Praia: território 100% nacional
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Praia: território 100% nacional
_>>> Jornal Valor Econômico - CAD D - EU - 16/12/2015 (17:22) - Página 4- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW Enxerto D4 | Valor | Quarta-feira, 16 de dezembro de 2015 EU&ESTILO Indústria da beleza busca soluções naturais Tendência Angela Klinke E m janeiro entram no ar (no ambiente digital) seis “episódios” que a Reload produziu para mostrar como seus cosméticos são feitos livres de parabeno, sulfatos e glúten. “O consumidor quer saber e para nos é importante mostrar nosso propósito, o compromisso social, a honestidade do negócio”, diz Filipe Sabará, um dos sócios da empresa. Lançada neste mês, a marca de cosméticos orgânicos Souvie também tem filmes na rede mostrando as área de cultivo e as instalações de sua fábrica onde faz produtos certificados pela Ecocert, em Itupeva (SP). “Tratamos tudo com a maior transparência. Não há outra forma de falar com o consumidor hoje”, diz Breno Bittencourt Jorge, um dos sócios da Souvie. Tanto Sabará quanto Jorge estão na casa dos 30 anos e, a partir dos negócios familiares, decidiram ir mais longe em suas convicções. Sabará vem da Beraca, indústria química que fornece, entre outros, insumos sustentáveis para as fabricantes de produtos de beleza. Jorge trabalhava com táxi aéreo, mas despertou para o potencial da fazenda orgânica do pai, que produz sorbets e polpas com a marca La Naturelle. Os discursos não são “storytellings” criados em cativeiro. “Está claro que o homem escolheu o caminho errado depois da Revolução Industrial. É só ver como o planeta está se esgotando. Temos de mudar nosso estilo de vida e a ética deve pautar a produção”, diz Jorge, que se mudou para Itupeva com a família e organizou a criação de uma escola com método Waldorf na cidade. “A sustentabilidade lida com o menor prejuízo. Eu acredito na positividade, em trazer benefícios. É uma visão harmônica entre os âmbitos pessoal, social e ambiental”, diz Sabará. Ele também está à frente da ONG Arcah, que resgata moradores de rua por meio do trabalho com a permacultura. Ambos buscam criar cosméticos com ingredientes naturais e de alta performance, livres de insumos tóxicos e com compromisso socioambiental. E, claro, sem testes em animais. Não são os primeiros, mas tornam-se significativos como representantes no Brasil da tendência New Natural, que já tratei aqui em outro artigo (goo.gl/KOSydo). Mas, ainda que queiram fazer a diferença e reconectar o consumidor com a natureza, escolheram caminhos diferentes. A Reload se guia pelo conceito da “beleza positiva”. “Seguimos os princípios da economia positiva com inclusão social e ambiental e da ‘green chemistry’, que usa ingredientes sintéticos fabricados em processos sustentáveis”, diz Sabará. A empresa consumiu R$ 5 milhões até agora, terá aporte de outros R$ 5 milhões, dispõe de laboratório próprio e terceiriza a produção. Levou quatro anos na elaboração de suas fórmulas. Já a Souvie utiliza 100% de componentes naturais, sendo que 99,96% dos ingredientes vegetais são orgânicos e, em grande parte, provenientes da fazenda própria. Para eles, não existe estética sem ética. “Nossa proposta com a Souvie é respeitar a pessoa e a natureza e reconectá-los, mas, claro, com produtos eficientes. Por isso levamos seis anos para desenvolvê-los e chegar ao mercado”, explica Jorge. O investimento chega a R$ 30 milhões no desenvolvimento e na fábrica. Sabará defende que por ser orgânico, necessariamente um produto não é sustentável. “Uma área de monocultura acaba, por exemplo, por matar o solo. Por isso acredito na permacultura. Além disso, há ingredientes que ainda não podem ser substituídos para quem busca escala e performance”, diz. Para ele, é possível trabalhar, por exemplo, com moléculas sintéticas que não geram resíduos na produção. “Além disso, meu primeiro compromisso é com a segurança do consumidor.” Carolina Villar, também sócia da Souvie, não faz concessões. “A pele é o primeiro ponto de contato do ser humano com o mundo. Precisamos criar formas de defendê-la do exterior hostil”, explica. Por isso, a primeira linha que lançaram no mercado é para atender às gestantes. “As pesquisas mostram que o feto apresenta a presença de petrolatos e outros componentes que chegam até ele por meio dos cosméticos que as mães estão usando. São bebês de plástico. Por isso, a gente quis começar do começo e atender primeiro as mulheres que nessa fase da vida precisam de cuidados especiais”, explica Jorge. A proposta foi, portanto, criar uma linha de tratamento com componentes “biocompatíveis” com a pele humana e com a “segurança dermoepidérmica toxicológica”. “Os produtos disponíveis no mercado formam uma película que não deixa que a pela respire. Nossas fórmulas seguem outro princípio. Elas foram feitas para alimentar a pele sem nada sintético”, explica Carolina, que é nutricionista de formação. A dupla recorreu à especialista em cosmetologia Sonia Corazza para chegar às “receitas eficientes e seguras”. Seus produtos “aprovados pela Anvisa” começam a ser vendidos no Sul do país pela rede de farmácias Panvel. A Reload estreou no mercado em outubro com a linha para reparação de danos e reconstrução dos cabelos, a #rehabme. Leva proteínas de quinoa e óleos de argan e de moringa. “Pensamos em como atender aos 75% de mulheres que já fizeram algum tipo de procedimento químico nos cabelos. Mas vamos lançar também maquiagem e linhas de tratamento facial. A proposta é ser uma marca completa e global”, diz Sabará, que já se prepara para exportar para os Estados Unidos e Emirados Árabes. Para ele, o importante é que todos os elos da cadeia sejam respeitados e que funcionem em uma “corresponsabilidade ecossistêmica afetuosa”. O consumidor pode cada vez mais, portanto, tratar beleza como conteúdo e compromisso. onvido o leitor a acompanhar o blog Valor Blue Chip (www.valor.com.br/ cultura/blue-chip) e saber mais sobre as inovações na indústria de beleza. C [email protected] MODA LEO PINHEIRO/VALOR SILVIA COSTANTI/VALOR Praia: território de estilo 100% nacional ‘Beachwear’ brasileiro ainda habita sonhos de consumo das mulheres. Por Vanessa Barone , para o Valor, de São Paulo Para itens como bolsas e vestidos de festa, as marcas internacionais ainda são referências de sofisticação. Uma bolsa Chanel ou um vestido Dior dão status — e deverão dar ainda por muitos anos. Mas quando o assunto é o guarda-roupa para o verão, é com as marcas nacionais que sonham as consumidoras brasileiras. Aliás, não somente elas: também as consumidoras de boa parte dos Estados Unidos e da Europa. O nosso “life style” praiano ainda é o mais sedutor do mundo. “Boa parte das minhas clientes viaja o ano inteiro e pode comprar suas roupas no exterior”, diz Sharon Weissman Beting, proprietária da butique multimarcas SUB (selections of unbelievable beachwear). “Mas quando precisam comprar itens de moda praia, mesmo que seja para passar o verão na Europa, é aqui que elas se abastecem”, afirma a empresária, que abriu a SUB em 2008, no Shopping Cidade Jardim. No início, a SUB funcionava apenas como ponto de varejo para grifes como Amir Slama, Adriana Degreas, Cia Marítima e Clube Bossa, entre outras. Desde 2011, a butique tem sua marca própria, primeiro com acessórios e mais recentemente com maiôs e biquínis. As peças com a grife SUB também são distribuídas para 40 multimarcas, algumas no exterior. “Quando as pessoas pensam em moda praia, elas pensam nos biquínis brasileiros”, afirmou Maria Williams, executiva responsável por selecionar as mar- cas que serão vendidas pelo e-commerce Net-a-porter.com, que esteve no Brasil em abril. Na ocasião, após visitar showroons e assistir aos desfiles da SPFW, ela elogiou a estamparia e a sofisticação de algumas marcas — como a de Lenny Niemeyer —, mas chamou a atenção para um item que ainda atrapalha a venda no mercado externo: o preço. “Não tem sentido uma marca ainda desconhecida chegar ao mercado custando o mesmo que uma Chanel”. O segmento de moda praia fatura cerca de US$ 1,9 bilhão, no Brasil, anualmente. São quase 60 milhões de peças, produzidas por aproximadamente 700 empresas formais, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Cerca de 10% dessa produção é destinada ao mercado externo. Muito pouco quando se leva em conta a fama do vestuário de praia brasileiro. “Temos muitas clientes europeias, que vêm principalmente de Portugal e da França”, diz o empresário Emanuel Galindo, proprietário da butique multimarcas Gaoli, localizada na galeria Fórum de Ipanema, no Rio de Janeiro. Essas consumidoras, diz Galindo, vêm em busca de muito mais do que um biquíni com uma bela estampa, mas de peças com detalhes artesanais e que possam ser usadas em vários ambientes. “É esse o nosso negócio: mostrar que a moda praia vai além da areia”, diz Galindo, que nesta temporada está lançando sua marca própria — que Sharon Beting, da marca SUB, na loja do Shopping Cidade Jardim além de biquínis inclui barracas de praia e até pranchas de surf. Esse casamento entre moda praia e moda casual, aliás, é um dos principais trunfos do “beachwear” brasileiro. Na loja da SUB, por exemplo, há modelos de saídas de praia que não ficariam deslocados em um ambiente festivo. “Temos túnicas com seda indiana e vestidos de tricô supersofisticados”, diz Sharon. Em alguns casos, a nossa moda praia se aproxima das roupas esportivas, como é o caso da marca Salinas que, no início do mês, lançou uma coleção de peças fitness em parceria com a Adidas. “O projeto tem os mesmos moldes do que a Adidas já fez com a grife Stella McCartney ”, informa Jacqueline de Biase, diretora criativa da Salinas. Em cima de um briefing dado pela marca alemã, a grife de “beachwear” nacional desenhou peças esportivas de alta performance com um “perfume” tropical. A coleção é composta por maiôs de natação, leggins, tops, tênis, camisetas e shorts, entre outros itens. Jacqueline de Biase, diretora criativa da Salinas DIVULGAÇÃO Maio da Salinas, em parceria com a Adidas: união de moda praia e fitness “No início, os alemães se espantaram com tantos coqueiros nas estampas”, diz Jacqueline. “No final, queriam mais dessas referências tropicais”. A coleção de “cobranding” entre Salinas e Adidas está à venda nas butiques da grife carioca e, em breve, entra nas lojas da Adidas do exterior. “Já tínhamos feito uma coleção própria fitness antes, mas apenas no inverno”, diz Jacqueline. “Essa parceria com a Adidas dará novo fôlego à linha”, afirma a estilista. “Afinal, a praia é a grande academia do carioca”. A Salinas abre amanhã a sua nova “loja-conceito” em Ipanema. Com projeto da arquiteta Bel Lobo, a loja de 200 m2 tem provadores inovadores (palafitas suspensas no ar) e um espaço cultural no último andar. Ainda falando no universo fitness, o estilista Amir Slama, dono da marca que leva seu nome, nota uma influência atual do segmento esportivo no estilo da moda praia nacional. “A tendência elege as tangas mais cavadas, lembrando um pouco o estilo dos anos 1980”, diz Slama. Não se trata de um resgate do “fio dental”, afirma o estilista, mas do surgimento de um “novo estilo sensual”. O estilista ainda destaca outras tendências que poderão ser vistas neste verão, como os biquínis com acabamentos artesanais, além de maiôs e biquínis feitos com malha mais fina, à base de elastano e poliamida — que deixam as peças mais leves e com toque macio. Em termos de modelagem, o destaque fica com os sutiãs de estilo “cortinha” com bojo removível (que dão mais sustentação ao busto) e com os maiôs “engana-mamãe” — abertos nas costas e fechados na frente. Entre as saídas de praia, as batas com desenhos étnicos (seja da Índia ou do Leste Europeu) e os vestidos longos ainda aparecem como os eleitos do verão 2016.