Nº - Confrades da Poesia

Transcrição

Nº - Confrades da Poesia
Amora - Seixal - Setúbal - Portugal
|
Ano VI
|
Boletim Bimestral Nº 57
|
Julho / Agosto 2013
www.osconfradesdapoesia.com - Email: [email protected]
«JANELA ABERTA AO MUNDO LUSÓFONO»
SUMÁRIO
Confrades: 4,6,8,10,11,12 A Voz do Poeta: 2 Olhos da Poesia: 3 Retalhos Poéticos: 5 Tribuna do Poeta: 7 Cantinho Poético:
9 Tempo de Poesia: 13 Trovador: 14 Poemar: 15 Verão: 16 Faísca de versos: 17,18,25,26 Contos / Poemas: 19 Pódio
dos Talentos: 20 Eventos e Efemérides: 21 Estados de Alma: 22 Bocage: 23,24 Reflexões: 27 Ponto Final: 28
«Verão em Portugal»
EDITORIAL
O BOLETIM Bimestral Online (PDF) "Os Confrades da Poesia" foi fundado com a incumbência de instituir um
Núcleo de Poetas, facultando aos (Confrades / Lusófonos) o ensejo dum convívio fraternal e poético. Pretendemos
ser uma "Janela Aberta ao Mundo Lusófono"; explanando e dando a conhecer esta ARTE SUBLIME, que praticamos e gostamos de invocar aos quatro cantos do Mundo, apelando à Fraternidade e Paz Universal. Subsistimos pelos
nossos próprios meios e sem fins lucrativos. Com isto pretendemos enaltecer a Poesia Lusófona e difundir as obras
dos nossos estimados Confrades que gentilmente aderiram ao projecto "ONLINE" deste Boletim.
“Promovemos Paz”
A Direcção
«Este é o seu espaço cultural dedicado à poesia» Pódio dos Talentos
pág. 20
«Faísca de Versos»
São Tomé
«Um Verão de muitas faíscas»
Págs; 17,18,25,26
Deixamos ao critério dos autores a adesão ou não , ao “Novo Acordo ortográfico”
FICHA TÉCNICA
Boletim Mensal Online
Propriedade: Pinhal Dias - Amora / Portugal | Paginação: Pinhal Dias - São Tomé
A Direcção: Pinhal Dias - Presidente / Fundador; Conceição Tomé - Vice-Presidente / Fundador
Redacção: São Tomé - Pinhal Dias
Colaboradores: Adelina Velho Palma | Aires Plácido | Albertino Galvão | Alfredo Louro | Ana Santos | Anna Müller | António Barroso | António
Silva | Arlete Piedade | Carlos Bondoso | Carmo Vasconcelos | Clarisse Sanches | Edgar Faustino | Edyth Meneses | Efigênia Coutinho | Euclides
Cavaco | Eugénio de Sá | Fernando Afonso | Fernando Reis Costa | Filipe Papança | Filomena Camacho | Glória Marreiros | Henrique Lacerda |
Hermilo Grave | Humberto Neto | Humberto Soares Santa | Isidoro Cavaco | João Coelho dos Santos | João Furtado | João da Palma | Joel Lira
| Jorge Vicente | José Jacinto | José Verdasca | Lauro Portugal | Lili Laranjo | Luís Filipe | Luiz Caminha | Maria Brás | Maria José Fraqueza |
Maria Mamede | Maria Petronilho | Maria Vitória Afonso | Miraldino Carvalho | Natália Vale | Pedro Valdoy | Rosa Branco | Rosa Silva | Rosélia
Martins | Silvino Potêncio | Susana Custódio | Tito Olívio | Vó Fia | Zezinha Fraqueza | … (actualizado no site)
2 |
Os Confrades da Poesia Boletim Nr 57 | Julho/Agosto 2013
«A Voz do Poeta»
Primavera
Aqui e agora
É na Primavera
que cada Manhã se levanta:
- rútila, fulva, cintilante...
em gargalhadas rubras eclodindo.
A vida acontece aqui e agora
o passado é simples recordação
o futuro é mera especulação
e nunca o presente se vai embora...
É na Primavera
que o Amor acontece,
- quando as flores desabrocham,
ardentes, sedutoras...sorrindo.
A realidade é feita hora a hora
e só a ela se deve atenção
só com ela se tem a percepção
da suprema lei que em tudo vigora!...
É na Primavera
que a Terra túmida, excitante...
- estua colorida, arfando...
para a Vida e para o Amor infindo.
Só no presente a fé se cria e testa
e todo o seu poder se manifesta
construindo a vivência em que se crê...
Jesus Cristo quando o cego curou
que voltasse mais tarde não mandou
disse-lhe só “abre os olhos e vê!”...
Filomena Gomes Camacho - Londres
Adelina Velho da Palma – Lisboa
Sem ti
Meu Futuro
Filho da Noite
Sem ti, seria vago o caminhar vida
O sol cansado se esquecia de nascer,
O crepúsculo se escondia para viver
Numa leveza que se faz escondida...
Vou pintar meu futuro de esperança
E pôr-lhe asas azuis, da cor do céu,
Para atingir o sol, se houver bonança,
Sem ninguém ver, oculto por um véu.
A terra se vestia pobre e arrefecida
O negrume assolava o meu querer
Sentava-se a meu lado este sofrer,
Num olhar de calma adormecida
Será, porque assim quero, apenas meu,
Já que o passado foi, desde criança,
Luta minha, que a sorte pouco deu,
Mas passei a ter já mais confiança.
Dizem que o fado é filho
Da noite escura sem brilho
E mora num bairro antigo
Mas ninguém sabe a razão
Se foi destino ou condão
De ali procurar abrigo.
És silencio maior do que as palavras,
Olhos tristes como os das escravas,
Sonhando a dimensão da liberdade...
Quero beber a luz de cada aurora,
Chorar cada minuto de demora
Plas coisas que no tempo já perdi.
És o sonho que eu quase acriancei,
Firme como a imagem que abracei,
Humanizando a fingida realidade!...
Não sei quanto me resta. Quero só,
Até ser finalmente outra vez pó,
Gozar tudo o que ainda não vivi.
Ferdinando - Germany
Tito Olívio - Faro
«Fez-se branco»:
Fez-se branco
O olhar
Puro
Do teu
Corpo.
Albino Moura
Só quando a noite acontece
E à média luz aparece
P'la guitarra acompanhado
Companheira que também
Lhe imprime o valor que tem
Quando se exibe a seu lado.
E a quem na noite o procura
Encontra nele ternura
No seu silêncio e magia
Sem vaidade e recatado
É esta a estirpe do fado
Puro e cheio de nostalgia.
Teve berço português
Muito nosso mas talvez
Tem fulgente afinidade
É da noite filho errante
A guitarra é sua amante
E é irmão da saudade !…
Euclides Cavaco - Canadá
Os Confrades da Poesia | Boletim Nr. 57 | Julho / Agosto 2013 |
«Olhos da Poesia»
Interiorização
Amantes (tirado do baú)
No que restou de mim busco a verdade
das quimeras marcantes que plantei
Do tudo o que mais quis sinto saudade
nesta ausente saudade a quem me dei
Andam promessas no ar
de beijos que não são dela
andam bocas por beijar
mas a sua é a mais bela
Ah, esta frustração que hoje me prostra
numa interiorizada dor sentida
que nenhuma alegria de mim mostra
e no meu rosto a traços marca a vida
Andam desejos perdidos
nos ventos da tentação
andam prazeres atrevidos
no calor duma paixão
Deambulo - em pedaços - neste mundo
de tropeço, em tropeço, sem mais jeito
porque todos os males calam bem fundo
e os bens não me merecem qualquer preito
Andam loucos dois amores
dois corações em tortura
ambos provaram os sabores
da vergonha e da censura
E assim, em consciência, a culpa assumo
De tantas culpas minhas, e de tantos
Pra quê ver dissipado todo o fumo
Se é entre fumos que oramos aos santos?
Ambos são frutos da vida
do tempo que não mudou
são a maçã proibida
que o destino madurou
Eugénio de Sá - Sintra
Ele e ela são amantes
duas almas que se fundem
trocam beijos delirantes
quando seus lábios se unem
Voz duma criança que não nasceu
Não me quiseste ver, mãe desalmada,
Naquele dia trinta e um de Agosto,
Em que eu já tinha, até, um lindo rosto
E cabeleira bem caracolada.
Ela é a joia perfeita
que ele, um dia, recebeu...
ela não é Julieta
nem ele se chama Romeu.
Abgalvão – Fernão Ferro
O coração pulsava e eu aposto
Que nem sentiste a alma amargurada,
Quando eu saí do ventre, escorraçada,
Como um verme qualquer, por ti deposto!
O Eterno
Se não quiseste ser a minha mãe,
Mas, sim, ter o prazer de me gerar
E me roubaste a Vida sem piedade…
O Eterno
É este momento
Eu não posso querer-te muito bem,
Porque tu me privaste de gozar,
Talvez, um lindo Céu na Eternidade!
Este mesmo
Que aqui vivo
Clarisse Barata Sanches - Góis
Se faz eterno a si mesmo
Desistir
Mas agora que o disse
E que o soube
Desistir?
Não faz parte de mim,
Essa palavra maldita,
Irei ao até ao fim
Para me encontrar,
Poder amar
E assim assumir
Que o amor
Está inato em mim.
Natália Vale - Porto
O momento
Em que escrevo
Desvendou-se
Diluiu-se
E um novo Eterno
Fez-se!
Maria Petronilho - Almada
A Magia das Crianças
Criança + Poesia = Magia
Nos olhos duma criança
Brilha uma luz que alcança
Dimensão real e pura
Que na sua inocência
Dão sentido e transparência
À verdadeira ternura.
As crianças são magia
Universo de alegria
Que nos enchem de prazer
São símbolo de candura
Cheio de encanto e doçura
Que extasia o nosso ser.
Na sua simplicidade
Mostram aos de mais idade
Como seria o caminho
Se a nossa sociedade
Tivesse menos maldade
Comungando mais carinho.
Ai quantas vezes falhamos
E a atenção não lhes damos
Que por elas é merecida
Mas com a sua pureza
Irradiam singeleza
Que nos dá lições de vida.
Que bom seria parar
No tempo e acreditar
Na quimérica esperança
Qual mito feito poesia
Que enche o mundo de magia
Num sorriso de criança !...
Euclides Cavaco - Canadá
3
4 |
Os Confrades da Poesia Boletim Nr 57 | Julho/Agosto 2013
«Confrades»
O Meu Arvoredo!
Um dia alguém me chamou...
A poetisa do Mar...
Aprendi com meu avô
Que me ensinou a remar...
E confesso que hoje estou
Como nau a navegar...
Agora até já vou...
Sob as ondas ao andar...
Ando agarrada ao cajado,
Pois não tenho direção...
Que isto cá do meu lado:
- Tá o mar fete num cão!
Mas... como não desisto
Desta minha vocação
Confesso que resisto
Digo de alma e coração!
http://www.osconfradesdapoesia.com/Lusofonos.htm
Este Meu Pensamento
... Feito Doido
Deixei partir o pensamento... nem eu sei, p’ra que lugar,
Só sei que tomou aquela estrada, que p’ra longe o foi levar,
Lá p’rá terra dalém, onde o amor anda por lá passeando...
Mas agora estou ficando assaz bem preocupado,
Pois vieram-me também dizer, que já o viram em muito lado,
Correndo e saltando, feito doido... pelo amor procurando.
E eu p’ra mim fico pensando, que oxalá o vá encontrar,
Pois sem tino como ele andava, eu não sei como o travar,
De fazer tantas asneiras, como as que andava já fazendo...
Mas com as saudades que dele tenho, não sei já o que fazer,
Se por ele eu esperar e com qualquer coisa me entreter,
Ou ir já atrás dele, e mesmo à força, comigo o ficar trazendo.
As árvores morrem de pé
Sou uma mulher sem medo
Está Maria José,
Cuida bem do Arvoredo!
Mas com todas as hesitações, à espera dele eu vou ficando,
E este meu corpo, pouco a pouco vou preparando,
Para o amor, que lá de longe, o meu pensamento irá trazer...
E assim, esta ânsia do meu corpo, eu para sempre acalmar,
E este vulcão que dentro de mim está queimando... eu apagar,
Mas só depois do teu corpo, e os teus desejos... eu conhecer.
Maria José Fraqueza - Fuzeta
José Carlos Primaz - Olhão da Restauração
Entardecer
Tarde nasceste amigo!
Cantas sociedades,
Vivências antigas,
Mundos desaparecidos…
Sonhos, nostalgias,
Réstias de esperança,
Fantasias…
Recriações,
Restos de vida,
Lisboa desaparecida,
Velhas canções!!!
Vozes,
Tradições,
Encantamentos,
Emoções!!!
Nasceste tarde amigo!
Filipe Papança – Lisboa
Nunca Mais
“Menez”
Queriam que tombasse no caminho
Entregue ao sabor de vontades.
Havia de ser submissa, conformada
E sem vontade própria.
Queriam que vivesse acomodada.
Que queriam mais
Senão extrair-lhe a vida?
Não!
Não queria deixar-se morrer assim.
Morrer...
Morrer, só quando a morte vier
E lhe fechar os olhos.
Morrer só por morrer?
Isso não.
Nunca mais experimentará,
Viver a morte lenta de não ser,
Por se entregar a desejos egoístas,
Representando uma fantasia mentirosa.
Não tombará mais no caminho,
Nem viverá o drama de não ser,
Para satisfazer desejos.
Gritará o grito da verdade,
Será o que quer ser,
E o que é na realidade,
Até quando a morte vier
E deixar de ter vontade.
«Virou a esquina
e a paisagem era ali ao lado
branca
com figures
uma de cada lado
o guache manchou
o papel
e a tinta ficou azul
na finura
do traço
que se perdeu
no virar da esquina
da vida
Ali ao lado
ainda na tela
a pincelada escorreu
na assinatura
que ficou Menez..
Cremilde Vieira da Cruz - Lisboa
Albino Moura - Almada
Os Confrades da Poesia | Boletim Nr. 57 | Julho / Agosto 2013 | 5
«Retalhos Poéticos»
Só por amar
Mulher de vermelho
Foste ao reencontro da luz
Sobre a terra quente,
Onde as pedras estalavam de dor,
Debaixo de teus pés trementes.
Teus sentimentos translúcidos
(sabes o que queres e porquê)
Espreguiçaram-se suavemente
Sobre o pecado de corpos nus
Que ainda agora possuiste
E te não deram nada.
Por isso, o teu caminho tremente!
Por isso, os teus pensamentos descoordenados!
Poisaste a tua mão em outra mão,
Teu olhar em outro olhar
Refletiste...
Foi então que o oceano levou a quietude
Da mão que sente a tua mão,
Do olhar que sente o teu olhar
E o espelho do olhar
Como gesto de ave tranquila no sossego da noite,
Disse-te o seu amor.
Por isso a tua falta de coragem,
Porque queres de quando em quando
Sentir a outra mão em tua mão,
Sentir o outro olhar em teu olhar,
Sentir que alguém te ama por amar;
Só por amar.
Que a distância não apague
Em ti a minha existência
E o nosso enlevo, pleno
Cremilde Vieira da Cruz - Lisboa
A Vida continua…
Aires Plácido
Dentro de mim
aborto
o meu amor por ti
e minha alma
goteja
pérolas de sangue
enquanto minhas mãos
choram
vazias
saudosas
das carícias
que não tiveram…
minha boca
outrora ansiosa
queda-se muda
de palavras e de beijos…
mas a vida continua!...
A lentejano de Monforte
I lustre na arte da poesia
R echeada de harmonia.
E legante na palavra e no porte
S abe manter a alegria.
Maria Mamede – Porto
P oeta de fino trato
L avra na cultura popular,
A nalisando qualquer facto
C om o seu talento a rimar.
I mportante figura vos deixo
D esenhada neste retrato,
O vate de Santo Aleixo...!
Que os nossos corpos
Permaneçam enleados, no imaginário
E o calor das palavras penetre, demorado
E perpetuamente na candura da nossa alma.
Que a paixão, clame
A cada instante, harmoniosa
E no alento perdure
Sôfrega aos meus-teus olhos.
Que a ânsia não arrefeça
Persista, cadenciada e cristalina
Que a fantasia, se encontre
No corpo e se sirva viva e adubada.
Que suspire, incessantemente
Trema nos versos, sem cansaços.
Que o bálsamo das prosas
Cultive e aflore
Eternamente o meu regaço…
Que no presente
Me aprisione com devaneios
E com gestos delicados
Me alague em carícias
E seduções infinitas
Enquanto te alucino e penso.
Que o fôlego dos meus sonhos
Floresça de madrugada
Na tua alma nua e extasiada
Que os meus sonhos
Longos e sabidos
Sorriam e estremeçam, suavemente
O teu e o meu corpo…
Não consintas…
Que o que eu experimento, seja passado.
Telma Estêvão - Silves
Alguém e Ninguém
Zé Albano – Celorico da Beira
Pai
Amor de mãe
Hoje é dia do pai
Dum filho que não sou eu
Ao infeliz morreu a mãe
Dos filhos que Deus lhe deu
Já não tenho mais amor
Igual ao da minha mãe
O teu pode ter valor
Mas como o Dela, não tem
Silvais - Évora
Silvais - Évora
Quando partilhei com alguém,
Meus segredos de Amor
De certo não pensei
Que me causaria tanta dor.
Um acto bem pensado
Totalmente me levou
Ao abraço apaixonado
Dele e de mais ninguém,
Naquele momento de amor.
Natália Vale - Porto
6 |
Os Confrades da Poesia Boletim Nr 57 | Julho/Agosto 2013
«Confrades»
http://www.osconfradesdapoesia.com/Lusofonos.htm
Verdade e amor
Sim; verdade e amor não tem lei nem fronteiras
Nascido no berço do seu torrão ama sua gente
Ouvindo mentiras deseja ouvir coisas porreiras
Mede a distancia onde esta; fica feliz e contente
Atira um sorriso num abraçar de amor fermente
Atlântico ao pacifico Canada; toda a humanidade
Tantas raízes de todos os cantos; gente contente
Sonhos de toda a alma; viver com sinceridade
Depois da neve com o vento primaveril, semeia
Nascem muitas ilusões de bem; visitar seu torrão
Levar verdades; coisa que vida honesta incendeia
Quer esvaziar ansiedades que trás no seu coração
A felicidade é de todos; agarra a tua a trabalhar
Os campos do Alentejo esperam dar-te o pão
A terra não pode vir até ti; tens de a ir procurar
Quem espera por subsídios cair é um mandrião
Greves não pagam dividas; sim, verdade e amor
Poupar o trabalho conduz à miséria e banca rota
Ninguém quer dar o que podes ganhar com ardor
Estamos todos no mesmo barco; na mesma frota
Armando Sousa - Toronto Ontário Canada
Passei por mim
O Parto do amor
na hora que no tempo passa
nessa hora de chegar
há um suspiro no ar
no momento a esvoaçar
entre as brumas do mistério
entre as paredes do desejo
entre a sofreguidão de um beijo
louco perdido na escuridão
da noite escaldante
de dois corpos que se amam
entre os braços da vida
os abraços que a ternura instiga
entre o eu e o tu com fervor
entre a beleza das almas
e a candura das madrugadas
entre os lençóis de branco linho
as vozes a sussurrar de carinho
entre a vida da noite e a noite da vida
entre o mar e o céu
o crepúsculo e o amanhecer
entre a relva do pudor
e a tenda de dormente torpor
entre uma estrela cadente
e o prateado do luar
entre a dor pungente
de uma alma a gritar
entre suspiros e ais
entre ansiedade e devaneio
entre sonhos lânguidos sinuosos
corpos a se esfarrapar voluptuosos
entre o prazer e a dor
se provoca o parto do amor
Entre ilusões sem medida
E numa esquina da vida
Eu passei ontem por mim,
E vi meu rosto cansado
Numa rua do passado
Cheia de sonhos sem fim.
Rosélia Martins – P.S.Adrião
Procurei a mocidade
Nessa rua da saudade
Por onde também passei,
Percorri cantos em vão,
P'ra minha desilusão
Eu já não a encontrei.
O meu coração
Sorri,
Em plenitude total,
De felicidade,
Amor,
Paixão.
Penso em ti,
Em momentos
De solidão.
A dor da saudade
Esmorece,
Fenece,
E volta
A ilusão
De te ter,
Te amar,
E te abraçar.
Ao viajar no passado
Há ruas que pus de lado
E não as quis percorrer.
Naquelas por onde andei
Muitas coisas encontrei
Que gostava de esquecer
Entre ilusões e fracassos
Vi destroços e pedaços
Dos sonhos que não vivi,
E ao tropeçar num espelho
Eu vi meu rosto mais velho...
E não me reconheci.
Isidoro Cavaco - Loulé
O Meu Coração Sorri
Natália Vale - Porto
Os Confrades da Poesia | Boletim Nr. 57 | Julho / Agosto 2013 |
7
Confrade desta Edição « Carlos Fragata »
Baía do Seixal
Oh! Baía do Seixal,
A que o Tejo estende os braços,
Num abraço fraternal
A pedir-te mais abraços
As gaivotas te cortejam
Acenando com as asas,
Como barcos que velejam
Sobre o branquinho das casas.
É teu o braço do Tejo,
Tão sereno, de águas mansas,
Leito de paz que eu invejo,
Onde brincas e descansas...
Repor a História
Novo Rumo
Vinde, Afonsos, Sanchos, Manuéis,
Ver o que o vosso Povo está passando!...
Há déspotas que estão desgovernando
O que ganhastes vós aos Infiéis!
Andei perdido na vida,
Naveguei o mar errado
Numa deriva sem fim,
Até que tu, minha querida,
Num arrojo inesperado,
Tomaste conta de mim!
No vosso trono foram-se sentando,
Trazem nos dedos os vossos anéis,
Julgam-se no direito de ser reis
E vão o que era nosso desbastando!
Vinde, com a bravura que vos deu
O direito de vénia e a glória,
E devolvei ao Povo o que é seu...
Tua margem de lajedos
Onde passeio feliz,
Sabem do rio os segredos
Que o rio a mais ninguém diz!
É preciso repor a nossa História,
Dar-lhe a honra que é sua, mas perdeu
Sob o jugo asqueroso desta escória!!
Carlos Fragata - Sesimbra
Carlos Fragata - Sesimbra
Vidas
Os tocadores são Fado
Mente toldada, vida sem sentido,
Que lhe vão as memórias rareando,
Vai as ruas da vida palmilhando
Sem rumo, que o destino foi mexido!
Grandes fadistas existem,
Que cantam os seus amores.
No entanto, alguns persistem
Em esquecer os tocadores!
Frases sem nexo vai balbuciando...
Responde o vento, fala-lhe ao ouvido,
O mundo é névoa, frio, distorcido,
Foi gente em tempos, já não sabe quando...
Pelas mãos do guitarrista
Passam séculos de amor,
Que dão à voz do fadista
O sentimento e calor.
Farrapo do que foi em data ida,
Vagueia pelos dias que não conta,
Sem crer já numa terra prometida.
Dedilhar o coração,
Requer coração também
E cada dedo da mão
Sabe o amor que ele tem!
No sol de um novo dia que desponta,
Jaz o seu corpo frio, já sem vida,
Um garrote, a seringa cheia e pronta!...
Carlos Fragata – Sesimbra
O fado não é só canto...
Se a guitarra, em sintonia,
Não lhe emprestasse o encanto,
O Fado não existia!
Tanta gente anda no Fado
Pensando que o seu cantar,
Se não fosse acompanhado
Continuava a brilhar...
Mesmo o melhor cantador,
Nunca será um fadista,
Se não sentir o amor
No tanger do guitarrista.
Bem encostada no peito,
A guitarra, a soluçar,
Tem que sentir o respeito
De quem nasceu p'ra cantar!
Carlos Fragata - Sesimbra
E, por fim, em água calma,
Tu és a estrela Polar
Que me deu o rumo certo...
Agora, alma com alma,
Com nossos rumos a par,
Temos a terra mais perto.
Achaste-me naufragado,
E tão faminto de amor
Chorando desilusões,
Mas o velame rasgado,
O casco ferido de dor,
São meras recordações...
És hoje o porto seguro
Onde me acoito e abrigo,
Tão longe da tempestade.
És o presente, o futuro,
O amor, o ombro amigo,
Neste mar que é mais verdade!
Carlos Fragata - Sesimbra
Solidão
O que é a solidão?...
Perguntou meu coração,
Quando me viu só e triste...
Não consegue perceber
Porque o faço assim sofrer
Desde o dia em que partiste.
Tentei encontrar um jeito
De te tirar do meu peito,
Mas o coração não quis
Já não quer falar comigo
E p’ra meu grande castigo
É só teu nome que diz.
É solidão, podes crer,
O que me está a doer
E no meu peito se esconde...
Finalmente descobri,
Pois quando chamo por ti
Só o silêncio responde!
Carlos Fragata – Sesimbra
8 |
Os Confrades da Poesia Boletim Nr 57 | Julho/Agosto 2013
«Confrades»
http://www.osconfradesdapoesia.com/Lusofonos.htm
Minha Armação de Pera
« Limpe as Patas Antes de Entrar ! »
Oh Armação de Pêra
Oh minha terra querida
És minha rima pouco lida
Entre o céu, o sol e o mar…
Manda o teu encanto soltar
Para o turista te visitar…
A Lagartixa tinha convidado prà ceia
Sua amiga a Centopeia.
E ja passava muito da hora aprazada,
Quando bateu à porta a convidada.
Grutas e ruas… sonhos nas pedrinhas
Os pássaros, gaivotas e andorinhas
Os ninhos nos beirais…
Acarinham os namorados na fortaleza…
Serro de montelhão barreiras
Montes borregos Caliços e Vieiras
Entre outros e muitos mais…
Os teus valores são reais
Com a lua e o sol a brilhar
Na tua praia, a calma se espalha
Para o turista se bronzear…
Minha terra tão querida
Como o teu encanto outro não há igual…
A brisa pede ao sol que faça
De Armação de Pêra o paraíso ideal…
Luís Fernandes - Amora
Lembrando ...
Na boca da’spingarda está a morte
daqueles qu’a mentira não comprou.
Na prisão as grades qu’acorrentam
a força e a voz que não dobrou.
A denúncia é pa’gá bom dinheiro
que compr’ó servilismo da traição.
O homem vende a sua consciência
e dispõe-se a matar o seu irmão.
A palavra é coisa maltratada
qu’hoje se vende e ontem se comprou,
qual matéria mui bem negociada.
Mas neste turbilhão que atormenta,
uma palavra que nunca vergou:
A palavra dorida do poeta.
António Marquês – Cruz de Pau – Amora
Sonho
O comboio agredia os carris
Enquanto abrandava...
No banco o mendigo indiferente,
Dobrava-se sobre si mesmo...
Mãos escondidas...
Gestos circulares...
Pensamento ausente!
Escuridão...
Seres distantes e solitários
Alheados na multidão...!
Luz que não alumia...
Percurso de vida...
Solavancos...
Extremos pontos...
M. Silva - Fogueteiro
Mal esta entrou,
A Lagartixa, em tom rispido, perguntou:
-Então, tu so chegas agora ?
A Centopeia explicou:
-Eu ja estou aqui ha mais de uma hora,
Mas como não gosto de causar conflito,
Tratei de respeitar
O que sobre o tapete esta escrito...
Hermilo Grave – Paivas / Amora
(N.A. a centopeia só tem 72 patas)
Com Três Letras Apenas
Com três letras se escreve paz
Com quatro se escreve amor
São duas palavras pequenas
Mas são de grande valor
A palavra paz é sagrada
Faz parte do nosso viver
Foi por Deus abençoada
É grande o seu poder
Mas a paz não se respeita
Em qualquer localidade
A mentira está à espreita
É a dona da maldade
A fé e a esperança
Nunca se devem perder
A paz é uma herança
Todos gostam de a ter
Onde há paz e alegria
Há pão na sua mesa
Mas a dor e a agonia
No seu rosto a tristeza
O ódio provoca o mal
Com ele não se constrói
No seu tempo é fatal
É sofrimento que dói
Quando a vida termina
É dito descanse em paz
A Deus que irá prestar
As contas nas horas más
Miraldino Carvalho - Almada
Os Confrades da Poesia | Boletim Nr. 57 | Julho / Agosto 2013 |
“Cantinho Poético”
EFAS da ESA
As gerações misturam-se na aprendizagem,
A experiência cola-se à juventude,
As margens das idades, nessa viagem,
Juntam-se numa mesma atitude.
Os cansaços cruzam-se na entrada,
Comparando-se depois na estadia,
Uns desistem e batem em retirada
Cansados na noite desse dia.
Outros voltam, com a vontade reparada
À procura de mais sabedoria,
A rotina treinada em estar cansada,
Continua de encontro á Mais-Valia.
Entretanto, o espaço se repete e sem surpresa,
Repetindo-se no tempo e ainda sem mesa
Passam no intervalo p’lo chá ou infusão,
É que após o trabalho na empresa
Ou estando desempregados de certeza,
Precisam ao anoitecer de refeição.
Mas como não é só essa
a meta a atingir na ESA,
Logo retornam à mesa
Onde recebem educação
E resistindo à desistência
Numa carteira de persistência
E com os livros pela mão,
Apagam na folha a ausência
Desta Escola de Excelência,
E numa Carteira de eleição,
Mesmo com dificuldade,
Agarram a Oportunidade
De singrar na profissão.
Porque a Força de vontade,
Em conhecer a Verdade
E aumentar a Formação,
Leva-os à Universidade
E quiçá à Realização.
Resultado para já,
depois da validação,
Conhecimento de cá,
Igual a Certificação.
Sinónimos ...
É teu nome, o mais perfeito sinónimo de carinho
Pelo suave afago com que envolves minh' alma
No leve e suave toque que enternece e acalma
Com a ternura pura que é tão tua e é tão minha
É teu nome, o mais perfeito sinónimo de afeto
Pelos momentos tantos em que se faz presente
Norteando o nosso andar no tempo, docemente
Fazendo-se só teu, o meu sentimento mais dileto
É teu nome, o mais perfeito sinónimo do amor
Expressado com toda harmonia de uma sinfonia
Levando-me ao destino da mais suprema extasia
É teu nome, de todos os sinónimos, o predileto
Impregnando esse mistério divino, que irradia
Dádiva preciosa da qual floresce a minha poesia
Maria Luiza Bonini – SP/BR
Amizade Agora e Amanhã
Amigo em Facebook, pode ser
Tal como é na rua e na presença…
Amigo é quando o homem se convença
Que a Amizade é um valor a ter!
Amigo és tu e eu, a conhecer
Nosso belo valor, carinho e crença,
É quando este vem logo à nascença
E vive sempre em dar e receber!
Amigo és tu, agora e amanhã…
Numa atitude séria e sempre sã
Amigo será hoje antes e depois!
Amigo não se obriga, é liberto…
Amigo é à distância e ao perto
Amigos somos sempre nós os dois!
João da Palma - Portimão
José Jacinto – Casal do Marco
Não adianta ultrapassar...
Tenho Saudade
Saudade eu tenho dos meus tempos de menina,
Em que a inocência era como as flores, linda e colorida,
Agora estou perdida na vida, sem sentido.
Voarei com os pássaros ao passado,
Para a saudade mitigar sem dor,
Apenas para recordar bons tempos, com amor.
Hoje, os cabelos brancos são a amostra,
Não adianta
ultrapassar...
.teremos de esperar
-pelas plantas...
-pelos insectos...
-pelas rochas...
porque
só UNIDOS
poderemos
EVOLUCIONAR
(juntando as nossas acesas tochas...)
Da saudade profunda que me devora.
Natália Vale - Porto
Santos Zoio - Lisboa
9
10 |
Os Confrades da Poesia Boletim Nr 57 | Julho/Agosto 2013
«Confrades»
http://www.osconfradesdapoesia.com/Lusofonos.htm
Dia de São Valentim
Sulcos
... Do Arado do Tempo
Olho no meu rosto as marcas e sulcos que o tempo deixou,
Quando o vento, agreste e frio, bem junto de mim passou,
E tentou, o tronco do meu corpo, logo abaixo deitar...
Mas as raízes que à terra o meu tronco agarravam,
Muito sofreram, mas deixá-lo de lá sair... não deixavam,
E o vento norte foi-se embora, p’ra outros troncos derrubar.
E aos meus ouvidos, o uivar triste dos lobos, também chegou,
Talvez chorando pois o vento os seus filhotes p’ra longe levou,
E quem sabe se nos alcantilados da serra, não se irão perder...
E ao seu triste lamento, a minha tristeza a correr se foi juntar,
Porque este meu corpo, que o vento não conseguiu derrubar,
Tropegamente vai caminhando, sem da sua vida futura...saber.
Agora tenho o meu presente... mas sem o passado lamentar,
Porque as coisas más esqueci, e só as boas tenho p’ra lembrar,
Ficando feliz a minha alma no tempo que tem para percorrer...
Por isso, quando de novo olho p’ra este meu rosto cansado,
Vejo que por ele passou o tempo como pela terra passa o arado,
Antes do lavrador, as espigas do pão... dessa terra recolher.
São Valentim nosso Santo
Tens um rico coração!
Vais ouvindo com encanto
Os pedidos de união!
O teu jeito fez-te assim,
De todos és o primeiro!
Ou não fosses Valentim,
Valente namoradeiro!
Vens sempre sem hesitar
Defender os namorados!
Muitos não querem casar
Por falta dos ordenados!
A juventude de agora,
Anda desorientada!
Quer trabalhar mas ignora
Porque está desempregada!
Valha-nos São Valentim,
Tira-nos desta miséria!
Não deixes sofrer assim
Multidões de gente séria!
Ai, São Valentim querido,
Olha pelos casalinhos!
Vemos cada par, unido,
Mas não são namoradinhos!
(J. Carlos) – Olhão da Restauração
Bento Tiago Laneiro - Amadora
São João está de Volta
São João está de volta
P’ra melhor nos proteger
Já viu a nossa revolta
Que faz os dentes ranger.
Dar-lhes com alho porro
É perder-se no tempo,
Vem em nosso socorro
P’ra eles é passatempo.
São João vem p’ra ficares
E ver tamanha corja
Conhecer seus autores
Mas também a sua forja.
Justo Anseio
Fado ominoso, o meu, triste penar
O que sonhei pra nós, é letra morta!
Sou como vento a tumultuar-te a porta;
Nada mais que um ruído, a ignorar!
Fechada a boca à fala que não sai,
Cerrado o coração à dura pena,
A alma, reduzida, é mais pequena
C’o afundado punho em que se esvai.
Sou qual um livro que as folhas rasgaste,
Atirado na estante, e lá esquecido
Um mal menor, que sempre desprezaste.
Saudade
A saudade é um lago
cheio de jasmins
no encanto
de um universo infinito
É o sabor
de uma despedida
na incongruência
dos tempos
Saudade é uma criança
perdida
na ingenuidade
de uns pais
Trás contigo São Pedro,
Mais um p’ra martelada.
Vai ser com paus de cedro
P’ra por fim à tourada!
Malgrado, anseio por ser ressarcido
Volvido à vida que tu me negaste;
Que me permita amar o que é merecido!
São pétalas que caem
ao sabor dos ventos
como lágrimas
sem fim.
Jorge Vicente - Suíça
Eugénio de Sá - Sintra
Pedro Valdoy - Lisboa
Os Confrades da Poesia | Boletim Nr. 57 | Julho / Agosto 2013 |
«Confrades»
Glosando a primeira estrofe
do soneto de Antero de Quental
ENQUANTO OUTROS COMBATEM
( Por Eugénio de Sá )
Primeira estrofe:
" Empunhasse eu a espada dos valentes!
Impelisse-me a acção, embriagado,
Por esses campos onde a Morte e o Fado
Dão a lei aos reis trémulos e às gentes! "
Glosa:
Empunhasse eu a espada dos valentes!
E moveria, indómito, as forças desta terra
Para acabar c’o as mortes e c’o a guerra
Provendo de justiça os dela mais carentes
Quisera ter poder e essa empresa em mim
Que impelisse-me a acção, embriagado
A defender no mundo, em todo o lado
Os pobres e abusados plo poder ruim
Esses, a quem sempre lhes é subtraído
Todo o direito à vida e calam revoltados
Por esses campos onde a Morte e o Fado
Num moer de misérias, matam o sentido
Tempos estes iníquos, mal quistos, doentes
Onde mais manda a força avara do dinheiro
Enquanto poucos se assumem por inteiro
E dão a lei aos reis trémulos e às gentes!
Eugénio de Sá - Sintra
http://www.osconfradesdapoesia.com/Lusofonos.htm
O Valor das Coisas
Tempos de Tempestade
Quem de coisas é senhor
Mas nesta vida as herdou
Não lhes dá tanto valor
Como alguém que as ganhou !...
Hoje e só hoje
por entre as brumas
de uma estrela
meio adormecida
Quem recebe de bandeja
Mal sabe apreciar
Pois nada fez de sobeja
P'ra além dum mero aceitar...
Casei-me sim casei-me
na estrondosa melancolia
de um ninho podre
por entre pétalas brancas
Quem pelas coisas trabalha
Sem nada ser oferecido
A tudo o que amealha
Dá o mais justo sentido.
Sim casei-me
sou franco casei-me
com a solidão do acaso
no brilho das anémonas
Coisas grandes ou pequenas
Para alguns muito vulgares
Para uns valem centenas
Mas para outros milhares ....
Sólido silencioso
cálido de nuvens
na mudez dos tempos
fiquei como sempre
Só quem luta de verdade
Sabe todo o valor dar
Ao que com dignidade
Soube por si conquistar...
Foram tempos indecisos
no pecado da monotonia
por entre as andorinhas
no voo da liberdade
O verdadeiro valor
Que coisa qualquer ostenta
É na dimensão maior
O que pra nós representa !...
Quem diria sim quem diria
perguntas que se perdem
na sensatez infantil
por ventos sensuais
Euclides Cavaco - Canadá
E depois sim depois
perguntam alguns
sorriem outros
na tempestade do tempo
Professor
Senti Saudades!
Esta é a mais alta das distinções.
Seja nas monarquias ou nas repúblicas,
nas avenidas ou nas prisões,
nas ditaduras ou democracias
por via das histórias e geografias
e de todas as outras sofias…
foi o STOR,
que ensinou a calcular
e fez a sala continuar
a aprender
que não se pode prender
o pensar
e que este é o início
do princípio
do saber estar.
Hoje, amigos senti saudades!
D’ovomaltine, do leite Nido com café!
Da geleia, de loengo, a barrar o pão …
No matabicho, fruta pinha e mamão…
Senão, nem eu sabia escrever isto,
Se não tivesse tido um PROFESSOR.
José Jacinto – Casal do Marco
11
Hoje amigos senti saudades!
De matumdua, maboque, pitanga…
De turtulho, lossaca, massaroca…
De vielo, de matira, e mandioca…
Hoje, amigos senti saudades!
Do rubro vermelho das acácias!
Do embondeiro lendário retorcido…
Do mussibi já velhinho…carcomido!
Hoje amigos senti saudades!
Do canto do catuiti e sacandjuelé…
Pla manhã, na mulemba, os trinados
Em chilreios maviosos e treinados…
Hoje amigos senti saudades!
De apanhar o machimbombo.
De…no Camacove e no Mala viajar…
De…nas avenidas Angolanas passear!
Filomena G. Camacho - Londres
Enfim factos são factos
na dúvida deste casamento
insólito talvez
mas bem real...
Pedro Valdoy - Lisboa
Velho
Ser velho
E ser sábio…
Será bom ser sábio?
Será bom ser velho?
Eu preferia …
Não ser sábio
E não ser velho…
Queria ficar…
Não queria ir…
Mas vou…
E vou ficar velho…
E vou-me embora…
Só não saberei…
Se realmente…
Chegarei a ser sábio…
Lili Laranjo - Aveiro
12 |
Os Confrades da Poesia Boletim Nr 57 | Julho/Agosto 2013
«Confrades»
http://www.osconfradesdapoesia.com/Lusofonos.htm
Na Selva
Os mangais transbordavam de lodo,
Os ventos leste transportavam areias nos regaços
E espalhavam-nas no espaço.
Eram outros mundos,
E as salinas derramavam branco!
O mar de tons azuis,
Beijava mansamente a areia da praia.
Eram espaços e espaços,
Com espaço para toda a gente.
Clima quente,
Palmeiras refrescantes,
Avenidas verdes,
Pássaros deleitados
Passeando na floresta,
Abanando os girassóis.
O sisal banhava os prados.
As papoilas eram beijos
De lábios avermelhados.
Planaltos inundados de veados,
Colinas e colinas de cascatas,
Rumores de água,
Falas dos regatos com as rãs...
Eram horas e horas de cânticos negros;
Eram horas e horas de batuques,
Sensualidade de merengues.
Era a luz de minha noite,
Dias e dias de noite cerrada,
Seguindo por aquela estrada sem fim
E trazia a noite dentro de mim.
Não havia mais desertos
Que meus pensamentos não calcorreassem,
Nem mais florestas
Que meus anseios não desbravassem.
Caminhava de lanterna acesa
E as sanzalas eram rios
De cânticos selvagens.
Amava a paisagem,
Mas não contava meu segredo
A não ser ao mar azul,
À floresta verde,
Ou ao deserto tão amarelo,
Que as miragens falavam comigo.
Os avestruz corriam no deserto
E deixavam pegadas nas dunas douradas.
Havia rosas e cravos,
Lírios e espargos,
Sonhos belos e amargos.
Não existia o amanhã,
Mas sim uma ansiedade
E, o tempo não tinha idade.
Havia trapos e farrapos,
Dentro de meu peito em pedaços
E as pedras caíam-me em cima.
Quando caminhava pelas gargantas,
Minhas lágrimas eram tantas,
Que a corrente derramava
E o eco as assustava.
Viajava com o som de meus receios,
Estradas e picadas de permeio.
Imaginava a guerra,
Os horrores,
E via fardas em cada galho de árvore,
Até na brancura de mármore
Do sol ao alvorecer.
Mas o sol era vermelho!
A guerra,
O meu medo...
Cheirava a fumo das queimadas
E as chamas eriçadas
Eram lâmpadas rumo ao céu.
Só o céu era meu,
Quando o olhava
E contava as estrelas
E falava com elas
E elas me falavam
A qualquer hora do dia,
A qualquer hora da noite,
A qualquer hora de cada hora.
Meu peito era um aperto,
Meu leito era um deserto.
Só eu sabia,
Só eu chorava,
Só eu sentia,
O peso da minha guerra;
Aquela que eu sentia.
Sentia o peso das horas,
Como quem sente o horror da fome,
O terror do medo.
E sentia medo;
Sentia medo de meu próprio medo.
Havia escorpiões nos meus sonhos,
Garras de leões nos meus sonos.
Sentia o peso das lagartas,
Os tiros dos canhões.
Sentia os temporais,
Os trovões...
Era selvagem no meio da selva,
Mas amava ser selvagem,
E amava a selva.
Em cada tronco
Encontrava a mesma imagem
E também em cada brisa.
Deleitava-me a paisagem verde,
E o mar que me banhava.
Cremilde Vieira da Cruz - Lisboa
A Vida
A vida é feita
De tristeza e de alegria
De angústia e de certeza
Mas corremos para a preservar
A vida é muitas vezes algo que inquieta
Que nos deixa sem vontade de continuar
Que nos aperta o coração
E nos deixa sem vontade de continuar
Mas é vida e todos a querem
Corremos sempre com ansiedade
Com vontade de a fazer vingar
Pois sabemos que a vida feliz
É mesmo o nosso objectivo principal
Nesta vida,tantas e tantas vezes cinzenta.
Lili Laranjo – Aveiro
Os Confrades da Poesia | Boletim Nr. 57 | Julho / Agosto 2013 |
«Tempo de Poesia»
As árvores morrem de pé
Outrora foi vida
Mais que amada; desejada
Mais que folheada; floreada
Mais que verdejante; refrescante
Uma princesa da floresta
Uma rainha da sombra
Foi vida…vivida
E deu imenso
E tanto que ofertou
Sempre presenteou…tanta vida!
Agora nua e triste
É um resto de tronco escuro
Despida num casco enrugado
Carregado de fendas
São as marcas de um passado
Agora…ali, em tons de secura profunda
Habita apenas a solidão e o abandono
Hoje…somente, um palco de cortes
Um misto de golpes
Um punhado de rasgos
Já não vive das estações do ano
Desconhece a chuva, sol e vento
Habitando nela apenas…o silêncio!
Mas sempre… sempre de pé!
Luis da Mota Filipe
Anços-Montelavar-Sintra-Portugal
Vai-te embora ano cruel
Dois mil e doze com sabor azedo,
Cheira a corrupção dor e sofrimento.
No ar sopra o vento agreste do medo,
O Mundo filme de terror, enredo,
Transformado num vulcão violento.
Alguém diz que o dinheiro não é cego,
E há quem lhe chame vil metal.
Nasce da ganância e desassossego,
Põe: pais, mães e filhos no desemprego,
E numa guerra podre e desigual.
Vai-te embora ano cruel, malvado,
Deixa entrar o sol a luz a amizade.
As ondas do mar com claridade,
Fortalecem o Homem revoltado,
Num Ano Novo e nova tempestade.
Carlos Cardoso Luís - Lisboa
Depois
Depois da batalha
é outra a paisagem,
depois do horror
é outra a mensagem,
depois do amor
é outra a miragem,
depois da viagem
é outro o descanso,
depois do descanso,
recomeça a vida.
João Coelho dos Santos
Ausente Presença
Tua ausente presença hoje eu sinto
E tua presença ausente de ontem…
Enxuga essa lágrima teimosa e fria
Que da fonte dos olhos teus se solta
E vem matar esta saudade,
Saudade teimosa que mata.
Quando o carinho ausente se revolta,
Voam meus versos dispersos entre nuvens
Por onde perpassam mansos cansaços.
De Amor e de Ausência
Mais se alimenta a saudade
E, no impossível, mais se inflama o Amor.
João Coelho dos Santos - Lisboa
Viver solidão
A família
Eu nasci ainda há pouco
E o meu corpo como um louco
Ergueu-se qual um cipreste.
A noite ficou calada
E a janela então fechada
Ergueu-se com o vento agreste.
A família, a família,
Quantas vezes acontece,
A harmonia a união
Nem sempre é o que parece.
Nascia o sol e em breve
Gélidas chuvas e a neve
Destruíram o meu dia.
Cansado de estar assim
No mar profundo e sem fim
Afoguei minha alegria.
Minha alma ficou perdida
E as agruras da vida
Fustigaram-me a razão.
Perdi-me no meu viver
E agora sem querer
Vivo só em solidão.
Victor de Deus - Barreiro
Banquetes, almoçaradas,
A família em reunião,
Ao primeiro contratempo
Começa a desunião.
Até custa acreditar
Todos cheios de razão…
Tristemente cai por terra
A amizade a união.
Prós trabalhos cada qual
Tem a sua opinião,
A culpa é sempre do outro
Que grande desilusão!
Pelo que vejo e oiço
Verdadeira conclusão,
Lá diz o velho ditado
“Não há bela sem senão”
Menino Pobre
Um pobre menino na rua encontrei,
Seu rosto, sujo, sorria ao pedir,
Uma esmola que lhe dei,
Para a fome colmatar
E perder a tristeza de seu olhar.
Órfão, desamparado,
A rua é seu abrigo,
Menino abandonado,
E em constante perigo.
Incapaz me senti,
Perante tanta miséria,
Que à minha volta via,
Consolei-me ao olhar
Naquele dia,
Aquele belo menino
Que naquele instante me sorria.
Natália Vale - Porto
Aires Plácido - Amadora
Verão
Altaneiros, os pardais
cruzam o céu, a vastidão…
E em alegres madrigais,
esvoaçam em turbilhão.
Os frutos, em profusão,
refulgem sem avareza.
É na época do Verão
qu’é mais bela a Natureza!
Gosto sempre do Verão
pelas tardes soalheiras…
e de ver, bordado, no chão,
o broto das sementeiras.
Filomena Camacho - Londres
13
14 |
Os Confrades da Poesia Boletim Nr 57 | Julho/Agosto 2013
«Trovador»
Regressa feliz ao ninho.
Alma triste
Nada peças de joelhos
Ao comungar a promessa
Com apego de pureza
O poeta se confessa
P’lo amor da Natureza
Com esta dor que é só minha,
Passa o tempo a divagar,
A minha alma tão sozinha
Sem a tua para amar.
Mote
Surgem aves de renovos
Por um ninho de pro-crias
Macho que encuba os ovos
P’lo cuidar de suas crias
Sofrendo por te não ver,
No soluçar dos seus ais,
Pede a Deus para morrer
Por não poder sofrer mais.
São alegres p’la manhã
Os passarinhos cantando
São sinais de fé cristã
Com asas esvoaçando
Vai sentindo a toda a hora,
Neste silêncio calado,
Toda a tristeza que mora
Na solidão a seu lado.
Nada peças de joelhos
Ao Divino Redentor
Que atende novos e velhos
Pela força do Amor.
Natureza é composta
No cantarolar que entoa
Vencimento de resposta
Nos belos sons que ressoa
Esta alma triste e louca,
Sofrendo a dor do seu pranto,
Sente que a vida é já pouca,
E que tu demoras tanto.
Se Ele nos conhece bem
A Jesus não vás mentir
Que a balança do Além
Não erra o nosso sentir.
Criança tem mais encanto
Quando vê um passarinho
Chilrear, com belo canto,
Regressa feliz ao ninho
E porque tanto a atrais,
Com medo fica a pensar,
Que chegues tarde demais
Para te poder amar.
Ele vê pelos espelhos
O nosso modo de orar,
Que quem segue os seus conselhos,
Nada precisa rogar.
Isidoro Cavaco – Loulé
Tenhamos Fé sem crendice
Em nosso modo de agir,
Pois quem segue o que Ele disse,
Tem tudo o que lhe pedir!
Pinhal Dias - Amora
Nada peças de joelhos
A Jesus não vás mentir,
Que quem segue os seus conselhos
Tem tudo o que lhe pedir.
(António Aleixo)
Glosa
Clarisse Barata Sanches - Góis
Da Guerra os grandes culpados
Mote
Foz côa Gourmet
Ao Homem Cru
Da guerra os grandes culpados
Que espalham a dor na terra,
São os menos acusados
Como culpados da guerra.
(António Aleixo)
No Gourmet de Foz Côa
Fui servido como “reis”.
Vi lá tanta coisa boa!
Fica na Almirante Reis.
Homem cru tu é a praga,
Como a grama na horta
Por onde passas esmagas,
Fazer mal não te importa.
Exilibris de Foz Côa,
Produtos da região.
Lá no Centro de Lisboa
Palpita meu coração.
Tens instinto de demónio,
O teu sentir é exangue
És mau p’ró matrimónio
P’ra todos os do teu sangue.
O concelho de Foz Côa
Ali bem representado
Víveres de gente boa
Eis: fruto do seu trabalho.
Ris quando os outros choram,
És um verdadeiro pulha
Só mesmo a ti adoras,
Metes os outros à bulha.
Fozcoenses de Lisboa
Não deixem de o visitar;
Vendem artigos do Côa,
Consumam sem limitar.
Só te deves transformar,
Visitando um cemitério
Pois aí hás-de encontrar,
Quem te dê um bom conselho.
Jorge Vicente - Suíça
Encontras altos ciprestes,
As sentinelas da morte
E te dirão que não prestas,
Ali terás pior sorte.
GLOSA
Da guerra há grandes culpados
E muitos se escondem bem,
Como que “encapotados”
Sem os culparem ninguém.
São eles, sim, de verdade
Que espalham a dor na terra
Grandes “senhores” com maldade
Que este mundo triste encerra.
Todavia, estes malvados,
Que nem castigos esperam,
São os menos acusados
Pelos crimes que fizeram.
Vejam a Crise, em acção
Na Europa que nos aterra.
Vivem na boa e não são
Como culpados da guerra!
Clarisse Barata Sanches - Góis
Virás de lá outro home,
Já com novos sentimentos
E darás a quem tem fome,
Té mesmo dos teus proventos.
A. Pinto de Almeida – S.M.Ribatua
Os Confrades da Poesia | Boletim Nr. 57 | Julho / Agosto 2013 |
«Poemar»
Desesperante
Chorar limpa a alma
Cada lágrima derramada
Que desliza pelo rosto
Cintilante de uma mulher
É verdadeira mancha de sofrer
Contamina quem vê e sente
Uma mãe que chora verdadeiramente…
Desesperadamente
Quando não tem pão
Para dar a seu filho
Que lhe foge entre a mão
Procurando um porto de abrigo
Sem abrigo e sem pão
À deriva no vazio…
Ana Alves - Melgaço
Maremoto Asiático
A Palavra
Escrevo-a, pronuncio-a e …saboreio-a!
Grata, porque com ela me expresso,
me apresento, me digo…
Estendo-a no papel, digito-a,
Repenso-a, analiso-a,
Recomponho-a, medito…
Medito sobre ela, introspectivo-a.
Quero que seja inteiramente fiel ao que sinto!
Tem de ser absolutamente reflexiva
Do meu sentir elementar, profundo, total!
Só assim a reconheço, a valorizo!
Cada letra é uma criação que respeito
Que enalteço, que vivo!
Cada sílaba—uma pré construção da vida!...
Cada Palavra—uma Avenida…
Felismina mealha – Agualva Cacém
Onde outrora marinheiros lusitanos
Reais conquistadores dos oceanos
Chegaram, espalhando a sua fama
Estendeu-se o mar sobressaltado
Sobre a terra e o povo assustado
Deixando no regresso um mar de lama
O Padrão
O Oceano Índico em furor
Talvez por ter sentido alguma dor
Devido ao maremoto impertinente
Empurrou suas águas sem medida
Sobre uma multidão desprotegida
Arrastando e matando tanta gente
Deixados, pelos achadores, p'ralém mandados
Marcavam, como a tal obra era tão imperfeita,
Porque séculos depois já ninguém os aceita
E dalguns areais foram todos retirados.
Muitos povos foram destroçados
Muitas casas e carros arrastados
Levados pelas águas em cachão
Homens e mulheres que vão correndo
À frente das ondas em crescendo
Lutando até à exaustão
São muitas dezenas de milhar
As vítimas que foram a contar
Nas listas dos que pereceram
Alguns eram turistas estrangeiros
Que também ficaram nos lameiros
Para sempre os seus corpos se perderam
Resta agora cruel destruição
Entre os sobreviventes que lá estão
Esperando ajuda no terreiro
Felizmente a ajuda apareceu
Para o povo que sobreviveu.
Aí correspondeu o mundo inteiro
Fernando Marçal - Porto
Erguidos, pelos areais desconhecidos
Firmes, pela rude e esforçada raça humana
Marcavam toda a veemência lusitana
P'los cantos, do grande Império, já esquecidos.
Vã glória de um Padrão que marcou todo Império
Encabeçado com cinco quinas num escudo,
E no alto, uma Cruz com grande poder para tudo.
De que serviram tantos anos de ministério ?
A forte Nação Portuguesa fraca ficou!
Mar e terras sem fim deixaram de ter valor
E o Forte e Nobre Povo apesar do seu clamor
Por outros poderes, manietar se deixou.
Hoje nada possui do vasto e tão rico Império.
De forte explorador passou a fraco explorado
Num pequeno rectângulo, no sul, colocado,
Na Europa, velha e caduca, sem magistério.
Velha Glória do valor Lusitano esforçado
Que jazes esquecido na apagada memória
Daqueles que valorosos fizeram História.
Velha Glória, assim ingloriamente, acabado.
Edgar Faustino - Correr D’Água
15
16 |
Os Confrades da Poesia Boletim Nr 57 | Julho/Agosto 2013
«Verão em Portugal»
A Magia do Algarve
O Verão
Pla manhã, adejando, abre luminoso o sol as asas!
E aos beijos fulvos, sorridente, se rende a Natureza!…
Vergam árvores, braços, pendendo o fruto açucarado,
Refulgem flores como flocos d’arco-íris condensado!
Num indizível frémito de alegria arqueja a terra!
E, em ritual, sem reservas, marcam-se as férias!
É tempo da Família, dos Amigos, lazer, lassidão…
E o sol compactua, alongando... cada dia de Verão!
Filomena G. Camacho - Londres
Ó linda Praia da Rocha,
Quando chego é uma alegria,
Minha alma desabrocha,
Em tudo encontro magia.
Quero matar a saudade
Do teu mar maravilhoso,
Da fina areia, deidade,
Teu encanto generoso.
A luz do Sol a pintar
A beleza da paisagem
E as gaivotas a animar
Com seus sons, sua passagem.
Cada um mostra o que tem
Tudo é alegre e dif’rente,
Há praias cheias de gente
Nos quentes meses de verão;
Andam louras bronzeadas
E morenas bem tostadas,
Barrigudos de calção!...
Só o calor do verão,
Tem a força e o condão
De pôr tudo a arejar;
Já mostram tudo nas praias
E na rua as mini-saias
Pouco conseguem tapar.
Passam meninas modernas
Com celulite nas pernas
E as banhas descaídas,
Sem de nada se importar
Exibem-se junto ao mar,
Passando descontraídas.
Também há as elegantes
E os rapazes galantes,
Que se exibem também;
Vê-se de tudo a passar
E enquanto o calor durar,
Cada um mostra o que tem!...
Isidoro Cavaco - Loulé
Rastos de brancas escumas
Dos barcos a deslizar
Riscam a água de plumas
A alindar o azul do mar.
Ó praia linda, formosa,
Transmites tranquilidade,
Manhã de V'rão preguiçosa.
Regressarei co'a saudade!
Maria da Fonseca – Lisboa
Amores de verão
Tardes de estio do meu Alentejo
Com moças belas, na rua, passando,
Vagos olhares, rubor de desejo,
E no meu coração as ia guardando.
E iam, e vinham, se tinham ensejo,
E eu, mudo e quedo, amava-as, olhando
O ar furtivo que me atirava um beijo
Perdido nas pedras que iam pisando.
E na tarde morna, cálida, amena,
Nasciam amores cheios de pena
P’los que morriam no mesmo momento,
Ao ver as moças passando, maldosas,
Co’o lenço escondendo as faces de rosas
E risos enchendo o meu pensamento.
Tiago Barroso - Parede
Os Confrades da Poesia | Boletim Nr. 57 | Julho / Agosto 2013 |
17
«Faísca de Versos»
O Pior ainda está para vir.
Selados p’lo compadrio, são cobertos
Extraordinários do seu paul…
E debaixo d’olho, são descobertos
Raposas devoram o saco azul
Um, ponto cinquenta e oito, de matriz
Cada cidadão…pagar ao “PR”
O Maior lhe diz: - “Segue o teu caminho”
Governo acata, na folha que encerre
Horizonte de: - “Escravidão Global”
Os corruptos crescem em Portugal
O que mais se poderá consentir? …
Futuro!? Sem direcção vai o ganso
À toa, desgovernado, deu falhanço
O pior ainda está para vir.
Pinhal Dias - Amora
Réplica a um poema da amiga
(e "mana") Maria Vitória Afonso:
Vê se acordas, Santo António!
Ouve bem o meu conselho:
Manda p’ra longe o demónio
Chamado Passos Coelho!
A teus pés eu me ajoelho
Com muita fé, a rezar,
Que além do Passos Coelho
Leves também o Gaspar!
Já agora, se não t’importas,
Faz a limpeza total:
Não deixes ficar o Portas
Para limpares Portugal!
O povo está num inferno
Com o governo que tem
Por isso, leva o governo
E o Cavaco também!
***
Fernando Reis Costa - Coimbra
Sociedade
(Acróstico)
Dia de Camões
1
As armas e os papões desmascarados
Aqui neste país Ocidental,
Passaram nos Governos, governados
Ficaram cá alguns, em Portugal.
Em perigo, tantos outros afastados
Das benesses do Estado e por sinal,
Vem de longe a doutrina, a facturar
Onde são sempre os mesmos a pagar!...
2
Mais um dia de Camões assinalado
Enorme Português que nos espanta!
Ano a ano, século a século lembrado
O imortal cantor de glória tanta.
O Poeta cortesão assim chamado
Que hoje, Portugal ainda canta
Embarca, desembarca meta a meta…
E onde estão as glórias do Poeta?
3
Mais um dia de Camões, de Portugal!...
Será mais uma festa, um feriado
Para essa “cambada” estatal…
Para quem o euro é abastado…
Mas, àqueles em que o euro dá sinal…
Desse magro salário indesejado
Não chega para nada, é “tábua rasa”
E o dia de Camões será em casa!...
4
Cessem do oportunismo e em punho…
Armas que despedaçam corações,
E grite-se mais alto o 10 de Junho
Que eu gritarei sempre Camões.
Dêem a este povo o testemunho…
De valor, de riqueza e ostentações
Levante-se outro mais alto valor,
E armem-se as armas do amor!...
João da Palma - Portimão
Roupa Suja
As lavadeiras do trapo
da Assembleia Pública
lavam a língua de serpente
com Omo Tide ou Ariel
O papagaio canta
o rouxinol palreia
o homem rosna
de adversário para adversário
São os filhos de um povo
Oprimidos na madrugada
Condicionados pelo poder
Intimados pela amargura do ser
Escrutínio da pacificidade pérfida
Doença afetada ao sabor do não-ter
Ao mísero cidadão comum
Dói-lhe a revolta escondida
Em luta de uma força perdida…
O galo no poleiro
chacota: o tempo acabou
Em democracia
todos ralham
Ana Alves - Melgaço
Pedro Valdoy - Lisboa
O pão do cidadão
é escasso a fome aumenta
todos chilreiam na Assembleia
outros nem dinheiro têm.
Politicões:
Praga Infernal
Apesar de velho
E gasto o processo,
Inda há quem venda
Gato por Coelho,
Com grande sucesso;
Quem somente aprenda
As coisas do avesso
E fique encantado,
Ao ser enganado!
Mas também abunda
Quem caia à primeira
E não à segunda
E não à terceira;
Quem tenha perdido
Suas ilusões
E bem aprendido,
Em poucas lições,
A não confiar
No lindo falar
Desses aldrabões!
Hermilo Grave
Paivas / Amora
Um País é o seu povo
Se um país é o seu povo
Não se deixem governar
Por quem tem fome de lobo
Por quem vos quer escravizar!
Não tenham medo das feras
Levantem alto a vossa voz
Porque elas se alimentam
Daquilo que tiram de nós!
São Tomé - Amora
Por Um Novo Abril
Navega em mar onde impera a tormenta
Que encobre tão vis e negros rochedos,
E de repente desperta seus medos
Nessa tempestade tão violenta.
Na barca, a tripulação não aguenta
Tantos balanços e tantos penedos
Eriçados e plenos de arremedos
Que sua pobre alma tanto apoquenta…
Outrora o Nobre Povo Lusitano
Enfrentou o desconhecido Oceano
Na grande epopeia dos navegantes…
Com tua garra, hoje, a névoa dilui
E com teu grito, o desgoverno rui,
E não mais… nada será, como dantes.
Edgar Faustino - Correr D’Água
18 |
Os Confrades da Poesia Boletim Nr 57 | Julho/Agosto 2013
«Faísca de Versos»
A Última Ceia
Alegorias Repentistas!... (I)
Jesus Cristo veio ao mundo
Com o sonho bem profundo
De salvar os irmãos seus,
Como lhe mandara Deus.
A Dona Sátira e o Senhor Sarcasmo,
São políticos desta Nação!...
Ele a faz sentir orgasmo,...
- Mas só em dias de eleição!
Devagar, muito lentamente,
Fêz-se rodear de gente
Que só Nele acreditou
E até ao fim o acompanhou.
São dois verdadeiros amantes,
Do poder e da Democracia!...
Ela goza como dantes,...
- como ele antigamente o fazia!
Mas bastou haver um só,
Que sem ter Dêle dó
O traíu e aos companheiros,
Por míseros trinta dinheiros!
Andam sempre de braço dado,
Nos palcos da DEMO CRACIA!,...
Onde o povo cantava fado,...
- hoje só se escuta uma gritaria!
E Cristo, sem ser culpado,
Pelo povo foi crucificado
Pois Pilatos as mãos lavou
Dizendo: - Quem o julgou?
Viva eu!... e viva ela, a nossa “Santa Terrinha”,
Onde o povo é quem mais ordena!,...
E enquanto a Alma definha,...
- A lei da morte os condena!
Ora, neste nosso Portugal
Onde está o Cristo actual,
Que nem com muita fé,
O povo quer ver, mas não vê?
O povo unidooooooo!!!!!!!,... vem junto e inflamado,
De ardor e de amor patrióticos!,...
Anda na rua em altos brados,...
- Mas vive à base de psicóticos!
Só do Calvário vê os ladrões
Que nos levam os "tostões"
Sem piedade por quem trabalha
P'ra sustentar essa canalha!
E o que nos resta, afinal,
É pedir para Portugal
Um "Àtila" em vêz d'um Cristo,
Para que venha salvar isto!
Fernando Afonso - Lisboa
Silvino Potêncio – Natal/RN/BR
Sim, Presidenta Rima...
Sim, presidenta rima com quarenta
e Ali Babá com Xangrilá —
tanta mutreta que ninguém aguenta,
nem os de cá, nem os de lá.
A presidenta estava tão contenta
a saborear de lá, de cá
sua pipoca real (de presidenta!) —
e dava ao povo piruá.
Este país não tem despertador,
vai apertando o cinto, em sofrimento,
mas p'ra que o povo vote a seu favor,
atiram-lhe promessas para o vento.
Tiago
Mas a mentira é próxima parenta
de um tapete que amiga mão porá
sobre um fosso com lâmina cruenta...
Sobre o pano — a sorrir qual manacá —
marchou a presidenta que, imprudenta,
caiu só — sem o seu Ali Babá.
Mais umas décimas....
É triste que assim seja
neste canto á beira mar
está o povo a passar fome
e o governo anda a brincar
1
As eleições vão ganhar
baseados na mentira
o governo se admira
do povo se revoltar
calados não vão ficar
sentindo-se enganados
pela politica despojados
onde a fome já sobeja
os portugueses são roubados
é triste que assim seja
2
Mandam a autoridade
bater em quem pede pão
o povo não calam não
vem ao de cimo a verdade
ninguém pede por vaidade
pede sim porque tem fome
o seu suor quem o come
está sentado a governar
a crise, o povo consome
neste canto á beira mar.
3
Só falam na austeridade
para salvar Portugal
eles querem é afinal
esbanjarem-se á vontade
vamos dizer a verdade
ó bom povo com altivez
para que o governo de vez
perceba que o povo come
neste cantinho português
está o povo a passar fome
4
Austeridade em Portugal
foi feita pra quem trabalha
porque o resto da escumalha
é só esbanjar afinal
os reformados por igual
são roubados na pensão
também eles pedem pão
o governo sem os escutar
passa o povo fome então
e o governo anda a brincar.
Laerte António ( LA ) - SP/Br
Chico Bento
Dällikon-Zurique-Suíça
Os Confrades da Poesia | Boletim Nr. 57 | Julho / Agosto 2013 |
19
«Contos / Poemas»
Flores Negras
Quanta angústia, quanta dor...
Parece que não vou suportar tamanho sentimento que invade o meu ser.
Meu estômago embrulha,
A boca fica seca.
Uma insegurança me consome.
Não sei o que fazer, ou que dizer.
Nunca havia sentido algo assim!
Em desespero, sinto o meu ser tremer, a minha alma chora.
Estou sem alento, estou vivendo o pleno sofrimento.
Por que meu Deus?
O que fiz para merecer, tanta dor?
Sentado diante das flores do meu jardim, sinto-me afastado da vida.
Nada faz sentido.
Estou vegetando...
A paz que habitava o meu ser se esvai.
Oh, Deus de infinita bondade ilumine o meu caminho.
Só desejo concretizar a minha missão.
A vida é tão breve, mas as dores físicas, mentais e espirituais são intensas.
Tristemente colho flores negras do meu jardim.
Jardim mórbido, mórbido tornou-se o meu jardim...
Dhiogo José Caetano - Uruana / Goiás /Br
Chic demais gente..
Na Vila de São João do Espinheiro, a vida era mais do que devagar, era parada mesmo, mas o povo do lugar era
feliz e alegre, qualquer coisa servia de divertimento e geralmente riam e faziam gozações uns dos outros, tudo sem
maldade, com bom humor e amizade, durante décadas foi assim e era bom.
Mas nesse mundo maluco nada permanece igual para sempre, os anos passam, as coisas mudam e até lá naquele
cantinho perdido no meio do mundo, as mudanças chegaram e chegaram bruscamente, porque a modesta vila passou para cidade e de cidade para cabeça de comarca, ai a vaidade subiu a cabeça do povo.
E as tolices aconteceram aos montes, era cada dia uma novidade e sempre coisas bobas, como a vitrine da venda
de secos e molhados do Zeferino, que colocou uma parede de vidro na frente da venda, colocou um pouco de tudo
que vendia e aquilo ficou parecendo um mercado de pulgas e escreveu, assim: Ex venda, agora Loja.
Uma cidade tem a obrigação de ter um clube e mais que depressa fundaram o Clube Toatoa de Diversões Diversas,
mas era apenas uma sala pintada de verde com cortinas amarelas, onde os jovens dançavam aos sábados ao som
da sanfona do Cegueta Zé, bebendo limonada cor de rosa e os velhos jogavam cartas
Progresso que era bom não se via nenhum, mas a comunidade enchia a boca para dizer: Cidade de São João do
Espinheiro, mas além disso aconteceu o grande evento, que foi a inauguração do primeiro cinema da região; o Cine
Espinheirense era um luxo só, tinha até uma cortina de veludo que cobria a tela.
Na noite da inauguração, o povo vestiu suas melhores roupas e compareceu em peso, mas faltou energia eléctrica e
falhou, só dois dias depois a energia foi restabelecida e o cinema foi inaugurado com a exibição do filme O sheik,
com Rodolfo Valentino; foi lindo quando a cortina se abriu ao som de uma valsa.
Sem outra novidade as pessoas se ocupavam o tempo todo do cinema, como só duas vezes por semana eram exibidos filmes, todos assistiam e passavam o tempo comentando o enredo, até a hora de ver o próximo e assim por
diante, mas para Seu Bento isso era pouco, ele queria aparecer.
E conseguiu, quando procurou a dona do Cine Espinheirense e exigiu uma cadeira cativa, para seu uso exclusivo;
Dona Vina disse que não era possível uma coisa dessas, porque ia ofender os demais espectadores e todos iam querer a mesma regalia, mas Seu Bento não desistiu e tanto atormentou que ela cedeu.
Mas para evitar reclamações, dona Vina lançou a notícia que seu Bento estava com uma doença contagiosa e que ia
ter uma cadeira separada só para ele no cinema, mas o boato se espalhou e o povo passou a correr para longe do
infeliz, todos com medo da tal doença e quando ele soube do boato, foi as contas com a dona.
E ela se justificou dizendo: o senhor queria uma cadeira cativa e eu tive que me defender, porque não posso perder
os frequentadores por causa de uma exigência sua, agora aguenta o mau jeito, tem sua cadeira com nome gravado,
não tem? O velhote levou meses, para provar que não tinha doença nenhuma, mas conservou a cadeira reservada e
achava muito chic.
Maria Aparecida Felicori (Vó Fia) - Nepomuceno Minas Gerais Brasil
20 |
Os Confrades da Poesia Boletim Nr 57 | Julho/Agosto 2013
«PÓDIO DE TALENTOS»
http://www.osconfradesdapoesia.com/Biografia/ConceicaoTome.htm
Conceição Tomé «São Tomé»
«A poesia é o hino da alma»
Maria da Conceição Pinto Tomé - Nome literário: Conceição Tomé e São Tomé o seu pseudónimo, seu dístico
poético "A poesia é o hino da alma". Nasceu em S. Mamede Ribatua, Concelho de Alijó (Trás-os-Montes), à beira
dos rios Douro e Tua. Depois de ter vivido por longos anos em Angola e Brasil, reside actualmente em Amora – Seixal. Casada com o poeta e escritor Pinhal Dias. «Versa desde 1958, colabora em vários Jornais e Antologias Poéticas, mantendo adesão ao Recanto das Letras; Associação Portuguesa de Poetas; Poetas Del Mundo e AVSPE – Brasil; Horizontes da Poesia. Participou nas VI; VII e VIII Antologias Poéticas do Mensageiro da Poesia, 2ª Antologia de
Contos Cardeais da Editora Mosaico de Palavras. Tem vários trabalhos publicados em Jornais e Revistas. Foi Directora do Mensageiro da Poesia. Actualmente é Vice-Presidente e Fundadora de “Os Confrades da Poesia”; também Directora-adjunta do Boletim. Tem 2 CD's Gravados/Declamados.
Bibliografia:
Livros digitais: A Verdura do Meu Sentir; A Verdura do Meu Olhar
Sites: - http://conceicaotome.blogs.sapo.pt - http://www.osconfradesdapoesia.com
Poemas de
Donos do Mundo
Os meus versos
Dentro de mim coabitam em dualidade
O silêncio explodindo num trovão
Que catapultam a voz da minha razão
Aos vastos campos da irracionalidade!
Guarda esses versos que te fiz amor,
Para que um dia os possas recordar,
Mas se a saudade der lugar à dor,
Lança-os ao fogo deixa-os queimar.
Que caminho percorre a humanidade
Por este planeta frágil, assaz moribundo
Porque não se chega à consensualidade
De que ninguém é o dono do mundo!?
Se esses versos que arranquei da alma,
Eles não chegarem ao teu coração,
Abre-lhe caminho de flores e palma,
Quem sabe um dia voltará nossa paixão.
Quisera eu fazer deles uma canção,
P’ra que juntos a possamos escutar,
Sem ter por perto a sombra da solidão.
Se esses versos te causarem aversão,
Podes soltá-los nas brumas do mar,
Que o vento oculto, lhe dará a mão.
Terras de além-mar
Meu Rio Tua
Ainda escuto o canto das tuas águas
Ainda te vejo transpor o vale profundo
E correr livremente no leito pedregoso e estreito
Na ânsia de levares tantos sonhos para o mundo.
Homens vigorosos construíram em remotos dias
Um caminho-de-ferro para te fazer companhia
E te ajudar a suportar o rigor das invernias…
Outros homens quiseram aprisionar-te
Tirar-te o pleno direito à liberdade
Para te transformares num pequeno mar
Sem sal e sem maresia….
Hoje, o teu canto é de tristeza e não de alegria.
Tão longe de mim, tão longe,
Que não as posso alcançar,
Mas estou presa à saudade
Das terras de além-mar…
Onde o tempo não corria,
A noite era igual ao dia
E o sol sempre a madrugar.
Se o mar na areia batia,
Era só para se espraiar.
E pelos longos caminhos,
Com o capim a verdejar,
Havia rosas sem espinhos,
Para as poder abraçar.
E à noite quando surgia
A lua no céu a brilhar,
Ouvia-se o som do batuque
Se expandindo pelo ar.
A minha casinha
Era uma casinha
Que toda sorria
Logo pela manhã
Quando o sol se erguia.
Tinha três janelas
Viradas ao monte
Onde murmurava
Uma fresca fonte.
Tinha uma varanda
Virada p’rá rua
Onde eu sonhava
Ao mirar a lua.
Tinha uma escada
Em pedra talhada
Já muito antiga
E bem desgastada.
E fora de portas
Havia um pilar
Feito de uma pedra
Para eu cavalgar.
Para eu cavalgar
Por mundos além
Junto com os sonhos
Que a criança tem.
Mas esta casinha
Já não é mais minha
Restam as lembranças
Da graça que tinha.
Os Confrades da Poesia | Boletim Nr. 57 | Julho / Agosto 2013 |
21
«Eventos e Efemérides»
Apresentação da V Antologia Poética
Foi no passado dia 7 de Junho, pelas 21 horas, que “Os Confrades da Poesia” - inserido nas comemorações do seu
5º Aniversário - fez apresentação da sua V Antologia Poética, a primeira editada em papel.
Por convite da SFOA-Sociedade Filarmónica Operária Amorense, o evento dedicado à Poesia e ao Fado, decorreu
no salão de festas desta Associação.
A apresentação esteve a cargo de Pinhal Dias e Conceição Tomé
Mesa:
Conceição Tomé – Vice-Pres. “Os Confrades da Poesia”
Euclides Cavaco – Convidado de Honra, como Embaixador da Lusofonia no Canadá
Carlos Macedo – Fadista / Guitarrista e Poeta
Manuel Araújo – Presidente da J.F. Amora
Amadeu Afonso – Joel Lira – José Jacinto – Lúcia Carvalho – Maria Vitória Afonso
Miraldino Carvalho
Outros Poetas Participantes:
Albertino Galvão – Fernando Afonso – Francisca S. Bento – Maria Lurdes Brás
Finalizou-se com a entrega de Diplomas!
O Jornal “O Comércio do Seixal e Sesimbra” esteve representado por Maria Vitória Afonso e Pinhal Dias
A Direcção
22 |
Os Confrades da Poesia Boletim Nr 57 | Julho/Agosto 2013
«Estados de Alma»
Quadras à toa!
Nunca escondas a verdade
com mentirinhas sem nexo
nem te exponhas com vaidade
p’ra disfarçar o complexo
Não penses que és o melhor
por teres peso e altura
embrulho por ser maior
não significa fartura
Nunca prometas p´ra além
daquilo que podes dar
porque pode, um dia, alguém
à força te querer cobrar
Nem avalies ninguém
só porque a olho se gosta
olhos não vêm além
do que a fachada te mostra
Os olhos de quem nos olha
nem sempre nos vêm bem
só quem a alma nos desfolha
nos olha como ninguém
Há abraços que se dão
e lábios que até se beijam
que salvo outra opinião
nem sequer saudades deixam
Eu cá por entendimento
não beijo só por beijar
beijo sim por sentimento
e para amor demonstrar
Gosto de beijar solteira
viúva ou divorciada
e de uma ou doutra maneira
também a mulher casada
Mas não entro em devaneios
se tiver paixão segura
não me cativam os seios
de mulher sem compostura
Não há feias nem há belas
entre as damas que conheço
para mim são todas elas
bem dignas do meu apreço
Gosto do campo e da serra
adoro a praia e o mar
o cheiro a mato e a terra
sorrir, sonhar e amar
Gosto da noite e do dia
das aves, dos animais
de mar, sol e poesia
e de ti ainda mais
Sou eterno sonhador
poeta por vocação
sem dotes de orador
nem queda para a canção
E se me olho muito ao espelho
não creiam ser por vaidade
é coisa de gajo velho
a confrontar a idade
Sou tábua rasa sou fado
verso sem métrica e rima
dum poema inacabado
com mania de obra prima
E se há vida além da morte
como há gente nisso crente
oxalá me calhe em sorte
ficar cá para semente.
E disse!
Abgalvão (DA) - Fernão Ferro
22 de Abril - Dia da Terra
V enho de uma outra galáxia
I nvestigar toda a imprudência,
N egativas práticas de vivência
T ransferidas para planetas cativas
E fotografar alterações sem vivas!
Eh, pá! A recolher imagens à toa?
D evo observar suas atitudes,
O s comportamentos amiúdes
I dentificando erros de virtudes,
S edimentados até suas pevides!
D ou-lhe depois seus feitos em fotos
E nquanto inconscientes de rastos!
A nda daí com as fotos fotografadas
B em vinda à solução de más fadas,
R ifando este planeta já bem sombrio,
I ncluído no processo de holocausto
L egitimamente penalizado a frio …
D espedaçada, esburacada, fendida
I nsalubre, árida e ainda sobreaquecida
A Terra sacode um tanto aborrecida!
D ilúvio vem e pretende apagar o fogo,
A braça a terra para salvar entes a rogo.
T orrencialmente chove a cântaros
E m todo o planeta, poder em púcaros,
R aivoso, explode e incomoda o mundo,
R iqueza reduz ou risonha lá no fundo
A ntes de perecer sem nenhum refundo!
Amália Faustino Mendes
Praia /Cabo Verde
Ditosa Pátria
Aqui... Onde o mar tem fim
E começa a Terra Lusa,
Nasceu a Pátria Jardim
Excelsa mãe feita musa!...
Bem pequena na extensão
Sem grandeza na aparência,
Mas de enorme dimensão
Na sua magnificência...
Tem um Povo destemido.
Fez seus a terra e o mar.
Rasga o mar desconhecido
Para mais além chegar!...
Chegou e, foi mais além
Seus feitos foram fecundos.
Achou terras de ninguém
Dando ao mundo novos mundos.
Foi tal a fama e a glória
Descobrindo maravilhas
Que até a própria história
Deu lugar a Tordesilhas!...
Que orgulho sentimos nós
Desta Pátria sem igual...
Nossa e dos nossos avós
Minha Pátria... Portugal!...
Eucldies Cavaco - Canadá
Olha aquela rapariga
Mote
Olha aquela rapariga
Ao luar da lua cheia
Está fazendo malha ou liga
Mas ninguém lhe liga meia.
Glosa
Entre absorta e alheia
Está cantando uma cantiga
Caiu uma malha da meia
Olha aquela rapariga
Ela constrói muitos sonhos
Que se evolam como areia
Como caem os medronhos
Ao luar da lua cheia
Ó menina sonhadora
Que a dura vida fustiga
Trabalha enternecedora
Está fazendo meia ou liga.
Sonhando com o amor
A chama que a vida ateia
Faz malhas muito a primor
Mas ninguém lhe liga meia.
Maria Vitória Afonso
Cruz de Pau/Amora
Os Confrades da Poesia | Boletim Nr. 57 | Julho / Agosto 2013 |
23
«Bocage - O Nosso Patrono»
Junho
Heróis do Ultramar
Chegou o mês de junho
Veio gelado como é de tradição
Mas já tem milho no moinho
Para os bolos de São João.
O mês é frio e as festas são quentes
São as alegres festas juninas
Que animam e unem as gentes
Dancem meninos e meninas..
Primeiro vem Santo Antonio
Das moças casamenteiras
São João Batista vem depois
Para benzer as sementeiras.
Por ultimo São Pedro o pescador
Pescando e ensinando a pescar
Todos reunidos em louvor
Alegremente vamos festejar.
Os Heróis do Ultramar foram soldados combatentes
Que defenderam a Pátria com a própria vida
Morreram numa guerra pouco consciente
Numa missão de coragem honrada e exigida.
A estes soldados de Vilar de Andorinho
Filhos da Terra que a morte venceu
Nunca é tarde para demonstrar gratidão e carinho
E reconhecimento aos Heróis que a freguesia perdeu.
Nesta homenagem de memória e saudade
Fica o orgulho e respeito sentido com humildade
Pelos Jovens soldados que lutaram por Portugal.
Os momentos vividos pela perda de um familiar, amigo ou irmão
Será simbolizado neste gesto simples, nobre de emoção
Pelos Vilarenses que querem honrar estes soldados da guerra colonial.
Ana Santos – Vilar de Andorinho
Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}
Nepomuceno Minas Gerais Brasil
Como é fascinante o nosso Mundo!?
O meu cérebro tem estado a pensar
Como é fascinante o nosso Mundo!?
Tenho estado confuso de tanto meditar.
Uma noite de Luar a murmurar.
As estrelas a brilharem e cintilarem.
O sol reluzente e quente.
As andorinhas a voarem no céu azul, para sul.
As gaivotas a voarem na superfície do mar a mergulhar.
As águias, na altitude, ao vento consequente.
Os morcegos na noite escura, que perdura.
As plantas a enflorar ao ar.
As plantas a murcharem, apodrecerem.
Um dia de sol quente, frequente.
Um dia de céu cinzento, nebulento.
Um dia arrefecido, sofrido.
Um dia de chuvarada, embaraçada.
E tudo isto e muito mais
Tudo se resume a um mistério
Que nunca levamos a sério
Por muito pensar e meditar.
Meu Norte Alentejano
Meu Norte Alentejano- terra/encanto onde nasci,
Querido torrão, que me viste, também, crescer!
Voltei, santo aconchego- berço/afago do meu ser,
Como tu- no imenso mundo- eu jamais vi.
Meu Norte Alentejano, que minha aldeia tem
Em seu colo de amor, o meu largo de brincar!
Onde tanta vez fui feliz, fruindo o seu amar
Tão feliz- tão feliz como mais ninguém.
Porque voltas do Destino, saí há tantos anos?!
Porque me obrigaram a procurar outros lugares?!
Se, da vida, aqui, não sentia os desenganos?
Fui para longe, procurando outros amares,
Desiludido, quantas vezes, por seus danos!
Sofrendo, na distância, por meus azares.
JGRBranquinho - Monte Carvalho
Quelhas - Suíça
"Não há pior vilão que o vilão consciente." (Miguel de Cervantes)
24 |
Os Confrades da Poesia Boletim Nr 57 | Julho/Agosto 2013
«Bocage - O Nosso Patrono»
O Povo
O Povo é o herói da nossa História,
Num desfiar de feitos com glória,
Descendente de Cruzados,
De Conquistadores,
De Descobridores,
De Homens-Bons,
De rosto anónimo,
Porém imprescindível.
Já não lava no rio,
Já não anda de burro,
Já não anda descalço,
Já não é analfabeto,
Já não está amordaçado.
Conquistou direitos,
Adquiriu visão e conhecimento,
Melhorou o país com o seu esforço.
Acreditou nos ideais de abril,
Pugnou para que eles se cumprissem.
Mas…
Vê crescer as injustiças,
Prosperar as desonras,
Triunfar as nulidades,
A torto e a direito.
Então…
Começa a desanimar da virtude
E a questionar a honestidade.
Rosa Branco – Cruz de Pau
Esperança?
No primeiro dia do ano
Abro a janela de par em par.
O nevoeiro é tanto
Que começo a imaginar:
O Mundo não acabou!
Vamos começa-lo de novo
Aproveitar o recém-nascido.
Fazê-lo crescer com amor,
Tudo o que esta palavra encerra
Pôr ponto final na guerra.
Dar-lhe sabedoria, educação
Mostrar-lhe o caminho pela mão,
Com força, vigor e saúde
Fazer da amizade uma virtude.
É de pequenino que se torce o pepino!
O ano que agora nasceu
Apesar do denso nevoeiro
Vai ter dias de sol e céu azul,
Primavera, Verão e Outono
Não esquecendo os dias agrestes.
Vamos aproveitar a bonança
Dar as mãos e caminhar
Pela estrada que nos é aberta.
Avancemos com alma e confiança
Fazendo deste ano um ano de esperança.
Carlos Cardoso Luís – Lisboa
Saudade
(Para Francisco)
Saudade do olhar
Que encantou o meu
Revelando imenso mar
De desejos e incertezas
Sobre o futuro, na época, incerto.
Saudade dos sonhos
Que com amor tornamos realidade
Para viver em harmonia
Comunhão total.
Saudade do tempo
Dos filhos pequenos
Da longa estrada a percorrer.
Sem medo dos imprevistos.
Saudade de tua mão na minha
A me apontar caminhos
Que juntos percorremos.
Saudade de tua companhia
Do nosso amor...
Saudade de ti
Que trilhas novos caminhos
Em outra dimensão.
Isabel C S Vargas
Rio Grande do Sul /Br
A família
A família, a família,
Quantas vezes acontece,
A harmonia a união
Nem sempre é o que parece.
Banquetes, almoçaradas,
A família em reunião,
Ao primeiro contratempo
Começa a desunião.
Até custa acreditar
Todos cheios de razão…
Tristemente cai por terra
A amizade a união.
Prós trabalhos cada qual
Tem a sua opinião,
A culpa é sempre do outro
Que grande desilusão!
Pelo que vejo e oiço
Verdadeira conclusão,
Lá diz o velho ditado
“Não há bela sem senão”
Aires Plácido - Amadora
Salir do Tempo
Oh meu velhinho castelo
Destas Noites Medievais,
Há quanto tempo que o tempo
Sulcando as marcas do tempo
Vem deixando seus sinais.
Castelo foste imponente
Destes honras e glória,
Foste berço desta gente
Que se orgulha da história.
‘stão a descoberto agora
Antigas habitações,
E da grandeza de outrora
Restam alguns torreões;
Desse Salir Castelar,
Há história pouco mais,
Que serviu p’ra recrear
Os Tempos Medievais.
Parabéns à Autarquia
Por recrear neste evento,
A forma como vivia
O seu povo noutro tempo.
Tua grandeza Salir,
Nunca morre nem se esquece,
Pode o Castelo ruir
Que a história prevalece.
P’ra não ficar esquecido
O que foi nosso passado,
Foi pelo Povo vivido
E em dois dias recreado.
Isidoro Cavaco - Loulé
Manda Beijos
Manda beijos ao vento
Que ele mos traz a mim.
O vento leva recados
O vento varre pecados
O vento leva saudades
Percorrer montes, cidades,
Embala meu bergantim.
Na cabeça tens uma fita
Por sobre a orelha uma rosa.
Sabes que ficas mais bonita
E segues teu caminho vaidosa.
João Coelho dos Santos
Os Confrades da Poesia | Boletim Nr. 57 | Julho / Agosto 2013 |
«Faísca de Versos»
Corrupção e Justiça
Parece que as coisas vão mudando
Já se vêm famosos na prisão
A muito custo eles vão entrando
Parece-me que há nova decisão.
Famosos com vida atrapalhada
O que fizeram vão ter que pagar
Fizeram uma grande palhaçada
Para fortuna rápido arranjar.
Fraude fiscal e branqueamento
Outras actividades de corrupção
Chegou a hora do sofrimento
Com o resultado da condenação.
Que vergonha enclausurados
Tudo por causa da ganância
Muitos faltam ser investigados
Tem havido grande tolerância.
Muitos recursos sobre decisão
Portugal disso envergonhado
Em Portugal só entrava na prisão
O pobre Zé-povinho… coitado.
A justiça para pobres e ricos
Tem certamente que acabar
Inevitavelmente trará riscos
Mas têm que com isso contar.
Há por aí tantos vendilhões
Que deviam ser investigados
Enclausurados nas prisões
Depois de julgados e condenados.
Deodato António Paias - Lagoa
Chorando Pedirei…
(Inspirado em Camões)
Neste país de pavões engravatados
Que Portugal conseguiram pôr na lama
Com políticos nunca tão mal preparados,
Que foram além da vergonha humana
E deram “tachos” aos amigos e afilhados
Usando uma política de chicana
E que entre gente submissa edificaram
A pobreza que tanto amesquinharam;
E também as histórias tão famosas
De quem enriqueceu não trabalhando
Com promessas assaz falaciosas
Que ao povo sempre foram enganando...
E aqueles que por políticas maldosas
No meio desta crise se vão safando...
Chorando pedirei por toda a parte
Que tal gente se vá, de nós se afaste!
Terra Berço
Nada; mesmo nada me impedirá de te amar
Sinto-me seguro, nada mais forte que o amor
No meu berço todos compreendem o meu chorar
No berço, tenho alegria; chorarei se tiver dor
Meu berço, meu amor; te deixei por não ter pão
Doía-me tanto ouvir os filhos; de fome a chorar
Esposa limpava lágrimas; sofria; dorido coração
Procurando melhor vida na França; a trabalhar
Encontrei uma antiga corte; dela fiz minha casa
Roubei o berço a minha esposa; filhos também
Desde esse dia sinto meu coração como brasa
Teria assim duas pátrias; trabalhar e viver alem
Tantos anos desafiava céus e terra por abraçar
Berço; minha língua; romarias, gente do torrão
Sentia beiços balbuciar cantigas; pés a dançar
Da fonte; caneca de agua fresca açúcar e limão
Terra berço; teus picos; tuas fontes; são amores
Musicas; folclore; procissões; eu tanto adorava
Praias; areia branca; céu azulinho; meus amores
Tudo lindo meu berço; só fome em ti; eu odiava
Algozes; aqueles que nada fazem eram culpados
Ambição; riqueza; o poder; mentirosa ideologia
Traziam o povo acorrentado; de medo açamado
Imigrante e 25 de Abril, trouxe ao berço alegria
Por Armando Sousa - Toronto /Ontário Portugal
O bronze da história
Tem nobreza o verdete acumulado
Em mil anos de história portuguesa
Mas nada tem de nobre ver vergado
O justo orgulho às marcas da vileza
Pátria de sacrifícios, que mais querem
Que dês a esta terra bem amada?
- Se o sangue já lhe deste ao te pedirem
Qu’em Alcácer e La Lys fosses pisada
Que mais hão-de pedir-te, Portugal
Se já te enfileiraram na pobreza
Se já estás entre as vítimas do mal?
Mas vais erguer-te pátria, que é letal
Essa indómita força, essa firmeza
Que te fazem pôr fim ao surreal!
Eugénio de Sá - Sintra
Fernando Reis Costa - Coimbra
25
26 |
Os Confrades da Poesia Boletim Nr 57 | Julho/Agosto 2013
«Faísca de Versos»
Portas Fachadas
Receitas de Coelho
Quadras soltas do Tiago
Quando Portas tinha a esperança
De ser vice-presidente,
Eis que chegou a vingança
Do que fez no”Independente”
Com vontade de comer
Pedro o filho mais velho
Pediu à mãe p’ra fazer
Para o jantar um coelho.
Se não me falha a memória,
o português, não te esqueças,
rouba, com boa oratória,
e p´ra votos, faz promessas.
Quem se lembra, sabe bem
O qu’ele disse de “Cavaco”
E então, lá de Belém…
Toma…levas p’ra tabaco.
Como queres que eu o faça
Há receitas esquisitas
Tu queres comê-lo com massa
Arroz ou batatas fritas ?
E o governo que Passos
Com Portas tinha engendrado
Ficou feito em pedaços
Morreu antes de ser nado.
Há quem o faça estufado
Sem ter que dar muitos passos
Pode ser também grelhado
Ou cortadinho aos pedaços.
Mas Cavaco, foi amável;
E sem lhe passar cartão,
Mantém o “irrevogável”
P’ra mostrar o aldrabão.
Pode ser à caçadora
Ou mesmo até de ensopado
Mas nas receita de agora
É mais coelho esfolado .
De Cavaco, a decisão
Aumentou a trapalhada
E a dita coligação
Ficou de porta fechada.
Diz a mãe para o pedrinho
Espera aí um momento
Põe-te mas é a caminho
E vai comer a São Bento.
Direito, por linhas tortas?
Só nos resta a palhaçada
Destes atores, em que o Portas
Não pôde subir a escada.
Mãezinha esse coelho
O povo inteiro consome
Com todo o seu destrambelho
Vão morrer muitos à fome.
Resta ver o que vai dar
A decisão de Belém:
Melhor… não há que esperar;
Pior…talvez o que vem!
Klyde Wood
Silvais - Évora
Não pense nem um segundo
nesses conceitos fatais,
se já chegámos ao fundo,
não se pode descer mais.
Amigo Vítor Gaspar
que faz tudo a nosso gosto,
um conforto nos quer dar
com a baixa do imposto.
Andorinha anda fugida,
diz que apenas vai voltar
se não lhe for infligida
uma taxa por voar.
Eu nunca mais vou votar
no carro do governante,
que ele anda sempre a guinar,
não tem travão, nem volante.
Tiago
Fernando Reis Costa - Coimbra
“Aqui nasceu um poeta
Onde irá jazer o homem
Eu vivo onde vegetas
E produzo o que outros comem”
Comentadores de TV
têm tudo bem sabido,
são pagos (não sei por quê)
p'ra defender o partido.
Por uma economia dos falidos.
Fantochada do mamar.
Com voz popular, num dia favorável
Linha do horizonte, mais além
O rio Tejo será mais navegável,
Com forças, no desembarque em Belém…
Momentos históricos do além-mar
Com descobertas no seu apogeu,
Por um Padrão de Cruzeiro a içar
Na fruída expansão que enriqueceu
Essa Conferência dá-nos que pensar
Sociedade Civil entra no jogo
Na mais vil propaganda de enganar
Os Contribuintes são lenha de fogo
Com a política disfuncional
Vimos Revoluções inquietantes
Momentos perdidos em Portugal
Desfalecimento dos navegantes
Afortunados vingam como Judas
Vão passando ao lado das bermudas
E na viragem… Vão ser destruídos.
E…com réstia de sol em Portugal
Desemprego… Produto Nacional
Por uma economia dos falidos
Pinhal Dias - Amora
País no fundo, gera-se a revolta
Um actor arrogante está de volta
Com meias verdades, p’ra se limpar
Então: - O que nos reserva o futuro?
Se o nosso país não anda seguro…
Sórdida… “Fantochada do mamar”…
Lhanip
O verdadeiro patrono do nosso País é esse sapateiro Bandarra...
O futuro de Portugal - que não calculo mas sei - está escrito já, para quem saiba lê-lo, nas trovas do Bandarra...
O Bandarra, símbolo eterno do que o povo pensa de Portugal
Fernando Pessoa
Os Confrades da Poesia | Boletim Nr. 57 | Julho / Agosto 2013 |
«Reflexões»
Momentos
Um toque
silêncio
uma nuvem
que se desfaz no abismo
vibrante
com este som sublime
não despontam ocnáceas
debulham-se em pranto
sentimentos
que nos elevavam
e nos transportam
para o ocaso da alma
Carlos Bondoso - Alcochete
Benevolência
Ainda mais
(A minha mulher Olívia)
Busquei, querido amor, lá nesses céus,
A luz que me dá vida, que me guia,
Busquei a sua origem, dia a dia,
Até que a encontrei nos olhos teus.
Ergui, bem alto, a voz, orei a Deus
E pedi-Lhe, repleto de alegria,
Que as emoções que, junto a ti, sentia,
Fossem, para sempre, os sonhos meus.
E se o amor me diz que a busca é finda,
Meu coração desperta em mil natais
Cada um brilhando em cor tão linda,
Que os nossos segredos serão iguais:
- Tu dizes que me queres mais ainda!
- Eu juro que te quero ainda mais!
Longe muito longe…
Tentei ir, cheia de dor…
Para te esquecer…
E fui contemplar-te a ti, mar…
Mar, que tudo levas e tudo trazes,,,
E olhei-te com dor…
Com muita dor…
E pensei dar-te o que mais me doía…
E serenamente…
Olhei, pensei e doei…
Doei-te tudo o que tinha…
E baixinho pedi-te que me levasses…
Todos os sentimentos…
Que estavam a mais…
E senti…
A sensação de ser livre…
Senti que estava mais eu…
Mas vim e foi mentira…
Os sentimentos não se deitam ao mar…
Nem se atiram ás ondas…
Estavam à porta de casa…À minha espera…
Porque…quando são verdadeiros…
São eternos!...
um etéreo sentimento
que evolui nas alturas
este desprendimento
composto de doçuras
penhor de confiança
no coração da gente
a evolução completa
significado esperança
professor benevolente
deixe uma porta aberta!
Arlete Piedade - Santarém
António Barroso - Parede
Infinito
Anjo, minha inspiração
poema escrito da vida
não é a terrena paixão
é uma celestial subida
Os ciclos
Primavera…
O tempo em que fizemos projetos.
O tempo de tantas e tantas ilusões.
O tempo de sonhar de ter afetos.
O tempo de dar voz aos corações…
Verão…
O tempo em que, juntos, caminhamos.
O tempo em que fizemos coisas belas.
O tempo em que, tão loucos nos amamos.
A nossa meta era o céu e as estrelas…
Outono…
O tempo em que o amor ficou cinzento.
O tempo em que foi perdida a esperança.
A quebra do mais nobre sentimento.
Foge a luz, foge o afeto, a confiança…
Inverno…
O céu ficou sem brilho, está suspenso.
Cada um segue o seu rumo, triste e só.
As palavras deram lugar ao silêncio.
E o mundo vai julgar, mas, sem ter dó…
João Ferreira – Quinta do Conde - Setúbal
Lili Laranjo - Aveiro
Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas. Mat. 7:12
27
28 |
Os Confrades da Poesia Boletim Nr 57 | Julho/Agosto 2013
«Ponto Final»
Nota Informativa
Feitura do Boletim
* Os Boletins Bimestrais com a seguinte agenda para o ano de 2013:
- 15/1 - 15/3 - 15/5 - 15/7 - 15/9 - 15/11/2013 ... ( 6 períodos de postagem )
Os Confrades enviarão impreterivelmente os seus trabalhos até ao dia 5 do inicio de cada período,
Com letra Tahoma e fonte 10. Não contamos para o Boletim o envio de poemas formatados…
A feitura do Boletim será a partir do dia 5 até ao dia 15, correspondente à data de saída...
O Tema continua a ser Livre! Para sua orientação sugerimos que consulte as páginas das Efemérides e Normas no
Site dos Confrades...
Cada Confrade tem direito a uma página permanente no nosso Site, isenta de qualquer tipo de quotização.
Cada Boletim Bimestral editado conta com 28 páginas, preenchidas com poemas e outros trabalhos enviados pelos
Confrades.
Constatamos que alguns Confrades não têm enviado atempadamente os seus poemas, o que causa alguns transtornos na feitura do Boletim bimestral, por isso, somos obrigados a fazer uma nova actualização pela sua continuidade.
Agradecíamos ter da parte de todos os Confrades, mais feedback em relação ao nosso trabalho, na feitura do Boletim.
A Direcção
Pinhal Dias – Conceição Tomé
http://www.osconfradesdapoesia.com/normas.htm
Entrada no nosso «Pódium dos Talentos»
A nossa Saudosa Confrade Fernanda Lúcia de Souza Leal Santos, falecida a 04/06/2013
Paz à sua alma!
Amigos que nos apoiam
ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO
E PUBLICIDADE
Rua Aristides da Costa N.º 15
2840-098 Aldeia de Paio Pires
Telf. 210 991 683 - Tlm. 967 634 007
Email: [email protected]
http://semanariocomercio.blogspot.com
As fotos deste Boletim
são dos autores e
«A Direcção agradece a todos os que contribuíram
outras da Internet
para a feitura deste Boletim».
Voltamos a 15/09/13

Documentos relacionados

Maria Vitória Afonso - Confrades da Poesia

Maria Vitória Afonso - Confrades da Poesia Ao luar da meia noite Foi cantar uma cantiga Levou do vento um açoite Olha aquela rapariga.

Leia mais