Depoimento

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Depoimento
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Dr. ARNALDO SCHIZZI CAMBIAGHI
Gravidez:
Caminhos
Tropeços e...
Conquistas
Depoimentos de
casais que contam
como venceram as
dificuldades de
engravidar
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C175f
Cambiaghi, Arnaldo Schizzi
Gravidez: caminhos, tropeços e... conquistas / Arnaldo
Schizzi Cambiaghi - São Paulo: Editora LaVidaPress, 2013.
224 páginas; 16x23 cm.
ISBN 85-98127-04-3
CDD: 618.2
NLM WQ 200
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida por qualquer meio ou
forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação, etc. - nem apropriada ou estocada em sistema de banco de
dados, sem a expressa autorização da editora.
Impresso no Brasil - Printed in Brazil
Ref . 2137
CAPA
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
Nívio Ribeiro Júnior
PROJETO GRÁFICO
Lucimara Faria do Carmo
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
COORDENAÇÃO DA REVISÃO GRÁFICA
Roberta Spinaci
REPÓRTER
Danielle Duanetti
REVISÃO DE TEXTO
Jandyra Lobo de Oliveira
COLABORAÇÃO
Carmem Franco – Depto. de Marketing do IPGO
CONTATO COM O AUTOR:
[email protected]
www.ipgo.com.br
Editora
R. Abílio Soares, 1.111 – sala 07
Paraíso – CEP: 04005-004
São Paulo – SP – Brasil
[email protected]
Tel. (11) 3057-1796 / 3887-7764
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Dr. ARNALDO SCHIZZI CAMBIAGHI
• Médico Ginecologista Obstetra Especialista em Reprodução Humana.
• Diretor do Centro de Reprodução Humana do Instituto Paulista de
Ginecologia e Obstetrícia - IPGO.
• Membro da European Society of Human Reproduction and Embriology.
• Membro Efetivo da ASRM (American Society for Reproductive Medicine).
• Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.
• Membro Efetivo da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida.
• Membro da The American Association of Gynecologic Laparoscopists.
• Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (Ginecologia).
• Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica.
• Membro da Internacional Society Fertility Preservation.
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Aviso Importante
Os depoimentos relatados neste livro são reais e os protagonistas
tiveram seus nomes trocados por motivos éticos e para manter sua privacidade, mesmo quando não era o desejo deles.
As histórias foram divididas em capítulos que expõem os principais
problemas dos casais que procuraram uma clínica de Fertilidade. Todos
os casais foram tratados no Centro de Reprodução Humana do IPGO
(Instituto
Paulista
Reprodução).
de
Ginecologia,
Obstetrícia
e
Medicina
da
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Nota do Autor
"Por que tantas mulheres têm tantos filhos e eu nenhum?"
"Por que mulheres que não querem filhos engravidam com faci-
lidade, provocam abortos e eu não consigo?"
"Por que casais sem o mínimo de condição econômica enchem a casa
de crianças, e eu que tenho essas condições e desejo tanto um bebê,
tenho minha casa vazia?"
"Por que mulheres que conseguiram ter seus filhos com facilidade,
simplesmente abandonam os seus bebês?"
"Por que justo comigo?"
Estas são as perguntas mais frequentes que os casais fazem a si
mesmos quando percebem as dificuldades em ter filhos. A frustração
inicia-se desde o primeiro mês, quando o casal decide engravidar e a
menstruação deste ciclo, planejada para não vir, vem normalmente,
lamentavelmente. Os meses passam e o casal continua tentando, sem-
pre com a certeza de que "este será o mês". As expectativas vão se acu-
mulando e as frustrações também, enquanto a gestação não vem. O
casal se autoanalisa, principalmente as mulheres. "Por quê?" – reflete a
parceira. "Minha saúde ginecológica vai bem, minhas mestruações são
normais, eu percebi até mesmo o momento que estava ovulando e tive
relações sexuais frequentes: por que este filho não vem?” O tempo vai
passando e o sangue menstrual passa a ser visto como lágrimas da tristeza do útero por não ter engravidado.
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A alma dói. Uma dor que se aprofunda com o passar do tempo, mas
que passará assim que a gravidez chegar.
Para muitas mulheres, a impossibilidade de gestação é uma tragédia
familiar, uma frustração cujo único remédio é um filho no berço de sua
casa.
O desejo da gravidez independe da classe social ou poder econômi-
co. Todos precisam ter a sua própria família. Os casais, de um modo
geral, têm a necessidade de se apresentarem para a sociedade, fami-
liares, amigos, para o mundo e para si próprios como pessoas capazes
de ter filhos.
Nós, médicos e equipe de apoio do Centro de Reprodução Humana
do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia), queremos que
todos os casais engravidem e não economizamos sacrifícios, pois temos
consciência do quanto eles sofrem com essa dificuldade.
Os depoimentos relatados neste livro são contados por pessoas
vencedoras que souberam passar por todos os obstáculos que a vida
reprodutiva a elas determinou. É um incentivo do coração daqueles que
buscaram a gravidez com vitória e não se arrependem de nada.
Aproveitem!!
A emoção de ter um filho é incomparável e deve ser
sentida por todos.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Prefácio
Existem inúmeros livros publicados sobre o tema da infertilidade;
porém, Gravidez: Caminhos, Tropeços e... Conquistas contém algo de
novo e surpreendente: as histórias de vários casais, contadas por eles
mesmos, que, por diferentes motivos, tiveram dificuldades para conse-
guir a gravidez naturalmente. Esses casais passaram pelas etapas que
pressupõe um tratamento reprodutivo e com muito esforço e dedicação realizaram o grande sonho de ter filhos.
Os Caminhos que cada um destes personagens percorreram são os
mais diferentes possíveis: inseminação artifical, fertilização in vitro,
doação de sêmen, ovodoação, cirurgias, apenas para citar alguns.
Porém, a riqueza de seus relatos reside na maneira que cada um deles
foi encontrando para superar seus medos, suas ansiedades e ainda for-
talecer o vínculo conjugal. Movidos pelo forte desejo de realizar um
sonho, nos dão exemplos de como a perseverança, a fé e a dedicação
podem mudar o rumo da vida de cada um de nós. Tarefa nada fácil,
sabendo os riscos e as incertezas que cada tratamento traz.
Infelizmente, os Tropeços acabam acontecendo, fazem parte da vida,
da natureza, daquilo que não controlamos. Mas, movidos pela esperan-
ça e com o apoio fundamental do vínculo médico-paciente, estes casais
conseguem superar suas dificuldades e realizar Conquistas!
Oferecendo detalhes sobre cada caso apresentado, informações téc-
nicas em linguagem clara e objetiva, o autor vai acompanhando a tra-
jetória de seus pacientes. Aliás, tarefa cumprida com extrema habilidade, uma vez que os médicos sabem quanto é difícil receber em sua
sala casais que já estão bastante fragilizados e desmotivados após anos
de tratamento. Dosando de forma bastante habilidosa o acolhimento
necessário e a objetividade das informações nas consultas, Dr. Arnaldo
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demonstra em suas falas quanto se sensibiliza com cada caso. Essa ati-
tude solícita e esse comprometimento personalizado com cada casal é
obviamente captado pelos pacientes e retribuído na formação de um
vínculo que só traz benefícios, seja qual for o resultado do tratamento.
Tenho certeza que você encontrará no conteúdo deste livro não só
relatos e informações sobre tratamentos reprodutivos, mas também um
universo de emoções que trará uma nova visão sobre o tema da infertilidade, ou por que não, da fertilidade!
Eliane V. Rovigatti Gasparini
Psicóloga, Doutora em Psicologia – PUCCAMP e Especialista em Assessoria
Psicológica em Obstetrícia, Medicina Fetal e Reprodução Assistida
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Agradecimentos
• Aos meus pais:
Pela visão futura de minha felicidade, quando, na adolescência, me incentivaram a ser médico.
• Aos casais que me ajudaram a escrever este livro:
- por acreditarem que a minha sabedoria e dedicação profissional os ajudariam a ter seus filhos;
- pelo exemplo e determinação que demonstraram ao escrever seus depoimentos.
• A todos os casais:
- que vierem me inspirar para escrever o próximo livro.
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A Vida
Por muito tempo eu pensei que a minha vida fosse
se tornar uma vida de verdade.
Mas sempre havia um obstáculo no caminho,
algo a ser ultrapassado antes de começar a viver,
um trabalho não terminado, uma conta a ser paga.
Aí sim a vida de verdade começaria.
Por fim, cheguei à conclusão de que esses obstáculos
eram a minha vida de verdade.
Essa perspectiva tem me ajudado a ver que não existe um
caminho para a felicidade.
A felicidade é o caminho!
Assim, aproveite todos os momentos que você tem.
E aproveite-os mais se você tem alguém especial
para compartilhar, especial o suficiente para passar o tempo;
e lembre-se que o tempo não espera ninguém.
Portanto, pare de esperar até que você termine a faculdade;
Até que você volte da faculdade; até que você perca 5 quilos;
até que você ganhe 5 quilos; até que você tenha tido filhos;
até que seus filhos tenham saído de casa; até que você se case;
até que você se divorcie; até sexta à noite; até segunda de manhã;
até que você tenha comprado um carro ou uma casa nova;
até que seu carro ou casa nova tenha sido pago;
até o próximo verão, outono, inverno; até que você esteja aposentado;
até que sua música toque; até que você tenha terminado seu drink;
até que você esteja sóbrio de novo; até que você morra.
E decida que não há hora melhor para ser feliz do que
AGORA MESMO...
Lembre-se: “Felicidade é uma viagem, não um destino.”
“Quem tem um porque viver, encontrará quase sempre o como”.
Henfil
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Índice
Capítulo 1
TUDO PODE SER MUITO SIMPLES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
* Amor em triplicidade – Carolina e Daniel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
* Mais fácil do que se pensa – Helena e Carlos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Espaço da Ciência – Fertilização in vitro (FIV) ou Bebê de Proveta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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22
27
30
Capítulo 2
QUANDO A RAZÃO VENCE A EMOÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
* Práticos, sonhadores e perseverantes – Sônia e Alberto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Capítulo 3
QUANDO O POUCO É TUDO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
* Nada foi mais forte do que o desejo de ser mãe – Tânia e Jorge . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O milagre fez o pouco ser suficiente – Aline e Damian . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Não desanime jamais – Maira e Víctor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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43 *
46 *
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Capítulo 4
A FERTILIDADE VENCE A ENDOMETRIOSE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
* Ela coloriu as nossas vidas – Anne e Fred . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Deus sabe o momento certo – Adriana e Enrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Espaço da Ciência – Endometriose – O que é? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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57 *
63
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Capítulo 5
HOMENS COM "H" MAIÚSCULO (banco de sêmen) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
* Uma luta e duas vitórias – Anita e Ciro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Deus realiza sonhos impossíveis – Carla e Augusto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Espaço da Ciência – A pesquisa da fertilidade no homem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Avaliação do DNA do espermatozoide . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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75 *
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Capítulo 6
A FORÇA DA PERSEVERANÇA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
* Caímos para aprender a nos levantar – Rosa e Odilon . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
* Fomos derrotados em muitas batalhas, mas nunca desistimos de vencer a guerra –
Letícia e Rogério . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
* Felicidade em dose dupla – Fábia e Francisco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .197
Espaço da Ciência – As chances de sucesso e as causas de fracasso . . . . . . . . . . . . . . . . . . .102
Capítulo 7
BENDITO O FRUTO DO “VOSSO” VENTRE (doação de óvulos) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .105
* Minha vitória estava em meu destino – Tânia e Paulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .108
* O tempo de Deus é diferente do nosso – Sandra Regina e Alex . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .113
* A felicidade não é um destino, mas uma escolha – Suzana e Gustavo . . . . . . . . . . . . . . . . . .118
Espaço da Ciência – Doação de óvulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .122
Capítulo 8
BENDITO O FRUTO DO “OUTRO” VENTRE (barriga de aluguel) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .125
* Deus me devolveu o que um dia tiraram de mim – Márcia, dona Ângela (mãe) e Caio . . . . . . . . .128 *
O fruto de três corações – Valéria, Rosana (irmã) e Tadeu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .132
Espaço da Ciência – Barriga de aluguel – Útero de Substituição –
Doação Temporária do Útero . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .135
Capítulo 9
ANSIEDADE: MITO OU VERDADE? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .137
* Valeu a pena – Míriam e Manoel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .139 *
Cada dificuldade foi um degrau para a minha vitória – Heloísa e Rodrigo . . . . . . . . . . . . . . . . .143
Espaço da Ciência – A importância do emocional na infertilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .148
Capítulo 10
NERVOS DE AÇO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .151
* Fé e esperança – Pamela e Edgard . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .153
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Capítulo 11
NEM IDADE, NEM VASECTOMIA E... TRIGÊMEOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .159
* Hoje eu tenho não uma, mas três razões para viver – Nina e Alberto . . . . . . . . . . . . . . . . . . .161
Espaço da Ciência – Avaliação da Reserva Ovariana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .166
Capítulo 12
VALE TUDO (tratamentos alternativos podem mudar o destino) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .169
* Ela é a minha Vitória, minha vida – Sofia e Jamil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .162
* Jesus estava me testando – Soraya e Antônio José . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .176
* As batalhas existem para serem vencidas – Najla e Matheus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .179
Espaço da Ciência – Imunologia da Reprodução e Trombofilias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .183
Capítulo 13
A PRIMEIRA GESTAÇÃO GEMELAR DO BRASIL DE ÓVULOS CONGELADOS . . . . . . . . . .187
* Deus escreve certo por linhas tortas – Beatriz e Arthur . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .190
Espaço da Ciência – O congelamento de óvulos e suas indicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .194
Capítulo 14
DECIDIDA E RÁPIDA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .197
* A mulher mais rápida do Brasil – Samantha e Adilson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .199
Capítulo 15
FÉ, MUITA FÉ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .203
* Lute até as últimas consequências – Simone e Keiji . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .204
Capítulo 16
OUSADIA RESPONSÁVEL - “IL GRAN FINALE” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .211 *
Em busca de um sonho... ser mãe! – Luana e Breno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .213
Em busca de um sonho... ser pai! – Breno, 35 anos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .222
QUEM SOMOS – IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia,
Obstetrícia e Medicina da Reprodução) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .223
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Ou encontro
um caminho ou
eu o faço.
Philip Sidney
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Tudo pode ser muito
simples
1
De um modo geral, as pessoas tendem a ter medo daquilo que não conhecem
e acreditam que enfrentar o desconhecido pode ser uma experiência muito difícil.
Só depois descobrem que tudo pode ser muito simples. Todos nós passamos
por situações como essas desde a infância: o primeiro dia de aula na escola, o(a)
primeiro(a) namorado(a), o primeiro beijo, o primeiro dia do novo emprego, andar
de bicicleta, etc. Mais tarde queremos dirigir um automóvel, entender e lidar com
seus vários pedais, mudar de marchas, brecar, acelerar, prestar atenção na velocidade, no trânsito, tudo ao mesmo tempo. Num momento inicial parece algo impossível de ser coordenado, mas depois todos aprendem. Os instrumentos musicais
também exigem compreensão e coordenação: conhecer os acordes, as notas, ler
partituras, decorar as sequências e assim por diante. Mas a verdade é que tudo se
consegue com conhecimento e um pouco de prática. Tudo passa a ser simples.
É o aprendizado. Os tratamentos de Fertilização Assistida não fogem a esta regra.
Quem não os conhece tem a impressão inicial que é um processo difícil de ser
entendido. Mas não é! Porque a arte imita a vida, e o que os médicos e embriologistas tentam fazer é copiar o que a natureza criou: a multiplicação dos seres vivos,
o que nem sempre é muito simples.
Durante o tratamento, normalmente é necessário que sejam acrescentados a
este processo reprodutivo alguns remédios para que se alcancem os melhores
resultados (melhor qualidade e maior número de óvulos), caso contrário as chances serão menores. Além de uma boa dose de paciência e equilíbrio emocional, a
paciente deverá ter disciplina nos horários de aplicar os medicamentos e rigor nos
dias de controle da ovulação pelo ultrasom, definindo assim o melhor momento da
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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fertilização. O período de medicação para este procedimento é de duas a três
semanas, que pode ser considerado curto para o objetivo tão nobre a que se destina: a gravidez. Além do mais, não podemos esquecer que um resultado positivo
será para a vida toda.
O apoio, o carinho e a compreensão do marido, tanto nesta fase como em todo
o processo são fundamentais para amenizar a angústia e a expectativa do resultado.
É importante que o casal conheça todas as etapas do tratamento pelo qual
estão passando. Devem fazer perguntas ao seu médico e seus assistentes, ouvir
as explicações, não adiar as dúvidas, ler livros e consultar a “internet séria”, pois
esses conhecimentos ajudam a superar eventuais dificuldades. Assim, será menor
a tensão emocional própria das pessoas que querem o sucesso naquilo que fazem.
Ao conhecer o processo pelo qual estão passando, perceberão que o tratamento é uma sequência de fatos que, ao serem compreendidos, serão tão simples
como aqueles descritos no início deste capítulo. A busca pelo bebê passa a ser
mais fácil.
Embora este capítulo tenda a mostrar o lado prático desses tratamentos, não
devemos esquecer que as pessoas são diferentes umas das outras, e a sensibilidade ao tratamento para algumas delas, ao enfrentar esta etapa da vida, pode ser
mais difícil. Isto não significa que sejam inferiores ou frágeis demais, mas simplesmente que são mais sensíveis para esta situação, da mesma forma que outras pessoas são mais sensíveis em situações diferentes. Cada indivíduo é único, todo ser
humano é ímpar.
Os casais Carolina e Daniel, Helena e Carlos são de temperamento positivo e
de um otimismo real, não são sonhadores e lidaram com o processo de fertilização
com muita facilidade. Com companherismo e cumplicidade ideais para o relacionamento marido e mulher passaram por todas as etapas com tranquilidade.
Considero todas as minhas pacientes especiais, como minhas filhas, que necessitam de cuidados e supervisão vinte e quatro horas por dia. Independentemente da idade que tenham, estou atendo a tudo. Cada paciente – como minhas filhas
– tem a sua marca registrada: um gesto, um comentário, uma frase de efeito ou
uma atitude que pode caracterizar uma maneira de torná-la inesquecível.
Carolina e Daniel são de bem com a vida. A única preocupação de Carolina era
imaginar a possibilidade de trocarem os espermatozoides do seu marido no mo-
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
Tudo pode ser muito simples
mento da fertilização. É natural este medo. A grande maioria tem. Para segurança
e bem-estar de todos os casais, é importante saber que antes de o sêmen ser
colhido para fertilização é etiquetado e encaminhado diretamente ao laboratório. É
praticamente impossível essa troca. Mas o que chamou minha atenção sobre o
casal foi a naturalidade e calma mostradas em cada etapa do tratamento. A frase
interessante foi dita por Carolina, logo após a coleta de óvulos e a transferência
dos embriões: “Eu achava que a Fertilização In Vitro era complicada, mas foi tão
simples!!!” comentou admirada.
Este tratamento foi bem-sucedido e resultou numa gestação gemelar tripla.
Com esse resultado, Daniel, que tinha uma quantidade mínima de espermatozoides, falava em verso e prosa e com bom humor: “– São pouquíssimos, mas
muito espertinhos.”
Após alguns meses do nascimento dos trigêmeos, assistindo a um programa
esportivo de televisão, vi Daniel sendo entrevistado. O assunto era sobre a corrida
de São Silvestre. Nessa entrevista, Daniel dizia que os trigêmeos não eram um fator
limitante para sua vida e sim um incentivo para trabalhar e treinar para a corrida.
Helena e Carlos, muito calmos, passaram por todas as etapas do tratamento como
se estivessem preparando uma festa de aniversário. Os pontos interessantes da história deles que me chamaram a atenção foram a hora de decidir quantos embriões
seriam colocados no útero e a percepção que tiveram da necessidade de um certo virtuosismo do médico que realiza a transferência dos embriões. Muitos casais comentam que esse momento é um dos mais angustiantes, pois ao se decidir por colocar um
número maior de embriões as chances aumentam, mas também aumentam as chances de gestação múltipla. Se a opção for transferir menos embriões, as chances diminuem um pouco, mas não haverá gestação múltipla. Hoje em dia, com os critérios
laboratoriais de escolher os melhores embriões, raramente transferimos mais que
dois, pois mesmo quando são de ótima qualidade, consegue-se detectar entre os
melhores quais são os que realmente têm maior chance de implantar. Foi nessa hora
que Carlos demonstrou seu equilíbrio e bom senso. Optou por transferir só dois
embriões, dizendo: “– Helena, vamos transferir somente dois para evitar riscos maiores nesta primeira tentativa. Caso não dê resultado positivo, tentaremos novamente.”
Foram transferidos dois embriões e se obteve gestação gemelar dupla.
É importante que nessa hora os casais tenham o equilíbrio de, junto com o seu
médico, considerar a qualidade dos embriões e saber quais as chances reais dos
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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resultados, pois um número maior de embriões transferidos poderá implicar uma
gravidez desastrosa de quatro bebês – e consequentemente levar a complicações
desagradáveis.
Depoimentos
"Amor em triplicidade"
Carolina e Daniel
Sou mãe de Artur, Beatriz e Victor, e hoje eu sei que esse foi o melhor presente
que eu poderia receber. Sinto-me melhor como mulher, como esposa, como pessoa, e o mais importante: aprendi o que é ser mãe. É por causa deles que eu estou
aqui, escrevendo e revivendo toda a minha trajetória.
Desde muito nova, eu sonhava com a maternidade. Esse desejo sempre esteve
presente no meu coração e eu dizia até que se de repente eu não encontrasse um
amor, um companheiro para dividir esta responsabilidade, faria uma produção
independente sem o menor constrangimento. Aos 19 anos conheci meu atual marido, mas casei apenas aos 30 anos, pois por um longo tempo buscamos nossas
realizações pessoais e profissionais. Costumamos planejar tudo em nossas vidas,
e por isso queríamos nos estabilizar antes de dar o primeiro passo para uma vida
a dois.
Após um ano de casados, perguntei ao meu marido se não teríamos filhos. Ele
disse que sim, pois também sempre foi apaixonado por crianças, mas me questionou se eu podia ser mãe. Disse a ele que sim, pois sempre fui muito precavida em
relação a isso, e antes de me casar realizei todos os exames pré-nupciais. Ele dizia
que ficávamos falando de filhos, mas nem sabíamos se podíamos ser pais! Como
ele nunca havia feito um exame relacionado à fertilidade, eu o instruí a realizar um
espermograma para verificar se tudo estava bem.
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
Tudo pode ser muito simples
No dia em que o resultado saiu, eu mesma fui buscar. Quando abri o exame,
descobri que meu marido tinha azoospermia. Eu não fazia a mínima ideia do que
era, mas logo senti que não se tratava de algo bom. Cheguei em casa já chorando, conversei com ele e, juntos, começamos a navegar na internet, na tentativa de
encontrar informações sobre o problema. Foi então que descobrimos que
azoospermia se tratava da ausência total de espermatozoides, o mais grave problema de infertilidade que um homem pode ter.
Ficamos chocados e choramos muito, mas logo nos recuperamos. Meu marido
se dirigiu a um urologista que confirmou o problema, nos dizendo que filhos só seriam possíveis através de tratamentos específicos. A princípio ficamos muito chateados, pois não tínhamos conhecimento do assunto e tudo parecia estar muito distante da nossa realidade.
Em meio a muita angústia e decepção, meu marido me disse que se o meu desejo de gerar um filho estivesse acima de todas as coisas na minha vida, eu podia
procurar outra pessoa, que ele entenderia. Eu fiquei muito emocionada com aquela declaração e disse a ele que o nosso amor estava acima de qualquer coisa e
que eu jamais o largaria por não poder ter filhos. Nos unimos e juntos decidimos
correr atrás para saber das nossas possibilidades.
Começamos a ler muito a respeito a fim de conhecer o problema, o tratamento,
as chances, os caminhos. Após alguns meses, comecei a procurar uma clínica
para que meu marido realizasse uma biópsia do testículo, a fim de verificar se ele
tinha espermatozoides para a realização de um tratamento.
Optamos pela clínica de um médico em São Paulo que vimos na televisão, mas
não queríamos um filho naquele momento. Nossa intenção era apenas de saber se
o meu marido poderia ser pai, para que depois pudéssemos planejar o melhor
momento para uma gravidez. Para nossa felicidade, meu marido tinha milhões de
espermatozoides, porém todos estavam escondidos, pois ele não tinha o canal deferente. O médico insistiu muito para que déssemos início ao tratamento de imediato, mas não eram nossos planos. Ele ficou inconformado com a nossa decisão,
fazendo com que nós percebêssemos que não significávamos nada além de um
cifrão para sua clínica. Ficamos aborrecidos com a atitude do especialista, mas
muito aliviados com a notícia de que era possível sermos pais.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Decidimos que era melhor esperarmos mais um pouco, pois o meu marido estava terminando uma pós-graduação, e além disso estávamos morando fora de São
Paulo, por conta do seu trabalho. Dessa forma, decidimos que somente após dois
anos e meio é que procuraríamos uma clínica para realizar o tratamento.
Durante todo este período, ninguém sabia do problema que estávamos enfrentando, pois decidimos não contar a ninguém. Porém, eu não consegui esconder da
minha mãe e acabei contando a ela sem que o meu marido soubesse. Ela muito
me ajudou, com apoio, consolo e, palavras amigas nos momentos de mágoa.
Certo dia, fui indicada a um ginecologista, também especialista em reprodução
humana. Como eu precisava realizar alguns exames de rotina, decidi agendar uma
consulta para conhecer aquele profissional. Por um ano seguido me tratei com o
Dr. Arnaldo, porém somente a parte de ginecologia.
Assim que eu e meu marido decidimos dar início à nossa primeira tentativa de
Fertilização In Vitro, o levei à clínica do Dr. Arnaldo, porque era necessário que ele
também sentisse confiança no médico. Graças a Deus, houve uma grande empatia, e, após alguns meses, lá estávamos nós iniciando o tratamento.
Desde o início, eu sempre dizia que tudo era muito fácil. Tive medo do tratamento, de sentir muita dor com as injeções, de engordar muito, de não dar certo, mas
nessa hora o apoio do meu marido e o fato de sermos pessoas com atitude positiva foram fundamentais. Foi uma coisa incrível, pois eu não sofri nenhum desgaste.
Nesse aspecto tudo foi muito fácil, tanto para mim quanto para o meu marido. Sempre tínhamos que inventar alguma desculpa para explicar as aplicações das injeções aos curiosos. Cheguei a falar para a família do meu marido que estava fazendo tratamento para varizes.
Quando chegou o dia da transferência, meu marido estava em uma reunião e
minha mãe que me acompanhou. O Dr. Arnaldo me disse que tinham quatro
embriões e que eu deveria colocar dois ou no máximo três. Contrariando sua
decisão, decidi colocar os quatro. Minha mãe pedia pra que eu não colocasse,
porque poderia vir mais que um, mas eu dizia: "Mas eu quero gêmeos!", e minha
mãe falava: "E se vierem três?" Foi então que ele nos explicou que a probabilidade
era pequena, mas poderia acontecer. Mesmo assim, decidi colocar todos eles, pois
realmente não achava que poderiam vir três. Achei aquele momento muito especial, e quando os embriões já estavam dentro de mim, o Dr. Arnaldo me disse:
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Tudo pode ser muito simples
"Minha parte eu já fiz. Agora é com Deus, Carolina." Desde aquele instante entreguei o meu sonho a Deus, pois sabia que Ele o realizaria.
Os doze dias foram os mais longos e o momento em que eu sofri, tudo o que
não tinha sofrido desde o início do tratamento. Era impossível não pensar que eu
já estava grávida. Tentava me conter, pois sabia que podia não dar certo, mas tanto
eu quanto o meu marido estávamos muito confiantes quanto ao sucesso do tratamento.
Chegado o dia, fui bem cedinho para a clínica e realizei o exame que me daria
a resposta mais esperada de toda a minha vida. No final da tarde, eu recebi a ligação do Dr. Arnaldo, parabenizando-me pela gravidez. Nossa! Mal conseguia acreditar no que eu tinha acabado de ouvir! Não contive o choro, e, entre lágrimas,
liguei para o meu marido que estava no meio de uma reunião, e ele, muito feliz,
chorou de emoção. Após alguns dias, fui até a clínica para realizar o ultrassom.
Para nossa felicidade, assim como estávamos planejando, eram gêmeos! Ficamos
radiantes e não conseguíamos nos conter de tanta alegria. Desde então, todo o
sofrimento e a ansiedade foram substituídos por uma alegria imensa, que parecia
não caber em nossos corações.
Certo dia, ao me limpar, notei um sangramento. Naquele momento, eu perdi o
chão, fiquei sem rumo e mal conseguia me mover. Liguei imediatamente para o
meu marido dizendo que estava perdendo os bebês. Ele pediu que eu me acalmasse e que fosse até a clínica do Dr. Arnaldo, para que ele pudesse averiguar o
que estava acontecendo. Chegando lá, fui atendida por uma médica assistente que
me explicou que aquele sangramento era natural. Com muito medo, pedi que ela
realizasse um ultrassom, pois eu queria ter certeza que os meus bebês estavam
bem. Foi então, quando durante o procedimento, ela começou a rir sem parar.
Chamou uma das assistentes e perguntou: "A Carolina está grávida de gêmeos?"
A outra assistente assustada respondeu que sim. "Então dá uma olhada no vídeo",
disse a doutora, entre muitos risos. Eu fiquei sem entender nada, mas logo recebi
a notícia de que estava esperando trigêmeos. Na hora fiquei em desespero, pensando: "E agora? O que eu vou fazer?" Minha mãe foi a primeira pessoa que veio
em minha cabeça, pois ela pediu que eu não colocasse os quatro embriões, pois
tinha certeza que viriam três. Logo liguei para o meu marido, que estava no meio
de uma reunião e dei a notícia de que teríamos três filhos. Ele começou a gritar no
meio de todos, dizendo que seria pai de trigêmeos. Na mesma hora saiu da empreDr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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sa, e quando nos encontramos, vendo o meu desespero, disse-me: "Amor, quem
quer dois filhos, quer três!" E assim demos continuidade à nossa vida, ainda mais
felizes.
O nascimento dos meus filhos me trouxe grande aprendizado como mãe e
como ser humano. Ficaram 29 dias na neonatal. Essa foi uma fase de enorme
aprendizado como mãe, desejava a melhora não só dos meus bebês, mas de todos
que passam pela UTI. Hoje tudo isso é passado, mas ainda olho para eles e lembro daqueles corpinhos pequenos dentro da incubadora, aprendendo a respirar, a
mamar e lutando pela vida. Graças a Deus, meus filhos saíram de lá e hoje os três
têm muita saúde. Depois de enfrentar a neonatologia, sei que nada pode ser pior
e que o mais difícil já vencemos.
Hoje, eu e meu marido sabemos que a nossa família está muito mais que completa. Não conseguimos mais nos imaginar sem essas três pessoinhas maravilhosas que crescem a cada dia, descobrindo e conhecendo o mundo e tudo que as
cerca. Não poderíamos estar mais felizes.
Sempre que alguém menciona o trabalho triplicado que nós temos, fazemos
questão de lembrar que a responsabilidade é grande, mas a gratificação em ver
três sorrisos, receber três abraços, três beijos, e além disso, ouvir três "eu te amo"
está acima de tudo. Não existe nada melhor, e é por isso que seremos eternamente
gratos a Deus, por ter-nos dado essa dádiva.
"Se você tem o sonho de ser mãe, lute por ele! Seja sempre positiva,
mantendo a harmonia em seu espírito, pois acredito que isso nos
torna mais próximos de nossas realizações. Quando você menos
esperar, tudo irá acontecer!"
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Tudo pode ser muito simples
"Mais fácil do que se pensa"
Helena e Carlos
Sempre gostei muito de criança, mas o desejo de ser mãe apareceu quando eu
me casei. Eu e meu marido decidimos esperar um pouco, como a maioria dos
casais costuma fazer, e, somente após três anos, é que decidimos ter um filho.
Eu não usava contraceptivos, mas até então a nossa busca era muito tranquila. Decidimos apenas que já estávamos preparados para a maternidade, mas não
tínhamos pressa. Depois de algum tempo aguardando, eu engravidei, mas com
apenas dois meses de gestação, perdi o bebê. Ficamos muito chateados, mas logo
nos recompusemos e demos continuidade à nossa caminhada.
Após quatro anos sem nenhum resultado, começamos a desconfiar que havia
algo errado. Procuramos alguns médicos, mas não recebíamos muitos esclarecimentos sobre o que poderia ser. Todos nos receitavam medicamentos, mas não
nos davam qualquer explicação. Nós ainda estávamos muito tranquilos, mas sabíamos que tinha algo errado e queríamos descobrir o que era. Começamos a ficar
um pouco aflitos, não com a ausência da gravidez, mas sim com o fato de não
encontrarmos um profissional que examinasse o nosso quadro com mais exatidão.
Entre muitos questionamentos, certo dia, meu cunhado me indicou a clínica
IPGO. Comentou que um casal de amigos estava realizando tratamento para infertilidade e, ao comentar sobre o meu aborto, lhe deram ótimas referências do médico. Decidi agendar um horário para ver se finalmente conseguíamos descobrir o
que estava acontecendo de fato.
Logo na primeira consulta com o Dr. Arnaldo, foram solicitados vários exames
para que primeiramente fosse identificado o problema que nos mantinha longe da
maternidade. Ao receber os resultados dos exames, com muita calma nos explicou
que meu marido tinha baixa quantidade de espermatozoides e que por isso eu não
estava conseguindo engravidar pelo método natural. Nos alertou que diante daquele diagnóstico, a nossa única opção de tratamento era a Fertilização In Vitro. Após
nos orientar quanto aos procedimentos provenientes ao tratamento, o Dr. Arnaldo
pediu que com calma pensássemos a respeito.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Em nenhum momento esse problema atrapalhou o nosso relacionamento. Nos
unimos muito mais e mantivemos uma relação de companheirismo e amizade. Por
nenhum instante meu marido sofreu ou se sentiu frustrado depois que soube do
seu problema. Ele foi bastante forte e reagiu muito bem à situação. Como sempre
me protegeu, com certeza teria sofrido muito mais se soubesse que o problema era
em mim. Nós conversamos muito e decidimos enfrentar a situação. Foi nesse
momento que passamos a desejar a minha gravidez com maior intensidade. Nossa
espera deixou de ser tranquila e passou a nos encher de esperança e ansiedade.
Estávamos decididos a correr em busca do nosso sonho, que naquele momento
passou a ser a nossa prioridade e o nosso maior desejo.
Demos início ao tratamento, cheios de esperança e com pensamento positivo.
As injeções eram um pouco doloridas e o tratamento exigia extrema disciplina, mas
tudo o que enfrentei estava dentro do meu limite. Durante todo o processo tive
muito comprometimento e nenhuma dor era maior do que o meu sonho. Enfrentamos tudo com muita calma, convictos de que venceríamos aquele obstáculo. Meu
marido sofria ao me ver aplicando as injeções. Dizia sempre que se pudesse, aplicaria nele mesmo para que eu não sofresse tanto. Foi difícil, mas juntos conseguimos vencer. Ele me apoiava muito e me dava muita força. Estava do meu lado para
o que eu precisasse.
No dia da transferência, tínhamos quatro embriões perfeitos, mas decidimos
colocar apenas três. Aquele momento nos comoveu muito, de forma a ficar marcado em nossas vidas. O Dr. Arnaldo nos impressionava com a sua calma e tranquilidade, nos deixando muito seguros e confiantes. Durante a transferência, meu
marido falou para ele: "Você já está acostumado a fazer isso, né?", e o Dr. Arnaldo,
com um semblante encantador, respondeu: "Mas cada transferência é um momento único para mim." Ficamos muito emocionados com aquelas palavras, que conseguiram refletir a importância da realização do nosso sonho para aquele homem
que naquele momento era um mero instrumento de Deus.
Apesar de tudo o que tinha passado anteriormente, nada foi mais doloroso do
que a espera pelo resultado. Os dias não passavam e a ansiedade nos consumia.
Às vezes eu me pegava pensando que não daria certo, outra hora eu tinha certeza
que daria. Por mais que acreditássemos que eu já estava grávida, só teríamos a
confirmação por meio do resultado do exame.
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Tudo pode ser muito simples
Quando finalmente chegou o dia, realizei o exame no período da manhã e meu
marido se comprometeu a buscar o resultado no período da tarde. Ele se arrependeu de ter dito a mim que buscaria o resultado, pois caso fosse negativo, não saberia como me dar aquela notícia.
Logo que pegou o exame, visualizou a palavra NEGATIVO. Ao ver sua expressão de tristeza, a recepcionista do laboratório lhe perguntou se estava tudo bem.
Ele comentou sobre o resultado e disse que não sabia como daria a notícia para
sua esposa. Foi então, quando a recepcionista pegou o exame de suas mãos,
olhou e disse: "Você está enganado, pois o resultado é positivo!" Quando viu que
tinha olhado o lugar errado, ficou muito feliz e logo me ligou para dar a notícia.
Estava no meu trabalho e as minhas amigas mais próximas esperavam juntamente comigo, ansiosas pelo resultado. Quando recebi a ligação do meu marido
falando que eu estava grávida, foi a maior festa. Todas me abraçaram e, juntas, comemoramos muito. Foi uma grande emoção ter a certeza de que eu tinha conseguido o que eu mais queria.
Quando fomos à clínica IPGO para realizar o primeiro ultrassom, fomos surpreendidos com a notícia de que dois embriões haviam fecundado. Teríamos gêmeos! Como se já não bastasse a emoção de estar grávida, ainda eram duas crianças. A emoção que sentimos naquele momento foi inexplicável. Com o desenvolvimento da gestação, recebemos a notícia de que eram duas menininhas. Ficamos
maravilhados, pois era exatamente o que desejávamos!
Desde o instante em que soube que estava grávida, minha ansiedade passou
a ser pelo crescimento da minha barriga. Não via a hora de ficar com aquele barrigão! A sensação é, sem dúvida nenhuma, única! Curtimos muito todos os momentos, nos sentindo as pessoas mais realizadas da face da Terra. O dia do nascimento foi inesquecível. É uma emoção que parece não caber dentro do peito. Eu chorei muito, e até hoje, quando me recordo, não consigo conter as lágrimas.
Durante toda a nossa luta, sempre tivemos muita fé em Deus. Fizemos o tratamento e eu consegui engravidar na primeira tentativa. Queríamos pelo menos uma
menina, mas vieram duas. Acreditamos que foi Ele quem nos concedeu tantas alegrias, nos dando a possibilidade de realizar o sonho de completar a nossa família.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Com elas aqui, tudo é novo e muito diferente. Quando as olhamos, o que passamos fica esquecido e é substituído por muita alegria e felicidade. Alegria de termos vencido e felicidade de hoje sermos pais.
"O companheirismo do casal é crucial para o sucesso do tratamento.
Quando estamos tristes e até sem esperança, é muito bom saber que
tem alguém do nosso lado que nos apoia e nos ajuda a continuar.
Tenha sempre a certeza de que conseguirá e enfrente o tratamento
com a maior naturalidade possível. Tenha sempre fé em Deus que, com
certeza, Ele lhe dará esse presente!"
Espaço da Ciência
Fertilização In Vitro (FIV) ou Bebê de Proveta
Consiste na mais sofisticada e avançada de todas as técnicas de Fertilização
Assistida. Para se realizar esta técnica (ou programa), a mulher recebe, da mesma
forma que nas técnicas anteriores, alguns hormônios, porém em maiores doses, a
fim de se obter um maior número de óvulos recrutados. Também neste procedimento, os óvulos têm seu crescimento acompanhado pela ultrassonografia até que atinjam um diâmetro aproximado de 18 mm, e o endométrio uma espessura superior a
7 mm. A paciente recebe uma última injeção (hCG) para terminar o amadurecimento dos óvulos que são aspirados 35 horas após, através de uma agulha especial.
Em seguida, são colocados em contato com espermatozoides (in vitro), permitindo
a sua fecundação fora do corpo da mãe. Quando a quantidade de espermatozoides
for pequena, utiliza-se a técnica da ICSI (Injeção Intracitoplasmática de espermatozoide), que consiste na injeção de um espermatozoide dentro do óvulo. Os embriões são desenvolvidos inicialmente em laboratório, retornando a seguir ao útero
para finalizar o crescimento do futuro bebê.
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A chance de sucesso desta técnica pode chegar a até 55% em pacientes com
menos de 35 anos.
Indicações
• Mulheres com alterações peritoneais (aderências);
• Obstrução nas tubas;
• Esterilidade Sem Causa Aparente (ESCA) ou Infertilidade Inexplicável;
• Fatores imunológicos;
• Endometriose;
• Falhas repetidas em tratamentos menos complexos;
• Idade avançada;
• Fator masculino (contagem baixa, alteração grave em morfologia ou motilidade dos espermatozoides).
Técnica
A técnica é relativamente complexa e sua execução pode ser dividida em seis
fases:
• 1ª
• 2ª
• 3ª
• 4ª
• 5ª
• 6ª
fase:
fase:
fase:
fase:
fase:
fase:
bloqueio dos hormônios do organismo;
estímulo do crescimento dos óvulos;
aspiração e recuperação dos óvulos;
fertilização dos óvulos;
transferência do(s) embrião(ões) para o útero;
controle hormonal até o teste de gravidez.
Assim temos:
1ª Fase - Bloqueio dos hormônios do organismo
Consiste no bloqueio parcial do funcionamento dos ovários com medicação
adequada. Com esta conduta é possível ter o controle da função ovariana, não
havendo perigo de ocorrer ovulação fora do momento previsto.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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2ª Fase - Estímulo do crescimento dos óvulos
Existem vários esquemas de medicação para estimular o crescimento de um
maior número de óvulos. Havendo maior quantidade, têm-se mais embriões,
podendo ser escolhidos os melhores e, consequentemente, aumentando as
chances de gravidez. Esta fase dura de oito a doze dias e é acompanhada pelo
ultrassom transvaginal e dosagens hormonais.
3ª Fase - Aspiração e recuperação dos óvulos
Em um ambiente cirúrgico e com sedação profunda, os óvulos são aspirados
através de uma agulha acoplada ao ultrassom. Este processo é praticamente indolor e dura alguns minutos. Nesse dia é realizada a coleta do sêmen do marido.
4ª Fase - Fertilização dos óvulos
No laboratório, um embriologista experiente realiza a fertilização dos óvulos,
que poderá ser espontânea ou pela técnica de ICSI (Injeção Intracitoplasmática do
Espermatozoide). A decisão dependerá da quantidade e morfologia dos espermatozoides e do número de óvulos.
5ª Fase - Transferência dos embriões
Dois a cinco dias após a fertilização, os embriões serão colocados no útero.
Nesse dia serão conhecidos os de melhor qualidade, e assim o médico e o casal
decidirão juntos quantos deles serão transferidos, número este que pode variar de
um a quatro. A transferência é realizada com cateter flexível, sem anestesia,
através da vagina; é indolor e semelhante ao desconforto do exame ginecológico.
6ª Fase - Suporte hormonal
Nesta fase são realizados exames de sangue que comprovam o equilíbrio hormonal. Caso haja necessidade, as doses poderão ser modificadas. O teste de
gravidez é realizado onze dias após a transferência dos embriões.
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Tudo pode ser muito simples
IMPORTANTE
A probabilidade de ocorrer um aborto, ou de um bebê com malformação é a
mesma, tanto após a indução da ovulação como após a concepção natural. Os
riscos existentes dependem da idade da mãe e de fatores genéticos. Se a paciente
ficar grávida após este tratamento, não serão necessárias quaisquer medidas
especiais; a gravidez será tratada exatamente como qualquer outra, o pré-natal é
exatamente igual ao de uma gestação espontânea. O trabalho de parto e a amamentação não serão afetados de nenhuma maneira.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Não me desvio do meu caminho.
Não me dobro diante dos obstáculos.
Venço cada dificuldade
por meio do rigor.
Haverei de continuar.
Nunca me canso de ser útil.
Leonardo da Vinci
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Quando a razão vence a
emoção
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Um dos momentos mais constragedores numa clínica de Reprodução Humana
é o do retorno do casal para uma consulta após o fracasso de um determinado
tratamento. Não existe tratamento que garanta 100% de resultados positivos. O
Coito Programado pode alcançar 14% de sucesso, a Inseminação Artificial 20%, e
a Fertilização In Vitro até 55%, para mulheres abaixo de 35 anos. Mesmo assim,
por mais que os pacientes conheçam essas possibilidades, o resultado negativo
tem um sabor muito amargo, insuportável. Sentem-se arrasados, frustrados,
desapontados, o mundo despenca, o chão desaparece, perdem o rumo, choram e
se desesperam. A expressão no rosto de quase todos eles, nos momentos imediatos à notícia do insucesso, independentemente do tipo de fertilização a que
foram submetidos, é de muita tristeza. Quanto mais complexo for o procedimento
escolhido, como por exemplo a Fertilização In Vitro, maior será o desgaste emocional e maior a decepção, pois também está envolvida uma maior soma de dinheiro, que muitas vezes foi difícil de ser conseguido. Mas do ponto de vista prático
– não psicológico – isso não deveria acontecer. Afinal, ao analisar friamente as possibilidades de resultados positivos, observamos que as chances de um tratamento
ser malsucedido, quase sempre são maiores as de dar certo. Basta olhar as porcentagens! Então, diante dessa realidade, por que tanta angústia?
Eu já ouvi algumas vezes dos casais a seguinte frase:
– "Doutor, nós conhecemos a chance real, mas quando o tratamento começa a
gente se envolve e só pensa que tudo vai dar certo."
E é isto que acontece com quase todos que passam por isso. Esquecem que
estamos muito longe dos 100% de sucesso.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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O casal Sônia e Alberto foi inicialmente escolhido por mim para escrever sobre
a “Perseverança" na busca de gravidez. Vieram ao consultório pela primeira vez,
após vários procedimentos frustrados realizados em outras clínicas, dos mais simples aos mais complexos, como eles mesmos relatam em sua história. Chamoume a atenção a tranquilidade com que expunham os fatos. Uma energia positiva
baseada na realidade. Nem sonhadores, nem pessimistas. Eu pensava, na época,
em demonstrar pela história deles a importância de perseverança, mas o que
acabou chamando mais atenção foi o lado prático de encararem cada "derrota".
Este lado foi demonstrado na seguinte frase:
– "Doutor, eu sou economista e a Sônia trabalha em banco. Para nós, a porcentagem é um fato real e não adianta lutar contra ela. A cada resultado negativo,
procurávamos lembrar dos números que traduzem as chances de sucesso. E
assim nos consolávamos."
Este pequeno texto trouxe-me a inspiração para criar este capítulo, focando o
lado prático e vantajoso ao se entender os números. Com o conhecimento de clareza dos porcentuais de sucesso de cada tratamento, um casal decepcionado, pelo
seu resultado negativo, poderá recriar forças para uma próxima tentativa.
Depoimento
“Práticos, sonhadores e perseverantes”
Sônia e Alberto
Eu e meu marido sempre gostamos de crianças, mas desde que nos conhecemos e começamos a namorar, decidimos que ter um filho era algo para o futuro.
Casamos depois de formados, pós-graduados e com o apartamento comprado.
Sempre planejamos muito a nossa vida; porém, filhos ainda não faziam parte dos
nossos planos de curto prazo. Curtíamos os sobrinhos, primos e filhos de amigos,
pois o que queríamos era viajar e estudar.
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Gravidez:
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GRAVIDEZ:
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Conquistas
Quando a razão vence a emoção
Quando nasceu o filho de meu irmão, meu terceiro sobrinho – o primeiro por
parte da minha família –, algo me despertou para a maternidade. Vi quanto eu
gostaria de ser mãe. Conversei com o meu marido e juntos decidimos que estávamos preparados para aumentar e completar nossa família.
Interrompi todos os métodos contraceptivos e demos início à nossa busca. Após
alguns meses sem nenhum resultado, procurei a minha ginecologista e comentei
que estava tentando há algum tempo, mas que não obtinha nenhum resultado. Me
solicitou alguns exames e após observá-los, me disse que nada de errado havia
sido constatado. Pediu que eu ficasse tranquila e que continuasse a manter
relações sexuais todos os dias, pois uma hora eu engravidaria.
Foi exatamente o que fizemos. Tentávamos ter um filho incansavelmente, mas
nada acontecia. Passado um ano de tentativas sem nenhum resultado, procurei
novamente a minha ginecologista, que sugeriu que procurássemos um especialista
em infertilidade. Fiquei muito assustada, pois jamais passou pela minha cabeça a
possibilidade de ter um problema desse tipo.
Sempre fui persistente, planejando e correndo atrás até conseguir o que queria.
Porém, aquilo demandava tempo, dinheiro e muito stress. Como sempre surgia
algo para fazer, o tempo ia passando, e quando me dava conta, mais um ano havia
se passado sem que nada acontecesse. Foi então quando eu e meu marido
resolvemos dar mais prioridade para aquele suposto problema, decidindo procurar
um especialista.
Eu e meu marido realizamos alguns exames, conforme nos foi solicitado pelo
médico, mas como sempre, nada era identificado. Foi então quando fui orientada
a realizar um exame detalhado de endometriose. Com base nos resultados, o
médico sugeriu uma videolaparoscopia. Fiquei muito desconfortável com aquela
situação e não me senti segura. Nunca havia feito uma cirurgia e fiquei bem assustada. Decidimos procurar outro médico.
Novamente foram solicitados muitos exames, e com o resultado em mãos, o
médico sugeriu três tentativas de coito programado, que seria seguido de duas
inseminações, caso não desse certo. Em último caso, a Fertilização In Vitro.
Decidimos tentar e demos início ao tratamento. Foi um momento difícil, porque
eram tantas injeções e tantas idas ao consultório para ver os óvulos, que em cerDr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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tos momentos eu pensava em desistir. Era supercomplicado conciliar o trabalho
com tantas emoções que enchiam o meu coração.
Na primeira tentativa frustrada, chorei muito, pois tinha certeza que estava
grávida. Mas logo me reergui e me preparei para mais uma tentativa. Da segunda vez, não aconteceu nada de diferente. Foi mais um dia de choro e de muita
tristeza. Eu estava ficando muito chateada com tudo aquilo, e para não prolongar ainda mais aquele momento, decidi vir direto para a Fertilização In Vitro. O
médico explicou que o tratamento era caro e que após a videolaparoscopia,
poderíamos realizar a Inseminação Artificial. Como insistia muito na manutenção
do procedimento anterior, eu e meu marido decidimos procurar um terceiro médico, que foi indicado por uma amiga, que após duas tentativas conseguiu engravidar. A sensação naquela etapa era que estávamos mais uma vez começando do
zero.
Ao falar sobre a nossa dificuldade, o médico pediu exames mais detalhados
para detectar se o mioma que eu tinha não atrapalharia a Fertilização In Vitro.
Solicitou também o espermograma com capacitação espermática para meu marido, que apontou baixa motilidade dos espermatozoides. A FIV passou a ser a
nossa única possibilidade!
Ficamos seguros de que estávamos fazendo a coisa certa e decidimos iniciar a
nossa primeira tentativa. Naquele momento, a nossa única insegurança era com
relação ao resultado positivo. Estávamos um pouco apreensivos com a possibilidade de não dar certo novamente, mas o médico pediu que não pensássemos em
insucessos.
Logo vieram as injeções, a disciplina com os horários e a dedicação que era
crucial. Para nossa decepção, o resultado foi negativo. Fui surpreendida com sangramento e logo me dei conta de que era a minha menstruação. Quanta tristeza…
Quantas lágrimas… Foram os momentos mais dolorosos das nossas vidas. Até
então, não havíamos contado para ninguém sobre o que estávamos enfrentando,
mas quando me vi diante de mais um resultado negativo, não aguentei, e quando
percebi, já estava chorando no colo da minha mãe. Foi muito reconfortante poder
dividir o nosso problema com mais alguém. A pressão era muito grande, e às vezes
era difícil controlar a mágoa.
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
Quando a razão vence a emoção
Eu e meu marido tentamos nos envolver ao máximo com a parte profissional,
para que fosse mais fácil superar aquele tombo que nos deixou muito mal. Porém,
mesmo naquele momento de muita tristeza e decepção, decidi que enfrentaria tudo
de novo. Conseguimos nos reerguer bem rápido, pois eu e meu marido sempre
fomos muito práticos. Nós temos emoções, sim, mas quando algo não dá certo,
não fazemos daquilo o fim do mundo. Procuramos nos recuperar e dar continuidade às nossas vidas.
Após algumas conversas, decidimos procurar outro médico. Apesar de muito
prática, gosto de pessoas sensíveis, que se emocionam, que olhem nos meus
olhos e que me tratem com carinho. Em todos os profissionais que eu tinha passado, jamais encontrei afeto ou algo que fosse além do relacionamento comum
entre médico e paciente. Passadas algumas semanas, quando passeava pela
internet, me deparei com dois sites ricos em informações sobre os diversos assuntos relacionados à fertilização. Me identifiquei muito com tudo o que vi, e
com muita ansiedade marquei minha primeira consulta com o Dr. Arnaldo
Cambiaghi.
Chegando lá, eu e meu marido lhe contamos toda a nossa história. Relatamos
nossas decepções, inclusive com a última tentativa, mostrando quanto estávamos
empenhados em ter esse bebê. Desde o primeiro momento confiei no Dr. Arnaldo,
que nos falou sobre as chances e as tentativas, relatando os sucessos e insucessos. Tudo foi ficando muito claro para nós, que logo ficamos confiantes e certos de
que tudo daria certo.
Resolvemos que o tratamento seria feito em minhas férias, pois não queria ter
preocupações nenhuma durante o procedimento. Queria que tudo fosse diferente
da forma como ocorreu a nossa primeira tentativa. Nesse período, sempre que eu
tinha dúvidas, ligava para ele ou para sua assistente, que sempre estavam dispostos a ouvir e a responder aos meus questionamentos. Segui tudo que o doutor me
pedia, com muita esperança e dedicação.
No dia da transferência, três embriões foram transferidos. O procedimento foi
supertranquilo, sem dor e sem sangramento. Meu marido estava presente e, juntos, rezávamos para que tudo desse certo. Os doze dias de espera foram…
Decidimos viajar e não pensávamos em um resultado negativo.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Chegado o dia, realizei o teste de gravidez e ficamos na expectativa para a notícia. A ansiedade era grande, mas a sensação de vitória já contemplava os nossos
corações. Foi então quando recebi a ligação do Dr. Arnaldo nos parabenizando
pela gravidez. Estávamos almoçando e deixamos tudo de lado para comemorar
aquele grande momento. Choramos muito de tanta emoção que preenchia as nossas vidas. Agradecemos muito a Deus por ter nos direcionado para o caminho
certo. Decidimos dar a grande notícia para a família na véspera de Natal. Foi um
grande presente para todos!
No primeiro ultrassom, confirmamos a presença de um lindo bebê, que já estava se desenvolvendo dentro de mim. Comentei com o Dr. Arnaldo que queríamos
que os três embriões tivessem fecundado. Ele disse: "Não tem problema! Faremos
em breve os outros dois". Quem sabe!
Curtimos muito a "nossa" gravidez. Foi maravilhoso ver a barriga crescer, nosso
filho se desenvolver… para estar aqui, bem junto de nós. Isso é inexplicável e nos
faz superar tudo, ainda que tenha sido doloroso.
Seremos eternamente gratos a Deus e ao Dr. Arnaldo por sua paciência, dedicação e a participação da nossa história!
"Jamais desista do seu sonho! E saiba que Deus nos dá somente o
que somos capazes de suportar. É muito difícil… eu sei! Mas não
desanime!"
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Quando o pouco é tudo
3
Na vida, quase tudo que é exagero é “pecado”. O ideal é o equilíbrio. Ciúme
demais, comer demais, timidez demais, trabalhar demais, gordo demais, e às
vezes até dinheiro demais são alguns exemplos de extremos que podem causar
inconvenientes. Os opostos também são ruins: pouco ciúme, magreza, atrevimento, indolência e pobreza. O ideal é sempre o equilíbrio. A grande exceção para esta
afirmação é a saúde, que quanto mais, melhor. O exagero, neste caso, é o
recomendado.
Em reprodução humana, quando falamos do número de óvulos para serem fertilizados num tratamento de Fertilização In Vitro, muitos casais acreditam que quanto maior o número deles, maior será a chance de resultados positivos. Entretanto,
isso nem sempre é verdade. Normalmente, nesses tratamentos, o número ideal de
óvulos é de oito a doze. O motivo da indicação desse número é sabermos que, em
condições normais, parte deles não é madura, nem todos fertilizam, e ainda só
alguns chegam a formar embriões de boa qualidade. A cada seis óvulos coletados
contêm-se, em média, dois a três embriões de boa qualidade, o que é considerado, atualmente, o número máximo a ser transferido para o útero. Evita-se, desse
modo, a gestação múltipla.
Hoje em dia, com a alta tecnologia dos laboratórios para a escolha dos melhores embriões, raramente são colocados mais que dois. Assim sendo, de que adianta ter uma grande resposta ovariana com muitos óvulos? Sabe-se também que
quando eles existem em grande número, ocorre um aumento importante dos hormônios circulantes no organismo, o que pode atrapalhar a implantação dos
embriões. Por isso, óvulos demais, como tudo que é demais, não é aconselhável.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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O lado oposto são as mulheres chamadas “baixas respondedoras”. São aquelas
que, mesmo ao receber a dose adequada dos medicamentos para induzir a ovulação, têm uma resposta ovariana pequena, produzindo óvulos em pequena quantidade. Surgem no máximo dois ou três óvulos. Por isso, eles representam o
exagero da escassez. Também não é a situação ideal, uma vez que esse casal terá
chances menores de formar embriões de boa qualidade. Desta forma, o ideal é o
equilíbrio.
Entretanto, é muito mais frequente que as pacientes se frustrem por terem
pouca quantidade. É muito comum, em conversas entre elas, comentarem sobre
o número de óvulos que conseguiram, e, frequentemente, aquela que teve quantidade menor sente-se inferiorizada. No final da história, muitas vezes ela engravida, e a outra não. Por isso, é essencial que se saiba que, apesar de existir um
número ideal de óvulos para melhores resultados, ninguém deve desanimar quando esse número for pequeno. Chance maior ou menor é algo relativo, principalmente no caso destas pacientes que produzem poucos óvulos, pois essa característica é própria de cada mulher e não pode ser modificada. Devemos refletir
que, em determinados casos, a chance considerada pequena é a maior que se
pode conseguir. Chance de 5% não é zero, assim como 98% não é cem.
As três histórias deste capítulo são contadas por Tânia e Jorge, Aline e
Damian, Maira e Vítor. Estes casais vencedores realizaram tratamento de fertilização in vitro e obtiveram gravidez com um único embrião. Tânia e Aline tiveram
um único folículo, um único óvulo, um único embrião, um único bebê. Maira, apesar de ter dois folículos e dois óvulos, só um deles fertilizou, gerando um único
embrião e um bebê. Ao contrário de alguns que achariam que nesta luta eles só
teriam pontos perdidos em direção à derrota, acreditaram no sucesso com o brilho e a energia de campeões.
O casal que se submete a esse tratamento deve ter em foco que o que importa é o resultado final: a gravidez. Muitas vezes, a resposta ovariana pode não ser
a desejada, mas assim mesmo deve-se ter fé, pois, frequentemente, o pouco
pode ser tudo.
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Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
Quando o pouco é tudo
Depoimentos
"Nada foi mais forte que o desejo de ser mãe"
Tânia e Jorge
Acredito que como toda mulher, desde jovem sempre sonhei em um dia ser
mãe. Este ideal me acompanhou por muitos anos e sempre se manteve entre os
meus principais objetivos, mas, infelizmente, fui surpreendida pela vida com uma
surpresa muito desagradável e traumática.
Aos 32 anos, estava me sentindo gorda, devido ao fato de minha barriga estar
um pouco maior do que o normal. Como sempre fui muito vaidosa, logo procurei
um endocrinologista, a fim de acabar com aquele probleminha que tanto me incomodava. Para minha surpresa, o que aos meus olhos nada mais era do que gorduras localizadas, era na verdade um problema que atinge muitas mulheres: a
endometriose. Ao realizar um ultrassom, foi detectado um grande cisto envolvendo
um dos meus ovários. Foi uma descoberta trágica, que me deixou sem chão… sem
rumo…
Demonstrei todo o meu desespero e preocupação ao ginecologista, alegando
que ainda tinha planos de me casar e ter filhos. Ele pediu que eu ficasse tranquila,
pois através de uma cirurgia era possível retirar o cisto, fazendo com que tudo
ficasse bem novamente. Assim aconteceu, mas o resultado não foi o esperado.
Após a cirurgia, o médico me explicou que teve que tirar o meu ovário, porque o
cisto estava muito grande. Fiquei arrasada e o meu sonho de um dia ser mãe, sem
dúvida alguma, se frustrou naquele momento.
Através da terapia, consegui diminuir o impacto que tal problema causou em
minha vida, em meu espírito e em minhas emoções. Aproximadamente três anos
após essa decepção, fui contemplada com a alegria de me unir à pessoa que
amarei eternamente e que hoje é o meu marido. Antes mesmo do casamento, sempre expressei a ele o meu desejo de um dia ser mãe e sempre fui correspondida.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Realizei todos os exames pré-nupciais, sempre com esta preocupação, e a médica me alertou que seria muito difícil eu engravidar, mas que não era impossível,
pois além do problema que eu havia tido, já estava com uma idade avançada.
Foi exatamente com essa pouca esperança que segui meu rumo, acreditando
que um dia meu sonho se realizaria. Desde o meu casamento, nunca me preveni
e logo procurei ajuda médica. Consultava-me com todos os médicos que me eram
indicados, sempre acreditando que um dia encontraria algum profissional que
resolvesse o meu problema. Cheguei a procurar um especialista em reprodução
humana muito renomado, com grande prestígio entre celebridades, mas para o
meu espanto, logo percebi que não significava nada além de um cifrão. A clínica
jamais me deu apoio, e saí de lá com a notícia de que não ovulava e que se não
realizasse uma ovodoação, jamais poderia ser mãe,
Ao receber a notícia, me senti a pior das mulheres, incapaz de gerar uma outra
vida. Neste momento, lembro-me que lia um livro religioso que dizia para nunca desistirmos dos nossos sonhos, mensagem esta que muito me tranquilizou. Procurei
outros médicos, mas novamente nada dava certo. Parecia até que ao olhar para
mim e para o meu quadro clínico, nenhum deles via uma luz no fim do túnel.
Entre essa troca de médicos, realizei três fertilizações in vitro, mas nenhuma
delas me concedeu felicidade de ter um resultado positivo. As duas tentativas
foram terríveis, pois quando um tratamento é iniciado, uma enorme esperança
cresce dentro de nós. Foi então quando esse mesmo especialista me orientou a
realizar uma ovodoação, pois naquele momento era a melhor solução para o meu
caso. Como já estava mais conformada e um pouco cansada dos tombos que já
havia levado, não me assustei com a hipótese, mas a princípio, nada falei.
Foi então quando meu marido encontrou a clínica IPGO na internet. Tivemos
uma excelente impressão dos profissionais e logo marcamos nossa primeira consulta. Quando chegamos ao consultório do Dr. Arnaldo, apresentávamos um quadro clínico que incluía a falta de um ovário devido à endometriose, 41 anos, e meu
marido com uma produção baixa de espermatozoides. Estava preparada para ouvir
– como orientada anteriormente por um outro profissional – que minha única
chance para gerar um filho era a adoção de óvulos de uma doadora. Fui surpreendida quando ouvi que só não teria mais óvulos se já estivesse na menopausa.
Falsas esperanças jamais foram colocadas em meu coração, mas toda a equipe
me fez acreditar que eu poderia sim ter um filho com a minha genética. Assim, dei
início a uma nova fertilização in vitro, cheia de esperança e com muita fé.
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Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
Quando o pouco é tudo
Já de início fui agraciada com dois óvulos, ao final do difícil período das medicações. Era um presente de Deus, pois nunca consegui produzir mais de um, independente da sofisticação do medicamento que era utilizado para induzir a ovulação. Após a transferência dos embriões, já me sentia grávida, e os 12 dias foram
cheios de ansiedade. Foram momentos de grande espera com uma mistura de
emoções que jamais havia enfrentado. Chegado o dia do resultado, ouvimos o que
mais temíamos ouvir: eu não estava grávida. Eu e meu marido choramos muito,
pois nossos corações já estavam cheios de certeza que tudo tinha dado certo.
Ainda abatidos, fomos incentivados pelo Dr. Arnaldo a partir para a quarta tentativa, pois ele tinha certeza que conseguiríamos. Eu já estava com um estado
emocional e psicológico extremamente debilitado, mas mesmo assim não desisti
do meu sonho e dei início a uma nova tentativa.
O tratamento foi doloroso, como todos os outros anteriores, tempos difíceis e de
muita expectativa para conseguir um único óvulo. Ao final das medicações, consegui dois, mas apenas um amadureceu. Fiquei muito confiante quando no dia da
transferência ouvi o Dr. Arnaldo dizer que meu embrião estava lindo. Apesar de
confiante e muito esperançosa, eu e meu marido mantivemos nossos pés no chão,
a fim de evitar outro tombo seguido de uma grande decepção.
Chegado o grande dia, realizei o exame no período da manhã e tentei me manter ocupada durante todo o dia, para não sofrer com toda aquela ansiedade que
dominava meu coração e assolava minha alma. Acredito que foram as horas mais
longas de minha vida. Ao final da tarde, recebi a ligação da clínica e logo me disseram que a ligação seria transferida ao Dr. Arnaldo. Meu coração bateu mais
forte, e apesar de já sentir grande alegria por ter a certeza que estava grávida,
estava disposta a aceitar o que Deus nos desse. Foi então quando ouvi o Dr.
Arnaldo dizendo: "Tânia, você não está grávida… você está supergrávida!" Fiquei
muito emocionada, com uma felicidade impossível de ser descrita aqui, nesse
depoimento.
Foi o momento mais maravilhoso e emocionante da minha vida, que perdeu
apenas para a forte emoção que senti ao ouvir o primeiro choro do nosso filho. Meu
marido também ficou anestesiado com a notícia e muito feliz. Seu apoio durante
todo o tratamento foi fundamental e de grande importância, pois sem ele eu não
teria conseguido.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Ver minha barriga crescer, acompanhar a formação de uma nova vida dentro de
mim foi fantástico. Aproveitei cada minuto dessa fase maravilhosa e sem dúvida
inesquecível, assim como o dia do nascimento. São segundos que lhe proporcionam tantas emoções e tantos sentimentos, que te faz perder o chão.
Hoje, estamos com nosso filho aqui, pulando e brincando a todo momento.
Muito ativo e feliz, é a cara do pai! O que passamos ficou esquecido por nós, que
temos vivido apenas bons momentos, repletos de muitas alegrias proporcionadas
pelo nosso herdeiro.
Foram seis anos de empenho, ansiedade, frustração e tristeza, mas que nunca
conseguiram destruir nossa esperança, por menor que ela pudesse ser. Agradecemos a Deus por não ter nos deixado desistir, pois a recompensa de toda essa luta
é única e incomparável a tudo que possa existir no mundo.
"Faço esse relato a você, que planta uma semente de esperança em
seu coração, que acalenta o sonho de gerar um filho, como um dia
almejei. Não desista do seu sonho e não deixe que nada lhe faça abrir
mão desse acontecimento marcante que é se tornar mãe. Não permita
que os obstáculos frustrem seus sonhos, confie em Deus, tenha fé e
aguarde, porque você conseguirá!"
"O milagre fez o pouco ser suficiente"
Aline e Damian
Meu sonho sempre foi encontrar o meu verdadeiro amor e com ele ter muitos filhos. Felizmente, consegui realizar o desejo de conhecer alguém com quem eu pudesse construir uma nova família; porém, jamais passou pela minha cabeça que futuramente enfrentaria grandes dificuldades que deixariam distante de mim o dia em
que eu me tornaria mãe.
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Quando o pouco é tudo
Nos casamos, e, logo depois de um ano, resolvemos aumentar a família e ter
nosso primeiro filho. Como toda mulher, após essa decisão, parei de me prevenir,
e juntos passamos a esperar o grande dia. Porém, após um ano de tentativas constantes e de muita ansiedade que nos dominava enquanto a gravidez não vinha,
comecei a desconfiar que algo estava errado.
A cada mês surgia uma nova esperança para que eu pudesse estar grávida,
mas com tantos resultados negativos seguidos, a situação começou a me incomodar. Decidi trocar de ginecologista e o novo médico me receitou algumas medicações para que eu alcançasse o meu sonho. Em apenas um mês, estava grávida. Jamais esquecerei o dia em que eu fui buscar o resultado do exame, onde muito emocionada não conseguia me conter, chorando de alegria. O resultado foi uma
linda menina que muito me fortaleceu para que eu conseguisse vencer um novo
obstáculo da minha vida que ainda estava por vir.
Durante a cesária, minha médica descobriu que a parede do meu útero era muito
grossa, dificultando assim uma possível fecundação. Por muitos anos, passei a não
evitar uma nova gravidez, e com o tempo foram surgindo fortes cólicas e muitas
dores. Após uma laparotomia, parte de cada óvulo foi retirada e, durante a cirurgia,
foi constatada a presença da endometriose, uma doença incurável que poderia me
levar à esterilidade. Não me conformava e não queria aceitar de forma alguma aquela notícia. Eu e meu marido ficamos muito chateados com o meu diagnóstico e passamos por momentos difíceis. Ainda tínhamos o sonho de ter mais filhos e aumentar
a nossa família, mas tudo o que estava acontecendo se tornava em barreiras e obstáculos que teríamos que enfrentar e superar para alcançar o nosso desejo.
Depois de algum tempo, as dores voltaram e, ao ver meu sofrimento, um colega de trabalho me contou que sua esposa havia feito um tratamento para a endometriose, e após uma videolaparoscopia conseguiu engravidar. Me incentivou a
procurar o Dr. Arnaldo e eu fiquei cheia de esperança, pois além de poder tratar a
endometriose eu poderia fazer um tratamento para uma nova gravidez.
Chegando na primeira consulta, eu e meu marido fomos muito bem recepcionados pela clínica. O Dr. Arnaldo nos explicou tudo sobre a endometriose e os tratamentos que poderíamos realizar, caso fosse necessário. Após alguns exames, foi
constatada a necessidade de uma videolaparoscopia que, quando realizada, acusou obstrução nas trompas, causada pelo meu problema.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Fiquei arrasada, pois via que as coisas não estavam cooperando para que eu
engravidasse novamente. Este era um desejo muito forte que eu tinha em meu
coração. Parecia que quanto mais o caminho se fechava, mais eu queria, mais eu
lutava. O fato de eu já ter uma filha não saciava o enorme desejo que eu tinha de
ser mãe novamente. Minha filha também pedia muito um irmão para mim, dizia que
não queria ser filha única. Certo dia, ela chegou em mim e perguntou: "Ô mãe, se
a senhora não tiver mais filhos, quem será o tio dos meus?" Fiquei sem saber o
que responder, e a vontade dela me deixava mais aflita e até mais frustrada de me
ver incapaz, naquele momento, de realizar um desejo que não era só meu, mas
sim, da minha filha e do meu marido.
Foi então, que o Dr. Arnaldo nos orientou que somente através de uma
Fertilização In Vitro é que eu conseguiria ficar grávida, mas que mesmo assim não
seria garantido. Resolvemos dar início ao tratamento com injeções um pouco
doloridas e a realização constante do ultrassom para acompanhar a ovulação. Era
um tratamento árduo no aspecto emocional e psicológico.
No primeiro ultrassom, a existência de apenas dois óvulos me deixou muito
feliz, pois naquele momento eu não tinha noção de como essa quantidade era
pouca diante do tratamento. No segundo ultrassom, havia somente um óvulo.
Lembro que fiquei muito tranquila e não diminuí minhas esperanças por causa
disso, pois, para mim, era um mero detalhe. A equipe do Dr. Arnaldo me explicou
que eu tinha apenas 10% de chance, mas me encorajou e deixou claro que não era
impossível de acontecer.
Os planos eram de realizar somente uma tentativa. Meu marido queria muito um
segundo filho, mas em nenhum momento me pressionou. Isso colaborou muito
para que eu não tivesse problemas dentro do meu casamento, me sentindo insegura e impotente, mas o desejo da minha filha me dominava e tornava mais forte
ainda a minha busca pela maternidade.
Lembro-me que mesmo aparentemente tranquila, voltei para casa triste e calada, talvez pelo poder que aquela situação tinha de criar uma grande tensão sobre
nós. Logo me recompus, pois por saber que seria apenas aquela tentativa, não
queria que um desânimo pudesse afetar o bom desenvolvimento do processo. Eu
e meu marido estávamos decididos que faríamos tudo que estivesse ao nosso
alcance e tínhamos uma forte convicção que o tratamento iria dar certo. Compreen-
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Tropeços e...
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Quando o pouco é tudo
são e companheirismo foram essenciais, nesse momento, para que continuássemos o tratamento com muita esperança e fé. A possibilidade de um resultado negativo passava pela nossa cabeça e por isso nos preparamos para qualquer
situação que pudesse ocorrer.
Depois de algum tempo de tratamento, fui até a clínica para que aquele único
óvulo fosse retirado para uma possível fecundação. A ansiedade tomava conta de
nós, pois apesar de não ficarmos tocando no assunto, sabíamos que se não houvesse fecundação, o tratamento estaria acabado. Após alguns dias, recebemos a
maravilhosa notícia de que o óvulo havia fecundado e em perfeitas condições.
Começamos a renovar cada vez mais nossas esperanças e sentir que tudo acabaria bem. Depois de 2 ou 3 dias, foi feita a transferência do embrião para o meu
útero e eu me enchi de alegria. Fiquei muito ansiosa e emotiva, pois aqueles 12
dias pareciam nunca ter fim. Nesse tempo, eu até comecei a me preparar para dar
a notícia para minha filha, caso o resultado desse negativo. Eu ficava aflita só de
pensar nisso, porque não sabia muito bem como explicaria a ela que eu não tinha
conseguido. Até que depois de muita angústia pela espera do resultado, dado o
tempo, o Dr. Arnaldo ligou me dando a notícia de que eu seria mamãe! Fiquei tão
feliz e tão emocionada que mal conseguia falar! Cheguei a não acreditar no que ele
estava falando!
É difícil colocar em palavras sentimentos tão fortes, pois era tudo que almejávamos. Sabíamos das dificuldades que enfrentaríamos, pois a chance de sucesso
em uma tentativa com apenas um óvulo era mínima. Mesmo assim, acreditamos e
superamos todos os obstáculos que encontramos em nosso caminho. Seremos
eternamente gratos a Deus e à clínica por ter realizado, através da sua equipe,
com tamanho profissionalismo, a tarefa que Deus lhe confiou. Hoje sentimos que
tudo que passamos foi apenas um caminho que precisávamos percorrer para atingir a realização deste grande sonho.
"O segredo para todas aquelas pessoas que desejam que o sonho da
maternidade se concretize é ter muita fé em Deus, ter um excelente
profissional ao seu lado e muita, mas muita esperança e persistência!”
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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"Não desanime jamais"
Maira e Victor
Na adolescência, não me preocupava com a maternidade, pois para mim seria
algo que aconteceria naturalmente. Estava inclusa na sequência dos acontecimentos que fazem parte do ciclo de vida natural de uma mulher. Talvez porque eu não
contava e nem pensava na hipótese de ter de enfrentar qualquer tipo de problema
relacionado à minha fertilidade. Foi então quando, aos 20 anos, tive que realizar
uma cirurgia. Fui surpreendida com um enorme cisto que se desenvolveu em um
dos meus ovários e com a endometriose, que já tinha comprometido as minhas
trompas. Para minha sorte, os médicos conseguiram preservar tudo, sem que
fosse necessário retirar qualquer órgão.
Aos 25 anos, novamente voltei a sentir fortes cólicas e, ao me dirigir a uma clínica ginecológica, realizei alguns exames no próprio local. O médico me chamou à
sala dele e me disse que eu nunca seria mãe, pois estava com muitos cistos e
miomas. Fiquei estática e chocada, quando eu soube que seria necessário retirar
meus ovários, trompas e útero. Lágrimas cortavam minha face, senti-me perdida,
sozinha, frágil, a última das mulheres. Voltei para casa com um vazio na alma.
Procurei uma outra médica, a fim de possuir a opinião de outro especialista e, para
minha surpresa, ela me disse que uma nova cirurgia seria necessária; porém,
todos os meus órgãos seriam preservados. Tudo aconteceu como ela havia me falado e não sofri dano algum, além do abalo psicológico que temos ao nos depararmos com problemas de saúde.
Passados dois anos, comecei a ter dores no umbigo e, quando menstruava elas
aumentavam. Procurei um especialista, e descobri que estava com uma hérnia
umbilical. Fui submetida a outra cirurgia, a terceira do meu histórico tão problemático. O médico descobriu que eu tinha endometriose e, novamente, fui medicada e,
depois de um tempo, melhorei. Aos 33 anos eu me casei. Desde o início do
namoro, meu marido sabia do meu problema, mas nunca se importou, até mesmo
porque já tinha dois filhos de uma outra relação. Passados alguns anos, finalmente
decidi ser mãe. Eu sabia que aquela decisão era na verdade o início de um grande
desafio que eu teria que vencer.
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Quando o pouco é tudo
Iniciei um tratamento de seis injeções no abdômen para acabar de vez com a
endometriose. Em seguida, realizei a minha primeira Fertilização In Vitro. Eu estava muito feliz e acreditava que o resultado seria positivo já na primeira tentativa.
Mas quando tudo parecia bem, me deparei com uma crise no casamento. Meu
marido não confiava no médico e, além de tudo, conhecia casais que tiveram os
seus relacionamentos destruídos pela ansiedade e desilusões que enfrentavam na
luta por um filho. Mesmo aflita, dei continuidade ao tratamento, ao mesmo tempo
em que tentava contornar a situação.
No dia da aspiração, consegui três óvulos, sendo que dois deles foram fertilizados. Foi então quando finalmente chegou o dia onde realizaria a transferência. Eu
tinha muita fé e acreditava que seria mãe de gêmeos. Meu marido estava muito
tenso e temia um resultado negativo, pois já previa o meu sofrimento. Um dia antes
de fazer o teste de gravidez, passei mal, sentindo fortes dores e suando frio. Ao
chegar em casa, para a minha tristeza, menstruei. Liguei para o médico que me
disse que eu poderia ainda estar com um dos embriões, mas fiz o teste e descobri
que não estava grávida.
O meu mundo caiu e por dias seguidos chorei sem parar. Não me conformava
com o resultado e culpei a falta de acompanhamento do médico pelo insucesso do
procedimento. Foi somente nesse momento que percebi que havia escolhido o
médico errado para me tratar. Mesmo me alertando, não dei atenção ao meu marido, que não encontrava profissionalismo na equipe do especialista. Tivemos que
fazer o pagamento do procedimento à vista e em dinheiro. Naquele instante, o
desejo era tão grande que fiquei cega, mas hoje sei que o meu sonho não tinha
nenhuma importância para a clínica, que só queria o meu dinheiro.
Desisti. A perda da esperança, que é substituída pela desilusão, foi sem dúvida
muito cruel. Por muitos meses, eu fiquei em uma enorme depressão, chorando
diariamente por um sonho que parecia sempre tão distante de se realizar. Mas o
tempo é um grande amigo e, passados quase dois anos, a vontade louca de ser
mãe novamente dominou meu coração. Quando ia às festinhas de família e amigas, observava as mães com seus filhos e ficava me torturando, com o coração
apertado, desejando ter o meu também. Foi então quando uma amiga me indicou
o Dr. Arnaldo, dizendo que havia enfrentado o mesmo problema, mas que hoje era
mãe de um lindo menino. Fiquei cheia de esperanças e logo entrei em contato com
a clínica para marcar um horário. Gostei muito do atendimento e da transparência
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
51
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que a equipe passou a mim. Na primeira consulta, levei ao Dr. Arnaldo todos os
meus exames e lhe contei o que havia acontecido a mim. Ele sugeriu uma nova
Fertilização In Vitro e, em pouco tempo, demos início ao procedimento. Tomei toda
a medicação, mas infelizmente não ovulei.
Fiquei arrasada e muito abalada. O Dr. Arnaldo chegou a sugerir a doação de
óvulos de uma doadora, mas eu não aceitei porque sabia que ainda ovulava e queria um filho meu, com a minha genética. Novamente entrei em depressão e, por um
ano, deixei o tratamento de lado para me recompor. Meu marido não se conformava com a situação e fazia de tudo para que eu deixasse de lado, ou partisse direto para uma adoção. Naquela época, eu achava que ele agia dessa maneira por já
ter filhos e não fazer questão de mais um, mas hoje sei que ele fazia tudo aquilo
para não me ver sofrer.
Logo que me recuperei, voltei à clínica, me consultei com o Dr. Arnaldo e dei início a uma nova tentativa. A aplicação das injeções não me assustava e nem abalava o meu grande sonho. A equipe do Dr. Arnaldo sempre me ligava para saber se
eu estava me adaptando às medicações. O acompanhamento foi essencial, pois
sentia apoio e preocupação da clínica para comigo. Dessa vez, eu consegui dois
óvulos e um deles foi fecundado. Fiquei muito feliz e, desde então, não tive mais
dúvidas de que havia chegado a minha hora. Durante a transferência do embrião,
orei muito e conversei com Deus, pedindo para que ele permitisse que o meu
sonho se tornasse real. Desde aquele momento, já senti o meu bebê em mim. Eu
era mãe e nada conseguia me fazer pensar o contrário.
Após os 12 dias de grande ansiedade e esperança, no trabalho, recebi a ligação
da clínica, que logo foi transferida ao Dr. Arnaldo. Foi então quando ele atendeu e
disse: "Estou falando com a mamãe Maira?" Não me aguentei de emoção, ria ao
mesmo tempo em que chorava. As lágrimas se confundiam com o sorriso. Voltei a
trabalhar flutuando, sentindo paz, libertação… sentindo-me grávida! Após tanto
sofrimento, a recompensa, a felicidade plena. Meu marido estava viajando e imediatamente liguei para ele para lhe contar a novidade. Quando ele atendeu, eu
disse: "Nós estamos muito bem!" Ele entendeu e juntos comemoramos muito.
Ver minha barriga crescer era para mim um grande orgulho, pois durante todo
o período em que sofria para conseguir engravidar, me sentia incapaz e inferior a
todas as outras mulheres. Aproximadamente no quinto mês de gestação, descobri que era uma menina e fiquei ainda mais feliz, pois era outro grande sonho.
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
Quando o pouco é tudo
Alegria maior eu só senti quando minha princesa veio ao mundo, perfeita, saudável e linda. Quando vejo a minha filha hoje, sempre sorrindo, sinto uma emoção
indescritível. É um sonho realizado, o impossível bem ali… na sua frente. Hoje não
desejo mais nada além de muitos e muitos anos ao lado de minha filhinha, para vêla falar, andar, crescer e poder ser sua mãezinha querida para sempre! Desejo que
eu e minha filha sejamos como minha mãe e eu: unidas, amigas e ligadas para
sempre por um amor sem fim.
A certeza que tenho é que Jesus me ama e me permitiu receber esta graça.
Para isso usou a vida do Dr. Arnaldo e de toda a sua equipe, que com grande comprometimento, amor e respeito, realizam o sonho de muitas mulheres como eu.
"Não desanime jamais! Não desista nunca! A luta é árdua, mas suporte.
O resultado é maravilhoso e fica longe de tudo que você é capaz de
imaginar!"
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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A felicidade não está no fim
da jornada, e sim em cada
curva do caminho que
percorremos para
encontrá-la.
(Autor anônimo)
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A Fertilidade vence
a Endometriose
4
A endometriose é uma doença enigmática. Embora seja desconhecida para
muitos, para outros é extremamente familiar. Os casais que buscam ajuda médica
para conseguir a gravidez acabam conhecendo o seu significado num período
muito breve. Na minha experiência, quando eu comento esta possibilidade diagnóstica, a grande maioria das pessoas faz uma expressão de muita preocupação
e medo. É a mesma reação observada quando nas primeiras consultas é pronunciada a palavra HISTEROSSALPINGOGRAFIA. Quem já fez este exame sabe do
que estou falando. A endometriose é uma doença que deve ser cuidadosamente
diagnosticada, tratada e acompanhada; caso contrário, poderá levar a paciente a
repetidas cirurgias, muitas vezes desnecessárias, além do prejuízo da sua fertilidade. Acredita-se, hoje, que uma das grandes dificuldades no seu tratamento é o
tempo de demora para ser diagnosticada: até sete anos, em média. Esta demora
pode trazer prejuízos importantes à anatomia do aparelho reprodutivo, causando
danos à fertilidade da mulher. Por isso, sempre que esta hipótese diagnóstica for
apresentada como uma alternativa, o aprofundamento da pesquisa para confirmação do diagnóstico e o tratamento deverão ser feitos por profissionais que tenham experiência nesta doença, caso contrário, tanto o momento como a maneira
de intervir e tratar poderão ser inadequados.
Portanto, o mito de que a endometriose não tem uma cura não deve ser considerado verdadeiro. O maior problema é que algumas pacientes não são tratadas
adequadamente.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Os dois casais: Anne e Fred, e Adriana e Enrico ilustram os problemas e a
evolução da endometriose. E o mais importante é que, independentemente da
força da doença, a fertilidade venceu e eles estão com os seus filhos.
Anne e Fred vieram da cidade de Manaus e estão entre os pacientes que recebo de outras cidades. Esses pacientes, quando desejam uma consulta, são encaixados quase que prontamente. Isso porque eu e a minha equipe entendemos que
a distância, o custo do transporte e o tempo perdido no deslocamento agem contra o desejo da gestação. Anne tinha, desde o início, um quadro característico de
endometriose e a intervenção cirúrgica demonstrou uma alteração importante de
anatomia dos órgãos reprodutivos. Nessa intervenção, os problemas foram corrigidos de maneira adequada. Entretanto, as trompas quando sofrem alterações importantes como essas, dificilmente voltam totalmente à normalidade, o que pode
causar a gravidez tubária. E foi o que aconteceu com ela.
Quando se optou pelo tratamento de Fertilização In Vitro, o resultado foi satisfatório. Numa vinda solitária de Fred, o esposo de Anne, ele decidiu comigo o que já
tinha decidido com ela lá em Manaus: fariam a Fertilização In Vitro. Orientei, na
época, que poderia aproveitar e coletar o sêmen naquele momento, que ficaria
congelado até o dia da Fertilização. Assim não seria necessária a sua vinda no dia
da coleta dos óvulos, evitando um tempo perdido e despesas de transporte desnecessárias. Algumas vezes, nós médicos temos que orientar também a distribuição
do orçamento do casal.
A parte inicial do tratamento também foi feita em Manaus para que Anne ficasse
o menor tempo possível fora de sua casa. Com os detalhes do tratamento arranjados pelo grupo de apoio da clínica para pacientes que não moram em São Paulo, o
tempo de permanência fora de sua cidade foi de sete dias.
Adriana e Enrico são também um casal de fora de São Paulo, mas não tão distante como Anne e Fred.
Adriana passou por várias intervenções cirúrgicas, como contam em sua
história, que demonstraram muitas aderências entre órgãos (os órgãos aderem uns
aos outros e têm o seu funcionamento prejudicado) e uma provável endometriose.
Essa endometriose já havia sido suspeitada anteriormente. Mas não foram realizado os exames necessários, na época, para confirmação diagnóstica. Somente
anos mais tarde, o diagnóstico foi confirmado. Esse processo, resultou na perda de
uma parte importante de um dos seus ovários. Mesmo assim, conseguiu o seu
bebê através das técnicas de Fertilização Assistida.
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
A fertilidade vence a endometriose
O fato de as histórias aqui contadas serem de tratamentos de Fertilização Assistida não significa que a endometriose impede sempre a gravidez
natural. Ocorre com muita frequência e com tal simplicidade que os casais
não se sentem motivados a ponto de escrever suas histórias.
Depoimentos
“Ela coloriu as nossas vidas”
Anne e Fred
Tudo começou desde a minha adolescência, que foi quando o desejo de ser
mãe despertou em meu coração. É claro que eu não pensava em ter filhos naquele exato momento, mas sonhava em um dia ter quatro crianças brincando e pulando ao meu redor.
Aos 23 anos, me formei em Nutrição e imediatamente me mudei para Manaus,
na intenção de me estabilizar profissionalmente. O desejo e a ansiedade pela chegada da maternidade nunca deixaram de estar presentes em meu coração, mas
enquanto o momento não chegava, eu continuava levando a minha vida, buscando e realizando os meus outros sonhos e ideais.
Após seis anos na cidade, conheci meu atual marido. Namoramos apenas quatro meses, tempo suficiente para vivermos momentos maravilhosos e termos a
certeza de que tínhamos que ficar juntos para sempre. Foi então quando aos 29
anos, me casei. Logo após nossa união, eu já queria engravidar. Meu marido não
ficou muito confortável com a situação, pois além de termos namorado muito pouco
tempo, ele já tinha dois filhos, proporcionados por um outro casamento que havia
acabado recentemente.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Nós não evitávamos e nem usávamos métodos contraceptivos, mas o fato de a
gravidez não chegar ainda não nos maltratava, pois tínhamos uma busca calma,
sem desespero, sem pressa e com muita tranquilidade. Eu, acima de todas as
coisas, acreditava que engravidaria no tempo certo, pois tudo tinha sua hora para
acontecer.
Passado um ano sem nenhum resultado, comecei a ficar um pouco incomodada,
pois se tudo estivesse normal, eu já teria engravidado. Na minha cabeça, se existisse algum problema, este estaria no meu marido, pois eu tinha certeza de que comigo tudo estava bem. Certo dia, ele teve uma irritação no escroto e decidimos procurar um médico. Chegando no urologista, expliquei que eu não sabia ao certo se o
impedimento por eu não engravidar vinha da parte do meu marido e se aquela irritação poderia comprometer uma possível gravidez. O médico foi bem claro quando me
disse que não, mas me orientou a procurar um especialista em reprodução humana
para que eu também fosse examinada e diagnosticada, me indicando uma médica.
Chegando na consulta, a mesma solicitou os exames necessários para detectar uma possível causa, e, para minha surpresa, recebi a notícia de que tinha pólipos no útero, trompas com fimose e enoveladas, além de endometriose. Foi um
choque, pois jamais passou pela minha cabeça que eu pudesse ter algum tipo de
problema que comprometesse a capacidade e possibilidade de me tornar mãe. Fui
orientada a realizar uma videolaparoscopia com a promessa que, depois da cirurgia, tudo daria certo.
Meu marido se opôs, dizendo que eu não faria nada em Manaus, pois me levaria a São Paulo, para que eu fosse tratada por profissionais mais qualificados e
experientes. Assim que cheguei na cidade, me dirigi ao hospital Santa Joana, e na
recepção pedi que me indicassem o melhor médico para resolver o meu problema.
A recepcionista me passou o contato de dois especialistas, um deles era o Dr.
Arnaldo. Liguei primeiro para a clínica do outro médico, mas quando atenderam eu
desliguei. Fui movida por uma intuição que é difícil explicar em palavras, mas algo
me dizia que era com o Dr. Arnaldo que eu tinha que me tratar. Imediatamente
liguei para a clínica IPGO e falei que era de Manaus e que precisava marcar uma
consulta quanto antes, pois não ficaria muito tempo em São Paulo. Pra minha surpresa, foi possível fazer um encaixe na tarde daquele mesmo dia. Aquele com certeza foi um dos dias mais felizes da minha vida, pois eu estava encontrando a pessoa que realizaria o meu sonho.
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
A fertilidade vence a endometriose
Chegando lá, expliquei ao Dr. Arnaldo todo o meu histórico, repleto de tristeza
e frustração. Os exames do meu marido também foram analisados, mas nada de
anormal foi encontrado. O problema realmente estava comigo, em mim, no meu
corpo. Percebendo a minha angústia e também a minha pressa, devido ao fato de
eu não ser de São Paulo, ele me instruiu a realizar a videolaparoscopia naquela
mesma semana. Toda a minha confiança foi depositada naquele homem que estava na minha frente, tentando encontrar uma maneira de me tornar mãe.
Com a cirurgia realizada, o Dr. Arnaldo me disse que dentro de um ano eu
engravidaria. Voltei para Manaus confiante e já com o coração desesperado pela
chegada do grande dia. Foi o ano de maior ansiedade da minha vida. Todo mês eu
fazia os testes de gravidez comercializados em farmácias, mas sempre dava negativo. A minha busca incessante e a minha espera continuavam, sem nenhuma interrupção.
Passados quatro meses, meu marido apresentou uma redução na taxa de
espermatozoides e logo nos dirigimos ao consultório de um amigo. O que parecia
resolvido voltou a nos preocupar, dessa vez um novo obstáculo fora colocado em
nossos caminhos. Meu marido foi orientado a realizar a varicocele, mas, três
meses após a cirurgia, ele simplesmente parou de produzir espermatozoides. A
situação foi insuportável e o desespero tomou conta do desejo louco que eu alimentava em meu coração. Cheguei a culpar o médico, acreditando que ele tinha
causado aquilo e definitivamente destruído todas as possibilidades existentes para
a realização de um sonho que tanto me consumia.
Fomos informados que aquele diagnóstico estava dentro da normalidade e que,
no máximo, em três meses tudo estaria no seu devido lugar. Realmente, tudo voltou ao normal e o meu marido voltou a produzir bons espermatozoides; porém, a
gravidez nunca vinha. Decidi convencê-lo a ir para São Paulo e procurar o melhor
médico, assim como eu fiz. Foi exatamente o que ele fez; porém, o especialista
pediu que aguardássemos um pouco, pois em, no máximo, quatro meses eu engravidaria.
Passados exatamente dois meses, fui surpreendida com sangramentos inconstantes. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas tinha certeza que aquilo não
era normal. Mesmo muito apreensiva, não tive outra escolha além de esperar, já
que só consegui marcar uma consulta médica para depois de um mês.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Depois de alguns dias, fui passear com meu marido no shopping. Ao provar
uma roupa, fiquei muito chateada por notar que meu manequim havia aumentado. Percebi que tinha engordado e fiquei até triste por conta disso. Quando chegamos em casa, ele pediu que eu colocasse a roupa que havia comprado para
ele ver e, para o meu espanto, ela não serviu. Fiquei completamente sem graça
e achei estranho porque não era possível eu ter engordado em tão poucas horas.
Muito desconfiado ele me disse: “Acho que você está grávida!” Aquilo foi um
susto para mim, pois naquele momento a possibilidade de estar grávida era
remota e praticamente nula em meus pensamentos. Ele comprou um teste de farmácia e pediu que eu fizesse, mas neguei fazê-lo, afirmando não querer criar expectativas para algo que naquele momento estava tão distante de acontecer.
Quase não consegui dormir naquele dia, pois aquela pergunta não saía da minha
cabeça. A esperança cresceu e eu não conseguia parar de pensar na hipótese
de finalmente realizar o meu sonho. O teste ficou guardado e, no dia seguinte,
eu o fiz: positivo.
Difícil explicar o que eu senti naquele momento. Fiquei muito radiante, porém
preocupada, pois se eu realmente estivesse grávida, poderia estar com um princípio de aborto, já que o sangramento não cessava. Fui ao laboratório e fiz um novo
exame, que confirmou o resultado anterior. Estava muito feliz, contagiante, e não
queria por nada que aquele dia chegasse ao fim.
Fui trabalhar um pouco indisposta no dia seguinte e pedi que meu marido me
levasse ao hospital, pois eu estava grávida e precisava tomar todo tipo de cuidado. Chegando lá, fiz um ultrassom para detectar o tempo de gravidez e, para o meu
susto, ouvi da médica que eu não estava grávida. Como aquilo era possível?
Expliquei a ela que já tinha realizado o exame e que o resultado havia dado positivo, mas, pelo laudo do ultrassom, era negativo.
Voltei ao laboratório em que tinha realizado o exame e o refiz. Novamente deu
positivo. Eu estava ficando louca com aquela situação. Não sabia o que fazer e
disse ao meu marido que o que eu mais queria naquele momento era poder falar
com o Dr. Arnaldo para que ele analisasse o meu caso. Foi então que eu liguei para
ele e contei tudo o que estava acontecendo. Perguntei se era preciso que eu fosse
para São Paulo e ele me disse que através de uma consulta poderia descobrir imediatamente o que estava acontecendo.
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
A fertilidade vence a endometriose
Eu e meu marido decidimos viajar para São Paulo para descobrir de vez o que
estava acontecendo e acabar com aquela angústia de não saber o que se passava.
Após colher sangue e realizar um novo ultrassom, o teste positivo foi confirmado,
porém, com um detalhe: tratava-se de uma gravidez ectópica. O embrião iria se
desenvolver fora do útero, mais precisamente na trompa esquerda.
Tomei um remédio específico para inibir o crescimento do embrião, mas não
obtive resultado. Então realizei uma nova videolaparoscopia, onde o retirei juntamente com a minha trompa esquerda. Infelizmente não existia a possibilidade de
manter a gravidez. Saí do consultório muito chateada e decepcionada. Cheguei
perto do sonho, mas ele escapou entre meus dedos. Perguntei ao Dr. Arnaldo se
eu ainda tinha chance de ter filhos e ele me disse: “Enquanto existir útero, a mulher pode ter filhos.” Aquela frase jamais saiu da minha cabeça e, com certeza, foi
muito construtiva e motivadora durante todo o meu processo.
Ele me explicou que caso eu engravidasse novamente, poderia perder a outra
trompa e, por este motivo, juntamente com o meu marido, decidimos realizar uma
Fertilização In Vitro. Fiquei chateada somente no momento em que tudo aconteceu, mas logo depois voltei a ficar animada e cheia de esperança, porque eu sabia
que ainda tinha outras possibilidades para realizar o meu sonho. Não posso dizer
que o meu tratamento foi sofrido e doloroso. É claro que nestas circunstâncias, por
mais racionais que possamos ser, é praticamente impossível não se magoar.
Porém, eu confiava demais no meu médico, que sempre me deixou muito segura.
Sempre falo que minha trajetória foi dividida em duas partes: antes do Dr. Arnaldo
e depois do Dr. Arnaldo.
Logo recompus minhas energias e dei início ao procedimento para a Fertilização In Vitro. No mesmo momento, meu marido já fez a coleta de sêmen e fui orientada a começar o tratamento somente após o próximo ciclo menstrual. Voltei para
Manaus radiante, já com os remédios para todo o tratamento. Passados alguns
dias, o Dr. Arnaldo me ligou avisando que eu devia dar início à medicação e, novamente, fiquei muito feliz, já fazendo contagem regressiva para o grande dia.
No dia da transferência, eu estava muito confiante, certa de que engravidaria
logo na primeira. O Dr. Arnaldo alertou que eu tinha apenas dois embriões, mas
isso não diminuía a confiança em um resultado positivo. Durante todo o procedimento, eu conversei bastante com Deus, clamava para que tudo desse certo.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Após 24 horas, durante o sono, fui surpreendida com um sonho. Ouvia nitidamente um bebê gritar “mamãe”. Acordei assustada e fui ao banheiro. Me deparei
com o mesmo sangramento que tive anteriormente, durante a outra gravidez.
Imediatamente liguei para a clínica e pedi para que avisassem o Dr. Arnaldo que
eu estava grávida. Ao questionarem o porquê de tanta certeza, contei que havia
tido um sinal e expliquei o que havia acontecido.
Retornei para Manaus, e os dias de espera pelo resultado foram terríveis.
Foram tão angustiantes que não consegui esperar, e faltando apenas dois dias,
decidi fazer um teste de farmácia. Para o meu desespero, o resultado foi negativo
e eu não consegui me conter. Chorei muito e meu marido não sabia o que fazer
para me acalmar. Jamais esquecerei a dor, angústia, decepção e tristeza que senti
naquele momento.
Chegado o dia do resultado, me dirigi ao laboratório, e quando peguei o exame,
minhas pernas tremiam e eu mal conseguia parar em pé. Fui até o trabalho do meu
marido, que rapidamente abriu o exame. Ele me perguntou: “Você quer saber do
resultado?” e eu pedi que esperasse um pouco, pois ainda não estava preparada
para ouvir. Ele não aguentou e me contou que eu estava grávida! Aquele momento para mim foi indescritível, pois era como acordar de um pesadelo. Eu fiquei parada, anestesiada e não conseguia ter nenhuma reação. Apenas pedia que meu
marido desse a notícia para o Dr. Arnaldo.
Naquele dia, eu e meu marido saímos para curtir o momento. Decidimos não
contar para ninguém, assim como fizemos durante todo o tratamento. Tomamos
essa decisão para evitar qualquer tipo de transtorno, pois eu ainda corria o risco de
sofrer um aborto. Omitimos a gravidez até o final do terceiro mês.
Nesse período, tivemos um grande susto. Ao realizar um exame, fui surpreendida com um descolamento do saco gestacional. Mais uma vez entrei em pânico e
tive muito medo de perder o bebê. Fiquei em repouso absoluto por 15 dias e logo
tudo voltou ao normal. Quando tudo já estava normalizado, decidimos dar a boa
notícia para a família e amigos. Ninguém sabe do tipo de tratamento que realizamos, pois esse procedimento aqui ainda não é normal.
Tirando o susto no início da gestação, minha gravidez foi maravilhosa. Ver
minha barriga crescendo me deixava muito feliz, pois eu sabia que era o fruto de
uma busca e de uma luta incessante. Achava o máximo ficar com aquele barrigão
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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A fertilidade vence a endometriose
e, se tivesse escolha, ficaria daquele jeito por um bom tempo. Ver que eu estava
realizando o meu sonho era tão perfeito e tão inacreditável que, às vezes, passava pela minha cabeça que eu poderia não estar grávida. Cheguei a imaginar que
minha barriga crescia por conta de um mioma. Tinha muito medo de acordar
daquele sonho maravilhoso que eu estava vivendo.
Hoje, com a minha filha bem aqui, pertinho de mim, tudo está mais bonito. A
nossa casa está muito mais alegre, colorida e tudo parece ser mágico. A sua
chegada ao mundo foi triunfal e realizou o grande sonho da minha vida. Sou mãe
e nada pode ser melhor do que isso! Mesmo depois de tudo o que eu passei, tenho
planos de realizar uma nova Fertilização In Vitro. Imaginar ter de passar por tudo
novamente não me assusta. A ansiedade, as chateações e as tristezas se tornam
pequenas, depois que vemos o resultado.
“Para alcançar o objetivo é preciso ter certeza do que você quer. Não
desista em nenhum momento, pois nenhuma dor pode ser mais forte
do que o sonho de ser mãe. Tenha muita fé e sempre que desanimar,
lembre-se que: ‘Enquanto existir útero, existirá uma possibilidade!’ ”
“Deus sabe o momento certo”
Adriana e Enrico
A maternidade é um sonho para a maioria das mulheres. Acho que minha vontade de ser mãe apareceu desde quando me vi como mulher, capaz de dar continuidade à minha geração. Quando criança, dizia que iria ter dois filhos, uma menina e um menino. Sempre me imaginei toda barriguda, usando roupas largas e
sentindo a doce sensação de amamentar.
Quando conheci meu marido, passei a ter certeza que realizaria meu grande
sonho, pois ele também sempre me falava sobre o seu desejo de ser pai. Aos 20
anos, me casei, mas, inicialmente, tínhamos o plano de curtir um pouco, terminar a
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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faculdade, para depois termos filhos. Não estávamos dando prioridade para outras
coisas, pois o desejo estava dentro dos nossos corações, mas acreditávamos que
aquele ainda não era o momento. Queríamos nos estruturar melhor, até mesmo
para dar uma boa condição de vida para os nossos filhos.
Após sete anos, quando finalmente decidimos ter filhos, fui surpreendida com
fortes dores na barriga que me levaram ao hospital. Por meio de alguns exames
realizados e, durante um ultrassom, foi constatado um líquido na cavidade abdominal. Logo fui alertada de que era um sinal de apendicite. Fui internada no mesmo
dia e operada erroneamente, onde o cirurgião retirou o apêndice perfeito, sem nenhum problema. Ainda na sala de cirurgia, o médico começou a me questionar se
eu já era mãe e se eu tinha intenção de ter filhos, pois havia alguns indícios de que
eu poderia ter endometriose.
Eu nunca tinha ouvido falar nessa doença e o médico não me deu muitas explicações. Pediu apenas que eu procurasse um ginecologista para realizar novos
exames e analisar com mais precisão o meu diagnóstico. Passei por várias clínicas, mas em nenhuma delas fui orientada sobre o que estava acontecendo. Ouvia
apenas que se realmente eu tivesse endometriose, dificilmente engravidaria. Foi
muito difícil ouvir especulações desse tipo, pois cada palavra pronunciada destruía
o sonho que por toda a minha vida foi preservado em meu coração. No meio desse
desespero total, um médico amigo da família indicou um especialista em endometriose. Este me tranquilizou, dizendo que realmente teríamos que investigar o problema.
Com apenas quatro meses após a minha cirurgia de apendicite, realizei uma
videolaparoscopia, O resultado da endometriose foi negativo, mas eu tinha muitas
aderências e o que eles chamam de pélvis congelada (todos os meus órgãos eram
grudados). Fui alertada que dificilmente engravidaria pelos métodos naturais, o que
me deixou muito preocupada. Sentia-me frustrada por saber que talvez não seria
capaz de ter um filho e realizar o nosso sonho.
Demos início a um tratamento, mas após dez meses, a gravidez ainda não
havia chegado. Além do desgaste emocional e psicológico que sofri, estava tendo
muitas dores abdominais e sentindo cólicas menstruais que ficavam cada vez mais
intensas. Diante dessas circunstâncias, meu médico solicitou um ultrassom, no
qual foi constatado um cisto com aproximadamente 7 cm. Novamente fiquei cho-
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
A fertilidade vence a endometriose
cada! Além de chateada por ver que a maternidade estava cada vez mais distante, ficava preocupada com a minha própria saúde, pois nunca imaginei que pudesse ter algum problema semelhante ao que eu estava tendo. Era uma mistura de
sentimentos muito grande e meu coração se mantinha apertado e confuso. Para
aumentar ainda mais o meu desespero, durante a cirurgia, foi confirmada a presença da endometriose. Dei início a um tratamento com injeções que inibiam a ovulação. Esse processo durou nove meses e foi muito, mas muito difícil.
Mas em todos os momentos recebi muita força do meu marido. Sempre que eu
dizia: “Eu tenho um problema”, ele falava: “Não! NÓS temos um problema!”
Quando eu perdia as esperanças, ele me enchia de força para continuar. Essas atitudes me davam muita força para continuar, pois eu sabia que tinha alguém do
meu lado, me segurando para que eu não caísse. Depois da última injeção, eu e
meu marido ficamos aliviados, acreditando e tendo fé que tudo havia se resolvido.
Novamente demos início ao tratamento, tomando algumas medicações receitadas pelo médico. Tudo parecia perfeito, mas após quatro meses, as cólicas voltaram e meu médico identificou um cisto de 4,7 cm no ovário esquerdo e outro menor
no ovário direito. Realizei uma nova videolaparoscopia, que deixou meu coração
muito angustiado. Após a realização de uma nova cirurgia, parte do meu ovário
esquerdo foi retirada com os cistos. Quando recebi a notícia do médico, perdi o
controle da situação e me desesperei. Saí do consultório chorando muito e com as
esperanças esgotadas. Quando perdi a minha fé e parei de acreditar que seria
mãe, passei a me culpar por não ter tido filho antes, já que havia me casado muito
nova, com o organismo muito melhor para uma gravidez. Me sentia a pior pessoa
do mundo e não entendia porque estava tendo que passar por tudo aquilo. A fase
foi muito difícil, mas o amor e o apoio do meu marido dedicados a mim não me
deixavam desistir, me fazendo sempre crer que o nosso sonho seria realizado.
Iniciei novamente o tratamento com as injeções. Tínhamos esperança que eu
me curaria, pois o médico havia feito uma limpeza da endometriose durante a cirurgia. Novamente, para a nossa decepção, no primeiro ciclo, as dores voltaram com
muita intensidade. Procurei o médico, um novo exame de ultrassom foi feito e
novamente foi encontrado um cisto em cada ovário. Eu fiquei inconsolável! Mais
uma vez a conduta recomendada pelo médico foi de uma nova cirurgia, mas eu
não aceitei e relutei, pois aquelas tinham sido as recomendações dos últimos três
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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anos. Ao perceber que nada me faria mudar de ideia, ele foi taxativo, dizendo que
a Fertilização In Vitro seria a única solução para o meu caso. A situação já estava
insuportável. Todas as noites eu sonhava com o meu filhinho em meu colo, sentindo a sensação maravilhosa de amamentá-lo. Deixamos de viver e passamos a
sobreviver, diante de todos os impedimentos que nos mantinham longe do nosso
maior desejo.
Passamos a procurar hospitais que pudessem fazer o procedimento gratuitamente, mas vimos que isso era impossível, até mesmo porque não tínhamos muito
tempo. Se eu demorasse muito, a endometriose poderia se agravar. Víamos as
portas se fechando à nossa frente e o desânimo nos dominava. Foi então quando
um colega de trabalho comentou com o meu marido que sua esposa estava realizando um tratamento com o Dr. Arnaldo, que imediatamente nos foi indicado.
Marcamos a consulta na clínica IPGO e fomos atendidos por uma médica da equipe que nos tranquilizou muito, principalmente em relação aos meus cistos. Saí de
lá muito confiante, porém nervosa. Havíamos encontrado a solução, mas não tínhamos como arcar com o custo da mesma. Falei ao meu marido que não sabia
como, mas que iríamos fazer o tratamento naquela clínica.
No dia seguinte, o Dr. Arnaldo me ligou e conversamos um pouco sobre o meu
diagnóstico. Ao questionar a parte financeira do tratamento, simplesmente ouvi:
“Falamos disso depois! Estamos aqui para realizar o seu sonho e é isso que iremos fazer!” Naquele momento, tive a certeza que estava no caminho certo, pois
percebi que o meu sonho era o deles também. Aquelas palavras me confortaram e
jamais saíram da minha memória.
No mês seguinte, demos início ao tratamento, mesmo com o problema da falta
de recursos. Estávamos decididos! Resolvemos pôr à venda um único terreno que
tínhamos e demos início à Fertilização In Vitro, sem muita certeza do que faríamos
com relação ao dinheiro necessário. Estávamos com muita fé e esperança e logo
as portas que se mantinham fechadas, começaram a se abrir. As coisas pareciam
estar melhorando e tudo se resolvendo. Estávamos renovados, acreditando em um
resultado positivo. Não era fácil, pois os momentos de euforia e preocupação se
alternavam, mas tínhamos convicção que boas notícias chegariam em breve.
Chegado o dia da transferência, nossos corações explodiam de tanta ansiedade.
Tínhamos quatro embriões e decidimos implantar três deles. A sensação de tê-los
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
Ansiedade: mito ou verdade?
junto a mim era indescritível, e desde então já me sentia grávida. Eu e meu marido
não sabíamos que a pior parte ainda estava por vir. A espera angustiante pelos 12
dias foi na verdade 12 anos. Por mais que tentássemos, não conseguíamos pensar
em outra coisa.
Após a terrível espera, me dirigi ao laboratório para a coleta de sangue. Em
pouco tempo o resultado ficou pronto, mas não tive coragem de buscá-lo. Pedi que
meu marido fosse até o laboratório para retirar o resultado e, juntos, teríamos a
mais desejada resposta dos últimos dias. Chegando em casa, abrimos o envelope
e fomos dominados pela emoção de saber que estávamos grávidos. Mal conseguíamos falar, apenas sentíamos aquele momento entre lágrimas que estavam
longe de cessar.
Foi maravilhoso a primeira vez que ouvimos o coração da nossa filhinha pulsar,
batendo forte, seguindo seu destino e crescendo a cada dia. Minha gravidez foi
maravilhosa. Curtimos muito a espera e nos tornamos as pessoas mais felizes do
mundo. Eu ficava horas e horas me olhando no espelho, namorando a minha barriga e agradecendo a Deus por ter concedido o maior tesouro das nossas vidas.
A emoção de pegar a minha filha pela primeira vez em meus braços foi inexplicável. O primeiro choro, o primeiro olhar, o primeiro toque… Foram sem dúvida
momentos emocionantes, fortes e marcantes, que jamais serão apagados da
minha memória e do meu coração. Hoje sei que valeu a pena e faria tudo de novo.
As dores, as tristezas, os momentos de angústia, tudo isso deu espaço apenas
para muita alegria e, hoje, sou uma mulher realizada e feliz, mas muito feliz!
“Não desanime! Procure os melhores profissionais e confie muito em
Deus! Hoje, mais do que nunca, entendo que Ele sabe o momento certo
para nos abençoar com o que queremos ou necessitamos.”
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Espaço da Ciência
ENDOMETRIOSE – O que é?
Endométrio é o tecido que reveste o útero internamente e é formado entre as
menstruações. Esta “película” solta-se e sai juntamente com o sangue, cada vez
que a mulher menstrua. Por razões ainda não bem definidas, esse revestimento
pode migrar e se alojar em outros órgãos, como ovários, tubas, intestinos, bexiga,
peritônio, e até mesmo no próprio útero, dentro do músculo. Quando isto acontece, dá-se o nome de endometriose (inserido na musculatura do útero tem o nome
de adenomiose), ou seja, endométrio fora do seu local habitual. A endometriose é
responsável por cerca de 40% das causas femininas da infertilidade. A moléstia
não é maligna e, em certas pacientes, se manifesta apenas discretamente, com
leve aumento na intensidade das cólicas menstruais. Em outras, pode ser um martírio, com dores fortes e sangramentos abundantes. Em qualquer uma das situações, seja qual for o grau de endometriose, a infertilidade poderá estar presente ou
futuramente comprometida. Os indícios da existência desta doença podem ser
dados, além da história clínica, pela dosagem no sangue de uma substância chamada CA125 e por imagem suspeita vista pelo ultrassom. Novos exames, como
PCR, SAA, anticardiolipina IgG, IgA e IgM, representam uma opção para pesquisa
e tratamentos imunológicos futuros desta patologia. Para confirmar o diagnóstico e
graduar o comprometimento dos órgãos afetados pela doença, a videolaparoscopia é essencial, podendo-se através dela obter também a cura com a cauterização
e ressecção dos focos. O tratamento clínico medicamentoso complementar é uma
alternativa que deve ser avaliada caso a caso.
Principais Sintomas da Endometriose Superficial e Profunda
• Dor: antes e durante a menstruação, piores que as cólicas menstruais normais que, muitas vezes, impedem a mulher de executar tarefas cotidianas.
• Infertilidade: 40% das causas de infertilidade.
• Hemorragias: abundantes ou irregulares.
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
A fertilidade vence a endometriose
• Evacuação dolorosa: durante o período da menstruação. Pode ocorrer sangramento pelo ânus, no período menstrual.
• Nenhum sintoma: a doença pode ser assintomática, podendo haver suspeitas pela dificuldade em engravidar, ultrassonografia, dosagem do CA125 e
confirmada pela videolaparoscopia.
Tratamentos
• Videolaparoscopia diagnóstica e cirúrgica (mais importante, pois diagnostica e
remove as aderências e focos de endometriose);
• Analgésicos;
• Pílulas anticoncepcionais;
• Hormônios que bloqueiam a menstruação;
• Implantes hormonais;
• Gravidez não é tratamento.
Causas da endometriose
•
•
•
•
Refluxo do sangue menstrual.
Problemas do sistema imunológico.
Teoria genética.
Teoria metaplásica (outros tecidos que se transformam em endometriose).
Locais possíveis para os implantes de endometriose
Endometriose
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Há pessoas que transformam
o sol numa simples
mancha amarela, mas há também
aquelas que fazem de uma
simples mancha amarela
o próprio sol.
Pablo Picasso
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Homens com “H”
maiúsculo (Banco de Sêmen)
5
O homem e a mulher são conhecidamente diferentes em vários aspectos de
comportamento. Desde a infância, essas variações podem ser notadas. O menino
geralmente é mais agitado, ao passo que a menina tende a ser mais tranquila. No
decorrer da adolescência até a idade adulta, essas diferenças se acentuam: as
meninas tendem a ser mais centradas, amadurecem mais cedo, são mais responsáveis e mais vaidosas. Mas, de todas elas, uma das que mais me chamam
atenção é o comportamento masculino diante de problemas de saúde. Enquanto a
maioria das mulheres encara esses problemas com coragem (é evidente que sempre existem exceções), o homem tende a fraquejar, em vez de enfrentá-los. Ele
tende a se acomodar, se isolar e se afastar da rotina dos tratamentos, e ela os
enfrenta. Vale ressaltar que essas observações são frutos da minha prática diária
de consultório e não devem ser tomadas como regra.
A infertilidade masculina é a princípio muito mais “sofrida” do que a feminina,
pois alguns homens associam esse fato à masculinidade e virilidade. Ser infértil
parece despertar nos homens sentimentos de impotência e menos valia, entre outros. Ainda hoje, alguns segmentos da sociedade tendem a responsabilizar a mulher pelas dificuldades do casal em ter filhos. Muitos homens ainda se recusam a
fazer o exame do seu esperma (espermograma), justificando que caberá à mulher
fazer a investigação inicial, e só depois dos exames dela resultarem negativos é
que darão início aos seus exames. Puro engano, pois de todas as causas de infertilidade, 50% cabem ao homem. Existem vários exames que a mulher faz que são
desconfortáveis e que poderiam ser dispensados se o exame do sêmen apresentar problemas graves e irreversíveis.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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De todas as alterações dos exames do homem, a pior e mais traumática é a
ausência total de espermatozoides, chamada azoospermia. Existem várias causas
para este problema: genético, agenesia do ducto deferente (falta de formação do
ducto que leva os espermatozoides do testículo ao meio exterior) e outros. Embora
existam várias técnicas para a recuperação dos espermatozoides diretamente do
testículo, como a punção ou microdissecção, algumas vezes, nem esses procedimentos conseguem obter estas células para a fertilização. Nesses casos, a única alternativa é o Banco de Sêmen, que guarda amostras de esperma de doadores anônimos,
catalogados, de saúde comprovada e que podem ser escolhidos pela semelhança
física, tipo de sangue e perfil psicológico compatível com o marido.
O primeiro impacto emocional deste resultado é avassalador, pois de alguma
forma parece afetar o moral do homem. Sentem-se decepcionados, envergonhados
e alguns até deprimidos, pois esta possibilidade raramente passa pela imaginação no
sexo masculino. Não que a mulher seja insensível quando o problema é com ela,
mas a forma de encarar os fatos geralmente é diferente no sexo feminino. Ela procura reerguer-se com coragem, enquanto o homem precisa de apoio, compreensão e
de mãos estendidas para se levantar, encarar os fatos e participar do tratamento de
forma ativa. Geralmente, essa iniciativa para sua recuperação vem da sua própria
mulher. É nesta hora que se descobre qual é o verdadeiro sexo frágil.
Anita e Ciro, Carla e Augusto são casais cujos maridos são exemplo de histórias
de homens que encararam os fatos com coragem e equilíbrio. Histórias diferentes
e de muita determinação. Ciro e Augusto são os heróis deste capítulo. Existem outros exemplos como Daniel, do capítulo 1, e Arthur, do capítulo 13.
Anita e Ciro formam um casal jovem. Ela com 22 anos e ele com 26. Ciro tem
cara de menino ainda mais novo, com voz infantil e muito simpático, o tipo “garotão
boa gente”. Anita, quase criança, parece uma companheira ideal para o seu marido. Entraram na minha sala quase que grudados um no outro. Assim que se sentaram para o início da consulta, detectei que o problema estaria com Ciro. Como
eu percebi? Porque a experiência do trabalho traz muitos benefícios, e desde o início de minha profissão, presto muita atenção no comportamento dos pacientes,
suas expressões faciais, seus gestos, a maneira de sentar, a maneira como se
expressam etc. Ciro começou a falar. Não estava gago propriamente, mas falava
com a voz trêmula, típica de quem estava receoso daquilo que poderia ouvir. Suas
bochechas e o pescoço estavam avermelhados. Mostrava-se muito ansioso. Já na
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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Tropeços e...
Conquistas
Homens com “H” maiúsculo
(banco de sêmen)
primeira frase colocou o seu espermograma sobre a minha mesa e eu, enquanto o
ouvia, percebi que o resultado do exame era azoospermia. Durante o seu relato
médico, dizia que estavam casados há pouco tempo e muito preocupados.
Percebendo o desespero de Ciro, tentei tranquilizá-lo, na medida do possível,
descrevendo os caminhos possíveis para a conclusão do seu diagnóstico e a
possibilidade de ter seus filhos com seus próprios espermatozoides. Percebi também que tinham uma limitação financeira importante (eram recém-casados), e por
isso ajudaria a achar a melhor alternativa econômica para resolver esse problema.
Para esclarecimento do diagnóstico foi realizada uma biópsia de testículo, que
resultou em uma “quase inexistente” quantidade de espermatozoides.
Mas havia esperança. Havia duas alternativas para eles. Poderia ser feita a
inseminação artificial com sêmen de doador (Banco de Sêmen), ou realizar a
Fertilização In Vitro tentando-se retirar espermatozoides do testículo de Ciro.
Entretanto, não havia garantia se conseguiríamos sucesso neste procedimento. A
alternativa era deixar uma amostra de sêmen de doador à disposição, pois se não
fosse possível ter os espermatozoides de Ciro, já teríamos esperma para dar
prosseguimento à fertilização. Ciro com dignidade e coragem, entendeu que não
havia outras alternativas e aceitou as condições. Com um período curto de reflexão, logo concordou com o tratamento. A dificuldade maior estava por vir, pois o casal não tinha condições financeiras de pagar o tratamento. Como alternativa, foi
proposto a ele a doação de parte dos óvulos provenientes da estimulação ovariana
de Anita para uma outra mulher (receptora). Estas mulheres receptoras são
pacientes que desejam ter filhos numa idade avançada e não possuem mais óvulos capazes de serem fertilizados. A única alternativa para elas, nestes casos, é
receberem óvulos de uma outra mulher (doadora), com saúde comprovada e fértil,
como Anita, para serem fertilizadas com o sêmen do seu próprio marido (receptora) e daí gerar o seu bebê (ver capítulo 7 – Bendito o fruto do vosso ventre).
Tudo foi realizado de forma adequada, mas outro problema estava por vir. No
último momento, a receptora, por motivos pessoais, resolveu adiar seu tratamento, e ante a angústia e frustração de Ciro e Anita, a administração do IPGO viabilizou o custo financeiro para o casal, que optou por fazer o tratamento sem a
ovoadoação. O resultado final de todos esses caminhos e tropeços foi a conquista
da gestação gemelar, sem a necessidade do uso do sêmen de doador.
A outra história é do casal Carla e Augusto. Eles moram em outro Estado do
Brasil e me procuraram. Augusto já tinha o diagnóstico de azoospermia e sabia, por
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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todos os exames já realizados, que a única maneira de terem filhos seria através
do banco de sêmen. Estavam bem conscientes do problema e aceitavam o tratamento com sêmen de doador sem restrições, pois já tinham passado pela angústia deste diagnóstico há algum tempo.
Normalmente, eu conto aos pacientes algumas histórias reais do meu dia a dia
do consultório para ilustrar os seus problemas. É uma maneira de facilitar a compreensão dos fatos, uma vez que eles passam a entender que fazem parte de um
universo de pessoas com o mesmo problema, e não são exceção. Contei a eles a
seguinte história:
“– Certa vez, fui convidado para uma festa de criança. O aniversariante, um menino de seis anos, era fruto de um tratamento de fertilização com sêmen de doador.
Este histórico era e ainda é um segredo, como sempre devem ser nos tratamentos de
Fertilização, principalmente em casos como este. Em situações especiais, alguns
pacientes tornam-se meus amigos íntimos, pela convivência e por pontos em comum.
Por este motivo, fui a essa comemoração. Durante a festa, observava essa criança
que além do seu ar saudável, apresentava comportamento e gestos semelhantes ao
seu pai, como por exemplo, colocar a mão no bolso e inclinar o rosto para o lado oposto, provocando comentários dos parentes de ‘como é parecido com o pai’. Quem diria!
Esta história é verdadeira e conto a todos os maridos candidatos ao uso do
Banco de Sêmen.”
Ao contar esta história, Augusto não só concordou como completou contando a
sua própria história, que desde então passei a contar como parte do meu repertório
de exemplos reais. Contou-me que ainda bem criança sua mãe separou-se do seu
pai. Anos depois, ela veio a se casar com outro homem, seu padrasto, com quem
vive até hoje. Durante toda a sua vida, Augusto conviveu com esse homem. Esteve
ao seu lado por um tempo maior que com o seu próprio pai. Adquiriu assim os
hábitos, comportamentos e gestos semelhantes aos dele. Por isso, conta ele, a
maioria das pessoas com quem convive acredita que o seu padrasto é o seu verdadeiro pai, tamanha é a semelhança.
Estas histórias têm o objetivo de ilustrar com fatos reais como estes homens
encararam e enfrentaram seus problemas. Sem preocupações descabidas, nem
preconceito, formaram uma família feliz, e mesmo que guardem segredos da
maneira que se tornaram pais, são orgulhosos dos filhos que conseguiram.
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Gravidez:
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(banco de sêmen)
Depoimentos
"Uma luta e duas vitórias"
Anita e Ciro
Minha história começou desde o instante em que me casei, aos 25 anos. Sempre fui apaixonada por crianças, mas meu objetivo era esperar o melhor momento,
até mesmo para que a dificuldade financeira por conta do casamento fosse sanada. Meu marido também sempre foi louco por crianças, e, se dependesse dele
teríamos filhos no primeiro mês após o casamento.
Em pouco tempo, surgiram as cobranças da família, e com apenas um ano de
casados, decidimos que havia chegado a hora. Após dois anos de tentativas sem
sucesso, começamos a ficar preocupados. Marquei uma consulta com a minha
ginecologista, que ao saber da minha dificuldade para engravidar, solicitou que
meu marido realizasse um exame para verificar se existia algum problema com ele,
pois comigo não havia nada de errado.
Após realizar o exame, assim que meu marido recebeu o resultado, me ligou
para dar a notícia. Entre lágrimas, contou-me que estava com azoospermia.
Ficamos arrasados, principalmente porque jamais imaginávamos que isso pudesse
nos acontecer. Tínhamos certeza que estava tudo certo e que nada de anormal
seria detectado.
Por falta de informação sobre os tratamentos existentes para a infertilidade,
achamos que não seríamos pais. O sonho havia acabado e não existia solução!
Tentei dar forças a ele para que não desanimasse. Ficamos perdidos por um
tempo, sem saber como agir e que atitude tomar diante daquela situação. Pensei
na tentativa de uma adoção, mesmo sabendo que ficaria frustrada por não ver
minha barriga crescer.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Meu marido realizou consultas em diversas clínicas a fim de confirmar o diagnóstico. Não conseguia e não queria aceitar seu problema. Ao ver sua tristeza,
disse-lhe que procuraríamos um especialista para que, juntos, descobríssemos
uma solução. Acredito que seja muito difícil para qualquer homem ter de enfrentar
um problema como este.
Foi uma fase muito difícil. A mágoa e a frustração tomaram conta dos nossos
corações, que choravam de dor. Tentávamos nos distrair, mas nada nos mantinha
longe do nosso problema. Para agravar ainda mais o momento difícil que estávamos tendo de enfrentar, a família e os amigos nos enchiam de perguntas, fazendo
brincadeiras que nos deixavam muito incomodados. Sabíamos que não tinham
maldade, pois não sabiam de nada, mas o constrangimento era inevitável.
Como não estávamos mais suportando a situação, decidimos contar tudo para
os nossos pais, que foram nossa base de apoio. Foi muito difícil ter que expor tudo
o que estava acontecendo. Meu marido estava arrasado e não se sentia confortável tendo que expor seu problema. Nossos pais foram nossa fortaleza, nos ajudando a vencer todos os obstáculos. No meio de toda essa situação desconfortável,
meu sogro conheceu uma pessoa que indicou a clínica IPGO. Ficamos esperançosos e muito entusiasmados e marcamos uma consulta, acreditando que teríamos
boas notícias.
Logo de início, recebemos muita confiança do Dr. Arnaldo, que nos disse que
a possibilidade de conseguirmos era grande por eu ainda ser jovem. Quanto ao
problema do meu marido, explicou que por meio de uma punção do testículo era
possível extrair o sêmen. Porém, esse procedimento só poderia ser realizado na
metade do meu tratamento, ou seja, daríamos início ao procedimento sem saber
se usaríamos o sêmen do meu marido ou de um doador (banco de sêmen).
Sempre sonhei em ficar grávida, ver minha barriga crescendo, mas mesmo assim
a adoção era mais confortável do que gerar um filho que não tivesse a genética
do meu marido.
Voltamos para casa radiantes, pois acabávamos de descobrir uma alternativa
para solucionar o problema que até aquele momento nos parecia impossível de ser
solucionado. Porém, não tínhamos condições financeiras naquele momento para
arcar com o tratamento. Sabíamos que era loucura, mas decidimos fazer tudo o
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GRAVIDEZ:
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Homens com “H” maiúsculo
(banco de sêmen)
que estava ao nosso alcance para realizar o tratamento e encaramos a situação,
apesar de toda dificuldade.
Decididos, confiantes e cheios de esperança, demos início à nossa caminhada.
Comecei o tratamento, sabendo que o filho poderia não ser do meu marido e isso
me atormentava. Toda aquela situação era muito estranha. Tivemos que apontar
um doador e foi muito sacrificante ter que escolher em um banco de sêmen um biotipo que mais se aproximava do meu marido. Pensar nos detalhes como altura, cor
dos cabelos, entre outras coisas, eram, em nossa mente, importantes para que,
futuramente, ninguém viesse a descobrir, caso tivéssemos que usar realmente o
sêmen de um doador.
O tratamento foi desgastante. As injeções eram dolorosas, mas cada picada era
cheia de esperança. No decorrer do tratamento, tivemos muita insegurança e medo
de não dar certo. Estávamos muito confiantes e sabíamos que se viesse um resultado negativo, ficaríamos desestruturados. Fazíamos o possível para manter nossos pensamentos positivos, tentando não pensar em coisas ruins, que nos deixassem apreensivos.
Finalmente, chegou o dia da punção. Era um momento decisivo, onde descobriríamos se o nosso filho teria 100% da nossa genética. Meu marido foi para a sala
onde seria realizado o procedimento, enquanto eu e meus sogros aguardávamos
aos prantos na sala de espera. Depois de algum tempo o Dr. Arnaldo apareceu e
nos disse o que mais desejávamos ouvir naquele momento: "Ele tem um monte de
sêmen!" Ficamos contagiantes, explodindo de felicidade. Meu marido ainda estava
adormecido por conta da anestesia. Dar aquela boa notícia para ele foi um dos melhores momentos que vivemos. Havíamos vencido mais um dos obstáculos que
nos distanciavam do nosso sonho. A reação foi instantânea! Choramos muito, mas
desta vez, de felicidade.
No dia da transferência dos embriões, estávamos bem ansiosos. Foram transferidos três embriões, por indicação do próprio Dr. Arnaldo, que considerou como
caso especial pelas nossas dificuldades. Fiz repouso absoluto e cumpri com todas
as orientações que me foram passadas. Os 12 dias de espera foram longos, muito
longos. Eu já me sentia grávida e o meu marido estava certo de que o resultado
seria positivo. Porém, mesmo com toda esta convicção, só teríamos a confirmação
por meio do exame. Mesmo confiantes, era inevitável sofrermos naquele período
onde os dias custavam a passar.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Chegado o dia, não estávamos aguentando de tanta ansiedade. Foi então
quando a Mariana ligou para o meu marido dando a boa notícia: Eu estava grávida! Imediatamente meu marido me ligou e não me aguentei de tanta felicidade. Foi
um momento único e inesquecível. Palavras jamais serão capazes de expressar a
emoção que sentimos naquele momento, após viver tanta decepção. Dividimos
com todos a felicidade que transbordava dos nossos corações.
Mesmo gratos a Deus pelo que Ele já tinha feito, não imaginávamos que o melhor ainda estava por vir. Ao realizar o ultrassom, descobrimos que eu estava grávida de gêmeos. Foi uma sensação maravilhosa e a nossa luta estava muito mais do
que vencida. Quando achamos que nada mais poderia nos acontecer, recebemos
a notícia que era um casal! Tudo estava perfeito!
Apesar de ter que enfrentar enjôos intermináveis, minha gravidez foi ótima.
Curti cada minuto como se fosse o último. A Rafaela e o Gabriel vieram ao mundo
com muita saúde. Foi mágico viver todos aqueles momentos felizes, de muita
realização.
Seremos eternamente gratos a Deus pela infinita bondade e por ter permitido
que fôssemos pais. A felicidade que sentimos é tão grande, que não dá para medir.
É tão valiosa, que não tem preço. A alegria é tão infinita, que nos dá a certeza de
que jamais deixará de estar presente em nossos corações.
"Queremos que a nossa trajetória sirva de exemplo para você que
está vivendo isso hoje. Creia sempre em Deus, pois Ele faz o impossível acontecer e, quando menos esperar, suas lágrimas serão substituídas pelo riso e muita, mas muita alegria!"
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Homens com “H” maiúsculo
(banco de sêmen)
"Deus realiza sonhos impossíveis"
Carla e Augusto
Desde nova, sempre me achei o patinho feio da família. Por esse motivo sempre achei que nem fosse casar. Dessa forma, não pensava e nem sonhava com filhos, mesmo adorando crianças. O desejo surgiu depois que eu conheci o meu
atual marido. Aos 25 anos, me casei e dei início a um relacionamento que até hoje
só me traz alegrias.
Como naquele momento estávamos em plena ascensão profissional, nossos
planos eram de que os filhos viessem apenas depois de uns três anos, pois já
estaríamos mais estabilizados e preparados para vivenciar esta nova fase.
Após dois maravilhosos anos, decidimos que havia chegado a hora, e, no
terceiro ano de casados, demos início às tentativas. Vários meses se passaram e
nada aconteceu. Desconfiada, procurei o meu médico, que, após me examinar,
disse que nada de errado havia em mim, senão a ansiedade que consequentemente abalava o meu psicológico.
Fiquei muito desconfiada, e com indicação de uma amiga, decidi me consultar
com um outro ginecologista. Logo na primeira consulta, o médico pediu que meu
marido realizasse um espermograma. Ficamos muito assustados, e para nossa
tristeza, o exame detectou a presença de azoospermia. Foi como perder o chão,
porque na verdade o ser humano nunca está preparado para receber uma notícia
como esta. O sonho de nos tornarmos pais morreu ali. O médico não nos deu
esperanças e também não nos encaminhou para um especialista.
Apesar de muito chateados, superamos essa fase de uma forma bem positiva. Eu
não havia casado com o meu marido para que ele me desse filhos. Eu me casei para
viver ao lado dele para sempre, pois acima de todas as coisas, o queria como meu
marido, meu companheiro e meu amigo. A impossibilidade de termos uma criança
não abalava o meu amor pela pessoa que estava ao meu lado, e sempre fiz questão
de deixar isso claro a ele.
Não tocamos mais no assunto e demos continuidade às nossas vidas. Após
dois anos, ele teve um problema de saúde degenerativo, e por conta disso, teve
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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que realizar biópsia e cirurgia. Decidimos aproveitar o procedimento para que fossem realizadas também a varicocele e a biópsia testicular. Tivemos muita esperança de um possível resultado positivo, mas, infelizmente, a realidade foi outra.
Aquele dia, mais do que nunca, tivemos a certeza de que a possibilidade de termos filhos genéticos acabava ali. Mesmo chateados, tínhamos a certeza de que
Deus sabia de todas as coisas, e, juntos, superaríamos mais essa etapa.
Muitos anos se passaram, e por um longo tempo não tocávamos mais nesse
assunto, até que um dia fui cobrada pelo meu marido, que me disse que eu não
queria ter um filho dele. Conversamos bastante e percebemos que, na verdade, um
não cobrava o outro porque não queríamos que isso se tornasse um problema em
nosso relacionamento. Nesse mesmo tempo, meu marido leu em uma revista muito
conhecida um artigo que falava sobre infertilidade. A matéria indicava a clínica
IPGO, que, temporariamente, estava realizando consultas totalmente gratuitas.
Meu marido ficou muito animado com o que leu e logo entrou em contato com
a clínica para agendar um horário. Morávamos em Vitória, mas percorremos mil
quilômetros para chegar ao lugar que poderia realizar o nosso grande sonho. Ao
chegarmos para a nossa primeira consulta, contamos ao Dr. Arnaldo tudo o que
havia acontecido. Ele nos disse que não faria rodeios, e que no nosso caso só seria
possível uma gravidez com doação de espermatozoides. Meu marido se mostrou
a favor de imediato, e decidimos então aceitar a única opção que poderia realizar
nosso grande sonho. O Dr. Arnaldo nos explicou como seria realizado todo o procedimento e saímos da clínica decididos e muito felizes.
Não contamos à família sobre a doação de espermatozoides, pois era uma coisa
muito nossa. Foram muitas perguntas e também muita desconfiança por parte dos
familiares, mas a medicina está muito avançada. Quem iria contestar? Passamos
por cima de tudo e de todos, pois só o que nos importava naquele momento era a
realização do nosso maior sonho.
Estávamos bem resolvidos quanto à nossa decisão, e logo demos início à escolha do doador. Aquele momento foi muito difícil, pois você espera encontrar alguém
que tenha as características da sua família, mas tudo aquilo é muito superficial. Não
dá pra saber ao certo se é ou não é parecido… é uma decisão muito difícil. Eu e meu
marido sempre acreditamos que o filho fica igual aos pais por conta da criação. Meu
marido foi criado pelo padrasto e fisicamente é mais parecido com ele do que com
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Homens com “H” maiúsculo
(banco de sêmen)
o próprio pai. Por esse motivo, fizemos a nossa escolha, mas acreditávamos que as
semelhanças viriam com o passar dos anos, através da convivência.
Após dois meses, demos início à nossa primeira Inseminação Artificial. A experiência de tomar aquelas injeções e fazer o controle de ovulação foi maravilhosa!
Pois ali tive contato com pessoas que se dedicavam verdadeiramente à realização
de um sonho que passa a ser delas a partir do momento que entramos na clínica.
Me senti muito segura e muito feliz!
Os 12 dias foram tranquilos e, em nenhum momento, senti medo ou insegurança. A família nos deu muito apoio, sempre nos dizendo que tudo daria certo. No dia
do exame eu tinha certeza que o resultado seria positivo, mas, infelizmente, não
aconteceu como o esperado: o beta deu negativo. Não sei explicar o que senti
naquele momento, pois não chorei e nem senti tristeza. É claro que fiquei um
pouco decepcionada, mas cria que Deus estava do meu lado em todas as circunstâncias da vida e isso me deixava tranquila e segura.
Voltamos para casa já conformados e decidimos que não tentaríamos mais. Até
mesmo porque não teríamos como arcar com o gasto de mais uma tentativa. Ao
saber da nossa decisão, minha mãe nos incentivou a dar continuidade ao tratamento e nos propôs uma nova tentativa que seria paga por ela. Ficamos muito
felizes com aquele presente, e, após dois meses, voltamos ao consultório e demos
início à nossa primeira Fertilização In Vitro.
As injeções, o controle de ovulação e o contato com a equipe, sempre tão dedicada, voltaram a fazer parte da minha rotina diária. Eu e meu marido estávamos
muito confiantes e o tratamento foi maravilhoso, com exceção da pressão que sentimos quando novamente tivemos que escolher o doador. O que me confortava era
ver a tranquilidade do meu marido quanto à criança não ter sua genética, devido à
sua semelhança com o seu padrasto. Decidimos transferir três embriões, e, desde
o dia da transferência, ficávamos vibrando com a hipóstese de vir mais de uma
criança. Faltavam dois dias para a realização do exame, quando recebi uma ligação da clínica, avisando que eu já poderia realizar o beta. Pela primeira vez,
fiquei nervosa e a ansiedade veio em dobro.
Fiz o exame, e quando vi o resultado positivo, não fiz nada além de ir correndo
para casa para dar a grande notícia ao meu marido. Quando cheguei, tentei disfarçar, mas não contive o riso, e logo meu marido deduziu que tudo tinha dado
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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certo. Comemoramos muito e não sabíamos se dávamos risada ou se chorávamos. A mistura de emoções é muito grande neste momento. Demos a notícia à
clínica e a toda a família, e todos ficaram muito felizes pela nossa vitória! A vida se
transformou em uma grande festa, pois o que antes parecia impossível se tornou
real. Após alguns dias, me dirigi a uma clínica na minha cidade, indicada pelo
próprio Dr. Arnaldo, e durante o ultrassom descobrimos que eram gêmeos!
Ficamos mais felizes ainda, se é que isso era possível. A partir desse dia, os nossos agradecimentos a Deus jamais cessaram, pois vivíamos uma constante
comemoração que parecia que jamais iria acabar.
A gravidez foi muito tranquila, e como se não bastassem tantas alegrias, fomos
contemplados com a notícia de que seríamos pais de um lindo casal. Hoje, com
eles aqui, nossa família está muito mais do que completa. Eu e meu marido estamos curtindo cada fase, cada momento, com muito carinho e com muita gratidão a
todos que colaboraram para que este sonho se tornasse real.
"É preciso saber que a persistência é crucial neste tratamento, além
de muita fé em Deus, o único que tem poder para realizar todos os
nossos sonhos, por mais impossíveis que eles pareçam ser."
Espaço da Ciência
A pesquisa da fertilidade no homem
A pesquisa da Fertilidade no Homem é um capítulo importante na Reprodução
Humana, tanto pelas dificuldades quanto pelo misticismo que envolve a maneira da
coleta do material (pela masturbação), além dos preconceitos que ainda existem
envolvendo os possíveis diagnósticos (por mais absurdo que pareça). A pesquisa
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
Homens com “H” maiúsculo
(banco de sêmen)
da Fertilidade masculina é sempre muito mais simples que a feminina. É fundamental que se saiba o que é relevante nesta pesquisa para que não nos percamos
em resultados superficiais que levam o casal, muitas vezes, a perder tempo e
dinheiro, além do desgaste psicológico que envolve este tipo de tratamento.
O fator masculino é responsável, isoladamente, por 30 a 40% dos casos de infertilidade, e associado ao fator feminino, por mais 20%, cúmplice portanto de 50% dos
casais com dificuldade para engravidar. Visto que a avaliação deste fator é relativamente simples e pouco dispendiosa, esta deve ser realizada em todos os casos. Este
estudo é baseado na história clínica (antecedentes de infecção, traumas, cirurgias
pregressas, impotência, hábitos como alcoolismo, tabagismo, etc.), exame físico e
espermograma.
Análise do Sêmen
É o espermograma comum que pode ser realizado em laboratórios de análises
clínicas. Deve ser realizado estudando-se uma ou duas amostras colhidas com
abstinência sexual de dois a sete dias. Os principais parâmetros analisados,
segundo a OMS 2010, são os seguintes:
1. Volume: normal, maior ou igual a 1,5 ml;
2. Número de espermatozoides (concentração): normal, acima de 15
milhões/ml; um valor inferior é denominado oligospermia e considerado subfértil;
3. É altamente classificada em: MP (motilidade progressiva); NP (motilidade não
progressiva); IM (imóveis). A soma de MP + NP, ou seja, motilidade total, deverá ser superior a 40%, sendo que a motilidade progressiva (MP) deverá ser
superior a 32%;
4. Morfologia (forma): a forma oval é a considerada “normal” e são estes espermatozoides, teoricamente, capazes de fertilizar o óvulo. Pelo critério antigo de
Kruger, deveria ser igual ou maior a 14% e, segundo a OMS 2010, a morfologia
estrita de Kruger é igual ou maior a 4%;
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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5. Leucócitos (teste de Endz): o normal é abaixo de 1 milhão/ ml; quando acima
deste valor (leucocitospermia) pode indicar infecção, a qual deve ser sempre
tratada, antes de qualquer procedimento, pois existe uma correlação negativa
entre a leucocitospermia e a função dos espermatozoides;
6. Dosagem de frutose: quando baixa ou ausente, pode indicar ausência das
vesículas seminais ou obstrução dos ductos ejaculatórios;
7. Espermocultura: da mesma forma que outros exames de cultura, procuram-se
detectar bactérias deletéricas à fertilização.
Nos casos de oligospermia severa ou azoospermia, a ultrassonografia escrotal
e a biópsia testicular são recursos que podem ser utilizados no diagnóstico da
obstrução ou da ausência dos ductos deferentes. Estes casos exigem avaliação
genética do homem, com o intuito de diagnosticar uma eventual alteração. Estas
alterações cromossômicas podem ser graves e transmissíveis. Deverá ser analisada criteriosamente para que se avalie os riscos da fertilização.
Azoospermia
Ausência de espermatozoides
Oligospermia severa
Abaixo de 1 milhão/ml
Oligospermia
Criptospermia
Necrospermia
Abaixo de 15 milhões /ml
Presença de espermatozoides após centrifugação
Abaixo de 58% de espermatozoides vivos
Técnicas para obtenção de espermatozoides quando não
estiverem presentes na ejaculação:
¨ PESA – (aspiração microepididimal do esperma): aspira-se uma pequena
quantidade de sêmen do epidídimo e os espermatozoides recuperados são utilizados para fertilização por ICSI. Utilizada principalmente em homens vasectomizados.
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Tropeços e...
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Homens com “H” maiúsculo
(banco de sêmen)
• TESA – (biópsia do tecido testicular): é uma técnica similar, na qual os espermatozoides são retirados por uma minúscula biópsia de tecido testicular. Depois
são recuperados, e como na técnica anterior, são utilizados para fertilização por
ICSI.
• MICRODISSECÇÃO: é uma microcirurgia que possibilita a retirada dos
espermatozoides diretamente dos ductos seminíferos, que são os locais onde eles
estão em maior concentração. Esta técnica é utilizada em homens que não eliminam espermatozoides pela ejaculação, mas os fabricam em pequena quantidade.
A vantagem, quando comparada com outras técnicas, é o fato de ser menos agressiva e oferecer a possibilidade de se retirar várias amostras de esperma, possibilitando o congelamento para uso futuro.
Os resultados de PESA, TESA e MICRODISSECÇÃO têm sido bastante encorajadores, sugerindo que os homens que, por motivos diversos (inclusive vasectomia), são incapazes de ejacular ou produzir esperma, são agora capazes, por estas
técnicas, de suprir o(s) espermatozoide(s) para fertilização dos óvulos de sua
esposa. A mulher, evidentemente, deve seguir os procedimentos rotineiros de superovulação e coleta de óvulos.
Avaliação do DNA do espermatozoide
(Fragmentação do DNA)
É um dos mais modernos exames para avaliar a fertilidade masculina. Muitos
homens que têm um espermograma normal podem apresentar esta alteração, que
até há pouco tempo não era conhecida e pode dificultar a gravidez. Esta anormalidade pode explicar os casos de infertilidade sem diagnóstico, chamados
Esterilidade Sem Causa Aparente (ESCA) ou infertilidade inexplicável; e os repetidos insucessos dos tratamentos de fertilização in vitro e abortamentos de repetição. O DNA defeituoso ou fragmentado é mais frequente em homens com hábitos
de vida inadequados, como por exemplo os fumantes e obesos.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Todas as técnicas para esta avaliação baseiam-se na análise direta do sêmen,
após dois dias de abstinência sexual. Este exame pode ser feito como complemento ao espermograma comum, ou isoladamente. A amostra passa por um exame de
fluorescência, misturada com um corante laranja capaz de se ligar ao DNA.
Posteriomente, passa por um aparelho chamado citômetro de fluxo, que quantifica
a proporção de espermatozoides defeituosos.
Se a porcentagem de espermatozoides alterados for acima de 30%, a capacidade fértil do homem estará severamente prejudicada.
O tratamento para esta anomalia é o reposicionamento deste homem aos bons
hábitos de vida, além de tomar vitamina C e vitamina E em doses adequadas. Uma
nova avaliação deve ser feita, após dois ou três meses de tratamento.
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Gravidez:
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A força da perseverança
6
As histórias de uma clínica de reprodução humana sempre envolvem pacientes
que demonstram, em vários graus, atitudes de determinação. Desde o primeiro mês
que um casal tentou engravidar e não conseguiu, inicia-se uma longa trajetória de
frustrações pelo bebê que não vem. Já nos primeiros meses de tentativa para
engravidar naturalmente, o casal começa o caminho da persistência; a mulher observa no ciclo menstrual os dias de maior fertilidade, procura o seu ginecologista geral
e faz os primeiros exames. Esta busca pela gestação pode durar meses e até anos,
dependendo das dificuldades orgânicas encontradas e da perseverança do casal.
A tolerância aos exames e aos tratamentos é variável de casal para casal, e
principalmente para as mulheres. Muitas delas, com alguma razão, mesmo antes
de iniciar a técnica mais simples de reprodução assistida (indução da ovulação do
coito programado), relatam estar exaustas desta busca e que já estão no limite de
sua tolerância.
Embora eu respeite o cansaço destas mulheres, penso em alguns casais, como
estes que contam suas histórias neste capítulo. Um deles (Letícia e Rogério),
engravidou na sétima tentativa de fertilização in vitro. Penso em outros, como
Valéria e Tadeu, que contam sua história no capítulo 8 – Bendito é o fruto do “outro”
ventre –; conseguirarm o seu filho na oitava tentativa, através da barriga de
aluguel, melhor chamada de útero de substituição. Existem várias histórias que
demonstram esta força.
Entretanto, nem sempre é possível controlar o desânimo. Não é fácil lidar com
o fracasso. Sentir que o empenho, a dedicação, os exames e os controles foram
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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todos em vão. Perguntar a si mesma: Por que eu? Por que comigo? E não obter
respostas pode ser difícil de suportar.
As três histórias deste capítulo são simples amostras do grande número de
casais persistentes. Rosa e Odilon, Letícia e Rogério, Fábia e Francisco contam
suas histórias de dedicação, vontade, coragem, determinação e fé, além do marido sempre presente. Todas elas conseguiram o seu objetivo: a gravidez!
Depoimentos
"Caímos para aprender a nos levantar"
Rosa e Odilon
Sempre quis ser mãe, e, antes mesmo de me casar, desejava ter uns dois filhos
no mínimo, com no máximo 25 anos. Só que a minha vida tomou outros rumos, e
a trajetória acabou sendo bem diferente da que eu sempre planejei, pois me casei
somente com 31 anos. Eu jamais pensei na hipótese de não poder ter filhos, e para
mim, a hora que eu decidisse, era só eu fazer e pronto, ele estaria ali.
Como é de se esperar de uma relação feliz, após um ano de casados, decidimos ter o nosso primeiro filho. Eu tinha acabado de entrar na "casa dos trinta anos"
e profissionalmente me sentia realizada. Percebi que havia chegado o momento
para tornar real o meu grande sonho de ser mãe.
Após muitas tentativas sem sucesso, o tão sonhado momento da gravidez ia se
postergando. Quase um ano depois, cheguei à conclusão que tinha algo de errado. Apesar de ainda não haver muita preocupação, decidimos procurar logo nossos respectivos médicos. Realizamos uma série de exames, porém nada de irregular foi detectado. Naquela ocasião, fomos orientados a procurar um especialista
em infertilidade humana, e minha ginecologista indicou o Dr. Arnaldo Cambiaghi.
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A força da perseverança
Recolhemos todos os exames que havíamos feito e fomos à consulta. Lembrome como se fosse hoje, quão esperançosos estávamos! Eu era a última paciente
a ser atendida por ele, e antes de ser chamada, todas as fotos de bebês e cartas
dos papais e mamães espalhadas pelo consultório foram apreciados por nós.
Sentimos que estávamos no lugar certo. Entramos na sala do Dr. Arnaldo, e ele
com toda a atenção e paciência peculiar, conversou quase uma hora conosco,
fazendo uma leitura minuciosa nos meus exames. Disse que, aparentemente, eu
não tinha qualquer problema, e que podíamos ter a certeza que o nosso caso não
seria tão complicado. Saímos de lá felizes e confiantes, recheados de esperança.
Depois de algumas consultas e exames realizados, enfrentamos o primeiro obstáculo. Foi constatada uma aderência na trompa esquerda e os famosos cistos
ovarianos, que resultaram numa videolaparoscopia.
Após a recuperação da cirurgia, fomos incentivados a tentar novamente pelos
meios naturais. Eu achava que tínhamos encontrado o problema, mas novamente
tentamos, tentamos e, infelizmente, nada acontecia. Era uma situação muito frustrante. Segui a jornada, tomando alguns medicamentos a fim de estimular a ovulação. Com o passar do tempo, comecei a notar que a minha situação psicológica
estava se agravando.
Dei início a uma fase crítica, repleta de conflitos e questionamentos que se limitavam ao meu interior. Minha mente foi invadida pelos porquês. Eu queria saber
por que a mulher da esquina podia e eu não, por que minhas alunas de 12 anos
podiam e eu não, por que eu, por que comigo… enfim, não conseguia aceitar aquela situação. Naquele momento, eu me cobrava e me acusava por não poder dar um
filho ao meu marido, e aquela frustração me matava como mulher. Até o meu relacionamento foi prejudicado, porque meu marido me procurava, e eu não queria que
ele chegasse perto, e nem que me tocasse. Ele me procurava mas eu não queria.
O problema era comigo e os conflitos eram em mim.
Muitas mulheres ficavam grávidas e vinham justamente a mim dar aquela notícia, me deixando em "parafusos". Eu sorria na frente, mas só na frente, pois quando vinha para casa, me desabava em lágrimas. Sutilmente, as cobranças a mim e
ao meu marido também aconteciam e, às vezes, as famosas perguntas: "Quando
vem o bebê?", "E aí, vocês não sabem fazer?", "Querem que eu ensine?", eram
feitas a nós. Piadinhas engraçadas para quem as faz e de extremo mau gosto para
quem as escuta. Estávamos vivendo um momento frágil e aquelas questões deiDr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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xavam-nos profundamente entristecidos. Festa infantil era um local que me batia
uma grande tristeza, pois eu desejava muito passar por aquela experiência de
gerar um filho e comemorar seus aniversários. Só que com as perguntas, tínhamos
que sorrir para todos como se nada estivesse acontecendo, e eu sempre voltava
chorando no carro. Dizíamos que estávamos tentando, sabendo que era pura verdade.
Com a ajuda fundamental do Dr. Arnaldo e suas assistentes, demos início ao
primeiro tratamento de indução. Foi colocada uma música suave durante o procedimento, e aquilo me fez muito bem. Para mim, era como um encontro com Deus,
através de um contato direto. Eu pensava: "Meu Deus, é agora!", e já me via grávida. Depois daquele momento maravilhoso, enfrentamos os malditos doze dias que
se tornaram os mais longos e torturosos de nossas vidas. Veio então o meu
primeiro tombo. Fiquei muito mal, e desabei no chão.
Após esta, fizemos mais duas induções e três inseminações artificiais. Ao final
de todas essas tentativas, eu recebia o lamentável e indesejável resultado negativo. Me sentia a mulher mais sensível do mundo por não ter a capacidade de ser
mãe e por não receber esta dádiva de Deus. Chorava muito, me isolava a cada
resultado negativo e me recolhia literalmente. Depois orava e pedia a Deus perdão
pela fraqueza e implorava para que Ele revigorasse as minhas forças para continuar aquela jornada tão difícil. Quando fizemos o primeiro tratamento, meu marido
me deu uma roupinha de bebê, pois tínhamos certeza que conseguiríamos. Essa
roupinha era minha tábua de salvação, aonde eu chorava e conversava com Deus.
Dentro de mim, eu tinha certeza plena que jamais desistiria, mas ressalto que
essa energia também era fortalecida e impulsionada pelo meu marido, o qual sempre esteve ao meu lado, em todo o meu sofrimento. Naqueles momentos, ele era
o meu ombro amigo, um verdadeiro companheiro na alegria e nos momentos de
tristeza, como um dia foi jurado no altar perante Deus. Como decidimos não abrir
o problema para a família, só podia me apoiar nele e no Dr. Arnaldo, que sempre
tratou o problema de forma suave, vendo possibilidades. Não nos tratava friamente
e não via só o nosso problema. Via a obra, o conjunto todo. Pois sabia que atrás
de tudo aquilo existia uma pessoa, um ser humano que sofria, que tinha expectativas e que tinha esperanças. Ele estava preparado para tudo ali, e isso me confortou. Ele tentou, ajudou e participou de tudo.
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Tropeços e...
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A força da perseverança
Apesar de muito cansada e desgastada, decidimos tentar a Fertilização In Vitro
(FIV). Novamente meu coração se encheu de esperança. Rigorosamente, nos
horários estabelecidos, eu tomava todos aqueles medicamentos e aplicava as
injeções em mim. Uma etapa muito difícil a ser superada, pois jamais me via passando por aquilo. Algumas vezes tivemos que ir à farmácia aplicar injeções em
plena meia-noite. Esperançosa, eu dizia: "É agora que vou ser mãe com toda a
certeza!" Porém, novamente a triste história se repetia. Os exames, a ansiedade,
a expectativa e o torturoso resultado negativo.
Após o impacto psicológico e decepcionante que eu recebera com a primeira
FIV, meu marido, pacientemente, e não querendo ver mais o meu sofrimento, sugeriu que partíssemos para uma adoção. Analisei a sugestão, pois um filho adotado é fruto do coração louco para dar amor a uma criança. Como ainda não tinha
perdido a esperança de gerar um filho, decidi que retornaríamos com essa ideia
após uma nova consulta ao Dr. Arnaldo. A minha perseverança era contínua, e
após orientações do Dr. Arnaldo, amadurecemos a ideia da segunda tentativa,
sabendo que os resultados poderiam ser melhores e positivos devido ao continuado processo que eu passara durante os dois anos. De uma certa forma, eu me
sentia segura porque o meu médico apostava em mim e acreditava que eu tinha
chance. Resolvemos tentar novamente, mas antes sentamos para conversar. Até
então, já tínhamos gastado muito, e aquelas eram nossas últimas reservas. Meu
marido me disse que seria a última vez, e que se não desse certo, adotaríamos
uma criança. Eu já estava tentando me adaptar à ideia da adoção. Não era pelo
bebê, mas tinha medo da sociedade e da família.
Nesta segunda FIV, aflorou em mim a possibilidade de tornar-me mãe e senti
que aquela era a última tentativa. Lógico que isto dependia do exame de sangue
que eu havia realizado e receberia o resultado algumas horas depois. Lembro-me
deste dia sem esquecer um único detalhe. Tudo começou no laboratório, quando a
assistente me encaminhou para uma sala de criança, cheia de cadeirinhas e de
bichinhos. Ali mesmo comecei a chorar. Fomos atendidos numa sala reservada,
pois outras salas estavam cheias, mas acredito que era Deus mostrando que
minha vez havia chegado e que um anjo estava para descer lá do céu. Tudo ali
naquela sala era bonito. Colheram o exame e, nesse dia, eu não queria sair de
casa. Meu marido insistia e pedia pra eu sair, mas eu dizia que não. Queria ficar lá
e ver o resultado. Eu estava muito ansiosa e meu marido muito preocupado, pois
sabia que um resultado negativo poderia causar uma imensa tristeza em mim.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Percebendo a minha angústia, até tentou que eu não ficasse próxima do computador, mas não conseguiu. Finalmente, saiu o resultado, e como aqueles números
nos deixaram anestesiados, imediatamente ligamos para a assistente Mariana e
repassamos o resultado. Ela disse: – Parabéns, diga para a Rosa que ela será
mamãe! … Como choramos! Nos abraçamos e pulamos de alegria. Ajoelhamos e
agradecemos a Deus! Foi uma emoção muito grande e não conseguíamos parar
de chorar. Logo em seguida, para nossa alegria, recebemos um telefonema do Dr.
Arnaldo nos parabenizando e dizendo que ele também estava muito feliz por aquela notícia. Sentimos que a nossa vitória também era dele, pois havia participado
efetivamente de todos os processos de tratamentos e angústias que tivemos nos
dois anos.
Curtimos imensamente a gravidez, o enxoval, a decoração do quarto, a escolha
da maternidade, cada detalhe foi apreciado. Toda aquela angústia, tratamentos,
exames e operações deram lugar à felicidade. Parecia que eu estava voando.
Quando o nosso maravilhoso Matheus veio ao mundo, eu tive a resposta de todos
os meus porquês. Descobri que eu não engravidava porque não era a minha hora,
era na hora que Deus preparava! Quando eu descobri que ia ser mãe, toda dor e
sofrimento que eu tinha passado deram espaço para a alegria. E todos os momentos difíceis se apagaram da minha memória.
Sem dúvida, sempre procuramos ser os melhores pais ao Matheus, pois curtimos e vivemos cada descoberta do nosso filho, seja através de uma palavra, um
gesto ou uma brincadeira, pois Deus confiou a nós esta gratificante missão. Isso
tudo é tão mágico que para completar a história, o nosso Matheus veio ao mundo
com uma "marquinha" de nascença no braço direito no formato de um coração.
Colocamos o nome de Matheus porque significa “enviado de Deus”. Após ter vivido todos esses momentos, pudemos notar que alguns casais que passam por situações semelhantes ou até mais complicadas, ficam perdidos e não sabem o que
fazer diante da mesma. O companheirismo é fundamental, e o ideal não pode ser
de um só, tem que ser dos dois.
"A fé, a dedicação e a esperança são os ingredientes necessários que
poderão transformar um sonho em realidade. Pode acreditar, pois a
vitória está próxima!"
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A força da perseverança
"Fomos derrotados em muitas batalhas,
mas nunca desistimos de vencer a guerra"
Letícia e Rogério
Eu e meu marido nos casamos, mas, inicialmente, tínhamos a intenção de curtir
um pouco para depois pensarmos em filhos. Após quase três anos de casada, eu
parei de tomar anticoncepcional. Não tínhamos aquela busca incessante por uma
gravidez, mas sabíamos que estávamos preparados. Era uma espera tranquila.
A história da nossa luta em busca deste sonho que tanto nos consome começou
com uma cólica muito forte que comecei a sentir pela madrugada. Ainda sentindo
muita dor, meu marido me levou ao Pronto-Socorro mais próximo, onde fui examinada e diagnosticada. Foi detectado um cisto no ovário esquerdo. Logo me dirigi
ao meu ginecologista, que constatou que o cisto era de endometriose. Eu nem
sabia o que significava esta doença, mas logo fui informada por ele que era uma
das causas da infertilidade da mulher. Eu fiquei em estado de choque, principalmente porque tudo estava acontecendo muito rápido. Descobri a existência de um
cisto, logo depois uma doença que poderia me levar à infertilidade. Percebi que o
sonho da gravidez não seria algo fácil a ser conquistado.
Após oito meses da cirurgia, voltei a sentir dores, e, ao fazer alguns exames,
foram constatados mais três cistos no mesmo lugar. Essa notícia foi frustrante, pois
a única coisa que passava pela minha cabeça é que diante de tantos problemas,
eu não seria mãe. Fiz outra cirurgia e tive que bloquear minha ovulação tomando
pílulas por alguns meses. Surgiram sentimentos confusos e contrários, uma mistura de medo do retorno da doença e esperança de ainda realizarmos nosso sonho.
Um casal de amigos conseguiu um filho através da Fertilização In Vitro, e nos
incentivou para que procurássemos ajuda médica. Entusiasmados, logo marcamos
uma consulta médica, onde expusemos tudo o que tinha acontecido conosco. O
médico explicou o meu diagnóstico e nos orientou quanto às possibilidades de
tratamento. Muito esperançosos, decidimos realizar uma Fertilização In Vitro.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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O tratamento foi bem desgastante, mas logo chegou o dia da transferência.
Sentíamos uma sensação de vitória muito grande, que nos consumia a cada
instante. Os doze dias de espera foram tranquilos, pois não passava pela nossa
cabeça um resultado negativo. Para a nossa surpresa, chegado o dia do resultado, fui informada que eu não estava grávida. Fiquei muito decepcionada, frustrada,
e o abalo emocional foi enorme. Chorava muito, pois não conseguia entender
aquele resultado. Era como se eu tivesse perdido o que já fazia parte de mim.
Logo, demos início à segunda tentativa, também através da Fertilização In Vitro.
Para nossa surpresa, o procedimento teve que ser interrompido, pois os hormônios
não estavam com bons resultados. Era horrível não conseguir terminar o que havíamos começado. Começamos a sentir o tamanho da dificuldade que encontraríamos para ter o nosso filho. Resolvemos descansar um pouco de tudo aquilo que
estávamos vivendo, e por quase um ano, passamos a nos dedicar e a preencher o
nosso tempo e a nossa mente com aquilo que nos dava prazer.
Após esse tempo para a nossa recuperação, voltamos ao médico e demos início a uma terceira Fertilização In Vitro. Tudo o que sentimos nas tentativas anteriores foi aflorado em nós, juntamente com a esperança de que, daquela vez, daria
certo. Novamente, para o nosso desespero o procedimento foi interrompido. Vivemos momentos amargos e chegamos a acreditar que era algum carma que teríamos que passar aqui na Terra.
Mesmo ainda feridos, novamente fomos à luta do nosso sonho. A quarta
Fertilização In Vitro foi iniciada, mas, desta vez, eu fiz tudo o que facilitava uma gravidez, inclusive acupuntura e terapia. Estávamos confiantes, mas, por mais uma
vez, recebi a ligação, após os doze dias, e soube que eu não estava grávida. Aquele
momento foi muito complicado e atormentador, tanto para mim quanto para o meu
marido. Ficávamos tentando achar alguma falha nossa durante o tratamento, talvez
algo que deixamos de fazer. Além disso, não estávamos mais aguentando viver
aquela rotina. Íamos sempre na mesma clínica, atendidos sempre pelas mesmas
pessoas, víamos casais chegando e casais saindo, porém nós continuávamos ali,
sem obter nenhum sucesso mediante a nossa luta que não media esforços.
Diante das quatro tentativas que não foram bem-sucedidas, o médico sugeriu
que fizéssemos uma Fertilização In Vitro com ovodoação, ou seja, com óvulos de
uma doadora. Naquele momento eu estranhei muito aquela ideia e meu marido
disse que seria melhor partirmos para adoção. Depois de muita conversa, decidi-
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A força da perseverança
mos que daríamos um tempo nesse projeto e começamos a conversar sobre
adoção. Assim, encerramos mais essa etapa, sem conquistar nosso sonho de termos nosso filho e consolidarmos nossa família.
Para piorar ainda mais o nosso quadro emocional, neste período em que demos
um tempo em tudo para nos preservar, meu sogro veio a falecer. Meu marido, além
de sofrer com a perda, se sentiu frustrado por não ter podido dar um neto ao seu
pai, ainda quando ele estava entre nós. Foi então que recuperamos nossa força e
decidimos dar continuidade ao que havíamos parado. Porém, queríamos começar
e não recomeçar. Apagamos das nossas memórias todos os momentos ruins que
vivemos para que tudo fosse realmente novo. Decidimos mudar de clínica para
quebrar a rotina que existiu por muito tempo, pois sentíamos a necessidade de lidar
com novas pessoas, com um novo médico e de frequentar um novo ambiente.
Foi então que conhecemos a clínica IPGO e nos dirigimos à primeira consulta
com o Dr. Arnaldo. Contamos a nossa trajetória, falando sempre do desejo incessante que tínhamos de ter um filho. Sentimos bastante confiança em toda a equipe
e logo partimos para a quinta Fertilização In Vitro. A esperança voltou e a
ansiedade pelo resultado foi muito grande, mas para nossa tristeza, após os doze
dias, recebemos a ligação com a notícia de que eu não estava grávida. Apesar de
tristes, entendemos e recebemos a notícia de forma mais natural, pois era a quinta tentativa para nós, porém a primeira com a nova equipe.
Depois de tudo o que nós tínhamos vivido, tanto eu quanto o meu marido estávamos aceitando com mais naturalidade a ideia de tentar uma ovodoação. Sendo
assim, após algumas conversas, retornamos à clínica e sugerimos a ovodoação ao
Dr. Arnaldo. Ele aprovou a nossa sugestão e logo fizemos a sexta Fertilização In
Vitro, porém com mais confiança. Achávamos que tínhamos superado uma dificuldade e que, com óvulos de uma doadora, teríamos uma notícia boa. Novamente,
após os doze dias de muita ansiedade e esperança, veio o resultado negativo.
Naquele momento, senti que o tropeço foi muito grande, e talvez o mais dolorido de todos. Eu pensava: "Será que nem com óvulo de outra mulher poderei ser
mãe?" Meu marido ficou arrasado, até muito pior do que eu. Começou a se culpar,
achando que o problema era com o esperma. Percebemos que o Dr. Arnaldo também ficava chateado, e isso nos confortava um pouco mais, pois sentíamos que ele
lutava com a gente por um sonho que era nosso.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Eu não conseguia me conformar com a situação, pois meu endométrio sempre
foi excelente. Os embriões não se fixavam e, na minha cabeça, tinha que ter uma
explicação científica para este fato. Comecei a pesquisar na internet e li alguns textos que falavam sobre sistemas imunológicos. Explicava que esse problema poderia causar abortos ou até mesmo falhas nas tentativas de FIV.
Neste período, ligaram da clínica e disseram que tinha aparecido uma doadora
muito compatível comigo, inclusive na feição. Resolvemos ir sem compromisso, aproveitaríamos para conversar sobre tudo o que eu tinha lido. O Dr. Arnaldo nos explicou todo o tratamento de imunologia e resolvemos então que seria interessante fazer os exames para pesquisa. Ele percebeu a nossa situação emocional e nos deixou à vontade para conversarmos a respeito com calma, e dar uma resposta posteriormente. Conversando com o meu marido, expliquei que se não aproveitássemos
aquela oportunidade, era o mesmo que permitir que a possibilidade da realização do
nosso sonho escapasse por entre os dedos. Assim que chegamos em casa, ligamos
para a clínica avisando que daríamos a resposta em no máximo uma semana. Nos
informaram que a doadora já estava iniciando o processo, independentemente de eu
ser a receptora. Percebi que o bonde estava andando e eu tinha que pegar uma carona. Falei com meu marido que estava sentindo algo diferente. O meu marido refletiu
sobre as minhas argumentações e aceitou fazer mais uma tentativa.
Após já ter iniciado a nossa sétima Fertilização In Vitro, comecei a tomar os
remédios e fiz um exame que constatou a existência de problemas de imunidade.
Logo o Dr. Arnaldo me receitou algumas medicações para controlar o problema.
Comecei a sentir uma sensação boa como nunca tinha sentido antes, mas percebia que o meu marido ainda estava muito angustiado e irritado com tudo. Após
fazer a transferência dos embriões, eu sentia uma paz dentro de mim muito grande,
parecia saber que minha hora estava chegando.
Os doze dias, como todos os outros, foram terríveis. Um dia antes de fazer o
teste de gravidez, Dia das Mães, meu marido chegou em casa com flores e também estava feliz, sentindo algo diferente. Finalmente, o dia chegou! As horas
demoravam a passar e a nossa espera pela ligação com a resposta era agoniante.
Quando o telefone tocou, meu coração disparou e as mãos ficaram geladas. Meu
marido atendeu e logo que ouviu a voz do Dr. Arnaldo, passou o telefone para mim,
para que eu fosse a primeira a receber a notícia: "Não sei para quem eu falo, se
para você ou para o seu marido, que você esta grávida!"
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
A força da perseverança
Nesse momento, sentimos uma felicidade impossível de ser descrita em simples palavras. Nos abraçamos e choramos muito, mas as lágrimas, desta vez,
eram de alegria. Hoje, sabemos que tudo tem a sua hora certa, e apesar da medicina estar muito avançada, existe uma força divina superior a nós que determina o
momento certo das coisas acontecerem.
Estamos grávidos, felizes e realizados! Agradecemos todos os dias a Deus pela
sua bênção, pela equipe médica e pela doadora, que nos possibilitou alcançar esta
conquista tão difícil.
"Nunca desista de realizar o seu grande sonho. Tenha sempre a certeza
de que o fracasso acontece somente quando paramos e desistimos de
lutar."
"Felicidade em dose dupla"
Fábia e Francisco
Durante minha juventude, sempre pensava na maternidade quando eu estivesse
casada, estabilizada e com uns 30 anos, mas nunca consegui me ver no estado
grávida, barriguda. Assim que me casei, eu e meu marido pensávamos em ter filhos depois de uns seis anos. Não planejávamos esse momento, como muitos
casais. Sabíamos que fazia parte do contexto da vida e que no momento certo,
aconteceria. Por muitos anos, ocupamos o nosso casamento com muitas viagens
e passatempos a dois.
Quando me casei, aderi ao uso do DIU como contraceptivo, mas, após três
anos, depois de muitas cólicas e alguns efeitos colaterais, não usei mais e nem o
substituí. Mesmo não tomando nenhum tipo de cuidado, não nos preocupávamos
com uma possível gravidez. Se viesse, seria ótimo, e se não viesse, ótimo também.
Até aquele momento, ter ou não ter filhos não nos fazia muita diferença. Foi então
quando, após dois dias de sangramento, fui ao banheiro e tive um aborto espontâDr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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neo. Não sabia que estava grávida e tive que ficar internada em plena noite de
Natal. O meu clínico chegou a comentar com a gente que eu poderia ter endometriose, mas nos garantiu que eu conseguiria engravidar novamente, pois a curetagem havia sido bem positiva. Não levamos a hipótese adiante e não demos importância ao que ele falou. Deixamos de lado, até mesmo pelo trauma que estávamos
vivendo, pois não esperávamos por uma gravidez. Aquela situação nos deixou
muito chateados, principalmente porque uma semana após o ocorrido, o pai do
meu marido faleceu e isso só aumentou a dor que já estávamos sentindo.
Após um ano, ainda com a ausência de qualquer método contraceptivo, eu não
engravidei. Ainda assim, eu não me preocupava e nem ficava curiosa em saber o
porquê de a gravidez nunca chegar. Na mesma época, passei a sentir fortes cólicas, antes de menstruar, e decidi procurar um médico. Fui em vários ginecologistas e nada foi constatado. Fomos o primeiro casal entre os nossos amigos a se
casar, e, com o tempo, a falta dos filhos começou a ser sentida por eles e pela
família. O tempo foi passando, todos se casando e tendo filhos, e nós na mesma
situação. Somente neste momento, após seis anos de casados, é que o desejo de
ter filhos foi despertado em nossos corações.
Um casal de amigos bem próximos a nós teve seu primeiro filho, e em uma conversa particular esta amiga me confidenciou que teve problemas e enfrentou um
longo percurso até conseguir o lindo menino que amamentava no momento em que
se abria comigo. Sugeriu que eu procurasse ajuda de um especialista, e que
através de um tratamento eu conseguiria engravidar. Ela me passou o telefone da
clínica em que foi atendida e logo eu marquei a nossa primeira consulta.
Após uma conversa com o médico, o mesmo solicitou alguns exames e decidimos partir para a alternativa mais simples, que seria a Inseminação Artificial. Diante
daquela decisão, acreditava que finalmente engravidaria e jamais passou pela minha
cabeça a hipótese de um resultado negativo.
A espera entre a realização de todo o processo e o resultado é a mais dolorosa.
Todos os sentimentos se misturam, fazendo com que o tempo pare. Eu fazia um
teste de farmácia atrás do outro e nunca dava nada. Mesmo confiantes, estávamos
muito preocupados e apreensivos quanto ao que o destino nos aguardava. Foi
então que recebemos o primeiro resultado negativo. Após muito choro e consolo
por parte do meu marido, voltamos ao médico e perguntamos o porquê. Os
porquês eram muitos, porém ainda era muito cedo para ter um resultado positivo e
fomos incentivados a continuar tentando.
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
A força da perseverança
Partimos então para a segunda tentativa, sempre esperançosos e muito confiantes. Mesmo procedimento, mesma espera, mesmos sentimentos, mesma
angústia e mais um resultado negativo. Voltamos ao médico e perguntamos o
porquê, e ouvimos mais uma série de explicações, falando que nosso caso não era
grave e que iríamos conseguir. Estava difícil superar todo o processo, pois o abalo
psicológico e emocional é muito grande. Sentimentos naturais, se tratando de algo
que acreditamos muito e que acaba dando errado.
Após muita conversa, decididos a não passar mais por momentos difíceis como
os que havíamos passado, optamos por uma Fertilização In Vitro. Os medicamentes diários, ultrassonografias frequentes e as injeções mexiam muito com o
meu emocional, e, juntos, tornavam o processo bem doloroso, mas nada era mais
forte do que o meu desejo de ser mãe. Todo aquele novo procedimento fez nascer
uma nova esperança que brotou em nossos corações, que acreditaram que daquela vez daria certo. Os 12 dias, nada além das sensações naturais provenientes da
circunstância: mais expectativas, muita ansiedade, e, finalmente, mais um resultado... Negativo!
Nesse momento, percebi que dificilmente conseguiria realizar meu sonho.
Cheguei a pensar que seria melhor desistir e buscar uma solução alternativa, como
a adoção. Quando retornamos ao médico, novamente foi dito que não era fácil e
que deveríamos continuar tentando, pois os exames mostravam um quadro positivo. Então, partimos para mais uma tentativa, a nossa terceira Fertilização In Vitro.
Todo o processo novamente se repetiu. Mais uma espera, mais ansiedade, mais
esperança de que daria certo e mais um resultado... Negativo. Nada substituía o
choro, a angústia e o sofrimento que predominavam no meu coração.
Resolvemos parar, porém não desistir. Voltei ao médico e solicitei as datas das
medicações no caso de resolvermos tentar novamente. O que mais nos deixava
incomodados é porque o médico não apontava um motivo ou causa para que os
resultados dessem negativos. Tudo parecia normal, os exames sempre eram positivos, mas quando vinha o resultado negativo não recebíamos respostas para as
nossas perguntas. Antes de dar um novo rumo à minha jornada, confirmei se realmente não existia algo mais que pudéssemos fazer, mas novamente nenhuma
explicação plausível fora passada a nós. Comecei a tomar os medicamentos, sem
saber se realmente iria fazer o tratamento, e após muitas conversas, decidimos
procurar outras opiniões.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Em consulta com outro médico, após realizar uma grande quantidade de exames, fui informada que deveria sair da clínica direto para o hospital. Ele me explicou que eu tinha que operar a minha endometriose, pois caso isso não fosse feito
eu jamais engravidaria. Fiquei arrasada, principalmente por concluir que tudo o que
eu tinha passado, toda as tentativas e toda a esperança foram em vão. Mesmo
chocada, não me deixei abater e resolvi procurar um outro profissional, a fim de
avaliar melhor o meu atual diagnóstico.
Com a indicação de uma amiga, procurei a clínica IPGO e realizei uma consulta com o Dr. Arnaldo. Levei a ele todos os exames que eu já tinha realizado e na
tentativa de lhe contar minha história, me emocionei e não consegui conter as lágrimas que dominaram a situação. Eu estava fisicamente acabada e o meu psicológico, naquela altura, se encontrava extremamente abalado. Eu estava muito cansada daquele problema que se tornou um grande pesadelo. Depois de muito esforço, me acalmei e relatei tudo o que já havia passado. Contei que ainda estava
tomando as medicações e que desejava realizar mais uma tentativa. Após solicitar
outros exames que ainda não haviam sido realizados, o Dr. Arnaldo aprovou a
minha decisão e demos início a mais uma tentativa de Fertilização In Vitro. Apesar
de estar muito decidida, ficava insegura com a hipótese de mais um resultado
negativo. Não sabia como eu e meu marido reagiríamos e como venceríamos mais
uma daquelas fases que muito nos perturbaram anteriormente.
Partimos então para os exames. Iniciamos o tratamento. Meu marido sempre
me apoiando e sendo solidário onde e como podia. Tantos remédios e injeções,
que a esta altura já não sentia mais dor. Como não queríamos criar mais expectativas, decidimos não contar a ninguém que estávamos fazendo tratamento. Estava
ficando difícil segurar a barra e não poder contar a mais ninguém o que estava se
passando.
Chegada a data para a transferência dos embriões, comecei a sentir tudo muito
diferente. Meu marido pôde participar e entrou junto comigo na sala. Foi tudo muito
emocionante e eu fiquei mais segura, principalmente por notar que nada estava
sendo igual às tentativas anteriores. Obedeci a todas as recomendações que me
foram dadas e uma nova esperança brotou em meu coração.
Após uma longa espera, o dia chegou! Eu estava desesperada, com o coração
literalmente explodindo de tanta expectativa. Foi então, quando o telefone tocou.
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A força da perseverança
Era o Dr. Arnaldo, e quando eu ouvi sua voz, fiquei desesperada, pois sabia que
aquele instante poderia mudar a minha vida ou causar uma grande decepção.
Aquele instante poderia me tornar a mulher mais feliz do mundo, ou a mulher mais
frustrada da face da Terra. Ao ouvir: "Você está grávida", não pude conter as lágrimas que encheram meus olhos de tanta alegria por uma vitória que eu ainda não
conseguia assimilar. Finalmente, eu e meu marido teríamos um filho! Era como um
sonho.
Antes de dar a notícia para a família, mesmo ansiosos, decidimos conversar
com o Dr. Arnaldo, a fim de ter certeza de que tudo estava bem. Durante a primeira consulta após a notícia do resultado, ele nos disse que havíamos vencido apenas uma das diversas batalhas que enfrentaríamos. No primeiro ultrassom, pudemos ver apenas um pequeno pontinho que iria se desenvolver. Era mais uma etapa
vencida, já que tudo estava ocorrendo bem. Após 30 dias, realizamos um novo
ultrassom e tivemos uma grande surpresa. Durante o procedimento, encontramos
mais um pontinho, e o Dr. Arnaldo nos deu a notícia de que eram dois. Quanta felicidade! Era uma sensação muito boa, pois percebemos que toda a nossa luta tinha
valido a pena. Fomos muito bem recompensados por Deus.
Apesar de muito felizes, continuávamos preocupados e tomei muito cuidado
com a minha gravidez. Não queria que nada acontecesse a ela. Após alguns dias,
tive um sangramento e entrei em desespero. Naquele momento, já pensei na possibilidade de estar perdendo os meus bebês que eu tanto lutei para ter. Eu e meu
marido corremos até o consultório e o Dr. Arnaldo nos disse que estava tudo sob
controle. O sangramento foi ocasionado pela perda de um terceiro embrião que
não havia sido detectado por nós. Fiquei de repouso absoluto e o sangramento
passou. Porém, a preocupação continuava, e para nós, todo cuidado ainda era
pouco.
Ao passar do tempo, alegremente, eu e meu marido pudemos acompanhar o
crescimento da minha barriga. Uma fase muito gostosa que nos proporcionou
muita felicidade. Foi tudo muito tranquilo e não tive enjôos, tonturas e nem nada do
tipo. Contemplados com tantas coisas boas, ficávamos inexplicavelmente felizes
ao ver os nossos filhos se desenvolvendo. Quando soubemos que seriam duas
meninas, chegamos à conclusão de que nada mais precisávamos, pois o sonho já
estava muito mais que realizado.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Hoje, já com as nossas filhinhas aqui, nada do que dissermos irá expressar realmente o que estamos vivendo. Meu marido, com um sorriso na orelha, rodeado por
três mulheres. Cada dia, cada momento e cada minuto que estamos ao lado delas,
percebemos que o trabalho é dobrado, assim como a felicidade, a emoção e o
amor que foi despertado em nossos corações por nossas filhas, que darão continuidade à nossa geração.
"O segredo é jamais desistir. Quando estiver preparada, siga em frente,
e só pare o tratamento quando estiver com seu filho em seus braços.
Não caia nessa batalha, e acredite que se não há luta, não há vitória!"
Espaço da Ciência
As chances de sucesso e as causas de fracasso
Como cerca de três em cada seis casais submetidos a um único ciclo de tratamento e concepção assistida não têm um bebê, é fácil falar em fracasso. Mas a verdade é que os índices globais de sucesso da concepção assistida são quase tão
bons como os da natureza e, algumas vezes, até melhores. A natureza oferece aos
casais sem problemas, que mantêm relações sexuais nos dias férteis, 15 a 20% de
chance de gravidez a cada mês, comprovando que os tratamentos de infertilidade
beneficiam bastante os casais com dificuldades em engravidar. A probabilidade de
sucesso aumenta a cada ciclo em que se tenta determinado procedimento. Depois
de quatro ciclos de tratamento, esse índice “cumulativo” de gravidez pode chegar
de 60% a 70% por casal, após o tratamento por FIV. A concepção, porém, é mais
difícil em mulheres acima dos 40 anos. Os últimos resultados no tratamento da
infertilidade masculina por ICSI mostram que homens com distúrbios no esperma
têm agora chances bem maiores de gerar filhos. Mesmo assim, devemos refletir.
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A força da perseverança
Toda vez que uma paciente é submetida a um tratamento de reprodução assistida e recebe um resultado negativo, é sempre uma decepção e um momento
em que devemos sentar e conversar sobre as possíveis causas do fracasso daquele ciclo.
Todo ciclo é um aprendizado e, por mais que seja doloroso o resultado negativo, sempre vamos tirar algo bom daquela tentativa. Será que a dose do medicamento não foi adequada? O tipo de medicação? Número e qualidade de embriões
obtidos? Como estava o endométrio? Enfim, tudo isso deve ser reavaliado no
retorno da paciente para que possamos melhorar numa próxima tentativa.
É claro que cada caso é diferente do outro, e temos que analisar cada um individualmente. No caso de inseminação intrauterina, devemos levar em consideração quantas tentativas já foram feitas, visto que a chance desta paciente com
problemas engravidar, por ciclo, aumenta para 20 ou 30%.
Na FIV é que as pacientes se sentem mais “fracassadas”, pois já estão fazendo um procedimento de alta complexidade, muitas vezes visto como “última opção”. Também é importante levarmos em consideração o número de tentativas,
porquanto a chance de engravidar em uma única tentativa é de, aproximadamente, 50% para mulheres até 35 anos. Importantíssima é a idade da paciente, além
dos fatores já mencionados, como número e qualidade dos embriões, qualidade
endometrial, fluxo sanguíneo uterino e dosagens hormonais. Na maior parte dos
casos, conseguiremos explicar a falha pela alteração de alguns desses fatores.
Entretanto, em alguns casos, não identificamos qualquer anormalidade. Dificuldades na transferência dos espermatozoides ou embriões, rever fatores como a
endometriose, imunológicos (rejeição ao embrião), outros hormônios e outros exames, como a videohisteroscopia e videolaparoscopia podem ajudar na análise, e
também aumentar a chance de sucesso numa próxima tentativa.
Algumas pacientes são jovens, e mesmo, após várias tentativas com embriões
de boa qualidade e endométrio adequado, não engravidam, e muitas vezes não
conseguimos explicar o porquê (é bom deixar claro que estas são exceções). As
causas genéticas não devem ser esquecidas.
Concluindo, existem muitas causas de fracasso na FIV, as quais devemos sempre tentar identificar para podermos melhorar em uma próxima tentativa.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Jamais prive uma pessoa
de esperança; pode ser que
ela tenha só isso.
H. Jachson Brown
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Bendito o fruto do “vosso”
ventre (doação de óvulos)
7
Existem muitas causas de infertilidade, e praticamente todas são tratáveis.
Medicamentos induzem a ovulação, quando ela não for adequada; cirurgias recuperam problemas da anatomia do aparelho reprodutor, quando houver alterações,
como aderências pélvicas ou obstrução tubária; a endometriose é tratável pela
videolaparoscopia; os espermatozoides, quando não estiverem presentes no
sêmen, poderão ser retirados do testículo por minintervenções cirúrgicas; e, por
fim, a Fertilização In Vitro resolve quase todos os problemas. Todas essas dificuldades causam uma dor maior ou menor no sentimento da mulher, e os tratamentos disponíveis para esses problemas aliviam o sofrimento com alguma facilidade.
De todos os diagnósticos conhecidos, o mais difícil de ser aceito pela mulher é o
da ausência de óvulos capazes de serem fertilizados, isto é, o ovário não fabrica
mais óvulos capazes de gerar filhos. É um momento de decepção, pois ela acredita que não será mais possível ser mãe. Este fato pode acontecer em mulheres
jovens com menopausa precoce; em casos de cirurgias mutiladoras, em que são
retirados os dois ovários; em idade avançada, quando os óvulos produzidos não
formam embriões de boa qualidade, ou na própria menopausa na idade certa (ao
redor dos 50 anos), época em que não existem mais óvulos.
Nos dias de hoje, cada vez mais as mulheres retardam o casamento ou a busca
de um filho, por darem prioridade à sua formação e carreira profissional ou à conquista de bens materiais. Outras, ao redor dos 50 anos, reencontram uma vida afetiva feliz num segundo casamento com um homem sem filhos e que deseja uma
família. Outras, o destino quis que casassem mais tarde. Não importa o motivo. A
solução é a DOAÇÃO DE ÓVULOS. Estas mulheres podem ser mães e gerar
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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seu(s) filho(s) no seu próprio ventre, tendo um bebê fruto dos espermatozoides do
seu marido e um óvulo de uma mulher doadora (veja as regras no fim deste capítulo). O primeiro impacto desta proposta de tratamento para essas pacientes é sempre de indignação, acompanhada de comentários como: “Desta maneira não me
interessa”, “Então este filho não será meu”, “Esta criança não terá as minhas características, nem o meu DNA”, e outros. Estas afirmações são feitas por quase todas
as mulheres, numa fase inicial. Mesmo quando fornecemos uma vasta quantidade
de informações necessárias para a compreensão desse processo, deixam a clínica
frustradas e acreditando que desistirão de ter filhos para sempre. Mas, após um
período de reflexão e conhecimento, retornam, aceitando esta opção para ter seus
filhos. É muito gratificante cuidar desses casais, porque a tristeza que tinham por
considerarem irreversível a sua fertilidade torna-se uma felicidade inesperada. A
doação de óvulos é um tratamento muito sigiloso, que é do conhecimento exclusivo
do médico, do casal, e algumas vezes, dependendo deles, de alguém muito íntimo
(mãe ou irmã). As doadoras deve ser anônimas, isto é, não podem ser da própria
família nem conhecidas do casal. Devem ter semelhança física, tipo de sangue
compatível e saúde física e mental comprovados por exames. A incorporação do
sentimento de mãe e o espírito de paternidade, após a constatação do sucesso da
gravidez é tão grande, que todos os casais, após esse momento, mal se lembram
de que a gestação foi conseguida por óvulos doados. O que importa para essas
mães é que o bebê veio do seu próprio ventre. Ela dará à luz, e deste momento em
diante até o resto da sua vida, será seu filho. Bendito o fruto do vosso ventre.
As três histórias dos casais Tânia e Paulo, Sandra Regina e Alex, Suzana e
Gustavo ilustram bem essas situações.
Tânia tentou duas inseminações artificiais, mas seu ovário demonstrou uma má
qualidade de óvulos, e mesmo engravidando numas das tentativas, acabou por
abortar. Após criteriosa avaliação, comentei sobre a possibilidade de doação de
óvulos, pois assim aumentaria as chances de sucesso de gestação. Sem entusiasmo, falou que iria ponderar sobre o assunto. Retornou alguns meses depois,
após consultar outras clínicas. Desta vez, estava bem segura sobre este tipo de
tratamento. Fez somente um pedido incomum: a doadora deveria ser semelhante
ao seu marido. Esta atitude pouco usual, mas aceitável, era diferente das outras
mulheres que passam por essa situação, e por isso chamou-me a atenção. Principalmente porque Tânia tem uma constituição física tipicamente brasileira, estatura
média, morena e cabelos e olhos castanhos. Seu marido, Paulo, totalmente dife-
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Bendito o fruto do “vosso” ventre
(doação de óvulos)
rente. Um polonês alto, um metro e noventa ou mais, loiro de olhos azuis. Embora
estas características físicas sejam raras no Brasil, tínhamos no cadastro da clínica
a mulher doadora que desejava. O procedimento foi realizado com sucesso. Tânia
deu à luz a um “polonezinho” idêntico ao pai, digno de comentários espontâneos
de pessoas estranhas, ressaltando a evidente semelhança com o pai.
Sandra Regina e Alex formam um casal muito especial. A vibração que eles
passam para mim desde o dia em que ficaram grávidos é incomparável.
Agradecem-me, repetidamente, aquilo que eu fiz pelo prazer de minha profissão e
de poder ajudar estes casais que não conseguem ter filhos. Compartilham comigo
até hoje, a felicidade que sentem, uma vez que eu sou a única pessoa que conhece a verdadeira história. O depoimento que escrevem é emocionante, e ao ser
lido, deverá causar um impacto surpreendente nos sentimentos do leitor.
Suzana é o comando do casal. Seu marido, Gustavo, veio pouco ao consultório, mas mesmo sem estar presente fisicamente, participava, à distância, de todas
as fases do tratamento. Suzana é tranquila. Quando veio para a primeira consulta,
já conhecia seu problema (menopausa precoce), e por isso a indicação de gravidez com óvulos doados já era uma realidade. Era um caso difícil, do ponto de vista
técnico, uma vez que tinha muitos miomas uterinos, que pela localização, dificultariam a implantação dos embriões; mas, por outro lado, Suzana é uma pessoa fácil,
por aceitar o tratamento sem restrições importantes. É muito comum que os casais
receptores queiram saber detalhes da doadora, como aspecto físico, idade, profissão, hobby, hábitos, etc. Normalmente a clínica fornece esses dados, além de uma
foto do tempo em que a doadora era uma criança, evitando assim o risco de reconhecimento. O casal receptor, muitas vezes, fica mais tranquilo. Com essa confirmação, Suzana demonstrou tanta confiança no nosso trabalho, que dispensou tais
informações. Sua história demonstra esta fé, e ainda é caracterizada por episódios
incomuns e interessantes, como o fato de que no dia previsto do teste de gravidez,
ter menstruado em abundância e o exame bHCG ser negativo, e na verdade estar
grávida de gêmeos. E daí se tira uma lição fundamental: que os exames sejam feitos em laboratórios de confiança.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Depoimentos
"Minha vitória estava em meu destino"
Tânia e Paulo
Sou de uma família pequena e durante minha adolescência e juventude quase
não tive contato com crianças ou bebês. Meu meio social sempre foi a escola e a
faculdade, pois grande parte da minha vida foi dedicada aos estudos. Nunca fui o
tipo de mulher que idealiza esse momento desde jovem, que planeja quantos filhos
quer ter, com qual idade, etc. Como não me casei moça, minha vida ficou voltada
para o lado profissional. Eu não pensava em filhos e nem havia cobrança da minha
família quanto a isso.
Aos 38 anos, eu conheci meu atual marido. Ele sempre teve relacionamentos
problemáticos e vinha de um casamento muito complicado. Quando já se encontrava em fase de separação, teve uma filha, hoje já adulta. Por várias razões, e
principalmente pela circunstância em que isso aconteceu, ele ficou muito traumatizado com essa paternidade inesperada. Com todo esse histórico, o mais natural
seria que eu deixasse mais distante ainda a possibilidade de uma gravidez. Porém,
logo quando iniciamos o nosso relacionamento, esse desejo foi aflorando em mim
e logo me vi idealizando uma família completa, com marido, mulher e pelo menos
um filho.
Após dois anos de namoro, decidimos nos casar. A essa altura, a maternidade
já tinha ganhado um grande espaço em meu coração. A cada dia, o desejo aumentava e logo passou a ser incontrolável. Como eu já estava com 40 anos, logo imaginei que a minha idade já avançada poderia interferir na realização do desejo que
acabara de se tornar um sonho de vida. Percebi que precisava correr contra o
tempo e não prolongar ainda mais esse momento; mas havia um grande problema:
meu marido não queria ouvir falar em filho nem de brincadeira. Simplesmente, era
impossível conversar com ele sobre o assunto. Passeando em shoppings, eu parava em frente a vitrines de roupinhas de bebês e ele passava direto. Ele se mantinha irredutível, mesmo diante de todos os argumentos possíveis que eu apresen-
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tava a ele. Devido ao trauma anterior, filhos passaram a ser sinônimos de problemas e ele não queria estragar aquele momento bacana que estávamos vivendo.
Ao procurar ajuda médica, sempre ouvia que, pela minha idade, a probabilidade
de uma gravidez por meios naturais seria quase impossível, e que o melhor era
partir logo para um tratamento. Fiz todos os exames possíveis e tudo estava normal, mas eu dependia do meu marido. Não poderia dar início a nenhum procedimento sem que ele estivesse ao meu lado. Foi então quando comecei a entrar em
depressão, pois não via saídas para o meu problema, e, enquanto isso, o tempo
estava passando. A tristeza era imensurável, pois me sentia com as mãos atadas.
Nesse momento, para mim, somente Deus é quem poderia reverter a situação e
mudar o coração do meu marido. Apeguei-me muito à fé e foi nela que me agarrei
por muito tempo, para que o meu estado emocional e psicológico não se agravasse
mais ainda.
Certo dia, meu marido disse que não queria mais me ver daquele jeito. Decidiu
ir comigo no meu médico. Foi uma grande emoção. Marquei a consulta imediatamente e, na data agendada, nos dirigimos à clínica IPGO. O Dr. Arnaldo explicou
todos os tipos de tratamento e as chances de cada um. Optamos logo pela inseminação artificial, que era a de menor custo. Já com 41 anos, finalmente consegui
dar início ao tão sonhado tratamento para uma gravidez. Fiz a inseminação no dia
das mães, e isto me encheu de emoção e de esperança. Para mim, todos os meus
problemas estavam acabando ali, naquele momento. Eu já me via grávida, com o
meu coração cheio de alegria. Os doze dias foram de longa espera e ansiedade.
Para minha felicidade, o meu sonho se realizou e se concretizou com a notícia
de que o resultado tinha dado positivo. Impossível explicar o que senti e descrever
o tamanho da felicidade, pois me sentia a mulher mais realizada da face da Terra!
Após exatamente nove semanas de gestação, retornei à clínica para a realização
do primeiro ultrassom. Durante o exame, para minha surpresa, fui informada que
minha gravidez havia sido interrompida. Não conseguia me conformar com aquela
situação, principalmente porque eu estava com todos os sintomas de uma gestante. Toda aquela alegria que dominava meu coração se tornou em desespero,
angústia e decepção. Estava sozinha, naquele momento, e não conseguia conter
as lágrimas que tomavam conta da minha face. Nunca imaginei que aquilo pudesse
me acontecer. Saindo da clínica, fui direto para casa dos meus pais, porém mesmo
que eles se esforçassem, nada do que me dissessem me acalmaria naquele
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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momento. Eles não sabiam o que fazer e nem como me consolar. Uma das piores
partes foi ter que dar a notícia para o meu marido, que já estava animado com a
ideia de ser pai.
Para piorar ainda mais a situação, o aborto não se completava por conta dos
medicamentos, e aquilo estava me deixando ainda mais apavorada. Depois de
alguns dias, em um segundo ultrassom, fui diagnosticada e informada que se tratava de um aborto retido. Fui orientada a marcar uma curetagem, que foi outra tortura para mim, tanto física quanto psicológica. Já no hall do hospital, enquanto aguardava pelo atendimento, grávidas entravam e mulheres saíam com seus bebês em
seus braços. A sensação de tristeza que senti só sabe quem passou por isso.
Enquanto assistia à felicidade daquelas mulheres contentes e realizadas, eu estava ali, amargurada e angustiada, esperando que alguém viesse tirar de dentro de
mim o sonho da maternidade. Quando me levaram para o quarto onde eu ficaria,
passei pelo berçário, vi muitas crianças e os quartos das recentes mamães enfeitados, com flores encostadas nos rodapés. Era como se eu estivesse caminhando
pelos sonhos alheios e me lamentando pelo meu pesadelo.
Ao retornar para casa, eu e meu marido decidimos nunca mais passar por tudo
aquilo. Fiquei por um período de luto, e o meu interior por muito tempo se manteve
abalado e instável. Mas não sou o tipo de pessoa que desiste fácil. Passou-se um
tempo e aquele sonho que eu ainda não tinha conseguido realizar começou a crescer novamente. Foi então quando comecei a juntar dinheiro para uma Fertilização
In Vitro. Não tinha o valor suficiente para bancar o tratamento. O tempo corria contra mim e eu já estava com 42 anos. Certo dia, fui conhecer uma nova clínica especializada em infertilidade, onde levei todos os meus exames. Contei ao médico
tudo o que havia acontecido comigo. Analisando o meu histórico, sugeriu que eu
fizesse uma FIV com ovodoação. Ele me falou sobre a possibilidade de eu receber
óvulos de uma doadora mais jovem. Eu a ajudaria financeiramente com o tratamento e receberia a metade dos óvulos que ela produzisse. Minha cabeça ficou a
mil por hora com essa possibilidade que estatisticamente me daria muito mais
chances de ter um filho, já que financeiramente eu só teria condição para uma tentativa. Eu não podia desperdiçar aquela chance que era única. A decisão de receber ou não óvulos de uma doadora é muito pessoal. Cabe somente a você ponderar a vontade que tem de gerar um filho. Naquele momento, era tudo o que eu mais
queria, e acreditei que os nove meses de gestação seriam o suficiente para eu me
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
Bendito o fruto do “vosso” ventre
(doação de óvulos)
preparar psicologicamente para receber o bebê, indiferente da carga genética.
Conversei com o meu marido e ele me apoiou. Juntos, decidimos fazer nossa última tentativa. Apesar dele ter sofrido muito com a perda do bebê, parecia estar
preparado e entusiasmado com essa nova tentativa. Naquele momento, não era
apenas um desejo meu, como dele também. Isso me confortou muito, pois me senti
mais segura com o apoio total do meu marido. Através de uma rescisão contratual
de trabalho, ele conseguiu me dar de uma só vez a outra metade do dinheiro que
estava faltando.
Já decididos, retornamos à clínica IPGO e conversamos com o Dr. Arnaldo sobre
a ovodoação. Acreditava que ele e sua equipe eram as pessoas ideais para encontrar uma doadora certa para o meu caso. E foi o que aconteceu. Não passou muito
tempo, recebi uma ligação para conhecer uma possível candidata. Quando vi a foto
da candidata quando pequena, fiquei apaixonada. Gostei muito da caligrafia e principalmente das coisas que ela mais gostava de fazer, que combinavam com as que
eu gostava. Questões de compatibilidade sanguínea e outros exames de saúde já
haviam sido feitos e aprovados pelo Dr. Arnaldo. Era ela! Deus tinha ouvido minhas
orações. Começamos o tratamento nós duas ao mesmo tempo. Na divisão, fiquei
com quatro óvulos, dos quais três foram fertilizados. Na hora da implantação, coloquei os dois mais bonitos. O terceiro óvulo fertilizado não se desenvolveu.
Os 12 dias foram torturosos, mas cheios de esperança. Devido ao fato de o meu
exame ter demorado, não aguentei e fiz um teste de farmácia de noite, e a gravidez foi confirmada. Mesmo animada, eu não tinha a certeza, pois o laboratório
ainda não tinha enviado o resultado. Foi então, no dia seguinte, que recebi a ligação do Dr. Arnaldo me dando os parabéns. A nossa alegria foi indescritível e inexplicável, mas para mim ainda era a primeira etapa. Passei o tempo necessário até
o primeiro ultrassom, muito apreensiva, porém confiante que dessa vez tudo daria
certo. Meu marido foi comigo e eu não me aguentava, pois queria saber se estava
tudo bem e quantos eram. Um dos momentos mais emocionantes da minha vida
foi ouvir o coraçãozinho do meu filho batendo. Afinal, finalmente eu estava grávida
e tudo estava dentro dos conformes. Até os três meses e meio, só algumas pessoas sabiam que eu estava grávida, depois contei pra todo mundo. A forma desse
tratamento, só eu e meu marido sabemos.
Entrei num mundo de felicidades: roupas de grávida, roupinhas de bebê, móveis
de quarto, quartinho enfeitado, CD’s de músicas de ninar, carrinho de passeio e a
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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barriga crescendo… Tive uma gravidez maravilhosa. Não tive absolutamente nada
de anormal. No dia do parto, toda a família estava na maternidade. Tudo foi muito
tranquilo e meu bebê nasceu perfeito, grande, forte e lindo. Ele é a razão de eu ter
nascido. Nunca havia conhecido um amor tão maravilhoso. Só Deus para criar um
amor tão perfeito. Ainda fico emocionada quando passo em frente àquela maternidade. Ali dentro eu passei os momentos mais felizes que uma mulher pode passar na sua existência. Nunca vou esquecer.
Meu marido é um pai perfeito em amor, carinho, paciência e disciplina. Ele me
surpreendeu. Apesar de ter sido ferido pela vida, optou por dar uma chance para a
felicidade. Hoje é um homem totalmente realizado, porque ninguém é realmente feliz sem ter um lar feliz. É realmente um milagre acompanhar o desenvolvimento desde a foto do blastócito até o último mês de gestação, e hoje, ver o
meu menino me abraçando, me beijando e nos chamando de mamãezinha e
papaizinho sem nem a gente ter ensinado. É tudo um milagre! Dou graças a Deus
todos os dias pelo presente que Ele me deu, pois finalmente estou vivendo tudo o
que sonhei.
"Na vida, às vezes a gente não entende as coisas ruins que acontecem
conosco. Mas apesar de tudo ter dado errado no início, a vitória estava reservada para mim! Bastava eu não desistir e confiar. Corri atrás do
meu sonho. Confiei em Deus, e Ele me ouviu e atendeu à minha
oração."
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Gravidez:
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
Bendito o fruto do “vosso” ventre
(doação de óvulos)
"O tempo de Deus é diferente do nosso"
Sandra Regina e Alex
Eu e meu marido nos casamos já bem amadurecidos, eu com 32 e ele com
quase 38 anos. Pensamos, inicialmente, em curtir aquela fase e, por quase cinco
anos, a ideia de ter filhos ficou apenas em nossos planos. Depois desse período
repleto de bons momentos de um casamento feliz, veio o desejo de aumentar a
família trazendo o fruto do nosso amor. Foi então que em busca de um sonho de
ambos, demos início a uma fase das nossas vidas muito difícil, com muito sofrimento, mágoa e angústia. Não tínhamos ideia do que estava por vir.
Tentei engravidar espontaneamente, pois até então nem passava pela nossa
cabeça um possível empecilho que nos impedisse de alcançar essa dádiva. Mesmo com muitas tentativas, a gravidez nunca chegava, e cada mês que a menstruação descia era uma decepção. Passados 12 meses sem sucesso, resolvemos procurar um especialista em reprodução humana, que logo sugeriu a realização de vários exames para um diagnóstico mais confiável.
Já de posse de todos os exames, nos explicou que meu marido sofria de varicocele (baixa contagem de espermatozoides) e eu estava apresentando hipotireoidismo. Diante daquela situação, para piorar ainda mais o meu estado emocional, o
médico me disse com todas as letras: "VOCÊ NÃO VAI SER MÃE!" Aquele momento foi um dos piores de toda a minha vida. Era difícil compreender e assimilar o fato
de eu ter ouvido essa afirmação, pois acredito que por mais sincero que um médico deva ser, jamais deve esquecer que está lidando com seres humanos, que
sofrem e que se magoam. Ao presenciar aquela situação, meu marido logo pôs um
fim na consulta, afirmando que já tínhamos ouvido tudo o que precisávamos ouvir.
Já estávamos certos de que ele não era o médico que cuidaria de mim. Apesar da
grande dor e tristeza, aquelas palavras não tiraram do meu coração o desejo e a
certeza de que um dia eu seria mãe.
As tentativas continuaram, mas nada acontecia. Dei início ao tratamento com
hormônios para balancear a tireóide e meu marido se dispôs a fazer a cirurgia da
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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varicocele para tentar reverter o quadro de infertilização. Continuei fazendo exames
na tentativa de identificar algum outro problema em mim. Foi então que, para minha
surpresa, aos 37 anos, eu estava entrando na menopausa precocemente. Foram
momentos horríveis e o sonho da maternidade ficava cada vez mais distante das
nossas vidas. Todas as noites, ao me deitar, colocava a mão em meu ventre e dizia
ao meu marido que eu queria muito ser mãe. Muitas vezes, eu caía em lágrimas e
para me confortar, ele sempre me fazia acreditar que eu seria.
Após algum tempo, resolvemos visitar um outro especialista na área de reprodução humana. Foi então que nos direcionamos à clínica IPGO, onde pela primeira
vez nos consultamos com o Dr. Arnaldo. Após avaliar nosso caso, diferente do
outro médico, ele em momento algum me disse que eu não seria mãe. Nos explicou que só conseguiríamos a gravidez através da Fertilização In Vitro com ovodoação, ou seja, seriam utilizados espermatozoides do meu marido e óvulos de
uma doadora compatível comigo, pois infelizmente meus ovários já não dispunham
de óvulos férteis. Ouvimos com muita atenção tudo o que ele nos falou e fomos
amadurecer a ideia. Meu marido estava decidido a aceitar, mas eu não.
No primeiro momento, essa alternativa me pareceu muito ruim, pois eu queria
ter um filho com a minha carga genética e características minhas e do meu marido, e não com gens de uma pessoa que eu não conhecia. Fiquei chocada com a
notícia de saber que esta seria a única possibilidade existente que me levaria à
maternidade. Na minha cabeça, se não fosse meu também não seria dele. Eu
preferia partir para a adoção a gerar uma criança que fosse do meu marido com
outra mulher. Durante meses, não pensávamos em outra coisa a não ser nessa
possibilidade. Discutíamos em conjunto os prós e os contras, pois era uma decisão
bastante difícil. Meu marido deixou a situação nas minhas mãos e sempre dizia que
me apoiaria, indiferente de qual fosse a minha escolha.
Certo dia, uma amiga que residia em outro Estado, sabendo da nossa situação,
nos trouxe a possibilidade de adotarmos uma criança recém-nascida. Essa notícia
bateu forte; porém, por trás de uma adoção, existem muitas complicações. O processo seria realizado ilegalmente, já que sabíamos que existia muita burocracia para
adotar uma criança de forma legal. Não queríamos ter que entrar para uma fila de
espera gigantesca, receber visitas de assistentes sociais, etc. Era algo que queríamos naquele momento, pois o desejo era tão grande que não conseguíamos
esperar.
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
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Bendito o fruto do “vosso” ventre
(doação de óvulos)
Após muitas conversas, resolvemos aceitar. A opção da FIV ficou de lado e
começamos a investir somente na ideia da adoção. Logo apareceu uma criança,
que depois viemos a saber que seria uma menina. Ainda grávida, a mãe a concedeu ao médico que intermediava o processo de adoção. A previsão para o nascimento estava um pouco distante, mas já aguardávamos a criança com muita
ansiedade e amor. Pouco tempo depois recebemos uma ligação da clínica em uma
sexta-feira, nos avisando que o nascimento aconteceria na segunda-feira. Queriam
saber se iríamos realmente buscá-la. Aquilo para nós foi como um baque, pois
iríamos receber uma criança em casa sem termos uma mamadeira dentro do
armário. Mesmo assim não exitamos e topamos. Em um final de semana compramos tudo que era necessário para receber a nossa filha. Quando tudo já estava pronto e preparado, recebemos uma ligação da clínica que nos informou que
havia sido alarme falso. A mãe ainda estava de sete meses. Perguntaram se continuávamos interessados, e eu disse que mais ainda, já que desta forma teria mais
tempo para equipar o quarto da minha filha que estava por vir.
E foi exatamente assim. Durante esse período, nos preparamos para recebê-la
com todo o conforto e carinho que uma criança merece. Montamos o quarto, o enxoval completo, acessórios, carrinhos, etc. Tudo estava pronto, faltava apenas a
sua chegada. Passados dois meses, o médico me ligou pedindo para que nós não
fôssemos buscá-la. Fomos avisados que a família do bebê intercedeu no processo de adoção, fazendo com que a mãe desistisse da ideia de doá-la. No momento
em que recebi aquela notícia, fiquei sem chão, sem rumo. A dor era tão grande
quanto a dor de uma mãe que perde o seu filho no parto. A angústia tomou conta
do meu coração e o meu estado emocional ficou muito debilitado. Desmontei o
quarto inteiro e decidi apagar aquele acontecimento do meu coração. Cada vez
que eu entrava naquele cômodo, eu imaginava uma criança ali. A verdade é que
ela havia nascido, porém para mim, havia morrido. Foi um dos piores momentos
das nossas vidas. Havíamos recebido um outro não para o nosso sonho e nos frustramos mais uma vez.
Eu não sei dizer como ou porque, mas no fundo do meu coração vinha uma voz
que dizia para não desistirmos, pois ainda conseguiríamos alcançar a vitória. Eu
chorava muito e não me conformava com aquilo tudo, mas o meu marido sempre
me fez acreditar que eu seria mãe, me dizendo que o tempo de Deus era diferente
do nosso. Sempre me deu total apoio e isso foi crucial durante todo o processo.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Naquele ano, ao invés de viajarmos para o exterior, durante as férias, como
sempre fazíamos, decidimos ir para Porto Alegre nos consultar com outro médico
especialista em reprodução humana. Ele olhou para mim e disse: "Você pode ser
mãe!" Nos explicou que através da FIV com ovodoação a gravidez seria possível.
Eu contei que o Dr. Arnaldo havia me sugerido a mesma coisa, porém, há dois
anos atrás. A verdade é que depois dos vários nãos e do longo tempo que eu tive
para amadurecer a ideia, a proposta não me parecia mais tão absurda diante do
desejo que eu tinha de ter um filho. Percebi que havia sido muito egoísta em não
ter aceitado o óvulo de uma doadora, mas venci as barreiras que existiam dentro
de mim, passei por cima de tudo e dei espaço para que o nosso maior sonho se
realizasse.
Ainda no mesmo ano, voltamos a conversar com o Dr. Arnaldo, que já no
primeiro dia da consulta, deu início aos primeiros exames. Aguardávamos ansiosamente o dia da transferência dos embriões, e, enquanto isso, eu estava tomando
todos os hormônios necessários a fim de preparar meu útero. Chegado o dia, tivemos que tomar outra difícil decisão. Existiam três embriões para transferência e precisávamos decidir quantos colocaríamos. Conversamos com o Dr. Arnaldo e explicamos que queríamos no máximo duas crianças. E ele disse: "Quer um conselho?
Coloque os três!" Eu fiquei assustada, mas confiei na palavra de um especialista.
Entregamos nas mãos de Deus e deixamos que fosse feita a Sua vontade.
Os 12 dias foram os mais esperados das nossas vidas. Era uma mistura de
medo e agonia, uma sensação horrível. Porém, tínhamos a certeza convicta de que
daria certo! Foi quando chegou o grande dia! A resposta sairia às 15h, e quando foi
14h, eu saí do meu trabalho e fui direto pra casa. Chegando lá, fiquei ao lado do
telefone com grande expectativa. Após algum tempo, o telefone tocou. Ao atender,
logo ouvi a voz do Dr. Arnaldo com a notícia mais feliz da minha vida: "Parabéns!
Você está grávida!" Naquele momento, eu dei um grito de alegria com sabor de vitória. Não consegui fazer mais nada além de me derrubar em lágrimas. Eu chegava a
não acreditar no que tinha acabado de ouvir, pois o caminho foi muito árduo e eu
recebi muitos nãos até que o sonho se concretizasse.
Em seguida, liguei para o meu marido que estava no trabalho, e emocionado,
também caiu em lágrimas. A tão esperada notícia caiu como um bálsamo em nossos corações, aliviando todos os traumas e dores vividos anteriormente. Agradecemos sempre a Deus e a nossa gratidão será eterna.
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Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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Bendito o fruto do “vosso” ventre
(doação de óvulos)
Eu agradeço também muito à doadora, que foi fundamental. Oro todos os dias
pela vida dela, pra que Deus dê muita felicidade. Nós fizemos o tratamento na
mesma época e, durante o processo, eu não torcia só por mim, mas sim por nós
duas. Depois, eu fiquei sabendo que ela também conseguiu ser mãe e realizar seu
sonho. Fiquei muito feliz, pois era o que eu queria. Não queria ser mãe sozinha,
queria ser mãe, mas queria que ela fosse também.
Hoje, amadurecida, confesso que o fato de a metade da genética não ser minha
passou quando eu senti o coraçãozinho bater. A primeira vez que você vê aquela
coisinha se mexendo dentro de você, tudo passa, você esquece. Essa questão
passa a ser um mero detalhe, tão pequeno, que não faz diferença alguma. A criança cresce dentro de você, é sua.
‘Nunca desista do seu sonho, mesmo que a vida tenha lhe dito alguns
NÃOS. Independentemente da forma como você atinja esse objetivo,
seja ele com óvulos e espermatozoides biológicos ou não, o importante é a conquista do objetivo final.”
"Gostaria de salientar a importância que a minha parceira e doadora
teve nesse processo, pois sem a sua ajuda, me cedendo óvulos
férteis, eu não conseguiria engravidar. Serei grata por toda a minha
vida, pois esse foi um imenso ato de amor. Ela é responsável diretamente pelos momentos de alegria que hoje compartilhamos com
vocês. Muito obrigada, seja você quem for e esteja onde estiver."
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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"A felicidade não é um destino, mas uma escolha"
Suzana e Gustavo
Sempre fui uma mulher de muitos sonhos, mesmo quando ainda era jovem.
Queria muito estudar, viajar e me tornar uma profissional realizada. Corri atrás de
tudo isso, com muita luta e com muito esforço, pois a procedência da minha família
sempre foi humilde e tudo o que eu conquistei foi através do meu trabalho. Estudei
muito, fiz muitas faculdades, trabalhei abusivamente e consegui viajar para a
Europa, como sempre sonhei. O meu caso não é um desses em que a mulher dá
prioridade por anos para a sua carreira profissional, deixando o sonho da maternidade de lado. Eu simplesmente pensava em ter filhos mais tarde, em um momento em que eu já estivesse madura o suficiente para encarar essa responsabilidade.
Por toda a minha vida, sempre tive problemas relacionados à saúde da mulher.
Por conta dos miomas, eu vivia em hospitais e consultórios médicos, realizando
tratamentos para que o problema se resolvesse. Entrei na menopausa muito
jovem, mas não fiquei entristecida, porque tinha em mente que caso eu não conseguisse ter filhos naturalmente, partiria para adoção. Me casei já bem amadurecida, na menopausa e com uma idade avançada para uma gravidez, mas nunca me
preocupei com a probabilidade de possíveis problemas relacionados ao meu desejo de um dia me tornar mãe.
Certa vez, ao conversar com um casal numa viagem, minha irmã falou do meu
problema e do desejo que eu tinha de ser mãe. Em seguida, ele comentou que sua
esposa teve que enfrentar a mesma situação, mas através de um tratamento com
um especialista conseguiu engravidar. Entregou o cartão da clínica para a minha
irmã, que logo me entregou, me incentivando a marcar uma consulta.
Foi exatamente a partir daí que o Dr. Arnaldo passou a fazer parte da minha trajetória. Logo na primeira consulta, ele me explicou todo o tratamento e seus procedimentos. Como eu não tinha mais óvulos por conta da menopausa, foi sugerida uma Fertilização In Vitro através da ovodoação, ou seja, com óvulos de uma
doadora. Pacientemente, me alertou que o resultado positivo na primeira tentativa
não era garantido. Principalmente, por conta da minha idade e de todos os proble-
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(doação de óvulos)
mas que eu sempre tive com os miomas, que por toda a vida insistiram em me
perseguir. Como não se tratava de uma decisão simples, deu um tempo para que
eu e meu marido pensássemos a respeito de tudo o que ele havia acabado de nos
falar. Nós não tivemos nenhuma dificuldade em aceitar os óvulos de uma doadora.
Meu marido sempre diz que não sabemos nem mesmo a nossa própria origem.
Como eu já pensava em adoção, o fato de eu ter um filho sem a minha genética
não me incomodou.
Logo retornamos ao Dr. Arnaldo, já decididos a dar início ao tratamento. Comecei
a tomar os medicamentos receitados, e depois de um mês, realizei a transferência
dos embriões. Desde aquele momento, eu tinha a certeza de que tudo daria certo.
Não pensava na hipótese de um resultado negativo. Acreditava muito na vitória! É
claro que mesmo com muita convicção de que nada daria errado, os 12 dias de
espera para a certeza da gravidez não deixaram de ser terríveis. Jamais conseguiria
transformar em simples palavras sentimentos tão complicados que tomam conta do
nosso interior. Conta-se cada minuto com o coração coberto de ansiedade, que nos
consome e nos faz perder os sentidos e o controle da situação.
Chegado o dia, fui até o laboratório e fiz um exame de sangue. Com grande tristeza recebi o resultado negativo. Foi horrível! Uma dor incomparável a qualquer
outra. Eu desabei em meio a muita angústia e decepção. Porém, mesmo todos
aqueles sentimentos ruins que consumiam meu coração não foram capazes de
tirar de mim o meu maior sonho. A luta continuaria, pois não desistiria jamais!
Encarei aquela situação como um tombo e logo tratei de me levantar, respirar fundo
e continuar a minha caminhada.
Na tentativa de melhorar os ânimos, eu e meu marido decidimos viajar para o
litoral. Ele não conseguia se conformar com o resultado negativo, pois tinha certeza
que eu estava grávida, mesmo depois de ter visto o resultado. Durante a viagem,
por várias vezes me perguntou: "Você tem certeza que não está grávida?" Aquela
viagem estava nos proporcionando bons momentos, mas logo foi interrompida com
um sangramento incessante que eu tive. Voltamos para casa e eu fiquei de
repouso. Achei aquilo natural e acreditava que o sangramento nada mais era do
que os embriões saindo do meu corpo. Os questionamentos do meu marido permaneciam e ele não se cansava de falar: "Tem certeza que não tem ninguém aí
dentro?" Cheguei até a me irritar, pois ainda estava muito abalada com o resultado negativo.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Retornei à clínica e o Dr. Arnaldo me pediu para fazer um ultrassom dos meus
miomas, a fim de analisar as minhas condições. Foi inclusive cogitada a possibilidade de uma videolaparoscopia para a retirada dos miomas, antes de uma nova
tentativa de Fertilização In Vitro. Achei a ideia boa, até mesmo porque, desta forma,
eu estaria cuidando tanto da minha saúde física quanto da minha saúde emocional.
Um tempo de descanso antes de uma próxima tentativa seria a melhor opção para
aquela circunstância.
Me dirigi até um laboratório para a realização do ultrassom. Durante o procedimento, o médico que me examinava olhou em meus olhos e disse: "Olha, me desculpe, mas você pode falar com o seu médico que será muito difícil você engravidar.” Eu fiquei decepcionada e até mesmo aborrecida com ele e lhe disse: "Não fala
assim! Estou fazendo de tudo para dar certo! Estou querendo tanto! Tentando
tanto! Não fale isso nem brincando!" Ele deu uma risadinha e revidou: "É que é
muito difícil grávidas engravidarem!" Eu fiquei sem entender nada e logo ele me
mostrou o coraçãozinho batendo. Eu fiquei espantada, inconformada, e lhe disse
que tinha ido lá para ver os meus miomas! Em meio a muitos risos, ele confirmou
a existência de todos os miomas, mas me disse que eu não faria nada com eles,
que a partir daquele momento me preocuparia somente com a minha gravidez.
Fiquei maravilhada e não conseguia acreditar no que tinha acabado de ouvir! Era
um momento mágico!
Assim que saí do laboratório, liguei para o meu marido. Quando ele atendeu, eu
disse: "Tem gente aqui." Ele não entendeu muito bem e me perguntava: "Aonde
você está? Quem está aí?" Aos risos, eu respondi: "Eu vim no laboratório para ver
os miomas, mas descobri que tem gente aqui.” Ele ficou muito feliz e disse que
tinha certeza que eu estava grávida, que não conseguia se conformar com o resultado negativo. Foi uma alegria muito grande poder compartilhar aquilo com ele.
Chegando em casa, imediatamente liguei para a clínica dando a notícia. A princípio, assim como eu, todos acharam estranho e não acreditaram. O Dr. Arnaldo
pediu que eu lhe explicasse melhor o que havia acontecido. Quando contei, percebi a sua alegria pelo resultado. O que tinha acabado de acontecer parecia uma
mensagem de Deus mandada diretamente a mim, para que eu tivesse mais certeza do que nunca de que Ele é o Deus do impossível! Meu marido sempre me
disse que a ciência é um milagre, porém um milagre intermediado por Deus.
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(doação de óvulos)
Eu disse ao Dr. Arnaldo que os outros "anjinhos" me abandonaram e foram
embora, mas que um quis ficar comigo. Quando fui até a clínica para fazer o ultrassom eu tive outra surpresa. Ao me examinar, o Dr. Arnaldo disse: "É, está tudo
bem. Os seus dois anjinhos estão aqui!." Fiquei atônita e sem reação. Ele me mostrou os dois coraçãozinhos batendo… quanta emoção e quanta surpresa para uma
pessoa só! A possibilidade de eu engravidar de gêmeos era remota e jamais passou pela minha cabeça. Além de ter dado certo na primeira tentativa, vieram dois
de uma vez só!
Pretendia fazer uma surpresa para o meu marido, mas não aguentei. Liguei e
disse que tinha algo importante para lhe contar. Falei: "Tem mais gente aqui.” A
princípio ele não entendeu, mas logo desconfiou: "É o que eu estou pensando?" Eu
confirmei e disse que mais um anjinho tinha ficado comigo, que na verdade eram
dois. Ele ficou feliz e me deu os parabéns! A realização deste sonho era muito mais
importante para mim, pois ele já tinha outro filho de um outro casamento. A busca
era muito mais minha do que dele, mas sempre tive o seu apoio em tudo.
A minha gravidez foi muito conturbada, pois fiquei extremamente debilitada.
Tive que ficar de repouso praticamente os oito meses e foi muito difícil. Nesse
período, fui proibida de manter relações sexuais, pois poderiam ocasionar problemas na minha gestação. Isso interferiu muito, pois entrei em abstinência sexual
antes, durante e depois da gravidez. Por mais que um casamento não se resuma
em sexo, sabemos que esta é uma parte importante do relacionamento. Por conta
de toda essa fase, fiquei insegura, sentia um ciúme muito além do normal e dei início a uma grande crise interior. O que mais me consolava sempre era saber que
eu tinha dois anjinhos dentro de mim, que sempre me ouviam e sempre conversavam comigo.
Hoje, com minhas duas menininhas, não me arrependo de nada, mas aprendi
que se queremos muito uma coisa, temos que ser fortes para enfrentar todos os
obstáculos que são colocados em nosso caminho. Talvez, se eu não tivesse tanta
certeza do que eu queria, hoje poderia ter me arrependido de tudo o que fiz, vendo
que coloquei até mesmo o meu casamento em risco. Isso só não aconteceu comigo porque sempre fui muito determinada e o meu desejo de ser mãe estava acima
de todas as coisas.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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"Para a minha doadora, quero deixar um SUPEROBRIGADA! Gostaria
de te dar um beijo, um abraço, e te agradecer olhando em seus olhos.
Você não tinha porque doar, mas doou, e com isso mudou a minha
vida para sempre!"
"Para as mulheres que enfrentam hoje o que eu enfrentei, tenho uma
mensagem: Se a gente não batalhar, os sonhos não vão acontecer. É
normal termos problemas, o anormal é deixarmos os nossos sonhos
de lado. Quando você abre mão dos seus sonhos, afirmando ser o
destino, fica frustrada para o resto da vida. Você precisa se dar a
oportunidade para poder ser feliz.”
Espaço da Ciência
Doação de Óvulos
A doação de óvulos é uma técnica na qual os gametas femininos (óvulos) de
uma mulher (doadora) são doados a outra (receptora) para que sejam fertilizados.
A fertilização é realizada no laboratório pelos espermatozoides do marido da receptora. Em paralelo, a outra metade dos óvulos é fertilizada com os espermatozoides
do marido da doadora. Desta forma, o embrião é transferido (colocado) para o
útero da receptora, a qual irá gerar um filho formado pelo espermatozoide do
próprio marido e o óvulo de uma doadora. Este procedimento é realizado da
mesma forma que a fertilização in vitro. O que difere é a preparação do útero da
receptora, que é feita de uma maneira muito mais simples e econômica do que com
a doadora. A receptora recebe dois únicos hormônios (estradiol e progesterona)
para o preparo do endométrio a fim de receber os embriões, pois não existe
indução de ovulação. A taxa de sucesso de gravidez é a mesma da paciente
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
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Tropeços e...
Conquistas
Bendito o fruto do “vosso” ventre
(doação de óvulos)
doadora (40 a 55%). No dia da coleta, os óvulos aspirados são divididos entre as
duas. Parte deles é fertilizada com os espermatozoides do marido da doadora, formando embriões que serão transferidos para o útero desta. A outra parte será fertilizada com os espermatozoides do marido da receptora e transferidos para ela.
Regras Gerais para Doação de Óvulos
1) A doação nunca terá caráter lucrativo ou comercial. Não se vendem óvulos (nem
espermatozoides).
2) Os doadores não podem conhecer a identidade dos receptores, e vice-versa.
Obrigatoriamente, serão mantidos o sigilo e o anonimato. A legislação não permite doação entre familiares.
3) As clínicas especializadas mantêm, de forma permanente, um registro dos
doadores, dados clínicos de caráter geral com as características fenotípicas
(semelhança física), exames laboratoriais que comprovem sua saúde física e
uma amostra celular. A escolha de doadores baseia-se na semelhança física,
imunológica, e na máxima compatibilidade entre doador e receptor (tipo sanguíneo, etc.).
Quem pode doar óvulos (doadora)
As doadoras devem ter as seguintes características:
• menos do que 35 anos de idade;
• bom nível intelectual;
• histórico negativo de doenças genéticas transmissíveis;
• teste negativo para doenças infecciosas sexualmente transmissíveis
(hepatite, sífilis, aids, etc.) e tipagem sanguínea compatível com a receptora.
As pacientes, fontes doadoras, são:
• mulheres férteis que desejem submeter-se à ligadura tubária; poderão ser
incentivadas a aceitar a estimulação ovariana e a doação dos óvulos;
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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• pacientes do programa de fertilização in vitro ou inseminação artificial, com
altas respostas ao estímulo ovariano, que às vezes desejam de forma voluntária e anônima doar parte dos óvulos obtidos. São pacientes que não desejam congelar embriões e temem demais uma gestação múltipla;
• doação compartilhada: neste caso, a receptora pagaria parte dos custos da
paciente, que tem indicação para bebê de proveta (doadora), mas não pode
fazê-lo por motivos financeiros. Em troca, a receptora recebe metade dos
óvulos produzidos pela doadora. Desta forma, estaremos ajudando duas mulheres e dando a elas o direito de serem mães. Esta posição pode ser considerada eticamente controvertida, uma vez que a doadora está sendo beneficiada economicamente, embora não esteja recebendo dinheiro para isto.
• irmãs e familiares de receptoras podem ser doadoras, desde que façam uma
doação cruzada, isto é, os óvulos do familiar de uma doadora serão doados
para uma outra receptora que também terá uma familiar que doará para a
primeira receptora. Exemplo fictício: a paciente receptora “A” tem uma irmã
que se chama “X”, e a outra paciente receptora “B” tem uma irmã que se
chama “Y”. Neste caso, a paciente “A” poderá receber óvulos da doadora “Y”,
e a receptora “B” poderá receber óvulos da doadora “X”. Desta maneira, será
preservado o anonimato.
• mulheres que, voluntária e altruisticamente, concordam em doar óvulos.
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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Bendito o fruto do “outro”
ventre (barriga de aluguel)
8
Barriga de aluguel - Útero de substituição Doação temporária do útero
Ser médico é, na minha opinião, a melhor profissão do mundo. Faz sentir-me
realizado, produtivo e recompensado: é um privilégio. Ser especialista em infertilidade e cuidar de casais que não conseguem ter filhos é um privilégio ainda maior.
Poucas pessoas têm a sorte que eu tenho, de propiciar aos casais com esta dificuldade a alegria de ter os filhos que não conseguem naturalmente. O momento
em que é dada a notícia do sucesso do tratamento é único. Comunicar o resultado
positivo do teste de gravidez é emocionante. Sentir a explosão de felicidade, ouvir
os gritos do inacreditável, o choro, e até mesmo o silêncio da emoção que há tempos estava guardada é indescritível. Muitas mulheres simplesmente silenciam por
não quererem acreditar na veracidade da notícia tão esperada.
Estes meus sentimentos de alegria, que infelizmente se alternam com os de
tristeza pelos inevitáveis resultados negativos, não deixam de ser uma rotina na
vida de especialistas como eu. Entretanto, existem situações cujas histórias são
muito especiais, como as deste capítulo, que me emocionam e que mostram como
a reprodução assistida torna realidade os sonhos considerados impossíveis.
É um privilégio fazer parte da história destas mulheres.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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O termo barriga de aluguel, que deve ser corretamente trocado por útero de substituição ou doação temporária do útero – pois não se recebe dinheiro por esta generosidade – é uma das alternativas de tratamento mais emocionantes. A abnegação
destas mulheres que aceitam gerar um bebê em seu útero, que não é seu filho, é um
ato de amor que só cabe a pessoas muito especiais. Permitir o desenvolvimento do
início de vida de um filho no útero de uma outra mulher é a prova maior da importância de ser mãe.
Márcia e dona Ângela (a mãe) – a gravidez de uma mulher sem útero
A violência urbana está cada vez mais próxima de nós. Lembro-me de que há
muitos anos, eu ainda era uma criança, quando ocorreu na Itália um caso de
sequestro de final trágico e de repercussão internacional, meu pai comentou que
este tipo de ato subversivo não existia no Brasil. Hoje, esses crimes já fazem parte
da rotina do noticiário. Antigamente, as mortes e a violência ocorriam em regiões
afastadas, eram raras e envolviam pessoas que pertenciam ao submundo.
Atualmente, e cada vez mais, escuto relatos de pessoas próximas que passaram
por isso.
Márcia veio à minha clínica, pela primeira vez, através do encaminhamento de
um colega ginecologista que estava sensibilizado com sua história. Márcia era
jovem, bonita, simpática, meiga e dócil, enfim, evidenciava todos os adjetivos que
definem uma mulher que sensibiliza os olhos de qualquer um. Não tinha útero.
Fora retirado numa cirurgia de urgência realizada em consequência dos danos
provocados por tiros de arma de fogo em um assalto de consequências trágicas.
Na época, estava grávida e perdeu também o bebê e o marido.
Casada novamente, a única chance que tinha para ser mãe era através da barriga de aluguel ou útero de substituição. Tanto Márcia como Ângela, sua mãe, não
imaginavam que existia esta possibilidade, e quando expliquei como este procedimento era realizado, consideraram inacreditável, tamanha era a felicidade de ver
tão próxima a realização do sonho de ser mãe e avó ao mesmo tempo.
Nestes tratamentos, os ovários da mulher que será a mãe biológica são estimulados com hormônios (no caso de Márcia, ela possuia um único ovário, o outro
foi retirado na mesma cirurgia que foi retirado o útero), os óvulos são aspirados,
fertilizados em laboratório, e os embriões são transferidos para o útero de uma
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
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Tropeços e...
Conquistas
Bendito o fruto do “outro” ventre
(barriga de aluguel)
outra mulher que futuramente dará à luz. Esta mulher deverá ter parentesco de
primeiro grau como, por exemplo, ser mãe ou irmã. Dona Ângela, a mãe, num
gesto de felicidade, prontificou-se em receber os bebês no seu útero. Deste
momento em diante, os passos seriam somente os habituais dos tratamentos de
fertilização in vitro. Dona Ângela engravidou de gêmeos e recuperou a felicidade
própria e de sua filha.
É imensurável o grau de satisfação que senti ao poder usar a ciência da
Reprodução Assistida em benefício de pessoas desamparadas pelo destino amargo que a vida reservou. É para isto que os médicos existem.
Valéria e Rosana (a irmã) – o bebê que fez esquecer o passado
Valéria, como todas as minhas pacientes, é uma mulher incrível. Mas ela conseguiu ter algo mais: mais coragem, mais persistência, mais obstinação, e outras
coisas mais. Submeteu-se a vários tratamentos de fertilização que até já esqueceu,
após o nascimento de sua filha – é deste jeito que ela relata em seu depoimento.
Isto é muito interessante. O impacto do nascimento da sua criança tão esperada fez
com que ela esquecesse todos os momentos difíceis que experimentou. Este fato
evidente, demonstrado neste depoimento, é o retrato daquilo que acontece com
todas as mulheres que passam por esta experiência. Depois da conquista da gravidez, os infortúnios do “antes” passam a pertencer ao passado e já não mais interessam. São rechaçados para o fundo do coração e deixam de fazer parte do presente, só interessando, daí em diante, o seu futuro. Valéria fez oito tentativas
frustradas, sem nunca ter engravidado. A cada fracasso, ao contrário da grande
maioria das mulheres que vivem esta situação, retornava à clínica cheia de esperanças, buscando uma nova tentativa.
Ela nunca desanimou nem mostrou ares de derrota. Todas as alternativas de
novos tratamentos que prometeram melhorar seu endométrio problemático
(endométrio é o tecido interior do útero onde o bebê se implanta e se desenvolve),
ela aceitava utilizar. Não importavam as garantias dos benefícios. No caso de
Valéria, o endométrio não se desenvolvia mesmo com os tratamentos hormonais,
era muito fino, inapropriado para a implantação dos embriões. A única saída era a
barriga de aluguel, e a escolhida foi sua irmã Rosana, que durante todo o pré-natal,
demonstrou estar feliz por poder ajudar Valéria. As duas vinham às consultas do
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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pré-natal demonstrando total cumplicidade. Tudo ocorreu da melhor forma possível, e nada foi tão compensador como o fato de eu ter o privilégio de participar
desta história. Ver a expressão de Valéria contemplando o seu bebê e mostrar-me,
com muito orgulho e emoção, a certidão de nascimento de sua filha onde constava o nome da mãe: VALÉRIA!! – é algo inesquecível que me faz sentir tocado por
DEUS!
Depoimentos
"Deus me devolveu o que um dia tiraram de mim"
Márcia, dona Ângela (mãe) e Caio
Minha mãe diz que desde pequena sempre fui muito contente, conquistando a
todos que me rodeavam com a minha meiguice e simpatia. Ela diz que eu já acordava sorrindo, com uma alegria contagiante. Acredito que Deus dá à nossa personalidade características que se baseiam no destino que nossas vidas terão. Talvez
o excesso de alegria me foi concedido para que eu conseguisse vencer tudo o que
haveria de passar. Cresci cuidando de crianças, que me encantavam e me apaixonavam mais e mais a cada dia que eu convivia com elas. Ficava encantada com a
linda inocência desses seres que sempre nos impressionam.
Aos 15 anos, conheci um rapaz que morava próximo da minha casa, com quem
muito me identifiquei. Gostávamos das mesmas coisas, tínhamos os mesmos pensamentos e nos dávamos muito bem. O amor foi crescendo juntamente com o carinho, amizade e companheirismo. Casamos em poucos meses, por conta de uma
gravidez; mas essa mudança de planos não nos perturbou, pois mesmo com nada
planejado, a nossa união era como um sonho a se realizar.
Certo dia, já com quase oito meses de gravidez, eu e meu marido fomos visitar
minha irmã, e no retorno para casa, aconteceu um fato que marcou e mudou a
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Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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Caminhos,
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Bendito o fruto do “outro” ventre
(barriga de aluguel)
minha vida para sempre. Paramos o carro na porta do meu prédio e logo eu vi um
grupo de quatro rapazes caminhando pela rua, parecendo não ter rumo. Nada me
chamou a atenção, mas quando eu abaixei para tirar o som do carro, antes mesmo
de me levantar, ouvi o barulho ensurdecedor de tiros e mais tiros, que eram disparados sequencialmente contra o meu marido, que estava ao meu lado. Fiquei
sem reação e as imagens que eu estava vendo e presenciando pareciam passar
em câmera lenta, de tão trágicas e inacreditáveis. Logo percebi que também havia
sido atingida, por conta de fortes pressões que comecei a sentir no peito e em meu
ventre.
Olhei para o meu marido, que estava imóvel, de olhos abertos e coberto de
sangue, e mesmo muito assustada com toda a situação, eu sabia que tinha que
sair daquele carro e salvar a minha vida e a vida do meu filho, ainda tão pequeno
e indefeso. Sentia muito medo de que os quatro monstros voltassem para terminar
o que começaram, mas logo avistei um ônibus que vinha em minha direção e não
pensei muito antes de me lançar à frente do veículo, pedindo que me socorressem.
Apesar de eu estar na frente do meu prédio, preferi não pedir ajuda à minha mãe,
pois sabia que a deixaria muito assustada. Quando fui iluminada pelos faróis, o
motorista vendo o meu estado, acelerou, talvez com medo, mas decidiu parar ao
ouvir meus gritos de desespero. Minhas mãos, lambuzadas de sangue, escorregavam e mal permitiam que eu me apoiasse no ônibus para subir os degraus.
Em seguida, pedi que o cobrador ligasse para a casa da minha irmã, para avisála que estavam me levando para o hospital. Minha barriga doía muito e cada minuto que passava, mais dura ela ficava. Chegando ao Pronto-Socorro, ainda acordada, lutava contra os meus olhos, que insistiam em fechar. Entre muita gritaria, conseguia ouvir e discernir a voz da minha irmã, que pedia desesperadamente para eu
aguentar firme e não dormir. Me mantive forte e só apaguei após a anestesia.
Apenas no primeiro dia de internação, tive três paradas cardíacas e fui operada duas vezes. Minha irmã procurava acompanhar cada passo dos médicos, que
permitiam que ela ficasse por perto, por ser auxiliar de enfermagem. Minha mãe
apenas lutava para conseguir dormir e acordar de tudo aquilo que nada mais era
do que um real pesadelo em nossas vidas. No dia seguinte, após a minha internação, ela se dirigiu ao hospital, e ao pedir informações sobre mim, foi surpreendida
com a notícia de que eu havia falecido. Pediram-lhe todos os meus documentos, e
ainda muito abalada, prometeu para si mesma que daquele dia em diante jamais
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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pronunciaria o nome de Deus. Porém, foi este Deus que agiu minutos depois,
quando uma pessoa do hospital a procurou, se desculpando por terem cometido
um engano quanto ao meu estado. Na verdade, sua filha, eu, ainda estava viva.
Sofri mais uma cirurgia e fiquei internada na UTI por quase um mês, onde me
mantive desacordada a todo momento. Minha mãe, grande amiga, fazia companhia para o meu sono, que parecia nunca ter fim. Cuidava de mim e cultivava a
esperança de que eu sairia daquele hospital para dar continuidade à minha vida,
que tinha sido interrompida por aquela desgraça.
Após longos dias, eu finalmente acordei. Ao abrir meus olhos, minha mãe foi a
primeira pessoa que eu vi e não pensei duas vezes antes de perguntar pelo meu
marido e pelo meu filho. Apesar de confusa e com o coração apertado, fiquei tranquila ao ouvir que ambos estavam internados, mas se recuperando, assim como
eu. Depois de alguns dias, eu já estava bem melhor, dando os meus primeiros passos, após longos dias deitada em uma cama. Para minha grande felicidade, a
médica me disse que em poucos dias eu teria alta e voltaria para casa, mas também, para minha grande infelicidade, fui noticiada sobre as minhas perdas.
Minha mãe tinha mentido para mim, porque eu não podia ter fortes emoções
devido ao meu estado. A verdade era que meu marido havia falecido, assim como
o meu filho, que no mesmo dia foi tirado de mim, em uma das minhas primeiras
cirurgias. Infelizmente, nenhum dos dois resistiu à tragédia, assim como meu útero,
que também teve que ser retirado. Fui tomada por grande angústia e frustração.
Perdi a vontade de viver e não tinha forças e nem ânimo para me recuperar e
reconstruir o que havia sido destruído.
Desde aquele dia, o sorriso, sempre presente em meu rosto, foi substituído
pelas lágrimas que incessantemente encharcavam a minha face e meu coração.
Os médicos que se revezavam entre os plantões seguravam minhas mãos e cantavam para que eu dormisse, mas nenhum deles poderia trazer de volta a realização que eu quase havia alcançado: ser mãe. Psicólogos e psiquiatras movimentavam a enfermaria e me enchiam de palavras de consolo, de ânimo e de estímulo, mas não recebiam nenhuma reação minha, senão o incessante desejo de ter o
meu filho e o meu sonho de volta.
Assim que eu saí do hospital, minha mãe pediu que eu me esforçasse para me
recuperar, pois mudaríamos de cidade e reconstruiríamos tudo o que o destino nos
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Bendito o fruto do “outro” ventre
(barriga de aluguel)
tirou. Porém, em pouco tempo, eu tive que ser internada novamente com risco de
infecção generalizada. Estava muito magra e quase careca por conta de uma forte
queda de cabelos. Alguns meses depois, já recuperada, eu e minha mãe nos
mudamos para o litoral norte de São Paulo, na esperança de fazer nascer em mim
o desejo de viver. Eu sempre perguntava a ela se um dia seria possível eu adotar
uma criança, e ela sempre dizia que Deus colocaria alguém em meu caminho, que
me ajudaria na hora certa. Voltei a estudar e tentei dar continuidade à minha vida,
mas em pouco tempo o marasmo da cidade me fez arrumar as malas e voltar para
São Paulo.
Logo arrumei um trabalho, e, em pouco tempo, um novo amor, com quem
acabei me casando. Minha vida parecia caminhar, mas o sonho de um dia ser mãe
permanecia em meu coração, me enchendo de angústia por saber que era praticamente impossível se realizar. Foi então quando em uma consulta ginecológica,
contei a minha história para meu médico, que comovido pediu que eu procurasse
um amigo de profissão, que com certeza me ajudaria a conseguir tudo o que eu
mais queria na vida.
Em minha primeira consulta com o Dr. Arnaldo Cambiaghi contei-lhe tudo o que
havia me acontecido, e para minha felicidade, descobri que ainda existia um caminho para que eu me tornasse mãe: barriga de aluguel. Minha mãe, sempre ao
meu lado, disse imediatamente que estava disposta a me ajudar no que fosse preciso. Era perfeito! Finalmente, a vida me traria de volta aquilo que um dia me
tomaram. Quando contei ao meu marido, ele apoiou, mas não acreditou que fosse
possível realizar esse tipo de procedimento aqui no Brasil. Apesar de feliz, a possibilidade lhe parecia algo distante de se realizar. Voltei a sorrir e os meus olhos
voltaram a ter o brilho que um dia perderam. Tudo parecia novo e nada era mais
importante do que lutar pelo meu tão desejado filho.
Iniciamos o tratamento, e no dia em que os embriões foram colocados no útero
de minha mãe, fomos tomados por uma grande ansiedade que nos deixava sem
ar. Tínhamos certeza que tudo daria certo e contávamos cada segundo até a
chegada do dia do exame. Minha mãe, muito feliz em poder fazer parte do meu
sonho, dizia que protegeria seus netos até o momento em que estivessem prontos
para nascer.
Finalmente, o grande dia chegou, e o resultado foi positivo. A felicidade não
cabia dentro dos nossos corações, que explodiam de tanta alegria. Como se ainda
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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não bastasse, no segundo ultrassom, descobrimos que, em alguns meses, seríamos presenteados com lindos gêmeos. O que antes nos parecia impossível, se
tonou parte da minha vida – ser mãe.
"Jamais deixe de lutar por esta dádiva que transforma a nossa vida
para sempre. Não desista nunca, e mesmo se um dia tirarem ou
destruírem aquilo que sempre desejou, persevere e confie em Deus,
pois Ele fará a sua justiça!"
“O fruto de três corações”
Valéria, Rosana (irmã) e Tadeu
Sempre cultivei o desejo de um dia ser mãe, mas por longos anos dediquei a
minha vida aos estudos, pois acreditava que era preciso me preparar para que no
futuro fosse possível realizar o sonho da maternidade. Minha mãe teve 11 filhos, e
acredito que o meu instinto maternal é herança da minha família que sempre foi
muito grande.
Aos 35 anos, conheci o meu atual marido, com quem pude compartilhar os
momentos mais difíceis da minha vida. Amigo e companheiro, sempre esteve ao
meu lado, sofrendo e desviando de todas as pedras que foram colocadas em nosso
caminho para a realização do nosso sonho. No momento em que nos encontramos,
tive a certeza de que ele era a pessoa certa para dividir comigo a grande responsabilidade que é ter um filho. Decididos, iniciamos as tentativas, sem saber que
estávamos dando início a uma grande batalha.
Eu acredito que o meu depoimento seja diferente de todos os outros, devido à
ausência dos fatos e de detalhes da minha luta. Não me lembro praticamente de
nada, e a única coisa que tenho absoluta certeza é a de que sou uma mulher que
lutou muito até realizar o sonho da minha vida. Foram inúmeros exames, sempre
com diagnósticos tristes e desanimadores. Descobri que tinha problemas em meu
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Bendito o fruto do “outro” ventre
(barriga de aluguel)
endométrio, motivo pelo qual quase todas as chances que eu tinha de ser mãe
foram anuladas. Realizei muitas tentativas de Fertilização In Vitro e Inseminação
Artificial. Apesar de ter sofrido muito com cada uma delas, nem me lembro ao certo
quantas foram.
A primeira vez que tentamos uma FIV, achávamos que não tinha a menor chance de dar errado. Estávamos confiantes e nem pensávamos em resultados negativos, talvez por falta de informação e convívio com pessoas que realizaram várias
tentativas, antes de alcançarem o sucesso. Meu marido ia para a clínica para coletar o esperma, e voltava sonhando com gêmeos, certo de que já tinha dado certo.
Naturalmente, quando recebíamos a resposta, a decepção era grande e muito
dolorosa. Nossos ânimos ficavam exaltados e depois de algum tempo, devido à
pressão psicológica, não tínhamos paciência nem mais para nos relacionar um
com o outro. Foram momentos difíceis e marcantes.
Depois de tantos tombos tão desanimadores, o Dr. Arnaldo me alertou quanto
à possibilidade de realização da barriga de aluguel. Apesar de saber que aquele
poderia ser o caminho para a realização do meu sonho, devido ao que chamamos
de preconceito, a ideia não era bem resolvida na minha cabeça, nos meus conceitos e valores. Sempre achei que ser mãe incluía a gestação, a ideia de gerar
uma criança. Eu queria senti-la em meu ventre, ver minha barriga crescer, sentir
enjôos, tudo o que é natural de uma grávida. Eu sonhava em ser mãe por completo, vivendo todas as fases da maternidade. Por este motivo, a ideia da barriga
de aluguel não me parecia tão atraente, mesmo entre tantos tombos que já tinha
levado.
Após longos meses de angústia, cansada de tantas derrotas, eu comecei a
encarar a barriga de aluguel como uma possibilidade. Os preconceitos foram se
desfazendo e, milagrosamente, Deus mudou meu coração, me permitindo dar um
novo rumo à minha trajetória. Eu e minha irmã sempre fomos muito unidas, e
enquanto eu enfrentava as minhas angústias por conta da impossibilidade de ser
mãe, ela vivia momentos difíceis com uma gravidez sem o apoio do pai da criança.
Ajudei muito a minha irmã, fazendo tudo o que estava ao meu alcance, e foi então
quando, de uma forma muito natural, ela se propôs a fazer a barriga de aluguel
para mim, na tentativa de retribuir tudo o que eu tinha feito a ela.
Eu jamais havia mencionado esta hipótese a ela, e para mim foi uma grande
surpresa. Aquela possibilidade foi uma luz no fim do túnel para a realização de algo
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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que tinha se tornado a razão do meu viver. Meu marido recebeu muito bem a ideia
e foi então quando nós três, juntos, demos início a uma nova etapa de uma busca
que para mim já era antiga. Aguardamos seis meses, pois minha irmã ainda estava amamentando, e, em seguida, realizamos a nossa primeira tentativa.
Estávamos muito confiantes, certos de que nada mais daria errado, mas fomos surpreendidos com um resultado negativo.
Eu fiquei chocada, meu marido já estava superdesanimado, cansado, mas eu
não conseguia simplesmente desistir do meu grande sonho. Eu queria ser mãe
mais do que tudo, e para mim era praticamente impossível apagar a chama que
consumia meu coração. Realizamos a segunda tentativa e o resultado foi... positivo! A emoção era tão grande, que chegávamos a não acreditar que era verdade.
Juntos, unidos e ligados eternamente pelo que a vida nos proporcionou, vivemos
momentos mágicos e maravilhosos. Para mim, era sempre um sonho poder acordar e ver que eu estava vivendo a realização da minha razão de viver.
Nossas vidas foram transformadas com a chegada de uma criança que veio ao
mundo de uma forma maravilhosa e sem dúvidas, divina. Foram dez anos de
muitas tentativas e fracassos, mas tudo ficou para trás. Chega a ser curioso o fato
de eu não me lembrar praticamente de nada do que eu vivi em todos esses dias,
mas foi exatamente o que aconteceu. A nossa menina apagou todas as minhas
lembranças ruins, e faz valer cada sacrifício, cada esforço, cada lágrima...
Tudo valeu a pena, pois depois de tantos tropeços e de tantos dias escuros e
sombrios, veio uma linda manhã, cheia de luz e de refrigério para a minha alma.
Hoje, sou uma mulher feliz, completa e realizada. Nada, jamais, será maior do que
o amor que invadiu o meu coração e da alegria da minha filha, que contempla todos
os dias da minha vida.
"Sei que você que está passando por isso já deve estar cansada de
ouvir que não deve nunca desistir. Mas eu não poderia lhe dizer outra
coisa senão esta, pois lutei por dez anos até realizar o meu sonho.
Lute sempre, com todas as suas forças, e indiferente da sua cor, raça,
religião, classe social, jamais deixe com que o preconceito te prive
das possibilidades de se tornar mãe.”
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Barriga de Aluguel – Útero de Substituição –
Doação Temporária do Útero
Devido à obrigatoriedade de não haver nenhum caráter comercial com as pessoas envolvidas neste processo, o termo barriga de aluguel deve ser substituído
por útero de substituição. Ninguém “empresta” o útero por dinheiro. Não se aluga
e não se vende este espaço. Entretanto, diferentemente da doação de óvulos, este
procedimento não deve ser anônimo, e sim entre pessoas conhecidas, com parentesco de primeiro e segundo graus. Esta medida é para que seja evitado, ao máximo, o risco de a pessoa que gestar a criança, negar-se a entregar o seu filho para
os pais biológicos. As pessoas envolvidas devem ser submetidas a uma avaliação
médica e psicológica completa, além de se analisar a história familiar genética e
obstétrica. A psicoterapia individual e em grupo são fundamentais. O procedimento é realizado de modo idêntico à fertilização in vitro com a diferença de que, no
momento da transferência, os embriões são colocados no útero emprestado de
uma outra mulher.
As indicações para a realização da gestação de substituição são:
• problemas incorrigíveis de função uterina (malformações ou ausência de formação);
• pacientes sem útero, mas com ovários funcionantes;
• miomas ou aderências intrauterinos sem possibilidades de correção cirúrgica;
• condições médicas em que a gravidez implique alto risco de vida ou alto comprometimento de saúde da mulher, como problemas cardíacos, pulmonares,
renais, ou quadro avançado de hipertensão ou diabetes gestacional;
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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¨ perdas gestacionais de repetição, quando a condição de manter a gravidez
é muito difícil. Neste grupo, também podem ser considerados os fracassos
repetidos de procedimentos de fertilização in vitro.
Orientações Éticas
São procedimentos legais no Brasil, mas há alguns limites:
• deve haver indicação médica;
• o procedimento deve ser realizado de forma gratuita, então não há aluguel da
barriga;
• a doadora do útero deve ser da família e ter parentesco de primeiro ou segundo grau da doadora genética, e se não houver esta possibilidade, o procedimento pode ser realizado com a autorização do Conselho Regional de
Medicina da região.
O consentimento informado é importante nestes casos, pois, baseado nele, o
juiz pode decidir quem registra o filho, caso haja dúvidas do ponto de vista jurídico. Normalmente, se houver brigas judiciais, as decisões têm sido favoráveis às
mães genéticas, desde que tenham documentado bem o caso.
136
Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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Ansiedade:
mito ou verdade?
9
Um dos mais frequentes questionamentos dos casais que têm dificuldades de
engravidar é em que proporções o fator psicológico pode influenciar negativamente
nos resultados da fertilização. Muitos casais adiam seus tratamentos por acreditarem que – principalmente a mulher – não estariam no melhor momento emocional de suas vidas. Mas será que realmente é fundamental este equilíbrio para
se conseguir bons resultados? É possível a uma mulher que já vem acumulando
frustrações desde o primeiro mês em que tentou naturalmente a gravidez conseguir estar tranquila? Será que uma profissão exaustiva é capaz de influenciar
negativamente no sucesso do tratamento? Repetidos estudos têm sido realizados
no mundo todo e, até hoje, não comprovaram esta relação. Eu, particularmente,
acredito até que muitas vezes, quando o foco estressante está direcionado para
outros problemas, como por exemplo o trabalho, que é a mais comum fonte de
estresse, pode haver algum benefício; pois o casal deixará de pensar tanto no seu
tratamento e diminui a carga emocional na busca pela gestação. Entretanto, o
apoio psicológico é muito importante. A maioria das clínicas de Reprodução Humana tem uma psicóloga para este apoio e muitas pessoas poderão sentir-se muito
melhor, após uma conversa com estes profissionais. Mas isto não significa que a
chance de gravidez será maior ou menor.
Os casais Míriam e Manoel, e Heloísa e Rodrigo são bons exemplos, pois se
caracterizam pela alta carga emocional que apresentaram na época, quando comparados com outros que faziam o mesmo tipo de tratamento e engravidaram na
primeira tentativa de Fertilização In Vitro. Com uma história semelhante a outras,
demonstrando perseverança, coragem, luta e fé, diferenciaram dos demais pelo
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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componente emocional exacerbado. Embora esse exagero estivesse disfarçado na
história que escreveram, o contato pessoal que eu tinha na consulta expôs a realidade: extremamente ansiosos e angustiados. Manoel casado com Míriam, era
pior que ela, e nunca me enganou. Com sua fala calma e pausada, muito educado, dizia-se sempre preocupado com o bem-estar psicológico de sua esposa, mas
na verdade, o grande centro do desconforto emocional do casal era ele. Mesmo
não sendo um demérito, algumas pessoas, principalmente os homens, não gostam
de expor sua sensibilidade emocional. Esses detalhes são percebidos na consulta,
e se houver conflitos importantes, prejudiciais ao tratamento do casal, serão
encaminhados ao setor de psicologia. Chamou-me também a atenção nesta
história a pressa do casal em fazer o exame do teste de gravidez de forma inadequada e precipitada, levando a uma frustração desnecessária. O teste deve ser
realizado em laboratórios qualificados.
Heloísa, casada com Rodrigo, também muitíssimo ansiosa, demonstrava muita
preocupação com os resultados. Estava apreensiva, mas aparentemente bem. Na
clínica, tanto eu como a secretária, a enfermeira e o grupo de apoio específico para
cada paciente, temíamos pela sua reação caso o resultado do tratamento fosse
negativo. Confesso que no dia do resultado do teste de gravidez, eu e a equipe
estávamos contagiados pela expectativa do resultado.
O estado emocional e o estresse profissional são relevantes e devem ser cuidados, mas não devem ser condições para justificar a realização ou não de um determinado tratamento.
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Gravidez:
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GRAVIDEZ:
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Ansiedade: mito ou verdade?
Depoimentos
“Valeu a pena”
Míriam e Manoel
Minha infância foi bastante conturbada, e durante minha adolescência, nunca
idealizei a maternidade, entretanto sempre acreditei que família era algo único,
indivisível e completo.
Vencendo todos os obstáculos que surgiram, cresci e amadureci. Minha primeira
menstruação aconteceu quando eu tinha 13 anos e logo me trouxe uma série de
preocupações. Sentia cólicas terríveis, com sangramentos excessivos que se estendiam por mais de dez dias. Com o passar do tempo, novos problemas apareceram,
comprometendo ainda mais minha saúde. Hospitais, consultas médicas, exames,
internações e uma incansável troca de médicos se tornaram uma grande rotina no
meu cotidiano.
Após longos anos de sofrimento e angústia, fui contemplada com uma grande
alegria: meu casamento. Desde então, pude contar com o total apoio de meu marido, que me ajudou a vencer as dificuldades da vida. Nos primeiros anos de casamento, não planejamos filhos, mas o desejo de me tornar mãe apareceu após
alguns poucos anos de união. Foi quando decidimos que havia chegado a hora.
Mesmo com muitas tentativas, o tempo foi passando e a gravidez não acontecia. Inicialmente, não nos preocupamos, mas após um longo período de espera, decidimos procurar ajuda médica. Fomos orientados a realizar uma videolaparoscopia, mas, lamentavelmente, não diagnosticaram o que me causava tanto
mal. Por longos anos, lutei para que o meu problema fosse identificado e solucionado, mas nenhum médico conseguia encontrar algo que justificasse os sintomas com os quais já havia aprendido a conviver. As explicações eram vagas e
sem fundamentos. Cheguei a ter que aceitar um diagnóstico que dizia que todo
o meu sofrimento era emocional, mesmo sabendo que isso estava distante da
minha realidade.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Dois anos depois, uma nova videolaroscopia revelou o efetivo diagnóstico:
endometriose. Fui alertada pelo médico sobre os possíveis problemas que enfrentaria para engravidar, mas não tinha noção da gravidade da doença e das dificuldades
que futuramente marcariam a minha vida.
A espera começou a ser dolorosa, me enchendo de ansiedade e de medo pelos
resultados negativos. Cada mês que eu menstruava, era como se meu útero se
derramasse em lágrimas. Qualquer atraso menstrual era motivo de comemoração,
expectativa e esperança, seguidas de frustração e desilusão.
Certo dia, na tentativa de fazer alguma coisa para acabar com a tristeza que eu
sentia, meu marido recebeu a indicação do Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi. Animados, agendamos uma consulta, acreditando que ali encontraríamos todas as
respostas que estávamos procurando.
Contei toda a minha trajetória ao Dr. Arnaldo, que nos transmitiu muita confiança já na primeira consulta. Após a realização de diversos exames, fui surpreendida com a notícia de que as minhas trompas haviam sido prejudicadas, possivelmente em decorrência da endometriose.
Decidimos, junto com o Dr. Arnaldo, realizar uma nova videolaparoscopia na
tentativa de corrigir as trompas, e, em seguida, tentaríamos a gravidez por meio de
uma Inseminação Artificial, certos de que nada de errado aconteceria.
Durante o processo, eu já me sentia grávida, passava a mão na barriga enquanto conversava com o nosso imaginário bebê. Nosso sonho estava muito perto de se
realizar e tudo estava indo muito bem, até que, antes de realizar o exame eu menstruei. A sensação era de que o mundo tivesse desabado em nossas cabeças.
Ficamos realmente muito arrasados, e por muito tempo o choro se manteve presente em nossos dias. Não conseguíamos nos conformar com o resultado. Apesar
de a cirurgia ter sido um sucesso, lamentavelmente uma nova histerossalpingografia revelou a reincidência do problema. Fomos alertados pelo Dr. Arnaldo que
seria difícil a gravidez por meio de uma segunda Inseminação Artificial, e que a
Fertilização In Vitro seria mais apropriada. Ficamos chateados, mas não desanimamos. O desejo era muito grande e não nos permitia desistir.
Devido ao abalo emocional causado pela primeira decepção, mesmo sabendo
do risco de insucesso, optamos por realizar a segunda Inseminação Artificial com
um outro médico. Seis meses após a primeira tentativa, demos início ao tratamen-
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Ansiedade: mito ou verdade?
to, conscientes da mínima chance de sucesso. Desde o início, combinamos que
faríamos tudo com muita tranquilidade, e mesmo que viesse um novo resultado
negativo, não iríamos nos abalar. Todavia, o coração não responde dessa maneira,
e novamente quando menstruei, sofremos muito. Sabíamos que por mais
racionais que tentássemos ser, a dor era inevitável. Nosso sonho parecia mais distante. Quando via mães com seus bebês, não conseguia conter as lágrimas e o
sofrimento que ocupava o meu coração.
Algum tempo depois, decidimos voltar para quem efetivamente confiávamos: o
Dr. Arnaldo. A forma como nos recebeu, o olhar sincero e a maneira franca de
apontar caminhos e soluções para o nosso problema, nos fizeram sentir que desta
vez seria diferente. Mesmo sem muitas palavras, ele entendeu tudo o que falamos
apenas com a dor dos nossos corações. Decidimos lutar com todas as nossas
forças pelo que mais queríamos na vida. A Fertilização In Vitro foi o nosso próximo
passo, e era a única possibilidade que nos restava. Passamos por cima de todas
as barreiras e assumimos todos os riscos. Apesar de muitos tombos, jamais desistimos. O nosso amor sempre foi muito forte, bonito, e sem dúvida, o que nos ajudou a vencer todos os obstáculos que eram colocados à nossa frente.
Com muita fé e coragem, que foram nossas maiores aliadas, demos início à
Fertilização In Vitro. Sabíamos que naquela tentativa residia nossa felicidade ou
nossa definitiva frustração. Muito nos ajudou poder contar com muito apoio do
nosso médico e amigo, nosso querido Dr. Arnaldo, que com seu trabalho e dedicação foi nossa grande fonte de esperança.
Após a transferência dos embriões, veio a pior parte: a espera pelo resultado.
Eu tinha muito medo de menstruar, como aconteceu nas vezes anteriores, e qualquer cólica já me deixava aflita. Alguns dias antes da data indicada para a realização do exame de sangue, não consegui me conter e fiz um teste de gravidez
caseiro, desses que encontramos em farmácias. O resultado foi negativo e eu fiquei desesperada, sem rumo e sem chão. Inconformada, telefonei para a central
de atendimento ao consumidor, responsável pelo referido teste e expliquei toda a
situação. Fui informada de que era provável que eu não estivesse grávida, mas
pediram para que repetisse o procedimento, utilizando um teste mais fidedigno do
que o primeiro. Novamente o resultado foi negativo.
Tamanho era meu desalento, mas mesmo assim fui realizar o exame de sangue, mesmo sem esperança de um resultado positivo. Novamente, fiquei em um
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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estado emocional muito delicado e nem sequer quis ver o resultado pela internet,
limitando-me apenas a passar a senha de acesso fornecida pelo laboratório para a
clínica. Estava descrente, pois já havia me conformado com os resultados dos
testes de farmácia. Todavia, para minha grande surpresa, recebi a ligação do
Dr. Arnaldo no final do dia, me parabenizando pela gravidez. Por um instante
cheguei a não acreditar! A emoção invadiu o meu peito que quase explodiu de tanta
felicidade. Imediatamente liguei para o meu marido, e, juntos, comemoramos
intensamente aquele dia inesquecível.
Desde então, todo o sofrimento se transformou em alegria e realização, pois tínhamos conseguido o que mais queríamos naquele momento. A gravidez foi maravilhosa e não alterou em nada a minha rotina diária. Trabalhei até os nove meses
de gestação e só me afastei 12 dias antes do parto.
O nascimento da nossa pequenina foi único, e, sem dúvida, inesquecível. Nos
recordaremos para sempre daquele momento tão especial que concretizou o
nosso grande sonho. A caminhada foi longa, mas valeu a pena. Nossa filha mudou
o rumo das nossas vidas, e semelhante ao sopro de Deus, levou para longe a
escuridão. Choramos todos os dias – só que agora de alegria – ao olharmos para
ela, e seremos eternamente gratos a Deus por nos ter dado este lindo presente.
Jamais conseguiremos retribuir a felicidade e alegria que hoje transbordam de nossos corações.
A recompensa que recebemos depois de tudo o que enfrentamos é tão maravilhosa, que estamos dispostos a enfrentar tudo de novo na tentativa de uma nova
gravidez.
"Para você que está passando por tudo o que eu passei, não encare a
situação como um problema, e sim como um obstáculo a ser vencido.
Jamais desista do seu grande sonho, por mais distante que possa
parecer. Tenha força! Assim como nós, acredite em Deus, pois por Ele
fomos abençoados."
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Ansiedade: mito ou verdade?
"Cada dificuldade foi um degrau
para a minha vitória"
Heloísa e Rodrigo
Meu sonho desde menina sempre foi casar, ter filhos e constituir uma família.
Apesar de eu sempre ter tido esta natureza, me casei um pouco tarde, somente
aos 29 anos. Meu marido também nunca escondeu o seu desejo de ser pai, e
assim decidimos ter o nosso primeiro filho após dois anos de casados.
Aos 31 anos, dei início às tentativas para a realização do grande sonho que não
era só meu, mas nosso. Logo veio a ansiedade, e na minha cabeça a gravidez viria
já no primeiro mês, pois jamais imaginei ter algum problema relacionado a isso. O
tempo foi passando, e nada acontecia além da minha menstruação, que era motivo de luto e muita tristeza. Desde aquele momento, mesmo sem saber de qualquer
problema, eu ficava muito chateada e decepcionada. Cada resultado negativo era
uma derrota que não me permitia ser mãe. Após longos seis meses de tentativas,
decidi procurar um médico a fim de averiguar se existia algum problema.
Realizei alguns exames e nenhum problema foi detectado. Os médicos me falavam que o meu problema era a ansiedade e pediam pra que eu não me preocupasse, pois os indícios de infertilidade só eram considerados após 18 meses de tentativas sem resultado. Realmente acreditei que o meu descontrole emocional
pudesse ser a causa dos resultados negativos, mas todas aquelas explicações não
eram o bastante para me convencer que a demora não indicava algum problema.
Consultei-me com vários médicos, na tentativa de ouvir uma explicação mais
convincente, e um deles resolveu solicitar o espermograma ao meu marido, já que
nada de anormal era encontrado em mim.
Mesmo muito relutante, pois jamais imaginou passar por aquela situação, realizou o exame, que identificou baixa contagem de espermatozoides. Quando o médico nos informou sobre o resultado, a expressão do meu marido mudou no mesmo
instante. A notícia o deixou arrasado, sem rumo e extremamente chateado.
Mantive-me ao seu lado e me esforcei para que ele não se sentisse sozinho e sem
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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apoio, mas sabia que a minha ansiedade fazia com que se sentisse ainda mais culpado pela situação e pela minha tristeza.
Procuramos um urologista, e com muita fé e dedicação meu marido deu início
a um tratamento por meio de medicações que estimulavam a produção de espermatozoides. Após um ano, a quantidade aumentou, mas infelizmente não alcançou
o patamar necessário para uma possível gravidez. Diante daquele quadro, o médico nos orientou a procurar uma clínica de Reprodução Humana, para que pudéssemos fazer um tratamento mais específico e eficaz. Voltamos para casa muito tristes
e decepcionados. Mais um ano havia se passado e mais uma porta se fechava
para o nosso sonho.
Entramos em contato com uma das clínicas que nos foram indicadas, e ao apresentar todos os nossos exames, fomos informados que o único caminho era a
Fertilização In Vitro ou a Inseminação Artificial. Durante a consulta, realizei um
ultrassom e me espantei quando fui informada sobre a presença de um cisto muito
grande no meu ovário esquerdo. O médico me alertou que poderia ser um endometrioma e que seria necessária uma cirurgia para que o mesmo fosse retirado.
Fiquei muito assustada, pois além de ter conhecimento sobre a gravidade da endometriose, tinha imenso pavor de procedimentos cirúrgicos.
Aquela consulta foi como um balde de água fria que me proporcionou muitas
emoções que se misturavam em meu coração. Eu perdi todas as esperanças de
realizar o meu maior sonho, fiquei arrasada e logo entrei em uma grande
depressão. Meu marido também ficou abalado com tudo aquilo que acabávamos
de descobrir, mas tentou me acalmar, não deixando que eu perdesse as esperanças. Durante todo o tratamento, ele sempre teve muita fé e convicção de que
conseguiríamos realizar o nosso grande sonho, o que me deixava mais confiante
para continuar a jornada.
Como o médico não atendia o meu convênio, para que a videolaparoscopia
fosse realizada, procurei um outro especialista, que ao analisar todo o meu histórico nos falou que "só abrindo" para ver o que era. Fiquei desesperada e, para piorar, o mesmo me disse que no meu caso teria de ser realizada uma cirurgia convencional, com anestesia geral, assim como uma cesárea. Ao ouvir tudo aquilo,
perdi o chão, mas ainda não era tudo. Mesmo vendo o meu desespero, o médico
ressaltou que eu tinha grande chance de perder o meu ovário, pois dependendo do
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Ansiedade: mito ou verdade?
que ele encontrasse, teria que tirar tudo. Eu e meu marido ficamos tão chocados
ao sair da clínica que não encontrávamos nem o caminho de casa.
Mesmo aflita, decidi enfrentar o problema e realizar a operação. Quando fui ao
laboratório para realizar os exames pré-operatórios, fui questionada quanto ao exame do coração. Expliquei ao atendente que o médico não havia solicitado, mas
eles demonstraram um certo espanto com a situação, me deixando ainda mais
insegura com o profissional que estava me tratando. Ao questionar sobre o ocorrido no retorno da minha consulta, o médico me disse que eu era muito nova e que
por este motivo o exame do coração não seria necessário.
O fato de ele ter dito a mim que poderia tirar tudo, não deixando nenhuma
chance pra que eu tivesse um filho, que era o que eu mais queria, se juntou com
o fato de ele não ter pedido o exame do coração. Eu fiquei muito insegura e preocupada e acabei desistindo de operar com ele. Meu marido me apoiou e disse que
procuraríamos outro especialista.
Certo dia, triste e abatida com as frustrações que assolavam meu coração,
entrei na internet e me deparei com o site da clínica IPGO. Fiquei muito empolgada com tudo o que vi e li e, à noite, conversei com o meu marido e perguntei se
poderíamos nos consultar. Ele aceitou de imediato, e logo eu agendei a nossa
primeira consulta.
Chegando lá, contei ao Dr. Arnaldo tudo o que havia passado e, ao observar
meus exames, me acalmou dizendo que eu realmente tinha endometriose, mas
que uma simples cirurgia era o suficiente para resolver o meu problema, e assim
dar início à Fertilização In Vitro. Fiquei muito feliz e minhas forças foram renovadas
com a esperança que nasceu no momento em que ouvi aquelas palavras que
transmitiam muita confiança.
Mesmo entre tanta felicidade, eu ainda tinha um problema: nossa limitação
econômica. Disse ao Dr. Arnaldo que esperaria um pouco a fim de resolver essa
pendência, pois não dispúnhamos da quantia necessária para a cirurgia, levando
em conta o gasto que teríamos posteriormente com a Fertilização In Vitro.
Entretanto, a administração do IPGO facilitou esse pagamento, permitindo assim
que eu pudesse realizar a cirurgia. Ficamos muito felizes, pois finalmente tudo
estava caminhando.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Realizei a cirurgia e nada além do endometrioma foi tirado. Foi tudo um sucesso e logo pude dar início à minha primeira Fertilização In Vitro. Eu era outra pessoa, sentia como se tivesse nascido de novo, pois a alegria era muito grande e já
não restavam dúvidas a mim e ao meu marido de que conseguiríamos, enfim,
realizar o nosso maior sonho.
Dei início às medicações com muita alegria e dedicação. O tratamento doía no
corpo e na alma, mas eu não desanimava porque sabia que aquilo poderia me
tornar mãe. Aplicava cada injeção com muita fé, pois sabia que aquela era a minha
última chance. Sentia tanto prazer, que cada aplicação era como tomar sorvete na
Kopenhagen.
Às vezes, o medo de que o tratamento não desse certo assombrava os meus
pensamentos e perturbava meu coração. Eu sabia que o resultado negativo era
possível, mas me esforçava para não pensar nesta possibilidade. Por diversas
vezes, conversei com Deus entre lágrimas que eu não conseguia conter, sempre
pedindo para que eu fosse abençoada. Nesse período, meu marido se manteve
muito confiante quanto ao sucesso do tratamento. Seu apoio e dedicação para que
eu me mantivesse de pé foram fundamentais na minha luta contra a insegurança
e angústia que sempre estavam presentes em minhas emoções.
Foi então quando chegou o esperado dia da transferência dos embriões.
Aquele, sem dúvida, foi um momento mágico e inesquecível; eu já me sentia mãe,
antes mesmo que qualquer procedimento fosse realizado. Meu marido se manteve ao meu lado, segurando minha mão e, juntos, vivemos intensamente cada
segundo que se passava. Dos quatro embriões, decidimos transferir apenas três,
e jamais esqueceremos a inserção de cada um deles dentro de mim, que pôde ser
acompanhada por nós através do monitor do ultrassom. Antes de ir embora, peguei
nas mãos do meu médico e amigo, Dr. Arnaldo, e supliquei que torcesse por mim.
Ele pediu que eu ficasse calma, pois estava rezando muito e que iríamos comemorar a grande vitória.
Os 12 dias foram longos e intermináveis. Sempre ouvia o padre Marcelo e colocava a imagem de Nossa Sra. de Aparecida sobre a barriga. Chorava muito, mas
me mantinha firme na fé, acreditando que Deus me concederia a dádiva de me
tornar mãe. Nesse período, o medo aumentou e me consumia. Sempre que urinava, ficava atenta, observando e me certificando se nenhum embrião havia caído…
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GRAVIDEZ:
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Ansiedade: mito ou verdade?
coisas loucas que só o coração de quem passou por isso é capaz de entender.
Depois de muita ansiedade, finalmente chegou o grande dia que mudaria a
minha vida para sempre. No início da manhã, me dirigi à clínica e realizei o exame,
mas o resultado só seria informado no final da tarde. Eu sabia que o Dr. Arnaldo
me ligaria e fiquei o dia todo aguardando, ansiosamente, o seu contato. Foi então,
quando no final do dia, o meu celular tocou. Meu coração disparou quando identifiquei o número da clínica no BINA do aparelho, e, por um instante, permaneci
anestesiada, sem saber o que fazer. Tomei coragem, atendi à ligação, e quando eu
ouvi o Dr. Arnaldo cantando: "Parabéns pra você…!", meu coração explodiu de
tanta felicidade! Por toda a minha vida, jamais nada vai se comparar com esse dia!
Foi como colocar pra fora todo o sofrimento que passei nesses três anos de grande
luta. Liguei imediatamente para o meu marido, que também ficou anestesiado com
a notícia. Foi uma grande festa!
Para aumentar ainda mais a nossa felicidade, no segundo ultrassom, descobrimos que eu estava grávida de gêmeos. Ficamos muito impressionados com tamanha bênção que Deus nos reservou.
Sei que cada minuto que vivi em busca desse sonho foi difícil e muito sofrido,
mas hoje, após ter conseguido o que eu mais queria, agradeço a Deus por ter-me
sustentado, me dando forças para que eu não desistisse.
O sofrimento foi grande, mas eu faria tudo de novo se fosse pra viver e sentir o
que sinto aqui agora, dentro de mim. Valeu cada injeção, cada dor, cada sofrimento, cada lágrima… tudo valeu a pena. Não existe nada melhor do que olhar para
trás e ver que nenhum sofrimento e nenhuma dor se compara ao gosto da vitória
e ao prazer de pensar no passado e dizer: "Eu venci!"
"A você que deseja um filho, mas por alguma razão não consegue, não
desista! Não se coloque na posição de vítima! Agarre as chances e
oportunidades, fazendo de cada dificuldade um degrau para a vitória.
Lute com todas as suas forças e jamais deixe de acreditar, nem por um
segundo, que a sua vez vai chegar. Você vai conseguir! Acredite!"
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Espaço da ciência
A importância do emocional na infertilidade
(Texto original retirado do livro “Fertilidade Natural”,
do mesmo autor e editora desta obra)
A união de duas pessoas surge do principal interesse de viver uma vida conjunta. Discutem-se conceitos, preconceitos, expectativas, formação e objetivos complementares à união para a continuidade familiar.
O fato de ter filhos, para cada um é representado de acordo com o que se traz
do contexto familiar, histórico, ou mesmo religioso, em que cada um conviveu e foi
criado.
Geralmente, a impossibilidade de ter filhos é descoberta depois de algumas tentativas frustradas. Portanto, ela acontece quando o casal, ou um dos parceiros,
deseja e planeja engravidar.
Diante da impossibilidade de gravidez, a necessidade de se identificar um culpado é muito grande, podendo ocorrer raiva, depressão e frustração.
Alguns casais conseguem reconhecer tais sentimentos e, habitualmente, a dificuldade de lidar com eles os impulsiona a buscar ajuda. O que está em jogo, em
muitos casos, é o amor, a continuidade do casamento, ou ainda, num âmbito mais
amplo, o próprio sentido da vida. Neste período, as crises existenciais são frequentes.
A infertilidade passa a significar “o não ser completo”, questionam-se objetivos
de existir, de ser, de realizar. Muitas vezes, surge a noção de estar sendo punido
pela vida, e procura-se então uma explicação biológica, psicológica ou religiosa.
Tem-se a sensação de não ser perfeito e o sentido da relação também é abalado.
A mulher é quem geralmente busca ajuda, e quando confirmado o diagnóstico
de infertilidade feminina, ela tende a se sentir inferiorizada diante do parceiro.
Outras mulheres reagem a esta ideia negando o fato, atacando os parceiros, ficando deprimidas, afastando-se do convívio social.
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Ansiedade: mito ou verdade?
Os parceiros, não sabendo lidar com essas reações, acabam influenciados ou
procuram mostrar-se otimistas, desprezando o quadro real.
Contudo, a infertilidade pode ser comprovadamente masculina, e igualmente há
o questionamento do papel de marido e homem, e as reações são também adversas.
Cada um tem a expectativa de como o outro deve reagir, e, comumente, não
aceita a “compreensão” ou “rejeição” do parceiro; assim, o caminho se torna
doloroso e solitário.
Uma vez que se inicia um processo de pesquisa, exames e tratamento, várias
são as etapas pelas quais este casal passa. As dificuldades propiciam o surgimento de dúvidas e medos. Ocorre até mesmo a vontade de desistir em razão das fantasias e expectativas do que pode acontecer, da insegurança de não se chegar a
um resultado esperado. A falta de controle sobre as possibilidades e a metodologia
do tratamento também age como bloqueio psicológico.
Enfrentar todas estas questões pode ser uma forma de fortalecimento da
relação e encorajamento para aceitar e ultrapassar as difíceis etapas do tratamento.
A procura de uma saída por meio do trabalho do profissional especializado é
sempre interessante, visto que o crescimento pessoal e o conhecimento mais profundo das próprias possibilidades e limitações tornam-se inevitáveis. Reconhecer
as dificuldades de lidar com os diversos sentimentos que surgem nesta fase é,
muitas vezes, entregar-se aos cuidados do outro, é redefinir metas e objetivos, é
questionar medos, inseguranças, ou ainda desejos e fantasias.
O importante é reconhecer o problema e buscar soluções, de forma a levantar
as possibilidades de tratamento e encaminhamento do caso, estando o casal consciente de que tem objetivos comuns, e somente a compreensão mútua e a aceitação favorecem todo o processo.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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A arte médica é
o produto da
ciência, inspiração
e fé.
Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Nervos de aço
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Muitos dos pacientes que atendo na clínica são indicados por colegas ginecologistas que não exercem esta especialidade de infertilidade, e por isso preferem
encaminhar esses casais a profissionais como eu, chamados de “esterileutas”. A
médica que me indicou a Pamela é muito querida por mim, e embora atenda todos
os seus clientes de maneira especial, por esta ela fez questão de fazer ainda mais
e telefonou-me antes do seu primeiro atendimento. Nesse telefonema, disse que
estava me encaminhando uma pessoa de quem gostava muito, para ser
submetida ao tratamento de Fertilização In Vitro e que, mesmo não tendo uma indicação obrigatória para este procedimento, acreditava – pelo temperamento e perfil psicológico da paciente – ser a melhor conduta. Justificou que ela estava muitíssimo ansiosa, psicologicamente angustiada e fragilizada pelo temor de não conseguir jamais ter seus filhos. Estava se recuperando de uma anorexia nervosa
recente.
No dia da primeira consulta, Pamela veio acompanhada de Edgard, seu marido. Um casal simpático que demonstrou ter um relacionamento em perfeita harmonia. Falou dos seus problemas, entre eles, o que ela considerava da maior
importância era que não menstruava; tinha a síndrome dos ovários policísticos.
Pamela falava com voz pausada, clara nos seus objetivos, de comportamento
meigo e delicada nos seus gestos. Edgard, simpático e obediente à mulher. No
meu entender, uma relação conjugal ideal. A consulta foi muito objetiva, pois o caminho para a gravidez já havia sido determinado. O importante era começar logo,
principalmente porque a ansiedade de Pamela era enorme.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Os ovários policísticos ao serem estimulados para tratamento de fertilização
podem ter um comportamento imprevisível. Mesmo utilizando doses adequadas de
medicação, podem não responder ao estímulo, ou ao contrário, terem uma resposta exarcebada formando um número grande de óvulos e levar a uma complicação
chamada de síndrome do hiperestímulo ovariano. Uma comparação desse efeito
pode ser com a reação de algumas mulheres que, em determinada fase do ciclo
menstrual (TPM) têm uma atitude explosiva ante comentários que normalmente
não as incomodam. O hiperestímulo é ainda mais comum em pacientes jovens,
como a Pamela.
A medicina está longe de ser uma ciência exata, e por isso, mesmo com a
minha experiência, conhecendo os riscos e tomando todos os cuidados preventivos, Pamela acabou por ter essa síndrome. Eu poderia ter cancelado a coleta dos
óvulos, mas a insistência e a obstinação de Pamela me sensibilizaram, apesar de
repetidamente alertá-la sobre os riscos. No intuito de evitar complicações mais graves, os embriões não foram transferidos e ela, preventivamente, foi internada em
um hospital. É muito difícil para as pessoas que estão junto dessas mulheres em
tratamento, amigos e familiares, entenderem essa complicação. Perguntam a si
mesmas: “Como um tratamento para ter filhos pode levar a tamanha complicação,
que incha o abdômen, deixa-o cheio de líquido, não se consegue mais urinar, e
leva a um enorme desconforto? E ainda mais, ver essa mulher sendo encaminhada
para uma UTI!”
Foi o que aconteceu com Pamela.
Filha única de pais presentes e preocupados com sua cria divina, teve parte do
seu tratamento internada numa UTI. Nesse momento de angústia, a relação médico-paciente-família é fundamental, e aqui reforço os parabéns para sua família,
sobretudo para Edgard, que enfrentou essa intercorrência com equilíbrio, ponderação e confiança no meu trabalho. Pamela passou esses dias por “poucas e boas”
e enfrentou cada etapa da sua recuperação com uma coragem invejável. Quem
diria!!! Aquela jovem com um jeito delicado, até mesmo um pouco frágil, fala cadenciada e meiga, tinha dentro de si um tigre. Não reclamava. Só perguntava repetidamente: “Quando eu vou ficar grávida?” Pamela é uma mulher determinada. Daí
o título deste capítulo: Nervos de Aço. Suportou tudo. Sua compreensão favorecia a sua recuperação. Emocionou-me a ponto de eu deixar um telefone celular de
minha propriedade ao seu lado para que pudesse saber do seu estado físico todos
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
Nervos de aço
os minutos do dia, e podendo me telefonar quando desejasse. Não me ligou uma
única vez.
Após todas essas dificuldades, já recuperada, voltou ao consultório e, mais uma
vez fui surpreendido. Normalmente, quando alguém passa por um problema médico difícil como esse, em especial no caso dela, a reação mais comum é adiar ou
até desistir temporariamente de um novo tratamento, mas Pamela repetiu mais
uma vez: “Quando eu vou ficar grávida?” Eu respondi: “Acredite, você vai engravidar. Sua hora vai chegar.” E ela completou: “Então tá bom. Mas quando começaremos um novo ciclo?”
Essa insistência repetida era entusiasmante. Após esse episódio, foram feitas
mais duas tentativas, às quais, mesmo com uma dose mínima de medicamento, os
ovários respondiam de forma exagerada. Repetia-se o risco de um novo hiperestímulo e o ciclo era cancelado.
E assim, alcançamos a dose mínima e ideal para o seu caso, o que resultou na
sua tão desejada gestação.
A mensagem desta história está na obstinação e na coragem fundamentais aos
heróis da vida. É esta determinação – que despreza as dificuldades do tratamento
e que é um ingrediente indispensável aos casais que desejam ter filhos e não conseguem naturalmente – que traz a inspiração para alcançarem o seu objetivo.
Depoimento
"Fé e esperança"
Pamela e Edgard
Desde minha primeira menstruação, sempre sonhei em ser mãe. Sentia que
isso era uma espécie de predestinação e que eu havia nascido para a maternidade,
mas, curiosamente, ligada a este sentimento, sempre tive a certeza de que não
seria fácil. O medo de não poder realizar este sonho circundava a minha vida.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Para fortalecer esta sensação, aos 13 anos, descobri que tinha ovários policísticos e sofri muito por um longo período. As cólicas, irregularidade da menstruação,
variação de peso e aumento de pêlos só foram estabilizados quando dei início ao
uso de pílulas anticoncepcionais. Durante todo esse período, ao ver crianças recémnascidas, partos na televisão, histórias de mulheres estéreis, sempre chorava com
a angústia de não poder ser mãe, mesmo que essa dificuldade ainda não tivesse
sido comprovada.
Assim que me casei, aos 23 anos, já desejava ter filhos. Sabiamente, meu marido
me convenceu a esperar um pouco, até mesmo para que pudéssemos curtir o casamento, viajar e fazer mais um monte de coisas de que uma criança nos priva. Mesmo
com muita ansiedade da minha parte, decidimos que só quando o casamento
"pedisse" é que tentaríamos uma gravidez.
Após quase quatro anos, durante uma viagem de Réveillon, exatamente à meianoite, na virada do ano, meu marido me deu um envelope com um cartão e uma
cartela vazia do meu anticoncepcional. Fiquei muito feliz, pois sabia que realizaria
o meu grande sonho naquele ano que estava nascendo. Meus medos também
aumentaram e passaram a preencher meu coração, mas meu marido, sempre
muito otimista, me deu muita segurança de que tudo daria certo.
Logo me dirigi à minha ginecologista para que eu fosse instruída quanto aos
cuidados e precauções que eu deveria ter a partir daquele momento. Naquela fase,
a ansiedade já tinha me dominado totalmente e eu não conseguia pensar em outra
coisa senão na tão sonhada gravidez. Por mais que eu tentasse ficar tranquila, a
sensação era a de um faminto tentando não pensar em comida. O tempo foi passando, mas a gravidez nunca chegava e cada menstruação era como um castigo
para mim. Mesmo tomando remédios que estimulavam a ovulação, o momento tão
esperado parecia nunca chegar e o medo de não poder ser mãe me abraçava a
cada dia.
No passado, eu tive anorexia nervosa, consequência da minha obsessão pela
magreza. Mesmo com o meu quadro já estabilizado, sabia que se não ganhasse
alguns quilos eu tornaria uma possível gravidez ainda mais difícil. Então, como
renúncia, decidi engordar e ficar ao menos dentro do meu peso ideal. Mesmo com
tanto esforço não obtive nenhum resultado, e diante desse diagnóstico, minha
médica recomendou que eu procurasse um especialista e me indicou a clínica
IPGO.
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Nervos de aço
Marquei a primeira consulta para o mesmo dia, e horas depois, eu e meu marido já estávamos lá. Quando sentamos na sala de espera, meu coração estava
acelerado e cheio de esperanças, pois começava a brotar dentro de mim a certeza
e a fé de que Deus não nos abandonaria naquela jornada. Assim que entramos na
sala do Dr. Arnaldo, sentimos uma empatia imediata e ficamos muito confiantes
quanto ao tratamento que foi sugerido a nós. Eu não queria realizar tentativas com
procedimentos menos eficazes, e por isso optamos pela Fertilização In Vitro.
Realizamos alguns exames e fomos orientados a esperar por alguns dias até
que tudo estivesse certo para o início da primeira tentativa. Decidimos não contar
para a família, e isto tornou a espera ainda mais difícil, pois não tínhamos com quem
dividir as nossas angústias. Nesse período, muitas mulheres próximas a nós engravidaram. Eu andava na rua e via grávidas em todos os lados e me perguntava: "Será
que somente eu não consigo?" Também pensava muito na possibilidade de meu
marido não ser pai, e de meus pais não serem avós, já que eu sou filha única. Em
nenhum momento foi comprovado que eu tinha efetivamente um problema, ou que
não poderia ter filhos. Todas essas angústias e suposições eram criadas pela mente
de uma mulher que mantinha um desejo louco de ser mãe.
Finalmente, retornamos à clínica e demos início ao tratamento. Eu estava muito
feliz e durante as aplicações das injeções eu não sentia medo nem dor, apenas
muita fé e esperança de que tudo daria certo.
Um dia antes de realizar a retirada dos óvulos, senti um extremo desconforto
com um estufamento abdominal. Estava na faculdade e imediatamente liguei para
o meu marido e fomos para o consultório do Dr. Arnaldo. Chegando na clínica, ele
me explicou que eu poderia ter algumas complicações por conta da resposta
exagerada do meu ovário ao estímulo medicamentoso, e que por isso seria viável
que eu fosse internada após o procedimento. Diante dessa circunstância, assim
que chegamos em casa, decidimos contar aos familiares o que estava acontecendo, para que não se assustassem com uma possível internação. Todos foram compreensivos e tinham fé de que tudo daria certo.
No dia seguinte, nos dirigimos à clínica novamente para que o procedimento
fosse realizado. Adormeci para a retirada dos óvulos, e quando abri meus olhos já
estava em uma cama com meu amigo e cúmplice marido ao meu lado, segurando
a minha mão. Assim que fiquei consciente, comecei a sentir muito enjôo, fraqueza,
calafrios e um extremo mal-estar. Fui encaminhada ao hospital, e chegando lá,
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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após ser medicada me senti um pouco melhor. No dia seguinte, me senti muito melhor, principalmente com a visita dos familiares, que sempre nos passaram muita
força. Porém, no segundo dia de internação, acordei me sentindo muito fraca,
tendo que fazer esforço até para respirar. Após me examinar, o Dr. Arnaldo disse
que seria melhor eu ser levada para a UTI imediatamente. Ficamos muito perturbados com a declaração, e ainda muito assustada, fui levada pelos enfermeiros. O
que mais me deixou abalada foi ter que ficar sozinha em um momento em que o
que eu mais queria era estar ao lado do meu marido e da minha família.
O Dr. Arnaldo fez algumas punções no abdômen para a retirada do líquido que se
acumulava indevidamente em minha cavidade abdominal, por conta do hiperestímulo. Dei início a drenagens linfáticas e massagens em todo o meu corpo, que já estava cansado da mesma posição, além de fisioterapias respiratórias. Meus familiares,
em horários de visita, tentavam me animar e esconder suas próprias dores e aflições
provocadas por aquela situação. Me contavam como todos os amigos estavam rezando, torcendo e apoiando. Sempre acreditei imensamente na força da energia positiva, e hoje sei que meus amigos e familiares têm grande parcela no desfecho final
desta história.
Certa manhã, senti uma pequena falta de ar, que em poucos segundos se tornou a quase completa incapacidade respiratória. Todos na UTI iniciaram os procedimentos para o meu socorro, mas não resisti e logo desmaiei. Algumas horas
depois, eu acordei e percebi que no leito ao meu lado havia uma nova paciente,
grávida, mas com algumas complicações devido a crises de epilepsia. Em alguns
momentos, a paciente gritava que não queria aquela criança maldita, me deixando
muito confusa, já que o que eu queria era exatamente o que ela estava desprezando. Os dias foram passando e eu fui melhorando. Durante todo o tempo em que
estive internada, recebi muito apoio do Dr. Arnaldo, que sempre me falava que tudo
aquilo passaria e que era pra eu ter um pouco mais de paciência. Em pouco tempo
saí da UTI e, em alguns dias, o Dr. Arnaldo me deu alta. Fiquei muito feliz e imediatamente perguntei quando daríamos início a uma nova tentativa. Ele ficou
espantado com a minha determinação e pediu que eu me acalmasse, pois meu
corpo precisava descansar.
Nada do que passei em nenhum minuto me fez desistir do sonho de ser mãe.
Algumas semanas depois, os embriões que foram congelados foram transferidos,
mas infelizmente não obtivemos sucesso. Logo demos início a uma estimulação,
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com uma dose bem menor do que a anterior, mas o procedimento foi interrompido,
pois novamente estavam se formando muitos óvulos. Chorei muito no consultório,
mas como um pai responsável, o Dr. Arnaldo me disse que não permitiria que eu
passasse por tudo que passei e pediu pra que eu tivesse paciência.
Algum tempo depois, mais uma vez a estimulação foi iniciada e com dose bem
menor que a anterior, e finalmente tudo correu bem e os óvulos foram retirados
com sucesso. Meu coração estava rico de alegria e esperança. Após três dias,
realizamos a transferência dos embriões e respiramos fundo para enfrentar a
ansiedade que nos assolaria nos próximos 12 dias. Eu lutava muito para não ser
dominada pelo sentimento de certeza, pois sabia que poderia não dar certo.
Chegado o dia, realizei o exame e fui para a faculdade normalmente, acreditando
que o tempo passaria mais rápido se eu me distraísse. Para minha grande surpresa, quando estava me despedindo dos amigos para ir embora, me deparei com o
meu marido na porta da sala, com um sorrido maravilhoso, olhos brilhantes e me
dizendo: "Você está grávida!" Eu mal conseguia racionalizar aquela informação,
que me deixou sem palavras. Senti uma alegria indescritível e ali mesmo nos abraçamos como se não existisse mais ninguém além de nós três.
Minha gravidez foi maravilhosa e fazia com que eu me sentisse a mulher mais
feliz do mundo, com aquele barrigão que crescia rapidamente. Após alguns meses,
descobrimos que era uma menininha e ficamos ainda mais felizes. Nossa filha foi
muito desejada, amada e esperada. Me sinto uma mulher vitoriosa, tanto que não
poderia dar outro nome à minha menininha, senão: Victória.
"Aceitei relembrar toda a minha trajetória, não para dizer que é difícil,
mas sim para provar que é possível. Sei que não é fácil superar a
decepção dos resultados negativos, a angústia que sentimos, a
cobrança inocente de todos à nossa volta e o medo de não conseguir,
mas tudo isso é muito pequeno perto do que você está prestes a conseguir. Nunca perca a fé e não menospreze a força que existe dentro
de você, pois poderá se surpreender com ela."
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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A confiança em si é o
próprio requisito para
grandes iniciativas.
Samuel Johnson
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Nem idade,
nem vasectomia e...
Trigêmeos
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Nos últimos anos, tem havido um número crescente de mulheres com mais de
quarenta anos que buscam a maternidade pela primeira vez. Esta é uma tendência mundial que foi explicada no capitulo 7: "Bendito o fruto do vosso ventre." Tanto
eu como outros médicos especialistas em reprodução humana temos alertado que
a taxa de fertilidade diminui progressivamente com o passar da idade, principalmente após os 35 anos, que piora após os 40, e ainda mais após os 45. Entretanto,
nem todas as mulheres têm condições de ter seus filhos na idade adequada. As
razões mais comuns são: empenho no trabalho, formação profissional tardia, a
falta de um amor verdadeiro, e até mesmo a inexistência de um pai ideal para seus
filhos, entre outras. O motivo tanto faz, uma vez que a trajetória da vida das pessoas nem sempre pode ser guiada pelos seus próprios desejos.
Outra razão comum pela procura de tratamentos de infertilidade é o homem
com vasectomia e que deseja ter filhos com uma nova esposa que ainda não os
tem. O interessante nestes homens é a grande preocupação com o risco de gestação múltipla. Uma preocupação compreensível, porquanto já possuem filhos de
outros casamentos e temem pela responsabilidade econômica no sustento deles.
Nina e Alberto reuniram no casamento estas duas "dificuldades" – a idade e a
vasectomia – e por isto merecem este capítulo especial. Nina tinha, na época, 41
anos, sem filhos, e Alberto estava com mais de 50 e um tanto obeso, o que também dificultava a gravidez. Tinha três filhos do primeiro casamento. Nina é uma
mulher independente e vinha ao meu consultório sozinha. Mulher objetiva e deciDr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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dida, desejava um filho. Seu marido aceitava esta ideia sem muito entusiasmo,
mas sabia que a felicidade de sua mulher dependia dessa realização. Apesar da
idade, os ovários de Nina responderam ao estímulo hormonal de maneira extraordinária. Formaram um número grande de óvulos como se ela tivesse 20 anos.
Até esse momento, eu não conhecia Alberto, e mesmo assim marcamos o dia
da coleta de óvulos. Nina pediu-me que evitasse falar com seu marido a respeito
do número de óvulos e embriões, pois isso o preocupava muito. Esta omissão,
segundo ela, evitaria polêmicas desnecessárias. Além do mais, ele não a acompanhava nas consultas e fazia poucas perguntas sobre o tratamento. Por acreditar
no bom senso da minha paciente, aceitei esta condição. Nina não agia em nome
do mal, simplesmente queria evitar preocupações desnecessárias para Alberto.
Após a coleta dos óvulos, como ocorria rotineiramente, eu deveria comentar
com o marido sobre o procedimento: número de óvulos, a qualidade deles, como
estava passando a sua esposa, etc. Dessa vez, porém, a pedido de Nina, não pude
fazê-lo. A fim de evitar constrangimentos procurei não cumprimentá-lo, evitando
assim perguntas e situações desagradáveis. Era o desejo de Nina. No dia da transferência dos embriões, soube que Alberto ficou indignado por eu não ter falado com
ele. (Vejam só que vergonha essas pacientes me fazem passar!!!). Mais tarde, Nina
contou a ele o motivo dessa minha desconsideração.
Contra a minha vontade e em respeito ao seu marido, Nina optou por transferir
somente dois embriões. Um número que pode ser considerado pequeno para a sua
idade. Normalmente, após os 40 anos, sou um pouco mais ousado na decisão do
número de embriões transferidos, pois as chances de gravidez nessa idade são
menores, e por isso considero razoável transferir até quatro embriões. E ela não
engravidou.
Após esse resultado negativo, Alberto mudou completamente de comportamento. Sua indiferença inicial virou obstinação. Queria ter seu filho com Nina a qualquer custo. Não se importava se viesse mais do que um. Passou a vir em todas as
consultas, participou de todos os controles de ultrassom e queria saber de todos
os detalhes. Nina tinha um ovário ótimo que produzia óvulos em quantidade acima
do esperado para a sua idade. No dia da transferência dos embriões, tive uma
grande surpresa. Quando indiquei ao casal, novamente, que fossem colocados
quatro embriões, tanto ela como seu marido não só concordaram, como queriam
que eu transferisse todos (eram oito). Foram transferidos quatro. O resultado final
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Nem idade, nem vasectomia e ...
Trigêmeos
foi trigêmeos. Nem a idade, nem a vasectomia e nem a obesidade de Alberto impediram o sucesso desse tratamento.
Esta é uma história interessante que mostra a importância de acreditar no resultado positivo, mesmo quando algumas situações conspiram contra ele. É uma
exceção com um final alegre, pois as crianças nasceram bem. Entretanto, não
deve servir como exemplo, nem incentivo para que os casais adiem sua gestação. A recomendação é: procure engravidar antes dos 35 anos.
Depoimento
"Hoje tenho não uma, mas três razões para viver"
Nina e Alberto
Desde menina, pensava em ter muitos filhos. Sempre sonhei e sempre acreditei que teria uma família bem convencional, com pelo menos três crianças, assim
como minha mãe. Aos 29 anos, aproximadamente, foi descoberto um câncer no
colo do meu útero. Além de conseguir vencer a doença, para minha alegria,
nenhum dano foi causado.
No período em que estava me restabelecendo, conheci o meu marido, divorciado e com duas filhas pré-adolescentes. Após dois anos, nos casamos, e como todo
casal, fomos curtir nosso casamento. Eu sabia que ele tinha feito vasectomia, mas
naquele momento aquilo não me incomodava, pois eu também precisava de um
tempo para me recuperar por completo da doença que há pouco havia estado em
mim.
Nossa relação sempre foi ótima e vivemos momentos muito felizes por anos.
Porém, chegou uma hora em que eu queria viver uma outra etapa da minha vida:
a de ser mãe! Foi então que cheguei a meu marido e expliquei que eu queria um
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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bebê. A declaração para ele foi uma surpresa, pois já estava satisfeito com as duas
filhas que o seu casamento anterior havia lhe dado. Queria viver comigo para sempre, mas exatamente da forma como estávamos vivendo há anos. Com liberdade
para passear e viajar quando quiséssemos. Ele queria uma companheira.
Para mim, aquela declaração dele também foi um choque. Nunca havíamos
conversado anteriormente sobre o assunto, mas da mesma forma que ele pensava que eu não quisesse ter filhos, eu pensava que filhos faziam parte dos planos
dele comigo. Ele dizia que jamais imaginara que a maternidade um dia seria importante para mim, mas na realidade, esse desejo não era apenas importante, como
vital.
Foram alguns anos lutando pelo meu objetivo, tentando convencê-lo da importância de um filho na minha vida. Após quase dez anos de casada, percebi que eu
precisava mais do que nunca correr atrás do meu sonho, porque a minha idade
avançada poderia interferir e muito na realização do mesmo. Foi então quando
disse ao meu marido que tínhamos chegado ao final da linha: ou tínhamos um filho,
ou nos separaríamos. Eu estava decidida e nada me faria mudar de ideia com
relação ao meu desejo de ser mãe.
Nós tínhamos uma viagem marcada para o Chile e decidimos ir, mesmo diante
de todas aquelas circunstâncias contrárias a nós. A separação estava próxima,
sabíamos disso, mas não tocávamos no assunto. Viajamos e foi como uma segunda lua-de-mel. Voltamos chorando no avião, pois sabíamos que aquela era, na verdade, uma despedida.
Tentei marcar uma consulta de rotina com o meu ginecologista, mas como ele
estava de férias, procurei um outro médico para a realização da mesma. Ao ser
atendida pelo Dr. Arnaldo, descobri que ele era especialista em reprodução humana. Ao sair da clínica, fui chorando para o carro, pois me vi diante de uma grande
chance de realizar o que eu mais queria naquele momento. Mesmo com a idade
avançada, eu não tinha nenhum problema para engravidar. O tratamento só era
preciso por conta da vasectomia do meu marido.
Ainda nessa fase tão delicada de separação, com o relacionamento muito abalado pela dureza da minha decisão, marquei uma nova consulta com o Dr. Arnaldo,
mas desta vez para falar sobre o tratamento. Avisei ao meu marido que faria o tratamento com ou sem ele. Era a última tentativa de não dissolver meu casamento,
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afinal, o amava muito e queria que meu filho fosse dele. Não sei se por sorte ou
azar, só havia consulta para após 20 dias, e isso nos possibilitou ainda um tempo
para pensarmos mais a respeito.
Aqueles dias nos ajudaram muito e o fez mudar de ideia. Durante um jantar em
um restaurante, ele me olhou e disse: "Irei ao médico com você!" Naquele momento, eu não entendi o que ele estava falando, mas logo me explicou que faria o tratamento comigo. Não consegui conter as minhas lágrimas e a emoção tomou conta
daquele momento. Finalmente, após tanto chorar de tristeza por não ter o apoio
dele, chorava de alegria, pois enfim realizaria o sonho da maternidade.
Afinal, já aos 41 anos, dei início ao tratamento que mudaria minha vida. Não
cabia em mim tanta felicidade e eu tinha certeza absoluta que tudo daria certo. Não
havia espaço em meu coração para a hipótese do insucesso do tratamento. A
certeza do sucesso era total.
Optamos pela Fertilização In Vitro e logo demos início ao procedimento. Na
primeira tentativa, dois embriões foram transferidos. Eu sentia os bebês dentro de
mim e interagia com eles. É uma coisa difícil de ser explicada e definida em
palavras, mas o meu relacionamento com os embriões era muito forte. Até que um
dia, acordei e não mais os senti. Mesmo tendo certeza de que eles não estavam
mais ali, queria acreditar que eu estava nervosa e que tudo estava indo muito bem.
Esperei ansiosamente pelos 12 dias para o resultado final. Chegado o dia, fui para
o escritório e não desgrudei do computador nem por um minuto. Até que finalmente
o resultado chegou: NEGATIVO.
Não conseguia e não queria acreditar. Para mim, o laboratório tinha passado o
resultado errado. Fiquei nessa paranóia e nesse conflito interno por horas. Chorei
todas as lágrimas do mundo e quando elas começavam não havia argumento
racional que me fizesse parar. Foi a maior dor da minha vida.
Depois de chorar muito no trabalho, decidi ir pra minha casa, que ficava a três
quadras de lá. Após quase duas horas, eu ainda não tinha chegado e meu marido
me ligou, preocupado, perguntando onde eu estava. Ele sabia que o resultado
sairia naquele dia, e quando eu disse que estava na garagem do prédio dentro do
carro, logo entendeu que eu não tinha boas notícias. Ao chegar em casa, ele me
esperava na porta do elevador. Recebeu-me com um forte abraço, e ao ver o meu
estado e o meu sofrimento, limitou-se a dizer: "Não fique assim. Faremos novamente no próximo mês!" A verdade é que ele também estava triste com a notícia,
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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pois desde a sua decisão, encarou isso como um objetivo dele também. O meu
sonho passou a ser desejado também por ele.
Apesar de muito curto, o meu relacionamento com o Dr. Arnaldo foi sincero e de
muita confiança. Percebi que ele ficou bem chateado ao ver o estado em que me
encontrava. Ele demonstrou ter ficado igualmente muito triste com o resultado, e
isso me fez perceber que eu não estava sozinha nesse barco, o meu médico também estava comigo em busca desse sonho, me ajudando e vivendo cada obstáculo ao meu lado.
Após quase dois meses, demos início a uma nova Fertilização In Vitro. Dessa
vez, meu marido estava mais unido a mim, tendo uma participação muito maior
durante todo o tratamento. No dia da transferência, fomos instruídos a transferir
pelo menos quatro embriões. Juntos, decidimos transferir cinco. Porém, a verdade
é que eu não estava contente nem mesmo com os cinco, pois eu queria mais.
No momento em que fiquei sozinha com o Dr. Arnaldo, pedi para que fossem
colocados os oito embriões, pois não queria nunca mais passar e sentir a dor que
havia sentido dias atrás. Após muita insistência, ele concordou com a transferência de quatro. Fiquei mais segura e confiante, pois as minhas chances aumentaram
muito. Novamente, já sentia cada um deles dentro de mim.
No dia seguinte, senti que havia perdido um deles. Não era uma sensação física, pois o embrião é minúsculo, incapaz de nos fazer sentir alguma coisa. Era uma
sensação de perda, algo que acontecia dentro de mim, nas minhas emoções,
envolvendo os meus sentimentos. Apesar de irreal, para mim era algo muito real.
Após dois dias, novamente a certeza da perda de mais um. Alguns dias depois,
durante a madrugada, o sentimento de perda veio novamente. Dessa vez fiquei
mais abalada, e durante um almoço não consegui conter as lágrimas e me abri com
o meu marido sobre as minhas sensações. Ele ficou muito triste e sem jeito.
Perguntou quantos eu achava que ainda estavam dentro de mim. Disse que sentia somente três deles, e ele me respondeu: "Com três filhos na barriga você está
chorando?" Ele tinha razão.
Após os 12 dias, para a minha alegria veio o resultado positivo. Eu aguardava
muito ansiosa pelo resultado e toda a equipe da empresa se manteve ao meu lado,
na frente do computador, aguardando a notícia. Quando a minha gravidez foi confirmada, a emoção foi imensa e fizemos uma grande festa.
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Trigêmeos
No meu primeiro ultrassom foi confirmado tudo o que eu senti durante todos os
dias, desde a transferência. Lá estavam meus três bebês! Meu marido também
adorou a ideia, e o fato de ter vindo mais do que um não o deixou apreensivo em
nenhum momento. Ele só ficava preocupado com a parte financeira, o que é muito
natural quando todas as despesas passam a ser multiplicadas por três.
Tive uma gravidez abençoada, apesar da minha idade avançada para uma
primeira gestação. Passei bem, quase não enjoei, contrariei as ordens de meu
médico e quase não fiz repouso. A felicidade era tanta que não conseguia ficar
deitada. O relacionamento que eu tinha com os embriões permaneceu durante
toda a gestação, uma coisa incrível e única, que foge do entendimento humano.
Finalmente, realizei meu sonho e hoje sou mãe de duas meninas e um menino.
A maternidade mudou totalmente minha vida e me tornou uma pessoa mais alegre,
confiante e cheia de força para viver. Pode vir a luta que for, com qualquer problema, mas enfrentarei de frente, pois nada jamais se comparará à dor que eu senti e
que venci para ter esta conquista!
"Aprendi que não existe dor pior do que a que sentimos quando não
conseguimos realizar este sonho. Para você, que está enfrentando o
mesmo problema que eu enfrentei, saiba que eu sei quanto está doendo. Sei também que nada que eu disser agora amenizará a frustração.
Mas existe o amanhã. E amanhã pode dar certo! Se deu certo comigo, pode dar com você também. Não desista!"
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Espaço da Ciência
Avaliação da Reserva Ovariana
A reserva ovariana é a capacidade dos ovários de responder a um estímulo hormonal, produzindo óvulos capazes de ser fertilizados e de formar embriões que
tenham condições de se implantarem no útero. Após os 35 anos, os ovários tendem a responder menos aos estímulos hormonais, dificultando a gravidez pela
menor quantidade de óvulos existentes. A reserva ovariana é avaliada fundamentalmente pela dosagem sanguínea de três hormônios no terceiro dia do ciclo menstrual: FSH, LH, estradiol, e pela ultrassonografia.
Ultimamente novos marcadores têm surgido, como a INIBINA-B e o hormônio
antimulleriano, que podem melhorar ainda mais a avaliação de reserva ovariana.
Estes exames são solicitados em situações excepcionais:
• FSH maior do que 10 mIU/ml e estradiol maior que 35 pg/ml: geralmente, sugerem uma má respondedora aos estímulos hormonais (“Poor Responder”).
• FSH menor do que 10 mIU/ml e estradiol menor do que 35 pg/ml: geralmente,
sugerem uma boa respondedora aos estímulos hormonais.
• Ultrassonografia: avalia o tamanho do ovário e a presença de folículos iniciais
(ou folículos primordiais). Ovário pequeno e sem estes folículos significa uma
baixa reserva ovariana.
• Hormônio antimulleriano (AMH) é um hormônio fabricado por células do ovário (folículos) e dá uma ideia do número de óvulos existentes nos ovários
capazes de serem fertilizados no presente e, para o futuro, a possível longevidade reprodutiva.
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
Nem idade, nem vasectomia e ...
Trigêmeos
Gravidez após a vasectomia
A vasectomia é uma intervenção cirúrgica através da qual se interrompe (se
corta) o ducto deferente, que é o ducto que traz os espermatozoides do testículo
para o exterior no momento da ejaculação. A produção de espermatozoides fica
praticamente inalterada, dependendo de há quanto tempo foi realizada a cirurgia,
mas eles não saem com a ejaculação porque o trajeto está interrompido. Para que
a paciente fique grávida existem duas alternativas:
• reversão da vasectomia;
• fertilização In Vitro, através da obtenção de espermatozoides diretamente do
testículo ou epidídimo.
A opção deve ser baseada nos anseios do casal, disponibilidade financeira,
idade da mulher, além do tempo de existência da vasectomia.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Tentar e falhar é,
pelo menos, aprender.
Não chegar a tentar é sofrer
a inestimável perda do que
poderia ter sido.
Geraldo Eustáquio
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Vale Tudo
(tratamentos alternativos podem
mudar o destino)
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“Filhos da Coincidência – Vacinas”
Os tratamentos alternativos para infertilidade têm merecido atenção especial
para casais que não têm um diagnóstico preciso que demonstre o motivo pelo qual
não conseguem engravidar e, principalmente, para aqueles que não engravidam
mesmo quando submetidos a tratamentos complexos como a Fertilização In Vitro.
Os mais conhecidos são: acupuntura, yoga, shiatsu e homeopatia; mas, entre eles
o que tem mais se destacado e causado controvérsias é a aplicação de vacinas,
que melhoram o fator imunológico do casal e favorecem a gestação. Este tratamento é indicado também para abortamentos repetidos que não tenham justificativa para terem ocorrido. O exame para esta avaliação é o Cross Match, que quando for negativo indica que a mulher deverá receber algumas doses de uma vacina
feita com sangue do seu marido. Após algumas aplicações e o resultado tornar-se
positivo, o casal poderá continuar buscando a gestação. A justificativa deste tratamento baseia-se na hipótese de que todo ser humano é preparado para rejeitar
corpos estranhos, e o embrião, por trazer consigo a carga genética do pai, funcionaria como um corpo estranho no organismo materno. Em condições normais,
o organismo, ao receber este futuro bebê, deve ser estimulado a formar um tipo
especial de anticorpo que protegerá esse bebezinho dos ataques contra ele. Se
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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esses anticorpos protetores não forem formados, o embrião será rejeitado e não
haverá a implantação, ou posteriormente haverá o abortamento. O Cross Match,
feito através de um exame de sangue, verifica uma reação química (antígeno-anticorpo) entre o sangue da mulher e o do seu marido e detecta a presença desses
anticorpos, que devem aparecer quando já houver ocorrido pelo menos uma
gravidez. Quando não forem detectados, a mulher deverá receber algumas doses
de vacina para que sejam estimulados. Em casos de não ter ocorrido nenhuma
gestação, como na ocorrência de infertilidade que não é resolvida mesmo com
tratamentos mais complexos, a vacina poderá, segundo alguns imunologistas, melhorar a resposta imunológica e o casal conseguirá a gravidez.
Os tratamentos com vacinas podem realmente ajudar a gravidez?
Esta é uma questão frequentemente formulada por pacientes e médicos e tem
sido objeto de muita polêmica. Existem profissionais de medicina que não acreditam nos benefícios deste método por não haver comprovação científica, e por isso
não recomendam a sua utilização na prática clínica. Outros concordam com esta
indicação em casos especiais, como abortamentos repetidos e seguidos tratamentos de Fertilização In Vitro fracassados.
Essas controvérsias sustentam-se num conceito moderno de medicina fundamentado na afirmativa “A Medicina deve ser baseada em evidências”. Por este
conceito, qualquer tratamento médico deverá ter evidências científicas que demonstrem os resultados benéficos à saúde da paciente. Entretanto, é necessário que se
explique que esta comprovação pode demorar muitos anos, e é pouquíssimo provável que o relógio biológico da mulher ou a estrutura emocional do casal permitam
esta demora. Então, enquanto esta comprovação científica não chega, o que temos
a fazer? Cruzar os braços e repetir seguidamente os tratamentos consagrados pela
ciência que não estão dando resultados? Aqueles que desconfiam dos efeitos benéficos das vacinas afirmam que, por ser experimental, os bebês nascidos após a
paciente receber as doses indicadas são casos isolados, não são a regra, e por isso
podem ser considerados coincidências. “Filhos da coincidência”.
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
Vale tudo
(tratamentos alternativos podem mudar o destino)
A nossa experiência e o número de casos bem-sucedidos têm demonstrado que
esses resultados positivos não devem ser uma simples coincidência.
Coincidência ou não, o que importa é fazer tudo o que é possível para que o
bebê venha. A arte médica deve equilibrar a ciência e o bom senso. Um profissional da medicina deve ser ético, estudar, ser atualizado, e algumas vezes deixar-se
levar pela intuição. Deve usar todas as técnicas cientificamente comprovadas, toda
a sua energia, os recursos, a inspiração e a fé. Deve ser incansável. Deve ter em
foco o bem-estar de suas pacientes e saber orientá-las da melhor forma possível.
Deve saber discernir o que é benéfico e o que é prejudicial, e saber incorporar aos
tratamentos convencionais alternativas que “podem ajudar” sem prejudicar a saúde
física e mental das pessoas que trata. Deve trabalhar em nome do “bem”. Não
importa se for yoga, acupuntura, alimentação, tanto faz, na infertilidade o que
importa é não se desviar do foco principal: a gravidez.
Não são poucos os casos que se beneficiam desta vacina. Neste capítulo são
três histórias e existem muitas outras com final feliz. Na minha clínica, em outras
clínicas, com outros médicos, na internet e por aí são inúmeras. Não importa quantas. Uma história feliz já deve ser o suficiente para refletirmos sobre este assunto
e para pensarmos se, às vezes, vale a pena apostar nessas coincidências.
As histórias de Sofia e Jamil, Soraya e Antônio José, Najla e Matheus têm como
ponto em comum as repetidas frustrações pelas quais passaram. São histórias
diferentes, mas que convergem para um único ponto: o sucesso da gravidez após
o uso de uma vacina indicada depois da realização do exame Cross Match negativo. Sofia e Jamil fizeram várias tentativas de fertilização assistida sem sucesso;
Soraya e Antônio José tiveram vários abortos sem explicação, e Najla e Matheus
contam a história mais interessante deste capítulo: em seguida a três tentativas fracassadas de Fertilização In Vitro, optou-se pelo tratamento com vacinas. Logo
após receber a última aplicação, engravidou naturalmente de gêmeos.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Depoimentos
“Ela é a minha Vitória, minha vida!”
Sofia e Jamil
Me casei aos 23 anos, mas desde o início eu e meu marido combinamos que
só pensaríamos em filhos após curtir o casamento, viajando e conhecendo o
mundo. Por 12 anos demos prioridades para nossas carreiras profissionais, cheias
de viagens maravilhosas. Os amigos e a família achavam esquisito, mas não nos
importávamos com as opiniões alheias.
Quando completei 35 anos, decidi que havia chegado a hora, pois já tínhamos
vivido tudo o que queríamos viver, antes de passar para essa nova fase. Interrompi
todos os métodos contraceptivos, mas, por seis meses, nada aconteceu. Uma
amiga sugeriu que eu procurasse um médico especialista em reprodução humana
e logo me indicou um profissional, que foi titulado como "maravilhoso" por ela, que
também era sua paciente.
Agendei uma consulta, e a pedido dele realizei muitos exames a fim de constatar
algum problema. Nada foi identificado e tudo parecia estar dentro de sua normalidade. Iniciei uma medicação para estimular a ovulação e mantinha relações sexuais
em dias estratégicos. Após seis meses de tentativas e de muita disciplina com todo
o tratamento, nada aconteceu. Foi então quando o especialista sugeriu que realizássemos uma Inseminação Artificial, o que me deixou muito feliz. Acreditava que
com um tratamento mais avançado e específico não teria como eu não engravidar.
Dei início às medicações necessárias, realizei a Inseminação Artificial, mas,
para o meu desespero, o resultado foi negativo. Fiquei arrasada, pois não contava
com aquela possibilidade. Foi muito difícil superar aquele tombo, mas logo decidi
realizar uma nova tentativa, acreditando que, desta vez, tudo ocorreria bem.
Novamente o resultado negativo assolou meu coração e frustrou o meu grande
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
Vale tudo
(tratamentos alternativos podem mudar o destino)
sonho. Foi então quando comecei a ficar com o meu psicológico muito abalado,
pois não existia causa aparente, mas mesmo com um tratamento específico nada
havia acontecido.
Eu não conseguia entender o porquê de não dar certo, e o meu médico também
não tinha nenhuma explicação cabível que me fizesse compreender o que estava
acontecendo. O que me deixava ainda mais incomodada é que nenhum problema
era detectado em mim. Tudo parecia bem, mas, sem nenhuma causa, eu não conseguia engravidar.
Foi então, quando já estava cansada e com um desejo ainda maior de realizar
o que havia se tornado uma grande obsessão, sugeri ao médico que realizássemos
uma Fertilização In Vitro. Eu era muito esclarecida sobre o assunto e sabia que
este seria um tratamento que me proporcionaria maiores chances. A proposta não
foi bem aceita por ele, que me alertou quanto ao fato de eu não apresentar nenhum
problema, mas devido à minha insistência decidiu realizar o procedimento.
Eu estava muito confiante, acreditando que não tinha como dar errado. Fui
orientada sobre o risco de dar negativo, por se tratar da primeira tentativa, mas eu
me mantive segura e cheia de esperança. Infelizmente, o resultado foi negativo, me
deixando muito arrasada. Como meu médico não havia utilizado todos os embriões, congelando dois, sugeriu que fizéssemos uma transferência. Sinto grande
mágoa quando me lembro dessa outra tentativa e da clínica que até hoje não me
ligou para dar o resultado. Fiquei impressionada com a falta de respeito daqueles
profissionais, que sem dúvida não se preocupavam com os sentimentos de uma
mulher que estava sofrendo por não conseguir ser mãe.
Quase enlouqueci com o descaso do meu médico. Chorava dia e noite e acabei
engordando quase 20 kilos, em meio à depressão que invadiu a minha vida com
força e brutalidade. Meu marido sofria muito mais em ver a minha situação do que
em não conseguir ser pai.
Com muito amor e dedicação, me instruiu a iniciar uma série de terapias, para
que eu vencesse a depressão que tanto assolava os meus dias. Minha família não
sabia o que estava acontecendo e ficava sem entender, pois acompanhava o meu
sofrimento e a tristeza que era nítida em meu semblante. Não contava nada a eles,
a fim de evitar mais expectativas além das que já existiam em mim.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Ao realizar uma consulta de rotina com uma ginecologista indicada por uma
amiga, contei-lhe tudo o que estava enfrentando, na luta pela realização do desejo que consumia a minha alma. Ao ver o meu desespero emocional, me indicou um
grande amigo, especialista em reprodução humana, me dizendo que ele era um
ótimo profissional.
Apesar do trauma anterior, não me constrangi e logo marquei uma consulta,
acreditando que aquela poderia ser uma luz no meu caminho, que estava tão cheio
de escuridão e dor. Era tudo diferente, desde o ambiente até os profissionais da
clínica, que desde o primeiro instante me trataram com muito carinho. Senti que
estava no lugar certo, e após me consultar não tive dúvidas que também seria
tratada pelas mãos certas.
Ao ouvir toda a minha trajetória e analisar o meu diagnóstico, o Dr. Arnaldo sugeriu que realizássemos uma nova Fertilização In Vitro, até mesmo porque eu já
estava com 38 anos e não podia mais perder tempo. Me enchi de esperança e com
muita garra e dedicação dei início ao tratamento. Após a transferência, não conseguia me conter de tanta ansiedade. Queria que tivesse um botão em mim para
que pudessem me desligar, e somente após os 12 dias me acordar.
Eu estava em minha escola de música, dentro do canil brincando com o meu
cachorro, quando recebi a notícia de que não estava grávida. Apenas me abaixei,
desabando no chão e ali fiquei por um longo tempo, me desfazendo em lágrimas.
Achei que fosse morrer de tanta tristeza e não conseguia nem sair de casa. Me
constrangia até de olhar para as pessoas na rua, pois era como se todos soubessem da minha situação e da minha incapacidade de gerar um filho. Me sentia um
lixo, pois sabia que aquilo não estava no meu controle. Não dependia de mim!
Para agravar ainda mais a minha decepção e frustração, as grávidas começaram a aparecer na família, e felizes da vida davam a notícia para todos. Eu ficava
pior ainda, com questionamentos do tipo: "Por que elas conseguem e eu não?",
"Por que Deus está me castigando?" Ligava a televisão e assistia às diversas
reportagens sobre mães que abandonavam seus filhos por não terem condições
financeiras para criá-los. Ficava inconformada, pois além de muito amor, eu tinha
boas condições para criar um filho, mas elas conseguiam e eu não.
A culpa por eu ter demorado demais para decidir ter um filho logo apareceu.
Passou a ser um saco de pedra que eu carregava todos os dias. Acreditava que
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GRAVIDEZ:
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Vale tudo
(tratamentos alternativos podem mudar o destino)
Deus estava me castigando porque antes eu nunca quis ter filhos. A situação fazia
com que eu piorasse cada dia mais. Como engordei muito, decidi fazer uma cirurgia para redução do estômago, e após ter emagrecido, decidi realizar uma nova
Fertilização In Vitro.
Meu terapeuta achava que eu não estava emocionalmente preparada para uma
nova tentativa, mas eu estava muito certa do que queria e ninguém me fazia mudar
de ideia. Iniciei o tratamento, sofri tudo de novo e mais uma vez… resultado negativo. Larguei a terapia e quase terminei meu casamento, pois me sentia uma fracassada e tinha vergonha até de olhar para o meu marido.
Briguei com Deus e com tudo aquilo que eu tinha fé. Me questionava sobre até
onde valia a minha crença, mas logo tudo passava e eu pedia desculpas a Deus,
pois sabia que Ele estava do meu lado.
Foi então quando o Dr. Arnaldo me pediu para realizar um exame, que constatava se eu tinha alguma rejeição ao sangue do meu marido. Segui sua orientação e
descobrimos que meu corpo realmente rejeitava o sangue do meu marido.
Comecei um novo tratamento, mas desta vez havia sido identificado um problema
diferente das outras vezes, que era como tiros no escuro. Foram seis meses de
tratamento, quando tomei diversas injeções muito doloridas, mas que não me abatiam, pois eu tinha certeza que iria conseguir.
Após ter tratado essa deficiência, dei início a uma nova Fertilização In Vitro. No
dia da transferência, o Dr. Arnaldo me avisou que eu tinha seis embriões, porém
apenas um deles estava em perfeitas condições. Decidimos colocar quatro, mas eu
fiquei mais segura e com o pé no chão. Acreditava que novamente viria um resultado negativo.
Chegado o dia do exame, não me aguentava de tanta ansiedade na espera pelo
resultado. Foi então quando recebi a ligação do Dr. Arnaldo, que disse: "Parabéns
futura mamãe!" Uma enorme alegria invadiu meu coração, me fazendo cair em
lágrimas. Meu marido, que estava fora de São Paulo, recebeu a notícia por telefone com muitos gritos de emoção.
Dia mais feliz que este, somente quando ela, menina, nasceu. Linda, perfeita e
saudável. Hoje, com ela aqui, não me arrependo de nada que fiz para consegui-la.
Foi tudo muito difícil, angustiante e dolorido, mas ela está aqui e é a minha grande
vitória, minha vida.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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"Acredite! Pois se você mesma não acreditar, ninguém poderá te
ajudar. Tudo te leva a desistir… o cansaço, as dores, o estresse, a
parte financeira… mas não desista! Não deixe de lutar por esse
sonho, pois quando você conseguir vai ver que nenhuma loucura é
louca demais, quando se trata de uma mulher que deseja ser mãe!"
“Jesus estava me testando”
Soraya e Antônio José
Na minha adolescência não pensava e nem sonhava com filhos e casamento,
apenas me dedicava aos estudos. O desejo só apareceu quando conheci o meu
marido, com quem me casei após sete anos de namoro. Somente depois de dois
anos é que começamos a pensar em filhos. Pelo meu marido teríamos um time de
futebol, mas, na prática, planejávamos apenas um casal. Parei de tomar anticoncepcional e, em apenas dois meses, descobri que estava grávida. Aos 25 anos, fui
contemplada com a chegada de um lindo menino.
Curtimos muito o nosso filho, e quando ele completou sete anos decidimos que
era hora de darmos um irmão a ele. Novamente interrompi o uso do anticoncepcional e rapidamente engravidei. Eu, meu marido e meu filho comemoramos muito,
e desde já ficamos na expectativa pela chegada do mais novo integrante da família.
Realizei todos os exames, dei início ao pré-natal e tudo parecia bem, até eu ser
surpreendida com um sangramento na sexta semana de gestação. Apavorada,
logo liguei para a minha médica, que me passou uma medicação. Segui as orientações, mas o meu quadro só piorava. Foi então quando me dirigi à clínica da mesma, descobrimos que o sangramento nada mais era do que um aborto. Imediatamente fui para o hospital e realizei a curetagem.
A médica me tranquilizou dizendo que em apenas seis meses eu poderia voltar
a engravidar, mas fiquei muito chocada, pois a situação havia sido muito traumáti-
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
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Vale tudo
(tratamentos alternativos podem mudar o destino)
ca. Eu e meu marido ficamos extremamente chateados com a situação. Durante
dois meses, tive insônia e sempre pedia a Deus para tirar a angústia que havia feito
morada em meu coração.
Após dois anos, me consultei com um outro médico e novamente realizei diversos exames. Comentei o que havia acontecido comigo, mas nenhum comentário
foi feito. Nessa mesma época, por um grande descuido, acabei engravidando.
Mesmo não tendo planejado, ficamos muito felizes com a notícia e logo nos empolgamos com a novidade.
Porém, em uma das minhas consultas médicas, novamente senti um sangramento e logo descobri que estava abortando. Assim como da outra vez, eu estava
na sexta semana de gravidez, mas nessa ocasião nem precisei me dirigir ao hospital, pois a curetagem foi realizada na própria clínica.
Novamente veio a tristeza, a decepção e a mágoa. Toda aquela situação me
causava grande constrangimento, inclusive diante dos familiares para quem eu
tinha que dar explicações sobre o que havia acontecido. Nenhum problema – ou
causa – era detectado pelos médicos, e isso me deixava ainda mais apreensiva.
Após um ano, parei de tomar remédio por orientação médica e engravidei. Voltei
ao pré-natal, mas mesmo com tanto cuidado, o que eu mais temia aconteceu.
Durante um exame, o médico percebeu que o coração do bebê não estava batendo. Fui para o hospital e lá foi diagnosticado um aborto retido. O sangramento era
intenso, me deixando muito assustada e com medo de acabar tendo uma hemorragia. O constrangimento, a decepção e a tristeza voltaram à tona. Pela terceira
vez realizei uma curetagem.
Eu fiquei muito abalada e os questionamentos começavam a surgir. Durante um
encontro do grupo de oração da minha igreja, um rapaz se dirigiu até mim e disse:
"Não sei o que é, mas Jesus está tocando na sua sexualidade. Não vai levar por
mal, não sei o que é, mas Jesus está mexendo." Para finalizar, ele completou
dizendo que Jesus estava me testando. Me senti consolada e, desde então,
entreguei a situação nas mãos de Deus.
Quando retornei ao meu médico, fui orientada a procurar um especialista em
Medicina Fetal. Assim fizemos e, após alguns exames, o médico detectou uma
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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incompatibilidade do meu sangue com o do meu marido. Explicou-me que o tratamento, chamado Cross Match, consistia na aplicação de uma vacina feita com o
sangue do meu marido, mas além de ser cara, não tinha um resultado garantido.
Entre uma explicação e outra, fui questionada sobre a paternidade do meu filho,
seguida da afirmação de que era impossível eu ter um filho do marido, por conta
desse problema. Fiquei arrasada e extremamente ofendida com a falta de respeito
que aquele profissional teve conosco. Desconsolados com a circunstância, eu e
meu marido decidimos não realizar o tratamento com aquele especialista.
Ficamos chateados por vários meses até que uma amiga conversou comigo e
me indicou o Dr. Arnaldo. Ficamos empolgados e logo entramos em contato com a
clínica. Sentíamos um grande constrangimento ao viver toda aquela situação,
tendo que ir a um especialista para conseguir um filho. Era como se fôssemos os
únicos no mundo todo a enfrentar aquele tipo de problema. Quando chegamos na
clínica IPGO, observamos os diversos casais que movimentavam o lugar e logo
percebemos que o que estávamos vivendo era natural.
Já na primeira consulta, tivemos uma grande simpatia por aquele profissional,
que nos tratou com respeito, demonstrando muito comprometimento com o seu trabalho. Após realizar alguns exames, retornamos à clínica e fomos orientados pelo
Dr. Arnaldo a realizar o tratamento com a aplicação das vacinas. Tomei três doses,
sendo uma por mês. Foi então quando realizei o exame de sangue e por ele foi
diagnosticado que o meu quadro já havia sido normalizado.
Ficamos muito felizes e confiantes e logo demos início à uma nova tentativa.
Aquela seria a última, pois eu já estava cansada do desgaste psicológico e emocional que me afligia quando perdia o bebê.
Para nossa alegria, após dois meses, eu engravidei. Fiquei muito animada e me
senti realizada, mas ainda tinha medo de que a minha gestação fosse interrompida. Só conseguimos comemorar com tranquilidade após as temíveis seis primeiras
semanas.
Hoje, eu estou grávida, com uma barriga enorme e muito feliz. Eu e meu marido seremos eternamente gratos a Deus por ter colocado o Dr. Arnaldo e toda a sua
equipe em nossas vidas.
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Vale tudo
(tratamentos alternativos podem mudar o destino)
"Aos que enfrentam os mesmos problemas que eu já enfrentei, peço
que não desanimem e que sejam sempre fortes! Lutem e realizem os
sonhos que preenchem suas vidas. Tenham fé que tudo dará certo!"
"As batalhas existem para ser vencidas"
Najla e Matheus
Desde novinha, sempre pensei em ter filhos, mas sempre quis tê-los como fruto
de um casamento sólido e maduro. Somente após oito anos de união, sendo dois
de casados, eu e meu marido decidimos ter um filho. Antes disso, preferimos priorizar outras coisas, a fim de alcançar uma condição favorável, segura e estável.
Quando eu já estava com quase 35 anos, decidimos que era o melhor momento
para uma gravidez. Após seis meses de tentativas, nenhum resultado foi obtido e
logo passei a me queixar de dores na região dos meus ovários. Foi então quando
procurei um médico que através de alguns exames me revelou as suspeitas de que
eu estivesse com endometriose. Eu nunca tinha ouvido falar na doença, e apesar
de ter sido alertada sobre possíveis dificuldades para engravidar, enfrentei a situação com naturalidade. Fiquei muito tranquila, talvez pelo fato de ainda não ter
noção da gravidade da minha situação.
Fui encaminhada para outro profissional, especialista em endometriose, que
confirmou a doença. Realizei, quase que imediatamente, a videolaparoscopia e foi
então quando o meu tormento começou. Fiquei muito debilitada após a cirurgia, e
ainda durante o período de recuperação, eu e meu marido retornamos à clínica,
que, nos deu um resultado desanimador: uma endometriose com grau severo e
focos de aderências. Uma gravidez natural tornava-se praticamente impossível se
não fosse realizado um novo procedimento a fim de amenizar a gravidade do meu
diagnóstico.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Ficamos muito chateados, porque nunca esperávamos ter que passar por tudo
isso para conseguir ter um filho. Sempre achávamos que na hora que fosse decidido, tudo iria acontecer naturalmente. Resolvemos então pesquisar um pouco
sobre o assunto, e como não tínhamos com quem compartilhar tantas dúvidas e
incertezas, recorremos à internet. Lemos tudo o que encontramos a respeito da
endometriose e sobre fertilização, até decidirmos ouvir a opinião de um especialista no assunto. O tempo passava muito depressa e parecia correr contra nós.
Quanto mais avançada fosse a minha idade, menores seriam as chances da
gravidez pelo método natural. O desejo pela gestação aumentava, associado ao
fato de que era sabido que a gravidez contribuía em muito para que o processo da
endometriose fosse sanado, em virtude da ausência da menstruação. Decidimos
que antes de realizar a segunda cirurgia de endometriose, eu faria a Fertilização In
Vitro. A primeira impressão que tivemos era que na primeira tentativa o resultado
seria positivo, mas a frustração veio logo em seguida. Fomos incentivados a tentar
mais uma vez, mesmo sabendo que o processo era muito caro e que poderia não
dar certo. Pensamos muito e o desejo não nos permitia dizer não. Partimos para
um nova tentativa, mas desta vez, mais preparados e conscientes de que a
gravidez não era certa.
A cada tentativa, um sentimento de expectativa e esperança tomava conta de
nós, deixando uma frustração imensa quando eu era surpreendida com a menstruação. Foi então quando eu e meu marido decidimos em comum acordo com o
médico que uma nova videolaparoscopia seria realizada. O sucesso foi unânime e
logo uma nova esperança surgiu em nossos corações. Todo esse processo durou
cerca de um ano e meio, e em pouco tempo eu completaria 37 anos. A dificuldade
aumentava, mas nunca perdi a esperança, até mesmo porque o sonho era tanto
meu quanto do meu marido, que sofria e chorava comigo. Fomos cúmplices desde
o início dessa batalha, compartilhando as frustrações, as dores, as angústias, e
também a fé e a certeza de que um dia conseguiríamos. Apoiávamos um no outro,
já que nossas famílias não sabiam do nosso histórico e sempre nos mantivemos
firmes, procurando outras formas e procedimentos que pudessem nos ajudar.
Após minha recuperação da tentativa anterior, partimos para a terceira Fertilização In Vitro. Os óvulos já estavam ficando escassos, devido às raspagens que eram
realizadas na cirurgia para a retirada do endometrioma. Novamente a expectativa
tomava conta de todas as partes envolvidas, mas com uma intensidade maior ainda
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(tratamentos alternativos podem mudar o destino)
vieram a frustração e a descrença pelo insucesso, que para nós, em virtude do alto
investimento financeiro e principalmente emocional, chegava ao limite extremo.
Nesse momento, tivemos vontade de jogar tudo para o alto. De noite, meu marido se
jogava na cama e dizia: "Como eu quero ser pai!" Eu ficava muito triste, por mim e
por ele, pois sabia que a realização daquele sonho, que pertencia aos dois, dependia apenas de mim. Cheguei a autorizar que procurasse uma outra mulher que fosse
capaz de lhe dar um filho. Ele, como sempre, jamais desistiu e sempre se manteve
ao meu lado, me dando apoio e me mostrando que não estava sozinha. Cansados,
começamos a investigar o processo para a adoção de uma criança, pois tínhamos
combinado que aquela seria a nossa última tentativa. Não queríamos prolongar o
nosso sofrimento, pois ter um filho naturalmente havia se tornado praticamente
impossível diante daquelas circunstâncias. Por muitas vezes, ouvimos o médico
dizendo que nossos embriões eram lindos, mas para nós de nada adiantava, já que
os mesmos não se fixavam em meu útero. Era uma situação muito frustrante.
Entre tantas angústias, já com o coração apertado, enquanto navegava na internet, encontrei o site da Clínica IPGO, que trazia informações a respeito de infertilidade e imunologia. Apesar de o meu médico não acreditar nesta possibilidade, eu
e meu marido queríamos realizar todos os testes possíveis e disponíveis na medicina, que pudessem nos ajudar a identificar de alguma forma o motivo de os
embriões não se fixarem no meu útero.
Ao tomar conhecimento do assunto, logo nos recordamos de um exame chamado Cross Match que realizamos no início da nossa jornada. O resultado do mesmo
apontou uma incompatibilidade do meu sangue com o do meu marido, mas foi deixado de lado pelo meu médico durante todos os procedimentos. Nós podíamos
partir para a adoção direto, ou antes consultar um outro especialista para que
tivéssemos uma outra opinião a respeito. Optamos pela segunda opção e imediatamente entramos em contato com a clínica para marcar um horário. Em nossa
primeira consulta, explicamos ao Dr. Arnaldo tudo o que já havíamos passado e as
nossas dúvidas sobre o sistema imunológico. Ele nos explicou tudo sobre o tratamento e logo demos início ao mesmo. Foram ao todo quatro vacinas, que eram
produzidas com o sangue do meu marido, juntamente com meus linfócitos.
Nesse mesmo tempo, o médico com quem eu estava realizando os tratamentos
me ofereceu uma indução por sua conta, já que eu tinha realizado três tentativas
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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de Fertilização In Vitro que não me trouxeram resultado algum. Para nós foi muito
bom, pois já estávamos fazendo o tratamento com o Dr. Arnaldo, mas não teríamos
condições financeiras de realizar uma nova FIV. Como não tínhamos nada a
perder, realizei a Indução após ter terminado o tratamento das vacinas com o
Dr. Arnaldo. Não comentamos nada com o meu médico, porque ele não acreditava na imunologia.
Depois de uma viagem com o meu marido a fim de nos distrairmos um pouco,
retornamos a São Paulo e logo comecei a sentir alguns sintomas que não eram
habituais. Foi então quando me ligaram da clínica, dando a tão esperada notícia: Eu
estava grávida! Eu e meu marido chegamos a não acreditar no que eu tinha ouvido.
Ficamos atônitos por dias, emocionados e anestesiados pela grande alegria que
encheu nossos corações. Demos a notícia à equipe do Dr. Arnaldo, que logo nos
reservou um horário para a realização do primeiro ultrassom. Durante o procedimento, fomos surpreendidos com uma grande surpresa: eram gêmeos. Mais uma
vez, ficamos atônitos e sem reação. Era muita alegria para nossos corações!
Ver e sentir minha barriga crescer foi uma das maiores realizações da minha
vida. Era o mesmo que ver o meu sonho ali, crescendo... até se concretizar com o
nascimento. A emoção é indescritível e incomparável. Palavras jamais descreveriam a nossa felicidade ao ver nossas duas menininhas chegando ao mundo.
Todo esse processo durou cerca de três anos. Foram períodos de ansiedade,
angústia e preocupação, mas quando tudo parecia perdido, uma luz se acendeu e
um excelente profissional apareceu em nossas vidas, nos guiando até o caminho
que nos levaria à realização do nosso maior sonho.
"Para você que enfrenta o mesmo que enfrentei no passado, peço
para que nunca desista. Tente todas as possibilidades, procure a
opinião de mais de um médico e não se abale com os obstáculos.
Entregue-se ao seu sonho e lute com todas as suas forças. As batalhas existem para ser vencidas! Você conseguirá!"
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
Vale tudo
(tratamentos alternativos podem mudar o destino)
Espaço da Ciência
Imunologia da Reprodução e Trombofilias
(uma explicação para os casos de infertilidade e de abortamentos de repetição)
A imunologia da reprodução é um novo capítulo da Reprodução Humana que
avalia o comportamento imunológico da mãe nos casos de fracassos nos tratamentos de Fertilização Assistida, de infertilidade sem causa aparente e abortamentos
de repetição.
Normalmente, o ser humano foi programado para rejeitar “corpos estranhos”
dentro do seu organismo. A gravidez é o único “corpo estranho” que não deve ser
rejeitado, e isto ocorre graças à existência de um sistema natural que as mulheres
têm e que automaticamente bloqueia a rejeição imune ao feto, permitindo assim o
crescimento e o desenvolvimento do bebê.
Quando existe uma falha deste mecanismo de proteção não ocorre a implantação do embrião, ou se ocorre, ele pode ser eliminado precocemente ou tardiamente. Mesmo quando em um tratamento de Fertilização Assistida são produzidos
embriões de ótima qualidade, eles podem ser rechaçados e eliminados.
As trombofilias podem também fazer parte deste grupo de pacientes.
Trombofilias são alterações da coagulação do sangue que aumentam o risco de
trombose, prejudicando a circulação sanguínea na placenta. Podem ser adquiridas
ou hereditárias.
Além do Cross Match, cujo tratamento é com vacinas feitas com sangue do
marido, os principais exames que detectam os distúrbios imunológicos e as trombofilias são:
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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• Anticardiolipina IGG; Anticardiolipina IGM; Anticardiolipina IGA;
Anticoagulante Lúpico; Fosfatidilserina IGA; Fosfatidilserina IGG;
Fosfatidilserina IGM; Fator V Leiden Mutação; Fator II Protombina Mutação
G2021OA; MTHFR – Metileno Tetrahidrofolato Redutase – Mutação C677T;
Homocisteina; Proteína C; Proteína S; Anti-Trombina III.
Existem alguns estudos que reconhecem que em casos selecionados a
imunoterapia dá bons resultados. Alguns exemplos:
• Parentes que não tiveram sucesso após tratamentos de Fertilização In Vitro,
11/12 estudos revelaram a existência de Anticorpos Antifosfolípides.
• Três estudos demonstraram um aumento da taxa de gravidez quando foram
tratados com imunoglobulina aplicada na veia.
• Um novo estudo demonstra que até 50% com falhas nos tratamentos de
Fertilização In Vitro foram bem-sucedidos com tratamentos de corticóide, e
tinham exames de anticorpo antinuclear positivo.
• Mulheres que receberam imunoterapia antes do tratamento de Fertilização In
Vitro tiveram uma taxa dobrada de gestação múltipla.
Todos estes dados foram publicados pela Reproductive Imunology Associates
(www.riala.com) e mostram evidências de que problemas imunológicos podem afetar a implantação dos embriões ou causar abortos.
Tratamento: após avaliar o histórico e os exames da paciente, os tratamentos
imunológicos concomitantes ao tratamento de Fertilização podem ser:
• Corticóide
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
Vale tudo
(tratamentos alternativos podem mudar o destino)
• Heparina
• Aspirina
• Imunoglobina
• Imunização
Sites para consulta:
www.imunorepro.med.br
www.barini.med.br
www.riala.com
www.repromed.net
www.asrm.com
www.haolababy.com
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Os que amam sem
amor não terão
o reino dos céus.
Carlos Drummond de Andrade
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A primeira gestação
gemelar do Brasil de
óvulos congelados
13
A Medicina Reprodutiva tem feito avanços tecnológicos incríveis, ajudando
muitos casais que até há pouco tempo não conseguiriam concretizar o sonho de
ter filhos. Há 27, anos nasceu na Inglaterra Louise Brown, a primeira criança proveniente de uma Fertilização In Vitro – Bebê de Proveta – sob os cuidados dos estudiosos Patrick Stroptoe e Robert Edwards. Desde então, as técnicas de fertilização
assistida têm avançado com rapidez, beneficiando cada vez mais homens e mulheres com dificuldade para engravidar. Entretanto, até hoje existem alguns preconceitos em relação a estes tratamentos, que frequentemente passam por discussões de cunho filosófico, ético e religioso, que muitas vezes procuram travar a evolução científica natural da medicina.
O primeiro caso de gravidez com óvulo congelado ocorreu em 1986. Durante
todos esses anos passados e até há pouco tempo os resultados eram muito precários, com uma taxa de gravidez baixa, ao redor de 1%. A justificativa para estes
resultados desanimadores estava na técnica de congelamento inadequada para os
óvulos. O óvulo é uma célula mais sensível que as demais, e carrega dentro de si
uma quantidade maior de água quando comparada às outras.
Quando se usava a técnica de congelamento habitual, a mesma que era utilizada para o congelamento de embriões, formava-se no interior do óvulo uma grande
quantidade de cristais de gelo, os quais danificavam a estrutura da célula e causavam alterações cromossômicas que impediam ou dificultavam a fertilização da
maioria dos óvulos, a divisão celular e a implantação dos embriões.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Essa rotina de insucessos foi quebrada há pouco tempo, após as pesquisas da
ginecologista italiana Eleonora Porcu, da Policlínica da Santa Ursula de Bolonha,
na Itália.
Há três anos, quando o congelamento de embriões foi proibido na Itália, a
Medicina Reprodutiva foi obrigada a procurar soluções para aproveitar os óvulos
excedentes provenientes dos ciclos de fertilização in vitro. A saída foi aprimorar a
técnica de congelamento de óvulos. Após várias pesquisas, a Dra. Porcu e seus
assistentes aperfeiçoaram a técnica, melhorando os resultados até então obtidos.
Outras técnicas surgiram, como a vitrificação, defendida pelo professor Gary
Smith, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, que da mesma forma
que a anterior, vem demonstrando índices de gravidez satisfatórios.
Embora ainda exista um longo caminho para se alcançar a taxa ideal de sucesso, os resultados positivos, atualmente apresentados, já são suficientes para continuarmos indicando este tratamento em casos especiais.
Arthur e Beatriz formam um casal incrível, literalmente feitos um para o outro.
Ele, um médico pediatra preocupado com as implicações do tratamento, e culpando-se repetidamente por ser ele o motivo do tratamento de Fertilização, pois tinha
poucos espermatozoides. Ela, uma carioca sem sotaque, simpática e sorridente,
de bem com a vida. Quando vieram à primeira consulta já tinham passado por uma
tentativa frustrada de, Fertilização In Vitro.
Arthur, com frequência, penitenciava-se por sentir-se o responsável pelo “sofrimento que causava” à esposa. Beatriz, que já havia tomado medicações na primeira tentativa, em nenhum momento se queixava do processo a que estava se
submetendo, e deixava claro que as injeções não a incomodavam. Tamanha era
a insistência de Arthur em se passar por vítima da situação que, em determinado
momento, fui obrigado a intervir e falar umas palavras que repito com frequência
e que traduzem a realidade do cotidiano, causando efeitos positivos no relacionamento do casal:
– Em infertilidade não existe o problema de um ou de outro. Independentemente da causa que impede a gravidez, o problema é do casal. No casamento,
em todas as situações, os verbos devem ser conjugados na primeira pessoa do
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Gravidez:
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
A primeira gestação gemelar do Brasil
de óvulos congelados
plural: nós precisamos, nós queremos, nós temos; e não no singular: eu preciso,
eu quero, eu tenho. A união do casamento torna o homem e a mulher uma peça
única. Os momentos prazerosos e os momenos difíceis devem ser vividos pelos
dois. Hoje é um que tem problema, amanhã poderá ser o outro. A união deverá
ser permanente e o apoio deverá ser sempre mútuo. A cumplicidade é fundamental.
Depois desse pequeno discurso, com o qual Beatriz concordou plenamente, ela
disse que já estava cansada dessas lamúrias de Arthur e não do tratamento. Depois
disso, seu marido nunca mais demonstrou esse sentimento.
O que chamou a atenção nesse processo foi que na primeira tentativa de
Fertilização realizada (a segunda do casal), os ovários de Beatriz tiveram uma
resposta exarcebada ao estímulo ovariano e produziram muitos óvulos. Com os
espermatozoides de Arthur, que eram de má qualidade, foi fertilizada somente
parte dos óvulos. A outra parte foi congelada, pois poderia ser útil numa próxima
tentativa. Caso Beatriz engravidasse nesse tratamento, esses óvulos poderiam ser
descartados, pois são células e não são considerados seres vivos como os
embriões, que devem ser preservados (congelados). Os embriões formados foram
de má qualidade e Beatriz não engravidou.
Para a próxima tentativa (a terceira deles), na qual seriam utilizados os óvulos
congelados, optou-se por um tratamento alternativo que poderia melhorar a qualidade dos espermatozoides. Tal tratamento é controverso e por isso não foi usado
antes, mas desta vez valeria a pena e favoreceria o resultado. E foi o que aconteceu. Os óvulos foram descongelados, fertilizados e produziram a primeira gestação
de gêmeos do Brasil proveniente de óvulos congelados.
Esta história demonstrou a importância da técnica de congelamento de óvulos,
uma vez que, se todos os óvulos fossem fertilizados ao mesmo tempo na tentativa
anterior, os embriões seriam igualmente de má qualidade e não produziriam
gravidez. Com o tratamento alternativo que Arthur recebeu houve melhora da qualidade do sêmen, que produziu embriões melhores. Atualmente, outros casais já
engravidaram com óvulos congelados. As indicações para o congelamento de óvulos estão no final deste capítulo.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Depoimento
“Deus escreve certo por linhas tortas”
Beatriz e Arthur
Em alguns momentos, somos forçados a buscar explicações para tentar amenizar nossos sofrimentos, e chegamos até a duvidar de que “Deus escreve certo
por linhas tortas”.
Eu e meu marido nos unimos bem cedo, eu com 19 e ele com 20 anos. Com
um maravilhoso relacionamento, nos apoiávamos, enquanto construíamos o nosso
futuro, que sempre enchia os nossos corações de muitos sonhos e objetivos. Entre
eles, existia o desejo de sermos pais, pois tanto eu quanto ele sempre fomos
apaixonados por crianças. O amor era tão grande que meu marido decidiu fazer
Medicina e se especializar em Pediatria.
Aos 28 anos, quando terminou a faculdade, nossa vida a dois estava mais estabilizada, já estávamos mais maduros para viver o que tanto sonhávamos.
Decidimos que havia chegado o melhor momento e que teríamos um filho. Eu procurei o meu ginecologista e realizei todos os exames necessários para que eu
tivesse a certeza de que tudo estava bem e que eu poderia ser mãe. Para nossa
felicidade, tudo estava dentro da normalidade, e muito felizes, acreditávamos que
o próximo passo seria o pré-natal.
Estávamos dando início a um longo período de lutas para a realização de um
sonho, mas ainda não sabíamos disso. Todo mês era uma nova frustração quando eu menstruava e eu sentia muita angústia e decepção. O tempo foi passando e
nada acontecia, até que após um ano e meio de espera, meu marido decidiu
realizar um espermograma a fim de verificar se tudo estava bem com ele também,
pois comigo já sabíamos que estava.
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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GRAVIDEZ:
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Tropeços e...
Conquistas
A primeira gestação gemelar do Brasil
de óvulos congelados
Foi então, quando para nossa surpresa, meu marido descobriu que produzia
baixa quantidade de espermatozoides. Ficamos espantados com o resultado do
exame, e meu marido, não se conformando com a notícia, disse que como havia
feito plantão no dia anterior ao exame, o estresse poderia ter-lhe causado essa
alteração. Naquele momento, procurávamos acreditar em qualquer coisa que nos
desviasse de uma traumática descoberta.
Ele refez o exame e ficamos na expectativa de vir um resultado diferente do
anterior, mas para o nosso desespero, o problema foi confirmado e, naquele
momento, meu marido sentiu muito medo de nunca ser pai. Logo os questionamentos começaram e os “porquês” não saíam dos pensamentos do meu marido. Ele
dizia que “era muita ironia ser pediatra, cuidar de crianças e não ter a chance de
ter a sua.”
Muito chateado, decidiu procurar um tio que tem uma clínica especializada em
reprodução humana. Lá fomos informados de que a nossa única saída seria a
Fertilização In Vitro. Não tínhamos muito conhecimento sobre o assunto e ficamos
um pouco assustados, principalmente quando nos informaram o valor do tratamento. Porém, aquela era a nossa única chance, e por isso decidimos enfrentar e dar
início à nossa primeira tentativa.
Apesar de estarmos entre pessoas conhecidas, não confiávamos na clínica e
na equipe que estava acompanhando o nosso tratamento. Desde o início, sentimos
que não estávamos sendo amparados da forma como necessitávamos, e além
disso, houve muitas falhas durante o procedimento, que nos deixaram ainda mais
inseguros. O que nos deixou mais impressionados e certos de que estávamos na
clínica errada foi quando vimos o médico realizar a transferência dos embriões sem
utilizar luvas. Ficamos decepcionados com tamanha falta de cuidado com uma
coisa tão sensível.
Esses detalhes nos deixaram chateados, mas com o coração cheio de esperança, preferimos manter os pensamentos positivos, acreditando que tudo daria
certo. Mas o desespero logo apareceu, me surpreendendo com a chegada da
menstruação bem no dia do aniversário de meu marido. Ficamos arrasados, principalmente por termos recebido o fracasso em uma data que deveria ser especial
para mim e principalmente para ele, que ficou inconsolável e começou a duvidar da
existência de Deus. Pensava apenas em perguntas que não tinham respostas e
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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dizia que estava cansado de sempre ouvir: “Calma, a sua hora vai chegar. Deus
escreve certo por linhas tortas!” Apesar de muito chateado, em pouco tempo já
queria partir para uma nova tentativa, desta vez em outra clínica, sem vínculo
nenhum com a família.
Descobrimos o Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi, e já na primeira consulta sentimos muita confiança na equipe, que nos recebeu com muito carinho. Toda a parte
humana que nos faltou na tentativa anterior foi oferecida a nós com muito respeito
e dedicação. Muito felizes com uma nova possibilidade, decidimos dar início à
nossa segunda tentativa, desta vez sem que a família soubesse de nada. A partir
daquele momento, tínhamos apenas um ao outro para desabafar, se apoiar e
encontrar forças para suportar e vencer aquele obstáculo.
Dei início às medicações que eram necessárias durante todo o tratamento,
incluindo as injeções. Estávamos esperançosos, porém com os pés no chão.
Tentamos ao máximo ter controle da situação para evitar que sentíssemos tudo o
que havíamos sentido na tentativa anterior.
Após a transferência, veio a grande espera pela confirmação. Decidi realizar o
exame um dia antes, pois a data agendada cairia em um sábado e eu não queria
esperar pelo final de semana para saber se estava grávida ou não. Para o meu
desespero, o resultado foi negativo. Eu fiquei sem chão e não conseguia pensar
e nem fazer outra coisa senão chorar e colocar todo o meu desespero para fora.
Durante o procedimento, eu tive algumas complicações decorrentes do hiperestímulo na ovulação. Por este motivo, sabia que a tentativa tinha mais chances de
não dar certo, mas em todo o tempo me mantive confiante, sempre pensando
positivo.
Meu marido novamente ficou muito chateado, mas o nosso sonho era mais forte
do que qualquer dor e sofrimento que pudéssemos sentir. Nada nos fazia desistir
da maternidade. Em pouco tempo, demos início à nossa terceira tentativa.
Esse foi um momento muito difícil, com uma mistura de sentimentos muito grande, como dor, angústia e, principalmente, culpa. Meu marido sentia-se extremamente culpado e não achava justo eu ter de passar por tudo aquilo por sua causa.
Para ele era muito difícil entender por que eu tinha de me submeter às injeções e
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Gravidez:
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
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A primeira gestação gemelar do Brasil
de óvulos congelados
inúmeros comprimidos se o problema estava nele. Apesar da dificuldade, esse
momento foi marcante em nossa trajetória, pois existiu muita compreensão entre
nós dois, como casal. Ficamos muito mais unidos. Eu sempre dizia que o problema era nosso, não dele. Graças a Deus, conseguimos vencer essa fase, e até hoje
meu marido diz que a minha atitude foi o maior ato de amor que um marido pode
receber.
Nessa tentativa, na qual seriam utilizados os óvulos congelados excedentes do
tratamento anterior, foram introduzidos alguns medicamentos alternativos que
poderiam melhorar a qualidade do seu esperma, o que realmente ocorreu. Essa
mudança ajudou bastante, deixando-o mais ativo no tratamento e ajudando-o a
diminuir o sentimento de culpa que insistia em permanecer em seu coração. No dia
da transferência, nos enchemos de esperança por saber que os embriões estavam
ótimos. Foram dias de grande apreensão na espera pelo dia do exame, mas estávamos confiantes mais do que nunca. A ansiedade foi tão grande que não me contive e sem ele saber, realizei o exame um dia antes do combinado.
Logo depois me dirigi à clínica, e quando me perguntaram sobre o exame que
seria feito no dia seguinte, disse que já tinha feito pela manhã. Em seguida, me
pediram o protocolo do mesmo, e depois de algum tempo de espera, fui supreendida com a presença do Dr. Arnaldo, dizendo: “Parabéns! Você está gravidíssima!”
Senti tanta emoção com aquela notícia, que saí abraçando todos que estavam na
clínica, até mesmo os que nunca tinha visto antes.
De noite, quando estava próximo do horário que ele chegaria em casa, fiquei
deitada na cama, com o quarto escuro, me esforçando para deixar o meu semblante triste e carregado. Assim que ele chegou, ao me ver naquele estado, logo
imaginou que a tentativa não tinha dado certo. Sem dizer nada, dei um embrulho a
ele, que continha uma roupa de bebê, juntamente com o resultado positivo. Nos
abraçamos fortemente e, sem dúvida, aquele foi um momento inesquecível. Eu
disse a ele: “Conseguimos! Você vai ser papai!”
Curtimos cada dia da minha gravidez. Depois de tudo o que passamos com a
chegada desse presente, meu marido pôde entender que “Deus escreve certo por
linhas tortas”. Fomos contemplados com gêmeos, uma possibilidade que jamais
imaginamos que pudesse acontecer.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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“É crucial que o relacionamento do casal seja forte e maduro para
enfrentar os diversos fracassos que estamos sujeitos a enfrentar
durante todo o tratamento. O amor que um sente pelo outro, juntamente com o de Deus, fará com que alcance a realização do seu maior
sonho, por mais difícil que isso possa parecer.”
Espaço da Ciência
O congelamento de óvulos e suas indicações
O congelamento de óvulos é uma alternativa para a preservação da fertilidade
feminina e deve ser indicado em casos específicos. Embora seja considerado por
alguns uma opção em fase experimental, os resultados positivos vêm demonstrando que, em breve, este conceito será modificado.
Atualmente, o congelamento de óvulos tem maior chance de sucesso quando
realizado com óvulos maduros; portanto, é necessário que a paciente passe por
um processo idêntico ao da Fertilização In Vitro. Os ovários serão estimulados com
drogas indutoras da ovulação, o crescimento dos folículos ovulatórios será acompanhado pelo ultrassom e, posteriormente, os óvulos serão coletados sob sedação
profunda. Em seguida, são encaminhados para o laboratório de reprodução humana, desidratados e congelados pela vitrificação.
As indicações para o congelamento de óvulos são:
1) Mulheres que serão submetidas a tratamentos oncológicos.
Pacientes que desejam a maternidade e passarão por tratamentos agressivos
para esta patologia, com quimioterapia e/ou radioterapia, poderão, antes do trata-
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Gravidez:
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GRAVIDEZ:
Caminhos,
Tropeços e...
Conquistas
A primeira gestação gemelar do Brasil
de óvulos congelados
mento, ter os seus óvulos congelados. É fundamental nestes casos que se observe a inexistência do agravamento da doença pelos hormônios indutores da ovulação. Muitas vezes, opta-se pela retirada de pelo menos um dos ovários, que será
fragmentado e congelado. Quando a paciente estiver curada da doença, esses
fragmentos poderão ser reimplantados em lugares diferentes, como sob a pele no
braço, no abdômen, ou junto ao ovário remanescente. Já existem casos publicados de gravidez utilizando-se esta técnica. Quando comparamos a eficácia do
congelamento de óvulos com a de ovário, devemos ponderar as vantagens e desvantagens de cada técnica. Se a primeira exige aplicação de hormônios em altas
doses, a segunda necessita de internação, anestesia geral e uma intervenção
minimamente invasiva (videolaparoscopia). Os riscos e benefícios de cada uma
devem ser avaliados.
2) Mulheres solteiras com pouco menos de 35 anos, preocupadas com a
diminuição progressiva de sua fertilidade.
Esta é uma realidade cada vez mais comum. A cada dia, as mulheres casam e
têm filhos mais tarde. Já não é novidade que cada vez mais as mulheres buscam o
seu espaço profissional, priorizam e investem na sua carreira, adiando a concretização de sua vida afetiva e o planejamento de ter filhos. Todas elas têm consciência,
pelos meios de comunicação, de que após os 35 anos a sua capacidade reprodutiva diminui, e por isto muitas delas se afligem diante desta realidade. O congelamento de óvulos é uma saída que pode minimizar esta angustia, pois nem sempre o parceiro ideal para ser o pai de seus filhos surge no momento que desejam. Pode
demorar anos, que contribuirão para o envelhecimento dos seus óvulos e as dificuldades em engravidar.
Caso num futuro ainda próximo essa mulher encontre “a sua alma gêmea“, ela
poderá tentar a gravidez naturalmente, podendo descartar os óvulos que foram anteriormente congelados, após a constituição da sua familia.
Se o “príncipe encantado” demorar muitos anos para aparecer, quando estiver
próxima a menopausa, os óvulos congelados no passado poderão ser fertilizados
e darão uma chance maior de gestação e menor índice de abortamento e má-formação, se comparados com um tratamento feito em idade mais avançada.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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3) Mulheres com histórico familiar de menopausa precoce.
Estas mulheres poderão congelar seus óvulos preventivamente. Na época em
que desejarem ter filhos, caso seus ovários não estejam funcionando adequadamente, elas poderão utilizar os óvulos que antes foram congelados. Do contrário se
os ovários estiverem funcionando a contento, elas poderão tentar engravidar naturalmente.
4) Fertilização In Vitro.
Algumas vezes, pode haver excesso de óvulos, que provavelmente formarão
vários embriões. Como apenas uma parte deles será transferida para o útero
(máximo de dois ou três), os outros deverão ser congelados. Caso ocorra gestação e o casal não queira mais ter filhos, haverá problemas éticos, pois embriões
são considerados seres vivos e não poderão ser descartados. O congelamento de
óvulos resolve este problema, pois óvulos são células, não são seres vivos e
podem ser descartados se não forem utilizados. Se não for realizado o congelamento de óvulos, a única alternativa, se o casal aceitar, será a doação de embriões
para outro casal ou para pesquisa de células-tronco.
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Gravidez:
Caminhos, Tropeços e... Conquistas
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Decidida e rápida
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Não pense, apenas faça. Alguns estudos demonstram que esta é a grande
saída para quem tem dificuldades em encarar a rotina da pesquisa e dos tratamentos de infertilidade. De um modo geral, pessoas que falam e pensam muito sobre
o que pretendem fazer sobre determinado problema são as que menos realizam.
Exemplos disto são os obesos que prometem iniciar o regime na próxima segunda-feira, no Ano Novo, depois da Semana Santa, ou no ano que vem. Ou aqueles
sedentários que dizem que vão se matricular na academia no próximo mês,
repetindo esta promessa que nunca se concretiza.
Dessa forma, no assunto fertilidade, não se deve pensar tanto sobre os inconvenientes do tratamenrto e nas frustrações dos insucessos. Ter filhos faz parte da
vida do ser humano, e, por isso, quando eles não vêm naturalmente, devem-se
aceitar as condições que ajudam a consegui-los e partir direto para o ataque.
Todos aqueles que perseguem este objetivo sabem como é árdua a trajetória de
frustrações: cada menstruação é um desgosto só. A angústia aumenta mais a cada
mês. Por isso, uma vez que a vontade de ter filhos já está determinada pelo casal,
quanto mais rápido forem tomadas as atitudes, mais imediato será o alívio e em
menos tempo o problema estará resolvido.
Samantha, de 28 anos na época, é a dona desta história e veio na primeira consulta trazendo vários exames. Entre todos que apresentou, o único que demonstrou anormalidades foi a histerossalpingografia. Suas trompas estavam com alterações que indicavam uma intervenção cirúrgica para sua recuperação: a videolaparoscopia. Caso contrário, estaria indicada a Fertilização In Vitro.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Após analisar seus exames, Samantha ouviu minhas explicações e, sem exitar
definiu que preferia essa última possibilidade. Justificou que, alguns anos antes,
tinha sido submetida a uma intervenção cirúrgica que a obrigou a ficar internada
por algumas semanas. Não pensava passar por isso novamente.
Concordei com o seu raciocínio e instintivamente perguntei quando tinha sido a
sua última menstruação. Era o terceiro dia do ciclo, o dia ideal para o início da
indução da ovulação. Como os exames obrigatórios para este procedimento
estavam em dia, disse que poderia iniciar o tratamento imediatamente, após a confirmação das condições dos seus ovários vistos através do exame de ultrassom,
que poderia ser feito naquele momento. Prontamente concordou. O exame foi realizado, a indução de ovulação iniciada e, em 23 dias, ela já estava com o resultado positivo em suas mãos: GRÁVIDA!
Esta história mostra, além da determinação do casal, a importância de individualizar o tratamento para o perfil de cada paciente. É comum existir mais de uma
opção de tratamento para um resultado positivo. Neste caso, tanto a videolaparoscopia como a Fertilização In Vitro estavam corretamente indicadas; entretanto, as
histórias clínica e psicológica da paciente e seu marido determinaram o tratamento realizado.
É importante que o casal saiba que ao optar por determinado tratamento deve
conhecer as chances de resultados positivos, o grau de complexidade do procedimento, os riscos, os custos, etc.
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Gravidez:
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GRAVIDEZ:
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Conquistas
Decidida e rápida
Depoimento
"A mulher mais rápida do Brasil"
Samantha e Adilson
Quando eu era jovem, pensava em ter filhos, mas o desejo de ser mãe apareceu
após meu casamento, quando eu já tinha me tornado uma mulher. Jamais pensei que
poderia ter algum problema relacionado à infertilidade.
Meu marido sempre sonhou em ser pai, e com apenas um ano de casados,
demos início às tentativas para minha primeira gravidez. Alguns meses se passaram, mas nada aconteceu. Inicialmente, achava que o problema estava no meu
marido, mas após realizar vários exames, descobrimos que tanto eu como ele não
apresentávamos nenhuma dificuldade para ter filhos.
As tentativas continuavam e eu comecei a buscar uma causa para algo que eu
ainda nem sabia o que era. Como havia engordado bruscamente após o casamento, passei a pensar que a minha obesidade era que estava impedindo uma possível gravidez. Então, realizei uma cirurgia para redução do estômago, e após um
ano, mesmo com 36 kg a menos, o meu desejo de ser mãe não se realizou.
Diante dessas circunstâncias, minha ginecologista pediu que eu realizasse
uma histerossalpingografia, para que meu quadro fosse analisado de forma mais
profunda. Eu e meu marido ficamos chocados quando nos deram a notícia de que
o exame havia detectado que minhas trompas eram impermeáveis. Foi muito difícil enfrentar a ideia de que eu era incapaz de gerar um filho. O sentimento foi de
frustração e muita tristeza, pois eu não poderia realizar o grande sonho do meu
marido, que sempre quis ser pai. Cheguei até a pensar que ele pudesse me largar por conta disso, mas ele sempre esteve ao meu lado, me dando apoio e
muita força.
Minha médica logo nos orientou a procurar um especialista em Reprodução
Humana e nos encaminhou para a clínica IPGO. Eu e meu marido ficamos mais
aliviados por saber que existia ainda uma chance. Passamos a encarar toda a siDr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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tuação apenas como um obstáculo que tínhamos que vencer para chegar à maternidade.
Antes de entrar em contato com a clínica, visitei o site da mesma e li todas as
informações sobre o problema e os tratamentos. Já estávamos decididos a realizar
uma Fertilização In Vitro. Após agendarmos um horário, nos dirigimos para a
primeira consulta, com todos os exames que havíamos realizado anteriormente.
Ouvimos todas as explicações do Dr. Arnaldo quanto ao tratamento, e quando
já tínhamos tirado todas as dúvidas, respiramos fundo e dissemos a ele que iniciaríamos a nossa primeira tentativa imediatamente. Meu marido sentiu muita confiança naquele profissional que parecia saber muito bem o que estava fazendo.
Muito surpreso com a nossa determinação, o doutor logo nos orientou quanto a
todos os procedimentos que deveriam ser realizados e cumpridos a partir daquele
momento. A tentativa para a realização do nosso sonho começava ali e meu marido já se sentia "pai".
Seguíamos todas as instruções rigorosamente e com muita disciplina. Cada dia
parecia uma eternidade! Chegado o dia da transferência, estávamos muito confiantes de que tudo daria certo. Após a realização do procedimento, eu e meu marido não nos aguentávamos de tanta alegria e ansiedade por saber do resultado,
que só sairia em 12 dias.
Os dias foram longos e pareciam nunca passar, mas tentávamos segurar a
ansiedade que parecia nos consumir. Chegado o grande dia, realizei o exame bem
cedinho e não saí da frente do computador, aguardando a chegada do resultado.
As horas demoravam a passar e eu não conseguia controlar aquela mistura de
emoções que enchia meu coração.
Finalmente, após longas horas de espera, o resultado saiu: eu estava grávida!
Me senti a mulher mais feliz e realizada do mundo. Chorei muito e, imediatamente, liguei para meu marido, que ficou tão emocionado quanto eu. Ele estava no trabalho e sentiu vontade de sair gritando para todo mundo que era papai! A emoção
que sentimos nesse momento foi muito grande e até difícil de exprimir em palavras.
Liguei para a clínica a fim de confirmar o resultado, e após passar os dados do
exame para a equipe, a ligação foi transferida para o Dr. Arnaldo, que surpreso e
muito feliz me parabenizou pela vitória. Ele disse que eu era a mulher mais rápida
do Brasil! Apesar do desgaste psicológico causado pelo medo de não dar certo, foi
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Decidida e rápida
a melhor coisa que já fiz na vida. Eu e meu marido somos gratos a Deus por termos sido abençoados com o nosso bebê na primeira tentativa.
Minha gravidez foi maravilhosa e eu não via a hora da minha barriga crescer,
pois queria que todo mundo soubesse que eu estava grávida. Você quer mostrar
para as pessoas que também é capaz. Quando nosso filhinho nasceu, sentimos
uma felicidade enorme e temos a certeza que esta emoção será eterna, pois até
ficamos muito emocionados quando olhamos para o nosso menininho. Se fosse
necessário, com certeza eu faria tudo de novo, pois o resultado compensa todas
as dificuldades que você enfrenta durante o tratamento.
"É importante que haja amor e confiança entre o casal e o médico,
assim como a direção de Deus durante todo o percurso. Lute e acredite na realização do seu sonho e jamais tenha vergonha do seu problema. Saiba que Deus nos dá apenas o que podemos suportar! Enfrente
o obstáculo e vença-o. Você consegue!"
Observação
Após finalizar este capítulo, Samantha deixou de ser “a mulher mais rápida do
Brasil”. Luciana – uma outra paciente – numa situação aflita, pois queria ficar grávida
antes de mudar-se para os Estados Unidos, começou a indução da ovulação no quin-
to dia do ciclo, dois dias após o terceiro, como Samantha. Ficou grávida num tempo
menor. Iniciar a indução da ovulação no quinto dia é uma alternativa possível e em
casos especiais.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Só existem dois dias do ano sobre
os quais nada pode ser feito:
um deles se chama ontem
e o outro, amanhã.
Hoje é o dia certo para você
amar, sonhar, ousar, produzir
e acima de tudo, acreditar...
Dalai Lama
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Fé, muita fé
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A vida para ser bem vivida deve ter dificuldades a serem superadas, caso contrário será monótona e sem emoções. Todas as pessoas têm seus problemas. A felicidade de cada uma depende de como estas dificuldades são superadas. Existem
alguns exemplos cotidianos: alguns reclamam que trabalham demais, outros reclamam da falta de emprego; algumas mulheres sofrem por não terem a beleza cativante necessária para conquistar o seu homem que “rotulam” de ideal; outras, por serem
muito bonitas, sofrem pelo assédio exagerado dos homens interessados somente no
seu físico; pessoas passam necessidade por falta de dinheiro, outros temem pela sua
segurança por terem dinheiro demais, e assim as controvérsias da vida tendem a deixar os indivíduos infelizes. O segredo da felicidade está em saber contornar os obstáculos, não desistir no primeiro tropeço e entender a vida da maneira que ela é oferecida. De nada adianta almejar de braços cruzados algo que não se tem. Note bem,
eu escrevi de BRAÇOS CRUZADOS!!! Temos frequentemente exemplos de pessoas
que conseguiram o que desejavam partindo do nada, e sempre contam que o sucesso conseguido foi com dedicação, empenho e trabalho.
Simone é uma mulher que disfarça a sua obstinação. Por trás de um jeito inseguro, demonstrou com suas atitudes que sabia o que queria. Sua preocupação
com as incertezas da vida é uma prova disso, pois no fundo, por mais otimista que
uma pessoa seja, o futuro não pertence a ninguém. Seu marido, oriental, é sério,
de aspecto compenetrado.
Além de sua personalidade bem desenhada, três fatos foram marcantes no seu
tratamento: a sua tentativa de tentar me persuadir a fazer uma inseminação artifiDr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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cial cujas chances de sucesso, no seu caso, eram mínimas; a sua precisão
econômica em afirmar que sua situação financeira permitia somente uma tentativa
do tratamento; e o dia que com muita objetividade quis cancelar a transferência dos
embriões, devido à perda do emprego do marido. Este último fato foi o que mais
chamou a minha atenção. Por eu saber que a transferência de embriões congelados oferece uma chance menor de resultados positivos, e conhecendo a importância que esta gestação teria para sua vida e que, provavelmente, ela não se daria
uma nova chance, tive que argumentar insistentemente, lembrando que muitas
vezes as oportunidades não aparecem pela segunda vez, principalmente no caso
dela. Além do mais, tinha embriões de ótima qualidade. Meus argumentos foram
suficientes para que ela aceitasse a finalização do tratamento e transferisse os
seus embriões. Assim, ela ficou grávida.
Alguns meses depois, Simone retornou à clínica assegurando que sua vida
mudou para muito melhor. Além da alegria do bebê, seu marido tinha se recolocado profissionalmente, e numa ocupação bem mais vantajosa que a anterior.
A vida pode ser melhor ou pior. Tudo vai depender do que fazemos dela.
Depoimento
"Lute até as últimas consequências"
Simone e Keiji
Desde muito jovem, eu tinha pouca expectativa para a maternidade, pois em
decorrência de uma cirurgia de intestino ocorrida logo após o meu nascimento,
achava que tinha havido um comprometimento permanente para tal. Ainda na adolescência, descobri que meus ovários eram policísticos, e aos 25 anos, passei por
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Fé, muita fé
uma cirurgia. Como o cisto era grande e já havia envolvido uma das trompas, tive
que retirá-lo juntamente com a mesma. Depois de operada, minha médica disse
que eu poderia ter sequelas, e isso passou a ser o grande empecilho para a maternidade.
Eu não idealizava a maternidade com convicção, em forma de um sonho que
jamais abriria mão de realizar. Porém, eu sabia que existia, sim, o desejo de um
dia ser mamãe e de viver essa etapa pertencente à vida de uma mulher. Acho até
mesmo que eu sempre preferi acreditar que não fazia questão de viver esse
momento por receio de não conseguir engravidar.
Aos 29 anos, casei-me e a sonhada maternidade foi protelada por longos anos.
Enfrentamos várias situações que nos impediram de pensar em filhos, entre elas a
mudança de residência, falência das empresas onde trabalhávamos há anos, problema gravíssimo de saúde do meu marido, entre outras. Foi então que percebi
que o tempo estava passando e uma idade avançada poderia dificultar ainda mais
a gravidez. Decidi enfrentar os meus receios, e junto com o meu marido, dar início
a uma nova etapa ao nosso casamento. Naquele momento, ainda era um desejo
sem nenhum tipo de cobrança. Era uma espera tranquila.
Enquanto a gravidez não vinha, nunca deixei de me cuidar. Até mesmo porque
pensava muito que, se futuramente eu viesse a não engravidar e ter que partir para
uma adoção, jamais me culparia por aquilo, pois teria a consciência tranquila de
que sempre fiz tudo que estava ao meu alcance para que eu conseguisse ser mãe.
Após vários anos e em mais uma consulta ao ginecologista, fui informada da
possibilidade de ter endometriose. Para o tratamento, indicou-me o Dr. Arnaldo
Cambiaghi, que seria uma excelente opção para o meu caso, já que era especialista não somente em endometriose, como também em Reprodução Humana.
Fiquei feliz em estar indo me tratar com um especialista na área de Reprodução
Humana, pois algo para mim já estava ficando muito claro: não conseguiria engravidar pelos métodos naturais. Apesar de um pouco preocupada com o custo de um
tratamento, decidi procurar a clínica do Dr. Arnaldo.
Após vários exames, o Dr. Arnaldo deu início ao tratamento para a endometriose, e pouco tempo depois realizei uma videolaparoscopia para a retirada dos
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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cistos. Após a cirurgia, ficamos sabendo que se fôssemos realizar algum tipo de
tratamento para engravidar, a indicação seria a Fertilização In Vitro. Ao saber disso
fiquei muito triste, pois sabia que era um tratamento caro, onde nem sempre se
consegue engravidar na primeira tentativa. Além disso, era uma possibilidade
inacessível para nós naquele momento.
Fui orientada para retornar após seis meses, caso decidisse dar início ao procedimento, mas só o fiz após um ano. Nesse meio tempo, perdi o meu emprego e
fiquei arrasada, pois já estava com 36 anos. Chocada com o acontecimento,
cheguei a me sentir frustrada por não ter conseguido engravidar enquanto estava
empregada. Sabia que sem um emprego seria quase impossível conseguirmos
pagar o tratamento. Para minha surpresa, foi exatamente nessa circunstância que
aprendi que realmente "Deus escreve certo por linhas tortas". Com o dinheiro da
minha rescisão poderia dar início à caminhada que me levaria à maternidade.
Em pouquíssimo tempo, me recoloquei no mercado de trabalho, e mesmo trabalhando há poucos meses, conversei com meu marido sobre a possibilidade de
retornarmos à clínica do Dr. Arnaldo. O meu marido sugeriu que esperássemos
mais um pouco, pois estava sentindo uma certa instabilidade em seu emprego,
porém eu insisti muito, pois acreditava que aquele era o melhor momento. Nós dois
estávamos empregados e nosso problema financeiro para arcar o tratamento estava momentaneamente resolvido. Mesmo não tão confortável com aquela situação,
ele aceitou e apoiou a minha decisão.
Em nossa primeira conversa com o Dr. Arnaldo, expliquei os nossos planos e
deixei claro que gostaria de iniciar o tratamento por fertilização assistida, por achar
que era um tratamento mais simples e menos invasivo. Ele foi bem franco conosco ao dizer que não concordava com o tipo de tratamento escolhido por nós, pois
no meu caso, o mais indicado era a Fertilização In Vitro. Fomos embora com as
solicitações de exames para serem realizados, mas as palavras do Dr. Arnaldo
também nos acompanharam!
Realizamos os exames, mas os resultados demoraram e não houve tempo hábil
para o retorno da consulta antes do próximo ciclo menstrual. Hoje, eu me pergunto se a Providência Divina não resolveu me dar mais um mês para refletir sobre as
palavras do Dr. Arnaldo a respeito do tipo de tratamento a ser feito. Discuti o assunto com meu marido e chegamos à seguinte conclusão: Se dispúnhamos do sufi-
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Fé, muita fé
ciente para uma Fertilização In Vitro, por que não fazê-la? E assim decidimos.
Porém, desde o início, informamos ao Dr. Arnaldo que, naquele momento, podíamos fazer apenas uma tentativa.
Foram muitos remédios e inúmeras injeções, em sua grande parte aplicadas
pelo meu marido com muita dedicação. Eu não pensava no amanhã, procurava
cumprir o passo a ser dado naquele momento. Nas salas de espera do consultório,
quantas histórias nos confortaram… Lá pudemos sentir que não éramos o único
casal no mundo com aquele problema.
Após esse duro processo, foram realizados os procedimentos para a retirada
dos óvulos. O retorno à clínica para a transferência dos embriões se daria após
três dias. Porém, muita coisa aconteceu nesse curto espaço de tempo, colocando-me numa situação muito difícil. No dia seguinte à retirada dos óvulos, no
retorno de suas férias, meu marido foi demitido. Fiquei transtornada com esta notícia! Aquilo não poderia estar acontecendo naquele momento! Já imaginando a
minha reação, ele pediu para que eu não me preocupasse, pois não interromperíamos o tratamento.
Mas eu estava muito preocupada e tentava não demonstrar a minha aflição.
Sentia-me até culpada por não ter dado importância para o que ele havia me dito
em relação à sua instabilidade no emprego. Para ele, não havia o que questionar,
pois a partir do momento em que decidimos fazer o tratamento era para ir até o
final. Mesmo muito abalada com tudo que estava acontecendo, tentava me manter
bem na frente dele, pois não queria entristecê-lo e nem fazer com que se sentisse
culpado. No dia seguinte, que também era um dia antes da data marcada para a
transferência dos embriões, decidi ligar para o consultório.
Perguntei se seria possível não fazer a transferência e congelar os embriões
para realizar esse processo futuramente. À noite, o Dr. Arnaldo me ligou, questionando a minha possível decisão. Eu não queria entrar em detalhes sobre o que
realmente estava acontecendo, falei apenas que pensava em retardar a transferência por razões pessoais.
Após uma longa conversa, decidi contar-lhe o que me afligia. Ele entendeu a
minha situação e me perguntou se eu acreditava em Deus, pois, com certeza, tudo
daria certo. Pediu para telefonar-lhe no dia seguinte, comunicando a nossa
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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decisão. Estava sozinha em casa e, após desligar o telefone, chorei muito, pois
ainda não conseguia acreditar no que estava acontecendo! Quando meu marido
chegou, dividi com ele a minha angústia. Ele disse que não tínhamos o que pensar! O processo deveria continuar e que em breve ele se recolocaria no mercado
e tudo se resolveria. Então, no dia seguinte, liguei para a clínica e avisei que levaria
adiante o procedimento, conforme o combinado originalmente.
Essa etapa foi bem mais tranquila e alegre, meu marido esteve presente, fiquei
acordada e foi totalmente indolor. Depois do procedimento realizado, ficamos a sós
no silêncio da sala, sentindo aquele momento mágico. Confesso que havia
momentos em que eu questionava a nossa escolha para a transferência de somente dois embriões. Será que tinha sido correta? Se viessem duas crianças, a minha
preocupação aumentaria, mas por outro lado, depois de tanta luta, se não viesse
nenhuma seria horrível. Os próximos 12 dias foram de muita expectativa! É indescritível a ansiedade para saber o resultado. Naquela espera aflita, só podíamos
contar um com o outro, pois tínhamos decidido não compartilhar nem mesmo com
a família, enquanto durasse o processo, a fim de evitar mais ansiedade além da
que o tratamento já propiciava.
No dia determinado, meu marido retirou o resultado no laboratório, mas não o
abriu. Somente à noite, quando nos encontramos é que olhamos juntos o tão
aguardado resultado. Abri o envelope com o coração na mão, pois ele continha
uma informação com o poder de mudar as nossas vidas. E foi o que aconteceu, ele
realmente mudou tudo para sempre. Quando vi o resultado positivo, parecia que
meu mundo havia parado. Mostrei ao meu marido, mas não conseguia acreditar
naquele milagre! Imediatamente telefonamos para o consultório, para dividir com
todos a nossa felicidade. O Dr. Arnaldo, muito contente, congratulou-se conosco.
Percebi quanto aquele processo era feito com amor, dedicação, seriedade e comprometimento de todos os que estavam nele envolvidos!
Por mais alguns dias, vivemos novamente toda aquela ansiedade. Dessa vez,
era para saber quantos bebês estavam sendo gestados. Eram muitas emoções
vividas em tão pouco tempo, que tudo se tornava impossível de ser administrado
pela nossa racionalidade. Às vezes, imagino que uma gravidez conquistada pelos
métodos naturais não seja tão recheada de expectativas como a minha foi!
Chegado o dia fomos ao consultório realizar a tão esperada ultrassonografia. E lá
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estava ele: um bebê lindo e maravilhoso, representado apenas por um pontinho
que nada mais era do que o início de uma vida.
Após um mês, meu marido já estava trabalhando e, desta vez, em um ambiente
bem mais agradável que o anterior. Deus realmente deixou visível o seu cuidado
para com as nossas vidas. Aprendi, também, que na vida tudo passa!
Tive uma gravidez maravilhosa, e já no quinto mês, soubemos que era uma
menina. A alegria foi maior ainda, pois este era um grande desejo do meu marido.
Eu costumo dizer que a nossa filha tem três datas de aniversário: o dia da retirada
dos óvulos, o do implante dos embriões e o do nascimento! Com muita saúde, ela
veio ao mundo quinze dias após o meu aniversário, quando completei 38 anos.
O nascimento da minha filha foi muito emocionante. Eu chorava tanto quanto
ela, e entre as lágrimas lhe dei boas vindas. Falei que estava ao lado dela, que ela
não precisava se preocupar com nada porque eu estava ali. Foi tudo muito lindo, e
todos esses momentos foram únicos em minha vida, tenho isso muito claro para
mim. Hoje, agora, enquanto escrevo, ela está aqui ao meu lado! Andando, cantando, mexendo em tudo, inclusive nas minhas anotações. Nem dá para acreditar,
pois tudo passou tão rápido! O que eu tenho a acrescentar é que:
"Para realizar um grande sonho, precisa se concentrar e lutar por ele.
Os outros sonhos nem sempre poderão se realizar concomitantemente! Nunca é tarde e sempre vale a pena lutar para conseguir
alcançar essa dádiva. Não desista nunca, pois você conseguirá!”
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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A força mais potente
do universo? - A fé.
Madre Teresa de Calcutá
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Ousadia responsável “Il gran finale”
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Na vida, atitudes ousadas podem ser necessárias e, muitas vezes, são a única
saída para alcançar o sucesso naquilo que se pretende. Entretanto, as ousadias
podem terminar em fracassos, e mesmo valendo a pena para aqueles que se arriscaram, deve-se ter cautela para não prejudicar outras pessoas. Muitas coisas na
vida são assim, mas em medicina é diferente. Na arte médica existem procedimentos considerados perigosos por colocarem em risco o bem-estar do paciente e, por
isso, fica difícil a decisão de executá-los ou não. Deve-se ponderar sobre a escolha
de cada um destes caminhos. A desistência pode ser cômoda, pois não há comprometimento, mas ousar pode ser a solução para a cura ou a felicidade do paciente.
Existem vários exemplos, como as cirurgias de tumores de difícil acesso – que
quando extirpados melhoram a sobrevida do paciente, mas por outro lado podem
causar, na intervenção, hemorragias fatais –, e outros, como os transplantes de
órgãos ou cirurgias cardíacas inusitadas.
Nem todo paciente pode ser submetido a tratamentos arriscados, isto é, deve ser
decidido com extremo critério. É fundamental que exista a máxima confiança no médico que o esteja atendendo, o qual, por sua vez, deverá sentir o mesmo em relação
ao paciente. Ambos, além da família de quem estiver sendo tratado, deverão estar
em perfeita sintonia com o tratamento e avisados dos riscos e benefícios daquilo
que se estiver propondo. A confiança é fundamental e deve ser mútua. Se não houver este sentimento, o insucesso previsto poderá ser confundido com imprudência
ou imperícia do profissional. Neste caso, para os dois lados, o melhor é nem
começar. O certo é desistir. Este espírito deve existir em qualquer tipo de tratamen-
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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to, do mais simples ao mais complexo, seja ele de menor ou maior chance de complicação.
Em tratamentos de fertilização, os melhores resultados são alcançados quando
a paciente confia no seu médico e em sua equipe, e isso é facilmente observado na
rotina diária da clínica.
Luana e Breno são "o máximo" e formam um casal simpático, cuja marca registrada é o sorriso constante. Riem frequentemente. Por muito pouco, gargalham.
Sempre demonstraram através de suas atitudes, que confiavam muito no meu trabalho. No final de uma primeira gestação, proveniente de fertilização in vitro bemsucedida, passaram por uma tragédia. Perderam o bebê ainda dentro do útero,
com sete meses e meio de gestação. Esta complicação ocorreu devido ao enfraquecimento da musculatura uterina, em consequência da retirada de um mioma,
que ocasionou um descolamento de placenta, rotura uterina e hemorragia, culminando com a morte do bebê. Luana passou uma semana na UTI, recebeu sangue
e teve momentos de risco de perder o útero.
A rotura uterina espontânea, quando ocorre numa gestação, torna uma próxima
gravidez perigosa, pois o útero, ao aumentar novamente de tamanho com o crescimento do bebê, poderá romper-se outra vez e repetir o mesmo quadro dramático
da situação anterior. Isto torna o pré-natal bastante tenso. É uma gravidez arriscada. Luana não queria considerar outra saída e estava determinada. Breno também.
As demais alternativas seriam: "barriga de aluguel" (útero de substituição), a
adoção, ou desistir. Nenhuma delas foi a opção do casal. Procurei ser bastante
explícito sobre os riscos; todavia, eles estavam dispostos a enfrentá-los. No meu
caso, mesmo sabendo das possíveis complicações, a confiança do casal instigoume a mais esse desafio. Nós três, Luana, Breno e eu, tínhamos consciência dos
riscos de um fracasso, mas, com um acompanhamento rigoroso no pré-natal, após
mais uma fertilização in vitro, optamos pela ousadia de fazer o controle da gravidez
até o dia do nascimento do bebê (Luana fez três FIVs e todas foram bem sucedidas), mas com a responsabilidade de enfrentar as complicações que viessem ao
nosso encontro. A gestação anterior foi acompanhada por outro médico pois, por
motivos éticos, a continuidade do tratamento deve ser feita pelo profissional que
encaminhou a paciente para que eu realizasse a fertilização. Mas, desta vez, foi
diferente. Por ser uma gestação de alto risco e desaconselhada pela maioria dos
profissionais, o próprio médico que inicialmente havia me indicado pediu que eu
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Ousadia responsável Il gran finale
continuasse o pré-natal até o parto. Os detalhes interessantes estão descritos no
depoimento.
Depoimento
Em busca de um sonho... ser mãe!
Luana e Breno
O desejo de ser mãe é um sonho antigo, desde adolescente planejava construir uma família com duas crianças no lar e que, aos meus 45 anos, meus filhos já
estivessem completando a maioridade, pois acreditava que tanto eu quanto as
crianças curtiriam melhor a vida.
Aos 21 anos e solteira, por um descuido acabei engravidando, mas estava difícil aceitar a gravidez, visto que ainda estudávamos e não estava nos nossos planos
um filho e um casamento. Infelizmente ou felizmente, a gestação não foi adiante,
tive um aborto natural com seis semanas. Neste momento, não ficamos abalados
e sim aliviados!
Deste momento em diante, tudo na nossa vida sempre foi muito bem planejado. Após sete anos, enfim, nos casamos e com a certeza que na nossa vida em
comum estaria incluída novas gestações, agora com mais responsabilidade.
Tranquilos até o terceiro ano de casamento, eu e meu marido, então com 31
anos, decidimos que uma criança seria bem-vinda entre nós. A partir daí foi um ano
e meio de tentativas frustradas de uma gravidez que nunca acontecia. Não imaginava ter algum problema, visto que dez anos atrás havia engravidado normalmente e não tínhamos históricos de infertilidade nas famílias.
Conversamos, nessa época, com meu médico sobre a nossa vontade de ter filhos, mas, infelizmente, ele queria que tentássemos mais uns três meses, após
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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indicação de algumas vitaminas. Estava decidida a ter um filho e não a esperar
mais três meses de tentativas para ter um diagnóstico do porque não engravidar.
Mudamos de médico e expusemos as nossas tentativas frustradas. Agora, sim,
realizamos vários exames mais específicos. O resultado do teste pós-coital era
deficiente, o ultrassom apresentou cisto no colo uterino, e na histerossalpingografia, dilatação na trompa esquerda. Diante destes resultados negativos ficamos tristes e mais frustrados, pois agora começávamos a entender a dificuldade de engravidar. Fomos encaminhados à Clínica do Dr. Arnaldo Cambiaghi para realização de
uma vídeohisteroscopia para retirada de um pólipo endometrial e com a esperança que, após a cirurgia, conseguiríamos engravidar. Foram mais três meses de tentativas sem sucesso.
Estávamos cansados destas tentativas com determinada posição, data e até
hora marcada. Meu marido, muitas vezes irritado e chateado pela situação, não me
transmitia formalmente sua indignação para que eu não ficasse mais triste. Ele não
precisava falar nada, era fácil perceber que também estava magoado e que, pouco
a pouco, as coisas entre nós estavam esfriando. Decidimos não expor os nossos
problemas com outras pessoas, nos reservamos, pois achamos que seria mais
positivo para o nosso equilíbrio emocional. Diante dessa atitude, não tínhamos
uma válvula de escape, éramos somente nós dois, precisávamos estar bem um
com o outro sempre. Mas com muita tranquilidade, amor, compreensão e respeito
mútuo, que sempre existiu entre nós, não desistimos do nosso tão sonhado bebê.
Retornamos ao médico, que agora também havia desistido das tentativas e nos
encaminhou novamente para o Dr. Arnaldo, agora como especialista em
Reprodução Humana.
Fomos à consulta com o Dr. Arnaldo, desta vez sabíamos que o nosso problema era mais sério do que imaginávamos há um tempo atrás, pois jamais pensávamos que precisaríamos de um especialista para engravidar. Apesar de saber que
o problema era meu e não do meu marido, sempre houve por parte dele muito
respeito, companheirismo e colaboração, qualidades essenciais do meu marido,
que agradeço a Deus, me ajudou a superar essa nova fase de investigações e
tratamentos.
Antes de decidir qual tratamento seria ideal para o meu caso, Dr. Arnaldo realizou uma videolaparoscopia para retirada de um mioma e aderências, e diante da
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Tropeços e...
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situação encontrada e dos resultados obtidos da cirurgia, optou-se pelo tratamento de FIV.
Em agosto/03, iniciamos o tratamento. Sentia-me perdida nos sentimentos e na
emoção, a vontade de começar o tratamento era muito grande, mas existia ao
mesmo tempo um medo que me incomodava, pois o meu organismo não estava
acostumado a tantos medicamentos. Sempre media a real necessidade de tomálos e acreditava que as medicações para o tratamento poderiam trazer futuramente
algum problema para a minha saúde. Mas não tinha jeito, ou eu aceitava a medicação ou esquecia o meu sonho.
Desistir não estava nos meus planos, a vontade de ser mãe foi mais forte do
que o medo dos medicamentos. Expectativas e ansiedades aumentavam cada vez
mais no decorrer do tratamento, pois sabíamos da existência da incerteza do resultado. O intervalo entre a transferência dos embriões e o teste de gravidez foi muito
angustiante, mas finalmente chegou o grande dia: – "Parabéns, você está grávida!", afirmou Dr. Arnaldo do outro lado da linha telefônica. Mais tranquila com o
resultado positivo, agora só restava esperar o outro grande dia, o do ultrassom,
para saber quantos dos três embriões que havia colocado vingaram. Esperava
muito a notícia de gêmeos, mas o ultrassom apontava somente um coraçãozinho.
Ficamos felizes do mesmo jeito! Agora tudo seria diferente, mais calmos, sem frustrações e sem tristezas, pois estávamos GRÁVIDOS!; não nos contínhamos dentro de nós, tamanha a felicidade que sentíamos.
Passados dois meses de acompanhamento da gestação, Dr. Arnaldo despedese de nós dizendo que por questões de ética profissional, como eu tinha sido
encaminhada por outro médico, seria justo ele devolver-me para o acompanhamento do pré-natal ao médico que havia nos indicado para tratamento. Afirmei
que queria continuar o acompanhamento com ele, mas não teve conversa. Nesse
momento, sabíamos quanto o Dr. Arnaldo e sua equipe tinham sido importantes
nessa conquista, mas agradecemos de coração, e tristes, enfim, partimos para sermos acompanhados pelo outro médico.
No terceiro mês, comunicamos aos amigos e familiares a gestação, mas as dificuldades enfrentadas e o tratamento ficaram somente entre nós dois. Adotei uma
postura normal durante a gravidez, continuei com a vida que levava antes (trabalhando, passeando, indo à academia); sentia-me bem, sem contudo ultrapassar os
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limites e nunca esquecer que estava grávida. Nas consultas do pré-natal, sempre
notícias boas. Estávamos animados com a decoração e a montagem do quarto do
Diogo, queríamos deixar tudo pronto para a sua chegada.
Já com 34 semanas de gestação e mais uma consulta do pré-natal, conversamos com o médico sobre a possibilidade de o bebê se adiantar e querer nascer
antes do previsto, mas como tudo corria muito bem, essa probabilidade era muito
pequena; mesmo assim foi solicitado o exame que diagnostica risco de parto prematuro. Informei também que sentia a barriga endurecer com pequenas dores
espontâneas de baixa duração, mas fiquei tranquila, pois o médico disse que eram
pequenas contrações e que agora, até o final da gestação, era normal.
Na madrugada do dia seguinte à consulta do pré-natal, acordei várias vezes
incomodada com cólicas; não era uma dor insuportável que eu não conseguisse
controlar, e estava tranquila, pois imaginava que fosse normal, conforme informação do médico na consulta do dia anterior. Infelizmente, ao amanhecer do dia, as
dores aumentaram e ficaram intensas, acordei meu marido e, com dificuldades
para respirar, corremos para o hospital.
Cheguei no hospital muito mal, vomitava e sentia dores horríveis. Fui levada
pelos médicos para avaliação e, quando acordei, já estava me recuperando na UTI.
Perguntava constantemente do meu bebê e do que havia acontecido, até que passado algum tempo, um médico me deu a pior notícia da minha vida: – “Você sofreu
um descolamento prematuro da placenta e uma ruptura uterina e, infelizmente, o
seu bebê não conseguiu sobreviver, houve tentativas de reanimá-lo, mas não foi
possível."
Precisava despedir-me do meu bebê, ver o seu rostinho e tocá-lo pela primeira
e última vez. Era lindo!
Sentia muitas dores abdominais, uma tristeza profunda e um monte de dúvidas
e porquês sem respostas. O que era segredo meu e do meu marido sobre as dificuldades, as cirurgias realizadas, o tratamento de FIV, teve que ser aberto para a
equipe médica e familiares para tentar obter uma resposta do que havia acontecido. Ainda corria o risco de uma histerectomia.
Foram oito dias angustiantes na UTI, era difícil escutar que você é jovem, que
preservaram o seu útero e que você engravidaria novamente. A cada visita do meu
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marido na UTI me trazia mais forças para minha recuperação, sabia que ele também estava sofrendo e que precisava de mim recuperada e forte para continuarmos nossa caminhada na vida. Mais três dias no quarto do hospital para acompanhamento, e enfim recebi alta para voltar para casa; nesse momento, disse ao meu
marido que eu não queria mais engravidar, e sim que poderíamos adotar uma
criança, visto que já havíamos conversado sobre adoção anteriormente e não tínhamos nada contra, pois sentia muito medo do que poderia acontecer em uma
nova gestação.
Estávamos arrasados, o que estava tudo planejado acabou não acontecendo,
nos sentíamos impotentes diante da vida. Quanto desgaste parecia se acumular na
nossa vida! Sentia-me culpada por não ter desacelerado o ritmo da minha vida e
por não ter corrido antes para o hospital. Por que Deus permitiu que isso acontecesse? Seria um castigo? Que culpa o meu pequeno bebê estava pagando? Por
quê? Por quê? Por quê?
Devido aos muitos porquês sem resposta e ao nosso sofrimento emocional, realizamos tratamento psicológico e espiritual que durou uns três meses. Após esse
período depressivo pela perda do bebê, reunimos força para voltar à nossa vidinha
de antes. Como estava de licença-maternidade e não tinha o meu bebê para cuidar, busquei informações sobre o que havia acontecido comigo e sobre adoção de
criança. A adoção de criança na forma legal poderia acontecer no prazo de dois
anos ou mais, de acordo com as características solicitadas pelos pais, mas eu não
queria esperar este tempo duvidoso, achava muito longo. Enquanto decidia sobre
a adoção, pensava muito em porque preservaram o meu útero, visto que nas informações que levantei sobre ruptura uterina, normalmente, acontece a perda do
útero. Seria um sinal para tentar novamente uma gravidez? A revolta que eu estava de Deus já havia passado, pois tinha conseguido obter respostas que, no
momento, me acalentaram. Conversei com o meu marido sobre a possibilidade de
uma nova tentativa de tratamento, ele me apoiou e me deixou à vontade para definir quando eu realmente estivesse pronta para buscarmos esta ajuda.
Em outubro/04, passados seis meses da cirurgia, já recuperada física e emocionalmente, voltamos ao consultório do Dr. Arnaldo para conversarmos a respeito
das possibilidades de uma nova gestação. Realizamos vários exames específicos
para avaliação da cicatriz do útero e mais uma cirurgia de videolaparoscopia devido à hidrossalpinge na trompa esquerda.
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Dr. Arnaldo nos explicou os riscos e os cuidados para uma nova gestação, deveria ser de único feto, nascer prematuro e com acompanhamento e avaliação da
cicatriz do útero. Como tinha medo de uma nova gestação, mas confiava na sua
capacidade e profissionalismo, informei que estávamos lá por nossa livre e espontânea vontade e sem a indicação de outro médico, e se o Dr. Arnaldo acompanharia a gestação até o final, pois eu não queria que ele me deixasse novamente,
após o acompanhamento do exame positivo de gravidez. Ele deu risada e disse
que agora seria diferente, pois estava assumindo um problema, ou melhor, um
"pepino", como ele costumava dizer nas consultas em tom de brincadeira e de
forma carinhosa, e que ninguém merecia receber um problema deste. Saí do consultório feliz, pois estava animada com a esperança de que ainda teria chances de
ter o meu filho e acabei deixando de lado a ideia da adoção.
Eu e meu marido havíamos decidido que, antes de iniciar o tratamento, eu
pararia de trabalhar e levaria uma vida mais tranquila, pois o meu trabalho estava
exigindo uma dedicação constante e sem horários determinados, deixando-me
estressada física e emocionalmente. Jamais imaginei parar de trabalhar na minha
vida, principalmente por causa de filhos, foi uma decisão difícil, mas que achava
importante naquele momento.
Em maio/05, estávamos prontos para iniciarmos o tratamento de FIV. Estava
feliz pela nova esperança de ter o meu sonhado bebê. No dia da transferência dos
embriões, Dr. Arnaldo nos comunicou que havia somente dois embriões e que
estes não estavam "bonitos". Fizemos a transferência deles e, ansiosos, ficamos
aguardando o dia do resultado da gravidez.
"Parabéns, você está grávida!", mais uma vez escutava a tão esperada notícia.
Estava feliz, agradeci a Deus pela recuperação do meu útero e do sucesso do
tratamento. Mas, nesse momento, ainda tínhamos outra preocupação, não poderiam ser gêmeos. Chegou o dia do ultrassom, esperançosos que seria somente
um, ficamos tranquilos após a confirmação da visualização de somente um saco
gestacional. No próximo ultrassom poderíamos ver o seu coraçãozinho.
Infelizmente, no dia marcado para o ultrassom não conseguimos visualizar
nada, e o Dr. Arnaldo solicitou outro exame de BHCG e outro ultrassom. O resultado do bHCG apresentava elevado ao primeiro exame, mas o saco gestacional do
próximo ultrassom já estava murcho. Foi um choque receber mais essa notícia;
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duas semanas atrás estava feliz e, agora, decepcionada novamente. Não segurei
o choro, que aconteceu ainda na sala da consulta. Despedi-me do Dr.Arnaldo, que
me disse: "Chora, pode chorar, vai te fazer bem!"
Estava mais uma vez sendo amparada e consolada pelo meu marido, chorava
muito. Por que existem mulheres que realizam o aborto e por que Deus permite
que elas que não querem engravidem, e eu não? A dor deveria ser menor, mas o
sofrimento era igual ao que senti na perda da primeira gestação. Meu marido sempre demonstrou muita firmeza e consciência diante dos obstáculos negativos, uma
presença importantíssima na minha vida, que sempre com suas atitudes e palavras
de carinho, me traziam para a vida real. A notícia dessa gravidez ficou somente
entre nós dois.
Recuperada, em setembro/05, iniciamos outro tratamento de FIV. Dessa vez, tínhamos três lindos embriões a serem transferidos. Informação que me deixava
mais confortável em relação ao tratamento anterior, quando os embriões não eram
tão satisfatórios.
Antes da data do exame de bHCG, eu já estava sentindo enjôos. Dr. Arnaldo me
ligou e me deu o resultado: "Parabéns, você está grávida! Porém o seu bHCG está
muito alto e você já sabe o que isto significa, não é?"
Em seguida, liguei para o meu marido e passei a notícia. Felizes, sim, mas
muito preocupados, pois não podíamos ter uma gravidez múltipla. Foram dez dias
de expectativas, enjôos e náuseas até o dia do ultrassom. Recebemos a notícia do
que imaginávamos, dois com certeza e o terceiro não estava muito visível. Duas
semanas, depois a notícia do terceiro.
Meus trigêmeos estavam lá se desenvolvendo dentro do meu útero, e se não
pensasse nos problemas era uma sensação muito gostosa, e, enfim, seria recompensada com uma felicidade tripla. Mas não podia pensar desta maneira, a redução embrionária era necessária e fomos encaminhados para um especialista em
medicina fetal para a redução. Tinha conhecimento que todo procedimento invasivo poderia resultar na perda da gestação.
Muito triste e preocupada, com nove semanas, fomos para essa batalha. A
primeira redução não foi difícil selecionar, pois dos três embriões um estava com
tamanho inadequado para o período. A segunda deveria ser mais criteriosa, e o
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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médico preferiu deixar para a próxima semana, quando os embriões estariam um
pouco mais desenvolvidos, facilitando sua decisão. Voltamos novamente para a
batalha, agora um pouco mais preocupados, visto que não poderia dar nada errado, pois agora só tínhamos dois coraçãozinhos. Foi difícil a seleção, mas depois
de um tempo avaliando, o médico fez a opção – um respondia com poucos movimentos. Saímos da clínica e o meu sentimento era de que haviam tirado um
pedaço de mim ou que esquecia algo. Bateu uma culpa, um vazio, uma tristeza em
saber que mais dois filhos meus ficaram na lembrança.
Minha irmã foi a única que acompanhou essa fase do tratamento e as reduções
embrionárias e, no terceiro mês, notificamos familiares e amigos da gravidez de um
único bebê; agora todos sabiam que se eu estava grávida era porque eu havia
realizado outro tratamento. Percebi que as pessoas também sofreram com a perda
do meu bebê e a notícia de uma nova gravidez deixou todos felizes, mas muitíssimo preocupados também.
Retornamos ao Dr. Arnaldo, agora com uma gestação única para acompanhamento do pré-natal e com o médico especialista em medicina fetal para acompanhamento do bebê e da cicatriz do útero. Até a 28ª semana eu me sentia calma e tranquila, mas, com o passar das semanas, a ansiedade e o medo pairavam sobre os
meus pensamentos e sentimentos. Conseguia dormir umas quatro horas por noite,
tinha muita insônia. Dr. Arnaldo pretendia levar a gestação até a 32ª semana, mas
tudo dependeria dos acompanhamentos que agora passariam a ser semanais.
Percebi que o medo também pairava sobre o meu marido, apesar dele não me
dizer claramente, pois, nas últimas semanas, qualquer respirada diferente, ele já
me perguntava se eu estava sentindo alguma dor. Seus sentimentos, muitas vezes,
não eram expostos, pois achava que assim poderia me preservar de mais sofrimento. Telefonemas e e-mails de amigos e parentes também foram constantes,
todos estavam ansiosos e preocupados.
Como planejado, na 31ª semana, fui internada no hospital. Apesar dos exames
apontarem que tudo estava bem, ficamos mais aliviados com a internação e o
pequeno Arthur poderia ganhar mais peso. Passada mais uma semana, chegou o
dia, o Arthur nasceu! Escuto o seu choro e não me contenho de tanta emoção e
felicidade, eu e meu marido choramos juntos, enfim conseguimos conquistar o
nosso sonho. Arthur nasceu com 1,990 kg e passava muito bem, mas precisava
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ficar alguns dias na UTI Neonatal para maturar o pulmão e ganhar mais peso.
Aquele pequenino ser na incubadora respondia muito bem aos procedimentos
médicos e, depois de três dias, foi transferido para a Unidade Semi-Intensiva, onde
pudemos participar mais ativamente do desenvolvimento do Arthurzinho. Era muita
emoção a cada visita, pois sua evolução era muito positiva. Em nenhum momento
ficamos tristes ou abalados com a ida dele para a UTI e nem com a minha alta
antes do Arthur, pois estava saindo tudo como planejado pelo Dr. Arnaldo, que
tinha nos preparado emocionalmente para essa situação. Estávamos muito felizes
com o nosso bebê!
Olhando para o passado, hoje com 35 anos, quantos desvios nos nossos
planos e nas nossas vidas, quanto empenho, esforço, tristeza, decepção, angústia, revolta e frustração tivemos que passar. Foi um período árduo, mas que hoje
percebemos quanto fomos e somos fortes, corajosos e determinados para uma
conquista. Aos olhos de muitos parecia ser impossível, mas tudo nos dizia que
jamais deveríamos desistir, eu e o meu marido acreditávamos que a nossa união,
compreensão e respeito que possuímos um com o outro foi essencial para esta
conquista. Nunca deixamos de ter esperança, sempre pensávamos positivo com
bastante fé e crença em Deus.
Desta experiência, ainda nos restaram muitas alegrias: casais amigos nossos
que por motivos vários de infertilidade haviam desistido ou estavam cansados dos
tratamentos, se motivaram com a nossa história e com o final feliz, e hoje se encorajaram e buscam o sonho de ter filhos.
Toda mãe tem uma força escondida que nem ela imagina possuir para ajudar
um filho, no nosso caso para ter um filho. Por tudo isso, nunca desistam dos seus
sonhos. A vida pode não ser fácil e possuir muitas barreiras a serem ultrapassadas,
mas a cada experiência, brotam novas forças que encorajarão vocês para a sua
conquista de gerar uma criança. Acreditem!
Mas, para que tudo isso acontecesse, tínhamos do nosso lado uma equipe maravilhosa, atenciosa, humana e profissional, um médico de excelente gabarito, brilhantismo e seriedade no que se dedica a fazer. Muito obrigada por ajudar a realizar o nosso sonho.
Nossa eterna gratidão ao Dr. Arnaldo Cambiaghi e a toda a sua equipe.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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Em busca de um sonho... ser pai!
Breno, 35 anos
Nossa! Depois de cinco anos de tentativas, após o nascimento do Arthur,
parece que tiraram uma tonelada das minhas costas, que alívio!
Jamais imaginava passar por tudo isso para ser pai, e adoção era uma saída
que eu aceitava sem problema algum, mas sabia quanto era importante para a
Luana ter o nosso próprio bebê. A garra e a obstinação dela em gestar um filho
eram muito grandes e, com o passar do tempo, também fui abraçado e envolvido
por este desejo.
Durante todos os aprendizados sobre termos médicos e nomes de exames que
vamos adquirindo com o avanço das investigações, o maior deles foi aprender a
amar algo que você nunca viu. É muito curioso, pois eu, como a maioria dos homens, sou muito racional, e não imaginava quanto uma imagem de um pequeno
círculo num registro de ultrassom, juntamente com o som do batimento cardíaco
podiam me envolver de maneira tão instantânea. Foi a partir de então que pude
aproximar minha compreensão em torno do desejo feminino sobre a gravidez.
Coadjuvante. Esta é a palavra que melhor poderia expressar a minha percepção sobre o processo de engravidar por um procedimento médico de FIV. São tantos medicamentos, visitas ao consultório, horários, exames, repouso, dieta alimentar que, em alguns momentos, me sentia invisível e quase dispensável no processo. Mas não, visto que todas estas atividades ficam muito piores quando se soma
a tudo isso medos, frustrações, ansiedades, depressão, entre outros sentimentos.
Bem, foi aí que passei a valorizar a importância deste papel na relação do casal
que busca a gravidez.
Tal como um time de futebol que tem várias pessoas que propiciam gerar a
grandeza da alegria de uma conquista por um campeonato, e sabe-se que o atacante que faz o gol da vitória numa final com estádio lotado é o grande glorificado
por aquele instante. Esta ação de suporte fez aproximar a relação de parceria com
minha esposa e entender que ela é o grande atacante deste time, mas que, sozinha, a viabilidade desta ação ficaria muito mais difícil.
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Quem somos IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia,
Obstetrícia e Medicina da Reprodução)
Dividindo sonhos... Multiplicando alegrias
Centro de Reprodução Humana do IPGO
O Centro de Reprodução Humana do Instituto Paulista de Ginecologia, Obstetrícia e Medicina
Reprodutiva (IPGO) vem, há muitos anos, trabalhando em prol do bem-estar da mulher. Em
Reprodução Humana, acolhe com sucesso vários casais, vindos de todo o Brasil e do exterior,
com problemas para engravidar.
Atuando na área de Infertilidade, desenvolve e aprimora técnicas de Reprodução Assistida,
que envolvem novos tratamentos e exames para diagnósticos das causas que impedem a gravidez.
Ter todas as tecnologias de ponta utilizadas para o acompanhamento da saúde física é parte
de uma das metas da clínica: a manutenção da integração corpo-mente. Por esse motivo, o
IPGO dispõe de um corpo clínico multidisciplinar, com profissionais que avaliam e tratam a
mulher sob todos os problemas ligados ao seu bem-estar: Ginecologia Geral, Obstetrícia,
Clínica, Cardiologia, Mastologia, Fisioterapia, Reeducação Alimentar, sexualidade, apoio psicológico, tensão pré-menstrual (TPM), videolaparoscopia e videohisteroscopia.
O IPGO entende que os cuidados com as mulheres não se restringem ao consultório. Por isso,
além dos livros publicados com finalidade educativa e esclarecedora, faz da internet um importante canal de comunicação para aprofundar a relação médico-paciente, por meio da criação
de vários sites:
www.ipgo.com.br: nele os casais podem encontrar diversas informações sobre os tratamentos de infertilidade.
www.fertilidadedohomem.com.br: um site feito para os homens que pretendem construir
uma família.
www.guiaendometriose.com.br: dedicado às mulheres que sofrem dessa doença e aos que
estão próximos a elas, para esclarecer as principais dúvidas.
www.doadorasdeovulos.com.br: site dedicado às mulheres que precisam receber óvulos
doados para conseguir a própria gestação. São mulheres que querem ter uma família, mas
não têm óvulos capazes de serem fertilizados. Orienta, também, como é possível doar óvulos.
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi
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www.trigemeos.com.br: é um canal de informações para pessoas interessadas em aprender
sobre trigêmeos, com espaço para troca de experiências entre os pais e esclarecimento de
dúvidas.
www.vidaconcebida.com.br: um site informativo que apresenta como cada religião avalia os
tratamentos de fertilização. Não é preciso estar envolvido em algum tratamento contra infertilidade para entender o quão envolvente e interessante pode ser conhecer a diversidade de opiniões entre os representantes religiosos e as leis das doutrinas que cada um representa: o
proibido, o permitido e o interpretado. É um tema inédito sobre os tratamentos de Reprodução
Humana, algo que só poderia ser escrito por um especialista com vontade e sensibilidade para
entender o lado espiritual dos seus pacientes. À primeira vista, esse assunto pode parecer
espinhoso, mas estimula instigantes discussões, seja o leitor religioso ou não.
www.fertilidadenatural.com.br: traz esclarecimentos sobre os tratamentos naturais e como
eles podem melhorar a fertilidade do casal.
www.gravidafeliz.com.br: é um site direcionado às mulheres e aos homens “grávidos” que
querem saber mais sobre esse período mágico da vida.
www.preservesuafertilidade.com.br: mostra como alguns comportamentos e hábitos de vida
inadequados podem prejudicar a fertilidade das pessoas. Inclui uma importante seção sobre
preservação da fertilidade em pacientes com câncer.
Nossa Missão
Usar a arte da Medicina, o Conhecimento e a Tecnologia em prol do bem-estar da mulher, valorizando, no atendimento, as relações entre médico, equipe e paciente.
Enfatizar que o Universo Humano não se limita à esfera orgânica. A saúde perfeita envolve
também aspectos emocionais e afetivos.
Nossos Valores
Respeito, honestidade e transparência nas relações com os clientes e colegas da área de
saúde.
Valorizar, sem exceção, os princípios éticos que regem a Medicina.
Acreditar que a excelência dos resultados depende não só do nosso trabalho, mas também da
dedicação à ciência e da fé, credibilidade e da vontade do cliente ao ser tratado.
Nossos Visão
Atingir o máximo de sucesso nos procedimentos médicos realizados, utilizando o que há de
melhor e mais atual na Ciência, sem esquecer a ética e a humanização dos tratamentos.
Rua Abílio Soares, 1125 - 04005-004 - Paraíso - São Paulo - Brasil
55 (11) 3885-4333 / 55 (11) 3884-3218
Email: [email protected]
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