Familia sepulcri-final_leitura

Transcrição

Familia sepulcri-final_leitura
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Odílio Sepulcri
Família Sepulcri
FAMÍLIA
SEPULCRI
Da Itália para o Brasil
3
4
Odílio Sepulcri
Participação especial:
Eurides Sepulcri
Maria Luiza de Pinho Sepulcri
Maria Margarida Diniz Sepulcri
Miriam Sepulcri
Revisão:
Maria Luiza de Pinho Sepulcri
S479
Sepulcri, Odílio.
Família Sepulcri: da Itália para o Brasil./ Odílio Sepulcri./
Curitiba, 2012.
122p.
1. Família Sepulcri – Biografia. I. Título.
CDD 929.2 (22.ed.)
CDU 929
Família Sepulcri
ODÍLIO SEPULCRI
FAMÍLIA
SEPULCRI
Da Itália para o Brasil
Curitiba
2012
5
6
Odílio Sepulcri
Família Sepulcri
7
Com muito amor e carinho à minha família: esposa Maria Luiza, aos meus filhos Rodrigo e
Leonardo, às minhas noras Anelise e Lais, aos meus
netos Ana Maria e João Paulo.
8
Odílio Sepulcri
Família Sepulcri
9
Aos meus irmãos: Eurides, Maurilia,
Dagmar, Geraldo Luiz, Maria Margarida,
Roberto e Juarez pelos momentos lindos
que juntos vivemos.
10
Odílio Sepulcri
Família Sepulcri
11
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Agradecimentos especiais às pessoas que contribuíram significativamente para a realização desse livro, são elas:
Agenor Martim Demoner e Elza Gomes Demoner
Anastácia Rizzi Viganó e Leandro Viganó
Antônio José Viganó
Carlita Maria de Castro e Coelho
Dalvina Denardi Demoner
Délio Giostri
Élcio Luiz Guarnieri
Érlio Luiz Sepulcri e Eda De Bortoli Sepulcri
Estevão Covre e Filinha Chiabai Covre
Evilásio Taffner e Marlucia Souza Taffner
Geni De Martim Andrade
Gildo Muniz e Maria Paulina Demoner Muniz
Gumercindo e Alcides Demoner
Jair Mapeli
Joaquim Cancian
José Luiz Giostri
Luiz Helvécio Fiorotti
Luiz Pesente
Miriam Sepulcri
Olívia Cei de Araújo
Walter Covre
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Odílio Sepulcri
Família Sepulcri
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APRESENTAÇÃO
Este livro foi escrito em homenagem ao casal Alexandre Sepulcri
(1915-1983) e Fidélia Demoner Sepulcri (1915-1985). Eles sempre foram
motivo de orgulho e exemplo para seus filhos. Trata-se da trajetória de suas
vidas, começando desde a vinda dos primeiros imigrantes para o Brasil até
a nossa época. Não há pretensão de ser algo grandioso, mas um texto simples, resgatando a história daqueles que tanto amamos.
Alexandre e Bela manifestaram todo o seu amor para com os filhos
e amigos. De acordo com o relato desses, seu amor era manifestado em toda
a sua plenitude, em todas as dimensões: dignidade, solidariedade, servir e
partilhar. Dignidade no sentido amplo de honestidade e ações corretas,
baseadas na justiça e nos direitos humanos. Solidariedade nos momentos
bons e ruins, especialmente na prática da justiça entre as pessoas. Servir ao
próximo, preponderantemente nas dificuldades, quando as pessoas estavam
doentes ou desamparadas. Partilhar com o semelhante não só bens, alimentos, mas, acima de tudo, conhecimento, experiências para o crescimento
e a autonomia das pessoas, como observado no relato dos amigos. Segundo
Padre Marcelo, “o amor é a coisa mais bela de todas, porque o amor é
ação”.
Alexandre e Bela dedicaram toda a sua vida à educação dos filhos
com sabedoria e foram felizes na escolha. É na educação dos filhos que se
revelam as virtudes dos pais.
Além do legado educacional, dos princípios éticos e morais, Alexandre e Bela emanciparam todos os seus filhos do trabalho sofrido da roça
pelo estudo.
Maria Luiza de Pinho Sepulcri
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Odílio Sepulcri
Família Sepulcri
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SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO .............................................................................................. 17
2
MOTIVOS PARA A MIGRAÇÃO ITALIANA.......................................... 19
3
FAMÍLIA SEPULCRI................................................................................... 29
3.1 Miriam Sepulcri – Entrevistada em 19.05.2011...................................... 30
3.2 Pietro Sepulcri e Margarida Zanoni Sepulcri .......................................... 36
4
A ASCENDÊNCIA DE BELA – DEMONER E COSER ........................... 39
4.1 Árvore Genealógica ................................................................................ 43
5
A FAMÍLIA ALEXANDRE SEPULCRI E BELA ..................................... 49
5.1 O Casamento de Alexandre e Bela.......................................................... 50
5.2 O Carro de Bois....................................................................................... 54
5.3 O Trator................................................................................................... 55
5.4 O Ford Bigode......................................................................................... 57
5.5 O Moinho de Pedra e a Roda D’água...................................................... 58
5.6 Cinco Pontões.......................................................................................... 60
5.7 A Energia Elétrica ................................................................................... 61
5.8 O Plantio de Arroz .................................................................................. 62
5.9 A Charrete ............................................................................................... 63
5.10 A Criação de Abelhas.............................................................................. 66
5.11 Fidalgo, o Cão Amado ............................................................................ 66
5.12 O Plantio de Tomate................................................................................ 68
5.13 A Igreja de São Sebastião........................................................................ 72
5.14 A Televisão ............................................................................................. 73
5.15 A Organização da Família....................................................................... 74
16
Odílio Sepulcri
5.16
5.17
5.18
5.19
5.20
5.21
O Burro do Baiano .................................................................................. 79
As Férias na Roça.................................................................................... 80
O Carnaval de Itarana.............................................................................. 81
As Bodas de Prata ................................................................................... 82
A Herança ............................................................................................... 83
O Legado de Alexandre e Bela................................................................ 83
6
A PALAVRA DOS AMIGOS........................................................................ 91
6.1 Luiz Helvécio Fiorotti – Entrevistado em 22.05.2011 ............................ 91
6.2 Estevão Covre – Entrevistado em 20.05.2011......................................... 92
6.3 Joaquim Cancian – Entrevistado em 21.05.2011 .................................... 93
6.4 Anastácia Rizzi Viganó – Entrevistada em 21.05.2011 .......................... 94
6.5 José Luis Giostri – Entrevistado em 05.09.2011..................................... 94
6.6 Délio Giostri – Entrevistado em 23.05.2011 ........................................... 94
6.7 Walter Covre – Entrevistado em 05.09.2011 .......................................... 96
6.8 Antonio José Viganó – Entrevistado em 04.09.2011 .............................. 97
6.9 Élcio Luiz Guarnieri – Entrevistado em 21.05.2011 ............................... 98
6.10 Mariquinha e Gildo – Entrevistados em 20.05.2011 ............................... 99
6.11 Jair Mapeli – Entrevistado em 04.09.2011............................................ 100
6.12 Evilásio Taffner – Entrevistado em 21.05.2011 .................................... 100
6.13 Depoimento de Carlita Maria de Castro e Coelho................................. 101
7
RELATO SOBRE OS FILHOS DE ALEXANDRE E BELA .................. 107
7.1 Eurides Sepulcri .................................................................................... 107
7.2 Maurilia Sepulcri Gonçalves................................................................. 109
7.3 Dagmar Sepulcri.................................................................................... 110
7.4 Odílio Sepulcri ...................................................................................... 112
7.5 Geraldo Luiz Sepulcri ........................................................................... 114
7.6 Maria Margarida Sepulcri Diniz............................................................ 115
7.7 Roberto Sepulcri.................................................................................... 118
7.8 Juarez Sepulcri ...................................................................................... 119
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 121
Família Sepulcri
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1
INTRODUÇÃO
Os italianos começaram a imigrar em maior número para o Brasil a
partir do ano de 1870. Foram impulsionados pelas transformações socioeconômicas ocorridas no norte da península itálica, que afetaram significativamente a propriedade da terra. Isto começou a ocorrer pouco após a unificação da Itália.
No século XIX, ocorreu uma intensa explosão demográfica na Europa. O alto crescimento da população, ao lado da acelerada industrialização,
afetou diretamente as oportunidades de emprego naquele continente. Estimase que, entre 1870 e 1920, em torno de 28 milhões de italianos emigraram o
que corrrespondia, aproximadamente, a metade da população da Itália. Entre
os destinos principais estavam diversos países da Europa, América do Norte
e América do Sul.
18
Odílio Sepulcri
Quadro 1: Emigração Italiana para o Brasil, 1876-1921
Regiões de procedência
Vêneto
Campânia
Calábria
Lombardia
Abruzzi/Molizi
Toscana
Emília Romana
Brasilicata
Sicília
Piemonte
Puglia
Marche
Lázio
Úmbria
Ligúria
Sardenha
Total
N. de imigrantes
365.710
166.080
113.155
105.973
93.020
81.056
59.877
52.888
44.390
40.336
34.833
25.074
15.982
11.818
9.328
6.113
1.243.633
Fonte: Brasil 500 anos de povoamento. IBGE. Rio de Janeiro, 2000.
A maioria da imigração italiana para o Brasil se deu entre 18761920. Nesse período, emigraram para o Brasil 1,24 milhões de italianos. A
maior parte para o estado de São Paulo. Várias publicações e sites abordam a
grande leva de imigração italiana ocorrida a partir de 1875 para as Américas.
No Brasil, a imigração concentrou-se nesse período, conforme se pode observar no quadro 1 (BRASIL 500 ANOS).
Afinal, quais as razões ou que fatores levaram a população italiana
a migrar para diversas regiões do mundo e, em especial, para o Brasil?
1
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/brasil500/italianos/razaoimigitaliana.html>. Acesso
em: 10 dez. 2010.
Família Sepulcri
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MOTIVOS PARA A MIGRAÇÃO ITALIANA
Pouco antes do início da “grande imigração” (1870-1920), a Itália
permanecia como um amontoado de pequenos Estados, alguns independentes, outros sob o domínio de outros países. Não havia, portanto, uma identificação comum integrando a população desses vários Estados. Esse movimento só se completou em 1870, com a unificação e ressurreição do espírito
italiano da Antiguidade e da Renascença. Concluída a unificação, entretanto,
a Itália passou por um período de muitas dificuldades, tais como derrotas na
política externa, problemas econômicos (desemprego, inflação), políticos
(ausência de lideranças legislativas, radicalismos) e baixa credibilidade do
governo. Nesse momento, surgiu Benito Mussolini que chegou ao poder nos
anos 1920 e 1930 e implantou uma política de cunho nacionalista, restaurando a credibilidade dos italianos no governo fascista2.
A história mostra que a unificação da Itália foi uma das principais razões para que este grande número de italianos aportassem na América, especialmente no Brasil. Após a dissolução do Império Romano, em
476 d.C., a Itália ficou fragmentada em várias regiões, formando unidades
políticas independentes. Após o Congresso de Viena, em 1815, essas regiões
2
Fascismo é uma doutrina totalitária, orbitando a extrema-direita, desenvolvida por
Benito Mussolini na Itália, a partir de 1919 e durante seu governo (1922-1943 e 19431945). A palavra “fascismo” deriva de fascio, nome de grupos políticos ou de
militância que surgiram na Itália entre fins do século XIX e começo do século XX; mas
também de fasces, que nos tempos do Império Romano era um símbolo dos
magistrados: um machado cujo cabo era rodeado de varas, simbolizando o poder do
Estado e a unidade do povo. Os fascistas italianos também ficaram conhecidos pela
expressão “camisas negras“, em virtude do uniforme que utilizavam (WIKIPEDIA).
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/brasil500/italianos/razaoimigitaliana.html>.
Acesso em: 10 dez. 2010.
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Odílio Sepulcri
passaram a ser de domínio da Igreja Católica, Áustria e França. Os reinos
e ducados das regiões da Lombardia-Veneza, Toscana, Parma, Modena e
Romagna estavam sob o domínio austríaco. O reino das duas Sicílias pertencia à dinastia francesa dos Bourbon. O reino do Piemonte-Sardenha era
autônomo, governado por um monarca liberal e os estados da Igreja pertenciam ao Papa.
Fruto da revolução industrial, no início do século XIX, o norte da
Itália passou por transformações sociais e econômicas, fazendo com que
várias cidades italianas dessa região crescessem e o comércio se intensificasse3.
A primeira tentativa de unificação da Itália iniciou-se em 1848,
com a declaração de guerra à Áustria pelo Rei Carlos Alberto, do Reino do
Piemonte-Sardenha. Vencido, o rei deixou o trono para seu filho Vítor Emanuel II, em cujo governo o movimento a favor da unificação da Itália foi
liderado pelo seu primeiro-ministro, o Conde de Cavour. Após ter obtido o
apoio da França, em 1859, Cavour deu início à guerra contra a dominação
austríaca. Conseguiu anexar ao reino sardo-piemontês as regiões de Lombardia, Parma, Modena e Romagna. Outros grupos também lutavam pela unificação, com o objetivo de transformar o país em uma República. Mazzini e
Garibaldi foram os líderes mais conhecidos desta corrente. Em 1860, Giuseppe
Garibaldi alia-se a Cavour e, liderando um exército de cerca de mil voluntários, conhecidos como camisas vermelhas, ocupou o reino das Duas Sicílias,
afastando do poder o representante da dinastia dos Bourbon, Francisco II.
Em março de 1861, dominando quase todo o território italiano, Vítor Emanuel
II foi proclamado Rei da Itália4.
A Unificação Italiana ocorreu poucos anos antes da grande emigração para as Américas, especialmente para o Brasil, e não foi causa única. A Unificação acontece em 1861, mas Veneza foi anexada em 1866 e
Roma em 1870. A região de Trento só foi incorporada à Itália Unificada
depois da 1ª Guerra Mundial em 1919. Os Estados Pontifícios tiveram sua
solução em 1929, com a assinatura do Tratado de Latrão5, no governo fas3
4
5
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/brasil500/italianos/razaoimigitaliana.html>. Acesso
em: 10 dez. 2010.
Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em:
10 nov. 2010.
O Tratado de Latrão, “tratado de Santa Sé”, “tratado de Roma-Santa Sé” é um dos pactos
letaranenses de 1929 feito entre o Reino da Itália e a Santa Sé, ratificado em 07.06.1929,
dando fim à “Fronteira Ferroviária“. Os pactos consistiam em três documentos: 1. Um
tratado político reconhecendo a total soberania da Santa Sé no estado da Cidade do
Vaticano, doravante estabelecida. 2. Uma concordata regulando a posição da Igreja
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cista. Por isso, a capital do Reino da Itália de 1861-1866 foi Turim, depois
Florença (1866-1870) e, só após esse período, Roma. Ainda nos anos 1860
do século XIX, antes de concluída a unificação, a inibição das alfândegas
regionais, a oferta de produtos industriais a baixos preços e o desenvolvimento das comunicações haviam impactado negativamente a produção
artesanal. Isto atingiu os pequenos agricultores, que complementavam as
suas rendas com o artesanato familiar ou o trabalho em indústrias artesanais no campo. A unificação alfandegária incutiu a toda Itália o sistema
alfandegário da Sardenha, que tinha as taxas mais reduzidas, e fez com que
as economias regionais, que eram mais ou menos fechadas e equilibradas,
sofressem uma acentuada queda. A evolução econômica do Norte, que se
industrializou mais cedo, e do sul, predominantemente agrícola, agravou o
quadro econômico do país6.
O governo italiano imprimiu medidas impopulares, cuja finalidade
era obter recursos para a realização de obras públicas. Em decorrência, criou
o imposto sobre a farinha, que atingia em cheio a classe mais pobre. Contudo, a unificação política e aduaneira impulsionou a industrialização, intensificada no período de 1880-1890. O Estado reservou a produção de ferro e
aço para a indústria nacional, favorecendo a criação da siderurgia moderna
que se concentrava ao norte e era protegida pelo Estado. Mas sua produção
não era suficiente, o que passou a exigir importações. A indústria mecânica
cresceu mais depressa, especialmente as de construção naval e ferroviária,
máquinas têxteis e principalmente motores e turbinas. A partir de 1905, a
indústria automobilística de Turim conseguiu excelentes resultados. O problema mais grave estava na concentração do processo de crescimento no
norte, enquanto o sul permanecia agrário. Esta situação econômica fez com
que houvesse uma crise na Itália durante o período final do século XIX. Com
o desenvolvimento da industrialização no norte, essa região foi a primeira
área a ser atingida, deixando os agricultores que complementavam sua renda
com o trabalho artesanal sem emprego e sem ter mercado para seus produtos.
Por esse motivo, o norte da Itália forneceria os primeiros grandes números de
emigrantes e o sul só viveria esse processo mais tarde, principalmente a partir do início do século XX7.
6
7
Católica e a religião católica no Estado italiano. 3. Uma convenção financeira acordando a
liquidação definitiva das reivindicações da Santa Sé por suas perdas territoriais e de
propriedade (WIKIPEDIA).
Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em:
10 nov. 2010.
Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana). Acesso em:
10 nov. 2010.
22
Odílio Sepulcri
Figura 1: Mapa da Itália com o Número de Emigrantes para o
Brasil, 1870-1920
Fonte: Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro. IBGE, 20008.
O modelo administrativo de Savóia também provocou, com o tempo, o agravamento das diferenças já existentes entre as regiões da Itália, criando as condições para um grande movimento migratório de classes rurais
para os países das duas Américas entre o fim do século XIX e o início do
século XX, quando vários milhões de italianos emigraram. A emigração era
uma das poucas saídas dos Italianos, na época, diante do desemprego e a
miséria. As colônias agrícolas existentes no Brasil eram o grande atrativo
para os italianos famintos, sem emprego, sem lar. A igreja incentivava seus
fiéis a conhecerem a nova terra, a esperança. Em 1902, por meio do decreto
8
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/brasil500/italianos/regorigem.html>. Acesso em:
30 nov. 2010.
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Prinetti9, que refletia o debate provocado pela migração, foi proibida pelo
Comissariado Geral da Emigração na Itália a emigração subvencionada para
o Brasil10.
Um grande grupo de imigrantes italianos desembarcou nos Estados
Unidos, Argentina, Uruguai e especialmente no Brasil, cujos destinos seriam
as fazendas de plantação de café no interior de São Paulo com o recebimento
de lotes de terra e fundação de colônias no Sul, construção de ferrovias e
colônias agrícolas em outros estados, sem contar que entre os imigrantes, a
maioria sem instrução, também havia artistas, engenheiros, arquitetos. A
imigração italiana é um capítulo da história rico em experiências sofridas, ao
mesmo tempo escasso em informações legadas aos descendentes. Os navios
que chegavam aos principais portos (Vitória, Rio de Janeiro, Santos e Rio
Grande do Sul), por exemplo, não forneciam em suas listagens as cidades de
origem. Para os italianos, não importava muito deixar isto registrado, como
um legado para gerações futuras. Eles estavam começando a construir um
novo Brasil, no processo de substituição do trabalho escravo dos negros pelo
trabalho livre do europeu11.
Com a lei de terras12 de 1850, cessou a distribuição gratuita de lotes
para os imigrantes, despertando interesse da iniciativa privada. Isso fez com
que, ao lado das colônias imperiais e provinciais, surgissem colônias particulares, como as de Conde d’ Eu e Dona Isabel, na região onde atualmente
estão localizados, os municípios de Garibaldi e Bento Gonçalves no Rio
Grande do Sul. Essas colônias foram criadas em 1870, antes da imigração
italiana no estado e com o objetivo de que quarenta mil colonos italianos
fossem contratados num prazo de dez anos para ali se estabelecerem e aumentarem a produção agrícola da região. A prevenção generalizada contra o
Brasil por parte da Europa, pois este era visto como um país onde imigrantes
9
10
11
12
Em 1902, o decreto Prinetti proibiu a emigração subvencionada para o Brasil, aprovado
pelo Comissariado Geral da Emigração na Itália (WIKIPEDIA).
Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em:
10 nov. 2010.
Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em:
10 nov. 2010.
No Brasil, a Lei de Terras (Lei 601 de 18.09.1850) foi uma das primeiras leis brasileiras,
após a independência do Brasil, a dispor sobre normas do direito agrário brasileiro. Trata-se de legislação específica para a questão fundiária. Esta lei estabelecia a compra como a
única forma de acesso à terra e abolia, em definitivo, o regime de sesmarias. Junto com o
código comercial, é a lei mais antiga ainda em vigor no Brasil. A Lei de terras teve origem
em um projeto de lei apresentado ao Conselho de Estado do Império Colonial, em 1843,
por Bernardo Pereira de Vasconcelos. A lei de terras foi regulamentada, em 30.01.1854,
pelo Decreto Imperial 1.318 (WIKIPEDIA).
24
Odílio Sepulcri
sofriam provações, bem como o custo do transporte dos imigrantes até as
colônias, fizeram com que apenas um número menor de colonos italianos
fossem realmente assentados13.
Foi a partir de 1875, sob a administração da União, que chegaram
os primeiros italianos para trabalhar para Conde D’Eu e Dona Isabel. Esses
primeiros italianos vieram das regiões do Piemonte e Lombardia e, depois,
do Vêneto. Quando começou a emigração do Sul da Itália, em 1901, as terras
disponíveis já estavam quase que totalmente ocupadas e, por isso, no Rio
Grande do Sul predominaram os italianos vindos do norte.
Os navios com imigrantes italianos atracavam no Rio de Janeiro,
na Ilha das Flores, para que estes permanecessem de quarentena. A soberana
Maria Teresa Cristina de Bourbon, natural de Nápoles, esposa do Imperador
D. Pedro II, estimulou a vinda de imigrantes ligados ao comércio e às artes14.
Além de São Paulo e estados do sul do país, receberam imigrantes
italianos também Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e algumas
cidades do norte e nordeste. Os italianos contribuíram muito para o crescimento e engrandecimento do Brasil15.
Pela análise da história do Brasil durante o século XIX, é possível
compreender a imigração italiana no Brasil. Na primeira metade deste século, a Grã-Bretanha, pressionou nosso país para acabar com o tráfico negreiro
que supria as necessidades de mão de obra com a importação de escravos da
África. A Lei Eusébio de Queirós proibiu o tráfico negreiro em 1850 e, a
partir deste momento, começou a falta de mão de obra nas regiões em que se
expandia a cultura cafeeira. Isso, em parte, foi resolvido com a transferência
de escravos da Região Nordeste. Um grupo de fazendeiros do Oeste Paulista,
nesse período, pressionado pela falta de mão de obra escrava, defendeu o uso
da mão de obra livre nas plantações de café, divergindo-se politicamente dos
fazendeiros do Vale do Paraíba, donos de grandes grupos de escravos. O
Brasil, nessa época, passou por um período de grande discussão de ideias
abolicionistas. Novas leis, como a Lei do Ventre Livre16 (1871) e a Lei dos
Sexagenários (1885), anunciavam o fim próximo da escravidão. Com o pas13
14
15
16
Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em:
10 nov. 2010.
Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em:
10 nov. 2010.
Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em:
10 nov. 2010.
A Lei do Ventre Livre concedeu liberdade aos escravos nascidos no Brasil após a data de
promulgação da mesma. Representou mais um passo na escalada ruma à libertação de
todos os negros utilizados como mão de obra escrava no país (WIKIPEDIA).
Família Sepulcri
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sar do tempo, a população escrava envelhecia sem que a reprodução natural
da população fosse suficiente para suprir a necessidade de mão de obra nas
lavouras que se expandiam ou para colonizar as terras ainda inexploradas no
sul do Brasil.
O auxílio em dinheiro para a compra de passagens de imigrantes e
para sua instalação inicial no país, servia para alojamento e facilitava a imigração. Isso foi aprovado em 1871, logo após a Lei do Ventre Livre e foi,
inicialmente, uma iniciativa de fazendeiros. Com o tempo, entretanto, a participação destes foi sendo transferida, cada vez mais, para os governos, provincial e imperial, até 1889, e, posteriormente, para o governo brasileiro. A
imigração subvencionada se estendeu de 1870-1930 e visava estimular a
vinda de imigrantes. Os imigrantes se comprometiam com contratos, não só
do local para onde se dirigiam, como também das condições de trabalho a
que se submeteriam. Isso motivava a vinda de famílias, e não de indivíduos
isolados. Chegavam famílias numerosas e integradas por homens, mulheres e
crianças de mais de uma geração.
As ideias do darwinismo social e a eugenia racial, no final do século
XIX e início do século XX, tiveram grande prestígio no pensamento científico
mundial. Com a divulgação e aceitação dessas ideias pela comunidade científica, a massa crítica social e política passou a considerar que os brasileiros
eram incapazes de desenvolver o país por serem maioria de negros e mestiços.
A imigração passou, por conseguinte, a ser planejada não apenas com o propósito de suprir a mão de obra necessária ou de colonizar territórios pouco ocupados, mas também para “branquear” a população brasileira. Com essa teoria,
negros e mestiços iriam paulatinamente desaparecer da população brasileira
por meio da miscigenação com as populações de imigrantes europeus. Com
isso, o imigrante italiano era considerado um dos melhores, pois além de ser
branco, também era católico. Consequentemente, sua assimilação seria fácil na
sociedade brasileira e ele colaboraria para o “branqueamento” da população.
Não somente o Brasil, que implantou políticas de imigração que privilegiavam
os grupos de imigrantes conforme as características racias ou religiosas desejadas, vários países do mundo preferiam até mesmo o imigrante do norte da
Europa em vez dos que vinham do sul17.
Para Grosselli, a Expedição de Pietro Tabachi foi o primeiro caso
de imigração em massa da região norte da Itália para o Brasil. A colônia,
criada no Espírito Santo pelo Governo Brasileiro, chamava-se Nova Trento,
sendo a primeira, de pelo menos três, fundadas pelos trentinos no Brasil.
17
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Imigra%C3%A7%C3%A3o_italiana_no_
Brasil#A_influ.C3.AAncia_italiana_no_Brasil_e_seus_descendentes>. Acesso em: 08
nov. 2010.
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Odílio Sepulcri
Pode-se afirmar que Santa Cruz foi o berço da imigração italiana no Brasil,
em 03 de janeiro de 1874. Na sequência, diversas expedições ocorreram.
Atualmente o estado do Espírito Santo abriga uma das maiores populações
de descendentes italianos, não em número, mas em percentual da população.
Em 20.07.1895, o Governo Italiano proibiu a emigração para o Espírito
Santo. Esta medida foi em consequência do relatório enviado pelo Cônsul da
Itália nesse Estado, apontando as dificuldades que o imigrante era obrigado a
suportar, tais como: má alimentação, abusos da polícia e justiça incerta, insalubridade do clima, deficiência de serviços médicos e escolares, demora
excessiva na medição dos lotes e divisão de terras18.
Por volta de 1900, aparecem na imprensa italiana notícias de péssimas condições de vida de emigrantes italianos que não podiam abandonar
as fazendas de café onde trabalhavam, pois tinham dívidas, principalmente
relativas ao pagamento dos custos de suas viagens. Isto fez com que, em
1902, o governo da Itália emitisse o decreto Prinetti proibindo a imigração
subsidiada de cidadãos italianos para o Brasil. O fluxo de imigrantes diminuiu acentuadamente, uma vez que, a partir de então, cada cidadão italiano
que quisesse emigrar para o Brasil deveria ter dinheiro para pagar a própria
passagem.
Foto 1: Memorial do Imigrante, Antiga Hospedaria dos
Imigrantes – São Paulo
Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ficheiro: Memorial_do_imigrante.jpg>.
Acesso em: 08 nov. 2010.
18
Disponível em: <http://spazioinwind.libero.it/coradellofamilies/storia/emigraz2.html>.
Acesso em: 28 dez. 2010.
Família Sepulcri
27
A língua italiana foi proibida no Brasil na década de 1930 pelo presidente Getúlio Vargas, após declarar guerra contra a Itália. Qualquer manifestação da cultura italiana no Brasil era crime. Isso contribuiu bastante para
que o idioma italiano fosse pouco desenvolvido entre os seus descendentes19.
A imigração italiana para o Brasil foi um dos maiores fenômenos
imigratórios já ocorridos. À medida que o número de imigrantes e seus descendentes ia crescendo, o Brasil modificava os seus costumes, assim como
os imigrantes se modificavam. Verifica-se que a influência italiana no Brasil
não ocorreu de forma uniforme. No Sul e Sudeste do País a comunidade
italiana era forte e, em certas localidades, chegou a representar a maioria da
população; noutras regiões do país, a presença italiana foi quase nula. Das
inúmeras contribuições dos italianos para o Brasil e sua cultura, destacam-se:
– Introdução de elementos tipicamente italianos no catolicismo de
algumas regiões do Brasil (festas, santos de devoção, práticas
religiosas).
– Vários pratos que foram incorporados à alimentação brasileira,
como o hábito de comer panetone no Natal e comer pizza e
espaguete frequentemente (principalmente no Sudeste), além da
popular polenta frita.
– A infuência no sotaque dos brasileiros (principalmente na cidade de São Paulo, o sotaque paulistano), na serra gaúcha, no sul
catarinense e no interior do Espírito Santo.
– Novas técnicas agrícolas foram introduzidas (Minas Gerais, São
Paulo e no Sul).
– A criação do time de futebol Palestra Itália em 1914, para
aproximar e unificar os imigrantes italianos da cidade de São
Paulo. Durante a segunda guerra mundial, o time foi forçado a
mudar o nome para Sociedade Esportiva Palmeiras sob ameaça do clube perder o seu patrimônio físico. Isso ocorreu por
imposição da ditadura Vargas após declarar guerra contra a
Itália, sendo criminalizada no Brasil qualquer manifestação
cultural italiana20.
A população de novos imigrantes italianos no Brasil atualmente é
mínima. A maior parte são idosos, visto que as últimas concentrações de
imigrantes chegaram nos anos de 1950. O número de italianos residentes no
19
20
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ficheiro>. Acesso em: 08 nov. 2010.
Disponível em: <http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20070610114047AA2bIGo>.
Acesso em: 03 mar. 2012.
28
Odílio Sepulcri
Brasil ultrapassava meio milhão de pessoas em 1920, caindo para apenas
pouco mais de 40 mil em 2000. Em 2003, segundo a Aire (l’Anagrafi degli
italiani residenti all’estero) havia no Brasil 162.225 cidadãos italianos e,
segundo os Anagrafi consolari del Ministero degli Esteri, há 284.136 cidadãos italianos no país. A maioria destes são cidadãos ítalo-brasileiros, visto
que a Itália garante a cidadania italiana para os descendentes. De acordo com
as leis italianas, não há diferença jurídica entre um italiano nascido na Itália
ou no estrangeiro. Em São Paulo, estão inscritos no Consulado 154.546
cidadãos italianos, no Rio de Janeiro 38.736, em Porto Alegre 37.278, em
Curitiba 30.987 e em Belo Horizonte 13.76921.
O Brasil possui a maior população italiana fora da Itália. Não se
tem o número exato, uma vez que os censos nacionais não questionam a
ancestralidade do povo brasileiro. Entretanto, as estimativas oscilam entre 23
a 25 milhões os brasileiros com algum grau de ascendência italiana, representando cerca de 15% da população brasileira22.
Os italianos estão integrados e sedimentados dentro da sociedade
brasileira. Seus descendentes figuram nos mais diversos setores da sociedade
brasileira. Conforme pesquisa de 2001, das 10.641 empresas industriais do
Rio Grande do Sul, 42% estavam nas mãos de brasileiros de origem italiana.
Certas localidades do Brasil meridional e do Sudeste têm uma clara maioria
de brasileiros de origem italiana. Este fato é mais evidente em localidades
rurais do Sul do Brasil, tomando por exemplo municípios como Nova Veneza,
onde os de origem italiana somam 95% da população local. Mesmo nas
grandes metrópoles a presença da coletividade italiana é enorme: São Paulo
possui 60% da população com ascendência italiana e, Belo Horizonte com
2,5 milhões de moradores tem 30% de descendentes23.
Nas eleições italianas de 2006, os italianos residentes no estrangeiro puderam participar. No Brasil, 62.599 cidadãos italianos votaram24.
21
22
23
24
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/imigra%>. Acesso em: 08 nov. 2010.
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/imigra%>. Acesso em: 08 nov. 2010.
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/viki/imigra%>. Acesso em: 08 nov. 2010.
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/viki/imigra%>. Acesso em: 08 nov. 2010.
Família Sepulcri
29
3
FAMÍLIA SEPULCRI
Antônio Sepulcri e Constantina Perusini viveram em Bagnária Arsa,
região nordeste da Itália. É uma comuna Italiana da região do Friuli-Venezia
Giulia, província de Udine, com cerca de 3.470 habitantes. Estende-se por uma
área de 19 km², tendo uma densidade populacional de 183 hab/km². Faz fronteira com Aiello del Friuli, Cervignano del Friuli, Gonars, Palmanova,
Torviscosa, Visco (WIKIPÉDIA). Lá, Antônio e Constantina tiveram cinco
filhos: Luigi (1871-1921), Pietro (1874-1960), Leonardo, Henrico e Remígio.
Dos cinco filhos, três vieram para o Brasil: Luigi, Pietro e Remígio.
Observe, a seguir, o relato de Miriam Sepulcri, filha de Érlio Luiz e
Eda, neta de Amaro, bisneta de Luigi e tataraneta de Antônio Sepulcri.
Foto 2: Antônio Sepulcri
Fonte: Foto do acervo da família.
30
3.1
Odílio Sepulcri
MIRIAM SEPULCRI – ENTREVISTADA EM 19.05.2011
A primeira referência que Miriam teve de ligação com a família
Sepulcri na Itália foi em 1987, através de Walter Sepulcri, filho de Leonardo,
em Roma. Sabia falar poucas palavras em Italiano, o que dificultou um pouco a comunicação.
Miriam fez uma ligação telefônica do hotel para a casa de Walter e
falou com o seu filho Roberto. Ela nem sabia que ele tinha filho, disse que se
chamava Miriam Sepulcri, do Brasil, sobrinha da Iolanda, que estava em
Roma e gostaria de vê-lo. Percebendo que ele não havia entendido direito, no
outro dia pediu para a guia de turismo, que já havia morado no Brasil e que
falava bem as duas línguas, para ligar para o Walter e fornecer o endereço do
hotel. Imediatamente, ele foi ao hotel onde estavam hospedados, sendo esse
o primeiro contato.
Foto 3: 1º Encontro de Miriam com Walter – Roma, 1987
Fonte: Foto do acervo da família.
Walter e Miriam foram para Campolonghetto, pequena vila. No
caminho pararam para almoçar e pegaram um mapa rodoviário da Itália,
que presenteou a Odílio. Próximo a esta vila está a pequena cidade de
Monfalconi, onde se encontra o estaleiro com o mesmo nome desta e onde
Família Sepulcri
31
trabalharam até se aposentarem os filhos de Nello, irmão de Walter, Nello
Gianfranco e Ivano. Por sua vez, Nello e Walter eram os filhos de Leonardo. Nello também tinha uma filha chamada Daniela. Os dois filhos homens
ainda moram lá.
Foto 4: Em pé: Loreta, Daniela, Ivano, Nara e Walter
Sentados: Alexia, Nello, Federica, Lina e Miriam – 1987
Fonte: Foto do acervo da família.
Posteriormente, em 1988, Walter, juntamente com sua filha Stefania, esteve em Vitória, na casa de Miriam e visitaram alguns parentes. Foi
promovido um encontro de confraternização com todos os descendentes de
Antônio Sepulcri.
Quando Miriam voltou dessa viagem, foi para Itarana com o intuito
de falar com os mais velhos, para resgatar a história da família. Sentou com
sua tia Iolanda Sepulcri e pegou algumas informações, o mesmo fez com o Sr.
Chiquinho de Martim, no Triunfo. Aí, ficou atrás de informações, procurando
os mais velhos de Itarana e que conheceram seu avô Amaro (Mário) e bisavô
Luigi, que haviam vindo da Itália. Érlio (Élvio), seu pai, contou alguma coisa
de Luigi. Foi anotando tudo e fez um pequeno rascunho no caderno das famílias Sepulcri, Rabi, De Bortoli e Pesente que foram os seus quatro avós.
Assim, há algumas informações com relação à família Sepulcri que
são mais do lado de Luigi. Vieram da Itália Luigi, Pietro e Remígio. Remígio
32
Odílio Sepulcri
ficou pouco tempo no Brasil. Trabalhou um pouco e retornou à Itália. Lá se
casou e não teve filhos, porém adotou dois.
Foto 5: Luigi e Luiza
Fonte: Foto do acervo da família.
Os parentes Sepulcri entraram no Brasil por Minas Gerais, e não
por Vitória. Luigi nasceu em 11.09.1871 em Campolonghetto, Udine, Itália,
e faleceu em 11.09.1921, em Itarana, na época, denominada Figueira de
Santa Joana. Eram filhos de Antonio Sepulcri e Constantina Perusini.
Luigi se casou em Udine, Campolonghetto. Em 1895, chegando ao
Brasil, seguiu para Três Corações, perto de Juiz de Fora, MG, porque não
tinha destino certo. Lá nasceu o filho Amaro, em 16.07.1896. Ele trabalhava
durante o dia nos cafezais e, à noite, costurava em uma pequena máquina de
costura manual que havia trazido da Itália.
Foto 6: Eva e Amaro
Fonte: Foto do acervo da família.
Família Sepulcri
33
Depois mudaram para o Espírito Santo, no Limoeiro, perto de
Figueira de Santa Joana, para a fazenda do Sr. Davi Frizeira, porque souberam que nessa região já havia uma colônia italiana. No Limoeiro nasceram
os filhos Antônio, mais conhecido como Alci, Irene e Iolanda. O trabalho era
no mesmo sistema anterior, cafezal durante o dia e, à noite, costura. Mais ou
menos em 1906, foram para Figueira de Santa Joana – Itarana, porque lá
havia mais condições para a sua profissão de alfaiate e abriu uma alfaiataria.
Foram morar na casa da família Colnago, na Rua de Baixo. Foi o primeiro
alfaiate da cidade, ajudado pelos filhos, pela mulher Luiza que costurava as
calças para os homens. Fez o uniforme da primeira Banda de Música, organizada por ele.
Foto 7: Homenagem dos Parentes a Walter Sepulcri – 1988
(Em pé: Doralice, Guerino, Iolanda, Walter, Luiz, Eda
e Eurides Colnago. Abaixados: Hélio, Eurides, Hérlio,
Margarida, Stefania, Mariazinha, Neném e Aida)
Fonte: Foto do acervo da família.
Em 1910, retornou para a Itália com toda a família. Antes, ele já
havia ido sozinho e achou que as condições de vida lá haviam melhorado. Na
Itália, foi morar na mesma cidade de onde veio e foi trabalhar junto com o
pai como alfaiate. Os filhos Amaro e Antônio ajudavam fazendo a entrega
das costuras de bicicleta. Lá moraram por cerca de dois anos. Em 1913 voltaram para o Brasil por causa da guerra. Saíram, inclusive, meio fugidos pela
Áustria. Ficaram cerca de quarenta dias no mar devido a muitos problemas
no navio, segundo Iolanda. Voltou para Itarana e novamente foi morar na
casa dos Colnago, próximo de onde mora atualmente Vito Piasentini. Ali era
um casarão só. Após o retorno continuou com a alfaiataria e, em 1914-1915,
34
Odílio Sepulcri
tinha a tarefa de apagar e acender os lampiões da rua que existiam na época
para iluminar a cidade. Foi, também, subdelegado de Itarana e tomou conta
dos correios.
Alugou por um tempo um casarão grande da família De Martim e
organizou um hotel. Ele sentia necessidade de estar no meio de gente, das
pessoas, porque o convívio na Itália era outro. A casa tinha quatorze quartos,
duas salas grandes, cozinha e local para banho. Depois mandou construir
uma casa grande para a sua família que hoje é da família do João Bento. Ali
funcionavam a alfaiataria e pensão, com refeições para viajantes e hóspedes.
O padre Paulo de Afonso Cláudio e outros moraram lá com ele. Morreu de
pneumonia dupla sonhando em voltar para a Itália definitivamente.
Foto 8: Érlio, Walter, Eda e Doralice
Fonte: Foto do acervo da família.
Quando Luigi morreu, Amaro (1896-1967), por ser o filho mais
velho e sua mãe ainda estar viva, continuou morando com ela e levando os
negócios adiante.
Em 29.09.1917, Amaro Sepulcri casou-se com Eva Pesente. Tiveram os filhos: Celina, Leandro, Doralice, Olga, Érlio Luiz e Aluízio.
Luiza faleceu em 06.01.1960 e Amaro em 05.05.1967. Amaro era
pedreiro e construiu o Ginásio de Itarana. Foi Presidente da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG), onde Colnago era secretário e
Wagner Araújo diretor. Amaro ajudou a construir a Igreja Matriz de Itarana,
onde colocou o para-raios e o anjo. Em Itarana e entorno existem mais de
cinquenta casas e prédios que foram construídos por ele.
Família Sepulcri
35
Foto 9: Odílio e Maria Luiza – Roma, 2005
Fonte: Foto do acervo da família.
Em 2004 e 2009, Odílio e Maria Luiza Sepulcri estiveram em
Roma e visitaram Walter e Úrsula, sua segunda esposa. Conheceram também
os filhos de Walter: Roberto e Stefania. Passaram o dia juntos e foram almoçar no restaurante onde Úrsula e Walter se encontraram pela primeira vez. À
noite visitaram os filhos e os netos deles. Walter faleceu em 20 de maio de
2010, em Roma.
Foto 10: Maria Luiza, Walter e Odílio – Roma, 2009
Fonte: Foto do acervo da família.
36
3.2
Odílio Sepulcri
PIETRO SEPULCRI E MARGARIDA ZANONI SEPULCRI
Pietro Sepulcri nasceu em Bagnária Arsa, Região de Friuli, Província de Udine, na Itália, em 08.05.1874. Veio para o Brasil em 1886, com
12 anos e depois em 1921 visitou a Itália e, lá, viu a morte de sua mãe,
Constantina Perusini, segundo Iolanda Sepulcri.
Pietro se casou com Margarida Zanoni em 23 de outubro de 1900.
Tiveram nove filhos: Guerino, Remígio, Luiz, Frederica, Alexandre, Henrique,
Tereza, Antônio e Maria (Neném).
Pietro e Margarida, após o casamento, foram morar na propriedade
de Joanim Scárdua, no Limoeiro, próximo à Figueira de Santa Joana. Trabalhava na lavoura de café; também havia dois moinhos de fubá e cultivava
melancia e amendoim. Nos finais de semana sua casa ficava cheia de parentes e amigos que lá iam para desfrutar dessas delícias, conta Érlio.
Segundo Érlio Sepulcri, Pietro mudou-se com a família de Limoeiro para Triunfo, município de Itaguaçu, na propriedade de Quintino Marreco.
Continuou seu trabalho na lavoura de café e também produzia milho, feijão,
melão e mamão. No Triunfo, terminou de criar os seus filhos. Depois, mudou-se para Itarana, onde comprou um terreno situado na Rua do Triunfo,
onde faleceu sua esposa Margarida em 10.02.1945, aos sessenta anos. Católico, muito devoto e, segundo Oliva Cei de Araújo, aos domingos, quando
havia procissão, ele era o responsável por conduzir a Cruz à frente da mesma
e não dava moleza para a criançada, era disciplinador.
Foto 11: Pietro Sepulcri e Margarida
Fonte: Foto do acervo da família.
Família Sepulcri
37
Depois da morte de Margarida, continuou morando por algum tempo no mesmo local e, posteriormente, foi morar juntamente com o seu filho
Remígio no Bom Destino. Miriam relata que, do Bom Destino, lembra-se do
terreiro de secar café, da roda d’água, do moinho de pedra e do engenho de
moer cana-de-açúcar.
No Bom Destino, para angariar alguns trocados, Pietro fazia artesanato de madeira, pequenos serviços de marcenaria e ajudava Remígio e
Alexandre na manutenção do moinho de pedra.
Quando Pietro ia visitar a família de Alexandre e Bela, já bem velhinho, aos domingos, não tinha paciência de esperar os demais para ir para
Itarana de charrete. Ele levantava cedo e ia a pé para a casa de Amaro Sepulcri, seu sobrinho. Alexandre, para não deixá-lo ir sozinho, pedia para Odílio
acompanhá-lo. Após ir à missa, passava o domingo na casa de Amaro e de
Iolanda, irmã de Amaro.
Foto 12: Guerino, Walter e Luiz Sepulcri
Fonte: Foto do acervo da família.
Pietro faleceu em 22 de maio de 1960, aos 86 anos. No momento
de seu falecimento estavam presentes, além da família de Remígio, Alexandre, Bela e Odílio. Alexandre imediatamente encarregou Odílio de ir até
Itarana, de charrete, para avisar a seus sobrinhos Amaro e Iolanda e solicitar
para tocar o sino da Igreja Matriz em anúncio de sua morte. Pietro e Margarida encontram-se sepultados no Cemitério de Itarana.
38
Odílio Sepulcri
Família Sepulcri
39
4
A ASCENDÊNCIA DE BELA – DEMONER E COSER
Giovanni Luigi De Muner e Maria Teresa Dal Piva, nascidos na
Itália, eram pais de Ágata, Domenica, Moisé Natale, Amabile, Fiorinda,
Guerino e Maria Catarina.
Eugênio Coser e Fortunata Friz eram pais de Maria Coser. Maria
nasceu em Trento – Itália e veio para o Brasil com nove anos de idade. Guerino Demoner e Maria Coser se casaram em 10 de junho de 1908, em Bom
Destino. Lá, constituíram a sua família e tiveram quatorze filhos, a saber:
Henrique Antônio, Sabina, Geraldo, Darcisa, Fidélia (Bela), Hermínia (Arleta), Varcelino (Nego), Antenor, Geraldino, Gumercindo, Agenor, Maria
Paulina (Mariquinha), Claudina e José Maria.
Foto 13: Giovanni Luigi de Muner e Maria Teresa dal Piva
Guerino, além de agricultor, tocava bandoneón (concertina) e seu
filho caçula, José Maria, aprendeu com ele.
40
Odílio Sepulcri
Foto 14: Guerino Demoner e Maria
Fonte: Foto do acervo da família.
Conforme o relato de Dalvina, Guerino fumava cachimbo e gostava
de uns goles. Quando ia para a cidade de Itarana, montado em uma mula que
fazia as paradas nos botecos, pois já estava acostumada com o caminho, quase sempre voltava embriagado e, às vezes, era até um pouco agressivo. Todos os dias, após o almoço, comia um prato de polenta com leite sempre
preparado por Dalvina, sua nora.
Dalvina afirma que Maria era muito religiosa, estava em constante
oração. Cantava uma música religiosa em italiano para agradar os netos.
Gostava de ler, o que fazia diariamente. Ganhou até um catecismo de D.
Luiz Scortegagna, bispo de Vitória, quando da visita a Itarana, no ano de
1950. Todas as tardes, ela fazia brolhas25, usando sacos de trigo e açúcar.
Semanalmente visitava sua parente e grande amiga, Graciosa e Pedro Zampiere, acompanhada de uma sombrinha para se proteger do sol. Era companheira, conselheira e ajudante nas tarefas da casa e educação dos netos, filhos de Antenor e Dalvina.
25
Brolhas – tipo de renda de algodão ou seda feita com um emaranhado de nós sem o uso de
agulhas, nas barras de toalhas, colchas e outros. Acredita-se que essa técnica é de origem
árabe e tenha chegado ao Brasil com os portugueses. Nos anos 1930, era comum decorar
enxovais de noivas com essa arte.
Família Sepulcri
41
Foto 15: Bela na Adolescência
Fonte: Foto do acervo da família.
Como muitos dos descendentes de italianos, na fazenda de Guerino
também havia um moinho de pedra. Além de fubá, produzia café, milho,
feijão, arroz e muitas frutas, especialmente manga, goiaba, laranja e criava
suínos e bovinos.
Foto 16: Bela e suas Irmãs (Claudina, Mariquinha, Arleta, Bela e
Darcisa)
Fonte: Foto do acervo da família.
42
Odílio Sepulcri
A fazenda era cortada por um riacho, onde a filharada gostava de
fazer pescaria. Guerino e Maria tinham uma boa situação econômica e
financeira, possuíam vastas áreas de terras que, mais tarde, dividiram com
os seus filhos.
Segundo Alexandre Sepulcri, seu genro, quando os filhos de Guerino e Maria eram jovens, sua casa vivia cheia de gente e era uma família
muito alegre.
Foto 17: Gumercindo e Alcides Demoner, Maria Luiza, Odílio,
José Gomes e Eurides – Bom Destino, 2011
Fonte: Foto do acervo da família.
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Odílio Sepulcri
Foto 18: José Maria, Agenor e Gumercindo Demoner
Foto 19: Agenor e Elza Gomes Demoner
Família Sepulcri
Foto 20: Dalvina, Ana, Alcides, Gumercindo, Elza, Agenor,
Claudina, Gildo e Mariquinha
Foto 21: Darcisa e Geny – 100 anos de Darcisa
45
46
Odílio Sepulcri
Foto 22: Mariazinha, Claudina, Bela, Roberto, Eurides e Guerino
(na janela)
Foto 23: Mariquinha, Claudina, Guerino e Maria
Família Sepulcri
Foto 24: José Maria, Agenor, Gumercindo, Geraldino, Antenor,
Varcelino e Henrique
47
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Odílio Sepulcri
Família Sepulcri
49
5
A FAMÍLIA ALEXANDRE SEPULCRI E BELA
Na partilha e nas decisões políticas entre Itarana e Itaguaçu, a
primeira ficou com a Paróquia e a segunda com a Comarca Municipal
(VENTORIM, 1990).
A construção da Igreja Matriz Nossa Senhora Auxiliadora de Itarana foi iniciada em 1918 e consagrada em 1951.
Na construção da Igreja, por volta de 1938 e 1939, quando ainda
era solteiro, Alexandre trabalhava para arrecadar dinheiro para o casamento
com Bela. Participou ativamente como servente de pedreiro e também no
transporte da terra escavada. A terra era colocada em cima de um couro e
puxada por uma junta de bois até o local, onde seria transportada por caminhões para o destino final.
Foto 25: Igreja Matriz de Itarana, Iniciada em 1918 e Consagrada
em 15.07.1951
Fonte: Foto do acervo da família.
50
Odílio Sepulcri
A igreja foi construída na encosta do morro, conforme se verifica
na foto, e toda a escavação foi feita manualmente com o auxílio de enxadão e
picareta.
Nessa construção, Amaro Sepulcri, primo de Alexandre, foi um dos
principais pedreiros construtores.
5.1
O CASAMENTO DE ALEXANDRE E BELA
Alexandre nasceu em 28 de março de 1915. Era filho de Pietro Sepulcri e Margarida Zanoni Sepulcri. Conheceu Bela em um baile no Bom Destino. Logo se encantou por ela: foi amor à primeira vista, levando-o a terminar
o noivado com Laura. Namoraram pouco tempo e logo se casaram em Itarana,
na Igreja matriz de Nossa Senhora Auxiliadora, em 26 de outubro de 1940.
Bela era também filha de italianos, Guerino Demoner e Maria Coser Demoner.
No dia do casamento, o transporte dos noivos foi feito a cavalo, do
Bom Destino até Itarana e dali até o Triunfo, comunidade onde foi a primeira
residência do casal. Moraram em uma casa de madeira, durante os quatro primeiros anos conjugais, trabalhando como meeiros da família Quintino Marreco.
A casa possuía muitas frestas e Bela tapava-as, para proteger-se do frio, com
papel trazido pelo seu cunhado Luiz Sepulcri, que trabalhava na Souza Cruz.
Bela, de filha de fazendeiro bem de vida, mudou radicalmente para essa condição, mas, contagiada pelo amor, jamais reclamou dessa mudança tão marcante.
O sonho de construir um lar, ter filhos e criar uma família era mais forte.
Foto 26: Alexandre e Bela
Fonte: Foto do acervo da família.
Família Sepulcri
51
Alexandre trabalhava na agricultura e Bela cuidava da casa, da
horta doméstica e dos filhos que encheram a casa rapidamente. Em apenas
doze anos de casados, já eram oito filhos. No Triunfo nasceram as suas três
primeiras filhas: Eurides, Maurilia e Dagmar. Eurides, mesmo com três aninhos, era fujona. Certo dia, sua mãe, Bela, notou o seu desaparecimento e
desesperada foi à sua procura e a encontrou cerca de um quilômetro de casa,
em cima de uma pinguela (pequena ponte de tronco de árvore), correndo o
risco de cair dentro do rio e morrer afogada.
Foto 27: Eurides com Dez Meses de Idade
Fonte: Foto do acervo da família.
Nesse período, Alexandre conseguiu economizar algum dinheiro
com o seu trabalho na agricultura e na extração de fibra de guaxuma, planta
da família Malvácea, nativa da região, o que lhe possibilitou comprar a sua
primeira propriedade, de quatro alqueires, de Pedro Guarnieri, na comunidade de Santa Helena, que muitos chamavam de Córrego da Barriguda, devido
a uma árvore existente na comunidade, situada a seis quilômetros de Itarana.
A mudança da família para Santa Helena ocorreu em 1945, foi transportada
do Triunfo em carro de boi e lombo de mula.
A guaxuma era colhida e amarrada em feixes de mais ou menos
oitenta centímetros de diâmetro e colocada submersa na água por vários dias.
52
Odílio Sepulcri
Após amolecida a casca, era extraída a fibra, lavada, colocada para secar em
varais e depois era recolhida, enfardada e comercializada.
Essa propriedade possuía uma grande várzea alagada e habitada
por jacarés de papo amarelo. A primeira tarefa de Alexandre foi drenar a
várzea para torná-la apta para o cultivo de arroz e de inhame. Todo esse trabalho foi feito manualmente e durou vários meses. Era uma área coberta com
muitas plantas que continham espinhos (acúleos), denominadas de coquinho
do brejo. Para realizar a drenagem, o deslocamento dentro da várzea, era
feito em cima de varas para não atolar. Vez ou outra, Alexandre se desequilibrava e caía dentro do alagado e, como consequência, atolava-se no barro e
enchia-se de espinhos por todo o corpo e, durante a noite, Bela levava algum
tempo para extraí-los.
Foto 28: Casa de Alexandre e Bela, em Santa Helena, onde
Criaram Todos os Filhos
Fonte: Foto do acervo da família.
Nessa propriedade também nasceram os demais filhos, na seguinte
ordem: Odílio, Geraldo Luiz, Maria Margarida, Roberto e Juarez, completando oito filhos, quatro mulheres e quatro homens. Com tantos filhos nascidos a cada dois anos, sendo que as três primeiras filhas tiveram um intervalo
de um ano, Bela tinha muito trabalho.
Família Sepulcri
53
O nascimento de Odílio foi presenciado pela sobrinha Geni De
Martim Andrade, conforme seu relato, filha de Darcisa, irmã de Bela, que
lecionava numa escola primária de primeira a quarta série para as crianças da
comunidade. A escola era localizada na propriedade do vizinho, Arone
Taffner. Essa escola, posteriormente, passou a ser na propriedade de Sebastião
Taffner, filho de Arone, onde permaneceu por muitos anos e na qual Eurides,
Maurilia, Dagmar e Odílio tiveram os seus primeiros ensinamentos.
Nessa época, conta Geni, Alexandre adquiriu a sua primeira vaca
de leite para alimentar as crianças que já eram quatro. Foi o início de um
grande rebanho. Ele usava os bovinos como caderneta de poupança. Quando
a situação financeira apertava, precisava de dinheiro para custear os estudos
dos filhos, vendia algumas cabeças. Ele tinha um carinho especial com o
rebanho.
Foto 29: Alexandre, Roberto e Juarez
Fonte: Foto do acervo da família.
Alexandre era determinado, inteligente, muito trabalhador e objetivo, às vezes intolerante, tinha foco e sempre conseguia o que estabelecia
como meta. Era um bom empreendedor. Teve muitos amigos, mas destes,
dois, foram os maiores: Augusto Covre e Sebastião Taffner, com quem Alexandre confidenciava seus acertos, erros e momentos de dificuldade.
Alexandre e Bela tinham apenas a segunda série primária, mal sabiam ler e escrever, mas isso não os impediu de dedicar todos os seus objetivos na educação dos filhos.
54
Odílio Sepulcri
Foto 30: Adultos – Darcisa, Virgínia, Bela, Ivete, Eurides e Irma.
Crianças – Vandinha, Marli, Maria Margarida, Roberto,
Juarez e Dagmar – 1954
Fonte: Foto do acervo da família.
5.2
O CARRO DE BOIS
Em Santa Helena, Alexandre continuou com a exploração de guaxuma, cultivando a lavoura e adquiriu a sua primeira junta ou parelha de
bois, com os nomes de Laranja e Inhapim. Posteriormente, vieram outras
juntas tais como: Navio e Pintado, Jagunço e Mimoso, Retrato e Piabanha. O
seu primeiro carro de bois foi construído pelo seu pai, Pietro Sepulcri, que,
sendo agricultor, também era um bom carpinteiro. Foi o primeiro carro de
bois de Itarana com rodas de pneus, inclusive com freio de lona, usando para
isso um eixo dianteiro de um velho caminhão. Na comunidade, todos os
carros de bois eram construídos de madeira, inclusive as rodas, que no seu
movimento ao serem puxadas pelos bois faziam um “cantado” (ruído) característico. Pelo som desse ruído era possível identificar o seu dono.
Juntamente com a extração de fibra e o cultivo da lavoura, Alexandre iniciou uma nova atividade no transporte de café em coco para a Fazenda
Toniato, que o beneficiava e comercializava. Transportava o café de toda a
vizinhança, fazia uma viagem por dia e, em cada viagem, levava cerca de 40
sacas. Devido ao calor, Santa Helena é uma região com clima tropical, os
bois não suportavam o trabalho durante as horas quentes do dia. Por isso,
Alexandre trabalhava de madrugada, saía sempre às duas horas da manhã e
Família Sepulcri
55
lá pelas dez horas já estava de volta e dava descanso para os bois e só retornava essa atividade na madrugada do dia seguinte.
Foto 31: Carro de Bois Semelhante ao Usado por Alexandre
Sepulcri
No inicio do transporte do café, era auxiliado pelo empregado José
Bonéis, depois veio Délio Giostri e, mais tarde, por Maurilia, sua filha,
quando já estava mais crescida.
Para conseguir algum dinheiro, Alexandre cortava lenha e vendia
no mercado local de Itarana, atendendo vários de seus amigos com esse comércio.
Nessa atividade, Alexandre conseguiu capitalizar um pouco, o que
o levou a adquirir um trator e mudar de atividade.
5.3
O TRATOR
Em 1956, Alexandre adquiriu um trator Ford equipado com arado e
grade, beneficiando-se de um financiamento do Banco do Brasil e incentivo do
Governo Brasileiro, importando-o dos Estados Unidos da América. O carro de
boi existente foi adaptado como carreta para o trator e utilizado para o transporte dos implementos (arado e grade) e para o transporte dos produtos da
propriedade, tais como: arroz, café, milho, lenha, tomate e vários outros.
Com o trator iniciou-se uma nova atividade. Além de usá-lo para
preparar o solo de suas terras, especialmente para o plantio do arroz irrigado,
Alexandre prestava serviço de aração e gradagem para os vizinhos e comu-
56
Odílio Sepulcri
nidades adjacentes, entre elas: Sossego, Bom Destino, Lajinha, Triunfo, Cinco Pontões, Santa Rosa e outras.
Foto 32: Alexandre em seu Trator, nos Anos 1950, Arando a
Terra para o Plantio de Arroz
Fonte: Foto do acervo da família.
Na época de preparo de solo e de plantio, Alexandre passava vários
dias consecutivos fora de casa prestando esse serviço. Ele gostava muito de
tirar uma soneca após o almoço, enquanto isso, Odílio, seu filho mais velho,
ainda adolescente, para a máquina não ficar parada nesse intervalo, pegava o
trator e fazia o trabalho de gradagem, enquanto seu pai fazia a aração, que
era um trabalho mais pesado.
Alexandre e Bela eram católicos praticantes, sempre tiveram muita
fé. Nos períodos de Semana Santa e de outras festividades, Alexandre colocava bancos especiais na carreta do trator e transportava toda a vizinhança
para as festividades tradicionais, com a cobrança de um pequeno valor de
cada um. Durante todas as noites da semana havia comemorações específicas
e lá iam eles. Era um período de muita alegria e comemorações.
Alexandre também teve o seu lado político. No final dos anos 1950
foi candidato a vereador e ficou como primeiro suplente da Câmara Municipal de Itaguaçu.
Família Sepulcri
5.4
57
O FORD BIGODE
O Ford bigode foi adquirido, principalmente, para dar conforto à
família, ir à missa aos domingos, passear e visitar os amigos.
Foto 33: Ford Bigode, Semelhante ao de Alexandre
Na época, era o único veículo da comunidade, então passou a ser
“pau para toda obra”. Além de atender à família, servia para o transporte dos
vizinhos para os mais diversos motivos, especialmente quando havia necessidade de rapidez no deslocamento, principalmente no caso de acidentes e de
doenças.
Alexandre também o utilizava para os deslocamentos quando ia
prestar serviços com o trator em distâncias maiores. Deixava o trator no local
de serviço e se deslocava com a caminhonete. Odílio ajudava-o nessa tarefa:
enquanto ele ia de Ford, Odílio levava o trator.
Foto 34: Volkswagem Brasília
58
Odílio Sepulcri
Após o Ford bigode, Alexandre teve duas VW Brasília. Uma delas
adquiriu em Curitiba, quando, juntamente com Bela, foi visitar a família do
Odílio e Maria Luíza Sepulcri e participar do casamento de seu filho Juarez,
que se casou com Andyara.
5.5
O MOINHO DE PEDRA E A RODA D’ÁGUA
Na casa dos pais de Alexandre, quando moravam no Limoeiro, na
fazenda de Joanim Scárdua, existiam dois moinhos de pedra para moagem de
milho, transformando-o em fubá ou canjica, conforme a necessidade de cada
família.
Alexandre, após ter drenado as suas várzeas, vislumbrou a possibilidade de também construir o seu moinho de pedra movido à roda d’água.
Quando comentou essa possibilidade com os amigos e vizinhos, todos acharam uma “missão impossível”. Alexandre não desistiu da ideia. Contratou
um agrimensor para calcular o desnível do riacho. Do local de onde pretendia instalar o moinho até à divisa de sua propriedade, o desnível foi de cerca
de um metro e meio, não dando, portanto, queda suficiente para implementar
o seu objetivo.
Foto 35: Roda D’água
Alexandre não desanimou, negociou com seu vizinho, amigo e
compadre Sebastião Taffner para avançar em sua propriedade cerca de seiscentos metros acima para captar a água, conseguindo, assim, o desnível necessário para mover o moinho. A partir daí, foi construído um canal na encosta do morro para levar a água até o local desejado. Com esse dispositivo,
conseguiu-se instalar o moinho de milho. Frente a essa cortesia, Alexandre
retribuiu ao Sebastião e a sua família a moagem gratuita do milho enquanto
existisse o moinho e assim o fez.
Família Sepulcri
59
Foto 36: Moinho de Pedra Transformando o Milho em Fubá
No moinho de pedra, para que se processe a moagem de milho,
existem duas pedras redondas sendo uma fixa e a outra que gira sobre a fixa,
impulsionada pela força da água. De tempo em tempo, há necessidade de se
fazer a manutenção nas mesmas, através da operação denominada “picar a
pedra”, pois, com o tempo, elas ficam lisas e perdem a eficiência na moagem. Essa operação consistia em remover a pedra que girava e fazer pequenas ranhuras nas superfícies de ambas. Existe uma técnica toda especial para
esse fim, com a utilização de talhadeira e marreta. Pietro Sepulcri era especialista nessa arte e, sempre que Alexandre necessitava fazer a manutenção
do moinho, contava com a ajuda e a técnica de seu pai.
Foto 37: Pedra de Moinho em Posição para ser Picada
60
Odílio Sepulcri
Uma vez implantado o moinho, Alexandre iniciou a moagem de
milho para toda a vizinhança e comunidades contíguas, a fim de fabricarem a
famosa polenta italiana. Fazia esse serviço por meio da cobrança de um porcentual do fubá beneficiado. O moinho girava dia e noite, sem interrupção, à
serviço da comunidade. Alexandre também produzia fubá para vender no
comércio de Itarana, a fim de conseguir algum dinheiro.
Periodicamente, para que o moinho de milho funcionasse bem, havia a necessidade de fazer a limpeza do canal de cerca de 800 metros que
fornecia água para mover a roda d’água. Esse canal sempre era limpo com a
ajuda dos vizinhos.
5.6
CINCO PONTÕES
Alexandre já cultivava café em regime de meação, nas propriedades
de Sebastião Taffner e Ângelo Viganó, quando adquiriu a propriedade de Cinco
Pontões, município de Afonso Cláudio, com dinheiro emprestado pelo seu
Compadre José Perim, sem juros e sem prazo para pagamento. Cinco Pontões
era uma região de altitude elevada e com clima propício para a produção de
café arábica de boa qualidade. Alexandre iniciou, nessas terras, o plantio de
café em parceria com Doro Moral e Efigênio. Para isso, Alexandre pagava
certo valor por pé de café plantado pelos parceiros até iniciar a produção.
Foto 38: Planta de Café Arábica com Grãos Maduros, no Ponto
de Colheita
Família Sepulcri
61
Em poucos anos havia milhares de pés de café em produção. Era
uma região de água abundante e lá, também, Alexandre construiu um moinho e uma máquina de beneficiamento de café. O café, durante muito tempo,
foi a principal fonte de renda de sua família.
Quando o café diminuiu a produtividade e os preços passaram a
não ser compensadores, Alexandre vendeu essa propriedade e aplicou o dinheiro, em Santa Helena, adquirindo as terras dos Irmãos Taffner: Martinho,
Calisto e Francisco (Alemão). Com isso, possibilitou ampliar a área de plantio e de pastagens, aumentando o rebanho bovino.
Foto 39: Pedra de Cinco Pontas que Deu Origem ao Nome do
Local
Fonte: Foto do acervo da família.
5.7
A ENERGIA ELÉTRICA
A primeira usina hidrelétrica, que gerava energia para todo o município de Itaguaçu foi instalada em Jatibocas, atualmente distrito de Itarana.
62
Odílio Sepulcri
A linha de transmissão de energia que se dirigia ao Toniato passava
cerca de um quilômetro da residência de Alexandre e, aproximadamente, a
três quilômetros do último vizinho da comunidade.
Em 1954, Alexandre liderou, juntamente com Sebastião Taffner
e demais vizinhos, o movimento para ter acesso à energia elétrica. Isto
implicou em conseguir os recursos com a comunidade para custear a instalação da linha de transmissão, dos transformadores e demais equipamentos. A energia atendeu toda a comunidade de Santa Helena, propiciando todos os benefícios e confortos típicos desse serviço. O primeiro deles
foi a iluminação e o rádio, depois veio a água encanada bombeada pela
bomba elétrica, banheiro interno (antes o banho era na bacia) geladeira,
eletrodomésticos e por último, na década de 1960, a televisão. Quando
caía raio na fiação e queimava o transformador era um problema, a comunidade assumia o prejuízo, e nem sempre estava preparada para arcar com
esses custos. Com o tempo, a prefeitura municipal incorporou essa linha
de transmissão e assumiu tais custos.
Alexandre sempre teve espírito inovador e empreendedor.
5.8
O PLANTIO DE ARROZ
Antes de possuir o trator, Alexandre plantava pequenas áreas com
arroz e, para isso, preparava o solo com o arado tracionado pela junta de
bois. O baixo rendimento desse trabalho não permitia o plantio de grandes
áreas. Com a aquisição do trator, ampliou sua capacidade de trabalho e passou a preparar todas as suas áreas de várzea para o plantio de arroz. Feito
isso, Alexandre dividiu o plantio de arroz em parceria com os seus vizinhos
envolvendo as famílias Viganó, Cancian, Mapelli, Guarnieri, Covre, Fiorotti,
Rizzi e outras. Alexandre dava a terra preparada, os insumos e a irrigação.
Os vizinhos entravam com a mão de obra, pois todo o restante da lavoura era
cultivado manualmente. A partir daí, Alexandre passou a colher grande
quantidade de arroz e ter uma nova fonte de renda. Todo esse arroz era secado ao sol, com a utilização de lonas de caminhões. Espalhava-se a lona no
terreiro e, sobre ela, colocava-se o arroz. Quando vinha chuva era uma correria danada para não deixar o arroz molhar. Era uma tarefa dura e todos da
família participavam.
Alexandre também foi pioneiro na irrigação do arroz. Represava o
riacho para proceder a irrigação. No período de irrigação, passava os dias no
meio do arrozal distribuindo a água. Ele adorava fazer esse trabalho.
Família Sepulcri
63
Foto 40: Cultivo de Arroz
Fonte: Foto do acervo da família.
Houve uma época que desconhecidos começaram a fazer sabotagem, soltando a represa de água durante a noite. Alexandre arranjou um jeito
de montar uma armadilha, somente com pólvora. Cercou toda a represa com
um arame fino e conectou em uma armadilha. No escuro, as pessoas que
pretendiam fazer a sabotagem, embaraçavam-se no arame, a armadilha disparava e explodia. De vez em quando, durante a noite, ouvia-se um estampido e a represa d’água nunca mais foi arrombada, mas também não foram
descobertos os sabotadores.
Alexandre armazenava toda a sua parte de arroz com casca e, à
medida que necessitava de dinheiro, beneficiava uma parte e vendia no comércio de Itararana.
5.9
A CHARRETE
A primeira charrete de Itarana foi a de Alexandre, construída pelo
seu pai Pietro Sepulcri. Pietro usou para sua construção, como poderá ser
observado na foto, um eixo dianteiro de uma velha caminhonete e, sobre esse
eixo, idealizou e construiu a charrete. Isso a diferenciava das demais charretes.
Nessa época, Délio acompanhava Dona Bela e as crianças, de charrete, pois todos ainda eram muito pequenos, nas visitas a seus pais Guerino e
Maria Coser Demoner e a seus irmãos, no Bom Destino.
A charrete foi o primeiro e mais importante veículo de transporte
da família. Servia para ir à missa aos domingos, levar as crianças à escola e
depois ao ginásio, visitar os amigos, transportar doentes, fazer as compras
64
Odílio Sepulcri
das mercadorias, principalmente aves (frangos) e ovos que Alexandre revendia em Vitória, juntamente com os legumes, verduras e frutas, tomate, principalmente, pimentão repolho e mamão, produzidas em sua propriedade.
Foto 41: Charrete da Família Sepulcri. Maurilia Acompanhada de
suas Amigas
Fonte: Foto do acervo da família.
O transporte dos filhos para o colégio primário e ginasial em Itarana foi feito de charrete, a princípio, em parceria com o vizinho Sebastião
Taffner, em semanas alternadas. Utilizava-se uma só charrete para o transporte dos alunos de ambas as famílias. Numa ocasião, Moacir Taffner guiava
a charrete e, próximo à casa de Alexandre, esta se desgovernou e bateu no
esteio da porteira, quebrando os dois varais que a prendiam ao cavalo, derrubando todos. O cavalo saiu em disparada, só parou na porteira seguinte. Felizmente ninguém se machucou gravemente, apenas pequenos arranhões.
Numa das viagens para Itaguaçu, cidade vizinha a Itarana, estavam
juntos Bela, Odílio e Maria Margarida. Já chegando próximo ao destino, o
cavalo Baio (seu nome) tropeçou e caiu e todos caíram juntos sobre o leito
pedregoso. Bela bateu com os joelhos e os cotovelos sobre essas pedras,
ferindo-se profundamente. Ao cair, Bela ficou com a cabeça atrás da roda. O
cavalo, ao tentar se levantar, movimentou a charrete para trás, prensando a
cabeça de Bela entre o solo e o pneu. Maria Margarida, ao ver essa cena,
chorava e empurrava a roda da charrete para frente a fim de proteger sua
mãe. Esse fato foi extremamente emocionante. Depois, foram socorridos por
Família Sepulcri
65
Maria do Sereno que era amiga da família e fez a limpeza e os primeiros
curativos em Bela até que chegassem ao médico em Itaguaçu.
O estudo ginasial da quinta à oitava série era no período da noite,
das dezenove às vinte e três horas. No primeiro ano, Odílio estudava sozinho
e fazia o trajeto de seis quilômetros da residência ao Ginásio em Itarana a pé.
Dormia na cidade, na casa da tia Mariquinha, que tanto o ajudou nesse período, e retornava pela manhã do dia seguinte. Durante o dia trabalhava na
roça e retornava à noite para a aula e, às vezes, dormia pelo cansaço. Certo
dia, Maurilia, ao lavar sua camisa de uniforme, encontrou em seu bolso um
bilhete com os seguintes dizeres “lugar de burro é no pasto, mande esse burro pro pasto”. Isto serviu de estímulo a Odílio, e ele disse: “vou mostrar a
quem escreveu esse bilhete que serei um vencedor”.
A partir do segundo ano, iniciaram os estudos Eurides, Geraldo
Luiz e, posteriormente, Maria Margarida, e a charrete entrou em ação. A ida
e o retorno era no mesmo dia, chegando em casa, todos os dias, em torno da
meia noite. Odílio e Geraldo Luiz revezavam-se, uma semana para cada um,
na tarefa de pegar o animal, arriá-lo, colocá-lo na charrete e prepará-lo para
as viagens diárias. O vizinho e amigo da família, Vanderlei, pegava carona
diariamente nesse trajeto.
Vanderlei era muito medroso. Ao descer da charrete, todas as noites percorria alguns metros até entrar em sua casa, passando por algumas
árvores de eucalipto que continham muitas folhas soltas ao chão. Geraldo
Luiz ao perceber o seu medo, sem ele perceber, pegou uma pedra arredondada de cerca de uns dois quilos e colocou na charrete e, quando ele desceu,
despediu-se e dirigiu-se à sua casa. Geraldo Luiz jogou-a, deslizando nas
folhas secas, fazendo um barulho característico. Vanderlei assustou-se e saiu
correndo atrás da charrete gritando socorro. Seus pais acordaram assustados.
Teve-se que parar a charrete, socorrê-lo e ainda aguentar o sermão de seus
pais, que não gostaram nada da brincadeira.
Acidente – era período de provas parciais (antigamente existia isso).
Tinham levantado de madrugada para estudar, e lá foram eles, de charrete,
para fazer as provas. Na estrada, encontraram o pai deles, Alexandre, que
vinha de Vitória onde foi comercializar a sua mercadoria. Alguns quilômetros depois, no morro do sabão, o cavalo assustou-se com umas folhas de
coqueiro que estavam estendidas no barranco da estrada. Odílio, que estava
guiando o animal, não conseguiu contê-lo, e o cavalo saiu em disparada,
subiu no barranco lateral do outro lado da estrada e, com o solavanco da
charrete, jogou ao chão Odílio, Geraldo Luiz e Vanderlei. As duas meninas,
Eurides e Maria Margarida, permaneceram em cima da charrete gritando e
66
Odílio Sepulcri
fazendo as suas preces. O cavalo foi parar cerca de um quilômetro adiante.
Odílio, ao cair, bateu com a cabeça no chão e perdeu a memória por alguns
minutos, não sabendo o que ia fazer, e Geraldo Luiz ficou cheio de hematomas. Com Vanderlei nada aconteceu. Em seguida, passou um amigo pelo
local e levou o recado do acidente a Alexandre, que veio imediatamente e
levou seus filhos ao médico na cidade de Itaguaçu. Eurides, Maria Margarida
e Vanderlei fizeram as provas normalmente e Odílio e Geraldo Luiz tiveram
que fazer prova de segunda chamada.
5.10
A CRIAÇÃO DE ABELHAS
Nas imediações de seu quintal, Alexandre possuía uma criação de
abelhas europeias com cerca de vinte colmeias. Na época da florada das
plantas e de produção de mel, Alexandre juntava a filharada para colher mel.
Todos organizavam suas máscaras para se protegerem das picadas das abelhas e lá iam para a tarefa. Os favos de mel eram desoperculados, centrifugados e o mel era embalado em litros ou em latas com a capacidade de vinte
litros e depois vendido no comércio local.
Na época de safra de mel, as colmeias estavam bem povoadas com
abelhas. Havia muitos pássaros que se alimentavam das abelhas, especialmente o bem-te-vi. Próximo das colmeias existia uma árvore denominada de
garapa, onde os pássaros capturavam as abelhas e pousavam para descanso e
preparar novo ataque. Alexandre, com o intuito de proteger suas colmeias,
posicionava-se, escondendo-se debaixo da árvore com uma espingarda na
mão e atirava nos pássaros. Havia tardes que chegava a abater vinte deles.
Délio Giostri é que fazia a festa com uma bela fritada de passarinho ao molho com polenta.
5.11
FIDALGO, O CÃO AMADO
Na casa de Alexandre e Bela sempre existiram muitos cães, como o
Rex, Guarani, Chatinho, Lobo, Fidalgo e tantos outros. Esses cães tinham o
papel de vigiar a propriedade e na lida do rebanho bovino.
Fidalgo, cão da raça Pastor Alemão, foi doado a Odílio pela diretora do Grupo Escolar Luiza Grimaldi, Senhora Dagmar Borges (Dona Diná),
quando ainda pequeno. Cresceu junto com a família. Era de uma inteligência
rara, obediente. Entendia tudo o que se falava com ele, era admirado por toda
a vizinhança. Muitos faziam oferta para comprá-lo.
Família Sepulcri
67
Estava sempre junto no trabalho da família, seja na carreta do trator
ou na carroceria do caminhão, prestando sua solidariedade, sempre atento,
pronto para agir.
No manejo do gado bovino era imbatível. Santa Helena, onde,
moravam, era uma região de relevo muito acentuado, cheia de morros e,
muitas vezes, os bovinos estavam nas pastagens sobre esses morros a mais
de um quilômetro de distância. Era só chamar Fidalgo, mostrar onde estavam os bovinos e, ao vê-los, ele se dirigia ao rebanho e mordia a perna de
um, o rabo de outro, em poucos minutos a boiada estava reunida em torno
do curral.
Foto 42: Cão da Raça Pastor Alemão Semelhante ao Fidalgo
Fonte: <http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://marcelolauriano.hd1.com.br/caes/
img/pastor_ale_03.jpg>. Acesso em: 04 fev. 2012.
Na frente da casa de Alexandre e Bela havia um poste com uma
lâmpada que permanecia acesa todas as noites para iluminar os arredores da
casa. Em torno da casa havia uma cerca de madeira, denominada gradilho,
que separava os animais da residência, inclusive os cães.
Certa noite, muito escura, a lâmpada da frente da casa estava queimada. De repente, iniciou-se uma briga de cachorros. Salvador, empregado
da família, saiu de revólver em punho para verificar o que estava ocorrendo.
No escuro, Fidalgo, ao vê-lo, veio a seu encontro para agradá-lo e Salvador
se assustou e atirou no cachorro. A bala atravessou o seu coração, levando-o
à morte. Foi muito triste, todos choraram, foi como se perdessem um componente da família.
68
5.12
Odílio Sepulcri
O PLANTIO DE TOMATE
Segundo Luiz Helvécio Fiorotti, Alexandre foi pioneiro no plantio
de tomate em Itarana e em desvendar o mercado de Vitória e Colatina com
os seus produtos, especialmente o tomate.
O café tem característica bianual, ou seja, praticamente gerava
renda a cada dois anos. Com a decadência do café, e tendo vendido a propriedade de Cinco Pontões, Alexandre começou a pensar em novas alternativas de renda, com fluxo de entrada de receitas com mais frequência
nos meses do ano e que lhe desse mais segurança nos estudos dos filhos e
na manutenção e qualidade de vida da família. Foi quando surgiu a ideia
do plantio de tomate. Mas, como plantar essa cultura, se nada sabia de sua
tecnologia e das características de seu mercado? Teve notícias que em
Itaguaçu, cidade vizinha a Itarana, havia uma unidade da Associação de
Crédito e Assistência Rural do Espírito Santo (ACARES), cuja finalidade
era dar assistência técnica aos agricultores, especialmente aos interessados
em atividades inovadoras. Alexandre entrou em contato com o Engenheiro
Agrônomo, Dr. Hélio, responsável por esse trabalho, e convidou-o para
visitar sua propriedade em Santa Helena. Chegando lá, Alexandre explicou os seus planos ao agrônomo que, imediatamente, prontificou-se a ensinar todos os procedimentos para o plantio do tomate. Iniciaram naquele
mesmo dia, com a escolha do terreno, do local mais apropriado para a
cultura, a melhor época do ano para o plantio, uma vez que Itarana possui
um clima quente, o tomate deve ser sempre cultivado no inverno, em função das características dessa cultura. Orientou na aquisição de insumos
tais como sementes, fertilizantes, matéria orgânica (esterco de gado curtido) e outros.
Combinaram que a cada fase importante da cultura Dr. Hélio deveria estar presente. A primeira visita foi para fazer a semeadura do tomate,
incluindo o preparo do canteiro, semeadura e tratos culturais iniciais.
A segunda visita de Dr. Hélio foi para fazer o transplante das mudinhas da sementeira para um canteiro maior, colocando-se uma muda distante da outra, em cerca de dez centímetros e permaneceram ali até alcançarem cerca de vinte centímetros de altura. Essa tarefa era denominada de repicagem das mudas. Orientou, também, o controle de insetos e de fungos, comuns nessa hortaliça.
Na terceira visita, orientou a preparar o local definitivo de plantio,
incluindo o coveamento, adubação, sistema de irrigação e efetuar o plantio
das primeiras mudas nesse local.
Família Sepulcri
69
Foto 43: Plantio de Tomate Tutorado com Estacas de Bambu
A quarta visita foi para orientar o tutoramento do tomateiro, quando as plantas atingiram cerca de quarenta a cinquenta centímetros de altura.
Esse procedimento era feito com estacas de bambu com cerca de dois metros
de comprimento, apoiadas em um fio de arame fixado em mourões e estendido ao centro, a cada duas fileiras. Orientou como eliminar as brotações em
excesso e como conduzir as plantas em cada tutor, amarrando-as com fibra
de guaxuma e, posteriormente, com fibras de bananeira, especialmente preparadas para esse fim. Ensinou a preparar a calda para combater os fungos,
caso viessem a ocorrer na plantação e como manusear o pulverizador, demonstrando como fazer uma pulverização correta.
A quinta visita de Dr. Hélio foi quando apareceram os primeiros
frutos maduros, para orientar a primeira colheita, a embalagem, a classificação e como prepará-los para o comércio.
O tomate, depois de colhido, era colocado sobre uma lona estendida ao chão, onde era classificado por tamanho e embalado, em caixas
“K” de madeira, com a capacidade aproximada de vinte e dois quilos. Havia classificações: boca oito, seis ou dez; isso significava que cada fileira,
70
Odílio Sepulcri
dentro da caixa continha esse número de tomates e servia de referência
para serem estabelecidos os preços pelos compradores no mercado de
Vitória e de Colatina.
Foto 44: Primeiro Caminhão – Chevrolet, 1952 Adquirido em
1958 para o Transporte de Tomate
Fonte: Foto do acervo da família. Maria Margarida e Marli Demoner.
A partir daí, Alexandre partiu para o mercado. Primeiramente,
contratou transporte para os seus produtos mas, em seguida, adquiriu o seu
primeiro caminhão.
Dr. Hélio continuou as visitas à propriedade de Alexandre, só que
de maneira mais espaçada, até concluir o ciclo do tomate. Concluído o ciclo
desse primeiro plantio, Alexandre já se considerava apto a enfrentar sozinho
os segredos da cultura de tomate, nos próximos cultivos e passou a dividir os
seus conhecimentos com os vizinhos que iniciavam essa atividade. Itarana,
em pouco tempo, tornou-se um grande pólo de produção de tomate. Alexandre continuou o plantio de tomate e outras espécies, tais como quiabo, pepino, pimentão, repolho e mamão.
Alexandre fazia uma a duas viagens a Vitória, semanalmente, para
levar a sua mercadoria. Além das verduras comercializava, também, aves e
ovos, milho, feijão, carne e banha de porco e, algumas vezes, pimenta do
reino, a qual levava no meio da mercadoria para não pagar imposto.
Família Sepulcri
71
Foto 45: Os Oito Filhos de Alexandre e Bela (em pé: Maria
Margarida, Dagmar, Maurilia e Eurides. Abaixados:
Juarez, Roberto, Odílio e Geraldo Luiz) – 1972
Fonte: Foto do acervo da família.
Guerra de tomate – quando Alexandre viajava às segundas feiras, o
tomate era colhido, selecionado e embalado no domingo. Isso era motivo para
toda a vizinhança se reunir para fazer um mutirão na colheita. Após o término,
sobravam muitos tomates que não serviam para o comércio e iniciava-se a
guerra de tomate entre os participantes. Era a parte mais divertida do dia. Muitos contribuíam com a colheita para poder participar dessa brincadeira.
À medida que os vizinhos iniciavam o plantio de tomate, Alexandre
começou a transportar suas mercadorias e, para isso, teve que comprar um novo
caminhão, um Chevrolet vermelho, 1970. Nas viagens, saía sempre de madrugada para chegar ao mercado da Vila Rubim, em Vitória, ao amanhecer. Levava os vizinhos com ele para que eles mesmos realizassem o comércio de seus
produtos e passassem a dominar a arte do mercado. Alexandre gostava muito
do que fazia, era uma pessoa alegre, comunicativa, tinha sempre a última piada
na ponta da língua, era uma pessoa que transmitia felicidade.
Em 1973, Alexandre acidentou-se na Serra do Fundão com o caminhão carregado de tomate. Esse relato é feito por Antônio José Viganó, que o
acompanhava nesse momento. Alexandre, para não deixar os clientes sem o
transporte, foi na agência Chevrolet em Colatina, vendeu o caminhão acidentado e adquiriu outro, de cor amarela, mesmo tendo um prejuízo considerável. A
sua paixão, porém, era mesmo o Chevrolet de cor vermelha, o acidentado.
72
5.13
Odílio Sepulcri
A IGREJA DE SÃO SEBASTIÃO
Alexandre sempre foi muito devoto de São Sebastião. Acreditava
que o Santo protegia o seu rebanho de possíveis doenças. Todos os anos, na
comemoração do santo, no dia 20 de janeiro, doava um novilho para as festividades.
Essa devoção fez com que Alexandre, juntamente com um grupo de
amigos, liderasse a construção da igreja de São Sebastião de Itarana. No local
havia uma pequena capela que foi demolida para a construção da nova igreja.
Para arrecadar recursos para a sua construção, foi organizado um sistema de
leilões na Igreja Matriz, durante vários dias e a cada dia de leilão, uma família
era indicada como leiloeira e promovia o leilão de uma noite, depois de ter
percorrido toda a sua comunidade arrecadando prendas de seus vizinhos.
Para Luiz Helvécio Fiorotti, Alexandre, pela sua fé, além de ser um
dos líderes desse processo, era o encarregado de contatar os amigos e pessoas conhecidas para solicitar e fazer pedidos extras para a doação em benefício da construção da igreja. Assim, conseguiram realizar o objetivo final com
a inauguração da Igreja. Anualmente, no dia 20 de janeiro, ocorriam as festas
em homenagem a São Sebastião.
Foto 46: Igreja de São Sebastião – Itarana
Fonte: Foto do acervo da família.
Família Sepulcri
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Segundo Luiz Pesente, Alexandre, seu compadre, transportou com
ele, em seu trator, toda a areia necessária para construção da igreja. Luiz
retirava a areia do Rio Santa Joana, tracionada pelos bois e a colocava onde o
trator poderia chegar para o seu transporte até o local da construção.
Alexandre transportou a madeira (varões) para fazer os andaimes
da Igreja. Para isso, engatava duas carretas no trator, uma atrás da outra, para
poder transportá-las em função de seu comprimento.
Quando o Vaticano publicou a relação de Santos que eram considerados Santos, mas que não foram canonizados, São Sebastião fazia parte dessa
lista. Em função disso, o vigário da paróquia de Itarana, Padre Álvaro Regazzi
quis demolir a igreja, ignorando a fé, a história e a cultura do povo. Essa atitude provocou uma grande indignação em todos aqueles que se mobilizaram
para a sua construção. Alexandre liderou o movimento contra a demolição e,
depois de muita “encrenca”, de idas e vindas, o movimento conseguiu manter
a igreja intacta, perdendo apenas um lote de terras que fazia parte se seu pátio,
reduzindo assim o espaço disponível para as festividades.
5.14
A TELEVISÃO
Em Itarana havia um técnico em eletrônica, José Vieira Malta, que
colocava todo o seu conhecimento em benefício da comunidade. Por volta de
1930, surgiram em Figueira de Santa Joana, posteriormente Itarana, os primeiros aparelhos de rádio. Entre 1945 e 1946, por sua iniciativa, foi instalada
a primeira rádio de Itarana, denominada “Rádio Difusora de Itarana”, 1500
KC (VENTORIM, 1990).
No início dos anos 60, mais precisamente em 1962, com a difusão
da televisão brasileira, José Vieira Malta iniciou suas ações nesse campo.
Para que Itarana e comunidades adjacentes tivessem acesso ao sinal de televisão, ele fez um estudo e decidiu implantar uma antena de TV no alto da
Pedra da Onça26.
O empreendimento foi um sucesso. Logo depois de implantada a
referida antena, todos tiveram, gratuitamente, o acesso ao sinal de TV, desde
que tivessem o aparelho com os seus devidos equipamentos, que o próprio
José Vieira Malta se encarregava de instalar.
26
Em 1942, Figueira de Santa Joana passou a ser denominada de Itarana. Em tupi-guarani:
Pedra da Onça, referência a um monumento natural e paisagístico do mesmo nome,
localizado nas cercanias da cidade. Nesta época, foi descoberta uma jazida de água-marinha no local, o que contribuiu para o desenvolvimento da região (VENTORIN, 1990).
74
Odílio Sepulcri
Foto 47: Pedra da Onça
Fonte: Foto do acervo da família.
Alexandre e Bela foram dos primeiros a se beneficiar desse conforto. Alexandre, imediatamente, foi a Vitória e retornou com o aparelho de
TV que, em poucos dias, estava instalado. Alexandre e Bela não saíam da
frente da televisão e viraram fanáticos por novelas. Quando havia algum
problema no sinal de TV, Alexandre pegava o carro e saía para Itarana, desesperado atrás do José Vieira Malta para resolvê-lo. Naquela época não
existia telefone no meio rural e, para se ter acesso à informação, só indo atrás
dela. O meio de comunicação usual era mandar recado para as pessoas ou ir
até elas.
Pela curiosidade que a televisão despertava, durante as noites e nos
finais de semana, a casa de Alexandre e Bela se enchia de vizinhos para conhecerem a novidade.
José Vieira Malta foi Prefeito de Itarana no período de 31.01.1971
a 31.01.1977.
5.15
A ORGANIZAÇÃO DA FAMÍLIA
Em uma família descendente de italianos, a palavra de ordem era
trabalho e mais trabalho. Todos os filhos tinham que contribuir de alguma
forma, dentro de suas possibilidades. Na cultura local era comum as mulheres ajudarem os maridos no trabalho da roça. Alexandre nunca admitiu esse
tipo de atitude e jamais Bela saiu de dentro de sua casa, de seus afazeres
Família Sepulcri
75
domésticos para o trabalho na lavoura. Alexandre, quando não dava conta do
trabalho com os filhos, pagava para que terceiros realizassem o serviço.
Assim que os filhos cresceram, cada um teve a sua função. Eurides
e Dagmar cuidavam da casa e da comida. Maurilia era a responsável pela
ordenha das vacas, diariamente, e prender os bezerros nos finais da tarde e,
também, ajudava na roça, quando necessário. Bela, além de administrar o lar
em todas as suas dimensões, era uma excelente costureira. Costurava a roupa
de toda a família, também respondia pela fabricação de queijo que consumiam
com polenta. Odílio alimentava os suínos diariamente e, logo que completou
doze anos, passou a ajudar seu pai na lida com o trator. Juntamente com
Geraldo Luiz, de charrete, faziam as compras das mercadorias, principalmente aves e ovos, que seu pai comercializava em Vitória em suas viagens
semanais quando ia vender tomate e outras verduras.
A tarefa mais odiada por Odílio era preparar o milho para o moinho
de pedra. Consistia em descascar, debulhar, peneirar e ensacar o milho. Tudo
era feito manualmente, um trabalho escravizante. Mesmo no período de chuva, iam para o paiol para essa tarefa. O moinho trabalhava vinte e quatro
horas por dia, era um devorador de milho. Quando não havia milho dos vizinhos para moer, utilizava-se milho próprio.
Foto 48: Alexandre e Bela com os Filhos e Netos
Em pé: Bela, Alexandre, Geraldo Luiz, Roberto, Juarez e
Djalma. Abaixados: Maisa, Maria Margarida, Dagmar,
Elizabeti, Gizeli, Maurilia e Eurides
Fonte: Foto do acervo da família.
Eurides, logo após terminar a quarta série primária, foi convidada
para lecionar em Bom Destino, município de Itarana, por um período de seis
76
Odílio Sepulcri
meses, em substituição à professora titular, Ana Herzog Demoner, sua tia,
que estava grávida.
Terminada essa substituição, voltou para casa e, em seguida, foi
convidada para substituir Odilia Demoner de Carvalho, também em período
de gravidez, em Cinco Pontões, município de Afonso Cláudio, na mesma
função de professora. Retornando à sua casa, iniciou o curso ginasial em
Itarana, juntamente com seus irmãos. Concomitantemente, substituiu Lourdes Toniato Rocha, na Escola de Sossego, por ocasião de sua “Licença Prêmio”. Como ela demonstrava ter dom para a profissão, Alexandre conseguiu,
junto aos responsáveis pela educação do Município na época, que ela lecionasse na Escola Baixo Sossego, também no Município de Itarana. Essa atividade durou dois anos letivos.
Depois, foi para Itaguaçu, onde fez o curso médio de professora e,
posteriormente, formou-se Pedagoga em Colatina e, quando atuava na Secretaria de Estado da Educação, fez pós-graduação. Daí, continuou sua carreira profissional de professora, assumindo várias funções no Estado do Espírito Santo. Eurides é casada com Gessy Amaral.
Foto 49: Gessy, Eurides, Maria Luiza e Odílio – 2011
Fonte: Foto do acervo da família.
Maurilia, após concluir a quinta série do primeiro grau, continuou,
junto com os pais, ajudando Bela quando dispunha de tempo. Além de seu
trabalho diário de ordenha das vacas, ajudou muito a família no trabalho com
o trator e com o caminhão. Cada vaca tinha um nome: Açucena, Fonte Nova,
Morena, Branquinha, Pintada e tantos outros. Todas atendiam pelo nome.
Quando por algum motivo o bezerro perdia a mãe, era criado por Maurilia na
mamadeira, como se verifica na foto a seguir.
Família Sepulcri
77
Foto 50: Maurilia Alimentando o Bezerro na Mamadeira
Fonte: Foto do acervo da família.
Seu pai gostava muito de sua disposição. Para ela não havia tempo
ruim. Todos os irmãos reconhecem que Maurilia, junto com os pais, foi
quem mais contribuiu para seus estudos. Nessa época, contou com grande
contribuição de Alemão Taffner, que trabalhou vários anos para a família.
Maurilia casou-se com José de Souza Gonçalves em 30 de março de 1975.
Dagmar, após concluir a quinta série, continuou o seu trabalho na
cozinha. Era a “chefe de cozinha”. Para Dagmar não era tarefa fácil preparar
refeições quatro vezes por dia para doze pessoas, os pais, oito irmãos e mais
dois empregados. No início o almoço era pela manhã, em torno das nove
horas. Posteriormente, passou para o meio-dia. Claro que Dagmar tinha o
comando de Bela e o apoio das demais irmãs. Odílio afirma que era uma
comida muito saborosa e não se repetia o cardápio durante a semana. O desjejum era leite com polenta e pão caseiro feito por Bela. A comida que ele
mais gostava era queijo frito e polenta frita. Lembra que, em todas as férias,
quando voltava dos estudos, sua mãe o esperava com sua comida preferida.
Dagmar é divorciada de Djalma Venturini e casada com Arnildo Bernardes.
Odílio, quando concluiu o Ginásio em Itarana, queria continuar os
estudos. Numa conversa de família, Alexandre disse: “Odílio, por ser o mais
velho, poderia ficar me ajudando na propriedade”. Bela retrucou: “Nada
disso, ele deverá continuar os estudos, gostaria que ele tivesse uma vida
melhor do que essa que temos aqui na roça”. Esse objetivo foi mantido para
todos os filhos.
78
Odílio Sepulcri
Tomada a decisão, Odílio foi procurar um colégio gratuito, tendo
em vista que a família era numerosa e praticamente impossível pagar colégio
para todos. O primeiro alvo foi o Colégio Agrícola de Santa Tereza, mas
não havia vaga. Então, Odílio soube que José Carlos Fardim, residente em
Itarana, cujos pais eram amigos de seus pais, estudava em um Colégio
Agrícola situado em Campos, no Estado do Rio de Janeiro. Odílio o procurou e propôs pagar as suas despesas para que ele fosse a Campos verificar
se havia vaga. José Carlos voltou com a vaga. Em consequência, Odílio, a
partir de 1962, foi cursar o nível médio profissionalizante no Colégio Agrícola de Campos. Terminado o curso, em 1965, conseguiu vaga através da
Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR) para trabalhar como Técnico Agrícola na Associação de Crédito e Assistência Rural do Paraná (ACARPA).
Para a viagem até Curitiba, Odílio precisava de algum dinheiro e
seu pai, Alexandre, estava sem disponibilidade na época. Alexandre pediu
a Odílio que fosse até o seu compadre, Arlindo Covre, solicitar dinheiro
emprestado. Arlindo prontamente emprestou cem mil cruzeiros (moeda da
época), o que viabilizou a sua viagem. Na despedida, Alexandre disse a
Odílio: “Meu filho você sabe que o dinheiro aqui na roça é difícil de ganhar, faça economia em tudo que puder, porém jamais faça economia para
se alimentar”. Odílio trabalhou na Acarpa por quatro anos, indo depois
cursar Engenharia Agronômica no Rio Grande do Sul, na Universidade
Federal de Pelotas, no período de 1970-1973. Seu curso foi custeado pela
Acarpa, por meio de bolsa empréstimo de um salário mínimo e meio mensal, por um período de quarenta e oito meses. Depois de formado, retornou
à Acarpa e reembolsou esses valores na mesma proporção. Casou-se com
Maria Luíza em 15.12.1973.
Com a ida de Odílio para o colégio agrícola, Geraldo Luiz o substituiu em suas atividades na propriedade, até concluir o ginásio. Em 1966,
seguiu para o mesmo Colégio Agrícola em que estudou Odílio que, ao sair,
já havia negociado com a direção do mesmo a sua vaga. Concluído o Curso
em 1968, foi cursar Medicina Veterinária na Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro, sendo diplomado em 1973.
Maria Margarida, Roberto e Juarez tiveram uma rotina mais tranquila na família, uma vez que o caminho já havia sido desbravado pelos mais
velhos. Porém, com a saída deles para os estudos, passaram a substituí-los no
que eles faziam.
Maria Margarida recebeu esse nome como homenagem de seus
pais às avós. Enquanto ela terminava o ginásio em Itarana, continuava a ajudar Bela nos afazeres da casa. Após concluir o ginásio, foi fazer o curso
Família Sepulcri
79
Magistério em Itaguaçu, tendo concluído em Itarana no ano de 1969. Iniciou
a carreira de professora no mesmo município, em Baixo Sossego (1970) e
Santa Helena (1971). No ano de 1972 prestou concurso público e foi trabalhar em Nova Venecia, no norte do Estado, ficando por lá dois anos.
Posteriormente, fez o curso Superior de Pedagogia na Faculdade de
Ciências e Letras de Colatina (1974-1977). Após alguns anos de trabalho, fez
pós-graduação em Supervisão Escolar, encerrando sua carreira na Superintendência de Educação em Santa Teresa, em 2001. Casou-se com Carlos
Jorge Diniz em 27/12/1975.
Roberto foi quem teve a vida mais mansa. Quando pequeno, dizia
que queria seguir a vida religiosa, talvez por desejo e influência dos pais.
Quando solicitado, imitava o vigário celebrando a missa. Então, a família o
colocou no Seminário Marista em Marilândia-ES. Terminado o ginásio desistiu da vocação e foi cursar o nível médio em Vitória. Posteriormente concluiu o curso de Ciências Contábeis. Em consequência de todas essas mudanças, escapou da roça.
Juarez, o mais novo da turma, aguentou o rojão do dia a dia da propriedade, pois no seu tempo estavam lá Alexandre e Bela, Maurilia e ele. Os
demais estavam estudando. Juarez concluiu o ginásio em Itarana e tomou o
mesmo rumo de Odílio e Geraldo Luiz no Colégio Agrícola de Campos.
Depois de formado foi trabalhar no Paraná e se casou com Andyara Tatarém,
em 1980.
5.16
O BURRO DO BAIANO
Maurilia sempre teve um espírito brincalhão. O burro (muar) do
Baiano, vizinho da propriedade, seguidamente dava uma fugida e frequentava os pastos de Alexandre juntamente com o seu rebanho. Determinado
dia, Maurilia prendeu-o no curral e amarrou em seu rabo, com muito capricho, uma lata vazia de querosene com capacidade de cerca de vinte litros.
Ao soltá-lo, o burro saiu em disparada, a lata batia em suas pernas e o animal ficou desesperado. Dava pulos, coices, rabixada, fazia de tudo e a lata
não soltava. Foi parar a quilômetros de distância, até que, depois de ficar
esgotado de cansaço, um vizinho pegou-o e retirou a lata. Isto foi causa de
muita bronca do Baiano, inclusive creditava a Maurilia de ter estragado o
seu burro. Segundo ele, após esse episódio, o animal, que era utilizado para
montaria, nunca mais foi o mesmo, pois se assustava com qualquer coisa e
quem estivesse na montaria corria o risco de ser derrubado, se não estivesse atento.
80
5.17
Odílio Sepulcri
AS FÉRIAS NA ROÇA
No período letivo, todos os filhos estavam estudando em diversas
localidades. Nas férias de julho e de final de ano, todos se reuniam na casa
dos pais. Era uma festa total. A casa ficava cheia de colegas de estudo, amigos, vizinhos e de candidatos a genro e nora.
Alexandre e Bela, apesar de pouco estudo, foram evoluindo junto
com os filhos e ficavam muito felizes quando todos estavam em casa e recebiam muito bem seus colegas e amigos. Alexandre era muito alegre e comunicativo, tinha assunto para qualquer pessoa em todos os níveis.
Cristina Demoner Muniz e Marcelo Colnago sempre passavam suas férias na casa de Alexandre e Bela.
Foto 51: Maria Luiza, Dagmar, Gildomar, Gizeli, Elizabeti,
Maurilia, Maria Margarida e Maisa – 1972
Fonte: Foto do acervo da família.
Em Santa Helena havia muitas frutas e várias opções para diversão:
andava-se a cavalo, de charrete, de trator, de Ford bigode, jogavam-se cartas,
além das brincadeiras tradicionais da cultura local.
Família Sepulcri
81
Alexandre fez alguns tanques e caixas d’água para a irrigação de
tomate e que, nos fins de semana, eram utilizados como piscina. Reuniam-se
muitos jovens e amigos em torno da “piscina” e se divertiam a valer.
A família Sepulcri, ora com Taffner, ora com Covre eram inseparáveis, estavam sempre juntas. Uma das coisas mais divertidas no meio rural
eram os bailes nos finais de semana e as festas juninas. O forró era realizado
em casas de famílias das comunidades, muitas vezes sem existir salões especiais. Os irmãos Joaquim e José Luiz Cancian também eram companheiros
para essas ocasiões. Francisco Taffner (Alemão) era o gaiteiro, tocava a noite
toda, fazia tudo isso por amor e prazer, sem ganhar nada em troca.
5.18
O CARNAVAL DE ITARANA
O carnaval de Itarana sempre foi muito animado. Constam dos relatos de Luciano Ventorim (1990) “que nos anos de 1932-1934, a cidade
possuía dois blocos carnavalescos, as famílias participavam com entusiasmo
e desfilavam até em Itaguaçu”.
Nas férias escolares, lá iam, todos mascarados, participar dos blocos de rua e depois dos bailes noturnos no Clube de Regatas do Flamengo de
Itarana.
No carnaval de 1970, Odílio estava de cabeça raspada, pois havia
passado no vestibular de Engenharia Agronômica. Reuniram-se a família
Taffner e Sepulcri: Evilásio, Eraldo, Solimar, Maria Helena, Eurides, Maurilia,
Maria Margarida, Geraldo Luiz, Odílio e os amigos e primos, como Maria
Cristina, que estavam passando férias na casa de Alexandre e Bela, e foram
para a primeira noite de carnaval num sábado. Durante o baile transcorreu tudo
bem. Já no final “quebrou o pau”: a turma de Itarana contra o grupo deles (de
família). Foi pontapé para lá, soco para cá, um tentando proteger o outro.
Geraldo Luiz e Evilásio deram soco até no vento. A confusão foi se desenrolando em direção à porta de saída do clube. De repente, era toda a cidade contra eles. Saíram correndo, pegaram o caminhão, antes conferiram se todos
estavam presentes, e fugiram em disparada. Ao contar o ocorrido para Alexandre, ele ficou muito preocupado e disse “se foi assim no primeiro dia, como
será nos demais”. No dia seguinte, encarregou-se de ir a Itarana e selar a paz
com todos os envolvidos. Falou com os pais, com os envolvidos, com a polícia
e a segurança, enfim, negociou para que todos se divertissem civilizadamente.
Nas noites seguintes, eles também reforçaram o grupo deles com a família
Cover e organizaram estratégias para enfrentar uma possível briga mas, felizmente, tudo transcorreu normalmente.
82
5.19
Odílio Sepulcri
AS BODAS DE PRATA
Alexandre e Bela casaram em 1940 e, em 26.10.1965, completaram
os seus vinte e cinco anos de casados – as Bodas de Prata.
Já se relatou, em outra parte desse livro, o casamento humilde que
Alexandre e Bela tiveram. Ao aproximarem-se as Bodas de Prata, Alexandre
e Bela, com os filhos já encaminhados nos estudos e a situação econômica e
financeira estabilizada, decidiram fazer a festa de seus sonhos nessa data.
Organizaram uma grande festa em uma noite na residência onde
moravam, com uma mesa farta, regada a bebidas, com a participação especial da Banda de Música “Lira Zeferino Xisto Toniato”, de Itarana. Para isso,
foi necessário um mutirão de mulheres e homens para fazer todos os preparativos que antecederam o evento.
Para a festa, foram convidados parentes, vizinhos e amigos da cidade de Itarana. Estima-se que compareceram cerca de 500 pessoas. Seu
irmão Luiz Sepulcri, que residia em Belo Horizonte, também estava presente. Alexandre e Bela ficaram muito felizes por esse momento de alegria que
puderam proporcionar e compartilhar com seus amigos.
Família Sepulcri
5.20
83
A HERANÇA
O sogro de Alexandre, Guerino Demoner, era fazendeiro bem sucedido que, além de muitos filhos, possuía muitas terras e um considerável
rebanho bovino e suíno.
Alexandre, embora tenha tido sucesso em seus empreendimentos,
construindo um razoável patrimônio, formado e educado uma bela família,
certamente alimentava a esperança de receber parte da herança de seu
sogro.
Guerino, seguindo a tradição italiana, doou todo o seu patrimônio
em terras para os filhos homens. Cada filho que se casava recebia uma colônia. Para as filhas doou dez mil cruzeiros para cada uma. Alexandre nunca se
conformou com esse fato, achava que todos os filhos deveriam ter direitos
iguais. Seguidamente, recordava isso com a família, batendo na mesma tecla
da igualdade.
Certo dia, Odílio, sensibilizado pelos argumentos de seu pai, prometeu que doaria a parte da herança que lhe tocasse a suas irmãs, talvez,
inconscientemente, querendo resgatar a justiça preconizada pelo seu pai.
Quando Alexandre e Bela faleceram, os oito filhos se reuniram e
distribuíram a herança entre si. Odílio cumpriu o prometido e fez a doação a
suas irmãs. Nessa partilha, embora estivessem envolvidos oito irmãos, todos
concordaram com os critérios de divisão e não houve reclamações, todos
chegaram a um consenso.
Para Maurilia, por concordância de todos, foi dado um lote de terras a mais, localizado em Vila Velha, como reconhecimento do seu trabalho
junto a Bela e Alexandre, pois ela permaneceu lá na roça ajudando-os enquanto os demais estudavam em outras cidades. Não se tratou de pagamento,
mas sim, de reconhecimento.
5.21
O LEGADO DE ALEXANDRE E BELA
Alexandre não admitia injustiça com as pessoas. Tinha sede de
justiça. Vez por outra ia ao Juiz de Direito, na Comarca Municipal de Itaguaçu, para denunciar atos de injustiça ou sair em defesa de amigos. Por várias
vezes, Alexandre, por achar injusto e o prejudicado não ter condições financeiras para tal, custeou despesas de advogados para que a justiça se fizesse.
Alexandre e Bela, além dos princípios de honestidade, ética, justiça, eram solidários, acolhedores e humanos.
84
Odílio Sepulcri
Foto 52: Alexandre e Bela
Fonte: Foto do acervo da família.
Alexandre e Bela dedicaram toda a sua vida à educação dos filhos e
foram felizes na escolha. Dos oito filhos, cinco concluíram o nível superior,
sendo dois Pedagogos, um Engenheiro Agrônomo, um Médico Veterinário,
um formado em Ciências Contábeis, um Técnico Agrícola e dois completaram a quinta série. Os estudos encaminharam os filhos para outras profissões
que não a da roça.
Além do legado educacional, os princípios éticos e morais podem
ser observados no comportamento dos filhos na divisão da herança relatada
nesse texto.
Então, Alexandre e Bela eram santos? Não eram santos; tiveram
seus momentos de acerto e erros como qualquer outro ser humano, mas souberam decidir, tiveram foco e persistência nesses objetivos e conseguiram
transferir os valores culturais e morais a seus filhos.
Em 1979, Alexandre e Bela venderam a propriedade em Santa Helena e mudaram-se para Itarana. Ambos ficaram doentes. Alexandre teve
uma depressão profunda e, nesse período, foi acolhido por Wenilton Dalmonico e esposa a quem a família deve muita gratidão. Alexandre faleceu em
18 de janeiro de 1983, com sessenta e sete anos. Após a sua morte, Bela foi
morar com Maria Margarida e Carlos, que dedicaram muito amor e carinho a
ela nos seus momentos finais de vida. Bela, como retribuição, doou a Brasília amarela para eles. Bela faleceu em 29 de setembro de 1985, com sessenta
e nove anos. Ambos estão sepultados no Cemitério Municipal de Itarana.
Família Sepulcri
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Foto 53: Maria Margarida, Odílio, Maria Luiza, Eurides e Gessy –
2011
Fonte: Foto do acervo da família.
Foto 54: Odílio, Carlos, Maria Margarida, Roberta, Maria Luiza,
Izequiel, Gessy, Eurides – 2011
Fonte: Foto do acervo da família.
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Odílio Sepulcri
Foto 55: Odílio e Maria Luiza – 2011
Fonte: Foto do acervo da família.
Foto 56: Em pé: Odílio, Maria Cristina, Maria Luíza e Geni.
Sentados: Eurides e Maria Paulina – 2011
Fonte: Foto do acervo da família.
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Foto 57: Geni, Gerusa, Maria Cristina, Maria Luiza, Odílio, Gessy
e Maria Paulina – 2011
Fonte: Foto do acervo da família.
Foto 58: Leila, Geni, Gerusa, Maria Cristina, Eurides, Maisa,
Anna Beatriz, Maria Luiza e Odílio – 2011
Fonte: Foto do acervo da família.
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Odílio Sepulcri
Foto 59: Eurides, Maurilia, Odílio e Maria Margarida – 2011
Fonte: Foto do acervo da família.
Foto 60: Gessy, Eurides, Maurilia, Odílio, Maria Luiza, Maria
Margarida e Carlos – 2011
Fonte: Foto do acervo da família.
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Foto 61: Gildo, Maria Luiza, Odílio, Maria Paulina, Eurides e
Gessy – 2011
Fonte: Foto do acervo da família.
Foto 62: Gerusa, Gildo, Gizeli, Odílio, Maria Paulina, Eurides e
Gessy – 2011
Fonte: Foto do acervo da família.
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Odílio Sepulcri
Foto 63: Maria Margarida, Odílio, Maria Luiza e Carlos – 2009
Fonte: Foto do acervo da família.
Foto 64: Odílio, Roberto, Juarez, Dagmar, Eurides, Maurilia,
Maria Margarida e Geraldo Luiz – 1985
Fonte: Foto do acervo da família.
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91
6
A PALAVRA DOS AMIGOS
A seguir o relato de alguns amigos que conviveram com Alexandre
e Bela.
6.1
LUIZ HELVÉCIO FIOROTTI – ENTREVISTADO EM
22.05.2011
Segundo ele, Alexandre foi pioneiro no plantio de tomate em Itarana e em desvendar o mercado da capital, Vitória, com os seus produtos.
Seu pai, José Fiorotti (Bepi) era muito amigo de Alexandre. Foi ele
que construiu sua casa, aproximadamente em 1951, o curral para os bovinos,
as caixas d’água para irrigação de tomate, entre outros. Todo o serviço de
pedreiro da propriedade de Alexandre era feito com o apoio do pedreiro e
construtor Bepi. Os materiais de construção utilizados na casa, tais como
telhas, tijolos, areia, cimento, madeira, foram transportados com o carro de
boi de Alexandre.
Nessa época, Bepi interessou-se por uma novilha que Alexandre tinha no pasto e quis comprá-la. Alexandre, de casa nova, necessitava de uma
bomba d’água para colocar água em sua residência, então, disse a Bepi:
“leve a novilha e me dê uma bomba”, não interessando o valor do negócio e
sim valorizando a amizade de longos anos de ambos.
Na construção da Igreja Matriz de Itarana, na década de 1940, Alexandre, que ainda era solteiro, participou no transporte da terra escavada para
a sua construção. A terra era colocada em cima de um couro de boi e puxada
pelos bois até o local onde seria colocada sobre caminhões para o destino
final.
92
Odílio Sepulcri
Alexandre liderou, com um grupo de amigos, a construção da igreja
de São Sebastião de Itarana. Para arrecadar recursos para a sua construção foi
organizado um sistema de leilões na Igreja Matriz durante vários dias.
Cada pedreiro existente em Itarana, inclusive Bepi, trabalhou uma
semana gratuitamente na construção da igreja.
Alexandre era o encarregado de contatar com os amigos e pessoas
conhecidas para fazer pedidos extras para a doação em benefício da igreja.
Assim, conseguiram realizar o objetivo final com a inauguração da Igreja.
Certa época o vigário da paróquia de Itarana quis demolir a igreja,
Essa atitude provocou uma grande indignação em Alexandre. Ele liderou o
movimento contra a demolição e depois de muita “encrenca”, o movimento
conseguiu manter a igreja intacta, perdendo apenas um lote de terras que
fazia parte de seu pátio.
6.2
ESTEVÃO COVRE – ENTREVISTADO EM 20.05.2011
Quando ele voltou da Itália, onde participou da Segunda Guerra
Mundial, em 1945, conheceu Alexandre Sepulcri que já era amigo de Augusto Covre, seu irmão. Foi um dos maiores amigos de seu irmão.
Em 1948, Alexandre teve a oportunidade de comprar uma propriedade rural em Cinco Pontões, município de Afonso Cláudio. Não tinha todo
o dinheiro disponível, então pediu dinheiro emprestado a seu sogro Guerino
Demoner que era fazendeiro e não o emprestou. Conseguiu o dinheiro com
seu amigo e compadre José Perim, sem juros e sem prazo fixo para pagamento. Nessa propriedade, Alexandre formou um grande cafezal e ganhou
muito dinheiro.
No início de sua vida, quando ia se casar, Alexandre ajudou Estevão a construir a sua primeira casa em Itarana. Estava com casamento marcado, mas depois não deu certo. Depois, algumas vezes, Alexandre o levou à
casa de seu sogro para conhecer as irmãs solteiras de Bela, para ver se dava
namoro, mas não deu certo.
Alexandre era muito trabalhador, honesto, exigente e um excelente
vizinho. Quando iniciou o transporte de café com carro de boi para a Empresa Toniato, seu irmão, Augusto, emprestou-lhe a primeira junta de bois. Alexandre puxava o café de madrugada e, por essa razão, nunca cobrou o frete
do transporte de Augusto.
Na década de 1950, instalou um sistema de aquecimento de água
através da adaptação de serpentina no fogão a lenha.
Família Sepulcri
93
Foi pioneiro no plantio de tomate e iniciou a comercialização de
seus produtos nos mercados de Colatina e Vitória.
Por duas vezes, Alexandre tentou vender a sua propriedade e ele
interviu, aconselhando-o a não vender. Em 1978, Alexandre vendeu e se
arrependeu, concluiu Estevão.
6.3
JOAQUIM CANCIAN – ENTREVISTADO EM 21.05.2011
Joaquim, amigo e vizinho da família, filho de José Cancian e
Femínea Viganó, era a quem Alexandre recorria para fazer companhia à
família que tinha medo de ficar só em suas viagens frequentes, que duravam normalmente quinze dias, quando ia a trabalho à propriedade de Cinco
Pontões. Joaquim cresceu junto com a família e se tornou grande amigo e
companheiro. Nos finais de ano, era sempre convidado para passar o natal
junto com a família.
Joaquim relata que, logo que Alexandre se mudou para lá, puxava
café de carro de boi dos vizinhos para o Toniato. No transporte do café, Alexandre trabalhava sempre de madrugada.
Nesse período, Alexandre administrou, via processo de meação,
duas lavouras de café, sendo uma das lavouras de Ângelo Viganó e outra de
Sebastião Taffner.
Em 1954, Alexandre adquiriu um trator, equipado passando a prestar
serviço de preparo de solo (aração e gradagem) para os vizinhos e, também, a
preparar o solo de suas várzeas para o plantio de arroz. Essa área era compartilhada com os vizinhos num trabalho de parceria na produção de arroz.
Quando Alexandre era mais jovem, jogou futebol no time do Toniato, juntamente com Hilário e Zeferino Toniato (Tatinha), Luiz Pesente e
Sebastião Taffner.
Alexandre, no seu moinho, moía milho, transformando-o em fubá
para toda a comunidade, à base de troca. Para cada duas quartas de milho
(vinte litros), devolvia duas quartas e meia de fubá. Tinha um apiário de
abelhas europeias, produzia mel e fornecia para a vizinhança.
Posteriormente, por volta de 1957, Alexandre mudou de atividade,
iniciou o plantio de tomate e abriu esse comércio com os mercados de Colatina e Vitória. Vários vizinhos foram influenciados por ele e iniciaram, também, essa nova atividade na propriedade.
Alexandre era muito prestativo e, quando necessário, levava os vizinhos doentes ao médico. Certa vez, Joaquim tinha uma dívida junto ao
94
Odílio Sepulcri
Banco do Brasil, em função de haver financiado sua lavoura e houve frustração de safra. Não tinha alternativa para quitar o Banco, senão vender a propriedade. Alexandre, sabendo disso, fez uma proposta a Joaquim, para plantar uma lavoura de tomate em parceria. Ele forneceria o preparo do solo,
todos os insumos e a irrigação, Joaquim participaria com a mão de obra.
Quando terminou de colher a safra de tomate, havia pagado toda a dívida e
ainda sobrou dinheiro em caixa.
6.4
ANASTÁCIA RIZZI VIGANÓ – ENTREVISTADA EM
21.05.2011
Anastácia lembrou de parte da trajetória de Alexandre na parceria
do plantio de arroz e na construção da Igreja, onde cada família doava uma
saca de café. Falou da charrete, do transporte dos vizinhos doentes para o
hospital e das festividades da Semana Santa na carreta do trator. Todos esses
fatos já foram relatados detalhadamente nesse livro.
Anastácia relatou que a sua família perdeu a propriedade onde morava pela execução de uma dívida junto ao banco. Ao falarem com Alexandre sobre o assunto, imediatamente ele os tranquilizou e disse que não ficariam desamparados. Cedeu um pedaço de terra para construírem a sua moradia, onde residem até hoje.
6.5
JOSÉ LUIS GIOSTRI – ENTREVISTADO EM 05.09.2011
Informou que ele, sua mãe e mais três irmãos mudaram-se para as
terras de Alexandre quando bem pequenos. Aos treze anos, ele começou a
trabalhar na roça e sua mãe Dona Mariquinha lavava roupa para a família.
Ele aprendeu a dirigir o trator com Alexandre e, a partir daí, ajudou bastante
na aração e gradagem das terras.
Além disso, ele também tomava conta do gado junto com Maurilia.
Havia vacas muito bravas. Quando nasciam os bezerros ele os carregava e
Maurilia vigiava as vacas para não atacá-lo.
Antes de possuir o trator, o Sr. Alexandre tinha o carro de bois,
cortava lenha e levava para vender na cidade de Itarana.
6.6
DÉLIO GIOSTRI – ENTREVISTADO EM 23.05.2011
Seu pai, Gino Giostri, havia se separado de sua mãe Maria Giostri
(Mariquinha) e a deixou com quatro filhos, José, Irma, Délio e Iria. Passa-
Família Sepulcri
95
vam por sérias restrições financeiras e até alimentares. Alexandre, ao ser
informado, foi buscá-los e alojou-os em uma pequena casa em sua propriedade em Santa Helena. Nessa época, Délio estava com sete anos. Alexandre
ofereceu local para morarem e, principalmente, para plantarem arroz, mandioca, banana e milho. Arranjou trabalho para Mariquinha e José e fornecia
farinha de milho (fubá) para fazer polenta.
Nessa época, Alexandre levantava de madrugada e ele, quando
mais crescido, acompanhava-o para transportar café com o carro de boi do
Ângelo Viganó até Itarana, para a máquina de beneficiamento da Maria do
Galera. Na volta, passavam na comunidade de Ferrugem e traziam cana-de-açúcar para alimentar o gado, no período de seca, quando os pastos estavam
debilitados.
Alexandre era honesto, trabalhador e muito sistemático. Não admitia que os animais dos vizinhos invadissem sua propriedade, especialmente
os suínos que devoravam as lavouras de inhame. Avisou e reclamou com
os vizinhos por várias vezes, mas nunca apareciam os donos dos animais.
Depois de ter ajustado com o Juiz de Paz de Itarana, Sr. Carlito Aguiar,
Alexandre decidiu prender os suínos que invadiam sua plantação e não
mais soltá-los, mesmo que lhe implorassem. Aí, começaram a aparecer os
donos dos animais. Dessa forma, Alexandre cevou vários suínos. Certo dia,
Alexandre prendeu um porco de Arone Taffner. Ao ser procurado pelos
seus filhos, Alexandre (Baiano) e Francisco (Alemão), para soltar o animal,
Alexandre foi inflexível, mantendo-o preso. Certa manhã, Baiano e Alemão
apareceram armados com espingarda e deram uns tiros para cima, assustando toda a família, soltaram e levaram o porco sem o consentimento de
Alexandre.
A primeira charrete de Itarana foi de Alexandre, construída pelo
seu pai Pietro Sepulcri. Nessa época Délio acompanhava Dona Bela e as
crianças de charrete nas visitas a seus pais, Guerino e Maria Demoner e a
seus irmãos, no Bom Destino. O Senhor Pietro Sepulcri, já bem velhinho,
fazia artesanato de madeira para que ele vendesse para as comunidades vizinhas, onde obtinha alguma renda.
De tempos em tempos, para que o moinho de milho funcionasse
bem, havia a necessidade de fazer a limpeza do canal, de cerca de oitocentos
metros, que fornecia água para a roda d’água mover o moinho. Esse canal
sempre era limpo pelos vizinhos. Certa vez, as famílias Viganó, Cancian,
Mapelli e Guarnieri estavam fazendo a limpeza e havia muitos peixes (bagre,
lambari, traíra e outros) e, à medida que faziam a limpeza do canal, iam
capturando os peixes e colocando-os em pequenos cercados com água limpa.
Numa dessas ocasiões, Délio e Odílio, sem que os outros soubessem, coleta-
96
Odílio Sepulcri
ram todos os peixes e prepararam uma bela moqueca. Quando foram procurar os peixes, nada encontraram.
Alexandre gostava de jogar bisca (jogo de cartas da cultura italiana) e Délio era o seu parceiro preferido, sempre jogavam juntos. Quando
havia jogo na casa de Alexandre, o lanche era certo, Ficava torcendo para
que esse dia logo chegasse. Nas festas de final de ano, ele sempre o convidava para a ceia do Natal que era bastante farta. Numa dessas festas, nas vésperas do Natal, Délio passou mal do intestino e teve que fazer regime, logo se
privando dos comes e bebes, o que foi, segundo ele, uma de suas maiores
tristezas.
Na propriedade de Alexandre, Délio e família moraram por cerca
de oito anos.
6.7
WALTER COVRE – ENTREVISTADO EM 05.09.2011
Walter Covre informou que Alexandre Sepulcri e seu pai,
Augusto Covre, eram muito amigos e estavam juntos todas as semanas. O início da vida do Sr. Alexandre foi com carro de bois. Esse carro
era diferenciado dos outros, porque as rodas eram de pneus de borracha enquanto os demais eram de madeira. O carro de bois era utilizado para puxar
café para a máquina de beneficiamento que era da família Toniato.
Após a compra do trator, Alexandre arava terra para todos da redondeza. Um fato lembrado por Walter foi que, por ocasião de um trabalho
feito com trator na propriedade de seu pai, ficou uma parte sem ser lavrada e
Walter foi completar com a enxada. Quando o Sr. Alexandre viu, falou para
ele. “Quer ver que, com apenas uma passada com a grade, eu capino isso
tudo” e assim o fez.
Walter se lembra dos dois caminhões, sendo um amarelo que era
dirigido pelo Senhor Alexandre e um verde dirigido pelo Ernesto Blanck
(Ernesto trabalhou uns seis meses). Ambos transportavam verduras para o
mercado de Vila Rubim em Vitória. Certa vez, em plena Vila Rubim, um dos
caminhões empinou, dando um enorme susto, pois a mercadoria de maior
peso estava toda na parte traseira da carroceria, o que provocou esse fato.
Nem todos sabiam, mas o Sr. Alexandre não olhava no retrovisor
para dar marcha ré no caminhão e, quando o fazia, já esperava a batida no
que estivesse atrás e até fazia pose.
O Sr. Alexandre sempre foi muito caprichoso e se preocupava com
o próximo. Toda vez que ele ia à casa deles, reclamava que tinha que passar
Família Sepulcri
97
pelo curral e dizia para seu pai que ele deveria fazer um calçamento naquela
entrada, pois era inadmissível ter que passar por estrumes de gado para chegar à residência. Conta, ainda, que ele e seus irmãos gostavam muito de suas
visitas, pois ele levava os filhos, especialmente Odílio e Geraldo Luis e brincavam muito.
Havia a charrete que era utilizada para levar os filhos do Sr. Alexandre (Eurides, Maria Margarida, Odílio e Geraldo Luis) para estudar em
Itarana e ele e Nicolau, seu irmão, iam juntos. Muitas vezes, dormiam na
casa da família Sepulcri e, no dia seguinte, voltavam para casa, atravessando
o morro que havia entre as duas residências.
O Sr. Alexandre, além de franco, era muito brincalhão. Contou
que, certa vez, comeu muita jabuticaba e ficou com prisão de ventre. Foi
necessário recorrer ao médico, Dr. Demócrates, que aplicou nele um supositório e que ele falou para o médico: “O senhor faz isso com os pacientes e
fica aí bem tranquilo, não é doutor?”
Além de todo o trabalho que realizava ainda sobrava tempo para
pescarem, à noite, no rio que ficava próximo a sua casa. Ele e D. Bela iam de
trator e pescavam muitos bagres. Eles pescavam de cima da ponte da estrada
que liga Afonso Cláudio a Itarana.
6.8
ANTONIO JOSÉ VIGANÓ – ENTREVISTADO EM
04.09.2011
Antônio José Viganó informou que estava com Alexandre Sepulcri
quando tombou o caminhão de frete. Saíram de madrugada para chegar ao
amanhecer no mercado. Alexandre havia carregado o caminhão na tarde
anterior. Além dele e Alexandre, estavam na cabine do Chevrolet Jaime
Muller e José Martinelli. Só ele se machucou, ficando desacordado. Alexandre,
desesperado achando que ele havia morrido, pegou-o nas costas e saiu em
busca de socorro. Nesse momento, passou pelo local o ex-prefeito de Itarana,
Antônio de Martim, que os encaminhou ao hospital da cidade de Fundão.
Antônio se recuperou em seguida, foi apenas o susto. O caminhão perdeu os
freios e saiu desgovernado serra a baixo e Alexandre o jogou contra o barranco.
O caminhão subiu até certa altura e capotou sobre o asfalto, despejando toda a carga de tomate. A pista ficou toda vermelha de tomate. Foi um
tremendo susto. Antônio afirma que Alexandre, ao perceber que o veículo
não tinha freios e aumentava a velocidade serra abaixo, gritava por todos os
Santos. Ele crê que foi a fé que os salvou desse acidente.
98
Odílio Sepulcri
Junto, na cabine, havia dois garrafões de pinga e não quebraram. A
carga total era de 400 caixas de tomate que formavam sete pilhas de altura,
sendo 190 só dele. Toda a carga foi perdida e o Sr. Alexandre propôs pagar
os prejuízos, mas os donos das verduras não aceitaram, pois ninguém tinha
culpa do acontecido. Somente Pirola quis receber.
Alexandre era uma pessoa muito honesta e trabalhadora. Comprou suas terras com muito sacrifício, primeiro de Pedro Guarnieri e, depois, foi comprando dos vizinhos, ampliando assim o seu território e adquirindo bens. Com o primeiro carro (caminhonete verde), levava verduras
para Colatina.
Por ocasião dos festejos na Igreja de Itarana, ele transportava os vizinhos de carro de boi e cobrava uma pequena quantia.
Os dois primeiros bois chamavam-se Laranja e Inhapim (um vermelho e outro amarelo) e os outros dois, Jagunço e Mimoso. Esses bois levavam 40 sacas de café a frete em cada viagem.
Alexandre trabalhou muito na construção da Igreja Matriz de Itarana com a junta de bois, tirando terra arrastada sobre um couro de boi (escavação atrás da Igreja).
Alexandre comprou uma mula do Padre José, então Vigário de Itarana, para levar café em coco do morro, próximo à casa de Ângelo Viganó, seu
pai. Alexandre colhia o café no alto do morro e transportava um saco nas costas
e dois sacos no lombo da mula. No pé do morro, a cerca de 500 metros de onde
havia colhido, lavava-o para tirar a terra e demais impurezas, secava-o ao sol,
no terreiro e colocava no carro de bois e daí para a máquina de beneficiamento.
6.9
ÉLCIO LUIZ GUARNIERI – ENTREVISTADO EM
21.05.2011
Élcio recordou toda a trajetória da família de Alexandre, iniciando
com o transporte de mercadoria com o carro de boi, posteriormente a aquisição do trator Ford, passando pela prestação de serviço de aração e gradeação
para toda a vizinhança e comunidades do seu entorno. Na lida com o gado,
Maurilia era a responsável por ordenhar as vacas diariamente. Citou o plantio de arroz compartilhado com a vizinhança. A aquisição da camionete Ford
1929 que, além de transportar a sua família para a cidade de Itarana, dava
carona aos vizinhos, quando esses iam assistir à missa na cidade e atendia as
emergências médicas da comunidade, transportando os doentes aos médicos
e hospitais. Alexandre estava sempre pronto para servir aos vizinhos no que
precisassem.
Família Sepulcri
99
Fez referência da amizade de seu pai com Alexandre, inclusive era
seu pai quem cortava o cabelo de toda a família.
Alexandre esteve no Guarataia, comunidade onde moravam, para
convidar seu pai a trabalhar no plantio de verduras, especialmente tomate, na
propriedade de Lilia Demoner, em Bom Destino. Essa propriedade era administrada por Alexandre e lá permaneceram durante oito anos. Esse convite
foi muito importante, pois melhoraram sua situação econômica e financeira e
adquiriram a propriedade onde residem até hoje.
6.10
MARIQUINHA E GILDO – ENTREVISTADOS EM 20.05.2011
Mariquinha e Gildo tiveram um papel de destaque no apoio aos
estudos dos filhos de Alexandre e Bela. Quando Odílio iniciou os estudos no
Ginásio de Itarana, eles o abrigaram em sua casa. Por serem as aulas no período noturno, das dezenove às vinte e três horas, Odílio ia aos finais de tarde
e retornava na manhã seguinte, pernoitando na casa de Mariquinha e Gildo.
Como não tinha espaço no interior de sua casa, Mariquinha colocou uma
cama para Odílio em seu atelier de costura. O coração de Mariquinha era tão
bondoso que ela não se importava com aquela cama, tirando toda a estética
de seu local de trabalho e deixando quase sem espaço para as suas clientes.
Quando mudaram para Vitória, sua casa foi passagem obrigatória
de Odílio, Geraldo Luiz e Juarez para refeições, banhos e pernoites, que,
por estudarem em outros estados, tinham que fazer conexão rodoviária em
Vitória.
Além disso, eles estavam sempre disponíveis para acolher e abrigar
com todo amor e carinho em sua residência, sempre que a família de Alexandre e Bela precisassem por algum motivo de saúde, pois, em Vitória,
havia mais recursos médicos.
Por tudo isso, têm uma gratidão imensa por essa família que apoiou
a família Sepulcri nos momentos necessários. Se tiveram êxito na sua caminhada, grande parte devem creditar a Mariqunha e Gildo.
Mariquinha e Gildo relatam que:
Na sala de jantar da casa de seus pais, Guerino e Maria, existia uma
grande mesa para abrigar todos os familiares que eram quatorze irmãos.
Foi num desses momentos de muita alegria, na hora do jantar, que foi
anunciado o casamento de Bela e Alexandre.
No início do casamento, quando foram morar no Triunfo, tiveram muita dificuldade pois, segundo Gildo, possuíam um só cobertor. Lá, conseguiram
100
Odílio Sepulcri
algum dinheiro e, após quatro anos, foram morar em Santa Helena, com as
três filhas nascidas no Triunfo. Gildo afirma que conheceu Alexandre em
1948, ele gostava de jogar bocha, era muito querido e divertido.
Quando mudaram para Vitória, moravam em uma casa com pouco espaço.
Sempre que Bela tinha problema de saúde, Alexandre, mesmo tendo condições de hospedá-la em outro local, fazia questão de deixá-la na casa de
Mariquinha, pois sabia que seria tratada com amor e carinho e poderia
retornar com tranquilidade para a sua casa e cuidar dos negócios.
Quase todas as férias, Maria Cristina, sua filha, passava na casa de Alexandre e Bela. Numa dessas passagens ela foi infectada com esquistossomose,
pois as águas dos rios que banhavam a comunidade eram contaminadas.
Alexandre e Bela tiveram um grande mérito nos estudos e na formação
dos filhos.
6.11
JAIR MAPELI – ENTREVISTADO EM 04.09.2011
Jair, quando ainda adolescente, foi trabalhar com a família de Alexandre na lida com a cultura do tomate e outros legumes e verduras. Apesar
de sua juventude, era trabalhador e para ele não havia tarefa difícil. Pela sua
idade, próxima à de Odílio e Geraldo Luiz, era tratado com membro da família e participava das refeições juntamente com todos os componentes da
casa.
Jair era muito econômico, tinha uma boa noção de finanças pessoais,
guardava cada centavo que ganhava, talvez a principal razão de seu sucesso
após deixar os Sepulcri. Adorava chamar o Odílio de “moleirão” que era o
seu apelido na família.
Jair disse que aprendeu a trabalhar em serviço braçal com Alexandre.
Recebia semanalmente e tudo era anotado em um caderno.
Ele se lembra do trator, da charrete e da camionete. O Sr. Alexandre era
muito positivo, segundo ele, só apoiava as coisas certas, não tolerava injustiças.
6.12
EVILÁSIO TAFFNER – ENTREVISTADO EM 21.05.2011
Evilásio é afilhado de Alexandre e Bela. Cresceu juntamente com
seus filhos, pois possui praticamente a mesma idade de Odílio. Da infância à
juventude, juntamente com seus irmãos, foram companheiros para todas as
jornadas, no jogo de bola, na escola, nas brincadeiras de crianças, companheiro de namoro, dos bailes de carnaval, entre outros.
Família Sepulcri
101
Quando estavam de férias, após visitar os pais, a primeira casa que
iam era a de Sebastião e D. Helena, para compartilhar seus momentos de
alegria, contar as novidades e colocar a conversa em dia, depois de longo
período distantes uns dos outros. Evilásio e irmãos tiveram pais maravilhosos, era a sua segunda casa. Não foi por acaso que Sebastião foi um dos maiores amigos de Alexandre.
Evilásio comenta: nós fomos criados juntos, compartilhamos quase
tudo, as mesmas histórias e fatos, portanto teria pouco a acrescentar nesse
relato.
6.13
DEPOIMENTO DE CARLITA MARIA DE CASTRO E
COELHO
Em 10.11.2009 às 20:52 horas, “Carlita Castro” <carlita_m_
[email protected]> escreveu:
Senhor Odílio,
Com minhas respeitosas desculpas, ouso me dirigir ao senhor. Há
muito venho tentando um contato com sua família. Hoje, graças a Deus,
consegui.
Pesquisei no Google o nome de seu pai e o encontrei na dedicatória
de sua tese de mestrado.
Sou professora, moro no município de São Tiago, MG, casada, tenho quatro filhos, participo de movimentos e pastorais católicas.
Conheci seus pais em Itarana, mais precisamente em Santa Helena.
Era janeiro de 1976. D. Bela, assim a chamava, era uma santa mulher. Muito
caridosa, me acolheu em sua casa, sem nenhuma referência. Morei lá mais de
um mês. Depois arranjaram para mim uma outra casa, próxima à propriedade
do Sr. Alexandre Taffner e D. Amorilda. Todos os dias ia à sua casa buscar o
litro de leite que sua mãe me dava.
Seu pai, o senhor Alexandre Sepulcri, era muito alegre, jovial. Trabalhava com um caminhão amarelo no transporte da SBE, companhia que
construía linhas de eletrificação.
Na “Santa Helena” morava também o Renildo, que auxiliava D.
Bela nos afazeres da fazenda e, assim como eu, era quase da família. Conheci alguns de seus irmãos que foram passear na fazenda por esse tempo, não
me lembro seus nomes, nem do senhor. Lembro-me que um era veterinário,
um advogado e outro engenheiro. Ou estavam estudando. Havia uma irmã
sua que morava em Itarana e tinha três meninas lindas, cujos nomes também
102
Odílio Sepulcri
não me lembro. Todos eram o orgulho de D. Bela e Sr. Alexandre. Esse
amor fez com que eu vencesse a barreira da exclusão social e, corajosamente, acolhesse a filha que estava esperando, sozinha. Não é por coincidência
que ela se chama Helena e, assim como D. Bela, hoje eu também me orgulho
muito dela.
Belos tempos! Fui feliz. Experimentei a acolhida e o carinho de
uma família completamente estranha num dos momentos mais difíceis da
minha vida. Sua mãe foi para mim, gratuitamente, o porto seguro, a conselheira, a “mãe”.
Pensei nesses anos todos, dizer-lhes – a D. Fidélia e ao senhor
Alexandre – pessoalmente, tudo isso. Infelizmente, li ontem na citada dedicatória, que eles já não estão entre nós. Com certeza já receberam o prêmio
por essa e tantas outras caridades que fizeram.
Foi por isso que, num impulso de gratidão, tomei a iniciativa de
escrever-lhe.
Mais uma vez, desculpe-me.
Cordialmente.
Carlita Maria de Castro e Coelho.
---------- Mensagem encaminhada ---------Remetente: “Odílio Sepulcri” <odí[email protected]>
Data: 19.11.2009 16:40
Assunto: Re: GRATIDÃO!
Para: “Carlita Castro” <[email protected]>
Carlita Maria, boa tarde!
É muito agradável e confortante ter boas informações de nossos
antepassados.
Tenho o hábito de deletar os “e-mail” de pessoas que não conheço.
Quando vi a palavra gratidão, despertou-me a curiosidade e fiquei muito
feliz com suas informações.
Gostei de sua iniciativa.
Um grande abraço
Odílio
Família Sepulcri
103
De: Carlita Castro [mailto: [email protected]]
Enviada em: segunda-feira, 14 de dezembro de 2009 22:27
Para: odí[email protected]
Assunto: MAIS HISTÓRIAS.
Uma história de amor:
Sempre fui uma garota muito mimada. Tenho mais dois irmãos,
homens. Sou a filha mais velha e única mulher. Meu pai tinha verdadeira
adoração por mim. Nunca me faltou nada. Tínhamos um sítio em São Tiago
e meus pais trabalhavam muito. Minha mãe procurava me enfeitar com o
maior bom gosto. Sonhavam para mim uma carreira brilhante de professora
primária. Apesar de ter um defeito visual bem aparente – um não, dois: miopia e estrabismo – sempre dei conta de tudo na escola. Era o orgulho de minha família, materna e paterna.
Quando tinha 14 anos – 1967 – meu pai faleceu, com 38 anos, de
problemas cardíacos incontroláveis e incuráveis para a época. Senti-me perdida. O mundo acabou. Pensei em matar-me. Senti-me rejeitada pela família.
Mas minha mãe superou tudo e venceu aquele momento.
Eu não sabia o que fazer com o amor que sentia por meu pai. Tinha
uma carência enorme de ser amada. Passei a procurar desesperadamente um
“príncipe encantado” que pudesse substituir meu pai. Em todos os sentidos.
Conheci muitos, mas logo se transformavam em “sapos”.
Estudei o Curso Normal. Formei-me com 18 anos. Fui professora
numa comunidade rural, em 1971. No ano seguinte trabalhei em Belo Horizonte, quando encontrei um “Grande Sapo”. Voltei para São Tiago. Cinderela esfarrapada.
Continuei trabalhando em São Tiago, na escola estadual. Em 1975
prestei vestibular para o curso de Letras na Faculdade D. Bosco de São João
Del-Rei. Estudei até setembro. Encontrei o Príncipe Encantado.
Era mais velho que eu oito anos, bonito, simpático, carismático,
educado, carinhoso, dançava muito bem, vinha do Rio Grande do Sul e falava “gauchês”. Era encarregado da SBE (Companhia de Eletrificação que
construía torres de transmissão para Furnas). Ganhava muito bem e tinha um
TL azul novinho. Precisava mais?
Deixei faculdade, escola estadual, colégio particular – onde estava
lecionando Educação Artística e Educação Moral e Cívica – família, amigos,
alunos, raízes. Acompanhei-o quando ele foi transferido para Barroso/MG.
104
Odílio Sepulcri
Minha mãe e meus irmãos quase morreram. Ficaram envergonhados. Mudaram-se de São Tiago para Oliveira/MG e não quiseram nem saber
de mim. Muitos amigos também me abandonaram.
Moramos dois meses em Barroso. Voltamos para São Tiago e só
uma tia nos acolheu. Ele trabalhou mais dois meses e, em janeiro de 1976,
foi transferido para ITARANA/ES.
Fiquei alguns dias organizando algumas coisas e, no final do mês,
viajei sozinha para o Espírito Santo. Já estava grávida e “me achando”. Para
mim, não existiam barreiras nem obstáculos.
Fiz uma viagem muito cansativa. À noite. São Tiago - São João
Del-Rei-Belo Horizonte-Vitória-Itarana. Gastei 36 horas! Sem dinheiro.
Aflita para chegar e ser recebida em minha nova casa.
Às 13 horas, num domingo cheio de sol, cheguei a Itarana. Não havia ninguém na praça onde o ônibus parou. Desci e sentei-me num banco.
Meia hora depois o Príncipe chegou. Cheirando álcool. Abraçamos. Ele me
chamando de “Tampinha de Coca-cola”, disse estar muito cansado e convidou-me a sentar no gramado. Deitou-se no meu colo e dormiu. Fingi dormir
também. Ouvia quando pessoas passavam e faziam comentários, penalizadas.
Diziam que ele aprontava nas noites itaranenses. Claro que eu não acreditei.
Por volta das 16 horas, acordou. Chorando. “Pobre Tampinha!
Deve estar com fome! Vou levá-la para conhecer um amigo”.
O amigo era um motorista contratado pela SBE. Jovial, moderno,
compreensivo. Dizia ter uma esposa muito carinhosa, também compreensiva
e moderna, “bacana” mesmo. Moravam numa fazenda que ele ainda não
conhecia.
Acreditei e aceitei o convite.
Não estava enganado. Chegamos à casa do Sr. ALEXANDRE SEPULCRI E D. BELA. Fomos recebidos com todas as honrarias. (Depois vim
saber que eles não estavam preparados para aquela visita!).
No início fiquei constrangida. Mas o carinho e atenção de D. Bela
logo me deixaram à vontade. Ela percebeu que eu estava com muita fome e
grávida. Levou-me para a cozinha e preparou-nos UM ALMOOOOOÇO.
Logo escureceu. O Príncipe desculpou-se que já era tarde. Precisava
trabalhar cedo no dia seguinte. Deixou transparecer que não tinha para onde
me levar. D. Bela e Sr. Alexandre insistiram para que eu ficasse. Fiquei.
No dia seguinte, Sr. Alexandre saiu cedo. Ficava a semana inteira
na cidade. No sábado vinha para casa. D. Bela e eu, ansiosas, esperávamos
Família Sepulcri
105
os dois. Preparamo-nos. Ela fez quitandas, bebidas e comidas que seu marido
gostava. A casa estava “nos trinques”. Sr. Alexandre chegou no caminhão
amarelo. Sozinho. Não me trouxe nem uma bala. Abraços ele disse que trazia. Desculpas também. Assim aconteceu durante três finais de semana.
Fiquei muito decepcionada. Ouvia e Renildo contava que Sr. Alexandre estava muito bravo com o amigo.
Numa tarde de sábado o Príncipe veio. No TL azul, já não tão
novo. Tinha batido. Sem mais, nem menos, me levou a morar na casa que a
família tinha próximo à propriedade do Sr. Alexandre Taffner. Não deixou
dinheiro, nem comida. Só lenha para que eu cozinhasse mamão verde que
colhia na horta e ferver o leite que buscava todos os dias na casa de D. Bela.
Nessas idas e vindas, quase sempre almoçava com ela.
Que comida gostosa! Até hoje me lembro bem.
Dia nove de abril de 1976, outro domingo, sem nenhum sol, fui arrancada violentamente de lá. Deixada na rodoviária de Belo Horizonte, no 6°
mês de gravidez, com uma nota de cem cruzeiros e uma passagem para Oliveira/MG nas mãos, nunca mais tive notícias de Itarana, nem dos amigos que
lá deixei – os Sepulcri, Taffner, Fiorotti, Chiabai, Demoner – muito menos
do PRÍNCIPE-SAPO.
UFA! Quase escrevi o livro que tenho nos meus sonhos.
Foi você quem pediu.
Mais abraços.
Carlita Maria Castro Coelho
106
Odílio Sepulcri
Família Sepulcri
107
7
RELATO SOBRE OS FILHOS DE
ALEXANDRE E BELA
A seguir um breve relato da trajetória dos filhos de Alexandre e
Bela, após o casamento de cada um.
Foto 65: Juarez, Roberto, Geraldo Luiz, Odílio, Maria Margarida,
Dagmar, Maurilia e Eurides – 1985
Fonte: Foto do acervo da família.
7.1
EURIDES SEPULCRI
Eurides e Gessy nasceram e viveram em Itarana-ES, até a juventude. Porém, o maior contato entre eles foi quando Eurides cursava o antigo
108
Odílio Sepulcri
Ginásio. Muito embora a diferença de idade entre eles seja pequena, Gessy
foi professor da Eurides no Ginásio Itarana (Geografia e OSPB), assim como
de outros de seus irmãos. Nessa época ele era bancário e havia feito um Curso de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário, para dar aulas no
Estado do Rio de Janeiro.
No ano de 1984, quando Eurides e uma colega regressavam de um
trabalho realizado no Norte do Estado, precisamente da cidade de Fundão,
embarcou no mesmo ônibus um velho conhecido, ex-professor e contemporâneo, Gessy Amaral. Por coincidência essa colega é parente do mesmo.
Durante a conversa, Gessy informou que havia terminado o seu casamento.
A partir desse dia começaram os telefonemas de Gessy com o objetivo de falar com a sua colega e aproveitava para dar umas palavrinhas com
a Eurides e “jogar charme”. Nessas conversas ficou-se sabendo que ambos
gostavam de jogar baralho. Um belo dia, ele foi convidado para ir à casa de
Eurides em Laranjeiras, isto é, em 28 de outubro de 1984. A partir dessa data
iniciou-se um relacionamento, faziam rodadas de jogos de baralho em finais
de semana ou à noite quase sempre com o irmão Roberto, a cunhada Maria
José que residiam próximo, além de outras colegas da Eurides. Havia também jogos de Canastra e Buraco com os vizinhos, Luiz Dalfine e sua esposa
Conceta, os quais eram muito queridos da família.
Gessy, por ter um espírito “brincalhão”, diz que Eurides, na época
em que era estudante, ficava encantada por ele. Ele sempre se lembra do
uniforme que ela usava (saia pregueada) e com isso facilitava o seu rebolado.
A mãe de Eurides, bem como as irmãs que residiam em Itarana,
demonstraram interesse em rever Gessy, pois o mesmo ficou por longa temporada ausente, residindo em outras cidades.
O relacionamento frutificou. Era desejo de ambos viver juntos,
principalmente por incentivo de parentes e amigos. Os anos foram passando
e atualmente têm 27 anos de convivência. Residiram em Laranjeiras por
vinte e seis anos. Gessy foi sempre um grande companheiro, apoiando Eurides na melhoria da residência e acolhendo as sobrinhas dela para residirem
em sua casa a fim de estudar. Quem ficou mais tempo em sua casa foi Karla,
por nove anos.
Atualmente residem em Jardim da Penha, Vitória-ES e a sobrinha
Gizeli mora com eles.
Como estão aposentados, o hobby deles, hoje em dia, são as viagens. Frequentemente, viajam pelo Brasil e recentemente foram à Europa,
ocasião em que visitaram Portugal, Espanha, França e Itália.
Família Sepulcri
109
Foto 66: Eurides e Gessy – Paris, 2011
Fonte: Foto do acervo da família.
7.2
MAURILIA SEPULCRI GONÇALVES
Maurilia casou-se com José de Souza Gonçalves em 30 de Março de
1975, na Igreja de São Pedro, no município de Afonso Cláudio – ES, em cerimônia realizada pelo mesmo padre que casou Alexandre e Bela – Padre Paulo.
Por causa de uma mudança de emprego de José, em 1976, mudaramse para Governador Valadares – MG, onde nasceu Alessandra Sepulcre Gonçalves, primeira filha do casal, em 27 de Outubro de 1977.
Após o nascimento de Alessandra, Maurilia e José mudaram-se novamente para o Espírito Santo, vivendo por um tempo em Itarana e depois se
mudando para uma casa em Vila Velha, comprada por Alexandre.
A vida seguiu e, em 11.03.1980, Maurilia deu à luz seu segundo filho,
Alexandre Sepulcre Gonçalves, que recebeu esse nome em homenagem ao avô.
Mesmo morando em Vila Velha por mais de vinte anos, Maurilia e
família sempre foram muito próximos a Alexandre e Bela, indo constantemente
a Itarana, proporcionando aos filhos um convívio muito próximo com os avós.
Após os falecimentos de Alexandre e Bela, Itarana continuou sendo
o lugar de paz e boas risadas. Os amigos, as lembranças, as raízes sempre
foram muito presentes na vida de Maurilia e sua família.
Em 2005, Maurilia e José voltaram definitivamente para Itarana,
onde moram até hoje.
110
Odílio Sepulcri
Foto 67: Hilda Márcia, José, Alessandra, Maurilia, Alexandre e
Pedro – 2011
Fonte: Foto do acervo da família.
Alessandra é instrutora de idiomas, formada em Letras-Inglês e
Português e mora com os pais.
Alexandre é Tecnólogo em Perfuração de Petróleo e Gás, área na
qual trabalha em Macaé – RJ. Em 2011, ele casou-se com Hilda Márcia da
Mota Amaral Gonçalves. Eles têm um filho, Pedro, hoje com dois anos.
7.3
DAGMAR SEPULCRI
Dagmar foi a que se casou mais cedo, com Djalma Venturini, em
1963. Após o casamento foi morar em Jatibocas, município de Itarana, juntamente com seus sogros Sabina e João Venturini, que trabalhavam na Usina
Hidrelétrica que fornecia energia para vários municípios. Lá nasceram as filhas
Maisa, em 1965, e Elizabeth, em 1966. Gizeli nasceu em Itaguaçu-ES, em 1968.
Além de cuidar das filhas e dos afazeres domésticos, também
plantava, colhia e vendia mandioca para complementar a renda e o sustento
da família. Após três anos, foram morar no sítio dos sogros em Guarataia,
município de Itarana. Lá permaneceram com muita dificuldade, pois não
havia água encanada e, quando precisava lavar as roupas da casa, levava as
filhas com ela, pois não tinha com quem deixá-las.
Família Sepulcri
111
Em 1972 foram residir em Itarana e continuaram a morar com os
sogros. Logo após o falecimento do sogro, em 1984, divorciou-se de Djalma.
Então, para continuar cuidando das filhas e lhes proporcionar estudo, Dagmar conseguiu um emprego nas Instituições Educacionais do Município de
Itarana, onde se aposentou.
Em 08.12.2001, conheceu Arnildo Bernardes através de uma amiga
comum. Ele morava em São Paulo, namoraram durante quatro meses, casaram-se em 08.12.2001 e residem em Itarana até hoje. Viajam constantemente, pelo menos três vezes ao ano, para Cubatão-SP, onde moram os filhos,
netos e bisnetos de Arnildo.
Maisa, sua primeira filha, formou-se em Comunicação Social pela
faculdade FAESA-ES e atua há vinte anos como bancária. Do relacionamento com Antônio Marco Valloni teve uma filha, Anna Beatriz Venturini
Valloni, que nasceu em 30.10.2001.
Elizabeth formou-se em Habilitação para o Magistério e Ciências
Contábeis na Escola de 1º e 2º Graus Professora Aleyde Cosme, em Itarana.
Atualmente, trabalha na Secretaria Escolar. Casou-se com Ivan José Gonçalves Bastos, que atua no ramo da agricultura e dessa união, nasceu Guilherme
Venturini Gonçalves Bastos, em 02.09.2000.
Gizeli formou-se em Comércio Exterior, em 1997, na Faculdade –
FAESA-ES e trabalha há dezenove como Secretária Sênior e reside em
Vitória-ES.
Foto 68: Gizeli, Maisa, Arnildo, Anna Beatriz, Dagmar, Ivan,
Elizabeth e Guilherme – 2011
Fonte: Foto do acervo da família.
112
7.4
Odílio Sepulcri
ODÍLIO SEPULCRI
Ao concluir o curso de Técnico Agrícola no ano de 1965, foi em
busca de emprego no Paraná, na Associação de Crédito e Assistência Rural
do Paraná (Acarpa). Por determinação e coordenação da Acarpa seguiu para
Florianópolis junto à Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa
Catarina – Acaresc, para fazer o curso de pré-serviço de Extensão Rural. Ao
concluí-lo, foi designado para trabalhar no escritório da Acarpa no município
de Piên-PR, permanecendo lá de 1966 a 1969, prestando assistência técnica
aos agricultores daquele município.
No final de 1969, prestou vestibular para o curso de Engenharia
Agronômica na Universidade Federal de Pelotas (Faculdade de Agronomia
Eliseu Maciel). Concluiu o curso em dezembro de 1973. Durante a faculdade
conheceu Maria Luiza, formada em Letras (Licenciatura Plena), professora
de Inglês e Português, poliglota, com quem se casou em 15.12.1973. No
início de 1974, retornou à Acarpa em Curitiba.
A Acarpa perdurou até 1988, sendo sucedida pela Emater – Paraná
e, a partir de 2005, transformou-se em Instituto Emater. Na Emater, exerceu
todas as funções de extensionista a nível municipal regional e estadual. Nesse período, executou vários projetos, publicou diversos trabalhos e ministrou
inúmeros cursos e palestras em todo o Paraná. Juntamente com Maria Luiza
visitou mais de trinta e cinco países.
Em 2000 concluiu o curso de especialização em Gestão da Qualidade na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em 2005 obteve o título
de Mestre em Desenvolvimento Econômico também pela UFPR. Permanece
no trabalho até o presente.
Com Maria Luiza tem dois filhos Rodrigo, nascido em 1976 e Leonardo, nascido em 1978. Rodrigo é formado em Medicina, na UFPR, em
2000. É Psiquiatra, especialista em Dependência Química e Mestre em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), casado
com Anelise Maria Klass Sepulcri, também médica pela UFPR, Ginecologista e Obstetra. Rodrigo e Anelise têm dois filhos Ana Maria, nascida em
2004 e João Paulo, nascido em 2007 e residem em Cascavel – PR
Família Sepulcri
113
Foto 69: Odílio, Lais e Leonardo (Noivos), Maria Luiza, Rodrigo,
Anelise, João Paulo (Colo) e Ana Maria – 2009
Fonte: Foto do acervo da família.
Leonardo é formado em Engenharia Industrial Elétrica com ênfase
em Eletrônica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFP-PR),
em 2000. Fez especialização em Gestão de Tecnologia da Informação na
FAE, em 2003, e obteve o título de mestre em Engenharia da Produção na
PUCPR, em 2008. É empresário do ramo de informática. Casou-se em 2009
com Lais de Souza Aliski Sepulcri, Engenheira Civil e moram em Curitiba.
Odílio, juntamente com seus filhos, é empresário da construção civil.
114
Odílio Sepulcri
Foto 70: Maria Luiza e os Netos João Paulo e Ana Maria – 2010
Fonte: Foto do acervo da família.
7.5
GERALDO LUIZ SEPULCRI
Depois de formado em Medicina Veterinária na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, foi trabalhar na Emater-Goiás por cerca de
dois anos. Posteriormente ingressou na Emater-Paraná, prestando serviço nos
municípios de Lobato, Medianeira e Santa Cruz de Monte Castelo.
Em Medianeira, de um relacionamento com Sueli Ragazzi, tem
uma filha, Lidiane Ragazzi Sepulcri, nascida em 1986, atualmente casada e
residente em Mato Grosso.
Na Emater, Geraldo Luiz se aposentou. Quando trabalhava em
Santa Cruz de Monte Castelo e municípios vizinhos, conheceu Lidinalva
Meira Garcia, com quem se casou. Atualmente reside em sua fazenda em
Três Lagoas, Mato Grosso do Sul.
Família Sepulcri
115
Geraldo Luiz dedica-se à pecuária de leite e, juntamente com a sua
mulher Lidinalva, produz queijos, tendo como referência a produção artesanal de derivados do leite, que são vendidos na região.
Foto 71: Geraldo Luiz e Lidinalva
Fonte: Foto do acervo da família.
7.6
MARIA MARGARIDA SEPULCRI DINIZ
Margarida e Carlos conhecem-se desde crianças, pois Carlos veio
para Itarana aos seis anos de idade, filho de mãe Itaranense fixou residên-
116
Odílio Sepulcri
cia na cidade. Sempre foram amigos até que, uma noite, Carlos se declarou, o que Margarida achou muito engraçado, em virtude da amizade que
tinham, porém não resistiu aos galanteios recebidos. No princípio, o namoro foi bem tumultuado devido a não aceitação de seu pai, Alexandre,
que via Carlos como um “molecão de rua”, mas com o tempo Carlos mostrou o contrário e adquiriu a amizade e confiança do sogro. Casaram-se no
dia 27.12.1975 em uma cerimônia religiosa bem simples na Igreja Matriz
Nossa Senhora Auxiliadora. Bela sempre viu Carlos com olhos diferentes
de Alexandre, dizia que seria um bom marido, pois era de família distinta,
tanto que, quando Alexandre faleceu, ela escolheu a casa de Margarida e
Carlos para continuar sua vida e ficou até o seu falecimento. O casal tem
três filhos biológicos, Felipe nascido em 30.03.1979, Roberta em
29.06.1980 e Karla em 20.04.1984 e um adotivo, Adriano José dos Santos
nascido em 09.12.1978.
A adoção de Adriano começou quando Felipe passou a frequentar o
Jardim de Infância. Na escola ele se apegou muito a um coleguinha e levou-o
para casa. Localizaram seus pais e solicitaram sua guarda na justiça. Adriano, casado com Mônica Rizzi Telles, morou com eles até o nascimento de
suas filhas gêmeas: Maria Antonia e Maria Eduarda em 15.11.1999. Adriano
é Técnico Agrícola formado na Escola Agrotécnica Federal de Colatina e
mora e trabalha em Itarana.
Os filhos do casal cresceram na pequena Itarana onde desfrutaram das brincadeiras de rua, banhos de chuva, quintais dos amigos e vizinhos, campo de futebol e outros. Nas férias faziam pequenos passeios a
Vitória na casa de tia Eurides, tia Maurilia e tio Heriberto, irmão de Carlos,
o que eles aguardavam com ansiedade. Estudaram na mesma escola pública
como as demais crianças da cidade. Ao término da oitava série, todos migraram para outras cidades a fim de continuarem os estudos. Foi um tempo
difícil manter quatro filhos fora de casa, mas com determinação e colaboração da tia Eurides e tio Heriberto conseguiram atingir o objetivo: todos
formados.
Mesmo com a separação dos irmãos, tão cedo, mais ou menos com
13 anos, motivada pelo estudo, eles sempre foram muito unidos e, até hoje,
não perdem a oportunidade de estar juntos sempre que possível; e relembram
os tempos de férias quando se juntavam em casa. Era uma alegria geral, a
casa estava sempre cheia também com a presença dos primos; as histórias
engraçadas não se esgotaram. Eles lembram com saudades da infância de
brincadeiras. Havia uma pequena piscina no quintal que foi o motivo dos
encontros familiares, era aquela diversão.
Família Sepulcri
117
Foto 72: Izequiel, Roberta, Adriano, Mônica, Felipe, Karla, Maria
Antônia, Carlos, Maria Eduarda, Yara
Fonte: Foto do acervo da família.
Como a família era grande, havia certa disciplina: divisão de tarefas e horários pra tudo, o que era cumprido rigorosamente. Às sextas-feiras,
era dia de reunião de avaliação da semana onde todos ouviam e falavam.
Adriano sempre tranquilo, Felipe era o mais levado, estava sempre preocupado com o que poderia ouvir e a Karla sempre reclamando que Roberta
nunca tinha nenhuma advertência.
Felipe é casado com Yara Zocatelli, residente em Linhares – ES.
Trabalha na agricultura da região norte, pois é Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal do Espírito Santo. Roberta é Psicóloga formada pela Universidade Vale do Rio Doce – MG, casada com Izequiel Baldotto são pais de Lucas Diniz Baldotto nascido em 10.05.2011. Reside em
Itarana e trabalha em Santa Teresa e Itarana. Karla, residente em Santa Maria
de Jetibá onde trabalha, é Fisioterapeuta formada pela Faculdade Salesiana
de Vitória – ES. Atualmente, Margarida e Carlos estão aposentados e mo-
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Odílio Sepulcri
rando em Itarana, curtindo os três netos, viajando e participando de trabalhos
voluntários na comunidade (igreja e Pestalozzi).
Foto 73: Roberta, Lucas e Izequiel
Fonte: Foto do acervo da família.
7.7
ROBERTO SEPULCRI
Roberto é formado em Ciências Contábeis em Colatina-ES. Casou-se com Maria José Morandi em 18.02.1984 e fixou residência em Serra-ES.
Logo após a formatura foi trabalhar em Vitória, primeiramente como empregado e depois como empresário no ramo do comércio de frutas, legumes e
verduras, por último, no transporte de mercadorias.
Roberto e Maria José têm três filhos: Roberto Sepulcri Junior, formado em Direito; Renata Morandi Sepulcri, com graduação em Farmácia e
Rafaela Morandi Sepulcri que está cursando Engenharia Civil. Renata casouse no dia 31.03.2012, com Bruno Borges de Farias e passou a residir em
Belo Horizonte – MG, onde seu marido é empresário.
Família Sepulcri
119
Roberto e Maria José divorciaram-se em 1999. Atualmente
Roberto reside nos Estados Unidos da América.
Foto 74: Roberto Jr., Maria José, Renata e Rafaela
Fonte: Foto do acervo da família.
7.8
JUAREZ SEPULCRI
Depois de formado, Juarez foi trabalhar no Paraná, primeiramente
na cidade de Pato Branco na Ruralplan e, em seguida, em Guarapuava, onde
conheceu Andyara Tataren, com quem se casou em 1980. O casal se mudou
para Curitiba, Juarez tornou-se bancário e empresário do ramo de combustíveis. Têm dois filhos, Nayara, nascida em 1986, e Bruno, nascido em 1990.
Bruno se mudou, em 2008, para São Paulo, realizando o sonho de cursar
Administração de Empresas na Universidade de São Paulo. Nayara, formada
120
Odílio Sepulcri
em Direito e já trabalhando na área jurídica, é noiva de Rodolfo de Camargo
Pinto Filho, com quem namora desde 2004.
Foto 75: Juarez, Nayara, Andyara e Bruno
Fonte: Foto do acervo da família.
Família Sepulcri
121
REFERÊNCIAS
<http://pt.wikipedia.org/viki/imigra%>. Acesso em: 10 dez. 2010.
<http://pt.wikipedia.org/wiki/imigra%>. Acesso em: 08 nov. 2010.
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Imigra%C3%A7%C3%A3o_italiana_no_Brasil>. Categoria: Imi
gração italiana no Brasil. Acesso em: 08 nov. 2010.
<http://www.ape.es.gov.br/pdf/O%20Estado%20do%20Espirito%20Santo%20e%20a%20Imi
gracao%20Italiana.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2012.
<http://www.ibge.gov.br/brasil500/italianos/regorigem.html>. Acesso em: 30 nov. 2010.
BRASIL, 500 ANOS. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/brasil500/italianos/razao
imigitaliana.html>.Acesso em: 10 ez. 2010.
GROSSELLI, RENZO, M. Expedição Tabacchi e Colônia Nova Trento. Artgraf. Gráfica e
Editora Ltda., mar. 1991.
http://pt.wikipedia.org/wiki/ficheiro: Memorial_do_imigrante.jpg. Acesso em: 08 nov. 2010.
LEILA OSSOLA. Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>.
Acesso em: 10 nov. 2010.
NAGAR, CARLOS. O Estado do Espirito Santo e a imigração italiana. 1895.
SBARDELOTTI, A. J. Buona Famiglia. Vitória: São José, 1991.
SBARDELOTTI, A. J. Canaã de Figueira de Santa Joana. Vitória: São José, 1989.
VENTORIM, L. Itarana, (1982-1964). Col. Memórias, 2. Departamento Estadual de Cultura.
Vitória, Estado do Espírito Santo, 1990.

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