Sem título-1

Transcrição

Sem título-1
R
REPORTAGEM
NOVOS NEGÓCIOS
Por Jader Moraes
A hora e a vez das
Startups
As empresas nascentes de base tecnológica são o novo alvo do governo e
do mercado para alavancar o desenvolvimento do país. Jovens
empreendedores, pressionados por um ambiente competitivo, comentam
o cenário positivo e os desafios para alcançar êxito
H
á exatos doze meses, Helbio Silva resolveu
apostar em sua ideia. Morador de Itu, no interior de São Paulo, enxergou na plataforma web
uma grande oportunidade de viabilizar seu
próprio negócio. A partir de sua ideia, nasceu uma ferramenta de marketing interativo criada para movimentar o comércio local, por meio de cupons de descontos, leilões de menor
valor, entre outras estratégias. Com uma estrutura enxuta,
uma aposta na base tecnológica do negócio, bom conhecimento do mercado regional, um ano depois a empresa já
trabalha em planos de expansão, ainda no mês de setembro,
para outras quatro cidades paulistas. Essa é a história da BuzzLocal. Mas também poderia ser a de outros milhares de
empreendimentos com o mesmo perfil que surgem a cada
ano no país, em um número que não para de crescer.
Segundo dados do Sebrae, existem hoje mais de 700 mil
jovens empreendedores em atividade no país, quase o dobro
do registrado dez anos antes. Parte desses jovens são responsáveis pelas startups, empresas nascentes, geralmente apoiadas
em alguma base tecnológica, que tenham a inovação como
norte e grande potencial de crescimento, a despeito dos baixos custos de operação. Elas estão inseridas em um cenário
de incerteza e oferecem produtos que sejam escaláveis e
produzam algum impacto na sociedade ou no mercado local.
Ao contrário da cartilha habitual dos bons negócios, estes
empreendimentos precisam obter êxito em pouco tempo
para atrair investidores que alavanquem o negócio. Embora o
conceito não seja absolutamente novo, e nem exista um consenso em torno dele, é quase unanimidade entre empreendedores, analistas e entidades especializadas que esse mercado
está em ascensão no país.
Em todo o país, elas representam uma fatia considerável
dos novos empreendimentos surgidos nos últimos anos,
impulsionados pelo bom momento econômico que o Brasil
viveu na última década e pela ampliação do acesso aos meios
tecnológicos. A Associação Brasileira de Startups (ABStartups) calcula que entre 90% e 95% das empresas nascentes
no país estejam ligadas à tecnologia. “As startups têm duas
premissas: a escalabilidade e a repetibilidade. O produto ou
serviço oferecido deve ser replicável de modo simples, para
atingir o maior número possível de pessoas, com esforço não
crescente. Ou seja, a curva de crescimento tem que ser maior
que a curva dos custos. A empresa deve ser capaz de crescer,
gerar grande impacto, sem necessariamente ter que ampliar
em demasia sua estrutura. E o ambiente mais fácil de se ter
isso é na tecnologia”, explicou Tomás Duarte, vicepresidente da entidade.
A associação foi criada em 2011 como um esforço para
integrar as principais startups em desenvolvimento no país.
Atualmente, conta com mais de 2,3 mil empresas cadastradas
de todos os 26 estados do país, mais o Distrito Federal. Além
de promover eventos e manter uma base de dados atualizada
sobre todos os empreendimentos, a entidade representa seus
associados em diferentes espaços de negociação com o poder
público e a sociedade civil.
Recentemente, a ABStartups comemorou a aprovação
por uma comissão do Senado de um projeto de lei que zera os
impostos federais para as novas empresas de tecnologia em
seus dois primeiros anos de existência. Em outra frente, a
entidade também se prepara para, pela primeira vez, ser gestora de um programa estadual de apoio às startups, no governo de Minas Gerais.
RUMOS - 32 – Julho/Agosto 2013
Arte com foto de arquivo
Para ampliar a base de associados, a entidade busca identificar as principais ações em todo o país e faz o convite aos
líderes de organizações e comunidades do ramo. “Estamos
em um período de reorganização, crescemos muito à base de
eventos, mas queremos avançar em nossa atuação”, salientou
Duarte.
Em todo o país – Yuri Fernandes, Victor Cardoso e Gustavo
Carvalho possuem uma startup em Salvador, na Bahia. A
empresa, criada em 2007, é focada em tecnologia, games e
aplicativos. Os sócios avaliam que, desde 2012, é crescente o
incentivo às atividades de empreendedorismo no país, mas
veem que as diferenças regionais ainda são grandes. Para Yuri,
o cenário é extremamente favorável no Sudeste, enquanto o
Nordeste ainda está “engatinhando”, especialmente em seu
estado. “Paradoxalmente, em Pernambuco o cenário é outro,
principalmente por conta do Porto Digital, que atualmente é
uma grande referência, atraindo visibilidade e investimentos
para as empresas do setor”, comentou o jovem, referindo-se
ao Arranjo Produtivo de Tecnologia da Informação e Comunicação e Economia Criativa, criado em Recife.
Para o vice-presidente da ABStartups, apesar de estarem
na dianteira dos novos empreendimentos, São Paulo e Rio de
Janeiro são acompanhados de perto no cenário nacional. “No
Brasil não existe um Vale do Silício, algo que concentre todas
as iniciativas e seja referência. Ao contrário, você tem polos
em vários pontos do país. São Paulo acaba sendo o berço de
muitos, assim como o Rio, mas cada polo tem sua peculiaridade e são extremamente importantes”, afirma Duarte.
Além do Porto Digital, em Recife, o vice-presidente cita
uma série de outras regiões que têm se destacado: Campinas,
com uma associação própria e vasta produção acadêmica;
Mato Grosso do Sul e sua série de iniciativas de grande e
pequeno porte; Vitória, no Espírito Santo; e Belo Horizonte,
que tem chamado atenção para o mercado internacional e
recentemente foi intitulada pela revista inglesa The Economist
de “novo Vale do Silício”, em referência à região norteamericana considerada o berço da tecnologia mundial. De lá,
saíram grandes empresas como a Apple, a Microsoft, o Google e, mais recente, o Facebook.
Na capital mineira, um conjunto de novos empreendedores criou uma comunidade autogerenciada de mais de 50
startups, a San Pedro Valley. As empresas estão localizadas no
entorno do bairro de São Pedro, área nobre da cidade, e a
comunidade tem agregado outras empresas de diferentes
bairros da capital. A única exigência é que não fujam às regras
do que se entende por uma startup. “Há muito incentivo
dependendo do estado onde você se encontra, mas eu acredito que falta conhecimento por parte do empreendedor para
saber qual a hora exata para buscar este recurso no mercado”,
defendeu Felipe Martins, fundador e CEO da startup ÁgilSocial, uma plataforma de produtividade empresarial nas
nuvens sediada em Belo Horizonte.
Cultura de investimento – O advogado Rodrigo Menezes,
mentor e membro da Endeavor Brasil, braço brasileiro da
principal instituição de seleção e apoio a empreendedores de
alto impacto em todo o mundo, defende que há três principais dificuldades para as empresas nascentes: burocracia, o
desconhecimento dos empreendedores sobre a dinâmica dos
investimentos e a ausência de uma cultura de financiamento.
Wilson Silva, diretor da Neogeo, empresa de geoinforma-
RUMOS - 33 – Julho/Agosto 2013
R
REPORTAGEM
NOVOS NEGÓCIOS
Divulgação
ção localizada no Rio de Janeiro, destacou que a
aceleradoras de empresas, que selecionam as startups que
dificuldade financeira é de fato um dos principais
recebem os recursos. No primeiro edital, nove aceleradoras
desafios para a maioria das startups no país. Ele
foram escolhidas e então puderam selecionar as empresas,
criticou alguns entraves para obtenção de financontempladas, cada uma, com um aporte de até R$ 200 mil.
ciamento e investimentos públicos no segmento.
O Startup Brasil faz parte de uma estratégia mais ampla
“As exigências de garantia financeira são muito
do governo, que tem enxergado na ciência, tecnologia e inoaltas. Se você é startup, em tese você não tem essas garantias.
vação um eixo estruturante para o desenvolvimento do país.
Essa é uma questão que ainda não está bem resolvida no
Coordenado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovapaís”, comentou.
ção (MCTI), o Programa Estratégico de Software e Serviços
O vice-presidente da ABStartups também acredita que há
de Tecnologia da Informação, o TI Maior, tem a finalidade de
a falta de uma “cultura de investimento” a empresas desta
fomentar a indústria de software e serviços nesta área e a
natureza. Para Duarte, que possui também sua própria
previsão é de investimento de aproximadamente R$ 500
empresa de tecnologia, o Brasil ainda é prematuro na questão
milhões em doze setores considerados estratégicos dentro do
dos investidores-anjos e também na prática da aceleração de
plano. O fomento às startups é um dos principais motes do
novos empreendimentos. “Ainda não deu tempo, essa cultura
programa.
ainda não existe aqui. Todas as experiências brasileiras são
“Queremos que a produção de softwares cresça no Brasil
muito recentes, estamos no começo. O empreendedor não
a uma taxa muito alta e que esse crescimento represente divipode cair na ilusão de que precisa focar no investimento.
sas para o país, geração de renda para as empresas e criação de
Muitas vezes, gasta tanto tempo para fisgar o investidor que
postos de trabalho qualificados para os brasileiros. O softwadescuida do próprio negócio. Muitos são iludidos com o
re brasileiro deve fazer frente ao produzido no exterior”,
mercado americano, mas o cenário
disse o ministro Marco Antonio
aqui é outro. Tem que ter investimento
Raupp, na cerimônia do lançamento
próprio também e o investimento
do programa.
externo surge com o trabalho bem
Afinada com a estratégia nacional,
executado”, afirmou.
a Agência Brasileira de Inovação
Ele destaca ainda o papel que o
(Finep) lançou ainda no ano passado
governo pode assumir para impulsiodois novos programas, o Inovacred e
nar o cenário de investimentos em
o Tecnova. Voltados às micro, pequestartups no país. Duarte defende que os
nas e médias empresas, os programas
resultados no mundo empreendedor,
possuem especial atenção aos empreespecialmente quando se trata de
endimentos ligados à inovação e tEm
empresas nascentes com este perfil,
como objetivo ampliar a competitivisão fruto, para além dos financiamendade das empresas em nível regional
tos e repasses diretos, de estratégias
ou nacional. Ambos têm como caraclegais e governamentais construídas
terística a descentralização de suas
no longo prazo.
ações, em parcerias com bancos de
“É preciso uma conjuntura de
desenvolvimento, agências de fomeniniciativas governamentais, também na
to e outras instituições regionais.
academia, já que os talentos geralmen- Tomás Duarte, vice-presidente da ABStartups
“Avaliando o tamanho do desafio
te nascem nas universidades; a desbuque tínhamos, entendemos que a ação
rocratização; e também no investimendeveria ser feita junto com parceiros.
to em infraestrutura física e tecnológica, que impacta os
Estes parceiros conhecem o tecido empresarial e os temas
negócios. Internet de baixa qualidade é um entrave, por um
regionais, o que nos permite um aumento da escala no atendiexemplo”, listou ele. “O equacionamento dessas questões
mento e também conseguimos otimizar os custos operacioajuda a criar cultura. Aquele papo de ‘seja insistente, não
nais”, explicou Marcelo Nicolas Camargo, do Departamento
desista’ não cola quando estamos falando de startups. São
de Operações de Subvenção da Finep.
empreendimentos que possuem data de validade, se não
O Tecnova, que teve sua primeira chamada pública em
conseguem escalar rápido, vão falhar; se não tiver uma resnovembro de 2012, apoia projetos de inovação, com financiaposta em um curto espaço de tempo, não vai dar certo. É de
mento da Finep e contrapartida dos estados. Os parceiros
fato um modelo mais agressivo”, reforçou Duarte.
regionais atuam identificando quais os temas prioritários para
cada estado dentro de um amplo leque de setores que podem
Investimentos públicos – Em novembro do ano passado, o
ser beneficiados. Até o momento, 21 estados já foram seleciogoverno federal lançou o programa Startup Brasil, voltado
nados para o programa, que tem como meta apoiar cerca de
especialmente para o estímulo a empresas nascentes de tec800 empresas em todo o território nacional.
nologia e inovação, com investimento total previsto de R$ 36
Já o Inovacred atua mais diretamente junto aos bancos de
milhões para o apoio de até cem companhias. O programa
desenvolvimento e agências de fomento nos estados. Cada
funciona por meio de um contrato inicial com instituições
operador pode captar até R$ 80 milhões para o financiamento
RUMOS - 34 – Julho/Agosto 2013
Imago Foto
Vista aérea do Porto Digital, localidade em Recife, Pernambuco, que reúne diversas empresas do segmento de informática,
formando um Arranjo Produtivo de Tecnologia da Informação e Comunicação e Economia Criativa.
de projetos até R$ 2 milhões. A remuneração do agente financeiro será equivalente a 3% ao ano sobre o valor do saldo
devedor das empresas financiadas. Até junho deste ano, as
contratações do programa somavam R$ 250 milhões. Hoje,
sete instituições financeiras de desenvolvimento já aderiram
ao programa: Agência de Fomento do Rio Grande do Sul
(Badesul), Banco do Estado do Rio Grande do Rio (Banrisul), Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul
(BRDE), Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina
(Badesc), Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro
(AgeRio), Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP) e Banco da Amazônia. “Os programas são totalmente
complementares. Se todos estiverem integrados, todos
ganham. Por meio desses programas construímos sinergia”,
avaliou Camargo.
Em outra frente, a Finep também lançou recentemente
um edital de R$ 640 milhões voltado a parques tecnológicos
em operação e em estágio de implantação. Os recursos serão
concedidos por meio de três instrumentos. O primeiro, de R$
90 milhões em recursos não reembolsáveis, vai apoiar parques tecnológicos em operação e em processo de implantação. No caso dos parques em operação, serão apoiados projetos de, no mínimo, R$ 6 milhões até o limite de R$ 14 milhões.
Já para propostas de parques em fase de implantação, o valor
mínimo é de R$ 2 milhões e o máximo, de R$ 5 milhões.
Outros editais – Com o mercado de startups aquecido e a
política de fomento à inovação sendo entendida como estratégica para o país, uma série de instituições têm desenvolvido
projetos de apoio às empresas nascentes de base tecnológica
pelo Brasil.
A AgeRio, além de ter aderido ao Inovacred, desenvolve
um Programa de Participações que abrange tanto a aquisição
de participações acionárias em empresas nascentes, quanto a
aquisição de cotas de fundos de investimento em ações, como
o Fundo NascenTI, voltado exclusivamente para startups. Por
meio desse programa, a agência de fomento se tornou uma das
instituições parceiras da Acelera Rio, aceleradora de negócios
que será instalada na região portuária carioca por iniciativa da
Microsoft e da prefeitura. O projeto quer estimular o desenvolvimento de empresas nascentes de base tecnológica, oferecendo inclusive um local para que elas possam se instalar.
Na Agência de Desenvolvimento Paulista, o apoio à
inovação também está na ordem do dia. No fim do ano
passado, a instituição lançou o programa Inova São Paulo,
para apoiar empresas de desenvolvimento tecnológico. O
programa conta com três linhas de financiamento operadas
pela agência, duas delas com juros subsidiados pelo Fundo
Estadual de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(Funcet), e um termo de cooperação para a constituição de
um Fundo de Investimento para empresas de inovação tecnológica no estado.
A linha especificamente voltada para startups acolhe
empresas com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões, com
limite de financiamento de R$ 200 mil por projeto. O financiamento é realizado a juros zero e o empreendedor tem até
60 meses de prazo, com 24 meses de carência.
As startups paulistas também poderão ser beneficiadas
pelo fundo de investimento “Inovação Paulista”, mantido
pela Desenvolve SP em parceria com outros potenciais investidores. O objetivo do Fundo é fomentar as empresas de
perfil inovador com potencial para geração de novos produtos e os investimentos do Fundo irão principalmente para
empresas com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões,
inclusive as em estágio inicial de operação. Os projetos serão
avaliados pelo gestor do fundo e aprovados pelo comitê
RUMOS - 35 – Julho/Agosto 2013
R
NOVOS NEGÓCIOS
Marcelo Camargo/ABr
REPORTAGEM
Cena da Campus Party, evento voltado para a área de inovação e tecnologia apoiado pelo Sebrae.
formado pelos investidores. Entre as ciências que serão contempladas estão biotecnologia, fotônica (ciência da geração,
controle e detecção de fóton), nanotecnologia, TI, comunicação e agronegócios.
O presidente da Desenvolve SP, Milton Luiz de Melo
Santos, acredita que o programa será um marco na história do
desenvolvimento da inovação tecnológica paulista. “São
Paulo é o estado com a maior produção científica do país e
precisávamos de um instrumento que facilitasse a vida
daquele pequeno empresário inovador ou daquele pesquisador que tem um bom projeto e precisa colocar seu produto
em produção”, pontuou.
Já o Sebrae adotou como estratégia para se aproximar dos
jovens empreendedores a participação em feiras e eventos
promovidos por grupos e organizações da área de inovação e
tecnologia, como o Campus Party, em São Paulo; o Seminário
Brasileiro de Aplicativos (Brapps), que aconteceu em Brasília;
e o Bits 2013, realizado em Porto Alegre. A instituição patrocina e participa desses eventos com palestras, encontros dos
novos empresários com investidores, espaço para apresentação de projetos e atendimento com informações sobre produtos e serviços.
Desde 2012, agências do Sebrae em 16 estados desenvolvem ações voltadas aos novos negócios nas carteiras de Tecnologia da Informação. Os atendimentos fazem parte
dos projetos de atendimento coletivo da entidade,
que também se relacionam com as startups por meio
Estados com maior número de startups
de consultorias sobre os mais diversos temas relacionados ao mercado.
cadastradas junto à associação nacional
Anjos – No campo dos investimentos privados,
cresce o número de investidores-anjos no país.
Esse conceito, desenvolvido nos Estados Unidos,
refere-se a pessoas físicas (portanto, não são
empresas ou organizações) que investem em
empresas nascentes e têm geralmente uma participação minoritária no negócio. São normalmente
empresários ou executivos que já trilharam uma
carreira de sucesso e aplicam parte de seus recursos
para investir em novas empresas e também repassam sua experiência, apoiando a empresa nascente.
O Brasil vê crescer o número de investidores
com este perfil e desse movimento crescente
São Paulo – 597
Minas Gerais - 169
Rio de Janeiro – 167
Rio Grande do Sul – 115
Paraná – 102
Santa Catarina - 85
Fonte: Associação Brasileira de Startups
RUMOS - 36 – Julho/Agosto 2013
Startups – Principais mercados *
nasceu a Anjos do Brasil, uma organiOutros - 11%
Mídia - 9%
zação sem fins lucrativos que reúne
Mecanismo
empresários interessados em se tornaGerador de
de busca - 8%
rem anjos e faz a conexão com potenconteúdo - 12%
ciais empreendedores de startups aptos
Marketplace - 6%
a receber os investimentos. A organização não faz a intermediação de investiGame - 3%
mentos, mas busca formar redes de
relacionamento entre os agentes do
Mobile - 13%
Pagamento
eletrônico - 2%
que eles chamam de “comunidade
Software
empreendedora”.
não-web - 2%
Os atrativos para quem deseja se
Rede
Comércio
tornar um investidor não são poucos,
Eletrônico - 16%
Social - 18%
ainda que o risco da aposta também
seja alto. Segundo a organização, a
* Fonte: StartupBase / Associação Brasileira de Startups.
expectativa mais usual é que haja um
retorno de 40% ao ano sobre o capital
jovem empresário. O que leva muitos investidores a aceitarem
investido. Em alguns casos, podem chegar a múltiplos de
os riscos, no entanto, não são fatores ligado apenas a aspectos
cinquenta vezes o valor. Para diminuir os riscos de perda, os
objetivos. Como a Anjos do Brasil destaca, uma das grandes
investidores são aconselhados a dividir o recurso em várias
vantagens de se tornar um investidor-anjo é “a satisfação
empresas, compartilhar o investimento com outros investidopessoal de participar na construção de negócios inovadores”.
res e acompanhar de perto o empreendimento, apoiando o
“Estamos muito atrasados”, alerta especialista
A França, por exemplo, investiu no apoio
tanto a pessoas físicas quanto jurídicas, além
do fomento aos fundos de inovação. Os incentivos baseavam-se sobretudo na dedução do
imposto de renda e exigiam contrapartidas
como a manutenção do investimento por pelo
menos cinco anos. Inglaterra e Estados Unidos também construíram modelos que foram
seguidos por vários outros países, com uma
política de estímulo ao investimento não apenas por parte do governo, mas também do
setor privado.
O advogado avalia positivamente o programa Startup Brasil, do governo federal, por
alocar recursos diretamente para as iniciativas.
Sobre o projeto de lei que quer zerar os impostos federais para as empresas nascentes, diz ter
dúvidas. Para ele, a saída não é apenas isentar
os empreendimentos, mas criar uma política de estímulos
também a possíveis investidores. É preciso atuar nessas duas
frentes de estímulo, não apenas ao empreendedor, mas também ao investidor”, opinou.
Rodrigo defendeu ainda o papel que as instituições financeiras de desenvolvimento já vêm desempenhando neste
cenário, com as chamadas públicas e editais. Ele acredita que
elas possam ter uma atuação ainda mais forte como interlocutores junto ao governo e sugere o financiamento dos riscos
dos investidores. “Compartilhar riscos para atrair e criar uma
cultura. Este é um bom caminho”, concluiu.
RUMOS - 37 – Julho/Agosto 2013
Divulgação
A constatação não é reflexo de um
pessimismo. Ao contrário. O advogado
Rodrigo Menezes (foto), discorre com
fluidez sobre os cenários e prognósticos
positivos para as startups brasileiras. Mas ele
faz um alerta: ainda é preciso avançar muito
para chegarmos aos níveis de investimento
alcançados em outras regiões que são referências para o mundo. “Nós estamos muito
atrás. O governo até está sensível ao tema,
mas a verdade é que temos que avançar
muito”, afirmou.
Seu diagnóstico está baseado em uma
pesquisa realizada pelo escritório em que
atua sobre os incentivos legais ao investimento em startups ao redor do mundo. O
documento descreve os principais programas de estímulos ao investimento em pelo
menos doze países que estão em diferentes estágios no que
diz respeito ao apoio às empresas nascentes.
Rodrigo aponta três países que poderiam ser boas referências para o Brasil na construção de sua própria política de
incentivos legais ao investimento: França, Inglaterra e Estados Unidos.
“Basicamente, são países que optaram por apoiar não
apenas as grandes empresas, aquelas que individualmente vão
render arrecadação alta, mas também pequenos empreendimentos, que têm enorme potencial para o desenvolvimento da
economia do país. São experiências emblemáticas”, explicou.
R
REPORTAGEM
NOVOS NEGÓCIOS
“O Brasil ainda é bebê nisso. A primeira grande aquisição de startup aconteceu em 2009, com o
site Buscapé, as aceleradoras foram criadas há
apenas um ou dois anos, da mesma forma os
investidores-anjos ainda estão no começo. Mas
esse começo já é extremamente positivo. São
ações experimentais, mas muito importantes porque estão
criando precedente. É tudo muito novo”, reforça o vicepresidente da ABStartups.
Se os resultados desse conjunto de ações, a longo prazo,
podem significar o fortalecimento do que os empreendedores classificaram como “cultura de investimento”, só o
tempo dirá. Mas para Felipe Martins, fundador e CEO da
startup ÁgilSocial, de Belo horizonte, há apenas dez meses
no mercado com uma plataforma de produtividade empresarial nas nuvens, ainda vivendo os “milhares” de desafios
deste momento inicial, a hora é agora. “O cenário é positivo,
nunca esteve tão favorável”. 

Na porta de entrada da Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o prédio de quatro andares
quase passa despercebido. Nele, 19 empresas trabalham sob
o acompanhamento de profissionais e pesquisadores das
mais diversas áreas antes de se aventurarem no mercado. Lá
funciona o Instituto Gênesis, braço da universidade que
trabalha no apoio ao empreendedorismo, como incubadora
de novas empresas, oferecendo cursos e no apoio ao desenvolvimento da comunidade local.
O instituto já formou mais de 60 empresas, que juntas
possuem taxa de sucesso de 86%, muito acima da média do
país, na qual cerca de 40% dos novos empreendimentos
morrem antes mesmo de completarem um ano de vida. Entre
as empresas que hoje passam pelo processo de incubação no
instituto, metade está na fase de pré-incubação, quando são
desenvolvido o plano de negócio, construídos protótipos e
analisado o mercado de atuação. Este primeiro momento
pode durar de seis meses a um ano, dependendo do tipo de
empreendimento.
No segundo momento, os empreendimentos são incubados: é a fase de desenvolvimento e consolidação dos projetos.
Os empreendedores contam com acompanhamento nas
áreas financeiras, jurídicas, gestão, planejamento estratégico,
entre outros aspectos que costumam ser as grandes dores de
cabeça para as empresas que estão nascendo. Neste estágio,
estes empreendimentos já atuam em seus segmentos e se
relacionam com clientes, mas será somente após a graduação,
última parte do processo, que as empresas de fato irão se
aventurar no mercado.
Trabalhando no instituto há dez anos, a gerente da área de
empresas da Gênesis, Priscila Castro, enxerga boas mudanças
nesta última década. “Hoje o cenário é outro. O mercado
financeiro chegou mais próximo das startups. Há dez anos
não se via isso, não tinha essa figura dos anjos. Então o
mercado está amadurecendo e buscando mais na fonte dos
empreendimentos”, comparou.
Ela também destaca o aumento no fomento do poder
público às iniciativas empreendedoras, sobretudo para aquelas
à base de tecnologia. O instituto inclusive tem um grupo que
trabalha com os empreendedores para ajudá-los a participar de
editais e outros mecanismos de impulsão às empresas nascen-
Divulgação
Incubadora apoia novas empresas
no Rio de Janeiro
Empresas ficam incubadas no Instituto Gênesis, na PUC-Rio.
tes. “Existem os mecanismos, mas muitas pessoas ainda deixam de entrar ou por falta de conhecimento, ou porque acham
que é muito complicado”, avaliou Priscila.
Para a diretora, além do desconhecimento, também faltam bons projetos que despertem a atenção dos investidores
e que se encaixem nos editais públicos. “São poucos os projetos inovadores. Muitos pensam: ‘vamos pegar o que está
dando certo lá fora e trazer’, mas não é isso que os investidores ou os editais buscam. Não é só copiar e colar”, criticou.
Outra dificuldade, acredita, tem a ver com a própria
formação dos empreendedores. “A maioria dos que chegam
aqui vem de áreas mais técnicas, com este perfil técnico, e não
tem o conhecimento em termos de gestão, de negócio. Muitos têm certa dificuldade para modelar o próprio empreendimento. E isso é o passo inicial, logo há uma preocupação
nossa em ajudá-los nessa etapa”, completou.
Para participar dos editais abertos pelo instituto é necessário que o empreendimento tenha algum vínculo com a
PUC, em geral por meio da presença de alunos, ex-alunos ou
professores entre os sócios da empresa. “O importante é
possuir algum link com a universidade”, esclareceu.
RUMOS - 38 – Julho/Agosto 2013

Documentos relacionados

Inovação Corporativa

Inovação Corporativa Mercado Livre B2W Pesquisa e Desenvolvimento

Leia mais