O AMOR É CONTAGIOSO: UMA REFLEXÃO SOBRE A

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O AMOR É CONTAGIOSO: UMA REFLEXÃO SOBRE A
O AMOR É CONTAGIOSO: UMA REFLEXÃO SOBRE A NECESSIDADE DE
HUMANIZAÇÃO DO SISTEMA JUDICIÁRIO
TALARICO, Cahuê Alonso1
Na vida prática nos deparamos com situações de causar perplexidade aos mais céticos.
Impressiona o descaso em que as partes são tratadas nos processos.
Esse é um sentimento constante em todos os profissionais envolvidos no sistema
judiciário, juízes, promotores, advogados, escreventes, enfim, todos que de alguma forma
atuam no Poder Judiciário.
É cada vez mais crescente a sensação de que as partes são apenas números. Esquece-se
que ali está em jogo a vida das pessoas.
Isso não é ensinado nos bancos das faculdades.
Assim como os profissionais da medicina, aqueles que de alguma forma atuam no
processo podem arruinar com a vida das partes nele envolvidas. De nada adianta viver, sem
ter dignidade. Devido a sua importância esse princípio foi erigido pela Carta de 1988 à
condição de princípio fundamental.
Ao julgar, o juiz deve sempre se lembrar de que não está diante apenas de uma série de
documentos, mas está decidindo os rumos das vidas das pessoas.
Da mesma maneira devem agir advogados, promotores, defensores públicos,
psicólogos, peritos e escreventes.Embora estes não tenham poder de decisão, podem
contribuir com a demora demasiada da solução do conflito.
Não se quer aqui atribuir culpa a uma categoria específica. Esse defeito é encontrado
em todas elas e, talvez, a maioria das pessoas nem se dê conta disso.
Lembro-me do filme “O Amor é Contagioso” que retratou a vida de Patch Adams,
penso que o mesmo conceito deveria ser trazido para o mundo jurídico.2
A mensagem transmitida é de que os pacientes não deveriam ser tratados somente
como números, mas como pessoas e, por isso, tratadas com dignidade.
Ele se negava a se referir aos pacientes como números. Preferia chamá-los pelo nome.
1
Mestrando em Direitos Difusos e Coletivos (Unimes) e Especialista em Direito Processual (Unisul).
Professor Graduação Unip e FaGu, pós-graduação Unip e extensão universitária (Curso Erga Omnes).
Email.:[email protected]
2
Patch Adams - O Amor é Contagioso. Dirigido por Tom Shadyac. 1998.
Esse sentimento é praticamente impossível de ser transmitido nos bancos das
faculdades. Contudo, de alguma forma deve ser abordado pelos professores e por todos os
envolvidos no sistema jurídico.
Afinal, o processo não é um fim em si mesmo, mas um meio de garantir direitos. De
nada adianta tutelar direitos esquecendo-se que esses são inerentes a uma pessoa.
Os profissionais ao atuarem devem ouvir a voz do coração e não apenas a da razão.
Devem se lembrar de que ali está se decidindo a vida de pessoas.
É preciso agir com amor. Com a correria natural nos dias atuais, esse sentimento foi
ficando de lado. Cada um pensa em si, esquecendo-se do próximo.
É comum haver um excesso de tecnicismo esquecendo-se da busca por justiça.
Vale lembrar que um dos objetivos da nossa República é construir uma sociedade
livre, justa e solidária.
Infelizmente, o ser humano nunca foi tão egoísta como atualmente. As pessoas
procuram realizar os seus anseios, sem se importar com os outros.
Esse comportamento se reflete no sistema judiciário. Cada pessoa se preocupa com a
realização da sua atividade visando atingir um determinado resultado, pouco se importando
com as consequências desses atos na vida dos outros.
Esse pensamento deve mudar. O ser humano deve estar no centro das atenções e não o
cumprimento de um mister.
Ao exercer suas atividades os envolvidos nos sistema judiciário o foco deve ser
analisado com amor ao próximo. Como certa vez cantou Renato Russo:
É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar
Na verdade não há3.
Resta sempre a esperança que num futuro bem próximo o amor contagie as pessoas.
Que os envolvidos no sistema judiciário brasileiro passem a agir mais com o coração,
preocupando-se mais com as pessoas envolvidas no litígio, deixando de dar soluções
simplistas a ele, proporcionando, assim, uma verdadeira melhora na vida das pessoas.
3
Dado Villa-Lobos; Renato Russo: Pais e Filhos.