O SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO - Portal RP
Transcrição
O SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO - Portal RP
O SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR DAS EMPRESAS DE TELEFONIA CELULAR EM SALVADOR/BA: UM OLHAR ESTRATÉGICO SOBRE A QUALIDADE DAS RELAÇÕES COM OS SEUS PÚBLICOS MARCELLO R. CHAMUSCA PIMENTEL* [email protected] MÁRCIA M. CARVALHAL B. PIMENTEL** má[email protected] CIDA FERRAZ*** [email protected] RESUMO Este artigo pretende descrever parte dos resultados de uma pesquisa que se propôs a investigar como as operadoras de telefonia móvel celular que atuam em Salvador/BA têm gerenciado as informações advindas dos seus Serviços de Atendimento ao Consumidor (SAC’s), e quais as estratégias de comunicação utilizadas no estabelecimento das relações com os seus usuários. Fruto de um trabalho interdisciplinar realizado no âmbito do 5º semestre do Curso de Relações Públicas da Faculdade de Tecnologia e Ciências - FTC, nossa pesquisa apoiou-se em cinco âmbitos exploratórios e conceituais: (1) características do consumo e da relação empresa-consumidor-órgãos de defesa; (2) a antevisão de crises de imagem a partir dos SAC’s; (3) o papel das relações públicas estratégicas; (4) as relações empresa-funcionário-consumidor na nova ordem mundial; (5) os SAC’s e as tecnologias contemporâneas de comunicação. Foram utilizados métodos quantitativos e qualitativos, em cinco etapas metodológicas pré-estabelecidas. Descrevemos a atuação dos SAC’s das empresas analisadas e percebemos que esses serviços ainda têm muitos desafios a enfrentar, especialmente na formação e qualificação adequadas dos gestores desses processos, para os quais o uso estratégico das relações públicas oferece um conjunto de instrumentos e técnicas extremamente eficazes. Acreditamos que somente a gestão dos relacionamentos empresa-públicos por profissionais devidamente qualificados para esse fim poderá contribuir para o estabelecimento de níveis mais eficientes de performance, necessários a todo planejamento estratégico voltado para a interação organização-públicos, como é o caso dos Serviços de Atendimento ao Consumidor (SAC’s). Palavras-chave: Telefonia celular; Serviço de Atendimento ao Consumidor; Estratégias de Comunicação; Relações Públicas. * Acadêmico do Curso de Comunicação/Habilitação em Relações Públicas da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC/Salvador), idealizador e administrador do Portal RP-Bahia (www.rp-bahia.com.br). ** Acadêmica do Curso de Comunicação/Habilitação em Relações Públicas Públicas da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC/Salvador) e colaboradora do Portal RP-Bahia. *** ORIENTADORA. Mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia e professora dos cursos de Relações Públicas da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC/Salvador). 2 INTRODUÇÃO Esta pesquisa, concebida em caráter interdisciplinar, tem o propósito de descrever a atuação dos Serviços de Atendimento ao Consumidor (SAC’s) de quatro empresas da área de telefonia móvel celular de Salvador/BA: VIVO, TIM, OI e CLARO. O setor trabalha com pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de ponta e se encontra num mercado de alta competitividade, o que valoriza e propicia a comunicação estratégica. Assim, procuramos investigar quais as estratégias de comunicação e de relacionamento utilizadas pelos SAC’s dessas empresas para obterem avanços tão significativos, em um período tão curto, e em bases aparentemente tão sólidas, considerando-se que até o momento já são quatro companhias fortes e pró-ativas, atuando no mercado baiano. Interessa-nos, sobretudo, situar este estudo no âmbito das relações públicas, ressaltando, no caso, o papel inestimável que a atividade tem a cumprir, como destaca a pesquisa de Cesca e Cesca, ao concluir que “a subordinação ao Setor de Relações Públicas daria ao SAC a performance de canal de comunicação eficiente com o consumidor, isto porque é esse setor que entende de públicos, de imagem, comunicação, etc.” (2000, p.60) . Neste sentido, a investigação que realizamos do processo de relacionamento dessas empresas com os seus usuários, a partir dos SAC’s, torna-se, não apenas importante, mas essencial para os estudantes e profissionais de comunicação, sobretudo os de Relações Públicas, já que, segundo Simões (1995), uma das suas funções principais é a gestão da imagem institucional e dos relacionamentos entre a organização e seus públicos. Nosso objetivo geral de pesquisa foi descrever a atuação dos SAC’s das empresas de telefonia móvel celular que atuam em Salvador/BA, identificando as relações dessas empresas com os seus clientes/consumidores e as estratégias de comunicação adotadas. Como objetivos específicos buscamos (a) levantar a estrutura dos SAC’s das operadoras de telefonia móvel celular que atuam em Salvador/BA e o perfil dos profissionais que integram os SAC’s desse setor; (b) descrever e analisar os canais utilizados e as estratégias de comunicação desenvolvidas pelos SAC’s das operadoras atuantes no mercado baiano; (c) identificar as principais queixas, reclamações e dúvidas apresentadas; e (d) caracterizar o nível de gerenciamento das informações geradas pelos SAC’s e o grau de uso que as operadoras fazem das tecnologias contemporâneas de comunicação na relação com os seus públicos, a partir dos SAC’s. Para fundamentar nossa proposta de estudo utilizamos os seguintes âmbitos conceituais: (a) características do consumo e a relação empresa-consumidor-órgãos de 3 defesa, em que discutimos as características do consumidor enquanto cidadão, apoiados na regulamentação existente; (b) a antevisão de crises de imagem a partir dos SAC’s, em que tratamos da predisposição natural que os SAC’s têm para a detecção de crises, a partir da compilação e análise das informações deles advindas; (c) o papel das relações públicas estratégicas no trato com o consumidor, caracterizando as funções pragmáticas das relações públicas na gestão dos relacionamentos com esse público, bem como na qualificação dos funcionários, sobretudo os que atuam em contato direto com o público, estabelecendo a qualidade da relação da organização com o seu cliente-consumidor; (d) as relações empresa-funcionário-consumidor na nova ordem mundial, trabalhadas a partir de três fenômenos entrelaçados: (1) a reestruturação produtiva propiciada pela terceira revolução tecnológica e pelos modelos flexíveis de gestão da produção/trabalho; (2) a globalização; (3) e o neoliberalismo; (e) os SAC’s e as Tecnologias Contemporâneas de Comunicação, em que discutimos os conceitos essenciais do universo dos Meios Digitais de Comunicação e a inserção dessas tecnologias no âmbito das organizações, tentando entender as relações sociais mediadas por redes digitais, já que contemplam uma virtualização das ações sociais dos indivíduos. Neste artigo, entretanto, trabalhamos os três primeiros âmbitos conceituais com maior profundidade, já que priorizamos os resultados obtidos a partir da pesquisa empírica nas lojas das quatro operadoras e no callcenter da VIVO em Salvador. METODOLOGIA A coleta dos dados necessários à análise e à interpretação da realidade pesquisada foi realizada através de técnicas de abordagem e de pesquisa quantitativas e qualitativas, cumprindo as seguintes etapas: (a) fase de reconhecimento do objeto de estudo, com visitas às lojas para observação da estrutura física e administrativa; (b) pesquisa bibliográfica, levantando informações já sistematizadas sobre o objeto de estudo; (c) pesquisa empírica, através de entrevistas semi-estruturadas com os clientes, gerentes/supervisores e atendentes das lojas físicas; (d) simulações de reclamações, solicitações, informações e sugestões pela Internet, na seção de atendimento ao cliente dos sites das operadoras, e pelo telefone, através dos chamados callcenter’s, centrais telefônicas que disponibilizam serviços 24 horas por dia, sete dias por semana; (e) compilação, análise, interpretação e sistematização dos dados levantados e verificação de hipóteses/pressupostos previamente estabelecidos; (f) redação do relatório contendo os resultados e conclusão final da pesquisa. 4 Pesquisa com os funcionários (lojas e callcenter) Para levantar o perfil dos profissionais que integram o setor, utilizamos o critério de análise por canal de atendimento. Atendimento face-a-face, nas lojas, e atendimento via telefone, na central de atendimento (callcenter). Nas lojas, foram entrevistados sete gerentes/supervisores de atendimento, representando 50% do universo pesquisado; 27 atendentes, representando 30% do total de 88 atendentes que trabalham nas cinco lojas pesquisadas. No callcenter, foram entrevistados oito supervisores de atendimento, representando 30% do total de 26 dos que trabalham atendendo o Estado da Bahia, além de dois gestores da informação. Chegamos a uma amostra de 57 teleatendentes para o callcenter, aplicando a tabela determinante da amostra, da seguinte forma: como o universo em estudo compõe-se de 647 teleatendentes (que atendem a Bahia), optou-se pelo número 750 na tabela, que constitui o mais próximo do universo abordado. Em seguida, prosseguiu-se horizontalmente até encontrar a coluna cujo erro amostral é de 10% e o Split1 é 80/20, encontrando-se o número 57, que indica o total de entrevistas necessárias, valor destacado em cinza na representação gráfica do processo na tabela que se segue. Tamanho da amostra para nível de confiança de 95% Erro Amostral Erro Amostral Erro Amostral +/- 3% +/- 5% +/- 10% Tamanho da Split Split Split Split Split Split População 50/50 80/20 50/50 80/20 50/50 80/20 341 289 217 165 81 55 500 441 358 254 185 85 750 57 Tabela 1. Tabela Determinante do Tamanho da Amostra. Fonte: Módulo 3 do Curso IPGN – Sebrae, 2004 Pesquisa com o usuário (lojas) O público dessa sondagem corresponde aos clientes das quatro operadoras de telefonia móvel celular em Salvador/BA, que formam uma população de 1.36 milhão de pessoas, aproximadamente, sendo que 680 mil são clientes da VIVO (50%), 300 mil da CLARO (22%), 260 mil da TIM (19%) e 120 mil da OI (9%). Amostra A metodologia utilizada para selecionar a amostra dos clientes foi a mesma que utilizamos para os teleatendentes do callcenter, tendo como base a TDTA, com margem de 1 O Split corresponde ao nível de homogeneidade ou heterogeneidade da população pesquisada. Usa-se o Split 50/50, quando a população é heterogênea e 80/20, quando se percebe um bom nível de homogeneidade. 5 erro de 10 pontos percentuais para mais ou para menos (+/- 10%), com diferenciação apenas no Split que, neste caso, foi de 50/50, pois se trata de um público heterogêneo. Foi selecionada uma amostra de 96 pessoas para a aplicação dos formulários de entrevistas, divididas proporcionalmente pelo número de clientes de cada operadora, assim distribuídos: (a) VIVO (50%): 48 entrevistas; (b) CLARO (22%): 21 entrevistas; (c) TIM (19%): 18 entrevistas; OI (9%): 9 entrevistas. A ESTRUTURA DOS SAC’S E O PERFIL DOS PROFISSIONAIS A pesquisa realizada para descrever os SAC’s das operadoras de telefonia celular que atuam em Salvador/BA foi baseada em métodos complementares, quantitativos e qualitativos, abarcando ao todo cinco lojas próprias das quatro operadoras, duas lojas VIVO (pelo fato dessa empresa ser a única a segmentar o atendimento por loja), e uma loja das demais operadoras. Pesquisamos apenas o callcenter da VIVO, pelo fato de ser o único que opera localmente no atendimento ao público. As lojas A estrutura física da loja VIVO Iguatemi tem as seguintes características: espaço amplo, ambiente moderno, agradável e bastante funcional. A estrutura de atendimento engloba recepção, os balcões de venda e pós-venda, e a sala da supervisão/gerência. O ambiente é extremamente colorido e moderno, não comporta luxo, apenas conforto e funcionalidade. Já a loja VIVO Capemi, que não realiza vendas, tem características diferentes. Existe uma recepção com poltronas confortáveis; ao invés de balcão, tem minisalas de atendimento com cadeiras com recosto e um ambiente mais luxuoso. A loja CLARO do Shopping Barra tem dimensões bem menores que as lojas VIVO Iguatemi e Capemi, mas também segue o padrão do ambiente amplo, moderno, colorido, agradável e funcional. Há uma recepção, os balcões de atendimento servem tanto à venda quanto à pós-venda, uma sala destinada à supervisão/gerência e uma cabine telefônica para contato com o callcenter, no Rio de Janeiro. A TIM é a única das quatro operadoras que mantém sua principal loja fora de um shopping da cidade. Situada na Pituba, bairro nobre de Salvador, a loja não segue os padrões estéticos das concorrentes, mas conta com o maior espaço físico e a mais complexa estrutura física e organizacional das cinco lojas pesquisadas. A loja OI do Shopping Barra é a menor das quatro pesquisadas. O atendimento é todo realizado em um só balcão. Quase todos os serviços pós-pagos são encaminhados para 6 a cabine telefônica interligada à central de atendimento, no Rio de Janeiro. A OI mantém uma rede de distribuidoras em Salvador, por meio de uma parceria com a empresa Nelinho Telefones. O controle do processo está centralizado no callcenter, situado em sua sede, no bairro do Cabula, funcionando no suporte aos funcionários das lojas. Curiosamente, os funcionários do atendimento denominam essa central de UTI, pois é acionada sempre diante de uma situação atípica e para a qual não têm uma pronta resposta. A tangibilidade do serviço Percebemos claramente a necessidade das operadoras, a partir das suas lojas, de tentar tornar tangíveis os serviços que oferecem, bem como educar a clientela para o seu uso. Os ambientes parecem criados para mostrar ao cliente que existem muitos outros benefícios agregados ao serviço que ele adquire. São colocados laptops, interligados à rede, à disposição dos clientes, salas de estar com som ambiente, televisores, DVD’s, dentre outros produtos que podem ser tocados, provados, sentidos, pois estão presentes, oferecendo tangibilidade ao serviço oferecido, além de disponibilizarem a segurança de uma estrutura atenta às possíveis necessidades de suporte do cliente. O callcenter Das quatro operadoras de telefonia móvel celular que atuam em Salvador, apenas a VIVO mantém um callcenter local de atendimento ao usuário, com 2.317 teleatendentes, que se revezam em cinco turnos e recebem ligações de usuários de seis estados do Brasil: Bahia, Sergipe, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e Paraná. Para dar conta desse exército de teleatendentes existe uma equipe de aproximadamente 80 supervisores. Cada supervisor é responsável por grupos que variam de 15 a 50 teleatendentes. Todos os funcionários do callcenter, atendentes e supervisores, são terceirizados e, dos 2.317 atendentes, 647 são destinados exclusivamente ao Estado da Bahia. Os profissionais Diferentemente do que prevíamos inicialmente, para analisarmos o perfil dos profissionais que integram os SAC’s estudados, não podemos classificar esses profissionais em apenas dois níveis (atendentes e gerentes), mas em três (atendentes, supervisores/gerentes de atendimento e gestores da informação). No primeiro nível — profissionais da ponta do atendimento (atendentes/teleatendentes) — há um grau de homogeneidade bastante acentuado, pois a grande maioria (em torno de 78%) é composta de jovens de 19 a 28 anos, estudantes universitários ou de segundo grau, das classes B2 e C (conforme adequação ao Critério 7 Brasil2), que trabalham para manter seus estudos, suas despesas próprias, ou ainda para complementar a renda familiar. Utilizam uma linguagem mecânica e inadequada ao perfil do usuário do sistema, oriunda de treinamentos rápidos oferecidos pelas próprias empresas e estruturas pré-fabricadas de pronto atendimento. Nas entrevistas realizadas, constatamos que o tempo de treinamento que um atendente recebe para iniciar suas atividades gira em torno de vinte a trinta dias, e atendentes de setores diferentes recebem treinamentos diferenciados e específicos. São em grande parte estudantes, em contratos de baixa remuneração e constituem uma “forçatarefa” de alta rotatividade, que pode ser prejudicial à manutenção dos padrões de qualidade do serviço prestado. Um dos nossos principais colaboradores, que estava empregado no callcenter da VIVO quando iniciamos nossa pesquisa, já tinha sido demitido quando iniciamos a elaboração do relatório de pesquisa. Ao perguntarmos pelo motivo da dispensa, disse que não houve motivo para isso, apenas que já tinha passado tempo demais (nove meses) naquele serviço, que é visto por eles (a empresa) como emprego temporário. Essa é uma das principais características desses profissionais: serem terceirizados, contratados a título temporário e, portanto, “impedidos” de criar um vínculo duradouro com as operadoras. Somente o vínculo empregatício não cria a sinergia empregadoempregador necessária para um serviço essencial como o de relacionamento com o cliente. O segundo nível — profissionais da supervisão/gerência de atendimento — apresenta uma heterogeneidade bastante acentuada. Apesar de haver predominância da formação em Administração e Marketing (aproximadamente 57%), existem supervisores formados em engenharia civil, engenharia de telecomunicação, arquitetura, direito, relações públicas, turismo e letras, com idades que variam de 24 a 55 anos, ou seja, não existe uma padronização do perfil profissional. Esses dados deixam pistas de que eles são contratados com base em qualidades pessoais e não na sua qualificação profissional. O terceiro nível é o dos profissionais da gestão da informação — atuantes no callcenter, com formação predominante em administração e pós-graduação em administração e/ou marketing. São considerados como os mais qualificados para trabalhar na gestão das informações e relacionamentos, implementar técnicas comunicacionais e/ou administrativas, que contribuam para o alcance de bons níveis de cooperação e respeito 2 Critério para análise sócio-econômica da população pesquisada, estabelecido pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 8 junto a seus públicos, compatíveis com as políticas institucionais e de mercado das operadoras. São os únicos que atuam no callcenter que não são terceirizados. Para um entendimento mais aprofundado do serviço de atendimento realizado por esses funcionários vamos, a partir da descrição dos canais e estratégias utilizadas, analisar como ele é prestado pelas operadoras de telefonia móvel celular em Salvador/BA. CANAIS E ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO Conforme prevíamos em nossos pressupostos de pesquisa, as quatro operadoras buscam manter a sua competitividade no mercado através de canais diversificados de comunicação e de relacionamento que refletem uma composição, também diversificada, de sua estrutura funcional. Os canais As quatro operadoras disponibilizam os seguintes canais de comunicação e relacionamento com seus usuários: (a) lojas próprias - que oferecem serviços diversificados, desde a pré-venda até a pós-venda; (b) lojas credenciadas - oferecem serviços diversificados, mas concentrados na venda e com alguns poucos serviços de pósvenda; (c) auto-atendimento - via terminais de computador instalados nas lojas próprias, nas lojas credenciadas, e em lojas de varejo, em que o usuário dispõe de alguns serviços pós-venda, como a segunda via de conta e a compra de crédito para celular pré-pago; (d) quiosques em lojas de varejo – também se concentram na etapa de vendas; (e) callcenter - realiza praticamente todos os serviços pós-venda e quase não participa das outras etapas do processo; (f) Internet – canal subutilizado pela maioria das operadoras, o que revela a incapacidade de reagir com a mesma agilidade que o meio propicia. Na pesquisa realizada, optamos pela análise dos canais que disponibilizam maior esforço para o atendimento pós-venda, por entender que o relacionamento nessa instância se dá em maior profundidade e por ser esse o foco do nosso estudo. Nesse sentido, pesquisamos as lojas próprias, além do callcenter e da Internet. O uso dos canais Entrevistamos 48 homens e 48 mulheres que nos indicaram sua preferência pelos métodos mais tradicionais de acesso. De 96 pessoas, 56 responderam que o canal preferido para acessar o SAC são as lojas físicas das operadoras, o que corresponde a 58,5% e representa aproximadamente 795 mil pessoas em Salvador. Outras 26 pessoas responderam que preferem o telefone para acessar o SAC, ou seja, 27% de um universo de 367 mil 9 pessoas. E apenas 14 pessoas preferem a Internet como meio de acesso ao SAC das operadoras, correspondendo a 14,5% de 197 mil usuários do sistema em Salvador. Percebemos que há um padrão nessa categoria de análise. Os clientes de todas as lojas preferem acessar os SAC’s a partir das lojas, depois por telefone e por último pela Internet. Essa característica, entretanto, reflete uma tendência, mas não pode ser caracterizada como uma opção do usuário, já que, a maioria das operadoras não responde com presteza às solicitações dos clientes que entram em contato pela Internet. Simulações Fizemos simulações na Internet em cada uma das categorias de motivos disponibilizados pelos sites das empresas: reclamações, sugestões, informações, dúvidas, elogios, dentre outras. Em algumas situações só tivemos respostas muitos dias depois, em algumas outras nem respostas obtivemos e o resultado da nossa sondagem nos leva a crer que as operadoras, em geral, não dão muita importância a esse canal de relacionamento. Este resultado, contudo, não é algo novo. Mirela Tavares, já levantava esse problema desde 1999, quando chamou atenção de que: “há demora em responder aos e-mails e pouco aproveitamento dos questionamentos dos consumidores” (TAVARES, 1999, p.25). Já por telefone, foram feitas simulações de reclamações, sugestões e dúvidas nas quatro operadoras. Todas apresentam um mesmo padrão de atendimento, sendo que na TIM tivemos dificuldade para falar, devido ao tempo de espera que chegou, em um caso, a 32 minutos! É importante chamar atenção para o fato de que a VIVO foi a única das quatro operadoras que solicitou de nós atribuição de uma nota ao atendimento, como forma de mensurar níveis de satisfação desse serviço realizado através do callcenter. Instrumentos e estratégias Todas as quatro empresas sondadas desenvolvem ações ou programas de fidelização do cliente, segundo os entrevistados, e que constatamos serem muito semelhantes. São clubes de vantagens, que dão pontos a partir do valor que o cliente gasta em contas, e que podem ser trocados por novos aparelhos, etc. No processo de descrição do atendimento, um funcionário do callcenter da VIVO “deixou escapar” que havia uma espécie de rótulo classificatório do cliente, segmentações criadas a partir do valor médio de contas, dentre outros fatores. Quando se identifica um cliente preferencial (o chamado cliente diamante), ele é transferido automaticamente para setores de atendimento exclusivos. Essa informação nos remete a um nível de 10 gerenciamento dos dados, que veremos em maior profundidade, após a análise dos canais de atendimento e das estratégias de relacionamento dessas operadoras em Salvador. GERENCIAMENTO DAS INFORMAÇÕES GERADAS PELOS SAC’S Como previmos, o gerenciamento das informações nos SAC’s está restrito ao papel instrumental de pronta resposta ao usuário, e se dá em nível de alta administração, em três dimensões: * Reclamações - são apresentadas pelos usuários, verificadas a sua procedência e prontamente resolvidas de acordo com soluções preconcebidas pela alta administração, a partir de scripts de atendimento previamente desenvolvidos. Problemas sem solução prévia recebem encaminhamento interno e procede-se a um novo contato com o cliente, via SAC, para apresentar-lhe a solução. Nas sondagens realizadas com os atendentes/teleatendentes, quase todos responderam que os scripts de atendimento são satisfatórios e que 100% dos problemas procedentes são solucionados através dos SAC’s, independente do canal de acesso utilizado pelo usuário. Essa realidade, entretanto, não se confirma nas sondagens junto ao público consumidor. A média geral é positiva, confirma que o SAC do setor realmente soluciona uma boa parte das solicitações dos usuários, mas está longe do índice de 100% sugerido pelos funcionários. Os números são os seguintes: 48% dos clientes entrevistados responderam que o seu problema foi solucionado; 30% responderam que o problema não foi solucionado; e 20 % responderam que o problema não havia sido totalmente resolvido, ou seja, foi resolvido em parte. Nesta categoria de sondagem fica patente o porquê da preferência absoluta dos consumidores pelas operadoras que ocupam o primeiro e o segundo lugares na disputa do mercado. A CLARO é a que proporcionalmente mais soluciona imediatamente os problemas dos seus usuários, seguida pela VIVO, que também teve uma ótima performance. A OI, apesar de não conseguir alcançar o mesmo nível das concorrentes, CLARO e VIVO, supera muito a marca da TIM, que foi a única operadora a conseguir um número de respostas ‘Não’ maior que a soma de respostas ‘Sim’ e ‘Em parte’. Portanto, a nossa pesquisa aponta a TIM como a única, entre as quatro operadoras que atuam em Salvador, que não consegue solucionar a contento os problemas dos usuários no atendimento realizado nas lojas físicas. * Sugestões - são apresentadas pelos usuários, encaminhadas para o setor de pesquisa e desenvolvimento e implementadas ou não, de acordo com os interesses institucionais e/ou 11 corporativos da organização. Uma vez implementada a sugestão, entretanto, o SAC não entra em contato com o cliente para comunicar que sua sugestão foi acatada, agradecendo pela contribuição, ou mesmo oferecendo-lhe benefícios extras, como prevíamos nas nossas hipóteses. Muito pelo contrário, como vimos nas simulações, sequer entram em contato para agradecer a sugestão; * Dúvidas - quando apresentadas pelos usuários, verifica-se se há respostas já formuladas, e presta-se o atendimento. Quando se trata de algo novo, as dúvidas são encaminhadas para o setor responsável (área técnica, financeira ou administrativa), esclarecendo-se, posteriormente, o cliente. Estes procedimentos são acrescentados à lista de respostas prontas. Essas três dimensões se apresentam da seguinte forma, segundo sondagem com o público usuário (cliente/consumidor): 66% dos clientes entrevistados responderam que foram até a loja fazer reclamações. Outros 33%, que foram tirar dúvidas, e apenas 1% foi dar sugestões nas lojas das quatro operadoras pesquisadas. Já a distribuição dessas dimensões do atendimento, segundo os gerentes, é a seguinte: 70% de dúvidas, 25% de reclamações e 5% de sugestões e elogios. Perceba que há resultados contraditórios nessa categoria de análise. A sondagem com os consumidores aponta maioria absoluta de reclamações. Já a sondagem com os funcionários aponta para a predominância das dúvidas como principal motivador do acesso dos usuários aos SAC`s. Acreditamos, entretanto, que a predominância seja mesmo de reclamações, pois não tivemos acesso a dados oficiais das empresas, apenas a depoimentos dos funcionários, que tendem a descrever uma realidade condicionada pela administração, que visa sempre, em última análise, a manutenção da boa imagem da empresa, enquanto o cliente não tem motivos para dar uma resposta diferente da realidade que experimenta. Levantamos ainda as razões específicas mais apontadas para a visita dos usuários às lojas: (1) dúvida sobre operação do aparelho; (2) problemas no sinal; (3) cobrança indevida; (4) defeito no aparelho; (5) cancelamento de assinatura; dentre outras. Segundo os gestores da informação entrevistados, as abordagens dos clientes através dos SAC’s são registradas em um grande banco de dados central, categorizadas pelo próprio sistema, que as agrupa de forma inteligente, a partir das palavras que são utilizadas e por tipo de atendimento. O sistema gera relatórios diários, semanais e mensais, com as reclamações, sugestões e dúvidas mais recorrentes, que são encaminhados aos departamentos responsáveis por apresentar soluções práticas para os questionamentos apresentados pelos clientes. Quando isso é feito, a equipe responsável pela comunicação da 12 empresa, localizada em São Paulo, pensa na melhor forma de comunicar essas soluções. Seja através da publicidade feita na mídia de massa, seja através de campanhas institucionais, merchandising no ponto de venda, ou até mesmo em campanhas internas, envolvendo treinamento específico com atendentes e supervisores de atendimento. É importante chamar atenção para o fato de que os serviços prestados por essas empresas são muito semelhantes e que o maior diferencial que cada uma pode ter em relação a outra é exatamente o atendimento. Assim, procuramos avaliar como o público percebe o atendimento dessas operadoras. As avaliações negativas, que classificam o atendimento como péssimo e ruim, somaram 30% (29 entrevistados). As regulares alcançaram 25% (24 entrevistados), e as avaliações positivas, bom e ótimo, somaram 45% (43 entrevistados). Perceba essa categoria por operadora: Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo 25 20 15 10 5 0 VIVO CLARO TIM OI Figura 1. Gráfico das avaliações do atendimento das operadoras/por operadora A melhor avaliação individual é a da VIVO, seguida pela da CLARO, depois pela OI, e por último a TIM. As avaliações positivas da VIVO e da CLARO refletem a preferência de 72% do mercado em Salvador. Em contraponto, as avaliações negativas da TIM mostram o porquê da companhia de maior cobertura nacional amargar um modesto 3º lugar na corrida das operadoras na Bahia. Essa percepção leva à formatação de um quadro proporcional em relação ao grau de satisfação do cliente com o atendimento realizado pelas operadoras. Nesse item existe uma boa distorção entre os resultados individuais das operadoras. Vejamos essa categoria por operadora: Baixíssimo Baixo Médio Alto Altíssimo 14 12 10 8 6 4 2 0 VIVO CLARO TIM OI Figura 2. Gráfico das avaliações do nível de satisfação do usuário em relação ao atendimento das operadoras/por operadora 13 Podemos dizer que a TIM, nessa categoria de análise, contribui negativamente para o desempenho geral do setor, já que a CLARO e a VIVO tiveram um bom desempenho, a OI um desempenho médio e a TIM de baixo para baixíssimo. Esse nível elevado de insatisfação em relação a algumas operadoras reflete também na proporção de casos levados ao PROCON pelos usuários do sistema. Os dados levantados apontam que 7,5% dos entrevistados já colocaram a empresa na justiça, contra 92,5% que nunca o fizeram. Apesar das ações judiciais enfrentadas pelas operadoras de telefonia móvel celular que atuam em Salvador/BA, os gestores entrevistados, apesar de falarem da existência de equipes de trabalho na central em São Paulo, que buscam aprimorar os serviços no intuito de prestarem um atendimento com cada vez mais qualidade para os clientes em todo o Brasil, nenhum admitiu ter um plano de monitoramento e/ou de enfrentamento de crises, sendo gerido a partir dos SAC’s. Uma outra característica que nos chamou atenção foi a da falta de ações de comunicação voltadas a uma utilização mais estratégica dos meios digitais, no sentido de criar níveis de interatividade mais altos, conforme suporta este tipo de dispositivo e tem solicitado o novo consumidor. USO DAS TCC NA RELAÇÃO COM OS CONSUMIDORES O uso que as operadoras de telefonia móvel celular instaladas em Salvador/BA fazem das TCC3 na relação com os seus públicos, a partir dos SAC’s, ainda é ínfimo em relação ao potencial desses dispositivos, que permitem um nível de interação muito mais elevado, com baixíssimos custos, e feedback em tempo real. Os MDC4 são basicamente utilizados pelas operadoras para envio de mensagens SMS com promoções e eventos para os clientes; um sistema intranet para gerenciar as informações do banco de dados alimentado pelos terminais dos atendentes/teleatendentes e supervisores/gerentes, em níveis organizacionais internos; e, a Internet por meio dos seus sites e portais. Os SAC’s dentro dos sites Depois de fazer uma análise comparada dos sites das quatro operadoras avaliadas por esta pesquisa, a partir das reflexões realizadas por Pinho (2003), chegamos a conclusão de que apesar de existirem semelhanças nas estratégias de abordagem e segmentação de clientes no serviço de atendimento dos seus sites, não podemos afirmar que há uma 3 4 Tecnologias Contemporâneas de Comunicação Meios Digitais de Comunicação. 14 padronização, pois as semelhanças se resumem a apenas alguns itens do composto informacional que formata o canal de relacionamento. Entre os itens semelhantes estão o tratamento diferenciado a pessoas físicas e jurídicas, aos clientes pré-pagos e pós-pagos e a disposição dos serviços na estrutura dos sites e dos formulários. Contudo, a forma como estabelecem a relação com o internauta é totalmente diferenciada, ou seja, os níveis de relação estabelecidos, a partir da segmentação do perfil do cliente e do atendimento, são bem distintos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme previsto nas nossas hipóteses, os SAC’s das operadoras que atuam em Salvador/BA desenvolvem um trabalho de relacionamento permanente com os seus públicos de interesse, principalmente, o seu público usuário, a partir das lojas próprias e do callcenter. Contudo, apesar de gerenciarem estrategicamente, com técnicas de marketing, as informações obtidas a partir das queixas e reclamações realizadas nos canais disponibilizados pelos seus SAC’s, deixam de atender alguns públicos e de prever possíveis crises de imagem e de relacionamento, por falta da utilização de técnicas de relações públicas ou, no mínimo, de comunicação integrada. É patente o esforço realizado pelas operadoras de telefonia em Salvador para estabelecer uma boa estrutura de atendimento aos seus usuários. Percebemos, contudo, que é necessário ainda um avanço muito grande do setor, no que se refere ao atendimento ao consumidor, para se alcançar melhores níveis de satisfação entre eles. Esses avanços estão por serem feitos, sobretudo no que se refere ao uso das TCC na relação com os seus públicos nos SAC’s. A partir das simulações realizadas e da bibliografia pesquisada, percebemos que a Internet, diferentemente do que tínhamos como pressuposto de pesquisa, apesar de ser uma das mais importantes ferramentas tecnológicas disponíveis para o estabelecimento de uma relação permanente com o consumidor na atualidade, não é bem utilizada pelas operadoras, que priorizam a central telefônica. Se de um lado o setor foge das relações virtuais na Internet, de outro percebemos claramente a necessidade, por parte das operadoras, de tentar tornar tangível o serviço que oferecem, a partir das suas lojas, disponibilizando produtos agregados, que podem ser tocados, sentidos, pois são físicos, dando tangilibilidade ao serviço oferecido e passando segurança ao cliente através da estrutura disponibiliza caso este precise de suporte. De que os SAC’s do setor de telefonia móvel celular em Salvador precisam avançar, ninguém discorda. Mas como avançar nas relações com o público consumidor, já 15 que, a cada dia, seja por fenômenos sociais, político-legais ou econômicos, esse público assume uma postura mais exigente e pró-ativa? A resposta para essa questão está, ao nosso ver, no uso estratégico das relações públicas nas interações dessas organizações com o seu público usuário (clienteconsumidor) e na formação e qualificação adequada dos gestores desses processos. Acreditamos que, a partir do momento que a gestão dos relacionamentos estiverem, estrategicamente, nas mãos de profissionais formados e qualificados para desenvolver planejamentos específicos de relacionamentos com os públicos, visando não apenas a construção e manutenção da imagem institucional e corporativa da organização, mas, sobretudo, o estabelecimento de níveis mais adequados de cooperação mútua, todo o avanço pretendido poderá ser alcançado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CESCA, Cleusa Gimenes; CESCA Wilson. Relação Empresa-Consumidor-Órgãos de defesa. In: _______. Estratégias empresariais diante do novo consumidor. São Paulo: Summus, 2000. CLARO, site institucional da. Disponível em: <http://www.calro.com.br> Acessado em 15 de março de 2005. OI, site institucional da. Disponível em: <http://www.oi.com.br> Acessado em 6 de março de 2005. PINHO. J. B. Relações Públicas na Internet: Técnicas e estratégias para informar e influenciar públicos de interesse. São Paulo, Summus, 2003. SIMÕES, Roberto Porto. Relações Públicas: Função Política. 5. Ed. Ver. Ampl. – São Paulo: Summus, 1995. TAVARES, Mirela. Revista Propaganda, n.582, novembro de 1999. TIM, site institucional da. Disponível em: <http://www.timmaxitel.com.br> Acessado em 6 de março de 2005. VIVO, site institucional da. Disponível em: <http://www.vivo.com.br> Acessado em 6 de março de 2005.