recursos próprios. E isto tornou-se intolerável quando o
licenciador do Banco do Brasil passou a exercer censura sobre minhas
leituras. Aconteceu quando postulei a compra do livro clássico de
resistência de materiais, Strength of Materials, de Stephen Timoshenko,
cientista russo radicado na California. Por razão que desconheço o
licenciador montou uma cena de indignação: "esses dólares que você sempre
está a comprar não estão sendo usados para compra de livros, mas para
outra finalidade que não sei qual é. Vê-se logo que nada tem a ver com
engenharia, com a construção de casas. Que assunto será esse, ora,
Resistência de Imateriais? Só faltou acrescentar que é proibida a compra
de livros de religião por quem não for padre, com anuência escrita do
bispo da diocese. Desisti da legalidade. Passei a comprar dólares no
câmbio negro para contrabandear livros de que precisava como estudante de
engenharia. Corri o risco de pena de prisão pelo crime de evasão de
divisas, na forma de lei ainda vigente, com desdouro à legislação.
Ora, entendo que não preciso das luzes do Banco do Brasil para bem
escolher meus livros, e que nenhuma pessoa de bem precisa de oscurantistas
para nada; quem não dispensa controles de governo sobre atividades lícitas
são seus beneficiários: os monopolistas, mancomunados com licenciadores
corruptos. E eu não era o único com queixas contra o Banco do Brasil.
Diariamente passava em frente a um pátio onde via equipamentos de
construção parados por falta de peças importadas. A Ford fechou sua linha
de montagem de caminhões, tantas eram as arbitrariedades a interromper o
trabalho. E o país ia parando para "poupar divisas". A imprensa passou a
noticiar o que se fazia com aqueles dólares administrados pelo Banco do
Brasil, em memorável série de escândalos sobre as milhares de fortunas
instantâneas feitas com um papel de privilégio: a licença de importação.
Seletividade significava que os selecionadores do Banco do Brasil
selecionavam seletos negócios para um selecionado de sua seleção (sócios,
parentes, amantes e amigos). O Rio de Janeiro tornara-se uma feira de
tráfego de influência. A torrente de denúncias desaguou no mar de lama de
que falou Getúlio Vargas antes de morrer. Formei então doutrina sobre a
intervenção do estado na vida privada: sou resolutamente contra. Ressalvo
que considero utópica a aspiração anarquista por um mundo sem governo; é
antes inevitável, como o jogo e a prostituição, atividades toleradas,
mantidas sob rédeas curtas para evitar danos maiores à sociedade. O lado
de fora do balcão de atendimento do Banco do Brasil formara um liberal.
Recém-formado, trabalhei como engenheiro em projeto e construção de obras
grandes nos Estados Unidos. A vida cotidiana reforçou minha convicção de
que o aparato da República Cartorial (de que fala o sociólogo Hélio
Jaguaribe) era meramente safado. Lá vi um país que funcionava bem, sem
submeter o cidadão ao vexame de apresentar atestados, certidões negativas,
folha corrida de antecedentes criminais, a cada ato corriqueiro. Era país
sem cartórios, que não tinha uso algum para assinatura reconhecida; país
sem licença para importar, licença para exportar, autorização para comprar
ou vender moeda estrangeira; sem carteira de identidade (a constituição
sabiamente proíbe sua criação). É frívolo e injusto invocar diferenças
culturais, que fariam do americano um ser naturalmente honesto; afinal, a
humanidade de lá é também a humanidade de cá. Há diferenças nos quadros
institucionais, liberais num e opressivos noutro. O quadro desejável de
instituições liberais, produto de séculos de evolução política, lá sempre
está sob ameaça das mesmas forças autoritárias que atuam em todo o mundo.
Sob o calor do atentado ao World Trade Center o congresso americano não
pôde negar o pedido de órgãos de segurança, por leis draconianas a
pretexto de combater o terrorismo. O atenuante é que o congresso teve a
visão de limitar a quatro anos a vigência de tais leis.
Os americanos quase sempre souberam escudar a atividade econômica contra a
injunção política. A intervenção estatal inaugurada sob as pressões da
Grande Depressão e reforçada pelas emergências da Segunda Guerra Mundial
chegou a ser tida como permanente, mas rapidamente caiu em descrédito, de
início nos países de língua inglesa, depois na Europa Ocidental, e
finalmente no mundo comunista. O planejamento econômico estatal falhou
pela razão apontada por Leon Trotsky, ao apreciar a execução do primeiro
plano qüinqüenal de Stalin: "O planejador, para ser bem sucedido, deveria
ter a Mente Universal descrita por Pierre Laplace; mente com capacidade
para prever as posições futuras de cada partícula do universo. O
planejador começaria por ditar que área seria dedicada à alimentação do
gado e terminaria ditando que botões deveriam ser pregados em cada
paletó." Mostra que, sem preços de mercado, torna-se impossível exercer
critério econômico na escolha entre alternativas. Estava viva na memória
de Trotsky o insucesso de Lenin, ao decretar que todo gênero seria vendido
a preço de custo. Tentativa para elaborar uma tabela preços revelou uma
lista de mais de dois milhões de ítens. Revelou também diferenças brutais
entre custos de um produtor eficiente e o ineficiente, entre rendimentos
agrícolas em solos pobres ou ricos; entre jazidas de minério de baixo ou
alto teor; entre o frete em distância continental ou na mesma rua.
Há trinta anos começou a surgir a causa do meio-ambiente, como sucessora
de um desmoralizado intervencionismo econômico, para saciar a ambição de
poder dos de índole autocrática. O que foi comício de barbudos
esfarrapados que fumavam maconha transformou-se numa atividade organizada
que, nos Estados Unidos, emprega dezenas de milhares. As maiores
organizações de meio-ambiente hoje têm orçamentos de centenas de milhões
de dólares, são dirigidas por executivos com salários usuais em grande
indústria, os quais empregam todas as artimanhas das agências
publicitárias de Madison Avenue para tornar máxima sua renda. Tão grandes
são suas custas de processos judiciais que alguns movimentos de
meio-ambiente mais parecem escritórios de advocacia, que carregam a
reboque uma organização não governamental para criar casos. Se no Brasil
já havia a figura do advogado de porta de xadrez, na América surgiu o seu
equivalente: o advogado de portão de indústria. Mas os tribunais
americanos são severos na exigência de provas materiais de danos, nas
conexões de efeito e causa. Surgiu, em resposta à demanda, um grande corpo
de peritos de meio-ambiente para medir, calcular e dar veracidade a
alegações.
"O que vem a ser Verdade? Perguntou o cínico Pôncio Pilatos - e não
esperou para ouvir a resposta", escreveu Francis Bacon, num ensaio sobre o
tema. É tema oportuno numa época em que o meio intelectual está permeado
pelo relativismo inconseqüente de "cientistas" sociais . Tão grande é o
prestígio da ciência que ela vem sendo elogiada com imitações de má
qualidade, mas com defeitos óbvios ao bom senso.
Ciência e pseudociência é objeto da primeira seção deste ensaio. A seguir
são dados cinco exemplos da exploração da credulidade popular, mediante a
criação do que Olavo de Carvalho denominou O Imbecil Coletivo. Uma
especulação corrente, o aquecimento global por atividade humana, está
rebatido na íntegra do artigo de Richard Lindzen, professor titular de
meteorologia do Massachusetts Institute of Technology. Mas nem este
instituto de tecnologia, o mais renomado do mundo, fica imune à
pseudociência. Em 1972 esteve associado à publicação de Limits to Growth,
obra basilar do movimento ecológico, com uma tiragem de milhões de
exemplares, com previsões catastróficas que o tempo desmentiu. É hoje
lembrado como exemplo das limitações de modelos matemáticos exercidos em
computadores, no trato de questões complexas. Mesmo os supercomputadores
atuais não têm capacidade para algo mais simples, a explicação e previsão
confiável de fenômenos climáticos. Há impaciência com o requisito de prova
cientificamente válida, com apoio de dados empiricamente observados. Há
propensão a absolver o modelo e descartar os dados, como na pseudociência
marxista, que diz ter na lógica dialética uma ciência tão perfeita, que
dispensa comprovação experimental para transformar hipótese em tese
científica. O custo, para a humanidade, da "verdade" estabelecida pelo
arbítrio dos donos de partidos totalitários é explicado na penúltima
seção, e o antídoto na úlltma: Ridendo castigat mores.
O científico e o pseudocientífico
Pseudo significa falso. O caminho para identificar uma inverdade passa
pela reunião de conhecimento sobre o tema, neste caso sobre a própria
ciência. Saber ciência não significa conhecer apenas fatos científicos,
por exemplo, a distância da terra ao sol; a idade da terra; as diferenças
entre espécies. Significa conhecer a natureza da ciência, configurada nas
etapas do método científico: observação do fenômeno; formulação da
hipótese; concepção de experiências significativas; avaliação de
alternativas; requisito de prova válida; comprovação experimental;
construção de teorias e sua divulgação por canais apropriados. É
procedimento que torna possível derivar conclusões fidedignas e relevantes
sobre fenômenos do universo físico.
Em oposição à ciência os meios de comunicação despejam uma contracorrente
de disparates, fantasia, desinformação, e confusão; todas alardeadas como
"fatos verdadeiros". É trabalho quase sobre-humano distinguir o verdadeiro
do falso neste turbilhão. Para abreviá-lo é útil ficar atento a alguns dos
sintomas da pseudociência, pois a troca de fatos por fantasia e tolice
deixa pistas que quase todos podem aprender a reconhecer. Estão listadas a
seguir alguns dos mais comuns sintomas da pseudociência. A presença de um
ou mais destes em qualquer matéria a identifica como pseudociência.
Todavia, há idéias que não exibem nenhum destes sintomas mas podem ser
pseudociência -os interessados estão sempre a inventar modos novos para
enganar. O que segue é um conjunto de atributos, antes suficientes do que
necessários, para caracterizar a pseudociência.
PSEUDOCIÊNCIA: exibe soberba indiferença a fatos. Quem escreve tende a
inventar falsos fatos -algo que Norman Mailer simplesmente apelidou de
"factóides" -para remediar a omissão de investigação direta ou consulta a
obras de referência, até mesmo quando os factóides forem centrais ao
argumento do pseudocientista e suas conclusões. Isto também pode ser visto
no fato de pseudocientistas raramente submeterem o que escrevem à revisão.
A primeira edição de qualquer livro de pseudociência é quase sempre a
última, embora o livro venha a ser reimpresso por décadas ou séculos a
fio. Até mesmo um livro com enganos óbvios, erros, e erratas em muitas
páginas é reimpresso no estado em que está, por várias vezes. Compare-se
isto ao que ocorre com livros de ensino de ciência, os quais
freqüentemente têm edição nova a cada poucos anos por causa do acúmulo
rápido de fatos novos, idéias, e abordagens em ciência.
PSEUDOCIÊNCIA: é quase invariavelmente uma exegese mascarada de pesquisa.
O pseudocientista recorta artigos de jornais, coleta opiniões avulsas, lê
o que outro pseudocientista escreveu, ou se debruça sobre a interpretação
de obras religiosas antigas ou lendas mitológicas. O pseudocientista não
faz investigação independente para conferir a solidez de suas fontes; elas
são aceitas com credulidade. Ou então mitos e textos velhos são
interpretados simbolicamente como se fossem uma mancha de Rorschach, a
qual o pseudocientista interpreta como imagina.
PSEUDOCIÊNCIA: começa com uma hipótese atraente ao pseudocientista, por
razão emocional, ainda que improvável, que o induz a procurar apenas as
publicações que parecem apoiá-la. Evidência contrária é censurada. Falando
de modo geral, a meta da pseudociência é a de justificar convicções
fortes, em lugar de investigar e descobrir o que de fato ocorre, ou
ensaiar explicações alternativas. O pior ocorrre quando o pseudocientista
saca conclusões para servir a beneficiários de ideologias e mentiras
politicamente corretas.
PSEUDOCIÊNCIA: é insensível a requisitos de prova válida. A ênfase não é
colocada em experimentos significativos, controlados, repetíveis; repousa,
ao contrário, na palavra inverificável de testemunha ocular, em histórias
inverosímeis, boatos, rumores e enredos dúbios. Não há referência a
trabalhos anteriores em periódico científico conceituado. Os
pseudocientistas nunca apresentam qualquer evidência válida para sustentar
suas reivindicações.
PSEUDOCIÊNCIA: confia na "prova" subjetiva. Uma pessoa põe gelatina em sua
cabeça e a enxaqueca cessa. Para a pseudociência significa que a gelatina
cura enxaquecas. Para a ciência não significa nada, de vez que que nenhuma
experiência válida foi realizada. Muitas coisas aconteciam quando a
enxaqueca desapareceu -a lua estava cheia, era uma sexta-feira, a janela
estava aberta, vestia sua camisa vermelha, etc. - e a enxaqueca teria
cessado em qualquer caso. Válida seria uma experiência controlada que põe
um número grande de pessoas que sofrem de enxaquecas em circunstâncias
idênticas, com exceção da presença ou ausência da cura que se testa, e
compara os resultados que teriam alguma chance de serem significativos.
Uma mulher lê o horóscopo de seu jornal e diz que deve haver algo
verdadeiro na astrologia porque o horóscopo a descreve perfeitamente. Mas
quando o examinamos, vemos um texto com validade geral que descreve todo
ser humano que já existiu, e não tem nada a ver com aquela mulher ou as
estrelas sob as quais nasceu. Estes são exemplos de convalidação
subjetiva, uma das razões principais da aceitação popular da
pseudociência.
PSEUDOCIÊNCIA: depende de convenções culturais arbitrárias, em lugar de
regularidades previsíveis observadas na natureza. Por exemplo, as
interpretações de astrologia dependem dos nomes de coisas, as quais são
acidentais e que variam de cultura a cultura. Se os antigos tivessem dado
para o nome de Marte ao planeta que chamamos Júpiter, e vice-versa, seria
indiferente à astronomia, mas a astrologia teria de ser totalmente
reformulada, por depender somente de nomes que não tem nada a ver com as
propriedades físicas dos planetas e as vidas das pessoas.
PSEUDOCIÊNCIA: sempre encontra uma explicação estranha ao procurá-la com
tenacidade. Talvez os adivinhos possam intuir, por algum modo, a presença
de água ou minerais no subsolo, mas quase todos alegam adivinhar
igualmente bem num mapa. Talvez Uri Geller tenha "poderes paranormais" mas
são eles realmente irradiados por um disco voador do planeta Hoova, como
diz Uri? Talvez plantas tenham atributos "psíquicos" mas por que uma
tigela de barro responde exatamente do mesmo modo, na mesma "experiência"?
PSEUDOCIÊNCIA: sempre evita submeter suas alegações a teste significativo.
Os pseudocientistas também nunca fazem experiências cuidadosas, metódicas,
convincentes, e desprezam resultados de experiências levadas a cabo por
cientistas com métodos reconhecidos. Pseudocientistas também nunca dão
continuidade às observações. Se um pseudocientista reivindica ter feito
experiências (por exemplo, os "estudos perdidos sobre biorritmo", de
Hermann Swoboda, que é tido como base da pseudociência de biorrítmos),
nenhum outro tenta duplicar ou o conferi-las, até mesmo quando os
resultados originais estiverem perdidos ou forem questionáveis. Também,
quando um pseudocientista reivindica ter feito uma experiência com
resultado notável, ele nunca a repete para confirmar resultados e
procedimentos. Isto contraste com a ciência verdadeira em que as
experiências cruciais são repetidas pelo próprio cientista e por
cientistas no mundo inteiro, com precisão sempre crescente.
PSEUDOCIÊNCIA: se contradiz freqüentemente, até mesmo nas próprias
premissas. São desprezadas as contradições lógicas ou são explicadas com
sofismas. Cria mistério onde nenhum existe, omitindo informação crucial e
detalhes importantes. Qualquer coisa pode ser tornada "misteriosa," se for
omitido o que se conhece sobre assunto, ou for apresentada à luz de
detalhes irrelevantes. Livros sobre o "Triângulo das Bermudas" são
exemplos disso.
PSEUDOCIÊNCIA: não progride e nada acrescenta. Há modas que vêm e passam,
e o pseudocientista salta de uma moda a outra (de fantasmas a pesquisa de
Percepção Extra-Sensória, de discos voadores a estudos psíquicos, de
pesquisa do paranormal à procura de monstros). Mas dentro de um
determinado tópico não se registra avanço, nenhuma informação é
acrescentada à conhecida; teorias novas não são formuladas; conceitos
velhos nunca são revistos ou descartados levando em conta descobertas
novas, de vez que nada há de novo na pseudociência. Quanto mais velha a
idéia mais parece merecedora de respeito. Nenhum fenômeno natural ou
processo antes desconhecido à ciência foi alguma vez descoberto por
pseudocientistas. Realmente, os pseudocientistas quase sempre partem de
fenômeno bem conhecido aos cientistas, mas com pouca divulgação ao grande
público que, desarmado, fica propenso a aceitar o arrazoado que o
pseudocientista fizer sobre o fenômeno. Exemplos: o poder de andar sobre
brasas, fotografia "Kirliana".
PSEUDOCIÊNCIA: prefere a propaganda, o cochicho de bastidores, a falsa
representação, em lugar de apresentar evidência válida (a qual
presumivelmente não existe.) A pseudociência oferece exemplos de quase
todo tipo de atentado à lógica e à razão conhecidos aos estudiosos, e
inventa alguns próprios. Uma artimanha favorita é a do non sequitur, em
que o pseudocientista compara-se a Galileu, e diz que da mesma maneira que
é incompreendido, Galileu também o foi pelos seus contemporâneos; então o
pseudocientista também deve ter razão, como Galileu a teve. Claramente a
conclusão não segue às premissas. Além do mais, qualquer um que tenha
ouvido falar de Galileu sabe que suas idéias foram testadas, verificadas,
e aceitas prontamente pelos seus contemporâneos cientistas. Quem rejeitou
as descobertas de Galileu foi o clero da religião oficial, que preferiu a
pseudociência que conhecia à descoberta de Galileu que a contradizia.
PSEUDOCIÊNCIA: argúi com base no incógnito, numa falácia primária. Em
outras palavras, os pseudocientistas fundam suas alegações no caráter
incompleto da informação disponível sobre uma questão, em lugar de as
fundarem no que é conhecido. Mas nenhuma alegação é sustentável na falta
de informação. O fato de fulano ter visto algo inexplicável no céu
significa apenas que ele não consegue explicar o que viu. Não se pode usar
este fato como prova de que aqueles discos voadores vêm do espaço
exterior, de vez que não temos nenhuma evidência de que ele viu um disco
voador- ou se teve ilusão de ótica. A frase, "A ciência não explica..." é
comum em literatura de pseudociência. Em muitos casos, a ciência não
explica o suposto fenômeno porque não há evidência de que exista; e em
outros casos, a explicação científica é bem conhecida e bem estabelecida,
mas o pseudocientista não a quer ou a desconsidera para criar mistério.
PSEUDOCIÊNCIA: cita exceções, anomalias, eventos estranhos ou paranormais,
e razões questionáveis, mas não com base em regularidades bem observadas
da natureza. A experiência de cientistas nos últimos 400 anos é que as
alegações e relatórios que descrevem comportamento estranho de coisas bem
conhecidas tendem, após investigação, a comprovar fraudes, enganos
honestos, registros falhos, mal-entendidos, falsificações descaradas, e
asneiras. Não é prudente aceitar informação sem a conferir. Os
pseudocientistas sempre tomam quaisquer informações como verdadeiras, sem
submetê-las a crítica independente.
PSEUDOCIÊNCIA: apela à falsa autoridade, à emoção, ao sentimento, ou à
desconfiança sobre fato estabelecido. Uma celebridade teatral jura que é
verdade, então assim deve ser. Um estudante que abandonou estudos de
escola secundária pontifica como perito em arqueologia, sem ter feito
qualquer estudo sobre o assunto. Um psicanalista é tido como conhecedor de
tudo de história universal, além de física, astronomia, e mitologia,
apesar de suas afirmações serem incompatíveis com o conhecido nos quatro
campos. As façanhas do paranormal Smoori Mellars são genuínas, como
testemunha um físico que não seria enganado com truques de magia (ainda
que o físico nada saiba sobre passes de prestidigitador). Apelos emotivos
são comuns: "No fundo seu coração você sabe que é verdadeiro", "O que lhe
faz sentir-se bem, deve ser verdadeiro". Caso pitoresco foi oferecido por
uma congressista americana, frustrada pela negativa de cientistas em
endossar suas opiniões radicais sobre o tema de aquecimento global:
"cientistas podem divergir, mas ouvimos a Natureza e ela chora." Os
pseudocientistas são apegados a teorias conspirativas: "muita evidência
comprova a existência de discos voadores mas o governo mantém segredo".
Invocam irrelevâncias: "Cientistas não sabem tudo " - mas não estávamos a
falar sobre tudo, apenas discutíamos a existência de disco voador,
alegadamente visto no céu.
PSEUDOCIÊNCIA: faz alegações incomuns e avança teorias fantásticas que
contradizem tudo que se sabe sobre a natureza. Não só omite evidência para
apoiar a alegação como verdadeira como também descarta todas investigações
anteriores que conduziram à conclusão oposta. Exemplos: "disco voadores
têm que vir de algum lugar e como a terra é oca eles devem vir de dentro".
"A faísca que faço com este aparelho elétrico não é mesmo faísca, mas a
manifestação sobrenatural de energia psico-espiritual." "Todo humano é
cercado por uma aura impalpável de energia eletromagnética, a auréola oval
de que falam os místicos hindus antigos, a qual espelha todo o humor e
condição do homem".
PSEUDOCIÊNCIA: faz uso de um jargão obscuro em que os neologismos criados
não têm sentido preciso ou definições unívocas, termos que não definem
coisa alguma. O ouvinte é induzido a interpretar os termos de acordo com
seus próprios preconceitos. Por exemplo, o que vem a ser "energia
biocósmica"? Ou um "sistema de amplificação psicotrônica"? Os
pseudocientistas acreditam que um arremedo de nomenclatura científica, com
som vagamente "técnico", reforça sua credibilidade.
PSEUDOCIÊNCIA: invoca o critério de verdade da metodologia científica,
enquanto nega sua validade. Assim, um procedimento experimental inválido
que parece mostrar que a astrologia acerta, é proposto pelo
pseudocientista como "prova" de que a astrologia é válida, mas descarta
milhares de experiências sérias que não comprovam acertos em qualquer
forma ou sentido. O fato de que alguém teve sucesso em iludir, com truques
de prestidigitação, dada platéia de cientistas "comprova" que ele é um
super-homem psíquico, enquanto é omitido o fato de ter sido pilhado em
outras platéias onde seus truques foram percebidos.
PSEUDOCIÊNCIA: alega que o fenômeno estudado é ciumento. O fenômeno só
ocorre sob certas condições vitais vagamente especificadas (i.e., na
ausência dos descrentes inveterados ou de certas pessoas; quando ninguém
estiver olhando; quando o "fluidos" estiverem certos; em data propícia). A
atitude científica é que todos os fenômenos são passíveis de verificação
por qualquer pessoa devidamente equipada, e que procedimentos de estudo
válidos devem levar a resultados consistentes. Nenhum fenômeno natural
conhecido tem "ciúmes". Não há modo de construir um aparelho de televisão
ou um rádio que só funciona quando nenhum cético estiver presente. Um
homem que diz ser violinista de concerto, mas não parece ter possuído um
violino e que se recusa a tocar onde alguém puder ouvi-lo, está
provavelmente mentindo sobre sua habilidade de tocar o violino.
PSEUDOCIÊNCIA: tende a recorrer a explicações limitadas a um só cenário.
Em outras palavras, ouvimos uma versão e nenhuma alternativa plausível;
não encontramos qualquer descrição de processo físico. Por exemplo, o
pseudocientista Velikovsky ganhou boa divulgação para venda do livro,
Mundos em Colisão, em que aventou a hipótese de que outro planeta teria
passado perto da terra e causado uma inversão do eixo da terra. Isto é
tudo que ele afirma. Ele não explicou qual o mecanismo. Mas o mecanismo é
de importância capital, porque as leis da física descartam tal inversão
como impossível. Segundo as leis da mecânica, a mera aproximação de um
planeta não pode inverter o eixo de outro planeta. Se Velikovsky tivesse
descoberto algum modo como um planeta pode mudar o eixo de outro, ele
presumivelmente teria descrito a mecânica. A declaração calva, sem
descrição do mecanismo subjacente, nada informa. Em outra página,
Velikovsky diz que Vênus era uma vez um cometa, o qual foi lançado ao
espaço por um vulcão em Júpiter. Ora, planetas de nenhuma maneira se
assemelham a cometas, os quais são bolas de de gelo e pedras e que nada
têm a ver com vulcões. Como são desconhecidos vulcões em Júpiter (que nem
mesmo tem superfície sólida), não há nenhum processo físico que fundamente
as afirmações de Velikovsky. Ele nos dá palavras, encadeia uma a outra em
orações, mas as relações são alheias ao universo em que vivemos e nenhuma
explanação nos é oferecida de como estas relações funcionam ou possam
existir. Ele escreveu história de ficção, não teoria científica.
Publicou-a na imprensa ordinária e ganhou muito dinheiro com o
estardalhaço, mas nunca conseguiu publicar suas idéias num periódico
científico.
PSEUDOCIÊNCIA: explora a antiga propensão humana à explicação mágica.
Magia, feitiçaria, bruxaria- estão baseadas em semelhança espúria, falsa
analogia, e conexões sem nexo de causa-e-efeito. Desta forma, influências
inexplicáveis e conexões entre coisas são dadas como premissas e não
estabelecidas através de investigação. Comer folhas com forma de coração
faz bem a quem sofre de doenças cardíacas; irradiar luz vermelha no corpo
aumenta a produção de sangue; cabras são agressivas e assim alguém nascido
no signo de Capricórnio será agressivo; peixe é alimento do cérebro porque
carne de peixe se assemelha a tecido de cérebro; se você pisar numa
rachadura na calçada sem pronunciar certo encanto, sua mãe rachará um
osso; etc.
PSEUDOCIÊNCIA: preza pensamento anacrônico. Quanto mais velha a idéia,
mais atraente. Para a pseudociência trata-se da sabedoria dos antigos - e
especialmente se a idéia for patentemente errônea, há muito descartada
pela ciência.
Até esta altura foi discutida a pseudociência sem qualquer comparação com
a ciência propriamente dita. Porém, é instrutivo fazer um confronto
direto, ponto por ponto. Por exemplo:
CIÊNCIA: A publicação científica é orientada a leitores cientistas. Há
prévia revisão por pares do pesquisador, e há padrões rigorosos para
lisura e precisão.
PSEUDOCIÊNCIA: A literatura é dirigida ao público geral. Não há revisão,
padrão, verificação anterior a publicação, nenhuma exigência de precisão.
CIÊNCIA: São exigidos resultados que possam ser reproduzidos; devem ser
minuciosamente descritas as experiências de forma que possam ser repetidas
por qualquer pesquisador, ou mesmo melhoradas.
PSEUDOCIÊNCIA: Resultados não podem ser reproduzidos ou verificados.
Estudos, se é que existem, são vagamente descritos; não se pode entender o
que foi feito ou como.
CIÊNCIA: Razões de insucessos são interpretadas e estudadas
minuciosamente. Acidentalmente as teorias incorretas podem levar a
previsões corretas mas nenhuma teoria correta fará previsões incorretas.
PSEUDOCIÊNCIA: Fracassos são esquecidos, desculpados, ocultados,
menosprezados, descontados, explicados com sofismas, evitados a todo
custo.
CIÊNCIA: Com o passar do tempo mais fica conhecido sobre os processos
físicos sob estudo.
PSEUDOCIÊNCIA: É estéril. Nunca esclarece fenômenos físicos ou processos;
não há progresso efetivo e nada de concreto fica conhecido.
CIÊNCIA: Deficiências pessoais, idiossincrasias e equívocos de vários
investigadores se compensam sem afetar o conteúdo do tema sob estudo.
PSEUDOCIÊNCIA: Defeitos, idiossincrasias e equívocos de pseudocientistas
se somam em nada.
CIÊNCIA: Convence por recurso à evidência, com argumentos fundados no
raciocínio lógico ou matemático, até o limite que os dados permitam.
Quando evidência nova contradiz idéias velhas, elas são abandonadas.
PSEUDOCIÊNCIA: Busca convencer por apelo à fé e à crença. A pseudociência
tem elemento quase-religioso: tenta converter, não convencer. Você é
levado a aceitar, apesar dos fatos não por causa deles. A idéia original
nunca é abandonada, qualquer que seja a evidência.
CIÊNCIA: Nenhum conflito de interesse; o cientista não tem ganho
financeiro pessoal em jogo no resultado de seus estudos.
PSEUDOCIÊNCIA: Conflitos óbvios de interesse. O pseudocientista geralmente
tem algo a ganhar e alguns até vivem da venda de serviços, por exemplo,
com horóscopos e adivinhações.
Os jornalistas, em particular, parecem incapazes de compreender este
último ponto. Um repórter típico que recebesse pedido para escrever um
artigo sobre astrologia acharia suficiente entrevistar seis astrólogos e
um astrônomo. O astrônomo diz que astrologia é bobagem; os seis astrólogos
dizem que é valioso conhecimento que realmente funciona e, mediante
pagamento de módica quantia, eles se propõem a fazer um horóscopo. É
patente o interesse. Para o repórter, e aparentemente para o editor e
leitores, a investigação consagra a astrologia por seis votos a um. Se o
repórter tivesse tido o bom senso de perceber que deveria ter entrevistado
seis astrônomos (os quais são conhecedores dos planetas e suas interações
e podem ser objetivos por serem desinteressados em astrologia) ele teria
colhido seis condenações da astrologia como asneira.
Listas comparativas do tipo aqui apresentado poderiam ser estendidas
indefinidamente, porque nada há em comum entre a ciência e a pseudociência
em qualquer tema. Elas são visões antagônicas sobre a natureza. A ciência
confia e persiste em difíceis e rigorosos procedimentos de indagação, em
testar e pensar analiticamente, o que restringe o auto-engano ou a
cegueira a fatos. Por outro lado, pseudociência preserva os primitivos e
irracionais modos de pensar sem objetividade, os quais são dezenas de
milhares de anos mais velhos do que a ciência; os modos de pensar que
deram origem à maioria das superstições e idéias fantásticas e equivocadas
sobre o homem e natureza, do animismo ao racismo; da terra plana num
universo feito casa, com Deus no sótão, Satanás no porão e a humanidade no
piso térreo; de rituais mandachuva; de torturas de doente mental para
exorcizar os demônios que o possuem. A pseudociência encoraja as pessoas a
acreditar no que quiserem, e oferece argumentos falaciosos com os quais
uma pessoa pode se iludir, ao pensar que sua convicção contém algo válido,
apesar de todos os fatos demonstrarem o contrário. Ciência começa por
exigir a abstração do que intuímos, para tentar, por pesquisa, descobrir o
que de fato é verdadeiro. São rotas que não convergem; levam a direções
completamente divergentes.
Alguma desorientação é causada pelo que podemos chamar de invasão de seara
alheia. Ciência não é um título honorário que confere poderes; é uma
atividade que se exerce. Sempre que cessa a atividade, deixa-se de agir
como cientista. Muita pseudociência é gerada por cientistas genuínos ou
auto-proclamados, com maneira que vale lembrar. Um cientista quase
invariavelmente acaba fazendo pseudociência quando muda de um campo, no
qual é formado e competente, para mergulhar noutro campo no qual é
ignorante. Um físico que reivindica ter achado um princípio novo de
biologia -ou um biólogo que reivindica ter achado um princípio novo de
física, está quase sempre a fazer pseudociência. Um cientista torna-se um
pseudocientista quando sustenta uma idéia contra toda evidência e
experiência, por estar emocional ou ideologicamente engajado. Um cientista
que adultera dados, ou os suprime quando não concordam com seus
preconceitos, ou recusa-se a deixar que outros os examinem para avaliação
independente, torna-se um pseudocientista. Ciência é um cume alto de
integridade intelectual, imparcialidade, e racionalidade. Para levar a
analogia adiante, o cume é íngreme e escorregadio. Exige árduo esforço
para nele permanecer. Mas qualquer relaxamento leva a pessoa a cair na
pseudociência. Muito desta é gerado por pessoas que receberam treinamento
científico superficial ou instrução técnica estreita e especializada. Não
são cientistas profissionais, pensam que o são, mas não tiveram
oportunidade para compreender a natureza do empreendimento científico.
Vezeiros nisto são certos médicos e engenheiros, e também psicanalistas e
técnicos de um tipo ou outro e, mais recentemente, os tais cientistas de
computador, construtores de modelos matemáticos de clima.
Pode-se indagar se não há exemplos noutra direção; isso é, de idéias de
pessoas que foram injustamente julgadas como pseudocientistas mas que
eventualmente acabaram aceitas como ciência válida. Do pouco esboçado, é
improvável que isto aconteça, se é que algum dia aconteceu. De fato,
nenhuma pessoa informada sabe de qualquer caso nas centenas de anos em que
o método científico pleno foi exercido por pesquisadores. Em alguns casos
pensou-se inicialmente que um cientista estaria equivocado, mas com idéias
cujo mérito acabou reconhecido. A microbiologia criada por Louis Pasteur
revolucionou a medicina, mas foi no início rejeitada por pseudocientistas
da classe médica com o argumento corporativista de que Pasteur era
químico, não habilitado para estudar temas de medicina.
Um cientista pode formar uma opinião sem ter suficiente evidência para
convencer seus pares de que ele está certo. Tal pessoa não se torna
pseudocientista, a menos que continue sustentando que suas idéias estão
corretas contra toda evidência que mostra o contrário.
É inevitável errar ou se iludir, pois somos humanos e expostos a equívocos
e juízos falhos. Porém, um cientista deve estar alerta à possibilidade de
enganos, e deve ser rápido em sua correção, quando equívocos, não
identificados e rejeitados a tempo, colocarem estudos correntes sobre
bases falsas. Em resumo, o cientista que estiver em erro apontado por seus
colegas, abandonará suas idéias errôneas. Um pseudocientista nunca o fará.
De fato, uma breve definição de pseudociência seria a de que se trata de
método para escudar e sustentar preconceitos sobre o homem e natureza para justificar, defender e preservar erros de crença pessoal.
É vital que cada cidadão aprenda a distinguir ciência da pseudociência.
Não se trata de exercício acadêmico mas de obrigação cívica. Numa
democracia todo eleitor deveria ter acesso a fontes de informação vitais e
ser capaz de verificá-las. A pseudociência é frequentemente vista por
pessoas instruídas e racionais como absurdo por demais óbvio para ser
levado a sério, antes uma piada do que motivo para medo. Esta é uma
atitude negligente pois a pseudociência pode ser extremamente perigosa.
Quando infiltra sistemas políticos passa a justificar atrocidades em nome
da pureza racial; ao minar o sistema educacional expulsa a ciência do
currículo; ao desorientar a profissão médica sentencia milhares à morte ou
sofrimento desnecessário; ao perverter uma religião, gera fanatismo,
intolerância, e guerras santas; ao dominar meios de comunicação, barra aos
eleitores informação efetiva de capital importância - uma situação que no
momento atinge proporções catastróficas, a induzir más escolhas por
milhões com poder de voto. É preciso distinguir o verdadeiro do falso.
Verdadeiro versus falso - segunda parte
Falácias que mostram como a pseudociência age
1. A floresta amazônica deve ser submetida a controle internacional; é
Pulmão do Mundo
Esta é uma falácia cunhada por um jornalista que entendeu mal o que um
cientista de silvicultura falou há trinta anos. Implica que a floresta
amazônica seria o principal conversor, em oxigênio, do gás carbônico
gerado por atividade humana. Como fato, todas as florestas do mundo
contribuem com menos de 5% do oxigênio regenerado; o resto vem sobre tudo
da fotossíntese feita por plâncton na superfície dos oceanos, com o mesmo
processo pelo qual plantas em crescimento absorvem gás carbônico, fixam
carbono e liberam oxigênio. Há razões boas para preservar a floresta
amazônica; a geração de oxigênio não está entre elas.
Naquela época um cientista francês estava a fazer pesquisa na Amazônia
sobre florestas equatoriais. Seu nome era Jean Dubois, e seu cartão de
visita era impresso numa lasca de madeira. No seu ponto de vista as
florestas equatoriais não geram superávit de oxigênio. São muito antigas e
há muito teriam atingido estado de equilíbrio entre oxigênio gerado
durante o dia e oxigênio consumido pelas próprias plantas e pelo processo
de decomposição de matéria orgânica. Pesquisa recentes anos indicam que a
opinião de Dubois' pode ser otimista. Uma rede de instrumentos de medição
automáticos registrou mudanças na composição de atmosfera devidas ao
metabolismo da floresta, a intervalos de tempo sucessivos, a altitudes
diferentes. As medidas mostram que a demanda de oxigênio pelo processo
biológico de decomposição de matéria orgânica é tão intensa que a floresta
consome mais oxigênio do que gera.
Segue que florestas equatoriais agem como chamas eternas, somando às
emissões de gás carbônico da queima de combustíveis e consumindo o
oxigênio do mundo. Assim, se redução de gases de efeito de estufa for o
alvo, os signatários do Protocolo de Kyoto deveriam, para serem
consistentes, encorajar a derrubada da floresta e sua substituição por
plantações de grãos. Só vegetação que cresce pode gerar oxigênio e fixar
carbono. Este cenário nunca será visto porque cultivar grãos é improdutivo
na planície amazônica. O clima é por demais quente e úmido para o cultivo
de grãos, e a terra sob florestas tropicais torna-se estéril quando a
tênue camada de húmus é arrastada. Assim o mundo está confrontado com mais
uma fonte de gás carbônico a contribuir para o aquecimento global do
planeta, se é que há tal aquecimento. O aquecimento global ainda é
controvertido no plano científico mas o catastrofismo do noticiário sugere
a fabricação de mais uma falácia para servir o propósito a seguir
descrito.
2. Quando são desconhecidos efeitos a longo prazo cabem atos cautelares,
mesmo sem base científica.
É a falácia com que são propostos atos arbitrários, em nome do meio
ambiente, por oportunistas sedentos de poder. O alvo predileto é a
indústria do petróleo. Acusações aderem à essa indústria como boneca de
piche, por exercer as piores relações públicas de qualquer atividade, já
há mais de século.
Falta senso de proporção nas inverdades divulgadas por extremistas
ecológicos, em ignorância ou má fé. Equipes de televisão foram ao local de
um acidente de estrada e anunciaram um desastre planetário quando um
tambor de óleo diesel caiu na valeta. Exxon foi perseguida pelo acidente
em Valdez no Alasca mas, uma década depois, as alegações de dano
irreparável a longo prazo não se materializaram. Na Segunda Guerra Mundial
foram afundados uns quarenta milhões de toneladas de navios,
aproximadamente a metade deles navios-tanque. Foram derramadoscerca de 100
milhões de barris de petróleo nos oceanos, o equivalente da produção de
uma refinaria com uma capacidade de 48 mil barris por dia, para todos os
2193 dias da duração da guerra. O planeta ainda está vivo apesar do
colossal derramamento de óleo e nunca foi escrita uma palavra sobre o dano
irreversível ao meio-ambiente por ele provocado. O que faz alvoroço são
acidentes que, na última década, derramaram média de 175 barris por dia.
Por força de restrições ecológicas e legislação hostil deixam de ser
exploradas importantes reservas americanas de óleo e gás. Muito está em
terras de domínio público no Alasca, numa área de 80000 quilômetros
quadrados, e dentro dela a extração de óleo ocuparia um total de um
quilômetro quadrado, o que equivale à área de um aeroporto. Extremistas
ecológicos não a querem. Sua atitude "que congelem no escuro " não chega a
ser uma política de energia responsável.
Foi desastrosa para a Califórnia, mas não como os extremistas ecológicos
anteviam. Há mais de três décadas os eleitores californianos vêm dando
legitimidade a quadrilhas de extorsão exploradoras de licenciamento
ambiental, aqueles interesses à sombra de muito comício pelo
meio-ambiente. Por longos anos os californianos bloquearam a construção de
refinarias novas e a reforma das existentes. Nenhum oleoduto novo é
permitido. Concessionárias de utilidade pública foram hostilizadas e
levadas à bancarrota. A California hoje colhe a falta de energia que
semeou.
As companhias de petróleo fariam bem se orientassem a atual má vontade
contra ativistas ecológicos ao propósito construtivo de trazer assuntos de
meio-ambiente ao plano da razão: o de escolher entre diversos graus de
desconforto com custos diferentes. Ninguém tem qualquer coisa a temer de
ação cientificamente guiada; só devem ser temidas as inverdades tecidas
para colocar a emoção pública a serviço de malfeitores, como mostrado nos
próximos dois tópicos.
3. Cem cientistas contra Einstein
Este é o título de propaganda nazista que dá adeus à razão. Conceitua a
Teoria da Relatividade como atentado judaico à física ariana. Einstein
perguntou "Por que cem? Basta um se estiver certo". Se cem mil votos
fossem lançados contra a evidência experimental que apóia a teoria da
relatividade isto não desautorizaria o pensamento de Einstein. A contagem
de votos, qualificados ou não, não faz sentido em ciência; só vale a dura
evidência interpretada sob o método científico.
A idéia de que os alemães são uma raça superior, polacos e russos são
subraças e que judeus não são humanos e são inimigos mortais de Alemanha é
a mais monstruosa das falácias grandes. Não há modo de uma convicção
religiosa ou um idioma eslavo modificar genes. Nazistas chegaram ao poder
porque estavam afinados aos preconceitos e receios da maioria dos alemães.
O repúdio à ciência que engolfou os alemães e os arrastou à derrota e
vergonha ainda está à espreita no mundo e pode lançar qualquer povo contra
qualquer objetivo. O resumo de Winston Churchill de Mein Kampf é citado
abaixo como lembrança de valores sociais que certa vez tornaram
politicamente correto assassinar milhões de vítimas inocentes.
[A tese principal de Mein Kampf é simples. O homem é um animal lutador;
então a nação, como comunidade guerreira, é uma unidade de combate.
Qualquer organismo vivo que deixe de lutar pela sua existência está
sentenciado à extinção. Um país ou raça que deixa de lutar está
igualmente condenado. A capacidade de luta de uma raça depende de sua
pureza. Em conseqüência, é necessário libertá-la de corrupção
estrangeira. A raça judia, devido a sua universalidade, é por
necessidade pacifista e internacionalista. Pacifismo é o mais mortal dos
pecados, porque traz a rendição da raça na luta pela existência. O
primeiro dever de todo país é então o de nacionalizar as massas.
Inteligência no caso do indivíduo não é de primeira importância; a
vontade e a determinação são as qualidades principais. O indivíduo que
nasce para comandar é mais valioso que incontáveis milhares de
personalidades servís. Só a força bruta pode assegurar a sobrevivência
da raça; daí a necessidade de formas militares. A raça precisa lutar; a
que não o faz decai e perece. Se a raça alemã estivesse a tempo unida já
seria dona do globo. O Reich novo tem que juntar dentro de um território
todos os elementos alemães espalhados pela Europa. Uma raça que sofreu
derrota pode ser resgatada pelo restabelecimento de sua auto-confiança.
Acima de tudo, o exército deve ser ensinado a acreditar em sua
invencibilidade.
Para restabelecer a nação alemã as pessoas devem ser convencidas de que
a recuperação da liberdade por meio da força é possível. O princípio
aristocrático é fundamentalmente são. O intelectualismo é indesejável. A
meta principal da educação é produzir um alemão que possa ser convertido
com o mínimo de treinamento num soldado. As maiores revoluções da
história seriam inconcebíveis sem a força motriz de paixões fanáticas e
histéricas. Nada será conseguido com as virtudes burguesas de paz e
ordem. O mundo ruma agora a uma revolução, e o Reich alemão novo precisa
preparar a raça para as derradeiras e maiores confrontações na terra.
Política externa pode ser inescrupulosa. Não é tarefa da diplomacia
permitir que uma nação afunde heroicamente; é a de cuidar de sua
prosperidade e sobrevivência. A Inglaterra e Itália são os únicos dois
possíveis aliados para a Alemanha. Nenhum país entrará em uma aliança
com um estado pacifista covarde governado por democratas e marxistas. Se
a Alemanha não cuidar de si, ninguém cuidará dela. Suas províncias
perdidas não serão recuperadas por apelos solenes aos céus ou por
esperanças piedosas na Liga de Nações, mas só por força de armas. A
Alemanha não deve repetir o erro de lutar simultaneamente contra todos
seus inimigos. Ela tem que isolar o mais perigoso e o atacar com todas
suas forças. O mundo só deixará de ser anti-alemão quando a Alemanha
recuperar igualdade de direitos e seu lugar ao sol. Não deve haver
sentimentalismo na política externa alemã. Seria tolo atacar a França
por razões puramente sentimentais.
A Alemanha precisa aumentar seu território na Europa. A política
colonial de antes da guerra foi um erro e deve ser abandonada. A
Alemanha deve procurar expansão à custa do território russo, e
especialmente nos Estados Bálticos. Nenhuma aliança com a Rússia pode
ser tolerada. Empreender guerra com a Rússia contra o Ocidente seria
criminoso, pois o alvo dos soviéticos é o triunfo de Judaísmo
internacional.]. (Volume I de A Segunda Guerra Mundial.)
4. Pesquisa biológica é tão perigosa que deve ser submetida a controle
político.
Tal controle político trouxe fome para os russos. Com base na lei de
Hegel, da transformação de quantidade em qualidade, os marxistas sustentam
que descendentes de ferreiros tendem a herdar grandes e musculosas mãos. É
a hipótese de Características Adquiridas proposta por Lamarck no início do
século 19. A idéia foi rejeitada por geneticistas modernos ao descobrir
que características hereditárias são somente transmitidas por células
reprodutivas e nada têm a ver com células somáticas (do corpo). Não
permanece hoje nenhuma dúvida sobre isto, com conhecimento da molécula de
DNA e seu papel em genética. Nada era aceitável por Trofim D. Lysenko
ideólogo que por mais de três décadas dirigiu a pesquisa agronômica
soviética e foi responsável pela política agrícola da União Soviética.
Contra a evidência agronômica experimental ele rejeitou a genética de
Mendel em favor da doutrina descartada de Características Adquiridas. Suas
idéias foram circuladas com técnicas de propaganda sensationalista e
permaneceram como ortodoxia marxista muito após a morte de Stalin e a
descoberta da estrutura de DNA. À ação retrógrada de Lysenko pode ser
atribuído muito da baixa produtividade da agricultura russa. Aconteceu
porque um estado policial expurgou uma geração inteira de cientistas, mais
atentos a fatos observados que ao credo marxista.
O marxismo não está só na aceitação de superstições sobre temas
biológicos. Estas vieram à tona recentemente no Ocidente, onde o
conhecimento popular de assuntos científicos é o que vem de livros de
ficção sobre cientistas loucos. Os cientistas estão agora sob ataque, os
da Food and Drug Administration, do governo norte-americano, e até mesmo
os da venerável Royal Society, a mais prestigiosa das academias de
ciência. Isto seguiu a uma controvérsia jornalística a respeito de
sementes geneticamente modificadas e surtos de doença de vaca louca e
febre aftosa na Europa. Por tudo a ciência é culpada e há clamor para
trancar o monstro.
Até mesmo dentro do Food and Drug Administration há vozes que pedem o
relaxamento de requisitos de evidência científica em favor de "valores
sociais consensuais" na tomada de decisões. Um de seus documentos faz uso
errôneo de Teoria de Caos, Complexidade e Incerteza, conceitos matemáticos
que têm significado longe do intento do autor do artigo.
Desde sua criação em 1928 a FDA zela pela saúde pública assegurando que
alimentos são próprios para consumo, os cosméticos inofensivos, que
produtos sejam honestamente rotulados, e que drogas medicinais novas sejam
liberadas a consumidores após escrutínio imparcial de seus efeitos sobre a
saúde. Esta meritória reputação foi mantida porque FDA está obrigada, por
lei, a fundamentar seus atos em critério científico. Estas duas palavras
excluem atos baseado em conveniência política, preconceito, sabedoria
antiga, o convencional, direito adquirido, opinião politicamente correta,
pressão de lobby, a próxima eleição, suborno, "valores sociais" e uma
carrada de razões espúrias que costumam corromper controles de governo
sobre atividade econômica.
FDA não achou razão cientificamente válida para proibir o uso de sementes
geneticamente modificadas e com toda justiça recusa rendição a motivos
além dos científicos. Atos guiados por conveniência política equivalem a
edifício construído sobre areia movediça, como mostrado pelo caos que há
em legislação de meio-ambiente, por leis de zoneamento urdidas para
benefício de especuladores de imóveis e pela colcha de retalhos de
restrições de comércio exterior que perturbam transações internacionais.
De vez que o cerne da política está lidar com resultados questionáveis de
ação governamental, só a ciência pode oferecer base para regulamentos
esclarecidos. Com a ciência o FDA protege a saúde pública, sem indevido
cerceamento da liberdade, num país onde o povo desconfia de governo.
A controvérsia em torno de modificação genética surgiu por acaso na
Inglaterra quando um homem idoso, que investigava efeitos sobre a saúde de
batatas de semente geneticamente modificada, foi manipulado por
jornalistas a tecer uma história sobre uma conspiração para encobrir
resultados de pesquisa contrários a interesses comerciais poderosos. Os
porcos alimentados com tais batatas tinham adoecido. O alvoroço que seguiu
à publicação da denúncia levou à investigação do assunto por uma banca
designada pela Royal Society. O que se apurou foi que a saúde dos porcos
fora afetada por um fungicida, não por qualquer atributo da batata. Os
métodos do pesquisador tinham falhas grosseiras, não permitiram isolar a
causa correta e a divulgação de conclusões equivocadas à imprensa de fora
transgressão ética.
Erros surgem quando um cientista fica tão empolgado com seu trabalho que
preconceitos passam a dominar conclusões. A revisão da pesquisa por pares
do pesquisador, antes de publicação em periódico científico, resolve a
maioria dos casos. Conflito de interesse pode surgir quando os resultados
de uma pesquisa forem benéficos ou prejudiciais à organização que emprega
o pesquisador. Foi o caso da reação lenta à doença da vaca louca quando,
para evitar pânico, a pesquisa por funcionários de saúde pública foi
mantida sob sigilo por tempo excessivo.
5. O critério científico é guia inseguro
O movimento pelo relaxamento do critério científico, até mesmo dentro do
FDA, menospreza a verdade científica como um mito descartado sob o
Princípio de Incerteza de Heisenberg e abusa dos nomes sugestivos de
Teoria do Caos e Complexidade para defender regulamentação governamental
como assunto opinativo a ser dirimido por debate e voto, ou por arbítrio
do serviço público.
Um congressista americano prega uma "ciência por consenso", a qual seria
mais confiável do que ele chama de "ciência individualista e empírica".
Seria o trato de questões científicas segundo o regimento interno de
câmara de vereadores. Mas a aritmética de contar votos pode falhar quando
confrontada com a matemática dura da ciência. Acima de contendas políticas
pairam verdades claras aos que discernem qual conhecimento é incipiente e
sujeito a mudança, o que é inalterável e o que é incerteza, num sentido
científico. Má compreensão do método científico é um mal que pode se
tornar virulento.
A Teoria da Probabilidade trata da incerteza e a Teoria de Caos não o faz.
Complexidade, em ciência, é um campo de estudo dedicado ao processo de
auto-organização. O conceito básico de Complexidade é que todas as coisas
tendem se organizar segundo padrões identificáveis. Na Complexidade
procuram-se equações matemáticas que descrevem a área fronteira entre
equilíbrio e turbulência, como o relacionamento entre organismos vivos num
ecossistema ou o jogo de oferta e procura numa economia de mercado. Sua
ferramenta, a teoria de fractais, veio do estudo de Benoit Mandelbrot da
Complexidade. A Geometria de Fractais é um ramo da matemática que trata de
padrões feitos de partes que têm de algum modo semelhança com o todo, uma
propriedade chamada auto-simetria. Difere de uma geometria convencional,
orientada a formas regulares e xom dimensões de número inteiro, tais como
linhas com uma dimensão, cones com três dimensões, ou um espaço-tempo com
quatro dimensões. A Geometria de Fractais trata de formas que ocorrem na
natureza, melhor descritas com dimensões de números não-inteiros - linhas
como cursos de rios, com uma dimensão de 1,2 e montanhas com uma dimensão
fractal entre 2 e 3. A expressão de uma relação de causa e efeito é
freqüentemente uma equação matemática inferida do ajuste de dados
observados a um molde geométrico nem sempre em harmonia com eles. Em
procedimento inverso, as dimensões fractais permitem a escolha da
geometria que melhor se ajusta aos dados, com simplificação de expressões
matemáticas e ganho de confiabilidade no uso. Em nenhuma sentido é isto um
pulo no incognoscível de filósofos.
O Princípio de Incerteza de Heisenberg estabelece que nunca podem ser
conhecidos simultaneamente alguns pares de variáveis como
velocidade/posição de partículas subatômicas como um elétron, porque o
próprio ato de medir afeta a medida. Assim a posição de um elétron em dado
momento só pode ser conhecida dentro de uma gama de valores prováveis. É o
que basta para um físico fazer declarações de grande certeza, mas a
palavra Incerteza vem sendo interpretada como confissão de que cientistas
estão inseguros no que afirmam, e que a verdade científica seria um mito
que reflete valores sociológicos; que qualquer coisa pode passar por
verdade.
Extrair certeza de pistas incertas é há muito tempo a tarefa de
cientistas, e não dá a ninguém o direito de saltar a conclusões com atos
de fé. Dois séculos atrás Karl Friedrich Gauss usou o método dos mínimos
quadrados para interpretar séries de medidas para julgar dentro de que
faixa poderia se situar o verdadeiro valor. Ele fez uso da técnica para
calcular a órbita do asteróide Ceres, recém-descoberto, com base em apenas
algumas observações preliminares e de qualidade incerta. O cálculo de
órbita convencional feito o ano seguinte com uma série longa de medidas
precisas confirmou o trabalho de Gauss como um exemplo de interpretação
hábil de incertezas de medida; de realização sólida, construída com
material pouco promissor.
A matemática oferece um reino inteiro de certezas. Que 2+2=4 e que a soma
dos ângulos internos de um triângulo plano é igual a dois ângulos retos,
são verdades que sempre estarão conosco, não importa que que avanços forem
feitos em conhecimento científico ou que mudanças ocorrerem no contexto
social e seus valores relativos.
De fato, há uma cadeia longa de raciocínio dedutivo, ancorada no Elementos
de Euclides, que se estende por mais de 23 séculos com continuidade que
liga todos os elos às mais recentes descobertas da estrutura de DNA. No
século 20 a física se tornou um capítulo de geometria, a química uma
página da física e a biologia um parágrafo da química, tudo convergindo a
um corpo único de conhecimento, plenamente confirmado por experimentação
sistemática. Valores sociológicos foram irrelevantes à sua construção.
O pensamento desconstrucionista sobre ciência está tão difundido que
respeitado periódico de estudos sociais no Estados Unidos imprimiu, como
sério, um artigo em que se afirma que constantes como a velocidade de luz,
c=299.792,5 km/segundo, constante de gravitação G=6,673.10-11.m3.kg-1.s-2,
e o número p=3.14159... têm valores convencionados dependentes do contexto
social vigente, e que poderão mudar num contexto social futuro. Cabe
indagar o que acontecerá se sábios futuros arbitrarem o valor p=4.
Círculos ficarão quadrados e corpos celestes serão cubos?
Um apelo para se reunir para discutir assuntos e achar áreas de
concordância soa democrático. O debate no plano da razão é ideal para
acertar ação sábia em assuntos opinativos. Mas está fora de lugar em
assuntos científicos e não pode funcionar com os que não reconhecem como
válidas suas regras de convivência. Nenhum acordo é concebível entre
democratas e nazistas, inicialmente tidos pela maioria do povo alemão como
lunáticos por demais marginalizados para serem levados a sério. Mas as
doutrinas raciais nazistas se tornaram os valores sociais do Terceiro
Reich, um assunto que remonta ao terceiro tópico.
Aquecimento global: fenômeno sociológico, não físico
As páginas seguintes trazem a manifestação de renomado cientista sobre a
manipulação da opinião pública:
A ORIGEM E NATUREZA DO ALEGADO CONSENSO CIENTÍFICO
Richard S. Lindzen
Professor Titular de Meteorologia do Massachusetts Institute of
Technology.
A maioria instruída hoje aceita o aquecimento global como real e
perigoso. Realmente, a atividade diplomática em torno do aquecimento
poderia levar uma pessoa a acreditar que é a crise principal que
confronta a espécie humana. Na Conferência de Cúpula sobre Clima, em
junho de 1992, no Rio de Janeiro, foram esboçados acordos internacionais
para lidar com aquela ameaça, em reunião assistida por chefes de estado
de dúzias de países. Tenho a declarar de início que, como um cientista,
não vejo nenhuma base substantiva para as hipóteses de aquecimento
popularmente difundidas. Além disso, de acordo com muitos estudos de
economistas, agrônomos, e hidrologistas, haveria pouca dificuldade na
adaptação a tal aquecimento, se viesse a acontecer. Tal também é a
conclusão do relatório recente do Conselho Nacional de Pesquisa sobre
adaptação à mudança global de clima. Muitos aspectos do cenário
catastrófico já foram descartados pela comunidade científica. Por
exemplo, o temor de elevação do nível do mar, presente em muitas das
discussões iniciais sobre aquecimento global, teve suas estimativas
continuamente reduzidas em várias ordens de magnitude. Agora há acordo
de que até mesmo a contribuição do aquecimento à elevação do nível do
mar seria secundária, face a outros fatores mais importantes.
Para demonstrar por que afirmo que não há nenhuma base substantiva para
previsões de grande aquecimento global, devido a aumentos observados de
gases de estufa secundários tais como gás carbônico, metano, e
cloro-fluor-carbonos, passarei em revista, de maneira breve, a ciência
associada às previsões.
Resumo de Questões Científicas
Antes de considerar a teoria de estufa em si é útil começar com algo que
quase sempre é aceito como pacífico - é inevitável que o gás carbônico
aumentará ao dobro do teor atual e possivelmente ao quádruplo. A
evidência da análise de amostras de gelo polar e a amostragem
atmosférica direta, mostram que a quantidade de gás carbônico tem
aumentado no ar desde o ano de 1800. Antes de 1800 a densidade era de
aproximadamente 275 partes por milhão, por volume. Hoje é de 355 partes
por milhão. Acredita-se que o aumento é devido à combinação de queima de
combustíveis fósseis e, antes de 1905, pelo desmatamento. Calcula-se que
o volume total aumentou exponencialmente, pelo menos até 1973. De 1973
até 1990 a taxa de aumento foi mais lenta. Cerca de metade do gás
carbônico gerado migrou para a atmosfera.
É bastante incerto prever o que acontecerá com o gás carbônico ao longo
do próximo século. Admitida uma tendência de expansão do uso de carvão,
com avanços rápidos no padrão de vida do terceiro mundo, com grande
aumento da população e reduzida participação no uso de combustíveis
não-fósseis, de energia nuclear e outras, pode-se gerar um cenário de
emissões que conduzirá à duplicação do teor de gás carbônico por volta
de 2030, isto se usado certo modelo de comportamento químico de emissões
de gás carbônico. O Painel Intergovernamental para Mudança de Clima,
Grupo I, da ONU, refere-se a este como o "cenário econômico usual''.
Como se mostra, o modelo químico usado é incompatível com dados
registrados do último século, ao prever que já teríamos aproximadamente
400 partes por milhão por volume. Um modelo melhorado desenvolvido no
Max Planck Institute de Hamburgo mostra que nem sequer o "cenário
econômico usual'' dobra o gás carbônico até o ano 2100. Parece
improvável, além disso, que o futuro de energia pertencerá ao carvão
indefinidamente. Também acho difícil acreditar que a tecnologia não
conduzirá a reatores nucleares melhores num prazo de cinqüenta anos.
Não obstante, já convivemos com um aumento significativo de gás
carbônico que foi acompanhado por aumentos em outros gases de efeito
estufa secundários tais como metano e cloro-fluoro-carbonos. Realmente,
em termos de potencial de efeito estufa, tivemos o equivalente a um
aumento de 50 por cento em gás carbônico durante o último século. Os
efeitos dos aumentos são certamente merecedores de estudo, independente
de qualquer cenário futuro de clima.
O Efeito Estufa.
A idéia simplificada na divulgação popular do efeito estufa é a de que a
atmosfera é transparente à luz solar (ressalvada a interferência muito
significante da reflectividade de nuvens e de superfície) a qual aquece
a superfície da Terra. A superfície compensa aquele aquecimento com
radiação infravermelha. Essa radiação aumenta com temperatura crescente
da superfície, e a temperatura se ajusta até alcançar o equilíbrio. Se a
atmosfera também fosse transparente à radiação infra-vermelha, a
radiação induzida por uma temperatura média de superfície de menos
dezoito graus centígrados equilibraria a radiação solar entrante (menos
a refletida ao espaço por nuvens). Mas a atmosfera não é transparente ao
infravermelho. Desta forma a Terra precisa se aquecer um pouco mais para
levar ao espaço o mesmo fluxo de radiação infravermelha. Isso é o que é
chamado de efeito estufa.
O fato de a temperatura de superfície média da Terra ser de quinze graus
centígrados positivos em lugar de menos dezoito graus centígrados é
atribuído àquele efeito. O absorvedores principais de infravermelho na
atmosfera são o vapor d'água e as nuvens. Até mesmo se todos os outros
gases de efeito estufa (como gás carbônico e metano) desaparecessem,
ainda teríamos 98 por cento do efeito estufa atual. Não obstante, é
alegado que aumentos de gás carbônico e de outros gases secundários,
conduzirão à elevação significante de temperatura. Como vimos, o gás
carbônico está aumentando, assim como outros gases de efeito estufa
secundários. Uma hipótese amplamente aceita mas questionável, é que
esses aumentos se manterão na tendência que seguiram durante o último
século.
Essa explicação do mecanismo de estufa é por demais simples para ser
levada à sério. Muitos de nós aprendemos em escola elementar que o calor
pode ser transportado por radiação, convecção e condução. A hipótese
acima só se refere à transferência por radiação. Como se mostra, se
houvesse apenas transferência por radiação, o efeito estufa esquentaria
a Terra ao nível de aproximadamente 77 graus centígrados em lugar de 15
graus centígrados. De fato, o efeito estufa só é de aproximadamente 25
por cento do que deveria ser numa situação de perda exclusivamente por
radiação. A razão para isto é a presença de convecção (transporte de
calor por movimentos de massas de ar) que reduz em muito da absorção por
radiação.
A superfície da Terra é resfriada em grande medida por correntes aéreas
(em várias formas que incluem nuvens espessas) as quais levam o calor
para o alto e para os pólos. Uma conseqüência deste quadro é que os
gases de efeito estufa, bem acima da superfície da Terra, são de
importância primordial a determinar a temperatura da Terra. Isso é
especialmente importante para o vapor d'água cuja densidade diminui por
um fator de mil, entre a superfície e a altitude de dez quilômetros.
Outra conseqüência é que nem mesmo se pode calcular a temperatura da
Terra sem modelos que, com precisão, reproduzam os movimentos da
atmosfera. Realmente, os modelos presentes têm erros grandes - na ordem
de 50 por cento. Não causa surpresa que essas modelos estão
impossibilitados de corretamente calcular a temperatura média da Terra
ou sua variação do equador aos pólos. Para tanto os modelos são
ajustados ou "afinados'' para reconciliá-los com a realidade, de maneira
aproximada.
Ainda é de interesse perguntar o que esperar ao dobrar o teor de gás
carbônico. Um número grande de cálculos demonstra que, se isto é que
tudo o que acontecerá, teremos um aquecimento de de 0,5 a 1,2 graus
centígrados. O consenso é que tal aquecimento apresentaria pouco, se
algum, problema. Mas até mesmo aquela previsão está sujeita a alguma
incerteza por causa do modo complicado como o efeito estufa atua. Além
do mais, o clima é um sistema complexo onde é impossível que todos os
outros fatores internos permaneçam constantes. No presente modelo esses
outros fatores ampliam os efeitos do gás carbônico crescente e conduzem
a previsões de aquecimento na vizinhança de quatro a cinco graus
centígrados. Processos internos ao sistema de clima, que mudam em
resposta ao aquecimento para ampliá-lo, são conhecidos como
retroalimentações positivas. Processos internos que diminuem a resposta
são conhecidos como retroalimentações negativas. A retroalimentação
positiva mais importante em modelos atuais é a do vapor d'água. Em todos
os atuais modelos da troposfera superior (cinco a doze quilômetros) o
vapor d'água - o principal gás de efeito estufa - cresce com o aumento
de temperaturas de superfície. Sem aquela retroalimentação, nenhum
modelo atual prediria aquecimento maior do que 1,7 graus centígrados quaisquer que sejam os outros fatores. Infelizmente, o modo como os
modelos atuais tratam de fatores como nuvens e vapor d'água é muito
arbitrário. Em muitos casos simplesmente não é conhecida a física
subjacente. Em outras instâncias há erros identificáveis. Até mesmo
erros de computação têm tido papel de peso. Realmente, há forte
evidência de que todos os fatores de retroalimentação conhecidos são, na
verdade, negativos. Neste caso, é de se esperar que a resposta seria o
aquecimento menor devido ao gás carbônico.
É sugerido comunmente que a sociedade não dependa de realimentações
negativas para nos poupar de uma "catástrofe de efeito estufa." O que é
omitido, em tais sugestões, é que os modelos atuais dependem pesadamente
de indemonstráveis fatores de retroalimentação positiva para prever
níveis altos de aquecimento. Os efeitos de nuvens têm recebido
escrutínio maior, e isso não é desarrazoado. A cobertura de nuvens, nos
modelos, é tratada de modo sumário e leva a previsões imprecisas. Mas as
nuvens refletem aproximadamente 75 Watts por metro quadrado. Dado que
duas vezes mais gás carbônico mudaria o fluxo de calor de superfície em
apenas 2 Watts por metro quadrado, é evidente que pequena mudança na
cobertura de nuvens pode afetar fortemente o comportamento do gás
carbônico. A situação é complicada pelo fato de as nuvens a altitudes
altas também acentuarem o efeito estufa. Realmente, os efeitos das
nuvens, de refletir luz e de aumentar o efeito estufa, estão
aproximadamente em equilíbrio. Seu efeito atual sobre o clima depende do
desempenho das nuvens no aquecimento e também do possível desequilíbrio
de seus efeitos resfriadores e aquecedores.
De modo semelhante, fatores que envolvem a contribuição da cobertura de
neve para a reflectividade servem, em modelos atuais, para ampliar o
aquecimento atribuído ao teor crescente de gás carbônico. O que acontece
parece bastante razoável; climas mais quentes estão presumivelmente
associados a menos neve e menos reflectividade - as quais, em troca,
acentuam o aquecimento. Porém, neve é associada ao inverno, quando a luz
solar incidente é mínima. Além disso, as nuvens escudam a superfície da
Terra do sol e minimizam a resposta da cobertura de neve. Realmente, há
crescente evidência de que as nuvens acompanham a diminuição da
cobertura de neve com tal intensidade que tornam aquela retroalimentação
negativa. Porém, se se perguntar por que os modelos atuais estão a
prever que aquecimento grande acompanhará o teor crescente de gás
carbônico, a razão é principalmente devida ao efeito da retroalimentação
de vapor d'água. Todos os modelos atuais prevêem que climas mais quentes
serão acompanhados por aumento de umidade em todos os níveis. Como já
notado, tal é o produto inevitável dos modelos de vez que eles não têm
nem o apoio em física nem a precisão numérica para levar em conta o
vapor d'água. Recentes estudos do processo físico de como nuvens
espessas hidratam a atmosfera de modo forte sugerem que esta, tida como
a maior das realimentações positivas, é de fato negativa e também de
grande peso.
Não apenas há razões fortes para acreditar que os modelos estão a
exagerar as conseqüências do gás carbônico crescente mas, talvez de modo
mais significativo, as previsões dos modelos ao longo do último século
descrevem a mecânica do aquecimento incorretamente e em muito
superestimam sua magnitude. O registro da temperatura média global
durante o último século é irregular e não sem ambiguidades. Porém,
mostra um aumento médio em temperatura de cerca de 0,45 graus
centígrados mais ou menos 0,15 graus centígrados, com a maior parte do
aumento acontecido antes dos anos 40, seguido por algum resfriamento no
início dos anos 70 e por um rápido (mas modesto) aumento de temperatura
ao fim dos anos 70. Como notado, já vimos um aumento de "gás carbônico
equivalente" da ordem de 50 por cento. Assim, com base em modelos que
predizem um aquecimento de 0,25 graus centígrados, ao dobrar o gás
carbônico, poderíamos esperar um aquecimento de dois graus centígrados.
Porém, se incluímos a defasagem imposta pelo calor latente dos oceanos,
poderíamos esperar um aquecimento de cerca de um grau centígrado - o
qual ainda é duas vezes o observado. Além disso, a maior parte do
aquecimento aconteceu antes de o efeito dos gases de estufa secundários
ser somado à atmosfera. O que vemos é que os registros passados são
muito consistentes com a hipótese de equilíbrio ao dobrar em cerca de
1,3 graus centígrados - admitido que todo o aquecimento observado seria
devido ao gás carbônico crescente. Porém, nada há na série de dados que
possa ser distinguido da variabilidade natural do clima.
Se forem consideradas as regiões tropicais a conclusão é até mais
discordante. Há ampla evidência de que a superfície do mar equatorial
permaneceu dentro da faixa de mais ou menos um grau centígrado, de sua
temperatura presente, por bilhões de anos, mas os modelos atuais
predizem média de aquecimento de até mesmo de dois a quatro graus
centígrados no equador. Deve ser notado que por muito da história da
Terra, a atmosfera teve mais gás carbônico que atualmente se prevê para
séculos vindouros. De fato, eu poderia listar a evidência detalhada para
pequenos efeitos que seguem a duplicação do gás carbônico.
Consenso e Visão Popular
Muitos estudos a partir do século 19 sugerem que emissões de gás
carbônico, industriais e outras, poderiam levar ao aquecimento global.
Também foram notados problemas com tais previsões, e seu insucesso em
reconciliações com temperaturas observadas lança suspeita sobre os
mecanismos postulados. Realmente, a tendência a menores temperaturas
globais nos anos 50 deu origem ao alarme sobre resfriamento global nos
anos 70. Tudo era debate científico normal, embora a histeria sobre
resfriamento tivesse certa analogia com a histeria de aquecimento,
inclusive com livros como A Estratégia do Genesis, por Stephen Schneider
e Mudança de Clima e Economia Mundial por Crispin Tickell-ambos os
autores bem atuantes na defesa das preocupações atuais como "explicação'' do problema e a promoção de regulamentação internacional.
Também havia um livro pelo distinto escritor de ciência, Lowell Ponte (O
Resfriamento) que ridicularizou os céticos e a recorrente recomendação
de agir, mesmo na ausência de fundamento científico. Houve mesmo um
relatório pelo Conselho de Pesquisa Nacional da Academia Nacional
Americana de Ciências que chega a suas conclusões ambíguas habituais.
Mas a comunidade científica nunca levou o assunto a sério, os governos o
ignoraram, e com temperaturas globais em ascensão nos anos 70 o assunto
ficou mais ou menos dormente. Enquanto isso, cálculos de modelo especialmente no Laboratório Geofísico de Dinâmica de Fluidos em
Princeton - continuaram a prever aquecimento significativo devido ao gás
carbônico crescente. Essas previsões foram consideradas interessantes,
mas largamente acadêmicas, - até mesmo pelos cientistas envolvidos.
A histeria presente começou formalmente no verão de 1988, embora tinham
sido postulada pelo menos três anos antes. Foi um verão especialmente
quente em algumas regiões, particularmente nos Estados Unidos. O aumento
abrupto de temperatura nos anos 70 era por demais acentuado para ser
associado com o aumento gradual de gás carbônico. Não obstante, James
Hansen, diretor do Instituto de Goddard para Estudos de Espaço, em
testemunho perante o Comitê de Ciência, Tecnologia e Espaço do senador
Al Gore, disse, em efeito, que ele tinha 99 por cento de certeza que a
temperatura tinha aumentado, e que ocorrera aquecimento por efeito
estufa. Ele nada disse sobre a relação entre os dois. Apesar do fato de
essas observações serem virtualmente sem sentido, imediatamente levaram
o movimento ecológico a adotá-las como tese.
O crescimento de movimentos ecológicos desde os anos 70 tem sido
fenomenal. Na Europa o movimento centrou-se na formação de partidos
Verdes; nos Estados Unidos o movimento orientou-se à criação de grandes
organizações de lobby pelo meio ambiente. Esses grupos de lobby têm
orçamentos de várias centenas de milhões de dólares e empregam
aproximadamente 50 mil pessoas; seu apoio é tido em alta conta por
muitas figuras políticas. Como em qualquer grupo grande, a
auto-perpetuação se torna a preocupação dominante. O aquecimento global
virou em cavalo de batalha dos esforços para angariar fundos. Ao mesmo
tempo, a mídia aceita os pronunciamentos desses grupos como verdade
objetiva, sem questioná-las.
Dentro da comunidade de modelagem de clima em grande escala - um
subconjunto pequeno da comunidade interessada em clima - a resposta
imediata foi a de criticar Hansen por divulgar resultados de modelo,
altamente incertos, como relevantes à ação pública. A motivação de
Hansen não era totalmente óbvia, mas apesar da crítica a comunidade de
modelagem concordou que aquele rápido aquecimento grande não seria
impossível. Isso bastou para que os políticos e ativistas se agarrassem
a qualquer sugestão de perigo como razão suficiente para regulamentação
governamental, a menos que a sugestão possa ser rebatida com rigor. Isso
é uma assimetria perniciosa, pois tal rigor é geralmente impossível em
ciências de meio-ambiente.
Outros cientistas depressa concordaram que, com gás carbônico crescente,
poderia ser esperado algum aquecimento e que com grandes concentrações
de gás carbônico o aquecimento poderia ser danoso. Não obstante, houve
ceticismo. No início de 1989, porém, a mídia popular na Europa e nos
Estados Unidos estavam a declarar que "todos o cientistas'' concordaram
que o aquecimento era real e catastrófico em seu efeito potencial.
Como a maioria dos cientistas estudiosos de clima, eu estava ansioso por
ficar fora do que parecia ser um espetáculo de circo. Mas no verão de
1988 Lester Lave, professor de economia do Carnegie Mellon University,
escreveu a mim sobre seu afastamento de audiência do Senado por sugerir
que o assunto de aquecimento global era cientificamente controverso. Eu
o assegurei que o assunto não só era controverso mas também improvável.
No inverno de 1989 Reginald Newell, professor de meteorologia do de
Massachusetts Institute of Technology, teve cortada a dotação da
National Science Foundation para análises de dados que não demonstrassem
aquecimento durante o último século. Os revisores sugeriram que os
resultados seriam perigosos à humanidade. Na primavera de 1989 eu era
participante convidado num simpósio sobre aquecimento global na Tufts
University. Eu era o único cientista num painel de ecologistas. Ouvi
apelos estridentes por ação imediata e amplas expressões de impaciência
com a ciência. Claudine Schneider, então congressista de Rhode Island,
afirmou que "os cientistas podem discordar, mas podemos ouvir a Mãe
Terra, e ela chora.'' Parecia claro que uma situação perigosa estava a
surgir, e o perigo não era do aquecimento global em si.
Na primavera de 1989 preparei uma crítica à idéia de aquecimento global,
a qual submeti a Science, uma revista da Associação Americana para o
Progresso da Ciência. A monografia foi rejeitada sem revisão como
carente de interesse aos leitores. Submeti então o artigo ao Boletim da
Sociedade Meteorológica americana onde foi aceito após revisão, nova
revisão, e renovada aceitação - um procedimento incomum, para dizer o
mínimo. Enquanto isso, o artigo foi atacado em Science até mesmo antes
de ter sido publicado. O artigo circulou por aproximadamente seis meses
como "samizdat". Foi apresentado na conferência Humboldt do M.I.T. e
divulgado pela Frankfurter Allgemeine.
Enquanto isso, a causa do aquecimento global avançava com pleno embalo.
Reuniões se sucediam sem interrupção. Uma das mais notáveis dessas
reuniões teve lugar no verão de 1989 no sítio de Robert Redford em
Sundance, Utah. Redford proclamou que era tempo de parar pesquisas e
começar a atuar. Suponho que seria uma sugestão razoável se feita por
ator, mas também é indicativa da atitude geral à ciência. Barbara
Streisand empenhou-se em apoiar pessoalmente a pesquisa de Michael
Oppenheimer com Environmental Defense Fund, embora ele seja
principalmente um ativista e não um climatologista. Meryl Streep fez uma
apelo em televisão pública para sustar o aquecimento. Uma projeto de lei
foi até mesmo preparado para garantir aos americanos um clima estável.
Pelo outono de 1989 parte da imprensa estava se dando conta de que havia
controvérsia (Forbes e Reader's Digest foram notáveis nisso).
Reclamações de ecologistas alegavam que os céticos estavam a receber
exposição excessiva. A publicação de meu artigo foi seguida por
insistente empenho por parte do editor Bulletin of the American
Meteorological Society, Richard Hallgren, em solicitar refutações. Tais
artigos foram preparados por Stephen Schneider e Will Kellogg,
administrador científico menor nos últimos trinta anos, e esses artigos
foram seguidos por uma correspondência ativa principalmente em apoio à
visão cética. Realmente, uma recente pesquisa de opinião Gallup entre
cientistas de clima na American Meteorological Society e American
Geophysical Union mostra que a maioria esmagadora duvida que houve
qualquer identificável aquecimento causado por ação humana (49 por cento
afirmaram não, 33 por cento não souberam, 18 por cento pensaram que
algum aconteceu; porém, entre os ativamente envolvidos em pesquisa e com
freqüente contribuição de artigos a periódicos de pesquisa sérios,
nenhum acredita em qualquer aquecimento global causado por ação humana
até hoje conhecida). Em geral, o debate dentro da comunidade
meteorológica foi saudável e, neste episódio, de rara voz unânime.
Fora do meio de meteorologia, o Jeremy Legett de Greenpeace, um geólogo,
publicou um livro que ataca os críticos da hipótese de aquecimento especialmente minha pessoa. George Mitchell, líder da maioria do Senado
e pai de um ativista ambiental proeminente, também publicou um livro que
apela pela aceitação, como fato, do aquecimento catastrófico (World on
Fire: Saving an Endangered Earth). O senador Gore publicou um livro
(Earth in the Balance: Ecology and the Human Spirit). Esses são apenas
alguns exemplos da caudalosa torrente de publicações sobre aquecimento.
Algo tão pobre em conteúdo de ciência raramente provocou tamanha onda; e
por indivíduos que nada entendem do assunto.
As atividades da Union of Concerned Scientists merecem menção especial.
A amplamente apoiada organização foi dedicada originalmente ao
desarmamento nuclear. Ao terminar a guerra fria, o grupo começou a se
opor ativamente à geração de energia em usinas nucleares. Sua posição
era impopular entre muitos físicos. Nos últimos anos, a organização
voltou-se à batalha contra o aquecimento global de maneira
particularmente histérica. Em 1989 o grupo começou a circular uma
petição que urge reconhecimento do aquecimento global como o grande
perigo potencial para a espécie humana. A maioria dos recipientes que
não assinaram foram solicitados a fazê-lo pelo menos duas vezes mais. A
petição acabou assinada por 700 cientistas, inclusive muitos sócios da
Academia Nacional de Ciências e laureados Nobel. Só três ou quatro dos
signatários, porém, tinham qualquer envolvimento com climatologia. De
maneira interessante, a petição tinha duas páginas, e na segunda havia
um apelo para consideração renovada de energia nuclear (antes
combatida). Quando a petição foi publicada no New York Times, a segunda
página foi omitida. Em todo caso, aquele documento ajudou a solidificar
a percepção pública de que "todos os cientistas" concordaram com o
cenário de desastre. Tal abuso flagrante de autoridade científica não
passou desapercebido. À reunião anual de 1990 da Academia Nacional de
Ciências, Frank Press, seu presidente, alertou membros da sociedade
sobre o inconveniente de emprestar solidariedade a campanhas sobre os
quais não tinham conhecimento especial. Destaque foi dado à petição
publicada. Em minha opinião o que a petição demonstrou foi que o
imperativo de lutar contra o aquecimento global virou dogma da
consciência da esquerda - fraqueza a qual os cientistas não escapam.
Ao mesmo tempo, aumentaram as pressões políticas sobre os que discordam
da "visão majoritária". O senador Gore publicamente censurou os
"céticos" em artigo de fundo do New York Times. Num exemplo perverso de
falta de lógica ele associou os "verdadeiros crentes" no aquecimento,
com Galileu. Ele também se referiu, em outro artigo no verão de 1988, a
um Kristallnacht antes do holocausto do aquecimento.
A noção de "unanimidade científica" está embutida em relatório de Grupo
de Trabalho ao Painel Intergovernamental de Mudança de Clima, da ONU,
divulgado em setembro de 1990. Aquele Painel era formado em grande parte
com cientistas lotados através de órgãos governamentais. O Painel tem
três grupos de de trabalho. O Grupo de Trabalho I nominalmente trata de
ciência de clima. Aproximadamente 150 cientistas contribuíram para o
relatório, mas a representação universidades americanas foi
relativamente pequena e é provável que assim permaneça, de vez que os
recursos e o tempo para participação não está disponível à maioria dos
cientistas universitários. Muitos governos concordaram em usar aquele
relatório como a base autorizada para política de meio-ambiente. O
relatório, como tal, tem características positivas e negativas. Em
metodologia, o relatório deposita confiança em modelos matemáticos
grandes, e num relatório os resultados de um modelo são principalmente
verificados através de comparação com outros modelos. Dado que são
conhecidos modelos que concordam mais entre si do que com natureza (até
mesmo depois de "afinados"), aquela abordagem não parece promissora.
Além do mais, vários dos participantes experimentaram pressões para
enfatizar resultados que apóiam o cenário oficial e para suprimir outros
resultados. Aquela pressão freqüentemente foi eficaz, e uma pesquisa
entre participantes revelou discordância significativa deles do expresso
no relatório final. Todavia, o corpo do relatório é extremamente
ambíguo, e as ressalvas são numerosas. O relatório é prefaciado por um
resumo executivo escrito pelo editor, Sir John Houghton, diretor do
Escritório Meteorológico do Reino Unido. Seu resumo faz pouca conta da
incerteza que permeia grande parte no relatório e tenta apresentar a
expectativa de aquecimento significativo como ciência firmemente
estabelecida. O resumo foi publicado como um documento separado, e é
seguro dizer que os formuladores de diretrizes governamentais
provavelmente lerão pouca coisa a mais. Com base no resumo, ouve-se
freqüentemente que "centenas dos maiores cientistas de clima do mundo,
de dúzias de países, todos concordaram que..." Não importa quem está de
acordo, de vez que os que citam o sumário insistem que concorda com os
cenários mais extremados (o qual, com toda a justiça, não o faz). Devo
acrescentar que a comunidade de climatologia, até anos recentes, era
bastante pequena e pesadamente concentrada nos Estados Unidos e Europa,
não em "dúzias de países".
Enquanto os relatórios do Painel Internacional de Mudança de Clima
estavam em preparo, o Conselho de Pesquisa Nacional nos Estados Unidos
foi incumbido de preparar uma síntese do estado atual do conhecimento da
mudança global de clima. O painel escolhido não era promissor. Quase
nenhum membro da academia era especialista em clima. Realmente, só um
cientista esteve diretamente envolvido em estudos de clima, Stephen
Schneider, que é um ativista ambiental ardente. Também incluía três
ativistas ambientais profissionais, e foi chefiado pelo ex-senador, Dan
Evans. O painel incluiu cientistas distintos e economistas fora da área
de clima e, talvez por causa disto, o relatório emitido pelo Painel foi
em geral justo. O relatório concluiu que era carente a base científica
para justificar ação dispendiosa, embora a prudência recomendasse que
ações baratas mereceriam ser consideradas, ou feitas as que deveriam o
ser de qualquer modo. Um subcomitê do painel emitiu um relatório sobre
adaptação a mudança climática, que levou em conta até mesmo os cenários
de aquecimento mais extremados, e afirmou que os Estados Unidos teriam
pouca dificuldade de adaptação. Não surpreende que os ecologistas no
Painel tenham influenciado fortemente o teor dos relatórios, mas não
tendo conseguido impor completamente suas opiniões, tentaram se
distanciar dos relatórios, ora renunciando ou emitindo opiniões
dissidentes minoritárias. Igualmente não surpreende que o New York Times
publicasse os relatórios daquele painel na página 46. Os temas nunca
foram discutidos subseqüentemente na mídia popular - salvo breves
alegações de que os relatórios apoiaram a visão catastrofista. Não
obstante, os relatórios daquele painel foram indicativos do ceticismo
crescente relativo ao assunto de aquecimento.
Realmente, o ceticismo emergente é em muitas maneiras notável. Um dos
protagonistas mais antigos da hipótese de aquecimento global, Roger
Revelle, o falecido professor de ciências de oceano da Scripps
Institution of Oceanography que iniciou o monitoramento direto de gás
carbônico durante o Ano Geofísico Internacional (1958), é co-autor com
S. Fred Singer e Chauncy Starr de monografia que recomenda que a ação no
que concerne o aquecimento global seja postergada por falta de base
adequada. Outro defensor ativo da hipótese de aquecimento global,
Michael McElroy, chefe do Department of Earth and Planetary Sciences em
Harvard, escreveu recentemente um artigo que reconhece que os modelos
existentes não podem ser usados para prever clima.
Seria lícito esperar que tal ceticismo crescente teria mais influência
sobre o debate público, mas a insistência em "unanimidade científica"
continua e não míngua. Às vezes, aquela insistência adquire algumas
formas estranhas. Há mais de um ano, Robert White que chefiou a U.S.
Weather Bureau e é atualmente o presidente da Academia Nacional de
Engenharia, escreveu um artigo para o Scientific American em que mostrou
que é questionável a base científica de previsões de aquecimento global
para justificar qualquer ação dispendiosa.
Ele declarou que se houvesse insistência em fazer algo, só se deveria
fazer coisas que de qualquer modo seriam feitas mesmo sem ameaça de
aquecimento. Após aquele artigo, Tom Wicker, um colunista do New York
Times e confidente do senador Gore escreveu uma nota na qual declarou
que White tinha recomendado ação imediata sobre o "aquecimento global."
Minhas próprias experiências foram semelhantes. Num artigo em Audubon,
Stephen Schneider declara que eu "admiti que algum aquecimento agora
parece inevitável." Diferenças entre expectativas de mudanças medidas em
alguns décimos de um grau e aquecimento de vários graus são
convenientemente ignorados. Karen White num artigo longo e laudatório de
James Hansen na Revista Dominical do New York Times informou que eu até
tinha concedido que haveria aquecimento depois de ter relutantemente
dado uma estimativa de 1,2 graus.'' Isso era, é claro, uma inverdade.
Recentemente, prestei depoimento numa audiência do senado conduzida pelo
senador Gore. Corria uma discussão bastante abstrata sobre a água na
troposfera superior. Dois anos atrás, eu tinha mostrado que, se a fonte
de vapor de água naquela área nas regiões tropicais fosse de nuvens
espessas, então o aquecimento de superfície seria acompanhado por
redução de vapor de água em camadas de nível superior. Pesquisa
subseqüente estabeleceu que deve haver uma fonte adicional - amplamente
atribuída a cristais de gelo liberados por essas nuvens espessas. Eu
notei que aquela fonte muito provavelmente diminuía a umidade numa
atmosfera mais morna. Ambos invertem processos de retroalimentação os
quais tornam-se negativos em lugar de positivos. O senador Gore
perguntou se eu rejeitava agora minha sugestão de dois anos atrás como
sendo fator principal. Eu respondi que o fiz. Gore chamou o escrivão
para anotar que eu tinha retratado minhas objeções ao "aquecimento
global." No debate que seguiu, envolvendo principalmente outros
participantes na audiência, foi dito a Gore que ele estava confundindo
assuntos. Porém, logo depois disso Tom Wicker publicou um artigo no New
York Times em que afirma que eu tinha retratado minha oposição à
hipótese de aquecimento global e que isto confirmava a necessidade de
ação imediata para restringir a ameaça iminente. Eu escrevi uma carta ao
Times em que protesto que minha posição tinha sido grosseiramente
falseada e, depois de uma demora de um mês, minha carta foi publicada. O
senador Gore, todavia, voltou a afirmar em seu livro que eu retratara
minhas objeções científicas ao cenário de aquecimento catastrófico e
também adverte outros, que duvidam do cenário, que eles estão a
prejudicar a humanidade.
Por que há tal insistência em unanimidade científica no assunto de
aquecimento? Afinal de contas, a unanimidade em ciência é virtualmente
inexistente em assuntos menos complexos. Unanimidade em um assunto tão
incerto quanto aquecimento global seria surpreendente e suspeita. Além
disso, por que são buscadas as opiniões de cientistas de outros campos?
Raramente são pedidas opiniões de biólogos e médicos para endossar
alguma teoria de física de alta energia. Aparentemente, quando se trata
de "aquecimento global'' qualquer cientista serve.
A resposta quase certamente está em política. Por exemplo, à conferência
de cúpula sobre a Terra no Rio, foram ensaiadas propostas para negociar
acordos internacionais sobre a emissão de gás carbônico. É certo que os
custos e implicações de tais acordos sejam profundos para países
industrializados e países em desenvolvimento. Dadas as circunstâncias,
seria muito arriscado aos políticos fazer tais acordos a menos que os
cientistas "insistissem." Não obstante, a situação provavelmente é bem
mais complicada que se sugere.
Verdadeiro versus falso - terceira parte
Tentações e Problemas do Aquecimento Global
Como tem dito Aaron Wildavsky, professor de ciência política em
Berkeley, o aquecimento global é a mãe de todos os alarmismos
ambientais. A visão de Wildavsky vale ser citada. "O aquecimento (e só o
aquecimento), por seu antídoto primário de negar carbono à produção e
consumo, é capaz de realizar o sonho do ecologista por uma sociedade
igualitária baseada na rejeição do crescimento econômico, a favor de uma
população menor, comendo restritamente na cadeia alimentícia, consumindo
muito menos, e compartilhando um baixo nível de vida com maior
igualdade." Em muito a observação de Wildavsky não vai suficientemente
longe. O ponto central é que a combustão é, como regra, vital à
indústria, ao transporte, à vida moderna em geral. Foi dito, como
gracejo, que controles sobre gás carbônico nos permitiriam inalar quanto
ar desejassemos; só a exalação seria controlada. Dado o papel central do
gás carbônico, a iniciativa de lidar com a ameaça de aquecimento está
afinada com grande número de agendas preexistentes - algumas legítimas,
e outras nem tanto: melhor eficiência energética, menor dependência no
petróleo do Oriente Médio, descontentamento com a sociedade industrial
(neo-pastoralismo), competição internacional, desejos de governos por
maior arrecadação (impostos sobre carbono), e anseio burocrático pelo
poder de licenciar.
A própria escala do problema como popularmente retratado e a escala
proporcional das respostas sugeridas têm atrativos. O relatório do Grupo
de Trabalho I, do Painel Intergovernamental de Mudança de Clima sugere,
por exemplo, que uma redução de 60 por cento em emissões de gás
carbônico poderia ser necessária. Tal redução estaria a exigir medidas
mais extensas do que as dedicadas à guerra e à defesa. E da mesma
maneira que a defesa trata de guardar a nação, as restrições em nome do
aquecimento global são identificadas com a salvação do planeta inteiro.
Pode não ser fortuito que esta cruzada esteja sendo promovida no justo
momento histórico em que a guerra fria terminou.
Grandes órgãos de governo nos Estados Unidos, em passado recente
envolvidos com assuntos tradicionais de segurança nacional,
apropriaram-se do tema de mudança de clima para justificar sua
continuidade. Notáveis entre esses órgãos são a NASA, o Departamento de
Defesa, e o Departamento de Energia. A guerra fria exigiu a criação de
um corpo grande de peritos de política e diplomatas que se
especializaram em assuntos como desarmamento e negociação de alianças.
Além disto, a partir da Guerra do Yom Kippur, a energia tornou-se um
componente importante da segurança nacional o que levou à criação
concomitante de uma grande estrutura de peritos em energia. Muitos
desses vêem no tema de mudança climática global uma área em que podem
continuar a aplicar suas habilidades. Muitos cientistas também acham que
as preocupações de segurança nacional foram o fundamento do apoio
generoso do governo norte-americano à ciência. Como a urgência da
segurança nacional em moldes tradicionais diminuiu, há um sentimento
comum de que deve ser buscado um substituto. " Salvar o planeta"' soa
como isto. Levantar fundos é central às atividades de ativistas
ambientais, e a mensagem subjacente à angariação de fundos parece ser
"pague ou você fritará no aquecimento global."
Claramente, o "aquecimento global" é um assunto tentador a ser explorado
por muitos grupos importantes. Igualmente importantes, mas menos
discutidos, são os perigos graves que surgem ao explorar aqueles
assuntos de modo amador. Como também veremos, há boas razões para tão
pouca discussão do lado ruim de soluções para o "aquecimento global."
Um assunto universitário próximo é o prejuízo à ciência de climatologia.
Até onde eu posso ver, houve redução de recursos para pesquisas de clima
em curso. Isso pode parecer paradoxal mas, pelo menos nos Estados
Unidos, o número crescente de pessoas que se envolvem em temas de clima,
como também os programas ambiciosos têm ultrapassado em muito os fundos
disponíveis. Agourentas são as pressões exercidas sobre os cientistas
para chegar a resultados "corretos". Tais pressões são inevitáveis,
determinadas pelo comprometimento de muitos membros da comunidade
científica com certas posições apriorísticas. A situação é magnificada
pelo fato de que alguns dos proponentes mais fortes de "aquecimento
global" no Congresso também têm poder sobre recursos para ciência
(senador Gore é notável entre estes). Finalmente, dado o impulso que tem
prontificado tantos grupos de interesse a lutar pela causa do
aquecimento global, há relutância em apoiar pesquisa básica de clima.
Afinal de contas, as pessoas odeiam admitir que se tenha mobilizado
tanto sem que a ciência básica esteja conhecida. Não obstante, dado o
aumento grande no número das pessoas que se associam com assuntos de
clima e a dependência de muitas dessas numa ameaça de aquecimento,
parece improvável que a comunidade científica ofereça muita resistência.
Eu deveria acrescentar que, à medida que cresce o número de indivíduos
que se associam ao problema do aquecimento, crescem proporcionalmente as
pressões contra a solução do problema; por força da dependência de
indivíduos e grupos na perpetuação do problema.
Além de climatologistas, há outros grupos em risco? Aqui, é de se
esperar que a indústria esteja vulnerável e, realmente, assim deve ser.
Mas, pelo menos nos Estados Unidos, as indústrias parecem estar
principalmente preocupadas com a melhora de sua imagem pública, dado seu
apoio freqüente aos ativistas ambientais. Além disso, algumas indústrias
prosperaram com a regulamentação ambiental. O exemplo mais óbvio é a
indústria de tratamento de rejeitos. Até mesmo as concessionárias de
utilidades elétricas puderam usar gastos ambientais para aumentar a base
sobre a qual as tarifas são calculadas. Note-se que aproximadamente 1,7
trilhões dólares foram gastos com meio-ambiente durante a última década.
O meio-ambiente, ganhou vulto como uma de nossas indústrias principais.
Se a visão de Wildavsky estiver correta, os perdedores principais seriam
as pessoas comuns. Seriam desperdiçadas riquezas que poderiam ser usadas
para melhorar a vida em muito do mundo. Diminuiriam os padrões de vida
no mundo desenvolvido. Órgãos regulamentadores restringiriam a liberdade
individual numa escala sem precedentes. Porém, não se pode esperar muita
resistência às ações propostas - pelo menos inicialmente. Percepções
coletivas, sob influência de publicidade extensa, enganosa, e
unilateral, podem estar desligadas da realidade. Por exemplo, o Alabama
teve uma tendência de resfriamento acentuada desde 1935. Não obstante,
uma enquête entre profissionais no Alabama apurou que aproximadamente 95
por cento dos participantes acreditam que o clima tinha sofrido
aquecimento durante os últimos cinqüenta anos e que o aquecimento era
devido ao efeito estufa. Percepções equivocadas do público juntados a um
desejo sincero para salvar o planeta podem forçar ação política até
mesmo quando os políticos estiverem conscientes da realidade.
Isso que acima se descreveu pode ser qualificado de instabilidade
social. Em algum ponto de inflexão da história, uma sugestão
relativamente trivial ou um evento cataliza a mobilização de grandes
interesses. Porquanto as medidas propostas possam ser prejudiciais, a
resistência estará largamente ausente ou será cooptada. No caso de
mudança de clima, a probabilidade é que as ações regulatórias propostas
teriam pouco impacto sobre o clima, embora as ações escolhidas sugiram
conseqüências indigestas.
Modelagem e Instabilidade Social
Até aqui enfatizei os elementos políticos na atual histeria sobre clima.
Sem dúvida, os cientistas estão contribuindo para esta situação. Já foi
mencionado algo sobre provisão de recursos. Porém há outro elemento,
talvez mais importante para motivar o apoio. A disponibilidade do poder
de computação moderna encorajou inumeráveis esforços de modelagem em
muitos campos. O supercomputador nos permitiu estudar o comportamento de
sistemas por demais complexos para outras abordagens. Um desses sistemas
vem sendo o de clima. Não surpreendentemente, há muitos problemas
envolvidos em modelagem de clima. Por exemplo, até mesmo os
supercomputadores são inadequados para permitir integrações das equações
pertinentes a resoluções espaciais adequadas a questões de longo prazo.
Nos graus de resolução presentemente disponíveis, é improvável que os
modelos de computador se aproximem da solução das questões subjacentes.
Além do mais, a física de fenômenos pouco conhecidos, como nuvens, e os
imperfeitamente entendidos, como os de elementos turbulentos, não têm a
solidez necessária para incorporação em modelos. Devido a esses
problemas, é reconhecido geralmente que os modelos são, no momento,
ferramentas experimentais cuja relação com o mundo real é questionável
com dados empíricos.
Nada há de errado em usar esses modelos de modo experimental, mas ocorre
real dilema quando eles prevêem situações potencialmente perigosas.
Devem os cientistas dar publicidade a tais previsões quando se sabe que
os modelos são quase certamente errados? Será ético não dar publicidade
a as predições se o perigo predito for sério? Como é que o público
reagirá a tais previsões? A dificuldade seria diminuída se o público
entendesse como, em verdade, são precários os modelos. Infelizmente, há
uma tendência a temor reverencial a qualquer coisa calculada num
computador grande.
Também há uma relutância por parte de muitos modeladores em admitir a
natureza experimental dos modelos para não diminuir o apoio público para
os esforços. Não obstante, com uso largo de modelos pobres e incertos,
são virtualmente inevitáveis previsões de situações agourentas - à
revelia da realidade.
Tais previsões sem confiabilidade alimentam e contribuem para o quadro que
já designei como Instabilidade Social e que pode magnificar as conjecturas
de perigo mais improváveis em grandes movimentos políticos com
conseqüências econômicas e sociais avassaladoras. Já discuti algumas das
razões para este instabilidade: a existência de estruturas grandes de
planejadores profissionais à busca de ocupação, a existência de grupos de
ativistas que procuram causas lucrativas, a existência de agendas
políticas à procura de justificativas, e a oportunidade de muitas
indústrias para lucrar com regulamentação, combinados com uma
neutralização efetiva de oposição. Quase vai sem dizer que os perigos e
custos dessas conseqüências econômicas e sociais podem ser de longe piores
do que as oferecidas por perigo ao meio-ambiente. Isso fica especialmente
claro quando rejeitados os benefícios de expansão do conhecimento
científico e quando é esquecido que melhor tecnologia e o aumento da
riqueza das sociedades criam meios para lidar efetivamente com ameaças
ambientais. O controle dessa Instabilidade Social pode muito bem ser o
real desafio a enfrentar.
Meio-ambiente: Protocolo de Kyoto e limites do crescimento
Benefícios para o meio-ambiente têm vindo do questionamento contínuo de
práticas relaxadas e do fim da complacência. Como resultado, e em
amplitude mundial, a poluição está agora sob controle em quase todas suas
formas industriais: fuligem, ozônio, óxido nitroso e monóxido de carbono.
Combustíveis mais limpos e combustão mais eficiente reduziram emissões de
dióxido de enxofre em Londres para 1/16 do nível há um século. O abandono
do chumbo tetraetila como anti-detonante em gasolina trouxe uma queda de
97% em concentrações de chumbo no ar nos Estados Unidos. Os oceanos também
estão mais limpos. De acordo com a Agência Européia de Meio-Ambiente, nos
últimos 10 anos, as concentrações de cádmio, mercúrio e BHC caíram ao
redor de 80 % nos mares que banham a Europa. Assim a poluição não é um
problema novo que piora, mas um problema velho que está sendo vencido; mas
muito resta por fazer.
Dotar toda a humanidade de água potável e serviços básicos de saúde
pública permanece uma questão ambiental não resolvida, mas a criação dos
vastos recursos que a ela seriam dedicados estão ameaçados por opositores.
São os ativistas de meio-ambiente que agora propõem a redução da atividade
econômica mundial para salvar o planeta do aquecimento global. Isto está
implícito num esquema detalhado para reduzir emissões de gás carbônico aos
níveis de 1990, em cotas por país, incorporado ao Protocolo de Kyoto o
qual obriga os governos a adotar legislação restritiva, presumivelmente à
custa de retração econômica. Não há fundamento científico para tais
restrições.
Em 6 de junho de 2001, um painel de 11 membros da National Academy of
Sciences (NAS) divulgou o relatório: "Ciência de Mudança de Clima: Uma
Análise de Algumas Questões Chave" solicitado para fundamentar diretrizes
relativas à ratificação do protocolo de Kyoto, pelos Estados Unidos. O
relatório confirma pontos importantes feitos por cientistas que criticam
alegações de mudança de clima por mão humana. A NAS afirma que:
Incertezas das ciências de clima são de ordem a lançar dúvida sobre o
papel da atividade humana na mudança de clima. A idéia de que atividade
humana é grande o bastante para fazê-la é exagerada.
Incertezas de projeções de tendências sociais futuras tornam precárias
as previsões do efeito de atividade econômica humana sobre o clima
global. Requer adivinhar o que a humanidade fará ao longo de um século e
tal vaticínio pode ser montado num computador para ajustar-se a qualquer
agenda política.
Influência política teve um papel de peso na redação do "Resumo para
Formuladores de Diretrizes" do Painel Intergovernamental de Mudança de
Clima (IPCC), das Nações Unidas, um documento formal que prefacia o
Terceiro Relatório sobre Mudança de Clima daquele órgão internacional.
Uma explicação científica das causas de mudança de clima está longe de
completa e é, de fato, ainda rudimentar.
A recusa americana de ratificar o Protocolo de Kyoto tem, apesar do
desapontamento que causou, sólida base científica. De vez que a atividade
solar, o vapor d'água e as nuvens têm peso avassaladoramente maior no
comportamento físico da atmosfera do que o gás carbônico, é surpreendente
que os jornalistas estejam a conceituar o gás carbônico, atóxico e
essencial a vida, como poluente. Tardiamente, como sempre, a revista Time
dedicou um número especial ao meio-ambiente que reflete atitudes
construídas ao longo de mais de vinte anos: os mares estão sendo poluídos,
as florestas devastadas, espécies estão sendo levadas a extinção a taxas
inéditas, há chuva ácida, a camada de ozônio diminui, e tão envenenados
estão os rios e oceanos que estão cobertos por peixes mortos. A próxima
vítima seria a humanidade toda, destinada a ser fritada pelo aquecimento
global se a escassez geral de recursos naturais não der cabo num planeta
de superpovoado. O enredo lembra a história de um inflamado orador
parlamentar que predisse que o primeiro ministro Disraeli morreria na
forca, se uma doença venérea não o matasse antes. "Certamente será assim
se eu abraçar seus princípios ou sua amante" respondeu o mestre da
réplica.
Um público sensível a tal histriônica tem dificuldade em compreender
magnitudes expressas em números e é presa fácil para alarmistas. Um
exemplo: a média diária de perdas de cargas de petróleo na Segunda Guerra
Mundial foi de 48000 barris por dia; na década de 1990 os derramamentos de
petróleo alcançaram a média de 175 barris por dia, no mundo inteiro. Na
interpretação de jornalistas as empresas petroleiras estão a matar o
planeta. O que lhes falta é senso de proporção.
As florestas não estão sob ameaça. Desde que a agricultura começou há 10
mil anos o mundo perdeu aproximadamente 20 % de sua cobertura florestal,
mas em tempos recentes a perda tende a ser revertida. De acordo com dados
da ONU, a área de florestas permaneceu quase inalterada, aproximadamente
30 % de área de terra total, desde o Segunda Guerra Mundial. Florestas
temperadas em países desenvolvidos como o EUA, o Inglaterra e Canadá têm
se expandido durante os últimos 40 anos. A Inglaterra tem hoje mais
florestas que há 200 anos, e de bosques naturais, não de reflorestamento.
Florestas tropicais em países em desenvolvimento estão sendo cortadas ou
queimadas em ritmo mais lento e, apesar de toda a retórica, a floresta
Amazônica só está reduzida em 15 %.
O mesmo alarme está presente no livro The Sinking Ark de 1979; seu autor,
Norman Myers afirma que a cada ano 40000 espécies ficam à beira de
extinção. Outros sugerem 250000, e prevêem que 50 % de todas as espécies
desaparecerão dentro de 50 anos. Estudos mais sérios mostram que só 0,08 %
das espécies estão desaparecendo cada ano. O IUCN - a união de conservação
mundial, a referência para reconhecer qual espécie está em extinção -
disse recentemente que "extinções atuais permanecem baixas"; os esforços
de conservação tiveram êxito. Já não estão ameaçadas as baleias, as
manadas de elefantes estão sendo controladas para evitar superpopulação, e
o Bald Eagle, símbolo nacional americano, está fora da lista de espécies
em perigo. Nunca o hábitat do mundo desenvolvido esteve mais protegido - o
número de áreas de proteção oficial na Europa subiu de poucos há 20 anos a
mais que 2000 hoje.
Nos anos oitenta, surgiu o alarme de que a chuva ácida destruiria as
florestas de Europa. Dez anos depois o temor desapareceu: estudos
raramente demonstraram que chuva ácida tivesse afetado árvores. Porém,
tinha efeito observado na vida em lagos, e foram então restringidas as
emissões de gases geradores de ácido. A chuva ácida não estava a matar as
florestas, e nosso ar está se tornando menos poluído. A ONU confirmou em
1997 que a morte de florestas européias devido a poluição do ar prevista
por muitos nos anos 80 não aconteceu.
Os ativistas de meio-ambiente reivindicam as melhoras como resultado do
sucesso de suas campanhas. Stephen Tindale, diretor executivo de
Greenpeace da Inglaterra, disse: "Há exemplos importantes, como chuva de
ácido e ozônio onde coisas não eram tão ruins quanto pareciam, e pôde ser
assim porque o comportamento mudou"... "A camada de ozônio está começando
a se recuperar porque os gases redutores de ozônio estão sendo desativados
rapidamente. É um triunfo do movimento ambiental." Charles Secrett,
diretor de Friends of Earth, insistiu que o meio-ambiente enfrenta ameaças
novas: "Os problemas ambientais mais óbvios e simples foram em geral
resolvidos; precisamos substituir poluentes que podem ser vistos por
poluentes invisíveis, furtivos, que nos afetam a longo prazo" Mas esta
explicação está a explicar algo mais. Patrick Moore, um dos co-fundadores
de Greenpeace que deixou a entidade por causa de seu radicalismo, disse
que o movimento de meio-ambiente, vitorioso em suas causas, precisava
inventar novas causas.
As causas ecológicas tomaram vulto a partir das profecias fracassadas de
dois livros basilares, Population Bomb de 1968 e Limites do Crescimento de
1972. Ativistas de meio-ambiente tentam hoje manter no esquecimento os
erros notórios que desacreditaram estes livros, mas recordá-los tem o
mérito de uma autopsia, para descobrir por que as previsões falharam, e
não para questionar motivos ou duvidar da sinceridade dos autores.
As previsões apocalípticas começaram nos anos 60 na esteira de uma
campanha institucional vigorosa que a indústria de fertilizantes manteve
para agitar o espectro da fome que assolaria a humanidade, a menos que se
melhorasse a produtividade agrícola no mundo. A campanha foi lançada após
o início de exploração da gigantesca jazida de potassa de Saskatchewan, no
Canadá, e era francamente comercial. A campanha foi tão persuasiva que a
indústria de petróleo fez investimentos volumosos em fábricas de
fertilizantes, as quais criam memoráveis estoques de excedentes. Um livro
escrito à época por W.R. Erlich, Population Bomb, tornou-se um best-seller
com uma versão requentada do pensamento de Thomas Malthus, 170 anos antes.
Com o benefício de visão a posteriori é percebido agora que o século 20
viu uma queda dramática de mortalidade infantil combinada com expansão da
expectativa de vida, o que induziu um crescimento de população a uma taxa
anual grande e anômala, mas não criou regra para expansão perpétua.
Em 1971 o Clube de Roma divulgou estudos de uma equipe de técnicos do
Massachusetts Institute of Technology, patrocinados pela FIAT, e
incorporados no ano seguinte a seu livro, Limites do Crescimento um
best-seller que atingiu uma tiragem de milhões de exemplares. Os estudos
manifestavam angústia sobre o crescimento de população mundial com taxas
que vinham ocorrendo e sua conseqüência, a exaustão de recursos materiais,
a qual estaria em horizonte visível ao planejamento de longo prazo. O
estudo é hoje lembrado pelos equívocos de suas premissas e pelas
conclusões falaciosas, derivadas de modelo matemático simplificado e
irrealista:
Nada garante que serão indefinidamente mantidas as altas taxas passadas
de crescimento de população. De fato a taxa de crescimento atingiu seu
ápice em 1963 e depois mostrou declínio rápido. A estimativa atual é que
a população do mundo estabilizará ao nível de 9 a 11 bilhões ao fim do
século 21.
Em Limites do Crescimento a população mundial foi tratada como uma única
entidade, abstraindo barreiras geográficas e políticas que criam
disparidade enorme na severidade local da superpopulação. No real mundo
as centenas de milhões da Ásia e África não têm liberdade para cruzar
oceanos para ocupar a despovoada planície Amazônica.
As reservas de recursos minerais não-renováveis seriam exauridas às
taxas aceleradas vistas no passado. O modelo matemático de Limites do
Crescimento não levou em conta a substituição de materiais, fontes ou
processos induzida por preços de mercado; só admitiu provisões
arbitrárias e modestas para minerais não descobertos e para inovação
tecnológica.
Estas omissões são de uma magnitude que invalida o raciocínio seguido no
estudo. De vez que uma camada da crosta da terra com espessura de 100
metros pesa 150 000 000 000 000 000 de toneladas, os recursos minerais
nela contidos, por raros que sejam, são obviamente maiores que a soma das
respectivas reservas que as companhias mineradoras conhecem e usam no
planejamento de operações. Elas são de ordem a sobreviver à espécie
humana. Reservas de petróleo foram estimadas como equivalentes a 10 anos
de consumo mundial em 1914, 13 anos em 1939 e em 1951, 20 anos em 1980 e
40 anos hoje. O Sheik Yamani, um fundador de OPEC, diz que a Idade de
Pedra terminou, mas não por falta de pedra, e que a Idade de Petróleo
terminará, mas não por a falta de petróleo. Da mesma maneira que machados
de bronze ou ferro substituíram o machado de pedra lascada, outras fontes
de energia substituirão o petróleo.
No Encontro do Rio de Janeiro do Clube de Roma a plêiade de gigantes
intelectuais reunida pelo presidente da FIAT, Aurelio Peccei, sugeria um
lance publicitário construtivo do patrocinador. Participantes conhecedores
de ciências exatas não ficaram intimidados pela matemática. O que lhes
causou espanto foi a aceitação de listagens de computador como
pronunciamento de oráculo pagão. Ao contrário da audiência distinta,
alguns eram programadores FORTRAN, atentos às limitações da aplicabilidade
de modelos matemáticos a assunto tão amplo como o futuro da humanidade, e
também do adágio GIGO (Garbage In = Garbage Out). Eles tinham
experimentado frustrações com procedimentos iterativos em tudo, salvo em
sistemas lineares dos mais simples. Não se pode esperar que tais modelos
matemáticos retratem este mundo complexo.
Thomas Huxley escreveu: "A matemática pode ser comparada a um moinho que
mói materiais a delicado grau de finura; mas impõe que aquilo que você
terá como produto depende do que você pôs como matéria prima. E assim como
o melhor moinho do mundo não extrairá farinha de trigo de grão de ervilha,
numerosas páginas de formulas não sacarão bom resultado de dados falhos."
Os dados do modelo do Clube de Roma eram ruins e os algoritmos eram
piores, dadas as limitações de poder de computação em 1971.
Dennis Meadows, que conduziu a equipe que elaborou Limites do Crescimento,
reconheceu que simplificações do modelo de matemático foram imperativas
para reduzir o problema a tamanho passível de cálculo pelo computador, mas
reivindicou que não invalidavam a aritmética exponencial de sua esposa,
Donella Meadows, (demógrafa crente em Population Bomb), e a conclusão de
que há limite ao crescimento; que um planeta finito não pode suportar
crescimento infinito de sua população. Mas se Meadows raciocina no limite
do infinito, todos gozam do mesmo direito. Pode ser reivindicado que não
há recurso não-renovável, porque o mundo está sujeito à lei de conservação
de massa. Em última instância, tudo pode ser reciclado com solar, ou
energia de fusão que está no mesmo horizonte que os cenários catastróficos
de Limites do Crescimento.
Os modelos matemáticos atuais que simulam fluxos de gases em superfícies
esféricas para retratar forças físicas que amoldam o clima são imensamente
mais rebuscados do que o modelo de Limites do Crescimento. Está-se longe
de um modelo geral de clima. As dificuldades começam ao nível de coleta de
dados e sua interpretação, num volume de fluidos na troposfera, de
9 000 000 000 000 000 000 de metros cúbicos. Um melhor sistema de
referenciamento global , ainda por ser instituído, é necessário para
comparar imagens de resoluções diferentes, de sensores diferentes. Para
este fim o National Center for Geographical Information and Analysis da
University of California - Santa Barbara, convocou uma conferência
internacional, em março de 2000. A trama de latitudes e longitudes
geográficas que nos serviu por 2000 anos, foi adequada enquanto distâncias
eram medidas em milhas náuticas, ao nível do mar, mas está se provando
inadequada ao trato de um imenso tráfico de dados de imagens. Até isto
seja resolvido os modelos de clima terão dados precários; nenhum modelo
matemático substitui observações. Um modelo deve ser visto como forma de
arte, no espírito descrito por um biólogo J.B.S eminente. Haldane: "como
taquigrafia a expressar pensamento por demais complexo para ser descrito
adequadamente em palavras, pensamento que, não obstante, deve ser
verificado no cadinho da experiência para ser aceito como evidência
científica."
Engenheiros são usuários profissionais do reducionismo criado por
Descartes (achar soluções para as partes para integrá-las numa solução
para o todo). O método Cartesiano tem uma folha corrida esplêndida quando
aplicada a seu domínio próprio de geometria e mecânica. Mas modelos
matemáticos dedicados a temas abrangentes, como mudança de clima global,
previsão do futuro da humanidade, as oscilações e ciclos de uma economia
de mercado, ou equilíbrio em grandes processos biológicos, azeda em
narcótico, uma droga para auto-engano ingerida pelos que precisam escapar
de um real mundo complexo ao mundo de ficção criado por sua matemática
errada.
Tais matemáticos auto-iludidos são poucos mas para compensar abundam bobos
da corte em assembléias legislativas. São em um número bastante para
abalar a casa com gargalhadas da platéia, e o planeta também. Em resposta
a um alerta foi apresentado ao Congresso norte-americano projeto de lei
para garantir aos americanos um clima estável, o que expressa crença de
que parlamentos soberanos têm poder para revogar leis da física. Em veia
semelhante, uma constituição espanhola de princípios do século 19 concedeu
a todos os cidadãos o direito à felicidade, mas os bascos estão
irrequietos após dois séculos de desprezo pelo seu direito constitucional.
Um artigo da constituição brasileira de 1988 garante ao cidadão idoso o
direito à vida, mesmo em caso de doença terminal. O saudoso Roberto
Campos, já doente, ameaçava impetrar mandado de segurança para fazer valer
seu direito constitucional se desenganado pelos médicos. O Protocolo de
Kyoto está nesta classe de legislação proposta, baseada em pensamento
especulativo sem comprovação.
São divertidos os atos pitorescos de legisladores, mas os recursos
desperdiçados por má legislação não o são. Soluções a reais e graves
problemas são preteridos quando recursos são malbaratados em questões
triviais ou imaginárias. Enquanto os profissionais de clima fazem sérias
restrições à idéia de que a atividade econômica tem magnitude para induzir
mudança de clima global, são propostas vastas despesas sob o Protocolo de
Kyoto para reduzir emissões de gás carbônico. Uma fração pequena de tais
recursos proporcionaria a toda a humanidade saúde pública básica, água
potável e esgoto. Cinqüenta anos atrás quase metade da população mundial
vivia a nível de fome; hoje, 82% têm uma dieta acima 2000 calorias por
dia; faltam ainda 18%. Não será este um objetivo mais nobre e merecedor de
recursos?
Conseqüências do cerceamento da liberdade
A ciência é competente para criar conhecimento seguro sobre fenômenos
físicos e comprovar sua solidez com o raciocínio lógico dedutivo e a
experimentação sistemática. Mas as ferramentas da ciência são por demais
rudimentares para perscrutar a alma humana em todas suas dimensões.
Nunca faltaram os que vestem o manto respeitável da ciência, como o lobo
que veste pele de cordeiro, para fazer passar por verdade científica o que
é mero pensamento especulativo sobre o comportamento humano; sem
comprovação, se é que algum dia será passivel de comprovação.
São a seguir passadas em revista as falácias presentes em apologias do
intervencionismo, do fascismo e do comunismo, diversas espécies de
autoritarismo que assolaram a humanidade do curso do século 20.
1. Economia de mercado é inadequada a país moderno; é a gestão do complexo
com critérios de feira de aldeia
Esta é uma questão de opinião porque o estudo de economia está longe de
ser uma ciência exata, se é que a palavra é apropriada para pensamento
especulativo, mais com natureza de arte que ciência, sobre ação combinada
de agentes independentes.
O que a experiência universal demonstra é que a substituição de economia
de mercado pelo arbítrio burocrático do planejador estatal deixa a
atividade econômica à deriva, sem bússola, sem sextante, sem cronômetro.
Instala-se em conseqüência um colossal desperdício de materiais, trabalho,
energia e capitais. A economia foi chamada de administração de escassez.
Em tal uso do poder há espaço para a ação governamental construtiva para
atenuar carências coletivas, mas a história registra modos certos e
errados de o fazer.
Um bom exemplo é visto nos estados do oeste americano no uso de água
escassa. O uso era regido por regras jurídicas arcaicas que remontam à
prática inglesa medieval, país onde a escassez de água nunca importou. A
falha foi corrigida por um engenheiro, que pensava em termos de vazões e
gradientes, e que pôs ordem no emaranhado jurídico colocando direitos à
água numa base científica. A oferta de água foi colocada sob leis da
hidráulica e a procura sob leis de mercado. Em 80 anos os desertos de
Califórnia se tornaram jardins.
Outro exemplo é o de Cingapura, cidade em ilha de espaço restrito mas que
combina tráfico ordeiro com brandas restrições sobre a circulação de
veículos. Um sistema engenhoso de pedágios, com níveis variáveis
governados por oferta e procura, penaliza o abuso de rotas favoritas a
horas de ponta. Multas draconianas e restrições complicadas não teriam
resolvido questões de trânsito mas teriam gerado uma polícia corrupta.
Tornar a extorsão lucrativa é rota segura a resultados indesejáveis, como
visto na China onde são executados centenas de presos por corrupção. Onde
há tal poder as fortunas mudam de mão mais rapidamente do que num cassino.
O planejamento econômico por burocracia governamental e por cartéis falhou
e caiu em descrédito mas seus slogans ainda são ouvidos. Que o confronto
da competição cega deve dar lugar à cooperação fraternal. Isto sugere um
antagonismo de tipo não visto em partida de futebol onde ambos os
elementos estão presentes como parte do jogo. Mas se a meta de um jogo for
definida como a de matar o adversário (guerra) a próxima partida não será
jogada.
"Apenas a guerra solicita, no mais elevado grau, todas as energias humanas
e confere o selo de nobreza aos povos que têm a coragem de fazê-la."
Benito Mussolini
O Kaiser Wilhelm II e Mussolini viam a guerra como o rei dos jogos
esportivos e a idéia está implícita no fatalismo marxista sobre luta de
classes. A história mostra que a autocracia é governo por quadrilha de
malfeitores, como numa ordem feudal ou sua sucessora, o estado totalitário
do século 20. Na idade média o rei esteva acima da lei e não podia cometer
crime. Agindo no nome do rei, cortesãos roubavam, matavam e saqueavam com
impunidade. Em toda parte as burocracias de governo têm nostalgia por
tempos nos quais seus caprichos e sede de poder prevaleciam sobre escolhas
e direitos de cidadãos privados. Na Alemanha de Bismarck a burocracia
seqüestrou o poder, e na União Soviética, aluna atenta do planejamento,
regulamentação e diktats de uma Alemanha autocrática, os controles
estatais sobre cidadãos foram levados a extremos absurdos nunca sonhados
pelos déspotas da antiguidade.
As tragédias, alemã e russa, correram nos dois séculos seguintes à Queda
da Bastilha. Depois da revolução francesa aguçou-se o antagonismo político
entre um passado feudal e um presente moderno na Alemanha. Sob pressões da
revolução industrial e das ferrovias os vinte e seis reinos e ducados da
Alemanha criaram uma união alfandegária, o Zollverein, pois não era mais
tolerável parar trens nas cercas de principados para fazer conferência,
tributar, e extorquir suborno. Em sessenta anos de comércio livre foi
construído um colosso industrial saudável graças à remoção de restrições
arcaicas à atividade de artesãos e empresários. Até a anexação dos estados
alemães pela Prússia, o mais atrasado deles, floresceram as contribuições
alemãs para ciência e tecnologia.
Bismarck, chanceler da Prússia, era um senhor rural autocrático, mas um
político astuto que viu ameaça no crescente poder de industriais e suas
reivindicações por um governo constitucional, mais afinado com uma
economia moderna do que a monarquia despótica da Prússia. Para
contrabalançá-los Bismarck chamou ao palco político um ator novo, os
social-democratas de ideologia marxista, e lhes deu a tarefa de colocar a
indústria alemã sob controle do governo como provedora do exército mais
poderoso do mundo. Isto eles fariam nas próximas décadas até as 1945, sob
o rótulo de Organização da Indústria, depois conhecido como planejamento
econômico. À sombra de tarifas protecionistas erguidas por Bismarck foi
fácil arrebanhar a indústria em cartéis para restringir a concorrência.
O governo alemão encorajou monopólios, supostamente para evitar o
desperdício, duplicação, e competição predatória vistos em economias de
mercado. A inovação, pela qual a indústria alemã fora notável, murchou sem
a espora da competição. O grande dispêndio bélico manteve os fabricantes
ocupados mas amorteceram a capacidade de a indústria alemã se ajustar à
demanda. A rigidez estrutural criada por monopólios e controles de governo
vieram à tona quando cessaram os gastos militares em 1918 criando enorme
capacidade ociosa. Na ocasião toda a indústria alemã trabalhava sob
cartéis que fixavam preços, salários, cotas de produção e zonas de vendas
exclusivas. Cartéis não podem fixar demanda, e tiveram de acomodar a
produção a um baixo nível, e com isto o emprego. Em 1932 quase metade da
população não tinha renda. Estas aflições não decorreram do Tratado de
Versalhes ou da depressão americana. Tudo pode ser visto em ordem inversa.
O mau desempenho econômico da Alemanha, por ela mesmo criado, propagou-se
através da Europa e inibiu a recuperação pós-guerra. A América e Japão,
continuaram a ampliar capacidade nos anos vinte, mas ficaram sem os
mercados de exportação esperados. Suas iniciativas isoladas desmoronaram.
No Japão, ao fim de 1931, metade de todas as indústrias tinha fechado as
portas de fábricas inativas, o que pôs em marcha uma sucessão de aventuras
militares funestas.
À origem das desventuras estava uma indústria alemã viciada durante
cinqüenta anos a despesas grandes com armamentos. Quando o Hitler saciou o
viciado com encomendas militares a indústria alemã reavivou e o desemprego
desapareceu, o que ganhou apoio popular pelas horrendas doutrinas
nazistas. Além de duas guerras a conseqüência para o mundo de uma
indústria alemã pervertida seria que, entre 1914 e 1954, o comércio
internacional permaneria estagnado, a 50% do nível atingido em 1913.
Com este pano de fundo ganharam credibilidade estranhas doutrinas, como o
Estruturalismo da Comissão Econômica da América Latina, da ONU, as quais
mergulhariam a região em desastrados experimentos de gestão econômica.
Levaram à hiperinflação, e presidentes mortos em palácios incendiados.
A cultura instantânea do marxismo
Marxistas explicam o complexo quadro alemão, e tudo mais no mundo, como o
resultado do jogo de forças econômicas segundo leis da história. A seus
crentes o marxismo tem uma atração que pode ser chamada de cultura
instantânea. Um marxista, depois de memorizar um conjunto de slogans e
clichês, e um enredo de tese, antítese e síntese, fala fluentemente sobre
qualquer assunto, de campeonatos esportivos a mecânica celeste, sem se
deixar deter por fatos, aritmética ou consistência. Um marxista descarta
objeções com dedo em riste e vocifera: Inimigo de Classe! Com tal
exorcismo o marxista desobriga-se de responder e coloca-se além do alcance
da razão.
Lenin, um bacharel em direito formado por uma faculdade provinciana, e
armado com cultura instantânea, escreveu sobre física e matemática para
repudiar, como incompatíveis com materialismo dialético, as leis da
termodinâmica e a lógica-matemática de Bertrand Russell e Alfred North
expressa no livro basilar Principia Mathematica. Materialismo dialético
pode transformar qualquer um em crítico de música. Compositores da
estatura de Khatchaturian, Prokofiev e Shostakovich foram publicamente
humilhados quando o partido comunista entendeu haver decadência burguesa
em sua música. O partido comunista perseguiu todos os seis vencedores
russos de Prêmios de Nobel. Pelo mundo afora os credos políticos
Hegelianos gêmeos, o nazismo e o comunismo, legaram uma esteira de países
decadentes com economias arruinadas e a corrupção que vai com o poder
ditatorial.
O rejeição do império da razão e da ciência é o atributo comum de todas as
falácias descritas. Mais sofrimento e penúria são resultados previsíveis
da ação por elas inspirada e não uma marcha para felicidade, prosperidade,
justiça, ou para um meio-ambiente mais saudável.
A histeria atual de europeus contra sementes geneticamente modificadas e o
pânico a respeito de um aquecimento global improvável, ilustram o que
acontece quando a ciência deixa de orientar as mentes. É perturbador ler a
falsidade divulgada por uma aliança de anarquistas de camisa preta,
fazendeiros reacionários, ativistas verdes, demagogos neo-nazistas, e
sindicatos retrógrados. Se a falsidade prevalecer a Europa afundará uma
vez mais no abismo de uma nova Idade das Trevas.
Cabe pilhar embusteiros em flagrante delito e levá-los ao ridículo
Foi o que fez Alan Sokal, conceituado professor de física da New York
University. Reuniu volumoso arquivo de recortes do publicado por
pensadores "pós-modernistas" franceses e seus discípulos americanos, que
abusam de termos matemáticos e de conceitos científicos mal digeridos para
mistificar leitores com textos incompreensíveis, ditos "profundos".
Perplexo com o relativismo inconseqüente de sociólogos, críticos da
ciência "branca, machista e eurocêntrica", Sokal concluiu que ciência
social não existe, que qualquer coisa vale como tal, e submeteu sua
opinião à comprovação experimental.
HIPÓTESE
Que prestigioso periódico de estudos sociais publicaria artigo repleto de
asneiras, se bem escrito e alinhado com preconceitos ideológicos do editor
Sokal preparou monografia de 35 páginas, Trangressing the Boundaries,
urdida com graça literária. Apresentou credenciais impecáveis, de ter
ensinado na Università di Roma "La Sapienza" e na Universidad Nacional
Autónoma de Nicaragua, sob o regime Sandinista. Anunciou descoberta de uma
Teoria de Gravitação Quântica, síntese em plano superior da mecânica
quântica e da teoria da relatividade, a qual supera ambas. Seria tão
revolucionária que sua publicação fora recusada pelos canais
convencionais, o que obrigou Sokal a apelar para a hospitalidade do
periódico Social Text, aberto a idéias avançadas. Uma implicação da teoria
seria a negação da realidade física. [cogito - ergo non sum?]. Na Teoria
da Gravitação Quântica grandezas tidas como constantes, a velocidade da
luz, c, o número p e a constante da gravitação universal, G, passariam a
ter valores ditados pelo contexto social em determinada época. Prega-se a
matemática liberatória, livre das algemas da tabuada e das regras de
aritmética, sensível a anseios de feministas, homossexuais e ecologistas.
Condena-se o ensino da geometria superada de Euclides, por ser mero
instrumento de dominação do establishment sobre o ensino popular. Nenhum
disparate foi inventado por Sokal. Toda a monografia está apoiada em mais
de uma centena de citações ao publicado por pensadores pós-modernistas
sobre ciências exatas. Vão da negação da validade do método científico,
fundado na experimentação sistemática e no raciocínio lógico dedutivo, à
denúncia de preconceitos machistas em mecânica dos fluidos.
PROVA
A monografia Transgressing the Boundaries: Towards a Transformative
Hermeneutics of Quantum Gravity foi aceita com todas as asneiras
(perceptíveis como piada por estudante de engenharia) e foi mesmo
publicada em "Social Text" #46/47, pp. 217-252 (1996).
QUOD ERAT DEMONSTRANDUM
Simultaneamente, em outra revista, Sokal publicou nota de esclarecimento
do que tinha feito:
"Há a tentação de tomar tudo por brincadeira de estudante, não fossem as
implicações assustadoras, a saber, que maré silenciosa de irracionalidade
ameaça solapar nossas instituições de ensino superior, para ditar, do
púlpito de uma ignorância cega, intolerante e obscurantista, o que é certo
fazer, dizer e pensar."
Um dos alvos são as idéias de Régis Debray, compañero de Che Guevara,
preso na Bolívia e solto pela diplomacia francesa após ruidosa campanha de
direitos humanos. Desde então Debray vive da exploração do cause célèbre e
teve até passagem pelo gabinete como ministro da cultura. Em inglês seu
nome traduz como o Rei do Zurrado. Outro com nome que convida trocadilho é
Derrida. Pensa como personagem de Lewis Carroll, versado nas operações de
Ambition, Distraction, Uglification, Derision. Na França, depois das
contribuições à matemática de pensadores com a estatura de: Descartes,
Pascal, Fermat, D'Alembert, Delambre, Fourier, Lagrange, Monge, Poisson,
Laplace, Cauchy, Galois, Poincaré, Mandelbrot, surge a contribuição dos
pós-modernistas com essência descrita por Lewis Carroll: "When I use a
word," Humpty Dumpty said in rather a scornful tone, "it means just what I
choose it to mean - neither more nor less". [Through the Looking-Glass]
O artigo de Sokal está disponível em Internet no endereço:
<http://www.sablesys.com/sokal.html>.
A paródia na página seguinte ridiculariza um oportunista de má índole, não
a figura trágica de GetúlioVargas. Vargas foi a figura dominante da vida
política por 25 anos e sua influência continua até dias correntes. Era um
estanceiro de fronteira que gostava de mandar à maneira de caudilho
platino, mas sem idéia clara do que fazer com o poder. Não pode ser
conceituado como um radical; não era adepto de nenhuma idealogia. No
governo viveu cercado pelas figuras sinistras que pululam nas águas turvas
de qualquer regime ditatorial. Traído por estes, pôs fim à vida, como
ameaçara fazer algumas vezes nas crises políticas da década de 30. Em seu
quarto foi encontrada uma carta apócrifa que ficou conhecida como a Carta
Testamento, uma denúncia em linguagem vitriólica contra obscuros inimigos,
escrita por um energúmeno de convicções fascistas, com ambições próprias.
ABAIXO OS CARECAS!
Os calvos são homens maus. Conspiram pela conquista e domínio do mundo.
Nós somos pobres porque os carecas são ricos e, para que o sejam, somos
esmagados pela fome, pela miséria e pela injustiça. Deus privou os calvos
de cabelos como marca de sua maldição. Abaixo os carecas!
Piada?
Propaganda de tônico capilar?
Delírio de paranóico?
A última hipótese está próxima à verdade no caso de:
O BILHETE DO SUICIDA
Mais uma vez, as forças que os carecas coordenaram novamente se
desencadeiam contra mim. Não me acusam, me insultam; não me combatem,
caluniam-me; não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha
voz e impedir a minha ação para que eu não continue a defender, como
sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que
me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos carecas,
fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação
e instaurei o regime de liberdade social. Tive que renunciar. Voltei ao
governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos de carecas
aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra a garantia do
trabalhador. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso.
Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios.
Quis criar a liberdade nacional na potencialização de nossas riquezas
através da Petrobrás e mal começa esta a funcionar, a onda de agitação
se avoluma. A lei da Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não
querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja
independente. Assumi o governo dentro da espiral inflacionária que
destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas dos carecas
alcançavam até 500 por cento ao ano. Nas declarações de valores do que
importamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de
dólares por ano. Veio a crise do café. Valorizou-se o nosso principal
produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta
pressão sobre nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder. Tenho
lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma agressão
constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo,
renunciando a mim mesmo para defender o povo que agora se quer
desamparado. Nada mais posso dar a não ser o meu sangue. Se os carecas
querem o sangue de alguém, se querem continuar sugando o povo
brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio
para estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma
sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater a vossa porta, sentireis em
vossos peitos a energia para a luta por vós e por vossos filhos. Quando
vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento força para a reação. Meu
sacrifício vos manterá unidos e meu sangue será vossa bandeira de luta.
Cada gota de meu sangue será uma chama imortal. Vossa consciência
manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o
meu perdão. Aos que pensam que me derrotaram respondo com minha vitória.
Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas este povo
de quem fui escravo não será mais escravo de carecas. Meu sacrifício
ficará para sempre em suas almas. Meu sangue será o preço de seu
resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação
do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio e as infâmias e a calúnia
não abateram meu ânimo. Vos dei a minha vida. Vos dou a minha morte.
Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho para a
eternidade e saio da vida para entrar na história.
Nenhum cidadão deve encolher os ombros e dizer: O caso não é comigo; não
sou calvo. Amanhã será com os canhotos. Depois com os torcedores do
Flamengo, com nordestinos ou paulistas. A discriminação é odiosa, indutora
de atos que escalam para levar milhões a fornos crematórios de campos de
concentração. Substitua-se a palavra carecas por: [interesses contra o
povo] [estrangeiros] [grupos econômicos financeiros internacionais]
[grupos internacionais] [aves de rapina], para se ter a íntegra da Carta
Testamento, atribuída a Getúlio Vargas, mas escrita por cortesão de rodas
palacianas, de convicção fascista, com o propósito de explorar a tragédia
de um ancião enfermo.
desamparado. Nada mais posso dar a não ser o meu sangue. Se os carecas
querem o sangue de alguém, se querem continuar sugando o povo
brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio
para estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma
sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater a vossa porta, sentireis em
vossos peitos a energia para a luta por vós e por vossos filhos. Quando
vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento força para a reação. Meu
sacrifício vos manterá unidos e meu sangue será vossa bandeira de luta.
Cada gota de meu sangue será uma chama imortal. Vossa consciência
manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o
meu perdão. Aos que pensam que me derrotaram respondo com minha vitória.
Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas este povo
de quem fui escravo não será mais escravo de carecas. Meu sacrifício
ficará para sempre em suas almas. Meu sangue será o preço de seu
resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação
do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio e as infâmias e a calúnia
não abateram meu ânimo. Vos dei a minha vida. Vos dou a minha morte.
Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho para a
eternidade e saio da vida para entrar na história.
Nenhum cidadão deve encolher os ombros e dizer: O caso não é comigo; não
sou calvo. Amanhã será com os canhotos. Depois com os torcedores do
Flamengo, com nordestinos ou paulistas. A discriminação é odiosa, indutora
de atos que escalam para levar milhões a fornos crematórios de campos de
concentração. Substitua-se a palavra carecas por: [interesses contra o
povo] [estrangeiros] [grupos econômicos financeiros internacionais]
[grupos internacionais] [aves de rapina], para se ter a íntegra da Carta
Testamento, atribuída a Getúlio Vargas, mas escrita por cortesão de rodas
palacianas, de convicção fascista, com o propósito de explorar a tragédia
de um ancião enfermo.

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